documento 212

29

Upload: tiago-catuxo

Post on 04-Sep-2015

79 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Reprodução de Tambaqui

TRANSCRIPT

  • Embrapa Meio-NorteTeresina, PI2012

    ISSN 0104-866X

    Abril, 2012

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa Meio-NorteMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Documentos 212

    Recomendaes Tcnicaspara a Reproduo doTambaqui

    Danilo Pedro Streit Jnior

    Jayme Aparecido Povh

    Darci Carlos Fornari

    Juliana Minardi Galo

    Luis Ricardo Jayme Guerreiro

    Diego de Oliveira

    Melanie Digmayer

    Leandro Cesar de Godoy

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Meio-NorteAv. Duque de Caxias, 5.650, Bairro Buenos AiresCaixa Postal 01CEP 64006-220, Teresina, PIFone: (86) 3089-9100Fax: (86) 3089-9130Home page: www.cpamn.embrapa.brEmail: [email protected]

    Comit de PublicaoesPresidente: Rosa Maria Cardoso Mota de AlcantaraSecretrio-administrativo: Manoel Gevandir Muniz CunhaMembros: Humberto Umbelino de Sousa, Lgia Maria Rolim Bandeira, IgorOuteiral da Silva, Orlane da Silva Maia, Braz Henrique Nunes Rodrigues, JooAvelar Magalhes, Laurindo Andr Rodrigues, Ana Lcia Horta Barreto, IzabellaCabral Hassum, Bruno de Almeida Souza, Francisco de Brito Melo, Franciscodas Chagas Monteiro, Marcos Jacob de Oliveira Almeida

    Superviso editorial: Lgia Maria Rolim BandeiraReviso de texto: Edsel Rodrigues TelesNormalizao bibliogrfica: Orlane da Silva MaiaCapa e editorao eletrnica: Jorim Marques FerreiraFoto da capa: Roger Crescncio

    Organizadores: Danilo Pedro Streit Jnior Fabola Helena dos Santos Fogaa Angela Puchnick Legat

    1a edioOnline (2012)

    Todos os direitos reservados.A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui

    violao dos direitos autorais (Lei no 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Meio-Norte

    Recomendaes tcnicas para a reproduo do tambaqui / Danilo Pedro StreitJnior ... [et al.]. - Teresina : Embrapa Meio-Norte, 2012.

    30 p. ; 21 cm. - (Documentos / Embrapa Meio-Norte, ISSN 0104-866X ; 212).

    1. Peixe de gua doce. 2. Reprodutor. 3. Manejo. 4. Desova. I. Streit Jnior,Danilo Pedro. II. Embrapa Meio-Norte. III. Srie.

    CDD 639.31 (21. ed.)

    Embrapa, 2012

  • Autores

    Danilo Pedro Streit Jnior

    Oceanlogo, D. Sc. em Zootecnia,professor da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, [email protected]

    Jayme Aparecido Povh

    Zootecnista, D. Sc. em Zootecnia, professorda Universidade Federal do Mato Grosso,Cuiab, [email protected]

    Darci Carlos Fornari

    Zootecnista, M. Sc. em Zootecnia,doutorando em Zootecnia na UniversidadeEstadual de Maring (UEM), Maring, [email protected]

  • Juliana Minardi Galo

    Zootecnista, M. Sc. em Produo Animal(Piscicultura), professora do InstitutoFederal de Educao, Cincia e Tecnologiade Rondnia _ IFRO, Arquimedes, RO

    [email protected]

    Luis Ricardo Jayme Guerreiro

    Bilogo, M. Sc. em Zootecnia, doutorandoem Zootecnia na Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS

    [email protected]

    Diego de Oliveira

    Engenheiro-agrnomo, mestrando emZootecnia na Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, [email protected]

    Melanie Digmayer

    Zootecnista, M. Sc. em Produo Animal,doutoranda em Zootecnia na UniversidadeEstadual de Maring (UEM), Maring, [email protected]

    Leandro Cesar de Godoy

    Zootecnista, M. Sc. em Aquicultura,doutorando em Zootecnia na UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul (UFRGS), PortoAlegre, [email protected]

  • Agradecimentos

    A equipe de pesquisa do Grupo Aquam-PeixeGen (UFRGS e UEM)

    agradece ao SEBRAE-RO, Piscicultura Boa Esperana de Pimenta Bueno

    (RO), s pisciculturas Buriti (MT) e Delicious Fish (MT) pela parceria na

    execuo dos experimentos e em especial ao Ministrio da Pesca e

    Aquicultura, ao CNPq e Embrapa pelo financiamento do projeto

    AQUABRASIL, Projeto Componente Melhoramento Gentico de

    organismos aquticos.

