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A CONDENAÇÃO DE

JESUS CRISTOJOÃO CALVINO

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Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Traduzido do Inglês

Third Sermon on the Passion of Our Lord Jesus Christ

By John Calvin

Via: Monergism.com

Tradução por Camila Almeida

Revisão por Amanda Ramalho

Capa por William Teixeira

1ª Edição: Março de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative

Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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A Condenação De Jesus CristoPor João Calvino

E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou a espada e,

ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. Então Jesus disse-lhe:

Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada

morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que Ele não me

daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que

dizem que assim convém que aconteça? Então disse Jesus à multidão: Saístes,

como para um salteador, com espadas e varapaus para me prender? Todos os dias

me assentava junto de vós, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas tudo

isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os

discípulos, deixando-o, fugiram. E os que prenderam a Jesus o conduziram à casa

do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos. E Pe-

dro o seguiu de longe, até ao pátio do sumo sacerdote e, entrando, assentou-se

entre os criados, para ver o fim. Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e

todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a

morte; E não o achavam; apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas,

não o achavam. Mas, por fim chegaram duas testemunhas falsas, e disseram: ‘Estedisse: Eu posso derrubar o templo de Deus, e reedificá-lo em três dias’. E,

levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não respondes coisa alguma ao que

estes depõem contra ti? Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo

sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o

Filho de Deus. Disse-lhe Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em

breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do

céu. Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que

precisamos ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes agora a sua blasfêmia.

Que vos parece? E eles, respondendo, disseram: É réu de morte. ” (Mateus 26:51-66)

Se quiséssemos julgar superficialmente, de acordo comnossos sentidos naturais, a captura

de nosso Senhor Jesus Cristo, estaríamos preocupados como fato de que Ele não ofereceu

resistência. Não parece consistente com a Sua majestade que Ele sofrera tal vergonha e

desgraça, sem oferecer resistência. Por outro lado, premiaríamos o zelo de Pedro, uma vez

que ele se expôs à morte. Pois, ele viu a grande multidão de inimigos. Ele estava sozinho,

e era um homem inábil para manusear armas. No entanto, ele puxa a espada por causa do

amor que ele tem para com o seu Mestre, e prefere morrer no campo, em vez de permitir

que tal injúria seja feita a Ele. Mas por isso, vemos que devemos vir a conhecer, com toda

a humildade e modéstia, aonde tudo o que o Filho de Deus fez e sofreu estava conduzindo,

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e que o que parece bom para nós não vale de nada, mas devemos orar a Deus para que

Ele nos conduza e nos guie pela Sua Palavra e que não julguemos, exceto de acordo com

o que Ele tem nos mostrado, pois quando isso ocorre o Evangelho torna-se um escândalo

para muitas pessoas; outros fazem do Evangelho um divertimento, e tudo isso para a sua

perdição. É que eles estão inchados com a presunção e são juízes precipitados. Mas, para

que não sejamos enganados, devemos sempre, em primeiro lugar voltar ao que o nosso

Senhor Jesus declara. Esta é a vontade de Deus, Seu Pai. Esse é um ponto. Depois, nós

temos que considerar a finalidade daquilo que pode parecer estranho para nós. Quando,

então, tivermos estas duas considerações, em seguida, haverá ocasião para adorarmos a

Deus e conhecermos que o que parece ser loucura de acordo com os homens é uma

sabedoria admirável mesmo para os anjos.

Mas, para chegar a isso, consideremos o que é dito aqui sobre Pedro. Diz-se: “estendendo

a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha”. A-

qui vemos como os homens são muito ousados, quando eles seguem a sua tola opinião.

Emseguida, eles são tão cegos que não se poupamsob quaisquer condições. Mas, quando

eles deveriam obedecer a Deus, eles são tão covardes que é uma pena. Eles até esque-

cem-se de si mesmos de tal forma que não os faz recuar. É assim que sempre teremos

cem vezes mais coragem de seguir nossas tolas imaginações do que fazer o que Deus nos

ordena e cumprir o que o nosso chamado implica. Nós vemos muito disso no exemplo de

Pedro. Pois, depois que ele mostrou que confessou e testemunhou de nosso Senhor Jesus,

ele blasfema para seu próprio dano. Ainda assim, ele está contente em morrer, mesmo

quando ele não é ordenado para isso. O que o move a puxar a sua espada? Ele faz isso

como que cheio de rancor. Pois, ele não recebera tal instrução de seu Mestre. E quandoele renuncia a Jesus Cristo, ele já conhecia o dito: “Mas qualquer que me negar diante dos

homens, eu o negarei tamb ém diante de meu Pai, que está nos céus” [ Mateus 10:33]. Mas

(como eu disse), ele é impulsivo. Este tolo desejo de apoiar o nosso Senhor Jesus, à sua

maneira e de acordo com sua imaginação. Agora com o seu exemplo, aprendamos a nos

esforçar para irmos onde Deus nos chama e que nada que Ele nos ordena é muito difícil

para nós. Mas, que não possamos tentar nada, nem mesmo mover o nosso dedo mínimo,

a menos que Deus aprove isso e tenhamos o testemunho de que é Ele quem nos guia.

Esse é um ponto.

