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Universidade do Vale do Paraíba Faculdade de Comunicação e Artes Curso de Jornalismo Elis Regina – 60 anos de música Natacha Teixeira Lima dos Santos São José dos Campos – SP 2005

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Universidade do Vale do Paraíba Faculdade de Comunicação e Artes

Curso de Jornalismo

Elis Regina – 60 anos de música

Natacha Teixeira Lima dos Santos

São José dos Campos – SP

2005

---- 1111 ----

Elis Regina – 60 anos de música

Natacha Teixeira Lima dos Santos

Relatório Final apresentado como parte das exigências da disciplina

Trabalho de Conclusão de Curso à Banca Avaliadora da Faculdade de

Comunicação e Artes da Universi- dade Vale do Paraíba.

Universidade do Vale do Paraíba

2005

---- 2222 ----

Universidade do Vale do Paraíba Faculdade de Comunicação e Artes

Curso de Jornalismo

Trabalho de Graduação 2005

Título: Elis Regina – 60 anos de Música

Aluno: Natacha Teixeira Lima dos Santos

Orientador: Vânia Braz de Oliveira

Banca Examinadora: .....................................................

............................................................................

Nota do Trabalho:...............(...............................................................)

São José dos Campos – SP 2005

---- 3333 ----

Dedicatória

Dedico este trabalho à minha Mãe, à minha Avó e ao meu

Avô (in memorian) pela Educação que me deram, Pelo incentivo a todas as

Minhas pretensões e sonhos, E pela sorte de gostar da

Cultura brasileira.

---- 4444 ----

Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar aos momentos em que fui feliz e em que me

entristeci, foram eles que me trouxeram até esse lugar em que estou hoje.

Aos meus avós, que desde sempre me deram suporte e oportunidade de estudar

em boas escolas e ter uma ótima educação.

À minha mãe pelas broncas, abraços, palavras de incentivo e “puxões” que me

trouxeram para a realidade. As lágrimas e os sorrisos, a independência ensinada com

muito carinho e força.

Aos tios e primos pelos sempre bons momentos desfrutados durante esses anos e

por sempre, mesmo em silêncio demonstrarem apoio e carinho.

Agradeço de coração à minha tão querida Escola Moppe, onde aprendi a

pesquisar, a conhecer, a gostar e a ser uma alguém que respeita a vida, as pessoas e as

palavras. As tias do maternal, infantil e ensino fundamental, muito obrigada pela

bagagem!

Aos amigos que fiz aqui, ou em outros lugares, nas escolas por que passei e na

faculdade da qual me despeço.

Aos professores que estiveram comigo nesses quatro anos que passaram rápido e

me ajudaram a amadurecer.

Enfim, obrigada pelas oportunidades que tive e que perdi. Obrigada pelas

experiências adquiridas. Obrigada a todos por fazerem parte de mais uma etapa da

minha vida.

Natacha Lima

---- 5555 ----

Resumo

O trabalho de conclusão de curso apresentado tem por objetivo contar a

trajetória de vida e de carreira de umas das cantoras mais importantes da música popular

brasileira. Elis Regina Carvalho Costa saiu do Rio Grande do Sul em busca de um

sonho. Chegou ao Rio de Janeiro, ganhou o I Festival da Música Popular Brasileira

(FMPB) e conheceu compositores, cantores, fez amigos e lançou muitas músicas. O

encarte produzido apresenta reportagens especiais que tratam da vida e carreira de Elis

Regina. Prêmios, discos, shows... As dificuldades e belezas do sucesso e do mundo

dessa cantora. E mostra que mesmo após 23 anos de morte, Elis ainda “vive”, suas

músicas tocam nas rádios, os programas de televisão reprisam aparições de Elis, vende

discos e dvd’s e continua fazendo sucesso.

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Sumário

Introdução.......................................................................................................... 07

Capítulo 1 – Elis Regina Carvalho Costa........................................................... 08

1.1 – Nasce uma estrela ...........................................................................08

1.2 - Desponta a Estrela – Elis Regina ....................................................11

1.3 - Consagração, o brilho eterno da Estrela..........................................14

Capítulo 2 – Parcerias..........................................................................................22

2.1- Parcerias: Os Compositores de Elis..................................................22

2.2 - Os compositores de Elis: Chico Buarque.........................................24

2.3 - Os compositores de Elis: Tom Jobim...............................................27

2.4 – Os compositores de Elis: Vinícius de Moraes..................................29

2.5 – Os compositores de Elis: Edu Lobo..................................................31

2.6 – Os compositores de Elis: Milton Nascimento..................................33

Capítulo 3 – Elis Regina e a Internet..................................................................... 35

3.1 – O Surgimento da Internet...................................................................35

3.2 – Elis Regina na Internet......................................................................38

Capítulo 4 – Modalidade: Grande Reportagem..................................................... 39

4.1 – Reportagem: o que é?.........................................................................39

Capítulo 5 – Diagramação...................................................................................... 41

5.1 – Tipologia, espaçamento, cores e metodologia....................................41

Considerações Finais..............................................................................................43

Referências Bibliográficas......................................................................................44

Anexos....................................................................................................................46

---- 7777 ----

Introdução

Com o objetivo de prestar uma homenagem à cantora Elis Regina no ano em que

completaria 60 anos de idade, este trabalho de conclusão de curso está composto por um

relatório divido em cinco capítulos, que seguem uma ordem cronológica que facilita a

compreensão total do assunto por parte dos leitores, e apresenta como resultado final

uma revista com 16 páginas, que conta um pouco sobre a vida e a carreira de Elis.

