artigo sobre radiologia industrial

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ANÁLISE DOS ACIDENTES RADIOLÓGICOS NO CONTEXTO ORGANIZANCIONAL DAS EMPRESAS DE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL ÁLVARO MARQUES RAMIRES Porto Alegre, 2000.

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Ótimo artigo sobre radiologia industrial

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ANLISE DOS ACIDENTES RADIOLGICOS NO CONTEXTO

    ORGANIZANCIONAL DAS EMPRESAS DE RADIOGRAFIA

    INDUSTRIAL

    LVARO MARQUES RAMIRES

    Porto Alegre, 2000.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ANLISE DOS ACIDENTES RADIOLGICOS DENTRO DO

    CONTEXTO DAS EMPRESAS DE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL

    LVARO MARQUES RAMIRES

    Orientador: Professora Dra. Lia Buarque Guimares

    Banca Examinadora

    Prof. Dra. Annamaria de Moraes, PUC

    Prof. Dr. Volnei Borges, UFRGS

    Prof. PhD Flvio Fogliato, UFRGS

    Trabalho de Concluso do Curso de Mestrado Profissionalizante em Engenharia apresentado ao

    Programa de Ps Graduao em Engenharia de Produo como requisito parcial obteno do

    ttulo de Mestre em Engenharia modalidade profissionalizante

    Porto Alegre, 2000.

  • iii

    Esta dissertao foi analisada e julgada adequada para a obteno do ttulo de mestre em

    ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo orientador e pelo coordenador do

    Mestrado Profissionalizante em Engenharia, Escola de Engenharia da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul.

    ____________________________________

    Professora Lia Buarque Guimares

    Orientadora

    ____________________________________

    Professora Helena Beatriz Cybis

    Coordenadora do Mestrado Profissionalizante

    em Engenharia

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dra. Annamaria de Moraes

    Prof. Dr. Volnei Borges

    Prof. PhD Flvio Fogliato

  • iv

    AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos vo para a Prof. Dra. Lia Buarque Guimares, do PPGEP/UFRGS, pela

    pacincia e incansvel dedicao em orientar o presente estudo; ao Prof. Antnio Nunes, da

    Faculdade de Fsica da PUCRS, pelo apoio e incentivo durante a realizao do Curso de

    Mestrado em Engenharia , e em especial, aos meus familiares.

  • v

    NDICE

    1 INTRODUO...............................................................................................................................................1

    1.1 HIPTESE E OBJETIVO...................................................................................................................................4

    1.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ...............................................................................................................................4

    1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO...........................................................................................................................5

    2 UM PANORAMA GERAL SOBRE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL......................................................8

    2.1 TCNICA RADIOGRFICA..............................................................................................................................8

    2.2 TAREFAS EXECUTADAS PELOS PROFISSIONAIS DA REA.............................................................................10

    2.3 PROGRAMAO DOS SERVIOS A SEREM EXECUTADOS..............................................................................12

    2.4 HORRIOS E CARGA DE TRABALHO............................................................................................................13

    2.5 PERFIL DOS PROFISSIONAIS DE ATUAM NA ATIVIDADE...............................................................................14

    2.6 LOCAIS PARA REALIZAO DOS SERVIOS DE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL.................................................16

    2.7 RADIAO IONIZANTE ................................................................................................................................23

    2.8 EQUIPAMENTOS GERADORES DE RADIAO IONIZANTE.............................................................................32

    2.9 MEDIDAS DA RADIAO.............................................................................................................................36

    2.10 IRREGULARIDADES EM RADIOGRAFIA INDUSTRIAL................................................................................44

    3 PROTEO RADIOLGICA. ..................................................................................................................25

    3.1 PRINCPIOS DA PROTEO RADIOLGICA ...................................................................................................25

    3.2 PRINCIPAIS RECOMENDAES INTERNACIONAIS DE SEGURANA RADIOLGICA .......................................28

    3.3 REGULAMENTOS NACIONAIS DE SEGURANA.............................................................................................31

    3.4 NORMAS DA COMISSO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR........................................................................34

    3.5 ACIDENTES RADIOLGICOS EM RADIOGRAFIA INDUSTRIAL .......................................................................41

    4 LEVANTAMENTO DAS CONDIES DO SERVIO DE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL............62

    5 RESULTADOS E DISCUSSO..................................................................................................................68

    5.1 RESULTADO DAS ENTREVISTAS ..................................................................................................................68

    5.2 QUESTIONRIOS .........................................................................................................................................82

    5.3 ANLISE DOS ASPECTOS DE AFETAM OS PADRES DE SEGURANA, NA OPINIO DOS TRABALHADORES...92

    5.4 DISCUSSO DOS RESULTADOS DO QUESTIONRIO.....................................................................................113

    6 CONCLUSES...........................................................................................................................................128

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................................................130

  • vi

    8 APNDICE..................................................................................................................................................133

    8.1 QUESTIONRIO UTILIZADO NA COLETA DE DADOS .................................................................133

    8.2 QUADRO DE ACIDENTES NO MUNDO ( DCADAS DE 60 A 80)...................................................................138

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1- LOCALIZAO DAS OBRAS E EMPRESAS DE RADIOGRAFIA INDUSTRIAL EM 1998. ......................................2

    FIGURA 2 PRINCPIO FSICO PARA IMPRESSIONAR FILMES RADIOGRFICOS..............................................................8

    FIGURA 3 CONTROLE DE QUALIDADE EM AERONAVES ............................................................................................9

    FIGURA 4 FOTOGRAFIA DE UMA INSTALAO FECHADA. ......................................................................................18

    FIGURA 5 FOTOGRAFIA DE UMA INSTALAO FECHADA. ......................................................................................20

    FIGURA 6 LINHAS DE PRODUTOS QUMICOS SEMI-ACABADOS ................................................................................21

    FIGURA 7 FOTOGRAFIA DE UMA REA CLASSIFICADA COMO INSTALAO ABERTAS (VIA PBLICA) MUNICPIO

    DE TRAMANDA, RS ........................................................................................................................................22

    FIGURA 8 FOTOGRAFIA DE UMA REA CLASSIFICADA COMO INSTALAO ABERTA (VIA PBLICA) MUNICPIO DE

    TRAMANDA, RS..............................................................................................................................................22

    FIGURA 9 PORTA - FONTES.....................................................................................................................................47

    FIGURA 10 - ASPECTOS POSITIVOS EM RADIOGRAFIA (CRESCIMENTO PROFISSIONAL).............................................71

    FIGURA 11- ASPECTOS POSITIVOS EM RADIOGRAFIA (SERVIO BOM DE FAZER) ....................................................72

    FIGURA 12 - ASPECTOS POSITIVOS EM RADIOGRAFIA (POSSIBILITA LIBERDADE) .....................................................74

    FIGURA 13 - ASPECTOS POSITIVOS (SALRIO BOM)................................................................................................74

    FIGURA 14 - ASPECTOS POSITIVOS DE RADIOGRAFIA (AMIZADE NA EMPRESA) ........................................................75

    FIGURA 15 - ASPECTOS POSITIVOS DE RADIOGRAFIA ( TRABALHO EM EQUIPE) ........................................................77

    FIGURA 16 - ASPECTOS POSITIVOS DE RADIOGRAFIA (CONHECIMENTOS TCNICOS) ................................................77

    FIGURA 17 - ASPECTOS POSITIVOS DE RADIOGRAFIA (MERCADO BOM) .................................................................78

    FIGURA 18 - ASPECTOS POSITIVOS DE RADIOGRAFIA (NO PROPICIA ROTINAS) .......................................................79

    FIGURA 19 - ASPECTOS POSITIVOS DA RADIOGRAFIA (CONHECIMENTO DE OBRAS)..................................................80

    FIGURA 20 - ITENS DE DEMANDA (ATRASO DE SALRIOS) .......................................................................................92

    FIGURA 21 - ITENS DE DEMANDA ERGONMICA - COOPERAO DE COLEGAS ..........................................................94

    FIGURA 22 - ITENS DE DEMANDA (TURNO DE TRABALHO) .......................................................................................95

    FIGURA 23 - ITEM DE DEMANDA ( BAIXA PRODUTIVIDADE).....................................................................................97

    FIGURA 24 - ITENS DE DEMANDA ( FALTA DE TREINAMENTO DE PESSOAL) .............................................................98

    FIGURA 25 - ITENS DE DEMANDA (EQUIPAMENTOS OBSOLETOS) ..............................................................................99

    FIGURA 26 - ITENS DE DEMANDA ( FALTA COMPETNCIA ADMINISTRATIVA / PROFISSIONAL) ..............................100

    FIGURA 27 - ITENS DE DEMANDA (RISCO DA RADIAO SADE) .........................................................................101

    FIGURA 28 - ITENS DE DEMANDA (FALTA QUALIFICAO DOS PROFISSIONAIS) ......................................................102

    FIGURA 29 - ITENS DE DEMANDA ( FALTA ORIENTAO DAS CHEFIAS).................................................................103

    FIGURA 30 ITENS DE DEMANDA ( ESTRUTURA DEPARTAMENTALIZADA DA EMPRESA)..........................................104

    FIGURA 31 - ITENS DE DEMANDA ( BUROCRACIA PARA LIBERAO DE REAS) ....................................................105

  • viii

    FIGURA 32 - ITENS DE DEMANDA ( CONTRATOS COMERCIAIS COM PROBLEMAS)...................................................106

    FIGURA 33 - ITENS DE DEMANDA (FALTA RESPEITO AO TRABALHO DE CAMPO) .....................................................107

    FIGURA 34 - ITENS DE DEMANDA (INFRA-ESTRUTURA PARA OPERAES DE CAMPO).............................................108

    FIGURA 35 - ITENS DE DEMANDA (FALTA RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS)...............................................109

    FIGURA 36 - ITENS DE DEMANDA (SOBRECARGA DE TRABALHO)............................................................................110

    FIGURA 37 - ITEM DE DEMANDA ( FALTA DE QUALIDADE NAS TAREFAS DE CAMPO) ............................................111

    FIGURA 38 - ITEM DE DEMANDA (FALTA MANUTENO EM EQUIPAMENTOS) .......................................................112

    FIGURA 39 - MODELOS ORGANIZACIONAIS : MODELO 1.........................................................................................115

    FIGURA 40 - MODELOS ORGANIZACIONAIS - MODELO 2 ........................................................................................116

    FIGURA 41 - MODELOS ORGANIZACIONAIS MODELO 4...........................................................................................117

    FIGURA 42 - MODELO ORGANIZACIONAL MODELO 5 .............................................................................................118

