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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO CIÊNCIAS E MATEMÁTICA-ENCIMA GLAUCIANE CAMELO PINHO O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PCN E DCNEM: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ENSINO MÉDIO FORTALEZA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO CIÊNCIAS E MATEMÁTICA-ENCIMA

GLAUCIANE CAMELO PINHO

O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PCN E DCNEM: CONCEPÇÕES

E PRÁTICAS DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ENSINO MÉDIO

FORTALEZA

2017

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GLAUCIANE CAMELO PINHO

O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PCN E DCNEM: CONCEPÇÕES

E PRÁTICAS DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ENSINO MÉDIO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação do Centro de Ciências da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

à obtenção do título de mestre em Ensino de

Ciências e Matemática. Área de concentração:

Métodos Pedagógicos em Ensino de Ciências.

Eixo temático: Química

Orientadora: Profa. Dra. Maria Mozarina

Beserra Almeida

Coorientador: Prof. Dr. Isaías Batista de Lima.

FORTALEZA

2017

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GLAUCIANE CAMELO PINHO

O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PCN E DCNEM: CONCEPÇÕES

E PRÁTICAS DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ENSINO MÉDIO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação do Centro de Ciências da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

à obtenção do título de mestre em Ensino de

Ciências e Matemática. Área de concentração:

Métodos Pedagógicos em Ensino de Ciências.

Eixo temático: Química

Aprovada em: ____/____/____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Profa. Dra. Maria MozarinaBeserra Almeida (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________________

Prof. Dr. Isaías Batista de Lima (Co-orientador)

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

___________________________________________________

Profa. Dra. Silvanyr Bastos Santiago (membro da banca)

Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE)

___________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Henrique Machado de Sousa (membro externo)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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A raiz do dilema ambiental

está na forma como

aprendemos a pensar o

mundo: dividindo-o em

pedaços.

Noel Melnnis

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é a forma de fazer feliz quem, em algum momento, ajudou a tornar

gratificante nossa vida. Dessa forma, gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que me deu

a vida, a saúde e a capacidade para aprender. À Nossa Senhora, que foi a intercessora na

realização de grandes milagres que o Senhor realizou em minha vida.

Aos meus pais, Sebastião e Dalva, que sempre me incentivaram a estudar e lutar

por meus ideais. Ao meu esposo Vitor Hugo, que me apoiou e me ajudou em todas as etapas

do metrado. À minha filha Dayanna Régia, que com sua determinação e responsabilidade, me

mostra que minhas lições valeram a pena. Ao meu filho Davi Rennê, que mesmo com suas

limitações, impostas pela paralisia cerebral e pelo autismo, e mesmo sem conseguir falar uma

única palavra, me ensinou que seu sorriso era o combustível que eu precisava para continuar

amando e crendo na vida e, dessa forma, me fez ir do luto à luta, e enfrentar todos os

percalços que a vida me impôs. À minha pequena Dulce Maria, que veio ao mundo para

preencher os vazios do meu coração de mãe. Que me mata de alegria quando fala “mãmã” e

me mostra seu sorriso “banguelo” e lindo.

À minha orientadora, professora Mozarina, por quem já tinha grande apreço desde

a época da Faculdade de Química Industrial, e que nessa etapa de minha vida foi um grande

pilar, com quem aprendi muito. Que me incentivou e encorajou a seguir em frente. Foi uma

honra ter sido sua orientanda. Ao professor Isaías, meu coorientador, que trouxe importantes

contribuições para o meu trabalho e, dessa forma, também me ajudou a encontrar o caminho a

percorrer.

À professora Sylvanir, pelas sugestões que fez em minha qualificação e por mais

uma vez se prontificar a examinar meu trabalho. Ao professor Paulo Henrique, por ter

aceitado participar da banca e, dessa forma, contribuir para com minha pesquisa. A todos os

professores e colegas do ENCIMA e à Universidade Federal do Ceará, lugar onde cresci em

conhecimento e aprendi a ver o mundo com outros olhos.

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RESUMO

A Educação Ambiental (EA) tem papel fundamental no processo de construção de uma

sociedade comprometida em transformar a relação do homem com a natureza. Os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) colocam a EA como um tema transversal e, portanto,

consideram que a mesma não pode integrar uma disciplina específica do currículo, devendo

ser trabalhada por todos os componentes curriculares e com diversos tipos de abordagens. As

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), assim como os PCN,

também orientam para que as temáticas ambientais sejam abordadas com foco na

contextualização e na interdisciplinaridade. Assim, a presente pesquisa teve por finalidade

analisar a concepção e prática dos Professores de Ciências do Ensino Médio de três escolas da

rede pública estadual de Fortaleza-Ceará, sobre o Ensino de EA, a luz das orientações

contidas nos PCN e nas DCNEM. A metodologia da pesquisa foi de natureza descritiva, de

campo, com feição de estudo de caso e abordagem qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram

compostos de um conjunto de três professores de cada uma das escolas pesquisadas, ou seja,

nove professores, sendo cada conjunto constituído por um professor de Química, um de Física

e outro de Biologia, além de um total de cento e três alunos do 2º ano do Ensino Médio. A

técnica de pesquisa empregada foi a aplicação de questionários e entrevista estruturada, para

avaliar os dados pessoais, formação acadêmica e a prática pedagógica dos docentes. Para os

estudantes também foram aplicados questionários sobre dados pessoais e suas percepções

acerca da EA praticada pelos professores. Através dos resultados encontrados, pode-se

concluir que a maioria dos professores compreendem as recomendações contidas nos PCN e

DCNEM para a EA. No entanto, não incorporam as recomendações dos mesmos na condução

de suas disciplinas, realizando suas práticas de maneira superficial, na maioria das vezes

apenas como exemplos ligados aos conteúdos de suas disciplinas e, dessa forma, não

desenvolvem uma prática que tenha relação com as orientações apregoadas pelos documentos

legais. Os estudantes confirmam que seus professores trabalham as temáticas ambientais de

modo isolado e apenas em situações pontuais.

Palavras-chave: Educação ambiental. PCN e DCNEM. Prática docente. Experimentação.

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ABSTRACT

Environmental Education (EA) plays a fundamental role in the process of building society

committed to transforming man's relationship with nature. National Curricular Parameters

(NCPs) place EA as a cross-cutting theme, and therefore EA does not integrate a specific

curriculum discipline, and should be worked on by all curricular components and with

different types of approaches. The National Curriculum Guidelines for Secondary Education

(DCNEM), as well as NCPs, also guide environmental issues to be addressed with a focus on

contextualization and interdisciplinarity. Thus, the present research had the purpose of

analyzing the conception and practice of the High School Science Teachers of three schools

of the state public network of Fortaleza-Ceará, on Teaching AE, in light of the guidelines

contained in the NCPs and the DCNEM. The methodology of the research was descriptive in

nature, with a case study feature and qualitative approach. The subjects of the research were

composed of three teachers from each of the surveyed schools, that is, nine teachers, each

consisting of a professor of Chemistry, one of Physics and another of Biology, in addition to a

total of one Hundred and three students of the second year of high school. The research

technique used was the application of questionnaires and semi-structured interviews to

evaluate the personal data, academic training and pedagogical practice of teachers. For

students, questionnaires on personal data and their perceptions about the EA practiced by

teachers were also applied. Through the results found, it can be concluded that the majority of

teachers know the recommendations contained in NCPs and DCNEM for AE. However, they

do not incorporate the recommendations of the same ones in the conduction of their

disciplines, realizing their practices of superficial way, in the majority of the times only the

examples linked to the contents of their disciplines and, therefore, they do not develop A

practice that has relation with the orientations. Students confirm that their teachers work on

environmental issues in isolation and only in specific situations.

Keywords: Environmental Education. PCN and DCNEM.Teachingpractice. Experimentation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1– Percentual de professores por títulos de pós-graduação ........................................ 76

Gráfico 2– Percentual de professores que possuem pós-graduação na área de EA ............ 76

Gráfico 3– Percentual de alunos, em cada escola, por gênero sexual .................................. 96

Gráfico 4– Percentual de alunos, por faixa etária, em cada escola ...................................... 96

Gráfico 5– Tempo de estudo dos alunos em cada escola ..................................................... 97

Gráfico 6– Opinião dos alunos sobre a abordagem das temáticas ambientais pelos

professores de ciências......................................................................................99

Gráfico 7– Costumes dos alunos em acompanhar os problemas ambientais através de

revistas, jornais, TV e outros............................................................................101

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1– Dados pessoais dos professores da escola A ...................................................... 73

Tabela 2– Dados pessoais dos professores da escola B ...................................................... 74

Tabela 3– Dados pessoais dos professores da escola C ..................................................... 74

Tabela 4– Professores que cursaram disciplinas voltadas para a EA em seus cursos de

graduações ......................................................................................................... 78

Tabela 5– Disciplinas cursadas pelos professores, em seus cursos de graduação, com foco

em EA ................................................................................................................ 78

Tabela 6– Avaliação dos professores sobre a contribuição de seus cursos universitários

para a conscientização/sensibilização ambiental dos discentes de maneira crítica

e efetiva .............................................................................................................. 79

Tabela 7– Opinião dos alunos da escola A, sobre a realização de projetos de EA em sua

escola...................................................................................................................98

Tabela 8– Opinião dos alunos da escola B, sobre a realização de projetos de EA em sua

escola...................................................................................................................98

Tabela 9 – Opinião dos alunos da escola C, sobre a realização de projetos de EA em sua

escola...................................................................................................................98

Tabela 11 – Formas como os professores mais abordam temáticas ambientais...................100

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas e Técnicas

CF Constituição Federal

COEA Coordenação de Educação Ambiental

CPDS Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável

DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

EA Educação Ambiental

EM Ensino Médio

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

EPI Equipamento de Proteção Individual

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC Ministério da Educação

MMA Ministério do Meio Ambiente

MS Movimentos Sociais

NMS Novos Movimentos Sociais

ONG Organização não governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

PDDE Projeto Dinheiro Direto na Escola

PNEA Política Nacional de Educação Ambiental

SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente

SISU Sistema de Seleção Unificada

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

2 HISTÓRICO E CONCEITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................... 18

2.1 Histórico da Educação Ambiental ............................................................................ 18

2.2 Educação Ambiental no Brasil ................................................................................. 23

2.2.1 A Agenda 21 ............................................................................................................... 31

2.3 Conceitos de Educação Ambiental ........................................................................... 33

3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS DOCUMENTOS LEGAIS: PCN E DCNEM

..................................................................................................................................... 41

3.1 Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) ...................................................... 41

3.1.1 Os temas transversais nos PCN ................................................................................ 43

3.1.2 O Meio Ambiente nos PCN ....................................................................................... 49

3.2 O Meio Ambiente nas DCNM (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

Médio) ........................................................................................................................ 53

4 O ENSINO MÉDIO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................... 58

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 62

5.1 Caracterização da pesquisa ...................................................................................... 62

5.2 Campo da pesquisa .................................................................................................... 64

5.2.1 Escola de Ensino Fundamental e Médio João Mattos ............................................ 65

5.2.2 Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná .................................. 67

5.2.3 Escola de Ensino Fundamental e Médio Walter de Sá Cavalcante ....................... 68

5.3 Sujeitos da pesquisa ................................................................................................... 70

5.4 Etapas da pesquisa ..................................................................................................... 70

5.4.1 1ª Etapa: Revisão bibliográfica ................................................................................... 71

5.4.2 2ª Etapa: Diagnóstica .................................................................................................. 71

5.4.3 3ª Etapa: Levantamento de dados em relação às práticas docentes sobre Educação

Ambiental ..................................................................................................................... 71

5.4.4 4ª Etapa: Levantamento sobre dados pessoais e a percepção dos alunos sobre

Educação Ambiental .................................................................................................... 72

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 73

6.1 Dados pessoais e formação acadêmica dos professores (APÊNDICE A) ............ 73

6.2 Formação dos docentes na área de Educação Ambiental (APÊNDICE B) ......... 75

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6.3 A prática pedagógica e concepção dos professores sobre Educação Ambiental

(APÊNDICE C) ......................................................................................................... 80

6.3.1 Sobre consulta aos PCN e DCNEM e noção de transversalidade ........................ 80

6.3.2 Sobre o desenvolvimento de projetos pedagógicos com foco em Educação

Ambiental .................................................................................................................. 82

6.3.3 Sobre a abordagem de temáticas ambientais em sala de aula .............................. 87

6.3.4 Concepções dos professores sobre Educação Ambiental ...................................... 92

6.4 Dados pessoais e percepção dos alunos em relação à prática da Educação

Ambiental (APÊNDICE D) ...................................................................................... 95

7 DESCRIÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL ................................................ 105

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 107

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 110

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS PESSOAIS E FORMAÇÃO

ACADÊMICA DOS PROFESSORES .................................................................. 113

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SOBRE FORMAÇÃO DOS DOCENTES NA

ÁREA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................... 115

APÊNDICE C – ENTREVISTA SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA E

CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES A RESPEITO DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL .......................................................................................................... 117

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS

E SUA AVALIAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................. 120

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1 INTRODUÇÃO

O mundo atual enfrenta conflitos gerados pelo uso indiscriminado dos recursos

naturais que, cada vez mais, são extraídos à exaustão na tentativa de alimentar um mercado

consumidor extremamente versátil e exigente. A sociedade estabeleceu o consumo e o

modismo como padrões de vida e, por isso, possuir eletrodomésticos, carros e outros bens

cada vez mais modernos, se transformou na nova ordem do momento. Porém, a população

não discute questões como: o que fazer com os bens de consumo que se tornaram obsoletos?

Como evitar que as ruas inundem em época de chuva? Como descartar o óleo de cozinha,

baterias de celulares e medicamentos vencidos? Como recuperar um rio quase morto e que

traz problemas para a saúde da população que mora às suas margens? Quais os riscos

existentes em se descartar lixo contaminante de maneira aleatória? Por que o Brasil sofre com

a escassez de água e encontra-se na região do globo terrestre que, percentualmente, tem a

maior quantidade de água potável do mundo? Entre outros questionamentos importantes.

Porém, a maioria das pessoas parece não entender que a responsabilidade pelo bem-estar e a

qualidade de vida das populações não se restringe unicamente ao poder público. Percebe-se,

em nossa sociedade, um individualismo exacerbado que se contrapõe à necessidade que o

mundo apresenta de cidadãos conscientes e atuantes, que busquem estratégias para a

construção de um lugar mais justo e equilibrado para se viver.

Os meios de comunicação, quase que diariamente, apresentam matérias sobre

problemas socioambientais, porém, o fazem de forma meramente jornalística, no sentido de

simplesmente transmitir informação sobre fatos que acontecem. Milhares de pessoas assistem

aos noticiários, e até se sensibilizam com as causas apresentadas, mas, continuam a exercer

suas atividades como sempre o fizeram, de modo que acabam por não se sentirem

responsáveis em colaborarem na reversão dessas problemáticas. Lideranças do mundo inteiro

há algum tempo realizam encontros sobre o clima, o meio ambiente, a emissão de gás

carbônico e outros, e estabelecem metas e acordos para diminuição da poluição, mas, quem de

fato executa essas determinações?

O encontro ocorrido no Rio em 1992 (Rio 92) trouxe contribuições importantes,

como a construção da Agenda 21 global, que deveria servir de exemplo para a construção das

Agendas 21 locais e escolares. Assim, ficou estabelecido que as escolas fossem se reunir para,

baseadas nas determinações globais, traçar suas próprias estratégias no sentido de alcançar a

meta estabelecida. No entanto, o que se percebe na prática, é que muitas das instituições de

ensino sequer sabiam o que significava esse documento.

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15

Durante muito tempo a Educação Ambiental foi relacionada à preservação de

áreas intocadas ou ao ensino de ecologia. O homem percebia a natureza como algo

extemporâneo à sua realidade, e, assim, ignorava a dependência existente entre ambos.

Esqueceu-se, por exemplo, que nos primórdios, seus ancestrais precisavam submeter-se às leis

da natureza para garantir sua própria sobrevivência. E hoje, a humanidade vive uma relação

invertida, resultado de uma exploração predatória dos recursos naturais que põe em risco não

apenas a espécie humana, mas também todas as demais espécies, e causam problemas que

podem ser irreversíveis para muitos ecossistemas.

A Constituição Federal (CF) de 1988 estabelece como um dos papeis da escola,

além do pleno desenvolvimento do educando e a preparação para o trabalho, o exercício da

cidadania (BRASIL, 1998b). Nesse sentido, a Educação Ambiental surge como uma

importante exigência educacional contemporânea que não busca apenas transmitir

conhecimento, mas que deseja consolidar a democracia através da ampliação da participação

política dos cidadãos, pois existe para mostrar uma nova forma do homem encarar seu papel

no mundo, por propor modelos de relacionamentos mais harmônicos com a natureza e

incentivar a construção de novos valores e novos paradigmas. Porém, sua abordagem deve ser

fundada na integração entre conceitos científicos e na discussão de aspectos socais através de

um trabalho que deve favorecer a criação de novos atores sociais. Para isso, o processo

educativo deve articular sustentabilidade e participação, e também, está apoiado pela

interação entre as diferentes áreas do saber. Nesse intuito, práticas pedagógicas precisam ser

transformadas de modo a fazer com que os estudantes compreendam as diferentes teias de

relações que integram essas temáticas para que, assim, não aprendam a questão ambiental

apenas de forma fragmentada e descontextualizada.

Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) trazem importantes orientações que

buscam auxiliar o professor também na realização de um bom trabalho em EA. Para isso,

sugerem uma abordagem pautada na transversalidade entre os diferentes componentes

curriculares e na contextualização dos temas, pois compreendem que as complexidades dessas

temáticas não conseguiriam ser contempladas por uma única área individualmente, e que a

contextualização dar mais significado à aprendizagem por tornar os conhecimentos mais

próximos a realidade do aluno. No entanto, pouco ou quase nada se fala sobre EA nas escolas.

Parece que essas abordagens ficaram relegadas a alguns poucos trabalhos feitos aqui ou acolá

por um professor ou outro de forma isolada.

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Sou professora efetiva da rede estadual de ensino do Ceará e durante os dezesseis

anos que tenho de magistério, vi apenas pequenos projetos pontuais realizados nas escolas

como, por exemplo, como uma feira de ciências com foco em EA. Ao mesmo tempo, comecei

a perceber a imensa dificuldade em trabalhar com o público do Ensino Médio (EM) que se

encontra cada vez mais atraído pelas tecnologias e mídias sociais enquanto, gradativamente se

distancia das aulas convencionais, que não carregam muita relação com o cotidiano dos

estudantes. Então, comecei a pensar em uma forma de contribuir com a minha disciplina

(Química), de modo a tornar as aulas mais agradáveis aos alunos e, realizar também o

desenvolvimento de valores essenciais para a cidadania. Assim, quando fiz meu curso de Pós-

Graduação em Ensino de Química (nível de especialização), desenvolvi em minha monografia

um minicurso que trabalhou conceitos gerais de Química e questões ambientais relacionadas a

alguns conteúdos. Na época, usei diferentes estratégias didáticas como jogos, brincadeiras e

algumas pequenas experiências com materiais de uso cotidiano. O trabalho revelou uma

grande empolgação dos alunos. Isso me motivou a querer descobrir de que forma os PCN e

DCNEM orientam a prática dessas temáticas. A partir de então, julguei importante conhecer a

prática e a concepção dos professores da minha área (Ciências da Natureza) sobre EA. Para

isso, resolvi me guiar pelas recomendações contidas nesses documentos.

Diante de tais elementos surgiram as seguintes questões de pesquisa:

Como os documentos legais, PCN e DCNEM orientam a prática em EA?

Qual a concepção e prática dos professores de ciências do ensino médio sobre EA?

Até que ponto as concepções desses professores sobre EA influenciam suas práticas?

Os professores consultam os documentos oficiais sobre EA e conseguem exercer uma

prática que, de alguma forma, tenha relação com o que está explicitado nesses

documentos? Qual a opinião dos alunos em relação às práticas em EA?

Teve-se como hipótese que a EA é trabalhada pelos professores de forma pontual

e não como projetos interdisciplinares que possam integrar diferentes áreas do conhecimento,

e que quase sempre é utilizada como contextualização ou ilustração dos conceitos

pedagógicos desenvolvidos em cada disciplina. Considera também que os pressupostos para a

Educação Ambiental apregoados pelos PCN e DCNEM não são atendidos no exercício

prático da docência do Ensino Médio.

Pensando na estruturação do conhecimento para essa pesquisa, foi proposto como

objetivo investigar até que ponto as concepções e práticas dos professores de ciências do

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Ensino Médio estão de acordo com as orientações apregoadas nos PCN e DCNEM. Para

alcançar o objetivo geral foram propostos os seguintes objetivos específicos:

Identificar a concepção de Educação Ambiental nos documentos PCN e DCNEM;

Investigar se os professores de ciências pesquisados tiveram alguma formação em

Educação Ambiental;

Analisar a concepção que os professores de ciências pesquisados têm sobre

Educação Ambiental;

Identificar a prática que os professores de ciências têm sobre Educação Ambiental,

através da percepção de seus alunos;

Identificar se esses professores de ciências conhecem o que existe nos PCN e

DCNEM sobre educação ambiental e se exercem suas práticas à luz desses

documentos;

Investigar a percepção dos alunos sobre educação ambiental, suas experiências

escolares com projetos ambientais e a forma como avaliam a prática de seus

professores de ciências sobre essas temáticas.

Produzir um material didático sobre EA, à luz dos documentos legais (PCN e

DCNEM), constituído de um Guia de Diretrizes para auxiliar os professores no

desenvolvimento de projetos pedagógicos de EA com alunos do Ensino Médio.

Com a finalidade de obter as respostas aos questionamentos feitos, a presente

pesquisa foi estruturada em oito capítulos.

O primeiro capítulo é formado por esta Introdução, que faz uma apresentação

geral do trabalho e aborda, de forma contextualizada, o objeto de estudo e a justificativa da

escolha do tema. Apresenta também as questões norteadoras e os objetivos da pesquisa

realizada.

O capítulo dois apresenta um pouco do resgate histórico da Educação Ambiental,

com o fito de investigar como e quando começou a se falar em EA no Brasil e no mundo e

analisar o papel da escola no desenvolvimento da EA ao longo do tempo. Conta também com

informações sobre a Agenda 21 e mostra alguns conceitos e concepções importantes para a

prática da EA, na visão de alguns autores.

O capítulo três traz os conceitos e as orientações para o desenvolvimento da EA

na visão dos PCN e DCNEM. Nele, explanam-se um pouco sobre o que são os PCN e quais

suas principais orientações gerais para a educação. Em seguida, apresenta-se o conceito de

transversalidade e as orientações dos PCN para o trabalho com temas transversais, depois,

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apresenta mais especificamente, as orientações desses documentos para a abordagem

detemáticas relacionadas ao Meio Ambiente. Por último, aborda-se o conceito de EA de

acordo com as DCNEM e as principais orientações desse documento para o trabalho com

temáticas ambientais.

O capítulo quatro, fala sobre o Ensino Médio e a Educação Ambiental. Tem por

objetivo caracterizar essa etapa da educação básica e, também, mostrar um pouco das

principais dificuldades enfrentadas pelos professores nessa etapa de ensino.

O capítulo cinco refere-se à caracterização do universo e os métodos abordados

para realização desse estudo, o campo da pesquisa, as etapas da pesquisa, ou seja, a

metodologia empregada nesse trabalho.

No sexto capítulo, são apresentados os resultados obtidos a partir da aplicação dos

instrumentos de coleta de dados e em seguida esses resultados são discutidos com base nos

objetivos propostos.

No sétimo capítulo é apresentado o produto educacional decorrente dessa

pesquisa, que consiste em um material didático de diretrizes para auxiliar os professores no

desenvolvimento de projetos pedagógicos de Educação Ambiental com alunos do Ensino

Médio. Por fim, as considerações finais e encaminhamentos sugeridos na realização desta

pesquisa são apresentados no capítulo oito.

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2 HISTÓRICO E CONCEITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Este capítulo tem por objetivo fazer um pouco do levantamento histórico da EA

no mundo e no Brasil, com o fito de mostrar as mudanças que aconteceram na forma como a

mesma foi percebida e desenvolvida ao longo do tempo, e analisar o papel da escola nesse

contexto. Relata um pouco sobre a Agenda 21, com a intenção de esclarecer mais sobre esse

importante documento que pode ser confeccionado por cada escola, como forma de fortalecer

o desenvolvimento da EA de forma permanente e contínua pelas instituições e, por fim, traz

um pouco dos conceitos e orientações importantes para a EA na visão de alguns autores.

2.1 Histórico da Educação Ambiental

Do meio ambiente é que o homem primitivo tirava seu sustento, além de

transmitir todos os conhecimentos e cuidados para seus filhos, assim, passava esses

ensinamentos de geração em geração, sem ter a noção de que praticava o que, na Era

contemporânea, é chamado de Educação Ambiental. Entre 50 e 40 mil anos atrás a natureza

dominava o homem, mas foi há 10 mil anos, com o surgimento da agricultura, que o homem

passou a inverter essa relação (ANTONUCCI; CÉSAR; JURKEVICA, 2004).

A princípio o homem era tido como refém das grandes florestas e matas, pois não

tinha conhecimento sobre os frutos, os animais e as plantas e nem sobre as estações

climáticas. Porém, com o passar do tempo, começou a ter mais conhecimento sobre o meio

ambiente e aprendeu a explorar seus recursos. A dominação da natureza veio com o

desenvolvimento das técnicas de irrigação, o que ajudou a fixar o homem em territórios

propícios, e originou o berço das grandes civilizações. A partir daí veio a concepção de

domínio da natureza. Posteriormente, o homem passou a buscar novas formas de domínio e

exploração que passaram a ser transmitidas a seus filhos e netos, e dessa forma, perpetuaram

as técnicas de exploração (HARA, 1990).

Em cada momento histórico a educação passou por mudanças que afetaram

também a visão que o ser humano tinha sobre a natureza. Na idade antiga (4000 A.C. até o

século V, D.C.) “[...] com o surgimento das primeiras formas de conhecimento elaborado sem

a mediação da religião ou do mito, a natureza aparece no centro das reflexões humanas,

notadamente do saber filosófico” (LIMA; ALVES, 2016, p.16).

No período Greco Romano o modelo de educação se baseava no conhecimento

das verdades filosóficas e na reprodução de conceitos tidos como verdadeiros, momento em

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que aparece a figura dos sofistas com seus discursos para atrair estudantes a quem poderiam

“vender” educação. Nesse período a natureza era considerada como algo divino a ser

contemplado pelo homem.

Na idade média (século V a XV) a natureza era restrita às necessidades sociais de

sobrevivência, e, em alguns casos, como domínio sobre outros povos. Esse período

caracterizou-se por apresentar uma economia ruralizada, com sistema de produção feudal,

sociedade hierarquizada e supremacia da igreja católica, cujos representantes, eram detentores

do saber.

Na idade moderna (séculos XV a XVII), é inaugurada uma visão antropocêntrica

em que o homem se coloca como centro das ações, da expressão cultural, histórica e

filosófica, isso ocorre em detrimento do teocentrismo, onde Deus era colocado como

elemento central na vida do cidadão comum. Os conhecimentos se pautam na objetividade

científica, desvinculando-se de ideais éticos e filosóficos. A premissa que se criava a partir daí

era a de que desvendar os segredos da natureza significava também construir novas máquinas

para aumentar a produção. Assim, o desenvolvimento científico era evidenciado no progresso

tecnológico, centrado na preocupação de servir de suporte para o desenvolvimento

econômico. Nesse período, a sociedade inseria-se nas regras de mercado, na lógica

desenvolvimentista e se tornou pouco preocupada com aspectos da vida humana (BRASIL,

1999).

Durante o Renascimento, a razão se estabelece como lógica para alcançar o

conhecimento. O homem se afasta do meio ambiente e passa a encará-lo de forma racional,

momento em que começa a se distanciar da natureza e a assumir, gradativamente, uma

posição de superioridade em relação a esta. Esse período representa uma transição do

feudalismo para o capitalismo e significa um rompimento com as estruturas medievais

(COIMBRA, 2011).

Até o final do século XVIII a maior parte da população europeia vivia no campo e

produzia o que consumia. Nesse período teve início a Revolução Industrial, que ocorreu entre

os séculos XVIII - XIX e foi marcada por um conjunto de mudanças que aconteceram na

Europa e tiveram como principal característica a substituição do trabalho artesanal pelo

assalariado com o uso de máquinas. A Inglaterra foi precursora desse processo, pois possuía

uma rica burguesia, como também a mais importante zona de livre comércio da Europa,

êxodo rural e localização privilegiada junto ao mar, o que facilitava a exploração de outros

mercados (COGGIOLA, 2010).

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Com a Revolução Industrial, surgiu a urbanização, que foi identificada com

mudança de percepção, na qual a natureza passou a ser entendida como algo separado e

inferior à sociedade humana. O estudo do meio ambiente tornou-se ciência prática de extração

de recursos, ou um estudo do mundo natural através de catálogos e descrições das maravilhas

naturais (HARA, 1990).

A primeira etapa da Revolução Industrial aconteceu entre os anos de 1760 e 1860

e ficou limitada primeiramente à Inglaterra. Essa etapa foi marcada pelo aparecimento de

indústrias de tecido de algodão, com o uso do tear mecânico. O aprimoramento das máquinas

a vapor contribuiu com a continuação da Revolução. A segunda etapa ocorreu no período de

1860 a 1900. Nela, países como Alemanha, França e Rússia também se industrializaram. Essa

etapa foi marcada pelo emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis

derivados do petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o

desenvolvimento de produtos químicos.

No século XIX a Revolução se internacionalizou, com a utilização de novas

técnicas de produção industriais e um volume bem maior de matéria-prima, esse fato teve

como única intenção, o desenvolvimento econômico e comercial de alguns países. A

preocupação com o meio ambiente era relegada a segundo plano, pois sempre se tinha em

vista sua utilização pelo homem.

Foi na segunda metade do século XX que os desastres ambientais se tornaram tão

alarmante a ponto de gerar medo e, a partir de então, inspirar novas visões sobre

desenvolvimento sustentável, com preocupação com o bem-estar das próximas gerações e

compreensão de que a educação ambiental deve ser um processo que ultrapassa a mera

transmissão de conhecimentos.

Alguns historiadores têm considerado os avanços tecnológicos dos séculos XX e

XXI como a terceira etapa da Revolução Industrial, e classificam essa etapa como marcada

pelo uso do fax, computador, celular, das inovações da engenharia genética, entre outras.

Portanto, foi a partir da Revolução Industrial que a atividade inventora e

transformadora do homem sobre a natureza passou a se transformar cada vez mais em

predatória. Com o passar do tempo, a destruição em massa de florestas, a poluição, nas suas

diversas formas, e os acidentes ambientais começaram a ser notórios e a prejudicar a

qualidade de vida das populações. Começou, então, a se estabelecer no cenário internacional

uma preocupação com as questões ambientais, e desenvolveu-se a ideia de que o homem faz

partedo meio e depende dele.

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Em 1951, a União Internacional para Conservação da Natureza publicou o

“Estudo da Proteção da Natureza no Mundo”, esse fato aconteceu em decorrência da

Conferência Internacional de Fontainebleau, na França, e recebeu o apoio da Organização das

Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). No ano de 1972, esse

documento se transformou no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA). (BRASIL, 2013).

