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Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Introdução
1
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, e independentemente do sector de actividade em questão, os trabalhadores
foram, e continuam a ser, sistematicamente sujeitos a riscos nos mais diversos postos de trabalho.
Estes, associados na maior parte dos casos à fadiga física, inexperiência ou ao próprio descuido do
trabalhador, proporcionam a ocorrência de inúmeros acidentes de trabalho.
Com o advento da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, os postos de trabalho
foram, continuamente, sujeitos a diversas transformações, devido, sobretudo, à automatização dos
processos de fabrico. Esta modernização, ocasionada pela introdução de máquinas na execução de
trabalhos, provocou uma melhoria das condições laborais, na medida em que visava auxiliar os
operários na execução das tarefas de índole física, traduzindo-se assim num menor esforço
despendido pelos trabalhadores. Contudo, embora estas mudanças tenham contribuído para uma
melhoria das condições de trabalho, devido à eliminação de alguns riscos, levaram ao aparecimento
de novos e ao agravamento de outros já existentes.
Paradoxalmente, a mecanização dos postos de trabalho conduziu, também, a um maior
esforço dos trabalhadores, em parte devido à necessidade de potenciar a sua eficiência nos
processos de fabrico. O consequente aumento do tempo de laboração traduz-se, assim, numa
maior exposição aos diferentes riscos. Este panorama tem vindo a agravar-se ao longo dos últimos
anos devido às crescentes dificuldades económicas, particularmente no momento actual.
Segundo a Lei n.º 98, de 4 de Setembro de 2009, acidente de trabalho é “aquele que se
verifica no local e no tempo de trabalho e produza directa ou indirectamente lesão corporal,
perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou
a morte.”
A redução do número de acidentes de trabalho constitui uma das maiores preocupações
quer das entidades governamentais, quer dos técnicos de Segurança e Saúde do Trabalho, dos
Médicos do Trabalho e ainda da generalidade das entidades empregadoras.
A ocorrência destes acidentes acarreta diversas consequências, conforme se apresenta na
figura 1.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Figura
Através da análise da figura
acidentes de trabalho contribui para um aumento do absentismo dos trabalhadores,
numa quebra de produtividade e na impossibilidade de cumprir os compromissos já lavrados com
outros organismos. A suspensão dos trabalhos e os processos em tribunal são frequentes, sempre
que as autoridades responsáveis pela supervisão das
negligência por parte da entidade empregadora, ou, muitas vezes, do próprio sinistrado. Em
Portugal, a entidade responsável pela manutenção das condições propícias à execução das
actividades laborais é a Autoridade
Todas estas ocorrências acarretam custos significativos, quer para o Estado quer para as
entidades empregadoras, directa ou indirectamente. São os designados custos directos e indirectos.
Os custos directos ou, mais rigorosamente, os custos segurados, são assumidos pelas
Companhias Seguradoras, a menos que fique provado que houve negligência ou dolo por parte
entidade empregadora ou do sinistrado, e envolve os gastos com despesas médicas, int
prestações de invalidez, ou seja, todos os gastos necessários para a recuperação física do
sinistrado.
Quebra de produtividade
Absentismo dos
trabalhadores
Suspensão dos
Trabalhos
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
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Figura 1 – Consequências de um acidente de trabalho.
Através da análise da figura 1, verifica-se, a título de exemplo, que a ocorrência de
acidentes de trabalho contribui para um aumento do absentismo dos trabalhadores,
numa quebra de produtividade e na impossibilidade de cumprir os compromissos já lavrados com
outros organismos. A suspensão dos trabalhos e os processos em tribunal são frequentes, sempre
que as autoridades responsáveis pela supervisão das condições de trabalho constatam que houve
negligência por parte da entidade empregadora, ou, muitas vezes, do próprio sinistrado. Em
Portugal, a entidade responsável pela manutenção das condições propícias à execução das
actividades laborais é a Autoridade para as Condições do Trabalho, vulgarmente designada por ACT.
Todas estas ocorrências acarretam custos significativos, quer para o Estado quer para as
entidades empregadoras, directa ou indirectamente. São os designados custos directos e indirectos.
stos directos ou, mais rigorosamente, os custos segurados, são assumidos pelas
Companhias Seguradoras, a menos que fique provado que houve negligência ou dolo por parte
entidade empregadora ou do sinistrado, e envolve os gastos com despesas médicas, int
prestações de invalidez, ou seja, todos os gastos necessários para a recuperação física do
Acidente de
Trabalho
Perda de serviços
Atrasos nos compromissos
Aplicação de sanções
Indmenizações
Processos em
Tribunal
Perda de reputação
Quebra de produtividade
Suspensão dos
Trabalhos
Introdução
se, a título de exemplo, que a ocorrência de
acidentes de trabalho contribui para um aumento do absentismo dos trabalhadores, repercutindo-se
numa quebra de produtividade e na impossibilidade de cumprir os compromissos já lavrados com
outros organismos. A suspensão dos trabalhos e os processos em tribunal são frequentes, sempre
condições de trabalho constatam que houve
negligência por parte da entidade empregadora, ou, muitas vezes, do próprio sinistrado. Em
Portugal, a entidade responsável pela manutenção das condições propícias à execução das
para as Condições do Trabalho, vulgarmente designada por ACT.
Todas estas ocorrências acarretam custos significativos, quer para o Estado quer para as
entidades empregadoras, directa ou indirectamente. São os designados custos directos e indirectos.
stos directos ou, mais rigorosamente, os custos segurados, são assumidos pelas
Companhias Seguradoras, a menos que fique provado que houve negligência ou dolo por parte da
entidade empregadora ou do sinistrado, e envolve os gastos com despesas médicas, internamentos,
prestações de invalidez, ou seja, todos os gastos necessários para a recuperação física do
Aplicação de sanções
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Introdução
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Relativamente aos custos indirectos, estes são assumidos, em regra, pelas entidades
empregadoras. Comportam os gastos com a formação de um novo trabalhador, as despesas
advenientes das quebras de produtividade, sanções, indmenizações, os custos de equipamentos
envolvidos no acidente, o tempo despendido na análise do acidente, entre outros. Estes custos são
sempre superiores aos custos directos. Na figura 2, apresenta-se a figura do “iceberg”, que serve
para exemplificar a dimensão que cada um desses custos pode atingir.
Figura 2 – Representação esquemática dos custos directos e indirectos.
Assim, tendo em vista a redução do numero de ocorrências, as entidades empregadoras,
em conjunto com os técnicos de Segurança e Higiene do Trabalho (SHT), delineam estragégias de
prevenção de acidentes, através de acções de formação, bem como métodos de análise de maneira
a identificarem e eliminarem as causas que contribuiram para a respectiva ocorrência.
Em síntese, o investimento em programas de segurança compensa, visto que a respectiva
implementação conduz, geralmente, a um menor número de acidentes de trabalho. Contribui,
também, para um aumento de produtividade e emprego de qualidade, originando assim um menor
CustosDirectos
CustosIndirectos
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absentismo dos trabalhadores, uma maior motivação no posto de trabalho e uma menor rotação
dos mesmos.
1.1. Evolução da Sinistralidade Laboral em Portugal
A sinistralidade laboral em Portugal foi sempre uma fonte de preocupação para os profissionais de
SHT. Embora a ocorrência de acidentes de trabalho, nos diferentes sectores de actividade, tenha
sofrido um decréscimo ao longo dos anos, como se comprova através dos dados estatísticos
elaborados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) e pela Autoridade para as Condições
do Trabalho (ACT), ainda existe um longo trabalho a ser levado a cabo.
As doenças profissionais devem-se, em grande parte, à deficiente formação da população
trabalhadora e ao desconhecimento dos riscos a que estão expostas. Estes factores, conjugados
com condições de trabalho, muitas vezes, precárias e turnos longos, contribuem para que o número
de ocorrências seja, frequentemente, superior ao desejável.
Em Portugal, segundo o Decreto-Lei n.º 381/2007, de 14 de Novembro, que estabelece a
Classificação Portuguesa de Actividades Económicas1, estas estão organizadas da seguinte forma:
A. Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca;
B. Indústrias extractivas;
C. Indústrias transformadoras;
D. Electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio;
E. Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e
despoluição;
F. Construção;
G. Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos;
H. Transportes e armazenagem;
I. Alojamento, restauração e similares;
J. Actividades de Informação e de comunicação;
K. Actividades financeiras e de seguros;
L. Actividades imobiliárias;
M. Actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares;
N. Actividades administrativas e dos serviços de apoio;
1 Classificação Portuguesa de Actividades Económicas, Revisão 3, adiante designada por CAE – Rev. 3
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O. Administração Pública e defesa; segurança social obrigatória;
P. Educação;
Q. Actividades de saúde humana e apoio social;
R. Actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas;
S. Outras actividades de serviços;
T. Actividades das famílias empregadoras de pessoal doméstico e actividades de
produção das famílias para uso próprio;
U. Actividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais.
Deste modo, tendo em consideração a CAE – Rev. 3, e através da consulta de dados
estatísticos fornecidos pela ACT, representados nas figuras 3 e 4, verifica-se que o sector da
indústria da construção apresenta uma elevada taxa de frequência, comparativamente aos restantes
sectores. Esta discrepância de valor para os outros sectores é devida, em grande parte, às precárias
condições de trabalho, que conjugadas com o incremento do trabalho ilegal, devido à má
conjuntura económica, origina uma maior percentagem de acidentes de trabalho.
Figura 3 – Acidentes de trabalho mortais por Sector de Actividade (Dados ACT, 2009).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
2006 2007 2008
Agricultura
Indústria Transformadora
Construção
Comércio e Serviços
Transportes e Armazenagem
Administração Pública / Regional
Outros sectores
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Figura 4 – Acidentes de trabalho mortais
Relativamente à forma, e segundo a 10ª Conferência Internacional de Estatísticas do
Trabalho (OIT2, 1962), os acidentes de trabalho podem ser agrupados nas diferentes categorias:
1. Queda de pessoa
2. Quedas de objectos;
3. Marcha sobre, choque contra ou pancada por objectos (com exclusão de quedas de
objectos;
4. Entaladela num objecto ou entre objectos;
5. Esforços escessivos ou movimentos em falso;
6. Exposição a/ou contacto com temperaturas extremas;
7. Exposição a/ou contacto com a corrente eléctrica;
8. Exposição a/ou contacto com substâncias nocivas ou radiações;
9. Outras formas de acidentes não classificados noutra parte, incluindo os acidentes não
classificados por falta de dados suficientes.
Tendo em conta a classificação proposta pel
6, constata-se que as quedas em altura apresentam valores elevados, sendo responsáveis por 30%
dos acidentes mortais. 2 Organização Internacional do Trabalho (OIT). Pode ser também designada por “International Labour Organization” (ILO) ou “Bureau International du Travail” (BIT)
Agricultura
Construção
Transportes e Armazenagem
Outros sectores
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Acidentes de trabalho mortais por Sector de Actividade, média 2006-2008 (Dados ACT, 2009)
Relativamente à forma, e segundo a 10ª Conferência Internacional de Estatísticas do
, 1962), os acidentes de trabalho podem ser agrupados nas diferentes categorias:
Queda de pessoas;
Quedas de objectos;
Marcha sobre, choque contra ou pancada por objectos (com exclusão de quedas de
Entaladela num objecto ou entre objectos;
Esforços escessivos ou movimentos em falso;
Exposição a/ou contacto com temperaturas extremas;
Exposição a/ou contacto com a corrente eléctrica;
Exposição a/ou contacto com substâncias nocivas ou radiações;
Outras formas de acidentes não classificados noutra parte, incluindo os acidentes não
classificados por falta de dados suficientes.
nta a classificação proposta pela OIT, e procedendo á análise das figuras 5 e
se que as quedas em altura apresentam valores elevados, sendo responsáveis por 30%
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Pode ser também designada por “International Labour Organization”
(ILO) ou “Bureau International du Travail” (BIT)
9%
23%
49%
9%
3% 2%
5%
Indústria Transformadora
Comércio e Serviços
Transportes e Armazenagem Administração Pública / Regional
Outros sectores
Introdução
(Dados ACT, 2009).
Relativamente à forma, e segundo a 10ª Conferência Internacional de Estatísticas do
, 1962), os acidentes de trabalho podem ser agrupados nas diferentes categorias:
Marcha sobre, choque contra ou pancada por objectos (com exclusão de quedas de
Outras formas de acidentes não classificados noutra parte, incluindo os acidentes não
, e procedendo á análise das figuras 5 e
se que as quedas em altura apresentam valores elevados, sendo responsáveis por 30%
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Pode ser também designada por “International Labour Organization”
Administração Pública / Regional
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Figura 5 – Causas de acidentes de trabalho mortais (Dados
Figura 6 – Causas de acidentes de trabalho mortais
Tendo em atenção estes dados estatísticos, torna
de mais métodos de análise, de maneira a identificar e eliminar os factores responsáveis pela
ocorrência dos acidentes em questão. Dever
através de acções de formação, elucidando sobre quais os riscos advenientes dos postos de
0
10
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2006
5%
5%
5%
4%
Esmagamento
Atropelamento
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Causas de acidentes de trabalho mortais (Dados ACT, 2009)
Causas de acidentes de trabalho mortais, média 2006-2008 (Dados ACT, 2009)
Tendo em atenção estes dados estatísticos, torna-se prioritário proceder ao desenvolvimento
de mais métodos de análise, de maneira a identificar e eliminar os factores responsáveis pela
ocorrência dos acidentes em questão. Dever-se-á investir mais na formação da força trabalhadora,
através de acções de formação, elucidando sobre quais os riscos advenientes dos postos de
2007 2008
16%
30%
13%
22%
Queda em Altura Choque objectos Soterramento
Electrocussão Máquinas Outras
Introdução
ACT, 2009).
(Dados ACT, 2009).
se prioritário proceder ao desenvolvimento
de mais métodos de análise, de maneira a identificar e eliminar os factores responsáveis pela
ção da força trabalhadora,
através de acções de formação, elucidando sobre quais os riscos advenientes dos postos de
Esmagamento
Queda em Altura
Choque objectos
Soterramento
Atropelamento
Electrocussão
Máquinas
Outras
30%
Soterramento
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Introdução
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trabalho a que estão afectos, bem como quais os melhores equipamentos de protecção, tanto
individuais ou colectivos.
1.2. Organização do Trabalho e Conteúdos
No primeiro capítulo, apresenta-se um breve resumo sobre acidentes de trabalho, bem como as
principais consequência deles resultantes. Procede-se também à análise da sinistralidade laboral
em Portugal, relativamente aos sectores de actividade mais atingidos e aos acidentes mais comuns,
bem como, ao modo de organização do trabalho.
No segundo capítulo são apresentados os objectivos a atingir com o presente trabalho.
Ao longo do terceiro capítulo, faz-se uma breve descrição de alguns métodos de análise,
aprofundando-se os métodos utilizados.
No quarto capítulo apresenta-se a metodologia utilizada para o trabalho de investigação.
No quinto capítulo são apresentados os resultados obtidos, bem como uma respectiva
discussão sobre os mesmos.
No sexto capítulo focam-se os principais meios de protecção para acidentes do tipo quedas
em altura, bem como a legislação existente.
No sétimo capítulo são apresentadas as principais conclusões.
Finalmente, no oitavo capítulo são referenciadas algumas propostas de trabalhos a
desenvolver no futuro.
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Objectivos
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2. OBJECTIVOS
A evolução da sinistralidade em Portugal tem sido, ao longo dos anos, um assunto de primordial
importância para todos os elementos envolvidos na área da Segurança no Trabalho. Infelizmente,
como se comprova através da análise dos dados (Ponto 1) fornecidos, anualmente, pelo Gabinete
de Estratégia e Planeamento (GEP) e pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), as
empresas ainda são muito fustigadas pela ocorrência de acidentes de trabalho. Estes, em grande
parte, resultam do desconhecimento dos perigos a que os trabalhadores estão sujeitos nos
respectivos postos de trabalho, mas também se devem, frequentemente, à existência de uma
cultura de “deixa andar e depois vê-se”, em que se negligencia o perigo. Não se previne, remedeia-
se, só se actua apenas quando acontecem acidentes graves.
O principal objectivo deste estudo, tendo em conta esta realidade, e de modo a tentar
contribuir para a redução do número de ocorrências, prende-se com a identificação do panorama
da sinistralidade laboral em Portugal, relativamente ao número de acidentes de trabalho do tipo
quedas em altura.
A escolha dos acidentes do tipo quedas em altura prende-se não só com a elevada taxa de
incidência dos mesmos, independentemente do sector de actividade, mas também com a
respectiva gravidade, sendo um grande número deles mortais.
Tendo em atenção a prevenção e eliminação deste tipo de acidentes, proceder-se-á à:
Identificação do sector de actividade mais afectado, bem como o tipo de acidente mais
usual;
Análise e identificação das causas mais usuais, ou seja, os factores que mais
contribuem para a ocorrência de acidente do tipo quedas em altura, sintetizados numa
árvore de falhas-tipo;
Aplicação do método de Investigação “Estatísticas Europeias de Acidentes de
Trabalho” (EEAT), efectuando-se depois uma comparação, relativamente à fiabilidade e
aplicabilidade do método em relação ao preconizado pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT) em 1962;
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Objectivos
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Aplicação do método “Work Accidents Investigation Technique” (WAIT), comparando-o
com o EEAT;
Identificação dos meios de prevenção, utilizados para prevenir a ocorrência de
acidentes do tipo quedas em altura, bem com a legislação que regulamenta os
mesmos.
Relativamente à inovação, este trabalho visa sobretudo a aplicação do método EEAT, visto
que se trata de um método recente em que a principal inovação se prende com a uniformização
dos dados estatísticos em todos os países da União Europeia. Este trabalho permite também uma
identificação dos acontecimentos mais comuns que contribuem para a ocorrência deste tipo de
acidentes, permitindo-nos tirar ilações sobre quais os melhores meios a utilizar na prevenção dos
mesmos.
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Revisão Bibliográfica
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Métodos de Análise de Acidentes
A análise dos acidentes de trabalho, independentemente do sector de actividade em estudo, é um
assunto que tem sido debatido ao longo dos anos. Desde o início da Revolução Industrial,
responsável pelo progresso tecnológico, assistiu-se a uma crescente mecanização dos postos de
trabalho, contribuindo-se assim para uma maior probabilidade de ocorrência de acidentes.
Tendo em consideração a elevada ocorrência de acidentes de trabalho, vários
investigadores têm formulado técnicas de análise, com o objectivo de fornecerem soluções que
conduzam a uma redução do número daqueles acidentes.
A existência de técnicas de análise é de primordial importância para a prevenção de
acidentes. Uma técnica bem formulada fornece-nos indicação sobre o que contribuiu para o
acidente, ou seja, os meios humanos e materiais envolvidos, bem como indicações sobre aspectos
que podem ser melhorados, de modo a evitarem-se situações semelhantes no futuro.
Quanto melhor o nosso conhecimento sobre o acidente, melhor será o nosso poder de
tomar decisões. Segundo Bob Firenze, citado por Heinrich, Peterson e Roos (1980, p. 51), as
pessoas necessitam de informação para fundamentarem as suas decisões. Quanto melhor for a
informação, melhor será a capacidade para prever e eliminar o risco, ao passo que uma informação
deficiente aumenta a probabilidade de decisões erradas, com o consequente aumento desse
mesmo risco.
Segundo Vesely, Goldberg, Roberts e Haasl (1981), Katsakiori, Sakellaropoulos, Manatakis,
Athanassiou e Goutsos (2008), Katsakiori, Sakellaropoulos e Manatakis (2009) e Pinto, Nunes e
Ribeiro (2011), dependendo do tipo de estudo que se deseja efectuar, ou seja, se a informação
obtida é qualitativa ou quantitativa, os seguintes métodos podem ser empregues:
Control change cause analysis (3CA);
Accident Evolution and Barrier function (AEB);
Analytical Hierarchical Process (AHP);
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Revisão Bibliográfica
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Causal tree method (CTM ou INRS method);
Cognitive reliability and error analysis method (CREAM);
Energy analysis (EA);
Event Tree Analysis;
Fault Hazard Analysis (FHA);
Failure mode and effect analysis (FMEA);
Failure mode effect and criticality analysis (FMECA);
Fault tree analysis (FTA);
Hazard and operability studies (HAZOP);
Health and Safety Executive (HSG245);
Integrated safety investigation methodology (ISIM)
International safety rating system (ISRS);
Management oversight and risk tree (MORT);
Multilinear events sequencing (MES);
Norske Statesbaner (NSB);
Occupational Accident Research Unit (OARU);
Preliminary hazard analysis (PHA);
Systematic cause analysis technique (SCAT);
Safety culture hazard and operability study (SCHAZOP);
Safety health and environment audit (SHE);
Sequentially timed events plotting (STEP);
Technique for human error rate prediction (THERP);
TRIPOD;
Work accidents investigation technique (WAIT).
