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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DEQ - UFV DANILO ANICETO EQUAÇÕES QUÍMICAS COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO: DO HISTÓRICO AO SISTEMÁTICO VIÇOSA - MINAS GERAIS 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DEQ - UFV

DANILO ANICETO

EQUAÇÕES QUÍMICAS COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO:

DO HISTÓRICO AO SISTEMÁTICO

VIÇOSA - MINAS GERAIS

2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DEQ - UFV

DANILO ANICETO

EQUAÇÕES QUÍMICAS COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO:

DO HISTÓRICO AO SISTEMÁTICO

VIÇOSA - MINAS GERAIS

2020

Monografia apresentada ao Departamento de Química da

UFV como parte das exigências para a conclusão do

Curso de Licenciatura em Química.

ORIENTADOR: Prof. André Fernando de Oliveira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DEQ – UFV

DANILO ANICETO

Aprovada: 24 de novembro de 2020

EQUAÇÕES QUÍMICAS COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO:

DO HISTÓRICO AO SISTEMÁTICO

Monografia apresentada ao Departamento de Química da

UFV como parte das exigências para a conclusão do Curso

de Licenciatura em Química.

____________________________________

Prof. André Fernando de Oliveira

Departamento de Química/UFV

(Orientador)

______________________________________

Profa. Regina Simplício Carvalho

Departamento de Química/UFV

(Coordenadora da Disciplina)

_________________________________________

Profa. Renata Pereira Lopes Departamento de Química/UFV

(Avaliadora do Trabalho)

_________________________________________

Prof. Vinícius Catão

Departamento de Química/UFV

(Avaliador do Trabalho)

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AGRADECIMENTOS

A Aquele que em mim soprou o dom da vida, agradeço imensamente por todas

as riquezas a mim direcionadas. A Ele agradeço por todo amparo e amizade. A doce

Maria, meus sinceros agradecimentos por sempre me cuidar e proteger. À flor mais

linda do meu jardim, Margarida, minha mãe, agradeço por muitas vezes me ensinar

de forma profunda o que é amar, de fato. À senhora, dedico esse trabalho e todas

minhas conquistas. À minha irmã, Joyce, por sempre me acompanhar nos momentos

difíceis e estar ao meu lado, me ajudando a ver as coisas sob óticas diferentes. Ao

meu Padrasto Silvinho, por cuidar de todos nós como um grande pai cuida dos que

ama.

Citando Cidade Negra (2000), “É tão forte quanto o vendo quando sopra, tronco

forte que não quebra não entorta, podes crer, estou falando de amizade” percebo o

quão sortudo sou pelos que sempre amparam e sustentam meu viver: meus amigos.

Gostaria de incluir todos os que por mim passaram e deixaram um pedacinho de si

em meu coração. Entretanto, agradeço especialmente à Daniela, por todo apoio ao

longo desses anos, desde Alvinópolis até a conclusão dessa etapa. Aos meus

queridos Margareth, Júlya, Lorenna e Henrique, vivi com vocês momentos tão

especiais que nem ouso descrevê-los aqui. Agradeço a minha querida Mônica, que

me inspira sempre a ser melhor e que, sem sua ajuda, esse trabalho não seria o

mesmo. Ao meu amigo Matheus, que junto à Mônica, tornou os dias mais leves e

divertidos. Aos meus amigos do Me Poupa, parceiros do Coral, do trabalho, da vida,

Will, Hermano e Igor, meu sincero e profundo agradecimento. Sou imensamente grato

à Luana, que foi e é um amparo nos dias difíceis e alento nos dias leves. Aos amigos

que as cantorias me trouxeram, meus queridos do Coral da UFV, Gabi, Fred, Daniel,

Letícia Let’s, Déa, obrigado por me ensinar que é “meu cantar que vibra as forças que

sustentam meu viver”.

Não menos importante, agradeço à Paulinha por sua doçura e sensatez e ao

Matheus por seus conselhos e risos, amigos esses que bons ventos me trouxeram. À

Darlene, agradeço por cada, cada momento vivido, momentos esses que tornaram a

vida menos chata e monótona. Aos amigos trazidos pela paixão pela química, mas

que ficaram por me oferecer abrigo no coração, Géssica, Érika, Larissa, Natiele,

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Guelci, Raj, Lorrayne, Carol, Stefania, Luíza, Karina, Flávio e Amanda, obrigado! E

tantos outros amigos que aqui não caberia. Meu sincero obrigado!

Agradeço a todos os meus professores, mestres que me ensinaram um pouco

do que hoje sei, Renata, Róbson, Marisa, Sérgio, Virgínia, Vinícius, Regina, Fátima,

Dani, Emílio, e em especial André Fernando que aceitou embarcar nessa aventura

comigo. Vocês contribuíram imensamente para conclusão dessa etapa. Todos os

colegas de estágio, PIBID, inglês, monitorias, meus amigos do Parrilla Beer, sou

profundamente grato por tê-los em minha vida. Todos esses agradecimentos compõe

o retalho de minha existência que perpassa esse trabalho. Obrigado!

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RESUMO

ANICETO, Danilo. Equações Químicas como objeto de investigação: do histórico ao sistemático. Monografia de conclusão do curso de Licenciatura em Química. Universidade Federal de Viçosa, dezembro de 2020. Orientador: Prof. André Fernando Oliveira.

O processo de construção da Ciência perpassa, sobretudo por três parâmetros

importantes: coletivo/colaborativo, gradual e não linear. Evidencia-se esse processo

caracterizado por esses parâmetros de forma a localizar exemplos explícitos ao longo

da história. O ponto de partida se trata do “conhecimento científico” que emergia

juntamente com a Alquimia chegando até os dias de hoje, principalmente o que se

produz de mais novo acerca da Química Analítica. O movimento de localizar esses

eventos ao longo da história é descrito a partir de análises realizadas em livros

didáticos utilizados amplamente em Instituições de Ensino. Partindo desse recorte,

nota-se pontos importantes sobre o avanço do conhecimento científico, especialmente

no que tange a análise das Equações Químicas presentes nesses livros. Sabendo que

essas EQ são parte importante para o desenvolvimento do conhecimento Químico,

justamente por ajudar a prever e descrever os processos observados, analise-se

todas as componentes dessas EQ traçando um ponto inicialmente histórico,

comparando a metodologia clássica com o Método XXI, de forma a evidenciar

possíveis falhas apresentadas na metodologia clássica, que pode, eventualmente ser

adequada na metodologia nova.

Palavras-chave: Linguagem Química, História da Química, Equações Químicas.

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ABSTRACT

ANICETO, Danilo. Chemical Equations as an object of investigation: from historical to systematic. Undergraduate Monograph Submitted to the Department of Chemistry in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree in Chemistry. Federal Unversity of Viçosa, dezember 2020. Advisor: Dr. André Fernando Oliveira.

The process of building Science goes through, above all, three important parameters:

collective/collaborative, gradual and non-linear. It is evident that this process is

characterized by these parameters in order to find explicit examples throughout history.

The starting point is the "scientific knowledge" that emerged together with Alchemy

reaching to the present day, mainly what is most recent about Analytical Chemistry.

The movement to locate these events throughout history is described from analyzes

carried out on textbooks widely used in educational institutions. Starting from this cut,

it is possible to notice important points about the advance of scientific knowledge,

especially with regard to the analysis of the Chemical Equations present in these

books. Knowing that these EQ are an important part for the development of chemical

knowledge, precisely because it helps to predict and describe the observed processes,

analyze all the components of these EQ by tracing an initially historical point,

comparing the classic methodology with Método XXI, in a way to highlight possible

flaws presented in the classic methodology, which may, eventually, be adequate in the

new methodology.

Keywords: Chemical Language, History of Chemistry, Chemical Equations

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

2. EMBASAMENTO HISTÓRICO-CIENTÍFCO ........................................................... 12

3. MÉTODO XXI .......................................................................................................... 23

4. OBJETIVOS ............................................................................................................ 25

5. PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................. 25

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 28

6.1. FASES ............................................................................................................28

6.2. SETAS ............................................................................................................34

6.3. EQUAÇÕES GLOBAIS E EQUILÍBRIOS SIMULTÃNEOS............................47

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................55

8. REFERÊNCIAS .........................................................................................................56

9. ANEXOS ....................................................................................................................59

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1. INTRODUÇÃO

Ao lançar o olhar sob o processo da construção da Ciência, sobretudo a

Química, considera-se como premissa que ele se deu de acordo com três parâmetros:

coletivo/colaborativo, gradual e não linear. Pretende-se evidenciar esse processo

como sendo caraterizado por esses três parâmetros iniciais a partir de exemplos

localizados ao longo da história. Dessa forma, caminha-se partindo de momentos

históricos importantes, indo em direção ao que temos hoje como conhecimento

científico.

Com isso, sabe-se que o que temos hoje como comunidade científica é algo

relativamente recente, se tratando do desenvolvimento de ideias e paradigmas acerca

de ensaios científicos. Quando se lança o olhar sobre como era o conhecimento e a

linguagem no período onde predominava a Alquimia, percebe-se uma situação

diferente.

Chassot (2002, p.32) atribui à Alexandria “o símbolo de cultura, com um

complexo científico que foi um polo difuso do saber, e talvez, o primeiro centro de

pesquisa da humanidade” (CHASSOT, 2002). De acordo com o autor, a concepção

de uma produção sistematizada e organizada do saber tem o berço, sobretudo, na

Biblioteca de Alexandria. Nessa época, a “ciência” e tudo que se tinha relacionado a

uma filosofia hermética era atribuída à Alquimia.

Assim, o conhecimento e a linguagem eram contundentemente diferentes do

que temos hoje, sobretudo a “ciência” como um corpo coletivo. Para Carvalho (2012)

e Chassot (1995), o conhecimento alquímico era oculto e restrito aos alquimistas, uma

vez que para eles “o conhecimento não deveria ser revelado a todos, e quem o detinha

possuiria poder” (CARVALHO, 2012, p.760) Ou seja, a linguagem alquímica era

denotada de obscuridade, além de ser figurativa e simbológica, justamente para

dificultar o entendimento de leigos ou não iniciados. (CARVALHO, 2012; COSTA,

2002).

Como aponta Szabadváry (1966, p.4), “a era da alquimia durou mais de mil

anos”, para assim haver “no início do século XVIII, uma evolução do pensamento

científico, que trouxe, finalmente, um colapso da alquimia como uma ciência séria.”

(SZABADVÁRY, 1966). Contudo, partindo desse “aspecto alquímico”, onde a

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linguagem e conhecimento eram ocultos e restritos e perpassando aos avanços da

comunicação entre os detentores desse conhecimento, evidencia-se, a partir da

segunda metade do século XVIII, o surgimento de uma possível comunidade científica

que viabilizaram uma aproximação da silhueta do corpo científico atual.

Nessa aproximação, o desenvolvimento da linguagem química se deu de forma

a facilitar a comunicação e o rompimento das ideias de uma linguagem obscura e

mistificada, que tem suas raízes na Alquimia. Nesse trabalho, almeja-se identificar a

importância dessa linguagem química no avanço científico, fazendo-se um recorte

acerca das Equações Químicas (EQ) e suas componentes. Para isso, baseado em

Oliveira et al (2019) e Aniceto et al (2020), analisou-se os livros didáticos utilizados ao

longo da história, afim de evidenciar a importância dessas EQ como ferramenta na

Química, tendo em vista o papel primordial que esses livros didáticos ocupam na

construção do saber químico.

Sabendo que as EQ compõem uma parte importante da Química por ajudar a

prever e descrever os processos observados, destaca-se que o aprendizado de uma

linguagem química, isto é, o uso correto de fórmulas e equações está diretamente

associado a uma interpretação eficaz, direta e contínua, ultrapassando os “obstáculos

epistemológicos [de linguagem], obstáculos ao desenvolvimento e ao entendimento

do conhecimento científico.” (LOPES, 1966. p. 21).

De acordo com o MÉTODO XXI (veremos detalhadamente sobre ele no tópico

3.), as equações químicas devem descrever os processos claramente, sem constar

eventuais ambiguidades. Com isso, é importante que cada um dos processos seja

expresso em uma equação química, de forma padronizadas por setas distintas, as

respetivas fases das espécies envolvidas no processo, tendo características essas

atualizadas de acordo com a IUPAC (OLIVEIRA et al, 2019;ANICETO et al, 2019).

Dessa forma, chama-se as setas e fases como componentes, ou seja, partes que

compõem as EQ. Encontra-se disposto na Figura 1 uma imagem que descreve como

o MÉTODO XXI orienta a escrita das Equações Químicas. O processo descrito nessa

figura demonstra a inserção do sal acetato de sódio em solução aquosa.