Mas foi somente no século XX, mais precisamente na década de 60, que os

movimentos sociais em luta pela sustentabilidade ganharam força. Foi a partir daí que o

homem passou a perceber que o progresso trazido pela produção industrial em larga escala,

que gerava riqueza para os países colonizadores da economia, fez aumentar também a

desigualdade social e elevar os níveis de pobreza e miséria dos países colonizados (LIMA;

ALVES, 2016). Nesse período, surgiram os movimentos ambientalistas voltados para

preservação de grandes áreas intocadas, como parques e reservas. Isso fez aumentar a

percepção de que a humanidade caminhava aceleradamente para a inviabilização ou

esgotamento dos recursos, o que gerou o movimento em defesa do meio ambiente que lutava

para diminuir o ritmo de destruição e buscava alternativas para conciliar, na prática, a

conservação da natureza com a qualidade de vida das populações. A partir daí surgiu a

discussão sobre a viabilização do crescimento econômico que entendia, entre outras coisas,

que se não for estabelecido um limite ao consumo, o modelo econômico condenará a vida na

Terra a uma rápida destruição (BRASIL, 1999).

Em março de 1965 foi colocada pela primeira vez a expressão Educação

Ambiental, com a recomendação de que ela deveria se tornar parte essencial de todos os

cidadãos. Esse fato aconteceu na Conferência de Educação da Universidade de Keele na

Inglaterra. Na ocasião, foi recomendado que a EA deveria ser parte essencial da educação de

todos os cidadãos. Porém, os participantes desse evento ainda definiam EA como conservação

ou ecologia aplicada, cuja área de exploração seria a biologia.

Em abril de 1968, Arillio Perecei, empresário preocupado com questões

econômicas e ambientais, convidou para uma reunião trinta indivíduos de dez países, entre

eles: cientistas, pedagogos, funcionários públicos, humanistas, economistas, entre outros. Esse

evento aconteceu na Itália e teve por objetivo debater os problemas daquele momento, como

também a crise futura da humanidade. Desse encontro surgiu o “Clube de Roma” que

produziu uma série de relatórios de grande impacto. Um dos relatórios produzido foi

publicado em 1972 e foi intitulado “Os Limites do Crescimento”, esse documento trouxe um

modelo inédito para análise sobre o que poderia acontecer se a humanidade não mudasse seus

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métodos econômicose políticos. A conclusão foi de que, caso se mantivesse o ritmo de

crescimento a qualquer custo, na busca desenfreada por riqueza e poder, sem levar em conta o

impacto ambiental, chegar-se-ia ao limite do crescimento ou ao colapso. Esse documento

recebeu muitas críticas, mas, cumpriu seu papel de alertar a humanidade sobre a questão

(BRASIL, 1998a).

Ainda em 1968, a UNESCO realizou estudo sobre a EA e chegou à conclusão de

que se trata de um tema complexo e interdisciplinar e, portanto, não deve se limitar a uma

disciplina específica do currículo escolar.

No ano de 1972, na Conferência de Estocolmo, após as ideias divulgadas pelo

Clube de Roma e pelos relatórios chamados de “Limites do Crescimento”, foi criado o

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi,

Quênia, e a recomendação para que fosse criado o Programa Internacional de Educação

Ambiental conhecido como “Recomendações 96” (BRASIL, 2013).

Foi no Seminário de Educação Ambiental realizado em Jammi, no ano de 1974,

que foram estabelecidos os Princípios de Educação Ambiental, que a consideravam como

parte integral e permanente da educação que não deveria constituir um ramo de estudo ou

disciplina separado.

A “Carta de Belgrado” lançada em 1975 buscava uma estrutura global para a EA e

entendeu como absolutamente vital que cidadãos de todo o mundo busquem por medidas

capazes de dar suporte a um tipo de crescimento econômico que não traga repercussões

prejudiciais às pessoas nem diminua as condições de vida e a qualidade do meio ambiente.

Através de uma ética global de desenvolvimento que passe pela reforma dos processos e

sistemas educacionais (BRASIL, 2013).

Na cidade de Tbilisi, na Geórgia, ocorreu no ano de 1977 a primeira Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada em parceria entre a UNESCO e o

Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU) (PNUMA) e que

teve como inspiração a Carta de Belgrado. O resultado dessa conferência foi a elaboração de

objetivos, definições, princípios, estratégias e ações orientadoras da EA que são utilizadas até

os dias atuais em todo o mundo.

A partir de 1980, a literatura sobre movimentos sociais começou a classificá-los

de duas formas: movimentos sociais (MS) e novos movimentos sociais (NMS). Os MS

constituíam ações voltadas para a emancipação, a política, a superação do Estado e a

construção de uma nova sociedade; enquanto os NMS voltavam-se para os valores ditos como

pós-modernistas, como o amor, o zelo, etc; com ênfase nas subjetividades e nas diferenças. Os

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movimentosambientalistas têm sua origem junto às classes médias europeias e norte-

americanas e surgem na fase de reorganização do capitalismo e suas bandeiras. Esses

movimentos lutavam pela reafirmação dos valores ecologicamente adequados; da diversidade

cultural e de expressões; da tolerância e do zelo com o planeta. De início, foram os NMS que

assumiram a questão ambiental como algo relacionado às suas finalidades, enquanto os MS só

o fizeram depois de suas históricas lutas sociais, pois, por apresentarem projetos políticos que

se referem à construção de uma nova sociedade, os MS precisavam repensar também a forma

do homem se relacionar com a natureza. Dessa forma, os MS incorporaram as questões

ambientais como elemento estratégico nas lutas populares e democráticas, pois entenderam

que a disputa por bens materiais e seu controle é algo inerente à propriedade privada

capitalista (LOUREIRO, 2012).

Assim:

Desconsiderar a luta dos movimentos sociais vistos como clássicos, que denunciam

as mazelas do capitalismo, é um grave equívoco que despolitiza o debate e

estabelece uma leitura evolucionista da sociedade, pouco compatível com a

dinâmica contraditória do real e com as necessidades materiais que perduram para a

maioria das pessoas. Defender o zelo planetário ignorando que crianças morrem de

fome e que outras espécies são extintas pela mesma lógica econômica é, no mínimo,

um paradoxo (LOUREIRO, 2012, p.48).

A resolução 57/254, publicada na Assembleia geral da ONU realizada em 2002,

instituiu o período compreendido entre 2005 e 2014 como a Década das Nações Unidas da

Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Uma das atribuições programadas para esse

período foi a de viabilizar e potencializar programas, políticas e ações voltadas para EA.

Em junho de 2012, durante a II Jornada Internacional de Educação Ambiental, foi

elaborado o Plano de Ação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis

e Responsabilidade Global, que incluiu a formação de uma Rede Planetária de Educação

Ambiental (LIMA; ALVES, 2016).

Nas reuniões internacionais sobre meio ambiente é sempre ressaltada a

necessidade de investir numa mudança de mentalidade e conscientização dos grupos

humanos. Por isso, as lideranças de todo o mundo são indispensáveis na criação e aplicação

de formas sustentáveis de relação homem/natureza, e a educação se configura não como

condição suficiente, mas, necessária, para se obter esse fim (BRASIL, 1999).

2.2. Educação Ambiental no Brasil

A partir de sua “descoberta” no dia 22 de abril de 1500, o Brasil passou a ser

usado como forma de extração de riquezas para a metrópole (Portugal), que não tinha o

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objetivo depovoá-lo, mas apenas de utilizá-lo como fonte financeira. Dessa forma, o início da

degradação da natureza começou com a exploração do Pau-brasil. Somente em 12 de

dezembro de 1605, criou-se a primeira lei de proteção florestal do território brasileiro que

ficou conhecida como Regimento Sobre o Pau-brasil, que tinha por objetivo conter a

exploração realizada por ingleses e franceses, nas regiões da Amazônia e do Maranhão,

respectivamente. Para tanto, proibia o corte do pau-brasil sem licença concedida pela coroa

portuguesa.

Após a mudança da família real para o Brasil (no ano de 1808), ocorreram

diversas melhorias no território brasileiro, como a criação da primeira universidade, da

biblioteca real, do Jardim Botânico e do Museu Real que, posteriormente, passou a se chamar

Museu Nacional. Contudo, proporcionou um aumento da população, como também, da

quantidade de resíduos sólidos (LIMA; ALVES, 2016).

No século XVIII, que ficou conhecido como século do ouro, foram descobertas as

primeiras minas na região de Minas Gerais que, para extração do precioso metal, contava com

a mão de obra escrava. Essa atividade tinha por objetivos gerar lucro para a metrópole e

proporcionar o desenvolvimento econômico da região, o que ocorreu através da criação de

impostos.

Em 1808, D. João VI decreta a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Alguns autores consideram esse momento, como o início da EA no Brasil. Porém, nesse

período, a questão ambiental encontrava-se centrada basicamente no embelezamento dos

parques com mudas de palmeiras tipo Palma-master.

Após a Proclamação da República, no período conhecido como Café com Leite,

no qual a economia se baseava na produção de café para exportação, foram implementadas

leis para garantir a conservação do espaço natural (LIMA; ALVES, 2016).

A constituição brasileira de 1891, em seu artigo 34, considerava que caberia à

união legislar sobre as questões de terra e minas do Brasil e sua relação com as questões

ambientais (LIMA; ALVES, 2016).

Em 1921 foi criado o serviço florestal, que foi regularizado em 1925. Esse fato

ocorreu após o presidente Epitácio Pessoa constatar, em 1920, que entre os países dotados de

matas e florestas, o Brasil era o único que não possuía um código florestal.

No ano de 1923, o decreto nº 16.300 dispunha acerca da saúde e saneamento, com

o objetivo de controlar e diminuir a poluição e proibir a instalação de indústrias nocivas

próximas às residências (LIMA; ALVES, 2016 apud SILVA, 200-).

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No período entre 1951-1954, época em que o presidente do Brasil era Getúlio

Vargas, ocorreu uma expansão da indústria e a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional

e da criação da Petrobrás.

Segundo Araújo (2007), a necessidade de se trabalhar educação ambiental no

Brasil ocorreu de forma muito incipiente a partir do século XIX, motivada pelas discussões

que ocorriam no cenário internacional, e se fortaleceu a partir do século XX quando surgiu a

legislação de proteção ambiental, também como reflexo das circunstâncias mundiais.

O debate sobre EA se instaurou no Brasil no ano de 1973 (época do regime

militar) motivado muito mais por forças de pressões internacionais do que por movimentos

ambientalistas, ocorreu de forma centralizada, tecnocrática, sem a participação popular na

definição de suas diretrizes e estratégias, até o ano de 1988, quando foi promulgada a

Constituição Federal. Até então, as atividades em EA baseavam-se na Lei Federal nº 6.938, de

31/10/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente que foi inserida nos setores

governamentais e científicos voltados para a conservação dos bens naturais, com sentido

comportamentalista e tecnicistas voltados para o ensino de ecologia.

Na década de 80, educadores afinados com a perspectiva pedagógica freireana e a

pedagogia crítica, como também atuante em movimentos sociais ou em órgãos de governo e a

entrada de militares ambientalista com perfil mais crítico nas instituições de ensino superior,

fizeram surgir propostas e ações que entendiam os problemas ambientais como decorrentes

das ações sociais que os indivíduos constituem e mostraram que não seria possível pensar em

sustentabilidade sem uma radical e profunda mudança no padrão societário e civilizatório

vigente. Algumas pessoas consideram que, a partir do século XX, entrou-se em uma crise não

apenas ambiental, mas civilizatória e que sua superação exigirá uma mudança de valores, a

ponto de fazer o homem perceber que não é o centro da natureza, mas parte dela. O que deve

motivá-lo a devolver a noção de natureza como sacralidade, que culturas antigas e

contemporâneas a ela dedicavam (BRASIL, 2008).

De acordo com Abreu, Aguilar e Campos (2008), o marco internacional para a

criação de políticas ambientais que reconhecem a educação ambiental como uma necessidade

para a solução dos problemas ambientais foi a Conferência da Organização das Nações

Unidas sobre o Ambiente Humano, que ocorreu em Estocolmo, no ano de 1972. No Brasil, no

ano de 1973, ocorreu o processo de institucionalização da Educação Ambiental com a criação

da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA).

Na década de 1980, observam-se iniciativas voltadas para a realização de projetos

públicos escolares que contemplam a EA. Nesse período, a ONU retomou o debate das

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questões ambientais e a primeira ministra da Noruega, GroHarlemBrundtland, chefiou a

Comissão Mundial de Meio Ambiente. A comissão foi criada em 1983, após a avaliação de

dez anos da Conferência de Estocolmo e teve por objetivo promover audiências em todo o

mundo e produzir um resultado formal das discussões. O documento produzido recebeu o

nome de Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. O relatório contemplou as seguintes

concepções de desenvolvimento com impactos na EA:

a) Apontou para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e

padrões de consumo e sugeriu a conciliação entre questões sociais e

ambientais;

b) Enfatizou problemas como o aquecimento global e a destruição da camada

de ozônio (conceitos novos para a época), expressou preocupação com o

fato da velocidade das mudanças ambientais excederem a capacidade das

disciplinas científicas e de nossa capacidade de avaliar e propor soluções;

c) Apresentou uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e definiu

metas a serem realizadas no nível internacional.

d) Propôs medidas como: diminuição do consumo de energia,

desenvolvimento de tecnologias para o uso de fontes energéticas

renováveis e aumento da produção industrial nos países não

industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas.

e) Colocou como medidas a serem tomadas pelos países para promover o

desenvolvimento sustentável, questões como: limitação do crescimento

populacional; garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em

longo prazo; preservação da biodiversidade e dos ecossistemas,

diminuição no consumo de energia e desenvolvimento de tecnologia que

propiciem o uso de fontes energéticas renováveis; aumento da produção

industrial em países não industrializados com base em tecnologias

ecologicamente adaptadas; controle da urbanização desordenada e

integração entre campo e cidades menores; atendimento das necessidades

básicas (saúde, escola e moradia).

No âmbito internacional, as metas propostas foram: adoção da estratégia de

desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e

instituiçõesinternacionais de desenvolvimento); proteção dos ecossistemas supranacionais

como a Antártida.

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A resolução proposta pela Política Nacional de Meio Ambiente em 1981, em sua

lei nº6938/81estabelece a inclusão da EA em todos os níveis de ensino. Porém, a Constituição

Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, em seu artigo 225, assegura um

ambiente saudável a todos. Tal constituição tem como prioridade fundamental o

estabelecimento da democracia e a diminuição das desigualdades sociais.

Em 1991, a Comissão Interministerial para a preparação da ECO-92 considera a

EA como instrumento da política ambiental brasileira. Em junho de 1992, período de

transição do governo de Fernando Collor de Melo (que renunciou ao mandato após denúncias

de corrupção), para o governo de Itamar Franco, ocorreu no Rio de Janeiro, a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Rio-

92, Eco-92 ou Cúpula da Terra. Foi um momento em que a comunidade política internacional

admitiu que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos

recursos da natureza. Desse evento surgiram dois documentos importantes: Agenda 21 e a

Carta da Terra. A EA, a partir dessa conferência, passou a ser abordada de forma mais

complexa pelas instituições de ensino, porém sem existir uma homogeneidade com relação a

metodologia aplicada.

Em 1994 ações públicas em EA passaram a ser orientadas pela primeira versão do

Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). Nesse programa constava a missão da

Coordenação de Educação Ambiental do Ministério da Educação (COEA/MEC), que foi

originada a partir de um grupo de trabalho para EA estabelecido em 1991. As ações

pretendidas voltavam-se mais para a EA formal, supletivo e profissionalizante, vinculados aos

sistemas de ensino em todos os níveis. Para os demais públicos, que não o escolar, a execução

caberia ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) (BRASIL, 2009). A Lei 9.276/96 estabelece

para o período compreendido entre os anos de 1996 a 1999 o Plano Plurianual do Governo,

que definiu a EA ambiental como um dos principais objetivos da área ambiental, para a

divulgação e conhecimento sobre tecnologia de gestão sustentável dos recursos naturais

(LIMA; ALVES, 2016).

De acordo com Brasil (2008), O ProNEA, reorganizado em 2004, representa um

novo patamar de compreensão do processo educativo, pois reconhece que a intenção básica da

educação não se restringe a gerar novos comportamentos ou trabalhar ideias e valores, mas,

também, em compreender as especificidades dos grupos sociais, o que leva o ato educativo

asuperar a dicotomia entre sociedade e natureza. E entre seus princípios norteadores,

destacam-se: respeito à liberdade e apreço à tolerância; vinculação entre ética, estética,

trabalho e práticas sociais; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o

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pensamento, a arte e o saber; compromisso com a cidadania ambiental ativa; transversalidade

construída a partir de uma perspectiva interdisciplinar; entre outros, que apontam para a

vinculação da EA à construção da cidadania.

Em 1995, Fernando Henrique Cardoso assume a presidência da república,

situação em que permanece durante dois mandatos (1995-2002). No ano seguinte foi criada a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei 9394 de 1996), que estabeleceu a

necessidade de uma formação mais ampla do estudante da educação básica, com a sugestão de

uma abordagem de temas que propiciem a reflexão sobre questões como ética,

responsabilidade e cidadania e a inclusão da percepção e compreensão do meio ambiente

numa perspectiva interdisciplinar. Esse documento trouxe também a orientação para que essas

temáticas possam fazer parte de todos os componentes educacionais, por isso, sugere que sua

abordagem permeie os conteúdos e atividades didáticas de todas as disciplinas através de um

tratamento transversal. No ano de 1997, o mesmo governo publica os Parâmetros Curriculares

Nacionais, que colocam a questão ambiental dentro dos temas transversais.

Muitos especialistas consideram o ano de 1997 como o ano da EA no Brasil. Esse

fato se deve a duas grandes razões: a comemoração de duas décadas da realização da

Conferência de Tbilisi, que ocorreu em 1997, na capital da Geórgia (Ex. União Soviética), e

que resultou na criação de um documento que é a base para a moderna visão da EA; e

também, porque o ano de 1997 foi o momento em que se avaliou os cinco anos da

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que ficou

conhecida como Rio-92, na qual foi construído um tratado de EA para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global, que se tornou referência para a realização da EA no

mundo todo (BRASIL, 2009).

A lei 9.795/99, de 27 de abril de 1999, foi criada ainda no governo de Fernando

Henrique Cardoso, e regulamentada apenas em 2002, no governo de Luiz Inácio Lula da

Silva. Ela institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e, em seu artigo 2º,

define a EA como um componente essencial e permanente da educação nacional, que deve

estar presente de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo de

forma formal ou não formal. (BRASIL, 2003). A PNEA é a primeira do gênero na América

Latina e contêm objetivos e finalidades para a institucionalização da EA e também esclarece

dúvidas frequentes quanto aos seus pressupostos. Esse documento está voltado para a

vinculação de processosformais de transmissão de conhecimento, com a criação de práticas

sociais e a preocupação em fazer com que os cursos de formação profissional insiram

conceitos, capazes de provocar nos docentes, uma mínima atuação que produza impacto sobre

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a natureza e façam com que todas as etapas do ensino formal abordem a EA de forma

interdisciplinar (BRASIL, 2008).

Após a regulamentação da PNEA, começa a ocorrer uma atuação mais efetiva e

conjunta entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério da Educação (MEC) na

politização de debates com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais (IBAMA) e a consolidação de espaços interinstitucionais que tomam por

referência o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global, aprovado durante a Rio 92. Dessa forma, a EA passa a assumir uma

dinâmica mais intensa em termos político-institucionais e a estar presente em projetos de

formação de setores sociais. (BRASIL, 2008).

O período compreendido entre 2005-2014 foi instituído, pela Assembleia Geral da

Organização das Nações Unidas (ONU), como a década para o desenvolvimento sustentável

(LIMA; ALVES, 2016, p.35).

No ano de 2003, após a Conferência Nacional do Meio Ambiente, foi criada a

Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (Com Vida), no governo de Luís

Inácio Lula da Silva. Com o objetivo de promover uma maior interação entre educadores,

estudantes e comunidade escolar para auxiliar na construção da Agenda 21 escolar.

No período de 13 a 22 de junho de 2012, no governo de Dilma Roussef, aconteceu

a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que ficou conhecida

como Rio +20. Esse encontro representou uma segunda etapa da Cúpula Terra ocorrido em

1992. Nele, foram debatidos assuntos como: um balanço do que foi feito nos últimos vinte

anos em relação ao Meio Ambiente; a importância e os processos de economia verde; ações

para garantir o desenvolvimento sustentável do planeta; maneiras de eliminar a pobreza e a

governança internacional no campo do desenvolvimento sustentável. Apesar de não ter

alcançado seus objetivos por questões de interesse dos países desenvolvidos e em

desenvolvimento, a Rio +20 contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável

para as próximas décadas.

Em 2012 também foram estabelecidas as novas Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Básica. Este documento foi resultado de um amplo debate entre os sistemas

educativos em seus vários níveis (municipal, estadual e federal) promovidos pela Câmara da

Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que contou com a participação

deentidades representativas dos dirigentes estaduais e municipais, professores e demais

profissionais da educação, instituições de formação de professores, mantenedoras do ensino

privado e de pesquisadores na área. Essa reformulação ocorreu a partir da constatação de

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mudanças no cenário educacional, como a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos

e a obrigatoriedade do ensino gratuito dos quatro aos dezessete anos de idade, pois estas

ampliaram o direito à educação de crianças, adolescentes, como também de todos aqueles que

não tiveram a oportunidade de estudar nessa fase da vida. Além das Diretrizes Gerais para a

Educação Básica, que contemplam a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino

Médio, as novas diretrizes contemplam resoluções importantes para a Educação no Campo, a

Educação Indígena, Quilombola, a Educação Especial, para Jovens e Adultos em Situação de

Privação de Liberdade nos estabelecimentos penais, para a Educação Profissional e técnica de

Nível Médio. Contempla também as DCN para a Educação de Jovens e Adultos, a Educação

em Direitos Humanos, a Educação das relações Étnico-raciais, para o Ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana e para a Educação Ambiental.

O capítulo das novas Diretrizes Curriculares, dedicado exclusivamente para a EA,

tem o intuito de estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental,

com a finalidade de orientar as instituições de ensino desde a educação básica à educação

superior. Esse documento teve como referência para a sua elaboração, as Diretrizes

Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica e as Diretrizes Curriculares Nacionais

para as Graduações e, ainda, as Diretrizes para a Formação de Professores. E foi formulado

com os objetivos de:

a) Sistematizar os preceitos definidos na Lei 9.795 de 27 de abril de 1999,

que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental, como também,

assegurar a formação humana de pessoas que vivem em determinado meio

ambiente, dentro de um contexto histórico e sociocultural, relacionados às

suas condições físicas, emocionais, culturais e intelectuais;

b) Estimular a reflexão crítica sobre a inserção da EA desde a formulação até

a execução e avaliação de projetos educacionais das instituições de ensino,

com a finalidade de superar a mera distribuição do tema entre os demais

componentes curriculares;

c) Orientar os cursos de formação de professores da Educação Básica;

d) Orientar os sistemas educativos e as instituições de ensino que os

integram, independentemente da rede à qual pertençam.

Percebe-se, ao longo da história, uma crescente preocupação do poder público em

estabelecer políticas que visam efetivar a EA no cotidiano escolar dos jovens brasileiros. No

entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que essas recomendações possam

fazer parte efetivamente do cotidiano das escolas. Pois se acredita que a educação é o

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principal canal que se pode usar, para alcançar o objetivo de despertar os estudantes para

serem capazes de agir com responsabilidade e sensibilidade na conservação do ambiente, no

presente e para o futuro e, dessa forma, poderem exigir e respeitar seus próprios direitos,

como também o direito de toda a comunidade, a fim de modificarem suas relações com meio.

2.2.1. A Agenda 21

A Agenda 21 surgiu com o intuito de assegurar a realização dos compromissos

assumidos durante a Eco-92. Trata-se de uma agenda de trabalho que contém compromissos e

ações a serem assumidos pelos 179 países participantes no século XXI. Através dela, a

comunidade das nações procurou identificar os problemas prioritários, os recursos e os meios

para enfrentá-los e as metas para as próximas décadas, com a intenção de concentrar esforços

nas áreas chaves, a fim de evitar dispersão, desperdícios e ações pouco produtivas (BRASIL,

2003). Esse documento tem por objetivo realizar mudança em termos de valores, de modelos

produtivos e padrões de consumo, pois não se restringe a questões exclusivamente ecológicas,

mas engloba desafios como a erradicação da pobreza, a consolidação dos direitos humanos e

da paz entre os povos, além de refletir um consenso mundial e um compromisso político no

tocante ao respeito, desenvolvimento e cooperação ambiental. A intenção é que os países

participantes assumam o compromisso de construir um modelo de desenvolvimento que

resulte em melhor qualidade de vida para a humanidade e que seja econômica social e

ambientalmente sustentável.

Não apenas as organizações internacionais são convidadas a contribuir com a

Agenda 21, mas também organizações regionais e sub-regionais (ou locais) podem construir

suas agendas de acordo com suas realidades, com base na Agenda 21 global. Assim, cada país

teve como tarefa elaborar sua Agenda 21. No Brasil este processo começou em 1997, com a

criação da Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21

Brasileira (CPDS). Essa comissão envolveu quarenta mil pessoas de todo o país, e concluiu a

Agenda 21Brasileira em 2002. Tornou-se, portanto, um instrumento de

planejamentoparticipativo que teve como principais objetivos a proteção da natureza, o

fortalecimento da economia e a justiça social.

A Agenda 21local corresponde ao processo de planejamento participativo de um

determinado território que envolve a implantação de um fórum de Agenda 21. O fórum é

responsável pela construção de um plano local de desenvolvimento sustentável que estabelece

projetos e ações de curto, médio e longo prazo e define a implantação e responsabilidades

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governamentais e de demais setores na implementação, acompanhamento e revisão dos

projetos de ação.

A Agenda 21 escolar é um instrumento que tem suas atividades e projetos

planejados pela Com-vida, que é uma organização na escola, que tem por objetivo geral

desenvolver e acompanhar a Educação Ambiental de forma permanente e continuada de modo

a envolver toda a comunidade. Dentro desse objetivo maior estão os objetivos específicos de:

construir a Agenda 21 na escola; organizar a conferência de meio ambiente na escola;

promover intercâmbio com outras Com-vidas de outras instituições de educação básica de seu

município, região ou estado. Essa organização deve ser estruturada a partir da formação de

um Núcleo Mobilizador que deve conter: dois estudantes, para os cargos de delegado ou

delegada e suplente eleitos na conferência de Meio Ambiente na Escola; um professor ou

funcionário escolhido pela Com-vida e um membro da comunidade escolhido pela Com-vida.

Esse núcleo organizador deve ter uma vigência de dois anos e mudar a cada Conferência de

Meio Ambiente na Escola. Com a Agenda 21 escolar pretende-se transformar a realidade,

aumentar o diálogo com outras comunidades do município, entrar em sintonia com o que vem

proposto com a Agenda 21 global.

Durante a Rio-92, com a participação do MEC, foi produzido a Carta Brasileira

para Educação Ambiental. Esse documento admite, entre outras coisas, que o modelo

educacional brasileiro não corresponde às necessidades nacionais com relação à Educação

Ambiental. E aponta, como fatores que dificultam sua consolidação em todos os níveis da

educação, a lentidão da produção de conhecimento e a falta de comprometimento real do

poder público no cumprimento e complementação das políticas específicas de EA (BRASIL,

2005).

A Carta da Terra é um documento organizado pela Organização das Nações

Unidas (ONU) em 1987 para definir os interesses sustentáveis, a paz e a justiça

socioeconômica e recebe o apoio de milhares de organizações no mundo todo. É uma espécie

de código de ética planetário semelhante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, só

que voltado para a sustentabilidade, a paz e a justiça socioeconômica. Idealizada pela

Comissão Mundial sobreMeio Ambiente, em 1987, ganhou impulso na Cúpula da Terra

realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Só ficou pronto no ano 2000, quando foi traduzido para

mais de 40 idiomas (SARMATZ, 2016).

A partir da constatação de que existe uma interdependência mundial também sob

o ponto de vista ecológico, as temáticas relativas ao meio ambiente e à melhoria da qualidade

de vida das comunidades passam a compor a lista dos temas de relevância internacional, isso

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faz com que os espaços, os recursos naturais e o próprio meio ambiente tornem-se prioridade

no planejamento político e econômico dos governos, e passem a ser analisados em seu

potencial econômico e vistos como fatores estratégicos. Assim, foram criados fóruns

internacionais em que os países, apesar de suas divergências, são obrigados a se posicionar, a

negociar e legislar de forma que cada nação possa pensar também nos interesses da

humanidade e do planeta. Nos documentos assinados pela maioria dos países, fala-se em

garantir o acesso a todos os bens econômicos e culturais necessários a uma boa qualidade de

vida relacionada ao conceito de sustentabilidade (BRASIL, 1999).

No entanto, no interior das relações mundiais, somente ações atenuantes têm sido

possíveis, pois, para garantir efetivamente a sustentabilidade, é necessária uma profunda

transformação da sociedade (do sistema econômico e do capitalismo industrial) de forma a

garantir a substituição radical dos modelos de produção, de desenvolvimento tecnológico, do

saber e da distribuição de bens.

De acordo com Leff (2000), a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, sinalizou que a solução da

problemática ambiental implica mudanças profundas na organização do conhecimento.

Assim, propõe-se o desenvolvimento de uma educação ambiental fundada em uma visão

holística da realidade e nos métodos da interdisciplinaridade, pois uma visão ou conhecimento

fragmentado deixaria muito a desejar, porque as questões ambientais são sistemas complexos

nos quais intervêm processos de diferentes racionalidades e escalas espaço-temporais.

2.3 Conceitos de Educação Ambiental

O surgimento dos problemas socioambientais fez com que o homem, que a

princípio precisava submeter-se às leis da natureza para garantir sua sobrevivência, se

distanciasse e passasse a encará-la apenas como uma gama de recursos disponíveis. Porém,

em poucas décadas percebeu-se que os recursos naturais são finitos e insuficientes para

atender asnecessidades da sociedade de consumo. Constatou-se, também, que o bem-estar

ilusório que o mesmo possui só é vivido por uma pequena parcela da população, pois a grande

maioria que luta para sobreviver é, na verdade, a maior vítima dos problemas ambientais

causados por esse modelo econômico (PÁDUA, 1999).

Grün (2009) fala da modernidade como um tempo em que o homem inicia seu

afastamento dos outros seres e assume a arrogante postura de “dono do mundo”, pois a

natureza passa a ser quantificada e mercantilizada por ele. Percebe-se que a degradação que os

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seres humanos causam na natureza, com intenção de satisfazer suas necessidades, provoca

conflitos e tensões com relação ao uso dos espaços e dos recursos disponíveis. O

individualismo, marcante na sociedade atual, é um dos grandes causadores da separação

homem-natureza, que é uma característica predominante do mundo capitalista. O homem age

sem perceber as relações de equilíbrio existentes e causa, com isso, grandes desequilíbrios

ambientais.

E, nesse contexto, marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do

seu ecossistema, torna-se necessário o engajamento de um conjunto de atores do universo

educativo, pois estes podem fomentar o conhecimento e despertar a juventude para atitudes de

cuidado e preservação do meio ambiente. De acordo com a Constituição Federal, Brasil

(1998b), é também papel da escola, além do pleno desenvolvimento dos educandos e

preparação para o trabalho, o desenvolvimento para o exercício da cidadania.

