“a gestão do trabalho e o contexto da flexibilização no sistema

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“A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema Único de Saúde” por Isabella Koster Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Helena Machado Rio de Janeiro, agosto de 2008.

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Page 1: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

“A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema Único

de Saúde”

por

Isabella Koster

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Helena Machado

Rio de Janeiro, agosto de 2008.

Page 2: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

Esta dissertação, intitulada “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema Único

de Saúde”

apresentada por

Isabella Koster

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof.ª Dr.ª Celia Regina Pierantoni

Prof. Dr. Antenor Amâncio Filho

Prof.ª Dr.ª Maria Helena Machado – Orientadora

Dissertação defendida e aprovada em 21 de agosto de 2008.

Page 3: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

K86g Koster, Isabella

A Gestão do Trabalho e o contexto da flexibilização no Sistema Único de Saúde. / Isabella Koster. Rio de Janeiro: s.n., 2008.

208 p., tab.

Orientador: Machado, Maria Helena Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Nacional

de Saúde Pública Sergio Arouca

1. Gestão em Saúde. 2. Força de Trabalho. 3. Sistema Único de Saúde. 4. Política de Saúde. 5. Recursos Humanos em Saúde. 6. Descentralização. 7. Entrevista. I. Título.

CDD - 22.ed. – 331.11

Page 4: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

ii

SUMÁRIO

Apresentação

Capítulo I – Introdução

Capítulo II – Metodologia

Capítulo III – O Sistema Único de Saúde e o Estado

• O contexto do Sistema Único de Saúde

• As repercussões das escolhas do Estado para o SUS

Capítulo IV - O Trabalho em Saúde e Conceitos para Compreensão da

Precarização no SUS

• O trabalho em saúde no Sistema Único de Saúde

• Conceitos para compreensão da precarização do trabalho

Capítulo V – A Gestão do Trabalho no SUS

• A Gestão do Trabalho em Saúde – evolução conceitual

• Das Políticas de Recursos Humanos à Gestão do Trabalho no SUS

• A Gestão do Trabalho e Saúde no SUS e seus atores principais

O Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do CONASEMS

O Núcleo de Políticas de Recursos Humanos do CONASS

A Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde no âmbito do

Ministério da Saúde

Page 5: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

iii

Capítulo VI – Contexto Empírico do Estudo

• O Contexto empírico enfrentado pela Gestão do Trabalho no SUS

Capítulo VII – As Políticas de Gestão do Trabalho no SUS

• A Agenda da Gestão do trabalho no SUS

Capitulo VIII – A Análise das Produções do CONASEMS e do CONASS

• CONASEMS

• CONASS

• Os atores em debate

A posição do representante do Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na

Saúde do CONASEMS

A posição do representante do Núcleo de Políticas de Recursos Humanos em

Saúde do CONASS

Capítulo IX – Considerações Finais

Referências Bibliográficas

Anexos

Page 6: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

iv

AGRADECIMENTOS

“- Mas pai, como o universo não tem fim?

- Não tendo, ele é infinito! Não tem fim.

- Mas cabe? Não cabe!

- Ele tem que estar dentro de alguma coisa!!

-Não pode não ter fim! Onde termina?”

(memórias de infância)

Page 7: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

v

Dedico especialmente esta dissertação ao meu pai, Knut Ewald Koster Mueller

com muito carinho e saudades, por tudo o que representa para mim...

AGRADECIMENTOS

A dedicação de um tempo como este de dois anos, longo, mas por outro lado

curto devido à intensidade, a um projeto de vida envolvendo todo o esforço físico,

intelectual e emocional sempre possui uma origem que não é somente pessoal. Essa

origem vem de nossa bagagem deixada por duas pessoas tão especiais...

Meu pai, Knut, que me deixou de herança o espírito investigativo, de um

observador e pesquisador, estruturado em sua personalidade pacífica, paciente e

estrategista. Entre as conversas e observações sobre o universo, o mundo, a música e as

idas à livraria, ao mercado e à aula de piano, estava seu estímulo ao cultivo de

pensamentos e ideais sempre nobres. Não há como esquecer...

E minha mãe, Lourdes, cúmplice destes pensamentos e ideais, contribui sem

dúvidas com a perseverança e a determinação para se fazer cumprir todos os objetivos

cuidadosamente escolhidos e traçados para a vida, sempre com muita dedicação.

É a eles que devo fortemente meu agradecimento.

Destes dois, surgiram também meus irmãos - Rogério, Ingrid e Guilherme -

cada qual com suas características, mas comuns entre nós a união, a capacidade de

enfrentamento de todas as situações, boas e ruins, com dignidade e principalmente

mantendo a alegria e o bom humor. Passamos juntos pelo pior momento de nossas

vidas, justamente ao fim destes dois anos, e agradeço pela compreensão, carinho e força

de vocês em continuarem a me apoiar neste projeto de vida.

Page 8: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

vi

À outra pessoa especial que faz parte da minha vida, e que para ele segue essa

minha bagagem adquirida, deixo meu enorme agradecimento pela compreensão do

tempo roubado por esse projeto - meu querido filho, Rafael. Foram dois anos de minha

ausência, mesmo estando fisicamente perto, de impaciências e cansaços, compensados

de forma desleal com macarrões instantâneos, cereais matinais, sucos prontos e lanches

dos fastfoods. Pretendo recompensar cada minuto. Obrigado mais uma vez por ter me

escolhido como sua mãe.

Durante esse período, mesmo diante da falta de tempo, tive uma sorte. Encontrar

alguém que hoje considero ser meu braço direito e esquerdo, minha alma gêmea,

Eduardo. Estando ao meu lado em todos os momentos, decisões, indecisões, teimosias,

obediências, na falta de tempo, por vezes na distância física diante da característica de

nossos trabalhos. Obrigado por você existir na minha vida. E obrigado por me

presentear com sua família. Ganhei de brinde um pequenino menino, Guilherme, agora

o mascote, sempre curioso e impaciente, inerente aos seus quatro aninhos. E ainda

ganhei uma amiga, Célia, e um aliado, Waldemar, que fez com que caísse por terra o

estigma de sogra, e sogro, junto com Leonardo. Este posso também chamar de irmão, ao

invés de cunhado, trazendo mais um membro para a família do qual ainda não sabemos

ser menino ou menina. Obrigado por me acolherem e aos meus textos com tanto

carinho, compreensão e solidariedade.

Se tivesse que escolher novamente minha família, seriam vocês do mesmo jeito,

da mesma forma, sem nenhuma alteração, apenas com maior capacidade de aproveitar

cada tempo ao lado de vocês.

Ao meu amigo Alex, irmão de alma, de trajetória de vida acadêmica e

profissional tão semelhante, obrigado por me estimular ao ingresso neste projeto de

vida, que nos diferencia agora apenas uma pouco. Assim como obrigado por me

suportar durante as crises, a falta de tempo e a impaciência. E agradeço também a nossa

amiga em comum, Marilda, por na época ter-me “empurrado” para o processo seletivo,

quando já estava às vésperas de desistir.

Aos amigos, velhos e novos, conquistados neste processo, e aos colegas de

turma. Sem dúvidas todos merecem meus especiais agradecimentos. De alguma forma a

Page 9: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

vii

contribuição de cada um, mesmo que possa ter sido imperceptível aos seus olhos, aos

meus foram captados.

Em especial, registro meus agradecimentos a minha orientadora, Maria Helena,

pela oportunidade e possibilidade de um desenvolvimento intenso de meus

conhecimentos através dos seus repassados durante cada momento, mesmo em tempos

apertados devido as nossas agendas, mas sempre oportunos e ricos, assim como através

de seu estilo de orientação que me permitiu a liberdade de construção desse

conhecimento.

À equipe de trabalho do Núcleo de Recursos Humanos em Saúde da Escola

Nacional de Saúde Pública pelas contribuições de maneira especial em diversas etapas.

Deixo meus agradecimentos para todos com muito carinho e certa de que muito

poderemos construir juntos ainda.

Todos os momentos dentro deste processo são de extrema importância, em

especial o momento final quando submetemos a apreciação da banca examinadora. A

ansiosa expectativa quanto à aprovação nos permeia e ao fim nos enche do sabor da

vitória. Obrigado aos queridos professores: Célia Pierantoni, Antenor Amâncio, Thereza

Varella e Ana Luiza Stiebler, obviamente pela apreciação, mas também por terem

participado desta minha história acadêmica.

Agradeço neste momento também a todos os professores, pesquisadores e

funcionários do apoio administrativo desta Escola por tudo, desde a oportunidade de

terem me selecionado para essa aventura e desafio acadêmicos, o auxilio administrativo,

até cada contribuição e estímulos oferecidos durante todos os momentos que permitiram

a aquisição de conhecimentos tão importantes para a construção deste trabalho e para

minha vida profissional.

Page 10: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

viii

RESUMO

A Reforma Sanitária, devido à reorientação do modelo de assistência, impulsionou a ampliação do número de estabelecimentos de saúde e da força de trabalho, especialmente no nível da Atenção Básica em Saúde tornando, junto com a descentralização, os municípios nos maiores gestores do SUS. Por outro lado, a Reforma do Estado ocorrida especialmente na década de 1990 representou a implantação de um modelo para administração pública que impulsionou a adoção de formas contratuais baseadas na flexibilização. Estes dois contextos, juntos, repercutiram na facilitação da expansão da força de trabalho, porém conduzindo a um quadro elevado de precarização dos vínculos devido à forma como foi conduzida a flexibilização. A Gestão do Trabalho no SUS, oriunda da incorporação de conceitos das Ciências da Economia e da Sociologia do Trabalho, possui como objetivo elaborar, implantar e implementar políticas para a área, tendo como modelo de gestão ideal aquele baseado na flexibilização, na descentralização e na negociação. Atualmente o contexto da Gestão do Trabalho envolve 2,5 milhões de empregos na esfera pública, com uma força de trabalho majoritariamente pertencente ao nível municipal, com diferenças importantes entre as regiões brasileiras, e em torno de 30% desta está inserida através de formas contratuais consideradas precárias. Este estudo teve como objetivo analisar como as políticas de Gestão do Trabalho no SUS têm enfrentado esta grave situação, adotando como método a análise documental de publicações do Ministério da Saúde, CONASS e do CONASEMS e entrevistas aos representantes dos Núcleos de Políticas de Recursos Humanos em Saúde do CONASS e de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do CONASEMS. Através deste estudo pode-se concluir que há consenso entre o Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS em relação ao conceito de trabalho precário e que, quanto à flexibilização dos vínculos, esta é necessária em determinadas situações desde que se respeitem as normas administrativas. E que, quanto à condução das Políticas de Gestão do Trabalho no SUS, estas foram conduzidas de forma participativa, pactuada, colegiada. Há um momento político muito favorável e evolutivo para a construção de consensos. Nestes cinco anos foram conquistados avanços, demonstrando uma possibilidade para as resoluções da problemática envolvendo a flexibilização e precarização do trabalho em saúde. Palavras – chaves: Políticas de Gestão do Trabalho em Saúde; Flexibilização do trabalho; Precarização do trabalho; Modelos de Gestão em Saúde; Sistema Único de Saúde.

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ix

SUMMARY Due to re-orientation of the model of assistance, the Healthy Care Reform impelled the expansion in numbers of health establishments and of work, chiefly in level of Primary Care in Health, turning the municipal district, together with the decentralization to be the greatest manager of SUS. On the other hand, the Reform of State occurred especially in the decade of 1990 represented the deployment of a model for public administration that spurred the adoption of contractual forms based on the flexibilization. Both contexts together reflected in the facilitation of the workforce expansion, leading, however, to a high framework of precarious contractual forms, due to the forms of how the flexibility was conducted. The Labor Management in Health in SUS, derived from incorporation of concepts of Sciences of Economics and Sociology Labor, has as objective to elaborate, to implant and implement politics for the area, having as model of ideal management that one based on flexibility, decentralization and negotiation. Currently the context of Labor Management involves 2.5 million jobs in the public sphere, with a workforce mostly belonging to the municipal level, with important differences among Brazilian regions, and about 30% of that is inserted through contractual forms considered as precarious. This study had as objective to analyse the way in which the politics of the Labor Management in Health in SUS have faced this serious situation, adopting as method the documentary analysis of publications of Health Department, CONASS and CONASEMS and interviews with the representatives of Cores of Human Resources Politics in the Health of CONASS and Management of Labor and Education in Health of CONASEMS. By this study, we can conclude there is consensus among the Department of management Labours in Health, CONASS e CONASEMS, in relation to the concept of precarious work and that, concerning to flexibility of contractual forms, this one is necessary in certain situations, since it respects administration rules. And as the conduction of the politics of Labor Management in Health in SUS, these latter were conducted in a collegiate, agreed and participatory way. Currently, there is very favorable political and rolling moment for elaborating consensus. In these five years, progresses were achieved, showing possibility for the resolutions of issues involving the flexibility and precarious work in health. Key – words: Labour Management in Health Politics; Flexibility of work; Precarious

work; Health Managements Models; Sistema Único de Saúde.

Page 12: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1 – Municípios brasileiros por Grandes Regiões segundo porte e classes

de tamanho populacional Brasil e Regiões – 2006

QUADRO 1 – Documentos identificados para a análise documental

QUADRO 2 – Comparação dos modelos propostos para o sistema de relação

trabalhista

QUADRO 3 – Cronologia das políticas de Gestão do Trabalho em Saúde no Brasil

QUADRO 4 – Comparação das médias salariais e de horas de trabalho entre as

profissões que compõem a equipe mínima de Saúde – 2005

QUADRO 5 – Modalidades de Contratação de profissionais na Estratégia Saúde

da Família – 2002

QUADRO 6 – Considerações sobre Operações e Estratégias definidas pelo

CONASEMS em relação ao Tema Gestão do Trabalho no SUS – 2005

QUADRO 7 – Considerações sobre Operações e Estratégias definidas pelo

CONASEMS em relação ao Tema Gestão do Trabalho no SUS – 2006

Page 13: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

xi

QUADRO 8 – Síntese sobre as visões da Bancada dos Trabalhadores da Mesa de

Negociação Permanente – SUS, do CONASS, do CONASEMS e do Ministério da

Saúde sobre a desprecarização do trabalho em saúde – 2006

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIS – Ações Integradas de Saúde

ABS – Atenção Básica em Saúde

ACEs – Agentes Comunitários de Endemias

ACS – Agente Comunitário de Saúde

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CIT – Comissão Intergestora Tripartite

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONARES – Conselho Nacional de Representantes Estaduais

CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde

CONASEMS – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

COSEMS – Conselhos de Secretários Municipais de Saúde

CTRH – Câmara técnica de Recursos Humanos

Degerts – Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde

Deges – Departamento de Gestão da Educação na Saúde

DF – Distrito Federal SUS – Sistema Único de Saúde

ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública

GT – Grupo de Trabalho

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica Previdenciária Social

LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal

OIT – Organização Internacional do Trabalho

Page 14: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

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OMS – Organização Mundial de Saúde

ONG – Organização não Governamental

OPAS – Organização Pan Americana de Saúde

OSCIP – Organização da Sociedade Cível de Interesse Público

PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PCCS – Plano de Carreiras, Cargos e Salários

PSF – Programa Saúde da Família

RH – Recursos Humanos

RJU – Regime Jurídico Único

RORHS – Rede de Observatório de Recursos Humanos em Saúde

SES – Secretaria Estadual de Saúde

SGTES – Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

Page 15: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

13

APRESENTAÇÃO

A responsabilidade pela assistência à saúde essencialmente encontra-se em torno

da força de trabalho atuante na execução direta das ações, assim como também na

gerência e gestão da área de recursos humanos em saúde. E no contexto histórico do

país esta área sempre esteve no palco das discussões, ora de maneira mais superficial,

ora de forma mais efetiva e profunda, como neste momento atual.

A área de recursos humanos em saúde recebeu influências importantes das

ciências da Administração, da Economia Política e da Sociologia do Trabalho,

configurando hoje a área de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, inserida

recentemente como parte da estrutura do Ministério da Saúde, representando uma de

suas secretarias.

Este estudo, fruto de minha dissertação de Mestrado Acadêmico, cursado pela

Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – ENSP/FIOCRUZ, desenvolvido no

período de março de 2006 a agosto de 2008, possui um caráter de abrangência nacional,

e envolveu a análise sobre as políticas de Gestão do Trabalho em Saúde no SUS.

Valorizou-se essencialmente a Gestão do Trabalho, não adentrando de forma direta nas

questões da Educação na Saúde.

De relevância fundamental para as políticas de saúde, contribuindo para a

consolidação do SUS, este tema despertou grande interesse por se tratar da abordagem

ao trabalhador de saúde de forma significativa e diferenciada, confluindo com as áreas

de atuação e experiências vividas ao longo da minha trajetória profissional e acadêmica.

As discussões que permearam o tema deste estudo envolvem questões que vêm

apresentando polêmicas no cotidiano da Gestão Trabalho em Saúde como a

flexibilização dos vínculos de trabalho, por estas terem gerado conseqüências

importantes para os trabalhadores de saúde, inclusive afetando a qualidade da

assistência prestada à população brasileira.

Page 16: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

14

Para tanto torna-se fundamental a compreensão sobre o contexto histórico em

que o SUS foi desenvolvido, que por um lado ocorreu pela reforma sanitária a

construção do modelo assistencial descentralizado, universal e integral, que privilegia a

assistência através da Atenção Básica em Saúde; e por outra via contrária adotou-se

com a Reforma de Estado o modelo administrativo do Estado mínimo. O efeito para a

Gestão do Trabalho no SUS foi uma expansão da força de trabalho, o que se pode

considerar positivo, mas grandiosamente através da flexibilização dos vínculos, gerando

um contexto negativo da precarização do trabalho notadamente problemático.

A dissertação está organizada em nove capítulos. O Capítulo I discorre

brevemente sobre o panorama do tema escolhido e as questões envolvidas na

flexibilização dos vínculos de trabalho. No Capítulo II apresentamos as opções

metodológicas adotadas para a execução do estudo, o que permitiu obter uma análise

sobre as posições e tendências relacionadas às políticas de gestão do trabalho em saúde

no contexto brasileiro, através de ângulos diferentes envolvendo representações dos três

entes federados.

O Capítulo III consta de uma revisão sobre o modelo de assistência que

conduziu as ações de saúde no Brasil e sua evolução até o modelo atual do SUS,

identificando e compreendendo suas influências e conseqüências para a flexibilização

do trabalho em saúde, e ainda uma revisão do processo de descentralização do SUS e

suas conseqüências para a gestão do trabalho nos municípios. Ainda dentro deste

capítulo foi realizada uma revisão sobre a Reforma Administrativa do Estado buscando

compreender as transformações e influências significativas nas relações de trabalho no

setor saúde à luz do construto teórico dos modelos administrativos tecnocrático e

gerencial.

Seguidamente, no Capítulo IV foi desenvolvida, por ser objeto desta gestão,

uma profunda compreensão sobre o trabalho em saúde. E também, uma outra discussão

que envolveu os conceitos sobre flexibilização, trabalho precário, decente, vulnerável e

ilícito, finalizando com a apresentação das formas contratuais existentes na

administração pública para compreensão de suas influências na tensão existente entre

estas.

Page 17: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

15

No Capítulo V foi desenvolvido inicialmente o aprofundamento sobre a

evolução conceitual da Gestão do Trabalho em Saúde, seguido de uma análise

comparativa sobre os modelos e propostas existentes dentro deste campo. Assim como

foi apresentado o desenvolvimento das políticas de recursos humanos em saúde até a

atual política de gestão do trabalho através de uma breve descrição da histórica sobre as

Conferências Nacionais de Recursos Humanos e o Pacto de Gestão. Dentro deste

mesmo capítulo, também foram identificados os atores principais envolvidos na

construção das políticas de gestão do trabalho no SUS: A Secretaria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde, o Conasems e o Conass. Sobre estes descrevemos seus

objetivos e estruturas.

Importante para a compreensão do contexto enfrentado pela Gestão do Trabalho

no SUS foi realizar um estudo empírico da força de trabalho, portanto no Capítulo VI ,

dados sobre o comportamento no número de estabelecimentos, na formação de

profissionais, de empregos e remuneração no campo da saúde foram apresentados.

Em seguida, através da análise de publicações do Ministério da Saúde foi

realizada uma exposição da Agenda da Gestão do Trabalho no SUS, enfocando as

questões referentes à questão – problema do estudo, a flexibilização e precarização do

trabalho. Esta análise encontra-se no Capítulo VII.

A análise sobre as políticas de Gestão do Trabalho no SUS, objetivo deste

estudo, foi desenvolvida no Capítulo VIII , e verteu-se sobre as publicações do

CONASS e CONASEMS, identificadas como relevantes por conter as questões

relacionadas ao tema, mais especificamente sobre a flexibilização e desprecarização do

trabalho.

Por fim, no Capítulo IX discorremos sobre as considerações finais o qual

findou levando a principal conclusão de que, através da valorização da gestão

participativa e da ampliação das discussões e negociações entre estes três entes, e mais,

agregando os trabalhadores de saúde, o resultado final foi a geração de consensos sobre

as questões envolvidas na flexibilização dos vínculos de trabalho, com a construção

pactuada de políticas para a Gestão do Trabalho.

Page 18: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

16

“O que distingue uma época econômica de outra, é menos o que se produziu

do que a forma de o produzir.”

(Karl Marx)

Page 19: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

17

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

O SUS representou legalmente para a saúde brasileira a conquista de um espaço

democrático onde todos, além do acesso universal e igualitário, podem ter garantido a

participação nos seus processos decisórios. Na prática esta conquista tem evoluido de

forma lenta mas progressiva, especialmente pelo desenvolvimento árduo da

descentralização do sistema, dependente, entre outras coisas, da assimilação de

competências e habilidades dos gestores e trabalhadores nas três esferas de governo.

As modificações colocadas pela implantação do SUS, com relação à área de

Recuros Humanos em saúde, representou a necessidade de revisão de seus conceitos

para adequação às novas exigências do trabalho em saúde, trazendo a incorporação de

outros campos que possibilitaram olhares diferentes, hoje chamada de Gestão do

Trabalho em Saúde.

Na administração pública brasileira a Gestão do Trabalho possui relação com o

contexto político e econômico mundial e pode ser compreendida através de três grandes

eixos: “a mudança no modelo de Estado, que passa de um modelo provedor para um

modelo regulador; a reestruturação produtiva, que traz novas formas de relação de

trabalho; e a incorporação tecnológica, que introduz novas práticas e novos processos

de trabalho” (Brasil, 2007c: 21).

Araújo et al (2006) discutem que sobre essa reestruturação produtiva a

racionalidade econômica interferiu no sentido do trabalho dentro das sociedades do

trabalho, transformando-o numa associação ao exercício de uma atividade produtiva.

Ainda, a transformação da sociedade produtiva e a crise econômica causaram sobre a

sociedade do trabalho o desaparecimento de suas formas construídas com sociabilidade,

identidades e modos de existência. As discussões continuam sobre o questionamento se

de fato ocorre o fim do trabalho, mas constata-se que este processo é na verdade uma

desqualificação do mesmo expresso pelo aumento da precariedade e pela perda dos

direitos sociais adquiridos, especialmente ocasionados pela fragilização das relações de

trabalho em virtude da flexibilização dos vínculos. Com a reforma do Estado, esta

Page 20: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

18

flexibilização assumiu a forma das terceirizações, associadas à precarização do mercado

de trabalho, concretizando por meio de formas ilícitas, aumentando os vínculos

informais e a flexibilização das leis trabalhistas e com redução ou eliminação dos

encargos sociais.

Conduzindo para a análise do tema proposto para este estudo, então torna-se

imprescindível à compreensão do contexto histórico em que foi construído o sistema de

saúde brasileiro, e ainda, três momentos destacados por Pierantoni (2001: 342; 2002:

609) tomam dimensões referenciais importantes: o primeiro, “a definição constitucional

do SUS (1980)”, o segundo, “a definição macropolítica da reforma do Estado (1990)”

e o terceiro, “fixação de políticas de setor relacionadas com a criação de modelos

assistentes, acentuadamente nos últimos cinco anos.” Esses momentos, segundo

Pierantoni (2002: 609), propiciaram por um lado a introdução de inovações, por trazer

mudanças estruturais no sistema de saúde, assim como debates e produções intelectuais

de qualidade, porém, ao mesmo tempo conservador pela baixa institucionalidade

alcançada entre a formulação e execução das ações propostas para transformação do

modelo de assistência à saúde e da área de recursos humanos em saúde.

A partir então destes momentos, pode-se dizer que a flexibilização das relações

de trabalho no setor saúde se acentuou, e com ela ocorreu o aumento na força de

trabalho do SUS, porém com conseqüências diretas para o trabalhador e para as

organizações de saúde, como a precarização do trabalho, a descontinuidade dos

processos e outras coisas mais. E deve-se pensar que a flexibilização das relações de

trabalho precisa estar de acordo com os objetivos das organizações. Desta forma, à

Gestão do Trabalho no SUS cabe estabelecer critérios e mecanismos que potencializem

ou minimizem os efeitos da flexibilização do trabalho sobre a proteção social e a

qualidade de vida do trabalhador, e assim possam sustentar boas práticas no cuidado à

saúde.

Dentro da complexidade da análise que envolve os recursos humanos em saúde,

no ambito internacional e nacional, ressaltam-se pontos de reflexão: O SUS

especialmente nos últimos cinco anos incluiu este tema na agenda política da saúde

segundo os eixos relativos à flexibilização e precarização do trabalho em saúde, novos

perfis profissionais e novos processos de formação/qualificação, de gestão e a regulação

Page 21: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

19

em saúde. Outras questões são problemas (velhos e novos) emergentes das situações

críticas já vividas pela descentralização/municipalização. Limites de contratação de

pessoal determinados pela legislação vigente no serviço público são expostos na

emergência da necessidade de reposição de pessoal nas unidades públicas federais, e na

fixação de profissionais na Atenção Báscia via Programa Saúde da Familia. Assim

como também surgem as necessidades de perfis profissionais, exigindo tanto a

qualificação como as intervenções nos processos de formação profissional. As

atividades de gerência assumem funções relevantes com demandas de capacidades por

área (Pierantoni, 2002: 613).

De grande revelância para os atores que participam da formulação das políticas,

gestores e atores que estão envolvidos na construção da saúde de forma democrática,

Feuerwerker (2005: 491) destaca: “O modelo tecnoassistencial, a organização da

gestão e as maneiras como se faz a política de saúde são todos elementos críticos nesta

situação, pois contribuem ou dificultam a mobilização e aglutinação de atores e

agentes capazes de contribuir para a indispensável conquista de legitimidade política e

social para o SUS.”

E dentro deste leque, as questões referentes ao trabalho, ao profissional de saúde

e suas práticas nas organizações no âmbito do SUS atualmente tornam-se objetos de

análises e discussões no palco das políticas de saúde, especialmente pelos nós críticos

identificados no contexto atual. Mas a área de recursos humanos ocupa a temática

estratégica da discussão e implementação de políticas de saúde sem dúvidas desde os

anos 80.

É necessário compreender que no contexto da implantação do SUS a expansão

do contingente de trabalhadores foi necessária para as bases da construção do sistema de

saúde pública do Brasil, mas que levou ao cenário de precarização pela forma como foi

conduzida a flexibilização do trabalho.

Diversas propostas e experiências de modelos de gestão têm sido pensadas e

implementadas para dar conta dos nós críticos referentes à capacidade dos trabalhadores

de saúde e gestores darem conta da assistência à saúde, dentro do ideal da Reforma

Sanitária, porém é notório que pairam na atmosfera do SUS dúvidas, incertezas e pistas

Page 22: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

20

de que alguns destes modelos possam, ou não, estar no rumo certo. Cada vez mais

estudos e análises sobre este contexto tornam-se necessários para contribuírem com

respostas para essas questões.

De qualquer forma, Araújo et al (2006: 165) afirma que o trabalho não é uma

mercadoria qualquer. Precisa ser valorizado, respeitado e protegido em todas as suas

formas, e o trabalhador precisa ter previsão sobre o que ocorrerá consigo quando faltar o

trabalho, faltar saúde, e o que acontecerá com sua família depois de sua morte. O

trabalho precisa então se adaptar às necessidades e desafios deste novo tempo, onde não

assinala o fim do emprego, mas o aprofundamento das transformações do emprego e

novas formas de trabalho, que exigem debate sobre a criação das proteções mais

ajustadas a essas mudanças. “O que importa, enfim, é proteger o trabalhador [...]. Os

trabalhadores estão não somente lamentando os direitos perdidos, mas se organizando

em busca dos direitos aos quais efetivamente possam ter acesso nesse atual contexto de

transformações”.

A desprecarização do trabalho no SUS, portanto, tem feito parte das agendas

políticas de governo e instituições correlacionadas ao trabalho em saúde, como a

Organização PanAmericana de Saude – OPAS, Organização Mundial de Saúde – OMS,

instituições acadêmicas, e outras, para fazer valer investigações a respeito. Como alguns

exemplos, temos a Agenda Positiva do Departamento de Gestão e Regulação do

Trabalho em Saúde, produzida no início do primeiro Governo Lula; o Seminário sobre

desprecarização do trabalho em saúde do Departemento de Gestão e Regulação do

Trabalho em Saúde, em 2003; o Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no

SUS, em 2007, assim como outros identificados no decorrer deste trabalho.

Assim, atualmente, a Gestão do Trabalho no SUS entra na agenda do governo

como prioridade, justamente para equilibrar o descompasso entre as necessidades dos

gestores, profissionais e usuários, e requer cada vez mais estudos que contribuam para

sua maior compreensão e, por conseguinte, colabore com o desenvolvimento do sistema

de saúde do Brasil. Ainda há na área da Gestão do Trabalho, muitos percalços a serem

resolvidos e que dependem certamente de diversos fatores desencadeantes e que se

entrelaçam. Não há apenas um ponto de partida e esforços de todas as partes deverão ser

depositados na resolução destas questões. E coloca-se como desafio a busca por

Page 23: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

21

mecanismos capazes de dar conta da diversidade de situações num país de dimensão

continental como o Brasil.

Portanto, com relação à flexibilização das relações de trabalho, a questão

colocada é quem e onde realmente pode-se flexibilizar, e em que condições. Resta saber

que mecanismos de regulação dessa flexibilização das relações de trabalho estão sendo

empregados e quais as políticas de Gestão do Trabalho estão sendo adotadas para se dar

conta dessa realidade no âmbito do SUS.

Page 24: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

22

CAPITULO II - METODOLOGIA

A partir da problemática instituída da flexibilização das relações de trabalho no

mundo globalizado, a qual tem levado à precarização dos vínculos de trabalho gerando

desproteção social, instabilidade institucional, pretendemos como objetivo geral,

analisar como as políticas de Gestão do Trabalho no SUS têm enfrentado esta grave

situação.

Partimos da hipótese de que possa haver aspectos negativos e positivos

envolvendo a flexibilização dos vínculos de trabalho neste processo onde há

controvérsias entre a expansão do SUS pautado na opção do modelo assistencial

definido pela Reforma Sanitária e a redução da máquina administrativa proposta pelo

modelo gerencial adotado pela Reforma do Estado.

Mais especificamente, para maior aproximação do objeto, como objetivos

específicos, definimos: descrever o cenário atual dessas relações de trabalho levando em

consideração o processo histórico de construção do SUS; compreender e analisar os

caminhos e formas de flexibilização do trabalho no SUS, seus aspectos positivos e

negativos, bem como os pontos de tensão entre a estabilidade e flexibilidade; e analisar

as ações dos atores identificados como mais relevantes para a Gestão do Trabalho,

destacando o processo de construção e implementação das políticas de gestão do

trabalho no SUS.

Abordar a Gestão do Trabalho em Saúde no SUS com o objetivo de analisar

como suas políticas têm enfrentado o contexto de gravidade em relação à flexibilização

e precarização do trabalho atualmente no Brasil, demandou a realização de um estudo

com abordagem descritiva e analítica, de natureza qualitativa.

A compreensão do contexto apresentado como questão – problema exigiu

inicialmente o conhecimento do estado da arte. Portanto, fez-se necessário um

aprofundamento teórico consistente sobre o objeto de estudo, e a problemática que o

circunda de forma a buscar vários pontos de vista, diferentes ângulos do problema e que

Page 25: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

23

puderam colaborar com as definições, conexões e análises necessárias ao alcance dos

objetivos do estudo. Para tanto, o primeiro percurso metodológico deste estudo consistiu

de uma revisão bibliográfica acerca do processo histórico de construção do Sistema

Único de Saúde, dos caminhos e formas de flexibilização hoje estabelecidos, da

abordagem conceitual da Gestão do Trabalho em Saúde no SUS e os modelos de gestão

propostos, assim como a identificação e descrição dos atores mais relevantes deste

processo: a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, o CONASS e

CONASEMS.

Atualmente, cada vez aumenta mais a busca por respostas aos diversos nós que

estão sendo identificados no mundo real, seja por pesquisas, seja na práxis do trabalho

em saúde. Este movimento tem estimulado a realização de pesquisas com a integração

de métodos capazes de buscar respostas, aliando as análises teóricas às práticas.

Para que se possa aplicar também a esse estudo essa integração, a dimensão

deste estudo demandou a necessidade de realização da segunda etapa, num momento

seguinte à revisão da literatura. Foi adotada como método, a análise documental sobre

publicações dos atores identificados como relevantes para a Gestão do Trabalho no SUS

na primeira etapa do estudo. Desta forma foi possível a identificação da Agenda da

Gestão do Trabalho no SUS, tal como a descrição e análise das propostas que vêm

sendo elaboradas e aplicadas por estes referentes à questão - problema deste estudo.

A Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde foi criada em 2003

através do Decreto nº. 4.726, de 09 de junho de 20031, com o objetivo de propor

políticas de gestão e planejamento e regulação do trabalho em saúde, falando em modos

gerais. Portanto o marco temporal para a análise documental foi considerado a partir da

data de sua criação.

Segundo Figueiredo (2004), Costa e Costa (2001) e Minayo (2006), entende-se

como fonte para análise documental os documentos oficiais, relatórios, sites oficiais,

1 Revogado pelo Decreto nº. 5.974 de 29 de novembro de 2006 – Aprova a estrutura regimental e o quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas do Ministério da Saúde e dá outras providências.

Page 26: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

24

atas, entre outros. E estes deverão ser analisados à luz das indagações dos

investigadores, “uma vez que textos não falam por si”.

Portanto, foram considerados como fontes documentais para este estudo

relatórios de pesquisas, conferências, eventos e seminários; políticas, portarias e

diretrizes elaboradas; materiais divulgados no site oficial; entre outros documentos do

Ministério da Saúde, do CONASS e CONASEMS. Nestes foram observados em seu

conteúdo a presença de discussões sobre o tema referente à Gestão do Trabalho em

Saúde, especialmente sobre a flexibilização e precarização dos vínculos de trabalho.

A identificação dos documentos utilizados nesta análise foi realizada durante o

período de junho a setembro de 2007 e o principal meio de busca foi o eletrônico,

através dos sites oficiais dos três entes identificados. No site da Secretaria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde e do CONASS todos os documentes puderam ser

localizados e realizados os downloads sem dificuldades, porém o site do CONASEMS

durante este período encontrava-se em adequação e, portanto, para aquisição dos

documentos pretendidos para a análise foi realizado contato eletrônico através do e-mail

institucional que resultou, através de acordo comum, no envio das publicações por via

postal.

Foram localizados doze documentos, sendo quatro do Ministério da Saúde, três

do CONASS e cinco do CONASEMS. Entre eles foram localizadas publicações iguais,

porém de edições publicadas em anos diferentes, tendo sido necessário a análise de seu

conteúdo para identificar a possibilidade de escolha ou eliminação das versões. E após,

receberam tratamento analítico, estruturado através do embasamento teórico sobre o

tema, buscando localizar o entendimento e as propostas de cada um dos atores. A

análise documental foi desenvolvida no período de dezembro de 2007 a março de 2008.

QUADRO 1 - Documentos identificados para a análise documental

Atores Ministério da Saúde CONASS CONASEMS Documentos Levantados

Agenda Positiva do Degerts –2004 Agenda Positiva do Degerts –2005

Estruturação da área de recursos humanos nas Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal / Conselho Nacional de Secretários de Saúde – 2004 (Documenta nº.1)

Teses e Planos de Ação 2005 – 2007 Teses e Planos de Ação 2006 –2007.

Page 27: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

25

Fonte: Elaboração própria com base no levantamento realizado para a análise documental – 2007-2008.

A análise sobre a produção escrita, quando apoiada em um referencial teórico,

permite identificar importantes elementos sobre a questão analisada, como por exemplo,

as posições, tendências, competências e outros, de uma forma estruturada. Mas de certa

forma, o material analisado está sob um filtro, que é o olhar do pesquisador. Assim, a

busca pela minimização do efeito deste filtro está na possibilidade de uma expressão

direta de atores-chaves deste processo relacionado ao objeto do estudo.

Analisar as políticas elaboradas pelo Ministério da Saúde requer um cuidado

especial por se tratar de uma estrutura de grande porte do governo, buscando assim a

sustentação das idéias no aporte teórico e na neutralidade de opinião. E considera-se que

o CONASS e o CONASEMS, atores identificados como fundamentais para o processo

de construção das políticas de saúde, por serem representantes das instâncias gestoras

estaduais e municipais, também são estruturas de grande porte e estão na posição de

gestores participantes junto à política instituída pelo Ministério da Saúde. E ainda, por

estes possuírem seus respectivos núcleos técnicos referentes à Gestão do Trabalho e

Educação na Saúde foram desenvolvidas em uma última etapa entrevistas aos atores-

chaves representantes destes núcleos com intuito de obter a expressão direta destes,

buscando a confirmação/confronto do conteúdo analisado de suas publicações.

Assim, em última etapa, foram realizadas entrevistas com os doravante

denominados “Representante do Núcleo de Políticas de Recursos Humanos do

CONASS” e “Representante do Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do

CONASEMS” possibilitando a expressão direta destes entes sobre as questões

envolvidas no tema do estudo. Estas entrevistas semi – estruturadas foram

Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no SUS: - Orientações gerais para elaboração de editais – processo Seletivo Público (ACS e ACE) – 2007 - Desprecarização do Trabalho no SUS – perguntas e respostas – 2006

Recursos humanos: um desafio do tamanho do SUS / Conselho Nacional de Secretários de Saúde – 2004 (Documenta nº. 4) Gestão do trabalho no SUS - caderno nº. 05 da Coleção Progestores – para entender a Gestão do SUS do ProgeSUS – 2007.

Núcleo de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – Edição sem data. Núcleo de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – Edição 2007. Revista CONASEMS – Ano I nº. 4 - Out, Nov e Dez – 2005.

Page 28: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

26

desenvolvidas, a primeira em novembro, utilizando o meio eletrônico para o

representante do CONASEMS, especialmente pela distância e impossibilidade de

encontros, e a segunda em março, através de entrevista presencial gravada para o

representante do CONASS, por este residir no mesmo município de realização do

estudo facilitando o encontro. Posteriormente a análise das entrevistas se deu sobre a

resposta escrita enviada por meio eletrônico e sobre a transcrição integral da gravação.

O roteiro de entrevista previamente estabelecido para ambos os representantes

dos Núcleos constou de cinco questões envolvendo: 1) como este situa as questões

fundamentais para a gestão do trabalho, como a flexibilização, a precarização e a

desprecarização; 2) qual a compreensão da área a cerca dos aspectos (positivos e/ou

negativos) que possam haver na flexibilização das relações de trabalho em saúde; 3) o

que considera estar em consenso na compreensão e ações desenvolvidas sobre as

questões referentes à flexibilização e precarização do trabalho em saúde entre os entes

envolvidos nesta discussão (CONASS, CONASEMS e Secretaria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde); 4) como as Políticas de Gestão do Trabalho, hoje

implantadas pelo Ministério da Saúde em parceria com o CONASS e CONASEMS,

podem contribuir para as questões que envolvem os trabalhadores de saúde; e 5) como

avaliar as Políticas de Gestão do Trabalho assim como as Políticas de Educação na

Saúde implantadas e o que poderia ser aperfeiçoado.

Em relação aos aspectos éticos, este estudo foi submetido e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca –

ENSP/FIOCRUZ em abril de 2007, bem como foram tomados cuidados elementares de

uma pesquisa que envolve seres humanos, inclusive adotando a não - revelação da

identidade dos entrevistados, especialmente por estes estarem numa posição de destaque

no contexto das políticas brasileiras.

Page 29: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

27

"Todos os homens do mundo na medida em que se unem entre si em sociedade,

trabalham, lutam e melhoram a si mesmos."

(Antonio Gramsci)

Page 30: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

28

CAPÍTULO III – O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E O ESTADO

O contexto do Sistema Único de Saúde

A atenção à saúde no Brasil, desde o inicio de sua trajetória, teve sua construção

envolvendo conceitos e debates complexos. E em diversos momentos as ações

realizadas para seu desenvolvimento podem ser observadas por vezes como antagônicas

a estes conceitos e discursos. Neste capítulo procuraremos elucidar alguns momentos de

maior destaque desta trajetória que possam trazer compreensões para o contexto deste

estudo. Conhecer os dilemas e desafios dos sistemas de saúde que hoje inquietam tanto

os trabalhadores do setor, e principalmente os gestores pressupõe reconhecer a

necessidade investigativa sobre o processo histórico no campo da saúde e sua

contribuição para as políticas de gestão do trabalho e formação de profissionais de

saúde (Hochman, Santos e Alves, 2004).

O sistema de saúde brasileiro obteve em sua trajetória conquistas marcantes,

com destaque ao movimento pela democratização da saúde, culminado na Reforma

Sanitária Brasileira, onde os aspectos políticos – ideológicos, organizativos e técnico

operacional provocaram mudanças importantes no setor saúde (Paim, 1997: 11). No

princípio do século XX, a organização do sistema de saúde era pautada em ações

fragmentadas entre a necessidade de saúde da camada trabalhadora, assumida pelas

caixas de assistência previdenciária e a necessidade sanitária da população em geral,

que em menor escala era atribuída aos serviços de saúde pública. A expansão da

assistência pela via previdenciária ganhou força na década de 1970 com a fusão das

Caixas de Assistência em um único órgão nacional, o Instituto Nacional de Assistência

Médica Previdenciária de Saúde – INAMPS, mantendo a valorização do modelo

privativista, de capitalização da medicina, corporativista.

Nosso sistema de saúde se expandiu principalmente através das organizações

hospitalares, e estas cercadas pelos interesses divergentes dos diversos atores

envolvidos. O final da década de 1960 foi marcado pela universalização da atenção

médica-previdenciária, curativista, e pelo projeto de hegemonia de classe no sistema

Page 31: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

29

capitalista de produção internacional, desde o final da guerra. Um discurso médico -

assistencial privatista se impôs progressivamente, e os outros discursos campanhistas,

sanitaristas - desenvolvimentistas, preventistas, e suas práticas se subordinaram a ele.

(Luz, 1986: 118).

É importante destacar, segundo Feuewerker (2005: 491), que “o SUS herdou

todo o conjunto de serviços – hospitais, ambulatórios e unidades básicas”, assim como

os trabalhadores nestes inseridos, construídos no período da assistência previdenciária.

Esses estabeleciam relações estreitas com os serviços privados conveniados por meio da

compra de serviços, e todos tinham a orientação das ações pautadas nos conceitos

hegemônicos de saúde. O modelo de cuidado à saúde foi, portanto, fortemente

construído com base na hegemonia médica, de caráter puramente assistencial, que até o

presente momento exerce influências marcantes no cotidiano dos serviços de saúde.

Pensando nessa construção do modelo assistencial vimos que houve repercussão direta

na estruturação da força de trabalho, com uma concentração dos postos de trabalhos em

instituições hospitalares e a valorização do profissional médico.

Tomando a análise realizada por Machado (2005: 257–258), no Brasil ocorreram

três momentos com conjunturas bastante distintas com relação aos trabalhadores de

saúde. O primeiro momento refere-se ao período de 1967 a 1974 caracterizado pelo

incentivo à formação especialmente de nível superior, com estratégia de expansão de

empregos privados com financiamento público; incremento da contratação de médicos e

atendentes de enfermagem, reforçando a bipolaridade médico/atendente; incentivo à

hospitalização e especialização. O segundo momento, período de 1974 a 1986,

caracteriza-se pelo surgimento e implementação de dispositivos institucionais para

reversão do quadro existente, com aumento da participação do setor público na ordem

de serviços ambulatoriais e hospitalares; aumento da formação do pessoal técnico com

incorporação nas equipes de saúde e aumento do pessoal atuante na rede ambulatorial.

Por fim, do período de 1987 em diante, as mudanças referem-se à expansão dos

empregos de saúde na esfera municipal, invertendo definitivamente a vocação da

assistência no país, ou seja, cumprindo os ideais da Reforma Sanitária, com a

descentralização do sistema e consequentemente dos trabalhadores que integram os

serviços.

Page 32: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

30

Ao prosseguirmos um pouco mais no percurso histórico do sistema de saúde

(década de 80), resgatamos que em outra via ocorria o movimento sanitário, entendido

por Escorel (1988:5, apud Paim, 1997: 13) como “um conjunto organizado de pessoas

e, grupos partidários ou não, articulados ao redor de um projeto”. Este compreendeu

três tipos de práticas: a teórica, com sua construção do saber; a ideológica, com a

transformação da consciência; e a política com a transformação das relações sociais. E o

estudo destas práticas parece ser insuficiente para compreender questões da Reforma

Sanitária, principalmente no que se refere aos momentos tático-operacionais (Paim,

1997:13).

O discurso sanitarista, inicialmente abafado pela condução das políticas voltadas

para o modelo médico-previdenciário, toma força com o movimento sanitário calcado

nos debates internacionais que, neste momento circundavam sobre novos conceitos de

atenção à saúde com a idéia da promoção da saúde, e iniciava suas impulsões sobre

como as ações deveriam ser modificadas em prol das necessidades da população. A

valorização da Atenção Primária em Saúde é colocada como fundamental para o sistema

e população, sendo no Brasil reconhecida como Atenção Básica em Saúde, segundo

Viana e Fausto (2005).

Seus ideais foram estampados no texto constituinte marcando a transferência da

responsabilidade pela assistência à saúde para o Ministério da Saúde, e deixando o

Ministério da Previdência Social encarregado somente dos seguros sociais dos

trabalhadores. E assim foi dado início às transferências de recursos entre os ministérios,

e ao processo de co-gestão que repercutiu diretamente no trabalho em saúde. No período

de 1980, como conseqüência, ocorreu o processo de Estadualização, compreendido pela

transferência dos serviços do INAMPS para a gestão pelo governo estadual (Felipe,

1987). Portanto, envolvendo também questões referentes aos trabalhadores de saúde.

Além disso, neste período, as Ações Integradas de Saúde - AIS contribuíram para o

processo de descentralização, ao repassarem os recursos do INAMPS para as secretarias

estaduais e municipais de saúde. E permitiram que uma nova forma de gestão fosse

desenvolvida ao criarem as instâncias colegiadas de planejamento, gestão,

acompanhamento deste programa nos diversos níveis de governo (Fausto, 2005).

Page 33: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

31

O principal marco legal deste período foi a promulgação da Constituição

Federal, e em seguida as leis nº. 8080/90 e nº. 8142/90, que instituíram o ideal da

reforma sanitária. E em especial para este estudo, destacamos a influência do processo

de descentralização implantado constitucionalmente na gestão do trabalho no SUS.

A descentralização no que se refere às questões sobre os trabalhadores de saúde,

e, portanto necessária à compreensão neste estudo, desencadeou os processos de

transferência de gestão da força de trabalho para os municípios, expandindo as

contratações de trabalhadores de saúde, e do fenômeno de retração da contratação pela

União e estados. Os efeitos do modelo de descentralização aplicado inicialmente,

deixaram os municípios quase exclusivamente como prestadores de serviços de saúde,

com participação mínima na gestão e regulação do sistema no nível local, mas, sem

dúvidas, já impulsionados para a municipalização (Fausto, 2005: 148). Porém ao longo

do processo até a atualidade, percebe-se uma evolução importante nesta capacidade

gestora e reguladora dos municípios, deitada sobre o arcabouço legal das Normas

Operacionais e conseqüentemente sobre as questões do recurso financeiro.

Outra questão de grande relevância por interferirem na capacidade gestora,

analisados por Machado (2005: 264–265), são os fenômenos que acompanharam o

processo envolvendo municípios. O primeiro envolve a hipótese de que não houve um

desenvolvimento sustentável e sim proliferação de municípios, visto que 90% dos

municípios brasileiros possuem população inferior a 50 mil habitantes e quase a metade

possui menos do que 10 mil habitantes. O segundo fenômeno envolve a concentração

populacional, onde 4,1% dos municípios possuem mais de 50% da população do país e

metade deles concentram 8% somente da população. O terceiro fenômeno corresponde à

correlação quantitativa de municípios, população e empregos, onde 4% deles detêm

65,7% dos empregos do setor saúde e 73,8% detêm 13,5% da parcela de empregos do

setor. Estes três fenômenos juntos levam à idéia de que a criação deste número

significativo de municípios não acompanhou um desenvolvimento sustentável

econômico e social.