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Figura 1 - EQ descritas pelo método XXI

Observe que, as equações se apresentam de maneira biunívoca, ou seja, de

forma a cada uma das equações representar um único processo, Desde a dissociação

completa, passando pela formação do equilíbrio ácido-base de Bronsted, caminhando

até o equilíbrio gás-líquido do sistema desse ácido. Um ponto importante é que se

considera primordial que as equações sejam descritas de modo que seus limites

permitam ser alterados sem que a EQ seja modificada. Numa mudança de pH, por

exemplo, as equações que descrevem o novo sistema devem continuar sendo as

mesmas.

Baseado nisso, observa-se como os livros-textos utilizados no ensino superior

trazem essas equações químicas. Pode-se notar que muitos destes apresentam

incoerências e abordagens que já foram substituídas e/ou readequadas no meio

científico, bem como interpretações suficientemente equivocadas. Busca-se

responder perguntas como “As EQ são apresentadas de forma clara, objetiva e

suficiente?”, “São dispostas de forma não ambígua e completa?”, “Facilitam a

compreensão do aluno?”, além de propor, com auxílio do Método XXI, uma

ferramenta que vise amenizar essas inadequações.

Sobre essas inadequações, evidencia-se os estudos de Gaston Bachelard

sobre os obstáculos epistemológicos que se precisa lançar um olhar mais atencioso.

(BACHELARD, 1996). Esses obstáculos são demonstrados aqui uma vez que, para

esse autor, a construção da Ciência e do conhecimento científico não é baseado no

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que chamamos de senso comum, ou seja, “fazer ciência não implica sistematizar as

percepções, mas sim validá-las.” (Silveira et al, 2019, p.33).

De acordo com Silveira et al (2019), os obstáculos denominados por Bachelard

(1996) são experiência primeira, conhecimento geral, verbal, animista, substancialista,

conhecimento unitário e pragmático. Esses seriam obstáculos que impedem que o

processo de ensino-aprendizagem seja perfeitamente executado (Silveira et al, 2019,

p.33).

Na Figura 2, dispõe um panorama geral do trabalho.

Figura 2 - Panorama Geral do Trabalho

2. EMBASAMENTO HISTÓRICO-CIENTÍFICO

A partir de análises realizadas sob a ótica histórica do processo de construção

da Ciência, sobretudo da construção do conhecimento Químico, assume-se como

premissa que esse processo apresenta caráteres coletivo/colaborativo, gradativo e

não necessariamente linear. Na Figura 3 está esboçado o caminho que se percorre

para descrever esse processo baseado nesses parâmetros, bem como os respectivos

exemplos usados. Evidentemente, um mesmo exemplo contempla mais de um

parâmetro, o que também será demonstrado ao longo deste tópico.

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Figura 3 - Parâmetros usados para caracterizar o processo de construção da Ciência e exemplos

No primeiro parâmetro, ou seja, no âmbito coletivo, Kuhn afirma que “se a

ciência é a reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, então

cientistas são homens que empenharam-se (sic) em contribuir com um ou outro

elemento para essa constelação específica.” (KUHN, 1962, p.20), sendo assim, a

construção é constituída de inúmeras participações, reconhecidas ou ofuscadas, que

contribuíram para o que chamamos hoje como Ciência.

Em “As estruturas das revoluções científicas”, esse autor discorre sobre a

dificuldade de os historiadores detectarem exatamente como se deu o

desenvolvimento científico. De acordo com ele, esses profissionais devem determinar

quando e por quem cada teoria, conceitual ou empírica, foi retificada, o que é por si

só um trabalho suficientemente árduo e intenso, uma vez que o próprio Kuhn especula

sobre a Ciência não ser desenvolvida pela acumulação de invenções, descobertas e

conclusões individuais (KUHN, 1962).

De fato, acredita-se que o início desse movimento de construção da Química

como Ciência é marcado pelos trabalhos de Robert Boyle, 1660. Os estudos desse

físico alemão são importantes porque apresentam um papel de romper com as

concepções da “ciência” vigente, que apresentavam um caráter místico, interferência

essa oriunda da Alquimia. Além dessa importante contribuição, Boyle colaborou para

o desenvolvimento da Química teórica. Baseando seus estudos em Pascal, Galileu e

Torricelli, ele desenvolveu seu trabalho sobre o peso do ar e a existência do vácuo

(MEDEIROS, 2005). Com isso, já se nota um caráter colaborativo no início das

concepções científicas pós Alquimia.

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Além da problemática da interferência do “místico” no conhecimento científico

vigente evidenciada nos estudos de Boyle, ao cumular dos anos, os estudiosos e

cientistas se deparavam com problemas acerca da linguagem química não

padronizada. Esse problema então começa a ser discutido, sobretudo em 1597, por

Andreas Libavius. É percebido em seus trabalhos sinais indicativos do nascimento de

uma atividade química mais independente e coletiva. Carvalho (2012) e Maar (2004)

afirmam que esses sinais foram traduzidos na publicação do livro “Alquemia”, escrito

por Andreas Libavius em 1597 (Figura 4), que hoje é considerado o primeiro livro

didático sobre o Saber Químico.

Figura 4 Capa do livro "Alchemia", 1597, por Andreas Libavius

Nesse livro, já se apontava as intemperes de um conhecimento não organizado

e padronizado, bem como uma linguagem ambígua obscura e não sistematizada,

sendo que uma dificuldade real apresentada na época, por exemplo, era o mesmo

composto ser apresentado de inúmeras formas diferentes (CARVALHO, 2012). Assim,

Andreas (1597) esboça a necessidade de se trabalhar uma ferramenta para resolver

essa intempérie.

Como resposta à essa questão, em 1782 surge um marco importante para a

linguagem química, em termos de nomenclatura. Guydon de Morveau (1782) propõe

didaticamente uma nomenclatura sistematizada, que constituiu a base para nomear

sais e outras substâncias (CARVALHO, 2012, MACHADO et al, 2010;SEMEATON,

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1957). De acordo com Machado et al, o primeiro conjunto de sistematização foi, de

fato, apresentado por Morveau, pois ele mesmo sentia a necessidade de um método

que “ajude (sic) a inteligência e alivie a memória” (MACHADO et al, 2010, p.53).

Por conseguinte, Morveau apresentou seu trabalho à Lavoisier e

colaboradores, para mais adiante, em 1787, Guydon, Antoine-Laurent Lavoisier,

Bertholet e Fourcroy publicarem um livro sob o título “Méthode de nomenclature

chimique” (Figura 5) (LEFÈVRE, 2018). Esses autores são considerados como

precursores da Química moderna sistematizada, uma vez que propunham uma nova

nomenclatura das substâncias químicas conhecidas e pouco categorizadas na época,

além de explicar os princípios da construção metodológica dos nomes químicos e

apresentarem uma tabela taxonômica dessas substâncias. (CARVALHO, 2012;

LAMBACH; MARQUES, 2014; SILVA, 2018)

Figura 5 - Livro “Méthode de Nomenclature Chimique” (LAVOISIER et al, 1787)

Embora ainda seja atribuído a Lavoisier o marco científico de sistematização

do conhecimento e linguagem (BRITO, 2008; CARVALHO, 2012; CHASSOT, 1995;

LAMBACH; MARQUES, 2014; SILVA, 2018; WIGHTMAN, 1961), esses autores

apontam também que isso ocorreu de maneira conjunta, não só com os três co-

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autores (Bertholet, Fourcroy e Morveau), mas também com todos os cientistas que

inspiravam o próprio Lavoisier, seja para respaldar suas teorias ou refuta-las, como

Priestley e David Hartley, além da própria Madame Lavoisier, figura que teve imensa

importância nos trabalhos vigentes da época.

Um fato importante de se dar destaque versa sobre o professor brasileiro

Vicente Seabra Telles, que foi elencado como responsável pela tradução dos

trabalhos publicados por Lavoisier e colaboradores. Já em 1787, Seabra já apresenta

seus trabalhos em consonância como que se produzia pela comunidade científica

emergente. Seus trabalhos foram de extrema importância para repercussão das ideias

trazidas por Lavoisier, além de contribuir piamente para a nomenclatura Química

atualmente utilizada (LUNA, 2013).

Sabe-se que as discussões sobre o “conhecimento científico” ocorriam

rotineiramente nas casas dos estudiosos da época. Exemplo disso é o Arcueil Group,

conjunto de químicos, físicos e matemáticos, que se reuniam nas casas de Bertholet

e Laplace para discutir os assuntos de caráter científicos (NYE, 1999. p. 38).

Percorremos esse trajeto até aqui para evidenciar o caráter coletivo do

processo de construção da Química como Ciência. Partimos do momento pré-

Lavoisier, quando as produções eram individuais e suficientemente esparsas no

tempo, para o momento onde elas passam a ser cada vez mais coletivas e

contributivas.

Adicionalmente, no segundo parâmetro, percebe-se que, além do caráter

colaborativo e coletivo, o caráter gradativo se faz bastante presente na construção da

Ciência, conforme Kuhn (1962) afirma, “o desenvolvimento [científico] torna-se o

processo gradativo através do qual esses itens foram adicionados isoladamente ou

em combinação, ao estoque sempre crescente que constitui o conhecimento e técnica

científicos.” (KUHN, 1962, p. 20), ou seja, a acumulação conceitual e conexões

complexas em que a Ciência se insere é feita gradativamente, seja de forma a refutar

erros e incoerências ou para inserir novos conceitos.

Nesse contexto, a direção que se caminha para discorrer sobre a gradualidade

do processo de construção já mencionado, perpassa sobre a linguagem química,

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sobretudo se tratando de elementos e suas substâncias. Um exemplo que mostra

esse caráter progressivo do avanço da Química é a ideia da fórmula química.

Segundo Mortimer (1996 p. 19), essa ideia “surgiu como uma forma de

expressar as quantidades das substâncias elementares que se combinavam”. O que

se observa é uma diferenciação entre “expressar as quantidades” e “expressar as

espécies químicas envolvidas em um processo”. Essa diferenciação se torna

importante, uma vez que evidencia o caráter gradativo da construção da Química,

afinal, de acordo com esse autor, a partir da segunda metade do século XIX, as

fórmulas químicas começaram a ser mais usadas, não só para demonstrar

quantidades, mas também para explicar inúmeros processos que envolviam essas

substâncias, bem como suas propriedades e transformações (MORTIMER, 1996).

Rheinboldt (1988), por outro lado, em sua biografia sobre J.J. Berzelius afirma

que foi esse autor quem propôs a notação atual de elementos por símbolos e

estequiometria por índices (super ou subíndices). Todavia, essa notação foi

construída com o objetivo de sistematizar o conhecimento existente na época,

atividade a qual Berzelius sempre se dedicou. Ela foi desenvolvida em paralelo ao seu

sistema mineralógico (1819), criado para concatenar a mineralogia com a “teoria

eletroquímica” e a “Doutrina sobre a Proporções Químicas. Somente esse fato já

evidencia o caráter gradativo da construção do conhecimento uma vez que aos

poucos os conhecimentos mais comuns na época começavam a serem associados a

o que se propunha emergentemente.

Com isso, quando lançamos o olhar sobre a representação da fórmula da água,

por exemplo, podemos perceber os inúmeros caminhos percorridos para que se

chegasse ao que temos hoje como “H2O”.

Quando Lavoisier anunciou à Academia de Ciências de Paris, em 1783, que

a água era composta por hidrogênio e oxigênio, estava propondo uma

maneira de definir um elemento químico completamente diferente da visão

aristotélica: um elemento poderia ser definido experimentalmente como

qualquer substância que não pudesse ser decomposta por métodos

químicos. (MORTIMER, 1996, p.19)

Depois desse evento, em 1803, John Dalton propõe sua teoria atômica,

baseando nas ideias de Newton e seus contemporâneos. Ele afirma que em uma

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reação química, os átomos de diferentes elementos poderiam se combinar para

formar novas substâncias, o que corroborava com as ideias de sistematização de

Lavoisier em 1787. Para Dalton, entretanto, a fórmula da água era formada por um

átomo de oxigênio e um de hidrogênio, “HO”, o que impedia ele de vislumbrar a

proposta de Avogadro, que afirmava que a água era formada por dois átomos de

hidrogênio e um de oxigênio. (NYE, 1999, p. 38).

Faz-se aqui um parêntese. Quando se estuda a história da Química, tem-se a

ideia de que os conceitos emergentes propostos pelos cientistas da época, eram

inseridos com muita naturalidade. Isso não ocorre. Observe que, de acordo com

Ferreira e Cordeiro (2017), o modelo atômico de Dalton não foi bem aceito na

comunidade científica, provocando inúmeros debates e incertezas. A grande

problemática de Dalton estava relacionada com a questão dos pesos dos elementos

químicos, uma vez que para conhecê-los era necessário se conhecer a fórmula

química, e para conhecer essa, era importante saber os pesos dos elementos que a

compõe (FERREIRA;CORDEIRO, 2017). O que se destaca é que, ao longo desse

processo, houve muitos debates entre os próprios atomistas, e por mais que as

propostas eram feitas mediante resistência, sobretudo quanto à ideia do átomo

químico, a linguagem química se desenvolveu para ser cada vez mais sistematizada.

