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A seca no sertão nordestino e a luta das famílias agri- cultoras por ações estruturantes de convivência com o Semiárido. pág 04 e 05 O Caatinga Nº 18 - Janeiro/2013 Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas Projeto Riachos do Velho Chico: uma iniciativa que gera renda e dá oportuni- dade pág 03 Paulo Pedro é nomeado Secretário de Produção Rural, Recursos Hídri- cos e Meio Ambiente de Ouricuri. pág 07 Em Ouricuri, centenas de pessoas pedem o fim da violência contra a Mulher pág 08 Visite o nosso site: www.caatinga.org.br Nossa Missão é: Semear Agroecologia para uma Vida Digna no Semiárido Ajude o Caatinga a Semear Vida no Semiárido. Faça sua doação! AG. 2371-x C/C: 2004-4 Banco do Brasil

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A seca no sertão nordestino e a luta das famílias agri-cultoras por ações estruturantes de convivência com o Semiárido.pág 04 e 05

O CaatingaNº 18 - Janeiro/2013

Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas

Projeto Riachos do Velho Chico: uma iniciativa que gera renda e dá oportuni-dade pág 03

Paulo Pedro é nomeado Secretário de Produção Rural, Recursos Hídri-cos e Meio Ambiente de Ouricuri.pág 07

Em Ouricuri, centenas de pessoas pedem o fim da violência contra a Mulher pág 08

Visite o nosso site: www.caatinga.org.br Nossa Missão é: Semear Agroecologia para uma Vida Digna no Semiárido

Ajude o Caatinga a Semear

Vida no Semiárido.

Faça sua doação!

AG. 2371-x

C/C: 2004-4

Banco do Brasil

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Conviver Com o semiárido é armazenar água e multipliCar ConheCimento

Diante do fenômeno climático da seca, a população, especialmente da zona rural, tem sentido na pele os efeitos causados pela escassez de água no se-miárido. De modo humanizado, a Ong Caatinga vem cooperando construin-do conhecimento de forma participa-tiva nas comunidades rurais. A troca de saberes entre famílias e técnicos/as é uma das estratégias utilizadas para amenizar o impacto da estiagem no campo.

Uma das tecnologias implantadas são as cisternas de placas para consumo e para a produção. Se espelhando na na-tureza, o homem e a mulher do campo percebem que guardar água é a melhor forma de se prevenir e poder garantir o acesso a direitos básicos como água e alimento de qualidade, sobretudo nos períodos mais secos.

Dessa forma, o trabalho tem sido reali-zado juntamente com as comunidades, associações e técnicos que acompa-nham as famílias, auxiliando-as para melhor uso das tecnologias, e adoção de práticas de convivência com o se-miárido, garantindo renda e qualidade de vida para o povo sertanejo.

Janaína Cavalcante Pereira, auxiliar administrativa.

Juventude rural apoia produção e divulgação da Agri-cultura Familiar Agroecológica

Por Cristina Lima

No Sertão do Araripe Pernambucano, os/as jovens rurais estão fazendo a diferença na promoção da agricultura familiar agro-ecológica. Integrados/as na dinâmica de três Projetos: Novas Rendas Sertanejas, Juventude Arte & Cultura e Riachos do Ve-lho Chico, eles/as divulgam as Feiras Agroecológicas, produ-zem artesanato e atuam no desenvolvimento de ações para pre-servação do bioma Caatinga.O engajamento nessas ações é importante, pois gera oportuni-dade aos/às jovens agricultores/as e contribui para a sua perma-nência no campo, gerando reconhecimento e fortalecimento das organizações representativas dos/ agricultores, tendo em vista que a maioria deles estão interagindo nas associações, Grupos de jovens e sindicatos locais.Durante o desenvolvimento dos Projetos, aconteceram várias oficinas de formação em comunicação e gestão de negócios, onde os/as jovens aprenderam e trocaram experiências que, pos-teriormente, repassaram para seus grupos de jovens e associa-ções comunitárias.De acordo com a Jovem comunicadora Claudevânia Oliveira, o envolvimento nestas ações tem proporcionado novos conheci-mentos. “As oficinas têm importância pelo fato de nos envolver em processos de formação, trazendo novas informações, além de facilitar a interação com outros/as jovens e com a sociedade em geral”, destaca.

