viver em sociedade

Upload: sociologia

Post on 08-Jul-2015

6.752 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Vimos no captulo 1 que indivduos criados fora da convivncia humana, isolados da vida social desde a infncia, no desenvolvem comportamentos humanos. Para que isso ocorra necessrio o convvio com o grupo. A partir dele que os seres humanos se articulam e estabelecem formas de inierao, comunicao e cooperao. Esse processo de interao e adaptao da pessoa ao grupo social ao qual est ligada conhecido como socializao. por meio da socializao que o indivduo assimila o comportamento social aprovado pelo grupo, aprendendo assim a ser parte integrante da sociedade. Dessa forma, a socializao consiste basicamente em um processo de aprendizagem. A criana torna-se socializada quando passa a ter um comportamento socialmente aceitvel pelo grupo e aprende a se comunicar com os outros, interagindo com eles.

CAPTULO 3 Viver em sociedade

Observe e responda:

1. 2.

Segundo o que foi visto no captulo 2 sobre a Sociologia Compreensiva de Max Weber, pode-se dizer que a foto registra uma ao (ou interao) social? No podemos saber por que as moas esto rindo, mas podemos considerar a cena do ponto de vista sociolgico. Para voc, que significado sociolgico pode ter esta cena?

41

CAPTULO 3 Viver em sociedade

1 I O papel

da socializaoA pessoa se socializa quando participa da vida em sociedade, assimila suas normas, valores e costumes e passa a se comportar segundo esses valores, normas e costumes. "O foco central do processo de socializao - afirmam os socilogos Taleott Parsons e R. Bales - est na interiorizao da cultura da sociedade na qual a criana nasce". Ou seja, a socializao um processo pelo qual o mundo social, com seus significados, hbitos de vida e valores, penetra na mente da criana e passa a fazer parte de seu mundo interior. Isso significa que a socializao varia de sociedade para sociedade, ou mesmo de um grupo social para outro dentro da mesma sociedade. Pois certos valores, smbolos e significados sociais interiorizados por uma criana fazem parte apenas

Os seres humanos necessitam de seus semelhantes para sobreviver, comunicar-se, criar smbolos e formas de expresso cultural, perpetuar a espcie e se realizar plenamente como indivduos. na vida em grupo que as pessoas se tornam realmente humanos. A sociabilidade, capacidade natural da espcie humana para viver em sociedade, desenvolve-se pelo processo de socializao. Por meio da socializao a criana se integra pouco a pouco ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hbitos, regras e costumes caractersticos de seu grupo. Nas palavras dos socilogos Brigitte Berger e Peter Berger, a socializao " o processo pelo qual o individuo aprende a ser membro da sociedade".

42

CAPTULO 3 Viver em sociedade

da cultura do grupo ao qual ela pertence, ou da sociedade em que ela vive. O costume pelo qual as mulheres usam um vu para cobrir o rosto em lugares pblicos, por exemplo, urna das caractersticas de certas sociedades de maioria muulmana do Oriente Mdio. Em contraste com ele, saias curtas e decotes acentuados fazem parte dos hbitos das sociedades ocidentais. Essas diferenas entre os valores e costumes entre dois tipos de sociedade fazem parte da diversidade humana e devem ser consideradas corno caractersticas a serem analisadas, sem que sobre elas se queira estabelecer juzos de valor. Ou seja, no se trata de julgar se certos costumes so bons ou maus, mas de interpret-los sociologicamente corno parte de culturas diferentes.

. .. .I ,

..

, ..

... . ....

,

. ...... .. .. "

..I.

, ,. .. ....

.. 11.

..

.. ..~lii"I.

ffil.!IiI.. .. ......-:::;'

,"-r

.,.

...., ..

z-

..

..

..

......

.

I

."..

.. I

TRIBOS NA ERA DA GLOBALIZAOe o advento de novas ..-Itecnologias de comunicao, o tempo histrico se acelerou e profundas transformaes comearam a ocorrer em todas as esferas da sociedade (veja o boxe a seguir e leia o verbete globalizao no Dicionrio Bsico de Sociologia, no fim do livro). Nesse contexto de rpidas mudanas, novas formas de sociabilidade emergem no sculo XXI. Nos grandes centros urbanos, o tribalismo se tornou uma das formas de expresso dos novos tipos de sociabilidade. (A palavra tribalismo est sendo aqui utilizada em sentido amplo, que ultrapassa o sentido comum, ligado ideia de sociedades indgenas.) Exemplos desses novos grupos so os punks, os surfistas, os skinheads, as torcidas organizadas de futebol e as gangues da periferia urbana. Eles se renem em torno de afinidades ou interesses momentneos, e se identificam por algum aspecto externo,

rom a globalizao

como a indumentria, o corte de cabelo, ou por uma linguagem prpria do grupo. Novas tribos tambm esto surgindo com base no desenvolvimento da informtica e da rede de computadores. So as comunidades eletrnicas ou virtuais que habitam o ciberespao e inauguram um novo tipo de sociabilidade. Esses grupos virtuais surgem como expresso de uma nova cultura (cibercultura), que nasce da unio entre a sociabilidade ps-moderna e os avanos da microeletrnica. (A expresso ps-rnodernidade tem sido utilizada para designar a cultura contempornea, em oposio modernidade, que teve incio no sculo XV e perdurou at a segunda metade do sculo XX. Procure mais informaes no Dicionrio Bsico de Sociologia, no fim do livro.) Caticas, desordenadas e sem nenhum controle externo, essas redes vo se desenvolvendo por todo o mundo e inaugurando um novo tipo de sociabilidade.

