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  • 8/7/2019 WP1 arte e arqueologia

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    ARTE E ARQUEOLOGIA NA AMAZNIA ANTIGA

    Cristiana Barreto

    (Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de So Paulo)

    Resumo

    Este artigo trata de possveis abordagens interpretativas dos universosestticos das sociedades pr-coloniais da Amaznia como meios de se

    aprofundar o conhecimento sobre os processos de mudana social, e emespecfico a formao dos cacicados amaznicos a partir de AD 500 e aorganizao social destas sociedades vspera da conquista. Prope-se umametodologia interpretativa que concilie o conhecimento etnogrfico particular dasexpresses visuais de sociedades indgenas amaznicas atuais com a anlisearqueolgica de estilos de artefatos associados a processos (pr)histricos delonga durao para uma avaliao de elementos chave de mudana naideologia das sociedades indgenas amaznicas antes e aps a colonizao.

    Abstract

    This working paper focuses on the possibilities of analysing Amazonianprecolumbian aesthetics to improve understanding of social and ideologicalchange among pre-colonial indigenous societies: Specifically the formation ofcomplex chiefdoms by AD 500 and the social organization of these societiesbefore European conquest. The paper explores an interpretive methodology thatattempts to bridge ethnographic knowledge on the relationship between aestheticexpressions and societal change in historical or contemporary indigenoussocieties with an archaeological analysis of style. Analysis of artifacts related tolong-term processes of social change in pre-columbian Amazonia, such asfunerary urns, may help evaluate key ideological transformations amongindigenous societies before and after colonization.

    Uma verso resumida deste artigo foi publicada em francs no catlogo da exposio BrsilIndien, les arts des amrindiens du Brsil (Runion des Muses Nationaux, Paris, 2005).

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    Arte pr-colombiana e as terras baixas da Amrica do Sul

    Os objetos arqueolgicos das terras baixas da Amrica do Sul raramente

    foram tratados enquanto testemunhos de universos estticos antigos. Em geral

    no figuram nas exposies e catlogos de arte pr-colombiana por serempouco conhecidos, mas, sobretudo, por no apresentarem a mesma

    exuberncia e complexidade das peas provenientes de culturas pr-

    colombianas andinas ou mesoamericanas, mais conhecidas do grande pblico,

    e, em geral, mais apreciadas esteticamente no mundo ocidental moderno.

    A exceo a presena de alguns materiais que geralmente

    surpreendem por sua elaborao esttica, como as urnas funerrias Marajoara e

    a barroca cermica Tapajnica, figurando em compilaes de arte pr-

    colombiana, mas em geral carentes de documentao contextual.

    Tambm os objetos etnogrficos desta regio, preservados em inmeras

    colees de museus do mundo inteiro, mas conhecidos apenas por poucos

    especialistas, raramente so vistos como objetos de arte: no entraram, por

    exemplo, no hall das artes primitivas ou das artes tnicas to apreciadas na

    Europa (a exemplo da arte tnica da Oceania ou da frica).

    No entanto, objetos arqueolgicos e etnogrficos testemunham uma

    variada gama de tradies estticas na regio, tradies estas que oferecem umenorme potencial para uma melhor compreenso das sociedades amerndias em

    geral, do passado e do presente. Arquelogos e antroplogos tm lidado com

    estes universos estticos de formas bastante distintas, mas sempre alertando

    para o fato de que no se pode entender as artes indgenas com entendemos as

    artes em nosso mundo (McEwan et al. 2001, Fernandes Dias 2000, Van Velthem

    2000).

    Se verdade que o conceito de arte no existe entre as sociedades

    amerndias, a etnografia nos ensina que todas as coisas so concebidas dentro

    de determinados modelos estticos, compartilhados, aceitos e desejados em

    cada cultura. Desta forma, a arte est presente em todas as esferas da vida: a

    maneira como as aldeias, as casas e os objetos so concebidos supera as

    necessidades meramente funcionais e os imbui de significados simblicos e

    mailto:tradi%C3%A7@oesmailto:tradi%C3%A7@oes
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    culturais. A maneira de fazer ou decorar um objeto, ou mesmo o corpo de uma

    pessoa, torna-se assim parte essencial do prprio objeto. A, como entre muitas

    outras sociedades tribais sem escrita, a experincia esttica fundamental para

    concretizar concepes compartilhadas do mundo e para a transmisso de

    conhecimentos, crenas, valores sociais e morais.

    Mas, se na etnografia fica clara a forma como a esttica de concepo e

    decorao das coisas expressa contedos simblicos e culturais, funcionando

    enquanto um sistema de linguagem visual e, sobretudo, se a experincia

    etnogrfica permite compartilhar a experincia esttica de indivduos e

    comunidades especficas, na arqueologia, depara-se sempre com a limitao de

    se tentar entender linguagens que no podemos decodificar, que simplesmente

    no se destinam a ns, e cujos contextos culturais e simblicos so muitasvezes inacessveis.

    Arte e estilo na arqueologia da Amaznia

    Na arqueologia das terras baixas, algumas regies, como a Amaznia, se

    sobressaem no s pela profuso de estilos artsticos, mas tambm pela grande

    quantidade de objetos decorados, de natureza cerimonial. Por muitas dcadas,

    as tentativas de interpretao da simbologia presente nos objetos arqueolgicosamaznicos ficaram limitadas a descries casuais e sugestes intuitivas de

    especialistas, muitas vezes vistas como apenas especulativas, quer por falta de

    um maior conhecimento de seus contextos arqueolgicos, quer por falta de

    teorias que permitissem relacionar manifestaes artsticas a processos

    histricos e sociais.

    Mesmo assim, um dos recursos mais usados na arqueologia das terras

    baixas tem sido o uso de estilos artsticos, ou melhor, a distribuio no tempo e

    no espao de diferentes estilos artsticos para a definio de diferentes culturas

    passadas (em geral definidas por diferentes termos como horizonte, tradio,

    fase, cultura arqueolgica, etc.). Assim, os diferentes estilos artsticos,

    principalmente da arte parietal e da cermica, so concebidos enquanto cdigos

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    culturais compartilhados por diferentes grupos sociais, separados no espao, no

    tempo ou em ambos.

