a privatização da british telecom

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Page 1: a privatização da British Telecom

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À CONGREGAÇÃO DA

ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - EPGE,

DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS,

FARÁ OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ECONOMIA.

PRIVATIZAÇÃO NA INDÚSTR5A DE TELECOMUNICAÇÕES:

ALGUMAS EXPERIÊNCIAS RECENTES E LIÇÕES PARA O CASO BRASILEIRO

FLORINDA ANTELO PASTORIZA

BANCA EXAMINADORA:

1. RENATO FRAGELLI CARDOSO

2. FERNANDO DE HOLANDA BARBOSA

3. LUIZ GUILHERME SCHYMURA

199609 1391

T/EPGE P2 93p

1000076731

RIO DE JANEIRO/RJ

Dezembro/1995

Page 2: a privatização da British Telecom

A meus pais, Ramón e Pilar, pelo

carinho e dedicação ao longo de

toda uma vida.

Page 3: a privatização da British Telecom

AGRADECIMENTOS

Várias foram as pessoas que contribuíram de forma direta ou indireta

para a realização deste trabalho.

Desejo registrar meu agradecimento a todos os professores e

funcionários da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas

(EPGE/FGV) pelo estímulo e pelos ensinamentos não apenas durante a realização desse

trabalho, mas também durante todo o curso.

Um agradecimento especial ao professor Renato Fragelli pela

dedicação com que conduziu o trabalho de orientação e por suas valiosas sugestões no

decorrer e na conclusão desta dissertação e ao professor Fernando de Holanda Barbosa pela

sugestão do tema e pelas indicações bibliográficas.

Agradeço ainda a todos os colegas da EPGE/FGV pelo

companherismo ao longo dessa jornada.

Page 4: a privatização da British Telecom

ÍNDICE

3. INTRODUÇÃO. ..009

2. A "RATIONALE' TEÓRICA DA PRIVATIZAÇÃO 012

2.1. INTRODUÇÃO 012

2.2. EFEITOS DA MUDANÇA DE PROPRIEDADE 015

2.2.1 O PROBLEMA DE MONITORAMENTO 015

2.2.2 OS OBJETIVOS DOS ACIONISTAS 019

2.3. EFEITOS DA CONCORRÊNCIA 023

2.4. EFEITOS DA REGULAÇÃO 031

2.5. IMPACTOS DA PRIVATIZAÇÃO SOBRE AS CONTAS PÚBLICAS 035

3. A INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES 042

3.1. PANORAMA GERAL 042

3.2. O MERCADO DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES 044

3.3. O MERCADO DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES 053

4. A EXPERIÊNCIA NORTE-AMERICANA 060

4.1. ANTECEDENTES 060

4.2. O DESMEMBRAMENTO DA AT&T 063

4.3. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA NOS ANOS 90 066

5. A EXPERIÊNCIA INGLESA 075

5.1. ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO 075

5.2. A PRIVATIZAÇÃO DA BRITISH TELECOM 079

5.3. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZAÇÃO 085

Page 5: a privatização da British Telecom

6. A EXPERIÊNCIA MEXICANA 088

6.1. ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO 086

6.2. DESEMPENHO DA TELMEX NOS ANOS 80 ■ 090

6.3. A PRIVATIZAÇÃO DA TELMEX O97

6.4. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZAÇÃO 100

7. A EXPERIÊNCIA ARGENTINA 105

7.1. ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO 105

7.2. DESEMPENHO DA INDÚSTRIA SOB PROPRIEDADE ESTATAL 109

7.3. A PRIVATIZAÇÃO DA ENTEL 114

7.4. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZAÇÃO 120

8. A INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL 128

8.1. A CRIAÇÃO DO SISTEMA TELEBRÁS 128

8.2. DESEMPENHO ATUAL DA INDÚSTRIA i33

8.3. A INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES 146

8.4. PERSPECTIVAS DO SISTEMA TELEBRÁS I54

9. CONCLUSÕES 16°

10. BIBLIOGRAFIA 163

Page 6: a privatização da British Telecom

SUMÁRIO DE TABELAS. GRÁFICOS. QUADROS E FIGURAS

GRÁFICO

QUADRO

TABELA

TABELA

GRAFICO

TABELA

TABELA

GRÁFICO

2.1

2.2

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

3.6

TABELA

TABELA

FIGURA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

QUADRO

GRÁFICO

GRÁFICO

2.1 FUNÇÕES DE CUSTO E DE DEMANDA

DECISÃO DE ENTRADA NA INDÚSTRIA

SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES - PRINCIPAIS PRIVATIZAÇÕES

SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES - MUDANÇAS ESTRUTURAIS

TRÁFEGO INTERNACIONAL DE TELEFONIA -1993

VINTE MAIORES OPERADORAS PÚBLICAS DE TELECOMUNICAÇÕES -

1993

PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

MERCADO DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES - DISTRIBUIÇÃO

GEOGRÁFICA -1992

3.7 QUINZE MAIORES FABRICANTES MUNDIAIS DE EQUIPAMENTOS DE

TELECOMUNICAÇÕES -1993

3.8 EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES - AQUISIÇÕES, JOINT-

VENTURES E ASSOCIAÇÕES

4.1 REGIONAL BELL HOLDING COMPANIES

4.2 FATURAMENTO ANUAL DAS OPERADORAS LOCAIS NORTE -

AMERICANAS -1984

4.3 EUA-TARIFAS INTERNACIONAIS -DEZEMBRO/89

4.4 LINHAS INSTALADAS NOS EUA -1984/93

4.5 GRAU DE SINDICALIZAÇÃO -1990

Página

025

027

047

050

052

053

053

055

056

058

064

065

068

069

070

4.6 AQUISIÇÕES REALIZADAS POR EMPRESAS NORTE-AMERICANAS NOS 072

ANOS 1990/91

5.1 EMPRESAS ESTATAIS INGLESAS -1979

5.2 VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DA BRITISH TELECOM

5.3 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPREGADOS DA BRITISH TELECOM

1970/92

076

084

086

Page 7: a privatização da British Telecom

GRAFICO

TABELA

TABELA

GRÁFICO

GRÁFICO

TABELA

GRÁFICO

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

FIGURA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

TABELA

FIGURA

GRÁFICO

TABELA

TABELA

TABELA

6.1

6.2

6.3

6.4

6.5

6.6

6.7

6.8

7.1

7.2

7.3

7.4

7.5

7.6

7.7

7.8

7.9

7.10

7.11

8.1

8.2

8.3

8.4

8.5

TELMEX - ESTRUTURA DE RECEITAS -1982/90

TELMEX - EFEITOS DA MODIFICAÇÃO NA CARGA TRIBUTÁRIA

TELMEX - IMPACTO DO NOVO IMPOSTO

TELMEX - ESTRUTURA DE CUSTO -1990

TELMEX - EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA ACIONÁRIA

TELMEX - OFERTAS DE COMPRA

TELMEX - EVOLUÇÃO DO VALOR DE MERCADO

TELMEX - ESTRUTURA DE RECEITAS

EMPRESAS PRIVATIZADAS NA ARGENTINA -1988/93

ARGENTINA - INDICADORES QUALITATIVOS -1983/90

LINHAS EM SERVIÇO -ARGENTINA -1980/89

ENTEL-INDICADORES OPERACIONAIS -1990

ENTEL-OFERTAS PÚBLICAS

ARGENTINA - ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES -

1993

INDICADORES OPERACIONAIS - REGIÃO SUL -TELEFÔNICA - 1991/93

INDICADORES OPERACIONAIS - REGIÃO NORTE -TELECOM -1991 «3

PERFIL DAS RECEITAS -TELECOM E TELEFÔNICA -1993

ARGENTINA - PREÇOS DE INSTALAÇÃO

TARIFAS TELEFÔNICAS-TELECOM ETELFÓNICA-1991/94

SISTEMA TELEBRÁS - ESTRUTURA INSTITUCIONAL

BRASIL - DENSIDADE TELEFÔNICA -1992

BRASIL - EVOLUÇÃO DOS SERVIÇOS DE TRANSMISSÃO DE DADOS -

1983/92

BRASIL - GRAU DE DIGITALIZAÇÃO -1992

INVESTIMENTOS DO SISTEMA TELEBRÁS - PRINCIPAIS FONTES DE

FINANCIAMENTO -1974/92

091

093

094

096

098

099

100

102

109

112

113

114

117

119

122

122

123

124

124

131

136

137

138

140

TABELA 8.6 BRASIL-TARIFAS INTERNACIONAIS -1994 142

Page 8: a privatização da British Telecom

GRÁFICO 8.7 SISTEMA TELEBRÁS -PERFIL DE RECEITAS

GRÁFICO 8.8 EVOLUÇÃO DA TAXA DE CONGESTIONAMENTO - DDD TERMINADO - 145

1980/92

TABELA 8.9 SISTEMA TELEBRÁS - INDICADORES DE DESEMPENHO -1985/92 145

TABELA 8.10 ÍNDICE DE NACIONALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS 148

FABRICADOS NO BRASIL -1983

TABELA 8.11 PREÇOS MÉDIOS UNITÁRIOS DOS PRINCIPAIS EQUIAPAMENTOS 150

FABRICADOS - COMPARAÇÃO INTERNACIONAL -1983

Page 9: a privatização da British Telecom

1. INTRODUÇÃO

Na última década, o tema privatização se tornou praticamente uma

unanimidade entre economistas e formuladores de política econômica. Nesse período,

diversos países desenvolveram programas de privatização com o objetivo de aumentar o grau

de eficiência e competitividade de suas economias, bem como de reequilibrar as finanças

públicas.

Mesmo em países subdesenvolvidos, onde o Estado teve um papel importante

na montagem da estrutura industrial e na infra-estrutura de serviços públicos, a recente onda

privatizações parece sinalizar o fim do Estado produtor de bens e serviços e o surgimento de

um Estado regulador.

Essas mudanças são particularmente críticas na indústria de

telecomunicações, visto que a criação de uma "sociedade da informação" apoiada na

crescente globalização dos mercados e no desenvolvimento dos sistemas financeiros

internacionais implica em investimentos na modernização e ampliação das redes e na oferta

crescente de serviços de valor adicionado, notamente de transmissão de dados.

Nos países subdesenvolvidos a situação é ainda mais difícil uma vez que as

redes de telecomunicações estão apoiadas em tecnologias obsoletas e inadequadas à

intensidade e diversidade desse novo fluxo de informações. Exemplos marcantes dessa

realidade são a China, a índia e a Indonésia que combinadas detém 40% da população

mundial e apenas 20 milhões de terminais instalados.

Desta forma, a privatização das operadoras públicas de telecomunicações é

vista como uma fonma de viabilizar a retomada dos investimentos. Ademais, como essas

empresas apresentam elevado valor de mercado, sua venda traz uma importante contribuição

para a redução da dívida pública.

O estudo da indústria de telecomunicações toma-se ainda mais interessante

visto que paralelamente ao movimento de privatização a indústria atravessa um processo de

Page 10: a privatização da British Telecom

reestruturação a nível mundial. Esse processo contempla a formação de alianças comerciais e

tecnológicas, a ampliação do "mix" de serviços ofertados e a falência do sistema de subsídios

cruzados que balizou a estrutura de tarifas nas últimas décadas.

Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo analisar as recentes

mudanças ocorridas na indústria de telecomunicações e em particular avaliar os resultados

obtidos em alguns processos de privatização de operadoras públicas ocorridos nas décadas de

80/90.

Para isso encontra-se dividido em nove capítulos. Depois desta introdução, é

desenvolvida no capítulo 2 uma reflexão acerca das razões teóricas da privatização. A nível

microeconômico, é ressaltada a dificuldade de definir claramente o objetivo das empresas

estatais e os problemas de monitoramento intrínsecos a relação acionistas/administradores.

Observa-se que a meta de maximização do bem-estar social imposta as empresas estatais é

muito vaga, e na prática ocorre que essas empresas acabam perseguindo uma multiplicidade

de objetivos conflitantes, o que somado a existência de mecanismo de incentivos

inadequados, leva ao desenvolvimento de agendas pessoais que comprometem a eficiência

dessas empresas.

Como a propriedade é apenas um dos elementos que define a performance

de uma empresa, são discutidos ainda o papel da concorrência potencial e efetiva, bem como

os problemas relacionados a regulação, em especial a assimetria de informações existente

entre regulados e reguladores.

A nível macroeconômico, é analisada a contribuição do processo de

privatização para o ajuste fiscal e a reforma patrimonial do Estado.

No capítulo 3 são discutidas as principais características da indústria de

telecomunicações, em especial as mudanças ocorridas nas década de 70/80 com a introdução

da tecnologia microeletrônica, que colocaram em xeque a noção clássica de que a indústria se

constituía num "monopólio natural'.

10

Page 11: a privatização da British Telecom

No capítulo 4 é analisada a experiência norte-americana e o desmenbramento

da AT&T ocorrido em setembro/84. Ao dominar a indústria de telecomunicações nos EUA por

quase um século, a AT&T é a evidência mais contundente de que a propriedade privada

combinada a mecanismos de regulação não produz necessariamente um mercado mais

competitivo.

Nos capítulos 5, 6 e 7 são discutidas, respectivamente, as experiências de

privatização de operadoras públicas de telecomunicações na Inglaterra, México e Argentina.

Essas experiências confirmam a hipótese de que a propriedade privada tende nos anos

subsequentes a privatização a aprimorar a eficiência da empresa e a qualidade dos serviços.

Contudo, o aumento do grau de competição, seja através da entrada efetiva de novas

operadoras de serviços básicos ou através do desenvolvimento de serviços alternativos

(como, a telefonia celular) é lento devido ao volume de investimentos necessários e a

existência em alguns casos de restrições institucionais.

No capítulo 8 é apresentada a estrutura da indústria de telecomunicações no

Brasil e são discutidas as limitações de investimento do SISTEMA TELEBRÁS. Em seguida,

são elecandas algumas das transformações que espera-se a indústria deverá se submeter

nos próximos anos. Finalmente, no capítulo 9 são sintezadas as principais conclusões desse

trabalho.

11

Page 12: a privatização da British Telecom

2. A "RAT/ONALP' TEÓRICA DA PRIVATIZAÇÃO

2.1. INTRODUÇÃO

A intervenção governamental na economia ganhou enorme impulso a partir da

década de 30 em decorrência da difusão das teorias de origem keynesiana, bem como do

êxito da atuação estatal na mobilização dos recursos necessários à 2a Guerra Mundial e à

reconstrução que a ela se seguiu.

Esta intervenção, embora tenha atingido também as economia maduras, foi

particularmente significativa nos países subdesenvolvidos onde a visão dominante era a de

que o desenvolvimento econômico não seria alcançado a partir do simples jogo das forças de

mercado. Neste caso, a falta de um mercado de capitais eficiente, a inflexibilidade do mercado

de trabalho, a inexistência de empresários privados minimamente capitalizados e outras falhas

de mercado eram apontadas como fatores que impediam que a competição entre os agentes

econômicos resultasse num ponto Pareto eficiente.

Esse diagnóstico norteou a criação de empresas estatais em diversos setores,

em particular naqueles em que a iniciativa privada era pouco propensa a investir (devido ao

longo prazo de maturação, à baixa rentabilidade e ao elevado risco) e naqueles em que fatores

tecnológicos e/ou de mercado impunham como solução ótima a instituição de monopólios

locais (os chamados "monopólios naturais"). Note-se que na maioria dos casos, o Estado era

visto como o único agente capaz de arregimentar o volume de recursos necessários à

realização desses projetos.

As últimas décadas, entretanto, testemunharam uma crescente preocupação

em redefinir o papel e os limites do Estado. As teorias de inspiração liberal procuraram

mostrar que seus antecedentes, ávidos por identificar as falhas de mercado, pecaram por não

perceber que o Estado também não era ideal, e que em muitas ocasiões faltava-lhe autonomia

política e capacidade administrativa para implementar as decisões corretas em tempo hábil.

Além disso, a evidência empírica tomou claro que nem sempre os objetivos de políticos e

12

Page 13: a privatização da British Telecom

burocratas coincidem com os da sociedade, de modo que em alguns casos as falhas da

burocracia tendem a ser ainda mais prejudiciais ao desenvolvimento que as de mercado.

Em suma, o Estado antes visto como solução havia se transformado num

grande problema. Particularmente, a administração das empresas estatais passou, tanto em

países subdesenvolvidos como em economias maduras, a colidir com o interesse público,

fazendo com que a capacidade dessas empresas em auxiliar na consecução dos objetivos do

Estado fosse posta em dúvida.

Os resultados operacionais desastrosos das empresas estatais refletiam, por

um lado decisões equivocadas a nível técnico e perda de produtividade e eficiência, e por

outro a dificuldade em lidar com a multiplicidade de objetivos, freqüentemente conflitantes,

que lhes eram atribuídos. Verificou-se que essas empresas foram sistematicamente utilizadas

para atender a objetivos de política macroeconômica, tais como: (i) a diminuição da

disparidade de renda (através do favorecimento de determinados consumidores e regiões e do

beneficamento de fornecedores domésticos em muitos casos ineficientes), (ii) a redução dos

níveis de inflação (mediante o contigenciamento de preços/tarifas) e (iii) o cumprimento de

metas de balanço de pagamentos (pelo crescimento do endividamento externo).

Em conseqüência, em meados da década de 80, a maioria das empresas

estatais apresentavam um quadro semelhante, que incluía: baixos níveis de produtividade,

estrutura de preços/tarifas distorcidas, alto grau de endividamento, reduzida capacidade de

investimento, baixa qualidade nos bens/serviços produzidos, desatualizarão tecnológica,

obsolescência do parque produtivo, grandes passivos trabalhistas e dificuldade de negociação

devido ao elevado nível de corporativismo do quadro funcional. Além disso, era clara a

ausência de mecanismo de incentivos adequados, bem como a falta de um planejamento de

médio e longo prazos e a grande morosidade no processo decisório.

Neste contexto, a privatização surge como parte de uma nova estratégia de

desenvolvimento que, ao contrário da anterior, visa a uma maior integração à economia

mundial (e consequentemente, aumentos constantes de produtividade). Assim, os processos

13

Page 14: a privatização da British Telecom

de privatização têm como principal objetivo aumentar o grau de eficiência e competitividade

da economia e são, em geral, acompanhados de políticas de liberalização.

Nos países subdesenvolvidos, a privatização tem, ainda, uma segunda função

como parte das políticas de ajuste que se seguiram à crise dos anos 80. No Brasil, em

particular, o programa de privatização nasceu no bojo de uma grande crise financeira do setor

público e tem como meta modificar através de uma reforma patrimonial, a composição de

ativos e, principalmente, passivos do governo.

Note-se que os dois objetivos apresentados são conflitantes na medida em

que a maximização das receitas na venda das empresas e a conseqüente redução do déficit

público, não implica, necessariamente, em uma estrutura industrial eficiente e competitiva.

Esta questão está particularmente presente na alienação de empresas monopolistas, como é o

caso dos serviços de telecomunicações.

O presente capítulo se destina a analisar as justificativas teóricas dos

processos de privatização e encontra-se dividido em quatro seções. Na primeira, é discutida a

influência da estrutura de propriedade sobre o grau de eficiência das empresas, a questão do

relacionamento acionistas/administradores e a eficácia dos sistemas de monitoramento. Na

segunda, encontra-se uma breve discussão acerca da influência do padrão de concorrência da

indústria sobre o desempenho da empresa, sendo dado especial destaque para os casos em

que existem poucas empresas com elevado poder de mercado, em particular à indústria de

telecomunicações. Na terceira seção são apresentados os problemas ligados à regulação, e

finalmente na quarta seção são descritos os possíveis impactos da venda de estatais sobre as

contas públicas.

14

Page 15: a privatização da British Telecom

2.2. EFEITOS DA MUDANÇA DE PROPRIEDADE

2.2.1. O PROBLEMA DE MONITORAMENTO

A relação entre os administradores e os acionistas de uma empresa pode ser

vista como um caso particular de um problema de monitoramento, cujo caso geral caracteriza-

se por uma situação em que um indivíduo (ou grupo de indivíduos) denominado de principal

procura estabelecer incentivos para um outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) chamado de

agente, o qual toma decisões que afetam diretamente o principal. A meta é fazer com que o

agente contribua para a maximização dos objetivos do principal, e o desafio consiste em

definir um contrato ótimo, no qual o agente ao agir em seu próprio benefício, trabalhe,

também, em benefício dos interesses do principal.1

As dificuldades básicas em estabelecer esta estrutura de incentivos advém de

dois fatores: (a) os objetivos de principais e agentes, em geral, divergem (b) há uma assimetria

de informações, de modo que o principal não pode observar todas as decisões tomadas pelos

agente, em outras palavras, o monitoramento nunca é perfeito.

Ressalte-se que a questão de monitoramento dos administradores está

presente tanto sobre a propriedade privada como estatal. Desta forma, os administradores são

vistos como agentes atuando, supostamente, em benefício dos acionistas, no caso da

empresas privadas, e dos órgãos de governo a que estão subordinadas, no caso das empresas

estatais. Neste último caso, podemos considerar que os órgãos de governo atuam como

agentes em relação aos principais em última instância, os cidadãos.

Os acionistas (principais) ao recrutarem seus administradores (agentes),

devem estar atentos para o fato de que esses administradores buscarão um nível de utilidade

igual ou superior ao nível mínimo definido pelas alternativas similares disponíveis na

economia (custo de oportunidade) e de que a função utilidade do administrador depende do

nível de remuneração e do nível de esforço a ser realizado. Formalmente, temos:

O modelo de Principal X Agente encontra-se detalhado em Kreps (1990).

15

Page 16: a privatização da British Telecom

U = g(w, a) O)

onde: U é o nível de utilidade do administrador,

w é o nível de salário

a é a medida do nível de esforço.

SU/ôw > 0 e 5U/5a < 0

Note-se que variáveis, tais como a receita de vendas e o crescimento da firma

podem, também, ser incluídas na função utilidade, bem como outros elementos que captem a

preferência dos administradores por mais poder e prestígio.

Ressalte-se, ainda, que a montagem de esquemas de incentivo depende do

grau de aversão do principal e do agente ao risco. Além disso, o principal deve estar atento a

duas restrições :

. o incentivo deve ser atrativo o suficiente para que o agente aceite o contrato;

. o incentivo deve levar o agente a atuar com alto esforço em seu próprio

interesse.

Sabe-se que dado o contrato e o sistema de incentivos nele contido, cada

administrador irá decidir se trabalhará com maior ou menor dedicação, ou seja, se aplicará um

alto ou baixo nível de esforço. Desta forma, se o principal oferece ao agente um nível de

remuneração fixa, independentemente dos resultados obtidos, não há incentivos para que o

agente realize um nível de esforço alto. Ao contrário, a hipótese mais provável é a de que o

agente ao receber seu salário se acomode e trabalhe com reduzido empenho, maximizando

assim, sua utilidade pessoal.

O nível de esforço do agente não é uma variável facilmente observada. Desta

forma, o principal busca acompanhar a evolução das variáveis objetivas que reflitam esse

nível de esforço, um exemplo clássico é a margem de lucro. Note-se que há uma alta

correlação entre o nível de esforço gerencial e a performance da empresa, ou seja, o lucro

tende a refletir o nível de esforço realizado. É claro que essa variável não fornece um

resultado totalmente conclusivo, uma vez que há possibilidade da empresa apresentar

resultados insatisfatórios apesar do esforço do corpo gerencial ter sido alto.

16

Page 17: a privatização da British Telecom

Em síntese, podemos concluir que a relação entre os acionistas e seus

administradores não é naturalmente harmoniosa e que a montagem de uma estrutura de

incentivos eficiente é difícil, embora fundamental. Note-se, ainda, que as dificuldades de

monitoramento são exacerbadas à medida em que aumenta a dispersão de propriedade. Em

muitos casos a dispersão é tão grande que há dificuldades em identificar quem são os

principais e quais são seus objetivos.

Não raro há um grande número de acionistas, cada qual detendo uma pequena

fração do capital votante da empresa, ademais como as ações são negociadas no mercado, a

qualquer momento um acionista pode vender seus direitos de propriedade para outros

investidores, saindo da sociedade.

Há, também, um problema de custo X benefício ligado ao trabalho de

monitoramento. Note-se que se a empresa tivesse um único acionista, este arcaria com todo o

custo de monitoramento, mas em contrapartida teria todo o benefício resultante do bom

desempenho da firma. Ao contrário, quando as ações ordinárias da empresa encontram-se

pulverizadas entre muitos investidores, a atividade de estabelecer e controlar contratos

confere extemalidades. Se um dos acionistas se engaja nesta tarefa, ele arca com todo o

custo de monitoramento, mas recebe apenas uma fração do ganho total. Formalmente, se este

acionista aumenta o lucro esperado em um montante igual a Atc, através de um incremento

na atividade de monitoramento que custa para ele, ç, ele terá uma participação neste lucro

de apenas m Atc, e uma receita líquida de m An - Cj, onde n, é sua participação acionária

Como para cada acionista, em particular, pode não ser interessante tomar para si o

monitoramento fa, A* < C|), há risco de que a intensidade de controle seja sub-ótima, o que

amplia as possibilidade para que os administradores busquem seus próprios interesses.

Este problema é reduzido à medida em que exista um grupo de investidores

que detenha fração significativa do capital votante da empresa, ou que seja possível a criação

de um "board" (a figura mais comum é a do conselho de administração) eleito pelos acionistas

que se encarregaria do monitoramento dos gerentes. Observa-se, ainda, que a presença de

Vickers & Yarrow (1988).

17

Page 18: a privatização da British Telecom

investidores institucionais, tais como fundos de pensão e companhias de seguro tende a

tornar a atividade de monitoramento mais intensa. Estes investidores detêm participações

acionárias em diversas empresas, de modo que o monitoramento dos administradores de

algumas empresas tende a criar uma reputação de seriedade (rédia-curta) que leva os

administradores das demais empresas, onde o investidor tem participação acionária, a atuar

de forma mais eficiente. Em termos formais, o benefício oriundo da atividade de

monitoramento passa a se expressar com u i A* + An , onde Aj éo aumento no lucro

esperado das outras companhias do portifólio do investidor, em outras palavras, mesmo que p,

seja pequeno, ele poderá ser recompensado por An.

Além disso, a implementação de um sistema de recompensas que tome os

salários dos administradores que ocupam os postos mais altos da hierarquia muito atrativos,

tende a difundir uma concorrência intema por estes cargos, tomando esses executivos mais

zelosos pela performance da empresa.

A nível de mercado, existem pelo menos duas ameaças que tenderiam a

facilitar as atividades de monitoramento: os riscos de "takeovers" e de falência. Todavia, a

análise teórica e empírica não apresenta resultados conclusivos sobre a eficácia destas

ameaças como forma de estimular a eficiência interna e o monitoramento gerencial.

Estudos recentes3 mostram que a diferença de lucratividade e de desempenho

financeiro entre empresas que sofrem takeovers" e outras que não sofrem é muito pequena.

Além disso, os dados sugerem que a probabilidade de ocorrência de "takeovers" diminui

significativamente para empresas acima de um dado porte econômico-financeiro. Note-se que

o nível de ameaça de "takeover" e o papel que esta representa na promoção da eficiência

intema da empresa depende das caraterísticas específicas do mercado, do nível de proteção

proporcionado pela legislação, do grau de restrição impostos pela regulação, do

desenvolvimento do mercado de capitais e do sistema fiscal.

O risco de falência funciona de modo análogo à ameaça de "takeover". Note-

se, entretanto, que o risco de falência ajuda a alinhar os interesses de acionistas e

Ver Vickers&Yarrow (1991).

18

Page 19: a privatização da British Telecom

administradores na medida em que na hipótese de falência os administradores perdem seus

cargos. Ademais, o risco de perder os empregos faz com que os empregados se aliem aos

acionistas na tarefa de controlar os administradores.

Ressalte-se, ainda, que o risco de falência como mecanismo de controle é

mais eficiente em indústrias que atravessem períodos de recessão ou mais intensa

competição. Nas épocas de crescimento, o risco de falência tende a se reduzir, limitando sua

eficácia como forma de monitoramento. Segundo Vickers & Yarrows (1991), é pouco provável

que o risco de falência tenha efeitos poderosos sobre a eficiência de empresas monopolistas

(condição em que normalmente se encontram as empresas de serviços de telecomunicações).

Com base nas questões abordadas acima, podemos de imediato afirmar que a

atividade de monitoramento é mais complicada nas empresas estatais. Em primeiro lugar, a

dispersão de propriedade é a maior possível, o que significa que o controle dos

administradores tende a ser sub-ótimo pelas razões já descritas. Em termos gerais, um

cidadão isoladamente não irá incorrer nos custos de monitoramento para apropriar-se apenas

da pequena parcela que lhe cabe do total de benefícios que tal atitude poderia gerar para a

sociedade. Em segundo lugar, os riscos de falência e lakeovers" inexistem, o primeiro pelo

acesso que essas empresas têm aos recursos do Tesouro e o segundo porque seu controle

acionário não se encontra disponível no mercado.

2.2.2. OS OBJETIVOS DOS ACIONISTAS

A transferência de propriedade de empresas do setor público para o setor

privado implica numa mudança na relação entre os administradores e seus acionistas. Uma

conseqüência imediata do processo de privatização é uma modificação dos objetivos dos

acionistas e da estrutura de incentivos gerenciais.

A teoria econômica tradicional repousa sobre a hipótese de que as empresas

privadas têm por objetivo a maximização de lucro ao passo que as empresas estatais visam a

maximização do bem-estar social. Na prática, este dois objetivos não são equivalentes na

19

Page 20: a privatização da British Telecom

medida em que o lucro é apenas um dos componentes da função de bem-estar social, ou

seja, em termos formais temos que4:

W(x) = n(x) + E(x) 0)

onde: W(X) é o nível de bem-estar social;

n(x) é o nível de lucro e

E(x) é o nível de externalidades.

Note-se o objetivo de maximização de lucro perseguido pelas empresas

privadas é uma meta mais clara e bem definida. Ao contrário, no caso das empresas estatais

ocorrem problemas na própria definição do que vem a ser exatamente o bem-estar social. Na

prática, essas empresas acabam sendo usadas para atender a quaisquer interesses do

Estado, resultando numa multiplicidade de objetivos na maioria das vezes conflitantes.

Além disso, Shapiro & Willing (1990) observam que em ambos os tipos de

propriedade, os objetivos dos acionistas tende a divergir dos objetivos dos tomadores de

decisão, como descrito nas equações abaixo:

VE = W(x) + \i P(x) (2)

VP = n(x) + ti P(x) = W(x) + E(x) + ti P(x) (3)

onde: VEéo objetivo do administrador das empresas públicas

VP é o objetivo do administrador das empresas privadas

W(X) é o nível de bem-estar social;

n(x) é o nível de lucro

E(x) é o nível de externalidades.

P(x) é a agenda pessoal

H e T! são os pesos atribuídos pelos administradores aos seus interesses pessoais.

Comparando as equações (2) e (3) podemos ver que a diferença entre os

objetivos dos administradores de empresas públicas e privadas está diretamente

correlacionada ao peso atribuído aos interesses pessoais (n maior, menor ou igual a ti). Note-

Ver Vickers& Yarrow (1991).

20

Page 21: a privatização da British Telecom

se, entretanto, que em ambos os tipos de propriedade a agenda pessoal distorce os objetivos

originais, quais sejam lucro e bem-estar social.

Esses objetivos pessoais englobam fatores, tais como, o favorecimento de um

grupo de interesses, altos níveis salariais, elevado número de empregados, "status" e prestígio

pessoal, etc.

Em que pese a ausência de estudos mais profundos a este respeito, há razões

para se crer que a burocracia estatal tenha possibilidade de atribuir um peso mais significativo

aos seus interesses pessoais que os administradores privados. A principal razão, como já

mencionado na seção anterior, é a maior dificuldade de monitoramento e a ausência de

incentivos adequados.

Observa-se que na maioria dos casos existe um grande "gap" entre os salários

dos executivos de empresas estatais e de seus colegas da iniciativa privada. A remuneração

dos primeiros é inferior em virtude de restrições relacionadas às recompensas por ganho de

produtividade e lucratividade.

Além disso, ocupar as posições mais altas na hierarquia de empresas estatais

é visto por muitos executivos como uma oportunidade para uma eventual carreira política ou

como uma chance de criar uma rede de relacionamentos que lhe propicie benefícios no futuro,

quando estiverem alocados na iniciativa privada.

Ressalte-se, ainda, que a indicação para cargos de direção nas empresas

estatais obedece a critérios políticos, e que os executivos são, em geral, empossados e

exonerados com grande freqüência, o que dificulta uma continuidade administrativa, e

estimula a preocupação em atingir o mais depressa possível os interesses pessoais.

Outra fonte de perda de incentivo é a utilização das tarifas e preços das

empresas estatais como instrumento de política macroeconômica. No Brasil, esse fenômeno

afetou praticamente todas as empresas estatais, uma vez que o governo para conter a

crescente inflação durante os anos 80 restringiu o aumento das tarifas públicas praticando

reajustes inferiores à variação dos índices de inflação. O descasamento entre os níveis de

21

Page 22: a privatização da British Telecom

preços (decrescentes em termos reais) e os custos de produção (em muito casos elevados)

resultou em problemas financeiros para as empresas estatais, deteriorando os incentivos para

que seus administradores investissem esforços na melhoria da performance operacional das

empresas.

Em conseqüência destes problemas, havia incentivos apenas marginais para

que os interesses dos proprietários fossem respeitados. A tendência natural é a de que os

administradores das empresas estatais não apenas atribuam um maior peso a seus

interesses pessoais, mas também aos resultados de curto prazo em detrimento da formulação

de estratégias de médio e longo prazos para a empresa.

Em síntese, podemos concluir que a questão do monitoramento dos

administradores é mais difícil de ser tratada nas empresas estatais do que nas empresas

privadas visto que todos os mecanismos que ajudam a alinhar os interesses da burocracia com

os acionistas são fracos ou inexistem. Todavia, aceitar de forma irrestrita a idéia de que os

administradores privados agem sempre em interesse de seus acionistas não é uma posição

aceitável.5 Claramente, os executivos privados têm compromissos com agendas pessoais,

que envolvem prestígio, reconhecimento profissional e poder. Contudo, pelo menos a nível

microeconômico, a eficiência da empresa tende a aumentar sob propriedade privada devido:

(i) à maior clareza de objetivos (ii) à redução dos entraves burocráticos (iii) à maior disciplina

de mercado (iv) à redução dos "soft-budgets".

Deve-se notar, entretanto, que a propriedade é apenas um dos fatores que

influencia a estrutura de incentivos gerenciais e a performance econômica da empresa (tanto a

nível de eficiência interna quanto alocativa). De importância igual ou superior, é a existência

de mecanismos reguladores, bem como a estrutura da industria e o grau de competição a que

empresa está exposta.

Ver Vickers&Yarrow (1991).

22

Page 23: a privatização da British Telecom

1.3. EFEITOS DA CONCORRÊNCIA

A análise do papel da concorrência é muito importante num contexto de

privatização e/ou de restruturação de uma indústria, visto que o aumento da eficiência

alocativa é um dos principais objetivos desses processos.

A evidência empírica mostra que a concorrência estimula as firmas a se

restruturarem, a introduzir novas linhas de produtos e a atuarem de forma mais agressiva no

mercado. Ademais, a competição pelos mercados é um fator motivacional para que os

executivos cortem custos desnecessários, melhorem parâmetros técnicos de produção e

promovam uma alocação eficiente de recursos, aprimorando a eficiência interna. Neste caso,

a concorrência auxilia os acionista em seu trabalho de monitoramento, independente da

estrutura de propriedade.

Num processo de privatização (ou restruturação) é fundamental responder à

pergunta básica de qual seria o número desejável de empresas para concorrer naquele

mercado, uma vez que o grau de competição irá influenciar, sobremaneira, o comportamento

futuro da indústria.

Ressalte-se, entretanto, que as forças concorrenciais ficam prejudicadas

quando existem poucas empresas operando, cada qual com elevado poder de mercado.

Nestes casos, as práticas anticompetitivas tendem a diminuir, e no limite, eliminar a

possibilidade de entrada de novos produtores, tomando imprescindível a existência de uma

arcabouço regulador eficiente. Essa regulação deve levar em conta não apenas o desempenho

financeiro, mas principalmente indicadores qualitativos, tais como a qualidade dos serviços, a

flexibilidade, os níveis de investimentos e o grau de inovação.7

6 Aqui é importante distinguir entre eficiência alocativa (nível de produção realizado pela empresa

dada a estrutura de custos) e eficiência interna (o nível de produção que minimiza o custo de

produção).

7 É importante destacar que esses indicadores são de difícil obtenção.

23

Page 24: a privatização da British Telecom

É importante ressaltar que a concorrência é representada não apenas pelas

empresas que já operam no mercado, mas também pela ameaça de entrada de novos

concorrentes. Os trabalhos desenvolvidos por Baumol (1982) sobre os mercados disputáveis

captam bem o papel da concorrência potencial.

