debora 2003

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    NVEL TECNOLGICO E COMPETITIVIDADE DA PRODUO DE MEL DE

    ABELHAS (Apis mellifera) NO CEAR

    Dbora Gaspar Feitosa Freitas

    Dissertao submetida Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Economia Rural, do

    Departamento de Economia Agrcola do Centro de Cincias Agrrias, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    FORTALEZA CEAR

    2003

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    ii

    ii

    Esta dissertao foi submetida Coordenao do Programa de Ps-Graduao em

    Economia Rural, como parte dos requisitos necessrios obteno do Ttulo de Mestre em

    Economia Rural, outorgado pela Universidade Federal do Cear, e encontra-se disposio

    dos interessados na Biblioteca do Departamento de Economia Agrcola da referidaUniversidade.

    A citao de qualquer trecho desta dissertao permitida, desde que seja feita em

    conformidade com as normas estabelecidas pela tica cientfica.

    ___________________________________Dbora Gaspar Feitosa Freitas

    Dissertao aprovada em 24 de Fevereiro de 2003

    ____________________________________

    Prof. Ahmad Saeed Khan, Ph.D.

    Orientador

    _____________________________________

    Prof. Lcia Maria Ramos Silva, D.L

    _____________________________________

    Prof. Maria Goretti Serpa Braga, Ph.D.

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    minha famlia,

    em especial, ao meu Pai

    Feitosa,

    DEDICO

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    iv

    iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por tudo.

    Universidade Federal do Cear, e em especial ao Departamento de Economia

    Agrcola pela oportunidade de realizao deste trabalho.

    Ao Conselho Nacional de desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), pela

    concesso de financiamento, atravs da bolsa de estudos durante o curso.

    Ao Professor Ahmad Saeed Khan pelo estmulo, orientao e dedicao.

    A Professora Lcia Maria Ramos Silva, pelas sugestes, apoio e interesse no decorrer

    deste trabalho.A Professora Maria Goretti Serpa Braga pelas valiosas contribuies e incentivo desde

    o perodo da Graduao.

    Aos demais professores do Departamento de Economia Agrcola, bem como a todos os

    funcionrios, sem exceo.

    Ao Professor Breno Magalhes Freitas do Departamento de Zootecnia da UFC, pelas

    informaes tcnicas prestadas.

    A Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Cear (EMATERCE), Sedesde Mombaa e Pacajs, pela receptividade e prontido em auxiliar na pesquisa de campo.

    A Maria Aparecida Silva Oliveira e ao Jos Nilo de Oliveira Jnior pela

    importantssima ajuda na coleta de dados no campo. Cida, tambm pela amizade e

    companheirismo; e em especial, ao Nilo pelo precioso apoio em vrias fases deste trabalho.

    Aos outros amigos do curso de Mestrado em Economia Rural: Gabriela, Sandra,

    Monaliza, Snia, Rafael, Francisco de Assis, Fabiano, Celso, Josemar, e Otvio, pelas nossas

    alegrias compartilhadas no decorrer do curso, principalmente s meninas pela nossa amizade.

    Aos produtores de mel dos Municpios de Mombaa, Pacajus e Chorozinho, pela

    imensa contribuio realizao deste trabalho.

    A todos que contriburam de alguma forma para a realizao de mais uma etapa de

    minha vida.

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    SUMRIO

    Lista de TABELAS viii

    Lista de FIGURAS xiLista de TABELAS do APNDICE xii

    Lista de FIGURAS do ANEXO xiii

    RESUMO xiv

    ABSTRACT xv

    1 INTRODUO 01

    1.1 O Problema e sua importncia 011.2 Objetivos 05

    1.2.1 Objetivo geral 05

    1.2.2 Objetivos especficos 05

    2 ASPECTOS CONCEITUAIS 06

    2.1 Consideraes sobre tecnologia 06

    2.2 Competitividade 08

    2.3 Consideraes sobre a Apicultura 10

    2.3.1 Caractersticas do mel de abelhas 11

    3 METODOLOGIA 13

    3.1 rea geogrfica de estudo 13

    3.2 Justificativa da rea de estudo 133.3 Levantamento de Dados 14

    3.4 Tamanho da amostra 14

    3.5 Definio e operacionalizao das variveis 15

    3.5.1 Anlise de tecnologia 15

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    3.5.1.1 Equipamentos 16

    3.5.1.2 Manejo 19

    3.5.1.3 Colheita 25

    3.5.1.4 Ps-colheita 263.5.1.5 Gesto 28

    3.6 Mtodos de anlise 30

    3.6.1 Anlise Tabular descritiva 30

    3.6.2 Determinao do nvel tecnolgico 30

    3.6.3 Competitividade 33

    3.6.3.1 Determinao dos custos 343.6.3.2 Caracterizao das receitas 37

    3.6.3.3 Anlise de rentabilidade 38

    3.6.4 Relao entre nvel tecnolgico e competitividade 41

    4 RESULTADOS E DISCUSSO 42

    4.1 Caractersticas socioeconmicas 42

    4.1.1 Idade 42

    4.1.2 Escolaridade 43

    4.1.3 Local de residncia 44

    4.1.4 Orientao sobre a criao 45

    4.1.5 Participao em organizaes sociais 46

    4.1.6 Financiamento 47

    4.1.7 Tempo de exerccio da atividade 48

    4.1.8 Objetivo da atividade 494.1.9 Nmero de colmias 49

    4.1.10 Sistema de criao de abelhas 50

    4.2 Nvel tecnolgico 52

    4.2.1 Tecnologia de uso de equipamentos 53

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    4.2.2 Tecnologia de manejo 55

    4.2.3 Tecnologia de colheita 58

    4.2.4 Tecnologia de ps-colheita 61

    4.2.5 Tecnologia da gesto 634.2.6 ndice tecnolgico geral da produo de mel 65

    4.6.2.1 ndice referente s tecnologias de uso de equipamentos, manejo e

    colheita (IG1) 65

    4.2.6.2 Contribuio de cada tecnologia na composio do ndice (IG1). 66

    4.2.6.3 ndice referente s tecnologias de uso de equipamentos, manejo,

    colheita e ps-colheita (IG2). 68

    4.2.6.4 Contribuio de cada tecnologia na composio do ndice (IG2). 684.2.6.5 ndice referente s tecnologias de uso de equipamentos, manejo,

    colheita, ps-colheita e gesto (IG3) 70

    4.2.6.6 Contribuio de cada tecnologia na composio do ndice (IG3). 70

    4.2.7 Consideraes sobre o nvel tecnolgico empregado na produo

    de mel 72

    4.3 Determinao da receita e dos custos 75

    4.4 Determinao dos indicadores de rentabilidade 78

    4.5 Anlise de competitividade 81

    4.6 Relao entre nvel tecnolgico e competitividade 85

    5 CONCLUSES 87

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 90

    APNDICE 95

    ANEXOS 99

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    viii

    viii

    LISTA DE TABELAS

    TABELA Pgina

    1 Variveis relativas tecnologia de uso de equipamentos 19

    2 Variveis relativas tecnologia de manejo 24

    3 Variveis relativas tecnologia de colheita 26

    4 Variveis relativas tecnologia de ps-colheita 27

    5 Variveis relativas tecnologia da gesto 29

    6 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao idade 2002. 43

    7 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao grau de

    instruo - 2002. 44

    8 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao local de

    residncia 2002. 45

    9 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao

    orientao na criao de abelhas 2002. 46

    10 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao

    participao em organizaes sociais 2002. 47

    11 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao obteno

    de financiamento 2002. 48

    12 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao tempo

    que exerce a atividade 2002. 4813 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao

    principal objetivo da atividade 2002. 49

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    ix

    ix

    TABELA Pgina

    14 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao nmero

    de colmias - 2002. 50

    15 Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao sistema

    de criao de abelhas - 2002. 51

    16 Distribuio relativa dos apicultores, segundo o padro

    tecnolgico referente ao uso de equipamentos. 55

    17 Distribuio relativa dos apicultores, segundo o padro

    tecnolgico referente a manejo. 58

    18 Distribuio relativa dos apicultores, segundo o padrotecnolgico referente colheita. 60

    19 Distribuio relativa dos apicultores, segundo o padro

    tecnolgico referente ps-colheita. 62

    20 Distribuio relativa dos apicultores, segundo o padro

    tecnolgico referente gesto. 65

    21 Contribuio das tecnologias de equipamentos, manejo e colheita

    na composio do ndice geral (IG1). 67

    22 Contribuio das tecnologias de equipamentos, manejo, colheita

    e ps-colheita na composio do ndice geral (IG2). 69

    23 Contribuio das tecnologias de equipamentos, manejo, colheita,

    ps-colheita e gesto na composio do ndice geral (IG3). 71

    24 Variaes dos nveis tecnolgicos, segundo os ndices obtidos

    para as tecnologias em estudo nos Municpios de Mombaa,Pacajus e Chorozinho. 74

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    x

    x

    TABELA Pgina

    25 Receita e custo de produo (100 kg) de mel de abelhas (Apis

    mellifera). 77

    26 Indicadores de rentabilidade da produo de 100 kg de mel de

    abelhas(Apis mellifera). 80

    27 Indicadores relacionados competitividade entre os produtores de

    mel nos Municpios de Pacajus e Chorozinho 2002. 82

    28 Indicadores relacionados competitividade entre os produtores de

    mel no Municpio de Mombaa - 2002 84

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    xi

    xi

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA Pgina

    1 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices

    relacionados ao uso de equipamentos, no Municpio de Mombaa. 53

    2 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices

    relacionados ao uso de equipamentos, nos Municpios de Pacajus

    e Chorozinho. 54

    3 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes tecnologia de manejo, no Municpio de Mombaa. 56

    4 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia de manejo nos Municpios de Pacajus e Chorozinho. 57

    5 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia de colheita, no Municpio de Mombaa. 59

    6 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia de colheita, nos municpios de Pacajs e Chorozinho. 60

    7 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia de ps-colheita, no Municpio de Mombaa. 61

    8 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia de ps-colheita, nos Municpios de Pacajs e

    Chorozinho. 62

    9 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes tecnologia da gesto, no Municpio de Mombaa. 63

    10 Freqncia relativa dos produtores, segundo os ndices referentes

    tecnologia da gesto, nos Municpios de Pacajus e Chorozinho. 64

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    xii

    xii

    LISTA DE TABELAS DO APNDICE

    TABELA Pgina

    A1 ndices tecnolgicos dos produtores de mel no Municpio de

    Mombaa. 96

    A2 ndices tecnolgicos dos produtores de mel nos Municpios de

    Pacajus e Chorozinho. 97

    A3 Regresso do lucro operacional em funo do nvel tecnolgicodos produtores de mel de abelhas. 98

