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REVISTA VEIGA MAIS - MEIO AMBIENTE ANO 8 | 2 O SEMESTRE DE 2009 REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

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Especial Meio Ambiente

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REVISTA VEIGA MAIS - MEIO AMBIENTEANO 8 | 2O SEMESTRE DE 2009

REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 3

ReitorDr. Mario Veiga de Almeida Júnior

Vice-ReitorProf. Tarquínio Prisco Lemos da Silva

Pró-Reitor AcadêmicoArlindo Cadarett Vianna

Pró-Reitor ComunitárioDr. Antônio Augusto de Andrade Magaldi

Diretor Administrativo-FinanceiroMauro Ribeiro Lopes

Diretor do Campus TijucaProf. Abílio Gomes de Carvalho Júnior

Diretora AcadêmicaProfa Mônica Aragon

Curso de Comunicação Social reconhecido pelo

MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99

CoordenadorProf. Luís Carlos Bittencourt

Coordenador de PublicidadeProf. Oswaldo Senna

A Revista VEIGA MAIS é um produto daAgênciaUVA

Edição e reportagensAlunos do 6º período

Professores-orientadoresMaristela Fittipaldi e Luiza Cruz

CapaPaloma Simonetti

Projeto gráfico e diagramaçãoÉrica Ribeiro

AgênciaUVA

Redação: Rua Ibituruna 108,

Casa da Comunicação, 2º andar.

Tijuca, Rio de Janeiro - RJ 20271-020

Telefone: 21 2574-8800 (ramal 416)

Site: www.agenciauva.com.br

e-mail: [email protected]

Oficina de [email protected]

Núcleo de Fotografiawww.agenciauva.com.br/nfoto

Impressão: Gráfica O Lance

Tiragem: 2.000 exemplares

UNIVERSIDADEVEIGA DE ALMEIDAREVISTA VEIGA MAISEdição Meio Ambiente

Ano 8 | 2o semestre de 2009

EMPRESAS ADOTAM ATITUDE SUSTENTÁVEL 4CERTEZA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL 5LICENCIAMENTO AMBIENTAL: CONSTRUÇÕES DEVEM SEGUIR NORMAS DE PRESERVAÇÃO 6CONTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA UM FUTUTO MAIS PRÓSPERO 7ALTERNATIVAS PARA PRODUÇÃO E CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA 8DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: SINÔNIMO DE QUALIDADE DE VIDA 9MÍDIA E MEIO AMBIENTE: UMA PARCERIA NECESSÁRIA 10MÚSICA BRASILEIRA ABRAÇA A CAUSA ECOLÓGICA 11NOVAS TECNOLOGIAS PROMETEM EVITAR DESGRAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E PROLONGAR A VIDA NO PLANETA 12ANIMAIS EM PERIGO 13AS FLORESTAS PEDEM AJUDA 14TERRA, PLANETA ÁGUA? 16A ARTE DE RECICLAR 18EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS 19SACOLAS E BOLSAS QUE ACOMPANHAM A MODA E NÃO AGRIDEM O MEIO AMBIENTE 20MERCADO INVESTE EM PRODUTOS VERDES 21REAPROVEITAMENTO DE PNEUS É UMA DAS ALTERNATIVAS PARA AMENIZAR O DESASTRE ECOLÓGICO 22INSTITUIÇÕES CARIOCAS VOLTADAS PARA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 24ONGS ATUAM EM AÇÕES DE CONSCIENTIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE 25PROTOCOLO DE KYOTO: O SOPRO DE ESPERANÇA 26

LEIA:

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Page 4: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE4C

om a sociedade cada vez mais

preocupada com a diminuição

dos recursos naturais e com a

degradação do meio ambiente,

muitas empresas e indústrias têm sido levadas a

cr iar um setor dentro da organização

direcionado a atender às expectativas dos seus

clientes em relação ao meio ambiente. Por essa

razão, as instituições estão pesquisando novas

formas de minimizar seus impactos sobre a na-

tureza, com a elaboração de produtos não

poluentes ou biodegradáveis e utilizando pro-

cessos ecologicamente corretos. Preocupação

mundial, a degradação do planeta está gerando

discussões e metas dentro e fora do ambiente

de trabalho, pois as organizações querem se ali-

nhar a novos conceitos de sustentabilidade e têm

identificado nesse processo grandes vantagens

econômicas. Por isso, além de cumprir as exi-

gências legais, elas têm adotado procedimen-

tos estabelecidos nas normas de sistemas de ges-

tão ambiental, como a ISO 14001. Criada como

forma de certificar as empresas que estão fa-

zendo a diferença no quesito preservação

ambiental, a ISO é almejada por toda a cadeia

produtiva. Internacionalmente aceita, tem

como finalidade definir os requisitos para esta-

belecer e operar um sistema de gestão ambiental

nas empresas. Essa é uma meta com a qual toda

a organização tem que estar comprometida,

como meio de controlar custos e reduzir os ris-

cos para o planeta.

Uma dessas empresas que estão em busca

de certificação é a Supervia, que vem exercen-

do seu papel na sociedade por meio do compro-

misso em proteger o meio ambiente. A institui-

ção realiza o gerenciamento de resíduos e de

reciclagem de material e oferece palestras para

os funcionários e a comunidade sobre a impor-

tância das atitudes de cada indivíduo. São os

multiplicadores ambientais que têm como meta

educar cada morador de porta em porta, no co-

mércio e nas ruas. Funcionários voluntários da

Supervia, parceiros da empresa, informam a po-

pulação sobre os riscos à saúde provenientes do

lixo descartado de forma incorreta na rua, na

linha férrea e nos rios; e sobre a importância de

preservarem o meio ambiente e de serem cons-

cientes para uma boa qualidade de vida do local

onde vivem. Esse trabalho é chamado de Blitz

Ambiental e tem a duração de um ano. Uma

vez capacitados, eles irão visitar as residências

com a distribuição de material educativo e com

temas previamente selecionados, de acordo com

as necessidades locais da comunidade envolvi-

da no projeto ambiental.

Segundo Cristiane Duarte, responsável por

esse setor na Supervia, “a intervenção predató-

ria e, muitas vezes, criminosa sobre os recur-

sos naturais chegou a tal ponto que, se não for

revertida, a vida como a conhecemos poderá se

tornar inviável mais cedo do que se possa ima-

ginar”. Por isso, cada ser humano deve se capa-

citar e agregar novos valores e perspectivas em

sua vida, para a conscientização sobre a impor-

tância de melhor usar e preservar o meio que o

cerca. Além disso, os danos causados ao meio

ambiente – como a poluição de corpos hídricos

e do solo, a contaminação do lençol freático –

e à saúde devem ser reparados pelos responsá-

veis pelos resíduos. Cristina explica que a re-

paração do dano, na maioria dos casos, é mais

complicada tecnicamente e envolve muitos re-

cursos financeiros para as empresas. Ela conta

que a Supervia tem um trabalho de refloresta-

mento nos canteiros das linhas para minimizar

o efeito estufa provocado por combustíveis fós-

seis, provenientes dos transportes sobre rodas.

Geralmente, isso é feito por voluntários e por

uma empresa contratada pela Supervia. Mas

antes de liberar pequenos espaços para a urba-

nização, a ferrovia faz todo um levantamento

técnico, que precisa levar em consideração a se-

gurança da sinalização, o tipo de árvore a ser

plantada, o tamanho da copa, se a raiz é pro-

funda e avantajada e, acima de tudo, quem se-

rão os voluntários responsáveis por cuidar da

nova moradora da comunidade. A coordenado-

ra ressalta ainda que, depois da bicicleta, o trem

é o transporte mais limpo do planeta e que a

intenção da Supervia é criar grandes corredo-

res verdes em torno da ferrovia para uma me-

lhor qualidade de vida para toda comunidade.

Outra empresa que está andando nos tri-

lhos da sustentalidade é o Metrô Rio de Trans-

porte Urbano. Com o objetivo de reduzir os

custos e riscos por meio da maximização das

oportunidades de reciclagem, a organização tem

como um dos focos de atuação o gerenciamento

dos resíduos. Para isso, foi elaborado um Pro-

grama de Gestão de Resíduos, que incluiu o trei-

namento com funcionários e voluntários e tem

como função multiplicar o conhecimento, esti-

mulando a população a aplicar ações em prol

da preservação do meio ambiente. Como qual-

quer plano de gestão, tem objetivos e metas vol-

tados para o manuseio dos resíduos produzidos

pelo meio de transporte sobre trilhos e seu

melhor acondicionamento e descarte, para que

seja possível otimizar as oportunidades vincu-

ladas ao correto gerenciamento de resíduos. Se-

gundo o coordenador do projeto, Edson Freitas,

definir normas e procedimentos nas atividades

que gerem resíduos é primordial para o Metrô,

de maneira a garantir que as ações desenvolvi-

das pela empresa não venham a degradar o meio

ambiente por conta do mal acondicionamento

de resíduos perigosos e não perigosos. A inten-

ção é transformar o resíduo em matéria-prima

no mercado, gerando renda e diminuindo o

custo inicial para adequar o ambiente e atender

a demandas que vão além da legislação.

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Claudia Barbosa

Imag

em w

ww.sx

c.hu

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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 5

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Natália Mayrink de Souza

Produtos de qualidade já não são os únicos diferenciais. Imagem de empresa grande já não tem o

mesmo efeito de antigamente. As empresas agora buscam se identificar com seus clientes, mostrar

personalidade e investir em talentos. E uma nova tendência está se formando em diversos mercados.

Seja por força das leis que o governo impõe ou por exigência do mercado, é cada vez maior o número

de empresas que se preocupam com a preservação do meio ambiente. Uma instituição socialmente

responsável é aquela que se preocupa não só consigo mesma, mas que promove iniciativas para

minimizar o quadro de pobreza, desigualdade e devastação dos recursos naturais, contribuindo para

o desenvolvimento sustentável e qualidade de vida no planeta.

Durante anos, as empresas trabalharam impulsionadas pelos objetivos do sistema capitalista,

ou seja, produzir e comercializar seus produtos ou serviços visando à obtenção de lucro e,

consequentemente, à maximização da riqueza dos seus proprietários. Mas, aos poucos, elas co-

meçam a mudar esse conceito, passando a participar mais da vida de seus funcionários e da comu-

nidade, buscando o bem-estar de todos que estão ao seu redor, inclusive do próprio meio em que

estão inseridas.

Esse é o caso da empresa Furnas Centrais Elétricas. Por meio do Departamento Ambiental, a

organização realiza há dois anos vários programas que visam conscientizar os empregados, não só

lotados no Rio de Janeiro, mas em todas as áreas em que Furnas atua. Esses cursos tiveram como

temas ‘O Consumo Consciente’, ‘A Composição e a Destinação final do lixo no Brasil’, ‘Política dos

3Rs’ e ‘Vantagens da Coleta Seletiva’.

Umas das idealizadoras do programa, a engenheira ambiental Lucia Maria Ferreira afirma que, desde

que foi implantado, o projeto já mudou a cabeça de vários funcionários de Furnas, que antes só pensavam

em si mesmos e esqueciam que suas atitudes influenciam o futuro. “A empresa propiciou uma formação de

redes envolvendo setores específicos da população como os funcionários, seus familiares e os educadores

ambientais, instituindo uma prática de vida que não ficou restrita aos muros do mundo corporativo e

materializou a proposta final do programa: educar para emancipar”, explica a engenheira.

Outra empresa que se interessa muito em preservar o meio ambiente é o Banco Real. Desde

2006 a empresa adota a política dos 3Rs: Reduzir o consumo, Reutilizar quando não é possível

reduzir e Reciclar quando não é possível reduzir e nem reutilizar. Essa política foi criada para dimi-

nuir os impactos ambientais causados pela negligência ou até mesmo pela falta da informação das

pessoas. O banco Bradesco é mais um que, em maio de 2006, tornou-se o primeiro banco do país a

conquistar ISO 14001, uma certificação internacional conferida às empresas comprovadamente com-

prometidas com o apoio às iniciativas de preservação do meio ambiente e de valorização da

sustentabilidade.

Formado em engenharia ambiental e subgerente da agência do Bradesco de Botafogo, o enge-

nheiro César Gomes afirma que ter recebido esse certificado foi muito importante não só para o

banco, mas para a empresa Bradesco. Segundo ele, isso mostra o comprometimento que a instituição

tem em preservar o meio ambiente. “Hoje, o lema do banco é: Banco do Planeta – Pensar completo

é investir no futuro do planeta. E nós pensamos sim no futuro do planeta. Investimos em ações para

reflorestamentos da Mata Atlântica e todos os papéis que usamos, tanto nas agências, quanto os que

mandamos para os nossos clientes, são 100% recicláveis”.

Para incentivar empresas do mundo todo a adotarem práticas sustentáveis, o International Finance

Corporation (IFC), instituição vinculada ao Banco Mundial que fornece financiamentos a projetos da

iniciativa privada, criou, em junho de 2003, uma série de exigências, conhecida como "Princípios do

Equador". Trata-se de uma diretriz socioambiental que as instituições financeiras precisam adotar

para fornecerem financiamentos às empresas.

No Brasil, bancos como Bradesco e Itaú e companhias como a Vale do Rio Doce aderiram a esses

princípios e passaram a oferecer linhas de crédito bancário para companhias interessadas em tornar susten-

táveis seus processos produtivos. O banco Itaú destinou, por exemplo, R$150 milhões a projetos de cunho

ambiental, como os que visam à criação de sistemas de reaproveitamento de água e de eficiência energética.

Já o Bradesco financiou US$10 milhões para projetos dos setores de energia e celulose. “Além de termos

nossos próprios projetos socioambientais, nós ajudamos empresas que querem preservar, mas que não

possuem caixa para isso”, explica Cesar Gomes.

A Vale do Rio Doce investe por ano cerca de 40 milhões de reais em projetos relacionados ao

meio ambiente. São projetos sociais de educação ambiental, realizados ao longo das localidades onde

se encontram suas atividades; de tratamento avançado de seus efluentes; de controle das emissões

atmosféricas e de uso de uma porcentagem de biodiesel nas locomotivas, que vão muito além do que

a legislação requer.

CONSUMIDOR CONSCIENTEMas se engana quem pensa que as empresas são as únicas responsáveis por preservar e cuidar do

meio ambiente. As pessoas que são comprometidas em estimular as outras e as que participam dos

projetos ambientais também têm um papel fundamental.

Na Usina de Mascarenhas de Moraes, em Minas Gerais, onde Furnas tem vários projetos

para a preservação do meio ambiente, isso é muito evidente. A criação de uma oficina de

reciclagem de garrafas pets, que a empresa criou para os empregados, mobilizou toda a comu-

nidade que vive em volta da Usina. Tanto que depois que a oficina terminou, as esposas dos

funcionários fizeram um abaixo-assinado pedindo para que ela fosse estendida para os morado-

res da região onde a usina é localizada.

E deu certo. Hoje, cerca de 30 moradores, entre mulheres e crianças, participam da oficina de reciclagem.

O sucesso do projeto é tão grande que o grupo, junto a Furnas, criou o Movimento Atitude Verde. Uma das

responsáveis pelo abaixo assinado, a dona de casa Juliana Dias Clemente, de 57 anos, afirma que esse

trabalho é inovador para a área da usina. “Além de ser uma oportunidade de unir as moradoras e de ocupar

o tempo ocioso, o projeto ajuda a preservar o meio ambiente e a conscientizar a população local”.

Fica claro que uma empresa que se preocupa e tem projetos e ações para preservação do meio ambi-

ente, além de crescer economicamente, também cresce socialmente. E esse comportamento, tanto das

empresas quanto da sociedade de um modo geral, é muito positivo, pois dá esperança de que o ser humano

do futuro pode contribuir muito para promover uma existência mais consciente e impulsionar uma condu-

ta mais responsável das empresas diante da natureza.

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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE6○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Bruno Figueiredo

Quando alguém vê um prédio próximo a

bosques ou florestas, nunca imagina tudo o que

aconteceu para que ele fosse construído ali. Mui-

tas pessoas podem não saber, mas houve um con-

junto de burocracias para aquela construção ser

erguida. Normas foram seguidas, leis foram li-

das e aplicadas e ambientalistas e biólogos foram

consultados. Todo esse processo que orienta cons-

truções ‘ambientalmente corretas’ a seguirem as

normas se chama Licenciamento Ambiental.

Utilizado mais para empresas – entre elas. as

de extração e tratamento de minerais e as indús-

trias de produtos minerais não metálicos,

metalúrgicas, mecânicas, químicas, de madeira,

de papel e celulose, de borracha, de couros e

peles –, esse procedimento tem prazo de vali-

dade e, como todo documento, o requerente pre-

cisa cumprir regras, condições, restrições e me-

didas de controle ambiental, como o destino dos

resíduos e as emissões atmosféricas.

Esse método é um importante instrumento

de gestão da Política Nacional de Meio Ambien-

te, pois é com ele que o órgão ambiental busca

garantir que as medidas preventivas e de contro-

le adotadas pelos empreendimentos sejam com-

patíveis com o desenvolvimento sustentável. “É

preciso realizar o licenciamento porque assim o

desenvolvimento urbano pode aumentar, porém

de forma menos agressiva”, explica Ana Caroli-

na Marques, bióloga responsável pelo estudo para

a liberação de licenças do projeto.

O Licenciamento Ambiental é dividido em

três etapas. A primeira se chama Licença Prévia,

na qual os envolvidos avaliam a localização e a con-

cepção do empreendimento, sendo que o tempo

de campo dado aos consultores, normalmente bi-

ólogos é, às vezes, curto. “A amostragem poderia

ser mais bem feita, pois certos grupos animais,

especialmente os raros e ameaçados, e que é im-

portante saber se existem naquela região ou não,

costumam demandar mais tempo para serem en-

contrados”, comenta Ana Carolina.

Logo depois de terminada a primeira etapa

e de serem estabelecidas as medidas de proteção

ambiental, acontece o segundo passo, chamado

Licença de Instalação. Essa concessão autoriza o

início da construção do empreendimento e a ins-

talação dos equipamentos.

Após essas duas fases, ocorre a última par-

te do processo, a denominada Licença de Ope-

ração. Nessa etapa, é autorizado o funciona-

mento do empreendimento. Essa parte só pode

ser requerida quando a empresa estiver

construída e após a verificação da eficácia das

medidas de controle ambiental estabelecidas

nas condicionantes das licenças anteriores.