Prosseguindo, percebe-se que, gradualmente, a ideia de Dalton acerca da

proporção 1:1 se tornou obsoleta, principalmente com os estudos de Gay-Lussac. Em

seus estudos, esse cientista determina que os gases se combinam em proporções de

dois volumes de hidrogênio para um volume de oxigênio compondo um volume de

água, proporção que corroborava com os estudos de Cavendish. Todas essas

propostas culminaram no Congresso de Karlsruhe, 1860. De acordo com Hartley

(1966), esse evento é considerado um grande marco na comunidade científica por se

tratar do primeiro encontro internacional de químicos e isso se dá pela:

i) defesa do Canizzaro em relação à hipótese de Avogadro, acerca da

ideia de que os volumes iguais dos gases possuíam o mesmo número

de moléculas (a mesma temperatura e pressão);

ii) divulgação dos trabalhos de Gay Lussac e Ampère e

iii) crítica às ideias de Berzelius e Dalton ao ainda considerarem as

moléculas dos gases como monoatômicas.

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Nesse evento foi tratado definições químicas importantes, como átomo,

molécula, entre outras. Condensando ideias presentes nesse congresso, o cientista

sueco Jöns Jacob Berzelius foi o pioneiro a utilizar a fórmula da água conforme

utilizamos hoje, “H2O” (FERREIRA; CORDEIRO, 2017; MAAR, 2004; MORTIMER,

1996; HEARLEY, 1966).

Dessa forma, percebe-se que, gradativamente, a fórmula da água foi

ganhando novas formas, nomes e terminologias, ocorrendo similar processo para

outras incontáveis substâncias. Esse exemplo também corrobora com o primeiro

parâmetro abordado nesse trabalho, acerca da construção coletiva do conhecimento.

Hoje, a instituição responsável pela nomenclatura atual vigente é a IUPAC

(União Internacional de Química Pura e Aplicada). Esse modelo de sistematização

começou a tomar corpo em 1922, quando a União Internacional de Química viu a

necessidade de se criar regras bem definidas, sobretudo na Química Orgânica. Nessa

reunião, os cientistas acabaram por nomear uma comissão para reformar a

nomenclatura da época, sendo aprovada essas alterações no Congresso de Genebra,

sob o título de "Relatório Definitivo de 1930" (ARCHIBALD et al, 1966).

Essas reformas ocorreram, desde então, na direção de aperfeiçoar

sistematicamente o grande conhecimento que surge frequentemente quando tratamos

da Química. Nesse movimento, as nomenclaturas são gradualmente aprimoradas

para melhor atender as demandas desse conhecimento construído de maneira

coletiva e agora, gradual. Acerca disso, Kuhn discorre sobre a importância do “erro”

nesse processo, afirmando que “teorias obsoletas não são acientíficas em princípio,

simplesmente porque foram descartadas” (KUHN, 1962, p.21).

Entretanto, se pudermos perceber esse movimento de acréscimo, substituição

e adequação com naturalidade, poderemos notar a importância que existe no próprio

erro, reconhecendo, assim como Kuhn (1962), a importância dele na formação de

teorias solidamente científicas. Segundo Lopes, (2006), a construção do

conhecimento científico é um processo construído a partir de “verdades provisórias”,

formatadas e organizadas a partir da superação dos erros anteriores.

Assim sendo, reconhecer os erros é um fator importante no processo gradativo

e colaborativo na construção da Química, uma vez que é preciso errar, para a partir

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20

do reconhecimento desse erro, ressignificar os conceitos e construir essas “verdades

provisórias” (LOPES, 1990). Dessa forma, é importante ter em mente o caráter

provisório desse conhecimento científico para o percebermos como fluido, e sua

construção como gradual e colaborativa.

Tendo em vista a expressão “verdades provisórias”, a importância de detectar

erros e incoerências, refutar e ressignificar os conceitos vigentes, o processo de

construção da Química apresenta também um caráter não linear, ou seja,

descontínuo, perpassado por rupturas e mudanças ávidas ao longo do tempo.

Exemplo disso é quando Gay-Lussac promove uma ruptura acerca das ideias de

Dalton sobre a fórmula “HO” para a água, como vimos anteriormente.

Considera-se que, ideias e propostas que interrompem o curso do

conhecimento vigente são traços significativos da não linearidade da Química. Com

isso, lança-se o olhar sobre as fórmulas e as reações químicas, que também

evidenciam a construção da Química como descontínua.

Ao observar esse aspecto sob a ótica dos séculos anteriores, tem-se a atenção

da Química Analítica, sobretudo no século XVIII, para determinar e caracterizar os

componentes das reações químicas. As terminologias baseadas nas características e

propriedades físicas das substâncias, foram gradativamente desconectadas, indo em

direção a uma nomenclatura sistemática e pré-estabelecida. Ainda que esse seja um

movimento característico da época pós-Lavoisier, percebe-se uma tendência que se

passa não só pela caracterização e sistematização, mas também na construção de

modelos para explicar os fenômenos através reações químicas.

Estando traçado esses aspectos sobre a sistematização da Ciência como

Química, sobretudo sob a luz dos elementos químicos e compostos iniciais, detecta-

se a necessidade de categorizar não só os elementos e compostos químicos, mas

também os processos que eram observados pelos cientistas da época, visto que, para

Damasceno et al (2008) , as fórmulas e equações que descrevem os processos são

mediadoras do conhecimento (DAMASCENO; BRITO; WARTHA, 2008). Partindo

desse aspecto, faz-se um recorte que se insere dentro da escrita das reações

químicas, acerca das setas utilizadas nessas equações, que tem sua importância

muito ressaltada no Método XXI.

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21

É interessante observar o contexto histórico da Filosofia da Ciência no período

da segunda metade do século XVIII e o começo do século XIX. De acordo com Barra

(2013), Kant (1724-1804) elege alguns critérios para que uma doutrina seja

considerada “ciência”:

(i) seus conceitos devem ser suscetíveis de uma construção na intuição

pura; (ii) seus princípios devem possuir o caráter de autênticas leis da

natureza conhecidas a priori; (iii) seus diversos juízos, inclusive

aqueles conhecidos apenas mediante a experiência, devem constituir

um sistema e não uma mera rapsódia ou agregado doutrinário.

(BARRA, 2013. p.951)

Baseado nesses critérios, Kant desconsiderava a Química como Ciência,

justamente por não aplicar diretamente os conhecimentos que até então eram tidos

como científicos (física e matemática). Então, de acordo com esses critérios, a física

newtoniana não só se enquadrava perfeitamente nesses parâmetros, quanto era tida

como referência para aquilo que emergia como Ciência (BARRA, 2013). Quando

colocamos essas ideias de Kant e o surgimento das equações químicas para

descrever os processos químicos, bem como os estudos mais sistematizados de

Lavoisier e contemporâneos, pode-se perceber a escrita dessas equações surgem

como uma resposta da Química à essas ideias vigentes na época.

Dessa forma, especula-se que o surgimento das Equações Químicas para

descrever os processos seja um movimento para elucidar a Química como Ciência,

uma vez que inicialmente, elas apresentavam um caráter elucidativo suficientemente

e somente matemático/ estequiométrico. Com o desenvolvimento da Química essas

equações tornaram parte muito importantes. De acordo com Michałowska et al (2015),

as equações químicas são constituídas com o uso das fórmulas dos compostos

usados para a preparação de uma mistura, sendo essa formada por soluções dos

correspondentes reagentes. Corroborando com esses autores, (Oliveira et al, 2019),

afirma que, inicialmente, tem-se duas concepções sobre a descrição dos processos

químicos: a concepção do século XIX e a do século XX:

A concepção do século XIX (e anteriores) não considerou a importância do

solvente, como visto nos trabalhos feitos independentemente por Van't Hoff

e Raoul sobre propriedades coligativas. Nesses trabalhos, a solução foi

considerada um meio como um gás e, portanto, obedeceria à Lei dos Gases

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Ideais embora com algumas correções de modificação. (OLIVEIRA, 2019.

p.2) Tradução própria

Oliveira et al (2019) evidencia um traço suficientemente marcante na

concepção do século XIX sobre solução (aquosa, principalmente): ela desconsidera a

existência do solvente quando existe a imersão de outras espécies no sistema,

trazendo como consequência a interpretação que não há alteração na espécie de

entrada quando colocada em solução. Essa visão ainda é amplamente abordada nos

livros didáticos de ensino médio e superior, e irá se refletir na maneira como as

Equações Químicas são escritas, uma vez que estas são a representação do que

efetivamente ocorre em solução.

O início do rompimento dessas ideias se dá em 1887, quando Savant Arrhenius

apresenta sua teoria da dissociação eletrolítica. Nessa proposta detecta-se o início

das discussões sobre o comportamento das espécies iônicas em solução,

apresentando comprovações experimentais contundentes, que confirmavam a

existência dos íons em solução, o que se insere como um dos pontos importantes na

concepção do século XX. Essa concepção concentrou esforços para estudar os

compostos em solução e a descrição das espécies presentes nela. Não dando

atenção, em geral, para as espécies adicionadas no sistema (OLIVEIRA et al, 2019).

Sob a luz das concepções (XIX e XX) que descreveram ou descrevem os

processos químicos ao longo da história, podemos notar a não linearidade da

construção da Química, também quando Oliveira et al (2019) propõe o Método XXI,

onde se promove uma ruptura, ou melhor, interrompe o curso de propagação de ideias

onde essas concepções existiam concomitantemente sem serem assim reconhecidas.

Nesse método, o conceito do século XX é refinado e redefinido de maneira a permitir

uma visão ampla do comportamento adequado da solução (aquosa) e, portanto, das

representações dos processos químicos nela existentes. Essa ruptura é natural na

Ciência como aconteceu diversas vezes ao longo da história (cf. History of Analytical

Chemistry, Szabadváry, 1966).

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3. MÉTODO XXI

O chamado Método XXI é uma abordagem sobre a Química das Soluções onde

buscou-se uma reestruturação baseada nos conhecimentos acumulados sobre essa

Química, visando permitir uma melhor compreensão e maior facilidade para,

posteriormente, permitir o desenvolvimento científico. Um exemplo desse avanço é a

proposta da função tamponante (Oliveira et al. 2020), que generaliza todo o

comportamento do efeito tampão, anteriormente dispersos e representado por

parâmetros não conectados e de usos restritos, tais como poder tamponante de Van

Slyke, de Kolthoff, alcalinidade, Equação de Henderson Hasselbah, titulação ácido-

base, etc.

Esse método foi desenvolvido desde 2000, a partir da mudança do paradigma de

que não é necessário calcular o pH de soluções aquosas, mas sim, utilizar o pH como

uma informação do sistema, que pode ser medido ou ajustado (OLIVEIRA, 2009;

OLIVERIA et al, 2019). As alterações necessárias à chamada abordagem clássica,

muito similar à mesma utilizada desde antes de 1940, levou a uma reinterpretação de

todos tipos de equilíbrio e em aspectos mais fundamentais, tais como as

representações dos diferentes processos em solução, ou seja, as Equações

Químicas.

Dentre os principais aspectos do Método XXI, uma expressão explícita é Tríade da

Solução, ou seja, Princípio de Conservação da Matéria, Princípio da

Eletroneutralidade e Lei da Ação das Massas. Dessa forma, ele se fundamenta na

dinâmica molecular e concepção de Química de Solução do Século XX. (OLIVEIRA et

al, 2019). Isto significa uma preocupação com as interações químicas, principalmente

a solvatação, e com a agitação térmica como motriz dos comportamentos

macroscópicos observados. Os fatores que afetam as constantes de equilíbrio não

são tratados, embora citados (temperatura, alteração no solvente, força iônica, etc.).

Cada equação química representa um processo químico isolado. A equação

química deve ser válida mesmo que ocorram algumas alterações no meio (variação

de pH, formação de novas espécies químicas, por exemplo, pela adição de compostos

à solução). Como já discutido, as equações químicas não devem trazer nenhuma

informação sobre a quantidade das espécies envolvidas. De certa maneira, a exceção

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24

é o processo completo, pois, por definição representa o consumo total de ao menos

um reagente.

Considera primordial o uso intenso da Linguagem Química e Matemática. Isso é

muito importante pois permite uma comunicação clara entre todos os profissionais,

tão independente quanto possível da língua nativa de cada um, assim facilita o

processo de terceiros aceitarem ou discordarem de afirmações realizadas. Além

disso, ela permite uma clara compreensão da definição de vários parâmetros

químicos. Considera também primordial a explícita distinção entre a concentração

analítica e no equilíbrio.

Os processos envolvendo alterações das concentrações analíticas, seja por

misturas de soluções, diluições, pré-concentração, são tratados de maneira isolada,

sendo chamados de Processos de Diluição, enquanto que os processos em equilíbrios

são tratados apenas em uma solução e suas interfaces. Nos Processos de Diluição,

é imprescindível a apresentação da estratégia de cálculo, o cálculo numérico (possível

de ser realizado com recursos computacionais) e análise dimensional adequada.

Os processos são fundamentalmente divididos em processos completos (ou

virtualmente completos em solução aquosa) e processos em equilíbrio. Assim, do

ponto de vista didático os tipos de equilíbrios são apresentados gradualmente. Ou

seja, nesse método, o aluno tem contato com os processos diretos, posteriormente os

primeiros equilíbrios que são visualizados a partir das unidades formadas pelos

processos diretos e posteriormente equilíbrios mais complexos, como formação de

precipitado, hidroxocomplexos, complexos e gás-líquido.

Os problemas reais e aqueles para treino, fixação ou compreensão dos tópicos,

podem ser resolvidos 4 níveis:

i) Qualitativo (pelo princípio de Le Chatelier);

ii) Semiquantitativo (pela interpretação de gráficos);

iii) Quantitativo (balanço de matéria e balanço de carga) envolvendo alguns

equilíbrios simultâneos (após apresentados, os equilíbrios ácido-base de

Bronsted são considerados simultaneamente entre si e com outros tipos).

iv) Quantitativo completo. Envolve o cálculo de todos os equilíbrios presentes,

incluindo vários sistemas de complexação, associação iônica, efeitos de

temperatura e de atividade.

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Atualmente, o Método XXI é desenvolvido em algumas Universidades,

sobretudo na Universidade Federal de Viçosa, como um notável método para aparar

arestas histórias e acertar interferências da Química construída no século XIX,

conforme dito inicialmente. Esse método é aplicado em disciplinas de química

analítica da UFV, reconhecida sob os códigos: QUI112 – Química Analítica Aplicada,

QUI113 – Química Analítica Qualitativa e QUI214 – Química Analítica Quantitativa.

4. OBJETIVO

Este trabalho envolve a investigação sobre as equações químicas em livros-

textos tendo como premissa principais a linguagem química no processo de ensino

aprendizagem, o papel marcante do livro didático nas instituições de educação e o

Método XXI, que traz uma abordagem nova sobre a Química de Soluções.

Neste sentido busca-se responder perguntas como “As equações Químicas são

apresentadas nos livros analisados?”, “A partir de quando essas equações

começaram a ser descritas?” e “Como estão dispostas as componentes das EQ nos

livros analisados?”.

Versa também discutir, do ponto de vista dialético, quais obstáculos

epistemológicos surgem quando se usa os componentes das Equações Químicas de

forma inadequada/ desatualizada.

5. PERCURSO METODOLÓGICO

A química das soluções tem sido historicamente abordada como parte inclusa na

Química Analítica. Isso se dá, principalmente, com os trabalhos de Kolthoff acerca dos

equilíbrios para explicar os métodos analíticos (OLIVEIRA et al, 2020).

Com isso, foi escolhido como objeto de pesquisa deste trabalho os livros-textos,

em diferentes épocas de publicação, com ênfase em livros de Química Analítica,

conforme disposto na Tabela 7 (ANEXO I). A escolha desses livros foi embasada na

disponibilidade impressa/digital dos mesmos, além de serem amplamente utilizados

nas escolas de ensino superior. Tendo em vista os livros escolhidos, foram

investigadas como as Equações Químicas estão dispostas nesses livros, além de

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indicar possíveis incoerências e interpretações errôneas sobre os processos descritos

por essas equações.

Conforme mencionado anteriormente e apresentado na Tabela 7 (ANEXO I),

foi analisado uma série de livros e as respectivas Equações Químicas (EQ)

apresentadas por eles, totalizando 30 livros, dispostos ao longo de 171 anos. Os livros

foram selecionados de maneira a abranger uma ampla faixa temporal, considerando

seus anos de publicação. Alguns dos livros foram retirados dos trabalhos de Lopes

(1990), Souza e Porto (2011) e Mori e Curvelo (2014), trabalhos esses que apontam

para os livros utilizados nas Universidades do Brasil. Os outros foram selecionados

mediante disponibilidade no acervo da Universidade Federal de Viçosa ou acervo

online. Na Figura 5, dispõe-se uma distribuição dos livros analisados ao longo dos

anos.

Figura 6 - Ano de publicação dos livros selecionados

Para este trabalho, analisou-se inicialmente, três aspectos importantes dentro

da representação das Equações Químicas: o uso de setas, fases e se, cada processo

é representado por uma equação. Essas análises foram categorizadas a partir das

seguintes questões:

1. No livro, quais são os tipos de setas utilizados para representar as

equações?

1.1. Processos completos;

1.2. Processos cinéticos;

1.3. Processos em equilíbrio

1.4. Processos cinéticos.

1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020

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2. As espécies químicas são apresentadas com as fases de todas as

espécies presentes?

2.1. Desconsidera totalmente as fases das espécies químicas;

2.2. Evidencia as fases apenas quando consideram importante

2.3. Descreve que espécies sem fases estão no meio aquoso.

2.4. Descreve todas as espécies com suas respectivas fases.

3. Como são descritos os processos simultâneos?

3.1. Apresenta equações globais (múltiplos processos numa única equação)

3.2. Descreve cada processo por uma única equação química.

Ao final de cada tópico é descrito como o Método XXI aborda esse componente

da Equação Química.

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, foi observado se os livros apresentavam Equações Químicas, e

somente Francolin (1866) não trouxe nenhuma representação de processos sob a

forma de EQ Posteriormente, analisou-se a maneira como as fases das espécies

químicas foram apresentadas, bem como os tipos de setas utilizadas pelos autores

nessas equações.

Em seguida, avaliou-se como estão dispostas as equações químicas, se são

demonstradas sob a forma de equações globais, elucidando inúmeros processos

através de uma única equação ou se cada equação representa um processo. Em cada

tópico, apresenta-se uma localização histórica indo em direção ao que se tem definido

hoje, assim como o resultado da pesquisa realizada, suas limitações e observações.

6.1. FASES

Foram avaliados livros que variam seu ano de publicação desde 1846 até 2017.

Uma tabela contendo todas as informações está disposta no ANEXO I. Assim, no que

diz respeito as fases das espécies químicas contidas nos livros, os volumes foram

divididos em 3 categorias, dispostas abaixo:

1. N.A.F. Esses livros não apresentam a fase de nenhuma espécie

apresentada nas Equações Químicas, por exemplo:

NaCl + KNO3 → NaNO3 + KCl

Cl2 + H2O ⇆ HCl + HOCl

2. A.F.P. Nessa categoria, as espécies apresentam as fases

parcialmente, ou seja, somente quando o autor considera

importante. Em geral, essa categoria abrange os compostos cujo os

autores consideram que as espécies sem fase estão em solução

aquosa (aq), como, por exemplo:

CaCO3(s) → Ca2+ + CO32-

CaCO3(solid) ⇌ Ca2+ + CO3

2-

↑CO2 + H2O ⇆ H2CO3

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3. A.F. Nesses livros, a grande maioria das espécies que estão

descritas nas equações químicas são apresentadas com suas

respectivas fases, inscritas como subíndice no lado direto, incluindo

espécies aquosas, como descrito na equação abaixo:

MgSO4(s) → Mg2+(aq) + SO4

2-(aq)

Uma adaptação da Tabela 7, com os resultados evidenciados para esse

aspecto analisado é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 - Análise do aspeto Fase, disposto em cada categoria

Categoria Número de referência, título e ano de publicação do livro Autor

1. N.A.F.

1. Instruction in Chemical Analysis, 1846 4. Traté de Chimie Générale, 1880 5. A short course in Quantitative Chemical Analysis, 1881 6. Estudes de Dynamique Chimique, 1884 7. A brief introduction to Qualitative Analysis, 1896 8. Chimie Analytique, 1904 9. Traité de Chimie Générale, 1911 11. An elementar Study of Chemistry, 1917 12. Trattato de Chimica Analitca, 1929 13. Acidez e Basicidade Iônica, 1939 15. Tratado de Química Analítica, 1958 16. Volumetric Analysis, 1961 17. Treatise on Analytical Chemistry, 1961 21. Química Analítica Quantitativa, 1974 22. Química Analítica Cualitativa, 1976

Fersenius, C.R. Schützenberger, P. Howard, J.A. Van’t Hoff, J.H. Medicus, L. Crinon, C. Nernst, W. McPherson, W., W.E. Henderson Treadwell, F.P. Guimarães, L.P. Treadwell, F.P. Kolthoff, I.M., Stenger, V.A. Bennett, C.E. at al. Ohlwiler, O.A. Vogel, A.I.

2. A.F.P.

2. A Manual of Qualitative chemical analysis, 1858 10. A College text-book on Quantitative Analysis, 1912 14. Semimicro Qualitative Analysis, 1952 18. Chemistry, 1963 19. Qualitative Analyses and Chemical Equilibrium, 1966 20. Qualitative Analysis, 1971 23. Química Analítica Qualitativa, 1981 24. Qualitative Inorganic Analysis, 1987 25. Química: um curso universitário, 1995 26. Introdução à semimicroanálise, 1997 27. Fundamentos de Química Analítica, 2006

Northcote, A.B., Church, A.H. Moody, H.R. at all Arthur, P.A. and Smith, O.M. Quagliano, J.V. T.R. Hognes et al. Alexeyev, V.N. Vogel, A.I. Vogel, A.I. Marran, B.M. e Myies, R.J. Baccan, N. Skoog, D.A.

3. A.F. 28. Equilíbrios em Solução Aquosa, 2009 29. Princípios de Química, 2012 30. Química: A Ciência Central, 2017

Oliveira, A.F. Atkins, P.W. e Jones,L. Brown, T.E. at al.

Fonte: Elaborado pelo autor em 2020.

.

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30

Na Figura 7 é apresentado um gráfico comparativo, que relaciona a quantidade

de livros que possuem EQ analisados (29 no total), por categoria.

Figura 7 - Livros analisados por categoria

Observa-se, notoriamente, tendo em vista os livros analisados, que a maioria

dos autores ora desconsideram totalmente as fases das espécies químicas, como

Treadwell (1929), (1958) e Kolthoff e Stenger (1961), ora descrevem somente quando

consideram ser importante, como observado em Vogel (1981) e Skoog (2006). Uma

pequena amostra contempla a categoria A.F. Nessa amostra, vale destaque especial

para Oliveira (2009), Atkins e Jones (2012) e Brown et al (2017), que descrevem as

fases de quase todas espécies químicas, independente se estão em meio aquoso ou

se são precipitados ou sais que entraram no sistema.

Pela amostragem de livros analisados, é possível observar uma linha do tempo

pouco organizada, ou seja, não se observa pontos contínuos acerca da substituição

na forma da escrita das fases. Observe:

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Figura 8 Quantidade de livros analisados, categorizados por faixa de publicação e fases

Levando em consideração a faixa histórica dos livros e seus anos de

publicação, a partir da Figura 8, pode-se notar um movimento interessante: nas

primeiras colunas, há uma predominância dos livros categorizados em N.A.F.,

sobretudo antes de 1950. Após esse período, a categoria A.F.P. se destaca,

especialmente após 1980, que é onde os livros da categoria 3 (A.F) começam a

aparecer.

Com isso, um ponto interessante de se analisar é que a existência de livros

com as categorias de estilo N.A.F. foi gradualmente desaparecendo ao longo das

décadas. Isso é um exemplo da diversidade de pensamentos (importante para uma

discussão de valores) na sociedade científica, que gradualmente acaba aceitando

uma maneira de expressão ou um conceito, em sobreposição a outro, tornando-o

obsoleto. Esse exemplo se adequada à proposta de Kuhn (1962) em relação às

revoluções científicas, e corrobora também com a proposta inicial sobre o processo

de construção da Química ser gradativa, embora essa análise seja um aspecto

bastante isolado e um período que se distancia em décadas de “revolução”.

Acerca dessa demora no processo de “revolução”, é interessante ressaltar que

na análise dessa amostra de livros, os ensaios da necessidade de representar com

algum sinal, nas próprias equações químicas, que o estado da espécie formada

alterou, começa com o livro “A Manual of Qualitative chemical analysis”, de Northcote

and Church (1858), como observado na Figura 9.

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Figura 9 - (NORTHCOT; CHURCH, 1858. p.320)

Percebe-se a seta na espécie CO2, indicando que a espécie formada a partir

da reação é gasosa, além do subescrito “crystaline precipitate”, que indica a formação

de um precipitado.

Outros movimentos como esse também aparece mais adiante, com Moody at

all (1912), Arthur e Smith (1952) e Quagliano (1963). Embora só livros mais recentes,

a partir de 1966 apresentam (s) e (g), muitos dos livros analisados também

representam as fases com auxílio de setas, como Alexeyev (1971) e Vogel (1981) e

(1987). Além da representação da formação de um precipitado ou espécie gasosa por

setas, outros formatos que aparece, é “(solid)”, “(soluction)”, “(s) e (g)”, como em

Arthur e Smith (1952) e Quagliano (1963).

Uma razão para que a categoria A.F. não seja tão presente nos livros didáticos

analisados pode estar associada ao fenômeno da perda de lastro histórico, havendo

a predominância da concepção do século XIX (Oliveira et al, 2019). Como vimos

anteriormente, este autor evidencia que, nessa concepção: a existência do solvente

quando existe a imersão de outras espécies no sistema é desconsidera, trazendo

como consequência a interpretação de que não há alteração na espécie de entrada

quando colocada em solução. Essa visão é abordada nos livros didáticos que

analisamos, o que remonta a não linearidade da construção do conhecimento na

Química, pois concepções obsoletas ainda se fazem presentes.

Ainda que essa abordagem obsoleta seja presente nos livros didáticos, a

categoria A.F.P. soa como um avanço em relação à categoria N.A.F., uma vez que

permite interpretações menos dúbias pelo leitor. Entretanto, livros amplamente

utilizados no ensino colocam as fases somente nas espécies que consideram

importantes, conforme vimos acima. Como consequência, isso pode acarretar

acidentes de interpretação, que posteriormente pode se tornar um obstáculo no

processo de ensino-aprendizagem, sobretudo no que tange a representação fiel sobre

existência de espécies.

Como exemplo, são apresentados dois trechos do livro Vogel (1981), exemplo

esse evidenciado por Aniceto et al, 2020:

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É interessante assinalar o estado físico dos participantes da reação. [...] Caso

não sejam especificadas, as reações se processarão em soluções aquosas

diluídas. (VOGEL, 1981, p.15)

O grau de dissociação varia de acordo com a diluição. Quando atingimos

diluições muito grandes, a dissociação dos eletrólitos é praticamente

completa.

NaCl ⇆ Na+ + Cl-

CaCl2 ⇆ Ca2++ 2Cl-

(...)No caso do ácido clorídrico, temos íons hidrogênio e cloreto em solução:

HCl ⇆ H+ + Cl-. (VOGEL, 1981, p.19)

Nesse livro, o autor deixa explícito que as espécies que não apresentam as

fases estão em solução aquosa. Porém, ao verificar as equações dispostas

posteriormente, Vogel assume a existência do “NaCl(aq)”, “CaCl2(aq)” e “HCl(aq)”. Isso

porque as suas fases não são apresentadas nas equações química citadas e

consequentemente estão em meio aquoso. Essa expressão ambígua induz o aluno a

considerar a existência dessas espécies em solução, o que não acontece, por se

tratar de eletrólitos fortes, que inicialmente existem no estado sólido e se dissociam

completamente quando são inseridos na solução, passando a existir somente os

íons solvatados provenientes da dissociação completa (salvo casos em que a solução

se encontra saturada).

Além disso, percebe-se que, em alguns casos, as informações de espécies

formadas fora da fase aquosa (precipitado e espécies gasosas) estão dispostas ao

longo do texto, e não expresso na própria equação, ou seja, se utiliza uma outra

linguagem para apresentar as informações das espécies químicas em questão. Neste

trabalho, foi considerado exclusivamente as informações constantes nas equações

químicas, por essas serem uma linguagem bastante completa, não necessitando

informações adicionais tanto quanto possível.

Faz-se aqui um parêntese. É comum em conversas com professores e alunos

sobre esse fato que o argumento seja que “é obvio que se sabe que a dissociação é

completa”. Por outro lado, a concepção do século XIX é observada entre os mesmos

quando não sabem ou vacilam para confirmar que uma solução equimolar de nitrato

de potássio e cloreto de sódio é igual à solução similar de nitrato de sódio de cloreto

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34

de potássio. Essa dicotomia parece ser reforçada, portanto, nos textos como esse

citado e pode, posteriormente, ser considerado como um obstáculo ao processo de

ensino-aprendizagem, por trazer contradições e informações que ora induzem à

formação de senso crítico incorreto, ora cobra de forma excedida que o aluno saiba

informações do sistema quando elas não estão apresentadas de forma clara e

objetiva.

No que tange a regulamentação dessas representações, dispõe-se na IUPAC,

o seguinte trecho a respeito das fases das espécies químicas:

“Os seguintes símbolos, de uma, duas ou três letras são usados para

representar os estados de agregação das espécies químicas. As letras

são anexadas ao símbolo da fórmula entre parêntese e devem ser

expressos em tipo romano (na vertical), sem ponto final.

(g) gás ou vapor

(l) líquido

(s) sólido

(aq) solução aquosa [...].

(IUPAC, 1993. p. 47).Tradução própria

Observe a importância de se ter, de forma clara e suscinta, as regras que

definem atualmente o assunto aqui tratado. Nessa direção, tudo que for produzido

cientificamente, sobretudo na área de Química, já tem um caminho sistematizado a

seguir. Nesse percurso, a proposta do Método XXI, que corrobora com o que propõe

a IUPAC sobre as fases pode então, pode vir a ser um consenso da sociedade

científica no futuro, se sobreviver ao período de diversidade de pensamentos como

ocorreu previamente com as categorias NAF e AFP.

6.2. SETAS

Historicamente, a proposta da seta dupla com sentido opostos (⇆) foi

introduzida por Jacobus Henricus van’t Hoff em 1884. É evidente que já se ensaiava

o conceito de equilíbrio químico na época, como diz o próprio van’t Hoff em seus

escritos, citando grandes autores como Bertholtet, Pfaundler, Pfeffer, Raoult e

Guldberg et Wagge, trabalhos esses que fundamentaram suas ideias (van’t Hoff,

1884). Toda via, para Chagas (2001), os temas abordados em “Étude dinamyque

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chimique”, antes estavam dispersos na comunidade científica, geralmente associados

à alguns dados empíricos. Por essa característica de coesão desse conteúdo e

inserção de novas ideias, ele se tornou o primeiro cientista a receber o prêmio Nobel

(prêmio famoso por nomear pessoas que se destacaram em áreas como medicina,

química, literatura e afins).

Interessante ressaltar que o trabalho desse importantíssimo autor dá luz a

simbologia das reações de equilíbrio, uma vez que ele mesmo caracteriza os

processos conhecidos na época em dois tipos:

(...) deve-se primeiro notar a distinção a ser feita entre uma transformação

química total e a transformação química limitada. O primeiro é expresso em

poucas palavras: é a transformação química geralmente conhecida,

caracterizada por uma mudança total de uma substância (sistema inicial) em

outra que se difere dela (sistema final).

A equação química traduz essa transformação indicando em seu primeiro

membro o sistema inicial e, no segundo, o sistema final. Por exemplo:

Cl2 + H2 = 2ClH

A transformação limitada, da qual devemos o conhecimento a Berthollet, é

caracterizada pelo fato de parar antes de ser total. No final, encontramos uma

parte dos corpos primitivos inalterada na presença de corpos recém

formados; é assim que na ação do ácido clorídrico sobre o nitrogênio ocorre

uma transformação, levando ao ácido nítrico e sal marinho. (...) Vou propor

traduzir esta expressão pelo seguinte símbolo:

HCl + NO3Na ⇆ NO3 + ClNa.

(VAN’T HOFF,1884. p. 4). Tradução livre

A importância dos seus estudos para este trabalho se traduz no fato dele inserir

a diferenciação das setas para distinguir os processos completos, mais conhecidos e

descritos na época, daqueles em que as espécies químicas pudessem ser formadas

tanto numa direção quanto em outra, com uma taxa de formação própria, isto é, um

processo cinético onde reagentes são formados a partir dos produtos e vice-versa,

sendo cada um deles representados por uma constante K de velocidade.

Tendo em vista a Lei da Ação das Massas, proposta por Guldberg e Waage em

1860, Van’t Hoff insere a visão cinética desses sistemas, traduzindo o processo de

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equilíbrio químico como uma condição limite de um processo cinético (van’t Hoff,

1884).

Como vimos na primeira equação descrita por van’t Hoff, é interessante

ressaltar que o símbolo matemático de ‘igual’ (=) era amplamente utilizado para

descrever as reações químicas, que anteriormente tinham apenas esse viés

estequiométrico. Isso se dá, justamente no sentido de considerar a reação uma

equação matemática, com fatores estequiométricos a serem levados em consideração

(por uma possível interferência das ideias de Kant e a necessidade da Química inserir

parâmetros matemáticos em seu conhecimento, como já discutimos). Posteriormente,

de forma gradativa a distinção entre diferentes processos existentes exigiu o uso de

outros símbolos.

Percebendo essa necessidade, Hugh Marshall, em 1902, publica “Modification

of sign of Equality”, onde propõe novos tipos de setas para representar processos

diferentes. Ele faz uma categorização bastante contundente a respeito das setas

expressas nas equações químicas:

“(...) (2) O sinal comum de igualdade deve ser usado apenas em equações

que são necessárias apenas para fins de cálculo e etc., para representar

igualdades em quantidades de matéria, independentemente de as

substâncias representadas em um lado da equação mudam diretamente para

aqueles do outro lado ou não. Assim, a equação

KCl + 3H2O = KClO3 + 3H2

não representa uma mudança química capaz de ser diretamente realizado,

mas pode ser empregado para cálculos relativos a preparação eletrolítica de

clorato de potássio.

(3) Quando se deseja escrever uma equação química completa, não apenas

representando as quantidades de matéria envolvida, mas também indicando

claramente que a mudança química pode ocorrer diretamente em acordo com

a equação, então o sinal de igualdade deve ser composto por flechas

farpadas isoladas conforme ilustrado abaixo, modificações sendo

introduzidas para as principais variedades de ações químicas que é desejável

diferenciar

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(MARSHALL, 1902. p. 86). Tradução livre

Dessa forma, de acordo com o que concordamos sobre a construção da

Química como coletiva/ colaborativa e gradual, Marshall (1902) propõe o uso da seta

dupla farpada (⇋) para descrever os processos observados que estão em equilíbrio.

Embora ela tenha sido proposta juntamente com várias outras, ao longo do tempo

apenas essa foi amplamente utilizada e atualmente é considerada a seta adequada

para descrever um processo em equilíbrio químico.

Tendo em vista todos os aspectos mencionados anteriormente, foram

analisados os livros selecionados de acordo como tipo de seta que os autores

disponibilizam nas EQ Foram encontrados 4 tipos de setas distintas, são elas:

1. ‘=’ seta de igualdade. Tipo de seta geralmente utilizada para descrever um

processo estequiométrico, anteriormente utilizada em quase todos os tipos

de equações químicas;

2. ‘→’ seta direta, que indica um processo completo;

3. ‘⇆’ seta dupla. Evidencia o processo cinético, trazido por Van’t Hoff e ainda

encontrado nos livros didáticos para descrever processos em equilíbrio e

4. ‘⇌’ seta dupla farpada, na qual descreve um processo em equilíbrio.

As setas foram encontradas em diferentes combinações entre elas. Nesse

primeiro momento, analisaremos os dados de forma mais generalizada, para

posteriormente, lançarmos o olhar para cada seta. A Tabela 2 traz os tipos de setas

utilizadas pelos autores.

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Tabela 2 Categorização geral das setas por livros analisados

Categoria Número de referência, título e ano de publicação do livro Autor

=

1. Instruction in Chemical Analysis, 1846 2. A Manual of Qualitative chemical analysis, 1858 4. Traté de Chimie Générale, 1880 5. A short course in Quantitative Chemical Analysis, 1881 7. A brief introduction to Qualitative Analysis, 1896 8. Chimie Analytique, 1904 9. Traité de Chimie Générale, 1911

Fersenius, C.R. Northcote, A.B., Church, A.H. Schützenberger, P. Howard, J.A. Medicus, L. Crinon, C. Nernst, W.

=, ⇆ 6. Études de Dynamique Chimique, 1884 10. A College text-book on Quantitative Analysis, 1912 13. Acidez e Basicidade Iônica, 1939

Van’t Hoff, J.H. Moody, H.R. at all Guimarães, L.P.

=,⇌ 19. Qualitative Analyses and Chemical Equilibrium, 1966 20. Qualitative Analysis, 1971 22. Química Analítica Cualitativa, 1976

Hognes, T.R. et al Alexeyev, V.N. Vogel, A.I.