    A4 Regresso do lucro operacional em funo do nvel tecnolgico

    dos produtores de mel de abelhas. 98

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    xiii

    LISTA DE FIGURAS DO ANEXO

    FIGURA Pgina

    A1 Apirio. 100

    A2 Apicultores manejando a colmia. 100

    A3 Partes de uma colmia. 101

    A4 Desoperculao dos favos de mel. 101

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    xiv

    RESUMO

    O presente estudo procurou analisar a apicultura no Estado do Cear, enfocando a produo demel de abelhas (Apis mellifera) nos principais Municpios produtores do Estado, mais

    precisamente fazendo uma anlise do nvel tecnolgico empregado na produo, bem como

    avaliando a rentabilidade da atividade e a competitividade em termos de eficincia dos

    produtores, e, por fim a relao do nvel tecnolgico com a competitividade. A pesquisa se

    realizou atravs de coleta de dados primrios por meio de entrevistas diretas com os

    produtores nos Municpios de Mombaa, Pacajs e Chorozinho Estado do Cear Brasil -

    no ms de outubro de 2002. Para avaliao do nvel tecnolgico, dividiu-se o sistema de

    produo de mel em cinco componentes: uso de equipamentos, manejo, colheita, ps-colheita

    e gesto; da foram desenvolvidos ndices tecnolgicos para cada um separadamente e para o

    conjunto deles, com base na respectiva tecnologia recomendada, sendo que, quanto mais

    prximo da tecnologia recomendada, maior o valor deste ndice e, portanto, melhor o nvel

    tecnolgico. A avaliao da rentabilidade foi feita utilizando-se a metodologia do Sistema

    Integrado de Custos Agropecurios CUSTAGRI, e a competitividade teve a abordagem onde

    utilizou-se os indicadores de eficincia como preos, custos e lucratividade. Para verificar a

    relao entre o nvel tecnolgico e a competitividade utilizou-se uma regresso simples pelomtodo dos mnimos quadrados ordinrios MQO, onde a competitividade foi analisada

    como varivel dependente do nvel tecnolgico. Os principais resultados obtidos mostram que

    o nvel tecnolgico dos produtores de mel considerado bom, sendo que na ps-colheita

    apresenta melhores ndices, enquanto na gesto foram encontrados os mais baixos ndices. No

    que se refere a rentabilidade, a produo de mel uma atividade muito rentvel, envolvendo

    baixos custos e podendo chegar a elevados ndices de lucratividade. Os nveis tecnolgicos

    influenciam positivamente a competitividade.

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    xv

    ABSTRACT

    The present study aimed to analyze the beekeeping in the State of Cear focusing the honey

    production in the main municipal districts producing of the State, precisely making an analysis

    of the technological level employed in the production, as well as evaluating the profitability of

    the activity and the competitiveness in terms of efficiency of the producers, and finally the

    relationship of technological level and competitiveness. The research took place through

    collection of primary data through direct interviews with the producers in the municipal

    districts of Mombaa, Pacajs e Chorozinho State of Cear, during October 2002. Toevaluate technological level, the honey production system was separated in five technologies:

    equipments, management, harvest, after-harvest and administration; then technological

    indexes were developed separately for each technology and for their group, based on the

    respective recommended technology, where the more close of the recommended technology,

    higher is the value of this index and, therefore better the technological level. The evaluation of

    the profitability was made by using the methodology of the Integrated System of Agricultural

    Costs - CUSTAGRI, and for competitiveness analysis it was used the efficiency indicators as

    prices and costs, and profitability indicators as operational profit and profitability index. To

    verify the relationship between the technological level and the competitiveness a simple

    regression it was used by the method of the Ordinary Square Minimum - MQO, where the

    competitiveness was analyzed as variable dependent of the technological level. The main

    obtained results shows that the technological level of honey production is considered good,

    and the technology of after-harvest presents better indexes, while in the technology of

    administration, was found the lowest indexes. Concerning to the profitability, the honey

    production is a profitable activity, involving low costs and could arrive high profitabilityindexes. The technological levels influence the competitiveness positively.

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    1 INTRODUO

    1.1 O Problema e sua Importncia

    Assim como no Brasil, o Cear vem desenvolvendo novas relaes de trabalho no meio

    rural, onde atividades no agrcolas so combinadas com as atividades agropecurias, como

    forma de manuteno do homem no campo, aumentando sua renda e ocupao.

    O emprego em atividades antes tidas como hobbies, como piscicultura, apicultura,

    floricultura, turismo rural, entre outras, ganha nova dimenso nesta ltima dcada e assumeimportante papel na reduo da pobreza e desenvolvimento no meio rural (GRAZIANO DA

    SILVA, 1996).

    A apicultura uma atividade de grande importncia, pois apresenta uma alternativa de

    ocupao e renda para o homem do campo. uma atividade de fcil manuteno e de baixo

    custo inicial em relao s demais atividades agropecurias.

    Esta atividade desperta muito interesse em diversos segmentos da sociedade por se

    tratar de uma atividade que corresponde ao trip da sustentabilidade: o social, o econmico e o

    ambiental. O social por se tratar de uma forma de gerao de ocupao e emprego no

    campo.Quanto ao fator econmico, alm da gerao de renda, h a possibilidade de obteno

    de bons lucros, e na questo ambiental pelo fato de as abelhas atuarem como polinizadores

    naturais de espcies nativas e cultivadas, preservando-as e conseqentemente contribuindo

    para o equilbrio do ecossistema e manuteno da biodiversidade (PAXTON, 1995).

    A apicultura uma atividade agropecuria que se refere criao racional5 de abelhas

    do gnero Apis. No Brasil, a atividade vem sendo desenvolvida desde o sculo XIX, no

    entanto, apenas em meados do sculo XX, ela toma um novo rumo com a introduo da abelhaafricana pelo cientista Dr. Warwick Kerr (WIESE, 1985) e na dcada de 1970, com o

    desenvolvimento de novas tcnicas de manejo e introduo de novos equipamentos, a

    5 A apicultura racional se refere atividade de criao de abelhas, onde se h um manejo conservador dessesanimais, ao contrrio da apicultura extrativa (predatria), que no adota nenhuma tcnica de preservao e cujaprincipal finalidade a extrao dos produtos advindos da colmia (VILELA, 2000).

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    atividade passa a ter maior capacidade produtiva, marcando assim o incio de um trabalho

    voltado prioritariamente para o mercado.

    Os principais produtos obtidos e comercializados da atividade apcola so o mel, a

    cera, a prpolis, a gelia real e o veneno (apitoxina). H tambm um segmento da apiculturaque vem se desenvolvendo ao longo dos ltimos anos, que o de servios de polinizao, em

    que as colmias so alugadas para produtores de outra cultura agrcola com a finalidade de

    aumento da produo desta cultura (FREITAS, 1998).

    O mel considerado o produto apcola mais fcil de ser explorado, sendo tambm o

    mais conhecido e aquele com maiores possibilidades de comercializao. Alm de ser um

    alimento, tambm utilizado em indstrias farmacuticas e cosmticas, pelas suas conhecidas

    aes teraputicas.Por ser um produto de origem natural, o mel vem a cada dia despertando mais o

    interesse de consumidores que buscam uma alimentao saudvel e livre de contaminaes,

    principalmente dos adeptos de produtos orgnicos.

    Por essas razes, e ainda pelos bons preos alcanados pelos produtos apcolas e pela

    facilidade de manejo da atividade em relao s demais atividades agropecurias, a apicultura

    vem se expandindo a cada ano, principalmente na regio Nordeste do Brasil, onde o clima e a

    vegetao nativa favorecem a atividade (SEBRAE, 1999).

    O Brasil um grande produtor de mel, mas possui ainda enorme potencial a ser

    explorado, o que o coloca em 10 lugar no ranking da produo mundial no ano de 2001,

    quando sua produo chegou a 20 mil toneladas. Os principais produtores so, por ordem de

    volume de produo: a China, que produziu 200 mil toneladas; Unio Europia, com 132 mil

    toneladas; Rssia, produtora de 125 mil toneladas, e a Argentina, com 80 mil toneladas. A

    China exporta quase metade do mel produzido, e a Argentina comercializa para fora do pas

    quase toda a produo. Estes dois pases so os principais fornecedores de mel no mercado

    internacional.O mercado apcola nacional movimenta cerca de 360 milhes de dlares anuais e h

    estimativas, com o crescimento da atividade de que, num curto prazo, este setor movimente

    mais de 1 bilho de dlares anuais.

    No primeiro semestre do ano de 2002, constatou-se que no Brasil, os grandes Estados

    produtores ainda concentravam-se nos trs estados do sul - Rio Grande do Sul, Santa Catarina

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    3

    e Paran que apresentam maiores volumes de produo (CONFEDERAO BRASILEIRA

    DE APICULTURA, 2002). No entanto, a regio Nordeste apresenta grande potencial

    produtivo, principalmente em virtude das condies climticas e de vegetao, e vem

    recebendo investimentos da ordem de 70 milhes de reais para o desenvolvimento daapicultura; o Banco do Nordeste (BNB), vem investindo na atividade como uma alternativa de

    gerao de renda no campo.

    O Estado do Cear aparece nas estatsticas do IBGE como o segundo maior produtor

    de mel de abelhas da regio Nordeste, participando com cerca de 25 % da produo, e ainda

    com grande potencial de crescimento, ficando atrs do Estado do Piau que detm quase 50%

    da produo na Regio nordestina.

    No Cear, destacam-se como principais municpios produtores em volume deproduo: Alto Santo, Santana do Cariri, Limoeiro do Norte, Crato, Chorozinho, Pacajus,

    Mombaa. Alguns destes municpios tiveram um incremento na produo nestes ltimos cinco

    anos, em decorrncia dos incentivos recebidos atravs de financiamentos de algumas

    instituies para incio e desenvolvimento da atividade melfera, apoiados pelo Projeto

    Rainha6, o qual tinha como principais objetivos incentivar a criao de abelhas e a produo

    de mel no Estado.

    No ano de 2002, o Estado do Cear destacou-se entre os demais por exportar o mel

    para alguns pases da Europa, principalmente para a Alemanha, que afirmou acordo com

    alguns municpios do Estado. Essa maior insero no mercado internacional decorreu

    principalmente do aumento da demanda de mel neste mercado, ocasionado pela rejeio do

    mel proveniente da China e Argentina, os principais fornecedores no mercado internacional,

    em razo do produto estar contaminado. Desta forma, o mel brasileiro ganhou mais espao no

    mercado internacional e principalmente o nordestino, por se tratar de um mel proveniente de

    floradas silvestres livres de agrotxicos.

