depois da catastrofe

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Uma resposta bíblica às calamidades.

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Page 1: Depois da catastrofe

I S B N 978-1-60485-111-3

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RQ967

Brasil: Caixa Postal 4190, Curitiba/PR 82501-970 E-mail: [email protected]

Portugal: Rua da Cinquenta, 59, 4500-712 Nogueira da Regedoura E-mail: [email protected]

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O financiamento para Ministérios RBC provém dos donativos voluntários de membros e amigos deste ministério. Não recebemos apoio econômico de nenhum grupo ou denominação.

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Depois Da catástrofeUma resposta bíblica às calamidades

Este livreto foi originalmente escrito poucos dias depois

que o tsunami ou maremoto atingiu o Sri Lanka, na Ásia, em dezembro de 2004, deixando cerca de dez mil mortos e outras dezenas de milhares desalojados e desabrigados. Ajith Fernando, diretor nacional da Mocidade Para Cristo no Sri Lanka, escreveu o livreto original inspirado pelo tremendo sofrimento que o maremoto trouxe aos seus compatriotas. Os desafios e o encorajamento contidos neste livreto foram tão pertinentes às lutas que os subsequentes furacões Katrina e Rita trouxeram que este mesmo livreto foi revisado para responder às catástrofes na costa do golfo dos Estados Unidos e agora na costa sul do Brasil.

Martin R. De Haan II

SumárioDepois da catástrofe ................................. 2

Tempo de chorar.................... 2

Tempo de perguntar por quê ..................................... 5

Tempo de trabalhar .............12

Tempo de orar ......................17

Tempo de dar ........................19

Tempo de planejar ...............21

Tempo de cuidar-se .............23

Tempo de consolo e tempo para o Deus de toda consolação ..............27

Título original: After The Hurricane iSBN: 978-1-60485-111-3ilustração da capa: Terry Bidgood PorTuGuESEAs citações bíblicas são extraídas da Ed. revista e Atualizada de J. F. de Almeida © 1993 Soc. Bíblica do Brasil. © 2009 rBC ministries, Grand rapids, michigan, uSA Printed in Brazil

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Depois Da catástrofe

Q uando as cidades ou mesmo as nações

experimentam a calamidade, os cristãos devem buscar na Bíblia a força e a direção para alcançar os que sofrem com o amor de Cristo. Este livreto é o resultado do meu esforço para refletir bíblicamente sobre o que os seguidores de Cristo devem fazer depois de desastres como o maremoto no Sri Lanka, dos recentes furacões Katrina e Rita nos EUA, e dos desastres climáticos no Brasil. O meu desejo é que este livreto abençoe as pessoas que estão enfrentando uma crise.

Os cristãos devem buscar na Bíblia a força e a direção.

tempo De chorar

A Bíblia diz que há um “tempo de chorar e tempo de

rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria” (Eclesiastes 3:4). É claro que quando o desastre acontece é tempo para lamentar e chorar. Há partes importantes na Bíblia, onde o povo fiel de Deus sofre e lamenta o que estão experimentando, e perguntam a Deus por que Ele permitiu que tais eventos acontecessem com eles. Alguns lamentos são de pessoas que sofreram; outros são de pessoas que amam sua nação e lamentam o seu sofrimento. Há um livro inteiro na Bíblia, o livro de Lamentações de Jeremias, dedicado aos lamentos pelo sofrimento de uma nação. Jeremias chorou, “Prouvera a Deus a minha

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cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo” (Jeremias 9:1). Ele queria chorar por causa da dor de sua alma. As palavras de Jeremias que se seguiram àquela afirmação servem para nos mostrar que o lamento ajudaria a trazer cura para a alma. Ao nos depararmos com a dor em nossa família, comunidade ou nação, ao expressarmos nossa tristeza ajudaremos a liberar a pressão e a nos tornarmos mais úteis àqueles ao nosso redor. Foi isto que aconteceu com Neemias. Quando ele ouviu sobre a triste situação de Jerusalém, ele chorou, lamentou, jejuou, e orou por dias até que o rei percebeu que seu rosto mostrava sinais de abatimento profundo. Mas, após o término

do período de lamento, ele começou a agir e se tornou um herói nacional, cujo brilhante estilo de liderança é um grande exemplo e ainda é usado quase 2.500 anos depois.

Ao nos depararmos com a dor

em nossa família, comunidade ou

nação, ao expressarmos nossa tristeza ajudaremos a liberar a pressão e a nos tornarmos

mais úteis àqueles ao nosso redor.

Na Bíblia, encontramos várias maneiras através das quais o povo expressava seu lamento, como o jejum (2 Samuel

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1:12) ou o vestir-se de saco (Gênesis 37:34; 2 Samuel 3:31) e cinzas (Ester 4:1-3; Jeremias 6:26; 25:34). Precisamos encontrar maneiras para expressar nosso lamento que se encaixem em nossa própria cultura e que estejam de acordo com o entendimento bíblico do lamento. Com certeza é mais intenso o jejum e a oração por uma família, igreja, comunidade ou país em tempos de tragédia. Depois do maremoto no Sri Lanka, as pessoas hastearam bandeiras brancas em sinal de luto. Cada cultura tem suas distintas expressões de tristeza e dor que lhe são peculiares. Quando Dorcas morreu e Pedro foi à sua casa, “...e todas as viúvas o cercaram, chorando e mostrando-lhe túnicas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava com

elas” (Atos 9:39). Este tipo de cena é muito comum nas Escrituras.

