desafios éticos na unidade de terapia intensiva: relacionamento do médico intensivista com o...

24
S Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO LUIZ D’OR FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE ANHEMBI-MORUMBI

Upload: internet

Post on 21-Apr-2015

107 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

S

Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva:

Relacionamento do médico intensivistacom o paciente e familiares

ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES

REDE SÃO LUIZ D’ORFACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE ANHEMBI-MORUMBI

Page 2: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Modelos de relacionamento Médico – PacienteRobert Veatch (1972)

Modelo Autoridade

Poder Poder Médico

Poder Paciente

Sacerdotal Médico Médico Dominação Acomodação

Engenheiro Médico Paciente Acomodação Variável

Colegial _ Igualitário Negociação Negociação

Contratualista Médico Compartilhado Compromisso Compromisso

Page 3: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Autoridade vs.Poder

Page 4: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Teoria LacanianaTipos de discurso aplicados à relação médico-paciente

agente benefíciovalor saber

Símbolo

Significado

α Objeto de desejo:Saúde

S1 Significado maior: Cura

S2 Saber : Médico

$ Sujeito barrado pelo objeto de desejo: Paciente

Discurso do mestre

Cura MédicoPaciente Saúde

Discurso histérico

Paciente SaúdeCura Médico

Discurso universitário

Médico SaúdeCura Paciente

Discurso psicanalista

Saúde PacienteMédico Cura

Discurso histéricoPaciente Saúde

Cura Médico

Page 5: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Percepçoes dos pacientes em relação à Unidade Terapia Intensiva

86%

14%

Medo da morte

Não Sim

Medo do ambiente Solidão Dor e sofrimento Desconhecimento

Medo da falta de autonomia Condição física definitiva Exposição Humilhação

Cesarino et al. in Arq Ciênc Saúde 2005 jul-set;12(3):158-61

Page 6: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Médico

Doença

Grupo

Processo

Comunidade

Resultado

técnica

percepção

execução

Page 7: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

O Bom intensivista…Paradigma: Educação vs. formação médica

Médicos

Conhecimento

Técnica

Habilidade

Trabalho em equipe

Produtividade

Paciente

Atencioso

Disponível

Educado

Compreensivo

Humano

Page 8: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Expectativa frustradaSéneca (IV a. C.) in “Da Ira”

Quão melhor é apercebermo-nos de que as origens da ira são insignificantes e inofensivas! O que tu vês acontecer junto dos animais, também encontrarás nos homens: vivemos perturbados por coisas frívolas e vãs.

Recebi menos do que esperava: talvez esperasse mais do que me era devido. Este capricho é um dos mais temíveis, pois dele nascem as iras mais perniciosas e mais capazes de atentar contra as coisas mais sagradas.

Page 9: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

O Ciclo da frustração

Técnica

Afetividade

Gratidão

Frustração

Distância

Gravidade

Exigência

Page 10: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Quando a técnica prevalecepacientes e médicos se perdoam…

Page 11: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Relacionamento médico – famíliascaracterísticas

Segue os mesmos modelos teóricos que a relação médico – paciente.

Não depende da interpretação de um único indivíduo.

Sofre influência do ambiente familiar, sócio – cultural, econômico, entre outros.

Resultante de uma “soma de vetores”.

Page 12: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Relacionamento médico – famíliasfatores geradores de estresse

Sentimento de culpa.

Mais de um interlocutor.

Descontentamento com fatores externos à UTI (hospital, convênio, médicos externos, etc.).

Inconformidade ou incompreensão da doença (ex. Morte encefálica).

Page 13: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

O Ciclo da frustraçãodiferenças entre espectativas

Paciente

Técnica

Afetividade

Gratidão

Frustração

Distância

Família

Técnica

Atenção

ReconhecimentoFrustração

Agressão

Page 14: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

A predisposição pelo perdãoesta é a principal diferença

Médicos e Pacientes Médicos e Famílias

Page 15: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Problemas apontados ao propor cuidados paliativos em neoplasia estágio IV

Biller & Biller Hematology 2008

1. Expectativa não realista família e pacientes

2. Paciente não participa decisões

3. Staff não habilitado para comunicação

4. Alta demanda pelo médico

5. Falta regulamentação

6. Desacordo com famílias

7. Comunicação UTI – família ruim

8. Medo ações legais

9. Expectativa irreal do médico

10.Falta de espaço para famílias

Não se observam demandas técnicas!