    Alm da maior demanda e pelos bons preos alcanados pelo produto no ltimo ano, aatividade desperta grande interesse por se tratar de uma atividade que no exige muito tempo,

    6 O Projeto Rainha era uma parceria entre a Cooperativa dos Criadores de Abelhas Melferas do Cear COOPERMEL, o SEBRAE-CE, e o Banco do Nordeste do Brasil - BNB. Considerado um grande programaapcola atuou em cerca de 50 municpios do Estado, proporcionando financiamento por meio de convnio doBNB com associaes comunitrias. Tratava-se de um programa que tinha por objetivos transformar o pequenoprodutor rural em produtor racional de mel, gerando renda e emprego no campo (SEBRAE, 1999).

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    nem requer muita sofisticao em termos tecnolgicos. Apesar de existirem inovaes de

    equipamentos e tcnicas, que sem dvida ajudam bastante na melhoria da atividade, a

    produtividade na apicultura est relacionada principalmente ao manejo adequado e s

    condies da flora apcola e, adicionada s novas tcnicas e eficincia na comercializao, afazem destaque dentre as atividades agropecurias.

    Segundo VILELA (2000), seguindo-se a tecnologia recomendada na produo e

    comercializando o mel de maneira adequada, espera-se alta rentabilidade na atividade

    principalmente se comparada aos demais negcios agropecurios.

    Tendo em vista a importncia e a potencialidade da apicultura no Estado, considera-se

    importante a realizao de estudos que permitam conhecer e avaliar o nvel tecnolgico dos

    produtores de mel nos principais municpios produtores no Estado do Cear, seu perfilsocioeconmico, a rentabilidade da atividade e analisar a competitividade destes produtores.

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    5

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    Estudar a produo de mel de abelhas no Estado do Cear.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    a) Caracterizar os produtores de mel nos municpios selecionados no Cear.

    b) Verificar o nvel tecnolgico empregado pelos produtores de mel no Estado.

    c) Determinar a rentabilidade da apicultura no Cear.

    d) Analisar a competitividade entre os produtores de mel no Cear.

    e) Verificar a relao entre competitividade e nvel tecnolgico da produo de mel.

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    2 ASPECTOS CONCEITUAIS

    2.1 Consideraes sobre Tecnologia

    A tecnologia desempenha importante papel dentro da linha de pensamento econmico

    ao longo do tempo. As teorias que procuram explicar sua importncia para o crescimento

    econmico no so recentes, pois, desde a poca dos economistas clssicos, a teoria

    econmica j refletia tal fato, revelando que as inovaes tecnolgicas so um condicionante

    fundamental do desenvolvimento econmico.

    ADAM SMITH (1983) em seu livroA Riqueza das Naes, enfatizou que as mudanas

    tecnolgicas associadas ao processo de diviso do trabalho so fatores determinantes doaumento da produtividade, sobretudo na manufatura. Ainda que no setor agrcola, tambm

    fosse possvel esse aprimoramento, na viso de Smith, eles so de menor intensidade do que

    nas manufaturas.

    J o outro economista clssico, DAVID RICARDO, mostrou-se a princpio um tanto

    pessimista quanto s possibilidades de crescimento da economia, por no acreditar que os

    progressos tecnolgicos pudessem trazer impactos significativos e sustentveis na

    produtividade agrcola, embora mais tarde Ricardo tenha observado que umas das

    possibilidades da economia escapar da estagnao fosse o progresso tecnolgico, que poderia

    aumentar tanto a produtividade do trabalho como da terra (SILVA, 1995).

    MARX considera que a adoo das inovaes tecnolgicas motivada pela

    competio entre os capitalistas e responsvel pela dinmica do processo de acumulao,

    sendo a manufatura e a indstria as maiores beneficirias, pois apresentam maior dinamismo

    do que a agricultura nesse progresso tecnolgico, no sentido de alterar substancialmente seu

    processo produtivo (SOUZA, 2000).

    Na Teoria do Desenvolvimento Econmico, SCHUMPETER defende a tecnologiacomo elemento essencial da dinmica capitalista, e analisa o processo de transformao que

    essa economia aufere quando se introduz uma inovao tecnolgica radical em seu processo

    de produo (SILVA, 1995). O autor declara que a tecnologia a responsvel por mudanas

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    no comportamento dos agentes econmicos, realocao de recursos, destruio dos mtodos

    tradicionais de produo e mudana qualitativa na estrutura econmica.

    Entre essas mudanas, Schumpeter mencionou que a inovao tecnolgica um

    fenmeno puramente econmico da histria do capitalismo, e elaborou a teoria da inovao,que em linhas gerais defende que, para que esta transforme o sistema econmico, necessrio

    que os empreendedores surjam em blocos e no distribudos de maneira uniforme ao longo do

    tempo; revela ainda que o xito do empreendimento que induzir o ingresso de outros

    empreendedores, difundindo, assim, a inovao, o que caracterizou a diviso da teoria em trs

    etapas: inveno, inovao e difuso.

    J a Teoria Neoclssica no se aprofundou nos assuntos relacionados tecnologia at

    meados da dcada de 1950, quando os autores em seus modelos de crescimento econmicoenfatizavam a terra, capital e trabalho, e, apesar de reconhecer o progresso tecnolgico, este

    no era includo formalmente no modelo. HICKS citado por SOUZA (2000), tratou da

    inovao tecnolgica em relao ao trabalho, acreditando que no haveria razo para achar

    que as inovaes fossem por elas mesmas poupadoras de trabalho, mas que os empresrios

    tenderiam a buscar inovaes que lhes poupassem mo-de-obra para compensar aumentos nos

    seus custos; tambm formulou uma teoria em que as inovaes eram consideradas como

    induzidas pela escassez relativa dos fatores de produo.

    Nos trabalhos de Schumpeter e Hicks, destacaram-se importantes conceitos, como

    inovao transformadora da estrutura produtiva e inovao induzida, caracterizando os

    chamados modelos pontuais. De igual importncia foram os modelos de economia dual, que

    colocaram a modernizao do setor agrcola atravs da adoo de inovaes tecnolgicas

    como condio necessria ao desenvolvimento da economia.

    A dualidade tecnolgica consiste no fato de existir, numa mesma regio, produtores

    que empregam modernas tcnicas de produo, enquanto h outros com reduzido nvel

    tecnolgico.A adoo de novas tecnologias pode elevar os nveis de produtividade de uma empresa,

    seja ela agrcola ou no, beneficiando positivamente a economia. Embora as novas tecnologias

    sejam de conhecimento dos produtores, nem todos a adotam, muitas vezes por fatores

    socioeconmicos relacionados (KHAN et all, 1991).

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    Nos ltimos anos, a revoluo tecno-cientfica ocorrida principalmente no ramo das

    Telecomunicaes e Informtica, Qumica e Gentica, revolucionou todos os ramos da

    Economia, principalmente a atividade agrcola (MIRANDA, 2001).

    A atividade agrcola tambm foi alvo de impactos diante da incorporao de inovaesmecnicas, qumicas e genticas na sua base produtiva. Essas inovaes refletiam nas

    empresas, onde foram observadas a substituio de equipamentos e incorporao de novos

    modos de administrao de trabalho e organizao da produo.

    De acordo com MIRANDA (2001), h tambm uma linha relativamente nova de

    pensamento que enfoca que as empresas em geral contam com um processo inovativo em

    tecnologia, quando implementam aes estratgicas, expressando a incorporao tecnolgica

    em termos de eficincia produtiva, diversificao de produtos, gesto, controle de qualidade eplanejamento estratgico.

    H ainda uma linha de pesquisa que trata da capacidade das empresas em se apropriar

    de avanos tecnolgicos como forma de estratgia de competitividade nos mercados,

    considerando que a constante inovao tecnolgica em uma empresa determina a criao ou

    manuteno da competitividade desta numa regio (op. Cit.).

    Segundo FARINA e ZYLBERSZTAJN (1998), a capacidade de ao estratgica e os

    investimentos em inovao de processo e produto determinam a competitividade futura, pois

    esto associados preservao e melhoria das vantagens competitivas dinmicas.

    CALDAS (2000) admite que medida que se geram novos produtos, processos e

    servios, inovam-se os j existentes e criam-se bases para promover a competitividade. Dessa

    forma, para o autor, a freqente introduo de inovaes tecnolgicas e organizacionais em

    uma empresa constitui fator determinante da criao e manuteno da competitividade de uma

    indstria ou regio econmica.

    2.2 Competitividade

    Como a competitividade no um conceito esttico, ou seja, vem sendo redefinida de

    acordo com as transformaes ocorridas nos mercados ao longo dos tempos, diversos autores

    tm a maneira prpria de defini-la.

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    Segundo AHEARN et al. (1990), no h uma teoria geral da competitividade, porque

    este no um tema estritamente econmico, porm a competitividade possui um elemento-

    chave no conceito econmico de comrcio, que a vantagem comparativa.

    O conceito de vantagem comparativa muito utilizado em comrcio internacional, eest associado ao de utilidade social e medida da eficincia econmica com a qual um bem

    produzido. Tambm h uma associao na anlise de vantagens comparativas com base nos

    custos comparados, em que de acordo com o economista clssico Ricardo, cada pas deve se

    especializar nas atividades produtivas em que a sua produtividade relativa, ou comparada, seja

    maior.

    No comrcio internacional, de acordo com o teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson

    (H-O-S), que incorpora o conceito ricardiano de vantagens comparativas, a noo deprodutividade aparece como um prolongamento das vantagens comparativas e em geral so

    sinnimos de competitividade internacional (SEREIA, 2002).

    KUPFER (1991) define competitividade como a adequao das estratgias adotadas

    pela firma em relao ao padro de concorrncia vigente na indstria considerada.

    PERKINS (1987), citado por STULP (1993), atribui competitividade a capacidade de

    dominar uma parcela do mercado. Dessa forma um pas ou empresa mais competitivo se

    consegue aumentar a sua participao no mercado.

    Segundo POSSAS e CARVALHO (1994), a noo de competitividade internacional

    est limitada aos preos e custos, podendo estes ser tomados como indicadores, ou mesmo

    fatores da competitividade internacional. Ressaltam ainda que, para que uma firma seja

    competitiva, no suficiente deter vantagens estticas, mas preciso manter-se sempre

    frente, recriando tais vantagens, devendo portanto ter conhecimento de tecnologia, investir em

    pesquisa, em pesquisa e desenvolvimento (P&D), recursos humanos de alto nvel, etc.

    Estudos da CEPAL (1995) classificaram os indicadores de competitividade em trs

    grupos: preos relativos e custos unitrios de produo; participao das exportaes nosmercados externos e taxa de penetrao nos mercados internos; e comrcio, onde avaliada a

    balana comercial.

    HAGUENAUER et al (1996) definiram a competitividade como a capacidade de uma

    empresa formular e implementar estratgias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou

    conservar, de forma duradoura, uma posio sustentvel no mercado.

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    FARINA e ZYLBERSZTAJN (1998) afirmam que, sob o ponto de vista das teorias de

    concorrncia, a competitividade pode ser definida como a capacidade de sobreviver, ou

    crescer em mercados correntes ou novos mercados, ou seja, a competitividade, de acordo com

    essa definio, uma medida de desempenho das firmas individuais. Custos e produtividadeso indicadores de eficincia que explicam em parte a competitividade.