Precisamos encontrar maneiras

para expressar nosso lamento que se

encaixem em nossa própria cultura.

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tempo De pergUntar por qUêLutando com a soberania de deusPerguntar por que uma coisa terrível aconteceu é um aspecto do lamento bíblico. A Bíblia nos encoraja a lutar com esta pergunta, dando exemplos de grandes homens piedosos que fizeram isto, como Jó, Jeremias e outros salmistas. Jó lutou muito até compreender o que estava acontecendo ao redor dele. Normalmente, depois de um tempo de revolta, o povo de Deus afirma que, porque Deus é soberano e sabe o que está acontecendo, a coisa mais sábia a se fazer é continuar confiando nele. Vemos isto frequentemente nos Salmos (Ex.: Salmo 73).

Crer na soberania de Deus em tempos de calamidade nos ajuda a evitar a desesperança durante a luta. Precisamos confiar na promessa de Deus que mesmo depois de uma tragédia terrível Ele trará algo bom para aqueles que o amam (Romanos 8:28).

Crer na soberania de Deus em tempos

de calamidade nos ajuda a evitar a desesperança durante a luta.

Esta perspectiva da soberania divina pode não se evidenciar imediatamente. Às vezes, é necessário que lutemos com Deus a respeito disto. A oração e a meditação em Sua Palavra realmente

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ajudam em tempos assim (Salmo 27). Podemos estar ocupados nos recuperando do desastre ou servindo àqueles que foram afligidos por ele, mas precisamos encontrar tempo para Deus e Sua Palavra. Esta é a razão pela qual o povo de Deus deve sempre continuar a adorá-lo em comunidade, independentemente da seriedade da situação. Quando adoramos juntos, nós nos concentramos nas realidades eternas que nos relembram da soberania de Deus. A exposição a estas verdades eternas nos ajuda a afastar o pessimismo e nos dá forças para confiarmos em Deus e em Seu cuidado por nós. Tendo sido consolados por Deus e Sua Palavra, temos então a força para nos envolvermos sacrificialmente para servir aqueles que estão sofrendo.

Gemendo com a criaçãoDevemos nos lembrar que quando Adão e Eva pecaram contra Deus, o pecado entrou no mundo e todo o universo se desestabilizou. A Bíblia diz que a criação está sob maldição (Gênesis 3:17; Romanos 8:20). Portanto, os desastres naturais continuarão acontecendo até que Deus crie novos céus e nova terra (2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:1). Paulo diz que toda a criação geme com dores de parto (Romanos 8:22), e que aqueles que conhecem a Cristo também se juntam aos que gemem (v.23). Durantes os eventos trágicos e catastróficos ouvimos claramente o gemido da criação e do povo de Deus. Os cristãos devem aprender a gemer. Se não o fizerem, quando Deus os chamar para servir,

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serão tentados a fugir da vontade de Deus para ir a um lugar seguro. O gemer nos ajuda a lidar com as circunstâncias difíceis. Os gemidos descritos em Romanos 8 referem-se às dores do parto (v.22). Mulheres que experimentam as lancinantes dores do parto, as suportam porque estão olhando para o futuro, para o momento glorioso quando darão à luz um filho. Da mesma forma, nossos gemidos nos lembram do glorioso fim que certamente virá (2 Coríntios 5:2-4). Isto nos ajuda a enfrentar as situações difíceis, nas quais Deus nos coloca. Mas, podemos suportar o sofrimento porque sabemos que uma libertação permanente, eterna, nos aguarda no céu. O gemido também leva embora a amargura

que tenhamos por causa da dor que sofremos. Devemos aprender a gemer na presença de Deus e de Seu povo ao invés de guardar tudo dentro do coração. Quando fazemos isto, damos vazão a nossa dor e liberamos a pressão que a experiência dolorosa acumulou dentro de nós. Assim, dificilmente a amargura terá espaço para crescer.

Devemos aprender a gemer na

presença de Deus e de Seu povo ao invés de guardar tudo lá dentro do coração.

Nosso gemido também permite que Deus nos console, seja

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pessoalmente, seja através de amigos. Quando somos verdadeiramente consolados, não podemos ser amargos, porque experimentamos um amor que lança fora a raiva, que é o centro da amargura. Assim, quando o país inteiro geme pelas catástrofes que ocorrem, individualmente nós também gememos. Parte deste gemido é perguntar a Deus, por que tal coisa aconteceu, mesmo que em nosso coração tenhamos a confiança de que Deus está no controle do Seu mundo.

um deus que GemeUm dos mais incríveis ensinamentos bíblicos sobre Deus, é que Ele geme conosco (Romanos 8:26). Deus sabe o que estamos passando e sente a nossa dor. A Bíblia diz que quando Israel estava angustiado, Deus também

estava (Isaías 63:9). De fato, Ele lamenta e geme por pessoas que nem mesmo o reconhecem (Isaías 16:11; Jeremias 48:31). Esta ideia é tão diferente daquela tão comum, de que Deus está distante e indiferente.

