a quarta teoria politica
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A QUARTA TEORIA POLTICA
Alexander Dugin
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Alexander Dugin
A QUARTA
TEORIA
POLTICA
2012
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Captulo 1: Introduo ............................................................................ 11
Ser ou No Ser? ................................................................................................. 11
Captulo 2: Incio Conceitual. O Fim do Sculo XX O Fim da Modernidade .............................................................................................. 17
As Trs Principais Ideologias e seu Destino no Sculo XX .............. 18
O Fim do Liberalismo e a Chegada do Ps-Liberalismo .................. 21
A Quarta Teoria Poltica como Resistncia ao Status Quo .............. 25
A Batalha pela Ps-Modernidade .............................................................. 29
Repensando o passado e aqueles que perderam................................ 32
O Retorno da Tradio e da Teologia ...................................................... 35
Mitos e Arcasmo na Quarta Teoria Poltica ......................................... 38
Heidegger e o Evento (Ereignis) ............................................................ 40
A Quarta Teoria Poltica e a Rssia .......................................................... 43
Captulo 3: Dasein Como Ator Fases e Problemas no Desenvolvimento da Quarta Teoria Poltica ................................... 47
Captulo 4: A Crtica dos Processos Monotnicos ......................... 94
Captulo 5: A Reversibilidade do Tempo ....................................... 118
Captulo 6: A Ontologia do Futuro ................................................... 125
Captulo 7 - Transio Global e Seus Inimigos ............................ 151
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A Ordem Mundial Questionada ................................................................ 151
Ordem Mundial do ponto de vista dos Estados Unidos ................. 154
A Ordem Mundial do ponto de vista no americano....................... 165
Captulo 8 - A Nova Antropologia Poltica: O Homem Poltico e Suas Mutaes. ........................................................................................ 174
Os Limites da Ps-Antropologia e a Origem da Ps-Poltica ....... 177
Os Principais Sujeitos da Ps-Poltica ................................................... 180
O Fatalismo da Ps-Antropologia e da Angelopolis ......................... 185
Captulo 9 - Quarta Prtica Poltica ................................................. 189
Captulo 10 - O Gnero na Quarta Teoria Poltica ...................... 204
Captulo 11 - Conservadorismo e Ps-Modernidade ................ 220
Estamos na ps-modernidade .................................................................. 220
O Polo da Liberdade e a Liberdade de Escolher o Canal ............... 221
Paradoxos da Liberdade ............................................................................. 223
Conservadorismo como Rejeio da Lgica da Histria ............... 226
Conservadorismo Fundamental: Tradicionalismo .......................... 227
Conservadores Fundamentais Hoje ....................................................... 232
Conservadorismo Status Quo Conservadorismo Liberal ........... 237
Bin Laden como Smbolo ............................................................................ 239
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Simulacro de Che Guevara ......................................................................... 240
Revoluo Conservadora ............................................................................ 242
Os Conservadores devem liderar uma Revoluo ........................... 243
Dasein e Ge-Stell ............................................................................................. 246
Triste Fim do Espetculo ............................................................................ 248
Conservadorismo de Esquerda (social-conservadorismo) .......... 250
Eurasianismo como Episteme ................................................................... 251
Neoeurasianismo ........................................................................................... 254
Captulo 12: Civilizao como Conceito A Necessidade de uma definio especfica ........................................................................ 256
Civilizao como estgio de desenvolvimento de uma sociedade 257
Civilizao e Imprio .................................................................................... 258
Civilizao e o Tipo Universal ................................................................... 259
Civilizao e cultura ...................................................................................... 261
Entendimento ps-moderno e sincrnico da civilizao ............... 262
Desconstruo da "civilizao" ................................................................. 265
Atualmente o entendimento sincrnico e plural da "civilizao" prevalece ............................................................................................................ 269
A crise dos modelos clssicos da anlise histrica (classe, econmica, liberal, racial) ........................................................................... 273
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Utpicos liberais voltam atrs: construo do Estado ...................... 277
O mundo como rede (por Thomas Barnett) ........................................ 278
A viso americana da ordem mundial (trs verses)....................... 279
Limitao do arsenal ideolgico dos oponentes da globalizao e o mundo unipolar ............................................................................................... 282
O significado do conceito "civilizao" como oposio ao globalismo ......................................................................................................... 284
Para o "Grande Espao" ................................................................................ 285
Lista de civilizaes ....................................................................................... 287
O Ideal Multipolar ........................................................................................... 291
Captulo 13 - A Transformao da Esquerda no Sculo XXI ... 294
Filosofia da Esquerda em crise ................................................................ 294
Trs Variedades da Ideologia da Esquerda ........................................ 295
Marxistas Ortodoxos Europeus ............................................................... 297
Social-democratas Europeus .................................................................... 300
Socialistas de Terceira Via ..................................................................... 303
Nacional-Comunismo (paradoxo conceitual, discrepncias ideolgicas, energias subterrneas) ...................................................... 306
Novos Esquerdistas (antiglobalismo, rotas ps-modernas, labirinto de liberdades, ao advento da ps-humanidade) ............ 314
Esquerdistas na Rssia moderna ............................................................ 324
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Captulo 14 - O Liberalismo e suas Metamorfoses ..................... 328
O Liberalismo como um Sumrio para a Civilizao Ocidental, e sua Definio ................................................................................................... 331
Liberdade de ............................................................................................. 333
O Liberalismo e a Nao ............................................................................. 336
O Desafio do Marxismo ............................................................................... 338
A Vitria Definitiva dos Liberais na Dcada de 90 ........................... 343
No Limiar do Sculo Americano .............................................................. 345
Liberalismo e Ps-Modernidade ............................................................. 351
O Liberalismo na Rssia Contempornea ........................................... 355
Captulo 15 - A Possibilidade de Revoluo na Ps-Modernidade ........................................................................................... 360
A Morfologia e Semntica da Revoluo .............................................. 360
Tecnologia da Revoluo ............................................................................ 365
Revoluo e Modernidade. O Desafio da Revoluo Conservadora ............................................................................................................................... 368
A Possibilidade de Revoluo na Ps-Modernidade ....................... 369
A Revoluo na Rssia moderna ............................................................. 371
Captulo 16 - Contra o Mundo Ps-Moderno ................................ 375
O Mal da Unipolaridade .............................................................................. 375
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Em Direo Quarta Teoria Poltica ..................................................... 379
Apndices ................................................................................................. 386
Ps-Antropologia Poltica ............................................................................ 386
Apndice II. Gnero nas Trs Teorias Polticas da Modernidade ............................................................................................................................... 397
Apndice III. Quarta Teoria Poltica e Praxis ..................................... 410
Apndice IV. Metafsica do Caos ................................................................ 422
Apndice V. O Projeto da Grande Europa .............................................. 437
(Um projeto geopoltico para um futuro mundo multipolar) ....... 437
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Sobre o autor
Alexandr Gelyevich Dugin nasceu em 1962, em Moscou,
capital russa, filho de um oficial da inteligncia militar
sovitica e de uma mdica. Filsofo, socilogo, cientista
poltico e ativista, destaca-se como o principal pensador do
neoeurasianismo, com seu projeto geopoltico de congregar as
naes europeias e asiticas em uma Unio Eurasiana para
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fazer oposio hegemonia internacional americana e
estabelecer uma realidade global multipolar.
Diretor do Centro de Estudos Conservadores da Universidade
de Moscou, Doutor em Cincias Polticas e Cincias Sociais,
uma nota fundamental em sua trajetria, que o distancia dos
meros acadmicos, tem sido sua participao ativa desde o
final da dcada de 80 em diversos movimentos nacionalistas e
revolucionrios visando salvaguardar a soberania e restaurar
a glria de sua nao. Durante alguns anos em meados da
dcada de 90, foi um dos principais idelogos do Partido
Nacional-Bolchevique, at que, em 1998 saiu do mesmo por
discordncias ideolgicas e estratgicas. Em 2001, funda o
Partido Eurasiano, posteriormente Movimento Eurasiano, o
qual ele lidera at hoje.
Entre suas principais obras esto Conspirologia (1992), A
Revoluo Conservadora (1994), Os Mistrios da Eursia
(1996), Os Cavaleiros Templrios do Proletariado (1996),
Fundamentos da Geopoltica (1997), A Filosofia da Guerra
(2004), Geopoltica Ps-Moderna (2007), A Quarta Teoria
Poltica (2009), entre outros.
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CAPTULO 1: INTRODUO
SER OU NO SER?
No mundo atual, a poltica parece ter acabado, pelo
menos como ns a conhecemos. O liberalismo
persistentemente lutou contra seus inimigos polticos que
haviam oferecido sistemas alternativos; isto , o
conservadorismo, o monarquismo, o tradicionalismo, o
fascismo, o socialismo e o comunismo, e finalmente ao fim do
sculo XX, havia derrotado todos eles. Seria lgico assumir que
a poltica se tornaria liberal, enquanto todos os seus
oponentes marginalizados reconsiderariam suas estratgias e
formulariam uma nova frente unida segundo a periferia contra
o centro, de Alain de Benoist. Mas, ao invs, no incio do sculo
XXI tudo seguiu um roteiro diferente.
O liberalismo, que sempre havia insistido na
minimalizao da poltica, tomou a deciso de abolir a poltica
completamente aps seu triunfo. Talvez isso tenha sido para
prevenir a formao de alternativas polticas e para tornar seu
domnio eterno, ou porque a agenda poltica havia
simplesmente expirado com a ausncia de rivais ideolgicos,
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cuja presena Carl Schmitt havia considerado indispensvel
para a construo adequada de uma posio poltica.
Independentemente da razo, o liberalismo fez tudo o possvel
para garantir o colapso da poltica. Ao mesmo o tempo, o
prprio liberalismo mudou, passando do plano das ideias,
programas polticos e declaraes para o plano das coisas,
penetrando na prpria carne da realidade social, a qual se
tornou liberal. Isso foi apresentado no como um processo
poltico, mas como um processo natural e orgnico.
Como consequncia de tal virada histrica, todas as
outras ideologias polticas, lutando apaixonadamente uma
contra a outra durante o ltimo sculo, perderam sua vigncia.
