a atividade física como fator de qualidade de vida e saúde do trabalhador

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  • A ATIVIDADE FSICA COMO FATOR DE QUALIDADE DE VIDA E

    SADE DO TRABALHADOR

    BARROS, Mauro V. G. de

    Ncleo de Pesquisa em Atividade Fsica & Sade NuPAF (CDS/UFSC)

    Doutorando EPS/UFSC Ergonomia ([email protected])

    SANTOS, Saray G. dos.

    Ncleo de Pesquisa em Atividade Fsica & Sade NuPAF (CDS/UFSC)

    Doutoranda EPS/UFSC Ergonomia ([email protected])

    ABSTRACT

    This bibliographic study discussed the evidence presented in the literature about the

    importance of physical activity in leisure hours to prevent psychosomatic illnesses. The

    information sources were limited to bibliographies from the last ten years including books,

    periodicals, thesis, dissertations and congress books. In order to reach the objective of this

    study the discussion was grouped into the following items: inter-relations in environment,

    lifestyle and health-related work; benefits of physical activity to control stress and prevent

    psychosomatic illnesses. The investigated literature proved that psychosomatic illnesses

    are caused by ones work conditions and low quality of life. In order to revert this picture

    some changes are required: on the organizational level provide for the worker, among other

    things, satisfaction with his job; and regarding the worker help restructure his lifestyle, by

    adopting new habits, especially by regular physical activity.

    Key - words: physical activity, health-related work, quality of life

  • INTRODUO

    Para discusso do tema atividade fsica como fator preventivo das doenas

    psicossomticas relacionadas ao trabalho, faz-se necessrio, anteriormente, discutir uma

    temtica mais ampla, a qualidade de vida do trabalhador.

    Quando se fala em Qualidade de Vida (QV), pode-se recair no discurso

    comum, devido a complexidade e impreciso associada definio de um conceito de

    qualidade de vida. SHEPHARD (1996), define QV como resultante da percepo das

    condies de sade, capacidade funcional e outros aspectos da vida pessoal e familiar.

    NAHAS (1995), tambm salienta a dificuldade de estabelecer um conceito preciso de QV,

    mas tenta defini-la como resultante de um conjunto de parmetros individuais,

    socioculturais e ambientais, que caracterizam as condies em que vive o ser humano, uma

    comunidade ou uma nao.

    Pode-se deduzir que so muitos os fatores que influenciam a qualidade de

    vida de um indivduo, incluindo-se aspectos mais objetivos (condio de sade, salrio,

    moradia) e aspectos mais subjetivos (humor, auto-estima, auto-imagem). Entretanto,

    independente do enfoque - global (qualidade de vida) ou especfico (qualidade de vida

    relacionada sade) os fatores scio-ambientais e, mais especificamente, o contexto onde

    se estabelecem as relaes e as vivncias de trabalho, parecem ter impacto significativo na

    QV. Basta lembrar que a maioria dos adultos (no Brasil, infelizmente tambm as crianas e

    adolescentes) destinam grande parte de suas vidas ao trabalho (KERR, GRIFFITHS &

    COX, 1996).

    Ergonomia definida como estudo da adaptao confortvel e produtiva

    entre o ser humano e as condies do seu trabalho (MARIN, 1998). Os estudos

    ergonmicos, tendem a focalizar sobre os distrbios de sade associados ao trabalho,

    visando no s o aumento da produo, mas, sobretudo, a qualidade de vida do

    trabalhador.

    No que concerne a sade do trabalhador, o comportamento demonstrado

    tanto dentro como fora do ambiente de trabalho o que reflete as condies fsicas e

    psquicas do sujeito, pois segundo FIALHO & CRUZ (1999) da mesma forma que as

    condies da vida familiar, transporte e moradia tm conseqncias no trabalho, a vida

    profissional tambm se reflete na vida fora do trabalho.

