veiga mais 10 anos

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Instantaneidades, novidades e rápidas conexões............ 3 As novas formas de se fazer jornalismo no século XXI ............ 4 O novo jornalismo impresso................ 7 Do anonimato ao sucesso virtual ........ 8 Redes sociais como espaço de debate .....................11 Marketing negativo na rede social .... 13 A questão Ética nas Redes Sociais .. 15 Convergência das grandes mídias para o universo dos smartphones..... 17 A migração das grandes redações para as plataformas digitais ....................... 19 Fotojornalismo na era digital ............. 21 Blocos de rua entram na era do compartilhamento na internet ............ 22 #veiga+ Edição Data Entrar 1º SEMESTRE DE 2014 Mantenha-se conectado Nº 17 - ANO 12 DEZ ANOS DA NOVA COMUNICAÇÃO MUNDIAL Como a internet e as mídias sociais mudaram a forma de se comunicar Conecte-se Leia nesta edição

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1º Semestre de 2014 • Ano 12 • nº 17

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Page 1: Veiga Mais 10 anos

Instantaneidades, novidades e rápidas conexões ............ 3

As novas formas de se fazer jornalismo no século XXI ............ 4

O novo jornalismo impresso ................ 7

Do anonimato ao sucesso virtual ........ 8

Redes sociais como espaço de debate .....................11

Marketing negativo na rede social .... 13

A questão Ética nas Redes Sociais .. 15

Convergência das grandes mídias para o universo dos smartphones ..... 17

A migração das grandes redações para as plataformas digitais ....................... 19

Fotojornalismo na era digital ............. 21

Blocos de rua entram na era do compartilhamento na internet ............ 22

#veiga+#veiga+ Edição Data

EntrarNúmero 17 1º SEMESTRE DE 2014

Mantenha-se conectado

Nº 17 - ANO 12

DEZ ANOS DA NOVA COMUNICAÇÃO MUNDIALComo a internet e as mídias sociais mudaram a forma de se comunicar

Conecte-seLeia nesta edição

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3#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

EDITORIALINSTANTANEIDADES, NOVIDADES E RÁPIDAS CONEXÕES

O mundo se atualiza a cada instante. O novo surge a todo momento, em qualquer lugar. Tecnologias, avanços na área médica, na arquitetura, na engenharia são alguns exemplos presentes no dia a dia. Da mesma forma, a comunicação também se transforma e se reinventa com o passar do tempo.

Ter acesso aos meios se tornou uma tarefa muito mais fácil, graças à tecnologia. A velocidade da informação só aumenta. Qualquer pessoa tem a chance de estar no lugar e na hora certa, podendo capturar uma imagem e enviar a uma grande empresa de comunicação, por exemplo.

Um anônimo pode produzir seu próprio conteúdo e divulgar na internet, por meio de blogs, vlogs ou até mesmo sites, e ser mais do que um agende coadjuvante. Assim, pode obter certa credibilidade no meio. Da mesma forma, também pode formar opinião na rede, conquistar seguidores e atingir milhões de espectadores, que compartilham as diferentes ideias.

O novo estilo de comunicar ainda abre portas às mídias alternativas, que disponibilizam outros olhares sobre determinados fatos e atingem um grande número de pessoas, de forma não muito diferente das tradicionais. Tradicionalismo este que está migrando para o meio online. Hoje em dia, sites, fanpages no Facebook, contas no Twitter e em outras redes sociais são itens obrigatórios.

Afinal de contas, o que é a nova comunicação? Quem são seus autores? Como é o novo estilo de profissional e quais são as maiores diferenças dos meios de algumas décadas atrás para a mutável realidade com a qual produtores e receptores se deparam todos os dias? Esta nova edição da “Veiga+” responde estas e outras questões.

Thaís Monteiro

EXPEDIENTE

Professor-orientadorÉrica Ribeiro

Ilustração de capaSCX.HU (BSK)

AgradecimentosEquipe do Laboratório de Informática (UVA)

Agência UVARedação: Rua Ibituruna, 108, Casa da Comunicação, 2º andar. Tijuca - Rio de Janeiro, RJTel: (21) 2547-8800 - ramais 319 e 416E-mail: [email protected] de [email protected]

Tiragem: 1.000 exemplaresImpressão: WALPRINT

Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99

Coordenador de JornalismoProf. Luis Carlos Bittencourt

Coordenadora de Publicidade e Propaganda Profa. Míriam Barbosa

ReportagensEstudantes das disciplinas de Jornalismo Investigativo, Laboratório de Jornalismo e Jornalismo de RevistaProfessores-orientadoresLuiza Cruz e Maristela Fittipaldi

Edição, projeto gráfico e diagramaçãoConstância Garcia, Emerson Magno, Felippe Retonde, Marcelo Silva, Rômulo Sardinha, Vitor Costa

A Revista Veiga Mais é um produto da Oficina de Jornalismo, em um trabalho conjunto realizado com os estudantes em sala de aula e a AgênciaUVA.

Especial ‘Nova Comunicação’Nº 17 - Ano 12 - 1º Semestre de 2014

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4 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

AS NOVAS FORMAS DE SE FAZER JORNALISMO NO SÉCULO XXIComo jornalistas têm se adaptado e encarado as diversas mudanças possibilitadas pela internet, o que inclui a migração de veículos impressos para os meios digitais

Gabriel Matturo acredita que hoje o jornalista escreve com mais “velocidade”

Está tudo

na palma da

sua mão de

minuto em

minuto. Nada

escapa.

A tecnologia

chegou para

facilitar

Gabriel Matturo

‘‘ ‘‘

Hélio Rodrigues

A “Teoria da Evolução”, do inglês Charles Darwin, afirma que é preciso adaptar-se aos novos meios. O estudo, proposto no fim do século XIX e que aborda a evolução natural da humanidade, também tem servi-do, dessa vez como analogia, para os profissionais do jornalismo mais de 100 anos depois. Sob a influência da crescente tecnologia, impulsionada a partir da dé-cada de 1990, os jornalistas têm enfrentado dilemas, como a migração de veículos impressos para meio di-gitais e a consequente busca da melhor forma de se comunicar. E é exatamente neste ponto que a compa-ração com a teoria de Darwin se encaixa, em forma de questionamento: como os jornalistas têm se adaptado às mudanças possibilitadas pela internet e pelas mídias sociais?

Uma pesquisa divulgada em julho de 2013 de-monstrou as razões pelas quais tanto os jornalistas como os veículos de comunicação devem ficar aten-tos às possibilidades oferecidas pela rede mundial de computadores. De acordo com o levantamento feito pelo Ibope Media, o número de pessoas com acesso à internet no Brasil chegou a 102,3 milhões. A marca representa 9% de aumento em relação ao terceiro trimestre do ano anterior, quando foram re-gistrados 94,2 milhões de internautas.

Esta fase do Jornalismo é encarada com natu-ralidade pelo repórter da editoria Geral do portal de notícias on line SRZD, Lucas Torres. Para ele, a migração de jornais, revistas e folhetos para a in-ternet é, por si só, uma forma natural de adaptação e “sobrevivência aos novos tempos”. “As gerações mais jovens estão totalmente desapegadas ao jornal impresso, que resiste porque ainda tem seu públi-co. Mesmo assim, a gente sabe que eles não se sus-tentam pelas próprias vendas, mas que sobrevivem por serem um dos veículos de grandes empresas de comunicação e por receberem verba principalmente da publicidade”.

A instantaneidade, uma das principais caracte-rísticas desta nova era jornalística, também pesa

negativamente contra os impressos, de acordo com Lucas, que dá como iminente a perda de espaço destes veículos para a internet. “Acredito que essa queda acontece não somente pela falta de hábito dos jovens, mas porque a velocidade da informação é cada vez maior, e o impresso não pode dar conta de trazer a notícia factual em primeira mão, con-correndo com os digitais e a rapidez de acessar com mobilidade. Ele até pode continuar existindo no fu-turo, mas talvez se dedique à análise mais crítica de notícia, com textos mais de opinião sobre os fatos do que a proposta da ‘imparcialidade’”.

O pensamento do jornalista quanto à mobili-dade, caracterizada pelo acesso à informação em tempo real por tablets, smartphones e notebooks, em quase todo lugar, vai ao encontro dos recentes números divulgados pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). No fim de outubro de 2013, o Brasil tinha 269,9 milhões de linhas de celulares ativas, aproximadamente 70 milhões a mais que o número de brasileiros (segundo o último levanta-mento do IBGE).

Felipe Santoro, administrador de rede, uma das profissões associadas à tecnologia da informação, sustenta a teoria de que a quantidade de celulares no mercado tem possibilitado um acesso cada vez

Foto: Hélio R

odrigues

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5#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

O site “SRZD” é uma das novas formas de modelo jornalístico na internet

maior à rede mundial de computadores. “Quanto mais dispositivos, mais fácil fica o acesso ao mun-do virtual”, diz o especialista, que aponta erros no processo de expansão da internet no país. “A rede continua apresentando falhas no Brasil, onde o sis-tema de informação, comparado ao de outros países, já está antiquado. É preciso aprimorar a tecnologia que se tem em mãos para evitarmos problemas, como lentidão na taxa de conexão e falta de acesso em lugar remoto. Até no Everest é possível acessar a rede e ali na esquina não”.

Outro ponto de destaque no processo de adap-tação dos jornalistas em decorrência da internet e razão para debates de especialistas no processo de comunicação é a linguagem utilizada para divulgar um conteúdo na Web. É importante ao jornalista do século XXI continuar a ter um texto atraente, mas que se preocupe com sua divulgação na internet. Baseado nisso, houve a criação, no fim dos anos 1990, do hipertexto. Durante os anos 2000, com o desenvolvimento das configurações na internet, os portais de notícia puderam oferecer layout mais atraente. A possibilidade de interação com outros milhões de usuários surgiu logo na sequência, com o advento de redes sociais, como o Orkut, o Twitter e o Facebook, e impulsionou a audiência, conquis-tando novos adeptos da informação online e fideli-zando os antigos.