43

CAPTULO 3 Viver em sociedade

i_tecnolgica

~'----------

A partir das ltimas dcadas do sculo XX, teve incio no mundo um processo de transformaes que levaram abertura dos mercados, intensificao do comrcio mundial, formao de blocos econmicos de pases de uma mesma regio e circulao instantnea de capitais de um pas para outro. Tudo isso foi acompanhado e estimulado por uma revoluo liderada pela informtica e pela ligando formao de redes de comunicao

da: as 447 pessoas mais ricas desses pases tm uma renda equivalente

de 2,8 bilhesvm

de pobres espalhados pelo mundo. Nos prprios pases desenvolvidos, aumentando as desigualdades

entre ricos e

pobres. Segundo a economista Laura Tyson, da London Business School, um dos maiores problemas da globalizao a tendncia, dominante nos pases ricos, de crescimento da parcela do PIB (Produto Interno Bruto) relativa aos lucros, acompanhada da queda referente aos salrios. Ela afirma que apenas os 10% mais ricos da populao norte-americana tm se beneficiado com a globalizao.

entre si os computadores de todo o mundo. A mais conhecida dessas redes a internet. Para alguns estudiosos, o incio desse processo, conhecido como globalizao, foi marcado pela extino da antiga Unio Sovitica em 1991 e pelo surgimento da internet anos antes. A globalizao causou um enorme impacto na economia mundial e tambm na vida cultural de diversos pases. Considerado em seu conjunto, o mundo ficou mais rico. Entretanto, da riqueza, no que se refere distribuio ela contribuiu para acentuar

Vamos pensar?Outros aspectos da globalizao no foram abordados pelo texto. Se voc quiser complementar o estudo sobre o tema, uma boa sugesto de filme

ainda mais as desigualdades entre os pases ricos e os pases pobres. Por exemplo: em 1960, as pessoas mais ricas do mundo, quase todas concentradas nos pases desenvolvidos - Estados Unidos, Alemanha, Japo, Inglaterra, etc. -, ganhavam 30 vezes mais do que as mais pobres; em 2000, a diferena aumentou para 90 vezes. Mais chocante ain-

Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de c, de Silvio Tendler, 2007 (veja a seo Filmes sugeridos no fim do captulo). O livro Economia Global e excluso social, deGilberto Dupas, editora Paz e Terra, tambm uma boa fonte de pesquisa.

~~2

Contatos sociais: onde comea a interaoAo dar uma aula, o professor entra em contato com seus alunos. O cliente e o vendedor de uma loja estabelecem contato na hora da venda de uma mercadoria. Duas pessoas conversando tambm participam de um contato social. A convivncia humana pressupe uma grande variedade de tipos de contatos sociais. Voc mesmo pode se relacionar de diversas formas, a comear pela maneira

44

CAPTULO 3 Viver em sociedade

como adquiriu este livro ou pelos contatos sociais que manteve para chegar at a atual etapa de sua educao formal. O contato social est na origem da vida em sociedade. o primeiro passo para que ocorra qualquer associao humana. Por meio dele, as pessoas estabelecem relaes sociais, criando laos de identidade, formas de atuao e comportamento que so a base da constituio dos grupos sociais e da sociedade. Para alguns autores, como os socilogos norte-americanos Park e Burgess, "o contato pode ser considerado o estgio inicial da interao social, preparatrio para estgios posteriores". J outros pensadores, mais prximos da definio de ao social formulada por Max Weber (veja o captulo 2), afirmam que contato social o encontro de pessoas que se relacionam umas com as outras em termos de atitudes e valores. Os contatos sociais podem ser primrios ou secundrios. Contatos sociais primrios. So os contatos pessoais, diretos, e que tm uma forte base emocional, pois as pessoas envolvidas compartilham suas experincias individuais. So exemplos de contatos sociais primrios: os familiares (entre pais e filhos, entre irmos, entre marido e mulher); os de vizinhana; as relaes sociais na escola, no clube, etc. As primeiras experincias do indivduo se fazem com base em contatos sociais primrios. Contatos sociais secundrios. So os contatos impessoais, calculados, formais. Dois exem-

plos: O contato do passageiro com o cobrador do nibus para pagar a passagem; o contato do cliente com o caixa do banco para descontar um cheque. So tambm considerados secundrios os contatos impessoais mantidos por meio de carta, telefone, telegrama, e-mail, etc.

o lavrador

e o empresrio

importante destacar que as pessoas que tm a vida baseada mais em contatos primrios desenvolvem personalidades diferentes daquelas que tm uma vida com predomnio de contatos secundrios. A personalidade de um lavrador, por exemplo, bem diversa da de um empresrio urbano. O lavrador vive em geral num mundo comunitrio, onde quase todas as pessoas se conhecem e executam as mesmas atividades. Mantm relaes familiares e de vizinhana muito fortes e em sua comunidade h um padro de comportamento bastante uniforme. No h mudanas sociais significativas no decorrer de sua vida e ele viver, provavelmente, da mesma forma que seus pais. J o empresrio estabelece um nmero mais amplo e complexo de contatos sociais: com seus empregados, seus clientes, sua famlia, seus vizinhos, com outros empresrios, etc, A maior parte desses contatos impessoal, formal e momentnea. O mundo do lavrador estvel, pouco se modifica com o tempo. Em contrapartida, o universo do empresrio est em permanente mudana, sempre com novos desafios. Com a industrializao e

....------'" ..

. . .. .. ... .. ..."

i'"ur

5~

szu

f

..to I.

~