revista palcos #1 (março 2011)
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BLA BLA BLA VENCE CONTE 2011
ed
ito
rial Uma nova publicação digital nasce hoje. Trata-se da revista “Palcos”, propriedade
da Federação Portuguesa de Teatro e que detém o seguinte estatuto editorial:
“Palcos” é uma publicação digital editada duas vezes por ano para dar espaço e voz às actividades e reflexões desenvolvidas pela FPTA, pelos seus associados e por todos aqueles que amam o teatro e a cultura no âmbito específico da sua área de intervenção, funcionando como instrumento de desenvolvimento da sociedade.
“Palcos” assume-se, também, como espaço de debate e reflexão das problemáticas inerentes ao teatro, sempre numa perspectiva de abertura, apontando novos rumos e defendendo a causa do teatro; e também como espaço de destaque para personalidades ligadas ao teatro, numa perspectiva de enriquecimento cultural e preservação desse património humano.
“Palcos” rege-se pelos princípios básicos do respeito pela liberdade de expressão, sem prejuízo dos códigos da ética e da deontologia jornalísticas.
“Palcos” é uma publicação independente de qualquer poder político, económico ou de qualquer outra índole e identifica-se com os valores da democracia pluralista e solidária, pautando-se pelo respeito absoluto da Lei Portuguesa.
Por último, e no que diz respeito aos critérios de publicação das contribuições dos seus associados e outras, a revista “Palcos” reserva-se o direito de não publicar artigos e/ou fotos cujo conteúdo seja considerado racista, xenófobo ou difamatório; que utilizem linguagem inapropriada ou insultuosa; que incluam mensagens que apelem à violência ou à violação da lei em vigor; ou que possam ferir susceptibilidades.
Apontados que foram os princípios basilares que irão reger a nossa acção, importa também transmitir aos leitores/associados que poderão enviar as suas contribuições, quer no que respeita à divulgação das suas actividades culturais, quer no que diz respeito ao envio de reflexões no âmbito específico do teatro para o endereço electrónico revista.palcos@fpteatro.pt.
Esta publicação assume-se como herdeira, em parte, da revista “Talma”, que entretanto se extinguiu, mantendo na sua estrutura algumas das rubricas que a integravam. É o caso da rubrica Conversas de Bastidores, que consiste numa grande entrevista efectuada a uma personalidade do teatro, da rubrica Boca de Cena, que é um espaço para artigos de opinião, crónicas, curiosidades, etc. e também das rubricas que abordam assuntos ligados às principais actividades da FPTA como por exemplo o Fórum Permanente de Teatro e o Concurso Nacional de Teatro.
[cont. na pág. 30]
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FICHA TÉCNICA
PropriedadeFederação Portuguesa de TeatroPraça José Afonso, 15 EC. C. Colina do Sol, Loja 552700-495 Amadora
DirectorFernando Rodrigues
Conselho EditorialRafael Vergamota, Luis Mendes, Eugénia Oliveira e José Teles
Chefe de RedacçãoRute Lourenço
Colaboradores permanentesManuel Ramos Costa, Sandra Barradas e Bruno Gomes
Grafismo e PaginaçãoGabinete de Comunicação /Federação Portuguesa de Teatro
Colaboraram neste númeroLuiz Francisco Rebello
Periodicidade Semestral
Os textos propostos para edição d e ve rã o re m e t i d o s p a ra
, sendo objecto de avaliação prévia, por parte do Conselho Editorial.
geral@fpteatro.ptwww.fpteatro.pt
revista.palcos@fpteatro.pt
0103
08
15
18
20
26
28
editorialconversas de bastidores
estreia
na ribalta
boca de cena
reportório
sem palco
jorge fraga
vii fórum permanente de teatro
avisg.t. a fantasiaopsis em metamorphose
concurso nacional de teatro 2011
mensagem do dia nacional de teatro amador 2011homenagem a carlos oliveira
o simbolismo no teatro
programa de sala
caminhos sinuosos de saibro por entre prados verdes
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JORGE FRAGAUM CORPO EM SI MESMO. UMA VIDA POR INTEIRO.
Manuel Ramos CostaDramaturgo e Encenador
É de uma simpatia e de uma afabilidade
inexcedíveis. Culto, muito culto, crítico e bem-
humorado. Trabalhador, humilde e exigente.
Prestável. Sempre pronto e prestável. Aparo de palavras claras, precisas e sentidas.
Correcto, orientado, esclarecido e forte. Foi assim que o conheci e é assim que continuo
a vê-lo. Somos amigos há pouco tempo, mas é como se o fossemos desde sempre.
Admiro-o e, com esta entrevista, mais razões sobejam para continuar atento ao seu
trabalho como actor, encenador e professor de artes de palco. E, claro, aos seus
ensinamentos, porque muito, mas mesmo muito há para dele aprendermos, a começar
pela sua generosidade, fibra e franqueza.
Nasceu às 18h do dia 24 de Abril de 1953. Um ano depois morria o seu pai no mesmo
local e quase à mesma hora. Um ano em Rio Maior e partiu para Lisboa. A sua mãe
Esmeralda sempre foi uma mulher à maneira. Teve uma infância normal e, desse
tempo, retém os fins-de-semana de viagens pelo Portugal desconhecido: terras,
castelos, paisagens. Portinho da Arrábida. Atravessar o rio de barco dentro do carro e
ondas gigantes e atuns no Tejo. Ele era um pirata de capa e espada. Um dia, apanhou
cinquenta e seis reguadas por ter saltado três linhas da cópia. Queria ir para as aulas de
judo. Nessa manhã descobriu o que é a injustiça. Uns dias mais tarde assistiu à justiça.
A leoa – minha mãe – com a dona América, era assim mesmo que se chamava a
punidora, que se banqueteava com tremoços e cervejas, enquanto eles, os alunos,
faziam as cópias ao fim das aulas. Depois foram os primeiros cigarros no coreto do liceu
Camões. O Mário Dionísio como professor. Os cavalos de Benavente. A lezíria. A
rebeldia. Cresceu, mas foi ficando pior. Dobrou o Cabo Bojador, passou o Adamastor,
que ele tratava por tu, e chegou à Índia, mas o seu sonho era (e é) o Oriente. Zen.
Período interessante. Místico e espiritual misturado como uma boa dose de risco e
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mochila às costas. Viagens, muitas viagens. Egoísta, provocador, ruim, cabeça dura
mas a vida ensinou-lhe e a «Alice» nem sempre está do outro lado do espelho e «Oz»
pode ser mesmo à nossa porta. Não há nada com um bom mergulho no mar alto à noite
para lavar a alma e acordar no dia seguinte novo e pronto para os novos e difíceis
tempos que aí viriam. As artes foram entrando nele de mansinho. Sempre fizeram parte
dele a poesia, os quadros, as conversas, as músicas à guitarra, ao piano, ao sax, os
livros, as sessões clássicas do monumental e do império. O teatro, a revista, as
performances públicas que iam inventando. Os amigos, muitos mas muitos mais do que
os inimigos que se foram criando fizeram o que ele é capaz de ser hoje. Um tipo
inquieto, curioso à procura de ser justo, atento e que não necessite de se envergonhar
dos enxovalhos mundanos.
RC – O que te diz a palavra «fraga»? actor, te estreaste nas lides do palco? JF – As origens e o devir.
Recordas-te dessa estreia?RC – E o «nascer do sol?»
JF – «O Auto de Ferrabrás e JF – Renascer.RC – E «centelha»? Mantarrota» a partir de Gil Vicente. JF – O princípio incendiário de uma
Trabalho final de curso de teatro do longa caminhada a que ainda faltam
conservatório nacional. A estreia foi e muitas estações por fazer e visitar.
como contínua a ser sempre um dia de RC – Que memórias guardas da
festa pela partilha do trabalho com e revolução dos cravos?JF – A minha maioridade (fiz 21 anos para os outros.
RC – O que é o Teatro? É realmente nessa noite).RC – Foi o teatro que te encontrou ou uma arte?