    Tambm agradece a todos os colaboradores e amigos que de alguma

    forma contriburam para o sucesso das pesquisas e para a gerao das

    informaes tcnicas contidas neste documento.

  • Apresentao

    Das espcies nativas brasileiras, o tambaqui (Colossoma macropomum) amais produzida em cativeiro. Quase a totalidade da produo desse animal

    puro ocorre nos estados da regio Norte do Brasil, com destaque paraRondnia. No Mato Grosso, existe grande produo do hbrido tambacu(tambaqui x pacu-caranha, Piaractus mesopotamicus). Isso se deve

    popularidade do pacu-caranha na bacia do rio Paraguai e do repasse detecnologia, no incio dos anos 1980, do Centro Nacional de Pesquisa eConservao de Peixes Continentais (Cepta), que recomendava a produo

    do hbrido com o objetivo de explorar o potencial de crescimento dotambaqui associado resistncia do pacu a temperaturas amenas.Atualmente, outro hbrido bastante produzido o tambatinga, cruzamento

    de duas espcies amaznicas (tambaqui x pirapitinga, Piaractusbrachypomus) com caractersticas produtivas parecidas com as dotambacu, mas com destaque para a cor prateada e o oprculo

    avermelhado, os quais chamam a ateno do consumidor.

    Desse modo, este manual vai tratar exclusivamente da tecnologia aplicada

    reproduo do tambaqui, desenvolvida pela UFRGS, UEM e UFMT comapoio da Embrapa, por meio do Programa de Melhoramento Gentico deOrganismos Aquticos, no mbito do projeto AQUABRASIL.

    Hoston Toms Santos do Nascimento

    Chefe-Geral da Embrapa Meio-Norte

  • Sumrio

    Caracterstica reprodutiva do tambaqui ................... 11

    Montagem do plantel de reprodutores ..................... 12

    O processo reprodutivo .......................................... 13

    Identificao do plantel .......................................... 13

    Monitoramento gentico ........................................ 15

    Manuteno do plantel de reprodutores .................. 15

    Alimentao ...................................................... 15

    Estocagem dos reprodutores de tambaqui ............ 17

    Tamanho dos animais estocados ............................. 17

    Manejo de reproduo ............................................ 18

    Seleo dos reprodutores ................................... 18

    Induo hormonal .............................................. 21

    Hipofisao ................................................... 21

    Extruso dos gametas ........................................ 23

    Hidratao e ativao do smen .......................... 25

  • Sistema de desova seminatural ............................... 26

    Incubao dos ovos de tambaqui ............................ 27

    Taxa de fertilizao dos ovos de tambaqui ........... 28

    Taxa de ecloso das larvas de tambaqui .............. 29

    Manejo de incubadora ............................................ 29

  • Caracterstica reprodutiva dotambaqui

    Uma potencial espcie de peixe para produo em cativeiro deve

    apresentar algumas caractersticas, como fcil adaptao ao cativeiro,

    aceitao de raes comerciais, rusticidade no manejo, resistncia s

    doenas, reproduo dominada em laboratrio e carne saborosa e atrativa

    ao consumidor.

    O tambaqui se enquadra em muitas dessas caractersticas, e sua

    reproduo em laboratrio j est dominada. Em cativeiro, atinge idade

    reprodutiva entre 4 e 5 anos, com tamanho de 55 cm, sendo que as

    fmeas podem desovar at duas vezes por ano.

    Recomendaes Tcnicaspara a Reproduo doTambaqui

    Danilo Pedro Streit Jnior

    Jayme Aparecido Povh

    Darci Carlos Fornari

    Juliana Minardi Galo

    Luis Ricardo Jayme Guerreiro

    Diego de Oliveira

    Melanie Digmayer

    Leandro Cesar de Godoy

  • 12 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Montagem do plantel dereprodutores

    A estratgia de montagem do plantel de reprodutores deve evitar a

    consanguinidade ou parentesco entre eles. Isso no acontece facilmente,

    pois um casal pode dar origem a centenas de novos reprodutores irmos.

    No passado, uma alternativa adotada para evitar a endogamia era a

    captura de animais selvagens em rios e sua introduo no plantel. Porm,

    atualmente, inmeros problemas e dvidas dificultam esta estratgia,

    como:

    - Os animais so encontrados apenas em lugares remotos, tornando sua

    captura cara e trabalhosa.

