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ARTETERAPIA COMO RECURSO PARA ALUNOS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL
ARTETERAPY AS A RESOURCE FOR STUDENTS WITH DIFFICULTY OF LEARNING IN FUNDAMENTAL TEACHING
Rosana Cristina da Silva Souza – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO - LinsProfº Oscar Xavier de Aguiar – UNISALESIANO - Lins – [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo trabalhar com crianças de 11 a 14 anos de idade, cursando o 6º Ano do Ensino Fundamental - classe de RCI, através da arteterapia, a fim de resgatar a autoimagem positiva e estimular mudanças. As classes de RCI possuem um programa diferenciado para ajudar os alunos que apresentaram algum retardo no processo de aprendizagem, o trabalho desenvolvido em arteterapia, contribuiu para que esses alunos pudessem expressar suas angustias e dificuldades, mostrando sua individualidade e trabalhando suas emoções, assim participando ativamente de seu aprendizado. Dessa forma o aluno se enxerga como agente transformador, capaz de agir em seu meio utilizando a linguagem artística.
Palavras-chave:Arteterapia. Aprendizado. Relaxamento. Auto-estima.
ABSTRACT
The present work aims to work with children from 11 to 14 years of age, attending the 6th Year of Elementary School - class of RCI, through art therapy, in order to rescue positive self-image and stimulate changes. The RCI classes have a differentiated program to help students who presented some delay in the learning process, the work developed in art therapy, contributed to these students to express their anguish and difficulties, showing their individuality, working their emotions, thus actively participating Of their learning. In this way the student sees himself as a transforming agent, capable of acting in his environment using the artistic language.
Keywords:Artterapia. Learning.Relaxation.Self esteem.
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016
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INTRODUÇÃO
Faz-se necessário uma breve conceituação histórica para contextualizar a
Arteterapia Contemporânea, focando o relato de Carvalho (1995), e em seguida será
apresentado definições sob a ótica de vários autores.
Em 1876 Max Simon (apud, , médico psiquiatra, publica pesquisas feitas
sobre manifestações artísticas em seus doentes mentais, fazendo uma classificação
sobre diversas patologias e essas produções artísticas. Em 1888, Lombroso,
advogado criminalista, faz análises psicopatológicas de desenhos criados por
doentes mentais com a mesma finalidade de classificação.
Carvalho (1995) em seu livro “A Arte Cura”, ainda cita outros autores
europeus como Morselli(1894), Júlio Dantas (1900) e Fursac (1906) que também
estudaram e se interessaram pelas artes dos enfermos psiquiátricos. Nesse mesmo
período Freud começa escrever sobre artistas e suas obras, e sob a ótica
psicanalista nascente analisa profundamente manifestações inconscientes que
compõe aprodução artística. Freud observa que o inconsciente manifesta-se através
de imagens, sendo uma comunicação simbólica com a representação catártica,
afirma ainda que essas imagens fogem com mais facilidade da censura, podendo
transmitir de forma mais direta seus significados.
Na década de 20, Jung começa a usar a imagem expressiva ou artística em
seus tratamentos psicoterápicos. Criatividade para Jung é uma função psíquica
natural e estruturante, no entanto, pode e deve ser usada como componente de
cura. Jung pedia aos seus clientes para fazerem desenhos livres ou retratar imagens
ou sonhos, sentimentos situações conflitivas, etc... Assim as expressões verbais e
artísticas corriam juntas nas sessões analíticas, uma enriquecendo a outra.
Teorias psicológicas mais recentes, como Psicodrama de Moreno, a Gestalt
de Perls, as linhas Humanista, Transpessoal, Sistêmica e Construtivista tem
contribuído com fortes considerações teóricas para a arteterapia, utilizando as
expressões artísticas nas diferentes abordagens existentes.
Atualmente Arteterapia é conhecida como o uso de recursos artísticos com
finalidade terapêutica. Carvalho (1995), descreve o seguinte:
“Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano”. Ela oferece
oportunidades de exploração de problemas e de potencialidade pessoal por meio da
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expressão verbal e não verbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos
e emocionais, bem como a aprendizagem de habilidades por meio de experiências
terapêuticas com linguagens artísticas variadas. Ainda que as formas visuais de
expressão tenham sido básicas nas sociedades desde que existe história registrada,
a arte-terapia surgiu como profissão na década de 30. A terapia por meio das
expressões artísticas reconhece tanto os processos artísticos com as formas, os
conteúdos e as associações como reflexos de desenvolvimento, habilidades,
personalidade, interesses e preocupações do paciente.O uso da arte como terapia
implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos
emocionais, como de facilitar a auto-percepção e o desenvolvimento pessoal.