    A definio microeconmica, segundo PAGANO (2001), associa a competitividade

    aptido de uma empresa na produo e venda de determinado produto.

    No enfoque macroeconmico, a competitividade est associada capacidade de

    economias nacionais apresentarem resultados econmicos relacionados ao comrcio

    internacional, como aceitabilidade dos produtos nacionais no mercado externo, aliados ao

    desempenho e eficincia dos produtos nestes mercados.O conceito de eficincia, atravs dos indicadores de preos, custos e lucratividade foi o

    utilizado neste trabalho.

    2.3 Consideraes sobre a Apicultura

    A apicultura a atividade correspondente criao racional de abelhas do gnero Apis,

    da qual se pode obter vrios produtos, entre eles, o mel. Embora o mel de abelhas possa ser

    obtido de vrias espcies de abelhas diferentes, aquele produzido por Apis mellifera constitui

    quase que a totalidade do mel produzido e comercializado no Brasil e no Mundo. Isso decorre

    da grande produtividade dessa espcie de abelha, da sua disperso pelo Globo e da excelente

    adaptao s diversas condies climticas do Pas e do exterior (FREE, 1982; FREITAS,

    1991).

    A atividade melfera pode ser caracterizada em dois tipos: a extrativa e a racional. A

    primeira consiste na extrao do mel de colnias silvestres, localizadas em troncos de rvores,

    cupinzeiros e outros abrigos em seu ambiente natural, sem a preocupao em se preservar asabelhas. J a atividade conhecida como apicultura racional consiste na criao econmica de

    abelhas em uma colmia, desenvolvida para esta finalidade, mas que procura aproximar-se dos

    requerimentos naturais encontrados no habitat destes insetos, e cuja principal finalidade

    explorar a produo de um ou mais produtos das abelhas; mel, cera, plen, prpolis, gelia

    real, apitoxina (WIESE, 1985; VILELA, 2000).

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    A atividade apcola requer baixo investimento inicial7 e de fcil instalao, bastando,

    portanto, ter-se levado em considerao a escolha do local, o pasto apcola, facilidade de

    acesso, fontes de gua, distribuio das colmias, sombreamento e outros detalhes que se no

    observados podero comprometer a produo na apicultura (WIESE, 1985, COUTO &COUTO, 2002).

    O sistema de produo de mel simples e pode ser divido em cinco partes:

    equipamentos, manejo, colheita de mel, ps-colheita e gesto da produo. O processo

    produtivo relaciona-se diretamente com o manejo, ou seja, os trabalhos realizados na colmia.

    ele, juntamente com o pasto apcola, que influenciar diretamente na produo do mel. As

    demais etapas correspondem proteo dos apicultores e cuidados aps a retirada dos

    produtos que podero influenciar na comercializao e, portanto, na competitividade(SEBRAE, 1999).

    A comercializao do mel feita diretamente do produtor ao consumidor, ou ainda

    atravs de um intermedirio, que compra do produtor e repassa ao consumidor final. Entre

    esses intermedirios podem ser citadas as cooperativas, que recebem o produto de vrios

    produtores e, como detm maior volume de produo facilita a comercializao. O mel pode

    ser vendido e comercializado de formas diversas: in natura, em favos, adicionados a ervas,

    dentre outras, variando na sua apresentao de acordo com a embalagem (SEBRAE, op.cit).

    2.3.1 Caractersticas do Mel de Abelhas

    O mel um produto de origem natural obtido a partir do nctar das flores, que

    elaborado e processado pelas abelhas, atravs da digesto dos acares e desidratao parcial

    do nctar. Para as abelhas, o mel funciona como fonte de energia, por isso armazenado na

    colmia. Elas o depositam nos alvolos dos favos e, quando o mel amadurece (retirada doexcesso de umidade), ele operculado (quando as abelhas fecham com uma capa de cera)

    (FREITAS, 1999).

    7 Se comparada a outras atividades agropecurias, a apicultura requer um baixo investimento inicial, em torno deR$ 10.000 para 100 colmias, e uma taxa esperada de retorno de 277% em 6 anos (VILELA, 2000).

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    Quando o mel est operculado, j se pode colh-lo, garantindo-se que no fermentar, a

    menos que no ocorram condies de higiene adequadas. A colheita de mel simples: em uma

    colmia, aps a verificao de grande parte dos alvolos operculados (no mnimo 2/3),

    retiram-se os favos da melgueira, os quais so levados para um local de extrao, para seremdesoperculados, em seguida centrifugados, filtrados e decantados.

    Esse o procedimento ideal para melhor aproveitamento do mel produzido na colmia.

    Considerado de alto valor nutritivo, o mel de abelhas um alimento composto

    principalmente de acares - sacarose, frutose e glicose - contendo tambm sais minerais,

    aminocidos, enzimas e algumas vitaminas. Como sua composio de quase 80% de

    acares, de alto valor energtico, pois cada quilo corresponde a 3.395 calorias (COUTO &

    COUTO, 2002).Em sua forma lquida, o mel possui um teor de umidade que varia de 13 a 20% . Sua

    densidade de 1,40 a 1,44, a 20 C, portanto, como a unidade comercializada do mel

    normalmente quilogramas (kg), importante a cincia da sua densidade, sendo desta forma

    1 litro de mel correspondente a 1.400 kg.

    O sabor e o aroma do mel variam de acordo com a florada, sendo tambm classificado

    pela fonte principal de onde a abelha coletou o nctar. A classificao tambm pode ser pelo

    teor de umidade e limpidez.

    O mel pode cristalizar, o que muitas vezes no o torna bem aceito pelos consumidores,

    que no sabem que a cristalizao uma caracterstica inerente ao mel, e que influenciada

    principalmente pela temperatura, que, quando muito baixa, em torno de 15C , propicia a

    ocorrncia desta caracterstica. No entanto o mel pode voltar a sua forma lquida, quando

    aquecido em banho-maria a 50C-60C, sem alterar seu valor nutritivo (NORONHA, 1997).

    O consumo de mel no Brasil considerado baixo, cerca de 100 a 200 gramas de mel

    por pessoa por ano, se comparado a pases como Canad, onde o consumo de 1.000 gramas

    por pessoa (COUTO, 2002).

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    3 METODOLOGIA

    3.1 rea Geogrfica de Estudo

    Para a realizao deste trabalho, foram selecionados trs municpios do Estado do

    Cear: Chorozinho e Pacajus, ambos localizados na mesorregio norte do Estado, e Mombaa,

    situado na regio centro-sul .

    De acordo com dados obtidos do IPLANCE (2002), Pacajus possui uma rea de 241,90

    km2, uma populao residente de 43.830 habitantes, sendo, portanto a densidade demogrfica

    de 181,94 hab/km2. Da populao residente, 77,78% urbana, enquanto os 32,22%

    concentram-se no meio rural.O Produto Interno Bruto (PIB) do Municpio de R$ 305 milhes, ficando com uma

    renda per capita de R$ 7.754,15. O setor agropecurio contribui com 5% do PIB, a indstria

    com 79,27% e o setor de servios produz uma parcela de 15,73%.

    J o municpio de Chorozinho possui um Produto Interno Bruto (PIB) inferior ao de

    Pacajus (R$ 27,5 milhes), bem como a sua renda per capita, de R$ 1.695; no entanto, a

    participao do setor agropecurio de 9,17%, da indstria de 16,32% e o setor de servios

    corresponde a 74,51% do PIB do Municpio.

    Chorozinho tem uma rea geogrfica de 308,30 km2 e uma densidade demogrfica de

    60,97 habitantes/km2, contando assim com uma populao residente de 18.711 habitantes,

    distribudos quase que igualmente metade na zona rural e metade na zona urbana.

    Mombaa um municpio bem maior em termos geogrficos, com uma rea em torno

    de 2.114 km2 , no entanto seu PIB total de 48 milhes de reais, mostrando-se inferior ao do

    Municpio de Pacajus. A populao do Municpio predominantemente rural, pois cerca de

    61% dos 41.215 habitantes se encontram na zona rural.

    3.2 Justificativa da rea Geogrfica de Estudo

    Foram escolhidos os Municpios de Pacajus, Chorozinho e Mombaa para o

    desenvolvimento da pesquisa, porque so municpios que apresentaram, de acordo com dados

    obtidos na Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) 2002, nos ltimos anos, uma produo

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    representativa no setor apcola, destacando-se entre os dez municpios do Estado do Cear

    com maior produo de mel.

    3.3 Levantamento dos Dados

    Foram utilizados dados primrios obtidos atravs de entrevistas diretas com os

    produtores nos municpios mencionados, no ms de outubro de 2002.

    As informaes referentes tecnologia recomendada foram obtidas junto ao

    Departamento de Zootecnia, Setor de Apicultura, da Universidade Federal do Cear (UFC).

    Foram utilizados dados bibliogrficos disponveis em instituies de ensino e

    pesquisa, bem como dados estatsticos secundrios encontrados em rgos especializadoscomo: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Instituto de Planejamento do

    Cear (IPLANCE), Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Cear

    (EMATERCE), Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Banco do Nordeste do Brasil

    (BNB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA), Food and Agriculture

    Organization (FAO), dentre outras. Foi tambm realizada a consulta de dados disponveis pela

    internet.

    3.4 Tamanho da Amostra

    Foi utilizada uma amostragem aleatria simples, cuja determinao do tamanho seguir

    o mtodo para amostras de populaes finitas, conforme FONSECA e MARTINS (1996) :

    n =

    qpN

    Nqp

    zd

    z..)1.(

    ...22

    2

    +

    onde:

    n= tamanho da amostra para populaes finitas

    z2 = abscissa da normal padro

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    p = estimativa da proporo da caracterstica pesquisada no universo

    q = 1 p

    N = tamanho da populao

    d = erro amostral

    Assim, de acordo com o clculo da amostra em funo do tamanho da populao em

    estudo, foram entrevistados 33 produtores de mel de abelhas no Municpio de Mombaa, e 9

    produtores dos Municpios de Pacajus e Chorozinho, tomados aleatoriamente.

    3.5 Definio e Operacionalizao das Variveis

    3.5.1 Anlise da Tecnologia

    De acordo com informaes obtidas junto ao Departamento de Zootecnia da

    Universidade Federal do Cear e seguindo as referncias de vrios autores na rea de

    apicultura, como WIESE (1985), COUTO & COUTO (2002), FREE (1982), FREITAS

    (1998), pode-se descrever a tecnologia recomendada para a produo de mel.