Page 34: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

32

TABELA 1 – Municípios brasileiros por Grandes Regiões segundo porte e classes

de tamanho populacional Brasil e Regiões – 2006

Porte Classes de tamanho da

população dos municípios

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

Total 5 564

449

1 793

1 668

1188

466

Pequeno I Até 5 000 De 5 001 a 10 000 De 10 001 a 20 000

1 371 1 290 1 292

96 85 101

266 396 558

410 405 327

442 295 203

157 109 103

Pequeno II De 20 001 a 50 000

1033

115

416

290

148

64

Médio De 50 001 a 100 000

311

33

104

105

52

17

Grande De 100 001 a 500 000 Mais de 500 000

231 36

17 2

42 11

114 17

46 2

12 4

Fonte: IBGE, Brasil, 2006L. Perfil dos Municípios Brasileiros - IBGE (adaptado).

Assim, hoje temos municípios gerindo sua força de trabalho devido à

repercussão da descentralização, que na verdade ainda é, nos momentos atuais,

dependente de um fortalecimento de sua capacidade gestora, enfrentando como limite e

desafio para a Gestão do Trabalho em Saúde a exposição dos trabalhadores a situações

de flexibilidade dos vínculos trabalhistas, e frequentemente precarizados, gerando

polêmicas nas formas de resolução deste contexto.

As repercussões das escolhas do Estado para o SUS

Inerente a todo e qualquer processo de condução das políticas públicas, no Brasil

ocorreram concomitantemente discussões referentes ao papel do Estado e à organização

do sistema de saúde, levando à elaboração de reformas administrativas e sanitárias. A

racionalidade econômica envolta nos discursos reformistas do Estado acabou por

influenciar no caminho da organização do sistema de saúde, desalinhando por vezes os

ideais da reforma sanitária.

Esse desalinhamento pode ser compreendido, por exemplo, quando Ceccin

(2005: 163) descreve que a reforma sanitária brasileira no plano legal nos faz entender

os trabalhadores de saúde por uma racionalidade administrativa e gerencial, inclusive

Page 35: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

33

lançando mão da expressão de Gastão W. Campos2, racionalidade gerencial

hegemônica, da Teoria Geral da Administração para destacar a subordinação dos

trabalhadores à racionalidade econômica, corroborando com a idéia de sua influência no

campo da saúde.

Por outro lado, no setor público tradicionalmente ocorre a realização de reformas

administrativas, principalmente a cada início de um novo governo, com rótulos

diversificados e fundamentados a partir das teorias clássicas administrativas. Essas

reformas objetivam adequação da máquina pública aos planos de governo, e suas

características são puramente mecanicistas (Pierantoni, 2001: 343).

Na opinião de Levy (1997: 4):

“O debate sobre as reformas do Estado vem convergindo para um modelo que parece se impor de modo aproximadamente homogêneo em diferentes realidades. No entanto, alguns elementos, parecem criar substrato comum para caminhos aparentemente iguais. De um lado, os novos termos da competição internacional e a financeirização da economia pressionam fortemente os Estados para o uso, crescentemente, eficiente de recursos. As transformações tecnológicas – sobretudo no campo da informação – imprimem um novo e acelerado ritmo aos processos de trabalho e de comunicação. Expostas a volumes crescentes de informação, usuárias de serviços cada vez mais especializados e personalizados, as sociedades contemporâneas parecem profundamente insatisfeitas com os serviços públicos em particular, e com o funcionamento do Estado, de modo geral. Ao mesmo tempo, o conjunto dessas transformações tem acentuado as desigualdades sociais e, principalmente, tem provocado o aumento da distância entre pobres e ricos".

O que tem sido discutido sobre as reformas de Estado situa-se no campo das

teorias administrativas, dentro dos paradigmas tecnocrata e gerencial, e em especial as

conseqüências destas para o trabalho em saúde devem ser incluídas neste debate. Por

exemplo, Ferlie (1999: 24–25) com base em autores como Laughlin, Dunleavy e Hood,

comenta sobre o surgimento da nova administração pública (ou administração pública

gerencial), que esta tem sido considerada por alguns críticos como uma ideologia

baseada no mercado que invadiu as organizações do setor público previamente imbuídas

2 Da obra: Um método para análise e co-gestão de coletivos. In: A construção do sujeito, a produção de valore de uso e a democracia em instituições: o método da gestão. São Paulo: HUCITEC, 2000.

Page 36: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

34

de valores contra-culturais. Por outros tem sido considerada como uma administração

híbrida, com ênfase contínua nos valores fundamentais do serviço público expressados

de outra forma. Mas o prevalecente é que a nova administração pública deve ser vista

como uma ruptura nos padrões de administração do setor público, mais do que apenas

um modismo. Ainda o mesmo autor comenta que esse movimento é visto como um

sistema de pensamento ideológico que resulta na importação de idéias geradas no setor

privado e aplicadas para dentro das organizações do setor público.

Segundo Levy (1997: 5), a administração pública gerencial prioriza os resultados

e para desenvolver maior agilidade e eficiência procura adequar as organizações

públicas às novas contingências específicas de lugar e momento. Faz da transparência e

do controle do cidadão alavancas da eficácia dessas organizações, prevê instituições

menos hierarquizadas, com alto grau de envolvimento de todos os servidores. O autor

aponta para a necessidade de investimentos na capacitação dos profissionais

pertencentes ao núcleo estratégico para o desenvolvimento de competências mais

adequadas a esse modelo administrativo, como a da regulação, da contratualização, da

negociação, tornando-os mais capazes de integrar conhecimentos diversos que permitam

escolhas estratégicas e eficientes.

Por outro lado, Ferlie (1999: 25) refere que as teorias econômicas que circundam

a idéia da nova administração pública impulsionaram para a redução do papel do Estado

e que tiveram como reação, julgada como necessária, a redução de “desperdícios”3, e

alguns dos mecanismos seriam o downsizing4 e as terceirizações.

Em síntese, das reformas administrativas ocorridas no Brasil, a primeira foi nos

anos 30, na era Vargas, onde representou o processo de construção do estado

desenvolvimentista nacional e demandou a adequação das estruturas administrativas

para o exercício do poder centralizador e organizador dos interesses da sociedade.

Importantes instrumentos de viabilidade de políticas sociais da previdência social,

trabalhista, econômica, fiscal, entre outras foram criadas. A segunda reforma, ocorrida

3 Destaque nosso. Atentamos para o fato de que na saúde, o que pode, por ventura, ser considerado desperdício e por isso ter sofrido redução contribuiu para a desqualificação da assistência a saúde. 4 Representa uma estratégia reativa e defensiva ou pro ativa e antecipatória que impacta inevitavelmente no tamanho da força de trabalho da empresa, custos, processos de trabalho, forma organizacional e a cultura. (Gandolfi e Neck, 2007: 19; Felix e Rabago, 2007: 64 ).

Page 37: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

35

nos anos 60, originou-se a partir do Decreto-lei 200/67 que dispôs sobre a organização

da Administração Federal e estabeleceu diretrizes para a Reforma Administrativa. Esta

proporcionou a flexibilização da administração pública e viabilizou a presença do

Estado na área econômica e rompeu com entraves burocráticos que limitavam a

expansão do capital associado (Pierantoni, 2001: 343). Ou seja, a possibilidade da

realização de terceirizações na administração pública não é uma novidade, e isso foi

adquirido através do referido Decreto.

A mesma autora refere que a partir da década de 80 as reformas do Estado

ocorreram de forma incremental e segmentada no governo Itamar Franco, e no governo

Fernando Henrique Cardoso as discussões da reforma tornaram-se mais articuladas,

com o objetivo de inserção do país no mercado internacional. Por outro lado, o

enfraquecimento do poder dos sindicatos, o avanço da terceirização e a mudança das

formas tradicionais de negociação salarial coletiva para as formas de recompensa e

avaliação baseada em contratos e desempenhos impulsionaram os processos de

mudança da gestão do setor público, onde durante as reformas tinham o objetivo de

adaptação do setor a uma nova economia política (Pierantoni, 2001: 343).

Para Martins (1997: 53) a dicotomização entre política e administração também

representa outra característica da modernização da administração publica brasileira, e

em sua trajetória modernizante representa a tentativa de substituir a administração

patrimonial pela burocrática. Porém esta tem sido um processo descontínuo e

contraditório, impondo um caráter dissociativo às tentativas de implementação de uma

burocracia pública no Brasil. Já Pereira (1997: 41) refere que as reformas

administrativas são necessárias para tornar a administração pública mais moderna e

eficiente, e no período capitalista duas reformas estruturais podem ser consideradas: 1) a

substituição da Administração Patrimonial pela Administração Publica Burocrática que

no Brasil ocorreu em 1930; 2) a Administração Pública Gerencial, ou Nova

Administração Pública, que no Brasil ocorreu em 1995 com o Plano Diretor da Reforma

do Estado. Esta segunda possuindo, dentre outras características, a separação entre as

secretarias das funções de formulação de políticas e de execução das mesmas, e as

terceirizações das atividades auxiliares ou de apoio, que passaram a ser licitadas

competitivamente no mercado.

Page 38: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

36

“A Constituição Federal de 1988 instituiu o Regime Jurídico Único – RJU,

estabelecendo as novas regras que deveriam orientar a incorporação e manutenção dos

servidores públicos.”, que na esfera federal foi traduzida na Lei nº. 8.112/90 que dispõe

sobre o Regime Jurídico dos Servidores Civis da União, das Autarquias e das

Fundações Públicas Federais, e cada estado desenvolveu seu próprio processo de

organização do Regime Jurídico. No âmbito da contratação a administração pública é

regida pela lei nº. 8.666/93 (Brasil, 2007c: 21).

A questão é que nos antecedentes jurídicos e político-administrativos colocados

por Nogueira (2007b: 3) esperava-se que nos anos 1990 a gestão do SUS passasse a

regular as relações de trabalho conforme as normas constitucionais, com organização do

regime de trabalho dos servidores da saúde, suas carreiras e os processos de ingressos

por concursos. Porém o autor destaca que o que ocorreu durante o governo Collor foi

um clima político desfavorável à valorização e expansão da força de trabalho na

administração pública, com seus planos de demissão de pessoal e suas medidas de

diminuição do tamanho da máquina estatal. Paradoxalmente, o mesmo governo

sansiona a lei instituinte do Regime Jurídico Único trazendo um impacto importante por

espelhar a elaboração dos regimes de servidores estatutários nas demais esferas de

governo. Durante o governo seguinte (Fernando Henrique Cardoso), “o Plano de

Reforma Administrativa do Estado veio estabelecer novas formas jurídicas para o

trabalho no setor público, com determinação de novos formatos às instituições com as

quais o Estado pode se associar para cumprir seus objetivos de bem-estar”.

A Emenda Constitucional nº. 19/985, responsável pela reforma de Estado deste

período, aprovada em 1998, aponta para questões centradas nas relações de trabalho e

os contratos de gestão analisadas por Pierantoni (2001: 345), como:

• Fim da estabilidade do funcionário público, que podem ser demitidos por

critérios de insuficiência de desempenho ou por excedente da folha de

pagamento (acima de 60% em despesas com pessoal).

5 Caput: “ Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providencias”.

Page 39: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

37

• Substituição do regime dos servidores públicos civis da administração

direta, autarquias e fundações (Regime Jurídico Único) por formas

flexibilizadas de contratações alcançáveis pelo regime trabalhista

vigentes em todos os níveis da administração pública.

• Para critérios de remuneração, são definidos tetos e subtetos de

remuneração, com a supressão da palavra isonomia do texto

constitucional.

• Introdução da contratualização como forma de estabelecer objetivos

específicos de atuação. Os órgãos da administração pública podem firmar

contratos com o poder público estabelecendo, entre outras coisas, a

autonomia em sua área de atuação.

• Realocação dos servidores e bens públicos entre órgãos e entidades da

administração publica passa a ser permitida com a descentralização do

sistema.

É mantida a preocupação com a contenção dos gastos com pessoal na

administração pública no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, e

culminando com a polítca de contenção dos gastos governamentais, a Lei de

Responsabilidade Fiscal6 de 2000 foi instituida como diretriz legal para disciplinar todo

o conjunto de despesas das três esferas de governo, com regulação dos gastos com

pessoal dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Com relação aos dados do

período de 1991 a 2005 analisados pelo autor constata-se que, com excessão dos anos

de 2004 e 2005, onde o número de ingressados por concurso público foi superior ao de

aposentados, o número destes nos outros anos excede o de ingressados por concurso

afirmando o alcance dos objetivos da reforma administrativa pautada no modelo de

redução do Estado (Nogueira, 2007b: 3–4).

No setor saúde, portanto, é visto que as soluções apresentadas para viabilizar a

reforma do Estado, relacionadas com a área de recursos humanos introduziram

modificações generalizadas e substanciais com relação aos vínculos trabalhistas,

direitos, vantagens e carreiras do serviço público. Uma proliferação de soluções

individualizadas ocorreu, onde seguiu de um ponto de total adesão ao modelo (como o

6 Lei Complementar nº. 101/2000 – Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na Gestão fiscal e dá outras providências.

Page 40: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

38

estado da Bahia) à adoção de formas anteriormente existentes (como exemplo as

fundações de apoio e a terceirização). Essas soluções apresentadas na verdade estão sob

questionamentos relevantes, pois não possuem um caminho claro em busca da

comunhão do discurso desejado às práticas realizadas. E provocaram impactos

negativos para a área, com agravamento das deficiências acumuladas durante anos e

proliferação das diversas formas alternativas de vínculos contratuais com as diferentes

esferas públicas, com múltiplos modelos que necessitam de tempo para avaliação com

relação à efetividade de seus resultados (Pierantoni, 2001: 345).

Enfim, a reforma do Estado da década de 1990 ofereceu a disseminação da idéia

de que a flexibilização do emprego público e um rígido controle do governo sobre os

gastos solucionariam as questões do ajuste fiscal. Porém na verdade pode ser

considerado um engano, na opinião de Araújo et al (2006: 172 – 173), pois “a reforma

administrativa foi precipitada, truncada, traumática e, ao final, relevou-se inútil no

que se refere ao ajuste das contas públicas”. Esta provocou grande desestruturação do

serviço público, devido a prática da terceirização de forma indiscriminada, sem critério

e por muitas vezes ilegal. A repercussão disso é sentida no cotidiano pelos

trabalhadores, gestores de saúde e usuários nas formas de: descontinuidades e baixa

qualidade nos serviços prestados, multiempregos, alta rotatividade de profissionais,

gestão de vínculos diferenciados nos serviços, enfim, precarização do trabalho.

Page 41: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

39

CAPITULO IV – O TRABALHO EM SAÚDE E CONCEITOS PARA

COMPREENSÃO DA PRECARIZAÇÃO NO SUS

O trabalho em saúde no Sistema Único de Saúde

Para a abordagem sobre o trabalho em saúde, torna-se necessário uma breve

reflexão conceitual sobre as categorias trabalho e serviço, e assim trazemos alguns

conceitos adaptáveis à atualidade, tendo como intenção não a adoção de linhas teóricas

especificamente definidas, mas apenas a utilização destes como suporte para a

compreensão do que este seja hoje.

Para Marx (sem data), em O Capital, o trabalho é um processo em que o homem

e a natureza participam, onde o ser humano através do movimento das forças naturais de

seu corpo apropria-se dos recursos da natureza e a transforma, e com isso transforma-se

a si mesmo. Porém o que o difere do animal é que o ser humano antes de transformar

sua construção em realidade ele pode idealizá-la. Para este se tornar mercadoria, um

valor de troca lhe é atribuído, conforme a necessidade a ser satisfeita. Dentro de todo o

processo de trabalho, que vai da força de trabalho até o produto final, encontram-se: a

atividade adequada ao fim (o próprio trabalho), a matéria que se aplica a este (o objeto

de trabalho) e os meios (instrumental de trabalho). No capitalismo o comprador da força

de trabalho a consome, fazendo com quem a vende trabalhar.

O referencial teórico de Marx faz-se presente na análise da produção de bens,

porém, é relevante para este estudo incorporar as teorias que realizam análises mais

relacionadas à produção de serviços, como exemplo, Claus Offe, que traz contribuições

que exploram dimensões mais conjunturais e microscópicas do trabalho, especialmente

sobre as peculiaridades na categoria serviço.

A consideração do trabalho como pedra-de-torque da teoria social por alguns

teóricos envolve certos aspectos como: primeiro, a experiência sociológica do século

XIX que consolidou o estabelecimento e crescimento rápido quantitativo deste em sua

forma pura, ou seja, separado das outras atividades e esferas sociais. Isto se refere ao

Page 42: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

40

que Offe (1994: 168–169 ) discute em sua obra, o trabalho desvinculou-se da atividade

familiar e de lazer após a revolução industrial, ocorrendo a divisão entre propriedade

privada e trabalho assalariado. O trabalho de forma livre, separado dos vínculos feudais,

passa a ser regulado pelo mercado, e não mais orientado para uso concreto, mas

impulsionado pela fome.

No tempo mais atual, “o trabalho deixou de ser parte da vida para se tornar um

meio de prover a vida”, reduzido a uma abstração racional, revestido de anonimato, e

não considerando as experiências e os saberes de quem o executa, passando-se a

vinculá-lo ao dinheiro, à produtividade e ao desenvolvimento econômico. A noção

moderna sobre ele guarda a íntima relação com o tipo particular de racionalidade

econômica, desenvolvida a partir do capitalismo, ao se instaurar um mercado capitalista

onde se estabelece a relação capital e trabalho, ou seja, relação assalariada. Essa relação

– designada emprego – passou a desempenhar o papel de inserção dos indivíduos na

sociedade fazendo-os internalizarem o dever de trabalhar. A família e a escola os

preparam, desenvolvem o sentimento de pertencimento a uma comunidade de

produtores, e ao fim usufruem de uma aposentadoria como retribuição de uma vida

inteira de labor (Araujo et al, 2006: 163–165). Antunes (1995 e 1999) denomina essa

classe trabalhadora, hoje compreendida como homens e mulheres que vivem da venda

da sua força de trabalho, em sua maioria, assalariado, como a “classe-que-vive-do-

trabalho”. O mundo do trabalho, portanto, apresentou evoluções importantes em suas

configurações, distribuições, e, sobretudo nas relações entre empregados, trabalhadores

e a sociedade de um modo geral, com conseqüências que atualmente tem se tornado

desafio para todos, não excluindo o campo da saúde.

A complexidade do processo de trabalho em saúde parece aproximar-se da

produção industrial, apesar de que os dois setores possuem focos diferentes e bastante

específicos. Exercitar-se na compreensão dessa confluência e especificidade facilita o

entendimento sobre como as mudanças no mundo do trabalho acontecem em função da

reestruturação produtiva, da incorporação tecnológica, e como se processam as

transformações humanas nessa nova relação, em que ambos os setores são muito

tencionados (Brasil, 2007c: 20).

Page 43: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

41

O trabalho em saúde apresenta-se como um dos grandes setores que compõem a

divisão social do trabalho na economia capitalista, situado no setor terciário. E pelas

atividades inerentes à natureza deste setor é considerado serviço, ou seja, está ligado ao

objetivo de consumo individual e coletivo, configura-se como serviço de consumo.

Igual a outros serviços, a produção no campo da saúde neste século sofreu as

transformações impulsionadas pelo modo de produção capitalista, levando à

coletivização (cooperação), à crescente absorção de maquinário e tecnologia, e ao

assalariamento. Por influências decisivas do Estado e do capital, as relações laborais

dentro do mercado na saúde, seguem tanto quanto no mercado em geral, ou seja, na

relação de venda e compra da força de trabalho entre trabalhador e empregador,

estabelecido através de contrato ou acordo (Anselmi, 1993: 2–3). E mesmo em plena era

tecnológica, caracterizada pela redução da mão-de-obra, o setor saúde continua com a

característica de gerador de empregos (Machado, 2003). Neste setor, o processo de

incorporação de tecnologia promoveu como efeitos um aumento no custo da assistência

à saúde, a complexificação e segmentação na formação de recursos humanos em saúde,

e a criação de novas categorias de trabalho, profissionais e especialidades (Sayd, Vieira

Jr e Velandia, 1998: 167).

Com relação à capacidade de oferta de postos de trabalho, o setor de serviços de

saúde corresponde a uma grandeza superior aos outros campos. Segundo Machado e

Oliveira (2006) o número de empregos no setor no ano 2003 foi da ordem de dois

milhões no Brasil. E ainda a esse mercado são acrescidos anualmente 40.000

profissionais novos, entre médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos, nutricionistas

e fisioterapeutas. No ano de 2005, o número de empregos em saúde já apresenta

crescimento e atinge a ordem de 2.566.694, distribuídos em 56,4 % na esfera pública e

43,6 % na esfera privada (Brasil, 2007g), o que demonstra a superioridade do

envolvimento do serviço público. Esse contingencial refere-se ao quantitativo de

empregos formais no setor saúde, envolvendo o público e privado, e representa 11% do

quantitativo global de empregos formais no Brasil e possui uma estimativa de expansão

de 765 mil novos empregos entre os anos de 2008 e 2010. 7

7 Anotações realizadas durante a apresentação da mesa redonda: Emprego e regulação do trabalho no setor saúde e efeitos sobre os sistemas de atenção à saúde das populações. Coordenação - Célia Regina Pierantoni. Apresentadores - Luiz Augusto Facchini, Maria Helena Machado, Sábado Nicolau Girardi no I Simpósio de Condições de Trabalho e Saúde no SUS – 07 à 09 de novembro de 2007 - Belo Horizonte/MG.

Page 44: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

42

Conforme dito inicialmente, as características mercadológicas envolvidas no

desenvolvimento do trabalho também são incorporadas no decorrer do tempo ao campo

da saúde, acarretando conseqüências extremamente relevantes e que estão na pauta de

discussões de governantes, profissionais de saúde, assim como da população.

O trabalho em saúde tem sua origem nas ações envolvidas no cuidado e na

caridade ao próximo, e hoje envolve aspectos que o consideram como um exemplo de

processo de trabalho, igual a outro. Compartilha características semelhantes às que

ocorrem na indústria e setores da economia, com direcionalidade técnica, envolvendo

instrumentos e força de trabalho, como já colocados por Marx. Outro aspecto

relacionado é que se considera este um serviço, ou seja, seu produto é reflexivo, “gera

produtos não materiais”, e é realizado sobre pessoas, mantendo assim uma

subjetividade que dificulta a racionalização técnica e organizacional. (Offe, 1994: 137–

138; Nogueira, 2007a).

Uma questão para discussão sobre o trabalho em saúde está justamente entre o

conceito de processo de trabalho, interpretado como uma esquematização de ações de

acordo com seus meios e fins, e o de serviço, que não se resume à aplicação de regras

gerais, mas sim pressupõe a utilização de conhecimentos numa forma de inter-relação

participativa com o usuário (Offe, 1994; Nogueira, 2007a). Ou seja, a dificuldade da

racionalidade técnica envolvendo-o perpassa pela questão de que há uma necessidade

importante de entrosamento entre quem produz e para quem está se produzindo o

serviço. E que não há possibilidades de um resultado ser exatamente igual entre os

indivíduos para os quais as ações são dirigidas, mesmo seguindo na integra o processo

de trabalho padronizado.

Pires (apud Ribeiro, Pires e Blank, 2004) refere o trabalho em saúde como

essencial à vida humana, situado na esfera de produção não material, que se completa

no momento de sua realização. O produto é indissociável do processo de produção; é a

própria realização da atividade.

Peduzzi (2002: 84) aponta que o trabalho em saúde:

Page 45: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

43

“é um processo de transformação no qual o agente, através de suas ações, faz a finalidade social do próprio trabalho realizar-se. As ações são realizadas com base em um saber operante e em um dado modelo tecnológico, traduzindo projetos coletivos e individuais, pois o sujeito do trabalho, para além de portador de projetos e valores coletivos e/ou institucionais, tem projetos próprios que lhe permitem construir estratégias de adesão ou recusa aos primeiros” (grifo do autor).

Assim podemos dizer que a conformação histórica do trabalho em saúde,

seguindo os caminhos do capitalismo, se estruturou para atender às necessidades de

controle coletivo das doenças; e para recuperar a força de trabalho e atender à ampliação

dos direitos e necessidades de consumo das classes subalternas segundo Mendes

Gonçalves (apud Anselmi, 1993: 3). O que nos leva a pensar na construção dos modelos

propostos para a assistência à saúde. O trabalho em saúde contemporâneo possui

aspectos diversos que lhe confere uma configuração singular, fruto de diferentes

modelos tecnoassistenciais que perpassaram a história, principalmente no último século.

E modelos esses que desenham toda a estrutura, seus processos e resultados alcançados.

Atualmente uma das características importantes vem a ser o enfoque no trabalho

em equipes multiprofissionais, que despertam a criação de diversas estratégias para a

superação dos problemas e situações que surgem nesta nova forma de se relacionarem

os trabalhadores de saúde. A composição de suas equipes é de uma grande variedade e

heterogeneidade de componentes, com uma multiplicidade de atores de diversas

formações e responsabilidades que geram um aumento da complexidade da organização

dos serviços, oriundo da multiplicidade de processos de trabalho que cada um destes

trabalhadores desenvolve (Gomes, Pinheiro e Guizardi, 2005). E as diferentes fases do

processo de profissionalização de cada profissão envolvidas na composição dessas

equipes geram para o mercado de trabalho em saúde diferentes valorizações e posições

que juntamente com o modelo assistencial trazem repercussões nas estratégias

elaboradas para a Gestão do Trabalho.

Enquanto processo coletivo, o trabalho em saúde agrega esses diversos

profissionais de diferentes áreas técnicas, com a preservação de suas características

autônomas, mas também com graus diferentes de interdependências e

complementaridade, que ainda baseado nos mesmos autores acima referidos, não deve

Page 46: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

44

haver homogeneização das práticas nem muito menos a negação das diferenças entre as

profissões.

Dentro do espaço coletivo de produção de cuidados de saúde existem os

trabalhadores de saúde, segundo a NOB/RH – SUS (Brasil, 2005c: 31) “são todos

aqueles que realizam ações e exercem as suas atividades ou funções em serviços

públicos de saúde e em serviços de saúde privados, conveniados e contratados pelo

SUS”. E os profissionais de saúde, que segundo o Glossário Temático publicado pela

Secretaria de Gestão do Trabalho (2007i: 36–37), são considerados:

“os indivíduos que, estando ocupado ou não no setor da Saúde, detém formação profissional específica ou qualificação prática ou acadêmica para o desempenho das atividades ligadas diretamente ao cuidado ou às ações de saúde. A formação e/ou capacitação destes requer um conjunto de habilidades cognitivas, adquiridas com o intuito de atuar nesse setor. Considera-se também profissional de saúde o indivíduo com formação profissional específica que está desempregado ou que esteja procurando emprego. O Conselho Nacional de Saúde relaciona 14 categorias profissionais de nível superior, enquadradas nessa definição: assistente social, biólogo, biomédico, profissional de educação física, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, médico veterinário, nutricionista, odontólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional (Resolução Conselho Nacional de Saúde nº. 287, de 8 de outubro de 1998)”.

Dando continuidade à discussão, Furtado (1994: 349) afirma que “o modo de

produção capitalista, ou seja, o conjunto específico de relações sociais com fundamento

na generalização do trabalho assalariado” se conformou após longa transição em uma

forma dominante de organização social somente a partir da desagregação da base

produtiva feudal, produzindo não somente a sua reorganização como também a

redefinição de um conjunto de valores éticos e culturais.

Para este autor, essa nova estrutura ideológica do capitalismo, o assalariamento

do trabalho, trouxe três elementos importantes para a análise da evolução da

organização do trabalho em saúde. A primeira refere-se ao rompimento “com a velha

relação de servidão, pela qual o trabalhador era subordinado ao senhor feudal por um

pacto social e religioso de mútua dependência, que o obrigava a trabalhar somente

para este em suas terras ou em sua propriedade, sem qualquer mobilidade social ou

Page 47: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

45

geográfica, em troca de proteção”. Em segundo lugar, há uma “valorização social do

trabalho”, que surge do conceito capitalista de liberdade e igualdade de direitos e

oportunidades, que cumpre com o papel de obscurecer as diferenças entre classes dentro

desta nova forma de organização da sociedade. Em uma análise mais filosófica, essa

valorização do trabalho correspondeu a uma “valorização do corpo humano enquanto

veículo de trabalho”, onde passou a ser fundamental para o desenvolvimento da

Medicina e do trabalho em saúde. E por último “o processo de acumulação de capital,

baseado na expansão dos mercados e na produção em massa de mercadorias,

engendrou uma estrutura produtiva cuja principal característica é a divisão técnica do

trabalho”, deixando de ser executado integralmente pelo artesão e evoluindo num

sentido da coletividade (Furtado, 1994: 349 – 350).

Outros aspectos relevantes destacados por Medeiros e Rocha (2004: 407) sobre

o trabalho em saúde e que contribuem para torná-lo complexo, com exigências

permanentes de esforços para o desenvolvimento e manutenção das habilidades e

integração dos profissionais são: “as múltiplas características preservadas nos

processos de trabalho em saúde, como o trabalho artesão (procedimentos cirúrgicos), o

trabalho mecânico (screenings da população, campanhas de vacinação) e a automação

eletrônica (diagnostico por imagem e som)”.

Segundo Peduzzi (2001: 103, 107), em relação à divisão do trabalho em saúde,

“deve-se assinalar que, por um lado, introduz o fracionamento de um mesmo processo

de trabalho originário do qual outros trabalhos parcelares derivam. Por outro lado,

introduz os aspectos de complementaridade e de interdependência entre os trabalhos

especializados atinentes a uma mesma área de produção”. A prática médica neste caso

é entendida como “fundadora da técnica científica moderna na área da saúde e,

portanto, núcleo original do qual outros trabalhos especializados derivam”. Isso

impacta diretamente nas estratégias adotadas pela gestão do trabalho para resolução das

questões específicas de cada profissão dentro do campo da saúde.

Para Sayd, Vieira Jr. e Velandia (1998:167), os processos de trabalho em saúde

promovem uma coletivização das atividades, integrando várias áreas e níveis de

formação. Somando a isto a natureza de manufatura do processo de divisão técnica do

trabalho coletivo em saúde faz com que seja necessário o envolvimento de uma força de

Page 48: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

46

trabalho com alto grau de habilidade e familiarizada com suas tarefas. Assim esses

elementos conduzem para a racionalidade no trabalho em saúde, onde os diferentes

graus de complexidade tornam necessário dimensionar as atividades e organizar o

processo de trabalho envolvendo um menor número possível de profissionais de nível

superior que são responsáveis pela supervisão dos outros trabalhadores de nível menos

avançados. A correta proporção de trabalhadores entre estes níveis garantiria a

qualidade, a produtividade e um menor custo.

A organização e a divisão do trabalho em saúde, portanto, são definidas

conforme o objetivo final que se pretende alcançar, ou seja, remete-se ao modelo

assistencial proposto que hoje se compreende como o cuidado à saúde e não mais à cura

de doenças, direcionando toda a estrutura da gestão do trabalho para essa realidade.

Assim, a lógica de produção dos serviços de saúde sofreu e ainda sofre um processo

intenso de adequação de seus processos de trabalho, conformação das equipes

profissionais, reorganização dos espaços e fluxos para que se possa alcançar o objetivo

de promover a assistência à saúde da população, considerando o conceito ampliado de

saúde promulgado na Conferência de Alma Ata, em 1978.

Segundo Rodrigues e Araújo (2007:03), para se pensar neste novo modelo

assistencial em saúde é fundamental que ocorra um re-significado do processo de

trabalho, no qual sua finalidade deverá ser “a produção do cuidado, na perspectiva da

autonomização do sujeito, orientada pelo princípio da integralidade e requerendo,

como ferramentas, a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, o trabalho em equipe, a

humanização dos serviços e a criação de vínculos usuário/profissional/equipe de

saúde”.

Desta forma, o trabalho em saúde não mais pode se limitar somente na

responsabilidade pela produção da cura nos indivíduos. Exige que seja dividida entre os

profissionais e usuários a participação no cuidado, despertando o sentido de co-

responsabilidade pelas ações. E exige ainda que gestores desenvolvam o senso de

responsabilidade sobre a promoção de condições favoráveis para que a participação

desses atores seja possível.

Page 49: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

47

Fortalecendo o dito anteriormente, atualmente a proposta que se tem para o

trabalho coletivo no campo da saúde é aquele em equipe multiprofissional, o qual ocorre

no contexto das situações objetivas do trabalho, onde se “mantêm as relações

hierárquicas entre médicos e não-médicos e diferentes graus de subordinação, ao lado

da flexibilidade da divisão do trabalho e da autonomia técnica com interdependência”

(Peduzzi, 2001: 108).

Assim, o trabalho em saúde é originado no âmbito caritativo que seguindo o

curso do modo de produção se insere no contexto de atribuições de valores de troca,

tornando-se um produto mercadológico, passando a ser considerado serviço. É exercido

sobre o outro, mas que depende de sua interação com quem o oferece, tornando-o difícil

de padronizações e avaliações. A sua evolução tecnológica produziu efeitos sobre o

espaço onde é realizado, sobre os recursos necessários e sobre quem o realiza. No

mundo contemporâneo o valor do desenvolvimento do trabalho em equipe, com

enfoque transdisciplinar, visando o cuidado à saúde, desperta a necessidade de se

reorientar a formação e qualificação dos profissionais envolvidos, assim como as

estratégias de gestão e avaliação do trabalho.

Com relação ao cenário no sistema de saúde brasileiro, a expansão do mercado

de trabalho em saúde foi significativa, porém resguardou algumas de suas

especificidades como o caráter intensivo de seu trabalho, que apesar de intenso

dinamismo na incorporação tecnológica, não substituiu antigos métodos, e sim criou e

agregou novos tipos de serviços. A incorporação tecnológica na assistência à saúde não

ocasionou economia da força de trabalho, como ocorreu em outros setores. Permanece

empregando mais força de trabalho, caracterizando-se como pólo expressivo de

absorção de trabalhadores e geração de empregos (Anselmi, 1993: 4; Pierantoni, 2002;

Pires apud Peduzzi, 2002; Machado, 2003).

Machado (2005: 261; 2003: 230) comenta que a “cada novo conhecimento

registrado nas ciências da saúde são gerados inúmeros empregos, novas profissões,

ocupações e especialidades (...) que passam a compor as equipes de saúde” e “são,

progressivamente ampliadas”. Como exemplos destacados por Pierantoni (2002: 612),

pode-se “criar a expansão da Atenção Básica em Saúde, e demandas de atividades ou

Page 50: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

48

ocupações para o setor (agentes comunitários de saúde, cuidadores de jovens e

idosos)”.

A conformação do mercado de trabalho em saúde apresentada por Pierantoni

(2001:352) é de perfil heterogêneo, com concentração de profissionais, especialmente

os médicos, nos grandes centros e regiões (27 capitais do país concentram cerca de 60%

dos médicos em exercício), e desconcentração permanente em outras regiões( 40%

distribuídos nos 6.000 municípios restantes) e destaca que não pode ser alterada em

curto prazo8.

Não há mecanismos bem estruturados a não ser por incentivos salariais, mesmo

assim insuficientes que realmente estejam corrigindo essas diferenças de alocação de

recursos humanos entre as regiões do país. A oferta de postos de trabalho com salários

superiores oferecidos nos grandes centros pode ser um fator determinante para a adesão

do profissional de saúde aos sistemas de saúde localizados fora destes centros, porém

não corresponde à fixação do profissional nessas localidades (Pierantoni, 2001: 352).

A mesma autora lembra que a expansão da oferta de postos de trabalho no SUS

se deu especialmente para os níveis municipais, ocorrendo principalmente devido às

novas modalidades alternativas de vínculos e remuneração. E uma inflexão ocorreu na

contratação do setor público federal. Esta característica do mercado de trabalho

aconteceu em função das reformas do sistema de saúde e das modalidades de

flexibilização adotadas.

Diante do considerado sobre o trabalho em saúde denota-se o desafio e a

complexidade dos objetivos da Gestão do Trabalho em buscar uma correta adequação

quantitativa e qualitativa de trabalhadores, profissionais de saúde para a demanda real

da população brasileira.

Conceitos para compreensão da precarização do trabalho no SUS.

8 Baseado nos dados do Conselho Federal de Medicina de 1998.

Page 51: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

49

Como já discutido, o processo de implantação do SUS ampliou a oferta de

serviços de saúde especialmente no nível municipal, expandindo com isso postos de

trabalho, porém, através da flexibilização das relações destes muitas vezes

desconsiderando os direitos trabalhistas, o que resultou na precarização do trabalho.

Nogueira (1996) refere que existiam cerca de quize formas de vincular pessoal na

estrutura pública. Em estudo recente do CONASS sobre a Gestão do Trabalho em

Saúde (Brasil, 2007c) são descritos nove tipos de vinculação de trabalhadores na

administração pública, sendo quatro formas diretas e cinco indiretas. Sendo relevante

destacar que permanece a ocorrência em diversas situações de vinculação de pessoal por

vias precárias como através de bolsa de trabalho, contratos orais, informais.

A década de 1990 foi marcada por projeto de contra reforma do Estado, com a

gestão do trabalho no SUS pautada na estratégia de terceirização (Pereira, 2004: 374).

Atualmente, 30% dos 2,5 milhões de empregos do setor saúde estão sob contratos

irregulares, ou seja precários. (Machado e Oliveira, 2006; Brasil, 2007g e 2005e).

Porém este dado não retrata com fidedignidade a realidade, visto que a composição das

informações acerca dos trabalhadores, seus vínculos e remunerações basicamente

referem-se aos dados oficiais, pois em relação aos vínculos irregulares no SUS não há

mecanismos suficientes para agregá-los; apenas pesquisas realizadas sobre determinada

localidade trazem informações, porém restritas ao local em questão.

O propósito dessa discussão aborda questões conceituais, e torna-se importante

para compreensão dos aspectos que envolvem a precarização do trabalho em saúde,

visto que o cotidiano vivenciado pelos diversos atores (trabalhadores de saúde e

gestores) produziu o senso comum de que a flexibilização é sinônimo de precarização.

Assim, sendo resultado das transformações do mundo do trabalho, para

compreendê-la autores como Coriat (1998: 16–19), Cherchiglia (1999: 367) a

delimitaram em dois cenários: (1) Flexibilidade Interna e Gestão Institucionalizada da

Mobilidade (Europa), onde ocorrem inovações organizacionais e institucionais, a

repactuação da cooperação no trabalho, uma diminuição da jornada de trabalho e

renegociação salarial, sem perdas da proteção social; (2) Flexibilidade Externa e

Desregulamentação (América), onde ocorrem multiplicação das formas enfraquecidas

Page 52: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

50

de emprego, negação das conquistas sociais do trabalho, generalização dos contratos

temporários e abrandamento da legislação trabalhista e de proteção social.

Girardi, 1996 (apud Pereira, 2004: 373–374), a descreve em outros termos: 1)

Flexibilidade Defensiva, com a característica de ser a curtíssimo prazo, com negação

dos direitos trabalhistas, contratos sociais generalizados e abrandamento da legislação,

alinhada aos princípios neoliberalistas; 2) Flexibilidade Ofensiva, ocorre a médio e

longo prazo e através da via negocial-coletiva de repactuação da cooperação no

trabalho, e calcada nos princípios social-democratas.

A flexibilização do trabalho, principalmente a forma Americana, tem levado a

uma dualização do mercado de trabalho. De um lado ocorre a forma de flexibilidade

funcional, tendo o empregador maior capacidade de movimentação desse segmento em

diversas funções, mas as relações de trabalho são de forma segura, com assalariado

estável, bem remunerado e bem protegido. Do outro lado tem-se a flexibilidade

numérica, onde ocorre maior habilidade para alterar o tamanho da força de trabalho,

porém ele é instável, há maior diversidade contratual e pouca proteção social ao

trabalhador. O resultado da flexibilidade funcional e numérica, num contexto de

desregulação, propicia um aumento do pessoal temporário externo, desemprego

crescente, diminuição do núcleo dos empregados estáveis e aumento da precariedade e

exclusão (Piore e Sabel apud Cherchiglia, 1999: 368).

No Brasil, o mercado de trabalho, ao que parece, pode ter seguido pela

flexibilização Americana (Cherchiglia, 1999: 368), ou defensiva (Girardi, 1996 apud

Pereira, 2004: 374) , com desregulação das relações de trabalho, crescimento do

trabalho informal, generalização de contratos por tempo determinado e temporais,

subcontratações e terceirizações. Contudo, não devemos utilizar os conceitos acima

colocados de forma inflexível, visto que ao olharmos o trabalho no SUS também

encontramos, mesmo que em menor escala, a flexibilização europeia ou ofensiva,

especialmente quando observarmos que se permite aos profissionais de saúde (médicos,

enfermeiros, gerentes,...) a flexibilização funcional, transitando estes entre postos de

trabalhos diferentes, frequentemente entre as esferas de governo.

Page 53: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

51

Poderíamos afirmar, que a flexibilização, na forma que vem sendo empregada

no SUS, tem gerado insatisfação, diminuição do compromisso público e baixa estima do

trabalhador, fragmentação do trabalho e descontinuidade das ações de saúde; e por outro

lado, não se colocaram em prática ações consistentes de educação continuada, e muito

menos incentivos a programas de carreiras, cargos e salários para que se estimulassem

os servidores do setor (Cordeiro, 2001: 327).

De interesse para a Gestão do Trabalho, é que vem ocorrendo, não exclusivo ao

trabalho assistencial em saúde, a terceirização nas diversas partes das organizações,

especialmente as envolvidas com os serviços de limpeza, manutenção de equipamentos,

e outros. Mas esta forma, apesar de não serem livres de problemas, não é tão grave

quanto as terceirizações que vem ocorrendo nas áreas estratégicas ou operacionais das

organizações de saúde. E devemos pensar que aumentar a flexibilização das funções

estratégicas poderia fragilizar as diretrizes e missão institucional, desalinhar os

objetivos das ações de saúde do contexto do SUS, prejudicando, ao fim, a qualidade da

prestação da assistência à saúde. A prestação do cuidado à saúde oferecida pelos

profissionais de saúde é de caráter essencial, contínuo, integral e multidisciplinar, e

requer estabilidade na qualidade e quantidade da prestação do serviço.

A complexidade do trabalho em saúde, fruto da revolução tecnológica faz com

que se exija cada vez mais profissionais qualificados tecnicamente para o manuseio de

equipamentos sofisticados, de alta precisão e que requerem habilidade técnica. Muitas

vezes o mercado de trabalho não dispõe de trabalhadores qualificados em número

suficiente para o atendimento da demanda, assim os poucos que existem podem usufruir

da prerrogativa da uma combinação de várias modalidades de vínculo e reinvidicação de

uma relativa mobilidade. Não há uma adaptação à relação tradicional de emprego fixo.

Neste sentido a flexibilização, conforme discutido na Oficina de Trabalho realizada pela

ABRASCO, pode ser vista como um instrumento que venha garantir aos serviços uma

força de trabalho qualitativa e resolutivamente aos problemas de saúde da população

(ABRASCO, 2007).

Observa-se que há também um dilema na escolha dos profissionais de saúde em

permanecer com um único vínculo profissional por toda sua vida, optando pelo

multiemprego, inclusive entre os setores público e privado, com justificativa nas baixas

Page 54: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

52

remunerações e necessidades de composição salarial para o sustento do padrão de vida.

Portanto, a flexibilização do trabalho pode ter aspectos positivos e negativos tanto para

os trabalhadores quanto para as organizações de saúde. E esse dilema deve ser melhor

compreendido, pois esse contexto pode estar produzindo maiores conseqüências

negativas do que positivas para o trabalho em saúde no SUS. Autores como Nogueira

(1996) e Teixeira (1999) referem realmente que existem pontos de tensão entre a

estabilidade e flexibilidade nos empregos do setor, decorrente de toda a complexidade

envolvida atualmente no trabalho em saúde. Mas podemos ver, no entanto, que a

tendência no SUS para a adoção da flexibilização das relações de trabalho ocorre

também como forma de superação aos entraves jurídicos existentes, como exemplo a

Lei de Responsabilidade Fiscal.

Segundo estudo do ObservaRH - NESP/CEAM/UnB (2006: 3) a Lei de

Responsabilidade Fiscal, promulgada em 2000, decretou o acompanhamento

sistemático da despesa com pessoal nas três esferas de governo, através do Relatório de

Gestão Fiscal, quadrimestral encaminhado ao Ministério da Fazenda, e refere:

“Os gestores públicos estão cientes de que existem determinados limites legais para essas despesas e que tais limites podem impedir ou dificultar a expansão da força de trabalho do setor público. Contudo, poucos são os que têm conhecimento da proporção exata assumida pela despesa com pessoal no ente federativo em que atuam e, menos ainda, sabem acerca da sua posição relativamente a outros estados ou municípios”.

Os limites máximos da despesa de pessoal são calculados como percentuais da

Receita Corrente Líquida - RCL, de acordo com os seguintes critérios: na esfera federal

50%; na esfera estadual 60%; na esfera municipal 60%. Há a imposição de um limite

prudencial de 95 % destes percentuais, que caso haja extrapolação é vetado qualquer

título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual,

ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição – criação de cargo,

emprego ou função; alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa;

provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título,

ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores das

áreas de educação, saúde e segurança; contratação de hora extra, salvo no caso do

Page 55: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

53

disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei de

diretrizes orçamentárias (ObservaRH - NESP/CEAM/UnB, 2006).

A justificativa dos gestores de que a Lei de Responsabilidade Fiscal é

complicadora para a expansão da força de trabalho tem levado à instituição da

flexibilização, com diversas formas de vinculação de pessoal para cumprir as

necessidades de expansão da cobertura dos serviços de saúde, especialmente dos

programas como Saúde da Família, Agentes Comunitários e Serviço de Assistência

Móvel de Urgência - SAMU, por exemplo.

Para ampliação do debate sobre a precarização, então, é relevante destacar ao

máximo que a flexibilização não é sinônimo de trabalho precário, mas no caso brasileiro

acabou seguindo pelo rumo da precarização. Portanto, outra questão conceitual

relevante para que possamos tornar mais precisa nossa análise sobre a precariedade no

trabalho é identificarmos o que considera-se como trabalho precário, trabalho decente e

trabalho vulnerável (vulnerabilidade social do trabalhador). Segundo Nogueira, Baraldi

e Rodrigues (2004: 81, 83), “parte substantiva da força de trabalho do SUS não usufrui

de direitos trabalhistas, caracterizando uma situação absurda de precariedade criada

e mantida pela administração pública”(entre 30 e 50 % na época do estudo). E ao

buscarem conceituações de precariedade e informalidade do trabalho, encontraram-nos

definidos como ausência ou déficit de direitos de proteção social; instabilidade de

vínculo do ponto de vista do interesse do trabalhador; e associado a setores da economia

que criam vulnerabilidade social para os trabalhadores.

Os mesmo autores referem que fazem parte das discussões promovidas pela

Organização Internacional do Trabalho – OIT, e estão relacionados com a precariedade

e a irregularidade do trabalho, o trabalho decente e a vulnerabilidade social do

trabalhador. O primeiro fundamenta-se em quatro pilares: a promoção do emprego;

emprego com adequada proteção social; que o empregador respeite os principios

fundamentais e os direitos no trabalho; e que se realize com diálogo social. A

vulnerabilidade social é definida também pela OIT, como “um estado de elevada

exposição a determinados riscos ou incertezas, combinado com uma capacidade

diminuída para se proteger ou defender-se deles e para fazer frente a suas

conseqüências negativas”. Portanto trabalho vulnerável é sinônimo de trabalho

Page 56: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

54

informal, com baixa produtividade, em geral instável e de baixo salário e em setores

marginais (Nogueira, Baraldi e Rodrigues, 2004: 84).

Outra questão que deve ser considerada ao discutirmos a precarização do

trabalho e suas repercussões para a tomada de decisões na Gestão do Trabalho refere-se

a ilicitude do trabalho na administração pública. Esta corresponde à forma de inserção

do trabalhador para o provimento dos cargos na administração pública e que deve

respeitar os princípios legais pautados na Constituição Federal, ou seja, por meio de

concurso ou seleção pública. Este preceito constitucional repercute de forma complexa

no SUS, considerando que grande parte das situações de contratação de trabalhadores

seguem em ilicitude, e mesmo respeitando os mecanismos de proteção social somente

amplia o nível do desafio para a gestão do trabalho.

Araujo et al (2006) colocam que o emprego formal, regulado por dispositivos

legais e socialmente protegidos é possível por meio do vínculo conferido pela CLT e

pelo Regime Jurídico Único dos servidores públicos estatutários. Os autores colocam

que o Ministério da Saúde assume que a precariedade do trabalho está relacionada a

alguma irregularidade, que diz respeito a desobediência às normas vigentes do Direito

Administrativo e do Direito do Trabalho, sendo ponto comum entre essas a proteção

social ao trabalho. Ainda, do ponto de vista da administração pública, proteção social

não significa somente pleno gozo de direitos laborais. Existir a cobertura de direitos e

benefícios do trabalhador não é suficiente para considerá-lo regular. A exigência, por

exemplo, do concurso público pode não estar sendo observada, e no caso das

terceirizações dos serviços viabilizou as contratações sem a realização deste,

configurando o trabalho precário ao absorver os trabalhadores de forma irregular. Sem

vínculo com o Estado não há base legal.

Torna-se necessário também para este estudo compreender conceitualmente cada

forma de vinculação praticada no Brasil; assim apresentamos, baseado na publicação

recente do projeto entre CONASS e Ministério da Saúde, o Progestores nº. 5, a

descrição dos vínculos identificados ainda presentes no SUS. As formas de contratação

direta utilizadas pelos gestores do SUS são (Brasil, 2007c: 27–28):

Page 57: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

55

• Servidor Estatutário – vínculo com a administração do estado, ingresso

por concurso público, em Regime Jurídico Único.