Quando entendemos que Deus geme

conosco, será difícil ficar com raiva

dele pelo que nos aconteceu.

O gemido de Deus, não deveria nos surpreender, pois quando Jesus (que é Deus) viveu aqui na terra, Ele gemeu por causa das dores do mundo. Ele chorou por causa da teimosia de Jerusalém e do castigo que estava por vir (Lucas 19:41-44). Ele

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também chorou no túmulo de Seu amigo Lázaro junto com os que choravam (João 11:33-35). Podemos então concluir que Deus está chorando com os que choram por suas perdas durante as calamidades que se abatem. O pranto de Deus nos dá uma forte razão para não relutarmos em chorar. Porém, mais importante do que isto, quando entendemos que Deus geme conosco, será difícil ficar com raiva dele pelo que nos aconteceu. Isto também torna mais fácil que busquemos nele o conforto quando estamos perplexos.

será um juLGamento?Uma pergunta frequentemente feita ao enfrentarmos calamidades, é se elas são o resultado do julgamento de Deus. Algumas pessoas asseguram que estes

são atos de Deus contra os pecadores. Mas, é seriamente duvidoso confiar em tal afirmação quando vemos milhares de cristãos maravilhosos, sofrendo juntamente com todos os povos das nações afetadas. Quando Jesus veio ao mundo, Ele experimentou o mesmo tipo de sofrimento que cada um de nós experimenta e este é o principal aspecto de Sua identificação com a humanidade. Do mesmo modo, aqueles dentre nós que querem seguir a Cristo, são também chamados para sofrer com as pessoas angustiadas. A recuperação após um desastre dá a todos nós a oportunidade de sofrer uns pelos outros. É nosso privilégio, como cristãos, estar entre aqueles que passaram por uma tragédia devastante. Devemos nos unir a eles em seu sofrimento.

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Será útil considerarmos os comentários que Jesus fez sobre os dois desastres que ocorreram em Seus dias. Ele tinha acabado de falar sobre julgamento, e algumas pessoas o lembraram de um incidente no qual alguns galileus foram mortos por Pilatos enquanto ofereciam seus sacrifícios. Talvez eles tivessem mencionado esta tragédia como um exemplo do julgamento de Deus. Jesus não compactuou com o raciocínio deles, ao contrário, Ele disse: “Eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lucas 13:3). E, Jesus continuou citando outra tragédia, na qual uma torre caiu matando 18 pessoas. Novamente, Ele disse que a menos que se arrependessem, todos pereceriam (v.5). Esta mesma advertência se repete nos versos 3 e 5, o

que confere urgência à advertência. Jesus queria enfatizar que as tragédias deveriam nos advertir de que a menos que demonstremos arrependimento enfrentaremos consequências ainda mais sérias. Da mesma maneira, eventos como maremotos, furacões e recentes inundações trazem um alerta urgente. Eles devem nos trazer sensatez e lembrar nossa vulnerabilidade. Estamos preparados para a morte e o julgamento que se segue? Estes eventos deveriam colocar-nos em humilde submissão ao Deus que é sobre tudo e até mesmo sobre a natureza. Devemos lembrar que a maioria das afirmações sobre o julgamento encontradas na Bíblia, é dirigida ao povo de Deus. Poucas se dirigem às comunidades

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fora do pacto divino. Sabemos que as pessoas serão julgadas por sua rebelião contra Deus, e cabe a nós mostrar-lhes como podem ser salvas daquele julgamento. No entanto, seria perigoso dizermos que um evento em particular é um julgamento de Deus.

Eventos como maremotos,

furacões e recentes inundações trazem um alerta urgente.

Eles devem nos trazer sensatez e lembrar nossa vulnerabilidade.

Jeremias profetizou que os judeus seriam punidos por sua rebelião contra Deus, e eles o perseguiram

por isso. Mas, quando foram punidos, ele não disse todo contente, “Não falei?” Ele chorou por seu povo (Jeremias 9:1). Na verdade, mesmo antes do julgamento, ele sabia que ficaria sufocado pela tristeza se eles não se arrependessem. Ele disse, “Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo por causa da vossa soberba; chorarão os meus olhos amargamente e se desfarão em lágrimas, porquanto o rebanho do Senhor foi levado cativo” (Jeremias 13:17). Deveríamos seguir o exemplo de Jeremias, fazendo todo o possível para preparar as pessoas para se apresentarem diante de Deus Seu Criador, no julgamento vindouro. No meio de um desastre as pessoas querem culpar alguém. Elas fazem

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perguntam diversas. Será que as autoridades governamentais não sabiam sobre os efeitos devastadores causados por tragédias advindas pelas chuvas? Por que não foi feita alguma coisa anos atrás? E por que levou tanto tempo para que os desalojados recebessem a assistência necessária? Levam-se anos para obter respostas a estas perguntas e a outras semelhantes. Que nós como povo de Deus não nos sintamos culpados por não advertir as pessoas de todos os lugares sobre o futuro julgamento de Deus. E que sintamos a urgência de sua crise física e espiritual e corramos para assisti-los no que for necessário para aliviar seu sofrimento.

tempo De trabalhar

Para os cristãos, cada calamidade é um chamado para

agir. E porque somos fortalecidos pelo amor de Deus (2 Coríntios 5:14) e fortalecidos pelo poder do Seu Espírito (Atos 1:8), somos equipados de forma singular para causar um tremendo impacto sobre as pessoas que sofrem.