Arteterapia é a utilização de linguagens artísticas, especialmente das artes
visuais, com as demais linguagens como música, teatro e dança, para tratamentos
terapêuticos que visa por meio da linguagem não verbal, a manifestação e
expressão do que se passa interiormente em cada individuo, ou seja, os medos,
sonhos, ideais, frustrações, realizações... (ENCONTRO Revista de Psicologia,
2011).
A Arteterapia é um processo terapêutico que faz uso da arte e a entende
como uma representação simbólica da vida intrapsíquica do indivíduo e também
como um recurso mediador da interação com as pessoas. Este processo terapêutico
trabalha com a intersecção de vários conhecimentos: educação, saúde, arte e
ciências. É um dispositivo terapêutico que possui uma prática transdisciplinar,
visando resgatar o homem em sua integridade por meio de processos de
autoconhecimento e transformação. A arte em si é uma forma de expressão,
comunicação, linguagem e é inerente ao ser humano além de estar ao alcance de
todos (VALLADARES, 2008).
De acordo com Philippini(1998), existem inúmeras maneiras de conceituar a
Arteterapia. Uma delas é considerá-la como um processo terapêutico decorrente da
utilização de modalidades expressivas diversas, que servem à materialização de
símbolos. Estas criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e
inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no
nível da consciência, destas informações, propiciando insights e posterior
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transformação e expansão da estrutura psíquica. Uma outraforma de dizer, poderá
ser simplesmente terapia através da Arte.
Para Ciornai (2005)Quando utilizamos técnicas expressivas, deixamos de
utilizar a linguagem verbal. Isso facilita muito o processo terapêutico, o contato com
o grupo. Mas esta não é a única razão. O trabalho que lida com a criatividade ajuda
a ressaltar os aspectos mais positivos do ser humano. Não podendo ficar explorando
somente o que dói, e mesmo para a elaboração do doloroso é necessário o suporte
dos aspectos positivos de cada um.
A escola é a experiência organizadora central na vida da maioria dos
adolescentes. Ela oferece oportunidade para adquirir informações, para dominar
novas habilidade e aguçar as já adquiridas, para participar de atividades esportivas,
artísticas e de outra natureza, para explorar opções vocacionais e para estar entre
amigos. Ela amplia os horizontes intelectuais e sociais. É de extrema importância a
comunicação não verbal do adolescente. O modo como ele se senta, se movimenta,
suas expressões faciais comunicam tanto quanto sua fala. Por meio dessas
manifestações o profissional da educação pode perceber as dúvidas do aluno, os
fatores que lhe causam ansiedade ou medo e suas inseguranças.
Ao julgar as produções artísticas dos alunos, o educador não deve categorizá-
las simplesmente em certas ou erradas. Essas produções são representações de
suas capacidades mentais naquele momento e devem ser respeitadas e servir como
auxiliar no ponto de partida para que o profissional trabalhe o raciocínio da criança,
explorando o significado dos comportamentos, aproveitando-os ao máximo. Quando
os alunos tem a oportunidade de expor suas ideias livremente, sentem-se mais
confiantes de suas capacidades, facilitando o processo ensino-aprendizagem.
A arte não se restringe apenas a museus e galerias, ela está presente no
nosso cotidiano e o artista não é somente aquele que se apresenta nos palcos. O
artista é caracterizado pela capacidade de criar, trabalhar e realizar ações e obras
que agradem seus sentidos e os dos outros. Na criança, a arte é encontrada de
forma inata e espontânea e geralmente se manifesta em suas brincadeiras. Muitos
pesquisadores já comprovaram a importância do brincar para o desenvolvimento
saudável da criança. Eles destacam que o brincar ajuda no desenvolvimento
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sensório motor, intelectual, no processo de socialização, no aperfeiçoamento da
criatividade e autoconsciência (FRANÇANI ET AL 1998).
