a história de sucesso do advogado antônio carlos de almeida castro - kakay

3
FENACON - Revista Veja file:///F|/...acia/A%20história%20de%20sucesso%20do%20advogado%20Antônio%20Carlos%20de%20Almeida%20Castro%20-%20Kakay.htm[18/4/2012 09:43:50] Dida Sampaio/AE O "RESOLVEDOR DA REPÚBLICA" A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro Cynara Menezes Em Brasília, quando a casa cai, o negócio é chamar o Kakay. É assim, com esse apelido que soa como nome de passarinho polinésio, que é conhecido o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro. Sócio do restaurante Piantella, freqüentado por personalidades dos três poderes, Kakay é petista e amigo do ministro José Dirceu, com quem passou as últimas férias em Cuba. Rico, ele não deixa que a ideologia atrapalhe os negócios e tem tanto sucesso atuando nos tribunais superiores que já mereceu o título de "resolvedor-geral da República". Ao longo de sua carreira, Kakay, 46 anos bem conservados em ternos caros que ele veste com uma elegância típica, advogou algumas vezes para o PT, sua legenda de coração, mas também defendeu figurões do PFL, como Roseana Sarney, empreiteiras como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, e acusados de corrupção como o banqueiro Salvatore Cacciola e a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Ele próprio não se considera brilhante. É o primeiro a dizer que é "apenas um advogado competente". Colegas e clientes concordam com os dois julgamentos. Formado pela Universidade de Brasília, Kakay não tem mestrado, doutorado nem artigos acadêmicos publicados. Em compensação, teceu uma rede de relações sociais e profissionais com os nomes que contam na República. Ciente do valor das boas amizades, cultiva-as com afinco. Diz que jamais cobra honorários de amigos. Prefere sua gratidão. O senador Antonio Carlos Magalhães está entre as pessoas atendidas por ele. "Eu me sinto em dívida com o Kakay", diz. O advogado, conta ACM, orientou-o quando, há três anos, foi acusado de violar o painel de votação do Senado. O sucesso de Kakay fez brotar uma série de explicações para seu desempenho jurídico. Ele desgosta, particularmente, de quem diz que sua qualidade profissional é saber usar o recurso do "embargo auricular" – uma espécie de dispositivo jurídico ausente dos manuais de direito, mas de grande eficácia. Em resumo, a popular "conversa ao pé do ouvido". Um ex-figurão do governo FHC é quem mais usa a expressão para definir o advogado Almeida Castro. Com uma idade em que a maioria de seus pares ainda luta para se estabelecer entre os melhores, Kakay já produziu feitos notáveis. O mais recente foi ter conseguido receber 16 milhões de reais da Caixa Econômica Federal como pagamento por uma causa em que não atuou oficialmente, uma pendenga judicial que já durava 25 anos. O caso é complexo, mas pode ser resumido como se segue. A Funcef, fundo de previdência dos funcionários da instituição, alegava que a Caixa lhe devia 3,6 bilhões de reais. Em dezembro de 2002, ainda sob o governo Fernando Henrique Cardoso, o banco ofereceu à Funcef um acordo mediante o qual propunha a redução da dívida para 2,7 bilhões e pagamento à vista. Em abril de 2003, já com o PT na direção da Caixa e na presidência da Funcef, o acordo foi homologado sob protesto de funcionários. Embora os membros do conselho deliberativo da Funcef eleitos pelos funcionários tenham rejeitado o acordo, o voto de Minerva foi de seu presidente, indicado pelo banco. "A homologação judicial foi feita sem as consultas de praxe e aconteceu em tempo recorde", reclama o advogado Eymard Loguércio, um dos representantes dos funcionários. Mais inusitado do que a celeridade com que se resolveu uma briga de mais de duas décadas foi o que ocorreu em seguida. O advogado da Caixa, José Augusto Alckmin, recebeu, a título de honorários pelo acordo, uma bolada de 32 milhões de reais – e deu metade a Kakay. Oficialmente, ele nada teve a ver com o processo e seu nome não consta dos autos. O que o levou a merecer os 16 milhões? Ele diz que foi convidado em 1997 pelo então presidente da Caixa, Sérgio Cutolo, para assumir o caso. Como não é especialista em direito administrativo, indicou o colega Alckmin, que, por gratidão, resolveu dividir o dinheiro com ele. "Eu e Alckmin somos sócios informais. Temos um trato – nos casos que eu indico, dividimos os honorários", explica o advogado. Cutolo diz não se lembrar de ter convidado Kakay para assumir a ação da Funcef. "Posso até tê-lo consultado, mas não o convidei",