    Nesta abordagem, a correspondncia direta entre estilo artstico e

    identidade cultural assumida a priori, e estilo concebido como um atributo

    passivo, isto como um produto cultural, uma marca que reproduzida atravs

    das geraes, sendo assim mantida conscientemente ou no ao longo de um

    determinado tempo por determinadas comunidades.

    dentro desta abordagem que foram organizadas, por exemplo, as

    tradies regionais de arte rupestre do territrio brasileiro (Vialou 2005).

    Arquelogos chegam a propor claramente que as variaes estilsticas da arte

    rupestre correspondam a grupos tnicos descendentes de uma mesma origem

    cultural e que as manifestaes estilsticas de uma sub-tradio rupestre, porexemplo, sejam o resultado da evoluo de uma etnia em funo do tempo, do

    isolamento geogrfico e de influncias exteriores (Pessis e Guidon 2000:21).

    No Brasil, as tendncias interpretativas da arte rupestre seguiram as

    mesmas discusses que se registram em outras partes do mundo: uma

    corrente defendendo uma anlise formal da arte; outra com uma

    preocupao mais interpretativa, acreditando numa arte utilitria, que traduz

    manifestaes simblicas de ordem mgico-religiosa; e ainda uma terceira,mais recente, que sublinha a unidade da dimenso simblica com a

    esttica. Mas assim mesmo, a maioria dos autores considera difcil

    conseguir resultados positivos na procura do significado da simbologia. O

    avano das pesquisas tem sido principalmente em relao ao aspecto

    formal (Pessis 2004). Especificamente para a Amaznia, abordagens mais

    sistemticas tem permitido identificar no s estilos regionais, mas tambm

    estabelecer relaes entre uma linguagem iconogrfica da arte rupestre e

    da cermica (Pereira 1996).

    No caso da cermica, a interface entre tcnicas de fabricao e estilos de

    forma e decorao tem sido o principal recurso classificatrio, principalmente na

    baixa Amaznia, onde a variao estilstica, sobretudo nas formas e decorao

    da cermica ceremonial parece ser maior. Para se entender as origens destes

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    estilos amaznicos procurou-se paralelos em outras partes das Amricas,

    apontando-se semelhanas de estilos no oeste e noroeste da Amrica do Sul,

    partes da Amrica Central e Caribe estendendo-se at reas dos Estados

    Unidos, como o Mississipi (Meggers e Evans 1957; Palmatary 1950).

    Assim, tidos como combinaes de atributos formais, estilos artsticos no

    s so usados para definir tradies culturais diferentes, mas tambm seus

    atributos isolados (como, por exemplo, o antiplstico, ou a policromia) so

    usados para retraar origens regionais, migraes e contatos entre diferentes

    culturas (como o fizeram Nordenskiold 1930, Palmatary 1950, Meggers e Evans

    1957, e Brochado 1980, 1984, para a Amaznia). Resultam desta abordagem,

    as tradies e fases propostas por Meggers e Evans para organizar os

    conhecimentos sobre a ocupao pr-colonial da floresta tropical, denominadashachurada-zonada, inciso-ponteada e policrmica, isto , essencialmente a partir

    dos atributos decorativos da cermica.

    No entanto, se verdade que estas abordagens arqueolgicas

    consideram o estilo artstico em suas anlises, elas no enfocam propriamente o

    contedo simblico dos diferentes estilos. Servem apenas enquanto guias

    analticos, mas no se objetiva relacionar estes estilos a outros aspectos das

    sociedades estudadas como, por exemplo, sua estrutura social ou seu universomitolgico.

    Nas ltimas dcadas, a arqueologia tem proposto um outro tipo de

    abordagem que concebe estilos artsticos de forma mais ativa. Parte-se do

    princpio que arte e artefatos concretizam as maneiras em que indivduos

    percebem e organizam a realidade. O estilo artstico ento visto como um meio

    ativo de comunicao, o qual atravs da experincia esttica, indivduos ou

    grupos negociam, definem, afirmam, negam ou impem relaes sociais (Wobst

    1977, Hodder 1982, Conkey 1990). A arte, e consequentemente os artefatos so

    ento vistos como transformadores, e no apenas como um produto passivo.

    Na arqueologia das terras baixas, antes mesmo deste renovado interesse

    por estilos artsticos, alguns arquelogos como, por exemplo, Lathrap e seus

    alunos, propuseram que a Amaznia foi um centro de inovao cultural, com

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    invenes tcnicas crticas, como a cermica e a tecelagem (especificamente o

    tear dito amaznico ), criando estilos artsticos prprios que acabam por se

    espalhar por toda a regio. So estilos presentes na iconografia de decorao

    dos objetos, uma iconografia identificada essencialmente como religiosa,

    zoomrfica, com base em prticas alucingenas e xamansticas, utilizada em

    rituais para a comunicao com o mundo sobrenatural (Lathrap 1970).

    a partir desta idia de estilos artsticos amaznicos, ou pan-

    amaznicos, que a simbologia presente nos objetos arqueolgicos e

    etnogrficos pode ser relacionada ao um corpo de mitos e narrativas indgenas e

    que seu papel enquanto agente de reproduo e transformao da cultura pode

    ser estudado no passado e no presente (Peter Roe 1982, Reichel-Dolmatoff

    1978, De Boer 1984). Na Amaznia, a repetida representao mais ou menosestilizada de determinados animais como, por exemplo, a cobra ou a ona,

    juntamente com personagens humanos que povoam as narrativas mitolgicas

    uma constante na decorao dos objetos, passado e presente. Pode-se falar

    assim de uma arte indgena amaznica geral, com variaes regionais, ou

    estilos regionais.

    Na Amrica pr-colombiana, a emergncia de diferentes estilos artsticos

    tem sido associada a mudanas de estrutura social. Desde Willey (1962) quearquelogos tem reconhecido o papel organizador da arte, como nas culturas

    Olmeca e Chavin, ou no Mississipi e no Sudoeste americano (Earle 1990, Plog

    1990), onde estilos minimamente relacionados acabam por unir regies

    previamente isoladas e separadas politicamente, formando unidades polticas

    mais complexas.