Repórter setorista do Fluminense pelo Lance!, um dos impressos de esporte mais importantes do país, Gabriel Matturo vive as mudanças do processo de migração no dia a dia, quando tem, ao mesmo tempo, que produzir as matérias para o jornal no dia seguinte e alimentar a página virtual do veículo on time. “A gente nota que a principal diferença para um jornalista tem sido essa necessidade de escre-ver com mais velocidade. Tudo é mais rápido. Mas vejo essas mudanças como naturais e necessárias. A comodidade faz a diferença. Não precisa mais se deslocar para saber das coisas. Está tudo na palma da sua mão de minuto em minuto. Nada escapa. A tecnologia chegou para facilitar, embora eu acredi-te que ainda vai demorar um longo tempo para que essa transição esteja completamente realizada”.

O analista comunicacional da Montenegro Gru-po de Comunicação, Richard Hollanda, cita o caso do Jornal do Brasil, que migrou totalmente para a rede em agosto de 2010, para sustentar a tese de que a internet é um local misterioso e que continua sendo mal explorada pelos veículos de comunica-

ção no país. A migração total acontecerá, segundo ele, mas precisará de sérios ajustes, baseado no erro de outros, por parte das empresas de jorna-lismo. “Isto é um caminho sem volta. Os mais im-portantes jornais do mundo estão migrando e têm dado certo. O contraponto de tudo isso é o fato de a internet ainda ser um local pouco explorado. Aqui no Brasil, por exemplo, isto já acontece com o JB, mas sem sucesso. No entanto, para os próximos anos, os grandes impressos farão esse caminho, porém com um caminho já prefixado, sem o risco de erros”.

O que será dos veículos impressos – se conti-nuarão a existir ou migrarão integralmente para a internet, na forma de portais de notícias – ainda é um questionamento feito tanto por jornalistas como por leitores. A palavra-chave tem sido a ‘adaptação’ para as grandes empresas de comunicação. Novas linguagens e uma nova abordagem são um esforço recorrente. Diariamente é preciso conquistar novos usuários e fidelizar os antigos. Oferecer conteúdo di-ferente dos “vizinhos” e se notabilizar também pela qualidade do que dispõem dentro de suas versões, sejam impressas, sejam virtuais. Novos tempos.

ERA DIGITAL DESAFIA GESTORES A CRIAREM MODELO DE JORNALISMOEspaço na internet se torna cada vez mais disputado e empresas jornalísticas buscam modelos de negócio para permanecer no mercado editorial brasileiro

Thaiane Silveira

A cada dia é mais comum a migração de um veículo impresso para o meio digital e as mudan-ças vão muito além da maneira de ver a notícia. As redações convencionais, se não acabaram, se transformaram, deixando de produzir informação para apenas um meio exclusivamente, é o que aponta Sidney Rezende, jornalista da Globonews e diretor do portal SRZD, sobre as transforma-ções que o jornalismo da era digital traz para o mercado de trabalho.

A mudança no modo de fazer jornalismo é uma constatação que a cada dia acontece de for-ma mais rápida. Estima-se que, daqui para fren-te, a imprensa sofrerá uma revolução a cada ano. “As mudanças que ocorrerão este ano serão muito mais rápidas que as que aconteceram em 2013”, exemplifica Sidney, também professor de Jorna-lismo Digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Ainda não há um modelo certo de gestão para este novo jornalismo e por isso os veículos acabam criando seu próprio método para sobreviver em uma imprensa cada vez mais concorrida. A informação passa a ser ainda mais valiosa em um mundo onde qualquer um pode gerar conteúdo. Uma das formas de o impresso, o principal atingido pelas transfor-mações, se manter no meio foi criando mecanismos

Foto: reprodução da página do SRZD

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6 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

O jornal digital não ocupa tanto espaço quanto os tradicionais

que levem seu leitor para a web. “O impresso tem que ter uma maneira de se relacionar com o público que ele já não tem mais, então ele também incor-porou a internet, mas como dois produtos diferen-tes. Você compra o jornal todo dia na banca, mas se você quiser ver um pouco mais, boa parte já está na internet atualizado”, diz Sidney.

Ele explica ainda que a disputa se torna ainda mais desleal para o impresso pela antecipação do fato na mídia digital. “Não adianta você ler no jornal do dia seguinte uma notícia que você já viu na TV ou na internet na tarde do dia anterior”. E o efeito rebate diretamente no mercado de tra-balho. Se o velho jornalismo está dando espaço para o novo, os velhos jornalistas também. “As redações ou acabam ou diminuem de tamanho ou criam um produto novo. As redações hoje estão cheias de jovens, porque eles são a simbiose disso tudo. Eles têm essa capacidade de escrever para a internet, falar na rádio e ser repórteres de tele-visão. Eles têm essa capacidade física, porque é desgastante, e ferramental, porque já começaram a brincar desde os cinco anos”, explica o jorna-lista, acrescentando que o rejuvenescimento das redações não exclui os jornalistas experientes do mercado de trabalho, mas é preciso se reinventar junto com a profissão para se manter na ativa.

Mas, se por um lado, o jovem é a saída pela fa-cilidade de se adaptar à multifunção, também pode ser o grande desafio de um gestor no momento em que é capaz de abrir mão para apostar em uma nova proposta. “De alguma forma, os veículos substituem mão de obra, renovam, rejuvenescem e pagam menos. O mercado de trabalho está dimi-nuindo as redações profissionais, ao mesmo tempo renovando com gente jovem que começa ganhan-do pouco, mas um dia ele sai e decide trabalhar em outro lugar. E esse outro lugar é empreendedor, é o próprio negócio”, afirma Sidney.

O atual momento que o jornalismo vive den-tro das redações é um enorme desafio. Repensar um modelo de negócio, transformando a forma de fazer, e, ao mesmo tempo, buscar a aceitação do público. Mais difícil ainda é criar um mode-lo rentável na internet, ainda tida como terra de ninguém. Em um mundo onde tudo parece ser de graça, qual seria o modelo de negócio ideal? Isso Sidney ainda não sabe, mas o jornalista acredita que chega um determinado momento em que as pessoas estão dispostas a pagar pela informação”.

“Realmente, as pessoas têm a sensação de que a internet é grátuita, o que não é verdade. Você paga conta de água, luz, telefone e paga pela in-ternet. Essa forma mais aberta de buscar a infor-mação é que cria essa sensação de ser de graça”, diz ele. Tudo depende do valor da informação para cada pessoa. Mas ainda está longe de se de-terminar um modelo de gestão ideal para o jorna-lismo na era digital.

No entanto, para Sidney Rezende, diretor de um dos 400 maiores sites do Brasil, este é o mo-mento certo para se investir em um novo negócio. “É uma alforria, um momento muito especial em que ainda dá para você investir no próprio negó-cio, conquistar parceiros e crescer. Esse é o mo-mento para investir em um projeto não existen-te. Espaço na internet tem, o grande desafio para todo mundo é criar um modelo de negócio para sobreviver, gerar empregos e ter lucro no campo de gestão”.

Para tornar o mercado de trabalho ainda mais acirrado, a oferta de profissionais atualmente é muito grande. De 30 a 40 profissionais formados em Comunicação nos anos 1980, quando Sidney Rezende se tornou jornalista pela PUC-RJ, o nú-mero subiu para de três a quatro mil recém-for-mados por ano em cada cidade. Mas se o cenário parece desanimador, o bem-sucedido jornalista tem um alento. “Eu sou exemplo de um profissio-nal que começou com uma mão na frente e outra atrás como apurador e passei por todas as fases do jornalismo. Financeiramente, tudo o que eu te-nho consegui a partir do jornalismo. Eu sou o real exemplo da possibilidade”, conta ele, com sorriso no rosto.

Mas é preciso ter paciência. Quem pensa em boa remuneração a curto prazo se engana. “A pro-fissão é extraordinária, muito bonita, desafiadora, difícil, sofrida, mas é possível. Quem pensa para si um resultado de seis meses a cinco anos, nes-te momento, não é a melhor profissão para isso, mas, por outro lado, te dá a oportunidade de estar onde a novidade está”, finaliza.

Foto: SXC.HU (Brano Hudak)

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7#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

O NOVO JORNALISMO IMPRESSOAs alterações e mecanismos utilizados para manter a fidelidade de seus leitores

Ingrid Vieira Lopes Ferreira

Durante muitos anos, o jornal impresso foi o meio que trouxe, em primeira mão, informações inéditas à população. Tratando de assuntos de in-teresse público, como economia e política, ele con-quistou a fidelidade de seus leitores e foi peça fun-damental em diversos momentos da história, entre eles, a ditadura militar, quando, apesar de toda cen-sura e repressão, os jornalistas lutavam pela verdade do povo e pela liberdade de expressão.

Apesar de passados os “anos dourados” do im-presso, devido aos avanços tecnológicos e à possibi-lidade de transmissão da notícia em tempo real, via internet, ainda há quem não abra mão de suas publi-cações diárias. Pensando nisso, os editores têm cria-do métodos para manter a fidelidade destes leitores. Em vez da busca pelo factual, o interessante, agora, é o aprofundamento dos assuntos. Uma reportagem completa, que trate sobre todos os vieses possíveis determinado acontecimento.

Outro método adotado é a mudança gráfica. Hoje, são encontrados layouts diferenciados, for-matos modernos e novas diagramações, que tra-zem maior leveza à leitura, o que permite, até ao consumidor mais conservador, uma descontração maior, sem abandonar a seriedade dos assuntos. O importante aos editores é a criação de alternativas que impeçam a extinção do meio impresso e que o mantenham vivo por muito tempo.

Para o aposentado Vandevaldo de Araujo, de 67 anos, admirador dos diários, essas mudanças são fundamentais. “Acho que o meio que não se adap-ta não sobrevive. Eu não gosto de internet, mas sei que ela é um adianto para a informação. Se os jor-nais continuassem estagnados em suas formas an-tigas, só as pessoas mais velhas, assim como eu, o leriam”, avalia.

