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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

CURITIBA

2011

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

CURITIBA

2011

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Juliana Mocelin

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Medicina Veterinária da Faculdade de

Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do título de Médica Veterinária.

Professor Orientador: Prof. Dr. Uriel Cotarelli de

Andrade

Profissional Orientador: Prof. MSc Gisele Ludwig

Tesserolli

CURITIBA

2011

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Reitor

Prof° Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitoria Acadêmica

Profª Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação

Sr. Afonso Celso Rangel Santos

Pró-Reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão

Prof° Roberval Eloy Pereira

Secretário Geral

Prof° João Henrique Faryniuk

Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária

Profª Ana Laura Angeli

Coordenadora de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Profª Elza Maria Galvão Ciffoni

Metodologia Científica

Prof° Jair Mendes Marques

CAMPUS PROF. SIDNEY LIMA SANTOS Rua Sidney A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio CEP: 82010-330 – Curitiba – Paraná Telefone: 3331-7700

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TERMO DE APROVAÇÃO

Juliana Mocelin

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.)

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título de Médica Veterinária por uma banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 10 de junho de 2011

________________________

Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________

Orientador: Prof° Dr. Uriel Cotarelli de Andrade

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________

Profª MSc. Gisele Ludwig Tesserolli

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________

Profª MSc. Marúcia de Andrade Cruz

Universidade Tuiuti do Paraná

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APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.), apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, Campus Barigui, pela discente Juliana Mocelin, como

requisito parcial para a obtenção de título de Médica Veterinária, é composto de

Relatório de Estágio, onde são descritas as atividades realizadas durante o período

de 28 de fevereiro à 09 de maio de 2011 na Clínica Escola de Medicina Veterinária

(CEMV) da Universidade Tuiuti do Paraná, localizado na cidade de Curitiba-PR e

descrição de um caso clínico de leptospirose em cão e sua revisão bibliográfica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, saúde e proteção.

Agradeço aos meus pais, que nos momentos de minha ausência, dedicados

aos estudos, sempre fizeram entender que o futuro, é feito a partir da constante

dedicação no presente!

Ao meu professor e orientador Dr. Uriel Cotarelli de Andrade e a professora

Gisele Ludwig Tesserolli minha orientadora profissional, pela sua paciência e

dedicação, assim como os demais professores, aos quais, sem nominar terão meu

eterno agradecimento.

Aos funcionários e colegas da Clínica Escola de Medicina Veterinária da

Universidade Tuiuti do Paraná, que auxiliaram ao longo do período de estágio e

colaboraram com meu crescimento profissional, meus sinceros agradecimentos.

A todos que de uma forma ou de outra colaboraram com o desenvolvimento

deste trabalho, ou mesmo que incentivaram sua continuidade nos momentos em que

parecia não mais haver condições para tal.

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RESUMO

O estágio curricular foi realizado na Clínica Escola de Medicina Veterinária

da Universidade Tuiuti do Paraná no período de 28 de fevereiro de 2011 a 09 de

maio de 2011, totalizando 368 horas. Foi possível acompanhar a realização de

exames laboratoriais (hematologia, bioquímica sanguínea e urinálise) provenientes

dos atendimentos da CEMV, bem como a rotina de atendimento clínico da CEMV.

Dessa forma, um caso clínico de leptospirose em um paciente canino foi escolhido

para descrição e revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Leptospira, soroaglutinação microscópica, caninos.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – RECEPÇÃO DA CEMV-UTP, 2011....................................................19

FIGURA 02 – AMBULATÓRIO DA CEMV-UTP, 2011..............................................19

FIGURA 03 – SALA DE EMERGÊNCIAS DA CEMV-UTP, 2011..............................20

FIGURA 04 – LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP, 2011...20

FIGURA 05 – FARMÁCIA DA CEMV-UTP, 2011......................................................21

FIGURA 06 – CONTADOR HEMATOLÓGICO MODELO CC 550 COM DILUIDOR

DO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP, 2011....................21

FIGURA 07 – MICROHEMATÓCRITO COM PLASMA ICTÉRICO - 2011................29

FIGURA 08 – MUCOSA OCULAR ICTÉRICA...........................................................30

FIGURA 09 – MUCOSA ORAL ICTÉRICA.................................................................30

FIGURA 10 – MICROSCOPIA DE CAMPO ESCURO DA Leptospira spp................32

FIGURA 11 – PLACA DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA - 2011.............35

FIGURA 12 – TESTE DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA (SAM)

NEGATIVO 1:100.......................................................................................................35

FIGURA 13 – TESTE DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA (SAM)

POSITIVO 1:360.........................................................................................................35

FIGURA 14 – FÍGADO DE UM CÃO COM LEPTOSPIROSE APRESENTANDO

NECROSE HEPÁTICA MULTIFOCAL ASSOCIADA COM ASPECTO MANCHADO

DO ÓRGÃO................................................................................................................36

FIGURA 15 – RINS DE CÃO COM LEPTOSPIROSE APRESENTANDO NECROSE

RENAL E NEFRITE INTERSTICIAL MULTIFOCAL ASSOCIADOS A ASPECTO

MANCHADO DO PARÊNQUIMA RENAL..................................................................37

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FIGURA 16 – DISTRIBUIÇÃO DA LEPTOSPIROSE ENTRE JANEIRO E JUNHO DE

2010.................................................................................................................................40

FIGURA 17 – BELINHA – 2011..................................................................................41

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 - NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS REALIZADOS NO

LABORATÓRIO DA PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP DURANTE O PERÍODO

DE ESTÁGIO DE ACORDO COM A ESPÉCIE ANIMAL – 2011...............................22

GRÁFICO 02 - NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS (HEMOGRAMA,

BIOQUÍMICA, URINÁLISE, PESQUISA DE HEMATOZOÁRIOS) REALIZADOS NO

LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP DURANTE O PERÍODO

DE ESTÁGIO – 2011..................................................................................................23

GRÁFICO 03 - NÚMERO DE EXAMES BIOQUÍMICOS SANGUÍNEOS

REALIZADOS NO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP

DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO DE ACORDO COM O TIPO DE TESTE –