    Em muitos casos, o surgimento de grandes estilos artsticos concomitante

    ao aumento de atividades cerimoniais tem sido associado a processos de

    transformao de sociedades igualitrias para estruturas mais hierrquicas,

    onde os objetos e sua iconografia servem para legitimar novas estruturas de

    poder e reforar posies de prestgio, sobretudo associando as novas elites

    com o mundo ancestral e sobrenatural atravs dos mitos (veja por exemplos os

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    estudos de Earle (1990) no Hava e na rea Olmeca e de Helms(1986) na

    Colmbia e no Panam.

    A partir desta perspectiva os diferentes estilos da cermica arqueolgica

    na Amaznia adquirem um novo significado, e podem ser entendidos no mais

    como formados por influncias de outros estilos de outras regies, mas como

    elementos ativos de processos de transformao dos indivduos e das

    sociedades pr-coloniais.

    Com a formulao de novas teorias sobre como manifestaes artsticas

    se relacionam a processos histricos em uma variedade de sociedades

    amerndias, e, sobretudo com o avano das pesquisas arqueolgicas que

    permitem melhor entender os contextos de fabricao e uso daqueles objetos

    arqueolgicos at ento conhecidos apenas por sua elaborao esttica, umanova era se inicia na arqueologia amaznica.

    Nos ltimos anos, alguns estudos arqueolgicos tm voltado iconografia

    de determinadas culturas arqueolgicas amaznicas em especfico, (vide os

    estudos de Schaan (1997, 2001a, 2001b, 2004) com a cermica da fase

    Marajoara, e os de Gomes (2001) com a cermica Tapajnica). Estas

    iconografias so estudadas enquanto linguagens simblicas, as quais,

    juntamente com outros dados do contexto arqueolgico, podem informar sobreas dinmicas histricas, sociais e ideolgicas destas antigas sociedades

    amaznicas.

    Na cermica arqueolgica amaznica a necessidade de reafirmar

    modelos mentais do universo mitolgico e dos personagens que ele contm

    atravs da arte cermica parece surgir de forma consistente a partir do primeiro

    milnio de nossa era, sempre atravs de formas de representao que parecem

    obedecer regras extremamente rgidas e complexas (Barreto 2003).

    Por outro lado, estudos de etno-arqueologia junto a sociedades indgenas

    contemporneas tm revelado as diferentes dimenses simblicas que podem

    adquirir a fabricao e usos da cermica, assim como suas formas e grafismos

    decorativos, mostrando como representaes mais estilizadas de elementos da

    natureza tambm carregam significados mitolgicos (DeBoer 1984, Silva 2003).

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    Estes avanos permitem repensar o papel das artes nas sociedades

    amaznicas antigas, sobretudo em regies e culturas especficas. Contudo, falta

    ainda uma viso geral de como esta arte cermica pode nos ajudar a

    compreender as transformaes pelas quais passaram estas sociedades nos

    ltimos sculos ao nvel regional mais amplo; de como os diferentes estilos

    encontrados na arqueologia da regio se relacionam entre si e definem

    processos de interao e mudana.

    Com os estudos recentes da iconografia encontrada na cermica

    arqueolgica aprendemos que representaes figurativas, sobretudos de figuras

    humanas e animais, parecem ser bem mais freqentes no passado pr-colonial,

    como demonstram as estatuetas, as urnas funerrias antropomorfas e os

    apliques e apndices decorativos em forma de seres humanos e animais quepovoam a cermica de vrias culturas arqueolgicas da Amaznia. Esse

    figurativismo contrasta marcadamente com as representaes mais abstratas de

    elementos da natureza, notadamente mais estilisadas e geometrizantes,

    encontradas nos materiais etnogrficos histricos e contemporneos, em uma

    larga gama de suportes que incluem instrumentos variados, tranados,

    mscaras, bancos, corpos humanos, alm tambm da cermica. Exibem uma

    linguagem simblica mais codificada, de leitura mais restrita, destinada aosmembros daquela comunidade tnica ou grupo cultural apenas e a partir da qual

    a possibilidade de uma leitura mais universal do seu significado simblico parece

    ter sido abandonada.

    Algumas raras excees de um figurativismo mais realista, como o

    encontrado nas bonecas Karaj ou nos bancos zoomorfos xinguanos,

    correspondem justamente queles objetos hoje feitos para venda aos turistas ou

    comrcio de artesanato, para uma apreciao externa por um pblico mais

    genrico, o que refora a idia de que o uso de uma linguagem esttica

    figurativa mais realista busca comunicar idias para o mundo externo quela

    cultura especfica. Em tempos pr-coloniais, um figurativismo mais realista

    parece corresponder necessidade de se manter uma linguagem extra-regional,

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    ainda que com suas variaes particulares. Qual o papel desta linguagem pan-

    amaznica no passado pr-colonial destas ociedades indgenas?

    Universos estticos indgenas na Amaznia: passado e presente

    O passado pr-colonial da Amaznia tem sido objeto de debates

    acirrados entre modelos concorrentes, dentro de uma longa e cclica histria de

    interpretaes, a qual, desde tempos coloniais, tem oscilado entre um passado

    de grandes civilizaes perdidas, e outro menos glorioso, de sociedades

    simples, pequenas, e primitivas , mais prximas das atuais (Barreto e

    Machado 2001, Neves 1999).

