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T E X T O D E J O Ã O M I G U E L S I M Õ E S | F O T O G R A F I A S D E P A U L O B A R A T A

PAIRANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOSCourchevel 1850. A numerologia não remete para uma data, mas sim para uma altitude. A quase dois mil metros de altura, a saison está de novo aberta na mais mundana das estâncias alpinas francesas.

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revisão meteorológica para o dia: céu limpo, sol radioso e uma temperatura abaixo dos dez graus negativos. Em Courchevel, as pistas abrem às nove, mas, muito antes da hora marcada, é já grande o frenesim de todos aqueles que não querem perder mais uma (boa) jornada nas montanhas.

A mais mundana, e cara, de todas as estâncias dos Alpes franceses estruturou-se para agradar a gregos e a troianos. Isso não quer dizer que o consiga. Quer dizer que possui ingredientes para o fazer. O que é diferente.

Quem vem pela festa, e pelas compras, e pelos spas, e pelos hotéis--chalés ou pelos restaurantes estrelados, tem muito com que se entreter. Aliás, é tanta distração que, se não tivermos cuidado, podemos até perder a hora na manhã seguinte...

Quem acha fora de contexto a presença de Chanel, Valentino ou Car-tier – só para citar algumas das marcas de luxo mais óbvias de La Croisette, a área comercial nobre de Courchevel – terá, porventura, razões de sobra para concluir que esta não é «a sua praia», ou melhor, «a sua estância».

Mas não confundamos as coisas. Para lá dos russos novos-ricos que bebem champanhe como quem

bebe água em endereços da moda como Le Mangeoire, das peles ver-dadeiras que desfilam, dentro e fora de portas, sem peso na consciência, e das suites e chalés que custam uma pequena fortuna à semana, há,

acreditem no que vos contamos, uma Courchevel com adrenalina e focada no básico.

É que mesmo não sendo tão desportiva como Val Thorens ou Tignes, Courchevel está longe de ser uma «florzinha de estufa» e integra Les 3 Vallées, que é só, para que conste, o maior domínio esquiável do mundo com enorme variedade de pistas (do iniciado ao «pro») e uma senhora dona infraestrutura – École du Ski Français e meios mecânicos de última geração incluídos no pacote – digna de respeito.

E neve. Muita e boa neve, com uma consistência próxima ao pó de talco, que é sempre um fator a não subestimar. A temporada de 2011-12 revelou-se bastante generosa neste quesito. Tomara que a presente saison, que começa agora e se prolonga até abril, alinhe pela mesma fartura.

Não que isso faça muito diferença. Courchevel, como as demais estâncias, vive de e para o inverno. No resto do ano, apenas permanece aqui um núcleo duro de duas mil almas, número que ascende vertigi-nosamente a cerca de quarenta mil durante a época alta. Se contarmos com os visitantes, a soma final aponta para uma média invejável de um milhão e meio por temporada. Nada mau.

Porque os pormenores, mesmo os menores, contamO título «Courchevel 1850» leva, ainda hoje, não pouca gente à certa. Acontece que esta popular estância dos Alpes franceses foi construída em diferentes níveis, pelo que nos encontramos no ponto culminante de um

P

COMO IRPara quem voa a partir de Lisboa, a melhor ligação é com Genebra, na Suíça. A TAP (flytap.com) tem voos diretos desde 178,73 euros, com todas as taxas incluídas. A partir do aeroporto, a viagem por estrada até Courchevel demora cerca de duas horas e meia. Dependendo do tipo de pacote ou de optar ou não pelo aluguer de uma viatura, tenha em atenção que, de táxi, um transfer de ida e volta poderá ficar em cerca de 350 euros. Existem ligações regulares de autocarro entre o aeroporto de Genebra e as estâncias nos Alpes franceses (altibus.com).

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vale, rodeado de pistas, a 1850 metros de altitude. Tão simples quanto isso para uma primeira explicação.

Como praticamente tudo em Courchevel 1850, La Sivolière, o hotel eleito, não é barato. Mas, na multidão de hotéis de luxo da estância mais badalada dos Alpes franceses, ele consegue destacar-se pela discrição, aconchego, atendimento personalizado, intimismo na medida exata e localização certeira (perto da movida, mas suficientemente longe para não ser contagiado por ela). Não é o único, claro, mas há nele qualquer coisa de familiar que agrada, sobretudo porque essa sensação tem que ver

com uma escala humana (marca registada da sua gerente, a incansável Florence Carcassonne) e não com a pretensão de se querer passar por aquilo que não é.