Valdevaldo, que não passa uma semana sem comprar o jornal de domingo, afirma que o redese-nho do impresso e a divisão de cadernos são fatores que o ajudam a incentivar a leitura de sua família. “Eu compro o jornal e o desmonto inteiro pela casa. Fico com a parte de notícias, deixo o caderno sobre TV com a minha esposa e entrego o de esportes ao

meu neto. Acho ótimo que ele largue um pouco a internet e crie esse costume”, conta.

Marcelo de Araujo, de 18 anos, e estudante de Publicidade, concorda com o avô. Ele acredita que até os mais jovens devem ler, pelo menos, um ca-derno do impresso. “É um hábito que herdei do meu avô. Desde pequeno o vejo lendo jornal e é impos-sível não me interessar, ainda mais quando o assun-to é esporte. Sentir a experiência da informação no papel é bem diferente de ler uma notícia em frente ao computador”.

Quem também é fã do toque ao papel é Ricardo de Lima, de 42 anos. Ele afirma que esse é o principal motivo pelo qual não abandona o jornal. “Eu uso a in-ternet diariamente, mas na hora de me informar, gosto de ler o impresso. Sou de uma época em que as infor-mações eram todas palpáveis, eu podia ficar horas len-do um livro. Não consigo largar esse hábito”, revela.

Para Guilhermina Gonçalves, de 78 anos, pro-fessora aposentada, esse apreço é ainda maior. “Eu lembro de momentos únicos quando se fala em jornal impresso. Ditadura militar, impeachment do Collor, morte do Ayrton Senna. Acontecimentos que, de algum modo, mexeram com a vida de todo cidadão. O jornal diário traz muita bagagem e deve, sempre, ter como prioridade o compromisso com a informação”.

Fernanda Pereira, psicóloga, de 35 anos, acredita que essa ligação com o passado é um dos fatores mais gritantes quando se fala no apego ao impres-so. Segundo a doutora, as pessoas se prendem não apenas a fatos históricos, como a fatos corriqueiros. “Uma pessoa que perde um ente querido, que tinha o costume de ler jornal todas as manhãs, com certeza olha para a publicação com mais ternura”, analisa.

Por preferência afetiva, técnica ou costume, o fato é que um considerável número de pessoas ainda pre-fere o meio impresso e torce para que ele sobreviva por bastante tempo. Cabe aos editores, repórteres e à equipe envolvida continuarem buscando métodos que atraiam os consumidores e que tornem a leitura mais agradável. O impresso não precisa se intimidar frente às novas tecnologias. Ele só precisa se aliar a elas.

Acho que

o meio

que não se

adapta não

sobrevive.

Eu não gosto

de internet,

mas sei que

ela é um

adianto para

a informação

Vandevaldo

de Araújo

‘‘ ‘‘

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8 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

DO ANONIMATO AO SUCESSO VIRTUALPor meio de mídias sociais, internautas tornam-se referência e conquistam seguidores

Jessica Rodrigues Alexandrino

Uma noiva, antes do casamento, tem mil deta-lhes para pensar. Vestido, maquiagem, sapatos, salão, decoração e diversos outros itens de uma lista que parece inacabável. Quando o tão sonhado dia passa, o evento acontece e as preocupações terminam. A mulher respira aliviada e deixa todos os preparativos para trás, certo? Depende. Algumas pessoas sentem falta de toda essa rotina e arrumam um jeito de suprir a saudade. Criar um blog sobre casamento foi a ma-neira que Natacha Lucena (31) encontrou para ter um eterno dia de noiva.

A advogada não é a única que recorreu a um espa-ço na web para mostrar um pouco mais de sua história e compartilhar conhecimentos e opiniões. O uso de mídias sociais, como blogs e canais de vídeo, é cada vez mais frequente e pessoas comuns estão se tornan-do referência para seus leitores e espectadores, em te-mas como moda, maquiagem, casamento, ferramentas para internet e até comportamento cristão. Essa comu-nicação de público para público é difundida na internet como uma “consultoria informal”, na qual autor e lei-tor possuem uma forte ligação, construída com dicas e conselhos.

Esse laço não é importante somente para quem tem suas dúvidas esclarecidas e consegue a infor-mação desejada. O valor dessa relação produz uma sensação de sucesso e faz com que todo o esforço seja recompensado. Escrever textos e editar ima-gens de madrugada são atitudes que fazem parte da rotina de quem publica uma parte de sua vida no ambiente online e Natacha está nesse grupo. Desde que se casou, em 2008, se encantou por esse mer-cado de bodas e não parou mais de pesquisar sobre o assunto. “Sempre quis um espaço onde pudesse escrever e tive essa ideia para aliviar a saudade do meu mundinho de casamento.”

Seu blog, “Natacha Lucena”, existe desde março de 2010 e tem várias seções, que vão desde a casa nova até a lua de mel, para que o visitante possa achar o que procura com mais facilidade. Nele, a autora faz postagens sobre famosos e anônimos, incluindo ami-gos que disponibilizam fotos e detalhes de chá de pa-nela, cerimônia e festa. Esse retorno não era esperado

por Natacha, que deu início ao projeto por “hobby” e com o intuito de ajudar amigas próximas que estavam planejando se casar.

Dessa forma descompromissada, o trabalho come-çou e cresce cada vez mais. A blogueira costuma dizer que as noivas são mais reservadas e, por isso, muitas vezes preferem mandar e-mails ou mensagens reser-vadas pela “fanpage” do blog. Os recados são muitos, mas ela faz questão de atender um por um. Nas res-postas, ela costuma ser eclética para agradar a todos e indica produtos e serviços acessíveis ao público, já que os gastos com casamento, na maioria das vezes, fogem do controle.

Mesmo tendo esse público que a acompanha, Natacha diz que visita outros blogs no mesmo estilo e não vê motivos para existir rivalidade entre eles, já que cada um tem peculiaridades que o torna di-ferente dos outros. São esses detalhes que acrescen-tam e somam conhecimentos aos mais interessados: os leitores. Se existe segredo ou competição para conquistá-los, a consultora não sabe, mas, por expe-riência própria, considera o amor como o principal ingrediente dessa mistura. “Meu blog é uma exten-são do meu coração. Parece clichê, mas é verdade. E posso assegurar que vale a pena”, ressalta Natacha.

Sempre

procuro

saber o que

as minhas

leitoras

estão

achando

Amanda Alves

‘‘ ‘‘Natacha Lucena tem um blog sobre noivas, que era um hobby, e hoje é um trabalho que cresce bastante

Fotos: Jessica Alexandrino

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9#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

Essa participação do público na produção de conte-údo é muito positiva, segundo Ariane Diniz Holzbach, jornalista, doutora em Comunicação e pesquisadora do audiovisual na cultura digital. Ela diz que, se as mídias fazem parte do cotidiano das pessoas, seu processo de elaboração não tem que ficar restrito a poucos. Para a professora, a democratização é fundamental e existe espaço para todos, sejam comunicólogos com forma-ção ou usuários “comuns”.

Já com relação à linguagem utilizada por esses co-municadores, ela diz que existem muitos tipos de pro-fissional e de amador e cada um apresenta um lugar de fala diferente, o que impacta, necessariamente, o resultado da mensagem a ser transmitida. O que pode ser observado em relação às mídias é que, quando não se confia em uma empresa de comunicação, ou ela dei-xa de ser uma representação, outras mídias ou lógicas midiáticas são procuradas. “O consultor profissional e o amador jamais serão superiores ou inferiores, são diferentes”, diz Ariane.

Sendo assim, torna-se inevitável a tendência de “profissionalizar” funções como as de um bloguei-ro, já que o público está mais atuante. Esse grupo de pessoas não está mais distante do processo criativo e de produção de conteúdo midiático. Ariane considera a fronteira entre autor e receptor muito tênue e, para ela, profissionais de comunicação têm o papel de en-tender esses novos contextos e transmitir informação conscientes da situação. O tratamento do que é noti-ciado precisa ter como referência o comportamento ousado do público. “Cada um precisa compreender sua missão nesse mundo cada vez mais adepto à cul-tura participativa”.

Com essa possibilidade de produzir conteúdo, a professora acredita que as pessoas sempre foram exi-gentes e críticas em relação à informação que conso-mem. E que agora existem muitas ferramentas dispo-níveis para reclamar, caso algo não satisfaça. Com o desagrado mais aparente e maior oferta de conteúdo, o senso crítico é potencializado. A exigência aumenta porque boa parte do público compreende como os pro-dutos midiáticos são elaborados.

Uma das vantagens perceptíveis nessa grande quantidade de informação disponível é que as pessoas podem escolher o que querem absorver, pois o núme-ro de circuitos comunicativos é vasto. Cada usuário pode decidir o que e como consumir. Blogs e vlogs, por exemplo, têm características distintas, já que, em um, predominam textos e, em outro, vídeos. Mas, nes-se contexto, são equivalentes, pois, apesar de apresen-

tarem suas singularidades, são ferramentas midiáticas de qualquer maneira.

Instrumentos como esses podem ser usados para aliviar anseios próprios ou para ajudar outras pessoas a esclarecerem suas indagações. O “Alô amiga” é um desses blogs com os quais os leitores se identificam bastante. No espaço, a estudante Amanda Alves (18), junto com algumas colaboradoras, escreve como se es-tivesse falando com amigas, o que fazia antes em seu Twitter. Naquele tempo, a exposição era menor e ela nem pensava em registrar seus pensamentos em um local diferente. Com incentivo da mãe e da avó, desde pequena, e de uma colega, ela mudou de opinião. “En-viei um dos meus textos para uma amiga, ela gostou e disse que eu deveria começar um blog para mostrar ao mundo uma Amanda que poucos conheciam”.

Ela escreve sobre temas variados, conhecidos por todo adolescente. Todos os assuntos têm vez. De ma-quiagem a ENEM. Essa variedade e a aproximação com os leitores, segundo a autora, é o diferencial do seu blog. A linguagem é coloquial e os produtos indi-cados fazem parte do dia a dia de quem escreve e de quem lê. Tudo o que está ali é o que Amanda falaria para suas amigas, é o que ela acha válido compartilhar

com pessoas que, provavelmente, estão passando por experiências parecidas com as que ela vive. “Sempre procuro saber o que as minhas leitoras estão achando, desde o layout até o texto publicado”.