  • Assim, de acordo com CODO (1997), no trabalho o sujeito se transforma e

    transformado pela ao recproca do sujeito e/ou do objeto. FIALHO & CRUZ (1999),

    citam que os homens no reagem s situaes tais quais elas so, mas tais quais eles as

    percebem (p.21).

    Neste contexto, os estudos publicados apresentam diferentes enfoques, h

    aqueles direcionados s questes inerentes a sade fsica, como os que visam analisar a

    interferncia das cargas de trabalho na sade fsica do trabalhador (BARREIROS,

    BATISTA & BRITO,1992; DUARTE et al.,1998); os que analisam a postura corporal dos

    trabalhadores (MATOS et al., 1998) e as desordens musculoligamentares (PAVAN, 1996)

    frente s solicitaes inerentes ao posto de trabalho; os que estudam os hbitos em termos

    de atividade fsica, tais como SILVA (1996), NAHAS et al. (1997), ALVAREZ &

    DUARTE (1997), BARROS (1999), dentre outros. Por outro lado, identifica-se na

    literatura a existncia de estudos que analisam os distrbios mentais associados s

    demandas do trabalho (AZEVEDO, 1994; BORGES & JARDIM, 1997).

    Na literatura especializada, existe relativo consenso quanto importncia da

    utilizao do tempo livre em relao sade mental dos trabalhadores. Neste sentido,

    DEJOURS (1992), coloca que a compensao natural das violncias do trabalho

    acontece no tempo livre, alis est uma das caractersticas do lazer instrumental, tpico

    da era industrial.

    Segundo EDGINTON et al. (1995), durante a chamada Era Industrial

    aconteceram duas mudanas importantes na relao tempo de trabalho tempo de livre (ou

    de lazer): o trabalho tornou-se tedioso, cansativo e repetitivo; e, o tempo livre passou a ser

    utilizado na realizao de atividades visando a compensao para a insatisfao com o

    trabalho e a manuteno pessoal ou da famlia.

    A partir da dcada de 50, com ingresso na Era Tecnolgica, a televiso e,

    mais recentemente os computadores, alteraram bastante o modo de vida das pessoas.

    Observando-se uma drstica diminuio das demandas fsicas no trabalho e uma reduo

    das oportunidades de interao social (paralelamente a um incremento das oportunidades

    de interao eletrnica).

    Nesse estudo bibliogrfico, pretende-se discutir as evidncias apresentadas

    na literatura quanto importncia das atividades fsicas no perodo de lazer para promoo

    da sade e qualidade de vida do trabalhador. Delimitou-se como fonte de informao

  • bibliogrfica: livros, peridicos, teses, dissertaes, anais e documentos eletrnicos. A

    extenso temporal da busca foi limitada aos ltimos 10 anos.

    DESENVOLVIMENTO

    Com a finalidade de atingir o objetivo proposto neste trabalho, optou-se por

    agrupar a discusso em torno dos seguintes temas: inter-relao ambiente - estilo de vida

    sade do trabalhador; e, benefcios da prtica de atividade fsica a nvel geral, no

    controle do estresse e na preveno de doenas somticas.

    Sade do Trabalhador

    Em relao ao conceito de sade, percebe-se que estamos longe de

    estabelecer um consenso. Todavia, parece ser universal o entendimento de que sade no

    se resume apenas ausncia de doena. H uma tendncia em se mudar de um paradigma

    biolgico para ecolgico, definindo sade como uma condio multidimensional, avaliada

    numa escala contnua, resultante de complexa interao de fatores hereditrios, ambientais

    e do estilo de vida (Bouchard et al. apud NAHAS, 1997).

    Ao considerar sade com esta amplitude, admiti-se que muitos fatores (a

    nvel individual ou coletivo) podem influencia-la. Aspectos coletivos importantes so a

    poluio ambiental e a infra-estrutura do local de moradia (gua encanada, saneamento e

    coleta de lixo). Do ponto de vista psicossocial, aparecem os diversos nveis de exigncias

    da vida em sociedade e das relaes com outros seres humanos, seja a nvel comunitrio ou

    no trabalho, capazes de gerar ansiedade e estresse. A nvel individual, os fatores mais

    importantes relacionam-se com o estilo de vida pessoal, incluindo a dieta, atividades

    fsicas, comportamento preventivo e controle do estresse (BOUCHARD et al., 1990;

    BRASIL, 1995; NIEMAN, 1990; ORNISH et al., 1990).

    As chamadas doenas crnico-degenerativas (doena arterial coronariana,

    acidente vascular cerebral, cncer, diabetes e as doenas pulmonares obstrutivas crnicas),

    lideres em mortalidade precoce nos pases industrializados, esto associadas ao hbito de

    fumar, dieta inadequada e inatividade fsica. Conforme PEGADO (1990), tambm

    relacionam-se ao estilo de vida moderno alguns distrbios psquicos (ansiedade, depresso

    e neurose), as doenas psicossomticas (gastrite, lcera e dermatites), alteraes dos

  • lipdeos sangneos, doenas nutricionais (obesidade, bulimia e anorexia) e os distrbios

    osteoarticulares (artrites, artroses, algias da coluna e hrnia de disco).

    Agentes Estressores

    Estresse um termo amplamente utilizado na linguagem atual e nos meios

    de comunicao. Seu uso tem diferentes significados, mas no contexto do presente

    trabalho, adota-se o conceito estabelecido a partir das experincias de Hans Selye, que

    desenvolveu a noo de estresse relacionada s agresses agudas promovidas pelos

    chamados agentes estressores (ROCHE, 1995).

    O controle do estresse fundamental para a manuteno e/ou melhoria da

    QV, relacionando-se a funo imunolgica e a uma menor prevalncia de algumas doenas

    (NIEMAN, 1990; ORNISH, 1990).

    Quando o estresse fisiolgico, a resposta adaptativa, permitindo ao

    indivduo elaborar reaes adequadas para alcanar um equilbrio satisfatrio, aps uma

    demanda qualquer. No entanto, diante de estresse patolgico, a resposta do indivduo

    parece insatisfatria ou mal adaptada, sendo impossvel conseguir de imediato, um novo

    equilbrio. Desenvolve-se uma disfuno relativamente intensa, que transportada ao nvel

    psquico, fsico e comportamental, levando a distrbios transitrios ou duradouros

    (ROCHE, 1995).

    De acordo com LIPP (1990), ROSSI (1994) e DELBONI (1996), dentre

    outros, o estresse pode ser originado a partir de fontes externas ou internas. As externas so

    aquelas representadas pelo que nos acontece na vida (acidentes, demisso) ou pelas

    pessoas com as quais nos relacionamos (familiares, colegas de trabalho). As causas

    internas so aquelas relacionadas ao nosso tipo de personalidade e ao modo como reagimos

    vida, referem-se viso que temos de mundo, s nossas crenas e valores morais.

    As fontes externas so aquelas que ocorrem independente da nossa vontade.

    BAUK (1985), denomina essas fontes como fatores de contexto, pois so originados no

    ambiente onde vive o indivduo, podendo variar em amplitude, consistindo em uma

    famlia, uma empresa, uma nao ou at todo o mundo.

    DELBONI (1996), cita como fatores que podem levar a condio de

    estresse:

  • a) fatores sociais, incluindo deficincia dos meios de transporte, falta de segurana nas

    cidades, trnsito, guerras ou conflitos sociais, dificuldades financeiras, desemprego,

    acidentes, problemas organizacionais no trabalho;

    b) fatores familiares e afetivos, incluindo doenas na famlia, problemas conjugais,

    separaes e a morte de um ente querido

    As fontes internas, so aquelas relacionadas ao tipo de personalidade de

    cada indivduo e ao modo como se reage vida. Segundo DELBONI (1996), a influncia

    religiosa e uma educao extremamente machista na formao das pessoas, contribui para

    que conceitos como perfeio, culpa e punio, sejam incorporados como verdades

    absolutas. Consequentemente, todo esse processo distorcido favorece o surgimento de

    reaes inadequadas aos sentimentos com os quais no se sabe lidar. Para LIPP (1990),

    muitas vezes no o acontecimento em si que provoca nervosismo ou aborrecimento, mas

    sim a maneira como se interpreta o acontecimento, o que se pensa sobre determinada

    situao que ir fazer com que esta seja classificada como sendo boa ou ruim.

    Essas formas pessoais e especficas de reao, so denominadas por DE

    ROSE JUNIOR et al.(1996) como padres de comportamento, que podem ser do tipo A

    ou do tipo B. Segundo esse autor, os padres de comportamento so compostos pelo

    temperamento (estrutura biolgica que determina a forma, a velocidade e a especificidade

    neurotransmissora de sua reao comportamental) e pela personalidade (forma de

    autocontrole internalizada com a finalidade de modelar o comportamento intuitivo,

    espontneo, impulsivo, original, transformando-o em comportamento social adequado).

    Para DE ROSE JUNIOR et al.(1996), vrios autores j comprovaram isto, no havendo

    mais dvidas sobre a relao entre esse padro de comportamento e a elaborao

    psicofisiolgica que determina o processo de estresse no interior do indivduo.

    ROSSI (1994) e DE ROSE JUNIOR et al. (1996) citam estudo de Friedman

    & Rosenman, intitulado O Comportamento Tipo A e o Seu Corao, abordando a

    relao entre estresse, doena e comportamento do tipo A. Nos indivduos com esse padro

    de comportamento, evidencia-se um extremo sentido de urgncia, pressa, impacincia,

    competitividade intensa, propenso hostilidade, irritabilidade e uma preocupao

    constante com medidas de sucesso quantificveis.

    BAUK (1985), inclui tambm a idade, nvel de educao, tipo de atividade

    que o indivduo exerce e hereditariedade como fontes internas ou como ele prprio

  • tambm denomina "fatores de vulnerabilidade" aos agentes estressores. Essa

    vulnerabilidade individual muito varivel, desse modo, o estresse depende muito mais da

    interao contexto - vulnerabilidade estressor, explicando assim porque um agente

    estressor para um indivduo e no para outro.

    Sem dvida, a adeso a programas de atividades fsicas, esportes e

    exerccios fsicos traz benefcios tanto fsicos (PAFFENBARGER et al.,1986; BLAIR et

    al.,1989) quanto mentais (BOUCHARD, SHEPHARD & STEPHENS, 1994). Berger &

    Macinman apud SAMULSKI et al.(1996), dentre outros, afirmam que o exerccio fsico

    reduz os nveis de ansiedade, depresso e raiva.

    DELBONI (1997), enfatiza a importncia de alternativas de tratamento com

    objetivo de tentar minimizar os sintomas advindos do estresse, que incluem mudanas no

    estilo de vida e prticas alternativas, tais como: cromoterapia, florais, homeopatia,

    massagens, atividades fsicas relaxantes (yoga, tai-chi-chuan). Alm das referncias

    citadas, sugere-se a leitura do trabalho de NASCIMENTO & QUINTA (1998), que

    discutem a importncia de exerccios fsicos para preveno e ou reduo dos altos nveis

    de estresse.

    Processo de Somatizao de Doenas

    Segundo Foucault apud GAIGHER FILHO (2000), a doena tem como

    contedo o conjunto de reaes de fuga e de defesa atravs das quais o doente responde

    situao na qual se encontra. E a partir destas reaes que preciso compreender e dar

    sentido s regresses evolutivas que surgem nas condutas patolgicas.

    De acordo com BIRMAN (1980) a psicossomtica estabelece algumas

    teorias para explicar a gnese de certas doenas. Na primeira teoria, parte-se do

    pressuposto que a existncia de determinados padres de conflitos que seriam

    caractersticos de certas enfermidades, estariam presentes em diferentes tipos de

    personalidade.

    Na segunda teoria, coloca-se como causa predisponente da doena, a

    presena de uma dimenso somtica de origem hereditria, congnita ou adquirida, sendo

    necessria uma descarga psquica, atravs das vias neuroendcrinas e neurovegetativas, de

    modo a produzir uma disfuno ou uma leso.

  • A terceira teoria, supe que para que uma enfermidade se instale, seria

    necessria a existncia de uma situao desencadeante que funcionaria como causa

    precipitante. Isto significa que o conflito interno do sujeito, que no pode ser elaborado no

    plano psicolgico se descarrega como tenso sobre a estrutura corporal.

    Com este enfoque, delimitando seu espao, a psicossomtica construiu seu

    campo emprico, assim apenas algumas enfermidades eram psicossomticas. Nesta

    perspectiva foram estudadas constelaes psicodinmicas em sete enfermidades: lcera

    gstrica e duodenal; colite ulcerosa; asma bronquica; hipertenso arterial; artrite

    reumatide; neurodermatite e hipertireoidismo.

    De acordo com KELEMAN (1994) as pessoas adoecem em funo de no

    saberem remodelar, reorganizar suas vidas, e isso ocorre ou por no receberem auxlio ou

    por no terem conhecimento do processo de reorganizao somtica em fases crticas de

    suas vidas.

    Trabalho

    De acordo com ARENDT (1989) o trabalho uma das condies bsicas

    para a vida humana. O trabalho produz um mundo artificial de coisas buscando transcender

    as vidas individuais. Ao acrescentar objetos ao mundo, o trabalho possibilita a criao de

    um ambiente de coisas permanentes com as quais nos familiarizamos atravs do uso.

    Para Altafulla apud BENITO & SCHMIT (1997), o trabalho pode ser

    considerado basicamente como o conjunto de aes que levam produo de bens

    individuais e coletivos, promovendo o desenvolvimento pessoal, familiar e at de uma

    nao.

    Por outro lado, as variveis intervenientes no trabalho podem gerar

    agresses ao trabalhador, e, neste sentido, DEJOURS (1992) esclarece que a organizao

    do trabalho pode estabelecer uma relao de dominao da vida psquica do sujeito e da

    ocultao de seus desejos. Como psicopatologista do trabalho, Dejours recomenda o estudo

    da psicodinmica do trabalho, com o intuito de relacionar os processos psquicos e a

    realidade de trabalho vivenciada pelo sujeito.

    A satisfao no trabalho tem importncia fundamental na relao sade -

    trabalho. De acordo com DEJOURS (1992), a organizao do trabalho, exerce sobre o

    homem uma ao especfica, cujo impacto o aparelho psquico. O sofrimento mental

    comea quando o homem, no trabalho, j no pode fazer nenhuma modificao na sua

  • tarefa no sentido de torn-la conforme s suas necessidades fisiolgicas e a seus desejos

    psicolgicos, isto , quando a relao homem trabalho bloqueada.

    O homem um ser que tem necessidades, medida que uma delas

    satisfeita, logo surge outra em seu lugar, neste sentido MASLOW (1970), classificou-as

    em uma escala de importncia. Em um nvel inferior colocou as necessidades fisiolgicas

    (dormir, comer, exercitar-se); acima delas, as necessidades de proteo (estabilidade no

    emprego, favoritismo ou discriminao no trabalho); quando as necessidades fisiolgicas e

    de proteo esto satisfeitas, passam a ser mais importantes as necessidades sociais; acima

    destas, as necessidades egocntricas (auto-estima, auto realizao, confiana,

    independncia, reputao, status, aprovao, respeito).

    No contexto das sociedades urbanas dos pases industrializados, as

    necessidades sociais e egocntricas so raramente satisfeitas. As condies de vida

    moderna do uma limitada possibilidade de satisfao destas necessidades, deixando-as

    adormecidas (McGREGOR, 1973).

