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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pedagogia

Ana Paula Marques dos Santos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO

INFANTIL ATRAVÉS DO CULTIVO DE UMA

HORTA

LINS – SP

2013

ANA PAULA MARQUES DOS SANTOS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL ATRAVÉS DO CULTIVO

DE UMA HORTA

Projeto de Pesquisa apresentado como

exigência parcial do curso de Pedagogia

do Centro Universitário Católico Salesiano

Auxilium, sob orientação da Profª Ma.

Elisete Peixoto de Lima e orientação

técnica pela Profª Esp. Érica Cristiane dos

Santos Campaner.

LINS – SP

2013

Santos, Ana Paula Marques Educação ambiental: aplicada na educação infantil através do

cultivo de uma horta / Ana Paula Marques dos Santos. – – Lins, 2013.

49p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2013.

Orientadores: Elisete Peixoto de Lima; Érica Cristiane dos Santos Campaner 1.Educação Ambiental. 2. Educação infantil. 3. Horta escolar. 4. Educação alimentar. I Título.

CDU 37

S233e

ANA PAULA MARQUES DOS SANTOS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL ATRAVÉS DO CULTIVO

DE UMA HORTA

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

Aprovada em: _____/_____/_______

Banca Examinadora:

Profª Orientadora: Ma. Elisete Peixoto de Lima.

Titulação: Mestra em Odontologia – Saúde Coletiva pela Universidade do

Sagrado Coração - USC, Bauru - SP.

Assinatura: _____________________________

1º Prof(a): _______________________________________________________

Titulação: _______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura: _____________________________

2º Prof(a): _______________________________________________________

Titulação: _______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura: _____________________________

DEDICATÓRIA

A MINHA FAMÍLIA

Por compreender a importância dos estudos para minha vida profissional

e, consequentemente, para nosso futuro.

Minha mãe Maria Aparecida Nunes Marques, que me ajuda com os

cuidados da casa, nos momentos em que estou ausente.

Meu marido Leandro Henrique dos Santos e minhas filhas gêmeas

Amanda Marques de Oliveira e Roberta Marques de Oliveira, que entendem a

necessidade que eu tenho de sair de casa, todos os dias, para frequentar as

aulas.

A meu pai José Marques, pelo carinho e apoio.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por colocar em meu caminho, mais uma

oportunidade, de concluir uma graduação com saúde e disposição.

A todos da turma de Pedagogia de 2013, primeira turma do PARFOR,

pela amizade. Foi uma convivência muito rica de aprendizagens com pessoas

que já trabalham na área da educação.

A Cacilda Zavan, diretora da EMEI Maria Aparecida da Silva Elias, por

permitir que eu realizasse a pesquisa nesta escola.

A minha amiga de trabalho Ana Lúcia Ferreira, que me acompanhou e

ajudou com as crianças, todos os dias, para cuidar da horta.

A todos os professores do curso de Pedagogia que contribuíram para

minha formação, em especial, a professora Elisete Peixoto de Lima e a

professora Érica Cristiane Campaner, que me auxiliaram no desenvolvimento

deste trabalho de conclusão de curso.

RESUMO

A Educação Ambiental tem como objetivo a construção do conhecimento da natureza, formação de atitudes e desenvolvimento de habilidades que resultem em práticas de cidadania para garantir uma sociedade sustentável. A reflexão sobre o ambiente que nos cerca e sobre as atitudes e responsabilidades de cada um de nós, produz processos educativos contextualizados e significativos para os envolvidos. A educação geral contribui para a construção da sociedade, por isso é necessário um trabalho de qualidade sobre educação ambiental com as crianças para que possam auxiliar na preservação do meio ambiente. Os valores e atitudes construídos na primeira infância determinarão os comportamentos éticos e morais ao longo da vida. Para que as próximas gerações cuidem do planeta é preciso trabalhar, desde a educação infantil, por exemplo, o estudo da natureza e da interdependência entre o ser humano e o ambiente. Cultivar uma horta na escola é uma experiência concreta de aprendizagem que traz benefícios para o desenvolvimento de cada aluno, é uma das melhores maneiras de tornar as crianças capazes de contribuir com um futuro sustentável, além de incentivá-las ao consumo de alimentos saudáveis. A escola é o melhor agente para promover a educação alimentar, pois é na infância que se estabelecem atitudes e práticas alimentares difíceis de modificar na idade adulta. Por esse motivo a educação infantil tem um papel importante no desenvolvimento de bons hábitos alimentares das crianças. A pesquisa foi feita com base no projeto de cultivo de uma horta realizada na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Maria Aparecida da Silva Elias, modalidade creche, no município de Lins, com alunos de 3 a 4 anos. Através da horta foi possível ampliar o vínculo entre as crianças e o meio ambiente e contribuir para o desenvolvimento de boas práticas alimentares. Palavras-chave: Educação ambiental. Educação infantil. Horta escolar. Educação alimentar.

ABSTRACT

Environmental education aims to build knowledge of nature, forming attitudes and skills development that result in citizenship practices to ensure a sustainable society. Thinking about the environment around us and on the attitudes and responsibilities of each of us, produces educational processes contextualized and meaningful to those involved. General education contributes to society construction, and it’s necessary a quality work on environmental education with children so they can help preserve the environment. The values and attitudes constructed in early childhood determine ethical behavior and moral lifelong. For the next generations to take care of the planet it takes work, from early childhood education, for example, the study of nature and the interdependence between humans and the environment. Plant a vegetable garden at the school is a concrete experience of learning that is beneficial to the development of each student, is one of the best ways to make children able to contribute to a sustainable future, and encourage them to healthy food consumption. The school is the best agent to promote food education, as it is in childhood that is established attitudes and eating habits difficult to change in adulthood. For this reason early childhood education has an important role in the development of good eating habits of children. The research was based on the project of growing a garden held in Municipal School of Early Childhood Education (EMEI) Maria Aparecida da Silva Elias, mode daycare, In the city of Lins, with 3-4 years students. Through the vegetable garden was possible to increase the bond between children and the environment and contribute to the development of good eating habits. Keywords: Environmental education. Childhood education. School vegetable garden. Food literacy.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Conversa sobre a horta ........................................................... 38

Figura 2: Plantio das sementes nos canteiros ........................................ 39

Figura 3: Plantio das sementes nos canteiros ........................................ 39

Figura 4: Rega dos canteiros .................................................................. 40

Figura 5: Rega dos canteiros .................................................................. 40

Figura 6: Retirada de folhas e matos dos canteiros ................................ 41

Figura 7: Colheita da rúcula .................................................................... 42

Figura 8: Higienização das verduras ....................................................... 42

Figura 9: Degustação das verduras ........................................................ 43

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Organização dos alunos na EMEI ............................................ 35

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................ 10

CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................. 12

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL ................. 12

CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO AMBIENTAL, INFANTIL E ALIMENTAR .. 22

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) ... 22

2.1 A Educação Ambiental no contexto da Educação Infantil ............... 26

2.2 A educação alimentar no contexto da Educação Infantil ................ 30

2.3 A horta escolar como estratégia interdisciplinar de educação

ambiental e alimentar ............................................................................... 32

CAPÍTULO III - PROJETO HORTA NA EMEI MARIA APARECIDA DA

SILVA ELIAS - MODALIDADE CRECHE ............................................... 35

3 A EMEI MARIA APARECIDA DA SILVA ELIAS –

MODALIDADE CRECHE ........................................................................ 35

3.1 Projeto Horta ................................................................................... 36

3.2 Objetivos ......................................................................................... 36

3.2.1 Objetivos específicos ....................................................................... 36

3.3 Métodos .......................................................................................... 37

3.4 Técnicas .......................................................................................... 37

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ............................................................ 44

CONCLUSÃO .......................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 46

APÊNDICES ............................................................................................ 48

INTRODUÇÃO

Muitos educadores têm buscado cumprir o papel importante de

desenvolver nas crianças o compromisso com o cuidado do ambiente, tanto do

espaço interno e externo da sala ou da escola, quanto das relações humanas

como o afeto e respeito consigo, com o outro e com o mundo.

Através da educação ambiental é possível construir conhecimentos e

habilidades, além de formar atitudes que serão transformadas em práticas de

cidadania auxiliando na garantia de uma sociedade sustentável.

A educação ambiental não é apenas um conteúdo transversal, é um

conjunto de ideias, que conduz a uma melhor qualidade de vida e a

preservação de um ecossistema equilibrado para todos os seres vivos.

A educação geral contribui para construção da sociedade, por isso é

necessário um trabalho de qualidade sobre educação ambiental com as

crianças para que possam auxiliar na preservação do meio ambiente, para as

atuais e futuras gerações.