Iniciar o relatório contando quem é Elis Regina foi uma manobra proposital. É

necessário que os leitores se integrem com a história da personagem central do trabalho.

No primeiro capítulo a vida de Elis é contada em três partes: da infância e

adolescência no Rio Grande do Sul à ida para o Rio de Janeiro; da chegada ao Rio à

vitória no I FMPB e da vitória à sua morte, ocorrida em 1982.

No capítulo seguinte alguns compositores são apresentados ao público. São eles

artistas muito cantados por Elis e que, estiveram presentes durante a sua carreira.

Nomes como Chico Buarque e Tom Jobim aparecem no capítulo, no qual é contada uma

breve biografia de cada compositor.

O capítulo de número três começa com um pequeno contexto histórico sobre o

desenvolvimento dos meios de comunicação na ordem em que surgiram, partindo do

jornal impresso até chegar à internet. Elis sempre esteve presente em jornais, revistas

rádio e televisão, e não poderia deixar de fazer parte da rede mundial de computadores.

Deixando claro que o Mito sobrevive ao tempo.

No 4° capítulo, foram utilizadas citações e explicações do professor e jornalista

Nilson Lage sobre o que é a reportagem, e do jornalista José Hamilton Ribeiro a

respeito da grande reportagem.

Por haver pouca literatura sobre o assunto, a partir dessas exemplificações,

surgiu um conceito de grande reportagem que foi utilizado nesse relatório e, aproveitado

na produção do encarte.

Finalizando o relatório, o quinto capítulo traz explicações sobre como foi

diagramada a revista e porque foram escolhidas determinadas fontes, tipos e cores para

a publicação, que é direcionada para um público feminino e masculino, e que goste de

música popular brasileira.

Essa introdução foi uma pequena amostra do que se vai encontrar nos textos que

se seguem.

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1. Elis Regina Carvalho Costa

1.1 – Nasce uma estrela

Dona Ercy Carvalho Costa deu à luz, num domingo de verão, no Hospital da

Beneficência Portuguesa pelas mãos da enfermeira Marlene e da Parteira Conceição, a

Elis Regina Carvalho Costa, uma menina que futuramente seria a mais importante

cantora da Música Popular Brasileira.

“Eu nasci em Porto Alegre, em 1945, no dia 17 de março, um domingo, às duas

e dez da tarde, estragando o café da mamãe, aquele lanche maravilhoso!” (REGINA,

Elis, MPB Especial, 1973)

Primeira filha muito esperada de um casal de dois anos de vida em comum,

primeira neta, e primeira sobrinha de uma família de sete pessoas que se adoravam, Elis

nunca deu trabalho para a mãe. Dormia sempre às oito da noite, no quarto escuro. A

bonequinha estrábica de Dona Ercy tinha no quintal de casa o seu parque de diversões.

A bolsa de palha era sua companheira e confidente, era com ela que Elis conversava nos

passeios particulares no quintal.

Desde pequena já se sabia que não cresceria muito. A primogênita dos Carvalho

Costa, sempre bem arrumadinha, com laços no cabelo e vestidos bordados, ainda

criança, participava das reuniões familiares.

“Na casa dos Carvalho Costa, o rádio tocava a música do Brasil,

pela Rádio Nacional do Rio, e a música da Argentina, pelas ondas da

Rádio Belgrano. Aos domingos, quando se reunia toda na casa da avó

Ana, mãe de Dona Ercy, a família costumava fazer barulho na mesa.

Cantar alto, gargalhar. A pequena Elis cantava Adiós pampa mia do

começo ao fim, sem desafinar, sem errar a letra. E foi num desses

domingos que a avó Ana teve um rompante:Porque não levam essa

guria ao Clube do Guri?”(ECHEVERRIA, 1985, p. 15)

Aos sete anos, atendendo ao pedido feito pela avó Ana, deu a ela de presente de

aniversário a participação no programa de rádio chamado Clube do Guri, da Rádio

Farroupilha de Porto Alegre.

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A menina tímida teve que enfrentar um auditório de rádio, lotado de rostos

desconhecidos. A primeira vez de Elis não foi das melhores, o nervosismo foi tanto que

a voz faltou, o estrabismo se acentuou e ela não pode presentear a avó.