• Servidor Celetista – mudança criada pela Emenda nº. 19/19989 que

estabelece que os empregados públicos ocupem empregos públicos

subordinados a CLT, contratos por prazo indeterminados para exercício

na administração direta, autárquica e fundacional.

• Regime Especial/Contratos Temporários – contrato temporário, sem

exigência de concurso, que atende às excepcionalidades de interesse

público (calamidades, epidemias, vacinação em massa,...) pautado nos

termos da Constituição Federal de 1988, art.37, IX e amparado pela Lei

nº. 8745/93, sendo regidos pela CLT e Regime Geral da Previdência

Social.

• Regime especial/cargos comissionados – não servidores efetivos,

nomeados livremente pelas autoridades para exercício de cargos

comissionados.

E as formas de contratação indireta utilizadas pelos gestores do SUS, seguindo a

mesma publicação, são (Brasil, 2007c: 27–31):

• Terceirização – a) intermediação de mão-de-obra/força de trabalho

terceirizada, com administração por um agente externo, porém com

comando do processo de trabalho pelo contratante na rede própria do

SUS; b) terceirização de serviços, podendo envolver contrato de

gestão/força de trabalho terceirizada, que fica sob comando do

contratado, o qual executa um conjunto de serviços especificados pelo

contratante em unidades assistenciais cedidas pelo contratante.

• Cooperativas – existentes em dois tipos, as que são fornecedores de

trabalho na prestação de serviços de saúde e as cooperativas que são

gerenciadores de cuidado, não só fornecendo a força de trabalho como

gerenciando uma ou mais unidades de saúde da rede do SUS. A primeira

está sob mira do Ministério Público e a segunda tem sido criticada pelos 9 Em discussão recente na Revista RET-SUS setembro 2007 sobre a Fundação Estatal de direito Privado, foi colocada a posição do Presidente do Conselho Nacional de Saúde que é contra o modelo de gestão pela sua inconstitucionalidade apoiado na liminar nº. 2135, de 02 de agosto de 2007 que suspende a redação da Emenda Constitucional nº. 19/1992, o que obriga a contratação pelo RJU.

Page 58: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

56

gestores do SUS, pois interferem gravemente na governabilidade dentro

do sistema.

• Trabalho vinculado indiretamente por meio de Organizações Sociais –

OS, obedecem a Lei nº. 9.637/98, e parte das mudanças legais da

Plataforma de Reforma Administrativa de Estado de 1995. Está dentro do

marco legal sob a forma de associações civis sem fins lucrativos.

Portanto estão fora da Administração Pública, como pessoas jurídicas de

direito privado. Sua qualificação é feita mediante decreto, como

Organizações Sociais em cada caso e a inovação da gestão pública se dá

ao defini-las como entes públicos não-estatais criados para absorver

atividades estatais publicizáveis (retiradas da administração direta) e

administrar bens e equipamentos do Estado, executa atividades de

interesse público no ensino, pesquisa científica e no desenvolvimento

tecnológico, na proteção e preservação do meio ambiente, na cultura e na

saúde, porém não de competência exclusiva do Estado.

• Contratos de gestão com Organizações Civis de Interesse Público –

Oscips, regulamentadas pela Lei nº. 9790/99, pode ser considerada como

uma Organização Não Governamental – ONG, integrantes do terceiro

setor e voltadas para atividades de interesse público. Portanto é uma

organização da sociedade civil que em parceria com o poder público

utilizará também recursos públicos para suas finalidades, dividindo os

encargos administrativos e de prestação de contas. Ou seja, são criadas

pela iniciativa privada, obtendo um certificado emitido pelo poder

público ao comprovar certos requisitos. Essa iniciativa tem sido

considerada pelos gestores, pelas possibilidades de maior flexibilidade

para a gestão de recursos humanos, já que em sua regulamentação está

prevista a disponibilização de força de trabalho para a execução de

programas de interesse público, enquadrados aí os serviços de saúde.

• Trabalho vinculado indiretamente por meio de entidades filantrópicas e

fundações privadas – constitucionalmente (artigo 199 da Constituição

Federal) são consideradas parceiras do SUS, podendo participar tanto em

convênios de delegação completa de serviços para atendimentos a

pacientes quanto na terceirização exclusiva da força de trabalho a favor

de programas (Ex.: Programa Saúde da Família - PSF), devendo ser

Page 59: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

57

submetida à apreciação e ao julgamento do Conselho Nacional de

Assistência Social – CNAS, com título renovável a cada três anos.

Os cargos comissionados, criados com base em autorização do poder legislativo,

são de caráter temporário e reservados às funções de confiança. Os contratos

temporários assim como aqueles feitos através de cooperativas podem abranger tanto

relações de trabalho por CLT, quanto informais, ireegulares juridicamente e

desprotegidas socialmente. Nos casos de prestação de serviço, o contrato é baseado na

Lei nº 8.745/1993 que prevê a contratação de pessoal mediante interesse público

excepcional (Araujo et al, 2006: 171).

Por fim, a fragilização das relações de trabalho no SUS tem comprometido a

dedicação dos trabalhadores com a ampliação da rotatividade e insatisfação profissional,

gerando um efeito grandiosamente deletério que dependerá da confluência dos

interesses entre gestores, trabalhadores e sociedade para o desenvolvimento de ações

concretas referentes à desprecarização.

Page 60: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

58

CAPÍTULO V – A GESTÃO DO TRABALHO NO SUS

A Gestão do Trabalho em Saúde – evolução conceitual

Compreender a Gestão do Trabalho em Saúde no âmbito do SUS requer a

elucidação de questões conceituais que traduzam a evolução deste tema e seus aspectos

gerenciais, ou seja, possibilitar a compreensão dos rumos eleitos como proposta para a

gestão e desenvolvimento dos trabalhadores da saúde, com vistas à obtenção da

qualidade da assistência à saúde da população nos preceitos constitucionais. Estas

questões estão pautadas no arcabouço teórico de três grandes ciências: Administração,

Economia Política e Sociologia.

A evolução conceitual do termo Gestão do Trabalho parte da Administração de

Recursos Humanos com origem na Ciência da Administração, como significado de

capacidade de gerenciar pessoas. Absorve, então, o conceito de força de trabalho da

Economia Política, ou seja, com o uso descritivo e analítico do mercado de trabalho. E

somente depois passa a ter um (re)significado ao somar a Sociologia do Trabalho,

incluindo este, o trabalhador como ser social e a sociedade, originando assim o termo

empregado atualmente (Pierantoni, Varella e França, 2004: 54).

Iniciando pelo conceito originado na Ciência da Administração, a concepção de

recursos humanos é veiculada como a de um trabalhador estático, desprovido da

capacidade de interagir-se na construção do processo de trabalho, e que pode ser

adquirido com habilidades específicas e/ou moldado eficazmente para a atuação

conforme necessidade de cada atividade de trabalho. Esta concepção é fortalecida

especialmente no período do crescimento industrial, com as teorias da Admistração

Científica (Frederick Taylor e Herry Fayol), visando maior eficência na produção, em

seguida valorizada pelo paradigma Fordista e ainda, estimulada no modelo Toytista.

No campo da saúde, a mesma concepção foi introduzida, justificada pela busca

de eficiência e toda a lógica estrutural colocada de forma a se obter mecanismos e meios

de registro e controle sobre os trabalhadores. A questão é que a estruturação de um

Page 61: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

59

sistema de administração de pessoal, especialmente na adiministração pública, baseou o

acompanhamento dos recursos humanos na lógica de atividades e processos

burocráticos somente para a alocação, remuneração, controle de férias, licenças e

avaliação da capacidade funcional do trabalhador. Essa lógica colocada para o sistema

de administração de pessoal imobiliza o esforço gerencial pela busca da eficiência e da

produtividade. Na verdade, ocorreu uma hipertrofia nessa função que confudiu-se com a

gestão de recursos humanos como um todo. E as funções de capacitação e negociação,

instituidas de forma equivocada no âmbito desse sistema de pessoal, reduziram-se a

procedimentos normatizados e incapazes de responder as demandas por qualificação

para o trabalho e equacionamento de conflitos. Santana (1996: 437).

Outra questão colocada por Vallemont (1996: 14–15), é que

“a valorização dos recursos humanos é o ponto de passagem obrigatório de toda modernização”. A gestão de recursos humanos não se limita somente à administração de pessoal, (...) é também a gestão provisional, a avaliação dos resultados, a avaliação dos potenciais, a orientação, a formação, a responsabilização, a valorização, o diálogo social, a organização do trabalho. Esta deve se difundir em todos os níveis da administração. E a administração de pessoal, no sentido jurídico e contábil do termo, exige especialização que justifica a existência de responsáveis específicos, as outras dimensões da função de gestão de recursos humanos devem ser apropriadas por todos os níveis da hierarquia. Constata-se ainda, muito freqüentemente, que os responsáveis hierárquicos dão uma atenção insuficiente aos problemas humanos e à parte viva da gestão do pessoal.”

Traduzindo e aproximando das questões que envolvem este estudo, os

trabalhadores de saúde não são apenas recursos gerenciáveis. Possuem expectativas,

valores, anseios e participação nas ações desenvolvidas nos serviços de saúde e

desconsiderar essas variáveis é não realizar a Gestão do Trabalho e assim apenas a

gestão de mais um recurso dentre os muitos existentes.

Dando continuidade acerca da evolução conceitual da Gestão do Trabalho, ao

discutirmos conceitualmente o termo força de trabalho, Anselmi (1993:05) compreende

como força de trabalho em saúde, “o conjunto de trabalhadores que direta ou

indiretamente estão vinculados à produção de serviços de saúde, onde através da

Page 62: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

60

relação de compra e venda dispõem de mercadoria que possui, qual seja: a capacidade

de trabalho”. Na opinião da autora, a capacidade transformadora da relação de compra

e venda da força de trabalho fornece a criação de riquezas e geram excedentes, e desta

forma adquirem expressão econômica na dinâmica da oferta e demanda no mercado de

trabalho em saúde.

Mais especificamente sobre a absorção do conceito de força de trabalho temos

sua origem instituída por Adam Smith, David Ricardo e especialmente de Karl Marx, no

séc. XIX. Em princípio seu uso limitava-se ao campo da Economia Política, porém a

expansão do termo atualmente corresponde a disciplinas da demografia moderna,

sociologia, antropologia e história, requerendo a integração entre estas de forma a obter

uma homogeneização conceitual e taxonômica básica e enriquecimento dos enfoques

peculiares de sua interação. Para a demografia, os problemas envolvidos são da ordem

do planejamento macroeconômico através da formulação do conceito de população

economicamente ativa, incorporando os indivíduos ocupados em atividades econômicas

e os momentaneamente desocupados, porém aptos e interessados a trabalhar. Ou seja,

seria considerado o potencial de trabalho existente em uma sociedade em um espaço de

tempo (Girardi, 1991: 37–38).

Este potencial de trabalho na visão da demografia pode ser descrito e

estratificado por variáveis como sexo, idade, renda, ocupação entre outras, com apoio da

estatística, mas, ocorre também a observação de que há uma distância entre a

disponibilidade da força de trabalho e a sua materialização, correspondentes à

disposição do trabalhador em aplicar sua capacidade física e intelectual às tarefas

executadas por ele. A economia e administração sabem que números podem dizer algo

sobre a força de trabalho, mas não tudo. Acerca da quantidade e qualidade do trabalho

desempenhado, dependem das condições físicas e psicológicas dos trabalhadores,

número de horas trabalhadas, destreza técnica. A sociologia refere-se a investigações de

questões acerca das correspondências entre a norma que esses números pretendem

instituir e os processos sócio-históricos concretos que são subjacentes (Girardi, 1991:

38).

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61

Com relação ao (re)significado conceitual no campo da Gestão do Trabalho,

pautado na concepção de Paim (apud Pereira, 2004, p. 365), compreende-se recursos

humanos como:

“força de trabalho na sua dupla dimensão ‘mercadoria’ específica com desvantagem estrutural e ator social capaz de fazer história – além de ‘sujeito-agente’ das práticas de saúde, eticamente comprometido com a vida e com a redução do sofrimento humano, implica a superação da idéia de meros insumos da função de produção. Já não bastam os enfoques da administração, do planejamento normativo, de teoria do capital humano. Seus problemas também não são redutíveis à gestão do trabalho, ao planejamento estratégico, à economia política”.

Neste caso, a gestão não deverá desarticular-se da função gestora como apenas

um departamento isolado, com funções técnicas. Essa articulação objetiva

especialmente favorecer a criação de condições de trabalho para a produção das

atividades com qualidade, devendo ser uma gestão que institua ações que respeite e

reconheça o valor do trabalhador e de seu trabalho. Santana (1996: 441) analisa que a

concepção do trabalho, portanto, como sinônimo da participação humana no processo

de produção coloca o seu agente não mais como o executor autômato na esteira de

produção, mas como um inventor e construtor de sua própria prática e com isso é

necessário repensar as bases econômicas e sociais do trabalho, as modalidades de

contratação, os sistemas de remuneração, os princípios éticos e em especial o reflexo e

implicações de tudo isso na formação e educação permanente dos trabalhadores.

Incorporam-se a partir deste entendimento as bases da Sociologia do Trabalho, com

estudos importantes para a compreensão do mesmo.

Segundo Abramo (2008: 3), os estudos sociológicos sobre o trabalho e os

trabalhadores têm como principal objetivo, além de desvendar as realidades do mundo

da produção, a elucidação de processos de produção e reprodução da própria sociedade.

E lembra ainda que Offe define o trabalho como o fato social principal, e assim foi

considerado como uma categoria - chave para compreender o mundo da produção,

assim como a própria sociedade.

Sorj (2000: 26) argumenta que a Sociologia do Trabalho encontra-se acuada

entre dois movimentos teóricos distintos: referente à validação dos modelos explicativos

Page 64: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

62

tradicionais, especialmente marxistas e a tese do “fim do trabalho” 10 deslocando o

interesse da sociologia para outras esferas da vida e adotando novos conceitos de

rentabilidade sociológica. Isto tem trazido como resultado a perda de seu espaço,

limitando-se muito a estudos de novas práticas de gerenciamento de recursos humanos

provocadas pela reestruturação do modo de produção, ficando mais próxima do tema de

interesse da Administração de empresas.

Abramo (2008) apresenta em seu estudo também essa dificuldade com relação à

abordagem sociológica do trabalho e que vem ocorrendo uma necessidade de se

reafirmar sua perspectiva sobre sua análise, em especial na América Latina. Refere

também que essa dificuldade fundamenta-se sobre as teses do “fim do trabalho” e da

reestruturação produtiva com forte crise do mundo do trabalho.

Contrária à idéia dessa referida tese, Sorj (2000) argumenta que este continua a

ser visto como um dos mais importantes determinantes das condições de vida das

pessoas. O sustento da maioria dos indivíduos continua a depender da venda de seu

tempo e habilidades no mercado, assim o principal campo de pesquisa da Sociologia do

Trabalho vem a ser o trabalho remunerado. E outros dois fenômenos importantes que

trouxe uma desestabilização no consenso ortodoxo da Sociologia do Trabalho foram as

contribuições dos estudos sobre gênero e as mudanças nas relações de trabalho.

Os estudos de gênero na sociologia do trabalho contribuem para a compreensão

a cerca das fronteiras entre o trabalho e não - trabalho, especialmente nas atividades

domésticas, visto que as encontramos como remuneradas e não remuneradas, como

analisa Sorj (2000: 29):

“ [...] as fronteiras entre o trabalho e o não-trabalho parecem menos demarcadas à medida que passamos a ver as atividades de lavar, passar, cozinhar, cuidar das crianças e de idosos e tantas outras tarefas domésticas como trabalho remunerado e não remunerado, embora não seja nada aleatório que o trabalho remunerado apareça, em geral, como mais ”valioso” ou mais “real” do que o outro. Rever as tradicionais distinções entre o trabalho e o não-trabalho torna-se, pois, imperioso para que a Sociologia possa sintonizar com as novas realidades produtivas do presente[...]”.

10 Sugerimos consultar a obra “O fim do trabalho” de Jeremy Rifkin para maiores aprofundamentos.

Page 65: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

63

Sugerimos agregar a essas discussões também a característica feminina do

trabalho em saúde, que vem se acentuando cada vez mais. E como debate acerca deste

fenômeno poderíamos, a título de análise, ressaltar os reflexos negativos da

flexibilização, em termos de desproteção social sobre a força de trabalho em saúde, em

especial considerando a característica de sua feminilização e as necessidades femininas

como a maternidade, por exemplo.

Outro argumento colocado por Sorj (2000: 29–31) refere-se à alteração do modo

de produção da sociedade. Duas mudanças são colocadas como destaque: a forte

expansão do setor de serviços e queda concomitante da participação das indústrias na

economia e a grande mudança no regime de empregos.

Com relação à primeira mudança, apesar do setor de serviços ter se tornado a

principal forma de ocupação, “as análises sociológicas não acompanharam como

deveriam essa nova realidade. Isto se deve, em grande parte, à contínua preferência

dos sociólogos por formas particulares de trabalho – aquelas associadas à produção de

bens tangíveis – e pelos ambientes onde elas se encontram – as fábricas.” A abordagem

de estudos sociológicos se verteu especialmente sobre as tarefas manuais e rotineiras do

setor de serviços, executadas por empregados situados em segmentos inferiores da

atividade, desconsiderando outras atividades que envolvam comportamentos relacionais

e interativos. Isto salientou uma representação do processo de trabalho de serviços

semelhante ao realizado na indústria (Sorj, 2000: 30).

Quanto à segunda mudança, a autora observa:

“em sentido macrossociológico, o emprego desempenhava a poderosa função de articular diferentes níveis do sistema social: as motivações individuais, as posições sociais e a reprodução ou integração sistêmica. A construção das identidades sociais, ao menos para os homens, tinha como principais determinantes a qualificação, a posição no emprego e as expectativas de carreira. A erosão das normas tradicionais de assalariamento, fundadas em identidades ocupacionais ou de classe, e a paulatina perda das funções protetoras do Estado têm como conseqüência o aumento da individualização na construção e valorização das próprias condições de empregabilidade. A constante incerteza, advinda da pluralidade de formas de contratos de trabalho, em relação à duração, ao tempo e à localização das atividades, associada à rápida obsolescência das habilidades adquiridas, requerem das

Page 66: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

64

pessoas intensos investimentos privados e permanente sintonia com as eventuais oportunidades que o mercado oferece” (Sorj, 2000: 32).

As colocações de Sorj (2000: 33) para o enfrentamento de uma nova agenda de

questões da Sociologia do Trabalho são amplas e complexas. Envolvem, portanto, como

situar as alterações do mundo do trabalho num quadro mais geral de mudanças sociais

na família, na cultura e na política; como a identidade das pessoas está senda afetada

pela flexibilidade do trabalho; que funções serão assumidas pelo sindicalismo num

contexto onde os contratos estão cada vez mais sendo negociados individualmente; e

por fim que impactos a constante perda social e trabalhista tem sobre a política, a

cidadania e a democracia.

A colaboração de Abramo (2008: 4–5) é importante quando resgata a

compreensão de teóricos latino americanos pioneiros em estudos sobre o tema das

relações entre o trabalho e a sociedade. Este diz que numa primeira trajetória estes

caracterizavam:

“a classe trabalhadora no que se refere à sua capacidade de organização e ação coletiva”, (...) e essa perspectiva analítica foi responsável pela produção de uma imagem de classe caracterizada principalmente pelas suas ausências, carências, e debilidade, construída em geral a partir de um procedimento de comparação com o paradigma de constituição da classe trabalhadora e do sindicalismo típico dos países centrais”. As virtudes destes primeiros estudos estão relacionadas ao tema da mudança social, e a estudos sobre “as relações existentes não apenas no interior das empresas, ou entre trabalhadores e sindicatos, mas também os fenômenos sociais mais amplos”.

Hoje com a reestruturação produtiva, as relações de trabalho se fragilizaram

através especialmente da flexibilização, e segundo o mesmo autor, “o que está em jogo

é o direito ao trabalho. O direito dos indivíduos de, através do trabalho, garantir uma

inserção social minimamente decente. O direito de, através do trabalho, ter acesso a

um mínimo de proteção social, a uma possibilidade de ser parte da sociedade, de ser

um membro reconhecido do pacto social que a sustenta” (Abramo 2008: 10).

Page 67: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

65

A incorporação da sociologia do trabalho, portanto, desencadeou a busca pela

compreensão deste como um complexo processo envolvendo um leque de questões

sobre o trabalhador, seu trabalho, o meio ao seu redor (a sociedade) e a capacidade para

desenvolvê-lo com segurança. Porém, tendo no campo da saúde a produção de serviços

com o envolvimento entre o trabalhador, o seu objeto de ação – o usuário, e o gestor, as

questões a serem consideradas terão maior complexidade e o limite entre as exigências e

a capacidade de produção do cuidado é tênue e frágil.

A NOB/RH-SUS considera a Gestão do Trabalho no SUS como:

“a gestão e a gerência de toda e qualquer relação de trabalho necessária ao funcionamento do Sistema, desde a prestação dos cuidados diretos à saúde dos seus usuários até as atividades - meio necessárias ao seu desenvolvimento. Inclui as ações de gestão/administração em geral do trabalho; de desenvolvimento do trabalhador para o SUS; de saúde ocupacional para o trabalhador do SUS; de controle social da Gestão do Trabalho no SUS, dentre outras”. (Brasil, 2005c: 31).

Atualmente, a Gestão do Trabalho no SUS em aspecto amplo propõe as

políticas de gestão e planejamento e regulação do trabalho em saúde11 e em aspecto

local, propõe a organização do trabalho nos estabelecimentos de saúde (Santana, 1999).

Considerando tanto o aspecto macro organizacional da Gestão do Trabalho, que

envolve a formulação de políticas de regulação para o mesmo, quanto seu aspecto micro

organizacional que ocorre para dentro das organizações de saúde, hoje este tem uma

característica híbrida. Formas de gestão com características flexíveis, descentralizadas,

participativas, baseadas em redes de funcionamento, com regimes laborais abertos, que

prezam incentivos por produção e resultados, ainda convive lado a lado com formas de

gestão burocráticas, centralizadas, departamentalizada e fragmentadas, orientadas pelo

controle técnico – gerencial científico – médico, com regimes laborais cerrados e

funções administrativas isoladas.

Esta característica híbrida representa a transição de uma burocracia tecnocrata

para uma burocracia gerencial proposta para a administração pública direcionada

11 Informações acessadas no site oficial da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde em 25 de setembro de 2006.

Page 68: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

66

também para a área da saúde. No entanto, como toda transição, principalmente a nível

macro político, dificuldades e adaptabilidades são previsíveis por se tratar de um

sistema de saúde que sofreu transformações ideológicas, políticas e gerenciais.

O tripé de sustentação – descentralização, flexibilidade e negociação – da nova

proposta para a gestão do trabalho faz com que sejam pensadas mudanças de regras e

procedimentos nas três esferas de gestão do SUS, e tendo em vista a autonomia destas

torna-se indispensável compatibilizá-las permanentemente. Por outro lado, este mesmo

tripé favorece a diversidade de soluções ou encaminhamentos para os problemas

situados num contexto de heterogeneidade. “A tensão entre diversidade e

compatibilização pode e deve ser explorada positivamente, no sentido de reduzir ou

atenuar os efeitos indesejáveis, ao invés de favorecer o agravamento de conflitos,

comprometer a produtividade e exacerbar os desperdícios relacionados ao trabalho

nos serviços de saúde” (Santana, 1996: 442).

As modificações na gestão do trabalho em saúde, portanto, discutidas por

Santana (1996: 441) só poderão ser compreendidas enquanto processos de dimensões

políticas, jurídicas e operacionais que dependem da participação deliberada e adequada

dos gestores do SUS, nas três esferas do governo.

Em meio às questões apresentadas acima, como já abordadas no primeiro

capítulo e novamente destacadas aqui, o contexto de mudanças ocorridas após os anos

70, especialmente a partir da crise do Estado, traduziu-se no estabelecimento dos

princípios liberais ou neoliberais baseados no mercado, tendo como conseqüências a

retirada do Estado como agente econômico, regulador, produtor e empregador; a

globalização através da internacionalização dos mercados; a revolução técnico-científica

e a inovação; e por fim, as inovações organizacionais (Novick, 1996).

Novick (1996: 33) aponta o surgimento de um novo modelo de organização com

ênfase na qualidade e no envolvimento do trabalhador, na quantidade e na qualidade da

produção. Verifica-se que o principal caminho percorrido foi o da descentralização,

privatização e desregulação do trabalho. Nota-se uma descentralização em geral da

política social em particular que tem aspectos positivos, como o envolvimento da

comunidade na promoção e na gestão dos serviços. Porém o mesmo não ocorre quanto à

Page 69: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

67

proteção social do trabalhador, que é devastadoramente colocada de lado, traduzindo em

efeitos negativos da flexibilização dos vínculos.

QUADRO 2 – Comparação dos modelos propostos para o sistema de relação trabalhista

SISTEMA DE RELAÇÕES TRABALHISTAS

Modelo anterior Modelo atual

Forma Centralizada Articulada/ descentralizada

Nível Segmento do setor Região, setor, empresa,

individual.

Sistema de categorias Sistema hierárquico Poucas categorias

Consignação dos postos Individual Mobilidade funcional /

polivalência

Alcance Setor privado Inclui o setor estatal

Critério para promoção Tempo de serviço Qualificações / avaliação do

desempenho

Fonte: Quintana, Campos e Novick (1996: 37).

Dussault (1992: 13), apoiado nas Teorias Organizacionais, caracteriza as

organizações produtoras de serviços de saúde como organizações profissionais que

possuem dependência em relação ao trabalho de especialistas, requerendo autonomia

prática. “Os serviços produzidos atendem a necessidades multidimensionais e são

difíceis de avaliar. Valores e julgamentos morais desempenham um papel significativo

nas decisões relativas à produção desses serviços”. Outra questão apontada por

Dussault, é que sendo organizações profissionais, possuem a necessidade de facilitar o

trabalho autônomo dos prestadores, porém ao mesmo tempo garantir que sejam

cumpridos os objetivos organizacionais, especialmente as organizações públicas, no

qual os objetivos fogem à lógica de mercado e se estruturam no cumprimento das

políticas públicas de saúde.

Para o autor, o tipo ideal de gestão para as organizações públicas é o tipo mais

consensual, colegiado, em oposição ao autoritário. Deve reconhecer o papel central dos

profissionais, e ao mesmo tempo desenvolver mecanismos que evitem efeitos não

Page 70: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

68

desejados dessa autonomia de pratica profissional e o corporativismo. Enfatiza a

definição de mecanismos de tomada de decisão que envolva os profissionais tanto no

desenvolvimento de objetivos e orientações em geral, quanto na avaliação dos

resultados, e que possam trabalhar não pelas ordens, mas pela responsabilidade

(Dussault, 1992: 15–16).

As prioridades dos gestores, segundo Dussault (1992: 16), circundam na

necessidade de propiciar condições favoráveis para as práticas desses profissionais,

onde o trabalho é multiprofissional, tais como garantir a tomada de decisão dentro das

equipes; garantir sua estabilidade destas, adaptarem-se ao mecanismo de avaliação

pessoal; e definir estratégias de formação profissional que facilitem a passagem do

exercício individual ao trabalho de equipe. Especialmente, as ações dos gestores

referem-se à capacidade de seleção e formação das unidades de produção. E

essencialmente, é importante que se tenha a possibilidade de definir as necessidades

organizacionais relacionadas aos recursos humanos, tais como a seleção, a avaliação e

eventualmente as transferências para que haja a adaptabilidade da organização a seu

ambiente.

Em outra obra, Dussault (1994: 485–486) coloca que a ineficiência e baixa

qualidade na produção em saúde circundam em torno de questões como falta de pessoal,

demanda excessiva, tipo de remuneração que incentiva equivocadamente, falta de

coordenação, métodos de trabalho que não permitem adaptações. A falta de estabilidade

dos profissionais, observada com freqüência nas formas de vínculos flexíveis, dificulta a

formação de equipes de trabalho eficientes, e em grupos multiprofissionais

desestabilizam as relações de confiança e integração que articulam as ações individuais.

Quintana, Campos, e Novick (1996: 3), referem que as mudanças econômicas,

políticas e sociais produziram impacto sobre a situação de saúde da população, e tem

tido implicações teóricas e práticas no campo dos recursos humanos em saúde,

ampliando e redefinindo a estrutura temática neste campo, incorporando questões

relacionadas aos processos de trabalho e sua gestão de serviços, concebendo o

trabalhador como sujeito social, unificado historicamente dentro de uma complexa

estrutura de práticas e técnicas sociais num determinado sistema de saúde. Ou seja,

incorporando as bases da sociologia do trabalho.

Page 71: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

69

Dentro deste contexto de mudanças, os mesmos autores (Quintana, Campos, e

Novick, 1996: 4) mencionam ainda um documento intergerencial sobre a reforma

setorial que enfatiza a necessidade de uma adequação quantitativa e qualitativa na

capacidade de formação de recursos humanos técnicos e gerenciais para atender à nova

realidade de um setor competitivo e modernizado, contemplando também novas formas

de contratação e remuneração, avaliação de desempenho, incentivando o aumento da

eficiência e qualidade da atenção. E ainda referem que os serviços de saúde são

organizações complexas que dependem da contribuição técnica e do comportamento dos

trabalhadores de saúde, sobre os quais influem complexos processos de

profissionalização, o contexto da organização e os recursos disponíveis. A gravidade é

que com isso: “En los últimos tiempos, las dificultades que tienen los servicios para

asegurar condiciones de trabajo adecuadas han generado conflictos y dificultades en la

atencíon a la población”.

A repercussão dessas mudanças referentes ao encolhimento do Estado, novas

formas gerenciais propostas, a descentralização e desregulação no Brasil, traz

modificações em toda a administração pública, e no campo da saúde a problemática

ainda perpassa sobre a questão do modelo discutido, proposto e implementado para a

assistência à saúde com exigências de ampliação do volume de trabalhadores para a

saúde, no âmbito municipal especialmente.

Nogueira (2007b: 2) faz uma análise referente aos problemas de gestão e

regulação do trabalho no SUS a partir de dois direitos adquiridos na constituição de

1988: a obrigatoriedade universal do concurso público e os preceitos do acesso

universal e de integralidade do atendimento no SUS. Durante os anos 1990 esperava-se

que as relações de trabalho seguissem conforme as normas constitucionais, porém o que

se apresentou durante o governo Collor foi justamente o inverso - desconstrução da

capacidade administrativa e reguladora do Estado sob a justificativa de excesso de

funcionários e de uma elite com salários abusivos. E no governo Fernando Henrique

Cardoso seguiu-se a mesma lógica de redução dos gastos públicos com pessoal.

O que Nogueira (2007b: 2–3) destaca é que “o governo Collor instaurou em

todo o país um clima político e ideológico desfavorável à valorização e expansão da

Page 72: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

70

força de trabalho na administração pública, o que seria condição indispensável ao

cumprimento da missão do SUS...”, que sobretudo requeria a expansão do quantitativo

de trabalhadores, especialmente no nível estadual e municipal. E outro agravante foi a

Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de disciplinar todo o conjunto de

despesas das três esferas de governo, acabou por instituir entraves para esta expansão,

que por fim se deu pela adoção de diversas formas de vinculação dos trabalhadores para

o atendimento das necessidades locais sem sofrer as conseqüências pelo extrapolamento

do limite fiscal de gasto com recursos humanos.

O cenário Internacional aponta desafios para a gestão do trabalho em saúde

como baixa remuneração, baixa motivação das equipes, iniqüidades distributivas da

força de trabalho, desempenho e responsabilidade (accountability) insatisfatórios dos

profissionais, migração entre países, baixa capacidade de preparação e fixação da força

de trabalho, sobrecarga no trabalho gerando aumento no absenteísmo (Pierantoni,

Varella e França, 2004: 54). E para o Brasil Arias et al (2006: 113) expõe “Os desafios

para a gestão do trabalho em saúde são muitos. Por isso, devem ser considerados dois

referenciais básicos para análise atual: a gravidade da crise de inoperância dos

serviços de saúde ante o volume e as exigências das demandas sociais, e a fragilidade

dos paradigmas administrativos em uso nas organizações.”

O papel dos gestores do SUS no campo da Gestão do Trabalho toma dimensões

importantes, especialmente após as reformas do Estado e Sanitária, por envolver um

universo complexo de um mercado de trabalho imerso em conflitos de interesse, de

desajustes entre a formação e oferta de emprego, de uma diversidade de soluções

instituidas nos diversos contexto do país, e mais, a inserção de novos atores apartir do

desenvolvimento das instâncias coletivas de gestão.

O Estado, por ser provedor de serviços saúde, organiza a estrutura de produção e

oferta destes por meio da administração direta e indireta, e assim deve desempenhar as

funções que concernem a qualquer organização prestadora de serviço, como apresenta

Santana (1996: 436), tais como, a contratação de trabalhadores disponíveis no mercado

de trabalho; adoção de procedimentos e obediência a mandamentos legais na

manutenção de registros e na efetuação de controles com vistas ao cumprimento dos

deveres e obrigações de forma recírpoca no estabelecimento do contrato; previsão de

Page 73: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

71

mecanismos de estímulos para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de conhecimentos

e habilidades para o desempenho das atribuições ou funções previstas na contratação; e

participação nos processos de negociação que tenham o objetivo de superar ou resolver

conflitos inerentes às relações de trabalho.

O que se propõe é a Gestão do Trabalho nas instituições públicas participantes

do SUS com adoção de um modelo com base na descentralização, na flexiblidade e na

negociação. E essa proposta requer o desenvovimento de compreensões e habilidades

por parte dos gestores que perpassam pela ideologia do trabalhador da saúde como um

ator social em seu trabalho, e mais, que possam se apropriar do conhecimento de

tecnologias que confluam para a gestão pautada neste modelo proposto, sem perdas ou

ilicitudes para todas as partes envolvidas.

Dussault (1992: 17) refere que gerir possui dimensões científicas, técnicas, e

artísticas, pois necessita da intuição, empatia, visão, imaginação, e também envolve

conhecimentos das disciplinas que estudam os processos administrativos, usa métodos e

instrumentos formais, e não precisa ser praticada por indivíduos com vocação inata. A

questão colocada pelo autor é se seria possível formar dirigentes com esse perfil, visto

que intuição, empatia, visão e imaginação são quesitos colocados como ideais.

Na realidade, as atividades relacionadas à gestão na saúde têm sido exercidas

tradicionalmente por profissionais escolhidos por outros quesitos que não são a

habilidade gerencial, a capacidade gestora e a profissionalização em gerência. A

necessidade de iniciativas de fortalecimento das habilidades no campo da gestão em

saúde tem sido por diversas vezes colocada, somada a outras, como ponto crucial para a

Gestão do Trabalho no SUS. E o que vemos no SUS, apresentado durante a 3ª

Conferência de Gestão do Trabalho em 2006 é:

“A gestão e a regulação do trabalho no SUS foram concebidas, em grande parte, de forma empírica e burocratizada, sem o devido entendimento das questões jurídicas, sociológicas e éticas envolvidas nessa questão, o que faz aumentar ainda mais o grau de conflitos na área, que, por si só, costuma ser bastante elevado. Por isto, alguns balizamentos políticos deverão ser estabelecidos para essa área, como, por exemplo, os contidos no Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no SUS e na Proposta de Elaboração

Page 74: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

72

das Diretrizes de Plano de Cargos, Carreiras e Salários para o SUS” (Arias et al, 2006: 113).

Das políticas de Recursos Humanos à Gestão do Trabalho no SUS.

Analisar as propostas que vêm sendo discutidas para a Gestão do trabalho em

saúde no SUS nos traz a encomenda de uma visita à cronologia das políticas

desenvolvidas para o campo da Gestão do Trabalho no Brasil, destacando os principais

momentos da história. De forma resumida, Machado et al (apud Machado, 2005: 276–

278) apresentam cinco momentos das políticas de Gestão do Trabalho, sistematizados

no quadro abaixo:

QUADRO 3 – Cronologia das políticas de Gestão do Trabalho em

Saúde no Brasil

Periodo Contexto da Política de Saúde Características

1967-1974

Período de assistência previdenciária, desenvolvida pelas caixas de assistencia.

Incentivo à formação profissional de nível superior principalmente; Estratégia de expansão dos empregos no setor privado especialmente através do financiamento público; Incremento da contratação de médicos e atendentes de enfermagem com reforço a bipolaridade médico/atendente; Incentivo a hospitalização /especialização da assistência à saúde.

1975-1986

Unificação das Caixas de assistencia previdenciária - INAMPS

1975-1984 – dispositivos institucionais para reverção do quadro existente; 1984 – 1986 – aumento da participação do setor público na oferta de serviços ambulatoriais e hospitalares; Aumento da formação do pessoal técnico e sua incorporação das equipes de saúde; Aumento de pessoal atuante da rede ambulatorial.

1987- ... Movimento de Reforma Sanitária. Criação do SUS após a Constituição Federal de 1988.

Mundanças estruturais no sentido da Reforma Sanitária marcada pelo processo de descentralização da assistência, e consequentemente dos recursos humanos atuantes; Reversão do quadro de pessoal concentrado na esfera federal para a municipal.

1990- ... Processo de implantação do SUS pautado nos princípios da reforma sanitária.

Inversão da lógica dos recursos humanos como peça-chave para a consolidação do SUS, preconizada na reforma Sanitária devido à adoção dos preceitos neoliberais da Reforma do Estado.

2003- ... Avanço do processo de implantação do SUS, com enfase na descentralização do sistema.

Retorno aos princípios da saúde como um bem público assim como os trabalhadores deste setor; Mudança positiva nas políticas de recursos humanos acompanhada pela criação da Secrtaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.

Fonte: Elaboração própria com base em Machado (2005: 276–278).

Page 75: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

73

Segundo Sayd, Vieira Jr e Velândia (1998: 188), “as discussões, travadas a

partir da redemocratização do país, elevaram a questão do dimensionamento e

desempenho do trabalho em saúde, da mera disfução da força de trabalho para um

problema crítico de ausências de políticas de recursos humanos”, como tentativa de

superar o sentido quantitativo, econômico e estritamente produtivo no serviços de

saúde.

Nos registros dos Grupos de Trabalho de Recursos Humanos da Comissão

Nacional de Reforma Sanitária, Sayd, Vieira e Velândia (1998: 189) destacam que

muitos problemas desta área somente possuiriam soluções através de mudanças no

Estado e na sociedade como um todo. Como exemplo, “o desafio de promover a

isonomia no serviço público, quando existem inúmeras barreiras jurídicas que

inviabilizam qualquer intervenção efetiva sobre as desigualdades de direitos e

benefícios presentes entre as várias classes de servidores da área de saúde pública”.

As questões relacionadas aos trabalhadores da saúde já eram abordadas desde a

4ª Conferência Nacional de Saúde, mas foi após a 8ª Conferência que discussões

tiveram uma política de desenvolvimento, iniciando-se um delineamento da política de

recursos humanos em saúde, com o debate das questões que repercutem negativamente

no nosso quadro atual de Gestão do Trabalho em saúde, como a remuneração, isonomia

salarial, estabilidade e admissão foram realizados. E neste sentido foi realizada a I

Conferência Nacional de Recursos Humanos em saúde, no mesmo ano. Em 1993,

realizava-se a II Conferência Nacional de Recursos Humanos em saúde. Já a 3ª

Conferência, entitulou-se Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na

Saúde, realizada em 2006 (Ferreira e Moura, 2006: 19).

Segundo Machado (apud Machado, 2005: 275–276), o marco das políticas de

Recursos Humanos ocorreu com a 8º Conferência Nacional de Saúde, onde se colocou a

discussão e sistematização das principais propostas para a área, entre elas:

• remuneração condigna e isonomia salarial entre as mesmas categorias

profissionais nas três esferas do governo, com o estabelecimento do

Planos de Carreiras, Cargos e Salários;

• capacitação e reciclagem pernamentes;

Page 76: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

74

• admissão através de concurso público;

• estabilidade de emprego;

• composição multiprofissional das equipes conforme as necessidades

regionais e em consonância com os critérios de cobertura assistencial;

• compromisso dos servidores com os usuários;

• cumprimento da carga horária constratual e gratificação à dedicação

exclusiva;

• direito à greve e sindicalizção dos profissionais de saúde;

• formação profissional integrada ao sistema de saúde regionalizado e

hierarquizado;

• inclusão no currículo de ensino em saúde das práticas alternativas e

incorporação dos agemtes populares de saúde para os cuidados primários

e educação para a saúde.

Na I Conferência Nacional de Recursos Humanos em saúde, realizada em 1986,

todas essas propostas se agruparam em três temas: Valorização do rofissional,

Preparação de Recursos Humanos e Compromisso ocial – nova ética para os

trabalhadores (Machado, 2005: 276). Em seu relatório final encontramos seus temas

divididos em cinco pontos: Valorização do profissional; Preparação de Recursos

Humanos; Orgãos de Desenvolvimento de Recursos Humanos; A organização dos

trabalhadores de saúde; e A relação dos trabalhadores de saúde com os usuários do

sistema (Brasil, 1986).

As questões apresentadas nas discussões desta primeira conferência envolveram

temas que ainda hoje estão em pauta, como a desigualdade nas condições de inserção no

mercado de trabalho, a distribuição geográfico-espacial dos recursos humanos, a

composição das equipes de saúde, a valorização do profissional e a formação de

recursos humanos (Sayd, Vieira Jr e Velandia, 1998: 189).

A II Conferência Nacional de Recursos Humanos em Saúde, realizada em 1993,

reforça as questões discutidas na I Conferência e apresenta como tema principal, “Os

desafios éticos na Política de Recursos Humanos frente às necessidade de saúde”,

aspecto representado por dois pontos de cruzamento de dois grupos de questões que

Page 77: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

75

polarizaram o debate nesta conferência. O primeiro eixo comporta as questões situadas

entre as necessidades de saúde e as formas de organização dos serviços voltados para

seu atendimento, constituindo na verdade, o pano de fundo de toda a discussão da

política e técnica do objeto específico da conferência. O segundo eixo temático

delimita-se em dois conjuntos de questões: as relacionadas ao trabalho no processo de

produção de serviços de saúde, e aquelas que dizem respeito à preparação dos agentes

do setor saúde (Brasil, 1993a: 7).

É importante destacar que a utilização dos termos referentes ao tratamento dos

trabalhadores de saúde vem sendo empregados evolutivamente nas conferências

nacionais de saúde segundo a própria evolução concentual desta área, ou seja, até a

primeira Conferência Nacional de Saúde utilizava-se para esse tratamento o termo

pessoal, depois a seguir recursos humanos em saúde. Já na II Conferência de Recursos

Humanos em sáude, admitiu-se as bases conceituais da sociologia e da economia,

quando considerou-se:

“o campo da gestão do trabalho nos serviços de saúde, visto como o espaço de regulação das relações de trabalho, em suas dimensões jurídicas, sociais e técnicas. Essa área temática engloba extensa variedade de tópicos, dentre os quais a Conferência deverá ressaltar a negociação coletiva do trabalho, as formas e os padrões de remuneração, a estabilidae, a jornada do trabalho.” (Brasil, 1993a: 8)

Em 1996, durante a 10ª Conferência Nacional de Saúde, foram elaborados os

“Princípios e Diretrizes para Gestão do Trabalho no SUS”, que em 1998 tornou-se a

NOB/RH-SUS após discussões na Oficina Nacional de Trabalho sobre Recursos

Humanos para o SUS”, que aconteceu em Goiânia. E em 2000, na 11ª Conferência esta

Norma Operacional foi revista e aprovada, estabelecendo assim maior coerência com as

diretrizes aprovadas nesta conferência, tornando-se documento - base para a política de

Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.

Três pressupostos básicos envolvem o controle social da Gestão do Trabalho no

SUS, desenvolvendo a sustentação de uma gestão participativa que conflui com o

modelo de gestão baseado no tripé descentralização – flexibilização – negociação: a

gestão participativa através dos fóruns de participação popular (Conselhos e

Page 78: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

76

Conferências); fóruns de deliberação das políticas de Gestão do Trabalho; e

implementação das discussões e deliberações sobre o impacto na qualidade das ações e

serviços de saúde de forma positiva (Brasil, 2005d).

Com base na deliberação da 12ª Conferência Nacional de Saúde, a 3ª

Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde foi realizada em

2006 com o objetivo de estabelecer diretrizes para a implementação da política

nacional, dando seguimento à aprovação dos Princípios e Diretrizes e da Política

Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. Assim, foram eixos de discussão

nesta conferência: a gestão do trabalho; a educação na saúde; a participação do

trabalhador na gestão e na negociação do trabalho e na gestão da educação na saúde; o

financiamento do trabalho e da educação na saúde pela União, estados e municípios; o

controle social na gestão do trabalho e na educação na saúde; e a produção e

incorporação de saberes a partir das práticas de trabalho, de gestão, de formação e de

participação no setor da saúde. Para a Gestão do Trabalho, três princípios foram

considerados nesta conferência: a participação, a descentralização e a autonomia, uma

vez que estão fortemente relacionados entre si e juntos constituem o pilar da gestão

democrática e participativa, e que se propõe a partir de então através de um agenda de

trabalho definida como política de Estado, e não de governo, envolvendo as diferentes

esferas de gestão, e visando a consolidação de mudanças consistentes para o sistema de

saúde e para o desenvolvimento da sociedade (Brasil, 2005d: 5–7).

A desprecarização dos vínculos de trabalho no SUS, os Planos de Carreira,

Cargos e Salarios para o SUS, a Negociação do Trabalho no SUS, a Regulação do

Trabalho em Saúde, o fortalecimento da capacidade gestores em Estados e Municípios e

o financiamento da gestão do trabalho constituiram os pontos da agenda de trabalho

para esta Conferência.

As formulações de políticas para a área de Gestão do Trabalho em Saúde e

Educação na Saúde foram conduzidas nestes fóruns descritos, e hoje culmina num

importante documento que é o Pacto de Gestão instituído em 2006 através da

publicação da Portaria/GM nº. 399, de 22 de fevereiro de 2006. As diretrizes

operacionais do Pacto de Gestão referentes à Gestão do Trabalho apontam a política de

Recursos Humanos para o SUS como um eixo estruturante com vista à valorização do

Page 79: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

77

trabalho e dos trabalhadores da saúde, o tratamento de conflitos, a humanização das

relações de trabalho, sendo os municípios, estados e União entes autônomos para suprir

suas necessidades de manutenção e expansão dos seus próprios quadros de

trabalhadores, e ao Ministério da Saúde cabe reformular diretrizes de cooperação

técnica para a gestão do trabalho no SUS (Brasil, 2006k).

Outras diretrizes apresentadas no Pacto de Gestão referem-se ao

desenvolvimento de estratégias de financiamento tripartite da política de reposição da

força de trabalho descentralizada; aos Planos de Carreira, Cargos e Salários como

instrumento que visa regular as relações de trabalho e o desenvolvimento do

trabalhador, assim como a consolidação da carreira como instrumento estratégico para a

política de recursos humanos em saúde; a promoção de relações de trabalho que sigam

as exigências do princípio da legalidade da ação do estado e de proteção dos direitos

associados ao trabalho; ao desenvolvimento de ações visando a adoção de vínculos de

trabalho que garantam os direitos sociais e previdenciários dos trabalhadores de saúde,

promovendo ações de adequação de vínculo onde houver necessidade nas três esferas de

governo, com apoio técnico e financeiro aos municípios pelos estados e União,

seguindo a legislação vigente; ao estímulo de processos de negociação entre gestores e

trabalhadores através da instalação das Mesas de Negociação junto às gestões estaduais

e municipais; e por último ao empenho pelas secretarias estaduais e municipais de saúde

para a criação ou fortalecimento de estruturas de recursos humanos para a indução de

mudanças tanto no campo da gestão do trabalho como na educação na saúde.

A estruturação e capacitação da Gestão do trabalho no SUS, assim como o

Sistema Gerencial de Informações são os componentes prioritários colocados neste

pacto.

O acompanhamento da trajetória do pensamento sobre a valorização do

profissional de saúde nas conferências e nas políticas traçadas até o momento demonstra

que ocorreu de fato um crescimento e consolidação das discussões sobre o tema, mas

por outro lado demonstra que os desafios ainda são grandes diante do contexto atual

para a área de Gestão do Trabalho em Educação na Saúde.

Page 80: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

78

A Gestão do Trabalho em Saúde no SUS e seus atores principais

O SUS, estruturado a partir de seus princípios e diretrizes, necessitou de

transformações em seus modelos de gestão administrativa, política e técnica,

conduzindo especialmente para formas descentralizadas e participativas, com a criação

de estruturas colegiadas envolvendo os três níveis de governo e que possibilitassem a

perfusão de seus ideais para as tomadas de decisões.

Junto a isto, todo o cenário envolvido descrito no capítulo inicial deste estudo

conduziu à necessidade de maior ênfase na estruturação do trabalho em saúde, de pensar

e agir de forma estratégica para a viabilização do SUS. E os desafios colocados

circulam em torno das condições de trabalho para os trabalhadores da saúde. Destacam-

se os salários desproporcionais e irrisórios, sem perspectivas de uma política de carreira,

cargos e salários, a precariedade dos vínculos constituídos através da flexibilização,

ausência de incentivos para a qualificação da força de trabalho, e outros pontos já

colocados anteriormente.