    FIGURA 43 - MODELOS ORGANIZACIONAIS MODELO 6...........................................................................................119

    FIGURA 44- QUADRO DE ACIDENTES EM RADIOGRAFIA OCORRIDOS NO MUNDO...................................................138

  • ix

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - PRODUO DE RAIO X ...........................................................................................................................31

    TABELA 2 COMPILAO DE DADOS RELATIVOS AO QUADRO GERAL DE ACIDENTES OCORRIDOS NO MUNDO .......43

    TABELA 3 TIPOS DE IRREGULARIDADES EM RADIOGRAFIA POR CATEGORIAS........................................................53

    TABELA 4 - TABELA DE PONTOS DAS IRREGULARIDADES EM RADIOGRAFIA INDUSTRIAL ........................................54

    TABELA 5 - LIMIAR DE DOSES DE RADIAO ...........................................................................................................61

    TABELA 6 - ESTRATOS DE TRABALHADORES FASE DAS ENTREVISTAS ..................................................................64

    TABELA 7 - ESTRATOS DE TRABALHADORES (APLICAO DE QUESTIONRIOS) ......................................................64

    TABELA 8 - ORDEM DE MENO (ASPECTOS POSITIVOS DA ATIVIDADE).............................................................69

    TABELA 9 FATORES ORDEM DE MENO(ASPECTOS POSITIVOS DA ATIVIDADE)..................................................70

    TABELA 10 INFLUNCIA DOS CRITRIOS FAIXA ETRIA E TEMPO DE EXPERINCIA SOBRE OS ASPECTOS POSITIVOS

    APONTADOS PELOS TRABALHADORES.............................................................................................................81

    TABELA 11 - ORDEM DE MENO ( ASPECTOS QUE AFETAM A SEGURANA EM RADIOGRAFIA INDUSTRIAL)...........83

    TABELA 12 - FATORES DE ORDEM DE MENO ( ASPECTOS QUE AFETAM OS PADRES DE SEGURANA EM

    RADIOGRAFIA).................................................................................................................................................85

    TABELA 13 DISTNCIA, EM MM, ENTRE A NCORA ESQUERDA E A MARCAO ........................................................87

    TABELA 14 - GRAU DE INSATISFAO DOS TRABALHADORES (ASPECTOS DE AFETAM OS PADRES DE SEGURANA

    EM RADIOGRAFIA INDUSTRIAL).......................................................................................................................89

    TABELA 15 RANKING DOS ASPECTOS QUE AFETAM OS PADRES DE SEGURANA EM RADIOGRAFIA

    INDUSTRIAL, NA OPINIO DOS TRABALHADORES ........................................................................................91

  • x

    RESUMO

    A expectativa deste trabalho discutir a questo da segurana em radiografia industrial, sob o

    contexto geral da atividade, procurando contribuir para a busca de melhores padres de

    segurana para os profissionais que atuam em operaes com fontes de radiao. Tomou-se

    como ponto de partida os dados divulgados pela Comisso Nacional de Energia Nuclear

    (CNEN), no encontro sobre Segurana Radiolgica em Radiografia Industrial (Rio de Janeiro,

    1998) e contraps-se a opinio dos profissionais de radiografia industrial na regio

    metropolitana de Porto Alegre, sobre os aspectos que afetam os padres de segurana na

    atividade. Estes dados foram coletados com base na tcnica do Design Macroergonmico

    proposto por Fogliatto e Guimares (1999). Alm dos problemas diretamente relacionados

    segurana radiolgica, ficou evidente a importncia das questes de natureza gerencial e

    organizacional, que no so consideradas nos atuais padres de segurana das empresas

    brasileiras de radiografia industrial.

  • xi

    ABSTRACT

    The expectation of this work is to argue the safety's subject in industrial x-ray, under the

    general context of the activity, trying to contribute for the search of best patterns of safety for

    the professionals that act in operations with radiation sources. Data published by the Comisso

    Nacional de Energia Nuclear (CNEN), in the encounter on Safety Radiological in Industrial X-

    ray (Rio de Janeiro, 1998) were taken as starting point of the literature revie a qualitative

    analysis of the activity was done based on opinion metropolitan area of Porto Alegre

    professionals of industrial x-rays. These data were collected according to in Magroergonomic

    Design technique proposed by Fogliatto and Guimares (1999). Besides the problems directly

    related to the safety radiological, it was evident the importance of managerial and

    organizacional problems, that are not considered in the current patterns of safety of the

    Brazilian companies.

  • 1

    1 Introduo

    Esta dissertao trata da questo da segurana na atividade de radiografia industrial, centrando

    o enfoque na anlise das causas dos acidentes radiolgicos envolvendo profissionais da rea,

    expostos ocupacionalmente radiao. Neste estudo, a causa dos acidentes radiolgicos so

    percebidas, dentro do contexto das empresas de radiografia industrial, procurando mostrar de

    que forma problemas de natureza gerencial, organizacional e sistmicos, podem afetar os

    padres de segurana durante o manuseio com fontes de radiao.

    A radiografia industrial uma das inmeras aplicaes da radiao ionizante em nossa

    sociedade. Vale-se da radiao ionizante para controlar a qualidade de muitos equipamentos

    industriais, seja em processos de fabricao, montagem ou mesmo manuteno.

    O fato de envolver um tipo de energia que promove alto risco sade de profissionais e

    pessoas do pblico merece um destaque especial, quando a discusso envolve a segurana do

    homem e do meio ambiente. Ao longo dos anos, a radiao ionizante vem sendo tema para

    muitas discusses por parte de organizaes nacionais e internacionais, sejam elas

    governamentais ou no. Possivelmente, tal preocupao seja reflexo das conseqncias dos

    ltimos acidentes radiolgicos ocorridos em usinas nucleares e empresas que trabalham com

    material radioativo, principalmente nas dcadas de 80 e 90. O acervo de documentos e

    relatrios tcnicos da International Agency Energy Atomic, com sede em Viena - ustria,

    discorre sobre este tema, recomendando algumas prticas necessrias para minimizar os riscos

    de acidentes com radiao ionizante.

    No Brasil, a Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNEN), rgo que regulamenta as

    atividades com radiao ionizante no pas, vem atuando com o propsito de melhorar as

    condies de trabalho e de promover um ambiente mais adequado e seguro para os

    profissionais que se expem ocupacionalmente radiao ionizante.

    Entre as reas de aplicao, a radiografia industrial destaca-se pelo alto risco e a ocorrncia de

    acidentes radiolgicos, que contribuem significativamente para o aumento de doses de radiao

    e conseqentes danos causados sade do trabalhador.

    Para trazer tona o problema da segurana radiolgica, tomou-se como ponto de partida, o

    encontro sobre segurana radiolgica ocorrido em 1998, na cidade do Rio de Janeiro. Este

  • 2

    evento mereceu destaque, principalmente porque tinha o propsito de discutir e apresentar

    dados relativos a performance das empresas de radiografia industrial na dcada de 90. O

    encontro foi promovido pela Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e realizado no

    Instituto de Radioproteo e Dosimetria uma das unidades da CNEN. Contou com a

    participao de representantes da CNEN, empresrios do ramo e tcnicos de segurana das

    principais empresas de radiografia industrial do pas.

    Segundo dados apresentados, existiam, no Brasil, aproximadamente 283 obras na rea

    industrial, utilizando fontes radioativas para controle de qualidade industrial. Os servios de

    radiografia nessas obras eram executadas pelas 16 empresas existentes at ento. O mapa da

    figura 1, apresentado pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, mostra a distribuio

    geogrfica das empresas de radiografia no Brasil, no ano de 1998.

    Instalaes Abertas

    Escritrios Regionais

    Figura 1- Localizao das obras e empresas de radiografia industrial em 1998.

    Fonte: Apostila Workshop CNEN, 1998 , p.17

  • 3

    Considerando o nmero de obras em andamento naquele ano e o total de empresas de

    radiografia operando na atividade, tem-se, ento, uma mdia de 17,68 obras por empresa. O

    nmero de fontes radioativas possivelmente superior a 283, visto que em uma mesma obra

    poder existir mais de uma fonte radioativa em operao. A regio sul do pas concentra a

    maior parte das obras por empresa, com uma mdia de 20,66. Em seguida, a regio sudeste com

    15,75 obras por empresa. O nordeste est em terceiro lugar com 14,00 obras por empresa. Na

    regio norte no existem prestadoras regionais atuando. Presume-se, assim, que as obras que

    existiam nesta regio eram feitas por empresas de outras regies do pas.

    O cerne do encontro foi o aumento progressivo das doses de radiao recebidas por

    profissionais que atuam em radiografia industrial e os efeitos biolgicos decorrentes,

    principalmente os acidentes radiolgicos. Foram apresentadas, tambm, as principais

    irregularidades encontradas nas empresas, quando das ltimas inspees regulatrias dos fiscais

    da CNEN. Os relatos sobre acidentes ocorridos no Brasil, nos ltimos anos, mostram doses

    equivalentes recebidas por trabalhadores de at 165 vezes superior ao limite de dose

    equivalente anual estabelecido pelas autoridades de segurana. Mesmo com intensos esforos

    da Comisso Nacional de Energia Nuclear em promover padres de segurana adequados para

    trabalhadores, com vistas a minimizar o risco de acidentes radiolgicos em empresas brasileiras

    de radiografia industrial, as melhorias parecem se desenrolar em ritmo e com resultados pouco

    satisfatrios. Ao longo do tempo, acidentes com trabalhadores vm ocorrendo com freqncia,

    trazendo srios danos sade desses profissionais.

    As principais concluses do encontro foram que os resultados das aes de melhorias na rea

    de radiografia industrial parecem parciais, e vem se desenrolando em ritmo lento ao longo dos

    anos. Alm disso, concluiu-se, tambm, que aes mais eficazes devem ser discutidas, com a

    maior brevidade possvel, para que o atual quadro de doses elevadas e ocorrncia de acidentes

    possa ser minimizado. Partindo dessas concluses, procurou-se questionar o motivo que estaria

    dificultando a efetiva implementao de boas prticas na atividade. Esse questionamento,

    juntamente com a experincia de 12 anos na atividade, atuando como supervisor de

    radioproteo industrial, levou suspeita de que a ocorrncia de acidentes radiolgicos,

    envolvendo profissionais da rea, e os conseqentes danos sade desses trabalhadores,

  • 4

    poderiam estar relacionados a problemas de natureza organizacional, gerencial e sistmica nas

    empresas de radiografia. Isso porque a rea de segurana radiolgica das empresas assume

    atribuies bastante especficas, dirigidas segurana durante o uso, manuseio e transporte de

    fontes de radiao. Contudo, o sucesso em estabelecer e implementar melhorias na rea de

    segurana, dentro de uma organizao, no dependem nica e exclusivamente da rea

    responsvel em conduzir a implementao. Os processos organizacionais possuem interfaces

    com outros setores e reas, que devem possibilitar e facilitar a implementao das medidas

    necessrias para um trabalho seguro e produtivo.