    Na atual terminologia, as alternativas repousam entre antigos

    sistemas de complexos cacicados rivais que teriam emergido

    rapidamente durante o milnio que antecede a chegada dos europeus,

    integrados atravs de extensas redes de trocas e alianas de guerra,

    (Roosevelt 1999; Heckenberger 1999; Heckenberger et al. 1999, 2001;

    Neves 2004; Schaan 2004); e a de sociedades simples, de pequeno

    porte, que teriam atingido h milnios um estado de equilbrio

    adaptativo na floresta tropical, e que teriam assim perdurado em

    relativo isolamento at os nossos dias (Meggers 2001).Desde os anos 1980 as pesquisas vm confirmando que houve um

    verdadeiro florescimento de diferentes culturas na regio, sobretudo no baixo

    Amazonas, durante o primeiro milnio da Era Crist. Estas culturas so

    reconhecidas pelos diferentes estilos de cermica funerria, com urnas quase

    sempre representando figuras humanas. Outros tipos de artefatos cermicos,

    como tigelas, pratos, vasos e estatuetas, altamente decorados, assim como

    alguns raros objetos esculpidos em pedra, como os muiraquits e os dolos de

    pedra, so encontrados em stios muito densos nas frteis plancies fluviais da

    Amaznia. Essa profuso de objetos decorados, provavelmente usados em

    contextos cerimoniais, tem sido interpretada como resultado da rpida

    transformao de pequenas sociedades tribais em grandes cacicados rivais,

    onde a intensificao de rituais e de cerimnias legitimaria novas estruturas de

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    poder.

    Muitos destes objetos parecem ter sido usados como smbolos de

    prestgio e poder dos chefes e elites locais, que eram objetos de circulao e

    troca por toda a Amaznia, como o caso de pingentes e adornos de nefrita e

    jadeta, mais comumente conhecidos com muiraquits, encontrados por toda a

    regio amaznica, Orinoco, e Caribe, mas com apenas alguns centros de

    fabricao regionais (Boomert 1987).

    Alm da cermica elaborada e dos objetos de prestgio, outras indicaes

    arqueolgicas do surgimento de sociedades mais centralizadas e hierrquicas

    tem sido a alta densidade de ocupao dos stios arqueolgicos que sugere uma

    organizao social de assentamentos em grandes aldeias permanentes, e as

    profundas intervenes na paisagem natural de forma a reverter determinadaslimitaes ambientais para o estabelecimento de grandes populaes na regio,

    e possibilitar uma integrao regional. A formao de terras pretas ricas para o

    cultivo (Petersen et all. 2001), a construo de estradas e fossos (Heckenberger

    1996), ou a ereo de mounds artificiais (Schaan 2004) sugerem uma

    organio social com alta cacapcidade de organizao de mo de obra e uma

    poltica centralizada de coordenao para estes trabalhos.

    Enquanto alguns destes cacicados parecem ter desaparecido antesmesmo da conquista, como o caso de Maraj (Schaan 2001a), outros

    perduraram at o contato com os europeus, como o dos Tapajs em Santarm

    (Gomes 2001), mas acabaram se desintegrando rapidamente em conseqncia

    do contato.

    Contudo, se hoje o pndulo da pr-histria amaznica parece estar mais

    prximo dos cacicados complexos, pouco se sabe ainda como estes teriam se

    formado e, sobretudo, como estes se transformaram durante e aps a

    colonizao europia.

    Uma das questes mais importantes na atual antropologia das terras

    baixas da Amrica do Sul justamente a de se entender a natureza e magnitude

    das mudanas ocorridas entre as sociedades antigas do passado pr-colonial e

    aquelas historicamente conhecidas e etnograficamente estudadas (Neves et al.

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    2001). Mas na Amaznia, esta ponte entre a arqueologia e a etnografia nem

    sempre possvel, pois os materiais trabalhados de cada lado deste grande

    divisor de guas - o contato com os brancos e seus conseqentes efeitos - nem

    sempre so comparveis.

    Do ponto de vista antropolgico, e especificamente para a questo de

    quo diferentes eram as sociedades indgenas do passado, o debate se torna

    ainda mais relevante se extrapolar o mbito meramente do passado pr-colonial

    e dialogar com outras questes, trabalhadas tanto pela etno-histria como pela

    antropologia social, sobre dinmicas especficas de transformao das

    sociedades indgenas, e especificamente teorias de desenvolvimento social.

    Recentemente, a arqueologia dos antigos cacicados Amaznicos (vide

    Heckenberger 1999, 2003) tem gerado um certo desconforto com interpretaesarqueolgicas que propem um cenrio para o passado to diferente do atual,

    de forma que as sociedades indgenas contemporneas so, dentro desta tica

    evolucionista, facilmente reduzidas a meras sociedades devoludas e, portanto,

    facilmente descartveis (Viveiros de Castro 2002:340).

    preciso reconhecer que por trs deste desconforto existem contradies

    reais entre a viso etnogrfica e a arqueolgica, como apontou Viveiros de

    Castro (1996:194) contrapondo, por exemplo, o cenrio arqueolgico desociedades centralizadas em cacicados agrcolas certas caractersticas

    dominantes das sociedades indgenas contemporneas, como a enorme

    importncia ideolgica conferida caa, a generalizada concepo das relaes

    com a natureza que privilegia interaes simblicas e sociais com o mundo

    animal, ou ainda a ideologia de predao ontolgica como um regime de

    constituio de identidades coletivas, caractersticas estas que casariam mal

    com regimes ideolgicos associados agricultura e centralizao poltica.

    Estariam os arquelogos completamente equivocados quanto natureza

    das sociedades pr-coloniais, ou teriam estas mesmas sociedades se

    transformado a tal ponto que seus traos essenciais no seriam mais

    reconhecidos nas sociedades indgenas contemporneas?

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    Este paradoxo exemplifica como o conhecimento das sociedades

    contemporneas pode questionar de forma positiva as hipteses e modelos

    arqueolgicos postulados para o passado, contrariamente a uma viso bastante

    em voga entre os arquelogos contemporneos que alertam contra os perigos

    de qualquer projeo analgica do presente para o passado.

    Ao contrrio, parece-nos que a estratgia fundamental a ser avanada por

    ambas as disciplinas seria o estabelecimento de pontes analticas entre o

    passado e o presente que permitam entender as verdadeiras mudanas no

    ethos das sociedades amaznicas. Acreditamos que um passo nesta direo

    pode ser dado justamente atravs do que conhecemos dos universos estticos

    das sociedades indgenas da Amaznia, do passado e do presente.

    Se na arqueologia lidamos essencialmente com variaes da culturamaterial no tempo e espao para determinarmos diferentes sociedades, o que

    estas variaes nos dizem sobre as dinmicas de transformaes de sociedades

    tribais em outras mais complexas e todas as tenses sociais inerentes a estas

    mudanas?