    Para a identificao do nvel tecnolgico, sero consideradas os seguintes componentes

    do sistema de produo na apicultura:

    1. Equipamentos

    2. Manejo

    3. Coleta e Processamento de Mel

    4. Ps-colheita de Mel

    5. Gesto

    3.5.1.1 Equipamentos

    O item equipamentos abrange o material bsico para o desenvolvimento da atividade,

    quais sejam: indumentrias, fumigador, formo, vassourinha, colmia Langhstroth padro,

    centrfuga, mesa desoperculadora, tambor de decantao, filtros para mel.

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    a) Indumentrias

    Correspondem s vestimentas necessrias para proteo do apicultor no manuseio com

    as abelhas. So elas: luvas, macaco, mscara, chapu e botas.

    Atribuiu-se o valor zero no-utilizao dos equipamentos de indumentrias doapicultor, um (1) se o apicultor utiliza algum dos equipamentos e dois (2) se todos os

    equipamentos forem utilizados.

    b) Fumigador

    O fumigador indispensvel na manipulao das colmias. Seu objetivo produzir

    fumaa com a finalidade de acalmar as abelhas para que se possa manipular as colmias,reduzindo a agressividade dos animais.

    importante que o material utilizado para promover esta fumaa e a quantidade a ser

    aplicada sejam adequados, a fim de surtir o efeito desejado sem prejudicar as abelhas.

    Se a fumaa produzida for feita com material inflamvel como combustvel (leo

    diesel, gasolina) atribuiu-se o valor 0 (zero), se com esterco de animal, que melhor para as

    abelhas do que o diesel, deu-se o valor 1 (um), e se forem utilizados produtos de origem

    vegetal, que o menos prejudicial s abelhas, conferiu-se o valor 2 (dois).

    c) Formo

    uma ferramenta principal e indispensvel utilizada em quase todas as manipulaes.

    Tem como principais finalidades: desgrudar peas da colmia, separar as caixas, raspar resinas

    e prpolis acumuladas, dentre outras. Atribuir-se- o valor zero caso no haja utilizao deste

    equipamento, e valor 1(um) se o equipamento for utilizado, e valor 2 (dois), se for utilizado o

    formo com saca-quadros, que um modelo mais moderno e que j facilita o trabalho do

    apicultor.

    d) Vassourinha ou Espanadores

    Feito de material animal ou sinttico, tem a finalidade de varrer as abelhas dos quadros

    sem feri-las. aconselhvel dar preferncia aos espanadores de origem sinttica, pois irritam

    menos as abelhas do que os de origem animal. Por isso, conferiu-se o valor zero ao no-uso da

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    vassourinha, o valor 1 (um) ao uso de vassourinha feitos de origem animal, e o valor 2 (dois)

    ao uso de vassourinha de origem sinttica.

    e) ColmiaLangstroth padroExistem diferentes tipos de colmias.Atualmente a que considerada como padro

    para um melhor proveito do trabalho das abelhas a Langstroth. Suas vantagens so: melhor

    distribuio e aproveitamento de espao e fcil acesso pelas abelhas, o que proporciona maior

    produo, fcil manipulao do apicultor, dentre outras, porm, para que essas vantagens

    sejam alcanadas, necessrio que a colmia esteja alm do modelo, nas medidas-padro

    respeitadas. Seus componentes so: tbua de pouso, suporte, fundo, alvado, redutor de alvado,

    ninho, quadros, melgueiras, tela excluidora e tampa. Assim, a no-uso de uma colmia do tipoLangstroth foi atribudo valor 0 (zero), utilizao da colmia, mas fora do padro, foi

    atribudo valor 1 (um) e dentro dos padres valor 2 (dois).

    f) Equipamentos em ao inoxidvel

    Pelo fato de o mel se tratar de um produto que absorve odores, sabores e umidade com

    grande facilidade, importante que os equipamentos com os quais o mel entra em contato

    sejam confeccionados em material inerte, tais como inox, fibra de vidro, etc. Destes, o ao

    inoxidvel o material recomendado pelo Ministrio da Agricultura para o processamento de

    mel. Ento, foi atribudo zero se no utilizado equipamento em inox, 1 (um) se apenas

    alguns dos equipamentos forem em inox, e 2 (dois) se todos forem em ao inoxidvel.

    g) Centrfuga

    um equipamento utilizado na extrao do mel, onde os quadros da melgueira so

    colocados, e, atravs da rotao, o mel extrado. Se o mel no extrado atravs da

    centrfuga, atribuiu-se valor zero, se for a centrfuga manual concedeu-se valor 1 (um), e 2(dois), no caso da utilizao da eltrica.

    h) Decantador

    Como o mel possui densidade maior do que as partculas presentes em seu meio

    (partculas de cera, bolhas de ar,etc.), o decantador serve para o mel ficar em repouso por uns

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    dias para separar as impurezas existentes. Atribuiu-se zero para no-utilizao e 1(um) para a

    utilizao do equipamento.

    i) Peneiras ou filtrosA utilizao das peneiras para a filtragem das impurezas do mel, tais como restos de

    cera e de abelhas. Atribuiu-se zero para no-utilizao e 1(um) para a utilizao.

    j) Bombas para elevao de mel

    So bombas que levam o mel diretamente de um reservatrio para outro, no caso, da

    centrfuga para o decantador. A atribuio de valores semelhante do item imediatamente

    anterior.

    l) Homogeneizador de mel

    um equipamento usado para misturar mis de floradas de origens diferentes,

    considerando que o mercado consumidor exige mis homogneos para permanncia no

    mercado. Atribuiu-se valor zero para no-utilizao e 1(um) para a utilizao do equipamento.

    m) Descristalizador de mel

    Todo mel puro cristaliza, porm a cristalizao no bem aceita pelos consumidores.

    O descristalizador de mel um aparelho que aquece o mel at a temperatura ideal para que o

    produto mantenha suas caractersticas. Dessa forma, atribuiu-se zero para no-utilizao e

    1(um) para a utilizao deste equipamento.

    n) Tela excluidora de rainhas

    um equipamento utilizado para se evitar a fuga da rainha ao se manipular a colmia.

    Atribuiu-se zero para no-utilizao e 1(um) para sua utilizao.

    o) Carretilha para incrustao de cera

    um equipamento que serve para fixar a cera nos quadros. Muitos apicultores utilizam

    a bateria eltrica para a fixao, no entanto a eficincia da carretilha superior. Assim, atribui-

    se valor zero para a no utilizao da carretilha e valor 1(um) para sua utilizao.

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    De acordo com a descrio dos equipamentos relacionados, podemos elaborar a

    seguinte tabela para a tecnologia referente aos equipamentos :

    TABELA 1 Variveis relativas tecnologia de uso de equipamentosVALOR

    VARIVEIS UTILIZA NO UTILIZA0

    1X1 Indumentrias:

    alguns itenstodos os itens 2

    01

    X2 Fumigador: com combustvelcom esterco de animalcom prod. orig.vegetal 2

    1 0X3 Formo: simplescom saca quadros 2

    01

    X4- Vassourinha:origem animal

    origem sinttica 20

    1X5- ColmiaLangstroth:

    fora do padrodentro do padro 2

    01

    X6 Equipamentos em ao inox:alguns dos equipamentos

    todos os equipamentos 20

    1X7 Centrfuga:

    manualeltrica 2

    X8 Decantador 1 0X9 Mesa desoperculadora 1 0X10 Peneiras 1 0X11 Bombas p/ elevao de mel 1 0X12 Homogeneizador de mel 1 0X 13 Descristalizador de mel 1 0X14 Tela excluidora de rainhas 1 0X15 Carretilha para incrustao de cera 1 0

    3.5.1.2 Manejo

    O manejo, foi subdivido em manejo em relao produo e manuteno. No que

    respeita produo tm-se os seguintes itens: alimentao estimulante, troca de rainhas, troca

    de cera alveolada, controle de enxameao, diviso de enxames, desobstruo dos ninhos e

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    abertura de espao para armazenar mel (melgueiras). Para manuteno, relacionou-se os

    seguintes itens: deixar reserva de alimento, cuidados e combate a traas e formigas,

    alimentao artificial, ventilao, sombra e gua.

    a) Alimentao estimulante

    a introduo de alimentao a fim de estimular a rainha para aumento da postura nos

    dias que antecedem a florada, para uma melhor populao de abelhas campeiras nas flores, e

    consequentemente maior produo. So exemplos de alimentao estimulante: gua com

    acar, xarope e farelo de soja.

    Atribuiu-se valor 0 (zero) se no for utilizado esse tipo de alimentao, e valor 1 (um)

    caso seja utilizado.

    b) Troca de rainhas

    A rainha das abelhas pode viver at trs anos, porm, aps 18 a 24 meses, a sua

    capacidade de postura e de produo de feromnios cai consideravelmente. A troca dessa

    rainha por outra jovem permite manter alta produo de crias na colmia, e d condies de

    manter a colmia com alta produtividade.

    As rainhas prprias geradas na colmia, normalmente, possuem o mesmo material

    gentico existente no plantel, possuindo pouco potencial para aumentar a produtividade mdia

    do apirio, enquanto que, quando se adquire rainhas de fora, normalmente procura-se comprar

    aquelas oriundas de processo de seleo que visam a melhorar a produtividade e/ou

    resistncias s doenas. Dessa forma, atribuiu-se valor 0 (zero) quando no feita a troca de

    rainhas, 1 (um) quando feita a troca de rainhas utilizando rainhas prprias, e valor 2 (dois),

    quando a troca feita com rainhas compradas de terceiros.

    c) Troca de cera alveoladaCom um tempo, os favos de cria (do ninho) tornam-se escurecidos e perdem a

    profundidade, levando rejeio de postura pela rainha, e os favos de mel tornam-se duros,

    secos e quebradios, dificultando a desoperculao. Portanto, necessrio trocar a cera usada

    por cera alveolada, no mximo a cada dois anos. Se essa troca foi feita todos os anos, atribuiu-

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    se valor 2 (dois) , se feita a cada dois anos conferiu-se valor 1 (um) e se no feita a

    substituio da cera alveolada, valor zero.

    d) Controle de enxameaoA enxameao um fenmeno natural e instintivo das abelhas, que corresponde a

    sada ou abandono da colmia por parte da colnia. Quando se tem uma colmia para fins

    comerciais, normalmente, faz-se necessrio o controle da enxameao a fim de evitar que as

    colmias fiquem despovoadas e o fato reflita negativamente na produo de mel. Dessa forma,

    atribuiu-se o valor 0 (zero), quando no se utilizou o controle da enxameao e valor 1(um)

    quando se fez esse controle.

    e) Diviso de enxames

    A diviso de enxame pode ser utilizada tanto para aumentar o nmero de colnias no

    apirio como para controlar a enxameao.

    Atribuiu-se valor 0 (zero), quando essa diviso de enxames no foi feita e 1 (um)

    quando foi realizada.

    f) Desobstruo do ninho

    A rea de ninho deve ser ocupada por uma grande quantidade de crias para assegurar

    colmias populosas e potencialmente produtivas. Em certas pocas do ano, as operrias podem

    depositar no ninho grandes quantidades de plen e/ou nctar, obstruindo a rea de postura e

    levando ao enfraquecimento da colmia pelo nascimento de um menor nmero de operrias.

