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O impacto da Internacionalização da Educação Superior na vida do estudante: a perspectiva dos bolsistas
Resumo O presente artigo buscou compreender o impacto que a Internacionalização da Educação Superior promove no sujeito que participa de algum tipo de intercâmbio internacional através da universidade. Analisando aspectos de impacto relacionados à sua formação na área, no seu futuro e o movimento que gerou na sua visão de mundo. Neste trabalho apresentaremos os determinados aspectos a partir da perspectiva dos alunos que ingressaram na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul por meio de políticas de ação afirmativa. Para esta análise utilizamos um questionário abrangendo diversos aspectos, desde questões demográficas até as que envolviam os impactos da internacionalização. Dentre as questões levantadas pelos sujeitos, podemos concluir que as maiores influências ocorreram no conhecimento acadêmico e na perspectiva de trabalho e continuidade dos estudos. Palavras‐chave: Internacionalização; Educação Superior; Política de ação afirmativa.
Marilia Costa Morosini
PUCRS [email protected]
Nicole Bertinatti PUCRS
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Introdução
Este artigo tem como principal objetivo tentar elucidar o impacto da
internacionalização da Educação Superior na vida do estudante que ingressou na
universidade por meio de políticas de ação afirmativa. O instrumento de trabalho
utilizado foi um questionário que abrangeu diversos aspectos, desde questões para se
traçar um perfil deste aluno até indagações relacionadas ao impacto da
internacionalização na visão deste estudante. Este trabalho abordará especificadamente
o impacto quanto a sua formação na área, no futuro e na visão de mundo do sujeito.
As questões norteadoras foram: de que maneira se concretiza a
internacionalização na graduação? E, qual o impacto desta internacionalização na vida do
sujeito que ingressou por políticas de ação afirmativa? A partir destes questionamentos
foi possível perceber e criar categorias capazes de tentar respondê‐las.
A Internacionalização da Educação Superior neste trabalho é entendida como
qualquer esforço sistemático que tem como objetivo tornar a Educação Superior mais
respondente às exigências e desafios relacionados à globalização da sociedade, da
economia e do mercado de trabalho. É a análise da Educação Superior na perspectiva
internacional. A internacionalização da Educação Superior é baseada em relações entre
nações e suas instituições (MOROSINI, 2006).
Com o apoio do setor de Mobilidade Acadêmica da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, e autorização do Comitê de Ética da Universidade, foi possível
perceber a tentativa de promover a internacionalização no âmbito acadêmico. Diversos
são os programas que promovem intercâmbios e buscam uma troca de conhecimentos
entre instituições. Morosini (2006) reforça ainda que a Internacionalização da Educação
Superior – funções acadêmicas é o estudo da internacionalização da Educação Superior
sob a ótica das funções do ensino e da pesquisa. Notas: Por sua natureza de produção de
conhecimento a universidade sempre teve como norma a internacionalização da função
pesquisa.
O Programa de Mobilidade Acadêmica – PMA/PUCRS, também conhecido como
intercâmbio acadêmico, é oferecido exclusivamente aos seus alunos de Graduação, não
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estando aberto ao público em geral. Por meio do PMA, os alunos têm a possibilidade de
realizar estudos compatíveis com o seu currículo em Universidades que possuem Acordo
ou Convênio de Cooperação Científica e Cultural com a PUCRS, por um período de um ou
dois semestres consecutivos ou não, com possibilidade de aproveitamento das disciplinas
(http://www.pucrs.br/aaii/pma/apresent.php).
Os alunos bolsistas participantes da pesquisa realizaram seu intercâmbio por meio
de seis programas que promovem a internacionalização da Educação Superior, os quais
serão apresentados posteriormente.
A metodologia da pesquisa consistiu na aplicação de um questionário
desenvolvido, inicialmente em world, e aplicado com alunos que participaram de algum
tipo de intercâmbio internacional. Pensado a partir de indagações a respeito dos aspectos
de sua permanência no país destinado, além de fatores relacionados à aprendizagem
cognitiva, cultural e psicossocial, o questionário foi montado a fim de tentar elucidar as
referidas inquietações.