    Conforme BORGES & JARDIM (1997), um trabalho no qual a pessoa no

    gosta do que faz, precisando realizar tarefas em ritmo acelerado, exigindo pouco ou muito

    de suas capacidades, submetendo-se a problema inter-relacionais com superiores, pode

    levar ao estresse e loucura. DEJOURS (1992), enfatiza que os problemas organizacionais

    e de relacionamento contribuem para as tenses no ambiente de trabalho e menciona,

    ainda, que at indivduos dotados de uma slida estrutura psquica podem ser vtimas de

    uma paralisia mental induzida pela organizao do trabalho (p. 45).

    Atividade Fsica

    Atividade Fsica (AF) representa qualquer movimento corporal que

    produzido pela contrao da musculatura esqueltica e que aumenta substancialmente o

    gasto energtico (US DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1996).

    Incluindo atividades da vida diria (banhar-se, vestir-se), atividades realizadas no trabalho

    (andar, levantar, carregar objetos) e atividades de lazer (exercitar-se, praticar esportes,

    danar).

    O termo exerccio fsico, inadequadamente usado como sinnimo de

    atividade fsica, representa uma das formas de AF. Caracterizada por se tratar de uma

    modalidade de AF que , em geral, planejada, estruturada e repetitiva, tendo por objetivo a

  • melhoria da aptido fsica ou a reabilitao orgnico-funcional (CASPERSEN, POWELL

    & CHRISTENSON, 1985).

    Segundo NAHAS (1997), as formas mais comuns de AF do ser humano

    podem ser classificadas em atividades de trabalho e de lazer. Estas distines so

    importantes para estudos epidemiolgicos, haja vista que as evidncias atuais sugerem que

    diferentes formas de atividade fsica esto associadas a diferentes aspectos da sade.

    A prtica de AF regular est associada reduo do risco de

    desenvolvimento de diversas doenas crnicas, muitas das quais causas principais de morte

    prematura e dependncia funcional em vrios pases do mundo, inclusive o Brasil.

    A prtica da AF regulares (6 a 7 dias na semana), em intensidades

    moderadas, de forma contnua ou acumulada, mesmo no promovendo mudanas nos

    nveis de aptido fsica, tem se mostrado benfica na reduo do risco de diversas doenas

    (American Heart Association apud NAHAS, 1997).

    As demandas e o contexto da vida nas grandes cidades, propicia pouca ou

    nenhuma oportunidade para o envolvimento em atividades fsicas, sobretudo no perodo de

    lazer. No trabalho, exige-se menor atividade muscular e cada vez mais capacidades

    intelectuais e de deciso na operao de equipamentos informatizados e automatizados. O

    fato da populao no estar envolvida em trabalhos ativos fisicamente no traria tantas

    conseqncias, se o lazer no fosse tambm sedentrio e o dia a dia cheio de

    comportamento agressivos ou danosos sade (COX, SHEPHARD & COREY, 1987;

    BRASIL, 1995).

    A inatividade fsica (assim como a hipertenso, a dislipidemia e o fumo)

    considerada um fator de risco para as doenas coronarianas. BERLIN & COLDITZ (1990)

    e POWELL et al. (1987), demonstraram que os sedentrios em comparao aos indivduos

    regular e moderadamente ativos, apresentam aproximadamente o dobro de chances (Risco

    Relativo=1,9) de sofrerem um ataque cardaco, independente de outros fatores de risco.

    CONSIDERAES FINAIS

    Nos tpicos abordados anteriormente, foram apresentadas algumas das

    evidncias mencionadas na literatura especializada sobre a importncia da AF (incluindo-

    se a prtica de exerccios fsicos) para a sade e QV do trabalhador e seu papel na

    preveno das doenas psicossomticas.

  • Apesar do reconhecimento da importncia da AF, estudos tm demonstrado

    que os trabalhadores apresentam, em geral, baixos nveis de atividade fsica e esto

    expostos a outros fatores comportamentais de risco sade (incluindo-se o etilismo, fumo,

    percepo de baixo nvel de sade e exposio a cargas de estresse elevadas).

    BARROS (1999), em estudo envolvendo amostra de trabalhadores da

    indstria catarinense, verificou que cerca de 2/3 dos sujeitos so insuficientemente ativos

    no perodo de lazer. Curiosamente, observou-se que apenas 13,9% percebem estar expostos

    a nveis elevados de estresse.