Dentre as três estruturas mais relevantes para a análise do tema em questão, que

possuem responsabilidade na construção e condução das políticas de Gestão do

Trabalho em saúde e demonstraram através do tempo contribuições efetivas no

desenvolvimento de ações estratégicas para a área, estão a Secretaria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde – Ministério da Saúde, CONASS e o CONASEMS. E

especialmente, destacamos que estes dois últimos possuem em suas estruturas núcleos

específicos relacionados à Gestão do Trabalho em Saúde: O Núcleo de Gestão do

trabalho e Educação na Saúde do CONASEMS e o Núcleo de Políticas de Recursos

Humanos em saúde do CONASS.

O Núcleo de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do CONASEMS

A estrutura do CONASEMS é extensa e complexa, pois envolve a participação

das diversas representatividades regionais. Sua composição, segundo seu Estatuto

(Brasil, 2007d), consta dos Associados e o Corpo técnico – profissional. Com relação

aos órgãos de direção e administração, apresenta a Assembléia Geral; o Conselho

Page 81: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

79

Nacional de Representantes Estaduais - CONARES; a Diretoria Executiva Nacional,

que inclui o Presidente, dois Vices - Presidentes, Diretores Administrativo e Financeiro,

de Comunicação Social, de Relações Institucionais e Parlamentares, de

Descentralização e Regionalização e mais dois Vices - Presidentes Regionais; e o

Conselho Fiscal. E com relação ao órgão de execução, apresenta a Secretaria Executiva.

Possui também uma Comissão Eleitoral, e ainda um Conselho Honorário, representado

pelos ex - presidentes do Conselho de Secretários Municipais de Saúde - COSEMS.

O CONASEMS possui como um de seus dez núcleos, o Núcleo de Gestão do

Trabalho e da Educação na Saúde que tem como objetivo debater as questões referentes

a este campo para subsidiar a sua diretoria e as secretarias municipais de saúde com as

produções e reflexões sobre o tema.

A composição deste núcleo é definida pelos Secretários Municipais de Saúde,

assessores e colaboradores indicados pelos diversos Conselhos de Secretários

Municipais de Saúde, e a Coordenação Política deste Núcleo é feita pelo Secretário

Extraordinário de Gestão do Trabalho e Educação da Saúde, e a Coordenação Técnica,

pela assessoria do CONASEMS.

A decisão do CONASEMS em mudar o nome do núcleo de Recursos Humanos

para Núcleo de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde nos aponta para a

incorporação dos conceitos da sociologia do trabalho demonstrando a compreensão do

trabalhador de saúde não somente como um recurso, mas também sujeito na construção

do trabalho em saúde para o SUS. O trabalhador trazendo, portanto, a visão ampliada da

Gestão do Trabalho com os pressupostos da centralidade do trabalho e valorização do

trabalhador em seu processo de trabalho.

As principais questões debatidas e encaminhadas para a Diretoria do

CONASEMS têm seguido a mesma pauta de discussões do CONASS e da Secretaria de

Gestão do Trabalho e Educação na Saúde como a Desprecarização do Trabalho no SUS;

Plano de Carreiras, Cargos e Salários do SUS; Mesa Nacional de Negociação

Permanente do SUS; Regulação do Trabalho em Saúde; Cedência de Pessoal; Jornada

de Trabalho, Estruturação da força de trabalho em saúde, Educação Permanente, entre

outros temas.

Page 82: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

80

O Núcleo de Políticas de Recursos Humanos em saúde do CONASS

A estrutura do CONASS, definida pelo seu estatuto, possui como órgãos

diretivos, a Assembléia Geral, a Diretoria e a Comissão Fiscal. Ele possui, também, um

Comitê Consultivo e como órgãos de assessoria técnica e administrativa, a Secretaria

Executiva e as Câmaras Técnicas (Brasil, 2007b).

As Câmaras técnicas, subordinadas à Secretaria Executiva, compõem um fórum

técnico das Secretarias Estaduais e do Distrito Federal com o propósito de promover a

discussão, estudos e análises de políticas de saúde assim como a proposição de normas.

Têm como finalidade assessorar tecnicamente a Secretaria Executiva, da Presidência e

da Assembléia Geral na formulação de políticas e estratégias específicas relativas à

gestão dos serviços e ações inerentes ao setor saúde, tanto quanto o desenvolvimento de

estudos, de intercâmbios de experiências e de proposição de normas. Entre as sete

Câmaras Técnicas, está a Câmara Técnica de Recursos Humanos, recentemente

denominada de Núcleo de Políticas de Recursos Humanos em Saúde do CONASS

(Brasil, 2003a: 28; Brasil, 2007b: 6).

A integração dessas Câmaras, segundo o Estatuto do CONASS (Brasil, 2007b:

7) “ocorre por meio de representação através de um técnico de cada SES, indicado

formalmente pelo Secretário e que o representa da respectiva área temática”. E cada

Câmara conta com um Coordenador Nacional, responsável pela condução das reuniões,

e mais quatro regionais.

O CONASS através de sua Câmara Técnica de Recursos Humanos tem

participado com destaque das discussões sobre a Gestão do Trabalho no SUS junto às

outras instâncias e isso permite a construção de inúmeras contribuições para o

desenvolvimento de estudos e análises sobre o tema, deixando um leque de publicações

com conteúdos densos e profundos.

A Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde no âmbito do Ministério

da Saúde

Page 83: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

81

A política atual de governo na área de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde está baseada na concepção de que há uma necessidade de se dispor de linhas e

diretrizes gerais para a ordenação das relações de trabalho no SUS, de forma que atenda

a uma conformidade com as normas jurídicas básicas e com os objetivos e critérios da

Política Nacional de Saúde. E sendo o Brasil um Estado Federativo, com autonomia dos

estados e municípios para o suprimento das necessidades de manutenção e expansão do

quadro próprio de trabalhadores de saúde, é colocado para o Ministério da Saúde o

papel de destaque na regulamentação e cooperação técnica de diversos aspectos da

gestão do trabalho no sistema (Arias et al, 2006g: 113).

Para a busca de respostas aos desafios e problemas referentes ao campo dos

recursos humanos em saúde no SUS, e em afinidade com o papel de regulamentação e

cooperação que lhe cabe, o Ministério da Saúde, em 2003 criou em sua estrutura a

Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, organizada em dois

departamentos, o Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde e o

Departamento de Gestão da Educação na Saúde, assumindo assim o seu papel de gestor

federal do SUS no campo da gestão do trabalho e da educação na saúde.

A Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, segundo o Decreto nº.

5.974/200612, tem como competências promover a ordenação da formação de recursos

humanos em saúde, bem como promover a articulação com os órgãos educacionais,

entidades sindicais e de fiscalização do exercício profissional, movimentos sociais e

entidades representativas da educação profissional, com vistas à formação,

desenvolvimento profissional e o trabalho no setor; ainda, promover a integração dos

setores de saúde e educação para o fortalecimento das instituições formadoras, elaborar

e propor políticas de formação e desenvolvimento profissional na área de saúde,

acompanhá-las e promover o desenvolvimento da Rede de Observatórios de Recursos

Humanos em Saúde - RORHS.

Ainda como sua competência, temos: planejar, coordenar e apoiar as atividades

que se referem ao trabalho e à educação na saúde, assim como organização da gestão do

trabalho e educação neste campo, a formulação de critérios de negociação e

12 Decreto que revoga o anterior de criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.

Page 84: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

82

estabelecimentos de parcerias entre gestores do SUS e o ordenamento das

responsabilidades entre as três esferas governamentais, bem como planejar e coordenar

as ações com vistas à integração e aperfeiçoamento da relação entre os gestores das três

esferas de governo do SUS no que se refere aos planos de formação, qualificação e

distribuição das ofertas de educação e trabalho neste setor, e também às ações

destinadas à promoção da participação dos trabalhadores do SUS na gestão dos serviços

e regulação das profissões, ações que visam à promoção da educação em saúde,

fortalecendo as iniciativas próprias do movimento popular no campo da Educação em

Saúde e gestão de políticas públicas, assim como a promoção de informações e

conhecimentos relativos ao direito e ao acesso às ações e serviços de saúde.

E por fim, a Secretaria de Gestão do Trabalho, mais ainda como sua

competência, deve fomentar a cooperação internacional, inclusive com instituição e

coordenação de fóruns de discussão, com vistas à solução de problemas relacionados à

formação, desenvolvimento profissional, gestão e regulação do trabalho em saúde, em

especial os que envolvam os paises vizinhos do continente americano, de línguas

portuguesas e os do hemisfério sul.

Ao Departamento de Gestão da Educação na Saúde cabe propor e formular

políticas relativas à formação, ao desenvolvimento profissional e à educação

permanente dos trabalhadores da saúde no SUS, tanto de nível técnico quanto superior,

através de atividades de apoio às instâncias de preparação profissional e a busca da

integração dos setores da Saúde e da Educação para o fortalecimento das instituições

formadoras, dentro do interesse do SUS e para a adequação da formação de

profissionais às necessidades de saúde da população. Outra ação deste departamento é

propor e buscar mecanismos de acreditação de escolas e programas educacionais, assim

como mecanismos de certificação de competências para que possam favorecer a

integração entre a gestão, formação, controle social e o ensino dentro do âmbito do

SUS.

Ao Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde cabe a

responsabilidade pela proposição, pelo incentivo, acompanhamento e elaboração de

políticas de gestão, planejamento e regulação do trabalho em saúde no âmbito nacional,

bem como pela negociação do trabalho junto aos segmentos do governo e dos

Page 85: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

83

trabalhadores. O principal objetivo é a estruturação da política de gestão do trabalho nas

três esferas de governo envolvendo os setores público e privado, contribuindo dessa

forma para a promoção da melhoria e humanização do atendimento ao usuário do SUS

(Brasil, 2005e: 5).

Este departamento é organizado em duas áreas, a Coordenação Geral da Gestão

do Trabalho em Saúde e a Coordenação Geral da Regulação e Negociação do Trabalho

em Saúde. Além disso, a Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS está

agregada na estrutura deste departamento muito em função dos objetivos e da própria

natureza da Mesa Nacional.

A função da Coordenação Geral da Gestão do Trabalho em Saúde é desenvolver

ações que promovam o (re)conhecimento da força de trabalho do SUS para seu melhor

dimensionamento, aproveitamento, distribuição e qualificação, auxiliando na resolução

de questões que envolvam a desprecarização, a modernização, profissionalização da

gestão do trabalho e a humanização de suas relações entre outras, através da formulação

de políticas e programas nacionais e regionais, proposição de estratégias de gestão,

colaboração, criação de mecanismos e instrumentos de pactuação aplicáveis entre as

demais esferas governamentais (Brasil, 2005e: 8–9).

A Coordenação Geral da Regulação e Negociação do Trabalho em Saúde possui

a função de promover ações que envolvem a regulação profissional no Brasil e países da

América Latina e Caribe, e a negociação permanente, através de levantamento de dados

e informações, emissão de pareceres técnicos, participação na Câmara de Regulação do

Trabalho em Saúde, intercâmbios entre governos e organismos nacionais e

internacionais, cooperação internacional para enfrentamento dos problemas envolvidos,

suporte técnico-administrativo na Mesa de Negociação Permanente do SUS, e

estabelecimento da relação com entidades representativas dos trabalhadores e

empregadores do SUS (Brasil, 2005e: 10–11).

Page 86: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

84

CAPÍTULO VI – CONTEXTO EMPÍRICO DO ESTUDO

O sistema de saúde brasileiro constituiu-se através de diversas passagens

históricas que vieram desenvolver a consolidação de ideais referentes a um modelo

assistencial que se estruturasse no conceito ampliado de saúde, e hoje conduz o processo

político e cultural neste campo. Passagens históricas como a criação das Caixas de

Assistência Previdenciária, o processo de expansão do aparelho estatal, assim como a

reforma sanitária e a implantação do SUS deixaram marcas diferenciais em nosso

sistema de saúde. Moldaram as características de um modelo hegemônico, médico -

curativista, preventista, e que depois veio a se tornar um desafio para a saúde pública

com a necessidade de reorientação para modelos alternativos, como as Ações

Programáticas (Schraiber, 1999), o Acolhimento (Cecílio, 1997) e Vigilância à Saúde

(Teixeira, Paim e Vilasbôas, 1998).

Na opinião de Feuerwerker, (2005: 491):

“o SUS vem conseguido superar obstáculos importantes em seu processo de implantação. Em tempos de políticas de redução do Estado e de desfinanciamento dos setores sociais, os serviços púbicos de saúde foram ampliados, cresceu o número de trabalhadores no setor”, a saúde chegou a praticamente a todos os municípios do país e, a duras penas, recentemente, se conseguiu assegurar recursos mínimos para o setor. Além disso, hoje em dia há um sistema descentralizado, que conta com mecanismos democráticos de funcionamento, que incluem instâncias de pactuação entre os gestores e mecanismos de controle social.”

Assim, é fato que atualmente a atenção à saúde no Brasil estrutura-se através de

princípios e diretrizes sustentadas pela Constituição de 1988 e seu leque de legislações,

orientando os gestores, profissionais e inclusive os usuários para práticas que visem

atender as necessidades de saúde da população com o direito universal de acesso, de

forma descentralizada, hierarquizada e regionalizada, enfocando a responsabilidade das

ações para a esfera municipal. A prioridade das ações de saúde volta-se para a

Page 87: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

85

reorientação da Atenção Básica, principalmente através do Programa Saúde da Família,

como política nacional.

Para compreender esses caminhos que levaram os trabalhadores de saúde ao

contexto que hoje se apresenta é necessário rever os diversos fatores envolvidos como o

trabalho dentre deste campo, a construção do modelo de assistência à saúde, as reformas

do Estado e do sistema de saúde e seus aportes teóricos que forneceram o alicerce para

as mudanças estruturais da administração pública. As transformações das relações de

trabalho focadas na flexibilização, na eficiência e na desregulação ocorridas no período

têm sua origem principalmente nas reformas de Estado que foram constituídas não

somente por influências da crise econômica, mas também por reflexos da economia

globalizada no setor público, amparadas em novos conceitos aplicados à administração

pública. Com relação à Gestão do Trabalho no SUS, o que temos hoje é uma condição

de precarização do trabalho por conseqüência destas múltiplas formas de vinculação dos

trabalhadores que necessitam ser estudadas e compreendidas.

Anselmi (1993: 5, 8) lembra que grupos de investigadores da Escola Nacional de

Sáude Pública na década de 80, com apoio da Organização PanAmericana de Saúde –

OPAS, do IBGE e do Ministério da Saúde desenvolveram estudos sobre a força de

trabalho com objetivo de diagnosticar o quantitativo de recursos humanos e os

determinantes de sua composição, distribuição e inserção institucional no mercado.

Somente após, ampliaram o debate para questões teóricas, conceituais e metodológicas.

A mesma autora afirma ainda sobre as dificuldades que essas investigações tiveram

devido principalmente à precariedade dos sistemas de informação, avaliação e controle

dos trabalhadores em saúde. Hoje essas dificuldades permanecem, e ainda são

agravadas pela informalidade do mercado de trabalho, composto de uma gama

acentuada de tipos de vínculos de trabalho e que necessitaria de uma elástica

composição dos diversos sistemas de informação existentes para captar a realidade atual

da força de trabalho em saúde.

Com a instituição da Rede de Observatórios de Recursos Humanos, através da

Portaria nº. 01/2004, o leque de pesquisas, estudos e avaliações sobre essa área

temática, nacional e internacionalmente, trouxeram excelentes contribuições para a

fundamentação das políticas do setor.

Page 88: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

86

Outra questão para o desenvolvimento deste estudo a qual devemos visualizar é

que o que temos em cena nestes anos de implantação do sistema de saúde brasileiro é

uma reconfiguração em sua estrutura, tanto da capacidade instalada, quanto dos postos

de trabalho oferecidos, e ainda da sua força de trabalho, e de como esta é remunerada.

Esta, apresentando com a sua expansão, inversões entre as proporções de

estabelecimentos hospitalares e ambulatoriais; entre as proporções de trabalhadores da

rede hospitalar e da rede básica de saúde, assim como entre as proporções de

trabalhadores entre as três esferas de governo, representando a fidelidade no

cumprimento dos princípios constitucionais de descentralização e ampliação do acesso a

bens e serviços de saúde. É sobre este contexto empírico que a Gestão do Trabalho em

saúde realiza suas análises para a implantação das políticas, estratégias e ações.

Com relação ao sistema de saúde brasileiro, devemos considerar que este se

configura em uma composição entre o setor público e privado. E ainda por perpassarem

por estes setores os trabalhadores de saúde responsáveis pela consolidação das políticas

de saúde, é de suma importância compreender sua dinâmica. Em especial porque, o

primeiro setor, com universalidade do acesso e financiamento garantido pelo Estado,

possui uma rede própria de estabelecimentos de saúde públicos, mas utiliza-se também

de estabelecimento da rede privada através da compra de serviços; o segundo, a

assistência à saúde complementar, possui acesso exclusivo aos seus segurados e utiliza-

se de rede própria privada, mas absorve também parte da força de trabalho, e que por

muitas vezes também trabalha no setor público. Segundo Santana (1996: 435), “as

funções dos gestores do SUS desdobram-se em duas vertentes: a gestão do trabalho no

âmbito das organizações governamentais prestadoras de serviços de saúde e na esfera

da regulação dos mercados de trabalho desse setor”. Por essa relação estreita devemos

observar a expansão considerando ambos os setores.

O contexto empírico enfrentado pela Gestão do Trabalho no SUS

Durante o período pós - implantação do SUS, a expansão da rede de serviços,

tanto no setor público quanto no privado, pode ser observada. O estudo realizado por

Moysés, Teixeira e Pereira (2006), baseado em dados do período de 1992 a 2002,

aponta a criação de mais 17.936 estabelecimentos de saúde (11.281 públicos e 6.655

Page 89: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

87

privados), representado uma taxa de crescimento de 36,1% (41,6% públicos e 29,5%

privados). A mudança do quantitativo de estabelecimentos em dez anos de 49.676,

sendo 54,5% público e 45,5% privado, para 67.612 unidades, sendo 56,6% público e

43,3% privado, demonstrou um superior crescimento, e, portanto investimento, do setor

público na saúde em detrimento do setor privado. Mas o que é relevante também no

estudo, ao se analisar os dados pelo tipo de atendimento, é que o investimento do setor

privado foi superior nos segmentos hospitalares e de apoio diagnóstico e terapia (65,1%

e 94,9%) e no setor público o principal investimento correspondeu ao segmento

ambulatorial, demonstrando a indução oferecida pelo governo para a reorientação do

modelo assistencial. As variações entre as regiões brasileiras puderam ser observadas,

com realce a concentração de estabelecimentos nas regiões Sudeste e Nordeste. Uma

das percepções que este estudo proporcionou foi realçar justamente a resposta às

induções do Ministério da Saúde com relação à ampliação da rede municipal, como por

exemplo, a ampliação do número de unidades básicas de saúde (de 33.578 para 46.705),

representado uma taxa de crescimento de 39,1%, com valorização nas regiões Centro-

Oeste, Nordeste e Norte. 13

Neste mesmo período a rede municipal passou a administrar um maior número

de estabelecimentos de saúde, não somente pela expansão, mas também pela

transferência de estabelecimento da rede estadual e federal para sua administração, no

movimento que reforça a descentralização do sistema (Moysés, Teixeira e Pereira,

2006: 13–14). Mas ampliar a gestão de estabelecimentos de saúde pela administração

municipal representou a necessidade de desenvolvimento de profissionais com maior

capacidade para esta atividade, o que infelizmente não ocorreu conforme mereceria a

questão. No conjunto de problemas enfrentados pelos gestores neste campo torna-se

hoje uma questão estratégica para a Gestão do Trabalho o investimento na capacidade

gerencial dos municípios e estados. Conforme coloca o CONASS (BRASIL, 2007c: 38)

é possível destacar questões estratégicas como:

“baixa capacidade gerencial, ausência de pessoal qualificado na área de gestão, desconhecimento sobre os princípios e as normas operacionais do SUS, a falta de conhecimento de gestores e trabalhadores sobre as bases técnicas e políticas do SUS, e a pouca

13 Em meio a este período (1998) o Piso da Atenção Básica foi instituído, favorecendo a expansão.

Page 90: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

88

oferta de qualificação na área de Saúde Pública e Gestão de Serviços de Saúde”.

A municipalização envolve hoje a gestão de 1.448.749 empregos públicos

diretos representando 68,8% do total, através de 5.564 gestores municipais, dos quais

71% são responsáveis por municípios de até 20.000 habitantes, ou seja, de pequeno

porte (Brasil, 2007g e 2006g, Machado, 2005). Para a gestão do trabalho hoje se

percebe ser necessário a qualificação dos gestores envolvidos na administração pública,

especialmente no nível municipal.

Em pesquisa realizada em 2004 pela Rede de Observatório de Recursos

Humanos em Saúde – IMS/UERJ sobre a capacidade gestores em Recursos Humanos

em instâncias locais de saúde com população superior a 20 mil habitantes, dos 206

municípios investigados 89,3% declararam possuir um responsável pelo setor, tendo

como denominações mais freqüentes para os cargos: Coordenador, Chefe e Diretor de

Recursos Humanos. Predominantemente, na época da pesquisa, eram do sexo feminino

(74,8%). 40,3% possuíam ensino médio e 58,7% ensino superior. Quanto à qualificação,

25,2% declararam ter curso de especialização, sendo vinte citações em Administração,

dezenove em Recursos Humanos e quinze em Saúde Pública e apenas cinco declararam

possuir mestrado (sendo quatro em Saúde Pública), o que representa 2,4% do universo

investigado. Em relação à situação funcional, 61,7% eram funcionários públicos da

prefeitura e 38,3% não eram funcionários do quadro, sendo 51,5% correspondentes a

estatutários, e 27,4% cargos comissionados.

Em contrapartida, em pesquisa realizada pelo CONASS em 2003, foi referido

que os gestores estaduais são bem qualificados, visto que a maioria possui nível

superior de formação (77,8% são médicos), com especialização em saúde (85%), sendo

quatroze gestores entre os gestores médicos com especialização em áreas de

administração e gestão hospitalar, saúde pública e administração de serviços de saúde.

E 73% deles possuem experiência acumulada em gestão em saúde. No entanto, com

relação aos trabalhadores da área de recursos humanos nas secretarias, dos 1.264, 470

eram de nível superior, destes 254 possuíam pós-graduação; 412 eram de nível médio;

106 de nível elementar e 276 não informaram o seu nível de escolaridade.

Page 91: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

89

Para complementar, ainda com base no estudo de Moysés, Teixeira e Pereira

(2006) com relação à expansão dos estabelecimentos de saúde, inversamente à

ampliação da rede ambulatorial, os estabelecimento com internação sofreram queda,

sendo os privados os responsáveis pela situação, porém não interferindo em sua posição

majoritária da capacidade instalada (65%) ao se comparar com o setor público. E a

mesma tendência se observou com os números de leitos. A relação entre o número de

leitos por mil habitantes em 2002, era de 2,7, o que enquadra um resultado compatível

com a média estipulada pela Portaria 1.101/2002 do Ministério da Saúde (2,5 a 3 leitos

por 1.000 habitantes).

Já em 2005, com relação aos indicadores sobre o número de estabelecimentos de

saúde, o Brasil contava com 77.004 estabelecimentos, sendo 7.155 com internação e

55.328 sem internação. Destes, 45.089 (58,6%) pertencem ao setor público, divididos

pelas esferas de governo: federal, 1.044 (1,45%); estadual, 1.496 (1,9%); e municipal

42.549 (55,3%), ou seja, 31.915 de natureza privada e 54.855 são estabelecimentos

disponíveis ao SUS14. Persistem, no entanto as variações significativas entre as regiões

brasileiras com a Região Norte possuindo 5.528 estabelecimentos públicos e a região

Sudeste 28.371, porém em todas as regiões a soberania é da esfera municipal (Brasil,

2007g). A vocação para o modelo assistencial pensado para o SUS transparece na

grandiosidade dos números referentes aos estabelecimentos sem internação.

Os dados de 2005 referentes à capacidade instalada de estabelecimentos para

internação apresentam um total de 443.210, dos quais 148.966 (33,6%) são públicos,

52.666 (11,9%) privados, e 390.544 (88,1%) são leitos disponíveis para SUS15,

representando uma taxa de 2,4 (total), 0,8 (públicos), 0,3 (privados) e 2,1 (leitos SUS)

por mil habitantes respectivamente (Brasil, 2007g). E em comparação com as taxas de

leitos por mil habitantes descritas anteriormente, referentes ao ano de 2002, o indicativo

é de que houve uma pequena redução, desenquadrando do que se preconiza referida

portaria do Ministério da Saúde com relação a taxa de leitos por mil habitantes.. As

diferenças entre as regiões mantêm-se preocupantes, apresentando uma variação

significativa no total de leitos, com a menor taxa na Região Norte, 1,8 /mil habitantes, e

a maior da Região Centro-Oeste, 2,6 / mil habitantes.

14 São considerados os estabelecimentos públicos e privados disponibilizados ao SUS. 15 Idem.

Page 92: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

90

Outro movimento relevante para a Gestão do Trabalho por envolver a

capacidade da força de trabalho no país, a regulação, a gestão de pessoal e programas de

qualificação, refere-se à formação de profissionais de saúde. Segundo Vieira et al

(2006: 25) em recente investigação sobre a dinâmica das graduações em saúde no

Brasil, o ensino superior no período de 1995 a 2003 apresentou como características

grande crescimento no número de cursos e, consequentemente, ampliação no

quantitativo de vagas disponíveis e do contingente de egressos, concentração geográfica

da oferta e ainda incremento no processo de privatização do sistema de ensino. 16

Em números brutos, na investigação de Vieira et al (2006: 26-28) foi referido

que no ano de 2003 houve a oferta total de 2.840 cursos, com disponibilidade de

334.513 vagas, e de 111.456 concluintes em contraposição ao total de 36.641 egressos

de 1995, ou seja, ampliação da força de trabalho no campo da saúde de fato

comprovada. Ao mercado de trabalho em saúde, referente somente às três profissões

mais elementares do setor, são acrescidos, anualmente, em média 9.100 médicos,

11.200 enfermeiros, e 9.800 cirurgiões-dentistas, somando por volta de 30.000 novos

trabalhadores como disponibilidade de força de trabalho.

Ainda, em outra publicação, Vieira, Rego e Amâncio Filho (2006), com relação

às pós-graduações, latu sensu, a informação principal refere-se ao aumento das

residências médicas, e ao strictu sensu, inversamente a primeira oferece informações

importantes via Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

CAPES, por exemplo, dos 590 cursos, os percentuais de vagas nos níveis de mestrado é

de 56,3%, doutorado de 39,1% e mestrado profissional de 4,6%, tendo a medicina o

maior número, seguida da odontologia. Demonstra-se assim uma expansão importante

no movimento de especialização médica, mas com relação ao nível de formação

acadêmica ainda é muito inferior à demanda de qualificação necessária à realidade do

setor.

Com relação à educação profissional de nível técnico em saúde, os mesmos

autores acima referem ser as vagas majoritariamente vinculadas ao setor privado, com

16 Foram estudadas as 14 graduações consideradas pelo CONASS como componentes das profissões de saúde: medicina, enfermagem, odontologia, farmácia, nutrição, biologia, medicina veterinária, fisioterapia, fonaudiologia, serviço social, terapia ocupacional e biomedicina.

Page 93: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

91

concentração na região Sudeste, e 70 % das matrículas destinadas à área da

enfermagem.

Poder visualizar todo esse movimento de expansão através dos números, tanto

dos estabelecimentos quanto da formação profissional, aponta-nos a idéia de que este

processo resultou, sem dúvidas, na ampliação do número de trabalhadores no SUS,

especialmente vinculados às secretarias municipais de saúde, conforme mencionam

Cordeiro (2001: 326) e Machado (2005: 258) em suas respectivas publicações.

Analisar a Gestão do Trabalho requer também traçar um panorama do

quantitativo de trabalhadores que hoje realizam o trabalho em saúde. E em recente

publicação - Indicadores de Gestão do Trabalho em Saúde (Brasil, 2007g), o

Departamento de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde expõe os dados referentes

ao ano de 2005 dos números de trabalhadores existentes no Brasil.

O quadro atual, em termos de número bruto destes profissionais disponíveis no

mercado, segundo esta publicação, com base em informações dos Conselhos Federais é

da ordem de 310.138 médicos, 207.904 cirurgiões-dentistas e 118.707 enfermeiros,

somando 636.749 profissionais somente destas categorias. Com relação aos

profissionais de nível médio que também incorporam a equipe mínima de saúde, temos

242.658 técnicos de enfermagem, 361.365 auxiliares de enfermagem, somando 604.023

profissionais de enfermagem. Com relação aos agentes comunitários de saúde temos

210.887 profissionais17. O total disponível dessas categorias citadas é de 1.451.659

profissionais.

Com relação aos empregos em saúde no Brasil, ainda com os dados de 2005

nesta publicação, temos o quantitativo de 2.566.694, subdivididos em 56,4% no setor

público e 43,6% no setor privado. Persistindo a variação entre a Região Norte, tendo

166.939 (81,3% público e 18,7% privado) e a Região Sudeste 1.199.637 (público e

privado em equivalência de 50,0%), ficando claro a drástica diferenciação entre regiões

do país, tanto em relação à distribuição na oferta quanto em relação à entidade

mantenedora, prevalecendo o ente público, com exceção da Região Sul onde a

17 A publicação utilizou-se dos dados do SIAB como fonte de informação, ano base 2006.

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92

prevalência é de empregos no setor privado (370.709 postos distribuídos em 45,5%

público e 54,5% privado).

Mais uma vez a comprovação do comportamento descentralizante do sistema de

saúde pode ser visualizado quando analisados os dados referentes aos empregos,

segundo as esferas administrativas. No Brasil a proporção de empregos públicos,

considerando os 2.566.694, na esfera federal é de 4,1%, na estadual de 13,5% e na

municipal de 38,8%; no privado com fins lucrativos 24,9%, e no privado sem fins

lucrativos, 18, 6%, não apresentado entre as regiões comportamento divergente a esta

proporção. Considerando o percentual de 56,4% do setor público (1.448.749 empregos),

7,3% estão na esfera federal, 23,9% na estadual e 68,8% na municipal. (Brasil, 2007g).

Mesmo com os avanços demonstrados nos dados acima é importante levantar a

questão de que há falhas e descompassos entre o que foi idealizado para o SUS e o que

se tem posto em prática. Nem todas as estruturas adquiridas durante a implantação do

sistema de saúde brasileiro estão dando conta dos ideais inseridos nos discursos

formados durante esse processo, e há um caminho a percorrer neste sentido.

Reportando-se novamente à história, na década de 90, durante a construção deste

arcabouço do sistema de saúde brasileiro, a expansão do contingente de trabalhadores

realmente necessária para atender a essas demandas estruturais, infortuna e

contraditoriamente, sofreu conseqüências do movimento de redução do Estado

representado pela Reforma Administrativa. Os desdobramentos diretos para a Gestão do

Trabalho foram as diversas formas de contratações de pessoal através de vínculos

calcados na flexibilização dos contratos de trabalho. O mais grave foi que na maioria

das situações estes vínculos não obedeceram aos critérios de proteção social dos

trabalhadores, gerando um contexto violento de precarização do trabalho.

Em 2003, em discussões no Seminário Nacional sobre Políticas de

Desprecarização das Relações de Trabalho no SUS, o cálculo era de que em torno de

800 mil trabalhadores estariam em vínculo precário de trabalho, representando na época

40 % da força de trabalho. As modalidades de contrato seguiam por cooperativas,

sistemas de bolsas de trabalho, contrato temporário, pagamento por reconhecimento de

dívida, prestação de serviços por meio da CLT, etc. Todas as modalidades além de

Page 95: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

93

contrariarem os preceitos constitucionais previstos no art. 6º da Constituição Federal

colocam os trabalhadores em situação de desconforto e de insegurança trabalhista e

social (Brasil, 2003b: 9).

Segundo Pierantoni (2002: 615–616) os tipos de vínculos identificados em

pesquisa realizada pelo CONASS e Ministério em 1997, as modalidades de contratos

existentes no SUS eram: 1) Regime Jurídico Único – vínculo próprio dos servidores

públicos, estatutários regidos pela lei nº. 8.112/90; 2) Regime CLT – vínculo de

trabalho regido pela Consolidação das Leis do Trabalho, lei nº. 5.452/52; 3) Contratação

comissionada – contratação de pessoal próprio ou externo para cargos de livre

provimento; 3) Terçamento – vínculo de grupos profissionais, empresas ou outros

órgãos para execução de atividades; 4) Acreditação – acreditação de profissionais

autônomos para complemento de quadros da organização; 5) Contratação individual de

prestação de serviços – temporários; 6) Bolsa de trabalho – contratação de estudantes

para estágio remunerado temporário.

As modalidades de contratação de profissionais apresentadas por Seidl (2002)

em um hospital geral do Rio de Janeiro traduzem mais um pedaço da realidade do SUS,

onde além dos vínculos de estatutários do Ministério da Saúde, cedidos do Instituto

Nacional do Câncer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado

e da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, foram identificados vínculos como de

prestadores de serviços contratados por convênio com a Secretaria de Estado do Rio de

Janeiro e com Ministério, celetistas contratados por convênio com uma fundação de

apoio, cooperados de uma cooperativa contratada por uma fundação de apoio ao

diagnóstico e tratamento cardiológico e cooperados de uma cooperativa contratada por

processo de licitação.

Esse processo de mudanças no setor saúde, baseado na reorganização da

estrutura, funcionamento e distribuição de espaços, pautado na lógica da flexibilização

dos vínculos e da precariedade do trabalho manifesta-se não devido a fatores como o

desemprego, pelo contrário, tem sido forte estratégia indutora de empregos

especialmente no SUS. A questão é que, no sistema de saúde brasileiro, a incorporação

da terceirização de serviços com matizes diferentes em números e formas de adoção,

como os identificados acima, entre as esferas de governo, desemboca em preocupação

Page 96: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

94

na formação harmônica das equipes e boa condução das políticas e práticas, visto a

caráter coletivo nas práticas de saúde, tanto da assistência quanto da gestão (Brasil,

2007c).

As novas formas de contratação trazem como conseqüências mudanças de

ingresso e manutenção do trabalhador, estabelecendo novas relações de trabalho, daí

ocorrem as exigências por aquisições de competências que possam habilitar os

trabalhadores e gestores como negociadores das condições de trabalho que por vezes se

inserem em um contexto orçamentário muito adverso, dando sentido ao avanço das

negociações para além dos pleitos já reconhecidos como legítimos, como por exemplo,

os sindicatos (Brasil, 2007c).

Em geral a posição dos atores envolvidos nas questões relacionada à Gestão do

Trabalho é de que a função finalística e essencial do trabalho em saúde, especialmente

para o SUS, é totalmente relevante e coloca em cheque qualquer forma não legítima de

inserção dos profissionais de saúde, ou seja, a legitimidade constitucional do concurso

público prevalece como sendo a única forma de inserção para o trabalho na

administração pública.

A polêmica mais acentuada atualmente referente às questões de vinculação das

profissionais essenciais para as atividades de saúde circulou sobre os Agentes

Comunitários de Saúde. Segundo Morosini et al.(2007), o principal problema apontado

pelos diferentes atores era de que, o concurso público em função de seu caráter

universal garantido pela constituição não poder exigir que o candidato tenha residência

prévia em determinada região e nem poder exigir a continuidade da moradia no local

após a contratação. Contratar um Agente Comunitário de Saúde por concurso público

significa ter que abrir mão da exigência específica de moradia na comunidade em que

viria atuar, o que é considerado pelas diretrizes políticas como fundamental e relevante

para o processo de construção de vínculo da equipe com a comunidade. E para

promover propostas de resolução dessa questão foi estruturada a construção de leis que

garantissem orientação aos gestores, seguida de ações da Secretaria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde, como por exemplo, a elaboração de um manual que

orientasse os gestores municipais quanto à vinculação deste profissional, assim como o

Agente de Endemias no SUS.

Page 97: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

95

A remuneração dos trabalhadores de saúde representa outro desafio para a gestão

do trabalho, especialmente pelo caráter mercantil acoplado e superdimensionado no

percurso do desenvolvimento do trabalho em saúde, e hoje se transforma num

determinante das formas múltiplas de vinculação dos profissionais como mecanismos

compensatórios e corretivos para a adequada remuneração. Assim, quanto às questões

de remuneração dos trabalhadores de saúde, os dados da publicação Indicadores da

Gestão do Trabalho em Saúde: material de apoio para o Programa de Qualificação e

Estruturação da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (Brasil, 2007g), baseados na

Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado/UFMG/NESCON de 2005, apresentam as

médias salariais, do número de horas trabalhadas, do valor salarial por hora trabalhada,

por categoria profissional. O limite é que os dados referem-se apenas ao Regime

Celetista, obtidos da fonte Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED,

do Ministério do Trabalho. Como já mencionado, a obtenção de informações ideais

sobre a remuneração torna-se imprecisa pelos limites dos sistemas de informação

existentes, sobretudo de captação das situações onde ocorra a vinculação precária do

trabalhador de saúde. Se há profissionais inseridos no setor saúde através de vínculos

precários, como informá-los se não há sistema de informação adequado a esta situação,

e ainda quem irá informá-lo, se estão por muitas vezes em condições de ilegalidade.

O que ocorre é que os dados sobre a remuneração só podem ser obtidos através

de uma composição de fontes e pesquisas, e são importantes para visualização da

realidade, pois tece parâmetros inclusive para tomada de decisão de gestores sobre

como remunerar cada tipo de profissional, esforço esse em busca de minimizar

injustiças e desigualdades. Porém, de qualquer maneira é visto que a remuneração dos

trabalhadores no setor saúde não acompanhou a real necessidade de reajustes, e

encontra-se em extrema e ampla defasagem, gerando o quadro de insatisfação, busca

por vários empregos, flexibilidade interna (termo conceituado no capítulo III), não

fixação dos profissionais gerando alta rotatividade, e tudo o que já pode ser percebido

neste cenário, comungado por todos nós. Um exemplo, em que pode ser sentido o grau

de insatisfação que a situação se instaura, é o movimento do Conselho Regional de

Medicina do Estado do Rio de Janeiro – “Quanto vale um médico?”, em campanha para

reivindicação por melhores salários do profissional médico18. Buscamos analisar então

18 Jornal do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro. Publicação Oficial do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro. Nº. 203 – set, 2007.

Page 98: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

96

dados relativos às profissões que compõem a equipe mínima de saúde, seguindo a

mesma lógica da análise realizada sobre o crescimento da formação realizado

anteriormente, ou seja, pautamos na idéia do Programa Saúde da Família como Política

Nacional de Atenção Básica e como a maior estrutura devido à descentralização e

expansão.

Portanto, segundo novamente os dados da publicação Indicadores de Gestão do

Trabalho em Saúde (Brasil, 2007g) referentes aos salários e horas trabalhadas dos

empregos formais analisamos especialmente as profissões pertencente à equipe mínima:

médico, enfermeiro, cirurgião – dentista, técnico de enfermagem e agente comunitário

de saúde. Estes, estruturados no quadro abaixo, ilustram a grande heterogeneidade do

país com variações importantes que nos auxiliam na compreensão das escolhas dos

profissionais e gestores pela flexibilização. Os salários entre mesmas categorias chegam

a variações de 70 % entre regiões do país; as variações entre as regiões do valor das

horas trabalhadas encontram-se em torno de 60 a 70% de diferença; e variações entre o

número de horas trabalhadas por semana que chegam a 50%. Existem enfermeiros e

cirurgiões – dentista com mesmo nível salarial das profissões de nível médio em regiões

diferentes.

Page 99: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

97

QUADRO 4 – Comparação das médias salariais e de horas de trabalho entre as profissões que compõem a equipe mínima de Saúde - 2005

Media salarial

R$ Media horas trabalhadas na semana

h/semana Média de salário por hora trabalhada

R$/hora

Profissional Brasil

Maior média

Local Menor média

Local Brasil Maiores médias

Local Menores médias

Local Brasil Maiores médias

Local Menores médias

Local

Médico

2.373,01

4.337,00 Roraima

1.537,06 Paraíba

25,74

44 h Roraima

39,71

Tocantins

22,68 Piauí

24,23

São Paulo

23,05

31,06/ hora Mato grosso do Sul

27,15/ hora São Paulo

11,78 /hora Tocantins

12,19/hora Alagoas

Enfermeiro

1.693,14

2.713,73 Roraima

780,24 Paraíba

38,24

42,74 Acre

42,35

Mato Grosso do Sul

35,04 Amazonas

37,71

São Paulo

11,07

17,64/hora Amazonas

16,73 /hora

Roraima

4,93/hora Paraíba

6,31 /hora

Acre

Cirurgião – dentista

1.549,89

2.784,80 Amapá

786,75 Piauí

29,16

40,67 Roraima

37,14

Mato Grosso do Sul

23,52 Maranhão

20,15

Sergipe

13,29

20,36/hora Amazonas

19,40/hora

Distrito Federal

6,67/hora Piauí

8,41/hora

Rio Grande do Norte

Técnico de enfermagem

663,93

860,02 São Paulo

368,34 Piauí

39,52

42,88 Sergipe

42,7 Acre

38,34 Bahia

38,23

São Paulo

4,20

5,62 /hora São Paulo

5,13 /hora Roraima

2,26/hora Piauí

2,29 /hora

Rio Grande do Norte

Agente Comunitário

de Saúde

410,73

733,00 Amapá

301,47 Roraima

41,93

43,89 Mato grosso do Sul

43,73

Sergipe

37,78 Acre

40

Amapá

2,45

4,58 /hora Amapá

3,44/hora Roraima

1,86 /hora Rio Grande do Norte

1,84 /hora Piauí

Fonte: Elaboração própria com base em Brasil (2007g) Indicadores da Gestão do Trabalho em Saúde: material de apoio para o Programa de Qualificação e Estruturação da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. Brasil, 2007g. 290p.

Page 100: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

98

Percebe-se também que dentre as categorias de nível superior, aqui apresentadas,

o profissional médico possui em média melhor condição salarial e menor carga de

trabalho semanal. O enfermeiro possui condição salarial um pouco acima do cirurgião-

dentista, porém apresenta uma carga horária maior. Ainda, dentre as categorias de nível

médio, o técnico de enfermagem possui melhores condições salariais e menor carga

horária semanal. E mais, dentre as poucas variações apresentadas através destes dados,

vemos que é possível neste Brasil que um profissional de nível superior de uma

determinada região tenha a possibilidade de ter o mesmo nível salarial que um

profissional de nível técnico de outra região.

Devemos considerar que estes dados são médias e não se pode deixar de pensar

que nas entranhas da realidade a variação salarial é mais dura especialmente entre os

municípios, as especialidades, os níveis de atenção, e mais ainda entre os tipos de

vínculos de trabalho. A oferta salarial, por exemplo, do profissional médico para o

Programa Saúde da Família no interior no país pode chegar a R$ 20.000,00, com

flexibilidade da carga horária (inferior às 40 horas preconizadas) e mesmo assim não

corresponder à expectativa de fixação do profissional. Em estudo recente sobre a

Amazônia Legal (Mota et al, 2006), demonstra-se a dificuldade em seguir a Portaria

1.101/2002, que define entre outros parâmetros o da correlação de um médico para cada

mil habitantes. As estratégias onde não há médicos disponíveis estão sendo supridas

temporariamente pela contratação de médicos estrangeiros, que em determinados

municípios tem se tornado duradoura, configurando assim a precarização dos vínculos

de trabalho. Outra questão que esta estratégia gera é a necessidade de regulação

profissional dentro do Mercosul, visto que a formação entre esses países não possuem

currículos com padrões iguais.

Quanto às modalidades de contratação de profissionais de saúde, em 2002, o

Ministério da Saúde realizou monitoramento da implantação e funcionamento das

equipes de Saúde da Família (Brasil, 2004c) e constatou que com relação aos médicos

no país, em 34,3% das equipes os contratos eram temporários, 15,5% eram prestação de

serviços, que somadas a outras formas como bolsa, contrato informal e contrato verbal

alcançaram um valor de 18,1% de relações precárias de trabalho. Com relação às formas

estáveis (estatutários e CLT) corresponderam a 12,2% e 13,2%, perfazendo um total de

25,4%. A situação dos enfermeiros, nesta avaliação, mostrou-se semelhante, onde em

Page 101: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

99

33,6% das equipes o contrato era temporário e em 14% eram por prestação de serviço,

que somado as outras formas de contratação informal somavam quase 25,7% das

equipes com profissionais em relações precárias de trabalho. Com relação à contratação

em regime de CLT (13,4%) e de estatutários (15,2%), o somatório foi de 28,6% das

equipes. Quanto aos cirurgiões-dentistas contratados, do total das equipes, 32,9%

tinham contratos temporários; 29,2% contavam com contratos por modalidades

precárias ou informais de vínculo trabalhista e 28,8% por meio da CLT ou como

estatutário. Entre os auxiliares de enfermagem os vínculos mais estáveis de trabalho

foram mais freqüentes, apresentando um percentual de 45,9% das equipes com vínculos

celetistas ou estatutário. Do total das equipes, 27,0% tinham auxiliares com contrato

temporário e 18,6% com contratos precários de trabalho. E os Agentes comunitários

encontravam-se em 30,2% das equipes através de contrato temporário, 29,7% por

prestação de serviços ou formas de contratação informais e 23,5% por meio da CLT. Os

dados estão sistematizados no quadro abaixo:

QUADRO 5 – Modalidades de Contratação de profissionais na Estratégia Saúde

da Família – 2002

Tipo de vínculo

Profissional

Temporário

Prestação de serviços, bolsas, contratos

informais e verbais.

Estatutário

CLT

Médico

34,3%

18,1%

12,2%

13,2%

Enfermeiro 33,6% 25,7%

15,2%

13,4%

Cirurgiões –dentista

32,9%

29,2%

28,8%

Auxiliares de enfermagem

27%

18,6%

45,9%

Agentes comunitários

30,2%

29,7%

---

23,5%

Fonte: Elaboração própria baseado em Brasil (2004c) Avaliação Normativa do Programa Saúde da Família no Brasil: monitoramento da implantação e funcionamento das equipes de saúde da família 2001-2002. Brasil, 2004c.

Quanto à análise entre as regiões do país, apresentaram-se padrões muito

distintos. Nos estados da Região Sul, e em São Paulo, a maioria dos profissionais

contratados era estatutária ou em regime de CLT. Nos demais estados da Região

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100

Sudeste predominou a modalidade do contrato temporário. No Distrito Federal, em

100% das equipes de saúde, todos os profissionais eram contratados em regime de CLT.

Nas Regiões Norte e Nordeste não se observou claros padrões regionais de contratação

dos profissionais, merecendo destaque a descrição da predominância dos tipos de

vínculo trabalhista em alguns estados (Brasil, 2004c).

Como podemos ver, as organizações de saúde sofreram repercussões de todo

esse contexto descrito no seu cotidiano de trabalho, e formas de adaptação têm sido

aplicadas com relação à dinâmica do processo de trabalho, estilo gerencial, recursos

disponíveis e formas de gestão. Entretanto é possível pensarmos que existem fatores

positivos e negativos da flexibilização para essas organizações, como exemplo a

abertura de mais postos de trabalho, a seleção de profissionais mais adequados à função.

Por outro lado, gerou diversas formas de inserção no trabalho, com perda da proteção

social do trabalhador, perda da memória institucional e conflitos internos entre os

profissionais de diferentes vínculos e servidores. Somado a isso, a pouca valorização do

funcionário público com mecanismos permanentes de qualificação e investimento no

plano de carreira, cargos e salários, atrofiou o serviço de assistência, e também de

gestão em saúde.

Observa-se, no entanto, que a atenção ao trabalhador da área de saúde nas

questões relacionadas à remuneração, estabilidade de emprego, garantias de direitos

trabalhistas, e outras, fizeram parte dos fóruns de discussões desde a 8ª Conferência

Nacional de Saúde em 1986, passando pelas Conferências Nacionais de Recursos

Humanos, em 1986 e 1993, e ainda pela criação da Norma Operacional Básica – NOB/

RH – SUS em 2003 após a 12ª Conferencia Nacional de Saúde. Em 2006 a 3ª

Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde reforça

novamente as demandas com relação ao trabalhador da área da saúde ao debater

questões como a desprecarização dos vínculos de trabalho, o Plano de Carreira, Cargos

e Salários para o SUS, Negociação do Trabalho no SUS, Regulação do Trabalho em

Saúde, fortalecimento da capacidade gestora em estados e municípios e o financiamento

da Gestão do Trabalho.

Diante do exposto, metaforicamente, podemos dizer que temos uma “boa

receita” para orientação das ações de saúde, mas quem “põe a mão na massa”, ao que

Page 103: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

101

parece, necessita de atenção especial para que tenhamos condições mais favoráveis no

desenvolvimento da atenção à saúde.

A Gestão do Trabalho em saúde, assim possui como desafio analisar,

compreender, formular políticas e formas de conduzir o trabalho num contexto onde as

organizações de saúde vivenciam conseqüências severas do processo de ampliação da

assistência à saúde, por vias distintas a do modelo hegemônico prevalente, com

prioridade à Atenção Básica, e influenciado por uma política de redução do Estado.

Contexto este que levou a precarização do trabalho devido às formas de flexibilização.