Page 16: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Rev Esc Enferm USP 2010; 44: 429Oliveira et. al

Participação voluntária das famílias, baixa adesão, predomínio sexo feminino participação em > 50% das reunioes: 6%

Page 17: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Treinamento e padronização da entrevista com a família

Page 18: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Improving Social Work in Intensive Care Unit Palliative Care: Results of a Quality Improvement Intervention

McCormick et. Al in Journal of Palliative Medicine 2010; 13: 297

Results: Of 590 eligible patients, 275 families completed surveys (response rate, 47%). Thirty-five social workers received 353 questionnaires concerning 353 unique patients and completed 283 (response rate, 80%). Social workers reported significant increase in the total number of activities for family members after the intervention. Some of the activities included addressing spiritual or religious needs, discussing disagreement among the family, and assuring family the patient would be kept comfortable. Neither social workers’ satisfaction with meeting families’ needs nor family ratings of social workers were higher after the intervention. Increased social worker experience and smaller social worker caseload were both associated with increased family satisfaction with social work.

Page 19: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Effectiveness Trial of an Intensive Communication Structure for Families of Long-Stay ICU Patients

Daly et. Al in Chest 2010; 138:1340

Background: Formal family meetings have been recommended as a useful approach to assist in goal setting, facilitate decision making, and reduce use of ineffective resources in the ICU. We examined patient outcomes before and after implementation of an intensive communication sys- tem (ICS) to test the effect of regular, structured formal family meetings on patient outcomes among long-stay ICU patients.

Results: Using multivariate analysis, there were no significant differences between control and intervention patients in length of stay (LOS), the primary end point. Similarly, there were no significant differences in indicators of aggressiveness of care or treatment limitation decisions (ICU mortality, LOS, duration of ventilation, treatment limitation orders, or use of tracheostomy or percutaneous gastrostomy). Exploratory analysis suggested that in the medical ICUs, the intervention was associated with a lower prevalence of tracheostomy among patients who died or had do-not-attempt-resuscitation orders in place.

Page 20: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Randomized, Controlled Trials of Interventions to Improve Communication in Intensive Care

Scheunemann et. al in Chest 2011; 139: 543

Conclusions: The evidence supports the use of printed information and structured communication by the usual ICU team, ethics consultation, or palliative care consultation to improve family emotional outcomes and to reduce ICU length of stay and treatment intensity. Evidence that these interventions reduce total costs is inconclusive. A comprehensive research agenda should ensure the future study of a full range of patient-centered outcomes.

Page 21: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

COMMUNICATION IN CRITICAL CARE: FAMILY ROUNDS IN THE INTENSIVE CARE UNIT

Jacobowski et. al in American Journal of Critical Care. 2010;19:421

Conclusions: In the context of this pilot study of family rounds, certain elements of satisfaction were improved, but not overall satisfaction. The findings indicate that structured interdisciplinary family rounds can improve some families’ satisfaction, whereas some families feel rushed to make decisions. More work is needed to optimize communication between staff in the intensive care unit and patients’ families, families’ comprehension, and the effects on staff workload.

Page 22: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Melhora satisfação!Não reduz custo!!!

Abordagem estruturada Material impresso Equipe multiprofissional Individualização baseada em crenças e conflitos Participação do paciente quando possível

Melhora da estrutura física UTI humanizada Espaços dedicados a famílias Infra estrutura de comunicação e outros serviços (lanchonete, etc.)

Quem paga a conta?Fonte pagadora?

Hospital?Família?

Page 23: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Como irritar profundamente familiares de pacientes internados na UTI

em 8 liçoes

1. Aborde a família SEMPRE tecnicamente.

2. Quando encontrar um familiar “metido a médico” use apenas termos técnicos para que nenhum deles entenda o que você está falando.

3. Obrigue a todas as famílias a participar de grupos de suporte.

4. Transforme a entrevista com a família em um atendimento protocolar (ex. Call center).

5. Forçe a abordagem de assuntos pessoais e controversos como religião e conflitos sociais nas entrevistas com as famílias.

6. Insista na idéia de que os recursos devem ser utilizados com moderação antes que a família esteja convencida da necessidade de cuidados paliativos.

7. Cubra as famílias de “papéis explicativos” e as obrigue a assinar que foram orientadas por você.

8. Obrigue as famílias a participar de “rounds” diários com a equipe multiprofissional.

Page 24: Desafios éticos na Unidade de Terapia Intensiva: Relacionamento do médico intensivista com o paciente e familiares ANDRÉ LUIZ BAPTISTON NUNES REDE SÃO

Obrigado!

Pacientes e famílias querem compromisso. Um médico que olhe nos olhos e diga: “faremos tudo que estiver ao nosso alcançe para que o paciente fique bom” e que seus atos demonstrem isso.