Os cristãos, através da história,

continuam na vanguarda das operações humanitárias.

Quando há um desastre, os cristãos devem imediatamente colocar as “mãos à obra”. Quando os

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cristãos do primeiro século sabiam das necessidades da comunidade ao seu redor, eles imediatamente agiam para supri-las (Atos 4:34-37). Quando a jovem igreja de Antioquia ouviu sobre a fome em Jerusalém, imediatamente buscaram maneiras de ajudar (Atos 11:28-30). Mantendo esta prática, os cristãos, através da história, continuam na vanguarda das operações humanitárias. Eu creio que a exortação de Paulo com relação ao serviço cristão, em 2 Timóteo 2, deve ser considerada, sempre que nos encontrarmos em situação de extrema necessidade. Vamos dar uma olhada nesta passagem e aplicá-la a nossa própria situação. Paulo escreveu: “Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:3). Ele

descreveu o serviço de Timóteo como sofrimento. Esta afirmação de Paulo não deveria nos surpreender, porque sofrer pelo evangelho era uma parte normal de sua vida diária (1 Coríntios 15:30-31; Colossenses 1:24-29). Este é o chamado para todos os cristãos que estão vivendo em meio ao sofrimento — um chamado para sofrer ao servirem a nação. Os cristãos fiéis sofrem de diferentes maneiras ao buscarem servir a Deus e ao seu país. Às vezes o sofrimento é sutil, por exemplo, uma esposa precisa liberar seu esposo para trabalhar duro em operações humanitárias de socorro. Isto normalmente traz estresse ao casamento e à família e também pode resultar em tremendo fardo para ela. Mas, quando entendemos que estamos

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sofrendo pela causa de Deus, a dor diminuirá e o ressentimento acabará.

Quando entendemos que estamos sofrendo

pela causa de Deus, a dor diminuirá e o ressentimento

acabará.

Outras maneiras de sofrer são mais evidentes, como a fadiga, sonolência e o enfrentar criticismo, quanto aos nossos motivos e modo de desempenhar nosso trabalho. Nos versos que seguem o versículo 3, Paulo explicou como Timóteo deveria lidar com sua cota de sofrimento. Ele disse, “Nenhum soldado em serviço se envolve

em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2 Timóteo 2:4). Talvez tenhamos que desistir daquilo que outros veem como necessidades normais, para servir outras pessoas neste tempo. Situações extremas requerem soluções extremas. Nossas famílias precisam saber que temos que pagar um preço se ministrarmos ao nosso país durante uma crise. É claro que a vida familiar é importante, o cuidado com nossa família nunca pode ser relegado a um segundo plano. Mas a crise imediata pode nos fazer mudar o jeito de realizar o que precisamos. De acordo com Paulo, outro aspecto é trabalhar duro como um lavrador (2 Timóteo 2:6). Noutra carta ele disse, “[…] para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo

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a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Colossenses 1:29). Considerando a urgência do nosso chamado para compartilhar Cristo com um mundo moribundo, devemos trabalhar sempre com afinco para servir ao Senhor enquanto vivermos na terra. Um dia teremos o descanso merecido quando chegarmos ao céu (Apocalipse 14:13). Mas agora é tempo de trabalhar!

“Nós temos toda a eternidade para celebrar nossas

vitórias, mas somente algumas horas antes do pôr-do-sol para

conquistá-las.”

Amy Carmichael, a grande missionária para as

crianças abandonadas da Índia, disse, “Nós temos toda a eternidade para celebrar nossas vitórias, mas somente algumas horas antes do pôr-do-sol para conquistá-las.” Para nós este é um tempo de sofrer pelas pessoas que estão desesperadamente necessitadas, para trabalharmos lado a lado, e de nos desfazermos de algumas coisas que costumávamos ter para ajudar aqueles que nada têm. Não ajudar seria um erro grave. O profeta Amós anunciou desgraça sobre aqueles que estavam vivendo tranquilamente e se divertindo enquanto sua nação estava em crise (Amós 6:1-6). Porque Davi ficou em casa num tempo em que os reis normalmente iam à guerra, ele caiu em pecado (2 Samuel 11:1). Paulo falou a Timóteo das bênçãos que viriam se

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ele sofresse no serviço do Senhor como está descrito em 2 Timóteo 2:8-13: “Se perseveramos, também com ele reinaremos.” Mas há também uma advertência: “Se o negamos, ele, por sua vez, nos negará. Se somos infiéis, ele permanece fiel; pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2 12-13).

Os desastres são oportunidades para demonstrar o

amor cristão.

