a ciência da ciência

Upload: laercio-silvio-bueno

Post on 28-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    1/10

    ue cincia ? Conheci-

    mento verdadeiro , por

    oposio ao conhecimento

    errado ou duvidoso? O re-

    sultado

    de

    experincias, em contraste

    .com o que sabemos

    pelo

    senso comum?

    Conhecimento medido, quantificado, e

    no aquele qu e adquirimos intui-

    tivamente? A Verdade, com V maisculo,

    em contraste com

    as

    verdades menores?

    Cm

    privilgio

    dos sbios e

    iniciado

    s,

    nunca acessvel s massas? Cm fatar da

    produo,

    como

    o capital, o trabalho e a

    tecn

    o logia?

    Aquilo que fazem os

    cientistas?

    Nenhuma dessas respostas sa ti sfa-

    tria, e no entanto cada uma delas cor-

    responde a noes que vezes en-

    contramos

    entre

    cientistas educadores,

    filsofo s e estudiosos dos

    fenmenos

    cientficos. No existe um conceito

    nico

    e consensual

    sobre

    o

    que

    seja

    cincia , mas

    noes

    que variam ao

    longo do tempo e do espao. Alm disso,

    existem sociedades e

    perod

    os histri-

    cos que produzem mais e melhor cin-

    cia do que outros, ou cincia de um ou

    outro tipo. Como explicar essas varia-

    es? De

    que

    elas dependem?

    Que

    in-

    fluncia tem a cincia

    no

    desenvolvi-

    mento ou na mudana das sociedades

    Ser e la um simples subproduto de con-

    dies econmicas e sociais mais

    ge

    rais,

    ou ter um efeito especfico e prprio?

    Finalmente,

    como

    fazer se queremos ter

    mais cincia,

    de

    melhor qualidade e com

    um

    impacto social mais s ignificati vo?

    Como desenvolver uma poltica cient-

    fica adequada?

    e

    e

    len la

    imo

    n chwartz

    m n

    Professor do Instituto Universitrio de Pesquisas

    do Rio

    de Janeiro

    Pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentao em Histria Contempornea d

    da Fundao Getlio Vargas

    Galileu

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    2/10

    Estas perguntas mostram

    que

    cin

    cia no uma coisa simples, que se pos

    sa definir com facilidade recorrendo a

    uma boa enciclopdia. Trata-se de um

    fe-

    nmeno social e humano bastante com

    plexo e variado, suficientemente impor

    tante para gerar todo um esforo para

    compreend-lo e poder

    em seguida agir

    sobre

    ele.

    Esta

    a origem da cincia da

    cincia , e mais especificamente da so

    ciologia da cincia, que trata de exami

    nar o fenmeno cientfico como um fato

    social.

    mais antiga das cincias da

    cincia a filosofia. Os fil-

    sofos de todos os tempos

    observam

    que

    os

    homens

    conhecem a natureza, mas o fazem de

    maneira imperfeita e varivel. Como

    possvel, perguntam-se, chegar a conhe

    cimentos verdadeiros e indiscutveis? A

    tarefa da filosofia consistiu, durante s

    culos, em estabelecer o melhor mtodo

    do

    conhecimento verdadeiro, e depois

    aplic-lo para o entendimento do

    mundo, da religio e da moral. Nesta tra

    dio, o Verdadeiro, o Bom e o Bem

    eram quase sempre considerados inse

    parveis. Quando Descartes props o

    mtodo da enumerao das idias cla

    ras e distintas , passou pela prova da

    existncia de

    Deus

    para chegar ao

    mundo emprico. Toda a discusso cls

    sica sobre a estrutura e

    as

    origens do sis

    tema solar representou, ao

    mesmo

    tempo, um desenvolvimento de novas

    tcnicas de observao e anlise dos

    fe-

    nmenos, e uma grande especulao de

    e

    len la

    tipo filosfico e religioso. A obra clssica

    de

    l ewton sobre mecnica celeste se

    chamava, em latim, rincpios matemti-

    cos da filosofia

    natural

    e

    pretendia

    inaugurar tanto uma nova maneira de

    conhecer a natureza quanto demonstrar

    a harmonia divina do Universo. Os enci

    clopedistas e positivistas franceses pre

    tendiam chegar, pela cincia, a uma nova

    tica e a uma nova religio que substi

    tussem as antigas, contaminadas - se

    gundo acreditavam - pela superstio e

    pela metafsica.

    A revoluo mais importante dos lti

    mos sculos no campo da filosofia da

    cincia talvez tenha sido a obra de Imma

    nuel Kant que propunha uma separao

    profunda e insupervel entre o conheci

    mento emprico e o conhecimento filo

    sfico, tratando de estabelecer as condi

    es de possibilidade de cada um deles.

    Para Kant, a observao emprica, a utili

    zao da lgica matemtica e da razo

    obedeciam a uma estrutura geral de rela

    cionamento entre a percepo e a obser

    vao

    (ou sensibilidade ) que poderia

    ser estabelecida e servir

    de

    base para

    todo o conhecimento cientfico futuro.

    Era, no entanto, um conhecimento das

    aparncias, dos fenmenos.

    As

    verdades

    morais e religiosas s poderiam ser obti

    das por outra

    via

    a da razo prtica, que

    teria como ponto de partida uma atitude

    tica

    do

    homem em relao a si prprio

    e a seus semelhantes. Lma das conse

    qncias importantes das idias de Kant

    foi, assim, separar o estudo das condi

    es do conhecimento cientfico (a

    l-

    gica, a epistemologia, a filosofia crtica)

    da discusso das questes ticas, religio-

    sas e cosmolgicas que tambm preocu

    pavam os filsofos.

    A idia kantiana de que seria possvel

    estabelecer, no plano lgico, as condi

    es mais gerais para o conhecimento

    cientfico geraria uma literatura cada vez

    mais vasta e especializada, grande parte

    da qual englobada, neste sculo, pelos

    termos neopositivismo

    ou

    positi

    vismo lgico . Nesta corrente, despon

    tam nomes como Camap, Wittgenstein,

    Popper e Russell. Hegel, um discpulo de

    Kant, tratou de voltar atrs na distino

    entre os dois tipos de conhecimento,

    dando origem a pelo menos duas linhas

    de especulao filosfica, a da busca de

    uma nova lgica, a dialtica, e a da busca

    de novos fundamentos para o conheci

    mento das essncias, a fenomenologia

    - da qual surge, entre outras correntes,

    o existencialismo. '

    Entretanto, enquanto os filsofos es

    peculavam sobre as possibilidades da

    cincia, os cientistas continuavam seu

    trabalho, indiferentes, na maior parte

    dos casos, ao que os filsofos pensavam

    ou diziam.

    Que

    fazem, na verdade, os

    cientistas? De onde tiram suas idias,

    seus mtodos, suas concluses? Como

    conseguem convencer os outros de suas

    verdades? Para muitos, foi ficando claro

    que a cincia s poderia ser realmente

    entendida se a ela fossem aplicados os

    mesmos mtodos de observao e

    in-

    ferncia que a cincia emprega para o

    conhecimento

    de

    fenmenos naturais e

    sociais. Em

    outros termos, se fosse cons

    tituda uma cincia emprica da cincia.