JF – É a minha vida por inteiro. E de foste tu que encontraste o teatro?JF – Continuamos a «jogar» ao gato e muitos e muitos mais. A arte está talvez
ao rato. em saber ser e não ser sabendo que RC – Quem foram os teus primeiros
tudo é feito de sonhos e espuma.mestres no Teatro? Como foi o dia da RC – Um dos teus grandes desafios foi
sua estreia em palco? certamente participar na fundação d' «A JF – Osório Mateus. O meu primeiro
Centelha». Importas-te de nos falar palco foi o terreiro do paço com milhares
mais pormenorizadamente desse de pessoas a assistir e é claro com a
projecto? «Centelha». A estreia profissional já JF – «A Centelha Coop de Teatro»
com o curso no bolso foi em Setembro nasce ainda de um grupo de alunos da
de 76, na «Comuna». E é claro que foi escola de teatro porque tínhamos a
um dia trabalho e de festa. ideia e os ideais que o teatro era uma RC – Qual foi a peça em que, como
ferramenta de desenvolvimento
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cultural, comunitário e de intervenção estranho o eu actor discutia com o eu
cívica. Daí termos aceite nos finais de criador. Terrível mas factor de novas
76 partir para Viseu onda chegámos a descobertas para dirigir outros actores.RC – De todas as peças de teatro em
10 de Jan. de 77 num projecto de que participaste como actor, qual foi
trabalho teatral com as associações de aquela que mais te preencheu ou mais
jovens do distrito, com grupos de teatro gozo de te deu?
amador e ao mesmo tempo para a JF – A que mais me preencheu foi o
criação de espectáculos nesse distrito. professor nos «Combustíveis» da
Quando acabou esse projecto Amelie Nothomb, pela Efémero, de
resolvemos ficar, e eu fui ficando. E Aveiro, a que me deu mais gozo foi o
ainda por lá estou fazer de «Newton» na
a tentar fazer o dança do universo
melhor que sei.também na Efémero.
RC – Entre os RC – Desde 1976, tens
papéis que tens colaborado com várias
a s s u m i d o Companhias de Teatro.
contam-se os de C o n s i d e r a s e s s a
a c t o r e d e «viagem» uma mais-
encenador. Como valia para a tua pessoa,
te vês num e como profissional, ou
nou t ro pape l? p r e f e r i a s s e r u m
Sentes-te muito encenador residente?
diferente? JF – Eu sou um JF – Estive vinte
nómada. Aprecio mais anos sem pisar o
a diversidade a troca palco como actor.
d e v i s õ e s , d e Quando regressei
experiências e de cada vez que entro em cena abrem-se
diferentes linguagens artísticas.portas para territórios desconhecidos. RC – O que fizeste, por exemplo, na
Pessoalmente não utilizo muito a Efémero Teatro?JF – A Efémero é uma referência na boa
designação encenador mas sim de selecção que faz dos textos produzidos
criador teatral na multiplicidade de e eu tive o privilégio de lá ter
funções, desde a concepção do desenvolvido um trabalho regular como
espectáculo até à sua direcção. E não criador teatral, dramaturgo e de actor,
consigo escolher. Nem quero. Já desde o «So3ho4», em 1997, até ao
aconteceu ser actor e criador do «Fidalgo Aprendiz», em 2009.
espectáculo ao mesmo tempo e é
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RC – Em linhas gerais, como ages e esfomeados. Aqui pelas beira ainda se
conduzes um elenco que vais encenar vai encontrando umas clareiras para
pe la p r ime i ra vez? És duro? nos irmos deixando estar e onde os rios
Implacável? Hermético? correm ao sabor das estações. JF – Com entusiasmo. E espírito de RC – Mesmo tendo em conta as
partilha. Temos que contar todos uns fragilidades do teatro feito nas
com os outros. Sem demagogias nem assoc iações , que va lo res ou
paternalismos. Todos dependemos uns importância lhe conferes?JF – Como todos sabem e não só de
dos outros. Cada um tem é que fazer o palavras, penso que foi por aqui que o
seu trabalho e dar o seu melhor.RC – Dizem que não há propriamente teatro em Portugal resistiu e digo resistir
uma dramaturgia portuguesa. Mesmo no concreto contra a ditadura fascista
ass im, que autores nac iona is que parece que muitos já esqueceram
mencionarias dignos de serem tão depressa. Associações que criaram
representados? cultura e património e que permanecem JF – Todos sem excepção. Mas todos
a querer contra tantas e tantas mesmo e estes sim com o apoio
contrariedades a querer prosseguir necessário para não termos que pagar
naquilo que mais amam. O fazer teatro.(os grupos de teatro) valores RC – O que ensinas no Esev?
JF – Criatividade. Interpretação. incomportáveis de direitos de autor.
Criação e performance. Projectos de Alguém pagaria esses direitos que são
criação cultural. Além de coordenar o devidos aos autores mas não os grupos.
mestrado em animação artística.Particularmente além dos textos de
RC – Todos somos atraídos por reportório. Escolho como todos sabem
projectos que, pela sua grandeza ou o Jaime Rocha e gostaria de um dia
pela sua envergadura, vamos adiando. pegar no Gonçalo M. Tavares.
Quais são os teus?RC – Que balanço fazes do teatro em
JF – Aprender. Aprender sempre. Portugal desde a Revolução dos
Observar. Fazer. Sair para o oriente Cravos? Achas que, finalmente, o nosso
durante o tempo necessário para poder país está bem servido e no bom
trabalhar as técnicas do teatro oriental. caminho?
Juntar um grupo de pessoas e JF – Já não há um bom caminho. Há
desenvolver um projecto de seis meses caminhos. Cruzamentos. Auto-
sobre Portugal.estradas. Scuts. Portagens. Barragens.
RC – Que recado darias aos jovens que E o nosso teatro também é essa rede de
pensam estudar e fazer carreira no interesses, sonhos, vontades por vezes
teatro?armadilha e a aranha não é só o estado. JF – Que a vida não está fácil, mas não
Há muitos moscardos a zunir à volta está para ninguém, portanto se estão
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dispostos a trabalhar de viver?JF – O mundo celeste
com disciplina, rigor, traduzido nos meus
br io, dedicação, sentidos em movimento,
m u i t o s m a u s musica e imagens.
momentos e se RC – Fora da tua
amam o teatro acima profissão, quais são os
de tudo mas mesmo p r i n c i p a i s e l o s o u
de vocês próprios motivos que te prendem
força! Mas já agora à vida?
um aparte, carreira JF – O corpo em si
não sei se algum mesmo. A minha família.
actor a tem em Os meus amigos. Sem
Portugal. elos nem motivos mas RC – Além do Teatro,
porque é assim mesmo que outras artes te
faz parte da natureza e emprestam alegria
da própria vida.
Estou certo de que, lidas estas palavras, ficámos a conhecer melhor um homem que
respira teatro e humanidade por todos os poros do seu ser, para onde vai e com quem
está. E nós, associados e associadas da FPT sabemos bem que é assim desde o Fórum
realizado em Ansião, onde ele operou, em tempo recorde, excertos de «O Pecado de
João Agonia».É muito bom tê-lo connosco. Por todas as razões deste mundo «feito de sonhos e de
espuma».
est
reia
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A organização é da Federação
Portuguesa de Teatro, em parceria com
a associada anfitriã, Associação
Recreativa e Cultural de Alvarim,
através da sua secção, Teatro
Experimental Intervenção de Alvarim,
tendo-se contado com o apoio da
ACERT e do Município de Tondela.
UM FÓRUM DE PARÁGRAFOS.
UM FÓRUM DE HOMENAGEM, a Luiz
Francisco Rebello
UM FÓRUM DE FORMAÇÃO: Onze
horas de formação para cada Painel nas
áreas de Formação de Actores, Estética
Teatral e Técnicas de Palco.
Escenamateur – a Associação Nacional UM FÓRUM DE DISCUSSÃO: As de Teatro de Amadores de Espanha, na Assembleias-gerais:concertação de intercâmbio de
No Sábado, da ANTA, para discussão e espectáculos.
votação da extinção da Associação UM FÓRUM DOS ESPECTÁCULOSNacional de Teatro de Amadores e
destino a dar ao seu património. No Sábado, dia 15 pela manhã, a
concentração de todos os participantes No Domingo , da FPTA, pa ra foi no Auditório 1 da ACERT, dando-se apresentação, discussão e votação do início à Sessão Solene de Abertura, em Plano de Actividades e Orçamento para que marcaram presença: o Presidente 2011.do Município de Tondela, Dr. Carlos
UM FÓRUM DE PARCERIAS: Com a
VII FÓRUM PERMANENTE DE TEATRO
Tondela 2011José TelesDirector do Fórum Permanente de Teatro
Para a sétima edição do Fórum, que decorreu nos dias 14, 15 e 16 de Janeiro de
2011, Tondela foi o palco escolhido.
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Marta, o Director Regional de Cultura do “parágrafos”.
Centro, Professor Doutor António Pedro Começa então o parágrafo da
Pitta, o Vice-Presidente da ACERT, José Homenagem a Luiz Francisco Rebello.
Rui Martins e o representante da ARCA, Nascido a 10 de Setembro de 1924, em
António Manuel. Lisboa, na Rua Marquês da Fronteira,
Freguesia de Campolide, onde viveu a As intervenções iniciais dos membros
sua infância, é o primeiro de três filhos que constituíram a mesa, desejavam as
de Amadeu Rebelo, engenheiro boas-vindas a todos e faziam-se votos
agrónomo de origens açorianas, e de para que as reflexões e conclusões dos
Maria Amélia Correia Mendes, viúvo da trabalhos e da formação trouxessem
actr iz Mariana uma mais-valia
V i l l a r , o para o futuro do
d r a m a t u r g o , teatro, retirando-
advogado, crítico se das palavras
teatral, historiador do Presidente da
d e t e a t r o e D i r e c ç ã o d a
ensaísta é uma F e d e r a ç ã o ,
pe rsona l i dade R a f a e l
incontornável da Vergamota, a
c u l t u r a ideia de que no
portuguesa do Fórum se criam
séc. XX e início do sementes que
séc. XXI.espalham por
todo o lado o O essencial da
Teatro. sua obra está
quase sempre O u t r a m a r c a
ligado ao teatro: desta sessão de
na dramaturgia, na tradução e abertura, e que dá mote ao restante
adaptação, no ensaio, na critica, na Fórum, é dada pelo José Rui Martins,
história, mas também ao direito, quando na sua intervenção decide
p r i n c i p a l m e n t e n a d e f e s a d a retirar os parágrafos iniciais (Exmº
propriedade intelectual.Senhor X, Exmº Senhor Y) com o
objectivo de redução do tempo e Colaborador de inúmeros jornais e
cumprimenta toda a mesa e audiência revistas; ao nível da crítica, estética e
por “Excelentes”. A partir daqui todos os ensaística teatral. Escreve para obras
momentos passaram a ser tratados por co lect ivas como catá logos de
Luiz Francisco Rebello, dramaturgo homenageado do Fórum de Tondela
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exposições, sendo grande também a Autos da Vida de Luiz Francisco
quantidade de prefácios e posfácios Rebello, Catálogo da Exposição, Museu
seus em muitas obras de teatro do Neo-Realismo, 2010)
editadas. Na sua fábula em um acto, “O Mundo
Como dramaturgo é vasto o seu rol de Começou às 5:47”, estreada em 1947 no
obras: 23 são as que estão reunidas nos palco do Teatro do Salitre com
dois volumes de “Todo o Teatro”, no encenação sua, também foi actor
entanto, outras não foram integradas quando interpretou o seu próprio papel –
nesta compilação. autor. Daí que José Rui Martins da
ACERT, na sessão de abertura, no A sua mais recente publicação é: “O
momento de homenagem, lhe tenha Passado na Minha Frente” (2004), uma
dedicado um poema de Herberto Helder obra que, ultrapassando a simples
– Poemacto III:biografia, é antes um testemunho dos
momentos e acontecimentos da história «O actor acende a boca. Depois os
portuguesa de uma época. cabelos.Finge as suas caras nas poças
«Uma vida não cabe em poucas interiores. (…)
páginas, muito menos se for tão intensa, O actor diz uma palavra inaudível.Reduz a humidade e o calor da terra à
plural e multiplicada como a de Luiz confusão dessa palavra.
Francisco Rebello, cuja invulgar Recita o livro. Amplifica o livro.
erudição e capacidade de trabalho O actor acende o livro.Levita pelos campos como a dura água
devolve a cada empresa os contornos do dia.
de uma existência, ao mesmo tempo O actor é tremendo.
autónoma e enxertada naquele eixo Ninguém ama tão rebarbativamente
maior de ascendência humanista, firme como o actor.Como a unidade do actor.
e unitário, que liga todos os seus actos. O actor é um advérbio que ramificou de
Essa mesma vida não cabe por inteiro, um substantivo.
mas pulsa vibrante no já citado livro de E o substantivo retorna e gira, e o actor é
memórias “O passado na minha frente”, um adjectivo.»
reforçando a noção de cruzamento Terminado o parágrafo da homenagem
constante da vivência pessoal, parte-se então para outro onde são
orientada por ideias e ideais, com as apresentados os formadores e
contingências históricas em que aquela respectivos painéis:
se desenrola, nunca se alienando o Painéis de Formação de Actores:
indivíduo dos seus deveres enquanto Jozé Sabugo- Iniciação dos 12 aos 16
cidadão.» (cf. Sebastiana Fadda – Os
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anos; Fernando Soares – Iniciação; Dirigentes lá vão os representantes das
Pompeu José, Carlos Alves, Jorge 27 associações de teatro presentes:
Fraga e Júlio Cardoso - Formação de Acção Teatral Artimanha – Pinhal Novo;
Actores – Avançado.Agaiarte - Associação Gaia Arte Estúdio
Painéis de Estética Teatral: Nuno - Vila Nova de Gaia; Alma de Ferro
Loureiro - Escrita Criativa. Grupo de Teatro - Torre Moncorvo;
Associação Sorriso do Atlântico – Painéis de Técnicas de Palco: Paulo
F u n c h a l Prata Ramos -
Madeira; Casa Iluminação de
das Cenas – C e n a ; J o ã o
Sinta; Cegada F o n s e c a
- Grupo de B a r r o s –
T e a t r o – C e n o g r a f i a ;
Alverca – Vila Rita Torrão –
F r a n c a d e A d e r e ç o s ;
X i r a ; Aurora Gaia –
Companhia de Caracterização
T e a t r o ; Zito Marques –
Poucaterra – Multimédia e
EntroncamentV ídeo ; Ca jó
o; Compañia V i e g a s -
d e Te a t r o Desenho de
E s t a b l e d e Som.
Pinto - Madrid E n t ã o , a
– Espanha; grande, e muito
C o n t a c t o - b e m
Companhia de o r g a n i z a d a ,
Teatro Água e q u i p a d e
Corrente de acolhimento do TEIA espera no pátio da
Ovar; Curral da Mula - Grupo de Teatro ACERT os 145 formandos, inscritos nos
de Abrunheira - Montemor-o-Velho; 13 painéis de formação, faz a
GETAS - Centro Cultural – Sardoal; “chamada”, encaminha, e dá todo o
Grupo Cénico de S. Joaninho – Stª apoio logístico necessário ao bom
Comba Dão; Grupo de Teatro "A funcionamento.
Fantasia" – Ervedal – Avis; Grupo de
Entretanto, a caminho do Painel de Teatro Na Xina Lua – Tondela; Grupo de
EXCERTO DE«É URGENTE O AMOR»
ALBERTO - Gostava que esta música não
acabasse mais... Que eu pudesse continuar,
como agora, a sentir o seu corpo nos meus
braços... Seria tão bom que este instante não
acabasse nunca... Tem algum compromisso
para esta noite?