2011............................................................................................................................23

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – HOSPEDEIROS DE MANUTENÇÃO E HOSPEDEIROS

INCIDENTAIS PARA SOROVARIEDADES IMPORTANTES DE Leptospira

interrogans..................................................................................................................26

TABELA 02 – PESQUISA DE HEMATOZOÁRIOS 26 fev. 2011...............................42

TABELA 03 – CONTAGEM DE RETICULÓCITOS 26 fev. 2011...............................42

TABELA 04 – HEMOGRAMA – ERITROGRAMA 26 fev. 2011.................................43

TABELA 05 – HEMOGRAMA – LEUCOGRAMA 26 fev. 2011..................................44

TABELA 06 – BIOQUÍMICA 26 fev. 2011..................................................................45

TABELA 07 – BIOQUÍMICA 28 fev.2011..................................................................46

TABELA 08 – RESULTADO DA SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA PARA

Leptospira interrogans 28 fev. 2011...........................................................................47

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LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS

ALT/TGP: alanina aminotransferase/ transaminase glutâmico pirúvica

AST/TGO: aspartato aminotransferase/ transaminase glutâmico oxalacética

BID: duas vezes ao dia

CEMV-UTP: Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná

C.H.C.M: concentração de hemoglobina corpuscular média

dL: decilitros

DNNE: desvio nuclear dos neutrófilos à esquerda

FA: fosfatase alcalina

fL: fentolitros

g/dL: grama por decilitro

H.C.M: hemoglobina corpuscular média

Kg: quilograma

L. : Leptospira

MAT: aglutinação microscópica

mm³: milímetros cúbicos

mg/dL: miligrama por decilitro

pg: picograma

pH: potencial hidrogeniônico

SAM: soroaglutinação microscópica

SID: uma vez ao dia

V.C.M: volume corpuscular médio

UI/L: unidade internacional por litro

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μM: micromolar

μL: microlitro

%: por cento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................16

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO................................................................17

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...........................................................................21

4 LEPTOSPIROSE.....................................................................................................22

4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................24

4.1.2 História..............................................................................................................24

4.1.2 Etiologia.............................................................................................................24

4.1.3 Epidemiologia....................................................................................................25

4.1.4 Espécies de Leptospira.....................................................................................26

4.1.5 Prevalência........................................................................................................26

4.1.6 Patogenicidade..................................................................................................28

4.1.7 Características da doença.................................................................................29

4.1.8 Habitat usual......................................................................................................31

4.1.9 Alterações em exames laboratoriais.................................................................32

4.1.10 Necropsia........................................................................................................36

4.1.11 Transmissão....................................................................................................37

4.1.12 Tratamento......................................................................................................37

4.1.13 Vacina..............................................................................................................38

4.1.14 Prevenção.......................................................................................................39

2.1.15 Saúde pública..................................................................................................39

5 RELATO DE CASO................................................................................................41

6 CONCLUSÃO.........................................................................................................48

7 REFERÊNCIAS.......................................................................................................49

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ANEXO.......................................................................................................................54

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16

1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso refere-se ao estágio realizado

na Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná (CEMV-

UTP), no período de 28 de fevereiro de 2011 a 09 de maio de 2011.

O estágio curricular obrigatório foi realizado no Laboratório de Patologia

Clínica onde foi possível acompanhar o uso de equipamentos laboratoriais e a

realização de exames hematológicos (hemograma, pesquisa de hematozoários),

bioquímicos e urinálise. Também foi possível acompanhar os atendimentos clínicos

da CEMV-UTP cumprindo um total de 368 horas.

A orientação profissional foi feita pela Médica Veterinária Prof. MSc Gisele

Ludwig Tesserolli com a supervisão acadêmica pelo Médico Veterinário Prof. Dr.

Uriel Cotarelli de Andrade.

Neste trabalho estão descritos o local de estágio, a casuística acompanhada

durante o período, e um caso clínico de leptospirose em um paciente canino e a

revisão bibliográfica desta enfermidade.

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2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná

está localizada na Rua Professor Sydnei Antônio Rangel Santos, 238, no bairro

Santo Inácio em Curitiba - PR. Seu horário de funcionamento é das 8 horas às 18

horas de segunda-feira à sexta-feira.

Sua equipe clínica é composta por sete médicos veterinários docentes da

instituição, médicos veterinários terceirizados especialistas, e cinco médicos

veterinários do programa de aperfeiçoamento.

A estrutura física é composta por recepção (Figura 01), sanitário feminino e

masculino, quatro ambulatórios (Figura 02) sendo um para gatos domésticos e outro

para exames de oftalmologia e dermatologia, sala de emergências (Figura 03), sala

de procedimentos, sala depôs operatório, sala de residentes, laboratório de

microbiologia veterinária, laboratório de histopatologia veterinária, laboratório de

patologia clínica (Figura 04), centro cirúrgico, sala de técnica cirúrgica, farmácia

(Figura 05) e diagnóstico por imagem (ultrassonografia e radiologia).