Page 104: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

102

CAPÍTULO VII – AS POLÍTICAS DE GESTÃO DO TRABALHO N O SUS

A Agenda da Gestão do Trabalho no SUS

A Gestão do Trabalho no SUS envolve em torno de 2,5 milhões de empregos

formais, dos quais 56,4% estão inseridos no serviço público. Encontra-se totalmente

mergulhada em questões dificílimas e que interferem nas conduções das políticas de

saúde no país. Tais questões envolvem o processo de municipalização, a ausência de

disponibilidades de profissionais de saúde em municípios de pequeno porte, a

necessidade do desenvolvimento de Plano de Carreira, Cargos e Salários para o SUS, o

baixo diálogo entre gestores e trabalhadores, o financiamento para área de saúde e o

dilema entre flexibilização versus estabilidade e o trabalho precário, foco deste estudo.

Pierantoni (2001: 354, 356) destaca que:

“a questão de recursos humanos em saúde está diretamente relacionada com a implementação de políticas gerais, exercida em diversas atividades do Estado: trabalho, educação, sistema jurídico, saúde”. E alerta que “os desafios propostos para as políticas públicas de saúde exigem a inclusão definitivamente das questões relacionadas aos recursos humanos na agenda de propostas que destacam o financiamento, modelos assistenciais, flexibilização e regulação, com inclusão participativa dos profissionais de saúde dentro dos aspectos políticos, administrativos, técnico e social”.

A Agenda da Gestão do Trabalho no SUS hoje incorpora essas questões acima,

colocando em pauta discussões e ações que envolvem a desprecarização, a terceirização

e o trabalho precário; o Plano de Carreiras, Cargos e Salários - SUS; a Regulação do

Trabalho; a Negociação; o ProgeSUS e sua própria estrutura, que diz respeito ao modelo

de gestão adotado.

Analisar a Agenda das políticas de Gestão do Trabalho no SUS requer cuidado

especial, pois é de onde partem as diretrizes para os estados e municípios. Sempre

houve a preocupação de se elaborar, implantar e implementar políticas voltadas para a

Page 105: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

103

área de Recursos Humanos em saúde, porém nos últimos cinco anos a trajetória destas

verteu-se sobre a forma diferenciada de se pensar a gestão; foi então, incluindo o

conceito de Gestão do Trabalho em Saúde, que se inaugurou essa nova fase em 2003

com a implantação da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.

Assim, essa análise se dará a partir de documentos identificados desse período

em diante, especialmente do Ministério da Saúde. Foram identificados e selecionados,

portanto, devido ao seu conteúdo discorrer sobre os temas flexibilização e precarização

do trabalho, os seguintes documentos: Gestão do Trabalho e da Regulação Profissional

em Saúde - Agenda Positiva do Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho –

Degerts, edição de 2004 e 2005, nas quais foi feita uma análise comparativa por haver

diferenças em seu conteúdo; a Cartilha Desprecarização do Trabalho no SUS –

Perguntas e respostas de 2006; assim como o documento Orientações gerais para

elaboração de editais – processo seletivo público de 2007.

A edição de 2005 da Agenda Positiva em relação à de 2004 apresenta-se com

algumas diferenças representativas da evolução no progresso das discussões e

formulações das políticas, especialmente sobre a desprecarização do trabalho e,

portanto, tornou-se de interesse para estudo analisar ambas as edições. No que se refere

à estrutura e competências do Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em

Saúde e funções das respectivas coordenações, nelas inseridas, não há alterações.

Porém, além da desprecarização, dados sobre o Plano de Carreira, Cargos e Salários –

SUS, o Apoio à Gestão do trabalho e da educação nas Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde, o exercício profissional no Mercosul foram aprimorados, assim

como também foram inseridos os dois novos tópicos sobre o Sistema Gerencial de

Informação em Gestão do Trabalho em Saúde e a Humanização na Gestão do Trabalho.

Com relação às competências do Departamento de Gestão e Regulação do

Trabalho em Saúde, especialmente as que impactam direta ou indiretamente nas

questões da flexibilização e precarização do trabalho, ambas as edições (Brasil, 2004e:

7–11 e 2005e: 6–8) dizem que este deve, entre outras: apontar as necessidades

quantitativas e qualitativas de profissionais da área de saúde; desenvolver ações que

garantam a oferta quantitativa de profissionais com perfil adequado às necessidades do

SUS, assegurando não somente os deveres dos trabalhadores de saúde, mas também

Page 106: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

104

seus direitos; assim como participar de articulação intra e intergovernamentais,

especialmente junto aos Ministérios do Trabalho e Emprego, do Planejamento,

Orçamento e Gestão, da Educação e da Ciência e Tecnologia, para a busca de soluções

que dizem respeito aos problemas que envolvem os trabalhadores do SUS, ou seja,

problemas estes que por ora damos destaque à precarização do trabalho.

Também, dentro da estrutura deste Departamento, em especial destacamos que a

Coordenação de Gestão do Trabalho possui dentre suas funções a de desenvolver ações

concretas para a desprecarização do trabalho no SUS, e também a participar de

iniciativas e ações que visam a valorização do trabalhador e a humanização da relação

de trabalho (Brasil, 2004e: 11–12 e 2005e: 8–9).

Iniciando sobre as questões mais gerais, referentes à identificação da situação de

pouca relevância dada às atuais estruturas de Recursos Humanos em grande parte das

Secretarias de Saúde de Estado e à quase inexistência das estruturas em grande parte das

Secretarias de Saúde Municipais, o Ministério da Saúde propõe apoio à Gestão do

Trabalho e da Educação para estas. As propostas de intervenção que deverão ser

realizadas em parceria com o CONASS e CONASEMS são: necessidade de elaboração

e implantação de uma nova política de Recursos Humanos; o desenvolvimento de um

Sistema Nacional de Informação que permita a comunicação entre as três esferas de

governo que ofereça suporte às ações voltadas à gestão do trabalho e educação na saúde.

Promover condições de gerenciamento da força de trabalho pelos estados e municípios é

o objetivo nessa questão (Brasil, 2005e: 52–53 e 2007c: 92– 93).

Com relação à informação, os dados oficiais estão longe de poder detectar

claramente os tipos e percentuais de postos de trabalho encontrados em condições de

precariedade. Alguns estudos sobre o Programa Saúde da Família e hospitais foram

realizados, mas não traduzem por completo a situação nacional. Praticamente, nenhuma

instituição pública vinculada ao SUS pode se vangloriar e dizer que não abriga

trabalhadores em situação de precariedade (Brasil, 2004e: 24). De fato, hoje é possível

identificar essencialmente profissionais em situação regular, pois a irregularidade não é

visualizada nos sistemas de informação convencionais, é apenas captada através de

pesquisas específicas.

Page 107: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

105

Assim, em 2005, o Ministério da Saúde teve como objetivo auxiliar a Gestão do

Trabalho no SUS através do desenvolvimento e implantação do Sistema Gerencial de

Informação em Gestão do Trabalho em Saúde. As informações agregadas em banco

único permitirão ser utilizadas como instrumentos de tomada de decisão e formulação

de políticas nas três esferas de governo. A Agenda Positiva refere que dois sistemas já

estão disponibilizados através do endereço eletrônico da Secretaria de Gestão do

Trabalho, o SIG-trabalho, que é um sistema que se organiza em cinco dimensões

(grandes regiões, unidades da federação, municípios por porte populacional, municípios

fronteiriços com o Mercosul e municípios fronteiriços com a América Latina) e quatro

grandes blocos: um que identifica a Secretaria de Saúde; outro que se refere à

capacidade instalada; mais um que diz respeito ao Sistema Formador em Saúde, e por

último, em que dimensiona a área de Recursos Humanos no tocante à oferta dos

profissionais de saúde e à caracterização do mercado de trabalho, mostrando total de

empregos e suas modalidades de inserção nos serviços de saúde. Este último auxiliará

na identificação de dados referentes a flexibilização e precarização do trabalho (Brasil,

2005e: 61–63).

Um outro sistema de informação também disponibilizado pelo Ministério da

Saúde é o Banco de Dados Conprof, que traz resoluções e normas que dão suporte aos

Conselhos Profissionais, auxiliando na regulação do trabalho. E em desenvolvimento

encontra-se o Sistema Nacional de Informação para Gestão, este desenvolvido em

parceria entre o Datasus, o Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em

Saúde, o CONASS e o CONASEMS, e este tem o propósito de integrar uma rede de

informações para a gestão, implantando um banco de dados contendo informações sobre

recursos humanos para o Brasil, unidades da federação e municípios (Brasil, 2005e: 61–

63).

Todos esses sistemas, em conjunto, contribuirão para se ter a real noção da

situação de inserção e vínculo dos trabalhadores no SUS, dando a dimensão verdadeira

da flexibilização e precarização do trabalho.

Com relação à proposta de Humanização na Gestão do Trabalho, o Ministério da

Saúde entende que os valores que norteiam essa política são a autonomia e o

protagonismo de todos os envolvidos no processo de produção de saúde no país, assim

Page 108: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

106

como o estabelecimento de vínculos solidários, a participação coletiva no processo de

gestão e a indissociabilidade entre atenção e gestão. Em especial, a humanização busca

reverter o quadro de mecanicismo, automatismo e tecnicismo das relações que

inclusive, nos últimos tempos, se engrandeceu com o modelo fordista/toyotista. A forma

para a condução desta proposta está na construção de espaços coletivos do planejamento

e da gestão, na criação de colegiados, na constituição de espaços coletivos de discussão

e reflexão para valorização dos diferentes saberes, da criatividade, do desenvolvimento

pessoal e coletivo e que reconheça a importância das dimensões subjetivas e sociais nas

praticas de atenção e gestão na saúde. Desta forma percebemos que a criação de uma

secretaria não somente pela existência, mas pelas suas ações possui a intenção de

carrear, disseminar e assim materializar a compreensão do conceito de gestão do

trabalho em saúde (Brasil, 2005e: 63–64).

A Política de Desprecarização constitui o foco principal deste estudo uma vez

que dela emana a base das políticas de valorização do trabalho do SUS. As iniciativas

dadas não são unicamente do governo, mas conta com o apoio das instituições e o

principal ponto envolve os conceitos de trabalho precário, trabalho ilícito e trabalho

temporário.

Uma das iniciativas é a criação do Programa Nacional de Desprecarização do

Trabalho no SUS - DesprecarizaSUS, conduzido pelo Departamento de Gestão e

Regulação do Trabalho e tem como objetivo a regularização da situação dos

trabalhadores inseridos de forma irregular no sistema. Para a operacionalização disto foi

criado o Comitê Nacional Interinstitucional de Desprecarização do Trabalho no SUS,

através da Portaria nº. 2.430/2003. Este incorporou o Grupo de Trabalho

Desprecarização do Trabalho no SUS, criado na reinstalação da Mesa Nacional de

Negociação Permanente – SUS e possui o intuito de buscar soluções para a

desprecarização dos vínculos de trabalho nas três esferas de governo (Brasil, 2005e: 27;

Site oficial da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde).

Em meio aos objetivos deste Programa vemos a preocupação em garantir de fato

que as ações promovam a desprecarização do trabalho no SUS, mas com base na

concepção de trabalho precário delimitada. Por exemplo, objetiva dimensionar e

estimular a realização de concursos públicos e levantar a situação de precarização do

Page 109: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

107

trabalho, quanto às formas de inserção e vínculos existentes. Além disso, dar apoio aos

entes federados, quer seja por cooperação, ou através de financiamento e avaliações do

impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal, também é proposto pelo Ministério da

Saúde ( Brasil, 2005e: 27–28).

Especialmente, com a sua criação, demonstra-se que o Ministério da Saúde está

comprometido com reversão deste quadro no SUS. Em 2004, na Agenda Positiva,

relembra-se que a Constituição Federal de 1988 consagrou o modelo estatutário para os

servidores públicos, posteriormente regulado pelo Regime Jurídico Único, obrigando a

adoção pelas autarquias e fundações e ao mesmo tempo extinguindo a alternativa de

vinculação celetista. Porém na década de 90, a Emenda Constitucional nº. 19/98, dando

nova redação à Constituição Federal, permitiu novamente a flexibilização dos vínculos

de trabalho na administração pública. Assim, com a reforma do Estado, passou-se a

adotar a política de flexibilização a da precarização das relações de trabalho, utilizando-

se diversas modalidades de vinculação do trabalhador ao serviço público. Sendo

preconizada pelo Governo Federal e seguida por boa parte dos estados e municípios,

acabou provocando um processo de precarização do trabalho no SUS e a conseqüente

redução de postos de trabalho na administração pública. Em torno de 600 mil

trabalhadores, naquela época, em 2002, estavam precarizados, o equivalente a 30 % da

força de trabalho (Brasil, 2004e: 22–23).

É no debate sobre a definição do trabalho precário que iremos identificar

efetivamente a posição do Ministério da Saúde sobre o tema. Conforme colocado na

edição de 2005 da Agenda Positiva, muitas questões envolvem a definição de trabalho

precário, e pode-se incluir uma infinidade de situações oriundas das relações de

trabalho, como baixos vencimentos e salários ou inadequadas condições de trabalho. Na

edição de 2004, o Ministério define que:

“Por trabalho precário entende-se aquele que se exerce na ausência dos direitos trabalhistas e de proteção social, ou seja, o que é desprovido da devida cobertura por normas legais e não garante os benefícios que dão segurança e qualidade de vida ao trabalhador, o que inclui, entre outros, a aposentadoria, o gozo de férias anuais, 13º salário e as licenças remuneradas de diversos tipos, que coexistem e agravam a precarização do Mercado de Trabalho. Estão envolvidos, nessas condições, trabalhadores que

Page 110: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

108

são contratados diretamente pelo órgão público mediante um vínculo temporário ou informal que se renova sistematicamente; ou ainda, trabalhadores que se incorporam à força de trabalho do setor público por meio de entidades terceirizadas, tais como cooperativas, e atuam como se fossem autônomos.” (Brasil, 2004e: 24).

Ainda, o trabalho precário:

“é conseqüente de uma irregularidade jurídica, portanto, a algo que contraria as normas vigentes do nosso direito administrativo ou da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No componente público do SUS, esse tipo de irregularidade conflita explicitamente com o princípio da legalidade do Estado. Tal princípio estabelece que o Estado só pode fazer aquilo que está prescrito em lei, sendo nulo todo ato de poder ou de relacionamento com terceiros estabelecido sem provisão legal” (Brasil, 2004e: 24).

Na edição de 2005 da Agenda Positiva o Ministério da Saúde reforça que a

precariedade do trabalho está relacionada a alguma irregularidade que diz respeito à

situações de desobediência às normas vigentes do direito administrativo e direito do

trabalho. Em comum entre essas normas administrativas é a proteção social ao trabalho,

portanto inicialmente trabalho precário pode ser definido “como aquele em situação de

desproteção social, quando exercido com ausência de direitos inerentes ao tipo de

contrato firmado” (Brasil, 2005e: 24–25).

Foi destacado que é importante observar a existência de relações de trabalho que

são regulares, mas classificadas como precárias na medida em que não assumem a

plenitude dos direitos e benefícios assegurados a outras formas regulares. Na

administração pública, não somente o cumprimento da proteção social é suficiente para

caracterizar o trabalho como regular, e outras exigências são necessárias, como a forma

de ingresso no serviço público através de concurso. Assim, mesmo tendo sido possível a

contratação sem concurso público, por terceirização de serviços, o trabalho é

considerado precário porque o trabalhador foi absorvido de forma irregular, sem

concurso público, portanto sem base legal no vínculo com o Estado, não oferece

garantia de proteção social a quem o exerce (Brasil, 2004e: 24 e 2005e: 24–25).

Portanto, para o Ministério da Saúde trabalho precário então se considera aquele

que não garante os direitos sociais do trabalhador, assim como aquele no qual a forma

de inserção foi sem concurso público. E pelos fatos ocorridos neste processo, o trabalho

Page 111: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

109

precário tem sido resultante da flexibilização das relações de trabalho, e por isso muito

associado.

Em 2004, a Agenda Positiva (Brasil, 2004e: 24) também mencionava que o

caráter de precariedade diz respeito não somente à redução da proteção social e à forma

de inserção, mas também com relação à durabilidade do contrato de trabalho, que ocorre

tanto no setor privado quanto no setor público. Mesmo nos regimes celetistas, quando

temporário, a falta de garantia de continuidade expõe a situação de precariedade. A

ausência de servidores efetivos nos locais de trabalho, que passam a ser responsáveis

pela assistência e inclusive pelas gerências de unidades torna esse cenário ainda mais

grave. No setor público as contratações por tempo determinado dentro da

excepcionalidade do interesse público são renováveis apenas dentro dos critérios que a

lei dita.

Com relação à situação da precarização no país, o Ministério aponta na Edição

da Agenda Positiva de 2005 (Brasil, 2005e: 26) as seguintes modalidades contratuais

como precárias: mediante cooperativas, bolsas de trabalho, contrato temporário,

pagamento por divida reconhecida, prestação de serviços por meio da CLT, entre

outros. Todas essas modalidades além de contrariarem os preceitos da Constituição

Federal (art. 6º) colocam em desconforto e insegurança trabalhista aos profissionais que

prestam serviços à população.

Para o Ministério a formulação de políticas específicas que busque resolver esse

grave problema é uma de suas prioridades, pois reconhece e valoriza o trabalho humano

em todas as suas dimensões. E ainda entende como necessário ampliar o consenso em

torno dos prejuízos dessa situação aos princípios de legalidade e universalidade dos

direitos dos trabalhadores. A idéia é também analisar alternativas de ação para combater

a precariedade do trabalho em conjunto com os gestores do SUS, buscando saídas

compatíveis e viáveis (Brasil, 2004e: 26 e 2005e: 25–26)..

O único objetivo onde é possível enxergar um pouco mais de flexibilidade

refere-se ao estudo da viabilidade das alternativas de contratação, quando for o caso, e

as circunstancias requeridas, mantendo, porém a política de preservação do emprego e

da renda dos ocupados no setor (Brasil, 2004e: 27 e 2005e: 28), demonstrando que o

Page 112: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

110

Ministério da Saúde propõe compreender a realidade dos municípios e estados

brasileiros.

Será através de articulação com os Comitês Estaduais, Regionais e Municipais,

consolidando a Rede de Apoio à Desprecarização do Trabalho no SUS que o Ministério

propõe preservar a gestão participativa e construir soluções de forma coletivas para a

situação de precarização do trabalho.

Além das atividades de formulação de políticas de desprecarização dos vínculos

de trabalho, o Comitê Nacional deve dar apoio e estimular a criação de Comitês de

Desprecarização do Trabalho Estaduais, Regionais e Municipais através da proposta de

ações que analisamos como referentes às seguintes categorias, pautado no Ministério

(Brasil 2005e: 27–29).

1) Informação: fixar diretrizes e um cronograma para recadastramento nacional

dos trabalhadores em situação precarizada; definir um modelo de cadastro único a ser

aplicável e aplicado em todo país; realizar levantamento dos trabalhadores em situação

precarizada quantos às formas de inserção e vínculos existentes;

2) Estímulos/indução: dimensionar e estimular a realização de concursos

públicos nas três esferas de governo, em cumprimento aos princípios constitucionais e

das resoluções das Conferências Nacionais de Saúde e Nacionais de Recursos

Humanos; induzir, por meio da cooperação com os entes federados, a nova concepção

de relações estáveis de trabalho, substituindo as formas precárias e informais, com o

compromisso de valorização do trabalho e melhorar o acesso e qualidade do

atendimento no SUS; valorizar e divulgar iniciativas adotadas na gestão do trabalho do

SUS que tragam dignidade do trabalho humano e possibilitem a melhoria dos serviços

de saúde no país, com enfoque multiprofissional;

3) Monitoramento/avaliação/análise: monitorar as formas de substituição do

trabalho precário nas esferas de governo; estudar a viabilidade das alternativas de

contratação, quando for o caso, e as circunstâncias requeridas, levando em conta a

política de preservação do emprego e da renda dos ocupados no setor; avaliar os

impactos financeiros das medidas propostas e as repercussões com base na Lei de

Page 113: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

111

Responsabilidade Fiscal; monitorar as decisões judiciais e/ou acordos extrajudiciais que

dizem a esse respeito, buscando formular alternativas de superação dos entraves legais e

fiscais;

4) Proposição: Propor mecanismos de financiamento pelo governo federal que

estimulem as formas legais e desprecarizadas de relação de trabalho no SUS com ênfase

no Agente Comunitário de Saúde e equipes de Programa Saúde da Família.

O Comitê Nacional classifica-se como um fórum de discussão de natureza

colegiada, coordenado pela Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde,

onde participam diversos atores institucionais dos segmentos de trabalhadores, gestores

e empregadores.

O Comitê Nacional tem como composição definida na Portaria nº. 2.430/2003,

sete representantes do Ministério da Saúde, envolvendo: a) Secretário de Gestão do

Trabalho e da Educação na Saúde; b) Diretor do Departamento de Gestão e da

Regulação do Trabalho em Saúde; c) Coordenador – Geral de Gestão do Trabalho em

Saúde; d) Coordenador – Geral da Regulação e Negociação do Trabalho em Saúde; e)

Diretor do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção à Saúde; f)

Diretor do Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistema da Secretaria

de Atenção Básica à Saúde; g) Coordenador – Geral de Recursos Humanos do

Ministério da Saúde. Um representante do Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão, um representante do Ministério do Trabalho e Emprego, um representante do

Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), um representante do

Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), um

representante de empregador privado que integre a Mesa Nacional de Negociação

Permanente do SUS, e por fim seis representantes da bancada dos trabalhadores da

Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS, assim distribuídos: a) Confederação

Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/ CUT); b) Federação

Nacional dos Enfermeiros (FNE); c) Federação de Sindicatos dos Trabalhadores das

Universidades Brasileiras (FASUBRA); d) Federação Nacional dos Farmacêuticos

(FENAFAR); e) Confederação Nacional dos Trabalhadores do Serviço Público Federal

(CONDSEF); f) Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO).

Page 114: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

112

O diálogo entre os Comitês de Desprecarização das diversas esferas é previsto

com a consolidação da Rede de Apoio à Desprecarização do Trabalho no âmbito do

SUS. E ainda, com as instâncias colegiadas (Comissão Intersetorial de Recursos

Humanos, Conselho Nacional de Saúde, Câmara Técnica de Recursos Humanos do

CONASS, Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do CONASEMS, Mesas

de Negociação Permanente do SUS) é realizado de forma constante ao se vincularem às

estruturas de Gestão do Trabalho em Saúde do SUS, assim como é previsto o

relacionamento com os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público do

Trabalho (Brasil, 2004e: 28 e 2005e: 29).

O Comitê Nacional Interinstitucional de Desprecarização do Trabalho no SUS

produziu documentos de contribuição significativa para a problemática que envolve o

trabalho precário no SUS. Como exemplo, temos a produção de um documento para

apoio aos estados e municípios acerca da problemática que envolve profissionais, como

os Agentes Comunitários de Saúde e de Endemias, face à nova modalidade de

contratação regulamentada pela lei (Emenda Constitucional nº. 5119 e Lei nº.

11.350/2006), A Cartilha de Orientações gerais para elaboração de editais – processo

seletivo público. E outro exemplo, a cartilha DesprecarizaSUS – perguntas e respostas,

que além de apresentar o Programa e o Comitê Nacional expõe a posição de atores

importantes deste processo como o próprio Ministério da Saúde, o CONASS, o

CONASEMS e os trabalhadores acerca da desprecarização do trabalho no SUS, e

explica questões sobre o trabalho precário, proteção social.

Historicamente, o Ministério da Saúde já publicou documentos para a orientação

de como recrutar, selecionar e contratar profissionais como o Agente Comunitário20.

Porém, conforme o contexto político, jurídico e técnico do momento, estas orientações

forneciam as mais variadas soluções que com certeza corroboravam mais para a

precarização do trabalho, como por exemplo, a orientação para a realização de contratos

em regime de bolsa de trabalho ou em Organização da Sociedade Civil de Interesse

Privado. Hoje para se ter a dimensão do desafio, a força de trabalho envolve 218 mil

Agentes Comunitário de Saúde e 80 mil Agentes de Endemias.

19 Acrescenta os parágrafos 4ª, 5ª e 6ª ao art. 198 da Constituição Federal, que permite a contratação dos Agentes Comunitários de Saúde e de Endemias através de processo seletivo público. 20 Manual de Recrutamento e seleção dos Agentes Comunitários de Saúde, em 1991 e Modalidade de contratação dos Agentes Comunitários de Saúde, em 2002.

Page 115: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

113

O documento Orientações Gerais para Elaboração de Editais – processo seletivo

público é produto do Comitê Nacional Interinstitucional de Desprecarização do

Trabalho no SUS, pautado na Emenda Constitucional nº. 51, regulamentada pela Lei nº.

11.350/06 , que juntas estabeleceram uma nova forma de ingresso no serviço público

para os Agentes de Saúde e Endemias, o Processo Seletivo Público. Atendendo

especialmente às competências da Secretaria de Gestão do Trabalho, às intervenções do

Ministério Público do Trabalho e às reivindicações dos municípios em relação à

problemática vivenciada, esse documento tem por objetivo orientar os estados e

municípios na realização de processos seletivos públicos para os profissionais em

questão, porém com liberdade de adaptação às suas realidades (Brasil, 2007h: 5).

Com já mencionado, destes profissionais é requerido como pré-requisito morar

na comunidade onde deverão atuar; e somado a isto, a situação agravante de

precarização do trabalho destes profissionais impulsionou a uma escolha pelo vínculo

de trabalho que desse a flexibilidade de ajustes em caso de ausência do pré-requisito

especificado, mas que não permitisse a desproteção social. Assim, a orientação contida

neste manual, dentro das disposições preliminares, refere que, para os Agentes

Comunitários a mudança de residência do candidato da área/microárea de atuação

implica em dissolução do vínculo de trabalho. Outra orientação sobre a

posse/contratação é que esta ocorrerá somente após a conclusão do Curso Introdutório

de Formação Inicial e Continuada conforme fixado na Lei 11.350/0621, conduzindo para

o processo de profissionalização desta profissão (Brasil, 2007h).

O manual também coloca algumas orientações para que determinadas

providências sejam tomadas precedendo a realização do processo seletivo público. Estas

medidas como, por exemplo, as validações dos processos de seleção pública realizados,

garantiriam o aproveitamento dos profissionais que já estavam em exercício da

atividade anteriormente à promulgação da Emenda Constitucional nº. 51. Outra medida

seria a alteração da Lei Orgânica para garantir o regime jurídico adotado e assim a

proteção social do trabalhador (Brasil, 2007h: 13–14).

21 Lei de criação da profissão do Agente Comunitário de Saúde e de Endemias que regulamenta o parágrafo 5º do art. 198 da Constituição Federal que dispõe sobre o aproveitamento de pessoal, amparado pelo parágrafo único do art. 2º da Emenda Constitucional nº. 51/2006.

Page 116: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

114

Enfim, como produto de discussões colegiadas, é fornecida como solução no

caso destas categorias profissionais a flexibilização numérica, mas ao mesmo tempo a

desprecarização do trabalho, respeitando a ideologia proposta para a categoria

profissional.

Na Cartilha Desprecarização do Trabalho no SUS – Perguntas e Respostas, o

Ministério, como gestor principal na condução das políticas, além de apresentar a visão

dos entes envolvidos expõe os objetivos, ações e compromissos de governo na

desprecarização do trabalho no SUS. Inicialmente, refere que houve nos últimos

tempos avanços nas discussões sobre as condições de trabalho, especialmente pela

globalização, assim como o esforço feito pela Organização Internacional do Trabalho -

OIT em torno da idéia do trabalho decente (Brasil, 2006i).

O desejável processo de flexibilização do trabalho no setor saúde, indispensável

para a absorção de tecnologias sem morosidade em sua substituição é considerado como

indutor das condições de sua precariedade. E a noção de trabalho precário ganhou

destaque nas discussões sobre gestão do trabalho em saúde, e tem sido usada para

indicar a ausência de direitos sociais e trabalhistas do SUS (Brasil, 2006i: 5).

Como objetivo, o Ministério da Saúde propõe que através deste documento

possa contribuir para a divulgação e debate sobre trabalho precário e sua

desprecarização, e assim promover a elaboração de políticas e formulação de diretrizes

para tal, preservando a gestão participativa com vistas a permitir a busca pela adequação

nas diversas realidades no país (Brasil, 2006i: 6).

Com relação à definição de trabalho precário, em 2006, o Ministério da Saúde

inclui especialmente a exposição das definições consideradas pelo CONASS e

CONASEMS, e das entidades sindicais como forma de comparar e considerar as

diferentes opiniões existentes. Os dois primeiros definem que este está relacionado aos

vínculos de trabalho que não garantem os direitos trabalhistas e previdenciários

consagrados em lei, ou seja, por meio de vínculos direto ou indireto. E que, mesmo que

o vínculo seja indireto é necessário garantir o processo seletivo e relação democrática

com os trabalhadores. Já as entidades sindicais consideram que este está caracterizado

não apenas como ausência de direitos trabalhistas e previdenciários consagrados em lei,

Page 117: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

115

mas também como ausência de concurso público ou processo seletivo para cargo

permanente em emprego público no SUS. O Ministério considera como únicos que

possam garantir proteção social do trabalhador, ou seja, pleno gozo de direitos

trabalhistas e previdenciários, os vínculos estatutário e o celetista (Brasil, 2006i: 13).

Com relação à atual situação de precariedade no SUS o Ministério da Saúde

refere, com base nos dados de pesquisa realizada por ele mesmo em 2002 sobre o

Programa Saúde da Família, que 20 a 30 % dos trabalhadores inseridos no programa

estão em situação de precariedade. Com relação aos Agentes Comunitários de Saúde,

26% somente possuem vínculos com proteção social (4% estatutários e 22% celetistas)

(Brasil, 2004c).

Especialmente em relação às ações desenvolvidas para a desprecarização dos

vínculos de trabalho estão envolvidos o Governo Federal através do Ministério e o

Congresso Nacional. As ações realizadas pelo primeiro foram: criação da Comissão

Especial para elaboração das Diretrizes do Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS;

a instituição do Comitê Nacional Interestadual de Desprecarização do trabalho no SUS;

a criação da Rede de Apoio à Desprecarização do Trabalho no SUS; no âmbito do

Ministério da Saúde (em 2003) a realização de processo seletivo simplificado para

contratação por um ano, prorrogável por mais três; nos hospitais federais a realização de

processo seletivo simplificado e posterior realização de concurso público. Já pelo

Congresso Nacional houve a realização da Promulgação da Emenda Constitucional nº.

51 para oferecer base legal de sustentação para o Programa de Agentes Comunitários de

Saúde, pelo estabelecimento de um modo singular de seleção dos Agentes Comunitários

de Saúde e de Endemias (Brasil, 2006i: 21).

Quanto à realização de processos seletivos simplificados para contratações

temporárias realizado pelo Ministério da Saúde estes tiveram como objetivo substituir

consultores temporários contratados por organismos internacionais; porém, nota-se

uma contradição, visto serem considerados por ele mesmo como trabalho precário os

contratos com tempo determinado, a menos que estes estejam nas condições de

excepcionalidade pelo interesse público.

Page 118: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

116

Em suma, nestas competências, visualizamos o comprometimento do Ministério

com a desprecarização do trabalho, com ações de cooperação e participação entre

estados, município e o governo federal, envolvendo aspectos legais, financeiros,

estruturais e operacionais que se forem cumpridos, sem dúvida, atenderão às principais

causas da precarização do trabalho. De fato, de alguma forma ações já estão sendo

colocadas em prática, como por exemplo, a publicação das orientações para processo

seletivo dos Agentes Comunitários de Saúde e de Endemias, a orientação de como criar

comitês de desprecarização do trabalho no SUS entre outras.

Com relação à construção de uma Diretriz para o Plano de Carreiras, Cargos e

Salários – SUS, a idéia de propô-la não é recente. Em 1987, a Comissão Nacional da

Reforma Sanitária sugeriu que o Sistema Nacional de Saúde deveria fixar elementos

para uma matriz que garanta a compatibilidade dos planos de carreira das instituições

federais, estaduais e municipais. A diferenciação dos pisos salariais para as diferentes

categorias profissionais é proposta bem como outras normas genéricas para a garantia

da uniformidade na carreira dos trabalhadores de saúde garantindo as particularidades

regionais (Brasil, 2006d: 12).

Em seguida, a Lei nº. 8.080/90 (art.nº. 27) estabelecia a necessidade de

instituição de Plano de Carreira, Cargos e Salários em cada esfera de governo para o

SUS, da administração direta e indireta, com fixação de pisos nacionais de salário para

cada categoria profissional, sem prejuízo da adoção de remunerações complementares

para atender às necessidades regionais. A Lei nº. 8.142/90 (art.nº. 4) que dispõe da

participação social e sobre as transferências de recursos financeiros coloca como

necessário para que seja realizada a transferência de recursos para estados, municípios e

Distrito Federal a implantação de uma Comissão para a elaboração de um Plano num

prazo de dois anos. Outra política indutora da construção de uma diretriz para a

elaboração de Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS único consta na NOB/RH-

SUS (2002), e esta coloca um prazo para a execução de 12 meses depois da aprovação

da mesma (Brasil, 2006d: 13).

Fruto de uma nova política de trabalhador do SUS, o Ministério da Saúde criou

em 2004 a Comissão Especial para a Elaboração das Diretrizes do Plano Carreira,

Cargos e Salários – SUS, através da Portaria GM nº. 626/2004, constituída por vários

Page 119: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

117

representantes e órgãos do Ministério, do Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão, do Ministério da Ciência e Tecnologia, do CONASS, do CONASEMS e de

entidades sindicais, patronais que compõem a Mesa Nacional de Negociação

Permanente – SUS. O processo de elaboração das diretrizes ocorreu pautado no

princípio democrático, sendo disponibilizado, após sua definição pela Comissão

Especial, para consulta pública no período de março a junho de 2005, e reaberta no mês

de agosto para ampliar o debate e oportunizar maiores trocas. As sugestões recebidas

foram sistematizadas e discutidas pela Comissão Especial, e os pontos mais colocados

foram em relação à ascensão funcional, jornada de trabalho, garantia de direito

adquiridos, critérios para cessão de trabalhadores, carreiras especificas para médicos,

equivalência de remuneração entre os três poderes e financiamento dos planos de

carreira (Brasil, 2006d: 12–14).

Mesmo sendo aprovado em todas as instâncias do SUS (Mesa Nacional de

Negociação, Comissão Tripartite e no Conselho Nacional de Saúde) algumas

divergências se mantêm, sem, no entanto inviabilizar a implantação destas diretrizes na

construção de planos específicos nos estados e municípios. No processo de discussão

sobre a jornada de trabalho, os diversos entes participantes apresentaram defesas

divergentes, como por exemplo, os trabalhadores que defendem a redução da jornada

para 30 horas, sem redução salarial para todos os trabalhadores (exceto os que tenham

jornada já definida por lei); e os gestores que argumentam que a jornada de trabalho não

deve ser fixada pelas diretrizes, pois deve ser adaptada a realidade local, debatida entre

gestores e trabalhadores nos espaços de negociação no âmbito das três esferas de

governo. E com relação ao Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS exclusivo para

médicos, argumenta-se que não foram consideradas as diferenças entre os requisitos de

graduação e pós-graduação lato sensu da área de medicina e os de outras áreas no que se

refere ao tempo de formação, mais longa para a medicina(Brasil, 2006d: 9–10).

Analisando a Agenda Positiva de Gestão do Trabalho com relação ao Plano de

Carreiras, Cargos e Salários – SUS, por ele ter sido considerado pelo CONASS e

CONASEMS como instrumento importante para a valorização da carreira pública e,

portanto, favorecer na solução dos problemas que envolvem a precarização do trabalho,

destaca-se algumas colocações que corroboram em parte com esse pensamento. Por

exemplo, a retomada das discussões sobre o Plano de Carreiras, Cargos e Salários como

Page 120: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

118

política de governo está em consonância com os objetivos da Comissão Temática de

Papel do Estado, Reestruturação do Serviço Público e Diretrizes Gerais de Planos de

Carreiras da Mesa Central de Negociação Permanente, e tais disposições estão na

Constituição Federal e Leis Orgânicas da Saúde, cabendo ao Departamento de Gestão e

Regulação do Trabalho na Saúde desenvolver articulações que visem a viabilização do

Plano de Carreiras, como planejar e coordenar o desenvolvimento de uma políticas de

carreira própria para o SUS (Brasil, 2005e: 15).

A grande questão que estremece tanto os estados quanto os municípios refere-se

a que o Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS não deva ser impositivo pelo

Ministério da Saúde, e sim diretriz geral a ser seguida e adaptada a cada realidade local.

Neste documento este é situado como diretriz, tendo sido trabalhado de forma

democrática e participativa, compartilhando entre gestores e trabalhadores a

coordenação e relatoria dos trabalhos executados pela Comissão Especial para a

Elaboração de Diretrizes do Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS. Além disso, o

trabalho de elaboração das diretrizes tomou como referências, dentre outros documentos

nacionais, a pesquisa do CONASS sobre a estruturação da área de recursos humanos

nas Secretarias de Saúde de Estado e do Distrito Federal (Documenta nº. 01) assim

como as resoluções do CONASEMS.

Com relação ao ingresso no serviço público a diretriz do Plano de Carreiras

estabelece como um de seus princípios norteadores a aprovação em concurso público

como acesso à carreira dos trabalhadores do SUS. Outro princípio, a mobilidade, refere-

se à possibilidade de trânsito dos trabalhadores do SUS, sem perdas de seus direitos e a

progressão da carreira. Estes princípios refletem que é admitida a flexibilidade funcional

dos trabalhadores, com base no conceito levantado no referencial teórico como a

capacidade de sua mobilização, porém sem perda da proteção social. E ainda, que não

será admitido as formas ilícitas de inserção do trabalhador no SUS (Brasil, 2005e: 17–

18 e Brasil, 2006d: 19–20).

Referente à Regulação do Trabalho, esta faz parte hoje da agenda da gestão e

isso pode ser reconhecido pela criação da Câmara de Regulação do Trabalho por meio

da Portaria GM nº. 827/2004. A justificativa de sua criação perpassa pelo

reconhecimento de que a União possui como competência privativa estabelecida na

Page 121: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

119

Constituição Federal de 1988 (art.nº. 22, inciso XVI) a legislação sobre a organização

do sistema nacional de empregos e condições para o exercício das profissões, apesar de

não estar sendo plenamente exercida. A regulação das profissões tem obedecido mais às

regras colocadas pelo mercado. Estimula-se o processo de auto-regulação das

corporações por meio de regras emitidas pelos conselhos de fiscalização do exercício

profissional. Não há qualquer esboço de intervenção do governo no que se referem às

resoluções internas produzidas por estes órgãos de fiscalização (Brasil, 2005d).

O atual regime regulatório no Brasil possui como característica básica, “a

existência de uma legislação que preserva monopólios corporativistas na regulação do

trabalho, os quais, muitas vezes, extrapolam os seus próprios limites de atuação,

disseminando conflitos que promovem a competição entre as profissões de saúde”. Um

exemplo recente é o da medicina sobre a Lei do ato médico que esteve em palco para

discussões entre todas as outras profissões. Ocorre também é que as novas conquistas

técnico - científicas produziram a necessidade de atualização das funções definidas

pelas legislações das profissões pertinentes ao setor saúde. Os limites e competências de

cada especialidade ou profissão passam a ter um borramento em suas fronteiras de

atuação gerando conflitos entre os diversos conselhos profissionais que trazem sérios

prejuízos ao interesse público. E ainda questões do reconhecimento das novas

ocupações e profissões que necessitam de reconhecimento também carecem de

regulação. (Brasil, 2005e: 34 e 2006h: 4).

Na Agenda Positiva (2005e: 34) expõe-se que as ações e os serviços de saúde, de

relevância pública, exigem do poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua

regulamentação, fiscalização e seu controle, submetendo o interesse particular ao

interesse público, com o intuito de proteção à vida. A complexidade da vida moderna e

as transformações do mundo do trabalho demandam um Estado mais presente. Portanto,

para a implementação desta política é fundamental o funcionamento da Câmara de

Regulação do Trabalho em Saúde, vinculada ao Departamento de Gestão e Regulação

do Trabalho em Saúde. Esta possui a finalidade de debater, produzir e recomendar ao

Ministério da Saúde normas sobre a regulação do exercício profissional, assim como a

definição da regulação de novas ocupações do setor.

Page 122: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

120

O modelo de regulação no Brasil é composto pelos conselhos profissionais de

um lado, e de outro o Congresso Nacional aprovando a criação de profissões sem ao

mesmo haver diálogos entre diversos entes que deveriam participar das decisões.

Baseado no exposto aqui se percebe que este modelo encontra-se ultrapassado por não

respeitar o princípio da negociação e decisões colegiadas. A proposta da Câmara de

Regulação é justamente para a modernização de seu modelo, tornando-a um processo de

discussão coletiva, onde todos os projetos de lei para a criação de profissões devam

passar por ela, realizando posicionamentos acerca das situações polêmicas da criação de

profissões e também a participação nas audiências públicas que envolvam assuntos

deste tema.

A Câmara de Regulação possui caráter permanente, consultivo e natureza

colegiada onde participam os órgãos governamentais ligados à área de regulação das

profissões, conselhos de fiscalização do exercício profissional e entidade de cunho

técnico – científico. Constitui-se, portanto, um espaço de discussão entre os gestores do

SUS e representações profissionais com vistas à construção coletiva de resposta às

questões relacionadas ao tema. O desafio é conseguir aliar a defesa dos interesses dos

profissionais à garantia da realização de um trabalho com utilidade para a população.

Assim, a Câmara permitirá ao Estado reassumir seu papel na regulação do trabalho,

especialmente do setor saúde conforme a Constituição Federal e consoante à Lei nº.

8080/90 que dispõe sobre o trabalho em equipes matriciais e multiprofissionais. O

objetivo disso é instituir um mecanismo que venha a resolver não só as questões

apontadas, como também as futuras que venham surgir do choque de interesses

profissionais, resultantes das disputas de poder entre as diversas categorias profissionais

do setor (Brasil, 2005e: 35 e 2006g, página: 131).

As instâncias participantes da Câmara de Regulação são: o Ministério da Saúde;

o Ministério da Educação e da Cultura; Ministério do Trabalho e Emprego; CONASS;

CONASEMS; Agencia Nacional de Vigilância Sanitária; Conselhos Integrantes do

Fórum Nacional dos Conselhos Federais da Área da Saúde; Entidades Científicas das

Profissões e a Mesa Nacional de Negociação Permanente – SUS (Brasil, 2006h: 10).

Referente à Negociação do Trabalho, Santana (1999) mostra que o processo

permanente de negociação coletiva do trabalho envolvendo gestores e trabalhadores é

Page 123: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

121

uma importante estratégia para o enfrentamento dos desafios elencados para a gestão do

trabalho. Mas no Brasil, o problema referente à baixa capacidade de diálogo entre

gestores e trabalhadores é uma realidade preocupante e remete-se aos diversos aspectos

ligados à constituição das relações de trabalho. O incentivo à negociação deve ser

instituído ao se pensar como modelo de gestão o tripé: negociação, descentralização e

flexibilização. Assim formas de promoção dessa negociação devem ser propostas dentro

da política de gestão do trabalho em saúde.

Em 1993, por meio da Resolução nº. 52/1993 do Conselho Nacional de Saúde22,

é criada a Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS. Nesta época teve-se

como objetivo o estabelecimento de um fórum permanente de negociação entre os

gestores públicos e privados e trabalhadores do SUS para serem discutidos todos os

pontos pertinentes à força de trabalho em saúde. A criação de um espaço democrático

através desta iniciativa trouxe a esperança de se concretizar o atendimento de

reivindicações dos trabalhadores, já manifestadas em diversas conferências nacionais,

estaduais e municipais nas quais foram colocadas as relações e condições de trabalho no

centro das discussões. Apesar da criação da mesa ter representado uma conquista,

apenas algumas reuniões em intervalos irregulares foram realizadas. Podemos dizer que

a mesa durante a década de 90 permaneceu desativada por falta de interesse político dos

governantes da época. (Brasil, 2006c: 7, Machado, 2006a: 135).

Mais tarde, em 1997, novamente a Mesa Nacional de Negociação foi reinstalada

e mais uma vez não teve continuidade. Em 2003, outra tentativa desta vez com êxito,

mais uma vez foi feita a sua reinstalação, por meio da Resolução nº. 331/2003 do CNS,

adotando a denominação de Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS. Com

nova estrutura e uma composição ampliada de seus membros define metodologias de

trabalho que passarão a ser adotadas para a condução e implementação da agenda a ser

desenvolvida nos anos seguintes como, por exemplo, a não possibilidade de decisão das

questões por votação, portanto tendo que ser discutidos e produzidos consensos. As

mesmas questões que forraram as discussões no passado retornam para o debate na

Mesa Nacional de Negociação Permanente – SUS, e somado a estas, são incorporados

22 Resolve: Instituir uma Mesa nacional de Negociação, com o objetivo de estabelecer um fórum permanente de negociação entre empregadores e trabalhadores do Sistema Único de Saúde, sobre todos os pontos pertinentes a força de trabalho em saúde.

Page 124: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

122

outros temas de grande relevância que tanto mobiliza gestores e trabalhadores do SUS,

como plano de carreira, cargos e salários, jornada de trabalho, saúde do trabalhador,

formação e qualificação de profissionais de saúde, entre outras (Brasil, 2006c: 8).

Envolvendo o Governo Federal, gestores estaduais e municipais, prestadores de

serviços e trabalhadores do SUS, a Mesa Nacional de Negociação Permanente – SUS, é

paritária e tem como base o conceito do controle social fundamentado nos princípios

constitucionais da legalidade, moralidade, impessoalidade, qualidade dos serviços,

participação, publicidade e a liberdade sindical, mantendo as decisões através de

consensos entre seus membros em reuniões ordinárias ou extraordinárias (Machado,

2006a: 136).

A Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS, conforme a sua resolução

de reinstalação passou a ter a seguinte composição: onze representantes dos empregados

públicos, duas representações patronais do setor privado e treze entidades sindicais.

Entre gestores e prestadores estão: Ministério da Saúde (MS); Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE); Ministério da Educação (MEC); Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão (MP); Ministério da Previdência Social (MPS); Conselho Nacional

de Secretários de Saúde (CONASS); Conselho Nacional de Secretários Municipais de

Saúde (CONASEMS); Confederação Nacional de Saúde (CNS); Confederação das

Santas Casas de Misericórdia (CMB). Entre as entidades de trabalhadores estão: a

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS-CUT); a

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde (CNTS); a Confederação Nacional

dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam); a Confederação Nacional

dos trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef); a Federação Nacional dos

Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social (Fenasps); a

Federação Nacional dos Médicos (Fenam); a Federação Nacional dos Enfermeiros

(FNE); Federação Interestadual dos Odontólogos (FIO); a Federação Nacional dos

Psicólogos (Fenapsi); Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar); a Federação de

Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra Sindical); e a

Federação Nacional dos Assistentes Sociais (Fenas) (Brasil, 2006c: 11–12).

Lembrando que 65 % da força de trabalho do SUS possuem nível médio, e

confrontando este dado com a composição da Mesa Nacional de Negociação descrita

Page 125: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

123

acima, podemos perceber que há muito pouca representatividade deste nível inserida nas

negociações sobre o trabalho. Isto é algo a ser pensado e proposto solução se de fato

pretende-se promover a ampliação e qualificação do processo democrático nesta

instância.

Trata-se de prioridades para a negociação do trabalho, conforme a Resolução nº.

229/97 e deliberações do CNS, os seguintes temas relacionados nos Princípios e

Diretrizes para a NOB/RH-SUS: Plano de Carreira, Cargos e Salários – SUS; formação

e qualificação profissional; jornada de trabalho no SUS; saúde do trabalhador da saúde;

critérios para liberação de dirigentes para exercer mandato sindical; seguridade de

servidores; precarização do trabalho, formas de contratação e ingresso no setor público;

instalação das mesas estaduais e municipais de negociação; reposição da força de

trabalho no SUS e outros temas sugeridos, como por exemplo, a regulamentação da

profissão do Agente Comunitário de Saúde (Machado, 2006a: 137).

De forma geral, os objetivos da Mesa Nacional de Negociação são os de

implementar e consolidar as Mesas nos âmbitos municipais e estaduais, com vistas às

diretrizes do governo atual referente à democratização das relações de trabalho no setor

público; estabelecer espaços permanentes de negociação para edificação das bases de

uma sociedade democrática, melhorar e ampliar o acesso do usuário do SUS ao

atendimento, a partir da valorização do trabalho e dos compromissos firmados entre

gestores, trabalhadores e empregadores. Mais especificamente, a Mesa Nacional de

Negociação possui como objetivo desencadear um processo de sensibilização que

resulte na implantação e implementação de Mesas de Negociação nos estados, Distrito

Federal e em grandes cidades até o final de 2005 (Brasil, 2005e: 44).

Com relação aos avanços referentes à implantação de mesas de negociação pelo

país, vê-se um total de 18 Mesas, distribuídas em três na região Norte, seis no Nordeste,

cinco no Sudeste, duas no Sul e duas no Centro-oeste. Podemos perceber que maiores

avanços estão nas regiões Nordeste e Sudeste. E ao observarmos o objetivo de

implantação e implementação em grandes cidades até o final de 2005, segundo os dados

de distribuição abaixo, ao que parece obteve-se pouco êxito. Alguns resultados após a

reinstalação da Mesa Nacional já podem ser identificados, como por exemplo, o

protocolo aprovado por esta que trata do Regimento Interno para o funcionamento da

Page 126: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

124

Mesa Nacional; a criação do Comitê Nacional de desprecarização do Trabalho no SUS;

a elaboração de diretrizes do Plano Carreira, Cargos e Salários – SUS e assim como o

Protocolo de Cedência de Pessoal do SUS (Machado, 2006a: 137–138).

