de olho nos observatórios: um estudo comparativo de críticas das midas do observatório da...
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MonografiaCristiane Costa VasconcelosCurso de Comunicação Social, Universidade Estácio de SáEstudo comparativo de Media CriticismTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTCIO DE S
MONOGRAFIA DE CONCLUSO DO CURSO DE COMUNICAO SOCIAL
HABILITAO EM JORNALISMO
DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO
COMPARATIVO DAS CRTICAS DE MDIA DO
OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA
IMPRENSA
Cristiane Costa Vasconcelos
Rio de Janeiro,
Dezembro/2005 CRISTIANE COSTA VASCONCELOS
DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO
COMPARATIVO DAS CRTICAS DE MDIA DO
OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA IMPRENSA
Monografia apresentada como exigncia final da
disciplina Projetos Experimentais III do Curso de
Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da
Universidade Estcio de S.
Orientador: Prof. Ms. Kleber Mendona
Rio de Janeiro,
Dezembro/2005 Cristiane Costa Vasconcelos
DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS
CRTICAS DE MDIA DO OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA
IMPRENSA
Grau: _________
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Jos Luiz Laranjo
Prof. Ms.
__________________________________________
Beatriz Schmidt
Prof. Dr.
__________________________________________
Kleber Mendona
Prof. Ms.
Rio de Janeiro,
Dezembro/2005
ii
Dedico este trabalho aos meus pais, Leive e Maria
Cristina, as duas pessoas mais preciosas da minha
vida.
iiiAGRADECIMENTOS
Agradeo, primeiramente, ao apoio dos meus familiares: meus pais, Leive e
Maria Cristina, meus maiores e mais sinceros amigos; e ao meu irmo, Luis Claudio,
pela compreenso.
minha cadelinha Judy, por me fazer abrir um sorriso nas horas mais tensas.
Agradeo ao Kleber, enquanto orientador, pela pacincia e incentivo. E
enquanto mestre, agradeo por todos os ensinamentos, pois sem eles esta monografia
no teria sido concretizada.
No poderia deixar de agradecer tambm aos demais mestres da Universidade
Estcio de S. Todos, de alguma forma, contriburam para minha evoluo como futura
profissional na rea de comunicao.
ivRESUMO
O presente estudo visa mostrar como o media criticism brasileiro do atual
cenrio miditico pode se apresentar de diferentes maneiras, tendo como foco o pioneiro
no assunto, o site Observatrio da Imprensa, liderado pelo experiente jornalista Alberto
Dines; e, de outro lado, o site Canal da Imprensa, um jornal-laboratrio especializado
em crtica de mdia, escrito por alunos universitrios do curso de Jornalismo do Centro
Universitrio Adventista de So Paulo (campus Engenheiro Coelho). Para isso, foram
analisados todos os textos crticos dedicados ao assunto Referendo (sobre a proibio
das vendas de armas de fogo no Brasil), alm de todas as colunas de ombudsman
presentes no Canal da Imprensa cargo que inexiste no Observatrio. A princpio,
apresentado um histrico do media criticism: de onde surgiu, como chegou at o Brasil,
a importncia desse processo de crtica externa e interna o ombudsman e tambm as
experincias de maior visibilidade no Brasil e no exterior. Depois, feita uma anlise
das tcnicas e formas de apresentao desses observatrios. A Internet como meio de
acesso, a linguagem e o discurso usados, o papel do meio acadmico em alertar para
possveis deslizes ticos da mdia e a criao de um Quinto Poder, na tentativa de
formar uma massa de cidados atenta mdia. Por fim, feita a anlise comparativa
entre os sites, realando as diferenas dos discursos e procurando definir que tipo de
Jornalismo os dois sites apresentam.
Palavras-chave: crtica de mdia; tica jornalstica; ombudsman; observatrios de mdia.
v Para evitar crticas, no faa nada, no diga nada, no seja nada.
Elbert Hubbard
viSUMRIO
Introduo .............................................................................................................. p. 01
Captulo 1 O advento da Crtica na Mdia .......................................................... p. 03
1.1 Os primeiros passos do media criticism ........................................... p. 04
1.2 De dentro para fora: o ombudsman ................................................... p. 08
1.3 Outras experincias de crtica da mdia ............................................ p. 12
1.3.1 No Brasil ....................................................... p. 12
1.3.2 No exterior .................................................... p. 16
1.3.3 A disseminao dos observatrios................. p. 18
Captulo 2 Apresentao e tcnicas dos observatrios ....................................... p. 21
2.1 A Internet e a importncia da interatividade ..................................... p. 22
2.2 A busca pela transparncia no obtida .............................................. p. 25
2.3 A Universidade na construo do olhar crtico ................................. p. 30
2.4 O Quinto Poder sendo criado ........................................................ p. 34
Captulo 3 Observatrio da Imprensa e Canal da Imprensa: as vozes dos sites e
suas possveis repercusses ................................................................................... p. 37
3.1 Apresentao .................................................................................... p. 38
3.1.1 Canal da Imprensa ...................................... p. 38
3.1.2 Observatrio da Imprensa .......................... p. 40
3.2 A credibilidade dos contedos ........................................................ p. 42
3.2.1 A presena do ombudsman ......................... p. 45
3.3 Os tipos de Jornalismo propostos..................................................... p. 47
Concluso ............................................................................................................. p. 52
Referncias Bibliogrficas.................................................................................... p. 55
vii INTRODUO
O objeto deste estudo a linguagem usada por dois sites realizadores da crtica
de mdia Observatrio da Imprensa e Canal da Imprensa. A finalidade analisar
como eles podem se diferenciar e assemelhar diante do fato que o primeiro produzido
maciamente por profissionais da mdia e o outro, escrito por alunos de uma
universidade de Jornalismo, supervisionados por um profissional e que, ainda, contam
com a presena de um ombudsman.
Desde seu surgimento, o media criticism vem registrando a evoluo social do
pas seja pelo interesse de profissionais em dissemin-lo cada vez mais ou pela
importncia dada pelo prprio pblico. O fato de que os meios de comunicao tenham
se constitudo em novos tentculos, como a Internet, possibilitou uma maior interao
desse pblico e firmou a web como principal cenrio dessas atividades.
O presente estudo busca refletir o processo adotado por esses sites sobre a
produo jornalstica, ou seja, que tipo de Jornalismo possvel junto aos objetivos dos
observatrios. Em meio a tantas normas pelas quais os jornalistas so alicerados
como Cdigo de tica, manuais de Jornalismo adicionadas experincia e vises
particulares das vozes, pretende-se lanar uma perspectiva de como isso se reflete nos
sites. Busca-se compreender se essa mesma viso do mundo que pode contaminar um
texto jornalstico de subjetividade pode distorcer a inteno original de um observador
de mdia atravs de ataques pessoais ou falsos moralismos.
O objetivo deste trabalho mostrar, atravs da anlise do contedo, pesquisa e
da comparao dos sites, como dado o processo de apresentao das vozes e da
construo de credibilidade. Ou seja, busca-se aqui situar o Observatrio e o Canal em
um universo de discursos diversificados, cargas acadmicas e pessoais apresentadas a
um pblico cada vez mais possibilitado em receber esse olhar crtico e participar do
processo.
O primeiro captulo mostra, atravs de pesquisas bibliogrficas e Internet, como
surgiram os primeiros media critics, retratando, ainda, como o processo de crtica
interna (ombudsman) e externa so constitudas como etapa importante dentro do
processo jornalstico. Atravs da apresentao de outras experincias de cunho
semelhante pelo mundo afora, mostramos como a anlise crtica da mdia se disseminou
e tornou-se aceita por pblico e profissionais. O segundo captulo revela, tambm atravs de pesquisas bibliogrficas e de
Internet, como as tcnicas e forma de apresentao dos observatrios so produzidas. A
busca pela credibilidade e a questo tica, o espao da Internet como propagao, a
influncia do fator universitrio e, finalmente, a construo de uma nova forma de
contrapoder o Quinto Poder sendo construdo.
No terceiro captulo, aponto as semelhanas e diferenas existentes entre o
Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa. Como a presena do ombudsman no
Canal pode fazer a diferena. Alm disso, as sees sero descritas e ser ponderado
novamente o fator Universidade dentro do aprimoramento do olhar crtico dos
realizadores das organizaes, relacionado questo das vozes e do espao dado a
sociedade.
Como metodologia, o assunto escolhido a anlise crtica dos sites relacionada
cobertura dos meios de comunicao sobre o Referendo, realizado no dia 23 de outubro
de 2005, que abordou a proibio ou no das vendas de armas de fogo no Brasil. No
Observatrio da Imprensa (edies n 349, 350, 351) foram escolhidas as sees
Imprensa em Questo e Interesse Pblico, pelo maior destaque dado ao assunto em
ambas; j no Canal da Imprensa, analisaremos a edio nmero 50, que foi toda
dedicada ao assunto, sendo, inclusive, lanada fora da periodicidade, tamanha a
relevncia dada ao tema.
Nesta ltima parte da monografia, foram reunidas todas as informaes
estudadas durante a pesquisa para analisar minuciosamente o contedo dos sites, o
espao dado s vozes, as artimanhas, os metadiscursos. CAPTULO I
O ADVENTO DA CRTICA NA MDIA
A busca por teorias ou estudos que faam assimilar a predominncia da mdia no
cotidiano dos cidados e seus efeitos j antiga. Mundo afora, tem-se disponveis vrias
formas de analisar essa relao: escritos valiosos, teorias fundamentadas e Escolas de
Comunicao tiveram suas tendncias espalhadas pelos quatro cantos. Porm, diante da
m estruturao e da ascenso de um Poder inatingvel escorado por conflitos de
interesses que a imprensa incorporou devendo esta executar seu papel social,
prestativo e democrtico viu-se necessrio no s tentar compreender os efeitos que a
mdia pode causar, mas tambm observar sua atuao.
Uma observao que passou a subsistir por ser resultado de uma participao
no-concedida, mesmo os media sendo concesso pblica o que no foi capaz de
incluir os cidados no debate tico; atualmente, grupos procuram asseverar a
responsabilidade social dos media, afinando a democracia e batalhando contra o silncio
e possveis deslizes e / ou contradies da imprensa. Os sites objetos de estudo, o
Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa, se encaixam nos parmetros dessa
busca, que passou a se manifestar ou mesmo comeou a causar impacto tanto pelas
mos de jornalistas quanto pela voz de cidados fora da rea. Enfim, o media criticism
nasceu junto certeza de que era necessria a utilizao de instrumentos que buscassem
um alinhamento tico dos meios de comunicao.