De fato, em primeiro lugar, nosso Senhor Jesus mostra-lhe que ele ofendeu gravemente,

porque ele não era ignorante da lei, onde se diz: “Quem derramar o sangue do homem, pe-

lo homem o seu sangue será derramado” [Gênesis 9:6]. São Pedro, em seguida, bem lem-

braria esta lição, que Deus não quer que força ou violência sejam usadas. E (o que é mais),

em que escola ele havia sido alimentado durante mais de três anos? O nosso Senhor Jesus

não havia se mantido, tanto quanto fora possível para Ele, em humanidade e gentileza?

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Onde, então, ele espera obter a aprovação por sua ousadia? Devemos observar além do

que já dissemos. Ou seja, se o nosso zelo é valorizado por homens e é aplaudido, nessa

medida, não deixará de ser condenado diante de Deus, se transgredirmos a Sua Palavra

sempre tão futilmente. Não há, então, nenhum louvor, exceto em andar como Deus nos

mostra através da Sua Palavra. Pois, assimque umhomem vai para alémdesta linha, todas

as suas virtudes somente fedem. Isso é o que acontece com todas as nossas devoções.

Assim, se temos trabalhado para fazer o que nós imaginamos em nosso cérebro, Deus

condenará tudo, a menos que tenhamos ouvido a Sua Palavra. Pois, à parte dela não há

verdade que Ele aprove e que seja legítima diante dEle.

Mas, como para a consideração que estamos tratando agora, a segunda razão que o nosso

Senhor Jesus alega é mais notável. O que já mencionamos acima é geral. Mas aqui há uma

frase que é peculiar à morte e à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele diz: “Ou

pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que Ele não me daria mais de doze

legiões de anjos?”. Agora, uma legião nesse tempo habitualmente era composta de quatro

ou cinco mil homens. “Há, então, um exército celestial que eu posso ter”, diz Ele, “e ainda

assim, eu ajo sem ele. E por que, então, você veio aqui para usurpar mais do que Deus

quis ou autorizou?”. Agora é certamente admissível clamar a Deus e orar a Ele para que

Ele possa estar disposto a sustentar a nossa vida, e como Ele as considera preciosas, que

Ele a possa manter em Sua proteção. Nosso Senhor Jesus declara que Ele não deseja isso

agora e que Ele não deveria fazê-lo. Como, então, Pedro usará a violência, visto que isso

está fora da ordem que Deus permitiu e estabeleceu por meio de Sua Palavra? Se um meio

que é admissível em si não deve ser utilizado, como distinguir o que Deus tem defendido e

o que Ele declarou digno de punição? Aqui (como já mencionado), vemos como o Filho de

Deus Se sujeitou a essas vergonhas e que Ele preferiu deixar-se preso e amarrado como

um malfeitor e um criminoso a ser um desleal por meio de milagre e que Deus empregasse

Seu braço para protegê-lO. Pelo que temos que reconhecer como Ele valorizava a nossa

salvação. Aqui é um ponto que já referi: a saber, que Ele nos remete à vontade e ao decreto

de Deus, Seu pai. Pois, à parte disso, se poderia achar estranho que Ele não implorasse a

Sua ajuda, como Ele certamente sabia que Ele poderia fazê-lo. Parece que Ele tenta a

Deus quando Ele não clama a Ele em absoluto. Temos a promessa de que anjos cercarão

aqueles que temem a Deus, até mesmo que eles os seguirão para impedi-los de se ma-

chucarem, e para que eles não encontrem nenhum mal em seus caminhos. Agora, quando

Deus nos promete algo, Ele quer que isso nos convide à oração. Ainda assim, quando

estamos em necessidade devemos voltar para Ele, a fim de que Ele possa usar Seus anjos

para nos servir, por que Ele lhes deu este ofício. Vemos também que isto foi praticado pelossantos patriarcas e pais. “O Senhor, em cuja presença tenho andado, enviará o seu anjo

contigo, e prospera rá o teu caminho” [Gênesis 24:40], disse Abraão. Assim, então, os

santos Pais o tem feito. Por que, então, Jesus Cristo não deseja ter os anjos? Pois Ele já

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havia sido confortado (como São Lucas menciona) e anjos O serviram, para adoçar a

angústia em que Ele estava.

Parece, então, que Ele despreza a necessária ajuda de Deus. Porém, Ele leva isso em

consideração quando Ele acrescenta: “Como, pois, se cumpririam as Escrituras?” Como se

Ele dissesse: “Se nós duvidamos de algo, podemos, então, e devemos orar a Deus para

que Ele possa olhar para nós com piedade e que por todos os meios Ele nos faça sentir o

Seu poder. Mas quando estamos convencidos de que Ele deve passar por alguma necessi-

dade, e que a vontade de Deus é conhecida por nós, então já não há uma questão de fazer-

Lhe outro pedido, a não ser que Ele possa nos fortalecer no poder e na constância inven-

cível, e que nós não façamos nenhuma reclamação, ou que não sejamos guiados por nos-

sas afeições; mas que possamos seguir com uma coragem pronta, através de tudo aquilo

a que Ele nos chama”. Por exemplo, se somos perseguidos por nossos inimigos, e não

sabemos o que Deus tem reservado para nós, ou qual seria o resultado, temos que orar a

Ele como se nossa vida fosse preciosa para Ele, e uma vez que Ele Se mantém em Sua

guarda, que Ele demonstre isso pelo resultado e que Ele nos liberte. Mas quando estamos

persuadidos de que Deus quer nos chamar a Si mesmo e que não há mais nenhum remé-

dio, então devemos cortar toda disputa e totalmente resignar-nos, de modo que nada per-

maneça por mais tempo, mas que obedeçamos ao decreto de Deus, que é imutável.