O conservadorismo, o fascismo e o comunismo, junto com suas
variaes secundrias perderam a batalha e o liberalismo
triunfante transmutou-se em um estilo de vida: consumismo,
individualismo e uma iterao ps-moderna do ser
fragmentado e subpoltico. A poltica se tornou biopoltica,
passando ao nvel individual e sub-individual. Acontece que
no foram apenas as ideologias polticas derrotadas que
deixaram o palco, mas a poltica, enquanto tal, incluindo o
liberalismo, que tambm se retirou. por essa razo que a
formao de uma alternativa se tornou to difcil. Aqueles que
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no concordam com o liberalismo se encontram em uma
situao difcil o inimigo triunfante se dissolveu e
desapareceu; eles esto lutando contra o ar. Como se pode
engajar na poltica, se no h poltica?
H apenas uma sada rejeitar as teorias polticas
clssicas, tanto vitoriosas como derrotadas, empenhar a
imaginao, tomar a realidade do novo mundo global, decifrar
corretamente os desafios da Ps-Modernidade, e criar algo
novo algo para alm das batalhas polticas dos sculos XIX e
XX. Tal abordagem um convite ao desenvolvimento da
Quarta Teoria Poltica para alm do comunismo, do fascismo
e do liberalismo.
Para avanar em direo ao desenvolvimento dessa
Quarta Teoria Poltica, necessrio:
Reconsiderar a histria poltica dos ltimos sculos desde
novas posies para alm das estruturas e clichs das
velhas ideologias;
Perceber e se tornar consciente da estrutura profunda da
sociedade global emergindo diante de nossos olhos;
Decifrar corretamente o paradigma da Ps-Modernidade;
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Aprender a se opor no ideia, programa ou estratgia
poltica, mas ao status quo objetivo, o aspecto mais
social da (ps-) sociedade fraturada e apoltica;
Finalmente, construir um modelo poltico autnomo que
oferea um caminho e um projeto no mundo de
encruzilhadas, becos sem sada e reciclagem infindvel
das mesmas coisas velhas (ps-histria, segundo
Baudrillard).
Esse livro dedicado a esse problema mesmo como o
incio do desenvolvimento de uma Quarta Teoria Poltica,
atravs de um panorama e um reexame das trs primeiras
teorias polticas e de suas ideologias prximas, como nacional-
bolchevismo e o eurasianismo que se aproximaram bastante,
de fato, da Quarta Teoria Poltica. Este um convite
criatividade poltica, uma declarao de intuies e
conjecturas, uma anlise de novas condies e uma tentativa
de reconsiderao do passado.
A Quarta Teoria Poltica no nos parece como a obra de
um nico autor, mas como uma tendncia de um amplo
espectro de ideias, pesquisas, anlises, prognsticos e
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projetos. Qualquer um que pense nessa veia pode contribuir
com algumas de suas prprias ideias. No obstante, mais e
mais intelectuais, filsofos, historiadores, cientistas,
estudiosos e pensadores respondero a esse chamado.
significativo que o livro Contra o Liberalismo, pelo
bem sucedido intelectual francs Alain de Benoist, que
tambm publicado em russo pela editora Amphora, possui
como subttulo Em direo Quarta Teoria Poltica.
Indubitavelmente, muitas coisas podem ser ditas sobre este
tema por representantes tanto da velha Esquerda como da
velha Direita e, provavelmente, at mesmo pelos prprios
liberais, que esto conceitualizando mudanas qualitativas de
sua prpria plataforma poltica, da qual a poltica est
desaparecendo.
Para meu prprio pas, a Rssia, a Quarta Teoria
Poltica, entre outras coisas, possui uma significncia prtica
imensa. A maior parte do povo russo sofre sua integrao na
sociedade global como uma perda de sua prpria identidade.
A populao russa havia rejeitado quase inteiramente a
ideologia liberal na dcada de 90. Mas tambm aparente que
um retorno s ideologias polticas no liberais do sculo XX,
tais como comunismo ou fascismo, improvvel, j que essas
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ideologias j falharam e se provaram historicamente
incapazes de se opor ao liberalismo, para no dizer nada dos
custos morais do totalitarismo.
Portanto, de modo a preencher esse vcuo poltico e
ideolgico, a Rssia necessita de uma nova ideia poltica. Para
a Rssia, o liberalismo no se encaixa, mas o comunismo e o
fascismo so igualmente inaceitveis. Consequentemente, ns
precisamos de uma Quarta Teoria Poltica. E se para algum
essa uma questo de liberdade de escolha, a realizao da
vontade poltica, que sempre pode ser dirigida tanto a uma
assero e sua negao, ento para a Rssia essa uma
questo de vida e morte, a eterna questo de Hamlet.
Se a Rssia decidir ser, ento isso significa
automaticamente a criao de uma Quarta Teoria Poltica. Do
contrrio, para a Rssia resta apenas a opo de no ser e
ento deixar o palco histrico e mundial, e se dissolver no
mundo global, nem criado ou governado por ns.
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CAPTULO 2: INCIO CONCEITUAL. O FIM DO SCULO XX O FIM DA MODERNIDADE
O sculo XX acabou, mas apenas agora que ns
estamos comeando a verdadeiramente perceber e entender
esse fato. O sculo XX foi o sculo da ideologia. Se nos sculos
anteriores, religio, dinastias, Estados, classes e Estados-nao
desempenharam um enorme papel nas vidas de pessoas e
sociedades, ento, no sculo XX, a poltica passou a um reino
puramente ideolgico, tendo redesenhado o mapa do mundo,
de etnias, e civilizaes de uma nova maneira. Por um lado, as
ideologias polticas representavam tendncias civilizacionais
primitivas e profundamente enraizadas. Por outro lado, elas
eram completamente inovadoras.
Todas as ideologias polticas, tendo alcanado o pico de
sua distribuio e influncia no sculo XX foram o produto da
nova Era Moderna, incorporando o esprito da modernidade,
ainda que de diferentes modos e mesmo atravs de diferentes
smbolos. Hoje, ns estamos deixando rapidamente essa Era.
Assim, todos falam mais e mais frequentemente da crise da
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ideologia ou mesmo do fim da ideologia desse jeito e a
existncia de uma ideologia estatal explicitamente negada na
Constituio da Federao Russa. J passou a hora de abordar
essa questo mais proximamente.
AS TRS PRINCIPAIS IDEOLOGIAS E SEU DESTINO NO SCULO XX
As trs principais ideologias do sculo XX foram:
Liberalismo
Comunismo
Fascismo
Elas lutaram entre si at a morte, formando, em
essncia, toda a dramtica e sangrenta histria poltica do
sculo XX. lgico numerar essas ideologias (teorias polticas)
tanto com base em sua significncia e em ordem de sua
ocorrncia, como feito acima.
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A primeira teoria poltica o liberalismo. Ele emergiu
primeiro, to cedo quanto o sculo XVIII e acabou sendo a
ideologia mais estvel e bem sucedida, tendo finalmente
prevalecido sobre seus rivais nessa batalha histrica. Como
resultado dessa vitria, ele provou, entre outros fatores, a
justificativa de sua reivindicao sobre todo o legado do
Iluminismo. Hoje, bvio que era o liberalismo que estava
melhor adaptado modernidade. Porm, esse legado era
disputado inicialmente, dramaticamente, ativamente e, em
momentos, convincentemente, por outra teoria poltica o
comunismo.
razovel chamar o comunismo, tanto quanto o
socialismo em todas as suas variedades, de segunda teoria
poltica. Ele apareceu depois do liberalismo como uma
resposta crtica emergncia do sistema burgus-capitalista,
que era a expresso ideolgica do liberalismo.
E, finalmente, o fascismo a terceira teoria poltica.
Como uma concorrente por seu prprio entendimento do
esprito da modernidade, muitos pesquisadores, Hannah
Arendt em particular, razoavelmente consideram o
totalitarismo como uma das formas polticas da modernidade.
O fascismo, porm, se voltou para as ideias e smbolos da
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sociedade tradicional. Em alguns casos, isso gerou um
ecletismo, em outros o desejo dos conservadores de liderar
uma revoluo ao invs de resistir a ela, levando sua
sociedade na direo oposta, i.e. Arthur Moeller van den
Bruck, Dmitry Merezhkovsky, etc.
O fascismo emergiu depois das outras grandes teorias
polticas e desapareceu antes delas. A aliana da primeira
teoria poltica com a segunda teoria poltica, bem como os
equvocos geopolticos suicidas de Hitler, o derrubaram no
meio do caminho. A terceira teoria poltica foi uma vtima de
homicdio ou talvez de suicdio, no vivendo o bastante
para conhecer a velhice e a decomposio natural, em
contraste com a URSS. Portanto, esse fantasma vampiresco
sangrento, tinindo com uma aura de maldade global,
atraente aos gostos decadentes da ps-modernidade, ainda
amedrontando a humanidade em grande medida.
Com seu desaparecimento, o fascismo abriu espao
para a batalha entre a primeira e a segunda teoria poltica.
Essa batalha assumiu a forma da Guerra Fria e deu origem
geometria estratgica do mundo bipolar que durou quase
meio sculo. Em 1991, a primeira teoria poltica, o liberalismo,
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havia derrotado a segunda teoria poltica, o socialismo. Isso
marcou o declnio global do comunismo.
Como resultado, ao fim do sculo XX, a teoria liberal a
nica remanescente das trs teorias polticas da Modernidade
que capaz de mobilizar as vastas massas por todo o mundo.
Porm, agora que ela ficou por conta prpria, todos falam em
unssono sobre o fim da ideologia. Por qu?
O FIM DO LIBERALISMO E A CHEGADA DO PS-LIBERALISMO
Acontece que o triunfo do liberalismo, a primeira teoria
poltica, coincidiu com seu fim. Isso apenas parece ser um
paradoxo.