    Da mesma forma, podemos nos perguntar porqu, atravs dos sculos,

    mesmo aps o desmantelamento destas sociedades enquanto cacicados

    autnomos, alguns elementos destas estticas parecem ter permanecidoinalterados como, por exemplo, certos motivos decorativos, enquanto outros

    foram extremamente transformados, recriados, quando no desapareceram por

    completo? O que nos dizem os estudos etnogrficos sobre a integridade e

    continuidade de padres estticos diante das mudanas mais recentes

    observadas na cultura material ?

    Se os estudos da cultura material indgena para os perodos durante e

    ps-contato refletem sempre uma histria de perda e abandono de determinadas

    prticas, de substituio de tcnicas e materiais tradicionais por outros

    modernos, eles tambm deixam claro que apesar das transformaes ocorridas,

    as sociedades indgenas continuam a conceber seus objetos dentro de padres

    estticos carregados de significados simblicos, inclusive daqueles referentes s

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    tenses e contradies trazidas pela prpria experincia de contato (van

    Velthem 1999, 2000).

    Na verdade, o terreno dos estilos artsticos, e especificamente a relao

    entre universos simblicos e a cultura material, tem sido um terreno bastante

    visitado na antropologia amaznica, quer em uma viso mais generalizante

    (como as de Rivire 1969, Lopes da Silva 1991; Ribeiro 1989, Vidal 1992) quer

    em estudos particulares, sobre a cultura material, grafismo e decorao corporal

    em sociedades especficas (Overing 1989, Reichel Dolmatoff 1961,1985; Mller

    1990, Van Velthem 1995, Gow 1999, entre outros).

    Por outro lado, na arqueologia, conforme mencionado, os estudos

    iconogrficos, sobretudo dos estilos regionais de cermicas arqueolgicas dos

    antigos cacicados amaznicos, tem se aprofundado. E ainda que o uso de estiloenquanto categoria analtica varie entre os arquelogos, concorda-se que estilos

    artsticos so instrumentos de comunicao e demarcam (intencionalmente ou

    no) comunidades e fronteiras sociais, polticas e ideolgicas (Conkey e Hastorf

    1990; Earle 1990; Wobst 1977).

    Portanto, de ambos os lados, parece haver um consenso de que a

    esttica de fabricao e decorao das coisas reflete no s as diferentes

    maneiras indgenas de conceber seus mundos, mas tambm suastransformaes. Parece haver igual consenso sobre a importncia desta esttica

    decorativa, seja dos objetos ou de corpos humanos, enquanto linguagem visual

    que refora a vida social e espiritual, o que parece ser uma caracterstica

    comum em sociedades tribais sem escrita, particularmente em situaes de

    transio (Guiart 1990).

    Assim sendo, o que nos resta compreender melhor como estas

    estticas expressam as mudanas pelas quais passaram as sociedades

    indgenas da Amaznia nestes ltimos dois milnios, onde uma longa histria de

    profundas modificaes sociais, de sociedades tribais para cacicados pr-

    colonais mais hierarquizados, de sociedades desmanteladas pela colonizao

    para as sociedades indgenas contemporneas, complexamente integradas s

    sociedades nacionais que as envolvem.

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    Alguns antroplogos observam que a simbologia associada aos mitos que

    estruturam o universo dos povos indgenas da Amrica do sul se diferenciam de

    acordo com o grau de hierarquizao destas sociedades. Roe (1982), por

    exemplo, prope que na Amrica do Sul, a tendncia a antropomorfisao do

    mundo mais forte entre sociedades hierarquizadas e etnocntricas de Estados

    (em oposio sociedades tribais ou cacicados), citando como exemplo a

    cosmologia Aymara-Quetchua, onde as montanhas tem cabeas, ombro, peito e

    pernas. Esta viso antropocntrica do mundo aparentemente mais sutil em

    cacicados complexos (como as culturas Kogi e Warao). Entre os povos menos

    estratificados da floresta tropical, os smbolos naturais utilizados seriam mais

    generalizados, onde humanos se misturam s criaturas mticas, animais, e

    espritos em uma forma mais igualitria.A arqueologia mostra que, na Amaznia pr-colonial, justamente entre

    as sociedades que parecem ter atingido os nveis mais complexos e

    hierarquizados de organizao social que surgiram as representaes de

    animais e humanos, onde estes se misturam formando criaturas mticas como,

    por exemplo, nas figuras duais representadas na cermica Tapajnica.

    Parece-nos, portanto, que no se trata de identificar elementos de uma

    esttica de sociedades tribais diferenciada de outra de sociedades maiscomplexas, e assim por diante, mas entender como estes modelos mentais do

    mundo presentes na cultura material expressam mudanas na forma em que

    estes mundos so organizados.

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    Tradio e mudana nas artes indgenas da Amaznia antiga:

    urnas funerrias e cacicados

    O exame de como as tradies estticas surgem inicialmente de forma

    diferenciada na Amaznia, do mbito regional e contextos em que elas

    aparecem pode ser elucidativo para avanarmos na questo de como a arte

    expressa mudanas sociais, em especfico o exemplo de Maraj, onde as

    pesquisas tm sido mais intensas.

    Em Maraj, a rpida formao de cacicados parece ter ocorrido a partir do

    sculo V de nossa era. Nessa poca, uma grande quantidade de tesos montes

    artificiais comea a ser construda na poro leste da ilha, aparentemente

    destinada formao de reas mais elevadas, protegidas das inundaes

    anuais to intensas na ilha. Os arquelogos acreditam que, ao longo do tempo,esses tesos se tornaram smbolos fsicos de prestgio de cada comunidade e de

    liderana e capacidade de mobilizao das chefias locais (Schaan 2001b).