A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA, Lei nº 9797/99), em seu Art

1º, conceitua a EA como “[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para

a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de

vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 2005, p.65).

Para as DCNEM, a Educação Ambiental constitui uma dimensão da educação

com atividade intencional da prática social, que deve desenvolver um caráter social do

homem em relação à natureza, como também com os outros seres humanos, com vista na

potencialização dessa atividade a fim de torna-la plena de prática social e de ética ambiental

(BRASIL, 2013).

Dessa forma, entende-se que a EA, deve:

Dar conta da transformação necessária à transição para uma sociedade mais

sustentável, em que prevalecerão padrões de produção e consumo, adequados, sem

miséria, guerras e discriminações, com homens e mulheres juntos na construção

dessa utopia possível mais a universalização da produção e do acesso à informação,

a aproximação sinérgica dos saberes acadêmicos e tradicionais, a recuperação da

degradação provocada pelas atividades humanas e a saúde ampliada para todos

(BRASIL, 2009).

De acordo com Caslalinho e Pitano (2013), a educação dos sujeitos é a única

forma de provocar uma transformação no que de errado é imposto pela sociedade, pois

contribui para que o ser humano compreenda sua responsabilidade no cuidado com o meio

ambiente e com a vida. Não é possível pensar em modelos de desenvolvimento sustentável e

preservação do meio ambiente separadamente do homem, sem analisar os direitos que o

mesmo possui e os que lhe são negados, por isso, cabe aos ambientalistas e aos educadores o

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papel de desenvolver uma educação que busque soluções, com a participação de todos, para

os problemas sociais juntamente com os ambientais. É necessário reconhecer que a população

mais carente é a que sofre as consequências do desenvolvimento econômico que se baseia na

produção e no consumo e exclui cada vez mais o oprimido que vive em locais precários, que

se alimenta de produtos de menor qualidade, e não possui atendimento no setor de saúde e

algumas vezes não tem nem onde morar ou o que comer. Isso leva os educadores a

compreenderem que a justiça ambiental não poderá ser concretizada sem a justiça social.

Os educadores são, portanto, de grande importância para a inserção da EA no

cotidiano escolar, pois compete a eles a responsabilidade de qualificar os alunos para um

posicionamento crítico com relação à crise ambiental que o mundo atravessa, como por

exemplo, a escassez de água, a dificuldade na produção de energia, a qualidade do ar que

respiramos, entre outros. A EA deve estimular, também, a transformação de hábitos e práticas

sociais e a formação de uma consciência cidadã e ecológica, que favoreça um posicionamento

crítico e a tomada de decisões conscientes, não somente por parte dos estudantes, como

também, de toda comunidade escolar, pois é importante que a EA envolva todos os autores do

universo educativo, sem se restringir unicamente aos alunos, nem somente ao ambiente de

sala de aula. Compete ao professor o deve de assumir o papel de facilitador dessas interações

que podem ocorrer através de projetos escolares ou de inúmeras outras formas.

De acordo com Lima e Alves (2016, p.36), [...] “O complexo desafio da

atualidade consiste em entender as mútuas relações que existem entre os aspectos ecológicos,

econômicos, sociais, políticos, entre outros”. Para isso, o Educador Ambiental necessita ser

múltiplo, contraditório e mutável, capaz de superar a visão fragmentada da realidade social e

da concepção de ser humano.

De acordo com Loureiro (2012), a educação pressupõe um processo individual

apenas em seu resultado final, pois, durante seu processo, consiste em uma atividade coletiva,

que envolve outras pessoas, o diálogo, a mobilização, o conhecimento, como também a

mudança cultural, a transformação social, a formação humana e a participação na vida

pública.

Por isso, é importante encontrar uma forma de aquisição de conhecimentos que

possibilite enxergar o meio ambiente com seus vínculos e dentro dos contextos físico,

biológico, histórico, social e político, com intenção de apontar soluções para os problemas

enfrentados.

Entende-se que a Terra não pode ser salva dentro do quadro do capitalismo, pois é

necessário transformar o modo de produção e consumo. O que não se trata apenas de tornar os

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cenários mais belos, esconder a miséria, desodorizar o mau cheiro, ou florir as prisões, mas,

de substituir a produção, o consumo e o desperdício exagerados, por objetos e serviços

necessários a uma vida feliz e de trabalho criador. O que não pode ser possível diante da

crescente necessidade de perpetuar o trabalho alienado e a exploração, com a simples intenção

de fortalecer a mais valia, o lucro, com o objetivo de alimentar a lógica do sistema produtivo

(LOUREIRO, 2012 apud MANSHOLT; MARCURSE et al, 1973).

Segundo Kindel e Lisboa (2012), a educação deve ter a preocupação de informar e

formar pessoas, com o objetivo de torná-las cidadãos preparados para viver uma nova visão

de sociedade. Deve buscar ações e estratégias para que entendam as relações atuais de

produção e consumo, bem como as futuras implicações decorrentes da continuidade da

utilização dos recursos naturais até a exaustão, que causariam irreversíveis problemas na

manutenção da vida em nosso planeta.

Assim, a Educação Ambiental surgiu como uma nova forma de encarar o papel do

ser humano no mundo, pois parte de reflexões profundas na busca de soluções para alterar ou

subverter a nova ordem vigente. Esta área de estudo propõe modelos mais harmônicos de

relacionamentos com a natureza, com a construção de novos paradigmas e novos valores

éticos, com a finalidade de que as pessoas possam adotar posturas de integração e participação

a partir de uma visão holística e sistêmica. Tem a intenção de despertar nos indivíduos uma

consciência solidária e cidadã e uma visão global que integre valores, conhecimentos e

capacidades, e a consciência de que as atitudes começam de forma local, com a finalidade de

construir um mundo mais ético, onde todas as espécies têm direito à vida e as relações

humanas são mais justas. Porém, em EA, os temas não devem ser abordados no sentido

apenas da curiosidade, da discussão ideológica, da mera citação descontextualizada, seu

estudo precisa ser fundado na integração entre conceitos científicos e na discussão de aspectos

sociais (PÁDUA, 1999).

É importante que a EA não tenha finalidade unicamente comportamental porque,

assim, perde o caráter emancipador e transformador do processo educativo, pois deve levar

em conta que a educação também é um ato político e pode se consolidar através de práticas

sociaiscapazes de formar sujeitos políticos com capacidade para interagir de forma reflexiva e

crítica na sociedade.

De acordo com Loureiro (2012), a finalidade da EA não é simplesmente “plantar

sementes” que no futuro possam geminar e, assim, fazer com que todas as pessoas cooperem

na superação dos problemas ambientais. Pois a sociedade não se resume à soma de

comportamentos individuais, mas uma relação social e historicamente construída. Pois em

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tempo de utilitarismo, frivolidade e descaso com o outro, é necessário não dissociar indivíduo

e sociedade, para que a EA alcance seus objetivos.

Nessa perspectiva, acredita-se em uma educação ambiental como uma filosofia de

vida que deve permear nosso fazer científico e acadêmico, não como atividades esporádicas

que coloquem as pessoas em contato com a natureza por um tempo limitado de suas vidas, ou

que ensine a elas um pouco sobre ecologia e relações entre seres vivos e seu ambiente natural,

mas, em um trabalho amplo, com auxílio mútuo entre pesquisadores das ciências naturais e

sociais, de modo a permitir um enriquecimento da pesquisa em ciências ambientais.

A EA encontra-se pautada em três denominações similares que configuram ao

longo das últimas décadas. São elas: crítica, emancipatória e transformadora. Para Loureiro

(2012, p.88), a EA é:

Crítica: por situar historicamente e no contexto de cada formação socioeconômica as

relações sociais na natureza e estabelecer como premissa a permanente possibilidade

de negação e superação das verdades estabelecidas e das condições existentes, por

meio da ação organizada dos grupos sociais e de conhecimentos produzidos nas

práxis;

Emancipatória: ao almejar a autonomia e a liberdade dos agentes sociais pela

intervenção transformadora das relações de dominação, opressão e expropriação

material;

Transformadora: por visar a mais radical mudança societária, do padrão

civilizatório, por meio do simultâneo movimento de transformação subjetiva e das

condições objetivas.

Acredita-se que a escola, como instituição de ensino, é capaz de difundir

informações acerca de uma sociedade sustentável, pois é um espaço propício à formação de

ideias e pessoas, por isso torna-se ambiente fértil para se trabalhar EA.

Para Moreira (2012), tornar a escola um espaço inovador sustentável significa

romper com a lógica que orienta a dinâmica social atual. Num sistema que valoriza o

individualismo em detrimento da coletividade, a competição em vez da colaboração, a

hierarquia ao invés das redes cooperativas. Dessa forma, as escolas que trabalham educação

ambiental surgem como possibilidade de mudança qualitativa no cenário da educação, pois

devem atuar na construção de uma sociedade participativa, crítica e cidadã, e no engajamento

conjunto entre professores, estudantes e toda a comunidade escolar, a fim de que

sejamprotagonistas e divulgadores de uma nova visão de mundo, onde a sustentabilidade

ocupe lugar central e os direitos coletivos possam ser, de fato, respeitados.

Para Sato (2005), a educação ambiental tem sido identificada como

transdisciplinar porque deve permear todas as disciplinas do currículo sem poder ser abordada

em uma única disciplina específica, pois dificilmente se encontraria um profissional

polivalente que dominasse todos os conhecimentos inerentes à multidimensionalidade

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associada à questão ambiental, pois esta envolve muitas variáveis e sua solução precisa de

vários conhecimentos e profissionais envolvidos.

A EA deve também ajudar a esclarecer as pessoas de maneira consciente e cidadã,

para que possam opinar sobre projetos que certamente influenciarão suas vidas e suas

comunidades por muito tempo, pois de nada adianta insistir em um processo de ensino-

aprendizagem que traz o ambiente e as relações entre os seres vivos de forma fragmentada e

particularizada. Neste caso, corre-se o risco de se aprender muito sobre assuntos específicos,

mas não saber relacioná-los em um contexto global e sistêmico.

Segundo Casalinho e Pitano (2013), as abordagens das questões ambientais,

muitas vezes, provocam a formação de conceitos e conhecimentos carentes e superficiais. Um

deles, por exemplo, é a ideia romântica de que é importante preservar o meio ambiente por ser

algo natural, belo e intocável. Outra forma, é a realização de projetos realizados por grandes

empresas que, a princípio, demonstram preocupação em mostrar a preservação dos recursos

naturais, mas, que, na verdade, não passam de alternativas superficiais, enganosas e

interesseiras, que visam ocultar da população as atividades de exploração e devastação que

realizam. Portanto, a EA deve ser trabalhada como forma a despertar a criticidade do

educando. Para isso, deve ir além dos simples conceitos costumeiramente apresentados.

Kindel e Lisboa (2012) colocam que o fazer pedagógico, dentro e fora da escola,

deve ser acompanhado de investimentos em pesquisas, na formação de professores bem

preparados na busca de reestruturar a ideologia que permeia a escola em todos os níveis de

ensino, como também, adotar a educação ambiental como o motivador maior de toda a práxis.

Os temas escolhidos para se trabalhar devem permitir o estudo da realidade. É

importante que o aluno reconheça a importância da temática para si próprio e para o grupo

social a que pertence. Dessa forma dará uma significação ao seu aprendizado se já possuir

algum conhecimento, pois assim, irá analisar com mais embasamento as situações que a

temática apresenta.

Segundo Jacobi (2003), refletir sobre a complexidade ambiental abre a

oportunidade de criação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da

natureza e para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a

participação, apoiado pela interação entre as diferentes áreas do saber. Isso leva os educadores

ao questionamento de práticas sociais, e suscita mudanças na forma de pensar, como também,

na forma de adquirir conhecimento e transformar as práticas educativas, pois é impossível

resolver os complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem transformar os

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sistemas, os valores e comportamentos gerados pela atual racionalidade social produtora da

modernidade como uma ordem coisificada e fragmentada.

O ensino para formar o cidadão, tem como principal objetivo o desenvolvimento

da capacidade de participação e tomada de decisões criticamente, pois há necessidade de que

o aluno adquira conhecimento mínimo para então ser capaz de participar com maior

fundamentação na sociedade atual. Pois este necessitará tomar decisões com consciência de

suas consequências e desenvolver habilidades básicas que caracterizam o cidadão, como:

participação e julgamento. Deve também implicar na busca de um novo paradigma

educacional e, para isso, é importante adotar uma nova maneira de encarar a educação, pois o

ensino atual necessita ser significativamente alterado, por isso, novos conteúdos e

metodologias e novos métodos de avaliação têm que ser propostos pelas instituições de

ensino.

Jacobi (2005) diz que o exercício da cidadania implica em autonomia e liberdade

responsável, como também participação na esfera política democrática e na vida social.

Assim, os cidadãos desenvolvem ações de integração social, conservação do ambiente, justiça

social, solidariedade, segurança e tolerância, que constituem preocupações da sociedade atual.

A questão ambiental impõe a busca por novas formas de pensar e de agir

individualmente e coletivamente e aponta novos caminhos e modelos para a produção de

bens, com o objetivo de ajudar a estabelecer relações sociais que não perpetuem tantas

desigualdades e exclusão social, e garantir a sustentabilidade ecológica com a construção de

um novo universo de valores no qual a educação desempenha papel de grande relevância

(BRASIL, 2005).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), (Brasil, 1999), colocam o assunto

meio ambiente como um tema transversal. Dessa forma, orientam para que não integre uma

disciplina específica do currículo, mas que seja trabalhado em diferentes disciplinas e com

diversos tipos de abordagens. Esse documento traz importantes orientações para que seja

possível trabalhar as temáticas ambientais de forma permanente e através das diferentes áreas

que compõem o currículo e auxiliam, assim, na realização de um trabalho interdisciplinar.

Explicitam também sobre a aplicação de projetos pedagógicos na escola com foco

em temáticas ambientais, e orientam a aplicação dos projetos em todas as suas etapas, desde

os objetivos até a avaliação, no intuito de incentivar professores e instituições a trabalharem

na busca da formação de valores e práticas sociais que favoreçam atitudes cidadãs conscientes

por parte de toda a comunidade escolar. Ressalta também a importância de abordar educação

ambiental além dos problemas ecológicos, para isso sugere que os aspectos econômicos e

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sociais sejam também contemplados, no intuito de favorecer uma abrangência interdisciplinar,

o que facilita a contextualização e auxilia o educando na construção de uma visão crítica geral

e não apenas pontual ou fragmentada das problemáticas ambientais.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), assim

como os PCN, também orientam para que a temática ambiental seja abordada com foco na

contextualização e na interdisciplinaridade. Contudo, assumem uma abordagem histórica, ao

considerarem as práticas sociais, políticas e culturais, e as experiências de vida pessoais e as

questões relacionadas ao ambiente e enfatizarem o papel dos movimentos sociais para a

educação ambiental. Estabelecem a implantação da EA desde a educação básica até a

superior, e destacam o papel dos sistemas de ensino e o regime de colaboração entre eles.

Procuram sistematizar os preceitos definidos na Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que

estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), e buscam assegurar a

formação humana, ao relacionar conceitos históricos e socioculturais com suas condições

físicas, emocionais, culturais e intelectuais. Além disso, estimulam a execução e avaliação de

projetos institucionais e pedagógicos em EA, com o objetivo de que a abordagem dessas

temáticas supere a mera distribuição pelos demais componentes curriculares. Orientam cursos

de formação de docentes da educação básica, como também os sistemas educativos e as

instituições de ensino (BRASIL, 2012).

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3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS DOCUMENTOS LEGAIS: PCN E DCNEM

Esse capítulo tem a intenção de apresentar as principais orientações dos PCN para

a educação, explicar a importância da transversalidade na visão desses documentos, e as

orientações dos mesmos para o desenvolvimento de trabalhos especificamente com relação ao

Meio Ambiente. Mostra também as principais orientações dos DCNEM para o trabalho com

temáticas ambientais. Com isso, tem a pretensão de apresentar as orientações para o

desenvolvimento da EA na visão desses documentos.

3.1. Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais)

Os PCN têm como objetivo auxiliar o professor na reflexão e discussão de

aspectos cotidianos da prática pedagógica, pois entendem que essa prática deve ser

continuamente transformada pelo professor. Eles podem ser usados para refletir sobre a

prática pedagógica, com vista em uma coerência com os objetivos propostos, como também

auxiliam na preparação de um planejamento que possa orientar o trabalho em sala de aula e

levar a equipe de trabalho a discutir as razões que levam os alunos a terem maior ou menor

participação nas atividades escolares, entre outros. Sua natureza aberta permite uma proposta

flexível, onde podem ser incluídas decisões regionais e locais sobre currículo e sobre

programas educacionais empreendidos por autoridades governamentais, escolas e professores.

E descarta, assim, a ideia de um modelo homogêneo e impositivo.

Os PCN entendem que a prática de todo professor, mesmo inconscientemente,

pressupõe sua concepção de ensino e aprendizagem, que determina, além de sua compreensão

sobre os papeis de professor e aluno, sua metodologia, a função social da escola e dos

conteúdos a serem trabalhados. Compreendem que as práticas se constituem a partir das

concepções educativas e metodológicas de ensino que fazem parte da formação educacional e

do percurso profissional do professor, o que inclui suas experiências escolares, suas

experiências de vida, as ideias compartilhadas com seu grupo social e as tendências

pedagógicas contemporâneas.

Para esses documentos, a escola, como espaço de formação e informação, deve

favorecer a inserção do aluno no dia a dia das questões sociais marcantes em um universo

cultural maior, e, assim, proporcionar o desenvolvimento de capacidades que favoreçam a

compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, para possibilitar ao aluno

usufruir de manifestações culturais nacionais e universais. Para isso, orientam para que as

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instituições de ensino elejam conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais

que marcam cada momento histórico, pois compreendem que sua aprendizagem e assimilação

são essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres.

A importância dada aos conteúdos revela um compromisso da instituição escolar em

garantir o acesso aos saberes elaborado socialmente, pois estes se constituem como

instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania

democrática e a atuação no sentido de refutar ou reformular as deformações dos

conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e petrificação de valores. Os

conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto, estar em consonância com

as questões sociais que marcam cada momento histórico. (BRASIL, 1999, p.33).

Infelizmente, com a degradação do sistema educacional brasileiro, a maioria das

escolas tende a ser apenas um local de trabalho individualizado e, assim, perdem o caráter que

deveria ter de organização com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação de

todos que a compõem.

Os PCN constituem um referencial significativo e atualizado sobre a função da

escola e a importância dos conteúdos, e auxiliam sobre o quê, quando e como ensinar. Para

isso, optaram por um tratamento específico de cada área, com vista na importância de cada

uma, mas contemplou também a integração entre elas no tocante às questões sociais

relevantes e, dessa forma, reafirmam suas necessidades de problematização e análise, ao

incorporarem-se como temas transversais. Assim, questões como: ética, saúde, meio

ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural, puderam se integrar nas concepções

teóricas das áreas e de seus componentes curriculares.

Os temas transversais contemplam os temas sociais em sua complexidade sem

restringi-los à abordagem de uma única área. Também não constituem novas disciplinas, mas

permeiam a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no

decorrer de toda a escolaridade obrigatória. Pressupõe um tratamento integrado entre elas e

um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões envolvidas

nos temas.

É na organização dos conteúdos das áreas que se explicitam as aprendizagens

desses temas, porém a contextualização e a forma de tratamento que devem receber na ação

educativa escolar está especificada em textos que fundamentam cada um dos temas. Apesar

da grande abrangência que esses possuem, não devem ser tratados igualmente, pois precisam

se adequar às necessidades de cada região ou mesmo de cada escola. As características das

questões ambientais, por exemplo, ganham especificidades diferentes no sertão nordestino ou

na periferia de uma grande cidade.

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Os objetivos dos PCN, para uma formação ampla, se definem em termos de

capacidades de ordem: cognitiva; física; afetiva; de relação interpessoal; inserção social; ética

e estética. No tocante à capacidade de inserção social está relacionada à possibilidade do

aluno perceber-se como parte de uma comunidade, de uma classe, de um ou vários grupos

sociais e de comprometer-se pessoalmente com questões que julgue relevantes para a vida

coletiva. Essa capacidade é essencial para o exercício da cidadania, e é necessária para se

superar o individualismo e atuar sempre com foco na dimensão coletiva. Para o

desenvolvimento dessa capacidade é necessário aprender diferentes formas e possibilidade de

participação social. É importante, também, que o professor apresente seus conteúdos e

atividades de uma maneira que os alunos possam entender claramente por que e para quê

aprenderem.

Nos PCN os conteúdos são abordados em três grandes categorias: conteúdos

conceituais, que envolvem fatos e princípios; conteúdos procedimentais e conteúdos

atitudinais, que envolvem a abordagem de valores, normas e atitudes. Porém, a aprendizagem

de valores e atitudes é pouco explorada pedagogicamente por ser de natureza complexa.

Muitas pesquisas apontam a importância da informação como fator de transformação de

valores e atitudes, no entanto, somente a informação, seria insuficiente para alcançar tal

objetivo. Entretanto, a prática constante, coerente e sistemática dos valores e atitudes

desejados presentes nas relações interpessoais e na escolha dos assuntos a serem abordados

pode favorecer seu desenvolvimento.

Apesar de já fazerem parte dos conteúdos específicos cotidianamente ensinados,

os conteúdos atitudinais não têm sido reconhecidos. É necessário que os conteúdos sejam

analisados à luz dessa dimensão, para favorecer uma tomada de decisão consciente e

eticamente comprometida, capaz de alterar o papel da escola na formação do cidadão.

As três categorias de conteúdos referentes a conceitos, procedimentos, valores,

normas e atitudes, estão presentes nos PCN tanto nas áreas específicas como nos temas

transversais, pois contribuem para a aquisição das capacidades que estão definidas nos

objetivos gerais desse documento (BRASIL, 1999).

3.1.1. Os temas transversais nos PCN

Para a construção de uma prática educacional voltada para a construção da

cidadania é necessário a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades

dos indivíduos perante a vida pessoal, coletiva e ambiental.

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A transversalidade diz respeito à incorporação dos objetivos e dos conteúdos dos

temas transversais nas diversas áreas e no trabalho educativo da escola. E os temas

transversais correspondem a questões importantes e urgentes da vida cotidiana.

Com base no texto constitucional (BRASIL, 1998b), os PCN propuseram

orientações para a educação escolar comprometida com a cidadania. São elas:

a) Dignidade da pessoa humana: Implica respeito aos direitos humanos, repúdio à

discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas

relações interpessoais, públicas e privadas.

b) Igualdade de direitos: refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e

possibilidade de exercício da cidadania, ao considerar o princípio da equidade, que

leva em consideração que as diferenças (étnicas, culturais, regionais, etc.) e as

desigualdades socioeconômicas necessitam ser consideradas para que a igualdade seja

efetivamente alcançada.

c) Participação: como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa com a

complementariedade entre representação política tradicional e a participação popular

no espaço público. Com a compreensão de que a sociedade é heterogênea e marcada

por diferença de classe, étnicas, religiosas, etc.

d) Corresponsabilidade pela vida social: implica na divisão das responsabilidades da vida

coletiva entre o poder público e diferentes grupos sociais, ao mostrar que a construção

e ampliação da democracia no Brasil é responsabilidade de todos.

A cidadania é eleita como eixo vertebrador da educação escolar referindo-se a

valores, como também a conhecimentos que permitam o desenvolvimento de capacidades

necessárias para a participação social efetiva. No entanto, as áreas ministradas na escola como

língua portuguesa, matemática, etc.; não são suficientes para alcançar esse fim. Pois há

questões urgentes que necessitam ser abordadas como violência, saúde, o uso de recursos

naturais, preconceitos, etc.; que não são diretamente complementadas nessas áreas. No

entanto, são questões que precisam ser tratadas na escola com o mesmo lugar de importância.

Santos e Schnetzier (1996) afirmam que a educação para a cidadania é função

primordial da educação básica nacional, conforme também dispõem a Constituição Brasileira

e a legislação de ensino.

A escola não muda a sociedade, mas pode partilhar projetos com segmentos

sociais e assumir princípios democráticos, e assim constituir-se não apenas como espaço de

reprodução, mas também, de transformação.

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De acordo com os PCN, a aplicação de projetos de educação na escola,

comprometidos com o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir e transformar a

realidade poderá ser orientado por três grandes diretrizes:

a) Despertar o posicionamento em relação às questões sociais e interpretar a

tarefa educativa como uma intervenção na realidade no momento presente;

b) Não tratar valores apenas como conceitos ideais;

c) Incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das diversas áreas.

Os critérios adotados para a eleição dos temas transversais foram: urgência social,

abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental,

favorecer a compreensão da realidade e a participação social.

A pretensão dos temas transversais é integrar as áreas convencionais de forma que

todas estejam presentes relacionando-se a questões da atualidade. Porém, essa integração pode

se dar por diferentes níveis de extensão e profundidade de acordo com o domínio do tema e a

prioridade eleita nas diferentes realidades locais, o que se efetiva mediante a organização

didática assumida pela escola. E deve evitar o isolamento ou compartilhamento do ensino.

Dessa forma, aprendizagem em relação aos temas transversais e as diferentes áreas deve se

dar de forma que as áreas possam contemplar os objetivos e os conteúdos (fatos, conceitos e

princípios, procedimentos e valores, normas e atitudes) que os temas sociais propõem. As

diferentes áreas também, em alguns momentos, devem responder aos conteúdos

explicitamente trabalhados, como também conteúdo de campos e origens diferentes

(BRASIL, 1999).

Segundo Lisboa (2012), os temas transversais propostos nos PCN, possuem

natureza diferente das áreas convencionais pelo fato de que essas áreas, sozinhas, não

conseguem abordar toda a complexidade relativa a essas problemáticas. Pois uma questão

ambiental, por exemplo, não pode ser compreendida somente à luz da geografia ou da

sociologia, pois é necessário, para tanto, conhecimentos históricos, das ciências naturais, da

sociologia, da demografia, da economia, entre outros.

O professor deve mobilizar os conteúdos em torno da temática escolhida, para que

as áreas não representem continentes isolados, mas interliguem os diversos aspectos que

compõem o exercício da cidadania.

A proposta dos PCN para a transversalidade se define em alguns pontos:

a) Os temas não devem constituir novas disciplinas, pois precisa ocorrer um

tratamento integrado das diversas áreas;

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b) Leva a uma transformação da prática pedagógica, pois permeia toda a

prática educativa e as relações professores e alunos e entre todos os

diferentes membros da comunidade escolar, e assim, limita a atuação do

professor e amplia sua responsabilidade na formação dos alunos;

c) O trabalho com essas temáticas deve ser sistemático e contínuo e

acontecer no decorrer de toda a escolaridade, de forma a possibilitar um

tratamento mais aprofundado das questões abordadas.

A diferença entre interdisciplinaridade e transversalidade, consiste no fato de a

primeira questionar a visão compartimentada de cada disciplina e propor uma abordagem

epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a segunda diz respeito à possibilidade

de se estabelecer uma abordagem sobre a realidade e as questões da vida real (aprender na

realidade e da realidade) e, assim, estabelecer essas relações na prática educativa, ao assumir

uma dimensão didática. No entanto, na prática, interdisciplinaridade e transversalidade

alimentam-se mutuamente, pois o tratamento dos temas abordados expõe as inter-relações

entre os objetos de conhecimento de modo que não se pode fazer um trabalho pautado na

realidade sob uma perspectiva disciplinar rígida (BRASIL, 1999).

A transversalidade também permite a inclusão de saberes extraescolares, o que

possibilita a abordagem de significados construídos na realidade dos alunos. Esses temas dão

sentido social aos procedimentos próprios das áreas convencionais, e tornam o aprendizado

mais significativo, pois vão além da necessidade escolar. Com a transversalidade, os temas

passam a ser parte integrante das áreas, não mais externos nem acoplados a elas, e passam a

exigir uma tomada de posição diante de problemas urgentes da vida social.

Portanto, os temas transversais foram criados para dar sentido social aos

conteúdos conceituais e procedimentais das disciplinas escolares, com a pretensão de superar

o aprendizado apenas pela necessidade informativa e afastada da realidade e do dia a dia dos

alunos, na intenção de aproximar o científico e o cotidiano e dar significado a aprendizagem,

e contribuir para o desenvolvimento de valores e atitudes (ALMEIDA, 2006).

Do ponto de vista pedagógico, a aprendizagem de valores e atitudes é pouco

explorada. O desenvolvimento de valores e atitudes pressupõe conhecer diferentes valores

para apreciá-los, experimentá-los e analisá-los criticamente para, enfim, eleger livremente um

sistema de valores para si. Para isso, o trabalho pedagógico deve incluir possibilidades de

discussões e questionamentos e não deve ocultar contradições, conflitos e confrontos, pois é

importante a compreensão de que conflitos são inerentes aos processos democráticos

e,portanto, não representam algo negativo a ser evitado. A discussão, avaliação e

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reformulação de valores e normas por parte do aluno, na construção de sua autonomia, não

desconsidera ou desqualifica a autoridade do professor.

É importante também a discussão sobre assuntos veiculados em jornais, revistas,

livros, propagandas, programas de TV, etc.; para que possa promover a observação de

mensagens implícitas e/ou explícitas sobre valores e papeis sociais.

É fundamental, na escola, a busca pela coerência entre o que se pretende ensinar e

o que já se faz, pois, a mesma não terá como ensinar sobre higiene e autocuidado, por

exemplo, se mantiver suas instalações sujas e abandonadas. Não poderá esperar uma mudança

de atitude em relação ao desperdício se esses valores não forem trabalhados e cobrados na

própria instituição. Deve, portanto, oferecer aos alunos a perspectiva de que tais atitudes são

viáveis e exequíveis criando possibilidades para que os estudantes possam experimentá-las

concretamente.

De acordo com Lisboa (2012), a escola é ambiente fecundo para o

desenvolvimento da Educação Ambiental, e os PCN oferecem possibilidades para os

professores realizarem essa prática, pois abordam a contribuição de cada área e permite que o

trabalho que teve início na escola possa ampliar-se para uma dimensão comunitária ou até

mesmo global.

É importante também manter o intercâmbio com instituições e organizações (tais

como postos de saúde, ONG, etc.) que sejam compromissadas com as questões sociais

apresentadas nos temas transversais, pois haverá uma rica contribuição pelo vínculo que é

estabelecido com realidade analisada, o que permitirá também a produção coletiva de

conhecimento e da realidade.

Tradicionalmente a formação de professores não contempla a formação política

nem o tratamento de questões sociais, mas, em geral, volta-se para a concepção de

neutralidade do conhecimento e do trabalho educativo. No entanto, mesmo conhecendo a

necessidade de se investir na formação inicial e de participar de programas de formação

continuada, o professor pode implementar projetos educativos visando a eleição conjunta de

princípios e valores, dando início a um processo de formação e mudança.

Os temas transversais devem ser trabalhados em todas as etapas da educação,

porém, com grau de profundidade e abrangência diferentes para cada nível, pois é necessário

levar em consideração a sequência de conteúdos, as questões particulares de cada realidade, a

capacidade cognitiva dos alunos e o tratamento didático desses conteúdos nas diferentes áreas.

A avaliação de valores, normas, atitudes e procedimentos, que são quesitos

importantes no estudo dos temas transversais, é bastante difícil de realizar. Pode-se, no

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entanto, direcionar ou redirecionar a ação pedagógica em função dos objetivos e concepções

definidas, com o objetivo de responder às seguintes questões: O que é produzido com essa

intervenção? Até que ponto as situações de ensino construídas favorecem as aprendizagens

das atitudes desejadas?