Um mercado é dito disputável, quando a ameaça de concorrência potencial é

máxima, ou seja as firmas já estabelecidas estão sujeitas à entradas do tipo "hit and run". Se

essas firmas não operam com máxima eficiência elas perdem seu mercado para

competidores mais eficientes. Nesse modelo, todas as empresas, inclusive os competidores

potenciais, têm a mesma tecnologia e consequentemente a mesma estrutura de custos. Além

disso, a entrada de uma nova empresa não envolve "sunk costs", ou seja não há gastos

irrecuperáveis e, portanto, não existem barreiras à saída.

Note-se que um mercado disputável apresenta em "steady state" características

muito favoráveis sob o prisma do bem-estar social, implicando tanto em eficiência interna

quanto alocativa.

É fundamental destacar, entretanto, que a teoria dos mercados disputáveis

tem uma lógica diferente da teoria de concorrência perfeita, uma vez que é a ameça ou

entrada efetiva de novos concorrentes que determina o grau de concorrência e não a

existência de grande número de firmas no mercado. Neste sentido, a estrutura de mercado é

determinada exogenamente pela tecnologia e as condições de demanda e, sob certas

condições, um monopólio pode ser um mercado disputável.

Essa teoria, apesar de ter como ponto positivo o fato de levantar a questão da

concorrência potencial e seus impactos sobre a estrutura industrial, é objeto de diversas

críticas. As principais estão relacionadas aos seguintes fatos: (i) as firmas que operam num

mercado disputável não reagem diante da ameaça de entrada de um novo concorrente, antes

que esse concorrente já tenha se estabelecido (ii) a hipótese de inexistência de "sunk costs" é

muito pouco realista.

24

Page 25: a privatização da British Telecom

Vickers & Yarrow (1988) desenvolveram um modelo que mostra a importância

destes dois fatores, quais sejam a velocidade de reação e o montante de "sunk costs" na

definição da estrutura industrial.

Consideremos dada a curva de demanda DD e o custo médio Co (por hipótese

constante). O bem-estar social é maximizado no ponto em que P = Co e a quantidade

produzida é Q* , conforme ilustrado no gráfico a seguir:

GRÁFICO 2.1

FUNÇÕES DE CUSTO E DE DEMANDA

P"

P* = C0

Q"

Suponha que a entrada na indústria envolva "sunk costs" iguais a S, e que

esses custos representem um "entry fee". Suponha, ainda, existam duas firmas: a firma A Qà

estabelecida) e a firma B (entrante).

Seja ta o tempo gasto pela firma A para responder à entrada da firma B e tb o

tempo decorrido entre a entrada e o momento em que a firma B atinje plena capacidade. Se

ta > tb , então a firma B se estabelece antes que a firma A apresente qualquer reação. A

situação se reverte se ta < tb Define-se, então, a variável T da seguinte forma:

= t,-tb

= 0

se ta>tb

caso contrário

(1)

onde T representa o tempo durante o qual a firma B opera a plena capacidade sem qualquer

reação da firma A.

25

Page 26: a privatização da British Telecom

Note-se que o nível de preços praticado pela firma A é P". Se a firma B entrar

no mercado cobrando um preço ligeiramente inferior a P" poderá auferir um lucro equivalente

a:

n (P") = (P" - C) D(P") (2)

Esse lucro será auferido por T unidades de tempo, após esse período o lucro

cairá a zero. A entrada é vantajosa, se e somente se :

T ,n(P")>S (3)

Note-se que se existirem "sunk costs" (S=0) e não houver um reação imediata

da firma já estabelecida (T>0), então qualquer nível de preços que exceda o custo médio

permite a entrada de novas empresas. Neste caso, o mercado é disputável.

Contudo, se a firma já estabelecida reage (T=0) e os "sunk costs" são positivos

(S>0), independente do montante envolvido, pela equação 3, temos que nenhum preço irá

atrair a firma B. Logo, a firma A pode cobrar o preço de monopólio Pm sem induzir a entrada.

Uma hipótese intermediária, envolveria um cenário em que a firma já

estabelecida não reage imediatamente (T>0) e existem usunk costs" (S>0), tais que a firma A

deteria a entrada somente se praticasse um preço tal que n (P") < S/T. Mesmo que S seja

muito pequeno, o que reduziria as barreiras à entrada/saída, a restrição ao comportamento da

firma A será pequena, desde de que T , também, seja reduzido (ou seja, a velocidade de

reação seja grande).

Em síntese, esse modelo permite concluir que a principal forma de eliminar a

concorrência potencial é tomar claro que a reação será agressiva e rápida. Além disso, a

ameaça de entrada é mais intensa em industrias que apresentam menores custos

irrecuperáveis ("sunk costs").

26

Page 27: a privatização da British Telecom

Note-se que a entrada numa indústria pode ser vista com um jogo de

informação assimétrica. Neste caso, existindo apenas duas firmas no mercado: a firma A

(entrante) e a firma B (dominante), a entrada de fato ocorrerá somente se o lucro esperado

exceder os custos associados à entrada, ou seja se o "payoff for positivo.

Durante esse jogo, a firma dominante escolhe o nível de variáveis

estratégicas, denominadas genericamente de K. Se não há entrada, os ganhos da firma

entrante e dominante são iguais a zero e a l0 (K), respectivamente. Caso contrário, a entrada

de nova firma estabelecerá um duopólio em que os "payoffs" de entrantes e dominantes são

iguais a U (K) e ld (K), respectivamente, como podemos ver no quadro a seguir:

QUADRO 2.2

DECISÃO DE ENTRADA NA INDÚSTRIA

FIRMA DOMINANTE

escotheK

ocorre a entrada

não

ocorre entrada

JOGO

DE

MERCADO

U(K)

onde X

Y

é tal que X é o "payofT da firma entrante e Y é o "payofT da firma dominante.

Note-se que a entrada pode, inclusive, alterar os níveis escolhidos para as

variáveis estratégicas (K), o que é ilustrado no quadro abaixo pela caixa "jogo de mercado". A

27

Page 28: a privatização da British Telecom

escolha da firma dominante detém a entrada somente se le (K) < 0. Neste caso, se o K

estabelecido é o mesmo escolhido por um empresa monopolista, dizemos que a entrada é

bloqueada.

Os instrumentos mais utilizados para bloquear a entrada em um mercado, são

a manutenção de um excesso de capacidade instalada, a realização pela firma dominante de

vultosos gastos de P&D, a política de contínuo lançamento de novos produtos, a elevação dos

custos da entrante através da cobrança de preços elevados por insumos essenciais, a

dificuldade de aquisição de tecnologia, a manutenção de elevados gastos publicitários e a

existência de marcas consolidadas, entre outros. A opção por um desses caminhos irá

depender das características especificas de cada indústria.

No setor de telecomunicações, um aspecto da competição que merece

destaque é a integração das redes e a concorrência em mercados verticalmente relacionados.

Um exemplo típico é o relacionamento entre os serviços de longa distância e locais8. A

questão central é como garantir a concorrência nos segmentos potencialmente competitivos

(longa distância) e evitar que a empresa dominante no segmento não competitivo (locais)

domine , também, os segmentos de longa distância.

O centro da análise está no estabelecimento de uma regra de conexão, isto é,

o preço ótimo através do qual a firma dominante nos serviços locais irá colocar a disposição

das firmas que operam os serviços de longa distância, o acesso a suas redes. Por

simplificação, suponhamos que a firma dominante no serviço local (firma A) tem apenas uma

rival na oferta de serviços de longa distância (firma B). Esta estrutura coincide com a da

Há autores que defendem a tese de que o movimento tecnológico é exatamente oposto ao

mencionado acima. Para esse autores, a fibra ótica vem contribuindo para tornar o mercado de

longa distância monopolizado, ao passo que a telefonia celular é responsável pela crescente

competição no mercados de telefonia local. Isso não invalida o modelo apresentado, sendo

necessário apenas inverter as posições, de modo que a tarifa de conexão passaria a ser cobrada

pela(s) empresa(s) que operam no segmento de longa distância..

Modelo extraído d Vickers & Yarrow (1988).

28

Page 29: a privatização da British Telecom

indústria de telecomunicações inglesa, onde a British Telecom domina os serviços locais e tem

apenas uma rival no serviço de longa distância, a Mercury.

Sejam a e b os custos unitários de produção dos serviços de longa distância e

local, respectivamente, os quais são combinados, por hipótese, numa proporção 1:1. Suponha,

ainda, que o custo de combinar os dois serviços e produzir o serviço final seja desprezível, de

modo que c = a + b, é o custo marginal de ofertar o bem final (ligação a longa distância) 10

Seja i o preço pago pela firma que opera o serviço de longa distância para a firma que atua

nos serviços locais pela utilização da rede local. Desta forma, o custo final de uma ligação de

longa distância é c para a firma A e a + i para a firma B. Sejam X e Y a oferta de serviços de

longa distância das firmas A e B, respectivamente. Desta forma, Q = X + Y, é a oferta global

de serviços e P(Q) é a função inversa de demanda, o lucro da firma dominante (firma A) é

dado por:

n" = [P(Q)-c]X + (i-b)Y (D

E o lucro da firma rival (firma B) é de:

nb= [P(Q) - (a+i)] Y (2)

Em caso de inexistência de regulação, a firma dominante irá cobrar uma tarifa

i tal que exclua sua rival do negócio, e produzirá no ponto em que a receita marginal iguala a

c. Seja X, o grau de rivalidade entre as empresas, temos de (1) e (2) que a condição de

primeira ordem é :

(1+5l)XP' +P-c + A.(i-b) = 0 (3)

(1+X)YP' + P-(a + i) = 0 W

Note-se que X capta a reação de uma firma em relação às mudanças no nível

de produção da outra. Um X=0 corresponde a um comportamento de tipo Coumot, e um X = -1

10 De outro modo, poderíamos supor que a e b já incluem os custos de combinar os dois serviços.

29

Page 30: a privatização da British Telecom

corresponde a um comportamento de tipo Bertrand. Somando-se as duas equações acima

temos que:

(1+X.) Q P' + 2P = (1 +X)c + (1 -X)(a+i) (5)

Seja ti (Q) = -P/Q P', a elasticidade-preço da demanda. Então, a equação

acima pode ser escrita como:

P[2 - (1 +X)It]] = (1 + X) c + (1 -X){a+\) (6)

A condição de ótimo requer que P seja igual ao custo marginal c.Substituindo-

se P = c, temos que a tarifa ótima é tal que:

i =

Ou seja, a tarifa ideal envolve o nível de custo b e um fator de ajuste

relacionado a /. e a n- Para -1 <X < 1, a condição requer que i* seja inferior a b. O fator de

ajuste é tanto maior quanto menor a competição entre as firmas (X maior) e quanto mais baixa

for a elasticidade-preço da demanda. Desta forma, o preço igual a b é subótimo exceto se

existir na atividade de longa distância um comportamento do tipo Bertrand ou "price- taking".

11 Este modelo é, ainda, rudimentar e pode ser estendido para captar fatos tais como: custos

diferenciais, retornos crescentes de escala e preços não lineares.

30

Page 31: a privatização da British Telecom

2.4. EFEITOS DA REGULAÇÃO

Como mencionado no item anterior, a competição tende a criar incentivos

adequados para que as empresas atuem promovendo uma alocação eficiente de recursos.

Contudo, em muitas indústrias, as forças competitivas são fracas tornando necessária uma

política reguladora que influencie a conduta das empresas e incentive o aumento da eficiência

interna e alocativa. Nestes casos, a regulação funciona como uma simulação, através de

regras, das pressões inerentes a mercados competitivos.

Da mesma forma que a relação acionistas/administradores, a política de

regulação pode também ser vista como um jogo de informação assimétrica entre o governo

(agência reguladora) e as empresas que atuam no mercado12. Neste jogo, cada participante

tem estratégias, objetivos, ordem de jogada e volume de informação definidos.

A estratégia das empresas envolvem decisões quanto à estrutura de custos, ao

nível de produção, ao montante de investimento, à qualidade dos produtos e serviços, à taxa

de inovação, etc. Por outro lado, o govemo busca controlar algumas dessas variáveis, sendo

as mais comuns o nível de preço, a qualidade dos produtos e serviços e a margem de lucro.

No tocante aos objetivos, a hipótese mais tradicional é a de que as empresas

visam à maximizaçâo de lucros, ao passo que o govemo (órgão regulador) busca maximizar o

bem-estar social, definido em equilíbrio parcial, como a soma do excedente do produtor e do

consumidor. Esta abordagem, entretanto, é amplamente questionada. Vickers & Yarrow

(1988), focam o ponto de que as empresas são dirigidas por executivos, que como já vimos

apresentam outros interesses que não a mera maximizaçâo de lucro, da mesma forma que os

órgãos reguladores são administrados por políticos e burocratas cujos interesses podem

muitas vezes divergir da meta de "bem-estar social".

12 Mais uma vez poderíamos fazer referência a uma relação tipo Principal X Agente.

31

Page 32: a privatização da British Telecom

Em relação à ordem de jogada, há uma interação dinâmica entre as empresas

e os órgãos reguladores. As empresas buscam influenciar a fixação de regras, da mesma

forma que essas regras influenciam a performance e as decisões futuras das empresas.

É importante ressaltar que o principal obstáculo da atividade reguladora é a

assimetria de informação existente entre o órgão regulador e as empresas. Na prática, as

informações colocadas à disposição das agências reguladoras são muito limitadas e as regras

estabelecidas com base nessas informações podem muitas vezes promover incentivos

imperfeitos e, consequentemente, ineficiências.1

Note-se que o acesso à informação é mais difícil em uma estrutura industrial

monopolista, uma vez que o produtor passa a ser a única fonte de informação. Por outro lado,

observa-se que o desenvolvimento do mercado de capitais tende a facilitar o acesso do órgão

regulador à informação, uma vez que os administradores ao mesmo tempo em que procuram

maquiar os resultados da empresa para não apresentar lucros muitos altos para as agências

reguladoras, precisam mostrar um bom desempenho para os acionistas.

Outro ponto que merece destaque é o nível de investimento mantido pelas

empresas. Embora o objeto central das políticas de regulação seja o nível de preços, o efeito

dessa política sobre o bem-estar social irá depender do tipo de comportamento em relação ao

investimento que elas induzem.

13 " It is customary to distinguish between two types of informational constraints: moral hazard and

adverse selection Moral hazard refere to endogenous variables that are not observed by regulator.

The firm takes discretionary actions that affect its cost or the quality of its products... Adverse

selection arises when the firm has more information than the regulator about some exogenous

variable....The presence of moral hazard and adverse selection, and concomitant loss of control for

the regulator, create a demand for information gathering. In most countries public enterprise are

periodically monitored by public audits. Similary private regulated firms are subject to controls by

agencies, and they sometimes have their cost disallowed. It is worth emphasizing the limite of such

procedures. Audits can verify that costs are recorded according to standard accounting procedures

and that no major emproprieties (e.g. embezzlement ) have been commited by tthe firm. They also

measure the fimYs total cost; they usually cannot disentangle its various componente. Most

dimensions of moral hazard and adverse selection do not show up in accounting statements". Tirole

(1990).

32

Page 33: a privatização da British Telecom

Particularmente na indústria de telecomunicações, em que os investimento

fixos envolvem desembolsos elevados e exigem um planejamento de longo prazo, é

fundamental saber se as inversões que estão sendo realizadas serão suficientes para garantir

a minimização dos custos de produção e a manutenção de uma escala de operação

condicente com as condições de demanda e tecnologia. Em síntese, a regulação deve ser tal

que estimule a atualização tecnológica, a reposição de equipamentos, o aproveitamento das

economias de escala e a expansão das redes de modo a atender as necessidades dos

usuários não apenas em termos quantitativos, mas também qualitativos.

Em termos práticos, os modelos de regulação mais utilizados são o "cost-of-

service" (ou "rate ofreturn") e o "price caps".

O modelo "cost-of-service" (ou "rate of retum") procura estabelecer preços para

os bens (ou serviços), de modo que a empresa tenha um taxa de retomo sobre o investimento

realizado dita "justa". Esse tipo de regulação gera alguns problemas, entre eles os principais

são:

i. definir exatamente o que é uma taxa de retomo "justa";

ii. determinar a base de capital sobre a qual essa taxa de retorno deveria ser calculada;

iii. estabelecer um critério de alocação de custo entre as diversas linhas de produto (e

serviços) uma vez que muitos custos não são de fácil rateamento ;

iv. observar se a firma mudou deliberadamente seu comportamento de investimento, de

modo a reduzir as restrições impostas pela regulação, por exemplo, aumentando a base

de capital.

Uma vez determina a estrutura de preços, ela permanece inalterada durante

um determinado intervalo de tempo. Nada impede, entretanto, que existam regras de

indexação dos preços dos bens e serviços regulados ao índice geral de preços e/ou à variação

no preço específico de determinado insumo. Na pratica, o ulag" temporal entre a fixação da

14 Por exemplo, nas etapas de comutação e transmissão no caso dos serviços de

telecomunicações e de geração no caso do setor de energia elétrica.

33

Page 34: a privatização da British Telecom

regra e sua revisão é determinado endogenamente, podendo a revisão ocorrer por pedido

tanto da agência reguladora quanto da empresa.

Uma forte crítica ao modelo de regulação via taxa de retomo, foi desenvolvida

por Averch & Jonhson15. Segundo o modelo Averch & Jonhson, as empresas submetidas a

esse tipo de regulação têm um incentivo para expandir a base de capital, ampliando, assim, os

lucros em termos absolutos. Dessa forma, o resultado da regulação é uma tendência ao

incremento da produção (eficiência alocativa) e a uma queda na eficiência interna

(sobrecapitalização).

Ressalte-se, entretanto, que a evidência empírica não ratifica integralmente os

resultados obtidos por Averch & Jonhson, visto que os preços sofrem revisões periódicas e

durante os intervalos, as empresas se defrontam com um Irade ofT entre investir na

minimização de custo (aumento dos lucros) ou no acréscimo do estoque de capital (para

barganhar, posteriormente, uma tarifa maior).

O modelo de "price caps" tem como principal vantagem demandar um menor

volume de dados contábeis e gerenciais. Nesse modelo, o órgão regulador fixa, em geral, um

preço-teto para cada produto ou cesta de produtos. Apesar da menor necessidade de dados, a

escolha do preço-limite requer conhecimento acerca das condições de custo e demanda, uma

vez que a fixação de um preço muito alto toma a firma uma monopolista (descaracterizando a

atividade de regulação) ao passo que um preço muito baixo pode inviabilizar a atividade

produtiva.

Note-se que o preço estabelecido permanece fixo por um intervalo de tempo.

A regra de revisão mais comum é a RPI - X e funciona como uma taxa de crescimento

máxima para o preço-teto. Em geral, o termo RPI indica o índice de preços ao consumidor, e

X antecipa a taxa de progresso técnico.16

15Ver Vickers & Yarrow (1988)

16 Por exemplo, uma regra do tipo RPI - 3%, implicaria em elevar os preços 3% abaixo da variação

do nível de preço.

34

Page 35: a privatização da British Telecom

Apesar dos dois modelos serem muito semelhantes, há algumas diferenças

significativas que devem ser destacadas, a saber:

1. o preço é fixo no modelo "cosf ofservice" e flexível (pelo menos, para baixo) no modelo

"price caps". Essa flexibilidade é importante, uma vez que os preços sâo fixado para uma

cesta de produtos (ou serviços) e a estrutura de preços relativos dentro da cesta (preços

individuais) tende a refletir melhor os custos variáveis e elasticidade-preço da demanda;

2. o intervalo entre as revisões de preço é, a princípio, exógeno no modelo "price caps" e

endogeno no ucost of service". Na prática, entretanto, os órgãos reguladores tendem a

ceder a pedidos para antecipar as discussões e alteram as datas fixadas, tornando as

revisões sempre endógenas;

3. a regulação tipo "cost ofservice' tem um caráter mais retrospectivo, ao passo que a "príce

caps' apresenta uma característica prospectiva na fixação de preços. O preço fixado

pelo modelo "price caps" não é determinado, necessariamente, por custos e/ou taxas de

retomo passadas , embora a performance passada seja indiretamente usada para

balizar a revisão da regra.

2.5. IMPACTO DA PRIVATIZAÇÃO SOBRE AS CONTAS PÚBLICAS

Além do objetivo principal de melhoria da eficiência e da competitividade da

economia, os programas de privatização são, em geral, apresentados como elementos

fundamentais do ajuste fiscal. De um lado, a venda de ativos imobilizados gera uma receita de

capital que durante o processo de privatização, pode complementar as receitas correntes e

compensar, temporariamente, o déficit das contas públicas, de outro, a restruturação de ativos

Note-se que essa regra é, em geral, fixada em base anuais mais nada impede que os rejustes

ocorram em períodos menores.

35

Page 36: a privatização da British Telecom

e passivos do setor público pode gerar um ganho permanente reduzindo as futuras

Necessidades Financeiras do Setor Público (NFSP).

Formalmente, o impacto final da privatização é a soma dos efeitos de curto e

longo prazos, e pode ser descrito como :

Ao*)(1hx) (1)

NFSP,-NFSP,* =(SCt*-Sct) + (lt.lt*)-(Jt.Jt*) t=1,2,3 (2)

onde:

p representa o ágio e ou deságio com que a empresa é vendida, isto é, o descasamento

entre o seu valor econômico para o empresário privado e para o Estado

a reflete a parcela das receitas da privatização usada para abater dívida (0 < a < 1);

At é o valor dos ativos no instante t;

Sc, é o valor da poupança corrente das empresas estatais no instante t;

I, é o investimento agregado do Governo no instante t;

Jt é a despesa com juros no instante t.

O asterisco indica o valor da variável na hipótese de privatização, no mesmo

período de tempo ao qual se refere a variável sem asterisco. Admite-se que a privatização

não afeta a decisão de investimento e poupança do Governo. Define-se, ainda, as variáveis A,,

SCt e lt da seguinte forma:

A, = A,., + I, (3)

Sc, = sAm (*)

h = i IV, (5)

onde:

s é a taxa de retomo sobre o ativo;

i é a taxa de juros média paga sobre a dívida do setor público;

Dt é a dívida do setor público no instante t.

17Modelo extraído de Pinheiro & Giambiagi (1992).

36

Page 37: a privatização da British Telecom

sendo:

[ Do - Do* ] = a(1+P)(1+6)(Ao - Ao*) (6)

onde:

0 é o deságio sobre a dívida pública

Substituindo (3), (4) e (5) em (2), temos:

NFSP,-NFSPt* = (s*A,.r -sAt.1) + (lt.lt*)-(iDt.i-i*D*,.1) t=1,2,3 (7)

Note-se que as equações (1) e (7) refletem, respectivamente, o ajuste fiscal

temporário e o ganho permanente obtido no processo de privatização. Na equação (7), estão

representadas a perda de receita futura com a venda da empresa (s* AM* - s A,.i), o benefício

obtido com a transferência para o setor privado da responsabilidade de realizar os

investimentos necessários para manter a competitividade da empresa (lt -lt ) e a redução das

despesas com juros resultante do resgate da dívida pública com as receitas oriundas da

privatização e da redução das taxas de juros pagas pelo governo (devido a maior credibilidade

e a redução do risco).

Para avaliarmos melhor o impacto da privatização sobre as contas públicas,

somamos os resultados obtidos em cada período (t=0,1,2,3,4...), descontando-os a taxa de

desconto, S. Admite-se, sem perda de generalidade que eventuais déficits públicos são

pequenos e não afetam o estoque de dívida pública. O valor presente do ajuste fiscal obtido

com a privatização é dado por:

VP-VP*=(1+p)(AoHAo*M1-a) + 2t (1+8*)4 [s* A*,., -I*,-Í*D*M] -

-Et (1+6)4 [S At.i - lt - i Dt-1 ] (8>

Substituindo (3), temos que:

37

Page 38: a privatização da British Telecom

VP - VP* = (1+p)(Ao-Ao*)(1 -a) + (s*Ao/S*) + (s*I*/(8*)2) -(sA»/5) -(SI/(ô)2)

- r/5*+l/8-Í*D*o/8*Do/5 (9)

As equações acima permitem concluir que o ganho do governo será tão maior

quanto mais elevados forem (i) o ágio obtido na venda da empresa (ii) o deságio negociado no

resgate da dívida pública e (iii) o incremento na credibilidade refletida na redução da taxa de

juros paga pelo Governo.

Cabe salientar que o efeito da privatização sobre as contas do governo

depende do destino dado às receitas oriundas do programa. É importante ter em mente que

uma operação de privatização representa não apenas uma entrada de caixa no instante zero,

mas também a renúncia ao fluxo de dividendos futuros gerado pela empresa a ser vendida.

Desta forma, se as receitas do programa de privatização não forem utilizadas para adquirir

novos fluxos de receitas futuras e/ou cancelar dispêndios futuros de valor presente

equivalente, o impacto da privatização será o de deprimir a capacidade de poupança do

governo18

Note-se, ainda, que o descasamento entre a avaliação da empresa para o

setor público e privado pode se constituir uma fonte importante de ganho para o Governo. Se a

venda dos ativos se dá pelo valor econômico estimado pelo Governo, isto é, pelo valor

presente do fluxo de rendas futuras que o ativo seria capaz de gerar caso permanecesse nas

mãos do Estado, não há, ceteris paribus, impacto fiscal uma vez que a entrada de caixa é

exatamente igual ao fluxo de renda que se está abrindo mão trazido a valor presente.

Lembre-se que a avaliação pelo governo leva em conta o fluxo de renda

estimado sob a hipótese de que a empresa continua sob propriedade estatal, sem considerar

receitas adicionais que a empresa poderia gerar se recebesse maiores investimentos e/ou

sofresse restruturações administrativas. Contudo, sob o ponto de vista do setor privado pode

se considerar que a compra da empresa será um "tuming point" e que os rendimentos auferidos

18 No caso argentino, por exemplo, as receitas de venda da empresas estatais no período de

1992/93 foram canalizadas para finaciar gastos correntes e equilibrar as contas públicas.

38

Page 39: a privatização da British Telecom

poderiam ser incrementados. Essa crença se refletirá, em geral, nos preços que os potenciais

adquirentes estão dispostos a pagar pela empresa. Esse descasamento entre o valor de

venda e o valor econômico na avaliação do governo produz um ganho ou uma perda, e

consequentemente, um impacto fiscal, positivo se a empresa for vendida por um preço acima

do valor econômico, ou negativo caso contrário.

como a seguir:

A diferença entre a avaliação pública e privada pode ser formalmente descrita

19

(1-g)Vp - Ve

onde:

Vp é o valor presente do fluxo de caixa da empresa na avaliação do setor privado;

Ve é o valor presente do fluxo de caixa da empresa na avaliação do setor público;

g é o ganho de capital esperado pelo setor privado ao adquirir a empresa, que eqüivale a

diferença entre o preço pago e o valor presente esperado pelo setor privado, g não pode

ser negativo, se o setor privado se comporta racionalmente.

Como o valor presente do fluxo de receitas esperadas de uma empresa é dado

por:

V = Zj (i-t)(1-b)CTPj

(1+r)1"1

onde:

t é a alíquota de imposto de renda sobre os lucros distribuídos;

b é a taxa de retenção de lucros;

o é a rentabilidade patrimonial (Lucro Liquido/Patrimômio Líquido);

r é a taxa de desconto;

P, é o montante de Patrimônio Líquido no instante i.

O termo Pi é determinado pela capitalização da empresa no passado e pode

ser descrito como:

19 Modelo extraído de Mello (1992).

39

Page 40: a privatização da British Telecom

P(=P0 O, (1+a)M bM (12)

De (11) e (12), temos que o valor econômico da empresa para os setores

público e privado é, respectivamente:

Ve = Si (1 -1.) (1 -be) ae Po (üi (1 + ae )M beM) /(1 +r)M (13)

Vp = Ei (1- tp) (14>p) ap Po (Oi (1+ ap )M bpM) /(1+r)M (14)

Assim, o ganho ou perda de capital do setor público com a privatização

dependerá das expectativas do setor privado quanto às mudanças nos parâmetros de

rentabilidade (a), no nível de retenção de lucro (b), na estrutura tributária (t), bem como das

taxas de desconto aplicadas e de eventuais distorções no preço de compra.

Em termos de rentabilidade, a privatização tende a trazer ganhos

significativos, devido a mudanças de objetivos dos acionistas (com maior ênfase na

maximização de lucros) e ao melhor sistema de monitoramento. Outros fatores que melhoram

a lucratividade das empresas são: a intensificação da exploração do poder de monopólistico,

a exploração das oportunidade de negócio que não vinha sendo feitos pelo setor público por

interferência de aspectos legais, institucionais e burocráticos e a modernização do parque

industrial pela retomada do nível de investimentos.

As alterações da política de retenção de lucros das empresas privatizadas são

de difícil previsão e a evidência empírica não apresenta resultados conclusivos em relação a

uma tendência de alta ou baixa desse indicador.

Com relação a política tributária, é comum que as empresas estatais estejam

sujeitas à tributação especial, de modo que a privatização acarrete num primeiro momento

uma elevação da carga tributária da empresa (o que deprime sua rentabilidade e valor

econômico), e por outro lado, amplia as receitas do Governo. Observa-se, entretanto, que a

evasão fiscal tende a aumentar quando a empresa é transferida para o setor privado, em

40

Page 41: a privatização da British Telecom

decorrência da maior dificuldade de controle, anulando em parte (ou totalmente) o aumento da

carga tributária.

A taxa de desconto fixada pelos setores públicos e privado são

freqüentemente diferentes, uma vez que essa taxas refletem diferentes propensões ao risco,

preferências intertemporais, custo de oportunidades e acesso diferenciados a financiamentos.

Por último, a existência de distorções nos preços de venda decorrem do porte

das empresas estatais vis-a-vis ao tamanho do mercado de capitais (em especial, nos países

subdesenvolvidos), do fato de se estar ou não negociando o controle acionário (a venda do

controle tende a valorizar o lote de ações), do momento da venda (períodos de depressão

tendem a reduzir o preço de venda) e da urgência financeira do Estado (em muitos casos, a

preocupação de vender rápido leva a fixação de preços muito baixos).

É importante mencionar que do ponto de vista macroeconômico, a compra de

ações de empresas estatais tende a deslocar novos investimentos do setor privado, tendo

efeito semelhante à venda de títulos públicos. Mais ainda, como a compra de ações de

empresas estatais é um substituto mais próximo do investimento privado novo (por exemplo, a

ampliação de capacidade), a privatização tem um efeito de "crowding-out " maior do que as

demais formas de financiamento do setor público.

41

Page 42: a privatização da British Telecom

3. A INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES

3.1. PANORAMA GERAL

As três últimas décadas do século XX estão sendo marcadas por uma fase de

transição da economia mundial, caracterizada por um processo de ajustamento nos setores

industriais da maioria dos países20, e pela expansão dos setores de serviços. Essa fase pode

ser interpretada com um período de consolidação de um novo padrão de desenvolvimento,

cujo núcleo mais dinâmico é constituído pelas "tecnologias da informação'.21 H Essas

tecnologias vem permitindo criar novos produtos, processos e formas de organização em

diversos setores da economia, bem como propiciando ganhos significativos de produtividade a

nível micro e macroeconômicos.

A nível macroeconômico, a formação de blocos regionais, a redução das

barreiras comerciais, a intensificação do fluxo de investimentos e a modernização dos

mercados financeiros vem exigindo infra-estruturas mais complexas de transmissão de

informações e tomando os usuários desses sistemas cada vez mais exigentes23. A maior

exigência é justificada pelo fato dessa infra-estrutura ter se tomado elemento essencial à

competitividade das empresas numa economia de mercados crescentemente globalizados.

20 Há uma crescente difusão de técnicas organizacionais japonesas ("Kanban", "Just in time", "Total

Quality Control (TQC)", "Total Quality Management (TQM)", entre outros), bem como de novos

princípios gerenciais e estratégias de concorrência que privilegiam a atenção ao cliente, grandes

investimentos em tecnologia e a formação de alianças com concorrentes, fornecedores e clientes.

21 Prates, L.R. (1992).

22 A "tecnologia da informação" engloba um conjunto de tecnologias utilizadas na coleta,

armazenamento, processamento e transmissão da informação, incluindo, voz, dados e imagens

23 "Customers are not making things any easier. Residential customers, often angry or frustrated

with their incumbent monopoly telcos, have exhibited little loyalty when credible alternative

providers have emerged. At corporate levei, Xerox and more than a dozen major European firms

have broken the mold by forming a US$ 1 billion buying consortium, EVUA, and demanding that

suplliers meet their advanced communication needs and reduce their tariffs" Breardsley &

Patsalos-Fox(1995).

42

Page 43: a privatização da British Telecom

No centro da nova "sociedade da informação" estão as indústrias de

telecomunicação e de informática, as quais convergem rapidamente tomando praticamente

inseparáveis as funções de transmissão e processamento de informações.

Em termos de investimentos, a nova realidade toma fundamental a

modernização das redes, com a incorporação de novas tecnologias microeletrônicas que

permitam o fornecimento de serviços de valor adicionado. Ao mesmo tempo, estimula o

crescimento dos investimentos por parle de fabricantes de equipamentos na pesquisa e

desenvolvimentos de novos meios eletrônicos de comunicação.

Esse movimento é particularmente visível nos países desenvolvidos. Nos

países subdesenvolvidos, entretanto, o desafio é muito maior, visto que esses países utilizam

redes de telecomunicações apoiadas em tecnologias obsoletas e inadequadas à intensidade e

diversidade do novo fluxo de informações. Além disso, grande parte da população não tem

acesso se quer aos serviços básicos. Exemplos importantes são a China (0,8 telefones/100

habitantes), a índia (0,5 telefones/100 habitantes) e a Indonésia (0,5 telefones/100 habitantes)

que combinadas detém 40% da população mundial, mas apenas 20 milhões dos telefones

instalados.24 Segundo estimativas de Ambrose, Hennermeyer & Chapon (1990), a

universalização dos serviços nessa região implicaria em triplicar a infra-estrutura de

telecomunicações existente no mundo hoje. Como destacado em Breardsley & Patsalos-Fox

(1995), uma simples ampliação do grau de penetração do sistema de telefonia básica a nível

mundial para 10 telefones/100 habitantes implicaria em investimentos da ordem de US$ 300

bilhões. M

24 Esse número é semelhante ao número de terminais instalados na Itália em 1990. Ressalte-se que

no caso italiano a densidade telefônica era 35 telefones/100 habitantes, segundo dados de

OCDE(1990).

25 "Some countries need to extend their basic telecomunications services and raise quality

standards to minimally acceptable leveis. Other have solid infraestruture already in place and can

focus on modemizing their network, providing leading-edge services, and boosting the

competitiveness of their providers to world-class standards. The vast majority of countries fali

into the first category. Of the 132 tracked by the Intemational Telecommunications Union (ITU),

more than 75 percent have only one telephone line per ten people." Breardsley & Patsalos-Fox

(1995).

43

Page 44: a privatização da British Telecom

A necessidade de adaptar as redes de telecomunicações às demandas dessa

nova "sociedade da informação" fizeram com que mudanças expressivas ocorressem na

estrutura da indústria de telecomunicações. Esse capítulo visa exatamente discutir essas

principais mudanças e serve de pano de fundo para que possamos entender melhor as

experiências de liberalização e privatização descritas nos capítulos seguintes, bem como tirar

possíveis lições para o caso brasileiro, onde nos próximos anos a indústria de

telecomunicações deverá passar por expressivas mudanças.

Ressalte-se que a grosso modo a indústria de telecomunicações apresenta

dois mercados distintos: 0) a prestação de serviços e (ii) o fornecimento de equipamentos.

Embora o presente capítulo mantenha essa divisão clássica, o recente movimento de fusões e

aquisições a nível mundial tem contribuído para eliminar as fronteiras existentes entre esse

dois mercados, existindo empresas prestadoras de serviços que atuam também como

fabricantes de equipamentos, bem como fabricantes de equipamentos que verticalizaram suas

atividades atuando na prestação de serviços, em especial de valor adicionado.

3.2. O MERCADO DF SERVIÇOS PE TELECOMUNICAÇÕES

Cabe mencionar que até o início da década de 70, os serviços de

telecomunicações tiveram muito pouco espaço na literatura econômica sobre sen/iços

públicos, situação que se alterou radicalmente desde então tendo esses serviços sido

crescentemente focalizados nos estudos sobre organização industrial. A principal causa dessa

mudança foram as modificações impostas à estrutura de oferta dos serviços de

telecomunicações.

As implicações das mudanças tecnológicas, institucionais e nos padrões de

demanda para o segmento de serviços de telecomunicações são bastante complexas. Durante

muito tempo, o grande volume de capitais exigidos na construção da infra-estrutura, a

presença de economias de escala e extemalidades e a prioridade dada a universalização dos

serviços telefônicos justificaram a idéia de que a indústria de serviços de telecomunicações

constituía um monopólio natural, corroborando a criação de proteções regulatórias e garantias

de exclusividade de mercado.

44

Page 45: a privatização da British Telecom

Paralelamente, os serviços se restringiam a uma gama bastante delimitada e

conhecida de produtos (telefonia básica fixa, telegrafia e telex) ofertadas a nível local,

interurbano e internacional. As tecnologias empregadas para a realização desses serviços

eram estáveis e bem difundidas. Além disso, os serviços de radiodifusão, como o rádio e a TV,

eram fornecidos através de infra-estrutura próprias, independente daquelas utilizadas para

ofertar os serviços de telefonia.