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    3/10

    ociologia do

    conhec

    i

    mento, quase

    toda ela de

    senvolvida a partir

    do

    mar

    xismo, foi uma das grandes

    tentativas de estabelecer uma cincia da

    cincia. Para

    :vtarx

    a vida social

    se

    orga

    nizaria a partir

    do

    trabalho e da apropria

    o social de seu produto, feita freqen

    temente

    de

    forma conflitiva e alienante.

    Esta

    seria a infra-estrutura sobre a qual

    as

    outras criaes humanas - a religio, a

    arte, a moral, o direito, o

    conhecimento

    -

    se apoiariam.

    Para entender o ju

    dasmo, dizia Marx, no interessa o

    que

    o

    judeu

    faz

    nos sbados, e sim o

    que faz

    nos dias

    de

    semana. Para

    entender

    uma

    lei , h que ver a quais interesses ela

    serve. Para

    entender

    a cincia moderna,

    necessrio ver que ela

    faz

    parte do

    ca

    pitalismo, e

    tem por

    objetivo garantir

    seu crescimento e sua continuidade.

    Era uma maneira totalmente revolu

    cionria

    de

    ver

    as

    coisas. De fato, im

    possvel negar,

    em

    termos amplos, que a

    cincia

    moderna

    e o capitalismo cres

    ceram juntos. Agora, seria possvel olhar

    para trs e ver a oposio entre a Igreja

    Catlica e Galileu como uma manifesta

    o

    do

    conflito

    entre

    o feudalismo me

    dieval e o capitalismo nasce nte ; atribuir

    ao sistema

    de

    Newton a funo

    de ju

    st

    ifi-

    Newton

    car a nova

    ordem

    burguesa; tratar de ex

    plicar o crescimento da cinc

    ia

    e da tc

    nica na

    Alemanha

    , na

    Inglaterra

    e

    na

    Frana do scu lo

    XIX

    pela fora do capi

    talismo nesses pases; e at me

    smo

    su

    gerir que as noes

    de

    relatividade e in

    determinismo, introduzidas na

    f

    sica do

    sculo

    XX

    tm a ver com a decadncia

    do capitalismo e com o surgimento

    de

    uma

    nova

    ordem

    socialis ta,

    que

    traria

    consigo, presumiveJmente, uma cincia

    mais

    profundamente verdadeira.

    lo faltou

    quem propusesse

    estas e

    muitas outras teses semelhantes. 11m dos

    grandes problemas da soc iologia do co

    nhecimento foi ter ido muito alm

    do

    es

    tudo

    e da observao dos fatores sociais

    que

    condicionam a atividade cie ntfica e

    outras formas de conhecimento hu

    mano, e ter tentado,

    como

    uma nova filo

    sofia,

    estabelecer

    aprioris ticamente as

    condies, os limites e a

    prpria

    vali

    dade

    tica e cientfica

    deste

    conheci-

    mento. Engels o amigo e protetor de

    Marx,

    escrev

    eu

    uma

    Dialtica da na-

    tureza com a qual pretendia fundar uma

    nova cincia natural

    que

    , liberta da l

    gica formal burguesa , se ria prpria

    do

    mundo

    socialista a

    ser

    implantado. Dca

    das depois foi a vez de Lnin, com seu

    lViaterialismo e empirocriticismo onde

    denunciava

    os

    desvios ideolgicos

    da

    cincia agnstica do capitalismo.

    Se nas ci

    ncia

    s naturais a tentativa

    de

    distinguir um conhecimento soc ialista

    de

    um conhec

    imento burgus no

    avanou, nas cincias sociais ela foi mui

    to mais longe, e ainda hoje tem seus de

    fensores. Para o filsofo hngaro

    Georg

    Lukc

    s por

    exemplo, haveria

    um

    limi te

    do

    que

    a cincia social burguesa pudes

    se conhecer, dado pelos interesses dessa

    classe;

    s um

    a cincia proletria

    poderia

    realmente entender as contradies do

    capitalismo e prever sua transformao e

    queda. Difundidas na Frana na dcada

    de 50 por

    Lu

    cien Goldmann, essas idias

    levaram a cons

    iderar

    todas as diferenas

    de

    opinio ou

    de

    metodologia na anlise

    dos fatos sociais como formas disfar

    a

    das

    de

    luta

    de

    classes -

    de

    um lado os

    empiristas, funcionalistas, defensores

    dos conhecimentos

    limitados e da

    or

    dem socia l, e do

    outro

    os dialticos ho

    li

    stas,

    preocupados com

    a totalidade, a

    mudana soc ial e o futuro.

    Em ge ral, os cientistas dedicaram so

    ciologia

    do conhec

    imento a mesma indi

    ferena

    que

    haviam dedicado aos episte

    mlogos, criando novos mtodos, ultra

    passando os limites e

    as

    camisas-de-fora

    que os filsofos e socilogos do conhe

    cimento tratavam

    de

    lhes imputar.

    Mais

    srio que os eventuais equvocos provo

    cados por extrapo laes extremas da

    in

    tuio

    orig

    in a l

    marxista,

    entretanto,

    foram os efeitos da politizao introdu

    zida

    3

    rea cientfica pela traduo au

    tomtica

    de

    diferenas

    de

    teoria, percep

    o e opin io

    em

    conflitos ideolgicos

    partidrios ou c1assistas. Ficou clebre o

    tri

    ste destino

    da

    pesquisa

    gentica na

    URSS

    quando a questo da transmisso

    dos caracteres

    adquiridos

    se transfor

    mou em dogma poltico-partidrio, le

    vando seus opositores a

    serem

    tratados

    como inimigos do socialismo e vitima

    dos

    pelo

    ostraci

    smo

    ou

    pelo

    exlio.

    As

    cincias socia

    is

    tambm fenecem

    quando demas iadamente prximas de

    partidos ou regimes polticos preocupa

    dos em utiliz-Ias para seus fins imedia

    tos. O

    prprio

    marxismo tem hoje seus

    grandes centros nas universidades da

    Europa oc

    identa

    l

    e

    no, como

    pen-

    sariam Lukcs e seus seguidores, junto

    aos grandes partidos comunistas ou nos

    pases do bloco soc ialista. Da

    mesma

    forma, falhou

    nos EUA

    a tentativa

    de

    criar, s custas

    de fortes subvenes,

    uma nova teoria

    do

    desenvolvimento e

    da

    moderni

    zao

    social

    que

    tivesse

    como ponto culminante a internacio-

    nalizao do american way

    o

    ife

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    4/10

    A

    Sociologia da cincia

    de

    nossos dias no abandonou

    a idia

    de

    que a atividade

    cientfica, como qualquer

    atividade humana, depende de condicio

    nantes sociais. Mas isto agora feito com

    muito mais cuidado, com uma compre

    enso bem mais aguda das caractersti

    cas

    mais prprias do trabalho cientfico,

    e com a utilizao intensa da observao

    emprica, se ja de tipo histrico, se

    ja

    de

    tipo quantitativo e sistemtico.

    Qualquer

    tentativa de resumir as principais con

    cluses da sociologia da cincia hoje de

    veria incluir pelo

    menos

    os seguintes

    itens.