    - Leis ambientais para captura e transporte so rigorosas para qualquer

    tipo de ao com animais silvestres.

    - A adaptao em cativeiro pode demorar muito tempo ou nunca

    acontecer, no proporcionando respostas zootcnicas produtivas positivas.

    - A captura de um animal velho que no atingiu o tamanho peculiar

    espcie, por restrio alimentar ou herana gentica, faz com que essa

    caracterstica seja repassada a seus descendentes.

    - A obteno de animais selvagens, geneticamente puros, est cada vez

    mais remota.

    Assim, a disponibilidade de um nmero adequado de animais existentes em

    cativeiro deve ser considerada estratgia de segurana para a produo

    em larga escala da espcie, de forma a garantir alevinos de qualidade para

    as fazendas de engorda. Para formao do plantel, devem-se obter animais

    de diferentes produtores e regies do Brasil, sendo que uma avaliao

    gentica prvia desses animais pode ser realizada por meio de parcerias

    com universidades e centros de pesquisa.

  • 13Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    O processo reprodutivo

    O processo reprodutivo comea bem antes da liberao dos gametas. Na

    verdade, ocorre logo aps a ltima reproduo ou assim que os

    reprodutores atingem a maturidade, entre 2 e 3 anos. Deste modo, a

    preparao dos animais, de forma a permitir uma produo de gametas de

    qualidade durante o perodo reprodutivo, estar diretamente relacionada

    ao manejo, realizado ao longo do ano, qualidade da dieta recebida,

    estocagem adequada dos reprodutores e ao efetivo cuidado com a

    qualidade da gua e bem-estar dos indivduos.

    Identificao do plantel

    A identificao individual no plantel de reprodutores uma maneira

    eficiente de controle da reproduo, que certamente trar um retorno

    considervel na produtividade dos lotes. Nos laboratrios de produo de

    alevinos de tambaqui, esta uma estratgia raramente adotada, porm de

    extrema utilidade. A importncia de se marcar individualmente os

    reprodutores conhecer o potencial reprodutivo de cada animal e

    descartar animais menos produtivos.

    A identificao individual possvel de forma segura e eficiente por meio da

    marcao do animal com microchip (Figura 1), que contm uma combinao

    de nmero e/ou letras e permite fazer um histrico de sua vida.

    Figura 1. Microchip utilizado paraidentificao de reprodutores detambaqui (Colossoma macropomum).

    Foto

    : D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

  • 14 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Figura 2. Demonstrao da aplicao do microchip e do uso do leitor paraidentificao dos reprodutores de tambaqui (C. macropomum).

    Foto

    s: D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

    A aplicao e o monitoramento do microchip so fceis (Figura 2). Porm,

    devem-se tomar alguns cuidados:

    - Os microchips devem ser imersos em soluo de iodo antes de colocados no

    aplicador para introduo nos reprodutores.

    - O microchip deve ser inserido na ponta da agulha do aplicador embebido da

    soluo esterilizadora, para ser introduzido no reprodutor.

    - O local de introduo do microchip dever ser na base da nadadeira dorsal,

    observando-se a inclinao do aplicador (45 ).

    - Antes da introduo do microchip no reprodutor de tambaqui, necessria a

    conteno do animal com o uso de anestsico (benzocana na concentrao

    de 100 ml/L de gua, em banhos de imerso at leve sedao).

    - O leitor de microchip deve ser manejado de forma a fazer a identificao do

    animal.

    - A identificao do animal observada na tela do leitor de microchip. Cabe

    ressaltar que existem inmeros modelos de leitores. Alguns podem realizar a

    leitura de um ou mais de um tipo de microchip.

  • 15Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Monitoramento gentico

    A identificao gentica outra estratgia que pode ser adotada com a

    finalidade de otimizar os ndices reprodutivos. Durante a reproduo, o

    cruzamento dos indivduos dentro de um plantel no deve ser aleatrio. Se

    no houver o conhecimento de quem so os pais dos animais que sero

    utilizados na formao do plantel de reprodutores, poder ocorrer um

    elevado fator endogmico (consanguinidade).

    De modo geral, as tcnicas de biologia molecular com base na utilizao do

    microssatlite ou RAPD permitem mapear a composio gentica de um

    plantel, identificando, assim, os cruzamentos indesejados e evitando o

    aumento da consanguinidade.

    O custo para adotar essas estratgias de identificao individual e

    gentica do plantel dilui-se ao longo do tempo e, indiretamente, trar

    benefcios que podero ser explorados com agregao de valor nos

    alevinos produzidos, garantindo sua procedncia.

    Manuteno do plantel dereprodutores

    A manuteno dos reprodutores deve ocorrer o ano todo. Este manejo diz

    respeito, especialmente, alimentao e densidade de estocagem

    adequada. No caso do cultivo de tambaqui, idade e tamanho devem ser

    priorizados.

    Alimentao

    fato que a aplicao de um manejo alimentar de manuteno dos

    reprodutores ao longo do ano garantir alevinos de qualidade e sadios.

  • 16 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Contudo, informaes cientficas a respeito deste assunto so raras, e o

    manejo praticamente individualizado de cada laboratrio dificulta a

    padronizao de um procedimento ou manejo na piscicultura.

    Sabe-se que a oferta de dieta para os reprodutores modifica-se ao longo do

    ano medida que a fisiologia reprodutiva do tambaqui se altera. Portanto,

    devem-se ministrar trs regimes alimentares aos reprodutores de

    tambaqui: 1) dieta de recuperao logo aps os animais terem sido

    submetidos aos processos reprodutivos; 2) dieta de manuteno ao longo

    do tempo e 3) restrio alimentar antes do perodo reprodutivo, que de

    extrema importncia para uma boa produtividade.

    Por exemplo: se o perodo reprodutivo de uma determinada regio inicia-se

    em outubro e encerra-se em maro, a oferta de alimento deve ser

    generosa, algo como 3% do peso vivo/dia at aproximadamente 90 dias

    antes de outubro, ou seja, at o ms de junho, perodo da vitelognese

    (amadurecimento das gnadas). Animais manejados no incio do perodo

    reprodutivo devem receber a oferta mencionada, enquanto os que ainda

    no foram manejados devem continuar sofrendo restrio alimentar. Por

    isso, a importncia da identificao dos reprodutores com microchip,

    separados em lotes de reprodutores, em diferentes tanques.

    Durante a restrio alimentar, a oferta deve ser de no mximo 0,5% do

    peso vivo/dia, evitando assim o acmulo de gordura na regio abdominal

    comum nas espcies reoflicas (que sobem os rios para se reproduzir). Esse

    acmulo compete por espao com as gnadas e prejudica o

    desenvolvimento dos animais. Para os reprodutores em manuteno, a

    restrio alimentar estimula sua maturao.

    Outra recomendao importante diz respeito a como deve ser oferecida a

    poro de rao diria: dividida em no mximo trs ou quatro partes. O

  • 17Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    ideal distribuir o lano em pelo menos trs pontos distintos do tanque.

    Este manejo evita a interao negativa dos animais, que dificulta o acesso

    dos menores e mais fracos ao alimento, prejudicando a produtividade

    posteriormente. Embora nas espcies reoflicas nativas a hierarquia entre

    os animais no seja to intensa, ela ocorre em maior ou menor intensidade.

    O teor de protena na rao, em geral, de 28% de protena bruta (PB)

    para manuteno e at 36% de PB na fase de vitelognese (antes da

    reproduo).

    Estocagem dos reprodutores de tambaqui

    A estocagem recomendada para os tamanhos de menor porte (at 3 kg)

    pode ser de um peixe/5 m2. Para animais maiores, a densidade de

    estocagem pode chegar a um peixe/10 m2.

    Tamanho dos animais estocados

    O tambaqui, por ser uma espcie de grande porte, dificulta o manejo dos

    reprodutores, tanto na captura quanto na induo hormonal. Quanto

    maiores os reprodutores, maior ser a mo de obra durante a captura,

    tornando dispendioso o processo. Do mesmo modo, ser mais difcil a

    manipulao dos peixes em laboratrio, e a quantidade de hormnios para

    a induo deles ser maior.

    Pode-se imaginar que um animal maior poder produzir um nmero

    significativamente elevado de ovcitos, o que no verdade. A partir de

    certo tamanho, (6 kg a 7 kg), a quantidade de ovcitos fica em torno de

    4% a 5% do peso do animal, enquanto indivduos menores podem chegar a

    12% desse peso.

