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CONTEXTUALIZAÇÃO
SOCIO-POLÍTICO-CULTURAL
E
LITERÁRIA
DE
OS MAIAS, DE EÇA DE QUEIRÓS
História - Século XIX
Política
1ª metade – Século conturbado –
revoluções burguesas liberais em Portugal.
Década de 20 – Assiste-se aos conflitos
entre liberais, apoiantes de D. Pedro, e
absolutistas, defensores do Antigo Regime e
apoiantes de D. Miguel.
Década de 30 – surge a primeira guerra
civil entre absolutistas e liberais (1832-34).
1832 e 1834 -A revolução liberal organiza-
-se em torno de D. Pedro e realiza-se a
Convenção de Évora-Monte que marca o
fim das guerras, com a vitória dos liberais.
Para apaziguar os portugueses divididos,
D. Pedro substitui a Constituição de 1822
pela Carta Constitucional de 1826.
Década de 30 – Surge o Primeiro
Romantismo em Portugal (tardio em relação
à Europa) cujos nomes maiores são A.
Garrett e Alexandre Herculano.
1834 - com a morte de D. Pedro, os liberais dividem-se entre os que apoiavam a Carta Constitucional (Cartistas) e os que defendiam o regresso à Constituição de 1822. Destas lutas, sai vencedor o político Costa Cabral que instaura uma ditadura.
Revolta de Maria da Fonte e da Patuleia 1846, opondo cartistas e setembristas.
Década de 40 – as lutas populares levam a uma guerra civil que termina com a Convenção de Gramido. Instaura-se outra ditadura de Costa Cabral.
Década de 50 – a Regeneração é a designação dada ao período da Monarquia Constitucional portuguesa que se seguiu à insurreição militar de 1 de Maio de 1851 e que levou à queda de Costa Cabral e dos governos de inspiração setembrista.
O ministro Fontes Pereira de Melo insiste na conciliação. É um período mais pacífico.
Fomenta-se a rede de transportes e
comunicações e a Revolução Industrial em
Portugal. Foi durante o Fontismo que se
construiu a ponte D. Luís no Porto e o ex-
-Palácio de Cristal.
Todas estas obras foram feitas à custa de
empréstimos ao estrangeiro, sobretudo à
Inglaterra, o que levou a que a burguesia
começasse a viver à custa da especulação
financeira, dos empréstimos e das bancar-
rotas.
Os primeiros anos da Regeneração são
um período de total acalmia. Mas trata-se de
uma “paz podre”, segundo as palavras de
Eça de Queirós, porque esconde uma
degradação política, social e cultural que vai
culminar no “Ultimatum” que opôs Portugal e
a Inglaterra, em 1890.
As Farpas, projeto levado a cabo por Eça
de Queirós, conjuntamente com Ramalho
Ortigão, dão-nos um ótimo quadro do
Portugal Regenerador.
Literatura
Pelos anos 60, a literatura dominante –
Ultrarromântica – continua a caracteriza-se
pelo sentimentalismo, egotismo, tom
confessional e pieguice. É nesta altura que
se multiplicam o número de intelectuais
espalhados pelo poder. Há uma boa relação
entre a inteligência e o poder político. Por
isso, há um surto de literatura de cariz
patriótico.
No Primeiro Romantismo, Alexandre
Herculano apresentava obras com
características românticas muito mais
medievais, místicas, lacrimejantes. É esta
linha que vai perdurar no Ultrarromantismo.
Contrariamente ao Primeiro Romantismo,
empenhado com as questões sociais e
militante, o Ultrarromantismo, possui um
carácter de alheamento da realidade política
e social. O nome dominante deste período é
António Feliciano de Castilho.
Vai alta a lua! Na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila! Dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.
Que paz tranquila!... Mas eis longe, ao longe.
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma, semelhante a um monge,
Dentre os sepulcros a cabeça ergueu.
Ergueu-se, ergueu-se!... Na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.
“O Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos
Exemplo de literatura ultrarromântica
Ergueu-se, ergueu-se!... Com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre os campos, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.
Chegando perto duma cruz alçada,
Que, entre os ciprestes, alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e, com voz magoada,
Os ecos tristes acordou assim:
«Mulher formosa, que adorei na vida
E que na tumba não cessei de amar,
Porque atraiçoas, desleal, mentida,
O amor eterno que te ouvi jurar?
“O Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos
Amor! engano que na campa finda,
Que a morte despe da ilusão falaz:
Quem dentre os vivos se lembrará ainda
Do pobre morto que na terra jaz?
Abandonado neste chão repousa
Há já três dias, e não vens aqui...
Ai! quão pesada me tem sido a lousa
Sobre este peito que bateu por ti!
Ai! quão pesada me tem sido!» E, em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E, entre soluços, arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.
(…)
“O Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos
O Amor de Perdição, de Camilo Castelo
Branco, é uma obra de qualidade,
pertencente ao Segundo Romantismo ou
Ultrarromantismo, período literário da
Regeneração.
Outros nomes deste segundo período
romântico se destacam, tais como Mendes
Leal, Armando Gama, Soares de Passos,
João de Lemos, Tomás Ribeiro, Bolhão
Pato, Pinheiro Chagas, Maria Browne.
Década de 50 – Surge um grupo de intelectuais defensores do socialismo utópico (Proudhon) que influenciaram a chamada “Geração de 70”.
Década de 60 – Surge, em Coimbra, uma certa movimentação estudantil insurrecional, dirigida por Antero de Quental, sintoma de grande efervescência intelectual provocada por novas ideias estéticas que surgem do estrangeiro.