Explicando melhor: o La Sivolière, ainda que pequeno (com apenas 24 quartos, 11 suites e um apartamento), não cria em nós, seus hóspedes, a ilusão de estarmos a ser recebidos na casa de amigos ricos. Não é um hotel-casa, é um hotel-hotel, com todos os serviços inerentes, que nos faz sentir bem porque, precisamente, não estamos na nossa casa e por isso não temos de nos preocupar com rotinas.

Chamem-lhe mundana e até superficial, mas Courchevel está longe de ser uma «florzinha de estufa» e possui toda uma infraestrutura de ponta para a prática de desportos de inverno.

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E foi isso, mais do que tudo o resto, que nos conquistou nos quase quatro dias e três noites que passámos ali. Não que as outras coisas sejam pormenores de somenos importância. Longe disso. Por exemplo: pais com crianças de tenra idade, cada vez mais «excluídos» em pequenos hotéis, vão gostar de saber que o La Sivolière cultiva a noção de família, o que, traduzido por miúdos, equivale a dizer que estendem o serviço cinco estrelas aos mais novos e que todo o pessoal do hotel foi treinado para ser child-friendly e estar à altura da situação. Poderia ser um direito adquirido, mas não é, pelo que o La

Sivolière pretende ir além de um simples Kids Club, onde os pais «depositam» os filhos.

Do mesmo modo, as taças com água e biscoitos, na receção, não deixam margem para dúvidas: este é também um hotel onde os hóspedes podem fazer-se acompanhar dos seus cães. Os bi-chos não estão autorizados a circular pelas áreas comuns, mas par tilham, em regime de meia-pensão, os aposentos dos donos e têm à sua disposição os serviços de «babás» e até de um osteo-pata canino.

Chamem-lhe mundana e até superficial, mas Courchevel está longe de ser uma «florzinha de estufa» e possui toda uma infraestrutura de ponta para a prática de desportos de inverno.

COISA SÉRIAQuem leva o esqui muito a sério talvez não eleja Courchevel como a sua primeira escolha, mas não é por falta de neve ou de boa infraestrutura. A estância integra o maior domínio esquiável do mundo (vulgo Les 3 Vallées).

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HOTEL-CHALETConstruído no mais puro estilo alpino, à boa maneira da Alta Saboia, La Sivolière soube renovar-se e converteu-se num dos cinco estrelas mais discretos e confortáveis da estância. À direita, a cozinha estrelada do Chabichou.

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E quem não tem crianças nem cães será que estará pelos ajustes? É tudo uma questão de bom senso. Crianças (bem) educadas sabem comportar-se em qualquer lugar. Donos civilizados sabem educar os seus animais. Pelo menos em teoria é assim. De todas as formas, crianças não vimos durante a curta estada, mas havia cachorros no hotel e não demos praticamente por eles. E quando perguntámos se o hotel está preparado para apagar os vestígios da sua passagem («percalços» acontecem nas melhores famílias), a resposta foi firme: «Claro que sim. Temos um sistema de limpeza que não deixa o menor vestígio, inclusive de odor, se for o caso.»

Ufa! Afinal, ninguém (mesmo quem adora bichos) quer chegar, abrir a porta do seu quarto e sentir a «presença» do seu antecessor. Mais ainda se for um antecessor de quatro patas, não é mesmo?

Reconstruído em estilo alpino, o La Sivolière, que já existia antes, ganhou a sua quinta estrela em 2010 e passou por uma remodelação recente que, mais do que sacudir o pó e mudar as colchas e cortinas, mudou a sua filosofia.

Em 2009, o francês Pascal Chatron-Michaud, especializado em arquite-tura de montanha, foi chamado a intervir na estrutura, de forma a torná-la mais conforme à tradição dos chalés da Saboia. Tristan Auer, designer de interiores com provas dadas em outros hotéis como o Jules de Paris ou o Almyra de Chipre, foi o senhor que se seguiu, sendo responsável por uma decoração que, nas áreas públicas, combina elementos regionais como a madeira ou a pedra com toques mais contemporâneos por conta de peças como os tapetes da Diesel e Moroso, as luminárias de Frédérique Morrel ou o sofá em forma de montanha e catarata desenhado por Gaetano Pesce.

