cad erno pedagogic o 92010

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    CADERNO

    PEDAGÓGICO

    Reflexões Pedagógicas sobre as Questões Étnico-Raciais

    Parâmetros para inclusão de

    “HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA,

    AFRICANA E INDÍGENA” no Currículo Escolar

    Implementação das Leis Federais N° 10.639/03 e

    11.645/08

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    APRESENTAÇÃO

    Desde o ano de 2006, a Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio vem

    desenvolvendo ações concretas no sentido de implementar políticas educacionais visando o

    cumprimento da Lei 10.639/03, e, mais recentemente, da 11.645/08. Estas ações têm como

    principal objetivo promover a sensibilização e formação dos profissionais de educação da

    Rede Municipal de Ensino, no que tange ao resgate da história, memória e cultura dos nossos

    ancestrais, os africanos e indígenas.

    Este Caderno Pedagógico é o segundo que aborda a História e Cultura Afro-

    Brasileira e Africana, e é um importante recurso que pretende facilitar a vida do professor,

    oferecendo-lhes informações, sugestões de atividades práticas e experiências sobre o tema.

    Desta forma, fica clara a intenção da SEME, que é a de trabalhar ao encontro do que

    diz o texto da Lei e o parecer que a normatiza. Oferecendo formação continuada, material

    didático e apoio pedagógico a todos que compõem o quadro de professores do município,

    espera-se contribuir para a diminuição do racismo no país.

    Cabo Frio / março / 2011

    Laura Porto Guimarães Barreto Laura Porto Guimarães Barreto Laura Porto Guimarães Barreto Laura Porto Guimarães Barreto  

    Secretária Municipal de Educação

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    SUMÁRIO

    Introdução...............................................................................................................................

    África, berço da humanidade................................................................................................

    África, um continente desconhecido.....................................................................................

    A escravidão............................................................................................................................

    A religiosidade negra..............................................................................................................

    África: da colonização à descolonização...............................................................................

    Baobá, árvore símbolo............................................................................................................

    Geografia Africana..................................................................................................................

    Os recursos...............................................................................................................................

    Quilombos no Brasil ...............................................................................................................

    As alforrias...............................................................................................................................

    Revoltas e resistência...............................................................................................................

    A África contemporânea........................................................................................................

    Valores civilizatórios afro-brasileiros...................................................................................

    Atividades................................................................................................................................

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    INTRODUÇÃO

    As Leis Federais Nº. 10.639/03 e 11.645/09 alteraram as diretrizes e bases daeducação nacional fixadas pela Lei Nº. 9.394/02 ao tornar obrigatório o ensino de História e

    Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena no Ensino Fundamental e no Ensino Médio emtodos os sistemas de ensino. Considerando que a implementação das leis tem por objetivoeliminar discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistemaeducacional brasileiro, é necessário que haja na unidade de ensino uma discussão permanentesobre os temas, para que as questões étnico-raciais façam parte da prática pedagógica denossos alunos, professores, demais funcionários e responsáveis.

    A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana eIndígena nos currículos de Educação Básica trata-se de decisão política, com fortesrepercussões pedagógicas, inclusive na formação de professores. É preciso valorizardevidamente a história e a cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem hácinco séculos, fortificando sua identidade e discutindo seus direitos. A relevância do estudo detemas decorrentes da história e da cultura afro-brasileira, africana e indígena, não se restringe

    aos negros e índios; ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros, uma vez que devemeducar-se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma sociedade multicultural e pluriétnica,capazes de construir uma nação mais justa, igualitária e democrática.

    A Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio tem assegurado aos professores daRede Municipal deste município, possibilidades e o direito de estarem se aperfeiçoando,construindo novos conceitos e desenvolvendo novas competências. Aproximar ainda mais asquestões étnico-raciais do universo escolar é uma missão nossa. Por isso, intensificamos asvisitas às escolas, promovemos oficinas, participamos de reuniões pedagógicas, conversamoscom nossos profissionais de educação.

    Este Caderno Pedagógico tem como principal objetivo promover maioresesclarecimentos a cerca destes temas, mostrando caminhos e oferecendo embasamentoteórico/metodológico aos professores e equipe técnica da Rede Municipal de Ensino de Cabo

    Frio. Vem preencher uma lacuna importante, uma vez que procura resgatar a história do povoafricano e afro-descendente, sua contribuição na cultura e na formação do povo brasileiro.

    É fundamental entendermos que a questão racial perpassa situações encontrados nodia a dia de nossas escolas, da vida dos nossos professores e do nosso alunado, bem como desuas famílias, e, que somente através do estudo, da ciência, é que o indivíduo conseguelibertar-se de antigos conceitos preconcebidos, naturalmente gerados no ambiente sócio-familiar. O conhecimento tem a função de esclarecer o homem, contribuindo para que umanova sociedade surja, mais esclarecida, humanitária, tolerante, enfim, livre de preconceitos.

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     África, berço da Humanidade

    Fonte: Revista Ciência Hoje das Crianças ano 19 / nº168/ Maio de 2006

    Se alguém disser a você que o homem veio do macaco, não dê ouvido. Por umarazão muito simples: não é verdade. O homem não descende do macaco. Os seres humanosatuais e os macacos, na realidade, têm parentes em comum no passado distante, assim comonós temos parentes em comum com os outros mamíferos, com os outros vertebrados. Somostodos parentes, porque temos características em comum.

    Acontece que, de todas as criaturas do mundo, nós temos muito mais em comumcom os primatas, o grupo de mamíferos que inclui, além dos seres humanos, os macacos. Isso,porém, não significa que nós sejamos descendentes dos macacos, como você descende dosseus pais, que descendem dos seus avós... Na verdade, isso quer dizer que, em algummomento no passado, os seres humanos e os macacos tiveram um ancestral em comum. Esseancestral deu origem, de um lado, aos grupos que originaram os seres humanos atuais e, deoutro, aos grupos que originaram os macacos de hoje em dia. Essa divisão em dois grupos,segundo os dados disponíveis atualmente, deve ter ocorrido há cerca de sete milhões de anos.E sabe onde ele deve ter ocorrido? Na África. Podemos afirmar isso, em primeiro lugar,

    porque os fósseis mais antigos de primatas do planeta foram achados no continente africano.Em segundo lugar, porque também foi lá que apareceram os primeiros primatas bípedes, ouseja, que andam sobre duas pernas. Essas criaturas são os nossos parentes mais antigos.Alguns grupos de primatas bípedes se extinguiram, mas outros sobreviveram. É desses gruposque surge, graças a mudanças evolutivas, a espécie humana atual: o Homo Sapiens.

    Assim, a África é considerada o berço da humanidade. Não só porque aí encontramosos vestígios dos nossos parentes mais antigos, mas, também, porque é lá que surge a nossaespécie, os primeiros seres humanos como nós. A diferença é que eles aparecem bem depoisdos primeiros primatas bípedes: há cerca de 200 mil anos.

    Nossos antigos parentes

    Entre quatro milhões de anos e dois milhões de anos atrás, viviam na África osaustralopitecíneos: primatas bípedes, pequenos, todos com o cérebro mais ou menos domesmo tamanho, bem menor do que o do homem atual. Essas criaturas se dividiam em cercade oito espécies. As pesquisas indicam que uma delas é justamente o nosso parente distantemais representativo: trata-se do Australopithecus afarensis, também conhecido como Lucy.

    Ao contrário de espécies como Australopithecus boisei ou Australopithecus robustus– que eram mais robustos em termos físicos e comiam folhas e galhos de plantas -, oAustralopithecus afarensis tinha uma estrutura óssea mais delicada e a capacidade de comerfolhas e frutos, além da carne de outros animais.

    Na época em que os australopitecíneos viveram, porém, uma grande mudançaambiental estava em curso na África. Em função de mudanças climáticas em todo o planeta, oclima do continente africano estava ficando muito seco, diminuindo a quantidade de florestas,

    uma vez que as árvores precisam de muita água para sobreviver.Nesse ambiente mais árido, em que há poucas árvores e pouca água, a disputas pelosrecursos naturais é muito grande. Muitas espécies morrem, porque não encontram comida. Asespécies que conseguem se adaptar com menos alimentos ou ampliando a sua dieta vãosobrevivendo. E as que não se adaptam com menos comida disponível têm de procuraralternativas ou irão desaparecer. Aquelas que são mais flexíveis têm mais chance desobrevivência.

    Foi o que aconteceu com os australopitecíneos. A maioria deles acabou seextinguindo, como é o caso do Australopithecus robustus e do Australopithecus boisei, por

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    conta da sua alimentação muito restrita. Algo que não ocorreu, porém, com Lucy e seusparentes. Com sua dieta mais variada, eles puderam sobreviver e deixar descendentes.

    Assim sendo, os ancestrais do homem atual são os australopitecíneos que descendemdo Australopithecus afarensis e não do Australopithecus robustus ou Australopithecus boisei.Afinal, eles desapareceram. Esse fato fica mais claro quando se analisa um outro parente dohomem moderno, mais recente: o Homo habilis. Essa criatura, fisicamente, era maissemelhante aos Australopithecus afarensis do que aos Australopithecus robustus. Também

    tinha uma outra característica muito importante...

    O homem habilidoso e o homem que saiu da África

    Era o início da década de 1920 quando cientistas descobriram, na África, um fóssilcom características semelhantes às do homem atual e, por perto dele, instrumentos de pedra.As circunstâncias levaram os pesquisadores a acreditar que a espécie recém-encontrada eraquem havia feito os instrumentos. Por conta disso, na hora de batizá-la, consideraramimportante dar a ela um outro nome, que não australopithecus, uma vez que, no momento emque essa espécie começou a fazer instrumentos, passou a estar mais próxima de nós, seres

    humanos atuais. O nome escolhido, então, seria “Homem que faz instrumento”. Em latim,“Homo habilis”. Um homem habilidoso.

    Hoje em dia, existe uma controvérsia a respeito do Homo habilis. Não se sabe se essacriatura de tato pode ser colocada no gênero Homo - ao qual nós pertencemos – ou no gêneroAustralopithecus. Justamente porque, atualmente, sabe-se que muitos primatas usavaminstrumentos de pedra, e, além disso, há poucos fósseis de Homo habilis. O debate continuaem aberto.