Mas engana-se quem pensa que conseguir

o licenciamento é algo simples. Além de ha-

ver a possibilidade de demora, é preciso sem-

pre incrementar os procedimentos de contro-

le. “As leis para a licença estão boas, mas

sempre é necessário melhorar a cada dia, sen-

do preciso colocar especialistas competentes

ao lado das pessoas que fazem as leis para po-

der aconselhá-los”, sugere David Zee, coor-

denador do Mestrado em Meio Ambiente da

Universidade Veiga de Almeida.

E mesmo que o governo venha tentando sem-

pre atualizar e implementar as medidas ambientais

necessárias, muitas pessoas não acreditam que isso

ocorra ou que irá acontecer. É o caso da estudante

Ana Paula Lobato, que lembra que no Brasil as leis

nunca são cumpridas. “O governo quase nunca co-

bra as empresas nesse assunto, e eu acho que elas

nem sequer se preocupam com isso”.

David Zee completa e diz que, quando vêem

algo de errado, há mesmo pessoas que não fa-

zem nada, muitas vezes por não saber como aju-

dar. “A população tem bastante consciência, só

precisa de mais inserção no assunto. Se houvesse

mais difusão de informação sobre o licenciamento

as pessoas saberiam o que fazer”.

Zee afirma, porém, que as empresas têm se

conscientizado sobre a situação no mundo e que

cada vez mais pessoas estão de olho. “As empre-

sas têm notado a importância do assunto, mas é

preciso ampliar essa percepção, pois alguns em-

presários precisam perceber que, mesmo custan-

do, o licenciamento ajuda. Afinal, a sociedade é

o cliente, e quando a população entende, a rela-

ção entre elas fica muito mais amigável”.

O Governo vem tomando medidas para

conscientizar todos os setores da sociedade so-

bre o assunto. A Secretaria Municipal de Urba-

nização, por exemplo, dispõe de uma seção ex-

clusiva sobre legislação de bairros, que visa

apresentar o conjunto de normas sobre o uso e a

ocupação do solo e a regulamentação para a cons-

trução de edificações que incidem em cada um

dos bairros, de modo a permitir o conhecimen-

to das possibilidades de crescimento e transfor-

mação dessas áreas, bem como da legislação do

seu patrimônio arquitetônico e paisagístico.

Claro que, como em quase todos os pro-

cessos, os licenciamentos também são suscetí-

veis de erros, e quando eles ocorrem, a justiça

entra em cena. “Se uma informação embasada

for comprovada como falsa, a licença é anulada

e o empreendedor e/ou responsável pela in-

formação é processado e a operação do empre-

endimento fica interrompida até ser resolvido

o problema”, informa Ana Carolina. Esse pro-

cedimento ambiental mostra a preocupação que

precisa ser empregada no mundo, pois o ho-

mem tem evoluído cada vez mais e, para isso,

sempre é necessário prestar atenção em como

isso afeta o meio ambiente.

Imagem www.sxc.hu

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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 7

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Paula Penedo Pontes de Carvalho

As placas solares absorvem energia que pode ser utilizada dentro de casa, diminuindo o consumo de luz

lizados pelos esquimós) e as ocas indígenas fei-

tas com palha e taquara.

Mas foi somente na segunda metade do sé-

culo passado que o ocidente começou a repensar

os costumes e as consequências do estilo de vida

que levava. Em 1987, foi concebido o conceito

de desenvolvimento sustentável, que pode ser

definido como “aquele capaz de suprir as neces-

sidades da geração atual, sem comprometer a ca-

pacidade de atender as necessidades das futuras

gerações”, o que acabou por conduzir à ideia de

uma arquitetura sustentável.

Segundo Luiz Fernando do Valle, presiden-

te do Grupo Ecoesfera Empreendimentos Sus-

tentáveis, que opera na venda de imóvies “ver-

des” nas principais cidades do país, essa

valorização dos diferenciais ecológicos segue

uma tendência mundial, ligada, principalmente

à diminuição dos custos finais. “No Ecolife, os

moradores têm uma redução de 20% a 30%

nas taxas de condomínio e 40% dos clientes

manifestam esses diferenciais como motivo

principal da compra. Sinal de que as pessoas

os estão considerando como razão para a valo-

rização do imóvel”.

Nelson Kawakami, diretor-executivo do

Green Building Council Brasil (GBC Brasil), sub-

sidiária da entidade que fornece os parâmetros

para a construção sustentável, completa, expli-

cando que o retorno financeiro só não é maior

devido ao número reduzido de prédios em ope-

ração. “Nos Estados Unidos, empreendimentos

sustentáveis custam de 1% a 7% a mais. Mas esse

é o caro que sai barato, pois apresentam maior

velocidade na venda”.

O funcionário público Nilo Sergio Lentini,

de 51 anos, aposta nessa ideia e está fazendo obras

no chuveiro de sua nova casa para diminuir o des-

perdício de água e os custos finais. Ele conta que

com a implantação de três placas solares e um

boiler (reservatório térmico) de 400 litros, o gas-

to será de R$2.400. “O retorno poderá ser per-

cebido em um ano, no máximo um ano e meio,

e teremos uma economia de mais de R$100 na

conta de água”.

Mas a economia não é o único benefício de

uma construção ecológica. Esse tipo de obra

traz aumento de produtividade, reduz em 30%

o consumo de energia e em até 50% o consu-

mo de água, diminui as emissões de CO2 em

35% e contribui em até 90% para a redução de

resíduos tóxicos, diminuindo diretamente dos

impactos sobre o meio ambiente.

E foi para determinar a eficácia ambiental

desse tipo de empreendimento que o GBC criou

o certificado Leed (Liderança em energia e pro-

jeto ambiental). Considerado a principal ferra-

menta mundial na avaliação sócio-ambiental e

no reconhecimento de projetos ecológicos, ele

pontua soluções sustentáveis e avalia o desem-

penho das construções.

Em outubro de 2008, o edifício Cidade

Nova, desenvolvido pela Bracor e ocupado pela

Petrobras, se tornou a primeira construção do

Rio de Janeiro e o primeiro edifício comercial

do país a receber o título. Entre as normas se-

guidas pela construção estão a captação e o reuso

de água, a instalação de vidros isotérmicos e a

disponibilização de vagas especiais para veícu-

los de baixa emissão de poluentes.

O consultor do Instituto para o Desenvolvi-

mento da Habitação Ecológica (IDHEA), Márcio

Augusto Araújo, explica em seu artigo “A mo-

derna construção ecológica”, que a

sustentabilidade de uma obra moderna é avalia-

da pela capacidade de responder positivamente

aos desafios ambientais da sociedade. Para ele, a

casa sustentável deveria utilizar materiais que não

comprometam o meio ambiente e a saúde dos

ocupantes e que contribuam para tornar o estilo

de vida cotidiano mais sustentável.

Mas é importante perceber que há uma gran-

de diferença entre construções ecológicas e sus-

tentáveis. Ainda segundo Araújo, enquanto a pri-

meira utiliza os recursos locais de maneira

integrada ao meio, a segunda faz uso de soluções

tecnológicas e inteligentes para promover o bom

uso de recursos finitos. “A construção sustentá-

vel difere da ecológica por ser produto da mo-

derna sociedade tecnológica, utilizando, ou não,

materiais naturais e produtos provenientes da

reciclagem de resíduos gerados pelo seu próprio

modo de vida”.

Ele ainda pontua que as pessoas deveriam tra-

balhar para que um imóvel seja sustentável e não

somente ecológico, lembrando que o ser huma-

no passa mais de dois terços de seu tempo den-

tro de algum imóvel. “A verdadeira construção

sustentável é assim considerada não apenas por-

que não esgota os recursos empregados para sua

edificação e uso, mas também porque sustenta

aqueles que a habitam. Ela é base para suas reali-

zações, segurança, alegria e felicidade”.

O morador chega em casa. No quintal, os

filhos brincam com as frutas do pomar. Ao abrir

a porta, sensores de movimento ativam a ilumi-

nação gerada pelas placas solares, instaladas para

evitar o desperdício de energia. Ele vai tomar

banho e a água que vem direto das caixas de co-

leta de chuva, pré-aquecida pela energia natural

que diminuirá o consumo de gás, escoará para

outra armazenagem antes de ser utilizada nos

vasos sanitários e na irrigação do jardim.

Para muitas pessoas, a cena pode parecer es-

tranha, mas é cada vez mais comum encontrar no

Brasil empreendimentos que consideram as

potencialidades sócio-ambientais na hora de fazer

uma obra. São as chamadas construções sustentá-

veis, que surgem para minimizar os danos causa-

dos ao meio ambiente por meio da utilização de

recursos renováveis, englobando desde o projeto

até o uso que o homem fará do imóvel.

A história das construções naturais remon-

ta ao início dos tempos. Desde que deixou de

ser nômade para se fixar em um único territó-

rio, o homem passou a utilizar os recursos que

o meio fornecia para criar sua morada. Foi as-

sim que surgiram os iglus (abrigos de gelo uti-

DIRETRIZES A CONSIDERARPARA UMA CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL• Pensar em longo prazo o planejamento da obra

• Eficiência energética

• Uso adequado da água e reaproveitamento

• Uso de materiais e técnicas ambientalmente

corretos

• Aplicação dos 3Rs: reciclar, reutilizar e reduzir

• Conforto e qualidade interna dos ambientes

• Permeabilidade do solo

CARACTERÍSTICAS DASCONSTRUÇÕES DE ACORDOCOM O CLIMA:• Tropical úmido: as chuvas e as altas temperatu-

ras do clima tropical úmido demandam casas com

tetos altos e bem inclinados. A pequena diferen-

ça entre o dia e a noite faz com que o ideal seja

uma construção distante da outra, para haver

ventilação entre as casas.

• Temperado: com o frio intenso desse tipo de cli-

ma, é necessário usar materiais que isolem o in-

terior das baixas temperaturas, além de cons-

truir as casas em locais expostos ao sol.

• Tropical Seco: com dias quentes e noites frias, o

ideal é que as construções fiquem próximas umas

das outras, ampliando as sombras e diminuindo

as paredes expostas ao sol.

Fonte: http://ambiente.hsw.uol.com.br/constr

ucoes-ecologicas1.htm

Imagem

www.sxc.hu

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Page 8: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE8

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Vívian Borges

A história demonstra que as pessoas são ca-

pazes de realizar mudanças fundamentais para

a melhoria de vida. Basta que sejam bem infor-

madas e mobilizadas para isso. Constantemen-

te discutidas pelos cientistas e ambientalistas,

as alternativas de energia estão na pauta do dia

e o desenvolvimento de fontes de energia

renovável, a poupança de energia e o seu me-

lhor aproveitamento são as regras de ouro para

o futuro da política energética. Um futuro que

está, no entanto, cada vez mais presente.

Mas as opor tunidades que a cr ise

energética pode oferecer incluem não só no-

vos negócios e novos lucros, como também a

construção de máquinas limpas. É possível uti-

lizar o sol e o vento, deixar de desperdiçar

energia, usar as abundantes reservas de car-

vão sem aquecer o planeta. E para isso é ne-

cessária uma conscientização universal.

A escola pode ser um catalisador de mu-

dança, promovendo, junto à comunidade esco-

lar, uma mudança de atitude em relação aos pe-

quenos atos que são possíveis no dia a dia, com

vistas à poupança de energia. A escola tem o

dever de inspirar os outros a agir. E o mais im-

portante é que eles sejam os transmissores des-

sas preocupações ambientais para os outros es-

paços da vida: sua casa, sua rua, seu bairro, sua

cidade, seu país.

Um exemplo de consciência ecológica apli-

cada no cotidiano vem do professor e biólogo

Carlos Albuquerque, de 40 anos. Ele possui

uma casa de campo em Angra dos Reis no Rio

de Janeiro e utiliza a energia eólica na conver-

são de eletricidade para o local, com o uso de

vento para mover aerogeradores e grandes tur-

binas, que têm a forma de um cata-vento ou

um moinho.

O professor explica que o movimento das

turbinas produz a energia elétrica. É preciso

agrupar, em parques eólicos, concentrações de

aerogeradores, necessários para que a produ-

ção de energia se torne rentável, mas eles po-

dem ser usados isoladamente, para alimentar

localidades remotas e distantes da rede de trans-

missão. É possível ainda a utilização de

aerogeradores de baixa tensão.

ALTERNATIVAS PARA PRODUÇÃO ECONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA

Para Albuquerque, a profissão o ensinou ain-

da mais a respeitar a natureza e a vida. Como

professor e biólogo, ele afirma que trabalhar

conscientizando as pessoas sobre a importância

de preservar a natureza e as fontes de energia

natural é um compromisso que assumiu para a

vida toda. “Acredito na educação da nova gera-

ção sobre o papel do ser humano no mundo. A

busca por fontes renováveis cresce, pois, além

de não poluentes, são alternativas à gasolina,

ao diesel e ao gás natural".

Ele diz que o compromisso de um

ambientalista se define quando está a serviço

de um modelo de desenvolvimento humanista

que respeite todas as formas de vida. "Não se

trata de decidir quem tem mais ou menos di-

reito à vida, se uma criança, um macaco ou uma

árvore. A questão está na relação entre eles, pois

se o homem agir a favor do meio ambiente, na-

turalmente a natureza devolve a ação para ele,

seja ela positiva ou negativa”.

Outra pessoa ecologicamente correta é o

analista de patente Júlio do Carmo, de 52 anos,

morador do Recreio dos Bandeirantes há dois

anos e que, desde que se mudou para o local,

utiliza a energia solar como fonte renovável. Sua

casa dispõe de painel solar, muito comum na

captação desse tipo de energia. Júlio diz que

uma grande vantagem é que ela permite a ge-

ração de energia no mesmo local de consumo,

por meio da integração da arquitetura, dimi-

nuindo o gasto e economizando.

O analista conta que já tinha um projeto de

construir um imóvel utilizando fontes de ener-

gia renováveis e, assim que conseguiu o capital,

investiu no projeto. “Construí minha casa base-

ada numa fonte alternativa de energia porque o

local era favorável para a construção”.

Ele ressalta que, ao se envolver com o tema,

adquiriu muita informação e decidiu aplicar em

seu cotidiano. Para ele, a energia solar é uma

fonte de vida e de origem da maioria das outras

formas de energia na Terra. No que diz respei-

to ao custo da manutenção do painel, ele afir-

ma que a utilização desses recursos requer in-

vestimentos consideráveis no tratamento, mas

vale a pena investir em algo que no futuro irá

trazer benefícios econômicos e qualidade de

vida para o planeta.

Segundo o especialista em energia renovável

da Petrobras, André Simões, as fontes renováveis

de energia são alternativas não só à poluição,

mas também ao aquecimento global, ao passo

que as fontes fósseis sofrem restrições com a

alta do petróleo e questões socioambientais.

Contudo, as fontes não-renováveis, como pe-

tróleo, gás, carvão e nuclear, ainda represen-

tam 86% da matriz energética mundial.

As energias tradicionais são extraídas da ter-

ra e se esgotam. As energias renováveis, ao con-

trário, provêm de fontes que não acabam, como

o vento, a luz solar, os cursos de água. O espe-

cialista aposta na energia solar, pois é a que mais

vem crescendo nos últimos tempos. Para ele, a

disponibilidade de recursos e reservas talvez não

seja fator limitante no futuro, pois a energia

renovável tende ao crescimento gradativo.

“Apesar de toda a diversidade de fontes de ener-

gia, a estrutura de uso final se modifica, pas-

sando de sólido para líquido e finalmente para

gases, mais limpos”, destaca André.

Já o ambientalista Luís Teles explica que a

elevação da temperatura tem relação direta com

a utilização de combustíveis fósseis como car-

vão, que contribuem para a emissão dos gases

que provocam o efeito estufa. “Apesar de as fon-

tes de energia utilizadas no país serem relativa-

mente limpas, as políticas voltadas para a disse-

minação do uso de fontes de energias renováveis

devem ser contempladas”.

Teles afirma que o desenvolvimento das

tecnologias para o aproveitamento das

renováveis poderá beneficiar comunidades ru-

rais e regiões afastadas, bem como a produção

agrícola, por meio da autonomia energética. “As

energias renováveis quase têm o dom da ubi-

qüidade e estão distribuídas de forma mais

equitativa em nível global, o que não acontece

com as fósseis, que favoreceram o desenvolvi-

mento dos grandes aglomerados populacionais,

urbanos e industriais, ultrapassando os limites

das vantagens de qualidade de vida”.

O ambientalista também alerta que o tema

energético deve ser uma questão discutida por

toda a população mundial, já que afeta direta-

mente cada indivíduo. “A grande insatisfação

com a situação atual do mundo nos leva a so-

nhar com um futuro diferente, que só poderá

acontecer com mudanças imediatas na educa-

ção e, consequentemente, na relação homem-

sociedade-natureza, começando com o enten-

dimento, ou melhor, com a releitura do modelo

de desenvolvimento predominante e seus po-

tenciais impactos ao meio ambiente e à quali-

dade de vida”.

Imag

em w

ww.sx

c.hu

V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:338

Page 9: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 9

Essas comunidades ecologicamente sustentáveis são a resposta para a crescente preocu-

pação com o meio ambiente. A partir do relatório Brundtland (Our Common Future),

publicado em 1987, o mundo começou a ver a degradação da natureza e a retirada predató-

ria da matéria-prima como problemas em potencial e diversos setores econômicos foram

pressionados devido as suas atividades extrativistas. O ápice dessa preocupação foi a Eco-

92, considerada um marco na luta pela preservação ambiental, quando o conceito de de-

senvolvimento sustentável foi firmado. Assim, o mundo começou a se posicionar de ma-

neira mais firme perante o problema e o assunto passou a existir e a ser colocado em pauta

pelas grandes empresas.

A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de

suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as neces-

sidades das futuras gerações. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambien-

te e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmoni-

zar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende apenas de planejamento e do

reconhecimento de que os recursos naturais são finitos e devem ser usados de forma consci-

ente e responsável. Esse conceito representou uma nova forma de pensar a economia, já que

muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do

consumo de energia e recursos naturais. Esse tipo de ‘progresso’ tende a ser insustentável e

nocivo ao meio, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade de-

pende. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com

a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.

Um bom exemplo da importância que o assunto Desenvolvimento Sustentável ganhou a

partir da Cúpula da Terra (ECO-92) foi a criação da Fundação Brasileira de Desenvolvimento

Sustentável (FBDS), para implementar no Brasil os conceitos discutidos na cúpula. Para isso,

um corpo de grandes empresas nacionais e internacionais atuantes no país foi estruturado,

entre elas, a Vale do Rio Doce, a Petrobras, a Saint Gobain e a Shell. “A criação desse grupo

encurtou a distância que havia entre as grandes empresas, principais poluidoras, e as frentes

de preservação ambiental”, comenta Marcelo Bueno, integrante da diretoria do IPEMA e

ativista pelo desenvolvimento sustentável no Brasil.