A Arteterapia no Brasil constitui-se ainda como algo recente, sendo uma
formação dada por meio decursos de especialização e, com isso, atrelada à
formação inicial do profissional. Apresenta um campo de atuação tão amplo quanto
à própria formação dos arteterapeutas, com intervenções focadas na área da saúde,
da educação, das artes, dentre outras (CIORNAI, 2005). Na área da educação,
diversos autores defendem a importância da Arteterapia no contexto escolar, com
emprego dos recursos arteterapêuticos tanto em sala de aula (BONOMI, 2006),
quanto no contexto psicopedagógico, com crianças com dificuldades de
aprendizagem(ALLESSANDRINI, 1996; FAGALI, 2005; SANTOS, 2005 apud
POLITY, 2009).
No Brasil, dois psiquiatras se destacam por suas contribuições na
fundamentação teórica da arteterapia: Osório César, em 1923, e Nise da Silveira,
em 1946. Osório César trabalhou com arte no hospital do Juqueri, em São Paulo,
sob a influência da Psicanálise, enquanto Nise da Silveira desenvolveu um trabalho
no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro sob a influência junguiana,
procurando compreender as imagens produzidas pelos pacientes.
As atividades artísticas têm como característica o estímulo à criatividade, à
livre expressão, com caráter lúdico. No caso da Arteterapia, tem-se a oferta destes
recursos artísticos pelo arteterapeuta juntamente a um ambiente suficientemente
bom, atento às necessidades da criança. Defende-se o uso da Arteterapia no
contexto escolar, com objetivo de promoção do desenvolvimento emocional e
cognitivo dos participantes, a partir da crença na interligação entre áreas e
impossibilidade de dissociação entre aspectos emocionais e cognitivos no ser
humano. Assim, o aspecto emocional assume relevante papel no processo
educativo, no que concerne a passagem de um estágio para outro, processo esse
denominado “Equilibração” (PIAGET, 1975).
Para o desenvolvimento emocional da criança é preciso oferecer um ambiente
educativo que permita a aquisição da confiança em si e nos outros e a valorização
positiva. Isso acontece quando as relações entre o educador e a criança são
pautadas no respeito, na compreensão, afeto, acolhimento. Num ambiente isento de
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tensões, coações, autoritarismo, a criança encontra a oportunidade de escolher e
realizar a atividade que lhe interessa, participar das decisões que orientam a
organização da classe, expressar livremente seus sentimentos e emoções (ASSIS,
2009).
Para Furth (1974), a verdadeira causa dos fracassos da educação formal
relaciona-se com o fato dos educadores se apoiarem em aulas expositivas
(acompanhada de demonstrações, ações fictícias narradas) ao invés de
fundamentarem-se na ação real e concreta. É importante o emprego de ações que
envolvam, por exemplo, sentimentos, desejos, a vontade de experimentar, tocar,
cheirar, provar e de conhecer.
Segundo a teoria de Piaget, o período das operações formais (11/12 anos em
diante), nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase
anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de
formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais
dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport
(op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor
novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus
próprios, adquirindo portanto, autonomia".
De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a
sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que
persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação
das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza
Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo
adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos
tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos
de funcionamento mental".
Souza (2010) nos lembra que a auto-estima de uma criança está muito
relacionada com a sua aprendizagem, uma vez que é através de seus sucessos e
fracassos neste âmbito, que durante a infância ocupa a maior parte de sua vida, que
ele vai formando o seu autoconceito.
Em sua pesquisa sobre o autoconceito de crianças com dificuldades de
aprendizagem Stevanatoet al. (2003), nos mostra que estas crianças têm uma
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imagem muito mais negativa de si mesmas do que as crianças sem dificuldades de
aprendizagem. Além disso, quando se verificam problemas de conduta acrescidos a
estas dificuldades de aprendizagem, o prejuízo é ainda maior, visto que mais do que
receberem feedback negativo do ambiente em relação à aprendizagem, estas
crianças também o recebem à respeito de sua conduta.
Ao trabalhar com a autoimagem, com crianças que apresentam dificuldades
na aprendizagem escolar, conseguimos destacar a potencialidade e a beleza de
cada individuo, assim podemos valorizar o que há de melhor em cada um, sem
estereótipos e preconceitos.
Campos (2003, p. 1):
A maioria destas crianças tem estruturas depressivas do seu
funcionamento psíquico, isto é, são: desvalorizadas na sua
autoimagem (são vulgares expressões do tipo: "sou burro",
"não sou nada bom", "não faço nada bem") são inseguras (são
vulgares expressões do tipo: "não sei se consigo, faço isto ou
faço aquilo?"), têm pouca tolerância à frustração, desistindo
rapidamente à primeira contrariedade ou respondendo
agressivamente contra os outros, antecipam negativamente as
situações escolares, sobretudo de teste ou avaliação formal
(são vulgares expressões do tipo: "vou falhar, amanhã não vou
conseguir"), têm dificuldades em interpor pensamento entre o
sentir e o agir, pelo que a alteração dos comportamentos
(instabilidade, hiperatividade ou agressividade ou, mais
raramente, pela inibição e retirada) e esta é a melhor imagem
de marca desta situação.