    H necessidade de desobstruir essa rea para permitir a postura normal da rainha. Da a

    atribuio dos seguintes valores: 1 (um) se foi feita ou zero se no foi feita a desobstruo dos

    ninhos.

    g) Abertura de espao para armazenar mel (melgueiras)

    Quando a colnia fica suficientemente forte para produo de mel, preciso criar

    espaos vazios para a deposio desse mel, colocando-se melgueiras. Caso isso no seja feito,

    as operrias podem obstruir a rea de postura da rainha com esse mel ou levar a colnia a

    enxamear. O ideal , ao se colher o mel , j abrir novos espaos para deposio de mais mel.

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    Dessa forma, atribuiu-se valor 0 (zero) se no foi feita uma abertura de espao para

    armazenar mel; valor 1(um) se foi feita, e valor 2 (dois), se foi feita logo aps a colheita de

    mel.

    h) Reserva de alimento

    Durante a poca de escassez de alimento no campo para as abelhas, ou seja, durante a

    escassez das flores, as abelhas no encontram a quantidade de alimento suficiente para sua

    sobrevivncia, portanto necessrio que, ao final da estao de produo de mel, o apicultor

    deixe uma certa quantidade de mel na colmia para que as abelhas possam utilizar quando

    necessitarem. A falta de reserva na colmia pode levar a colnia a abandon-la. Assim,

    atribuiu-se zero se no foi deixada essa reserva de mel, valor 1(um) se deixou-se reserva demel no ninho ou melgueira, e 2 (dois) se foi deixada reserva em ambos - ninho e melgueira.

    i) Cuidados e combate contra traas e formigas

    As traas Achroia grisella e as formigas do gnero camponotus so importantes

    inimigos das abelhas, atacando colnias fracas, especialmente na poca de escassez de

    alimento. importante que o apicultor combata esses inimigos para evitar perda de colnia.

    Atribuiu-se o valor zero quando nenhum controle deste tipo foi feito, 1 (um) quando se

    combateu ou as traas ou as formigas, e 2 (dois) quando ambas foram combatidas.

    j) Alimentao artificial de subsistncia

    Quando no so deixados reservas de mel e plen na colmia, ou elas se acabam

    durante a poca de escassez de flores, necessrio alimentar-se artificialmente a colnia para

    evitar o abandono da colmia ou a morte por inanio.

    Atribuiu-se o valor zero se nenhuma alimentao suplementar foi introduzida, 1 (um)

    se foi introduzida uma alimentao protica ou energtica, e 2 (dois) se ambos os tipos dealimentao foram introduzidos.

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    l) Ventilao

    A temperatura ideal dentro da colmia de 33 C a 36 C , o que, nas condies

    nordestinas, facilmente superado se as abelhas no tiverem condies de arejar o ninho.

    Portanto, importante que o apicultor tome providncias para facilitar o trabalho de ventilaopelas abelhas, como, por exemplo, criar brechas para o vento circular na colmia. Dessa

    forma, foram atribudos os seguintes valores: zero, se no foram criadas brechas; e 1(um), se

    foram feitas brechas na colmia para ventilao.

    m) Sombra

    Semelhante ao item anterior, a colocao da colmia em locais ensombreados

    importante para manter a temperatura interna ideal. A atribuio de valores d-se da mesmaforma do item anterior.

    n) gua

    As abelhas utilizam bastante gua em sua colnia, principalmente na poca seca do

    ano, sendo, portanto, importante a proximidade de fontes de gua, tanto para o consumo das

    abelhas quanto para que elas coletem gua para refrigerar a colmia. Desta maneira, foram

    atribudos os seguintes valores: zero, se a distncia das colmias foi superior a 500 m; 1 (um),

    se a distncia situou-se entre 100 m e 500 m; e 2 (dois) se essa distncia foi inferior a 100m.

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    De acordo com as caractersticas do manejo utilizado na apicultura pode-se elaborar a

    seguinte tabela referente tecnologia de manejo :

    TABELA 2 Variveis relativas tecnologia de manejoVALOR

    VARIVEIS UTILIZA NO UTILIZAX16 Alimentao estimulante 1 0

    01

    x17 Troca de Rainhas:rainhas prprias

    rainhas compradas 20

    1x18 Troca de cera alveolada:

    troca de 2 em 2 anostroca todo ano 2

    X19 - Controle de enxameao 1 0X

    20 Diviso de enxames 1 0

    X21 Desobstruo do ninho 1 00

    1X22 Abertura de espao p/ armazenarmel (melgueiras): faz

    faz s quando colhe mel 20

    1X23 Reserva de alimento:

    deixa s no ninhodeixa no ninho e melgueira 2

    01

    X24 Combate s traas e formigas:combate um ou outro

    combate ambos 20

    1

    X25 Alimentao artificial:

    protica ou energticaambas 2X26 Ventilao 1 0

    01

    X27 Sombreamento:artificial

    natural 2

    0

    1

    X28 Distncia da gua:maior do que 500mentre 100m e 500m

    menos de 100m2

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    3.5.1.3 Colheita

    Essa tcnica compreendeu os itens: uso da fumaa, a tcnica de coleta, a casa do mel, otransporte do mel colhido casa do mel.

    a) Uso da fumaa

    Como se mencionou no item equipamentos, a fumaa importante ao se manusear com

    a colmia, pois ela permite que as abelhas se distraiam durante o manuseio. Dessa forma, foi

    atribudo o valor zero se o apicultor no se utilizou dessa fumaa e 1(um) se ele fez uso desta

    fumaa ao manusear as abelhas.

    b) Tcnica de coleta

    A coleta de mel da colmia ocorre pela retirada das melgueiras com os favos de mel

    removendo-se deles as abelhas. O ideal que isso seja feito com delicadeza e sem irritar as

    abelhas para evitar reaes agressivas da parte delas. Atribuiu-se zero se a tcnica usada foi

    bater as melgueiras; 1 (um) se se chacoalham os favos; e 2 (dois) se foi utilizada a vassourinha

    para remoo das abelhas dos favos.

    c) Casa do mel nos padres do Ministrio da Agricultura

    Para que o mel possa ser comercializado em todo o Territrio nacional, necessrio

    que sejam atendidas as normas do Ministrio da Agricultura, que incluem a extrao e

    processamento do mel em instalaes certificadas por este rgo. Atribuiu-se valor zero

    quando o produtor no dispunha de uma casa do mel; valor 1(um), quando disps de uma casa

    do mel fora dos padres exigidos pelo Ministrio da Agricultura, e valor 2 (dois), quando se

    teve da casa do mel dentro dos padres.

    d)Transporte das melgueiras

    Aps a retirada das melgueiras da colmia, faz-se necessrio auxlio para o seu

    transporte at a casa do mel, em razo do seu peso. comum a utilizao de carrinhos de mo,

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    algum veculo ou at mesmo animais, para este transporte. importante um transporte seguro,

    para no danificar as melgueiras e comprometer a qualidade do mel.

    De acordo com o mencionado, foi elaborada a seguinte tabela:

    TABELA 3 Variveis relativas tecnologia de colheita de mel

    VALORVARIVEISUTILIZA NO UTILIZA

    X29 Fumaa 1 0X30 Escape-abelha 1 0

    01

    X31 Tcnica de coleta:bate a melgueira

    chacoalha os favosusa a vassourinha 2

    X32 Garfo desoperculador 1 001

    X33 - Casa do Mel:fora do padro

    dentro do padro 2

    01

    X34 Transporte das melgueiras:na mo ou usando algum animal

    no carrinho de mono veculo 2

    3.5.1.4 Ps-colheita

    Destacam-se neste item as principais normas de higiene ao se manipular com o mel,

    armazenagem e recipientes.

    a) Higiene

    Como ocorre com todo alimento, importante observar certas normas de higiene,

    principalmente na manipulao do mel. Cita-se como material na manipulao: luvas, touca,bata, etc. Portanto, atribuiu-se zero quando nenhum equipamento de higiene foi utilizado ao se

    manipular o mel, valor 1 (um) quando apenas alguns itens foram usados, e 2 (dois) quando

    todos os itens foram utilizados.

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    b) Armazenagem do mel aps a colheita

    O mel um alimento cujas propriedades ou qualidades so fortemente afetadas por

    exposio umidade e ao calor. Dessa forma, o mel deve ser armazenado protegido de

    umidade e temperaturas elevadas. Atribuiu-se valor zero se o mel no era armazenado nestascondies e valor 1 (um) se era armazenado nestas condies.

    c) Recipientes para armazenar o mel aps a colheita

    Visando a manter a qualidade de mel, esse deve ser armazenado em recipientes

    adequados que evitem que o produto adquira sabores e odores indesejados, ou tenham suas

    qualidades nutricionais afetadas pelo calor e umidade. Dessa forma foram atribudos valores

    zero, se no utilizou recipientes nos padres recomendados pelo Ministrio da agricultura e

    1(um) se foram utilizados.d) Fracionamento do mel

    Atualmente h equipamentos automatizados que fracionam o mel, com muita rapidez;

    alm de mais higinico esse procedimento evita perdas que ocorrem com o fracionamento

    manual. Assim foi atribudo valor 1 (um) para o fracionamento automtico e zero para o

    fracionamento manual.

    TABELA 4 Variveis relativas tecnologia de ps-colheita

    VALOR

    VARIVEIS UTILIZA NO UTILIZA

    01

    X35 Equipamentos de higiene:algum dos itens

    todos os itens 2

    0

    1

    X36 - Armazenagem:sem proteo

    protegido do calor ou umidadeprotegido de ambos

    2

    01

    X37 Recipientes para armazenagem:fora do padro

    nos padres2

    X38 Fracionamento do mel :

    manual 0

    automtico 1

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    3.5.1.5 Gesto

    O indicador referente gesto est ligado tanto produo de mel como sua

    comercializao. Para todas as variveis deste indicador foi atribudo valor 1 (um) para o casode sua utilizao e valor zero pela no-utilizao.

    a) Prestao de servios

    A produo, a comercializao, ou a prpria gesto podem envolver servios

    terceirizados, como, por exemplo, a contratao de servios de contabilidade.

    b) Tendncias de mercadoAssim como qualquer outro produto, interessante a obteno de informaes sobre as

    tendncias de mercado, sobre preos, etc, para o produtor manter-se atualizado quanto as

    perspectivas deste mercado.

    c) Treinamento de funcionrios

    A existncia de funcionrios devidamente qualificados e treinados para a funo

    importante para o bom desempenho da atividade.

    d) Controle de qualidade

    O controle de qualidade do mel inicia-se desde a produo at o transporte, extrao,

    limpeza, e envasamento, tudo o que se destina a preservar a qualidade natural do mel.

    e) Parcerias em pesquisa

    As parcerias em pesquisas propiciam aos produtores o conhecimento das mais recentes

    inovaes tecnolgicas relativas atividade.

    f) Comercializao

    A parceria na comercializao, seja atravs de cooperativas ou por meio de

    atravessadores, permite ao produtor maiores possibilidades, ou seja, mais opes de

    comercializao.

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    g) Marketing

    A utilizao do marketing ou propaganda para a comercializao do produto tambm

    indica maiores possibilidades de conhecimento do produto e, portanto, pode atrair maior

    nmero de consumidores.

    h) Informtica

    O uso do computador ou da microeletrnica para automao da coleta, manipulao e

    processamento de informaes, permite maior flexibilidade e rapidez na obteno de

    informaes.

    TABELA 5 Variveis relativas tecnologia da gestoVALOR

    VARIVEIS UTILIZA NO UTILIZA

    X39 Contrato de prestao de servios 1 0

    X40 Informaes sobre tendncias de mercado 1 0

    X41 Treinamento de funcionrios 1 0

    X42 - Controle de qualidade 1 0

    X43 Parceria: pesquisa 1 0

    X44 Parceria: comercializao 1 0X45 Marketing 1 0

    X46 Informtica 1 0

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    3.6 Mtodos de Anlise

    3.6.1 Anlise Tabular Descritiva

    Nesta anlise, pretende-se descrever a caracterizao dos produtores de mel, no que se

    refere s principais caractersticas pessoais e socioeconmicas dos produtores.

    Essas caractersticas sero estudadas atravs das seguintes variveis: idade,

    escolaridade, local de residncia, orientao sobre a criao, nvel organizacional (participao

    em cooperativas, associaes etc), tempo de exerccio da atividade, objetivo principal da

    atividade, uso de financiamento e sistema de criao de abelhas.

    3.6.2 Determinao do Nvel Tecnolgico

    Para proceder a uma anlise quantitativa dos diferenciais tecnolgicos, considerado

    cada um dos itens descritos anteriormente no sistema de produo na apicultura.

    Na avaliao do nvel tecnolgico, determinado inicialmente um ndice tecnolgico

    para cada produtor em cada um dos componentes que formaro o referido nvel, conforme

    MIRANDA, 2001:

    Inj = =

    m

    yi n

    i

    w

    a(1)

    sendo , wn= Max =

    m

    yiia e dessa forma , 0 1 jIn .

    Onde:

    Inj = ndice de cada Tecnologia n do produtorj;

    i =Variveis utilizadas;

    n = Tecnologia utilizada;

    [y, m] = variveis dentro do segmento i referentes tecnologia n;

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    ai = representa o valor da adoo do elemento xi da tecnologia n;

    Assim ,n

    i

    w

    arepresenta o peso de cada elemento xi na constituio do ndice

    tecnolgico especfico n, e

    para a tecnologia de equipamentos, n = 1, i = [ 1; 15] e w1 = 22;

    para a tecnologia de manejo, n = 2, i = [16; 28] e w2 = 21;

    para a tecnologia de colheita, n = 3, i = [29; 34] e w3 = 9;

    para a tecnologia de ps-colheita, n = 4, i = [35; 38] e w4 = 7;

    para a tecnologia da gesto, n = 5, i = [39; 46] e w5 = 8.

    O ndice tecnolgico mdio especfico para o conjunto de produtores dado pelo

    somatrio dos ndices especficos dos produtores individuais dividido pelo nmero de

    produtores entrevistados, demonstrado pela equao:

    ITn = =

    z

    j Injz 1

    1

    (2)

    Onde:

    J= Nmero de produtores ( variando de 1 a z)

    n = Tecnologia utilizada

    O ndice tecnolgico para o produtorj foi calculado considerando trs possibilidades:

    a) incluindo as trs primeiras tecnologias, que so constitudas por: uso de equipamentos,

    manejo e colheita; ou seja, o ndice foi obtido considerando a mdia do somatrio dos trs

    primeiros ndices individuais especficos (1):

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    IP1j = 3

    13

    1Inj (3)

    b) de forma similar, considerou-se as tecnologias mencionadas e, adicionando-se a ps-colheita, o ndice por produtor pode ser especificado pela equao:

    IP2j = 4

    14

    1Inj (4)

    c) por fim, o ndice tecnolgico geral de um produtor, incluindo-se todas as tecnologias, pode

    ser obtido da seguinte forma:

    IP3j = 5

    15

    1Inj (5)

    Assim, o ndice tecnolgico da produo de mel na rea de estudo, considerando-se

    todos os produtores ser expresso como a seguir:

    Para as trs primeiras tecnologias (uso de equipamentos, manejo e colheita):

    IG1=J

    1

    j

    1

    IP1 (6)

    Para as quatro tecnologias, englobando: uso de equipamentos, manejo, colheita e ps-

    colheita:

    IG2=J

    1

    j

    1

    IP2 (7)

    Para todas as tecnologias em anlise:

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    IG3=J

    1

    j

    1

    IP3 (8)

    Com base nos valores obtidos dos ndices (que variam de zero a um), determina-se o

    nvel tecnolgico dos produtores de mel, considerando-se que quanto mais prximo do valor

    mximo (um), melhor ser o nvel tecnolgico dos respectivos produtores.

    3.6.3 Competitividade

    Na anlise de competitividade, utilizada uma anlise que relaciona aos conceitos de

    eficincia (SEREIA, 2002). Dessa forma, feita uma anlise dos custos de produo de mel

    atravs do levantamento feito com os produtores, bem como avaliao das receitas e

    efetivamente clculo dos lucros, e, a partir da, feita uma comparao de indicadores entre os

    produtores.

    No que se refere avaliao de competitividade, foram utilizadas os seguintes

    indicadores econmicos:

    1. Preo mdio recebido pelo produtor

    2. Custo unitrio de produo do mel

    3. Indicadores de rentabilidade financeira

    A determinao dos custos e dos indicadores de rentabilidade que foram utilizados tem

    como base os conceitos utilizados no Sistema Integrado de Custos Agropecurios

    (CUSTAGRI) desenvolvido pelo Instituto de Economia Agrcola (IEA), em parceria com oCentro Nacional de Pesquisa Tecnolgica em Informtica para a Agricultura (CNPTIA

    EMBRAPA) e citado por MARTIN et. al.( 1998).

    3.6.3.1 Determinao dos custos

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    O termo custo na anlise econmica corresponde compensao que os donos dos

    fatores de produo, utilizados por uma firma para produzir determinado bem, devem receber

    para que eles continuem fornecendo esses fatores mesma (HOFFMANN, 1981).A determinao dos custos neste estudo tem por base os conceitos utilizados por

    MARTIN et al.(1998), onde o Custo Total de Produo formado pelo somatrio do Custo

    Operacional Total mais a remunerao administrativa, conforme demonstrado a seguir:

    A) Custo Operacional Efetivo (COE)

    Representa o custo efetivamente desembolsado pelo produtor para produzirdeterminada quantidade de um produto. Neste custo incluem-se as despesas com operaes,

    que so custos com mo de obra, custo com mquinas e equipamentos (DO); despesas com

    operaes realizadas por empreita (DE); e despesas com material consumido, ou insumos (I) .

    COE = DO + DE + I

    Onde:

    COE = Custo operacional efetivo (R$);

    DO = Despesas com operaes (R$);

    DE = Despesas com empreita (R$);

    I = Despesas com Insumos (R$).

    B) Custo Operacional Total (COT)

    o custo que o produtor emprega no curto prazo para produzir e repor seus

    equipamentos e continuar produzindo. Representa a soma do custo operacional efetivo (COE),acrescido dos demais custos operacionais (E), como depreciao, manuteno, seguro,

    encargos financeiros, outras despesas operacionais.

    COT= COE + E

    Onde:

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    COT = Custo Operacional Total (R$);

    COE = Custo Operacional efetivo (R$);

    E = Outros custos operacionais (R$).

    No clculo dos outros custos operacionais, foram considerados os seguintes itens:

    ( i ) Depreciao

    Corresponde ao custo necessrio para repor os bens de capital quando tornados

    inteis pelo desgaste fsico (depreciao fsica) ou quando perdem valor com o decorrer dos

    anos em virtude de inovaes tcnicas (depreciao econmica ou obsolescncia). Ser

    calculada atravs do mtodo linear, que consiste em dividir o custo inicial do bem pelonmero de anos de sua durao provvel (HOFFMANN, 1981).

    ( ii ) Manuteno

    Foi considerado um percentual de 1% sobre o valor do capital empatado na atividade,

    conforme CARVALHO (2000).

    (iii) Seguro

    um custo anual para cobrir danos imprevistos, parciais ou totais, que o bem de

    capital pode sofrer (roubo, incndio etc). Foi calculado com base em uma taxa percentual de

    2,9% (CARVALHO, 2000) sobre o valor das inverses efetivamente realizadas na produo

    (COE).

    (iv) Encargos financeiros

    Foram estimados um valor percentual (6%) sobre o custo operacional efetivo (COE)

    mdio, no ciclo de produo (CARVALHO, op.cit.).

    (v) Outras despesas operacionais

    No clculo deste custo foi estimado um percentual de 5% sobre o valor do custo

    operacional efetivo (COE), de modo a cobrir outras taxas e/ou dispndios pagos pela atividade

    e que eventualmente no venham a ser computados no estudo.

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    No Municpio de Mombaa, em especial, foram acrescidas a este valor as despesas

    com equipamentos comunitrios, calculadas atravs do custo horrio para cada equipamento

    utilizado pelos produtores.

    Nos Municpios de Pacajus e Chorozinho, foi computado o valor percentual de 5% doCOE, acrescido do clculo dos encargos diretos, considerando-se que os produtores utilizam

    mo de obra contratada.

    C) Custo total de produo (CTP)

    Representa o custo total da atividade adicionada da remunerao administrativa.

    Permite a avaliao da taxa de rentabilidade. o somatrio dos custos operacionais totais(COT) acrescidos dos outros custos fixos (Ocf).

    CTP= COT + Ocf

    Onde:

    CTP = Custo Total de Produo ( R$)

    COT = Custo Operacional Total (R$)

    Ocf = Outros custos fixos (R$)

    No clculo dos outros custos fixos (Ocf), considera-se:

    (i) Remunerao do Capital (RC), que equivale a uma taxa de juros sobre o valor

    mdio do capital empatado.

    (ii) Remunerao da Terra (RT), que corresponde a uma alquota sobre o valor mdio

    de um hectare de terra nos municpios em estudo.

    D) Custo unitrio (CU)

    quanto o produtor gasta para produzir um quilo de mel e calculado pelo custo total

    de produo (CTP) dividido pelo volume total produzido.