    Observa-se, tambm, que a literatura existente trata a questo da segurana radiolgica

    focando-a mais para aspectos tcnicos de segurana. Com isso, concluiu-se que seria oportuno

    tratar o problema da segurana nessa atividade, no contexto organizacional e, quem sabe,

    fornecer contribuies para futuras discusses na busca de melhorias mais efetivas.

    1.1 Hiptese e Objetivo A hiptese formada, ento, que a causa de muitos acidentes radiolgicos, envolvendo

    trabalhadores de radiografia expostos ocupacionalmente, possa estar relacionada a problemas

    de natureza organizacional, gerencial e sistmica. Com base na hiptese, centrou-se o presente

    estudo na anlise da segurana e sade do trabalhador de radiografia industrial, procurando

    verificar de que forma esses problemas poderiam estar influenciando os padres de segurana

    na atividade e contribuindo para a ocorrncia de acidentes radiolgicos.

    1.2 Objetivos Especficos - Apresentar o estado da arte na atividade de radiografia industrial, no que se refere s

    caractersticas operacionais e aos atuais padres de segurana;

    - Coletar dados sobre a opinio dos trabalhadores expostos ocupacionalmente radiao,

    sobre aspectos que possam vir a afetar significativamente os padres de segurana na

    atividade, aplicando-se, para isso, a tcnica do Design Macroergonmico, desenvolvida por

    Fogliatto e Guimares (1999);

    - fazer uma anlise da atividade em s utilizando, como base, o estado da arte apresentado, os

    dados coletados junto aos trabalhadores e a experincia de doze anos na atividade.

  • 5

    1.3 Estrutura do trabalho

    Esta dissertao est estruturada em 6 captulos, sendo o primeiro, esta introduo. No captulo

    2, apresentado um panorama sobre radiografia industrial, descrevendo as principais

    caractersticas da atividade, tais como a tcnica de radiografia industrial, as programaes de

    servio, o perfil bsico dos profissionais que atuam na rea, e as caractersticas dos locais

    fsicos onde os servios ocorrem. Alm disso, feita uma breve apresentao sobre a gerao e

    deteco da radiao ionizante. O captulo 2 traz ainda, as principais irregularidades cometidas

    pelas empresas brasileiras de radiografia industrial, segundo dados divulgados no encontro

    sobre segurana radiolgica, ocorrido em 1998, na cidade do Rio de Janeiro, RJ. Estes dados

    so utilizados para dar incio s discusses feitas nesse estudo.

    Na seqncia, o captulo 3 apresenta uma reviso sobre os principais acidentes radiolgicos

    ocorridos no mundo, entre as dcadas de 60 e 80, a fim de elucidar os danos da radiao

    causados sade do trabalhador. So apresentados, tambm, dois casos de acidentes

    radiolgicos ocorridos com empresas brasileiras de radiografia industrial, em 1998, na cidade

    de So Paulo, como forma de mostrar as conseqncias gerais de um acidente e as medidas

    normalmente tomadas por empresas e autoridade competente no assunto. Ainda nesse captulo,

    tem-se uma reviso da literatura relacionada aos princpios e regulamentos nacionais e

    internacionais, aplicados radiografia industrial. Durante a passagem dessa seo, observa-se

    que o enfoque dado questo da segurana dos trabalhadores em radiografia industrial,

    relaciona-se basicamente aos controles e requisitos recomendados e exigidos por autoridades

    no assunto, a serem praticadas pelas reas de segurana radiolgica das empresas de radiografia

    industrial. Contudo, o enfoque proposto neste trabalho no abordado, pois a grande maioria

    da literatura pesquisada dirigida para a forma de controle e estabelecimento de procedimentos

    tcnicos de segurana, aplicados a esta atividade. O enfoque proposto nesta dissertao foi

    observado muito superficialmente em poucos documentos, que faziam referncia questo da

    segurana nas atividades, sem desenvolver anlises mais dirigidas sobre a segurana de

    trabalhadores.

    No captulo 4, so apresentados os resultados do levantamento das condies do servio de

    radiografia industrial, em uma empresa tradicional de radiografia industrial, que atuava no

    estado do Rio Grande do Sul, quando do desenvolvimento do presente trabalho. Procurou-se

  • 6

    manter em sigilo o nome e caractersticas dessa empresa, por uma questo de preservao da

    imagem, pois informaes sobre o municpio onde estava atuando, ou localizao de obras

    seria de fcil reconhecimento. Como o propsito desse trabalho discutir a questo dos

    acidentes, envolvendo questes internas, a apresentao das caractersticas da empresa poderia

    comprometer sua imagem no mercado.

    No captulo 5, apresentada uma discusso sobre os aspectos que possam afetar os padres de

    segurana em radiografia industrial, procurando relacionar as principais irregularidades

    identificadas pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, questes organizacionais das

    empresas de radiografia e a opinio dos profissionais da rea, sobre os padres de segurana.

    Utilizou-se como base para relacionar estes aspectos, uma experincia de doze anos na

    atividade, atuando como supervisor de radioproteo e gerente da qualidade.

    No captulo 6, so apresentadas as concluses finais sobre a discusso proposta.

  • 8

    2 Um Panorama Geral sobre Radiografia Industrial

    2.1 Tcnica Radiogrfica

    A radiografia industrial uma tcnica de ensaio no destrutivo para controle da qualidade em

    soldas e materiais fundidos. Permite diagnosticar condies de peas, componentes e/ou

    equipamentos industriais, verificando a existncia de possveis falhas internas ou

    descontinuidades oriundas do processo de fabricao ou desgaste natural sem, com isso,

    destruir o item que est sendo investigado. A tcnica consiste no uso de uma fonte de radiao

    ionizante (normalmente raio x ou radiao gama) que atravessa um material de ao inox ou ao

    carbono, impressionando uma chapa radiogrfica. A figura 2 mostra o princpio fsico utilizado

    para impressionar um filme radiogrfico.

    Figura 2 Princpio Fsico para impressionar filmes radiogrficos

    Fonte: Eastam,1989,p.06.

    As aplicaes da tcnica de radiografia industrial so inmeras, sendo muito utilizada em plos

    industriais e refinarias de petrleo. Pode-se radiografar desde pequenos tubos ou chapas,

    ANODO PONTO FOCAL

    DIAFRAGMA

    DEFEITO

    PEA

    FILME RADIOGRFICO

  • 9

    chamados vulgarmente de corpos de prova, at estruturas de grande porte tais como caldeiras

    e fornos industriais, tanques de armazenamento de combustvel, plataformas continentais, entre

    outros. Tudo depender dos objetivos da aplicao da tcnica.

    A figura 3 mostra a tcnica radiogrfica sendo aplicada para controle de qualidade na estrutura

    de uma aeronave. A operao, apesar de simples, requer um aparato todo de segurana, visto o

    risco de altos nveis de radiao que trabalhadores ou, at mesmo, pessoas do pblico podero

    ficar sujeitos.

    Figura 3 Controle de Qualidade em Aeronaves Fonte: Eastman, 1989, p. 76.

    A atividade de radiografia industrial pode ser realizada por uma empresa especializada em

    tcnicas de ensaios no destrutivos ou, ainda, por empresas de outros ramos, que possuem um

    setor de controle da qualidade e aplicam esta tcnica para efeito de controle de processos

    A diferena entre empresas especializadas, chamadas de prestadoras de servio, e as empresas

    que possuem um setor que trabalha com radiografia merece destaque pois as caractersticas

    operacionais e os requisitos de segurana entre os dois tipos de empresa possuem grau de

    complexidade diferenciado.

  • 10

    No caso de empresas que possuem um setor de radiografia, o produto radiografia no o

    negcio da organizao. Alm disso, realizam as operaes com fontes de radiao em salas ou

    prdios projetados e aprovados junto Comisso Nacional de Energia Nuclear. Esta

    caracterstica, na maioria das situaes, dispensa grande parte do aparato e procedimentos de

    segurana exigidos para a operao segura com as fontes de radiao. J para as empresas

    especializadas, o grau de exigncia aumenta, pois podem operar com fontes de radiao em

    locais projetados e aprovados pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, ou mesmo, prestar

    servios em vias pblicas. Os servios realizados pelas empresas especializadas so feitos,

    normalmente, em reas fsicas abertas de plantas industriais, plos petroqumicos etc. No caso

    de empresas que possuem um setor de controle da qualidade, as exposies de fontes de

    radiao so feitas somente em locais devidamente projetados para esta finalidade. Dessa

    forma, a proteo do pessoas de pblico (pessoas no expostas ocupacionalmente) e do prprio

    meio ambiente tende a aumentar.

    Os servios prestados por empresas especializadas, em vias pblicas, por exemplo, muitas

    vezes so necessrios, pois muitos equipamentos industriais so de grande porte, como por

    exemplo, uma caldeira ou um forno industrial, e no podem ser deslocados para locais

    especficos.

    2.2 Tarefas executadas pelos Profissionais da rea

    Pode-se considerar as tarefas e responsabilidades assumidas pelo profissional de radiografia em

    duas categorias: as atribuies bsicas, estabelecidas pela Norma CNEN NN 6.04

    Funcionamento de Servios de Radiografia Industrial, que so dirigidas mais especificamente

    segurana durante as operaes com fontes de radiao; e as tarefas tcnicas, tais como

    preparao de filmes, montagem da infra-estrutura para o trabalho de campo e revelao de

    clientes, nas obras, e controle de despesas geradas durante o perodo em que realizam trabalhos

    numa certa obra.

    Estas tarefas so realizadas ao longo da jornada de trabalho, salientando-se que, em muitas

    situaes, dependendo das caractersticas do servio, os profissionais podem trabalhar mais de

  • 11

    8 horas. Tudo depender do grau de complexidade do servio e da distncia da localizao da

    obra com relao aos escritrios das empresas de radiografia.