Segundo Elis, o talento comercial de seu pai, já se fazia presente no momento

em que ele olhou pra ela, “... Deve ter pensado assim, - Essa menina quando crescer vai

ser cantora, então um ótimo nome pra cantora é Elis Regina.” (REGINA, Elis, MPB

Especial, 1973) Sempre requisitada pela família, para cantar, não cantava, sua vontade

era mesmo de tocar piano. E foi o que seus pais fizeram, a colocaram para estudar

piano.

A aluna dedicada e inteligente não era mais de aulas particulares, ela deveria ir

para um conservatório, mas ter um piano em casa era luxo, e a família precisava comer.

A impossibilidade de continuar as aulas fez Elis cantar, foi a maneira

encontrada por ela para colocar pra fora todo o som que tinha dentro da cabeça.

Cinco anos mais tarde, já com doze anos pediu uma nova chance de cantar para

o público. Rumo a Radio Farroupilha, dessa vez o Clube do Guri, a avó, e os ouvintes

gaúchos, puderam conhecer a voz de Elis. Em casa a badalação foi grande, ganhou até

almoço em sua homenagem.

Cantar para satisfazer a avó ou a família era lindo, mas quando Elis tomou gosto

pela coisa... Ser cantora não era de bom tom na época. Não ficava bem uma moça de

família cantando na rádio. “Mas aí não tinha mais jeito. É que nem gente que começa a

beber e não quer parar. Pra mim é cantar e coçar, é só começar!” (REGINA, Elis, MPB

Especial, 1973).

E não parou, foi trabalhar na Farroupilha, além de cantar aos domingos no Clube

do Guri, Elis era secretária de Ary Rego, apresentador do programa. Depois de um ano e

meio, ela assinou seu primeiro contrato profissional.

Aos quatorze anos, em 1959, vigiada de perto pelos pais, Dona Ercy e Seu

Romeu, Elis assinou um contrato com a Rádio Gaúcha. Passou a cantar por um cachê de

cinqüenta cruzeiros mensais. “Aos treze anos e meio, Elis era a garota sensação de Porto

Alegre.” (ECHEVERRIA, 1985, p. 18).

Com o primeiro salário, Elis fez questão de equipar seu quarto com três coisas

que queria muito, um sofá-cama, um tapete e uma vitrola hi-fi. O dinheiro chegado em

boa hora, pois Dona Ercy criava também uma sobrinha, com o passar dos anos e com o

aumento das cifras, foi trazendo problemas de relacionamento na família. Elis tinha

apenas quatorze anos e já ganhava mais que o pai.

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Aos quinze anos, Elis debutou em vários sentidos, usou salto alto e pintou as

unhas pela primeira vez, teve festa, viajou para outra cidade em outro estado e gravou

seu primeiro disco, “Viva a Brotolândia”.

Depois do disco de estréia gravado em 1961, e de ter sido eleita a Rainha do

Disco Clube, Elis gravou mais dois discos no mesmo estilo, roquinhos e samba-canções.

“Poema” em 1962, ano em que ganhou o prêmio de melhor cantora no Salão de Atos da

PUC-RS e, “O Bem do Amor” em 1963. De repercussão estritamente local, ela, que já

cantava como crooner da Banda Flamboyant, percebeu que Porto Alegre nada mais

tinha para oferecer.

Os namorados em Porto Alegre foram dois. O primeiro um disque-jóquei que

morava em uma pensão. O segundo um funcionário da Caixa Econômica Federal, “O

que sobrou desse caso juvenil foi uma briga decisiva: Elis terminou o namoro e foi

embora para o Rio de Janeiro...” (ECHEVERRIA, 1985, p. 18).

Sua ida definitiva para o Rio, foi em março de 1964, logo ao completar dezoito

anos. Ela e seu pai, que estava desempregado, pegaram um ônibus rumo à Cidade

Maravilhosa para tentar a sorte. Elis contava com a promessa de Armando Pitigliani, de

contratá-la para a Philips assim que ela rompesse com a CBS.

A chegada de uma futura nova estrela ao Rio não poderia ter sido melhor. A

esperavam um programa de televisão, já em vista, e um local de grandes agitos na noite

carioca, O Beco das Garrafas.

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1.2 – Desponta a Estrela – Elis Regina

Elis e Sr. Romeu chegaram ao Rio, em 1964, no ano do Golpe Militar.

“Morávamos num quarto-e-sala em Copacabana. Aprendi a cozinhar. Lavava a louça e

meu pai arrumava a casa. Eu esfregava a roupa e ele passava”. (REGINA, Elis, Contigo

Biografias, 2004, p. 18)

“Elis contava com a promessa do produtor de discos Armando

Pitigliani de contratá-la para a Philips, assim que ela rompesse o

contrato que ainda tinha com a CBS. (...) Abandonou a CBS,

procurou Armando Pitigliani na Philips, que cumpriu a promessa.”

(ECHEVERRIA, 1985, p. 21 e 25)

Todo seu trabalho era para sobreviver no Rio. Pagava a moradia, a alimentação e

outras despesas. Seu pai que havia ido com a idéia de emprego fixo, tinha até uma carta

de recomendação do PTB, não teve sorte. O Golpe acabou com o partido. Elis mandava

dinheiro para mãe em Porto Alegre, além de sustentar a si mesma e ao pai.

Pelas mãos de Paulo Gracindo passou a se apresentar no programa “Noites de

Gala”, transmitido pela TV Rio. Mas ela também começou a fazer shows, o palco ficava

no Beco das Garrafas, reduto da boemia carioca na época.

“A fama do pedaço começou no fim da década de 50, quando o Brasil

vivia um governo de afirmação nacionalista, progresso e expansão

econômica, o governo de Juscelino Kubitschek, o “presidente bossa-

nova”(...) Em 1964, quando Elis Regina chegou ao Rio, estava no

apogeu a geração que se criou com Juscelino.” (ECHEVERRIA,

1985, p.25 e 26)

Os shows no Beco passaram a ser produzidos pelos dois melhores produtores na

época. Luis Carlos Miéli e Ronaldo Bôscoli eram pretensiosos, tinham idéias para

shows na Broadway, mas se limitavam a montar showzinhos em palcos minúsculos.

Elis que já conhecia Edu Lobo e era apaixonada por ele, conheceu também um

bailarino americano Lennie Dale, que a ensinou a utilizar também o corpo como forma

de expressão, além da voz que ostentava nos palcos.

“Elis era a nova sensação do Beco das Garrafas. Ela e Wilson

Simonal. O Beco das Garrafas fervia, nos bares tocava-se cada vez

mais alto, com mais músicos, cantava-se cada vez mais “pra fora”.

Com 19 anos, Elis, filha de uma lavadeira de Porto Alegre, e Simonal,

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22, filho de uma lavadeira carioca, eram as melhores vozes e as

maiores revelações da nova geração.” (MOTTA, 2001, p. 76 e 77).

O baterista Dom Um Romão foi quem levou Elis para o Beco, o maior templo da

música brasileira na década de 60. Elis começou a se apresentar lá. Seu primeiro show

foi na casa Little Club, o nome era Bossa a Três.

“No Bottle’s, estréia com sucesso o espetáculo Sósifor, dirigido pela dupla Luís

Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli e Íris Lettieri nos textos” (OSNY, 2004, p. 47).

Elis começou a faltar nos shows do Beco, geralmente aos sábados. Ronaldo

Bôscoli dizia que o pai a obrigava a fazer shows por fora para ganhar mais dinheiro.

Bôscoli, como diretor, na terceira falta da cantora foi saber qual era o problema.

Mas ela tinha outros planos. São Paulo era seu novo alvo, lá jovens artistas se

reuniam em um show ao vivo, levando a música popular para os teatros. O primeiro

show, organizado pela faculdade de Direito de São Paulo aconteceu no Teatro

Paramount, se chamava O Fino da Bossa. Elis, convidada para participar do segundo

show, no dia 31 de agosto de 1964, intitulado Boa bossa, foi um sucesso.

Seduzida pelos cachês paulistas, ganhava em um show o equivalente a um Mês

no Beco das Garrafas, Elis já havia feito a sua escolha. “Mas antes de abandonar e de

certa forma enterrar o Beco das Garrafas, Elis armou uma briga feia com Ronaldo

Bôscoli, porque ele tinha mandado pichar uma tarja preta em cima de seu nome no

cartaz da porta do Bottles.” (ECHEVERRIA, 1985, p.32). Eles viraram inimigos

mortais, não podiam ouvir falar um do outro.

“Seu Romeu vinha sempre com a desculpa de que ‘Elis estava

doente’. Ela insistiu na tese de que estava estressada, doente. Eu disse

que sabia dos shows que ela fazia na mesma hora em outros lugares.

E a discussão foi indo até um ponto em que ela já estava dando uma

de Joana d’Arc, chorando e se dizendo injustiçada.” (BÔSCOLI,

1985, p. 31)

Em fevereiro de 1965, sozinha, Elis foi para São Paulo. Seu primeiro namorado

carioca, o produtor Solano Ribeiro e um amigo dele, o também produtor Walter Silva

levaram Elis a um empresário em ascensão, Marcos Lázaro, que se tornou empresário e

uma espécie de anjo da guarda de Elis. Morando na casa de seu empresário e bem

acolhida pela esposa e filhos dele, era a primeira artista exclusiva deste argentino.

Atlética e enérgica no modo de cantar, Elis se entrasse numa briga, ia com unhas

e dentes afiados, visando sempre o primeiro lugar. Foi com esse ímpeto que ela entrou

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no I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, a convite de Solano

Ribeiro.

Em meio a transações políticas e interesses de partes, Elis recebeu duas músicas.

Por um amor maior, sua preferida escrita por Francis Hime e Ruy Guerra, e Arrastão,

de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. A primeira foi desclassificada, Elis então defendeu

Edu e Vinícius no festival. O resultado foi a vitória em sua primeira participação.