  • 18 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Manejo de reproduo

    O perodo reprodutivo das espcies reoflicas ocorre historicamente na

    primavera, em locais onde as estaes so claramente definidas. Porm,

    em regies como o Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, a

    reproduo pode ocorrer mesmo em perodos de menor luminosidade,

    como os meses de maio a agosto. O perodo pode estar relacionado,

    especialmente, percepo de quem maneja o plantel, que avalia se os

    animais esto aptos para a reproduo.

    Seleo dos reprodutores

    a) Evitar o estresse dos animais que sero induzidos o principal fator a

    ser considerado. O estresse sofrido pelos animais com as sucessivas

    passadas de redes para a seleo sistematicamente leva a uma reteno

    dos ovcitos. Assim, importante que a estocagem dos animais obedea

    ao que ocorre tradicionalmente durante os diferentes momentos do

    perodo reprodutivo. Por exemplo, em um laboratrio, no plantel de

    tambaqui, existe um grupo de fmeas que sempre esto aptas a liberarem

    gametas nos 15 primeiros dias de setembro, com variao de 7 a 10 dias

    entre cada ano. Assim, esses animais devem estar em tanques separados

    e identificados com microchip. Isso permitir saber quando se deve iniciar

    o manejo de seleo, evitando consideravelmente o estresse dos

    reprodutores, tanto os selecionados quanto os demais que ficaram no

    tanque.

    b) Selecionar os animais com um nmero de pessoas e equipamentos

    adequados fundamental. Isto implica ter condutores experientes no

    manejo da rede de arrasto, especialmente os da extremidade da rede, que

    iro determinar o ritmo de conduo (Figura 3). A rede a ser utilizada para

    a captura deve fundamentalmente ter o tamanho da malha adequado, para

    evitar malhar os animais selecionados. Tambm deve haver equipamento

    adequado para a captura _

    pus, sacolas, luvas, etc. _, os quais

  • 19Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    contribuem decisivamente para a melhor conduo do manejo. Uma boa

    opo a utilizao de sacos plsticos, sempre contendo gua nomomento de transferir o animal da rede at a caixa de transporte. Essemtodo evita a descamao e consequentes ferimentos.

    Figura 3. Captura de reprodutores para induo hormonal.

    c) Na seleo de reprodutores para a induo hormonal, necessriocertificar-se de que os animais estejam em condies ideais, ou seja, aptos

    para a reproduo. Na prtica, se as gnadas no estiverem desenvolvidasat o estgio de maturao adequado, no respondero positivamente induo. O reconhecimento do sexo nos peixes muito difcil,

    especialmente nos reoflicos, a no ser no perodo da reproduo, quandoestas espcies apresentam caractersticas sexuais secundrias. Nasfmeas, por exemplo, o ventre fica mais abaulado e macio, a abertura

    urogenital intumescida, saliente e avermelhada. No entanto, deve-se tomarcuidado para no confundir o ventre abaulado de fmeas aptas para adesova com peixes recm-alimentados ou gordos. Os machos liberam

    algumas gotas de smen, quando pressionados levemente no abdmen, nosentido do oprculo para o poro urogenital. Estas caractersticas podem

    ser vistas na Figura 4.

    Foto

    : D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

  • 20 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    d) O transporte dos animais do tanque at o laboratrio para aplicao

    hormonal deve ser o mais rpido e cuidadoso possvel (Figura 5). A caixa

    de transporte deve conter gua limpa com oxignio, na mesma

    temperatura da gua do viveiro. Da mesma forma, deve-se tomar esse

    cuidado no laboratrio.

    Figura 5. Captura e transporte dos reprodutores para o laboratrio. Cuidado aomanipular os peixes (A). Acomodao do peixe nas malhas de transporte (B). Detalhedo peixe totalmente imobilizado e protegido (C).

    Figura 4. Caractersticas reprodutivas visualizadas nos reprodutores detambaqui (A). Detalhe do poro urogenital avermelhado e intumescido dafmea (B). Detalhe do ventre abaulado da fmea (C). Presso no ventre dosmachos para verificar espermiao (D).

    Foto

    s: L

    us

    Ric

    ardo

    J.

    Gue

    rrei

    roFo

    tos:

    Lu

    s Ric

    ardo

    J.

    Gue

    rrei

    ro

  • 21Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Induo hormonal

    Os peixes reoflicos, quando em cativeiro, necessitam de um estmulo

    hormonal exgeno, uma vez que, em confinamento, no ocorrem a

    maturao final do ovcito e a desova espontnea das fmeas nos

    tanques, ou a liberao de uma boa quantidade de smen. A utilizao do

    hormnio permite que o peixe continue o desenvolvimento ovocitrio at a

    liberao. Caso no ocorra a induo hormonal em peixes maduros, estes

    ovcitos sero reabsorvidos em um processo conhecido como regresso

    gonadal.