    Primeiro, a atividade cientfica no

    uma simples decorrncia de caractersti

    cas muito gerais do sistema econmico e

    social, mas

    depende

    de estruturas e sis

    temas sociais muito mais delicados e es

    pecficos. O trabalho cientfico exige

    grupos de pessoas dedicadas profissio

    nalmente a ele ; uma tica

    que

    valorize o

    conhecimento, e prestigie aqueles

    que

    o

    busquem; um sistema de incentivos para

    o trabalho cientfico que lhe permita

    atrair os melhores talentos, e uma cul

    tura que lugar ao surgimento de no

    vos conhecimentos pela observao e a

    anlise racional , em contraste com aque

    las onde predominam os conhecimen-

    Kant

    tos ritualizados e carregados de afetivi

    dade. O trabalho cientfico necessita,

    ainda,

    que

    os cientistas sejam os princi

    pais valiadores e juzes de seu trabalho,

    e que no

    tenham

    que submeter suas

    concluses aprovao de outras instn

    cias, religiosas, polticas

    ou

    institucio

    nais.

    Cma segunda constatao a de que

    no tem sentido falar, a no

    ser

    em ter

    mos muito gerais, de cincia

    ,

    e muito

    menos de cincia e tecnologia

    ,

    como

    de uma coisa nica. muito distinto, por

    exemplo, o trabalho cientfico em fsica

    terica, parasitologia, qumica analtica

    ou teoria econmica. Alm das bvias di

    ferenas de contedo, existem verdadei

    ras subculturas cientficas, cada qual

    com seus procedimentos de verificao

    e demonstrao, seus padres de traba

    lho, suas formas de comunicao, e a ma

    neira de se relacionarem com outras dis

    ciplinas e instituies de trabalho cient

    fico. A pesquisa tecnolgica, por sua vez,

    obedece freqentemente a uma lgica e

    a condicionamentos totalmente diferen

    tes dos da pesquisa cientfica. Ela tende a

    responder de maneira muito mais

    ime-

    diata a incentivos econmicos e mili

    tares, mais suscetvel a sistemas de pla

    nejamento e a con troles externos e

    tende a ter custos muito mais altos.

    Terceiro

    , as ligaes entre pesquisa

    cientfica, pesquisa tecnolgica, industri

    alizao, educao superior etc. so mui

    to mais complexas e imprevisveis do

    que muitas vezes se supe. De maneira

    geral, um bom desenvolvimento cient-

    fico e tecnolgico necessita de todas es

    sas coisas ao mesmo tempo - uma

    in-

    dstria desenvo lvida, um

    bom

    sistema

    universitrio, instituies de pesquisa

    bem constitudas etc. No entanto, exis

    tem variaes importantes e espaos

    para

    inovao e mudana. No parece

    haver dvidas, por exemplo, de que a In-

    glaterra, a Alemanha e o Japo desenvol

    veram seus sistemas educacionais muito

    antes de suas indstrias; existem pases,

    como a ndia, que desenvolveram sua

    cincia sem maior impacto em sua

    in-

    dustrializao, e outros, como a Blgica,

    que se moderniza ram e industrializaram

    com sistemas cientficos e tecnolgicos

    bastante modestos. Nos ltimos anos, os

    EUA vm reduzindo sua liderana ab

    soluta na pesquisa cientfica internacio

    nal, sem que isso esteja relacionado com

    uma

    reduo efetiva de

    seu

    potencial

    econmico.

    Finalmente, a atividade cientfica e tec

    nolgica no responde muito bem a ten

    tativas de planej-la e orient-la para ob

    jetivos politicamente definidos. A partir

    da Segunda Guerra Mundial, principal

    mente, desenvolveu-se em todo

    mundo

    a idia de que a pesquisa cientficapreci

    sava ser incentivada , planejada e utili

    zada como fator de desenvolvimento

    econmico e soc ial. Em muitos pases,

    foram criados ministrios, conselhos e

    centros nacionais de cincia e tecnolo

    gia. Era um objetivo que j vinha sendo

    buscado pela Unio Sovitica desde os

    anos 20 e que ganhou grande aceitao

    no

    Ocidente

    graas,

    pelo menos

    em

    parte, ao trabalho incansvel de]. D. Ber

    nal, cientista ingls que foi autor de texto

    famoso,

    funo social da cincia

    pu

    blicado nos anos 30, e liderou o envolvi

    mento dos cientistas ingleses no esforo

    de guerra de seu pas.

    No entanto, parece haver' uma certa

    correlao inversa entre o

    poder

    dessas

    instituies de poltica cientfica e a qua

    lidade e relevncia dos trabalhos cientfi

    cos produzidos nos diversos pases.

    Uma

    ra zo

    bvia

    para isto que quando

    existe forte demanda econmica para a

    pesquisa tecnolgica, quando o sistema

    educacional de boa qualidade e as ins

    tituies cientficas so prestigiadas e

    bem

    constitudas

    o planejamento da

    cincia e da tecnologia torna-se na reali

    dade

    pouco

    necessrio - e vice-versa.

    Menos trivialmente, as tentativas de sub

    meter a pesquisa cientfica a mecanis

    mos de planejamento podem muitas ve-

    zes violar uma das condies essenciais

    para o trabalho cientfico bem-sucedido,

    que so a

    sua

    autonomia e

    sua

    auto-

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    5/10

    Hegel

    regulao. Por outra parte, l1o h dvida

    de que certos objetivos tecnolgicos de

    grande porte, da viagem Lua

    implan

    tao de uma indstria

    de

    computa-

    dores, s podem ser atingidos se busca

    dos por meio de um planejamento cui

    dadoso e detalhado.

    lm de

    generaliza

    es

    como as feitas acima, a mo

    derna sociologia da cincia

    tem podido desenvolver

    conhecimentos bastante especficos so

    bre diferentes pases, reas de con heci

    mento, tipos de instituio e

    perodos

    hi stricos . Isto tem sido possvel, em

    grande parte, graas

    utilizao interna

    dos mais diferentes mtodos de observa

    o e anlise, da histria observao de

    tipo antropolgico, chegando utiliza

    o cada vez mais complexa de mtodos

    estatsticos

    por

    computador.

    A histria da cincia hoje um campo

    de pesquisa bem estabelecido, que tem

    como objetivo conhecer em profundi

    dade as diversas formas e os diversos

    contextos em que a atividade dita cien

    tfica

    se desenvolveu

    em diferentes

    tempos e pases.

    atravs da histria da

    cincia que possvel observar, em deta

    lhe, o relacionamento entre o conheci

    mento cientfico, a filosofia, o desenvol-

    natureza necessariamente aberta da pes

    quisa cientfica quanto

    sobre

    os poss

    veis efeitos da estagnao

    ou

    da reduo

    de seu crescimento. A anlise das redes

    de citaes nos artigos cientficos, poss

    vel graas aos grandes bancos de dados

    bibliogrficos

    que

    esto sendo formados

    em todo o mundo, permite determinar

    o

    as

    comunidades

    invisveis formadas

    pelos cientistas a estruturao

    e

    novas

    reas interdisciplinares de pesquisa, e

    vimento da educao e as transforma

    es econmicas e sociais.

    ela

    que

    mostra a complexidade do surgimento

    de novas idias e teor ias

    que

    so sempre

    uma combinao, geralmente difcil de

    antever, entre a necessidade intelectual

    de compatibilizar informaes aparente

    mente dspares com motivaes, preo

    cupaes e vises de mundo de determi

    nada poca ou de determinado setor da

    sociedade. Seus

    temas

    vo desde as

    questes mais internas atividade

    cientfica - o surgimento da fsica new

    toniana,o evolucionismo e sua implanta

    o, o surgimento da psicologia experi

    mentai, a histria da qumica - at as

    mais externas - a formao das socie

    dades e academias cientficas,

    as

    trans

    formaes das universidades, as condi

    es de surgimento e crescimento das

    comunidades cientficas etc.