E a recíproca é verdadeira. Quem está do outro lado também gosta de perguntar a opinião dela nas mais variadas situações. Até mesmo quando uma paixão está em jogo. Esse foi o caso de uma leitora que pediu ajuda para se declarar para um menino com quem ela tinha amizade. Conhecendo o caso, a blogueira publi-cou um texto chamado “Conta pra ele”, incentivando as garotas a dizerem o que estão sentindo. Motivada por aquelas palavras, a menina revelou seu amor e des-cobriu que ele sentia o mesmo por ela. Estão juntos até hoje. “Nunca imaginei que eu pudesse encorajar alguém a ter essa atitude”.

Essa preocupação em atender às necessidades do público está presente também nas postagens mais comuns, como as relacionadas à moda. Diferente-mente de muitos outros espaços online que indicam produtos de grifes que poucas pessoas podem com-prar, o “Alô amiga” dá dicas mais acessíveis, até mesmo para reaproveitar peças antigas e reformá-las. Inspirada nessa onda de customização, uma

Rahabe Bastos uniu o útil ao agradável: tem um blog sobre moda e isso virou seu trabalho

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10 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

leitora transformou um shorts branco que estava esquecido em seu guarda-roupas em um shorts “TyeDye” com tachinhas.

A receita para conquistar essa proximidade, Amanda ainda não se arrisca a revelar. Mas sabe que o fato de uma pessoa desconhecida conseguir ser referência para alguém é a prova de que sonhos podem tornar-se realidade. Esse, para ela, é o re-sultado da força de vontade, unida à personalidade de cada um, o que permite que todos façam a di-ferença. “O importante é não ter medo do que vão dizer e se entregar cem por cento”.

Essa ideia de que mídias sociais podem apro-ximar as pessoas é reforçada pela professora do curso de Comunicação Social Érica Ribeiro. A jornalista diz que, apesar do contato acontecer por meio de computadores, os laços de amizade são fortalecidos e as conversas envolvem assuntos que não são abordados pessoalmente. Assim, os ami-gos se conhecem de outra forma e as relações são estimuladas pela comunicação online.

A possibilidade de troca de informação pela web, de acordo com Érica, é válida, principalmen-te, se o público tiver discernimento para entender se determinada mensagem é verdadeira ou não. Se o receptor do conteúdo não tiver conhecimento suficiente para compreender a veracidade do que está sendo dito e distinguir o certo do errado, sua participação acaba perdendo o valor, pois ele irá somente repassar o que viu. “Notícias são espa-lhadas na rede de forma irresponsável e isso é até perigoso.”

O alcance dessas informações é enorme, inde-pendentemente da mídia pelas quais elas passam. Vídeos e textos atingem as pessoas de forma dife-rente, afirma Érica. A professora explica que, para saber qual meio atinge mais gente e de que forma

o conteúdo é recebido, teria que ser feito um es-tudo de audiência. Seria necessário, por exemplo, divulgar a mesma informação em uma postagem escrita e em um vídeo, na mesma hora. Depois, pelo número de comentários e visualizações, seria possível avaliar qual mídia teve um alcance maior e provocou mais os receptores.

A linguagem é um dos fatores determinantes para que o público sinta-se tocado pela informa-ção. O modo de se expressar pode variar bastante, mas a jornalista diz que um comunicador forma-do nem sempre fará melhor uso das palavras do que um profissional de outra área que também está nas redes sociais. Segundo ela, um amador que já está no ambiente online há anos tem mais facilida-de para trabalhar com aquelas ferramentas do que uma pessoa de comunicação que acabou de entrar nesse universo.

É esse público pensante que queria indagar e não tinha maneiras que facilitassem o contato entre autor e receptor. Com as mídias sociais, as pesso-as estão tendo acesso a um espaço de fala. Antes, para se corresponder com um jornal, por exemplo, era preciso escrever uma carta e, dificilmente, dava para saber se ela tinha sido entregue ou não. Hoje é possível ter certeza de que um comentário foi publicado, existe controle sobre isso, como afirma Erica. “A internet permitiu ao público expor seus pensamentos”.

Blog como espaço de falaA conquista desse direito de resposta fez com

que as pessoas passassem a utilizar o espaço online de forma direta, segmentada. Com planejamento, o que antes era feito de forma livre, hoje tem um esquema que acaba “profissionalizando internau-tas”. Assim acontece com blogueiros que ganham patrocinadores e atingem um nível de profissiona-lização.

Com toda essa gama de opções para se expres-sar, pessoas comuns criam locais na web para falar de um assunto do qual gostam e tornam-se mode-los para outros indivíduos. O caminho até a con-quista da credibilidade, porém, não é fácil e tem várias fases, como a legitimação. Para que a trilha seja percorrida com sucesso, é importante começar devagar e não desistir. O trabalho é grande, mas, com esforço, todo mundo pode obter destaque.

Rahabe Barros (20) compartilha dessa opi-nião. Ela acha fundamental quebrar essa ideia de

que somente celebridades podem ser referenciais e afirma que segue pessoas famosas apenas como forma de pesquisa e inspiração. Um dos motivos dessa “preferência por anônimos” é gostar de tra-balhos menos mecanizados e forçados. Assim é o seu “Caso doce”, que começou quando ela estava no segundo período da faculdade, com o objetivo de exercitar o que aprendia em sala de aula.

A estudante de Comunicação uniu o útil ao agra-dável e decidiu escrever sobre o que mais gosta: moda. O assunto rendeu tanto que o que antes era somente blog hoje também é página no Facebook, no Twitter e no Instagram. Em todas essas mídias, são, em média, 16 mil seguidores acompanhando os registros que Rahabe faz de looks próprios e de pes-soas famosas. Nessas matérias, ela conta onde com-prou as roupas e quanto custaram. “Sou muito “po-vão”, frequento lojas de departamento e aproveito as liquidações. Não fico limitada a lojas de grife.”

A espontaneidade de suas falas tem bastante a ver com os rumos que o “Caso doce” percorre. A criadora confessa que gostaria de deixar o blog ainda mais parecido com ela, mas a falta de re-cursos e o pouco tempo disponível atrapalham um pouco. Parte dessa vontade de querer melhorar vem do fato de o público querer sempre mais e es-tar sempre pedindo dicas antes de decidir o que vestir em alguma data comemorativa.

É nessa hora que a consultora entra em ação e adere também à customização. Principalmente, em festas como as de carnaval e São João. Ela acon-selha, o público faz o teste e, logo em seguida, o retorno vem. Assim aconteceu no réveillon de 2012/2013. Rahabe pediu para as meninas manda-rem fotos de “look” ou maquiagem que pretendiam usar na ocasião e surpreendeu-se com as imagens que recebeu para publicar na fanpage. “Mais de 30 pessoas enviaram as fotografias e adoraram quan-do foram postadas na página”

Comunicadores como Rahabe, Natacha e Amanda fazem parte de um grupo que só aumenta: o dos consultores informais. São essas pessoas que emprestam um pouco do seu tempo e de suas expe-riências para acrescentar à vida de gente que elas nem conhecem. Separadas pela tela de um com-putador ou até mesmo de um celular, dividem seu mundo com um público que vive em um mundo bem parecido. A identificação conquistada ao fim de cada postagem deixa a certeza de que conheci-mento, quanto mais se divide, mais se tem.

Sou muito “povão”,

frequento lojas de

departamento e aproveito as

liquidações

Rahabe Barros

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11#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

REDES SOCIAIS COMO ESPAÇO DE DEBATEAntes reservado a roda de amigos, discussões entram em evidência no universo virtual

Tamires Aimee

Ana curte os pensamentos de Roberto, que co-menta sobre as ideias de Luiza, que desaprova as postagens de Paulo, que só lê tudo sem curtir ou comentar nada. Assim as pessoas se comunicam pelo Facebook, aplicativo de mídia social que com-pleta dez anos em 2014 e virou uma febre entre a população. O objetivo era fazer com que as pessoas interagissem pela internet. Deu certo, e foi além. O Facebook não é apenas uma maneira de aproxima-ção entre os internautas: é um veículo de debate e também uma forma de expor ideias e opiniões.

Antigamente, temas polêmicos eram debatidos numa mesa de bar, na sala de aula, no horário de almoço, mas, hoje em dia, é por meio da página de relacionamento que as pessoas fazem isso. Segundo a jornalista e socióloga Renata Feital, esse tipo de comunicação mediada serve principalmente para ni-velar as hierarquias da sociedade. “Na minha frente, em sala de aula, talvez meus alunos não tenham co-ragem de me interpelar, dizendo que estou errada. Mas no Facebook as pessoas estão atrás do compu-tador, elas vão lá e opinam”.

Feital utiliza seu perfil para expor suas opiniões, é o momento dela para dizer o que pensa. “Ultima-mente, as pessoas estão mais conectadas do que ao vivo, conversando pessoalmente. Utilizar o Face-book como espaço de discussão é legal, até porque as pessoas quase não se encontram mais”. Mesmo utilizando essa ferramenta para gerar discussões e interagir melhor com seus amigos conectados, Re-nata conta que muitos usuários a criticam, principal-mente por serem contrários a suas ideias.

Recentemente, ela teve uma desavença com um ex-aluno. Ele trabalha em um veículo de comu-nicação e discordou dos dizeres da professora na rede social sobre a cobertura da imprensa diante de um acontecimento que chocou a sociedade. “Colo-quei como a mídia tratou o fato de forma sensacio-nalista. Eu tenho o direito de escrever o que penso. Mas ele foi extremamente agressivo e arrogante. Ele cobriu a notícia e se envolveu demais. Excluiu meu perfil, mas uma semana depois se arrependeu e pediu desculpa”.