Ideias – Contexto europeu
Essa juventude estudantil coimbrã lê
avidamente:
- Shakespeare e Voltaire.
- Jules Michelet que considera que o
homem caminha inevitavelmente para o
aperfeiçoamento – ideia inspirada pelo
positivismo de Auguste Comte e pelas
teorias evolucionista de Charles Darwin.
- o romantismo fantástico alemão de
Heinrich Heine e de Wilhelm Hoffmann.
Ideias – Contexto europeu
- Romantismo social de Victor Hugo – visão
do homem caminhando do caos para a luz.
O mundo do amanhã é o mundo dos que
hoje são oprimidos, segundo este escritor.
Ideias – Contexto europeu
Antero de Quental publica em 1865 o
volume que o vai celebrizar – Odes
Modernas.
Antero de Quental opõe, a uma poesia
lacrimejante e piegas, as «Odes Modernas»,
uma poesia com preocupações de carácter
social, filosófico e humanitário, que exprima
os grandes desejos da humanidade.
(inspirada no socialismo utópico e no
positivismo).
Questão Coimbrã
Anos 65 e 66 – Levanta-se a maior polémica literária que se deu em Portugal – a chamada Questão Coimbrã.
Pinheiro Chagas publica o «Poema da Mocidade», acompanhado de uma carta onde Castilho ataca Antero de Quental e Teófilo Braga.
Antero reage publicando uma carta intitulada «Bom Senso e Bom Gosto».
Questão Coimbrã
«Ideias defendidas pela “Geração de 70” na
carta Bom Senso e Bom Gosto»:
• Independência do escritor em relação a todos os
poderes instituídos.
• Renovar cultural, mental e socialmente o país,
aproximando-o da Europa.
Nos anos 65-66, a Questão Coimbrã é
dominada por problemas de ordem política,
ideológica e moral.
Questão Coimbrã
Questão Coimbrã
• De modo nenhum opõe realistas a românticos; são lançadas as sementes do que viria a ser mais tarde o projeto de intervenção cultural e mental da “Geração de 70”.
• luta entre duas mentalidades:
– mentalidade passadista, alimentada pelo romantismo medievalista, sentimental.
– mentalidade progressista, alimentado pelo romantismo social, pelo socialismo utópico e pelo positivismo.
• O que perturbou o panorama cultural português
não foi tanto o conteúdo da poesia de Antero,
mas sim o facto de um grupo de jovens
irreverentes publicarem obras sem se
subordinam à censura e ao acordo prévio dos
chefes, dos senhores mais velhos (como
Castilho).
• Após a fase estudantil, o grupo coimbrão reúne-
-se em Lisboa e organiza o «Cenáculo»,
tertúlias entre literatos e boémios.
“Geração de 70”
• Nesta altura Eça começa a interessar-se pela corrente literária denominada – Realismo.
• Convencem-se da necessidade de levar a cabo uma intervenção cultural no país.
• Do cenáculo nascem as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense (Maio de 71), grande manifestação da “Geração de 70”.
• Publicam-se As Farpas, projeto conjunto de
Eça e Ramalho Ortigão que procura levar a
refletir sobre pequemos problemas da
sociedade.
• Por um lado, As Farpas, através do riso e do
sarcasmo, e, por outro lado, as Conferências
Democráticas do Casino Lisbonense fazem
parte do projeto de reforma que se quer levar
a cabo no país.
• «O Espírito das Conferências» - Antero
• «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares» - Antero
- causa religiosa
- causa política
- causa económica
• «Literatura Portuguesa contemporânea» - Augusto Soromenho.
• «Nova Literatura» (título inicial da conferência) / «A afirmação do Realismo como nova expressão de arte» - Eça de Queirós.
• « O Ensino» - Adolfo Coelho.
Conferências Democráticas do Casino
Lisbonense (Maio de 1871):
Conferências que não se realizaram:
• «Os historiadores críticos de Jesus» - Salomão
Saraga. • «O socialismo» - Batalha Reis • «A República» - Antero • «A Instrução primária» - Adolfo Coelho • «A Dedução Positiva da Ideia Democrática» - Augusto
Fuschini.
Conferências Democráticas do Casino
Lisbonense:
Conceito de Realismo em Eça
Negação da arte pela arte e do romantismo sentimentalista e piegas.
Análise da «anatomia do carácter», isto é, a análise dos comportamentos humanos.
A literatura deve ser moralizadora (ao focar os vícios do homem, o escritor realista deve indicar o modo como se hão de evitar).
Deve ser do seu tempo, abordar temas contemporâneos.
Arte de Regeneração de costumes e mentalidades.
Conceito de Naturalismo
Análise dos comportamentos humanos numa óptica
experimental e científica, comparativa em relação aos
comportamentos dos animais.
Após a proibição das Conferências, o grupo nunca mais volta a agir colectivamente.
Dá-se uma cisão ideológica no grupo:
- os que defendem o socialismo utópico: Antero e Eça;
- os que defendem o positivismo: Teófilo Braga.
Cisão ideológica
A dispersão ideológica, associada a certas
dispersões de carácter estético, levam a que
alguns membros sintam que o grupo da
“Geração de 70” falhou, autointitulando-se os
“Vencidos da Vida”. É o caso de Eça de Queirós.
Essa designação originou reações, pois, aos
olhos da época, eles eram, de facto, vencedores.
Eça era um escritor conceituado; foi cônsul em
Havana (1872) e em Paris (1888); e estava
ligado por casamento à aristocracia.
O grupo dos “Vencidos da Vida”: