178 historias zen budistas

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5/24/2018 178HistoriasZenBudistas-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/178-historias-zen-budistas 1/61 Koans e Contos Zen Buddhistas Há uma estória indiana de um homem que era um ateu e agnóstico, um raríssimo tipo de postura na Índia. Ele era uma pessoa que desejava livrar-se de todas as formas de ritos religiosos, deixando apenas a essência da direta experiência da Verdade. Ele atraiu discípulos que costumavam se reunir a seu redor toda semana, quando ele falava a todos sobre seus princípios. Após algum tempo eles começaram a se juntar antes do mestre aparecer, porque eles gostavam de estar em grupo e cantar juntos. Eventualmente foi construída uma casa para as reuniões, com uma sala especial para o mestre agnóstico. Após sua morte, tornou-se uma prática entre seus seguidores fazer uma reverência respeitosa para a agora sala vazia, antes de se entrar no salão. Em uma mesa especial a imagem do mestre era mostrada em uma moldura de ouro, e as pessoas deixavam flores e incenso lá, em respeito ao mestre. Em poucos anos uma religião tinha crescido em torno daquele homem, que em vida não praticava nada disso, e que, ao contrário, sempre disse aos seus seguidores que ficar preso a estas práticas levava freqüentemente a pessoa a se iludir no caminho da Verdade.  "Tenhais confiança não no mestre, mas no ensinamento. Tenhais confiança não no ensinamento, mas no espírito das palavras. Tenhais confiança não na teoria, mas na experiência. Não creiais em algo simplesmente porque vós ouvistes. Não creiais nas tradições simplesmente porque elas têm sido mantidas de geração para geração. Não creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos. Não creiais em algo simplesmente porque está escrito em livros sagrados; não creiais no que imaginais, pensando que um Deus vos inspirou. Não creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e anciãos. Mas após contemplação e reflexão, quando vós percebeis que algo é conforme ao que é razoável e leva ao que é bom e benéfico tanto para vós quanto para os outros, então o aceiteis e façais disto a base de sua vida." Gautama Buddha - Kalama Sutra Quando curiosamente te perguntarem, buscando saber o que é Aquilo, Não deves afirmar ou negar nada. Pois o que quer que seja afirmado não é a verdade, E o que quer que seja negado não é verdadeiro. Como alguém poderá dizer com certeza o que Aquilo possa ser Enquanto por si mesmo não tiver compreendido plenamente o que É? E, após tê-lo compreendido, que palavra deve ser enviada de uma Região Onde a carruagem da palavra não encontra uma trilha por onde possa seguir? Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes apenas o silêncio, Silêncio - e um dedo apontando o Caminho. Verso Zen Antes de entendermos o Zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios; Ao nos esforçarmos para entender o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios; Quando finalmente entendemos o Zen, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios.

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    Koans e Contos Zen Buddhistas

    H uma estria indiana de um homem que era um ateu e agnstico, umrarssimo tipo de postura na ndia. Ele era uma pessoa que desejavalivrar-se de todas as formas de ritos religiosos, deixando apenas aessncia da direta experincia da Verdade. Ele atraiu discpulos quecostumavam se reunir a seu redor toda semana, quando ele falava a

    todos sobre seus princpios. Aps algum tempo eles comearam a sejuntar antes do mestre aparecer, porque eles gostavam de estar emgrupo e cantar juntos.Eventualmente foi construda uma casa para as reunies, com uma salaespecial para o mestre agnstico. Aps sua morte, tornou-se umaprtica entre seus seguidores fazer uma reverncia respeitosa para aagora sala vazia, antes de se entrar no salo. Em uma mesa especial aimagem do mestre era mostrada em uma moldura de ouro, e as pessoasdeixavam flores e incenso l, em respeito ao mestre.Em poucos anos uma religio tinha crescido em torno daquele homem,que em vida no praticava nada disso, e que, ao contrrio, sempredisse aos seus seguidores que ficar preso a estas prticas levavafreqentemente a pessoa a se iludir no caminho da Verdade.

    "Tenhais confiana no no mestre, mas no ensinamento.Tenhais confiana no no ensinamento, mas no esprito das palavras.Tenhais confiana no na teoria, mas na experincia.No creiais em algo simplesmente porque vs ouvistes.No creiais nas tradies simplesmente porque elas tm sido mantidasde gerao para gerao.No creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado pormuitos.No creiais em algo simplesmente porque est escrito em livrossagrados; no creiais no que imaginais, pensando que um Deus vosinspirou.No creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres eancios.

    Mas aps contemplao e reflexo, quando vs percebeis que algo conforme ao que razovel e leva ao que bom e benfico tanto paravs quanto para os outros, ento o aceiteis e faais disto a base desua vida."

    Gautama Buddha - Kalama Sutra

    Quando curiosamente te perguntarem, buscando saber o que Aquilo,No deves afirmar ou negar nada.Pois o que quer que seja afirmado no a verdade,E o que quer que seja negado no verdadeiro.Como algum poder dizer com certeza o que Aquilo possa serEnquanto por si mesmo no tiver compreendido plenamente o que ?

    E, aps t-lo compreendido, que palavra deve ser enviada de umaRegioOnde a carruagem da palavra no encontra uma trilha por onde possaseguir?Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes apenas o silncio,Silncio - e um dedo apontando o Caminho.Verso Zen

    Antes de entendermos o Zen, as montanhas so montanhas e os rios sorios;Ao nos esforarmos para entender o Zen, as montanhas deixam de sermontanhas e os rios deixam de ser rios;

    Quando finalmente entendemos o Zen, as montanhas voltam a sermontanhas e os rios voltam a ser rios.

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    1. Uma xcara de Ch

    Nan-In, um mestre japons durante a era Meiji (1868-1912), recebeu umprofessor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen. Esteiniciou um longo discurso intelectual sobre suas dvidas.Nan-In,enquanto isso, serviu o ch. Ele encheu completamente a xcara de seu

    visitante, e continuou a ench-la, derramando ch pela borda.O professor, vendo o excesso se derramando, no pode mais se conter edisse:"Est muito cheio. No cabe mais ch!""Como esta xcara," Nan-in disse, "voc est cheio de suas prpriasopinies e especulaes. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem vocprimeiro esvaziar sua xcara?"

    2.Uma ParbolaCerta vez, disse o Buddha uma parbola:Um homem viajando em um campoencontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu encalo. Aproximando-se de um precipcio, tomou as razes expostas de uma vinha selvagem

    em suas mos e pendurou-se precipitadamente abaixo, na beira doabismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixoe viu, no fundo do precipcio, outro tigre a esper-lo. Apenas avinha o sustinha.Mas ao olhar para a planta, viu dois ratos, um negro e outro branco,roendo aos poucos sua raiz. Neste momento seus olhos perceberam umbelo morango vicejando perto. Segurando a vinha com uma mo, elepegou o morango com a outra e o comeu."Que delcia!", ele disse.

    3. Nas Mos do Destino

    Um grande guerreiro japons chamado Nobunaga decidiu atacar o inimigoembora ele tivesse apenas um dcimo do nmero de homens que seuoponente. Ele sabia que poderia ganhar mesmo assim, mas seus soldadostinham dvidas. No caminho para a batalha ele parou em um temploShint e disse aos seus homens:"Aps eu visitar o relicrio eu jogarei uma moeda. Se a Cara sair,iremos vencer; se sair a Coroa, iremos com certeza perder. O Destinonos tem em suas mos."Nobunaga entrou no templo e ofereceu uma prece silenciosa. Ento saiue jogou a moeda. A Cara apareceu. Seus soldados ficaram toentusiasmados a lutar que eles ganharam a batalha facilmente.

    Aps a batalha, seu segundo em comando disse-lhe orgulhoso:"Ningum pode mudar a mo do Destino!""Realmente no..." disse Nobunaga mostrando-lhe reservadamente suamoeda, que tinha sido duplicada, possuindo a Cara impressa nos doislados.

    4. Garotas

    Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta.

    Uma pesada chuva ainda caa, dificultando a caminhada. Chegando a umacurva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono deseda e cinta, incapaz de cruzar a intercesso.

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    "Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braos,ele a carregou atravessando o lamaal.Ekido no falou nada at aquela noite quando eles atingiram oalojamento do Templo. Ento ele no mais se conteve e disse:"Ns monges no nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan,"especialmente as jovens e belas. Isto perigoso. Por que fezaquilo?"

    "Eu deixei a garota l," disse Tanzan. "Voc ainda a estcarregando?"

    5. Sem trabalho, Sem comida

    HYAKUJO, o mestre Zen chins, costumava trabalhar com seus discpulosmesmo na idade de 80 anos, aparando o jardim, limpando o cho, epodando as rvores. Os discpulos sentiram pena em ver o velho mestretrabalhando to duramente, mas eles sabiam que ele no iria escutar

    seus apelos para que parasse. Ento eles resolveram esconder suasferramentas.Naquele dia o mestre no comeu. No dia seguinte tambm, e no outro."Ele deve estar irritado por termos escondido suas ferramentas," osdiscpulos acharam. " melhor ns as colocarmos de volta no lugar."No dia em que eles fizeram isso, o mestre trabalhou e comeuexatamente como antes. noite ele os instruiu, simplesmente:"Sem trabalho, sem comida."

    6. Nada Existe

    YAMAOKA TESSHU, quando um jovem estudante Zen, visitou um mestre apsoutro. Ele ento foi at Dokuon de Shokoku. Desejando mostrar oquanto j sabia, ele disse, vaidoso: "A mente, Buddha, e os seressencientes, alm de tudo, no existem. A verdadeira natureza dosfenmenos vazia. No h realizao, nenhuma deluso, nenhum sbio,nenhuma mediocridade. No h o Dar e tampouco nada a receber!"Dokuon, que estava fumando pacientemente, nada disse. Subitamente eleacertou Yamaoka na cabea com seu longo cachimbo de bambu. Isto fez ojovem ficar muito irritado, gritando xingamentos."Se nada existe," perguntou, calmo, Dokuon, "de onde veio toda estasua raiva?"

    7. A Subjugao de um fantasma - Um Exorcismo Zen...

    Uma jovem e bela esposa caiu doente e finalmente chegou s portas damorte."Eu te amo tanto," ela disse ao seu marido, "Eu no quero deixar-te.Prometas que no me trocars por nenhuma outra mulher! Se tu no ofizeres, eu retornarei como um fantasma e te causarei aborrecimentossem fim!"Logo aps, a esposa morreu. O marido procurou respeitar seu ltimo

    desejo pelos primeiros trs meses, mas ento ele encontrou outramulher e se apaixonou. Eles tornaram-se noivos e logo se casariam.Imediatamente aps o noivado um fantasma aparecia todas as noites ao

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    homem, acusando-o por no ter mantido sua promessa. O fantasma eraesperto, tambm. Ela lhe dizia tudo o que acontecia e era faladoentre ele e sua noiva, mesmo as mais ntimas experincias.Sempre que dava sua noiva um presente, o fantasma o descrevia emdetalhes. Ela at mesmo repetia suas conversas, e isso aborreciatanto o homem que ele no era capaz de dormir. Algum o aconselhou aexpor seu problema a um mestre Zen que vivia prximo vila. Enfim,

    em desespero, o pobre homem foi buscar sua ajuda."Ento sua ex-esposa tornou-se um fantasma e sabe tudo o que vocfaz," comentou o mestre, meio divertido. "O que quer que voc faa oudiga, o que quer que voc d sua amada, ela sabe. Ela deve ser umfantasma muito sbio... Realmente voc deveria admirar tal fantasma!A prxima vez que ela aparecer, barganhe com ela. Diga a elaexatamente o que direi a voc..."Naquela noite o homem encontrou o fantasma e disse o que o mestrehavia instrudo:"Voc sabe tanto de mim que eu nada posso esconder-lhe! Se voc meresponder apenas uma questo, eu lhe prometo desfazer meu noivado epermanecer solteiro.""Na verdade, eu sei que voc foi ver um mestre Zen hoje! Diga-me suaquesto." Disse o fantasma.

    O homem levantou sua mo direita fechada e perguntou:"J que sabes tanto, diga-me apenas quantos feijes eu tenho nestamo..."Neste exato momento no havia mais nenhum fantasma para responder aquesto.

    8. Verdadeira Riqueza

    Um homem muito rico pediu a Sengai para escrever algo pela

    continuidade da prosperidade de sua famlia, de modo que esta pudessemanter sua fortuna de gerao a gerao.Sengai pegou uma longa folha de papel de arroz e escreveu: "Paimorre, filho morre, neto morre."O homem rico ficou indignado e ofendido. "Eu lhe pedi para escreveralgo pela felicidade de minha famlia! Porque fizeste uma brincadeiradestas?!?""No pretendi fazer brincadeiras," explicou Sengai tranqilamente."Se antes de sua morte seu filho morrer, isto iria mago-loimensamente. Se seu neto se fosse antes de seu filho, tanto vocquanto ele ficariam arrasados. Mas se sua famlia, de gerao agerao, morrer na ordem que eu escrevi, isso seria o mais naturalcurso da Vida. Eu chamo a isso Verdadeira Riqueza."

    9. Homem Santo

    Boatos espalharam-se por toda a regio acerca do sbio Homem Santoque vivia em uma pequena casa sobre a montanha. Um homem da viladecidiu fazer a longa e difcil jornada para visit-lo. Quando chegouna casa, ele viu um simples velho dentro que o recebeu, abrindo aporta."Eu gostaria de ver o sbio Homem Santo," disse ele ao outro. O velhosorriu e permitiu-o entrar.

    Enquanto eles caminhavam ao longo da casa, o homem da vila olhavaansiosamente em torno, antecipando seu encontro com um homemconsiderado um verdadeiro Santo. Mas antes que pudesse dar pela

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    coisa, ele j havia percorrido a extenso da casa e levado para fora.Ele parou e voltou-se para o velho:"Mas eu quero ver o Homem Santo!""J o fizeste," disse o velho. "Todos que tu encontras em tua vida,mesmo se eles paream simples e insignificantes... veja cada um delescomo um sbio Homem Santo. Se fizeres deste modo, ento quaisquer quesejam os problemas que trouxestes aqui hoje, sero resolvidos..."

    E fechou a porta.

    10. Os Portais do Paraso

    Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi at Hakuin, e perguntou-lhe: "Se existe um paraso e um inferno, onde esto?""Quem voc?"perguntou Hakuin."Eu sou um samurai!" o guerreiro exclamou."Voc, umguerreiro!" riu-se Hakuin. "Que espcie de governante teria talguarda? Sua aparncia a de um mendigo!".

    Nobushige ficou to raivoso que comeou a desembainhar sua espada,mas Hakuin continuou:"Ento voc tem uma espada! Sua arma provavelmente est to cega queno cortar minha cabea..."O samurai retirou a espada num gesto rpido e avanou pronto paramatar, gritando de dio. Neste momento Hakuin gritou:"Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!"Ao ouvir estas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, osamurai embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverncia."Acabaram de se abrir os Portais do Paraso," disse suavementeHakuin.

    11. mesmo?

    Uma linda garota da vila ficou grvida. Seus pais, encolerizados,exigiram saber quem era o pai. Inicialmente resistente a confessar, aansiosa e embaraada menina finalmente acusou Hakuin, o mestre Zen oqual todos da vila reverenciavam profundamente por viver uma vidadigna. Quando os insultados pais confrontaram Hakuin com a acusaode sua filha, ele simplesmente disse:" mesmo?"Quando a criana nasceu, os pais a levaram para Hakuin, o qual agoraera visto como um pria por todos da regio. Eles exigiram que ele

    tomasse conta da criana, uma vez que essa era sua responsabilidade." mesmo?" Hakuin disse calmamente enquanto aceitava a criana.Por muitos meses ele cuidou carinhosamente da criana at o dia emque a menina no agentou mais sustentar a mentira e confessou que opai verdadeiro era um jovem da vila que ela estava tentando proteger.Os pais imediatamente foram a Hakuin, constrangidos, para ver se elepoderia devolver a guarda do beb. Com profusas desculpas elesexplicaram o que tinha acontecido." mesmo?" disse Hakuin enquanto devolvia a criana.

    12. Certo e Errado

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    Quando Bankei realizava seus retiro semanais de meditao, discpulosde muitas partes do Japo vinham participar. Durante um destesSesshins um discpulo foi pego roubando. O caso foi reportado aBankei com a solicitao para que o culpado fosse expulso.Bankei ignorou o caso.Mais tarde o discpulo foi surpreendido na mesma falta, e novamenteBankei desdenhou o acontecimento. Isto aborreceu os outros pupilos,

    que enviaram uma petio pedindo a dispensa do ladro, e declarandoque se tal no fosse feito eles todos iriam deixar o retiro.Quando Bankei leu a petio ele reuniu todos diante de si."Vocs so sbios," ele disse aos discpulos. "Vocs sabem o que certo e o que errado. Vocs podem ir para qualquer outro lugar paraestudar e praticar, mas este pobre irmo no percebe nem mesmo o quesignifica o certo e o errado. Quem ir ensin-lo se eu no o fizer?Eu vou mant-lo aqui mesmo se o resto de vocs partirem."Uma torrente de lgrimas foram derramadas pelo monge que roubara.Todo seu desejo de roubar tinha se esvaecido.

    13. Buddha Cristo

    Um dos monges do mestre Gasan visitou a universidade em Tokyo. Quandoele retornou, ele perguntou ao mestre se ele jamais tinha lido aBblia Crist."No," Gasan replicou, "Por favor leia algo dela paramim."O monge abriu a Bblia no Sermo da Montanha em So Mateus, e comeoua ler. Aps a leitura das palavras de Cristo sobre os lrios nocampo, ele parou. Mestre Gasan ficou em silncio por muito tempo."Sim," ele finalmente disse, "Quem quer que proferiu estas palavras um ser iluminado. O que voc leu para mim a essncia de tudo o queeu tenho estado tentando ensinar a vocs aqui."

    14. A Lua No Pode Ser Roubada

    Ryokan, um mestre Zen, vivia a mais simples e frugais das vidas emuma pequena cabana aos ps de uma montanha. Uma noite um ladroentrou na cabana apenas para descobrir que nada havia para serroubado.Ryokan retornou e o surpreendeu l."Voc fez uma longa viagem para me visitar," ele disse ao gatuno, "e

    voc no deveria retornar de mos vazias. Por favor tome minhasroupas como um presente."O ladro ficou perplexo. Rindo de troa, ele tomou as roupas eesgueirou-se para fora.Ryokan sentou-se nu, olhando a lua."Pobre coitado," ele murmurou. "Gostaria de poder dar-lhe esta belalua."

    15. Equanimidade

    Durante as guerras civis no Japo feudal, um exrcito invasor poderiafacilmente dizimar uma cidade e tomar controle. Numa vila, todos

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    fugiram apavorados ao saberem que um general famoso por sua fria ecrueldade estava se aproximando - todos exceto um mestre Zen, quevivia afastado.Quando chegou vila, seus batedores disseram que ningum mais estaval, alm do monge. O general foi ento ao templo, curioso em saberquem era tal homem. Quando ele l chegou, o monge no o recebeu com anormal submisso e terror com que ele estava acostumado a ser tratado

    por todos; isso levou o general fria."Seu tolo!!" ele gritou enquanto desembainhava a espada, "no percebeque voc est diante de um homem que pode trucid-lo num piscar deolhos?!?"Mas o mestre permaneceu completamente tranqilo."E voc percebe," o mestre replicou calmamente, "que voc est diantede um homem que pode ser trucidado num piscar de olhos?"

    16. O ladro que se tornou um discpulo

    Uma noite quando Shichiri Kojun estava recitando sutras um ladro comuma espada entrou em seu zendo, exigindo seu dinheiro ou a sua vida.Shichiri disse-lhe:"No me perturbe. Voc pode encontrar o dinheiro naquela gaveta." Eretomou sua recitao.Um pouco depois ele parou de novo e disse ao ladro:"No pegue tudo. Eu preciso de alguma soma para pagar os impostosamanh."O intruso pegou a maior parte do dinheiro e principiou a sair."Agradea pessoa quando voc recebe um presente," Shichiriacrescentou. O homem lhe agradeceu, meio confuso, e fugiu.Poucos dias depois o indivduo foi preso e confessou, entre outrascoisas, a ofensa contra Shichiri. Quando Shichiri foi chamado como

    testemunha ele disse:"Este homem no ladro, ao menos tanto quanto me diz respeito. Eulhe dei o dinheiro e ele inclusive me agradeceu por isso."Aps o homem ter cumprido sua pena, ele foi a Shichiri e tornou-se umde seus discpulos.

    17. Verdadeira regenerao

    Ryokan devotou sua vida ao estudo do Zen. Um dia ele ouviu que seu

    sobrinho, a despeito das advertncias de sua famlia, estava gastandoseu dinheiro com uma prostituta. Uma vez que o sobrinho tinhasubstitudo Ryokan na responsabilidade de gerenciar os proventos dafamlia, e os bens desta portanto corriam risco de serem dissipados,os parentes pediram a Ryokan fazer algo.Ryokan teve que viajar por uma longa estrada para encontrar seusobrinho, o qual ele no via h muitos anos. O sobrinho ficou gratopor encontrar seu tio novamente e o convidou a pernoitar em sua casa.Por toda a noite Ryokan sentou em meditao. Quando ele estavapartindo na manh seguinte ele disse ao jovem: "Eu devo estar ficandovelho, minhas mos tremem tanto! Poderia me ajudar a amarrar minhasandlia de palha?"O sobrinho o ajudou devotadamente. "Obrigado," disse Ryokanfinalmente, "voc v, a cada dia um homem se torna mais velho e

    frgil. Cuide-se com ateno." Ento Ryokan partiu, jamaismencionando uma palavra sobre a cortes ou as reclamaes de seusparentes. Mas, daquela manh em diante, o esbanjamento do seu neto

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    terminou.

    18. O Homem rico

    Um homem queria ficar rico e, todos os dias, ia pedir a Deus que lheatendesse s splicas.Num dia de inverno, ao voltar da orao, avistou, presa no gelo docaminho, uma polpuda carteira de dinheiro.No mesmo instante, julgou-se atendido. Mas como a carteira resistisseaos seus esforos, urinou em cima dela a fim de derreter o gelo que aretinha. E foi ento. . .Que despertou na cama toda molhada. . .

    19. Morte de Tokuan

    Mestre Tokuan (cujo nome significa "pepino") estava morrendo; umdiscpulo aproximou-se e perguntou-lhe qual era o seu testamento.Takuan respondeu que no tinha testamento; mas o discpulo insistiu:- No tendes nada... Nada para dizer?- A vida no passa de um sonho.E expirou.

    20. Eremita e a ambio

    Na China antiga, um eremita meio mgico vivia numa montanha profunda.Um belo dia, um velho amigo foi visit-lo. Senrin, muito feliz porreceb-lo, ofereceu-lhe um jantar e um abrigo para a noite; na manhaseguinte, antes da partida do amigo, quis ofertar-lhe um presente.Tomou de uma pedra e, com o dedo, converteu-a num bloco de ouro puro.O amigo no ficou satisfeito; Senrin apontou o dedo para uma rochaenorme, que tambm se transformou em ouro.O amigo, porm, continuava sem sorrir.

    - Que queres, ento? - indagou Senrin.Respondeu-lhe o amigo:- Corta esse dedo, eu o quero.

    21. Presente de Insultos

    Certa vez existiu um grande guerreiro. Ainda que muito velho, eleainda era capaz de derrotar qualquer desafiante. Sua reputaoestendeu-se longe e amplamente atravs do pas e muitos estudantesreuniam-se para estudar sob sua orientao.