“Arrastão” foi o primeiro passo para o estrelato. Decolava, no dia 6 de abril, o

“Eliscóptero” ou a “Hélice Regina”

“Elis Regina dava um adeus formal à bossa-nova. Um ciclo se

encerrava naquele canto atlético com que defendeu a música. Sucesso

nacional. Elis Regina vence o I Festival de Música Popular da

Excelsior. – Olha o arrastão entrando num mar sem fim / É meu

irmão, me traz Iemanjá pra mim. – Elis, peruca preta, vestido tubinho

preto, braços abertos feito o Cristo Redentor. Braços revoando feito

helicóptero e a voz solta com força, gana, vontade de vencer. A

primeira da competição. Medalha de ouro. A boa menina encontra o

sucesso. Rosto pra trás, lágrimas nos olhos. – Pra mim... olha o

arrastão... – Choro e riso no rosto consagrado. Demais para um

pobre coração.” (ECHEVERRIA, 1985, p. 34 e 35).

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1.3 – Consagração, o brilho eterno da Estrela

Aos 20 anos Elis já era um símbolo. A menina vencedora do primeiro festival. A

Pimentinha, como a chamou pela primeira vez, Vinícius de Moraes. O Poetinha atribui

esse apelido à Elis por ela ter um gênio forte e determinado.

Abril de 1965, Elis já era capa de revista, e voltou ao Rio para uma missão

especial, receber o prêmio de melhor cantora do festival. Era a glória. Após oito anos do

primeiro encontro com o microfone, seis após a assinatura de seu primeiro contrato, e

três após o lançamento de eu primeiro LP, Elis chegava aonde queria, ao topo, de onde

só sairia morta, ou não.

Dois dias, esse foi o tempo entre o recebimento do prêmio e uma parceria de

sucesso. Com um show marcado em São Paulo com o violonista Baden Powell, Elis foi

para o Teatro Paramount, que já se sagrava como o templo da MPB em São Paulo, mas

não encontrou Baden, lá estava um cantor conhecido pelo: Deixem que digam que

pensem que falem...

Jair Rodrigues, também antibossa-nova, subistituiu Baden no dia do show, ele e

Elis tiveram tempo de fazer um único ensaio. O resultado? Sucesso. Foram eleitos os

melhores do ano, e ganharam o Prêmio Roquete Pinto oferecido pela TV Record.

“Os dois mil lugares do Paramount foram insuficientes para o

público que superlotou as três apresentações de Elis, Jair e o Jongo

Trio. Nascia ali a dupla que durou praticamente três anos e três LPs

gravados ao vivo. O primeiro da sério, “Dois na Bossa”, saiu desse

primeiro espetáculo produzido por Walter Silva.” (ECHEVERRIA,

1985, p. 58)

Os LPs gravados com Jair foram um êxito, o primeiro número vendeu a incrível

marca de 500 mil cópias, um fenômeno na época e atualmente. Com o sucesso da dupla,

um contrato milionário com a TV Record foi fechado para a apresentação do programa

O Fino da Bossa (junto com Jair Rodrigues), gravados às segundas-feiras nos moldes

dos shows do Teatro Paramount, que fazia frente ao Jovem Guarda, apresentado por

Roberto Carlos e sua turma.

Acompanhada pelo Zimbo Trio, o conjunto que tocava no programa, Elis

recebeu em seu programa a nata da música brasileira. Foi nessa época que conheceu

Gilberto Gil, um dos compositores mais cantados por ela. Em maio do mesmo ano, Elis

lança seu primeiro LP solo pelo selo Philips, chamado Samba eu Canto Assim.

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Em 1966 o Fino da Bossa era um sucesso de audiência e, a dupla Elis Regina

(Pimentinha) e Jair Rodrigues (Cachorrão) fez uma excurssão por Lisboa e Luanda,

fazendo shows e levando para o exterior todo o vigor e a beleza da música brasileira.

Além disso, Elis faz um favor para a MPB, no seu segundo disco pela Philips, chamado

Elis, ela lançou um compositor desconhecido, vindo de Minas, um rapaz chamado

Milton Nascimento, a música era Canção do Sal.

Um ano e cinco meses depois de ter sido a melhor cantora do I Festival, Elis fica

com um mísero quinto lugar, defendendo Ensaio Geral de Gilberto Gil, e com muitas

vaias do público no II Festival de Música Popular Brasileira em setembro de 66. No

mês seguinte amarga mais vaias na parte nacional do I Festival Internacional da

Canção1 promovido pela TV Globo.

O Fino era imbatível, mas Elis quis tirar férias... O programa teve uma grande

queda, nocauteado pelo Jovem Guarda de Roberto Carlos. Para melhorar e trazer de

volta os velhos tempos, a cantora surpreendentemente sugeriu que fossem contratados

dois diretores que ela havia conhecido no Rio, e com que tinha tido uma briga. Porque

não Miéli e Bôscoli?