Na ECO-92, também foram fundadas as bases para o Protocolo de Kyoto. Até 9 de feve-

reiro de 2005, 168 países tinham ratificado, ou sido integrados, ao acordo, incluindo o Brasil,

e em 16 de fevereiro de 2005, ele entrou em vigor. O Protocolo integra e implementa a

convenção-quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças do Clima. Segundo o tratado, os paí-

ses industrializados que o ratificaram (lembrando que a administração Bush afirmou que os

EUA não iriam participar) deveriam reduzir suas emissões de gases poluentes em aproxima-

damente 5% até 2012.

O dia está ensolarado, os feixes de luz atravessam o espesso cobertor de folhas da floresta.

Debaixo desse guarda-sol generosamente feito pela natureza, as pessoas estão absorvidas em suas

tarefas diárias. Plantar, colher, recolher água nos reservatórios, escutar os pássaros cantando. As

casas feitas de barro, cercadas por hortas nas quais são empregados conceitos de permacultura, são

simples, mas não deixam a desejar no conforto e na proteção contra o rigor do clima. Esse é um

quadro quase inimaginável para a maioria dos seres humanos que vivem nas megalópoles brasilei-

ras. Para outros poucos, porém, essa experiência ‘ao natural’ faz parte da rotina. São os associados

do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA), que administra uma ecovila

no litoral de São Paulo, em Ubatuba. A ecovila no litoral paulistano não tem uma população fixa:

as pessoas vão para aprender as técnicas e conceitos do viver ecologicamente sustentável e logo

retornam para suas vidas urbanas.

As ecovilas são ainda pouco conhecidas pelo Brasil e não passam de sete o número total de

grupamentos humanos sustentáveis distribuídos pelo país. Entre eles, o IPEMA e o Instituo de

Permacultura do Cerrado (IPEC), localizado em Pirenópolis, no cerrado Goiano, são os principais.

Além de serem os mais bem estruturados, oferecem vários cursos sobre desenvolvimento sustentável.

Os módulos de aprendizagem vão da permacultura até a construção de ecocasas, passando pela elabo-

ração de filtros de água biológicos e a reciclagem de mais de 90% do lixo gerado. Todo esse esforço por

parte dessas comunidades visa aliviar a marca ecológica deixada pelas habitações humanas. “Ecovilas são

assentamentos de proporções humanas, funcionalmente completas, onde as atividades do ser humano

se integram inofensivamente ao mundo natural, de forma a ajudar o desenvolvimento saudável e poder

perdurar por um futuro indefinido”, diz o trecho do artigo “The Eco-Village Challenge”, escrito por

Robert Gilman, acadêmico e principal autoridade mundial sobre Ecovilas.

Ainda em 2005, foi registrada a maior incidência de tempestades (26), a maior quantidade de

furacões (14) e a maior quantidade de furacões de categoria 5 (com ventos acima de 249 Km/h).

Esses fenômenos vieram a reboque das mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases que

contribuem para o aquecimento global. Dados da ONU apontam que, se o nível de poluição

continuar aumentando, o planeta pode sofrer mudanças climáticas drásticas. Em 20 anos, a tempe-

ratura poderá subir em dois graus, e em 50 anos, até cinco graus. Todos esses dados, apurados na

sua maioria pela ONU e por demais organizações ligadas ao meio ambiente, como a WWF e a One

Earth, reafirmam a necessidade de uma mudança na postura da humanidade frente ao planeta.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Igor Balbino

Se o crescimento econômico mundial mantiver o seu ritmo,em 24 anos será preciso outro planeta para atender à

demanda por matéria-prima

A Organização das Nações Unidas recentemente publicou um texto que fazia uma proje-

ção ainda mais preocupante. Se o crescimento econômico mundial mantiver o seu ritmo, em

24 anos será preciso outro planeta para atender à demanda por matéria-prima. A França, por

exemplo, gera por ano uma quantidade de lixo nuclear capaz de encher o Maracanã. Todo

esse lixo é guardado em depósitos em países subdesenvolvidos na Ásia e África, o restante é

despejado nas fossas submarinas. Não existe como precisar os efeitos desse despejo irrespon-

sável, pois o ser humano conhece mais da superfície da lua do que destes locais onde o lixo

atômico é jogado. “O estilo de vida da sociedade atual não pode ser mantido por muito tem-

po. O que está em jogo é a nossa sobrevivência. Tomar consciência disso é uma questão de

vida ou morte”, apregoa Marcelo Bueno.

O ser humano do século XX parece estar semi-desperto para o problema da degradação

do meio ambiente. A natureza vem dando vários sinais de que algo não está bem. Talvez por

receio, insegurança ou até mesmo por ganância e mesquinharia, a humanidade feche os olhos

para o quadro atual, nada belo e otimista. “Eu realmente espero que a atitude das pessoas

mude. Miito se fala sobre desenvolvimento sustentável. Mas pouco se faz”, comenta Marcelo.

O principal ativista brasileiro da preservação ambiental, e pioneiro em iniciativas de desen-

volvimento sustentável, Jose Lutezenbeger, definiu em poucas palavras a situação na qual a

sociedade atual está mergulhada. “Todo recurso natural é limitado. A única fonte permanente

da energia e, portanto, de vida, é o sol. A nossa missão é de fazer com que a herança de nossos

descendentes seja melhor do que aquela que recebemos”.

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Page 10: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE10Mídia e meio ambiente: uma parceria necessária

população como pela mídia e pelas empre-

sas, que introduzem novas práticas para re-

duzir seus impactos ambientais e sociais, ven-

do oportunidades comerciais ao fato de

agregar valor às marcas. A bióloga Danielle

Rodrigues de Souza considera que a mídia

participa na propagação do assunto, mas mui-

tas vezes falha ao se restringir somente a al-

gumas datas.

“Os jornais têm se esforçado muito nesse

sentido, criando páginas temáticas e dando

mais espaço. Acredito que tal esforço tem sur-

tido efeito, já que a idéia de preservação é um

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Jéssica Mattos

Os meios de comunicação têm o poder

de levar a humanidade a tomar conhecimen-

to dos problemas sócio-ambientais e a pro-

curar rediscutir seus modelos de desenvolvi-

mento e de atuação no meio ambiente. A

mídia consolida-se desta forma, como ele-

mento essencial para a consecução de cami-

nhos que levem ao alcance de uma visão mais

ampla do meio ambiente.

Atualmente, constata-se um aumento de

interesse sobre o meio ambiente, tanto pela

consenso entre a população. Mas o problema

é quando o assunto sai da esfera coletiva e vai

para a pessoal. O que acontece é que há ainda

uma carência enorme na área ambiental, pois

muitas vezes as reportagens são motivadas por

matérias relacionadas a datas especiais e não

proporcionam ainda uma reflexão maior en-

tre os leitores”, comenta a bióloga.

De fato, é possível observar que, com o

domínio da informação, a mídia desenvolveu

mecanismos e ferramentas capazes de difun-

dir mais rapidamente o conhecimento sobre o

assunto. Houve ainda um aumento significati-

vo de publicações, documentários e campanhas

de publicidade institucionais sobre o meio am-

biente. Por meio dos jornais e, principalmen-

te, da televisão, as questões ambientais têm

chegado ao conhecimento de vários segmen-

tos da sociedade.

Apesar do meio ambiente vir sendo dis-

cutido de maneira considerável, a estudante

de Ciências Biológicas, Raquel Ribeiro, res-

salta que essa ‘corrida contra o tempo’ deve

ser bastante cuidadosa. “O que vejo, muitas

vezes, é o atropelamento dos fatos em meio

à globalização. Ao passo que a mídia padro-

niza os interesses da sociedade, tem também

o poder de manipular os seres humanos com

seus processos de produção, transmissão e

recepção de formas simbólicas que, muitas

vezes, não são tão eficientes como deveri-

am”, acredita ela.

A atuação da mídia como construtora

do conhecimento nem sempre acompanha

as reais necessidades da sociedade e do

meio ambiente. Ainda hoje, muitas vezes,

seu interesse por assuntos ambientais é de-

terminado por datas comemorativas ou por

circunstâncias trág icas: vazamentos de

óleo, enchentes, estiagens, queimadas, fu-

racões e terremotos. Mas é importante que

seja reconhecida a urgência de espaço para

novas pautas que cumpram o objetivo de

tratar da problemática sócio-ambiental de

maneira interdisciplinar.

Quem cobre Economia ou Política pode-

ria inserir o plano ambiental dentro do con-

texto de suas reportagens. Grandes veículos

já possuem jornalistas que se dedicam somen-

te a esse tema, que consome muito tempo em

pesquisa à legislação e aos estudos técnicos.

No entanto, na maior parte das vezes o assun-

to acaba caindo na pauta geral, sem um repór-

ter específico. Isso pode ser um problema, por-

que um dos pontos essenciais na cobertura de

questões relativas ao meio ambiente é a esco-

lha das fontes certas.

Ainda não são muitos os casos em que a

mídia está, de fato, indo fundo nas questões

do meio ambiente. Mas iniciativas aqui e a

ali começam a surgir. Recentemente, a

Globo.com e o Fantástico elaboraram o pro-

jeto Amazônia.vc. Foi criado um aplicativo

na rede do Orkut que possibilita o acompa-

nhamento dos desmatamentos na Amazônia,

além de permitir o protesto das pessoas. Já

são mais de 140 mil participantes e mais de

5,7 milhões de protestos. Embora não sejam

registros formais, essas manifestações funci-

onam como forma de incentivo para o Go-

verno tomar medidas para solucionar esse

problema tão antigo e frequente no Brasil.

Cabe à função social da mídia explicar com

clareza e objetividade os desafios que o Brasil

tem pela frente em relação ao aquecimento

global, à escassez de recursos hídricos, à

desertificação do solo, à multiplicação do vo-

lume de lixo e ao consumismo desenfreado e

compulsivo, além de sinalizar rumos e pers-

pectivas para a sociedade, dando visibilidade a

inúmeros exemplos de que é possível construir

um projeto de desenvolvimento que gere ri-

queza sem destruir o meio ambiente.

Imagens www.sxc.hu

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Page 11: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 11○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Nathália de Souza Gomes

no meu DVD é motivo de muito orgulho na

minha biografia”, diz.

NA BATIDA DO REGGAE“Árvore, árvore, raiz (resistência). Árvore,

árvore, raiz (positividade). Árvore, árvore, raiz

(combatendo de frente o sistema). Árvore, ár-

vore, raiz, vamos conservar [...] Então pare!

Pare para pensar, atenção”. Esse é um trecho da

música “Árvore do Reggae”, do Grupo Ponto

de Equilíbrio, que está intimamente ligada à

questão do meio ambiente. De acordo com o

baterista Lucas Kastrup, a preservação da natu-

reza é a única saída para a espécie humana e

para as demais que aqui habitam. “Acreditamos

que o planeta é um organismo vivo do qual to-

dos fazemos parte. É uma constante da banda a

lembrança de que nossa casa interior e nosso

planeta-casa devem estar limpos e fortes”.

Além das músicas, os artistas também in-

centivam o uso da reciclagem. Caso do “Abre

a Janela”, divulgado em papel reciclado. Lucas

também já deu aulas sobre a construção de ins-

trumentos com madeira reciclada. “Ministrei

oficinas em instituições de ensino público e

privado, quando participava do grupo ‘Ciclo

Natural’, que hoje é liderado por meu primo

Ciro Kastrup”.

A música pode ser considerada uma das for-

mas mais eficientes de se passar uma mensagem.

Para Leoni, o ser humano precisa perceber que

defender a natureza é defender a própria exis-

tência no planeta. “Estou muito assustado com o

futuro da nossa casa. O presente já está dando

demonstrações de que a conta está chegando para

pagarmos com juros”.

A opinião do grupo Ponto de Equilíbrio é a

mesma. Lucas ainda alerta para a importância dos

músicos no auxílio à preservação do meio ambi-

ente. “No caso brasileiro, em que plantar e cui-

dar da natureza são atitudes mais que urgentes,

acredito que os músicos tenham a responsabili-

dade de alertar todos neste sentido”.

“Seus netos vão te perguntar em poucos

anos pelas baleias que cruzavam oceanos, que

eles viram em velhos livros...”. A letra da can-

ção ‘As baleias”, de Roberto Carlos, de 1981,

já mostrava a preocupação com a preservação

do meio ambiente. De lá para cá, os gritos de

alerta em forma de canção só fizeram aumen-

tar. É necessário que o ser humano tenha cons-

ciência da importância de cuidar do espaço em

que vive e, para chamar a atenção da população

para o cuidado com o planeta, a música tem

versado sobre esses temas.

Roberto Carlos, Guilherme Arantes, Xuxa

e Bruno & Marrone. Esses são apenas alguns

dos cantores que fazem seu papel quanto é

tema é preservação do meio ambiente. Além

deles, não se pode deixar de citar o último

álbum do cantor Leoni. Com o nome de “Ou-

tro Futuro”, o disco conta com a participação

de uma tribo do Acre, conhecida como

Ashaninka, e traz também uma música canta-

da pelo líder e pagé Benki Piyãko, que parti-

cipa dos shows ao lado de Leoni.

“Os Ashaninkas são completamente sofisti-

cados no que se refere ao cuidado com a nature-

za e à recuperação de áreas devastadas. Eles re-

cuperaram a flora e a fauna de uma imensa região

em suas terras que havia sido devastada por ma-

deireiros”, comenta Leoni. A tribo montou uma

universidade, chamada “Saberes da Floresta”,

onde seus integrantes ensinam homens brancos

e outras etnias indígenas a viver na Floresta Ama-

zônica sem desmatar. “Eles provam que a flores-

ta de pé é muito mais lucrativa do que a floresta

deitada, como eles chamam as áreas desmatadas”,

explica o cantor, que destaca a importância de

ter trabalhado com os índios.

Além do CD, Leoni produziu um DVD

chamado “Leoni e Ashaninkas – Ao vivo em

Paris”, no qual o cantor apresenta o espetácu-

lo ao lado de Benki e de mais seis índios. O

DVD traz também um documentário sobre a

vida na aldeia. Leoni ficou muito satisfeito com

o resultado do trabalho. “Poder dar voz a eles

O índio Benki e o cantor Leoni ensaiam em estúdio para gravação de DVD com show e documentário

0 grupo carioca Ponto de Equilíbrio traz o amor pela natureza nas letras das suas canções e no cotidiano

Foto

de

divu

lgaç

ão

Foto de divulgação

V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3311

Page 12: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE12NOVAS TECNOLOGIAS PROMETEM EVITAR DEGRADAÇÃODO MEIO AMBIENTE E PROLONGAR A VIDA NO PLANETA

sido divulgados como uma alternativa para o

melhoramento da produtividade de sítios po-

bres ou degradados, pois podem tornar essas

áreas produtivas, melhorando sua função so-

cial e ecológica. Além disso, acumulam car-

bono ao longo do tempo, o que pode recu-

perar quantidades perdidas durante a

derrubada e a queima de florestas primárias.

As vantagens para o uso deste tipo de cultivo

em relação aos convencionais, tanto econô-

micas, como ambientais, são várias.

A área com sistema agro-florestal pode

ser usada permanentemente, minimizando a

necessidade de derrubada e queima de novas

áreas e aumentando as chances de fixação do

homem no campo; e funciona como alterna-

tiva para aproveitamento de áreas já altera-

das ou degradadas. Também diminui a deman-

da de fertilizantes em razão da eficiente

ciclagem e da adubação orgânica, melhora as

propriedades físicas e biológicas do solo e

permite a preservação da biodiversidade.

O zootecnista Délcio Rocha acredita que

esse é um dos caminhos para a melhora da

produtividade. “A área degradada é sinôni-

mo de terra improdutiva, envolvendo altera-

ções negativas no clima, na hidrologia, na pai-

sagem, na flora e na fauna. É um conceito

muito mais amplo do que pura e simplesmen-

te a degradação da fertilidade do solo. Ela

reduz a capacidade de suporte do crescimen-

to de plantas em bases sustentáveis, sob da-

das condições de clima e outras relevantes

propriedades da terra”.

No âmbito ambiental, a comunidade cien-

tífica mundial e a população têm discutido a mu-

dança do modelo energético

mundial, de energia fóssil

para um sistema que in-

clua as energias

renováveis, alterna-

tivas e limpas. Por isso, a utilização de

biodigestores contribui para a integração e a

sustentabilidade entre atividades agropecuárias,

com o aproveitamento dos dejetos da caprino-

ovinocultura para a produção de biogás e

biofertilizante, alicerçando o aumento da pro-

dução agrícola e a transformação dos produtos

tradicionais das comunidades rurais carentes,

agregando valor e organizando a produção.

Professor de Biologia da Universidade de

Caxias do Sul, Germano Schüür chama a aten-

ção para o rumo que o planeta Terra está to-

mando devido à superpopulação mundial e

ao acúmulo de gases na atmosfera. “Futura-

mente teremos problemas relacionados à ex-

plosão demográfica e seus efeitos, ou seja,

suprimento de alimentos, novas fontes de

energia e preservação da qualidade da água,

do ar e do solo. Convém lembrar que em

2018 nosso pequeno planeta deverá hospe-

dar quase o dobro da população atual”.

Sobre as técnicas de preservação do meio

ambiente, ele explica que o homem está per-

dendo o controle para as máquinas. “É a

tecnologia que tem dirigido os caminhos do

homem e não o inverso, como deveria ser.

Sabe-se que grande parte da tecnologia está

voltada para a manutenção e para o aumento

de uma eficiência econômica que visa sem-

pre o crescimento de produção e até a cria-

ção de produtos inúteis que, na maioria das

vezes, estão completamente desvinculados

das reais necessidades humanas. Confio na ca-

pacidade do homem, desde que ele volte para

si mesmo, ou seja, volte à única razão para o

desenvolvimento: o bem-estar humano”.

Algumas empresas estão tão preocupadas

que já providenciaram mudanças em seu fun-

cionamento, como é o caso da United

Airlines, que fez um vôo experimental base-

ado em novas tecnologias agregadas ao avião.

O teste foi realizado sob os auspícios da Asia

and South Pacif ic Init iat ive to Reduce

Emissions (Iniciativa da Ásia e Pacífico Sul

para a Redução de Emissões - Aspire). Ele

transcorreu em uma freqüência normal do

vôo 870 da United, entre Sydney, na Austrá-

lia, e São Francisco, nos Estados Unidos. Os

processos incluem acompanhamento contí-

nuo do consumo de combustível, prioridade

na decolagem, uso de espaços aéreos restri-

tos após a partida e novos procedimentos para

o pouso, medidas que se tornaram possíveis

com a aplicação de novas tecnologias.