O liberalismo tem sido uma ideologia desde o incio. Ele
no era to dogmtico quanto o marxismo, mas no era menos
filosfico, gracioso e refinado. Ideologicamente ele se opunha
ao marxismo e ao fascismo, no apenas empreendendo uma
guerra tecnolgica pela sobrevivncia, mas tambm
defendendo seu direito de monopolizar sua prpria imagem
do futuro. Enquanto as outras ideologias competidoras
estavam vivas, o liberalismo perdurou e tornou-se mais forte
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precisamente como ideologia, i.e. um conjunto de ideias,
vises e projetos que so tpicos para um sujeito histrico.
Cada uma das trs teorias polticas tinha seu prprio sujeito.
O sujeito do comunismo era a classe. O sujeito do
fascismo era o estado no fascismo italiano sob Mussolini, ou
raa no nacional-socialismo de Hitler. No liberalismo, o sujeito
era representado pelo indivduo, livre de todas as formas de
identidade coletiva e de qualquer pertencimento
(lappartenance).
Enquanto o conflito ideolgico possua oponentes
formais, naes e sociedades inteiras, ao menos teoricamente,
foram capazes de selecionar seu sujeito de preferncia o da
classe, racismo/estatismo, ou individualismo. A vitria do
liberalismo resolveu essa questo: o indivduo se tornou o
sujeito normativo dentro da estrutura de toda a humanidade.
nesse ponto que o fenmeno da globalizao emerge,
o modelo de uma sociedade ps-industrial se faz conhecido e a
era ps-moderna tem incio. De agora em diante, o sujeito
individual no mais resultado de escolha, mas um tipo de
dado mandatrio.
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O homem est liberto de seu pertencimento e de
identidades coletivas, e a ideologia dos direitos humanos se
torna amplamente aceita, ao menos em teoria e praticamente
compulsria.
Uma humanidade sob o liberalismo, composta por
indivduos, naturalmente impelida em direo
universalidade e busca se tornar global e unificada. Assim, os
projetos do estado global, governana global e do governo
mundial ou globalismo nascem.
Um novo nvel de desenvolvimento tecnolgico torna
possvel alcanar a independncia em relao
estruturalizao classista das sociedades industriais i.e. ps-
industrialismo.
Os valores do racionalismo, cientificismo e positivismo
so reconhecidos como formas veladas de polticas
repressivas e totalitrias, ou como a grande narrativa e so
criticados. Ao mesmo tempo, isso acompanhado pela
glorificao paralela da liberdade completa e da
independncia do indivduo em relao a quaisquer fatores
limitantes, incluindo a razo, a moralidade, a identidade
(social, tnica e at mesmo de gnero), disciplinas, etc. Essa a
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condio da Ps-Modernidade. Nessa fase, o liberalismo deixa
de ser a primeira teoria poltica e se torna a nica prtica ps-
poltica. O fim da histria de Fukuyama chega, a economia na
forma do mercado capitalista global, substitui a poltica, e
estados e naes so dissolvidas no caldeiro da globalizao
mundial.
Tendo triunfado, o liberalismo desaparece e se
transforma em uma entidade diferente - o ps-liberalismo. Ele
no mais possui dimenses polticas; ele no representa a
liberdade de escolha, mas ao invs se torna um tipo de
destino historicamente determinista. Essa a fonte da tese
sobre a sociedade ps-industrial: economia como destino.
Assim, o incio do sculo XXI coincide com o fim da
ideologia ou seja, de todas as trs. Cada uma encontrou um
fim diferente: a terceira teoria poltica foi destruda em sua
juventude, a segunda morreu de velhice decrpita e a
primeira renasceu como outra coisa como ps-liberalismo e
como a sociedade do mercado global. Em qualquer caso, a
forma que todas as trs teorias polticas assumiram no sculo
XX no mais til, efetiva, ou relevante. Elas carecem de poder
explanatrio, da habilidade de nos ajudar a entender eventos
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atuais e da capacidade de responder a desafios globais. A
necessidade da Quarta Teoria Poltica deriva dessa avaliao.
A QUARTA TEORIA POLTICA COMO RESISTNCIA AO STATUS QUO
A Quarta Teoria Poltica no nos ser simplesmente
dada sem qualquer esforo. Ela pode emergir ou no. O pr-
requisito para seu aparecimento o dissenso. Isto , o dissenso
em relao ao ps-liberalismo como prtica universal, contra a
globalizao, contra a ps-modernidade, contra o fim da
histria, contra o status quo, contra o desenvolvimento
inercial dos principais processos civilizacionais na aurora do
sculo XXI.
O status quo e essa inrcia no pressupem quaisquer
teorias polticas. Um mundo global s pode ser governado
pelas leis da economia e pela moralidade universal dos
direitos humanos. Todas as decises polticas so
substitudas por decises tcnicas. A maquinaria e a tecnologia
substituem todo o resto. O filsofo francs, Alain de Benoist,
chama isso de la gouvernance, ou microgerenciamento.
Gerentes e tecnocratas assumem o lugar do poltico que toma
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decises histricas, otimizando a logstica do gerenciamento.
Massas de pessoas so equiparadas massa singular de
objetos individuais. Por essa razo, a realidade ps-liberal, ou,
melhor dizendo, a virtualidade cada vez mais deslocando a
realidade para longe de si mesma, leva diretamente abolio
completa da poltica.
Alguns poderiam arguir que os liberais mentem
quando eles falam sobre o fim da ideologia (este foi o tema
meu debate com o filsofo Aleksandr Zinoviev); em
realidade, eles permaneceriam crentes em sua ideologia e
simplesmente negariam a todas as outras o direito de existir.
Isso no exatamente verdade. Quando o liberalismo se
transforma de ser um arranjo ideolgico para ser o nico
contedo da existncia tecnolgica e social subsistente, ento
ele no mais uma ideologia, mas um fato existencial, uma
ordem objetiva de coisas, cujo desafio no apenas difcil, mas
tolo. Na era ps-moderna, o liberalismo se move da esfera do
sujeito para a esfera do objeto. Isso potencialmente levar
substituio completa da realidade pela virtualidade.
A Quarta Teoria Poltica concebida como uma
alternativa ao ps-liberalismo, mas no como um arranjo
ideolgico em relao a outro. Ao invs, como uma ideia
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incorprea oposta matria corprea; como uma possibilidade
entrando em conflito com a atualidade, como aquilo que ainda
est para vir a ser atacando aquilo que j est em existncia.
Ao mesmo tempo, a Quarta Teoria Poltica no pode ser
a continuao seja da segunda teoria poltica ou da terceira. O
fim do fascismo, muito como o fim do comunismo, no foi
apenas um mal-entendido acidental, mas a expresso de uma
lgica histrica bastante lcida. Elas desafiaram o esprito da
modernidade (o fascismo o fez quase abertamente, o
comunismo de modo mais encoberto: ver a resenha do
perodo sovitico como uma verso escatolgica especial da
sociedade tradicional por Mikhail S. Agurskii ou Sergei Kara-
Murza) e perderam.
Isso quer dizer que o conflito com a metamorfose ps-
moderna do liberalismo sob a forma da ps-modernidade e da
globalizao deve ser qualitativamente diferente; deve ser
baseada em novos princpios e propor novas estratgias.
No obstante, o ponto de partida dessa ideologia
precisamente a rejeio da prpria essncia da ps-
modernidade. Esse ponto de partida possvel mais nem
garantido, fatal ou pr-determinado porque ele emerge do
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livre arbtrio do homem, de seu esprito, ao invs de um
processo histrico impessoal.
Porm, essa essncia (muito como a deteco da razo
por trs da prpria modernidade imperceptvel previamente
que realizou sua essncia to completamente que exauriu
seus recursos internos e mudou para o modo de reciclagem
irnica de suas fases anteriores) algo completamente novo,
previamente desconhecido e apenas deduzido intuitivamente
e fragmentariamente durante as fases primitivas da histria
ideolgica e do conflito ideolgico.
A Quarta Teoria Poltica uma Cruzada contra:
Se a terceira teoria poltica criticou o capitalismo a
partir da Direita e a segunda a partir da Esquerda, ento a
nova fase no mais destaca essa topografia poltica:
impossvel determinar onde a Direita e a Esquerda esto
localizadas em relao ao ps-liberalismo. H apenas duas
posies: conformidade (o centro) e dissenso (a periferia).
Ambas as posies so globais.
A Quarta Teoria Poltica o amlgama de um projeto
comum e um impulso comum em relao a tudo que foi
descartado, derrubado e humilhado durante o curso da
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construo da sociedade do espetculo (construindo a ps-
modernidade). A pedra que os construtores rejeitaram veio a
tornar-se pedra angular (Marcos 12:10). O filsofo Aleksandr
Sekatsky corretamente apontou a significncia da
marginalia na formao de um novo eon filosfico, sugerindo
o termo metafsica dos escombros como metfora.
A BATALHA PELA PS-MODERNIDADE
A Quarta Teoria Poltica lida com a nova reencarnao
de um velho inimigo. Ela desafia o liberalismo, muito como a
segunda e terceira teorias polticas do passado, mas ela o faz
sob novas condies. A principal novidade dessas condies
est no fato de que de todas as trs grandes ideologias
polticas apenas o liberalismo garantiu o direito a possuir o
legado por trs do esprito da modernidade e obteve o direito
de criar o fim da histria baseado em suas prprias premissas.
Teoricamente, o fim da histria poderia ter sido
diferente: um Reich planetrio, se os nazistas tivessem
vencido, ou o comunismo global, se os comunistas
estivessem certos. Porm, o fim da histria acabou sendo
-
30
precisamente liberal. O filsofo Alexandre Kojve foi um dos
primeiros a prever isso; suas ideias foram depois
reproduzidas por Francis Fukuyama. Mas j que este o caso,
ento quaisquer apelos modernidade e suas hipteses, s
quais os representantes da segunda e (e em medida maior) da
terceira teorias polticas apelavam em vrios graus, perdem
sua relevncia. Eles perderam a batalha pela modernidade
conforme os liberais triunfaram. Por essa razo, a questo da
modernidade, e, incidentalmente da modernizao, pode ser
removida da agenda. Agora a batalha pela ps-modernidade
comea.