    Um dia um infame jovem guerreiro chegou vila. Ele estavadeterminado a ser o primeiro homem a derrotar o grande mestre. Junto sua fora, ele possua uma habilidade fantstica em perceber e

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    explorar qualquer fraqueza em seu oponente, ofendendo-o at que aeste perdesse a concentrao. Ele esperaria ento que seu oponentefizesse o primeiro movimento, e assim revelando sua fraqueza, e entoatacaria com uma fora impiedosa e velocidade de um raio. Ningumjamais havia resistido em um duelo contra ele alm do primeiromovimento.Contra todas as advertncias de seus preocupados estudantes, o velho

    mestre alegremente aceitou o desafio do jovem guerreiro. Quando osdois se posicionaram para a luta, o jovem guerreiro comeou a lanarinsultos ao velho mestre. Ele jogava terra e cuspia em sua face. Porhoras ele verbalmente ofendeu o mestre com todo o tipo de insulto emaldio conhecidos pela humanidade. Mas o velho guerreiro meramenteficou parado ali, calmamente. Finalmente, o jovem guerreirofinalmente ficou exausto. Percebendo que tinha sido derrotado, elefugiu vergonhosamente.Um tanto desapontados por no terem visto seu mestre lutar contra oinsolente, os estudantes aproximaram-se e lhe perguntaram: "Como osenhor pde suportar tantos insultos e indignidades? Como conseguiuderrot-lo sem ao menos se mover?""Se algum vem para lhe dar um presente e voc no o aceita," omestre replicou, "para quem retorna este presente?"

    22. Caando dois coelhos

    Um estudante de artes marciais aproximou-se de seu mestre com umaquesto:"Gostaria de aumentar meu conhecimento das artes marciais. Em adioao que aprendi com o senhor, eu gostaria de estudar com outroprofessor para poder aprender outro estilo. O que pensa de minhaidia?"

    "O caador que espreita dois coelhos ao mesmo tempo," respondeu omestre, "corre o risco de no pegar nenhum."

    23. O Mais Importante Ensinamento

    Um renomado mestre Zen dizia que seu maior ensinamento era este:Buddha a sua mente. De to impressionado com a profundidadeimplicada neste axioma, um monge decidiu deixar o Monastrio eretirar-se em um local afastado para meditar nesta pea de sabedoria.

    Ele viveu 20 anos como um eremita refletindo no grande ensinamento.Um dia ele encontrou outro monge que viajava na atravs da florestaprxima sua ermida. Logo o monge eremita soube que o viajantetambm tinha estuda sob o mesmo mestre Zen."Por favor, diga-me se voc conhece o grande ensinamento do mestre,"perguntou ansioso ao outro.Os olhos do monge viajante brilharam, "Ah! O mestre foi muito clarosobre isto. Ele disse que seu maior ensinamento era: Buddha NO asua mente."

    24. Aprendendo do modo mais duro

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    O filho de um mestre em roubos pediu a seu pai para ensinar-lhe ossegredos de seu ofcio. O velho ladro concordou e naquela noitelevou seu filho para assaltar uma grande manso. Enquanto a famliadormia, ele silenciosamente levou seu aprendiz para dentro de umquarto que continha um armrio de ricas roupas. O pai disse ao filhopara entrar no armrio e pegar algumas roupas. Quando o rapaz fezisso, seu pai rapidamente fechou a porta e o prendeu l dentro. Ento

    ele saiu, e bateu sonoramente na porta da frente, acordandoconsequentemente a famlia que dormia, e rapidamente fugiu antes quequalquer pessoa o visse.Horas mais tarde, seu filho retornou casa, em trapos e exausto."Pai!" ele gritou em fria, "Porque o senhor me prendeu no armrio?Se eu no tivesse usado desesperadamente meus recursos com medo deser descoberto, eu jamais teria escapado. Tive que abandonar toda aminha timidez para sair de l!"O velho ladro sorriu: "Filho, voc acabou de ter sua primeira liona arte da rapinagem..."

    25. Gutei e o Dedo

    O Mestre Gutei, sempre que lhe faziam uma pergunta, respondialevantando um dedo sem dizer nada. Um novio adquiriu o vcio deimit-lo. Certo dia, um visitante perguntou ao novio:"Que sermo o Mestre est pronunciando agora?"O novio respondeu levantando o dedo. O visitante, quando seencontrou com o Mestre, contou-lhe que o novio o imitara. Maistarde, o Mestre escondeu uma faca nas vestes e chamou o novio.Quando este se apresentou, Gutei perguntou-lhe:"O que Buddha?"O rapaz, ansioso para impressionar o mestre, respondeu levantando o

    dedo. O Mestre ento agarrou-lhe a mo e cortou-lhe o dedo com afaca. O discpulo, apavorado e em choque, j ia sair correndo, mas oMestre o chamou com um grito:"NOVIO!"Quando o rapaz se voltou para o Mestre, este perguntou abruptamente :"O que Buddha?"O discpulo ia levantar o dedo, mas no tinha mais dedo. Nesteinstante, ele alcanou o Satori.

    26. Seguindo a corrente

    Um velho homem bbado acidentalmente caiu nas terrveis corredeirasde um rio que levavam para uma alta e perigosa cascata. Ningumjamais tinha sobrevivido quele rio. Algumas pessoas que viram oacidente temeram pela sua vida, tentando desesperadamente chamar aateno do homem que, bbado, estava quase desmaiado. Mas,miraculosamente, ele conseguiu sair salvo quando a prpria correntezao despejou na margem em uma curva que fazia o rio.Ao testemunhar o evento, Kung-tzu (Confcio) comentou para todas aspessoas que diziam no entender como o homem tinha conseguido sair deto grande dificuldade sem luta:"Ele se acomodou gua, no tentou lutar com ela. Sem pensar, semracionalizar, ele permitiu que a gua o envolvesse. Mergulhando na

    correnteza, conseguiu sair da correnteza. Assim foi como conseguiusobreviver."

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    27. O Sonho

    Certa vez o mestre taosta Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta,voando alegremente aqui e ali. No sonho ele no tinha mais a mnimaconscincia de sua individualidade como pessoa. Ele era realmente umaborboleta. Repentinamente, ele acordou e descobriu-se deitado ali, umpessoa novamente.Mas ento ele pensou para si mesmo:"Fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta, ou sou agora umaborboleta que sonha em ser um homem?"

    28. Egosmo

    O Primeiro Ministro da Dinastia Tang era um heri nacional pelo seusucesso tanto como homem de estado quanto como lder militar. Mas adespeito de sua fama, poder e riqueza, ele se considerava um humildee devoto Buddhista. Freqentemente ele visitava seu mestre Zenfavorito para estudar com ele, e eles pareciam se dar muito bem. Ofato de que ele era primeiro ministro aparentemente no tinha efeitoem sua relao, que parecia ser simplesmente a de um reverendo mestree seu respeitoso estudante.Um dia, durante sua visita usual, o Primeiro Ministro perguntou aomestre, "Mestre, o que o egosmo de acordo com o Buddhismo?"O rosto do mestre ficou vermelho, e num tom de voz extremamentedesdenhoso e insultuoso ele gritou em resposta:

    "Que tipo de pergunta estpida esta?!?"Tal resposta to inesperada chocou tanto o Primeiro Ministro que estetornou-se imediatamente arrogante e com raiva:"Como ousa me tratar assim?"Neste momento o mestre Zen sorriu e disse:"ISTO, Sua Excelncia, egosmo..."

    29. Conhecendo os Peixes

    Certa vez Chuang Tzu e um amigo caminhavam margem de um rio.

    "Veja os peixes nadando na corrente," disse Chuang Tzu, "Eles estorealmente felizes...""Voc no um peixe," replicou arrogantemente seu amigo, "Ento vocno pode saber se eles esto felizes.""Voc no Chuang Tzu," disse Chuang Tzu, "Ento como voc sabe queeu no sei que os peixes esto felizes?"

    30. Plena Ateno

    Aps dez anos de aprendizagem, Tenno atingiu o ttulo de mestre Zen.Num dia chuvoso, ele foi visitar o famoso mestre Nan-In. Quando eleentrou no mosteiro, o mestre recebeu-o com uma questo,

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    "Voc deixou seus tamancos e seu guarda-chuva no alpendre?""Sim", Tenno replicou."Diga-me ento," o mestre continuou, "voc colocou seu guarda-chuva esquerda de seu calado, ou direita?"Tenno no soube como responder ao koan, percebendo afinal que eleainda no tinha alcanado a plena ateno. Ento ele tornou-seaprendiz de Nan-In e estudou sob sua orientao por mais dez anos.

    31. Concentrao

    Aps ganhar vrios torneios de Arco e Flecha, o jovem e arrogantecampeo resolveu desafiar um mestre Zen que era renomado pela suacapacidade como arqueiro.O jovem demonstrou grande proficincia tcnica quando ele acertou emum distante alvo na mosca na primeira flecha lanada, e ainda foicapaz de dividi-la em dois com seu segundo tiro.

    "Sim!", ele exclamou para o velho arqueiro, "Veja se pode fazerisso!"Imperturbvel, o mestre no preparou seu arco, mas em vez disso fezsinal para o jovem arqueiro segui-lo para a montanha acima. Curiososobre o que o velho estava tramando, o campeo seguiu-o para o altoat que eles alcanaram um profundo abismo atravessado por uma frgile pouco firme tbua de madeira. Calmamente caminhando sobre ainsegura e certamente perigosa ponte, o velho mestre tomou uma largarvore longnqua como alvo, esticou seu arco, e acertou um claro edireto tiro."Agora sua vez," ele disse enquanto ele suavemente voltava parasolo seguro.Olhando com terror para dentro do abismo negro e aparentemente semfim, o jovem no pde forar a si mesmo caminhar pela prancha, muito

    menos acertar um alvo de l."Voc tem muita percia com seu arco," o mestre disse, percebendo adificuldade de seu desafiante, "mas voc tem pouco equilbrio com amente que deve nos deixar relaxados para mirar o alvo."

    32. Professor de Sino

    Um novo estudante aproximou-se do mestre Zen e perguntou-lhe como ele

    poderia absorver seus ensinamentos de forma correta."Pense em mim como um sino," o mestre explicou. "Me d um suavetoque, e eu irei lhe dar um pequeno tinido. Toque-me com fora e vocreceber um alto e profundo badalo."

    33. O Elefante e a Pulga

    Roshi Kapleau (um mestre Zen moderno) concordou em falar a um grupode psicanalistas sobre Zen. Aps ser apresentado ao grupo pelodiretor do instituto analtico, o Roshi quietamente sentou-se sobre

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    uma almofada colocada sobre o cho. Um estudante entrou, prostrou-sediante do mestre, e ento sentou-se em outra almofada prxima,olhando seu professor."O que Zen?" o estudante perguntou. O Roshi pegou uma banana,descascou-a, e comeou a com-la."Isso tudo? O senhor no pode me dizer nada mais?" o estudantedisse.

    "Aproxime-se, por favor." O mestre replicou. O estudante moveu-semais para perto e Roshi balanou o que restava da banana em frente aorosto do outro. O estudante fez uma reverncia e partiu.Um segundo estudante levantou-se e dirigiu-se audincia:"Vocs todos entenderam?" Quando no houve resposta, o estudanteadicionou:"Vocs acabaram de testemunhar uma completa demonstrao do Zen.Alguma questo?"Aps um longo silncio constrangido, algum falou."Roshi, eu no estou satisfeito com sua demonstrao. O senhor nosmostrou algo que eu no tenho certeza de ter compreendido. DEVEexistir uma maneira de nos DIZER o que o Zen!""Se voc insiste em usar mais palavras," o Roshi replicou, "ento Zen 'um elefante copulando com uma pulga...'".

    34. Livros

    Hsan-Chien, quando jovem, era um devoto estudante do buddhismo.Estudou muito os conceitos e as doutrinas, e tornou-se muito hbil emanalisar os termos complexos, e se considerava um expert em filosofiabuddhista. Aprendeu de cor o Sutra do Diamante, e orgulhosamenteescreveu um longo comentrio sobre ele.Um dia, sabendo que em Hunan havia um grande sbio que dizia coisas

    que ele no concordava, resolveu viajar at l para provar, atravsde seu conhecimento, que o pretenso sbio estava errado. Ele pegouseu comentrio Qinglong sobre o Sutra do Diamante e partiu.No caminho, encontrou uma velha que vendia bolinhos de arroz. Cansadoe com fome, falou senhora:"Gostaria de comprar alguns bolinhos, por favor.""Que livros est carregando? ", perguntou a velha." o meu comentrio sobre o sentido verdadeiro do Sutra doDiamante," disse orgulhoso," mas voc no sabe nada sobre essesassuntos profundos."Aps um pequeno momento em silncio, a velha lhe disse:"Vou lhe fazer uma pergunta, e se puder me responder eu lhe darei osbolinhos de graa. Se no, ter que ir embora, pois no vou lhevender os bolinhos."