Os métodos de análise descritos anteriormente podem ser indutivos ou dedutivos. Segundo
Vesely et al. (1981), os métodos indutivos baseiam-se num determinado acontecimento, tentando-
se determinar as consequências num sistema, ao passo que os métodos dedutivos procuram
determinar as causas que contribuíram para um determinado acontecimento. Ou seja, enquanto o
método dedutivo se baseia na identificação de todos os elementos que contribuíram para a
ocorrência do acidente, o método indutivo, através da definição de um acontecimento (por exemplo,
falha na refrigeração de um motor, ou ausência de EPI’s), formula as consequências que podem
advir desses acontecimentos específicos.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
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Os métodos Preliminary Hazards Analysis (PHA), Failure Mode and Effect Analysis (FMEA),
Failure Mode Effect and Critically Analysis (FMECA), Fault Hazard Analysis (FHA) e Event Tree
Analysis são exemplos de métodos indutivos, ao passo que o Fault Tree Analysis é um exemplo de
um método dedutivo.
Para a realização deste trabalho de investigação, tendo como objectivo a prevenção e
diminuição da ocorrência de acidentes, os métodos escolhidos foram:
Pirâmide de Acidentes;
Árvore de Falhas (ou Causas);
Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho (Causas e Circunstâncias);
Análise de Acidentes de Trabalho – Método de Investigação WAIT.
3.2. Pirâmide de Acidentes
A metodologia “Pirâmide de Acidentes” é uma técnica de análise de acidentes de trabalho utilizada
desde o início do século XX. Ao longo dos anos, inúmeros autores estudaram esta metodologia de
investigação, validando os estudos efectuados anteriormente ou acrescentando algo de novo, tendo
como objectivo torná-la mais fiável.
A introdução desta técnica foi um conceito revolucionário porque, ao contrário dos
programas de segurança, que apenas identificavam os problemas nas organizações aquando da
ocorrência de acidentes graves ou fatais, a pirâmide de acidentes procede à análise de todos os
patamares, focando a eliminação de causas que possam contribuir para a ocorrência de lesões.
Infelizmente, esta técnica, ao longo dos anos, introduziu erradamente a ideia de que actuando-se
sobre os patamares inferiores da pirâmide (acidentes sem lesão, quase-acidentes), se conseguiria
reduzir os níveis superiores, originando-se assim uma diminuição do número de acidentes graves e
mortais (Gabinete de Estratégia e Planeamento [GEP] & Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social [MTSS], 2007)3.
É facto aceite, entre todos os investigadores, que o percursor desta técnica é Herbert
William Heinrich. Em 1931, este autor introduziu, pela primeira vez, o levantamento de lesões
(eventualmente com dano à propriedade), alargando, assim, o conceito de acidente (Miguel, 2010).
Embora Heinrich seja considerado o fundador, inúmeros autores deram o seu contributo para o
3 Elaborado pelo Grupo de Segurança, Fiabilidade de Manutenção da Universidade de Engenharia e Tecnologia Naval (UETN), sob a coordenação do GEP.
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Revisão Bibliográfica
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aperfeiçoamento desta técnica, nomeadamente, Frank Bird Jr. (1996), J. Fletcher (1970) e Skiba
(1979).
Os estudos elaborados por estes autores, contribuíram para novas definições de novos
patamares da pirâmide de acidente, representadas nas figuras 7, 8, 9 e 10, apresentando assim
uma maior distinção entre os vários tipos de lesões existentes.
Figura 7 – Pirâmide de acidentes, segundo Heinrich (reproduzido de Miguel, 2010).
Figura 8 – Pirâmide de acidentes, segundo Frank Bird Jr. (reproduzido de Miguel, 2010).
Figura 9 – Pirâmide de acidentes, segundo Skiba (reproduzido de Miguel, 2010).
Lesão incapacitante
Lesões não incapacitantes
Acidentes sem lesão
1
29
300
Lesão incapacitante
Lesões não incapacitantes
Acidentes com dano à propriedade (sem lesão)
100
500
1
Acidente mortal
Acidentes com mais de 3 dias de baixa
Acidentes com 1, 2 ou 3 dias de baixa
Acidentes sem baixa (com o dia do acidente perdido)
Acidentes só com primeiros socorros
Quase acidentes
714
150
286
5571
1
> 60000 (estimado)
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Revisão Bibliográfica
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Figura 10 – Exemplificação de uma pirâmide de acidentes (reproduzido de GEP & MTSS, 2007)
A pirâmide de acidentes centra-se essencialmente em dois objectivos: na prevenção,
actuando nos patamares inferiores da pirâmide e no cálculo dos custos dos acidentes (GEP &
MTSS, 2007).
Actualmente, a pirâmide centra-se numa análise de comportamentos de risco, verificando-
se que, se houver uma menor incidência desses comportamentos, a probabilidade de ocorrerem
acidentes também sofre uma redução. Fornece-nos, igualmente, uma base de comparação entre os
diversos sectores de actividade, indicando quais os sectores que possuem maior apetência para a
ocorrência de acidentes graves e mortais.
A pirâmide de acidentes, tendo em consideração os diversos patamares, proporciona uma
melhor compreensão sobre se as medidas de prevenção aplicadas estão a surtir os efeitos
desejados, ou seja, se estão a prever, conter e eliminar os acidentes de trabalho.
Segundo Todd Conklin (2007), os quase acidentes são os que fornecem melhores dados
para se testar a fiabilidade de um sistema.
Os quase acidentes são importantes na definição das medidas a aplicar. Conhecendo-se
quais as medidas necessárias e os respectivos locais para implementação, consegue-se uma
redução do respectivo número.
Todd Conklin (2007) considera que o conhecimento das medidas a aplicar, bem como dos
locais onde são necessárias, leva-nos a reconhecer que todos os erros são possiveis de prever e
prevenir, impedindo que contribuam para a ocorrência de acidentes.
Embora a afirmação anterior possua alguma veracidade, não pode ser proferida com 100%
de confiança. Independentemente do acidente, é praticamente impossível ocorrer outro igual, visto
que a probabilidade de acontecer da mesma forma, com o mesmo interveniente, é praticamente
nula. A ocorrência de acidentes, através da análise efectuada, permite-nos melhorar o Plano de
Mortais
+ Seis meses de baixa
Três a seis meses de baixa
Até três meses de baixa
Acidentes sem baixa
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Revisão Bibliográfica
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Segurança e Saúde (PSS) na Construção, através da introdução de equipamentos que vão permitir
eliminar, ou melhor, diminuir a gravidade do acidente ocorrido.
Contudo, embora a pirâmide de acidentes forneça informações sobre os sectores mais
críticos, e sobre quais as medidas de prevenção a adoptar, possui ainda algumas limitações (Hale,
2001, citado por GEP & MTSS, 2007; Jacinto & Silva, 2009).
3.3. Árvore de Falhas (Causas)
A árvore de falhas (ou causas), é uma técnica de investigação muito utilizada para identificar as
áreas críticas, embora, frequentemente, ocultas, de um sistema (Miguel, 2010). Esta técnica de
investigação foi desenvolvida por H. A. Watson, em 1962.
Inicialmente aplicada na NASA, para auxiliar no desenvolvimento de naves espaciais,
expandiu-se rapidamente, embora com algumas limitações, para outros sectores de actividade. De
entre esses sectores de actividade, destacam-se a indústria nuclear, aeronáutica, química e a
automação (Ericson, 1999b).
Esta ferramenta de análise, através da fragmentação dos acontecimentos de um dado
sistema físico, permite criar uma sequência visual do acontecimento, transmitindo assim
informações sobre qual o caminho crítico, e quais as áreas a ser rectificadas.
A árvore de falhas foi, ao longo dos anos, e independentemente da área, objecto de
inúmeros estudos. Segundo Ericson (1999b), os autores que contribuíram para o desenvolvimento
da técnica, tendo em consideração os trabalhos publicados, são: H. Watson, A. Mearns, Dave
Haasl, Robert Schroeder, William Vesely (1988, 1994), Jerry Fussel (1981, 1994), Howard Lambert
(1983 e 1996), Dick Worrel, Randall Willie, Ernst Henley (1995, 1996) e John Andrews (1998a,
1998b).
A árvore de falhas tem inúmeras aplicações, ou seja, permite-nos proceder à análise de
acidentes ou incidentes, à elaboração de diagramas visuais que forneçam indicação das causas-
consequências, da certificação do produto ou identificação dos componentes críticos do sistema.
É um método de análise dedutivo, já que através de um determinado acontecimento
(acidente), determina as causas que contribuiram para esse mesmo acontecimento (Vesely et al.,
1981).
Outro factor que é importante esclarecer, reside no facto de a árvore de falhas não ser um
modelo para todos os sistemas, ou seja, para os diversos acidentes que ocorram (Vesely et al.,
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
17
1981). Cada árvore apenas fornece informações sobre o acidente estudado, ou seja, identifica as
causas que contribuiram para uma determinada ocorrência, e apenas para essa. Para obter
esclarecimentos sobre outros acontecimentos, é necessário proceder à elaboração de uma nova
árvore.
Segundo Vesely et al. (1981) e Xiang, Ogata e Futatsugi (2005), a árvore de falhas é um
método qualitativo, procedendo à identificação de todas as causas possiveis, até se obterem apenas
acontecimentos básicos.
Contudo, possuiu também a vantagem de poder ser utilizado como método quantitativo,
fornecendo indicação sobre a probabilidade de cada causa ocorrer.
Um dos principais motivos para a árvore de falhas ser tão utilizada ao longo dos anos, é que
para além de permitir uma fácil interpretação do sistema (análise do acidente) é, também, de fácil
compreensão (Andrews & Dugan, 1999; Gulati & Dugan, 1997).
Como mencionado anteriormente, a árvore de falhas foi objecto de inúmeros estudos.
Procedeu-se à criação de métodos como o Failure Mode and Effects Analysis (FMEA), complementar
da árvore de causas, o DIFTree ou o Markov Analysis (MA).
O DIFTree é uma ferramenta utilizada na análise de árvores de falhas, estáticas ou
dinâmicas. Nas estáticas usa o Binary Decision Diagram (BDD), enquanto que nas dinâmicas utiliza
o Markov Chain (Gulati & Dugan, 1997).
Andrews e Ericson (2000), procederam a um estudo, comparando o método da árvore de
falhas com o método Markov Analysis. A finalidade era verificar qual dos métodos era melhor, ou
seja, qual o mais preciso, completo e que fornecia melhor informação.
Segundo estudos realizados, comprovou-se que o método da árvore de falhas é superior ao
de Markov. Permite uma classificação dos acontecimentos indesejados muito mais detalhada, além
de apresentar resultados semelhantes ao fornecidos pelo método Markov.
Uma das desvantagens, relativamente ao método Markov, é que quando nos encontramos
perante um sistema complexo (cadeia longa de sequências), o método Markov fornecia informação
mais detalhada. Andrews e Ericson (2000) afirmaram, contudo, que os resultados fornecidos pela
árvore de falhas são semelhantes aos fornecidos pelo méodo Markov.
A árvore de falhas, embora seja considerada fácil de aplicar, na realidade, para se obter
uma correcta compreensão e construção, o analista tanto deve possuir as necessárias
competências como ser capaz de conduzir a análise (Wagnenaar & Van der Schrier, 1997, citado
por Katsakiori et al., 2008).
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
18
A árvore de falhas, segundo Pandley (n.d.), Ericson, (2000), McDonald, Musson e Smith
(2008), Katsakiori et al. (2009), possuiu vantagens e desvantagens, nomeadamente:
Vantagens:
Fácil de entender e aplicar;
Permite a representação esquemática de sistemas complexos;
O conhecimento e identificação das causas pode contribuir para a criação de
medidas preventivas;
Identifica as áreas de acção, ou seja, onde exista a probabilidade de ocorrerem
acidentes.
Desvantagens:
A identificação de todas as causas que contribuem para o acidente é de dificil
obtenção;
A construção da árvore de falhas é um processo moroso, desencorajando a
participação;
O modelo é mais eficaz quando realizado em equipa;
Não fornece indicação sobre a recolha de informação necessária;
Embora ajude na criação de medidas preventivas, não cria especificamente
recomendações;
É necessária a particapação de analistas com conhecimentos específicos;
Árvores de falhas complexas são de dificil análise sem o auxílio de programas
específicos;
Tendo em consideração estes aspectos, ao longo dos anos e devido à complexidade de
sistemas, sentiu-se a necessidade de auxiiar os analistas na análise das árvores de falhas (Ericson,
1997). Procedeu-se, assim, à criação de códigos de computador, e mais tarde, a programas de
análise.
Segundo Vesely et al. (1981), os códigos e programas de computador podem ser variados,
consoante se trata de uma análise qualitativa, quantitativa, ou outra. Relativamente a códigos,
podemos referir:
Codes for Qualitative Analysis (PREP, ELRAFT, MOCUS, TREEL, MICSUP, ALLCUTS,
SETS e FTAP);
Codes for Quantitative Analysis (KITTI, SAMPLE, MOCARS e FRANTIC);
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
19
Direct Evaluation Codes (ARMM, SAFTE, GO, NOTED, PATREC, PATREC-MC, BAM,
WAM-BAM e WAMCUT);
A Dual-Purpose Code (PL-MOD);
Common Cause Failure Analysis Codes (COMCAN, BACKFIRE, SETS).
Como programas de computador, podemos referir o Galileo. Segundo Coppit e Sullivan
(2000), o Galileo possuiu um grande potencial, mas a sua utilização acarreta um elevado nível de
risco.
Embora a utilização de programas auxilie na resolução de sistemas, a sua aplicação não
resolve todos os problemas. Long (1999) afirma que um bom programa de software é caro, e não
resolve os problemas, visto que não existe um programa ideal. Apenas uma combinação de vários
programas consegue resolver os diversos problemas.
3.4. Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho
A segurança e saúde do trabalho é uma área de extrema importância para os Estados-Membros da
União Europeia (UE), visto que, melhores condições de trabalho, acarretam uma menor
probabilidade de ocorrência de acidentes.
A UE, tendo em linha de conta a legislação existente nos vários Estados-Membros, começou
por elaborar um método de análise, que, para além de criar uma base de dados harmonizada,
permitiu identificar as causas e circunstâncias dos acidentes de trabalho, sendo, assim, possível
delinear e traçar medidas adequadas de prevenção. O método proposto pela UE foi o método EEAT
(Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho) (Eurostat, 2001).
O método EEAT, visto ser uma metodologia em fase de implantação, foi fragmentado em
várias fases. As Fases I e II do método EEAT começaram a ser implementadas em 1993 e 1996.
Na Fase I foram abrangidas as variáveis referentes à identificação da actividade económica do
empregador, profissão, idade e sexo do sinistrado, ao tipo de lesão e parte do corpo atingida, bem
como localização geográfica, e à data e hora do acidente. A Fase II complementa estas primeiras
informações, dando indicação do tamanho da empresa, nacionalidade da vítima, situação
profissional, bem como as consequências do acidente em termos de dias perdidos, incapacidade
permanente ou falecimento na sequência do acidente (European Commission, 2009).
A Fase III do método EEAT, implementada a partir de 2001, engloba novas variáveis e
harmoniza as classificações das causas e circunstâncias dos acidentes de trabalho, permitindo
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
20
assim definir claramente o acidente, fornecendo os resultados a partir dos quais se definem as
políticas de prevenção.
As variáveis definidas na metodologia EEAT são:
Caracterizar o sinistrado:
Sexo;
Idade;
Situação profissional;
Profissão;
Nacionalidade.
Caracterizar o empregador:
Actividade económica do empregador;
Dimensão da empresa;
Unidade local da empresa.
Caracterizar o acidente:
Localização geográfica;
Data;
Hora do acidente.
Caracterizar as consequências:
Tipo de lesão;
Parte do corpo atingida;
Dias de trabalho perdidos.
Variáveis estabelecidas para complementar a informação relativa às causas e
circunstâncias:
Posto de trabalho
Tipo de local;
Tipo de trabalho;
Contacto – Modalidade da lesão;
Agente material do Contacto – Modalidade da lesão;
Desvio;
Agente material do Desvio;
Actividade física específica;
Agente material da Actividade física específica.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
21
Embora esta metodologia já tenha sido desenvolvida há algum tempo, os trabalhos
envolvendo este método são ainda escassos, permitindo-nos assim uma grande área de
investigação. Dos vários trabalhos consultados, para além do elaborado pela UE (Causes and
Circumstances of accidents at work in the EU, 2009), podem-se destacar:
“Causas e Circunstâncias dos Acidentes de Trabalho em Portugal: Alguns factores
determinantes dos acidentes de trabalho nos sectores económicos com maior
densidade de emprego e maior incidência” (GEP & MTSS, 2007);
“Acidentes de trabalho com máquinas: consequências da adopção e implementação
de legislação comunitária relativa à integração de segurança na concepção de
máquinas e a utilização de equipamentos de trabalho” (Gomes, E., 2008);
“Análise estatística da sinistralidade laboral em dois sectores de actividade” (Salgueiro,
S., 2009);
“Análisis Cualitativo de la mortalidad por Accidente de Trabajo en España (2005-
2007)” (Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo, 2008);
Health and safety at work in Europe (1999-2007) – A statistical portrait (Eurostat &
Directorate-General for Employment Social Affairs and Inclusion, 2010);
“European Statistics on Accidents at Work (ESAW): Methodology (2001 Edition)”
(Eurostat, 2001);
“A survey on occupational accidents’ reporting and registration systems in the
European Union” (Jacinto & Aspinwall, 2004a);
“Accidents at work during temporary agency work in Finland – Comparisons between
certain major industries and other industries” (Hintikka, 2010);
“Constructing “core stories” for contributing practical safety actions in industrial units”
(Rajala & Väyrynen, 2010);
“Manual para la Investigación de Accidentes Laborales (2.ª Edición)” (Bengoetxea,
Garbizu, Casal, & Grupo CIE AUTOMOTIVE, 2005);
“Causes and circumstances of accidents at work in the EU” (European Commission,
Directorate-General for Employment, Social Affairs and Equal Opportunities, 2009);
“European Health and Safety at Work Statistics” (Eurostat, 2000).
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
22
O trabalho, “Causas e Circunstâncias dos Acidentes de Trabalho em Portugal” (GEP &
MTSS, 2007), centrou-se numa análise das causas que contribuem para a ocorrência de acidentes
(causa-efeito) em quatro sectores:
Pescas;
Indústrias Extractivas;
Indústrias Transformadoras:
Indústria Alimentar, Bebidas e Tabaco;
Indústria Metalúrgica de Base e Produtos Metálicos.
Construção.
Este trabalho centrou-se inicialmente na definição de um acidente típico. Acidente típico,
segundo os autores, é entendido como o tipo de acidente mais frequente, ou seja, o acidente mais
provável em cada sector de actividade distinto. É explicado por algumas variáveis definidas no EEAT
(Eurostat, 2001), nomeadamente o sexo e idade do sinistrado, o contacto – modalidade de lesão, o
agente material responsável pelo acidente, o desvio, o tipo de lesão e parte do corpo atingida,
permitindo assim identificar-se rapidamente a pessoa sinistrada e as consequências advenientes
desse acidente (GEP & MTSS, 2007).
Convém referir que devido ao estudo efectuado, tendo em vista a definição das medidas de
prevenção mais adequadas, muitas variáveis do método EEAT foram ignoradas, sendo apenas
utilizadas as variáveis: tipo de local; desvio; contacto – modalidade de lesão e agente material do
contacto.
Este trabalho centrou-se na análise estatística de duas variáveis, desvio e contacto, para os
acidentes mortais e não-mortais. Esta análise, obtida através do coeficiente R, utilizado por Chauvin
e Le Bouar, permite verificar o grau de dependência entre variáveis. Estes resultados, ou seja, a
demonstração das relações de dependência, são particularmente úteis para justificar certas
medidas e prioridades de intervenção (GEP & MTSS, 2007).