O informativo O Caatinga é uma publicação do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (Caatinga). Edição: Elka Macedo DRT/BA 4280 – Revisão: Giovanne Xenofonte e Cristina Lopes – Diagramação: Alice Alencar – Tiragem: 2000 – Gráfica: Provisual - Endereço: Av. Engenheiro Camacho, nº 475, Renascença - Ouricuri-PE. E-mail: [email protected], www.caatinga.org.br

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Projeto Riachos do Velho Chico: uma iniciativa que gera renda e dá oportunidade

Ao final do segundo ano de execução, o Projeto Riachos do Velho Chico soma a mobilização de seis comunidades rurais de Parnamirim ao aprendizado, geração de renda e preservação do meio ambien-te. Iniciado pelas Ongs Caatinga e Cen-tro Sabiá, com patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambien-tal, a ação objetiva revitalizar as mar-gens dos Riachos Queimada e Frazão, localizados respectivamente, nos muni-cípios de Parnamirim e Triunfo - PE.

Por Geangela Lima

Trabalhos de educação ambiental nas escolas rurais

Muito embora a estiagem tenha prejudicado o trabalho de produção e plantio das mudas, muitas atividades permearam o dia a dia das comunidades Arara, Rolo de Pau, Queimada I e II, Dourado e Alvaçã, a exemplo da conscientização das famílias para não fazerem uso das queimadas. Além disso, as famílias participaram de cursos, palestras e reuniões onde foram alertadas sobre os peri-gos do uso de veneno e a importância do reflorestamento.

Nas escolas rurais, os/as jovens multiplicadores/as fizeram pales-tras e atividades lúdicas com as crianças e jovens sobre a preserva-ção da caatinga e o destino do lixo, reciclagem, cuidado com a escola e o meio ambiente e incentivaram ainda, a plantarem árvores. “Esse projeto é maravilhoso, pois trou-xe muitas coisas para a comunida-de. Me fez pensar e agir diferente. Hoje eu vejo a caatinga como uma fonte de sobrevivência para os ani-mais e temos que saber trabalhar para que ela continue assim”, reve-la a jovem multiplicadora, Geân-gela Lima.

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A seca no sertão nordestino e as ações emergenciais, uma luta constante das famílias agricultorasPor Márcio Moura

Das grandes obras de açudagem ao agronegócio irrigado, a atuação política para enfrentamento do problema vem se alterando. As frentes de serviço deram lugar a programas de transferência de renda como o garantia Safra e o Bolsa Estiagem. O governo federal anuncia que “implementou ações para que os sertanejos tenham melhores condições de conviver com a seca”. Certamente essas ações têm amenizado o sofrimento do povo sertanejo, mas nem de longe têm resolvido o problema. Hoje são mais de quatro milhões de pessoas atingidas diretamente pela estiagem.

A seca é um “problema antigo”. Segundo especialistas, além de mudar o paradigma de atuação, o governo precisa considerar alternativas de desenvolvimento para o semiárido, pois, combater os efeitos da seca quando ela surge, agindo somente por meio de medidas paliativas como as frentes de serviço e os carros-pipa, ou ainda promovendo grandes obras como a Transposição do Rio São Francisco não asseguram às famílias agricultoras, condições dignas de convivência com o Semiárido.

No Araripe Pernambucano, ações de enfretamento à estiagem não chegam a todos/as os/as agri-cultores/as. Mesmo com as chuvas que caíram em novembro a água está praticamente escassa no

Acompanhe nossas ações pelo rádio!

Programa Agricultura Familiar em Debate, todos os sábados das 7h às 8h da manhã, na Rádio Voluntários da Pátria AM, frequência 1080. Confira as edições também no link de rádio no nosso site: www.caatinga.org.br

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Araripe Pernambucano. Grandes açudes como o Engenheiro Camacho (Tamboril) e o Chapéu, estão com menos de 40% da capacidade de armazenamento e as políticas emergenciais como o carro-pipa e seguro-safra, não atendem toda a demanda da população rural.