Seja por meio de uma crtica de dentro pra fora (como o caso do ombudsman
1
(
ou vice-versa, o fato que a atividade dos media-critics se disseminou de forma intensa
e a procura e aceitao por parte do pblico vieram ganhando espao. Tanto que em
pases como Estados Unidos, certos media watchers hoje possuem status de referncia
1
Ombudsman uma palavra de origem sueca - ombud (representante) e man (homem) - que a partir de 1809 passou a
denominar os ouvidores das queixas dos cidados e fiscais do poder pblico; Na Roma Antiga, os Tribunos da Plebe
ouviam as queixas dos cidados. No Brasil Colonial eram os bispos que tinham a funo de ouvidores da coroa, o que
deu origem a expresso popular: v se queixar ao bispo. (MENDES, Jairo Faria. Ombudsman: o espao para a
autocrtica nos jornais. Instituto Gutenberg. Boletim N 24 Srie eletrnica, 1999. In:
http://www.igutenberg.org/jairo24.html consulta em 31 ago. 2005). Confira mais sobre a histria do ombudsman no
tpico 1.2 deste trabalho (p. 8). na discusso de assuntos polticos. Aqui no Brasil, comum que estudantes ou at
mesmo profissionais de jornalismo acessem a Internet com o intuito de procurar
opinies diversificadas sobre determinados assuntos ou simplesmente pela vontade de
se manifestar; tambm por isso, sites como o Observatrio e Canal da Imprensa, que
buscam estimular a participao da sociedade neste sentido, tm a visibilidade atual. a
representao de uma necessidade antiga da imprensa em se aprimorar atravs da
discusso aberta.
1.1 Media criticism: os primeiros passos da vigilncia
Toda atividade crtica, segundo CARNEIRO, logo entendida no sentido de
corrigir, constatar e suprir erros e deficincias
2
. Muito alm da idia de criticar para
progredir, o media criticism nasceu com o sentido de resgatar a funo social dos meios
de comunicao, que muitas vezes esmagada por deslizes ticos cometidos
ilimitadamente pelos media. Nesse contexto, surge a essncia da expresso media
criticism ou crtica da mdia , onde a existncia desses crticos importante quando o
direito informao no direcionado em seus mltiplos sentidos: os veculos
informando ao pblico e o pblico se informando sobre os veculos.
Certos de que estar atento permanentemente sobre a mdia tornou-se essencial
para que seja cumprida a funo social, jornalistas, alicerados ou no pelo meio
acadmico, passaram a refletir sobre meios que exercessem um controle sobre a
qualidade da informao que a mdia fabrica; comeou-se a pensar em formas de mover
a comunidade e os profissionais da mdia para o enredamento da funo jornalstica na
sociedade contempornea.
Embora o termo ainda no fosse conhecido, DINES (1982) relaciona a
existncia de trs media critics j nas dcadas de 40, 50 e 60. Godin da Fonseca, que
fazia a crtica dos jornais pela ento Folha da Manh, alm de ter exercido vigilncia no
jornal O Mundo
3
; Otvio Malta e Paulo Francis, que praticavam o media criticism na
ltima Hora. Porm, para o autor, nenhum deles atingiu a verdadeira essncia que o
controle prima em defender: alertar a sociedade para o direito a uma informao
2
CARNEIRO LEO, Emmanuel. Aprendendo a Pensar, 5 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1977, p. 164.
3
DINES, Alberto. Media criticism: Um espao mal-dito. In: Intercom. Comunicao, hegemonia e
contra-informao. So Paulo: Ed. Cortez, 1982. verdadeira no apenas punir profissionais ou empresas que estejam cometendo erros
conforme seus pontos de vista, mas pensar em educ-los para que os problemas no se
repitam. Para que tal acontea, DINES (1982) argumenta que o crtico de mdia deve
abnegar um espao de destaque na profisso para que sua vigilncia no esteja presa aos
limites das organizaes:
Ridicularizaram, criticaram, desmascararam jornais,
jornalistas ou desempenhos jornalsticos que em sua tica estavam
errados. Mas no feriam a estrutura nem o processo como um todo
(...). O media critic no pode focalizar desempenhos ou
comportamentos sem enquadrar a estrutura que cria, estimula e orienta
tais desempenhos ou comportamentos (...). O media critic que
bombardeia reas sensveis de determinado veculo ganha fatalmente
o estigma de maldito pelo resto da instituio (...). O media critic deve
capacitar-se de que um maldito, um renunciante, abrindo mo de um
lugar ao sol no establishment. Caso contrrio, suas posies sero
mal-ditas, isto , levianas
4
.
No Brasil, a introduo da crtica na mdia surgiu em 1965. O jornalista Alberto
Dines, em visita aos Estados Unidos
5
, conheceu o boletim Winners and Sinners (em
portugus, Ganhadores e Pecadores) do The New York Times, onde os erros dos
jornais eram discutidos de forma crtica e debochada. Ao retornar ao pas, Dines e seu
colega de trabalho Fernando Gabeira, resolveram lanar os Cadernos de Jornalismo
que, algum tempo depois, teve o nome alterado para Cadernos de Jornalismo e
Comunicao , primeira experincia de crtica mdia brasileira. Porm, ficou
limitado ao meio acadmico: era distribudo em escolas e vendido em livrarias. Em
1973, a publicao foi encerrada. Dois anos depois, Dines se tornaria diretor da sucursal
da Folha de SP, onde, no mesmo ano, ele comearia a produzir a coluna de media
criticism de maior visibilidade at ento.
A coluna em questo Jornal dos Jornais, lanada em julho de 1975 em meio
a discusses sobre o quadro poltico mundial, que se encontrava em turbulncia
6
s .
segundas-feiras, Dines expunha seu ponto de vista ao contrrio do que ocorre no
campo de debates do seu Observatrio, onde so introduzidas opinies diversas sobre
como os veculos haviam se comportado durante a semana, na pgina 6 da Folha
4
DINES, op. cit., p. 150.
5
Entrevista com Alberto Dines. In: http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/sobre_dines/memoria.htm
consulta em 25 ago. 2005.
6
Na coluna de estria (A Distenso para todos, em 06/07/1975), Dines procurou deixar claro a
postura que o Jornal procuraria seguir. Dizia: Onde a crtica est vigilante (...), a qualidade se eleva.
Quando a crtica abranda, abre-se o caminho para a estagnao. (hoje, ocupada pelo ombudsman). Mesmo com todo o destaque, a coluna Jornal dos
Jornais parou de circular em setembro de 1977. O Brasil vivia os tempos do regime
militar e, por isso, muitas das crticas desagradavam o governo.
Foi, inclusive, nas dcadas de 60 e 70 que, segundo Dines
7
, a crtica da mdia
comeou a firmar terreno. O pice do media criticism teria ocorrido em dois
acontecimentos: na campanha pacifista pelo fim da Guerra do Vietn, onde o autor
aponta o uso das colunas crticas como instrumentos teis; e na denncia do Caso
Watergatte, onde a presso da imprensa levou renncia do ento presidente Nixon, em
1974. Em ambos os casos, Dines descreve a importncia da atuao da sociedade
americana no desenvolvimento de instrumentos malditos e antdotos por meio de
imprensa alternativa, universidades ou at mesmo na grande imprensa.
Na dcada de 80, Dines teve ainda uma coluna crtica no Pasquim, chamada
Jornal da Cesta. Na dcada de 90, Dines voltou a fazer uma nova coluna de crtica dos
media, com o ttulo O Circo da Notcia que, atualmente, denomina uma das colunas
do site Observatrio da Imprensa publicada na revista Imprensa.
A revista Jornal dos Jornais, com nome e ideologia iguais pioneira coluna da
Folha, chegou em de maro de 1999 e analisava semanalmente como a imprensa
noticiava seus assuntos. A revista era dirigida por Ari Schneider e teve vrios colunistas
como Carlos Brickmann, Celso Japiassu, Luis Carlos Lisboa, entre outros
8
Alm de .
criticar a imprensa, Jornal dos Jornais mostrava os erros de ortografia e gramtica de
diversos veculos de mdia. Dentre os articulistas, encontrava-se o publisher Moacir
Japiassu que, no caso, fazia o papel de ombudsman, atendendo as reivindicaes e
estabelecendo contato com os leitores por meio da coluna Perdo, Leitores, que h
tempos foi parte da revista Imprensa. A revista Jornal dos Jornais tambm no foi
adiante: a exposio de certos fatos ilcitos, pela anlise de como jornalismo podia
apoiar ou se opor a governos, incomodava.
Pois como afirmou MENDES, muito desconfortvel estar de mal com a
mdia, ou com parte dela
9
. Seja por conflitos com os poderosos ou com colegas de
trabalho, a que o media critic est sujeito a ser tachado de maldito. Isso explica o
7
DINES, op. cit., p. 153.
8
Jornal dos Jornais sai com Mino Carta na capa. Instituto Gutenberg. Boletim N 24 Srie eletrnica, 1999. In:
http://www.igutenberg.org/jjornais24.html consulta em 31 ago. 2005.
9
MENDES, Jairo Faria. A Dura Vida dos Crticos de Mdia. In: http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/pressoes.htm
consulta em 31 ago. 2005. insucesso de alguns observatrios e os possveis breques daqueles que querem
continuar.
Conforme argumenta BUCCI, a qualidade da informao inexiste quando
veculos de comunicao visam a defesa de interesses, tanto internos quanto externos
10
.
Para no se sufocar dentro desses conflitos empresa-jornalista, percebe-se que foram
vrias as tentativas de efetuar a pretendida vigilncia atravs de veculos alternativos.
Segundo DINES (1982), a imprensa alternativa seria til nesse sentido, pois s um
rgo fora do sistema poder ter o desembarao para fazer um apanhado institucional da
atuao jornalstica
11
. O autor diz ainda que uma das principais funes da alternative
press servir de arena para a realizao do media criticism. Baseado nesta afirmativa,
ele comparou sua maior liberdade em trabalhar como crtico no alternativo O Pasquim
com os problemas que as crticas feitas no jornal Folha de S. Paulo acarretavam:
(...) o Jornal dos Jornais (...) apesar do seu enorme sucesso
junto ao pblico, era muito mal visto pelos quadros dirigentes ou
intermedirios da grande imprensa. (...) A direo da FSP jamais
interferiu (...), mas tive vrios problemas com as chefias da Folha de
S. Paulo. No domingo seguinte a uma crtica prpria FSP, minha
coluna foi composta em corpo 4, evidente sabotagem, mais tarde
confirmada. Em outra ocasio, criticando a linha de contracultura do
segundo caderno, seu responsvel quis iniciar uma ridcula polmica
pessoal atravs das prprias pginas da FSP. (...) J o Jornal da
Cesta, que lancei no Pasquim a partir de maio de 1980, tem sido feito
sem nenhuma coao ou controle
12
.