E aqui que os novos prospectos se abrem para a
Quarta Teoria Poltica. Aquele tipo de ps-modernidade que
est atualmente sendo realizada na prtica, a ps-
modernidade ps-liberal, cancela a lgica estrita da prpria
modernidade aps o objetivo ter sido alcanado, os passos
para alcana-la perdem o sentido. A presso da concha
ideolgica se torna menos rgida. A ditadura das ideias
substituda pela ditadura das coisas, senhas de login e cdigos
de barra. Novos buracos esto aparecendo no tecido da
realidade ps-moderna.
-
31
Como a terceira e segunda teorias polticas, concebidas
como uma verso escatolgica do tradicionalismo, uma vez
tentaram colocar uma sela na modernidade em sua luta com
o liberalismo, a primeira teoria poltica, hoje h uma chance de
conquistar algo anlogo com a ps-modernidade, usando esses
novos buracos, em particular.
O liberalismo se desenvolveu infalivelmente operando
armas dirigidas contra suas alternativas diretas, o que foi a
base de sua vitria. Mas essa prpria vitria que reserva o
maior risco para o liberalismo. Ns devemos apenas averiguar
a localizao desses novos pontos vulnerveis no sistema
global e decifrar suas senhas de login de modo hackear seu
sistema. Pelo menos, ns devemos tentar faz-lo.
Os eventos de 11 de setembro em Nova Iorque
demonstraram que isso possvel at mesmo
tecnologicamente. A sociedade da Internet pode ser til
mesmo para os seus firmes inimigos. Em qualquer caso,
primeiro e mais importante, ns devemos entender a ps-
modernidade e a nova situao no menos profundamente do
que Marx entendeu a estrutura do capitalismo industrial.
-
32
A Quarta Teoria Poltica deve buscar sua inspirao
sombria na ps-modernidade, na liquidao do programa do
Iluminismo e na chegada da sociedade do simulacro,
interpretando isso como um incentivo para a batalha, ao invs
de como um dado fatal.
REPENSANDO O PASSADO E AQUELES QUE PERDERAM
A segunda e terceira teorias polticas so inaceitveis
como pontos de partida para resistir ao liberalismo,
particularmente pelo modo como elas se compreendiam, a que
elas apelavam e como elas operavam. Elas se posicionavam
como competidoras pela expresso da alma da modernidade e
falharam nessa iniciativa. Porm, nada nos impede de
repensar o prprio fato de sua derrota como algo positivo, seus
vcios remodelados como virtudes. J que a lgica da histria
da Nova Era nos trouxe ps-modernidade, ento ela tambm
contm a essncia secreta da Nova Era que s nos foi revelada
no final.
A segunda e terceira teorias polticas se reconheciam
como competidoras pela expresso do esprito da
modernidade. E essas reivindicaes caram por gua abaixo.
-
33
Tudo relativo a essas intenes no realizadas nas ideologias
prvias de mnimo interesse para os criadores da Quarta
Teoria Poltica. Porm, ns devemos atribuir o prprio fato de
que elas perderam a uma de suas vantagens ao invs de a suas
desvantagens. Perdendo, elas provaram que no pertenciam ao
esprito da modernidade, o qual, por sua vez, levou matrix
ps-liberal. A residem suas vantagens. Mais ainda, isso
significa que os representantes da segunda e terceira teorias
polticas conscientemente ou inconscientemente estavam
do lado da Tradio, porm, sem tirar as concluses
necessrias disso ou sem mesmo o reconhecer.
A segunda e terceira teorias polticas devem ser
reconsideradas, selecionando nelas aquilo que deve ser
descartado e aquilo que possui valor em si mesmo. Como
ideologias completas, tentando fazer as coisas prpria
maneira literalmente, elas so totalmente inteis seja
teoricamente ou praticamente. Porm, certos elementos
marginais que no foram geralmente implementados e
permaneceram na periferia ou nas sobras (lembremos-nos da
metafsica dos escombros novamente) podem
inesperadamente acabar sendo extremamente valiosos e
saturados de significado e intuio.
-
34
Porm, em qualquer caso, necessrio repensar a
segunda e terceira teorias polticas de uma nova maneira, a
partir de uma nova perspectiva e apenas aps ns rejeitarmos
nossa confiana naquelas estruturas ideolgicas nas quais sua
ortodoxia se sustentava. A sua ortodoxia seu aspecto mais
desinteressante e intil. Fazer uma leitura cruzada delas seria
muito mais produtivo: Marx atravs de uma perspectiva
positiva da Direita ou Evola atravs de uma perspectiva
positiva da Esquerda. Essa fascinante iniciativa nacional-
bolchevique, no esprito de Nikolai V. Ustrialov ou Ernst
Niekisch, no suficiente por si mesma. Afinal, uma adio
mecnica da segunda teoria poltica terceira, por si mesma,
no nos levar a lugar algum. Apenas em retrospecto ns
podemos delinear suas regies comuns, as quais eram
firmemente opostas ao liberalismo. Esse exerccio
metodolgico til como um aquecimento antes de comear
uma elaborao completa da Quarta Teoria Poltica.
Uma leitura verdadeiramente significativa e decisiva da
segunda e terceira teorias polticas s possvel com base em
uma j estabelecida Quarta Teoria Poltica. A ps-
modernidade e suas condies (o mundo globalista, a
gouvernance ou microgerenciamento, a sociedade de
-
35
mercado, o universalismo dos direitos humanos, a dominao
real do capital, etc.) representam o principal objeto na Quarta
Teoria Poltica. Porm, elas so radicalmente negadas
enquanto valor.
O RETORNO DA TRADIO E DA TEOLOGIA
A Tradio (religio, hierarquia, famlia) e seus valores
foram sobrepujados na aurora da modernidade. Em verdade,
todas as trs teorias polticas foram concebidas como
construes ideolgicas artificiais por pessoas que
compreenderam, de vrios modos, a morte de Deus
(Friedrich Nietzsche), o desencanto do mundo (Max Weber)
e o fim do sagrado. Este foi o ncleo da Nova era da
Modernidade: o homem passou a substituir Deus, a filosofia e a
cincia substituram a religio, e os construtos racionais,
enrgicos e tecnolgicos tomaram o lugar da Revelao.
Porm, se o modernismo se exauriu na ps-
modernidade, ento ao mesmo tempo, o perodo de
teomaquia direta chega a um fim junto com ela. As pessoas
ps-modernas no so contrrias religio, mas ao invs,
-
36
indiferentes. Ademais, certos aspectos da religio, via de regra,
relativas s regies do inferno, a textura demnica dos
filsofos ps-modernistas so bastante atrativas. Em qualquer
caso, a era da perseguio Tradio acabou, ainda que,
seguindo a lgica do ps-liberalismo, isso provavelmente
levar criao de uma nova pseudo-religio global, baseada
nos restos de cultos sincrticos disparatados, no ecumenismo
catico desenfreado e na tolerncia. Enquanto esse curso
dos eventos , de algumas maneiras, ainda mais aterrorizante
do que o materialismo e o atesmo dogmtico diretos e
descomplicados, o enfraquecimento da perseguio da F
pode ser aquela chance, se os representantes da Quarta Teoria
Poltica agirem consistentemente e descompromissadamente
na defesa dos ideais e valores da Tradio.
Agora seguro instituir como programa poltico aquilo
que foi banido pela modernidade. E isso no mais parece to
tolo e destinado derrota quanto antes pelo menos porque
tudo na ps-modernidade parece tolo e destinado derrota,
inclusive seus aspectos mais glamourosos. No por acaso
que os heris da ps-modernidade so aberraes e
monstros, travestis e degenerados essa a lei do estilo.
Contra o pano de fundo dos palhaos do mundo nada e
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37
ningum pode parecer arcaico demais, mesmo as pessoas da
Tradio que ignoram os imperativos da vida moderna. A
validade dessa assero no provada apenas pelas
conquistas significativas do fundamentalismo islmico, mas
tambm pelo ressurgimento da influncia exercida pelas
vastamente arcaicas seitas protestantes (dispensacionalistas,
mrmons, etc.) na poltica externa americana. George W. Bush
foi guerra no Iraque porque, em suas prprias palavras,
Deus me disse para invadir o Iraque!. Isso bastante
compatvel com seus professores protestantes metodistas.
Assim, a Quarta Teoria Poltica pode facilmente se
voltar para tudo que precedeu a modernidade de modo a
buscar sua inspirao l. O reconhecimento da morte de
Deus deixa de ser um imperativo mandatrio para aqueles
que querem permanecer relevantes. As pessoas da ps-
modernidade j esto to resignadas diante desse evento que
elas nem podem mais compreend-lo Quem morreu
exatamente? Mas, do mesmo jeito, os desenvolvedores da
Quarta Teoria Poltica podem esquecer esse evento. Ns
acreditamos em Deus, mas ignoramos aqueles que ensinam
sobre Sua morte, tanto como ignoramos as palavras dos
loucos.
-
38
Isso marca o retorno da teologia e se torna um elemento
essencial da Quarta Teoria Poltica. Quando ela retorna, a ps-
modernidade (globalizao, ps-liberalismo e a sociedade ps-
industrial) facilmente reconhecida como o reino do
Anticristo (ou suas contrapartes em outras religies Dajjal
para os muulmanos, Erev Rav para os judeus, e Kali Yuga
para os hindus, etc.). Agora esta no simplesmente uma
metfora capaz de mobilizar as massas, mas um fato religioso
o fato do Apocalipse.
MITOS E ARCASMO NA QUARTA TEORIA POLTICA
Se o atesmo da Nova Era deixa de ser algo mandatrio
para a Quarta Teoria Poltica, ento a teologia das religies
monotestas, que uma vez substituiu outras culturas sagradas,
no ser tambm a verdade ltima (ou melhor, poder ser ou
no). Teoricamente, nada limita a profundidade da abordagem
dos antigos valores arcaicos, a qual pode assumir um lugar
especfico na nova construo ideolgica, aps ser
adequadamente reconhecida e compreendida. Eliminando a
necessidade de ajustar a teologia ao racionalismo da
-
39
modernidade, os portadores da Quarta Teoria Poltica esto
livres para ignorar aqueles elementos teolgicos e dogmticos,
que foram afetados pelo racionalismo nas sociedades
monotestas, principalmente nas ltimas fases. Estas levaram
ao aparecimento do desmo sobre as runas da cultura
europeia crist, seguido do atesmo e do materialismo,
durante um desenvolvimento escalonado dos programas da
era moderna.