A Negociação do Trabalho no SUS, também se constitui ferramenta importante

para a desprecarização, assim como regulação do trabalho, por ser uma instância

colegiada com autonomia para discutir de forma propositiva todos os aspectos do

funcionamento e das relações de trabalho no SUS como jornada, condições de trabalho,

salário e carreira.

Com relação à estrutura para a gestão do trabalho, outra proposta do Ministério

da Saúde baseada nos estudos do CONASS (Documentas nº. 1 e 4) e do Observatório

de Recursos Humanos do IMS/UERJ, realizados em 2004, é o desenvolvimento de um

programa, o ProgeSUS, instituído pela Portaria nº. 2.261/2006, de apoio à estruturação

de Secretarias de Gestão do Trabalho, assim como qualificação, nas secretarias de

estado e municípios. Este propõe cooperação técnica e financeira com estados e

municípios e tem como objetivo desenvolver ações conjuntas entre os entes federados

visando à criação e/ou fortalecimento e modernização dos setores de gestão do trabalho

e da educação na saúde para o SUS. O ProgeSUS possui quatro componentes (Brasil,

2006e: 13).

1) Estruturação da Gestão do Trabalho e Educação no SUS – busca auxiliar no

atendimento às necessidades de organização da área de Gestão do Trabalho e da

Educação na saúde. Relaciona-se à instituição formal do setor, definição de

equipe e estrutura física adequada e aquisição de equipamentos.

2) Sistema de Informação Gerencial para o setor de Gestão do trabalho e

Educação na SUS – Disponibilização pelo Ministério da Saúde, do Sistema de

Informação Gerencial para as Secretarias de Gestão do Trabalho e Educação no

SUS que desejarem adotá-lo.

3) Capacitação de Gestão do Trabalho e da Educação no SUS – qualificação dos

gestores e técnicos da área para o desenvolvimento de conhecimentos para

auxílio na perspectiva de modernização da gestão do trabalho. Para a

Page 127: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

125

qualificação é previsto a elaboração de material didático e realização de oficinas,

cursos presenciais ou à distancia, através das estruturas formadoras já existentes.

E as parcerias envolvem a OPAS, o CONASS, CONASEMS e instituições que

atuam e contribuam em vários campos para a melhoria e desenvolvimento do

SUS.

4) Sistema Nacional de informações em Gestão do Trabalho – constituição de

um sistema Nacional de Informação da área, abrangendo os sistemas de

informação das secretarias estaduais, municipais e do Ministério da Saúde.

A estruturação e modernização da área de Gestão do Trabalho e Educação

dentro das secretarias municipais e estaduais são fundamentalmente importantes na

consolidação do SUS, e estão consoantes com o Pacto de gestão, visto ser uma

possibilidade em se realizar o diagnóstico da realidade em que se encontra a força de

trabalho no país, além de corroborar para o fortalecimento da capacidade gestora dos

entes federados. A dificuldade na localização, proporção e tipologia da flexibilização

do trabalho que vem ocorrendo no país, como já foi colocado, é um fato que traz

repercussão na elaboração de propostas mais adequadas e que através desta iniciativa do

Ministério da Saúde poderá torna-se possível a integração e articulação de todo o

sistema de saúde. Será alcançável uma gestão, não somente do trabalho em saúde do

município, do estado ou da união, mas enfim, do trabalho no SUS.

Concluindo, esta Agenda do Ministério da Saúde permite de forma clara a

observação do entendimento deste órgão acerca das questões referentes à flexibilização

e precarização do trabalho. Assim como também expõe através de suas propostas que o

Ministério está conduzindo as políticas que referem a gestão do trabalho de forma

participativa, assim como cooperativa com as outras esferas de governo. Sua exposição

possibilita também enxergar a sua correlação com as políticas construídas e

implementadas durante a estruturação e consolidação do sistema de saúde brasileiro e

nos prepara para, a partir desta exposição, mergulhar mais especificamente no debate

entre os entes que estão imbuídos em reverter o processo referente à forma de

vinculação dos trabalhadores ao SUS.

Page 128: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

126

Assim sobre a análise da política do Ministério da Saúde, percebemos que este é,

de fato, um ator de suma importância para a resolução dos problemas inerentes à Gestão

do Trabalho em saúde. Está demonstrado claramente a assimilação deste papel efetivo

na definição de diretrizes no qual se refere em especial à flexibilização e

desprecarização do trabalho no SUS. Esclarecer conceitualmente essas duas situações,

provocar o debate sobre elas, incluir de forma participativa gestores, trabalhadores e

representantes dos órgãos específicos atuantes no campo da Gestão do Trabalho,

implantar e implementar políticas assim como ações concretas no campo operacional,

financeiro e conceitual foram sem dúvida colaborações importantíssimas neste processo.

Page 129: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

127

CAPÍTULO VIII - A ANÁLISE DAS PRODUÇÕES DO CONASEM S E

CONASS

A necessidade de amadurecimento do modelo de gestão participativa para o

desenvolvimento do SUS possibilitou que os entes atuantes nos fóruns colegiados

criados, implantados e/ou (re)implantados debatessem as principais questões de toda a

problemática envolvida na área de Gestão do Trabalho. Com isso a produção de

políticas, diretrizes, planos de ação, orientações, entre outras ações, pode ser construída

e aprimorada, fortalecendo as tomadas de decisões no âmbito de cada esfera

governamental, de forma mais articulada.

Debruçar-se sobre o material produzido, desde o período onde a relevância

conceitual da Gestão do Trabalho no SUS demonstrou ser dada com a criação da

Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, possibilitou uma análise mais

aprofundada não somente se de fato há a apropriação da evolução conceitual descrita no

capítulo V, mas também se ela está sendo colocada em prática. E, especialmente, se

entre estes entes envolvidos há consenso nos entendimento das questões sobre a

flexibilização do trabalho em saúde e os problemas referentes à precarização.

Nesta etapa do estudo desenvolvemos a análise de documentos identificados

como relevantes para Gestão do Trabalho no SUS, com destaque aos aspectos

identificados referentes à flexibilização, e as questões que envolvem a precarização e

desprecarização do trabalho, correlacionados com o referencial teórico aprofundado nos

capítulos anteriores. Contudo, pela riqueza, qualidade e atualidade dos conteúdos

contidos nestas publicações, alguns destes foram aproveitados também no

desenvolvimento do marco teórico já apresentado.

CONASEMS

Deste ente foram identificados como publicações relevantes o volume nº. 14,

Ano I, da Revista CONSEMS, de outubro a dezembro de 2005; dois volumes das Teses

Page 130: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

128

e Planos de Ação, período de 2005 a 2007 e de 2006 a 2007 e duas cartilhas com

mesmo título - Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, porém anos de

publicações diferentes, uma de 2006 e a outra sem data, que pelo conteúdo sobre as

descrições de fatos ocorridos possivelmente é de um ano anterior. A ordem de

apresentação da análise destas publicações seguirá a cronologia das publicações para

promover uma maior compreensão do contexto captado no conteúdo destes.

Na publicação de 2005 da Revista CONASEMS, os principais pontos colocados

sobre a flexibilização do vínculo de trabalho referem-se ao cenário real de alguns

municípios e a algum tipo de proposta. Inicialmente é resgatado o contexto histórico do

SUS onde, durante a implantação para se cumprir a descentralização do sistema de

saúde, funcionários federais e estaduais foram disponibilizados para a gestão municipal

e a contrapartida municipal foi a obrigatoriedade na reposição dos profissionais à

medida que fossem ocorrendo as aposentadorias e ainda a implementação de programas

do Ministério da Saúde.

No artigo refere-se que o dilema municipal nesta época circulava em torno do

pouco financiamento para a implantação das políticas de saúde que demandaram

expansão da força de trabalho em virtude do modelo assistencial adotado, e em meio a

isso, a Lei de Responsabilidade Fiscal limitando o gasto com pessoal, e a solução

encontrada pelos gestores locais foram as contrações realizadas por vínculos indiretos,

sem garantias dos direitos dos trabalhadores que levaram à precarização do trabalho.

Como exemplo citado, o município de São Luiz – Maranhão possuía 6 mil funcionários

com vínculos indiretos utilizando parcerias com Organização da Sociedade Cível de

Interesse Público - OCIPS, cooperativas, e outros. O último concurso foi realizado

somente em 1993. A aplicação de recursos com a saúde deste município era de 18 % (a

recomendação da Emenda Constitucional é de 15%), e em Santo André – SP, o

direcionamento de recursos com a saúde era de 20%, conforme citado. Segundo a

colocação do próprio secretário de saúde na ocasião:

“[...] seria necessário muito mais do que isso para que, respeitando os direitos trabalhistas, agregássemos mais recursos humanos para atender a demanda reprimida na assistência” (Brasil, 2005a: 27).

Page 131: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

129

Sobre os vínculos flexíveis que se originaram como solução encontrada pelos

municípios para atender a política de saúde, o Ministério Público do Trabalho iniciou os

questionamentos sobre a ilegalidade e também sua conseqüência, a precarização do

trabalho. A recomendação deste órgão foi a legalização e desprecarização através de

concurso público, porém corroborando para elevação do número de municípios em

desobediência à Lei de Responsabilidade Fiscal. Com relação a esses questionamentos,

a consultora do CONASEMS considerava incoerente a exigência de concurso público,

devido ao caráter provisório de determinados programas. Sua colocação:

“[...] o concurso público pressupõe que todos os programas são de longo prazo. O que não é verdade. Muitos deles visam reverter problemas a médio prazo. Se o município admite pessoas por concurso e, amanhã, o programa acaba, ele não terá como remover esse funcionário para outro cargo, porque o serviço público não permite esse tipo de remoção” (Brasil, 2005a: 28).

Vale lembrar que no ano desta publicação o Programa Saúde da Família ainda

era considerado programa de saúde, e passou a ser Política Nacional da Atenção Básica

somente em 2006. E como proposta de solução, o presidente do CONASEMS, à época,

sugeriu a modificação do texto constitucional com o objetivo de superar as dificuldades

legais que o Ministério Público do Trabalho afirmava existir. Ou seja, possibilitar a

contratação indireta dos Agentes Comunitários de Saúde para garantir o vínculo com a

comunidade onde moram, característica considerada importante no trabalho deste

programa.

Ainda outra proposta colocada pelo presidente é para que haja aumento do

volume de recursos aos municípios para que a transposição do vínculo indireto para o

direto não esbarre na Lei de Responsabilidade Fiscal.

“É bom ressaltar que não somos contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela é muito necessária. A questão tem a ver com a Reforma Tributária, que estabeleça repasse de mais recursos aos municípios” (Brasil, 2005a: 28).

Toda a discussão sobre a contratação por vínculo indireto e a pressão do

Ministério Público do Trabalho por concurso têm como pano de fundo os direitos

trabalhistas. Nesta publicação o CONASEMS expressa de forma clara que, apesar de

Page 132: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

130

defender a contratação indireta para os Agentes Comunitários, defende que estes junto

aos outros profissionais da área a saúde devam ter garantia de vínculos com direitos

trabalhistas, assim não concordando com a precarização do trabalho; e tarefa essa que

deve ser compartilhada entre os entes federais, e que está sendo realizada através do

Comitê Nacional de Desprecarização do trabalho em Saúde, instituído pelo Ministério

da Saúde do qual o CONASEMS faz parte.

Outra questão que está na Agenda da Gestão do Trabalho e discutida neste artigo

é o Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS. O CONASEMS entende que este é um

incentivo para o trabalhador de saúde que queira ingressar na carreira SUS. Mas coloca

que não deve haver um plano padrão para todos os municípios. E sobre as Diretrizes

Nacionais do Plano de Carreiras definidas pela Comissão Especial organizada pelo

Ministério da Saúde o CONASEMS apresentou varias considerações, entre elas que o

Plano não seja Lei Federal, mas sim diretriz geral. “É importante que municípios,

Estados e União tenham liberdade de elaborar e negociar seus PCCS” comenta o

presidente deste ente (Brasil, 2005a: 29).

Para maior aproximação com a realidade em que os municípios brasileiros

vivenciam na gestão do trabalho no SUS foi captado deste artigo relato de gestores

municipais apresentados, como por exemplo, em Santo André. O problema da

rotatividade intensa dos profissionais médicos não permite tempo hábil para os

cumprimentos de todos os ritos (burocráticos), e por outro lado o gestor tem como

obrigação não deixar os plantões descobertos, relata a secretaria de saúde da época. Ela

encontra pelo menos três razões para essa problemática: 1) incapacidade de oferta de

salários mais atrativos devido ao recurso financeiro escasso; 2) mercado de trabalho

aberto e com muitas vagas que permite ampla escolha; 3) uma competição predatória

entre os municípios vizinhos – quando um município vizinho aumenta o salário do

medico, o outro acaba tendo que aumentar também como forma de fixação do

profissional (Brasil, 2005a: 29).

A solução apresentada pela secretaria de saúde para as questões referentes à

cobertura da urgência e emergência foi através do chamado “credenciamento de

serviços profissionais”, respaldado na Lei nº. 8.666 - lei de licitações. A

operacionalização disto se deu através de uma chamada pública das necessidades, em

Page 133: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

131

edital, e o profissional que atendesse ao perfil se credenciava, gerando um contrato de

prestação de serviço, obedecendo à lógica da administração municipal de preencher as

grades dos plantões, conforme especialidades e localidades. Na verdade o vínculo não é

trabalhista e sim de prestação de serviço, necessitando o profissional ter inscrição

municipal e recolher o Imposto sobre Serviços (Brasil, 2005a: 30).

Na verdade, estes malabarismos diante da falta de recursos, dos entraves

burocráticos e da demanda por serviços fez sobressair o esforço dos gestores municipais

na garantia ao atendimento, porém se caracterizam as verdadeiras condições locais onde

está situada a flexibilização, a precarização e inclusive a ilegalidade na contratação dos

profissionais de saúde para o SUS.

A publicação analisada seguidamente foi a Teses e Plano de Ação 2005 – 2007,

e nesta publicação são discutidos, além da Gestão do Trabalho na Saúde (Tema 2),

temas como o Financiamento da Saúde (Tema 1), as Formas de alocação de recursos

disponíveis no SUS (Tema 3), a Descentralização e municipalização (Tema 4) e o

Modelo de atenção (Tema 5). Estes últimos temas mesmo que não abordem diretamente

as questões envolvidas na problemática na Gestão do Trabalho em saúde, indiretamente

repercutem nestas. Apresentamos abaixo um quadro - síntese analítico das operações e

estratégias definidas pelo CONASEMS em relação ao Tema Gestão do Trabalho.

Page 134: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

132

QUADRO 6 – Considerações sobre Operações e Estratégias definidas pelo CONASEMS em relação ao

Tema Gestão do Trabalho no SUS – 2005

Operações e Estratégias Colocações do CONASEMS Considerações

1. Contratar estudos que

aprofundem o conhecimento

sobre a legislação que regula

a contratação e gestão do

trabalho nos serviços de

saúde.

Existem contradições nas legislações. Não devemos aceitar

a posição do Ministério Público do Trabalho como única e

definitiva. A lei que cria os Agentes Comunitários de

Saúde, por exemplo, permite contratações na forma

indireta. Essa lei é inconstitucional? Se for, a quem cabe

solicitar sua inconstitucionalidade? Quais são as outras

variáveis que precisam ser exploradas nesse tema?

A posição do CONASEMS expressa dúvidas sobre as legislações que regem as

formas de contratação nos serviços de saúde. A colocação sobre o Ministério

Público do Trabalho, somada às indagações sobre a inconstitucionalidade da lei

da criação do Agente Comunitário sugere que não há uma orientação específica

quanto à flexibilização, aparentando uma posição de espera por maiores

esclarecimentos. Mas, se resgatarmos a sua posição no documento analisado,

nota-se a tendência favorável à manutenção da flexibilização.

2. Elaborar estudos sobre a

estruturação da força de

trabalho nos estados e

municípios.

Precisamos conhecer melhor a diversidade do problema no

país para propor mudanças.

O CONASEMS reconhece as diferenças entre as diversas regiões do país e que

não as domina totalmente. Estas diferenças o impede de tomar posições

específicas e o impulsiona a ampliar as discussões entre os gestores.

3. Motivar atores políticos –

em especial senadores e

deputados federais – para

propor revisão da

Constituição

Adequar os dispositivos legais para responder às

necessidades do SUS e, particularmente, do processo de

descentralização. Ou seja, dar continuidade à Reforma

Sanitária e esta é uma das agendas inconclusas da mesma.

A motivação para a revisão da Constituição estaria relacionada à possibilidade

de se adequar as formas de inserção dos trabalhadores de saúde no SUS,

ampliando a governabilidade e governança local. Em outras palavras estaria

relacionada à permissão da flexibilização dos vínculos.

4. Criar simpósios, fóruns

para ampliar o debate sobre o

assunto.

Como apenas os municípios estão tendo níveis elevados de

constrangimento legal sobre esse tema, os outros aliados do

SUS não estão ainda sensíveis ao mesmo.

A intenção do CONASEMS parece ser a de criar visibilidade da condição em

que os municípios se encontram com relação aos problemas da Gestão do

Trabalho no âmbito local. Assim sensibilizar os outros atores.

Page 135: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

133

5. Buscar uma unificação do

entendimento dos Tribunais

de Contas sobre as parcerias

na lei de responsabilidade

fiscal.

Existem pareceres divergentes – favoráveis e contrários – a

parcerias, e distintas interpretações sobre esse tema e a Lei

de Responsabilidade Fiscal.

O CONASEMS demonstra a necessidade de obter maiores respaldos para que

os gestores municipais possam se orientar e assim buscar soluções ou legalizar a

situação referente à forma de contratação de trabalhadores na saúde. As próprias

diferenças locais geram posições diferentes que precisam ser levadas em conta,

como por exemplo, a dificuldade de fixação de trabalhadores nos municípios do

interior.

6. Elaborar estudos para o

dimensionamento do número

de servidores federais e

estaduais à disposição dos

municípios e propor medidas

para reposição

Considerar as perdas passadas e as que deverão ocorrer nos

próximos anos.

Colocado como pressuposto, os problemas referentes à força de trabalho cedida

aos municípios se agravarão à medida que a necessidade de reposição for se

acentuando. Ter uma noção antecipadamente auxiliará na negociação de

soluções, visto ser a posição dos municípios muito delicada quanto às pressões

do constrangimento legal e fiscal. Se os municípios pretendem seguir a política

de desprecarização, a própria noção de quanto será o investimento trará

benefícios.

Fonte: Elaboração própria baseado no documento Teses e Plano de Ação do CONASEMS 2005-2007 (Brasil, 2005b).

Page 136: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

134

O Tema 2, portanto, que se refere à Gestão do Trabalho no SUS, discute sobre as

dificuldades legais inerentes à gestão do trabalho em saúde em seus diferentes aspectos,

especialmente sobre as formas de contratação e estruturação da força de trabalho do

SUS. Estes problemas necessitam urgência na superação sob risco de gerar crise de

governabilidade e governança nos municípios, desassistência e interrupção da

implementação dos programas de políticas de saúde. Neste documento, o CONASEMS

reconhece que com a descentralização e municipalização ocorrida com o SUS os

municípios, responsáveis pela oferta da força de trabalho e pelo gerenciamento dos

serviços, passaram a utilizar diferentes formas de contratação, além de servidores

públicos, como por exemplo, Organizações Não Governamentais - ONGs, Organização

da Sociedade Cível de Interesse Público - OSCIPs, cooperativas, com incorporação de

muitas pessoas de forma totalmente precária e sem qualquer vínculo formal.

Aponta-se no documento que a implementação de programas e políticas, mesmo

que pactuados, acabou sendo uma política perversa para com os municípios,

transferindo a responsabilidade para os gestores locais sem prévias discussões e

decisões para que pudessem ser superados os entraves financeiros e legais inerentes à

estas contratações. Alerta-se também que os problemas relacionados a isto se agravarão

ainda mais quando todos os funcionários federais e estaduais colocados à disposição

tiverem que ser repostos pelos municípios.

Outra questão colocada refere-se ao Ministério Público do Trabalho que tem

pressionado os governos municipais e estaduais a regularizar a situação dos

profissionais contratados de formas diferentes das de servidores públicos concursados.

A maior parte dos procuradores tem considerado todas essas situações como precárias.

Alguns, como no caso do Rio de Janeiro, aceitaram os vínculos com parcerias.

Os PROBLEMAS (grifo do autor) mais relevantes colocados no documento

referem-se: ao entendimento equivocado do que seja precarização, sobretudo por parte

do Ministério Público do Trabalho e segmentos da Secretaria de Gestão do Trabalho e

Educação na Saúde, porém não especifica qual seria; devido à pressão, muitos

municípios atingem o limite de gasto financeiro da prefeitura com recursos humanos

determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal reduzindo a governança local; e a

Page 137: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

135

pressão de entidades locais sobre os governos locais colocando-os além de vítimas, na

posição também de vilões do processo de gestão do trabalho.

As OPORTUNIDADES (grifo do autor) explicitadas no documento referem-se:

diante da complexidade e dimensão do problema há muitos interessados em resolvê-lo,

caso contrário ocorrerá um colapso na rede assistencial do SUS; as entidades que

representam os prefeitos são potenciais aliados, por estarem sensibilizados a esse

problema, que também os atinge.

Após a análise das Teses e Plano de Ação de 2005 e 2006 é demonstrado

claramente que os debates sobre as questões referentes à gestão do trabalho têm sido

ampliados e aprofundados dentro dos fóruns da esfera municipal em conjunto com

outras esferas. É possível observar, ao analisarmos comparativamente as duas edições,

(2005 e 2006) que na primeira há um grau maior de dúvidas sobre as questões

relacionadas à flexibilização e precarização do trabalho e na segunda percebe-se maior

segurança nas definições dos problemas e propostas de operações e estratégias. O

CONASEMS se coloca de forma mais participativa e (co)responsável nas questões

relacionadas à gestão do trabalho na edição de 2006 do que na anterior.

Este fato é explicado inclusive pelo próprio CONASEMS na apresentação da

última publicação ao referir a realização de eventos em 2005 tais como os Congressos

Regionais e os Congressos de Recife: da Saúde, Cultura de Paz e Não-Violência, o da

Rede Américas e o Nacional do próprio CONASEMS. E enfatiza que a atualização das

Teses e reorganização do Plano de ação ocorreu à luz do processo de planejamento

estratégico elaborado e aprovado pelo Conselho Nacional de Representantes Estaduais -

CONARES, em agosto de 2006, no período no qual foi vivenciado o Pacto pela Saúde e

a posse do novo presidente da entidade. A importância ressaltada no mesmo período à

Gestão Participativa na construção do SUS também se fez presente através da inserção

da sexta Tese de mesmo título, além das mesmas outras cinco Teses existentes na

edição de 2005 (Brasil, 2006b: 3).

Assim, apresentamos abaixo também um quadro - síntese analítico, das

operações e estratégias definidas pelo CONASEMS em relação ao Tema Gestão do

Trabalho desta edição de 2006.

Page 138: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

136

QUADRO 7 – Considerações sobre Operações e Estratégias definidas pelo CONASEMS relação ao

Tema Gestão do Trabalho no SUS – 2006

Ação Operações e Estratégias Considerações

Buscar - a agilização dos estudos realizados pela Secretaria de Gestão do Trabalho sobre a força de trabalho em saúde e sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal para subsidiar o CONASEMS nas outras estratégias definidas para esta área; - a construção imediata de uma política de reposição da força de trabalho descentralizada, através da criação de um Fundo de responsabilidade tripartite; - estratégias descentralizadas para facilitar a aprovação dos projetos em tramitação nos Pólos de Educação Permanente, bem como buscar mecanismos para agilizar a liberação do financiamento;

Na Tese e Planos de Ação 2005 – 2007 o CONASEMS já se posiciona como atuante, pois propunha elaborar estudos sobre a estruturação da força de trabalho, e de fato buscou que estes acorressem; Ao apresentar uma sugestão de como irá buscar essa construção o CONASEMS além de cumprir a proposição inserida do documento de 2005, sai de uma condição passiva onde esperava propostas. Os Pólos de Educação Permanente constituem um fórum local onde ocorrem diversas articulações políticas e buscam-se resoluções dos principais problemas, assim como financiamento e o CONASEMS reconhece este espaço como possibilidade para resolução dos problemas buscando ampliar sua governabilidade sobre a questão.

Promover - ampla mobilização de Prefeitos e da sociedade civil para mostrar a situação em que os municípios se encontram e, ao mesmo tempo, esclarecer a redução da governança local e os prejuízos referentes aos constrangimentos legal e financeiro dos municípios em função da Lei de Responsabilidade Fiscal; - debates com os Ministérios Públicos do Trabalho a fim de estreitar essas relações e mostrar que os gestores municipais são aliados estratégicos na luta pela consolidação do SUS e jamais o contrário; - a capacitação dos gestores municipais de modo a contribuir para a transformação dos setores de gestão do trabalho em espaços de democratização e valorização do trabalho;

Ao expor a condição dos municípios aos diversos atores existentes no processo de gestão do SUS, o CONASEMS demonstra que não pretende ficar na condição de vítima ou vilão no processo de gestão do trabalho. Mesmo apresentando ainda a pressão do Ministério Público do Trabalho como PROBLEMA , o CONASEMS demonstra superação ao propor estreitamento da relação para entendimentos e não manter uma posição passiva de apenas receber as penalidades colocadas para ele. Nesta proposição, o CONASEMS demonstra estar em conformidade com a Agenda da Gestão do Trabalho do Ministério. Os municípios desejam ser capazes de conduzir a gestão do trabalho de forma condizente com os preceitos teóricos.

Mobilizar - o Ministério da Saúde, Casa Civil, Ministério do Planejamento e organizações da sociedade civil para a construção de um pacto sobre os problemas referentes às formas de contratação dos profissionais de saúde da família;

A forma de contratação dos profissionais de saúde da família é o principal ponto de divergência na flexibilização dos vínculos de trabalho, e principal problema na precarização do trabalho pelo volume da força de trabalho municipal atualmente, e por estar a Atenção Básica numa situação de transição entre programa e políticas de saúde. O CONASEMS através desta proposta reconhece as divergências, mas também se coloca disponível para buscar consensos entre os atores deste processo.

Page 139: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

137

Aproveitar - os espaços de mobilização para debater a configuração do Estado Brasileiro, em função do paradoxo existente entre a política do SUS e a atual política de Estado. É preciso criar uma agenda republicana de governo para que se produzam políticas para a área de gestão do trabalho, compartilhando responsabilidades entre as três esferas de governo;

Novamente, o CONASEMS se coloca como ator (co)responsável na construção das políticas brasileiras, no desejo de compartilhar as responsabilidades entre as esferas de governo, inserindo-se nos espaços existentes para o debate e pactuação.

Reafirmar - o compromisso com a valorização do trabalho e do trabalhador em saúde, por meio do respeito aos direitos sociais e previdenciários e do desenvolvimento de políticas voltadas aos princípios da democratização e humanização, inclusive a criação de espaços permanentes de negociação;

Vemos nesta proposição a confluência com os preceitos teóricos de negociação da gestão do trabalho. Se de fato os municípios são os principais gestores da força de trabalho no SUS, aqui está demonstrado a preocupação do compromisso com e por estes. Reafirma seu compromisso com relação à proteção social do trabalhador, colaborando com a política de desprecarização do trabalho no SUS.

Implantar e/ou implementar

- o Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS com base nas realidades loco – regionais; - uma política de educação permanente para todos os trabalhadores da saúde, que seja descentralizada e compartilhada financeiramente entre as três esferas de governo;

Ao propor o Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS com base nas realidades locais, o CONASEMS reforça manter sua posição de (co)responsabilidade na gestão do trabalho e reafirma que o Ministério da Saúde deva somente propô-lo como diretriz, deixando que a gestão local construa seu próprio plano conforme sua realidade. A política de educação permanente é uma possibilidade para superar a crise de governabilidade e governança vivida pelos municípios neste processo, visto ser espaço para pactuação, debate, mobilização, etc...

Assegurar - condições adequadas de trabalho às equipes de saúde, com vistas à prestação de serviços de modo acolhedor e resolutivo;

Ou seja, há o reconhecimento de que os municípios são responsáveis pela promoção de condições de trabalho favorável à qualidade da assistência que vem se perdendo neste processo.

Lutar - para que no processo de pactuação seja considerada a capacidade financeira de cada município, visando exercer o princípio da equidade em relação à aplicação de recursos;

A pactuação envolvendo as questões de financiamento é um processo difícil e polêmico no SUS, e como os municípios estão em condições ainda dependentes das outras esferas de governo, nesta proposta vimos o desejo de ser mais atuante ainda em suas reivindicações.

Debater e pactuar

- com os três entes federados as formas mais adequadas de formação do Agente Comunitário de Saúde.

O processo de formação do Agente de Saúde esbarra diretamente na exclusão/inclusão de profissionais que já estão inseridos no campo de atuação dos municípios. A seleção de profissionais devido à exigência da qualificação não garantirá a permanência dos mesmos profissionais inseridos no serviço. A questão do acesso à formação é outra questão relevante, visto a desigualdade no acesso à formação básica (nível médio) nos diversos municípios brasileiros. De fato os gestores locais estão preocupados com os transtornos políticos deste processo e se mobilizam para o debate e pactuação.

Fonte: Elaboração própria baseado no documento Teses e Plano de Ação do CONASEMS 2006-2007 (Brasil, 2006b).

Page 140: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

138

Enfatizando agora o Tema 2 - Gestão do trabalho e Educação na Saúde, esta

edição resgata a construção histórica do SUS, os efeitos sobre a gestão do trabalho do

projeto neoliberal, enxugador da máquina pública das Reformas do Estado, e o da

expansão de trabalhadores especialmente no nível local no processo de descentralização

do sistema na Reforma Sanitária. O CONASEMS coloca que a solução para esse

problema será possível quando a Gestão do Trabalho for tratada de fato como Política

de Estado, envolvendo o Congresso Nacional e demais poderes para que ocorra a

apropriação das implicações da área para o Sistema de Saúde e compreensão da

complexidade dos temas.

Outra questão defendida por esse ente é a diferença na capacidade de

enfrentamento dos problemas entre os municípios. Alguns municípios possuem baixa

capacidade de governança e outros mais, porém apresenta um prognóstico sombrio de

que essa capacidade seja reduzida mesmo nos municípios que não apresentam

problemas devido ao paradoxo entre a política do SUS e a atual política de Estado.

A inversão da responsabilidade sobre a contratação da força de trabalho no

processo de municipalização não foi acompanhada por um financiamento consistente,

que pode ser identificado através do gasto financeiro com pessoal, onde grande parte

dos municípios já atingiu o teto máximo estipulado pela Lei de Responsabilidade Fiscal

e que gerou como estratégia de superação a contratação de pessoal por meio de

parcerias. A pressão do Ministério Público do Trabalho contra essa estratégia, somado

às dificuldades concretas na gestão municipal, tem levado à baixa capacidade de

investimentos dos municípios em novos serviços e programas. A maior parte dos

recursos da saúde nos municípios é gasta com o custeio da folha de pagamento.

Assim, nesta segunda edição das Teses e Plano de Ação, o CONASEMS

reafirma o problema na contratação de profissionais de forma precária, sem garantia dos

direitos trabalhistas e previdenciários e que sua posição é contrária a essas formas. Mais

especificamente, sobre a contratação de Agentes Comunitários de Saúde e de Endemias,

ele coloca que a Lei nº. 11.350/ 06 que regulamenta a Emenda Constitucional nº. 51,

não resolveu os problemas existentes de contratação, visto que impede a forma de

contratação através de parcerias. E argumenta que essa medida pode gerar a retração ou

impossibilidade de expansão de programas como o Programa Saúde da Família ou

Page 141: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

139

Programa de Agentes Comunitários de Saúde e prejudicar assim os serviços prestados à

população. Ou seja, mais uma vez o CONASEMS reafirma sua posição favorável a

flexibilização do vínculo de trabalho, porém sem ser favorável à precarização.

Outra colocação do CONASEMS que corrobora com essa posição favorável à

flexibilização refere-se ao projeto de lei nº. 270/2006 do Senador Rodolpho Tourinho

citado nesta edição das Teses e Plano de Ação que possibilita a continuidade das

parcerias para a execução de projetos e programas da área de saúde. Acrescenta a

estabilidade para o Agente Comunitário de Saúde e de Endemias, fazendo referência aos

artigos nº. 41 e nº. 169 da Constituição Federal de 1988 que estabelecem a estabilidade

do servidor público, mas também acrescenta a possibilidade de demissão do cargo, caso

o profissional deixe de residir na comunidade.

Mesmo com toda problemática envolvendo a gestão do trabalho no âmbito

municipal é reconhecido que os gestores locais têm feito esforços significativos para

manter a execução das políticas de saúde, esforços estes que podem ser vistos com a

expansão do Programa Saúde da Família; por exemplo, em 2003 eram 175 mil Agentes

de Saúde e em 2006 passaram a ser 215 mil, segundo dados referidos pelo próprio

Ministério.

As expectativas deste ente é que só será possível encontrar alternativas para

superar as dificuldades envolvidas na gestão do trabalho se houver solidariedade e

cooperação entre as três esferas de governo para que não ocorra a retração ou

impossibilidade de expansão de serviços. Assim como, será preciso que o Ministério da

Saúde e estados implementem uma política de reposição da força de trabalho em saúde

cedida aos municípios. Ou seja, os municípios não querem mais ser unicamente

responsáveis pela reposição da força de trabalho cedida.

Na edição anterior, uma das OPERAÇÕES E ESTRATÉGIAS era elaborar

estudos sobre a estruturação da força de trabalho nos estados e municípios, e nesta

edição de 2006 já traz a informação de que, de fato, estão sendo realizadas através das

parcerias feitas com a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde para

realização dos estudos sobre a força de trabalho no Programa Saúde da Família e sobre

Page 142: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

140

a Lei de Responsabilidade Fiscal. A expectativa é de que eles auxiliem na construção de

uma política de gestão do trabalho compartilhada entre os três entes federados.

Quanto ao Plano de Carreiras, Cargos e Salários, o CONASEMS reafirma sua

posição favorável, referindo que é necessária uma política de valorização do trabalho e

do trabalhador, porém permanece a defesa de que este deve ser construído com base nas

realidades locais, associado a uma política de educação permanente. E com relação à

esta, faz criticas à formação técnica do Agente Comunitário, pois acredita ser

incompatível e não condizente com a realidade do país. Defende a formação básica e

crítica, além da educação continuada e educação permanente em serviço. E com relação

à Mesa Nacional de Negociação Permanente – SUS, acredita ser necessário a criação de

espaços de negociação permanente para reforçar a democratização nas relações de

trabalho no SUS, confluindo com a proposta de gestão participativa apresentada como

Tese 6.

Com relação aos PROBLEMAS colocados nesta edição, estes se apresentam

similares à edição anterior, ou seja, a pressão do Ministério Público do Trabalho, o

limite de gasto com pessoal e a visão de que os municípios são os vilões da gestão do

trabalho. Porém dois novos PROBLEMAS são colocados: as conseqüências da

Emenda Constitucional nº. 51 e a Medida Provisória nº. 297/2006 sobre a Estratégia

Saúde da Família; e a inexistência de uma política do Ministério da Saúde e estados de

reposição da força de trabalho descentralizada.

Quanto às cartilhas analisadas23, podemos concluir através de seus conteúdos

que o CONASEMS mantém sua consideração em relação a ter aspectos positivos na

flexibilização dos vínculos de trabalho, levando em conta a flexibilização numérica,

quando expõe sua posição referente a necessidade da contratação da força de trabalho

através de vínculo indireto, a fim de que permitir o cumprimento da exigência do perfil

do Agente de Saúde, ou seja, que este deva ser morador da mesma área em que atuará, e

ser dispensado caso não venha mais residir nesta. Por conta disto, defende que a

contratação dos Agentes de Saúde seja por via de processo seletivo e não por concurso

público, pois este não permitiria a flexibilização numérica, visto as exigências no perfil

23 Cartilhas intituladas “Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde” – Edições de 2006 e anterior.

Page 143: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

141

destes trabalhadores. O avanço é que não demonstra mais interesse na ilegalidade dos

vínculos de trabalho.

O CONASEMS afirma que muitos municípios utilizam a forma de contratação

por vínculos indiretos devido aos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal,

e ainda que, até pouco tempo, o próprio Ministério da Saúde orientava como realizar a

contratação indireta como forma de vinculação dos trabalhadores do Programa Saúde da

Família, o que também está no conteúdo do artigo sobre a Gestão do trabalho, na

Revista CONASEMS analisada. Porém o CONASEMS propõe a utilização de vínculos

diretos ou indiretos, sendo assegurado os direitos trabalhistas e previdenciários dos

trabalhadores. Ou seja, podemos interpretar que a posição do CONASEMS é

desfavorável a precarização do trabalho. Isso é reforçado quando este expõe que deu o

seu aval junto ao Comitê Nacional de Desprecarização do Trabalho em Saúde ao ser

definido os encaminhamentos do processo de desprecarização no SUS. Sendo eles

(Brasil, 2006a: 11):

• Consolidação da Rede de Desprecarização, com a criação de Comitês

Locais e Regionais, onde cada um deverá fazer seu plano de trabalho

com base em sua realidade;

• Posicionamento do Comitê Nacional, por unanimidade, contra qualquer

vínculo de trabalho que não garanta os direitos trabalhistas e

previdenciários aos trabalhadores;

• Priorizar inicialmente a desprecarização dos Agentes Comunitários de

Saúde (o CONASEMS coloca-se favorável à Emenda Constitucional nº.

51, conforme exemplar da cartilha sem data);

• Produzir um levantamento sobre os Agentes Comunitários de Saúde;

• Elaborar um estudo sobre o impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal

para o processo de desprecarização;

• Apoiar a democratização das relações de trabalho, com a instituição de

processos negociais e de participação dos trabalhadores no processo

decisório da gestão;

Page 144: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

142

• Elaborar orientações para a Seleção Pública/Concurso Público, com

vistas ao estabelecimento de parâmetros claros para garantia da

transparência, impessoalidade e a lisura do processo.

Outro posicionamento relevante para a questão da qual este estudo aborda é

como o CONASEMS se coloca sobre o Plano de Carreiras, Cargos e Salários – SUS.

Ele destaca sua importância para a promoção e desenvolvimento dos trabalhadores e

melhoria da qualidade no SUS. Assim como, que o financiamento deverá ser

compartilhado entre as três esferas de governo. Mas também expõe seus pontos de

divergência com a Diretriz produzida pela Comissão Especial para a Elaboração das

Diretrizes do Plano de Carreiras. O primeiro refere-se à universalidade, ou seja,

contempla todos os trabalhadores, o que significa que trabalhadores não específicos da

saúde, como exemplo, serventes, auxiliares administrativos, vigias, etc., podem ser

contemplados no Plano de Carreiras do quadro geral de recursos humanos do município.

Como sugestão, ele propõe que haja um debate mais profundo, através de estudos que

possam dar definições das categorias profissionais que devem ser contempladas na

carreira da saúde (Brasil, 2006a: 8–9).

Não explicitado nas colocações deste ator, mas ao fazermos uma análise mais

profunda podemos observar é que os municípios podem estar colocando no debate que

os trabalhadores não específicos da saúde, designados normalmente como área de apoio,

não necessariamente precisariam estar no quadro de recursos humanos. E

correlacionando com o cenário hoje de terceirizações, o pensamento seria que estes

trabalhadores continuassem seus vínculos desta mesma forma.

O segundo, sobre a equivalência de cargos, este entende que a uniformização

dos salários de categorias profissionais de nível superior provocada pela

correspondência dos cargos nas três esferas de governo significa o não reconhecimento

das realidades diferentes do mercado de trabalho atual em relação às essas diversas

categorias. E ele propõe a busca de alternativas que visem contemplar a proposta de

cargo genérico, que possibilite a construção da identidade, porém ao mesmo tempo

contemple a diferenciação e especificidade das categorias profissionais. E o terceiro

ponto coloca que as Diretrizes apresentam duas propostas em relação aos cargos que

não estão em consenso. A primeira, dois cargos na carreira (Assistente em saúde – nível

Page 145: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

143

fundamental e médio, e Especialista em saúde – nível superior). A segunda, três cargos

(Auxiliar em saúde – ensino fundamental; Assistente Técnico – ensino médio e

Especialista em Saúde – nível superior). Além da abordagem colocada sobre a

equivalência dos cargos, o CONASEMS compreende que este aspecto depende do

debate de cada gestão local com seus trabalhadores, referindo a necessidade de que as

Diretrizes sugiram opções para negociação e definição no âmbito local. Podemos

interpretar isso como uma necessidade dos municípios de manutenção de sua autonomia

decisória (Brasil, 2006a: 8–9).

Por último, ainda referindo-se ao Plano de Carreiras, Cargos e Salários do SUS,

o CONASEMS propõe debater melhor sobre a proposta de avaliação de desempenho, e

defende, novamente, que a Diretriz do Plano de Carreiras não seja lei federal, mas sim

uma orientação geral para os municípios, e com ela estes possam ter autonomia para

discutir e implementar seus planos conforme a realidade local (Brasil, 2006a: 9).

CONASS

Da mesma forma que o CONASEMS, foram identificados como relevantes para

esse estudo apenas três documentos produzidos no período de 2003 até o momento. O

primeiro documento analisado foi a pesquisa realizada pelo CONASS intitulada:

“Estruturação da área de Recursos Humanos nas secretarias de saúde dos Estados e

Distrito Federal”, de 2004, e conhecida como Documenta nº. 1. O segundo, foi uma

publicação, conhecida como Documenta nº. 4, que representou o desdobramento desta

primeira publicação, intitulada “Recursos Humanos: um desafio do tamanho do SUS”.

E o terceiro foi o caderno nº. 5 da Coleção Progestores – para entender a Gestão do SUS

do ProgeSUS, intitulado “Gestão do Trabalho no SUS”, de 2007.

Esses três documentos juntos fornecem um conjunto que revela a estrutura das

Secretarias Estaduais de Saúde, suas propostas e ainda os aspectos conceituais

aprofundados, e permitem assim um bom entendimento sobre a posição do CONASS

sobre as questões referentes à gestão do trabalho em saúde, em especial à problemática

que envolve a flexibilização e a precarização do trabalho no SUS.

Page 146: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

144

Seguindo a ordem cronológica, a Documenta nº. 1 foi fruto de um projeto

desenvolvido por meio de um acordo de cooperação técnica entre a Organização

PanAmericana de Saúde – OPAS – Brasil, o Ministério da Saúde e o CONASS, que

utilizando o método de estudos de casos múltiplos, onde cada secretaria estadual

representou um destes, teve como objetivos: elaborar um diagnóstico da situação

referente à contratação de pessoal e da organização, estrutura e ações das áreas de

Recursos Humanos das Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal após a

implantação do SUS; traçar o Perfil dos Gestores Estaduais e sua percepção inicial da

área de recursos humanos, bem como de dirigentes Estaduais de Recursos Humanos; e

por último, a partir do estudo, desenhar e executar ações que contribuam para a

reestruturação da área de Recursos Humanos nas Secretarias Estaduais de Saúde,

construindo alternativas compatíveis com as diferentes realidades locais e regionais e

com o processo de implantação do SUS (Brasil, 2004a: 7).

Para compreensão do contexto, o documento apresenta o entendimento do

CONASS sobre ações relativas à Política de Recursos Humanos em saúde como um

conjunto de atividades relacionadas a distribuir e garantir acesso a um conjunto de bens

relacionados às pessoas que atuem nos sistemas de saúde. E essas ações devem ser

dirigidas para uma distribuição de pessoas na quantidade adequada à necessidade com

as respectivas qualificações desejadas, ou seja, postos de trabalho com o respectivo

perfil da função desejada para a prestação de serviços à população. Também devem

oferecer aos trabalhadores condições de trabalho, carreira, contrato, modalidade de

vínculo, mecanismos de incentivos e motivações estabelecidos na relação de trabalho

entre empregados e empregadores. Assim como devem também disponibilizar

oportunidades de formação e desenvolvimento ofertados pelos centros formadores e

serviços aos estudantes e profissionais, consolidados pelos títulos e certificados

decorrentes destas. E por fim dirigidas também aos campos de atuação e autorização

para o exercício profissional definido pelas corporações. Nesta pesquisa coloca-se que

as ações relativas à Política de Recursos Humanos relacionam-se a três campos de

intervenção: preparação, formação e desenvolvimento de pessoas; regulação

profissional e incorporação/gestão de pessoas nos serviços (Brasil, 2004a: 8).

Referente a este último campo identifica-se a mesma contradição básica:

Page 147: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

145

“se, por um lado, o sistema de saúde, frente aos princípios do SUS, aponta sempre para a expansão da incorporação de pessoas e, portanto, do emprego, na medida em que, em saúde, a incorporação de tecnologia não representa substituição de trabalhadores, por outro lado as políticas de restrição fiscal, de contenção do gasto público, em particular aquelas definidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, associada à rigidez estabelecida, em algumas circunstâncias, pela legislação trabalhista, por vezes induzem os gestores a adotar mecanismos de contratação pouco ortodoxos e freqüentemente irregulares, criando situações de precarização nas relações de trabalho.” (Brasil, 2004a: 8).

Em relação ao perfil dos gestores estaduais, em sua grande maioria do sexo

masculino e profissionais médicos, os resultados apontaram para um perfil altamente

qualificado, com considerável experiência gerencial na área pública e significativa

formação profissional. Mas, na opinião desses gestores estaduais, em 95 % das

secretarias encontram-se situações problemática e desestruturada no que tange ao perfil

da área de Recursos Humanos das secretarias estaduais, sendo que 79% referem-se ao

campo da gestão e 21% ao desenvolvimento de recursos humanos. Os itens

mencionados com relação a isso são: primeiro em maior menção, a necessidade de

contratação de pessoal/quantidade defasada; seguido de diversas modalidades de

contratos temporários; falta de qualificação dos profissionais em diversos aspectos;

insatisfação dos trabalhadores com os Planos de Carreiras, Cargos e Salários;

dificuldade em fixar médicos no interior; salários não atrativos/baixa remuneração; e

inexistência ou carência de escolas de Saúde Pública (Brasil, 2004a: 15) Ou seja, os

problemas mais mencionados referem-se ao quantitativo insuficiente e à forma como

estão inseridos os trabalhadores no SUS.

As principais propostas referidas pelos gestores nas entrevistas estão

relacionadas em primeiro lugar à administração de Recursos Humanos (39,9%), seguida

de desenvolvimento de Recursos Humanos (20,3%), desenvolvimento institucional

(16,7%), regularização da situação funcional (14,5%) e outros relacionados à carreira

(8,7%). Os gestores de fato apresentaram preocupações relacionadas ao vínculo de

trabalho. Em contrapartida, propostas de mudanças que mais se sobressaíram nas

entrevistas foram: 1º - qualificar o pessoal das Secretarias Estaduais de Saúde

desenvolvendo capacitações; 2º - realizar concurso público; 3º - elaborar,

implantar/implementar Planos de Carreiras; 4º implantar Escola de Saúde Pública; 5º -

Page 148: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

146

reformular a área de Recursos Humanos da Secretarias Estaduais de Saúde; 6º levantar

as necessidades de Recursos Humanos através de planejamento estratégico; e 7º -

regularizar contratos (Brasil, 2004a: 15).

Compreende-se que as questões referentes à flexibilização dos vínculos e

precarização do trabalho, apesar de reconhecidas e inseridas como propostas de

mudanças, não se encontram como as primeiras prioridades dos gestores naquela época.

Isto pode ser compreendido quando, mais à frente na publicação, são apresentados os

dados sobre os contratados através de vínculos passíveis de ser considerados flexíveis

ou precários; esses representavam 9,6% apenas.

A pesquisa aponta também uma análise sobre a estruturação da área de Recursos

Humanos nas secretarias estaduais, onde 66,7% estão vinculadas à própria secretaria,

numa diversidade de órgãos dentro delas, como coordenadorias, diretorias,

superintendências e departamentos, o que pode ter sido influenciado com o processo de

descentralização do SUS, visto que tradicionalmente a literatura refere que ocorre a

subordinação do setor responsável pelos Recursos Humanos às secretarias de

administração (Brasil, 2004a: 15). Dessa forma pode-se ter como compreensão que a

influência das abordagens teóricas da administração sobre a área é grande, corroborando

talvez para uma lentidão na absorção dos conceitos da sociologia do trabalho.

Outros dados apresentados na pesquisa referem-se ao funcionamento da Câmara

Técnica de Recursos Humanos do CONASS, que estão vertidos sobre atas, documentos

técnicos das oficinas de trabalho, das assembléias do mesmo, e sobre as respostas dos

questionários enviados a atores – chaves que atuaram na Câmara Técnica no período de

1995 a 2002, considerando o tema central da oficina de trabalho, a abordagem ao

assunto sobre recursos humanos e a existência de encaminhamentos e propostas para a

área. Esta tinha como objetivo formular propostas de políticas e estratégias específicas

em relação à experiência e integração na áreas de preparação, regulação, gestão de

Recursos Humanos no âmbito estadual, regional e nacional com vistas à qualidade

prestada à população e, portanto, como proposta prioritária, era a elaboração de um

diagnóstico sobre vínculo, remuneração e incentivos nas secretarias.