Algumas redes sociais como o Facebook oferecem ferramentas para exposição e troca de opiniões

Foto: Érica Ribeiro

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1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

O Facebook também é uma forma de desco-brir a intolerância das pessoas, que, muitas vezes, não aceitam a opinião do outro e consideram seu pensamento a única verdade. Mas aqueles que pro-põem um debate via internet também estão abertos a aceitar outras opiniões, analisar e, quem sabe, até mudar sua forma de pensar. Assim como Feital, o vocalista da banda Detonautas Roque Clube, Tico Santa Cruz, também utiliza seu perfil para iniciar debates com seus seguidores. Ambos não querem impor suas opiniões, apenas debatê-las:

“Acredito que seja possível sim inserir os assun-tos e debatê-los. Faço esse exercício com meus se-guidores e tenho ótimos resultados”. O cantor admi-te que já mudou de opinião depois dos debates que iniciou em seu perfil. Durante as manifestações que aconteceram ano passado, ele acreditava que a po-pulação não deveria permitir que partidos políticos levantassem suas bandeiras. “Um grande equívoco meu. Foi por meio dos debates na página que con-cluí que estava errado e que a democracia deve estar à disposição de todos”.

Utilizar o Facebook para se expor nunca trou-xe problemas a Tico Santa Cruz. Mesmo quando alguns seguidores discordam de seus pensamentos, ele prefere não censurar as críticas ou posiciona-mentos contrários. “Eventuais confrontos de ideias se tornam cansativos em alguns momentos, mas prefiro manter a página aberta ao grande público”. Ele ressalta ainda que, ao contrário do que ele faz, muitas páginas só aceitam os elogios. O cantor lem-bra que também já utilizou outros sites de relaciona-mento para iniciar debates.

Mesmo com a existência de outras mídias so-ciais, como Twitter e Orkut, as pessoas ainda pre-ferem o Facebook e, nos últimos dez anos, isso ficou claro devido ao número de usuários. Tanto Feital quanto Tico acham que o diferencial está na dinâmica utilizada. Principalmente pela possibili-dade de postar fotos, fazer comentários, compar-tilhar textos e links. No Twitter há um limite de caracteres, o que dificulta expor todas as ideias do usuário. Feital completa: “O Orkut, por exemplo, só pegou aqui no Brasil. As pessoas acabaram mi-grando para o Facebook, então isso foi bom, por-que acabou dando uma visibilidade melhor para essa mídia social”.

Tico Santa Cruz ressalta que no Twitter outro problema pode causar modificação da mensagem ao longo do percurso. “O Twitter é complicado porque

vira um telefone sem fio, quando alguém pega uma mensagem fora do contexto e resolve intervir e par-ticipar. No Facebook, pelo menos o texto original fica mantido, evitando possíveis desmembramentos errados”. Desta forma, entendem-se os motivos que levaram esta mídia social a se tornar uma febre en-tre os internautas.

O Facebook não tem censuras e muitas pessoas têm seus perfis como diários, escrevem desabafos que guardaram para si por muito tempo. Renata Fei-tal percebeu, desde que criou seu perfil, que nunca ficou tão clara a opinião das pessoas. “Elas defen-dem determinadas ideias extremamente preconcei-tuosas e isso acaba sendo um problema”. Ela com-pleta dizendo que há uma intolerância e o Facebook é para mostrar como as pessoas realmente pensam, pois muitas delas não aceitam ouvir uma opinião que não seja a sua. Mesmo assim, o aplicativo é constantemente utilizado para o diálogo. “Um es-paço não só para mostrar sua opinião, mas também para reformulá-la”, conclui a professora.

Renata já foi bastante criticada por ser contrária às ideias de alguns dos seus amigos

Foi por meio dos debates

na página que concluí

que estava errado e que a

democracia deve estar à

disposição de todos

Tico Santa Cruz

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Foto: Arquivo pessoal

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13#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

MARKETING NEGATIVO NA REDE SOCIALQuando as estratégias de propaganda se voltam com as empresas que a criaram

Nathalia Gomes e Rafael Brito

“Criar meu web site, fazer minha homepage, com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje nesse informar...”. Há mais de uma década, Gilberto Gil já trazia em sua canção, “Pela Internet”, expressões que hoje se tornaram comuns no dia-a-dia da população mundial. Essa realidade também é observada no Brasil, onde cerca de 21,9% da população acima dos 10 anos utiliza a internet, segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por conta de tais mudanças, as empre-sas sentiram a necessidade de se introduzir nesse meio, adaptando suas criações às novidades que essa nova tecnologia proporciona. O avanço da Internet e sua difusão ocasionaram a criação de redes sociais, espaços nos quais as pessoas inte-ragem, trocam mensagens e fotos, compartilham opiniões, ideias e filosofias de vida. Tudo come-çou há dez anos, porém sua popularização é re-cente, quando aplicativos foram disponibilizados em aparelhos celulares, tornando o acesso mais rápido e fácil. Estar conectado a um tipo de rede social é quase uma identidade virtual e quem não tem perfil em alguma delas acaba ficando à mar-gem do que acontece ou não sabe do ocorrido tão rapidamente.

As redes sociais não atingiram somente as pes-soas físicas, mas também as jurídicas. A possibilida-de de anúncios e propagandas ajudou na expansão das marcas e produtos. E as empresas entraram de cabeça nessa evolução, divulgando suas páginas na web e em redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram. A aceitação delas ocorre por meio de “curtidas”, link disponibilizado de acordo com a rede escolhida. Nesse contexto, a voz do cidadão ficou mais evidente e clara. Hoje, qualquer um pode expor sua opinião - seja ela positiva ou negativa - e atingir grande parte do mundo. O imediatismo é uma característica deste meio. Com isso, todas as empresas tiveram que adequar e modificar seus ca-nais de reclamação, disponibilizando uma nova fer-ramenta que verifique o conteúdo postado nas redes. A resposta das manifestações tem ser rápida, com

Empresas procuram se proteger do marketing negativo na internet para não perderem clientes

linguagem simples e direta, para que o marketing negativo não se propague, prejudicando a imagem da instituição envolvida na insatisfação do cliente.

Essa preocupação foi um dos pontos que fize-ram com que a Empresa Bradesco Seguros e Pre-vidência mudasse a maneira de se posicionar no mercado. Atuante no segmento de seguros pessoais e previdência privada, a instituição criou a área de Soluções Digitais, responsável pelo desenvolvi-mento de sites e aplicativos, além de detectar os conteúdos expostos na rede. Segundo Karin Maris, 21 anos, da equipe de Propaganda e Mídia, essa área cuida do contato com o cliente, com resposta e solução do problema em questão. Para ela, as redes sociais estão exercendo um papel fundamental na transmissão de informação e esse imediatismo é o que o cliente procura, pois não quer esperar longo prazo de resposta. “Eu acredito que o consumidor ficou mais exigente por ter mais conhecimento e mais fontes de pesquisa. Hoje em dia, eles sabem muito mais dos seus direitos e deveres do que an-tigamente e, se houver qualquer dúvida, eles se informam pela ferramenta de internet. O feedback ficou mais rápido”, diz Karin.

Fotos: SXC.HU (Wilton Rodrigues)

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1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

A jovem ainda conta que a publicidade da em-presa se modificou com a chegada da Internet. Hoje em dia, há uma preocupação com divulgação vir-tual, com criações de banners em sites, Fan Pages (Facebook), atualizações no Twitter e e-mail marke-ting. Isso ajuda na divulgação de empresas, além de mantê-las sempre próxima dos clientes, atraindo novos e fidelizando os antigos. “O ponto positivo da difusão das mídias é que podemos alcançar um pú-blico maior de forma mais eficaz, diferenciada e ba-rata. Já o ponto negativo é que a concorrência cres-ce e todas as empresas têm acesso à publicidade, às mudanças e às adaptações feitas pelo Bradesco na inserção das novas mídias”, finaliza a publicitária.

Se no Bradesco há uma área voltada só para isso, na Sony Music Brasil há o Marketing Digi-tal, uma equipe composta por cinco pessoas que são responsáveis por localizar tais reclamações. É isso que conta Mariana Sampaio, 24 anos, formada em Marketing pela Universidade Veiga de Almeida e integrante dessa equipe. Há quatro anos na Sony Music, ela ajuda a produzir conteúdos para as redes sociais, a administrar mais de cem páginas de artis-tas contratados e ainda a fiscalizar as reclamações e elogios relacionados à empresa.

“Gerenciamos quatorze contas oficiais, entre Facebook, Twitter, Google+, e, para a verificação rápida e eficaz de cada página, contamos com uma ferramenta que nos mostra tudo o que está sendo falado com o nosso nome”, conta a jovem. Em rela-ção às respostas, são elaboradas com o objetivo de sanar ao máximo os questionamentos feitos, redigi-das com a linguagem de acordo com o público alvo de cada artista. Isso se dá por conta de um maior envolvimento do cliente com a empresa, havendo o feedback mais rápido e preciso.

Para Mariana, essa interação do público com a instituição ocorre pelo desenvolvimento de ferra-mentas que facilitam a comunicação, já que hoje em dia a maioria das pessoas tem acesso a informações por meio da Internet e está cada vez mais exigente. Por conta disso, a Sony teve que se adaptar rapi-damente a esse novo universo, aliando-se a outros departamentos para criar estratégias inovadoras e eficazes. “Hoje, nossa equipe é o maior braço da companhia no processo de divulgação e interação com o público, que busca bom atendimento e nem sempre encontra. É nisso que nos baseamos. Por conta disso, o retorno que temos é muito gratifican-te”, diz a moça.

Na visão do profissional e professor de Marketing da Universidade Veiga de Almeida, Claudio Souza, essa mudança que ocorreu de dez anos para cá, com a chegada das redes sociais, fez com que as empresas au-mentassem o nível de assertividade nas respostas junto aos consumidores reclamantes, por conta do Código de Direito do Consumidor. Mesmo tendo sido criado antes da evolução tecnológica, ele até hoje é utiliza-do. Para evitar qualquer problema, a melhor maneira em casos de reclamações é contar com uma central de atendimento eficaz, na qual haja uma área voltada a pesquisas na web a respeito da visão do cliente sobre a empresa, com respostas rápidas e que solucionem o problema. Além disso, é importante utilizar o Marke-ting próprio, principalmente na internet, informando ao público que a empresa está disposta a trabalhar em conjunto, buscando sempre agradar o consumidor. Afinal, segundo Cláudio, quando o cliente não gosta do serviço prestado, divide isso com mais 15 pessoas, mas quando fica satisfeito, compartilha somente com três. Ou seja, a imagem negativa é espalhada mais ra-pidamente que a positiva.