Nos quartos e suites, e faz sentido que assim seja, a tónica é mais alpina, com muita madeira e materiais quentes como o veludo e a lã. Tivemos a sorte de nos calhar uma suite enorme, a número 40, que juntava a tudo isso uma sala com lareira, jacuzzi numa das casas de banho e uma varanda com vista primorosa para o bosque nevado.

E ainda assim, mesmo com uma cama king size e lençóis de algo-dão egípcio, é provável que a primeira noite seja passado em claro... Acontece a muito boa gente e nós não fomos exceção. Causas mais prováveis? A adaptação à alta atitude, a incapacidade (mea culpa) para regular o aquecimento central e... ahã... um jantar tardio com raclette, fondue e tartiflette (o que é de gosto regala a vida e, pode, acrescentamos, minimizar danos colaterais).

Comida é, aliás, um pormenor que não passa despercebido no La Sivolière. Ótima seleção de pães, charcutaria (os salpicões e os salames são uma perdição) e queijos ao pequeno-almoço. Para começar bem o dia, antes de ir para as pistas, nada como uma primeira refeição robusta. Já no regresso ao hotel, ao final tarde, boa ideia a dos crepes (servidos como cortesia a quem está hospedado) e das várias opções para «picar» no cocktail lounge (substituem perfeitamente um jantar).

Mais do que da cozinha à la carte de Bilal Amrani, que não nos sur-preendeu, gostámos foi mesmo das suas propostas mais simples, com base nos produtos de mercado, e do toque pessoal em receitas bem conhecidas como a Caesar salad (a do La Sivolière é mais forte, por conta da mostarda de Dijon), que servem de contraponto à cozinha tradicional da Saboia, por regra bem mais pesada. Ao melhor estilo cozinha de mercado, com

Numa montanha de hotéis de luxo, La Sivolière distingue-se pela elegância, pelo serviço atento e por estar preparado até para receber hóspedes de quatro patas. O hotel foi totalmente remodelado em 2009 e recebeu a sua quinta estrela em 2010.

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conquilhas de Saint-Jacques muito frescas e vários legumes e fruta do dia, Bilal serviu-nos um almoço que, exceção feita ao pão, irresistível de tão guloso, e à boa manteiga Echiré (produzida diariamente por uma coope-rativa afamada), não comprometeu o nobre propósito de comer de forma mais ligeira e saudável – e até mesmo o vinho eleito, um rosé Château Margüi 2010, proveniente da Provença, era de produção biológica.

O melhor de tudo, porém, é que, após repasto tão ecologicamente correto, nem foi preciso fazer vista grossa ao que se passava lá fora. Pelas janelas do restaurante, emolduradas por bucólicos pinheiros saraivados de

um branco glacial, as pistas de esqui não pesavam na barriga e chamavam por nós. Atendemos ao chamado, claro.

Da oferta do hotel fazem ainda parte um pequeno centro de bem-estar (pode não impressionar em instalações, mas a equipa, comandada pelo osteopata Christopher Pirel, sabe o que faz) e, pormenor muito importante, uma loja de esqui. Com acesso direto às pistas (ou não tivesse sido «Jeannot» Cattelin, antigo proprietário do La Sivolière, um dos mentores de Courchevel 1850), o hotel está equipado para não deixar faltar nada a quem vem, efetivamente, para tirar o máximo partido do

Detalhe curioso: «Jeannot» Cattelin, antigo proprietário de La Sivolière, foi um dos mentores e grandes entusiastas da estância alpina de Courchevel 1850.

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domínio esquiável de Les 3 Vallées. E são todas estas coisas, somadas ainda ao facto de haver alguns empregados de origem portuguesa e uma cada vez mais significativa clientela brasileira (os mais presentes são os franceses, seguidos dos russos, dos belgas e dos britânicos), que fazem a diferença do La Sivolière.

Banhos de sol e visão de águiaEntre as várias opções de lazer disponíveis, gostámos particularmente dos restaurantes de montanha. Instalados nos píncaros, são uma espécie

de porto seguro, no meio de quase nada, ideais para uma pausa num dia de intensa atividade nas pistas e/ou para fazer a festa quando as mesmas encerram.