O trabalho, “Análise estatística da sinistralidade laboral em dois sectores de actividade”
(Salgueiro, 2009), baseado no trabalho “Causas e Circunstâncias dos Acidentes de Trabalho em
Portugal” (GEP & MTSS, 2007), apresenta algumas diferenças, nomeadamente na realização de
uma análise num subsector das Indústrias Transformadoras (Indústrias da Madeira e da Cortiça e
suas Obras). Estabelece também relações causa-efeito entre as variáveis contacto e desvio,
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
23
inicialmente através do coeficiente de R, e depois através da aplicação do coeficiente de Phi (φ). A
aplicação do coeficiente Phi (φ), embora seja um processo mais difícil e moroso que o coeficiente
R, confere maior liberdade na escolha do limites da “força” das relações (Salgueiro, 2009).
Finalmente, verificou-se a relação entre os acidentes envolvendo pessoas novas e mais idosas.
Rajala e Väyrynen (2010), no trabalho “Constructing ‘core stories’ for contributing practival
safety actions in industrial units”, através da aplicação do método Chain Analysis, desenvolvido por
Klen e Väyrynen, e com os dados obtidos através da aplicação de três variáveis do método EEAT
(Actividade física específica, desvio e contacto – modalidade de lesão), procederam à identificação
das relações entre as variáveis estudadas. Este estudo, semelhante ao elaborado pelo GEP e MTSS
(2007), permitiu aos autores afirmar que embora o método EEAT seja útil e prático, ainda é
necessário proceder à introdução de descrições de acidentes mais explícitas.
Jacinto e Aspinwall (2004a), bem como o Eurostat (2001), identificaram que o principal
problema do método EEAT está centrado na inclusão dos diversos tipos de acidente, e nos dados
recolhidos, visto existirem diversos métodos de recolha nos vários Estados-Membros.
Através da análise efectuada até ao momento presente, pode concluir-se que o método
EEAT traz vantagens, mas, também desvantagens. Embora o EEAT permita conhecer o acidente
com mais profundidade, permitindo assim identificar quais serão as melhores medidas de
prevenção a aplicar, possui a desvantagem de para ser totalmente implementado, exigir maiores
recursos humanos e financeiros para se proceder à investigação, além de que será necessário
proceder à alteração dos registos de acidentes, à notificação dos empregadores e respectivas
seguradoras, acarretando custos que muitos países, certamente, não terão interesse em suportar
(Jacinto & Aspinwall, 2004a).
3.5. Método de Investigação WAIT
O método de investigação WAIT, iniciado em 2003, é uma técnica de análise de acidentes de
trabalho proposta por Jacinto e Aspinwall. Este método surgiu devido ao desejo formulado por
diversos especialistas na área do estudo dos acidentes, de englobar na sua metodologia de análise
algumas das variáveis utilizadas no método EEAT (Eurostat, 2001), bem como o método da árvore
de falhas, não através da representação em diagramas, mas sim, através de tabelas (Jacinto e
Aspinwall, 2003).
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
24
Visto este método ser ainda recente, estando em constante actualização (vai passar a ser
designado por Registo, Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho (RIAAT)), existem poucos
trabalhos de investigação. Para além de livros que explicam o modo de aplicação do método, os
trabalhos encontrados foram:
WAIT (Part I) - Work Accidents Investigation Technique (WAIT) (Jacinto & Aspinwall,
2003);
WAIT (Part II) - Results of Application in Real Accidents (Jacinto & Aspinwall, 2004b);
WAIT (Part III) - Preliminary Validation Studies (Jacinto & Aspinwall, 2004c);
Causes of occupational accidents in the fishing sector in Portugal (Antão, Almeida,
Jacinto & Guedes Soares, 2007);
Incorporating Labour Inspectors' Requirements Into An Accident Investigation Method
(Katsakiori, Sakellaropoulos, Manatakis, Athanassiou, Goutsos, 2008);
Towards an evaluation of accident investigation methods in terms of their alignment
with accident causation models (Katsakiori, Sakellaropoulos & Manatakis, 2009);
Workplace and organisational factors in accident analysis within the Food Industry
(Jacinto, Canoa & Guedes Soares, 2008);
Acidentes de trabalho com máquinas: consequências da adopção e implementação de
legislação comunitária relativa à integração de segurança na concepção de máquinas e
a utilização de equipamentos de trabalho (Gomes, 2008).
A técnica de investigação WAIT, dividida em duas fases, é baseada no modelo de ”acidentes
organizacionais”, proposto por Reason em 1997, e na “análise do erro humano”, proposto por
Hollnagel, em 1998.
O modelo proposto por Reason, representado na figura 11, abrange a análise de três níveis
distintos, nomeadamente a organização, o espaço de trabalho e a pessoa. Segundo Jacinto e
Aspinwall (2003), o método tanto pode ser usado para explicar o modo como ocorreu o acidente, e
também, como ferramenta de análise. Seguindo as setas pretas, procede-se à identificação da
forma de ocorrência do acidente, enquanto seguindo as setas brancas se procede à investigação do
mesmo.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
25
Figura 11 – Modelo de “Acidentes Organizacionais” (adaptado de Jacinto, 2007).
O método de investigação WAIT, como se mencionou anteriormente, é dividido em duas
fases. Na 1.ª fase, designada por análise simplificada, identificam-se as falhas activas e os factores
que influenciararam a ocorrência do acidente, enquanto que a 2.ª fase (análise detalhada), fornece
às empresas uma ferramenta para identificar as oportunidades de melhoria nos Sistemas de Gestão
de Segurança e Saúde do Trabalho.
O trabalho elaborado por Gomes (2008), centrado numa análise de acidentes devido à
presença de máquinas, permitiu relacionar os resultados obtidos, com os métodos EEAT e WAIT
(retirados dos relatórios consultados na ACT), com a legislação em vigor no ano de realização do
projecto (2008). Através desta relação, procedeu-se ao estudo da eficácia, enquanto medida
preventiva, da implementação de legislação comunitária, legislação essa referente a máquinas e
equipamentos de trabalho.
Katsakiori et al. (2008; 2009) procederam ao estudo de diversos métodos de análise. O
objectivo era relacioná-los com as suas bases teóricas, e verificar a aplicabilidade e a informação
retirada através de cada método, de modo a indicar qual os melhores a serem aplicados, em
função, evidentemente, do tipo de estudo pretendido.
Segundo Katsakiori et al. (2008; 2009) o método de investigação WAIT apresenta vantagens
relativamente ao FTA, MORT, AEB, SCAT, TRIPOD e 3CA porque permite a identificação de
melhorias a serem introduzidas no sistema, tal como o método HSG245.
Unsafe
Local workplace factors
Organisational factors
Causation
Investigation
Defences - safety barriers
DangerHazards
Losses
Latentconditionpathways
The mainelements ofan accident
The whole systemproducing theaccident
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Revisão Bibliográfica
26
O FTA e 3CA, mais concretamente, não possuem esta função, apenas nos fornecem a
indicação de qual a zona onde ocorreu o acidente, ou seja, identificam a área responsável pelo
desenvolvimento que contribuiu para a ocorrência do acidente.
O método de investigação WAIT, criado por Jacinto e Aspinwall em 2003, é um método que
direcciona os investigadores para a descoberta dos aspectos positivos em cada um dos acidentes
que analisam, ou seja, cada acidente pode ser visto também como uma oportunidade de melhoria
dos sistemas de segurança (Jacinto & Aspinwall, 2003).
Segundo Jacinto e Aspinwall, pode ser utilizado em vários tipos de acidentes, quer se trate
de acidentes simples, quer complexos, sendo, no entanto, mais propício para aplicação em
ambientes industriais.
Para a verificação da fiabilidade e aplicabilidade do método, efectuou-se um estudo em que
os diversos utilizadores consideraram que, embora interessante e relativamente fácil de aplicar,
possuía a desvantagem de ser necessário um grande dispêndio de tempo para se efectuar a
codificação da informação, designadamente através das variáveis preconizadas no método proposto
pelo Eurostat (Jacinto & Aspinwall, 2003; Jacinto & Aspinwall, 2004b).
Segundo Jacinto e Aspinwall (2004b) o método de investigação WAIT é um método de
análise retrospectivo. Ou seja, tendo em atenção o tipo de acidente a estudar, o WAIT identifica
todos os acontecimentos relevantes que contribuíram para a ocorrência do mesmo, de modo a
poder aplicar-se o método em questão.
Embora este método apresente, também, vantagens, como qualquer outro método de
análise, possuiu inúmeras desvantagens. Jacinto e Aspinwall (2004c) identificaram-nas, consoante
as indicações retiradas do estudo efectuado.
Concluíram que o método possuiu a vantagem de identificar as falhas de gestão e
organização das empresas, e direcciona os analistas para efectuarem revisões nos Planos de
Segurança e Saúde (PSS). O uso do questionário-padrão, segundo os utilizadores, é considerado útil
na recolha de informação.
Como desvantagens, apresenta o inconveniente de requerer longas horas de treino (são
recomendadas 3-4 horas), não ser apropriado para pessoas que laborem sozinhas e não
fornecerem indicação sobre quais as falhas activas a serem incluídas na análise do acidente.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
27
4. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
Os acidentes de trabalho contribuem para a ocorrência de um elevado número de mortes,
independentemente do país em estudo. Assim, pretendeu-se delinear uma estratégia de
investigação, tendo como principal objectivo a definição da amostra a ser estudada, bem como os
métodos de análise a serem empregues.
4.1. Selecção e definição da amostra
Segundo o Decreto-Lei n.º 381/2007, de 14 de Novembro, as actividades económicas em Portugal
estão agrupadas nos seguintes sectores:
A. Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca;
B. Indústrias extractivas;
C. Indústrias transformadoras;
D. Electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio;
E. Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e
despoluição;
F. Construção;
G. Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos;
H. Transportes e armazenagem;
I. Alojamento, restauração e similares;
J. Actividades de informação e de comunicação;
K. Actividades financeiras e de seguros;
L. Actividades imobiliárias;
M. Actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares;
N. Actividades administrativas e dos serviços de apoio;
O. Administração Pública e defesa; segurança social obrigatória;
P. Educação;
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
28
Q. Actividades de saúde humana e apoio social;
R. Actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas;
S. Outras actividades de serviços;
T. Actividades das famílias empregadoras de pessoal doméstico e actividades de
produção das famílias para uso próprio;
U. Actividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais.
Assim, para a definição do sector a ser estudado e tendo em atenção o decreto-lei
anteriormente mencionado, procedeu-se a uma análise do número de ocorrências por sector de
actividade. Esta permitiu concluir que os dois principais sectores de actividade mais propensos a
ocorrências de acidentes de trabalho são o sector das Indústrias Transformadoras e o da
Construção, como se comprova pela figura 12.
Esta análise foi possível através dos dados fornecidos pelo Gabinete de Estratégia e
Planeanento (GEP) e pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT).
Figura 12 – Acidentes de trabalho mortais por Sector de Actividade (reproduzido da ACT, 2011).
Com esta informação, efectuou-se a análise do sector da Indústria da Construção, visto ser
a nossa zona de intervenção. Optou-se, também, pelo estudo dos acidentes de trabalho do tipo
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
29
quedas em altura, por ser, geralmente, o mais frequente e o que provoca lesões mais graves
(Figura 13).
Figura 13 – Causas de acidentes de trabalho mortais (reproduzido da ACT, 2011).
Para este estudo e, visando os objectivos propostos, nomeadamente a identificação do
sector mais atingido, de quais os factores que contribuem para a ocorrência dos tipos de acidente
mais frequentes, bem como das medidas de prevenção a adoptar, procedou-se à aplicação dos
seguintes métodos:
Pirâmide de Acidentes;
Árvore de Falhas (ou Causas);
Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho (Causas e Circunstâncias);
Método de Investigação WAIT.
Os dados utilizados na realização do trabalho de investigação foram obtidos através de
organismos governamentais, porquanto recebem informação das várias empresas portuguesas em
actividade e proporcionam assim um leque de dados fiáveis e mais alargado.
Assim, para a construção da pirâmide de acidentes, tendo em atenção a identificação do
sector mais atingido, bem como do tipo de acidente mais usual, optou-se por proceder à recolha
dos dados fornecidos pelo GEP. Estes dados são recolhidos, anualmente, pelas Companhias
Seguradoras. Posteriormente, elaborou-se um relatório que contém informação estatística sobre os
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
30
acidentes ocorridos. Para a obtenção dos dados inerentes ao estudo pretendido, efectuou-se uma
visita à sede do GEP, em Lisboa.
Na sede do GEP tomou-se conhecimento que todos os dados existentes se encontravam
armazenados no programa SPSS, já por eles classificados. Visto que um dos objectivos era ter
acesso aos relatórios fornecidos pelas Entidades Seguradoras, de modo a proceder à divisão e
classificação dos diversos tipos de acidentes, optou-se apenas por recolhê-los dos relatórios
elaborados por aquele organismo, nomeadamente “Acidentes de Trabalho”, relativos aos anos de
2005, 2006 e 2007.
Para a aplicação dos restantes três métodos, Árvore de Falhas, EEAT e WAIT, foram tidos
em conta os relatórios da ACT. Estes são elaborados sempre que ocorrem acidentes de trabalho
graves e mortais, a pedido de tribunais ou devido a divergências entre trabalhadores, entidades
empregadoras e entidades seguradoras. Na visita à sede da ACT em Lisboa, consultaram-se todos
os acidentes ocorridos em 2010, no sector da Indústria da Construção, do tipo quedas em altura.
Contudo, ao tentar proceder-se à recolha dos dados, como fotocópias para posterior análise, foi-nos
informado que isso não seria possível pois eram documentos confidenciais, não podendo, assim,
sair das instalações da ACT. Perante tal impossibilidade e, após conversa com o professor
orientador, efectuou-se apenas a recolha dos relatórios da Região Norte, elaborados durante os
primeiros seis meses de 2010. Estes acidentes encontravam-se arquivados na Delegação de Braga
da ACT, na altura sede da Região Norte (Tabela 1).
De entre os 128 acidentes analisados recolheu-se apenas a informação relativa aos
acidentes do tipo quedas em altura.
Tabela 1 – Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) – Região Norte
Designação Sede Concelhos
Unidade Local de Braga Braga
Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto,
Esposende, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira
do Minho, Vila Verde
Centro Local do Ave GuimarãesCelorico de Basto, Fafe, Guimarães, Vizela, Vila Nova
de Famalicão
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
31
Tabela 1 – Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) – Região Norte (continuação).
Designação Sede Concelhos
Centro Local do Nordeste
TransmontanoBragança
Alfandega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães,
Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros,
Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de
Moncorvo, Vila Flor, Vimioso, Vinhais
Centro Local do Grande
PortoPorto
Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa
de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde,
Vila Nova de Gaia
Unidade Local de Penafiel PenafielAmarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de
Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel
Centro Local de Entre
Douro e Vouga
São João
da Madeira
Arouca, Castelo de Paiva, Feira, Oliveira de Azemeis,
São João da Madeira, Vale do Cambra
Centro Local do Alto MinhoViana do
Castelo
Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção,
Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima,
Valença, Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira
Centro Local do Douro Vila Real
Alijó, Armamar, Boticas, Chaves, Cinfães, Lamego,
Mesão Frio, Moimenta da Beira, Mondim de Basto,
Montalegre, Murça, Penadono, Peso da Régua,
Resende, Ribeira da Pena, Sabrosa, Santa Marta de
Penaguião, São João da Pesqueira, Sernancelhe,
Tabuaço, Tarouca, Valpaços, Vila Nova de Foz Côa, Vila
Pouca de Aguiar, Vila Real
4.2. Métodos estatísticos utilizados para a análise do problema de investigação
Os métodos de análise, conforme foram apresentados anteriormente, são muito variados. Assim,
tendo em consideração os objectivos propostos, utilizaram-se os seguintes métodos: Pirâmide de
Acidentes, Árvore de Falhas/Causas, Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho (EEAT) e
Método de Investigação WAIT.
Seguidamente, apresenta-se uma breve descrição dos métodos utilizados.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
32
4.2.1. PIRÂMIDE DE ACIDENTES
A pirâmide de acidentes, desde a sua criação em 1931, por Heinrich, foi sofrendo alterações na
divisão dos acidentes, originada pelo aparecimento de novos trabalhos de investigação. Permitiu,
deste modo, obter relações entre os diversos tipos de acidentes ocorridos.
Para este trabalho, e com os diversos tipos de pirâmides existentes, conjugados com os
dados obtidos pelo GEP, optou-se pela divisão preconizada pelo método EEAT (representado na
figura 14), relativamente à classificação dos dias perdidos num acidente:
De 4 a 6 dias;
De 7 a 13 dias;
De 14 a 20 dias;
De 21 dias a menos de 1 mês;
De 1 a menos de 3 meses;
De 3 a menos de 6 meses;
Superior a 6 meses ou com Incapacidade Permanente;
Acidente mortal.
1. Acidente Mortal
2. Superior a 6 meses
3. De 3 a menos de 6 meses
4. De 1 a menos de 3 meses
5. De 21 dias a menos de 1 mês
6. De 14 a 20 dias
7. De 7 a 13 dias
8. De 4 a 6 dias
Figura 14 – Modelo esquemático da Pirâmide de Acidentes
Contudo, para a apresentação dos resultados referentes a cada sector de actividade, tendo
em consideração os dados obtidos pelo GEP, procedeu-se à alteração da pirâmide (figura 15),
nomeadamente:
1
2
3
4
5
6
7
8
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
33
1. Acidente Mortal
2. Superior a 6 meses
3. De mais de 3 a 6 meses
4. De 1 a 3 meses
5. Menos de 1 mês
6. Sem dias perdidos (Acidente SI, i.e., com
tratamento na empresa)
Figura 15 – Modelo simplificado da Pirâmide de Acidentes
Para os acidentes de trabalho mais usuais, segundo a classificação preconizada pelo EEAT,
ordenar-se-à os acidentes por ordem decrescente de ocorrência.
4.2.2. ÁRVORE DE FALHAS (OU CAUSAS)
A árvore de falhas, desenvolvida em 1961 pelos Laboratórios Bell Telephone, mais concretamente
por H. A. Watson, foi criada para, num sistema de trabalho organizado, descobrir quais são as
falhas críticas, latentes ou ocultas, visando uma melhoria dos postos de trabalho estudados.
A árvore de falhas baseia-se na identificação de todos os acontecimentos indesejáveis,
conjugados com os operadores booleanos, o que vai permitir identificar os acontecimentos básicos
que desencadearam o acidente e fornecer, ao mesmo tempo, indicação do ou dos sectores a
intervir de modo a reduzir ou eliminar os aspectos críticos.
Segundo Vesely et al. (1981), os símbolos que compõem uma Árvore de Falhas são os que
se apresentam na tabela 2.
1
2
3
4
5
6
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
34
Tabela 2 – Árvore de Falhas - Símbolos (Adaptado de Vesely et al., 1981)
Símbolo Designação
Acontecimento básico (não necessita de desenvolvimento posterior)
Acontecimento condicional (condições ou restrições específicas
aplicadas a cada operador lógico)
Acontecimento inconsequente ou com dados insuficientes para
desenvolvimento posterior
Acontecimento Externo (acontecimento habitual)
Acontecimento a desenvolver numa análise posterior
Operador OU (acontecimento ocorre quando no mínimo um
acontecimento anterior ocorre)
Operador E (acontecimento ocorre quando todos os acontecimentos
anteriores ocorrem)
Operador OU EXCLUSIVO (acontecimento ocorre apenas com um
acontecimento específico)
Operador E PRIORITÁRIO (acontecimento ocorre quando todos os
acontecimentos anteriores ocorrem numa determinada sequência)
Operador INHIBIT (acontecimento ocorre se um único acontecimento
ocorre na presença de um acontecimento condicional)
TRANSFER IN (indica que a árvore continua no TRANSFER OUT)
TRANSFER OUT (indica que a árvore deve ser ligada ao TRANSFER
IN)
4.2.3. ESTATÍSTICAS EUROPEIAS DE ACIDENTES DE TRABALHO
Este método de análise, iniciado em 1993 pelo Eurostat, tem como objectivo a harmonização dos
acidentes de trabalho nos diversos países das União Europeia e o estabelecimento de uma base de
comparação entre os mesmos.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
35
Visando esta premissa, o Eurostat (2001) procedeu à elaboração e validação do método de
análise. Este divide-se em três fases de implementação, compreendendo as variáveis apresentadas
na tabela 3.