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    CU= CTP/Q

    Onde:

    CTP = Custo total de produo (R$)Q = Quantidade produzida (Kg)

    3.6.3.2 Caracterizao das Receitas

    Receita Bruta (RB)

    A Receita Bruta representa o valor monetrio obtido com a venda da produo. Ser

    calculada de acordo com a produo de mel e com o preo de venda do produto:

    RB = Pv x Q

    Onde:

    RB = Receita bruta (R$);

    Q = Quantidade produzida de mel (kg);

    Pv = Preo de venda do produto (R$/kg).

    3.6.3.3 Anlise de rentabilidade

    a) Margem Bruta em Relao ao Custo Operacional Efetivo (MBCOE)

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    a margem em relao ao custo operacional efetivo (COE), isto , mostra o

    percentual de recursos que sobra aps o produtor pagar o custo operacional efetivo,

    considerando o preo unitrio de venda do produto e sua produo. Ou seja:

    MBCOE = ((RB COE)/COE) x 100

    Onde:

    RB = Receita Bruta (R$);

    COE = Custo Operacional Efetivo (R$);

    b) Margem Bruta em Relao ao Custo Operacional Total (MBCOT)

    Calculada como a anterior, mas, neste caso, em relao ao custo operacional total

    (COT), ou seja, mostra o que sobra aps o produtor pagar o custo operacional total. Assim:

    MBCOT = ((RB COT)/COT) x 100

    Onde:

    MBCOT = Margem Bruta em relao ao COT;

    COT = Custo Operacional Total (R$).

    Assim, essa margem indica qual a disponibilidade de recursos que cobrir a

    remunerao ao capital, a remunerao terra e a remunerao capacidade empresarial do

    proprietrio, aps o produtor haver pago todos os custos operacionais.

    c) Margem Bruta em Relao ao Custo Total de Produo (MBCTP)

    O clculo dessa margem idntico aos anteriores e, neste caso, relativo ao custo total

    de produo (CTP). Logo:

    MBCTP = ((RB CTP)/CTP) x 100

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    Onde:

    MBCTP = Margem bruta em relao ao custo total de produo (R$)

    CTP = Custo Total em Produo (R$)

    Neste caso, indica qual a margem disponvel para remunerar a capacidade

    empresarial do proprietrio, aps o pagamento de todos os custos de produo.

    d) Ponto de Nivelamento (PN)

    Nesta pesquisa foram considerados tambm indicadores de custo em termos deunidades de produto, como o ponto de nivelamento em relao ao custo operacional efetivo

    (COE), em relao ao custo operacional total (COT) e em relao ao custo total de produo

    (CTP):

    Ponto de Nivelamento (COE) = COE/Pv

    Ponto de Nivelamento (COT) = COT/Pv

    Ponto de Nivelamento (CTP) = CTP/Pv

    Onde:

    Pv = preo unitrio de venda do produto (R$/kg).

    Estes indicadores mostram, para um determinado nvel de custo de produo, qual

    deve ser a produo mnima para cobrir esse custo, dado o preo de venda unitrio do produto.

    Permitem tambm calcular quanto est custando a produo em unidades de produto, e se

    comparada produo, quantas unidades de produto esto sobrando para remunerar os demais

    custos de produo.

    e) Lucro Operacional (LO)

    Esta medida ser obtida atravs da diferena entre a receita bruta e o custo

    operacional total (COT).

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    LO = RB - COT

    Onde:

    LO = Lucro Operacional (R$)

    RB = Receita Bruta (R$)COT = Custo Operacional Total (R$)

    O indicador de resultados lucro operacional (LO) mede a lucratividade da atividade

    no curto prazo, mostrando suas condies econmicas e operacionais.

    f) ndice de Lucratividade (IL)

    Foi obtido mediante a relao entre o lucro operacional e a receita bruta, em

    percentagem. Esse indicador mostra a taxa disponvel de receita da atividade, aps o

    pagamento de todos os custos operacionais. Ou seja:

    IL = (LO / RB) x 100

    Onde:

    IL = ndice de lucratividade (%);

    LO = Lucro operacional (R$);

    RB = Receita bruta (R$).

    3.6.4 Relao entre nvel tecnolgico e competitividade

    Para relacionar o nvel tecnolgico com a competitividade, foi feita uma regresso

    simples, utilizando o mtodo dos Mnimos Quadrados Ordinrios (MQO), onde acompetitividade foi considerada como varivel dependente do nvel tecnolgico.

    Para representar a competitividade foram utilizados o Lucro Operacional (LO) e o

    ndice de Lucratividade (IL), como variveis. Na representao do nvel tecnolgico foram

    utilizados os ndices tecnolgicos gerais dos produtores representados porIG3.

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    Espera-se uma relao positiva na anlise de regresso, ou seja, espera-se que o nvel

    tecnolgico v influenciar positivamente na competitividade, considerando que, quanto maior

    o nvel tecnolgico, maior seja a competitividade.

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    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Nesta seo do trabalho, apresenta-se o resultado da pesquisa. A primeira parte a

    apresentao das caractersticas socioeconmicas dos produtores de mel entrevistados. A

    segunda mostra as anlises referentes ao nvel tecnolgico. Posteriormente, demonstrada a

    determinao de custos, receitas e indicadores de rentabilidade dos produtores. Sero tambm

    discutidas a competitividade e a relao desta com o nvel tecnolgico dos produtores de mel

    nos Municpios de Mombaa, Pacajus e Chorozinho. Os dois ltimos municpios so

    analisados em conjunto, dada a proximidade geogrfica, ou seja, por estarem na mesma

    mesoregio.

    4.1 Caractersticas Socioeconmicas

    4.1.1 Idade

    De acordo com as informaes apresentadas na TABELA 6, observa-se que a faixa

    etria que corresponde maior parte dos produtores de mel no municpio de Mombaa situa-se

    entre 31 e 40 anos, seguida da faixa etria situada entre os 51 a 60 anos. Poucos so os

    produtores que tm entre 20 e 30 anos e tambm pequeno o nmero de produtores com 60

    anos e mais. Embora observada a correspondente faixa etria dos produtores, constatou-se

    tambm um grande envolvimento familiar na atividade, pois filhos e cnjuges participam do

    trabalho neste municpio, principalmente no perodo referente colheita.

    Com relao aos Municpios de Pacajus e Chorozinho, verifica-se que a distribuio de

    freqncia em relao faixa etria dos produtores bem homognea, sendo que 11,11% dos

    produtores entrevistados se encontraram-se na faixa dos 20 a 30 anos; 22,22 % situaram-se na

    faixa dos 31 a 40 anos; 33,34 % estavam na faixa de 41 a 50 anos, e 22,22 % correspondem

    aos produtores com idade compreendida entre 51 e 60 anos; e 11,11 % equivalem a produtores

    com mais de 60 anos. Neste dois ltimos municpios, no se observou um grande

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    envolvimento familiar como acontece em Mombaa, e sim uma boa parcela de produtores que

    utilizam mo-de-obra contratada para a atividade.

    Em relao amostra total, observa-se maior freqncia na faixa etria correspondente

    a 31 / 40 anos.

    TABELA 6:Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao idade 2002.

    MunicpioIDADE (anos)

    Mombaa (%) Pacajus e Chorozinho (%) Amostra total (%)

    20 a 30 3,04 11,11 4,76

    31a 40 45,45 22,22 40,48

    41 a 50 15,15 33,34 19,05

    51 a 60 27,27 22,22 26,19Mais de 60 9,09 11,11 9,52

    TOTAL 100,00 100,00 100,00

    FONTE: Dados da Pesquisa

    Segundo HOLANDA JNIOR (2000), provvel que a idade possa influenciar na

    administrao da propriedade, pois o produtor mais jovem pode apresentar expectativas

    diferentes, principalmente no que se refere s mudanas, sendo teoricamente mais receptivo a

    elas.

    4.1.2 Escolaridade

    Conforme se observa na TABELA 7, o nvel de instruo dos produtores de mel no

    Municpio de Mombaa baixo, sendo que quase 80% dos produtores no possuem nem o

    ensino fundamental completo, e nenhum dos entrevistados possui nvel superior.

    J nos Municpios de Pacajus e Chorozinho, verifica-se que 11,11 % dos entrevistados

    possui nvel superior completo, no entanto, o nvel de escolaridade para estes municpios ainda

    pode ser considerado baixo, pois mais de 50% dos produtores s tm o ensino fundamental

    completo. Os produtores que tm o ensino mdio completo correspondem a 22,22% do total.

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    A caracterstica de baixo nvel de instruo verificada por grande parte dos

    agricultores nordestinos, de acordo com SOUZA (2000) e MONTE (1999), em estudos no

    Estado do Cear, uma grande percentagem dos chefes de famlia tem baixo grau de instruo.

    TABELA 7: Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao grau de instruo 2002.Municpio

    Grau de InstruoMombaa

    ( % )

    Pacajs e Chorozinho

    ( % )

    Amostra Total

    (%)

    Analfabeto ou Semi-Analfabeto 39,39 11,11 33,33

    Ensino Fundamental Incompleto 39,39 22,22 35,72

    Ensino Fundamental Completo 6,06 33,34 11,90

    Ensino Mdio Completo 15,16 22,22 16,67

    Nvel Superior Completo - 11,11 2,38TOTAL 100,00 100,00 100,00

    FONTE: Dados da Pesquisa

    A amostra total indica que, em geral, o nvel de escolaridade dos produtores de mel

    baixo, pois quase 70,00 % destes no possuem o ensino fundamental completo. O nvel de

    escolaridade uma varivel importante para se determinar a capacidade de adaptao do

    produtor aos novos cenrios do mercado, e pode determinar a capacidade em se decodificar as

    informaes pertinentes s novas tecnologias e prticas de cultivo segundo a

    CONFEDERAO NACIONAL DE AGRICULTURA (1999).

    4.1.3 Local de Residncia

    De acordo com os dados obtidos, pode-se verificar na TABELA 8 que 78,79% dos

    entrevistados no Municpio de Mombaa residem na propriedade onde criam as abelhas,

    15,15% residem em uma vila prxima da propriedade e apenas 6,06% residem na Sede doMunicpio. Nenhum dos produtores reside na capital, Fortaleza. Este fato pode ser justificado

    haja vista que a maioria dos produtores de mel, principalmente de agricultores e tm a

    apicultura como um complemento de renda.

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    Em relao situao de moradia, nos Municpios de Pacajus e Chorozinho, pode-se

    constatar que 55,56% dos entrevistados residem na propriedade onde tm a produo de mel,

    e 44,44% residem na sede dos municpios.

    TABELA 8: Freqncia relativa dos produtores de mel, em relao ao local de residncia - 2002.

    Situao de Moradia Mombaa

    (%)

    Pacajs e Chorozinho

    (%)

    Amostra Total

    (%)

    Reside na Propriedade 78,79 55,56 73,81

    Reside em uma Vila mais

    Prxima da Propriedade

    15,15 - 11,90

    Reside