Os equipamentos do laboratório de Patologia Clínica da CEMV são:

a) Homogeneizador de sangue (Phoenix AP 22 ®) com capacidade para 22 tubos.

b) Analisador semi-automático (Celm SB 190 ®) para bioquímica sanguínea. É um

sistema aberto com programação de até 50 técnicas, executa reações

colorimétricas e cinéticas.

c) Contador Hematológico (Celm CC 550 ®) com diluidor (Figura 06). É um contador

de células sanguíneas (eritrócitos e leucócitos) e dosagem de hemoglobina.

d) Microscópio binocular (L-2000 A ®). Contem 7 unidades.

e) Centrífuga para tubos (Fanem ®). Capacidade para 8 tubos, com rotação de

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1 000 a 10 000 rpm.

f) Centrífuga para microhematócrito (Quimis ®). Capacidade para 24 tubos de

microhematócrito, a rotação é fixa, o tempo variável de 1 a 10 minutos. A leitura é

realizada em cartela que acompanha a centrífuga.

g) Banho-maria (Quimis ®). Variação de temperatura entre 30 e 110 graus Celsius.

h) Micropipetas, ponteiras, vidrarias ( tubos de ensaio, lâminas, lamínulas, pipetas).

i) Refrigerador ( Brastemp ®) para os kits bioquímicos que necessitam estocagem na

temperatura de 2 a 8 graus Celsius ( triglicerídeos, colesterol, glicose, albumina,

alanina aminotransferase/transaminase glutâmico pirúvica (ALT/TGP), aspartato

aminotransferase/transaminase glutâmico oxalacética (AST/TGO), cálcio, gama

glutanil transferase, fosfatase alcalina (FA), fósforo).

Os seguintes exames são realizados no laboratório de patologia clínica da

CEMV-UTP: hemograma, pesquisa de hematozoários, urinálise, albumina, ALT/TGP,

AST/TGO, cálcio, colesterol, creatinina, FA, fósforo, glicose, proteínas totais e

triglicerídeos.

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FIGURA 01 – RECEPÇÃO DA CEMV-UTP, 2011

FIGURA 02 – AMBULATÓRIO DA CEMV-UTP, 2011

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20

FIGURA 03 – SALA DE EMERGÊNCIAS DA CEMV-UTP, 2011

FIGURA 04 – LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP, 2011

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21

FIGURA 05 – FARMÁCIA DA CEMV-UTP, 2011

FIGURA 06 – CONTADOR HEMATOLÓGICO (CC 550) COM DILUIDOR DO

LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP, 2011

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22

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

A principal atividade desenvolvida durante o estágio foi o acompanhamento

da rotina de exames laboratoriais (hematologia, bioquímica sanguínea e urinálise)

provenientes dos atendimentos clínicos da CEMV-UTP.

GRÁFICO 01 - NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS REALIZADOS NO LABORATÓRIO DA PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP DURANTE O PERÍODO

DE ESTÁGIO DE ACORDO COM A ESPÉCIE ANIMAL – 2011

113

15

1

0

20

40

60

80

100

120

Canina

Felina

Bovina

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GRÁFICO 02 - NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS (HEMOGRAMA,

BIOQUÍMICA, URINÁLISE, PESQUISA DE HEMATOZOÁRIOS) REALIZADOS NO

LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP DURANTE O PERÍODO

DE ESTÁGIO – 2011

129

102

4 4

0

20

40

60

80

100

120

140

Hemograma

Bioquímica

Urinálise

Pesquisa de

Hematozoário

GRÁFICO 03 - NÚMERO DE EXAMES BIOQUÍMICOS SANGUÍNEOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA DA CEMV-UTP

DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO DE ACORDO COM O TIPO DE TESTE – 2011

119

112

103

67

16

3 2 2 1 1 1 1

0

20

40

60

80

100

120 Creatinina

ALT

FA

Albumina

Proteínas Totais

Glicose

GGT

AST

Fósforo

Colesterol

Triglicerídeos

Cálcio

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24

4 LEPTOSPIROSE

4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1.1 História

De acordo com Biazotti (2006) em 1866 Weil descreveu uma enfermidade no

homem caracterizada por febre, icterícia e hemorragias, com comprometimento

hepático e renal. Trinta anos depois pesquisadores japoneses aventuraram a

hipótese de tratar-se de enfermidade causada pela Leptospira (L.) interrogans

sorovar icterohaemorrhagiae. No Brasil os primeiros a estudarem a enfermidade

foram Darcoso Filho em 1940 e Azevedo em 1945.

4.1.2 Etiologia

A leptospirose, uma doença de importância mundial em muitos animais, é

causada pela infecção com sorotipos antigenicamente distintos da bactéria

espiroqueta móvel Leptospira interrogans (ETTINGER & FELDMAN, 2004).

Membros dessa espécie (leptospiras) são bactérias helicoidais móveis 0,1 x

6 a 12 micromolar (μM) com extremidades em forma de gancho. Embora Gram-

negativos citoquimicamente, eles não se coram bem com corantes bacteriológicos

convencionais e em geral são visualizados usando-se microscópio de campo escuro

(QUINN et al, 2005). De acordo com Tortora et al (2008), assim como outras

espécies de espiroquetas, L. interrogans é assim chamada pois as extremidades

curvas sugerem um ponto de interrogação.

As leptospiras são móveis e facilmente visualizadas por microscopia de

campo escuro em preparações a fresco, observadas por contraste de fase ou por

técnicas de impregnação pela prata, e ainda imunofluorescência e imunoperoxidase.

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25

Não são coradas pelo método de Gram, e pelas dimensões reduzidas, não são

visualizadas por microscopia óptica convencional (TRABULSI & ALTERTHUM,

2008).

Segundo Bichard & Sherding (2008) são bactérias espiroquetas móveis

filamentosas que infectam vários animais selvagens e domésticos, assim como

seres humanos. Há descrição de mais de 200 sorovares de Leptospira. Uma

característica universal dos sorovares patogênicos é a capacidade de colonizar os

túbulos renais proximais, resultando em um portador renal crônico, com excreção de

bactérias na urina durante meses a anos após a infecção.

A partir de 2005 esta enfermidade tornou-se de notificação obrigatória

(WAHID Interface 2010. Acesso em 21 jun. 2011).