Tabela 3 – EEAT: Variáveis
FASE I FASE II FASE III
Número do processo Dimensão da empresa Posto de trabalho
Actividade económica do empregador Nacionalidade Tipo de local
Ocupação do sinistrado Situação profissional Tipo de trabalho
Idade do sinistrado Dias perdidos Actividade física específica
Sexo do sinistrado Agente material da Actividade física específica
Tipo de lesão Desvio
Parte do corpo atingida Agente material do Desvio
Localização geográfica Contacto – Modalidade da lesão
Data do acidenteAgente material do Contacto – Modalidade da
lesão
Hora do acidente Ponderação4
As varíaveis introduzidas no método EEAT fornecem informação sobre:
1. Número do Processo
Apenas utilizado para consulta interna. Atribuição efectuada para se proceder à
distinção dos inúmeros processos, evitando, no entanto, o fornecimento de
informação sobre os intervenientes do acidente ocorrido (trabalhador, entidade
empregadora).
2. Actividade Económica do Empregador
Fornece indicação sobre a principal actividade exercida pelo empregador. Se
houver mais do que uma actividade, indica-se a que possui a maior parte da força
laboral da empresa.
3. Ocupação do Sinistrado
4. Idade do Sinistrado
Idade no dia do acidente.
5. Sexo do Sinistrado
6. Tipo de lesão
4 Neste trabalho não se apresenta uma descrição da variavel “Ponderação” devido à escassez de dados
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
36
Descreve as lesões advenientes do acidente.
7. Parte do corpo atingida
Descreve a parte do corpo que sofreu a lesão.
8. Localização geográfica
Caracteriza-se pela identificação do local do acidente.
9. Data do acidente
10. Hora do acidente
11. Dimensão da Empresa
Indica o número de trabalhadores afectos à entidade empregadora.
12. Nacionalidade
Caso possua mais que uma nacionalidade, usa-se a do país onde foi notificado o
acidente.
13. Situação Profissional
Fornece indicação sobre se o sinistrado é um trabalhador independente ou
dependente. Se for dependente, indica o tipo de contrato que possui, ou seja, se é
a tempo completo ou parcial, e se é efectivo ou a prazo.
14. Dias Perdidos
Contabiliza apenas os acidentes com ausência ao trabalho superior a 3 dias,
indicando o número de dias dispendidos para a recuperação (total ou parcial) do
acidente.
15. Posto de Trabalho
Indica o posto de trabalho do sinistrado, bem como se é permanente ou variável
(operário da construção) no momento do acidente.
16. Tipo de local
Indica o local de trabalho, ou seja, se era uma zona de construção, indústria, área
pública, entre outras.
17. Tipo de Trabalho
Tarefa executada pelo sinistrado no momento do acidente. Caracteriza-se pela
tarefa para o qual estava afecto, sendo por isso independente da actividade
profissional exercida ou da Actividade física específica, no momento do acidente.
18. Actividade física específica
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
37
Caracteriza-se pela tarefa executada pelo sinistrado no momento do acidente, ou
seja, não é a actividade profissional do sinistrado, mas sim o trabalho que estava
a ser executado. É exercida durante um espaço de tempo, curto ou prolongado.
19. Agente Material da Actividade física específica
Descreve a ferramenta, o objecto ou o instrumento utilizado no momento do
acidente, podendo ser, ou não, parte responsável na ocorrência do acidente.
20. Desvio
Caracteriza-se pelo acontecimento que provocou uma alteração na execução do
trabalho e que contribuiu para o acidente. Considera-se apenas o último
acontecimento desviante, ou seja, o mais próximo do contacto lesivo.
21. Agente Material do Desvio
Descreve a ferramenta, o objecto ou o instrumento que proporcionou a alteração
do processo de trabalho e provocou a ocorrência do acidente.
22. Contacto – Modalidade da lesão
Caracteriza-se pela descrição do meio que contribuiu para a lesão do sinistrado,
registando-se, no entanto, apenas o que conduziu à lesão mais gravosa.
23. Agente Material do Contacto – Modalidade da lesão
Descreve a ferramenta, o objecto ou o instrumento que motivou a lesão.
A introdução destas variáveis, como se observa na figura 16, permitiu obter uma
caracterização da empresa, da exposição, da organização, das condições de trabalho, do próprio
empregado, do local do trabalho, do sinistrado e do desenrolar dos acontecimentos. Todas estas
variáveis forneceram uma descrição do que contribuiu para a ocorrência do acidente, permitindo
assim uma análise mais pormenorizada do acidente e dando origem a medidas de protecção mais
eficazes.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
38
Figura 16 – EEAT: Modelo Esquemático
Empresa
•Actividade Económica
•Dimensão•Localização Geográfica
•Data e Hora do Acidente
Exposição
Organização
Condições de Trabalho
•Tipo de local
Empregado
•Profissão•Idade•Sexo•Nacionalidade•Situação Profissional
Local de Trabalho
•Tipo de trabalho
•Posto de trabalho
Desenrolar do Acontecimento
•Actividade Física Específica e Agente Material associado
•Desvio e Agente Material associado
•Contacto - Modalidade da lesão e Agente Material associado
Sinistrado
•Tipo de lesão
•Parte do corpo atingida
•Dias perdidos
Descrição do
Acidente
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
4.2.4. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO WAIT
O método de investigação WAIT (Work Accidents Investigation Technique) é um novo método de
análise desenvolvido por Jacinto e Aspinwall. Engloba muitos conceitos presentes em
métodos, nomeadamente o desenvolvido por Reason em 1990, «Modelo dos Acidentes
Organizacionais», e implementa algumas das varíaveis propostas pelo método EEAT.
O método WAIT, desenvolve
Este método divide-se em duas fases distintas. A 1ª fase designa
simplificada e a 2ª fase por investigação detalhada.
A 1ª fase pode ser executada apenas por uma pessoa e analisa apenas os factos
observáveis do acidente, ou seja, as causas e as circunstâncias que contribuiram para a ocorrência
Passo 1•Recolher informação
Passo 2•Identificar todas as falhas activas
Passo 3•Estabelecer os factores influenciadores
Passo 4•Usar resultados para rever e corrigir a análise de riscos (AR)
Passo 5•Analisar dos factores individuais e de trabalho
Passo 6•Analisar as condições organizacionais e de gestão
Passo 7•Relacionar os resultados com o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho
Passo 8•Fazer recomendações
Passo 9•Procurar factores de influência positiva
Quedas em Altura na Indústria da Construção
39
ÉTODO DE INVESTIGAÇÃO WAIT
O método de investigação WAIT (Work Accidents Investigation Technique) é um novo método de
análise desenvolvido por Jacinto e Aspinwall. Engloba muitos conceitos presentes em
métodos, nomeadamente o desenvolvido por Reason em 1990, «Modelo dos Acidentes
Organizacionais», e implementa algumas das varíaveis propostas pelo método EEAT.
O método WAIT, desenvolve-se segundo 9 passos, passos esses apresentados na figura
Figura 17 – WAIT: Fases
se em duas fases distintas. A 1ª fase designa
simplificada e a 2ª fase por investigação detalhada.
A 1ª fase pode ser executada apenas por uma pessoa e analisa apenas os factos
observáveis do acidente, ou seja, as causas e as circunstâncias que contribuiram para a ocorrência
Recolher informação
Identificar todas as falhas activas
Estabelecer os factores influenciadores
Usar resultados para rever e corrigir a análise de riscos (AR)
Analisar dos factores individuais e de trabalho
Analisar as condições organizacionais e de gestão
Relacionar os resultados com o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho
Fazer recomendações
Procurar factores de influência positiva
Metodologia de Investigação
O método de investigação WAIT (Work Accidents Investigation Technique) é um novo método de
análise desenvolvido por Jacinto e Aspinwall. Engloba muitos conceitos presentes em outros
métodos, nomeadamente o desenvolvido por Reason em 1990, «Modelo dos Acidentes
Organizacionais», e implementa algumas das varíaveis propostas pelo método EEAT.
se segundo 9 passos, passos esses apresentados na figura 17.
se em duas fases distintas. A 1ª fase designa-se por investigação
A 1ª fase pode ser executada apenas por uma pessoa e analisa apenas os factos
observáveis do acidente, ou seja, as causas e as circunstâncias que contribuiram para a ocorrência
Relacionar os resultados com o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Metodologia de Investigação
40
do mesmo. Esta fase, devido à existência de dados palpáveis, mais visíveis, diminui o risco de se
recolher informação que não tenha a ver com o acidente, evitando uma análise distorcida e irreal.
Nesta fase são identificadas as causas activas, ou seja, todos os acontecimentos que contribuiram
para o mesmo.
A 2ª fase, que visa uma análise mais detalhada, deverá ser executada por uma equipa. Tal
deve-se à necessidade de se eliminar os juízos de valor, através do conceito de “brainstorming”, e
indagar sobre as falhas que terão contribuído para o acidente, relativamente a questões de
organização e gestão da empresa.
Estas falhas, designadas por falhas latentes, apenas ocorrem em conjunto com as falhas
activas, sendo por isso elementos que contribuem activamente para o acidente, mas não são o
meio impulsionador que conduziu ao mesmo.
O método WAIT permite também auxiliar as empresas na formulação, ou aperfeiçoamento,
dos seus Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho.
Neste trabalho apenas se aplica a 1ª fase, de acordo com os relatórios recolhidos pela ACT.
Pretende-se verificar se o método é aplicável com os dados recolhidos, ou seja, sem ser aplicado
desde o início.
A 2ª fase não será aplicada, devido à inexistência de uma equipa, e também por não ser
um objectivo do trabalho proposto.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
41
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
5.1. Metodologias Utilizadas
Tiveram-se em atenção os dados recolhidos no GEP e na ACT, referentes aos acidentes de trabalho
do tipo quedas em altura no sector da Indústria da Construção. A apresentação e discussão dos
resultados obtidos têm em conta os seguintes métodos de análise:
Pirâmide de Acidentes;
Árvore de Falhas;
EEAT;
WAIT.
5.2. Pirâmide de Acidentes
Para a elaboração da pirâmide de acidentes recolheram-se os dados fornecidos pelo GEP nos
relatórios “Acidentes de Trabalho”, referentes ao triénio 2005 – 2007.
Apesar de o CAE (Classificação das Actividades Económicas) não ser o utilizado
actualmente (CAE Rev. 3.1), optou-se pela utilização dos dados destes anos de modo a possuirmos
uma base de dados mais abrangente, pois na altura da execução do projecto de investigação ainda
havia poucos relatórios efectuados com esta nova classificação.
Assim, com o auxílio dos dados fornecidos pelas Entidades Seguradoras, englobando os
trabalhadores a laborar em Portugal e no Estrangeiro, obteve-se, consoante a actividade económica,
o número de acidentes ocorridos, mortais e não mortais, bem como os dias de ausência em cada
sector de actividade. Na tabela 4 apresentam-se os acidentes de trabalho que provocaram ausência
ou não para o trabalho, já organizados segundo uma classificação semelhante à preconizada pelo
Eurostat.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
42
Tabela 4 – Número de acidentes de trabalho (mortais e não-mortais) nos diversos sectores de actividade, no triénio 2005 – 2007
CAE / Rev. 2.1 (Média 2005 - 2007)Total de
Acidentes
Acidente
Mortal
Superior a
6 meses
De mais de
3 a 6 meses
De 1 a 3
meses
Menos de
1 mês
Sem dias
perdidos
A Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 6244 20 292 389 1241 2984 1318
B Pesca 1713 9 48 100 311 775 469
C Indústrias extractivas 2030 4 89 130 337 1016 452
D Indústrias transformadoras 75571 49 2282 3246 10057 39232 20706
E Produção e distribuição de electricidade, gás e água 1160 2 43 52 163 570 330
F Construção 50217 99 2195 2734 8301 24916 11972
GComércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis,
motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico36327 27 1158 1690 5338 18506 9608
H Alojamento e restauração 11091 3 358 497 1698 5604 2931
I Transporte, armazenagem e comunicações 10182 31 458 623 1756 4796 2517
J Actividades financeiras 714 1 42 39 100 191 342
K Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 14952 17 459 726 2180 7113 4458
L Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 6788 6 198 328 1111 3335 1810
M Educação 1984 1 63 92 238 795 796
N Saúde e acção social 8524 1 253 361 1101 3442 3366
O Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 5324 3 208 283 836 2325 1668
PActividades das famílias com empregados domésticos e actividades
de produção das famílias para uso próprio681 1 46 69 163 245 158
Q Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 8 0 0 1 0 4 3
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
43
Tendo em atenção os dados indicados no quadro anterior, bem como a divisão da pirâmide
de acidentes apresentada no Ponto 4, obteve-se:
Figura 18 – Sector A: Agricultura, produção animal,
caça e silvicultura
Figura 19 – Sector B: Pesca
Figura 20 – Sector C: Indústrias extractivas Figura 21 – Sector D: Indústrias transformadoras
Figura 22 – Sector E: Produção e distribuição de
electricidade, gás e água
Figura 23 – Sector F: Construção
20
292
389
1241
2984
1318
9
48
100
311
775
469
4
89
130
337
1016
452
49
2282
3246
10057
39232
20706
2
43
52
163
570
330
99
2195
2734
8301
24916
11972
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
44
Figura 24 – Sector G: Comércio por grosso e a retalho;
reparação de veículos automóveis, motociclos e de
bens de uso pessoal e doméstico
Figura 25 – Sector H: Alojamento e restauração
(restaurantes e similares)
Figura 26 – Sector I: Transportes, armazenagem e
comunicações
Figura 27 – Sector J: Actividades financeiras
Figura 28 – Sector K: Actividades imobiliárias,
alugueres e serviços prestados às empresas
Figura 29 – Sector L: Administração Pública, defesa e
segurança social «obrigatória»
27
1158
1690
5338
18506
9608
3
358
497
1698
5604
2931
31
458
623
1756
4796
2517
1
42
39
100
191
342
17
459
726
2180
7113
4458
6
198
328
1111
3335
1810
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
45
Figura 30 – Sector M: Educação Figura 31 – Sector N: Saúde e acção social
Figura 32 – Sector O: Outras actividades de serviços
colectivos, sociais e pessoais
Figura 33 – Sector P: Actividades das famílias com
empregados domésticos e actividades de produção das
famílias para uso próprio
Na tabela 5 apresentam-se os rácios correspondentes a cada sector de actividade. Os rácios
caracterizam-se pelo número de acontecimentos/acidentes por acidentes de trabalho mortais.
Através da análise das tabelas 5 e 6 constata-se que o sector da Indústria da Construção
(1:252), embora não seja o mais gravoso, apresenta um elevado número de ocorrências sendo
apenas suplantado pelos sectores da:
Pesca (1:86);
Agricultura, produção animal, caça e silvicultura (1:149);
Transporte, armazenagem e comunicações (1:155);
Actividades financeiras (1:191);
1
63
92
238
795
796
1
253
361
1101
3442
3366
3
208
283
836
2325
1668
1
46
69
163
245
158
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
46
Actividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das
famílias para uso próprio (1:245).
Estes rácios, por exemplo, Pesca (1:86) ou Construção (1:252), foram obtidos a partir dos
dados fornecidos na tabela 4. Obtêm-se dividindo todas as parcelas (excepto a referente aos
acidentes totais), pelo número de acidentes mortais em cada sector de actividade.
Através da análise das pirâmides de acidentes atrás apresentas, referentes aos diversos
sectores de actividade analisados, verifica-se que na maior parte destes (A, B, C, D, E, F, G, H, I, K,
L, N, O e P), o patamar referente aos acidentes sem dias de trabalho perdidos apresenta menores
ocorrências que, por exemplo, de 1 a 30 dias.
Este tipo de pirâmide, que já tinha sido apresentado no trabalho “Causas e Circunstâncias
dos Acidentes de Trabalho em Portugal” (GEP & MTSS, 2007), pode ser explicado pela falta de
comunicação, devido à ausência de dados quer para o trabalhador quer para a entidade
empregadora. O acidente acontece, mas como não provocou danos físicos ou materiais, optou-se
pela sua exclusão.
Isto proporciona-nos uma ideia errada da realidade, visto que os acidentes sem
incapacidade acontecem com elevada frequência (seja devido a pequenos cortes, a perdas de
equilibrio, entre outros factores). Contudo, devido à definição de acidente de trabalho e de modo a
dar uma ideia que as condições de segurança são as ideais para laboração, presume-se que estes
acidentes são muitas vezes excluídos das participações. Se todos os acidentes sem incapacidade
fossem participados, as pirâmides dos sectores mencionados anteriormente (A, B, C, D, E, F, G, H,
I, K, L, M, N, O e P) seriam equivalentes ás pirâmides dos sectores J e M.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
47
Tabela 5 – Rácio dos acidentes de trabalho nos diversos sectores de actividade, no período 2005 - 2007
CAE / Rev. 2.1 (Média 2005 - 2007)Acidente
Mortal
Superior a
6 meses
De mais de 3 a
6 meses
De 1 a 3
meses
Menos de
1 mês
Sem dias
perdidos
A Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 1 15 19 62 149 66
B Pesca 1 5 11 35 86 52
C Indústrias extractivas 1 22 33 84 254 113
D Indústrias transformadoras 1 47 66 205 801 423
E Produção e distribuição de electricidade, gás e água 1 21 26 81 285 165
F Construção 1 22 28 84 252 121
GComércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de
bens de uso pessoal e doméstico1 43 63 198 685 356
H Alojamento e restauração 1 119 166 566 1868 977
I Transporte, armazenagem e comunicações 1 15 20 57 155 81
J Actividades financeiras 1 42 39 100 191 342
K Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 1 27 43 128 418 262
L Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 1 33 55 185 556 302
M Educação 1 63 92 238 795 796
N Saúde e acção social 1 253 361 1101 3442 3366
O Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 1 69 94 279 775 556
PActividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção
das famílias para uso próprio1 46 69 163 245 158
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
48
Tabela 6 – Ordem decrescente de gravidade na ocorrência de acidentes de trabalho, nos diversos sectores de
actividade, no triénio 2005 - 20075
Ordem Sector de actividade2º A. Agricultura, produção animal, caça e silvicultura1º B. Pesca7º C. Indústrias extractivas
14º D. Indústrias transformadoras8º E. Produção e distribuição de electricidade, gás e água6º F. Construção
11ºG. Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico
15º H. Alojamento e restauração3º I. Transporte, armazenagem e comunicações4º J. Actividades financeiras9º K. Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas
10º L. Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória»13º M. Educação16º N. Saúde e acção social12º O. Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais
5ºP. Actividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio
Contudo, estes dados obtidos anteriormente (Tabelas 5 e 6), fornecem-nos uma ideia
errada da realidade, em virtude de o número de trabalhadores existentes em cada sector de
actividade não ser igual. Por exemplo, nos sectores das “Indústrias Transformadoras” ou da
“Construção”, a existência de um elevado número de trabalhadores, conjugado com a existência de
tarefas perigosas, contribui para uma maior frequência de sinistros.
Através da análise da tabela 7, mostrada seguidamente, verifica-se que alguns sectores de
actividade apresentam um elevado número de acidentes, sendo de destacar os sectores: “Indústrias
Transformadoras”, “Construção”, “Comércio por Grosso e a Retalho” e as “Actividades
Imobiliárias”. Não obstante estes sectores serem mais favoráveis à ocorrência de acidentes devido à
existência de tarefas variadas, que obrigam o trabalhador a ser versátil mas o sujeita a mais
perigos, pode-se verificar através da observação da tabela 8, que a respectiva frequência é
relativamente baixa.
O facto de o número de acidentes, em alguns sectores de actividade, ser superior ao de
outros resulta, sobretudo, da diferença do número de trabalhadores afectos.
5 Obtida a partir da análise da tabela 5, relativamente à comparação dos acidentes que provocam ausência ao trabalho inferior a 1 mês (por cada acidente mortal), em cada sector de actividade.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
49
Tabela 7 – Acidentes de Trabalho totais e mortais, no triénio 2005 – 2007
Sector de ActividadeAcidentes
de TrabalhoAcidentes de
Trabalho MortaisA. Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 6244 20B. Pesca 1713 9C. Indústrias extractivas 2030 4D. Indústrias transformadoras 75571 49E. Produção e distribuição de electricidade, gás e água 1160 2F. Construção 50217 99G. Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico
36327 27
H. Alojamento e restauração 11091 3I. Transporte, armazenagem e comunicações 10182 31J. Actividades financeiras 714 1K. Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 14952 17L. Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 6788 6M. Educação 1984 1N. Saúde e acção social 8524 1O. Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 5324 3P. Actividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio
681 1
Tabela 8 – Percentagem de ocorrência de Acidentes Mortais, no triénio 2005 – 20076
Sector de Actividade %A. Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 0,32B. Pesca 0,54C. Indústrias extractivas 0,21D. Indústrias transformadoras 0,07E. Produção e distribuição de electricidade, gás e água 0,14F. Construção 0,20G. Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico
0,07
H. Alojamento e restauração 0,03I. Transporte, armazenagem e comunicações 0,31J. Actividades financeiras 0,09K. Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 0,12L. Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 0,08M. Educação 0,05N. Saúde e acção social 0,01O. Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 0,06P. Actividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio
0,15
Um exemplo de pirâmide a ser aplicada nas empresas encontra-se representada na figura
34.