Esta, então, é a intenção de nosso Senhor Jesus. Pois Ele certamente orou durante toda a

sua vida, e mesmo anteriormente deste grande combate que Ele travou, Ele ora a Deus

que, se fosse possível este cálice fosse afastado dEle. Mas agora, Ele assumiu Sua con-

clusão, porque Ele foi assim ordenado por Deus Pai e Ele viu que Ele deveria levar o fardo

ao qual Ele estava comissionado, ou seja, oferecer o sacrifício perpétuo para apagar os

pecados do mundo. Desde então, Ele se viu chamado àquele lugar, e o assunto terminara,

essa é a razão pela qual Ele se abstém de orar a Deus para fazer o contrário. Ele não dese-

ja, então, ser ajudado nem por anjos, nem pelos homens. Ele não deseja que Deus O faça

sentir o Seu poder ao livrá-lO da morte. Apenas foi o suficiente para Ele ter esse espírito de

constância, para que fosse capaz de ir, por Sua livre vontade, a realizar o Seu ofício. Isso

é o que O satisfaz.

Agora, vejamos, em primeiro lugar, que a vontade de Deus deve parar-nos e manter-nos

sob controle, de modo que, quando as coisas parecem-nos hostis e contra toda a razão,

que possamos valorizar mais o que Deus ordenou do que o que nosso cérebro pode com-

preender. Nossa imaginação, então, deve ser espezinhada quando sentimos que Deus pro-

vou o contrário. Faz parte da obediência de nossa fé quando consideramos Deus ser sábio,

de forma que Ele tem autoridade para fazer tudo o que Lhe agrada. Se nós temos razões

para fazer o contrário, podemos saber que isso é apenas fumaça e vaidade e que Deus

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sabe tudo e que nada está escondido dEle, e mesmo que a Sua vontade é a regra de toda

a sabedoria e de toda retidão. Além disso, o que nosso espírito argumenta contra, provém

de nossa rudeza. Porque sabemos que a sabedoria de Deus é infinita, e quase não temos

três gotas de sentido. Não precisamos, então, ser surpreendidos se os homens ficamreceo-

sos quando Deus não governa a Si mesmo de acordo com os apetites deles. E por que

não? Porque nós somos tolos miseráveis. Na verdade, há apenas brutalidade em nós, por

mais que o nosso senso e razão governem. Mas desde que não compreendemos a intensa

profundeza dosjuízos de Deus, aprendamos a adorar o que está oculto, para adorá-lO (digo

eu) em humildade e reverência, confessando que tudo o que Deus faz é justo e correto,

embora ainda possamos não perceber o quanto. Esse é um ponto.

Segue-se a isso, já que é assim que Deus quis, que Seu Filho fosse, portanto, exposto à

morte, nós não podemos ter vergonha do que Ele suportou. Não podemos pensar que os

homens ímpios estavam no controle e que o Filho de Deus não tinha os meios para Se

defender. Pois, tudo começou a partir da vontade de Deus, e do decreto imutável que havia

feito. É também por isso o Senhor Jesus diz em Lucas: “mas esta é a vossa hora e o poder

das trevas” [Lucas 22:53], como se Ele dissesse: “Não se gloriem em nada do que vocês

estão fazendo; porque o Diabo é o vosso mestre”. No entanto, Ele mostra que isso ocorre

por meio da permissão que Deus lhes deu. Embora o Diabo os possuía, ainda assim, nem

eles, nem ele poderiam tentar qualquer coisa a menos que Deus lhes permitisse. Isso,

então, emresumo, é a forma como devemos ter os nossos olhose todosos nossos sentidos

fixos sobre a vontade de Deus, e emSeu plano eterno, quando a morte e a paixão de Nosso

Senhor Jesus Cristo é contada para nós. Agora, Ele declara que tal é a vontade de Deus,

porque está escrito. Pois, se Jesus Cristo não tivesse tido testemunho do que foi ordenado

por Deus, Seu Pai, Ele ainda poderia ter estado em dúvida. Mas Ele conhecia o Seu ofício.

Deus não O enviou aqui em baixo de forma que Ele não tivesse totalmente expressado a

Ele a Sua incumbência. Isto é verdade, na medida em que o nosso Senhor Jesus é o Deus

eterno, Ele não precisa ser ensinado por qualquer Escritura; mas na medida em que Ele é

o nosso Redentor e que Se vestiu em nossa natureza para ter uma verdadeira fraternidade

conosco, Ele teve que ser ensinado pela Sagrada Escritura, como vemos, acima de tudo,

que Ele não recusou tal instrução.