Upload: fernandomhm3895

Post on 20-Oct-2015

163 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro - Kakay

FENACON - Revista Veja

file:///F|/...acia/A%20história%20de%20sucesso%20do%20advogado%20Antônio%20Carlos%20de%20Almeida%20Castro%20-%20Kakay.htm[18/4/2012 09:43:50]

Dida Sampaio/AE

O "RESOLVEDOR DA REPÚBLICA"A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro

Cynara Menezes

Em Brasília, quando a casa cai, o negócio é chamar o Kakay. É assim, com esse apelido que soa como nome depassarinho polinésio, que é conhecido o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro. Sócio do restaurantePiantella, freqüentado por personalidades dos três poderes, Kakay é petista e amigo do ministro José Dirceu, comquem passou as últimas férias em Cuba. Rico, ele não deixa que a ideologia atrapalhe os negócios e tem tantosucesso atuando nos tribunais superiores que já mereceu o título de "resolvedor-geral da República". Ao longo desua carreira, Kakay, 46 anos bem conservados em ternos caros que ele veste com uma elegância típica, advogoualgumas vezes para o PT, sua legenda de coração, mas também defendeu figurões do PFL, como RoseanaSarney, empreiteiras como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, e acusados de corrupção como o banqueiroSalvatore Cacciola e a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Ele próprio não se considera brilhante. É o primeiro adizer que é "apenas um advogado competente". Colegas e clientes concordam com os dois julgamentos. Formadopela Universidade de Brasília, Kakay não tem mestrado, doutorado nem artigos acadêmicos publicados. Emcompensação, teceu uma rede de relações sociais e profissionais com os nomes que contam na República. Cientedo valor das boas amizades, cultiva-as com afinco. Diz que jamais cobra honorários de amigos. Prefere suagratidão. O senador Antonio Carlos Magalhães está entre as pessoas atendidas por ele. "Eu me sinto em dívidacom o Kakay", diz. O advogado, conta ACM, orientou-o quando, há três anos, foi acusado de violar o painel devotação do Senado.

O sucesso de Kakay fez brotar uma série de explicações para seu desempenho jurídico. Ele desgosta,particularmente, de quem diz que sua qualidade profissional é saber usar o recurso do "embargo auricular" – umaespécie de dispositivo jurídico ausente dos manuais de direito, mas de grande eficácia. Em resumo, a popular"conversa ao pé do ouvido". Um ex-figurão do governo FHC é quem mais usa a expressão para definir o advogadoAlmeida Castro. Com uma idade em que a maioria de seus pares ainda luta para se estabelecer entre os melhores,Kakay já produziu feitos notáveis. O mais recente foi ter conseguido receber 16 milhões de reais da CaixaEconômica Federal como pagamento por uma causa em que não atuou oficialmente, uma pendenga judicial que jádurava 25 anos. O caso é complexo, mas pode ser resumido como se segue. A Funcef, fundo de previdência dosfuncionários da instituição, alegava que a Caixa lhe devia 3,6 bilhões de reais. Em dezembro de 2002, ainda sob ogoverno Fernando Henrique Cardoso, o banco ofereceu à Funcef um acordo mediante o qual propunha a reduçãoda dívida para 2,7 bilhões e pagamento à vista. Em abril de 2003, já com o PT na direção da Caixa e napresidência da Funcef, o acordo foi homologado sob protesto de funcionários. Embora os membros do conselhodeliberativo da Funcef eleitos pelos funcionários tenham rejeitado o acordo, o voto de Minerva foi de seupresidente, indicado pelo banco. "A homologação judicial foi feita sem as consultas de praxe e aconteceu em temporecorde", reclama o advogado Eymard Loguércio, um dos representantes dos funcionários.