Para ele, outro ponto importante ao qual nem sempre as instituições estão atentas é a transparên-cia. Isto é, quando há algum problema, é preciso as-sumir o erro e resolver o problema imediatamente, pois assim a credibilidade da empresa não é preju-dicada. “Nos Estados Unidos, houve um problema com os Pick-Ups, que usavam pneus Firestone. Al-guns proprietários foram surpreendidos com o es-touro dos pneus enquanto dirigiam suas caminhone-tes. Isto se deu porque o presidente da Firestone não informou à Ford e ao mercado que os pneus usados nos veículos estavam com defeito. Esta situação re-percutiu mundialmente e a Ford tem problemas até hoje com a venda dos Pick-Ups”, finaliza.

Com as mudanças ocorridas, as pessoas tiveram que se adaptar a esse novo mundo, no qual a tecno-logia está presente. Como reflexo disso, as empresas rapidamente trocaram seus setores, dando espaço às vozes que vêm das redes sociais. De dez anos para cá, modificações foram feitas em todas as áreas, de diferentes instituições. Hoje em dia, há maior faci-lidade em reclamar e ser atendido. O medo é que os clientes façam um marketing negativo do produto e isto afete diretamente a visão da empresa. A po-pulação continua usufruindo desses avanços e utili-zando-os a seu favor, para reivindicar direitos. Sinal destes novos tempos em que a cidadania também pode ser exercida e fortalecida via redes sociais.

É importante que as empresas reconheçam seus erros para manter a transparência

Foto: SXC.HU (Ivan Soares Ferrer)

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15#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

Foto: Érica Ribeiro

A QUESTÃO ÉTICA NAS REDES SOCIAISIndependentemente de maior fontes de pesquisa, informações devem ser apuradas

Evelyn de Assis da Silva e Isabela Santos Reis

Compartilhar informações, publicar imagens logo após um acontecimento ou descrever situações em 140 caracteres. Pelo modo instantâneo com que as redes sociais permitem a divulgação das reportagens, o mecanismo de transmissão de informações ocor-re de forma mais dinâmica e imediata. A perspicácia destes meios vem quebrando paradigmas dentro dos veículos tradicionais de comunicação no que tange o processo de descoberta dos fatos e levantando ques-tões éticas, dentro e fora das redações. Atravessando horas a fio na redação, o jornalista desenvolve repor-tagens no dia anterior, fazendo com que a informação chegue aos cidadãos em mínimos detalhes. Agora, transmitir estes conhecimentos sob a imposição das novas tecnologias dá margem a qualquer indivíduo relatar um fato, de onde estiver.

Em meio às infinitas possibilidades oferecidas pelo uso das plataformas digitais, a incidência de profissionais de comunicação que pesquisam con-teúdos on-line cresce em larga escala. O resultado do levantamento realizado pelo Portal de Comuni-cação, do site UOL, aponta que 67% dos jornalistas utilizam o Twitter como objeto de pesquisa e divul-gam suas próprias publicações. Em seguida, surge o Facebook com 58,33%, precedido pelos blogs, com 57,14% e, as agências, que aparecem como fonte para 50% dos jornalistas brasileiros. Ainda que as redes possam ser peças primárias para apuração, é indispensável contatar a assessoria de imprensa, fonte oficial ou até mesmo a própria fonte antes de publicar as informações adquiridas. Assim, consta-tando a veracidade do que é dito e ganhando proxi-midade da fonte, mais valor terá a informação.

Pela facilidade de acesso à informação que as mídias proporcionam, os atuantes da área de jorna-lismo se inserem no mundo cibernético para encon-trar novas histórias, tendências e fontes. Uma das alternativas mais procuradas é o Facebook, que caiu no gosto popular e admite a busca por temas que po-dem ser relevantes. A jornalista e socióloga Renata Feital analisa que o grande número de compartilha-mentos sobre um assunto cria uma realidade ilusó-ria. “A rede social é um espaço rico de informações

Mesmo para a internet, o jornalista deve ter bastante atenção com as informações apuradas

que podem e devem estar no dia a dia do jornalista. Porém, nossa profissão exige apuração”. Ela acres-centa ser comum que os usuários deem créditos ao conteúdo de um fato que pode não ser verdadeiro. “As pessoas passam a acreditar porque todos os ou-tros acreditam e compartilham”, completa.

Partindo da iniciativa que conduz os profissio-nais aos cuidados na elaboração de reportagens, há quem observe que o primeiro rumor circulado, seja em uma rede social, um jornal local ou fonte anô-nima deve ser evitado. Regido pela imparcialidade, o jornalista precisa, em suma, estar atento ao cres-cente fluxo de conteúdo. Consultor de mídias digi-tais, além de jornalista, Alexandre Inagaki acredita que na relação entre fonte e entrevistador deve ser mantido o profissionalismo, mesmo com o distan-ciamento, respeitando a privacidade e o sigilo. “As tecnologias mudaram e a velocidade com que in-formações são veiculadas também, mas os cuidados que um jornalista deve ter permanecem absoluta-mente os mesmos”, analisa Inagaki.

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16 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

Produção jornalística virtualAinda que os cuidados sejam válidos nas redes

sociais, graças à sua rapidez, elas também permi-tem chegar à maior glória desta profissão: o furo, acontece quando uma equipe jornalística apura uma notícia antes que seja publicada por veículos con-correntes. Pelas mídias, o repórter pode localizar personagens que, em outros tempos, só alcançaria caso tivesse a sorte de encontrar a peça-chave para sua matéria no próprio local. O jornalista do jornal O Dia, Gabriel Sabóia, reforça que este caminho é sinuoso e os lados precisam se complementar. “Na internet, na ‘Mídia Ninja’, na vida, existem muitas pessoas cheias de boas intenções. Boas intenções das quais o inferno também está cheio. Se você é jornalista, deve viver de cruzar versões até chegar à verdade. Antes disso, nada de transpor uma palavra para o papel”.

Mas a ferramenta pode tornar-se tão audaciosa quanto as possíveis fontes encontradas nas ruas. Com a mesma agilidade que uma foto é carregada no Facebook, ela é compartilhada por um sem-nú-mero de internautas, se ‘viraliza’ e ganha o mundo. Seja por intermédio de mídias alternativas ou por populares tomados pela emoção, falsas denúncias são feitas ou se tornam lendas urbanas. É a partir daí que entra em cena o papel que o jornalista deve de-senvolver: filtrar as informações, prezando sempre a busca pela verdade. “Da Cinelândia à Rocinha. Da bala de chumbo ao gás de pimenta. Mas a nossa capa de jornal lá estará nas bancas, sujeita a todo tipo de crítica”, finaliza Sabóia.

O jornalista ocupa posição de mediador da in-formação e, portanto, deve ter senso e equilíbrio no tratamento com as fontes. A ética contribui para a melhora do jornalismo e transmite por personagens reais e fontes consistentes a produção correta e ho-nesta do conteúdo informativo. Para tanto, é neces-sário atenção. O professor de Jornalismo da Uni-versidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Gerson Martins, é um dos que acreditam na maneira criteriosa com que as redes sociais devem ser trata-das.“Elas se tornaram um grande apoio e contribui-ção significativa para a produção jornalística, mas não devem ser colocadas como absolutas e tampou-co desprezadas”, afirma.

Por isso, é importante sempre confirmar as in-formações antes de publicá-las. A ética profissio-nal deve basear todas as profissões. No jornalismo, ela deve estar presente em todos os momentos, da

apuração à edição. O que move o jornalista não é somente a quantidade de visualizações de sua pu-blicação e, sim, promover uma comunicação since-ra com o leitor. Aquela notícia que é escrita tendo totalmente como base a fome de conhecimento dos profissionais da comunicação é o combustível des-tes profissionais.

Jornalistas nas redes sociaisAs redes sociais são os métodos que mais têm

influência no ato de comunicar entre os usuários. Os “sites de relacionamento” eram cenários para variadas atividades, como troca de mensagens e publicação de fotos, além do compartilhamento de interesses em comunidades e fanpages no Orkut e Facebook, respectivamente. Há poucos anos, esse espaço abriu portas para o exercício do jornalismo digital, profissão responsável pela fluidez da infor-mação na sociedade.

Para que a checagem dos fatos seja veloz e pre-cisa, o uso das redes tornou-se indispensável para complementar a apuração das notícias. Mas é ne-cessária atenção do jornalista aos dados que são veiculados na web, de maneira que estes não sejam publicados de forma incorreta.

Para Gabriel Sabóia, o jornalista tem o dever de cruzar as informações para chegar a verdade

Foto: José Pedro Monteiro (Agência O Dia)

Se você é jornalista, deve

viver de cruzar versões até

chegar à verdade. Antes

disso, nada de transpor uma

palavra para o papel

Gabriel Sabóia

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17#VEIGA+Dez anos da nova comunicação número 17 Ano 12 1º Semestre de 2014

CONVERGÊNCIA DAS GRANDES MÍDIAS PARA O UNIVERSO DOS SMARTPHONESAumenta número de pessoas que utilizam aplicativos de celular para se informar

Marcelo Silva

Todos os dias, Ângelo Zanetti, 20 anos, segue uma rotina: sai no mesmo horário para ir à facul-dade. Assim que consegue um lugar no ônibus, ele tranquilamente lê as notícias mais relevantes que aconteceram na sua cidade e em seu país. O que lhe garante essa comodidade é sua assinatura de um conceituado veículo impresso, mas que é visualiza-da em um “smartphone”, o que lhe permite se man-ter informado sem que ele tenha que parar na banca de jornal e talvez perder o horário da primeira aula. Esse serviço facilita a vida de muitos que, como ele, não podem aguardar um instante na fila do jornalei-ro ou que precisam se atualizar a cada instante com uma velocidade quase instantânea.