    A execuo do servio em s, inicia-se com a preparao dos equipamentos e materiais para o

    trabalho. A equipe monta os filmes radiogrficos em uma sala com ausncia de iluminao,

    denominada cmara escura, onde tambm so revelados os filmes depois de expostos

    radiao. Enquanto um dos integrantes da equipe realiza esta tarefa, outras providncias devem

    ser tomadas pelos demais integrantes da equipe. Tarefas como verificao das condies de

    funcionamento dos equipamentos, acondicionamento da fonte radioativa no veculo e

    preparao dos documentos legais relacionados segurana, devem ser providenciados.

    Checado os equipamentos, a equipe desloca-se para o local determinado para a realizao do

    servio, e preparam o local para ser irradiado. O transporte de fontes radioativas, por exemplo,

    apesar de ser uma das atribuies bsicas desses profissionais, gera cansao em muitos

    trabalhadores, pois a equipe deve conduzir o veculo que transporta o material radioativo, pois

    o cliente, muitas vezes, no autoriza a estocagem de material radioativo em suas dependncias

    e, na negociao comercial, a definio de um local para estocagem do material no acordada

    adequadamente. Com isso, os trabalhadores devem se submeter a transportar diariamente a

    fonte de radiao, da obra para o escritrio regional e vice versa.

    Aps ter sido estimada a rea de irradiao ela limitada pela montagem do balizamento, com

    cordas ou faixas de sinalizao. Verificado que a rea encontra-se totalmente evacuada, a

    equipe d incio s operaes de exposio da fonte de radiao. Concludo o nmero de

    exposies previstas, a equipe guarda os equipamentos e remove o balizamento da rea,

    retornando ao escritrio regional ou base, para processar a revelao dos filmes e emitir

    laudos radiogrficos. Essas operaes so tpicas de empresas prestadoras de servio, atuando

    projetadas para o uso de fontes de radiao. Nesses casos, o risco de acidentes com

    trabalhadores e pessoas de pblico tende a diminuir significativamente.

    Nas empresas prestadoras de servios de radiografia industrial existem, ainda, tarefas de ltima

    hora, principalmente aquelas relacionadas manuteno de equipamentos ou fontes de

    radiao. Em muitas situaes, profissionais tm que consertar irradiadores ou aparelhos de

    raio X, minutos antes de iniciarem as operaes. As tarefas de ltima hora podem ser

  • 12

    provocadas, tambm, por problemas decorrentes de falhas na administrao das chefias. As

    tarefas desenvolvidas pelos profissionais, durante os servios de radiografia, no so bem

    especificadas pelas empresas prestadoras de servio. Assim, em algumas empresas, tarefas que

    no compem o conjunto de atribuies de um dado profissional, podem ser igualmente

    cobradas pelas chefias gerando, no trabalhador que precisa do emprego, um grande

    descontentamento. Muitos profissionais tm conscincia de que sero cobrados,

    independentemente de uma dada tarefa estar claramente especificada como de sua

    responsabilidade. Assim, procuram realiz-la, mesmo que isso aumente significativamente o

    nmero de horas disposio da empresa, ou horas efetivamente trabalhadas. Contudo,

    observa-se que a tolerncia do trabalhador, com relao a este aspecto, diminui medida em

    que o tempo de experincia aumenta. A sobrecarga no trabalho parece afetar psicologicamente

    os profissionais dessa rea. Em obras muito distantes dos escritrios das empresas, os

    problemas parecem ser ainda maiores, visto que o apoio para aes corretivas imediatas pode

    demorar a se concretizar ou simplesmente no ocorrerem.

    2.3 Programao dos Servios a serem Executados

    A programao dos servios feita pelo gerente de produo ou pessoa por ele designada. A

    rea de produo tem a funo de manter o padro de qualidade tcnica exigido por normas de

    fabricao e montagem de equipamentos industriais. Normalmente a rea de produo fica ao

    encargo de um engenheiro responsvel.

    Quando as obras so de longa durao e afastadas dos escritrios das empresas, tal atribuio

    repassada a um dos trabalhadores (normalmente o mais antigo). Assim, este trabalhador dever

    no somente planejar e executar o servio, como realizar as negociaes cabveis junto ao

    cliente. Nas negociaes, o aspecto chave, em termos de segurana, est relacionado

    montagem da infra-estrutura para as operaes de campo. Dificuldades como a falta de

    iluminao no local, andaimes inseguros, etc podero aumentar significativamente o risco de

    acidentes radiolgicos com trabalhadores. Nessas obras, no h muita rotatividade de

    profissionais. A substituio normalmente ocorre quando o profissional no desempenha suas

    atribuies contento, ou ainda, quando este profissional requisitado para uma obra de mais

    significncia para a empresa de radiografia.

  • 13

    Nos escritrios regionais, por sua vez, a substituio dos integrantes em uma mesma equipe

    constante, pois, na maioria das vezes, os servios so de curta durao. Com isso, muitas

    equipes operacionalizadas a partir dos escritrios regionais podem at mesmo realizar servios

    em dois ou mais clientes, em uma mesma jornada de trabalho.

    O estabelecimento da programao pode ser considerado um dois aspectos chave na atividade.

    O programador deve ter um bom conhecimento, no somente das tcnicas radiogrficas em s,

    mas tambm, de quais os requisitos de segurana devero ser contemplados. A segurana dos

    profissionais recebe influncia direta da forma com que os servios so planejados, visto que a

    adoo de um certo procedimento tcnico poder conflitar com algum procedimento de

    segurana, pondo, assim, em risco, a sade de trabalhadores, ou mesmo, das pessoas do pblico

    presentes nas vizinhanas.

    A vivncia de 12 anos na rea de radiografia industrial permite comentar que, na prtica, o

    setor de produo tende a considerar mais os aspectos ligados produtividade, em detrimento

    daqueles ligados segurana durante as operaes com fontes de radiao. Quando h

    situaes que requerem mais cuidado, a rea de segurana consultada.

    2.4 Horrios e Carga de Trabalho

    Os horrios de trabalho em radiografia industrial normalmente so estabelecidos fora do

    horrio comercial. O manuseio com fontes de radiao deve ser o mais afastado possvel de

    pessoas do pblico devido ao risco em potencial que as fontes impem sade. Em alguns

    casos, onde as espessuras do item analisado relativamente grande (na faixa de 50 mm de

    espessura), h necessidade de operar com fontes de maior atividade ou maior quilovoltagem

    (grandezas fsicas que representam a potncia para fontes de radiao e aparelhos de raio x,

    respectivamente) o que aumenta, ainda mais, os riscos. Porm, isso no regra geral. Existem

    situaes em que, mesmo com este risco, as exposies devem ser realizadas durante o horrio

    comercial. Nesses casos (como por exemplo, em paradas gerais em plantas industriais), a rea

    de segurana radiolgica deve atuar mais intensamente, estabelecendo planos de segurana para

    o local e, se possvel, acompanhar as operaes. O cliente quem normalmente define dia e

    horrio que as equipes devero comparecer no local destinado s exposies.

  • 14

    Apesar dos horrios de trabalho serem de conhecimento dos profissionais de radiografia,

    percebe-se um certo grau de insatisfao desses profissionais com relao aos horrios que so

    estabelecidos. Isso porque no havendo um horrio fixo para o trabalho, muitos profissionais

    no podem agendar compromissos pessoais, pois sabem que a qualquer momento podem ser

    chamados para o trabalho. Como forma de minimizar o problema, as empresas de radiografia

    procuram negociar os horrios de trabalho.

    A jornada normal de trabalho em radiografia compreende quatro horas, conforme estabelece o

    Conselho de Radiologistas. Acima disso, as horas passam a ser contabilizadas como adicionais.

    Assim, o profissional de radiografia, mesmo atuando como operador estagirio (funo

    assumida por profissionais no incio de carreira), poder ter um ganho satisfatrio no final do

    ms, pois dificilmente a equipe opera menos de quatro horas por jornada.

    Como forma de controle de exposies radiao em excesso, a Comisso Nacional de Energia

    Nuclear orienta as empresas de radiografia a no operarem com fontes de radiao mais do que

    8 horas por jornada, em um mesmo local fsico. Isso porque trabalhadores ou pessoas do

    pblico no podem ficar exposto radiao mais de 8 horas por jornada. Considerando-se que,

    para a Comisso Nacional de Energia Nuclear, o tempo de exposio semanal seria de no

    mximo 40 horas, para qualquer uma das categorias citadas anteriormente, caso uma fonte

    ficasse exposta mais de 8 horas, considerando-se 5 dias teis, a dose acumulada anual

    excederia os limites anuais de 50 mSv (50 milisiervet) para trabalhadores e 1 mSv ( 1

    milisiervet) para pessoas do pblico.

    2.5 Perfil dos Profissionais de Atuam na Atividade

    A radiografia industrial um tipo de atividade que apresenta caractersticas muito peculiares.

    Dessa forma, profissionais que no possuam perfil adequado para a atividade tendem a

    permanecer pouco tempo na radiografia.

    O perfil exigido para um profissional operar em radiografia industrial bem definido. A

    atividade de radiografia requer dos profissionais muita resistncia fsica, devendo esse

    profissional gozar de um bom quadro clnico. Alm disso, o profissional deve ser uma pessoa

    com muita iniciativa e versatilidade, pois muitas situaes devem ser resolvidas quase que de

  • 15

    imediato, para que o servio possa ter continuidade, ou mesmo, para que a segurana dos

    prprios profissionais e pessoas do pblico nas proximidades, no venham acser afetadas por

    problemas de acidentes com fontes de radiao.

    Os profissionais que atuam nesta rea devem possuir o primeiro grau para a funo de operador

    ou operador em treinamento, e de segundo grau para responsvel por instalao aberta.

    Normalmente, so treinados pelas prprias empresas, para atuarem em servios de radiografia

    industrial. O treinamento de 80 horas em radioproteo inclui conhecimentos nas reas tcnica

    e de segurana radiolgica. Somente aps serem submetidos a uma prova de qualificao junto

    Comisso Nacional de Energia Nuclear, que estaro autorizados a operar com material

    radioativo. A exceo dada apenas ao operador em fase de treinamento, que poder operar as

    fontes de radiao em atividades prticas que venham a integrar o treinamento como operador.

    Neste caso, o profissional em treinamento somente poder operar a fonte de radiao

    supervisionado pelo responsvel por instalao aberta ou operador qualificado junto CNEN.

    Em funo de caractersticas operacionais, dos locais fsicos a serem radiografados e,

    principalmente, de aspectos legais, os trabalhadores de radiografia so, na sua totalidade, do

    sexo masculino. possvel constatar tal afirmao, consultando o cadastro geral da Comisso

    Nacional de Energia Nuclear (1998), que relaciona os profissionais autorizados a trabalhar em

    radiografia industrial. A atividade de radiografia requer fora muscular para posicionamento de

    peas industriais, o que restringe o trabalho de profissionais do sexo feminino nesta atividade.