Não obstante, a evolução tecnológica (em especial, o surgimento da

tecnologias digitais de transmissão e comutação e a incorporação de recursos computacionais

às redes) reduziu, sobremaneira, os custos de transmissão e processamento de informações.

Essa redução permitiu o surgimento de novos ofertantes interessados em explorar serviços

específicos ("nichos"), notadamente os serviços de valor adicionado.

A entrada de novas firmas no mercado foi acompanhada de uma crescente

integração entre as indústrias de telecomunicações, informática, radiodifusão e

entretenimentos. Um exemplo são as operadoras de TV a cabo que passaram a utilizar suas

redes para ofertar, também, serviços de telefonia.

Além disso, a redução dos custos de construção das redes privadas permitiram

a difusão das redes corporativas intrafirmas e interfirmas, rompendo a fronteira que separava

os produtores e os usuários de serviços de telecomunicações. Essas redes servem a grandes

usuários, em especial empresas multinacionais, que em função de necessidades estratégias

e/ou incapacidade das operadoras públicas de atender suas demandas passaram a ter suas

próprias redes corporativas de comunicação.26

Desta forma, o mercado que se caracterizava por uma estrutura industrial

estável passou a apresentar maior instabilidade sendo intenso o processo de aquisições,

26 Recentemente, um grupo de empresas européias lideradas pela Xerox, Phillips e ICI contrataram

um consórcio liderados pela AT&T e pela British Telecom para desenvolver uma rede privada

transeuropéia. Gazeta Mercantil (11/11/94)

45

Page 46: a privatização da British Telecom

fusões e associações. Por outro lado, elevou-se o grau de competição a que as operadoras

estavam expostas.

As mudanças ocorridas na estrutura de oferta (concorrência) e nos próprios

serviços implicaram na alteração dos mecanismos regulatórios. Note-se que a dupla

convergência tecnológica, entre a indústria de serviços de telecomunicações e de informática

de um lado, e de radiodifusão do outro havia não apenas ampliado a gama de serviços que

poderiam ser prestados através de uma mesma rede, mas também propiciado o surgimento

de serviços híbridos, que derrubavam as classificações tradicionalmente estabelecidas e

fugiam às regulamentações vigentes. a m

Ressalte-se, ainda, que a crescente competição nos serviços de valor

adicionado e nas rotas mais lucrativas dos serviços tradicionais (interurbanos/ligações

internacionais) erodiram o modelo tarifário baseado em subsídios cruzados. Esse modelo

originou-se da necessidade de universalizar os serviços de telefonia, e baseava-se na

premissa de que os serviços de valor adicionado deveriam subsidiar os serviços básicos

(telefonia local, instalação de terminais e telefonia pública). Note-se que a falência desse

modelo ocorreu num momento em que a maior parte dos países desenvolvidos (da OCDE) já

haviam cumprido a meta de universalização dos serviços telefônicos básicos, estando a oferta

de serviços mais voltada ao atendimento do segmento não residencial, isto é ao crescimento

(e diversificação) da oferta de serviços para o segmento empresarial. Essa situação era

27 Além disso, as operadoras de serviços de valor adicionado necessitavam ter acesso às redes

básicas de telecomunicações, a regulamentação desse acesso era fundamental para que práticas

anticompetitivas por parte da operadoras de serviços tradicionais fossem evitadas.

28 "A recent survey of eletronics industry CEOs points to advanced telecommunications as the most

promissing technology for eletronics innovation in near future, suggesting that the era of isolated

computers and standard telephone service will soon come to an end. For example, personal

computers, television receivers and telephone lines can combined into a multi-propose terminal,

which would become a gateway to wealth of information tecnology and services. Tehey range

from home shopping and entertainment to "telecommuting"functions, i.e., a home-based

wokrstation connected to an office or factory. The technology for these and many other forms of

linking computers and communications already exits; the obstacles for their widespread use are

mostly organizational and institutional." Quandt & Whiting (1992).

46

Page 47: a privatização da British Telecom

radicalmente oposta à existente nos países subdesenvolvidos, como já mencionado na seção

anterior.

As modificações político-institucionais não foram de menor monta.

Impulsionada pelo ressurgimento das idéias liberais a partir de meados da década de 70,

houve um crescente questionamento quanto ao desempenho e à eficiência dos tradicionais

operadores de serviços de telecomunicações. Os caso mais expressivos sâo os que resultaram

no desmembramento da AT&T (nos EUA) e na privatização da British Telecom (na Inglaterra)

no início da década de 80.29

A redução da participação do Estado na indústria foi flagrante nas décadas de

80 e 90. Nesse período, cerca de 20 países transferiram a responsabilidade dos serviços de

telecomunicações para o setor privado, tendo as vendas totalizado cerca de US$ 123 bilhões,

como detalhado no quadro a seguir:

TABELA 3.1

SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES

PRINCIPAIS PRIVATIZAÇÕES

Empresa

NTT

British Telecom

Telmex

VSNL

KPN

ENTEL

Telecom

TCNZ

Telecom

Várias

Pais

Japão

Inglaterra

México

índia

Holanda

Argentina

Cingapura

Nova Zelândia

Dinamarca

Resto do Mundo

Valor

(USJbíthões)

70,1

21,7

5,9

4,2

4,0

3,3

2,7

2,4

2,9

5,7

Fonte. Beardsley & Patsalos-Fox (1995)

29 Esses dois casos serviram de modelo para movimentos de liberalização e privatização ocorridos

em diversos outros países.

47

Page 48: a privatização da British Telecom

Há, ainda, compromissos de privatizar as operadoras públicas na Franca

(France Telecom), na Alemanha (Deutche Telekom) e na Espanha (Telefônica). Note-se que

nesse países a transferência de controle das empresas vem enfrentando maiores

resistências.30 3132

Nos países subdesenvolvidos, a decisão de privatizar as operadoras decorrem

não apenas das dificuldades financeiras do Estado em realizar os investimentos necessários à

adequação das redes, mas também do fato de que as receitas arrecadadas com a venda

dessas empresas são muito elevadas, e oferecem importante contribuição para restruturação

das finanças públicas. Do ponto de vista dos usuários, a privatização conta em geral com

grande aceitação visto que as operadoras públicas desses países apresentam indicadores de

qualidade muito precários, e em muitos casos, a lista de espera para obtenção de telefones

supera dez anos, o que ratifica a falha dessas empresas em promover a universalização dos

serviços.

Cabe ressaltar, ainda, que o avanço da tecnologia trouxe importantes

alterações na estrutura de custos das firmas, notadamente um substancial aumento dos gastos

em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que implicaram na necessidade de expansão dos

mercados para permitir a diluição desses custos.33 Essa necessidade levou a um movimento

estratégico de alianças e de globalização da indústria de telecomunicações, cujas

características marcantes são: (i) a crescente integração entre fornecedores de

30 Particularmente, a venda da Telefônica e da France Telecom terão impactos sobre a indústria de

telecomunicações latino-americansas visto que essas empresas participam acionariamente de

diversas operadoras em especial, a TELMEX (México), a ENTEL (Argentina) e a CTC (Chile).

31 Há muitas críticas ao fato de empresas estatais européias terem adquirido em leilões de

privatização operadoras telefônicas latino-americanas. Esses questionamentos baseiam-se no

fato de que os problemas de monitoramento e ineficiencias decorrentes da propriedade estatal

permaneceriam inalterados.

32A União Européia determinou a desregulamentação dos serviços básicos até 1998.

33 A Bell Atlantic , por exemplo, tem investimentos de US$ 2,5 bilhões fora dos EUA, e sua rede de

telefonia celular no exterior atende a uma população duas vezes e meia maior do que o sistema

por ela operado nos EUA. Gazeta Mercantil 11/11/94.

48

Page 49: a privatização da British Telecom

teleequipamentos e prestadoras de serviços, através da formação de alianças; (ii) o aumento

da concentração em escala internacional; (iii) a mudança na estratégia das operadoras

públicas, passando de provedoras de serviços básicos a fornecedora de serviços de valor

adicionado, isoladamente ou através de parcerias, (iv) a entrada na indústria de firmas com

experiência no gerenciamento de redes, tais como companhias de distribuição de água e de

energia elétrica.34

A indústria vem evoluindo de uma estrutura baseada em empresas nacionais

para a criação de uma grande rede mundial (um espécie de "superestrada da informação").

Esse mercado vem sendo formado por empresas operadoras de telecomunicações (como

MCI, AT&T, British Telecom, Mercury, France Télécom, etc), as fornecedoras de

equipamentos (AT&T, Siemens, Alcatel, NEC, entre outras), as provedoras de energia elétrica,

a indústria de eletroeletrônicos (Sony, Matsushita, Phillips), as empresas de computação (IBM,

Intel, Microsoft, Oracle, HP) e empresas de entretenimento (Time Wamer, TCI).

São exemplos da política de alianças a compra pela France Télécom e pela

Deutsche Telekom de cerca de 20% da operadora norte-americana Sprint, a recente aquisição

pela British Telecom de 30% da também norte americana MCI, e a formação da Worid

Partners, uma aliança que incluí a AT&T (EUA), a KDD (Japão), as operadoras de telefonia

básica de Cingapura, Nova Zelândia e Hong Kong, a Telstra (Austrália) e a Unisource (aliança

entre operadoras dos países escandinavos). Outro movimento importante, é a aquisição por

34 Na Inglaterra, a companhia de energia elétrica instalou linhas telefônicas entre seus postes

criando a terceira maior rede de telefonia de longa distância do país. Gazeta Mercantil, 11/11/94.

35 Muitas empresas com atuação em diversos setores da economia vem investindo em na oferta de

serviços de telecomunicações. Um exemplo é a Mannesmann AG., tradicional fabricante de

produtos siderúrgicos, que com a liberalização do mercado alemão de telefonia celular iniciou a

operação destes serviços em associação com a norte-americana Airtouch Communications

Corp., através da Mobilfunk. A divisão de telefonia celular da Mannesmann contribuiu, em 1994,

com 6% da receita do grupo e 35% dos lucros auferidos. Recentemente, a Mannesmann formou

uma associação com o Deutsche Bank para operar na área de telefonia privada. Gazeta Mercantil,

09/03A5.

49

Page 50: a privatização da British Telecom

operadoras européias e norte-americanas de empresas privatizadas na América Latina e

Ásia.36

Em síntese, as principais mudanças experimentadas pela indústria de serviços

de telecomunicações estão listadas no quadro a seguir:

TABELA 3.2

SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES

MUDANÇAS ESTRUTURAIS

DÉCADA 70

• Tecnologia eletromecânica

• Reduzido "mix" de serviços (telefonia básica

fixa, telegrafia e telex).

. Estabilidade da estrutura industrial (presença

de monopólios institucionais)

• Forte presença do Estado

. Modelo tarifário baseado em subsídios

cruzados.

DÉCADAS 80/90

• Tecnologia digital

. Grande número de novos produtos, que

envolvem não apenas a transmissão de voz,

mas também de dados e imagens, tais como o

acesso à bancos de dados eletrônicos,

transações financeiras, vídeo-texto, video

conferência, telefonia celular, "paging", entre

outros.

. Instabilidade na estrutura industrial. Grande

número de fusões e aquisições, ligação mais

estreita entre empresas de telecomunicações,

de informática e de entretenimento. Mais

recentemente movimentos de cisão de

empresas, como o ocorrido com a AT&T nesse

ano.

• Privatização e modificação nos mecanismos

regulatórios.

• Redução dos subsídios cruzados

36 Há um intenso movimento de aquisições e associações também nos países desenvolvidos

Alguns exemplos são (i) a compra pela NTT da NEXTEL (operadora de telefonia celular nos EUA)

(ii) a compra da McCaw Cellular Communications, a maior empresa de telefonia celular dos EUA,

pela AT&T (iíi) a compra pela Telecom Denamark de participação acionária em operdoras

húngaras

50

Page 51: a privatização da British Telecom

Em 1993, o faturamento da indústria de serviços de telecomunicações

totalizou cerca de US$ 455 bilhões, e apresentou um crescimento de 2,2% em relação ao

faturamento do ano anterior. A telefonia básica foi, ainda, o serviço mais representativo

respondendo por 82% do faturamento das operadoras. Em seguida, estavam os serviços de

comunicação de dados (7%) e de telefonia móvel (6%).

Os serviços de telefonia celular, entretanto, apresentam a maior taxa de

crescimento. O número de telefones celulares cresceu, em 1993, 47% em relação a 1992, ao

passo que as linhas convencionais cresceram apenas 5%,37 apesar do aumento da instalação

de telefones tradicionais em países como a China.38

O tráfego internacional de telefonia e dados cresceu 9,3%, em 1993,

totalizando cerca de 47 bilhões de minutos de ligações e transmissão de dados, contra 43

bilhões em 1992, 38 bilhões em 1991, 33 bilhões em 1990 e 13 bilhões em 1983. A nível

mundial, o tráfego estava dividido da seguinte forma:

37 Dos cerca de 641 milhões de telefones instalados em todo o mundo cerca de 34 milhões (5,3%)

são telefones celulares (Gazeta Mercantil, 10/11/94).

38 Segundo dados da International Telecomunication Union (ONU), a China contribuiu com um

quinto dos telefones fixos instalados no mundo em 1993. (Gazeta Mercantil, 10/11/94).

51

Page 52: a privatização da British Telecom

GRAFICO 3.3

TRÁFEGO INTERNACIONAL DE TELEFONIA

1993

Oceania e

ÁfricaAmérica Latina 4%

5%

Fonte: IE/CAMPINAS (1994)

Note-se que apesar da crescente globalização e competição nos serviços de

telecomunicação, a indústria apresenta-se fortemente concentrada. As vinte maiores

operadoras internacionais representavam, em 1993, cerca de 77% do faturamento da indústria,

como podemos constatar na tabela a seguir:

52

Page 53: a privatização da British Telecom

TABELA 3.4

VINTE MAIORES OPERADORAS

PÚBLICAS DE TELECOMUNICAÇÕES -1993

FATURAMENTO ANUAL- US$ milhões

Empresa

NTT

AT&T

Deutche Telekon

France Télécom

British Telecom

GTE

Belisouth

SIP

Nynex

Bell Atlantic

MCl

Ameritech

Sprint

SW Bell

US West

Telefônica

Pacific Telesis

Telstra

Telmex

Telebrás

Origem

apão

EUA

Alemanha

Franca

UK

EUA

EUA

tália

EUA

EUA

EUA

EUA

EUA

EUA

EUA

Espanha

EUA

Austrália

México

Brasil

Receita com serviços

de telecomunicações

60.185

39.683

35.679

22.426

20.539

17.266

15.880

14.872

13.408

12.535

11.921

11.710

11.368

10.690

10.294

9.588

9.244

8.608

7.212

6.962

Fonte. UTI

Extraído de Gazeta Mercantil, 10/11 /94

3.3O MERCADO HE EQUIPAMFNTOS DE TEI FCOMUNICACÕES

Os equipamentos de telecomunicação são segmentados, segundo a função

desempenhada na rede de telecomunicação da seguinte forma:

TABELA 3.5

PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

Equipamento

Comutação

Transmissão

Terminais

Exemptos

Centrais locais, regionais, de trânsito, PABX,

"Key-Systems".

Transcepetores VHF/UHF, muttiplexadores,

"modens".

Telefones individuais, públicos, celulares, fac-

símile, "pagers".

53

Page 54: a privatização da British Telecom

Com relação ao comprador, os equipamentos de telecomunicação podem ser

divididos em dois segmentos básicos: os equipamentos de rede e os equipamentos destinados

ao mercado consumidor.

Os equipamentos de rede destinam-se, principalmente, às funções de

comutação e transmissão39, tendo como mercado consumidor as operadoras de rede. Trata-

se de pedidos sob encomenda (ciclo de produção longo entre 1 a 2 anos) que demandam

grande parceria entre a encomendante (operadora) e o fabricante. Em condições normais, o

preço é variável secundária no processo de decisão de compra, sendo mais importante a

compatibilidade do equipamento adquirido com estrutura já instalada, a facilidade de

gerenciamento da rede e a capacidade de ofertar novos serviços. Em termos mundiais, esse

segmento representa aproximadamente 70% das vendas de equipamentos.

Os equipamentos destinados ao mercado consumidor englobam os segmentos

de aparelhos telefônicos convencionais, celulares, fax, terminais de videotexto, entre outros. O

potencial de crescimento desse mercado é alto, devido de um lado às novas aplicações e

serviços oferecidos pelas operadoras e, de outro lado, pelas crescentes necessidades de

comunicação e de transmissão de dados nas grandes empresas, sistema financeiro e

atividades de serviços em geral. O preço, balizado pelo desempenho e pela qualidade do

produto, é o elemento central da concorrência nesse mercado.

O mercado mundial de equipamentos de telecomunicações apresentou, em

1993, um faturamento de cerca de US$ 120 bilhões. A taxa média anual de crescimento

desse mercado, no período 1982/92, foi de cerca de 8,1%, sendo que nos segmentos mais

dinâmicos (telefonia celular, comunicações por satélites, redes privadas, comunicações óticas

e transmissão de dados) essa taxa situou-se no patamar de 20% ao ano40. Ressalte-se que o

elevado potencial de crescimento desse mercado está fortemente relacionado ao avanço

39 Podem incluir, também, equipamentos terminais, como por exemplo, os telefones públicos.

40 IE/UNICAMP(1993).

54

Page 55: a privatização da British Telecom

tecnológico ocorrido nos últimos anos nas áreas de microeletrônica, ótica e satélites, bem

como a crescente integração entre as indústrias de telecomunicações e informática.

Em termos de distribuição geográfica, os mercados mais importantes estão

situados na América do Norte, Ásia e Europa, conforme ilustrado no gráfico a seguir:41

GRÁFICO 3.6

MERCADO DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

1992

Oceania e África

2%

América Latina

3%

Europa

23%

América do Norte

41%

FonteiArthur D. little

Extraído de lE/Campinas (1993).

41 "Exports have been relatively unimportant in the overall structure of telecomunication equipment

(TE) industry, due to its typical pattem of national firms serving national markets. With a few

exceptions, trade barriers have led to preference for foreign direct investiment instead of exports

The majority of the leading firms are transnational corporations with subsidiaries in the principal

national markets worldwide.For example, the foreign subsdiaries of Ericsson - which has a small

home market in Sweden - were responsible for 85% of its sales of telecomunications products in

1980. Other TE markets such as Siemens and GTE, despite their large home markets, expanded

greatly their foreign operations since the 1970s due to international competitive pressures. Their

shares of foreign sales were 51% and 39% respectively in 1980. Conversely, the Franch

companies CGE and Thomson have concentrated their sales in domestic market. "Quantd &

Whiting(1992)

55

Page 56: a privatização da British Telecom

Os mercados da América Latina, Oceania e África são, ainda, pouco

representativos. Contudo, esses mercados apresentam potencial de crescimento elevado, em

especial se retomados os investimentos necessários a melhoria e ampliação das redes.

Em termos de estrutura industrial, observa-se uma grande concentração a

nível mundial. As quinze maiores empresas produtoras de equipamentos respondem por

81,3% das vendas a n/vel mundial, totalizando um faturamento de US$ 97,5 bilhões, como

destacado no quadro a seguir:42

TABELA 3.7

QUINZE MAIORES FABRICANTES

DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

1993

FATURAMENTO ANUAL - US$ milhões

Empresa

ALCATEL

Siemens

AT&T

Motorola

NEC

Northern Telecom

Ericsson

Bosch

Fujitsu

Phillips

GM Hugles

Matsushita

Nakla

Toshiba

ttaitel

Origem

Franca

Alemanha

EUA

EUA

Japão

Canadá

Suécia

Alemanha

Japão

Holanda

USA

Japão

Filândia

Japão

Itália

Faturamento Anual

com Equipamentos de Telecomunicações

US$ milhões

17.351

11.986

11.783

10.070

8.714

7.861

7.813

4.718

4.388

3.333

2.178

2.013

1.907

1.709

1.673

% do faturamento total

89%

24%

18%

59%

27%

96%

97%

24%

16%

11%

16%

44%

46%

4%

100%

Fonte: Internacional Tetecomunication Union/ONU.

Extraído de Gazeta Mercantil, 10/11/94.

42 "The leading firms have remained virtually the same in recent years, with few changes in their

relative positions. There have been some notable newcomers into the top ten telecommunications

equipments producers, such as Motorola (1981) and IBM (1983)."Quandt & Whiting (1992).

Ressalte-se que a IBM se retirou da industria em 1989, com a venda de sua participação na

ROHM (fabricante de centrais privadas) para a SIEMENS.

56

Page 57: a privatização da British Telecom

A internacionalização da produção de equipamentos de telecomunicações é

antiga. Recentemente, entretanto, a necessidade de conquista de parcelas expressivas de

mercados para diluir os custos crescentes de P&D43 e a transferência da produção de

equipamentos terminais e componentes para países com níveis salariais e/ou custos de

44

produção mais baixos, como os países asiáticos, intensificou o processo.

As grandes empresas têm partido para a abertura de subsidiárias, sobretudo

nos países cujos mercados são expressivos. Há, ainda, inúmeros exemplos a nível mundial,

de movimentos de aquisição, fusões, "joint-ventures" e acordos de cooperação tecnológica ou

comercial, entre empresas da indústria de equipamentos de telecomunicação e outras

empresas do complexo eletrônico. Tem sido freqüentes, também, os movimento de integração

vertical, como a compra de empresas da área de microeletrônica e semicondutores. A tabela a

seguir lista alguns movimentos de fusões, aquisições e associações ocorridas nesse mercado

no período 1983 a 1990:

43 A tecnologia da produção, simplificou enormemente as etapas de montagem dos equipamentos

ao mesmo tempo em que impôs maior complexidade nas etapas de projeto e desenvolvimento de

produto.

44 A própria vida útil dos equipamentos vem se reduzindo devido à velocidade das inovações

tecnológicas.

57

Page 58: a privatização da British Telecom

TABELA 3.8

EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

AQUISIÇÕES, JOINT VENTURES E ASSOCIAÇÕES

JOINT VENTURES

Ano

1983

1984

1986

1989

1990

AQUISIÇÕES

Ano

1985

1986

1988

1989

1990

ASSOCIAÇÕES

Ano

1987

1989

1990

Fonte:IE/Campinas

Empresas

AT&T (EUA)

PHILLPS (Holanda)

AT&T(EUA)

Goldstar (Coréia)

Coming (EUA)

Siemens (Alemanha)

General Eletrics (EUA)

Ericsson (Suécia)

BM (EUA)

Siemens (Alemanha)

AT&T (EUA)

tattel (Itália)

Mercado

Equipamentos para redes de transmissão

Equipamentos para transmissão por fibra ótica

Equipamentos para transmissão por fibra ótica

Equipamentos para transmissão celular

Distribuição de PABX

Equipamentos para redes de transmissão

Empresas

Comprador: Ptessey/lnglaterra

VendedorStromberg-Carlson/EUA

Comprador: Siemens/Alemanha

Vendedor: GTE/EUA

Comprador: AT&T

Vendedor: GTE/EUA

Comprador: British Telecom/lnglaterra

Vendedor: Mitel/Canadá

Comprador: GEC/Inglaterra

Vendedor: Ptessey/lnglaterra

Comprador: Siemens/Alemanha

Vendedor: IBM ROLM/EUA

Comprador: NorthernTelecon/Canadá

Vendedor: STC/Inglatera

Produto

Equipamentos para transmissões rurais

Operações na rede européia

Operações na rede norte-americana

Equipamentos de PABX

Equipamentos e Operações em redes de

comunicação

Equipamentos de PABX

Equipamentos para transmissão e rede

Empresas

ITT (EUA) adquiriu 37% da Alcatel NV

(Holanda)

Siemens (Alemanha) adquinu 40%

GEC-Ptessey (Inglaterra)

AT&T (EUA) adquiriu 20% da Itatel

(Itália)

Itatel (Itália) adquiriu 19,5% da AT&T

NSI (Holanda)

Alcatel NV (Holanda) adquiriu 78% da

Telettra (Itália)

Fujitsu Ltd (Japão) adquiriu 75% da

Futcrum Comunications (Inglaterra)

Produto

Equipamentos para terminais e redes

Equipamentos para terminais e redes

Equipamentos para terminais e redes

Equipamentos para terminais e redes

Equipamentos para terminais e redes

Equipamentos para terminais e redes

(1993)

58

Page 59: a privatização da British Telecom

os

- operadoras fabrtcan.es e

*«*,«„.

zrrrrrrr i

mey

* " Oí'erad<"as

59

Page 60: a privatização da British Telecom

4. A EXPERIÊNCIA NORTE-AMERICANA

4.1 ANTECEDENTES

Embora a experiência norte-americana não tenha sido propriamente de

privatização, visto que a indústria de telecomunicações nesse país sempre foi composta de

empresas privadas, o desmebramento da American Telephone and Telegraph - AT&T foi

um marco importante nas reformas ocorridas na indústria de telecomunicações a nível mundial

nas últimas duas décadas. Muitas das restrições regulatórias implantadas no caso AT&T

foram copiadas em outros países e contribuíram para acirrar o debate acerca das vantagens

de tomar a indústria de telecomunicações mais competitiva.

O desmenbramento da AT&T marcou o fim de uma era na qual a empresa

dominou monopolisticamente todos os serviços de telefonia no país. Durante esse período, a

AT&T parecia caminhar num "fio de navalha", levantando elogios e críticas de usuários,

fornecedores e competidores (potenciais e efetivos). Aos poucos, entretanto, a AT&T se

converteu na evidência mais contundente de que a simples transferência da indústria de

telecomunicações para o setor privado não cria um mercado competitivo per si.

A AT&T tem sua origem na Bell Telephone Company, empresa fundada por

Alexander Graham Bell em 187747. A patente básica transferida a empresa quando da sua

46 "Mudanças de tal magnitude não são simplemente um resultado de alterações de práticas

políticas ou brisas ideológicas, mas também a conseqüência de avanços radicais na tecnologia e

na economia. Os custos de transmissão de mensagens de longa distância, através de satélites e

microondas, declinou severamente. A ascensão do computador, a convergência tecnológica entre

a indústria de informática e telecomunicações, a transmissão de voz e imagens, a explosão da

necessidade de informações, tudo desempenhou um papel muito mais profundo do que a política

governamental, que obrigando a reestruturação do serviço telefônico...Estamos testemunhando

a mais rápida, complexa e ampla reestruturação empresarial da história moderna. Nenhuma

empresa sofreu um processo de reestruturação tão complexo quanto a AT&T. Toffler (1985).

47 "In 1875, Alexander Graham Bell filed his patent on the telephone only hours before Elisa gray

filed a competing claim. This stroke of luck ultimately prevented Western Union, which purchased

60

Page 61: a privatização da British Telecom

fundação expirou em 1894, tendo nos anos subsequentes sido criadas companhias telefônicas

independentes, as quais chegaram a atender metade dos assinantes norte-americanos.

A AT&T, entretanto, recuperou o domínio da indústria a partir de 1907,

mediante um agressivo programa de aquisições. Esse programa redeu a empresa o seu

primeiro processo "anti-truste" em 1913, quando a AT&T finalmente concordou em interroper a

as aquisições.48 Ressalte-se que a AT&T passou ilesa pelas ameaças de nacionalização

ocorridas durante a 1a Guerra Mundial (período em que a maior parte das operadoras

européias foram nacionalizadas)49, e chegou ao anos 20 controlando 64% das linhas em

serviço no país. Finalmente, em 1921, o "Willis-Graham Act" permitiu que a AT&T volta-se a

adquirir empresas menores e que não apresentassem condições tecnico-gerenciais de prestar

os serviços.

Entre 1920 a 1960, a AT&T viveu um momento de relativa tranqüilidade sendo

suas atividades pouco fiscalizadas pelos organismos de regulação norte-americanos. A idéia

de que a indústria constituia-se um 'monopólio natural" e de que a AT&T cumpria bem seu

papel de provedora serviços telefônicos era um consenso. Os poucos questionamentos

existentes centravam-se na Westem Eletric, divisão produtora de equipamentos e principal

fornecedora da AT&T. Foram desenvolvidos vários processos judiciais para que a AT&T fosse

obrigada a se desfazer desta divisão, entretanto, para poder manter o controle de sua divisão

Gray's patents, from controlling the telephone system as well as the telegraph system" Evans

(1983).

48 "AT&T had pioneered the development of long-distnance technology, and it used its patents in this

field to control the interexchange (long distance) business. In the earty part of this century, AT&T

used its long distance monopoly as leverage to acquire competitive local exchange companies.

Without access to a long distance service, the independent local companies found it difficult to

compete and to resist AT&T offers to acquire them." Crandall (1991).

49 O Governo interviu na empresa apenas em 1918, tendo os resultados sido tão desapontantes que

ela retorno a administração privado no ano seguinte.

50 Em 1934, o "Communications Acf marcou o início da regulação federal da indústria através da

criação da Federal Communication Commission (FCC).

61

Page 62: a privatização da British Telecom

de equipamentos a AT&T assinou acordo com governo norte-americano, em 1956, no qual

abria mão de ofertar serviços de valor adicionado (não regulamentados) .

No início dos anos 60, os problemas se avolumaram e diversas empresas

decidiram romper a barreira imposta pela AT&T e investir na indústria de telecomunicações,

em especial no segmento de redes privadas. Entre essas empresas se destacou a Microwave

Communications Inc. (MCI) cujo projeto original era criar uma rede privada entre Chicago e

St.Louis.5253

A AT&T reagiu agressivamente a entrada dos novos competidores, dificultando

a interligação das novas redes à sua rede básica. Os resultados desse confronto direto entre

as firmas entrantes e a AT&T foram parcialmente solucionandos pela "The 1968 Carterfone

Decision" e pela "The 1971 Spedalized Common Carriers Deósiorí" que obrigavam a AT&T a

oferecer conexão aos novos competidores na sua rede básica, permitindo assim a competição

no segmento de redes privadas.54

51 Esse acordo não foi positivo para a AT&T, uma vez que a empresa teve de se afastar dos

mercados mais lucrativos e de maior potencial de crescimento. Essa situação que só foi revista

em 1982

52 Como destacado em Toffler 1985, até 1960 a AT&T tinha uma missão clara: a universalização

dos serviços Era um objetivo claro, plausível e estimultante. Contudo, no início da década de

60, o grau de penetração da rede já era satisfatório, a empresa enfrentava assim um grande

desafio de reconceituar sua missão (redefinir um novo objetivo).Essa dificuldade em redefinir a

estratégia da empresa advinha da própria dificuldade de seus executivos em lidar com as

mudanças na indústria. As convicções básicas que tornaram a AT&T um sucesso haviam sido

formuladas por Theodore Vail, seu "chaírman" entre 1907 e 1919. As idéias de Vail acabaram se

tornando dogmáticas. Gerações de executivos da AT&T foram criados com elas, aceitando-as

porque pareciam óbvias demais para serem discutidas.

53 A tecnologia havia mudado, as necessidades crescido, muitos grupos empresariais estavam

agora lutando para entrar na indústria e pressionando o governo norte-americano a limitar o

poder de mercado da AT&T. A reação imediata da AT&T, entretanto, foi atacar essa pressão

competitiva tal qual sempre fizera no passado.

54 "In the space of four years, the FCC unleashed competition into the markets for terminal

equipment and intercity private line service. AT&T faced its most serious competitve challenge in

50 years "Evans (1983).

62

Page 63: a privatização da British Telecom

Contudo, a reação agressiva e anticompetitiva da AT&T para com os

concorrentes motivou o processo "anti-truste" iniciado em 1974. Esse processo se arrastou por

oito anos tendo seu desfecho em janeiro/82, quando a AT&T foi obrigada a se desfazer de

suas operadoras locais até setembro/84. Em contrapartida, a AT&T ficou livre das restrições

impostas em 1956, podendo passar a operar os serviços de valor adicionado (transmissão de

dados, telefonia celular, entre outros).

Ressalte-se que à época de seu desmbramento, a AT&T era controlada por

3,1 milhões de acionistas, regulamentada e fiscalizada pelos governos federal, estadual e

local. Ao contrário de muitos outros sistemas telefônicos no mundo, não tinha responsabilidade

sobre serviços postais. Contava com 976 mil empregados, controlava redes locais e

interurbanas, fabricava seus próprios equipamentos e operava o mais avaçado laboratório de

pesquisa da indústria de telecomunicações - o Bell Laboratories.

4.2 O DESMEMBRAMENTO DA AT&T

Com o desmenbramento, a AT&T perdeu suas vinte e duas operadoras locais,

as quais foram agrupadas em sete empresas regionais, as Regional BeH Holding Companies

(RBHCs)55, como detalhado no diagrama a seguir:

55 Eram popularmente conhecidas como "Baby Bells".

63

Page 64: a privatização da British Telecom

FIGURA 4.1

REGIONAL BELL HOLDING COMPANIES

USWEST

Mountain Bell

Northwestem Bell

Pacific Northwestem Bell

PACIFIC TELESIS

Nevada Bell

Pacific Tetephone

BELLSOUTH

Southem Bell

South Central Bell

NYNEX

New England Telephone

New York Telephone

AMERITECH

Ohio Bell

Indiana Bell

Michigan Bell

lllionois Bell

Wisconsin Telephone

SOUTHWESTERN BELL BELL ATLANTIC

New Jersey Bell

Bell of Pennsylvania

Diamond State Telephone

Chesapeake and Potomac

Telephone Company

As RBHCs foram proibidas de operar os serviços de longa distância e de

produzir equipamentos de telecomunicação, ao passo que a AT&T foi afastada da operação de

serviços locais. Em contrapartida, a AT&T manteve-se como fabricante de equipamentos

(através da Westem Eletric, depois renomeada de AT&T Network Systems), bem como foi

liberada das restrições legais que a impediam de competir nos serviços de valor agregado.

Como destacado em Vickers and Yarrow (1988):

"American potícy to combat the danger of anticompetitive behaviour by an

integreated dominant firm has therefore been one of vertical separation.

Being under separate ownership, the tocai network operators have less

incentive to favor any particular long-distance carrier. AT&T and the Baby

Bells are confined to separate spheres - tong distance services and

64

Page 65: a privatização da British Telecom

equípment manufacturing on the one hand, and local networks on the other

- and incentives to distort competition are lessned"

Em setembro/84, as RBHCs detinham em conjunto cerca de 80% das linhas

instaladas no país, suas principais concorrentes eram a GTE e a United Telecommunications.

O quadro a seguir lista as dez maiores operadoras locais norte-americanas e seus respectivos

faturamentos anuais:

TABELA 4.2

FATURAMENTO ANUAL DAS OPERADORAS

LOCAIS NORTE AMERICANAS

1984

Empresa

NYNEXl'

Bell Southn

Ameritech1'

Bell Atlantic1"'

GTE

Pacific Telesisn

Southwestern Belln

US Westn

United Telecommunications

Continental Telecom

Faturamento Anua)

<US$ bilhões)

10,7

10,5

8,9

8,7

8,4

7,9

7,9

7,6

1,9

1,9

Fonte: Davidson, D.L. (1984)

nRBHCs

Há ainda mais de 1500 operadoras locais de pequeno porte

muitas das quais com menos de mil linas em serviço.

Por outro lado, a AT&T tinha pleno domínio sobre os serviços de longa

distância, controlando cerca de 92% desses serviços. Suas principais concorrentes eram a

MCI Communications (4%), a GTE/Sprint (2%) e a ITT (0,5%). Após o desmenbramento, a

AT&T redirecionou suas atividades passando a investir nos segmentos de serviços de valor

adicionado^.Por outro lado, a crescente competição nos segmentos de longa distância

fizeram a empresa perder participação de mercado, Em 1993, a AT&T era responsável por

cerca de 66% das ligações de longa distância.

56 Um exemplo marcante é a compra da McCaw Cellular Communications Co. em 1993 por cerca

de US$ 12,6 bilhões.

65

Page 66: a privatização da British Telecom

Devido às restrições legais que impedem as RBHCs de competir nos

segmentos de longa distância e equipamentos, essas empresas passaram a investir nos

segmento de serviços de valor adicionado, o principal alvo foi a telefonia celular. Note-se que

todas as RBHCs e a GTE/Contel operam serviços de telefonia celular por todo o país.

Há, ainda, grande relação comerciai entre a AT&T e as RBHCs. Ressalte-se

que cerca de 20% das receitas das RBHCs provem de "access fees" pagos pela AT&T para ter

acesso à rede local de suas ex-operadoras. Ademais, a AT&T continua sendo uma importante

fornecedora de equipamentos das RBHCs.

Outro impacto importante ocorreu nas atividades de pesquisa e

desenvolvimento. Ressalte-se que os Bell Laboratories eram mantidos através de um fundo

constituído por contribuições das operadoras locais, após o desmenbramento esses

laboratórios de pesquisa passaram a ser integralmente financiados pela AT&T. Paralelamente,

as RBHCs contituiram um novo órgão de pesquisa, a Bell Communications Research

(BELLCORE). Do ponto de vista da indústria como um todo, Crandall (1991) destaca que os

investimentos de P&D aumentaram significativamente tendo as atividade de pesquisa se

tomado mais objetivas e voltadas a resultados comerciais.