No apenas os mais altos smbolos supramentais da f
podem ser colocados a bordo novamente como um novo
escudo, mas tambm podem aqueles aspectos irracionais dos
cultos, ritos e lendas que tem deixados perplexos os telogos
das fases prvias. Se ns rejeitamos a ideia de progresso
inerente modernidade (que como ns vimos, acabou), ento
tudo que antigo ganha valor e credibilidade simplesmente
por ser antigo. Antigo significa bom e quanto mais antigo
melhor.
De todas as criaes, o paraso a mais antiga. Os
portadores da Quarta Teoria Poltica devem lutar para
descobri-lo novamente no futuro prximo.
-
40
HEIDEGGER E O EVENTO (EREIGNIS)
E finalmente, ns podemos identificar a mais profunda
ontolgica! fundao para a Quarta Teoria Poltica. Aqui,
ns devemos prestar ateno no apenas em telogos e
mitologias, mas tambm na experincia filosfica reflexiva de
um pensador particular que fez uma tentativa nica de
construir uma ontologia fundamental o estudo mais
resumido, paradoxal, profundo e penetrante do Ser. Eu estou
me referindo Martin Heidegger.
Uma breve descrio do conceito de Heidegger como
segue. Na aurora do pensamento filosfico, as pessoas (mais
especificamente, os europeus e, ainda mais especificamente,
os gregos), levantaram a questo do Ser como ponto focal de
seu pensamento. Mas, pela sua tematizao, elas se arriscaram
a se confundir pelas nuances do relacionamento complicado
entre Ser e pensamento, entre puro Ser (Seyn) e sua expresso
na existncia um ser (Seiende), entre Ser no mundo (Dasein
ser-a) e Ser-em-si (Sein). Essa falha j ocorreu no
ensinamento de Herclito sobre a physis e o logos. Logo, ela
bvia na obra de Parmnides e, finalmente, em Plato, que
colocou as ideias entre o homem e a existncia e que definiu a
-
41
verdade como sua correspondncia, a teoria referencial do
conhecimento, essa falha alcanou sua culminao. Isso deu
origem a uma alienao que eventualmente levou ao
pensamento calculista (das rechnende Denken) e ento ao
desenvolvimento da tecnologia. Pouco a pouco, o homem
perdeu de vistas o puro Ser e entrou no caminho do niilismo. A
essncia da tecnologia (baseada no relacionamento tcnico
com o mundo) expressa esse niilismo continuamente
acumulativo. Na Nova Era, essa tendncia alcana seu pinculo
o desenvolvimento tcnico (Gestell) finalmente substitui o Ser
e coroa o Nada. Heidegger odiava amargamente o
liberalismo, o considerando uma expresso da fonte
calculista que reside no corao do niilismo ocidental.
A ps-modernidade, que Heidegger no viveu para ver,
, em todos os sentidos, o esquecimento ltimo do Ser, aquela
meia-noite, quando o Nada (niilismo) comea a escorrer de
todas as rachaduras. Porm essa filosofia no era
desesperanosamente pessimista. Ele acreditava que o prprio
Nada o outro lado do puro Ser, o qual de modo to
paradoxal! lembra a humanidade de sua existncia. Se ns
decifrarmos corretamente a lgica por trs do desdobramento
do Ser, ento a humanidade pensante poder salvar a si
-
42
mesma com mxima rapidez no momento de maior risco.
Onde est o perigo, l tambm cresce a oportunidade de
salvao, Heidegger cita a poesia de Friedrich Hlderlin.
Heidegger usa um termo especial, Ereignis o
Evento, para descrever esse retorno sbito do Ser. Ele ocorre
exatamente meia-noite da noite do mundo no momento
mais escuro da histria. O prprio Heidegger constantemente
vacilava quanto a esse ponto j ter sido alcanado ou - "ainda
no. O eterno ainda no...
A filosofia de Heidegger pode provar ser aquele eixo
central conectando tudo ao seu redor das segunda e terceira
teorias polticas reinterpretadas ao retorno da teologia e da
mitologia.
Assim, no corao da Quarta Teoria Poltica, em seu
centro magntico, est a trajetria da Ereignis (o Evento)
iminente, que incorporar o retorno triunfante do Ser no exato
momento em que a humanidade o esquece de uma vez por
todas ao ponto de que seus ltimos traos desaparecem.
-
43
A QUARTA TEORIA POLTICA E A RSSIA
Hoje muitas pessoas intuitivamente entendem que a
Rssia no tem lugar no admirvel mundo novo da
globalizao, da ps-modernidade e do ps-liberalismo.
Primeiro, o Estado global e o governo mundial esto
gradualmente abolindo todos os Estados-nao em geral. Mais
importante o fato de que a totalidade da histria russa um
argumento dialtico com o Ocidente e contra a cultura
ocidental, a luta pela defesa de nossa prpria (muitas vezes
apenas intuitivamente compreendida) verdade russa, nossa
prpria ideia messinica e nossa prpria verso do fim da
histria, no importa como ela se expresse atravs da
Ortodoxia moscovita, do imprio secular de Pedro, ou da
revoluo comunista mundial. As mentes russas mais
brilhantes viram claramente que o Ocidente estava se
dirigindo para o abismo. Agora, olhando para onde a economia
neoliberal e a cultura ps-moderna levaram o mundo, ns
podemos ter certeza de que essa intuio, impulsionando
geraes do povo russo a buscar por alternativas, era
completamente justificada.
-
44
A atual crise econmica global apenas o comeo. O
pior ainda est por vir. A inrcia dos processos ps-liberais
tamanha que uma mudana de curso impossvel: para salvar
o Ocidente, a tecnologia emancipada irrestrita (Oswald
Spengler) buscar por meios tecnolgicos mais eficientes,
porm meramente tcnicos. Essa a nova fase na chegada da
Gestell espalhando a mancha niilista do mercado global por
todo o planeta. Movendo de crise em crise e de uma bolha
para a prxima (milhares de americanos realizaram um
protesto em um tempo de crise com o seguinte slogan, Nos
deem uma nova bolha! D para ser mais cego?), a economia
globalista e as estruturas da sociedade ps-industrial tornam
a noite da humanidade mais e mais negra. Ela to negra, na
verdade, que ns gradualmente esquecemos que est de noite.
O que luz? se perguntam as pessoas jamais a tendo visto.
claro que a Rssia precisa seguir um caminho
diferente. O seu prprio. Aqui est a questo e o paradoxo.
Escapar da lgica da ps-modernidade em um nico pas no
ser to simples. O modelo sovitico tentou e caiu. Depois
desse ponto, a situao ideolgica mudou irreversivelmente
bem como a balana estratgica de poder. Para que a Rssia
possa salvar a si mesma e a outros, criar algum tipo de milagre
-
45
tecnolgico ou uma jogada enganosa seria insuficiente. A
histria mundial tem a sua prpria lgica. E o fim da
ideologia no uma falha aleatria, mas o incio de uma nova
fase, aparentemente, a ltima.
Nessa situao, o futuro da Rssia depende diretamente
de nossos esforos para desenvolver a Quarta Teoria Poltica.
Ns no iremos longe e apenas estenderemos nosso tempo se
localmente selecionarmos as opes que a globalizao nos
oferece e corrigindo o status quo de um jeito superficial. O
desafio da ps-modernidade tremendamente significativo:
ele est enraizado na lgica do esquecimento do Ser e no
distanciamento da humanidade em relao a suas razes
existenciais (ontolgicas) e espirituais (teolgicas). Responder
a isso com inovaes tiradas do chapu ou substitutos de
relaes pblicas impossvel. Portanto, ns devemos nos
referir s fundaes filosficas da histria e fazer um esforo
metafsico de modo a resolver os problemas atuais a crise
econmica global, contrapor o mundo unipolar, bem como a
preservao e fortalecimento da soberania, etc.
difcil dizer como o processo de desenvolver essa
teoria acabar. Uma coisa clara: no pode ser um esforo
individual ou um que seja restrito a um pequeno grupo de
-
46
pessoas. O esforo deve ser compartilhado e coletivo. Dessa
maneira, os representantes de outras culturas e povos (tanto
na Europa como na sia) podero verdadeiramente nos
ajudar, j que eles sentem a tenso escatolgica do momento
presente de um jeito igualmente agudo e esto to
desesperadamente procurando por um caminho para fora do
beco sem sada global.
Porm, possvel afirmar desde j que a verso russa
da Quarta Teoria Poltica, baseada na rejeio do status quo
em suas dimenses prticas e tericas, focar na Ereignis
russa. Esse ser aquele Evento, nico e extraordinrio, para
o qual muitas geraes de russos viveram e esperaram, do
nascimento de nossa nao chegada futura do Fim dos Dias.
-
47
CAPTULO 3: DASEIN COMO ATOR FASES E PROBLEMAS NO DESENVOLVIMENTO DA QUARTA TEORIA POLTICA
Sendo um defensor do desenvolvimento cclico e um
oponente de Francis Bacon e sua ideia de coleta de dados, eu
ainda gostaria de sugerir que ns desenvolvssemos e
modificssemos abordagens a tpicos e reas especficos do
pensamento de modo contnuo. Ns repetidamente
esclarecemos a noo de conservadorismo. Ns conduzimos
uma srie de conferncias e simpsios cientficos sobre a
Quarta Teoria Poltica. Acreditamos que estes esforos, cujos
resultados esto publicados em revistas1, colees cientficas,
monografias individuais e stios virtuais2 no foram realizados
1 Edio #1 da revista Russkoe Vremia (Tempo Russo), 2009, completamente dedicado ao tema do conservadorismo. Ver tambm A.G. Dugin, A Quarta Teoria Poltica, Perfil, #48, 22.12.2008. 2 Aqui esto alguns links: http://evrazia.org/print.php?id=779;
http://www.evrazia.org/article/755;http://konservatizm.org/news/activity/020409175427.xhtml; http://rossia3.ru/ideolog/friends/hezbali1; http://rossia3.ru/ideolog/friends/hezbali2;http://www.evrazia.org/article/751;http://konservatizm.org/konservatizm/theory/160309164752.xhtml; http://konservatizm.org/konservatizm/theory/140309014819.xhtml; http://www.geopolitica.ru/Articles/434/;
-
48
em vo, e que os leitores esto mais ou menos familiarizados
com eles. Portanto, eu proponho que avancemos.