Mas não se pode perder de vista que a função principal da avaliação é auxiliar os

professores a planejarem a continuidade de seus trabalhos, na busca de oferecer aos

educandos condições para superação de obstáculos, e desenvolver o autoconhecimento e a

autonomia e nunca se trabalhar na perspectiva de qualificar o aluno. Pois a qualificação ou

rotulação do aluno, seja de forma negativa ou positiva, pode estigmatizá-lo e com isso gerar

comportamentos estereotipados que dificultem seu desenvolvimento, além de ser uma atitude

autoritária e desrespeitosa.

A participação é um princípio da democracia que necessita ser trabalhado, é algo

que se aprende e se ensina. A escola facilitará essa aprendizagem se promover a convivência

democrática em seu cotidiano, pois se aprende a participar, exercendo a participação. Mas se a

escola negar essa possibilidade ensinará a passividade, a indiferença e a obediência cega.

Portanto, devem ser incentivados métodos e atividades que favoreçam experiências ricas em

situações de participação, que induza os alunos a opinar, assumir responsabilidades, colocar-

se, resolver problemas e conflitos e refletir sobre as consequências de seus atos. As temáticas

sociais permitem contemplar aprendizagens com a intenção de efetivar o princípio da

participação e o exercício das atitudes e do conhecimento adquirido. Para efetivar o trabalho

com essas temáticas, atividades como seminários, exposição de trabalhos, organização de

campanhas, desenvolvimento de projetos, etc., podem ser importantes, pois favorecem a

participação.

Para que a discussão e a avaliação de normas e regras tenham sentido para os

alunos é necessário que estejam contextualizados dentro da vivência escolar, e refiram-se a

questões do cotidiano e do trabalho pedagógico, de forma que os alunos compreendam seu

caráter temporal e conjuntural, a fim de que possam perceber os vários aspectos da instituição

e se perceberem como participantes capazes de tomarem decisões por razões que vão além de

seus próprios motivos pessoais.

O trabalho com projetos permite a articulação entre as diversas áreas do

conhecimento, além de dar aos alunos a oportunidade de produzir alguma atividade

quefavoreça sua atuação no meio, seja em nível de sala, de escola, ou mesmo de comunidade.

Para tanto, é necessário que os educandos entendam claramente o que podem fazer, para que

possam transformar conhecimento em instrumento de ação. O professor também precisa ter a

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clareza dos objetivos que deseja alcançar e deve formular claramente as etapas do trabalho,

porém, essa forma de organização do trabalho escolar não deve representar um aumento da

carga horária ou atividade extra.

3.1.2 O Meio Ambiente nos PCN

Quando se trata de discutir a questão ambiental, nem sempre se coloca as relações

de mercado, de grupos de interesses, como determinantes das condições ambientais, o que dá

margem à interpretação dos problemas ambientais como frutos da maldade humana.

O modelo econômico que gera riquezas também gera concentração de renda e não

impede o aumento da miséria e da fome, além de propiciar também a contaminação da água, o

esgotamento do solo e o aumento da violência nos centros urbanos. Essa formação

econômica, que é responsável pela demanda global por recursos naturais, cria necessidades

que exige, para sua própria manutenção, um crescimento sem fim, tanto em termos

qualitativos quanto em termos quantitativos desses recursos.

Em regiões mais industrializadas percebe-se uma precariedade da qualidade de

vida que afeta tanto a saúde física como a saúde psicológica das pessoas.

Além de ser um dos maiores países do mundo em extensão, o Brasil ainda possui

inúmeros recursos naturais de fundamental importância para todo o planeta: desde

ecossistemas como as florestas tropicais, o pantanal, o cerrado, os mangues e as

restingas, até uma grande parte da água doce disponível para o consumo humano.

Dono de uma das maiores biodiversidades do mundo, este país tem ainda uma

riqueza cultural vinda da interação entre os diversos grupos étnico-americanos,

africanos, europeus, asiáticos, etc. - que traz contribuições singulares para a relação

sociedade/natureza. Parte desse patrimônio consiste no conhecimento

importantíssimo, mas ainda pouco divulgado, dos ecossistemas locais: seu

funcionamento, sua dinâmica e seus recursos. (BRASIL, 1999, p. 175)

Algumas vezes para se utilizar um recurso natural o homem degrada outro, como

por exemplo, o desmatamento utilizado para dar espaço à formação de pastos em algumas

áreas da Amazônia.

Quando os portugueses chegaram a Amazônia tinha 5 milhões de habitantes, mas

era intocada. Houve momentos, como o ciclo da borracha. Houve projetos como a

Fábrica de automóveis imaginada por Henry Ford, em 1920. Os ciclos passaram e

projetos fracassaram. Até o final dos anos 1950, a floresta tinha perdido apenas

0,5% da sua cobertura original. Em 60 anos foram destruídos 19% de floresta,

segundo dados do Imazon (LEITÃO, 2015, p. 42).

A indústria química oferece solução, com o uso de praguicidas, para combater

predadores que exterminam plantações, mas que, no entanto, envenenam também as plantas, o

solo, a água e também coloca em risco a saúde de trabalhadores rurais e de consumidores.

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A criação de Parques Nacionais e Unidades de Conservação começaram a surgir

no final do século passado, à medida que o modelo econômico começou a provocar efeitos

negativos mais graves e iniciaram-se manifestações e movimentos em prol do meio ambiente.

A fome, a miséria, a injustiça social, a violência e a baixa qualidade de vida de

grande parte da população estão fortemente relacionadas ao modelo de desenvolvimento que

causa a degradação de ambientes intensamente urbanizados.

Segundo Lisboa (2012), educar ambientalmente significa ir além da apropriação

de conceitos e processos, pois visa adquirir também, visões de mundo que possam levar ao

entendimento de que as diversas teias tecidas pelos elementos naturais e socioculturais se

entrelaçam.

A aprendizagem voltada para os direitos e deveres de cada um, com intenção de

recompor os erros cometidos no passado e ressaltar os valores de cidadania, deve ser a

principal estratégia da escola ao resgatar seu real compromisso com a sociedade, com o

objetivo de formar cidadãos comprometidos com o bem comum e a coletividade. Apropriar-se

de seu meio ambiente e, com ele, formar um sistema orgânico e equilibrado, é tarefa urgente

para o ser humano neste século. Para isso, é preciso debater e repensar valores para que

sociedades sejam sustentáveis social e economicamente.

Os meios de comunicação têm levado à formação de alguns preconceitos com

relação aos problemas ambientais, o que pode ocorrer por falta de conhecimento sobre a nova

temática, ou por distorções que visam minimizar os problemas e/ou banalizar princípios e

valores, o que termina por depreciar os movimentos ambientalistas. Um exemplo é a ideia de

que as questões ecológicas devem se restringir à preservação do ambiente e ao combate da

poluição, pois faz com que as questões que envolvem saneamento, saúde, cultura, transporte,

energia, educação, desenvolvimento pareçam ser extrapolações que não fazem parte da alçada

dos ambientalistas, quando a realidade funciona como um modo complexo em que todos esses

fatores interagem.

Algumas vezes os meios de comunicação passam a imagem de que é um luxo e

um despropósito defender animais ameaçados de extinção enquanto milhares de crianças

morrem de fome ou de diarreia na periferia das grandes cidades, no Norte e no Nordeste.

Quando, na verdade, a situação das crianças não tem qualquer relação com as espécies

ameaçadas e essapreocupação não despreza o problema de desnutrição e miséria dessas

crianças. Entretanto, a existência de um problema (miséria) não anula a existência de outro

problema (a extinção das espécies), como também não justifica a omissão diante de qualquer

um deles. As pessoas que sofrem privação econômica, assim como os animais em extinção,

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são vítimas da lógica de acumulação de riquezas a qualquer custo, com exploração irrestrita

da natureza e desrespeito ao ser humano.

Outra questão colocada pela mídia é a de fazer crer que as pessoas que defendem

as causas ambientais têm um pensamento romântico sobre a natureza bondosa do homem e

esquecem a dura realidade das necessidades econômicas e de que, para haver progresso, é

normal destruir ou poluir. Todavia, não se trata de classificar o homem como bom ou ruim,

mas de entender que as relações devem estar pautadas na ética, pois sem ela não é possível a

convivência e, sem ela, não se pode estabelecer sociedades humanas. Também é um equívoco

associar qualidade de vida com riqueza material, pois a qualidade de vida também está

associada à qualidade da água que se bebe, a qualidade do ar que se respira, a qualidade dos

alimentos que se consome, pois, sem elas, não tem sentido as demais riquezas.

A Educação Ambiental tem como objetivo a formação de cidadãos conscientes

capazes de decidir e atuar sócio ambientalmente, comprometidos com a vida e o bem-estar de

cada um e da sociedade local e geral. Para isso, a escola deve se propor a trabalhar com

atitudes, formação de valores e ensino e aprendizagem de procedimentos, capazes de

proporcionar um ambiente saudável e coerente com aquilo que quer que seus alunos

aprendam, e garantir situações em que esses possam pôr em prática sua capacidade de

atuação, ao trabalharem com a definição de objetivos, e explicitarem o caminho a seguir para

alcançar esses objetivos, ao escolherem os materiais didáticos a serem usados, com o objetivo

de desenvolver a capacidade de intervenção na realidade. Apesar dos citados acima, a escola

não é o único agente educativo, pois os padrões de comportamento familiares e as

informações veiculadas pela mídia exercem influência sobre jovens e adolescentes.

Os valores exercitados em casa devem ser trazidos e debatidos na escola a fim de

uma prática possa complementar, transformar ou enriquecer a outra, e auxiliar no

estabelecimento de relações entre os dois universos.

O rádio, a TV e a imprensa, constituem importantes fontes de comunicação sobre

o meio ambiente para a maioria das pessoas, no entanto, abordam as questões geralmente de

forma superficial ou equivocada, pois esses mesmos meios são veículos que estimulam o

consumismo, o desperdício, entre outros, e isso torna imprescindível ao educador discutir

erelativizar essas mensagens, pois é necessário mostrar que é possível haver outros

posicionamentos.

É importante que os professores conheçam os assuntos e busquem com os alunos

mais informações, o que pode acontecer através de pesquisa em livros, conversas com colegas

de outras disciplinas, ou pela participação de pessoas convidadas pela comunidade

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(professores especializados, técnicos de governo, lideranças, médicos, agrônomos, moradores

tradicionais que conhecem a história do lugar, etc.) para dar pequenas entrevistas ou participar

de aulas. Como também deve sempre valorizar os temas que se encontram em contínuo

desenvolvimento, portanto, mais atualizados.

É importante que ajude os educandos a desenvolverem procedimentos

elementares de pesquisa para que possam construir, na prática, formas de sistematização da

informação como: medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de

resultados, etc. O professor deve assumir o papel de orientador desse processo de

aprendizagem. Essa prática terá como vantagens o fato de analisar assuntos gerais ou

específicos de cada disciplina, além de analisar também as inter-relações com outras áreas, na

construção de uma visão mais ampla, que possibilite a obter novas informações sobre a

dimensão local do ambiente além de facilitar a identificação e discussão de aspectos éticos

como valores e atitudes e apreciar aspectos estéticos como a percepção e o reconhecimento do

que agrada a visão, à audição, ao paladar, ao tato, etc. Pois o acesso a novas informações

permite repensar a prática e é nesse processo de construção e reconstrução que se enxerga a

riqueza de informações. Com isso, as atividades de educação ambiental dos professores,

também servem para aprimorar sua cidadania.

Aos docentes, fica clara a necessidade de capacitação permanente, como também

a melhoria das condições salariais e de trabalho e a divulgação e elaboração de material de

apoio. É preciso que o aprendizado seja significativo para o aluno, por conseguinte, é

necessário estabelecer relação entre o que se aprende e a realidade cotidiana que já se

conhece. Para isso, é importante que as atividades educativas estimulem iniciativas que visem

solucionar problemas dentro da própria escola como também na comunidade, no sentido de

valorizar as iniciativas dos alunos para que possam agir de modo criativo e construtivo em

relação ao meio ambiente. Para isso, podem também expressar suas emoções por meio do

desenho, da pintura, da música, do teatro, na fabricação de brinquedos, no reaproveitamento

de sobras de alimentos, etc.

Os estudos podem começar a partir da realidade local como campo de práticas.

Com a intenção de oferecer aos alunos a maior diversidade possível de experiências e contato

com diferentes realidades, de forma a trabalhar a realidade imediata do estudante, mas,

também, incentivar o interesse pelo que transcende, dentro de um universo maior, como a

explosão de uma bomba em outro país, por exemplo.

Participar de momentos de troca e da construção de projetos é importante para

incentivar a produção coletiva que induzam o aluno ao papel de participante e corresponsável.

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É preciso também reforçar a existência de alternativas ambientais equilibradas, para que a

constatação de algum mal não produza desânimo ou desmobilização. A riqueza desse trabalho

será maior se os professores das diferentes disciplinas discutissem e, mesmo com as

dificuldades, encontrassem uma forma de trabalhar em conjunto, o que pode ocorrer por meio

de uma organização institucional da escola, ou da organização curricular, por exemplo.

Os conteúdos sobre meio ambiente devem ser integrados às áreas numa relação de

transversalidade, de modo a permear toda a prática educativa e, assim, a criar uma visão

global e abrangente da questão ambiental que aborde os diferentes aspectos, físicos e até

históricos e sociais com articulações que contemplem desde os problemas em escala local até

problemas planetários. Na busca de transformar conceitos, explicitar valores e incluir

procedimentos, que tenham relação com a realidade cotidiana da sociedade para que se

formem cidadãos mais participantes. O professor de cada disciplina pode contribuir ao

conseguir estabelecer os vínculos de sua área com as questões ambientais, ao abordar as

temáticas sob a ótica de seu universo de conhecimentos, com o apoio de suas técnicas

pedagógicas.

3.2. O Meio Ambiente nos DCNEM (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

Médio)

Para os DCNEM, a educação ambiental pressupõe o entendimento de uma

educação cidadã, responsável, crítica e participativa, na qual se aprende a partir de

conhecimentos científicos e saberes tradicionais, de forma a possibilitar a tomada de decisões

transformadoras, e avançar na construção de uma cidadania responsável, voltada para culturas

de sustentabilidades socioambientais.

Assim, o atributo ambiental, na tradição da educação ambiental brasileira e latino-

americana, não especifica um tipo de educação, mas constitui-se como elemento

estruturantede um campo político de valores e práticas, que mobiliza atores sociais para uma

prática político-pedagógica transformadora e emancipatória.

Foi a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável (Rio +20) que as Diretrizes Curriculares para educação ambiental começaram a

ser elaboradas (BRASIL, 2013).

As DCNEM têm como objetivos: Situar a educação ambiental em seu marco

referenciais legal, internacionais e conceitual, ao abordarem sua natureza, papel e objetivos,

como também o compromisso do Brasil com as questões socioambientais; evidenciar a

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importância dos movimentos sociais para promover a aproximação da sociedade com as

questões socioambientais; implantar as diretrizes para a educação ambiental segundo a

abordagem que esta apresenta nos diferentes níveis de ensino, desde a educação básica à

superior, e enfatizar o papel desses sistemas e o regime de colaboração entre eles na

implantação, e, para esse fim, tomam como referência para as diretrizes, as Diretrizes

Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais

para as Graduações, em especial as de Formação de Professores. Objetiva, ainda: sistematizar

os preceitos definidos na Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que estabelece a Política

Nacional de Educação Ambiental, e observa os avanços que podem assegurar a formação

humana de alguns sujeitos em seus contextos históricos e socioculturais, com suas condições

físicas, emocionais, culturais e intelectuais; estimular a reflexão crítica sobre a inserção da

educação ambiental na formulação, execução e avaliação de projetos educacionais das

instituições de ensino, com a intenção de que a concepção de educação ambiental supere a

mera distribuição do tema pelos demais componentes educacionais; orientar cursos de

formação de docentes para a Educação Básica; orientar sistemas educativos e as instituições

de ensino que os integram, independente da rede a que pertençam.

A Constituição Federal (CF), em relação à educação ambiental, determina que o

Poder Público tenha a incumbência de promovê-la em todos os níveis de ensino, como um dos

fatores que assegure a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

(BRASIL, 1998b). Após a Constituição Federal, destaca-se a Lei nº 9.795/1999,

regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002, que dispõe sobra a Educação

Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Essa lei também

ressalta que a educação ambiental deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis

do processo educativo. Enuncia princípios básicos e objetivos da educação ambiental, e

afirma que esta também deve estar presente nas modalidades de ensino em instituições

públicas e privadas, com abordagem articulada entre as questões locais, regionais e nacionais.

Considera também que a educação ambiental deve estar presente nos currículos de formação

de professores em todos os níveis e disciplinas, o que ajuda a evidenciar o caráter transversal

da educação ambiental. Essa lei dita aspectos relativos à implementação da educação

ambiental e, dessa forma, não poderia deixar de ser base das DCNEM.

O Plano Nacional de Mudança do Clima, instituído pelo decreto nº 6.263, de 21

de novembro de 2007, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política

Nacional de Resíduos Sólidos, também serviram como base para a formulação das DCNEM.

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A Lei 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mesmo

sem explicitar muito em relação à educação ambiental, nem às questões ambientais, também

serviu como base para a formulação das DCNEM.

Conceitualmente, as DCNEM entendem a Educação Ambiental como um

processo em construção, que muitas vezes é pedagogicamente trabalhada através de práticas

educacionais reducionistas, fragmentadas e unilaterais da problemática ambiental, com

abordagem despolitizada e ingênua. E que, na contemporaneidade, busca-se ressignificar a

relação homem/natureza em defesa da construção de um projeto de sociedade ambientalmente

sustentável, que apresente uma relação simétrica entre os interesses das sociedades e os

processos naturais; para isso, tal perspectiva, deve considerar o meio ambiente como espaço

relacional, em que a presença humana não seja percebida como extemporânea, intrusa ou

desagregadora, mas possa ser vista como um agente pertencente à teia de relações da vida

social, natural, e cultural.

As DCNEM entendem que a educação ambiental deve avançar na construção de

uma cidadania responsável voltada para culturas de sustentabilidade socioambiental, para

tanto, é importante uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa, em que cada

sujeito aprende com conhecimentos científicos, mas também com os saberes tradicionais, que

possibilitem a tomada de decisões e o reconhecimento do papel transformador e

emancipatório da educação ambiental, na construção de conhecimentos e no desenvolvimento

de habilidades, atitudes e valores sociais.

Por tratar-se de uma atividade que envolve valores, interesses e visões de mundo,

a educação ambiental não é uma atividade neutra, portanto, sua prática educativa deve

articular as dimensões política e pedagógica. Para isso, deve ser integradora em suas múltiplas

e complexas relações com um processo contínuo de aprendizagem das questões referentes ao

espaço de interações multidimensionais de ordem biológica, física, social, econômica, política

e cultural.

No intuito de que os estudantes construam uma visão da globalidade e possam

compreender o meio ambiente em todas as suas dimensões, é necessário que a prática

pedagógica da educação ambiental, tenha uma abordagem complexa e interdisciplinar e que

as escolas persigam uma reestruturação institucional e de organização curricular baseada na

transversalidade, a fim de superar a visão fragmentada do conhecimento e ampliar os

horizontes de cada área do saber. Cabe também aos sistemas e instituições educacionais

desenvolverem debates, reflexões, programas de formação para docentes, no sentido de

efetivar a inserção da educação ambiental.

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Nesse sentido, as diretrizes indicadas no primeiro Plano Nacional de Educação

(2001-2010) colocaram as qualidades esperadas pelos professores. Que correspondem a:

I-Sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação

Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos;

II - Ampla formação cultural;

III - Atividade docente como foco formativo;

IV - Contato com a realidade escolar desde o início ao fim do curso, de forma a

integrar as teorias às práticas pedagógicas;

V - Pesquisa como princípio formativo;

VI - Domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade

para integrá-las à prática do magistério;

VII - Análise de temas atuais da sociedade, da cultura e da economia;

VIII - Inclusão das questões de gênero e da etnia nos programas de formação;

IX - Trabalho coletivo interdisciplinar;

X - Vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática de ensino;

XI - Desenvolvimento do compromisso social e político do magistério;

XII - Conhecimento e aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Níveis e

modalidades da Educação básica (BRASIL, 2012, P. 171-172).

Os DCNEM colocam também a importância dos movimentos sociais como

influentes para que a educação ambiental possa ser conduzida ao atual marco legal e passe a

influir na organização das políticas públicas para a área. Ressalta, entre outros, que no período

compreendido entre 1968 e 1988 havia se formado uma nova consciência sobre questões

ambientais, ao mesmo tempo em que outras questões como pacifismo, direitos das mulheres,

dos negros, dos índios, dos homossexuais e outros, eclodiam. No âmbito governamental, foi

pelas pressões dos movimentos ambientalistas, e até pressões internacionais, que o governo

criou, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), para tratar de questões

ambientais de âmbito nacional.

Em 1977, Chico Mendes fundou e liderou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais

de Xapuri que teve reconhecimento internacional por sua luta pelos seringueiros da Amazônia

que sofria com efeitos perversos de invasões e processos de colonização e por isso, havia se

tornado uma região de conflitos entre índios, colonos, madeireiros, mineradores, empresários,

posseiros e extrativistas.

Na década de 80, com o processo de redemocratização, ampliaram-se os

movimentos sociais, como também a criação de ONGs que passaram a realizar parcerias com

governos, empresas e outras instituições (BRASIL. 2012).

A degradação ambiental e o aprofundamento das desigualdades sociais fortalecem

uma das maiores crises da modernidade. A ciência, a tecnologia, o capitalismo, não podem ser

formas a-históricas de desenvolvimento social, mas, são formas concretas, históricas e com

necessidades de superação pela ação humana.

Assim, as DCNEM julgam:

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Essencial que se estabeleçam as orientações nacionais do dever atribuído

constitucionalmente ao Estado de promover a educação ambiental na Educação

Básica e na Superior, e no dever legal de contribuir para a Política Nacional do Meio

Ambiente, bem como, especificamente, para implementar a Política Nacional de

Educação Ambiental, para que a formação cidadã incorpore o conhecimento e a

participação ativa na defesa da sustentabilidade socioambiental. Sendo significativo

que a proposição destas Diretrizes ocorra no período histórico atual, da “Década da

Educação para o Desenvolvimento Sustentável” (2005-14), iniciativa da UNESCO

que visa potencializar nos sistemas de ensino as ações para Educação Ambiental

(BRASIL, 2012, p.8).

Os sistemas de ensino da Educação Básica, juntamente com as instituições de

Ensino Superior, devem incentivar a criação de espaços educadores sustentáveis, que

enfoquem a sustentabilidade ambiental e a formação integral dos sujeitos, como também

fontes de financiamento para as instituições sustentáveis para as edificações, a gestão e

organização curricular.

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4. O ENSINO MÉDIO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Esse capítulo tem por objetivo traçar um pouco do perfil do Ensino Médio, com o

intuito de justificar a necessidade de mudança que o mesmo possui, e com o fito de fazer o

leitor observar que a EA também faz parte da transformação que essa etapa da educação

necessita passar.

O Ensino Médio (EM) é a etapa da educação compreendida entre o Ensino

Fundamental e a Educação Superior, adequada para estudantes na faixa etária de 15 a 17 anos,

porém na prática, constituído por adolescentes, jovens e adultos. Diferentemente desses dois

outros níveis de escolarização, que sempre foram contemplados na legislação nacional, o EM

só passou a ter diretrizes e finalidades definidos a partir da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDB nº 9394 de 1996.

Na década de 90, o Ensino Médio público começou a sofrer uma expansão mais

significativa e tornou-se obrigatório a partir da Emenda Constitucional n.59/2009, que

ampliou a obrigatoriedade escolar dos 6 aos 17 anos de idade, em resposta às pressões do

Fundo das Nacionais Unidas para a Infância (UNICEF). Essa ampliação decorreu também da

implantação de políticas que promoveram um aumento no fluxo de matrículas no Ensino

Fundamental e, por consequência, geraram um aumento da demanda por mais escolarização

(KRAWCZYK, 2011).

Segundo a LDB, o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica e

corresponde a conclusão de um período de escolarização de caráter geral, que tem por

finalidade o desenvolvimento do educando com o dever de assegurar-lhe a formação para o

exercício da cidadania, além de oferecer-lhe meios para progredir no trabalho e prosseguir

com seus estudos (BRASIL, 2011).

Após a criação da LDB, foram formuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Médio (DCNEM), no ano de 1998. Esse documento destaca, entre outras

coisas, que as ações administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e das escolas

devem ser coerentes com princípios estéticos, políticos e éticos, e devem, assim, abranger a

estética da sensibilidade, a política da igualdade e a ética da identidade. À proposta

pedagógica coube o deve de atender aos princípios da identidade, diversidade e autonomia, da

interdisciplinaridade e da contextualização, como estruturadores dos currículos. E a base

nacional comum ficou organizada, a partir de então, em três áreas de conhecimento:

linguagens e códigos e suas tecnologias; ciências da natureza, matemática e suas tecnologias;

ciências humanas e suastecnologias. Porém, as DCNEM afirmam ter a percepção de que o

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tratamento didático-pedagógico, com as possibilidades de organização do Ensino Médio, não

chegou às escolas, pois compreendem que estas, ainda dão atenção extrema ao tratamento de

conteúdos sem articulação com o contexto dos estudantes e com os demais componentes das

áreas de conhecimento e não se aproximam das finalidades propostas pela LDB para essa

etapa de ensino (BRASIL, 2012).

Os documentos legais que versam sobre o Ensino Médio: LDB, DCNEM e

PCNEM, orientam a direção de um sistema nacional de educação estabelecido sobre diretrizes

e bases comuns, na busca de uma educação abrangente e universalizada.

Brasil (2009, p.3) salienta que esses documentos deixam claro “[...] a importância

da educação geral como meio de preparar para o trabalho e formar pessoas capacitadas à sua

inserção social cidadã, de se perceberem como sujeitos de intervenção de seu próprio

processo histórico, atento às transformações da sociedade”. No entanto, o que se percebe é

que o Ensino Médio no Brasil “[...] encontra-se limitado pelo desempenho do Ensino

Fundamental e pressionado pelos requisitos para o ingresso no ensino superior”, (FRANCO;

BONAMINO, 1999, p.27).

Entende-se também, que, diante da ocorrência de tantos desastres ambientais, o

compromisso com a qualidade da educação do século XXI, passa, necessariamente, pela EA.

Pois compete aos professores a busca pelo entendimento das multicausalidades da crise

ambiental contemporânea para que sejam capazes de contribuir na prevenção de seus efeitos

deletérios e para o enfrentamento das mudanças socioambientais globais. Percebe-se que tais

temáticas despertam interesse nos jovens de todos os meios sociais, culturais, étnicos e

econômicos, pois ajudam na construção de uma cidadania responsável capaz de atuar na

construção de um futuro sustentável, sadio e socialmente justo. Portanto, no Ensino Médio

encontram-se condições para se criar uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa

de forma a inserir o jovem em um processo educacional capaz de superar a dissociação

homem/natureza (BRASIL, 2012).

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998, pelo governo

federal brasileiro, com a finalidade de avaliar o desempenho dos estudantes ao término da

Educação Básica. No ano de 2009, medidas governamentais estimularam para que o ENEM

fosse usado também como forma de acesso ao Ensino Superior e, a partir de então, o Sistema

de Seleções Unificadas (SISU) passou a operar em larga escala no processo de alocação dos

candidatos às vagas. Esse sistema passou a favorecer a mobilidade de estudantes para

instituições de ensino superior em diversos locais do Brasil e ajudou assim, a estabelecer um

ambiente multicultural nas universidades (SILVEIRA, BARBOSA e SILVA, 2015).

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Segundo Santos (2011), a partir do momento em que o ENEM começou a ser

utilizado como forma de acesso às universidades públicas, já objetivava ser instrumento de

mudanças significativas no EM dentro da concepção de um mundo em transformação que

exige do indivíduo novas habilidades e competências. Com o objetivo de utilizar o ENEM

para corrigir e orientar o currículo das escolas de Ensino Médio.

Assim:

Com essa perspectiva o MEC entende que se aproxima de resolver o problema de

parte do Ensino Médio, principalmente nas escolas particulares, sempre acusadas de

estarem voltadas simplesmente para atender às exigências dos vestibulares, gerando

um ensino dissociado da vida, pautado em fórmulas e conteúdos estanques, a maior

parte deles desnecessária depois do vestibular (SANTOS, 2011, p.201).

Ainda não se tem ideia sobre até que ponto o ENEM impulsiona mudanças no

currículo do Ensino Médio. As temáticas ambientais estão sempre presentes nas provas do

exame, contudo, ainda não está clara a forma como as escolas preparam os alunos com

relação a essas questões. Fica a dúvida sobre a maneira como os professores abordam tais

temáticas, pois não se sabe se focam unicamente na resolução de questões do ENEM, com

vista na aprovação do aluno no referido exame, ou se essas impulsionam uma mudança na

prática pedagógica que interfira no currículo e ajude a preparar os estudantes para o exercício

da cidadania, como está apregoado nos documentos legais.

Compreende-se, que dentre os grandes desafios do EM, encontram-se o

enfrentamento da diferença de qualidade existente nos diversos sistemas educacionais, e o

desafio de indicar alternativas de organização curricular que, de forma flexível, deem conta do

atendimento das diversidades dos estudantes, em prol de uma escola de qualidade para todos

(BRASIL, 2012).

Dessa forma, no ano de 2016, ao assumir interinamente a Presidência da

República, Michel Temer, levantou um questionamento sobre uma iminente mudança no EM.

Segundo a proposta, o aluno passaria a ter uma formação geral até a metade do segundo ano e,

na etapa final, estudaria apenas as matérias pertencentes à sua área de interesse, com opção

ainda de escolher pelo Ensino Médio Profissionalizante. A proposta também contempla a

escola em tempo integral como forma de tirar o aluno da rua e dar-lhe mais oportunidades. De

início, o governo sinalizou para a aplicação de uma possível medida provisória, como forma

de começar essa reestruturação. No entanto, ao receber inúmeras críticas, mostrou-se mais

flexível a umdebate com os sistemas de ensino, escolas, professores e demais seguimentos da

sociedade antes de finalmente decidir por um novo perfil para o EM.

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As necessidades de reforma do EM são históricas e urgentes, pois diante de um

mundo globalizado e com tanta facilidade de acesso à educação, torna-se sem fundamento

manter essa etapa da educação desvinculada do cotidiano dos alunos, e rica em abstrações e

fórmulas que, para muitos, jamais conseguirão representar alguma coisa. Fato, o que se deseja

é que, qualquer que seja a proposta implantada, o poder público não esqueça que a cidadania,

na sociedade atual, tornou-se uma grande necessidade, pois não somente as questões

ambientais, mas até as relações interpessoais necessitam delas. E que na busca de promover a

justiça social deve-se, primeiro, promover a justiça ambiental.

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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente capítulo tem o propósito de apresentar a trajetória metodológica

adotada para a realização dessa pesquisa. Está dividido em quatro tópicos, a saber:

Caracterização da pesquisa, Campo da pesquisa, sujeitos da Pesquisa e Etapas da Pesquisa.