6 Percentagem = (Acidentes mortais / Total de acidentes) x 100%
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Análise e Discussão de Resultados
50
1. Acidentes muito graves (ITA > 365 dias,
IPP, IPA ou mortais)
2. Acidentes graves (30 < ITA ≤ 365 dias)
3. Acidentes ccom gravidade reduzida (1 ≤
ITA ≤ 30 dias)
4. Acidentes sem incapacidade
5. Acidentes sem lesão
Figura 34 – Proposta de Pirâmide de Acidente
Esta pirâmide expressa mais a realidade das empresas, pois grande parte dos acidentes
não são participados – excepto os acidentes com ITA (1 a 30 dias), graves e mortais – obrigatórios
por lei.
A maior parte dos acidentes que provocam lesões, com ou sem incapacidade, são tratados,
na generalidade, nos serviços médicos da própria entidade empregadora, na medida em que uma
participação às Companhias Seguradoras iria provocar um aumento do prémio do seguro.
As acções de desvio mais usuais, através da análise da tabela 9 e da figura 35 são:
Perda, total ou parcial, de controlo da máquina, meio de transporte – equipamento de
movimentação, ferramenta manual, objecto, animal – Não especificado (12946);
Movimento do corpo sujeito a constrangimento físico (conduzindo geralmente a lesão
interna) – Não especificado (12018);
Escorregamento ou hesitação com queda, queda de pessoa – Não especificado
(10493).
1
2
3
4
5
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
51
Tabela 9 – Acidentes de trabalho, segundo a variável do Eurostat “Desvio”7
CAE / Rev. 2.1 (Média 2005 - 2007)Total de
Acidentes
Perda, total ou parcial, de controlo da máquina, meio de transporte – equipamento de movimentação, ferramenta
manual, objecto, animal – Não especificado
Escorregamento ou hesitação com queda, queda de
pessoa – Não especificado
Movimento do corpo não sujeito a
constrangimento físico (conduzindo geralmente a lesão
externa) – Não especificado
A Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 6244 2002 1528 633B Pesca 1713 476 346 278C Indústrias extractivas 2030 685 331 145D Indústrias transformadoras 75571 26228 8623 7943E Produção e distribuição de electricidade, gás e água 1160 243 207 141F Construção 50217 12946 10493 4659
GComércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico
36327 10286 5763 3779
H Alojamento e restauração 11091 3159 2638 1201I Transporte, armazenagem e comunicações 10182 2229 1810 1161J Actividades financeiras 714 79 264 79K Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 14952 3474 2994 1748L Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 6788 1523 1327 794M Educação 1984 266 550 262N Saúde e acção social 8524 1852 1904 919O Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 5324 920 1140 634
PActividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio
681 60 317 64
Q Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 8 1 3 1
7 Dados referentes aos cidadãos nacionais (Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira).
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52
Tabela 9 – Acidentes de trabalho, segundo a variável do Eurostat “Desvio” (continuação)
CAE / Rev. 2.1 (Média 2005 - 2007)Total de
Acidentes
Movimento do corpo sujeito a constrangimento físico
(conduzindo geralmente a lesão interna) – Não
especificado
Surpresa, susto, violência,
agressão, ameaça, presença – Não
especificado
Outro desvio não referido
nesta classificação
Nenhuma informação
A Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 3244 1016 91 6 221B Pesca 1713 402 21 4 47C Indústrias extractivas 2030 452 1 0 53D Indústrias transformadoras 75571 16374 123 84 2246E Produção e distribuição de electricidade, gás e água 1160 367 17 2 32F Construção 50217 12018 101 34 1464
GComércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico
36327 10405 130 37 1411
H Alojamento e restauração 11091 2342 44 9 390I Transporte, armazenagem e comunicações 10182 3133 156 440 382J Actividades financeiras 714 226 16 0 28K Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 14952 3730 178 29 507L Administração Pública, defesa e segurança social «obrigatória» 6788 2023 115 12 247M Educação 1984 574 67 1 94N Saúde e acção social 8524 2652 201 12 312O Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 5324 1747 170 3 246
PActividades das famílias com empregados domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio
681 163 5 0 32
Q Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 8 1 0 0 0
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Análise e Discussão de Resultados
53
Figura 35 – Acidentes de trabalho no sector da Indústria da Construção
249
4 7983 454
12 946
10 493
4 659
12 018
101 341 464
Desvio por problema eléctrico, explosão, incêndio – Não especificado
Desvio por transbordo, derrubamento, fuga, escoamento, vaporização, emissão – Não especificado
Ruptura, arrombamento, rebentamento, resvalamento, queda, desmoronamento de Agente material – Não especificado
Perda, total ou parcial, de controlo da máquina, meio de transporte – equipamento de movimentação, ferramenta manual, objecto, animal –Não especificadoEscorregamento ou hesitação com queda, queda de pessoa – Não especificado
Movimento do corpo não sujeito a constrangimento físico (conduzindo geralmente a lesão externa) – Não especificado
Movimento do corpo sujeito a constrangimento físico (conduzindo geralmente a lesão interna) – Não especificado
Surpresa, susto, violência, agressão, ameaça, presença – Não especificado
Outro desvio não referido nesta classificação
Nenhuma informação
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Análise e Discussão de Resultados
54
5.3. Árvore de Falhas
A árvore de falhas (ou causas) foi criada com o intuito de analisar as diversas etapas de um dado
sistema, permitindo assim controlar e definir quais os processos que serão sujeitos a controlo, de
modo a que todos os intervenientes laborem com as melhores condições de segurança.
É reconhecido que o sector da Indústria da Construção é um dos mais propensos à
ocorrência de acidentes de trabalho, nomeadamente, do tipo quedas em altura.
Tendo em consideração este facto, e através da análise dos relatórios de acidentes de
trabalho elaborados pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), procedeu-se à análise
dos acidentes em questão, tentanto obter-se os acontecimentos padrão que contribuíram para a
ocorrência desses mesmos.
Dos 128 acidentes analisados apenas 15 se enquadravam no objecto de estudo deste
trabalho, ou seja, pertenciam ao sector da Indústria da Construção e eram acidentes do tipo quedas
em altura.
Procedeu-se depois à elaboração das árvores de falhas para cada acidente em questão,
definindo-se, no final, uma árvore-tipo. Esta árvore-tipo contém os acontecimentos padrão mais
comuns, elucidando-nos sobre os parâmetros que devemos incidir, de modo a proporcionarmos aos
trabalhadores mais condições de segurança.
Finalmente, através da análise das diversas árvores de falhas efectuadas, optou-se pela
divisão dos acidentes em dois géneros:
Acidentes padrão do tipo “Queda em Altura de um andaime” (figura 36);
Acidentes padrão do tipo “Queda em Altura de em telhado” (figura 37).
Através da análise das figuras mencionadas anteriormente, pode-se concluir que ambos os
tipos de acidentes possuem um item em comum, ou seja, a má utilização ou ausências dos
equipamentos de protecção, tanto individuais como colectivos.
Relativamente aos outros itens, constatou-se que outra das razões que contribuem para a
ocorrência deste tipo de acidentes se deve, em alguns casos, à existência de predisposições
patológicas, como, por exemplo, tonturas, vertigens, anemia, quebras de tensão, entre outras,
podendo estas ser desconhecidas ou não.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
55
Figura 36 – Acidente padrão do tipo “Queda em Altura de um andaime”.
E
OU
Doença súbita
OU
Escorregamento /Hesitação /
Perda do equilíbrio
Queda deandaime
OU
Ausência/Não utilizaçãode equipamentos deProtecção Individual
e/ou Protecção Colectiva
Má organização /Coordenação do trabalho
Ausência / Minimizaçãode investimento em SST
Patologiadesconhecida
Predisposiçãopatológica
DistracçãoMomentânea
OU
OU
Ausência decomunicação entre
Ausência decomunicação com o
trabalhador e chefiaCoordenador de SSTe/ou do(s) técnico(s)
de SST
Deficienteprogramação
Formaçãoinsuficiente
do trabalho
Desconhecimentodos perigos
Razõeseconómicas
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Análise e Discussão de Resultados
56
Figura 37 – Acidente padrão do tipo “Queda em Altura de um telhado”.
OU
Quebra de Chapa / Telha
E
OU
Ausência/Não utilizaçãode equipamentos deProtecção Individual
e/ou Protecção Colectiva
Má organização /Coordenação do trabalho
OU
Ausência / Minimizaçãode investimento em SST
OU
Queda detelhado
Peso excessivo Desgaste
Ausência decomunicação entre
Ausência decomunicação com o
trabalhador e chefiaCoordenador de SSTe/ou do(s) técnico(s)
de SST
Deficienteprogramação
Formaçãoinsuficiente
do trabalho
Desconhecimentodos perigos
Razõeseconómicas
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
57
Optou-se pela divisão dos acidentes do tipo queda em altura em queda de andaime e queda
de telhado. Embora no acidente do tipo queda em altura de telhado se possam também considerar
factores humanos (distracção, escorregamento, hesitação), optou-se por destacar as causas
materiais. Tais acidentes verificam-se, muitas vezes, devido à ausência de manutenção dos
materiais e dos equipamentos.
Em Portugal, todos os trabalhadores, aquando do seu ingresso numa empresa, estão
obrigados à realização periódica de exames médicos. Segundo a Lei n.º 102/2009, de 10 de
Setembro, que regulamenta o “Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho”,
as entidades empregadoras estão obrigadas a sujeitar os trabalhadores a exames médicos nas
seguintes situações:
“Artigo 108.º
Exames de Saúde
1. O empregador deve promover a realização de exames de saúde adequados a comprovar e
avaliar a aptidão física e psíquica do trabalhador para o exercício da actividade, bem como a
repercussão desta e das condições em que é prestada na saúde do mesmo.
2. As consultas de vigilância da saúde devem ser efectuadas por médico que reúna os requisitos
previstos no artigo 103.º
3. Sem prejuízo do disposto em legislação especial, devem ser realizados os seguintes exames de
saúde:
a. Exames de admissão, antes do início da prestação de trabalho ou, se a urgência da
admissão o justificar, nos 15 dias seguintes;
b. Exames periódicos, anuais, para os menores e para os trabalhadores com idade superior
a 50 anos, e de 2 em 2 anos para os restantes trabalhadores;
c. Exames ocasionais, sempre que haja alterações substanciais nos componentes materiais
de trabalho que possam ter repercussão nociva na saúde do trabalhador, bem como no
caso de regresso ao trabalho depois de uma ausência superior a 30 dias por motivo de
doença ou acidente.
4. O médico do trabalho, face ao estado de saúde do trabalhador e aos resultados da prevenção
dos riscos profissionais na empresa, pode aumentar ou reduzir a periodicidade dos exames
previstos no número anterior.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
58
5. O médico do trabalho deve ter em consideração o resultado de exames a que o trabalhador
tenha sido submentido e que mantenham actualidade, devendo instituir a cooperação
necessária com o médico assistente.
6. Constitui contra-ordenação grave a violação do disposto nos n.ºs 1 e 3, bem como a utilização
de serviço de médico não habilitado nos termos do artido 103.º, imputável ao empregador.”
Através da análise do art.º 108, da Lei n.º 102/2009, constata-se que, sempre que o
médico de trabalho verifica que o trabalhador não se encontra nas melhores condições para laborar,
a periodicidade dos exames a ser realizados aumenta. Assim, uma das alterações a propor seria a
realização de, por exemplo, exames semestrais ou trimestrais. Isto permitiria um maior controlo da
entidade empregadora sobre as aptidões físicas do trabalhador, visto que no dia-a-dia o trabalhador
é sujeito a inúmeros factores externos (físicos e psicológicos), que originam uma deterioração das
capacidades, físicas e psiquicas, do mesmo.
Esta medida permitiria um controlo médico muito mais fiável, apenas suplantado se os
trabalhadores realizassem exames antes da execução de cada trabalho. Contudo, esta solução não
é possivel, visto que implicaria um enorme dispêndio de tempo na realização dos exames médicos,
retirando assim o trabalhador das funções para que foi contratado.
Constata-se também que, uma das causas que contribui para a ocorrência de acidentes se
deve à inexistência ou má utilização dos equipamentos de protecção, individuais ou colectivos.
Contudo, a falta e a má utilização dos equipamentos de protecção, como se verifica através
da análise das figuras 36 e 37, deve-se a inúmeros outros factores, todos relacionados entre si.
Uma das razões – má formação dos trabalhadores – poder-se-ia evitar com acções de formação
específicas para os trabalhos em questão, devendo sempre ser realizadas antes da execução de
cada tarefa, de modo a informar ou relembrar os trabalhadores dos vários perigos existentes para
cada trabalho. Estas formações devem ser sempre realizadas, mesmo que o trabalhador dê provas
de que já possui os conhecimentos necessários. Esta acção pretende alertá-lo e tentar prevenir
excessos de confiança, que conduzem, na maior parte dos casos, a acidentes graves.
A entidade empregadora deve manter-se actualizada relativamente às novas medidas de
protecção. A segurança é um aspecto fulcral na actualidade e novos equipamentos estão
constantemente a ser fabricados e validados. Embora isto implique uma maior capacidade
financeira por parte das entidades empregadoras, estudos efectuados anteriormente comprovam
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
59
que laborando com melhores condições de segurança, se obtêm uma redução do número de
acidentes, originando assim ambientes e postos de trabalho mais seguros.
Outra das causas que contribui para a ocorrência de acidentes prende-se com a falta de
programação dos trabalhos, bem como com a falta de comunicação das chefias com os
trabalhadores. Os trabalhos deveriam ser programados diariamente, em conjunto com as chefias,
técnicos de SHT e representantes dos próprios trabalhadores. Deste modo, conseguir-se-ia efectuar
avaliações de risco mais fiáveis, pois que, na maior parte dos casos, os técnicos de SHT necessitam
da ajuda dos próprios trabalhadores na procura das melhores soluções preventivas ou correctivas.
Isto permitiria uma melhor compreensão dos perigos reais, bem como dos equipamentos de
protecção a serem utilizados, consoante a tarefa em questão.
5.4. Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho
O método “Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho”, proposto pelo Eurostat em 2001,
possuiu como objectivo primordial a harmonização da recolha e classificação dos acidentes de
trabalho entre os países membros da União Europeia.
Segundo o Eurostat (2001), este método deve ser implementado em 3 fases distintas, de
modo a que todos os países, mesmo os que não possuissem sistemas de classificação de acidentes
muito desenvolvidos sejam capazes de o utilizar. Na tabela 10 apresentam-se as respectivas fases,
bem como as variáveis aplicadas em cada uma.
Tabela 10 – Método EEAT (Fases e Variáveis)
1.ª Fase 2.ª Fase 3.ª Fase
Número do ProcessoDimensão da
empresaPosto de trabalho
Actividade Económica do Empregador
Nacionalidade Ambiente de trabalho
Profissão da vitimaSituação
profissionalTipo de trabalho
Idade da vitima Dias perdidos Actividade física específica
Sexo do sinistradoAgente material da Actividade
física específicaTipo de lesão Desvio
Parte do corpo atingida Agente material do DesvioLocalização geográfica do
acidenteContacto – Modalidade de
lesão
Data do acidenteAgente material do Contacto
– Modalidade de lesãoHora do acidente
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
60
Na fase 1 e 2, como se verifica na tabela 10, obtemos informação sobre a empresa, o
trabalhador sinistrado e as consequências do acidente.
A actividade económica do empregador e a dimensão da empresa permite-nos identificar o
empregador consoante os vários sectores de actividade existentes, bem como se é uma
microempresa (< 10 trabalhadores), pequena empresa (10 ≤ n.º trabalhadores < 50), média
empresa (50 ≤ n.º trabalhadores < 250) ou uma grande empresa.
A ocupação da vítima, a idade, o sexo, a nacionalidade e a situação profissional permite-nos
caracterizar o trabalhador.
A localização geográfica, a data, a hora e os dias perdidos permite-nos caracterizar o
acidente.
As variáveis da 3ª fase, apresentam-se mais adiante, visto serem um dos principais
objectivos do estudo desenvolvido.
Para a aplicação do método EEAT utilizaram-se os relatórios de acidentes de trabalho
elaborados pela ACT durante um espaço temporal de 6 meses, e arquivados na Delegação de
Braga. Dos 128 acidentes, procedeu-se apenas à análise dos acidentes que pertenciam ao sector
da Indústria da Construção e que eram acidentes do tipo quedas em altura. A totalidade de
acidentes que abrangia estes dois pontos foi de 15.
Idealmente, uma amostra deveria ser composta no mínimo por 30 participações. Contudo,
como o objectivo do estudo não era o de quantificar o tipo de acidentes (análise quantitativa), mas
verificar se o método em questão erá fiável e fácil de aplicar (análise qualitativa), admitiu-se, como
aceitável, o facto de a dimensão da amostra ser inferior a 30.
Da análise dos acidentes recolhidos na ACT, através da aplicação preconizada pelo Eurostat
obtiveram-se os resultados apresentados na tabela 11.
No trabalho “Causas e Circunstâncias dos Acidentes de Trabalho em Portugal – Alguns
factores determinantes dos acidentes de trabalho nos sectores económicos com maior densidade
de emprego e maior incidência”, elaborado pelo grupo de Segurança, Fiabilidade e Manutenção da
Universidade de Engenharia e Tecnologia Naval (UETN), sob a coordenação do GEP, em 2007,
identificou-se que o acidente típico, neste caso dois, no sector da indústria da Construção era
caracterizado por:
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
61
“...que aconteceu a um homem (98%), na faixa etária dos 25-34 anos (29%) ou dos 35-
44 anos (28%). Aparentemente podem considerar-se dois acidentes típicos:
um deles envolve queda/embate (28%) contra o solo (21%), causado por
escorregamento ou hesitação com queda (23%). O segundo envolve uma pancada
(26%) por materiais e/ou componentes de máquina (33%), possivelmente causado por
perda de controlo de algo – máquina, equipamento, objecto, etc. (25%). Em qualquer
dos casos resultam feridas e lesões superficiais (45%), maioritariamente nas
extremidades superiores (30%).”
Celeste Jacinto, Tiago Almeida, Pedro Antão e C. Guedes Soares (2007)
Neste trabalho não foi identificado qual o acidente típico, visto a amostra ser pequena e o
acidente em questão ser a queda em altura, verificando-se que o desvio e o contacto – modalidade
de lesão são sempre os mesmos.
O objectivo primordial do EEAT é o de harmonizar a classificação dos acidentes de trabalho
que provoquem uma ausência ao trabalho superior a três dias, em todos os países membros
(Eurostat, 2001; Rajala & Vayrynen, 2010).
O EEAT surgiu devido a recomendações efectuadas na 16ª Conferência sobre Estatísticas
Laborais. Esta conferência, realizada em 1998, onde se debateram estatísticas referentes a
acidentes de trabalho, propôs a criação de um sistema de análise estatístico, onde algumas
variáveis já estavam definidas e outras eram aconselhadas. De entre essas variáveis, algumas
ficavam à escolha dos países relativamente à sua eventual aplicação (OIT, 1998).
O principal objectivo desta conferência era a criação de um sistema de análise que
permitesse a compreensão dos acidentes de trabalho verificados, de modo a obter-se informação
necessária á adopção de medidas preventivas eficazes (OIT,1998).