    Alm disso, os requisitos normativos da norma CNEN NE 3.01 probem que profissionais do

    sexo feminino, com capacidade reprodutiva, operem em reas controladas (reas sujeitas a altos

    nveis de radiao).

    Como decorrncia das condicionantes citadas anteriormente, as empresas de radiografia

    acabam optando por contratar funcionrios do sexo masculino.

    A contratao desses profissionais se d por indicao de um parente ou amigo que j opera em

    radiografia industrial. Ao serem contratados, devem ser constantemente monitorados, seja com

    relao s doses de radiao recebidas, seja com relao ao quadro clnico de sade do

    profissional. Dessa forma, um dos principais requisitos para os profissionais que se

    candidatarem a operar com radiao apresentar bom estado de sade.

  • 16

    O convvio com os profissionais de rea de radiografia permitiu identificar outras

    caractersticas bastante peculiares. Por exemplo: so geralmente casados, com idades variando

    entre 18 e 45 anos e possuindo de 2 a 4 filhos. Por ser uma atividade muito envolvente, os

    profissionais de radiografia possuem um crculo de amizade bastante restrito e definido.

    Geralmente so colegas de trabalho ou profissionais de reas afins radiografia. Percebe-se

    muito claramente que a maior convivncia com os colegas de trabalho. Como as operaes de

    radiografia devem ser feitas em equipes constitudas por trs pessoas, medida que comeam a

    desenvolver suas tarefas profissionais em uma mesma equipe, muitos trabalhadores passam a se

    identificar um com os outros. A amizade , sem dvida, um aspecto positivo da atividade.

    Porm, pode trazer problemas e dificuldades na programao desses profissionais para o

    trabalho, visto que a identificao pode ocorrer de tal forma, que passam a no querer mais

    trabalhar com outros colegas, que no sejam aqueles de sua equipe.

    Outro aspecto importante que o profissional de radiografia deve contemplar, a disponibilidade

    de viajar e de trabalhar em qualquer turno. Este aspecto considerado principalmente no

    momento da contratao do profissional de radiografia porque, como j comentado

    anteriormente, os horrios de trabalho variam bastante e a probabilidade de servios em outros

    estados ou municpios muito grande.

    Muitas vezes a escolha do profissional para operar em uma obra se d em funo das

    caractersticas fsicas do local, que varia significativamente. Talvez este aspecto contribua

    bastante para a dificuldade existente em manter padres e rotinas de trabalho em patamares

    seguros durante as operaes com fontes de radiao. A seguir, apresentada uma classificao

    dos locais fsicos, muito utilizada em radiografia industrial.

    2.6 Locais para Realizao dos Servios de Radiografia Industrial

    2.6.1 reas Industriais

    Como exemplo de reas industriais podem-se citar: plos petroqumicos, refinarias de petrleo,

    fabricas de papel e celulose, plataformas continentais, estaleiros, entre outros. Os trabalhos

    nestas reas so realizados em locais delimitados fisicamente, onde a fonte de radiao

    exposta, com acesso controlado. Os servios realizados em reas industriais ocorrem,

  • 17

    normalmente, em plantas industriais, ou fbricas, em prdios ou salas projetadas para esta

    finalidade. Este tipo de servio denominado Instalao Fechada. Quando o servio realizado

    em rea abertas, recebe o nome de Instalao Aberta.

    Como j comentado anteriormente, a complexidade e o grau de exigncia em termos de

    segurana maior em reas abertas. Este tipo de servio mais crtico, pois requer mais

    cuidados j que no h barreiras fsicas que blindem a radiao.

    Independente do tipo de servio, as empresas de radiografia devem possuir um plano de

    radioproteo aprovado pela Comisso Nacional de Energia Nuclear. Este documento deve

    descrever todos os requisitos de segurana e a forma de operar com as fontes de radiao, seja

    em operaes normais ou situaes de emergncia.

    2.6.2 Instalaes Fechadas

    Os servios em instalaes fechadas so realizados por dois profissionais de radiografia, sendo

    um deles com qualificao na Comisso Nacional de Energia Nuclear. Este profissional

    chamado de operador qualificado CNEN. O segundo integrante poder ser um operador em

    fase de treinamento, chamado de operador estagirio.

    O controle dos servios, em termos de segurana, deve ser acompanhado pelo supervisor de

    radioproteo, indivduo com nvel superior, qualificado na Comisso Nacional de Energia

    Nuclear, para administrar todos os aspectos de segurana durante o uso, manuseio, estocagem e

    transporte de fontes de radiao. As caractersticas fsicas desse tipo de servios j foram

    comentadas anteriormente.

  • 18

    Figura 4 Fotografia de uma Instalao Fechada.

    2.6.3 Instalaes Abertas

    No caso especfico das instalaes abertas, a operao realizada por trs indivduos, sendo

    dois deles qualificados pela Comisso Nacional de Energia Nuclear. O responsvel por

    instalao aberta (RIA) um profissional com pelo menos o primeiro grau completo, que

    representa o supervisor de radioproteo na obra. Assim, deve acompanhar todas as operaes

    de uso, manuseio e transporte envolvendo as fontes de radiao, devendo acatar as

    determinaes do supervisor de radioproteo. Alm do RIA, existe, ainda, um operador

    qualificado CNEN e um operador estagirio.

    O tipo de servio mais crtico em reas abertas, aquele feito em vias pblicas. Nesse tipo de

    trabalho, alm dos procedimentos e planos usuais de segurana, ainda devem ser estabelecidos,

    pela empresa de radiografia, o chamado PARAE Plano de rea Restrita com Autorizao

    Especfica, que contempla procedimentos tcnicos de segurana, aplicveis especificamente a

    vias pblicas e rea habitadas pela populao. Para servios dessa natureza, uma srie de

    condicionantes e restries so estabelecidas, comeando pela prpria autorizao para incio

    Colocao de Peas

    ENTRADA

  • 19

    dos servios. Esta liberao fornecida pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, aps a

    empresa de radiografia ter atendido todos os requisitos gerais e especficos de segurana.

    Servios em vias pblicas requerem, dos profissionais de radiografia, ateno redobrada e

    muita dedicao, pois muitas dificuldades normalmente encontradas em rea industriais, por

    exemplo, so encontradas nesse tipo de servio. O agravante maior que o apoio da segurana

    industrial, para controle de acesso de pessoas e de veculos nas proximidades do local de

    irradiao, nem sempre existe. Assim, os profissionais, alm de se preocuparem com a

    qualidade do servio e com os requisitos de segurana, devero controlar a rea para que

    pessoas no autorizadas no entrem no local de irradiao. Servios mais complexos requerem

    ajuda, inclusive da defesa civil e da polcia para que possam ser realizados. Em vias pblicas,

    qualquer erro poder gerar acidentes de relativas propores, atingindo, inclusive, pessoas do

    pblico ou o prprio meio ambiente.

    A figura 5 mostra um local classificado como instalao aberta, em uma rea considerada

    industrial, localizada no III Polo Petroqumico de Triunfo, RS. Os itens a serem radiografados

    so as linhas que conduzem produtos qumicos semi-acabados de uma petroqumica de grande

    porte para a refinaria Alberto Pascoalini, situada em Canoas, regio metropolitana de Porto

    Alegre.

    2.6.4 Instalaes Fechadas

    Os servios em instalaes fechadas so realizados por dois profissionais de radiografia, sendo

    um deles com qualificao na Comisso Nacional de Energia Nuclear. Este profissional

    chamado de operador qualificado CNEN. O segundo integrante poder ser um operador em

    fase de treinamento, chamado de operador estagirio.

    O controle dos servios, em termos de segurana, deve ser acompanhado pelo supervisor de

    radioproteo, indivduo com nvel superior, qualificado na Comisso Nacional de Energia

    Nuclear, para administrar todos os aspectos de segurana durante o uso, manuseio, estocagem e

    transporte de fontes de radiao. As caractersticas fsicas desse tipo de servios j foram

    comentadas anteriormente.

  • 20

    Figura 5 Fotografia de uma Instalao Fechada.

    2.6.5 Instalaes Abertas

    No caso especfico das instalaes abertas, a operao realizada por trs indivduos, sendo

    dois deles qualificados pela Comisso Nacional de Energia Nuclear. O responsvel por

    instalao aberta (RIA) um profissional com pelo menos o primeiro grau completo, que

    representa o supervisor de radioproteo na obra. Assim, deve acompanhar todas as operaes

    de uso, manuseio e transporte envolvendo as fontes de radiao, devendo acatar as

    determinaes do supervisor de radioproteo. Alm do RIA, existe, ainda, um operador

    qualificado CNEN e um operador estagirio.

    O tipo de servio mais crtico em reas abertas, aquele feito em vias pblicas. Nesse tipo de

    trabalho, alm dos procedimentos e planos usuais de segurana, ainda devem ser estabelecidos,

    pela empresa de radiografia, o chamado PARAE Plano de rea Restrita com Autorizao

    Especfica, que contempla procedimentos tcnicos de segurana, aplicveis especificamente a

    vias pblicas e rea habitadas pela populao. Para servios dessa natureza, uma srie de

    condicionantes e restries so estabelecidas, comeando pela prpria autorizao para incio

    dos servios. Esta liberao fornecida pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, aps a

    empresa de radiografia ter atendido todos os requisitos gerais e especficos de segurana.

    Colocao de Peas

    ENTRADA

  • 21

    Servios em vias pblicas requerem, dos profissionais de radiografia, ateno redobrada e

    muita dedicao, pois muitas dificuldades normalmente encontradas em rea industriais, por

    exemplo, so encontradas nesse tipo de servio. O agravante maior que o apoio da segurana

    industrial, para controle de acesso de pessoas e de veculos nas proximidades do local de

    irradiao, nem sempre existe. Assim, os profissionais, alm de se preocuparem com a

    qualidade do servio e com os requisitos de segurana, devero controlar a rea para que

    pessoas no autorizadas no entrem no local de irradiao. Servios mais complexos requerem

    ajuda, inclusive da defesa civil e da polcia para que possam ser realizados. Em vias pblicas,

    qualquer erro poder gerar acidentes de relativas propores, atingindo, inclusive, pessoas do

    pblico ou o prprio meio ambiente.