Então, uma vez que Deus mostrou a Ele a que Ele foi chamado, isto é sobre o que Ele

confia. É por isso que Ele é tomado como um cativo, a fim de não retornar quando Ele sabia

que devia alcançar a incumbência a que Ele estava comprometido, ou seja, oferecer-Se em

sacrifício para a redenção de todos nós. Assim, então, temos que aprender que, na medida

em que esta vontade de Deus é secreta e incompreensível, é preciso recorrer à Sagrada

Escritura. É verdade que Deus não deixa de ter Seu conselho ordenado por coisas que nós

imaginamos ser por acaso. Mas isso não é declarado para nós. Não teremos sempre uma

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revelação especial para dizer que Deus determinou isto ou aquilo. Então, devemos conter

o julgamento. É por isso que oramos a Deus para que Ele possa nos curar de uma doença

ou que Ele nos livre de alguma outra aflição quando caímos nela. E por quê? Nós não sabe-

mos o que Ele quer fazer. Estejam certos, não devemos impor uma lei sobre Ele. Esta con-

dição deve sempre ser adicionada: que a Sua vontade seja feita. Mas todas as nossas ora-

ções devem nos conduzir para cá: pedir a Ele para que Ele possa nos conhecer sermos

necessários e úteis, e que nós possamos, entrementes, referir tudo a Ele em Seu conselho

secreto, a fim de que Ele faça o que bem Lhe parecer. Mas quando temos o testemunho

através da Sagrada Escritura de que Deus quer algo, então não é adequado oferecer uma

réplica, como eu já disse.

Aqui nós somos ainda mais assegurados quanto à Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo,

que Ele fora aflito e cruelmente tratado com tanta vergonha e arrogância, desprezível abu-

so, e não apenas de acordo com o desejo dos homens ímpios e sem lei, mas, uma vez que

Deus o havia assim decretado. E como sabemos? Por meio da Sagrada Escritura. Pois, os

sacrifícios não foram ordenados na Lei dois mil anos antes de Jesus Cristo nascer? E antes

que a Lei fosse dada ou escrita, Deus já não havia inspirado e ensinado os antigos Pais

quanto ao sacrifício? E sangue de animais irracionais poderia adquirir a remissão dos pe-

cados? Os homens poderiam se tornar agradáveis a Deus? Não em absoluto, mas existiu

para mostrar que Deus Se reconciliaria pelo o sangue do Redentor a quem Ele havia esta-

belecido. Então, Ele dá testemunho explícito e declaração através das Escrituras. Vemos,

de fato, que os profetas falaram sobre Ele, e Ele também se refere especialmente a eles.

Quando Isaías disse que Aquele que deveria ser o Redentor, seria desfigurado, que Ele

seria tomado em desprezo, que Ele não teria nenhuma beleza ou não mais formosura do

que uma cobra, que ele seria espancado e golpeado pela mão de Deus, que Ele seria uma

coisa terrível de se ver, em resumo, que eles tirariam a Sua vida, por meio de que poder

ele profetizou isso? Será que Deus não pode resistir a Satanás ou a todos os homens

ímpios? Não é isso, mas Ele pronunciou pela boca de Isaías o que Ele havia ordenado an-

teriormente. Em Daniel, há uma expressão ainda mais grandiosa. Desde que é assim, en-

tão, Deus havia declarado que Seu único Filho seria sacrificado para a nossa redenção e

salvação, agora estamos mais bem assegurados do que eu disse, isto é, que devemos

sempre contemplar a mão de Deus, Quem governa, quando vemos que o nosso Senhor

Jesus é sujeito a essas coisas vergonhosas nas mãos dos homens. É também por isso que

São Pedro diz emAtos 4:27 que Judas e todosos judeus, e os guardas e Pilatos não agiram

exceto quando o conselho e a mão de Deus o havia determinado, como será ainda mais

declarado a seguir. Aqui, então, é o lugar onde devemos olhar, se não desejamos ser inco-

modados pelas nossas tolas imaginações. Isso é, que Deus enviou aqui abaixo o Seu Filho

unigênito, a fim de aceitar a obediência quando Ele Se ofereceu a Ele em Sua morte e

paixão, de modo a abolir todas as nossas falhas e iniquidades.

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Agora, o segundo ponto que eu mencionei é o benefício que retorna para nós a partir do

que nosso Senhor Jesus sofreu. Porque, se nós não soubéssemos o motivo, isso retiraria

o sabor do que é narrado aqui para nós. Mas quando se diz que Ele foi preso e amarrado

para nossa libertação, então, de fato, vemos a nossa condição, por natureza, isto é, que

Satanás nos mantém sob a tirania do pecado e da morte, que somos escravos, de modo

que, apesar de sermos criados àimagemde Deus, há emnós somente completa corrupção,

que somos amaldiçoados, e que somos arrastados como pobres animais a este maldito

cativeiro. Quando, então, sabemos e vemos isso, por outro lado, que o Filho de Deus não

se recusou a ser vergonhosamente preso a fim de que os laços espirituais do pecado e da

morte, que nos mantêm sob a servidão de Satanás, fossem quebrados, então nós temos

que glorificar a Deus, temos que triunfar com plena voz na morte e paixão de Nosso Senhor

Jesus Cristo e na captura que é aqui mencionada. Então é isso que devemos nos lembrar

a partir dessa passagem.

Então, o escritor do Evangelho diz que o nosso Senhor Jesus curou o servo que havia sido

ferido por Pedro. Não que ele fosse digno disso, mas para que a ofensa fosse removida.

Pois, teria difamado a doutrina do Evangelho e a redenção de nosso Senhor Jesus Cristo,

se esta ferida permanecesse (eu chamo de “redenção de nosso Senhor Jesus Cristo” o que

ele adquiriu para nós), assim, poderia ser dito que Ele havia resistido ao governador do país

e a todos os sacerdotes e que Ele cometera, por assim dizer, crime naquele lugar isolado.