Eu demonstrarei com exemplos concretos o que foi
feito para promover a discusso da Quarta Teoria Poltica e,
consequentemente, os resultados observveis das atividades
conduzidas pelo Centro de Pesquisa Conservadora na
Faculdade de Sociologia da Universidade Pblica de Moscou3 e
pelo Clube Conservador de So Petersburgo na Faculdade de
Filosofia da Universidade Pblica de So Petersburgo4. Esses
resultados incluem dois livros que foram recentemente
publicados em So Petersburgo, na maravilhosa casa editorial
de So Petersburgo Amphora: Contra o Liberalismo: Em
Direo Quarta Teoria Poltica5 de Alain de Benoist e A
Quarta Teoria Poltica6 de Alexander Dugin. O livro do filsofo
Alain de Benoist, que discursou na Universidade Pblica de
So Petersburgo durante os Dias de Filosofia em So
http://www.sorokinfond.ru/index.php?id=552; http://neokons.ru/index. php?option=com_content&task=view&id=88&Itemid=78 3 http://konservatizm.org
4 http://konservatizm.org/regions/leningrad/region.xhtml
5 Benoist, Alain de. Protiv liberalizma. K chetvertoi politicheskoi teorii, St.
Petersburg, Amfora, 2009. [Contra o Liberalismo. Em Direo Quarta Teoria Poltica] 6 Dugin, A.G. Chetvertaia politicheskaia teoriia, St. Petersburg, Am-
phora, 2009 (on the web: http://konservatizm.org/konservatizm/amfo- ra/031209153016.xhtml) [A Quarta Teoria Poltica]
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49
Petersburgo, um compndio de suas opinies na filosofia e
na cincia poltica sobre grandes questes de nosso tempo:
globalizao, a crise econmica e social, o processo de
integrao europeia, as novas tendncias polticas e sociais, o
relacionamento entre Europa e Rssia, o humanismo, etc.
Todos esses problemas so abordados do ponto de partida da
crtica ideologia liberal que domina o mundo (a primeira e
mais estvel teoria poltica). Tendo permanecido sem
competio aps o colapso do comunismo, ela se tornou o alvo
prioritrio para crticas por aqueles que esto agudamente
conscientes dos aspectos negativos do status quo na poltica,
na esfera social, na economia, na cultura, na ideologia, etc. e
por aqueles que esto buscando uma alternativa. As velhas
alternativas ao liberalismo comunismo e fascismo foram
historicamente superadas e descartadas: cada uma a sua
prpria maneira, porm elas demonstraram sua ineficcia e
incompetncia.
Portanto, a busca por uma alternativa ao liberalismo
deve ocorrer em outro lugar. A rea de busca designada
como o domnio da Quarta Teoria Poltica. Tal abordagem
corresponde exatamente ao tema afirmado:
Conservadorismo: o Futuro ou uma Alternativa? Se ns
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50
pensarmos em uma alternativa e a correlacionarmos com a
planta para o futuro, ento ns deveramos claramente
perceber o que essa alternativa vai substituir. A resposta
simples: o liberalismo como o discurso global dominante.
Portanto, a nica alternativa significativa deve logicamente
ser dirigida contra o liberalismo, da o ttulo do livro de Alain
de Benoist. No obstante, a questo permanece: o
conservadorismo se adqua a esse papel? Em parte, ns
ouvimos a resposta na fala de Alain de Benoist, na qual ele
criticou a teoria liberal do progresso. Essa abordagem
filosfica prope que o conservadorismo seja o candidato mais
lgico para uma alternativa ao liberalismo ou como uma
viso de mundo relativizadora ou como uma viso de mundo
que rejeita o progresso completamente. O que permanece,
ento, especificar o tipo de conservadorismo em questo:
bvio que o conservadorismo liberal no pode ser
considerado como uma alternativa ao liberalismo, sendo sua
variante. Assim, atravs do processo de eliminao, ns
podemos especificar uma proposio: ns devemos buscar
uma alternativa ao liberalismo nas verses no-liberais de
conservadorismo. Tudo isso lgico, j que o prprio De
Benoist conhecido como um filsofo de opinies
-
51
conservadoras (s vezes, ele referido como um dos pioneiros
da Nova Direita europeia), mas o tipo particular de opinies
conservadoras que ele tem em mente bvio a partir de seu
livro recm-publicado.
H outro aspecto digno de mencionar em relao ao
ttulo do livro de Alain de Benoist. Muitos leitores se
lembraro de outro manifesto ideolgico dirigido contra o
liberalismo chamado Aps o Liberalismo7 por Immanuel
Wallerstein. Apesar da semelhana de ttulos e do objeto de
crtica, h uma diferena significativa. Wallerstein criticou o
liberalismo desde o ponto de vista da Esquerda a partir da
posio neomarxista. E, como qualquer marxista, ele viu o
liberalismo (democracia burguesa, capitalismo) como uma
fase do desenvolvimento histrico, o qual progressivo em
comparao com as fases precedentes de desenvolvimento
(como o feudalismo ou a escravido), mas inferior ao que
deve vir aps ela socialismo, comunismo, etc. Ns estamos
falando sobre a crtica a partir da Esquerda e, de algumas
maneiras, do ponto de partida do futuro (que expresso no
ttulo do livro de Wallerstein Aps o Liberalismo). Essa uma
7 Wallerstein, Immanuel. Posle liberalizma. Moscow, 2003. [Aps o
Liberalismo]
-
52
caracterstica tpica do marxismo. Para De Benoist, nem a
superioridade do liberalismo sobre os tipos histricos prvios
de sociedade, nem as vantagens de um futuro comunista so
bvias.
Portanto, apesar da similaridade de ttulos, h uma
diferena fundamental entre as posies iniciais dos autores:
com Wallerstein, ns temos que lidar com uma crtica a partir
da Esquerda; com de Benoist, com uma crtica a partir da
Direita. Outra diferena envolve o relacionamento em relao
ao liberalismo. Segundo Wallerstein, o fim do liberalismo era
uma concluso prevista pela prpria lgica da histria
sociopoltica e socioeconmica, e assim ele falou facilmente de
um depois. Para de Benoist a questo permanece: deve-se
lutar contra o liberalismo, porm nessa luta moralmente e
historicamente justificada, no h resultados garantidos.
importante lutar contra o liberalismo aqui e agora;
importante identificar suas vulnerabilidades; importante
forjar uma viso de mundo alternativa mas o futuro est em
nossas mos e aberto ao invs de pr-determinado.
Wallerstein, em vrios graus, um mecanicista, como
qualquer marxista, enquanto de Benoist um organicista e
holista, como qualquer (verdadeiro) conservador.
-
53
O ltimo item ao qual eu gostaria de chamar ateno
em relao s ideias de Alain de Benoist e sua relevncia a
compreenso do conceito do Quarto Nomos da Terra" 8 de
Carl Schmitt isto , o relacionamento entre cincia poltica e
teologia poltica com geopoltica e o novo modelo da
organizao poltica do espao.
De minha parte, no livro A Quarta Teoria Poltica9, eu
havia feito uma resenha das trs principais teorias polticas do
passado liberalismo, marxismo (socialismo) e fascismo
(nacional-socialismo), avaliado seu equilbrio geral e tentado
identificar os horizontes para o desenvolvimento da Quarta
Teoria Poltica para alm de todas as trs ideologias. Isso,
claro, est extremamente distante de qualquer dogmatismo ou
de uma proposta para uma resposta completa para o
problema apontado. Mas, no obstante, esses so passos
razoavelmente especficos em direo preparao de uma
abordagem prxima da questo. Sem repetir o que foi dito em
meu livro e no livro de Alain de Benoist, eu tentarei fazer um
certo nmero de observaes sobre o desenvolvimento deste
tema.
8 Schmitt, Carl, Nomos zemli, St. Petersburg, 2008. [O Nomos da Terra]
9 Dugin, A. G. Chetvertaia politicheskaia teoriia, ibid. [A Quarta Teoria
Poltica]
-
54
O que a Quarta Teoria Poltica em termos de
negao agora est claro. Ela no nem fascismo, nem
comunismo, nem liberalismo. Em princpio, esse tipo de
negao razoavelmente significativo. Ele incorpora nossa
determinao de ir alm dos paradigmas ideolgicos e
polticos usuais e fazer um esforo de modo a superar a
inrcia dos clichs internos ao pensamento poltico. Isso por si
s um convite extremamente estimulante para um esprito
livre e uma mente crtica. Eu realmente no compreendo por
que certas pessoas, quando confrontadas com o conceito de
Quarta Teoria Poltica, no correm imediatamente para abrir
uma garrafa de champagne e no comeam a danar e se
regozijar, celebrando a revelao de um novo horizonte.
Afinal, este um tipo de um Ano Novo filosfico um
excitante salto no desconhecido. O Ano Velho testemunhou a
luta das trs ideologias polticas uma que foi sangrenta e que
clamou milhes de vidas. Toda a crtica ao liberalismo era ou
fascista ou comunista. Essa crtica foi deixada no passado, mas
a mais antiga dessas ideologias liberalismo ainda est aqui.
O liberalismo o remanescente do Ano Velho; um resduo,
um passado incerto que no foi adequadamente enviado para
o esquecimento. Ele j passou, mas no quer ir embora
-
55
permanentemente de qualquer jeito. Em resumo, uma
quimera, o drago que engoliu o sol ou os espritos
diablicos que raptaram a Donzela de Neve antes do Ano
Novo. Em certo sentido, o liberalismo incorpora tudo que
estava no passado. A Quarta Teoria Poltica o nome para
uma descoberta, para um novo comeo.