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
62
Tabela 11 – Análise dos acidentes segundo o EEAT
VariáveisNúmero do Processo
20090000001 20080000002 20090000003 20090000004 20100000005 20100000006 20100000007 20100000008
Actividade Económica do Empregador
F 45.21 F 45.21 F 45.31 F 45.44 F 45 F 45.43 F 45.21 F 45.21
Profissão da vitima 93 93 93 93 93 93 93 93
Idade da vitima 99 55 26 39 43 51 38 32
Sexo do sinistrado 1 1 1 1 1 1 1 1
Tipo de lesão 051 120 120 051 000 052 052 051
Parte do corpo atingida 11 48 00 11 39 78 78 11
Localização geográfica do acidente
PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110
Data do acidente 20090131 20080321 20090302 20091124 20100121 20100128 20100201 20100505
Hora do acidente 15 09 10 15 13 10 16 15
Dimensão da empresa 1 1 2 1 9 3 9 1
Nacionalidade 1 1 1 1 1 1 1 1
Situação profissional 311 311 500 311 311 311 311 311
Dias perdidos 000 997 A06 998 000 998 000 999
Posto de trabalho 2 2 2 2 2 2 2 2
Ambiente de trabalho 021 021 021 022 021 021 021 021
Tipo de trabalho 51 51 52 52 51 53 51 51
Actividade física específica 70 43 61 00 61 41 41 61
Agente material da Actividade física específica
00.02 02.03 00.02 00.02 00.02 00.02 06.12 02.03
Desvio 51 51 51 51 51 51 51 51
Agente material do Desvio 02.01 02.03 02.01 02.01 02.01 09.03 14.01 02.01
Contacto – Modalidade de lesão
31 31 31 31 31 31 31 31
Agente material do Contacto – Modalidade de lesão
01.02 01.02 01.02 01.02 01.02 01.02 01.02 01.02
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
63
Tabela 11 – Análise dos acidentes segundo o EEAT (continuação)
VariáveisNúmero do Processo
20100000009 20100000010 20100000011 20100000012 20100000013 20100000014 20100000015
Actividade Económica do Empregador
F 45 F 45.21 F 45 F 45.21 F 45.21 F 45 F 45.45
Profissão da vitima 93 93 93 93 93 93 93
Idade da vitima 35 45 45 54 36 26 34
Sexo do sinistrado 1 1 1 1 1 1 1
Tipo de lesão 000 000 000 051 000 000 120
Parte do corpo atingida 00 00 00 11 00 00 78
Localização geográfica do acidente
PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110 PT 110
Data do acidente 20100201 20100521 20100804 20100706 20100805 20100212 20100724
Hora do acidente 99 10 99 99 19 99 16
Dimensão da empresa 9 9 9 1 3 9 9
Nacionalidade 1 1 1 1 3 1 1
Situação profissional 000 311 000 000 311 000 311
Dias perdidos 999 999 999 998 998 998 998
Posto de trabalho 2 2 2 2 2 2 2
Ambiente de trabalho 021 021 021 021 021 022 022
Tipo de trabalho 61 51 51 51 51 52 52
Actividade física específica 61 21 21 41 41 61 61
Agente material da Actividade física específica
16.03 09.03 00.02 00.02 00.02 14.01 14.01
Desvio 51 51 51 51 51 51 51
Agente material do Desvio 00.02 02.05 00.02 00.02 00.02 14.01 14.01
Contacto – Modalidade de lesão 31 31 31 31 31 31 31
Agente material do Contacto –Modalidade de lesão
01.02 01.02 01.02 01.02 01.02 01.02 01.02
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
64
Os dados estatísticos recolhidos permitem obter informação sobre (OIT, 1998):
Quais os sectores de actividade e ocupações onde os acidentes são mais frequentes;
Os riscos a que estão sujeitos, empregadores e trabalhadores, de modo a serem mais
activos na implementação das medidas de protecção;
Quais as consequências dos acidentes, em termos de dias perdidos;
Fornece informação necessária para o desenvolvimento de materiais e sistemas de
segurança;
............;
Estes são apenas alguns dos objectivos a que a 16ª Conferência se propunha atingir.
Ainda, segundo a OIT (1998), os países da União Europeia deveriam desenvolver métodos
que permitissem a recolha de dados sobre:
Informação obrigatória:
Informação sobre a Empresa, estabelecimento ou unidade local:
Localização;
Actividade económica;
Tamanho (número de trabalhadores).
Informação sobre o sinistrado:
Sexo;
Idade;
Profissão;
Situação Profissional.
Informação sobre a lesão:
Se é fatal ou não;
Tipo de lesão;
Parte do corpo atingida.
Informação sobre o accidente e as circunstâncias:
Localização do acidente (se é ou não o local de trabalho habitual);
Data e hora do acidente;
Modo de lesão;
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Análise e Discussão de Resultados
65
Agente material que provocou a lesão (deve ser registado apenas o que
provocou a lesão mais grave)
Informação opcional (dependente do país):
Informação sobre a lesão:
Incapacidade para o trabalho expressa em dias de trabalho perdidos (dias
de calendário).
Informação sobre o acidente e as circunstâncias:
Início do trabalho e as horas trabalhadas pelo sinistrado;
Número total de trabalhadores lesionados no acidente;
Local de ocorrência do acidente;
Tipo de trabalho a ser realizado quando ocorreu o acicente;
Actividade específica do sinistrado no momento do acidente;
Agente material associado à actividade específica do sinistrado;
Acontecimento que contribuiu para a ocorrência do acidente (desvio);
Agente material associado ao desvio.
Na tabela 12 apresentam-se as variáveis utilizadas nos dois métodos, o OIT e o EEAT,
dando indicação de quais as obrigatórias e quais as opcionais.
Tabela 12 – OIT (1998) e EEAT (2001): Variáveis
Variáveis OIT (1998) EEAT (2001)Número do processo Sem referência ObrigatórioActividade económica do empregador Obrigatório ObrigatórioProfissão da vítima Obrigatório ObrigatórioIdade da vítima Obrigatório ObrigatórioSexo da vítima Obrigatório ObrigatórioTipo de lesão Obrigatório ObrigatórioParte do corpo lesionada Obrigatório ObrigatórioLocalização geográfica do acidente Obrigatório ObrigatórioData do acidente Obrigatório ObrigatórioHora do acidente Obrigatório ObrigatórioDimensão da empresa Obrigatório ObrigatórioNacionalidade da vítima Sem referência ObrigatórioSituação profissional da vítima Obrigatório ObrigatórioDias perdidos Opcional ObrigatórioPosto de trabalho Opcional ObrigatórioAmbiente de trabalho Sem referência ObrigatórioTipo de trabalho Opcional Obrigatório
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Análise e Discussão de Resultados
66
Tabela 12 – OIT (1998) e EEAT (2001): Variáveis (continuação)
Variáveis OIT (1998) EEAT (2001)
Actividade física específica Opcional Obrigatório
Agente material da Actividade física específica Opcional Obrigatório
Desvio Opcional Obrigatório
Agente material do Desvio Opcional Obrigatório
Contacto – Modalidade de lesão Obrigatório Obrigatório
Agente material do Contacto – Modalidade de lesão Obrigatório Obrigatório
Localização do empregador Obrigatório Sem referência
Gravidade do acidente Obrigatório Incluído nos dias perdidos
Começo do trabalho e horas trabalhadas Opcional Sem referência
Número total de trabalhadores lesionados Opcional Cada trabalhador é um caso isolado
Como se pode constatar através da observação da tabela 12, a 1ª e 2ª fase do EEAT
englobam muitas das variáveis preconizadas no método proposto pela OIT, em 1998. A maior
diferença do EEAT é que agora, na 3ª fase de implementação, muitas das variáveis que a OIT
aconselhava aos países para procederem à recolha de informação são agora obrigatórias. Contudo,
nem todas estas variáveis propostas na 3ª fase são obrigatórias, ficando à escolha do país quais as
que quer incluir nos seus sistemas de análise nacionais.
O Eurostat, na 3ª fase, considera 4 variáveis prioritárias. Cada país, consoante os objectivos
a que se propõe, deve escolher de entre as seguintes variáveis (Eurostat, 2001, p. 32):
Ambiente de trabalho, Tipo de trabalho ou Actividade física específica (1 das 3);
Desvio;
Contacto – Modalidade de lesão;
Agente material do Desvio ou Agente material do Contacto – Modalidade de lesão (1
das 2).
Contudo, de modo a fornecer a maior informação possível à Comissão Europeia, deve ser
feito o uso das 9 variáveis propostas na 3º fase (Posto de trabalho, Ambiente de trabalho, Tipo de
Trabalho, Actividade física específica, Desvio, Contacto – Modalidade de lesão e Agente material da
Actividade física específica, Desvio e Contacto – Modalidade de lesão) (Eurostat, 2001, p. 32).
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Análise e Discussão de Resultados
67
Como se verificou na tabela 12, são 23 as variáveis preconizadas no método EEAT,
nomeadamente:
Número do processo;
Actividade económica do empregador;
Profissão da vítima;
Idade da vítima;
Sexo da vítima;
Tipo de lesão;
Parte do corpo lesionada;
Localização geográfica do acidente;
Data do acidente;
Hora do acidente;
Dimensão da empresa;
Nacionalidade da vítima;
Situação profissional da vítima;
Dias perdidos;
Posto de trabalho;
Ambiente de trabalho;
Tipo de trabalho;
Actividade física especifica;
Agente material da Actividade física específica;
Desvio;
Agente material do Desvio;
Contacto – Modalidade de lesão;
Agente material do Contacto – Modalidade de lesão.
Destas variáveis, optou-se apenas por apresentar algumas, na óptica do interesse do
trabalho de investigação efectuado.
O número de processo no método EEAT diz respeito ao acidente de trabalho ocorrido.
Independentemente do trabalhador, ou seja, pode ter tido um ou mais acidentes, o número do
processo faz apenas referência a um acidente específico. Cada número de processo representa um
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Análise e Discussão de Resultados
68
acidente. No método proposto pela OIT não existia um número de processo explicito, apesar de
tanto neste como no EEAT se observarem os mesmos fundamentos, ou seja, 1 acidente = 1
participação.
A actividade económica do empregador é harmonizada no EEAT. Segundo Jacinto e
Aspinwall (2004a) a actividade económica do empregador não era idêntica em todos os países
membros. De facto, uns usavam a International Standard Industrial Classification (ISIC), outros o
NACE Rev.2, enquanto alguns deles usavam as suas próprias classificações. Uma das vantagens do
método EEAT, como se propunha, é que uniformizava a classificação das actividades económicas
em todos os países membros.
O NACE, utilizado na realização do projecto de investigação, foi o NACE Rev.1, visto ser o
utilizado quando o método foi desenvolvido. Actualmente, já está em vigor o NACE Rev.2, mas como
não iria alterar significativamente o trabalho optou-se pela classificação segundo o NACE Rev.1
Nas tabelas 13 e 14 apresentam-se, respectivamente, o sector da Indústria da Construção
segundo o NACE Rev.1 e NACE Rev.2.
A variável actividade económica do empregador fornece-nos uma ideia clara da actividade
principal do sinistrado. Com a revisão do NACE Rev.1 para NACE Rev.2, as divisões, no caso
especifico do sector da Indústria da Construção, encontram-se muito mais delimitadas, podendo
assim agrupar-se os diversos tipos de trabalho que este sector possuiu em categorias bem
diferenciadas.
A variável relativa á ocupação da vítima, embora já apresente um base comum, ainda não
foi aceite por todos os Estados Membros. Segundo Jacinto e Aspinwall (2004), a França considera
esta classificação pouco explicita enquanto o Reino Unido prefere utilizar a sua própria classificação,
proposta pela HSE (Health and Safety Executive), que fornece indicação sobre a profissão dos
trabalhadores envolvidos no acidente.
A variável “tipo de lesão”, no método EEAT é semelhante à utilizada no OIT de 1962,
designada por “Classificação dos acidentes industriais de acordo com a natureza da lesão”. O EEAT
utiliza a classificação utilizada no OIT (1998), desenvolvida a partir do OIT (1962).
O EEAT apresenta a vantagem de a classificação utilizada ser mais detalhada do que a
utilizada no OIT de 1998, obtendo-se assim uma melhor classificação do tipo de acidente. Contudo,
visto ter uma classificação mais detalhada, muitas vezes acaba por originar problemas, devido ao
tipo de acidente. Se um acidente provocar lesões que estão classificadas em dois pontos distintos,
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Análise e Discussão de Resultados
69
técnicos de SHT inexperientes ficam na dúvida sobre qual o sítio para classificar. Embora o método
preconize a utilização de lesões múltiplas, isso fica sempre ao critério da pessoa que o classifica.
Quanto maior a experiência maior será o seu poder de decisão. Apresenta a desvantagem de não
poder ser aplicado por pessoas sem nenhum conhecimento do método, visto que se existir uma
lesão em dois sítios diferentes, em principio, ficará com dúvidas sobre a classificação a utilizar.
Tabela 13 – Sector da Indústria da Construção (NACE Rev.1)
Section F Construction (NACE Rev.1)45 Construction
45.1 Site preparation45.11 Demolition and wrecking of buildings; earth moving45.12 Test drilling and boring
45.2 Building of complete constructions or parts thereof; civil engineering45.21 General construction of buildings and civil engineering works45.22 Erection of roof covering and frames45.23 Construction of highways, roads, airfields and sport facilities45.24 Construction of water projects45.25 Other construction work involving special trades
45.3 Building installation45.31 Installation of electrical wiring and fittings45.32 Insulation work activities45.33 Plumbing45.34 Other building installation
45.4 Building completion45.41 Plastering45.42 Joinery installation45.43 Floor and wall covering45.44 Painting and glazing45.45 Other building completion
45.5 Renting of construction or demolition equipment with operator45.50 Renting of construction or demolition equipment with operator
A variável “Parte do corpo atingida”, no método EEAT é semelhante à utilizada na OIT de
1962, designada por “Classificação dos acidentes industriais de acordo com a localização da
lesão”. O EEAT utiliza a classificação da OIT (1998), desenvolvida a partir da OIT (1962).
A utilizada no EEAT é baseada na da OIT (1998), mas mais simplificada. Apresenta a
desvantagem de não possuir uma classificação detalhada, nem de permitir classificar segundo a
localização do membro. Além da OIT (1998) possuir uma classificação mais detalhada consoante a
localização do acidente, ainda permite identificar se o acidente ocorreu no lado direito, esquerdo ou
em ambos. A classificação proposta pelo OIT (1962), desenvolvida com mais pormenor em 1998, é
mais detalhada do que a proposta pelo EEAT.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
70
Tabela 14 – Sector da Indústria da Construção (NACE Rev.2)
Section F CONSTRUCTION (NACE Rev.2)41 Construction of buildings
41.1 Development of building projects41.10 Development of building projects
41.2 Construction of residential and non-residential buildings41.20 Construction of residential and non-residential buildings
42 Civil engineering42.1 Construction of roads and railways
42.11 Construction of roads and motorways42.12 Construction of railways and underground railways42.13 Construction of bridges and tunnels
42.2 Construction of utility projects42.21 Construction of utility projects for fluids42.22 Construction of utility projects for electricity and telecommunications
42.9 Construction of other civil engineering projects42.91 Construction of water projects42.99 Construction of other civil engineering projects n.e.c.
43 Specialised construction activities43.1 Demolition and site preparation
43.11 Demolition43.12 Site preparation43.13 Test drilling and boring
43.2 Electrical, plumbing and other construction installation activities43.21 Electrical installation43.22 Plumbing, heat and air conditioning installation43.29 Other construction installation
43.3 Building completion and finishing43.31 Plastering43.32 Joinery installation43.33 Floor and wall covering43.34 Painting and glazing43.39 Other building completion and finishing
43.9 Other specialised construction activities43.91 Roofing activities43.99 Other specialised construction activities n.e.c.
Relativamente à localização geográfica do acidente, permite-nos identificar com rigor o país
e a região onde o acidente ocorreu. O método EEAT, quando foi concebido, utilizava o NUTS 1
(Nomenclature of Territorial Units for Statistics 1). Actualmente encontra-se em vigor o NUTS 3,
fornecendo-nos um maior nível de detalhe sobre as regiões de cada país da União Europeia.
Na tabela 15 encontram-se representados os níveis em Portugal cobertos pelos diferentes
NUTS existentes.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
71
Tabela 15 – Níveis preconizados nos diferentes NUTS (reproduzido de European Communities, 2007)
PORTUGALCODE NUTS 1 NUTS 2 NUTS 3PTPT1 CONTINENTEPT11 NortePT111 Minho-LimaPT112 CavadoPT113 AvePT114 Grande PortoPT115 TamegaPT116 Entre Douro e VougaPT117 DouroPT118 Alto Trás-os-MontesPT15 AlgarvePT150 AlgarvePT16 Centro (P)PT161 Baixo VougaPT162 Baixo MondegoPT163 Pinhal LitoralPT164 Pinhal Interior NortePT165 Dão-LafõesPT166 Pinhal Interior SulPT167 Serra da EstrelaPT168 Beira Interior NortePT169 Beira Interior SulPT16A Cova da BeiraPT16B OestePT16C Médio TejoPT17 LisboaPT171 Grande LisboaPT172 Península de SetúbalPT18 AlentejoPT181 Alentejo LitoralPT182 Alto AlentejoPT183 Alentejo CentralPT184 Baixo AlentejoPT185 Lezíria do TejoPT2 Regiao Autónoma dos AÇORESPT20 Regiao Autónoma dos AçoresPT200 Regiao Autónoma dos AçoresPT3 Regiao Autónoma da MADEIRAPT30 Regiao Autónoma da MADEIRAPT300 Regiao Autónoma da MADEIRAPTZ EXTRA-REGIOPTZZ Extra-RegioPTZZZ Extra-Regio
Relativamente a Portugal, como se comprova através da análise da tabela 15, o NUTS 3
oferece uma separação entre regiões muito mais detalhada, permitindo-nos identificar com rigor
qual a zona onde ocorreu o acidente.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
72
A variável “dias perdidos” no método EEAT é semelhante à preconizada pela OIT (1962),
apresentando no entanto a vantagem de ser mais detalhada, ou seja, ser mais específica consoante
a gravidade do acidente provocado. Uma descrição do proposto tanto na OIT como no EEAT é
apresentado seguindamente, de maneira e se obter uma melhor compreensão:
OIT (OIT, 1962, p. 39):
Morte (Acidentes mortais);
Incapacidade permanente (Acidentes de que resulte para a vítima, com
carácter permanente, deficiência física ou mental ou diminuição da capacidade de
trabalho);
Incapacidade temporária (Acidentes de que resulte para a vítima incapacidade
de, pelo menos, um dia complete além do dia em que ocorreu o acidente, quer se
trate de dias durante os quais a vítima teria trabalhado, quer não. Neste ultimo
caso, temos o que, vulgarmente, se designa por acidente com baixa ou
incapacidade temporária absoluta (ITA));
Outros casos (Acidentes de que resulte incapacidade para o trabalho por tempo
inferior ao considerado na alínea anterior, sem incapacidade permanente. Estes
acidentes são, habitualmente, designados por acidentes sem incapacidade (SI)).
EEAT (Eurostat, 2001, p. 48):
000: Número de dias perdidos descomnhecido;
004 – 182: Número de dias inteiros perdidos indicados numericamente
(ausência inferior a seis meses);
A01: 4 – 6 dias perdidos;
A02: 7 – 13 dias perdidos;
A03: 14 – 20 dias perdidos;
A04: Pelo menos 21 dias mas menos do que 1 mês perdidos;
A05: Pelo menos 1 mês mas menos do que 3 meses perdidos;
A06: Pelo menos 3 meses mas menos do que 6 meses perdidos;
997: Incapacidade permanente (para trabalhar) ou 183 ou mais dias perdidos
(ausência ingual ou superior a 6 meses);
998: Acidente mortal;
999: Não especificado.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
73
Através do observado anteriormente, pode-se concluir que a classificação preconizada pelo
EEAT é muito mais detalhada que a proposta pela OIT, em 1962. De facto, consegue-se obter uma
descrição da gravidade do acidente, e se é mortal ou não, em função dos dias de trabalhos
perdidos.
A nosso ver a variável ‘000’ ou ‘999’ está a mais. Não saber o número de dias perdidos é o
mesmo que não ter qualquer dado. Essas duas variáveis podiam ser conjugadas, visto que a
informação que fornecem é semelhante, se não mesmo igual.
O método EEAT preconiza que apenas acidentes que provoquem uma ausência ao trabalho
superior a 3 dias de calendário sejam registados. A uniformização deste critério permite comparar
os acidentes de trabalho em qualquer país da União Europeia.
Segundo Jacinto e Aspinwall (2004a), países como Bélgica, Dinamarca, França, Portugal,
Espanha e Suécia registavam todos os acidentes que provocassem ausência ao trabalho igual a 1
dia, enquanto que outros apenas registavam acidentes com ausência superior a 3 dias. Outros 4
países nem procediam ao registo, criando estatísticas baseadas em investigações oficiais.
Outro dos aspectos que o EEAT permitiu uniformizar foi a definição do acidente mortal. O
EEAT considera que “acidente mortal é definido como um acidente que conduz à morte da vitima
até um ano após o acidente”.
Contudo entre os Estados Membros da União Europeia não há um consenso sobre esta
matéria. Considera-se um acidente como mortal se provocar a morte após um certo período de
tempo, mas que é variável de país para país. Na Holanda apenas o consideram se a morte ocorrer
no dia do acidente; Na Alemanha até 30 dias após o acidente e na Bélgica, Inglaterra, França e
Itália não existe limite de tempo para a respectiva caracterização (Eurostat, 2000).