Isso, então, poderia ter obscurecido toda a glória do Filho de Deus e colocaria o Evangelho

em vergonha perpétua. Também vejamos que essa ação de Pedro ocorreu por zelo de

Satanás. Pois o Diabo planejou fazer com que Jesus Cristo fosse infamado, com toda a

Sua doutrina. Essa é também a tendência de todas as nossas belas devoções quando que-

remos servir a Deus de acordo com nosso desejo e a cada um é dada a licença para fazer

o que ele imagina ser bom. Jesus Cristo, então, quis abolir tal escândalo, a fim de que Sua

doutrina não fosse difamada em absoluto.

No entanto, vemos aqui uma ingratidão detestável naqueles que não foram movidos por tal

milagre. Há os guardas que vem para prender o nosso Senhor Jesus Cristo. Eles veem

aquele poder do Espírito de Deus que está operando nEle, de muitas formas. Ele os fez

cair para trás um pouco antes por uma única palavra. Agora, Ele cura um homem que tem

sua orelha cortada. Tudo isso não é nada para eles. Vemos, então, quando o Diabo uma

vez seduziu os homens e ele os tem deslumbrado os olhos, que nem as graças de Deus,

nem todos os Seus poderes podem tocá-los para que eles não sigam e andam sempre em

suas obras, e eles têm, como se fosse, o focinho de um porco, que se intromete em todos

os lugares. Apesar de tudo o que Deus faz, de tudo o que Ele diz, eles sempre permanecem

em sua obstinação, que é uma coisa horrível. No entanto, nós certamente temos que orar

a Deus para que Ele possa nos dar prudência, de forma que nos beneficiemos com todas

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as Suas graças, a fim de que sejamos atraídos por Seu amor e também para nos tocar

quando Ele levanta a Sua mão para nos mostrar que Ele é o nosso Juiz, de tal forma que

nós, então, temamos, voltemos para Ele em verdadeiro arrependimento. Isso é, então, em

resumo, o que temos que lembrar.

Independentemente do que isso possa significar, as bocas dos ímpios estavam fechadas

quando Jesus Cristo curou o servo de Caifás. Então, diz-se que “os que prenderam a Jesus

o conduziram à casa do sumo sacerdote Caifás” onde Ele foi questionado, etc. Para abre-

viarmos, omitimos o que São João diz sobre Anás, que era o sogro de Caifás, e talvez

Jesus Cristo é conduzido para lá por respeito, ou talvez isso fosse ao longo do caminho,

enquanto eles estavam esperando para que todos fossem reunidos. Jesus, então, é levado

até a casa de Caifás e ali é questionado. Especialmente é dito: “Ora, os príncipes dos sacer-

dotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam por falsos testemunhos contra Jesus, pa-

ra poderem dar-lhe a morte; porém não encontravam. Mas, por fim chegaram duas teste-

munhas falsas, E disseram: Este disse: Eu posso derrubar o templo de Deus, e reedificá-loem três dias”. Aqui vemos como Jesus Cristo foi acusado. Não que os sacerdotes estives-

sem movidos por algum zelo santo. Muitas vezes, aqueles que perseguem os inocentes

imaginam que eles estão realizando um serviço agradável a Deus, como de fato, vemos

que São Paulo estava possuído por uma raiva tal, que, sendo, por assimdizer, umsalteador

(pois assimele é chamado), ele estragou e destruiu mais. Mesmo assim, ele imaginou sobre

si mesmo, ser um bom partidário (zeloso). Mas isso não foi assim com Caifás e todo o seu

bando. Pois, o que eles procuravam, exceto que Jesus Cristo fosse oprimido injustamente?

Assim, vemos que a sua ambição os levou a lutar abertamente contra Deus, o que é uma

coisa terrível. Porque, quanto a Caifás e todo o seu bando, eles são filhos de Levi, a linha-

gem santa que Deus escolhera. Isso não era por homens que eles haviam escolhido, mas

Deus assim havia ordenado por meio de Sua lei. É verdade que houve uma corrupção vil e

enorme, na medida em que o ofício do sacerdote foi vendido naquele tempo, e em vez de

serem obrigados por toda a vida (assim Deus havia ordenado), cada um trazia o seu com-

panheiro e aquele que trazia mais dinheiro, tomava essa dignidade. Tratava-se, então, de

uma vil e detestável corrupção que trama e dissimula práticas que foram usadas em tão

santa e honrosa condição. No entanto, o sacerdote sempre permaneceu nesta linhagem de

Levi, a qual Deus dedicou ao Seu serviço. No entanto, olhem para eles! Todos inimigos de

Deus, olhem para eles! Todos intoxicados por Satanás, de fato enfurecidos contra o Reden-

tor do mundo, que era o propósito final da Lei.

Assim, notemos que aqueles que estão em elevada condição e dignidade nem sempre per-

manecem tão fielmente que não seja necessário manter vigilância sobre eles, como sobre

aqueles que podem ser inimigos de Deus. Pelo que alguém pode ver a mui obtusa insen-

satez dos Papistas, quando eles adotam o título e a condição do sacerdote. Suponham que

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Deus houvesse ordenado que houvesse um papa (o que Ele nunca fez). Suponham que

Ele tivesse o seu trono em Roma (isso ainda menos). Mesmo que tudo isso fosse verdade,

ainda assim na pessoa de Caifás e de sua espécie, é visto que todos aqueles que têm sido

levantados à honra podem abusar do seu poder. Então nós não podemos ser tão tolos a

ponto de nos entretermos com máscaras. E quando há algum título honroso, que Deus não

perca a Sua autoridade sobre ele, como podemos ver os Papistas, que renunciam a toda a