    Seja como for, no período em que viveu o Homo habilis, há cerca de dois milhões emeio de anos, o planeta que vinha se aquecendo, há anos, começou a se resfriar. Nesseperíodo de resfriamento, houve o aparecimento de animais maiores, que pode ter influenciadono surgimento de uma nova espécie: o Homo erectus.

    Com um cérebro e um corpo bem maiores do que o do Homo habilis, o Homo

    erectus apareceu na Terra há cerca de dois milhões de anos e produziu ferramentas maiscomplexas do que o “homem habilidoso”. Mas, o mais interessante é que ele foi o nossoprimeiro parente a sair da África. Essa migração indica que o Homo erectus estaria utilizando,pelo menos, alguma proteção física, como peles de animais (lembre-se de que o planeta, nessaépoca, passava por um processo de resfriamento) e fazendo uso do fogo.

    Mas por que o Homo erctus – e não o Homo habilis ou os australopitecíneos – foi onosso primeiro parente a sair da África? Uma das hipóteses levantadas para explicar essamigração afirma que, provavelmente, o Homo erectus era um caçador ativo e, como tal, tinhade seguir a caça onde quer que ela fosse, diferentemente do Homo habilis, que, ao que parece,se alimentava de carcaça de animais. Assim, ao seguir os animais quando eles migravam, paragarantir alimento, o Homo erectus chegou a outros continentes.

    O homem das cavernas e o homem moderno

    Parte do grupo de Homo erectus que deixou a África deve ter chegado à Europa e aoOriente Médio, segundo acredita a maioria dos pesquisadores. Sem contato com outros gruposhumanos que estavam se espalhando pelo mundo, por conta do resfriamento do planeta, que,naquela época, isolou a Europa e o leste do Oriente Médio em grandes blocos de gelo, estegrupo diferenciou-se, dando origem a uma nova espécie, chamada Homo neanderthalensis.

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      Os neandertais _ cujos primeiros fósseis foram descobertos no vale de Neander, naAlemanha, no início do século 19 – eram muito parecidos conosco: eram apenas mais baixosdo que nós, em média, e bem mais fortes. No entanto, a imagem que as pessoas têm deles, emgeral, é a do “homem das cavernas”: brutos, encurvados. Isso por causa de um erro queaconteceu durante descrição dos fósseis do Vale do Neander. Os primeiros fósseis de Homoneanderthalensis descritos pela ciência eram de um indivíduo que tinha artrite e artrose,portanto, era um esqueleto doente e, por isso, era arqueado. O anatomista que analisou, no

    entanto, não percebeu isso e, por muito tempo, acreditou-se que todos os neardertais fossemassim.Enquanto os neandertais viviam na Europa e em parte do Oriente Médio, na África,

    surgia a espécie humana atual, a qual nós pertencemos: a Homo sapiens. Provavelmente, osHomo sapiens surgiram a partir do isolamento de algum dos grupos de Homo erectus, que,nessa época, eram encontrados na África e na Ásia. O que ocorreu para dar origem à novaespécie, porém, ainda é tema de intenso debate.

    Duas hipóteses

    A maioria dos pesquisadores afirma que o Homo sapiens surgiu na África e migroupara fora do continente, espalhando-se pelo mundo, também seguindo os animais que caçava,como ocorreu com o Homo erectus. Gradualmente, nossa espécie teria causado a extinção dasoutras espécies que existiam, por competição. Já que conseguia caçar melhor, se comunicarmelhor e fabricar melhores instrumentos, então, teria conseguido sobreviver mais e deixarmais descendentes.

    Há cientistas, porém, que sustentam uma outra possibilidade: o Homo sapiensapareceu na África, migrou para fora do continente, e, pouco a pouco, misturou-se aos outrosgrupos humanos que existiam na época – os Homo erectus, Homo neanderthalensis e outrosgrupos chamados Homo sapiens arcaicos. Por fim, dessa mistura gradual, originou-se o Homosapiens arcaicos. Por fim, dessa mistura gradual, originou-se o Homo sapiens que temos hoje.Assim, encontraríamos nas pessoas que vivem na Europa mais características Homo erectus,

    sendo que todos os seres humanos atuais seriam parte do grupo comum chamado Homosapiens.

    Atualmente, a primeira hipótese é a mais aceita, porque o estudo do nosso DNA – ocódigo que existe dentro de nossas células e determina as nossas características físicas –indica que nós, enquanto espécie, somos muito homogêneos, ou seja, apresentamos apenasuma pequena variedade biológica. Como a maior parte dessa variedade está na África, sugere-se que a população humana que existe hoje no planeta descende de apenas uma população queexistiu originalmente na África.

    Quando surge a humanidade?

    Há pesquisadores que acreditam que nós somos humanos, que temos Humanidade,desde que começamos a nos relacionar de uma forma diferente com o mundo, que passamos afazer instrumentos e que esses instrumentos nos levaram a adaptar e modificar o ambiente ànossa volta. Mas há cientistas que não concordam com isso. Para eles, a Humanidade somentesurge quando passamos a ter a capacidade de abstrair, de imaginar, e passamos a fazerpinturas em cavernas, por exemplo, o que somente ocorre em torno de 50 mil anos atrás.

    Não há uma opção que seja mais certa do que a outra. O que existem são definiçõesdiferentes. Se você somente considera humana uma criatura que seja capaz de ter pensamentos

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    complexos e abstratos, então, você irá dizer que o ser humano surgiu há algumas dezenas demilhares de anos. Se, ao contrário, você considera ser humano aquele que vive em grupo e quemodifica o ambiente de forma como nunca ocorreu antes na natureza, dirá que o homemsurgiu há muito mais tempo. Tudo é uma questão de escolha.

    Hilton P. SilvaDepartamento de Antropologia. Museu Nacional, UFRJ

    A África, um continente desconhecido

    A diversidade e a exuberância da flora e da fauna africanas contrastam, sem sombrade dúvida, com a visão estereotipada que desde a Antiguidade se teve desse continente, da suahistória e da sua cultura. A palavra África deriva, ao que tudo indica, do termo afer com oqual se designavam os afri, ancestrais dos berberes contemporâneos que habitavam as regiõesao sul de Cartago, a antiga colônia fenícia fundada em IX a.C. que durante séculos gozou deuma significativa influência na bacia do Mediterrâneo Ocidental. Em arábico, afar significapó, poeira, daí que os afri poderiam ser identificados como povos poeirentos, o que talvezcomporte um juízo de valor negativo sobre eles.

    Em pouco tempo, vagas de imigrantes provenientes da Itália iniciaram a ocupação doterritório, com a fundação de colônias e cidades. Em virtude do processo de expansão imperiala sul do Mediterrâneo, outras províncias adjacentes foram sendo criadas (Mauritânia,Numídia, Cirene, Tripolitânia e outras), ao passo que em 30 a.C. o Egito é anexado aoImpério. Aos poucos, o termo África passou a designar, para os romanos, o conjunto dasprovíncias do Império a sul do Mediterrâneo, tendo como fronteira natural (em latim, limes) odeserto do Saara. Para além do deserto e das zonas costeiras, os romanos não se aventuraram.Com o passar do tempo, o termo África se torna recorrente, sendo empregado para designar ocontinente em sua totalidade, incluindo territórios jamais ocupados pelos romanos e cujadiversidade certamente ignoravam.

    O desconhecimento com relação à história e à cultura da África, no entanto, nuncafoi um privilégio dos romanos. Mesmo o Egito, a despeito da sua inequívoca inserção nocontinente, nunca se aventurou além da Núbia (atual Sudão), mantendo-se assim afastado docontato direto com a África Central ou Ocidental.

    Os romanos, por sua vez, também empreenderam viagens exploratórias pela costaafricana. A falta de dados concretos sobre o continente africano na época romana era tãoevidente que Estrabão, autor do mais famoso compêndio geográfico da Antiguidade,acreditava que o oceano não circundava o continente, opondo-se assim a outros autores (comoHeródoto) que afirmavam o contrário baseados na informação sobre o périplo de Necau. Já oerudito e geógrafo Alexandrino Ptolomeu elabora, no século II d.C., um mapa do continenteque servirá de fundamento para a cartografia da África até o século XVIII. No mapa, oOceano Índico aparece como um mar fechado e a costa oriental da África se prolonga bastante

    para o Leste. Pompônio Mela, autor do século I d.C., por sua vez, nos transmite uma descriçãoabsolutamente fantasiosa da África Negra que iria influenciar bastante a mentalidademedieval. Segundo o autor:

    “Para além dos desertos, encontram-se povos mudos que só conseguem fazer-se entenderpor sinais: uns têm língua e não conseguem falar; outros são inteiramente desprovidos desteórgão; há outros ainda com a boca naturalmente fechada, que apenas apresentam sob asnarinas um buraquinho pelo qual bebem com o auxílio de uma cana e, quando precisamcomer, aspiram um a um os grãos que ocasionalmente encontram no chão.”

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      Outro autor romano, Plínio, o Velho, descreve em sua História Natural os povos quehabitavam o centro e o sul da África nos seguintes termos:

    “Os Atlantes, se acreditarmos no que dizem, perderam as características de seres humanos;não usam nomes que os distingam uns dos outros; contemplam o sol nascente e o poente,lançando imprecações terríveis, como se tratasse de um astro funesto às suas pessoas e àssuas culturas; nunca têm sonhos, como é o caso dos outros homens. Os Trogloditas fazemcavernas que lhes servem de casas; alimentam-se da carne das serpentes; guincham, não

    têm voz e desconhecem o uso da palavra. Os Garamantes não se casam e as mulheres sãopropriedade comum.”[2]

    Preconceitos dessa natureza, que bestializavam os habitantes da África Negra edesprezavam os seus usos e costumes, moldaram a representação dos ocidentais sobre ocontinente ao longo dos séculos. De fato, no decorrer do período em que a África foi terrafranca para os exploradores e colonizadores modernos, a história do Continente Negrosignificava, quando muito, um apêndice da história desta ou daquela metrópole européia,como Hegel sintetizou de modo surpreendente ao declarar, em 1830, no seu Curso sobre afilosofia da História que “a África não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimentos,progressos a mostrar, movimentos históricos próprios dela. Quer isto dizer que a sua partesetentrional pertence ao mundo europeu ou asiático. Aquilo que entendemos precisamente

    pela África é o espírito a-histórico, o espírito não desenvolvido, ainda envolto em condiçõesde natureza e que deve ser aqui apresentado apenas como no limiar da história do mundo” .Uma opinião como essa encontrava eco, por exemplo, na obra “As raças e a história”, na qualo seu autor, Eugène Pittard, declarava o seguinte: “As raças africanas propriamente ditas – àexceção do Egito e de uma parte da África Menor – não participaram na história, tal como aentendem os historiadores... Não me recuso a aceitar que tenhamos nas veias algumas gotas deum sangue africano (de africano provavelmente de pele amarela), mas devemos confessar queaquilo que delas pode subsistir é muito difícil de encontrar”.