Page 149: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

147

Tendo como período mais intenso de trabalho da Câmara Técnica, de 1996 a

1999, onde foi publicado vários documentos importantes citados na Documenta n.º 1, as

maiores contribuições expressadas pelos gestores entrevistados, o que a fez se tornar um

marco para a construção do consenso sobre a importância estratégica dos recursos

humanos para o SUS foram: a consolidação da necessidade de profissionalização dos

gestores da área das Secretarias Estaduais de Saúde; a discussão da cessão de pessoal

entre as esferas político-administrativas do SUS; a elaboração do estudo sobre vínculo

empregatício, remuneração e incentivo; e a elaboração do seu Regimento Interno. Todas

essas questões foram trabalhadas através de cinco prioridades e estão no Relatório de

avaliação preliminar das principais ações, realizado em 1998. Essas são: o diagnóstico

de Recursos Humanos, o ordenamento da cessão de pessoal entre as esferas de governo;

financiamento dos processos de formação e capacitação de Recursos Humanos; pessoal

de nível médio; e sistemas de informação para Recursos Humanos. (Brasil 2004a: 18–

19).

No período de 1999 a 2002, a produção da Câmara Técnica ficou em baixa por

uma série de questões relacionadas desde a liberação de técnicos pelas Secretarias

Estaduais de Saúde por problemas financeiros, passando pela alta rotatividade dos

participantes, poucos registros das atividades, e chegando à ausência de alguns

membros em função de inúmeras atribuições. Enfim, isso gerou perdas de informações e

pouco envolvimento por parte dos coordenadores de recursos humanos dificultando a

continuidade das discussões. Porém, de certa forma houve aspectos relevantes deste

período, tais como a qualificação profissional pelo estabelecimento de parcerias entre

sistemas de saúde e instituições de ensino para assegurar a educação continuada através

de programas de capacitação, especialização e mestrado; resgate das Câmaras Técnicas

de Recursos Humanos em parceria com o Projeto de Profissionalização dos

Trabalhadores da Área de Enfermagem – PROFAE garantindo a capacitação para os

profissionais de enfermagem no nível médio; participação e elaboração da NOB –

RH/SUS.

Outro ponto fundamental para esta análise está nas propostas apresentadas pela

Câmara Técnica de Recursos Humanos, para a gestão de 2003 a 2006 que envolvem

vários pontos para discussão que podem ser lidos na Documenta nº. 1, e que destacamos

no momento aqueles especialmente referentes às questões sobre a flexibilização e

Page 150: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

148

precarização do trabalho no SUS, já que, nesta época, os gestores estaduais já

demonstravam suas preocupações com as formas de vinculações dos trabalhadores no

serviço público, mesmo não sendo uma prática extensa em comparação com a esfera

municipal, como já mencionado (Brasil 2004a: 20):

• Contínua profissionalização dos gestores de recursos humanos;

• Discussão das dificuldades relativas à gestão de recursos humanos no setor

público de saúde:

o Superposição de vínculos no próprio setor

o Participação simultânea no setor público e privado;

o Descumprimento da carga horária contratual;

o Desigualdade de remuneração para funções iguais;

o Diferentes formas de vínculos empregatícios;

o Precarização do trabalho;

• O levantamento da situação de recursos humanos das Secretarias Estaduais de

Saúde e a realização da IV Conferência Nacional de Recursos Humanos.

Conforme apresentado na pesquisa, através de toda sua trajetória de atuação,

demonstra-se que a Câmara Técnica extrapolou seu papel, estabelecido pelo CONASS,

de assessoria técnica à Secretaria Executiva, Diretoria e Assembléia Geral na

formulação de políticas e estratégias relativas à gestão dos serviços e as ações inerentes

ao setor saúde, desenvolvimentos de estudos, de intercâmbio de experiências e de

posposição de normas. A sua composição permitiu fórum mais amplo de discussão na

medida em que a Comissão Intersetorial de Recursos Humanos do CONASS estava

desativada, e nesta época a efervescência dos discursos circulava sobre as discussões

para a Reforma do Estado Brasileiro, que repercutiu de forma incisiva nas questões

relacionadas à vinculação de trabalhadores no campo da saúde (Brasil 2004a: 20–21).

Quanto aos dados relevantes para as questões sobre a modalidade de vinculação

dos trabalhadores nas Secretarias Estaduais, enfocados neste estudo, apresentados na

Documenta nº. 1, referem que 76,2% (262.669) dos trabalhadores de saúde ativos

estavam vinculados através da administração direta pelo Regime Jurídico Único; 8,6%

(29.748) através de contratação por tempo determinado; 5,3% (18.279) contratados

através do regime CLT; e 4,2% (14.656) estavam em cargos comissionados. Com

Page 151: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

149

relação à contratação por meio de cooperativas, esta representava 1,20%(4.171) do total

de contratos. E 15.194 vínculos não puderam ser classificados, pois deixaram de ser

informados, porém acredita-se que estejam relacionadas ao Regime Jurídico Único. E

mesmo assim, somando esses dois últimos dados o total representou apenas 5,6%

(Brasil 2004a: 25–26). A pesquisa também revela dados referentes à forma de

contratação que apareceram de forma significativa e sustentam a preocupação com as

diferenças regionais no país, o que sugerimos ao leitor interessado consultá-los.

Quanto aos dados referidos sobre as formas de vinculação na administração

indireta é apresentado que dos 53.308 contratados, 37,8% (20.110) são por autarquias e

47,4% (25.290) são por Fundações. São Paulo concentra quase 100% dos contratos

através de autarquias. E os estados com maior número de servidores contratados por

Fundações são Minas Gerais (54,91%), Espírito Santo (28,1%) e Pará (12,8%). O

destaque oferecido pela pesquisa quanto ao dado referente ao percentual de

trabalhadores de saúde (62,5%) contratados pelas Fundações através de concurso

(Regime Jurídico Único) demonstra que há valorização por parte do CONASS às

formas contratuais lícitas e que proporcionam proteção social (Brasil, 2004a: 26)

Segundo a pesquisa (Brasil, 2004a: 23) “A gestão dos recursos humanos está

hegemonicamente sob coordenação direta das SES. Isto reforça a importância política

da ação da gestão estadual no desenvolvimento de estratégias para a área”. Com

relação ao tópico referente à organização, estrutura e ações da área de recursos humanos

nas secretarias estaduais e do Distrito Federal os dados de identificação dos dirigentes

estaduais de recursos humanos, além de referirem ao sexo (70,4% feminino), ao nível de

escolaridade (96,3% nível superior) e a qualificação através de especialização (19

dirigentes), mestrado (02 dirigentes) e doutorado (apenas um dirigente), relatam seus

vínculos de trabalho. Dentre eles, 15 são estatutários (14 estaduais e um federal), dez

estão ocupando cargos comissionados e três funções gratificadas; dos 12 restantes, um é

contratado pela CLT e 11 são vinculados unicamente por cargos comissionados (Brasil,

2004a: 27–28).

Também dentro deste mesmo tópico da publicação (Brasil, 2004a: 28–34) são

abordadas diversas questões, tais como as Características organizacionais da área de

recursos humanos, o Processo de planejamento e gestão, os Componentes de

Page 152: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

150

desenvolvimento e formação de recursos humanos, e por fim destacamos a Gestão do

Trabalho e a Gestão de Recursos Humanos por terem sido abordadas de formas

separadas. Talvez isso possa ser compreendido pelo fato de que o período no qual o

estudo se debruça, a apropriação das bases teóricas da sociologia do trabalho que

sustentam a gestão do trabalho no SUS ainda não tinham sido amplamente difundidas, e

tinha sido recém institucionalizada através da Secretaria de Gestão do Trabalho e

Educação na Saúde. Suspeitamos que a opção por trabalhar em separado possivelmente

foi por ainda encontrar estruturas e ações nestas lógicas.

As questões identificadas pela pesquisa que se remete à Gestão de Recursos

Humanos referem-se ao fato de que os trabalhadores dos quais as secretarias estaduais

gerenciam e as ações de desenvolvimento realizadas sobre estes prevalecem sobre a

“lógica de recursos humanos”. Foi identificada essa situação em 55% das secretarias, e

em 33% as ações eram voltadas apenas para os recursos humanos, uma das secretarias

informou não gerenciar e não realizar ações de desenvolvimento de recursos humanos e

duas não informou nada. Quanto ao processo de municipalização, estadualização e/ou

federalização dos trabalhadores das secretarias estaduais, um quarto delas não informou

nada a respeito. Os convênios foram as formas de ações mais mencionadas (70,3%), e

foram referidas também ações referentes aos termos de cessão de pessoal, decretos,

portarias, resoluções das Secretarias Estaduais de Saúde e da Comissão Intergestora

Bipartite – CIB, instruções normativas e estatuto do servidor (Brasil, 2004a: 34).

Pertinente à análise, as secretarias em sua maioria vivenciam seu cotidiano embebidos

no conceito aplicado à área de recursos humanos relacionado à administração. Se de

fato a representação destes gestores através do CONASS impulsiona para a

incorporação das bases da sociologia do trabalho, isto se dilui na imensidão do país.

As questões trabalhadas relativas à Gestão do Trabalho discutem as ações

referentes unicamente à: Existência e características dos Planos de Carreiras, Cargos e

Salários e às Políticas de incentivos e à Avaliação de desempenho.

Assim, com relação à primeira, menos da metade dos Estados (37 %) possuíam

propostas de Planos de Carreiras específicas para a área da saúde. Oito Estados (29,6%)

contavam com planos implantados, seis com todas as categorias incluídas e quatro

excluíam as categorias gerenciais e da área meio. Destes planos, cinco são posteriores a

Page 153: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

151

2000 e três anteriores a 1994; e em posposta de revisão encontravam-se cinco destes.

Em 17 estados não havia planos, porém dez deles estavam em discussão, demonstrando

uma crescente preocupação com as questões referentes a estes naquele momento (Brasil,

2004a: 31).

Referentes às Políticas de incentivo, ao que parece os únicos instrumentos

alternativos de gestão do trabalho, das 27 secretarias, 16 (59,2%) referiram incentivos

financeiros (11 secretarias) e incentivos financeiros e funcionais (05 secretarias), sendo

oferecidos ao conjunto das categorias profissionais apenas em 12 secretarias, enquanto

em duas a distribuição era em funções de tarefas ou critérios específicos, e outras duas

excluíam o pessoal administrativo (Brasil, 2004a: 32).

E por último, referente à avaliação de desempenho, a pesquisa coloca que a

baixa ocorrência de processos de avaliação de desempenho revela um sistema de gestão

de pessoas limitado quanto à sua capacidade de promover e reconhecer profissionais

dedicados, assim como identificar os que têm pior desempenho e com isso desenvolver

mecanismos de recuperação e readequação ou mesmo dispensa (Brasil, 2004a: 32).

Dois aspectos são relevantes nestas colocações: primeiro remete-se ao termo

gestão de pessoas que pela sociologia do trabalho não é considerado adequado. Supõe-

se que a autonomia individual deva prevalecer e que é sobre o trabalho que se propõem

intervenções.

O segundo remete-se à dispensa do profissional. Sobre essa questão, apesar de se

ter mecanismos legais para demissão dentro da administração direta, estes de fato estão

pouco assimilados na prática por questões que vão desde as forças políticas à falta de

possibilidades em reposição da força de trabalho dispensada. E ainda, têm sido

valorizados os modelos de gestão propostos para o SUS baseados na administração

gerencial. Ou seja, tem-se justificado a adoção de formas de vinculação do trabalhador

de saúde no SUS baseados na necessidade de flexibilidade na adequação do perfil e

disponibilidade utilizando a instabilidade do emprego, ao invés de se aplicar os

mecanismos já existentes para a dispensa.

Page 154: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

152

Enfim, esta publicação do CONASS possui caráter especialmente descritivo do

contexto vivenciado pelas Secretarias Estaduais de Saúde no período que antecede o ano

de 2003, mas também permite identificar a posição dos Estados através de suas

colocações e propostas e, em especial, as que se referem à flexibilização e precarização

do trabalho em saúde. Mesmos que tenha sido demonstrado que a flexibilização e

precariedade dos vínculos dos trabalhadores não são de ocorrência significativa na

época, em comparação aos municípios, percebe-se que o CONASS não é favorável a

estes ao referirem, por exemplo, que dominantemente os contratos nas secretarias são

estáveis e atende os requisitos da legislação brasileira e direitos dos trabalhadores. O

vínculo precário é considerado pelo CONASS, também, como aquele onde os direitos

trabalhistas e sociais não são atendidos, e os contratos temporários e através de

cooperativas é que foram considerados próprios.

Quanto ao segundo documento analisado, a Documenta nº. 4, esta representou o

produto do Seminário para a construção de consensos, realizado pelo CONASS em abril

de 2004 no Rio de Janeiro, divulga resultados das discussões entre gestores estaduais

que foram apoiadas na pesquisa anterior analisada, a Documenta nº.1. Para tanto foram

formados três eixos de discussão: desprecarização do trabalho em ambiente de

incerteza; Processo de desenvolvimento e formação de recursos humanos na saúde com

ênfase nos Pólos de Educação Permanente; e Estrutura e organização da área de

recursos humanos nas Secretarias Estaduais de Saúde. O primeiro eixo é de extrema

relevância para este estudo neste momento (Brasil. 2004b: 6).

O documento anterior desta entidade tinha o especial propósito descritivo sobre

as Secretarias Estaduais de Saúde e do Distrito Federal, e este documento analisado

agora é carregado principalmente do debate expondo os consensos estabelecidos entre

os gestores e das propostas para contribuição dos problemas enfrentados na área de

Gestão do Trabalho em Saúde no âmbito estadual e em apoio ao municipal.

Dando início, destacam-se nas palavras do então presidente do CONASS

elementos relevantes do conceito de gestão do trabalho: “construir um política cidadã

como o SUS implica que os seus construtores/operadores, os trabalhadores de saúde,

sejam incorporados como sujeitos e criadores de transformação e não como meros

Page 155: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

153

agentes cumpridores de tarefas ou objetos de políticas desumanizadas” (Brasil, 2004b:

5).

Prosseguindo, o primeiro eixo inaugura expondo que os defensores de uma visão

empresarial atribuem muitos problemas de gestão de pessoal no setor estatal da saúde ao

servidor publico. Defendem que o dinamismo do setor saúde, a rápida e crescente

incorporação tecnológica, em especial para algumas especialidades médicas, e a

necessidade de remunerar e capacitar permanentemente o pessoal, correlacionando-se

com o setor privado, exigem soluções mais dinâmicas e flexíveis do que as adotadas

atualmente pelo setor público. E essas críticas sugerem como alternativa a celebração de

contratos por meio de diferentes modalidades de vínculos ou criação de novos órgãos

com distintas naturezas jurídicas. Porém muitos autores, em estudos diferentes, apontam

a existência de um acelerado processo de “precarização do trabalho na saúde” por conta

disso. Isto tem contribuído muito para a existência de problemas enfrentados pelo setor

público de saúde, como por exemplo, a falta de compromisso dos servidores com a

instituição e com os usuários/cidadãos, baixa qualidade de serviços, entre outros (Brasil,

2004b: 7).

De forma clara e em destaque o CONASS expõe neste documento o conceito de

precariedade do trabalho por eles adotado. Os gestores optaram pela mesma definição

utilizada na pesquisa anterior, a Documenta nº. 1, considerado como “situação de

precariedade os contratos por tempo determinado e os vínculos de cooperativas,

mesmo sabendo que muitas cooperativas no setor saúde tem propostas e práticas que

atendam aos interesses reais dos seus cooperados”. E reconhecem a diferença das

outras definições adotadas, citando o exemplo da que considera como precários toda a

situação ou vínculo que não sejam os estabelecidos pelo Regime Jurídico Único na

administração direta (Brasil, 2004b: 7, grifo do autor).

Lembrando os dados da pesquisa Documenta nº. 1, o CONASS refere que

existem nas Secretarias Estaduais de Saúde 33.919 servidores em situação precária;

29.748 em contratos temporários e 4.171 através de cooperativas, sem levar em

consideração mesmo sendo um volume importante, o pessoal terceirizado por não ser o

objeto da pesquisa, pois são trabalhadores nas áreas como limpeza, segurança,

alimentação, lavanderia e outros. E em comunhão a problemática municipal refere os

Page 156: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

154

dados de 2001/2 do Ministério da Saúde sobre o Programa Saúde da Família que

demonstravam que 64,4% dos médicos e 63,5% dos enfermeiros das 12.259 equipes, na

época, estavam em situação de precariedade (Brasil, 2004b: 7–8).

Outro ponto levantado pelo CONASS é a incerteza de definição pelo próprio

Ministério quanto à reposição dos servidores descentralizados do antigo INAMPS e da

Fundação Nacional de Saúde - FUNASA estimados em respectivamente 50 mil e 26

mil24. Como colocado, uma das razões de precarização do trabalho está exatamente no

processo de reposição desse importante contingente de trabalhadores por parte dos

estados e municípios.

Realmente, analisando o fato, a realização de concursos públicos tem sido muito

inferior à perda por aposentadorias conforme Nogueira (2007b: 4) apresenta em seu

artigo. Os dados demonstrados pelo autor, do período de 1991 a 2005, referentes ao

número de aposentados e de ingressados anuais por concurso na administração federal

revela um pouco disto ao apresentar as quatro conjunturas diferentes do período. A

primeira, de crise e estagnação (1991 a 1994) onde não ingressou ninguém e o total de

aposentadorias foi de 99.186 profissionais; a segunda, de reforma gerencialista (1995 a

1998) onde ingressaram 46.472 e se aposentaram 328.231 profissionais; a terceira, de

orientação fiscalista (1999 a 2002) onde ingressaram 5.141 e se aposentaram 28.421

profissionais; e por último, de nova expansão (2003 a novembro de 2005) onde

ingressaram 34.348 e se aposentaram 29.387 profissionais.

De volta à análise, o CONASS resgata neste segundo documento os problemas

já colocados pelos gestores estaduais na Documenta nº. 1 com relação à gestão de

pessoas e é de fato problema para eles a necessidade/dificuldade de contratação de

pessoal (mantendo o termo utilizado na pesquisa) e a existência de diversas modalidades

de contratação. Nas definições do problema e na descrição do enfrentamento é que

encontramos suas posições de forma clara.

As causas do problema em questão que o CONASS apresenta estão relacionadas

a: Lei de Responsabilidade Fiscal e os limites para os gastos com pessoal; Dificuldades

24 Dados do Estudo sobre a Reposição dos Servidores Federais Descentralizados no SUS realizado pelo CONASS em 2002 (apud Brasil 2004b).

Page 157: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

155

para realização rotineira de concursos públicos e o longo tempo para sua concretização

(de 12 a 18 meses do planejamento a execução até a nomeação dos trabalhadores);

Ausência de mecanismos que propiciem maior rapidez na reposição, substituição e/ou

ampliação de trabalhadores; Falta de vontade política das equipes econômicas dos

governos (em todos os níveis) em repor e/ou aumentar e/ou regularizar o contingente de

funcionários públicos; Necessidade da rápida expansão de ações na saúde, sobretudo

aquelas da atenção primária (Programa Saúde da Família e outras); Inexistência na

maioria das secretarias de Planos de Carreiras, Cargos e Salários atualizados que

incorporem todas as demandas das especificidades de vínculo, de cargos e carreira, da

avaliação de desempenho, além de remuneração e incentivos adequados; A fragilidade

dos mecanismos e instrumentos existentes atualmente nos órgãos gestores que poderiam

facilitar a negociação (Brasil, 2004b: 8–9).

Nas colocações sobre os enfrentamentos dos problemas, iniciando pelas questões

da Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como os gestores municipais, declarado pelo

presidente do CONASEMS ao avaliarmos suas publicações, os gestores não se colocam

contra a lei. Apenas consideram-na como fator limitante para a regularização da

situação atual dos recursos, especialmente no âmbito municipal. Concordam que a

reposição de pessoal seja feita pelos governos estaduais para a garantia de que não haja

prejuízo na assistência à população onde já cumprem essa função, como por exemplo,

Norte e Nordeste, que possuem dificuldades específicas com relação ao quantitativo e

fixação de recursos humanos. É consenso entre eles que a Lei de Responsabilidade

Fiscal não deve ser alterada, mas o CONASS deve lutar pela regulamentação do

dispositivo de excepcionalidade proposta pela lei para a saúde e a educação no cômputo

dos limites estipulados por esta.

Suas propostas em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal são: apoiar os

municípios nas suas tentativas de solucionar o problema da precariedade dos vínculos

empregatícios, porém sem diretamente contratar pessoal; adequar a expansão dos

recursos humanos nas secretarias em função de seu novo papel relativos às

macrofunções destas, ou seja, planejamento e formulação de políticas, gestão,

regulação, monitoramento e avaliação, prestação de serviços de maior complexidade,

além de conduzir a políticas de formação e desenvolvimento de recursos humanos e co-

Page 158: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

156

financiar as ações de saúde; e promover a melhoria na gerência de seus recursos

humanos garantindo maior autonomia na sua função (Brasil, 2004b: 10)

Em relação às dificuldades na realização dos concursos, os gestores estaduais

reafirmam seu apoio ao concurso público e sugerem um novo enfoque na realização dos

mesmos como melhor planejamento; execução mais adequada dos concursos em relação

à avaliação de competências e habilidades; e aprimoramento da recepção ao servidor e a

realização efetiva da avaliação do estagio probatório. O concurso público para o

CONASS não é uma ação isolada, deve dar acesso a um Plano de Carreiras, Cargos e

Salários que garanta qualificação e educação permanente como estratégia de fixação

dos profissionais, especialmente nos municípios pequenos, e que a remuneração deve

considerar o desempenho. Ainda, as secretarias devem dar apoio e subsídio para a

regularização da situação da Estratégia Saúde da Família, seja através de apoio às

Secretarias Municipais de Saúde na realização de seus concursos, ou na realização de

concursos de bases locais conforme as diferentes realidades dos estados, ou ainda

aplicando as provas para os municípios (Brasil, 2004b: 10–11).

Suas proposições com relação a esta questão envolve propor regulamentação do

Programa Saúde da Família por meio de um projeto de lei nacional que garanta o

repasse dos incentivos de modo permanente a fim de diminuir a insegurança dos

gestores municipais no que se refere à garantia contínua no pagamento dos incentivos;

orientar seus municípios tanto na elaboração de leis municipais que permitam a

contratação de pessoal para compor as equipes do programa, mediante concurso ou

seleção pública, assim como na elaboração dos Planos de Carreiras, Cargos e Salários; e

ainda propor à Comissão Intergestora Tripartite que estipule prazo para a desabilitação

do município que não regularizar a situação funcional dos servidores do Programa

Saúde da Família (Brasil, 2004b: 11).

Em relação à reposição e incorporação de pessoal, o CONASS refere-se aos

mecanismos ágeis para tal como flexibilidade. Neste ponto ele se coloca como defensor

de formas de contrato temporário para os casos de interesse público como urgências e

emergências, surtos endêmicos periódicos ou persistentes, as campanhas de agravos

específicos, a interiorização das ações e serviços, entre outros. Estes devem ser

regulamentados de modos diferentes em cada Estado, com normas aprimoradas,

Page 159: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

157

obedecendo a autonomia de cada um. Há também o reconhecimento de que é necessária

uma assessoria jurídica para área de recursos humanos, assim como espaço de troca de

experiências, como exemplo, através de oficina de trabalho entre o CONASS e

consultores jurídicas das secretarias estaduais, tendo como objetivo o estudo das novas

modalidades de gestão e contratualização, para uma rápida solução dos contratos com

prestadores de serviços (filantrópicos e privados) do SUS (Brasil, 2004b: 11). Há uma

demonstração de que o CONASS não se opõe às formas de contrato temporário, porém

busca respaldos jurídicos para eles.

Referente ao Plano de Carreiras, Cargos e Salários, os gestores o assinalam

como o mais sério problema para a gestão de pessoas nos estados e ainda como

contribuição para a insatisfação entre os servidores públicos, a inexistência,

inadequação ou desatualização dos mesmos. Mas é consenso entre eles que, de fato, este

deva ser um plano que valorize a carreira e não apenas se limite a um plano de cargos e

salários. Estes devem ser atualizados, garantir a mobilidade, os salários devem ter uma

parte fixa e outra variável, privilegiar o esforço de formação, qualificação e avaliação de

desempenho, e ainda com estímulos para tempo integral e dedicação exclusiva, e

incorporação de incentivos que vão variar de estado para estado, por exemplo,

interiorização e municipalização. E assim como o CONASEMS, concorda que o Plano

de Carreiras deva ser uma diretriz nacional (Brasil, 2004b: 12).

Em conformidade com a política nacional que preconiza a implantação das

Mesas Estaduais de Negociação, assim como os gestores municipais, observado na

análise de seus documentos, os gestores estaduais também enfatizam a importância das

Mesas de Negociação Permanentes do SUS como elemento facilitador da superação dos

conflitos. Porém estes ressaltam que esse processo é lento e os participantes ainda estão

em fase de aprendizado mútuo, especialmente no que se refere aos limites de atuação de

cada um deles. Estas instâncias, segundo o CONASS, correm o risco de desviarem de

sua finalidade tentando assumir atribuições e competências próprias de outras

instituições e/ou órgãos públicos (Brasil, 2004b: 12–13).

Quanto à reposição dos servidores federais e estaduais descentralizados, o

CONASS reforça a necessidade de um compromisso do Governo Federal com os

estados e municípios para a realização da reposição desses, visto como colocado, que

Page 160: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

158

esse também contribui para as dificuldades relativas à gestão de pessoas na saúde, pois

continuam ligados aos seus órgãos de origem, com diferentes planos de carreiras, além

de não haver reposição no caso das aposentadorias (Brasil, 2004b: 13).

E quanto ao desenvolvimento e formação de recursos humanos, citado como

prioritário pelos gestores estaduais, somente destaca-se a conformidade de pensamento

com os gestores municipais sobre os Pólos de Educação Permanente. Para ambos ele

representa uma instância de articulação entre instituições em busca de superação da

fragmentação e favorece o conhecimento e a troca de experiências entre diversos atores

como contribuição para a reorientação do processo de formação e educação permanente

dos trabalhadores no âmbito do SUS (Brasil, 2004b: 14). A importância dada ao Pólo de

Educação Permanente nos remete à observação de que neste processo de reconstrução

da área de Gestão do Trabalho no SUS, a identificação por partes destes gestores de

dissociação entre as áreas de gestão e a área de desenvolvimento e formação de recursos

humanos como problema, e ainda a busca por meios para aproximá-las, possibilita a

análise de que vem ocorrendo assimilação do conceito elaborado de Gestão do Trabalho

em Saúde por parte desses.

O último eixo, diz que a estrutura e organização da área de recursos humanos

nas secretarias possuem diagnóstico fácil, prognóstico sombrio, conforme colocação do

próprio CONASS. O diagnóstico feito na pesquisa anterior revelou que nas 27

secretarias, 1.249 servidores são responsáveis pela gestão de 450 mil servidores, dos

quais 470 têm nível superior, onde se gasta mais de 5 bilhões/ano (52,5% dos gastos

totais em saúde das secretarias). E ainda, em grande parte delas a área de recursos

humanos está situada no terceiro escalão da estrutura organizacional, subordinando-se à

área administrativa e financeira. Não há um lócus institucional para formulação de

políticas, tanto como a inexistência em mais de 50% delas de um processo de

planejamento e programação para a área em questão. A lógica na grande maioria das

secretarias estaduais é de um verdadeiro departamento pessoal. Se gasta muito com

pessoal e pouco com a área responsável pela gestão/desenvolvimento/formação do

pessoal (Brasil, 2004b: 17).

É neste ponto que se percebe todo o movimento pró - ativo do CONASS para a

resolução da problemática colocada; talvez a maior quantidade de propostas estejam

Page 161: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

159

neste ponto. Assim, por ordem de prioridade elencaram como medidas internas para a

reorganização da área nas secretarias as seguintes (Brasil, 2004b: 17–18):

• Reforma Administrativa para inserção da área de recursos humanos na

composição da equipe de condução estratégica das secretarias;

• Integrar área de gestão de pessoas com área de desenvolvimento e

formação;

• Modernizar administrativamente o setor de recursos humanos, incluindo

a informatização;

• Formular plano anual de recursos humanos articulado ao Plano Estadual

de Saúde, com diagnóstico das necessidades;

• Aumentar o orçamento próprio para a área de gestão e

desenvolvimento/formação de recursos humanos;

• Aumentar o número de servidores da área e implantar um processo de

capacitação permanente para os servidores.

Outras necessidades colocadas foram a de encontrar meios legais para

remuneração de hora/aula e incentivos para as atividades relacionadas à gestão de

pessoas e da educação; incluir o planejamento de recursos humanos no processo de

planejamento estratégico das secretarias, inclusive o relativo à expansão de novos

serviços; fortalecer os Centros Formadores Estaduais articulados aos Pólos; estabelecer

percentuais mínimos de gastos com recursos humanos na saúde e implantar o programa

de saúde do trabalhador para os servidores. E ainda os gestores definiram como

encaminhamentos a serem priorizados pelo CONASS para apoiar e ajudar na

organização do setor, dar apoio politicamente às secretarias na implantação dos Planos

de Carreiras; implementar o trabalho da Câmara Técnica de Recursos Humanos do

CONASS; criar, no CONASS, um banco atualizado de dados a partir das informações

da pesquisa sobre recursos humanos (Documenta nº. 1); disponibilizar no site do

CONASS links específicos sobres recursos humanos para facilitar o acesso pelos

gestores às informações sobre a área; e fazer gestões junto aos Ministério da Saúde e a

Organização PanAmericana de Saúde – OPAS para a realização de um processo de

Educação Permanente em Recursos Humanos para técnicos, gerentes e coordenadores

estaduais da área (Brasil, 2004b: 18).

Page 162: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

160

Este processo de cooperação técnica entre os gestores, incluindo os gestores

municipais, deve ser permanente. Recomendam ao Ministério da Saúde a adoção de

normas mais flexíveis para os diferentes estados, considerando suas especificidades e

facilitando as adaptações e adequações da Política Nacional de Educação Permanente às

realidades estaduais, e solicitam-no apoio técnico e financeiro à reorganização do setor

de recursos humanos das Secretarias de Saúde preservando a autonomia e prioridade de

cada Estado (Brasil, 2004b: 19).

Enfim, o movimento do CONASS sem dúvidas fornece a idéia de que os

gestores estaduais se sentem responsáveis pela situação referente à precarização do

trabalho e envolvidos no processo de reversão da situação apresentada pelas pesquisas.

Em síntese, podemos perceber que este ao colocar como pauta de seminário a questão

da desprecarização do trabalho e discorrer de forma abrangente sobre todos os

problemas que a circunda, expõe sua posição de co-participante neste processo, mesmo

não sendo seu principal problema conforme revelado no primeiro documento analisado.

A compreensão do CONASS sobre a flexibilização dos vínculos de trabalho,

apesar não ser tão diretamente colocada aparenta ser favorável ao propor estudos que

possam avaliar a possibilidade de propor diretrizes gerais para normatizar a situação dos

contratados temporários e processos seletivos. E em relação à precarização do trabalho,

enaltecem que o conceito remete-se principalmente à falta da estabilidade (contratos

temporários) e a vínculos indiretos por cooperativa, colocado de forma diferenciada ao

do CONASEMS, que coloca como precário a ausência de direitos trabalhistas.

Quanto à última publicação analisada, o ProGestores nº. 5, percebemos que as

questões conceituais da atualidade sobre a gestão do trabalho em saúde no Brasil e no

resto do mundo estão muito mais aprofundadas. Também se reapresenta a agenda da

Câmara Técnica de Recursos Humanos do CONASS com suas atualizações, utilizando

as duas produções deste ente analisadas anteriormente como base. E por se tratar de

uma parceria com o Ministério da Saúde por si só já demonstra o consenso existente

entre estes dois entes.

O contexto descrito nesta publicação remete-se a toda problemática discutida

sobre os trabalhadores em saúde, como o novo paradigma do trabalho nas sociedades

Page 163: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

161

pós-industriais e a transição entre modelo taylorista/fordista para o modelo tecnológico.

E sobre esta conjuntura coloca-se que novas competências passam a ser requeridas aos

trabalhadores e gestores, o que implica redefinir as formas de recrutar, selecionar,

treinar e manter os profissionais em suas respectivas atividades. Isso impôs a criação de

instrumentos gerenciais essenciais a essa nova abordagem de gestão de recursos

humanos, incidindo principalmente na incorporação e remuneração da força de trabalho,

com necessidade de crescentes especializações dos trabalhadores (Brasil, 2007c: 16–

17).

Com relação à flexibilidade e precariedade do trabalho, esta publicação

referencia a forte contradição no setor saúde, pelo fato destas formas de vinculação não

estarem se manifestando devido aos fatores relativos ao desemprego; ao contrário, tem

sido fortes indutores de empregos no Brasil. E essas heterogeneidades de vínculos

mudaram radicalmente os mecanismos de ingresso e manutenção dos trabalhadores,

estabelecendo novas relações de trabalho, com necessidade de novas competências que

habilitem os gestores e trabalhadores como negociadores das condições de trabalho, por

vezes adversas, devido às condições orçamentárias, para operar avanços significativos

nas negociações, mesmo quando os pleitos dos trabalhadores são considerados legítimos

(Brasil, 2007c: 18–19).

Três principais conceitos de precariedade e informalidade do trabalho estão

colocados nesta publicação com base nos autores Nogueira, Baraldi e Rodrigues (2004)

e na Organização Internacional do Trabalho – OIT. Na primeira “caracteriza-se por

uma situação de déficit ou ausências de direitos de proteção social”. Na segunda,

“decorre de uma instabilidade do vínculo, do ponto de vista dos interesses dos

trabalhadores”. E a terceira, “está associada a condições de trabalho de determinados

setores da economia que criam vulnerabilidade social para os trabalhadores aí

inseridos”, ou seja, empregos facilmente destruídos pela falta de vigor e

competitividade do setor econômico que os gera. Se correlacionarmos com a definição

inclusive das outras publicações, o CONASS definiu como situação precária os

contratos por tempo determinado, ou seja, estaria correlacionada à segunda

conceituação apresentada acima (Brasil, 2007c: 19).

Page 164: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

162

A análise mais profunda sobre as definições conceituais colocadas nesta

publicação nos possibilita compreender mais o conceito de trabalho precário adotado

nas publicações anteriores (Documento nº. 01 e 04). Assim, o CONASS refere que

dedicou atenção especial à discussão da precarização do trabalho e à busca de caminhos

para reverter a situação, pois:

“Do ponto de vista do gerenciamento, essa discussão não se resume à forma de ingresso ou remuneração dos trabalhadores apenas, mas articula-se com a perspectiva do aumento da produtividade e da complexidade dos objetos de trabalho, que passam a requerer um aprofundamento vertical do conhecimento especializado e, ao mesmo tempo, a sua integração. Trazer esta discussão para o campo da saúde é um desafio, na medida em que: esta é uma área multi e interdisciplinar que compreende um largo espectro de atividades de produção e de serviços médicos, em nível hospitalar, ambulatorial ou de unidades de saúde, passando pela produção de conhecimento e informação; foco principal dessas atividades são pessoas e, portanto o processo pauta-se no contato humano” (Brasil, 2007c: 20).

Ou seja, os trabalhadores assumem junto uma responsabilidade da produção do

cuidado à saúde da população e para este requer que sejam asseguradas a continuidade e

integração das atividades, assim vínculos flexíveis, temporários, considerados por isso

precários pelo CONASS em seus documentos anteriores, serão geradores de rupturas

constantes nestes processos de trabalho que exigem continuidade.

Como apresentado, a relação entre processos cognitivos e uso de modernas

tecnologias está muito além do problema do ensino e da formação, e deve ser analisada

no contexto das mudanças nas bases técnicas, organizacionais e administrativas do

trabalho. Ou seja, não é substituindo uma mão de obra qualificada por outra tão bem

qualificada quanto, que conduziremos o trabalho em saúde com qualidade. É necessária

a garantia de que o trabalhador permaneça em seu posto de trabalho para que através da

integração adquirida, tempo após tempo, este possa ser qualificado (Brasil, 2007c: 21).

O CONASS como já mencionado no início deste estudo considera que a gestão

do trabalho pode ser compreendida pelos três grandes eixos: a mudança no modelo de

Estado, que passa a ser regulador; a reestruturação produtiva, trazendo novas relações

no trabalho; e a incorporação tecnológica introduzindo novas práticas e novos processo

Page 165: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

163

de trabalho (Brasil, 2007c: 21). E sobre o contexto brasileiro discorre reafirmando as

problemáticas sobre o Regime Jurídico Único, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a

situação nos Estados e municípios com relação à precarização do trabalho, assim como

descreve as formas de vínculos utilizadas na administração pública, já aprofundada em

capítulo anterior.

Outros fatores apresentados que impactam o cotidiano da gestão do trabalho no

SUS são, entre outros, a pouca flexibilidade do Regime Jurídico Único para a gestão do

trabalho; a indefinição quanto à regulamentação do Regime Celetista para o setor

público; e os Termos de Ajuste de Condutas realizados com foco na questão trabalhista,

como determinante, mas nem sempre exeqüível pelos gestores, sem constrangimentos

de outras despesas também necessárias ao bom funcionamento do SUS. Ter colocado

estes fatores, sugere que o CONASS tem levado em consideração a possibilidade da

flexibilidade do vínculo de trabalho para algumas realidades brasileiras. Porém quando

ele refere também como outros fatores, o trabalho desregulado e desprotegido e a

insatisfação dos trabalhadores, reafirma que não é favorável à precarização do trabalho

(Brasil, 2007c: 26).

Neste estudo, a valorização do papel estratégico do planejamento de recursos

humanos no novo modelo de gestão descentralizada é esmiuçada, especialmente por ter

sido identificado na pesquisa de 2003 que as questões referentes à estrutura das

secretarias estaduais são consideradas pelos entrevistados como o primeiro lugar entre

os problemas, e em especial à gestão de pessoas. Assim:

“a Política de Recursos Humanos é uma dimensão estratégica da gestão em saúde e que os organismos responsáveis pela sua condução devem buscar a institucionalização de sistemas de planejamento que dêem conta da especificidade das matérias tratadas pela área, orientados por metas e objetivos institucionais, e que permitam aos gestores utilizá-lo como instrumento importante de gestão e regulação da força de trabalho” (Brasil, 2007c: 31–32).

A montagem de um sistema de planejamento, segundo o CONASS, inclui definir

parâmetro não somente referente aos servidores estaduais, mas considerar o conjunto da

força de trabalho, definir quais modalidades de incorporação de pessoal deverão ser

adotadas, quais funções deverão ser consideradas as típicas de estado, quais atividades

Page 166: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

164

deverão ser terceirizadas, em que área e condições, e por fim, que parâmetros deverão

orientar a relação do estado com o mercado de trabalho em saúde, constituindo um

espaço importante na construção de consensos e estabelecimento das políticas de gestão

do trabalho, articuladas aos órgãos colegiados desta área, como as Mesas de Negociação

(Brasil, 2007c: 33).

.

Do ponto de vista geral, citando os resultados da pesquisa Documenta nº. 1, a

função gestora e reguladora do estado no SUS, de certa forma ficou comprometida, pois

parte significativa das secretarias estaduais planejava e gerenciava apenas os recursos

humanos das próprias secretarias, e o que este documento agora destaca é a importância

de se ampliar o raio de atuação no que se refere aos estudos e às prospecções da força de

trabalho, para se ter como referência todo o SUS. Isto revela o importante papel dos

estados no processo de condução das políticas de gestão do trabalho no SUS,

juntamente com o Ministério da Saúde e os municípios (Brasil, 2007c: 34).

.

Pautado no diagnóstico do precário funcionamento das estruturas de gestão do

trabalho no SUS, esta publicação menciona a mobilização do Ministério da Saúde em

articulação com o CONASS e CONASEMS para a criação do ProgeSUS em 2006 como

proposta de apoio à estruturação dos setores de Gestão do Trabalho e da Educação na

saúde, a organização e o fortalecimento de seu sistema de informação, e a qualificação

dos recursos humanos envolvidos na gestão dessa área, demonstrando que há

articulação e consensos entre os três entes relevantes deste processo (Brasil, 2007c: 34).

Para o desenvolvimento do seu papel regulador o estado necessita de

instrumentos que possibilitem a tomada de decisões e o monitoramento, assim como

avaliação da força de trabalho. Portanto como elementos, esta publicação identifica a

necessidade deste monitoramento ser através do uso de um sistema de informação “os

bancos de dados de trabalhadores, seja servidores ou terceirizados; a definição de um

padrão de regulação dos contratos de trabalho, terceirização com parâmetros

salariais, perfil dos postos de trabalho contratados, pré-requisito de acesso aos postos

de trabalho, benefícios e formas de seleção e desligamento; equipes qualificadas para o

desenvolvimento dessas ações, nas áreas de gestão do trabalho, instrumentos de gestão

aplicados com regularidade acordada entre os órgãos coordenadores da gestão do

trabalho e as diferentes instancias onde o trabalho se realiza”. Com essas colocações

Page 167: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

165

podemos perceber mais uma vez a posição favorável do CONASS com relação à

flexibilização do trabalho (Brasil, 2007c: 35).

O Plano de Carreiras, Cargo e Salários também é apontado novamente como

caminho apoiado pelos trabalhadores para a estruturação de um modelo de gestão de

pessoas compatível com o modelo adotado pelo estado. É relembrada a sua ausência nas

secretarias estaduais como principal problema, associado à indefinição de uma política

para o campo e a ausência de ações de planejamento e programação que levaram à

situação de remuneração insuficiente, diversidade de contratos e precarização das

relações de trabalho (Brasil, 2007c: 36).

Os princípios norteadores das Diretrizes dos Planos de Carreiras para o SUS,

elaboradas pela comissão especial em 2004, coordenadas pela Secretaria de Gestão do

Trabalho, apontam para “a mobilidade – assegura o trânsito livre dos trabalhadores do

SUS, sem perda de seus direitos e progressão da carreira; a flexibilidade – garantia

permanente de adequação dos planos às necessidades a à dinâmica do SUS; carreira –

instrumento de gestão; educação permanente e avaliação de desempenho”. Ou seja, ao

apontar a mobilidade, vê-se indicação de uma flexibilidade funcional do trabalho

(Brasil, 2007c: 36–37).

Com relação à compreensão da Gestão do Trabalho em saúde, como evolução

conceitual, nesta publicação é exposta a compreensão da assimilação dos conceitos de

força do trabalho da economia política, assim como da sociologia envolvendo o trabalho

e o trabalhador como ser social e a sociedade, expondo a conformidade com o que foi

apresentado no capitulo V.

O documento também aborda as questões referentes à formação e

desenvolvimento de pessoal, as quais, por hora, apenas ressaltamos a continuidade da

valorização da Educação Permanente como estratégia principal, a inclusão da Educação

à Distância como possibilidade de ampliação do acesso, a articulação com o aparelho

formador, fortalecendo parcerias para ações próprias e transversais, a responsabilidade

da educação na saúde no Pacto de Gestão e as questões do financiamento.

Page 168: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

166

Sobre a Gestão do Trabalho e o Pacto de Gestão, o CONASS coloca

inicialmente que. a segmentação dos campos de atuação para as ações que implicam a

relação entre trabalhadores e sistemas de saúde ainda persiste nas estruturas

organizacionais; e se apresentam como um dos inúmeros desafios a serem enfrentados

na reestruturação do sistema. Essa lógica de gestão cuja rigidez configura-se como

obstáculo à mudança não possibilita essa reestruturação (Brasil, 2007c: 80).

Também neste capítulo o CONASS reapresenta os três principais eixos de

trabalho priorizado no Seminário que gerou a Documenta nº. 4, desprecarização do

trabalho em ambiente de incerteza; processo de desenvolvimentos e formação de

recursos humanos na saúde, com ênfase nos Pólos de Educação Permanente; e a

estrutura e organização da área de recursos humanos nas Secretarias Estaduais de

Saúde. Com relação à desprecarização, as colocações do CONASS se mantêm idênticas,

reforçando que os concursos públicos não devem ser estratégias isoladas, e sim somadas

aos Planos de Carreira, Cargos e Salários, e a valorização das Mesas de Negociação no

SUS como instancias de pactuação. Ainda destaca a Câmara de Regulação do trabalho

instituída em 2004, como espaço de discussão entre os gestores do SUS e

representações profissionais com vistas à construção coletiva de respostas para questões

relacionadas à regulação do trabalho em saúde.

Por fim, sobre as Câmaras Técnicas de Recursos Humanos do CONASS foram

discutidas em oficinas de trabalho, além das questões relacionadas ao fortalecimento da

capacidade gestão, por meio de resposta apresentada pelo Ministério da Saúde, as

Diretrizes Nacionais para instituição dos Planos de Carreiras, Cargos e Salários – SUS e

a organização da participação das secretarias estaduais na Conferência Nacional de

Saúde do Trabalhador e Conferência Nacional de Gestão do trabalho e da Educação em

Saúde. E em especial, destacamos a questão referente à regularização da situação dos

vínculos e de ingresso dos Agentes Comunitários de Saúde, com a participação ativa do

CONASS na Comissão Tripartite de negociação de um Termo de Ajuste de Condutas

junto ao Ministério Público do Trabalho que garantisse a continuidade do Programa

Saúde da Família e apresentação de experiências estaduais de realização de processos

seletivos e/ou concursos para a regularização do vínculo dos agentes de saúde (Brasil,

2007c: 106).

Page 169: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

167

Ao término da análise dos três documentos do CONASS, vimos que sua

participação de forma atuante gerou importante avanço para a Gestão do trabalho no

SUS, em especial no que se refere às questões sobre a flexibilização e precarização do

trabalho, não somente para os estados, como também em relação ao apoio dado aos

municípios e a busca de consenso com o Ministério da Saúde.

Em especial, a delimitação conceitual sobre a flexibilização e precarização do

dos vínculos de trabalho realizado neste processo auxiliou não somente a uma

compreensão quase uníssona entre estados, municípios, mas uma possibilidade de que

cada um desses pudesse situar essa problemática dentro de seu contexto e propor

soluções específicas que atendam às necessidades dos trabalhadores. Entre esses atores

aqui analisados, é claro que deva haver a legalidade e a proteção social do trabalhador

de saúde, pois sem isso o SUS não passará de um quebra-cabeça mal encaixado.

Os atores em debate

O desenvolvimento da gestão participativa no SUS, principalmente entre as três

esferas de governo, possibilitou o debate e a interação de maneira extremamente efetiva

na condução das políticas de Gestão do Trabalho, o que pode ser demonstrado nas

produções analisadas anteriormente. Nesta participação, atores importantes gerenciaram

e coordenaram os núcleos responsáveis pelas ações nesta área em ambos os conselhos.

E quanto ao Ministério da Saúde, na análise de sua produção ficou estampada sua

atribuição essencial de elaboração das diretrizes para orientação dos estados e

municípios, respeitando o desenvolvimento da gestão de forma participativa.

Sobre a colocação dos atores-chaves do CONASS e do CONASEMS, estas

ampliaram e confirmaram posições sobre a questão da flexibilização e precarização do

trabalho, colaborando de forma interessante para este estudo.

Assim, neste momento do estudo, estão colocadas as posições dos dois entes

representantes das secretarias de saúde municipais e estaduais, obtidas através das

entrevistas realizadas com os atores – chaves que estão à frente dos respectivos

Page 170: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

168

Núcleos: Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do CONASEMS e de Políticas de

Recursos Humanos do CONASS.

A posição do representante do Núcleo de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde

do CONASEMS

Sobre a situação da flexibilização, precarização e desprecarização, o entrevistado

cita todas as mudanças ocorridas com o processo de descentralização, como as

mudanças nas formas de estruturação da força de trabalho, a expansão e implementação

de novos programas através da indução pelo Ministério da Saúde com significativo

aumento na contratação de trabalhadores nos municípios. Esses contratos, confirma ele,

foram estabelecidos nas mais diversas formas possíveis, e considera que em alguns

casos a forma era precária.

Com relação à precariedade e desprecarização, o entrevistado coloca que o

CONASEMS entende que se deve ter respeito aos direitos trabalhistas e previdenciários

e que o processo de desprecarização envolve a cooperação e a solidariedade das três

esferas de governo.

“Nós do CONASEMS, temos defendido que nenhum trabalhador do SUS pode atuar sem ter garantido seus direitos trabalhistas e previdenciários. Para tanto, há necessidade de que o processo de desprecarização dos vínculos de trabalho seja realizado com a cooperação e a solidariedade das três esferas de governo. Essa responsabilidade não pode ser somente dos municípios.”

O CONASEMS considera que os limites encontrados pelos municípios neste

processo estão relacionados à Lei de Responsabilidade Fiscal. Assim, refere o

entrevistado, que este tem defendido a continuidade das parcerias como forma de

estabelecer projetos de cooperação com entidades sem fins lucrativos para a execução

de determinadas ações e a contratação de trabalhadores, porém, sem concordância com

a terceirização da força de trabalho.

Page 171: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

169

“Não concordamos com a pura terceirização da força de trabalho em saúde. O que defendemos são parcerias com metas e resultados e, inclusive contemplando a contratação de pessoal.”

Com relação à compreensão da área acerca dos aspectos sobre a flexibilização

do trabalho em saúde, refere-se novamente como o principal aspecto a Lei de

Responsabilidade Fiscal. Com relação à flexibilização dos direitos sociais, diz ele: “não

podemos abrir mão deste direito fundamental para todos os trabalhadores brasileiros”.