Os primeiros anos de vida constituem-se no melhor período para

desenvolver atitudes e valores que construirão a base da personalidade. Nessa

fase, os valores e atitudes desenvolvidos determinarão os comportamentos

éticos e morais ao longo da vida. Portanto, para que as próximas gerações

cuidem do planeta é preciso trabalhar na educação infantil o estudo da

natureza e da interdependência entre o ser humano e o ambiente.

Neste contexto, o cultivo de hortas escolares pode se tornar um rico

instrumento educativo. Experiências de contato com o solo, a descoberta de

diversas formas de vida que ali existem, o encanto com as sementes que

brotam como mágica, o cuidado diário de regar e tirar matinhos, a espera até

que a natureza transforme as sementes em verduras e legumes podem fazer

de pequenos espaços da escola cantos de muito aprendizado, além de

proporcionar uma alimentação saudável às crianças.

As hortas escolares podem abordar diferentes conteúdos curriculares de

forma significativa e contextualizada e promover vivências que resgatam

valores.

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O objetivo dessa pesquisa foi promover o contato das crianças de 3 a 4

anos da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Maria Aparecida da

Silva Elias com o meio ambiente, estimulando-as a cuidar dos vegetais de uma

horta escolar e a adquirir bons hábitos alimentares, levando-as a compreender

a importância dos cuidados com os seres vivos.

Diante do exposto, chegou-se á seguinte questão:

Por meio do cultivo de uma horta é possível desenvolver nas crianças o

interesse pelo cuidado com o ambiente, além de incentivá-las ao consumo de

alimentos saudáveis?

Em resposta a este questionamento, pode-se levantar a seguinte

hipótese: o cultivo de uma horta escolar é uma experiência concreta que pode

auxiliar crianças na faixa etária de 3 a 4 anos a compreender a importância da

natureza como produtora de alimentos saudáveis, além de contribuir para que

as mesmas estabeleçam relações entre o meio ambiente e o ciclo vital dos

seres vivos.

Para a realização da pesquisa foram utilizados os métodos de revisão

bibliográfica e estudo de caso.

O trabalho está assim estruturado: Capítulo I: trata os conceitos teóricos

e legais sobre a educação infantil. Capítulo II: apresenta a fundamentação

teórica sobre a educação ambiental, infantil e alimentar e Capítulo III: descreve

e analisa a pesquisa realizada na EMEI Maria Aparecida da Silva Elias.

Por fim, vem a proposta de intervenção e a conclusão.

11

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO INFANTIL

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

As leis aplicadas à educação infantil, como a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB – Lei 9.394/96), são consequência da Constituição

Federal de 1988, que definiu em seu artigo 227:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, p. 93)

A Constituição Federal reconheceu a criança como um cidadão em

desenvolvimento e garantiu que é dever do Estado sua educação, com

atendimento em creche e pré-escola, na faixa etária entre zero e cinco anos de

idade.

Segundo a LDB, em seu artigo 29:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996, p. 10)

Essa condição rompe a tradição assistencialista presente na área e

requer uma análise acerca de quais são os modelos de qualidade para a

educação dessa faixa etária. As creches e pré-escolas são instituições de

caráter educacional e não simplesmente assistencial, como já foram

consideradas.

A creche e a pré-escola têm, portanto, uma função de complementação e não substituição da família como muitas vezes foi entendido. Assim, elas deverão integrar-se com a família e com a comunidade para que juntas possam oferecer o que a criança necessita para seu desenvolvimento e para sua felicidade. (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 24)

12

A LDB (1996) determina, ainda, que as instituições de educação infantil

precisam ter um plano pedagógico elaborado pela instituição juntamente com

os educadores, que deverão ter curso superior ou, no mínimo, curso normal

com especialização em educação infantil. Para os que já trabalham em creches

e pré-escolas, sem a formação exigida, cabe aos Conselhos Estaduais de

Educação promover a formação em serviço e qualificar para a função de

educador infantil.

Os sistemas de ensino estão subordinados aos governos e no caso da

educação infantil, a principal responsabilidade é do Município ou do Estado,

quando o município não possuir sistema de ensino.

Do ponto de vista legal, a educação das crianças até seis anos de idade

é tratada como assunto de maior importância pelos organismos internacionais,

da sociedade civil e pelo governo federal. (ANTUNES, 2004)

Oliveira (2008) afirma que no Brasil, algumas instituições públicas ainda

têm dado prioridade de matrícula aos filhos de trabalhadores de baixa renda,

alegando a ideia de risco social. O argumento é que a educação infantil deve

ser de assistência às famílias para que os pais possam trabalhar

despreocupados com os cuidados básicos de que seus filhos necessitam. Por

outro lado, as classes sociais privilegiadas sustentam a noção de que a creche

e a pré-escola devem garantir a aprendizagem e o desenvolvimento global das

crianças desde o nascimento.

Como se há de aprofundar, a ideia de que há prioridade de guarda para as crianças de famílias de baixa renda e de educação para as de classe média estabelece uma oposição enganosa: não é possível ter a guarda das crianças sem as educar, e educá-las envolve também tomar conta delas. (OLIVEIRA, 2008, p. 37)

É preciso superar a maneira com que a creche e a pré-escola são

tratadas. A primeira, em geral, administrada pelos organismos que cuidam da

assistência social e a segunda sob os cuidados dos órgãos educacionais.

Nesse sentido, a construção de propostas pedagógicas para creches e

pré-escolas confirma a importância da especificidade da ação educativa para

as modalidades de ensino, a fim de promover o desenvolvimento das crianças

das diferentes classes sociais.

Atualmente, as instituições de educação infantil são indispensáveis na

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sociedade, tanto como resultado de uma forma moderna de ver a criança,

quanto pela solução para as novas formas de organização familiar e da

participação das mulheres no mercado de trabalho.

As creches e pré-escolas não podem substituir a família e nem antecipar

a escolarização tradicional. Mesmo reconhecendo que as instituições públicas

sejam responsáveis por fornecer alimentação para as crianças com

desigualdade de recursos, além de garantir o acesso de homens e mulheres ao

mercado de trabalho, outros programas devem ser oferecidos pelo poder

público às famílias que pertencem às camadas populares. (OLIVEIRA, 2008)

Quando se trata de crianças das classes populares, muitas vezes, a prática tem se voltado para as atividades que têm por objetivo educar para a submissão, o disciplinamento, o silêncio, a obediência. De outro lado, mas de forma igualmente perversa, também ocorrem experiências voltadas para o que chamo de “escolarização precoce”, igualmente disciplinadoras no seu pior sentido. (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 16)

Segundo Oliveira (2008), as concepções existentes sobre a educação

infantil têm influências políticas próprias, visto que a família, os educadores e

os responsáveis pelas políticas públicas alimentam expectativas e metas

acerca das habilidades próprias de cada criança, opostas em relação ao que

ela deve alcançar e que são fortemente condicionadas pela classe social da

população atendida.

Um modelo democrático de educação não deve marginalizar e excluir

crianças de segmentos sociais que não têm acesso a uma educação de

qualidade, e sim educar meninos e meninas de culturas diferentes articulando

os diversos contextos de vivência e desenvolvimento.

A escola de educação infantil pode transmitir conhecimentos formados

pelo conjunto das relações sociais presentes no momento. Isso deve ser feito

na convivência com parceiros significativos transmitindo à criança novas

maneiras de compreender o mundo.

As creches e pré-escolas precisam buscar aproximar a cultura,

linguagem, cognição e afetividade como elementos que constituem o

desenvolvimento humano e saber que a sociabilidade, a afetividade e a

criatividade das crianças têm muitas raízes. Elas não devem ser instituições

autoritárias e distantes da família. A socialização é uma maneira eficiente de

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adaptar a cultura dominante. (OLIVEIRA, 2008)

Capra (2008) ressalta que a aprendizagem envolve, além do cérebro e

do sistema nervoso, toda a fisiologia do corpo. A função das emoções é

fundamental.

Na educação, as emoções sempre foram consideradas importantes, porém essencialmente distintas do raciocínio. Descobertas científicas recentes nos forçaram a mudar drasticamente esta visão. (CAPRA, 2008, p. 30)

Para os cientistas, a emoção e a cognição interagem continuamente,

alimentando-se e moldando-se mutuamente. O que se aprende é influenciado e

organizado pelas emoções. Por isso, um ambiente emocionalmente seguro é

fundamental para a aprendizagem.

Uma nova visão do processo de aprendizagem também abrange o

reconhecimento de que toda aprendizagem é essencialmente social. Cada

pessoa está inserida em um sistema social, em uma comunidade. Grande parte

da aprendizagem adquirida por um indivíduo depende da comunidade a que

ele pertence.