Alberto Dines cita trs exemplos de que a realizao de um media criticism
levado ao limite pode ser sempre perturbador
13
: o austraco Karl Kraus (1874-1936),
que atravs de seu pequeno jornaleco Die Facke vivia a zombar de tudo e todos,
inclusive do requintado jornal Neue Freie Presse; o ingls Gilbert Keith Chesterton
(1874-1936), socialista que para se expressar vontade, criou o jornal pessoal G. K.
Weekly; e o americano I. F. Stone, que aps trabalhar em jornais de grande porte como
NY Post, produziu dois jornais, I. F. Stone Weekly e By-Weekly.
Ao citar os exemplos, Alberto Dines enfatiza que a sada para a realizao de
crticas nesta poca seria o jornalismo solitrio; em 1982, quando escreveu Media
Criticism um espao mal-dito, o melhor cenrio seria a imprensa alternativa; Hoje,
10
BUCCI, Eugenio. Sobre tica e imprensa. So Paulo: Cia das Letras, 2000, p. 88.
11
DINES, op. cit (1982), p. 151.
12
Idem, Ibidem, p. 153.
13
Idem, Ibidem, p. 152. alm dos observatrios, tem-se, da virada dos anos 80 para os 90, a atuao do
ombudsman. Prope-se, ento, uma anlise desses segmentos como sintomas de uma
etapa do Jornalismo que se tornou necessria.
1.2 De dentro pra fora: o Ombudsman. Mais um sintoma de uma
etapa jornalstica
Trabalhos que tm como base o media criticism se assimilam s colunas de
ombudsman. Isso sucede porque tambm funo do ombudsman criticar os media
logo, tambm foram vrios os casos de experincias efmeras, alm de muitos
profissionais tambm terem de enfrentar problemas dentro e fora do ambiente de
trabalho. No entanto, o media criticism se difere das colunas de ombudsman por no
enfatizarem suas crticas ao jornal onde so publicadas. Alm disso, o media critic no
um ouvidor, ou seja, no seu papel delinear manifestaes dos leitores. Porm, a
essncia a mesma: buscar, atravs de crticas sejam elas internas ou externas o
aprimoramento dos meios de comunicao e representar a voz do interesse pblico.
Em 1967, o Louisville Courier Journal, dos Estados Unidos, contratava seu
primeiro ombudsman
14
A primeira coluna pblica foi escrita em territrio norteamericano por Richard Harwood, no jornal Washington Post de maior visibilidade at .
os dias de hoje , em 1970 e j na dcada de noventa, mais de trinta exerciam o papel
nos Estados Unidos
15
MENDES enfatiza que o modelo do ombudsman nos EUA se .
apresenta de forma bastante agressiva, funcionando como um advogado dos leitores,
pronto a criticar fortemente e afrontar o meio de comunicao e jornalistas
16
. A tnica
realar a apreciao externa do produto, tornando pblico os erros dos jornais e
polarizando pblico e jornalistas. O autor classifica os modelos da Frana (mediador,
como conhecido por l) e do Japo (departamentos de atendimento aos leitores) de
outra forma: estes procurariam aprimorar a relao entre jornalistas e pblico, evitando
possveis conflitos.
14
CORNU, Daniel. tica da informao, So Paulo, Edusc, 1998, p.42.
15
MENDES, Jairo Faria. O Ombudsman e o Pblico (1 parte). Tese de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051098.htm
consulta em 20 set. 2005.
16
Idem, Difcil comeo: O Primeiro Ombudsman da Folha de S. Paulo e do jornal O Povo (CE). In:
http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/celacom.htm consulta em 20 set. 2005. Segundo MENDES, comeando pela adoo da terminologia ombudsman de
origem sueca, mas que os Estados Unidos tomaram para si, designando at mesmo um
plural para a palavra (ombudsmen) possvel perceber que o Brasil incorporou o
modelo bsico de ombudsman dos Estados Unidos
17
No Brasil, a figura do ombudsman .
chegou na virada dos anos 80 para os 90. A primeira experincia foi no jornal Folha de
S. Paulo a partir de 1989; aps esse pontap inicial, vrios veculos adotaram a funo,
seguindo o mesmo modelo americano dos pioneiros. Entre eles, os jornais Folha da
Tarde (SP), A Notcia Capital (SC), Folha do Povo (MS), Dirio do Povo (CampinasSP) e Correio da Paraba (PB); a revista Imprensa; as rdios Bandeirantes (SP) e O
Povo AM (CE); a PUC TV (MG) e Agncia Nacional (propriedade do Governo
Federal)
18
Na Regio Nordeste o pioneirismo dado ao O Povo, de Fortaleza, outra .
experincia de destaque.
Ao mesmo tempo em que causava alvoroo, por tender a expor flagrantes e, at
mesmo, fatos ilcitos dos prprios profissionais das redaes o que gerava um grande
desconforto no ambiente de trabalho , a existncia do ombudsman era tida como
necessria, j que era de extrema importncia, tanto para o pblico quanto para o jornal,
mostrar seu papel de servidor pblico e apresentar um controle que permitisse uma
avaliao crtica daquilo que era oferecido. Sem contar que, ao mesmo tempo,
estabelecia um canal de contato mais direto com os leitores.
Alguns jornais-laboratrio de cursos de Jornalismo tambm criaram o cargo.
Uma atitude que demonstra preocupao com a transparncia com o pblico, no caso,
acadmico. Entre eles, o Campus (UnB), o Entrevista (Universidade Catlica de
Santos) e o Portal (PUCMinas/Arcos).
MENDES afirma que somente trs experincias brasileiras de ombudsman
obtiveram sucesso duradouro. No quesito referncia, o destaque fica por conta da Folha
de SP que possui o cargo at os dias de hoje onde Caio Tlio Costa executou o papel
de primeiro ouvidor da imprensa brasileira. O cargo demorou a ser efetivado por conta
da grande dificuldade em encontrar algum jornalista que fosse bastante corajoso para a
17
MENDES, op. cit.
18
Idem, A ouvidoria de Imprensa no Brasil. In: http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/ouvidoriadeimprensa.htm consulta
em 20 set. 2005 assumir a funo
19
. Caio era considerado genioso e agressivo, o que colaborou para
que o jornalista tomasse o comando de uma nova e arriscada experincia.
No jornal O Povo, do Cear, o ombudsman foi implantado em 1994 com a
jornalista Adsia S. Na busca por uma maior transparncia com o leitor, a coluna
mantinha uma postura desafiadora atravs de crticas acirradas herana americana , o
que resultou at em ameaas contra a jornalista. A rdio O Povo tambm manteve um
ombudsman atravs do programa Com a palavra, o ouvinte. Esta foi a segunda
experincia do cargo no meio radiofnico. A primeira foi a rdio Bandeirantes.
Um fato curioso foi a contratao do at ento leitor Juvncio Mazarollo para o
cargo de ombudsman da Revista Imprensa. Juvncio enviou um e-mail para a revista
com reclamaes sobre erros gramaticais, o que gerou a ira do ento editor, To Gomes
Pinto. Ele alegou que crticas sobre vrgulas e crases no eram to importantes quanto
quelas que seriam as preocupaes principais da revista: os destinos da humanidade e
da civilizao ocidental
20
. Porm, To voltou atrs e contratou Juvncio como primeiro
ombudsman da Revista Imprensa, no ano de 2000. Algum tempo depois, To
substituiria Juvncio no cargo e criaria Caderno de Ombudsman, que fazia ampla
anlise miditica. Foi interrompida em junho de 2002.
Voltando ao maldito, o desconforto antes citado um risco a se correr. Esse
tipo de situao gera, muitas vezes, um certo mal-estar dentro das redaes. Da mesma
forma que se teme o fato do ombudsman ser escolhido dentre os funcionrios da prpria
empresa, teme-se o fato da crtica se localizar no fruto no ambiente de produo,
diferentemente das crticas realizadas de forma mais generalizada, conforme feito no
Observatrio e no Canal da Imprensa. Segundo BUCCI (2000), a incompatibilidade
das funes o nico grande problema tico da questo, no chegando a ser grave como
os conflitos de conscincia do jornalista, pois esses esto atrelados s convices
pessoais de cada profissional
21
O jornalista Germn Rey, que ocupou o cargo de .
ombudsman no jornal El Tiempo, de Bogot, compara a funo de ombudsman ao de
19
MENDES, op. cit.
20
MENDES, op. cit.
21
BUCCI, op. cit., p. 100 um pedagogo, pois ambos tm como tarefas confrontar comportamentos, analisar
prticas, assinalar atitudes que incidem sobre a qualidade da mdia
22
.
Mesmo com vrias experincias mundo afora, MENDES acredita que (...) no
se pode superestimar este espao. Ele representa muito pouco, diante da magnitude dos
media. (...) a estes oferecido um espao muito restrito, de forma que o pblico quase
nem chegue a not-los
23
. A curta propagao do ombudsman, o que acarreta numa
falta de conhecimento dos cidados sobre o cargo no necessariamente est atrelada
conscincia social do pblico, que, vide sucesso que muitas colunas obtiveram e
alcanam at hoje, procuram se manifestar e valorizam a interatividade presente nos
veculos. Segundo Marinilda Carvalho, a constatao da necessidade da crtica da mdia
evidencia antes o amadurecimento da sociedade, e no do jornalismo propriamente dito:
Prova disso que o media criticism existe h tempos em
outros pases, mais acostumados ao controle social e mais organizados
socialmente. Outra evidncia que a grande maioria dos veculos de
mdia ainda no dispe de ombudsman este sim, prova do
amadurecimento dos produtores de mdia, j que o ombudsman reduz
a distncia entre o emissor e o receptor, afinando a sintonia que deve
necessariamente existir entre essas duas partes
24
.