Sagrada Escritura e fazem homenagem aos seus ídolos. Aprendamos, então, que sob a

sombra de alguma dignidade humana Deus não deve ser diminuído, mas Ele deve manter

o Seu domínio soberano. Esse é um ponto. Quanto ao escândalo, que poderíamos conce-

ber aqui de acordo com a nossa imaginação, observemos o que é dito no Salmo 118 (como

também nosso Senhor Jesus havia alegado anteriormente), que Ele é a rocha que seria

rejeitada pelos construtores. E quem eram os construtores da casa de Deus e de Sua Igre-

ja? Os sacerdotes. Pelo menos eles deveriam permanecer naquele ofício. No entanto, eles

rejeitaram a pedra que Deus estabeleceu como a pedra angular. E esta pedra, embora pu-

desse ter sido rejeitada, no entanto, tem sido estabelecida no lugar principal do edifício, ou

seja, Deus não deixará de cumprir o que Ele havia ordenado por meio de Seu conselho,

quando Ele ressuscitou dos mortos Seu único Filho e elevou-O mais do que Ele era antes

de ser esvaziado. Para que todo joelho se dobre diante dEle.

Quando é dito aqui que os sacerdotes buscavam falso testemunho, isso não era simples-

mente inventar um crime, mas ter algum pretexto e disfarce para sobrecarregar e oprimir o

Senhor Jesus. Na verdade, Ele havia pronunciado estas palavras: “Derribai este templo, e

emtrês dias o levantarei” [João 2:19]. Essas, então, são as palavras de nosso Senhor Jesus

Cristo,exatamente como elassaíramde Suaboca. Astestemunhas,quesãofalsas, recitam-

nas. Alguém poderia dizer que elas são testemunhas boas e fiéis. No entanto, o Espírito

Santo chama-lhes falsas, uma vez que elas perversamente perverteram esta observação.

Pois, nosso Senhor Jesus falou de Seu corpo, que é o verdadeiro templo da Divina majes-

tade. O templo material que foi construído em Jerusalém não era nada além de uma figura;

era apenas uma sombra, como se sabe. Mas em nosso Senhor Jesus toda a plenitude da

Divindade fez Sua habitação, como diz São Paulo, de fato, corporalmente e em verdadeira

substância. Então, observemos que temos que olhar não apenas as palavras de uma teste-

munha, mas a intenção de quem fala. Esta é uma boa e útil instrução para nós, porque ve-

mos que os homens são tão dados às suas más ações e mentiras que, quando eles têm

alguma cobertura, isso é suficiente para que eles, e lhes parece que são absolvidos diante

de Deus quando eles, por estes meios, acusam falsamente um homem. Não podemos, en-

tão, ser parados simplesmente com as palavras ou formalidade ou cerimônia, mas que pos-

samos olhar para a verdadeira natureza da causa. Para aqueles que sempre sustentam

que eles não dão nenhuma evidência, exceto a que existia, não deixarão de ser conside-

radas falsas testemunhas diante de Deus, como podemos ver.

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Ao que se refere que Caifás disse a Jesus Cristo: “Não respondes coisa alguma ao que es -

tes depõem contra ti? Jesus, porém, guardava silêncio”. No entanto, Jesus continua total-

mente silencioso e recebe todas aquelas palavras caluniosas em silêncio. Alguém pode

achar estranho que Jesus Cristo, que teve uma justa ocasião suficiente para repelir tal falsi-

dade, não contradiz. Mas (como já mencionamos, como veremos ainda mais plenamente)

Jesus Cristo não estava ali para manter a Sua doutrina como anteriormente. Devemos,

portanto, distinguir prudentemente entre todas as circunstâncias. Pois Jesus Cristo, depois

de ter jejuado no deserto, foi enviado por Deus Pai para anunciar a doutrina do Evangelho.

Durante todo esse tempo, vemos com o que magnanimidade Ele sempre defendeu a

doutrina da qual Ele era ministro. Nós vemos como Ele se opunha a todas as contradições.

Isso, então, é como Ele mesmo desempenhou o Seu ofício, uma vez que Ele fora enviado

como ministro da Palavra. Mas aqui há uma consideração especial. É que Ele deve ser o

Redentor do mundo. Ele deve ser condenado, de fato, não por ter pregado o Evangelho,

mas para nós, Ele deve ser oprimido, por assim dizer, às mais baixas profundezas e sus-

tentar a nossa causa, uma vez que Ele estava ali, por assim dizer, na pessoa de todos os

amaldiçoados e de todos os transgressores, e daqueles que mereciam a morte eterna. As-

sim, então, Jesus Cristo tem esse cargo, e Ele suporta o fardo daqueles que haviam ofendi-

do a Deus mortalmente, é por isso que Ele mantém silêncio. Então, observemos também

que, quando havia necessidade de que Jesus Cristo mantivesse a doutrina do Evangelho,

e que Seu ofício e sua vocação o exigiam, Ele guardou isso. Todavia, quando, pelo silêncio

Ele realizou o ofício de Redentor, como se Ele aceitasse a voluntária condenação, não foi

pela ausência de consideração por Si mesmo que manteve a Sua boca fechada, pois Ele

estava lá (como eu já disse) em nosso nome. É verdade que Ele fala (como veremos), mas

não é para Sua defesa; não é sem inflamar ainda mais a raiva e fúria dos homens ímpios

contra Ele. Isso, então, é porque Ele não quis escapar da morte, mas entregou-Se volunta-

riamente para ser oprimido, a fim de que pudesse mostrar que Ele esqueceu-se de Si mes-

mo, a fim de nos absolver diante de Deus, Seu Pai. Desta forma, Ele não teve consideração

por Si mesmo, nem pela Sua própria vida, nem mesmo por Sua honra. Era tudo um a sofrer

as vergonhas e desgraças do mundo, desde que os nossos pecados fossem abolidos e

fôssemos absolvidos de nossa condenação.