    Achando-se capaz de responder qualquer pergunta, quanto mais de umapessoa sem os seus anos de conhecimentos nos termos filosficos,disse:"Muito bem, pergunte-me"."Est escrito no Vajracchedika que a Mente do passado inatingvel,a Mente do futuro inatingvel e a Mente do presente inatingvel;diga-me ento: com qual Mente voc vai se alimentar?"Estupefato, Hsan-chien no soube o que dizer. A velha levantou-se ecomentou:"Sinto muito, mas acho que ter que se alimentar em outro lugar", epartiu.Quando chegou no seu destino encontrou Longtan, o mestre do templo.Tinha chegado tarde, e ainda abalado com o encontro anterior, sentou-se silenciosamente em frente ao mestre, esperando que ele iniciasse o

    debate. O mestre, aps muito tempo, disse:" muito tarde, e voc est cansado. melhor ir para seu quartodormir."

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    "Muito bem," disse o intelectual, levantou-se e comeou a sair para aescurido do corredor. O mestre veio de dentro do salo e comentou:"Est muito escuro, tome, leve esta vela acesa," e lhe passou uma dasvelas acesas do altar. Quando Hsen-chien pegou a vela trazida pelomestre, Longtan subitamente assoprou-a, apagando a luz e deixandoambos silenciosos em meio escurido. Neste momento Hsan-chienatingiu o Satori.

    No dia seguinte, levou todos seus livros e comentrios para o ptio eos queimou.

    35. Obra de Arte

    Um mestre em caligrafia escreveu alguns ideogramas em uma folha depapel. Um dos seus mais especialmente sensveis estudantes estavaobservando. Quando o artista terminou, ele perguntou a opinio do seupupilo - que imediatamente lhe disse que no estava bom. O mestre

    tentou novamente, mas o estudante criticou tambm o novo trabalho.Vrias vezes, o mestre cuidadosamente redesenhou os mesmosideogramas, e a cada vez seu estudante rejeitava a obra.Ento, quando o estudante estava com sua ateno desviada por outracoisa e no estava olhando, o mestre aproveitou o momento erapidamente apagou os caracteres que havia escrito no ltimotrabalho, deixando a folha em branco."Veja! O que acha?," ele perguntou. O Estudante ento virou-se eolhou atentamente."ESTA... verdadeiramente uma obra de arte!", exclamou.

    (Uma lenda diz que este o conto que descreve a criao de arte domestre Kosen, que por sua vez foi usada para criar o entalhe emmadeira das palavras "O Primeiro Princpio", que ornamentam o porto

    do Templo Obaku em Kyoto).

    36. Buscando por Buddha

    Um monge ps-se a caminho de uma longa peregrinao para encontrarBuddha. Ele levou muitos anos em sua busca at alcanar a terra ondedizia-se que vivia Buddha. Ao cruzar o sagrado rio que cortava estepas, o monge olhava em torno enquanto o barqueiro conduzia o bote.

    Ele percebeu algo flutuando em sua direo. Quando o objeto chegoumais perto, ele viu que era um cadver - e que o morto era ele mesmo!O monge perdeu todo o controle e deu um grito de dor viso de simesmo, rgido e sem vida, flutuando suavemente na corrente do granderio.Neste instante percebeu que ali estava comeando sua busca pelaliberao...E ento ele soube definitivamente que sua procura por Buddha haviaterminado.

    37. O Agora

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    Um guerreiro japons foi capturado pelos seus inimigos e jogado napriso. Naquela noite ele sentiu-se incapaz de dormir pois sabia queno dia seguinte ele iria ser interrogado, torturado e executado.Ento as palavras de seu mestre Zen surgiram em sua mente:"O "amanh" no real. uma iluso. A nica realidade "AGORA. Overdadeiro sofrimento viver ignorando este Dharma".

    Em meio ao seu terror subitamente compreendeu o sentido destaspalavras, ficou em paz e dormiu tranqilamente.

    38. Nada santo

    Certa vez Bodhidharma foi levado presena do Imperador Wu, umdevoto benfeitor buddhista, que ansiava receber a aprovao de suagenerosidade pelo sbio. Ele perguntou ao mestre:

    "Ns construmos templos, copiamos os sutras sagrados, ordenamosmonges e monjas. Qual o mrito, reverenciado Senhor, da nossaconduta?""Nenhum mrito, em absoluto", disse o sbio.O Imperador, chocado e algo ofendido, pensou que tal resposta comcerteza estava subvertendo todo o dogma buddhista, e tornou aperguntar:"Ento qual o Santo Dharma, o Primeiro Princpio?""Um vasto Vazio, sem nada santo dentro dele", afirmou Bodhidharma,para a surpresa do Imperador. Este ficou furioso, levantou-se e fezsua ltima pergunta:"Quem s ento, para ficares diante de mim como se fosse um sbio?""Eu no sei, Majestade", replicou o sbio, que assim tendo ditovirou-se e foi embora.

    39. Onde est sua mente?

    Finalmente, aps muitos sofrimentos, Shang Kwang foi aceito porBodhidharma como seu discpulo. O jovem ento perguntou ao mestre:"Eu no tenho paz de esprito. Gostaria de pedir, Senhor, que

    pacificasse minha mente.""Ponha sua mente aqui na minha frente e eu a pacificarei!" replicouBodhidharma."Mas... impossvel que eu faa isso!" afirmou Shang Kwang."Ento j pacifiquei a sua mente.", conclui o sbio.

    40. A prtica faz a perfeio

    Um estudante de canto de pera dramtica treinou sob um rgido

    professor que insistia que ele recitasse dia aps dia, ms aps ms omesmo trecho da mesma cano, sem jamais ser permitido ir adiante.Finalmente, oprimido pela frustrao e desespero, o jovem fugiu em

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    busca de outra profisso. Uma noite, parando em uma estalagem, eleencontrou por acaso o anncio de uma competio de recitao. Notendo nada a perder, ele entrou na competio e, claro, cantou anica passagem que ele conhecia to bem. Quando ele terminou, opatrocinador da competio congratulou-o efusivamente suaperformance. A despeito das embaraadas objees do estudante,recusou-se a acreditar que havia escutado um cantor principiante.

    "Diga-me," perguntou o patrocinador, "quem seu instrutor? Ele deveser um grande mestre!"O estudante mais tarde tornou-se conhecido como o grande cantorjapons Koshiji.

    41. O Paraso

    Duas pessoas estavam perdidas no deserto. Elas estavam morrendo deinanio e sede. Finalmente, eles avistaram um alto muro. Do outrolado eles podiam ouvir o som de quedas d'gua e pssaros cantando.Acima eles podiam ver os galhos de uma rvore frutfera atravessando

    e pendendo sobre o muro. Seus frutos pareciam deliciosos.Um dos homens subiu o muro e desapareceu no outro lado.O outro, em vez disso, saciou sua fome com as frutas que sobressaamda rvore ali mesmo, e retornou ao deserto para ajudar outrosperdidos a encontrar o caminho para o osis.

    42. Gato Ritual - Complicando o que simples

    Quando um mestre espiritual e seus discpulos comeavam sua meditaodo anoitecer, o gato que vivia no Monastrio fazia tanto barulho queos distraa. Ento o professor ordenou que o gato fosse amordaado

    durante a prtica noturna. Anos depois, quando o mestre morreu, ogato continuou a ser amarrado durante a meditao. E quando o gatoeventualmente morreu, outro gato foi trazido para o Monastrio eamarrado. Sculos depois, quando todos os fatos do evento estavamperdidos no passado, praticantes intelectuais que estudavam osensinamentos daquele mestre espiritual escreveram longos tratadosescolsticos sobre a significncia de se amordaar um gato durante aprtica da meditao...

    43. Natureza

    Dois monges estavam lavando suas tigelas no rio quando perceberam umescorpio que estava se afogando. Um dos monges imediatamente pegou-oe o colocou na margem. No processo ele foi picado. Ele voltou paraterminar de lavar sua tigela e novamente o escorpio caiu no rio. Omonge salvou o escorpio e novamente foi picado. O outro monge entoperguntou:"Amigo, por que voc continua a salvar o escorpio quando voc sabeque sua natureza agir com agressividade, picando-o?""Porque," replicou o monge, "agir com compaixo a minha natureza."

    (Outra verso deste conto descreve uma raposa que concorda emcarregar um escorpio em suas costas atravs de um rio, sob acondio que o escorpio no o pique. Mas o escorpio ainda assimpica a raposa quando ambos estavam no meio da correnteza. Enquanto a

    raposa afundava, levando o escorpio consigo, ela lamentosamenteperguntou ao escorpio por que tinha condenado a ambos morte aopic-la. "Porque minha natureza."

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    A mesma estria encontrada na tradio indgena americana. NoBrasil a raposa substituda por um sapo.)

    44. Sem Mais Questes

    Ao encontrar um mestre Zen em um evento social, um psiquiatra decidiucolocar-lhe uma questo que sempre esteve em sua mente:"Exatamente como voc ajuda as pessoas?" ele perguntou."Eu as alcano naquele momento mais difcil, quando elas no tem maisnenhuma questo para perguntar," o mestre respondeu.

    45. No Morri Ainda

    O Imperador perguntou ao Mestre Gudo:"O que acontece com um homem iluminado aps a morte?""Como eu poderia saber?", replicou Gudo."Porque o senhor um mestre... no ?" respondeu o Imperador, umpouco surpreso."Sim Majestade," disse Gudo suavemente, "mas ainda no sou um mestremorto."

    46. Samsara

    O monge perguntou ao Mestre:"Como posso sair do Samsara (a Roda de renascimentos e mortes)?"O Mestre respondeu:"Quem te colocou nele?"

    47. Mente em Movimento

    Dois homens estavam discutindo sobre uma flmula que tremulava aovento:" o vento que realmente est se movendo!" declarou o primeiro."No, obviamente a flmula que se move!" contestou o segundo.

    Um mestre Zen, que por acaso passava perto, ouviu a discusso e osinterrompeu dizendo:"Nem a flmula nem o vento esto se movendo," disse, " a MENTE quese move."

    48. O Quebrador de Pedras

    Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito

    consigo mesmo e com sua posio na vida.Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante.Atravs do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos

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    e importantes figuras que freqentavam a manso."Quo poderoso este mercador!" pensou o quebrador de pedras. Eleficou muito invejoso disso e desejou que ele pudesse ser como ocomerciante.Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante,usufruindo mais luxos e poder do que ele jamais tinha imaginado,embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e

    ricos do que ele. Um dia um alto oficial do governo passou suafrente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado porsubmissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos paraafastar a plebe. Todos, no importa quo ricos, tinham que se curvar sua passagem."Quo poderoso este oficial!" ele pensou. "Gostaria de poder ser umalto oficial!"Ento ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de sedapara qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas suavolta. Era um dia de vero quente, e o oficial sentiu-se muitodesconfortvel na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Estefulgia orgulhoso no cu, indiferente pela sua reles presena abaixo."Quo poderoso o Sol!" ele pensou. "Gostaria de ser o Sol!"Ento ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lanando seus raios

    para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldioadopelos fazendeiros e trabalhadores. Mas um dia uma gigantesca nuvemnegra ficou entre ele e a terra, e seu calor no mais pde alcanar ocho e tudo sobre ele."Quo poderosa a nuvem de tempestade!" ele pensou "Gostaria de seruma nuvem!"Ento ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas,causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estavasendo empurrado para longe com uma fora descomunal, e soube que erao vento que fazia isso."Quo poderoso o Vento!" ele pensou. "Gostaria de ser o vento!"Ento ele tornou-se o vento de furaco, soprando as telhas dostelhados das casas, desenraizando rvores, temido e odiado por todasas criaturas na terra. Mas em determinado momento ele encontrou algo

    que ele no foi capaz de mover nem um milmetro, no importasse oquanto ele soprasse em sua volta, lanando-lhe rajadas de ar. Ele viuque o objeto era uma grande e alta rocha."Quo poderosa a rocha!" ele pensou. "Gostaria de ser uma rocha!"Ento ele tornou-se a rocha. Mais poderoso do que qualquer outracoisa na terra, eterno, inamovvel. Mas enquanto ele estava l,orgulhoso pela sua fora, ele ouviu o som de um martelo batendo em umcinzel sobre uma dura superfcie, e sentiu a si mesmo sendodespedaado."O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?!?" pensousurpreso.Ele olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras.