Se o papel do ombudsman est concentrado em representar uma instncia
intercalar entre os rgos de regulao tradicionais e os indivduos
25
, aceitvel dizer
que os observatrios de mdia procuram atuar como verdadeiros ombudsmans da
imprensa, papel este que j foi atribudo ao site Observatrio da Imprensa
26
.
Apesar de todas as ressalvas que se pode fazer sobre o ombudsman, as colunas
analisadas nesta monografia mostram que a sua presena contribui para que o processo
informativo seja mais transparente, e o leitor, mais respeitado. Alm disso, as colunas
de ombudsman estimulam o debate sobre temas relacionados aos media.
Conforme os conflitos de interesses citados por BUCCI (2000) se tornam cada
vez mais intensos alm dos media se concentrando nas mos de menos pessoas e
22
HOLDORF, Ruben. Ombudsman dos ombudsman. In:
http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/opiniao/dset/opini%C3%A3o2.htm consulta em 20 set.
2005.
23
MENDES, Jairo Faria. O ombudsman e o Pblico (3 parte). Tese de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051198b.htm
consulta em 20 set. 2005.
24
Editora assistente do site Observatrio da Imprensa h nove anos, Marinilda Carvalho cedeu, por email, depoimento para a composio deste trabalho.
25
CORNU, op. cit., p. 41.
26
HOLDORF, op. cit. conseqentemente, no se produz jornalismo de qualidade, torna-se cada vez mais
necessria a implantao de mecanismos de observao, fiscalizao e questionamento
dos meios de comunicao. Assim, tanto os observatrios de mdia quanto os
ombudsmans acabam por se tornarem parte importante no processo jornalstico, sejam
por conscincia dos prprios cidados o que um sintoma positivo ou por
reconhecimento dos prprios profissionais de mdia, o que de certa forma dosa a
imagem de arrogncia e auto-suficincia tica que o jornalista parece carregar.
1.3 Outras experincias de crtica da mdia
Com ideologias semelhantes s do Observatrio da Imprensa e Canal da
Imprensa, em diversas partes do mundo outros observatrios desempenham um papel
concentrado na reflexo crtica sobre a mdia, de acordo com aquilo que esta prope:
objetividade, neutralidade, diversidade, entre outros sempre com premissas ticas
rondando essas caractersticas. A questo primordial dos observatrios alertar a
sociedade para possveis contradies da mdia, caso ela esteja caminhando contra seus
prprios princpios. Aqui, sero apresentadas algumas experincias de media criticism,
que j carregam certa referncia e servem como ferramentas a universitrios,
professores, profissionais da mdia e sociedade de uma forma geral.
A idia do Media-Watching (ou observadores de mdia) surgiu nos Estados
Unidos associando-se s experincias anteriores do ombudsman e do media criticism
como maneira de alertar a sociedade e os profissionais da mdia para o enredamento da
funo jornalstica na sociedade moderna.
1.3.1 No Brasil
No apenas atravs da Internet Alberto Dines e sua trupe analisam a mdia. O
nico programa de media criticism na televiso brasileira o Observatrio da Imprensa
na TV, no ar desde maio de 1998 pela Rede TVE (canal 02 no Rio de Janeiro). A idia
foi originada da verso online, lanada dois anos antes. O programa apresenta debates
sobre temas que estejam em destaque, onde o principal objetivo analisar o
comportamento da mdia e suas repercusses. O Observatrio na TV conta com a presena de jornalistas e profissionais da rea de comunicao, alm da participao de
convidados por telefone. O pblico pode participar, ao vivo, atravs de fax, telefone e email; tambm podem votar na pesquisa relacionada ao tema em debate, pela urna
eletrnica do site do Observatrio. A verso televisiva tambm possui um site
(http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/) que traz um histrico dos programas. A
atrao semanal e no comando esto Claudia Tisato e o precursor Alberto Dines.
Alm disso, o Observatrio j conta com uma verso radiofnica, apresentada
pelo jornalista Mauro Malin e com participao de Alberto Dines. O programa
transmitido por estaes em So Paulo e no Rio de Janeiro, mas tambm est acessvel
pela Internet. Durante os cinco minutos de durao, o Observatrio da Imprensa prope
fazer uma breve leitura crtica das manchetes dos principais jornais brasileiros.
Dentre as experincias de media criticism que tambm deram certo se encontra a
Revista Imprensa, publicao mensal especializada em jornalismo e voltada para a
crtica dos veculos miditicos desde 1987. A publicao j foi vencedora de diversos
prmios e tambm criou o seu prprio o Lbero Badar de Jornalismo. Patrocinada
pela Caixa Econmica Federal e com apoio da Associao Brasileira de Imprensa, a
revista procura desenvolver temas diferenciados sobre o jornalismo de forma crtica e
analtica, atravs de matrias especiais e artigos de colunistas. dividida em vrias
sees que ampliam as escolhas dos leitores, como Design da Imprensa, Mapa da
Mdia, Bar da Imprensa, etc. Atravs do site da publicao
(www.portalimprensa.com.br) podem ser encontradas mais informaes sobre a revista,
alm de um arquivo com as edies anteriores e algumas sees como a interativa Foca
Online, para onde estudantes de comunicao podem enviar textos.
O site Comunique-se (http://www.comuniquese.com.br) foi lanado em meados
de 1996 em meio a uma Internet embrionria e hoje bastante conhecido como ponto
de encontro de jornalistas e profissionais de comunicao. uma ferramenta de apoio s
empresas, com fins lucrativos e enfoque nos bastidores da imprensa. O site oferece
mailing jornalstico, coletiva online, sala de imprensa, entre outros. O Comunique-se
promove constantemente a realizao de discusses com o pblico (seja este composto
por estudantes de comunicao ou mesmo jornalistas) muitas vezes sobre posturas dos
profissionais da rea, o que qualifica o espao como um frum de debates. Procura abrir
maior contato com seu pblico atravs da coluna Canal do Leitor, onde possvel enviar sugestes de pauta, artigos e notcias de bastidores, ou mesmo pela possibilidade
de se postar comentrios sobre os temas em destaque. Uma anlise mais crtica da mdia
pode ser encontrada nas colunas, dentro da seo Jornal da Imprena. Ali, os
articulistas propem uma discusso sobre a atuao dos media atravs de fruns, onde
associados ao site podem deixar seus comentrios e desenvolver debates sobre o tema
em questo. Uma das colunas de maior visibilidade no site a Reescrita, de Carlos
Chaparro. No Comunique-se ainda podem ser encontrados diversos textos relacionados
a questes ticas da imprensa o que muito comum, por exemplo, na seo Papo na
Redao.
No s observadores de mdia em si podem ser encontrados. Foi lanada em
novembro de 2002 a campanha Quem financia a baixaria contra a cidadania
(www.eticanatv.org.br), coordenada pelo deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), que
consiste no acompanhamento da programao televisiva, destinada a promover o
respeito aos direitos humanos e dignidade do cidado nos programas de televiso. O
ranking montado com base na manifestao popular. A partir dele, um conselho
elabora pareceres que sero entregues s emissoras de TV. A campanha, que uma
iniciativa da Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados em parceria
com entidades da sociedade civil, tambm abre espao interativo, onde podero ser
encaminhados elogios, sugestes ou crticas pelo telefone ou ainda pelo site da
campanha.
Voltado para as pesquisas acadmicas e com foco mais direcionado a
professores, pesquisadores e futuros profissionais do mercado jornalstico, encontra-se o
Observatrio Brasileiro de Mdia (http://www.observatoriodemidia.org.br), resultado
de uma parceria entre a ONG Observatrio Social e o Media Watch Global,
impulsionadas por questes do Frum Social Mundial. Realizado pelo Ncleo de
Jornalismo Comparado da ECA-USP com contedo escrito por alunos da Universidade
(coordenados por Jos Coelho Sobrinho) o site dedica seu espao a pesquisas de cunho
crtico sobre a mdia (especialmente a impressa), alm de artigos e matrias. A primeira
edio foi ao ar em setembro de 2004, porm, desde ento, apenas uma nica discusso
sobre as eleies municipais de So Paulo foi lanada, onde foram analisadas
quantitativa e qualitativamente as coberturas de cinco jornais da capital: Folha de
S.Paulo, Estado de S.Paulo, Agora So Paulo, Dirio de S.Paulo e Jornal da Tarde. Ainda em solo brasileiro, existem algumas iniciativas de media criticism
entrelaados ao meio acadmico. Apesar do SOS Imprensa
(http://www.unb.br/fac/sos) no se definir exatamente como um media watcher, e sim
como um ouvidor pblico, a equipe deste projeto realizado pela Universidade de
Braslia (UnB) tambm acompanha permanentemente noticirios e programaes.
Desde 1996, o site recebe a participao e a colaborao de estudantes, bolsistas (de
Iniciao Cientfica e de Extenso), voluntrios e at professores que estejam dispostos
a analisar o contedo abusivo da mdia. Alm do site, os SOS mantm meios interativos
com os usurios atravs do Disque-Imprensa. O projeto no visa atuar apenas pela
web, mas tambm atravs de debates, seminrios e apresentao de trabalhos em
fruns especializados.
Outro exemplo de observatrio na Universidade o Mdia Frum, um espao
de discusso de assuntos pautados pela mdia (...) destinado a estudantes, profissionais,
professores e pesquisadores da Comunicao
27
. Realizado por uma equipe de alunos
estagirios, mestres e colaboradores da Universidade Metodista de So Bernardo
(Umesb) coordenados pelo professor Prof. Dr. Jos Marques de Melo, o projeto
desenvolvido pela Ctedra UNESCO de Comunicao da UMESP; e o observatrio
regional Monitor de Mdia (http://www.univali.br/monitor) acompanha
sistematicamente o contedo dos trs maiores jornais dirios de Santa Catarina (Dirio
Catarinense, A Notcia e Jornal de Santa Catarina). O Monitor e coordenado pelo
jornalista Rogrio Christofoletti e produzido e atualizado nas dependncias do curso de
Jornalismo do Centro de Cincias Humanas e da Comunicao (Cehcom), sem fins
lucrativos.
O Instituto Gutenberg (http://www.igutenberg.org) funciona como uma
ferramenta de pesquisa e mantm registrado, de 1994 a 2004, com boletins sobre
notcias da mdia, avaliaes e casos que tiveram repercusso por desvios ticos. Dentre
os principais objetivos do site, criado pelo jornalista Srgio Buarque de Gusmo, est
Enaltecer a liberdade de imprensa como um valor democrtico da sociedade e
realizar seminrios de debates e de aperfeioamento profissional de jornalistas. No
site, podem ser encontrados diversos textos relacionados a fiscalizao tica da
imprensa.