5.1. Caracterização da pesquisa

O presente trabalho classifica-se como uma pesquisa de natureza descritiva, de

campo, com feição de um estudo de caso com abordagem qualitativa. Classifica-se, também,

como uma pesquisa bibliográfica, pois se desenvolve a partir do estudo realizado através de

livros, artigos e documentos legais, que tratam sobre educação, com o objetivo de construir

um resgate histórico sobre Educação Ambiental, como também conhecer o conceito e as

orientações que os PCN e DCNEM trazem com relação à temática.

Pela inviabilidade de se considerar a totalidade das escolas do município de

Fortaleza, ou mesmo de um único bairro, optou-se por investigar os professores de ciências de

três escolas públicas da rede estadual de ensino de Fortaleza-Ce. Em cada escola, foram

pesquisados um professor de química, um de física e um de biologia que possuíam turmas em

comum. Foram utilizados questionários e entrevista, como instrumentos de pesquisa para

investigar os docentes. Quanto aos procedimentos técnicos, decidiu-se pela escolha do estudo

de caso múltiplo como meio de obter um número de observações que ajude a preservar o grau

de certeza das teorias, a fim de que a pesquisa realizada possa ter mais chances de sucesso.

Pesquisou-se também a prática pedagógica dos professores através dos estudantes.

Para isso, foi escolhida uma turma de segundo ano de cada uma das escolas participantes,

cujos jovens eram alunos, simultaneamente, dos três professores de ciências pesquisados em

cada instituição de ensino. Foi aplicado um questionário com os estudantes, que constou de 14

questões, mesclando questões abertas e fechadas. A escola, no entanto, não foi implicada na

pesquisa.

O estudo de caso é definido por Yin (2005) como uma estratégia escolhida para

examinar acontecimentos contemporâneos sobre os quais o pesquisador não pode manipular

comportamentos relevantes. Segundo ele, o executor da pesquisa também precisa ter cuidado

para não incorrer em evidências equivocadas ou visões tendenciosas que possam influenciar o

significado da descoberta e das conclusões. Por isso, optou-se por conduzir a pesquisa e

aanálise dos dados em consonância com as orientações propostas pelos PCN e DCNEM para

a Educação Ambiental.

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Quanto aos seus objetivos, a pesquisa foi realizada através de uma estratégia

descritiva, pois esta visa dar uma explicação sistemática de um ou mais fenômenos ou

aprofundar um tema. Consiste na descrição de situações, acontecimentos e ações, ou seja,

mostrar como é e como se manifesta determinado fenômeno. Em outras palavras, o estudo

descritivo busca especificar propriedades e características importantes de qualquer fenômeno

que se analise (SAMPIERE et al, 2006). O procedimento visa medir ou situar um grupo de

pessoas, objetos, situações, contextos, fenômenos, em uma ou mais variável ou conceito e

possibilitar a descrição dos mesmos.

Segundo Oliveira (2011) apud Verga (2000), a pesquisa descritiva expõe as

características de determinada população ou fenômeno e estabelece correlações entre

variáveis, mas sem o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de

base para tal explicação.

Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa qualitativa. De acordo com Oliveira

(2011), esse tipo de pesquisa utiliza o ambiente natural como fonte direta de dados e o

pesquisador como principal instrumento. É necessário que exista um contato direto entre o

investigador e o que é investigado, através de um intensivo trabalho de campo. Os dados

obtidos são ricos em descrições de pessoas, situações, acontecimentos, etc, e o interesse, ao

estudar um determinado problema, é investigar como o mesmo se manifesta nas atividades e

interações cotidianas. O pesquisador deve captar o significado que os participantes dão aos

fatos analisados, e se preocupar em retratar a perspectiva das pessoas pesquisadas, portanto,

esse tipo de pesquisa, enfatiza mais o processo que o produto. E não há preocupação em

procurar evidências que comprovem as hipóteses definidas.

Quanto aos instrumentos de pesquisa, foram utilizados: observação sistemática,

questionários e entrevistas para a realização da coleta de dados.

De acordo com Rudio (2007), observação sistemática é a que se realiza em

condições controladas, com intenção de responder a propósitos anteriormente definidos.

Nesse trabalho, a observação sistemática foi importante, principalmente, na primeira etapa da

pesquisa, pois foi a ocasião em que os campos e os sujeitos participantes foram analisados.

Esse primeiro momento serviu para auxiliar o pesquisador na construção dos demais

instrumentais, que foram: os questionários dos professores, o questionário dos alunos e a

entrevista dos professores.

O estudo das orientações dos PCN e DCNEM para a Educação Ambiental, foi de

fundamental importância, pois auxiliou o pesquisador em todo o trabalho, desde a construção

dos questionários e da entrevista estruturada, como também, facilitou a estruturação da

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observação sistemática e a análise dos dados obtidos. Porém, a observação aconteceu de

forma individual e não participante, pois o pesquisador se colocou apenas como espectador, e

se limitou a registrar as ocorrências que lhe interessavam.

A técnica da entrevista foi escolhida por sua praticidade e flexibilidade, pois o

número de professores entrevistados foi pequeno, e pôr a mesma apresentar a vantagem de

permitir ao pesquisador reformular a pergunta de maneira diferente, a fim de garantir a

compreensão do entrevistado. Possibilitou também a obtenção de dados que não se encontram

em fontes documentais, como, por exemplo, conhecer o que os professores sentem ou

desejam, fazem, fizeram ou pretendem fazer, além de compreender as explicações para as

respostas obtidas.

A técnica de questionário foi aplicada, em um primeiro momento, com os

professores, com o fito de investigar sobre os dados pessoais e a formação acadêmica dos

mesmos, como também, sobre a formação dos docentes na área de Educação Ambiental. Em

um segundo momento, aplicou-se questionários com os alunos de três turmas de segundo ano

(uma turma de cada escola pesquisada), com intenção de investigar os dados pessoais e a

percepção dos estudantes em relação à prática de Educação Ambiental. Para esse momento,

optou-se por utilizar o questionário como instrumental de pesquisa por causa do tamanho da

amostra, e pela vantagem que essa técnica apresenta de atingir um maior número de pessoas

simultaneamente, e permitir a obtenção de respostas mais rápidas e exatas. Na confecção do

questionário, utilizou-se perguntas de múltipla escolha (questões abertas e questões com

alternativas) e, para a elaboração das mesmas, tomou-se por base as recomendações contidas

nos PCN e DCNEM, como também, o roteiro para entrevista com os docentes.

5.2. Campo da pesquisa

As unidades escolares escolhidas para a aplicação da pesquisa foram: Escola de

Ensino Fundamental e Médio João Mattos (localizada na Rua Almirante Rubim 1014, bairro

Montese), Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná (localizada na Rua

Alberto Magno 123, no bairro Montese) e Escola de Ensino Fundamental e Médio Walter de

Sá Cavalcante (localizada na Avenida Oliveira Paiva 550, no bairro Cidade dos

Funcionários).Todas elas são integrantes da rede estadual de ensino do Ceará. As escolas João

Mattos e Estado do Paraná foram escolhidas por pertencerem ao mesmo bairro e, assim,

possuírem um público que apresenta algumas semelhanças, pois alunos e professores

costumam migrar de uma escola para a outra. A Escola Walter Sá foi escolhida por participar

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66

do mesmo projeto de reorganização curricular que a Escola João Mattos onde, ambas, foram

pioneiras na implantação dessa proposta pedagógica que será melhor apresentada um pouco

mais a adiante, nesse trabalho.

Nesta pesquisa buscou-se conhecer um pouco do histórico, da estrutura física, dos

projetos educacionais e do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada uma das instituições

educacionais participantes, com o intuito de melhor caracterizar cada um dos campos da

pesquisa e identificar, entre outras coisas, o quanto a EA é valorizada na proposta pedagógica

de cada uma dessas escolas.

O conhecimento do PPP das instituições constitui instrumentos facilitadores da

gestão democrática, uma vez que sua elaboração ocorreu com a participação de todos os

profissionais da escola, como também, com representação das famílias, dos estudantes e da

comunidade. Portanto, esse documento traduz uma proposta educativa construída pela

comunidade escolar, realizado a partir do diagnóstico dos estudantes e dos recursos materiais

disponíveis, com base nas Orientações Curriculares Nacionais, como também, nas orientações

dos respectivos sistemas de ensino. E dessa forma, constituem referencial para a escola, que

deve continuamente avaliá-lo e corrigi-lo com intenção de que novas práticas em educação

sejam incentivadas (BRASIL, 2013).

5.2.1. Escola de Ensino Fundamental e Médio João Mattos

Em 22 de março de 1959, em terreno cedido pelo governador do estado do Ceará,

nasceu o Grupo Escolar João Mattos, cujo nome se deu em homenagem ao cidadão João

Mattos, fundador do Instituto dos Cegos do Ceará. Essa escola iniciou suas atividades com

oferta de ensino primário e pré-escolar.

Na gestão que iniciou em outubro de 1995 foram construídas mais salas de aula,

restaurou-se a quadra de esportes, criou-se a sala de leitura, sala de vídeo e implantou-se o

TELENSINO. Posteriormente, foi implantado o Ensino Médio, criado o Conselho Escolar, o

grupo de danças folclóricas e o grêmio estudantil. No final de 2013 foi criado o PREVEST,

cursinho pré-vestibular. Na ocasião, o número de alunos aprovados em universidades

públicase particulares aumentou e ocorreu também a premiação de alunos, com duas

medalhas de bronze, na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas.

No ano de 2015 a escola tinha um total de 890 estudantes matriculados e, em sua

estrutura física, contava com: 11 salas de aula, sala de diretoria, sala dos professores, sala de

planejamento, sala de secretaria, sala de leitura, biblioteca, sala de vídeo, laboratório de

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67

informática, laboratório de ciências, cantina, refeitório, despensa, almoxarifado, lavanderia,

quadra de esportes coberta, quadra de esportes descoberta, banheiros masculino e feminino

para professores e funcionários, banheiros masculinos e femininos para alunos, banheiros

masculino e feminino para alunos com dificuldade de mobilidade e dois pátios.

A Escola se tornou uma referência junto à comunidade local e goza de boa

credibilidade junto à Secretaria de Educação do estado por ser uma das escolas pioneiras no

projeto de reorganização curricular e por obter bons resultados com essa proposta.

A nova organização curricular é um projeto implantado na escola com o objetivo

de dar ao educando mais autonomia em seu processo educacional, por isso, os mesmos

recebem cinco aulas a mais no currículo, que envolvem: uma aula de tecnologia da

informação e comunicação (TIC) e quatro aulas de desenvolvimento pessoal, social e pesquisa

(DPSP). As aulas de desenvolvimento pessoal e social têm por objetivo desenvolver

competências sócio emocionais nos educandos, e a pesquisa, como princípio educativo, deve

fazer com que adquiram autonomia intelectual para estudarem e aprenderem o que quiserem.

Esse projeto, que foi implantado na escola no ano de 2012, inicialmente, apenas com turmas

de primeiros anos, depois avançou progressivamente para as demais séries, com a inclusão de

uma nova série do ensino médio a cada ano. Hoje, compreende todas as turmas de EM dos

turnos manhã e tarde, pois no turno da noite não foi possível implantar a reorganização

curricular. Nesse projeto, ao final de cada ano escolar os alunos devem produzir um trabalho,

em equipe, equivalente a um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nele, as regras da

Associação Brasileira de Normas e Técnicas devem ser seguidas, e cada grupo de estudantes é

orientado por um professor ou funcionário da própria escola. A intenção é fazer com que os

estudantes aprendam a pesquisar, pois assim, construirão habilidades que os auxiliarão em

suas aprendizagens.

Ao final de cada ano letivo, as escolas participantes da reorganização curricular

promovem feira com a intenção de mostrar e avaliar os trabalhos produzidos pelos estudantes

ao longo do ano letivo. Os estudantes desenvolvem suas pesquisas com foco em um tema

maior, assim, estudantes da primeira série devem produzir trabalhos voltados para

problemáticas ou questões referentes à escola, na segunda série o foco é a comunidade e, no

terceiro ano, omercado de trabalho. Os alunos do último ano ainda recebem, no contra turno,

aulas voltadas para a educação profissional, como varejo, contabilidade, etc. Em geral, cada

escola dispõe de duas opções de cursos para a escolha dos discentes. Durante esse período os

jovens também são encaminhados para estágios remunerados em instituições que firmam

parceria com a empresa terceirizada que também é responsável por contratar os professores de

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68

educação profissional. A intenção é fazer com que os jovens, ao final da educação básica,

tenham capacidade de prosseguirem com seus estudos (com o conhecimento do princípio da

pesquisa) e disponham de alguma experiência profissional que possa facilitar sua inserção no

mercado de trabalho.

Outros pequenos projetos também foram realizados na escola no ano de 2015. Um

deles chama-se Projeto Jovem de Futuro, e constitui uma parceria entre a Secretaria de

Educação e o Instituto Unibanco, e teve por objetivo, financiar projetos elaborados por

professores e alunos e aprovados pelo instituto. Outro projeto foi a realização de uma horta

escolar e de hidropônica, que envolve a criação de plantas em água. Porém, a horta escolar e a

hidroponia foram desenvolvidos por duas professoras de geografia, e teve como público alvo

apenas alunos da nona série do Ensino Fundamental.

Observou-se que o PPP da Escola João Mattos não contempla nenhuma proposta

de ação referente à EA ou mesmo a realização de projetos interdisciplinares. A direção

explicou que, desde o ano de 2015 a escola tenta reunir professores, funcionários e demais

segmentos, para juntos, reformularem o documento, que se encontra desatualizado.

5.2.2. Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná originou-se no ano de

1966 em uma casa próximo à sede atual e, na ocasião, recebeu o nome de Casa do Pequeno

Nazareno, ofertando educação infantil e ensino fundamental até a quarta série.

Posteriormente, passou a se chamar Escolas Reunidas e, após receber uma ajuda financeira do

governador do Estado do Paraná, passou a se chamar Grupo Escolar Estado do Paraná,

ocasião em que oferecia apenas ensino fundamental. Depois de algum tempo a escola passou

a ofertar o também o Ensino Médio, mas, no ano de 2007, essa etapa da educação foi retirada

da escola e os alunos transferidos para outras instituições de ensino próximas. Anos depois,

voltou a ofertar o Ensino Médio e passou a se chamar Escola de Ensino Fundamental e Médio

Estado do Paraná. No momento, a escola ainda busca consolidar essa etapa de ensino, pois

muitos alunos não procuram matricular-se por ainda acreditarem que é uma instituição apenas

voltada para oEnsino Fundamental. Por isso, o projeto de nova organização curricular,

NTPPS, desenvolvido pelas Escolas João Mattos e Walter de Sá Cavalcante, ainda não pôde

ser implantado nessa instituição. No ano de 2015 a Escola Estado do Paraná contava com

aproximadamente 469 alunos matriculados, o que representa quase a metade do número de

estudantes das outras duas escolas pesquisadas.

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69

Em 2015, a escola operava com três turmas de Ensino Fundamental e seis turmas

de Ensino Médio no turno da manhã e com duas turmas de Ensino Fundamental e três turmas

de Ensino Médio no turno da tarde e não funcionava no turno da noite. Em sua estrutura física

a escola conta com: nove salas de aulas, um laboratório de ciências, um laboratório de

informática, cantina, dois almoxarifados, três banheiros para alunos, quatro banheiros para

alunas, sala de planejamento, sala de multimeios, sala de direção, sala de coordenação, sala de

professores, banheiro de professores, banheiro de funcionários, secretaria, pátio, e uma

pequena quadra.

A escola só possuía como projeto destinado ao público do Ensino Médio, o

Projeto Jovem de Futuro. No entanto, a instituição o implantou já durante a etapa final do

projeto e, por isso, acabou sem receber os recursos financeiros e sem ter como executar os

projetos sugeridos por professores e alunos.

O PPP da escola, que também se encontra desatualizado, não contempla nenhuma

ação relacionada à Educação Ambiental ou à realização de projetos interdisciplinares.

Percebeu-se que as ações pretendidas nesse documento encontram-se mais voltadas para a

consolidação da prática da leitura entre os estudantes.

5.2.2. Escola de Ensino Fundamental e Médio Walter de Sá Cavalcante

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Walter de Sá Cavalcante originou-se de

uma Escola Isolada existente no bairro Cajazeiras, criada em 1914. Na época, tinha uma

professora por nome Francisca Nogueira, que se aposentou em 1938. Em 1946 a Escola

Isolada recebeu mais professores e passou a ser chamada Escola Reunida, e permaneceu com

esse nome até 1954. Somente em 10 de março de 1955 foi inaugurado, no mesmo local, o

novo prédio com o nome de Grupo Escolar Walter de Sá Cavalcante em homenagem ao

deputado com este nome. Foi somente após a implantação do Ensino Médio, que passou a se

chamar Escola de Ensino Fundamental e Médio Walter de Sá Cavalcante.

Em sua estrutura física a escola conta com: 14 salas de aula, laboratório de

ciências, sala de vídeo, biblioteca, laboratório de informática, sala de planejamento para

professores, sala de professores, sala de coordenação, sala de orientação, sala de direção, sala

do grêmio, secretaria, arquivo, banheiro de professores, banheiro masculino para alunos,

banheiro feminino para alunas, vestiário masculino, vestiário feminino, quadra poliesportiva

coberta, cozinha, refeitório e depósito de alimentação.

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70

Em 2015 a escola possuía um total de 806 alunos matriculados. Trabalhava com

doze turmas em funcionamento nos turnos manhã e tarde e apenas três turmas no turno da

noite. Do total, são duas turmas de Ensino Fundamental (9º ano) e as demais turmas de

Ensino Médio. Desenvolvia os projetos de NTPPS e Jovem de Futuro, anteriormente

descritos.

A Escola Walter Sá participa do mesmo projeto de reorganização curricular que a

Escola João Mattos, onde ambas, foram pioneiras na implantação desse projeto no ano de

2012, e trabalham, portanto, da mesma forma: com quatro aulas de NTPPS e uma aula de TIC

a mais no currículo do EM e com o desenvolvimento de projetos anuais de pesquisa

realizados por grupos de estudantes. A escola, assim como a outra, também conta com aulas

de educação profissional e encaminhamento para estágio para os alunos da terceira série do

EM. A diferença entre elas consiste no fato de que a Escola Walter Sá trabalha as disciplinas

escolares na forma de semestralidade, assim, os alunos têm algumas disciplinas fixas, que são

abordadas durante todo o ano letivo (português, matemática, educação física, NTPPS, TIC e

formação cidadã), e disciplinas que são alternadas entre os semestres como, por exemplo, as

turmas que estudaram biologia no primeiro semestre letivo, estudarão química no segundo

semestre, as que estudaram geografia no primeiro semestre, estudarão história no segundo, e

assim por diante.

O PPP da escola contempla ações que visam trabalhar projetos pedagógicos com

temas de interesse dos alunos e projeto interdisciplinares que envolvam professores de uma

mesma área, como também, os que contemplem o maior número de professores possível.

Prevê também a criação de um grupo de apoio, formado por funcionários, com o objetivo de

colaborar na divulgação dos projetos. A escola deixa livre a escolha de projetos de acordo

com a área de atuação de cada professor e propõe a realização de seminários, com os

docentes, para tratarem sobre os temas a serem abordados nos projetos. Orienta para o

acompanhamento do rendimento dos estudantes após a aplicação da nova sistemática, através

de dados e resultados, e contempla uma intervenção pedagógica para os resultados não

satisfatórios, como também, a avaliação do resultado final obtido após a aplicação da nova

sistemática de avaliação. Também prevê aparticipação de toda comunidade escolar no

desenvolvimento de projetos, de acordo com a necessidade do educador.

O PPP visa, ainda, sensibilizar os estudantes para o exercício da auto avaliação na

promoção de sua autonomia. Estabelece a implantação do sistema de auto avaliação no ensino

fundamental e médio, como também, o acompanhamento desse sistema dentro do processo

pedagógico.

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71

Para garantir a inovação e o aprimoramento das metodologias, propõe incluir aula

de campo nos processos educativos, confeccionar um instrumental de acompanhamento da

avaliação da aula de campo e elaborar um cronograma para essas aulas, dentro do calendário

escolar.

Com o intuito de garantir níveis satisfatórios de disciplina em sala de aula e

diminuir a depredação do patrimônio, prevê a promoção de campanhas sobre a preservação do

patrimônio público e escolar, a construção de regras de convivência escolar e a utilização de

vídeos explicativos de conscientização sobre a preservação do bem comum.

Percebeu-se que, mesmo com intenção de trabalhar projetos interdisciplinares,

que incluam toda a comunidade, a vontade de enriquecer a prática pedagógica através de aulas

de campo, e o desejo de ouvir os anseio e críticas dos estudantes, através de auto avaliação, a

escola não tem nenhuma ação em seu PPP que contemple o Meio Ambiente. O núcleo gestor

admite que ocorreu um único projeto há muito tempo e que o mesmo se deu por conta de uma

verba que veio para escola com o direcionamento para que fosse realizado o Projeto Dinheiro

Direto na Escola (PDDE) sustentável e que, na ocasião, o dinheiro foi destinada para a

realização de projeto sobre reciclagem e para a compra de material, como cestos de lixo para

coleta seletiva e etc.

5.3. Sujeitos da Pesquisa

Para a realização dessa pesquisa, foi selecionado um conjunto de três professores

de cada uma das escolas pesquisadas, ou seja, nove professores, que atuam diretamente no

ensino médio, sendo cada conjunto composto por um professor de Química, um de Física e

um de Biologia, que trabalham sempre no mesmo turno e possuem turmas em comum. A

escolha dessas disciplinas da área de ciências se deveu pelo fato de, na maioria das vezes, as

escolas delegarem a essa área a responsabilidade pelo desenvolvimento de temas de EA,

muito emborase reconheça a necessidade de integrar diferentes áreas na execução de um

projeto dessa natureza.

Em cada escola foi escolhido uma turma de alunos do 2º ano do Ensino Médio,

todas do turno manhã e contendo, em média, entre 30 e 36 alunos, sendo os estudantes das

referidas turmas alunos, simultaneamente, do professor de Química, como também do

professor de Física e de Biologia de cada escola.

5.4 Etapas da Pesquisa

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72

Aqui são apresentas em sequência de execução, as etapas que foram realizadas

para a organização deste trabalho.

5.4.1 -1ª etapa: Revisão Bibliográfica

Antes de iniciar a pesquisa, propriamente dita, e durante toda a realização dessa

investigação foi efetuada uma revisão bibliográfica que buscou conhecer trabalhos existentes

na área, com a finalidade de construir um levantamento histórico e conhecer conceitos e

orientações de alguns autores sobre a Educação Ambiental e também com o intuito de

conhecer as orientações que os PCN e DCNEM trazem sobre a temática em estudo.

Como afirmam Gerardt e Silveira (2009) expor resumidamente as principais

ideias já discutidas por outros autores que trataram do problema é muito importante em uma

pesquisa, levantando críticas e dúvidas. Este tipo de pesquisa auxilia a explicar no que o

trabalho vai se diferenciar dos estudos já produzidos sobre o problema a ser tratado, ou no que

vai contribuir para o conhecimento.

5.4.2 - 2ª etapa: Diagnóstica

Essa etapa, que ocorreu no segundo semestre de 2015, iniciou-se com uma

reunião, em cada escola (portanto três reuniões), entre os professores de Química, Física e

Biologia das turmas onde foi realizada a pesquisa.

Foi fundamental esse primeiro encontro para conhecer os sujeitos participantes da

pesquisa, de modo a traçar o seu perfil e estabelecer um diagnóstico dos principais problemas

que envolvem o ensino de Educação Ambiental nas escolas pesquisadas. Nesses encontros

foram realizadas conversas e reflexões, e os docentes investigados foram convidados

aresponder a um Questionário sobre Dados Pessoais e Formação Acadêmica dos Professores

(APÊNDICE A) e outro Questionário sobre a Formação dos docentes na área de Educação

Ambiental (APÊNDICE B). Os resultados dessa primeira investigação corroboraram a

necessidade e a importância do estudo do tema Educação Ambiental no Ensino Médio. Diante

dos fatos, resolveu-se trabalhar com os alunos do 2º ano do Ensino Médio, pois nesta série

professores e alunos ainda não estão tão preocupados com as provas do ENEM, e tem um

contato maior com os conteúdos ligados a Educação Ambiental, que foi o objeto de estudo

desta pesquisa. Após conhecer o perfil acadêmico e de formação na área de EA dos

participantes da pesquisa, e a problemática que envolvia o ensino de Educação Ambiental nas

escolas pesquisadas, definiu-se os objetivos a serem alcançados e o planejamento das

atividades necessárias.

5.4.3. - 3ª etapa: Levantamento de dados em relação às práticas docentes sobre Educação

Ambiental

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73

Nessa etapa da pesquisa foi avaliada a prática docente dos nove professores de

ciências pesquisados sobre Educação Ambiental, a luz do que preconiza os documentos legais

(PCN e DCNEM). Para isso foi utilizado uma entrevista estruturada com questões

objetivamente definidas (APÊNDICE C), constituída de 25 questões. As visitas para

realização das entrevistas, foram previamente agendadas com os professores e ocorrerem no

mês de novembro de 2015, durante os tempos de planejamento escolar, entre uma aula e

outra, dos docentes. Foram escolhidos os dias em que todos, ou a maioria dos professores a

serem entrevistados pudessem estar presentes em cada escola.

Na escola João Mattos a entrevista aconteceu em um único dia, porém, dois

professores foram entrevistados no período da manhã e um foi entrevistado no turno da tarde,

pois somente nesse horário o docente teria horário livre. Na Escola Estado do Paraná, a visita

também ocorreu em dois dias diferentes pois, novamente, só foi possível entrevistar dois dos

professores em um mesmo horário. O terceiro docente foi entrevistado na semana seguinte em

um dia previamente agendado, pois precisou faltar ao trabalho durante alguns dias. Na Escola

Walter Sá, a visita ocorreu em uma quarta-feira (dia de planejamento da área de Ciências da

Natureza), dessa forma, todos os três professores encontravam-se na escola em um mesmo

turno, e tinham horários fora de sala, o que facilitou a realização da entrevista.

Cada entrevista durou, em média, entre quarenta e cinquenta minutos. Na ocasião,

o pesquisador fazia as perguntas e gravava as respostas dos entrevistados. Os docentes foram

entrevistados em locais variados, de acordo com a disponibilidade da escola. Na escola

JoãoMattos, dois professores foram entrevistados na sala de planejamento e um foi

entrevistado no pátio da escola. Na escola Estado do Paraná, dois docentes foram

entrevistados na sala dos professores e um na coordenação. Na escola Walter Sá, todos os

professores foram entrevistados na sala de planejamento educacional.

5.4.4. - 4ª etapa: Levantamento sobre dados pessoais e a percepção dos alunos em relação a

Educação Ambiental

Esta etapa envolveu a aplicação de um questionário, constituído de 14 questões

(APÊNDICE D), sobre dados pessoais dos alunos e suas percepções acerca da Educação

Ambiental praticada pelos professores, além da avaliação da experiência estudantil com

projetos ambientais. Para aplicação desse questionário foi selecionada uma turma de cada

escola (portanto três turmas), na qual os três professores envolvidos na pesquisa lecionavam e

foi realizada a sua aplicação em horário de aula, com a presença do professor.

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74

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo apresenta-se a análise dos dados obtidos nessa pesquisa.

A análise de dados é o processo de formação de sentido além dos dados. O

método usado para análise foi o agrupamento das questões. Essa organização teve por

objetivo consolidar o que as pessoas disseram e o que o pesquisador viu e leu, com vista na

formação de significados. Dessa forma a caracterização dos dados da pesquisa foi agrupada

por temas, conforme abaixo:

Dados pessoais e formação acadêmica dos professores;

Formação dos docentes na área de Educação Ambiental;

A prática pedagógica e concepções dos professores sobre Educação Ambiental;

Dados pessoais e percepção dos alunos em relação a prática da Educação Ambiental.

6.1 Dados pessoais e formação acadêmica dos professores (APÊNDICE A)

Para caracterização dos sujeitos da pesquisa, fez-se necessário conhecer um pouco

do perfil pessoal e profissional dos mesmos, uma vez que a pesquisa objetiva investigar as

concepções e práticas dos professores de Ciências sobre o Ensino de Educação Ambiental.

Para isso, foi aplicado um questionário composto por dez questões, que tinham por objetivo,

investigar sobre: sexo (questão 1), faixa etária (questão 2), tempo de magistério (questão 3),

disciplina (questão 4) e séries que lecionam (questão 5), formação acadêmica (questão 6),

modalidade do curso de graduação (questão 7) tempo de graduado (questão 8), vínculo

empregatício com a rede pública (questão 9) e em quantas escolas trabalham (questão 10).

As respostas obtidas, por escola, compõem as tabelas 1, 2 e 3, apresentadas a

seguir.

Tabela 1 – Dados pessoais dos professores da escola A. Professor Sexo Faixa

etária

quanto

tempo

leciona

Séries

que

leciona

Formação

acadêmica

Há quanto

tempo se

graduou

Vínculo

com a rede

pública

estadual

Em

quantas

escolas

trabalha

A Feminino 30-40

anos

5-10

anos

2ª e 3ª Licenciatura

em química

5-10 anos Temporário 1

B Masculino 30-40

anos

5-10

anos

1ª, 2ª e

Licenciatura

em física

5-10 anos Efetivo 2

C Feminino 40-50

anos

10-20

anos

1ª, 2ª e

Licenciaturaem

biologia

10-20 anos Efetivo 1

Fonte: Pesquisa direta.

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75

Tabela 2 – Dados pessoais dos professores da escola B. Professor Sexo Faixa

etária

quanto

tempo

leciona

Séries

que

leciona

Formação

acadêmica

Há quanto

tempo se

graduou

Vínculo

com a rede

pública

estadual

Em

quantas

escolas

trabalha

D Masculino 20-30

anos

5-10

anos

2ª, 3ª e

Licenciatura

em química

5-10 anos Temporário 2

E Masculino 30-40

anos

5-10

anos

1ª, 2ª e

Licenciatura

em física

5-10 anos Efetivo 2

F Feminino 20-30

anos

5-10

anos

1ª, 2ª e

Licenciatura

em biologia

5-10 anos Efetivo 1

Fonte: Pesquisa direta.

Tabela 3 – Dados pessoais dos professores da escola C. Professor Sexo Faixa

etária

quanto

tempo

leciona

Séries

que

leciona

Formação

acadêmica

Há quanto

tempo se

graduou

Vínculo

com a rede

pública

estadual

Em

quantas

escolas

trabalha

G Masculino 40-50

anos

10-20

anos

1ª e 2ª Licenciatura

em química

10-20 anos Efetivo 2

H Masculino 30-40

anos

5-10

anos

2ª e 3ª Licenciatura

em física

5-10 anos Efetivo 2

I Feminino 20-30

anos

5-10

anos

1ª e 2ª Licenciatura

em biologia

5-10 anos Efetivo 1

Fonte: Pesquisa direta.

Ao analisar os dados apresentados nas tabelas: 1, 2 e 3, simultaneamente, pode-se

concluir, que:

Entre os professores entrevistados nas três escolas, 55,55% são do sexo

masculino.

Quanto à faixa etária: 44,44% dos entrevistados têm entre 30 e 40 anos, 33,34%

têm entre 20 e 30 anos e somente 22,22% têm entre 40 e 50 anos. Conclui-se, portanto, que há

uma predominância de professores jovens.

