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Page 1: A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro - Kakay

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Dida Sampaio/AE

O "RESOLVEDOR DA REPÚBLICA"A história de sucesso do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro

Cynara Menezes

Em Brasília, quando a casa cai, o negócio é chamar o Kakay. É assim, com esse apelido que soa como nome depassarinho polinésio, que é conhecido o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro. Sócio do restaurantePiantella, freqüentado por personalidades dos três poderes, Kakay é petista e amigo do ministro José Dirceu, comquem passou as últimas férias em Cuba. Rico, ele não deixa que a ideologia atrapalhe os negócios e tem tantosucesso atuando nos tribunais superiores que já mereceu o título de "resolvedor-geral da República". Ao longo desua carreira, Kakay, 46 anos bem conservados em ternos caros que ele veste com uma elegância típica, advogoualgumas vezes para o PT, sua legenda de coração, mas também defendeu figurões do PFL, como RoseanaSarney, empreiteiras como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, e acusados de corrupção como o banqueiroSalvatore Cacciola e a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Ele próprio não se considera brilhante. É o primeiro adizer que é "apenas um advogado competente". Colegas e clientes concordam com os dois julgamentos. Formadopela Universidade de Brasília, Kakay não tem mestrado, doutorado nem artigos acadêmicos publicados. Emcompensação, teceu uma rede de relações sociais e profissionais com os nomes que contam na República. Cientedo valor das boas amizades, cultiva-as com afinco. Diz que jamais cobra honorários de amigos. Prefere suagratidão. O senador Antonio Carlos Magalhães está entre as pessoas atendidas por ele. "Eu me sinto em dívidacom o Kakay", diz. O advogado, conta ACM, orientou-o quando, há três anos, foi acusado de violar o painel devotação do Senado.

O sucesso de Kakay fez brotar uma série de explicações para seu desempenho jurídico. Ele desgosta,particularmente, de quem diz que sua qualidade profissional é saber usar o recurso do "embargo auricular" – umaespécie de dispositivo jurídico ausente dos manuais de direito, mas de grande eficácia. Em resumo, a popular"conversa ao pé do ouvido". Um ex-figurão do governo FHC é quem mais usa a expressão para definir o advogadoAlmeida Castro. Com uma idade em que a maioria de seus pares ainda luta para se estabelecer entre os melhores,Kakay já produziu feitos notáveis. O mais recente foi ter conseguido receber 16 milhões de reais da CaixaEconômica Federal como pagamento por uma causa em que não atuou oficialmente, uma pendenga judicial que jádurava 25 anos. O caso é complexo, mas pode ser resumido como se segue. A Funcef, fundo de previdência dosfuncionários da instituição, alegava que a Caixa lhe devia 3,6 bilhões de reais. Em dezembro de 2002, ainda sob ogoverno Fernando Henrique Cardoso, o banco ofereceu à Funcef um acordo mediante o qual propunha a reduçãoda dívida para 2,7 bilhões e pagamento à vista. Em abril de 2003, já com o PT na direção da Caixa e napresidência da Funcef, o acordo foi homologado sob protesto de funcionários. Embora os membros do conselhodeliberativo da Funcef eleitos pelos funcionários tenham rejeitado o acordo, o voto de Minerva foi de seupresidente, indicado pelo banco. "A homologação judicial foi feita sem as consultas de praxe e aconteceu em temporecorde", reclama o advogado Eymard Loguércio, um dos representantes dos funcionários.

Mais inusitado do que a celeridade com que se resolveu uma briga de mais de duasdécadas foi o que ocorreu em seguida. O advogado da Caixa, José AugustoAlckmin, recebeu, a título de honorários pelo acordo, uma bolada de 32 milhões dereais – e deu metade a Kakay. Oficialmente, ele nada teve a ver com o processo eseu nome não consta dos autos. O que o levou a merecer os 16 milhões? Ele dizque foi convidado em 1997 pelo então presidente da Caixa, Sérgio Cutolo, paraassumir o caso. Como não é especialista em direito administrativo, indicou o colegaAlckmin, que, por gratidão, resolveu dividir o dinheiro com ele. "Eu e Alckmin somossócios informais. Temos um trato – nos casos que eu indico, dividimos oshonorários", explica o advogado. Cutolo diz não se lembrar de ter convidado Kakaypara assumir a ação da Funcef. "Posso até tê-lo consultado, mas não o convidei",

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Sérgio Cutolo: o ex-presidenteda Caixa nega ter convidadoKakay para a causa em que oadvogado, sem atuar, ganhou16 milhões de reais

afirma Cutolo.

Kakay se define como "meio boêmio" e diz que as pessoas perdoam tudo, "menos afelicidade dos outros". Gosta de beber bons vinhos e de presentear os amigos comrótulos famosos. No Natal passado, ele deu a José Dirceu uma garrafa de Almaviva,um tinto poderoso feito pela vinícola chilena Concha y Toro em colaboração com acasa francesa Rothschild e que custa cerca de 400 reais a garrafa. Nascido emPatos de Minas, de onde saiu aos 19 anos, ele é casado pela terceira vez e temdois filhos. Com pendor para a poesia e generoso, levou recentemente os parentespara passar as férias em Paris. Além da casa de 1.100 metros quadrados que está construindo à beira do LagoSul, tem outra, no mesmo bairro, e um apartamento na Asa Sul. Ultimamente tem presenteado a si próprio. Deu-seuma lancha e um Mercedes preto – provas do sucesso de um advogado que, em passado não tão remoto,comparecia às audiências de terno jeans. Kakay gosta de lembrar alguns episódios desse período. Diz sempre quecomeçou a carreira ajudando a reabrir casos como o do deputado federal Rubens Paiva, desaparecido no regimemilitar – embora a viúva de Paiva, Eunice, garanta nunca ter ouvido falar dele. "Tem sempre um advogadoquerendo explorar a memória do meu marido", diz Eunice. Kakay é devotado aos amigos. Recentemente, fechou orestaurante Parigi, em São Paulo, para João Carlos Di Genio, dono do Colégio Objetivo, e toda a sua comitiva. Emmarço, espera-se uma festa de arromba para a inauguração da nova casa do Lago, que, graças à moderna PonteJuscelino Kubitschek, está a cinco minutos do Palácio do Planalto – que ele diz não freqüentar há seis meses.

Foi Kakay quem ajudou

Quando se trata de negócios, o advogado Antônio Carlos deAlmeida Castro, autodeclarado "petista roxo", sabe manter distânciada ideologia. Entre os poderosos que já atendeu, algunsgratuitamente, estão pefelistas e banqueiros

Antonio Milena

ROSEANA SARNEY

Por reaver o 1,3 milhão de reais apreendidoem 2002 pela polícia na empresa da entãogovernadora, Kakay ganhou parte do sítio dafamília, o Pericumã

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ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

Acusado de quebrar o sigilo do painel devotação do Senado, diz ser grato a Kakay, aquem consultou na época do imbróglio

Ana Araujo

SALVATORE CACCIOLA

Kakay libertou da prisão o banqueiroacusado de corrupção; Cacciola fugiu e estána Itália até hoje


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