Em termos de regulação, a Federal Communication Commission (FCC) é

responsável pelas operadora públicas que prestam serviços entre os estados, ao passo que os

órgãos reguladores estaduais (Public Utility Commissions PUCs) atuam sobre os serviços de

comunicação a nível estadual. 57Até 1987, a AT&T teve suas tarifas reguladas com base numa

taxa de retomo mínima, a partir de então foi introduzido um modelo de "price caps" semelhante

ao utilizado no caso da British Telecom.

4.3 PERFORMANCE DA INDÚSTRIA NOS ANOS 90

Segundo o Departamento de Comércio, a indústria norte-americana de

serviços de telecomunicações apresentou, em 1994, um faturamento de cerca de US$ 193

57 A FCC intervém, ainda, o uso de freqüência de rádio.

66

Page 67: a privatização da British Telecom

bilhões. Essa indústria reunia cerca de 2.000 empresas e empregava, aproximadamente, 875

mil pessoas, atendendo um total de 90 milhões residências e 25 milhões de estabelecimentos

comerciais.

Os serviços locais eram providos por cerca de 1.325 operadoras, incluídas as

sete RBHCs, as empresas de propriedade da GTE e da Sprint (United telecom e Centel) e as

operadoras independentes. Os serviços de longa distância eram providos peta AT&T, pela

MCI, pela Sprint, pela Wiltel, pela Metromédia Communications, pela Litel

Telecommunications, pela Allnet, e por mais de 475 pequenas operadoras. Note-se que a

AT&T, a MCI e a Sprint eram, em conjunto, responsáveis por cerca de 86% do faturamento

desse mercado.

Durante os últimos anos, os preços médios das ligações telefônicas locais

cresceram abaixo da inflação. Em 1992, por exemplo, o índice de preços ao consumidor

registrou uma alta de 2,9%, ao passo as ligações locais sofreram acréscimo de apenas 0,5%.

As ligações interestaduais e intraestaduais sofreram uma alta de 1,3% e 2,4%,

respectivamente. Desde 1984, as ligações domésticas de longa distância caíram cerca de

31%, no mesmo período o índice de preços ao consumidores experimentou uma alta de,

aproximadamente, 35% ( o que corresponde a uma queda de 49% em termos reais).A

tendência a queda esteve presente também nos serviços intemacionais, o preço médio de um

minuto de ligação internacional que em 1980 era de US$1,34 passou a US$ 1,01 em 1991.

Note-se que as tarifas internacionais norte-americanas estão entre as mais baixas do mundo,

como mostra o quadro abaixo:

67

Page 68: a privatização da British Telecom

TABELA 4.3

EUA

TARIFAS INTERNACIONAIS

(Preços de ligações de 3 minutos já incluídos impostos apurados em dezembro/89)

Países Selecionados

Áustria

Atemanha

Bélgica

Canada

Dinamarca

Espanha

França

Inglaterra

Grécia

Itália

Japão

Nova Zelândia

Suécia

Origem da Ligação

EUA

4,02

4,02

4,02

1,55

4,02

4,02

4,02

3,57

4,02

4,02

5,93

5,93

4,02

Paises Selecionados

^05

4,95

6,43

1,72

5,30

10,28

4,36

3,98

8,27

9,31

6,24

5,44

3,20

Fonte: OCDE (1990)

Esse diferencial entre as tarifas internacionais tem permitido às empresas

norte-americanas se beneficiarem do mecanismo de 'call back". Esse mecanismo consiste

num artifício através do qual um usuário no exterior disca para um número específico nos EUA

e desliga imediatamente. Um dispositivo eletrônico acoplado a linha refaz a ligação de volta

(agora a ligação nasce nos EUA) e dá um sinal que permite que o usuário disque qualquer

número nos EUA ou no exterior pagando a tarifa americana. Esse mecanismo permite ao

usuário transpor a operadora internacional do seu país e implica em economias significativas.

No mercado interno, a maioria dos estados norte-americanos mantém

programas sociais que visam universalizar o acesso aos serviços telefônicos ("lifeline

program") através de subsídios às comunidades de menor poder aquisitivo. Desta forma, a

tarifa básica (assinatura) que, em média, custa US$ 20/linha/mês, é oferecida a essas

68

Page 69: a privatização da British Telecom

comunidades a menos de US$ 11. Ressalte-se que em 1992, cerca de 93,9% das residências

58

americanas tinha acesso a serviços telefônicos

Contudo, a taxa média de crescimento do número de linhas instaladas no

período 1984/93 foi de apenas 2,9% ao ano.59 Essa taxa é reduzida uma vez que a maior parte

das necessidades de telefonia básica da população já se encontram atendidas, estando os

esforços de investimento das empresas voltados não para a ampliação do número de

terminais instalados, mas sim para o fomecimento de novos serviços. A tabela a seguir lista o

número de linhas instaladas no período 1984/93:

TABELA 4.4

LINHAS INSTALADAS NOS EUA

1984/93

Ano

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

Nc de linhas

(milhares)

114.349

118.275

122.203

126.725

130.000

135.011

138.059

141.209

145.117

147.584

Taxa de

Crescimento

3,4%

3,3%

3,7%

2,6%

3,9%

2,2%

2,3%

2,8%

1,7%

Fonte: United States Telephone Association

Extraida de Departamento de Comércio dos EUA (1994).

A indústria sofreu ainda uma sensível redução no número de empregados. Um

exemplo marcante é a AT&T que após o desmembramento ficou com 373 mil empregados.

Em 1990, esse número havia se reduzido a 274 mil uma queda de aproximadamente 26,7%.

Essa redução do número de postos de trabalho foi acompanhada de uma retração do grau de

58

58

Departamento de Comércio dos EUA (1994).

Departamento de Comércio dos EUA (1994).

69

Page 70: a privatização da British Telecom

sindicalização, que em 1984 era de 80% e em 1990 variava sensivelmente entre as empresas,

como podemos ver no quadro a seguir:

TABELA 4.5

GRAU DE SINDICALIZAÇÃO

1990

Empresa

AT&T

Ameritech

Bell Atiantic

Beil South

Nynex

PacTel

Soirttiwestern BeH

USWest

ÜRited Telecom

Sprint

Grau de Sindicalização

52

65

64

64

62

64

71

60

25

12

Fonte: Securities and Exchanges Commission

Extraído de Botton.B. (1993)

Em termos de política estratégica, as RBHCs apresentam uma política

agressiva de investimento a nível mundial. As RBHCs estão envolvida na construção e

operação de redes telefônicas e de TV a cabo (US West na Inglaterra), no fornecimento de

serviços de telefonia celular (Pacif.c Telesis na Bélgica e da BelISouth na Alemanha) e na

aquisição de participações acionárias em outras operadoras (Bell Atiantic e Ameritech na Nova

Zelândia e Southwestem Bell no México).

As operadoras de longa distância, por sua vez, tem focado sua atenção nos

serviços "wireless" ( em especial, telefonia celular). Desta forma, podem atuar no mercado de

telefonia local com um produto substituto ao da telefonia convencional

Em outubro/93, a AT&T adquiriu a McCaw Cellular Communications

desembolsando cerca de US$ 12,6 bilhões. A meta é construir uma rede nacional de telefonia

celular. Essa compra ainda está sendo analisada pelo Departamento de Justiça dos EUA visto

que a AT&T é uma das mais importantes fabricantes de equipamentos, controles

computadorizados e estações celulares do país. Desta forma, a AT&T tem acesso aos

detalhamentos das redes das principais operadoras de telefonia celular e a compra da McCaw

70

Page 71: a privatização da British Telecom

tornaria-a simultaneamente fomencedora e concorrente dessas empresas, com destaque para

as RBHCs.

Há, também, um movimento de aquisição de operadoras locais por operadoras

de longa distância. Note-se que em março/93, a Sprint adquiriu a Centel (operadora local de

serviços de telefonia celular).

As operadoras norte-americanas sâo também agressivas em sua política de

alianças a nível mundial. A AT&T, por exemplo, mantém um portifólio de investimentos, que

inclui participações na Unitel (operadora de longa distância do Canadá), na Ukrainian

Telephone Company (Ucrânia), na operadora venezuelana CANTV (num consórcio liderado

pela GTE).. Além disso, a AT&T formou juntamente com a KDD (Japão) e a Singapore

Telecom (Cingapura) uma aliança denominada Word Partners, que já atraiu empresas da

Austrália, Canadá e Coréia.

A tabela a seguir lista as principais aquisições realizadas por empresas

americanas nos anos 90/91.

71

Page 72: a privatização da British Telecom

TABELA 4.6

AQUISIÇÕES REALIZADAS POR EMPRESAS NORTE-AMERICANAS

1990/91

Comprador

Telefonia Convencional

Bell Atlantic/Ameritech

Bell South /Cabte and Wireles/

MayneNickless

Southwestem Bell

GTE/Tetefônica de Espana

NYNEX

Telefonia Celular

Pacific Telesis

Pacific Telesis

Bell South

Bell South/Vodafone

Bell South

USWest

US West

USWest

Transmf$$$Q 0e Dados

AT&T

USWest

Localização

Nova Zelândia

Austrália

México

Venezuela

Tailândia

Alemanha

Portugal

Dinamarca

Venezuela

Chile

Hungria

Tchechoslováquia

Leningrado

Inglaterra/Istel

Tchechoslováquia

Part.

Adquirida

90%

100%

25%

40%

10%

36%

23%

29%

n.d

n.d

49%

24,5%

40%

100%

24,5%

Vendedor

Governo

Governo

Governo

Governo

CP Group

Governo

Governo

Governo

Governo

Pacific Telecom

Governo

Governo

Governo

British Aeroespace

Governo

Fonte: Salomon Brothers (1992)

Outro ponto importante é a crescente associação entre as empresas de

telecomunicações, informática e entretenimento. Uma série de serviços telefônicos interativos

vem sendo testados pelas empresas de telecomunicações. A AT&T já adquiriu, inclusive, 20%

da Sierra Network, um serviço via rede computadores que oferece jogos interativos. Além dos

serviços interativos, crescem os serviços de correio eletrônico e de transmissão de dados.

A estrutura da indústria criada em 1984, entretanto, não deverá permanecer

nos próximos anos. Ressalte-se que as RBHCs vem sofrendo intensa concorrência não apenas

de outras operadoras locais, mais principalmente de novos ofertantes, em especial

operadoras de TV a cabo60. Em agosto/94, as seis maiores empresas de TV a cabo dos EUA

60 "Cable TV companies are likely to become another group of competitors the local telephone

companies will face in near future. Cable companies already have connections wrth 60% of US.

households, and cable facilities extend into áreas where another 30% of the household are

located. New tecnology and fiber optic technologies will allow them to ptovide telephone services

72

Page 73: a privatização da British Telecom

(Tele-Communications Inc, a Comsat, a Cox Cable Communications, a Time Wamer, a

Viacom e a Continental Cablevission) anunciaram o interesse em investir US$ 2 bilhões para

prestar serviços de telefonia.61

Um passo vital para reorganização da indústria foi dado em junho/95, com a

aprovação de lei no Senado permitindo que as RBHCs voltem a operar os serviços de longa

distância, bem como permintido que empresas de outros setores, em especial de transmissão

de energia, ofertem serviços locais. A lei autoriza, ainda, que a AT&T volte a operar serviços

de telefonia local e revoga as restrições a que empresas de capital estrangeiro operem

empresas de telecomunicações nos EUA.

Essa lei deverá modificar já a partir de 1996 o perfil da indústria de

telecomunicações no EUA. A primeira mudança expressiva ocorreu em setembro/95, quando a

AT&T anunciou que se dividiria em três novas empresas, com o objetivo de dar maior

agilidade a tomada de decições. Dentre as novas empresas, a maior será formada pelas

divisões de telefonia básica, de cartão de crédito, de telefonia celular e pela empresa de

consultoria AT&T Solutions. Essas divisões totalizaram, em 1994, um faturamento de cerca de

US$ 49 bilhões. O segundo maior bloco será composto pela divisão de equipamentos cuja

vendas, em 1994, foram de aproximadamente US$ 20 bilhões. E finalmente, o terceira das

novas empresas será constituída pela divisão de computadores da AT&T.

over their networks, something calbe companies are doing in Britain." Departamento de

Comércio (1994).

61 Gazeta Mercantil, 31/08/94.

62 Neste caso, a empresa deverá ter sua origem em um país que dê tratamento similar aos

invetidores norte-americanos.

63 Gazeta Mercantil 29/09/95.

73

Page 74: a privatização da British Telecom

5. A EXPERIÊNCIA INGLESA

5.1. ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO

Durante o governo do Partido Trabalhista, entre 1945 e 1951, foram

nacionalizadas no Reino Unido um grande número de empresas, em especial, nos setores de

carvão, gás, energia elétrica, estradas de ferro, siderurgia e transporte rodoviário. Vale lembrar

que, à época, já eram operados pelo Estado os segmentos de extração e refino de petróleo

(British Petroleum), de fabricação de aviões e componentes (Short Brothers and Hariand), de

produção e comercialização de açúcar (British Sugar Corporation) e de comunicações (Cable

& Wireless e Post Office).

Esse amplo processo de nacionalização teve como objetivo ampliar o volume

de investimentos e, principalmente, permitir uma maior coordenação e planejamento da

produção de bens e serviços a nível nacional. Contudo, as dificuldades inerentes à gestão e

controle das empresas estatais impediram que fossem mantidos níveis satisfatórios de

eficiência e produtividade, e na prática o que se constatou foi uma deterioração do

desempenho operacional e financeiro de várias dessas empresas, em especial as que

atuavam nos setores elétrico e de transporte ferroviário.

Houve pouca preocupação com o planejamento de médio e longo prazos e

uma excessiva intervenção governamental nas decisões de caráter operacional M. Note-se

que, entre 1960 e 1980, o governo inglês fez diversas mudanças nos mecanismos de

monitoramento das empresas estatais buscando melhorar o desempenho e imprimir uma

lógica de mercado. Foram estipuladas metas financeiras (baseadas em taxas de retomo

mínima), critérios de fixação de preços e planos de investimento. Esses novos sistemas de

controle, entretanto, tiveram efeito, apenas, sobre as empresas que atuavam em segmentos

mais competitivos, nos setores em que o poder de mercado era elevado (como o de

telecomunicações, o de eletricidade e o de gás) os resultados foram incipientes.

64 A política salarial das empresas estatais, por exemplo, foi alvo de grande atenção política.

Observou-se um achatamento dos salários e a formação de um expressivo "gap" em relação aos

salários praticados na iniciativa privada, em especial, nos cargos mais altos da hierarquia.

75

Page 75: a privatização da British Telecom

O ponto de inflexão na definição das prioridades e na forma de atuação do

Estado ocorreu em 1979, com início de um programa de privatização que reduziu,

substancialmente, o tamanho do setor produtivo estatal. Os principais objetivos desse

programa foram o de sanear financeiramente o Estado, melhorar a eficiência do sistema

econômico e, principalmente, expandir o mercado de capitais através de uma maior

democratização da propriedade do capital.

Ressalte-se que no início dos anos 80, as empresas estatais detinham cerca

de 10,5% da PIB inglês e eram responsáveis por, aproximadamente, 15,2% da formação bruta

de capital fixo (FBKF) e 8,1% do emprego total da Inglaterra.65 O quadro a seguir lista as

principais empresa sob controle estatal em dezembro/1979:

QUADRO 5.1

EMPRESAS ESTATAIS INGLESAS

1979

British Shipbuilders

British Steel Corporation

British Transport Docks Board

British Waterways Board

Cable and Wireless LTD

Civil Aviation Authority

Commonwealth Development Corporation

Highlands and Islands Development Board

National Research Development Corporation

New Town Development Corp. and Commission

Northem Ireland Development Agency

Northern Ireland Housing Executive

Northern Ireland Transport Holding Company

Northern Ireland Electricity Service

North of Scotland Hydro-Electric Board

Passenger Transport Executives and London

Transport Executive

Covent Garden Market Authority

Development Board for Rural Wales

Electricity Council

Housing Corporation

Independent Broadcasting Authority

Land Authority for Wales

National Bus Corporation

National Coal Board

National Dock Labour Board

National Enterprise Board

National Film Finance Corporation

National Freight Corporation

National Ports Council

Regional and National Authorities

South of Scotland Electricity Board

Bank of England

British Aerospace

British Airports Authority

British Broadcasting Authority

Britihs Gas Corporation

British National Oil Corporation

British Railways Board

PostOffice

Property Services Agency

Royal Mint

Royal Ordnance Factories

Scottish Transport Group

Trust Ports

Welsh Development Agency

British Airways Board

Fonte: National Income and Expenditures 1980.

Extraído de Vickers & Yarrow (1988).

Uma das principais preocupações do programa de privatização inglês foi

melhorar a imagem das empresas, saneando-as financeiramente e promovendo uma

65Vickers &Yarrow (1988).

76

Page 76: a privatização da British Telecom

restruturação interna antes de transferi-las ao setor privado. Essa reorganização atingiu as

estruturas administrativas e comerciais, as práticas e controles internos, os sistemas de

informação gerencial e a política de pessoal. Além disso, foram realizadas modificações na

legislação do mercado de capitais, de modo a facilitar a colocação das ações de empresas

estatais nos mercados internacionais.

Em termos cronológicos, o processo de privatização pode ser dividido em três

etapas, que, a grosso modo, coincidem com os intervalos entre as eleições parlamentares. Na

primeira etapa, entre 1979 e 1983, foram privatizadas empresas de menor relevância em

relação ao total de ativos do setor público e que atuavam em setores mais competitivos. Não

havendo maiores preocupações em termos de montagem de sistemas de regulação. As

principais empresas privatizadas nessa fase foram a Cable & Wireless (que prestava serviços

de telecomunicações nas ex-colônias inglesas), a Amersham Intemational (produtora de

isótopos), a British Rail (que atuava no ramo de hotelaria) e a National Freight (no segmento

de transporte).

Na segunda etapa, entre 1983 e 1987, foram privatizadas empresas maiores

que apresentavam elevado poder de mercado. Nessa fase, foi mais clara a preocupação com

a questão de democratização do capital, e reduzida a ênfase dada, inicialmente, à

maximização da geração de receitas. Entre as empresas privatizadas estavam a Enterprise

Oil, a Jaguar, o Trustee Savings Bank, a British Airways, a Rolls Royce, e duas grandes

empresas prestadoras de serviços de públicos, a British Telecom e a British Gas. Nesse

últimos dois casos, foram criados órgãos reguladores para acompanhar o desempenho da

indústria pós-privatização (OFTEL e OFGAS), uma vez que manteve-se a estrutura industrial

pré-privatização (a qual era, praticamente, monopolista).

Na terceira etapa, entre 1987 e 1991, prosseguiu-se na alienação de grandes

empresas estatais, em particular, nos setores de água e energia elétrica. Foram criados,

também, órgãos reguladores específicos.

77

Page 77: a privatização da British Telecom

Uma característica da experiência inglesa foi o esforço no sentido de vender

parte das ações aos empregados, através de descontos e financiamentos a juros subsidiados.

O principal objetivo dessas vendas era reduzir a resistência política à privatização.

Além da venda de empresas, o programa de privatização transferiu ao setor

privado os segmentos de serviços públicos em geral, tais como os serviços de limpeza, coleta

de lixo, manutenção de estradas, entre outros. Outro ponto importante foi a venda de imóveis,

de propriedade do Estado, para os ocupantes com substancial desconto. Entre 1979 e 1982,

mais de 600 mil casas foram vendidas totalizado uma receita de US$ 3,5 bilhões. Apesar dos

descontos praticados, a perda para os cofres públicos foi atenuada pelo fato de que quase

sempre essas casas eram alugadas por valores inferiores aos de mercado.

A privatização trouxe, ainda, um efeito extemalidade na medida em que as

empresas que não seriam privatizadas passaram também por intensas reformas

administrativas para melhorar os resultados obtidos.66 No total, entre 1979 e 1989, foram

arrecadados cerca de US$ 44,8 bilhões. Parte substancial desses recursos foi destinada à

cobrir as necessidades de financiamento correntes do governo.

Como a privatização tinha o objetivo de disseminar a propriedade de ações, o

governo utilizou diversos mecanismos, tais como: "customer vouchers", "bônus share",

pagamentos parcelados e alocação preferencial de ações.68 M Os resultados foram muito

66 VickersS Yarrow (1988).

67 VickersS Yarrow (1988).

68 O governo Inglês recebeu um grande número de pedidos de compra de ações. As ações mais

procuradas foram as do Trustee Savings Bank (5 milhões de pedidos), da British Gas (cerca de 3

milhões de pedidos) e da British Telecom ( cerca de 2 milhões de pedidos).

69 Os "customer vouchers" davam direito aos clientes, que eram ou desejam se tornar acionistas, de

receber uma determinada quantia para cada lote de ações adquiridas. Esses pagamentos eram

realizados em datas pré-fixadas e planejados de modo a premiar aqueles que mantivessem as

ações em carteira. Os 'bônus share" eram lotes adicionais de ações, que eram distribuídos

àqueles que mantiveram as ações em suas carteiras por um determindado prazo, em geral, 10%

depois de três anos.

78

Page 78: a privatização da British Telecom

positivos, tendo o número de proprietários de ações dobrado em relação aos existentes em

1979.70

5.2. A PRIVATIZAÇÃO DA BRITISH TELECOM

O processo de estatização da indústria de telecomunicações inglesa foi

concluído em 1912, tendo as operadoras passaram a ser administradas em conjunto com o

sistema de correios e telégrafos (Post Office). À época, o Post Office era um órgão da

administração pública direta condição em que permaneceu até 1969, quando foi transformado

em "public corporation" .

Essa mudança visava a eliminar uma série de restrições burocrática e dar um

maior grau de autonomia financeira e gerencial ao Post Office, permitindo assim a expansão

e modernização da rede telefônica inglesa. Foi dada, inclusive, autorização para a empresa se

verticalizar e iniciar a produção de seus próprios equipamentos, tal qual já acontecia com a

AT&T.

Apesar dos esforços empreendidos, o desempenho do Post Office no decorrer

da década de 70 ficou muito aquém das expectativas, tendo a divisão de telecomunicações

apresentado resultados negativos. Dentre os principais problemas enfrentados pelo Post Office

estavam a deterioração das tarifas e os cortes nos investimentos.

Com intuito de avaliar os motivos do fraco desempenho e sugerir medidas

para aprimorar a performance do Post Office, o Governo instituiu em meados da década de 70

uma Comissão de Estudos71. Explicitamente inspirada na desregulementação norte-

americana, essa Comissão apresentou em 1977 um relatório conhecido como "Carter Report",

que em síntese propôs: (i) a redefinição das relações entre Ministério da Indústria e Comércio,

70 O governo passou, inclusive, a utilizar as listas de propostas de compra de ações, como lista de

endereços para propaganda do Partido Conservador, uma vez que os ganhos imediatos desses

compradores foram muito atraentes devido à valorização das ações após a privatização.

71 Precidida pelo Prof. Charles F. Carter.

79

Page 79: a privatização da British Telecom

responsável pela diretrizes para indústria de telecomunicações, e o Post Office; (ii) a

separação formal entre os serviços postais e de telecomunicações e (iii) a liberalização e

maior concorrência no fornecimento de equipamentos terminais.

Inicialmente abandonado pelo Governo Trabalhista da época, o "Carter Report"

foi ressuscitado com a vitoria do Partido Conservador nas eleições de junho/79. Em 1981, foi

editada a "British Telecommunications Act* que incluía não apenas a separação formal entre os

serviços postais e os de telecomunicações com a criação da British Telecommunications

pie - BT, mas também a abertura da rede básica, do fornecimento de equipamentos e da

oferta de serviços de valor adicionado à competição, sendo delegada ao "Department of Trade

and industrf a missão de licenciar novos operadoras e fornecedores.

Essa primeira fase de reformas incluiu ainda a privatização da Cable &

Wireless - C&W, empresa prestadora de serviços de telecomunicações nas ex-colônias

britânicas, que havia sido nacionalizada em 1949.

Em junho/81, já privatizada a C&W se associava à British Petroleum e ao

Barkelays Bank para constituir a Mercury Communications LTD72. No início de 1982, a

Mercury obteve licença de operação, tomando-se a primeira competidora da BT.73 A

estratégia da Mecury era fornecer serviços de valor adicionado a grandes usuários (empresas

de grande porte, multinacionais e bancos) através de avançadas redes digitais de

telecomunicações de longa distância interligando as principais cidades do país e ligando-as

aos principais centro econômicos mundiais.

72 Posteriormente, com a saída dos demais participantes a C&W tornou-se a única acionista da

Mercury,

73 A Mercury iniciou suas atividades em 1986.

74 "Mercury's strategy in the U.K. is to establish a new digital telecommunications network linking

major business centers ...The main target is the business market, especially in the city, but

Mercury is also making limited progress in the residential market. Mercury is attacking the

lucrative internacional market as well.' Vickers & Yarrow (1988).

80

Page 80: a privatização da British Telecom

A inclusão da BT na lista de empresas a serem privatizadas ocorreu em

julho/82, e estava relacionada a incapacidade do Govemo de arcar com os investimentos

necessário à modernização da empresa, em particular, num momento de grande recessão e

rigidez nas políticas monetárias e fiscais com vivido no início dos anos 80. Ademais, tinha com

pano de fundo a orientação ideológica liberalizante do Govemo liderado por Margareth

Thatcher.75

O projeto de lei foi apresentado ao Parlamento em novembro/82, sua

tramitação foi muito demorada, tendo obtido aprovação formal somente no início de 1984.76

Essa aprovação foi precedida de intenso debate. O principal receio do Govemo era quanto ao

êxito da operação, uma vez que o valor estimado do controle acionário da BT (cerca de 4

bilhões de libras) superava largamente os maiores lançamentos individuais de ações

realizados na Inglaterra e nos EUA. Desta forma, foi levantada a possibilidade de subdividir a

operação e até mesmo desmembrar a BT tal como já havia sido feito com a AT&T.

Outro ponto importante das discurssões era quanto a montagem do

mecanismo regulatório. Reconhecendo-se o poder de mercado detido pela BT, foi proposta a

criação de uma agência reguladora, a Office of Telecommunications - OFTEL, cuja missão

seria de administrar a regulação de preços, dirimir conflitos com os usuários, assegurar o

cumprimento pelas empresas dos termos ds licenças e promover a competição na indústria.

Note-se que no caso da rede básica, a estrutura era um duopólio

extremamente assimétrico. De um lado, a BT que detinha 95% do mercado e cuja rede

abrangia todo o país e necessitava de passar por um processo de modernização e

75 Um argumento utilizado à época era o de que a manutenção do monopólio público e as

dificuldade de investir em novas tecnologias de telecomunicações, poderia ameaçar a posição do

centro financeiro de Londres. Esse argumento justifica, também, por que os primeiros países a

liberalizarem e restruturarem suas indústrias de telecomunicações tenham sido os EUA, a

Inglaterra e o Japão, que são importantes centros financeiros.

76 A aprovação somente se deu após a vitória dos Conservadores nas eleições de junho/83.

81

Page 81: a privatização da British Telecom

diversificação77, de outro, a Mercury, que embora de pequeno porte (5% do mercado) atendia

primordialmente a clientela empresarial através de rede específicas que já imcorporavam

modernas tecnologias digitais.

Durante a montagem do modelo de privatização, as principais pressões

contrárias à venda da BT vinham do Partido Trabalhista, dos sindicatos e dos fornecedores. A

não adesão dos Trabalhistas era previsível e fazia parte do jogo de político-ideológico

existente na Inglaterra no pós-guerra. A posição contrária dos sindicatos e fabricantes de

teleequipamentos significava o rompimento do "pacto básico" que havia sustentado o

desenvolvimento da indústria nas últimas décadas.78 n

Em 1981, quando foi intensificada a concorrência no mercado de

equipamentos, o Post Office mantinha estrita relação de colaboração e financiamento de P&D

com os principais fabricantes de equipamentos da Inglaterra (GEC, Plessey e STC, essa

última filial da empresa norte-americana ITT). Essa colaboração estava particularmente

relacionada ao projeto de desenvolvimento de centrais de comutação eletrônica espacial

(CPAs espaciais) denominado Sistema X. Embora, a AT&T , a Alcatel e a Siemens tivessem

obtido êxito no desenvovimento dessas centrais o mesmo não ocorreu com os fabricantes

ingleses, tendo o projeto do Sistema X apresentado graves problemas de engenharia. Em

1982, a BT desistiu desse projeto contratando um novo fornecedor para as CPAs espaciais (o

consórcio formado pela empresa sueca Ericsson e ingleasa Thom). Esse movimento

demostrava claramente a decisão da BT de tomar o fornecimento de equipamentos uma

atividades mais competitiva e representou uma radical mundança no tratamento aos seus

tradicionais fornecedores.

77 Note-se que os custos operacionais da BT eram muito superiores aos da Mercury.

78 Almeida (1992).

79 A principal critica dos fabricantes de equipamentos era de que se estava transformando um

monopólio público em monopólio privado. Havia um receio quanto ao excessivo poder de

mercado da BT seja como concorrente (produtora de equipamentos) seja como demandante

(detinha mais de 95% do mercado demandante de equipamentos de telecomunicações no pafs).

82

Page 82: a privatização da British Telecom

Em 1985, a BT deu sinais de que pretendia não apenas tomar o segmento de

equipamentos mais competitivo como também pretendia participar ativamente, o que ocorreu

com a compra do fabricante canadense de centrais de PABX, a Mitel. *°

Outro aspecto importante destacado por Vickers & Yarrows (1988) foi a

mobilização da alta gerência da BT para atingir três objetivos bem delineados: (i) evitar que a

BT fosse desmenbrada a exemplo do que o correra com a AT &T; (ii) minimizar a emergência

de forças concorrentes em especial a entrada de grande operadoras internacionais e (iii)

assegurar que a regulação fosse a mais suave possível, preservando assim o poder

discricionário da BT.

Em termos de regulação, após diversos estudos optou-se pelo sistema tipo

"príce-cap", através do qual o preço de uma cesta de serviços era reajustado pelo índice de

inflação descontado um fator de produtividade (inicialmente, de 3% ao ano).81 Esse

mecanismo foi muito bem recebido pelos investidores uma vez que não implicava numa

restrição direta aos lucros da companhia.

A montagem final do modelo de venda da BT ocorreu em 1984, e envolveu um

grupo de instituições financeiras lideradas pela Kleinwort Benson. O objetivo era a alienação

do controle acionário (50,2% das ações), de modo que o Govemo permanecia ainda como o

maior acionista individual da Empresa (49,8% das ações), visto que a legislação impedia que

outros acionistas individuais detivessen mais de 15% das ações das BT. Essa situação

motivou a celebração de acordos através dos quais o Govemo se comprometia a não interferir

operacionalmente na empresa e principalmente não usá-la para fins de política

macroeconômica.

80 Note-se que até hoje a estratégia de oferta de serviços avançados da BT se choca com a

possibiilidade de adquirir os equipamentos internamente visto que os fornecedores ingleses

apresentam importantes defasagens tecnológicas. Esse conflito foi em parte reduzido pela

instalação de filiais das grandes empresas produtoras de equipamentos no país.

81 Este reajuste era aplicado sobre um cesta de serviços que incluiam os serviços locais e longa

distância nacionais. Atualmente, é de 7,5% ao ano.

83

Page 83: a privatização da British Telecom

O processo de venda foi acompanhado de maciça campanha publicitária,

orientada para cada um dos segmentos potencialmente investidores entre eles: os

investidores institucionais, o grande público, os funcionários da BT e os investidores

estrangeiros.

A expectativa de valorização rápida das ações se traduziu em uma grande

corrida do público para subscrever os pedidos de compra. Note-se que esses pedidos

superaram em cinco vezes o montante de ações disponíveis para a venda. Quando foram

finalmente vendidas, em dezembro/84, o preço das ações haviam se valorizado cerca de 33%

somente no primeiro dia de negociações. Em que pese a presença de acionistas individuais ter

sido significativa totalizando 19,5% do conjunto de ações negociadas, a participação desse

acionistas foi se reduzindo ao longo do tempo sendo de apenas 9,9% no final de 1990.

O gráfico a seguir ilustra a valorização das ações da BT, para exemplificar

escolhemos três momentos que coincidem com a venda do controle acionário da empresa em

junho/84 (base 100) e a venda de participações minoritárias (novembro/91 e julho/93):

GRÁFICO 5.2

VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DA BRITISH TELECOM

100

jun/84

349

1nov/91

390

jul/93

Fonte: Breadsley & Patsalos-Fox (1995).

82 A venda da BT rendeu aos cofres públicos ingleses o equivalente a US$ 23,2 bilhões, ai incluídos

a última 'tranche" referente a alienação de 22% do capital da empresa, ocorrida em julho/93.

84

Page 84: a privatização da British Telecom

5.3. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZACÃO

Cerca de onze anos após a privatização da BT, a empresa continua

dominando os segmentos de telefonia básica, respondendo por 85% do mercado. Os avanços

dos concorrentes, entre os quais o mais expressivo é a Mercury,83 ainda é muito lenta, apesar

do "Department of Trade and Industry" haver licenciado até julho/93 cerca de vinte e uma84

empresas para operar serviços de telecomunicações no país. Como destacado em Breadsley

and Patsalos-Fox (1995):

"While privatization and its lead-up may be completed in one or two years,

the industry's trasition to the desired end state vision is unlikely to happen as

quickly It will take at least five to ten years and require patience, persistence

and long-term view. This is because building infraestructure takes many

years, and it takes a minimum of five years before any real constructive

impact can be fett It took ten years for Mercury to achieve some 12 percent

of UK market; even now MCI has only 18 percent of US long-distance

market. This kind of timeframe is also needed to allow for performance

improvements from the íncubent, if indeed the íncumbent is to have an

important role in the future."

É importante mencionar que cerca de 51% dos custos totais da Mercury

referem-se a tarifas de interconexão à rede básica da BT85, o que mostra um elevado grau de

de dependência.

Em termos de preços, a estutura tarifária adotada pós-privatizaçâo representou

uma reversão do mecanismo de subsídios cruzados existentes até então, através dos quais as

tarifas locais eram finaciadas por receitas advindas de tarifas superiores aos custos nas rotas

mais lucrativas, ligações interurbanas e serviços de valor adicionado. A nova política tarifária,

83 A Mecury atende atualmente cerca de 60% dos serviços de telecomunicações do centro

financeiro de Londres.

84 Gazeta Mercantil, 12/12A4.

85Breadsley & Patsalos Fox (1995).

85

Page 85: a privatização da British Telecom

ao contário, elevou no período de 1981/85 as tarifas de instalação e a assinatura básica em

20% e as tarifas locais em 19%, ao passo que as tarifas de longa distância registraram

reduções superiores a 30%. Essa restruturação fez com que a Inglaterra apresentasse as

maiores tarifas locais dentre os países da OCDE, e as menores tarifas de longa distância. A

estratégia era claramente atrair para a BT parte do tráfego intercontinental Europa-EUA.

Contudo, as reclamações dos consumidores ingleses foram inequívocas.

No período 1984/94, a BT investiu cerca de US$ 38,4 bilhões na rede de

telefonia básica. Em 1994, a BT operava uma rede de 20,1 milhões de linhas residenciais, 6

milhões de linhas comerciais e mais de 104 mil telefones públicos. Note-se que o grau de

penetração da rede é ainda inferior à média dos países da OCDE. A Inglaterra conta com 38,9

telefones/100 habitantes ao passo que a média da OCDE é de 41,1 telefones/100 habitantes.86

O número de funcionários da BT permaneceu superior a 235 mil até 1990,

somente recentemente foram realizados cortes expressivos de pessoal coincidindo com o

aumento do grau de digitalização da rede, como pode ser observado no quadro a seguir:

GRÁFICO 5.3EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE EMPREGADOS DA BRITISH TELECOM

1970/92

72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

Fonte: Vogelsang (1992)

86Gazeta Mercantil, 12/12/94 e OCDE (1990).

86

Page 86: a privatização da British Telecom

Recentemente, a BT também passou a desenvolver uma estratégia de atuação

global, tendo se associado a empresa norte-americana MCI.

No mercado interno, a competição deverá se acirrar nos próximos anos com o

crescimento das companhias de TV a cabo, a maioria de propriedade de empresas norte-

americanas, que vem prestando serviços de telefonia.87

Na telefonia celular, as duas principais competidoras são a CELLNET

(associação da BT com a Securicor) e a Racal-Vadaphone, ambas iniciaram suas atividades

operacionais em janeiro/85. A Mercury e a Racal têm ainda licença para operar serviços de

"paging".

87 Em 1984, o Governo inglês regulamentou também os serviços de TV a cabo, através do "Cable

and Broadcasting Act 1984". Essa regulamentação é importante visto que as operadores de TV a

cabo são potenciais competidores nos serviços de telefonia local. Inicialmente, entretanto, essa

empresas estavam licenciadas a operar serviços de telefonia apenas em associação com a BT

ou a Mercury Essa última limitação, entretanto, foi posteriormente revista. 87

Page 87: a privatização da British Telecom

6. EXPERIÊNCIA MEXICANA

6.1. ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO

O governo mexicano criou, no período de 1920 a 1960, um grande número de

empresas estatais com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico do país. A

maioria dessas empresas tinha sua origem na nacionalização (e estatizaçáo) de empresas

privadas em dificuldades financeiras. Esse modelo se consolidou durante os anos 70, quando

a promoção do crescimento industrial esteve fortemente relacionada à estratégia de

substituição de importações.