Estimula-se a cuidadosa observação de diferenças e a descoberta de que estas não implicam em hierarquia de valores e, ao descobri-las, as crianças podem elaborar a compreensão de que vivemos em uma sociedade multiétnica e em um meio multicultural. (ANTUNES, 2004, p. 37)

Craidy; Kaercher (2001) afirmam que a educação infantil envolve dois

processos complementares e indispensáveis: educar e cuidar. As crianças

pequenas necessitam de atenção, carinho e segurança, sem os quais

dificilmente poderiam sobreviver. Ao mesmo tempo, nessa fase, elas tomam

contanto com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as

pessoas e com as coisas, e com as formas de expressão ocorridas.

Essa inclusão das crianças no mundo só é possível através das

atividades voltadas, simultaneamente, para cuidar e educar. Não só o cuidar,

mas o educar também é uma forma de acolher. Os cuidados fornecidos na

creche e na pré-escola, além do atendimento das necessidades físicas das

crianças, devem incluir um ambiente com oportunidades de exploração e

construção de sentidos pessoais. Nesses ambientes de educação a criança

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sente que existe uma preocupação com seu bem estar.

A educação infantil deve ver a criança como sujeito que vive um mundo

em que prevalece o sonho, a fantasia, a afetividade e a brincadeira. Por

envolver, simultaneamente, cuidar e educar deve ter características que

marcam sua identidade como instituição diferente da família e da escola

voltada para a criança do ensino fundamental. (CRAIDY; KAERCHER, 2001)

A forte influência na área de educação infantil de uma história higienista de priorização de cuidados de saúde, e assistencialista, que ressalta o auxílio a populações de risco social, tem feito com que as propostas de creches e pré-escolas oscilem entre uma ênfase maior ou no cuidar ou no educar, apresentando dificuldades para integrar as duas tarefas. Essa visão, contudo, merece ser analisada. (OLIVEIRA, 2008, p. 47)

Para Craidy; Kaercher (2001) o que se tem observado, na prática, é que

tanto os cuidados quanto a educação não têm sido entendidos como deveriam.

Cuidar significa, na maioria das vezes, realizar atividades de necessidades

primárias: higiene, sono e alimentação. Quando uma sociedade exige trabalho

de mães, pais ou responsáveis por crianças, tem a obrigação de proporcionar

ambientes adequados, com pessoas preparadas para oferecer experiências

desafiadoras e aprendizagens apropriadas às crianças de cada idade.

Esses ambientes são organizados para que, homens e mulheres que

também são pais e mães, possam desempenhar, de forma mais ampla, seus

papéis como tal, mas também como cidadãos trabalhadores. Observar os

cuidados dessa forma talvez ajude na percepção de que eles são

indissociáveis de um projeto educativo para a criança. (CRAIDY; KAERCHER,

2001)

Por outro lado, as interações das crianças com as pessoas e as coisas

do mundo levam-nas a dar significado àquilo que as cerca. A educação é,

portanto, um processo que faz com que a criança participe de uma experiência

cultural que é própria do seu grupo social, dentro de um ambiente de cuidados,

de afetividade e de um contexto material que lhe de suporte.

Na educação infantil é essencial que os temas sejam abordados de

forma lúdica, por meio de jogos simbólicos e do faz de conta. Deve-se

trabalhar, não só com a fantasia e a imaginação, mas também com a

observação, as comparações, as medidas, os registros escritos, os desenhos,

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as modelagens e as colagens.

A educação não pode ser vista como um processo de transmissão

cultural, e sim como um processo de produção de sentidos e criação de

significados. Nesse contexto, o currículo é a forma como as instituições

escolares se organizam para produzir esses processos.

Um currículo, para ser produtivo e interativo, deve ser constituído pelo

que as crianças e professores produzem ao trabalhar com os diversos

elementos da vida das crianças ou com experiências de outros grupos, que são

trazidas para a creche ou pré-escola, e não um currículo constituído por

informações, conceitos e princípios que são passados para os alunos.

Esta ideia de produção do conhecimento, na experiência escolar, se aplica a todas as etapas do processo que se realiza nas instituições educativas, incluindo também aquelas dedicadas à educação infantil. Por essa razão, a experiência de educação das crianças já desde a creche implica a existência de um currículo. (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 19)

O currículo faz parte de uma tradição cultural, ou seja, daquilo que um

grupo concebe e valoriza; é uma forma de transmitir uma herança para as

novas gerações; algo que se modifica para se ajustar aos novos tempos, às

novas ideias, às novas tecnologias, às influências culturais e às crises

mundiais. Mas essas ideias, relativamente recentes, dificilmente tem tido efeito

nas novas propostas curriculares.

Antunes (2004) ressalta que o currículo deve considerar a diversidade

social e cultural das populações infantis, o grau de desenvolvimento da criança

e os conhecimentos que se desejam tornar comum. Para ele, nenhuma

atividade proposta emerge como ação acidental. Todas as ações previstas

fazem parte de um plano, um projeto selecionado, aberto à permanente

reconstrução. Esses projetos não podem se afastar da certeza de que a

personalidade estrutura-se nos primeiros anos de vida.

O projeto pedagógico elaborado pelas creches e pré-escolas deve ser

comprometido com padrões de qualidade. Isso não quer dizer que deva ser

fixo, mas negociável de forma que garanta os direitos e o bem-estar das

crianças.

Segundo Oliveira (2008), um dos riscos de uma proposta pedagógica

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para a educação infantil é o de se institucionalizar a infância, ou seja, regulá-la

em excesso ou prevalecer a espontaneidade sem limites.

A proposta pedagógica para creche e pré-escola deve contemplar a

atividade educativa como uma ação proposital e dirigida para ampliar o

universo cultural das crianças, levando-as a compreender a realidade,

capacitando-as a agir de modo transformador.

Deve organizar condições para a interação das crianças com outras

crianças e com os adultos em diversas situações, criando significações sobre o

mundo e si mesmas, além de desenvolver formas mais complexas de pensar,

sentir e solucionar problemas com autonomia e cooperação. “Podem as

crianças, assim, constituir-se como sujeitos únicos e históricos, membros de

famílias que são igualmente singulares em uma sociedade concreta.”

(OLIVEIRA, 2008, p. 49)

A proposta pedagógica pretende valorizar a construção de identidade

pessoal e sociabilidade, o que requer aprender direitos e deveres.

Segundo Antunes (2004), a LDB e o Conselho Nacional de Educação

fixaram diretrizes que devem nortear as propostas pedagógicas das creches e

pré-escolas, considerando os princípios éticos e políticos e mencionando a

ludicidade como um dos princípios estéticos que deve marcar a Educação

Infantil.

Neste contexto ressalta-se:

a) respeitar as diferentes identidades das crianças e suas famílias,

sem exclusão, seja em gênero, etnia, religião, situação econômica

ou peculiaridades, como necessidades especiais;

b) integrar nas propostas pedagógicas os aspectos físicos,

emocionais, afetivos, cognitivos e sociais de toda criança e, assim,

superar a habitual ênfase nas habilidades psicomotoras, na

alfabetização a qualquer custo e no precoce estímulo de operações

aritméticas;

c) usar processos de avaliação que possam identificar as dificuldades

da criança, a fim de gerar tomadas de decisão para superá-las, e

não avaliar com o objetivo de quantificar os conhecimentos

acumulados, promover ou reter a criança.

De acordo com Craidy; Kaercher (2001), o avanço de algumas áreas do

18

conhecimento como a medicina, a biologia e a psicologia, assim como a

sociologia, antropologia e a pedagogia produziram modificações importantes na

forma de pensar e agir em relação à criança pequena.

A mente humana, finalmente foi aberta e o que hoje se conhece, ainda que imensamente distante do que sobre esse assunto se conhecerá dentro de dez anos, já nos permite intervir de forma positiva e, com ilimitada segurança, afirmar que as inteligências se estimulam que as memórias respondem positivamente ao treinamento sistemático e que a linguagem que se desenvolve pode ser admiravelmente beneficiada com alguns poucos minutos de extrema dedicação e interesse. (ANTUNES, 2004, p. 22)

Piaget, Vygotsky e Wallon procuraram mostrar que a capacidade de

conhecer e aprender é construída pelas trocas que ocorrem entre o sujeito e o

meio. Portanto, o desenvolvimento infantil acontece através do contato com

seu próprio corpo, com as coisas do seu ambiente, com a interação com outras

crianças e adultos. Os diferentes níveis de desenvolvimento motor, afetivo e

cognitivo não ocorrem de forma isolada, e sim de forma integrada. Craidy;

Kaercher (2001) citam algumas ideias desses autores:

a) Henri Wallon (1879-1962), médico francês, em seus estudos na

área de neurologia, enfatizou a plasticidade do cérebro. Para ele, o

desenvolvimento da inteligência ocorre a partir das experiências

oferecidas pelo meio e como o indivíduo se apropria delas. Nesse

sentido, o espaço físico, as pessoas próximas, a linguagem e os

conhecimentos culturais contribuem efetivamente para formar o

contexto de desenvolvimento;

b) Vygotsky (1896-1934), estudioso russo na área de psicologia,

afirma que o funcionamento psicológico estrutura-se através das

relações sociais entre o indivíduo e o mundo, que ocorrem em um

contexto histórico-cultural e social, fornecendo os sistemas

simbólicos de representação da realidade. Portanto, o

desenvolvimento psicológico não é um processo abstrato

descontextualizado ou universal;

c) Piaget (1896-1980), biólogo e epistemólogo suíço, em sua teoria,

ao longo de cinquenta anos de pesquisa, enfatiza que a inteligência

vai se construindo na medida em que a criança entra em contato

19

com o mundo, experimentando-o ativamente. Para ele, conhecer

significa introduzir o objeto do conhecimento em um determinado

sistema de relações, através de uma ação sobre o objeto a que se

refere.