A Ecovias, administradora da rodovia que

liga a Imigrantes à Anchieta, também tem fei-

to um trabalho muito importante em prol da

preservação do meio ambiente. Ela foi a pri-

meira concessionária de rodovias do mundo

a obter o Certificado de Gestão Ambiental

ISO 14001. A Ecovias também dispensa aten-

ção às questões ambientais relativas à opera-

ção do Sistema Anchieta-Imigrantes. Para

isso, estabeleceu sua política ambiental, trei-

nando seus colaboradores para que conheçam

e apliquem pequenas atitudes que fazem di-

ferença, como monitorar a qualidade do ar e

da água diariamente; fiscalizar a fauna e a flo-

ra; minimizar a geração de efluentes líquidos

poluidores por meio da lavagem ecológica da

frota; conscientizar para o uso da água pelos

colaboradores; reduzir a geração de resíduos

sólidos; diminuir acidentes com produtos pe-

rigosos; recuperar a Mata Atlântica com o

plantio de mais de 500.000 mudas; e moni-

torar ruídos.

É muito importante entender os proble-

mas que as pessoas e as grandes empresas

causam ao meio ambiente. Mas entender

apenas não basta. É necessário buscar alter-

nativas para que esses problemas sejam ame-

nizados e solucionados, para que haja uma

melhora na qualidade de vida dos seres que

habitam o planeta.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Silvia Knapp

A mesma tecnologia que, muitas vezes,

com uma mão, ajuda a poluir o pla

neta, com a outra pode colaborar para

salvá-lo. A luta para preservar o meio ambien-

te e impedir danos ainda maiores ao planeta e

a seus habitantes tem encontrado na tecnologia

um importante parceiro. Em várias áreas de

atuação, iniciativas vêm sendo desenvolvidas

e aplicadas na tentativa de frear ou reverter a

utilização indevida dos recursos naturais.

Um dos estudos existentes na área da fauna

e da flora, que visa proteger o solo, o ar, o

micro clima, a água e também a paisagem é a

Forragricultura. O solo é usado de uma for-

ma em que o plantio é uma combinação de

espécies frutíferas ou madeireiras com culti-

vos agrícolas ou animais, de forma simultânea

ou em sequência temporal, que interagem eco-

nômica e ecologicamente.

Com a presença de árvores que têm a ca-

pacidade de capturar nutrientes de camadas

mais profundas do solo, reciclando com mai-

or eficiência, a sustentabilidade desses siste-

mas é um dos aspectos positivos. Eles têm

Imagem www.sxc.hu

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Page 13: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 13

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Mayra Alves

Desmatar por exemplo, leva à destruição do

ecossistema, que possui produtores, consumi-

dores primários, secundários, terciários e

decompositores. E quando uma espécie entra

em extinção, há um desequilíbrio na cadeia ali-

mentar e que pode levar à morte de outras es-

pécies e afetar também o ser humano. Ao con-

trário do Mico-leão-dourado, outros animais

como o Pássaro Dodô, o Tigre de Java, o Tigre

da Tasmânia, o Leão do Cabo, o Urso Gigante

de Kamchatka, a Palanca azul e a Rã Pintada da

Palestina entraram em extinção, exatamente

por causa do contato com o homem e de suas

ações como poluição, urbanização sem planeja-

mento e caça predatória.

Essas extinções de espécies animais, além

das consequências graves para o equilíbrio na-

tural, trazem também a possibilidade da perda

dos serviços ecossistêmicos, do patrimônio ge-

nético e dos conhecimentos tradicionais, o que

acarreta prejuízos à saúde, pois muitos medica-

mentos valiosos para as indústrias farmacêuti-

cas e químicas se perdem definitivamente sem

ao menos terem se tornado conhecidos. Junto

com esse patrimônio da humanidade, desapa-

recerá a possível cura de tantas doenças para as

quais os cientistas procuram princípios ativos

em plantas e animais.

Para os animais que já foram extintos, não

existe mais solução, porém para os que ainda

correm esse risco sim. Por isso, para impedir

esse desequilíbrio ambiental, além de reduzir a

degradação ao meio ambiente, também devem

ser criados refúgios, parques e corredores bio-

lógicos que possibilitem a migração de espéci-

es e também a captura e a criação em cativeiro

de animais silvestres, para evitar sua extinção.

Essas alternativas, no entanto, podem se tornar

excessivamente caras no futuro. Algumas solu-

ções interessantes já existentes são os inventá-

rios de espécies, os levantamentos das espécies

atingidas e os bancos de germoplasma.

O estudante de Zootecnia Guilherme

Campello de Oliveira, de 21 anos, não acha ade-

quada como solução a captura e a criação em

cativeiro de animais silvestres. “Acredito que a

criação em cativeiro e os refúgios são soluções

temporárias, pois, com o passar dos anos, a ge-

nética dos animais será limitada, ou seja, não

haverá variabilidade genética para continuar

perpetuando as espécies”. Para ele, o adequado

seria agir de outra forma. “A melhor saída é a

preservação das áreas naturais em que os ani-

mais vivem e a educação da população para não

degradar essas áreas”. Para o também estudan-

te de Zootecnia Leonardo da Silva, de 21 anos,

a preservação pode ocorrer de outra forma. “Im-

pedir que esses animais sejam comercializados

com o aumento de fiscalização e pesquisas por

meios de produção que se consorciem com a

natureza, impactando o mínimo nos

ecossistemas, seriam outras possibilidades”.

A conscientização das pessoas nesse proces-

so de preservação é muito importante, pois, dessa

maneira, será fácil fazer com que outras espécies

não sejam extintas, como é o caso do Veado-

campeiro, do Guará, do Gato-do-mato, da

Doninha-amazônica, do Jacaré-açu, do Jacaré-do-

papo-amarelo, do Gavião-real e da Surucucu, que

saíram da lista dos animais com risco de extinção.

O veterinário Jefferson Rodrigo Ferreira con-

firma que já existem leis contra madeireiras por

causa do desmatamento e pessoas que praticam

o tráfico de animais, porém, na opinião dele, ain-

da é pouco. “A fiscalização não é tão intensa.

Deveria haver mais campanhas de

conscientização, principalmente na mídia e nas

escolas e, dessa maneira, sensibilizar a sociedade

para o fato de que os animais são fundamentais e

essenciais para o nosso meio ambiente”.

ALGUMAS ESPÉCIES DEANIMAIS AMEAÇADOSDE EXTINÇÃO

O Mico-leão-dourado é um primata e o

habitat desse animal no Brasil é a região monta-

nhosa do Sudoeste do Rio de Janeiro. Tem hábi-

tos diurnos e arborícolas e vive aproximadamente

15 anos. É monógamo, ou seja, uma vez forma-

do o casal, mantém-se fiel. Os locais que os gru-

pos usam para dormir normalmente são buracos

(ocos) de árvores e os adultos ajudam na alimen-

tação dos filhotes. E esse pequeno animal de

32cm é um dos muitos que estão na lista de ani-

mais que correm o risco de entrar em extinção.

O Brasil tem hoje, segundo dados do Insti-

tuto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE)

e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

(Ibama), um total de 130 espécies e subespécies

ameaçadas de extinção. Também é o país com o

maior nível de biodiversidade do planeta. Po-

rém, vários fatores têm contribuído para a des-

truição de grandes áreas dos ecossistemas mais

ricos do país: Amazônia, Pantanal, Mata Atlân-

tica e Cerrado. Graças às degradações ao meio

ambiente – desmatamentos e aquecimento glo-

bal –, além do tráfico de animais e da caça ile-

gal, algumas espécies já foram extintas.

MamíferosAntílope-tibetano

Cachorro-vinagre

Cervo-do-pantanal

Elefante-indiano

Elefante-da-floresta

Elefante-da-savana

Baleia-azul

Chimpanzé

Gato palheiro

Gorila-do-ocidente

Gorila-do-oriente

Jaguatirica

Leopardo

Lobo-vermelho

Morcego-cinza

Onça-parda

Onça-pintada

Orangotango

Panda-gigante

Peixe-boi

Tigre

Urso-polar

Veado

AvesAbutre das montanhas

Arara-azul-de-lear

Arara-azul-grande

Ararinha-azul

Araracanga ou Arara-piranga

Arara-de-barriga-amarela

Arara-vermelha

Bacurau-de-rabo-branco

Bicudo-verdadeiro

Cardeal-da-amazônia

Cegonha preta

Galo da serra

Gaivota de rabo preto

Gavião real

Grifo

Maracanã

Pato mergulhão

Papagaio Pica-pau de coleira

Pintor Verdadeiro

Rolinha

Tucano-de-bico-preto

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Page 14: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE14AS FLORESTAS PEDEM AJUDAO desmatamento, a emissão de gases poluentes e o aquecimento globalestão destruindo o bem mais valioso da humanidade○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Taciana Milet

venda do pau-brasil na Europa, eles co-meçaram a exploração na Mata Atlânti-ca e, assim, as caravelas voltavam car-regadas de toras de pau-brasil paraserem vendidas no mercado europeu.Enquanto a madeira era utilizada para aconfecção de móveis e instrumentosmusicais, a seiva avermelhada era usadapara tingir tecidos.

Desde então, o desmatamento nãoparou mais. Depois da Mata Atlântica,foi a vez da Floresta Amazônica, em bus-ca de madeiras de lei, as empresas pas-saram a explorar aquela área. Uma aná-lise feita pela WWF (ONG dedicada aomeio ambiente) mostrou que as flores-tas da Mata Atlântica estão reduzidas a7% de sua cobertura original e a Flo-resta Amazônica já atinge 12%.

FAUNA E FLORA PERDEM ESPAÇO NA FLORESTA DESTRUÍDAA Amazônia abriga 33% das florestas tropicais do planeta e 30% das espécies conhecidas da fauna e

flora. Hoje, a área total vítima do desmatamento corresponde a mais de 350 mil quilômetros quadra-

dos, o que equivale 20 hectares de mata derrubados por minuto, 30 mil por dia e 8 milhões por ano. Por

causa disso, muitas espécies acabam desaparecendo, algumas nem ainda conhecidas pelo homem.

Tudo isso é causado pelo desmatamento exacerbado e sem controle, que, além de desapare-

cer com a fauna e a flora da região, ainda é o principal responsável pelas emissões de gases

poluentes no Brasil, fazendo com que o efeito estufa, que controla o equilíbrio da temperatura

da Terra, aumente. Para que este seja controlado, o país necessita preservar a floresta, mas não

é isso que vem acontecendo.

De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado

em 29 de outubro de 2008, em setembro desse ano, a Amazônia Legal (todo o território em

que há Floresta Amazônica e é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,

Rondônia, Roraima, além de parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão) teve

587 quilômetros quadrados de florestas desmatados. O estado com maior área desmatada foi

Mato Grosso, com 216,3Km² de floresta derrubada.

Nessas áreas devastadas são encontradas madeireiras e aeroportos clandestinos, empresas que

anteriormente foram fechadas, mas que continuam com o trabalho ilegal escondendo toras de árvo-

res para fazer construções. Esses locais têm fiscalização, mas como a área é muito extensa, fica difícil

monitorar todo lugar, o que ajuda para que essa atividade continue acontecendo.

Como consequência do desmatamento, a temperatura do planeta pode aumentar ao longo

dos anos. Estimativas mostram que apenas na Floresta Amazônica a temperatura poderá aumen-

tar em até 2ºC, podendo levar à extinção de muitas espécies da fauna e flora. A causa disso são

as emissões de gás carbônico na atmosfera, resultantes da queima da floresta. “Cerca de 73%

das emissões brasileiras de gás carbônico são resultantes do desmatamento, que ocorre, em

grande parte, na Amazônia”, afirma o professor e pesquisador do Instituto de Geociência da

UFRJ, Cleodilnei Castro.

Mas ainda há esperanças para que esta situação não fique ainda pior, como por exemplo, o

investimento em atividades econômicas ecologicamente e socialmente sustentáveis, projetos

que incentivem as empresas ao replantio das árvores, aos cuidados com o solo, para que as

novas mudas possam crescer firmes, e ainda o controle contra a captura de animais silvestres.

A Amazônia pede a atenção de todos. Ela é o maior bem que os brasileiros poderiam ter.

Não é à toa que o mundo inteiro quer tomar posse dela. O governo e a população precisam dar

mais atenção a esses problemas, já que a vida do ser humano também está em jogo.

O mundo todo está preocupado como que vem acontecendo com o meio am-biente: as queimadas, o derretimento dascalotas polares, a emissão de gases estu-fa e o desmatamento na Amazônia. Tudoisso faz com que a população dê maisatenção ao ambiente no qual vive. Odesmatamento é o principal tema nas dis-cussões em todo o mundo, pois ele afetadiretamente a vida de todos os seres vi-vos, além de ter grande importância paraa economia dos países que partilham deáreas da Floresta Amazônica.

Apesar de todos estarem com suaatenção voltada para o desmatamentohá alguns anos, não é de agora que elevem acontecendo. Ele teve início nomomento da chegada dos portugueses,em 1500. Interessados no lucro com a

Imagens www.sxc.hu

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Page 15: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 15RETENÇÃO DE CARBONO MANTÉM TEMPERATURAS

AQUECIMENTO GLOBALTodos os dias são mostradas na televisão

as inúmeras catástrofes que ocorrem no mun-

do, como furacões, terremotos e ondas gi-

gantes, por causa do aquecimento global, do

desmatamento, do aumento da emissão dos

gases poluentes e da queima de combustíveis

(gasol ina, diesel). Não é apenas o gás

carbônico que prejudica a Terra, mas sim a

sua junção com outros gases como o ozônio

e o metano, que formam uma camada de

poluentes de difícil dispersão, o que acaba

causando o efeito estufa.

O desmatamento e a queimada de flo-

restas e matas também colaboram para que

isso ocorra. Os raios do Sol atingem o solo

e irradiam calor na atmosfera. Como essa

camada de poluentes dificulta a dispersão do

calor, a consequência é o aumento da tem-

peratura global.

Entre os países que mais irão sofrer com

esse aquecimento está o Brasil. Com o meio

ambiente bastante degradado por causa de

desmatamentos e erosões, os reservatórios de

água irão diminuir, aumentando as áreas de-

sertas. “Com o avanço da temperatura glo-

bal, será muito difícil viver nessas áreas, por

isso muitas espécies animais irão desapare-

cer”, afirma o professor e pesquisador

Cleodilnei Castro.

Um dos efeitos mais preocupantes é o de-

gelo das calotas polares, porque, com o nível

do mar subindo, as áreas litorâneas do Brasil

vão desaparecer, além de provocar a escassez

de comida e o grande número de doenças e

mortes. Sequências de furacões, tufões e ci-

clones podem vir a acontecer em larga escala

no Brasil, que anteriormente não sofria com

esses acontecimentos. Aliás, o país já vem as-

sistindo aos poucos a esses fenômenos, como

o ciclone Catarina na região Sul. Ondas de

calor também podem chegar aqui, como já

vem acontecendo na Europa durante o verão,

provocando mortes de idosos e crianças.

Com todas essas consequências, o ser hu-

mano não pode mais deixar de cuidar do mun-

você queima a floresta, devolve tudo para a atmos-

fera. As florestas em pé conseguem manter o equi-

líbrio do clima porque estocam esse volume imen-

so de carbono”, explica ele.

Relatórios sobre a quantidade de carbono na

Amazônia afirmam que a área brasileira da flo-

resta pode absorver quase 50 bilhões de tonela-

das do gás. Em comparação com o CO2 emitido

apenas pelos carros, esse número equivale ao que

o mundo emite em mais de cinco anos, segundo

dados do Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam).

O Brasil é o quarto país no mundo que mais emite

gás carbônico só por conta das queimadas de flo-

restas no seu território. Isso é o equivalente a

75% das emissões brasileiras, cerca de 200 mi-

lhões de toneladas de carbono, segundo dados

do Ipam. Por isso, não basta somente plantar

novas árvores. É preciso investir, também, em

manter as que já existem.

Entre todas as árvores, aquela que retém mais

dióxido de carbono é o eucalipto, pelo seu cresci-

mento mais rápido. O resultado desse processo é

obtido pela retenção de CO2 absorvido durante

todo o dia. Quando as folhas são expostas à luz

solar, acontece a chamada respiração, que a árvo-

re realiza durante a noite, com a ausência de luz,

que devolve à atmosfera parte do gás poluente

retido com a iluminação natural. Por meio desse

acontecimento natural, o aquecimento global pode

ter uma grande diminuição.

O dióxido de carbono é um dos grandes res-

ponsáveis pelo aquecimento global. As florestas

funcionam como grandes reservas de carbono,

que é absorvido da atmosfera e retido pela vege-

tação e pela matéria orgânica que se acumula no

solo. Com a destruição da floresta, seja por quei-

madas ou pelo corte de árvores, esse estoque de

carbono acaba sendo liberado na atmosfera, di-

minuindo a capacidade de novas absorções.

Só na Amazônia, estima-se que estejam es-

tocados bilhões de toneladas de carbono, afirma

o pesquisador e professor do departamento de

Botânica do Instituto de Biociência de São Paulo

(IB-USP), Marcos Buckridge. “Por essa razão, se

do em que vive. Afinal, a raça humana de-

pende dele para viver, para que não seja

exterminada, para que seus filhos, netos

e bisnetos possam desfrutar um mundo

limpo, melhor que o de hoje e, acima de

tudo, viver em harmonia com o meio am-

biente, já que é ele que dá todas as condi-

ções para que os seres humanos possam

viver, ter comida, ar puro e tudo mais de

que precisam.

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Page 16: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE16

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Maurício Valentim Bortoluzzi

Quem vê a Terra de longe, observa que

grande parte dela é coberta por um

azul forte. Cerca de dois terços do Pla-

neta são preenchidos por essa substância, consi-

derada por todos sem cor, sabor e cheiro. Apesar

da abundância – pois se estima que 1,35 milhões

de quilômetros cúbicos é o volume total de água

no mundo – esse elemento indispensável à vida

está cada vez mais escasso. Não é para menos.

Desse total, apenas 2,493% é doce, mas está nas

geleiras ou em aqüíferos, regiões subterrâneas

de difícil acesso, e apenas 0,007% é a quantida-

de que está disponível para suprir as necessida-

des básicas dos seres que vivem no Planeta. A

escassez dessa importante fonte da vida nunca

foi tão preocupante.