Durante esse período, o número de empresas estatais registrou um

crescimento significativo. Note-se que em 1930, o México contava com 12 empresas estatais,

em 1940 com 57, em 1950 com 158, em 1960 com 259, em 1970 com 491, em 1976 com 845,

e em 1982 com 1.155. Em 1982, as empresas estatais representavam 14% do produto interno

bruto (PIB), 30% da formação bruta de capital fixo (FBKF) e 4,4% do emprego no país.88

Contudo, a multiplicidade de funções e objetivos impostos às empresas

estatais e ao Governo deteriorou sua capacidade financeira e a situação das contas públicas.

Neste sentido, a crise de 1982 tomou claro os limites de uma estratégia de crescimento

apoiada na excessiva intervenção governamental na economia e criou as bases para que se

iniciasse discurssões em tomo da redefinição do papel do Estado, da maior abertura da

economia e da desregulamentação dos mercados.

Um ponto importante dessa agenda de discussão foi o programa de

privatização implantado a partir de 1983. Em linhas gerais, o programa foi dividido em duas

fases. Na primeira fase, entre 1983 e 1988, foram vendidas as empresas de médio porte que

atuavam em setores razoavelmente competitivos. Foram transferidas cerca de 122 empresas

totalizando uma receita de cerca de US$ 1,03 bilhões. As vendas nessa fase foram lentas,

tendo implicado num intenso processo de aprendizagem.

BID (1992).

89 BID (1992).

88

Page 88: a privatização da British Telecom

Na segunda fase, a partir de 1989, foram privatizados os principais monopólios

estatais, bem como os bancos oficiais. Essa fase foi marcada pela venda da Teléfonos de

México S.A. - TELMEX ocorrida em maio/90 e pela maior ênfase à montagem de esquemas

regulatórios.

Cabe mencionar que a TELMEX havia sido constituída em 1948, através da

fusão das duas principais operadoras telefônicas do país, a Teléfonos Ericsson (pertencente ao

grupo sueco Ericsson) e a Compania Telefônica Mexicana (subsidiária da empresa norte-

americana ITT).90 Em 1958, o controle acionário da TELMEX passou às mãos de capitais

privados mexicanos. Contudo, a crescente intervenção governamental na administração da

Empresa, inclusive mediante acréscimos na participação acionária, culminou, em 1972, com a

aquisição do controle acionário, passando a TELMEX a condição de empresa estatal. Note-se

que, à época, a TELMEX representava 28% do volume total de ações transacionada no

mercado mexicano91.

No período 1970/80, o número de linhas em serviços cresceu a uma taxa

média de 12,2% ao ano, tendo passado de 858 mil para 2.721 mil linhas. Esse crescimento se

reduziu na década de 80, tendo atingido apenas 7,3%. Quando foi privatizada, em 1990, a

TELMEX detinha 5.489 mil linhas em serviços, sendo a segunda maior companhia telefônica

da América Latina (logo após a TELEBRÁS). Contudo, a densidade telefônica era muito

reduzida (cerca de 6,1 telefones/100 habitantes) e o grau de atualização tecnológica da rede

precária. Note-se que o grau de digitalização era de apenas 31%, e que cerca de 50% dos

equipamentos da rede tinha mais de 10 anos de uso.92

90 Foram incorporadas ainda mais de 108 operadoras locais independentes.

91 Ruprah, lnder(1994).

92 Cerca de 15% da rede estava em uso a mais de 20 anos.

89

Page 89: a privatização da British Telecom

6.2. DESEMPENHO DA TELMEX NOS ANOS 80

Tal como as demais estatais, a TELMEX estava sujeita a uma série de

controles e auditorias que implicavam num grande envolvimento do governo sobre suas

atividades operacionais. Em muitos casos, os órgãos reguladores a que a empresa era

submetida apresentavam critérios conflitantes. Um bom exemplo era Secretaria de

Comunicaciones y Transportes (SCT) a qual funcionava simultaneamente como órgão

regulador e controlador acionário da TELMEX. Os conflitos com a SCT eram agravado ainda

pelo fato desse órgão ser o proprietário do sistema de satélites e estações terrestres que

permitiam a TELMEX realizar ligações internacionais.93

Um ponto que revelava claramente o compromisso do governo com objetivos

totalmente antagônicos era a fixação das tarifas de telefonia. Neste caso, o Governo

enfrentava um dilema entre, de um lado a necessidade de gerar de receitas que permitissem a

autonomia operacional da TELMEX e a obtenção de lucros (e consequentemente, dividendos),

e de outro a utilização das tarifa de telecomunicações como instrumento de redução dos

níveis de inflação e de melhoria da distribuição de renda.

Cabe ressaltar que a estrutura tarifária era composta basicamente de cinco

categorias: a tarifa de instalação (compra da linha), a tarifa básica (assinatura), a tarifa de

ligações locais, a tarifa de ligações de longa distância nacionais e a tarifa de ligações

internacionais.94 Em termos históricos, essas tarifas, à exceção da tarifa internacional que

estava atrelada à variação cambial, foram decrescentes em termos reais até 1987. Havia,

ainda, subsídios cruzados através dos quais as ligações internacionais financiavam as tarifas

locais.

Foram realizadas importantes revisões na estrutura tarifária em 1988 e 1990.

A primeira revisão, em 1988, tinha por objetivo financiar a modernização do sistema, a

ampliação do grau de digitalização e a expansão dos serviços na área rural. A segunda, em

1990, foi bem mais profunda e já visava preparar a TELMEX para a privatização.

93 Essa situação se alterou em 1989 com a criação da TELECOMM que passou a administrar a

rede de satélites e estações terrestres.

94 Essas tarifas apresentavam preços diferenciais para usuários residenciais e comerciais.

90

Page 90: a privatização da British Telecom

O realinhamento das tarifas, em 1990, mudou sensivelmente a participação

relativa dos serviços locais, de longa distância nacional e internacionais no faturamento total

da TELMEX. Até 1989, os serviços internacionais eram responsáveis por mais de 40% das

receitas totais da empresa, ao passo que os serviços locais representavam menos de 22%.

Essa situação se reverteu, em 1990, quando a participação relativa dos serviços locais e

internacionais passou a ser de 35,5% e 29,1%, respectivamente.

O gráfico a seguir ilustra a evolução, no período 1982/90, da participação

relativa dos serviços locais (incluindo, as receitas oriundas de instalação, tarifas básicas e de

ligações locais), de longa distância nacionais e internacionais no faturamento da TELMEX:

GRÁFICO 6.1

TELMEX

ESTRUTURA DE RECEITAS

1982/90

(porcentagem)

1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

■ Loca D Longa Dstância Nacional ■ Intemacionai D Outros

Fonte: TELMEX Annual Reports

Extraído de Ruprah, Inder (1994).

OBS.:O item Outros compreende os serviços de emissão de listas telefônicas, páginas

amarelas e telefonia celular entre outros.

91

Page 91: a privatização da British Telecom

Ressalte-se que a elevação das tarifas de serviços locais foi parcialmente

compensada pela eliminação, em 1990, dos impostos indiretos incidentes sobre os serviços de

telecomunicações o que reduziu o impacto direto sobre o consumidores. Note-se que os

impostos indiretos provocavam uma grande discrepância entre a tarifa cobrada aos

consumidores e preço recebido pela TELMEX. Em 1989, a assinatura residencial, por

exemplo, eqüivalia a 50.640 pesos, sobre esse valor incidiam impostos indiretos à alíquota de,

aproximadamente, 60% (30.384 pesos). Sobre a soma desse dois valores, incidia o imposto

sobre valor agregado de 15% (12.154 pesos), totalizando um preço final para o consumidor de

93.178 pesos (84% superior ao valor embolsado pela TELMEX). A tabela a seguir esboça o

impacto da carga tributária sobre a tarifas de telefonia no México antes (1989) e depois da

eliminação dos impostos indiretos (1990):

92

Page 92: a privatização da British Telecom

TABELA 6.2

TELMEX

EFEITO DAS MODIFICAÇÕES NA CARGA TRIBUTÁRIA

(EM PESOS CONTANTES DE 1989)

Tarifa Básica/Assinatura

. Residencial

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos Indiretos (*)

3. VAT (15% de (1+2))

TARIFA FINAL

. Comercial

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos lndiretos(")

3. VAT(15%de(1+2))

TARIFA FINAL

Liaacões Locais

. Residencial

Até 150 minutos

Apôs 150 minutos

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos Indiretosf)

3 VAT (15% de (1+2))

TARIFA FINAL

. Comercial (***)

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos Indiretosf*)

3. VAT(15%de(1+2))

TARIFA FINAL

Lonaa Dístáncia-Nacional

. Residencial

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos IndiretosC"*)

3 VAT (15% de (1+2))

TARIFA FINAL

. Comercial

1. Tarifa TELMEX

2. Impostos lndiretos(*****)

3. VAT(15%de(1+2))

TARIFA FINAL

1989

50.640

30.384

12.154

93.178

146.040

105.149

37.678

288.867

Call Free

7,24

4,34

1,74

13,32

13,04

9,39

3,36

26,79

420,30

134,50

83,22

638,0

420.3C

176,5.

89,5

686,3

1990

68.139

0

10.221

78.360

201.246

0

30.187

231.433

Call Free

80,08

0,00

12,01

92,09

70,04

0,00

10,51

80,56

675,44

0,00

101,3

776,7

675,44

0,0C

101,3

776,7

Variação

90/89

34,6%

-100,0%

-15,9%

-15,9%

37,8%

-100,0%

-19,9%

-19,9%

1006,1%

-100,0%

591,3%

691,3%

437,1%

-100,0%

212,3%

212,3%

60,7%

-100,0%

21,7%

21,7%

60,7%

-100,0%

13,2%

13,2%

Fonte: Dados Coletados em Ruprah.lnder (1994)

VAT = Value Added Tax

OBSi.:(*) Alíquota de Imposto Indireto.em 1989, era de 60% sobre tarifa TELMEX.

(**) Alíquota de Imposto Indireto.em 1989, era de 72% sobre tarifa TELMEX.

(***) Nâo havia ligações "call free" (ligações gratuitas asseguradas pela assinatura).

(****) Alíquota de Imposto Indireto.em 1989, era de 32% sobre tarifa TELMEX.

(*****) Alíquota de Imposto Indireto.em 1989, era de 42% sobre tarifa TELMEX.

OBS2.: Nâo incidiam Impostos Indiretos e VAT sobre as tarifas de instalação.

93

Page 93: a privatização da British Telecom

Em 1990, a tributação indireta foi substituída por um novo imposto cuja

alíquota de 29% incidia sobre as receitas provenientes de serviços locais e de longa distância

nacionais. Esse imposto era dedutível para efeito de cálculo do Imposto de Renda, e no

período de 1991 a 1996, 65% do valor devido seria cancelado, caso a TELMEX comprovasse

a realização de investimentos, em montante equivalente, na ampliação e modernização de sua

rede. Previa-se, ainda, que a partir de 1996 esse imposto fosse extinto. Na prática, o novo

imposto funcionava como um incentivo para que a TELMEX realizasse novos investimentos.

A tabela a seguir ilustra o impacto desse imposto sobre os resultados da

TELMEX. São simuladas três situações: na primeira, é considerada a situação da empresa

sem a criação do novo imposto, na segunda, o montante de investimentos realizados é tão que

permite anular o efeito do novo imposto e na terceira, o reduzido volume de investimento faz

com que a TELMEX arque com um imposto efetivo de 49,6% (35% referente ao imposto de

renda e 14,6% devido ao novo imposto). Nos três casos, assume-se que o lucro da TELMEX é

tal que é aplicada a alíquota máxima de imposto de renda.

TABELA 6.3

TELMEX

IMPACTO DO NOVO IMPOSTO

a Investimentos

b. Receitas Bruta - TELMEX

c. Novo Imposto

d. Receita Líquida - TELMEX

e. Custos

f. Lucro antes do Imp. Renda

g Imposto de Renda

h. Crédito relativo ao Novo Imposto

i Novo Imposto efetivamente devido

I. Imposto a ser pago

m. Alíquota Efetiva sobre o Lucro

29%de(b)

(b)- (c)

(dMe)

35%de(f)

65% de (a)

(cMh)

<gW«>

Sem Novo

Imposto

30

100

0

100

60

40

14

0

0

14

35,0%

Com Novo Imposto

Gde Invest

30

100

29

71

60

11

3,85

19,5

9,5

13,35

33,4%

Red. Invest.

20

100

29

71

60

11

3,85

13

16

19,85

49,6%

95 Esse imposto já foi criado visando a estabelecer um sistema de incentivos a novos investimentos

pós-privatização.

96 A alíquota máxima de imposto de renda vem progressivamente se reduzida no México, tendo

representado 39,2% (1988), 37% (1989), 36% (1990) e 35% (1991).

94

Page 94: a privatização da British Telecom

Cabe salientar que a TELMEX não recebia do Governo qualquer subsídio

formal e sua contribuição para as finanças públicas era positiva. O Governo obtinha receitas

da TELMEX sob a forma de impostos indiretos, diretos e dividendos. O item mais expressivo

eram os impostos indiretos que correspondiam a 90% do fluxo de recursos da empresa para o

Governo. Neste sentido, o imposto introduzido, em 1990, representou uma redução

substancial das receitas do Governo, visto que foram eliminados os impostos indiretos, e que a

nova forma de tributação permitia a TELMEX deixar de arrecadar parte expressiva dos

impostos.

A taxa média de crescimento dos ativos fixos operacionais da TELMEX foi de

12,6% no período 1982/87 e de 22% no período 1987/90. A aceleração do ritmo de

investimento deveu-se não apenas a decisão do governo de melhorar a qualidade dos

serviços, mas também a necessidade de reconstruir parte da rede destruída durante o

terremoto de setembro/85. Esses investimentos foram financiados, majoritariamente, com

recursos próprios, não tendo a empresa recorrido a aportes do Governo e/ou acréscimos

significativos do grau de endividamento. Um mecanismo de financiamento muito utilizado foi a

venda de receitas futuras, em particular créditos junto a AT&T, que devido ao baixo risco

implicavam numa taxa de desconto inferior à taxa que a TELMEX obteria caso recorresse ao

endividamento bancário. No período de 1988/90, essas operações renderam a TELMEX cerca

de US$ 902 milhões. Outro mecanismo utilizado foi a venda de ações aos novos assinantes.

Esse tipo de operação, entretanto, foi abandonada em abril/90.

Em termos de estrutura de custos, há quatro itens básicos: salários e custos

operacionais, manutenção, depreciação e impostos. A participação relativa desses itens não

variou muito no periodo 1982-90, entretanto a relação custo/faturamento elevou-se devido à

redução de produtividade e à queda das tarifas em termos reais. Em 1982, essa relação era de

56%, tendo atingido um pico em 1988 de 73%, e caído a 64% em 199097. O gráfico a seguir

ilustra a composição de custos da TELMEX em 1990:

97 BID (1992).

95

Page 95: a privatização da British Telecom

GRAFICO 6.4

TELMEX

ESTRUTURA DE CUSTOS

1990

Depreciação

17,7%

Impostos

22,3%

Salários e

Cultos

Operacionais

39,3%

Manutcncio

20,7%

Fonte: TELMEX Annual Reports

Dados extraídos de BID (1992)

Em termos de mão-de-obra, a TELMEX contava em 1989 com cerca de 49,2

mil empregados98, tendo o contingente de trabalhadores crescido no período de 1984/89 cerca

de 46%. Esse crescimento teve reflexo sobre os indicadores de produtividade da Empresa,

em especial, o número de empregados por linha que era, em 1990, de cerca 9,0

empregados/linha, quase o dobro do existente na Nynex (5,18) e na Southwestern Bell

(4,84)." O grau de sindicalizaçâo era elevado, sendo 84% dos empregados filiados a

sindicatos.

Cabe ressaltar que a privatização foi precedida de programas de revisão de

faixas salariais, de incentivo à aposentadoria e de corte dos funcionários contratados em

caráter temporário.100 Para cooptar os sindicatos e reduzir a resistência à privatização, foi

99

Esse número chegava a 65,2 mil se incluídos os empregados das empresas subsidiárias.

BID (1992).

100 "Una de Ias medidas preparatórias para Ia venta de TELMEX más importantes fue Ia moficación

dei contrato colectivo de trabajo en 1989 y 1990...destaca Ia eliminación de 57 acuerdos

96

Page 96: a privatização da British Telecom

incentivada a compra de ações pelos empregados e garantido o direito de preferencia (ou seja,

pelo melhor preço obtido no leilão os sindicatos poderiam se quisessem adquirir a companhia).

Note-se que o ambiente político era particularmente tenso, à época, uma vez que o Governo

havia declarado, em 1989, a falência da Aeroméxico (empresa de aviação) e da Cananea

(mina de cobre) após longa greves de empregados. Desta forma, os incentivos oferecidos aos

funcionários da TELMEX, aliadas as experiência traumáticas da Aeroméxico e da Cananea

reduziram significativamente quaisquer resistências à venda da empresa.

6.3 A PRIVATIZAÇÃO DA TELMEX

Apesar da TELMEX ser uma empresa lucrativa e contribuir positivamente aos

cofres públicos, a manutenção do controle acionário implicava na realização de pesados

investimentos, para os quais o governo mexicano não tinha condições de aportar recursos.

A decisão de vender a TELMEX foi anunciada em setembro/89, tendo o

processo de transferência para a iniciativa privada seguido algumas diretrizes básicas, entre as

quais destacam-se (i) a manutenção de forte intervenção governamental sobre a indústria,

através de mecanismos de regulação; (ii) a permanência do controle acionário da empresa na

mão de investidores mexicanos; (iii) a participação dos empregados no capital101 e (iv) a

fixação de metas de qualidade e produtividade visando a igualar padrões mundiais e garantir o

crescimento sustentado da indústria e (v) a manutenção pela TELMEX do monopólio dos

serviços básicos até 1996.

A venda da TELMEX incluiu uma fase inicial de preparação, na qual foram

realinhadas as tarifas, reduzida a carga tributária e revistos contratos de trabalho, como já

discutido na seção anterior. Essa fase incluiu, ainda, uma mudança na estrutura acionária. No

início de 1990, a estrutura societária da TELMEX consistia em 56% do capital sob a forma de

laborales que podtan Ilegar a representar 57 contratos diferentes, teniendo Ia empresa que

negociar cada uno de ellos con ei sindicato." BID (1992).

101 A compra de ações pelo empregados foi financiada pela Nacional Financeira S.A (NAFINSA), o

banco de desenvolvimento mexicano.

97

Page 97: a privatização da British Telecom

ações tipo AA (ações ordinária, detidas exclusivamente pelo governo) e 44% de ações tipo A

(ações preferenciais). A restruturação implicou, num primeiro momento, na troca pelo governo

de 5% de ações tipo AA por ações tipo A, reduzindo sua participação no capital votante para

apenas 51%. Em seguida, foram capitalizados os lucros acumulados até o 1o semestre/90,

constituindo uma nova série de ações (tipo L), com direitos limitados a voto. Os detentores de

ações tipo A puderam converter suas ações em ações tipo L, a relação de uma ação A para

cada 1,5 ações tipo L.102

A nova estrutura acionária resultou em 20,4% de ações tipo AA (na mão do

Estado), 19,6% de ações tipo A e 60% de ações tipo L, tendo o número de ações crescido

157%.103 O gráfico a seguir ilustra as mudanças ocorridas na estrutura de capital da TELMEX:

GRÁFICO 6.5TELMEX

EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA ACIONÁRIA

44 48

■sTH

«.6

$0

Inicial Intermediária Final

IAA DL DA

AA

L

A

Total

Participação do Governo por Tipo de Ação (%)

inicial

56,0

56,0

Intermediária

51,0

5,0

56,0

Final

20,4

33,6

2,0

56,0

Fonte: BIRD (1992)

A alienação do controle ocorreu através de leilão com ofertas fechadas {"dose

bids'). As prospostas foram apresentadas em novembro/90, tendo os consórcios sido

submetidos à pré-qualificação, com o objetivo de avaliar a saúde financeira e o conhecimento

102

103

BID (1992).

Ruprah, lnder(1994).

98

Page 98: a privatização da British Telecom

técnico da indústria de telecomunicações. Note-se que dos 14 consórcios que haviam

demostrado interesse na empresa104 apenas quatro foram pré-qualificados. Destes, apenas

três apresentaram propostas formais, conforme detalhado no quadro a seguir:

TABELA 6.6

TELMEX

OFERTAS DE COMPRA

Consórcio

Gentor

Acciones y Valores

Telefônica de Espafia

GTE

Grupo Carso

SW Bell

France Telecom ___

% do capital

10,4

20,4

20,4

Oferta

(US$mühôes>

700

1.687

1.734

Condições de

Paqamento

Cash

125

250

975

Em 6 meseso

575

1437

759

Fonte: Ruprah, Inder (1994).

(*) Sobre esse valor incidiria juros de LIBOR+3% ao ano.

O consórcio vencedor foi liderado pelo Grupo Carso. Esse consórcio era

composto pelo Grupo Carso S.A. de C.V ( um grupo mexicano que atua em diversos setores

da economia, entre eles mineração, papel e celulose, e no sistema financeiro), pela France

Telecom e pela Southwestern Bell.

Cabe ressaltar que o processo de venda da TELMEX foi rápido vis-a-vis a

experiência internacional, tendo entre o anuncio e a efetiva transferência do controle acionário

transcorrido apenas 15 meses. A venda das ações remanescente ocorreu em três 'tranches"

em maio/91, junho/91 e maio/92. A receita total decorrente da alienação da TELMEX foi de

cerca de US$ 5,9 bilhões, tendo o Governo se beneficiando da valorização das ações da

empresa no período dezembro/90 a maio/92, mostrada no gráfico a seguir:

104 Entre as operadoras internacionais que manifestaram interesse na TELMEX estavam a GTE

Corporation, a Southwestern Bell, a Ameritech Internacional, a Bellsouth Enterprises, a Nynex, a

US West, a British Telecom,a Cable & Wireless, a France Telecom, a Bell Canada Enterprises

(BCE), a STET e a Telefônica de Espafia.

99

Page 99: a privatização da British Telecom

GRÁFICO 6.7

TELMEX

EVOLUÇÃO DO VALOR DE MERCADO

jan/90 dez/90 mai/91 set/91 mai/92

Fonte: BIRD (1992)

6.4. A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZACÃO

O pouco tempo decorrido desde a privatização da TELMEX é um obstáculo a

uma avalição mais profunda das implicações da mudança de propriedade sobre a eficiência da

Empresa. Ressalte-se que muitos dos resultados obtidos no período imediatamente

subsequente a privatização estão relacionados a ajustes realizados pré-privatização, não se

devendo a mudança de propriedade per si.

Um ponto, entretanto, merece destaque qual seja a TELMEX manteve

garantido o monopólio dos serviços locais até 2026 e sobre os serviços de longa distância até

1996, ou seja, a privatização não significou de imediato um aumento do grau de concorrência

na indústria, tendo um tempo para se preparar para enfrentar seus potenciais concorrentes.

Foram liberados apenas os serviços de páginas amarelas, telefonia celular,

transmissão de dados, bem como segmento de equipamentos. Nesse último, verificou-se a

entrada de novos concorrentes de peso tais como: a AT&T, a Buli & CEE, a Fujitsu, a Hitachi,

100

Page 100: a privatização da British Telecom

a NEC, a Northem Telecom, a Phillips e a Siemens, o que modificou radicalmente o mercado

105

antes dominado pela Ericsson e pela Indetel (subsidiária local da Alcatel).

No segmento de serviços, a competição é mais acirrada apenas no mercado

de telefonia celular. O principal competidor da TELMEX é a IUSACELL, entretanto a TELMEX

goza de alguns privilégios, detendo através de sua subsidiária, a Radiomóvil DIPSA (hoje

TELCEL), a concessão para operar uma das bandas existentes, sendo a única operadora a

prestar serviços de telefonia celular em todas as regiões do país.106

Até outubro/90, a TELMEX era proibida de ofertar serviços de valor adicionado

(devido à existência da TELECOMM, também, estatal que se encarregava desses serviços).

Com a privatização, entretanto, a TELMEX ganhou permissão para operar serviços de

transmissão de dados, videotexto, entre outros. Ressalte-se que nesse segmento a TELEMX

compete com grandes operadoras internacionais, tais como a Southwestern Bell, a AT&T, a

Sprint, a MCI, as quais estão presentes no mercado através de associações com empresas

mexicanas.

Em termos de tarifas, os novos acionistas da TELMEX prosseguiram o

processo de realinhamento tendo as tarifas internacionais caido em termos reais ao passo que

as tarifas locais apresentaram crescimento positivo. O quadro a seguir mostra que a receita

operacional da TELMEX cresceu cerca de 65%, no período 1990 a 1993, tendo a participação

105Esses equipamentos eram vendidos monopolisticamente pela TELMEX.

106 "Mexico's mobile communicaions services market has experienced tremendous growth since

celular telephony was introduced in México during late 1989. Spurred by foreign investment and

backlogged demand for basic telephone service, cellular subscribers in service jumped from

64.900 in 1990 to 393.000 at year-end 1993, with an annual growth rate of 82%. During the same

period, revenues derived from ali mobile cmmunications services in México - cellular, paging, and

specialized mobile ratio (SMR) - quickly rose from US$ 107,8 million to dose to US$ 673 million.

Cellular service revenues represented 92% of total mobile communications revenues during 1993,

while paging and SMR services generated 7% and 1% respectively." Pyramid Reseagh Inc.

(1994).

101

Page 101: a privatização da British Telecom

relativa dos serviços locais107 crescido de 35,5% para 42,8% e dos serviços internacionais

caido de 29,1% para 19,7%, refletindo uma severa redução dos subsídios cruzados.

TABELA 6.8

TELMEX

ESTRUTURA DE RECEITAS

Tarifas

Locais

Longa Distância Nacional

Longa Distância Internacional

Outros

Receita Operacional - us$ bühOes

1990

35,5%

31,6%

29,1%

3,8%

4,8

1993

42,8%

33,7%

19,7%

3,8%

7,9

Fonte: TELMEX ANUAL REPORT

Extraído de Pyramid Research Inc. (1994).

As tarifas são reguladas por um sistema de preços tipo "price caps", no qual se

mantém constante em termos reais o preço médio de uma cesta composta de todos os

serviços prestados pela TELMEX. Ao contrário do observado nas experências inglesa e

argentina, não foi aplicado fator de redução (produtividade) nos seis primeiros anos pós-

privatização. A partir de 1996, entretanto, preve-se um percentual de desconto de 3% ao ano

(ou seja, o preço médio da cesta de serviços deverá cair anualmente, em termos reais, 3%)

para que os usuários se beneficiem dos ganhos de produtividade, devendo esse percentual ser

rediscutido em 1999.108

No período 1990/93, o volume de tráfego cresceu, em termos de número de

chamadas, cerca de 45,3% nos serviços de longa distância nacional e 83,0% nos serviços

internacionais. No mesmo período, o número de linhas em serviço aumentou em 42,8%,

atingindo 7.631 mil linhas, percentual superior ao previsto pela licença de concessão (12% ao

107 O número de ligações a que a assinatura básica dá direito foi reduzido de 150 para 100.

108 "El sistema de precios tope permite que Ia compafiia incremente sus tarifas de servicio local a

niveles de costos y, en consecuencia, disminuya sus tarifas de servicio de larga distancia

anticipando Ia competência que pudíera generarse en este servicio a partir de agosto de 1996"

BID (1992).

102

Page 102: a privatização da British Telecom

ano) e ao observado na década de 80 (7,3% ao ano)1W. Além disso, o número de linhas

atendendo à população rural cresceu 72% entre 1990/92, revelando um comprometimento da

empresa com o investimento nesse segmento. Simultaneamente, o índice de digitalização da

rede elevou-se de 31% em 1990 para 66% em 1993.110

A relação custo/receita que havia se deteriorado na década de 80, atingindo

em 1988 cerca de 73%, declinou significativa, tendo em 1993 ficado no patamar de 56%, o

que mostra um aumento da eficiência produtiva da empresa. Ressalte-se que o número de

empregados da TELMEX permaneceu praticamente inalterado após a privatização.

Com a proximidade do fim do monopólio nos serviços de longa distância, em

agosto/96, a TELMEX vem investindo pesadamente no aprimoramento dos serviços, através

da modernização da rede e da melhoria do atendimento aos usuários. 111 Note-se que muitas

operadoras internacionais já estão formando consórcios para operar esses serviços, os mais

expressivos são os consórcios formado pelo Grupo lUSACELL/Bell Atlantic e lUSACELL/Sprint

eBanamex/MCI.112113114

109Pyramid Research Inc. (1994).

110 Ruprah, Inder (1994).

111 "In a post-1996 México, it remains to be seen whether TELMEX wiil be able to rise the ocasion by

adaptíng to new competitive climate, or whether it will suffer the consequences of having been the

only game in town for so long " Pyramid Reseach Inc (1994).

112 O Grupo IUSACELL opera atualmente serviços de telefonia celular, telefonia rural e serviços de

transmissão via satélite (em associação com a Hughes Network System). Neste sentido, a

aliança com a Bell Atlantic visa a dar condições técnicas necessárias para que o Grupo opere os

serviços locais e "wireless" ao passo que a aliança com a Sprint tem por objetivo fornecer o

conhecimento e infraestrutura necessários para operar os serviços de longa distância e

internacional.

113 O BANAMEX é o maior banco comercial do México e opera uma complexa rede de transmissão

de dados ao passo que a MCI, como visto no capitulo 3, é uma importante operadora de longa

distância dos EUA.

114 a AT&T tem um posição especial nesse equilíbrio de forças, tendo forte aliança comercial com a

TELMEX, inclusive enquanto fornecedora de equipamentos.

103

Page 103: a privatização da British Telecom

Empresas com grande potencial para ofertar serviços de telefonia básica são a

Petróleo Mexicano (PEMEX), a Comissión Federal de Eletricidad (CFE) e as empresas de TV

a cabo.115

Em 1993, a PEMEX criou uma divisão independente para gerenciar seus

serviços de telecomunicações, a PEMEX Telecomunicaciones, responsável por uma das

maiores redes privadas de telecomunicações do país. Nada impede que com o fim das

restrições intitucionais, a PEMEX venha a ofertar serviços de telefonia básica e de

transmissão de dados a terceiros.

A CFE conta com uma rede de distribuição de energia que cobre 70% do país.

Embora a empresa, ainda, não tenha até hoje demonstrado planos de acoplar a essa rede

linhas de telefones, muitas empresas entre elas a própria TELMEX, o BANAMEX e as

japonesas MITSUI, SUMITOMO e MITSUBISHI já manifestaram interesse em associar-se a

CFE com esse objetivo.

As empresas de TV a cabo são também potenciais competidoras.As principais

empresas nesse segmento são a TELEVISA (que já opera serviços de 'paging" e participa da

PANAMSAT um sistema privado de satélites), a Multivisión e o Grupo Azteca.

É importante destacar que a mudança na estrutura de propriedade teve efeitos

positivos para a indústria, contudo o passo mais importante deverá ser dado em 1996 quando

os segmentos de longa distância passaram a ser potencialmente competitivos. O período

1990/96, pode ser interpretado como um período de aprendizado e de preparação para que a

TELMEX pudesse se adaptar a essa nova realidade.

115 Pyramid Research Inc. (1994).

104

Page 104: a privatização da British Telecom

7. A EXPERIÊNCIA ARGENTINA

7.1 ANTECEDENTES E VISÃO GERAL DO PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO

No período de 1930/83, o cenário político argentino se caracterizou pela

alternância de ditaduras militares e governos civis de inspiração populista. Essa instabilidade

política, aliada a já tradicional rivalidade entre os dois principais partidos do país (a União

Cívica Radical e o Partido Peronista), dificultou sobremaneira a manutenção de uma ação

política coerente e a continuidade administrativa.

As principais conseqüências foram o desempenho desastroso da economia e a

contínua deterioração dos indicadores sócio-culturais. Um bom exemplo, foi a evolução da

renda per capita, que antes da 1a GM era semelhante à da Alemanha e superior a de países

como Suécia, França, Áustria, Itália e Japão, e no início dos anos 80 já havia caído a

patamares próximos aos de países subdesenvolvidos.

Note-se que a economia argentina permaneceu fortemente dependente das

atividades agrário-exportadoras. O processo de industrialização ficou restrito à área próxima a

Buenos Aires, tornando a economia altamente regionalizada.

A industrialização argentina, como a dos demais países da América Latina,

esteve fortemente relacionada à presença de investimentos estatais. Em termos setoriais, o

Estado concentrou sua participação nas áreas de serviços públicos (eletricidade, água e

esgoto, transporte e comunicações), de recursos naturais (petróleo e gás) e de siderurgia e

petroquímica.

O processo de criação das empresas estatais foi predominante no período de

1940/60, quando era intenso o entusiasmo na capacidade do Estado enquanto ofertante de

bens e serviços. Esse entusiasmo era ratificado pela facilidade do Estado em aportar recursos

às empresas devido à existência de fontes relativamente baratas de captação de recursos, tais

como: fundos/impostos específicos, "superavits" do sistema de seguridade social,

105

Page 105: a privatização da British Telecom

endividamento interno e externo a custo baixo e apropriação de imposto inflacionário a

alíquotas reduzidas.

Cabe mencionar que a presença do Estado, embora relevante foi menos

intensa que a experimentada por outras economias latino-americanas. Ao ingressar na década

de 80, a participação das empresas estatais no produto interno bruto (PIB) e na formação bruta

de capital fixo (FBKF) da Argentina não era considerada alta. A participação no PIB estava em

tomo de 7,4% sendo inferior à média mundial (9,4%) ao passo que a participação na FBKF de

cerca de 20,5% ficava abaixo da média dos países em desenvolvimento (27,0%).116 Contudo,

os crescentes problemas ligados à qualidade dos serviços e à deterioração financeira do setor

público foram fatores que estimularam a transferência dessas empresas ao setor privado.

Essa transferência coincidiu com a redemocratização do país, embora ainda

não tenha se dado durante o primeiro governo civil. Do ponto de vista político, as eleições de

1983 resultaram numa composição de forças que mais uma vez dificultou a implantação de

reformas estruturais. Em síntese, o Partido Radical havia eleito o presidente Raul Alfonsin e

detinha a maioria na Câmara de Deputados, entretanto, o Partido Peronista detinha a maioria

dos votos no Senado. O resultado era um Executivo fraco e a necessidade de confecção de

alianças políticas com os peronistas, o que se revelou em muitos momentos uma tarefa difícil.

Esta situação fez renascer o risco de novas intervenções militares, como demostraram as

rebeliões ocorridas em abril/87 e dezembro/88.

Paralelamente às dificuldades de negociação política, a situação da economia

continuou se deteriorando rapidamente, sendo visível: a insolvência do Estado, a aceleração

da inflação, o decréscimo do PIB por três anos consecutivos (1987/89) e a presença de um

setor externo cronicamente deficitário.

Em 1989, as novas eleições alteraram a situação política, tendo o Partido

Peronista eleito não apenas o presidente Carlos Saul Menem, mas também a maioria dos

integrantes da Câmara e do Senado. Esta situação ímpar abriu espaço para implantação de

116 Gerchunoff, Pablo (1992)

106

Page 106: a privatização da British Telecom

um ambicioso programa de reformas. A adesão popular ao programa foi estimulada pela

caótica situação econômica, agravada no período de transição entre os dois governos.117

Note-se que a Constituição Argentina previa um período de transição entre a

eleição (maio/89) e a posse do novo presidente de seis meses. Contudo, a crise econômica

que culminou num processo hiperinflacionário (com taxa mensais de inflação superiores a

200%) facilitou um acordo político através do qual o novo presidente assumiu o cargo em

julho/89, cerca de quatro meses antes da data prevista originalmente.

A partir daí, o desafio político foi sanear a economia e restabelecer a

credibilidade interna e externa. Neste contexto, foi aprovado, ainda, em agosto/89 a Lei de

Reforma do Estado (Lei n° 23.696/89) que instituiu as bases de um programa de austeridade

fiscal e monetária e deu início ao programa de privatização. Essa lei dava amplos poderes ao

Executivo para revogar legislações anteriores que colidissem com a execução das metas de

privatização.

A primeira empresa apresentada para venda foi a Empresa Nacional de

Telecomunicaciones -ENTEL detentora do monopólio dos serviços de telecomunicações no

país. Na prática, a privatização da ENTEL era vista como um indicador de compromisso do

governo com as reformas estruturais, o que tornou vital a rápida conclusão do processo.