Quando então se diz: “E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo

que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe Jesus: Tu o disseste; digo-vos,

porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder”, quando for

tarde demais, ou seja, para eles, desde que isso será para a confusão deles. Aqui o nosso

Senhor Jesus fala, mas não é para prostrar-se como um ser humano ao sumo sacerdote e

todo o seu bando. Ao contrário, Ele usa ameaças para atingir-lhes ainda mais. Se antes ele

estava cheio de malícia e crueldade, isto deve acender ainda mais o fogo. Mas, já decla-

ramos que Jesus Cristo não teve consideração por Si mesmo e que, antes, Ele coloca-Se

no dever, o qual Ele tomou a responsabilidade, ou seja, ser nosso Redentor.

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Além disso, aqui temos, em primeiro lugar, por assim dizer, inimigos de Deus, que são total-

mente possuídos por Satanás, que ainda abusarão de algum tipo de disfarce de religião,

pois, alguém poderia dizer que este grande sacerdote ainda executa bem o seu ofício,

quando ele conjura a Jesus Cristo pelo Nome do Deus vivo. Mas, é aí que os homens estão

mergulhados uma vez que Satanás cega os seus olhos. Ele os lança em tal desfaçatez que

eles não têm reverência a Deus, não mais do que eles têm vergonha diante dos homens.

Nesta resposta de nosso Senhor Jesus, temos que observar que Ele deseja declarar tanto

a Caifás e a todo o restante que se Ele está, por assim dizer, desta forma esmagado por

um pouco de tempo, isso não diminuirá a Sua majestade, que Ele pode ser sempre consi-

derado e reputado o Filho Único de Deus. Mas Ele tinha aqui uma consideração ainda mais

elevada. Isso é: que podemos estar certos de que, tendo, assim, humilhado a Si mesmo

por nossa salvação, nada foi perdido de Sua majestade celestial, mas que diante dos ho-

mens Ele estava disposto a ser tão oprimido, a fim de que estejamos totalmente seguros

de que seremos encontrados honrosos diante de Deus, porque todas as vergonhas que

teríamos merecido serão abolidas. Desde, então, o nosso Senhor Jesus manteve silêncio

e Ele não Se defendeu em Sua boa causa; agora nós temos nossas as bocas abertas para

invocar a Deus como se fôssemos justos. Ele ainda é o nosso Advogado, que intercede por

nós. Quando, então, nosso Senhor Jesus suportou, foi no sentido de que agora, em plena

liberdade Ele intercede por nós diante de Deus Pai, embora nós não sejamos nada, senão

vermes miseráveis. Há em nós apenas toda a miséria. No entanto, temos acesso a Deus

para que O invoquemos em particular e para clamar abertamente por Ele, como nosso Pai.

Isto é o que Ele deseja mostrar quando Ele disse: “digo-vos, porém, que vereis em breve o

Filho do homem assentado à direita do Poder”. Nós devemos, então, nos afastar de todos

os aspectos que poderiam nos trazer escândalo, quando vemos que o nosso Senhor Jesus

foi assim humilhado. Então, olhemos para o que foi a finalidade de tudo. Ele quis, então,

ser condenado sem qualquer resistência, a fim de que possamos ser capazes de compa-

recer perante o tribunal de Deus, e que cheguemos ali livremente, sem qualquer medo.

Aprendamos, então, em resumo, cada vez que a história da Paixão é recitada para nós, a

gemer e suspirar vendo que o Filho de Deus teve que sofrer tanto por nós, que nós trema-

mos diante de Sua Majestade até que ele nos apareça. Que estejamos tão resolvidos que

quando Ele vier, isso seja para nos fazer experimentar o efeito do fruto que Ele adquiriu pa-

ra nós por meio de Sua morte e paixão. Além disso, que possamos temer que sejamos con-tados com aqueles a quem Ele ameaça, dizendo. “Vós vereis em breve” Pois, isso será que

os ímpios e réprobos sentirão o quão terrível é o tribunal de Deus e quão grande é o Seu

poder para lançá-los para baixo quando Ele Se levantar contra eles. Quando São Paulo

também quer falar da condenação que os ímpios e os que são amaldiçoados por Deus su-

portarão, ele diz que eles estarão diante de Sua infinita majestade trêmulos e assustados

diante de Seu olhar.