Um total de 55,55% dos professores leciona nas três séries do Ensino Médio,

enquanto 44,45% leciona em apenas duas das séries do Ensino Médio. No entanto, todos são

professores da segunda série. Por esse motivo, os alunos da segunda série foram os escolhidos

para responderem a um questionário sobre “Dados pessoais e avaliação sobre Educação

Ambiental”, cujos resultados serão apresentados um pouco mais a frente, no item 6.4 da

metodologia.

A totalidade dos professores entrevistados (100,00%) têm formação acadêmica

em cursos de licenciatura, na disciplina em que lecionam.

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76

A LDB, em seu artigo 62, afirma que para atuar na educação básica, o professor

deverá ter formação em nível superior em curso de licenciatura, de graduação plena, em

universidades e institutos superiores de educação (BRASIL, 2005). Conclui-se então, que a

formação dos docentes está de acordo com o exigido pela LDB.

Um total de 77,78% dos professores concluiu seus cursos de graduações a, pelo

menos, 5 ou 10 dez anos, enquanto 22,22% concluíram entre 10 ou 20 anos atrás.

Entre os entrevistados 77,78% possuem vínculo efetivo com a rede pública

estadual de ensino, enquanto, apenas 22,22% possuem contrato temporário de emprego.

O fato de a maioria dos professores entrevistados serem funcionários efetivos da

rede pública estadual é importante, pois esses profissionais geralmente trabalham por vários

anos na mesma escola, o que diminui o risco deles mudaram de instituição de ensino durante

o ano letivo. Isso pode facilitar a elaboração e desenvolvimento de projetos educacionais

anuais, que podem ocorrer também com relação a temáticas ambientais, e envolver

educadores de diferentes áreas, dentro do ambiente escolar.

Um total de 44,44% dos professores trabalha em apenas uma escola, enquanto

55,56% trabalham simultaneamente, em duas escolas.

Também se acredita que quando o professor trabalha em apenas uma instituição

de ensino, pode ter mais condições para dedicar-se aos projetos implementados pelas mesmas.

6.2 Formações dos docentes na área de Educação Ambiental (APÊNDICE B)

O questionário se constituiu de 8 questões (objetivas e subjetivas) e teve como

objetivo avaliar a trajetória escolar do docente e capacitação na área de Educação Ambiental.

Na análise desse questionário, optou-se por considerar cada questão separadamente. Dessa

forma:

Apêndice B, questão 1: Perguntou-se aos professores se já fizeram algum curso de

pós-graduação. O resultado está apresentado no gráfico 1.

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Gráfico 1 – Percentual de professores, por títulos de pós-graduação.

Fonte: Dados da pesquisa.

A pesquisa mostrou que apenas 11,11% dos professores entrevistados ainda não

fizeram nenhum curso de pós-graduação. A maioria (66,67%) são especialistas e 22,22% já

possuem titulação de mestre. Esse fato revela o interesse da maioria dos docentes, em investir

em pós-graduação.

Apêndice B, questão 2: Perguntou-se aos professores que afirmaram ter curso de

pós-graduação (especialização ou mestrado), se o fizeram em área relacionada à Educação

Ambiental e qual curso fizeram. As respostas compõem o gráfico 2, apresentado a seguir.

Gráfico 2 – Percentual de professores que possuem pós-graduação na área

de EA.

Fonte: Dados da pesquisa

66,67%

22,22%

0,00%

11,11%

Especialistas Mestres Doutores Nâo possuem pós-graduação

22,22%

11,11%

66,67%

Especialização em EA

Mestrado em energia renováveis

Pós-graduação em outras áreas

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O resultado mostrou que apenas um terço (33,33%) dos professores entrevistados

optou por fazer pós-graduação (especialização ou mestrado) em área voltada para a Educação

Ambiental. Pois, 22,22% dos professores afirmaram que fizeram especialização em Educação

Ambiental e 11,11% afirmaram ter feito Mestrado em Energias Renováveis.

Apêndice B, questão 3: Perguntou-se aos professores se já participaram, ou ainda

participam, de algum curso de capacitação com foco em EA, presencial ou à distância.

Apenas 11,11% dos entrevistados afirmaram ter participado de um curso de

capacitação com foco em EA. Todos os demais professores disseram que nunca participaram,

nem participam, de curso dessa natureza.

Apêndice B, questão 4: foram feitas algumas perguntas com a finalidade de

complementar a resposta dada pelo percentual de professores que participaram de curso de

capacitação com foco em EA. Para isso, perguntou-se: a) Qual instituição o ofertou? b)

Quanto tempo durou? c) Como o professor tomou conhecimento da existência desse curso? d)

Por qual motivou resolveu fazê-lo? e) Se o professor achou interessante o curso que fez; f) Se

foi ministrado de forma presencial, à distância ou semipresencial; g) Se o curso afetou a

forma do professor pensar; h) se o curso modificou a forma do professor ensinar. Os

entrevistados responderam que o curso foi promovido pela Universidade Estadual do Ceará

(UECE), que teve a duração de uma semana, que tomaram conhecimento do mesmo através

da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC), que o motivo que os levou a fazê-lo

foi o enriquecimento do conhecimento; que acharam interessante, que o mesmo foi ministrado

de forma presencial, e que o mesmo afetou a forma dos docentes pensarem sobre a EA, como

também, ajudou a modificarem suas práticas em sala de aula.

Apêndice B, questão 5: foram feitas algumas perguntas com a finalidade de

complementar a resposta dada pela maioria dos entrevistados na questão 3. Para isso,

perguntou-se: a) Se o professor não fez curso de formação em EA por falta de tempo, por não

ter tido oportunidade, ou se foi por falta de tempo para se dedicar; b) Perguntou-se se os

professores acham que esses cursos podem contribuir significativamente para o trabalho

docente, e pediu-se que justificassem, c) Perguntou-se se os docentes tinham o hábito de

praticarem a auto formação, ou seja, se costumavam pesquisar e aprofundar seus

conhecimentos com a finalidade de melhorar e enriquecer suas aulas.

Entre os professores pesquisados, 44,44% responderam que não fizeram nenhum

curso de capacitação com foco em EA por falta de tempo, e 66,66% disseram que não fizeram

por falta de oportunidade. Porém, todos afirmaram que acham que esses cursos

podemcontribuir significativamente para o trabalho docente. E 55,56% afirmaram que

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praticam a auto formação, ou seja, que costumam pesquisar e aprofundar seus conhecimentos

em EA com a finalidade de enriquecerem suas aulas.

Apêndice B, questão 6: perguntou-se aos professores se em seus cursos de

graduações cursaram alguma disciplina, obrigatória ou opcional, com foco em EA. Os

resultados obtidos compõem a tabela 4, apresentada a seguir.

Tabela 4 – Professores que cursaram disciplinas voltadas para a EA em seus cursos de

graduações.

Escola A Escola B Escola C

Professor A B C D E F G H I

Cursou

disciplina

com foco

em EA

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Sim

Sim

Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se que, dos nove professores investigados, seis (66,67%) disseram que

cursaram alguma disciplina voltada para a EA durante a graduação.

Com intenção de complementar a questão 6, perguntou-se aos docentes quais

foram as disciplinas cursadas por eles, que tinham foco em EA. As respostas compõem a

tabela 5, apresentada a seguir.

Tabela 5 – Disciplinas cursadas pelos professores, em seus cursos de graduações, com foco

em EA.

Escola Professor Disciplina cursada em sua graduação, como foco em EA

A A Ecologia

B Ecologia I e Ecologia II

B F Ciências, tecnologia e sociedade (CTS)

C

G Ecologia

H Ecologia

I Energias alternativas

Fonte: Dados da pesquisa.

Percebe-se que a disciplina de Ecologia foi a mais citada pelos professores de

química e biologia, pois 44,44% dos entrevistados afirmaram tê-la cursado. 22,22% dos

professores cursaram as disciplinas de CTS e Energias alternativas, porém, 33,34% dos

docentes pesquisados não cursaram nenhuma disciplina com foco em EA. Esse fato revela

uma limitação dos cursos de licenciatura que se ocupam em formar para uma disciplina

específica, mas não se preocupam em trabalhar questões sociais relevantes que necessitam de

uma abordagem interdisciplinar.

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Apêndice B, questão 7: Perguntou-se aos professores se, em seus cursos de

licenciatura, nas disciplinas específicas da área de educação, em algum momento foi discutido

a necessidade de se trabalhar EA ou formação cidadã na escola. Todos os professores

entrevistados afirmaram que em seus cursos de licenciatura nunca foram discutidas tais

questões.

Apêndice B, questão 8: pediu-se aos professores para que avaliassem a

contribuição de seus cursos universitários para a conscientização/sensibilização ambiental dos

discentes de maneira crítica e efetiva. Para isso, colocou-se opções que variavam entre “nula

até muito significativa”. As respostas apresentadas compõem a tabela 6, abaixo.

Tabela 6 – Avaliação dos professores sobre a contribuição de seus cursos universitários para a

conscientização/sensibilização ambiental dos discentes de maneira crítica e efetiva.

Escola A B C

Professor A B C D E F G H I

Nula

Pouco

Significativa

X X X X

Razoável X X X X

Significativa

Muito

Significativa

X

Fonte: Dados da pesquisa.

O resultado mostrou 44,44% dos entrevistados considerou razoável e que 11,12%

deles consideraram como muito significativa, a contribuição de seus cursos universitários para

a conscientização/sensibilização ambiental dos discentes, mesmo após terem afirmado que

nem todos cursaram alguma disciplina relacionada a essas temáticas em suas graduações.

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6.3 A prática pedagógica e concepções dos professores sobre Educação Ambiental

(APÊNDICE C)

Para avaliar “A prática pedagógica e concepções dos professores sobre Educação

Ambiental” foi aplicada uma entrevista estruturada, constituída de 25 questões. Com o intuito

de uma melhor análise dos resultados dessa entrevista, os dados foram agrupados por temas, a

saber:

● Sobre consulta aos PCN e DCNEM e noção de transversalidade;

● Sobre o desenvolvimento de projetos pedagógicos com foco em EA;

● Sobre a abordagem de temáticas ambientais em sala de aula;

● Concepções dos professores sobre EA.

6.3.1. Sobre consulta aos PCN e DCNEM e noção de transversalidade

Apêndice C, questão 1: Perguntou-se aos professores entrevistados, se em algum

momento já haviam realizado consulta ou estudo nos PCN ou DCNEM, com a finalidade de

aprimorarem suas práticas pedagógicas. As respostas obtidas, foram:

“Infelizmente, não” (Professor A).

“Nunca” (Professor B).

“A gente sempre pesquisa alguma coisa quando vai fazer o planejamento da

disciplina na época da jornada pedagógica” (Professor C).

“Não, nunca tive oportunidade” (Professor D).

“Já tive contato com os documentos, mas não foi com intenção de pesquisar nada”

(Professor E).

“Ainda não” (Professor F).

“Não” (Professor G).

“Não, nunca consultei” (Professor H).

“Já realizei algumas pesquisas neles, mas foi na época da faculdade” (Professor I).

O resultado mostrou que apenas 33,33% dos entrevistados já tiveram contato com

os PCN ou DCNEM, porém, nenhum deles chegou a realizar consulta com a finalidade de

aprimorarem suas práticas pedagógicas. Infere-se então, que os mesmos não devem conhecer

as orientações relacionadas à Educação Ambiental, contidas nesses documentos.

Apêndice C, questão 2: Perguntou-se aos professores se saberiam explicar por que

razão a EA é incluída nos PCN na parte relacionada aos temas transversais. Algumas

respostas dadas pelos entrevistados, foram:

“Porque é um tema não obrigatório do currículo que deve estar presente em várias

disciplinas diferentes” (Professor A).

“Não sei responder” (Professor B).

“Porque envolve história, geografia, sociologia, etc. estando incluída nas outras

disciplinas, pois não envolve apenas uma” (Professor C).

“Deve permear todas as áreas de ensino porque está presente em todas elas, sendo

interdisciplinar e transdisciplinar” (Professor D).

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“A razão final não sei, mas acredito que seja para facilitar a interdisciplinaridade”

(Professor E).

“Realmente, não sei a razão” (Professor F).

“Por se tratar de uma questão social importante, sobre a qual é importante alertar os

cidadãos” (Professor G).

“Para levar o aluno a entender que o Meio Ambiente está presente em todas as

disciplinas” (Professor H).

“Não” (Professor I).

Os resultados mostraram que 55,56% dos professores acreditam que o Meio

Ambiente foi incluído nos temas transversais por seu caráter interdisciplinar, ou seja,

entendem que sua abordagem deve relacionar as diferentes áreas. E 11,11% dos entrevistados

acreditam que foi incluído nos temas transversais por se tratar de uma questão social

importante.

De acordo com os PCN, os temas transversais correspondem a questões

importantes e urgentes da vida cotidiana, na busca da construção de uma prática educacional

voltada para a construção da cidadania. Para isso, os critérios adotados para a eleição dos

temas transversais foram: urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e

aprendizagem no Ensino Fundamental, favorecer a compreensão da realidade e a participação

social, com a pretensão de integrar as diferentes áreas convencionais relacionando-as a

questões da atualidade (BRASIL, 1999).

Percebe-se, pelas razões apresentadas nos PCN, que o fato de integrar as

diferentes áreas, foi apenas um dos pontos levados em consideração na hora de colocar o

Meio Ambiente na parte relacionada aos temas transversais.

Apêndice C, questão 3: Perguntou-se se a Educação Ambiental deveria ser

ministrada como mais uma disciplina específica do currículo. As respostas dadas, foram:

“Separadamente não. Deve ser como ela é, um tema transversal, que está incluído

em todas as outras disciplinas” (Professor A).

“Deve permear todas as áreas de ensino porque está presente em todas elas, sendo

interdisciplinar” (Professor B).

“A razão final não sei, mas sei que deve proporcionar a interdisciplinaridade,

mostrando que as ciências estão todas ligadas” (Professor C).

“Porque é um assunto que está em todas as áreas, em maior ou menor grau, faz parte

de cada uma das disciplinas” (Professor D).

“Acho que deveria ser abordada como projeto pedagógico integrando diferentes

áreas” (Professor E).

“Acho que não, pois é melhor que seja trabalhada por todas as áreas” (Professor F).

“Sim, deveria ter uma disciplina voltada apenas para a EA” (Professor G).

“Acredito que seria melhor se estivesse presente em todas as disciplinas, mas isso

iria depender da forma como os professores iriam se articular para isso” (Professor

H).

“Não, acho seria melhor se fosse trabalhada por um grupo de professores, como o de

Ciências da Natureza, por exemplo.” (Professor I).

Constatou-se, pelas respostas, que 77,78% dos professores pensam de acordo com

as orientações contidas nos PCN e DCNEM, que orientam para que a EA não constitua uma

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nova disciplina do currículo escolar, pois os docentes demonstraram compreender seu caráter

interdisciplinar.

As DCNEM também consideram que o tratamento transversal das temáticas

ambientais é importante não apenas para superar a visão fragmentada do conhecimento, mas

também, para ampliar os horizontes de cada área do saber (BRASIL,2012). Daí destacam

Lima e Alves (2016, p.90) que:

É de suma importância que a interdisciplinaridade seja entendida com um processo

que é ao mesmo tempo individual e coletivo, onde a solução dos problemas se dá

principalmente na relação com os outros, se constituindo num processo educativo

que está para além da relação ensino-aprendizagem, pois envolve a prática social.

6.3.2. Sobre o desenvolvimento de projetos pedagógicos com foco em Educação

Ambiental

Para os PCN é importante que os professores implementem projetos educativos,

pois estes levam a uma eleição conjunta de princípios e valores necessários para iniciar um

processo de formação e mudança. Com a finalidade de superar a mera distribuição das

temáticas ambientais pelos demais componentes curriculares, as DCNEM estimulam a

reflexão sobre a formulação, execução e avaliação de projetos educacionais nas instituições de

ensino.

Apêndice C, questão 4: Perguntou-se aos entrevistados se já haviam participado

de algum projeto de suas escolas voltados para a EA. Através das respostas observou-se que

somente os professores da escola A participaram de projeto dessa natureza.

Apêndice C, questão 5: Perguntou-se aos professores da escola A, que

participaram de projetos voltados para a EA, um pouco mais sobre essa experiência, com

intenção de investigar se: a) Foi projeto de feira cultural ou projeto pedagógico independente;

b) Se ocorreu de forma extracurricular ou se foi incluído na carga horária dos alunos; c) De

quais áreas, envolveu professores; d) Se, para a preparação do mesmo, os professores se

reuniram para discutir quais temáticas abordar, a forma de trabalhar e como avaliar os

resultados; e) Se envolveu todas as turmas da escola, ou apenas uma parte delas; f) Qual foi a

duração; g) Sedurante o projeto houve a realização de palestras ministradas por algum

profissional de um outro segmento (ONGs, indústrias, etc); h) Se ocorreu alguma aula de

campo, e para onde foi; i) Se foi estabelecida alguma campanha de conservação e preservação

na escola; j) Pediu-se também para avaliarem a motivação dos professores; j) E que

avaliassem também o envolvimento e participação dos alunos.

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Os professores afirmaram que o projeto aconteceu durante uma Feira Cultural,

incluído na carga horária cotidiana dos alunos, e que envolveu professores de todas as

disciplinas. Disseram que para a preparação do projeto, houve reunião dos professores para

discutir as temáticas a serem abordadas, como também a forma de trabalhar e como avaliar os

resultados. Afirmaram que o projeto envolveu todas as turmas da escola e teve a duração de

uma semana. Todos disseram que não foi ministrada nenhuma palestra na escola com pessoa

de outros segmentos ou repartições e, apenas um, disse que nesse período realizou aula de

campo com uma turma, e que a mesma constituiu uma visita às turbinas eólicas na cidade de

Aracati. Relataram que durante a feira de ciências foi estabelecida uma campanha para

conservação e preservação do ambiente escolar, mas, que algum tempo depois, foi esquecida.

Avaliaram que a motivação dos professores foi maior nos momentos de preparação e

execução dos projetos e que, infelizmente, alguns docentes pouco se envolveram. Que a

motivação dos alunos se deu mais por causa dos momentos de apresentações artísticas e

gincana e consideraram que o grande mobilizador dos alunos, na verdade, foi o fato dos

trabalhos valerem notas em substituição às avaliações bimestrais. Que foi um trabalho

pontual, restrito a essa única semana.

De acordo com os documentos legais, os projetos com foco em EA a serem

trabalhados pelas escolas devem: estar incluídos dentro da carga horária cotidiana dos alunos,

possuir etapas bem elaboradas pelo corpo docente (inclusive no tocante aos métodos de

avaliação), com realização de palestras ou aulas de campo para enriquecer o conhecimento

das temáticas, e com o estabelecimento de campanhas de preservação/conservação ambiental

(BRASIL, 1999).

Pelas respostas dos professores da escola A, infere-se que os mesmos realizaram o

projeto de EA de acordo com as recomendações sugeridas nos PCN e DCNEM, apesar do

mesmo ter ocorrido apenas uma vez.

Apêndice C, questão 6: Perguntou-se aos professores se consideram importante a

aplicação de projetos voltados para a EA na escola.

“Ajudaria a desenvolver consciência ecológica e levaria à mudança de atitudes”

(Professor A).

“Despertaria para o cuidado com o meio e ainda reforçaria a questão da

interdisciplinaridade, pois é importante que o aluno consiga perceber a inter-relação

dos conteúdos com a temática” (Professor B).

“Um projeto educacional bom, ajudaria a melhorar a merenda, o ambiente da escola

e tornaria agradável o ambiente que eles ficam no intervalo” (Professor C).

“Daria até para os professores incluírem seus conteúdos nesse projeto, pois não seria

necessário ver apenas a questão ambiental” (Professor D).

“A gestão e os professores têm que dar o exemplo, pois os projetos voltados para EA

irão despertar o interesse dos alunos e da comunidade escolar também” (Professor

E).

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“Sim, acho que é muito importante” (Professor F).

“Seria muito enriquecedor para todos: tanto professores como alunos” (Professor G).

“Acho interessante, até mesmo porque é uma temática boa de trabalhar e poderia

despertar nos professores o gosto por outros projetos com temáticas diferentes”

(Professor H).

“Sim, com certeza. Seria muito bom” (Professor I).

As respostas mostraram que todos os professores consideram que é importante a

aplicação de projetos voltados para a EA, para: despertar os alunos para uma cidadania

consciente, favorecer a interdisciplinaridade, despertar o interesse em professores e alunos e

favorecer a realização de outros projetos.

Apêndice C, questão 7, item a: Perguntou-se aos professores, caso eles tivessem

interesse em realizar um projeto em EA em suas escolas, de quais áreas seriam os professores

que convidariam para, com eles, executarem essa prática. As respostas dadas, foram:

“Convidaria os professores da minha área e também os professores da área de

humanas” (Professor A).

“Procuraria interligar a química, a física e biologia com história, geografia e

sociologia” (Professor B).

“Além dos professores da área de Ciências da Natureza, convidaria também o

professor de geografia, pois acho que daria importantes contribuições (Professor

C)”. “Chamaria os professores de Ciências da Natureza e também de matemática”

(Professor D).

“Acho importante envolver todos os professores de ciências em um projeto como

esse, para que fique bem interdisciplinar” (Professor E).

“Procuraria trabalhar com os professores de Ciências da Natureza” (Professor F).

“A minha área, com certeza. Pois é importante reunir esses profissionais, também

para que percebam a relação que existem entre nossas disciplinas” (Professor G).

“Convidaria os professores de física, química e biologia” (Professor H).

“Acho que é importante que um projeto possa ir além do conhecimento científico,

por isso, convidaria os professores de Ciências Humanas, pois acho que ajudariam a

complementar as informações” (Professor I).

As respostas revelaram que 55,56% dos professores convidariam apenas os

colegas das disciplinas de Ciências da Natureza e, que, 44,44% chamariam os colegas de

ciências da natureza e os colegas de ciências humanas. Porém, nenhum dos professores

considerou a hipótese de envolver os professores de todas as áreas em um projeto de EA.

Para os PCN e DCNEM, as questões ambientais não podem ser observadas

unicamente de forma científica, pois é de suma importância que as questões sociais,

econômicas e demais fatores a elas associados sejam discutidos, de modo a permitir que o

estudante tenha uma visão global dessas problemáticas e, assim, possa formar conceitos que o

permitirão adotar hábitos e atitudes que possam ser socialmente repassados (BRASIL, 1999).

Apêndice C, questão 7, item b: Perguntou-se aos docentes qual seria o objetivo

principal de um possível projeto em EA desenvolvido por eles. Algumas das respostas

obtidas, foram:

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“Conscientizar os meninos sobre a nossa responsabilidade com o meio ambiente”

(Professor A).

“Conscientizar para um consumo consciente” (Professor B).

“Conscientizar os alunos para o cuidado com o meio e a participação social”

(Professor C).

“Despertar a curiosidade e o engajamento dos alunos” (Professor D).

“Alertar sobre os problemas ambientais para que os alunos possam tomar

consciência da necessidade de cuidar do meio” (Professor D).

“É importante trabalhar projetos que envolvem também questões sociais e que

fazem os alunos pensarem de outra forma” (Professor E)

“Despertar e conscientizar nos alunos da importância de um meio ambiente saudável

para a convivência entre os ecossistemas que é a sociedade” (Professor F).

“A conscientização, preservação e manutenção do meio ambiente” (Professor G).

“Divulgar e conscientizar os alunos sobre esses temas tão importantes na atualidade”

(Professor H).

“Conscientizar todos: professores e alunos” (Professor I).

Pelas respostas, percebe-se 77,77% dos professores entrevistados centralizam o

objetivo da realização de projetos em EA, prioritariamente, na conscientização dos alunos.e

Apêndice C, questão 8: Perguntou-se aos entrevistados como avaliam suas

abordagens em EA. As respostas obtidas, foram:

“Ainda abordo muito pouco as questões ambientais, pois não tenho muito tempo

para planejar algo diferente, por isso, procuro encaixar quando dá certo com o

conteúdo que está sendo dado” (Professor A).

“Falo de vez em quando, mas não de uma forma suficiente para fazer um trabalho

mais aprofundado, pois tenho muito conteúdo para ministrar e, infelizmente, pouco

tempo de aula” (Professor B).

“Me preocupo com o assunto, mas, de forma pontual, pois na maior parte do tempo

estou presa aos conteúdos da disciplina e eles nem sempre têm relação com

temáticas ambientais” (Professor C).

“Minhas abordagens são um pouco fracas devido ao pouco tempo de aula e a falta

de tempo para me dedicar à pesquisa” (Professor D).

“Abordo de forma regular, pois acho que precisaria me dedicar mais para melhorar,

e com essa rotina de professor, é difícil parar para fazer isso” (Professor E).

“Acredito que trabalho de forma bem significativa, pois sempre falo no assunto e,

inclusive, costumo colocar nas provas questões sobre o meio ambiente” (Professor

F). “Minha abordagem é apenas a nível de exemplos em sala de aula” (Professor G).

“Apesar de não trabalhar muito as temáticas ambientais, considero boas as vezes que

abordo, pois tento mexer ao máximo com o senso crítico dos alunos” (Professor H).

“Meu trabalho com meio ambiente ainda é muito fraquinho, pois costumo mais

utilizar como exemplos nas aulas” (Professor I).

Conclui-se, pelas respostas apresentadas, que 88,88% dos professores pesquisados

reconhecem como fracas suas abordagens, pois ponderam que, na maioria das vezes,

encontram-se presos aos conteúdos e sem condições de planejar algo diferente, pois, além de

terem pouco tempo de aula, também não têm tempo para planejar essas abordagens. Por isso,

trabalham as questões ambientais mais na forma de exemplos. Apenas 22,22% dos

entrevistados afirmaram que trabalham as questões ambientais de forma boa ou satisfatória

pois afirmaram que tentam despertar o senso crítico do aluno e também, porque já

incorporaram tais questões em suas rotinas pedagógicas, como a avaliação.

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Apêndice C, questão 9: Perguntou-se aos professores se seus alunos já tiveram a

oportunidade de se auto avaliarem ou avaliarem os projetos ou aulas que envolvem temáticas

ambientais.

Todos os professores entrevistados afirmaram que nunca pediram aos alunos para

que avaliassem suas abordagens em EA, como também nunca os pediram para avaliarem suas

aulas ou se auto avaliarem.

Para os PCN, a avaliação não deve se restringir ao julgamento sobre o sucesso ou

o fracasso do aluno, mas, deve possibilitar conhecer o quanto o educando se aproxima ou não

dos objetivos de aprendizagem estabelecidos pelo professor, em função da intervenção

pedagógica realizada. Pois considera que um dos papeis da avaliação é dar subsídios para que

o educador possa, continuamente, refletir sobre sua prática. Esse processo também deve

permitir ao educando tomar consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para

a reorganização de sua aprendizagem. Nesse sentido, consideram que é necessário avaliar

também o ensino oferecido, pois é importante investigar se o mesmo cumpriu sua função de

fazer aprender. A auto avaliação também é útil por ser considerada uma situação que induz o

aluno a interpretar suas produções, o que constitui elemento central para a construção da

autonomia do mesmo. Dessa forma, a avaliação deve compor uma das etapas de um projeto

educacional, pois é importante para o professor saber até que ponto a metodologia aplicada

facilitou ou não a aprendizagem, como também, é importante conhecer os anseios e respostas

dos alunos ao trabalho proposto, por isso a avaliação do ensino e auto avaliação tornam-se

elementos importantes na análise das situações de ensino-aprendizagem desenvolvidas

(BRASIL, 1999).

Apêndice C, questão 10: perguntou-se aos professores se em suas aulas sobre

temáticas ambientais costumam estimular o diálogo, a participação e a cooperação entre os

estudantes. As respostas dadas, foram:

“Sim, pois acho a opinião e a troca de informação muito importantes” (Professor A).

“Sim, claro. Eles têm que discutir e cada um aprender a respeitar a opinião do outro”

(Professor B)

“Gosto de sempre trazer um texto para debate e dar de dois a três minutos para que

cada um possa expressar um pouco a sua opinião” (Professor C).

“Sim, pois acho que é importante” (Professor D).

“Sim, principalmente pela visão crítica que tem que ser gerada neles. Eles têm que

pensar” (Professor E).

“Claro, acho muito importante incentivar a participação dos alunos” (Professor F).

“Sim, principalmente, para dar importância ao assunto e desenvolver a participação

deles” (Professor G).

“Estimulo na forma de debates e perguntas sobre o assunto, mas não passo disso”

(Professor H).

“Com certeza” (Professor I).

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Todos os docentes entrevistados disseram que costumam incentivar o diálogo, a

participação e a cooperação entre os estudantes, e justificaram que o fazem para que os

mesmos aprendam a respeitar a opinião do outro, para que desenvolvam uma visão crítica e

também para dar importância ao assunto. Entre outros motivos.

Para Moreira (2012), tornar a escola um espaço inovador sustentável significa

romper com a lógica que orienta a dinâmica social atual. Num sistema que valoriza o

individualismo em detrimento da coletividade, a competição em vez da colaboração, a

hierarquia ao invés das redes cooperativas. Dessa forma, as escolas que trabalham educação

ambiental surgem como possibilidade de mudança qualitativa no cenário da educação, pois

devem atuar na construção de uma sociedade participativa, crítica e cidadã, e no engajamento

conjunto entre professores, estudantes e toda a comunidade escolar, a fim de que sejam

protagonistas e divulgadores de uma nova visão de mundo, onde a sustentabilidade ocupe

lugar central e os direitos coletivos possam ser de fato, respeitados.

Para os PCN, a participação, como princípio democrático, estimula a construção

da cidadania ativa, além de favorecer a participação popular no espaço público e a

compreensão de que a sociedade é heterogênea. Consideram também que é importante, para o

professor, estimular situações de aprendizagem que favoreçam a participação do educando

(BRASIL, 1999).

6.3.3. Sobre a abordagem de temáticas ambientais em sala de aula

Apêndice C, questão 11: Perguntou-se aos entrevistados qual a importância de se

discutir EA na escola. As respostas dadas, foram:

“Para formar cidadãos conscientes e críticos, capazes de repassar as informações”

(Professor A).

“É de suma importância, porque tudo o que está ao nosso redor passa pela Educação

Ambiental” (Professor B).

“Primordial, pois os alunos têm que se educar, tem que ver a questão do consumo, a

questão do planeta em si, né? Tá sendo muito poluído” (Professor C).

“Os jovens precisam despertar para uma mudança de hábitos e entenderem o que

está acontecendo e a escola não pode se omitir nesse papel (Professor D)”.

“Diante de um mundo tão consumista e que agride tanto o meio ambiente para que

suas necessidades sejam saciadas, em detrimento de um meio ambiente degradável,

é importante mostrar ao aluno que ele está inserido nesse meio ambiente, porque faz

parte dele, e precisa conscientizar-se que devemos utilizá-lo de forma consciente”

(Professor E).

“A escola é o berço de todo cidadão. Discutir Educação Ambiental na escola não é

nada mais que obrigação, porque estamos tratando com jovens que vão ser cidadãos,

e nada mais justo do que ter consciência ambiental” (Professor F).

“Acredito que a importância maior seja a conscientização dos estudantes” (Professor

G).

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“É na escola que se forma o cidadão. É papel da escola ensinar a pensar, a ser

crítico, a refletir sobre suas atitudes. Por isso, diante dessas questões tão urgentes, a

escola tem fundamental importância” (Professor H).