Cabe mencionar que não apenas no caso da ENTEL, mas de um modo geral o

programa de privatização argentino foi um dos mais acelerados programas implantados a nível

117 "La situação patrimonial de Ia mayoría de Ias empresas Ilegó a un punto crítico, Ia calidad de los

servidos se deterioro fuertemente, crecieron los signos de desaliento interno en Ias

organizaciones y finalmente de corrupción. El golpe definitivo a cualquier política más o menos

matizada y gradual Io constituyó ei episódio hiperinflacionário de 1989 y su repetición durante ei

afto siguiente. Esa experiência, con sus consecuencias dramáticas, afinco en vastos sectores un

sentido de urgência en Ias reformas estructurales y otorgó a Ia propuesta de privatizaciones

masivas una popularidad sorprendente: de um modo u otro. los câmbios debían ser

realizados: bien o mal, había oue privatizar. ...Al iniciarse ei proceso de privatizaciones

argentino, Ia política de enajenación de activos fue más una herramienta macroeconômica para

estabilizar Ia economia que una herramienta de Ia política de reformas estructurales orientada a

aumentar Ia produtividad de Ia economia en ei largo prazo." Gerchunoff & Cánovas (1994).

107

Page 107: a privatização da British Telecom

mundial. Seu objetivo prioritário foi a maximização do valor de venda das empresas. Dada a

urgência financeira do Estado, entretanto, não foram realizados estudos sobre o efeito das

vendas na estrutura industrial e no grau de concorrência, tendo na maioria dos casos sido

preservada a estrutura monopolista e/ou oligopolista dos setores privatizados. Além disso, o

saneamento prévio se limitou à assunção pelo Estado de parte ou totalidade dos passivos das

empresas. A preocupação com a montagem de um mecanismo regulatório foi marginal e os

ajustes pré-privaíização envolveram apenas reajustes de preços/tarifas, a fixação de metas

qualitativas e quantitativas mínimas para melhoria dos bens/serviços e o cumprimento de

planos mínimos de investimentos.118

Além da indústria de telecomunicações, o programa incluiu empresas de

petróleo, petroquímica, construção naval, distribuição de gás, serviços públicos (água,

esgotos, coleta de lixo), geração e transmissão de energia, bem como siderúrgicas, ramais

ferroviários, rodovias, emissoras de televisão e companhias aéreas. O tabela a seguir lista as

principais privatizações realizadas no período 1989/93:

118 "Las privatizaciones argentinas parecen confirmar Ia existência dei trade-off entre eficiência

productiva y eficiência asignativa, que comúnmente se associa a las políticas de enajenación de

activos. Según se ha observado, en Ia primera etapa de Ia propriedad privada ha incentivado Ia

redución de custos pero también ha significado una perdida de eficiência asignativa, debido a Ia

tendência de los proprietários privados a tratar de explotar monopólicamente los mercados...las

ganâncias de eficiência productiva surgidas de esta nueva relación de fuerzas no se distribuyeron

en Ia sociedad a través de una reducción de las tarifas . Por ei contrário, los aumentos tarifários,

Ia preservación de mercados protegidos y Ia debilidade inicial de los organismos regulatorios dei

Estado servieron para generar cuasi-rentas que aumentaron los precios de venta de los activos

(o ei valor de los derechos de explotación en las concessiones)." Gerchunoff & Cánovas (1994).

108

Page 108: a privatização da British Telecom

TABELA 7.1

EMPRESAS PRIVATIZADAS NA ARGENTINA

1989/93

US$ milhões

Empresa

ENTEL

AeroHneas Argentinas

YFP

Ferrovias

Rádio e Televisão

Petroquímicas

imóveis

Geração e Transmissão de Energia

Hipodromo

Distribuição de Gás

TOTAL

Ingresso

Efetivo

2.651

280

5.036

155

16

53

184

522

62

682

9.641

TltulOS de

Dívida °

5.029

1.610

-

-

-

130

-

3.025

-

3.064

12.858

Dívidas

Transferidas

-

-

-

-

-

-

-

365

-

938

1.303

Fonte: Gerchunoff & Cánovas (1994).

(*) Inclui os juros que seriam pagos a esses títulos

Nos próximos itens são discutidas mais detalhadamente as especificidades da

venda da ENTEL, iniciando com um histórico da evolução da situação dos serviços telefônicos

pré-privatização. Em seguida, é detalhado o processo de transferência da ENTEL para a

iniciativa privada e por último, concluímos com uma breve avaliação da performance da

indústria pós-privatização.

7.2 DESEMPENHO DA INDÚSTRIA SOB PROPRIEDADE ESTATAL

No início da década de 30, as duas principais operadoras de telefonia da

Argentina eram (i) a Unión Telefônica dei Rio de Ia Plata (UTRP), que operava nas seis

principais províncias argentinas, incluindo a região metropolitana de Buenos Aires e cujo

controle pertencia a empresa norte-americana Intemational Telephone & Teiegraph (ITT), e

(ii) a Compaftia Argentina de Teléfonos (CAT), pertencente ao grupo sueco Ericsson, cuja

atuação estava concentrada nas áreas de Mendoza, San Juan, Santiago dei Estero, Salta,

Tucaman e Entre Rios.

109

Page 109: a privatização da British Telecom

Em que pese o fato da ITT e da Ericsson responderem por parte expressiva

dos serviços telefônicos, havia ainda cerca de 43 pequenas companhias telefônicas operando

na Argentina, sendo a integração dos serviços muito precária.

Sob alegação de melhorar a integração das redes interprovinciais, o governo

baixou em 1936, decreto (n° 91.698/36) colocando os serviços de telecomunicação sob

jurisdição federal, passando as operadoras a deter apenas uma licença para a exploração dos

serviços. Simultaneamente, o govemo passou a exercer uma maior ingerência sobre o lado

operacional das empresas: estabelecendo tarifas, definindo metas de investimento e

controlando a provisão dos serviços.

Finalmente, em 1946 o governo adquiriu a UTRP tendo a empresa passado à

denominação de Dirección Nacional Teléfonos dei Estado (DNTE). Nos anos seguintes, outras

companhias telefônicas privadas de menor porte foram adquiridas e coligadas à DNTE, a qual

em 1956 foi renomeada Empresa Nacional de Telecomunicaciones (ENTEL).

Somente a CAT permaneceu sobre propriedade privada, devido a desacordos

entre a Ericsson e o Governo com relação ao preço de transferência. Note-se que quando os

termos de compra foram finalmente fechados, o governo foi derrubado por um golpe militar e

as negociações esquecidas, tendo a CAT permanecido proibida de fazer investimentos

adicionais no período de 1948 a 1959. Em 1959, o governo decidiu que não compraria mais a

empresa, liberando-a para expandir sua rede. A CAT permaneceu operando mediante

autorização precária até 1992, tendo sido submetida a mesma estrutura tarifária da ENTEL.

Em 1972, a legislação do setor foi alterada pela Lei Nacional de

Telecomunicaciones (Lei n° 19.798/72), a qual estabelecia legalmente o monopólio estatal sob

o setor, incluindo não apenas os serviços de telefonia, mas também de rádio e TV. Era

permitido, entretanto, que o govemo através de licenças temporárias repassasse a exploração

destes serviços a terceiros. Essas licenças, entretanto, tinham caráter precário e podiam ser

revogadas a qualquer momento.

A política industrial do setor ficou a cargo da Secretaria de Comunicaciones.

Com relação ao suprimento de equipamentos foi promovido como nos demais setores da

110

Page 110: a privatização da British Telecom

economia um amplo processo de substituição de importações que forçou a ENTEL a adquirir

equipamentos de fabricantes locais. O resultado foi a limitação ao acesso a novas tecnologias

e a elevação dos custos operacionais pela compra de equipamentos a preços

consideravelmente superiores aos praticados no mercado internacional. Note-se que em

muitos casos os preços cobrados eram superiores não apenas aos de fornecedores europeus e

americanos, mas também em relação aos de outros países latino-americanos.

Em termos de resultados, é importante ressaltar que no início da década de

60 a ENTEL encontrava-se entre as dez maiores empresas de telecomunicações mundiais em

termos de linhas instaladas, sendo a sétima em densidade de tráfego (número de chamadas).

Em 1957, a Argentina possuía 42,86% dos telefones instalados na América do Sul e a

densidade telefônica na região metropolitana de Buenos Aires era cerca de duas vezes maior

HO

que a de outras áreas urbanas da América Latina.

Todavia, ao longo das décadas de 60 a 80, as condições operacionais e

financeiras da ENTEL foram se deteriorando. A empresa enfrentou problemas trabalhistas

(greves, baixa produtividade, crescente compromisso com agendas/interesses pessoais, falta

de motivação), problemas tarifários (reajustes abaixo da inflação e redução das tarifas em

termos reais), problemas técnicos (equipamentos obsoletos instalados, em média, a 40 anos e

já avariados, que geravam incompatibilidades com equipamentos modernos) e problemas de

qualidade dos serviços (elevado déficit de linha e de chamadas não completadas).

O quadro a seguir ilustra os indicadores qualitativos vis-a-vis a média mundial,

considerando-se o período 1983/90:

119 Hill & Abdala (1993)m

Page 111: a privatização da British Telecom

TABELA 7.2

ARGENTINA - INDICADORES QUALITATIVOS

1983/90

Item

Média Argentina

(1983/90)

Média Mundial

% de Ligações Completadas

Local

46,9

95,0

Longa-Distância

24,8

85,0

Ordens de Reparo

não atendidas'*1

1,6

0.5

Tempo Médio para

Atender Reparosn

10

2

Fonte:Hill&Abdala(1993)

(*) Como % da linhas em serviço.

(**) Em dias.

A solução desses problemas passava por grandes investimentos em

modernização e ampliação da rede. Contudo, face à reduzida capacidade de investimento da

empresa e a crise financeira do governo, seu único acionista, esses investimentos foram

sendo protelados o que tomou os serviços cada vez mais caóticos. Ressalte-se que os poucos

investimentos realizados foram pontuais e coincidiram, em geral, com fatores externos tais

como a Copa do Mundo (em 1978) que demandou inversões na melhoria da qualidade dos

serviços. Estes investimentos careceram de continuidade e agravaram os problemas

relacionados à compatibilidade dos equipamentos.

Em 1985, o déficit de linhas alcançava 1,3 milhões de linhas, o que

correspondia a aproximadamente 52,8% das linhas em serviços, como demostrado na tabela a

seguir:

112

Page 112: a privatização da British Telecom

TABELA 7.3

LINHAS EM SERVIÇO

ARGENTINA

1980/89

Ano

80

81

82

83

84

85

86

87

88

89

Linhas em Serviço(Milhares)

1879

1992

2124

2245

2357

2462

2606

2721

2856

3058

Fonte:ENTEL

Extraído de Hitl &Abdala (1993).

O governo tentou reduzir esse déficit, através de planos de investimentos que

previam a instalação de 1 milhão de novas linhas entre 1986/89. Para isso foi elevado o preço

de instalação em cerca de 486% para os usuários residenciais e 629% para os usuários

comerciais/industriais. Além disso, o pagamento passou a ser feito antecipadamente, ou seja,

a instalação era financiada pelo próprio usuário, o que recebeu fortes críticas da população.

A partir de outubro/87, o discurso em relação à indústria se alterou

radicalmente, tendo surgido a idéia de privatização parcial da ENTEL. A idéia consistia na

formação de uma empresa de economia mista na qual o govemo manteria o controle acionário

(51% das ações), enquanto que 9% seriam doadas aos trabalhadores e 40% vendidas a um

novo investidor que se tomaria responsável pelo gerenciamento e operação do sistema. Essa

nova empresa manteria o monopólio sob a indústria de telecomunicações, inclusive sobre os

serviços de TV a cabo, por 25 anos prorrogáveis por mais 10 anos. O monopólio incluiria,

também, as regiões servidas pela Compaftia Argentina de Teléfonos (CAT). O único serviço

que ficaria fora do acordo era o de telefonia celular.

113

Page 113: a privatização da British Telecom

A empresa estatal espanhola, Telefônica de Espafia, se interessou em

associar-se ao governo argentino na nova empresa. Todavia, o acordo não se concretizou face

à resistência dos trabalhadores e fornecedores da ENTEL e principalmente à oposição política

dos peronistas que detinham, como já mencionado, a maioria dos votos no Senado. Esta

oposição revelava o interesse do Partido Peronista em não aprovar nenhuma medida que

pudesse favorecer a performance do candidato do Partido Radical nas eleições de 1989.

7.3. A PRIVATIZAÇÃO DA ENTEL

No período de 1989/90, as atividades da ENTEL estiveram focadas no

processo de transferência de propriedade, tendo sido relegado a um segundo plano a gestão

administrativa, o que piorou substancialmente os indicadores operacionais e a qualidade dos

serviços. A tabela a seguir sinteza alguns indicadores operacionais do sistema telefônico

argentino em 1990:

TABELA 7.4

INDICADORES OPERACIONAIS

1990

Item

Linhas Instaladas (mil)

Linhas em Serviço (mil)

Telefones Públicos (mil)

Linhas em Serviço/Empregado

Digitalização da Rede (%)

Região Norte

1.556

1.391

10

73,2

11,5

Região Sul

1.915

1.696

13

77,9

14,6

TOTAL

3.471

3.087

23

75,7

13,2

Extraído de Gerchunoff & Cánovas (1994).

Dois fatos que marcaram o período 1989/90 foram (i) o processo de demissões

e aposentadorias incentivadas, com a redução do quadro de pessoal de 48 mil para cerca de

42,6 mil empregados e (ii) a elevação do nível tarifário em especial das tarifas de serviços

básicos. No período de dezembro/89 a setembro/90, o pulso telefônico sofreu um aumento de

473%, em termos reais, passando de US$ 0,005788 para US$ 0.033245.120 O objetivo central

120 Para efeito de comparação, atualmente o preço do pulso no Brasil é de US$ 0,018.

114

Page 114: a privatização da British Telecom

dessas mudanças era apresentar a ENTEL aos potenciais investidores com uma estrutura

tarifária e de custos mais rentável.

Quando foi privatizada, em novembro/90, a ENTEL respondia por 92% dos

serviços de telecomunicações da Argentina, detinha a quase totalidades dos serviços

interurbanos e o monopólio dos serviços internacionais. Os restantes 8%, correspondiam às

áreas servidas pela Compania Argentina de Teléfonos (CAT) e às localidades atendidas por

cooperativas telefônicas.

O número total de linhas em serviço era de cerca de 3,1 milhões, das quais

80% alocadas a usuários residenciais e 20% a usuários comerciais/industriais. Era nítida a

concentração dos serviços na área metropolitana de Buenos Aires, tanto em número de linhas

121

quanto em tráfego, e a relação chamadas urbanas/interurbanas era de 2:3.

A ENTEL foi indicada para iniciar o programa de privatizações argentino em

setembro/89, tendo as condições para sua venda sido fixadas pelo "Pliego de Bases y

Condiciones para a Privatización dei Servício Público de Telecomunicaciones", em janeiro/90.

Note-se que entre o anúncio da venda da empresa até a transferência do controle acionário

(novembro/90) decorreram-se, apenas, 13 meses. A completa saída do Estado da indústria

ocorreu em apenas 26 meses com a venda, em dezembro/91, das participação acionária

remanescente. Este prazo, como já mencionado, foi muito curto vis-à-vis a experiência

mundial.

Os trabalhos de avaliação foram realizados pelo Banco Nacional de Desarrollo

de La República Argentina, tendo a licitação da ENTEL apresentado as seguintes

características:

I. a ENTEL foi dividida em quatro empresas distintas: (i) duas operadoras locais,

responsáveis pelos serviços de telefonia nas regiões norte e sul do país,

respectivamente, (ii) uma prestadora de serviços internacionais e (iii) uma empresa

121 Hill & Abdala (1993).

115

Page 115: a privatização da British Telecom

prestadora de serviços de valor adicionado, que seria submetida a competição. Os

ativos da ENTEL foram realocados entre estas quatro empresas, sendo que as duas

operadoras locais controlariam, com 50% de participação cada, as outras duas

empresas;

II. as duas operadoras locais teriam uma licença de exclusividade na oferta de

serviços telefônicos básicos por um período de sete anos, condicionada ao

cumprimento de metas mínimas de investimento e de qualidade dos serviços. Esse

prazo poderia ser prorrogado por mais três anos, sendo necessário para tanto o

cumprimento de um segundo conjunto de metas (mais ambicioso, em especial, no

tocante ao número de linhas instaladas a cada ano). Após dez anos, essas empresas

continuariam com a licença de operação, mais perderiam o direito de exclusividade.

Note-se que essa proteção não alcançava os serviços de valor adicionado

(transmissão de dados, telefonia celular, entre outros);

III. as ofertas públicas foram antecedidas por uma fase de pré-qualificação, na qual era

avaliada a capacidade técnico-financeira dos consórcios. Foi exigido, ainda, que em

cada consórcio existisse pelo menos uma operadora de telecomunicações

reconhecida internacionalmente;

IV. o governo assumiu a totalidade dos passivos da ENTEL e fixou um preço-base de

US$ 1.672 milhões por 100% das ações (equivalente a US$ 1.003 milhões pelos 60%

vendidos no primeiro leilão). Deste total, pelo menos US$ 214 milhões deveriam ser

pagos em moeda corrente ("cash");

V. o governo previa a criação de um novo organismo regulador, denominado Comision

Nacional de Telecomunicaciones (CNT), que seria dotado de orçamento oriundo de

fundo específico, constituído a partir de 0,75% das receitas brutas das operadoras de

serviços telefônicos.

116

Page 116: a privatização da British Telecom

Foram submetidas a fase de pré-qualificação, em abril/90, sete propostas de

consórcios liderados pela Cable and Wireless, pela Nynex Corporation, pela Telefônica de

Espana, pela France Telecom, pela STET, pela GTE Corporation e pela Bell Atlantic

Corporation.122 Todos foram qualificados, entretanto, apenas três consórcios apresentaram

propostas como detalhado na tabela a seguir:

TABELA 7.5

ENTEL

OFERTAS PÚBLICAS

EM US$ MILHÕES

PROPOSTA

REGIÃO NORTE

Telefônica de Espafia

STET/France TELECOM

REGIÃO SUL

Telefônica de Espana

Bell Atlantic

STET/France TELECOM

CASH

114

114

100

100

100

FINANCIAMENTO

540

389

458

371

350

TÍTULO DA DÍVIDA

EXTERNA O

2.180

1.944

1.850

1.856

1.750

TOTAL

2.884

2.447

2.408

2.337

2.200

Fonte: Hill & Abdala (1993).

(*) Valor de Face

Embora a Telefônica de Espafia tenha apresentado as maiores ofertas para

ambas as regiões, as condições de venda não permitiam que um mesmo consórcio

controlasse as duas regiões. Desta forma, a Telefônica optou pela concessão da região sul.

Note-se que devido as negociações estabelecidas desde 1988 com o governo argentino em

tomo da privatização da ENTEL, a Telefônica detinha maiores informações sobre a empresa, o

122 Os consórcios tinham, em geral, uma estrutura tripartite formada de um sócio estrangeiro (que

aportava a tecnologia, o "know-how" e o "management"), de um sócio local (ligado a grandes

grupos econômicos) e um sócio financeiro (na maioria das vezes um banco estrangeiro detentor

de títulos da dívida externa argentina, os quais foram macisamente usados como moeda de

privatização). Note-se que alguns consórcios desistiram de participar do leilão devido à

dificuldade em adquirir o volume de títulos da divida externa argentina necessário para fazer

frente às ofertas.

117

Page 117: a privatização da British Telecom

que certamente influenciou suas avaliações. A região norte deveria ficar com a Bell Atlantic,

segunda colocada no leilão, mas a empresa abandonou o processo, tendo prevalecido a oferta

da STET/France Telecom.

Os contratos de transferência foram assinados em 08.11.90. Em dezembro/91

e março/92, foram colocadas no mercado as ações restantes. Os trabalhadores da ENTEL

puderam adquiriram 10% do capital social da empresa, ao preço de US$ 16,6 milhões, que

seria pago com dividendos provenientes dessas ações. O Banco de La Ciudad de Buenos

Aires foi o garantidor dessa operação.

Após a transferência, a estrutura básica da indústria ficou assim definida:

118

Page 118: a privatização da British Telecom

FIGURA 7.6

ARGENTINA

ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES -1993

REGIÃO SUL

Telefônica de Esparta 28,8%

Citicorp 27,7%

Inter-Rio Holdings 15,9%

Inversora Catalinas (**) 8,3%

OutrosO 19,3%

COINTEL 60%

Empregados

10%

Mercado

30%

TELEFÔNICA DE

ARGENTINA

(99,99%)

TELINVER

REGIÃO NORTE

STET

France TELECOM

Peréz Companc

J.P Morgan e

Morgan Capital Co

32,5%

32,5%

25,0%

10,0%

NORTEL 60%

TELECOM

ARGENTINA

(50,0%)

Empregados

10%

Mercado

30%

(99,99%)

(50,0%)

PUBLICON

TELTINTAR STARTEL MOVISTAR

[Radio Llamadas

Fonte: Saiomon Brothers (1994).

(*) Em sua maioria bancos.

(**) Representa, basicamente, a Compania Técnica Internacional (TECHNIT).

119

Page 119: a privatização da British Telecom

Ressalte-se que a TELEFÔNICA e a TELECOM são sócias em três empresas:

a TELINTAR, a STARTEL e a MOVISTAR. A TELINTAR atua na prestação de serviços de

telefonia de longa distância e internacional, a STARTEL opera os serviços de valor adicionado

(transmissão de dados, vídeo conferência, paging, entre outros) e a MOVISTAR fornece

serviços de telefonia celular.123

Além disso, em abril/92, a TELEFÔNICA e a TELECOM adquiriram a CAT

incorporando seus ativos, o que representou um acréscimo na rede de 118,5 mil linhas para a

TELEFÔNICA e 160 mil linhas para a TELECOM.

7.4 A PERFORMANCE DA INDÚSTRIA PÓS-PRIVATIZACÃO

Embora tenha se passado apenas cinco anos desde a venda da ENTEL, o que

torna prematura uma análise conclusiva sobre seus efeitos, os resultados obtidos pela

TELEFÔNICA e pela TELECOM têm corroborado a hipótese de que a privatização deverá

aumentar grau de eficiência produtiva da indústria de serviços de telecomunicações no país.

Desde a privatização até final de 1993, a TELEFÔNICA havia expandido o

número de linhas em serviço em 30,5%, totalizando cerca de 2,2 milhões de linhas. No mesmo

período, a TELECOM registrou um acréscimo de 35%, somando 1,8 milhões de linhas em

serviço. Esse crescimento foi muito superior ao experimentado durante a década de 80 , e

representou um aumento de aproximadamente 1,0 milhão de linhas em relação às existentes

em 1990 (3,1 milhões de linhas). O reflexo desse crescimento foi sentido no aumento do grau

de penetração da rede, que passou de 10 para 11,3 linhas em serviço/100 habitantes na região

123 Operam também sistemas de telefonia celular no país a Compafiia de Teléfonos dei Interior S.A.

(um consórcio liderado pelas empresas norte-americanas GTE e AT&T) e a Movicom (do grupo

argentino Macri, proprietário das montadoras da Fiat e Peugeout na Argentina).

124 O crescimento médio no período 1990/93 foi de 9,8% ao ano. Na década de 80, esse

crescimento foi de apenas 5,6% ao ano.

120

Page 120: a privatização da British Telecom

operada pela TELECOM e de 12 para 14,1 linhas em serviços/100 habitantes na região

operada pela TELEFÔNICA.

Houve também um significativo aumento do número de telefones públicos. No

período 1990/93, a TELEFÔNICA aumentou em 85% o número desses telefones e a

TELECOM em 105%, o que representou cerca de 21, 5 mil novos telefones públicos no país.

Apesar do expressivo aumento da rede, um movimento subsequente à

privatização foi o enxugamento do quadro de funcionários de ambas as empresas. Esse

movimento esteve associado à introdução de novas tecnologias, em especial ao aumento do

grau de digitalização da rede. Ressalte-se que entre 1990 e 1993, o número de empregados da

TELECOM caiu de 19 mil para 15,6 mil, tendo o grau de digitalização da rede passado de

11,5% para 54,4%. No mesmo período, o número de empregados da TELEFÔNICA reduziu-

se de 21,8 mil para 17,5 mil contra um aumento de grau de digitalização de 14,6% para 38,2%.

Note-se que o processo de demissões foi dificultado pela forte interferência dos sindicatos,

devido ao elevado grau de sindicalização dos empregados da indústria de telecomunicações

argentina.125126

As tabelas a seguir listam alguns indicadores de performance, da TELECOM

e da TELEFÔNICA, no período de 1991/93:127

125 Aproximadamente, 90% dos empregados da TELEFÔNICA e da TELECOM são sindicalizados.

126 A queda do número de empregados contribui também para melhorar os indicadores tradicionais

de produtividade (Receita/Empregado e Linhas em Serviço/Empregado).

127 Os dados referentes ao ano de 1990 encontram-se na TABELA 7.4.

121

Page 121: a privatização da British Telecom

TABELA 7.7

INDICADORES OPERACIONAIS

REGIÃO SUL - TELEFÔNICA

Linhas Instaladas

Linhas em Serviço

População

Empregados

Grau de Digitalização

Telefones Públicos

Receita/Empregado

Receita/Linha

Linhas em Serviço/100 hab.

Linhas em Serviço/Empregado

Milhares

Milhares

Milhares

Milhares

%

Milhares

USSmil

US$

Unidades

Unidades

1991

2.023

1.782

14.110

17,5

18,1

14,6

57,5

568

12,6

102,1

1992

2.258

2.008

15.980

19,1

24,0

20,7

75,3

724

12,6

105

1993

2.667

2.213

15.700

17,5

38,2

24,0

102,4

809

14,1

126,5

Fonte: TELEFÔNICA

Extraído de Salomon Brothers (1994)

TABELA 7.8

INDICADORES OPERACIONAIS

REGIÃO NORTE - TELECOM

Linhas Instaladas

Linhas em Serviço

População

Empregados

Grau de Digitalização

Telefones Públicos

Receita/Empregado

Receita/Linha

Linhas em Serviço/100 hab.

Linhas em Serviço/Empregado

Milhares

Milhares

Milhares

Milhares

%

Milhares

US$mil

US$

Unidades

Unidades

1991

1.607

1.417

12.540

17,1

12,0

11,0

51,1

620

11,3

82,5

1992

1.999

1.674

16.410

17,0

32,4

15,8

70,4

717

10,2

98,2

1993

2.301

1.878

16.620

15,6

54,4

20,5

93,9

782

11,3

120,1

Fonte: TELECOM

Extraído de Salomon Brothers (1994).

Cabe ressaltar que a TELECOM e a TELEFÔNICA têm exclusividade nos

serviços básicos de telefonia (local, interubana e inemacional) garantida pelo contrato de

transferência até novembro/97. A atual performance operacional dessas empresas, entretanto,

indica que o prazo de exclusividade deverá ser prorrogado por mais três anos. Note-se que as

metas de investimento e qualidade dos serviços exigidas quando da privatização vem sendo

largamente superadas. Para isso foram investidos, no período de 1990 a 1993, cerca de US$

1,6 bilhões pela TELEFÔNICA e de US$ 1,7 bilhões pela TELECOM, a maior parte na

expansão e modernização da rede.

122

Page 122: a privatização da British Telecom

Cabe mencionar que a TELEFÔNICA apresentou, no período 1991/93, um

acréscimo de 55,5% em sua receita operacional, passando de US$ 1.152 milhões para US$

1.791 milhões. No mesmo período, a TELECOM apresentou um aumento de receita de 61%,

atingindo US$ 1.469 milhões.128 Esse incremento de faturamento é resultado do crescimento

do número de linhas em serviço, da implantação de novos serviços e do realinhamento de

tarifas.

Quanto ao perfil, ambas as empresas tem parcela expressiva do faturamento

atrelada aos serviços medidos (tráfego). Os demais itens significativos são: a assinatura

mensal, a instalação de linhas e as transferências oriundas da TELINTAR e da STARTEL, com

detalhado no quadro a seguir:

TABELA 7.9

PERFIL DE RECEITAS

TELECOM E TELEFÔNICA

1993

Serviço

Serviços Mesurados

Assinatura Mensal

instalação de Novas Linhas

STARTEL

TELINTAR

Outros

TOTAL

Recefta Anual-USSmJthôes

TELECOM

52%

16%

11%

1%

9%

11%

100%

TELEFÔNICA

50%

16%

9%

1%

10%

14%

100%

Fonte: TELEfÕNICA e TELECOM

nExtraldo de Salomon Brothers (1994).

(*) Inclui receitas oriundas de telefones públicos.

A TELEFÔNICA e a TELECOM têm compromissos assumidos junto ao

Governo de colocar as tarifas telefônicas em patamares semelhantes aos praticados no

mercado internacional. Particulamente, o preço de instalação deverá atingir US$ 250 em

novembro/96, sendo completamente eliminadas as diferenças existentes entre os preços de

instalação para usuários residenciais e comerciais, com detalhado no quadro a seguir:

128Salomon Brothers (1994).

123

Page 123: a privatização da British Telecom

TABELA 7.10

PREÇOS DE INSTALAÇÃO

(EM US$)

Data

Agosto/92

Novembro/92

Novembro/93

Novembro/94

Novembro/95 (P)

Novembro/96 (P)

Residência)

900

750

500

500

250

250

Comercial

1.800

1.250

1.000

750

500

250

Fonte: CNT

Extraído de Salomon Brothers (1994).

Essa meta vem sendo atingida, tendo o preço da instalação, entre 1991 e

1994, se reduzido cerca de 46,1% para os usuários residenciais e 56,9% para os usuários

comerciais. Um movimento semelhante ocorreu com o preços da tarifa básica (assinatura)

comercial que se reduziu 30%, no mesmo período. Neste caso, a contrapartida foi a redução

do número de pulsos gratuitos a que a assinatura dá direito.

Não obstante, os preços da assinatura residencial e do pulso apresentaram

aumentos, entre 1991 e 1994, de 60% e 8,6%, respectivamente. A tabela a seguir ilustra a

evolução das tarifas entre 1991/94:

TABELA 7.11

TARIFAS TELEFÔNICAS

TELECOM E TELEFÔNICA

1991/94

(em US$)

RESIDENCIAL

Instalação

Assinatura

Pulsos vinculados à Assinatura

COMERCIAL

Instalação

Assinatura

Pulsos vinculados à Assinatura

Preço do Pulso

1991

928

5,16

100

2321

46,77

165

0,038025

1992

750

7,75

100

1250

31,01

100

0,039100

1993

500

8,06

100

1000

31,96

100

0,040300

1994

500

8,26

100

1000

32,76

100

0,041300

Fonte: Salomon Brothers (1994)

124

Page 124: a privatização da British Telecom

Note-se que as tarifas telefônicas já haviam sofrido um acréscimo significativo

no período 1989/90, e que nos casos em que ocorreram reduções de preços entre 1991 e

1994, o que se observou foi uma aproximação do patamar de preços existente pré-

privatização. Além disso, os subsídios cruzados entre as ligações locais, interurbanas e

internacionais permanecem expressivos. Note-se que, em 1992, os serviços locais

respondiam por 75% do tráfego telefônico, entretanto, apenas 25% das receitas das

operadoras advinha desses serviços.129

Ressalte-se que os serviços apresentam ainda grande concentração.

Aproximadamente 50% dos serviços prestados pela TELEFÔNICA e 41% dos prestados pela

TELECOM estão concentrados na região metropolitana de Buenos Aires.130 A TELEFÔNICA

apresenta uma estratégia de crescimento apoiada na ampliação da oferta de serviços aos

usuários comerciais ("business") que apresentam maior margem de lucro. Esses usuários

representavam, em 1993, apenas 16% das linhas em serviços mas representavam 24% das

receitas totais e 47% das receitas oriundas de serviços medidos (tráfego).131 Já a TELECOM

tem planos de interligar as principais cidades industriais da região norte através de cabos de

fibra ótica, melhorando a qualidade e ampliando o leque de serviços a serem ofertados.

Apesar dos bons resultados operacionais obtidos pela TELECOM e pela

TELEFÔNICA, um ponto crítico do processo de privatização da indústria de telecomunicações

argentina foi a fixação das regras de regulação. Embora os contratos de transferência da

ENTEL já adotassem uma série de exigências que os aproximava de um mecanismo

regulatório, a atenção dispensada à criação da agência reguladora durante o processo de

venda foi diminuta.

129 Hill&Abdala(1993).

130 SalomonBrothers(1994).

Reflete a concentração da atividade econômica nessa região.

131 A região explorada pela TELEFÔNICA inclui 65% da área comercial e financeira de Buenos Aires,

bem como os principais centros turísticos do país (a Costa Atlântica, Bariloche e Mendoza).

125

Page 125: a privatização da British Telecom

Mesmo após a criação da Comisión Nacional de Telecomunicaciones (CNT), o

papel e a atuação desse órgão continuaram sendo muito questionados.132 Originalmente

criada para regulamentar a indústria, a CNT tem suas atividades hoje restritas a (i)

supervisionar o cumprimento de metas quantitativas e qualitativas dos serviços telefônicos

fixadas quando da privatização, (ii) determinar os padrões técnicos dos equipamentos e

serviços (iii) resolver eventuais conflitos entre as empresas e usuários. Note-se que a

incapacidade de solucionar os conflitos inerente à indústria fez com que a CNT sofresse

intervenção do Governo em maio/95.133

Outro ponto polêmico foi a revisão das tarifas. Inicialmente, foi adotado um

sistema de revisão de tarifas do tipo "price cap". A tarifa de partida considerava uma taxa de

retomo sobre o investimento de 16% ao ano e previa reajuste mensais com base no índice de

preços ao consumidor, o qual seria repassado integralmente nos dois primeiros anos. Nos três

anos subsequentes, a indexação sofreria um desconto de 2% ao ano e nos três anos seguintes

de 5% ao ano. Essa regra era semelhante a adota na privatização da British Telecom,

entretanto, sofreu diversas alterações ao longo dos últimos cinco anos.

A alteração mais significativa ocorreu em abril/91, com edição da Lei n°

23.628/91 que eliminou todos os mecanismos de indexação. Com isso as tarifas

permaneceram congeladas até novembro/91, quando foi estabelecida nova regra, que tinha

por base preços em dólar e reajustes semestrais de acordo com a variação do índice de

132 Note-se que a CNT era um órgão novo, que não aproveitou a experiência anterior da Secretaria

de Comunicaciones, responsável pela regulação da indústria até 1990. Embora a decisão do

Governo de criar um novo órgão tenha a vantagem de desvinculá-lo dos vícios burocráticos da

organização anterior, não há dúvida de que muito do conhecimento sobre a indústria se perdeu

exatamente num momento em que a transferência da ENTEL para o setor privado ampliava a

assimetria de informações entre regulador/empresa.

133 A coexistência de monopólios (nos serviços básicos) e concorrência (nos segmentos de valor

adicionado) faz surgir problemas de regulação cuja solução não é ainda muito clara. Entre esse

problemas estão (i) a cobrança pelas operadoras dos serviços básicos de preços elevados para

permitir a conexão das prestadores de serviços de valor adicionado a sua rede (ii) a fixação

pelas operadoras de serviços básicos de preços artificialmente baixos para os serviços de valor

adicionado, financiando-os através de subsídios cruzados obtidos pela exploração dos

segmentos monopolizados (serviços básicos).

126

Page 126: a privatização da British Telecom

preços ao consumidor nos EUA. Essa regra vem causando grandes problemas devido ao

descolamento entre a variação de preços nos dois países. Em 1992, por exemplo, o índice de

preços ao consumidor na Argentina foi de 25% ao ano contra 3% registrados nos EUA. Essas

distorções fizeram com que na prática prevalecesse a negociação direta entre as empresas e o

Poder Executivo.

Como qualquer decisão de investimento depende da percepção do investidor

quanto duas variáveis chaves: risco e retorno, a lentidão na definição do arcabouço

regulatório, bem como as constantes mudanças na regra de reajuste das tarifas tiveram

impactos negativos sobre o processo de privatização com um todo. A decisão do governo

argentino de privatizar a ENTEL o mais rápido possível (para permitir equacionar as contas

públicas) relegando ao segundo plano a questão regulatória foi duplamente equivocada. Por

um lado, elevou os fatores de risco associado a compra da empresa e por outro revelou pouca

preocupação com a situação futura da indústria.

Note-se que a existência de um sistema regulatório estável e que dispusesse

de credibilidade teria como principal efeito uma redução significativa do risco associado ao

investimento e consequentemene, da taxa de retorno que os investidores exigiriam para

participar do empreendimento, podendo inclusive elevar o valor de venda da empresa.

Por último, é importante destacar que as operadoras internacionais que

participam acionariamente da TELECOM e da TELEFÔNICA são empresas estatais

(TELEFÔNICA DE ESPANA, STET e FRANCE TELECOM). A provável privatização dessas

empresas deverá ter importante impacto sobre a estrutura de telecomunicações argentina.

127

Page 127: a privatização da British Telecom

8. A INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL

8.1. A CRIAÇÃO DO SISTEMA TELEBRÂS

No início da década de 60, o poder concedente dos serviços públicos de

telecomunicações no Brasil estava fragmentado entre a União, os Estados e os Municípios.

Não havia um plano de expansão integrado e as políticas governamentais para a indústria

estavam subordinadas ao antigo Ministério de Viaçáo e Obras Públicas. A definição das tarifas

telefônicas, entretanto, cabia aos governos municipais, o que na prática resultava na fixação

de tarifas em níveis muito baixos para atender a interesses políticos.