    Tais interpretações, eivadas de um preconceito explícito contra um continentehumilhado pela violência da colonização, contribuíram bastante para a ignorância acerca daHistória da África, reforçando-se o mito histórico primário acerca da inércia dos povosafricanos, cujo desenvolvimento cultural teria sido sempre o resultado de alguma influência

    proveniente do exterior. Essa situação começou a se modificar a partir do movimento geral dedescolonização iniciado logo após o término da Segunda Guerra Mundial, com amultiplicação de estudos levados a cabo pelos próprios intelectuais africanos e por africanistasde diversas nacionalidades que refutam com veemência os pressupostos da visão colonialeuropéia sobre o continente. O que se observa, desde então, é a luta da África para afirmar asua identidade e a sua importância, não apenas no cenário mundial contemporâneo, masigualmente no contexto da própria História da Humanidade. No decorrer dessa empreitada, aArqueologia, a Antropologia e a História Antiga, com toda a sua renovação conceitual, têmfornecido um auxílio inestimável ao movimento de revalorização da História da África que seobserva nos dias de hoje e isso de duas maneiras:

    a) pondo em evidência o fato de que o processo de hominização, ou seja, de evolução daprópria Humanidade teve o seu início no continente africano;

    b) investigando as culturas africanas da Antiguidade, com destaque para o aprofundamentodos estudos sobre as civilizações egípcias, meroítica e axumita e para a descoberta de novascivilizações.

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    As expedições

    Algumas idéias impulsionaram as “explorações” na África (séc. XIX): a civilização,a religião e o comércio. Comerciantes, filantropos financiavam as explorações pelo continenteafricano, alguns por motivos religiosos, outros por ideologia, por acharem que os africanosdeveriam ser “civilizados”, catequizados, “transformados” em “homens”, tais como oseuropeus (etnocentrismo).

    Expedições, por vezes solitárias e perigosas pelo interior da África, foram realizadasao longo da História. Alguns viajantes deixaram por escrito a visão que tiveram do continente.Abu Ubayd al-Bakri (1040-1094), filólogo, poeta, geógrafo, historiador, viajante e eruditoreligioso muçulmano, escreveu a Descrição da África, considerada a principal fonte para essa  região. 

    Descrição da África (1087)Al-Bakri (1040-1094)

    Tradução e notas: Dr. Ricardo da Costa  A capital de Gana é chamada Kumbi Saleh. A cidade consiste na reunião de duas cidades quese unem em uma planície, a maior delas habitada por muçulmanos e com doze mesquitas.Kumbi Saleh possui também um grande número de juízes e de homens instruídos. Ao redor deambas as cidades, há poços de água doce e potável, e próximos a eles, terras cultivadas comvegetais. A cidade habitada pelo rei está a seis milhas da outra cidade (muçulmana) e échamada de Al-Ghana. A área entre as duas cidades é coberta com casas feitas de pedra e demadeira. O rei tem um palácio e choças de formato cônico, cercadas por paredes. Na cidadedo rei, não muito longe da corte de justiça real, há uma mesquita. Os muçulmanos que vêmem missões ao rei podem rezar ali. Há ainda uma grande avenida, que cruza a cidade de lestea oeste.

    O rei adorna a si mesmo, como se fosse uma mulher, usando colares ao redor do pescoço ebraceletes em seus antebraços. Quando se senta diante do povo, fica sobre uma elevaçãodecorada com ouro e se veste com um turbante de pano fino. A corte de apelação fica em um pavilhão abobadado, com dez cavalos estacionados e cobertos com um tecido bordado comouro. Atrás do rei, ficam dez pajens segurando escudos e espadas, ambas decoradas comouro. À sua direita, ficam os filhos dos vassalos do país do rei, vestindo esplêndidas roupas ecom os cabelos trançados com ouro. O governador da cidade senta-se na terra diante do rei eos ministros ficam, do mesmo modo, sentados ao redor. Na porta do pavilhão, estão cães deexcelente pedigree e que dificilmente saem do lugar de onde o rei está, pois estão ali para protegê-lo. Os cães usam ao redor de seus pescoços colares de ouro e de prata cheios de sinoscom o mesmo metal. A audiência é anunciada pela batida em um longo cilindro oco que sechama daba. Quando os povos que professam a mesma religião se aproximam do rei, caem de

     joelhos e polvilham suas cabeças com pó, uma forma de mostrar respeito por ele. Quanto aosmuçulmanos, eles cumprimentam-no somente batendo suas mãos. [...]

     Ao redor da cidade do rei há choupanas abobadadas e bosques onde vivem os feiticeiros,homens encarregados de seus cultos religiosos. Ali se encontram também os ídolos e ostúmulos dos reis. Estes bosques são guardados: ninguém pode entrar ou descobrir seusrecipientes. As prisões dos vivos também estão ali, e se alguém é aprisionado lá, nunca maisse ouve falar dele. Quando o rei morre, constroem uma enorme abóbada de madeira no lugardo enterro. Então trazem-no em uma cama levemente coberta e colocam-no dentro daabóbada. A seu lado, colocam seus ornamentos, suas armas e os recipientes que ele usava para comer e beber. A serpente é a guardiã do Estado e vive em uma caverna que lhe é

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    devotada. Quando o rei morre, seus possíveis sucessores se reúnem em uma assembléia e aserpente é trazida para picar um deles com seu focinho. Essa pessoa é então chamada paraser o novo rei.

    Descrição da África (1526) Al Hasan (1483-1554) 

    Tradução e notas: Dr. Ricardo da Costa

    O reino recebeu recentemente esse nome, depois que uma cidade foi construída por um reichamado Mansa Suleyman, no ano 610 da Hégira, próxima doze milhas de uma filial do rio Níger .

     As casas de Tombuctu são choupanas feitas de pau-a-pique de argila, cobertas com telhadosde palha. No centro da cidade, há um templo construído de pedra e de almofariz por umarquiteto de nome Granata . Além do templo, há um grande palácio também construído pelomesmo arquiteto, onde o rei vive. As lojas dos artesãos, dos comerciantes, e, especialmente, asdos tecelões de pano de algodão, são muito numerosas. As telas são importadas da Europa para Tombuctu, carregadas por comerciantes da Barbária.

     As mulheres da cidade mantêm o costume de vendar seus rostos, com exceção dos escravos,que vendem todos os gêneros alimentícios. Os habitantes são tão ricos, especialmente osestrangeiros que se estabeleceram no país, que o rei atual deu duas de suas filhas a doisirmãos, ambos homens de negócios, pois era ciente de suas riquezas.

     Há muitos poços que contêm água doce em Tumbuctu. Além disso, quando o rio Níger estácheio, canais levam a água para a cidade. Grãos e animais são abundantes, de modo que oconsumo de leite e de manteiga é considerável. Contudo, o fornecimento de sal é fraco, porque ele é levado daqui para Tegaza, que fica cerca de 500 milhas de Tumbuctu. Eu mesmoestava na cidade no momento em que uma carga de sal foi vendida por oito ducados. O reitem um rico tesouro rico de moedas e pepitas de ouro. Uma dessas pepitas pesa 970 libras .

     A corte real é magnífica e muito bem organizada. Quando o rei vai de uma cidade a outracom as gentes de sua corte, monta um camelo e os cavalos são conduzidos manualmente porservos. Se a luta é necessária, os servos montam os camelos e todos os soldados montam nascostas dos cavalos. Quando alguém desejar falar com o rei, deve ajoelhar-se diante dele ecurvar-se ao chão; mas isto é exigido somente daqueles que nunca falaram nem com o rei,nem com seus embaixadores.

    O rei tem aproximadamente 3.000 cavaleiros e uma infinidade de soldados de infantaria,todos armados com arcos feitos de funcho selvagem, e com o qual disparam setasenvenenadas. Este rei faz a guerra somente contra os inimigos vizinhos e contra aqueles quenão aceitam lhe pagar tributo. Quando obtêm uma vitória, ele vende todos os inimigos,inclusive as crianças, no mercado em Tumbuctu.

    Os pobres cavalos nascem pequenos neste país. Os comerciantes usam-nos para suas viagense os cortesãos para mover-se na cidade. Os bons cavalos vêm da Barbária. Chegam em umacaravana e, dez ou doze dias mais tarde, são conduzidos ao soberano, que, caso goste, osexamina e paga apropriadamente por eles.

    O rei é um inimigo declarado dos judeus. Ele não permitirá que nenhum deles viva na cidade.Caso ouça que um comerciante da Barbária anda ou faz negócio com eles, o rei confisca seusbens. Há numerosos juízes em Tumbuctu, professores e sacerdotes, todos bem nomeados pelorei, que honra muito as letras. Muitos livros escritos à mão e importados da Barbária sãovendidos. Há mais lucro nesse comércio do que em toda a mercadoria restante.

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     Ao invés de dinheiro, são usadas pepitas puras de ouro como moeda de troca. Para compras pequenas, escudos de cauris trazidos da Pérsia; quatrocentos cauris igualam um ducado. Seisducados e dois terços correspondem a uma onça romana de ouro .

    Os povos do Tumbuctu são de natureza calma. Têm um costume quase regular de caminhar ànoite pela cidade (com exceção daqueles que vendem ouro), entre dez e uma hora damadrugada, tocando instrumentos musicais e dançando. Os cidadãos têm muitos escravos aseu serviço, tanto homens quanto mulheres.

     A cidade corre muito perigo de incêndios. Quando eu estava lá em minha segunda viagem ,metade da cidade queimou no espaço de cinco horas. Com medo de o vento violento levar o fogo para a outra metade da cidade e também queimá-la, os habitantes começaram a tirarseus pertences.

     Não há nenhum jardim ou pomar na área que cerca Tumbuctu.