Pessoas como Camila Lenziardi, que vive uma experiência parecida em seu cotidiano. “Meu tra-balho me obriga a estar sempre informada. Então eu preciso ficar sabendo de tudo o que acontece.

Ângelo Zanetti considera que os jornais em smartphones facilitam no seu dia a dia

Às vezes, antes mesmo de chegar ao trabalho, eu já segui as principais notícias de dois, três jornais e, dependendo da relevância, eu acompanho o de-senrolar dos fatos pelo rádio, o que me facilita, pois quando chego à agência já estou por atualizada e abastecida com diferentes informações”, conta a jo-vem, que trabalha com publicidade. A informação é tão primordial na vida das pessoas que passou a ser companheira fiel de grande parte delas. Sem pedir licença, os veículos de comunicação estão presentes nos aparelhos de celulares de muitos brasileiros.

No mundo, o Brasil é o quarto colocado do ranking dos países com o maior número de “smar-tphones”, que são os aparelhos de telefone celu-lar mais avançados atualmente. A chegada desse tipo de tecnologia na sociedade brasileira permitiu a convergência dos veículos de comunicação em sua forma original - jornal impresso, rádio, tele-visão - para a palma da mão de cada cidadão. Um fator que é determinante para a adesão da tecnolo-gia é a questão financeira, segundo Ângelo. “Meu pai possui uma assinatura impressa de um jornal, mas por eu sair de casa no início do dia e retor-

Fotos: Divulgação

Page 18: Veiga Mais 10 anos

18 #VEIGA+

1º Semestre de 2014 Ano 12 número 17 Dez anos da nova comunicação

Smartphones permitem aos usuários acessar informações com maior rapidez

nar somente à noite, não consigo ter acesso a ela. Inicialmente, pensei em fazer uma assinatura em meu nome, pensando que poderia ler o jornal no momento em que fosse melhor, mas percebi que muitas vezes não tenho condições de abrir o jornal. Então, vi o anúncio da versão digital que está dis-ponível para smartphone e ela é muito mais barata que a impressa”.

Não são todos que, assim como Ângelo, en-xergam benefícios em se adquirir informações por meio de um aplicativo de telefone celular. Esse re-curso que está em alta ainda divide opiniões. Alguns preferem manter a relação tradicional com os meios de comunicação e observam essa convergência com preocupação, pois à medida que as pessoas perdem o contato com os jornais, revistas e canais de te-levisão, passam a afastá-los cada vez mais de suas vidas. Muitos reconhecem os aplicativos dos meios de comunicação como um excelente recurso, mas não como fonte principal de informação. Este lugar ainda está reservado aos veículos tradicionais.

Quem tem esse tipo de opinião considera a in-formação retirada diretamente da fonte como sendo a mais completa, como descreve o cineasta André Magno, 22 anos morador do bairro da Glória. “Eu acho que, como recurso, os aplicativos para celular são algo positivo, mas a gente não pode se pautar somente por uma única ferramenta. Eu leio as in-formações no aplicativo, acompanho a notícia no impresso e seu desenrolar nas rádios. Posso garantir

que as duas últimas ferramentas são as mais com-pletas”. De fato, essas ferramentas são desenvolvi-das para ser uma espécie de suporte para seu canal de origem, não para substituí-lo, e quem adota essa postura pode estar se distanciando da forma mais tradicional de se obter informação. Por mais veloci-dade e comodidade que outros mecanismos possam oferecer, ainda assim, é importante que as pessoas tenham o costume de ler jornais, revistas e assistir a um noticiário na TV.

José Vitor tem 18 anos, é estudante e possui um smartphone, no qual há diversos aplicativos de jornais, sites e rádios, mas, quanto questionado se acompanha cada um deles, a resposta é surpreen-dente: “Não, quase não mexo. Vejo uma coisa ou outra”. Ele também revela que raramente acompa-nha as notícias do dia pela televisão ou pelo rádio e que não tem o hábito de ler um jornal impres-so. Esse caso não se trata de exceção: é comum que muitos jovens com a idade de Vitor tenham esses novos aparelhos celulares repletos de recur-sos, mas sem nenhuma utilização para absorver informação. Essas ferramentas foram criadas para aqueles que têm a necessidade de consumir conhe-cimento, e nesse campo há bons exemplos.

Há pessoas que procuram usar esses recursos da melhor maneira possível, como um bom supor-te para os veículos tradicionais de informação. É o caso de Daiana Rodrigues, 20 anos, estudante de Publicidade e Propaganda. “Utilizando esses apli-cativos, minha curiosidade e vontade de me envol-ver com os assuntos da atualidade aumentam, me fazendo procurar nos jornais, revistas e rádios so-bre aquilo que eu li no aplicativo, como se abrisse minha mente e fizesse despertar sobre a existência de fatos novos ao redor do mundo. Quanto mais eu aprendo, mais conhecimento eu desejo adquirir”. O melhor caminho é conciliar aquilo que é consumido por meio de aplicativo com a informação divulgada pela mídia convencional, tentando utilizar esses re-cursos da maneira mais consciente possível, e lem-brando sempre que o aplicativo é parte do proces-so de comunicação do veículo a partir do qual ele foi desenvolvido, mas sua função primordial não é a de substituir o original e sim de ser um supor-te que possa acompanhar a velocidade da vida do consumidor, daquele que deseja a informação a todo momento. É importante acompanhar os telejornais e também as notícias pelas vias tradicionais, pois, assim como água, a informação é vital.

Foto: SXC.HU (Márcia Rodrigues)

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A MIGRAÇÃO DAS GRANDES REDAÇÕES PARA AS PLATAFORMAS DIGITAISCada vez mais jornais investem na reformulação de seus produtos para o meio virtual

Felipe Santos

Os ventos da tecnologia passaram a soprar com mais força nesta primeira década do século XXI e, com eles, mudanças profundas nos padrões em como a sociedade contemporânea se relaciona e se comunica diariamente. A era digital chegou para ficar. É de comum acordo que especialistas e estudiosos da área concordam com esse fato. Durante milênios, civilizações difundiram seus conhecimentos e fizeram historia apoiadas num produto extremamente frágil, vulnerável e perecí-vel: o papel. De acordo com algumas previsões e presságios, porém, esse mesmo papel está com os dias contados. O que antes funcionava em espaços físicos, medidos em centímetros e metros, agora foi transformado em bits, bytes, mega bytes, nano chips ou nas nuvens.

Um dos desdobramentos dessas transforma-ções já começa a impactar os veículos impressos de comunicação. A década passada foi marcada pelo intenso crescimento e popularização da inter-net e dispositivos móveis cada vez mais modernos - smartphones e tablets. O jornalismo tradicional entrou em um período de sufoco. O primeiro susto veio com a migração de leitores e anunciantes para as plataformas digitais. Este impacto duplo obri-gou jornais e revistas a repensarem suas estratégias de negócios para sobreviver neste novo mercado. Hoje, para competir no mundo das notícias, as em-presas devem adotar um pensamento que dê prio-ridade aos aparelhos móveis e crie um modelo de negócios sustentável.

Mas será este o fim dos impressos? Para José Roberto Sant’Ana, ex-diretor de redação do Jor-nal Cidade – um dos principais impressos do in-terior de São Paulo – a resposta é não. Quando o rádio surgiu, falou-se que os jornais iam acabar. Depois veio a televisão, e previu-se que o rádio ia acabar. Agora, com a internet, fala-se que os jornais de papel estão ameaçados. “Tenho uma impressão formada sobre o jornal. Ele, perto da internet e de todas as plataformas, tem credibili-

Para a jornalista Daniela Schwanke, da revista Elle Magazine, o profissional precisa estar atento aos dois mundos

Fotos: Divulgação

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dade, tem força de documento. Isso é insubstituí-vel”, diz Sant’Ana.

Esta opinião é compartilhada, mas não total-mente, pelo diretor e fundador da Clock51, re-vista digital luso-brasileira. Para ele, os meios se complementam, atingindo diversos típicos de pú-blicos. O valor documental é igual nas duas pla-taformas. Segundo Diogo, o desafio imposto às re-dações em sua migração para o online é descobrir o que o leitor deseja dos dois meios - impresso e digital. “A ‘geração tablóide’ ainda é nova. E, apesar de milhões de pessoas utilizarem a inter-net, ainda existe uma grande parte que apenas se atualiza por intermédio do meio digital, mas que não dispensa os veículos impressos por completo. O desafio está em descobrir qual o público alvo e o que deseja”, completa Montes.

Cientes dessas questões, os veículos impressos investem cada vez mais na transição e na refor-mulação de produtos para as plataformas digitais, combinados com a permanência do impresso. Esta migração, por hora, é vista como um complemen-to. Para repórteres, redatores, editores, diretores de redação, o mundo virtual não seria a sentença de morte para o impresso, mas sim um plus, uma alternativa à instantaneidade que os leitores exi-gem da notícia.

Cativar o leitor sempre foi o desafio maior dos jornalistas, porém agora há mudança na maneira como a informação é lida. Segundo o ex-editor de economia do Jornal O DIA, editor-chefe do Jornal Corporativo e comentarista de economia da rádio JBFM, Alex Campos, o formato do tex-to do veículo impresso não funciona totalmente para o ambiente digital, que demanda um texto conciso. “Isso exige dos jornalistas das redações de impressos a produção de conteúdo para os dois meios”, completa.

As “múltiplas funções” dos repórteres são mes-mo cada vez mais comuns. Além da redação e edi-ção textos, profissionais de comunicação também precisam desenvolver habilidade como fotógrafos e cinegrafistas, por exemplo. Com isso, levanta-se a questão da qualidade da informação. Segun-do Angélica Martins, repórter do jornal O DIA, a qualidade da notícia pode ser um problema, mas o público é capaz de identificar o que é relevante.