    49. Talvez

    H um conto Taosta sobre um velho fazendeiro que trabalhou em seucampo por muitos anos. Um dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notcia,seus vizinhos vieram visit-lo."Que m sorte!" eles disseram solidariamente."Talvez," o fazendeiro calmamente replicou. Na manh seguinte ocavalo retornou, trazendo com ele trs outros cavalos selvagens.

    "Que maravilhoso!" os vizinhos exclamaram."Talvez," replicou o velho homem. No dia seguinte, seu filho tentoudomar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. Os vizinhos

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    novamente vieram para oferecer sua simpatia pela m fortuna."Que pena," disseram."Talvez," respondeu o fazendeiro. No prximo dia, oficiais militaresvieram vila para convocar todos os jovens ao servio obrigatrio noexrcito, que iria entrar em guerra. Vendo que o filho do velho homemestava com a perna quebrada, eles o dispensaram. Os vizinhoscongratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se

    virado a seu favor.O velho olhou-os, e com um leve sorriso disse suavemente:"Talvez."

    50. Cipreste

    Um monge perguntou ao mestre:"Qual o significado de Dharma-Buddha?"O mestre apontou e disse:

    "O cipreste no jardim."O monge ficou irritado, e disse:"No, no! No use parbolas aludindo a coisas concretas! Quero umaexplicao intelectual clara do termo!""Ento eu no vou usar nada concreto, e serei intelectualmenteclaro," disse o mestre. O monge esperou um pouco, e vendo que omestre no iria continuar fez a mesma pergunta:"Ento? Qual o significado de Dharma-Buddha?"O mestre apontou e disse:"O cipreste no jardim."

    51. Ch ou Paulada

    Certa vez Hakuin contou uma estria:Havia uma velha mulher que tinha uma casa de ch na vila. Ela era umagrande conhecedora da cerimnia do ch, e sua sabedoria no Zen erasoberba. Muitos estudantes ficavam surpresos e ofendidos que umasimples velha pudesse conhecer o Zen, e iam vila para test-la ever se isso era mesmo verdade.Toda vez que a velha senhora via monges se aproximando, ela sabia se

    eles vinham apenas para experimentar o seu ch, ou para test-la noZen. queles que vinham pelo ch ela servia gentil e graciosamente,encantando-os. queles que vinham tentar saber de seu conhecimento doZen, ela escondia-se at que o monge chegasse porta e ento lhebatia com um tio."Apenas um em cada dez conseguiam escapar da paulada..."

    52. Os Poderes Sobrenaturais

    Certa manh, o Mestre Daie, ao levantar-se, chamou seu discpulo

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    Gyozan e lhe disse:"Vamos fazer uma disputa para saber quem de ns dois possui maispoderes sobrenaturais?"Gyozan retirou-se sem nada responder. Dali a pouco, voltou trazendouma bacia com gua e uma toalha. O mestre lavou o rosto e enxugou-seem silncio. Depois, Daie e Gyozan sentaram em ante uma mesinha eficaram conversando sobre assunto diversos, tomando ch.

    Pouco depois, Kyogen, outro discpulo, aproximou-se e perguntou:"O que esto fazendo?""Estamos fazendo uma competio com nossos poderes sobrenaturais",respondeu o Mestre, "Queres participar?"Kyogen retirou-se calado e logo depois retornou trazendo uma bandejacom doces e biscoitos. O Mestre Daie ento dirigiu-se aos seus doisdiscpulos, e exclamou:"Na verdade, vs superais em poderes sobrenaturais Sariputra,Mogallana e todos os discpulos de Buddha!"

    53. P

    Chao-Chou (Joshu) certa vez varria o cho quando um monge lheperguntou:"Sendo vs o sbio e santo Mestre, dizei-me como se acumula tanto pem seu quintal?"Disse o Mestre, apontando para o ptio:"Ele vem l de fora."

    54. Jardim Zen - A Beleza Natural

    Um monge jovem era o responsvel pelo jardim zen de um famoso temploZen. Ele tinha conseguido o trabalho porque amava as flores, arbustose rvores. Prximo ao templo havia um outro templo menor onde viviaapenas um velho mestre Zen. Um dia, quando o monge estava esperando avisita de importantes convidados, ele deu uma ateno extra aocuidado do jardim. Ele tirou as ervas daninhas, podou os arbustos,cardou o musgo, e gastou muito tempo meticulosamente passando oancinho e cuidadosamente tirando as folhas secas de outono. Enquanto

    ele trabalhava, o velho mestre observava com interesse de cima domuro que separava os templos.Quando terminou, o monge afastou-se um pouco para admirar seutrabalho."No est lindo?" ele perguntou, feliz, para o velho monge."Sim," replicou o ancio, "mas est faltando algo crucial. Me ajude apular este muro e eu irei acertar as coisas para voc."Aps certa hesitao, o monge levantou o velho por sobre o muro epousou-o suavemente em seu lado. Vagarosamente, o mestre caminhoupara a rvore mais prxima ao centro do jardim, segurou seu tronco eo sacudiu com fora. Folhas desceram suavemente brisa e caram porsobre todo o jardim."Pronto!" disse o velho monge," agora voc pode me levar de volta."

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    55. Ponte de Pedra

    Havia uma famosa ponte de pedra no Monastrio de Chao-Chou (Joshu)que era uma atrao do lugar. Certa vez um monge viajante afirmou:

    "J ouvi falar sobre a famosa ponte de pedra, mas at agora no a vi.Vejo somente uma tbua.""Vedes uma tbua," confirmou Chao-chou, "e no vedes a ponte demadeira.""Ento onde est a ponte de pedra?" perguntou o monge."Acabastes de cruz-la", disse prontamente Chao-Chou.

    56. Apenas duas palavras

    Havia um certo Monastrio Soto Zen que era muito rgido. Seguindo umestrito voto de silncio, a ningum era permitido falar. Mas haviauma pequena exceo a esta regra: a cada 10 anos os monges tinhampermisso de falar apenas duas palavras. Aps passar seus primeirosdez anos no Monastrio, um jovem monge foi permitido ir ao mongeSuperior."Passaram-se dez anos," disse o monge Superior. "Quais so as duaspalavras que voc gostaria de dizer?""Cama dura..." disse o jovem."Entendo..." replicou o monge Superior.Dez anos depois, o monge retornou sala do monge Superior."Passaram-se mais dez anos," disse o Superior. "Quais so as duas

    palavras que voc gostaria de dizer?""Comida ruim..." disse o monge."Entendo..." replicou o Superior.Mais dez anos se foram e o monge uma vez mais encontrou-se com o seuSuperior, que perguntou:"Quais so as duas palavras que voc gostaria de dizer, aps maisestes dez anos?""Eu desisto!" disse o monge."Bem, eu entendo o porqu," replicou, custico, o monge Superior."Tudo o que voc sempre fez foi reclamar!"

    (Este um conto comum em alguns locais Soto ocidentais. No existecerteza se um conto Zen original. Como muitas anedotas, esta aquinos faz rir, mas tambm nos encoraja a refletir sobre o qu h de

    engraado nisso tudo...)

    57. Aranha

    Um conto Tibetano fala de um estudante de meditao que, enquantomeditava em seu quarto, pensava ver uma assustadora aranha descendo sua frente. A cada dia a criatura ameaadora retornava cada vez maiorem tamanho. To terrificado estava o estudante que finalmente foi ao

    seu professor para relatar o seu dilema:"No posso continuar meditando com tal ameaa sobre mim," disse eletremendo de pavor. "Vou guardar uma faca em meu colo durante a

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    meditao, de forma que quando a aranha aparecer eu possa mat-la!"O professor advertiu-o contra esta idia:"No faa isso. Faa como eu lhe digo: leve um pedao de carvo nasua meditao, e quando a aranha aparecer, marque um 'X' em suabarriga. Depois disso venha at mim."O estudante retornou sua meditao. Quando a aranha novamenteapareceu, ele lutou contra o impulso de atac-la e em vez disso fez

    como o mestre sugeriu. Ento correu para a sala de dele, gritando:"Eu a marquei na barriga! Fiz o que me pediu! O que fao agora?"O professor olhou-o e falou:"Levante a tnica e olhe para sua prpria barriga."Ao fazer isso, o estudante viu o "X" que havia feito.

    58. Meditao e Macacos

    Um homem estava interessado em aprender meditao. Foi at um zendo(local de prtica meditativa zen) e bateu na porta. Um velhoprofessor o atendeu:"Sim?""Bom dia meu senhor," comeou o homem. "Eu gostaria de aprender afazer meditao. Como eu sei que isso difcil e muito tcnico, euprocurei estudar ao mximo, lendo livros e opinies sobre o que meditao, suas posturas, etc... Estou aqui porque o senhor considerado um grande professor de meditao. Gostaria que o senhorme ensinasse."O velho ficou olhando o homem enquanto este falava. Quando terminou,o professor disse:"Quer aprender meditao?"

    "Claro! Quero muito?" exclamou o outro."Estudou muito sobre meditao?", disse um tanto irnico."Fiz o mximo que pude..." afirmou o homem."Certo," replicou o velho. "Ento v para casa e faa exatamenteisso: NO PENSE EM MACACOS."O homem ficou pasmo. Nunca tinha lido nada sobre isso nos livros demeditao. Ainda meio incerto, perguntou:"No pensar em macacos? s isso?"" s isso.""Bem isso simples de fazer" pensou o homem, e concordou. Oprofessor ento apenas completou:"timo. Volte amanh," e bateu a porta.Duas horas depois, o professor ouviu algum batendo freneticamente aporta do zendo. Ele abriu-a, e l estava de novo o mesmo homem.

    "Por favor me ajude!" exclamou aflito "Desde que o senhor pediu paraque eu no pensasse em macacos, no consegui mais deixar de mepreocupar em NO PENSAR NELES!!!! Vejo macacos em todos oscantos!!!!"

    59. O Eu Verdadeiro

    Um homem muito perturbado foi at um mestre Zen, apresentou-se edisse:"Por favor, Mestre, eu me sinto desesperado! No sei quem eu sou.

    Sempre li e ouvi falar sobre o Eu Superior, nossa verdadeira EssnciaTranscendental, e por muitos anos tentei atingir esta realidadeprofunda, sem nunca ter sucesso! Por favor mostre-me meu Eu

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    Verdadeiro!"Mas o professor apenas ficou olhando para longe, em silncio, sem darnenhuma resposta. O homem comeou a implorar e pedir, sem que omestre lhe desse nenhuma ateno. Finalmente, banhado em lgrimas defrustrao, o homem virou-se e comeou a se afastar. Neste momento omestre chamou-o pelo nome, em voz alta."Sim?" replicou o homem, enquanto se virava para fitar o sbio.

    "Eis o seu verdadeiro Eu." disse o mestre.

    60. Ansiando por Deus

    Um sbio estava meditando margem de um rio quando um homem jovem,um tanto entusiasmado, o interrompeu."Mestre, eu desejo ser seu discpulo!", disse o jovem."Por qu?" replicou o sbio.