    Grupos de tesos de diferentes tamanhos so encontrados nos pequenos rios e

    lagos nessa parte da ilha, e enquanto certas reas parecem ter sido usadas para

    a habitao e fabricao de uma grande quantidade de cermica, outras eram

    usadas como cemitrios. Nestes ltimos, encontra-se uma variada gama de

    objetos morturios. As urnas cermicas so enterradas contendo no s osossos dos indivduos, mas tambm pequenos vasos, estatuetas, e objetos

    pessoais, como bancos, utenslios de pedra e adornos corporais tangas,

    pingentes e colares, (Meggers & Evans 1957; Palmatary 1950; Schaan 2000,

    2001a e b).

    Neste contexto altamente ritual, a cermica sempre muito decorada, em

    geral com pintura policromada, mas tambm com incises e apliques

    modelados. Estudos iconogrficos da decorao dos objetos revelaram a

    representao figurativa e estilizada de animais e humanos como expresso de

    mitos e crenas que estruturaram o universo espiritual Marajoara (Schaan,

    1997). Padres decorativos simtricos e smbolos geomtricos so combinados

    de acordo com regras bastante rgidas, representando criaturas de traos

    mistos, entre animais e humanos e lembrando as transformaes animsticas

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    que at hoje perduram as narrativas amaznicas.

    A representao dessas figuras, e especialmente a forma como os corpos

    humanos so concebidos tm sido uma fonte de inspirao particularmente rica

    para se entender o cosmos e o ethos Marajoara (Roosevelt 1988; Heckenberger

    1999; Schaan 2001a e b).

    Se, ao nvel regional mais amplo, e especialmente para o mdio

    e baixo Amazonas, a partir de 500 AD o aparecimento de vrios estilos

    regionais parece coincidir com o de sociedades organizadas em

    cacicados mais complexos, muitas semelhanas tambm so

    observadas entre eles. As urnas antropomorfas das vrias fases

    arqueolgicas regionais, tanto do baixo Amazonas (Marajoara,

    Mazago, Caviana, Marac, Arist e Aru) tanto como do mdio e alto

    Amazonas (Guarita, Rio Napo) podem ser vistas enquanto variaes

    de um mesmo tema no qual o corpo humano de seres ancestrais so

    perpetuados plasticamente na forma de urnas (Barreto 2004).

    As urnas funerrias dos diferentes estilos regionais se assemelham e

    compem uma linguagem comum amaznica no s na sua antropomorfia, mas

    tambm em outros elementos que se observam no prprio grafismo que as

    recobre, como por exemplo, as espirais reticuladas (cobras estilizadas) sobremuitos destes corpos humanos cermicos. Outra constante a indicao do

    sexo do personagem representado, ainda que isto varie entre os estilos

    regionais estando indicado de forma mais ou menos estilizada.

    Os estilos regionais se diferenciam pelas diferentes formas de

    representao dos seres, isto no grau de realismo em que as pessoas so

    representadas, sobretudo na forma da prpria urna e como elas representam o

    corpo humano, algumas com corpos bem cilndricos, outras mais globulares

    lembrando corpos grvidos; algumas com corpos sentados sobre bancos, o que

    pode ser interpretado como uma insgnia de prestgio ou poder (McEwan 2001),

    enquanto em outras as pernas aparecem apenas estilizadas, ou ainda esto

    ausentes; alguns estilos de urnas tm tampas representando cabeas, outras

    apresentam apenas olhos prximos borda indicando a parte superior do corpo

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    humano.

    As diferenas entre os estilos regionais certamente refletem as diferentes

    maneiras de se fabricar o corpo humano e de se conceber o papel dos

    indivduos no universo de suas culturas, como nos mostram as etnografias de

    Gow (1999b) e Viveiros de Castro (1987).

    Nota-se, por exemplo, que apesar de a indicao do sexo estar sempre

    presente, em algumas culturas parece haver uma real correspondncia entre o

    sexo das urnas e o dos indivduos nelas enterrados (com nas urnas Marac,

    vide Guapindaia 2001), enquanto que em outras, como nas urnas Marajoara,

    onde mais de um indivduo pode ser enterrado em uma urna, o sexo da figura

    antropomorfa representada sempre feminino (Schaan 2004). A partir destas e

    outras evidncias alguns arquelogos chegaram mesmo a levantar hiptesessobre uma maior importncia do papel das mulheres em Maraj poca pr-

    colonial, e mais especificamente uma organizao social em matriarcados

    (Roosevelt 1988) ou em linhagens ancestrais femininas (Barreto 2003, Schaan

    2001b e 2003).

    Outra diferena a representao de indivduos sentados sobre bancos,

    objeto este que tem sido interpretado como uma insgnia de diferenciao de

    indivduos masculinos de maior prestigio, como os chefes e xams, entrealgumas sociedades indgenas do noroeste da Amaznia no passado. O banco,

    objeto ainda hoje associado a rituais xamansticos entre os Tukano no s

    uma insgnia do xam mas tambm aumenta de tamanho de acordo com o

    prestgio deste. Juntamente com outros objetos, o banco, e o ato de se sentar

    em um banco, remete a vrios mitos de origem da humanidade e rituais de

    comunicao com um mundo espiritual dos seres acentrais (Ribeiro 1989;

    McEwan 2001).

    A representao de indivduos sentados em bancos nas urnas funerrias

    arqueolgicas da Amaznia varia regionalemnte. Nas urnas Marac e Caviana,

    todos os indivduos (homens, mulheres, e crianas) so sistematicamente

    representados sentados sobre bancos, enquanto as representaes humanas

    das urnas Arist e Marajora no fazem referncia a bancos, e s vezes nem

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    sequer as pernas dos indivduos esto representadas. As urnas dos estilos

    Guarita e Rio Napo, no mdio e alto Amazonas, mantm por vezes a indicao

    das pernas dobradas, com se o indivduo estivesse sentado, juntamente com a

    indicao de sexo do indivduo, mas no parece ser um atributo obrigatrio na

    representao de todos os indivduos. Parece portanto existir graus de

    diferenciao distintos entre os indivduos representados, com alguns estilos

    indicando maior prestgio de determinados indivduos masculinos (chefes e

    xams) enquanto em outras sociedades os indivduos parecem diferenciados

    apenas pelo sexo.