    No

    outro extremo, a atividade cient

    fica traduzida em nmeros,

    que

    depois

    so

    examinados em

    suas

    tendncias

    mais globais: quantidade de artigos pu

    blicados,

    doutores

    formados, patentes,

    citaes, recursos

    in

    vestidos. Derek de

    Solla Price, um pioneiro nesses estudos,

    foi capaz de mostrar

    que

    a cincia tem

    uma tendncia histrica ao crescimento

    exponencial,'

    duplicand

    o suas dimen

    ses a cada dez ou vinte anos, o que leva

    a inferncias significativas tanto sobre a

    desenvolver indicadores da atualizao,

    provincianismo, hegemonia

    ou

    endoge

    nia dos diversos centros ou ncleos de

    trabalho cientifico. A

    publicao,

    em

    1979, do livro Vida de laboratrio - a

    construo social dos fatos cientficos

    de Bruno Latour eSteve Woolgar, provo

    cou uma pequena revoluo na sociolo

    gia da cincia, ao buscar

    reconstruir,

    pela observao quotidiana do trabalho

    dos cientistas,

    as

    formas pelas quais o co

    nhecimento cientfico de fato pesqui

    sado e constitudo.

    A cincia da cincia hoje uma

    ativi-

    dade multidisciplinar, com muitas abor

    dagens distintas das

    que

    apresentamos

    aqui. Existe todo um campo para os estu-

    dos econmicos da cincia e da tecno

    lo-

    gia,

    que

    engloba desde a anlise dos me

    canismos de financiamento da pesquisa

    at o processo de difuso de novas tec-

    nologias na indstria e seu impacto na

    atividade econmica. Psiclogos e edu

    cadores se dedicam

    compreenso dos

    processos mais individuais de de

    se

    nvo l-

    vimento da capacidade criativa e seus

    condicionantes sociais, culturais e insti

    tucionais. Cientistas polticos se debru

    am sobre

    as

    instituies governamen

    tais

    voltadas

    para o

    financiament

    o e

    eventual controle da atividade cientfica,

    suas caractersticas, seu

    poder

    efetivo,

    seu impacto e seu processo de tomada

    de decises. Os cientistas, como um gru

    po social importante, dotado de aspira

    es , ideologias e pretenses de influn

    cia e poder, so objeto de outros tipos de

    estudo sociolgico.

    Ao mesmo

    tempo,

    a

    epistemologia

    no desapareceu, e nem a preocupao

    com

    as

    eventuais relaes entre

    as

    idias

    desenvolvidas pelos cientistas e seu

    am-

    biente cultural, social e econmico. S

    que, hoje, a epistemologia e a sociologia

    do con hecimento j no se fazem mais

    de forma vaz ia e especulativa, mas se

    utilizando tanto quanto possvel da ri-

    queza de informaes proporcionada

    pela histria, pela sociologia, pela eco

    nomia e

    as

    demais disciplinas que, em

    seu conjunto, do forma nova incia

    da

    cincia.

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    6/10

    s cincias da cincia so um

    campo de

    estudo

    relativa

    mente novo e

    de

    desenvol-

    vimento bastante desigual

    em nosso meio.

    No

    passado, eram os

    prprios cientistas que se dedicavam,

    muitas vezes, a escrever a histria de

    suas disciplinas. A coleo de trabalhos

    reunidos em 1955

    por

    Fernando

    de

    Aze-

    vedo

    As

    cinciasno Brasil) at hoje

    in-

    supervel pela riqueza, abrangncia e

    profundidade de muitos dos trabalhos

    que contm. Estudos que tratem

    de

    exa

    minar os condicionamentos culturais,

    sociais e polticos da pesquisa cientfica

    so mais

    recentes.

    O

    trabalho

    mais

    abrangente nessa linha talvez tenha sido

    o realizado nos anos 70 atravs do setor

    de estudos e pesquisas da Financiadora

    de Estudos e Projetos (Finep): orm -

    o d

    comunid de

    cientfica no Brasil.

    As

    entrevistas realizadas para este estudo

    com cerca de setenta entre os cientistas

    brasileiros mais importantes esto depo

    sitadas no Centro

    de

    Pesquisa e Docu

    mentao

    em

    Histria Contempornea

    (Cpdoc) da Fundao Getlio Vargas,

    para servirem

    de

    referncia a estudos fu-

    turos.

    A Finep tambm deu

    origem

    a toda

    uma linha

    de

    trabalhos sobre demanda,

    difuso, adoo e produo

    de

    pesquisa

    tecnolgica, que hoje continuam a ser

    desenvolvidos no Instituto de Economia

    Industrial da

    UFR]

    e

    em

    uma srie de ou

    tras instituies. A anlise econ6mica da

    tecnologia

    em

    seus diferentes aspectos

    hoje uma rea de conhecimentos bas

    tante desenvolvida internacionalmente,

    e bastante forte

    em

    nosso meio. A Uni-

    versidade

    de

    So Paulo tem um ncleo

    de estudos

    de

    histria da cincia, e existe

    um programa de administrao para a

    pesquisa cientfica e tecnolgica junto

    Faculdade de Economia e Administrao

    da

    USP.

    A partir dos anos 80, o Conselho Na-

    cional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (CNPq) deu incio a um

    programa de apoio aos centros

    de

    en

    sino e pesquisa sobre poltica cientfica e

    tecnolgica

    em

    todo o pas, reunindo

    cerca

    de

    15 ncleos

    em

    diversos estados.

    O apoio do

    CNPq

    tem consistido

    no

    fi-

    nanciamento de projetas de pesquisa,

    difuso de informaes bibliogrficas,

    promoo de encontros, vinda de pro

    fessores visitantes et

    c.

    Um

    exame

    dos

    projetos

    de

    pesquisa desenvolvidos por

    esses ncleos mOStra a predominncia

    de

    temas econ6micos - ligados ao pro

    cesso de adoo e difuso

    de

    novas tec

    nologias - e sociais, relacionados aos

    possveis impactos de novas tecnologias

    sobre o emprego e a organizao social

    . do trabalho. Existem ainda alguns estu

    dos sobre poltica tecnolgica, mas mui

    to poucos voltados para a organizao da

    atividade cientfica enquanto

    tal.