“Porque tanto a família como a escola, são os alicerces para a formação cidadã”

(Professor I).

Conclui-se, pela fala dos professores, que os mesmos consideram importante

discutir EA na escola porque este é um dos papeis dessa instituição: formar o cidadão.

Também afirmaram que é importante para conscientizar os alunos, formar cidadãos críticos e

conscientes e que possam repassar esses conhecimentos, estimular a mudança de hábitos e

fazer com que os estudantes compreendam que é por causa do consumismo que o homem

agride a natureza.

Apêndice C, questão 12: Perguntou-se aos professores se costumam utilizam

temas ambientais em suas aulas. Todos responderam que sim.

Apêndice C, questão 13: Completou-se a pergunta 12, perguntando sobre a forma

como os docentes trabalham as temáticas ambientais. As respostas obtidas, foram:

“Abordo mais na forma de exemplo dos conteúdos da minha disciplina, mas, na

medida do possível, procuro conscientizar os alunos sobre os problemas ambientais”

(Professor A).

“Utilizo mais como forma de contextualiza o assunto que está sendo abordado, pois

questões assim facilitam a compreensão dos alunos” (Professor B).

“Utilizo não apenas como forma de contextualização, mas também, com a intenção

de que eles despertem para uma cidadania consciente, e entendam que nós também

fazemos parte do meio ambiente” (Professor C).

“Tento relacionar os conteúdos com o dia a dia e conscientizar os alunos para o

cuidado que devemos ter com a natureza, pois precisamos formar cidadãos

conscientes de suas responsabilidades” (Professor D).

“Procuro facilitar a aprendizagem do aluno, e como sei que eles gostam quando a

gente fala em temas diferentes dos que são costumeiramente abordados nos

conteúdos, utilizo os problemas ambientais para contextualizar” (Professor E).

“Acredito que as questões ambientais são sérias e urgentes, por isso, procuro sempre

abordá-las, mas não apenas para contextualizar, mas também, procurando relacionar

com conhecimentos de outras disciplinas, para que eles percebam o caráter

interdisciplinar dessas problemáticas” (Professor F).

“Sempre que posso cito exemplos que envolvem meio ambiente” (Professor G).

“Quando trabalho essas questões procuro promover o debate entre os alunos, pois

acho que ajuda a despertar o senso crítico” (Professor H). “Utilizo mais como

contextualização na forma de exemplos” (Professor I).

Pelas respostas, conclui-se que 66,67% dos professores pesquisados utilizam as

temáticas ambientais mais como forma de contextualizar ou dar exemplos dos conteúdos de

suas disciplinas. 33,33% afirmaram que buscam conscientizar e despertar os estudantes para

as questões ambientais, como também para suas responsabilidades diante de tais questões,

para que os estudantes entendam que também fazem parte do meio ambiente e para estimular

o senso crítico dos alunos.

Apêndice C, questão 14: Quando perguntados sobre quais fontes costumam

utilizar como apoio em suas abordagens em EA. As respostas dadas, foram:

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“Utilizo os fatos que aparecem na mídia, pois sempre chamam muita atenção dos

alunos. Também trago algo da internet para complementar, como também, utilizo os

exemplos do dia a dia.” (Professor A).

“Trabalho mais com vídeos da internet e exemplo de práticas do dia a dia, pois são

mais próximos da realidade dos alunos” (Professor B).

“Utilizo de tudo um pouco. Dependendo do assunto, posso explorar só com o que

tem no livro didático, como também posso pesquisar mais alguma coisa na internet,

ou mesmo em jornal e revista. Os exemplos do dia a dia são básicos, a gente sempre

comenta porque facilita a compreensão deles e ajudam a enriquecer o conteúdo”

(Professor C).

“Geralmente, utilizo mais a internet” (Professor D).

“Trabalho mais com a internet no meu dia a dia, pois já tem tudo, né”? (Professor

E).

“Costumo utilizar mais as pesquisas da internet, pela própria facilidade de acesso.

Também costumo passar documentários, encontro sempre alguns muito bons por lá,

e os meninos gostam” (Professor F).

“Abordo mais os assuntos que aparecem em jornais e revistas, mas sempre

relacionando ao cotidiano, para que os alunos percebam que tudo faz parte da vida

da gente, mesmo que seja um problema que tenha acontecido até fora do Brasil”

(Professor G).

“Como não tenho muito tempo para pesquisar, me detenho mais nas práticas

cotidianas” (Professor H).

“Minha grande fonte de pesquisa, para tudo, é sempre a internet” (Professor I).

Pelas respostas dadas, conclui-se 77,76% dos entrevistados utilizam a internet

como fonte de pesquisa e apoio pedagógico em suas abordagens, e que geralmente o fazem

concomitantemente com a utilização de outros recursos como a utilização de temas que

estãona mídia (jornais ou revistas), como também na forma de exemplos de práticas

cotidianas relacionadas aos assuntos.

Apêndice C, questão 16: Pediu-se aos professores entrevistados para citarem dois

conteúdos de suas disciplinas que eles acreditam que servem como âncora para facilitar a

abordagem de questões ambientais. As respostas obtidas, foram:

“Tem alguns conteúdos que facilitam a abordagem como, por exemplo, funções

inorgânicas. Pois dá para relacionar ácidos e bases com chuvas ácidas e na parte de

óxidos, dá para falar de aquecimento global e efeito estufa. Enriquece o tema e torna

mais interessante para o aluno” (Professor A).

“Não é fácil contextualizar dentro da minha disciplina, principalmente em relação

aos temas ambientais, mas, costumo explorar as formas de energia e energias

renováveis quando estou dando o capítulo de energia” (Professor B).

“Na parte de ecologia falar sobre o aumento de uma espécie em decorrência da

extinção de outra, causada pelo desmatamento” (Professor C).

“Quando estou ensinando termoquímica, sempre falo de combustão, gases e efeito

estufa. Mas na parte de equilíbrio químico também é possível falar sobre poluição

das águas e efeito estufa” (Professor D).

“Em física é difícil relacionar conteúdos com algo do dia a dia. Mas acredito que em

termodinâmica e calorimetria o professor pode abordar estados e ciclos da água,

como também aproveitar e falar sobre o uso consciente desse recurso” (Professor E).

“Sempre falo sobre a importância do saneamento básico quando estou vendo reino

protista e monera” (Professor F).

“Acho que no capítulo de soluções pode-se falar sobre a concentração de

agrotóxicos e poluentes, e no capítulo de ligações químicas, sobre a interação entre

os diferentes tipos de solventes, pois dá para explicar, por exemplo, porque se forma

uma camada de óleo por cima do oceano quando ocorre um derramamento”

(Professor G).

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“Em energia, o professor pode abordar um monte coisa como: energia elétrica,

geotérmica, limpa, etc. Dá também para explicar a produção de energia e energias

renováveis” (Professor H).

“Em ecologia: poluição das águas, e em botânica, costumo falar sobre a forma de

adaptação das plantas a situações adversas, por exemplo.” (Professor I).

Os conteúdos apresentados pelos professores como âncoras para abordagens de

temas ambientais foram, em química: funções inorgânicas, ligações química, termoquímica,

equilíbrio químico e soluções. Em física: energia, termodinâmica e calorimetria. E em

biologia: ecologia, reino monera e protista e botânica. Percebe-se que a disciplina em que os

professores diversificaram um pouco mais os conteúdos foi a química. Os professores de

física também afirmaram que sentem dificuldades na hora de relacionar as questões

ambientais com os conteúdos de suas disciplinas.

Apêndice C, questão 17: questionou-se os professores sobre qual enfoques mais

utilizavam para abordar temáticas ambientais: se focalizavam mais em temas relacionados aos

conteúdos de suas disciplinas, se procuravam dar ênfase aos temas mais atuais, ou se

procuravam colocar a relação homem/natureza e sistema produtivo. As respostas dadas,

foram:

“Procuro sempre trabalhar temas que tenham relação com os conteúdos que estão

sendo dados, mas também tento enfatizar o que a mídia está abordando no

momento”

(Professor A).

“A gente sempre busca mais os temas atuais, porque são os que chamam mais a

atenção dos alunos, mas é importante estabelecer a relação do homem com esses

temas, pois é ele quem degrada a natureza” (Professor B).

“Eu abordo mais os temas ambientais que tem relação com os conteúdos da minha

disciplina” (Professor C).

“Foco mesmo na disciplina, porque não tenho tempo para preparar aula sobre EA,

então, dou exemplos nos conteúdos, mas, se o tema estiver na mídia, melhor ainda,

porque eles se interessam mais” (Professor D).

“Quase não falo em questões ambientais porque na física é bem difícil fazer isso.

Mas quando falo de energia, dou exemplos relacionados ao conteúdo e que fazem

parte do dia a dia dos alunos, por serem questões atuais, como também, falo da

questão social, pois sempre comento sobre os danos ambientais causados por cada

processo gerador, seja na usina hidrelétrica, termoelétrica, nuclear ou outro”

(Professor E).

“Na minha atividade docente procuro contextualizar assuntos da atualidade

buscando relacioná-los com o conteúdo e a realidade do aluno” (Professor F).

“Procuro relacionar tudo o que é pertinente a essas temáticas, pois considero que é

importante não apenas contextualizar o conteúdo, pois o aluno precisa entender o

papel fundamental que o homem tem na questão ambiental” (Professor G).

“Na minha disciplina é difícil contextualizar, principalmente com as questões

ambientais, por isso, quando o conteúdo permite a contextualização, relaciono com

os conteúdos e procuro lembrar aos alunos que essas questões são cada vez mais

atuais, pois os meios de comunicação cada vez falam mais desses assuntos”

(Professor H).

“Trabalho mais os temas relacionados à minha disciplina” (Professor I).

Pelas respostas, conclui-se que 77,78% dos professores procuram enfocar mais os

temas ambientais que tenham relação com os conteúdos de suas disciplinas. 22,22% dos

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entrevistados procuram trabalhar mais com temas atuais. Alguns professores falaram ainda

que abordam também a relação do homem com essas temáticas e questões sociais

relacionadas. Porém, nenhum deles afirmou que procurava abordar a relação homem/natureza

e sistema produtivo.

Apêndice C, questão 18: perguntou-se aos professores qual a importância de se

discutir meio ambiente na escola. As respostas obtidas, foram:

“Despertar no aluno o interesse para o cuidado e preservação do meio” (Professor

A).

“A gente precisa. Temos que discutir o assunto e não só na escola, mas também

fazer com que os alunos levem essa discussão para casa, para os pais” (Professor B).

“Porque a maior parte do tempo a gente passa na escola, que é nosso meio ambiente

também” (Professor C).

“É necessário que os alunos entendam os problemas que o mundo está passando e

tenham oportunidade para refletirem criticamente sobre o papel deles diante de tudo

isso” (Professor D).

“A escola é o início de toda a formação cidadã e o tema ambiental é importante para

formar cidadãos conscientes” (Professor E).

“Primeiramente, conscientização de todos na escola, não só dos alunos, porque,

queira ou não, os professores também têm que conhecer a abordagem de meio

ambiente, facilitando assim não só a transferência de conhecimento, a auto

apropriação do que é meio ambiente e como nós estamos inseridos nele” (professor

F).

“É necessário a conscientização da preservação do meio em que vivemos,

lembrando que a abrangência é bem maior, como cultural e política” (Professor G).

“Fundamentar a consciência dos alunos em relação às temáticas do dia a dia, pois o

meio ambiente é um fator influenciador do seu bem-estar” (Professor H).

“Muito importante, pois temos que cuidar de onde vivemos, pois o homem é a

sociedade e precisa cuidar dela” (Professor I).

Os professores colocaram que é importante discutir Meio Ambiente na escola para

despertar os alunos para o cuidado com meio, para que os estudantes possam levar a discussão

para casa, para que possam refletir sobre seus papeis no mundo, porque a escola é o início de

toda formação cidadã, para a conscientização de todos que fazem a escola, porque o meio

ambiente influencia no bem-estar e também devemos cuidar do lugar em que vivemos, entre

outras razões, com intenção de que o jovem consiga se inserir socialmente e, dessa forma,

possa ser protagonista e divulgador ao assumir novos valores e atitudes que induzam ao

cuidado com o meio.

Os PCN entendem que o desenvolvimento da capacidade de inserção social, no

educando, o auxilia no comprometimento com questões relevantes da vida cotidiana, pois tem

como objetivo fazer com que os alunos se sintam parte de um grupo (comunidade, classe,

etc.) que tenham relevância para a vida coletiva. Contemplam também como princípios, entre

outros, o desenvolvimento de valores e atitudes, e compreendem que, a informação, sozinha,

não seria suficiente para alcançar tal objetivo (BRASIL, 1999b).

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Para Reigota (2009), a abordagem em EA que ainda é vista como transmissão de

conhecimento científico e conservação da natureza, necessita ser reformulada, pois tem que

levar em conta aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais para ser autenticamente

reconhecida como EA e não mais confundida com ecologia ou ciências biológicas.

Apêndice C, questão 19: os professores foram indagados sobre quais temáticas de

EA costumavam abordar mais em seus projetos ou aulas. As respostas são apresentadas a

seguir.

“Os temas que mais trabalho são: água, energia, efeito estufa e chuvas ácidas”

(Professor A).

“Até hoje só consegui falar sobre energias alternativas. Sei que é uma limitação

minha, mas acho que é devido minha afinidade com o assunto (Professor B).

“Falo sobre desastres ambientais, aquecimento global, efeito estufa, extinção de

espécies e desequilíbrio dos ecossistemas, claro que nem sempre vejo tudo, depende

do conteúdo e do andamento da aula, porque algumas vezes não dá tempo mesmo”

(Professor C).

“Na química, dá para diversificar bastante, vejo com eles a questão da água, dos

desequilíbrios que o homem causa no meio ambiente, do saneamento básico, da

poluição do ar, etc. Sempre dá para falar um pouquinho de algum desses temas em

cada série” (Professor D).

“Falo mais da energia, mas, já cheguei a falar também sobre água, aquecimento

global e efeito estufa, porque os próprios alunos as vezes perguntam e puxam o

assunto, mesmo sem ter muita relação com o conteúdo, mas a gente acaba

respondendo” (Professor E).

“Abordo mais a questão da água, do aquecimento global e do lixo” (Professor F).

“Água e poluição do ar são os temas que mais gosto de falar, por isso, quando tenho

oportunidade, cito como exemplo” (Professor G).

“Já abordei efeito estufa e energias renováveis. Em física, o conteúdo de energia dá

mais oportunidades para falar de meio ambiente” (Professor H).

“Abordo mais aquecimento global e lixo, pois acho que são questões importantes”

(Professor I).

Pelas respostas apresentadas, pode-se concluir que as temáticas ambientais mais

abordadas pelos professores da área de ciências da natureza são: água, aquecimento global,

efeito estufa e energia. Esses temas carregam relação com os conteúdos dados pelos

professores, mas também, são problemáticas bastante atuais.

6.3.4. Concepções dos professores sobre Educação Ambiental

Apêndice C, questão 20: Perguntou-se aos professores o que consideravam

necessário para desenvolver EA na escola. As respostas dadas, foram:

“Fazer parceria com professores de outras áreas para desenvolverem projetos

interdisciplinares” (Professor A).

“Oportunidade para reunir os colegas e ver quem estaria interessado em integrar um

projeto assim” (Professor B).

“Além do conhecimento teórico, a vontade e a parte financeira para desenvolver os

projetos e participar de cursos de capacitação” (professor C).

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“Que professores se reúnam com o núcleo gestor e tracem estratégias pedagógicas,

mesmo que cada um trabalhe dentro da sua disciplina, mas, que se complementem”

(Professor D).

“Precisa de mais apoio da gestão e talvez, projetos que possam ser colocados nessa

área ambiental para que mais alunos possam se envolver” (Professor E).

“Uma formação específica, pois, por alguns já terem muito tempo de formação e

como essa abordagem em EA é uma coisa relativamente nova, alguns ainda não têm

esse conhecimento que facilmente poderia ser difundido. Claro que a internet, jornal

e as mídias eletrônicas estão aí para isso, mas, a formação, a capacitação, seria mais

diretiva” (Professor F).

“É necessário vontade e incentivo do núcleo gestor para que o professor possa

desenvolver EA na escola” (Professor G).

“Contribuição do núcleo gestor, dos professores, dos pais de alunos para escola

parar suas atividades e dedicar-se exclusivamente a esse tema, mas, de modo

produtivo” (professor H).

“Elaborar estratégia com todos os professores para que os temas sejam abordados de

forma permanente” (Professor I).

Percebeu-se que os pontos mais mencionados pelos docentes, como necessários

para estabelecer EA em suas escolas, foram: a parceria com os professores de outras

disciplinas, o desenvolvimento de projetos, a capacitação dos professores e o apoio do núcleo

gestor.

De acordo com as DCNEM e os PCN, as temáticas ambientais devem ser

desenvolvidas através de uma abordagem interdisciplinar, dada a abrangência desses assuntos.

Os documentos também orientam para a realização de projetos pedagógicos com foco em EA

e os DCNEM citam a formação docente como um dos pontos a serem trabalhados. Essas

ideiassão complementadas pelos pesquisadores Lima e Alves (2016, p.45) ao defendem que:

“[...] Segundo a classificação do Censo Escolar, a EA no Brasil é aplicada através de três

modalidades principais: projetos; disciplinas especiais e inserção da temática ambiental nas

disciplinas”.

As respostas dos professores, portanto, estão de acordo com as orientações dos

documentos para que as temáticas ambientais sejam trabalhadas de forma interdisciplinar,

através de projetos pedagógicos e com foco na formação docente.

Apêndice C, questão 21: pediu-se aos professores para completarem a frase:

diante do meio ambiente me considero uma pessoa.... As respostas obtidas, foram:

“Responsável, pois sei que tenho que cumprir com o meu papel de contribuir para

uma sociedade sustentável” (Professor A).

“De certa forma, egoísta. Se fala tanto de questão ambiental, mas me prendo muito

apenas à energia renovável” (Professor B).

“Politicamente correta. Pois já cheguei até a catar lixo na praia durante um passeio”

(Professor C).

“Razoavelmente consciente” (Professor D).

“Regularmente educada, porque, a gente ainda utiliza de métodos que de qualquer

maneira agridem o ambiente” (Professor E).

“Interessada no assunto, mas, com muitas coisas para melhorar ainda” (Professor F).

“Pouco atuante” (Professor G).

“Organizado, pois procuro cuidar do meio em que vivo” (Professor H).

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“Realizada” (Professor I).

Conclui-se, pelas respostas apresentadas, que 33,33% dos entrevistados se

consideram entre razoavelmente conscientes e pouco atuantes, 55,56% se consideram

interessados, responsáveis e organizados, e apenas 11,11% se consideram egoístas pelo fato

de trabalharem sempre a mesma temática.

Apêndice C, questão 22: Indagou-se os professores se acreditam que podem

contribuir para a preservação ou conservação ambiental através de sua profissão. As respostas

obtidas, foram:

“Acredito que posso contribuir, porém, de forma não muito efetiva” (Professor A).

“Acho que posso dar uma contribuição significativa, no sentido de conscientizar os

estudantes” (Professor B).

“Sempre me esforcei para trabalhar todos os assuntos de maneira que os alunos

aprendam de forma significativa e, com as questões ambientais, não é diferente”

(Professor C).

“Eu creio que posso fazer um bom trabalho em relação à Educação Ambiental”

(Professor D).

“Faço o que posso, sei que ainda não trabalho da forma que deveria, por várias

razões, mas, estou me esforçando, porque, as condições como: tempo de aula, tempo

para planejamento, os conteúdos da própria disciplina e outros, não ajudam”

(Professor E).

“Tento, ao máximo, dar o melhor de mim nessas questões, pois acredito que a

contextualização dos conteúdos é muito importante. Sei que preciso fazer a

diferença na vida do aluno” (Professor F).

“Acho que posso contribuir bastante significativamente para a conservação

ambiental e que tudo começa em casa com nossa família, depois, com os alunos e

assim por diante” (Professor G).

“Acredito que ainda não consigo trabalhar efetivamente a conscientização para as

questões ambientais” (Professor H).

“Não tem aquela história da sementinha que foi plantada? Então, faço a minha parte,

estou jogando as sementes, mas não depende só de mim. Porém, “se o terreno

estiver fértil”, ou seja, na cabeça do aluno que tem interesse e vontade, colherei bons

frutos” (Professor I).

Pelas respostas apresentadas conclui-se que mais de cinquenta por cento dos

professores entrevistados acreditam que podem realizar um trabalho que contribua

significativamente para a conscientização/sensibilização ambiental dos discentes.

Apêndice C, questão 23: perguntou-se aos entrevistados de quem é a tarefa de

promover a conservação/preservação ambiental. As respostas revelaram que todos os

entrevistados reconheceram que é responsabilidade de todos: entidades governamentais, não

governamentais e cidadãos, promover a preservação ou conservação ambiental.

Apêndice C, questão 24: perguntou-se aos professores como avaliam a

contribuição de suas escolas para a conscientização/sensibilização ambiental de maneira

crítica e efetiva dos discentes. Um pouco mais da metade dos professores pesquisados

(66,67%) consideraram como razoável a contribuição de sua escola para o desenvolvimento

de EA. As respostas dos professores, foram:

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“Pouco significativa, pois não vejo professores e nem o núcleo gestor se

mobilizarem” (Professor A).

“Acredito que é razoável, mas ainda está longe de ser como deveria” (Professor B).

“Acho que é razoável, pois ainda vejo um professor ou outro se preocupando com as

questões” (Professor C).

“Os professores se esforçam, nadam contra a maré, mesmo com todas as

dificuldades. Por isso, considero como razoável, a contribuição da minha escola”

(Professor D).

“Acredito que de forma pouco significativa” (Professor E).

“Considero razoável porque, na medida do possível, todos os professores se

empenham em fazer alguma coisa” (Professor F).

“Procuro me esforçar e percebo a vontade e dedicação de muitos colegas, por isso,

considero razoável a contribuição de todos” (Professor G).

“Não vejo muito as coisas acontecerem na escola. Às vezes, é um trabalho ou outro

de um professor individualmente, por isso, acho que a escola não trabalha essas

questões de forma significativa” (Professor H).

“Acho que ainda está longe de ser como deveria, por isso, considero que a escola, de

uma forma geral, contribui de forma pouco significativa” (Professor I).

Apêndice C, questão 25: Perguntou-se aos docentes se os mesmos reconheciam

em suas vidas, no âmbito pessoal ou profissional, algum hábito, atividade, pensamento ou

ação que foi influenciado pela EA que tiveram na universidade ou na escola. As respostas

dadas, foram:

“O projeto que tinha na escola que estudei chamado “viver bem é melhor” de

cuidado e preservação do ambiente escolar. Tenho sempre isso em mente quando

estou na escola, por isso, sempre apago a luz quando dou a última aula do turno em

uma sala” (Professor A).

“O gosto por energias alternativas, mais precisamente, energia solar. Trabalho

sempre esse assunto em minhas aulas” (Professor B).

“Tenho quase um „transtorno obsessivo compulsivo‟ com desperdício de água”

(Professor C).

“Desde a época da faculdade adquiri o hábito de não jogar lixo na rua” (Professor

D).

“As aulas de reciclagem e compostagem que tive na universidade me influenciaram

muito” (Professor E).

“Principalmente a minha conscientização na parte de energias alternativas, pois meu

mestrado focou nessa área” (Professor F).

“Programas de geração de energia alternativa” (Professor G).

“O desenvolvimento do biogás, aula que tive na 7ª série” (Professor H).

“Não me lembro de nenhum” (Professor I).

Observou-se que a maioria dos professores se sentem atraídos por uma temática

ambiental sobre a qual já tiveram alguma aula, formação ou curso.

6.4 Dados pessoais e percepção dos alunos em relação à prática da Educação Ambiental

(APÊNDICE D)

Em cada uma das três escolas, foi investigada uma turma de estudantes do

segundo ano do ensino médio, que eram alunos dos três professores de ciências participantes

da pesquisa. Como instrumental de pesquisa, com os alunos, utilizou-se a aplicação de

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questionário. A quantidade de estudantes pesquisados, por turma, variou entre 31 e 37. Para a

análise dos resultados, decidiu-se por avaliar cada questão na mesma sequência em que as

perguntas foram colocadas no questionário. Dessa forma:

Apêndice D, questão 1: sobre o sexo dos alunos entrevistados. As respostas

compõem o gráfico 3 apresentado a seguir.

Gráfico 3 – Percentual de alunos, em cada escola, por gênero sexual

Fonte: Pesquisa direta

Constata-se, pelo gráfico, que mais de 50% dos estudantes pesquisados eram do

sexo masculino.

Apêndice D, questão 2: sobre a idade dos alunos entrevistados. Os resultados

compõem o gráfico 4, apresentado abaixo.

Gráfico 4 – Percentual de alunos, por faixa etária, em cada escola

Fonte: Dados da pesquisa

50,00%

63,64%

54,17%50,00%

36,36%

45,83%

Escola A Escola B Escola C

Masculino Feminino

68,18%

57,57%

88,00%

31,82%36,37%

12,00%

0,00%6,06%

0,00%

Escola A Escola B Escola C

16-17 anos 18-19 anos ≥ 20 anos

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Através dos resultados expostos no gráfico, pode-se concluir que, em cada uma

das turmas pesquisadas por escola, há predominância de jovens que estão na faixa etária

adequada para a série. Nas escolas A e B ainda havia aproximadamente um terço de alunos

fora de faixa,com idades entre dezoito e dezenove anos e, apenas a escola B apresentou um

pequeno percentual de alunos com idade entre vinte anos ou mais.

Apêndice D, questão 3: sobre o tempo em que o aluno estuda na escola. As

respostas compõem o gráfico 5 apresentado a seguir.

Gráfico 5 – Tempo de estudos dos alunos, em cada escola

Fonte: Dados da pesquisa

Observou-se que nas escolas B e C mais de 54% dos entrevistados estudam nessas

instituições há, aproximadamente, um ou dois anos. Esse fato mostra que os mesmos

começaram seus estudos nessas instituições somente a partir do ensino médio e que,

provavelmente, estão nessas escolas desde o primeiro ano. Na escola A, mais da metade dos

alunos pesquisados estudam nela entre três a quatro anos. Esse fato revela que os mesmos

devem estudar lá, pelos menos, desde o 9º ano e alguns podem estar desde o 8º ano, já que

essa escola a bem pouco tempo atrás, ofertava essa série do ensino fundamental. Na escola C

um percentual bem pequeno de estudantes está nessa instituição há cinco anos ou mais, isso se

deve ao fato de a escola B ter ofertado durante anos, muito mais turmas de ensino

fundamental que de Ensino Médio.

Apêndice D, questão 4: 89,9% dos alunos entrevistados nas três escolas,

afirmaram já ter participado de algum projeto de suas escolas voltados para a EA.

18,18%

57,58%60,00%

54,54%

18,18%

36,00%

27,28%

6,06%

0,00%

Escola A Escola B Escola C

1-2 anos 3-4 anos ≥ 5 anos

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99

Apêndice D, questão 5: Ainda sobre a participação dos alunos em projetos

voltados para a EA. Os alunos responderam a algumas questões sobre os projetos dos quais

participaram. Os resultados obtidos compõem as tabelas 7, 8 e 9, apresentadas a seguir.

Tabela 7 – Opinião dos alunos da Escola A sobre a realização de projetos de EA em sua

escola. ORGANIZAÇÃO DURAÇÃO TEMAS

EXPLORADOS

AULA

DE

CAMPO

PALESTRANTE APRESENTAÇÃO

DE TRABALHOS

CAMPANHA

EDUCATIVA

Núcleo gestor e

professores

1 semana Meio

ambiente e

reciclagem

Não Não Sim Sim

Professor de

Biologia

2 dias Reciclagem Não Não Não Não

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 8 – Opinião dos alunos da Escola B sobre a realização de projetos de EA em sua

escola ORGANIZAÇÃO DURAÇÃO TEMAS

EXPLORADOS

AULA

DE

CAMPO

PALESTRANTE APRESENTAÇÃO

DE TRABALHOS

CAMPANHA

EDUCATIVA

Professor de

Biologia

1 dia Fauna e flora do

Ceará

Sim Não Não Não

Professor de

Química

3 dias Sustentabilidade Não Não Sim

Sim

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 9 – Opinião dos alunos da Escola C sobre a realização de projetos de EA em sua

escola ORGANIZAÇÃO DURAÇÃO TEMAS

EXPLORADOS

AULA

DE

CAMPO

PALESTRANTE APRESENTAÇÃO

DE TRABALHOS

CAMPANHA

EDUCATIVA

Núcleo gestor e

professores

1 mês

Reciclagem e

cuidados com

o meio

ambiente

Não

Sim

Sim

Sim

Fonte: Dados da pesquisa.

Os PCN consideram importante o trabalho com projetos pelo fato de permitirem a

articulação entre diversas áreas do conhecimento, além de oportunizarem aos alunos a

produção de alguma atividade que favoreça sua atuação no meio, pois acreditam que é

importante estimular os educandos ao desenvolvimento de procedimentos elementares de

pesquisa, a fim de construírem, na prática, formas de sistematização da informação como, por

exemplo: medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de resultados. Os

PCN também sugerem, para o desenvolvimento do princípio democrático da participação, a

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100

atuação em situações de atividades que induzam os estudantes a opinarem, assumirem

responsabilidades, a resolverem problemas e conflitos e a refletirem sobre seus atos. Para isso,

acreditam que arealização de atividades como seminários, exposições de trabalhos e

organização de campanhas podem ser favoráveis. Avaliam também que o intercâmbio com

instituições e organizações como ONGs, postos de saúde e outros, possam trazer rica

contribuição para o desenvolvimento das temáticas (BRASIL, 1999b).

As DCNEM estimulam a reflexão crítica sobre a inserção da EA na formulação,

execução e avaliação de projetos educacionais. E admitem que cabe também aos sistemas e

instituições de ensino, desenvolverem debates e reflexões que favoreçam a efetivação da EA

no cotidiano escolar (BRASIL, 2012).

Entende-se, pelas orientações dos documentos, que a realização de atividades

como: aulas de campo, palestras, desenvolvimento de trabalhos e campanhas educativas,

podem constituir etapas importantes na execução de bons projetos com foco em EA. No

entanto, o que se conclui através da pesquisa com os alunos, é que os projetos realizados

ainda são muito incipientes, pois, em sua maioria, foram realizados por alguns professores de

forma isolada e, por isso, não obtiveram o caráter interdisciplinar que deveriam, além de não

incentivarem a realização de aulas de campo, como também não realizaram intercâmbio com

outros setores da sociedade através da visita de palestrantes e poucos focarem na realização de

trabalhos e no estabelecimento de campanhas educativas.

Apêndice D, questão 6: perguntou-se se os professores de ciências abordam temas

ambientais em suas aulas. As respostas compõem o gráfico 6 apresentado a seguir.

Gráfico 6 – Opinião dos alunos sobre a abordagem das temáticas

ambientais pelos professores de ciências

100%93,94%

88,00%

0,00%6,06%

12,00%

Escola A Escola B Escola C

Sim Não

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101

Fonte: Dados da pesquisa

Conclui-se que mais de 88% dos estudantes entrevistados, nas três escolas,

afirmaram que os professores de ciências costumam abordar temáticas ambientais em suas

aulas.