A dupla de produtores mudou o nome do programa para Fino 67, numa tentativa

de alavancar a audiência, mas foi em vão. No dia 19 de junho a Record tira o programa

do ar. A idéia foi transformada em um programa semanal, com apresentadores variados

a cada semana. Dos nove programas, Elis apresentou três.

Mais um festival, e Elis estava lá. Em outubro de 1967, no III Festival, Elis

Regina defendeu a música O Cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta. A música não

faturou nada, mas Elis ganhou o prêmio de melhor cantora. O II Festival Internacional

da Canção não teve a presença de Elis Regina, mas ela não deixou de tirar proveito de

mais esse festival. Gravou outra música de Milton, Travessia ficou em segundo lugar no

II FIC.

Mas 1967 reservava surpresas para Elis e para o universo musical. O reencontro

com Bôscoli rendeu frutos. A aproximação dos dois no Fino foi mais séria do que se

poderia imaginar, e não ficou somente no âmbito profissional. No dia 5 de dezembro,

Elis, aos 22 anos casa-se no civil com Ronaldo Bôscoli, de 38 e, a notícia abalou o

mundo artístico. No dia 7 foi a vez do religioso.

1 Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela TV Globo no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, vencido por Nana Caymmi na sua primeira edição.

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“A cerimônia aconteceu na Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca,

no Rio. Elis com um vestido de Denner, usava um véu de 10 metros de

comprimento. Quando alguém sem querer pisou nele, a noiva não

titubeou e gritou: “Solta meu rabo, pô!”. Elis tinha 22 anos e

Ronaldo, 38. Foram duas as grandes influências de Bôscoli sobre

Elis. A primeira foi sobre seu visual: ela cortou os cabelos bem

curtinhos, fez uma plástica para diminuir os seios e renovou o

guarda-roupa, aderindo à moda espacial. A segunda modificou o

repertório, que ficou menos político e passou a incluir a bossa nova,

que ela abominava. (...) As mudanças se refletiram positivamente na

carreira de Elis. Em 1968, ela se tornou a primeira cantora a subir ao

palco do prestigiado Olympia, de Paris, duas vezes no mesmo ano.

Depois se apresentou na Holanda, Bélgica, Suíça, Suécia e

Inglaterra.”(BIOGRAFIAS, Contigo – Elis Regina, 2004, p. 23 e 24).

Casada, Elis representa o Brasil no II Mercado Internacional do Disco e da

Edição Musical, em janeiro de 1968 em Cannes na França, ainda no país de Napoleão,

ela se apresentou no Olympia em Paris, o Casino Estoril em Portugal também recebeu

Elis. As apresentações internacionais continuavam, dessa vez ela vai a Buenos Aires e

canta com Jair Rodrigues no Teatro Ópera. Além de viagens Elis ganha mais um

prêmio, a I Bienal do Samba foi vencida por ela cantando Lapinha de Baden Powell e

Paulo César Pinheiro.

Em 1969 outra excurssão à Europa, tevês inglesas recebem a Pimentinha

brasileira. A Record estréia em março o programa Elis Studio, com a participação de

Roberto Carlos e sem platéia, mas em maio ela se desliga da emissora. Dois discos são

gravados no exterior, Elis in London gravado na Inglaterra, só foi lançado em 1982 e, na

Suécia, gravou um disco que só foi lançado em 1978 com o gaitista Toots Thielemans.

O show Elis com Miéli & Bôscoli foi lançado no dia 1° de julho no Teatro da

Praia no Rio, em novembro o show vem para São Paulo. No mesmo ano, em 69, a

rainha da música e o rei dos gramados se juntam. Elis lança um compacto duplo,

Tabelinha Elis x Pelé, ele canta com ela as duas músicas.

Com Ronaldo Bôscoli, além de lançar discos e shows, Elis teve um dos maiores

presentes de sua vida. Nem mesmo grávida ela parou, subiu ao palco do Canecão, no

Rio, com um barrigão de seis meses e cantou. O primogênito João Marcello Bôscoli,

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nasceu no dia 17 de junho de 1970. Eles moravam em uma casa de estilo marroquino,

na Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro.

1971, Elis presidiu o Júri do VI FIC, junto com Ivan Lins apresentou o programa

global Som Livre Exportação, e ela virou global, Elis Especial, seu programa mensal

dirigido por Miéli e Bôscoli estreou em junho. Em outubro Elis teve a honra de

participar do CD produzido pela Onu em apoio aos refugiados. Madalena foi a música

da única convidada brasileira.

O show É Elis abre o ano profissional de 1972. A banda já era outra, entre os

músicos o pianista César Camargo Mariano. Profissionalmente o ano não foi dos

melhores, o show “É Elis”, em cartaz no Teatro da Praia, e dirigido por Miéli e Bôscoli,

foi um fracasso de público e, decretou o enterro definitivo da dupla em sua carreira, e o

fim de seu casamento com Ronaldo. O programa Elis Especial chega ao fim e ela

rescinde contrato com a Globo.