    Hipofisao

    O extrato de hipfise tem uma grande vantagem, sua praticidade. Sua

    manipulao relativamente simples, o que reflete a larga utilizao no

    Pas. comercializado liofilizado, em um frasco mbar, livre de umidade. O

    mais utilizado o extrato de hipfise de carpa.

    Para obteno dos gametas, inicialmente, calcula-se a quantidade de

    extrato de hipfise a ser injetado com base no peso do animal. Para a

    fmea, adotamos a utilizao de 5,5 mg de extrato de hipfise/kg do peso

    vivo e, para os machos, 2,5 mg de extrato de hipfise/kg de peixe vivo.

    Assim, uma fmea de tambaqui pesando 5 kg e um macho da mesma

    espcie com 3 kg precisaro de, respectivamente, 27,5 mg e 7,5 mg de

    hipfise.

    Aps a etapa de clculo da quantidade de extrato de hipfise a ser

    utilizada em cada um dos sexos, a hipfise liofilizada pesada e macerada

    em um graal, adicionando-se uma gota de vaselina ou glicerol para

    melhorar a macerao, at transformar as hipfises em uma massa (Figura

    6). Feito isso, hora de passar o estado slido para um veculo que seja

    capaz de conduzi-lo ao interior dos animais. Para isso, utiliza-se o soro

  • 22 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    fisiolgico de 0,7% a 0,9%, que dilui o macerado de extrato de hipfise.

    Estima-se que, para cada 4 mg de extrato de hipfise, utiliza-se 1 ml de

    soro fisiolgico. De acordo com o exemplo acima, uma fmea necessita de

    6,5 ml de soro fisiolgico e o macho, 1,75 ml.

    Figura 6. Material para preparo do extrato de hipfise.

    A soluo hormonal injetada sob a nadadeira peitoral do animal,

    intramuscular ou intraperitoneal. Salienta-se que a agulha deve ser

    conduzida da cabea em direo cauda, para desviar do corao.

    Para a fmea, 10% da dose total aplicada inicialmente e, aps 12 horas,

    o restante. No exemplo, as fmeas recebem inicialmente 0,65 ml e

    5,85 ml 12 horas depois. Nos machos, a dose total deve ser aplicada no

    momento da segunda aplicao das fmeas. O tempo varia em funo da

    temperatura da gua e chamado de hora-grau (soma do total de horas a

    uma temperatura mdia da gua). Para o tambaqui, a mdia de

    215 horas-grau/temperatura mdia de 28,05 C, podendo variar de 200

    a 300 horas-grau segundo o manejo e a qualidade dos reprodutores

    utilizados.

    Foto

    : D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

  • 23Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Caso o intervalo de horas entre as duas aplicaes nas fmeas seja muito

    extenso, pode ocorrer a reabsoro dos ovcitos, em funo do estresse a

    que as fmeas so submetidas. A liberao ainda poder ocorrer de forma

    espontnea no aqurio. Isso acontece geralmente no final do perodo

    reprodutivo. Evita-se a liberao dos ovcitos realizando uma sutura sobre

    o poro urogenital (Figura 7).

    Figura 7. Sutura do poro urogenital, para evitar a desova espontneano aqurio.

    Extruso dos gametas

    A partir da hora-grau estabelecida, aps a segunda induo nas fmeas,

    deve ser verificado se elas esto aptas a liberar os vulos (desova) e se os

    machos esto aptos a liberar o esperma (espermiao). O reprodutor

    retirado do aqurio cuidadosamente para evitar estresse e perda de

    ovcitos. Se possvel, interessante anestesiar o animal. Em seguida, o

    animal deve ser colocado em uma superfcie macia, enrolado em pano

    seco. realizada a massagem abdominal, no sentido da cabea para

    cauda, observando fcil liberao de vulos nas fmeas (Figura 8) ou de

    uma boa quantidade de esperma nos machos.

    Foto

    : D

    arci

    Car

    los

    Forn

    ari

  • 24 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Os vulos so recolhidos em uma vasilha limpa e seca, para evitar a

    hidratao dos ovcitos e consequente fechamento da micrpila (regio por

    onde o espermatozoide entra), reduzindo sensivelmente a taxa de fertilizao.