    A figura 5 mostra um local classificado como instalao aberta, em uma rea considerada

    industrial, localizada no III Polo Petroqumico de Triunfo, RS. Os itens a serem radiografados

    so as linhas que conduzem produtos qumicos semi-acabados de uma petroqumica de grande

    porte para a refinaria Alberto Pascoalini, situada em Canoas, regio metropolitana de Porto

    Alegre.

    Figura 6 Linhas de produtos qumicos semi-acabados

    As figuras 6, 7, 8 e 9 mostram reas abertas, situadas em vias pblicas, em Canoas, RS. Estes

    pontos foram selecionados para mostrar caractersticas dos locais que sero irradiados, em

    funo do projeto de interligao da Refinaria Alberto Pascoalini e o III Polo Petroqumico de

    Triunfo, RS. Na figura 6, observa-se uma pequena ruela e uma indstria de transformao do

    lado esquerdo. A linha do gasoduto prevista subterrnea, passando entre a ruela e a indstria

  • 22

    de transformao. Na figura 7, tem-se a linha do metr de superfcie de Porto Alegre. O

    gasoduto passaria por baixo da linha do trem. A figura 8 mostra, ao fundo, a linha do trem

    metropolitano de Porto Alegre. As linhas tracejadas, nas figuras 6, 7 e 8, mostram a direo das

    linhas.

    Figura 7 Fotografia de uma rea classificada como Instalao Abertas (via pblica)

    Municpio de Tramanda, RS

    Figura 8 Fotografia de uma rea classificada como Instalao Aberta (via pblica)

    Municpio de Tramanda, RS

    Tubulaes Subterrneas - Praia

    Linhas subterrneas

  • 23

    Independente de quem define a programao, os locais fsicos de execuo devem ser

    previamente preparados para o trabalho, devendo ser verificados todos os requisitos de

    segurana necessrios para uso da fonte de radiao. A prtica nas operaes de radiografia

    demonstra uma srie de dificuldades para que os trabalhadores possam estabelecer as condies

    ideais para o trabalho. s vezes, por problema de descumprimento de clusulas contratuais

    relacionadas responsabilidade em fornecer a infra estrutura mnima no local. Em outras

    situaes, por problemas de motivao dos profissionais ou gerenciamento dos servios de

    radiografia em si. Isso traz, como decorrncia, srios riscos sade dos trabalhadores de

    radiografia.

    Todos os procedimentos de segurana e cuidados bsicos durante as operaes com fontes de

    radiao relacionam-se ao fato da radiografia industrial promover um risco significativo

    sade do trabalhador., visto que em doses elevadas poder provocar uma srie de doenas ao

    ser humano, tais como cnceres, cataratas, leucemia entre outros. Assim, reservou-se a prxima

    subseo para apresentar consideraes gerais sobre a gerao e a utilizao desse tipo de

    energia em radiografia industrial.

    2.7 Radiao Ionizante

    Em maro de 1896, ano seguinte quele em que o fsico alemo Wilheim Conrad Rentger

    (1845 1923) descobriu os raios x, o fsico francs Antonie Henri Becquerel (1852 1908)

    verificou que sais de urnio emitiam radiaes capazes de produzir sombras de objetos

    metlicos sobre chapas fotogrficas, envoltas em papel preto. O fato que mais impressionou foi

    a espontaneidade das emisses. Essa radiao Becquerel nominou radiao penetrante.

    Para demonstrar que a radiao provinha do prprio urnio, Becquerel trabalhou com muitos

    sais desse elemento. Tudo demonstrava que as radiaes eram proporcionais concentrao de

    urnio. Verificou, ainda, que esta proporcionalidade permanecia inalterada atravs de variaes

    de temperatura, de campos magnticos e eltricos, de presso e at estado qumico.

    Entre os cientistas que mais se interessaram por esta descoberta, destacou-se o casal Curie,

    Pierre (Frana 1859 1906) e Marie Skolodovoska (Polnia 1864 1934), que trabalhavam no

    laboratrio de Becquerel. O casal Curie preocupou-se em verificar se os outros elementos

  • 24

    qumicos emitiam esses raios, cuja denominao radioatividade foi dada pela prpria Marie

    Curie.

    Pierre Curie dedicou-se separao dessa misteriosa substncia radioativa e para tanto

    trabalhou juntamente a sua esposa em condies precrias, durante mais de dois anos, tendo

    analisado algumas toneladas desse minrio. Finalmente, em julho de 1898, obtiveram uma

    pequena quantidade de um composto denominado polnio. Alm do polnio, descobriram e

    separaram, em dezembro de 1898, uma outra substncia radioativa denominada radium.

    Estudos posteriores levaram descoberta de mais elementos radioativos. Mas o que eram esses

    raios emitidos pelos elementos radioativos ?

    Rutherford ajudou a determinar a natureza da radiao colocando uma poro de material

    radioativo dentro de um recipiente de chumbo com um orifcio, na frente do qual estava uma

    placa de sulfeto de zinco. A radiao produz um ponto brilhante na placa, de tamanho

    semelhante ao do orifcio do recipiente. Se um forte im que tambm produzia um campo

    magntico era posicionado perto do orifcio de sada da radiao, acontecia o seguinte

    fenmeno na placa de sulfeto de zinco apareciam trs pontos brilhantes, o que indicava que o

    feixe original dividia-se em outros trs, que foram denominados de alfa ( ) , beta ( ) e gama ( ). Pesquisas posteriores mostravam que as partculas alfa estavam carregadas positivamente, as

    partculas beta negativamente e que eram muito mais leves dos que as alfas. Os raios que no

    eram desviados da sua trajetria original, ou raios gama, no eram carregados e tinham as

    mesmas caractersticas dos raio x. Uma srie de experimentos determinaram que as partculas

    eram emitidas a altas velocidades, o que demonstra que uma grande quantidade de energia

    estava armazenada no tomo.

    Portanto, de uma maneira geral, pode-se dizer que a radioatividade a transformao

    espontnea no ncleo atmico de um nucldeo (nome usado para designar um ncleo instvel,

    ou radioativo) para outro. Cada ncleo, em processo de transformao, emite um ou mais tipos

    de radiaes cuja natureza ou naturezas so caractersticas das transformaes do ncleo pai.

    Em certos casos, o resultante ou nucldeo filho tambm radioativo.

  • 25

    Os tomos radioativos apresentam uma grandeza fsica que caracteriza o tempo necessrio para

    que certa quantidade de tomos radioativos se reduza metade. Esta grandeza se denomina

    meia vida .

    2.7.1 Radiao Gama

    Em muitos casos, aps a emisso da partcula pelo ncleo, o processo radioativo se completa;

    mas em outros, o ncleo filho ainda contm uma certa quantidade de energia e permanece

    excitado. Os ncleos formados em tais estados excitados podem emitir o excesso de energia

    na forma de ftons (pequenos pacotes de energia) chamados raio gama, que apesar de se

    originarem do ncleo, so de natureza eletromagntica como luz, ondas de rdio, etc.

    A reao nuclear a seguir representa a emisso de pacotes de energia- ftons gama (), pelo cobalto-60, produzindo nquel-60. Esta reao mostra, quimicamente, como os ftons da

    radiao gama so emitidos.

    60 Co 27 -> 60 Ni 28 + 0 e 1 + Onde,

    60 Co 27 o cobalto 60.

    60 Ni 28 nquel 60.

    0 e 1 representa a emisso de um eltron.

    representa a emisso da radiao gama. Os raios gama emitidos pelos ncleos radioativos tm energias bem definidas correspondentes

    diferena entre nveis energticos de transio dos mesmos, ou seja, um nucldeo pode passar

    de um nvel energtico para outro, ou a seu estado fundamental (estado mnimo de energia)

    emitindo um ou mais raios gama.

    Os raios gama so ondas eletromagnticas que no so desviadas por campos magnticos, nem

    eltricos. So similares em todas as suas propriedades fsicas aos raios x. A diferena

    fundamental consiste nos raios x se originarem nas rbitas eletrnicas mais externas do

    ncleo, enquanto que os raios gama so emitidos como resultado de uma recombinao

    espontnea dentro do ncleo. A energia dos raios gama emitidos pelos diferentes nucldeos

  • 26

    podem variar de 0,03 a 3 MeV (ver nota 1). Os raios x so da mesma natureza da luz visvel,

    mas possuem um comprimento de onda muito menor.

    2.7.1.1 Lei da Desintegrao Radioativa

    Toda desintegrao radioativa envolve a emisso ou de uma partcula ou de uma partcula do ncleo do tomo que se desintegra. Essa emisso ocasiona a modificao do ncleo original

    e, portanto, o nmero de tomos do elemento que se desintegra (pai) reduzido e

    consequentemente aumenta o nmero de tomos do elemento produto da desintegrao. O

    processo de desintegrao s pode ser discutido no campo probabilstico.

    Nota 1: MeV corresponde mega eltron-volt, unidade de energia e 1 MeV = 1,602 . 10-13 J

    Suponha que em um instante qualquer t = 0, tenha-se No tomos radioativos. Chama-se de a probabilidade para que um deles se desintegre na unidade de tempo. Em um instante t > t0 ,

    tem-se N tomos radioativos. Portanto, o nmero provvel de tomos que se desintegrar na

    unidade de tempo ser: .N.

    Como cada desintegrao reduz o nmero N, pode-se tambm representar o nmero de

    desintegraes por unidade de tempo por - dN/dt. O sinal negativo significa que N decresce

    com o tempo. O quociente acima tambm chamado de atividade. Portanto tem-se

    - dN / dt = .N

    ou

    dN / dt = - .N

    Integrando a expresso dN/dt, no intervalo de No e N, tem-se:

    N = No . e - . t (1)

    Onde:

    No o nmero de tomos no instante inicial,

    N o nmero de tomos decorrido um tempo t,

    a constante de desintegrao radioativa, caracterstica do elemento qumico,

  • 27

    t o tempo transcorrido.

    Se dN/dt corresponde a N e esta ltima expresso corresponde atividade da amostra radioativa, tem-se:

    A = Ao . e - . t (2)

    Onde,

    A a atividade aps transcorrido o tempo ( t ), dado em Ci (Curie) ou Bq ( Becquerel);

    Ao a atividade inicial da amostra, ou seja, no momento em que o material radioativo foi

    produzido, em Ci ou Bq;

    a constante de desintegrao radioativa, caracterstica do radioistopo, podendo ser calculada por:

    = ln 2 / T1/2 ( 3) onde:

    T1/2 a meia vida fsica do elemento radioativo.

    O grfico da figura 9 representa o decaimento de uma amostra radioativa.