Antunes (2004) afirma que, se a ciência mostra que o período mais

importante para a formação das bases para as habilidades e competências vai

da gestação até o sexto ano de vida, significa que a educação infantil de

qualidade é essencial.

Oliveira (2008) enfatiza que hoje, na educação infantil, busca-se ampliar

alguns requisitos essenciais para inserir a criança no mundo atual:

sensibilidade estética e interpessoal, solidariedade intelectual e

comportamental e senso crítico.

Essa ampliação é feita por meio de experiências diversas onde

conhecimentos historicamente elaborados são mediadores do desenvolvimento

infantil. Tais conhecimentos, ao serem reconstruídos pela criança, criam novas

visões do mundo e de si mesmas.

É importante considerar que algumas mudanças que ocorrem com as

crianças, ao longo da infância, jamais se repetirão. Por isso, a educação infantil

precisa ser qualificada, incluindo o acolhimento, a segurança, o

desenvolvimento social, o domínio do espaço, do corpo e das modalidades

expressivas, deve privilegiar o lugar para a curiosidade, o desafio e a

oportunidade para a investigação.

Antunes (2004) ressalta que a educação infantil, de acordo com as

diretrizes do Ministério da Educação e do Desporto (MEC), deve promover a

ampliação das experiências e conhecimentos, estimulando o interesse das

crianças pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em

sociedade.

Para uma boa educação infantil é preciso refletir sobre como fazê-la e

isso vai além de um desejo e do amor pela criança. O educador infantil precisa

ser preparado e ser competente em pelo menos três fundamentos citados por

Antunes (2004):

a) conhecimento sólido sobre a criança e seu desenvolvimento

biológico e emocional;

b) disposição para aprender cada vez mais com o surgimento de

20

novos estudos, principalmente na área da neurociência, que já

revelou que mais de 90% das conexões cerebrais são formadas do

nascimento até os seis anos de idade, e que o adulto em que a

criança se tornará depende muito das interações com estímulos do

ambiente e pouco das suas bases genéticas;

c) ter consciência de que o que se aprende só tem valor se exercitado

de forma continuada e com paixão pelo que se faz e a quem se faz

para que essa educação seja real.

Ao pensar uma proposta para a educação infantil é importante situar a

criança no seu contexto social, ambiental, cultural, das interações

estabelecidas com os adultos, crianças, espaços, coisas e seres ao seu redor.

O processo educativo precisa abranger todas estas dimensões de forma

integrada, de acordo com as necessidades e interesses das crianças e as

concepções da cultura e da sociedade em que ela está inserida.

21

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO: AMBIENTAL, INFANTIL E ALIMENTAR

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)

Na década de 1970 iniciaram no Brasil projetos de educação ambiental

de características e origens variadas, como resultado da preocupação com a

preservação e restauração do meio ambiente, que estava sendo agredido.

Alguns surgiram em instituições educacionais federais como o Ministério

da Educação, secretarias estaduais ou municipais, e outros em órgãos

dedicados à proteção do meio ambiente.

Apesar da multiplicidade de iniciativas, verificou-se uma grande

diversidade nas estratégias usadas e na própria concepção de educação

ambiental. Diante dessa situação a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), em

1978, criou um grupo de trabalho formado por educadores, ecólogos,

engenheiros, economistas e sociólogos com a finalidade de conceituar

educação ambiental e estabelecer seus objetivos no Brasil. Esse grupo definiu

educação ambiental como:

[...] elemento integrador dos sistemas educativos de que dispõe a sociedade para fazer com que a comunidade tome consciência do fenômeno do desenvolvimento e suas implicações ambientais. Para tanto, deverá servir para transmitir conhecimentos e desenvolver habilidades e atitudes que permitam ao homem atuar eficientemente no processo de manutenção do equilíbrio ambiental, de forma a manter a qualidade de vida condizente com suas necessidades e aspirações. (SEMA apud KRASILCHIK, 2008, p. 191)

A EA tem como objetivo o planejamento contínuo de construção do

conhecimento, de formação de atitudes e do desenvolvimento de habilidades

que resultem em ações sociais positivas e transformadoras e práticas de

cidadania para garantir uma sociedade sustentável.

Mais que uma disciplina, é um conjunto de ideias, que conduz à melhoria

da qualidade de vida e ao equilíbrio do ecossistema para todos os seres vivos.

(PHILIPPI JUNIOR; PELICIONI, 2002).

22

Agrupam-se hoje sob a denominação Educação Ambiental, atividades

muito variadas, tanto nos conteúdos tratados como nos valores defendidos.

Alguns conteúdos envolvem ecologia, outros componentes sociopolíticos

e econômicos, outros aspectos estéticos e artísticos.

De acordo com Krasilchik (2008) a educação ambiental, em termos de

valores, está extremamente ligada à demanda de atendimento dos direitos

humanos, à análise do multiculturalismo e às relações ciência, tecnologia e

sociedade, ou seja, às condições para melhoria de qualidade de vida.

As tradições multiculturais podem colaborar fortemente na melhoria,

preservação e desenvolvimento ambiental, devido à relação com o meio

ambiente apresentada pelas diferentes etnias. O entrelaçamento dessas

temáticas com a dos direitos humanos identifica a necessidade de ações que

promovam uma nova ética que contemple o presente e as gerações futuras.

As discussões sobre educação ambiental são caracterizadas, segundo

Carvalho; Grün; Irajber (2009), como mediadoras entre educação e campo

ambiental, dialogando sobre a crise ecológica e produzindo reflexões,

concepções, métodos e experiências que construam novas bases de

conhecimento e valores ecológicos nesta e nas próximas gerações.

A humanidade precisa de um novo projeto civilizatório que considere a

universalidade do ser humano, onde se estabeleça a ética da promoção da

vida, o que exige reflexões e ações sobre as desigualdades, a pobreza, a

exclusão do acesso aos bens e serviços, bem como as práticas e relações de

consumo.

A ética ambiental baseia-se no respeito ao indivíduo em sua convivência

harmoniosa com a natureza e a sociedade.

Dessa forma, a ética ambiental servirá como princípio norteador para essa conduta, para a prática educativa, e a reflexão crítica permitirá que o educador compreenda de que forma será possível resguardar a vida em comunidade e a sobrevivência não apenas da humanidade, mas, de todas as espécies; de que forma será possível exercer a cidadania, cumprindo deveres e exigindo direitos e de que forma poderá tornar a sociedade cada vez mais sustentável. (PHILIPPI JUNIOR, PELICIONI, 2002, p. 4)

Um dos maiores desafios deste século é construir e manter

comunidades sustentáveis. O conceito de sustentabilidade ecológica surgiu no

23

início da década de 1980 pelo fundador do Worldwatch Institute Lester Brown,

que definiu comunidade sustentável como aquela capaz de atender às próprias

necessidades sem prejudicar o futuro das próximas gerações. (CAPRA, 2008)

De acordo com Capra (2008), essa definição de sustentabilidade é

importante para as pessoas lembrarem-se da responsabilidade de passar para

os filhos e netos um mundo com as mesmas oportunidades que tiveram.

Assim, é necessário que os estilos de vida, atividades econômicas, estruturas

físicas e tecnológicas não prejudiquem a capacidade da natureza de manter a

vida.

O primeiro passo é compreender a organização dos ecossistemas para

manter o ciclo da vida. Essa percepção é conhecida como ‘alfabetização

ecológica’. “Nas próximas décadas a sobrevivência da Humanidade dependerá

da nossa alfabetização ecológica – nossa capacidade de compreender os

princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles.” (CAPRA, 2008)

A palavra ecologia vem do grego oikos, que significa casa. A ecologia

estuda o funcionamento do planeta Terra e as relações entre seus habitantes.

Ela vê o mundo como uma rede de fenômenos interligados em que todos os

seres vivos fazem parte dos ciclos da natureza, dos quais dependemos para

sobreviver.