Todos os dias são retirados cerca de 840 mil

litros de água dos rios e lençóis freáticos. Ao di-

vidir esse número pela população de 188,7 mi-

lhões de brasileiros, conclui-se que, em média,

cada habitante consumiria cerca de 384 litros de

água diariamente. Esse número assusta não pela

dimensão que cada um consome,mas por conta

do descaso com a quantidade desperdiçada to-

dos os dias. Em alguns lugares, chega a 80%. Ao

todo, 46%, em média. E o problema se agrava,

pois metade da água tratada fornecida pelas com-

panhias de abastecimento não chega às casas, pois

fica no meio do caminho.

A água que corre pelos ralos e bueiros de

cidades de todo o país é responsável por perdas

de até 60% do que é destinado aos municípios

todos os dias. Mesmo que ela seja um elemento

disputado em países do Oriente Médio, como

na Palestina e em Israel, o tema ainda é pouco

discutido. Na região Nordeste, a seca ainda atin-

ge milhares de pessoas. Já no Norte, a savanização

da Amazônia é um fenômeno que está se tornan-

do inevitável, logo onde estão 73% da água dis-

ponível no país. No Sudeste, os mananciais estão

comprometidos com o excesso de poluição. E

no Sul, temporadas de seca também preocupam.

O maior temor, segundo os especialistas, não está

somente na natureza, mas sob os nossos pés. Ca-

nos e tubos mal-conservados são os maiores vi-

lões do racionamento.

Nas grandes cidades, apenas 54% da água tra-

tada distribuída chega ao seu destino. As organi-

zações internacionais afirmam que 20% é o li-

mite máximo tolerável de desperdício da água,

mas, em todo Brasil, esse número é, em média,

duas vezes maior. Ou seja, mais de 40%. De acor-

do com a Agência Nacional de Águas, a ANA,

em certas cidades do país, a quantidade é ainda

maior. Entre os que mais desperdiçam, está a ca-

pital de Rondônia, Porto Velho, com perdas de

Deixar a torneira aberta na hora de escovar os

dentes, por exemplo, consome 18 litros, em

média. Isso representa nove garrafas de dois

litros cheias. E se isso parece pouco, pior está

no chuveiro. O Brasil é um país cuja tradição

determina banhos diários. E esse é o maior

vilão do desperdício. Cinco minutos são mais

que suficientes para o ser humano se manter

limpo. O problema é que esse tempo é pouco

para o brasileiro, que fica, em média, 15 mi-

nutos embaixo d’água. Ou seja, 135 litros

caem desde a hora de abrir o registro até fechá-

lo. Se caísse para cinco minutos, o consumo

seria de apenas 45 litros.

No serviço de proteção do meio ambiente,

as Organizações Não-Governamentais, as

ONG´s, têm reservado um espaço especial para

o tema água. A WWF tem, entre seus programas

de preservação da natureza, o “Água para vida”.

A intenção dos ambientalistas é mobilizar cerca

de 11 milhões de brasileiros para debater sobre

os impactos que a poluição tem causado sobre os

recursos hídricos, além de mudar certos hábitos

que contribuem para o desperdício.

A medida mais importante é fechar a tor-

neira, literalmente. Ao gotejar, ela é capaz de

desperdiçar 46 litros em um dia. E ainda pode

liberar 2.060 litros em uma abertura de 1 milí-

metro, durante 24 horas. Na casa de Hebert

Houri, esse desperdício não pode acontecer.

Ele, que mora com a mãe na capital de Goiás,

Goiânia, sabe da responsabilidade de ser usuá-

rio de um bem que se torna cada vez mais limi-

tado. “Poupamos o máximo possível. Não fica-

mos com o chuveiro ligado durante todo o ba-

nho. Somente nos momentos necessários. Apro-

veitamos a água da chuva para lavarmos a área

de serviço e não deixamos a torneira aberta en-

quanto escovamos os dentes”.

Parecem atitudes simples, mas são funda-

mentais. Para o professor de Engenharia

Ambiental da Universidade Veiga de Almeida

André Pinhel, os recursos hídricos estão di-

minuindo e a demanda por água só tende a

crescer nas regiões mais ricas do país. “O Bra-

sil possui uma reserva hídrica muito privilegi-

ada em comparação a outros países. Mas o uso

não tem sido inteligente e a poluição contri-

bui para o menor aproveitamento da água

doce”. Estima-se que 13,8% da água disponí-

vel no mundo está distribuída pelos quatro can-

tos do Brasil. Para se ter uma idéia, a Europa

possui 15%, enquanto as Américas, juntas, re-

presentam 39% do total mundial.

Mesmo que exista abundância nos recursos

hídricos, poupar nunca foi tão importante. Com

o crescimento da população e a escassez de água

dos rios, que geralmente estão poluídos, esse

bem precisa ser preservado. Para isso, o Go-

verno precisa ter uma preocupação maior com

o desperdício das empresas de fornecimento.

Além dele, cabe à população racionalizar seu

uso. Afinal, este é o melhor legado que a socie-

dade pode deixar para as próximas gerações:

um planeta em que a água não seja mais um

elemento em extinção.

78,8% da água captada. Essa situação ocorre em

15 das 27 capitais brasileiras.

Se a água desperdiçada fosse reaproveitada,

seria possível atender a 38 milhões de brasilei-

ros. Um deles é Lino da Silva. Morador da cida-

de Bezerros, interior de Pernambuco, ele preci-

sa conviver com o racionamento de água. Na

região onde vive, existe uma adutora, de

Jucazinho, mas que ainda não é o suficiente para

abastecer a cidade. “A adutora tem beneficiado

muitas cidades. Mas ainda falta chegar à minha e

em Gravatá”. O município fica a 107Km da capi-

tal, Recife. Em situação pior está quem vive no

semi-árido brasileiro, onde a água não chega nem

por canos e nem pela chuva.

A solução, apontam os especialistas, está

em melhorar o uso da água. Para evitar uma

crise, algumas ações dentro de casa ajudam a

racionalizá-la, para que ela não se vá pelo ralo.

“Poupamos o máximopossível. Não ficamoscom o chuveiro ligadodurante todo o banho.

Somente nos momentosnecessários”

Herbet Houri

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em w

ww.sx

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Page 17: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 17

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Manuella Rana Menezes

Toda vez que um colega de trabalho, um tio

ou até mesmo um vizinho aparece com uma tos-

se, o que primeiro se escuta é: “deve ser virose”.

É muito comum as pessoas receberem esse diag-

nóstico e o aceitarem, sem saber o motivo ou

mesmo sem se perguntarem de onde aparecem

tantas viroses. Mudança do tempo ou, quem sabe,

aquela chuvinha de ontem que deixou o sapato

encharcado. Mas existem explicações menos cor-

riqueiras e mais ligadas à degradação do meio

ambiente do que todos poderiam supor.

Há algo que os cientistas chamam de polui-

ção do solo. Ao ser poluído, fatalmente conta-

minará as águas que passam pelos lençóis

freáticos (que ficam abaixo do solo), e elas se

tornam o maior vetor de contaminação e disse-

minação de doenças, porque se espalham por

todo lugar. Além disso, a destruição do manto

florestal, os incêndios ambientais ou provoca-

dos, a criação de gado para o mercado bovino e

as inúmeras obras de urbanização, acelerando

os processos erosivos, têm destruído, ao longo

dos anos, enormes áreas de solos cultivados. Mi-

lhões de toneladas de solos perdem-se todos os

anos devido à erosão.

Com a introdução da agricultura, o homem

modificou o equilíbrio ecológico em numerosas

POLUIÇÃO AUMENTA A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS

zonas. Resultado: muitos animais, que, no seu

ambiente natural, são eliminados devido à pre-

sença de predadores e parasitas, em outro meio

são capazes de aumentar numericamente de for-

ma considerável. Nesse processo está a origem

da maioria das pragas conhecidas.

Os produtos tóxicos, acumulando-se nos so-

los, também podem permanecer ativos durante

longos anos. As plantas cultivadas nesses terre-

nos infectados podem absorvê-los, mesmo quan-

do estes não foram utilizados para seu próprio

tratamento. Assim se explica a existência de

pesticidas nos alimentos principais do ser huma-

no, como o leite e a carne, acabando na salada

do almoço ou no churrasco de domingo.

O acúmulo de resíduos sólidos também cons-

titui um problema angustiante das sociedades de

consumo de hoje. Nos lixos domésticos, consti-

tuídos de papel, papelão, plásticos, vidros e res-

tos de comida, o acúmulo é um foco de conta-

minação e um excelente meio para o

desenvolvimento de insetos e roedores. Além dis-

so, destrói a paisagem e se torna mais um fator

para a contaminação das águas superficiais e sub-

terrâneas, geralmente pelas águas da chuva, prin-

cipalmente quando os terrenos são permeáveis.

A preciosa água, ao ser poluída, pode causar

muitas doenças como as micoses de pele,

leptospirose e cólera. Se for ingerida, o número

de doenças se multiplica, e aparecem então as

infecções intestinais e urinárias, a

esquistossomose, as contaminações diversas por

metais pesados e a inflamação de mucosas em

locais como olhos, genitais, ouvido.

Floreana da Silva, de 43 anos, adquiriu cólera

após beber água rio próximo à comunidade onde

mora. “A água parecia limpa”, justificou. Floreana

desconfiava estar grávida porque enjoava muito e

vomitava tudo que comia. Depois de procurar um

posto de saúde, foi alertada da doença e há duas

semanas faz tratamento para se curar.

Enfermeira, Angela Azevedo, de 32 anos,

contraiu cólera ao tratar de uma paciente. “Eu

sabia do risco, mas faz parte da profissão”. Ela

teve auxílio rápido, por já trabalhar em local de

saúde. Já sua paciente ficou um longo período

tendo de repor os sais minerais perdidos.

O Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (PNUMA) sugere que “a degradação

ambiental, como a perda de florestas e o aumento

de cidades, pode ser um dos fatores por trás do

surgimento de novas doenças infecciosas e do re-

torno de males que eram dados como controla-

dos”. A afirmação foi divulgada pelo Panorama do

Ambiente Global, publicação anual do PNUMA.

As mudanças climáticas podem agravar o risco

de doenças de três formas: o aumento das tempe-

raturas favorece a proliferação de insetos vetores

(especialmente os mosquitos), desequilibrando ain-

da mais o habitat desses e provocando a migração

de novas espécies. É o caso da malária e da dengue.

Por serem transmitidas pela picada de mos-

quitos, essas doenças têm surtos de grande al-

cance geográfico e há ocorrências referentes ao

ciclo de vida desses insetos que são particular-

mente sensíveis às mudanças climáticas. Os au-

mentos na temperatura global não são os úni-

cos culpados. Isso também acontece porque a

urbanização, em geral precária, de áreas recen-

temente desflorestadas tende a criar um ambi-

ente propício para a proliferação de mosquitos

e outras doenças relacionadas à falta de condi-

ções sanitárias adequadas.

Wilson Sousa, de 52 anos, contraiu a den-

gue hemorrágica no início do ano. “Pensei que o

repelente resolvia”, disse. Quando ele começou

a expelir sangue, correu a um posto de saúde,

apenas com a desconfiança e, ao chegar lá, teve a

confirmação da doença.

Na luta contra essas doenças, as crianças são

alvos fáceis. Marina Borges, de 3 anos, contraiu rota

vírus, que provoca fortes vômitos e diarréia, há um

ano e precisou de tempo para se recompor. “Quan-

do ela começou a passar mal, eu me desesperei,

nunca vi aquilo, se eu não tivesse corrido com ela

para o hospital, ela poderia ter morrido”, diz Luiza

Borges, mãe de Marina.

Já Sandra Freire, de 25 anos, não teve a mes-

ma sorte. Seu filho Bruno, de 1 ano e cinco me-

ses de vida, faleceu no ano passado após contrair

o rotavírus. Sandra teve que procurar auxílio mé-

dico para suportar a perda do primeiro filho. Mãe

solteira, ela contava com a ajuda dos familiares

para cuidar da criança.

Outra vítima das doenças resultantes da polui-

ção do solo e das águas foi Herick Campos, de 19

anos, que adquiriu leptospirose. “Não tinha nada,

dor de cabeça, febre, dor muscular nem vomitava.

De repente, comecei a ficar com dor na barriga e

falta de ar”. Ele foi para o hospital e teve que ficar

em observação. Precisará se tratar durante um bom

tempo, pois seus rins foram prejudicados.

O lixo tóxico também é um forte concorrente

para a proliferação de doenças mais graves como o

câncer. “Por meio da radiação do lixo, o organismo

cria células neoplásicas que desenvolvem a doença.

A longa exposição a essa radiação aumenta a proba-

bilidade da doença”, explica o enfermeiro do tra-

balho pela Fiocruz, Maurício Teixeira.

Enquanto o homem não para de poluir, é pre-

ciso apostar em meios de prevenção para as doen-

ças que surgem. Busque ir ao médico periodica-

mente e fazer, sempre que puder ou achar

necessário, exames de sangue, urina e fazes. Se pre-

venir é o primeiro passo.

Imag

em w

ww.sx

c.hu

V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3417

Page 18: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE18

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Aline Batista de Souza

Quem pensa que o lixo é algo sem utilidade

está enganado. Diversas brasileiros tiram seu sus-

tento da prática da reciclagem, transformando o

lixo em arte. Um exemplo é a artesã Cristina Sil-

va, que começou a trabalhar com artesanato em

2002. Sua especialidade é fazer arranjos, bolsas,

acessórios e vassouras, tudo com garrafas PET. A

peça produzida por ela que mais vende é a vassou-

ra, pois esse utensílio consegue varrer 80Km, en-

quanto a de piaçava varre somente 8Km. Ao de-

senvolver essa técnica, Cristina ampliou suas

opções de trabalho e hoje vende seus produtos

para várias empresas, como Fiocruz, Furnas e As-

sociação Comercial do Rio de Janeiro.

Além de fazer produtos ecologicamente cor-

retos, ela se preocupa em conscientizar as pes-

soas sobre a importância da preservação da na-

tureza em oficinas de artesanato. “Os artesãos

são agentes informais do meio ambiente. Por isso

tenho o cuidado de ensinar que o lixo jogado nas

ruas impede a natureza de evoluir”. Apesar de

Cristina defender a reciclagem, existem ainda

muitos brasileiros que não se interessam em

reciclar lixo urbano. Com isso, o país perde cer-

ca de R$8 bilhões, já que a quantidade de detri-

tos que produz por dia (cerca de 130 mil tonela-

das) poderia gerar mais empregos e renda.

Para a socióloga Renata Feital, o reapro-

veitamento e a boa utilização de materiais no meio

ambiente não cria somente uma consciência ecoló-

gica coletiva, como também aumenta renda de fa-

mílias que estão à margem do mercado. “Iniciativas

como as dos artesãos são ótimas e devem ganhar

visibilidade na mídia para que mais e mais cidadãos

aprendam o quanto é importante reciclar”.

A dona de casa Helena Martins compartilha

do mesmo propósito da socióloga. E, para in-

gressar nesse segmento, ela começou a trabalhar

com caixinhas de presentes feitas com material

reciclado. Com o tempo, seu trabalho rendeu

lucros e o dinheiro recebido pelo artesanato aju-

dou a complementar sua aposentadoria.

Para desenvolver a técnica, Helena utiliza cai-

xas de leite, de suco, pasta de dente, maisena e

sabão em pó. E também reutiliza tintas de tecidos

e trinchas para ornamentação. A maioria de seus

produtos é vendida por encomendas. Além das

caixas de presente, ela também faz oratórios, reli-

cários com caixinhas de fósforo, bijuterias, brin-

cos e acessórios com sobras de malhas. Com tan-

tas habilidades, a artesã acabou sendo convidada a

realizar oficinas sobre cartonagem aos funcionári-

os das empresas Glaxo e Furnas, no Rio de Janei-

ro. “Tento conscientizar ao máximo meus alunos

sobre a necessidade de reaproveitar os materiais”.

Ações como a de Helena fazem com que

a prática da reciclagem cresça consideravel-

mente e gere uma nova fonte de trabalho no

país. Segundo a Secretaria do Desenvolvimen-

to da Produção, órgão ligado ao Ministério

do Desenvolvimento da Indústria e Comér-

cio, MIDIC, que coordena o Programa do Ar-

tesanato Brasileiro – PAB, esse segmento en-

volve 8,5 milhões de pessoas em suas cadeias

produtivas, e movimenta cerca de R$30 bi-

lhões por ano, o que corresponde a 2,8 % do

PIB nacional.

Estatísticas tão positivas como essas atraíram

a atenção da artesã Dora Barcelos, que, ao per-

der o emprego, encontrou no artesanato uma

fonte de sobrevivência que a ajudou tanto no

quesito profissional quanto no emocional. O foco

de trabalho dela é o papel machê e, por meio

dele, cria designers que possam ser vendidos ao

comércio a um preço acessível, já que sua fonte

de renda está baseada na prestação de serviços

para empresas.

Apesar da visibilidade que a área está con-

quistando, Dora afirma que existem muitas difi-

culdades a serem enfrentadas, entre elas, a falta

de incentivo aos profissionais que trabalham com

a reciclagem. “Eu aprendi essa técnica sozinha.

Os artesãos não recebem apoio do governo para

trabalhar, é tudo muito lento”, desabafa.

Ao observar o crescimento da prática do ar-

tesanato e a falta de leis que regularizem essa

profissão, o Congresso Nacional desenvolveu um

estatuto que está em tramitação para definir a

questão profissional desses trabalhadores e tam-

bém autorizou o Poder Executivo a criar um

Conselho Nacional e um Serviço Brasileiro de

Apoio ao Artesanato.

No Rio de Janeiro, o número de profissio-

nais que estão ligados a essa área é grande. São

cerca de 13 mil artesãos, oitenta associações e

inúmeras cooperativas que trabalham com ma-

terial reciclado. A cooperativa Folha Verde está

entre as organizações que dão respaldo a esses

trabalhadores. O coordenador do local, Haroldo

Martins, teve a idéia de criar esse empreendi-

mento quando observou a dificuldade de dar um

destino às garrafas PETS. Para colocar em práti-

ca essa idéia, ele convidou a amiga Maria Angéli-

ca para montar a cooperativa.

A produção está baseada na confecção de

bolsas feitas com PET. Todo material é doado

pela comunidade e os produtos são feitos por

meio de encomendas, já que a mão de obra

ainda é pequena (ao todo são sete artesãs). O

método de confecção é feito pelas integrantes

do grupo e o lucro é dividido em partes iguais.