    As diferenas entre os estilos regionais podem assim fornecer

    informaes importantes sobre os diferentes graus e formas de complexidade

    social atingidos pelos antigos cacicados amaznicos.Por outro lado, as semelhanas encontradas entre os estilos regionais

    tm sido interpretadas ora como coincidncias, ora como evidncia de contato e

    interao entre estas sociedades, uma vez que redes de troca testemunhadas

    pela distribuio de certos objetos (Boomert 1987), poderiam ter impulsionado

    tambm a adoo de smbolos grficos (Schaan 2003). Contudo, a recorrncia

    dos grafismos e figuras representadas pode tambm denotar uma base

    mitolgica minimamente comum, mas o processo histrico que gerou esta basecomum ainda desconhecido.

    Alguns processos histricos melhor conhecidos arqueolgicamente em

    escala regional menor podem elucidar a relao entre estilos artsticos e

    transformaes sociais na regio amaznica como um todo. Por exemplo,

    estudos sobre variaes estilsticas no interior da ilha de Maraj revelaram que

    ao invs de se correlacionarem a diferenas cronolgicas, como previamente

    sugerido (Magalis 1975; Meggers e Evans 1957; Roosevelt 1991), estas

    variaes estilsticas resultaram de uma rpida expanso geogrfica da cultura

    Marajoara pela ilha, em um perodo de 100 a 200 anos, e que a segregao de

    sub-estilos surgiu para demarcar centros regionais autnomos que interagiam ou

    competiam entre si (Schaan 2003).

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    Da mesma forma, o aparecimento durante o primeiro milnio A.D. de

    prticas de enterramento em urnas cermicas antropomrficas decoradas por

    toda a bacia amaznica pode ser visto como o surgimento de uma linguagem

    comum, usada de forma identitria por toda a regio amaznica para se

    demarcar centros de poder regionais (cacicados) atravs dos diferentes estilos

    da cermica funerria.

    O fato de que esta variabilidade estilstica se manifeste em uma gama de

    objetos intencionalmente durveis, destinados a preservar e proteger os

    ancestrais para a eternidade, e tambm em objetos de natureza altamente

    cerimonial, indica que a identidade destes centros era legitimada atravs de

    lugares ceremoniais (como os cemitrios) e suas relaes com domnios

    ancestrais e espirituais.Na Amaznia, alguns cemitrios antigos, como os da cultura Marac,

    guardam as urnas em lugares protegidos (como abrigos e cavernas), mas ao

    invs de manterem as urnas enterradas, estas ficam expostas aos visitantes

    (Guapindaia 2001). As urnas Aru e Arist tambm no eram propriamente

    enterradas, mas eram colocadas em bragos ou outros lugares protegidos, porm

    visveis, da floresta (Meggers e Evans 1957). Esta visibilidade intencional sugere

    fortemente a prtica de uso da representao dos ancestrais enquantomarcadores de identidade poltica e cultural para o mundo exterior, isto as

    outras sociedades amaznicas contemporneas.

    interessante notar que a representao dos ancestrais em urnas

    funerrias cermicas, uma tradio regional to arraigada na Amaznia pr-

    colonial, e apesar de continuada durante os primeiros tempos de contato (como

    atestam as contas de vidro europias encontradas em urnas Marac), parece ter

    sido abandonada por completo entre as sociedades indgenas ao longo da

    histria.

    Seu abandono certamente no se deve ao abandono da fabricao da

    cermica, uma vez que algumas sociedades amaznicas (como por ex. os

    Waur, ou os Asurini do Xingu) mantiveram esta prtica at hoje, mantendo

    tambm seus diferentes estilos de forma e decorao. A importncia do mundo

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    ancestral entre as sociedades indgenas contemporneas to pouco diminuiu,

    como denotam a prtica de rituais funerrios bastante importantes como, por

    exemplo, o ritual funerrio Bororo ou o Kuarup entre os xinguanos, ou ainda em

    geral, em outras manifestaes mitolgicas e cerimoniais.

    possvel que certas prticas contemporneas, como, por exemplo, a

    representao do morto nos postes de madeira do ritual funerrio Kuarup, no

    Alto Xingu, possa ser vista como uma reminiscncia das urnas antropomorfas

    funerrias do passado pr-colonial. Neste caso, os chefes recm-mortos so

    invocados ao final do ciclo ritual a ocupar estes idolos de madeira, decorados

    com as insgnias de chefia, com os diademas, colares, brincos, etc..., e a pintura

    corporal que representa os ancestrais e as chefaturas. Heckenberger nota que o

    Kuarup um dos rituais de passagem mais importantes para a reatualizao dopoder dos chefes da comunidade, durante o qual, atravs da presena dos

    troncos transformados em personagens ancestrais, as linhas de poder so

    lembradas e os espritos dos antigos chefes so invocados para animar os vivos

    por uma ltima vez, no s reatualizando os elementos principais da

    cosmogenia xinguana, mas tambm resedimentando o elo com os ancestrais, os

    quais so dispostos lado a lado, no corao da aldeia, para o descanso final

    (Heckenberger 2005: 297, traduo da autora).Esta clara relao entre hierarquia social e ancestralidade, observada

    ainda hoje entre as sociedades xinguanas teria tido sua origem nos processos

    pr-coloniais de transformao social que deram origem aos estilos regionais de

    urnas funerrias? possvel entendermos determinadas atividades rituais e

    expresses estticas contemporneas enquanto reminescncias de um antigo

    ethos essencialmente hierrquico? Quando e como teriam estas sociedades

    amaznicas abandonado as prticas rituais que reatualizam a hierarquia social

    atravs da ancestralidade?

    O abandono da prtica de enterramentos em urnas funerrias enquanto

    demarcadores de identidade de poderes regionais certamente compatvel com

    aquilo que conhecemos sobre as mudanas scio-polticas que sofreram os

    cacicados amaznicos aps os primeiros anos de colonizao, em que a

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    dizimao populacional e a reintegrao de poderes regionais em redes de

    comrcio e guerras coloniais reorganizam suas identidades scio-polticas

    (Porro 1994, Whitehead 1992).