Capra (2008) afirma que a educação para uma vida sustentável deve

utilizar uma pedagogia de compreensão da vida, uma experiência de

aprendizagem da realidade e um currículo que ensine os princípios básicos da

ecologia.

Um grande desafio da educação hoje é utilizar estratégias de ação com

enfoque ambiental.

A educação ambiental não pode se reduzir a uma disciplina escolar. Ela

deve permear todo o currículo, ser responsabilidade de toda a escola,

envolvendo, ainda, a comunidade e permitir uma visão integral dos problemas,

pois envolve conhecimentos disciplinares diversos.

Muitos educadores têm refletido e procurado cumprir o papel importante

de desenvolver nas crianças o compromisso com o cuidado do ambiente

escolar, não só do espaço interno e externo da sala ou da escola, mas das

relações humanas, como o carinho e respeito consigo mesmo, com o outro e

com o mundo.

24

O papel do educador é extremamente importante, na medida em que vai

criar condições para motivar os alunos a agir de maneira desejável. Ele precisa

estar preparado para reconhecer causas e consequências dos problemas

ambientais e ter uma visão crítica da realidade.

Para que essas medidas tenham efeito, pelo menos para o sistema educacional formal, várias medidas se impõem, como a formação de professores que, independentemente da disciplina que lecionem, sejam capazes de tomar parte em projetos de educação ambiental, desenvolvendo, em seus alunos, conhecimentos e habilidades necessários para perceber problemas ambientais e participar nas atividades requeridas para solucionar problemas. (KRASILCHIK, 2008, p. 192)

A reflexão sobre o ambiente que nos cerca e sobre as atitudes e

responsabilidades de cada um de nós, produz processos educativos

contextualizados e significativos para os envolvidos.

As práticas da EA, fundamentadas na pedagogia freireana, buscam a

relação entre ensino e pesquisa para promover avanços teórico-práticos em

suas propostas e diretrizes pedagógicas, abordando temáticas ambientais de

forma crítica, contextualizada e interdisciplinar, tanto na escola como nas

práticas de vários movimentos sociais. (CARVALHO; GRÜN; IRAJBER, 2009)

Pensar em educação ambiental hoje é pensar numa educação voltada

para aprendizagens significativas. É oferecer perspectivas que originem ideias

inovadoras e possibilitem formar um cidadão crítico e participativo, capaz de

tomar decisões e contribuir para o desenvolvimento das ações humanas.

Para formar um cidadão consciente, crítico, competente e proativo, é preciso compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, em todos os seus aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos e estéticos. Deste modo, a educação nunca é neutra, ela reflete necessariamente a ideologia de quem com ela trabalha, podendo ser reprodutora da ideologia dominante ou questionadora desta ideologia. (PHILIPPI JUNIOR; PELICIONI, 2002, p. 4)

As propostas de educação ambiental pretendem conseguir que as

pessoas percebam o ambiente como algo próximo e essencial nas suas vidas,

e que cada um tem papel importante na preservação e transformação do

mesmo.

Philippi Junior; Pelicioni (2002) afirmam que essas propostas pretendem,

ainda, destacar a importância da temática ambiental para a construção de um

25

futuro sustentável. Precisa-se elaborar uma consciência ambiental coletiva e

diferenciada, possibilitando o compromisso da comunidade com a conservação

do ambiente natural e cultural, e uma ação democrática nas entidades públicas

e privadas.

Um projeto em EA deve contemplar o conhecimento teórico voltado para

a prática e para o conhecimento empírico, procurando repensar a prática a

partir da teoria discutida e trabalhar a teoria à luz da prática vivida.

A educação contribui para construção da sociedade, por isso é

necessário um trabalho de qualidade sobre educação ambiental com as

crianças para que possam auxiliar na preservação do meio ambiente.

2.1 A Educação Ambiental no contexto da Educação Infantil

Educar para a sustentabilidade presume instruir o olhar para o exercício

da solidariedade; perceber as ligações do contexto local com o global, do

individual com o coletivo, do sujeito com o planeta, da vida das pessoas com a

vida do planeta. Esse trabalho educativo é indispensável e dificultoso, pois os

padrões ocidentais baseiam-se no incentivo ao consumo exagerado e

valorização do material. Por isso é necessário romper barreiras. (OLIVEIRA;

NEVES, 2013)

“A educação tem um papel fundamental na construção da

sustentabilidade. Para tanto, é necessário caminhar em direção a um

pensamento verdadeiramente ecológico.” (OLIVEIRA; NEVES, 2013)

Segundo Capra apud Oliveira; Neves (2013), o pensamento ecológico

tem como base padrões éticos de comportamento, uma nova forma de ver o

mundo e, também, inicia um novo jeito de pensar a educação como promotora

da paz e da sustentabilidade. Assim, estabelece uma visão do educador e do

educando sobre si mesmos e sobre os outros seres, reconsiderando valores,

comportamentos e atitudes.

É muito difícil mudar os valores dos adultos, já as crianças nascem com

certos valores intactos, ou seja, um sentimento de admiração ou respeito e

afinidade com a natureza. Todas as pessoas possuem essa capacidade, mas

ela é mais acentuada nas crianças. Acredita-se que quando bem sustentada,

pode se transformar em alfabetização ecológica e, como consequência, numa

26

sociedade mais sustentável. (STONE; BARLOW apud OLIVEIRA; NEVES,

2013)

A educação para uma vida sustentável é baseada no ensino dos princípios básicos da ecologia e no respeito pela natureza, por meio de uma abordagem multidisciplinar baseada na experiência e na participação. Podemos criar sociedades sustentáveis seguindo um modelo de ecossistemas da natureza. Isso inclui experimentar o mundo natural, aprender como a natureza sustenta a vida, conhecer bem o lugar onde vivemos e em que trabalhamos, o alimento que comemos, os ciclos da natureza, tudo isso para aprender a preservar a vida na Terra e querer fazer isso. (OLIVEIRA; NEVES, 2013, p. 76)

Oliveira; Neves (2013) enfatizam que é possível construir um mundo

novo, onde a educação, a arte e a cultura estejam voltadas à garantia da vida

no planeta. Para isso, é necessário que as teorias a respeito da educação

essencial à atualidade se transformem em práticas pedagógicas.

De acordo com Craidy; Kaercher (2001), as crianças são seres ativos

que, se tiverem oportunidades, podem se tornar cada vez mais competentes

para lidar com as coisas do mundo. Elas participam das transformações

ocorridas nos contextos culturais e históricos em que vivemos e, dessa forma,

acabam transformadas pelas experiências que vivem nesse mundo dinâmico.

Antunes (2004) revela que a mente infantil forma uma consciência

dinâmica que se transforma rapidamente. Dessa forma, a educação pode

transformar as linhas de um caráter. O que a criança virá a ser quando adulta

depende, muito mais dessa transformação, do que das capacidades mentais

inatas.

Estudos revelam que a camada exterior do cérebro pode crescer, se a

pessoa viver em um ambiente estimulante, assim como pode sofrer atrofias

irreversíveis se essa pessoa viver limitada a um ambiente monótono e pouco

estimulador. A experiência modifica a mente tornando-a mais sensível à

solução de problemas, além de mudar a anatomia e a fisiologia do cérebro.

Recentes pesquisas nas áreas da neurociência e do desenvolvimento

cognitivo conduziram a uma nova visão do processo de aprendizagem em que

o cérebro é visto como um sistema auto-organizado, complexo e altamente

adaptativo. “Graças à interconectividade do cérebro, tudo que acontece a uma

criança tem consequências diretas e indiretas. Corpo e mente, ou cérebro e

mente, interagem profundamente.” (CAPRA, 2008, p. 29)

27

Tudo que se faz interfere, de maneira positiva ou negativa, na mente ou

no corpo, por exemplo, o estresse pode prejudicar o sistema imunológico,

enquanto rir ou se descontrair pode fortalecê-lo. Cantar em um coral ou tocar

piano melhora o raciocínio espacial. Ler aumenta a capacidade de

concentração do aluno. Em toda aprendizagem os professores estão

trabalhando com as crianças como um todo.

De acordo com Capra (2008), sabe-se hoje que o crescimento do

cérebro da criança é acompanhado pelo desenvolvimento das funções

cognitivas. No córtex cerebral, o desenvolvimento cria uma rede complexa de

conexões neurais.

Conforme a criança amadurece, a ocorrência de interconexões nessa

rede é infinita. A formação das conexões e as funções e caminhos tornados

estáveis dependem muito do ambiente em que a criança está inserida. A rede

neural altera seguidamente sua conectividade em resposta a esse ambiente.

(CAPRA, 2008)

O cérebro é muito sensível às influencias ambientais na primeira

infância, porque grande parte da rede neural está se constituindo.