Embora o EEAT estabeleça 1 ano, ou seja, desde o acidente até à morte, segundo o nosso
ponto de visto, é um espaço temporal muito alargado. De facto, durante um ano, um trabalhador
está sujeito a inúmeros factores externos que, não tendo nada a ver com o acidente, podem
contribuir para a morte. O meio ambiente, o tipo de alimentação, o stress provocado pelo dia-a-dia
podem contribuir para o agravamento das consequências do acidente. Embora se deva às
consequências, não foi o acidente que o matou, mas sim factores externos. O melhor período
temporal, segundo o nosso ponto de vista, é o adoptado pela Alemanha, ou seja, 30 dias após o
acidente. Num espaço de 30 dias já dá para ter uma noção do desenvolvimento do acidente,
permitindo-nos tirar ilações sobre o tipo de incapacidade que o trabalhador vai ter.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
74
A 3º fase do método EEAT engloba todas as variáveis opcionais, ou sugeridas, pelo método
proposto pela OIT (1998), e engloba as variáveis correspondentes ao: Posto de trabalho; Ambiente
de trabalho; Tipo de trabalho; Actividade física específica; Agente material da Actividade física
específica; Desvio; Agente material do Desvio; Contacto – Modalidade de lesão e Agente material do
Contacto – Modalidade de lesão.
As variáveis “Posto de trabalho”, “Ambiente de trabalho” e “Tipo de trabalho”, são
importantes, visto que fornecem indicação sobre as condições e tipo de trabalho em que ocorreu o
acidente. Permitem-nos verificar se o trabalhador possui um local de trabalho fixo ou não, conhecer
o tipo de trabalho que estava a executar, bem como o ambiente em que se encontrava o
trabalhador no momento do acidente. Estes dados são importantes para a comparação de dados
estatísticos entre países, porque existem inúmeros sectores de actividade, alguns com um elevado
número de trabalhadores e trabalhos perigosos afectos a eles.
Segundo o Eurostat (2001, p. 20), as variáveis fornecem informação sobre:
Actividade Física Específica:
“Trata-se da precisa Actividade física específica do sinistrado no próprio momento
em que ocorre o acidente. É necessário considerar o que fazia o sinistrado,
precisamente, no momento preciso do acidente. A actividade pode ser exercida
durante um período curto.”
Agente Material da Actividade Física Específica:
“Principal Agente material assoaciado – ligado à Actividade física específica do
sinistrado exactamente antes do acidente. O Agente material associado à
Actividade física específica descreve a ferramenta, o objecto, o agente utilizado
pelo sinistrado aquando do acidente. O Agente pode estar, ou não, implicado no
acidente. No entanto, se existirem vários Agentes materiais da Actividade física
específica, é necessário registar o que está relacionado mais estreitamente com o
acidente ou a lesão.”
Desvio:
“Último acontecimento, desviado do normal, que conduziu ao acidente. Trata-se
da descrição do que sucedeu de anormal. É um desvio do processo normal de
execução do trabalho. O Desvio é o acontecimento que provoca o acidente. Se há
vários acontecimentos que se sucedem, é o último desvio que deve ser registado
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
75
(aquele que ocorre o mais próximo possível, em matéria de tempo, do contacto
lesivo).”
Agente Material do Desvio:
“Principal Agente material associado – ligado ao acontecimento desviante. O
Agente material associado ao Desvio descreve a ferramenta, o objecto, o agente
ligado à anormalidade do processo, ligado ao que se desenrolou anormalmente.
Se há vários Agentes materiais relatives ao (último) Desvio, é necessário registar o
que intervém em último lugar (o mais próximo possível, no tempo, do contacto
lesivo).”
Contacto – Modalidade de Lesão:
“O contacto que lesionou o sinistrado. Trata-se daquilo que descreve o modo
como a vítima foi lesionada (fisicamente ou por choque psicológico) pelo Agente
material que provocou essa mesma lesão. Caso existam vários contactos – modos
de lesão, deverá ser registado o que provocou a lesão mais grave.”
Agente Material do Contacto – Modalidade de Lesão:
“Principal Agente material associado – ligado ao contacto lesivo. O Agente
material associado ao Contacto – Modalidade da lesão descreve fisicamente o
objecto, a ferramenta, o agente com que o sinistrado entrou em contacto, ou a
modalidade psicológica da lesão. Se há vários Agentes materiais de lesão, deve
ser registado o Agente material ligado à lesão mais grave.”
Relativamente às variáveis,
Actividade física específica;
Agente material da Actividade física específica;
Desvio;
Agente material do Desvio;
Contacto – Modalidade de lesão;
Agente material do Contacto – Modalidade de lesão,
apesar de fornecerem indicação, nomedamente sobre como ocorreu e quais as causas que
contribuíram para o desenvolvimento do acidente, segundo o nosso ponto de vista, não são muito
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
76
explícitas, nem os relatórios efectuados a partir delas são fiáveis, visto que muita da informação a
elas associada é muito dificil, ou quase impossivel, de obter.
Através da observação dos métodos propostos pela OIT e pelo Eurostat, conclui-se que a
classificação preconizada pela OIT, “Classificação dos acidentes industriais de acordo com o
agente” é no EEAT, o agente material da actividade física específica, do desvio ou do contacto –
modalidade de lesão. A classificação preconizada no EEAT é mais detalhada do que a utilizada na
OIT, havendo agrupamentos segundo classes diferentes.
Relativamente à “Classificação dos acidentes industriais de acordo com o acidente”,
segundo Jacinto e Aspinwall (2004a), a varíável que corresponde a esta no EEAT é a variável
Contacto – Modalidade de lesão. A nosso ver, a variável correspondente no EEA, é a variável
correspondente ao Desvio e não ao Contacto – Modalidade de lesão.
Embora a OIT estabeleça, na “Classificação de acidentes industriais de acordo com o tipo
de acidente”, o tipo de evento que resulta directamente na lesão, ou seja, a maneira como o objecto
ou material entra em contacto com a pessoa lesionada, do nosso ponto de vista o que contribuiu
para este acontecimento é o Desvio, e não o Contacto – Modalidade de lesão. O Desvio é que
identifica como é que o acidente ocorreu, ou seja, se caiu de um edificio, se entrou em contacto
com uma máquina, objecto cortante, etc. O contacto apenas descreve, a nosso ver, o agente
material.
Um exemplo flagrante, prende-se com a existência, tanto na variável Desvio como na
variável Contacto – Modalidade de lesão, da queda de pessoas em altura. De facto, a queda em
altura, contribuiu para a ocorrência do acidente, mas nunca pode ser considerado o que provocou.
O Desvio (queda de pessoas em altura), contribuiu para a ocorrência do Contacto (contacto com o
solo, por exemplo), ou seja, o que se pretende dizer é que não pode estar presente nas duas
variáveis, ou se encontra no Desvio ou no Contacto – Modalidade de lesão.
De facto, comparando a classificação estabelecida no OIT de 1962, com a do EEAT,
relativamente ás variáveis estabelecidas na 3º fase do EEAT, a nosso ver, a Actividade física
específica, o Contacto – Modalidade de lesão, e o Agente Material, tanto da Actividade física
específica como do Contacto estão a mais.
Isto deve-se à falta de dados, que a nosso ver, são muito impossíveis de obter. Um
trabalhador, de modo a salvaguardar-se (se for participante de um acidente), vai sempre omitir as
partes que ache que de algum modo possam contribuir para lhe atribuir responsabilidades. O
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
77
mesmo se passa com os colegas de trabalho, que se forem conhecidos, e se derem bem, na maior
parte dos casos tentam minimizar a sua culpa, preferindo culpar o equipamento e a organização em
que estão inseridos.
Por exemplo, relativamente à Actividade fisica específica, que corresponde à descrição do
trabalho que o trabalhador estava a realizar na altura do acidente, ninguém, excepto o trabalhador,
pode afirmar com 100% de confiança, que ele estava a fazer isto ou aquilo. Esta afirmação apenas
pode ser proferida pelo trabalhador. Mesmo alguém externo, que estivesse de vigia, teria dificuldade
em afirmar com toda a certeza que ele estava a executar um determinando trabalho e não outro
qualquer. A presença de ferramentas no local do acidente, leva-nos a concluir sobre o tipo de
trabalho que ele estava a realizar, mas não nos garante com 100% de eficácia que ele estivesse a
utilizá-las naquele momento.
Relativamente ao agente material que provocou o desvio, ou seja, o último acontecimento
que contribuiu para o desenvolvimento do acidente, é improvável obter-se, na maior parte dos
casos, uma informação fidedigna. O EEAT refere que apenas se identifica o último, o que, a nosso
ver, é menos correcto, visto que sem um acontecer, não ocorreria o subsequente. Para se registar o
último deveriam também registar-se todos os que aconteceram, sendo isto impossível de identificar.
Relativamente ao Contacto – Modalidade de lesão e o Agente Material a ele afecto, apenas
interessa o modo como a pessoa se lesionou e não que foi provocado por a, b ou c. Esta variável é
prescindível visto que apenas interessa saber duas coisas: O QUE PROVOCOU O ACIDENTE E QUAL
O AGENTE MATERIAL QUE CONTRIBUIU PARA A LESÃO.
Entendemos, por isso, que as variáveis: Actividade Física Especifica, Contacto – Modalidade
de lesão e Agentes Materiais associados são supérfluas.
Acho que a classificação proposta pela OIT em 1962, onde se identificava a forma do
acidente e o agente material que contribuiu para a lesão eram suficientes para a classificação do
acidente. Mais variáveis apenas vão tornar mais complexa e menos exequível a respectiva
classificação.
Jacinto e Aspinwall (2004a), concluíram que a 3ª fase do EEAT seria difícil de implementar
visto que apenas a França, a Itália e os Países Nórdicos possuíam alguma experiência relativamente
à recolha e registo do tipo de dados da 3ª fase. Concluíram, igualmente, que iria originar um grande
esforço, tanto a nível pessoal como financeiro nas organizações, visto que novas variáveis implicam
um maior número de pessoas disponíveis para tratá-las e a formulação de novos relatórios de
análise.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
78
Contudo, embora a uniformização da recolha de dados e relatórios, relativamente aos
acidentes de trabalho, seja um processo moroso e complexo, quando concluído, vai permitir a
comparação de resultados e a livre circulação de técnicos de SHT pelos vários Estados Membros.
5.5. Método de Investigação WAIT
Como se referiu no ponto 4, o método de investigação WAIT compreende os seguintes 9 passos:
Passo 1: Recolher informação;
Passo 2: Identificar todas as falhas activas;
Passo 3: Estabelecer os factores influenciadores;
Passo 4: Usar resultados e corrigir a análise de riscos (AR);
Passo 5: Analisar os factores individuais e de trabalho;
Passo 6: Analisar as condições organizações e de gestão;
Passo 7: Relacionar os resultados com o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde
do Trabalho;
Passo 8: Fazer recomendações;
Passo 9: Procurar factores de influência positiva.
O conjunto destes passos está dividido em 2 fases de investigação, podendo a primeira ser
designada por “Análise Simplificada” e a segunda por “Análise Detalhada”.
Na 1ª fase procede-se à identificação de todas as falhas activas que contribuíram para a
ocorrência do acidente, ou seja, as causas e circunstâncias relacionadas, bem como os factores
influenciadores das respectivas falhas. As falhas identificadas são depois comparadas com as
Análises de Risco efectuadas, de modo a verificar se algumas medidas de segurança e prevenção
precisam de ser adoptadas, ou melhoradas. De modo a ser possível efectuar-se uma comparação
com outras entidades, pode-se optar, ou não, por classificar estas falhas segundo as variáveis
preconizadas no método EEAT.
Na 2ª fase, procede-se à identificação das falhas organizacionais. Segundo Katsakiori et al
(2008; 2009), o método de investigação WAIT procede à identificação das falhas latentes. Estas
falhas correspondem às falhas encontradas nos postos de trabalho e na organização, mais
concretamente, os sistemas de processo que podem ser melhorados ou as soluções a ser utilizadas
para se laborar com melhores condições de segurança.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
79
Segundo Jacinto e Aspinwall (2003), a 2ª fase de investigação vai além da investigação
estabelecida na legislação nacional, visto que tem como objectivo fornecer às empresas
ferramentas de trabalho para garantir boas políticas de trabalho, e assim, melhores condições de
laboração.
Neste trabalho de investigação optou-se apenas pela execução da 1ª fase, até onde foi
possível, visto que um dos pontos de interesse era a comparação com o método EEAT.
A fase 1, como mencionado anteriormente, é dividida em 4 passos. Estes passos
encontram-se representados na figura 38.
Figura 38 – 1ª Fase do Método de Investigação WAIT (adaptado de Jacinto et al., 2007)
Para a aplicação da 1ª fase do método WAIT utilizaram-se os relatórios de acidentes de
trabalho elaborados pela ACT. Estes relatórios são elaborados sempre que se verifica algum
acidente grave ou mortal, ou quando algum tribunal pede um parecer à ACT por inexistência de
consenso entre a entidade empregadora e o trabalhador sinistrado.
Passo 1Recolher informação
Passo 2Identificar todasas falhas activas
Passo 3Estabelecer os
factores influenciadores
Passo 4Usar resultados para
rever e corrigir aanálise de riscos (AR)
Outras falhas oufactores foram
identificados comoprováveis?
Se necessárioinvestigação completa
Rever análise. Recolhermais informação se
necessário
N
S
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
80
Assim, para a realização das 4 etapas que compõem a 1ª fase, é necessária a utilização de
um questionário-padrão (proposto pelo método) e a análise de riscos efectuada pela própria
empresa. Não foi possível obter estes dois documentos, pelo facto de a análise dos acidentes ter
sido realizada com base em relatórios elaborados pela ACT. A intenção deste trabalho foi verificar
se, sem a existência destes documentos o método seria passível de aplicação.
No 1º passo é necessária a utilização do questionário-padrão. Este questionário,
apresentado no anexo 1, apresenta-nos uma série de questões, que embora interessantes, deixam
algumas dúvidas sobre a fiabilidade do questionário em questão.
As perguntas efectuadas fornecem-nos indicações sobre o tipo de trabalho realizado, se
havia formação para realizá-lo, se era o trabalho habitual ou esporádico, entre outras. Estas
questões são facilmente verificáveis, ou seja, através da análise dos registos das empresas
facilmente se verifica se o trabalhador respondeu com sinceridade.
Contudo, o cerne da questão, prende-se com as perguntas que dizem respeito ao
trabalhador. Estas questões, muitas do foro psicológico (percepções, atitudes, etc.), focam aspectos
e dados que só o trabalhador sinistrado pode fornecer, podendo induzir a(s) pessoa(s) em erro. São
perguntas que não são passíveis de quantificação sem a realização de testes.
A principal desvantagem reside na forte incidência sobre o sinistrado e os demais
intervenientes. O sinistrado, tentará sempre dar uma ideia de que seguiu todos os procedimentos
de segurança, atribuindo responsabilidades ao equipamento e ambiente de trabalho. Os
intervenientes, se forem conhecidos do sinistrado, tentarão também facultar informação coincidente
com a do sinistrado, de modo a evitarem problemas maiores.
É do conhecimento geral que a maioria dos trabalhadores, durante a realização de um
inquérito para apurar os acontecimentos que conduziram ao acidente, independentemente do
sector de actividade, omite aspectos importantes com ele relacionados. Segundo Salminen (1992),
os trabalhadores vítimas de acidentes graves atribuem as culpas a factores exteriores, enquanto que
os colegas de trabalho tendem a atribuir as culpas às acções da vítima.
Isto deve-se ao facto de um trabalhador, quando participante de algum acidente, tender
sempre a vê-lo segundo a perspectiva que melhor lhe convém, preferindo, assim, atribuir o mesmo
a outros factores mas não a erros ou lapsos seus. Shaver (1970), citado por Salminen (1992),
afirma que as vitímas ou testemunhas visuais de um acidente, tendem a explicar o acidente de
modo a que a responsabilidade civil seja minimizada.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
81
Igualmente, as perguntas efectuadas no questionário, fornecido pelo método WAIT, se se
tomou alguma medida, ou se pensou em realizar alguma acção, pode induzir em erro o analista,
visto que segundo Bullman e Wortman (1977), citado por Salminen (1992), não é possível afirmar
que o raciocínio que uma pessoa possui durante um acidente real, seja igual ao pensamento
durante um acidente induzido, ou seja, um acidente forjado. O modo como uma pessoa pensa e
age durante um acidente é quase impossivel de escrutinar, variando de pessoa para pessoa, o que
torna inviável o estabelecimento de uma acção-padrão.
O principal inconveniente do questionário é que influencia, frequentemente, a tomada de
decisões. Sabendo isso, um trabalhador nunca irá admitir que cometeu alguma infracção, mesmo
mínima, evitando assim consequências sobre si próprio.
Contudo, a utilização do questionário seria aceitável se o mesmo fosse exclusivamente
preenchido por uma pessoa alheia ao processo e à própria empresa. Apenas uma pessoa, sem
conhecimentos na firma e afinidades com os envolvidos no acidente, seria capaz de expressar com
exactidão tudo o que tinha observado.
Relativamente ao passo 2, identificação de todas as falhas activas, verificou-se uma enorme
dificuldade na identificação de todos os acontecimentos que contribuíram para a ocorrência do
acidente. De facto, sem uma análise detalhada, mais concretamente uma peritagem, a identificação
das falhas é um processo quase impossível. Este passo implica um dispêndio de tempo
considerável e não fornece indicação sobre todas as possíveis falhas activas. Isso depende da
experiência da pessoa que está a realizar a análise, sendo por isso um método que precisa de gente
experiente para poder utilizá-lo.
Segundo Jacinto e Aspinwall (2004b), todas as investigações têm de ser realizadas in-situ, o
que faz sentido, segundo o nosso ponto de vista, pois permite-nos ter uma noção mais correcta do
posto de trabalho, bem como de outros factores necessários para a realização da investigação. Por
outro lado, os acidentes analisados têm de ser recentes, de maneira a que todas as pessoas
envolvidas ainda sejam capazes de fornecer indicações correctas dos mesmos.
Para a identificação das falhas activas, caso a análise não tenha sido efectuada in-situ, a
existência de fotografias é de enorme importância, na medida em que auxilia na compreensão do
acidente em questão (Jacinto & Aspinwall, 2004b).
Segundo o nosso ponto de vista, o uso de fotografias na análise de acidentes, tanto no
método WAIT como em qualquer método de investigação, é um elemento primordial, visto que
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
82
faculta uma comprensão sobre o local do acidente, ou seja, os factores externos envolventes, o
posto e ambiente de trabalho, entre outros.
Para a realização do passo 3, identificação dos factores influenciadores, é necessária a
utilização do questionário fornecido para o passo 1. Visto não possuirmos este questionário, a
identificação desses factores foi considerada em função do acidente e do que se admitiu que tivesse
acontecido. Contudo, como foi referido anteriormente, o questionário, previamente preenchido pelo
sinistrado, pode dar origem a conclusões erradas sobre os factores determinantes para a ocorrência
do acidente.
O passo 4, que consiste na análise dos dados e comparação com as análises de risco (AR)
efectuadas, não foi possível realizar-se, devido a não possuirmos tais elementos. Este passo serve
para comparar os acidente, de modo a verificar se aquele tipo de acidente já tinha sido previsto, ou
se as medidas de prevenção já tinham sido adoptadas.
Considerámos as seguintes vantagens e desvantagens do método de investigação WAIT:
1. Vantagens
Codificação das falhas segundo as variáveis preconizadas pelo método EEAT.
Contribui para o processo de harmonização proposto pelo Eurostat;
As 2 fases de investigação separam os acidentes por importãncia. Se a análise do
acidente não contribuir para uma melhoria do PSS aplica-se unicamente a 1ª fase.
Se contribuir, aplica-se a 2º fase.