    Figura 9 Decaimento Radioativo

    Atividade (Ci)

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

    tempo ( em dias )

    Ativ

    idad

    e ( C

    urie

    )

  • 28

    2.7.1.2 Atividade de uma Amostra Radioativa (A)

    A atividade uma grandeza fsica que fornece informaes sobre a intensidade de radiao

    ionizante de uma certa fonte radioativa. Assim, quanto maior seu valor, mais potente ser a

    fonte de radiao.

    As unidades de medida muito utilizadas em radiografia industrial so o Curie (Ci) e o Bq (

    Becquerel). O Becquerel a unidade do sistema internacional. A converso de uma unidade

    para outra se d atravs da seguinte expresso:

    1 Ci = 3,7.1010 Bq

    2.7.1.3 Meia Vida Fsica ( T1/2)

    A meia vida fsica representa o tempo necessrio para que uma amostra radioativa reduza sua

    atividade metade. O irdio-192 I(r-192), um dos radioistopos muito utilizados, tem meia-

    vida fsica de aproximadamente 74 dias, ou seja, a amostra radioativa leva 74 dias ara que sua

    atividade se reduza 50 %. O cobalto-60 (Co-60), por exemplo, tem meia-vida fsica de 5,24

    anos.

    2.7.2 Radiao X

    Os raios x diferem dos raios gama fundamentalmente em funo da sua origem. Os raios gama

    so resultados da instabilidade nuclear de um dado material radiativo. A emisso dos raios x,

    por sua vez, advm de saltos eletrnicos na eletrosfera do tomo. Os eltrons saltam de

    camadas eletrnicas mais externas para camadas energticas prximas do ncleo. Eles so

    resultados de excessos energticos ocorridos nos saltos eletrnicos.

    Em radiografia industrial, os raios x so produzidos atravs de um tubo de raio x. Basicamente,

    o tubo de raio x consiste de um tubo de vidro onde se encontram o nodo (eletrodo positivo) e o

    ctodo (eletrodo negativo), filamento e alvo, conforme mostra a figura 10.

  • 29

    Figura 10 Princpio Fsico de Produo de Raio X - Esquema Simplificado Fonte: livro Agfa NDT,p.29.

    Os raios x so produzidos quando eltrons de alta energia so subitamente desacelerados; parte

    de sua energia convertida em raios x.

    O primeiro passo para produzir raios x consta em aquecer o filamento por efeito termoinico

    produzindo eltrons livres. A produo desses eltrons feita termoionicamente atravs de uma

    corrente eltrica de intensidade que passa pelo filamento.

    No tubo produzido vcuo tanto quanto possvel e com isso os eltrons praticamente no

    perdem energia no seu caminho.

    Quando uma diferena de potencial aplicada sobre os eletrodos, os eltrons produzidos so

    repelidos do eletrodo negativo e atrado para o alvo onde sero bruscamente desacelerados.

    A energia desses eltrons ser dada pelo produto de sua carga pela voltagem aplicada.

    E = e. V ( 4)

    Onde:

    E a energia,

    e.= a carga elementar do eltron = 1,6 .10-19 C

  • 30

    V = diferena de potencial.

    A energia dos eltrons (energia cintica) ser transferida ao alvo (ou nodo) e convertida em

    outras formas de energia, inclusive raios x.

    Na maioria dos casos, quando eltrons se aproximam dos tomos do alvo, existe uma repulso

    entre os eltrons e a nuvem eletrnica do alvo. Nesse tipo de interao, os eltrons so

    desviados de sua trajetria e perdem energia por ionizao e calor.

    A voltagem aplicada da ordem de quilovolts e a corrente de eltrons no tubo da ordem de

    miliampres.

    Esquematizando-se os tomos de um alvo e os possveis tipos de interao que os eltrons

    podem sofrer, tm-se:

    - o eltron sofre trs deflexes, produzindo ionizaes e calor, e uma interao onde produz

    um fton x;

    - neste caso, o eltron sofre deflexes, produzindo ionizaes e calor e uma interao onde

    produz um fton x;

    - acontecimento raro: eltron perde toda a sua energia numa simples coliso, produzindo um

    fton x de mxima energia tm-se:

    e.V = h = h c / (5) onde,

    e a carga elementar de um eltron = 1,6.10-19 C;

    V a diferena de potencial;

    h a constante de Planck = 6,63.10-34 J.s;

    c a velocidade da luz = 3,00.108 m / s;

    ser o comprimento de onda mnimo dos raios x, o que corresponde energia mxima: substituindo os valores das constantes, na equao 5,tm-se:

  • 31

    min = 12,4 / kV expresso em Angstrons - o eltron produz uma srie de ionizaes, cada uma produzindo calor conforme mostra a

    tabela 1, a seguir:

    Tabela 1 - Produo de Raio X

    Voltagem de Operao % de calor % de raios x

    60 kV 99,5 0,5

    200 kV 99,0 1,0

    4 MV 60,0 40,0

    20 MV 30,0 70,0

    Fonte: ABENDE, 1989, p.44.

    O gerador de eltrons (filamento) de um tubo de raios x normalmente feito de tungstnio que,

    como j foi dito, termoionicamente libera eltrons. feito desse material dado ao seu alto

    ponto de fuso (3380 o C). Este gerador de eltrons, ou filamento, deve ficar inserido dentro da

    ampola pois, exposto ao ar, oxida-se. Pela razo de grande produo de calor no alvo, ele deve

    ser constitudo de um material de ponto de fuso alto e capaz de ceder calor rapidamente.

    Os eltrons acelerados quando atingem o alvo, transferem sua energia para o material alvo por

    meio de diversos mecanismos. Quando a energia dos eltrons suficientemente elevada, eles

    podem interagir com eltrons orbitais dos tomos do elemento alvo (figura10).

    Quando eltrons do feixe ou ftons produzidos no alvo removem eltrons das camadas internas

    dos tomos do alvo, haver uma ionizao e estes tomos ionizados voltam ao seu estado

    normal, preenchendo a vaga criada pelo eltron ejetado, com eltrons mais externos e assim por

    diante, at que todas as vagas sejam preenchidas.

    Acompanhando este rearranjo, aparece a emisso de radiao caracterstica, ou seja, a emisso

    de raio x caractersticos do elemento alvo.

  • 32

    Outro mecanismo de transferncia de energia dos eltrons acelerados para o alvo, consiste na

    interao inelstica entre os eltrons e os ncleos do alvo.

    Dada a desacelerao experimentada pelos eltrons, liberam-se raio x de desacelerao ou

    Bremsstrahlung. Como os eltrons podem passar perto ou no dos ncleos dos tomos do

    alvo, a radiao eletromagntica, ou seja, raio x, produzida, poder assumir qualquer valor

    desde quase zero at um valor mximo dado pela energia de acelerao dos eltrons.

    Portanto, tem-se um espectro contnuo de raios x chamado espectro limpo ou branco de raios x.

    Estes raios x possuem um poder de penetrao muito maior do que o do raio x caracterstico,

    pela maior energia.

    O entendimento com relao forma de emisso da radiao x e gama importante para que

    seja possvel entender algumas das caractersticas fsicas dos equipamentos emissores. O

    primeiro a ser descrito so os chamados irradiadores.

    2.8 Equipamentos Geradores de Radiao Ionizante

    Em radiografia industrial, utiliza-se basicamente dois tipos de equipamentos para o trabalho: os

    irradiadores e os aparelhos de raio x. O primeiro vale-se da emisso de radiao gama para

    impressionar o filmes radiogrfico e produzir a imagem. Os aparelhos de raio x valem-se da

    radiao x para obter o mesmo resultado. A aplicao de um ou outro equipamento depender

    das caractersticas do servio. Por exemplo, quando se quer um filme radiogrfico com melhor

    qualidade de imagem, utiliza-se a radiao x. Porm, a utilizao desse equipamento depender

    de existir, ou no, uma rede eltrica local. Alm disso, para aplicao de altas quilovoltagens

    (potncia do equipamento), os aparelhos so grandes, o que inviabiliza o manuseio do mesmo,

    durante o servio. Assim, opta-se pelos irradiadores, que so menores e mais prticos de

    trabalhar, pois no requerem a rede eltrica como fonte de energia, apesar de no produzir

    qualidade de imagem to boa quanto os aparelhos de raios x.

    A seguir, feita uma breve caracterizao dos equipamentos utilizados. Porm, antes de

    especificar melhor as caractersticas fsicas dos equipamentos fornecido uma apresentao

    sobre a gerao da radiao gama e dos raio x.

  • 33

    2.8.1 Irradiadores

    Os irradiadores so equipamentos que possuem, em seu interior, material radioativo capaz de

    emitir constantemente radiao gama. Em radiografia convencional, utiliza-se, mais

    freqentemente, radioistopos como irdio-192, cobalto-60. O material radioativo um

    elemento qumico, que, em funo de instabilidades nucleares, emite radiao ionizante. O

    material radioativo fica confinado no interior de um canal, que possui duas aberturas, sendo

    uma anterior, onde encontram-se os dispositivos mecnicos de segurana, e uma posterior, por

    onde o material radioativo retirado para iniciar uma exposio. Alm de conter os sistemas de

    travamento e fechamento do irradiador, a abertura anterior conectada a um par de mangueiras

    de aproximadamente 9 metros de comprimento. As mangueiras constituem o sistema de

    acionamento do equipamento e conseqente retirada da fonte radioativa, denominado de

    comando. Em uma das extremidade da mangueira, existe uma caixa contendo, em seu interior,

    uma roda dentada, por onde passa um cabo de ao em espiral. Este cabo tem um comprimento

    de aproximadamente 15 metros, e corre pelo interior das mangueiras conectadas caixa

    contendo a roda dentada. O cabo de ao possui, em uma das extremidades, um sistema de

    engate para conexo com a fonte radioativa, que encontra-se no interior do canal do irradiador,

    com apenas o engate para fora. Uma das mangueiras, na outra extremidade, que conecta-se ao

    irradiador, possui um sistema de acoplamento para que o cabo de ao possa percorrer o interior

    do irradiador de maneira segura, sem que haja qualquer tipo de dobramento do mesmo.

    Na parte posterior do irradiador, tem-se um outro sistema de acoplamento, utilizado para

    interligar o irradiador a uma mangueira, com alma de ao, denominada de tubo guia frontal.

    Esta mangueira tem um comprimento mdio de dois metros. Em uma das extremidades, existe

    um sistema de acoplamento para engatar no irradiador. Na outra, existe um tampa terminal,

    denominado bico do tubo guia, que impossibilita que o torpedo contendo o material

    radioativo saia para fora do tubo guia.