Desde o inicio da colonização brasileira, ocorreram influencias de várias
culturas, que foram incorporadas e metabolizadas, configurando a diversidade da
cultura brasileira expressa nas nossas singularidades regionais.
O que mais caracteriza um povo e a diversidade de um país, senão sua
musica, teatro, suas formas e cores, suas danças, folclore e poesia. A cultura é
transmitida de geração em geração e demonstra aspectos locais de uma população.
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Em um país de grandes dimensões territoriais e composto por diversos povos como
africanos, europeus, indígenas, asiáticos são de extrema importância trabalhar a
diversidade cultural em uma sala de aula. Segundo publicação no site Brasil
Escola/Canal do Educador (2016), ao abordar a pluralidade cultural do Brasil, o
profissional da educação deve promover no aluno o sentimento de valorização
cultural do país, além do reconhecimento e respeito das diferentes culturas,
mostrando que não existe uma melhor, mais bonita ou mais desenvolvida que a
outra.
O presente trabalho tem o objetivo de através das artes plásticas e de
atividades que destaquem o “EU”, estimular mudanças que facilitem o processo
ensino-aprendizagem, assim contribuindo na formação de uma auto-imagem positiva
com intuito de tornar essas crianças indivíduos confiantes e capazes no futuro.
1. DESENVOLVIMENTO
1.1. Sujeito: Esse trabalho foi desenvolvido com 13 alunos, com idade
entre 11 a 14 anos, matriculados no 6º Ano do Ensino Fundamental que
apresentaram déficit no processo de aprendizagem esperado para este ciclo.
Esses alunos foram encaminhados para uma turma de RCI, “Recuperação
Contínua e Intensiva”, sala composta por no mínimo 10 e no máximo vinte alunos
organizada para atender esse público com atividades de ensino específicas,
permitindo aos mesmos, compreenderem os conceitos básicos e necessários a
seu prosseguimento nos estudos.
1.2. Instituição: Trabalho desenvolvido na Escola Estadual Professor João
Candido Fernandes Filho, situada na cidade de Sabino, região de Lins, município
formado em sua maioria por trabalhadores da área rural e alguns comerciantes, a
instituição possui uma grande taxa em evasão escolar, trabalhando
insistentemente para reduzir esses números.
1.3. Procedimento: Nesse projeto de Arteterapia, os alunos em 10
encontros programados, terão oportunidade de conhecer e treinar diversas
habilidades, que estimularão a criatividade em seu sentido mais amplo. Trata-se
de um trabalho qualitativo, com a intenção de através de arteterapia resgatar a
autoimagem, auxiliando assim no desenvolvimento cognitivo e afetivo desses
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alunos. Optou-se por trabalhar também com sessões de relaxamento. O primeiro
e imediato efeito das sessões de relaxamento nas crianças é acalmar-se, se
tranquilizar. As crianças, assim como os adultos, quando estão calmos, é quando
podem focar sua atenção no que vai ocorrer. Além disso, percebemos uma maior
concentração, uma vez que a calma chega. O passo seguinte é o enfoque da
atenção naquilo que deseja, isso pode ser controlar uma emoção, fazer um
exercício, ouvir uma explicação, assistir a um filme, brincar com os colegas de
classe, planejar uma ação, compreender o problema de um amigo, dizer “não” a
algo que possa ser perigoso.
2. METODOLOGIAO ponto de partida para a realização das atividades foram as pinturas de
Ademir Martins e Ivan Cruz, artistas consagrados com as séries “Gatos” e
“Brincadeiras de Crianças” respectivamente. O auto-retrato foi baseado em obras de
diversos pintores, esclarecendo aos alunos o principal intuito da obra que era a
identidade e a individualidade, representando o que ele imagina, deseja ou idealiza
ser. A auto-representação pode significar também um exercício de
autoconhecimento, na observação de si mesmo podem-se compreender tudo o que
somos além da superficialidade, o que nos afeta e o que nos motiva.