    O smen deve ser colocado sobre os ovcitos recolhidos (Figura 9). O smen

    de tambaqui tem a concentrao de 8,5 x 109 espermatozoides/ml,

    considerada alta. Para boa fecundao, a quantidade de espermatozoides por

    ovcito 90.000. Dessa forma, 1,0 ml de smen capaz de fertilizar 95.000

    vulos. Cada grama de vulos de tambaqui contm cerca de 1.200 ovcitos;

    portanto, 1,0 ml de smen de boa qualidade poder fecundar 80 g de

    ovcitos.

    Figura 8. Extruso dos vulos de fmea de tambaqui (A, B, C e D). Coleta de smen demacho de tambaqui (E e F).

    Figura 9. Fertilizaodos vulos comsmen de tambaqui(a quantidade desmen utilizada parafertilizar os ovcitosest adequada) (A).Manejo parafertilizao induzidacom pena (B).

    Foto

    s: L

    us

    Ric

    ardo J

    aym

    e G

    uer

    reiro

    Foto

    s: D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

  • 25Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    A quantidade de smen para a fertilizao dos ovcitos deve ser bem

    medida. Uma alquota diminuta poderia causar uma subfertilizao

    (quantidade insuficiente de espermatozoides para a massa de vulos); j

    uma alquota exagerada poderia causar uma superfertilizao

    (polispermia). As duas situaes provocam uma baixa taxa de fertilizao.

    Hidratao e ativao do smen

    A hidratao outro passo importante. Deve-se ter em mente que pouca

    gua no ativa todos os espermatozoides, assim como uma grande

    quantidade de gua poder diluir sensivelmente o smen, dificultando a

    penetrao do espermatozoide na micrpila. O volume de gua deve ser

    em torno de 10 vezes o volume do ovcito, portanto, 100 g de ovcitos

    recebem 1000 ml de gua. Um a dois minutos aps a fecundao, os ovos

    j podem ser transferidos para a incubadora (Figura 10).

    Figura 10. Hidratao dos ovos aps fertilizao (A). Colocao dos ovos naincubadora (B).

    Foto

    : D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

    Foto

    : Ju

    liana

    Min

    ardi

    Gal

    o

  • 26 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Sistema de desova seminatural

    Este um processo de obteno dos gametas cada vez mais popularizado

    em razo de alguns motivos, dentre os quais o bem-estar dos animais, a

    menor perda de reprodutores, a manuteno da variabilidade gentica na

    prole obtida, o manejo menos trabalhoso e melhores taxas de fertilizao e

    ecloso. Todavia, deve ser destacado que, nesse processo, os animais

    devem estar em um fator de condio excelente, ou seja, bem alimentados

    e manejados durante o perodo de preparao dos animais.

    O procedimento para a reproduo seminatural semelhante ao descrito

    anteriormente, at a segunda induo hormonal. Aps este passo, os

    animais devem ser conduzidos para um tanque redondo, com um sistema

    de gua que produza um fluxo corrente, simulando uma correnteza. Este

    tanque redondo deve possuir uma cavidade inferior cncava, com um ralo

    no meio para o escoamento dos ovos medida que machos e fmeas,

    nadando juntos, liberem os gametas e propiciem a fertilizao. Os ovos de

    tambaqui, depois de fecundados, vo para o fundo do tanque, da a

    importncia do fundo cnico com um ralo no centro. Outro fator

    importante a velocidade da gua que entra para permitir a formao da

    correnteza. Esta velocidade deve ser tal que produza uma corrente contra

    a qual os animais nadem, sendo estimulados a liberar os gametas, mas no

    deve ser muito forte para ocorrer choque mecnico entre os ovos (Figura 11).

    Deve-se ressaltar que, independentemente do nmero de animais

    estocados no tanque de reproduo seminatural, a proporo entre

    machos e fmeas deve ser de 1:1.

    Os ovos que so captados no ralo, localizado no fundo cnico do tanque

    redondo, so conduzidos pela tubulao por gravidade para uma

    incubadora abaixo da linha do tanque. Assim, ficam retidos e em seguida

    so levados para as incubadoras definitivas, onde os embries continuaro

    a se desenvolver.

  • 27Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Incubao dos ovos de tambaqui

    Este o processo final de toda a etapa que comea com a preparao dos

    reprodutores. A incubao vai depender essencialmente de uma boa

    qualidade da gua (temperatura, oxignio, pH, dureza, alcalinidade, etc.) e

    da velocidade de seu fluxo.