Estes versos nos lembram que o julgamento vindouro é uma realidade impressionante. Há recompensa para o serviço, mas punição para a desobediência. Aquela verdade é parte da abordagem cristã à vida

que influencia tudo o que fazemos. Um dia veremos que todos os sacrifícios pessoais que fizemos foram úteis. É por isso que não devemos ficar zangados quando alguém recebe o crédito pelo que fizemos. É por isso que devemos estar prontos para fazermos coisas que parecem não nos trazer qualquer recompensa terrena. Nenhum trabalho é insignificante para nós, pois Deus nos fortalecerá para sermos seus servos. Os desastres são oportunidades para demonstrar o amor cristão.

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tempo De orar

O trabalho mais poderoso que um cristão pode

fazer é orar. De acordo com Paulo, a oração intercessória eficaz é um trabalho árduo (Colossenses 4:12-13). Nos tempos do Velho Testamento quando a nação enfrentava crises, líderes piedosos conclamavam o povo à oração, frequentemente acompanhada de jejum. Durante calamidades nacionais o povo jejuou (2 Samuel 1:12). Quando uma grande multidão de invasores estrangeiros veio contra o rei Josafá, ele teve medo. No entanto, sua resposta imediata foi “[…] buscar ao Senhor, e apregoou jejum em todo o Judá” (2 Crônicas 20:3). Esperaríamos que ele convocasse seu exército e os preparasse para a

guerra, mas ao invés disso ele convocou um jejum e reuniu a nação para orar. Porém Deus intervém e lhe dá vitória retumbante.

O trabalho mais poderoso que um cristão pode

fazer é orar.

Mesmo que estejamos muito ocupados, a oração individual e em grupos devem ser um aspecto importante de nossas operações humanitárias. E a beleza da oração é que ela é algo que qualquer cristão pode fazer — velho, jovem, os sadios, os enfermos e os confinados ao leito. Quando há crises locais ou nacionais, os líderes cristãos devem convocar seu povo para um tempo especial de oração e jejum.

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Aqui estão alguns motivos de oração:•queagraçadeDeus

alcance os que sofreram a perda de entes queridos e bens materiais;

•queaquelesqueestão profundamente traumatizados recebam ajuda necessária, e que aqueles que estão desalojados e desabrigados encontrem uma solução para a questão da moradia;

•queaquelesque estão em abrigos recebam o cuidado e provisão adequados e que aqueles que são mais vulneráveis a ataques, como mulheres e crianças, recebam proteção;

•queoscristãosselevantem e se envolvam sacrificialmente em serviço relevante;

•queaigrejasejaavivada através

de nossas ações e testemunho por Cristo, para a glória de Deus;

•queDeusnosguieparasabermos como nos envolver no processo de cura;

•peloprocessodesocorro e reabilitação e pelos grupos envolvidos neste processo (especialmente pelas organizações e igrejas cristãs) e pelas autoridades governamentais que são responsáveis por alocar fundos para as áreas afetadas;

•queacorrupção,desperdício, falta de planejamento e qualquer outro motivo que possa atrapalhar as operações de socorro possam ser minimizados;

•porsabedoriapara os líderes políticos que estabelecerão as políticas que

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afetarão o processo de restauração;

•quehajasuprimentoadequado e recursos para a tremenda tarefa de recuperar as áreas afetadas;

•queatravésdestatragédia o mundo veja o amor de Cristo demonstrado pelos Seus seguidores às pessoas necessitadas;

•queaglóriadeDeusbrilhe por toda a nação como nunca antes, fazendo as pessoas buscarem a Deus e encontrarem a Sua salvação.

tempo De Dar

Q uando Ágabo profetizou à igreja de Antioquia

que uma fome estava chegando a Jerusalém, esta jovem igreja imediatamente tirou uma oferta e mandou para Jerusalém (Atos 11:27-30). Mais tarde, Paulo organizou um fundo para juntar dinheiro de várias igrejas fora de Israel, para ajudar a suprir as necessidades da igreja de Jerusalém (2 Coríntios 8-9). Dar aos necessitados é um aspecto importante do cristianismo (Deuteronômio 15:7-11; Mateus 5:42; 19:21; Lucas 12:33; Gálatas 2:10; 1 Timóteo 6:18; Hebreus 13:16). Em tempos de calamidade, o povo de Deus deve dar de seus bens para ajudar aqueles que sofrem.

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Paulo disse que temos uma responsabilidade especial com aqueles que são “família da fé”, para com aqueles que são membros de nossa família espiritual (Gálatas 6:10). Portanto, nossa primeira responsabilidade é para com nossos irmãos e irmãs em Cristo, mas devemos doar para outros em necessidade também. Devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos; este mandamento aparece sete vezes no Novo Testamento (Mateus19:19; 22:39; Marcos 12:31; Lucas 10:27: Romanos 13:9; Gálatas 5:14; Tiago 2:8). Como grandes quantidades de suprimentos e dinheiro são enviadas pelo governo e organizações humanitárias, podemos erroneamente concluir que não precisamos dar porque nossas doações serão muito pequenas em

comparação com aquelas. Mas, precisamos lembrar que o poder de uma oferta não depende da quantia de dinheiro doado. A história da viúva que deu uma pequena moeda, contada por Jesus, pode nos ensinar isto. Embora a viúva tivesse dado a menor quantia em dinheiro para a oferta do templo, Jesus disse: “Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes.” (Marcos 12:43).

Precisamos lembrar que o poder de uma oferta não depende

da quantia de dinheiro doado.

Os líderes cristãos precisam encorajar suas congregações a dar,

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ensinando-os que até as pequenas ofertas têm um grande poder quando Deus trabalha através delas. Precisamos dar instruções específicas sobre como, onde e quando as pessoas podem dar. Na segunda carta de Paulo aos Coríntios, ele gastou considerável tempo apelando para que contribuíssem para o fundo de Jerusalém (2 Coríntios 8-9). Ele também apresentou planos claros sobre como as ofertas poderiam ser feitas e como o fundo seria administrado (1 Coríntios 16:1-4).

tempo De planejar

O recebimento e o desembolso de ofertas não deve

ser casual conforme está escrito em 1 Coríntios 16:1-4. Este princípio também se aplica ao processo de socorro e reabilitação. O livro de Provérbios diz que as guerras devem ser travadas com planos e consultoria adequados para que as melhores estratégias sejam adotadas (Provérbios 20:18; 24:6). Isto se aplica à “guerra” contra as necessidades das pessoas. A falta de planejamento pode causar o desperdício de muito tempo, energia e recursos. Muitas pessoas necessitadas poderiam perder a ajuda que necessitam enquanto outros poderiam obter mais do que necessário — como resultado

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de planejamento inadequado. O planejamento é especialmente necessário quando paramos de atender as necessidades emergenciais e iniciamos o processo de reconstrução. É melhor que grupos pequenos se juntem a outros. Quando nos juntamos a outras igrejas e grupos, temos a maravilhosa oportunidade de demonstrar a unidade que partilhamos em Cristo.

A falta de planejamento pode causar o desperdício

de muito tempo, energia e recursos.

Nas igrejas frequentemente encontramos pessoas capazes e dispostas;

este é um recurso muito importante, que pode ser fornecido a grupos especializados, que possuem os recursos e a experiência no socorro e reabilitação, mas não têm pessoal suficiente. Esta é uma das situações em que o princípio de Eclesiastes 4:9 se aplica: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.” Muitos de nós não somos capacitados, nem temos o conhecimento suficiente para fazermos um trabalho eficaz por nossa própria conta. Por isso, é melhor fazer parcerias. Este também pode ser um tempo para mostrarmos o nosso compromisso com aqueles necessitados, se fizermos parcerias com outros grupos não ligados a igreja. Somos cidadãos de dois mundos, então, tudo o que fazemos em qualquer um desses

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mundos, fazemos para Deus e Sua glória (1 Coríntios 10:31). Os trabalhos que fazemos nas instituições chamadas “seculares” devem ser feitos, primeiramente, para honrar a Deus. Podemos considerar nosso trabalho importante, porque presta serviço à comunidade onde Deus nos coloca como Suas testemunhas. O mesmo princípio se aplica quando servimos a comunidade através de projetos de ajuda humanitária e reabilitação organizada por grupos de vizinhos ou pelo governo. Devemos buscar oportunidades para nos juntarmos aos nossos vizinhos em seus projetos e assim, poderemos representar Cristo ali.

tempo De cUiDar-se

P aulo incita Timóteo a sofrer e trabalhar arduamente, e

também o estimula a ser como um atleta, dizendo, “Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas” (2 Timóteo 2:5). Quando você está correndo muito, é fácil tropeçar e cair. Infelizmente, muitos que trabalham arduamente no processo de ajuda quebram algumas normas que nunca deveriam ser quebradas. Portanto, quando estivermos fazendo um trabalho de assistência, devemos seguir os princípios básicos do cristianismo e do serviço cristão. Por exemplo, quando estivermos numa situação desesperadora, depois de uma calamidade, podemos esquecer-nos de ter um tempo a sós com

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Deus ou estar com nosso cônjuge e filhos. Mas, não devemos permitir tais omissões por um tempo prolongado.

Se negligenciarmos nosso tempo com Deus,

perderemos nossa saúde espiritual.

Se negligenciarmos nosso tempo com Deus, perderemos nossa saúde espiritual. Se negligenciarmos nosso tempo com o cônjuge e familiares, nossas famílias serão afetadas. Se continuarmos a dormir pouco e trabalhar sem descanso, nossos corpos e nossas emoções serão seriamente prejudicados, deixando-nos fracos e com comportamento instável. Imediatamente depois

de uma emergência, teremos que trabalhar até o nosso limite sem muito descanso. Mas logo teremos que entrar numa rotina, para encontrar tempo para descansar e para cultuar a Deus em meio ao ativismo. Isto inclui descansar um dia por semana, mantendo o princípio do “sábado”. Isto se aplica a todas as pessoas envolvidas em aliviar o sofrimento. Por exemplo, aqueles que cuidam o tempo todo de familiares doentes, precisam ter um tempo de folga para descansar e para estar com o Senhor. Se não fizerem isto, eles podem se tornar irritáveis e até perder a eficiência como cuidadores. Trabalhar direto, sem descanso e nutrição espiritual resultará na perda da alegria, irritabilidade e até mesmo depressão. No livro, The New Testament Image

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Of Ministry (Grand Rapids:Baker,1974, p.133) (A Imagem do Ministério no Novo Testamento), W. T. Purkiser cita alguém envolvido em aconselhamento que disse que desconhecia um caso de depressão que não tivesse começado com fadiga.

Trabalhar direto, sem descanso

e nutrição espiritual resultará na

perda da alegria, irritabilidade e até mesmo depressão.

Sendo a alegria uma das qualidades mais básicas de um cristão cheio do Espírito (Gálatas 5:22), quando as pessoas perdem a sua alegria, elas param de agir como

cristãs. Esta alegria é o que nos dá força (Neemias 8:10). Ela nos ajuda a manter o entusiasmo no serviço a Deus, independente de como as coisas estejam. Às vezes, podemos prantear devido à dor causada pelo que aconteceu, mas em nosso interior temos a alegria do Senhor em nossas vidas. E é por isso, que em meio à dor, estamos desfrutando da comunhão com Cristo que nos ama, e a quem profundamente amamos. Um dos tristes fatos da história dos trabalhos de ajuda humanitária é que muitos trabalhadores caíram em graves pecados e prejudicaram seus relacionamentos com familiares e amigos. E muitos esgotam suas energias, e nunca mais se envolvem neste tipo de trabalho. Algo semelhante ocorre em famílias que tem um filho gravemente doente.

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Os casais frequentemente se divorciam quando a crise prolongada chega ao fim. Eles ficaram tão envolvidos com a difícil tarefa de cuidar daquela criança, que não investiram tempo no fortalecimento do relacionamento conjugal. Eles trabalharam juntos arduamente durante toda a enfermidade, mas uma vez que o filho morre, descobrem que se distanciaram ao longo daquela experiência. Em situações emergenciais, “tem cuidado de ti mesmo” (1 Timóteo 4:16). Este conselho de Paulo é muito válido, pois, temos a tendência de descuidarmo- -nos quando estamos cansados, podendo ser pegos desprevenidos. Por isso precisamos estar especialmente alertas sobre nossa condição pessoal quando estamos exaustos.

Também devemos ter cuidado com nosso comportamento profissional. Paulo advertiu-nos de que se trabalharmos de maneiras que desagradam a Deus, sem descanso, nosso trabalho será considerado inútil por Ele e será destruído pelo fogo no julgamento final (1 Coríntios 3:12-15). Precisamos tomar cuidado com alguns erros. •Precisamostero

cuidado de não exagerar ao relatarmos nosso trabalho, ou usar esse relatório para trazer glória para nós. A glória pelo que fazemos pertence somente ao Senhor (Salmo 115; Isaías 48:11). Precisamos estar constantemente alertas para a possibilidade de nos perdermos em ações, que estão direcionadas a trazer glória tanto a

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nós mesmos, quanto à nossas organizações.

•Devemosestaratentosàs maneiras que usamos os recursos financeiros que recebemos. Mesmo que haja uma porção de trabalho urgente a ser feito, nunca devemos quebrar os princípios estabelecidos para a prestação de contas. Infelizmente, muitas fraudes já aconteceram durante operações de socorro. E algumas delas começaram com erros de pessoas bem-intencionadas nos procedimentos.

tempo De consolo e tempo para o DeUs Das consolações

Paulo descreveu Deus, como o “Deus de toda

consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus.” (2 Coríntios 1:3b-4). Com tanta gente traumatizada, triste e necessitando de alguém que as ouça, aqueles que receberam o consolo de Deus são capazes de fazer muito mais, como agentes de cura. A sociedade aprendeu a importância do ministério aos que estão mental ou emocionalmente afetados por calamidades. Neste

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momento, conselheiros profissionais estão sendo enviados a lugares onde as catástrofes aconteceram. Embora isto seja necessário, os próprios profissionais compreendem o grande valor que há na amizade entre os atingidos por catástrofes e com leigos. Estes podem ministrar-lhes de uma forma mais natural e por um tempo mais longo. O que é mais urgente é devolver às pessoas afetadas o máximo possível daquilo que era considerado como vida normal para elas, antes da tragédia se abater. Um dos trabalhos mais importantes que o profissional pode fazer é ajudar as pessoas voltarem a ter relacionamentos “normais” com seus familiares, amigos, colegas e vizinhos. Nestes relacionamentos elas encontrarão forças.

Nosso papel ao ajudar pessoas traumatizadas pode ser simplesmente ficar ao lado delas e ouvi- -las. Mas a urgência de levá-los de volta à vida normal, pode requerer nossa participação através do compartilhamento pessoal. Escutar apenas pode não ser suficiente.

Com tanta gente traumatizada,

triste e necessitando de alguém que as ouça, aqueles que receberam o

consolo de Deus são capazes de fazer muito mais, como agentes de cura.