    O jovem era uma pessoa que sempre ouviu falar dos caminhosespirituais, e tinha uma idia fantasiosa e romntica deles. Em suaimaturidade, ele achava que ser "espiritual" era algo como participarde um movimento, de uma crena, de uma moda, sem grandesconseqncias. Ele ento pensou numa resposta bem "profunda" e disse:"Porque eu quero encontrar DEUS!"O sbio pulou de onde estava, agarrou o rapaz pelo cangote, arrastou-o at o rio e mergulhou sua cabea sob a gua. Manteve-o l por quaseum minuto, sem permitir que respirasse, enquanto o terrificado rapazchutava e lutava para se libertar. Finalmente o mestre o puxou dagua e o arrastou de volta margem. Largou-o no cho, enquanto ohomem cuspia gua e engasgava, lutando para retomar a respirao eentender o que acontecera. Quando ele eventualmente se acalmou, osbio lhe perguntou:

    "Diga-me, quando estava sob a gua, sabendo que morreria, o que vocqueria mais do que tudo?"Ar!", respondeu o jovem, amuado."Muito bem", disse o mestre. "V para sua casa, e quando voc souberansiar por um Deus tanto quanto voc acabou de ansiar por ar, podevoltar a me procurar."

    61. Por que palavras?

    Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditaono ptio do Templo luz da lua - com uma grande dvida:"Mestre, aprendi que confiar nas palavras ilusrio; e diante daspalavras, o verdadeiro sentido surge atravs do silncio. Mas vejoque os Sutras e as recitaes so feitas de palavras; que oensinamento transmitido pela voz. Se o Dharma est alm dos termos,porque os termos so usados para defini-lo?"O velho sbio respondeu: "As palavras so como um dedo apontando paraa Lua; cuida de saber olhar para a Lua, no se preocupe com o dedoque a aponta."O monge replicou: "Mas eu no poderia olhar a Lua, sem precisar quealgum dedo alheio a indique?""Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o fars, pois ningum maispode olhar a lua por ti. As palavras so como bolhas de sabo:

    frgeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongadocom o ar. A Lua est e sempre esteve vista. O Dharma eterno ecompletamente revelado. As palavras no podem revelar o que j est

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    revelado desde o Primeiro Princpio.""Ento," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes sejarevelado o que j de seu conhecimento?""Porque," completou o sbio, "da mesma forma que ver a Lua todas asnoites faz com que os homens se esqueam dela pelo simples costume deaceitar sua existncia como fato consumado, assim tambm os homensno confiam na Verdade j revelada pelo simples fato dela se

    manifestar em todas as coisas, sem distino. Desta forma, aspalavras so um subterfgio, um adorno para embelezar e atrair nossaateno. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que necessrio."O mestre ficou em silncio durante muito tempo. Ento, de sbito,simplesmente apontou para a lua.

    62. O Som do Silncio

    Certa vez, um buddhista foi s montanhas procurar um grande mestre,

    que segundo acreditava poderia lhe dizer a palavra definitiva sobre osentido da Sabedoria. Aps muitos dias de dura caminhada o encontrouem um belo templo beira de um lindo vale."Mestre, vim at aqui para lhe pedir uma palavra sobre o sentido doDharma. Por favor, faa-me atravessar os Portes do Zen.""Diga-me," replicou o sbio, "vindo para c vs passastes pelo vale?""Sim.""Por acaso ouvistes o seu som?"Um tanto incerto, o homem disse:"Bem, ouvi o som do vento como um suave canto penetrando todo ovale."O sbio respondeu:"O local onde vs ouvistes o som do vale onde comea o caminho queleva aos Portes do Zen. E este som toda palavra que vs precisais

    ouvir sobre a Verdade."

    63. O Mudo e o Papagaio

    Um jovem monge foi at o mestre Ji-shou e perguntou:"Como chamamos uma pessoa que entende uma verdade mas no podeexplic-la em palavras?"Disse o mestre:

    "Uma pessoa muda comendo mel"."E como chamamos uma pessoa que no entende a verdade, mas fala muitosobre ela?""Um papagaio imitando as palavras de uma outra pessoa".

    64. Autocontrole

    Um dia aconteceu um tremendo terremoto que sacudiu inteiramente umtemplo Zen. Partes dele chegaram mesmo a ruir. Muitos dos mongesficaram terrificados. Quando o terremoto parou o professor do templo

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    disse, vaidosa e arrogantemente:"Agora vocs tiveram a oportunidade de ver como um verdadeiro sbioZen se comporta diante de uma situao de crise. Vocs devem ternotado que EU no entrei em pnico. EU estive sempre muito conscientedo que estava acontecendo e do que fazer. EU guiei vocs todos para acozinha, a parte mais firme do templo. E esta foi uma brilhantedeciso, pois como vocs vem todos sobrevivemos sem nenhum arranho!

    Contudo, a despeito de meu grande autocontrole e compostura exemplar,admito ter sentido um pouco - muito pouco - de tenso. Fato que vocsdevem ter deduzido quando me viram beber um grande copo de gua, algoque eu jamais fao em circunstncias normais..."Neste momento alguns monges sorriram, mas no disseram nada."De qu esto rindo?" perguntou o professor."Aquilo no era gua," disse um dos monges, "era um grande copo demolho apimentado..."

    65. O Silncio Completo

    Quatro monges decidiram meditar em silncio completo, sem falar porduas semanas. Na noite do primeiro dia a vela comeou a falhar eento apagou.O primeiro monge disse, "Oh, no! A vela apagou!"O segundo comentou, "No tnhamos que ficar em silncio completo?"O terceiro reclamou, "Por que vocs dois quebraram o silncio?"Finalmente o quarto afirmou, todo orgulhoso, "Aha! Eu sou o nico queno falou!"

    66. Sem Problema

    Um praticante Zen foi Bankei e fez-lhe esta pergunta, aflito:"Mestre, Eu tenho um temperamento irascvel. Sou s vezes muitoagitado e agressivo e acabo criando discusses e ofendendo outraspessoas. Como posso curar isso?""Tu possuis algo muito estranho," replicou Bankei. "Deixe ver como esse comportamento.""Bem... eu no posso mostr-lo exatamente agora, mestre," disse ooutro, um pouco confuso."E quando tu a mostrars para mim?" perguntou Bankei."No sei... que isso sempre surge de forma inesperada," replicou o

    estudante."Ento," concluiu Bankei, "essa coisa no faz parte de tua naturezaverdadeira. Se assim fosse, tu poderias mostr-la sempre quedesejasse. Quando tu nasceste no a tinhas, e teus pais no apassaram para ti. Portanto, saibas que ele no existe."

    67. Impermanncia

    Um famoso mestre espiritual aproximou-se do Portal principal dopalcio do Rei. Nenhum dos guardas tentou par-lo, constrangidos,enquanto ele entrou e dirigiu-se aonde o Rei em pessoa estava

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    solenemente sentado, em seu trono."O que vs desejais?" perguntou o Monarca, imediatamente reconhecendoo visitante."Eu gostaria de um lugar para dormir aqui nesta hospedaria," replicouo professor."Mas aqui no uma hospedaria, bom homem, "disse o Rei, divertido,"Este o meu palcio."

    "Posso lhe perguntar a quem pertenceu este palcio antes de vs?"perguntou o mestre."Meu pai. Ele est morto.""E a quem pertenceu antes dele?""Meu av," disse o Rei j bastante intrigado, "Mas ele tambm estmorto.""Sendo este um lugar onde pessoas vivem por um curto espao de tempoe ento partem - vs me dizeis que tal lugar NO uma hospedaria?"

    68. Buddha - Alm da Palavras

    Certa vez estava Buddha sentado sob uma rvore, com os seusdiscpulos reunidos sua volta esperando que ele iniciasse seudiscurso. Em determinado momento, Buddha calmamente inclinou-se ecolheu uma flor. Levantou-a altura de seu rosto e girou-asuavemente. Seus discpulos ficaram espantados e confusos, emurmuraram entre si questionando o sentido daquilo. Dentre eles,apenas Kashyapa entendeu o gesto, sorrindo. Shakyamuni Buddhapercebeu que Kashyapa tinha compreendido, e lhe disse:"O mtodo de Meditao que ensino ver as coisas como elas so, nada

    rejeitar e tratar as coisas com alegria, vendo claramente sua faceoriginal. Esse Dharma misterioso transcende a linguagem e osprincpios racionais. O pensamento lgico no pode ser usado paraobter a Compreenso; apenas com a sensibilidade da no-mente alcana-se a Verdade. Vs compreendestes. Por isso, concedo-lhe a partirdeste momento o esprito do Dhyana."

    69. Uma vida intil?

    Um bondoso fazendeiro tornou-se velho demais para poder trabalhar noscampos. Assim ele passava seus dias apenas sentado na varanda, felizem observar a natureza. Seu filho era uma pessoa insensvel eambiciosa que no gostava de dar duro. Mas, ainda trabalhando nafazenda, podia observar seu pai de vez em quando ao longe."Ele intil," o filho falou para si mesmo, agastado, "ele no faznada!"Um dia o filho ficou to frustado por ver seu pai numa vida que eleconsiderava absurda, que construiu um caixo de madeira, arrastou-oat a varanda e disse insensivelmente para o seu pai entrar nele. Semdizer uma palavra, o pai deitou-se no caixo. Aps fechar a tampa, ofilho arrastou o caixo at as fronteiras da fazenda onde existia umgrande abismo. Quando ele se aproximou da beira, ouviu uma suave

    batida na tampa, de dentro do caixo. Ele abriu-o. Ainda deitado lpacificamente, o pai olhou para seu filho."Sei que voc vai lanar-me no abismo, mas antes de fazer isso posso

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    lhe sugerir uma coisa?""O que ?" disse o filho, confuso e algo constrangido por ver seu paito calmo."Lance-me ao abismo, se quiser," disse o pai, "mas salve este bomcaixo de madeira. Seus filhos podem querer us-lo um dia comvoc..."

    70. Quando cansado...

    Um estudante perguntou a Joshu, "Mestre, o que o Satori?"O mestre replicou: "Quando estiver com fome, coma. Quando estivercansado, durma."

    71. Duelo de Ch

    Um mestre da cerimnia do ch no antigo Japo certa vez

    acidentalmente ofendeu um soldado, ao distradamente desdenh-loquando ele pediu sua ateno. Ele rapidamente pediu desculpas, mas oaltamente impetuoso soldado exigiu que a questo fosse resolvida emum duelo de espadas. O mestre de ch, que no tinha absolutamentenenhuma experincia com espadas, pediu o conselho de um velho amigomestre Zen que possua tal habilidade. Enquanto era servido de um chpelo amigo, o espadachim Zen no pde evitar notar como o mestre dech executava sua arte com perfeita concentrao e tranqilidade."Amanh," disse o mestre Zen, "quando voc duelar com o soldado,segure sua arma sobre sua cabea como se estivesse pronto paradesferir um golpe, e encare-o com a mesma concentrao etranqilidade com que voc executa a cerimnia do ch".No dia seguinte, na exata hora e local escolhidos para o duelo, omestre de ch seguiu seu conselho. O soldado, tambm j pronto para

    atacar, olhou por muito tempo em silncio para a face totalmenteatenta porm suavemente calma do mestre de ch. Finalmente, o soldadolentamente abaixou sua espada, desculpou-se por sua arrogncia, epartiu sem ter dado um nico golpe.

    72. Surpreendendo o Mestre

    Os estudantes em um mosteiro ficavam espantadssimos com o monge maisvelho, no porque ele fosse rgido, mas porque nada parecia irrit-loou perturb-lo. Na verdade, eles o consideravam algum sobrenatural eat mesmo um tanto assustador. Um dia eles decidiram fazer um teste

    com o mestre. Um grupo deles escondeu-se silenciosamente em um cantoescuro de uma das passagens do templo, e esperaram o momento em que ovelho monge iria passar por ali. Num momento o velho homem apareceu,carregando um copo de ch quente. Exatamente quando ele passava,todos os estudantes pularam na sua frente, gritando o mais alto quepodiam:"AAAAAAHHHH!"Mas o monge no demonstrou absolutamente nenhuma reao, deixandotodos pasmos de espanto. Pacificamente fez seu caminho at umapequena mesa no canto mais afastado do templo, gentilmente pousou ocopo, e ento, encostando no muro, deu um grito de choque:"OOOHHHHH!"