    Whitehead descreve como, durante a colonizao, determinadas

    sociedades amerndias do nordeste da Amrica do Sul que representavam

    poderes regionais bastante centralizados acabaram por se tribalizar por terem

    sido reduzidos demografica e militarmente ou por terem estabelecido relaes

    de dependncia poltica e econmica com os governos europeus. Alm disso,

    documenta como novas identidades tnicas e tribais foram gradualmente

    moldadas pela lenta e tnue expanso e contrao dos estados coloniais,

    concluindo que nenhum grupo indgena moderno desta rea pode ser tomado

    como exemplo de padres pr-coloniais de existncia, pressuposto este queconsidera ingnuo quando postulado por arquelogos e etngrafos (Whitehead

    199: 134-135).

    No entanto, se uma certa prudncia certamente necessria no exerccio

    da comparao entre as culturas que a arqueologia revela e as sociedades que

    a etnografia observa, sobretudo no que diz respeito suas identidades culturais,

    suas histrias de transformao entre o passado pr-colonial aos dias de hoje

    podem ser recuperadas atravs de testemunhos materiais que refletem estasmudanas identitrias, notadamente, os estilos tnicos. Por exemplo, estudos da

    mudana de estilos de decorao em cermicas histricas e contemporneas

    dos Kalina (ou Galibi), um povo de lingua Carib, hoje habitando o litoral das

    Guianas e do Amap, demonstrou que o estilo da cermica atual no remete a

    uma etnicidade nica, fechada em si mesma, mas o resultado de influncias e

    interaes dos Kalina com outros grupos, antes e depois da chegada dos

    europeus. A anlise de uma sequncia histrica desta cermica possibilitou

    assim retraar a complexa histria de interaes entre sociedades indgenas

    desta regio e identificar processos de formao de novas identidades tnicas

    claramente expressos nos estilos de decorao da cermica (Collomb 2003).

    Assim como com a cermica Kalina, a variao de estilos regionais nas

    urnas funerrias amaznicas ilustra como estilos artsticos e, sobretudo, formas

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    de representao do mundo, neste caso do mundo ancestral, esto intimamente

    relacionadas a processos histricos especficos. No caso das urnas funerrias,

    identificamos a necessidade de demarcao de poderes regionais atravs da

    legitimao de suas identidades com o mundo ancestral, relacionada

    especificamente formao de cacicados e a uma dinmica de interao

    regional prpria, quer atravs de redes de troca quer atravs da competio e da

    guerra.

    Concluses

    Alguns arquelogos sugerem que somente a partir de analogias

    etnogrficas que a arqueologia pode interpretar as representaes simblicas

    da arte pr-colombiana. MacDonald (1972), por exemplo, ao associar aiconografia da cermica Tapajnica (Santarm) e, sobretudo, os animais nela

    representados, a mitos compartilhados entre grupos indgenas Carib, argumenta

    que a partir destes mitos atuais pode-se entender como os antigos Tapajs

    ordenavam seu universo no passado.

    Contudo, como vimos, nem sempre e analogia etnogrfica dentro de um

    contexto de continuidade histrica possvel, e outras dimenses dos estilos

    artsticos arqueolgicos devem exploradas, como apontamos acima na relaoentre formas de representao e processos de mudana social.

    Especificamente no caso da Amaznia, e para avanarmos na questo de

    quo diferentes eram as sociedades indgenas pr-coloniais das atuais, nos

    parece que um novo olhar sobre a arte e estilos artsticos das tradies

    arqueolgicas pode contribuir para algumas respostas, se acompanhadas pela

    experincia etnogrfica com os domnios simblicos de sistemas especficos de

    arte, representao e comunicao atravs da cultura material, e em particular

    da cermica, que parece ser um universo de estudo comum etnografia e

    arqueologia.

    Est claro que a anlise de uma esttica amerndia da Amaznia que faa

    uma ponte entre o passado e o presente tambm possvel no domnio da

    construo da paisagem, isto na esttica espacial dos assentamentos, dos

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    monumentos ou de intervenes humanas no meio ambiente em geral, como

    sugere Heckenberger (2005: 252) que identifica uma esttica cultural de

    construtividade e monumentalidade prprias aos povos Xinguanos, por exemplo.

    Contudo, nem sempre os testemunhos arqueolgicos desta esttica da

    paisagem foram preservados ou podem ser identificados em seu projeto

    original, uma vez que a paisagem (sobretudo nos trpicos amaznicos) se

    transforma inexoravelmente com o tempo, com ou sem a ao humana.

    Deste ponto de vista, a cermica, assim como a arte rupestre, parece ser

    um sujeito privilegiado para o estudo destes universos estticos, pois apesar de

    representarem apenas uma pequena parcela dos suportes materiais possveis

    das expresses estticas, ela representa um dos poucos tipos de objetos que

    so concebidos e construdos para perdurarem no tempo, talvez para aeternidade, diferentemente dos artefatos mais efmeros confeccionados em

    palha, madeira, plumas e etc., os quais no sobrevivem s intempries do

    tempo. Contrastam tambm com a linguagem esttica da decorao corporal

    que tem uma durao mais circunstancial.

    De maneira geral, o domnio das atividades cerimoniais tambm se

    sobressai como contexto privilegiado para estes estudos, por serem nas

    cerimnias que as sociedades indgenas atualizam suas crenas e concepesdo mundo. A cermica ceremonial, tanto a arqueolgica e como a etnogrfica,

    como no exemplo das urnas funerrias, parece se constituir, portanto, em um

    universo altamente promissor para aprofundar a abordagem aqui proposta.

    Por fim, acreditamos que este esforo metodolgico na direo de um

    dilogo entre a arqueologia e a etnografia das sociedades amaznicas, em um

    terreno no qual o casamento entre uma perspectiva histrica de longo prazo,

    inerente viso arqueolgica, e a riqueza e complexidade da etnografia

    disponvel sobre sistemas amaznicos de representao visual de cosmologias

    particulares, pode oferecer reais avanos para melhor entendermos as

    mudanas ocorridas nas sociedades indgenas da Amaznia e melhor

    avaliarmos o impacto da colonizao europia sobre suas tradies culturais.

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