    Finalmente, quase no existem traba

    lhos sobre a histria interna e os con

    dicionamentos dos prprios contedos

    da pesquisa cientfica e tecnolgica, in-

    cluindo

    os fluxos

    de conhecimento

    e

    know-how entre o Brasil e o exterior e

    seu impacto em nosso meio. Por outro

    lado, embora a maior parte da pesquisa

    cientfica brasileira se desenvolva nas

    universidades, ainda se sabe muito pou

    co sobre a verdadeira repercusso

    que

    a

    pesquisa tem no ensino,

    ou

    sobre a in

    fluncia que tem o ambiente universi

    trio sobre a pesquisa que nele se faz.

    H, pois, um longo caminho a percorrer

    para que a cincia da cincia se consoli

    de

    no Brasil e comece a contribuir

    de

    forma efetiva para o

    melhor

    encaminha

    mento da pesquisa cientfica brasileira.

    DJ

    SUGESTES PARA LElruRA

    sto traduzidos para o portugus alguns

    dos textos clssicos da

    moderna

    cincia

    da

    cincia : Derek de Solla Price, O desenvolvi

    mento

    d

    cincia (Rio, Livros TcniCOS e

    Cientficos, 1976; trad. Simo Mathias), Tho

    mas S. Khun,A estrutura

    lS

    revoluescien

    tificas (So Paulo, Perspectiva, 1975), e Jo

    seph Ben-David,

    Opapel do cientista

    n

    so

    ciedade (So Paulo, PioneiraJEDUSP, 1974;

    trad. Dante Moreira Leite).

    Sobre o desenvolvimento da atividade

    cientfica

    no

    Brasil, veja

    Fernando

    de Aze

    vedo (editor),

    As

    cincias no Brasil (So Pau

    lo, Melhoramentos, 1955,2 vaIs., Nancy Ste

    pan,

    Gnese e evoluo da cincia brasileira

    (Rio, Artenava, 1976), Vanya Sant 'Anna,

    Cin

    cia e sociedade no Brasil

    (So Paulo, Sm

    bolo

    1976), Regina Lcia

    Maraes

    MoreI,

    Cincia e Estado: a poltica cientifica no Bra

    sil (So Paulo, T

    A.

    Queiroz 1979), Simon

    Schwartzman e outros, Formao da comu

    nidade cientifica

    no

    Brasil

    (So Paulo e Rio,

    Cia. Editora NacionallFinep, 1979), Mrio

    Ferri e Shozo Motoyama, Hist6ria da cincia

    no

    Brasil

    (So Paulo e Braslia, EDUSPIEPU/

    CNPq, 1979-81,3 vols.).

    Dois clssicas

    sobre

    o tema no foram tra

    duzidos: John

    D.

    Bernal,

    Social Function

    of

    Sciences Nova York, Macmillan, 1973), e Bru

    no Latour

    eSteve

    Woolgar,

    Laboratory Life:

    The Social Construction of Scientific Facts

    (Beverly Hills Sage Publications, 1979).

    Para

    uma

    reviso

    geral desta

    literatura,

    com nfase nos estudos

    de

    tipo econmico,

    no vistos aqui, veja Fbio

    E.

    Erber,

    Poltica

    cientifica e tecnolgica no Brasil.- um revi

    so da literatura,

    in

    Resenhas de economia

    brasileira Joo Sayad (So Paulo, Saraiva,

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    7/10

    A Cincia da Cincia

    Simon Schwartzman

    Publicado em Cincia Hoje(Rio de Janeiro, SBPC), vol 2, 11, Maro-Abril, 1984, 54-59.

    O que "cincia"? Conhecimento verdadeiro por oposio ao conhecimento errado ou duvidoso? O resultado deexperincias. em contraste com o que sabemos pelo senso comum? Conhecimento medido, quantificado, e no aquele queadquirimos intuitivamente? A Verdade, com V maisculo. em contraste com as verdades menores? Um privilgio dos sbiose iniciados, nunca acessvel s massas? Um fator da produo, como o capital, o trabalho e a tecnologia? Aquilo que fazemos cientistas?

    Nenhuma dessas respostas satisfatria, e no entanto cada uma delas corresponde a noes que muitas vezesencontramos entre cientistas, educadores. filsofos e estudiosos dos fenmenos cientficos. No existe um conceito nico econsensual sobre o que seja "cincia", mas noes que variam ao longo do tempo e do espao. Alm disso, existemsociedades e perodos histricos que produzem mais e melhor "cincia" do que outros, ou cincia de um ou outro tipo.Como explicar essas variaes? De que elas dependem? Que influncia tem a cincia no desenvolvimento ou na mudanadas sociedades? Ser ela um simples subproduto de condies econmicas e sociais mais gerais, ou ter um efeitoespecfico e prprio? Finalmente, como fazer se queremos ter mais cincia, de melhor qualidade e com um impacto socialmais significativo? Como desenvolver uma poltica cientfica adequada?

    Estas perguntas mostram que "cincia" no uma coisa simples, que se possa definir com facilidade recorrendo a uma boaenciclopdia. Trata-se de um fenmeno social e humano bastante complexo e variado, suficientemente importante paragerar todo um esforo para compreend-lo e poder em seguida agir sobre ele. Esta a origem da "cincia da cincia", emais especificamente da sociologia da cincia, que trata de examinar o fenmeno cientifico como um fato social.

    A mais antiga das cincias da cincia a filosofia. Os filsofos de todos os tempos observam que os homens conhecem anatureza, mas o fazem de maneira imperfeita e varivel. Como possvel, perguntam-se, chegar a conhecimentosverdadeiros e indiscutveis? A tarefa da filosofia consistiu. durante sculos. em estabelecer o melhor mtodo doconhecimento verdadeiro, e depois aplic-lo para o entendimento do mundo, da religio e da moral. Nesta tradio, oVerdadeiro, o Bom e o Bem eram quase sempre considerados inseparveis. Quando Descartes props o mtodo daenumerao das "idias claras e distintas", passou pela prova da existncia de Deus para chegar ao mundo emprico. Todaa discusso clssica sobre a estrutura e as origens do sistema solar representou, ao mesmo tempo. um desenvolvimento denovas tcnicas de observao e anlise dos fenmenos e uma grande especulao de tipo filosfico e religioso. A obraclssica de Newton sobre mecnica celeste se chamava, em latim,Princpios matemticos da filosofia natural, e pretendia

    inaugurar tanto uma nova maneira de conhecer a natureza quanto demonstrar a harmonia divina do Universo. Osenciclopedistas e positivistas franceses pretendiam chegar, pela cincia, a uma nova tica e a uma nova religio quesubstitussem as antigas, contaminadas - segundo acreditavam - pela superstio e pela metafsica.

    A revoluo mais importante dos ltimos sculos no campo da filosofia da cincia talvez tenha sido a obra de EmmanuelKant, que propunha uma separao profunda e insupervel entre o conhecimento emprico e o conhecimento filosfico,tratando de estabelecer as condies de possibilidade de cada um deles. Para Kant, a observao emprica, a utilizao dalgica matemtica e da razo obedeciam a uma estrutura geral de relacionamento entre a percepo e a observao (ou"sensibilidade") que poderia ser estabelecida e servir de base para todo o conhecimento cientfico futuro. Era, no entanto,um conhecimento das aparncias dos fenmenos. As verdades morais e religiosas s poderiam ser obtidas por outra via, ada razo prtica, que teria como ponto de partida uma atitude tica do homem em relao a si prprio e a seussemelhantes. Uma das conseqncias importantes das idias de Kant foi, assim, separar o estudo das condies doconhecimento cientfico (a lgica, a epistemologia, a filosofia crtica) da discusso das questes ticas, religiosas ecosmolgicas que tambm preocupavam os filsofos.