Com a verba que vem recebendo, Haroldo de-

seja construir um maquinário para aumentar a

produção e, no futuro, atender qualquer pedi-

do. Por meio do trabalho desenvolvido pela

cooperativa, o grupo realizou exposições na

semana do Meio Ambiente na UFRJ, no Palácio

Guanabara e também na Agência Nacional do

Cinema, Ancine. “O que dá visibilidade ao nos-

so trabalho são as exposições e por isso nos de-

dicamos a desenvolver outros projetos ligados

à reciclagem”, conta ele.

Assim como Haroldo, a artesã Marinalva

Figueiredo também desenvolve um projeto liga-

do à prática do artesanato com material reciclado.

Ela fundou um grupo com suas amigas para fa-

zer colchas e bolsas de fuxico. A produção é feita

com restos de retalhos de uma fábrica de rou-

pas. Além desses acessórios, ela também faz brin-

cos com malhas e arranjos com papel machê. E

garante que esse tipo de trabalho é uma higiene

mental, pois o artesão necessita criar e desen-

volver sempre novas técnicas. “Existem várias ma-

neiras de interpretar o artesanato, é preciso ter

somente criatividade”. Além da criação desses

produtos a preocupação com meio ambiente é

um ponto defendido por ela, pois toda a sua pro-

dução está baseada na reciclagem para que as

novas gerações possam desfrutar os benefícios

que a natureza traz aos seres humanos.Cristina crias objetos decotativos com PET

Foto de divulgação

Imagem

www.sxc.hu

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Page 19: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 19

Projetos de educação ambiental nas escolas são

o primeiro passo para os alunos desenvolve-

rem uma consciência social e ecológica em prol da

preservação da natureza. Com esse tipo de traba-

lho, eles aprendem o que devem fazer para se tor-

narem cidadãos conscientes de seus direitos e de-

veres, pois é no colégio que se espelham em seus

gestores e seguem regras e padrões de ensino.

Em relação ao desenvolvimento dessa prá-

tica, o Colégio Militar do Rio de Janeiro fez

uma parceria para realizar o Projeto Marambaia,

que tem entre seus objetivos passar para os es-

tudantes dos primeiro e segundo anos do Ensi-

no Médio o conhecimento das diferentes vege-

tações que se encontram na restinga de

Marambaia. Eles praticam atividades de coleta,

preparo, secagem, identificação das espécies

vegetais e realizam pesquisas bibliográficas.

É seguindo esse mesmo exemplo que o Colé-

gio Sagrado Coração de Maria tem em seu currícu-

lo escolar a oficina de Educação Ambiental. Tudo

começou quando perceberam a necessidade de se

aplicar o conhecimento em relação ao meio ambi-

ente a seus alunos. Atualmente, a escola tem um

grande número de estudantes matriculados.

Os Colégios Militar e o Sagrado Coração

de Maria são exemplos de instituições que ofe-

recem projetos ligados à educação ambiental.

E a importância da preservação é tão grande

que o Ambiente Brasil define: “educação

ambiental se constitui numa forma abrangente

de educação, que se propõe a atingir todos os

cidadãos por meio de um processo pedagógico

participativo permanente, que procura incutir

no educando uma consciência crítica sobre a

problemática ambiental, compreendendo-se

como crítica a capacidade de captar a gênese e

a evolução de problemas ambientais”.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, nos

anos 90, o Ministério da Educação decidiu que

todos os currículos nos diversos níveis de ensino

deveriam incluir conteúdos de Educação

Crianças assistem a uma das palestras sobre meio ambiente em projeto promovido pela Prefeitura do Rio

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Vanessa Nobre

como a ligação entre os animais e plantas e a impor-

tância da preservação da água e dos manguezais.

Existem ainda outros projetos de destaque,

como a Conferência Infanto Juvenil pelo Meio

Ambiente, uma iniciativa dos Ministérios da Edu-

cação e do Meio Ambiente e que tem parceria com

a Fundação Telefônica. Nela, alunos de escolas pú-

blicas e privadas de todo o país discutem questões

ambientais no computador por meio de uma co-

munidade virtual, para juntar as propostas ligadas

ao tema; o encontro físico acontece com a partici-

pação dos estudantes e professores. Educadores, or-

ganizações não-governamentais e secretários de edu-

cação podem participar. Há conferências

diariamente, com fórum de debates, e são desen-

volvidos blogs e criadas galerias. “Uma das mais

importantes ações de educação ambiental nas esco-

las é a Conferência Infanto Juvenil pelo Meio Am-

biente, que está na sua terceira edição”, relata Juliana

Meneses de Castro, do Ministério de Educação.

Em 1986, a Secretaria de Estado de Meio Am-

biente (Sema), junto com a Universidade de

Brasília, organizou o primeiro curso de Especiali-

zação em Educação Ambiental. No Estado do Rio

de Janeiro, a lei 6157/05, feita pelo Deputado

Carlos Nader (PL-RJ), obriga todas as escolas dos

ensinos fundamental e médio, públicas e particula-

res, a destinar uma área específica ao meio ambien-

te. Mas ainda são poucas as escolas que oferecem a

disciplina no currículo escolar. “Se houvesse um

maior investimento, a maioria das escolas poderia

desenvolver melhor a relação de consciência para

ensinar os alunos a respeitar o meio em que vivem”,

desabafa a pedagoga Rose Carol.

Apesar de ainda não ser o ideal, iniciativas para

desenvolver o conhecimento da gestão nessa área

estão mais comuns. Segundo Andrea Bello, da Su-

Ambiental. Com isso, foi formado um grupo de

trabalho, coordenado pelo MEC, para a prática

dessa gestão, que acabou servindo como um pre-

paratório para a conferência Rio 92.

A relevância do tema é tal que a Secretaria

Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro

desenvolve atividades que procuram conscientizar

sobre o modo de se portar diante da natureza, com

a ajuda dos agentes ambientais. Esse projeto tem

dois anos e conta atualmente com a participação

de Lúcia Aragão, Gabriele Oliveira, Cátia Cilene

e Alcione Campos pela Prefeitura da cidade. “As

crianças adoram as peças, recebemos aplausos de

pessoas de todas as idades, desde o Jardim de In-

fância até os mais velhos”, conta Gabriele.

Outro diferencial quando o assunto é preser-

var está na recepção que os colégios têm quando

levam as crianças para visitar reservas biológicas,

como o Centro de Visitação Ambiental do Jequiá.

Ele fica dentro da Baía de Guanabara e conta com

trilhas naturais. Durante o passeio, os alunos co-

nhecem uma grande variedade de espécies de flo-

ra e fauna. “Existem diversas oficinas e cursos de

jardinagem”, entusiasma-se a estudante Carolina

Lyra. O Centro realiza parcerias direcionadas a

instituições de ensino e pesquisa.

Há escolas que trabalham com pesquisas e

outras que integram seus alunos em contato di-

reto com o meio ambiente. É o caso da Escola

Municipal Humberto de Souza Mello. Os alunos

têm no currículo escolar a aula de Técnicas Agrí-

colas. “Foi muito enriquecedor esse período es-

colar, eu lembro que a gente conseguia colher os

frutos e verduras que plantávamos”, relembra o

ex-aluno Paulo Roberto.

E quando o assunto é ensinar, há toda uma didá-

tica em torno da Educação Ambiental, desde o Ensi-

no Fundamental até o Médio. Um exemplo são as

edições da Série Educação Ambiental, revista criada

pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio

de Janeiro. Nela, há histórias que situam o leitor den-

tro do contexto ambiental e que abordam temas

perintendência de Educação Ambiental da Secreta-

ria de Estado do Ambiente, houve um curso ofe-

recido a professores de 154 escolas públicas esta-

duais do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana,

da Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC ) e

da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC)

com o objetivo levar a visão temática ambiental para

a escola na sua relação com a comunidade, qualifi-

cando professores e alunos. “Com metodologia

historicizada, crítica, participativa e dialógica, o

curso usa o espaço da gestão ambiental como espa-

ço pedagógico de aprendizagem”.

Atualmente, em alguns países, como o próprio

Brasil, existe a Agenda 21, com compromissos que

uma escola assume para agir na comunidade esco-

lar e na região a que pertence, de acordo com as

necessidades do século XXI. A intenção é promo-

ver o desenvolvimento local sustentável, a conser-

vação dos recursos naturais e a melhoria da quali-

dade de vida. Para participar, a escola tem que entrar

em contato com o Ministério do Meio Ambiente.

Também existe o projeto ‘Nas Ondas do Ambien-

te: Rá[email protected]’, uma iniciativa que o mi-

nistro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pretende

levar para todo o país. O MEC doou a 160 escolas

equipamentos de rádio-transmissão e equipes de

rádios comunitárias apoiam alunos e professores na

sua operação e na produção de programas de Edu-

cação Ambiental.

É preciso que os projetos existentes sirvam de

exemplos para outras escolas. A interação pode ser

eficaz a ponto de surgirem novas ideias e os alunos

sejam sensibilizados para respeitar o meio ambien-

te e absorver sabedoria para praticar nas atividades

cotidianas. Se a sua escola ainda não comprou essa

ideia, nunca é tarde para começar. O planeta Terra

está precisando de ajuda e um trabalho desenvolvi-

Foto

: Van

essa

Nob

re

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Page 20: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE20

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tayná Jordão

Em uma manhã de sábado, uma estudante

de Jornalismo sai de casa para participar de uma

feira de estágios. Ao chegar, vê alguns brindes

serem distribuídos e decide pegá-los. Depois

do evento, passa em uma locadora e aluga al-

guns DVDs e segue rumo a uma banca de jor-

nal para comprar uma revista. Ainda em sua

caminhada, passa na farmácia e compra alguns

produtos. Finalmente, volta para casa e encon-

tra sua família, que havia acabado de chegar do

supermercado e estava desembalando as com-

pras do mês. O retrato que se vê é de uma co-

zinha cheia de sacos plásticos para todos os la-

dos. Ela percebe que, durante seu passeio,

também conseguiu acumular mais umas saco-

las para a “coleção”.

Essa situação é comum em diversos lares.

Em um único dia, é possível juntar inúmeras

sacolas plásticas. Os destinos para elas são vá-

rios, mas a consequência é uma só: gasto de

matéria prima gerando o aumento da polui-

ção. São 500 bilhões de unidades produzidas

por ano. Derivadas do petróleo, elas levam

séculos para se decompor. E enquanto isso não

acontece, rios, mares e matas são poluídos, há

a retenção de água com o entupimento de es-

gotos e animais morrem em virtude de asfixia

pelo plástico.

Atentas a esse problema, muitas empresas

voltaram oferecer aos seus clientes as sacolas

retornáveis, bastante comuns há algumas dé-

cadas. Com isso, o consumidor exerce o papel

de cidadão, diminuindo o impacto ambiental,

e se torna um agente fundamental no desen-

tável de 2008 e também é uma das pioneiras

no uso de sacolas plásticas oxi-biodegra-

davéis, ela se torna totalmente degradável

quando descartada, ou seja, causa a decom-

posição acelerada do plástico em contato com

terra, luz ou água, devido à fragilidade das

l igações de carbono, sendo faci lmente

digerida por fungos e bactérias.

A maior diferença entre as convencio-

nais e as novas é o tempo de degradação. A

primeira leva séculos para desaparecer, já a

segunda pode durar de dois meses a seis

anos, não comprometendo a qualidade e a

resistência do plástico. O segundo motivo

para trocar uma pela outra é a viabilidade

econômica, o gasto é pouco ou nulo e a sa-

tisfação é garantida. Tanto que empresas

como O Boticário, Vivo, Schincariol, além

do Banco do Brasil, Varig, Correios e em-

presas internacionais, adotaram a ideia. Ou-

tra a l ter nat iva vá l ida é a sacola

hidrossolúvel, que se dissolve em água nas

temperaturas de 15, 30, 45 e 60ºC.

Adepta dessa moda, a estudante Lorena

Alves e sua família concordam que as sacolas

retornáveis têm que se tornar algo de uso

habitual. “Deve ser implantado em longo pra-

zo na sociedade. O uso do saco plástico é algo

cultural, mas pode ser mudado a partir de

campanhas de incentivo. Eu, por exemplo,

conhecia as sacolas retornáveis, mas até en-

tão não tinha em casa, até que minha mãe

trouxe de São Lourenço uma, com uma moça

que faz diversas estampas, e pegamos o cos-

tume de utilizar”, revelou a moradora do Rio

de Janeiro.

Apesar de qualquer mudança enfrentar

certa resistência, aos poucos é possível trans-

formar o mau hábito em colaboração para o

bem do planeta. Alguns estabelecimentos,

como padarias e mercados, já oferecem as

sacolas de pano para venda e ainda é possí-

vel fazer a compra pela internet, em sites

independentes, como no Blog Fun Verde e

no site internacional Baggu. A Green Sense,

sediada em Salvador, ainda disponibiliza as

ecobags, úteis e práticas, projetadas para car-

rinhos de supermercados.

Nos aterros sanitários e mesmo em lixões

a céu aberto, os sacos plásticos dificultam e

impedem a decomposição de materiais orgâ-

nicos e biodegradáveis. Além disso, compro-

metem a capacidade do aterro, deixam o ter-

reno muito impermeável e instável para uma

boa adequação dos resíduos. Vale lembrar que

a presença de lixo não reciclável no processo

de reciclagem é um problema, pois prejudi-

ca a qualidade do produto final ou quebra a

máquina que processa o material.

Na tentativa de extinguir, já no próximo

ano, as sacolas plásticas, que demoram até

500 anos para se decompor, outra medida de

suma importância foi tomada. O deputado do

PSDB de Goiás, Daniel Goulart, propôs um

“A troca é difícil, pois as sacolas de plásticos sãodistribuídas gratuitamente e os brasileiros também têm ohábito de usá-las para acondicionar o lixo doméstico”

Deputado Daniel Goulart

volvimento sustentável, gerando influência.

Normalmente, essas sacolas de tecido vêm

com alguma mensagem de conscientização, são

fáceis de guardar e acompanham a moda. Na

maioria dos casos, o dinheiro gasto em sua

compra é destinado a projetos em favor do

meio ambiente, como acontece com a Sacola

de Compras da linha Crer Para Ver da Natura.

A fabricante de cosméticos foi conside-

rada pela Revista Exame a Empresa Susten-

Representante da RES Brasil, Eduardo Van

Roost explica como a tecnologia de aditivos

D2W chegou ao país. “Sua origem é proveni-

ente da Inglaterra e a produção fica com a em-

presa Symphony. Somos somente uma filial ex-

clusiva brasileira. Não produzimos

embalagens. Quem produz, vende e fornece

são as mais de 170 empresas brasileiras, fabri-

cantes de embalagens plásticas, que são licen-

ciadas por nós”, diz.

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Page 21: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 21projeto em 29 de maio de 2008 para que, em

um ano, todos os estabelecimentos comecem

a utilizar apenas as biodegradáveis, duráveis

apenas 18 meses. A lei foi aprovada e passou

a valer a partir de junho de 2009 e, caso não

seja cumprida, o estabelecimento pagará uma

multa de R$7mil. O parlamentar afirma que

essa substituição é essencial.

"A defesa do meio ambiente é uma preo-

cupação que sempre tive como parlamentar e

como cidadão. Acredito que, com o tempo, to-

dos os empresários vão se sensibilizar e perce-

ber que a causa ambiental é mais importante.

A troca é difícil, pois as sacolas de plásticos são

distribuídas gratuitamente e os brasileiros tam-

bém têm o hábito de usá-las para acondicionar

o lixo doméstico. Porém, além de sobrecarre-

gar aterros sanitários e lixões, muitas sacolas

vão parar na natureza ou até mesmo em lotes

baldios, virando criadouros do mosquito que

transmite a dengue”.

Com uma preocupação também relacio-

nada ao ambiente, as marcas Hering e Enjoy

mostram que não estão antenadas apenas com

a moda. Ambas passaram a divulgar sacolas

feitas de TNT e lona, um exemplo que deve-

ria ser seguido por outras lojas de roupa. Mas

não é apenas em solo nacional que a

mobilização acontece. Outros países também

tomaram atitudes. Na Irlanda, se paga um im-

posto de nove centavos de libra irlandesa por

cada saquinho, o que diminuiu seu uso. Tam-

bém há tributos na Itália, Bélgica, Alemanha,

Holanda e Suíça.

Após a diminuição do turismo, em decor-

rência da grande poluição marítima, ilhas do

continente africano deixaram as sacolinhas de

lado para correram atrás do prejuízo. E a proi-

bição já existe na China e em alguns territó-

rios dos Estados Unidos. Apesar de novas, as

iniciativas são crescentes e chegam aos qua-

tro cantos do mundo. Mesmo nos países em

que ainda não existe essa proibição, está sen-

do feito um estudo da possibilidade de proi-

bir ou tributar o uso de sacos plásticos.

Com tantas pessoas, empresas e estabe-

lecimentos mudando sua postura em busca

da preservação da natureza, é possível con-

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Gilvana Castilho

Daniel Monteiro, de 17 anos, estudante do

terceiro ano do Ensino Médio e vestibulando

do curso de Biologia, é um dos jovens que se

preocupa com o meio ambiente. Ele só usa pro-

dutos biodegradáveis e procura consumir bens

de empresas que sejam ecologicamente respon-

sáveis. Ele não é o único a agir desta forma. A

cada dia, mais e mais pessoas assumem essa

atitude. Dos mais simples e úteis aos mais so-

fisticados e inusitados, o mercado dos produ-

tos ecologicamente corretos ou “verdes” cres-

ce, fazendo com que exista uma infinidade de

bens que não agridem o meio ambiente em

diversos segmentos.

No setor alimentício, há ovos de páscoa

feitos de cacau orgânico. Há também ovos tra-

dicionais com recheios bem brasileiros como

cupuaçu, pitanga e castanhas. Apesar do sabor

doce, o preço é bem salgado. Um ovo de 3kg

pode chegar a custar R$750. No setor de pa-

pelaria, existe o Moleco, a versão brasileira do

moleskine, caderno de bolso americano que já

foi usado por famosos como Van Gogh e Picasso.

O grande diferencial da versão brasileira é que

ela é feita a partir de material reciclado, e 100%

reciclável, e tem uma costura totalmente artesanal.

O Moleco tem 64 páginas e é produzido com fo-

lhas nas cores rosa, azul, amarelo, branco, laranja

e reciclado natural.