2. Desvantagens
Dificuldade de aplicação;
Necessita de uma investigação aprofundada das ocorrências que contribuíram
para o acidente. É necessário uma peritagem, ou seja, conhecimento detalhado
das condições em que ocorreu o acidente para se poder aplicar o método WAIT;
Baseia-se na versão do sinistrado, podendo assim induzir o investigador em erro;
O método requer um dispêndio de tempo muito elevado;
Precisa de pessoas experientes, isto é, já familiarizadas com o método, ou com
alguma experiência. Não pode ser aplicado por pessoas inexperientes;
O uso do manual, embora auxilie, não dissipa todas as dúvidas.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Análise e Discussão de Resultados
83
Jacinto & Aspinwall (2004c), no trabalho “WAIT (Part III) – Preliminary Validation Studies”,
apresentou um conjunto de vantagens e desvantagens para o referido método. Neste trabalho
optou-se apenas por se apresentar as conclusões do trabalho realizado.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Quedas em Altura – Legislação e Equipamentos de Protecção
84
6. QUEDAS EM ALTURA – LEGISLAÇÃO E EQUIPAMENTOS DE PROTECÇÃO
A execução de trabalhos em altura expõe os trabalhadores a riscos elevados. As quedas em altura,
quando ocorrem, originam graves consequências para o trabalhador acidentado, podendo traduzir-
se numa incapacidente permanente ou mesmo na própria morte do trabalhador. É, pois, de
primordial importância uma avaliação de riscos minuciosa, de modo a conseguir detectar-se a maior
parte dos riscos que o trabalho acarreta (é quase impossível detectá-los todos), permitindo definir e
propor os equipamentos de protecção (individuais ou colectivos) mais adequados.
As protecções colectivas caracterizam-se por abrangerem vários trabalhadores,
simultaneamente, ao passo que as protecções individuais, como o próprio nome indica,
salvaguardam apenas o portador do equipamento. Segundo a Directiva 89/656/CEE do Conselho,
de 30 de Novembro de 1989, a protecção colectiva é sempre prioritária, optando-se pela protecção
individual quando é impossivel assegurar uma protecção total com a protecção colectiva.
Assim, quando as protecções colectivas são ineficazes, ou insuficientes, é necessária a
conjugação com os Equipamentos de Protecção Individual (EPI’s). Um EPI é definido como qualquer
dispositivo ou meio concebido para ser utilizado por uma pessoa, de modo a assegurar a sua
protecção contra os riscos susceptíveis de provocar lesões ou danos para a saúde.
Os EPI’s, antes da sua entrada no mercado, são sujeitos a rigorosos controlos, dependendo
do tipo de trabalho para o qual vão ser utilizados. Assim, a Directiva 89/686/CEE do Conselho, de
21 de Dezembro de 1989, define as condições para a sua entrada e comercialização na União
Europeia, enquanto a Directiva 89/656/CEE do Conselho, de 30 de Novembro de 18989, define os
requisitos mínimos de saúde e segurança relativamente à utilização de EPI’s nos trabalhos em
altura.
Segundo a Directiva 89/686/CEE do Conselho, de 21 de Dezembro de 1989, modificada
pela Directiva 93/68/CEE do Conselho, de 22 de Julho de 1993, pela Directiva 93/95/CEE do
Conselho, de 29 de Outubro de 1993 e pela Directiva 96/58/CE do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 3 de Setembro de 1996 (transportas para o direito interno através do Decreto-Lei
128/93, de 22 de Abril; da Portaria 1131/93, de 4 de Novembro; do Decreto-Lei 139/95, de 14 de
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Quedas em Altura – Legislação e Equipamentos de Protecção
85
Junho; da Portaria 109/96, de 10 de Abril; da Portaria 695/97, de 19 de Agosto; do Decreto-Lei
374/98, de 24 de Novembro), os fabricantes de EPI’s estão sujeitos a condições de fabrico,
indispensáveis para a obtenção de uma declaração de conformidade por parte da Comissão
Europeia, a partir da qual podem incluir nos seus equipamentos o símbolo “CE”.
Esta classificação, segundo a Directiva 89/686/CEE do Conselho, de 21 de Dezembro de
1989, está dividida em três categorias distintas:
Categoria I – Riscos menores;
Categoria II – Risco de lesões;
Categoria III – Risco de morte.
Como se pode deduzir, consoante a categoria aumenta, os testes de conformidade para a
obtenção do símbolo “CE” serão cada vez mais exigentes.
Os equipamentos utilizados para quedas em altura estão incluídos na Categoria III – Risco
de morte. Isto deve-se à elevada probabilidade de sinistro quando um acidente deste tipo ocorre,
sendo por isso de primordial importância um controlo mais eficaz destes equipamentos.
Relativamente á legislação que regulamenta os acidentes em altura, nomeadamente os
equipamentos a ser utilizados, as características técnicas dos mesmos e os procedimentos de
segurança a serem aoptados, referem-se as seguintes disposições legais e normativas;
Decreto-Lei n.º 348/93, de 1 de Outubro – Transpõe para a ordem jurídica
interna a Directiva n.º 89/656/CEE, do Conselho, de 30 de Novembro de 1989,
relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde dos trabalhadores na
utilização de Equipamentos de Protecção Individual;
Decreto-Lei n.º 50/2005, de 25 de Fevereiro – Regula as prescrições mínimas
de segurança e saúde dos trabalhadores na utilização de equipamentos de trabalho.
Lei n.º 102, de 10 de Setembro (regulamenta o regime jurídico da promoção e
prevenção da segurança e da saúde no trabalho, transpõe a Directiva n.º
89/391/CEE, relativa à aplicação de medidas destinadas a promover a melhoria da
segurança e da saúde dos trabalhadores no local de trabalho), revoga o Decreto-Lei n.º
441/91 de 14 de Novembro, o Decreto-Lei nº 26/94 de 1 de Fevereiro, o Decreto-Lei
n.º 29/2002 de 14 de Fevereiro e a Portaria n.º 1179/95 de 26 de Setembro);
Decreto-Lei n.º 41821, de 11 de Agosto de 1958 – Aprova o regulamento de
Segurança no Trabalho da Construção Civíl (RSTCC);
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Quedas em Altura – Legislação e Equipamentos de Protecção
86
Decreto-Lei n.º 273/03, de 29 de Outubro – Transpõe para o direito interno, as
prescrições mínimas de segurança e de saúde a aplicar nos estaleiros temporários ou
móveis;
EN 341:2011 – Equipamento de protecção individual contra quedas de altura –
Equipamento de descida;
EN 353-1:2002 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas
em altura – Parte 1 – Anti-quedas do tipo guiado incluindo um cabo rígido de
ancoragem;
EN 353-2:2002 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas
em altura – Parte 2: Anti-quedas do tipo guiado incluindo um cabo flexível de
ancoragem;
EN 354:2010 – Equipamento de protecção individual contra as quedas de altura –
Chicotes (cabos curtos);
EN 355:2002 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas em
altura – Absorsores de energia;
EN 358:1999 – Equipamento de protecção individual de manutenção na posição de
trabalho e de prevenção contra quedas em altura – Cintos de manutenção e retenção
e linhas de manutenção na posição de trabalho;
EN 360:2002 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas em
altura – Anti-quedas do tipo retráctil;
EN 361:2002 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas em
altura – Arneses anti-queda;
EN 362:2004 – Equipamento de protecção individual contra quedas de altura –
Uniões;
EN 363:2008 – Equipamento de protecção individual contra quedas – Sistemas de
protecção individual contra quedas;
EN 364:1992 – Equipamento de protecção individual contra quedas de altura –
Método de ensaio;
EN 365:2004 – Equipamento de protecção individual e outro equipamento de
protecção contra quedas em altura – Requisitos gerais para utilização, manutenção,
exame periódico, reparação, marcação e embalagem;
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Quedas em Altura – Legislação e Equipamentos de Protecção
87
NP EN 795:1996 – Protecção contra as quedas de altura – Dispositivos de
amarração – Requisitos e ensaios;
EN 813:2008 – Equipamento de protecção individual para a prevenção contra as
quedas de altura – Arnês de cocha;
EN 1496:2005 – Equipamento de protecção individual contra quedas –
Equipamento de Evacuação e Salvamento;
EN 1497:2007 – Equipamento de protecção individual contra quedas – Arneses de
salvamento;
EN 1498:2005 – Equipamento de protecção individual contra quedas – Sistemas de
Loops e Salvamento;
EN 1868:1997 – Equipamento de protecção individual contra quedas em altura –
Lista de termos equivalentes;
EN 1891:1998 – Protecção contra quedas em altura incluindo cintos de segurança
– Cordas entrançadas com baixo coeficiente de alongamento;
EN 12841:2006 – Equipamento de protecção individual para prevenção de quedas
em altura - Sistemas de acesso por corda - Dispositivos de ajustamento da corda;
EN 1263-1:2002 – Redes de Segurança – Requisitos de segurança e método de
ensaio;
EN 13374:2004 – Bandeiras de Segurança Temporário – Especificação do produto
e método de ensaio;
As normas, mencionadas anteriormente, foram obtidas através de documentos facultados
pelos fornecedores de equipamentos de protecção colectivos e individuais. Contudo, através análise
do Jornal Oficial da União Europeia, de 9 de Julho de 2011 (Anexo 2), constatou-se que muitas das
normas mencionadas anteriormente tinham edições mais recentes.
No anexo 3 apresentam-se os equipamentos de protecção, individuais e colectivos,
utilizados para a execução de trabalhos em altura. Apresentam-se, igualmente, alguns conselhos
referentes à correcta execução de trabalhos em altura, nomeadamente os cuidados a ter em conta,
sugestões de equipamentos a serem utilizados consoante as obras envolvidas, entre outros.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Conclusões
88
7. CONCLUSÕES
A análise dos dados, fornecidos pelo GEP, permitiu concluir que o sector da Indústria da
Construção, apesar de apresentar uma elevada ocorrência de acidentes, devido ao elevado número
de trabalhadores afectos bem como à existência de postos de trabalho perigosos, não é o sector de
actividade mais gravoso.
Através da aplicação da pirâmide de acidentes, utilizando uma classificação semelhante à
preconizada pelo EEAT, concluiu-se que o sector da Indústria da Construção (1:252) é menos
gravoso que os sectores da Pesca (1:86), Agricultura, Produção animal, Caça e Silvicultura (1:149),
Transporte, armazenagem e comunicações (1:155) e Actividades das famílias com empregados
domésticos e actividades de produção das famílias para uso próprio (1:245).
Por exemplo, enquanto no sector da Indústria da Construção é preciso a ocorrência de 252
acidentes, provocando ausências ao trabalho de 1 a 30 dias, para ocorrer 1 acidente mortal, no
sector das Pescas apenas é necessário ocorrerem 86 acidentes.
A análise dos dados obtidos permitiu a definição de uma pirâmide de acidentes mais
aconselhada para aplicação em empresas. Esta pirâmide encontra-se representada na figura 39.
1. Acidentes muito graves (ITA > 365 dias,
IPP, IPA ou mortais)
2. Acidentes graves (30 < ITA ≤ 365 dias)
3. Acidentes com gravidade reduzida (1 ≤
ITA ≤ 30 dias)
4. Acidentes sem incapacidade
5. Acidentes sem lesão
Figura 39 – Proposta de Pirâmide de Acidente
1
2
3
4
5
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Conclusões
89
Este modelo expressa mais a realidade empresarial, visto que a grande maioria das
ocorrências produz acidentes com gravidade reduzida, acidentes sem incapacidade ou acidentes
sem lesão.
Igualmente, através da análise dos dados, verifica-se que o desvio “Escorregamento ou
hesitação com queda” (10493 ocorrências) aparece em 3º lugar, apenas suplantado pela “Perda,
total ou parcial, de controlo da máquina, meio de transporte – equipamento de movimentação,
ferramenta manual, objecto, animal – Não especificado” (12946) e pelo “Movimento do corpo
sujeito a constrangimento físico (conduzindo geralmente a lesão interna) – Não especificado”
(12018).
Relativamente às causas que contribuem para a ocorrência dos acidentes do tipo quedas
em altura, através da aplicação da Árvore de Falhas (ou Causas), concluiu-se que estão
principalmente associadas à ausência de equipamentos de protecção, tanto colectivos como
individuais, o que aliado à falta de formação e predisposições patológicas (desconhecidas ou não),
contribui para a ocorrência de acidentes de trabalho.
Ourtro aspecto de primordial importância prende-se com a falta de comunicação entre
trabalhadores e chefias, nomeadamente na programação do trabalho a ser efectuado e dos
equipamentos de segurança a serem empregues.
Relativamente ao método EEAT, principal método de análise do trabalho efectuado, apesar
de ser um método interessante ainda é necessário proceder a algumas alterações para ser um
método a utilizar futuramente.
Uma das grandes vantagens do EEAT é a definição de acidente de trabalho mortal (embora
não adoptada por alguns dos Estados-Membros), bem como a uniformização da recolha de dados e
classificação dos acidentes de trabalho, permitindo assim uma importante harmonização de
conceitos entre os diferentes Estados-Membros.
Neste trabalho procedeu-se à comparação do método proposto pela OIT (1962) com o
EEAT (2001), nomeadamente:
“Classificação dos acidentes de trabalho de acordo com a natureza da lesão” (OIT) vs.
“Tipo de lesão” (EEAT);
“Classificação dos acidentes de trabalho de acordo com a localização da lesão” (OIT)
vs. “Parte do corpo atingida” (EEAT);
“Consequências do acidente” (OIT) vs. “Dias perdidos” (EEAT);
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Conclusões
90
“Classificação dos acidentes de trabalho de acordo com o agente material” (OIT) vs.
“Agente material da Actividade física específica”, ou “Agente material do Desvio” ou
ainda “Agente material do Contacto – Modalidade de lesão” (EEAT);
“Classificação dos acidentes industriais de acordo com a forma do acidente” (OIT) vs.
“Contacto – Modalidade de lesão” (EEAT).
Através da comparação efectuada, constatou-se que as classificações utilizadas no método
EEAT são baseadas, mas não na sua totalidade, nas utilizadas na OIT de 1998. O método da OIT
(1998) é um aperfeiçoamento do método proposto pela OIT, em 1962.
A descrição utilizada nas variáveis “Tipo de lesão”, “Dias perdidos”, “Agente material da
Actividade física específica, do Desvio e do Contacto – Modalidade de lesão” e “Contacto –
Modalidade de lesão” é mais detalhada do que a utilizada na OIT de 1962, permitindo retirar um
maior número de informações. Contudo, apresenta a desvantagem de apresentar alguma
dificuldade na sua aplicação, devido ao maior nível de detalhe, não podendo, por isso, ser efectuada
por pessoas sem ou com reduzida experiência.
A principal diferença, entre o método proposto pela OIT e o EEAT, diz respeito à
caracterização do acidente. O método proposto pela OIT, em 1962, procedia á caracterização do
acidente através da forma do acidente e do agente material associado, enquanto o EEAT introduziu
novas variáveis para identificar as causas e circunstâncias do acidente, nomeadamente:
“Actividade física específica”;
“Agente material da actividade física específica”;
“Desvio”;
“Agente material do Desvio”;
“Contacto – Modalidade de lesão”;
“Agente material do Contacto – Modalidade de lesão”.
A introdução destas variáveis, segundo o nosso ponto de vista, veio tornar mais complexa a
classificação de acidente de trabalho, visto que ao analista apenas interessa saber como o
sinistrado se lesionou e qual o agente material que contribuiu para o acidente. É muito difícil saber
o que o trabalhador estava a executar no momento do acidente e o que contribuiu para a ocorrência
do mesmo, ou seja, o acontecimento que alterou o normal funcionamento do trabalho.
Análise dos Acidentes de Trabalho do Tipo Quedas em Altura na Indústria da Construção
Conclusões
91
As variáveis “Actividade Física Específica”, “Desvio” e “Agentes materiais” respectivos vão
incidir sobre informações muito dificeis de obter, podendo, em certos casos, induzir o analista em
erro.
Outro aspecto de discordância prende-se com a variável “Contacto – Modalidade de lesão”.
Através da análise desta variável, verificou-se que tanto pode ser considerada como a forma do
acidente (modalidade de lesão), bem como o agente material que provocou o acidente (contacto). É
de dificil aplicação devido à sua respectiva ambiguidade, visto que, por exemplo, para o nosso caso
concreto, a queda em altura nunca pode ser considerada o contacto, mas sim o desvio que
contribuiu para a ocorrência do acidente.
Através da aplicação dos dois métodos de análise, verificou-se que o método desenvolvido
pela OIT, em 1962, apesar de ser mais simplificado, permite uma melhor caracterização do
acidente do que o EEAT.
Relativamente ao método de investigação WAIT, tendo em consideração o que foi possível
analisar com os dados recolhidos na ACT, concluiu-se que é um método que necessita de uma
investigação exaustiva do acidente, tendo que ser levado a cabo no local onde ocorreu o acidente.
Implica um grande trabalho de campo, onde os acidentes tem de ser recentes para se obter um
grande número de informações, não podendo ser executado através de documentos.
A principal desvantagem do WAIT, segundo o que foi possivel identificar, é que obtem muita
da informação através da aplicação de um questionário-padrão. Este questionário, aplicado no 1º
passo (recolha de informação) da “Investigação Simplificada”, poderá eventualmente influenciar o
analista, por ser manipulável pelo inquirido. Um trabalhador, quando vítima de um acidente,
raramente admite ter tido alguma responsabilidade.
A identificação das falhas activas é também um processo moroso, sendo necessário o
dispêndio de um tempo considerável. Existe sempre a incerteza se foram consideradas todas as
falhas, bem como, se as consideradas estão correctas. Este método, de modo a assegurar a
identificação de todas as falhas, necessita de uma investigação detalhada do acidente, do tipo
peritagem, sendo por isso dificil de realizar.
Para a identificação dos factores influenciadores, são necessárias as respostas obtidas no
questionário-padrão. Conforme já referido, estas podem induzir em erro o analista, dada a sua
eventual manipulação.
Concluindo, apesar de o método WAIT apresentar algumas vantagens, como a
uniformização dos dados segundo o método EEAT, apresenta, também, algumas desvantagens,
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Conclusões
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visto que apenas pode ser realizado por pessoas com experiencia, e baseia a respectiva análise na
versão do sinistrado, a qual, em certos casos, não corresponde à realidade.
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Propostas de Trabalho Futuro
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8. PROPOSTAS DE TRABALHO FUTURO
O presente trabalho de investigação, tendo em atenção os objectivos propostos, contribuiu para a
identificação dos sectores de actividade mais afectados pela ocorrência de acidentes, dos tipos de
acidentes mais comuns e das causas associadas à ocorrência de acidentes do tipo quedas em
altura. Contribuiu, igualmente, para identificar as vantagens e desvantagens do método EEAT,
proposto pelo Eurostat, comparativamente ao método proposto pela OIT em 1962, bem como a
identificação de algumas vantagens e desvantagens do método de investigação WAIT, desenvolvido
por Jacinto e Aspinwall (2003).
Contudo, devido à inexistência de certos documentos (por exemplo, questionário-padrão e
avaliação de riscos do método WAIT), e terem sido analisados apenas os acidentes de trabalho do
tipo quedas em altura, não foi possivel verificar integralmente a aplicabilidade do EEAT e do WAIT.
Tanto o EEAT como o WAIT podem ser aplicados em diversos sectores de actividade,
embora o método WAIT seja mais indicado para sectores industriais.
O método EEAT é aconselhável para a análise de qualquer tipo de acidente, não fazendo
distinção entre os diversos sectores de actividade. A realização de um estudo mais abrangente
permitiria obter um melhor conhecimento dos respectivos pontos fortes e fracos na identificação
das causas que contribuíram para o acidente e das respectivas medidas de prevenção e protecção.
Relativamente ao método WAIT, é aconselhável ser aplicado num ambiente de trabalho. A
aplicação das 2 fases de análise, a “Análise Simplificada “ e a “Análise Detalhada”, permitiria uma
melhor caracterização das respectivas vantagens e desvantagens. A aplicação apenas da 1ª fase do
método (Análise Simplificada) revelou-se, de facto, insuficiente.
A aplicação do questionário utilizado na recolha de informação (Passo 1), do método de
investigação WAIT, é um dos pontos que levanta maiores dúvidas, do nosso ponto de vista,
relativamente à fiabilidade dos dados obtidos. De modo a proceder-se à verificação da fiabilidade do
questionário, seria aconselhável a aplicação de, por exemplo, o coeficiente Alfa de Cronbach. Este
coeficiente, apresentado por Lee J. Cronbach, em 1951, mede a correlação entre as respostas de
um questionário, de modo a quantificar a fiabilidade do questionário em estudo.
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A 2ª fase do método, Análise Detalhada, permitirá a apresentação de sugestões para
melhorar o Plano de Segurança e Saúde (PSS), bem como novas medidas de prevenção.
O método da Árvore de Falhas (ou Causas), permitiria, através de uma análise quantitativa,
a verificação da aplicação dos métodos referidos anteriormente, designadamente quanto à
respectiva eficácia.