Em conseqüência, a performance dos serviços era deficiente. Na telefonia

básica, a Companhia Brasileira de Telecomunicações (CBT), uma empresa subsidiária da

Canadian Traction Light and Power Company, operava 68% dos terminais telefônicos

instalados no país concentrando suas atividades no eixo Rio-São Paulo134. Os 32% restantes,

estavam divididos por mais de 800 entidades, entre prefeituras, médias e pequenas empresas

e cooperativas, as quais careciam de condições técnicas, financeiras e gerenciais para ofertar

os serviços.135

Em 1962, o país contava com 1,3 milhões de telefones, o que representava

uma densidade 1,7 telefones/100 habitantes.136 Note-se que apenas quatro cidades (Rio de

Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília) eram conectadas por sistemas de microondas

que permitiam realizar ligações de longa distância. As ligações internacionais eram difíceis e a

qualidade da transmissão ruim. Ademais, a ausência de planos de investimento por parte das

concessionárias tomava a perspectiva de mudança desse quadro muito reduzida.

134 A CBT operava, também, nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

135 BIRD (1992).

136 Villalobos(1994)

128

Page 128: a privatização da British Telecom

Em dezembro/62, foi promulgado o Código Brasileiro de Telecomunicações

(Lei n° 4.117/62) que representou a primeira tentativa de estabelecer um ordenamento e uma

política industrial centralizada137. A idéia básica era criar um Sistema Nacional de

Telecomunicações (SNT) que permitisse unificar e compatibilizar tecnicamente a rede, uma

vez que a fragmentação da indústria havia produzido grande heterogeneidade de

equipamentos, prejudicando a interligação entre as diversas regiões do país e elevando os

custos de operação do sistema.

Através do Código Brasileiro de Telecomunicações, foi criada a Empresa

Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL)138 que passou a ser responsável pela

implantação dos troncos e pela exploração dos serviços de longa distância (interestaduais e

internacionais). Para financiar as atividades da EMBRATEL foi instituído o Fundo Nacional de

Telecomunicações (FNT), uma sobretarifa de 30% que incidia sobre todos os serviços de

telecomunicações prestados no país.

Foi criado, ainda, o Conselho Nacional de Telecomunicações (CONTEL) um

órgão, diretamente ligado à Presidência da República, que centralizava as funções normativa,

fiscalizadora e de planejamento da indústria.

A centralização do poder concedente na União ocorreu através da Constituição

de 1967. A partir de então, o Governo Federal passou a deter o domínio de exploração dos

serviços de telecomunicações no país, podendo exercê-lo diretamente ou mediante concessão

a empresas públicas ou privadas. Nesse mesmo ano foi criado o Ministério das Comunicações

(MINICOM). Cabe ressaltar que essas medidas tornavam clara a decisão do governo de

caminhar na direção do monopólio estatal dos serviços de telecomunicações.

137 Moreira (1989).

138 A EMBRATEL foi, formalmente, fundada em setembro/65.

139 Em 1966, foi concretizada a compra da CTB já sob intervenção desde 1962.

129

Page 129: a privatização da British Telecom

Nesse sentido, o último passo na reorganização institucional da indústria foi

dado em 1972, com a criação da Telecomunicações Brasileiras S.A. (TELEBRÁS), através da

Lei n° 5.792/72. A partir daí, iniciou-se o processo de aquisição do controle das quase 1.000

companhias telefônicas existentes à época, tendo essas empresas sido organizadas sob a

forma de operadoras estaduais (o que aliás permanece até hoje). Como destacado em Moreira

(1989), a constituição da TELEBRÁS como uma empresa 'holding era uma maneira eficiente

de centralizar a gestão dos recursos financeiros (incluindo, o FNT) e de aumentar o poder do

MINICOM sobre as operadoras (o que facilitava a unificação da rede). Além disso, a forma

jurídica da TELEBRÁS facilitava o processo de incorporação das concessionárias municipais.

É interessante notar que a organização da indústria através da criação de uma

"holding não foi exclusivo das telecomunicações. Na verdade essa organização visava obter

maior agilidade do setor produtivo estatal no atendimento às demandas do II PND, cuja

prioridade eram os investimentos em infra-estrutura (comunicações, transporte e energia) e

140

em setores produtores de insumos básicos (siderurgia e petroquímica).

No final da década de 70, o chamado Sistema TELEBRÁS já apresentava o

perfil atual. Além da •'holding" TELEBRÁS, o Sistema englobava, ainda, a operadora de longa

distância (EMBRATEL), 27 operadoras locais (estaduais) denominadas de empresas-pólo e

um centro de pesquisa e desenvolvimento (CPqD). O quadro a seguir ilustra a estrutura

institucional do Sistema TELEBRÁS:

140 É da mesma época a criação da SIDERBRÁS (1973) e o fortalecimento da ELETROBRÁS

(através do redirecionamento de recursos fiscais, em especial, do Imposto Único sobre Energia

Elétrica).

130

Page 130: a privatização da British Telecom

FIGURA 8.1

SISTEMA TELEBRÁS

ESTRUTURA INSTITUCIONAL

TESOURO NACIONAL

(24% do capital total e

53% do capital votante)

CPqD CONCESSIONÁRIAS

Empresas-Pólo

TEUEACRE

TELEAMAZON

TELAIMA

TELEMAPÁ

TELEPARA

TELERON

TELMA

TELEWSA

TELECEARÁTELERN

TELPA

TEIPE

TELASA

TELEBAHIA

TELERGtPE

TEUEBRASÍUATELEGOIÁS

TELEMAT

TELEMS

TELEMK3

TELEST

TELERJ

TELESP

TELEPAR

TELESC

Além das 27 operadoras locais, há ainda companhias coligadas, como por

exemplo, a Companhia Telefônica de Paranaguá (COTELPA) e a Companhia Ponta

Grossense de Telecomunicações (CPT), ambas controladas pela TELEPAR. Outra empresa

ligada ao Sistema é a Companhia Rio Grandense de Telecomunicações (CRT), cujo controle

acionário pertence ao governo gaúcho. Existem também empresas independentes, dentre as

quais as mais importantes são a Companhia Telefônica do Brasil Central (CTBC)141 que opera

em diversos municípios de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul, e os

Serviços Telefônicos das Prefeituras Municipais de Ribeirão Preto e de Londrina.

O Sistema TELEBRÁS opera 94% dos terminais em serviço no país e 100%

dos troncos de comunicação interurbana e internacional. Os 6% dos terminais restantes são

141Pertencente ao Grupo ABC Algar.

131

Page 131: a privatização da British Telecom

operados pelas empresas independentes, com destaque para CRT, a CTBC, e os Serviços

Telefônicos das Prefeituras de Ribeirão Preto e Londrina.

Apesar da criação do Sistema TELEBRÁS ter ocorrido no início da década de

70, a formalização do monopólio estatal nas telecomunicações no Brasil ocorreu com a

promulgação da Constituição de 1988. O novo texto constitucional alterou a redação vigente

na Constituição de 1967 incluindo a frase "a empresas sob controle adonàrio estataí no artigo

a 142

referente a concessão dos serviços públicos de telecomunicações:

ART.21

Parágrafo XI - "compete à União explorar, diretamente ou mediante concessão a

empresas sob controle acionário estatal , os serviços telefônicos,

tetegráficos, de transmissão de dados e demais serviços públicos de

telecomunicações, assegurada a prestação de serviços de informações

por entidades de direito privado, através da rede pública de

telecomunicações, explorada pela União."

Parágrafo XII -"compete à União explorar, diretamente ou mediante concessão, os

serviços de radiodifusão sonora, de sons e imagens e demais serviços

de telecomunicações."

Ressalte-se que do ponto de vista operacional, a TELEBRÁS e suas

subsidiárias estão sujeitas a ampla regulamentação por parte dos Ministérios das

Comunicações, da Fazenda e do Planejamento.

Os planos estratégicos e de investimentos, por exemplo, dependem da

aprovação do Ministério das Comunicações. Os investimentos anuais tem que ser incluídos no

Orçamento Geral da União (OGU) e aprovados pelo Congresso, sendo a execução das metas

orçamentarias controlada pelo Ministério do Planejamento. Toda a contabilidade do Sistema

TELEBRÁS é detalhadamente revisada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), as compras

de equipamentos e componentes sâo realizada exclusivamente mediante sistema de licitação

e as tarifas estão sujeitas ao controle dos Ministérios da Fazenda e das Comunicações.

142 O Artigo 21 é alvo de interpretações diversas. O parágrafo XII, por exemplo, não define claramente o

que venham a ser "os demais serviços de telecomunicações" de que trata. Na prática, o Governo tem

recorrido a utilização de portarias a medida que o setor privado pressiona para prestação de um

determinado serviço. Note-se que muitas vezes essa indefinição rende ao Governo briga judiciais,

em especial envolvendo a EMBRATEL, a TELEBRÁS e as empresas privadas.

132

Page 132: a privatização da British Telecom

Esse excesso de regulamentação cria uma verdadeira "camisa de força" sobre

a empresa. Os resultados visíveis são atrasos na implantação de projetos, restrições sobre os

investimentos, encarecimento de compras e morosidade no processo decisório.

É importante destacar que apesar de todos esses problemas, o Sistema

TELEBRÁS é hoje o segundo maior grupo econômico do país segundo dados levantados pelo

Balanço Anual da Gazeta Mercantil, totalizando, em 1993, um patrimônio líquido de US$ 16,2

bilhões, uma receita operacional de US$ 6,9 bilhões e um lucro líquido de US$ 1,1 bilhões.

Dentre suas subsidiárias, a TELESP, a EMBRATEL, a TELERJ, a TELEMIG, a TELEPAR e a

TELEBAHIA estão entre as 50 maiores empresas dos país em termos de faturamento. Além

disso, a TELEBRÁS é atualmente a ação mais negociada nas bolsas de valores brasileiras,

representando cerca de 40% do volume diário, sendo também altamente negociada via ADRs

nos EUA.

8.2. DESEMPENHO ATUAL DA INDÚSTRIA

Como já vimos anteriormente, a indústria de telecomunicações constitui-se

num fator impulsionador da produtividade e da competitividade, seja no âmbito interno das

empresas, seja a nível do país. Essa potencialidade assume nova dimensão na atualidade,

graças ao surgimento de novos serviços de valor adicionado. Contudo, tanto a evolução dos

serviços tradicionais, como a dos novos serviços, encontra-se bastante cerceada pelas

deficiências da indústria no Brasil.

Ressalte-se que até meados da década de 80, o setor de telecomunicações

vinha mantendo seu crescimento e apresentando um nível razoável de atualização

tecnológica. O fato do país ter construído sua infra-estrutura de telecomunicações na década

de 70, época em que se iniciava a transição da tecnologia eletromecânica para a digital,

oferecia vantagens no sentido de ser possível saltar etapas tecnológicas. Contudo, a redução

dos investimentos em telecomunicações nos anos 80, momento em que a indústria passava a

nível mundial pela sua maior transformação, conduziu a uma situação muito restritiva, em

termos de qualidade e amplitude dos serviços

133

Page 133: a privatização da British Telecom

As questões que hoje afetam mais diretamente os usuários são: a) a baixa

qualidade dos serviços e a alta taxa de congestionamento, b) a pequena dimensão da rede

telefônica e a existência de muitas localidades, ainda não atendidas, c) o alto custo dos

terminais, d) o longo prazo de espera para a instalação das linhas, e) a oferta insuficiente de

serviços mais avançados ("value added services"). Do ponto de vista da indústria como um

todo, são flagrantes a baixa densidade telefônica, os níveis insuficientes e irregulares de

investimentos, as distorções na estrutura tarifária, a insuficiência de fontes de financiamento,

a ausência de um sistema de planejamento consistente de médio e longo prazo e a falta de

incentivos e de regulamentação adequada para investimentos privados.143

A planta telefônica brasileira atingiu, em 1992, cerca de 10,8 milhões de

terminais em serviço (sendo 12a planta a nível mundial em termos absolutos). A taxa de

crescimento, no período de 1972/92, foi de cerca de 11,2% ao ano, tendo atingido 16,1% no

período de 1972/82 e se reduzido para 6,4% no período 1983/92.144

Apesar do expressivo tamanho da planta em termos absolutos, sua dimensão

relativa, ainda, é reduzida. Em 1992, a densidade telefônica era de, aproximadamente, 7,9

linhas/100 habitantes, o que colocava o Brasil em 41° lugar a nível mundial entre os países

com mais de um milhão de linhas, abaixo do Chile (8,13), da Venezuela (8,23), da Colômbia

(8,74), da Argentina (11,17) , da CEI (11,19), da Espanha (33,35) e de Israel (33,90) entre

outros. Note-se que entre os países industrializados essa média é superior a 40 linhas/100

habitantes.145

Além da baixa densidade telefônica, há também uma significativa

desigualdade entre os Estados, o que de certa forma reflete os desequilíbrios encontrados a

nível regional e de distribuição de renda. Por exemplo, o Estado de São Paulo apresentava,

143 IE/CAMPINAS(1993).

144Dados extraídos de TELEBRÁS (1992).

145 Dados da UIT, da Blue Book & Country Data (1992) e da Siemens Internacional Telecom

Statistics (1992). Extraídos de IBDT (1992).

134

Page 134: a privatização da British Telecom

em 1992, uma densidade média de 13,0 linhas/100 habitantes, cerca de 65% acima da média

nacional. Internamente, entretanto, esse Estado reproduzia grandes desigualdades de oferta.

O distrito operacional do bairro da Consolação, situado na área nobre da capital, apresentava

uma densidade de 120 linhas/100 habitantes (comparável a cidade de Washington), ao passo

que as regiões mais pobre do Estado tinham uma densidade inferior a média nacional.

Como veremos mais detalhadamente a seguir, um dos fatores que contribui

para essa desigualdade é o alto custo de instalação (compra da linha). Neste sentido, segundo

estudos realizados pela TELEBRÁS, 85% das famílias com renda mensal acima de US$ 1.000

têm pelo menos um telefone, enquanto que somente 5% das famílias com renda inferior a US$

1.000 tem acesso aos serviços telefônicos.

O gráfico a seguir ilustra a densidade telefônica dos principais estados

brasileiros.

146 lE/CAMPINAS (1993)

135

Page 135: a privatização da British Telecom

GRÁFICO 8.2

BRASIL - DENSIDADE TELEFÔNICA -1992

(telefones/100 habitantes)

Fonte: TELEBRÁS (1992)

Ressalte-se que apenas as regiões Sul (8,1 telefones/100 habitantes), Sudeste

(11,2 telefones/1 OOhabitantes) e Centro-Oeste (8,9 telefones/1 OOhabitantes) apresentavam,

em 1992, densidade telefônica superior a média nacional. Na região Norte, a densidade era

de apenas 4 teiefones/1 OOhabitantes e no Nordeste de 3,4 telefones/1 OOhabitantes.

No mesmo ano, apenas 19,1% dos domicílios urbanos, 53,3% dos

estabelecimentos comerciais e menos de 2% dos domicílios rurais eram atendidos pela rede

telefônica. O número de telefones públicos era também muito reduzido. Havia cerca de 259,6

136

Page 136: a privatização da British Telecom

mil telefones públicos instalados, o que correspondia a uma média de 1,6 telefones

públicos/1000 habitantes, valor baixo se comparado ao dos países industrializados que

apresentam um índice entre 4 a 6 telefones públicos/1000 hab.147 148

Na área de transmissão de dados, a EMBRATEL possuía, em 1992, cerca de

14,2 mil portas instaladas na Rede Nacional de Comunicação de Pacotes (RENPAC), 33,2 mil

terminações TRANSDATA (aluguel de circuitos especializados) e 13,7 mil terminais de

videotexto 149. Esses serviços de valor adicionado apresentam oferta ainda incipiente,

embora venha crescendo progressivamente, como mostra a tabela a seguir:

TABELA 8.3

BRASIL

EVOLUÇÃO DOS SERVIÇOS DE TRANSMISSÃO DE DADOS

1983/92

Ano

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

Fonte

Milhares de Terminais/Teniinacoes

VIDEOTEXTO

0,69

1,40

4,60

8,50

11,30

14,10

15,83

16,12

13,70

13,70

TRANSDATA

6,50

6,00

8,10

13,10

15,80

16,30

20,44

25,10

30,18

33,20

'.: TELEBRÂS (1991) e (1992).

Milhares de Portas

RENPAC

-

0,90

0,90

2,10

2,50

2,95

3,47

7,24

12,54

14,20

Um elemento que restringe o crescimento dos serviços de valor adicionado,

em especial de transmissão de dados, é o baixo índice de digitalização da rede. Em 1992,

esse índice era de apenas 22% , sendo o seu crescimento sido lento devido à falta de

147

148

149

IE/CAMPINAS(1993).

IBDT(1992).

TELEBRÂS (1991).

137

Page 137: a privatização da British Telecom

recursos para investimento. Esse índice, entretanto, varia muito entre as empresas-pólo. Em

1992, a rede com menor índice de digitalização era a da TELERJ (15%), como podemos ver

na tabela a seguir:

TABELA 8.4

BRASIL - GRAU DE DIGITALIZAÇÃO-1992

Empresa

TELERON

TELEACRE

TELEAMAZON

TELAIMA

TELEPARA

TELEAMAPA

TELMA

TELEPISA

TELECEARA

TELERN

TELPA

TELPE

TELASA

TELERGIPE

TELEBAHIA

TELEMIG

TELEST

TELERJ

TELESP

TELEGOIAS

TELEMAT

TELEMS

TELEBRASILIA

TELEPAR

TELESC

CRT

TOTAL

Nu de

Analógicos

45

12

73

13

118

10

67

60

185

58

87

187

65

49

342

739

132

1.380

2.906

191

80

92

244

595

237

495

8.762

Terminais

Digitais

10

12

55

4

40

9

37

13

70

26

36

54

14

16

117

230

74

244

736

34

39

51

149

123

77

141

2.512

Total

55

24

128

17

158

19

104

73

254

84

123

241

80

65

459

969

205

1.624

3.641

225

118

142

394

718

314

635

11.274

Grau de

Digitalização

18,1%

50,8%

42,7%

23,0%

25,4%

46,7%

35,6%

17,2%

27,5%

30,7%

29,4%

22,5%

18,1%

25,2%

25,5%

23,7%

35,9%

15,0%

20,2%

15,2%

32,8%

35,6%

37,9%

17,1%

24,4%

22,1%

22,3%

Fonte:TELEBRÁS(1992)

Outro serviço ainda em estágio inicial de implantação, era o de telefonia

celular. Note-se que em 1992, existia no Brasil apenas 66 mil terminais celulares em serviço,

ou seja, 0,4 linhas para cada 1000 habitantes. Os investimentos realizados permitiram elevar

esse número para cerca de 1,1 milhão de assinantes em setembro/95. Contudo, a penetração

da telefonia celular no pais, ainda, é muito pequena mesmo se comparada a outros países

latino-americanos150

150 Os serviços de telefonia celular responderam, em 1994, por apenas 6% do faturamento da

TELEBRÁS que foi de US$ 8,5 bilhões (Gazeta Mercantí, 29/09/95).

138

Page 138: a privatização da British Telecom

Apesar da reduzida penetração dos serviços básicos e da carência dos

serviços de valor adicionado, o tráfego telefônico vem crescendo significativamente. No

período 1985/91, o tráfego local (medido em pulsos) evoluiu a uma taxa média geométrica de

8,8 % ao ano, no mesmo período, o tráfego interurbano e internacional (medidos em

chamadas) cresceram a uma taxa de 16,1% e de 23,7%, respectivamente.151

O aumento do tráfego, entretanto, não foi acompanhado de um crescimento do

volume de investimentos. Ao contrário, o investimento médio do Sistema TELEBRÁS caiu de

US$ 3,5 bilhões/ano no período 1973/79 para US$ 2,4 bilhões no período 1980/89. Elevando-

se ligeiramente no início dos anos 90.

Ressalte-se que o Sistema conta basicamente com quatro fontes de

financiamento de seus investimentos: a geração própria, os recursos captados junto a terceiros

(empréstimos no mercado financeiro doméstico e internacional), o autofinanciamento152

(assinantes) e os recursos fiscais.

No período 1974/80, a participação dos recursos de terceiros era significativa,

respondendo, em média, por cerca de 48% dos recursos investidos. Os 52% restantes eram

provenientes de autofinanciamento (23%), de recursos fiscais (15%) e da geração interna

(14%). Note-se que, até 1980, a maior parte dos recursos fiscais era constituída pelo Fundo

Nacional de Telecomunicações/FNT.

A partir dos anos 80, a principal fonte de recursos passou a ser a geração

interna, a qual representou cerca de 53% dos recursos investido no período 1981/92. Os

fundos provenientes do autofinanciamento mantiveram uma participação de 26% e registrou-

151TELEBRÁS (1991).

152 O autofinanciamento é uma característica da indústria de telecomunicações brasileira. Por esse

sistema, o assinante pagava um determinado valor através da subscrição de ações da

TELEBRÁS, de modo que a compra da linha representava uma aplicação, ainda, que

compulsória e em um ativo que durante muito tempo apresentou baixa liquidez.

139

Page 139: a privatização da British Telecom

se um declínio expressivo dos recursos provenientes de financiamentos e dos recursos fiscais.

Esse últimos se extinguiram completamente a partir de 1989.153 154

O tabela a seguir sintetiza a evolução do montante de investimentos do

Sistema TELEBRÁS, no período 1974/92, bem como suas principais fontes de captação.

TABELA 8.5

INVESTIMENTO DO SISTEMA TELEBRÁS

PRINCIPAIS FONTES DE FINANCIAMENTO

Ano

74

75

76

77

78

79

80

81

82

83

84

85

86

87

88

89

90

91

92

Investimento (*)

(US$ bilhões)

2,5

3,7

4,5

4,3

3,9

3,5

2,2

3,1

3,4

2,0

1,8

1,7

2,0

2,2

2,7

3,3

2,5

2,6

3,1

Fontes de

Geração

Interna

13

4

9

17

24

20

9

29

36

55

69

67

49

45

55

24

69

52

64

Financiamento

Empréstimos

47

60

61

50

30

42

42

23

22

12

5

2

14

2

23

42

6

22

23

- Participação Relativa (%)

Autofinanciamento

23

21

19

20

26

25

32

24

23

21

21

24

24

46

18

33

25

26

13

Recursos

Fiscais

17

15

11

13

20

13

17

24

19

12

5

7

13

7

4

1

0

0

0

Fonte: TELEBRÁS

Extraído de IBDT (1992) e IE/CAMPINAS (1993).

(*) US$ contantes de OUTUBRO/92.

153

154

Os recursos do FNT foram progressivamente destinados a financiar outras despesas do Governo

deixando de ser repassados ao Sistema TELEBRÁS. Em 1986, o FNT foi extinto e substituído

pelo Imposto sobre Serviços de Comunicação (ISSC). Posteriormente, em 1989, o ISSC teve sua

alíquota reduzida de 27% para 5%, e foi repassado aos municípios, conforme determinação da

Constituição de 1988.

Note-se que devido ao baixo endividamento o Sistema TELEBRÁS é pouco influenciado por

variações da taxa de juros e de câmbio. Por outro lado, devido a dependência dos recursos

próprios ele é bastante sensível a períodos de grande defasagem tarifária, como por exemplo, a

época do Plano Cruzado e o ano de 1989, períodos em que foram impostos congelamentos de

preços.

140

Page 140: a privatização da British Telecom

Segundo estimativas do Ministério das Comunicações, no período 1995/2000,

serão necessários investimentos de cerca de US$ 33,6 bilhões para que o sistema de

telecomunicações brasileiro se aproxime dos padrões dos países industrializados. Esse

montante corresponde a um investimento médio de US$ 6,7 bilhões/ano, cerca de 131%

superior ao investimento médio realizado no período 1973/92 (US$ 2,9 bilhões/ano).155 Essa

cifra torna claro que a concretização desses investimentos só será possível com a participação

da iniciativa privada na indústria.

Embora nos últimos anos a geração interna tenha passado a ser a principal

fonte financiamento do Sistema TELEBRÁS, ela se reduziu substancialmente. O principal fato

que contribuiu para isso foi a queda das tarifas em termos reais.

De maneira semelhante ao ocorrido em outros serviços públicos, as tarifas de

telecomunicações foram sistematicamente subcorrigidas desde 1979. Essa subcorreção teve

seus efeitos agravados pela existência de fortes subsídios cruzados. A existência de subsídios

cruzados não é privilégio da indústria de telecomunicações brasileira, com tivemos

oportunidade de ver nos capítulos anteriores outros países adotaram modelos semelhantes nos

quais as tarifas internacionais, interurbanas e de serviços de transmissão de dados

subsidiavam as tarifas tarifas locais, a assinatura básica mensal, o preço das fichas telefônicas

e a instalação de telefones públicos (serviços utilizados pelas camadas mais pobres da

população).

Ocorre que esse modelo encontra-se esgotado. A crescente competição a

nível mundial e o surgimento de novas tecnologias ("truking", redes privadas, entre outras) no

suprimento dos serviços de maior valor agregado vêm levando a uma sensível queda nas

margens das operadoras públicas nesses serviços, e reduzindo consequentemente os recursos

para aplicação na telefonia básica.

No caso do Sistema TELEBRÁS, um problema estrutural é a tarifa

internacional, a qual sempre foi muito superior a média mundial. O quadro a seguir compara

155 O investimento anual de US$ 6,2 bilhões é duas vezes superior ao valor investido pelas duas

operadoras de serviços básicos de telecomunicações na Argentina nos três anos subsequentes à

privatização.

141

Page 141: a privatização da British Telecom

o custo médio da tarifa de ligações internacionais originadas no Brasil e em alguns países

selecionados:

TABELA 8.6

BRASIL

TARIFAS INTERNACIONAIS -1994

(em US$/minuto)

Destino

Alemanha

Canadá

Chile

Espanha

EUA

Inglaterra

Origem

Brasil

3,17

2,39

2,83

3,17

2,39

3,17

Exterior

2,04

1,34

2,08

1,56

1,12

1,75

Variação

B/E

155%

178%

136%

203%

213%

181%

Fonte: Villalobos (1994)

Tarifa excluídos os impostos.

B/E= Brasil/Exterior

A partir de 1989, porém, com a redução das tarifas internacionais americanas

e a evolução dos sistemas computadorizados, cresceu, sobremaneira, a atuação dos Vese/fers".

Essa operadoras realizam chamadas internacionais por triangulação, um sistema conhecido

como "caii back". Através desse sistema, o usuário brasileiro cadastrado acesa o computador

central da operadora mediante uma senha, é chamado de volta a partir do exterior, e está

apto a fazer a ligação para qualquer parte do mundo pagando a tarifa norte-americana.156

Para reduzir essa perda de mercado, a EMBRATEL tem sistematicamente

revisto suas tarifas. Em 1990, uma ligação de cinco minutos para Nova York, por exemplo,

custava cerca de US$ 25. Em 1993, essa mesma ligação custava cerca de US$ 15, preço três

vezes superior ao de uma chamada em direção contrária. Em abril/94, a EMBRATEL

conseguiu reduzir a alíquota de ICMS sobre seus serviços de 25% para 13% e em

novembro/94, as tarifas sofreram nova redução de 20%.157

156 Villalobos (1994).

157Villalobos (1995).

142

Page 142: a privatização da British Telecom

Outro segmento que mantém tarifas elevadas, é o de transmissão de dados. O

custo do serviço TRASNDATA (aluguel de uma linha permanente com mais de 400 km de

extensão para transmissão de dados de um computador para outro) é de US$ 3,5 mil/mês. O

mesmo serviço custa US$ 2,0 mil/mês na França, US$ 1,3 mil/mês na Itália e US$ 1,8 mil/mês

na Espanha. Essas elevadas tarifas incentivam a criação de redes privadas de transmissão de

dados.158

Ao contrário, as tarifas locais e a assinatura básica apresentam preços muito

reduzidos. A tarifa local (pulso) é de US$ 0,018/minuto, ou seja, menos da metade da tarifa

argentina. A assinatura básica residencial é de US$ 0,61 (US$ 0,44 sem impostos) com direito

a 90 pulsos mensais, não cobrindo sequer o custo de emissão da conta telefônica. O

quadro a seguir detalha o perfil das receitas do Sistema TELEBRAS:

158 Dados Folha de São Paulo, 29/05/94.

159 Recentemente, a TELEBRAS decidiu nào cobrar mensalmente as contas inferiores a R$ 10,00. O

principal objetivo é reduzir os gastos com emissão das contas tefônicas. Segundo dados da

TELEBRAS, publicados no Jornal do Comércio (08/07/95), a emissão da conta custa entre R$

0,80 e 1,20 e é acrescida da tarifa cobrada pelo bancos que pode chegar a R$ 1,70.

Pelo novo sistema, um usuário que não ultrapasse o limite de 90 pulsos, garantido pela

assinatura básica, receberia a conta telefônica apenas a cada 17 meses. Para evitar, entretanto,

que o débito seja transferido para o ano fiscal seguinte a TELEBRAS estabeleceu que os débitos

acumulados deverão ser quitados sempre em dezembro de cada ano, mesmo que forem

inferiores a R$ 10,00.

143

Page 143: a privatização da British Telecom

GRÁFICO 8.7

SISTEMA TELEBRÃS

PERFIL DE RECEITAS

Ligações

Interurbanas

Internacionais

15%

OutrosBásica

Serviços Medidos

22%

Ligações

Interurbanas

Domesticas

51%

Fonte: TELEBRÁS

Extraído da Revista Nacional de Telecomunicações - Dezembro/93

É importante ressaltar que a atual estrutura tarifária do Sistema TELEBRÁS é

insustentável a médio prazo. Os serviços subsidiados não conseguem gerar recursos para

cobrir seus custos, ao passo que os serviços de valor adicionado, principal fonte de receitas do

modelo de subsídio cruzados, tem seus preços corroídos pela crescente concorrência

internacional que propicia soluções alternativas. O resultado é uma redução da receita e da

geração operacional do Sistema TELEBRÁS, e consequentemente de seu potencial de

investimento.

Refletindo a redução e o desbalanceamento dos investimentos e o simultâneo

aumento do tráfego, a qualidade dos serviços se deteriorou rapidamente até 1984. A partir de

então houve uma ligeira recuperação dos índices da qualidade dos serviços, embora esses

indicadores ainda estejam muito abaixo da média internacional. Um bom exemplo é a taxa

de congestionamento nas ligações interurbanas (DDD) terminadas - número de ligações não

completadas - que registraram uma piora sensível entre 1984 e 1989, saltando de 6,85% para

30,98%. A partir de 1989, essa taxa vem diminuindo tendo atingido 13,68% em 1992, como

detalhado no gráfico a seguir:

144

Page 144: a privatização da British Telecom

GRÁFICO 8.8

EVOLUÇÃO DA TAXA DE CONGESTIONAMENTO - DDD TERMINADO

1980/92

35%31,0%

30% -

25% i

j

20% t

15% +

10%

5% ■

24,8%

26,8%

16,2%

0%

9,5%

1 6,4% 6,5% 6,1% 6'8%8,2%

B

24,5%

21,1%

13,7%

80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

1TELEBRÁS • PADRÃO MUNDIAL

Fonte: TELEBRÁS (1991)

Apesar da taxa de congestionamento ter declinado a partir de 1989 ela é ainda

alta para padrões mundiais. Além disso, nos grandes centros urbanos esse índice é bem

superior a média. Nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, atinge cerca de

30%. O quadro a seguir sintetiza outros indicadores de desempenho do Sistema TELEBRÁS:

TABELA 8.9

SISTEMA TELEBRÁS

INDICADORES DE DESEMPENHO

1985/92

Indicador

Taxa de solicitação cte conserto por 100 telefones

Taxa de oontas reclamadas (a cada 100 contas)

Taxa de Atendimento de Reparação (%)

Taxa de Obtenção de Tom de Discar (%)

Taxa de Chamadas Completadas - DDO (%)

1985

5,6

89

98

54

1986

5,3

0,55

85

95

49

1987

5,3

0,63

76

89

43

1988

5,6

0,82

81

87

42

1989

5,2

0,55

83

84

38

1990

4,7

0,49

86

88

41

1991

4,5

0,46

88

91

43

1992

3,4

0,50

91

94

48

Fonte: TELEBRÁS

Em termos de produtividade, os índices tradicionais, tais como a relação

receita/empregado e número de linhas/empregado apresentam resultados deficientes. O

indicador receita/empregado foi fortemente afetado pela queda das tarifas telefônica em

145

Page 145: a privatização da British Telecom

termos reais relatada acima. O índice número de linhas/empregado, por sua vez reflete em

grande medida a obsolescência tecnológica do Sistema TELEBRÁS. Em 1993, esse índice era

de 125 linhas/empregado, inferior à média da empresas norte-americana (217), bem como da

STET (188), da TELEFÔNICA DE ESPANA (189) e da CTC (189).

Segundo dados levantados por Beardsley & Patsalos-Fox (1995), combinando

a receita média por chamada e o custo médio dos empregados, eram necessárias, em 1992,

120 mil chamadas para cobrir os custos de um empregado do Sistema TELEBRÁS. Esse

número era superior ao observado na Venezuela (43 mil) , Argentina (44 mil) e México (65

mil), sendo inferior somente ao observado nos EUA (223 mil).

8.3. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

Conforme destacado em Moreira (1989), a indústria de equipamentos de

telecomunicações teve sua origem no Brasil na década de 50, quando a política de

substituição de importações praticada pelo Governo passou a condicionar o fornecimento de

licenças de importação à instalação de unidades produtora de equipamentos no país. Neste

sentido, a Ericsson e a Siemens iniciaram suas atividades industriais em 1955, embora se

limitassem à montagem de produtos a partir de componentes importados.

Ressalte-se que a carência de investimentos nos serviços de

telecomunicações nas décadas de 50/60 limitou muito a performance e o crescimento da

indústria, a qual manteve uma escala muito reduzida de produção. O grande impulso para

crescimento da indústria ocorreu na década de 70, a partir da retomada dos investimentos e da

decisão de unificar a rede telefônica do país.

A criação do Sistema TELEBRÁS transformou a indústria num monopsônio

estatal, no qual o Sistema é responsável por cerca de 80% da demanda de equipamentos de

telecomunicações e tem controle sobre os padrões e normas técnicas.160 Além disso, a relação

entre a indústria de equipamentos e o Sistema TELEBRÁS passou a ser regido por "cartas de

160 Moreira (1989).

146

Page 146: a privatização da British Telecom

intenção" . Esse mecanismo abolia as concorrências públicas isoladas, substituindo-as por

grandes encomendas nas quais a "carta de intenção" representava para as empresas de

equipamentos a garantia de encomendas futuras.

É importante destacar que os esforços desenvolvidos na década de 70 e 80

foram profundamente influenciados pelo modelo de substituição de importações e pelo

elevado grau de isolamento da economia brasileira em relação à economia mundial. Os

principais objetivos da política industrial foram de (i) elevar o grau de nacionalização dos

equipamentos e componentes e (ii) reduzir a "dependência tecnológica" incentivando o

desenvolvimento de tecnologias e a maior participação do capital nacional na indústria.

A grosso modo a política industrial nos últimos 25 anos pode ser dividida em

quatro fases distintas.

A primeira se estende de 1970 a 78 e se caracterizou pela realização de

investimentos em modernização das empresas já instaladas no país com objetivo de atender à

crescente demanda do Sistema TELEBRÁS. O principal instrumento de política industrial foi a

portaria n° 661/75, cujos pontos centrais eram a recomendação expressa para a adoção de

centrais CPAs de tecnologia espacial e temporal e a ênfase no grau de nacionalização dos

equipamentos. Ressalte-se que esse documento tinha um caracter fortemente nacionalista.

À época, para forçar o aumento do grau de nacionalização, a TELEBRÁS criou

a figura do Certificado de Homologação, de modo que um equipamento para participar das

licitações e concorrência deveria ser previamente analisado e cadastrado. Posteriormente, em

1977, foi aplicada a Lei do Similar Nacional à indústria, o que ratificava a obsessão do

Governo com o cumprimento de metas de nacionalização dos equipamentos e componentes.

Paralelamente, para ajudar a desenvolver novas tecnologias foi criado, em 1976, o Centro de

Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da TELEBRÁS.

Na prática, os avanços dessa política ultra-nacionalista foram muito

incipientes. O exemplo mais claro foi a concorrência internacional, iniciada em 1976, para

compra da CPAs espaciais, cuja tecnologia deveria ser futuramente repassada a uma empresa

147

Page 147: a privatização da British Telecom

de capital nacional. Essa concorrência teve seus resultados impugnados três vezes (1978,

1979 e 1980), da última vez devido à corte de investimentos da TELEBRÁS, e acabou sendo

cancelada em 1981, quando as centrais CPAs espaciais já eram consideradas obsoletas.161

A segunda fase se estende de 1978 a 1984 e foi marcada pela portaria n°

622/78, que estabeleceu o conceito de empresa brasileira.162 Essa portaria desencadeou um

movimento de fusões e aquisições, através do qual as subsidiárias das empresas

multinacionais aqui instaladas buscavam se enquadrarem nesse conceito.