Já na área de beleza e saúde, o número de

produtos dobra. Por exemplo, a Surya Brasil lan-

çou uma máscara facial de argila ecologicamen-

te correta do começo ao fim. Composta por ex-

tratos e óleos orgânicos e certificados e sem

adição de corantes ou fragrâncias artificiais deri-

vadas de petróleo, ela tem certificado da Ecocert

e é indicada para peles normais ou oleosas. A ar-

gila branca ajuda a retirar toxinas da superfície

da pele e a rosa, a amaciar e proteger a pele con-

tra a perda de elasticidade.

Mas não é isso o que há de mais ecológico

nesse cosmético: a embalagem do produto,

100% biodegradável, foi vencedora do prêmio

Embanews 2007. Fibras naturais, lignina e au-

sência de produtos químicos permitem que a

caixa leve apenas oito meses para se decompor

completamente após ser descartada no meio-

ambiente. A unidade de 50g custa aproximada-

mente R$72.

Ainda no quesito beleza, existem várias

empresas que fabricam cosméticos orgânicos.

A inglesa Lush faz o maior sucesso e tem fili-

ais espalhadas por todo o Brasil. Seus produ-

tos são feitos à mão e com uma quantidade

mínima de conservantes, privilegiando as al-

tas concentrações dos extratos de frutas, le-

gumes, temperos e óleos. A Éh Cosméticos,

lançada pela empresária Cristina Archangeli,

é uma linha de produtos desenvolvidos com

ingredientes derivados de óleos naturais no-

bres, sem petroquímicos. Já a Amazon Secrets,

da fotógrafa Sheila Farah, nasceu em 2000,

com o intuito de resgatar, valorizar e prote-

ger as riquezas naturais da Amazônia. A Flo-

restas, de São Paulo, exporta para os EUA e

Europa, desde 2002, óleos para massagem,

produtos para relaxamento dos pés e cremes

corporais, entre outros.

A moda também investe em acessórios e rou-

pas verdes. A marca Eden inaugurou uma nova

coleção com tecidos que são 100% algodão e co-

loridos com corantes e pigmentos naturais, sem

adição de qualquer produto químico nocivo. A

loja é decorada com móveis de madeira de de-

molição e cabides de bambu extraídos de ma-

neira sustentável por comunidades quilombolas

do Amapá. Já as ecobags, sacolas ou bolsas feitas

com material biodegradável, ganham cada vez

mais modelos. A rede de locadoras Videoteca

[www.videotecaonline.com.br] tem suas pró-

prias sacolas ecológicas como alternativa aos

tradicionais sacos plásticos. Criados pela Id

Comunicação, os produtos já estão em sua

segunda edição e são feitos em lona e algo-

dão, podendo carregar até seis filmes.

Talita Cairrão, de 25 anos, graduada em

Relações Internacionais, é fã de bolsas ecoló-

gicas que, além de serem mais bonitas que as

de plástico e outros materiais poluentes, fa-

zem bem ao planeta. Sua única reclamação

sobre essa categoria de produto é o preço.

“Se os preços fossem mais acessíveis, mais

pessoas consumiriam os produtos. Apesar do

alto custo, eu prefiro comprar apenas produ-

tos orgânicos”, diz.

Apesar de ser um meio em constante

crescimento, ainda é difícil encontrar pro-

dutos orgânicos. Pensando nisso, os repre-

sentantes do movimento “Blog Action Day”

cr iaram em 2007 o Pensando Verde

[www.pensandoverde.blogtv.uol.com.br],

um blog dedicado só a postar notícias sobre

o meio ambiente, com matérias e dicas com

uma ótica verde e eco-sustentável. “A ideia

é demonstrar que hoje em dia pode se lidar

com praticamente qualquer assunto de for-

ma mais consciente”, diz Cláudio Roca, co-

ordenador do site.

MERCADO INVESTE EM PRODUTOS VERDES

cluir que a solução não está distante, pode

partir de cada um. O primeiro passo é ado-

tar a regra dos 3Rs: reduzir – reduzir o con-

sumo, comprar o essencial e assim, fazer a

quantidade de lixo diminuir; reutilizar – ten-

tar reaproveitar mais de uma vez o que há

dentro de casa, para evitar consumir ainda Bolsas de tecido são opções bonitas e que não

agridem o meio ambiente

mais; e reciclar – com a reciclagem não é

preciso desgastar a natureza e fazer uso de

mais matérias-primas. Se cada um fizer sua

parte, o mundo sobreviverá. E não esqueça,

a preservação está ao alcance de suas mãos,

literalmente.

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Page 22: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE22

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Diogo Moraes Gonçalves Vieira

O meio ambiente vem passando por si-

tuações alarmantes nos últimos tempos.

Desde que o homem começou a conviver

em grandes comunidades, ele alterou a na-

tureza de forma a assegurar a própria so-

brevivência e a lhe proporcionar conforto.

E é justamente graças às constantes inter-

venções feitas pelo “homo sapiens” que é

preciso conviver com a degradação

ambiental. É mesmo preciso? Não, não é

preciso nem é possível. O ser humano está

destruindo o meio fundamental para sua

vida. Muitas vezes, por capricho. Com a al-

teração da biodiversidade, problemas gra-

ves vêm ocorrendo: aquecimento global, es-

cassez de água no planeta, desmatamentos,

doenças que resultam da degradação

ambiental, acúmulo de lixo. Muitos detri-

tos levam mais de um século para se degra-

dar, como o pneu, por exemplo, que chega

a 600 anos. Em muitos casos, isso poderia

ser evitado, não fosse a falta de conscientização

por parte da população.

Um dos principais problemas enfrentados

hoje em dia é a quantidade de pneus abandona-

dos. São pilhas deles, espalhados sem destino.

E foi pensando na melhoria do meio ambiente

que a Secretaria do Meio Ambiente e algumas

empresas montadoras de carro criaram servi-

ços de coleta dos pneumáticos. A iniciativa tem

o objetivo de reaproveitar materiais beneficia-

dos como matéria-prima para um novo produ-

to, atitude fundamental nos tempos atuais. O

pneu gasto, mais conhecido como careca, pare-

ce não ter mais nenhuma utilidade. Além disso,

parece não servir nem mesmo como matéria-

prima para a produção de um novo pneu, mas

não é bem assim.

Desde 1999, a Associação Nacional da In-

dústria de Pneumáticos (Anip) coleta e destina

os chamados itens inservíveis (sem uso) e já

retirou da natureza 700 mil toneladas – cerca

de 139 milhões – de pneus de automóveis de

passeio. A reciclagem de pneus, por exemplo,

serve para os materiais que podem voltar ao

estado original e ser transformados, novamen-

te, em um produto igual em todas as suas ca-

racterísticas. E graças a ela, em geral, ocorre a

redução do volume de lixo nos aterros sanitári-

os e a melhoria nos processos de decomposição

de matérias orgânicas. Até o início dos anos

2000, milhares de pneus inservíveis eram des-

cartados em vias públicas, terrenos baldios, rios

e lagoas, principalmente, no Município do Rio

de Janeiro, com predominância nas regiões

Oeste e Norte da cidade, causando graves pre-

juízos ao meio ambiente, à saúde da população

e, claro, à estética urbana.

Recentemente, outra ajuda para acabar com

essa desordem urbana veio da Rio Coop 2000 e

da Secretaria de Estado do Meio Ambiente

(SEA): um programa de reciclagem de pneus

usados, lançado em novembro de 2007, com

apoio dos postos da “BR Distribuidora”. “Além

disso, foi criado o Disque-pneu (21- 25734142

e 31057730), não só para limpar o meio

ambiente, mas também para combater um

dos grandes criadouros do mosquito trans-

missor da dengue”, ressalta um dos

organizadores dessa união, o ambientalista

Paula César Ferreira Lima, de 43 anos.

O descarte inadequado de pneus usa-

dos é muito prejudicial ao meio ambiente.

Além de foco de doenças, pneus velhos

podem entupir cursos de água, provocan-

do enchentes. Quando queimados, aumen-

tam a poluição atmosférica. O pneu pode

ser reciclado inteiro ou picado. Quando fei-

to da segunda forma, apenas a banda de

rodagem é reciclada. Quando inteiro, há

inclusão do aro de aço. O processo de re-

cuperação e regeneração dos pneus exige a

separação da borracha vulcanizada de ou-

tros componentes, como metais e tecidos,

por exemplo.

Os pneumáticos são cortados em las-

cas e purificados por um sistema de pe-

Imag

em w

ww.sx

c.hu

V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3422

Page 23: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 23neiras. Essas lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos

químicos, como álcalis e óleos mineiras, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser en-

tão refinado em moinhos até que se consiga uma manta uniforme, para a obtenção de grânulos

de borracha. Esse material tem várias utilidades: cobrir áreas de lazer e quadras esportivas;

fabricar tapetes para automóveis; passadeiras, saltos e solados de sapatos; colas e adesivos; câ-

maras de ar; rodos domésticos; tiras para indústrias de estofados; e buchas para eixos de cami-

nhões e ônibus.

Diante da grave situação representada pelo acúmulo de pneus velhos no ambiente, foi elabora-

da pela Cooperativa de Coleta Seletiva e Reciclagem (Rio Coop 2000), em parceria com a Asso-

ciação Nacional da Indústria Pneumática (Anip), uma Política de Gerenciamento de Pneus

Inservíveis, que vem produzindo excelentes resultados, com a eliminação de mais de 95% dos

problemas decorrentes do descarte inadequado de pneus. A iniciativa está em vias de ampliação

para a região metropolitana do Rio de Janeiro e para outros locais do Estado.

“Desta forma, foram criados os conceitos que se aplicam às borracharias, cujos donos se dispu-

seram a receber e armazenar temporariamente pneus inservíveis, descartados pelo próprio esta-

belecimento e por comerciantes próximos, em condições ambientalmente adequadas”, explica

Agnaldo Pires, de 35 anos, coordenador do projeto Ecopneus, criado para fazer a coleta dos pneu-

máticos da Rio Coop. Ele afirma que esses pneus ficam em locais cobertos, inspecionados e trata-

dos para evitar proliferação de mosquitos transmissores do dengue. Mais uma vez tomando inici-

ativa, a cooperativa de coleta seletiva fez uma pesquisa em relação à origem dos pneus inservíveis,

descartados irregularmente em áreas públicas e terrenos, somente em 2007:

A indústria de pneus, em parceria com a corporativa carioca, atende à Resolução 258 do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelece um sistema de carregamento das

carcaças a partir dos depósitos centrais da Rio Coop, transportando-as em carretas até São Paulo,

onde os pneus são triturados e aproveitados como combustível na indústria cimenteira, destino

final ambientalmente adequado.

No município do Rio de Janeiro, um decreto da Prefeitura criou grupo de trabalho com o

objetivo de analisar a viabilidade do aproveitamento de pneus inservíveis na composição de

misturas asfálticas. Concluiu-se que a mistura é viável, aumentando a durabilidade e a aderência

da pavimentação, a custos compatíveis. Foram efetuadas experiências bem sucedidas em algu-

mas vias da cidade, mas o processo ainda não está sendo utilizado de maneira intensiva. O

resultado da parceria Anip/Rio Coop foi a implantação de, aproximadamente, 54 pontos de

recepção de pneus inservíveis na Zona Oeste; nove na Zona Norte e dois na Zona Sul carioca,

além de dois depósitos centrais de pneus. Outra atitude que o projeto visa combater é a queima

de artefatos de borracha, muito prejudicial ao meio ambiente e à saúde, pois os gases liberados

são fortes poluentes para o ecossistema.

As atividades de recepção, armazenamento e carregamento dos pneumáticos no depósito cen-

tral são asseguradas por cinco postos de trabalho e renda, custeados pela empresa Michellin. “Essa

é a nossa contribuição social, ajudando na destinação ambientalmente correta dos pneumáticos

usados que não são mais reutilizáveis. Muitos deles são descartados por seus usuários diretamente

na natureza. E é aí que a Prefeitura deve entrar conscientizando a sociedade”, afirma o gerente da

Michellin da Ilha do Governador, Anderson Vieira, de 37 anos.

Outras organizações também mostram interesse na reciclagem dos pneumáticos. Criada

em março de 2007 pelos fabricantes de pneus novos “Bridgestone Firestone”, “Goodyear” e

“Pirelli”, a Reciclanip é considerada uma das maiores iniciativas da indústria brasileira na

área de responsabilidade pós-consumo. O trabalho de coleta e destinação de pneus

inservíveis realizado pela entidade é comparável aos maiores programas de reciclagem

desenvolvidos em todo Brasil, em especial o de latas de alumínio, garrafas PET e embala-

gens de defensivos agrícolas.

O projeto teve início em 1999, com o Programa Nacional de Coleta e Destinação de

Pneus Inservíveis implantado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, entida-

de que representa os fabricantes de pneus novos no Brasil. O desenvolvimento desses proje-

tos revela que as indústrias de pneus não pensam apenas em vender seus produtos, mas

também em preservar a natureza, a qualidade de vida e o bem-estar da população. A pavi-

mentação por meio da reciclagem pneumática é um exemplo do que pode ser feito com

pneus velhos e, claro, um ganho para a sociedade. “Isso resultaria, conseqüentemente, em

asfalto mais barato, duradouro, seguro e, o principal, ecologicamente correto”, analisa Álva-

ro Augusto de Oliveira, de 53 anos, gerente-geral da Reciclanip.

A coleta de pneus inservíveis pode ser feita pelo serviço de limpeza pública do município

ou por intermédio da colaboração de borracheiros, sucateiros/coletadores, reformadores e

revendedores. Esses parceiros podem levar os pneus inservíveis coletados a qualquer um dos

Ecopontos espalhados em diversos estados do país, incluindo a possibilidade desses pneumá-

ticos serem levados diretamente às empresas de trituração ou picotagem, os chamados Cen-

tros de Recepção e Trituração/Picotagem, sem passar pelos Ecopontos.

Combater e eliminar o quadro da desordem urbana causada pelo abandono de pneus é

um grande desafio, principalmente para o Rio de Janeiro, cidade com maior índice desse

tipo de degradação ambiental. Mas cabe a todos os cidadãos, terem consciência de que não

mudar essa realidade só prejudicará o meio ambiente. Todo esse trabalho tem dado resultado

e o Brasil está em 2o lugar no ranking mundial de recauchutagem de pneus, o que lhe confere

uma posição vantajosa junto a vários países na luta pela conservação ambiental. Cada um

fazendo a sua parte tornará o mundo um lugar melhor de se viver, seja reciclando lixo e

pneus, protestando contra o aquecimento global e o desmatamento. Não importa. Como diz

a sabedoria popular, a união faz a força.

RESOLUÇÃO 258 DO CONAMA(RESUMO)

1. A partir de 1º de janeiro de 2002, para cada quatro pneus

novos fabricados no país ou importados (inclusive aqueles que

acompanham os veículos importados), as empresas fabricantes

e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente

adequada a um pneu inservível.

2. A partir de 1º de janeiro de 2003, para cada dois pneus novos fabricados no país

ou importados (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas

fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a

um pneu inservível.

3. A partir de 1º de janeiro de 2004, para cada pneu novo fabricado no país ou

importado (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas fa-

bricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a um

pneu inservível. Para cada quatro pneus reformados importados, de qualquer tipo, as

empresas importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis.

4. A partir de 1º de janeiro de 2005, para cada quatro pneus novos fabricados no país

ou importados (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas

fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a

cinco pneus inservíveis. Para cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo,

as empresas importadoras deverão dar destinação final a quatro pneus inservíveis.

Fonte: site do Conama – www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=258

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Page 24: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE24

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Rafael Garrido

O Rio de Janeiro abriga três espaços que, além de belos, desempenham umimportante papel na preservação do meio ambiente: o Instituto de Pesquisas Jar-dim Botânico do Rio de Janeiro, o Parque Nacional Floresta da Tijuca e o ParqueLage. Todos são heranças antigas da cidade, da época colonial. Um se tornou amaior instituição de pesquisa botânica da América Latina, outro é a maior florestaem área urbana do mundo e o último abriga a maior escola de artes do país.

INSTITUTO DE PESQUISAS JARDIM BOTÂNICO DO RJ

cies ameaçadas de extinção e propondo soluções

de manejo e conservação das espécies de acordo

com estudos realizados”, conta Juliana Valentim, as-

sessora de imprensa do espaço.

O atual presidente do Jardim, Liszt Vieira,

teve um trabalho difícil em suas mãos: o de mos-

trar que o instituto ainda é muito importante

para o Brasil e para o Rio de Janeiro, algo que

conseguiu fazer a partir de iniciativas e inova-

ções. Uma delas veio por parte do Núcleo de

Educação Ambiental, responsável por coordenar

as visitas escolares. O Nea criou o ‘Conhecendo

Nosso Jardim’, por meio do qual são oferecidas

aulas para os professores no arboreto. Assim,

quando eles levarem os alunos para visitas, po-

dem ter um conhecimento acerca do parque.

“Quando trazem seus alunos ao Arboreto, tor-

nar a visita uma recreação é um pecado, um des-

perdício. O espaço disponível permite aulas que

vão desde Biologia e Botânica até História do

Brasil. Mas para estarem preparados para explo-

rar o potencial didático do parque, os professo-

res precisam receber um mínimo de informação

sobre ele”, explica Maria Manuela Rueda, res-

ponsável pelo projeto.

Outras duas iniciativas foram de extrema im-

portância para o instituto. A primeira foi a criação

do primeiro Museu do Meio Ambiente da Améri-

ca Latina, situado numa antiga casa colonial que

servia de moradia para os pesquisadores. “Agora,

pretendemos nos tornar referência mundial no

quesito meio ambiente, aliado cada vez mais as

áreas de pesquisa, educação e cultura, todas con-

templadas em nosso Instituto”, conta Juliana. A

segunda medida, também ressaltando essa ligação

entre meio ambiente e cultura, foi a criação do

Espaço Tom Jobim, área do parque que abriga ex-

posições e dispõe de um teatro, onde são realiza-

dos, além de peças, shows e concertos.

FLORESTA DA TIJUCA

REDUTO DA ARTEAqueles que visitam o Parque Laje, na Zona

Sul do Rio de Janeiro, sentem o clima de roman-

tismo do local, sua natureza deslumbrante e seu

belo palacete, tudo aos pés do Cristo Redentor.

Esse ar romântico começa já em sua criação, em

meados do século XIX. O terreno foi adquirido

pelo comendador Antônio Martins Lage Junior

e, mais tarde, herdado por seu neto, Henrique

Lage, que se apaixonou pela cantora lírica italia-

na Gabriela Bezanzoni e, em 1922, mandou cons-

truir o palácio e seus belos jardins, oferecendo-

os a ela como presente.