Na verdade, a estruturação dos sistemas para garantir água para o consumo familiar, para os ani-mais e para a produção tem sido a melhor alternativa contra a indústria da seca, pois são inves-timentos em que as famílias se libertam politicamente e melhoram a qualidade de vida no semi-

curta a nossa página:#caatinga

siga:@ongcaatinga

árido. Neste sentido, o Caatinga junto com a Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA) vem mobilizando e implementando as tecnologias sociais como as cisternas de placas, o barreiro trincheira lonado e a bomba popular, como também planejando a estocagem de alimentos para as famílias e para os animais, que permitam a garantia da produção agrícola no semiárido.

Agroecologia: Caminho para a convivência

A agroecologia e as chamadas tecnologias sociais são maneiras de produzir ou de auxiliar a produção mais ade-quada para a realidade da região Semiárida, pois respei-tam o meio ambiente, as relações sociais e buscam uma produção mais saudável.

“Se não fosse esse trabalho agroecológico a gente não tava conseguindo viver não. Eu me apeguei muito a esta técnica onde a gente armazena água, trabalha sem uso de veneno, faz horta e a gente usa fermentado pra apli-car nas plantas. Tudo isso, tem melhorado a produção da gente, até a convivência com a seca. Aqui a gente traba-lha diferente e quer fazer a diferença”, afirma a agricul-tora, Gercilia Alves da Silva, 51 anos, da comunidade de Santa Fé em Santa Filomena.

Acompanhe as ações do Caatinga pela internet!

Foto: Elka Macedo

Foto: Antonio Marcolino

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Recuperação de poços faz a diferença no Sertão do Araripe

Neste período de estiagem, pequenas ações fazem realmente a diferença. A recuperação de poços artesianos, cacimbão e chafarizes mudou a vida de, pelo menos, 71 famílias que sofriam com a seca no Território do Sertão do Araripe em Pernambuco.

A iniciativa do Caatinga com apoio da ActionAid Brasil, viabilizou o acesso à água com poucos recursos e muita boa vontade. Nesse sentido, foram recuperados quatro poços nas comunidades da Abobreira e Jacaré em Ouricuri, Santa Fé em Santa Filomena e no sítio Pote município de Santa Cruz. Além de um cacimbão na Umburana, em Parnamirim e dois chafarizes na Fazenda Cruz em Ouricuri.

Por falta de recursos muitas localidades fazem a escavação dos poços. No entanto, não têm condi-ções de instalarem a tecnologia que, por vezes, necessita de materiais simples, porém, caros para as famílias, como bomba submersa e caixa d’água. Alguns são escavados com recursos públicos, mas por falta de manutenção são inutilizados.

A instalação e ou recuperação de um poço artesiano, por exemplo, leva apenas alguns dias para ser construído e custa de R$ 2.000,00 a R$ 5.145,00. Em épocas de crise tem sido, para muitas comuni-dades rurais, a única opção de abastecimento.

“Percebe-se, claramente, que as poucas infraestruturas existentes nas comunidades como poços, ca-cimbões, açudes de médio porte tem cumprido um papel fundamental no abastecimento das famílias rurais. Enquanto que as grandes obras como a transposição do Rio São Francisco, que já acumula um gasto de quase um bilhão de reais ao longo de cinco anos, não tem disponibilizado água para quem mais necessita”, destaca o Coordenador Geral interino do Caatinga, Giovanne Xenofonte.

RecursoA recuperação e instalação dessas tecnologias foi fruto de um recurso emergencial enviado pela Ac-tionAid Brasil para ajudar as famílias agricultoras no período de seca. Nas comunidades beneficiadas o Caatinga atua com apoio às famílias através de projetos que, entre outras ações, promovem o for-talecimento das organizações sociais envolvidas em Conselhos e Consórcios de Associações.

Iniciativa do Caatinga com apoio da ActionAid Brasil garante água para mais de 70 famílias

Foto: Diolando Saraiva Foto: Humberto Saraiva

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Paulo Pedro- A gente não tinha essas pretensões, mas surgiu a oportunidade e a gente viu que Ouricuri vive um momento interessante em que podemos contribuir. Viemos para Governo Municipal com a ideia de que a possamos seguir a mesma lógica e os mesmo objetivos para caminhar para uma sociedade mais justa.

Como a experiência de trabalho na Ong Caatinga vai auxiliá-lo nesse novo desafio?