    A idia kantiana de que seria possvel estabelecer, no plano lgico, as condies mais gerais para o conhecimento cientfico,geraria uma literatura cada vez mais vasta e especializada, grande parte da qual englobada. neste sculo, pelos termos"neopositivismo" ou "positivismo lgico". Nesta corrente, despontam nomes como Carnap, Wittgenstein, Popper e Russell.Hegel, um discpulo de Kant, tratou de voltar atrs na distino entre os dois tipos de conhecimento. dando origem a pelomenos duas linhas de especulao filosfica, a da busca de uma nova lgica, a dialtica. e a da busca de novosfundamentos para o conhecimento das essncias, a fenomenologia, da qual surge, entre outras correntes, oexistencialismo.

    Entretanto, enquanto os filsofos especulavam sobre as possibilidades da cincia. os cientistas continuavam seu trabalho,indiferentes na maior parte dos casos. ao que os filsofos pensavam ou diziam. Que fazem, na verdade, os cientistas? Deonde tiram suas idias, seus mtodos, suas concluses? Como conseguem convencer os outros de suas verdades? Paramuitos, foi ficando claro que a cincia s poderia sei realmente entendida se a ela fossem aplicados os mesmos mtodos de

    cia da Ciencia, Revisa Ciencia Hoje, 1984, Simon Schwartzman file:///Users/simon/Documents/Sites/schwartzman.org.br/simon/cie

    5/10/12

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    8/10

    observao e inferncia que a cincia emprega para o conhecimento de fenmenos naturais e sociais. Em outros termos, sefosse constituda uma cincia emprica da cincia.

    A sociologia do conhecimento, quase toda ela desenvolvida a partir do marxismo, foi uma das grandes tentativas deestabelecer uma cincia da cincia. Para Marx. a vida social se organizaria a partir do trabalho e da apropriao social deseu produto, feita. freqentemente de forma conflitiva e alienante. Esta seria a infra-estrutura sobre a qual as outrascriaes humanas - a religio, a arte, a moral, o direito, o conhecimento - se apoiariam. Para entender o judasmo, diziaMarx. no interessa o que o judeu faz nos sbados, e sim o que faz nos dias de semana. Para entender uma lei, h que vera quais interesses ela serve. Para entender a cincia moderna necessrio ver que ela faz parte do capitalismo, e tem porobjetivo garantir seu crescimento e sua continuidade.

    Era uma maneira totalmente revolucionria de ver as coisas. De fato, impossvel negar, em termos amplos, que a cinciamoderna e o capitalismo cresceram juntos. Agora, seria possvel olhar para trs e ver a oposio entre a Igreja Catlica eGalileu como uma manifestao do conflito entre o feudalismo medieval e o capitalismo nascente; atribuir ao sistema deNewton a funo de justificar a nova ordem burguesa; tratar de explicar o crescimento da cincia e da tcnica naAlemanha, na Inglaterra e na Frana do sculo XIX pela fora do capitalismo nesses pases; e at mesmo sugerir que asnoes de relatividade e indeterminismo, introduzidas na fsica do sculo XX, tm a ver com a decadncia do capitalismo ecom o surgimento de uma nova ordem socialista, que traria consigo, presumivelmente, uma cincia mais profundamenteverdadeira.

    No faltou quem propusesse estas e muitas outras teses semelhantes. Um dos grandes problemas da sociologia doconhecimento foi ter ido muito alm do estudo e da observao dos fatores sociais que condicionam a atividade cientfica eoutras formas de conhecimento humano, e ter tentado, como uma nova filosofia, estabelecer aprioristicamente ascondies, os limites e a prpria validade tica e cientfica deste conhecimento. Engels, o amigo e protetor de Marx,

    escreveu uma Dialtica da Natureza, com a qual pretendia fundar uma nova cincia natural que, liberta da lgica formalburguesa, sria prpria do mundo socialista a ser implantado . Dcadas depois foi a vez de Lnin- com seu Materialismo eEmpiro-criticismo, onde denunciava os desvios ideolgicos da cincia "agnstica" do capitalismo.

    Se nas cincias naturais a tentativa de distinguir um conhecimento "socialista" de um conhecimento "burgus" noavanou, nas cincias sociais ela foi muito mais longe, e ainda hoje tem seus defensores. Para o filsofo hngaro GeorgLukcs, por exemplo, haveria um limite do que a cincia social burguesa pudesse conhecer, dado pelos interesses dessaclasse: s uma cincia proletria poderia realmente entender as contradies do capitalismo e prever sua transformao equeda. Difundidas na Frana na dcada de 50 por Lucien Goldmann, essas idias levaram a considerar todas as diferenasde opinio ou de metodologia na anlise do os fatos sociais como formas disfaradas de luta de classes - de um lado osempiristas, funcionalistas, defensores dos conhecimentos limitados e da ordem social, e do outro os dialticos, holistas,preocupados com a totalidade, a mudana social e o futuro.

    Em geral, os cientistas dedicaram sociologia do conhecimento a mesma indiferena que haviam dedicado aos

    epistemlogos, criando novos mtodos, ultrapassando os limites e as camisas-de-fora que os filsofos e socilogos doconhecimento tratavam de lhes imputar. Mais srio que os eventuais equvocos provocados por extrapolaes extremas daintuio original marxista, entretanto, foram os efeitos da politizao introduzida na rea cientfica pela traduoautomtica de diferenas de teoria. percepo e opinio em conflitos ideolgicos partidrios ou classistas. Ficou clebre otriste destino da pesquisa gentica na URSS, quando a questo da transmisso dos caracteres adquiridos se transformouem dogma poltico-partidrio, levando seus propositores a serem tratados como inimigos do socialismo e vitimados peloostracismo ou pelo exlio. As cincias sociais tambm fenecem quando demasiadamente prximas de partidos ou regimespolticos preocupados em utiliz-las para seus fins imediatos. O prprio marxismo tem hoje seus grandes centros nasuniversidades da Europa Ocidental, e no, como pensariam Lukcs e seus seguidores, junto aos grandes partidoscomunistas ou nos pases do bloco socialista. Da mesma forma, falhou nos EUA a tentativa de criar, s custas de fortessubvenes, uma nova teoria do desenvolvimento e da modernizao social que tivesse como ponto culminante ainternacionalizao doAmerican way of life.

    A sociologia da cincia de nossos dias no abandonou a idia de que a atividade cientfica, como qualquer atividade

    humana depende de condicionantes sociais Mas isto agora feito com muito mais cuidado, com uma compreenso bemmais aguda das caractersticas mais prprias do trabalho cientfico, e com utilizao intensa da observao emprica, sejade tipo histrico, seja de tipo quantitativo e sistemtico. Qualquer tentativa de resumir as principais concluses dasociologia da cincia hoje deveria incluir pelo menos os seguintes itens.