Mais inusitado do que a celeridade com que se resolveu uma briga de mais de duasdécadas foi o que ocorreu em seguida. O advogado da Caixa, José AugustoAlckmin, recebeu, a título de honorários pelo acordo, uma bolada de 32 milhões dereais – e deu metade a Kakay. Oficialmente, ele nada teve a ver com o processo eseu nome não consta dos autos. O que o levou a merecer os 16 milhões? Ele dizque foi convidado em 1997 pelo então presidente da Caixa, Sérgio Cutolo, paraassumir o caso. Como não é especialista em direito administrativo, indicou o colegaAlckmin, que, por gratidão, resolveu dividir o dinheiro com ele. "Eu e Alckmin somossócios informais. Temos um trato – nos casos que eu indico, dividimos oshonorários", explica o advogado. Cutolo diz não se lembrar de ter convidado Kakaypara assumir a ação da Funcef. "Posso até tê-lo consultado, mas não o convidei",

Page 2: A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro - Kakay

FENACON - Revista Veja

file:///F|/...acia/A%20história%20de%20sucesso%20do%20advogado%20Antônio%20Carlos%20de%20Almeida%20Castro%20-%20Kakay.htm[18/4/2012 09:43:50]

Sérgio Cutolo: o ex-presidenteda Caixa nega ter convidadoKakay para a causa em que oadvogado, sem atuar, ganhou16 milhões de reais

afirma Cutolo.

Kakay se define como "meio boêmio" e diz que as pessoas perdoam tudo, "menos afelicidade dos outros". Gosta de beber bons vinhos e de presentear os amigos comrótulos famosos. No Natal passado, ele deu a José Dirceu uma garrafa de Almaviva,um tinto poderoso feito pela vinícola chilena Concha y Toro em colaboração com acasa francesa Rothschild e que custa cerca de 400 reais a garrafa. Nascido emPatos de Minas, de onde saiu aos 19 anos, ele é casado pela terceira vez e temdois filhos. Com pendor para a poesia e generoso, levou recentemente os parentespara passar as férias em Paris. Além da casa de 1.100 metros quadrados que está construindo à beira do LagoSul, tem outra, no mesmo bairro, e um apartamento na Asa Sul. Ultimamente tem presenteado a si próprio. Deu-seuma lancha e um Mercedes preto – provas do sucesso de um advogado que, em passado não tão remoto,comparecia às audiências de terno jeans. Kakay gosta de lembrar alguns episódios desse período. Diz sempre quecomeçou a carreira ajudando a reabrir casos como o do deputado federal Rubens Paiva, desaparecido no regimemilitar – embora a viúva de Paiva, Eunice, garanta nunca ter ouvido falar dele. "Tem sempre um advogadoquerendo explorar a memória do meu marido", diz Eunice. Kakay é devotado aos amigos. Recentemente, fechou orestaurante Parigi, em São Paulo, para João Carlos Di Genio, dono do Colégio Objetivo, e toda a sua comitiva. Emmarço, espera-se uma festa de arromba para a inauguração da nova casa do Lago, que, graças à moderna PonteJuscelino Kubitschek, está a cinco minutos do Palácio do Planalto – que ele diz não freqüentar há seis meses.

Foi Kakay quem ajudou

Quando se trata de negócios, o advogado Antônio Carlos deAlmeida Castro, autodeclarado "petista roxo", sabe manter distânciada ideologia. Entre os poderosos que já atendeu, algunsgratuitamente, estão pefelistas e banqueiros

Antonio Milena

ROSEANA SARNEY

Por reaver o 1,3 milhão de reais apreendidoem 2002 pela polícia na empresa da entãogovernadora, Kakay ganhou parte do sítio dafamília, o Pericumã

Page 3: A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro - Kakay

FENACON - Revista Veja

file:///F|/...acia/A%20história%20de%20sucesso%20do%20advogado%20Antônio%20Carlos%20de%20Almeida%20Castro%20-%20Kakay.htm[18/4/2012 09:43:50]

ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

Acusado de quebrar o sigilo do painel devotação do Senado, diz ser grato a Kakay, aquem consultou na época do imbróglio

Ana Araujo

SALVATORE CACCIOLA

Kakay libertou da prisão o banqueiroacusado de corrupção; Cacciola fugiu e estána Itália até hoje