4.1.3 Epidemiologia

De acordo com Quinn et al (2005) as leptospiras são encontradas no mundo

todo, porém algumas sorovariedades parecem ter uma distribuição geográfica

limitada. Além disso, muitas sorovariedades estão associadas a uma espécie

particular de hospedeiro, seu hospedeiro de manutenção. Nesses hospedeiros de

manutenção altamente susceptíveis, a doença é com frequência moderada ou

subclínica e seguida por excreção prolongada de leptospiras na urina. Os

hospedeiros de manutenção são as principais fontes de contaminação ambiental e

de transmissão natural para outras espécies animais, denominadas hospedeiros

incidentais (Tabela 01). As espécies de hospedeiros incidentais desenvolvem

doença severa e são transmissores ineficientes para outros animais.

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26

TABELA 01 – HOSPEDEIROS DE MANUTENÇÃO E HOSPEDEIROS INCIDENTAIS PARA SOROVARIEDADES IMPORTANTES DE Leptospira

Interrogans

Sorovariedade Hospedeiros de manutenção

Hospedeiros incidentais

bratislava Suínos, porco-espinho

Equinos, cães

canicola Cães

Suínos, bovinos

grippotyphosa Roedores Bovinos, suínos, equinos, cães

hardjo Bovinos (ovinos

ocasionalmente)

Humanos

icterohaemorrhagiae Rato marrom

Ovinos, equinos, cães

pomona Suínos, bovinos Ovinos, equinos, cães FONTE: QUINN, 2005.

4.1.4 Espécies de Leptospira

Atualmente, L. borgpetersenii, L. fainei, L. inadai, L. interrogans, L.

kirschneri, L. meyeri, L. noguchii, L. santarosai e L. weilii são reconhecidas como

espécies patogênicas. Uma nova espécie, L. alexanderi, tem sido descrita

recentemente, mas sua patogenicidade é incerta. Mais de 250 sorovariedades em

23 sorogrupos estão agora definidas. Sorovariedades com antígenos em comum

pertencem ao mesmo sorogrupo (QUINN et al, 2005). Pelo menos duas espécies

pertencem ao grupo das leptospiras não patogênicas: L. biflexa e L. wolbachi

(TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).

4.1.5 Prevalência

Leptospirose canina parece ser uma doença reemergente com maior

prevalência, envolvendo especialmente os sorovares L. grippotyphosa e L. pomona.

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Cães de grande porte, machos, de meia-idade e criados em ambientes externos, em

áreas periurbanas, são mais comumente acometidos. No entanto todos os cães

podem se infectar. A prevalência é mais elevada no final do verão e inicio de outono.

A taxa de infecção aumenta após períodos de chuva e inundação (BIRCHARD &

SHERDING, 2008). Para Nelson & Couto (2006) o número de casos diagnosticados

em cães tem aumentado desde 1983. A urbanização e mudanças sociais da

população humana nas últimas décadas favoreceram o aumento da população

canina nos países em desenvolvimento. Esse aumento, associado com as relações

sentimentais do homem com o cão, tem implicações em saúde pública, pois o

animal pode ser responsável pela transmissão de várias zoonoses, dentre elas a

leptospirose (BATISTA et al, 2004).

A prevalência de leptospirose em cães varia consideravelmente entre áreas

e entre países, sendo mais elevada em regiões tropicais. Os sorovares mais

comumente associados e conhecidos da leptospirose canina clássica são

icterohaemorrahagiae e canicola (BLAZIUS et al, 2005).

O sorovar copenhageni tem como hospedeiros de manutenção os roedores

sinantrópicos, particularmente a ratazana (Rattus novergicus). Em estudo realizado

no Zoológico de Aracaju-SE, os exames para leptospirose encontraram reações

para o sorovar copenhageni em macaco-prego, macaco-prego-peito-amarelo,

raposas e guaxinins; os autores sugeriram a presença de ratazanas como possíveis

reservatórios para os animais do zoológico (PIMENTEL et al, 2009).

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28

4.1.6 Patogenicidade

A patogenicidade das leptospiras está relacionada à virulência da

sorovariedade infectante e à suscetibilidade das espécies de hospedeiros (QUINN et

al, 2005).

De acordo com Bichard & Sherding (2008) a Leptospira infecta

preferencialmente epitélio do túbulo renal, causando comumente lesão tubular

aguda e insuficiência renal. Colonização renal e excreção na urina são prolongadas,

ocorrendo meses a anos após a recuperação clínica. Leptospira pode lesionar

células hepáticas, resultando em disfunção de hepatócitos, colestase, necrose

hepática aguda, icterícia, fibrose hepática. Tipicamente, a infecção é subclínica em

cães vacinados (imunes) e em quase todos os felinos.

Segundo Cordeiro et al (1996) apesar de os felinos terem sintomatologia

mínima de leptospirose, o risco em saúde pública não deve ser desprezado. A

infecção de leptospiras em felinos é uma situação reconhecida, tendo em vista os

achados sorológicos obtidos em todo o mundo e referidos por diferentes autores. Os

autores ainda salientam que os felinos podem permanecer portadores por períodos

de até oito semanas, o que pode tornar possível a transmissão a outros

hospedeiros.

Quinn et al (2005) citam que embora a doença possa ser severa em

hospedeiros de manutenção, doença grave ocorre mais comumente em hospedeiros

incidentais. Nas infecções caninas incidentais devido a sorovariedades diferentes de

icterohaemorrhagiae e copenhageni, geralmente predominam sinais clínicos de

envolvimento renal (BIRCHARD & SHERDING, 2008).

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4.1.7 Características da doença

Segundo Pelczar Jr. et al (1996) as espiroquetas multiplicam-se inicialmente

na corrente sanguínea e são carreadas a todas as partes do organismo, causando

sinais semelhantes aos da gripe, e icterícia. Os microorganismos eventualmente

localizam-se nos rins e podem causar deficiência renal.

Ettinger & Feldman (2004) explicam que a icterícia caracteriza-se pelo

acúmulo de bilirrubina no plasma (Figura 07) nos tecidos, pele e mucosas (Figuras

08 e 09). Em caninos e felinos sadios, as concentrações plasmáticas encontram-se

abaixo de 0,4 miligramas por decilitro (mg/dL) e em geral, a icterícia torna-se

evidente quando o teor do pigmento excede a 2mg/dL. Desse modo, apenas um

quadro de hiperbilirrubinemia grave é clinicamente detectável.