    Geografia Africana

    Diversidades geográficas e históricas da África

    Adaptação feita por Angela Navarro do texto escrito pelo Ms. Luís dosSantos Alves (doutorando em História IFCH/Uerj).

    O continente africano é maciço, com poucos lagos. Apresenta um contornogeográfico bastante preciso e compacto, com um litoral isento de golfos, baías, penínsulas e

    lagos litorâneos. Seu terreno é rochoso e possui poucas placas tectônicas. O “Rift Valley” éum importante acidente geográfico do relevo africano.Este fenômeno surgiu durante omovimento das placas tectônicas na separação dos continentes (Pangéia), e tem comocaracterística um grande lago. O lago Tanganika se formou porque as placas tectônicasafricana e arábica não se romperam totalmente durante a “Pangéia”, criando uma fendaprofunda e extensa no território africano. O Grande Vale do Rift é um complexo de falhastectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos. Estende-se no sentido norte-sul por cerca de5000 Km, desde o norte da Síria até o centro de Moçambique, com uma largura que variaentre 30 a 100 Km, sua profundidade possui algumas centenas ou milhares de metros. Não éum acidente comum em outros continentes. Continuando a separação das placas, dentro dealguns milhões de anos, a África Oriental será inundada pelo Oceano Índico e formar-se-áuma grande ilha com a região da costa da África. No Vale do Rift têm-se depositado, ao longo

    dos anos, sedimentos provenientes da erosão das suas margens e este ambiente é propício àconservação de despojos orgânicos.

    Nas proximidades do continente, tanto a Ocidente quanto a Oriente, temos algumaspoucas ilhas, tais como Madeira, Canárias, Cabo Verde, São Tomé, Príncipe e a maior detodas, Madagascar, atual República Malgaxe. Tomando-se como referência o deserto doSaara, o continente se divide em duas regiões distintas, a África Mediterrânea e a Áfricasubsaariana. O Saara é o maior deserto do mundo, estendendo-se por 5000 Km do Atlânticoao Mar Vermelho e compreendendo os territórios do Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito,Sudão, Chade, Níger, Mali e Mauritânia. O Saara nem sempre foi um deserto, há 4/5 mil anosatrás era um grande pasto, explorado e habitado por populações. Depois de passar por um

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    período de glaciação e mudanças bruscas da temperatura, o pasto foi morrendo dando lugar aomaior deserto do planeta. Quanto ao relevo, ultrapassada a faixa costeira e adentrando-se nocontinente, o território sofre uma elevação progressiva, com a formação de planaltos, demaneira que toda a África se apresenta como um bloco planáltico estável cuja coesão érompida em alguns momentos por falhas no relevo.

    A forma compacta do território africano determina a continentalidade e atropicalidade de seu clima. De fato, a África é caracterizada basicamente pelo clima tropical.

    À medida que nos afastamos da Linha do Equador, a temperatura se torna mais amena e aestação de seca, mais prolongada. A estiagem chega por vezes a ter a duração de oito ou novemeses. Já em outras regiões não chove nunca. Próximo à Linha do Equador, no entanto, oclima é quente e úmido, com chuvas constantes e intensas e a alternância da estação seca coma chuvosa. Partindo-se do norte, marcado pelo predomínio da zona desértica, passa-se parauma estreita faixa com vegetação de estepe, ou seja, adaptada aos climas seco ou semi-árido,para em seguida adentrar-se nas savanas (campos abertos com poucas árvores) e nos cerrados,caracterizados por uma vegetação arbustiva. Nas áreas de estepe, savana e cerrado é que seencontram os grandes mamíferos africanos: o búfalo, o elefante, o rinoceronte, o hipopótamo,a zebra, a girafa, o leão, o leopardo, a hiena e os numerosos tipos de símios e antílopes.Descendo um pouco mais rumo ao sul, temos a vegetação de floresta, habitat dos grandesmacacos, incluindo o gorila e o chimpanzé. Nas florestas, abundam os pássaros, os répteis, os

    mamíferos que vivem em árvores e os insetos. Vencida a floresta, temos novamente a savana ea estepe, com algumas zonas de mata anã. Do ponto de vista hidrográfico, a mais importantebacia é a do Zaire, com seus afluentes caudalosos e propícios às inundações. Outros riosimportantes, além do Nilo, do qual trataremos mais adiante, são o Níger, o Senegal e o Chade.

    As condições naturais do próprio continente (a floresta do Congo, a savana, osdesertos do Saara e do Kalahari) e as condições históricas geradas pelo homem especialmentedurante a ocupação do colonialismo europeu explicam a extrema diversidade geográfica ehistórica. Existem várias Áfricas que se interpenetram numa enorme complexidade cultural,econômica e política. Trata-se de uma paisagem humana e social muito além dos estereótiposetnocêntricos que povoam o imaginário brasileiro.

    A população africana é estimada em 645 milhões (sendo 550 milhões na ÁfricaSubsaariana) e a sua taxa de crescimento anual é de 3% indicando uma duplicação da

    população em 25 anos. Com o fim do escravismo, a população da África aumentouconsideravelmente e com ela os seus problemas também aumentaram. Enquanto no nortepredomina uma população berbere islamizada, na África ao sul do Saara há uma grandediversidade cultural, étnica e linguística. Oito grandes conjuntos são dominantes: sudanês,guinéu, congolês , nilótico, zambeziano, etíope, pigmeu e bosquímano. Os dois últimos estãorestritos às áreas de floresta equatorial do Congo e ao deserto de Kalahari respectivamente.Nas regiões litorâneas da África Oriental e na África do Sul encontramos bolsões depopulação europeia, hindu e árabe, principalmente nos centros urbanos (Durban,Joannesburgo, Mombaça).

    Às religiões autóctones (animistas) vieram se somar o islamismo e o cristianismoatravés de suas várias denominações. Enquanto o animismo está disseminado por todo ocontinente, o islamismo, a religião em maior crescimento no continente, concentra-se naÁfrica do Norte e na África Ocidental. O cristianismo é encontrado principalmente na Etiópiae na África do Sul sendo, com a exceção da Etiópia, um desdobramento do colonialismoeuropeu.

    A ideia que se tem de duas Áfricas não é muito bem aceita por alguns teóricos, pois anoção de “branca” e “negra” não corresponde à realidade, uma vez que brancos e negrosdividiam seus espaços. Trabalhando em cima desta divisão, analisemos o esquema que sesegue:

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    África Branca - população árabeÁfrica do Norte - islamização proximidade com a Europa(Setentrional) - climas secos

    (Saariana) - nomadismo- petróleo

    África Negra - etnias negrasÁfrica Subsaariana - animismo e cristianismo(Meridional) - climas úmidos(Austral) - mineração

    - agricultura tribal

    A África Saariana ainda é considerada o carro-chefe da economia africana. Elapossui ainda duas divisões Maghreb e Mackrech, observe o esquema:

    Maghreb } Argélia, Tunísia e Marrocos

    Mackrech } Líbia e Egito

    Maghreb – Região mais importante do norte da África. Tanto por questões econômicas,quanto por questões ambientais e religiosas. Muitos autores a consideram uma continuidadedo Oriente Médio. A região é rica em petróleo e tem clima Mediterrâneo, muito mais úmido efavorável às atividades agro-pastoris do que a porção sul da África setentrional, dominada porclimas áridos.

    A força da religião islâmica na região é incontestável. Há um predomínio absoluto depopulação que pratica esta religião. Também chama a atenção a presença de movimentosextremistas muçulmanos nestas áreas.

    Outra forma de divisão é aquela originária da ordem colonial estabelecida a partir daConferência de Berlim (1885) e de profundas consequências para a divisão política da Áfricacontemporânea. Os países africanos podem ser classificados de acordo com a potênciacolonizadora europeia que os subjugou diretamente e que continua a influenciá-losculturalmente, economicamente e politicamente. Desta forma, existe uma África arabófona,uma África anglófona, uma África francófona e uma África lusófona. Isto indica apermanência dos laços econômicos e políticos com a ex-metrópole e o caráter incompleto doprocesso de descolonização iniciado na década de 50.

    Quando da realização da Conferência de Berlim, os europeus ocupavam posiçõesesparsas no litoral africano, principalmente na área banhada pelo Oceano Atlântico. Eramentrepostos de comércio e tráfico de escravos, cuja fundação remontava ao século XV, épocaem que os portugueses se instalaram no Golfo da Guiné e na costa de Angola. Entretanto, umafixação permanente foi constituída pelos holandeses em 1652, com a fundação da Colônia doCabo (África do Sul). Seus descendentes – os bôeres – avançaram lentamente em direção aointerior em busca de pastagem para o gado. Neste processo, que durou aproximadamenteduzentos anos, chamado Grande Trek , os bôeres entraram em conflito com os zulus e os xosase fundaram colônias no Orange e Transvaal, onde no último quartel do século XIX foramdescobertas minas de diamante e ouro.

    Até o século XIX, a Colônia do Cabo constituiu uma exceção nas relações entre aÁfrica e a Europa. Contudo, na metade do século XIX, aguçou-se o interesse europeu pelocontinente. À medida que a Revolução Industrial avançava, cresciam as necessidades de

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    matéria-prima e mercados, e transformavam-se as relações de trabalho levando àobsolescência a utilização do trabalho escravo, até então o principal interesse europeu naÁfrica, liderada principalmente por sociedades missionárias e antiescravistas britânicas. Estassociedades somadas às sociedades de exploração geográfica (a  Royal Geographical Society britânica foi a mais notória) contribuíram eficazmente para o reconhecimento do interiorafricano. Desta forma, a bacia do Zambeze foi desbravada por David Livingstone (1841-1873), a bacia do Congo foi explorada por Henry Stanley (1871 – 1889) e Savorgnam de

    Brazza (1875-1878). Em 1859, os ingleses Speke e Burton atingiram a nascente do Nilo e osGrandes Lagos.A sucessão de exploradores e descobertas levou os Estados a disputarem a concessão

    e posse dos territórios uma mescla de interesses econômicos, políticos e estratégicos motivouuma corrida imperialista na África gerando inúmeros conflitos e barganhas. Seu ápice foi aConferência de Berlim (1885), um marco na história da presença europeia na África.