Desde o início das pesquisas nessa área, no final da década de 1950,

há um consenso entre os psicólogos infantis de que expor as crianças a um

ambiente rico em experiências sensoriais e desafios cognitivos tem resultados

positivos duradouros, enquanto privá-las dessas experiências pode impedir o

crescimento neurológico futuro.

Segundo Capra (2008), a partir das contribuições de Jean Piaget, Maria

Montessori e Rudolf Steiner, chegou-se a um consenso entre cientistas e

educadores de que um ambiente de aprendizagem rico, envolvendo formas,

texturas, cores, odores e sons do mundo real, é essencial para o

desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.

O ambiente é sempre favorável à descoberta. Os espaços destinados a

dialogar, inventar histórias, recortar, colar, folhear, descobrir a terra e mexer na

água são estimulantes.

A curiosidade natural não deve ser desprezada. As coisas adquirem

nomes através de experiências do dia a dia, e a intensidade dessas ações

deve ocorrer de acordo com a argúcia da criança. Dessa forma, é possível

explorar o significado da palavra e construir conceitos. (ANTUNES, 2004)

28

Deve-se despertar a curiosidade da criança para observar e descobrir os

objetos, pessoas, plantas e animais e suas diferenças e semelhanças, e que

ela possa discutir com os colegas suas descobertas.

Os professores devem criar ambientes, com frequência, e programar

passeios que promovam experiências diretas com a participação ativa da

criança nas atividades.

É importante, sempre que possível, priorizar atividades ao ar livre, onde

a criança pode descobrir seu corpo e seus movimentos e conhecer os

elementos da natureza e a vida que nela está inserida.

De acordo com Antunes (2004), a escola que está inserida no contexto

da realidade dos seus alunos, promove um ensino pleno de particularidades

que nenhum texto pode reproduzir.

Cabe ao professor criar oportunidades para aprendizagens, utilizando

determinadas atividades e restringindo outras. A organização do currículo deve

abrir mão de um ambiente de silêncio e criar situações para que as crianças se

tornem exploradoras.

A inter-relação do homem com a natureza é muito importante em sua

vida e traz muitos benefícios, tanto emocionais quanto funcionais. Para as

crianças, o contato com as plantas tem impacto ainda maior, de tal forma que

essa interação com a natureza influencia no desenvolvimento e ajuda no

aprendizado. Além de aprender sobre os recursos naturais e a importância da

sua preservação, desenvolve a percepção e maior atenção aos processos de

ensino aprendizagem. (FEDRIZZI, 2013)

“Os primeiros anos de vida são os mais favoráveis para desenvolver

atitudes e valores que formam a base da personalidade.” (DIDONET, 2008)

Para Didonet (2008), os valores e atitudes adquiridos na primeira

infância traçam um caminho mais firme e estável para a vida. Nessa fase, os

valores e atitudes desenvolvidos determinarão os comportamentos éticos e

morais ao longo da vida. Portanto, para que as próximas gerações cuidem do

planeta é preciso trabalhar, na educação infantil, o estudo da natureza e da

interdependência entre o ser humano e o ambiente.

29

2.2 A educação alimentar no contexto da Educação Infantil

Ao começarem a frequentar a escola, as crianças descobrem novos

alimentos, causando algumas mudanças nos seus padrões alimentares. Desse

modo, é importante que os professores e pais realizem um trabalho de

educação nutricional com essas crianças. (LOUREDO, 2012)

Maus hábitos alimentares na infância podem causar problemas

nutricionais em curto prazo, que podem comprometer o crescimento e o

desenvolvimento da criança e promover o aparecimento de doenças na fase

adulta, como hipertensão arterial e diabetes. (LOUREDO, 2012)

Louredo (2012) afirma que a rotina corrida dos pais é, para muitos

especialistas, uma das principais causas da má alimentação e consequente

sobrepeso dos filhos, pois na correria do dia a dia, utilizam alimentos

industrializados mais fáceis de serem preparados e isso se torna um hábito.

São eles que determinam quais alimentos serão consumidos em casa e fora

dela, portanto, é de suma importância que tenham hábitos saudáveis e

ensinem seus filhos.

O Ministério da Saúde, com o objetivo de prevenir doenças crônicas não

transmissíveis e direcionar a comunidade escolar para promover a saúde dos

alunos, está propondo ações de prevenção e controle da obesidade em alunos

de 5 a 19 anos, que estudam em escolas públicas do país, principalmente no

que se refere ao lanche escolar. (LOUREDO, 2012)

Também são alvo da ação do Ministério da Saúde, as cantinas

escolares, pois têm oferecido alimentos ricos em açúcar, sódio e gorduras,

como refrigerantes, refrescos, salgados e salgadinhos, ao invés de alternativas

saudáveis, como frutas, lanches e sucos naturais. (LOUREDO, 2012)

Dessa forma, o Ministério da Saúde pretende conscientizar a

comunidade escolar para os perigos da obesidade infantil, visando reduzir os

altos índices de crianças e jovens que estão acima do peso.

Considerando a importância da escola como espaço propício à formação

de hábitos alimentares saudáveis e à construção da cidadania, fora publicada

em 08 de Maio de 2006 a Portaria Interministerial nº. 1010, elaborada

conjuntamente pelos Ministérios da Saúde e Educação que propõe:

30

Art. 1º Instituir as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes pública e privada, em âmbito nacional, favorecendo o desenvolvimento de ações que promovam e garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis no ambiente escolar. Art. 2º Reconhecer que a alimentação saudável deve ser entendida como direito humano, compreendendo um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas, sociais e culturais dos indivíduos, de acordo com as fases do curso da vida e com base em práticas alimentares que assumam os significados sócio-culturais dos alimentos. Art. 3º Definir a promoção da alimentação saudável nas escolas com base nos seguintes eixos prioritários: I - ações de educação alimentar e nutricional, considerando os hábitos alimentares como expressão de manifestações culturais regionais e nacionais; II - estímulo à produção de hortas escolares para a realização de atividades com os alunos e a utilização dos alimentos produzidos na alimentação ofertada na escola; III - estímulo à implantação de boas práticas de manipulação de alimentos nos locais de produção e fornecimento de serviços de alimentação do ambiente escolar; IV - restrição ao comércio e à promoção comercial no ambiente escolar de alimentos e preparações com altos teores de gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal e incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras; e V - monitoramento da situação nutricional dos escolares.” (BRASIL, 2006)

O aumento da preocupação com alimentação valorizou a educação

nutricional voltada às crianças, que estão aptas a aprender a aceitar e gostar

de diversos alimentos, quando estimuladas. A educação nutricional pretende

melhorar os hábitos alimentares em longo prazo, tornando-se um elemento de

sensibilização e reformulação do comportamento alimentar. (ARAÚJO;

FERREIRA; MIRANDA; SAUGLI, 2006)

A educação alimentar está prevista nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN) do ensino fundamental e também é trabalhada nas escolas

infantis, como propõe o Referencial Curricular para a Educação Infantil

(RCNEI).

Como a escola tem papel importante ao moldar as atitudes e

comportamentos das crianças sobre a forma de se alimentarem, integrar

educação nutricional à sala de aula é de grande importância no processo de

ensino aprendizagem. A participação e cooperação dos pais são fundamentais.

Eles devem ter consciência de que o distúrbio nutricional, principalmente na

infância, tem consequências negativas na saúde das crianças. (ARAÚJO;

FERREIRA; MIRANDA; SAUGLI, 2006)

31

2.3 A horta escolar como estratégia interdisciplinar de educação ambiental e

alimentar

Na última década descobriu-se que um projeto perfeito para trabalhar os

princípios da ecologia é plantar uma horta e utilizá-la como recurso para

preparar refeições na escola.

Capra (2008) salienta que a horta auxilia na conexão das crianças com

os fundamentos da alimentação e da vida, além de integrar e tornar mais

interessantes as atividades na escola.

Além de ampliar o vínculo entre as crianças e o meio ambiente, a horta

escolar contribui para o desenvolvimento de boas práticas alimentares que, se

forem adquiridas desde os primeiros anos, se perpetuarão, promovendo saúde

e qualidade de vida ao indivíduo.

A escola é o melhor agente para promover a educação alimentar, pois é

na infância que se estabelecem atitudes e práticas alimentares difíceis de

modificar na idade adulta. Por esse motivo a educação infantil tem um papel

importante no desenvolvimento de bons hábitos alimentares nas crianças.

A educação alimentar deve estar no projeto pedagógico da instituição

educativa, com o objetivo de familiarizar as crianças aos alimentos saudáveis.

Os PCNs incluem as oficinas de alimentação escolar e a educação

alimentar no trabalho com os temas transversais para o ensino fundamental. Já

na educação infantil o RCNEI propõe a inclusão desses temas nas atividades

pedagógicas.