BRANCA - Tenho...
ALBERTO - E não pode desfazê-lo?
BRANCA - Mesmo que pudesse, não queria...
ALBERTO - Pode saber-se quem é o felizardo?
BRANCA - Pode... (Após uma breve e
propositada suspensão) É você...
ALBERTO - Querida... Nunca há-de
arrepender-se...
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Teatro Renascer – Esmoriz – Ovar; “Linhas e Cores” de Victor Marques, do
Juve-Setas – Juventude de Sanguedo – Pátio das Galinhas - Teatro de Bico. No
Stª Maria da Feira; Opsis em fundo do palco, um telão pintado no
Metamorphose – Cabeção – Mora; Painel de Cenografia e alguns adereços
Pátio das Galinhas Teatro de Bico - do Painel de Adereços, dão o ambiente
Buarcos - Figueira Foz; Projecto 25 - necessário às apresentações dos
Grupo de Teatro da Casa do Povo de restantes Painéis de Formação de
Mafra; Teatro de Ensaio Raul Brandão – Ac tores que, g rupo a g rupo,
Guimarães; Teatro Experimental de apresentam o excerto proposto do texto
Mortágua; Teatro Meia Via – Torres “É Urgente o Amor”, de Luiz Francisco
Novas; Teatro Nova Morada - Paço d' Rebello.
Arcos – Oeiras; Teatro Passagem de Por fim, todas as luzes se apagam e no
Nível – Amadora; TEIA - Teatro ciclorama surge a luz das imagens
Experimental Intervenção de Alvarim – gravadas e montadas no Painel de
Tondela; Tin.Bra - Grupo de Teatro Multimédia: desfila diante dos nossos
Infantil de Braga e Viteotonius - Casa do sentidos o VII Fórum, em tempo real e,
Pessoal do Hospital S. Teotónio – com o evento ainda a decorrer, já a
Viseu.reportagem era visível.Forte e sincero foi o aplauso final a este
Onze horas depois os Painéis de espectáculo, produto de onze horas de
Formação terminam e é apresentado o formação/trabalho.
rescaldo no Auditório 1. O painel de
Desenho de Som dá o ambiente sonoro No “parágrafo” dos espectáculos já
à sala e à apresentação dos formandos outros tinham acontecido. Na sexta-
de Caracterização de Cena. feira, foi apresentado “Casal Moderno”,
a partir de Dário Fo e Fraca Rame, uma Todo o palco está banhado com luz, que
adap tação de Pompeu José , foi desenhada, montada e operada
apresentado pelo TEIA, com o auditório pelos formandos do Painel de
completamente esgotado.Iluminação de Cena. Então é um
desfilar das apresentações dos Painéis No sábado, no palco perante nós
de Formação de Actores, primeiro os apresentou-se em castelhano: "La
mais jovens, os do painel de Iniciação Puerta Estrecha", conta a história de
dos 12 aos 16 anos, com base num uma imigrante, Calaca, cujos sonhos de
texto produzido no VI Fórum, no Painel bem-estar acabam num bordel, na
de Escrita Criativa, orientado por absoluta pobreza e com a perda das
Manuel Ramos Costa; com o título faculdades mentais. É uma história de
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e x c l u s ã o , e d e s e s p e r a n ç a , medo como única bagagem e sonhando
desenvolvida num ambiente sórdido e sempre com outro destino, sempre
hostil. melhor.
Na " La Puerta Estrecha ", o sofrimento Uma porta dos infernos e de caminhos
em que vivem centenas de pessoas que não chegam a lugar nenhum.
para as quais em que a esperança de “La Puerta Estrecha”, de Eusebio
saída apenas existe nos seus sonhos, Calonge, pela Compañía de Teatro
nas suas sombras , nas suas Estable de Pinto – Madrid, inicia, entre a
lembranças, na sua memória... é bem Federação Portuguesa de Teatro e a
visível e demarcado.
Escenamateur, um projecto de No entanto, vêem-se excluídas de
intercâmbio de espectáculos entre os qualquer possibilidade de inclusão na
dois Países Ibéricos.sociedade, que acaba sempre por
Ainda no sábado, pela noite dentro, a marginalizá-las.
ACERT brinda-nos com uma tertúlia É a dificuldade de acesso ao estado de
com música ao vivo pelo Grupo bem-estar que cada vez mais seres
“Andarilho”.humanos tentam ultrapassar, com o
Momentos de convivio...
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No domingo, já no final da tarde, todas tribuna, aproxima-se do micro e uma
as 214 “sementes” envolvidas no voz soa:
Fórum, estão completamente cheias, “Companheiros: Organizado pelo
nutridas: no físico, com o almoço Grupo de Teatro "A Fantasia" em
oferecido pelo Município de Tondela; no p a r c e r i a c o m o O p s i s e m
espírito, com os espectáculos; no Metamorphose, será no Distrito de
intelecto, com as formações. Estamos Portalegre, no Concelho de Avis, que
prontos para partir para a sementeira.acontecerá o VIII Fórum Permanente de
Despedimo-nos com a mesma Teatro; nos dias 9, 10 e 11 de Setembro
sensação de saudade dos Fóruns de 2011.”
anteriores, sendo que a maior saudade
é a que vem do futuro e aí eis quando Até lá.
alguém sobe ao palco, abeira-se da
Foto de Família do VII Fórum
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O Grupo de Teatro “A Fantasia” é formado por
jovens e adultos apaixonados por esta arte
cénica e que, por iniciativa própria, se juntaram,
dando início à sua actividade artística em 2002,
com a apresentação da peça “Um desafio na
Escola”.
Um ano depois, representaram a peça “O nosso mundo” também com texto criativo do
grupo.
Em 2004, com o apoio da Junta de Freguesia do Ervedal e da Câmara Municipal de
Avis, iniciam a sua formação teatral, sob a orientação de Carlos Alves e Margarida
Abrantes, levando à cena “Escolha difícil”, com textos de Luísa Costa Gomes, “O Natal
dos Bonecos”, com adaptação do texto de António Manuel Couto Viana. Um ano
depois, “Esta noite improvisa-se”, texto de Luigi Pirandello e “À procura do Sol” (teatro
de marionetas).
Em 2006, representam “Cenas Insólitas”, textos de Karl Valentin, e realizam um
Recital de Poesia, no lançamento do livro de Mário Saa “Poesia e alguma prosa”, na
Fundação Mário Saa, no Ervedal. Em Agosto do mesmo ano, apresentam “Dança com
Palavras”. Destes dois últimos espectáculos nasce “Cenas mais que insólitas”, uma
peça onde o teatro, a dança e a música criam momentos de prazer, em ambientes de
cor e humor. Em 2007, estreiam “Histórias enfadonhas e desastradas”, uma adaptação dos textos
“As Aves” de Aristófanes, “A lamentação do Clérigo” de Anrique da Mota, “Ruzante
Volta da Guerra” de Ângelo Beolco e “Sonho de uma Noite de Verão” de William
Shakespeare. No Verão do mesmo ano integram “Danças com Paspalhaços”, um
espectáculo de dança com trabalho de clown.
Em 2008, apresentam “A Birra do Morto” de Vicente Sanches. Um ano mais tarde, representam “Retábulo das Maravilhas” de Jacques Prèvert. Em 2010, estreiam “Do outro lado”, adaptação de textos de A. Branco, Cucha
Carvalheiro e Gonçalo M. Tavares.
pro
gram
a d
e s
ala
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É um projecto de teatro para todos, como arte da vida, como produção do simbólico,
feita pelo corpo vivo a ser visto e ouvido em directo, no espaço e no tempo. Teatro como
forma de expressão artística e, simultaneamente, como meio de comunicação e
divertimento, contribuindo para o desenvolvimento cultural e social, assim como
importante factor pedagógico e formativo.
Fundado em Outubro de 1998, com sede em Cabeção, tem como grande finalidade
produzir algo de belo, baseado nas formas verbais e não verbais e na manifestação do
pensamento, falado ou escrito, através da observação, percepção, crítica, imaginação
criadora e execução artística.