O projeto da construção, de estilo eclético,

foi feito pelo italiano Mario Vodrel, com azulejos,

mármores e ladrilhos importados diretamente da

Itália. Os belos jardins foram projetados pelo pai-

sagista inglês John Tyndale e, posteriormente, nas

décadas de 30 e 40, foram parcialmente remode-

lados. O parque é a última arbórea contínua entre

o Corcovado e a rua Jardim Botânico.

Atualmente, o Parque e seu palacete foram

tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional,

tornando-se a sede da Escola de Artes Visuais. A

área é aberta à visitação, permitindo que suas

diversas trilhas sejam exploradas à vontade, sen-

do a mais famosa aquela que leva até a encosta

do Cristo Redentor. Outros atrativos são o aqu-

ário construído em argamassa imitando rochas e

troncos de árvores, as pontes, bancos e quios-

ques próximos ao lago, que são representações

construídas da natureza, e a gruta.

O Parque Laje desempenha um papel que

vai além de ser sede de uma escola de arte e

espaço público destinado à visitação. Ele tam-

bém abriga diversos eventos e iniciativas vol-

tadas para a questão da preservação ambiental,

entre eles, o Dia Mundial de Preservação da

Água. O espaço integra ainda a rede de pre-

servação da Floresta da Tijuca. A maioria dos

eventos serve para conscientizar a população

carioca no que diz respeito à preservação da

natureza, mas também inclui projetos com o

objetivo de apontar a importância da Floresta

da Tijuca para a cidade, sendo o próprio Par-

que Laje integrante da área florestal que a com-

põe. Visita imperdível para todos os românti-

cos e apreciadores da natureza, o espaço

confirma mais uma vez que o que há de muito

belo no Rio é também muito útil.

Quando a família real portuguesa escolheu

como refúgio o Brasil, em sua fuga da fúria

napoleônica, quem mais se beneficiou foi essa pe-

quena colônia subdesenvolvida. Subitamente trans-

formada em sede do governo, a cidade do Rio de

Janeiro logo recebeu uma reforma geral, por or-

dem de D. João VI, para que fizesse jus à função

que agora desempenhava. Muitas foram as medi-

das tomadas. Entre elas, o Príncipe Regente tra-

tou de proteger a coroa, instalando uma fábrica

de pólvora próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas.

O entorno da fábrica, uma vasta área, foi utilizado

para aclimatar especiarias vindas da Índia.

A área logo passou a ser denominada Jardim da

Aclimação e, mais tarde, Real Horto, que após co-

meçou a ganhar o cunho científico e a importância

que possui hoje, sendo denominado Jardim Botâni-

co do Rio de Janeiro. O espaço, que era destinado à

aclimação de plantas, passou a ser utilizado para pre-

servação. Muitas espécies foram importadas, sen-

do a mais famosa delas a palmeira Imperial, que

mais tarde virou o símbolo do lugar.

O primeiro exemplar de palmeira imperial

foi plantado pelo próprio D. João no Jardim Botâ-

nico, a famosa “Palma Matter”, de onde todas as

outras palmeiras imperiais brasileiras descendem.

Esse espécime foi derrubado por um raio, mas

sua primeira filha plantada, a “Palma Filia”, ainda

existe em um lugar de destaque no arboreto.

Mas nem só de história vive esse espaço. Com

200 anos de existência, o Jardim Botânico mostra

que sua função e importância não se perderam no

tempo e desde 2001 promove o desenvolvimen-

to de ensino e pesquisas relativos à flora brasileira.

“Em 2008, com a criação do Centro Nacional de

Conservação da Flora, sob coordenação do Jardim

enquanto Instituto de Pesquisas, ele passou a ter

um papel ainda mais fundamental no sentido da pre-

servação da nossa flora, elaborando a lista de espé-

Todo carioca que se preze sabe que a Floresta

da Tijuca é a maior floresta em área urbana do mun-

do. O que poucos sabem é que ela não é natural.

Com o crescimento da cidade com a chegada da

família real portuguesa, diversas áreas de floresta e

matas no entorno do Rio foram devastadas para o

plantio e as madeiras eram usadas para lenha e car-

vão. Quando o Brasil assumiu a posição de expor-

tador de café, a situação piorou: encostas de mon-

tanhas inteiras foram devastadas para as plantações.

Já naquela época, o uso sem planejamento dos re-

cursos naturais resultou em desastre ambiental.

Por quatro vezes, ocorreram secas no Rio de

Janeiro e a devastação foi tanta que as nascentes dos

rios ficaram ameaçadas. O Imperador D. Pedro II,

preocupado com a questão, mandou plantar a Flo-

resta da Tijuca, primeiro exemplo de reconstituição

de cobertura vegetal com espécies nativas no Bra-

sil, plantando 13.500 mudas. Apesar de o replantio

não ter sido feito de forma técnica ou científica, no

final do século 90 mil espécimes haviam sido plan-

tadas e uma floresta já crescia no Rio.

Hoje, a importância dessa área verde para a

diversidade de espécies animais e vegetais fez com

que a Floresta fosse transformada em Parque Na-

cional. Esses parques são porções do território

nacional, que, devido a elevados atributos natu-

rais ou culturais, estão postos sob jurisdição do

Governo Federal, para assim garantir sua pre-

servação. O espaço é aberto à visitação, mas os

visitantes precisam respeitar algumas regras.

Mas o que significa para o Rio ter esta vasta área

verde? “A floresta da Tijuca tem um valor enorme na

cidade do Rio de Janeiro. Serve para controlar a tem-

peratura e as chuvas, já que a água fica retida na copa

das árvores, funciona como inibidora da poluição at-

mosférica e reguladora das águas, é berço de rios e

viveiro para animais e inúmeras espécies da flora”,

explica Alexandre Justino, funcionário do Parque.

Instituições cariocasvoltadas para a preservação ambiental

Imagem

: Érica Ribeiro

V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3424

Page 25: Veiga Mais MeioAmbiente

Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 25O mundo todo hoje fala em meio am

biente. É fácil notar uma preocupa

ção, uma luta pela preservação. A de-

gradação do ambiente tornou-se visível a olho

nu. A população cobra das autoridades medidas

para conter a destruição ambiental. Mas nem

sempre vêm dos governantes as iniciativas toma-

das para salvar ou diminuir a devastação em que

se encontra a Terra. Muitas vezes, conta-se com

ajuda de parceiros ou até mesmo heróis

ambientais. São as Organizações Não-Governa-

mentais (ONGs) que tem tido um papel funda-

mental na luta para preservar o planeta.

Do ponto de vista jurídico, as ONGs são asso-

ciações civis de direito privado. Na nomenclatu-

ra, organização não-governamental define-se como

não-Estado e por suas características sem fins lu-

crativos. Mas elas não podem e nem devem ser

comparadas aos partidos políticos ou tidas como

substitutos do Estado nas ações sociais.

Hoje já são cerca de 40 mil no mundo e apro-

ximadamente 1.000 no Brasil, segundo pesquisa

feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Apli-

cada (IPEA). É a resposta da sociedade à falta de

capacidade dos governos de realizar algumas de

suas funções de forma satisfatória. As ONGs têm

como principal ativo a credibilidade, que precisa

ser preservada e garantida, mas só há alguns anos

essas organizações foram percebidas como fato

social pela mídia.

HISTÓRIA DAS ONGSO termo ONG foi usado pela primeira vez

em 1940 pela Organização das Nações Unidas

(ONU) para designar as entidades da socieda-

de executoras de projetos comunitários ou de

interesse público. Mas foi nas décadas de 60 e

70 que sua expansão se deu. E na América

Latina elas tiveram participação importante na

luta contra os Estados Ditatoriais, principal-

mente aquelas que cuidam de questões de di-

reitos humanos.

Apenas a sociologia sediada nos Estados Uni-

dos empregava o termo “organização não-gover-

namental” para designar as entidades da socieda-

de civil, em referência a todo movimento de

cunho social. Nos anos que se seguiram, o ter-

mo “ONG” adquiriu maior relevância.

Na passagem dos anos 80 à década seguin-

te, surge no Brasil um movimento inexistente

até então: entidades voltadas para questões de

interesse público, capazes de formular proje-

tos, monitorar sua execução e prestar conta de

suas finanças. No Brasil, nasceram espelhadas

no modelo americano e dentro do circuito de

cooperação global.

Ela realiza ainda atividades de pesquisa, le-

gislação e política pública, educação ambiental

e comunicação, além de projetos de viabilização

de preservação, por meio dos estímulos a al-

ternativas econômicas sustentáveis que ajudam

e beneficiam a população local. Busca sensibili-

zar a opinião pública, por meio de atos e publi-

cidade, baseando-se no pilares filosófico-morais

da desobediência civil.

Assim como a WWF, o Greenpeace é uma

ONG voltada ao meio ambiente e famosa no

mundo inteiro. Com sede em Amsterdã e es-

critórios espalhados por quarenta países, foi

criada em 1971 no Canadá por imigrantes ame-

ricanos. É financiada apenas por pessoas físicas,

não aceitando o dinheiro de governo ou em-

presas. O nome é a junção das palavras inglesas

green (verde) e peace (paz) para dar a idéia de

pacifismo e defesa do meio ambiente. Atua com

campanhas dedicadas às áreas de floresta, cli-

ma, nuclear, oceanos, engenharia genética, subs-

tâncias tóxicas, transgênicos e energia

renovável, e tem como princípio básico o tes-

temunho presencial e a ação direta.

No Brasil, o Greenpeace realizou a primeira

ação em 26 de abril de 1996 numa manifestação

em frente ao pátio da usina nuclear de Angra do

Reis, onde foram colocadas 800 cruzes para lem-

brar o número de mortos no acidente na Ucrânia.

Isso se deu às vésperas do Eco-92, quando os

ativistas chegaram ao Rio a bordo de um navio

para participar do encontro.

PROFESSORES INDÍGENASE ELABORAÇÃO DEMATERIAL DIDÁTICO

Quem também teve sua criação marcada na

história foi o Centro de Trabalho Indígena

(CTI), pois se formou no início do processo de

abertura política em que houve a transição do

regime militar para a democracia. Tem como

marca de sua identidade o apoio direto aos po-

vos indígenas, com o objetivo de que esses pos-

sam atingir o maior grau de auto-suficiência

econômica e política dentro dos parâmetros das

próprias comunidades indígenas.

O CTI é uma sociedade civil, sem fins lu-

crativos, e a associação tem sede e foro em

Brasília. Tem como finalidade desenvolver tra-

balhos indígenas, visando o bem-estar da popu-

lação que se encontra em território nacional.

Atua com projetos integrados, que são elabo-

rados a partir das demandas de locais identifi-

cados em conjunto com os índios. Mais do que

beneficiários, os índios são co-autores e co-exe-

cutores dos projetos.

DOS COSTUMESAO USO DA TECNOLOGIA

Outra ONG muito importante no Brasil é

a Ramudá, uma organização não-governamen-

tal sem fins econômicos. Formada em São

Carlos em 2001, realiza e apoia projetos sócio-

ambientais e culturais integrados, visando a pro-

dução e a difusão de bens culturais, o fortaleci-

mento de organizações comunitárias, a pesquisa

e o registro da história local e a implantação de

uma educação ambiental consistente.

A organização procura catalisar transfor-

mações de valores culturais, potencializando

a capacidade criadora de seus sujeitos no exer-

cício de sua autonomia. A ONG atua em mu-

danças concretas na direção de uma efetiva

justiça social da democratização do conheci-

mento, do uso adequado da tecnologia, de re-

lações pacíficas, responsáveis e solidárias en-

tre homens e mulheres.

A Ramudá foi reconhecida como Organiza-

ção da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIP) em 5 de setembro de 2007. Os proje-

tos da Ramudá são unidades de ação com

enfoques específicos, que tornam realidade as

aspirações coletivas dos integrantes da entidade.

O trabalho desenvolvido pelas ONGs nos se-

tores sociais e na capacitação humana para o

voluntariado tem sido de importância no avanço

das políticas públicas. A sociedade hoje reconhece

nas ONGs sérias a defesa legítima de uma melhor

qualidade de vida. Crer neste trabalho é mais do

que uma séria ideia de política pública. Mais par-

ticularmente no âmbito do meio ambiente, é uma

necessidade inadiável.

Urso panda: símbolo da ONG WWF

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Rafaela Duarte de Sousa

Enquanto, nos anos 70 e 80, as ONGs não

encontram apoio financeiro, nos anos 90, elas

vão buscar na cooperação internacional o apoio

necessário para financiar a luta pela cidadania.

CONHECENDO AS ONGSO Centro de Estudos Ambientais (CEA), or-

ganização não-governamental ecológica, foi fun-

dado em Rio Grande, Rio Grande do Sul, em 1983

e surgiu como contraponto do surto industrial

degradador da qualidade ambiental que se inicia-

va num movimento social em gestão no país na

década de 80. Dentre as atividades, pode-se des-

tacar o ativismo ecológico (movimento de prote-

ção das dunas de Rio Grande e Cassino) e de aler-

ta sobre a indústria de celulose. Foi o autor da

primeira Ação Civil Pública Ambiental, com o

objetivo de acabar com a prática do tiro contra o

pombo, e responsáveis pela reestruturação do

Conselho Municipal de Proteção Ambiental.

Outra ONG reconhecida por voltar seu tra-

balho para o meio ambiente é a Rede WWF.

Criada em 1961, tem sede na Suíça e é com-

posta por organizações e escritórios em diver-

sos países, que têm como característica o diá-

logo na questão ambiental. Desenvolve cerca

de dois mil projetos de conservação. Quando

fundada, escolheu como símbolo para

representá-la um urso panda gigante chamado

Chi-Chi, que tinha acabado de chegar ao zoo-

lógico de Londres. Uma escolha baseada na cam-

panha da China para a preservação do panda.

Com sede em Brasília, a WWF-Brasil foi cri-

ada em 30 de agosto 1996 e é formada por re-

presentantes do empresariado, ambientalistas

e outros setores da sociedade brasileira. Atual-

mente, trabalha executando dezenas de proje-

tos em parceria com universidades e órgãos go-

vernamentais. Tem o objetivo de harmonizar a

atividade humana na conservação da

biodiversidade e promover o uso racional dos

recursos naturais, em benefício dos cidadãos de

hoje e das gerações futuras. Desenvolve proje-

tos em todo o país, com atuação em mais de

cem países e o apoio de cerca de cinco milhões

de pessoas, contando com associados.

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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE26PROTOCOLO: O SOPRO DE ESPERANÇA

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Leonardo Araújo

O mundo está em choque. As

consequências do desprezo humano pela

preservação ambiental estão mais eviden-

tes a cada ano. O clima já não é mais o

mesmo. O futuro se transformou num

misto de incerteza e angústia. Mas não é

de hoje que a mãe-natureza tem dado seu

recado, estampado e nítido, aos olhos de

todos. Por isso, desde 1988, com o pre-

núncio do apocalipse ambiental, líderes

mundiais vêm fazendo convenções inter-

nacionais para discutir o futuro do plane-

ta. Um acordo ambiental foi fechado. Mas

entre a incerteza dos cépticos e a expec-

tativa dos esperançosos, culminou-se a

questão: serão os acordos ambientais efi-

cientes o suficiente?

Para os líderes mundiais que assinaram

o Protocolo de Kyoto, sim. Mundialmen-

te conhecido como a esperança da socie-

dade, o protocolo assinado na cidade ja-

ponesa em 1997 foi o resultado de uma

sucessão de reuniões internacionais, já vi-

sando o futuro do planeta. A primeira

ocorreu na cidade de Toronto, Canadá, em

1988, logo que mudanças bruscas do cli-

ma assustaram todos os países.

Seguindo a cronologia do protocolo,

realizou-se em seguida a famosa confe-

rência Eco-92, no Rio de Janeiro, e de-

nominada Convenção Quadro das Nações

Unidas sobre a Mudança Climática. Nes-

sa conferência, acordos ambientais foram

assinados, citando a diminuição da emis-

são de gases que provocam o efeito estu-

fa. Mas o tratado não fixou limites obri-

gatórios na redução dos gases e, por isso,

não obteve sucesso.

O Protocolo de Kyoto seria o pri-

meiro tratado assinado a obrigavar to-

dos os países signatários a reduzirem suas

emissões de gases poluentes. Mesmo

formulado em 1997, o acordo ambiental

só entrou em vigor oito anos depois,

após a Rússia firmar também o compro-

misso ecológico. Diante da efetivação,

metas de redução de gases foram implan-

tadas, algo em torno de 5,2% entre os

anos de 2008 e 2012.

Alguns especialistas, porém, desacre-

ditam do sucesso do acordo. Eduardo Vio-

la, sociólogo da Universidade de Brasília

(UnB), destacou, no 6º Encontro da Asso-

ciação Brasileira de Ciência Política, que

se as grandes nações poluentes não se de-

dicarem de fato ao tratado, de nada adian-

tará. “De 2006 a 2007, as emissões de ga-

ses estufa, que deveriam diminuir,

cresceram 3%”, declarou o sociólogo na

mesa redonda formada por especialistas

para debater os esforços internacionais.

Outro ponto que aumenta a descren-

ça no acordo assinado é a credibilidade do

Protocolo de Kyoto. Mesmo após a Rússia

ter aderido às metas de diminuição de ga-

ses poluentes, outra importante nação

continua de fora. Os Estados Unidos, que

figuram entre os grandes poluidores at-

mosféricos do planeta, sequer cogitam

aceitar os termos do acordo. Apesar de

investimentos milionários em adaptações

climáticas no país, o governo americano

menospreza a saúde do planeta, visando

sempre a saúde de sua economia.

Para Gilberto Assis, assistente da ONG

Mundo Verde, o fato de um país de tama-

nha importância como os EUA não aderir

ao tratado gera incerteza e desconfiança. “Se

uma das nações mais poluentes não aderiu,

do que adianta outras cem seguirem à risca

as taxas de diminuição? A ação contra a de-

gradação ambiental tem que vir de todos,

mas, acima de tudo, deve ser liderada pelos

mais fortes e capazes”, afirma Assis.

Ainda segundo ele, após três anos em

vigor, o protocolo não apresentou ainda

real eficiência no combate à mudança cli-

mática. “Houve avanços significativos em

alguns países, mas a verdade é que a gran-

de fonte de aquecimento segue como an-

tes”, explica, citando a queima de com-

bustível baseado em petróleo, principal

fator poluente. “Por isso, devemos com ur-

gência investir em energia renovável”,

completa. O fato é que, eficientes ou não,

acordos ambientais como o Protocolo de

Kyoto são os únicos sopros de esperança

da população mundial.

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