Existem outros como Le Cap Horn, mas Le Panoramic, de Eric Durandard, é uma referência incontornável pela localização, a 2732 metros de altitude, em La Saulire. Acessível por teleférico, mesmo para quem não esquia ou faz snowboard (ou faz, mas não é suficientemente afoito para se aventurar a tanto), Le Panoramic proporciona dos seus terraços e janelas uma visão de águia sobre vales e montanhas.

AFTER-PARTYOs restaurantes e bares de montanha são presença obrigatória em qualquer estância que se preze. Entre os mais concorridos de Courchevel conta-se Le Panoramic..

Detalhe curioso: «Jeannot» Cattelin, antigo proprietário de La Sivolière, foi um dos mentores e grandes entusiastas da estância alpina de Courchevel 1850.

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Por fora e, sobretudo, por dentro, Le Panoramic recria em diferentes ambientes aquilo que se espera encontrar num refúgio alpino de charme: madeira, peles fofas, lareiras acesas e velharias, nalguns casos utilitárias, noutros só para o puro prazer de quem olha e quer recordar o que não viveu.

A par da restauração, Le Panoramic possui agora um outro atrativo de peso: a mais alta suite da Europa, disponível para quem se dispuser a pagar o preço de tamanho privilégio. Mas, como quem avisa amigo é, vale a pena acrescentar a seguinte nota de rodapé: em caso de tempestade muito forte (como aconteceu no começo deste ano de 2012), são grandes as chances de se ficar isolado...

A suite não experimentámos, mas fizemos ali um almoço muito agradável. A cozinha, seja nos menus do dia (€ 28) ou à la carte, é honesta e privilegia as especialidades locais. Não é alta-gastronomia, mas é gastronomia nas alturas, o que acaba por justificar os preços algo inflacionados.

Ao fim e ao cabo, há toda uma logística complicada para estar ali e isso, para quem usufrui da vista e do ambiente, tem de ser levado em conta.

Com quantas estrelas se arma uma estância gourmet?Pela boca morre o peixe. Há quem fale de mais e se apresse no julgamento, apenas baseado no que salta à vista e no diz-que-diz. Não que as aparências sejam totalmente enganadoras neste caso. Courchevel não faz a linha estância low profile. A sua associação excessiva, em anos anteriores, a uma emergente, e quase sempre obscura, clientela milionária russa trouxe-lhe proveito, mas não a fama que almejava.

Os russos continuam firmes em Courchevel 1850, e não passam des-percebidos na forma como se comportam, como se vestem e, sobretudo, como gastam (muito) dinheiro; mas os franceses voltaram em força e os brasileiros ganham, a cada nova temporada, um maior protagonismo – e começam, também eles, a contribuir para o «colorido» local, que nos dá conta de famílias que chegam de avião fretado para passar o réveillon ou que arrendam o chalé mais caro de Courchevel para o Carnaval.

Courchevel não é uma estância para quem conta tostões. Melhor, não é uma estância para quem se incomoda com a ideia de pagar caro pelos prazeres da vida. Até os mais simples. Também não é a estância ideal para quem se melindra com o uso de peles verdadeiras – são exibidas, sem a menor culpa, por homens e mulheres –, se altera com egos inflados – sobretudo nos restaurantes e clubes noturnos da moda, como Le Mangeoire, onde as mesas competem entre si para ver quem encomenda mais champanhe – ou acha que já basta uma La Croisette da vida airada em Cannes.

Mas é um prato cheio para quem gosta de juntar o útil ao agradá-vel. Quilómetros e quilómetros de excelentes pistas, no maior domínio esquiável do mundo – além de neve com fartura e uma paisagem enfeitada por pinheiros que quebram a monotonia monocromática do branco –, somam-se à boa vida proporcionada por hotéis, spas, lojas, restaurantes e uma programação intensa.

E se o excesso de dinheiro é o responsável por uma certa ostentação – e até mau gosto, puro e duro –, sem ele, por outro lado, jamais seria possível que Courchevel fosse, tout court, a estância com mais restaurantes distinguidos pelo guia vermelho da Michelin.

ONDE FICARLa SivolièreRue des Chenus, Courche-vel 1850, França, Telefone: +33 (0)479 080-833, diárias desde cerca de 600 euros em quarto superior para duas pessoas (consulte com o hotel a possibilidade de pacotes). Pequeno-almoço não incluído (estime cerca de € 35). Mais em hotel-la-sivoliere.com Vale a pena contactar os serviços, em português, da CM Inspired Selection (cminspiredselection.com) para o ajudar a criar um pacote à sua medida não só neste hotel, mas em Courchevel 1850.