PRODUÇÕES:
O Faneca e o Seboso (Teatro para a Infância)O Sapo Apaixonado (Teatro para a Infância)O País dos Brinquedos (Teatro para a Infância)O Sol Tonto (Teatro para a Infância)O Falatório (Teatro para adultos)O Feitiço do Livro (Teatro para a Infância)O Teatro Obrigatório (Teatro para adultos)Risco (Teatro para adultos)Universos e Frigoríficos (Teatro para adultos)História Mágica (Teatro para a Infância)A Verdadeira História de Andreia Belchior (Teatro para adultos)Vozes do Rio (Teatro para a Infância) Trilhos D'Oiro (Teatro para todos)
OPSIS EMMETAMORPHOSE
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O Concelho de Avis tem vindo a afirmar- conserva no seu estado mais puro e
se, cada vez mais, como um destino apela àqueles que pretendem desfrutar
turístico apelativo para aqueles que de momentos de repouso, num
procuram uma alternativa ao habitual ambiente de tranquil idade mas
pacote de “sol e praia” do qual possam desperta também a curiosidade de
desfrutar ao longo de todo o ano. quem sente o apelo da adrenalina para
a prática de desportos radicais, Quer seja como destino para uma
nomeadamente os que têm como
palco o espelho de água da Albufeira
de Maranhão. De facto, a Albufeira
continua a afirmar-se como um
espaço privilegiado para actividades
de lazer, com uma reconhecida
“escapadinha” de fim-de-semana ou
para um período de férias mais
prolongado, Avis cativa pela oferta de
um conjunto variado de elementos que
unem o património histórico, a
gastronomia, o contexto natural
preservado e uma oferta cultural aptidão para a prática de desportos diversificada, em que se destacam náuticos e que confere autenticidade à eventos para todos os públicos. paisagem e à forma de estar de quem
vive nas suas margens e marca quem Multiplicidade e variedade são, sem
visita o Concelho.dúvida, palavras que caracterizam bem
este território onde a natureza se
AVISum destino turístico incontornável
na
rib
alta
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CONCURSO NACIONAL DE TEATRO
PÓVOA DE LANHOSO 2011Eugénia OliveiraDirectora do Concurso Nacional de Teatro
“Venha, deixe-se deslumbrar e aplauda o trabalhodaqueles que mantêm o Teatro vivo e que participam
neste Concurso Nacional, na certeza de que tudo istosó faz sentido se você estiver presente.”
Manuel Batista (Presidente da Câmara Municipal)
Foi com este apelo e com casa cheia com “Armadilha Para Um Homem Só”,
que o Concurso Nacional de Teatro do Blá Blá Blá – Teatro Jovem de
decorreu, de 04 de Fevereiro a 05 de Campo Maior com “Terror e Miséria”, do
Março de 2011, no Theatro Club da Grupo Mérito Dramático Avintense com
Póvoa de Lanhoso. Estiveram em cena “A Casa de Bernarda Alba”, do Grupo de
a s Teatro Palha de
produções A b r a n t e s c o m
d a “Dois Irmãos”, do
Associação Grupo de Teatro
Cultural da Viteotónius com “A
Juventude Casa de Bernarda
P o v o e n s e Alba” e do o Grupo
c o m Mérito Dramático
“ B r a n d o s Avintense com “O
C o s t u m e s Crime da Aldeia
( n o p a í s Velha”, produção
dos)” , do Teatro Exper imental vencedora em 2010.
Intervenção de Alvarim com “Casal Com a presença do nosso patrono, Ruy
Moderno”, do Teatro de Ensaio Raul de Carvalho, a Cer imónia de
Brandão com “Morte e Vida Severina”, Encerramento foi de grande nervosismo
do Teatro Passagem de Nível com “(N)a e euforia, sendo que todos aguardavam
Tua Ausência”, da Contacto – ansiosamente a nomeação dos
Companhia de Teatro Água Corrente vencedores…
Os premiados com a organização
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Ruy de Carvalho, foi entregue pelo Para começar e, em acto solene, foi
próprio. Os restantes prémios foram assinado um protocolo entre a Câmara
entregues pelos vencedores do Municipal da Póvoa de Lanhoso e a
Concurso em 2010.Federação Portuguesa de Teatro para
O Prémio Prestigio Personalidade 2011 mais três anos de parceria na realização
foi este ano dedicado a um grande deste evento, o Concurso Nacional de
Senhor do Teatro de Amadores, um Teatro.
Homem que dedicou Após os discursos, o
toda a sua vida à arte e P r e s i d e n t e d a
ao amor ao Teatro, Federação Portuguesa
Carlos Oliveira (Chona). de Tea t ro , Ra fae l
Foi com grande surpresa Vergamota, afirmou
e emoção que ele, q u e ,
Chona, subiu ao palco independentemente de
para receber o prémio serem nomeados ou
das mãos de Rui Sérgio vencedores, os grupos
( r e p r e s e n t a n t e d a participantes já estão a
Fundação INATEL) e ganhar só pelo facto de
uma lembrança dos t e r e m s i d o p r é -
membros do grupo seleccionados para
Teatrinho de Santarém. este Concurso.
Antes de fechar a cortina não E… assim aconteceu... no meio de
poderíamos deixar de agradecer ao júri: muitos aplausos e gritos de euforia, o
Carla Oliveira, Tiago Pires e Romeu Blá Blá Blá – Teatro Jovem de Campo
Pereira, que durante estas cinco Maior, com a peça “Terror e Miséria”,
semanas desempenharam esta árdua e arrecadou praticamente todos os
gratificante tarefa de avaliar todas as prémios com a excepção da Melhor
produções e aos técnicos do Theatro Interpretação Masculina que foi
Club, pela sua boa disposição e entregue ao Bruno Biscaia, da Contacto
c o l a b o r a ç ã o e m t o d a s a s – Companhia de Teatro Água Corrente.
necessidades, não esquecendo todos O prémio Melhor Desenho de Luz,
que, de uma forma ou de outra, agora denominado Prémio Orlando
colaboraram para a realização deste Worm, em sua homenagem, foi
evento. Um bem-haja a todos.entregue pela sua filha, Cidália Worm, e
o Prémio Melhor Espectáculo, Prémio Um forte aplauso e até para o ano.
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e c
en
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Para o teatro amador, como para o amador de teatro, todos os dias são o seu dia.
Quando se ama, não se ama com data marcada nem por intermitências.
O amor é uma dádiva, não é um empréstimo. Não há calendário nem agenda para ele.Um tempo houve, neste país, em que o teatro não existiria fora das duas maiores
cidades se não fossem os amadores da arte dramática. Foram eles que acenderam e
m a n t i v e r a m a c e s o s p e q u e n o s f o c o s l u m i n o s o s ,
dispersos de norte a sul, que lhe assinalavam a presença. E fizeram-no assumindo
riscos e enfrentando dificuldades de toda a ordem, desde a escassez dos meios aos
rigores da censura.
Restituída a liberdade ao povo português, a presença do teatro amador pôde
intensificar-se no tecido nacional, e a força da sua intervenção desenvolver-se, ainda
que haja outros obstáculos a vencer. Não para competir ou confrontar-se com o teatro
profissional, o que não teria sentido, mas para continuar e levar mais longe, noutro
plano, a função cultural que a ambos cabe e nem sempre este último se lembra de
cumprir.
E chamar-lhe a atenção, também. Chamá-lo à ordem, quando for caso disso - apeteceu-
me escrever. E afinal deixei escrito...
Muitas vezes disse que devo ao teatro amador algumas das mais puras emoções da
minha incerta, descontínua e acidentada carreira de autor dramático.
Volto a dizê-lo em mais este Dia do Teatro Amador.
Dia longo, porque vai durar até ao dia 21 de Março do próximo ano.
E, certamente, de todos os que vão seguir-se-lhe.