    Nesta conferência, patrocinada pelo chanceler alemão Bismarck, foi regulamentada apartilha do continente de acordo com o princípio da ocupação efetiva do território, mas comtotal desprezo e desconhecimento das características particulares de cada etnia. Assim, povosinimigos foram agrupados num mesmo território criado artificialmente pelo colonizador oudividido entre duas ou mais metrópoles. Esta divisão artificial do território africano mais aespoliação colonial é uma das causas da profunda instabilidade vivida pelo continente após a

    descolonização.

    Os Países Africanos

    Texto extraído do livro O Brasil e a África de ANDRADE, Manuel Correia, Ed. Contexto, 2001.

    A África está dividida politicamente e suas fronteiras, que separam os váriosEstados, são em geral formadas por linhas retas. Na verdade, estes Estados não resultaram daevolução natural dos antigos reinos africanos, mas da partilha colonial, e as fronteiras nãodelimitam áreas de influência étnica ou cultural, mas áreas de domínio das várias potências noperíodo colonial. Elas foram traçadas sem consultar os interesses e aspirações dos habitantes,daí os grandes litígios fronteiriços entre os vários países e as dissensões internas.

    A maioria dos estados tem uma vida autônoma curta, ou, aqueles seculares, como oEgito e a Etiópia, tiveram a sua vida nacional interrompida por uma fase de dominaçãoestrangeira no século XX. O surto de libertação dos países africanos iniciou-se em 1950, como reconhecimento da Tunísia como país independente.

    Em 1951, a Líbia conseguia a sua independência, sendo acompanhada , em 1956,pelo Sudão e pelo Marrocos, que continuaria a ser governada pela sua tradicional dinastia quenão fora destituída durante a dominação franco-espanhola. Em 1957, foi a vez da libertação deGana, antiga Costa do Ouro, e em 1958, a da Guiné francesa, que formaria uma repúblicapopular de tendência socialista. Em 1960, libertaram-se várias antigas colônias francesas –

    Togo, Madagascar, Mali, Benin, Burkina, Camarões, Costa do Marfim, Chade, RepúblicaCentro-Africana, Níger, Congo, Gabão, Senegal, Mauritânia que compunham as antigasfederações da África Ocidental e Oriental, sob o domínio francês.

    Ainda neste mesmo ano tivemos a independência da República Democrática doCongo, antigo Congo Belga, que entrou em uma sangrenta guerra civil, estimulada porempresas belgas, nas províncias de Catanga e Cassai. Dentre as colônias inglesas, adquirirama independência em 1960, a Nigéria, que passou a ser o país de maior população da África e,sendo multinacional, enfrentou sérios problemas de unificação em face da tentativa desecessão feita pelos ibos, habitantes da Biafra; e a Somália, antiga colônia italiana e inglesa.Ela teve os dois territórios unificados e tornou-se também um país independente.

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      Em 1961, Serra Leoa alcançou a sua independência e no ano seguinte seria a vez deRuanda e Burundi, até então mandatos confiados à Bélgica ; da Argélia, após uma guerracontra a França; e de Uganda, situada em planalto na alta bacia do Nilo. Em 1963, resolvidosos problemas entre os grupos de origem inglesa e os negros, o Quênia tornou-se independente,seguido em 1964, por Zâmbia, Tanzânia, Gâmbia, colônias inglesas. Em 1966, libertavam-seBotsuana e Lesoto, e, no ano seguinte as Ilhas Maurício e a Guiné Equatorial. Na década de60, os franceses e ingleses outorgaram a independência formal aos seus territórios coloniais,

    resguardando naturalmente, os seus interesses econômicos.Portugal, país pobre e dependente das colônias africanas, optou por resistir aomovimento de independência e organizou a resistência, mas sofreu uma campanha que oesgotou econômica e socialmente. Daí as suas colônias, que eram classificadas comoprovíncia de além-mar, só haverem se libertado na década de 70, ou mais precisamente, apartir de 1973, com a Guiné-Bissau, seguida, em 1975, por São Tomé e Príncipe,Moçambique, Cabo verde e Angola. Nessa ocasião, a independência havia sido alcançada pelamaioria dos países africanos, mas ainda se observou a libertação em 1975, das ilhas Camores,em 1976, das ilhas Seichelles, em 1978, da Suazilândia e, finalmente, em1980, depois de umagrande resistência da minoria branca, a do Zimbábue.

    Em busca de uma tipologia

    É difícil fazer-se uma classificação dos países africanos devido às diferenças em umasérie de fatores de extensão territorial, quantidade e qualidade do contingente populacional,nível de desenvolvimento, penetração do capitalismo, maior ou menor unidade étnica elinguística, disponibilidade de recursos naturais e maior ou menor dependência de países doPrimeiro e do Segundo Mundos.

    Quanto às condições naturais, observa-se que alguns países têm a maior parte de seuterritório em áreas desérticas e semidesérticas, outros em áreas equatoriais quentes e úmidas,enquanto são pouco expressivas as porções situadas em áreas subtropicais ou em climastropicais de altitude, fatos que têm tido alguma influência sobre a distribuição da população eo uso do solo.

    Não dispondo de um melhor critério, resolvemos classificar os países, de acordo coma sua extensão territorial, em muito grandes, grandes, médios, pequenos e muito pequenos oumini-países; e deixamos fora da classificação, os países que ainda são dependênciasmetropolitanas. Procuramos fazer uma análise sucinta dos problemas enfrentados por cada umdeles.

    OS PAÍSES MUITO GRANDES

    Classificamos como muito grandes apenas os países com mais de 1.500.000 Km²

    O maior país africano é o Sudão, situado no médio Nilo e banhado pelo Marvermelho. Produto da ocupação colonial, ele apresenta uma população muito heterogênea,sendo dominado pelos árabes islamizados ao norte e por negros animistas e cristãos ao sul.Daí a existência de uma guerra civil que assola o país por dezenas de anos, ficando em algunsperíodos amainada e, em outros, mais acirrada. A densidade demográfica é baixa, 9,4hab/Km², e a população se concentra no Vale do Nilo, uma vez que a maior porção do seuterritório possui clima árido. O país é sobretudo produtor e exportador de algodão.

    A Argélia, às margens do Mediterrâneo, é habitada basicamente por árabes eberberes, tendo permanecido, durante séculos, sob o domínio de árabes e turcos. A maiorporção do seu território se estende pelas áreas secas do Saara, mas a sua população se

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    concentra sobretudo no litoral e no Atlas. O país se destaca como produtor e exportador depetróleo, de vinhos e de frutas, apresentado a vantagem de se encontrar próximo aos grandesmercados europeus, o que barateia consideravelmente os transportes. Com a independência,conseguida após lutas muito prolongadas, os argelinos vêm procurando diminuir a influênciafrancesa, consolidada em mais de um século de ocupação e dominação política, e desenvolverum processo de socialização da economia e de arabização da cultura. Com uma densidadedemográfica de 9,9 hab/Km², o país se encontra superpovoado – a maior porção do território é

    desértica, não oferecendo condições para um povoamento mais intenso – havendo, emconsequência, um grande fluxo emigratório de argelinos para a Europa, sobretudo para aFrança, onde forma uma colônia estrangeira muito expressiva.

    A República Democrática do Congo é a antiga colônia do Congo Belga quealcançou a independência política sem ter conseguido um certo grau de integração entre asvárias províncias que a compõem. Situada em plena área equatorial, drenada pelo rio que lhedeu o nome e por seus principais afluentes, possui extensas florestas e é rica em minerais,sendo grande produtora de diamantes industrializados, de minérios de cobre, de cassiterita, demanganês e de zinco. Com um litoral de pequena extensão, tem grande parte de sua produçãoexportada por portos situados em Angola e ligados à República Democrática do Congo porferrovia. As lutas pela independência em Angola e na República Democrática do Congodesorganizaram por algum tempo a sua política de exportação. A densidade demográfica é da

    ordem de 13,6 hab/Km², havendo uma concentração populacional maior na margem dos riosnavegáveis.

    A Líbia  é uma grande extensão de deserto situada sobre jazidas petrolíferas. Adensidade demográfica é muito baixa, 2,2 hab/Km², e a população se concentra, em suaimensa maioria, em pontos do litoral em que se situam as principais cidades e em oásislocalizados no interior. Ao se tornar independente, adotou a forma monárquica de governo,profundamente submissa às potências colonizadoras, o que deu condições a uma revoluçãonacionalista militar, do tipo nasserista, que nacionalizou o petróleo e vem se opondo à políticaimperialista no mundo islâmico. Esta política tem provocado fortes incidentes com os EstadosUnidos, que acusam o governo líbio de ser comprometido com o terrorismo internacional e até

     já bombardearam cidades líbias. As posições radicais da Líbia têm provocado confrontostambém com o Egito e com a França, sobretudo face à intervenção em negócios no Chade.

    OS PAÍSES GRANDES

    Consideramos como países grandes os que possuem mais de 500.000 e menos de1.500.000 Km², havendo na África cerca de 16 deles, com localizações geográficas ecaracterísticas étnicas e econômicas as mais diversas .Numerosos países são subpovoados, se utilizarmos o critério da densidade demográfica,possuindo menos de cinco hab/Km²; são a Botsuana, a República Centro-Africana, a

    Mauritânia, o Níger e o Chade. Todos esses países possuem grandes porções do seu territórioem áreas desérticas e semidesérticas.A Namíbia é uma região desértica, ocupada pelos alemães que a exploraram até o

    fim da Primeira Guerra Mundial, quando foi entregue como mandato à África do Sul. Trata-sede área rica em minérios como urânio, diamantes, cobre, zinco e manganês. No período dadescolonização, as Nações Unidas reconheceram o direito à independência da região, mas aÁfrica do Sul, pretendendo controlar-lhe as riquezas tratou de mantê-las sob o seu controlemilitar, desencadeando uma forte perseguição dos partidários da independência. Estes,organizaram-se em guerrilhas e com um certo apoio de Angola e Zâmbia vêm lutando paraefetivar a independência. Os sul-africanos, mais fortes, vêm fazendo pressão sobre os países

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    vizinhos e dando apoio a Jonas Savimbi, da UNITA, para tentar derrubar o governo popularde Angola e expandir mais ainda a sua área de influência. Para a África do Sul teria umagrande importância geopolítica a colocação de governos títeres em Angola e Moçambique.