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A par da clientela de novos-ricos russos, que dão proveito mas nem sempre a fama certa a Courchevel, a estância atraiu de novo os franceses e está, a cada temporada, a cair no goto dos brasileiros abastados, que lhe emprestam outro colorido.

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AGRADECIMENTOSCM INSPIRED SELECTIONcminspiredselection.com

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Na edição de 2012, foram sete os contemplados: Le Bateau Ivre, Chabichou, Pierre Gagnaire, 1947, todos com duas estrelas, e ainda La Table du Kilimanjaro, Il Vino d’Enrico Bernardo e L’Azimut, com uma estrela cada um. À exceção de L’Azimut, que se encontra em Le Praz (Courchevel 1300), os outros seis estão concentrados em Courchevel 1850, o que não deixa de ser extraordinário. Mais ainda porque Pierre Gagnaire, no hotel Les Airelles, e 1947, comandado pelo chef Yannick Alléno no hotel Cheval Blanc, conseguiram as suas duas estrelas de uma assentada com um único ano de atividade. Já o Il Vino, filial da casa pari-siense, é notável por juntar o talento de Enrico Bernardo, o mais jovem sommelier a ser eleito o melhor do mundo em 2004, ao do chef Michele Biassoni, de apenas 23 anos.

De todos eles, para pena nossa, apenas conhecemos o Chabichou. Projeto familiar do chef Michel Rochedy, o restaurante é o principal chamariz de um endereço que atende ainda como hotel, spa e um outro restaurante mais informal, Le Chabotté (estes dois últimos inaugurados na temporada de 2011-12).

Rochedy divide, há vinte anos, a cozinha com o chef Stéphane Buron, cabendo às respetivas mulheres de um e outro a tarefa de receber e guiar os comensais. É uma cozinha regional sofisticada e revisitada, com dois menus por ano (um terceiro poderá vir a ser pensado se o restaurante passar também a abrir no outono) e preços a partir de 55 (almoço) e 90 (jantar) euros.

Pormenor interessante, na tarde em que ali estivemos, à espera de Michel Rochedy que não havia meio de chegar, foi o sous-chef David Ferreira, de pais portugueses, quem acabou por nos explicar os pratos que

fotografámos e degustámos. Antes que nos acusem de estrelismo agudo, adiantamos desde logo que nem só de estrelas Michelin (ou macarons, como também lhes chamam) se enche o papo em Courchevel 1850. Nem que seja por uma única vez – mais do que isso não recomendamos, mas cada um sabe do seu fígado –, sugerimos um almoço ou jantar tipicamente saboiano, com raclette (o nome do queijo, mas também da técnica que consiste em raspá-lo para o prato depois de aquecido), fondue de queijo (são três os queijos usados: o Comté, o Beaufort e o Gruyière ou Emmental da Saboia) e ainda a tartiflette (batatas gratinadas com queijo Reblochon).

Para tornar a experiência menos «pesada», seguimos um conselho que viria a revelar-se precioso: não beber água e acompanhar apenas o repasto com um bom vinho branco local.

Mais difícil é resistir aos queijos e à belíssima charcutaria da região, presente quase sempre à mesa desde o pequeno-almoço... Os salpicões secos, e não tanto os salsichões frescos, velhos conhecidos, são uma per-dição mais do que consentida. O mesmo vale para os queijos, estando o Beaufort e o Reblochon entre os eleitos.

No capítulo gulodice, descobrimos numa das galerias comerciais de La Croisette, o Forum, o Au Pain d’Antan. Gerida pela família Gandy, esta cadeia é originária da Saboia e mantém um registo artesanal no fabrico próprio de pães, doces, gelados e chocolate.

Passámos por ali numa tarde particularmente fria e fomos atraídos, qual íman, à vitrina ataviada de brioches, croissants, pains au chocolat, aux raisins e um sem-fim de tartelettes. E dá-lhe pista para derreter tanta caloria. Felizmente, o que é de gosto regala a vida. n

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Outro trunfo de que Courchevel muito se orgulha é das suas estrelas Michelin. Nenhuma outra estância francesa se lhe compara neste quesito. Nem só de restaurantes estrelados se vive ali. Porém, é imperdoável não provar a farta cozinha regional da Saboia.