FIGURA 07 – MICROHEMATÓCRITO COM PLASMA ICTÉRICO - 2011

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FIGURA 08 –MUCOSA OCULAR ICTÉRICA

FONTE: BIAZOTTI, 2006.

FIGURA 09 – MUCOSA ORAL ICTÉRICA

FONTE: http://www.fmv.utl.pt/atlas/digest/paginas_pt/digest_015.htm Acesso em: 20 abr.

2011.

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4.1.8 Habitat usual

As leptospiras podem sobreviver em lagoas, rios, superfícies d’ água, solos

úmidos e lamas quando as temperaturas ambientais são altas. As leptospiras

patogênicas podem persistir nos túbulos renais ou no trato genital de animais

(QUINN et al, 2005). A temperatura ambiente ótima para sobrevivência e replicação

da leptospira é entre 0 e 25 Graus Celsius, no solo o ideal é a permanência em

potencial hidrogeniônico (pH) neutro ou levemente ácido. As leptospiras são

bastante sensíveis à luz solar direta, aos anti-sépticos e aos desinfectantes comuns.

O período de sobrevivência na água varia segundo a temperatura, o pH, a

salinidade e o grau de poluição (BIAZOTTI, 2006).

4.1.9 Alterações em exames laboratoriais

O diagnóstico laboratorial de leptospirose requer que sejam tomadas

precauções para proteger seres humanos da infecção e otimizar o isolamento de

microorganismos tão frágeis (CARLTON & McGAVIN, 1998).

A seguir estão descritos alguns achados laboratoriais em casos de

leptospirose canina:

a) Hemograma Completo

Leucopenia pode ocorrer em uma resposta inicial à leptospirose. Em casos

graves pode ocorrer coagulação intravascular disseminada com trombocitopenia

(BIRCHARD & SHERDING, 2008).

Segundo Ettinger & Feldman (2004) os achados hematológicos em casos

típicos de leptospirose canina incluem leucocitose neutrofílica com desvio nuclear

dos neutrófilos à esquerda (DNNE) e trombocitopenia.

b) Urinálise

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Podem estar presentes proteinúria, cilindrúria, bilirrubinúria, glicosúria e

isostenúria. Microscopia de campo escuro de urina (Figura 10) não é confiável e,

portanto, não recomendada (BIRCHARD & SHERDING, 2008). Segundo Quinn et al

(2005) microorganismos podem ser detectados na urina fresca por microscopia de

campo escuro, mas essa técnica é relativamente insensível.

FIGURA 10 – MICROSCOPIA DE CAMPO ESCURO DA Leptospira spp.

FONTE: LOPES, 2008.

c) Perfil Bioquímico Sérico

Pode-se observar azotemia (aumento da uréia sanguínea e do teor sérico de

creatinina e fósforo). Pode ocorrer aumento da atividade de enzimas hepáticas

(alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina) e do teor

sérico de bilirrubina. Aumento da atividade sérica de creatinina cinase ocorrerá em

casos com miopatia. Anormalidades de eletrólitos refletem efeitos renais e

gastrintestinais (BIRCHARD & SHERDING, 2008).

De acordo com Freire (2008) o comprometimento renal evidenciado pelo

aumento nos níveis séricos de uréia e creatinina é achado frequentemente nos

casos de leptospirose canina aguda. A uréia e creatinina são amplamente utilizadas

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como indicadores de filtração glomerular. Acredita-se que o quadro de azotemia

observado nos animais teria ocorrido principalmente em decorrência de redução da

perfusão renal por lesões isquêmicas no parênquima do órgão e diminuição da taxa

de filtração glomerular associadas à destruição das células do epitélio renal por

toxinas e componentes da membrana das leptospiras.

d) Imagem Diagnóstica

O tamanho do rim pode estar normal ou aumentado. A imagem obtida por

ultrassonografia mostra aumento da ecogenicidade cortical dos rins em 75% dos

casos. Alguns cães apresentam distintiva demarcação ecogênica da margem

corticomedular. A imagem do fígado obtida em ultrassonografia geralmente é pouco

notável. Podem ser notadas alterações inespecíficas na ecogenicidade (BIRCHARD

& SHERDING, 2008).

A associação estatística entre o aumento de ecogenicidade da córtex renal e

resultados positivos na soroaglutinação microscópica (SAM), demonstra que a ultra-

sonografia renal pode ser utilizada para auxiliar o diagnóstico precoce da

leptospirose canina, orientando a conduta clínica e permitindo a antecipação de

medidas terapêuticas. A utilização da ultrassonografia no diagnóstico presuntivo da

leptospirose canina não deve ser considerada isoladamente, mas em associação

aos dados de anamnese e avaliação clínica (TASQUETI, 2004).

Entre novembro de 2002 e janeiro de 2004 foram estudados 80 cães, de

ambos os sexos, com idade mediana de 5,5 anos, atendidos no Hospital Veterinário

da Universidade Estadual de Londrina. Todos os animais apresentavam suspeita

clínica de leptospirose; 31 animais foram positivos na SAM, em seguida foi feito

avaliação ultrassonográfica detectando anormalidade em 25 (80,65 por cento (%)),

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sendo em 18 (72,00%) exclusivamente nos rins, em 2 (8,00%) no fígado e em 5

(20,00%) simultaneamente nos rins e fígado (TASQUETI, 2004).

e) Sorologia

Leptospira é uma bactéria fastidiosa, de crescimento lento e difícil de ser

submetida à cultura. Além disso, sua identificação em fluidos ou tecidos é difícil.

Assim, a combinação de sorologia e sinais clínicos é o meio mais prático de

diagnóstico (BIRCHARD & SHERDING, 2008).