    A África do Sul é o mais rico e desenvolvido do grupo, dispondo de áreas de solosférteis e de clima subtropical, mas, sobretudo, de uma grande riqueza mineral. Tem, porém,um sério problema, uma vez que o país é inteiramente controlado por uma minoria branca –menos de 5.000.000 de habitantes – que detém o poder de forma autoritária, desenvolvendo

    um sistema legal de discriminação racial contra os negros, mulatos e indianos, o apartheid. Este sistema é condenado a nível internacional, mas tolerado pelas grandes potênciascolonizadoras, que mantêm um comércio intenso com a África do Sul.

    Para um maior controle dos recursos do país, os brancos se apossaram das minas edas melhores terras e procuram manter os negros enquistados em bairros próprios ou nasregiões pobres, onde criaram os bantustões ou “lares bantus”, onde os negros gozam de umacerta autonomia interna. Consideram estes bantustões como países independentes, mas osdemais países do mundo não reconhecem sua independência, uma vez que é evidente ocontrole deles pelo governo sul-africano. Ainda controlam o território da Namíbia, quedeveria ter ficado independente, e interferem na vida dos países negros vizinhos, através degrupos fantoches. Daí a falta de estabilidade política de países como Angola, Botsuana,Moçambique e dos pequenos enclaves formados pelo Lesoto e pela Suazilândia.

    Angola é um país de grande extensão territorial que permaneceu por quasequinhentos anos como colônia portuguesa, sendo rico em minérios, como o petróleo (região deCabinda), diamantes, ferro, cobre, manganês, fosfato e sal. A densidade demográfica é baixa,da ordem de 6,4 hab/Km², e o país vem sendo devastado por uma cruenta guerra civil, que sesucedeu à luta pela libertação nacional, quando o poder foi disputado por três grupos rivais,separados por posições ideológicas e por rivalidades tribais. Na luta pela independência houveinterferência de potências estrangeiras, como os Estados Unidos, em apoio à FNLA - FrenteNacional Libertadora de Angola – contra o UNITA – apoiada pela África do Sul - e o MPLA– Movimento Popular de Libertação de Angola, liderado por Agostinho Neto e apoiado pelaUnião Soviética e Cuba. Com a retirada dos portugueses, o MPLA apossou-se de Luanda eorganizou o governo independente de Angola, eliminando a FNLA; mas, ainda hoje, apesar daajuda recebida de soldados cubanos, luta contra a UNITA – União Nacional pela

    Independência Total de Angola – que é apoiada pelo governo racista da África do Sul.A Botsuana é um país em grande parte desértico, com 2,0 hab/Km², porém rico em

    diamantes e outros minérios, sendo habitado por povos bantus. Por ser central, vive nadependência da África do Sul, que já tem interferido em seu território para prender políticosque contrariam o apartheid . Procura uma maior aproximação com as nações negras da Áfricameridional e tem dado algum apoio cauteloso à causa da independência da Namíbia.

    O Egito é um país de grande importância histórica e possui relíquias arqueológicasdo maior valor. A maior parte do seu território é formada por um deserto, interrompido peloVale do Nilo, onde se concentra a sua grande população. A fertilidade das terras do vale,consequência em grande parte do húmus depositado durante as cheias do rio, levou Heródoto,o famoso sábio grego, a afirmar que “o Egito é uma dádiva do Nilo”. A sua densidadedemográfica é de 51,8 hab/Km², mas a área habitada é muito pequena, apresentandodensidades, no meio rural, superiores a 1.000 hab/Km². Tendo sido, na Antiguidade, a sede deum grande império, sofreu o domínio sucessivo de povos estrangeiros – gregos, romanos,árabes, turcos, ingleses, etc. – e hoje luta por firmar a sua independência frente à ameaçaisraelense, ora aliando-se à União Soviética, ora aos Estados Unidos. As grandes obrasconstruídas no Nilo, como a represa de Assuã, têm provocado a sua modernização econômica,embora às custas de impactos ecológicos que podem trazer grandes problemas ao país. Seudestino está ligado ao do mundo árabe, embora o Egito não seja etnicamente um país árabe,mas apenas muçulmano.

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      A Etiópia é outro país secular que se atribui tenha sido o reino cristão de Preste Joãodas lendas do século XVI. Nela convivem várias etnias que disputam o poder. A unidade e aconsciência nacionais ainda não se consolidaram, apesar de sua existência milenar. Temgrandes áreas de clima desértico, sobretudo na porção meridional e possui uma densidadedemográfica de 37,6 hab/Km². A Eritréia, anexada à Etiópia, após a conclusão da SegundaGuerra Mundial, tem mantido uma luta pela independência que vem desgastando o país. Apósa queda da dinastia, representada por Hailé Selassié (1974), os militares que tomaram o poder

    fizeram uma opção socialista de governo, mas não conseguiram planificar a economia, nematenuar a fome e a baixa qualidade de vida da população. Além disso, as secas vêmprovocando grandes problemas ao velho império copta.

    Madagascar é um país insular, com uma densidade demográfica da ordem de 18,1hab/Km², onde a maioria da população se dedica a produtos tropicais e à pequena mineração.Habitada por povos de raça amarela, a ilha esteve durante decênios sob o domínio da França eainda mantém intenso intercâmbio com a antiga metrópole.

    A Mauritânia é um deserto de grande extensão e pequena população, 1,9 hab/Km²,sendo rica em minério de ferro. Habitada por povos árabes, tentou conquistar, junto comMarrocos, a porção meridional do Saara Ocidental, quando os espanhóis se retiraram da área.Após alguns anos de guerra, retirou-se do conflito, que continua a ser conduzido peloMarrocos.

    O Mali é um país em grande parte desértico, onde convivem numerosasnacionalidades, apresentando uma densidade da ordem de 6,8 hab/Km². Trata-se de paíspobre, de baixa renda  per capta, onde são cultivados o algodão e o amendoim - produtos deexportação – e a tamareira, esta sobretudo, nos oásis.

    Moçambique é uma antiga possessão portuguesa onde, ao lado da população negra,existe um grande contingente de indianos. Apresenta uma densidade demográfica da ordem de16,8 hab/Km². Sua economia é dominantemente agrícola, baseada em produtos tropicais,como o café, a castanha-de-caju, a cana-de-açúcar, o chá, etc.; mas possui reservas minerais –

     já prospectadas e ainda não exploradas – bastante expressivas. O país foi muito prejudicadopela longa guerra de independência contra os portugueses e, em seguida, pela sabotagem eintervenção da África do Sul, que procura desestabilizar a sua economia visando a impedir oseu crescimento. Também o interesse da África do Sul se baseia no fato de utilizar, em suas

    minas, a força de trabalho de migrantes moçambicanos que recebem salários muito baixos.O Níger é uma porção desértica cortada pelo médio curso do rio do mesmo nome,

    onde vive uma população rarefeita de 1,6 hab/Km², dedicada, sobretudo, ao pastoreio e àexploração das tamareiras nos oásis. Possui reservas de urânio e cassiterita, em exploração porempresas de capital francês.

    A Nigéria é o principal país africano por sua população; o único com mais de cemmilhões de habitantes e uma densidade demográfica da ordem de 117,6 hab/Km², muitoelevada, portanto, para um país situado em área de clima tropical úmido. Tem uma agriculturabastante diversificada, por possuir áreas no trópico úmido e semi-árido, sendo também rico emminérios, sobretudo em gás natural, petróleo, ferro e urânio. As dissensões internas entre osiorubás, ibos e huassas, principais grupos étnicos, põem em risco a unidade nacional, estandoo governo sob o controle militar.

    A República Centro-Africana, que esteve em evidência  na imprensa no ano de1977, quando o general Bocassa proclamou-se imperador, é um território pouco povoado, com4,3 hab/Km², e exportador de diamantes e madeiras tropicais. Sendo um país central, faz suasrelações comerciais com o exterior através dos afluentes do Zaire, como o Chari e o Ubanghi.

    A Somália, apesar de possuir uma densidade demográfica de 7,7 hab/Km², é emgrande parte desértica, situando-se na África Oriental, ao sul da Etiópia. Como a porçãomeridional deste país é habitada por povos somalis, ela reivindica a incorporação de uma parteda Etiópia ao seu território. A economia se baseia na exploração mineral e na pecuária,sobretudo, de cabras ovelhas e camelos.

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      A Tanzânia compreende o território de Tanganica, antiga colônia alemã, e oSultanato de Zanzibar, que se unificaram. Tem grande porção do seu território em região dealtitude, permitindo que a densidade demográfica atinja os 24,9 hab/Km², que é relativamenteelevada para a África. Tornou-se famosa pela experiência socialista africana, desenvolvidapelo seu líder J. Neierere nas décadas de 60 e 70, ao procurar caminhos para odesenvolvimento autêntico do seu país.

    O Quênia é um país também com “letras altas” e densidade demográfica razoável,

    38,4 hab/Km², possuindo no planalto um grupo de fazendeiros brancos, de origem inglesa, quese dedica à pecuária e à agricultura. Possui também recursos minerais em exploração.Zâmbia é um país da África austral, rico em minério de cobre, cobalto e chumbo.

    Tem parte de seu território em áreas de clima semi-árido e está próximo à área conflagrada deAngola, Namíbia e África do Sul, o que torna vulnerável devido à passagem de guerrilheiros ede exércitos perseguidores dos mesmos, pelo seu território. O fato de ser um país centraltambém traz sérios entraves ao seu desenvolvimento.

    Analisando-se os países considerados grandes, nota-se que eles apresentam grandesproblemas para suas realizações como Estados-nações. Em geral, se excetuarmos a África doSul, são pobres, endividados e sempre ameaçados por interferências estrangeiras em suasfronteiras.

    O Chade é um país interior do norte da África Central, com uma superfície de 1 284

    000 km². Situa-se a sul da Líbia, e tem 5 968 km de fronteiras com os Camarões, a RepúblicaCentro-Africana, o Níger, a Nigéria e o Sudão. O Chade tem quatro zonas climáticas:planícies amplas e áridas no centro do país, deserto no norte, montanhas secas no noroeste eterras baixas tropicais no sul. Só cerca de 3% do país é terra arável, e nenhuma desta terra temcultivo permanente. O Chade está sujeito a secas periódicas, a pragas de gafanhotos e aosventos quentes, secos e poeirentos do harmattan, que ocorrem no norte do país. O lago Chade,partilhado pelo Chade e pelos Camarões, foi em tempos o segundo maior lago de África, masdurante as últimas décadas o seu tamanho diminuiu dramaticamente e está hoje reduzido amenos de 10% da sua anterior extensão.