Ao cuidar de uma horta, as crianças podem investigar e compreender os

fenômenos que ocorrem durante os ciclos da natureza. Cultivar vegetais e

preparar alimentos são exemplos de um ciclo de trabalho: plantar, cuidar da

horta, colher, e depois plantar novamente. Esse trabalho facilita o

reconhecimento da ordem natural das coisas, de crescimento e declínio, de

nascimento e morte, gerando uma consciência de como estamos incluídos

nesses ciclos naturais.

Através dessa prática, os alunos aprendem que o ciclo dos alimentos

interage com ciclos maiores, como o ciclo da água e das estações.

Na horta aprende-se também que um solo fértil é um solo vivo, com

bilhões de organismos que executam diversas transformações químicas

32

essenciais para manter a vida na Terra. “Este princípio está incorporado aos

métodos tradicionais de cultivo, que se baseiam em um respeito profundo pela

vida.” (CAPRA, 2008 p. 27)

Antigamente os agricultores cultivavam diferentes variedades de plantas

a cada ano, fazendo um rodízio e, dessa forma, o equilíbrio do solo era

preservado. Não se usavam pesticidas, pois os insetos atraídos por uma planta

poderia não voltar no próximo ano. Também não usavam fertilizantes químicos,

e sim estrume para enriquecer a terra, devolvendo a matéria orgânica ao solo,

completando o ciclo ecológico.

Nas últimas décadas, o uso de produtos químicos prejudicou seriamente

o equilíbrio do solo, afetando os vegetais e, consequentemente, a saúde das

pessoas que deles se alimentam. Felizmente, cada vez mais agricultores estão

percebendo os perigos da agricultura química e voltando a usar métodos

orgânicos. “A horta escolar é o lugar ideal para ensinar as nossas crianças as

vantagens da agricultura orgânica.” (CAPRA, 2008, p. 28)

Para as crianças, a horta é um espaço mágico e, dificilmente, elas teriam

a oportunidade desse contato com a terra e o crescimento das plantas. Esse

tipo de atividade toca o coração das crianças e se torna importante para elas.

Através da horta é possível perceber que o homem faz parte de um

ecossistema, de um sistema social e de uma cultura própria. Pode-se observar

o crescimento e o desenvolvimento de um organismo; essa compreensão é

fundamental não apenas para a horta, mas também para a educação.

As crianças vão aprender que o trabalho na horta muda conforme o

desenvolvimento e o amadurecimento das plantas, e o professor, que a

metodologia de ensino muda com o desenvolvimento e amadurecimento dos

alunos.

A horta escolar é um instrumento concreto de aprendizagem e traz

benefícios para o desenvolvimento de cada aluno, além de ser uma das

melhores maneiras de tornar as crianças ecologicamente alfabetizadas,

capazes de contribuir com um futuro sustentável.

Segundo Capra (2008), no Centro de Ecoalfabetização da Califórnia,

descobriu-se que aprender na horta escolar, na cozinha, na fazenda ou no rio é

aprender no mundo real em toda a sua plenitude. A alfabetização ecológica

vem sendo ensinada em grande parte das escolas da Califórnia e começa a

33

chegar a outras regiões.

Revendo os componentes principais da pedagogia que desenvolvemos, procurei cobrir o maior número de aspectos possível, mas quero frisar que as palavras são capazes de transmitir apenas uma pequena parte da história. A verdadeira mensagem está nos rostos das crianças, em seus sorrisos, suas histórias, seus desenhos, suas poesias. (CAPRA, 2008, p. 26)

A nova compreensão do processo de aprendizagem propõe a

necessidade de estratégias de ensino mais adequadas, em que o currículo seja

integrado e as disciplinas vistas como recursos a serviço de um objetivo

central.

Capra (2008) afirma que uma boa maneira de conseguir essa integração

é abordando a aprendizagem baseada em projetos, que proporcionem

experiências de aprendizagem que engajem os estudantes no mundo real,

onde possam desenvolver suas capacidades e conhecimentos.

Assim, o estabelecimento de comunidades saudáveis e inteligentes não só é necessário para a sustentabilidade ecológica, como também facilita a aprendizagem. Alguns educadores acreditam que, idealmente, as escolas devem ser comunidades de aprendizes onde experiências e desafios intelectuais sejam realmente vivenciados e não apenas verbalizados. (CAPRA, 2008, p. 31)

Nas escolas de ecoalfabetização é praticada a aprendizagem baseada

em projetos, utilizando como tema principal uma horta escolar ou um projeto de

recuperação de um curso d’água. “Com o passar dos anos, passamos a definir

currículo como os conteúdos e contextos que ajudam o estudante a criar

significados, desenvolver comportamentos e valores e compreender o mundo.”

(CAPRA, 2008, p. 32)

34

CAPÍTULO III

PROJETO HORTA NA EMEI MARIA APARECIDA DA SILVA ELIAS –

MODALIDADE CRECHE

3 A ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA

APARECIDA DA SILVA ELIAS – MODALIDADE CRECHE

Localiza-se na Rua Rockefeller, 292, no Bairro Ribeiro, no município de

Lins/SP.

Oferece atendimento, em período integral, para as crianças, sendo que

as mesmas ficam sob os cuidados de professores e atendentes de atividades

infantis que se revezam em dois turnos diários, de segunda a sexta-feira, das

7h às 17h30min, nos seguintes módulos:

a) berçário misto (crianças de 3 meses a 2 anos);

b) berçário 2 (crianças de 1 a 2 anos);

c) maternal 1 (crianças de 2 a 3 anos);

d) maternal 2 (crianças de 3 a 4 anos).

Os alunos estão organizados em turmas, conforme segue o quadro:

Quadro 1: Organização dos alunos na EMEI (continua)

Denominação Quantidade Funcionário Responsável

Período Nº Atendente Nº Professor

Berçário misto 15 4 ---- 2 manhã

2 tarde

Berçário 2 15 4 ---- 2 manhã

2 tarde

Maternal 1 -

Turma A 15 2 ----

1 manhã

1 tarde

Maternal 1 -

Turma B 15 2 ---

1 manhã

1 tarde

35

Maternal 1 -

Turma C 15 2 ---

1 manhã

1 tarde

Maternal 2 -

Turma A 16 1 1

1 manhã

1 tarde

Maternal 2 -

Turma B 16 1 1

1 manhã

1 tarde

Fonte: Elaborado pela autora, (2013)

3.1 Projeto Horta

Para demonstrar que o cultivo de uma horta escolar é uma experiência

concreta, que pode auxiliar crianças, na faixa etária de 3 a 4 anos, a

compreender a importância da natureza como produtora de alimentos

saudáveis e contribuir para que as mesmas estabeleçam relações entre o meio

ambiente e o ciclo vital dos seres vivos, a pesquisa fora feita com base no

projeto de cultivo de uma horta, realizado na EMEI Maria Aparecida da Silva

Elias, modalidade creche, no município de Lins /SP, nos meses de abril e maio

de 2012, com as crianças de 3 a 4 anos, do maternal 2.

3.2 Objetivos

Ampliar o contato das crianças com o meio ambiente estimulando-as a

cuidar dos vegetais de uma horta escolar.

3.2.1 Objetivos específicos

a) planejar, cultivar e dar manutenção a uma horta escolar, na EMEI

Maria Aparecida da Silva Elias, modalidade creche;

b) estimular as crianças a compreenderem a importância dos

cuidados que se deve ter com os seres vivos durante seu ciclo

vital;

c) incentivar as crianças a adquirirem bons hábitos alimentares.

36

(conclusão)

3.3 Métodos

Os métodos utilizados foram revisão bibliográfica e estudo de caso.

3.4 Técnicas

A preparação dos canteiros fora feita pelo caseiro da escola, num

espaço de terra apropriado.

As sementes foram doadas. O dono do estabelecimento em que as

sementes iriam ser compradas, ao saber que seriam para uma horta escolar,

fez a doação por admirar a iniciativa.

Realizou-se uma roda de conversa sobre o assunto e as crianças

plantaram sementes de alface e rúcula, com o auxilio da responsável pela

turma.

A rega da horta e limpeza dos canteiros era realizada diariamente, e

dessa forma, as crianças acompanharam o desenvolvimento das verduras.

A colheita e a higienização das plantas foram feitas e acompanhadas

pela turma e, no almoço, puderam degustá-las.

Todo o processo fora registrado por meio de fotos.

Na figura 1, as crianças foram levadas ao local dos canteiros, onde se

realizou uma conversa sobre a horta.

O objetivo fora perguntar se conheciam uma horta e para que servia.

Falar um pouco do que e quais são as verduras, legumes e frutas existentes e

como são importantes para a saúde.