MENSAGEM DODIA NACIONAL DO TEATROAMADOR 2011 Luiz Francisco Rebello
Dramaturgo
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CARLOS OLIVEIRA - «CHONA»Prémio Prestigio Personalidade doConcurso Nacional de Teatro 2011
(Texto proferido na Cerimónia de Encerramento do I Concurso Nacional de Teatro - Póvoa de Lanhoso 2011)
É uma figura singela e multifacetada, que desfruta de
uma imaginação prodigiosa, aliada a uma excepcional
criatividade artística, ocupando um lugar que conquistou
por mérito próprio ao longo dos tempos, com muita
dedicação e entusiasmo, sendo os seus atributos e as
suas qualidades reconhecidos por todos. Não obstante,
no seu caso, como em tantos outros, não teve uma tarefa
facilitada, tendo sido muitas vezes difícil remar contra a
maré e lutar contra grandes dificuldades, para conseguir
ultrapassar todas as contrariedades surgidas.
Falo-vos de Carlos Alberto da Silva Oliveira, nascido em Torres Novas em 1948,
bancário de profissão, casado, pessoa simples e humilde, com uma grande
personalidade de teatro e de cultura. O “Chona”, como os amigos lhe chamam, cedo se
começou a interessar pelo teatro, datando de 1960 a sua primeira actuação como actor,
numa récita escolar. Desde então jamais deixou a actividade teatral, tendo já percorrido
um meritório percurso de mais de cinquenta anos dedicados ao teatro, sendo também
relevante a sua acção como animador cultural noutras áreas, não só no concelho de
Santarém, mas também um pouco por todo o país, e até no estrangeiro, sempre com
muito amor ao teatro. Com amor, porque Carlos Oliveira ama o teatro - ele é, sempre foi,
e continuará a ser um verdadeiro «Amador de Teatro».
O seu curriculum mostra-nos uma importante formação no campo da animação cultural
técnica e artística, tendo assumido também a responsabilidade por intercâmbios com
grupos amadores de toda a Europa. Na realidade, sempre se dedicou à produção e
realização de eventos culturais, com especial enfoque no teatro, onde tem
desempenhado funções de dramaturgo, encenador a actor. Foi ainda na sua vida de estudante em Santarém, em 1964/65, que começou a
interessar-se pelo teatro, integrando elencos de récitas académicas, orientadas pela
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Dra. Madalena Tavares, sua professora de Português, que muito o incentivou.
Representou “A farsa de Inês Pereira” de Gil Vicente e o “Mar” de Miguel Torga, no
antigo Teatro Taborda e, desde aí, jamais deixou o palco. Mais de cinquenta peças
subidas à cena tiveram a sua participação, e é relevante o facto de ter organizado
estruturas que possibilitaram um salto qualitativo na produção teatral dos grupos.
Aos conhecimentos empiricamente adquiridos em Portugal numa prática de auto-
didatismo, junta-se-lhe a aprendizagem feita no estrangeiro, onde frequentou o “Teatro
Internacional para Jovens”, na Irlanda, Finlândia e Hungria, de 1975 a 1977. No ano
seguinte esteve na Polónia, no “Encontro Internacional de Teatro de Slupsk” e, em 1979,
na “Olimpíada Intercontinental de Teatro” realizada em Detriod, nos Estados Unidos da
América. Na década de 80 participou em vários cursos por toda a Europa, destacando-
se o de “Drama na Educação”, que teve lugar em Wersky Brod, na República Checa.
Observadas que foram as suas qualidades humanas e artísticas de actor e encenador,
aliadas à imaginação e criatividade artística que possui, várias organizações
internacionais logo o convidaram para leccionar técnicas de improvisação teatral,
construção da personagem e “teatro de objectos”, designadamente, na Dinamarca e no
Luxemburgo.
Os contactos estabelecidos com o presidente da Associação Internacional de Teatro de
Amadores (AITA), com sede em Amesterdão, motivaram-no a realizar em Santarém
aquele que foi um dos maiores acontecimentos de sempre na história do teatro da
cidade - o TIP 78. Tratou-se da realização do já citado “Teatro Internacional para
Jovens” no antigo Colégio Andaluz, que sob os auspícios da AITA se fazia anualmente
num país europeu, e que juntou em Santarém grupos oriundos de 18 países,
movimentando cerca de 250 actores e técnicos.
A partir de então, o «Chona» passou a realizar «ateliers» de teatro na região de
Santarém, onde transmitia aos amadores portugueses os conhecimentos trazidos de
outras correntes de expressão artística. Foi nessa perspectiva que juntou os grupos de
teatro do Ribatejo ao redor de 3 encontros anuais designados por «Teatro de Mãos
Dadas». Estas acções traduziram-se em importantes transformações nas produções
artísticas dos grupos. (O TAC do Cartaxo, por ele encenado em 1980, alcançou o 1º
Prémio do Festival de Teatro do Mónaco).
Em consequência do seu relacionamento com outros países europeus, foi credenciado
pelo Conselho da Europa para diligenciar no sentido de Portugal receber o «7º Encontro
de Teatro Europeu», no âmbito de «Lisboa - Capital da Cultura», em 1994.
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A sua condição de militante do teatro nunca o deixou inactivo, e com a simpatia que o
caracteriza foi sempre fácil rodear-se de boas equipas de trabalho, o que permitiu
formar a APTA - Associação Portuguesa de Teatro de Amadores e, a nível regional, a
Associação de Teatro de Santarém - ARSTA, que chegou a ter 50 grupos associados.
Ele acreditou que a associação dos grupos a nível regional e nacional, contribuiria de
maneira decisiva para a organização estrutural do Teatro Português, para o seu
progresso e desenvolvimento. Contudo, a falta de meios operacionais e a inexistência
de quaisquer apoios, originaram o desmantelamento da APTA e das associações
regionais, enfraquecendo a capacidade da produção artística teatral, principalmente
nas zonas do interior.
Triste com a situação, o Chona promoveu o funcionamento de uma biblioteca regional
de Teatro, o que ajudou a melhorar o repertório dos grupos amadores.
Complementarmente, publicou através da ARSTA 20 boletins mensais com o título «De
Mãos Dadas», edição que tinha por objectivo manter os grupos unidos e divulgar
eventos, artigos de opinião sobre crítica de teatro e biografias de autores nacionais.
Dedicou-se também à escrita, sendo administrador da SPA - Sociedade Portuguesa de
Autores, onde se encontram registadas várias peças de sua autoria. Destacam-se,
entre outras, «A Outra face de Alexandre Herculano», «As 1001 Maneiras de Cozinhar a
Morte», «O Maior Espectáculo do Mundo» (que recebeu o 1º Prémio de Textos Teatrais
conferido pelo TEP - Teatro Experimental do Porto), «As Histórias da Avozinha», «O
Palhaço da Bolinha Encarnada», «A Conquista de Santarém por D. Afonso Henriques»
e «Ábidis - A Lenda de Santarém», que em Outubro de 1991 foi editada pela Delegação
Regional do INATEL.
Assumem também grande relevância na produção editorial de Carlos Oliveira os
«Cadernos de Jogos e Exercícios Dramáticos», «Figuras de Teatro», textos de apoio e
dramaturgias para grupos amadores, além de muitas críticas de teatro publicadas em
jornais e revistas, sendo ele também o coordenador da edição dos únicos livros
existentes em Portugal sobre a “História do Circo”, da autoria do Professor Luciano
Reis.
Organizador do 1º Festival Internacional de Teatro de Lisboa, no Teatro D. Maria II, e do
1º Festival de Teatro da Feira Nacional de Agricultura, é também a ele que se deve a
realização dos «Festivais de Outono», em Santarém, que proporcionaram o encontro
de grupos amadores com críticos de teatro, exposições e colóquios.