Ressaltando a relevncia da crtica e especialmente
destacando o fato de que essa uma rejeio radical de todas
as trs teorias polticas (liberalismo, comunismo, e fascismo) e
suas variantes, eu sugiro que ns contemplemos o contedo
positivo da Quarta Teoria Poltica. O fato de que ns
identificamos o contedo negativo em si mesmo notvel e
requer um entendimento meticuloso. A prpria ideia de pr
um fim ao fascismo, ao comunismo e ao liberalismo uma
coisa extremamente estimulante. O programa negativo da
Quarta Teoria Poltica soa assim, Diga no ao fascismo,
no ao comunismo, e no ao liberalismo! O liberalismo no
vai funcionar! Ele no passar! (No pasar!), assim como o
fascismo outrora falhou (no ha pasado). O Muro de Berlim,
tambm, caiu; apenas poeira permanece da nica
manifestao visvel do comunismo, separando os comunistas
dos capitalistas (liberais). Os comunistas no passaram
-
56
tambm. Agora, o que resta que os liberais no passem e
eles no passaro! (No pasarn!). Mas para que eles no
passem, os fragmentos do Muro de Berlim so insuficientes
para ns, como o prprio Muro foi insuficiente. O Muro existia,
mas eles ainda passavam. Ainda de menos teis so as
sombras escuras do Terceiro Reich, seus cadveres
independentes10, inspirando apenas a brutal juventude punk
e os sonhos perturbadores e pervertidos de adeptos do
sadomasoquismo.
Consequentemente, ns sugerimos avanarmos de
modo a sairmos da fase niilista da Quarta Teoria Poltica em
direo positividade. Descartando as trs teorias polticas
como um todo sistematizado, ns podemos tentar olhar para
elas a partir de uma perspectiva diferente. Elas esto sendo
rejeitadas precisamente como sistemas ideolgicos completos
cada um com base em argumentos separados. Mas eles
como qualquer sistema consistem de elementos que no
pertencem a eles. As trs ideologias polticas possuem seus
sistemas filosficos, grupos, metodologias explanatrias, sua
totalidade nicas uma estrutura de seu crculo
10
Nota da Traduo: cadveres independentes. O autor usa a palavra nezalezhnye em referncia revoluo laranja na Ucrnia e s simpatias nazistas entre certos ucranianos do oeste.
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57
hermenutico, suas epistemes fundamentais. Elas so o que
elas so como um todo. Desmembradas em componentes, elas
perdem sua significncia e se tornam dessemantizadas. Um
componente particular de uma ideologia liberal, marxista
(socialista, comunista), ou fascista (nacional-socialista) no
liberalismo, marxismo, ou fascismo. No que eles sejam
completamente neutros, mas fora do contexto ideolgico
estrito, eles podem encontrar ou descobrir um diferente
novo sentido. Os aspectos positivos no desenvolvimento da
Quarta Teoria Poltica so baseados nesse princpio. Uma
reviso das trs ideologias polticas e sua anlise no
convencional pode dar certas pistas para o contedo
substantivo dessa teoria.
Em cada uma das trs ideologias h um sujeito
histrico claramente definido.
Na ideologia liberal, o sujeito histrico o indivduo. O
indivduo concebido como uma unidade que racional e
imbuda com uma vontade (moralidade). O indivduo tanto
um dado como o objetivo do liberalismo. um dado, mas um
que muitas vezes no tem conscincia de sua identidade como
indivduo. Todas as formas de identidade coletiva tnica,
nacional, estatal, religiosa, de casta, etc., impedem a
-
58
conscincia individual da prpria individualidade. O
liberalismo encoraja o indivduo a se tornar ele prprio, isto ,
a se libertar de todas aquelas identidades e dependncias
sociais que constrangem e definem o indivduo externamente.
Esse o sentido do liberalismo (ing.: liberty, lat.: libertas): o
chamado para ser liberado (Lat.: liber) de todas as coisas
externas. Ademais, os tericos liberais (em particular, John
Stuart Mill) enfatizaram o fato de que estamos falando de uma
liberdade de11, sobre a liberao de laos, identificaes e
restries que sejam negativas em seu contedo.
Quanto a qual seria o propsito dessa liberdade os
liberais permanecem em silncio afirmar algum tipo de
objetivo normativo , em seus olhos, restringir o indivduo e
sua liberdade. Portanto, eles separam estritamente uma
liberdade de, que eles consideram como um imperativo
moral para o desenvolvimento social, de uma liberdade para
(ing.: freedom) a normativizao de como, por que e para
que propsito essa liberdade deve ser usada. Esta ltima
permanece discrio do sujeito histrico (o indivduo).
11
Mill, John Stuart, O svobode, Nauka i zhizn, 1993, #11, pp. 1015, # 12. pp. 2126. [Sobre a Liberdade]
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O sujeito histrico da segunda teoria poltica a classe.
A estrutura de classes da sociedade e a contradio entre a
classe exploradora e a classe explorada so o ncleo da viso
da histria dramtica dos comunistas. Histria luta de
classes. A poltica sua expresso. O proletariado um sujeito
histrico dialtico, que chamado a se libertar da dominao
da burguesia e a construir uma sociedade sobre novas
fundaes. Um indivduo singular concebido aqui como
parte de uma totalidade de classe e adquire existncia social
apenas no processo de aquisio de conscincia de classe.
E, finalmente, o sujeito da terceira teoria poltica ou o
Estado (como no fascismo italiano) ou a raa (como no
nacional-socialismo alemo). No fascismo, tudo baseado na
verso direitista do hegelianismo, j que o prprio Hegel
considerava o Estado Prussiano como o pice do
desenvolvimento histrico no qual o esprito subjetivo era
aperfeioado. Giovanni Gentile, um proponente do
hegelianismo, aplicou esse conceito Itlia fascista12. No
nacional-socialismo alemo, o sujeito histrico era a raa
12
Gregor A. James, Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism, Transaction Publishers, 2001
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60
ariana13, que, segundo os racistas, participa no conflito
eterno contra as raas sub-humanas. As consequncias
estarrecedoras dessa ideologia so bem conhecidas demais
para insistirmos nelas. Porm, foi essa definio original de
um sujeito histrico que estava no mago das prticas
criminosas dos nazistas.
A definio de um sujeito histrico a base
fundamental para a ideologia poltica em geral e define sua
estrutura. Portanto, nessa questo, a Quarta Teoria Poltica
deve agir do modo mais radical rejeitando todas essas
construes como candidatos para um sujeito histrico. O
sujeito histrico no nem um indivduo, nem classe, nem o
Estado, nem uma raa. Este o axioma antropolgico e
histrico da Quarta Teoria Poltica.
Ns assumimos que esteja claro para ns quem (ou o
que) no pode ser o sujeito histrico. Mas ento quem (ou o
que) pode?
Ns limpamos um espao e apresentamos
corretamente a questo. Ns continuamos com nosso tema:
ns especificamos o problema do esclarecimento do sujeito
13
Rosenberg, Alfred, Mif XX veka. Tallinn, 1998. [O Mito do Sculo XX]
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61
histrico na Quarta Teoria Poltica. Agora h um buraco
escancarado. Esse buraco extremamente interessante e
significativo.
Penetrando nas profundezas desse vcuo, ns
propomos quatro hipteses, as quais no so mutuamente
exclusivas e que podem ser examinadas tanto coletivamente
como individualmente.
A primeira hiptese sugere abandonar todas as verses
de competidores pelo papel de sujeito histrico da teoria
poltica clssica, assumindo que o sujeito da Quarta Teoria
Poltica algum tipo de composto no o indivduo, classe,
Estado (raa, nao) por conta prpria, mas ao invs, uma
certa combinao destes. Essa uma hiptese de um sujeito
composto.
A segunda hiptese abordar o problema do ponto de
partida da fenomenologia. Coloquemos tudo aquilo que
sabemos sobre o sujeito histrico fora da estrutura das
ideologias clssicas, realizando o mtodo husserliano de
epoch e tentemos definir empiricamente aquele mundo
vital, que abrir diante de ns o mundo vital do poltico,
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62
um livro da metafsica ou da teologia14. possvel
considerar a histria poltica sem um sujeito? A histria
enquanto tal? Afinal, teoricamente, houve perodos histricos
em que a poltica existia, mas nos quais no havia sujeito no
sentido filosfico cartesiano. claro, em retrospecto, mesmo
esse pr-sujeito na histria poltica foi reinterpretado
segundo vrias ideologias. Mas se ns no mais confiamos em
ideologias (as trs teorias polticas), ento sua reconstruo
histria no um axioma para ns. Se ns considerarmos a
histria poltica no estilo da Escola dos Annales (mtodo de
Fernand de Braudel), ento ns temos a chance de descobrir
uma imagem um tanto polifnica, expandindo nosso
entendimento do assunto. No esprito de Peter Berger15, ns
podemos abrir o prospecto da dessecularizao (ao longo da
histria, organizaes religiosas frequentemente atuaram
como sujeitos polticos) ou junto com Carl Schmitt16, ns
podemos repensar a influncia da Tradio na tomada de uma
deciso poltica (no esprito da doutrina schmittiana sobre o
decisionismo). Descartar o dogma do progresso revelar
14
Schmitt, Carl, Politicheskaia teologia, Moscow, 2000. [Teologia Poltica] 15
Berger Peter L. (ed.), The Desecularization of the World: A Global Overview, Grand Rapids, Michigan, 1999. 16
Schmitt, Carl, Diktatura, St. Petersburg, 2005. [Ditadura]
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63
uma ampla gama de atores polticos, operando at e para alm
da Nova Era, o que se encaixa na abordagem conservadora.
Mas ns estamos livres para continuar nossa busca livre por
aquilo que pode ficar no lugar do sujeito histrico no futuro
na rea das hipteses exticas de Deleuze e Guattari sobre o
rizoma, um corpo sem rgos, micropoltica, etc. ou sobre
o horizonte da proto-histria com Baudrillard e Derrida
(texto, desconstruo, diffrance, etc.). Eles nos oferecem
novas (dessa vez, totalmente no conservadoras) capacidades.