“Foi um fracasso de público. Eles inventaram um cenário mirabolante que

acabou não funcionando. O cenário custou uma fábula. No final do show, Elis sentava

na escada do palco e cantava Boa noite, amor, com play-back, Um dia faltou luz bem na

hora, e Elis, sem microfone, e sem orquestra, cantou iluminada pelo lanterninha.”

(COSTA, 1985, p. 130)

“Era uma relação perigosamente deliciosa. Voava tudo pelos ares e, de

repente, estávamos nos agarrando de paixão. Fazíamos coisas estranhas e bonitas.”

Assim Ronaldo Bôscoli definiu seu casamento com Elis em entrevista para Regina

Echeverria no livro Furacão Elis. A união de cinco anos terminou como eles se

conheceram, em briga. Eles se separaram em maio de 1972.

Uma turnê pelo interior do país, foi isso que marcou o ano de 1973, junto com

sua banda e com o pianista César Camargo Mariano, Elis sai de ônibus pelos estados de

São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Nesse mesmo ano, Elis que era empresariada por

Marcos Lázaro, trocou de empresário.

Comemorando dez anos de carreira, e com o novo empresário Roberto de

Oliveira, Elis gravou um disco histórico. Entre os dias 22 de fevereiro e 9 de março, nos

estúdios da MGM Elis e Tom gravaram o disco de mesmo nome. Com arranjos do

próprio Tom e também de César Mariano, o sucesso foi relançado em 2004 em CD e

DVD.

Ainda em 1974, Elis lança o recital Elis, dirigido por seu marido César Marino.

Participa do show de inauguração do Teatro Bandeirantes, junto com Chico Buarque,

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Bethânia, Gal e outros. O Lp com Tom lançado em julho rende dois shows com o

quinteto de César. Mais um Lp é lançado.

César Camargo Mariano, pianista que tocava com Elis, foi seu segundo marido.

Há muito ele nutria um amor platônico por Elis, que em 1971, mandou um recado para

César, disse que estava a fim dele. Resolveram em 74 mudar para um apartamento no

bairro do Brookling, em São Paulo. No ano seguinte eles fundaram uma empresa para a

produção de shows chamada Trama. “Precisávamos organizar o trabalho de Elis, já que

não estamos querendo ser empresariados por ninguém. Vamos nós mesmos nos dirigir,

produzir e empresariar, mesmo que se apanhe um pouco no começo.” (MARIANO,

2004, p. 57)

Pedro Camargo Mariano, o primeiro filho do casal nasceu em 18 de abril de

1975. Elis voltava a formar uma família. “Agora tenho em casa dois primogênitos”2,

disse Elis se referindo aos filhos João Marcello e Pedro.

Cinco meses após o nascimento de Pedro, começa o ensaio do show mais

duradouro e mais bem sucedido da carreira de Elis. Falso Brilhante ficou em cartaz por

14 meses com uma média de público de 1.500 pessoas por apresentação. Além das

músicas cantadas pela bela voz de Elis, o show teve uma composição cênica marcante.

A estréia foi no Teatro Bandeirante, em São Paulo no dia 17 de dezembro de 1975,

cidade onde permaneceu durante os 14 meses. No ano seguinte o show foi premiado

pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como o melhor show do ano, foi

lançado também um Lp de mesmo com nome com parte das músicas do show gravadas

em estúdio.

No final do ano, Elis e César resolveram sair da poluição de São Paulo. Eu quero

uma casa no campo... O casal e os dois meninos se mudaram para uma casa na Serra da

Cantareira.

Grávida do terceiro filho, em 1977, Elis sobe ao palco no Palácio de Convenções

do Anhembi em São Paulo, para participar do show Fino da Música promovido pela

Rádio Jovem Pan, assistido por mais de 3.500 pessoas.

No dia 9 de setembro nasce o terceiro filho de Elis, dessa vez é uma menina,

Maria Rita Mariano, seu segundo filho com César Mariano.

Apenas dois meses depois de dar à luz, Elis Regina estréia em Porto Alegre sob

a direção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós e direção Musical do marido César o show

Transversal do Tempo, que em 1978 é apresentado em Roma e Milão na Itália, em 2 Citação no livro Elis Regina por ela mesma, na página 57, edição 2004.

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Barcelona na Espanha e só no dia 7 de março ele vem para o Brasil e toma lugar no Rio

de Janeiro. Em 79 o show se encerra e Elis tira férias.

Trocou de gravadora, deixou a Philips e assinou contrato com a WEA (Warner

Music), que incluía a participação da cantora no Festival de Jazz de Montreaux na

Suíça, que aconteceu no dia 19 de julho. Ela fez duas apresentações no mesmo dia, uma

matinne não combinada, considerada a melhor, e a apresentação programada, com muita

técnica, mas pouca emoção, o cansaço da tarde acabou por prejudicar o desempenho de

Elis. Protagonizou também um duelo com Hermeto Pascoal, a “jam session” foi um

sucesso. No dia 25 Elis rumou para o Japão, um Festival de Jazz a esperava.