Os especialistas descobriram que algumas coisas normalmente feitas

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em situações comuns de aconselhamento, não devem ser feitas com pessoas que passaram por trauma severo. Por exemplo, é uma prática padrão em aconselhamento, perguntar àqueles que sofrem para falarem de sua dor e do que a causou. Mas, no aconselhamento em situação de trauma, isto só deve ser feito quando a pessoa estiver pronta, o que pode acontecer muito tempo depois. Falar a respeito do trauma prematuramente pode desencadear emoções que não poderão ser administradas. Algumas reações extremas como medo intenso, depressão, retraimento e silêncio, raiva, insônia, choque, pesadelos e choro são respostas humanas normais à tragédia. Na maioria dos casos, estes

sintomas passarão com o tempo. Portanto, devemos ser compreensíveis, e tardios em julgar precipitadamente seus comportamentos. Agindo assim seguimos o modelo de Cristo, que deixou o céu, veio até nós, e entendeu nossas vidas melhor do que nós mesmos. Após o maremoto de 2004, no Sri Lanka, meu amigo Dr. Arul Anketell, um médico que agora está no ministério em tempo integral como tal, juntamente com outras pessoas, encontrou um velho homem num campo de refugiados. Ele tinha os sintomas típicos de um grave ataque cardíaco. Arul chamou outro médico e depois do exame, concluíram que ele não estava sofrendo de um ataque do coração. Este homem perdera vários membros de sua família no

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maremoto. Conversaram e oraram juntos e logo descobriram que ele não só estava livre dos sintomas, mas também estava profundamente interessado em conhecer o Deus, a quem os doutores tinham orado.

Algumas reações extremas como medo

intenso, depressão, retraimento e silêncio,

raiva, insônia, choque, pesadelos

e choro são respostas humanas normais à tragédia.

Eu soube de algumas crianças que estão com medo de tocar a água depois do maremoto. Estive numa escola falando com a professora

que queria reabrir a escola tão logo fosse possível. Mas, os pais não queriam mandar os filhos para a escola porque ficava perto do mar, e não queriam separar-se deles — mesmo pelo curto espaço de tempo em que estariam na escola. Tais situações requerem muita compreensão e habilidade. Até os trabalhadores das operações de ajuda humanitária estavam precisando de conforto. O que eles experimentaram foi emocionalmente estressante. Quando fui para um dos lugares seriamente afetados pelo maremoto, eu queria chorar por causa do forte impacto que me causou. Um colega foi a um local semelhante logo depois do maremoto e foi exposto a cadáveres e a devastação incrível. Não demorou muito e ele retirou-se para seu carro onde podia chorar a sós.

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Expor-se à devastação pode afetar profundamente nossas mentes e emoções. Isto requer sensibilidade para com as necessidades dos que cuidam e ajudam necessitados. Eles devem ter a oportunidade de compartilhar suas dores e serem expostos ao conforto da comunidade cristã e ao consolo de Deus. Eu creio que uma das maiores verdades para os cristãos que estão ministrando às pessoas sofridas, é que quando Deus se tornou um ser humano, Ele sofreu muitas dores, que aqueles que enfrentam tragédias sofrem. Como uma criança, Jesus escapou por pouco de uma morte violenta, e Sua família teve que fugir de Sua pátria e se refugiar numa terra estranha. Ele foi rejeitado pelas pessoas, as quais veio ajudar. Seu

pai, José, provavelmente morreu quando ainda era jovem e Ele tinha pelo menos quatro irmãos mais novos e um desconhecido número de irmãs que necessitavam sustento (Marcos 6:3), Jesus não recebeu educação formal. É por isso que as autoridades religiosas consideravam Jesus uma pessoa não instruída (João 7:15). Esta é uma deficiência que muitas crianças encontram hoje quando suas famílias enfrentam uma tragédia. Jesus conheceu a dor de ser julgado e condenado injustamente e ser executado como um criminoso, através de um dos métodos mais cruéis inventados pela humanidade. Quando eu tinha menos de dez anos, uma situação embaraçosa aconteceu comigo. Em meu estado de desespero, as primeiras palavras

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que me ocorreram foram, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Muito mais tarde caí em mim. Eu sabia aquelas palavras porque elas foram ditas pelo Deus encarnado, o próprio Jesus (Mateus 27:46). Ele passou pela mesma dor que nós passamos. Este é realmente um Deus com quem a humanidade sofredora pode se identificar. A maior necessidade das pessoas é ter um relacionamento com o “Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1:3). Mesmo muito ocupados em nosso empenho em ajudar, não podemos perder de vista a necessidade que as pessoas têm de aceitar a salvação de Deus. Devemos sempre lembrar, no entanto, que Deus nunca manipula as pessoas para aceitarem

Sua mensagem. Ele revela às pessoas como Ele as pode salvar (Isaías 1:18). Portanto, nós devemos, ter o cuidado para que as pessoas não aceitem a Cristo só porque receberam ajuda dos cristãos. Eles devem aceitá-lo porque creem em seus corações e mentes que através de Jesus, Deus providenciou uma resposta às suas necessidades mais profundas. Em tempos de desastre, temos uma oportunidade única de praticar nosso cristianismo. Quando o desastre se abate, os cristãos precisam se perguntar, “Quais devem ser meus pensamentos durante esta tragédia? E como posso responder a esta crise, de maneira cristã?

o texto inclui o acordo ortográfico conforme Decreto n.º 6.583/08.

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