Formado por 34 questões, sendo 16 fechadas de múltipla escolha e 18 abertas, o
questionário teve como referência inicial o Questionário do Estudante 2013 – Enade, o
qual auxiliou nas questões referentes a aspectos sociais, econômico e étnico. O restante
dos blocos, que buscou perceber a contribuição e as potencialidades desenvolvidas
durante o intercâmbio, foi pensado em conjunto por pesquisadores e bolsistas que
desenvolvem suas práticas no CEES – Centro de Estudos em Educação Superior.
Frente ao grande número de estudantes em mobilidade foi preciso pensar em
algum programa eficaz e de fácil manejo para que os estudantes respondessem de
maneira satisfatória e dentro de um período compatível. Sendo assim, o questionário foi
passado para o programa online Google Docs, que possibilitou estruturá‐lo conforme
esperado. O Google Docs é um é um pacote de aplicativos do Google totalmente on‐
line. Possibilita a edição de texto, planilhas, apresentações, formulários e desenhos, além
de diversos aplicativos que permitem edição de arquivos diversos, possibilita ainda a
publicação do arquivo como página que pode ser acessada por qualquer um ou por um
grupo restrito na internet.
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Após o recebimento das respostas, criamos categorias que foram codificadas e
inseridas no SPSS, programa estatístico que permite realizar o cruzamento de dados
através de variáveis. Neste caso as variáveis foram as questões e seus volumes,
caracterizados aqui pelas categorias criadas. Em seguida, foram inseridas as respostas
individuais de cada sujeito.
No decorrer das análises também foi utilizada a ferramenta do Wordle com as
questões abertas, que permitiu uma visão panorâmica das respostas mais significativas.
Através do Wordle é possível criar "nuvens de palavras" do texto que é fornecido. As
palavras que aparecem com maior frequência são destacadas, gerando uma visualização
das principais ideias do texto.
Perfil dos Bolsistas
A PUCRS possui milhares de alunos, com diversas características que constituem
diferentes grupos, ainda que no mesmo curso de graduação. O grupo que será descrito
agora, é constituído por 19 alunos bolsistas que realizaram intercâmbio internacional com
o objetivo de promover a internacionalização na Educação Superior. Desta forma
buscamos identificar as características em comum destes alunos para melhor analisar e
interpretar os impactos que serão descritos mais adiante.
Das 70 respostas obtidas na pesquisa, filtramos 19 sujeitos que responderam
possuir bolsa de estudos ou financiamento governamental ou ainda outro tipo de bolsa
com ingresso por ação afirmativa. Segundo Morosini (2006), são consideradas políticas
de ação afirmativa, o conjunto de orientações e ações destinadas a favorecer minorias e
grupos que tenham sido historicamente discriminados.
São políticas que se baseiam no argumento de que a subrepresentação de
minorias em instituições e posições de maior prestígio e poder na sociedade é um reflexo
da discriminação social. Visa, em caráter provisório, a criação de incentivos a grupos
desfavorecidos para que estes possam também fazer parte da elite de um país, de acordo
com a sua representatividade numérica no conjunto da população.
Raça, sexo e origem social têm sido os principais critérios para o uso de
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discriminações positivas, como são chamadas algumas políticas de ação afirmativa.
Universidades em diversos países têm implementado esse tipo de política, o que contribui
para aumentar a diversidade nos sistemas de educação superior, tanto na composição
dos alunos, professores e funcionários como, também, na organização do currículo,
programas de estudos e de pesquisas. Entre as políticas de ação afirmativa, a mais
conhecida e polêmica é o estabelecimento de cotas, ou seja, percentuais previamente
destinados a grupos específicos em universidades, empregos e cargos administrativos.
Os alunos participantes da pesquisa ingressaram na universidade por diferentes
políticas de ação afirmativa, embora não soubessem responder com clareza em quais se
enquadram, sendo direcionados para a categoria Sistema diferente dos anteriores. O que
pôde ser avaliado como defasagem de conhecimento por parte do aluno sobre o
conceito de ação afirmativa. Destaca‐se, porém, a ausência de auto declaração étnica
negro, indígena ou de origem oriental. Nota‐se que a grande maioria, 16 dos 19 alunos,
declarou‐se branco (a) e apenas 2 pardo (a) /mulato (a). Como se pode verificar no
Gráfico 1, abaixo e no Gráfico 2 de etnia.