Segundo Nelson & Couto (2006) a detecção de anticorpos anti-Leptospira é

comumente realizada por teste de SAM. Devido à ampla gama de leptospiras

infectando os caninos, o máximo de sorovares, quanto possível, deve ser usado

para triagem. L. bratislava, L. canicola, L grippotyphosa, L. harjo, L.

icterohaemorrhagiae e L. pomona são comumente utilizadas. Títulos positivos

podem resultar devido a infecção ativa, infecção prévia ou vacinação. Os títulos de

anticorpos podem ser negativos em animais com doença superaguda; caninos

soronegativos com doença clínica clássica devem ser retestados em duas a quatro

semanas.

As figuras 11, 12 e 13 mostram respectivamente a placa utilizada para o

teste de soroaglutinação, o teste de SAM negativo (1:100) e SAM positivo (1:360).

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FIGURA 11 – PLACA DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCOPICA - 2011

FIGURA 12 – TESTE DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA (SAM) NEGATIVO 1:100.

FONTE: BIAZOTTI, 2006.

FIGURA 13 - TESTE DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA (SAM) POSITIVO 1:360.

FONTE: BIAZOTTI, 2006.

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4.1.10 Necropsia

Para Carter (1998) o óbito por leptospirose pode ocorrer durante o estágio

febril, ou devido aos danos causados nos rins e no fígado.

Cães que morrem de leptospirose aguda apresentam hemorragias

disseminadas e necrose hepática focal (CARLTON & McGAVIN, 1998). A figura 14

mostra necrose hepática multifocal associada com aspecto manchado do fígado de

um cão com leptospirose.

As alterações renais devido a ação da leptospira são petéquias

macroscopicamente visíveis (JONES et al, 2000) e nefrose (CARTER, 1998). A

figura 15 mostra necrose renal e nefrite intersticial multifocal associados a aspecto

manchado do parênquima renal de um cão com leptospirose.

FIGURA 14 - FÍGADO DE UM CÃO COM LEPTOSPIROSE APRESENTANDO NECROSE HEPÁTICA MULTIFOCAL ASSOCIADA COM ASPECTO MANCHADO

DO ÓRGÃO

FONTE: LOPES, 2008.

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FIGURA 15 - RINS DE UM CÃO COM LEPTOSPIROSE APRESENTANDO NECROSE RENAL E NEFRITE INTERSTICIAL MULTIFOCAL ASSOCIADOS A

ASPECTO MANCHADO DO PARÊNQUIMA RENAL

FONTE: LOPES, 2008.

4.1.11 Transmissão

Ratos, camundongos, cães e outros animais são hospedeiros naturais e

excretam as espiroquetas na urina. O homem é infectado pela manipulação de

objetos contaminados com urina de animais infectados ou pelo banho em água

contaminada com urina; as espiroquetas penetram por meio de abrasões na pele ou

nas mucosas (PELCZAR JR et al, 1996). A transmissão também ocorre por feridas,

contato venéreo, via transplacentária e por ingestão de tecidos, terra, água,

alimentos contaminados e outros fômites (NELSON & Couto, 2006).

4.1.12 Tratamento

O tratamento efetivo requer terapia de suporte geral e tratamento da fase

leptospirêmica da infecção, seguidos de tratamento do portador leptospirúrico. No

tratamento intensivo, pode-se esperar taxa de sobrevida de 75 a 90%. A maior parte

dos cães recupera-se completamente, porém a insuficiência renal crônica residual é

uma consequência potencial (BIRCHARD & SHERDING, 2008).

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A terapia de suporte para os animais com leptospirose depende da gravidade da

infecção, da presença de disfunção renal ou hepática e de outros fatores

complicantes (ETTINGER & FELDMAN, 2004).

Os antibióticos inibem imediatamente a multiplicação do microorganismo e

diminuem rapidamente as complicações fatais da infecção, como insuficiência renal

e hepática. A penicilina é o antibiótico de escolha para interromper a leptospiremia,

já que este fármaco é eficaz e não é contra indicado na insuficiência renal. Após a

recuperação, a doxiciclina ou os aminoglicosídeos devem ser administrados para

erradicar o estado de carreador (ETTINGER & FELDMAN, 2004). Segundo Bichard

& Sherding (2008) os antibióticos de escolha são aqueles derivados da penicilina,

para cessar a leptospiremia, e doxiciclina para eliminar a leptospirúria.

4.1.13 Vacina

As vacinas preparadas com leptospiras mortas estão disponíveis para a

imunização de animais, mas não de seres humanos (PELCZAR JR et al, 1996). As

bacterinas inativadas bivalentes que contém a L. canicola e a L.

icterohaemorrhagiae, estão disponíveis para os cães (ETTINGER & FELDMAN,

2004). Segundo Hartmann et al (2007) as vacinas bivalentes que eram usadas

desde 1960 não têm imunidade contra a maioria dos sorovares pertencentes a

outros sorogrupos.

Vacinas multivalentes contendo os sorovares pomona, grippotyphosa,

canicola e a icterohaemorrhagiae propiciam um amplo espectro de proteção

(BIRCHARD & SHERDING, 2008).

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De acordo com Bichard & Sherding (2008) a vacinação de rotina contra

leptospirose auxilia a reduzir a prevalência e a gravidade de leptospirose canina e a

minimizar o risco da doença aos responsáveis de animais domésticos.

4.1.14 Prevenção

De acordo com Nelson & Couto (2006), todos os sorovares dos mamíferos

devem ser considerados como tendo potencial zoonótico para os humanos. Urina

infectada, água contaminada e hospedeiros reservatórios devem ser evitados. Os

cães infectados devem ser manipulados usando-se luvas. As superfícies

contaminadas devem ser limpas com detergentes e desinfectantes.