Durante esse período, continuou sendo dada grande ênfase ao índice de

nacionalização dos equipamentos, tendo a maioria deles atingido índices superiores a 70%,

conforme relatado na tabela a seguir:

TABELA 8.10

ÍNDICE DE NACIONALIZAÇÃO DOS

PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS FABRICADOS NO BRASIL -1983

EQUIPAMENTO

Centrais de Comutação Eletromecânica

(Crosspoint)

Centrais de Comutação Eletrônica

(Crosspoint)

Centrais de Comutação tipo CPA

Multiplex Telefônico FDM

Multiplex Telefônico

Rádio Microondas TDM

Rádio Microondas Analógico

Rádio Microondas Digital

Rádio UHF

Rádio VHF

Teleimpressor Eletrônico

Aparelhos Telefônicos

ÍNDfCE DE NACIONALIZAÇÃO

98,0%

93,0%

84,0%

92,5%

96,0%

96,5%

85,0%

76,0%

91,5%

98,2%

84,4%

97,7%

Fonte: Geicom (1984)

Extraído de I E/Campinas (1993)

161Moreira (1989).

162 A defição de empresa brasileira, à época, era aquela estabelecida no país, cuja maioria de capital

com direito a voto fosse de propriedade de brasileiros ou estrangeiros radicados no Brasil, e cujos

estatutos, contratos de acionistas e de cooperação ou assistência técnica não contivesssen

cláusulas restritivas ao pleno exercício das prerrogativas inerentes a esse maioria acionária. Ver

Moreira (1989).

148

Page 148: a privatização da British Telecom

Note-se que eram impostas aos fabricantes uma série de diretrizes e um

índice crescente de nacionalização, sem os quais não era possível a obtenção dos

Certificados de Qualidade e Homologação.

Em que pese os elevados índices de nacionalização, a indústria fracassou na

capacidade de inovação. Os equipamentos tomaram-se crescentemente defasados

tecnologicamente, justamente num setor em que os progressos tecnológicos a nível mundial

estava ocorrendo num ritmo muito rápido. Observou-se, ainda, como relatado em

IE/CAMPINAS (1993), que a competitividade em termos de preço do produto final não foi uma

preocupação explícita da política industrial.

De um lado, as dimensões do mercado interno, demostrava-se suficiente para

sustentar a indústria, de outro, o ambiente de proteção (com fortes restrições à importação)

não estimulava as empresas a buscar a competitividade internacional, nem tampouco a voltar-

se para o mercado exportador. Uma comparação entre os preços médios unitários de

equipamentos fabricados no Brasil e os respectivos preços internacionais, efetuada pelo

GEICOM163 em 1983, demostrou que o Brasil obtinha preços competitivos apenas no

segmento de aparelhos telefônicos. Alguns dos preços coletados encontram-se reproduzidos

na tabela a seguir:

163 Grupo Executivo da Indúsria de Componentes para Comunicações, órgão vinculado ao Ministério

das Comunicações.

149

Page 149: a privatização da British Telecom

TABELA 8.11

PREÇOS MÉDIOS UNITÁRIOS

COMPARAÇÃO INTERNACIONAL -1983

EQUIPAMENTO

Centrais Eletromecânica

(finha equivalente)

Centrais de Comutação

Eletrônica

{terminal}

Muttipiex Telefônico FDM

Multiplex Telefônico PCM

Rádio Microondas Analógico

Rádio Microondas Digital

Rádio UHF

Rádio VHF

Teleimpressor Eletrônico

Aparelhos Telefônicos

Telefone Público

BRASIL

360

420

820

380

40.000

60.000

7.500

1.800

5.050

30

400

PADRÀO-

IMTERNACIONAL

330

300

400

360

22.000

22.000

5.000

1.200

3.000

50

600

Bfín

9%

40%

105%

6%

82%

173%

50%

50%

68%

(40%)

(33%)

Fonte: Geicom(1984)

Extraído de lE/Campinas (1993)

(*) B/l = Brasil/Internacional

Além disso, a política de compras da TELEBRÁS pautou-se pela divisão

regional do mercado entre as três principais empresas da indústria: a Ericsson (que havia, em

1978, formado uma "joint-venture" com a Bradescos Seguros e o Grupo Monteiro Aranha), a

NEC (em "joint-venture" desde 1981 com a Brasilinvest) e a Siemens (através da Equitel, que

desde 1980 era um "joint-venture" com o Grupo Hering).

A terceira fase da política industrial, entre 1984 e 1990, foi influenciada pela

aprovação da Lei de Informática, cuja abrangência atingiu um conjunto de produtos derivados

da microeletrônica, inclusive na área de telecomunicações. A questão do controle tecnológico

nacional e a capacidade de absorção da transferência tecnológica, bem como o conceito de

empresa nacional utilizado pela Secretaria Especial de Informática (SEI) foram objeto de

diversos atritos entre a SEI e o MINICOM.

150

Page 150: a privatização da British Telecom

O resultado desse período sobre a industria de equipamentos pode ser

analisado pela ocorrência de dois movimentos. Do lado das empresas, houve um novo

processo de alterações na estrutura de capital, resultando na nacionalização e

desmembramento das principais empresas, entre elas: Equitel, Multitel, Matec/Ericsson, NEC,

ABC Teleinformática , Sul América Teleinformática e a SESA. Algumas empresas como a ITT,

Itatel, a Telettra (Grupo Fiat), a GTE e a Phillips optaram por sair do mercado brasileiro.

O outro movimento foi a tentativa de algumas empresas em atuar

simultaneamente nos mercados de informática, bens eletrônicos de consumo e componentes

de telecomunicações. Entre essas empresas se destacam a Elebra, a Multiel, o Grupo ABC, o

Grupo SID e o Grupo Itaú.164 165

A quarta fase se inicia em 1990, com o processo de abertura da economia

conduzido no Governo Collor. A política industrial e de comercio exterior formulada então

representava um grande mudança de enfoque, sendo dada ênfase crescente à competitividade

internacional. Para atingir esse objetivo, foram reduzidas alíquotas de importação e eliminadas

barreiras não-tarifárias.

Esse processo gerou algumas ações importante como por exemplo, o

lançamento de concorrências públicas para aquisição de sistemas de telefonia celular com a

participação direta de fabricantes estrangeiros e a importação crescente de equipamentos.

Como destacado em IE/CAMPINAS(1993), essa maior abertura de economia

como um todo e da indústria de equipamento em particular forçou os produtores locais a

passar por um processo de ajuste profundo, que englobou os seguintes pontos:

164 IE/CAMPINAS (1993).

165 Para apoiar os serviços de Banco 24 horas, terminais de saques/consultas, sistema de caixas "on

Une" foi necessário transmitr grandes pacotes de dados , em alta velocidade. Para isso foram

utilizados os serviços denominados TRANSDATA (em operação desde 1980) e RENPAC (desde

1984) da EMBRATEL. Diversas empresas nacionais passaram a produzir componentes para

circuitos digitais de transmissão de dados, algumas delas pertencente e/ou associadas a bancos,

como a Scopus ligada ao Banco BRADESCO e a Itaúcom. Alguns bancos como o Itaú investiram em

redes próprias de transmissão, com suas estações terrestres de acesso aos satélites brasileiros.

151

Page 151: a privatização da British Telecom

I. a melhoria produtiva e gerencial, através de reformas administrativas

(incluindo corte de pessoal, redução de níveis hierárquicos, terceirização de

serviços), relocalização das plantas industriais e racionalização do processo

produtivo;

II. a maior preocupação com os níveis de qualidade e produtividade, incluindo a

obtenção de certificados internacionais de qualidade como a ISO;

III. a realização de parcerias com empresas estrangeiras visando ao acesso a

linha de produtos tecnologicamente mais avançadas e ainda não disponíveis

no mercado brasileiro.

É importante destacar que até 1991, o mercado era fechado à competição

externa e geograficamente dividido entre poucos participantes, o que implicou em custos de

instalação por linha de até US$ 5 mil, incluindo construção civil e custos de capital. Com a

abertura, esse custos decresceram rapidamente e hoje encontram-se ao redor de US$ 2,5 mil.

Um outro exemplo marcante é a telefonia celular. Em 1990, a NEC instalou no Rio de Janeiro

o primeiro sistema de telefonia celular do país, a um preço médio de US$ 6.300/ terminal.

Menos de um ano depois, a Nothem Telecom implantou sistema semelhante em Brasília por

US$ 4.300/terminal. Finalmente, em concorrência realizada em São Paulo, em 1992, o preço

estabelecido pela NEC foi de US$ 1.246/terminal. °°

Além da melhoria operacional das empresas já instaladas no país, outro

elemento que contribuiu para essa queda de preços foi a entrada de novos competidores.167 A

primeira empresa a entrar foi a Alcatel, a partir da fusão da Standard Eletrônica, da Elebra, da

Sesa Rio Telecomunicações e da Multitel. Note-se que a Alcatel divide o controle de suas

operações no Braisl com os grupos Itaú, Cataguazes Leopoldina e Ipiranga.

166Folha de São Paulo, 23/04/95.

167 Em 1992, cerca de 70,8% dos terminais contratados pelo Sistema TELEBRÁS eram fornecidos

por apenas três empresas: ERICSSON, EQUITEL e NEC.

152

Page 152: a privatização da British Telecom

Outro exemplo de entrada, foi a instalação de escritório comerciais e

representações da AT&T (que vem difundindo através de campanhas publicitária sua marca no

Brasil, embora ainda não vinculada a fabricação de qualquer produto específico) e da Northern

Telecom. Essas empresas vem acompanhando a evolução do mercado brasileiro e já integram

consórcios para participar de concorrências nas áreas de telefonia celular e comunicação de

dados. Desenvolvem,ainda, parcerias com empresas brasileira como é o caso da Northern

com a Promom (sistemas de comutação digital) e com a Moddata (comunicação de dados) e

da AT&T com a SID (telefonia celular) e com a CPM (comunicação de dados).

Outra importante competidora que se instalou no mercado brasileiro foi a

Motorola, a qual mantém diversas associações com empresa locais, bem como com a

Northern na área de radiocomunicação e comutação digital.

O número de parcerias entre fabricantes locais e empresas multinacionais

também tem crescido muito. Esses acordos são em muitos casos apenas "joint business" , ou

seja associações visando um negócio (concorrência) específico. Há, também, uma tendência

crescente das empresas de telequipamentos se tornarem fornecedoras de sistemas completos

para as soluções demandadas pelo mercado.

Cabe ressaltar que a indústria de equipamentos de telecomunicações

apresenta elevadas exigências tecnológicas, se caracterizando pela utilização de modernos

equipamentos, componentes e softwares mas, sobretudo, pelo dinamismo, o qual está

diretamente relacionado a sua capacidade de lançar novos produtos que permitam viabilizar

a oferta de serviços mais avançados. Neste sentido, é muito difícil uma empresa atuar e

manter-se nesse mercado sem importantes investimentos em P&D. A nível mundial, as

empresas destinam a investimentos em P&D cerca de 8 a 10% do seu faturamento. Há ,

ainda, centros de excelência entre eles, o Bell Labs e o BELLCORE (EUA), o Bell Northern

Research (Canadá), o CNET (França), o FZT/DBT (Alemanha), o Ellentel (Suécia), o NTT

Labs (Japão) e o Martlesham Labs (Inglaterra). 168 Mesmo as tecnologias mais avançadas,

168 IE/CAMPINAS(1993).

153

Page 153: a privatização da British Telecom

como as fibras óticas.as centrais digitais e os sistemas de telefonia celular estão passando por

contínuas e freqüentes transformações

No Brasil, o mercado historicamente dominado pelas subsidiárias de grandes

empresas americanas, européias e japonesas, teve seu dinamismo fortemente comprometido

pela política equivocada do governo de produzir um índice crescente de nacionalização a

qualquer custo, o que produziu uma indústria sem competitividade a nível mundial. O volume

de P&D é baixo, e tendeu a decrescer ao longo das últimas décadas. A abertura da economia

e a grande potencialidade do mercado de teleequipamentos tem atraído grandes empresas

para o país, movimento que deverá se aprofundar nos próximos anos.

8.4. PERSPECTIVAS DO SISTEMA TELEBRÀS

Como vimos nas seções anteriores, cerca de vinte e três anos após a criação

da TELEBRÀS, a indústria de telecomunicações no Brasil se defronta com um novo quadro

de dificuldades. O poder público que até o início deste ano era detentor legal do monopólio das

telecomunicações não apresenta condições para superar o déficit na infra-estrutura nem

tampouco para fazer face à crescente demanda por novos serviços.Neste contexto, se

fortalecem as iniciativas de desregulamentação e privatização da indústria.

Neste sentido, em agosto/95 foi aprovada pelo Congresso Nacional emenda

extinguindo o monopólio estatal, permitindo assim que a iniciativa privada explore os serviços

de telecomunicações através de autorização específica da União. Resta, ainda, a promulgação

de lei ordinária que estabelecerá as normas de organização dos serviços e criará um órgão

regulador para indústria.1*" Essa lei é fundamental para permitir a privatização do Sistema

169 Esse órgão ficaria encarregado de estabelecer metas de qualidade dos serviços, planos de

expansão da rede, investimentos (principalmente, em serviços de menor retorno e maior

necessidade social, tais como telefonia rural e pública), bem como fixação de tarifas. O Governo

assumiria assim o papel de fiscalizador e regulador da indústria.

154

Page 154: a privatização da British Telecom

TELEBRÁS e evitar que pura e simplesmente se converta um monopólio público em um

monopólio privado. 17°

Segundo estimativas oficiais, essa privatização deverá ocorrer no ano de

1996. Ressalte-se que o tamanho do Sistema TELEBRÁS (12a rede de telecomunicações, em

termos mundiais) aliado ao grande potencial ainda não explorado atraem a atenção das

principais operadoras internacionais.

Estima-se portanto que nos próximos anos, a indústria brasileira de

telecomunicações passe por profundas transformações, tal qual já vem ocorrendo em outros

países. A experiências históricas relatadas anteriormente dá margem para tentarmos inferir

algumas dessas possíveis mudanças:

I. REBALANCEAMENTO DA ESTRUTURA TARIFÁRIA: a utilização das tarifas telefônicas como

instrumento de política macroeconômica durante os anos 80, de um lado reduziu

substancialmente as tarifas em termos reais, de outro aprofundou a estrutura de subsídios

cruzados, encarecendo sobremaneira os serviços de valor adicionado e os serviços

internacionais. Essa situação é insutentável a médio prazo visto que a crescente

competição através sistemas de "call back" nas chamadas internacionais, os sistemas de

Irucking" na telefonia celular e a montagem de redes privadas de comunicação de dados,

voz e imagens, vem reduzindo as margens dos Sistema TELEBRÁS nos serviços de valor

adicionado. Estima-se que da mesma forma que vem ocorrendo a nível mundial, a

equação financeira tarifas X custos se torne mais realista.

170 O novo texto contitucional ficou assim definido:

ART.21

Parágrafo XI - "compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização,

concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações nos termos

da lei que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um

órgão regulador e outros aspectos institucionais";

Parágrafo XII -"compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização

concessão ou permissão os serviços de radiodifusão sonora, de sons e

imagens."

155

Page 155: a privatização da British Telecom

II. REDUÇÃO DOS CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO. EXPANSÃO E MODERNIZAÇÃO DA REDE Está

diretamente associada a maior abertura da economia e a possibilidade de acesso à

fornecedores mais eficientes e de menor custo, bem como à redução dos custos de capital

através da captação de recursos externos a custos mais baixos.171

III. EXPANSÃO DA REDE E MAIOR QUALIDADE DOS SERVIÇOS: O Sistema TELEBRÁS foi

criado com a dupla missão de (i) unificar a rede e (ii) universalizar os serviços de telefonia

básica. Entretanto, conseguiu realizar apenas a primeira delas. A concretização do segundo

objetivo e o aprimoramento da qualidade dos serviços depende do incremento dos

investimentos.172 Particularmente, em relação universalização os investimentos deverão

ser mais intensos nas regiões Norte e Nordeste.

Note-se que na região Norte, a grande extensão territorial e a dispersão da

população em pequenas comunidades, desaconselham soluções de telefonia a cabo

(devido a necessidade de investimentos em extensas redes), e por rádio-enlance (uma vez

que a floresta dificulta a existência de repetidoras), e toma mais recomendável sistemas via

satélite para permitir a universalização dos serviços.

Na região Nordeste, os investimentos prioritários são (i) a interligação da costa

nordestina através de cabos de fibra óptica173 permitindo conectar o país (a partir de

Fortaleza) à rede mundial de cabos ópticos submarinos, através do cabo América I (

171 A nível interno, o BNDES está impedido de financiar o Sistema TELEbRÀS (pelas Resoluções

1718/89 e 2.008/93 do BACEN) que regula os financiamento do banco a empresas de controle

estatal. A possibilidade de apoio está restrita aos projetos implantados em parceria com a

iniciativa privada.

172 No caso da universalização dos serviços um ponto importante seria a redução dos preços de

instalação ainda muito altos se comparados aos praticados a nível mundial.

173 Parte de Porto Seguro e interliga Ilhéus, Salvador, Sítio, Aracaju, João Pessoa, Recife, Natal e

Fortaleza, sendo a rota entre Porto Seguro e Natal submarina e entre Natal e Fortaleza terrestre.

A rota Rio- Fortaleza já foi licitada pela EMBRATEI no final de 1994.

156

Page 156: a privatização da British Telecom

ligação com a América do Norte, o Caribe e a Ásia) e o Columbus II (ligação com a Europa)

(ii) a integração das localidades interioranas à rede.

Nas regiões Centro Oeste, Sul e Sudeste, os investimentos deverão focar dois

tipos básicos de usuários: (i) aqueles que exigem serviços mais sofisticados, tais como,

terminais de consulta, interligação de computadores pessoais a bancos de dados e a outros

microcomputadores, (ii) aqueles que demandam pura e simplesmente telefonia básica.

Especial atenção deverá ser dada aos pólos de desenvolvimento do interior do país, em

especial a fronteira agrícola de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Na telefonia pública deverá ocorrer a substituição progressiva dos atuais

telefones de uso público acionados por fichas telefônicas por telefones a cartão indutivo.

Essa mudança aumenta o intervalo de tempo necessário à reposição dos aparelhos (devido

a blindagem dos aparelhos) e a eliminação na empresa operadora do trabalho de

recolhimento das fichas coletadas. Note-se que a tecnologia desenvolvida pela TELEBRÁS

permite a produção um cartão de baixo custo unitário (entre US$ 0,10 a US$ 0,15). Os

aparelhos também possuem um preço cerca de três vezes menor que os tradicionais de

ficha (US$ 560 x US$ 1.600).174

IV. UNIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA DAS OPERADORAS ESTADUAIS: a existência de 27

operadoras estaduais implica em expressivos custos administrativos.Note-se que em

abril/90 foi sacionada a Lei n° 8029/90 que autoriza a TELEBRÁS a reduzir o número de

operadoras para oito, através de mecanismos de fusões e incorporações. Recentemente,

ganhou também força a idéia de que a unificação não respeite unicamente critérios

regionais, permitindo que uma mesma operadora preste serviços simultaneamente em

regiões de maior e menor renda per capita (por exemplo, São Paulo e Amazonas).175

174 BNDES (1994).

175 Há dificuldades políticas óbvias na implantação dessa unificação.

157

Page 157: a privatização da British Telecom

V. AMPLIAÇÃO DA OFERTA DE SERVIÇOS DE VALOR ADICIONADO: Essa ampliação deverá se

dar com a maior participação da inicitiva privada na indústria. Já existe um movimento de

formação de alianças e parcerias para a exploração dos principais serviços (TV a cabo,

telefonia celular, "paging' e Iruking").176

No segmento de TV a cabo, o mercado potencial estimado é de 6 milhões de

assinantes até o ano 2QQQ177, o que representa um receita de, aproximadamente, US$ 2,9

bilhões apenas com assinaturas (US$ 40/mês), não sendo computados os possíveis ganhos

com verbas publicitárias e exploração de outros serviços. Além disso, a quebra do

monopólio estatal abre espaço para que as redes de TV a cabo sejam usadas também para

a exploração de telefonia e demais serviços de comunicação, a exemplo do que já ocorre

nos EUA. Atualmente, tem participação expressiva nesse mercado as Organizações Globo

(em associação com a Rede Brasil Sul/RBS e a Multicanal178) e o Grupo Abril (em

associação com a canadense Canbras Comunications179 e o Chase Manhattan Bank). Esse

grupos apresentam um estratégia agressiva de investimento, um bom indicador foram os

empréstimos captados pela Globo Cabo180, em 1995, junto ao Internacional Finance

Corporation (IFC) no valor de US$ 125 milhões, para instalação de 11,6 mil Km de cabos e

176Há forte interesse por parte de operadoras internacionais nesses serviços

177 IBDT(1992).

178 Empresa controlada pela Mcom Telecomunicações, holding pertencente ao empresário Antônio

Dias Leite Neto (proprietário da Cia de Mineração do Amapá) e pela GP Investimentos (Banco

Garantia). Em julho/95, a Mcom se associaou a Comcast, uma das maiores empress de TV a

cabo dos EUA com faturamento anual de cerca de US$ 3 bilhões, para atuar no segmento de

"trunking" , um tipo de telefonia celular vottado para comunicação interna de empresa de frota,

ainda pouco explorado no Brasil. (Folha de SSo Paulo, 10/07/95)

179 Adquirida no 1o semestre/95, pela Bell Canada Internacional, subsidiária da Bell Canada

Entreprise que controla entre outras empresas a Northern Telecom e fatura cerca de US$ 20

bilhões/ano

180 Empresa das Organizações Globo

158

Page 158: a privatização da British Telecom

o lançamento de bônus pela Globopar no valor de cerca de US$ 85 milhões também

destinado ao negócio de TV a cabo.181

No segmento de telefonia celular, há pelo menos seis consórcios formados

para disputar os serviços. Esses consórcios englobam grandes construtoras, bancos, grupos

de comunicação e operadoras internacionais de telecomunicações. O maior deles reúne a

Globopar ("holding" das Organizações Globo), Bradesco, Grupo Monteiro Aranha, STET,

Southwestern Bell e Victori International. Os demais são formados pelas asssociações entre

(i) o Grupo Odebrecht182 , a Motorola e o Unibanco; (ii) a Constran, a CPRM-Marconi

(companhia telefônica portuguesa) e a Splice do Brasil; (iii) o Banco Safra, a Bellsouth e o

grupo Estado (Oesp); (iv) o Banco Arbi, a Bellsouth e o Grupo RBS e (v) a Andrade

Gutierrez e a US West.

V. PROMOÇÃO DA INTERCONEXÃO À REDE GLOBAL DE TELECOMUNICAÇÕES: Buscar

alianças com grandes operadoras internacionais, tal qual já vem ocorrendo na Europa

(British Telecom/Deutcher Telecom) e nos EUA/Ásia (Worid Partners).

Em síntese, a indústria de telecomunicações brasileira deverá passar por um

processo de reestruturação semelhante ao experimentado pelos países analisados nos

capítulos anteriores. Essa restruturação é fundamental para garantir competitividade ao país,

tendo em vista a importância da infra-estrutura de telecomunicações para os setores

industrias, financeiros e de serviços.

181 Note-se que o surgimento da TV a cabo no Brasil é relativamente recente. Originalmente os

Grupos Globo e Abril haviam apostado em tecnologias alternativas para viabilizar a TV por

assinaturas, tais como a transmissão por satélite (Globosat) e por micorondas (Abril).

182 O Grupo Odebrecht tem interesse já anunciado também no segmento de satélites, já tendo

formado consórcio com oas organizações globo, o Grupo Monteiro aranha, o Bradesco, a

empresa francesa Matra e a Victori, para o lançamento do projeto Class, que inclui três satélites,

no valor de US$ 300 milhões. (Folha de São Paulo, 30/05/95)

159

Page 159: a privatização da British Telecom

9. CONCLUSÕES

Ao longo deste trabalho foram identificadas algumas das mudanças recentes

ocorridas na indústria de telecomunicações, entre elas: a ampliação do "m/x" de serviços, a

redução dos custos de transmissão e processamento de informação, a crescente utilização de

redes privadas de comunicação e a entrada de novas firmas na indústria, em especial, na

prestação de serviços de valor adicionado que apresentam elevadas margens de lucro. Note-

se que estas mudanças estão intimamente ligadas ao surgimento e incorporação da tecnologia

microeletrônica.

Dentre as mudanças assinaladas, merece especial atenção a que vem se

processando na estrutura institucional da indústria, devido de um lado à intensificação dos

processos de fusões e aquisições, e de outro à privatização das operadoras públicas.

O movimento de fusões e aquisições está associado a necessidade das

empresas de ganhar mercados permitindo assim diluir os crescentes custos de P&D

necessários ao desenvolvimento de serviços e equipamentos mais sofisticados

tecnologicamente. Da mesma forma, a incapacidade do Estado de arcar com os

investimentos necessários à ampliação e modernização das redes vem contribuindo para

acirrar o segundo movimento, o de privatização.

Neste sentido, as experiências de privatização de operadoras públicas na

Inglaterra, Argentina e México, analisadas no presente trabalho, ratificam a idéia de que o

desenvolvimento da industria de telecomunicações nesses países inicia uma nova etapa,

sendo claramente identificada duas etapas anteriores.

Na primeira, a indústria apresentava propriedade privada e o Estado não

exercia um papel atuante como regulador. Do ponto de vista técnico, as redes careciam de

compatibilidade, devido ao grande número de pequenas empresas atuando especialmente nas

regiões menos lucrativas, e os serviços estavam restritos a um pequeno número de habitantes.

Na segunda, o Estado assumiu o fornecimento dos serviços com o objetivo de

(i) universalizá-los e de (ii) compatibilizar e interligar as redes. O grau de execução desses

160

Page 160: a privatização da British Telecom

objetivos varia de país para país, entretanto, nas três experiências analisadas observou-se que

ao longo dos anos as operadoras estatais passaram a apresentar crescentes deficiências

operacionais que tinham sua origem nos baixos níveis de produtividade, nas distorções da

estrutura de preços, na queda da capacidade de investimento e consequetemente na

dificuldade de realizar a atualização tecnológica dos equipamentos - em muitos casos, em

operação a mais de 20 anos - tão necessária numa indústria em que mudanças tecnológicas

são intensas.

A comparação entre as duas fases sinaliza que, se por um lado a iniciativa

privada atuando sem uma regulação apropriada tende a exarcebar as chamadas "falhas de

mercado", por outro a maciça intervenção do Estado tende a explicitar as "falhas da

burocracia", as quais em muitos casos tendem a ser tão prejudiciais ao desenvolvimento

quanto as de mercado. Um exemplo dessas falhas é a diversidade de objetivos impostos as

operadoras estatais, que em muitos casos são chamadas a contribuir, por exemplo, para a

redução das taxas de inflação (através do contigenciamento de tarifas) e/ou para melhoria da

distribuição de renda (através do favorecimento de regiões ou de fornecedores domésticos, em

muitos casos ineficientes).

Ressalte-se que é exatamente a incapacidade do Estado de financiar um novo

ciclo de investimentos que determina a fase atual da indústria, em que o Estado Produtor dá

lugar ao Estado Regulador. Essa fase é acompanhada de processos de privatização, os quais

na maioria das vezes visam não apenas melhorar a eficiência da indústria de

telecomunicações - hoje um insumo básico para a competitividade da maioria dos setores da

economia - mas também contribuir para reequilíbrio das finanças públicas

Nas década de 80 e 90, as vendas de operadoras públicas de

telecomunicações totalizaram cerca de US$ 123 bilhões. Essas privatizações implicaram no

rebalanceamento de tarifas (com a redução dos subsídios cruzados), em reformas

administrativas nas operadoras (através de programas de subsídios cruzados, corte de

pessoal e redução das faixas salariais devido a revisões nos acordos coletivos), na retomada

dos investimentos (com especial ênfase no crescimento do grau de digitalização da rede) e na

diversificação das atividades (não mais restritas à telefonia básica mas também direcionada

161

Page 161: a privatização da British Telecom

aos serviços de valor adicionado e de telefonia celular). Foi, também, intensa a preocupação

na montagem de mecanismos regulatório.

A análise dos efeitos da privatização sobre a eficiência da indústria é ainda

muito difícil, tendo em vista a privatização ser ainda um fenômeno relativamente recente.

Contudo, podemos inferir com base nas experiências relatadas nesse trabalho uma tendência

ao aumento da eficiência interna das empresas e da qualidade dos serviços. A idéia de que a

privatização engendraria uma maior competição na indústria, entretanto, é questionável tendo

em vista a manutenção em alguns casos (como o ocorrido na Argentina e no México) de

restrições institucionais a entrada de novas firmas nos serviços básicos.

Além disso, do ponto de vista tecnológico, se por um lado o desenvolvimento

da telefonia celular tende a facilitar a competição nos segmentos de telefonia local, por outro

a tecnologia de transmissão via fibras óticas tende a exarcebar as características de

monopólio nos segmentos de longa distância que pareciam superadas.

A primeira experiência de privatização analisada neste trabalho foi a inglesa, a

qual é também a menos recente o que permite avaliar mais claramente os resultados dos

processo. A transferência da BT à iniciativa privada ocorreu em 1984. A BT, entretanto,

preservou sua expressiva participação de mercado, sendo em 1994 responsável por cerca de

85% dos serviços de telefonia básica na Inglaterra. Sua principal competidora, a Mercury,

mantém elevado grau de dependência em relação a BT, uma vez que 51% de seus custos

relacionados ao pagamento de tarifas de interconexão à rede básica da BT. No período

1984/94, a BT investiu cerca de US$ 38,4 bilhões na modernização e ampliação de sua rede,

operando, em 1994, aproximadamente, 26,1 milhões de linhas (residenciais e comerciais) e

mais de 104 mil telefones públicos. Após a privatização, a BT passou, também, a operar

serviços de telefonia celular (através de sua subsidiaria CELLNET) e recentemente, iniciou

uma estratégia de atuação global, com aquisição de participação acionária na segunda maior

operadora de longa disntância dos EUA, a MCI. Com relação a regulação, existe um órgão

regulador específico - o OFTEL - e o mecanismo de preço utilizado é o de "price cap", tendo o

fator de produtividade crescido de 3% para 7,5% no período 1984/94.

162

Page 162: a privatização da British Telecom

A segunda experiência analisada é a mexicana. A TELMEX foi privatizada em

1990 e adquirida por um consórcio formado pela France Telecom, Southwestem Bell e Grupo

Carso. A empresa, entretanto, manteve o monopólio sobre os serviços locais até 2.026 e de

longa distância até 1996, de modo que a privatzaçâo não representou um aumento imediato

do grau de concorrência nesses segmentos. Na telefonia celular, a TELMEX gozou, também,

de privilégio detendo (através de sua subsidiária a TELCEL) a concessão para operar uma

das bandas existentes no país. Nos segmentos de transmissão de dados e de equipamentos,

entretanto, o nível de competição foi ampliado. Particularmente, no segmento de

equipamentos a entrada de novos competidores, como a AT&T, a Buli & CEE, entre outros,

mudou radicalmente o mercado antes dominado pela Ericsson e pela Indetel (subsidiária local

da Alcatel). A regulação sobre os preços dos serviços se dá via "price caps", sendo que ao

contrário da experiência inglesa nos seis primeiros anos pós-privatização não foi aplicado fator

de redução (produtividade). A transferência de propriedade aprofundou o processo de

realinhamento de tarifas iniciado em 1989, sendo as ligações locais responsáveis, em 1993,

por 42,8% das receitas operacionais da TELMEX contra 20,9% em 1989. Em 1993, a TELMEX

contava com 7.631 mil linhas em serviço, e os investimentos na melhoria do atendimento aos

usuários e modernização da rede vem se intensificando devido à proximidade do fim do

monopólio nos serviços de longa distância.

A terceira experiência analisada foi a argentina. A ENTEL foi privatizada em

1990 e dividida em quatro empresas distintas: (i) duas operadoras locais, responsáveis pelos

serviços de telefonia local nas regiões norte e sul do país, respectivamente (ii) uma prestadora

de serviços internacionais e (iii) uma prestadora de serviços de valor adicionado. Os ativos da

ENTEL foram realocados entre as empresas e cada uma das operadaoras locais controlavam,

com 50% de participação acionária, as duas outras empresas. Os serviços locais

permaneceram monopólio das duas operadoras locais pelo prazo inicial de 7 anos (podendo o

prazo ser prorrogado por mais 3 anos caso fossem cumpridas determinadas metas de

desempenho). Com o desmembramento e venda da ENTEL, a região sul do país passou a ser

operada pelo consórcio liderado pela Telefônica de Espafta e a região norte pelo consórcio

liderado pela STET e France Telecom. Os resultados operacionais obtidos foram positivos,

tendo o número de linhas em serviço no país atingido 4.091 mil (32,5% a mais que em 1990).

Foram investidos entre 1990/93 cerca de US$ 3,3 bilhões na expansão e modernização da

rede. O ponto crítico do processo de privatização, entretanto, foi a fixação das regra de

163

Page 163: a privatização da British Telecom

regulação. Mesmo após a criação da Comissión Nacional de Telecommunicaciones (CNT),

esse órgão se mostrou incapaz de solucionar os conflitos tendo sofrido intervenção em

maio/95. Apesar de inicialmente a regulação da indústria ter se dado via "price caps",

atualmente prevalesce a negociação direta entre as empresas e o Poder Executivo. A

privatização na Argentina tem, ainda, um compontente de incerteza visto que a provável

privatização das empresas que tem participação acionária nas operadoras locais - Telefônica

de Espafta, STET e France Telecon - poderá ter impacto sobre a estrutura da indústria.

Além das experiências de privatização propriamente ditas, foi analisada no

presente trabalho a experiência norte-americana de desmenbramento da AT&T. Ao contrário

das experiências inglesa, mexicana e argentina, a experiência norte-americana mostra que a

combinação de propriedade privada e regulação não garante por si só a existência de

mecanismos de competição eficiente, e expõe as chamadas "falhas da regulação". A AT&T,

regulada desde 1934 pela Federal Communication Commission , domimou monopolisticamente a

indústria de serviços e equipamentos de telecomunicações nos EUA por quase um século e foi

alvo de severas acusações de práticas anti-competitivas, tendo sofrido processo anti-truste

que se iniciou em 1974 e culminou em 1984 com a perda das vinte e duas operadoras locais,

as quais deram origem as sete RBHCs. Após o desmembramento, as RBHCs e a própria

AT&T passaram a atuar mais intensamente nos serviços de valor adicionado e de telefonia

celular. Foi entretanto, mantido estreito relacionamento comercial. Por um lado, cerca de 20%

das receitas das RBHCs, ainda, advém de "access fees" pagos pela AT&T para acessar a rede

local de suas ex-operadoras, por outro a AT&T continua sendo a principal fornecedora de

equipamentos das RBHCs. A AT&T, as RBHCs e as demais operadoras de longa distância

(Sprint e MCI) vem buscando se inserir no mercado internacional através de associações,

aquisições e alianças. São exemplos, a construção de redes de telefonia e TV a cabo na

Inglaterra pela US West; o fornecimento de serviços de telefonia celular na Bélgica e

Alemanha pela Pacific Telesis e Bellsouth, respectivamente; a compra de participação

acionária nas operadoras públicas da Nova Zelândia (pela Bell Atlantic e pela Ameritech) e no

México (pela Southwestem Bell); e a aliança Worid Partners (que envolve entre outras

operadoras a AT&T e a KDD). Por outro lado, as operadoras inglesa BT e alemã Deutscher

Telecom passaram a atuar no mercado norte-americano com aquisição de participações

acionárias na MCI e na Sprint, respectivamente. Além disso, a estrutura industrial montada

pós desmembramento da AT&T deverá passar nos próximos anos por mudanças

164

Page 164: a privatização da British Telecom

significativas, devido à autorização concedida no final de 1995 para que a AT&T pudesse

novamente investir em serviços locais e as RBHCs em serviços de longa distância, acabando

assim com a segmentação existente no mercado.

Finalmente, são levantadas algumas questões sobre a situação atual e as

perspectivas da indústria de telecomunicações brasileira. Ressalte-se que até julho/95

prevalescia no país o monopólio institucional sobre os serviços de telecomunicações, e assim

como nas experiências inglesa, mexicana e argentina, eram visíveis grandes deficiências

operacionais, bem como restrições de investimentos. Algumas mudanças.entretanto, já vem

se processando na indústria, em especial, no segmento de equipamentos devido a maior

abertura econômica e a possibilidade de empresas internacionais fornecerem equipamentos as

operadoras públicas, desde 1990.

No Brasil, o fim do monopólio estatal e a possível privatização do Sistema

TELEBRÁS (hoje a 20a maior operadora de telecomunicação a nível mundial) deverá atrair o

interesse das principais operadoras internacionais em ofertar serviços no pais (em geral,

através de associações com empresas locais). Contudo, a agenda de discussões é ainda

longa e deverá incluir questões tais como (i) o rebalanceamento da estrutura tarifária (ii) a

redução dos custos de expansão da rede, (iii) a expansão dos serviços de valor adicionado,

através da regulamentação de parcerias público-privada e (iv) a necessidade de promover

interconexão à rede global de telefonia.

165

Page 165: a privatização da British Telecom

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