Gráfico 1: Intercambistas integrantes de políticas de ação afirmativa, 2013
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013
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Gráfico 2: Etnia dos intercambistas, 2013
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013
Os alunos participantes tem idade entre 20 e 31 anos, sendo a maior concentração
entre 22 e 25 anos. De um total de 19 alunos, cinco tem 22 anos, levando a crer que, em
sua maioria, estão no final graduação. As idades podem ser observadas no Gráfico 3.
Gráfico 3: Faixa etária dos Intercambistas internacionais, 2013.
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013
Os alunos intercambistas fazem parte dos cursos de: Administração, Arquitetura e
Urbanismo, Ciências Biológicas, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia de
Produção, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Física, Fisioterapia, Medicina e
Sistemas de Informação.
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Foi possível observar que nenhum dos alunos provinha de cursos da área das
Ciências Humanas. Isso não significa que não há procura de alunos desta área, mas nos
leva a crer que não há, ou pouco há, oferta de bolsas de intercâmbio que contemple este
campo da Ciência. Conforme dados disponíveis no site da PUC‐RS
(http://www.pucrs.br/portal/?p=alunos/estude‐no‐exterior), muitos programas limitam as
bolsas oferecidas para áreas como Engenharias e Ciências.
A maior parte dos alunos realizou o intercâmbio pelo Programa Ciência Sem
Fronteiras. Foram 12 alunos entre os cursos de Física, Ciências Biológicas, Engenharia de
Produção, Medicina, Sistemas de Informação, Engenharia Química, Arquitetura e
Urbanismo e Engenharia Mecânica.
O Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI) enviou dois alunos de Ciências
Biológicas. Os outros programas, BRAFITEC, PGIDT/GCUB, CAPES/FIPSE, MITACS e Bolsas
Ibero‐americanas Santander enviaram um aluno cada, entre os cursos de Engenharia Civil,
Administração, Engenharia Elétrica, Fisioterapia e Arquitetura e Urbanismo. O Gráfico 4
abaixo permite a visualização dos Programas que enviaram alunos bolsistas ao exterior.
Gráfico 4: Programas de Intercâmbio dos Intercambistas internacionais, 2013.
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013
Observou‐se que a demanda de alunos que participaram do Ciência Sem
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Fronteiras, ocorreu nos últimos anos, 2012 e 2013 (anos em que alunos iniciaram o
intercâmbio) em comparação com os outro programas em que a maior concentração de
saída de alunos esteve em 2010 e 2011. Supomos que, o fluxo de participantes se
direcionou ao programa Ciências Sem Fronteira após sua criação em 2011, diminuindo a
procura por outros programas de intercambio.
Dos 19 alunos que participaram da pesquisa 15 deles frequentaram o Ensino Médio
em escolas públicas e quatro em escolas privadas. Destes quatro não podemos precisar o
número de alunos que tiveram bolsa de estudos. Também não há relação com a renda
familiar que se manteve baixa mesmo entre os alunos que estudaram em escola privada,
com exceção de um sujeito que apresentou renda de mais de 20 salários mínimos.
A renda familiar dos alunos se concentra entre 3 a 5 salários mínimos
(considerando o salário mínimo na época de aplicação da pesquisa, que corresponde a R$
678,00). Seis alunos não responderam esta questão, dificultando a analise da renda.
Porém, destacam‐se alunos com rendas altas: R$ 6.000,00, R$ 7.000,00, R$ 15.000,00.
Devido ao baixo número de respostas, não é possível relacionar a renda com
outros dados. O Gráfico 5 apresenta este panorama.
Gráfico 5: Renda Familiar dos Intercambistas internacionais, 2013.
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013.
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Outro dado coletado foi quanto à escolaridade dos pais. Apenas em quatro casos
a mãe tem grau de escolaridade inferior ao pai, o contrário apresenta seis casos. Em nove
casos os pais possuem o mesmo grau de escolaridade.
Destes casos, oito estudaram até o Ensino Médio e um até o Ensino Superior.