Apêndice D, questão 7: perguntou-se sobre qual das três disciplinas (Física,

Química ou Biologia) abordava mais as temáticas ambientais. Os resultados mostraram que

81,82% dos alunos da escola A; 90,91% dos alunos da escola B e 72,00% dos alunos da

escola C, consideraram a biologia.

Apêndice D, questão 8: Questionou-se os alunos sobre a forma como as

abordagens de temáticas ambientais são, geralmente, realizadas. Os resultados obtidos foram

expostos na tabela 10.

Tabela 10 – Formas como os professores mais abordam temáticas ambientais

Formas como os professores mais abordam temáticas

ambientais

Escola

A

Escola

B

Escola

C

Dando exemplo, dentro da explicação do conteúdo 63,64% 57,58% 41,67%

Discutindo o assunto e convocando a participação dos

alunos

36,36% 36,36% 41,67%

Em colaboração com professores de outras disciplinas 0,00% 0,00% 0,00%

Passando trabalho para os alunos 0,00% 6,06% 16,66%

Fonte: Dados da pesquisa

Conclui-se que, na opinião dos alunos, os professores geralmente abordam

temáticas ambientais através de explicações ou exemplos dentro dos próprios conteúdos e

através de discussões que convocam a participação dos mesmos. Poucos estimulam a

realização de trabalhos por parte dos estudantes, e nenhum deles busca trabalhar de forma

interdisciplinar, através de parceria com colegas professores de outras disciplinas. Esses dados

vão de encontro às respostas dos professores que afirmaram trabalharem de forma pontual, na

maioria das vezes através de exemplos dentro dos conteúdos das disciplinas, mas que

procuram estimular a participação dos alunos através de debates, questionamentos ou com

pedidos de exemplos dentro do cotidiano deles.

Apêndice D, questão 9: Perguntou-se aos alunos, qual disciplina menos aborda

temáticas ambientais. A grande maioria dos estudantes (100,00 % dos alunos entrevistados na

escola A, 72,73% dos entrevistados na escola B e 84,00% dos entrevistados na escola C),

afirmaram que é a disciplina de física. Essa resposta vai de encontro aos questionamentos

feitos aos professores desse componente curricular, pois os mesmos alegaram não encontrar

muita relação entre os conteúdos de suas disciplinas e as temáticas ambientais.

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102

Apêndice D, questão 10: Perguntou-se aos alunos se costumam acompanhar os

problemas ambientais através de revistas, jornais ou TV. As respostas a essa pergunta,

compõem o gráfico 7.

Gráfico 7 – Costume dos alunos em acompanhar os problemas ambientais

através de revistas, jornais, TV e outros.

Fonte: Dados da pesquisa

Conclui-se, através do gráfico, que mais de 45% dos estudantes afirmaram que,

pelo menos algumas vezes, já viram matérias sobre problemas ambientais através dos meios

de comunicação. Porém, aproximadamente um terço deles, disseram que raramente assistem

matérias desse tipo.

Apêndice D, questão 11: a maioria dos alunos (94,45% dos estudantes

entrevistados na escola A, 86,49% dos estudantes entrevistados na escola B e 92,00% dos

estudantes entrevistados na escola C) afirmaram ter interesse por temáticas ambientais.

Alguma justificativas colocadas por eles, foram:

ESCOLA A:

“Sim, porque está ligado ao nosso cotidiano” (aluno A).

“Sim, porque fazemos parte do meio ambiente e precisamos cuidar do que é nosso”

(aluno B).

“Sim, pois a poluição pode trazer grandes estragos ao meio ambiente” (Aluno C).

“Sim, pois assim o planeta tem uma maior perspectiva de tempo útil” (aluno D).

ESCOLA B:

“Sim, porque desperta o interesse dos alunos para ajudar a preservar o ambiente”

(aluno A).

“Sim, porque tudo o que a nossa geração está fazendo com a natureza vai afetar a

geração futura” (aluno B).

“Sim, porque é um assunto de interesse público e muito necessário” (aluno C). “Sim,

porque somente com o conhecimento é que podemos ajudar a evitar problemas

futuros” (aluno D).

ESCOLA C:

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Sempre Algumas vezes Raramente Nunca

Escola A Escola B Escola C

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103

“Sim, pois se isso não for resolvido, irá acarretar um problema maior” (aluno A).

“Sim, porque é algo importante e interessante” (aluno B).

“Sim, porque a saúde ambiental é uma preocupação e eu me sinto na obrigação de

cuidar do planeta que eu vivo e outras gerações irão viver” (aluno D).

Pelas considerações feitas, observa-se que a maioria dos alunos gosta de temáticas

ambientais, pois consideram assuntos importantes, interessantes, e que fazem parte do

cotidiano. Ponderam que o conhecimento é necessário para saber evitar problemas futuros e

reconhecem a necessidade de cuidarmos do ambiente que é nosso.

Apêndice D, questão 12: perguntou-se, aos estudantes, se acham importante que

os professores abordem rotineiramente esses assuntos. A grande maioria deles (95,45% dos

alunos entrevistados na escola A, 81,82% dos alunos entrevistados na escola B e 87,50% dos

alunos entrevistados na escola C) afirmaram que sim. Algumas colocações feitas pelos alunos,

foram:

ESCOLA A:

“Para que os alunos se conscientizem” (aluno D).

“Para explorar mais o assunto” (aluno E).

“É importante saber o que devemos fazer para melhorar o ambiente” (aluno F).

“Para orientar os alunos sobre a importância de cuidar do meio ambiente” (aluno G).

ESCOLA B:

“Porque teremos conhecimento para poder pôr em prática” (aluno D).

“Porque nos envolve nos assuntos tirando nossas dúvidas e nos ajudando a ter um

conhecimento mais amplo” (aluno E).

“Porque nos ajuda a ver com um olhar diferente ou até mesmo aprofundar o

assunto” (aluno F).

“Porque serve como uma forma de conscientizar os alunos” (aluno G).

ESCOLA C:

“Já que não vêm projetos de fora para a escola, os professores deveriam tirar aulas

para abordar o tema” (aluno C).

“Para que outros alunos possam conhecer mais sobre o assunto e,

consequentemente, contribuírem para a preservação e recuperação do meio

ambiente” (aluno E).

“Para abrir os olhos para a realidade e o perigo que corremos se não cuidarmos da

natureza (aluno F)”.

“É o nosso lar, o meio que vivemos, e é super importante para a nossa sobrevivência

na Terra” (aluno G).

Percebe-se que a grande maioria dos estudantes gostaria que as temáticas

ambientais fossem abordadas de uma forma mais rotineira para que os assuntos possam ser

mais explorados, para adquirirem mais conhecimentos que possam pôr em prática, para

ampliar o conhecimento e alertar sobre os perigos da realidade atual.

Apêndice D, questão 13: Indagou-se os alunos sobre o que acham da Educação

Ambiental. Algumas das respostas dadas, foram:

ESCOLA A:

“É interessante porque nos ajuda a entender o que está acontecendo com o

ambiente” (aluno F).

“A EA é importante para que a sociedade tenha consciência de seus atos perante a

natureza” (aluno H).

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104

“Um bem para todos, de muito interesse e que deveria ser mais visto na escola”

(aluno I).

“Muito boa. Temos que ser educados para também cuidarmos do ambiente em que

vivemos” (aluno J).

ESCOLA B:

“É uma ideia boa para passar conhecimento” (aluno D).

“Bastante legal. O mundo precisa de orientação, de pessoas que nos ajude a

vivermos melhor” (aluno E).

“Necessário, pois, sem informação, não temos como colocar em prática” (aluno G).

“Necessário para podermos saber cuidar do planeta” (aluno H).

ESCOLA C:

“Extremamente importante para informar e conscientizar as pessoas que não se

importam com o meio em que vivem” (aluno C).

“Seria bom que fosse um projeto para melhorar a vida das pessoas e a imagem da

escola” (aluno H).

“Uma forma das pessoas se conscientizarem de que o planeta pode acabar, pois os

recursos naturais estão se esgotando” (aluno I).

“Muito importante para uma vida melhor, não apenas para o ser humano, mas

também para todos os outros seres vivos” (aluno J).

Os estudantes consideraram, entre outras coisas, que a EA é importante porque

ajuda a entender as problemáticas atuais e serve para conscientizar as pessoas para

aprenderem a cuidar do ambiente e entenderem que os recursos naturais são finitos. Percebe-

se, pela fala dos alunos, que os mesmos, assim como os professores, não reconhecem as

questões de cunho econômico e socais, como também quaisquer outras questões relacionadas

com as temáticas, e que se limitam, também como os professores, a pensarem apenas em

conscientizar e preservar.

Apêndice D, questão 14: Perguntou-se, aos entrevistados, qual seria o papel da

escola em relação à EA. A opinião de alguns deles, foram:

ESCOLA A:

“O papel da escola é conscientizar os alunos para que tenham um conceito bem

regular sobre o ambiente em que estão” (aluno F). “Fazer com que os alunos se

preocupem com o meio ambiente” (aluno G). “De muita importância, até mesmo

para atrair a atenção dos alunos, pois o assunto é mais interessante que muitas

matérias” (aluno I). “Promover mais aulas e palestras para o aluno saber a

importância do ambiente em que vivemos” (aluno J).

ESCOLA B

“Muito importante, pois nos incentiva a proteger a natureza” (aluno B). “O papel da

escola é incentivar o conhecimento do assunto” (aluno D). “Ajudar a conscientizar

os alunos sobre suas obrigações com o meio ambiente” (aluno I). “É importante para

incentivar uma visão diferente por parte dos alunos” (aluno J).

ESCOLA C:

“Mostrar e incentivar os alunos a darem mais importância ao assunto e a agirem para

ajudar” (aluno F). “Desenvolver trabalhos para conscientizar os alunos que, para

vivermos bem, a gente tem que cuidar do meio ambiente” (aluno K). “Realizar

projetos onde os alunos pudessem aprender na prática, como uma plantação de

váriostipos de plantas, por exemplo” (aluno L). “Ajudar o aluno a mudar seu

pensamento e preservar o meio ambiente” (aluno M).

Os resultados mostraram, entre outras coisas, que os alunos consideram que em

relação à EA, a escola tem o papel de promover aulas e palestras, incentivar o conhecimento e

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105

a construção de uma visão diferente por parte dos alunos, desenvolver trabalhos de

conscientização e projetos com atividades práticas.

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106

7 DESCRIÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL

A Educação Ambiental constitui um dos temas sociais sugeridos pelos PCN para

serem trabalhados de forma transversal às disciplinas, sem constituir um componente

curricular específico, mas de forma a integrar as áreas convencionais de forma a estar presente

em todas elas. Os PCN e as DCNEM entendem que os temas transversais não devem

constituir novas disciplinas, pois consideram importante que ocorra a integração das diversas

áreas. Para isso, sugerem uma transformação da prática pedagógica através do trabalho com

projetos, pois acreditam que a articulação entre as diversas áreas do conhecimento pode dar

autonomia ao educando ao oportunizar que o mesmo produza alguma atividade que seja capaz

de favorecer sua atuação no meio em que vive.

Este capítulo tem a função de apresentar o Produto Educacional oriundo desta

pesquisa. O Produto Educacional é considerado uma produção técnica indispensável, exigida

pela CAPES para a conclusão dos Mestrados Profissionais em Ensino. Ele deve ter identidade

própria e deve ser implementado em sala de aula ou ambientes não formais ou informais de

ensino, visando a melhoria do ensino.

Duas das escolas pesquisadas, no presente trabalho, participam de um novo

projeto de organização curricular da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC),

implantado em 2012, tendo como objetivo desenvolver a pesquisa como princípio educativo.

Para isso, os estudantes recebem cinco aulas a mais durante a semana: uma de tecnologia da

informação (TIC) e quatro de desenvolvimento pessoal, social e pesquisa (DPSP). As aulas de

DPSP têm por objetivo desenvolver competências sócio emocionais nos estudantes e orientá-

los para a realização de pesquisas, pois consideram que esta, como princípio educativo, será

capaz de fazer com que os alunos adquiram autonomia intelectual. A aula de TIC tem o papel

de dar suporte às aulas de DPSP, pois orientam para o uso do editor de textos, a formatação de

trabalhos de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) e

ensinam a realizar pesquisa na internet. Em cada escola participante, os estudantes se dividem

em equipes, logo no início do ano e, cada uma delas, procura um professor ou funcionário da

sala de leitura ou secretaria, que possa orientá-las em seus trabalhos. No entanto, o que se

percebe é que muitos dos professores que orientam os trabalhos dos estudantes dessas escolas,

não entendem muito de pesquisa ou metodologia científica e, dessa forma, não têm condições

de desenvolver um bom trabalho com os estudantes. Pensando nisso e nas orientações dos

PCN e DCNEM, para que a EA seja trabalhada como projetos interdisciplinares, decidiu-se

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107

confeccionar, como Produto Educacional um Guia de Diretrizes para auxiliar os professores

no desenvolvimento de projetos pedagógicos de EA com alunos do Ensino Médio.

O Guia de Diretrizes para o desenvolvimento de Projetos de EA foi desenvolvido

da seguinte forma: na Parte I apresenta as orientações dos PCN e dos DCNEM para a

educação ambiental, tendo o intuito de apresentar ao professor, de forma resumida, as

principais orientações contidas nesses documentos para o desenvolvimento prático da EA. A

intenção é esclarecer aos docentes sobre a necessidade de realizar projetos interdisciplinares,

como também, lançarem mão de outras estratégias como aulas de campo, palestras e outras

mais, para o enriquecimento das temáticas trabalhadas.

A Parte II trata sobre o trabalho com projetos. Ela está dividida em dois capítulos,

o primeiro fala sobre a pedagogia de projetos, e o segundo, explica todas as etapas necessárias

à realização de uma pesquisa. Essa parte tem por objetivo fazer com que os docentes

compreendam a necessidade de trabalhar com projetos e conheçam as etapas e os caminhos

necessários à realização de uma boa pesquisa. Com isso, pretende-se munir os educadores de

subsídios capazes de fazê-los orientar bons trabalhos dos estudantes. Acredita-se que esses

conhecimentos também poderão ser úteis aos próprios educadores, caso queiram dar

prosseguimento a seus estudos através de algum curso de pós-graduação.

A Parte III traz sugestões de temáticas que podem ser utilizadas como temas

geradores em projetos interdisciplinares de EA. Ela encontra-se subdividida em capítulos e,

cada um deles fala um pouco sobre a necessidade da temática, apresentando uma experiência

com material de baixo custo, que pode ser realizada pelos professores juntamente com os

alunos, com o intuito de enriquecer um pouco mais as aulas e despertar a curiosidade dos

estudantes.

Espera-se que esse Produto Educacional direcione os profissionais da educação à

reflexão sobre a importância e necessidade de ações que divulguem mais a Educação

Ambiental e proporcione uma contribuição no processo de formação docente, como também

de ensino-aprendizagem.

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108

8 CONCLUSÃO

Para os PCN, o Meio Ambiente deve ser trabalhado de forma transversal aos

diversos componentes curriculares, através de um tratamento integrado entre as diferentes

áreas, com a orientação de que não constitua uma disciplina isolada, mas, que faça parte da

concepção, dos objetivos, dos conteúdos e das orientações didáticas de cada área. Com

flexibilidade para que cada sistema ou escola trabalhem essa temática de acordo com as

necessidades e especificidades de sua região, ou ainda, de cada unidade educacional.

Os PCN argumentam que a aplicação de projetos na escola, pode despertar os

jovens para um posicionamento em relação às questões sociais, pois possibilitam a

intervenção na realidade e auxiliam os docentes a não incorrerem no erro de abordarem

valores como simples conceitos, além da possibilidade de inclusão da temática sob a ótica dos

diversos componentes curriculares. A intenção é que o trabalho com essa temática auxilie na

aproximação entre os saberes científicos e cotidianos dos estudantes e, assim, colaborem para

o desenvolvimento de uma aprendizagem com mais significado, que induza a formação de

cidadãos conscientes capazes de desenvolverem valores e atitudes que os acompanharão por

toda sua vida escolar e social. Por isso, essa temática, assim como os demais temas

transversais, deve ser trabalhada durante toda a escolaridade porque, dessa forma,

possibilitará o aprofundamento das questões abordadas.

As DCNEM entendem a EA como um processo em construção, que geralmente é

trabalhado através de práticas reducionistas, fragmentadas e unilaterais em relação às

problemáticas, pois as temáticas são geralmente abordadas de forma despolitizada e ingênua.

Acreditam que para a construção de uma educação cidadã, crítica e participativa, os saberes

tradicionais, assim como os saberes científicos, devem ser valorizados para que possibilitem

uma tomada de decisão transformadora, que contribua para a construção de uma cidadania na

qual o homem compreenda o meio ambiente como espaço relacional e se perceba como parte

dessa teia. Estimulam a reflexão crítica sobre a realização de projetos educacionais com a

intenção de que a EA, não seja simplesmente distribuída entre os componentes curriculares.

E, com base na PNEA, considera que a EA também deve estar presente no currículo dos

cursos de formação de professores, em todos os níveis e disciplinas.

No presente estudo, os professores pesquisados consideram importante discutir

meio ambiente na escola, pois compreendem que este é um espaço destinado também à

formação da cidadania. Reconhecem o caráter interdisciplinar das questões ambientais

eacreditam que o trabalho com essas temáticas deve envolver toda a comunidade escolar

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109

(professores, funcionários e alunos), como também as famílias. Demonstraram interesse pelas

temáticas, mas, reconhecem que ainda não conseguem trabalhar de forma significativa essas

questões. E acreditam que é importante conscientizar os alunos para que os mesmos possam

ter uma mudança de hábitos e atitudes diante do meio ambiente.

A pesquisa mostrou que apenas 33,33% dos docentes conhecem as

recomendações contidas nos PCN e DCNEM, pois afirmaram que em algum momento já

consultaram esses documentos. No entanto, a maioria dos professores demonstrou

compreender muitas das orientações contidas nesses documentos para a EA. Contudo, ainda

trabalham de forma pontual e isolada, e abordam as temáticas quase sempre apenas como

exemplos dentro dos conteúdos de suas disciplinas, quando muito, procuram estabelecer um

pequeno debate onde os estudantes são incentivados a colorem suas experiências cotidianas.

A maioria dos alunos demonstrou interesse pelas temáticas ambientais pois

acreditam que é importante conhecer a fundo a necessidade de preservar o meio em que

vivem. Porém, os discentes têm participado apenas de pequenos projetos orientados por um

ou outro professor, que na maioria das vezes não incentivou a realização de trabalhos pelos

estudantes e, quando realizam campanhas educativas, o fazem por um curto espaço de tempo,

apenas como atos isolados.

Os professores também reconhecem a escassez de projetos desse tipo e, quando

indagados sobre a hipótese de estabelecerem um projeto com foco em EA em suas escolas, a

maioria afirma que convidaria apenas os professores da área de ciências da natureza ou, no

máximo, convidariam também os professores da área de ciências humanas, dessa forma,

desconsideram as contribuições que os professores dos demais componentes curriculares

poderiam dar.

Tanto os docentes como os alunos avaliam como fracas as abordagens dos

professores de ciências em EA. Segundo eles, essas se limitam apenas a exemplos dentro do

conteúdo ministrado ou a pequenos debates de poucos minutos para complementar a temática.

Os estudantes citam ainda a Biologia como a disciplina que mais trabalha essas

temáticas, e a Física, como a disciplina que menos aborda. Esse fato foi também reconhecido

pelos próprios docentes da disciplina Física, pois os mesmos ponderaram que sentem

dificuldades em relacionar os conteúdos de suas disciplinas com essas questões. A Química,

apesar de não abordar as temáticas ambientais tanto quanto a Biologia, foi a disciplina onde

os professores demonstram diversificar mais suas abordagens em relação a esses temas.

O trabalho concluiu que, apesar de conhecerem muitas das recomendações dos

contidas nos PCN e DCNEM para o desenvolvimento da EA, os professores realizam práticas

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110

isoladas e superficiais que, dessa forma, não estão de acordo com as recomendações sugeridas

nos documentos legais.

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111

REFERÊNCIAS

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escolas da região de Ribeirão Preto (SP): concepções orientadoras da prática docente e

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114

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS PESSOAIS E FORMAÇÃO

ACADÊMICA DOS PROFESSORES.

Prezado professor,

Este questionário faz parte de uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências e Matemática da UFC, com foco na Educação Ambiental. Ele tem como objetivo

conhecer as concepções e práticas docentes que envolvem a Educação Ambiental em

algumas escolas no Município de Fortaleza. Para isso, solicitamos contar com a sua

colaboração no preenchimento dos itens abaixo.

Agradecemos por sua colaboração!

Glauciane Camelo Pinho– Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFC

Profa. Dra. Maria MozarinaBeserra Almeida – Orientadora

1. Sexo:

a) Masculino

b) Feminino

2. Em que faixa etária você se encontra?

a) Entre 20 e 30 anos

b) Entre 30 e 40 anos

c) Entre 40 e 50 anos

d) Acima de 50 anos

3. Há quanto tempo leciona?

a) Menos de 5 anos.

b) Entre 5 e 10 anos.

c) Entre 10 e 20 anos.

d) Mais de 20 anos.

4. Qual disciplina você leciona?

a) Biologia

b) Física

c) Química

5. Em que séries, do Ensino Médio, você leciona? (Caso ensine em mais de uma, pode

marcar mais de uma opção).

a) Primeira

b) Segunda

c) Terceira

6. Qual sua formação acadêmica? ______________________________________

7. Qual a modalidade do curso?

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115

a) Licenciatura

b) Bacharelado

c) Licenciatura e bacharelado

8. Há quanto tempo se graduou?

a) Menos de 5 anos

b) Entre 5 e 10 anos

c) Entre 10 e 20 anos

d) A mais de 20 anos

9. Qual o tipo de vínculo você estabelece com a escola pública?

a) Sou professor(a) efetivo.

b) Sou professor(a) temporário.

10. Em quantas escolas da rede pública e/ou privada, você trabalha no momento?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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116

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIOS SOBRE FORMAÇÃO DOS DOCENTES NA

ÁREA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

1. Você já fez algum curso de Pós-Graduação?

a) Sim, especialização.

b) Sim, mestrado.

c) Sim, doutorado.

d) Não fiz nenhuma ainda.

2. Você possui alguma Pós-Graduação na área de Meio Ambiente ou Educação

Ambiental?

a) Sim

Qual? ________________________________________________

b) Não

3. Você já participou ou participa de algum curso de capacitação de professores com

foco na Educação Ambiental, presencial ou a distância?

a) Sim

b) Não

4. Caso a questão 14 seja afirmativa, responda:

a) Qual instituição o ofertou? ___________________________________________

b) Quanto tempo durou? _______________________________________________

c) Como você tomou conhecimento da existência desse curso?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

d) Por qual motivo resolveu fazê-lo?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

e) Você achou interessante o curso que fez?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

f) Foi ministrado de forma presencial, a distância ou semipresencial?

__________________________________________________________________

g) Esse curso afetou sua forma de pensar? Como?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

h) Essa Pós-Graduação ou Capacitação modificou sua forma de ensinar?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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117

5. Caso NÃO tenha feito nenhum curso de formação na área de Educação Ambiental,

responda:

a) Você não fez por não ter interesse no tema, por não ter tido oportunidade, ou por

falta de tempo para se dedicar?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Outro motivo: ______________________________________________________

b) Você acha que esses cursos de formação podem contribuir significativamente para

o trabalho docente? Justifique.

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

c) Você costuma praticar a auto formação, ou seja, pesquisa e aprofunda seus

conhecimentos em educação ambiental com a finalidade de melhorar e enriquecer

suas aulas?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

6. Durante seu curso de graduação, você cursou alguma disciplina obrigatória ou

opcional, da grade curricular, com foco em educação ambiental? Qual?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

7. No seu curso de licenciatura, nas disciplinas específicas da área de educação, em

algum momento foi discutida a necessidade de se trabalhar Educação Ambiental ou

formação cidadã na escola?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

8. Como você avalia a contribuição do seu curso universitário para a

conscientização/sensibilização ambiental de maneira crítica e efetiva dos discentes?

a) Nula

b) Pouco significativa

c) Razoável

d) Significativa

e) Muito significativa

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118

APÊNDICE C – ENTREVISTA SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA E

CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES A RESPEITO DE EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

● Sobre consulta aos PCN e DCEM e noção de transversalidade.

1. Você, em algum momento, já estudou ou realizou algum tipo de pesquisa nos PCN ou

DCEM, com a finalidade de aprimorar sua prática pedagógica?

2. Sabe explicar por que razão a educação ambiental é incluída nos PCN na parte

relacionada aos temas transversais?

3. Você acha que educação ambiental deveria ser ministrada como mais uma disciplina

específica do currículo? Justifique.

● Sobre o desenvolvimento de projetos pedagógicos com foco em Educação Ambiental.

4. Você já participou de algum projeto da escola voltado para a educação ambiental?

5. Caso a resposta 6 seja afirmativa, responda:

a) Foi um projeto de feira cultural ou foi um projeto pedagógico independente de

feira cultural?

b) O projeto foi lançado de forma extracurricular ou foi incluído nas atividades e

carga horária cotidiana dos alunos?

c) Envolveu professores de quais áreas/disciplinas?

d) Na preparação do projeto, os professores se reuniram para discutir quais temáticas

abordar, de que formar trabalhar e como avaliar os resultados do projeto?

e) O projeto envolveu todas as turmas da escola ou apenas parte delas?

f) Você lembra qual a duração do projeto?

g) Durante o projeto, os professores trouxeram profissionais de outros segmentos,

tipo ONGs, indústrias, outras instituições públicas, etc., para ministrar palestra aos

alunos? Sabe dizer quais?

h) Ocorreu alguma aula de campo, tipo visita a uma indústria ou universidade, por

exemplo? Em caso afirmativo, onde se deu a visita?

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119

i) Foi estabelecida na escola alguma campanha de conservação e preservação do

ambiente, que envolvesse os alunos em práticas relacionadas à educação

ambiental? Quais?

j) Como você avalia o envolvimento e a motivação dos professores nesse projeto?

k) Como você avalia o envolvimento e a motivação dos alunos nesse projeto?

6. Você considera importante a aplicação de projetos voltados para educação ambiental

na escola? Justifique.

7. Se você fosse montar um projeto de educação ambiental em sua escola:

a) Procuraria estabelecer parceria com os professores de quais disciplinas?

Justifique.

b) Qual seria o objetivo principal de seu projeto?

8. Como você avalia seus projetos ou abordagens em educação ambiental?

9. Seus alunos já tiveram a oportunidade de se auto avaliarem ou avaliarem os projetos

ou aulas que envolvam temáticas ambientais?

10. Em projetos ou nas aulas sobre temáticas ambientais, você estimula o diálogo, a

participação e a cooperação entre os estudantes? Justifique.

● Sobre a abordagem de temáticas ambientais em sala de aula.

11. Para você, qual a importância de se discutir educação ambiental na escola?

12. Você costuma utilizar os temas ambientais em suas aulas?

13. De que forma você costuma abordar as temáticas ambientais: como exemplos, com a

finalidade de contextualizar; procurando contextualizar; interligando com outras

disciplinas; procurando despertar nos alunos ou pouco de consciência ecológica e/ou

cidadão, ou outros?

14. Quais recursos você utiliza ou já utilizou para discutir temas ambientais em sala de

aula: reportagens de jornais e/ou revistas; vídeos ou textos da internet; exemplos de

práticas cotidianas, ou outros?

15. Até que ponto você acha que as temáticas ambientais estão relacionadas com alguns

conteúdos de sua disciplina?

16. Cite dois ou três conteúdos de sua disciplina, dos quais você acha de grande relevância

como âncora para se abordar alguma temática ambiental. Justifique.

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120

17. Quando aborda temáticas ambientais você costuma: focalizar mais nos temas

relacionados aos conteúdos da disciplina; dar ênfase a temas mais atuais; enfocar a

relação homem/natureza e sistema produtivo ou outros?

18. Qual a importância de se discutir meio ambiente na escola?

19. Quais temáticas de Educação Ambiental você costuma abordar mais em seus projetos

ou aulas?

● Concepções dos professores sobre Educação Ambiental.

20. O que é necessário ao professor (a) para que possa desenvolver Educação Ambiental

na escola?

21. Diante do meio ambiente me considero uma pessoa...

22. Você acredita que poderá contribuir para a preservação ou conservação do meio

ambiente através de sua profissão?

23. De quem é a tarefa de promover a preservação/conservação ambiental: dos órgãos e

entidades governamentais; das entidades não-governamentais; dos cidadãos; ou de

todos?

24. Você avalia a contribuição da sua escola, para a conscientização/sensibilização

ambiental de maneira crítica e efetiva dos discentes como: nula; pouco significativa;

razoável ou significativa? Justifique.

25. Você consegue reconhecer em sua vida, no âmbito pessoal ou profissional, algum

hábito, atividade, pensamento ou ação que foi influenciado pela Educação Ambiental

que teve na universidade ou na escola?Qual?

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121

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS E SUA

AVALIAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Prezado estudante,

Este questionário faz parte de uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências e Matemática da UFC, com foco na Educação Ambiental. Ele tem como objetivo

conhecer as concepções e práticas docentes que envolvem a Educação Ambiental em

algumas escolas no Município de Fortaleza. Para isso, solicitamos contar com a sua

colaboração no preenchimento dos itens abaixo.

Agradecemos por sua colaboração!

Glauciane Camelo Pinho– Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFC

Profa. Dra. Maria MozarinaBeserra Almeida – Orientadora

1. Sexo:

c) Masculino

d) Feminino

2. Qual a sua idade? __________

3. Em qual escola você estuda e há quanto tempo? _____________________

4. Você já participou de algum projeto de educação ambiental em sua escola?

a) Sim

b) Não

5. Caso já tenha participado de algum projeto, responda:

a) Quem o organizou?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

b) Quanto tempo durou?

__________________________________________________________________

c) Quais foram os temas explorados?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

d) Vocês receberam visita de alguém de fora da escola que veio ministrar palestra?

Você lembra qual o assunto da palestra?

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122

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

e) Vocês saíram da escola para visitar alguma indústria, universidade, ou empresa

relacionada com os temas abordados? Para onde foram?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

f) Vocês foram convidados a se envolverem no projeto apresentando alguma

pesquisa ou trabalho?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

g) Foi criada alguma campanha ambiental do tipo, limpeza e organização do

ambiente?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

6. Seus professores de ciências (Física, Química e Biologia) abordam temas ambientais

em suas aulas?

a) Sim

b) Não

7. Em caso positivo, em qual disciplina esses temas são mais abordados?

_____________________________________________________________________

8. Como eles fazem essa abordagem?

a) Dando exemplo, dentro da explicação do conteúdo.

b) Discutindo o assunto e convocando a participação dos alunos.

c) Em colaboração com professores de outras disciplinas.

d) Passando trabalhos para os alunos.

9. Em qual disciplina de ciências (Física, Química e Biologia) o professor abordou

menos as questões ambientais em 2015?

_______________________________________________________________

10. Você costuma acompanhar os problemas ambientais através de revistas, jornais ou

TV?

a) Sim, sempre

b) Sim, algumas vezes

c) Raramente

d) Nunca

11. Você sente interesse pelo assunto? Por que?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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123

12. Acha importante que os professores abordem rotineiramente esses assuntos?

a) Sim

b) Não

Por que?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

13. O que você acha da educação ambiental?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

14. Na sua opinião, qual o papel da escola em relação à educação ambiental?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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