4.1.15 Saúde pública

De primeiro de janeiro até o dia 18 de março de 2011 a Secretaria Municipal

da Saúde de Curitiba- PR havia registrado 161 casos suspeitos de leptospirose em

humanos. Desse total, 41 foram confirmados laboratorialmente. Cinco pessoas

procuraram atendimento tardiamente e acabaram morrendo. Apenas três desses

pacientes tiveram contato com água de enchente. Uma vítima morava próximo de

um terreno baldio onde havia ratos e outra limpou um porão dias antes de começar a

manifestar os sintomas. No mesmo período de 2010 foram notificados 145 casos

suspeitos e confirmados 39. (Risco de contaminação também em períodos de seca,

2011).

Normalmente há cerca de 50 casos relatados por ano nos Estados Unidos,

mas uma vez que os sintomas clínicos não são característicos, muitos casos

provavelmente nunca são diagnosticados. Um estudo recente em uma clínica que

atende a população urbana pobre em uma grande cidade no leste dos Estados

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40

Unidos descobriu que até 16% dos pacientes foram expostos à Leptospira

(TORTORA et al, 2008).

Na figura 16 podemos observar a distribuição da leptospirose no mundo

entre janeiro e junho de 2010, de acordo com a OIE:

FIGURA 16 - DISTRIBUIÇÃO DA LEPTOSPIROSE ENTRE JANEIRO E JUNHO DE 2010

FONTE: WAHID Interface (2010). Acesso em 23 mar. 2011.

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5 RELATO DE CASO

Paciente: Belinha (Figura 17)

Espécie: canina

Sexo: fêmea

Raça: Teckel (Basset Dachshund)

Idade: 2 anos

Peso: 5 quilogramas (Kg)

FIGURA 17 – BELINHA - 2011

No dia 28/02/2011 a paciente canina foi levada à CEMV-UTP onde o

responsável relatou icterícia há aproximadamente 4 dias. Dois dias antes

(26/02/2011) a paciente passou por outra clínica veterinária onde foram realizados

exames de bioquímica sanguínea, hemograma, pesquisa de hematozoários, e

contagem de reticulócitos (Tabelas 02, 03 e 04). Iniciou-se tratamento com

doxiciclina 5 miligramas (mg)/quilograma (Kg)/uma vez ao dia (SID) desde então.

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No exame físico realizado na CEMV-UTP a paciente apresentava mucosas

ictéricas. Proprietário negou emese, diarréia, apatia. Alterações respiratórias e

cardiovasculares ausentes. Negou claudicação, síncope e convulsão. Paciente

habita casa com outros animais assintomáticos. Não possui doenças anteriores e

ectoparasitoses. Linfonodos normais.

No dia 28/02/2011, foram realizados novos exames de bioquímica

sanguínea (albumina, creatinina, gama glutanil transferase e uréia). Confirmou-se a

suspeita de leptospirose por exame de soroaglutinação microscópica (Tabelas 07 e

08).

Para o tratamento domiciliar foi mantida a doxiciclina. Instituiu-se também

amoxicilina + clavulanato de potássio 20mg/kg/duas vezes ao dia (BID)/14dias por

via oral e prednisona 1mg/kg/BID/5dias também por via oral.

TABELA 02 – PESQUISA DE HEMATOZOÁRIOS 26 fev. 2011

Mycoplasma sp. Ehrlichia sp. Babesia sp.

Negativo Negativo Negativo

TABELA 03 – CONTAGEM DE RETICULÓCITOS 26 fev. 2011

Resultado

16% (resposta regenerativa acentuada)

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TABELA 04 – HEMOGRAMA/ERITROGRAMA 26 fev. 2011

Exames Belinha Valores de referência (cão)

Eritrócitos milhões/μL 4,27 5,5 a 8,5

Hemoglobina g/dL 11,7 12,2 a 18,0

Hematócrito % 36 37,0 a 55,0

V.C.M. fL 84,3 60,0 a 77,0

H.C.M. pg 27,4 19,5 a 24,5

C.H.C.M. % 32,5 32,0 a 36,0

Observações: Plasma ictérico +++

Anisocitose leve

_____

_____

No eritrograma realizado no dia 26/02/2011 (Tabela 04) eritrócitos,

hemoglobina e hematócrito apresentam-se abaixo dos valores de referência,

indicando que a paciente estava com anemia. Os valores de volume corpuscular

médio (V.C.M.), concentração de hemoglobina corpuscular média (C.H.C.M.) , da

contagem de reticulócitos (Tabela 03) e a presença de anisocitose permitiu

classificar a anemia como macrocítica normocrômica regenerativa.

Segundo Klag (1992), a leptospirose também é uma causa de anemia

hemolítica em cães. A anemia hemolítica refere-se a destruição acelerada dos

eritrócitos no espaço intra ou extravascular, dependendo do agente causal e da

severidade da doença; quando a hemólise é muito intensa poderá ocorrer acúmulo

de bilirrubina e/ou hemoglobina no sangue, urina e tecidos, produzindo então a

icterícia.

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TABELA 05 – HEMOGRAMA – LEUCOGRAMA 26 fev. 2011

Exames Belinha Valores de referência (cão)

Leucócitos/mm³ 40 200 8 000 a 16 000

Segmentados/mm³ 30 954 3 000 a 11 500

Bastonetes/mm³ 2 010 0 a 300

Eosinófilos/mm³ 804 80 a 1 280

Linfócitos/mm³ 4 824 1 000 a 4 800

Monócitos/mm³ 1 608 150 a 1 350

Plaquetas/mm³ 404 000 200 000 a 500 000

No leucograma (Tabela 05) podemos observar uma leucocitose por

neutrofilia com DNNE regenerativo. Segundo Garcia-Navarro & Pachaly (1994), as

leucocitoses por neutrofilia ocorrem em infecções agudas, especialmente causadas

por cocos, espiroquetas, fungos e parasitas. O DNNE regenerativo que acompanha

a neutrofilia indica a liberação acelerada de bastonetes pela medula óssea;

representa bom prognóstico, pois indica o funcionamento normal do processo

inflamatório.