Quatro mães não concluíram o Ensino Médio, enquanto que o número sobe para seis na
relação dos pais. Do outro lado o número de mães que concluíram Pós‐graduação foram
duas enquanto há apenas um caso entre os pais. Isso nos mostra que poucos não
concluíram o Ensino Médio e que há um número considerável de pais formados no Ensino
Superior e Pós Graduação.
O perfil do bolsista nos apresenta alunos que estudaram em sua maioria em escola
pública, predominantemente brancos. Verifica‐se uma concentração maior entre os 22 e
25 anos e na renda até 5 salários mínimos. Quanto à escolaridade dos pais, pouco mais de
50% possuem Ensino Médio completo, o restante se divide entre os que estudaram até o
Ensino Fundamental e os que chegaram ao Ensino Superior, com uma leve tendência ao
primeiro. Nota‐se, porém, que as mães possuem maior escolaridade que os pais.
Impacto sobre visão de mundo
Diante das questões apresentadas foi possível categorizá‐las em três critérios
capazes de dar consistência ao objetivo proposto. Analisamos segundo os impactos para
a área de formação do estudante, sobre a visão de mundo e impactos sobre o futuro.
A realização de um intercâmbio é também sinônimo de crescimento pessoal e
impactos sobre a visão de mundo que o sujeito possui, pelo menos é o que mostra as
respostas dos intercambistas que passaram algum tempo em contato com diferentes
culturas, tendo de adaptar‐se ou simplesmente encarar a nova realidade.
Evidenciando especificadamente os efeitos da visão de mundo, os alunos
relataram, em sua grande maioria, a positividade da imersão em novas culturas. Referem
que o contato com pessoas do mundo inteiro possibilitou adquirir uma maior cultura,
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ampliando sua visão de mundo como também os permitiu perceber questões sociais e
técnicas.
A figura 1, criada através da ferramenta do Wordle com as questões abertas,
permitiu uma visão panorâmica das respostas mais significativas, evidenciando as
palavras mais marcantes nesta resposta.
Figura 1: Impacto na visão de mundo dos Intercambistas internacionais, 2013. (Wordle)
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013.
É possível perceber por meio desta figura que a visão de mundo modificou‐se. Seja
por meio do contato com outras pessoas seja por meio individual. Os sujeitos relatam que
“o intercâmbio possibilitou a olhar para as coisas de um jeito diferente, me mostrou outas
possibilidades que eu não conhecia”.
Aspectos subjetivos são vistos neste processo. Mudanças de pensamentos e
atitudes que interferiram no jeito de ser de cada um. Os intercambistas reforçam: “me
sinto completamente diferente”; “aprendi a conviver com diferenças”; “Amadureci como
pessoa”; “tolerância e aceitação”. Diversos foram os relatos relacionados à questão de
independência e mudanças de percepção. Um dos entrevistados ressalta que “o mundo
tornou‐se um lugar menor com mil possibilidades, todas ao meu alcance”, outro reforça que
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vê “as coisas diferentes depois que passou a morar em outro país”. A visão de mundo
ampliou‐se para estes sujeitos: “ficou maior [visão de mundo], deixei de ser o centro do
universo. Conheci muitas visões e opiniões”.
Outro aspecto que chamou a atenção foi a questão do olhar que os alunos tinham
e lançaram para o Brasil, comparando‐o com a realidade dos países destino. Aspectos
perceptíveis nas seguintes respostas: “visão geral do Brasil [...] comparação dos pontos
positivos e negativos do nosso país”; “conhecer uma outra cultura nos faz ver a nossa
cultura de uma forma diferente [...] Então a visão sobre o mundo é interessante quando se
conhece uma cultura diferente e se consegue discernir o que pode ser acrescentado na tua
vida e o que não interessa”; “mudança na visão sobre o nosso próprio povo brasileiro”.