Tendo colaborado na formação do Centro Cultural Regional de Santarém e recuperado
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alguma tradição de récitas de estudantes, Carlos Oliveira criou ainda 8 grupos de teatro
em diversas localidades:
- GRITO de Vale de Paraíso;- Grupo Cénico da Juventude Operária Católica de Santarém;- GATPA de Almeirim;- TAC do Cartaxo;- Companhia de Teatro de Santarém;- Veto Teatro Oficina do Círculo Cultural Scalabitano;- Teatrinho de Santarém;- Centro Dramático Bernardo Santareno.
Além disso, sempre que se deslocou a outros países, o Chona estabeleceu pontes que
possibilitaram intercâmbios com esses grupos portugueses que formou, dos quais
resultaram importantes trocas de experiências, tendo organizado também vários
cursos ministrados por parceiros estrangeiros congéneres.
Também amante das artes circenses, Carlos Oliveira esteve na origem da formação da
“D'Artânimo”, uma associação juvenil vocacionada para animações circenses de rua,
com malabarismos de fogo e efeitos pirotécnicos.
De facto, a sua actividade na área da produção de espectáculos é vastíssima, e pelo
rigor artístico das suas encenações, pela versatilidade da sua técnica de actor e pela
grande capacidade de imaginação e surpreendente criatividade, Carlos Oliveira tem
sido publicamente reconhecido e apreciado na obra que tem realizado.
De todas as peças em que interveio nas últimas décadas, algumas continuam ainda na
memória do público. É o caso de:
- «Guilherme Tell», de Alfonso Sastre;- «História duma Boneca Abandonada», de Bertrold Brecht;- «O Doido e a Morte», de Raúl Brandão;- «O Doente Imaginário», de Molière;- «Romagem de Agravados», de Gil Vicente;- «O Lugre», de Bernardo Santareno;- «O Gebo e a Sombra», de Raúl Brandão;- «Ábidis - A Lenda de Santarém», de sua própria autoria;- «O Conde de Novion», de Almeida Garrett;- «O Mar», de Miguel Torga;- «A Estátua», de Jaime Salazar Sampaio;- «O Principezinho», de Saint-Exupéry,.
Também a sua encenação de “O Principezinho” levou a RTP à gravação do espectáculo
e à sua transmissão nacional no Dia de Natal do ano de 2000.
Paralelamente a toda esta actividade, apareceram também algumas experiências de
rádio e televisão, sendo o responsável pelo programa «Palmo e Meio», que passou na
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ex-RDP - Rádio Ribatejo, e o autor de 5 peças para televisão, seleccionadas a nível
nacional, como foi o caso de «PUZZLE», que foi transmitida para todo o país, pela
Telescola. Participou ainda em apontamentos de reportagem e críticas de teatro nos
programas «TV - Palco», de Igrejas Caeiro e «Fila - T», do Dr. Fernando Midões, que o
considera um verdadeiro «semeador de Teatro no Ribatejo».
Quanto ao seu desempenho na televisão, o saudoso actor e senhor do teatro nacional,
Raúl Solnado, escreveu-lhe uma carta, dizendo: «Caro amigo, (…) com o talento que
mostrou ter, seria mais que lógico que a RTP já o tivesse convidado para um programa
semanal de teatro, Mas, como sabe, este país está cheio de “génios”. Não ligue!... »
Com Maria da Purificação e Domingos Lobo criou “A Phala”, único grupo de poesia
existente na região. Fizeram um recital de homenagem a Eugénio de Andrade, dias
antes do seu falecimento.
O FITIJ - Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude e a Bienal
Internacional de Teatro-Circo, que já são importantes marcos na história cultural da
cidade de Santarém, têm em Chona o seu principal mentor e impulsionador.
Carlos Oliveira precisa de estar sempre ocupado para se sentir bem, e foi assim que
alcançou dezenas de prémios e distinções ao longo do seu percurso, tais como o 1º
Prémio de Teatro dos Jogos Florais da Feira do Ribatejo; o 1º Prémio de Teatro da
C.G.T.P.; o 1º Prémio Nacional de Textos de Teatro, promovido pelo Teatro Experimental
do Porto; o 1º Prémio do Festival de Teatro do Mónaco; o 1º Prémio Nacional da
Fundação INATEL, de mérito no Teatro Amador, bem como várias homenagens e
menções honrosas.
Seria impossível e levar-nos-ia o resto da noite se tivéssemos que mencionar todas as
iniciativas e colaborações às quais o nosso Chona deu o seu contributo ao longo destes
mais de 50 anos de actividade, mas as singelas palavras que já foram ditas são uma
pequena prova do seu rico e vasto «curriculum» e retratam fielmente todos os esforços
por si desenvolvidos em prol do teatro, da cultura e do nosso país.
O Teatro, considerado a arte de todas as artes, é uma expressão privilegiada de cultura,
a identidade de um povo. E o Chona tem sabido, como muito poucos, viver em pleno as
suas funções de actor, encenador e dramaturgo, desenvolvendo e ajudando sempre
aqueles que verdadeiramente amam o Teatro. Por tudo isto, é da mais elementar justiça
prestar esta homenagem pública ao Chona, reconhecer o seu grande mérito.
A ti Chona, que és um grande «Homem do Teatro», o nosso muito obrigado!
rep
ort
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O SIMBOLISMO NO TEATRORafael VergamotaEncenadorCompanhia de Teatro Poucaterra
Nas histórias do movimento simbolista não se deu muita atenção ao teatro que se
originou dele. Embora existam vários estudos, todos eles abordam o tema do ponto de
vista do desenvolvimento teatral em vez do poético, e dentro de limites nacionais em
lugar da vantajosa perspectiva não-nacionalista.
Foi a estrutura dramática um dos sucessos mais verdadeiros e duradouros que o
movimento simbolista criou para a poesia, estrutura que ia além do verso esotérico e
íntimo.
As mutações que o simbolismo realizou na escritura do verso nada são, com efeito,
quando comparadas aos assaltos feitos à forma dramática. Todavia, o irónico é que não
foi a pateada das plateias nem o escárnio dos jornalistas, mas os comentários eruditos
e lógicos dos especialistas de teatro, que tentaram censurar e por fim demolir o teatro
simbolista.
São três os maiores defeitos do teatro simbolista:-Nenhuma caracterização e nenhuma oportunidade de interpretação;-Falta de crise ou conflito (a morta resolve tudo independentemente de nós);-Este tipo de teatro não continha ideologia (coisa muito comum agora, mas naquele
momento histórico isso representava uma falha enorme).
Do ponto de vista poético, o teatro simbolista é frequentemente mais bem sucedido
onde o verso não consegue realizar os objectivos simbolistas. A ambiguidade do
discurso pode ser representada mediante uma relação equívoca entre as personagens
e os objectos que as cercam, no teatro simbolista nenhum objecto é decorativo; ele está
ali para exteriorizar uma visão, sublinhar um efeito, desempenhar um papel na corrente
de acontecimentos imprevisíveis.
Contudo, um teatro do simbolismo desenvolveu-se, não directamente de Mallarmé,
mas do seu entourage simbolista, que corporizou o sonho da projecção verbal, visual e
que exterioriza os ingredientes que constituem o poder da música; comunicação não
racional, excitação da imaginação e condução à visão subjectiva.
Strindberg, Ibsen, Tolstói e Shakespeare contrastavam flagrantemente com a cena
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teatral local do teatro naturalista. Lugné-Poe reconheceu a necessidade de um novo
conceito de teatro e preparou o terreno para o teatro simbolista ao acostumar as
audiências a um teatro santuário, mais um lugar para meditação do que para
predicação.
L' Intrusa é uma preciosidade do teatro simbolista, completamente clara e perfeita
quando julgada segundo os padrões simbolistas. O tema é abstracto: a própria morte.
Toda a encenação é verdadeiramente simbolista, sem qualquer localização específica
ou materialização da ideia. O que se simboliza é a ausência e a passagem dela através
de um décor e entre as pessoas que estão nele, todas reagem à passagem como uma
unidade sinfónica, modulando-se entre si, repetindo-se na fala e movimento a uma
simples harmonia, em vez de a qualquer conflito pessoal ou particular.