    Parmetros como oxignio, dureza e alcalinidade so bem semelhantes

    para todas as espcies. O ideal a utilizao de gua com cerca de

    5 mg a 7 mg de oxignio dissolvido/litro, dureza e alcalinidade acima

    de 30 mg/L, pH entre 7 e 8 e temperatura entre 26 C e 29 C.

    Outro aspecto que deve ser considerado durante a incubao dos ovos de

    tambaqui diz respeito velocidade da gua que abastece as incubadoras.

    Figura 11. Sistema de desova seminatural. Tanque coberto para aclimatao dosanimais (A). Tanque circular para nado pareado dos animais durante a liberao dosgametas (B). Detalhe do tanque (C). Detalhe do ralo onde so captados os ovos (D).Entrada de gua no sistema (E).

    Foto

    : L

    gia

    Uribe

  • 28 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    O choque mecnico entre os ovos ocorre em funo de uma velocidade

    muito alta da gua que abastece as incubadoras. Por outro lado, uma

    velocidade pequena fatalmente incorre na infestao da superfcie

    externa do crion com esporos de fungos, alm da possibilidade de os

    embries no estarem sendo supridos com uma quantidade suficiente de

    oxignio. Assim, durante a incubao, a velocidade divide-se em trs

    partes: no primeiro tero, de 1 a 2 L/minuto; no segundo tero, de 3 a 4

    L/minuto; no tero final, de 5 a 6 L/minuto.

    Taxa de fertilizao de ovos de tambaqui

    Este um procedimento bastante corriqueiro e deve ser realizado de

    maneira bastante rigorosa, pois essa estimativa trar uma boa noo da

    produo obtida. Assim, deve ser realizada aps seis horas de

    incubao.

    Uma alquota ou pequena poro deve ser retirada da incubadora com

    uma mangueira. Coloca-se uma amostra em uma placa de Petri para

    contagem dos ovos viveis. Essa operao deve ser realizada pelo

    menos trs vezes, com alquotas diferentes. Em mdia, contam-se 100

    ovos de cada amostra, soma-se e tira-se uma mdia dos ovos gorados

    ou vivos (Figura 12) para o clculo da taxa de fecundao.

    Figura 12. Ovo vivo (A) com 80% de epibolia (crescimento do embrio dentro daclula, ultrapassando a parede que envolve o ovo) e ovo gorado (B) de tambaqui.

    Foto

    s: D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r

  • 29Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Taxa de ecloso das larvas de tambaqui

    Do mesmo modo que a taxa de fertilizao, a taxa de ecloso deve ser

    estimada atravs de trs alquotas, contando-se 100 estruturas (ovos

    gorados ou larvas pr-eclodidas) de cada uma. A taxa ser o nmero

    mdio de larvas eclodidas dividido por trs leituras. muito importante

    que esta avaliao seja feita um momento antes da ecloso das larvas.

    Neste momento, as larvas esto em movimento a fim de sair do crion

    que ainda existe. Os ovos que esto gorados esto esbranquiados, sem

    vestgios de embries. Devemos lembrar que este clculo no preciso,

    pois mesmo aps a ecloso um percentual de at 5% (aceitvel) de

    larvas tortas pode ser admitido e estas no conseguiro crescer a ponto

    de virarem alevinos/juvenis.

    Manejo de incubadora

    Aps a ecloso, a limpeza da incubadora a parte mais importante,

    devendo ser realizada por uma pessoa treinada com cuidado. Deve-se

    cortar o fluxo de gua por alguns minutos de forma que todo o resduo

    de crion decante. Depois, preciso certificar-se de que as larvas

    estejam na superfcie da gua, desconectar a mangueira de alimentao

    de gua da incubadora e, rapidamente, baixar o nvel da gua de forma

    a sifonar o resduo decantado, retornando, imediatamente, a mangueira

    ao registro e ajustando-se o fluxo da gua (Figura 13).

    A larvicultura nas incubadoras pode levar de 6 a 10 dias, quando as

    larvas devem ser transferidas para um viveiro preparado para receb-las.

  • 30 Recomendaes Tcnicas para a Reproduo do Tambaqui

    Figura 13. Manejo das incubadoras no sistema de reproduo seminatural. Incubadorapara coleta de ovos (A). Incubadora funcionando (B). Coleta de ovos (C). Ovosprovenientes da reproduo em sistema seminatural (D).

    Foto

    s: D

    anilo

    Ped

    ro S

    trei

    t J

    nio

    r