Impacto sobre futuro
Ao analisar o impacto sobre o futuro dos estudantes que ingressaram na
universidade por políticas de ações afirmativas pode‐se inferir que os impactos estão
relacionados a questões profissionais e acadêmicas, como mostra o mapa mental abaixo:
Figura 2 Impactos sobre o futuro dos Intercambistas internacionais, 2013. (Mapa mental)
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013
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Ao observar as respostas foi possível perceber que a intenção de posteriormente
realizar um mestrado ou doutorado foi quase unânime entre os bolsistas: “penso em fazer
um mestrado”; “oportunidade para uma pós‐graduação”; “pós‐graduação”; “fluência no
idioma; realizar pós‐graduação”. Assim como a questão da fluência na língua e
oportunidades de emprego: “fortaleceu no inglês”; “interesse por outros programas de
intercâmbio”; “oportunidade de emprego”; “destaque profissional; fluência na língua
inglesa, relacionamentos interpessoais”; “melhores chances no mercado de trabalho”;
“conhecimento acadêmico, aperfeiçoamento de uma nova língua”; “oportunidades de
emprego”.
Para o aluno bolsista os maiores impactos em relação ao futuro estão relacionados
a questões de empregabilidade e continuidade nos estudos. Questões subjetivas como
superação, autoconfiança e diferentes aspirações, não apareceram em suas respostas. O
foco de futuro foi impactado para questões totalmente profissionais.
Para eles o intercambio possibilita um diferencial no campo profissional, o domínio
da língua estrangeira e a própria experiência internacional acabariam contribuindo para
um destaque profissional futuro.
Impactos sobre a formação na área
A análise das respostas referentes aos resultados sobre a formação na área
apresentou colocações relativas a oportunidades futuras, na empregabilidade e estudos,
consequentes de frequentarem as melhores universidades do mundo dentro de suas
áreas de atuação, além de poderem lançar um novo olhar à sua profissão, uma vez que
inseridos em outra cultura.
Através da figura 2, criada na ferramenta Wordle a partir das respostas abertas,
temos uma visão panorâmica das palavras mais citadas pelos alunos.
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Figura 2: Impacto na visão de mundo dos Intercambistas internacionais, 2013. (Wordle)
Fonte: Questionário elaborado pelos autores, 2013.
O principal resultado está no conhecimento adquirido. Todos os alunos relatam
que de alguma forma houve um ganho significativo de conhecimento através de um
aprendizado diferenciado. A experiência com a IES receptora está muito presente na fala
dos alunos, contato com a cultura, língua estrangeira, pessoas, professores, etc.
“Proporcionou‐me conhecer outras culturas, instituições de ensino além de ter sido
uma ótima experiência acadêmica com repercussão no meu conhecimento e curricular.”
“Com certeza, posso incluir todo o conhecimento adquirido sobre metodologia em
pesquisa, novas tecnologias em pesquisa, contato com pesquisadores internacionais, o que
pode ser extremamente válido para um mestrado/doutorado, além de treinar uma segunda
língua.”
Alguns alunos preocupam‐se em retribuir ao país o apoio e oportunidade que
receberam do governo em estudar fora. Sentem que os conhecimentos adquiridos
podem ser aplicados a nossa sociedade, contribuindo com o desenvolvimento do país.
“Quando você vê que o teu pais investe na tua formação, você sente um desejo de
voltar e ajudar a crescer o teu pais. Alguém pagou para mim estudar no exterior, e este
alguém no final das contas é o povo brasileiro, ninguém mais. Então penso que é muito
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importante que todo o estudante com uma vivencia no exterior observe e valorize esta
questão. Você só pode ir estudar no exterior por que o povo brasileiro pagou isto. Então no
futuro, nada mais justo que você volte para o Brasil e ajude o pais a crescer possibilitando
um melhor desenvolvimento do país.”
Mas a grande maioria vê os resultados do intercâmbio de forma muito pessoal.
Não demonstram desta forma, consciência de que o conhecimento que adquiriram vai
contribuir com seus colegas e professores, elevando a qualidade dos estudantes e
profissionais brasileiros.
“Volto para o Brasil com um conhecimento diferenciado e que contribuiu muito para
minha evolução pessoal e profissional.”
Há um grande impacto na visão que cada um tem sobre seu curso. É a
compreensão da abrangência e das possibilidades, tanto que já tinham no Brasil quanto
agora com o diferencial da graduação no exterior.
“... apesar das dificuldades, amadureci, aprendi coisas novas, pra minha vida pessoal
e profissional, e que também me fizeram ver a minha profissão com olhos diferentes.”
Muitos veem no intercâmbio a possibilidade de continuar estudando. Por terem
um diferencial curricular ou mesmo por terem descoberto novas oportunidades. Inclusive
este já é o objetivo inicial de muitos ao realizar o intercambio.