    OS PAÍSES MÉDIOS

    Consideramos como médios os países que possuem uma superfície superior a100.000 Km². Na África, eles são representados por 16 unidades que se distribuem por suasvárias regiões, daí haver entre os mesmos alguns com grande densidade demográfica e umcerto desenvolvimento industrial e outros subpovoados com economia primitiva.Existem três países com densidades demográficas muito baixas: o Saara Ocidental, com 0,5hab/Km², inteiramente desértico, e os países equatoriais, o Congo e o Gabão com,respectivamente, 6,1 e 4,5 hab/Km². Os demais possuem mais de 20 hab/Km², elevando-seesta densidade a 62,5 hab/Km² no Malavi e a 67,4 hab/Km² em Uganda.

    O Benin, situado no Golfo da Guiné, é uma estreita faixa de terra que se alonga para

    o interior, onde uma população expressiva se dedica à agricultura de produtos tropicais, tantopara a subsistência, como para a exportação e à exploração do petróleo.O Burkina Faso, antigo Alto Volta, é um país central, extremamente pobre, situado

    no médio volta, onde a população vive de exploração do solo – produção de sorgo, de algodãoe de amendoim -, em condições muito difíceis, devido aos rigores do clima e às baixascondições técnicas dominantes na exploração agrícola. A sua centralidade, que o faz dependerdos vizinhos nas relações comerciais, agrava a pobreza e pesa sobre a qualidade de vida.Merece referência, ainda, que os burkinenses, em grande número, migram para Gana e Costado Marfim, na época da colheita do café e do cacau, contribuindo assim para melhorar ascondições de renda da população do país.

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      O Congo, situado na margem do rio Zaire, é um país equatorial em que a maioria dapopulação se dedica à exploração agrícola e florestal, assim como à pesca. Possui ricas jazidasde potássio, cuja exploração vem sendo intensificada, além de jazidas menos expressivas deouro e petróleo.

    Os Camarões, situados no Golfo da Guiné, apresentam uma agricultura de produtostropicais bastante ativa e diversificada e começa a intensificar a exploração das jazidas depetróleo, gás natural, bauxita e estanho. O desenvolvimento industrial, apesar de incipiente, é

    expressivo em relação ao continente africano.Costa do Marfim é um país rico, de vez que a sua área de clima tropical úmido égrande produtora de cacau e de café, tendo para estes produtos um mercado garantido em suaex-metrópole, a França, e em outros países europeus. Possui uma densidade demográficaexpressiva (33,5 hab/Km²) e tem capacidade de atração da força de trabalho de países vizinhosno período de colheita destes produtos tropicais. Na porção setentrional, de clima semi-árido,há uma expressiva atividade pecuária. Destaca-se, ainda, pela riqueza florestal e por sua opçãopelo sistema capitalista de desenvolvimento, após a independência , o que lhe deu maior poderde barganha junto aos países capitalistas, na disputa de créditos e investimentos, frente apaíses que adotaram uma linha político-econômica de tendência socialista, como Gana eGuiné .

    O Gabão é uma porção de floresta equatorial subpovoada. O país se destaca,

    sobretudo pela produção e exportação de madeiras de lei e por sua riqueza em minérios,principalmente em manganês, em que é um dos principais produtores mundiais. Tanto omanganês, como outros minérios, são explorados por empresas transnacionais, resultando empoucas vantagens para a população nativa, com a perspectiva de esgotamento, a médio prazo,dos recursos disponíveis.

    Gana, a antiga Costa do Ouro, é um dos principais países africanos no Golfo daGuiné, tendo sido uma colônia britânica que deu elevadas rendas à coroa. Independente, sob aliderança de Nkrumah, ela procurou encontrar um caminho socialista autêntico, africano,tendo tido sérios problemas para reorganizar a sua economia, baseada na mineração e naprodução de café e cacau, e atenuar a pressão dos países capitalistas. Em 1966, os militaresdepuseram o governo progressista e estabeleceram um regime autoritário de direita, queprocurou enquadrar o país nas linhas prescritas pelos antigos colonizadores e pelas empresas

    transnacionais.A Guiné viveu uma interessante experiência ao sair do regime colonial. Seu líder,

    Sekou Touré, em 1958, ao ser consultado sobre se o país preferia ficar inteiramenteindependente ou participar da Comunidade Francesa, em organização, conduziu o país a optarpela primeira alternativa, o que provocou, da parte de De Gaulle, o corte imediato de toda aassistência que a França dava à Guiné. Isolada, ela recorreu à ajuda dos países socialistas e,para se desenvolver, procurou industrializar a bauxita, a fim de produzir alumina e alumínio.O boicote das empresas internacionais que controlam o setor trouxe sérios problemas à novarepública. O principal suporte econômico do país é hoje representado pela exploração dominério de ferro e da bauxita, assim como pela pesca e pela agricultura de produtos tropicais.

    A Libéria foi criada na primeira metade do século XIX, por uma sociedade norte-americana que procurava fazer retornar à África escravos negros libertados. Daí o nome dopaís, sendo a sua capital denominada de Monróvia, em homenagem ao presidente americanoJames Monroe, que apoiou a iniciativa. Esteve sempre sob a tutela disfarçada dos EstadosUnidos, o que impediu a anexação aos domínios britânico e francês, por ocasião do avançomais agressivo do imperialismo. A exploração do minério de ferro, do ouro e de diamantes, aolado de uma pequena agricultura, constituem-se as principais atividades econômicas do país.A Libéria, porém, é famosa por permitir que as grandes empresas de transporte internacionaisutilizem, em seus navios, a bandeira liberiana, visando, naturalmente, vantagens fiscais, sendoum dos países que possui uma das maiores frotas mercantes do mundo.

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      O Malaui, situado sobre um planalto às margens do lago de Niassa, é um paíscentral; cercado por Estados rivais, vem fazendo uma política de grandes concessões à Áfricado Sul, o que traz sérios prejuízos a Moçambique e à África negra, em geral. Gozando de umclima tropical de altitude, tem uma agricultura desenvolvida e diversificada e uma elevadadensidade demográfica.

    O Marrocos é um tradicional reino muçulmano banhado pelo Atlântico e peloMediterrâneo. Com inúmeros monumentos históricos ligados à tradição islâmica, procura

    desenvolver o turismo, que é hoje uma das principais atividades econômicas do país. Situadopróximo da Europa e apresentando características consideradas pelos europeus exóticas, oMarrocos é um dos grandes pólos de atração de turistas de toda a Europa. Sua economia ébastante diversificada, tendo importante produção de fosfato e de minério de ferro, umaagricultura muito variada de produtos mediterrâneos e um artesanato que, no setor detapeçaria, tem grande aceitação nos países ricos. A distribuição de renda, porém, é muitoinjusta, havendo grandes desníveis sociais e econômicos da população.

    O Senegal foi, durante decênios, o centro de irradiação da colonização francesa naÁfrica Ocidental, daí o crescimento demográfico e funcional da cidade de Dacar. Com aindependência, os políticos locais tentaram organizar uma confederação de Estados africanosfrancófonos, evitando o desmembramento da antiga África Ocidental Francesa, masfracassaram, conseguindo apenas manter uma união com o Mali, de 1960 a 1961. O país, que

    possui uma elevada taxa de urbanização, é, sobretudo, produtor de amendoim, principalproduto de exportação, e de sorgo, destinado à alimentação da população da população nativa.

    A Tunísia é um país árabe que permaneceu por mais de meio século sob o“protetorado” da França, embora recebesse também grande influência italiana. Os italianos,inclusive, desejavam  ocupar a Tunísia, a fim de possuírem as ruínas da antiga Cartago, agrande inimiga de Roma. Além de produzir fosfato e petróleo, o país possui uma indústria debens de consumo ponderável e uma agricultura bastante diversificada. O turismo também éuma das suas principais fontes de renda.

    Uganda,  situada na África Oriental, nas margens do lago Vitória, no alto do Nilo,goza de um clima tropical de altitude que permite o desenvolvimento de uma agriculturadiversificada, com expressiva produção de café, algodão e chá. Também possui umamineração significativa de cobre e sal. No período colonial formava uma monarquia

    reconhecida e “protegida” pelos ingleses; com a independência, foi proclamada a repúblicapor Milton Obote e, em seguida, passou por períodos difíceis em que foi governada pormilitares despóticos, como o famoso Idi Amim Dada, hoje exilado na Arábia Saudita.

    O Zimbábue é a antiga Rodésia do Sul, onde uma minoria de fazendeiros brancostentou, a partir de 1965, implantar um regime semelhante ao da África do Sul, entrando emchoque com a própria Grã-Bretanha. Apesar do apoio sul-africano, o regime de minoriabranca não conseguiu manter o controle do poder e passou o governo aos grupos negros, em1978. Sua economia é dominantemente primária – agrícola e pecuária – e bastantediversificada.

    O Saara Ocidental é a antiga colônia espanhola do Rio do Ouro, que foi desocupadapelo dominador europeu, em 1976, e invadida imediatamente pelo Marrocos e pelaMauritânia, que pretendiam dividir, entre eles o seu território. O grupo político que liderara aluta pela independência, a Frente Polisário, obteve o apoio da Argélia e conseguiu a retiradada Mauritânia do conflito. O Marrocos quer expandir o seu território, alegando direitoshistóricos sobre o Saara Ocidental, desejoso de se apossar das riquezas minerais aí existentes.Também teme um cerco de países de tendência socialista – Argélia e Saara Ocidental – emsuas fronteiras, o que poderia pôr em risco a estabilidade da monarquia.

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    PAÍSES PEQUENOS

    Considerando como pequenos os países que possuem menos de 100.000 e mais de10.000 Km², encontramos, na África, cerca de dez Estados.

    Estes países apresentam uma série de características comuns, ao lado de outras queos diferenciam. Assim, Burundi  e Ruanda se situam em terras altas na África Central e

    estiveram sob o controle alemão antes da Primeira Guerra Mundial. Com a derrota alemã,foram entregues como mandatos da Sociedade das Nações à Bélgica e só vieram a se libertarna segunda metade do século XX. Possuem elevada densidade demográfica – 179,6 hab/Km²no Burundi e 54,4 hab/Km² em Ruanda – tendo o primeiro uma economia dominantementeagrícola, enquanto o segundo, ao lado da agricultura, desenvolve uma expressiva produção decassiterita, minério de estanho.