→, ⇆ 11. An elementar Study of Chemistry, 1917 16. Volumetric Analysis, 1961 26. Introdução à semimicroanálise, 1997

McPherson, W., W.E. Henderson Kolthoff, I.M., Stenger, V.A. Baccan, N.

=, ⇆ , → 12. Trattato de Chimica Analitca, 1929 15. Tratado de Química Analítica, 1958 24. Qualitative Inorganic Analysis, 1987

Treadwell, F.P. Treadwell, F.P. Vogel, A.I.

→, ⇌

14. Semimicro Qualitative Analysis, 1952 17. Treatise on Analytical Chemistry, 1961 18. Chemistry, 1963 21. Química Analítica Quantitativa, 1974 25. Química: um curso universitário, 1995 27. Fundamentos de Química Analítica, 2006 28. Equilíbrios em Solução Aquosa, 2009 29. Princípios de Química, 2012 30. Química: A Ciência Central, 2017

Arthur, P.A. and Smith, O.M. Bennett, C.E. at al. Quagliano, J.V. Ohlwiler, O.A. Marran, B.M. e Myies, R.J. Skoog, D.A. Oliveira, A.F. Atkins, P.W. e Jones,L. Brown, T.E. at al.

→, ⇆, =, ⇌ 23. Química Analítica Qualitativa, 1981 Vogel, A.I. Fonte: Elaborado e organizado pelo autor em 2020.

Movimentos interessantes podem ser observados ao analisarmos a Tabela 2.

Percebe-se que os livros mais antigos estão organizados no primeiro conjunto, onde

somente a seta “=” aparece. Isso muito diz sobre a visão inicial da equação química

representar o processo de maneira estequiométrica e matemática.

Um outro ponto a se considerar é que, a combinação de setas utilizada pelos autores

nos livros mais recentes são “→” e “⇌”, o que é de se esperar, uma vez que é o que

ordena as reações hoje em dia, como veremos posteriormente.

Com isso, na Figura 10 podemos perceber a disposição das setas presentes

nos livros de acordo com a faixa de data de publicação do livro analisado.

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Figura 10 - Gráfico de disposição das setas por ano de publicação dos livros analisados

Ao analisarmos o gráfico disposto na Figura 10, observa-se o gradual

desaparecimento da faixa azul (seta ‘=’) em comparação com faixa a verde (seta “→”).

Percebemos também a substituição da seta “⇆” pela “⇌” para descrever processos

em equilíbrio, sobretudo tendo como justificativa a sistematização da forma como

escrever cada processo, traçado pela comunidade científica e atualmente pela IUPAC.

Observe que isso caminha junto com o que propomos sobre o processo de construção

do conhecimento na Química ser caracterizado por não linear, além de gradual e

colaborativa.

Para se ver essa substituição gradual, faz-se uma adaptação da Tabela 2 e

Figura 10, podendo assim separar as setas que representam os processos em duas

categorias: as que representam processos completos e as que representam o

equilíbrio. Primeiramente, discorre-se sobre a primeira categoria e posteriormente,

trata-se da segunda.

As setas que concebem processos completos apresentam a seguinte

disposição ao longo dos anos:

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Figura 11 - Gráfico comparativo entre as setas de processos completos

Embora a amostragem de livros seja considerada pequena, em comparação

aos livros publicados ao longo do tempo, nesse gráfico podemos perceber claramente

o movimento de substituição da seta “=” para “→”, conforme mencionamos

anteriormente, sobretudo a partir de 1950. Observe que, as publicações de Marshall,

que data 1902 demorou um tempo suficientemente grande para ser difundido, uma

vez que o último livro a constar a seta de igualdade para processos completos foi

publicado em 1987 por Vogel.

Considera-se que o grupo dos livros que apresentam as duas setas nesse

tópico mencionadas, como por exemplo Treadwel (1929 e 1958) e Vogel (1981 e

1987) diferencia os processos como descrito por Marshall. Além disso, observou-se

que o primeiro livro a aparecer a seta “→” foi publicado em 1917, por McPherson e

Henderson, e já nesse livro a seta de igualdade não se faz presente.

Dos livros analisados, os publicados após 2010 não apresentam a seta de

igualdade para representar o processo completo. Assim, se tratando da segunda

categoria, versa comparar as setas descritas pelos autores no processo de equilíbrio.

Obtêm-se o seguinte resultado:

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Figura 12 - Gráfico comparativo entre as setas de processos em equilíbrio

Novamente podemos perceber a mudança das setas para representar esses

processos gradualmente ao longo dos anos. Destaca-se que o primeiro livro analisado

a trazer a seta “⇆” para descrever processos em equilíbrio data 1884, que são os

estudos de Van’t Hoff, como já mencionado. Posterior a ele, em 1912 e 1917, por

Moody, H.R. et al e McPherson e Henderson, respectivamente. Observa-se que essa

data é pouco posterior aos trabalhos de Marshall sobre utilizar a seta dupla farpada

(⇌) para esse tipo de processo, embora a atualização dessa nos outros livros

analisados se perdurou por muito tempo.

Isso evidencia a lentidão desse processo científico de sistematização. Evidente

que aqui deve se levar em consideração a dificuldade de comunicação vigente na

época, embora livros datados muito mais recentes, como Bacan (1997) e Vogel (1987)

ainda utilizam a seta ⇆ para descrever equações químicas que deveriam ser escritos

com a seta dupla farpada.

Levando em consideração esse atraso na atualização desses detalhes nos

livros analisados, o primeiro que traz a seta dupla farpada em suas EQ é o Arthur e

Smith (1952), seguido de Quagliano (1966). Esses livros já descrevem os processos

sob a luz das ideias de Marshall (1902).

Remontando essas ideias, atualmente, a IUPAC descreve como deve ser essas

setas da seguinte forma:

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1830-1859 1860-1889 1890-1919 1920-1949 1950- 1979 1980-2009 2010-2020

⇆ ⇌

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(...)(iv) Equações para reações químicas

Os símbolos que conectam os reagentes e os produtos tem os seguintes

significados:

H2 + Br2 = 2HBr relação estequiométrica

H2 + Br2 → 2HBr reação direta

H2 + Br2 ⇆ 2HBr reação em duas direções

H2 + Br2 ⇌ 2HBr reação em equilíbrio”

(IUPAC, 1993. p. 45). Tradução própria

Tendo em vista a análise realizada acima e as informações sobre a

sistematização atual, destaca-se uma das consequências de usar a seta inadequada

no processo, consequências essas que também perpassam pela conclusão da

existência de espécies, que na verdade, são inexistentes em solução. Observe

inicialmente, o exemplo que foi utilizado no tópico anterior, “fases”:

NaCl ⇆ Na+ + Cl-

CaCl2 ⇆ Ca2++ 2Cl- (VOGEL, 1981, p.19)

O autor afirma a coexistência dessas espécies em solução, ao descrever esse

processo de dissociação dos sais Cloreto de Sódio e Cloreto de Cálcio. Como já

discutido, os processos descritos pelas setas mencionadas não são um equilíbrio, mas

sim processos cinéticos. Além disso, a dissociação desses sais ocorre de maneira

completa, conforme também mencionado anteriormente. Para esse tipo de processo

convém representar com a seta direta (→). Salvo, claro, aqueles processos em que

se tem uma solução saturada, onde o equilíbrio químico é estabelecido entre o sólido

e seus íons solvatados em solução.

Esse mesmo autor mostra processos, utilizando os quatro tipos de setas, veja

os exemplos dispostos na Tabela 3.

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Tabela 3 - Exemplos de EQ descritas por Vogel (1981)

Seta Exemplo Localização

= MnO + Na2CO3 + O2 = Na2MnO4 + CO2 ↑ 2Fe3+ +2S2O3

2- = 2Fe2+ + S4O62-

pág.163 pág. 587

→ Ag+ + Cl- → AgCl↓ NH4

+ + HNO3 → N2O↑ + H+ 2H2O

pág.227 pág. 578

⇌ NH+ + CO3

2- ⇌ NH3 + HCO3-

Be(OH)2 + 2OH- ⇌ [Be(OH)4]2- pág.585 pág. 578

⇆ Ag[(NH3)2]+ + Cl- + 2H+ ⇆ AgCl↓ + 2NH4

+ pág. 458

CH3COO- + Ag+ ⇆ CH3COOAg ↓ pág. 399

Levando em consideração que as setas duplas farpadas só aparecem ao final

do livro, pergunta-se da clareza na descrição desses processos. Além disso, será que

o autor deixa evidente ao longo do texto o uso de cada seta separada, e se está de

acordo com o que é definido pela IUPAC?

Embora sejam questionamentos muito perspicazes, essas respostas não serão

trazidas aqui. O que se discute acerca disso são os inúmeros processos de equilíbrio

descritos acima, mas não evidenciados de maneira clara. Esse assunto será mais

abordado no próximo tópico, acerca das Equações Químicas.

Ainda assim, destaca-se que a não especificação das setas de maneira clara

também acarreta interpretações incorretas. Extrai-se da Tabela 3 a equação de

formação do cloreto de prata a partir dos íons constituintes.

Ag+ + Cl- → AgCl↓ (VOGEL, 1981. pág. 227)

Observa-se que se utiliza a seta direta para descrever esse evento. O que se

sabe é que, quando se tem íons prata e cloreto no meio, há, de fato a formação de

um precipitado (AgCl), mas o uso da seta de processo direto dá a entender a

inexistência desses íons em solução posterior a formação do precipitado. Concorda-

se que, conceitualmente, esse se trata de um equilíbrio de precipitação, e que deveria

ser escrito da seguinte forma:

AgCl(s)⇌ Ag+(aq) + Cl-(aq) pks

Claro, símbolos novos aparecem na equação descrita acima, como a constante

de solubilidade do cloreto de prata. O que também se observa é a escrita da fase das

espécies, bem como a mudança da seta, uma vez que, na solução, coexistem tanto

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os íons formadores quanto o precipitado formado. A partir disso, entende-se que,

mesmo com as respostas das questões feitas acima acerca do esclarecimento do

autor sobre a diferenciação das setas, essa interpretação soa suficientemente dúbia

pro aluno.

A diferença entre os usos das setas de processo completo ou de equilíbrio

parece estar associada à ideia de que a equação química é uma expressão limitada

a uma condição experimental muito particular e também a um objetivo muito restrito,

como por exemplo, ao cálculo numérico que virá a ser utilizado quantitativamente, ou

mesmo, como no exemplo anterior, somente a formação do precipitado. Logo, o que

o autor quis evidenciar no exemplo da formação do cloreto de prata é apenas a

formação do precipitado, não se preocupando muito com os íons, que também

existem na solução.

Esse não parece ser um exemplo isolado. Outros livros como Skoog (2006),

Quagliano (1963), Atkins e Jones (2012) e Brown et al (2017), tratam de forma

semelhante alguns desses processos. Equações como

NH4Cl + NaNO3 → NH4NO2 + NaCl (QUAGLIANO, 1963. pág.623) e

Al2O3(s) + 6HCl(aq) → 2AlCl3(aq) + 3H2O(l) (ATKINS E JONES,2012. pág.429)

destacam processos de formação de novas espécies de forma completa, sem levar

em consideração os íons envolvidos em cada um dos produtos. Um outro exemplo

que também pode ser apresentado, é a formação do iodeto de chumbo descrito por

dois livros diferentes:

2NaI(aq) + Pb(NO3)2(aq) → PbI2(s) + 2NaNO3(aq) (SKOOG, 2006. pag.76)

Pb(NO)3(aq) + 2KI → PbI2(s) + 2KNO3(aq) (BROWN, 1977, 9ª ed. pag.105)

Observe que as equações químicas nesses exemplos também apresentam

somente o sólido formado, sem demonstrar os íons responsáveis por sua formação.

O que se chama atenção, é que no Skoog (2006) aparece a seguinte nota, subscrito

abaixo da equação:

Nesse caso, é vantajoso mostrar a reação em termos dos compostos

químicos. Se desejarmos focalizar nossa atenção sobre as espécies que

efetivamente reagem, a reação iônica líquida seria preferível:

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2I-(aq) + Pb2+(aq) → PbI2(s).

(SKOOG, 2006. pág76)

Essas observações são importantes para o processo de ensino-aprendizagem,

pois ajudam o leitor a entender o processo de uma maneira mais clara. Entretanto,

ainda que seja pertinente essa observação, a seta utilizada por ele para descrever o

processo ainda permanece pouco adequada, conforme já mencionamos

anteriormente.

Observa-se que em livros como Arthur e Smith, (1952), Quagliano (1963) e

Hogness et al (1966), não se usa a seta ‘⇆’, mas sim a atualmente aceita para

descrever os processos no equilíbrio, enquanto livros mais modernos, como Vogel

(1981), ainda a utilizam. Embora proposto por Marshall em 1902, a seta dupla farpada

(⇋) tem sido utilizada com essas variações inadequadas.