1º Encontro:Foi o primeiro encontro com a referida turma, Apresentação do projeto,
realizou-se sessão de relaxamento, em seguida foi confeccionado e apresentado o
quadro de regras, onde os próprios alunos criaram as regras que deveriam ser
cumpridas pelo grupo durante os encontros, promoveu-se roda de conversa e
atividade de desenho em papel Kraft, sendo discutido o tema: “O que é BELEZA?
2º EncontroIniciamos o encontro com sessão de relaxamento, com acompanhamento de
música de origem indígena. Em seguida cada criança recebeu um recorte de
papelão com um pedaço de papel alumínio fixado, representando um espelho.
Foram disponibilizados materiais como: miçangas, sementes, bolinhas de papel,
pedacinhos de papel coloridos, glitter e lantejoulas, o objetivo do trabalho era
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produzir com os alunos uma moldura nesse espelho simbólico com os objetos que
eles considerassem mais próximos a sua realidade.
3º EncontroUtilizou-se a técnica de relaxamento com a música CanzonetaSull’aria de
Mozart mais a confecção da pintura “Retrato do Amigo”, utilizando tinta guache,
acrílica, papel Paraná gramatura 30, próprio para pintura e tinta relevo várias cores.
O objetivo da atividade foi promover relaxamento e um ambiente tranqüilo
para o trabalho de Arteterapia. Junto aos alunos identificar os pontos positivos de
cada componente do grupo e através da pintura abrir um espaço de comunicação
para que eles demonstrem características que embeleze o outro.
4º EncontroSessão de Relaxamento seguida com o término do trabalho “Retrato do
Colega”. O objetivo desta atividade era através da arteterapia, promover uma melhor
interação e comunicação, auxiliando alunos com dificuldade de aprendizagem a fim
de resgatar a autoimagem positiva e estimular mudanças significativas.
5º EncontroHouve necessidade de reforço sobre o quadro de regras. Foi utilizada técnica
de relaxamento, seguida por confecção de cartaz onde o intuito era pintar ou
desenhar crianças e suas diversas brincadeiras. O objetivo era trazer aos alunos
obras de artes de Ivan Cruz série “Brincadeiras de Crianças” que se aproximassem
de suas atividades diárias, mostrando que suas rotinas são especiais e que por mais
simples que pareça uma brincadeira, ela é muito importante para a formação de
grupos, auxiliando para construir amizades sólidas.
6º EncontroFoi utilizado vídeo de “Relaxamento para crianças” – Faixa 1 – Magda Vilas
Boas, seguida por continuação da confecção de cartaz onde o intuito era pintar ou
desenhar crianças e suas diversas brincadeiras.
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7º EncontroFoi utilizada a Observação da turma, durante o período normal em sala de
aula. Exposição do Vídeo “Regras de Convivência Escolar” contendo curtas da
Pixar.
Após a Reunião de Pais referente ao 3º bimestre, foi relatado por diversos
professores que o comportamento da referida turma tinha se modificado
positivamente no decorrer dos meses e que esses alunos que antes apresentavam
uma grande incidência em advertências verbais e escritas, passaram a agir com
mais moderação e respeito, evitando assim a interferência da Diretora. Após esse
relato, foi necessário um encontro para observação dos alunos durante o período
comum de aula. Sendo confirmados os relatos positivos.
8º EncontroFoi utilizada a obra do artista plástico Aldemir Martins, que por ser repleta de
cores intensas e contrastantes, proporcionou aos alunos um espaço para as
brincadeiras com a tinta. Decidiu-se trabalhar com os alunos a série “Gatos”, por
utilizar traços fortes e linhas sinuosas, facilitando o manuseio dos pincéis. O
brasileiro Aldemir Martins foi pintor, gravador, desenhista e ilustrador. Nasceu no
Ceará, em 1922 e morreu em São Paulo, em 2006. O objetivo desta atividade foi
proporcionar ao aluno um encontro com as obras deste reconhecido artista plástico,
além de familiarizá-los com as obras, deixá-los livres para pintar o gato, do jeito que
eles achassem mais interessante, possibilitando uma brincadeira com as cores e os
traços. A alegria que o quadro transmite trouxe um clima de descontração ao grupo.
9º EncontroSessão com exercícios de relaxamento e respiração, seguida de continuidade
e finalização da reprodução da obra do artista plástico Aldemir Martins. O objetivo da
atividade era permitir aos alunos um contato mais próximo com as obras do autor e
levá-los a trabalhar com as cores e formas que a série “Gatos” proporciona.