A maior contribuição de Maetelinck ao teatro simbolista foi Pelléas et Mélisande.
Também neste caso, o tema, o enredo e as personagens são estereotipadas e sem
originalidade. A peça trata do eterno triângulo: dois irmãos amam a mesma mulher que
está casada com um deles.
A peça começa com um encontro casual do herói com a heroína e termina com a natural,
embora prematura, morte desta. As personagens não tem nenhum controle sobre
qualquer acontecimento, nem sequer a tragédia resulta do fracasso das paixões
humanas ou da vingança dos deuses.
No simbolismo - como na filosofia de Schopenhauer, com a qual tem grande afinidade -,
são, mais uma vez, as forças exteriores que escapam ao controle da vontade do homem
e o colocam entre a vida e a morte, dois pólos da origem misteriosa, inexplicáveis para
ele e controlados pelo acaso. Também o tempo é um elemento que está além do
controle humano. O carácter determinista e não providenciais das forças exteriores
retira do homem a noção de propósito, objectivo e vontade. Tanto o simbolismo quanto o
naturalismo são, neste sentido, materialistas.
Os incessantes esforços feitos por directores e cenógrafos inventivos, capazes de criar
efeitos técnicos de iluminação e decoração afinados ao estado de espírito das peças,
têm feito com que estas sejam representadas de vez em quando como manifestações
de um "Teatro de arte". A este respeito, o teatro simbolista tem recebido uma importante
ajuda por parte dos avançados processos fotográficos, que podem expressar no
cinema as ilusões difíceis de se conseguir no palco.
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pal
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CAMINHOS SINUOSOS DE SAIBROPOR ENTRE PRADOS VERDES
Maria Madalena TorresTIN.BRA – Teatro Infantil de Braga
António Rui FèteiraPátio das Galinhas Teatro de Bico
A partir da segunda edição do Fórum Permanente de Teatro, aparece no conjunto dos painéis de formação o Painel de Escrita Criativa.
No âmbito deste painel têm-se produzido muitos e diversos textos. Nesta rubrica da Palcos, alguns desses textos serão aqui apresentados:
“Caminhos Sinuosos de Saibro por entre Prados Verdes” foi produzido no âmbito do Painel de Escrita Criativa, orientado por Manuel Ramos Costa, no V Fórum Permanente de Teatro de Amadores, em Póvoa do Lanhoso, em Janeiro de 2010.
A escolha deste diálogo deve-se ao facto do mesmo ter sido objecto de trabalho no Painel de Formação de Actores – Iniciação dos 12 aos 16 anos, no VI Fórum, em Ansião, em Outubro de 2010.
CENA 1
ELA – Onde te encontras?ELE – Não me apetece dizer-te.ELA – Escondes qualquer coisa.ELE – Escondemos todos, mas não é por isso. És tu que és demasiado rígida.ELA – Não te entendo. Julgo que nem te conheço.ELE – E conheces-te a ti?ELA – Poucas vezes…ELE – Bem me parecia. Tens que soltar-te das regras que impões a ti própria…
(pausa) Não dizes nada?… Alguma coisa te impede agora de falar.ELA – Penso no que dizes e só me lembro de belos prados verdes… uma sensação
de plena liberdade de todo o meu ser… Não achas estranho?ELE – Acho estranho que vivas só a sensação… que nem sensação é… é só uma
ideia. Não deves pensar nos prados verdes… Deves pegar no carro e ir até lá. Ainda te lembras onde é?
ELA – A imagem é nítida. No entanto, tremo ao pensar no acto de partir. Quero chegar, quero partir… Não sei como ir…
ELE - Vai e pronto… Logo verás… Não há só um prado, aquele que te lembras não é único. Talvez encontres outro… os caminhos são sinuosos, mas todos levam a algum lado.
ELA – Hesito… sabes bem porquê. Os caminhos são de saibro e a caminhada é difícil… Vem comigo.
ELE – E as regras? As tuas regras? Já não interessam?ELA – Toda a minha vida me regi por regras sem que lhes tenha visto algum sentido.ELE – E se for contigo, quais serão as regras?
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ELA – Seguramente as tuas.ELE – Acho que não ias concordar.ELA – Talvez te enganes, talvez não saibas que os caminhos serão bem mais fáceis
se os enfrentarmos juntos. (pausa) Não concordas?... O teu silêncio…ELE - Acho que agora sou eu quem hesita.ELA – Julgo que não te compreendo… ou talvez te compreenda demais…ELE - Vamos tentar mais uma vez… Anda…CENA 2
ELE – Não achas que já devíamos ter chegado?ELA – Escurece e tenho medo.ELE – Estás comigo… não estás sozinha.ELA – É esta minha insegurança que me trai. Havemos de estar a chegar. Falta
pouco, sinto-o…ELE – Eu tenho a sensação que já passámos sem dar por isso. Não me lembro
deste troço de estrada. Acho que estamos longe.ELA – Será? Tens a certeza? Admito que não prestei atenção… mas são tantos os
prados em volta que os caminhos nos desviam a atenção.ELE – Também eu estive distraído.ELA – Que fazemos?ELE – Não sei…Paramos aqui… Temos fruta, alguma gasolina. Quando amanhecer
logo veremos. Talvez passe alguém… ou talvez seja aqui e os nossos olhos não reconheçam o lugar… Talvez estejamos cansados… ou sejamos outros, e o lugar já não nos reconheça…
ELA – Quero acreditar. Tenho que acreditar. Aqui é um bom sítio. A noite trará decerto a calma desejada… e então saberemos…
ELE – Deita a cabeça no meu colo… e conta-me os sonhos que vais sonhar esta noite….
ELA – Sinto o calor do teu corpo e isso acalma-me.ELE – Então, não vais ter pesadelos.ELA – Será muito bom. Preciso de descanso… destruir os fantasmas que me
assolam de dia e de noite. Hoje sinto-me diferente…ELE – Descansa, então. Vou sonhar os teus pesadelos por ti.ELA – Fecharemos os olhos ao mesmo tempo… a noite trará a sua sentença…ELE – Sim… Não ouviste nada?ELA – O silêncio não me deixa ouvir mais nada.ELE – Pareceu-me ouvir um restolhar lá fora… mesmo ali, do lado de lá do vidro.ELA – Será vento? O rumor das águas? Estaremos sozinhos?ELE – Pareceram-me passos, tenho quase a certeza.ELA – E agora, que fazemos?ELE – Não sei bem… Talvez o melhor seja não fazer nada… Talvez já estejamos a
dormir e os passos que ouvi são os passos do teu pesadelo a aproximar-se do meu sono.
ELA – Eu estou aqui. Não estás sozinho.
palcosRevista
março ‘11
#01
30
[cont. da pág. 1]
Mas esta revista também inova, pois foram criados novos espaços/rubricas como, por exemplo, a rubrica Anfiteatro, que visa abrir uma janela para as contribuições dos parceiros institucionais da FPTA ou a rubrica Sem Palco, que visa dar a conhecer textos originais de teatro. Ainda a nova rubrica Cartaz está aberta aos associados para a divulgação dos seus espectáculos, eventos e realizações, de carácter mais ou menos duradouro.
Apelamos pois ao contributo de todos aqueles que de alguma forma se revêem nestes princípios e também à divulgação deste novo órgão de comunicação que a todos pode interessar.
Os destaques desta primeira edição vão para a entrevista que Jorge Fraga nos concedeu e que nos revela um pouco sobre o homem por detrás do encenador; a primeira edição do CONTE – Concurso Nacional de Teatro, que nos mostrou um pouco do (bom) teatro que se vai fazendo em Portugal e que se afirma, inquestionavelmente, como o certame de referência no panorama do teatro de amadores; a reflexão que o dramaturgo Luiz Francisco Rebello fez sobre o Dia Nacional do Teatro de Amadores – 21 de Março; e o artigo sobre o que foi o Fórum Permanente de Teatro, que aconteceu em Janeiro último, em Tondela.
Aproveitem!
Fernando RodriguesDirector
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