Sobre essas variações inadequadas, a esse fenômeno está associado ao fato

de que o livro didático parecer ter um papel importante na velocidade do processo da

divulgação científica. Se os livros-textos são coerentes na informação científica

apresentada, essa informação se solidifica, como apresentado para o uso da fase para

ressaltar a presença do sólido em uma equação química. Entretanto, a presença de

livros com informações desencontradas ou mesmo obsoletas, pode acarretar

conclusões equivocadas e dúbias.

Especula-se que o fator central que justifica essas incoerências seja, além do

processo lento de divulgação científica anteriormente citado, a canonização desses

livros didáticos. Souza et al (2011. p.874) detecta como problemática o livro ser

considerado um “corpo de conhecimento inquestionável e irrevogável, criando a

tendência à crença de que uma afirmação está em um livro por tratar-se de um fato”.

Para afirmar isso, eles citam em seu trabalho o seguinte trecho, escrito por Coracini

(1999):

[...] naturalização do uso do livro didático pelo professor (e,

consequentemente, pelos alunos), que parece nem sequer perceber a

limitação de sua própria liberdade: afinal, cede-se ao livro a autoridade de

ditar as regras do jogo, de delimitar os conteúdos e as metodologias a serem

adotadas, em conformidade, é claro, com a ideologia vigente. (CORACINI,

1999, p. 37, apud, SOUZA et al, 2011)

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Dessa forma, os autores afirmam que se torna praticamente inevitável a

influência que os livros didáticos exercem sobre o processo científico como um todo.

Daí, nota-se a necessidade de revisão constante desse material, e que essa conversa

entre as edições e atualizações sejam feitas, e não só transcritas (Souza et al, 2011).

O Método XXI considera que as setas configuram uma parte importante da

linguagem química. Para esse método é importante que cada seta seja colocada no

lugar adequado, seja a seta direta pra representar o processo completo, e a seta dupla

farpada para representar processos em equilíbrio. Como exemplo, utilizaremos o

processo de dissolução do bicarbonato de sódio, sal amplamente utilizado no combate

a acidez estomacal. Observe a Figura 13:

Figura 13 - Descrição dos processos pelo Método XXI

Uma forma interessante de abordar a questão da existência das espécies de

uma equação química, trazida no Método XXI, é considerar que no processo

completo, a espécie localizada no reagente foi totalmente convertida nos produtos.

Assim, quando se deseja afirmar a não existência dessa espécie em solução, utiliza-

se a seta “→”. Dessa forma, quando se vê a primeira equação da Figura 12, podemos

afirmar então que o bicarbonato de sódio sólido foi totalmente convertido, ou seja,

dissociado nas espécies Na+(aq) e HCO3

-(aq).

Em contrapartida, ao utilizar a seta dupla farpada, de equilíbrio, evidencia-se a

coexistência dessas espécies no meio, tanto os produtos quando os reagentes. Com

isso, interpreta-se a segunda equação como um equilíbrio, uma dissociação parcial,

do ácido carbônico com o íon bicarbonato, todos eles coexistindo em solução aquosa.

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Por conseguinte, ao se adequar a essa linguagem, percebe-se que as

interpretações dúbias causadas pelo uso inadequado de setas podem ser evitadas,

partindo do pressuposto que o leitor tenha acesso a essa explicação da função de

cada seta e o que nela se imprime.

Um outro ponto interessante, é que, para que essa análise possa ser feita, de

maneira completa e clara, é importante que cada Equação Química represente um

único processo. Isso será visto no próximo tópico.

6.3. EQUAÇÕES GLOBAIS E EQUILIBRIOS SIMULTÂNEOS

Como vimos, as Equações Químicas configuram uma parte importante da

linguagem química e no processo de ensino-aprendizagem (DAMASCENO et al,

2008; MICHAŁOWSKA-KACZMARCZYK et al, 2015; ANICETO et al, 2020).

Entretanto, quando voltamos aos ensaios da formação da Química como ciência, os

processos não eram representados por equações.

Oberve como Michałowska-kaczmarczyk (2015) traz a preparação da pólvora,

descrito por Roger Bacon, em “De ssecretis Operibus artis et Naturae et de Nulitate

Magiae”, em 1268:

A prescrição, supostamente contida em um criptograma, era o seguinte:

“pegue 7 partes de salitre, 5 partes de carvão e 5 partes de enxofre” (Roger

Bacon, 2014); sendo escrito em forma mais contemporânea:

7KNO3 + 5C + 5S = pólvora.

MICHAŁOWSKA-KACZMARCZYK; ASUERO; MICHAŁOWSKI, 2015, p. 172)

Tradução própria

Relatos como esse soavam como receitas de bolo e se fazem presentes desde

a Alquimia até o momento onde começaram a aparecer as equações químicas

propriamente ditas. Esses mesmos autores apontam que “ao considerar a

estequiometria da reação, esses autores estão focados em substratos, e os produtos

não são especificados explicitamente”. (MACC’A; BOMBI, 1986 apud

MICHAŁOWSKA-KACZMARCZYK; ASUERO; MICHAŁOWSKI, 2015). Esse relato

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respalda o que dizemos sobre ideia das setas utilizadas com o sinal de igualdade, “=”,

representarem processos diretos de maneira meramente matemática e

estequiométrica, sob a luz das concepções XIX e XX, justamente por tratarem

somente das espécies de entrada no sistema, não dando muita atenção aos produtos

que eventualmente surgem a partir das interações entre as espécies em solução.

Para Crosland (1959), as primeiras representações começaram a ser

esboçadas por Jean Beguin, em seu trabalho entitulado Élémens de Chymie, 1615.

Para exemplificar, a Figura 13 apresenta um evento experimental observado por

Beguin. Esse evento é o aquecimento do “sublimado corrosivo com sulfeto de

antimônio”:

Figura 14- Diagrama utilizado por Jean Begin, em 1615 (CROSLAND, 1959. p.76)

Ainda de acordo com Crosland (1959) no final do século XVIII, Willian Cullem

começa a discutir a questão das equações químicas de forma mais clara e didática.

Indo de encontro ao que dizia Kant (1724-1804), Cullen é considerado um dos

primeiros a insistir que a química era uma ciência e não uma cerva da

medicina/farmácia. Com o acréscimo crescente e gradativo de novas substâncias a

conhecimento da sociedade, o estudo das reações químicas, ou seja, a forma como

essas espécies se relacionam, se tornara importante. Esse autores ajudaram a tornar

isso mais claro, evidenciando o curso das reações através de diagramas e esquemas

(CROSLAND, 1959).

Por mais que os diagramas de Cullen não são considerados as primeiras EQ,

elas são infinitamente importantes justamente por tornar o entendimento desse

processo de construção do conhecimento acerca das reações químicas muito mais

claro. Se diz isso, porque esse importante estudioso da época, trazia uma explicação

da simbologia e linguagem utilizada por ele, diferentemente do que víamos na

Alquimia por exemplo. A Figura 15 apresenta os diagramas evidenciados por Cullen,

bem como as “reações correspondentes”, segundo Crosland (1959).

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Figura 15 - Diagrama de Cullen x Equações mais atuais por (CROSLAND, 1959. p. 78)

Esse exemplo é seguido por uma explicação detalhada do que cada símbolo

que compõe a linguagem representa. Todavia, em 1757-9, Cullen publicava em seus

trabalhos equações como descrita na Figura 16. Observe as setas, não só as duas

em formato de “x”, mas também a da direita da imagem, indicando a formação do

cloreto de prata.

Figura 16 - Diagramas utilizados pro Willian Cullen, em 1757. (CROSLAND, 1959. p. 77)

Com isso, ressalta-se um ponto interessante: ao se traçar um paralelo com

Vogel, em 1981, onde esse mesmo autor descreve a formação do precipitado de

cloreto de prata utilizando a seta para baixo, “↓”, conforme vimos na sessão 4.2.

SETAS, percebe-se uma diferença de 224 anos, onde essa mesma seta foi utilizada

para o mesmo objetivo. Isso evidencia, mais uma vez, o processo de contrução do

conhecimento Químico como não linear, uma vez que algo proposto e utilizado no

século XVIII ainda se faz presente nos livros mais atuais.

Ainda nesse contexto, ao se tratar das setas de equilíbrio trazidas por Van’t

Hoff, afirmou-se que já se tinha ensaios sobre a seta dupla e os processos de

equilíbrio. De fato, Crosland (1959) evidencia um exemplo trazido por Cullen e seus

trabalhos, em 1759-60:

Figura 17 - Processo trazido por Cullen, em 1759 (CROSLAND, 1959. p. 79).

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50

Ele descreve esse processo como uma reação de aquecimento, e interação do

“ácido vegetal” e “o álcali volátil”, sendo o ácido acético e amônia, respectivamente.

(CROSLAND, 1959). Observa-se a simbologia, cada elemento sendo represetando

de cada forma, as setas, os destaques em colchetes. Apesar desses simbolos já

serem utilizados para representar as espécies anteriormente, Cullen esquematizou

isso, inseriu os “dardos” e explicou o que se quis dizer com cada um dos símbolos.

Um outro tipo de diagrama utilizado por Cullen é o sistema de alavancas.

Figura 18 - Diagrama "alavanca", por Cullen 1760 (CROSLAND, 1959. p. 80)

Nesse diagrama, Cullen demonstra os processo de acordo com a tabela de

afinidades, explorada e publicada por Etienne-François Geoffroy, 1718. De acordo

com Crosland (1959), os trabalhos de Cullen são uma extensão do trabalho de

Geoffroy, o que apoia também a ideia do caráter colaborativo da construção da

Química, discutida anteriormente.

Ao longo dos anos, as EQ sofreram mudanças significativas no sentido de

tornar mais claro e suficiente nos estudos de Química. Tendo em vista esses contextos

históricos, um passo para darmos antes de categorizar os livros que apresentam as

equações químicas, vamos nos ater a explicar os dois tipos de EQ encontradas

nesses livros didáticos:

1. Equações Globais

2. Cada equação representa um único processo.

Em 2 as EQ são apresentadas de forma a representar um único processo. Em

contrapartida, em 1, as equações são apresentadas de forma global, ou seja, as EQ

descrevem inúmeros processos simultaneamente. Corroborando com Aniceto et al

(2020), um exemplo que podemos citar é

“Um exemplo de um procedimento gravimétrico envolvendo a volatilização de

dióxido de carbono é a determinação da quantidade de bicarbonato de sódio

presente em comprimidos antiácidos. Aqui, uma massa de amostra de

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comprimidos finamente triturados é tratada com ácido sulfúrico diluído para

converter o bicarbonato de sódio em dióxido de carbono.

NaHCO3(aq) + H2SO4(aq) → CO2(g) + H2O(l) + NaHSO4(aq)

(SKOOG, 2006. p. 316)

A partir do exemplo acima, podemos perceber uma das características

principais das equações globais: a representação simplória e resumida de uma

variedade de processos que acontecem quando se coloca em solução o bicarbonato

de sódio e ácido sulfúrico. Nessa equação não se apresenta todas as espécies que

existem no sistema, dando atenção somente a aquelas consideradas importantes.

Acredita-se que a versatilidade apresentada por esse tipo de equação

influencia no processo de aprendizagem por elas descreverem uma situação

específica, restrita a condições experimentais muito particulares. O que se quer dizer

é que, ao perturbar o sistema, aumentando o pH por exemplo, não se compreende

muito bem o que acontece com as espécies envolvidas nesse sistema. Como as EQ

globais são trazidas como sendo a soma de todos os processos, ela se apresenta de

maneira mutável de acordo com o problema. O que pode eventualmente tornar um

obstáculo epistemológico, como evidenciado por Bachelard (1996)

Estando demonstrado a natureza dos dois tipos de equações, ressalta que, a

partir da análise realizada acerca dos livros didáticos, apenas Francolin (1866) não

apresenta EQ ao longo do seu texto e somente Oliveira (2009) traz as equações

descritas da forma 2, ou seja, cada E.Q. representando um único processo.