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    73. Trabalhando Duro

    Um estudante foi ao seu professor e disse fervorosamente,"Eu estou ansioso para entender seus ensinamentos e atingir aIluminao! Quanto tempo vai demorar para eu obter este prmio edominar este conhecimento?"A resposta do professor foi casual,

    "Uns dez anos..."Impacientemente, o estudante completou,"Mas eu quero entender todos os segredos mais rpido do que isto! Voutrabalhar duro! Vou praticar todo o dia, estudar e decorar todos ossutras, farei isso dez ou mais horas por dia!! Neste caso, em quantotempo chegarei ao objetivo?"O professor pensou um pouco e disse suavemente,"Vinte anos."

    74. A Histria do Homem

    Conta-se que na Prsia antiga vivia um rei chamado Zemir. Coroadomuito jovem, julgou-se na obrigao de instruir-se: reuniu em tornode si numerosos eruditos provenientes de todos os Pases e pediu-lhesque editassem para ele a histria da humanidade. Todos os eruditos seconcentraram, portanto, nesse estudo.Vinte anos se escoaram no preparo da edio. Finalmente, dirigiram-sea palcio, carregados de quinhentos volumes acomodados no dorso dedoze camelos.O rei Zemir havia, ento, passado dos quarenta anos."J estou velho, "disse ele. "No terei tempo de ler tudo isso antesda minha morte. Nessas condies, por favor, preparai-me uma edioresumida."

    Por mais vinte anos trabalharam os eruditos na feitura dos livros evoltaram ao palcio com trs camelos apenas.Mas o rei envelhecera muito. Com quase sessenta anos, sentia-seenfraquecido:"No me possvel ler todos esses livros. Por favor, fazei-me delesuma verso ainda mais sucinta."Os eruditos labutaram mais dez anos e depois voltaram com um elefantecarregado das suas obras.Mas a essa altura, com mais de setenta anos, quase cego, o rei nopodia mesmo ler. Pediu, ento, uma edio ainda mais abreviada. Oseruditos tambm tinham envelhecido. Concentraram-se por mais cincoanos e, momentos antes da morte do monarca, voltaram com um volumes."Morrerei, portanto, sem nado conhecer da historia do Homem - disse

    ele." sua cabeceira, o mais idoso dos eruditos respondeu:"Vou explicar-vos em trs palavras a histria do Homem: o homemnasce, sofre e, finalmente, morre."Nesse instante o rei expirou.

    75. Kantaka e o fio de Aranha

    Assim eu ouvi:O Buddha, um dia, passeava no Cu Trayastrimsa, as margens do lago da

    Flor de Ltus. Nas profundezas do lago, lobrigava o Naraka (um tipode regio de demrito Krmico, na tradio do Buddhismo Mahayana).Nessa ocasio, viu ali um homem chamado Kantaka que morto dias antes,

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    se debatia e padecia nas profundezas. Transbordando de compaixo, oBuddha Shakyamuni queria socorrer todos os que, embora se achassemmergulhados no Naraka, tivessem praticado uma boa ao na vida.Kantaka fora ladro e levara uma existncia devassa. Por isso mesmoestava no Naraka. Certa vez, no entanto, agira com generosidade: umdia, enquanto passeavam, avistara uma inofensiva aranha e tiveravontade de esmag-la; reprimira-se, contudo, pensando, subitamente,

    que talvez pudesse favorec-la; deixara-a com vida e seguiu o seucaminho.O Buddha Shakyamuni viu nessa ao generosa um bom esprito, esentiu-se inclinado a ajud-lo. Por isso fez descer as profundezas dolago um comprido fio de teia de aranha, que chegou ao Naraka no lugaronde estava Kantaka.Kantaka olhou para a novidade e concluiu que se tratava de uma cordade prata muito forte. Mas, no querendo acreditar nisso, disseconsigo que devia ser, sem dvida, um fio de teia de aranhapendurado, muito fino, e que seria provavelmente dificlimo treparpor ele; mesmo assim, arriscaria tudo, pois desejava ardentementesair daquele Naraka.Agarrou, portanto o fio, embora no deixasse de pensar nos perigos daescalada, pois a linha poderia rebentar de um momento para outro; mas

    foi subindo... subindo... auxiliando-se com os ps e as mos, eenvidando grandes esforos para no escorregar.A escalada era longa. Chegado a metade do caminho, quis olhar parabaixo e contemplar os Narakas, que j tinham ficado, decerto, muitolonge. Acima dele, via a luz e s ambicionava alcan-la.Inclinando-se para baixo, a fim de olhar pela derradeira vez, viu umamultido de pessoas que tambm subiam pelo fio, numa sucessoininterrupta, desde as grandes profundezas do Naraka. Kantaka foitomado de pnico: a corda poderia, quando muito, agent-lo; mas como peso daquelas centenas de pessoas agarradas a ela acabaria cedendo,e todos, com ele, voltariam ao Naraka!Que azar! Que droga! Aquela gente l embaixo no tinha nada que sairdo Naraka. Por que precisa seguir-me? - praguejava ele, increspandoos seguidores.

    Nesse preciso momento, o fio cedeu, exatamente a altura das mos deKantaka, e todos remergulharam nas profundezas tenebrosas do lago.Naquele mesmo instante, o sol do meio-dia resplandecia sobre o lagoem cujas margens tranqilas passeava o Buddha...

    76. Baso e a Meditao

    Quando jovem, Baso praticava incessantemente a Meditao. Certaocasio, seu Mestre Nangaku aproximou-se dele e perguntou-lhe:- Por que praticas tanta Meditao?- Para me tornar um Buddha.O Mestre tomou de uma telha e comeou a esfreg-la com um pedra.Intrigado, Baso perguntou:

    - O que fazeis com essa telha?- Pretendo transform-la num espelho.- Mas por mais que a esfregueis, ela jamais se transformar numespelho! ser sempre uma pedra.- O mesmo posso dizer de ti. Por mais que pratiques Meditao, no tetornars Buda.- Ento o que fazer?- como fazer um boi andar.- No entendo.- Quando queres fazer um carro de bois andar, bates no boi ou nocarro?Baso no soube o que responder e ento o Mestre continuou:- Buscar o Estado de Buda fazendo apenas Meditao matar o Buda.Dessa maneira, no achars o caminho certo.

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    77. A Bola e o Zen

    Certa vez, enquanto o velho mestre Seppo Gisen jogava bola, Gesshaaproximou-se e perguntou:"Por que que a bola rola?"Seppo respondeu:"A bola livre. a verdadeira liberdade."

    "Por qu?""Porque redonda. Rola em toda parte, seja qual for a direo,livremente. Inconsciente, natural, automaticamente."

    78. Tigelas

    Certa vez um estudante perguntou ao mestre Joshu:- Mestre, por favor, o que o Satori?.Joshu respondeu-lhe:- Terminaste a refeio?- claro, mestre, terminei.- Ento, vai lavar tuas tigelas!

    79. Kito

    Um dia, Um velho foi visitar mestre Ryokan e disse-lhe:- Eu quisera pedir-vos que fizsseis um kito [Cerimonia paracumprimento de uma promessa] em minha inteno. Assisti morte demuita gente ao meu redor. E tambm deverei morrer um dia. Portanto,por favor, fazei um kito para eu viver por muito tempo.- De acordo. Fazer um kito para viver muito tempo no difcil.Quantos anos tendes?- Apenas oitenta.- Ainda sois jovem. Diz um provrbio japons que at os cinqentaanos somos como crianas e que, entre os setenta e os oitenta,precisamos amar.

    - Concordo, fazei-me ento um bom kito!- At que idade quereis viver?- Para mim, acho que basta-me viver at os cem.- Vosso desejo, na verdade, no muito grande. Para chegar aos cemanos, s vos resta viver mais vinte. No um perodo to longoassim. E sendo o meu kito muito exato, morrereis exatamente aos cemanos.O velho ficou com medo:- No, no! Fazei que eu viva cento e cinqenta anos!- Atualmente, tendo atingido os oitenta, j viveste mais da metade doprazo que desejais. A escalada de uma montanha exige grande soma deesforos e tempo, mas a descida rpida. A partir de agora, vossosderradeiros setenta anos passaro como um sonho.- Nesse caso, dai-me at trezentos anos!

    Ryokan respondeu:- Como o vosso desejo pequeno! Somente trezentos anos! Diz umprovrbio antigo que os grous vivem mais de mil anos e as tartarugasdez mil. Se animais podem viver tanto assim, como que vs, um homem, desejais viver apenas trezentos anos!- Tudo isso muito difcil...- tornou o velho, confuso. - Paraquantos anos de vida podeis fazer-me um kito?- Quer dizer, ento, que no quereis morrer! Eis a uma atitude detodo em todo egosta... - replicou o mestre.- Bem, tem razo....- respondeu o ancio, constrangido.- Assim sendo, o melhor fazer um kito para no morrer.- Sim, claro! E pode ser? Esse o kito que eu quero! - o velhoanimou-se bastante.- muito caro, muito, muito caro, e leva muito tempo...

    - No faz mal. - concordou o velho.Ajuntou, ento, Ryokan:- Comearemos hoje cantando apenas o Makka Hannya Shingyo; a seguir,

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    todos os dias, vireis fazer zazen no templo. Pronunciarei, ento,conferncias em vossa inteno.

    Dessa maneira, de uma forma suave e indireta, Ryokan fez o velhohomem deixar de se preocupar com o dia de sua morte e o conduziu aoDharma.

    80. Essncia

    Na China, havia um monge Zen, chamado mestre Dori, que, por fazerzazen empoleirado num pinheiro pra-sol, fora alcunhado de mestreNinho de Passarinho Um poeta muito clebre, Sakuraten, foi visit-loe, ao v-lo fazer zazen, disse-lhe:"Tomai cuidado, que isso perigoso; podereis, um dia, cair dopinheiro!""De maneira nenhuma," respondeu mestre Dori. "Vs que correisperigo de um dia cair."Sakuraten refletiu. "Com efeito, vivo dominado por paixo, comobrincar com o raio". E perguntou ao mestre Zen:"Qual a verdadeira essncia do budismo?"

    Mestre Dori respondeu:"No faais nada violento, praticai somente o aquilo que justo eequilibrado.""Mas at uma criana de trs anos sabe disso!" exclamou o poeta."Sim, mas uma coisa difcil de ser praticada at mesmo por um velhode oitenta anos..." completou o mestre.

    81. Perguntas do Rei Milinda

    Durante uma conversa, o rei Milinda perguntou ao BodhisattvaNagasena:- Que o Samsara?

    Nagasena respondeu:- grande rei, aqui nascemos e morremos, l nascemos e morremos,depois nascemos de novo e de novo morremos, nascemos, morremos... grande rei, isso Samsara.Disse o rei:- No compreendo; por favor, explicai-me com mais clareza.Nagasena replicou:- como o caroo de manga que plantamos para comer-lhe o fruto.Quando a grande rvore cresce e d frutos, as pessoas os comem para,em seguida, plantar os caroos. E dos caroos nasce uma grandemangueira, que d frutos. Desse modo, a mangueira no tem fim. Eassim, grande rei, que nascemos aqui, morremos ali, nascemos,morremos, nascemos, morremos. Grande rei, isso Samsara.Em outro Sutra, o rei Milinda pergunta ainda:

    - Que o que renasce no mundo seguinte (Depois da morte.)Responde Nagasena:- Depois da morte nascem o nome, o esprito e o corpo.O rei pergunta:- o mesmo nome, o mesmo esprito e o mesmo corpo que nascem depoisda morte?- No o mesmo nome, o mesmo espirito e o mesmo corpo que nascemdepois da morte. Esse nome, esse esprito e esse corpo criam a ao.Pela ao, ou Karma, nascem outro nome, outro esprito e outro corpo.