27
Fonte: Site do Mdia Frum. In: http:// www.metodista.br/unesco/midi@frum consulta em 5 set.
2005. 1.3.2 No exterior
Antes mesmo de o Observatrio da Imprensa comear a atuar, o OBERCOM
Observatrio de Comunicao (http://www.obercom.pt), de Portugal, j procurava
traar suas metas, cujo objetivo maior se concentrava na produo e difuso de
informao, bem como na realizao de estudos e trabalhos de investigao que
contribuam para o melhor conhecimento na rea da comunicao
28
Alberto Dines, que .
foi co-fundador da verso portuguesa juntamente com Joaquim Vieira, inspirou-se em
tal modelo para criar o Observatrio.
Nos Estados Unidos, trs websites apresentam destaque na rea, inclusive so
referncias para tratar questes polticas do pas. Por terem uma estrada mais longa
dentro da discusso crtica da mdia, j conseguiram se estabelecer como cenrio
variado e democrtico, alm de receberem grande aceitao do pblico. O Media Watch
(http://www.mediawatch.com) j possui experincia de mais de 10 anos e age
principalmente contra possveis rtulos dados pela mdia. O site procura participar
atravs da distribuio de vdeos educacionais e informativos para ajudar a criar
consumidores de mdia de massa mais informados; o Accuracy In Media
(http://www.aim.org) tambm um site de grande aceitao e tradio, beirando para a
postura mais conservadora. Atravs de colunas fixas escritas tanto por colunistas
estveis quanto convidados, so feitas avaliaes da cobertura dada pelos principais
noticirios norte-americanos. O site prope oferecer ajuda aos prprios membros da
mdia, para que seja dada uma maior transparncia ao pblico.
O site Fairness and Accuracy in Reporting (http://www.fair.org), ou
simplesmente FAIR em ingls significa justo, trata-se, portanto, de um trocadilho
oferece crtica da mdia tendenciosa desde 1986 e tem grande popularidade nos EUA.
O criador, Jeff Cohen, procurou dar ao site um aspecto mais liberal, diferentemente do
Accuracy in Media. Alm disso, a FAIR publica uma revista crtica de mdia intitulada
Extra!, vencedora de prmios, e produz o programa semanal de rdio CounterSpin, o
show que traz a vocs as notcias por trs das manchetes. O site tambm oferece uma
lista de mensagens, atravs da qual so distribudas Alertas de Ao que procuram
encorajar o pblico a apresentar mdia suas preocupaes, para se tornarem ativistas
28
Artigo 3 dos estatutos do OBERCOM. da mdia ao invs de consumidores passivos de notcias. A FAIR acredita que a
reforma estrutural necessria para quebrar os conglomerados dominantes de mdia,
estabelecendo a transmisso pblica independente e promovendo fontes de informao
no-lucrativas.
A Rocky Mountain Media Watch, outra corporao no-lucrativa, foi fundada em
1994 por ativistas com habilidades em mdia e pesquisa. Prope analisar o contedo de
noticirios televisivos locais, baseado na afirmativa de que a programao saturada de
violncia e pouco dedicada em mostrar assuntos importantes sociedade. Dentre os
objetivos, est expor o excesso da mdia e ajudar cidados e a prpria mdia a entender e
visualizar o que constitui um jornalismo melhor
29
.
O Media Research Center tem como meta trazer balano e responsabilidade aos
noticirios. A entidade foi criada em 1987 por um grupo de jovens conservadores que
alegam atravs de pesquisas cientficas realizadas pelos mesmos - a existncia de uma
forte tendncia liberal nos noticirios norte-americanos, que influenciaria o pblico
sobre questes crticas e geraria impacto na cena poltica dos EUA.
H cinco anos, o Palestine Media Watch (http://www.pmwatch.org) deixa a
imparcialidade de lado e afirma existir um visvel jogo nos grandes noticirios norteamericanos, onde os assuntos palestinos seriam divulgados ou silenciados; no caso,
segundo protesta o site, somente as vozes de grupos anti-palestinos seriam ouvidas.
interessante observar que a sede se encontra em terreno norte-americano. Os maiores
focos so denunciar falhas dos noticirios sobretudo americanos e abastecer outras
mdias com materiais pr-palestinos. Regularmente, so postados relatrios de anlise
de mdia.
H exemplos de campanhas contra posturas antiticas da mdia, tambm no
exterior. The Campaign for Press and Broadcasting Freedom (http://www.cpbf.org.uk)
uma campanha local de origem inglesa, que visa incluir transmisses de servios
pblicos na nova programao da rede BBC. O objetivo realizar um tipo de reforma
na mdia, que sirva quebra da concentrao dos meios e promova a maior diversidade.
A idia que os cidados tenham o direito de reclamar asa coberturas injustas e que
jornalistas tambm tenham o direito de reportar livremente. Na Frana, outras
campanhas locais Prsentation de lObservatoire Bisontin des Mdias (OBM) e
29
A apresentao do site no poupa crticas mdia: ela cria cinismo, desencoraja a participao cvica
e promove a passividade e o afastamento amedrontado.Prsentation de lObservatoire nantais des mdias (ONM) tambm foram divulgadas
com intuitos semelhantes
30
.
Aqui vo exemplos de outros media watchers de grande sucesso e de postura
no-instucionalizada. Retornando Amrica Latina, mais precisamente na Venezuela,
temos o Observatrio Global de Medios (http://www.observatoriodemedios.org.ve). O
site est afiliado ao Observatrio Global dos Media (Media Watch Global), e a idia
nasceu em 2002, no Segundo Frum Social Mundial, em Porto Alegre. O site apresenta
documentos analticos sobre possveis manipulaes e censuras presentes na imprensa
venezuelana - principalmente no campo da poltica de carter transparente, que
delineia posies diante de assuntos. Segundo seus fundadores, um amplo confronto de
opinies pode proporcionar aos cidados elementos que permitiro a tomada de
decises conscientes em suas participaes como pblico da mdia
31
; na Europa, um dos
mais conhecidos o francs Observatoire Franais des Mdias
(http://www.observatoire-medias.info), que tambm recente: surgiu em janeiro de
2003, em Paris. Sua ideologia criar um contrapoder em detrimento de uma mdia mais
independente
32
.
1.3.3 A disseminao dos observatrios
interessante ressaltar que a discusso sobre a necessidade de fiscalizao da
mdia teve grande destaque em fruns sociais, apesar de os mesmos se queixarem em
relao ao descaso da imprensa suas divulgaes. Atravs da abordagem do tema
Comunicao no Frum Social Mundial, por exemplo, foi dado o impulso a iniciativas
do tipo na Venezuela e no Brasil. Esses fruns tambm podem se tornar arenas para a
manifestao das entidades de fiscalizao, a exemplo do Global Media Watch um
observatrio internacional do desempenho das empresas de comunicao e do
30
Fonte: Site do Observatoire Franais des Mdias. In: http://www.observatoire-medias.info/ consulta
em 5 set. 2005.
31
Os principais objetivos esto descritos no site. A organizao prope uma anlise rigorosa e
responsvel, atravs da vigilncia permanente tanto da validade da liberdade de expresso como do
cumprimento do dever de informar por parte dos Meios de Comunicao Social e de seus
comunicadores.
32
No site, so apresentados objetivos como proteger a sociedade contra os abusos e manipulaes,
alm de defender a informao como bem pblico e reivindica o direito dos cidados de serem
informados. jornalismo, com sede na Frana e ramificaes em vrios pases, entre os quais o Brasil
que participou do Frum Mundial Social do ano de 2004, onde foi abordado
criticamente um dos seus principais focos, que a concentrao cada vez mais
exacerbada dos meios de comunicao franceses nas mos de poucos empresrios.
Vimos que nos Estados Unidos os observatrios parecem ter boa aceitao, inclusive na prpria
mdia. Alm dessa constatao, percebemos que os norte-americanos j possuem um grande nmero de
organizaes voltadas para o media criticism. A Rocky Mountain Media Watch j foi assunto de 200
artigos impressos, incluindo de jornais renomados, como The New York Times, como
tambm foi o caso do Palestine Media Watch, que j teve seu trabalho mencionado diversas vezes por
grandes meios de comunicao americanos.
Podemos perceber que h vrias posturas apresentadas na tentativa de uma
fiscalizao nos media. bom lembrar que as posies crticas dos sites variam
conforme o contexto histrico particular de cada imprensa, alm das questes polticas
de cada regio ou, simplesmente, da ideologia (seja esta liberal, conservadora,
institucional ou no). Esses observatrios no devem procurar investir em crticas,
apologias ou ataques pessoais apenas de acordo com suas ideologias nem devem ser
vistos como busca exemplar de opinio pblica , mas servir de opo, de estmulo
crtico aos cidados; lembrando que, como escreveu Nelson Traquina, esses tambm
devem vigiar o Quarto Poder, atravs da sua capacidade de compreenso dos
assuntos cvicos e de avaliao crtica das notcias
33
.
Alm disso, vimos que os observatrios de mdia procuram fazer o estilo a
unio faz a fora. Alm de publicarem o endereo de outros sites de finalidades
semelhantes, h um tipo de corrente entre esses idealizadores. O Palestine Media
Watch, por exemplo, divide suas descobertas e pontos de vista com outros grupos de
observao de mdia, ombudsmans, escritores e crticos de mdia em geral. Logo que o
Observatrio Global de Mdia foi lanado, o Observatrio da Imprensa lanou um
artigo saudando e estimulando o aparecimento de novas propostas de cunho crtico na
mdia
34
.
33
TRAQUINA, Nelson. Quem vigia o Quarto Poder? In: O Estudo do Jornalismo no Sculo XX. Ed.
Unisinos (So Leopoldo), 2003, p. 198.
34
O artigo contm a seguinte nota: O OI sada o surgimento de quantos observatrios da
imprensa sejam possveis quanto mais observadores maiores as possibilidades de interveno social no
processo de mediao da informao. In:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/ipub290520022.htm consulta em 31 ago. 2005. O observatrio brasileiro mantm firmes elos de cooperao com as entidades
portuguesa e francesa (Observatoire de la presse, fundado em 1995 e brao do Centre
de formation et de perfectionnement des journalistes. A experincia brasileira segue o
modelo francs combinando duas entidades, uma formadora o LABJOR e outra
cvica). Esse ciclo de trabalho em conjunto manifesta positivamente nas entidades um
afastamento do ataque pessoal, ou seja, quanto mais amplo este entrelace das
organizaes, melhor ser para a credibilidade e o firmamento das mesmas. Assim, os
media watchers parecem funcionar bem, no sentido da complementaridade. CAPTULO II
APRESENTAO E TCNICAS DOS OBSERVATRIOS
O referencial terico deste estudo composto a partir de quatro variantes que
constituem as formaes prtica e terica dos presentes objetos de estudo.
Primeiramente, ser feito um diagnstico sobre a escolha da Internet e a importncia da
interatividade como meio de apresentao do Observatrio da Imprensa e do Canal da
Imprensa. interessante analisar, por exemplo, que a verso online do Observatrio
possui maior visibilidade do que a televisiva, exibida pela rede TVE. Ser apresentada a
atuao da Internet como palco desses observatrios, funcionando como uma forte
perspectiva na construo de um novo espao participativo sociedade considerada
passiva diante dos media.
Sero abordados a importncia da transparncia jornalstica na questo da
credibilidade e tambm o jogo de vozes envolvidas no discurso desses observatrios.
No s tm como proposta de manter uma vigilncia atenta sob os meios de
comunicao, mas tambm uma forma de contrapoder, ou melhor, um poder contra a
passividade da sociedade em assuntos relativos mdia, que lhes de direito ficar
parte.
Afinal, diante desta verdadeira guerra mercadolgica na qual o jornalismo est
inserido, possvel aliar boas atuao tcnica e noo terica desta cincia? A passagem
universitria na vida dos profissionais da rea de total importncia para que,
futuramente, a conduta tica seja mantida, assim como a transparncia individual e com
o pblico. Neste captulo, ser avaliada a participao do meio acadmico na apurao
do olhar crtico dos jornalistas.
Para fechar o ciclo da fundamentao, sero analisadas as possibilidades e a real
necessidade da construo do Quinto Poder, responsvel pelo resgate social do Quarto
Poder a imprensa, que h tempos j teria perdido sua funo fundamental de contrapoder
35
. Quem o est construindo e quais so as expectativas de alguns autores
sobre o tema? A partir destas perguntas, sero feitas perspectivas em torno da edificao
deste novo poder; se este ter base e estrutura fortes a ponto de sustentar a grande
misso de cumprir o papel social, de prestao de contas ao pblico.
2.1 A Internet e a importncia da interatividade
Nem televiso, nem colunas em revistas ou jornais. Experincias como o
Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa ganharam destaque e visibilidade na
web, por apresentarem formas menos burocrticas de insero dos contedos, alm de
maneiras mais econmicas tanto na criao como na manuteno dos espaos na rede. A
Internet tornou-se, ento, a mais efetiva ferramenta para se observar sistematicamente
mdia na atualidade.
Porm, mesmo com todas essas possibilidades, alguns autores apresentam
teorias que, adaptadas ao estudo, podem ser tidas como empecilhos para uma realizao
efetiva da crtica de mdia e a importante incluso da massa neste processo. Segundo
CHRISTOFOLETTI (2003), um dos impasses para se fazer uma crtica no Brasil o
que ele chama de coronelismo eletrnico, onde a concentrao dos meios nas mos de
grupos polticos se torna uma estratgia para amplificar suas vozes junto ao eleitorado.
O autor afirma que a poltica coronelstica hoje se apresenta apoiada em mais
tecnologia, principalmente pela Internet, que atravs de suas armas de seduo
grfica, tcnica, simbolismos envolve a conscincia do pblico, e assim a realizao
de uma crtica se torna anulada. O aumento dessa concentrao vista como tendncia
por RAMONET (2003). Segundo o autor, vrias corporaes esto preocupadas em
ocupar o que ele define como o quarto meio a Internet que viria aps a cultura de
massas, publicidade / propaganda e a informao.
Dessa forma, o crescimento da Internet pode ser visto como ameaa ao sentido
da maior liberdade que o meio oferece. preciso no permitir que a infiltrao de
interesses corporativos desencadeie em conflitos que podem vir a contaminar o trabalho
jornalstico. A ausncia de lucratividade dificulta a penetrao da dominao
35
RAMONET, Igncio. O quinto poder. Le Monde Diplomatique. N 45, outubro de 2003 In:
http://geocities.yahoo.com.br/mcrost11/oi079.htm consulta em 6 set. 2005. corporativista, da mesma forma que a questo dos baixos custos na web funciona
positivamente para os objetos de estudo na medida em que so entidades sem fins
lucrativos. E por serem no-corporativas, no-partidrias e focadas em denunciar
condutas antiticas dentro do jornalismo, criticam o fato de que os conglomerados
monopolizem a informao para fins polticos e / ou econmicos. Como j foi visto,
onde h interesses particulares, inexiste qualidade de informao, logo, a construo de
um espao anti-coronelstico nesses observatrios foi buscada para que possa haver
transparncia e para que os interesses e estratgias de cunho publicista no interfiram
na realizao crtica dos media.
A possibilidade de uma inteligncia coletiva e a obteno de informaes em
tempo mnimo, alm da diversidade oferecida, torna a Internet um meio diferente dos
demais. O que RAMONET (2003) chama de quarto meio, visto como um terceiro
tipo de interatividade dos meios de comunicao
36
por LVY; o autor classifica a
relao emissor-receptor dos media com o pblico a partir de dispositivos como Um e
Todo onde s h interatividade por parte de um nico emissor, responsvel por
transmitir a mensagem a uma vasta gama de receptores; o segundo tipo, como explica o
autor, o Um e Um, onde a interatividade dada de forma igualitria entre dois
indivduos. E o terceiro onde se encaixa a Internet o dispositivo Todos e Todos,
que a emergncia de uma inteligncia coletiva, onde podem ser encontradas uma
variedade de ferramentas, de dispositivos, de tecnologias intelectuais
37
.
Os observatrios teorizam que seus espaos tambm se tornam inovadores na
medida em que permitida a participao do pblico de forma utopicamente ou no
igualitria, onde todos e todos acionam suas opinies, fazendo funcionar o ciclo
condutor dos debates.
A proposta de inserir um pblico, supostamente passivo diante da mdia,
funciona na medida em que pela Internet o leitor deixa de ser apenas um receptor, pois
alm de estar em um ambiente acessvel a uma gama diversificada de informaes de
maneira rpida, lhe oferecido lanar e disponibilizar suas prprias informaes,
tornando-se ele prprio tambm um emissor.
36
LVY, Pierre. A Emergncia do Cyberspace e as mutaes culturais. Palestra realizada no Festival Usina de
Arte e Cultura de Porto Alegre outubro de 2004 In: http://www.portoweb.com.br/PierreLevy/aemergen
consulta em 20 set. 2005.
37
Idem, Ibidem. Ao mesmo tempo em que LVY (1999) aponta a Internet como uma
inteligncia coletiva, ou como parte dos equipamentos que favorecem a emergncia
da autonomia, tanto de indivduos quanto de grupos ou ainda que estejam escuta
o que pode ser visto como possibilidade vivel de apresentar um palco de conscincia
pblica diante dos impasses da mdia questionado um aumento do abismo entre
bem-nascidos e excludos
38
, o que funcionaria de forma negativa dentro do verdadeiro
ideal de um observatrio. Afinal, a Internet , dentro do espao contemporneo, a
grande possibilidade do cidado participar ativamente, expor sua opinio e receber,
transformando esse processo em um verdadeiro frum de trocas, e isso tudo de maneira
massificada. Nessa sociedade integrada, vital o papel do indivduo para o bom
desempenho da poltica de incluso digital. LVY (1999) ressalta que
(...) no basta estar na frente de uma tela, munido de todas as
interfaces amigveis que se possa pensar, para superar uma situao
de inferioridade. preciso, antes de mais nada, estar em condies de
participar ativamente dos processos de inteligncia coletiva que
representam o principal interesse do ciberespao
39
.
A perspectiva que este meio apresenta de interatividade leva a crer que tantas
pessoas divulgaro opinies enquanto as recebero, o que abre caminhos cada vez mais
possveis de se ter a construo de verdadeiros fruns de debates sobre assuntos
diversos. Essa vertente pulsa fortemente dentro da atmosfera do media criticism. Por
esse meio interativo, possvel pensar em trazer tona o debate crtico sobre os
problemas que amofinam a sociedade no espao pblico.
Quando se trata de visibilidade de um dos objetos de estudo que compem este
trabalho, o Observatrio da Imprensa, percebe-se que h uma predominncia do
interesse pblico pela verso na web, mesmo havendo programas televisivo e
radiofnico. Conforme explica DIZARD JR. (1998), os grandes desafiadores dos
tradicionais media (televiso, jornais, rdio) so o computador e a revolucionria
Internet, que se expandem em um ritmo frentico, dispondo de mais informao do que
todos os meios de comunicao de massa oferecem combinados e que, atualmente, ela
domina os planos estratgicos da indstria da mdia de massa. O autor destaca o
diferencial entre a nova mdia e a velha mdia.
38
LVY, Pierre. Cibercultura. 1
edio, So Paulo: Editora 34, 1999, p. 12.
39
Idem, Ibidem, p. 238. O velho e o novo oferecem recursos de informao e
entretenimento para grandes pblicos, de maneira conveniente e a
preos competitivos. A diferena que a nova mdia pode expandir a
gama de recursos para novas dimenses (...). A nova mdia
crescentemente interativa, permitindo aos consumidores escolher
quais recursos de informao e entretenimento desejam, quando os
querem e em qual forma
40
.
Assim, fatores como o acesso rpido e cmodo dos contedos e a participao
ativa ainda mais se tratando do engajamento terico dos realizadores do Observatrio
na construo massificada de uma viso crtica se tornam decisivos para que o
interesse do pblico se volte para a verso online. Na Internet, so configurados um
novo mercado, novas polticas e novos comportamentos, pois a era eletrnica anuncia
novos suportes, fazendo com que mudem tambm as formas de produo e
armazenamento de informao.
Em suma, tanto para mdia quanto para mediados, esta nova realidade
proporciona uma gama diversificada de atuao, onde emissor e receptor revezam
papis, o que possibilita uma maior participao da massa no processo de construo da
realidade. Enfim, uma forma mais acessvel de se tornar voz participante do processo
opinativo e crtico da mdia voz essa do povo, a quem a concesso de direito.