Destaca-se algumas equações globais encontradas nos livros analisados:

Tabela 4 - Equações encontrada na análise de alguns livros

i.equação Equação observada Referência

1 AgCrO4 + 2NaCl = 2AgCl + Na2CrO4 (APPLETON, 1881, p. 94)

2 CaCl2 + (NH4)2C4O2 = ↓CaC2O4 +2NH4Cl (ALEXEYEV, 1971. p.29)

3 Ba++ +CrO4-- = BaCrO4 (ALEXEYEV, 1971. p.29)

4 3CNS- +Fe+++ ⇆ Fe(CNS)3 (ALEXEYEV, 1971. p.142)

5 Cu++ + S-- = CuS(solid) (HOGNES at all, 1966, p.198)

6 CO2(g) + 2OH- → CO32- + H2O (MAHAN e MYIES, 1995 p.124)

7 Pb(NO3) (aq) +2KI(aq) → PbI2(s) + 2KNO3(aq) (BROWN et al, 2017, p.153)

8 CaCO3(s) + CO2(g) + H2O ⇆ Ca2+ + 2HCO3- (VOGEL, 1981, p.32)

9 2NaOH + CO2 → Na2CO3 + H2O ( SKOOG, 2006. p, 316)

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Dessas equações citadas na Tabela 4, chama-se atenção à apresentada em 2,

7, 8 e 9. Observa-se que elas representam inúmeros processos ao mesmo tempo,

característica marcante nas EQ Globais. Essa característica causa interpretações

suficiente dúbias e obscuras, conforme já mencionamos. Com isso, recorre-se ao

Método XXI como uma possível resposta à essas interpretações, já que é notório o

fato dessas equações globais serem amplamente utilizadas, não só em livros

didáticos, mas em toda a rede de ensino mundial (vide os livros analisados, que

apresentam, em sua grande maioria equações globais).

Nesse método, a escrita das equações deve ocorrer de maneira a representar

um único processo (equações do tipo 2). Para conversão dessas equações, o objetivo

primordial do método, no recorte da escrita das EQ, é desmembrar a equação global

nas respectivas partes envolvidas, de forma que cada processo seja descrito por uma

equação. Utilizando o exemplo anterior, por Skoog (2006), faz-se a representação de

cada processo individualmente apresentado por uma equação, de acordo com a

proposta do Método XXI, disponibilizando as EQ na Tabela abaixo:

Tabela 5 Descrição dos processos químicos usando o Método XXI

Processo representado Equação Química do processo Constante

Autoionização da água H2O(l) ⇌ H+(aq) + OH-

(aq) pKw

Dissociação completa NaHCO3(s) → Na+(aq) + HCO3

-(aq)

H2SO4(l) → H+(aq) + HSO4

- (aq)

Dissociação parcial do bissulfato HSO4-(aq) ⇌ H+

(aq) + SO42-

(aq) pK2

Equilíbrio gás-líquido CO2(g) + H2O(l) ⇌ H2CO3(aq) pKH

Dessa forma, evidencia-se todos os processos envolvidos, bem como todas as

espécies existentes nesse sistema. Inicialmente, apresenta-se a equação de

autoionização da água, por se tratar do meio aquoso. Posteriormente, mostra-se os

processos completos das espécies que são eletrólitos fortes e se dissociam

completamente quando em solução (demonstrado através do uso da seta “→”, como

visto anteriormente), em geral, esses compostos são a entrada dos íons envolvidos

nos processos. Em seguida, a dissociação parcial do íon bissultato, por se tratar de

um ácido fraco e co-existir em solução com o íon sulfato, e logo mais os equilíbrios de

gás-líquido do ácido carbônico com gás carbônico e a formação de um complexo com

o centro metálico Na+.

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Como segundo exemplo, corroborando com Aniceto et al (2020), extraímos da

Tabela 5 a seguinte equação.

CaCO3(s) + CO2(g) + H2O ⇆ Ca2+ + 2HCO3- (VOGEL, 1981, p.32)

Conforme dito, essa equação apresenta inúmeros processos. Esses processos

são apresentados na Tabela 6:

Tabela 6 - Descrição dos processos químicos usando o Método XXI

Processo representado Equação Química do processo Constante

Autoionização da água H2O(l) ⇌ H+(aq) + OH-

(aq) pKw

Equilíbrio do ácido carbônico H2CO3(aq) ⇌ H+(aq) + HCO3

-(aq) pK1

HCO3-(aq) ⇌ H+

(aq) + CO32-

(aq) pK2

Equilíbrio gás-líquido CO2(g) + H2O(l) ⇌ H2CO3(aq) pKH

Equilíbrio de precipitação CaCO3(s) ⇌ Ca2+(aq) + CO3

2-(aq) pKs

Ao desmembrar a equação global, fica evidente cada parte envolvida e é

apresentado todas as espécies existentes no sistema. Um outro ponto significativo diz

respeito à alterações no sistema, facilitando a análise qualitativa (de Le Chatelier, por

exemplo) ou quantitativa dessa perturbação nas espécies existentes.

Exercita-se, por exemplo, supondo um aumento de pH com NaOH nesse

sistema. Qual o efeito sobre o precipitado presente?

Se olharmos em direção à equação global descrita por Vogel (1981), não

conseguiríamos descrever, a partir da própria equação o que essa perturbação

acarretaria nas espécies do sistema. Quando lançamos o olhar para as equações da

Tabela 6, podemos identificar um caminho mais claro para responder à respectiva

pergunta. É claro, necessitamos aqui de lançar mão de uma ferramenta da qual não

abordaremos nesse trabalho: a Análise Qualitativa de Le Chatelier, análise que aponta

uma tendência de comportamento das espécies mediante uma perturbação.

Bom, sabe-se que ao aumentar o pH, se reduz a disponibilidade da espécie H+.

Vamos representar isso a partir da seta “⇧” (para aumento) e “⇩” (para diminuição),

que indicam a perturbação, e as seta “↑” ou “↓” que indica resposta à perturbação:

⇧ pH ↓ H+

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Assim, o aluno precisa identificar qual das equações envolve o precipitado e

traçar o caminho até chegar nele. Aqui, faz-se de maneira mais direta, não

aprofundando conceitualmente as implicações da análise de Le Chatelier. Seguindo,

a espécie que está diretamente ligada ao precipitado é o íon carbonato (CO32-

(aq)), que

está disposto na equação abaixo. Nela, já se insere a perturbação e a resposta no

carbonato, observe:

HCO3-(aq) ⇌ ⇩ H+

(aq) + ↑CO32-

(aq)

Conclui-se assim, o aumento de pH causa uma tendência a aumentar os íons

carbonato. Por fim, façamos a mesma análise na equação química que relaciona o

carbonato com o precipitado em questão:

↑CaCO3(s) ⇌ ↓Ca2+(aq) + ⇧ CO3

2-(aq)

Ou seja, através da análise qualitativa de Le Chatelier, observa-se uma

tendência ao aumento do precipitado quando se aumenta o pH. O inverso também é

facilmente observado (a diminuição do pH), sem que haja a necessidade de

readequar/mudar as equações e espécies que descrevem o sistema.

Evidentemente a ideia aqui não é inserir inúmeros conceitos envolvidos nesses

processos, mas sim demonstrar a complexidade dos mesmos, porém descritos

simploriamente pelas equações globais. O que se quis evidenciar trazendo esses

exemplos é a riqueza da análise que pode ser feita tendo em mente todos os

processos que ocorrem, as espécies envolvidas, suas fases e setas colocadas

corretamente, conforme retifica o Método XXI.

Além disso, um fator importante para a interpretação dessas equações, e a

escrita das mesmas perpassa sobre a gradualidade dos conceitos inseridos na

disciplina que aborda o Método XXI. Como vimos, os tópicos são inseridos

progressivamente, e isso contribui para que o aluno entenda profundamente os

conceitos e a linguagem química abordada nesse método.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a linguagem química como um ponto importante na construção do

conhecimento químico, fez-se um recorte acerca das Equações Químicas

apresentadas nos livros analisados e a forma como elas estão dispostas, sendo

possível observar a evolução temporal, não só em relação a escrita dessas equações,

como também ao uso das componentes das EQ para representar processos.

Na grande maioria dos livros didáticos, as EQ não são apresentadas de maneira

completa e totalmente clara. Pode-se notar que muitos destes livros apresentam

incoerências e abordagens que já foram substituídas e/ou readequadas no meio

científico, bem como interpretações suficientemente equivocadas. Dessa maneira, foi

possível também observar a não linearidade do conhecimento, com a propagação de

ideias ultrapassadas em livros modernos. Formulou-se então, uma hipótese sobre os

fatores que levam a essa propagação equivocada.

Além disso discutiu-se a importância da linguagem clara e atual, conforme

proposto pelo Método XXI. A maneira como as EQ são apresentadas exigem do leitor

uma experiência muito grande em química, em particular nos processos químicos que

estão sendo citados. No caso leitor/estudante isso significa exigir um conhecimento e

experiência ainda não adquiridos, criando-se assim obstáculos epistemológicos, pois

a presença de afirmações dúbias nas equações químicas também é um potencial

obstáculo epistemológico. Essa reflexão foi útil para direcionar avaliações

quantitativas ou qualitativas sobre esses obstáculos citados.

Posteriormente, concluiu-se que a proposta da escrita das Equações Químicas

pelo Método XXI pode ser utilizada para adequar todas as consequências de

interpretações dúbias e obscuras acerca da leitura dessas EQ.

Como desafios futuros, espera-se detectar como essas equações foram dispostas

nos livros dispersados na América Latina, sobretudo no Brasil. Versa também sobre a

extensão desse trabalho para uma análise mais criteriosa acerca de livros didáticos

do ensino básico e a problemática de uma simplificação superficial e não suficiente

nesse material, viabilizando a extensão do Método XXI para esse tipo de ensino.

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8. REFERÊNCIAS

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9. ANEXOS

ANEXO I

Tabela 7 - Tabela geral dos livros e parâmetros analisados

Num. Ano Título Autor(es) Setas Fases Equações

1 1846 Instruction in Chemical Analysis Fresenius, C.R. = N.A.F Globais

2 1858 A Manual of Qualitative chemical analysis

Northcote, A.B.; Church, A.H.

= A.F.P. ↑ (ppt), (gelat.

ppt), (brown ppt), (yellow ppt) Globais

3 1866 Chimie Francolin, G. N.A.Eqs N.A.Eqs

4 1880 Traité de Chimie Générale Schützenberger, P. = N.A.F. Globais

5 1881 A short course in Quantitative Chemical Analysis Howard, A.M.J.A.

=

N.A.F, (heated) Globais

6 1884 Etudes de Dynamique Chimique Van’t Hoff, J.H. =, ⇆ N.A.F. Globais

7 1896 A brief introduction to Qualitative Analysis Medicus, L. = N.A.F. Globais

8 1904 Chimie Analytique Crinon, C. = N.A.F. Globais

9 1911 Traité de Chimie Générale Nernst, W. = N.A.F. Globais

10 1912 A College text-book on Quantitative Analysis Moody, H.R. et al ⇆, = A.F.P. (precipitate), (soluble) Globais

11 1917 An elementar Study of Chemistry

McPherson, W.; Henderson, W.E. →, ⇆ N.A.F. Globais

12 1929 Trattato de Chimica Analitca Treadwell, F.P. →, ⇆, = N.A.F. Globais

13 1939 Acidez e Basicidade Iônicas Guimarães, L.P. ⇆, = N.A.F. Globais

14 1952 Semimicro Qualitative Analysis

Arthur, P.A.;Smith, O.M. →, ⇌ A.F.P., (solid), ↑ Globais

15 1958 Tratado de Química Analítica Treadwell, F.P. →, ⇆, = N.A.F. Globais

16 1961 Volumetric Analysis

Kolthoff, I.M.;V.A. Stenger →, ⇆ N.A.F. Globais

17 1961 Treatise on Analytical Chemistry Bennett, C.E. et al →, ⇌ N.A.F. Globais

18 1963 Chemistry Quagliano, J.V. →, ⇌ A.F.P. (solid),

(solution), (ions), ↑ Globais

19 1966 Qualitative Analyses and Chemical Equilibrium Hognes T.R. et al =, →, ⇌ A.F.P. (s), (g) Globais

20 1971 Qualitative Analysis Alexeyev, V.N. →, ⇌, = A.F.P. ↑↓ Globais

21 1974 Química Analítica Quantitativa Ohlwiler O.A. →, ⇌ N.A.F. Globais

22 1976 Química Analítica Cualitativa Vogel, A. I. =, ⇌ N.A.F. Globais

23 1981 Química Analítica Qualitativa Vogel, A. I.

→, ⇆, =, ⇌ A.F.P. ↑↓ Globais

24 1987 Qualitative Inorganic Analysis Vogel, A. I. →, ⇆, = A.F.P., ↑↓ Globais

25 1995 Química: um curso universitário

Marran, B.M.; Myies, R.J. →, ⇌ A.F.P. (s), (l), (g) Globais

26 1997 Introdução à semimicroanálise Baccan, N. →, ⇆ A.F.P. (s) Globais

27 2006 Fundamentos de Química Analítica Skoog, D.A. →, ⇌ A.F.P. Globais

28 2009 Equilíbrios em solução aquosa Oliveira, A.F. →, ⇌ A.F.

Processos

ind.

29 2012 Princípios de Química

Atkins, P.W.; Jones,L. →, ⇌ A.F. Globais

30 2017 Química: a Ciência Central Brown, T.E. et al →, ⇌ A.F. Globais

Tabela organizada pelo autor (2020)

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