Explicar que elas iriam plantar e cuidar de uma horta de alface e rúcula e

que os vegetais são seres vivos e, por isso, necessitam de cuidados diários,

como sol e água.

Essa conversa preliminar serviu para mostrar às crianças como a horta

está presente no dia a dia delas.

37

Figura 1: Conversa sobre a horta

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

A semeadura pode ser realizada de duas formas: direta, onde as

hortaliças são semeadas diretamente nos canteiros, permanecendo ali até a

colheita ou feita em sementeiras. Neste caso, as hortaliças são semeadas em

um recipiente e depois replantadas nos canteiros.

Optou-se pela forma direta, pois dessa maneira, as crianças podem

acompanhar todo o processo de germinação.

As figuras 2 e 3, mostram a realização do plantio das sementes. As

crianças participaram ativamente dessa etapa, fora um momento de

mobilização e envolvimento.

De início, foram abertos pequenos buracos com as mãos, cada um

recebeu um pouco de semente e colocou nos buracos.

38

Figura 2: Plantio das sementes nos canteiros

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

Vivências como a construção coletiva de uma horta contribuem para o desenvolvimento de sentimentos de alegria e bem-estar, estimulam a ética da cooperação e do compartilhamento, promovem atitudes de preservação e cuidado. As escolas podem ser modelos para a sustentabilidade. (OLIVEIRA; NEVES, 2013, p. 73)

Figura 3: Plantio das sementes nos canteiros

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

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A rega é um dos momentos principais da horta, sem ela não é possível o bom desenvolvimento das plantas. Após o plantio das sementes cada criança regou uma parte dos canteiros. Todos os dias, ao final da tarde, as crianças eram levadas aos canteiros para regá-los. As figuras 4 e 5 retratam essa etapa.

Figura 4: Rega dos canteiros

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

Figura 5: Rega dos canteiros

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

Quando as mudinhas começaram a surgir, as crianças ficaram

maravilhadas e sempre diziam para todos na escola que a alface estava

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crescendo, entusiasmadas. A limpeza dos canteiros era feita pelas crianças. A

figura 6 retrata as crianças tirando matinhos e folhas que nasciam e caiam

entre as mudas.

Figura 6: Retirada de folhas e matos dos canteiros

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

A colheita das folhas de rúcula precisou ser feita um pouco antes do

tempo, pois estavam estragando após alguns dias de chuva forte, como

aconteceu com alguns pés de alface.

No dia da colheita foi uma alegria, todos queriam ajudar, como ilustra a

figura 7.

Cuidar de plantas e acompanhar seu crescimento podem se constituir em experiências bastante interessantes para as crianças. O professor pode cultivar algumas plantas em pequenos vasos ou floreiras, propiciando às crianças acompanhar suas transformações e participar dos cuidados que exigem, como regar, verificar a presença de pragas etc. Se houver possibilidade, as crianças poderão, com o auxílio do professor, participar de partes do processo de preparação e plantio de uma horta coletiva no espaço externo. (BRASIL, 1998, p.179)

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Figura 7: Colheita da rúcula

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

Alguns pais relataram que os filhos pediram uma horta em casa para

cuidar. Essa atitude mostra o interesse e a satisfação das crianças em cultivar

uma planta.

Após a colheita, as verduras foram levadas para a cozinha, onde a

merendeira fez a higienização, com o acompanhamento das crianças,

conforme a figura 8.

Figura 8: Higienização das verduras

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

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Na hora do almoço fora uma festa. As crianças ficaram felizes de

poderem comer as verduras que elas próprias ajudaram a plantar e cuidar.

Algumas que não comiam verduras até se arriscaram a experimentar.

Figura 9: Degustação das verduras

Fonte: Elaborada pela autora, (2012)

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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Cuidar de uma horta é uma forma de trabalhar com a educação

ambiental, através dos princípios da ecologia auxiliando na conexão das

crianças com os fundamentos da vida.

Refletir sobre o ambiente que nos cerca e sobre as responsabilidades

que cada um deve adquirir para preservá-lo, produz processos educativos

contextualizados e significativos para as crianças.

Através da horta também é possível promover a educação alimentar,

pois as crianças quando cultivam seu próprio alimento, se sentem motivadas a

experimentá-lo.

A educação infantil tem um papel importante no desenvolvimento de

bons hábitos alimentares. Na infância, as práticas alimentares adquiridas se

perpetuarão durante toda a vida, promovendo saúde e qualidade de vida.

Até o sexto ano de vida é o período mais importante na formação das

bases para as habilidade e competências da vida adulta. Por esse motivo uma

educação infantil de qualidade é essencial.

A proposta é que todas as escolas de educação infantil procurem

trabalhar com atividades como cultivar uma horta. Esse projeto pode servir

como um modelo a ser implantado nas instituições, de acordo com as suas

especificidades.

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CONCLUSÃO

Cultivar uma horta na escola é uma atividade concreta de aprendizagem

que traz benefícios para o desenvolvimento dos alunos da educação infantil.

Através dessa experiência pode-se observar o crescimento e o

desenvolvimento de um organismo, sendo possível perceber que o homem faz

parte de um ecossistema delicado e complexo.

O contato com as plantas proporciona uma interação com a natureza,

onde as crianças irão aprender sobre os recursos naturais e a importância de

preservá-los, além desenvolver a percepção e maior atenção aos processos de

ensino-aprendizagem.

Cuidar de uma horta é uma das melhores maneiras de tornar as crianças

ambientalmente educadas, capazes de contribuir com um futuro sustentável,

pois amplia o vínculo com o meio ambiente, além de ser uma forma de

contribuir para que adquiram bons hábitos alimentares.

Elas participam de todo o processo desde a semeadura até a colheita

com entusiasmo. Querem que as verduras cresçam logo para ver o resultado e

a maioria se sente motivada a experimentar o alimento que foi plantado.

É importante trabalhar atividades como a horta desde a educação

infantil, pois é nos primeiros anos de vida que a criança formará a base da sua

personalidade e os valores adquiridos nesse período serão levados para toda a

vida.

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REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Educação infantil: prioridade imprescindível. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004. ARAÚJO, L. A.; FERREIRA, T. R. A. S; MIRANDA, A. S; SAUGLI, J. B. Nutrição para a educação infantil. UNEC Centro Universitário de Caratinga, Minas Gerais, 2006. Disponível em: < http://bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec01/article/viewFile/121/40 > Acesso em: 10 jul. 2012 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Presidência da República, Brasília, DF. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Presidência da República, Brasília, DF. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3, MEC/SEF, 1998. BRASIL. Portaria Interministerial n° 1010, de 08 de maio de 2006. Ministério da Saúde, Brasília, DF. CAPRA, F. Alfabetização ecológica: o desafio para a educação do século 21. In: TRIGUEIRO, A. (Coord.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Campinas: Armazém do Ipê, 2008. CARVALHO, I. L. M.; GRÜN, M.; IRAJBER, R. Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: MEC/UNESCO, 2009. CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. DIDONET, V. Educação infantil para uma sociedade sustentável. Pátio Educação Infantil, Porto Alegre, n. 18, p. 10-13, nov. 2008.

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FEDRIZZI, B. Lá fora há muito que aprender. Pátio Educação Infantil, Porto Alegre, n. 34, p. 13, jan./mar. 2013. KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 4. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008. LOUREDO, P. Alimentação infantil. Brasil Escola, [s.l.], [s.d.] Disponível em: < http://www.brasilescola.com/saude-na-escola/conteudo/alimentacao-infantil.htm > Acesso em: 10 jul. 2012. OLIVEIRA, M. L. C.; NEVES, R. H. C. L. Educação e sustentabilidade. Presença pedagógica, Belo Horizonte, v. 19, n. 109, p. 72-77, jan./fev. 2013. OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. PHILIPPI JUNIOR, A.; PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental: desenvolvimento de cursos e projetos. 2. ed. São Paulo: Signus, 2002.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - CARTA DE AUTORIZAÇÃO

Eu,______________________________________________________,

RG:________________responsável pelo(a) aluno(a)_____________________

_____________________________________ matriculado na EMEI Maria Ap.

da Silva Elias, AUTORIZO que as imagens registradas nas atividades

pedagógicas desenvolvidas nesta Unidade Escolar referentes ao trabalho de

conclusão de curso de Pedagogia do Unisalesiano, sob responsabilidade da

pesquisadora Ana Paula Marques dos Santos, portadora do RG: 33.194.570-8

e CPF: 307.588.218-67, nas quais o(a) aluno(a) estiver envolvido(a), sejam

divulgadas, por meio de fotografias, filmagens, reproduções digitais (panfletos,

mural, cartaz e banner) e redes sociais (facebook e sites).

Lins, ____de ____________ de 2012.

_________________________ ______________________

Ana Paula Marques dos Santos Assinatura do Responsável

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