Entre os muitos desafios enfrentados pelas reda-ções na migração do impresso para o digital está a comunicação interna. Segundo Daniela Schwanke,

jornalista colaboradora da revista Elle Magazine, o grande desafio é a dificuldade das áreas de um veí-culo na troca de informações. O perigo está na falta de interação entre essas “duas redações” - digital e impressa. “Os jornalistas precisam estar sempre atentos ao que acontece nos dois mundos”, afirma.

Dois mundos diferentes, mas um único objeti-vo: informar a sociedade. As mudanças nas reda-ções são muitas. Apesar do futuro incerto, jorna-listas e especialistas acreditam na manutenção do impresso e numa convivência e convergência com o digital. Um se tornaria a extensão e o comple-mento do outro, coabitando e complementando as necessidades do leitor. Seja como for, quem ganha é o público.

Para Diogo Montes, os meios se complementam e o desafio é descobrir o que os leitores desejam

Na opinião de Alex Campos, o missão das redações é ter jornalistas que produzam conteúdo para o impresso e o digital

Os jornalistas precisam

estar sempre atentos ao que

acontece nos dois mundos

Daniela Schwanke

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FOTOJORNALISMO NA ERA DIGITALFacilidade de acesso e de uso dos equipamentos modificam o mercado profissional

Felippe Retonde

O fotojornalismo produzido na convergência da era digital contribui para um momento curioso da prática no fotojornalismo: o de um modelo de pro-dução de imagens que pode potencializar não so-mente a produção interna dos jornais, mas também ser uma ferramenta de adoção e coparticipação por parte do leitor, por meio da seção de foto-repórter, expandindo o vínculo entre o veículo e usuário. Afi-nal, as mudanças na prática de criação e difusão da fotografia na modalidade digital são inúmeras.

O professor e fotojornalista do jornal O Dia, Paulo Araújo, sintetiza a função da coparticipação do leitor: “O que é mais legal ainda é que o leitor sai de seu estado de ‘passividade’ para atuar como produtor de informação, visto que a fotografia jor-nalística tem um papel fundamental na comunica-ção, pois é uma prova visual de um acontecimento, de um fato noticioso’’.

Paulo diz ainda que a propagação dessa ferra-menta é creditada ao maior acesso da população às novas tecnologias. “Acho muito bom tudo isso, vis-to que os aparelhos de captação de imagens digitais, tais como smartphones, câmeras domésticas, celu-lares, Ipods e tabletes, estão nas mãos do povo, que produz imagens nos quatro cantos da terra, um ver-dadeiro Big Brother ou ‘panóptico’, e cada vez mais existirão compartilhamentos de imagens em sites noticiosos, como também em mídias sociais. Acre-dito que esta interação entre público leitor e jornais, a web 2.0, é muito mais saudável e não desmerece nem ameaça o trabalho do fotojornalista. Ao con-trário disso, enaltece ainda mais o fotojornalismo’’.

Por um lado, nunca tantas imagens fotográficas foram produzidas como na atualidade, após a popu-larização das câmeras de fotografia digital em todos os seus formatos e preços, sejam câmeras profissio-nais ou não. Por outro, as imagens serão visualiza-das e divulgadas por inúmeras maneiras. Inclui-se aí o campo dos jornais e o interesse pela possibilidade de alcançar determinado fato, ampliado justamente pela extrema popularidade.

Professor da Universidade Veiga de Almeida e fotojornalista, Altayr Derossi salienta que pessoas

Altayr Derossi durante a cobertura da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013

comuns jamais seriam profissionais de imagens, porém, acha significativa a participação delas na construção e na informação de um fato. “Tem sido bem gratificante. Agora cada cidadão é um repórter fotográfico, que pode fazer parte dessa informação por meio de suas fotos enviadas para as redações. Isso é sen-sacional. Claro que esse cidadão comum é alguém que pode ajudar a criar uma noticia e passar uma informação, mas ele não é um profissional da imagem, longe disso’’.

Como toda tecnologia tem seus prós e contras, Altayr reitera o poder da era digital, ratificando, sobretudo, o exagero e a má formação dos profissionais, que viram ‘’clicadores’’ e podem perder o olhar fotográfico. “Vejo com bons olhos! A minha única crítica é em relação a alguns profissionais, que não aproveitam todo potencial desse fotojornalismo. Por conta disso, temos visto um fotojorna-lismo muito aquém daquele fotojornalismo da era analógica. Mas, do ponto de vista da agilidade e também da facilidade que essa era digital permite e oferece, é sensacional’’.

Já Paulo Araújo cita o poder da agilidade e do dinamismo destas e de ou-tras tecnologias que certamente virão, aumentando o poder do fotojornalista e destacando toda sua importância. “Acredito que, em um futuro bem próximo, o trabalho do fotojornalista irá se equiparar ao do repórter-cinematográfico, uma vez que as câmeras mais modernas, full frame, produzem vídeos com qualidade HD e, futuramente, em 4K, ou seja, qualidade de cinema. E o que é melhor: poderemos extrair de uma filmagem apenas um ou mais frames’’. O futuro está mesmo a um clique.

Foto: Felippe Retonde

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BLOCOS DE RUA ENTRAM NA ERA DO COMPARTILHAMENTO NA INTERNETCriação de eventos em redes sociais facilitam a divulgação entre os amantes do carnaval

Rô Tavares

Por que deixar para depois o que se pode com-partilhar agora? Por meio das mídias sociais, cada vez mais, as pessoas se informam sobre o que está acontecendo. Um amigo posta uma foto, logo de-pois outro curte e compartilha e, em pouco tempo, a galera acaba sabendo e se informando. Com os blo-cos de rua também tem sido assim atualmente: um amigo recebe um convite do evento, chama o outro, que avisa todo mundo para se reunir e garantir a folia nas principais ruas do Rio de Janeiro.

Nos dias de hoje, boa parte da população brasi-leira tem acesso à internet e foi por intermédio dela que os blocos de rua ganharam mais reconhecimen-to e começaram a ser divulgados. Com a evolução da comunicação nos últimos dez anos, houve uma mudança. Antes, o que não era muito divulgado, atualmente, conta com mais informações. Os foli-ões têm como saber tudo sobre cada bloco no qual desejam se divertir.

Foi com sugestões e contribuições pela internet que nasceu o Bloco Virtual, fundado em 2000 por um grupo de amigos que queriam divulgar o carna-val de rua do Rio de Janeiro e do Brasil na Internet. “O Bloco tem 14 anos, mas nós fazemos a divulga-ção há quatro anos. Antes era feita por e-mail e pela imprensa tradicional. Era mais difícil ter contato e sentir a reação do público. A rede social foi acres-centada como elemento de interação e eliminou o e-mail”, diz Luiz Jardim, um dos responsáveis pelo bloco.

Isabela Miranda, 18 anos, moradora de Copa-cabana, frequenta os blocos de rua desde pequena e nos últimos cinco anos vem acompanhando fiel-mente. Este ano, ela esteve nos ensaios e no dia do desfile do Bloco Virtual e conta como se mantém informada para a folia: “Comecei a ver os blocos pela Internet porque lá tem o horário certo e infor-mações sobre o local. É uma forma de se programar, muito mais fácil e útil. Tive a oportunidade de ir a blocos que não conhecia e conhecer outras formas”.

Com a internet e redes sociais, os blocos de carnaval tem uma maior divulgação

Fotos: Érica Ribeiro

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Antes, sem o acesso à internet, as informa-ções sobre os blocos de rua eram divulgadas por meio dos e-mails e notas na imprensa dos jornais e revistas. E também por intermédio do mais an-tigo e famoso meio de comunicação, o conhecido “boca a boca”. Em encontros de amigos e bailes também era possível se informar sobre as datas e locais dos blocos.

Um dos blocos mais conhecidos, o Suvaco do Cristo, fundado há 29 anos, vivenciou essa mudança na comunicação das mídias sociais. E quem fala sobre esse assunto é o dirigente do blo-co, João Avelleira, 60 anos, que atua no ramo car-navalesco desde o início da fundação do Suvaco. “O Facebook realmente facilitou muito as coisas, praticamente abandonamos o e-mail. A rapidez na divulgação e a colocação de imagem dos even-tos são estímulos ao imaginário das pessoas e as atraem”.

Hoje em dia, está cada vez mais fácil e acessível para a população se manter conectada e bem infor-mada sobre tudo, pois novas tecnologias são criadas a todo o momento. Além do Facebook, Twitter, sites e da mídia impressa, agora existem diversos aplica-tivos para celular com informações sobre os blocos de rua. Por meio desse recurso de comunicação, o usuário identifica em tempo real qual o bloco mais próximo, localiza os amigos que também possuem o aplicativo e divulga para outros amigos em que bloco vai estar.

É com essa comunicação dos aplicativos que o estudante de Turismo, Douglas Ferreira, 21 anos, se informa sobre a folia nas ruas. Há três anos ele frequenta os blocos, mas antes se informava apenas

A rapidez na divulgação e a

colocação de imagem dos

eventos são estímulos ao

imaginário das pessoas

e as atraem

João Avelleira

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com os amigos. “Acho ótima a divulgação feita pela internet. Obter informação ficou muito mais fácil e prático, me informo sempre pelo Guia dos Blocos”, conta o estudante.

A ideia da comunicação feita pela internet é es-tar presente, interagir com os foliões. E a Associa-ção Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada em 2000 por diretores de alguns dos mais tradicionais blo-cos de rua da cidade, tem esse compromisso com a comunicação. A Sebastiana tornou-se um impor-

Hoje é mais fácil conseguir informações sobre os blocos e marcar encontros com os amigos

tante agente no resgate da tradição do carnaval de rua do Rio.

Jorge Sápia, 58 anos, um dos responsáveis da associação, atua no ramo carnavalesco há 20 anos, também passou por esse avanço na comu-nicação e conta o que evoluiu na divulgação dos blocos nos últimos anos: “Mudou o fato de ter as redes sociais, por atingir os jovens. Antes não havia tanto essa interação. Por meio da internet divulgamos todo o material e a ideia é interagir com os foliões. Hoje em dia, a mídia reconhece os blocos de rua”.

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