    Com relao a utilizao do tempo livre para aliviar as presses advindas do

    trabalho, DEJOURS (1992) destaca que quando o homem condicionado ao

    comportamento produtivo pela organizao do trabalho, fora dele, ele conserva-se da

    mesma forma. Segundo Dejours so muitos os empregados submetidos

    despersonalizao, mantendo um programa de tempo livre onde as atividades e, at o

    repouso, so cronometrados. Dessa forma, mantm-se uma espcie de vigilncia

    permanente para no deixar apagar o condicionamento mental visando o comportamento

    produtivo.

    Obviamente, a prtica de AF no garante um bom nvel de QV e sade. A

    AF um dos fatores que associados dieta adequada, organizao somtica (referida por

    KELEMAN, 1994), favorecem a adoo de outros comportamentos e atitudes favorveis

    QV e sade.

    Existem evidncias apontadas na literatura, demonstrando que ao incorporar

    um comportamento favorvel sade, as pessoas acabam operando outras mudanas em

    seu estilo de vida que so concorrentes com melhores nveis de sade e QV. Exemplo

    disso, so os trabalhos demonstrando que entre os sujeitos fisicamente ativos, est tambm

    a maior proporo de pessoas que se alimenta adequadamente, que no fumam e adotam

    outros comportamentos preventivos. Quanto a esse assunto, sugere-se consultar os

    trabalhos de PATTERSON, HAINES & POPKIN (1994), NIEMAN (1999) e BARROS

    (1999).

    Uma das formas de alterar a prevalncia de comportamentos de risco nas

    populaes de trabalhadores atravs dos Programas de Promoo da Sade no Trabalho

    (sobre esse assunto consultar CHENOWETH, 1998). No Brasil, so poucas as iniciativas

    em larga escala visando a promoo da sade dos trabalhadores, a maioria das experincias

    restrita a uma empresa, ou mais comumente, a um setor de uma empresa.

  • A nvel nacional, temos o programa Agita So Paulo, criado em 1997 pelo

    Centro de Estudos do Laboratrio de Aptido Fsica de So Caetano do Sul e pela

    Secretria de Estado da Sade de SP, um programa de promoo de atividades fsicas que

    agrega iniciativas visando alterar outros comportamentos de risco. Em Santa Catarina,

    temos o Lazer Ativo, dirigido aos trabalhadores da indstria catarinense, um programa do

    Servio Social da Indstria que visa promover a prtica da AF, reduo do consumo de

    bebidas alcolicas e melhoria da qualidade da alimentao desse grupo de trabalhadores.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    RESUMO

    Nesse estudo de cunho bibliogrfico, discutiu-se as evidncias apresentadas na literatura

    quanto importncia das atividades fsicas no perodo de lazer para preveno de doenas

    psicossomticas. Delimitou-se como fonte de informao bibliogrfica: livros, peridicos,

    teses, dissertaes e anais. A extenso temporal da busca foi limitada aos ltimos 15 anos.

    Para atingir o objetivo proposto, optou-se por agrupar a discusso em torno dos seguintes

    temas: inter-relao ambiente - estilo de vida - sade; e, benefcios da prtica de atividade

    fsica a nvel geral, no controle do estresse e na preveno de doenas somticas. A

    literatura pesquisada evidenciou as doenas psicossomticas advindas do trabalho e da m

    qualidade de vida do trabalhador. Para reverter o quadro, so necessrios mudanas, tanto a

    nvel organizacional, propiciando ao trabalhador, dentre outros fatores, a satisfao no

    trabalho; quanto e principalmente a nvel do trabalhador, reorganizando seu estilo de vida.

    Para a referida reorganizao, um fator essencial, dentre outros, a adoo de novos

    hbitos, e inerente a estes, est a prtica de atividades fsicas.

    Palavras Chave: Atividade Fsica, Sade do Trabalhador, Qualidade de Vida