A monocitose também está presente no leucograma da paciente. Os

monócitos são células que tem por função fagocitar partículas que permanecem no

foco inflamatório, como células necrosadas e neutrófilos mortos pela ação de suas

próprias enzimas ou pelas enzimas de bactérias. A monocitose é um sinal que a

fase crítica do processo inflamatório está no fim (GARCIA-NAVARRO & PACHALY,

1994).

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TABELA 06 – BIOQUÍMICA 26 fev. 2011

Exames Belinha Valores de referência (cão)

ALT/TGP UI/L 88,5 10 a 88

Fosfatase Alcalina UI/L 1 391 20 a 156

Bilirrubina Direta mg/dL 3,8 0,06 a 0,12

Bilirrubina Indireta mg/dL 13,1 0,01 a 0,49

Bilirrubina Total mg/dL

Observação:

16,9

Soro ictérico +++

0,1 a 0,5

Nos exames bioquímicos sanguíneos realizados no dia 26/02/2011 (Tabela

06) observamos importante aumento da FA e bilirrubina total e frações. A ALT/TGP

apresentou discreto aumento.

Segundo Kaneko et al (1997) a bilirrubina é um pigmento amarelo produzido

pela degradação enzimática do grupamento heme da hemoglobina dos eritrócitos.

Anemia hemolítica, disfunção hepatocelular ou obstrução do ducto biliar extra-

hepático estão associados à hiperbilirrubinemia em caninos e felinos. A icterícia

desenvolve-se quando a bilirrubina acumula-se no plasma e em outros tecidos; para

isso acontecer os valores de bilirrubina plasmática devem exceder 2 a 3 mg/dL em

pacientes caninos.

De acordo com Meyer & Coles (1995) a elevada atividade sérica de FA tem

origem hepatobiliar. O fluxo biliar prejudicado (colestase) resulta numa elevada

produção de FA em todas as espécies.

A atividade da ALT é considerada específica para injúria hepatocelular em

caninos e felinos. Um severo aumento das aminotranferases pode sugerir hepatite

aguda, enquanto aumento discretos são vistos em muitos tipos de doenças

hepáticas, incluindo doença hepatocelular crônica, cirrose, neoplasias e

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hepatopatias secundárias à infecções bacterianas e parasitárias (KANEKO et al,

1997).

No dia 28/02/2011 foram realizados os seguintes exames bioquímicos

sanguíneos da paciente: albumina, creatinina, gama glutamil transferase e uréia

(TABELA 07).

TABELA 07 – BIOQUÍMICA 28 fev.2011

Exames Belinha Valores de referência (cão)

Albumina mg/dL 3,68 2,3 a 3,3

Creatinina mg/dL 1,17 0,5 a 1,6

Gama glutamil transferase UI/L 24,8 1 a 16,4

Uréia mg/dL

Observação:

28,5

Soro ictérico ++

10 a 56

Meyer & Coles (1995) explicam que a creatinina é formada durante o

metabolismo da musculatura esquelética e é excretada pelos rins. Como ocorre com

a uréia, a creatinina é um índice grosseiro da filtração glomerular; por isso uma

redução na taxa de filtração glomerular aumenta a concentração sérica de uréia e

creatinina. Segundo Kaneko et al (1997) a redução de até 75% da função renal não

esta associada com significativa alteração na taxa de filtração glomerular por

períodos de até quatro anos, em cães jovens. Como os valores de uréia e creatinina

da paciente estavam normais descarta-se a possibilidade de uma importante lesão

renal consequente à leptospirose.

De acordo com Nelson & Couto (2006) a gama glutanil transferase pode

estar aumentada em caninos devido a retenção da bile (colestase); sendo a sua

mensuração utilizada como indicador de lesão hepática.

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TABELA 08 – RESULTADO DA SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA PARA Leptospira interrogans 28 fev. 2011

Sorovar de L. interrogans Belinha

copenhageni 1:400

canicola Negativo

icterohaemorrhagiae Negativo

pomona Negativo

grippotyphosa Negativo

bratislava Negativo

No teste de SAM da paciente Belinha (Tabela 08) foram testados os

seguintes sorovares: copenhageni, canicola, icterohaemorrhagiae, pomona,

grippotyphosa e bratislava. Ocorreu reação positiva para copenhageni 1:400.

Segundo Blauzius et al (2005) a L. interrogans tem vários sorovares e, no

Brasil, o sorovar icterohaemorrahagiae parece ser o mais comum. Em Recife,

Salvador e São Paulo este sorovar foi identificado como agente causal em mais de

50,0% dos casos de leptospira canina descritos. Já em Curitiba - PR, conforme

demonstra o estudo de Tesserolli et al (2008) o sorovar mais freqüente é o

copenhageni (71,50%), seguido de canicola (6,74%) e icterohaemorrhagiae

(2,08%).

De acordo com o caso clínico exposto e através dos exames laboratoriais

realizados chegou-se a conclusão, de que a paciente estava com leptospirose (L.

interrogans copenhageni). A partir da identificação da doença e por meio do

tratamento indicado, a paciente obteve a cura.

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6 CONCLUSÃO

Conforme pode ser observado no decorrer deste trabalho de conclusão de

curso, fica evidente a importância da vivência prática na formação de um

profissional.

No caso estudado, e aqui descrito, foi necessário um período de dedicação

ao aprendizado de situações que compõem a vida real de um Médico Veterinário e

que por meio da dedicação dos professores se tornam compreensíveis ao aluno, e

que demonstram a satisfação que se obtem após a percepção do dever cumprido,

colocando desta forma o que é ser um profissional e não mais um acadêmico.

Portanto, se conclui aqui, que o primeiro passo rumo a uma carreira de

Médico Veterinário foi dado, com o auxílio dos professores, e com a grande vontade

de seguir em frente e de desempenhar este importante ofício.

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ANEXO

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