    82. Bonecos

    Eis aqui a histria do monge Zen Hotan.Hotan ouvia as prelees de um mestre. Na estria das palestras, aassistncia foi numerosa mas, a pouco e pouco, nos dias seguinte, a

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    sala se esvaziou; at que, um dia, Hotan ficou s na sala com omestre. E este lhe disse:- No posso fazer uma conferncia s para ti; de mais a mais, estoucansado.Hotan prometeu voltar no outro dia com muita gente. Nesse dias Porm.voltou s. No obstante, disse ao mestre:- Podeis fazer a conferncia hoje, porque eu trouxe numerosa

    companhia!Hotan trouxeram bonequinhas, que espalhara pela sala. Disse-lhe omestre:- Mas so apenas bonecas!- Com efeito, - respondeu-lhe Hotan. - mas todas as pessoas que aquivieram no so mais do que bonecas, pois no compreendem patavina dosvossos ensinamentos. S eu lhes compreendi a profundeza e a verdade.Mesmo que muita gente tivesse vindo, serviria to-somente deenchimento, decorao, vazio sem fundo.

    83. Vem...

    Mestre Tokusan (742-865) estava sentado em zazen beira do rio.Avizinhando-se da margem, um discpulo gritou-lhe:- Bom dia, mestre! Como estais?Tokusan interrompeu o zazen e, com o leque, fez sinal ao discpulo:Vem . . . vem . . . !Levantou-se, deu meia-volta e ps-se a ladear o rio, seguindo o cursoda gua...O discpulo, nesse instante, experimentou o Satori.

    84. O Mdico e o Zen

    Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tquio, recebeuum dia a visita de um velho amigo, tambm mdico, que no via hsete anos."Como vai?", perguntou Kusuda."Deixei a medicina", respondeu o amigo."Ah, sim?""Na verdade, agora eu pratico o Zen.""E o que o Zen?"-- quis saber Kusuda." difcil explicar..." -- hesitou o amigo."E como possvel entend-lo, ento?""Bem, deve-se pratic-lo.""E como fao isso?"

    "Em Koishikawa, h uma sala de meditao dirigida pelo Mestre Nan-In.Se quiser experimentar, v at l."No dia seguinte Kusuda dirigiu-se sala de meditao do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:"Com licena!""Quem ?" responderam l de dentro. Um velho de aspecto miservel,que se aquecia junto a um fogareiro prximo ao vestbulo, dirigiu-sea ele. Kusuda entregou-lhe seu carto e o velho, aps dar uma olhada,disse sorrindo:"Ol!!! Faz tempo que o senhor no aparece!""Mas... a primeira vez que venho aqui!" - disse Kusuda, surpreso."Ah, sim? a primeira vez? Como est escrito 'Diretor de hospita1',pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?""Quero falar com o Mestre Nan-in."

    "J est falando com ele!" disse o velho, abrindo um largo sorriso."Ento o Mestre Nan-in o senhor?", disse Kusuda meio desconfiado.Esperava algum mais "venervel".

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    "Eu mesmo", respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandarseu visitante entrar. J meio desanimado e um tanto desdenhoso,Kusuda decidiu falar ali mesmo, de p, no vestbulo:"Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen."O velho olhou para ele e disse:"Praticar o Zen? O senhor um mdico no? Deve ento tratar bem deseus doentes e se esforar para o bem de sua famlia, o Zen isso.

    Agora, pode ir embora."Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavrasde Nan-In, trs dias depois resolveu visitar novamente o velhoMestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestbulo."Novamente o senhor aqui? O que deseja?""Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen!" - disseKusuda petulantemente."Ora, nada tenho a acrescentar ao que j disse outro dia. V embora eseja um bom mdico". E fechou a porta.

    Dois ou trs dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre,pois absolutamente no conseguira entender suas palavras."Outra vez aqui?""Eu vim porque no consegui entender suas palavras, por mais que

    pensasse sobre elas.""Pensando nas palavras que o senhor no vai entender coisa nenhumamesmo!" - disse o velho monge."Ento o que eu devo fazer?" - disse Kusuda, j quase desesperado."Procure perceber por si, ora essa! Agora, v embora."Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:"Por trs vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim ataqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me mandaembora sem me dar o mnimo esclarecimento! Que espcie de mestre osenhor, afinal!?!""Ah! Finalmente ele zangou-se!", exclamou o Mestre."Mas EVIDENTE!", desabafou o mdico."Ento agora chega de palavreado e seja educado! Faa-me umasaudao."

    Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade dedar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverncia. O Mestre entoconduziu-o sala de meditao e o ensinou a praticar zazen.

    Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen tambm cuidarbem dos doentes e esforar-se para o bem de sua famlia.

    85. Joshu e o Grande Caminho

    Certa vez, um homem encontrou Joshu, que estava atarefado em limpar optio do mosteiro. Feliz com a oportunidade de falar com um grande

    Mestre, o homem, imaginando conseguir de Joshu respostas para aquesto metafsica que lhe estava atormentando, lhe perguntou:"Oh, Mestre! Diga-me: onde est o Caminho?"Joshu, sem parar de varrer, respondeu solcito:"O caminho passa ali fora, depois da cerca.""Mas," replicou o homem meio confuso, "eu no me refiro a essecaminho."Parando seu trabalho, o Mestre olhou-o e disse:"Ento de que caminho se trata?"O outro disse, em tom mstico:"Falo, mestre, do Grande Caminho!""Ahhh, esse!" sorriu Joshu. "O grande caminho segue por ali at aCapital."E continuou a sua tarefa.

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    86. Apenas uma esttua

    Certa vez Tan-hsia, monge da dinastia Tang, fez uma parada emYerinji, na Capital, cansado e com muito frio. Como era impossvelconseguir abrigo e fogo, e como era evidente que no sobreviveria

    noite, retirou em um antigo templo uma das imagens de madeiraentronizadas de Buddha, rachou-a e preparou com ela uma fogueira,assim aquecendo-se. O monge guardio de um templo mais novo prximo,ao chegar ao local de manh e ver o que tinha acontecido, ficouestarrecido e exclamou:"Como ousais queimar a sagrada imagem de Buddha?!?"Tan-hsia olhou-o e depois comeou a mexer nas cinzas, como seprocurasse por algo, dizendo:"Estou recolhendo as Sariras (*) de Buddha...""Mas," disse o guardio confuso "este um pedao de madeira! Comopodes encontrar Sariras em um objeto de madeira?""Nesse caso," retorquiu o outro "sendo apenas uma esttua de madeira,posso queimar as duas outras imagens restantes?"

    (*) Sariras - tais objetos so depsitos minerais - como pequenaspedras - que sobram de alguns corpos cremados, e que segundo atradio foram encontrados aps a cremao do corpo de GautamaBuddha, sendo considerados objetos sagrados.Koan: Em que parte de um objeto fica o reverenciado Sagrado?

    87. O Monge Indiferente

    Uma velha construiu uma cabana para um monge e o alimentou por vinteanos, como forma de adquirir mritos. Certo dia, como forma deexperimentar a sabedoria adquirida pelo monge, a velha pediu jovemmulher que levava ao monge o alimento todos os dias (j que a velha

    senhora no podia mais fazer o caminho com freqncia) o abraasse.Ao chegar cabana, a menina encontrou o monge em zazen. Ela abraou-o e perguntou-lhe se gostava dela. O monge, frio e indiferente, dissede forma dura:" como se uma rvore seca estivesse abraada a uma fria rocha. Estto frio como o mais rigoroso inverno, no sinto nenhum calor."A jovem retornou, e disse o que o monge fez. A velha, irritadssima,foi at l, expulsou o monge e queimou a cabana. Enquanto ele seafastava, ela gritou:"E eu, que passei vinte anos sustentando um idiota!"

    88. Baso e o Nariz

    Certo dia Baso passeava em companhia de seu jovem discpulo Hyakuj.A certa altura do passeio, viram uma revoada de patos selvagens. Basoperguntou ento a Hyakuj:"Que aquilo, Hyakuj?""So patos selvagens, Mestre" - disse o jovem."E para onde vo?""Vo-se embora, voando..." - replicou Hyakuj, fitando o cu,pensativo.Ento Baso agarrou o nariz de seu discpulo com toda a fora, dandoum forte puxo. Hyakuj gritou:"Aaaai!"Baso exclamou: "NO FORAM EMBORA COISA NENHUMA!"Ao ouvir isso, Hyakuj obteve o Satori.

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    89. O tesouro em casa

    Um dia, um jovem chamado Yang Fu deixou sua famlia e lar para ir aSze-Chuan visitar o Bodhisattva Wu-Ji. Ele sonhou que junto quelemestre poderia encontrar um grande tesouro de sabedoria. Quando j seencontrava s portas da cidade, aps uma longa viajem cheia de

    aventuras, encontrou um velho senhor. Este lhe perguntou:"Onde vais, jovem?""Vou estudar com Wu-Ji, o Bodhisattva." - respondeu o rapaz."Em vez de buscar um Bodhisattva, mais maravilhoso encontrarBuddha."Excitado com a perspectiva de encontrar o Grande Mestre, disse YangFu:"Oh! Sabes onde encontr-lo?!""Voltes para casa agora mesmo. Quando l chegares, encontrars umapessoa usando uma manta e chinelos trocados, que lhe cumprimentar.Essa pessoa o Buddha."O rapaz pensou, aterrado: "Como posso retornar agora, quando estou sportas do meu objetivo? Eu teria que confiar muito no que estesimples velho me diz". Ento Yang Fu teve uma forte intuio de que

    aquele simples homem sua frente era algum de grande sabedoria. Numimpulso, voltou-se para a estrada, sem jamais ter encontrado Wu-Ji.Ele retornou o mais rpido que pode, ansioso pela vontade deencontrar Buddha. Chegou em casa tarde da noite, e sua amorosa me,em meio alegria e pressa de abraar o filho que retornava ao lar,cobriu-se de uma manta usada e calou seus chinelos trocados.Olhando para sua me desse modo, que vinha sorrindo e pronta aabra-lo, Yang Fu atingiu o Satori. Este era o maior tesouro.

    90. O Mistrio do Zen

    Certa vez, Huang Shan-ku perguntou ao mestre Hui-t'ang:"Por favor, Mestre, diga-me qual o significado oculto do

    Buddhismo?"O Mestre replicou:"Kung-Tzu (Confcio) disse: 'Pensais que estou escondendo coisas, meus discpulos? Na verdade, no escondo nada de vocs'. O Zen tambmno tem nada de oculto. A Verdade j est revelada.""No enten...!" estava dizendo o homem. Mas o mestre fez um gesto desilncio e disse:"No digas nada!"Huang Shan-ku ficou confuso. O Mestre ento ergueu-se e convidou-o asegu-lo at o sop de uma montanha. Eles caminharam em silncio. Lchegando, o Mestre perguntou:"Sentes o suave aroma dos ciprestes?""Sim," disse o outro."Como vs, tambm eu no escondo nada de ti."

    91. Sem Motivo

    Certo dia, trs amigos passeavam e viram um homem no cume de umpequeno monte, sentado. Curiosos sobre o que estaria o homem fazendo,foram at ele, usando a trilha na encosta. Chegando l, o primeirodisse:"Ol, est esperando um amigo?""No..." - respondeu o outro. O segundo homem replicou:"Ento est respirando o ar puro!""No..." - disse o estranho. O terceiro amigo disse:"J sei! Voc estava passando e resolveu olhar este belo cenrio.""No, na verdade..." - repetiu o homem. Os trs amigos ento

    exclamaram ao mesmo tempo, estupefatos:"Mas ento, o que faz aqui?!"O homem disse com um suave sorriso:

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    "Apenas ESTOU aqui..."

    92. A Morte de Buddha

    Assim eu ouvi:Estava o Abenoado - j adentrado em anos - caminhando no Bosque de

    Upavartana, em companhia de seu dileto discpulo Ananda, quandosubitamente sentiu-se fatigado. Deitou-se um pouco para descansar,com Ananda a seu lado. Aps um tempo, sentiu-se melhor e levantou-se.Um pouco mais adiante na senda, o Venervel voltou a parar, fatigado.Logo aps algum tempo em descanso, levantou-se. Ento, pela terceiravez, sentiu-se muito cansado, e Ananda, aflito, o ajudou a deitar-se sombra de uma rvore. O Abenoado ento disse a