Portanto, no vale a pena rejeit-los por antecipao,
simplesmente com base na simpatia de seus autores em
relao ao marxismo e em sua afiliao esquerdista.
A terceira hiptese a de forar o mtodo
fenomenolgico e acelerar vrios passos: ns podemos propor
considerar o Dasein17 de Heidegger como o sujeito da Quarta
Teoria Poltica. Dasein descrito na filosofia de Heidegger
amplamente atravs de sua estrutura existencial, o que torna
possvel construir um modelo holstico complexo sobre sua
base, cujo desenvolvimento levar, por exemplo, a um novo
entendimento da poltica. Muitos pesquisadores perderam de
17
Heidegger, Martin, Sein und Zeit (1927), Max Niemeyer Verlag, Tubingen, 2006.
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vistas o fato de que Heidegger (especialmente, no perodo
intermedirio 1936-1945) desenvolveu uma histria
completa da filosofia centrada no Dasein, o que pode formar a
base de uma filosofia poltica completa e bem desenvolvida
em retrospecto.
Assim, aceitar a hiptese do Dasein imediatamente ns
d um amplo sistema de coordenadas de modo a navegar a
construo histrica necessria para uma teoria poltica. Se o
sujeito Dasein, ento a Quarta Teoria Poltica constituiria
uma estrutura ontolgica fundamental que desenvolvida
sobre a base da antropologia existencial. Ns podemos
mapear a direo para especificar esse tipo de abordagem:
Dasein e o Estado;
Dasein e estratificao social;
Dasein e poder (a vontade de poder);
Dasein e poder;
Ser e poltica;
Os horizontes da temporalidade poltica;
-
65
Espacialidade existencial e a fenomenologia das
fronteiras;
O Prncipe e nada;
Parlamento, a escolha e Ser-para-a-morte;
Cidadania e o papel dos guardies do Ser;
Referendo e intencionalidade;
O autntico e o inautntico na jurisprudncia;
Filosofia existencial da jurisprudncia;
Revoluo e a fuga dos deuses;
Urbanizao e a casa do Ser.
Naturalmente, este apenas um esboo apressado das
reas de interesse na nova cincia poltica.
A quarta hiptese apela ao conceito da imaginao
(limaginaire). Esse tpico coberto em detalhes nas obras de
Gilbert Durand18, cujas ideias bsicas eu discuto em minha
18
Durand, Gilbert, Les Structures anthropologiques de l'imaginaire, Paris, 1960.
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66
nova obra Sociologia da Imaginao19. A imaginao como
uma estrutura precede o indivduo, o coletivo, classe, cultura e
raa (se a raa existe como fenmeno sociolgico, o que
incerto), bem como o Estado. Segundo Durand, que
desenvolveu as ideias de Carl Gustav Jung e Gaston Bachelard,
a imaginao (limaginaire) forma o contedo da existncia
humana baseada nas estruturas internas, originais e
independentes que esto integradas nela. A interpretao dos
processos polticos na histria a posteriori no difcil para a
sociologia da imaginao e produz resultados
impressionantes. Se ns interpretarmos a imaginao
(limaginaire) como um ator autnomo na esfera poltica,
incluindo o componente projetivo e um tipo de status legal,
ento ns acabamos com uma trajetria extraordinariamente
fascinante e totalmente no desenvolvida. Apesar de os
estudantes de 1968 terem demandado liberdade de
imaginao, naquele momento era improvvel que eles
reconhecessem a imaginao como uma competidora para
uma subjetividade poltica especial. Eles permaneceram
presos no indivduo (como parte do liberalismo, mesmo que
19
Dugin, A. G., Sotsiologiia voobrazheniia. Vvedenie v strukturnuiu sotsiologiiu, Moscow, 2010. [Sociologia da Imaginao. Introduo Sociologia Estrutural]
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67
um de Esquerda) e na classe (i.e., marxismo, ainda que
estritamente considerado com base na psicanlise).
Em busca do sujeito da Quarta Teoria Poltica, ns
devemos ousadamente adentrar um novo crculo
hermenutico. A Quarta Teoria Poltica o todo que,
naturalmente, ainda insuficientemente descrito e definido.
Suas partes so o sujeito que tambm estabelecido como
uma sugesto preliminar. Mas, nos movendo constantemente
entre a incerteza do todo e a incerteza de suas partes e de
volta, ns gradualmente comeamos a esclarecer os contornos
mais precisos do que est em jogo. Esse processo, comeando
a partir da base da credibilidade negativa (a rejeio dos
velhos crculos hermenuticos: liberalismo com o indivduo,
marxismo com a classe, fascismo/nazismo com o
Estado/raa), levar clarificao de uma estrutura um tanto
positiva mais cedo ou mais tarde. Essa estrutura ser ainda
mais esclarecida quando a hermenutica atingir as fronteiras
de contradies explicitamente absurdas (que no podem ser
resolvidas) ou deixe de combinar dados empricos. Isto ,
comeando a partir de certo ponto, o desenvolvimento da
Quarta Teoria Poltica ganhar caractersticas
razoavelmente cientficas e racionais, as quais, por agora, mal
-
68
so discernveis por trs da energia de intuies inovadoras e
da super tarefa revolucionria de destruir as velhas
ideologias.
Todo o crculo hermenutico da Quarta Teoria
Poltica deve ser includo no Quarto Nomos da Terra. Essa
incluso especificar seu contedo em bem mais detalhe e, em
particular, revelar um colossal potencial epistemolgico da
geopoltica. Esta, em adio a seus objetivos puramente
prticos e aplicados, pode ser vista como um convite amplo a
pensar espacialmente em um cenrio ps-moderno, quando o
pensamento histrico, que dominava a era moderna, est se
tornando irrelevante. Em numerosas ocasies, eu escrevi
sobre o potencial filosfico e sociolgico da geopoltica em
minhas obras20. A espacialidade um dos componentes
existenciais mais importantes do Dasein, assim o apelo ao
Quarto Nomos da Terra pode ser ligado hiptese do
terceiro sujeito da Quarta Teoria Poltica.
20
Dugin, A. G., Myslit prostranstvom. Osnovy geopolitiki. Moscow, 2000 [Pensando a Espacialidade. As Origens da Geopoltica] New edition: Sotsiologiia prostranstva. Sotsiologiia voobrazheniia. Vvedenie v strukturnuiu sotsiologiiu, Moscow, 2010. [Sociologia do Espao. Sociologia da Imaginao. Introduo Sociologia Estrutural]
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Agora ns podemos abordar o problema da formao
de contedo da Quarta Teoria Poltica a partir de outra
direo e examinar os competidores para incluso nessa
teoria dos trs modelos clssicos.
Porm, antes de determinar os aspectos das trs velhas
ideologias que podem ser emprestados delas tendo
neutralizado-as e retirado-as de contexto, arrancando-as de
seu prprio crculo hermenutico, importante mencionar
brevemente que aspectos devem ser firmemente descartados.
Se comearmos com o fascismo e o nacional-socialismo,
ento aqui ns devemos definitivamente rejeitar todas as
formas de racismo. O racismo o que causou o colapso do
nacional-socialismo no sentido histrico, geopoltico e terico.
Este no foi somente um colapso histrico, como tambm
filosfico. O racismo baseado na crena na superioridade
objetiva inata de uma raa humana sobre outra. Foi o racismo
e no alguns outros aspectos do nacional-socialismo que
gerou as consequncias, que levaram a sofrimento
imensurvel, bem como ao colapso da Alemanha e das
Potncias do Eixo e destruio de toda a construo
ideolgica da terceira via. A prtica criminosa de varrer
grupos tnicos inteiros (judeus, ciganos e eslavos) com base
-
70
na raa estava precisamente enraizada na teoria racial isso
que nos enfurece e choca em relao ao nazismo at hoje.
Ademais, o antissemitismo de Hitler e a doutrina de que os
eslavos so sub-humanos e devem ser colonizados, o que
levou a Alemanha a entrar em guerra contra a URSS (pelo que
ns pagamos com milhes de vidas), bem como ao prprio
fato de que os prprios alemes perderam sua liberdade
poltica e o direito de participar na histria poltica por um
longo tempo (seno para sempre) (agora resta para elas
apenas a economia e, na melhor das hipteses, a ecologia). Os
apoiadores da terceira via foram deixados na posio de
prias e marginais ideolgicos. Foi o racismo na teoria e na
prtica que criminalizou todos os outros aspectos do
nacional-socialismo e do fascismo, fazendo dessas vises de
mundo polticas o objeto de insultos e vilificao.
O racismo hitlerista, porm, apenas um tipo de
racismo esse tipo de racismo o mais bvio, direto, biolgico
e, portanto, o mais repulsivo. H outras formas de racismo
racismo cultural (afirmar que h culturas superiores e
inferiores), civilizacional (dividir os povos entre aqueles
civilizados e os insuficientemente civilizados), tecnolgico
(ver o desenvolvimento tecnolgico como o principal critrio
-
71
de valor societrio), social (afirmar, no esprito da doutrina
protestante de predestinao, que os ricos so melhores e
superiores quando comparados com os pobres), racismo
econmico (em cuja base toda a humanidade hierarquizada
segundo regies de bem-estar material) e racismo
evolucionrio (para o qual axiomtico que a sociedade
humana o resultado de um desenvolvimento biolgico, na
qual os processos bsicos de evoluo das espcies
sobrevivncia dos mais aptos, seleo natural, etc.
continuam hoje). As sociedades europeia e americana esto
fundamentalmente afligidas por este tipo de racismo,
incapazes de erradica-lo de si mesmas apesar de todos os
esforos. Plenamente conscientes do quo revoltante este
fenmeno , as pessoas no Ocidente tendem a fazer do
racismo um tabu. Porm, tudo isso se transforma em uma caa
s bruxas novos prias acusados de fascismo so suas
vtimas, muitas vezes sem motivos aparentes. Assim, o prprio
politicamente correto e suas normas so transformados em
uma disciplina totalitria de excluses polticas, puramente
racistas. D