O entendimento do CONASEMS é que os trabalhadores que possuem contratos por

meio de emprego público (CLT) não são precários.

O que está em consenso entre o CONASEMS e o Ministério da Saúde, em sua

opinião, refere-se à garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários. Coloca que no

debate aprofundado no Comitê de Desprecarização pode ser visto que o dissenso entre

gestores e trabalhadores está no conceito de precarização. Os trabalhadores consideram

que a desprecarização só poderá se dar por concurso público e os gestores entendem a

contratação por CLT como uma forma não precária.

“Na visão dos trabalhadores só é possível desprecarizar por meio de concurso público e cargos públicos (estatutário). Essa concepção nós não podemos aceitar, pois se assim o for, temos que jogar a CLT no lixo.”

Com relação às políticas de Gestão do Trabalho, implementadas hoje pelo

Ministério da Saúde, e discutidas com CONASS e CONASEMS, este as considera

importantes e que contribuem com a implementação de uma política que valoriza o

trabalho e o trabalhador de saúde, e referencia duas políticas do Ministério como

contributivas.

Em relação à primeira, entende o Plano de Carreiras, Cargos e Salários - SUS

como uma contribuição para que gestores tenham um referencial para a implantação de

planos que proporcione a perspectiva de promoção na carreira do trabalhador,

produzindo maior motivação e assim melhoria da qualidade dos serviços prestados à

população.

Page 172: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

170

E à segunda política, o Comitê de Desprecarização do trabalho representa, em

sua opinião, a permanência do tema na agenda do gestor e também problematiza o

assunto na perspectiva deste, possibilitando a explicitação de suas dificuldades para

resolver o problema e encontrar saída.

Com relação às políticas de Gestão do Trabalho implantadas pelo Ministério da

Saúde em parceria com o CONASS e CONASEMS, além das citadas acima, ele destaca

o ProgeSUS como possibilidade para estruturação e qualificação das áreas de gestão do

trabalho dos municípios e estados.

E com relação à avaliação, por este, das políticas de gestão do trabalho e

educação na saúde, esta última também representa importância para a consolidação do

SUS, e dentre diversas estratégias, como o Pró-Saúde e o Telesaúde, a própria Política

de Educação Permanente em Saúde é considerada fundamental para mudanças das

práticas do trabalho com base nas necessidades do SUS.

Finalizando, podemos perceber com as colocações nesta entrevista que a

flexibilização do trabalho é considerada como uma possibilidade de superação de

entraves no âmbito municipal, mas a defesa dos direitos dos trabalhadores sustenta a

consideração pela desprecarização do trabalho em saúde pelos municípios. Mas não é

considerado o fim, o processo continua através dos debates.

“Acredito que, à medida que participamos do processo de definição, monitoramento e avaliação das políticas, podemos, durante o processo irmos corrigindo falhas e rumos conforme a necessidade de cada política.”

A posição do representante do Núcleo de Políticas de Recursos Humanos do

CONASS

Inicialmente, é relevante destacar a situação de inserção do ator-chave do

CONASS entrevistado. Este esteve neste mesmo lugar em 2002 e participou do

Seminário de Consensos em 2004. Afastou-se para a gestão e somente há seis meses

Page 173: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

171

retorna para ocupar a gerência do Núcleo de Política de Recursos Humanos do

CONASS

Com relação à posição do CONASS, a última agenda deste ente foi em 2004, no

Seminário de Consensos, publicada na Documenta nº. 4, e o ator – chave entrevistado

reforça que as posições tomadas naquela época não foram modificadas até o momento.

Porém refere que o debate se modifica ao longo deste tempo, e algumas dessas novas

discussões foram colocadas durante esta entrevista.

Nas questões fundamentais para a discussão da gestão do trabalho, como a

flexibilização dos vínculos de trabalho, a precarização e a desprecarização, foi colocado

que há uma polarização no debate entre adotar a forma de contratação por concurso

público, ser todo mundo estatutário, ou que essa situação gera enormes dificuldades de

repor pessoal em função da velocidade da necessidade em atender à demanda e todo o

processo de concurso. Correlacionando com a analise documental, de fato essa questão

foi colocada no Seminário de Consensos do CONASS em 2004.

O debate hoje mais consensual referido pelo entrevistado é o da figura da

Fundação Pública de Direito Privado, “... surgiu primeiro mais no âmbito hospitalar,

mas que já é uma coisa consensuada entre Ministério da Saúde, CONASS e

CONASEMS ”.

Apoiar essa Fundação é admitir que seja importante ter outros modelos de

gestão, expõe ele, outras formas de vínculo que não somente o estatutário, como o

através da CLT, por exemplo, ou seja, para o CONASS a flexibilização dos vínculos de

trabalho é importante, porém está claro que a forma de inserção do trabalhador deve ser

de forma legal, e, portanto uma forma democrática de acesso.

“Mas em nenhum momento ele disse que não deve haver seleção. Portanto, ele está colocando que tem que haver alguma forma de acesso, de seleção, ou concurso público ou seleção. E não outra forma de acesso que não passe por oferecer esse direito a todo mundo”.

Page 174: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

172

A incerteza desse debate foi expressa, pois não é sabido o desdobramento que

vai se ter, ou como está a ambiência política para ir adiante essa questão. Um exemplo

citado sobre esse debate é o caso dos Agentes Comunitários de Saúde. A situação

referenciada foi a seguinte: existe a Emenda Constitucional que diz que ele pode ser

contratado pelo serviço público, e existe uma série de Agentes Comunitários vinculados

a outras entidades e parcerias que estão estabelecidas. A dúvida mencionada pelo

entrevistado é: “será que este dogma deve ser mesmo do poder público? Esse emprego

tem que ser exclusivamente público, ou ele pode ser gerado pelo emprego público?” O

CONASS, pelo que o entrevistado diz, deverá discutir essa questão em breve, no

próximo encontro em abril de 2008.

Com relação à desprecarização, a dificuldade está na exigência de mecanismos

que às vezes a administração pública não tem para se trazer para o emprego direto.

“Mas é consenso que não temos que ter tolerância com o trabalho precarizado e temos

que ter instrumentos que possa modificar isso”.

Com relação aos aspectos (positivos ou negativos) relativos à flexibilização das

relações de trabalho em saúde, é lembrado que isso está problematizado na Documenta

nº. 4.

A experiência da gestão e a heterogeneidade brasileira são lembradas como

fatores que definem as diferentes necessidades relacionadas à gestão do trabalho. “Eu

não acredito que você possa ter uma receita para a flexibilização, porque ela não vai

atender a toda essa realidade. Direito ao emprego tem que ser assegurado”.

Há a necessidade de se pensar na carreira pública, pois esta se encontra

estagnada. “É, que bom se pudessem ter condições de ascensão de carreira... A carreira

estatutária esta deixando a desejar, na verdade”.

Com relação aos dilemas da flexibilização, os riscos envolvem a maneira de

acesso ao emprego. Para o CONASS flexibiliza-se, mas garantindo ter acesso, não

aquele clientelista, cartorial, já derrubado pela Constituição Federal de 1988. Os

exemplos comentados de flexibilizações dos vínculos de trabalho representam

dilemas/posições frente às diversas situações encontradas no contexto brasileiro.

Page 175: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

173

“Flexibiliza, mas flexibiliza criando uma carreira que é menor do que outros trabalhadores que estão prestando o mesmo serviço em outras áreas do mesmo aparelho de estado? Também não é o ideal. Ah, flexibiliza porque você precisa de profissionais de sobreaviso e não tem instrumentos para ter profissional de sobreaviso, é um dado de realidade. Você pode ter que pagar profissionais de sobreaviso, não precisa ter aquele plantão porque você não tem demanda em alguns lugares do país, por exemplo, o neurocirurgião, você vai ter que encontrar mecanismo de como é que você paga ele para cobrir o sobreaviso. Na minha experiência de gestão, essas situações são absolutamente diversas.”

Com relação ao Programa Saúde da Família não há como realizá-lo sem vínculo

dos profissionais com a comunidade em que atuam. “Não é possível exigir que o

médico viva na comunidade, mas o Agente Comunitário sim, é obrigatório”, porém o

entrevistado expõe que há controvérsias, pois, mesmo hoje, exigindo-se o local de

moradia, isso não está na lógica do acesso equânime. De qualquer forma, para isso é

necessário se ter uma forma de vínculo mais flexível que a do estatutário, onde você não

tem como exigir isso. “É uma flexibilização para atender um dado de realidade”.

Relembrando a história do Programa Médico de Família, em Niterói, o

entrevistado refere que a arquitetura feita na época e que permanece até hoje é baseada

na lógica de que o emprego é daquele local onde se presta a assistência, não é de outro

lugar, o profissional não poderá ser transferido para outro lugar. “Não é uma

flexibilização para você simplesmente encontrar uma derivação para não pagar algum

benefício, ou uma derivação para não computar na Lei de Responsabilidade Fiscal”.

Por outro lado, destacou-se que há um excesso de preconceito com relação ao

emprego público. “O servidor estatutário está sujeito à regras e normas, talvez elas não

estejam sendo aplicadas. Então esse preconceito - tem permissividade, é dono do

emprego, seu emprego é vitalício - depende de quem está regulando esse emprego”.

Na verdade, não tem como ser dito que há algum consenso neste debate no

CONASS, como o próprio entrevistado menciona. Ele refere que já participou de

posições completamente divergentes entre os secretários, onde havia inteira recusa da

carreira pública, do vínculo estatutário, até a aplicação desta com uma regulação mais

bem adequada. Portanto, não há como traduzir consenso, mas refere que sempre é algo

Page 176: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

174

muito sentido e que precisa de mecanismos mais rápidos. E ainda menciona, sempre é

perverso quando se computa recursos humanos na área da saúde, pois se iguala a área

tecnológica, mas na verdade qualquer equipamento mais moderno necessitará de

profissionais mais adequados e mais preparados para operá-los e com os limites de

gasto igualados com, por exemplo, a área militar, administração direta, área econômica,

não haverá como contratar mais pessoal.

“É unanimidade que a Lei de Responsabilidade Fiscal nos pune muito, e é um dos problemas que às vezes leva a uma flexibilização, pela terceirização, às vezes para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. E nem sempre é uma flexibilização para atender a uma situação diferenciada”.

Referente ao consenso na compreensão e ações desenvolvidas sobre as questões

da flexibilização dos vínculos e a precarização do trabalho, apesar da dificuldade em

responder com segurança essa questão, essencialmente refere que há consenso na

desprecarização do trabalho, na importância das Mesas de Negociação do SUS para a

regulação das relações de trabalho, na Fundação Pública entre os três entes federados.

Outro ponto exposto como consenso foi a pactuação na Política de Educação

Permanente, com a questão da formação, a importância da participação da saúde na

edição da formação de pessoal, no cumprimento do artigo nº. 200 da Constituição

Federal de 1988.

“Nas políticas macro estamos pactuados. Das questões que envolvem vínculo. Abrimos mão do concurso? Queremos os dois modelos de volta, celetista e estatutário? Não têm alguma coisa que eu sinta como pactuada que eu possa falar. Pelo menos da parte do CONASS não tem um consenso claro, tem um consenso que é necessário sim flexibilizar nas situações que a realidade denota. Mas não tem um debate que diga: flexibiliza como.” .

Para o CONASS, um trabalho precário é aquele sem vínculo, um trabalho sem

direito assegurado ao trabalhador. Como exemplos expressos, seria o prestador de

serviço, o bolsista, que na verdade funciona como uma reposição de um servidor.

Quanto a isso não há duvidas. Não há divergências quanto ao conceito de trabalho

precário, principalmente porque senão não estaria sendo assinado o protocolo de

desprecarização, refere o entrevistado.

Page 177: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

175

“Não há nenhum tipo de negativa de que tem que ter vínculo, que tem que ter o direito do trabalhador, de que isso é um princípio que tem que ser respeitado.”

Um fato incluído durante a entrevista, relembrando a situação vivida no

nordeste, foi em relação à retirada da oposição do Ministério da Saúde em se fazer

gestão junto às forças armadas. Foi exposto pelo representante do núcleo do CONASS

que muitos daqueles abandonos de plantão ocorridos na ocasião, na verdade, eram

empregos precarizados. Não eram os estatutários que estavam dando plantão, eram

prestadores de serviço que não satisfeitos com o salário abandonaram os plantões.

“Então uma das mobilizações do CONASS foi no sentido de tentar que as forças armadas pudessem suprir e outra foi de fortalecer as Mesas como uma forma de tentar se evitar que se chegue a clima de ruptura a ponto de abandonar os plantões”.

Quanto às contribuições das políticas de gestão do trabalho implantadas pelo

Ministério da Saúde não há dúvidas quanto a sua importância. O ProgeSUS é uma

resposta às demandas colocadas na pesquisa do CONASS realizada em 2003, a

Documenta nº. 01. O fortalecimento das Mesas de Negociação, inclusive destacada

durante a entrevista por ter sido elencada em documento recente do Presidente do

CONASS ao Ministro da Saúde, foi considerado como forma de enfrentamento da crise

das relações de trabalho, e assim o CONASS fortalece uma política que o Ministério da

Saúde está defendendo. A própria questão da desprecarização e o protocolo assinado. A

Comissão Interinstitucional de Recursos Humanos do Conselho Nacional com

participação ativa do CONASS e bem pactuada, a Regulação do Trabalho entre outras

coisas.

“O Ministério da Saúde está vivendo um momento muito rico. Provavelmente estamos vivendo um momento de consolidação de um certo empoderamento que a área de gestão do trabalho e educação na saúde passou a ter nos últimos quatro anos. Nós estamos conseguindo agora colher pactuações que eram desejadas, e que é uma constituição de política perfeita pelos três entes porque temos fóruns para debater essa política, é claro que tem uma política do Ministério da Saúde que é apresentada para nós para este debate.”

Page 178: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

176

Com relação à “outra perna” da Secretaria de Gestão do Trabalho, a Educação

na Saúde, também é um momento positivo para a questão que se remete à nova Política

de Educação Permanente. A demanda tem sido construída a partir de um plano

ascendente, envolvendo uma comissão interministerial dos Ministérios da Saúde e o da

Educação e da Cultura para o cumprimento do artigo nº. 200 da Constituição Federal de

1988. Mas há um incomodo com relação à portaria nº. 1996/07 da Educação

Permanente; ao contrário do que foi pactuado, essa portaria não revogou a anterior,

provocando conflitos. Estão vigorando duas portarias, que conforme exposto, uma

atende mais aos interesses da academia e a outra atende às necessidades dos dois entes,

CONASS e CONASEMS.

Porém uma importante crítica que é apresentada nesta entrevista refere-se à

fragmentação existente entre as áreas do Ministério da Saúde, herança de um Ministério

campanhista com verticalização. E em especial, referente às duas áreas da Secretaria, a

Gestão do Trabalho e a Educação na Saúde, é necessário que ocorra uma maior

integração entre elas.

Há dificuldades dos gestores em participar dos fóruns de ambas as áreas. Hoje

há uns 17 fóruns para o CONASS freqüentar, e acaba não conseguindo participar muito

ou tendo atores que participam dos fóruns da Gestão do Trabalho e atores que

participam dos fóruns da Educação na Saúde.

“Tinha que ter uma maneira que esses atores tivessem fóruns mais comuns para que essa própria política pudesse estar mais integrada porque elas não sobrevivem sem, uma sem a outra. Essa é uma critica que a gente observa nesse processo,..., mas essa é uma observação de CONASS e CONASEMS que tem que ser dita de público”.

Ao ser questionado sobre como ele avalia as políticas de Gestão do trabalho e da

Educação na Saúde e o que poderia ser aperfeiçoado, é referido que nesta área, não há

uma postura autoritária do Ministério da Saúde. “Há momentos em que alguns

participantes pactuam com autoritarismo, pactuam dando a volta, e isso não pode”,

expõe. Mas de fato em sua maioria a pactuação ocorre, e se não há como fechar algum

consenso, retira-se de pauta, e pactua-se mais adiante.

Page 179: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

177

Mas de fato o que foi sugerido como o que poderia se aperfeiçoar refere-se

novamente à maior integração entre as duas áreas da Secretaria de Gestão do Trabalho.

“A própria agenda do Ministério precisa ser mais coerente, é uma coisa interessante

para aperfeiçoamento, a própria agenda tem que ser mais coerente para permitir esse

nível de participação”.

Enfim, com relação às políticas de gestão do trabalho e de educação na saúde, as

linhas programáticas são consideradas corretas; as divergências são discutidas no

processo e arredondadas mais adiante, como expõe o representante do núcleo do

CONASS.

“Se você olhar globalmente as políticas que estão sendo desenvolvidas pela gestão do trabalho, elas todas tem alguma coisa a ver com o trabalhador. Porque quando está fortalecendo a Educação Permanente, isso vai refletir, quando está na Mesa de Negociação, isso vai refletir, quando está na Desprecarização, vai refletir. Então, ela tem conseguido o tempo todo ter como foco o trabalhador”.

Page 180: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

178

CAPÍTULO IX - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema público de saúde brasileiro atualmente encontra-se em franco

processo de consolidação, pautado nos ideais da reforma sanitária, construídos na 8ª

Conferência Nacional de Saúde, materializados na Constituição Federal de 1988 através

de seus princípios e diretrizes, operacionalizados pelas Normas Operacionais Básicas e

de Assistência à Saúde (NOBs e NOAS) e atualmente pelo Pacto de Gestão. Este

último, especialmente, propõe o fortalecimento deste processo, solidificando a

descentralização, regionalização, pactuação na gestão e a participação social, elementos

fundamentais para a consolidação das políticas no campo da Gestão do Trabalho e

Educação na Saúde.

A Reforma Sanitária orientou-se na busca da qualidade de vida da população,

amparada no conceito ampliado da saúde e, portanto, indicou a necessidade da mudança

nos paradigmas, havendo o propósito de alcance da seguridade social. Quanto ao

modelo de assistência à saúde optou-se por aquele que fornecesse maiores condições

para a prevenção e promoção da saúde, ocorrendo assim a valorização da Atenção

Primária, no Brasil, Atenção Básica em Saúde.

Essa reorientação do modelo assistencial no Brasil foi estruturada de forma

progressiva, adotando essencialmente como estratégia o Programa Saúde da Família.

Inicialmente este foi implantado em 1994 de forma incipiente como um desdobramento

do Programa de Agentes Comunitários de Saúde; em 1998 o Ministério da Saúde o

reconheceu como estratégia de reorientação do modelo assistencial e somente em 2006

veio a configurar-se como uma política nacional. E esse percurso expôs os municípios e

trabalhadores de saúde a inseguranças de sua continuidade por diversas vezes, gerando

uma instabilidade quanto à inserção destes últimos no programa. Hoje, como política,

requer entre outras coisas, esforços para que ocorram mudanças especialmente na forma

de inserção dos trabalhadores buscando vínculos definitivos e mais adequados à

ideologia deste modelo.

Page 181: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

179

Como identificado, o desenvolvimento deste modelo ocasionou a inversão da

estrutura de assistência à saúde até então construída sob a valorização do modelo

biomédico, com grandes investimentos nas estruturas hospitalares e nos profissionais

médicos. Portanto, com o SUS houve de fato grande expansão para atender à Atenção

Básica em Saúde, adotando equipes multiprofissionais e um fator contribuinte foi o

desenvolvimento de novas tecnologias para a assistência, necessitando da incorporação

de novos trabalhadores, e assim levando à dimensão que hoje temos.

Por outro caminho inverso, em meio à crise econômica, seguiram as discussões

sobre a capacidade gerencial do Estado, e para a busca de nova modelagem, esta foi

pautada no paradigma gerencial da Administração Pública, propondo ações em busca da

eficácia e eficiência de forma privatizante, restritiva e liberal. A reforma do Estado,

ocorrida na década de 1990, definiu o Estado mínimo, regulador, e provedor somente

dos serviços essenciais.

Assumir a posição de Estado mínimo no Brasil representou implantar uma forma

de estabelecer a flexibilização da relação estatal com os trabalhadores das diversas áreas

e assim como da saúde, ocorrendo como conseqüência a redução do quadro de

funcionários públicos e a exacerbação da vinculação através de contratos flexíveis.

A Reforma do Estado, juntamente com a necessidade de expansão da assistência

no SUS, fez com que se adotassem esses modelos de flexibilização dos vínculos para

atender numericamente às demandas e à mobilização do trabalho em saúde, assim como

ao princípio da eficiência, baseado na avaliação dos resultados. Seria possível assim

alocar e “(des)alocar” trabalhadores conforme a necessidade e também seu grau de

desempenho.

Por outro lado, o SUS, hoje essencialmente gerenciado pelos municípios,

enfrenta conseqüências do processo de descentralização. Estes, engessados pela

Reforma do Estado, tiveram que atender às demandas do modelo assistencial que

propunha a expansão da Atenção Básica, responsabilidade do âmbito municipal,

conforme estipulado pelas NOBs e NOAS, buscando formas alternativas de inserção

dos trabalhadores de saúde, até mesmo como desvio da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Page 182: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

180

Diante desta controvérsia no contexto das Reformas Sanitária e de Estado, a

Gestão do Trabalho no SUS herdou um quadro dramático oriundo de um processo de

flexibilização precarizante das relações de trabalho. A crise envolvendo os

trabalhadores de saúde tem sua base no contexto de baixa valorização do servidor

público, acabando por repercutir também em todos os outros inseridos de forma

flexível. Este contexto é expresso pela pouca realização de concursos públicos, ausência

de avaliações de desempenho eficientes, falta de investimento em qualificação

profissional, baixos salários e/ou remunerações com diferenças brutais entre mesmas

categorias e funções, ausência de carreira, contratos temporários, ausência de direitos

sociais, e outros.

É importante relembrar que essa pouca valorização da carreira pública fez com

que a flexibilização dos vínculos de trabalho não fosse estratégia somente adotada na

Atenção Básica em Saúde. Essa também foi largamente utilizada nos níveis médio e alto

de complexidade da assistência, onde especialmente nos hospitais foram inseridos

trabalhadores de saúde com vínculos diversos para a reposição e ampliação da força de

trabalho.

Através da história das Políticas de Recursos Humanos, e atualmente Gestão do

Trabalho em Saúde percebe-se que a temática, assim como a problemática envolvida,

sempre foi discutida e apresentada para instâncias resolutivas, colegiadas, como as

conferências de saúde, as mesas de negociação, assim como as estruturas de governo

responsáveis pela área. E especialmente percebe-se também que as mesmas questões e

problemas são mantidos até hoje.

Vimos também que as questões que envolvem a problemática atual do

trabalhador de saúde puderam ser identificadas e diagnosticadas de uma maneira mais

completa a partir do momento em que foi oferecida nova abordagem pela introdução

dos conceitos da economia e sociologia à administração de recursos humanos, formando

as bases da Gestão do Trabalho em Saúde.

A introdução dessa abordagem conceitual produziu paulatinamente um novo

olhar que auxiliou na identificação da crise vivenciada no SUS. A partir daí, conforme a

apropriação de seu conceito pelas diversas instâncias governamentais e nas políticas, o

Page 183: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

181

trabalhador deixou de ser apenas mais um recurso que se aloca aqui e ali, com

determinada função específica e representando um determinado custo financeiro. Este

passa, então, a ser reconhecido como sujeito da ação, com direito à participação nos

processos decisórios e ao desenvolvimento da função com preservação da sua

criatividade, e mais ainda somados a estes, direitos relacionados à sua segurança e

necessidades.

Quanto à inserção dos trabalhadores nos processos decisórios pode-se considerar

que de 2003 em diante houve progresso ao identificarmos estruturas que foram

resgatadas e implantadas para tal como políticas de governo, e em comum acordo com

as instâncias colegiadas, tais como as Mesas de Negociação e o Comitê Nacional de

Desprecarização do Trabalho e, mais importante, não são apenas estruturas existentes só

para constar, apresentam produtos que demonstram estar em atividade, que puderam ser

vistos na análise realizada sobre as políticas do Ministério e as produções dos atores

envolvidos na Gestão do Trabalho. Estudos mais aprofundados sobre o grau de

participação dos trabalhadores nestas estruturas poderiam ser realizados para melhores

comprovações.

Com relação aos entes participantes deste processo, o Ministério da Saúde exibe

em seu documento além de sua própria visão sobre a desprecarização, a visão dos

trabalhadores de saúde através da Mesa Nacional de Negociação Permanente - SUS, do

CONASS e CONASEMS sintetizadas no quadro abaixo:

Page 184: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

182

QUADRO 8 - Síntese sobre as visões da Bancada dos trabalhadores da Mesa de Negociação Permanente – SUS, do CONASS, do

CONASEMS e do Ministério da Saúde sobre a desprecarização do trabalho em saúde – 2006

Bancada dos Trabalhadores – MNNP-SUS

CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

Sensibilizar o governo e os prestadores de

serviço e produtos a respeito das más

condições de trabalho e remuneração em

saúde no SUS.

Cobrança do Ministério Público do Trabalho

através do Termo de Ajuste de Condutas, ou

via judicial, de realização de concursos

públicos que cobririam a necessidade de

trabalhadores e promoveria a legalidade dos

postos de trabalho.

“Devemos lutar ao lado do Ministério

Público e Conselhos de Saúde no país para

que seja cumprida a Constituição federal,

especialmente nos capítulos que tratam dos

nossos direitos sociais e do ingresso ao

serviço – exclusivamente através de concurso

– para consagrar o SUS e a Saúde como

direito de todos e dever do estado”.

“Em relação à desprecarização do

trabalho, nossa posição é clara:

somos contra qualquer vínculo, seja

na forma direta ou indireta, que não

assegure ao trabalhador os seus

direitos trabalhistas e

previdenciários. Além disso,

defendemos uma gestão local que

democratize as relações de trabalho,

possibilitando que o trabalhador de

saúde seja sujeito e protagonista na

história de construção do SUS”.

A gestão deve estimular o processo

de sindicalização, a organização do

trabalhador no seu ambiente de

trabalho, a criação de espaços de

negociação para debate das

reivindicações.

“Os trabalhadores de saúde, por sua vez,

devem ser incorporados como sujeitos e

criadores de transformação e não como

meros agentes cumpridores ou objetos de

políticas desumanizadas.”

O posicionamento afirmado e assumido

pelos Secretários Estaduais de Saúde está

publicado na Documenta nº. 4.

As Secretarias Estaduais de Saúde têm

demonstrado que a política de

desprecarização é uma prioridade. Por

exemplo, nos últimos três anos dez

estados elaboraram o Plano de Carreiras,

Cargos e Salários e doze estados

realizaram concursos públicos para

ingresso de servidores. E, além disso,

muitas secretarias estaduais têm apoiado

os municípios neste trabalho.

A flexibilização e precarização das relações

de trabalho a partir da promulgação da

Emenda Constitucional nº. 19/98 passaram

a ser amplamente adotadas, não somente no

âmbito do Governo Federal, como também

em boa parte dos estados e municípios.

Criação do Comitê Nacional

Interinstitucional de Desprecarização do

Trabalho no SUS, onde gestores das três

esferas de governo e lideranças trabalhistas

estão analisando e debatendo alternativas

para combater a precariedade do trabalho no

SUS, através do estabelecimento de

vínculos que assegurem direitos trabalhistas

e estabilidade aos trabalhadores,

considerando que os vínculos precários têm

reflexos diretos na qualidade dos serviços e

regularidade no trabalho.

Fonte: Elaboração própria com base no documento Desprecarização do Trabalho – Perguntas e Respostas (Brasil, 2006i: 7–10).

Page 185: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

183

Retomando, com relação à flexibilização dos vínculos, o reconhecimento do seu

conceito trazido para os fóruns de discussão na Gestão do Trabalho produziu o

entendimento de seus diferentes significados e efeitos para o trabalho em saúde, não

somente para os gestores, e representação das profissões e entidades, como também para

os trabalhadores inseridos no âmbito das discussões, mesmo que em graus variados,

minimizando também a associação da idéia de sinônimos entre flexibilização e

precarização.

A questão que reverte como problema no caso da adoção destes vínculos é a

forma precarizante originada de um emaranhado de natureza jurídica e administrativa

que permitiu o uso de arranjos contratuais, por vezes até criativos, para suprir o aporte

de trabalhadores tanto no âmbito federal, estadual, e mais especialmente municipal.

A Gestão do Trabalho em Saúde indica que as necessidades de proteção social

do trabalho e trabalhador no âmbito do SUS não podem ser descartadas e são

insubstituíveis, apoiada nas normas administrativas e do direito trabalhista brasileiro. E

o uso daqueles arranjos contratuais por desrespeitarem muitas vezes essas normas gerou

o intenso e complexo problema da precarização do trabalho.

O importante nisto é que toda crise gera o desprendimento de esforços para a

análise de sua origem e busca de intervenção. E destaca-se no caso do SUS que a

estrutura de universalidade do acesso, descentralização, com instâncias colegiadas, fez

com que essa crise vertesse sobre todo o sistema. E hoje se torna um problema

nacional, ao se expor a dimensão do quadro de trabalhadores envolvendo o campo da

saúde. São 2,5 milhões de empregos, sendo em torno de 1,5 milhões vinculados à esfera

pública. Destes, a proporção entre os níveis federais, estaduais e municipais são da

ordem de 7,3%, 23,9% e 68,8%, respectivamente. Ou seja, essencialmente esses

trabalhadores estão inseridos no âmbito da gestão municipal.

O intenso e complexo problema da precarização está essencialmente localizado,

portanto no âmbito municipal. E o mais grave, onde o SUS é responsável pela

assistência à saúde dos 188.206.105 brasileiros, incluindo a principal estratégia de

cobertura no âmbito da Atenção Básica, organizada em 27.324 equipes de saúde da

família, acompanhando 87.748.414 pessoas (46,6 % da população). Possuem 210.964

Page 186: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

184

Agentes Comunitários, acompanhando 106.961.509 pessoas (56,8% da população), e

15.694 equipes de saúde bucal, acompanhando 76.953.207 pessoas (40,9% da

população). Dos 5.564 municípios, 94,6% (5.265) possuem Agentes Comunitários,

92,1% (5.125) possuem equipes de saúde da família e 77,2% (4.294) possuem equipes

de saúde bucal. 25

Com relação aos números envolvendo a precarização do trabalho as informações

se perdem, pois não há de fato um sistema de informação suficiente que os apresente na

forma real da situação. Para estes, baseiam-se nas diversas pesquisas realizadas no país

que identificam a gravidade da precarização do trabalho. Diante do dilema desta

questão, também se torna desagradável para os gestores divulgar estes números, pois

são considerados como vilões da história. Mas as pesquisas realizadas têm comprovado

que o percentual de vínculos de trabalho precários estão se mantendo em torno de 30%,

dos vínculos existentes no país.

Indubitavelmente, a expansão do SUS foi favorecida por essas possibilidades de

vinculação, demonstrando assim um aspecto positivo na flexibilização. Confrontando

com os dados acima, e analisando somente com base na oferta de postos de trabalho,

poderíamos até dizer que é positivo ter trabalhadores inseridos no mercado de trabalho

diante de um contexto de desemprego que o país vivencia. A Estratégia Saúde da

Família representa geração de empregos. São postos de trabalho que geram renda para

trabalhadores como, por exemplo, os Agentes Comunitários, que estão inseridos em um

nível socioeconômico baixo em sua maioria e ainda, em muitos casos, responsáveis pelo

sustento de suas famílias.

Poderíamos dizer, como mais um aspecto positivo, que a flexibilização dos

vínculos de trabalho possibilitou a alocação de trabalhadores mais competentes

buscando a eficiência da administração gerencial; mas aqui não seria possível uma

análise mais criteriosa a respeito disso por não ser o objetivo, mas através da crítica

identificada durante o estudo quanto à baixa capacidade avaliativa do desempenho dos

trabalhadores, vimos que gestores e gerentes possivelmente não puderam atender a esse

quesito da competência para alocação do trabalhador, nem para os servidores públicos

25 Dados de 2007 (até dezembro) acessados no site oficial do Departamento da Atenção Básica em Saúde em abril de 2008: < http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/abnumeros/historico_2007.pdf >

Page 187: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

185

que dirá para os vinculados de forma flexível. E ainda, quanto às dificuldades

encontradas por diversos municípios onde ocorre ausência de alguns trabalhadores

disponíveis, com certeza foram alocados os que se candidataram, por estarem

disponíveis atraídos pela oferta de salários mais altos e outros benefícios, não havendo

por muitas vezes escolhas quanto ao critério de maior competência.

Outra questão, é que dentro da realidade ofertada no SUS quanto aos salários, a

defasagem fez com que os trabalhadores de saúde buscassem a alternativa de múltiplos

empregos, tornando também interesse destes as formas de vinculação mais flexíveis,

tanto numérica, quanto funcional. Somado a isso, a ausência ou pouca quantidade de

concursos públicos forneceram à flexibilização um caráter positivo quanto à

possibilidade de ingresso no serviço público. Estas outras formas de vinculação

possibilitaram maior inserção e ainda com remuneração superior. Somente a título de

exemplo, o enfermeiro que só poderia estar trabalhando numa unidade básica de saúde,

no período anterior à reforma do Estado, através de concurso público, teve acesso a

postos de trabalho neste nível de atenção possibilitados por vínculos flexíveis. Porém

nem sempre significaram vínculos de trabalho com proteção social.

Dentre todos os aspectos negativos referentes à flexibilização, como a

diversidade acentuada de formas contratuais, a perda da memória institucional, conflitos

internos entre os trabalhadores de vínculos diferentes em uma mesma instituição e o

enfraquecimento das cooperações, o principal e mais grave refere-se à precarização do

trabalho.

Esse aspecto foi o mais decisivo para as conduções das políticas de Gestão do

Trabalho no SUS, essencialmente por estar esbarrando em princípios fundamentais

como o da proteção social e o da legalidade da inserção na administração pública. Gerar

postos de trabalho e renda no caso da administração pública não é o suficiente. É

necessário respeitar esses princípios da legalidade e dos direitos, onde quem, sem outra

possibilidade, deva dar o maior exemplo é o Estado, não praticando a vinculação de

trabalhadores de forma precária.

Contudo, o conceito de trabalho precário entre os três entes, Ministério da

Saúde, CONASS e CONASEMS, apresenta algumas variações, que neste estudo podem

Page 188: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

186

ser observadas, especialmente pelo contexto vivenciado por cada um dos gestores das

esferas de governo, mas que não representam dissenso até porque pactuações foram

realizadas neste sentido.

Neste contexto, o Ministério da Saúde como o principal condutor das políticas,

precisa estabelecer diretrizes nacionais considerando que estas devam atender às

diversas realidades do país. O Estado recupera, após o processo de descentralização, seu

papel de coordenação de forma mais efetiva perante a condução das políticas de saúde

para o SUS, e internamente no âmbito de sua gestão, conforme apresentação nos

documentos analisados, não apresenta um cenário drástico quanto à precarização do

trabalho. Ambos são gestores responsáveis pela menor parcela da força de trabalho. Já

os municípios encontram-se na situação mais perigosa em relação às possibilidades de

precarizar e desprecarizar. Por serem os maiores gestores da força de trabalho do SUS, e

estarem sob a mira de fatores limitantes como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a

indisponibilidade de trabalhadores especialmente nas regiões mais isoladas, a falta de

estrutura para a gestão do trabalho (qualificação, recursos humanos, físicos e

financeiros), a dependência de recursos financeiros federais e estaduais, entre outros,

tomam uma posição diferenciada quanto ao problema.

Assim, quanto ao conceito de trabalho precário, é consenso entre os três entes,

Ministério, CONASS e CONASEMS, que a ausência de direitos trabalhistas o

representa, mas por outro lado, não é consenso que a ausência da inserção por concurso

público é considerado precariedade. Quanto a isto os municípios, devido ao contexto em

que se situam, consideram que estão resguardando os trabalhadores quanto à

precariedade do trabalho através da garantia dos direitos trabalhistas, com contratos por

CLT. Entende-se ainda, que para os gestores municipais afirmar posições claras e

seguras ainda é de difícil consenso devido às realidades vivenciadas e recursos

disponíveis em cada um deles.

O Ministério da Saúde expõe em suas políticas a sua posição de que a única

forma legal e não precária de inserção do trabalhador no SUS é o concurso ou processo

seletivo público. Toda sua orientação é construída neste sentido. Contudo reconhece que

há contextos diversificados entre as esferas de governo e ainda que os municípios

estejam expostos a situações onde não estariam aptos a considerarem esse conceito de

Page 189: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

187

trabalho precário na prática sem o auxílio do Ministério e das Secretarias Estaduais de

Saúde.

Já o CONASS, que representa os Secretários de Estado, identificado na análise

de suas publicações, considera principalmente a precariedade do trabalho quando esta

envolve a instabilidade dos contratos - os temporários são as formas que indicam como

problema. Para este ente trabalho precário é aquele prestado sem vínculo. Mas também

não estão de acordo com a adoção de contratos de trabalho que não preze os direitos

trabalhistas.

E o CONASEMS, que representa os Secretários Municipais, reconhece

essencialmente a ausência dos direitos trabalhistas como indicador do trabalho precário.

Mesmo adotando as recomendações pactuadas, esta atitude parece estar mais atrelada a

disponibilidade financeira especialmente impulsionada pela pressão das instâncias

fiscalizadoras e reguladoras, como o Ministério Público do Trabalho, e dos

trabalhadores, do que um reconhecimento do gestor; porém as diversidades entre

municípios não nos permite tornar isso uma constante.

Essencialmente, estes três atores não divergem no que se refere à precariedade

do trabalho. E com relação à flexibilização dos vínculos, todos consideram a

possibilidade quando se trata das condições explícitas nas normas administrativas, ou

seja, nos casos de excepcionalidade considerando o interesse público, e no caso dos

profissionais como o Agente Comunitário de Saúde e o de Endemias, onde é exigido

como condições ideais para o processo de trabalho que morem na área de atuação, ou

seja, como necessidade de se atender uma proposta ideológica.

O que realmente pode ser identificado nesta análise é que através da Agenda da

Gestão do Trabalho, declaradamente reconhecida pelo CONASS e CONASEMS, e das

produções de cada um destes entes e suas respectivas entrevistas, denota-se que há um

momento político muito favorável e evolutivo para a construção de consensos. Nestes

quatro anos, durante o processo de discussão e pactuação foram conquistados avanços,

demonstrando uma possibilidade para as resoluções da problemática envolvendo a

flexibilização e precarização dos vínculos de trabalho.

Page 190: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

188

Pensando no modelo idealizado para a Gestão do Trabalho no SUS, baseado no

tripé flexibilização – descentralização – negociação, através deste estudo pudemos

identificá-lo.

Com relação à descentralização, o processo está dado pelo contexto histórico e

especialmente fortalecido atualmente pelo Pacto de Gestão. Mas efeitos colaterais deste

processo histórico são sentidos, como por exemplo, o pessoal descentralizado no

período da municipalização que está se aposentando e necessita de reposição do quadro.

Há a cobrança dos municípios com relação a isto aos governos estaduais e federal. E

ainda, o peso da responsabilidade sobre a gestão do sistema de saúde nos ombros dos

gestores municipais, tendo que ampliar a força de trabalho sob égide das Reformas do

Estado versus Sanitária.

Quanto à flexibilização, está reconhecida como um recurso que deva ser usado

para atender a uma lógica, mas vem sendo empregado como subterfúgios, para fugir da

Lei de Responsabilidade Fiscal, não cumprir com responsabilidades financeiras, repor

de forma mais rápida e “adequada” às demandas da evolução tecnológica da assistência

à saúde, atrair profissionais para o interior do país, entre outras coisas. Mas

positivamente estão reconhecidas as formas corretas e adequadas para a flexibilização

(acesso e situações específicas) e principalmente os aspectos negativos que esta gerou,

como a precarização da força de trabalho.

E relativo à negociação, foi a principal forma para pactuar, elaborar e implantar

as políticas para a área de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. E a adoção deste

quesito pode ser identificada através dos fóruns e comissões instituídas e reinstituídas

ao longo desses anos após a criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na

Saúde.

Foi compreendido através deste estudo que no Brasil houve desarmonia entre os

ideais das reformas do Estado e Sanitária, onde o arcabouço jurídico construído

principalmente fundamentou à assistência a saúde em caráter descentralizado, integral,

eqüitativo, universal, com participação social conduzindo a uma implantação de modelo

sustentado por trabalhadores de saúde de diferentes formações e níveis. E por outro lado

Page 191: “A Gestão do Trabalho e o Contexto da Flexibilização no Sistema

189

recolheu a possibilidade de que este arcabouço fosse estável e com vínculos sólidos com

o Estado.

Pode - se dizer também que a participação social hoje pôde ser materializada no

Agente Comunitário de Saúde, onde ao mesmo tempo é usuário/morador da

comunidade e um dos trabalhadores de saúde que compõem a principal estratégia

brasileira de assistência à saúde. Ou seja, sustentar essa premissa envolve assegurar esse

ideal, através da garantia de que este, ao atuar na equipe, seja morador da mesma área,

caso contrário possa ser desvinculado do serviço público. Por outro lado, garantir isso

diante das normas jurídicas implantadas no país necessitou incorporações e

modificações legais para sua aplicação.

É sobre essas questões que a flexibilização dos vínculos de trabalho na saúde

apresenta maior dificuldade entre o Ministério da Saúde, CONASS e CONASEMS.

Especialmente o que tem gerado maior dificuldade na operacionalização da política

consensuada para essa questão pode ser considerado a partir da inter-relação de quatro

situações: 1) a capacidade gestora dos municípios – os aspectos políticos assim como a

competência dos gestores locais influenciam diretamente em suas escolhas; 2) o

financiamento – sempre as questões financeiras, como os limites fiscais ou a falta de

recursos são referenciados como ponto de entraves; 3) a falta de disponibilidade de

alguns profissionais de saúde – a oferta atrativa para estes profissionais só é viável se

aplicada através de contratos flexíveis; e 4) a ideologia definida para o serviço prestado

– tanto a necessidade relacionada ao vínculo pela área geográfica, no caso dos Agentes

Comunitários de Saúde e de Endemias, quanto a característica de demandas menores da

população, como no caso de neurocirurgiões e outros especialistas, e as situações

emergenciais necessitam da flexibilização de vínculo para se adequarem à necessidade

do serviço prestado.

Podemos dizer com este estudo realizado sobre um período específico de uma

evolução política de um país que o contexto foi favorável para a implantação de

políticas de Estado, e não somente de governo. E o que vimos, na verdade, para tanto

não se limita somente às políticas isoladas uma das outras, ou seja, a política que

conduz as questões referentes à flexibilização e desprecarização do trabalho em saúde

está atrelada às outras políticas relacionadas à Gestão do Trabalho e Educação na Saúde,

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como o Plano de Carreira Cargos e Salários - SUS, as Mesas Nacionais de Negociação

Permanente - SUS, a Educação Permanente em Saúde, e a Regulação do Trabalho em

saúde. Será a condução desta forma atrelada que produzirá os avanços necessários para

este campo.

Junto a isto a economia brasileira vem desenvolvendo sua capacidade para

geração de empregos, e na área da saúde, com as Políticas: Nacional de Atenção Básica,

Promoção da Saúde, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também teremos

uma ampliação desta oferta. Assim o que prospectivamente espera-se que ocorra é uma

geração de postos de trabalho combinado a uma política de Desprecarização do

Trabalho na saúde, contribuindo assim para a reversão do cenário dramático que se

encontra neste país.

Sabemos que apesar de identificarmos avanços importantes na política de Gestão

do Trabalho, e de analisarmos as posições e consensos de entes envolvidos neste

contexto, não significa que podemos concluir que em todo o país ocorra de forma

homogênea e similar esses avanços, principalmente pela sua dimensão, heterogeneidade

e assimetria de informações e competências. Mas essencialmente, podemos perceber

que há sem dúvidas a implantação de políticas consensuadas, amparadas pelo modelo

ideal da gestão do trabalho que tem possibilitado a descentralização, a flexibilização e a

negociação. Através deste modelo será possível ir corrigindo as falhas ocorridas pela

diversidade brasileira.

As diretrizes nacionais impulsionadas através das políticas implantadas e

conduzidas através de uma gestão participativa, para a defesa e segurança dos

trabalhadores de saúde, onde a União, os Estados e Municípios se envolvam e assumam

cada vez mais suas responsabilidades e competências tornam um momento favorável e

positivo para a Gestão do Trabalho no SUS.

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ANEXOS

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Anexo 01

Termo de consentimento livre e esclarecido.

Rio de Janeiro, ___ de ___________ de ______.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Srº, _______________________________, está sendo convidado para participar da pesquisa que está sendo desenvolvida como produto do Mestrado Acadêmico desta instituição.

A escolha pela sua participação se deu pela posição relevante que ocupa no Núcleo de ___________________________________________________, e que possibilitará contribuições importantes para este estudo. A sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. E sua recusa não trará em momento algum nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.

Os objetivos deste estudo são, de forma geral, a partir da problemática instituída da flexibilização das relações de trabalho no mundo globalizado que tem levado à precarização dos vínculos de trabalho, gerando desproteção social, instabilidade institucional, analisar como as políticas de Gestão do Trabalho no SUS têm enfrentado esta grave situação. E mais especificamente, descrever o cenário atual dessas relações de trabalho levando em consideração o processo histórico de construção do SUS; compreender e analisar os caminhos e formas de flexibilização do trabalho no SUS, seus aspectos positivos e negativos, bem como os pontos de tensão entre a estabilidade e flexibilidade; e analisar as ações dos atores identificados como mais relevantes para a Gestão do Trabalho, destacando o processo de construção e implementação das políticas de gestão do trabalho no SUS.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em um diálogo, agendado em comum acordo entre as parte, realizada através de correio eletrônico, onde serão colocadas quatro questões como guia para suas colocações.

Os riscos e benefícios com sua participação não representam relevância, pois envolvem apenas a expressão da posição institucional da qual representa no momento sobre o assunto, que certamente já é pública devido aos diversos meios de divulgação utilizados pela mesma. E ainda todas as considerações éticas necessárias no tratamento das informações adquiridas serão tomadas pelas autoras desta pesquisa.

As informações obtidas através desse momento serão confidenciais e os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação como pessoa civil, porém como pessoa pública poderá ficar transparecido devido a exclusividade do cargo que ocupa, sendo cuidadosamente respeitado a não divulgação de informações que possam comprometer a sua idoneidade.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço institucional do pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento.

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___________________________________________________ Nome e assinatura do pesquisador

Endereço Institucional: Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ Rua Leopoldo Bulhões, 1480, sala 706. CEP 21041-210 Telefone Institucional: +55 (21) 2598-2612 Celular: +55 (21) 93612561

Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na

pesquisa e concordo em participar.

_________________________________________ Sujeito da pesquisa

Obs.: A utilização das informações adquiridas neste diálogo será de uso exclusivo desta pesquisa e o material ficará em guarda do pesquisador principal.

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Anexo 02

Roteiros das entrevistas com os representantes do CONASS e do CONASEMS Entrevista com o representante do CONASEMS:

1) Entendendo que o CONASEMS que representa o maior gestor do SUS e ele responsável pela contratação direta de 70 % da força de trabalho no SUS, como o Srº, coordenador da área de Gestão do Trabalho do CONASEMS, poderia situar as seguintes questões, hoje fundamentais para a discussão da gestão do trabalho:

a. Flexibilização dos vínculos de trabalho; b. Precarização; c. Desprecarização.

2) Qual a compreensão da área acerca dos aspectos (positivos e/ou negativos) que

possam haver na flexibilização das relações de trabalho em saúde? 3) Em sua opinião, o que está em consenso na compreensão e ações desenvolvidas

sobre as questões referentes a flexibilização e precarização do trabalho em saúde entre os outros entes envolvidos nesta discussão, o CONASS e a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde? E o que há em dissenso?

4) Como as políticas de Gestão do Trabalho, hoje implantadas pelo Ministério da

Saúde, em parceria com o CONASS e CONASEMS, podem contribuir para as questões que hoje envolvem os trabalhadores em saúde?

5) Como o Srº avalia as políticas de Gestão do Trabalho, assim como as políticas

de Educação na Saúde implementadas pelo Ministério da Saúde em parceria com o CONASS e o CONASEMS? E o que acha que pode ser aperfeiçoado?

Entrevista com o representante do CONASS:

1) Entendendo que o CONASS que representa o segundo maior gestor do SUS e ele responsável pela contratação direta de 25 % da força de trabalho no SUS, como o Srº, coordenador da Câmara Técnica de Políticas de Recursos Humanos do CONASS, poderia situar as seguintes questões, hoje fundamentais para a discussão da gestão do trabalho:

a. Flexibilização dos vínculos de trabalho; b. Precarização; c. Desprecarização.

2) Qual a compreensão da área acerca dos aspectos, positivos e/ou negativos, que

possam haver na flexibilização das relações de trabalho em saúde? 3) Em sua opinião, o que está em consenso na compreensão e ações desenvolvidas

sobre as questões referentes a flexibilização do vínculos e precarização do

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trabalho em saúde entre os outros entes envolvidos nesta discussão, o CONASEMS e a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde? E o que há em dissenso?

4) Como as políticas de Gestão do Trabalho, hoje implantadas pelo Ministério da

Saúde, em parceria com o CONASS e CONASEMS, podem contribuir para as questões que hoje envolvem os trabalhadores em saúde?

5) Como o Srº avalia as políticas de Gestão do Trabalho, assim como as políticas

de Educação na Saúde implementadas pelo Ministério da Saúde em parceria com o CONASS e o CONASEMS? E o que acha que pode ser aperfeiçoado?

Agradecemos muito pela sua contribuição,