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Desde que é assim, aprendamos a nos humilhar diante do Senhor Jesus. Não esperemos

para ver o olhar da majestade, que Ele mostrará em Sua segunda vinda, mas pela fé con-

templemos a Ele hoje como nosso Rei, e Cabeça dos anjos e de todas as criaturas, e O

recebamos como o nosso soberano Príncipe. Atribuamos a Ele a honra que Lhe pertence,

sabendo que, como Ele nos é dado por sabedoria, por redenção, por justiça e santidade de

Deus Seu Pai, devemos atribuir a Ele todo louvor, e que é de Sua plenitude que devemos

extrair para que estejamos satisfeitos. Estejamos aconselhados, então, a fazer esta home-

nagem ao nosso Senhor Jesus Cristo, apesar de que hoje nós ainda não vemos o Seu

tribunal preparado. Mas O contemplemos com os olhos da fé e oremos a Deus para que

Ele possa iluminar-nos por Seu Espírito Santo, para que Ele possa nos fortalecer para que

O invoquemos no tempo da angústia, e que isso possa conduzir-nos acima do mundo,

acima de todos os nossos sentidos e de todas as nossas apreensões, de tal forma que o

nosso Senhor Jesus pode ser magnificado hoje por nós como Ele merece. Isso, então, em

resumo, é o que temos que lembrar.

Quanto à declaração que Caifás e os sacerdotes O condenaram à morte, que possamos

aprender a não ser surpreendidos com a obstinação dos ímpios e dos inimigos da verdade.

Hoje, essa doutrina é muito necessária para nós. Pois vemos os grandes deste mundo blas-

femando abertamente contra o Evangelho. Vemos até mesmo em nosso meio que aqueles

que fazem profissão do Evangelho e desejam ser consideradas pessoas reformadas e em

quem parece que há somente o Evangelho, ainda assim condenam como diabos encarna-

dos, ou mesmo como animais furiosos possuídos por Satanás, a doutrina da Evangelho.

Alguém não necessita ir muito longe para ver todas essas coisas. Assim, que possamos

estar seguros contra tais escândalos, e que possamos aprender a sempre glorificar o nosso

Deus. Apesar de Caifás e toda a sua espécie cuspiu suas blasfêmias, tanto quanto eles

queiram, e embora eles digam que Jesus Cristo merece a morte, é necessário que nos

mantenhamos em silêncio sobre tal artigo, embora seja ruim. Embora, então, eles assim

infectem o ar por meio de suas blasfêmias vis e execráveis, ainda assim, nos apeguemos

a essa voz do nosso Senhor Jesus Cristo. Se hoje a Sua verdade é tão falsamente con-

denada pelos homens, e é posta em dúvida, é falsificada, é pervertida, e as pessoas delibe-

radamente viram as costas para ela, ela é forte e poderosa o suficiente para se manter.

Esperemos com paciência até que Ele apareça para a nossa redenção. No entanto, que

todos nós aprendamos a nos humilhar, e dar aEle toda a glória, pois Ele esteve tão disposto

a inclinar-Se, de fato, a esvaziar-Se de tudo por nossa salvação.

Agora, prostremo-nos em humilde reverência diante da majestade do nosso Deus.

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10 Sermões — R. M. M’CheyneAdoração — A. W. PinkAgonia de Cristo — J. EdwardsBatismo, O — John GillBatismo de Crentes por Imersão, Um DistintivoNeotestamentário e Batista — William R. DowningBênçãos do Pacto — C. H. SpurgeonBiografia de A. W. Pink, Uma — Erroll HulseCarta de George Whitefield a John Wesley Sobre aDoutrina da EleiçãoCessacionismo, Provando que os Dons CarismáticosCessaram — Peter MastersComo Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção daEleição — A. W. PinkComo Ser uma Mulher de Deus? — Paul WasherComo Toda a Doutrina da Predestinação é corrompidapelos Arminianos — J. OwenConfissão de Fé Batista de 1689Conversão — John GillCristo É Tudo Em Todos — Jeremiah BurroughsCristo, Totalmente Desejável — John FlavelDefesa do Calvinismo, Uma — C. H. SpurgeonDeus Salva Quem Ele Quer! — J. EdwardsDiscipulado no T empo dos Puritanos, O — W. BevinsDoutrina da Eleição, A — A. W. PinkEleição & Vocação — R. M. M’CheyneEleição Particular — C. H. SpurgeonEspecial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —J. OwenEvangelismo Moderno — A. W. PinkExcelência de Cristo, A — J. EdwardsGloriosa Predestinação, A — C. H. SpurgeonGuia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. PinkIgrejas do Novo Testamento — A. W. PinkIn Memoriam, a Canção dos Suspiros — SusannahSpurgeonIncomparável Excelência e Santidade de Deus, A —Jeremiah BurroughsInfinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvaçãodos Pecadores, A — A. W. PinkJesus! – C. H. SpurgeonJustificação,PropiciaçãoeDeclaração —C.H.SpurgeonLivre Graça, A — C. H. SpurgeonMarcas de Uma Verdadeira Conversão — G. WhitefieldMito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. ChantryNatureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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Sola Scriptura • Sola Fide • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria—

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.Pink

Oração — Thomas Watson Pacto da Graça, O — Mike Renihan Paixão de Cristo, A — Thomas Adams Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill Porção do Ímpios, A — J. Edwards Pregação Chocante — Paul Washer Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon Sangue, O — C. H. Spurgeon Semper Idem — Thomas Adams Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça deDeus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.Edwards

Sobre aNossa Conversão a Deuse Como Essa Doutrinaé Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aosPropósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológicano Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1

2Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nemfalsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

3

4

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória5

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.6

Porque Deus,que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

7

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.8

Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.9

Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;10

Trazendo semprepor toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos;11

E assim nós, que vivemos, estamos sempreentregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal.12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida.13

E temosportanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos.14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco.15

Porque tudo isto é por amor de vós, paraque a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus.16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia.17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;18

Não atentando nós nas coisasque se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.