10º EncontroFinalização e exposição dos trabalhos realizados pelo grupo, festa de
confraternização onde a terapeuta agradeceu o empenho da turma, reforçando a
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qualidade do trabalho em grupo. Roda de conversa para que os alunos pudessem
relatar a experiência vivida por cada um durante os encontros.
3. RESULTADODurante os encontros foi possível notar o desenvolvimento individual e social
da turma, esses alunos selecionados para o projeto apresentavam baixa auto-
estima, dificuldade de concentração, déficit de aprendizagem, além de uma relação
conflituosa entre alunos e professores.
Já no sexto encontro pode-se notar através de relatos dos professores o
alcance de algumas metas no aprendizado desenvolvidas pelos mesmos, a melhora
do relacionamento e do desempenho escolar, o respeito pelas diferenças e o
controle das emoções negativas.
O empenho e o interesse dos alunos pela reprodução das obras, nos mostra
como a arte pode ser um grande auxiliar no processo ensino-aprendizagem,
colaborando para que o aluno entenda que o ambiente escolar significa mais do que
regras rígidas e limites estabelecidos, que eles têm capacidade para compreender a
realidade que os cerca e agir de maneira a construir um ambiente saudável para o
aprendizado. Assim o aluno se enxerga como um agente transformador, capaz de
agir em seu meio utilizando a linguagem artística.
As classes de RCI possuem um programa diferenciado para ajudar os alunos
que apresentaram algum retardo no processo de aprendizagem. O trabalho
desenvolvido colaborou intensivamente para que esses alunos criassem uma auto-
imagem positiva de si mesmos, percebendo que apesar de suas dificuldades
existem outros meios de comunicação, onde eles poderiam expressar suas
angustias e dificuldades, mostrar sua individualidade, trabalhar suas emoções e
participar ativamente de seu aprendizado.
Trabalhar com as cores, os diversos materiais, e o ambiente diferenciado
permitiu a esses alunos usarem a imaginação e conhecer o que há por trás de cada
pintura, ao trabalharmos com artistas consagrados que retratam em suas obras
aspectos bastante próximos de suas realidades, trouxemos um toque de mágica
para as atividades e quando esses alunos perceberam que sua rotina também
poderia ser retratada como algo especial e artístico, abriu-se um mundo de
possibilidades e realizações.
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Iniciar cada encontro com sessões de relaxamento contribuiu para criarmos
um ambiente calmo e saudável, ao término do período percebeu-se que todos os
participantes encontravam-se mais colaborativos, respeitosos e atentos durante as
instruções.
CONCLUSÃO
Trabalhar em um ambiente escolar nos leva a pensar sobre a formação do ser
social, não apenas a formação pedagógica como a matemática, o português ou as
ciências humanas e biológicas, mas aquela formação que prepara para a vida em
sociedade, para este mundo em constantes transformações e para o próprio
conhecimento.
No planejamento do projeto a ideia original era apresentar as artes plásticas
para os alunos, assim permitindo o conhecimento de algo diferente e inusitado, com
uma beleza representada através de pinturas, e para isso todo o trabalho foi
baseado em obras de Michelangelo, Picasso, Renoir, Da Vinci, Portinari e Tarsila do
Amaral.
Acreditando que essas obras provocariam grande interesse e que esses
alunos conseguiriam através da reprodução de algumas obras demonstrarem algo
que não conseguiam verbalmente, portanto possibilitando ao terapeuta a
compreensão das dificuldades do aprendizado e das relações interpessoais,
preparou-se um trabalho que não conseguiu trazer nenhuma representatividade para
os alunos em questão.
Diante do pouco interesse apresentado, logo no segundo encontro foi
necessário elaborar uma nova proposta dentro da Arteterapia. Assim optou-se pelas
obras de Ivan Cruz e Aldemir Martins. Através das obras desses autores conseguiu-
se desses alunos o retorno esperado, a reprodução das obras provocou rodas de
conversa onde os temas principais eram: respeito, sinceridade, afeto,
companheirismo, beleza, amizade, família, entre outros de igual importância.
Assim percebe-se que, baseado em fatos concretos como os boletins
escolares e as fichas de evolução, os alunos que participaram do projeto
apresentaram: notas escolares mais altas, baixo índice de violência, comportamento
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adequado entre os colegas de classe e professores, diminuição das intervenções
como suspensão e advertência.
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