    Djibuti é um antigo porto controlado pelos franceses, na saída meridional do MarVermelho, que se desenvolveu por ser a estação inicial da estrada de ferro que ligava AdisAbeda, capital da Etiópia, ao litoral. Habitada em grande parte por somalis, ao se tornarindependente foi reivindicada pela Somália, que englobava as colônias inglesas e italiana, mascom o apoio da França manteve-se como país independente. O país depende quaseinteiramente de ajuda francesa, tendo uma economia inexpressiva.

    Gâmbia é uma estreita faixa de terra encravada no Senegal, acompanhando o cursoinferior do rio do mesmo nome. Destaca-se pela produção de amendoim e algodão, mas vivesérios problemas políticos e econômicos. Em função da sua posição geográfica, depende emgrande parte do Senegal, para o qual cria problemas de circulação, e faz desenvolver a idéia defusão dos dois, formando, no futuro, o Senegâmbia.

    O Lesoto e a Suazilândia são dois pequenos países encravados na África do Sul, daqual dependem inteiramente, já que ela usa força de trabalho dos seus habitantes, em suasminas – pagando-lhes baixos salários. Há uma permanente pressão política sul-africana sobreos dois pequenos Estados, a fim de impedir que líderes negros de oposição ao apartheid   serefugiem aí.

    A Guiné-Bissau permaneceu por mais cinco séculos sob a dominação portuguesa e

    ao se libertar, após cruenta guerra, era um dos países mais pobres e atrasados da África, tendoa sua economia baseada na agricultura tradicional, na pesca e na exploração florestal. Oprojeto político dos libertadores da Guiné era formar uma federação com Cabo Verde,arquipélago também colonizado pelos portugueses, mas os interesses internacionais oimpediram, criando sérios problemas de viabilidade aos dois países.

    A Guiné Equatorial, um pequeno enclave entre o Gabão e o Camarões, foi colôniaespanhola. Dispõe de uma agricultura primitiva e diversificada – mandioca, café, cana-de-açúcar, palmeira de óleo, etc. – e de uma indústria pouco expressiva e sem grandepossibilidade de desenvolvimento, devido às limitações quantitativas e qualitativas domercado.

    Serra Leoa é uma antiga colônia inglesa que se tornou independente na segundametade do século XX. Sua economia se baseia na exploração mineral – minério de ferro,

    urânio, rútilo, etc. – e em uma agricultura tropical bastante diversificada. Após aindependência, o país tem atravessado períodos de grande instabilidade política, estimuladapor ambições tribais e por interesses das grandes empresas que exploraram os seus recursos.

    Togo é um pequeno país no Golfo da Guiné que se destaca pela produção de cacau ede café, assim como exportação de fosfato. Tem fronteiras artificiais com Benin e Gana, quenão respeitam as distribuições geográficas das etnias, o que dificulta a integração nacional.

    OS PAÍSES MUITO PEQUENOS OU MINI PAÍSES

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      Existem na África cinco mini países com superfícies inferiores a 5.000 Km², todoseles formados por pequenos arquipélagos que se distribuem a uma relativa distância da costa,nos oceanos Atlântico e Indico.

    Dentre os mini países, o mais extenso é Cabo Verde, o de maior população éMaurício e o de menos extensão territorial Seichelles. Todos têm densidades demográficasmuito elevadas, destacando-se sobretudo Maurício com 589,8 hab/Km², e Camores, com209,7 hab/Km².

    Cabo Verde é um país muito pobre, que se mantém com a pesca, com umaagricultura diversificada tradicional e com a produção de sal. Uma das ilhas do arquipélagochama-se Ilha do Sal. É também um país de emigração, sendo grande o contingente decaboverdianos que trabalha e vive nos países europeus.

    As Comores formam um arquipélago no Oceano Indico, próximo a Madagascar,onde há importante cultura de baunilha e de plantas aromáticas. Tem uma expressiva atividadepesqueira e pode se beneficiar da atividade turística.

    São Tomé e Príncipe formam um conjunto de ilhas muito pobres, de umaagricultura primitiva e da pesca. Foi, durante vários séculos, uma colônia portuguesa e serviude entreposto ao comércio negreiro.

    Seichelles é o menor país africano e sua pequena população vive da pesca e daagricultura. Localizada em área de clima tropical, pode, no futuro, ser explorada pela atividade

    turística.Maurícia ou Maurício, também chamada de Ilhas Maurícias ou Ilhas Maurício, é

    um país do Oceano Índico, constituído pelas ilhas Mascarenhas orientais (ilha Maurícia eRodrigues) e por dois arquipélagos de ilhotas mais a norte: as ilhas Cargados Carajos eAgalega. A Maurícia disputa ainda com Madagascar e a França, a ilha de Tromelin. Os seusvizinhos mais próximos são o departamento francês de Reunião, a oeste, e as Seychelles, anorte. Sua capital é Port Louis.

    Os Recursos Africanos

    Os Recursos Minerais

    Os minerais talvez constituam os mais significativos dos recursos naturais quepermitiram ao homem o controle do seu meio ambiente.

    A importância dos minerais no desenvolvimento da tecnologia humana, durante apré-história, vai além da simples fabricação de ferramentas, armas e recipientes. Abrange,também, a construção de moradias, para as quais a argila foi fator preponderante.Edifícios públicos, monumentos (como as pirâmides) exigiram grandes quantidades derochas graníticas duras ou de quartzito.

    Os minerais forneceram os pigmentos para as pinturas rupestres, algumas das

    quais no Saara e na África Meridional conservaram se admiravelmente até os nossos dias.Os pigmentos eram obtidos através da trituração de diferentes tipos de rocha, como ahematita, o manganês e o caulim, misturando-se o resultante com elementos gordurososou resinosos.

    Mas foi o ferro o minério mais importante para o desenvolvimento da África no fimda era pré-histórica, a partir da utilização do laterito ou crosta ferruginosa, como base dasprimeiras atividades da metalurgia do ferro.

    Vastas zonas da África repousam sobre massas rochosas classificadas dentre asmais antigas do planeta. As rochas cristalinas antigas, consideradas como "o pedestalrochoso do continente" recobrem, pelo menos, um terço de sua superfície. Compreendem,

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    sobretudo, granitos e rochas metamórficas, como os xistos e os gnaisses, parte das quaissão altamente mineralizadas.

    Dentre as mais importantes dessas formações, destacam-se as reservas de cobre doShaba, na República Democrática do Congo, cujas extensões ultrapassam 300 quilômetros.Esta zona contém não só as maiores jazidas de cobre do mundo, como também algumas dasmais ricas jazidas de rádio e cobalto.

    No Transvaal (África do Sul), o complexo vulcânico do Bushweld, com a superfície

    de seis mil quilômetros quadrados, e o Great Dike, que atravessa o Transvaal numa extensãode quinhentos quilômetros, até o Zimbábue, são igualmente abundantes em minérios, como aplatina, o cromo e o amianto.

    A zona diamantífera africana não tem correspondência no resto do mundo. E naÁfrica do Sul que atinge a sua maior concentração, embora haja outras jazidas na Tanzânia,em Angola, na Namíbia e na, República Democrática do Congo. A África do Sul, Gana e aRepública Democrática do Congo possuem minas de oura; o estanho é encontrado naRepública Democrática do Congo e na Nigéria.

    Há que se ressaltar, também, a presença de importantes jazidas de minério de ferrona África Ocidental, como as da Mauritânia, Libéria, Guiné e Serra Leoa. Somente a Guinépossui mais da metade das reservas mundiais de bauxita (minério do alumínio). Ao longo damargem norte do continente, numa área que se estende do Marrocos à Tunísia, atravessando a

    Argélia, encontra-se o grande cinturão dos fosfatos, associados às jazidas de ferroextremamente ricas. Importantes jazidas de minério de ferro, de origem sedimentar, podemser encontradas, ainda, na região de Caroo (África do Sul e Namíbia). O carvão mineralpraticamente inexiste no Continente, salvo pequenas ocorrências na África do Sul, Zimbábuee no Egito.

    Supõe-se que o controle do comércio do ouro, através do deserto, entre o oeste e onorte da África, foi uma das principais razões do surgimento de impérios e reinos no SudãoOcidental. É certo que a partir do últimos mil anos o comércio do ouro e do minério de ferroatraiu os árabes para a África Oriental.

    Os europeus, no decorrer dos últimos séculos, concentraram-se na África,transformando-a em reservatório colonial de minérios brutos para alimentar o crescimento dasindústrias européias.

    As rochas sedimentares mais recentes, do pós-cretáceo, encerram no Saara e nolitoral da África Ocidental vastos lençóis de petróleo e de gás natural.

    Apesar do subsolo rico da África, os africanos dispõem de poucos recursos paraexplorá-lo, dependendo de investimentos estrangeiros. Entretanto, em algumas áreas, osconflitos étnicos e as guerras civis têm afastado os investidores.

    Alguns países privatizaram suas minas, como as jazidas de bauxita da Guiné e asminas de cobre e cobalto do Congo e da Zâmbia. As exploradoras multinacionais européias,norte-americanas e sul-africanas continuam a investir na exploração mineral.

    Recursos Vegetais

    O Continente Africano, graças aos recursos vegetais, pode suprir as necessidades desua população, cuja densidade não cessou de aumentar.

    A África e, antes de tudo, um continente de pradarias. Uma grande variedade deervas de uso forrageiro cobre mais da metade da sua superfície. Em seguida vem o deserto,com cerca de trinta por cento. Depois, a floresta, com menos de vinte por cento.Essa diversidade de meios-ambientes foi importante para a ocupação humana, uma vez queasseguraram a subsistência com a caça, com frutas ou raízes comestíveis, bem como matériaspara a fabricação de utensílios, vestimentas e abrigos, e forneceram matrizes para a criaçãodas culturas agrícolas. A zona das pradarias e a reserva da caça africana, com sua grandevariedade de antílopes, gazelas, girafas, zebras, leões, búfalos e outros bubalinos (gnus, por

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    exemplo), elefantes, hipopótamos, rinocerontes, sem contar a caça de pequeno porte. Tal fatoexplica que aí estejam os mais antigos sítios da ocupação humana, ao longo dos cursosd’água, à beira dos lagos ou do mar.

    A floresta era despovoada. Somente o desenvolvimento das t