    J o material radioativo est colocado dentro de uma cpsula hermeticamente fechada, que

    possui, em uma das extremidades, um cabo flexvel, igual ao cabo de 15 metros do comando.

    Na extremidade livre do cabo flexvel do torpedo da fonte, existe um engate para interligar o

    cabo de ao do comando com a fonte. Aps montado o equipamento de irradiador, o conjunto

  • 34

    cabo de ao-torpedo acionado por meio de uma manivela localizada na caixa do comando

    contendo a roda dentada.

    O irradiador ainda possui um sistema de blindagem contra radiao feito, normalmente, de

    urnio exaurido que atua como excelente blindagem contra radiao. A estrutura do irradiador

    se assemelha a uma maleta ou cilindro que possui um canal em S .

    Diz-se que a fonte est na posio de segurana quando est alojada no interior do irradiador. A

    posio de exposio quando a fonte encontra-se no final do tubo guia (parte interna ).

    Os irradiadores mais usados em radiografia possuem uma massa equivalente 50 kg sendo

    considerados, dentro da categoria dos irradiadores, equipamentos portteis. A figura 11 mostra

    um irradiador porttil. A extremidade que possui uma chave corresponde ao sistema de

    travamento do equipamento. O material radioativo fica alojado no corpo do irradiador (que

    possui um formato de uma lata de tinta). A extremidade oposta quela que possui a chave

    corresponde ao dispositivo para conexo no comando do irradiador, apresentado na figura 12.

    Figura 11 Irradiador Porttil

    A figura 12 apresenta os acessrios que so acoplados ao irradiador, no momento da operao.

    O par de mangueiras de cor amarela chama-se comando do irradiador. O cabo de ao flexvel

    corre no interior das mangueiras, passando por uma roda dentada localizada no interior da caixa

  • 35

    que possui uma manivela. A mangueira menor o tubo guia frontal. Esta mangueira acoplada

    na parte frontal do irradiador (a parte que no contm a chave, conforme mostra a figura 12).

    FIGURA 12 Acessrios de um Irradiador Porttil.

    2.8.2 Aparelho de Raio X Outro equipamento, muito utilizado em radiografia, o aparelho de raio X industrial ( figura

    13). A utilizao desse equipamento ocorre em locais que possuem rede eltrica disponvel,

    pois seu sistema de alimentao eltrico. Assim, o uso do aparelho de raio X ocorre,

    normalmente, em instalaes fechadas.

    FIGURA 13 Aparelho de raio X Fonte catlogo Philips GmbH.

    A potncia do aparelho de raio X de acordo com a espessura do item a ser inspecionado. Em

    peas de pequenas espessuras, por exemplo, utiliza-se aparelhos de pequeno porte (125kV). J

    para espessuras maiores, aparelhos de maior quilovoltagem.

    O aparelho de raio X industrial composto basicamente de uma ampola ( onde so

    produzidos os raios X), um transformador e um sistema de refrigerao no corpo do

  • 36

    equipamento. Alm disso, possuem cabos de alta tenso e um painel de controle (onde esto

    localizados os botes de controle da intensidade de corrente eltrica, quilovoltagem e o

    controlador de tempo de exposio necessrio para obter a imagem radiogrfica no filme).

    Tanto os irradiadores quanto os aparelhos de raio X requerem um sistema de controle da

    qualidade bastante complexo. Muitos testes e verificaes devem ser feitos para garantir

    exposies de trabalhadores radiao, dentro dos limites de dose permissveis.

    A seo apresentada a seguir mostra as principais grandezas fsicas associadas ao trabalho com

    radiao ionizante. Em seguida, so abordados aspectos ligados aos possveis danos causados

    sade dos profissionais ou pessoas que venham a ser irradiadas, com doses acima dos limites

    autorizados pelas autoridades competentes no assunto.

    2.9 Medidas da Radiao A deteco da radiao no pode ser feita atravs dos rgos de sentido do ser humano. A

    identificao da presena da radiao em um local somente pode ser feita, utilizando-se

    dispositivos e equipamentos especiais chamados de monitores de radiao. Antes de ser

    abordada a forma de deteco, so apresentadas, nesta seo, as principais grandezas fsicas

    associadas radiao ionizante. A caracterizao dessas grandezas facilita o entendimento da

    forma de deteco desse tipo de energia eletromagntica.

    2.9.1 Grandezas Fsicas Associadas

    2.9.1.1 Exposio (X)

    A exposio corresponde relao entre a soma das cargas produzidas (em funo dos

    processos de ionizao das molculas de ar) e a massa de um volume elementar. A exposio

    pode ser calculada atravs da seguintes frmula.

    X = Q / M (6) Onde,

    Q a quantidade de carga eltrica (em C, Coulomb); M a massa de um volume elementar de ar ( em kg, quilograma); A exposio radiao medida em (C/kg). Alm dessa unidade, a exposio pode ser medida

    em R (Rentger). A converso entre as unidades dada por:

    1 R = 2,58 . 10 4 C/kg.

  • 37

    A exposio mede a radiao no ar, sendo utilizada para o estabelecimento de minutos

    programas de monitorao de locais onde existam fontes de radiao. A medida da radiao no

    ambiente de crucial importncia em radiografia, pois, na maioria das situaes de emergncia,

    as doses elevadas que profissionais recebem podem minimizadas se a taxa de exposio no

    local for rapidamente detectada, e as aes corretivas aplicadas conforme prescreve os

    procedimentos de segurana recomendados. Para ,medir a radiao no ambiente, utiliza-se

    instrumentos chamados de monitores de rea, podendo ser tipo porttil (Geiger Mller) ou

    fixos. Este ltimo instrumento pode ser instalado em locais de estocagem de material

    radioativo, ou mesmo em instalaes projetadas para operar com fontes de radiao

    (instalaes fechadas).

    2.9.1.2 Dose Absorvida (D)

    A dose absorvida corresponde relao entre a energia transferida matria e a massa de um

    volume elementar. A dose absorvida pode ser calculada atravs da seguinte frmula.

    D = E / M (7) Onde,

    E a energia transferida matria (em J, Joule); M a massa de um volume elementar de ar ( em kg, quilograma); A dose absorvida medida em Gy (Gray), sendo que Gray representa a relao e entre as

    unidades Joule e quilograma (J/kg). Utiliza-se a grandeza dose absorvida para avaliar a dose

    absorvida pela matria. Empresas especializadas em dosimetria (leitura de doses da radiao),

    valem-se dessa grandeza para estimar as doses mensais de radiao, recebidas por profissionais

    expostos ocupacionalmente a ela. Alm da unidade Gy, a dose absorvida pode ser medida em

    rad (radiation absorved dose). A converso de uma unidade para a outra dada atravs da

    seguinte relao:

    1 rad = 10-2 Gy

    2.9.1.3. Dose equivalente (H) A dose equivalente corresponde ao produto entre a dose absorvida e os fatores de qualidade e

    de modificao relacionados ao tipo de radiao. Estes fatores so obtidos experimentalmente e

  • 38

    representam o dano da radiao ionizante no tecido humano. A dose equivalente definida da

    seguinte forma:

    H = DQN (8) Onde,

    D a dose absorvida (em rad ou Gy);

    Q.N o produto entre os fatores de qualidade e modificao relacionados ao tipo de radiao.

    Assim, tem-se para radiao x e gama, o produto N.Q igual 1. Isso significa que se a dose

    absorvida de um profissional exposto ocupacionalmente radiao x ou gama com 0,5 rad, a

    dose equivalente desse trabalhador ser de o,5 rem. Se ao invs de trabalhar com gama ou x,

    operar fontes que emitem radiao alfa, o valor do produto N.Q muda para 20.

    Portanto, nesse caso, sua dose ser de 10 rem. A dose equivalente tambm poder ser avaliada

    em Sievert (Sv), unidade do sistema internacional de unidades. A relao de converso entre as

    unidades dada da seguinte forma:

    1 rem = 10-2 Sv

    2.9.2 Equipamentos para Deteco da Radiao. Talvez um dos principais aspectos ligados segurana dos profissionais em radiografia

    industrial seja o adequado controle dos nveis de radiao presentes no local de trabalho. Dessa

    forma, os equipamentos de deteco passam a assumir um papel de crucial importncia durante

    operaes de manuseio com fontes de radiao.

    A radiao ionizante tem a propriedade de ionizar, ou seja, arrancar eltrons dos tomos que

    constituem as molculas da matria. Valendo-se dessa propriedade, os equipamentos para

    deteco, como o caso dos medidores portteis (Detetores Geiger Mller) possuem no seu

    interior, uma cmara de gs contendo um gs cujas propriedades fsicas e qumicas so

    conhecidas.

    Alm do gs, essa cmara de gs apresenta dois eletrodos (um negativo e outro positivo). Esses

    eletrodos esto conectados, por meio de fios, a um sistema de contagem de partculas, que

    possui um mostrador (digital ou analgico). O princpio de deteco funciona da seguinte

    forma: a radiao, representada pela letra grega (figura 14), entra na cmara de gs, ionizando molculas de um gs previamente conhecido, produzindo pares (molcula ionizada e eltron

    liberado). A molcula de gs possui carga positiva, enquanto o eltron, carga negativa.

  • 39

    Assim, as molculas ionizadas so coletadas pelo ctodo (-), sob ao da fora eletrosttica,

    estabelecendo uma corrente eltrica, detectada pelo sistema de contagem, (representada na

    figura 14, pela seta inscrita no crculo).

    Figura 14 Esquema de um detetor gasoso

    Fonte: Bitelli, 1982, p.124.

    O princpio de deteco, mostrado na figura 14, fundamenta o sistema de funcionamento de

    quase todos os equipamentos para deteco da radiao. Em radiografia industrial, utiliza-se

    muito os medidores portteis tipo geiger-mller, monitores individuais de leitura indireta

    (dosmetros), monitores individuais de leitura direta (caneta dosimtrica) e, ainda, os

    sinalizadores sonoros.

    A seguir so fornecidas as principais caractersticas desses instrumentos de medida.

    2.9.2.1 Detetores Geiger-Muller.

    o mais popular dos detetores de radiao, sendo usado na identificao de partculas alfa,

    beta, gama e raio X.

    O detetor Geiger-Muller um tubo metlico ou uma ampola de vcuo, vedado lateralmente ou

    em uma das suas extremidades por uma pelcula delgada, geralmente de mica denominada de

    janela . No int