2.2 A busca pela transparncia no-obtida
H uma identificao por parte das massas diante dos setores dominantes da
mdia considerados acima de qualquer suspeita, embora muitos deslizes ticos, como a
espetacularizao da misria humana, sejam captados pelo pblico e isso o incomode,
conforme afirma CHRISTOFOLETTI
41
Entre os jornalistas parece persistir a certeza .
de que tudo est sendo feito de maneira inquestionvel. Para BUCCI (2000), os
jornalistas so portadores da sndrome de auto-suficincia tica, que os transformam
em entraves medida que seus procedimentos no so debatidos com o pblico
42
Esse .
comportamento pode ser considerado uma artimanha para manter a mdia a salvo de
40
DIZARD JR., Wilson. A nova mdia: a comunicao de massa na era da informao. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1998, p. 32.
41
CHRISTOFOLETTI, Rogrio. tica Jornalstica. In: http://www.saladeprensa.org. Apresentando no 2
Seminrio de tica em Pesquisa da Univali, em Santa Catarina, Brasil, em junho de 2004 consulta em 6
set. 2005.
42
BUCCI, op. cit., p. 37. assuntos que possam pr em risco seus mtodos. A partir da, o autor explica que a
credibilidade do jornalista passa a vir no atravs da busca pela verdade, que se torna
cada vez mais precria diante da rapidez oferecida pela produo em tempo real; e sim
do seu esforo mximo ao buscar a informao.
Porm, quando os olhos do homem comum alcanam a noo de que a tica
jornalstica a prpria tcnica, pode ser gerado um grande descrdito na mdia. Diante
de tais afirmativas, a desculpa comumente dada de erros tcnicos no Jornalismo perde
seus fundamentos. Em texto publicado no ano de 1998 no Observatrio da Imprensa,
DINES recorda o caso do jornalista e escritor Joo Ubaldo Ribeiro, que teve seu artigo
limado do Jornal O Estado de SP, pois este apresentava crticas severas mas
respeitosas ao presidente da Repblica
43
. Dines ressalta que na semana seguinte, o
jornal publicou o texto, com explicaes de ordem tcnica. Dines afirma que esse tipo
de postura acarreta numa realidade no muito agradvel: fingimos que somos livres e
os veculos fingem que so imparciais.
Os observatrios, por sua vez, foram criados com o propsito de alertar
jornalistas e seus receptores para deslizes ticos dessa natureza. bom lembrar que, da
mesma forma, o indivduo pode deixar envolver-se em discursos presentes nos terrenos
dos observatrios, ao analisar, por exemplo, a rajada de crticas geralmente negativas
mdia, porm convincentes diante da percepo dos abusos ali descritos. O
autoritarismo presente na arrogncia jornalstica anteriormente citada pode se apresentar
de forma sutil na linguagem de um observatrio. ALBUQUERQUE, LADEIRA E
SILVA (2002) argumentam a existncia de sintomas de dominncia no site
Observatrio da Imprensa: na ausncia de um acordo amplo dos jornalistas em torno
de princpios ticos comuns, o Observatrio se v tentado a extrapolar o seu papel
formal (tal como expresso nos seus Objetivos) e se investir da autoridade de agente
normatizador
44
. Os autores dizem, inclusive, que a razo de supremacia e hierarquia de
discursos se d atravs do lugar da edio no caso, uma questo de ordem tcnica,
logo, ligada tica e credibilidade.
43
DINES, Alberto. O ano em que a mdia ficou pelada. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/iq201298a.htm
consulta em 6 set. 2005.
44
ALBUQUERQUE, LADEIRA E SILVA, ALBUQUERQUE, Afonso de; LADEIRA, Joo Damasceno Martins;
SILVA, Marco Antonio Roxo da. Media criticism no Brasil: o Observatrio da Imprensa. Revista Brasileira de Cincias da
Comunicao. SP: Volume XXV, n 2, julho-dezembro de 2002, p.14. Quanto questo das vozes, interessante analisar a presena ou no da
possibilidade de rompimento de uma onipotncia do discurso monolgico. A polifonia,
no sentido dado por Mikhail Bakhtin
45
, tida como caracterstica tanto linguagem
presente nas colunas do ombudsman (MENDES
46
) quanto do Observatrio
(ALBUQUERQUE, LADEIRA e SILVA
47
). Os autores relacionam o conceito atravs
do uso de discursos compostos por diversas opinies, na construo coletiva de vrios
agentes, num jogo de vozes implcitas e explicitas que procura introduzir o prprio
leitor. Para Bakhtin, a polifonia ressoa vozes no texto que no se sujeitam a um narrador
central; elas relacionam-se umas s outras em condies de igualdade. Alm disso,
nenhuma palavra seria a ltima palavra; e toda palavra seria potencial e necessariamente
carregada de dilogo, parte integrante e inseparvel de todas as outras vozes. Ou seja,
um processo de aceitao de todas as vozes como vozes equivalentes, que tenta
assegurar a credibilidade atravs do processo de decifrar o contedo da informao
desviada eticamente, deixar o receptor atento aos debates e iniciativas que dizem
respeito s estruturas dos meios. A credibilidade se d no somente pela condenao,
mas por promover debates sobre aquilo que foi criticado. Esse jogo de vozes permite
que novas discusses sejam propostas e introduzidas nos observatrios.
O maior objetivo dessas vozes montar anlises dos mtodos feitos por
debaixo dos panos pela mdia, ou seja, quando a tica deixada de lado em detrimento
de interesses e os mtodos jornalsticos no so feitos s claras para o pblico. Por que a
mdia no faz um jornalismo tico, acabando por virar alvo constante de crticas to
severas? TOGNOLLI visualiza os motivos dos desvios ticos sob ponto de vista
diferente dos crticos. Para ele, os jornalistas vivem em constante confronto entre o
saber aplicar sua arte e a presso do deadline.
Sua causa no tanto falta de energia ou talento e dedicao
verdade, como os crticos s vezes insinuam, mas um simples lapso
na aplicao das cincias da informao um corpo de conhecimentos
aos atemorizantes problemas de relatar as notcias em um tempo de
sobrecarga de informao
48
.
45
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 5a ed. So Paulo: Hucitec, 1978.
46
MENDES, Jairo Faria. O Ombudsman e o Pblico. Dissertao de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051098.htm
consulta em 31 ago. 2005.
47
ALBUQUERQUE, LADEIRA E SILVA, op. cit., p.6.
48
TOGNOLLI, Cludio. O jornalismo de que precisamos. In: http://www.tognolli.com/html/mid_o.htm
consulta em 15 set. 2005. Seja qual for a origem do quadro gerador dessa falta de credibilidade diante dos
graves impasses da mdia, o fator comum que a transformao da informao em
mercadoria e do jornalismo em mercado ocasionou em manifestaes de peso, como as
teorias da Escola de Frankfurt e seus seguidores. HABERMAS (1984), um dos ltimos
tericos da Escola, difere jornalismo crtico se encontraria no plano do jornalismo
literrio de opinio, do sculo XIX de publicidade jornalstica
49
subordinado
lgica mercadolgica e capitalista. Indo de encontro s teorias dos media critics, o autor
acredita que este ltimo nicho do jornalismo deve ser exterminado em detrimento do
ttulo de dono da histria ou mesmo da freqncia do cidado.
nesse espao de condutas antiticas que construdo o media criticism.
GUERRA (2005) definiu dois tipos de crticas feitas aos trabalhos jornalsticos: a de
conduta e a do princpio
50
No primeiro, classificado como mais comum, a crtica .
direcionada a aes onde ocorreram falta de tica (ou tcnica) e os deslizes so
reafirmados pelo crtico. Na crtica do princpio reina a validade dos parmetros, que
no so questionados at seu desdobramento. O jornalista acredita que embora haja
consistncia nas crticas, os deslizes dificilmente sero corrigidos justamente por
envolver questes discutidas acima, como o mercado e aspecto individual dos
jornalistas.
As esperanas, entretanto, no foram perdidas. Os observatrios aplaudem
atitudes ticas (alguns textos podem ser encontrados principalmente na seo Feitos e
Desfeitas, do Observatrio da Imprensa) e continuam a clamar para que esse se torne
um ato comum entre os jornalistas. So muitas as teses com o intuito de impedir que o
jornalismo e a funo social colidam com os conflitos de interesses, dentre elas, o
mtodo Igreja-Estado que consiste em (...) repartir a empresa em duas metades:
uma editorial e outra comercial
51
, cada parte exercendo sua autonomia. Assim, o lucro
da empresa jornalstica no viria do dinheiro de anunciantes, e sim da credibilidade
construda. Nesse esquema, bastante utpico para os dias de hoje, o jornalista viveria em
49
HABERMAS, Jrgen. Do jornalismo literrio aos meios de comunicao de massa apud Marcondes
Filho, Imprensa e capitalismo. So Paulo, Kairs, 1984, p. 13.
50
GUERRA, Josenildo Luiz. Breves notas sobre a crtica de mdia no Brasil: critrios de anlise e a
proposta de uma rede universitria de observatrios de imprensa texto apresentado no XXVIII
Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao da Intercom. Rio de Janeiro, setembro de 2005.
51
BUCCI, op. cit., p. 60. um ambiente mais confortvel para exercer a to necessria transparncia, j que a
metfora Igreja-Estado acarreta na quebra de mais um conflito existente.
As crticas internas as colunas de ombudsman tambm exercem papel
importante no fator da transparncia com o leitor e na credibilidade do prprio jornal.
Assim como de objetivo dos media critics, dado um estmulo discusso de temas
relacionados aos meios de comunicao. BUCCI (2000) aponta maneiras de enfrentar
de forma tica o que ele denomina como imposturas de neutralidade
52
Os jornalistas .
viveriam pressionados sob trs conflitos, na nsia de no apenas ser um profissional
isento, mas tambm parecer. No primeiro caso, o jornalista, involuntariamente,
acreditaria estar sendo imparcial, porm suas vises de mundo estariam permeando a
matria o que o autor chama de ocultao involuntria; o segundo e mais criticado
conflito denominado de ocultao deliberada. Consiste na insero proposital das
convices no trabalho jornalstico, ou seja, o jornalista passa do estgio de uma viso
de mundo (inconsciente) para uma opinio (consciente) mascarada, o que pode
contaminar o texto; a terceira e ltima a servido voluntria, na qual o jornalista deixa
suas convices de lado e incorpora as da empresa onde trabalha, por medo de ser
demitido.