    Primeiro, a atividade cientfica no uma simples decorrncia de caractersticas muito gerais do sistema econmico esocial, mas depende de estruturas e sistemas sociais muito mais delicados e especficos. O trabalho cientfico exige gruposde pessoas dedicadas profissionalmente a ele; uma tica que valorize o conhecimento e prestigie aqueles que o busquem;um sistema de incentivos para o trabalho cientfico que lhe permita atrair os melhores talentos, e uma cultura que d lugarao surgimento de novos conhecimentos pela observao e a anlise racional. em contraste com aquelas onde predominamos conhecimentos ritualizados e carregados de afetividade. O trabalho cientfico necessita, ainda, que os cientistas sejam osprincipais avaliadores e juzes de seu trabalho, e que no tenham que submeter suas concluses aprovao de outrasinstncias, religiosas, polticas ou institucionais.

    cia da Ciencia, Revisa Ciencia Hoje, 1984, Simon Schwartzman file:///Users/simon/Documents/Sites/schwartzman.org.br/simon/cie

    5/10/12

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    9/10

    Uma segunda constatao a de que no tem sentido falar, a no ser em termos muito gerais, de "cincia", e muito menosde "cincia e tecnologia", como de uma coisa nica. muito distinto, por exemplo, o trabalho cientfico em fsica terica,parasitologia, qumica analtica ou teoria econmica. Alm das bvias diferenas de contedo, existem verdadeiras"sub-culturas" cientficas, cada qual com seus procedimentos de verificao e demonstrao, seus padres d trabalho,suas formas de comunicao, e a maneira de se relacionarem com outras disciplinas e instituies de trabalho cientfico. Apesquisa tecnolgica, por sua vez, obedece freqentemente a uma lgica e a condicionamentos totalmente diferentes dosda pesquisa cientfica. Ela tende a responder de maneira muito mais imediata a incentivos econmicos e militares, maissuscetvel a sistemas de planejamento e a controles externos, e tende a ter custos muito mais altos.

    Terceiro, as ligaes entre pesquisa cientfica, pesquisa tecnolgica, industrializao, educao superior, etc. so muitomais complexas e imprevisveis do que muitas vezes se supe. De maneira geral, um bom desenvolvimento cientfico etecnolgico necessita de todas essas coisas ao mesmo tempo - uma indstria desenvolvida, um bom sistema universitrio,instituies de pesquisa bem constitudas etc, No entanto, existem variaes importantes e espaos para inovao emudana. No parece haver dvidas, por exemplo, de que a Inglaterra, a Alemanha e o Japo desenvolveram seussistemas educacionais muito antes de suas indstrias; existem pases, como a ndia, que desenvolveram sua cincia semmaior impacto em sua industrializao, e outros, como a Blgica, que se modernizaram e industrializaram com sistemascientficos e tecnolgicos bastante modestos. Nos ltimos anos, os EUA vm reduzindo sua liderana absoluta na pesquisacientfica internacional, sem que isso esteja relacionado com uma reduo efetiva de seu potencial econmico.

    Finalmente, a atividade cientfica e tecnolgica no responde muito bem a tentativas de planej-la e orient-la paraobjetivos politicamente definidos. A partir da Segunda Guerra Mundial, principalmente, desenvolveu-se em todo mundo aidia de que a pesquisa cientfica precisava ser incentivada, planejada e utilizada como fator de desenvolvimentoeconmico e social. Em muitos pases, foram criados ministrios, conselhos e centros nacionais de cincia e tecnologia. Era

    um objetivo que j vinha sendo buscado pela Unio Sovitica desde os anos 20 e que ganhou grande aceitao no Ocidentegraas, pelo menos em parte, ao trabalho incansvel de J. D. Bernal, cientista ingls que foi autor de texto famoso,Afuno social da cincia,publicado nos anos 30, e liderou o envolvimento dos cientistas ingleses no esforo de guerra deseu pas.

    No entanto, parece haver uma certa correlao inversa entre o poder dessas instituies de poltica cientfica e a qualidadee relevncia dos trabalhos cientficos produzidos nos diversos pases. Uma razo bvia para isto que, quando existe fortedemanda econmica para a pesquisa tecnolgica, quando o sistema educacional de boa qualidade e as instituiescientficas so prestigiadas e bem constitudas, o planejamento da cincia e da tecnologia torna-se na realidade pouconecessrio - e vice-versa. Menos trivialmente, as tentativas de submeter a pesquisa cientfica a mecanismos deplanejamento podem muitas vezes violar duas das condies essenciais para o trabalho cientfico bem-sucedido, que so asua autonomia e sua auto-regulao. Por outra parte, no h dvida de que certos objetivos tecnolgicos de grande porte,da viagem Lua implantao de uma indstria de computadores, s podem ser atingidos se buscados por meio de umplanejamento cuidadoso e detalhado.

    Alm de generalizaes como as feitas acima. a moderna sociologia da cincia tem podido desenvolver conhecimentosbastante especficos sobre diferentes pases, reas de conhecimento, tipos de instituio e perodos histricos. Isto tem sidopossvel. em grande parte graas utilizao intensa dos mais diferentes mtodos de observao e analise, da histria observao de tipo antropolgico, chegando utilizao cada vez mais complexa de mtodos estatsticos por computador.A histria da cincia hoje um campo de pesquisa bem estabelecido, que tem como objetivo conhecer em profundidade asdiversas formas e os diversos contextos em que a atividade dita "cientfica" se desenvolveu em diferentes tempos e pases. atravs da histria da cincia que possvel observar, em detalhe, o relacionamento entre o conhecimento cientfico, afilosofia, o desenvolvimento da educao e as transformaes econmicas e sociais. ela que mostra a complexidade dosurgimento de novas idias e teorias, que so sempre uma combinao, geralmente difcil de antever, entre a necessidadeintelectual d compatibilizar informaes aparentemente dspares com motivaes. preocupaes e vises de mundo dedeterminada poca ou de determinado setor da sociedade. Seus temas vo desde as questes mais "internas" atividadecientfica - o surgimento da fsica newtoniana, o evolucionismo e sua implantao, o surgimento da psicologia experimental,a histria da qumica - at as mais "externas" - a formao das sociedades e academias cientficas, as transformaes das

    universidades, as condies de surgimento e crescimento das comunidades cientficas, etc.

    No outro extremo, a atividade cientfica traduzida em nmeros, que depois so examinados em suas tendncias maisglobais: quantidade de artigos publicados, doutores formados, patentes, citaes. recursos investidos. Derek de Solla Price,um pioneiro nesses estudos, foi capaz de mostrar qu a cincia tem uma tendncia histrica ao crescimento exponencial,duplicando suas dimenses a cada dez ou vinte anos, o que leva a inferncias significativas tanto sobre a naturezanecessariamente aberta da pesquisa cientfica quanto sobre os possveis efeitos da estagnao ou da reduo de seucrescimento. A anlise das redes de citaes nos artigos cientficos, possvel graas aos grandes bancos de dadosbibliogrficos que esto sendo formados em todo o mundo, permite determinar as "comunidades invisveis" formadas peloscientistas, a estruturao de novas reas interdisciplinares de pesquisa, e desenvolver indicadores da atualizao,provincianismo, hegemonia ou endogenia dos diversos centros ou ncleos de trabalho cientfico. A publicao, em 1979, dolivro Vida de laboratrio -a construo social dos fatos cientficos, de Bruno Latour e Steve Woolgar, provocou uma pequenarevoluo na sociologia da cincia. ao buscar reconstruir, pela observao quotidiana do trabalho dos cientistas, as formas

    cia da Ciencia, Revisa Ciencia Hoje, 1984, Simon Schwartzman file:///Users/simon/Documents/Sites/schwartzman.org.br/simon/cie

    5/10/12

  • 7/25/2019 A Cincia Da Cincia

    10/10

    pelas quais o conhecimento cientfico de fato pesquisado e constitudo.