“A tecnologia de um país desenvolvido, foi o aspecto principal, pois me abri para
coisas novas que posso aplicar e até mesmo desenvolver em uma pós graduação aplicando‐
se a nossa realidade.”
“O intercambio é voltado para o mestrado, o que significa que possui um grande
impacto na minha formação.”
“Contato para mestrado/doutorado; Metodologia em pesquisa; Formação
internacional; Experiência com o inglês.”
O intercambio influiu sobre a visão que os alunos têm sobre seu curso, sobre suas
possibilidades durante e após a graduação, tanto no Brasil quanto no exterior. Segundo o
relato dos alunos, o contato com universidades estrangeiras, professores e tecnologias
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modificou suas perspectivas, na medida em que o aumento do conhecimento e as novas
oportunidades foram os mais impactantes.
Considerações finais
Tendo em vista a busca da universidade pela internacionalização pode‐se concluir
que a concretização deste investimento acontece, principalmente, através dos
programas desenvolvidos pelo governo ou pela própria instituição de Ensino Superior.
Programas que investem na formação, aprimoramento, oportunidades e experiências
para alunos, no caso deste artigo, alunos que ingressaram na universidade por meio de
algum tipo de política de ação afirmativa.
A partir deste estudo foi possível identificar que o efeito na vida dos estudantes
que tiveram a oportunidade de viver este intercâmbio perpassa pelo campo profissional
e, principalmente pessoal. Segundo relatos amplia‐se a visão de mundo do sujeito que,
consequentemente, interfere na sua futura atuação profissional, contribuindo assim para
o crescimento do país em contexto de micro e macro atuação.
Finalizando em contextos que tem o ethos do desenvolvimento humano e social
na globalização, em que há interação com outras formas de contextos, tradicionais e/ou
neoliberais, a formação via programas internacionais têm contribuído para uma formação
geral mais do que propriamente para o aumento do conhecimento cognitivo. Bawden
(2013. p. 49) afirma que “existe uma relutância estranha e inexplicável por parte das
instituições de educação superior, em todo o planeta, de assumir o fato de que são, acima
de tudo, agências de desenvolvimento humano e social”.
Frente aos arrazoados acima a educação não pode ficar na periferia da Sociedade
do Conhecimento na ordenação desumana de um mundo binário ‐ Inhumantidiness of a
binary world (NEAVE, 2006 p.17), ou mesmo, internamente, de um país binário. Ao pensar
a educação superior devemos atentar ao hibridismo econômico e social.
Embora neste artigo tenham sido abordadas apenas as questões de impactos na
vida do aluno que participou de algum tipo de intercâmbio internacional, outras diversas
e distintas indagações puderam ser evidenciadas no decorrer da pesquisa. Desafios,
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anseios, medos, estratégias para lidar com o novo contexto, enfim, tentar compreender e
perceber a importância do investimento e o real aproveitamento de tais objetivos.
Referências bibliográficas
BAWDEN, Richard. O objetivo educador da educação superior para o desenvolvimento humano e social no contexto da globalização. In: GUNI. Educação superior em um tempo de transformação: novas dinâmicas para a responsabilidade social / trad. Vera Muller. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013. MOROSINI, Marilia Costa. Enciclopédia de pedagogia universitária. v.2. Brasília (DF): INEP, 2006. NEAVE, G. (Ed.). Knowledge, power and dissent: critical perspectives on Higher Education and research in Knowledge Society. França: UNESCO, 2006. SILVA, Stella Maris Wolf da. Cooperação Acadêmica Internacional da CAPES Na Perspectiva Do Programa Ciências Sem Fronteira. 2012. 113 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) ‐ Universidade Federal do Rio Grande do Sul ‐ UFRGS, Brasília, 2012. Referências Eletrônicas PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. Programa De Mobilidade Acadêmica. Apresentação. Disponível em: <http://www.pucrs.br/aaii/pma/apresent.php>. Acesso em: 16 abr. 2014. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. Alunos: Estude no Exterior. Disponível em: <http://www.pucrs.br/portal/?p=alunos/estude‐no‐exterior>. Acesso em: 16 abr. 2014.