Depois de 22 anos trabalhando no Caatinga, aprendendo e construindo junto com a equipe da insti-tuição, sócios e famílias agricultoras assessoradas, a gente tem um acumulo que pode ser muito bem aproveitado no órgão público. Percebo que a dinâmica é muito diferente, mas jamais podemos perder os princípios e o projeto de sociedade que acreditamos. Então muda um pouco o jeito de trabalhar e as relações políticas, mas continua a mesma ideia na lógica de convivência digna e sustentável com o Semiárido.

Sabemos do grande desafio de administrar uma secretaria de Agricultura, principalmente, neste período de estiagem. Neste sentido, quais serão as prioridades para o municipio?

Estamos principalmente, tentando resolver a situação das famílias em relação a programas de Go-verno, a exemplo do Garantia Safra. Resolvendo pendências e fazendo o processo de homologação e cadastro das famílias para a safra 2012-2013, junto com o Conselho e instituições parceiras, como o Caatinga. Estamos vendo com o IPA e a Prefeitura o abastecimento de água através de carro-pipa e conserto da perfuratriz, e tentando viabilizar o conserto de poços que, neste momento, são de extrema importância para as comunidades.

Além da Produção Rural, esta Secretaria está ligada aos Recursos Hídricos e Meio Ambiente. De que modo será possível atender a tais demandas seguindo os princípios da Agroecologia?

Com as diretorias especificas de recursos hídricos, meio ambiente e de produção rural e abastecimento, poderemos fazer um desenho melhor de atuação no município. Passei 22 anos no Caatinga tentando ajudar as famílias agricultoras a fazer a transição agroecológica, agora vamos fazer isso dentro da Secretaria. Ai tem haver com capacitar a equipe e firmar parcerias.

Paulo Pedro é nomeado Secretário de Produção Rural, Recursos Hídricos e Meio Ambiente de Ouricuri

O Coordenador Geral do Caatinga, Paulo Pedro de Carvalho foi con-vidado a assumir o cargo de Secretário de Produção Rural, Recursos Hídricos e Meio Ambiente no município de Ouricuri-PE. Em entre-vista, ele contou como foi esse processo de transição e como a expe-riência no Caatinga ajudará nessa nova tarefa.

O Caatinga - Você passou de sociedade civil organizada para Go-verno. São dois lados diferentes da moeda. De que modo você avalia essa transição?

Por Elka Macedo

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Em Ouricuri, centenas de pessoas pedem o fim da violência contra a Mulher

É no cotidiano de seus lares que milhares de brasileiras são brutalmente violentadas. Embora, no Brasil já tenham leis punitivas para o ato, a violência contra a mulher ainda é marcante no nosso país, prova disso é a sua posição no contexto dos 84 países do mundo com dados homogêneos da Organização Mundial de Saúde (OMS), compreendidos entre 2006 e 2010, no qual estamos em sé-timo lugar com uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres.

Neste sentido, em Ouricuri o debate foi reaceso com a morte de Yana Luiza Moura, de 30 anos, assassinada com dois tiros pelo marido, o Capitão da Polícia Militar, Dario Ângelo Lucas da Silva na madrugada do dia 02 de janeiro deste ano. Para refutar este caso e de tantas outras mulheres vítimas da violência doméstica o Fórum de Mulheres do Araripe realizou uma vigília entre os dias 08 de janeiro e 04 de fevereiro, período em que foram feitas diversas mobilizações pedindo o fim da violência contra a mulher.

Vestidas de preto, com velas acesas, faixas e cartazes, centenas de mulheres e homens clamaram por justiça. Nos cartazes e faixas empunhadas nos 03 atos públicos realizados durante a vigília, desta-cavam-se frases como: “Que as patentes não sejam escudo da violência” e “A violência doméstica é um câncer no lar”, que traduziam a urgência da consciência sobre o problema, pela população.

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A Coordenadora do Fórum de Mulheres do Araripe, Francisca Nunes, conhecida como Tica de Nere, faz um balanço deste movimento que sensibilizou não só o município de Ouricuri, mas todo o estado. “Essa não é uma luta isolada, é uma luta para garantir os direitos das mulheres e nós vamos estar sempre atuando nas vigílias pelo fim da violência em seminários, conversas nas escolas e nos bairros. Porque na verdade esse é nosso lema e a gente tem que lutar até que nenhuma mulher sofra violência”, declarou.