    A cincia da cincia hoje uma atividade multi-disciplinar, com muitas abordagens distintas das que apresentamos aqui.Existe todo um campo para os estudos econmicos da cincia e da tecnologia, que engloba desde a anlise dosmecanismos de financiamento da pesquisa at o processo de difuso de novas tecnologias na indstria e seu impacto naatividade econmica. Psiclogos e educadores se dedicam compreenso dos processos mais individuais dedesenvolvimento da capacidade criativa e seus condicionantes sociais, culturais e institucionais. Cientistas polticos sedebruam sobre as instituies governamentais voltadas para o financiamento e eventual controle da atividade cientfica,suas caractersticas, seu poder efetivo, seu impacto e seu processo de tomada de decises. Os cientistas, como um gruposocial importante, dotado de aspiraes, ideologias e pretenses de influncia poder, so objeto de outros tipos de estudo

    sociolgico.

    Ao mesmo tempo, a epistemologia no desapareceu, e nem a preocupao com as eventuais relaes entre as idiasdesenvolvidas pelos cientistas e seu ambiente cultural, social e econmico. S que, hoje, a epistemologia e a sociologia doconhecimento j no se fazem mais de forma vazia e especulativa, mas se utilizando tanto quanto possvel da riqueza deinformaes proporcionada pela histria, pela sociologia, pela economia e as demais disciplinas que, em seu conjunto, doforma nova cincia da cincia.

    As cincias da cincia so um campo de estudo relativamente novo e de desenvolvimento bastante desigual em nossomeio. No passado, eram os prprios cientistas que se dedicavam, muitas vezes, a escrever a histria de suas disciplinas. Acoleo de trabalhos reunidos em 1955 por Fernando de Azevedo (As Cincias no Brasil) at hoje insupervel pelariqueza, abrangncia e profundidade de muitos dos trabalhos que contm. Estudos que tratam de examinar oscondicionamentos culturais, sociais e polticos da pesquisa cientfica so mais recentes. O trabalho mais abrangente nessalinha talvez tenha sido o realizado nos anos 70 atravs do setor de estudos e pesquisas da Financiadora de Estudos e

    Projetos (FINEP),Formao da Comunidade Cientifica no Brasil. As entrevistas realizadas para este estudo com cerca desetenta entre os cientistas brasileiros mais importantes esto depositadas no Centro de Pesquisa e Documentao emHistria Contempornea do Brasil (CPDOC) da Fundao Getlio Vargas, para servirem de referncia a estudos futuros. AFINEP tambm deu origem a toda uma linha de trabalhos sobre demanda, difuso adoo e produo de pesquisatecnolgica, que hoje continuam a ser desenvolvidos no Instituto de Economia Industrial da UFRJ e em uma srie de outrasinstituies. A analise econmica da tecnologia em seus diferentes aspectos hoje uma rea de conhecimentos bastantedesenvolvida internacionalmente, e bastante forte em nosso meio. A Universidade de So Paulo tem um ncleo de estudosde histria da cincia, e existe um programa de administrao para a pesquisa cientfica e tecnolgica junto Faculdade deEconomia e Administrao da USP.

    A partir dos anos 80, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) deu incio a um programa deapoio aos centros de ensino e pesquisa sobre poltica cientfica e tecnolgica em todo o pas, reunindo cerca de 15 ncleosem diversos estados. O apoio do CNPq tem consistido no financiamento de projetos de pesquisa, difuso de informaesbibliogrficas, promoo de encontros, vinda de professores visitantes etc. Um exame dos projetos de pesquisa

    desenvolvidos por esses ncleos mostra a predominncia de temas econmicos - ligados ao processo de adoo e difusode novas tecnologias - e sociais, relacionados aos possveis impactos de novas tecnologias sobre o emprego e aorganizao social do trabalho. Existem ainda alguns estudos sobre poltica tecnolgica, mas muito poucos voltados para aorganizao da atividade cientfica enquanto tal.

    Finalmente, quase no existem trabalhos sobre a histria "interna" e os condicionamentos dos prprios contedos dapesquisa cientfica e tecnolgica, incluindo os fluxos de conhecimento e know-howentre o Brasil e o exterior e seu impactoem nosso meio. Por outro lado, embora a maior parte da pesquisa cientifica brasileira se desenvolva nas universidades,ainda se sabe muito pouco sobre a verdadeira repercusso que a pesquisa tem no ensino, ou sobre a influncia que tem oambiente universitrio sobre a pesquisa que nele se faz. H, pois, um longo caminho a percorrer para que a cincia dacincia se consolide no Brasil e comece a contribuir de forma efetiva para o melhor encaminhamento da pesquisa cientficabrasileira.

    SUGESTES PARA LEITURAEsto traduzidos para o portugus alguns dos textos clssicos da moderna "cincia da cincia": Derek de Solla Price, O desenvolvimento dacincia(Rio, Livros Tcnicos e Cientficos, 1976; trad. Simo Mathias), Thomas S. Khun, A estrutura das revolues cientficas(So Paulo,Perspectiva, 1975, e Joseph Ben-David, O papel do cientista na sociedade(So Paulo, Pioneira / EDUSP, 1974; traduo de Dante MoreiraLeite). Sobre o desenvolvimento da atividade cientfica no Brasil, veja Fernando de Azevedo (editor), As cincias no Brasil (So Paulo,Melhoramentos, 1955,2 vols.), Nancy Stepan, Gnese e evoluo da cincia brasileira (Rio, Artenova, 1976); Vanya Sant'Anna, Cincia esociedade no Brasil (So Paulo, Smbolo, 1976); Regina Lcia Moraes Morel, Cincia e Estado: a poltica cientfica no Brasil(So Paulo, T. AQueiroz, 1979); Simon Schwartzman e outros, Formao da comunidade cientfica no Brasil(So Paulo e Rio, Cia. Editora Nacional / FINEP,1979); e Mrio Ferri e Shozo Motoyama, Histria da cincia no Brasil(So Paulo e Braslia, EDUSP / EPU / CNPq, 1979-81, 3 vols.). Doisclssicos sobre o tema no foram traduzidos: John D. Bernal, Social Function of Science(Nova York, MacMillan, 1973, e Bruno Latour eSteve woolgar, Laboratory Life: The Social Construction of Scientfic Facts(Beverly Hills, Sage Publications, 1979). Para uma reviso geraldesta literatura, com nfase nos estudos de tipo econmico, no vistos aqui, veja Fbio E. Erber, "Poltica cientifica e tecnolgica no Brasil:uma reviso da literatura," em Resenhas de economia brasileira, Joo Sayad, editor (So Paulo, Saraiva, 1979).