BUCCI (2000) relata a importncia da transparncia, no s entre veculo e
pblico, mas consigo mesmo e com os colegas de trabalho. A inserido o papel do
ombudsman: seria preciso formar a veia crtica do cidado para se ter um jornalismo
bem feito; trazida ento a recordao do pensamento de ALBUQUERQUE,
LADEIRA e SILVA (2002, p. 1) sobre a diferena de compromissos dos jornalistas
entre imprensa brasileira e americana: a responsabilidade auto-atribuda de formar os
cidados sobre seus papis democrticos, o que seria algo muito alm de simplesmente
informar.
Nesse contexto entra tambm a importncia da prestao de contas, ou
Accountability: por ser uma questo de credibilidade. medida que os meios de
comunicao tornarem-se mais e mais transparentes com seus mtodos
53
atravs de
um ombudsman, ou pelo jornalista sendo transparente consigo mesmo, com os colegas
de trabalho e assim deixar de ser uma barreira para a insero da sociedade no debate
tico, mais cuidadosos com o seu trabalho e as conseqncias advindas dele, mais
52
BUCCI, op. cit., p. 97.
53
CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004. estaro trabalhando para a qualidade de seu jornalismo, mais estaro investindo na
prpria credibilidade
54
. O que no acarreta na perda de sentido do trabalho de um
media critic, afinal tendo como fato o papel participativo da mdia na vida dos cidados,
necessrio o constante uso de ferramentas que acarretem numa melhora dos media,
que funcione sempre com a funo de resgatar o direito informao que no pode ser
perdido.
At porque, bom lembrar, o jornalista exercendo o papel de ombudsman ainda
controla o feedback, no sentido de que este presta contas diretamente ao leitor. No caso
dos media critics, a prpria sociedade que interfere e de forma massificada.
2.3 A Universidade na construo de um olhar crtico
Tendo como estudo de caso sites de vozes diferentes calouros e
veteranos no assunto media criticism, se assim podemos classificar faz-se
necessrio um estudo da base terica sobre a construo do olhar crtico no meio
acadmico; de que forma dada essa edificao nesse espao, onde as teorias e tcnicas
da cincia jornalstica gravitam.
Uma estatstica comprova a pouca disseminao do trabalho que envolve o
media criticism: dentre os 443 cursos de Jornalismo existentes no Brasil at o ano de
2003, apenas quatro trabalham com a crtica de mdia, envolvendo alunos e
professores
55
.
CHRISTOFOLETTI (2004) fundamenta seu estudo a partir da hiptese de que
o interesse pelo assunto tica no Jornalismo aumentou demasiadamente, porm que o
assunto crtica de mdia ponderado por ele como ponto importante na questo do
auxlio acadmico ainda um campo pouco explorado tanto por alunos quanto por
professores.
Para possibilitar uma maior compreenso da carga universitria participativa
no processo crtico da mdia, ser aproveitada a questo levantada pelo pesquisador
54
CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004
55
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP). In:
http://www.inep.gov.br consulta em 30 out. 2005. peruano Juan Gargurevich no Congresso da Intercom de 2005
56
: os futuros jornalistas
estariam sendo ensinados de maneira apropriada conforme a nova realidade?
Dentro dessa nova realidade, explicada pelo pesquisador como resultado da
mudana dos paradigmas do jornalismo inspirados no modelo americano do ps-guerra,
trs se encaixam dentro do presente estudo: a informao obtida a custo mnimo e
tempo real; os espaos virtuais ultrapassando limites e a popularizao do cidado
jornalista atravs da interatividade oferecida pela Internet. A liberdade jornalstica
protegida no Bill of Rights
57
, que ajudou na construo da denominao da imprensa
como o Quarto Poder estaria sendo superada pelo direito informao, que serve de
pano de fundo para uma discusso tica.
O paradigma do ps-guerra ento explicado pelo pesquisador, que
fundamentou tambm a concepo de jornalismo na Amrica Latina, apresenta a
informao como mercadoria, o que significa admitir que quanto melhores as notcias,
maiores sero as vendas
58
. Lembrando que, por conta dessa realidade, constantemente
a imprensa cai em contradio com sua funo social, ou acarreta na anulao de uma
Accountability, que consiste em dar satisfaes ao pblico
59
. Logo, trazendo ao foco
desse estudo, prev um convite geral crtica (Idem). O autor explica tambm que
Accountability um problema de cunho moral, que no caso do jornalismo envolve
questes ticas
60
. A prestao de contas de extrema importncia no jornalismo, como
afirma BUCCI (2000), ao relatar que os piores problemas do jornalismo se encontram
dentro das empresas por conta do conflito de interesses, que ocorrem justamente por
conta da mercadoria informao. A sada, para o autor, a incluso da sociedade no
debate tico, onde o cidado tem legitimidade para exigir que esta explorao
comercial no o desrespeite
61
. Ento, se o mercado se recusa a refletir sobre as
condies do jornalismo atual, a academia tem a obrigao de assumir essa funo,
56
CHAPARRO, Carlos. Que tipo de jornalista devemos formar? In: http://www.comuniquese.com.br/conteudo/newsshow.asp?op2=&op3=&editoria=343&idnot=23916 consulta em 20 set. 2005.
57
Consta na Constituio dos Estados Unidos de 1791: O Congresso no far nenhuma lei (...) que
restrinja a liberdade de expresso ou de imprensa (...) (Emenda 1, Bill of Rights). In:
http://usinfo.state.gov/journals/itgic/0401/ijgp/ig0402.htm consulta em 18 set. 2005.
58
CHAPARRO, op. cit.
59
CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004.
60
Idem, Ibidem.
61
BUCCI, op. cit., p. 35. oferecendo suas contribuies para uma melhora no jornalismo
62
. Quando no se
investe no aprimoramento do exerccio crtico de ao positiva para uma melhora dos
procedimentos jornalsticos, pode ser acarretada uma m formao dos jornalistas, agora
no sentido de que estes so os primeiros a criar barreiras para a realizao do debate
tico, na medida em que no discutem seus mtodos com o pblico. O meio acadmico
pode contribuir para o desenvolvimento do exerccio de uma prestao de contas ao
pblico, conforme afirma CHRISTOFOLETTI:
A universidade pode ajudar muito no processo de
disseminao de uma cultura que contenha preocupaes de
Accountability, fazendo pesquisas, realizando estudos, desenvolvendo
projetos inclusive em parceria com o mercado para o
aperfeioamento das prticas e dos processos jornalsticos
63
.
Retornando ao desenvolvimento da discusso tica, trazido baila o eterno
debate sobre teoria versus prtica no jornalismo. Estariam os alunos dominando o fazer
e se aprofundando muito pouco no pensar? Enquanto tem-se a sensao de que os
profissionais com domnio tcnico bastam s empresas, segmentos crticos do
jornalismo reivindicam uma dedicao formao humanstica dos futuros
profissionais.
Atravs desse pensamento, importante levar em conta que a experincia
adquirida no ensino universitrio de Dines, por exemplo, se diferencia da carga de um
aluno articulista no Canal da Imprensa. No s pelo contexto poltico do momento, mas
principalmente nos aspectos social e tecnolgico. um estmulo dado ao estudante para
que este se torne um profissional que se torne capaz de captar as complexidades das
questes as quais ele ser responsvel por relatar sociedade. A preocupao : de que
servem as habilidades tcnicas, se as mentes no esto preparadas para entender,
interpretar e filtrar as subjetividades, as vises de mundo? Na viso de Kellner (2001), a
forma mais adequada de investigar a cultura produzida pela mdia (e seus reflexos na
sociedade) d-se atravs de uma contextualizao scio-histrica dos fenmenos
64
.
Neste sentido, percebe-se que necessrio estar ciente de como e onde se chegou ou
seja, da realidade e das perspectivas que esta carrega, em um cenrio onde meios de
62
CHRISTOFOLETTI, Rogrio. Monitores de Mdia: como o jornalismo catarinense percebe seus
deslizes ticos. Florianpolis e Itaja: Ed. UFSC-Univali, 2003, p. 138-9.
63
CHRISTOFOLETTI, op. cit, 2004.
64
KELLNER, Douglas. A Cultura da Mdia. So Paulo: EDUSC, 2001, p. 76 apud CRUZ, Fbio Souza
da. Consumidores de Hoje, Cidados de Outrora: A Pedagogia Crtica da Mdia como Proposta de
Fortalecimento da Cultura In: http://www.intexto.ufrgs.br/n11/a-n11a5.html consulta em 20 set. 2005. comunicao, pblico, jornalistas, estudantes, media criticism, enfim, tudo esteja aberto
a questionamentos e possibilidades.
A agregao da palavra tcnica fuso entre teoria e prtica, dando fim
falsa dicotomia, transformaria os jornalistas em profissionais capazes de carregar uma
espcie de lead individual, cujo aperfeioamento seria dado no meio acadmico. Ou
seja, o profissional sabe como fazer, quando fazer e at onde ir para realizar seu
trabalho. Mas tambm saberiam por que, para qu e, principalmente, para quem est
sendo feito. importante que o aprofundamento nas questes tcnicas introduzidas no
meio acadmico no deixe o aprimoramento da sensibilidade crtica sob os media em
segundo plano. Conforme afirmou Sevcenko (2001)
(...) uma coisa que a tcnica no pode fazer abolir a crtica,
pela simples razo de que precisa dela para descortinar novos
horizontes (...) A crtica, portanto, a contrapartida cultural diante da
tcnica, o modo de a sociedade dialogar com as inovaes,
ponderando sobre seus impactos, avaliando seus efeitos e
perscrutando seus desdobramentos
65
.
Sendo assim, iniciativas como o Canal da Imprensa ou Monitor de Mdia
podem funcionar como estmulo no exerccio humanstico da profisso, deixando de
lado a disputa cega que induz a uma limitada formao tcnica e esquecendo-se de que
esta ligada a tica no jornalismo, ao transformar estudantes de comunicao / futuros
jornalistas em efetivos articulistas crticos da mdia. Iniciativas como estas podem no
ser as nicas sadas para se cobrar uma mdia mais justa em seus mtodos.
preciso mesclar mentes atentas e de base slida no contexto scio-cultural
com uma boa formao tcnica. Aliar o conhecimento de jornalistas professores
percepo atual de novos formandos na rea a se insere a importncia da existncia
tanto de observatrios que do foco maior aos alunos (Canal), quanto queles que
carregam experincia, como o cas