Em maio de 1979, a WEA lança o primeiro compacto simples de Elis, a música

O Bêbado e a Equilibrista, que se tornou o hino da anistia no país. O primeiro CD pela

nova gravadora saiu em julho, com o nome de Elis, Essa mulher. O show de mesmo

nome teve início no dia 30 de julho no Estádio Municipal de Sorocaba, interior de São

Paulo, para 2.500 pessoas.

Mais um show em fase de ensaio. A carreira de Elis parece muito mais longa do

que realmente foi. Ela vivia quase dez anos em apenas um, eram viagens, shows, Lp’s,

participações, programas de TV. No ano de 1980 o nome do show e do Lp era: Saudade

de Brasil. “Elis, César & Cia. fizeram o seu melhor trabalho em muitos anos”3 , “Elis

empolgante”4.

O show que marcou a década de 80 passou cinco meses no Rio de Janeiro até

chegar a São Paulo. Nesse mesmo ano, participou da série de programas chamada

Grandes Nomes, da TV Globo. Elis Regina Carvalho Costa reuniu grande parte do

repertório do Lp Saudade do Brasil e tem interpretações gloriosas com Atrás da Porta,

em que cantou com tanto sentimento que não foi capaz de conter as lágrimas que

insistiam em cair.

A união de nove anos foi a mais tranqüila, madura e feliz da vida de Elis Regina.

César deu a ela uma casa no campo, segurança, dois filhos e ajudou a criar João

Marcello. “Elis gostava de fazer tapetes, tricô, crochê, e tinha uma máquina de costura.

Fez o enxoval dos filhos, bordou camisinha de pagão. Certa época ela decretou o fim da

empregada à noite: ela fazia tudo, cozinhava pra todo mundo.” (FIGUEIREDO, 1985, p.

148)

3 Revista Isto É, 20 de julho de 1980. 4 Revista Veja 09 de julho de 1980.

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Mas no ano de 1981 os dois se separaram, na vida e no trabalho. César não

participou do ultimo show de Elis, intitulado O Trem Azul. Foi nesse ano, após essa

separação que Elis começou a se drogar. O Consumo de cocaína só foi aumentando.

O show, dirigido por Fernando Faro, com cenários de Elifas Andreato estreou no

Canecão, alguns arranjos eram de César, que não participou do show por causa da

separação. César não assistiu a nada do show, nem a estréia ele foi.

Em 81, Elis se envolveu com o seu advogado, Samuel McDowell, com quem

ficou até morrer. No início de 82, os planos de Elis eram muitos, disco novo pela nova

gravadora, a Som Livre, os planos de casamento com Samuel, mas seu comportamento

já não era normal.

A relação com os filhos, que foi sempre boa havia mudado, ela batia e beijava no

mesmo instante e com a mesma intensidade. O estrabismo havia voltado de maneira

violenta. Elis se perdeu em meio ao sucesso.

O ultimo compromisso profissional de Elis foi o programa Jogo da Verdade, da

TV Cultura, exibido dia 6 de janeiro de 1982, treze dias antes de sua morte. Os

dezenove dias do ano de 1982 foram agitados, a procura por repertório, a montagem da

nova equipe, a busca por uma nova casa, onde viveria com os filhos e o novo e terceiro

marido.

“Às nove e meia da terça-feira, 19 de janeiro, toca o telefone no

escritório do advogado Samuel McDowell Figueiredo. Era Elis,

recomeçava a discussão sobre o casamento e a mudança. Ela contou

que tinha passado a noite em claro. O telefonema começou áspero e

pouco a pouco eles foram se entendendo. Samuel conseguia fazer com

que Elis o ouvisse. Claro que ele queria se casar com ela e morar com

ela. Não se sentisse insegura: a vacilação era natural, principalmente

com crianças na jogada. Depois de muitas explicações, ela enfim

pareceu ceder. Suave, meiga, amorosa, dizia do outro lado da linha:

Eu te amo, eu te amo, você é o homem da minha vida. Samuel notou

que a voz dela passou a soar meio pastosa. As palavras saíam aos

arrancos, incompletas. E de repente, silêncio. Alô, alô, ele gritava.

Nada. Nem um som. Aflito, ele desligou e discou para a casa dela.

Ocupado. Ligou de novo. Ocupado, De novo. Sempre ocupado. (...) A

porta do corredor que dava para a suíte de Elis estava trancada.

Samuel esmurrou. Nenhuma resposta. Pediu então ao menino (João

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Marcello) que pegasse ferramentas e o ajudasse a arrombar a porta,

pois Elis tinha deixado a chave na fechadura do lado de dentro, e

quem estava de fora não conseguia abrir. Os dois arrebentaram a

fechadura. E encontraram nova porta trancada, a do quarto. Outro

arrombamento. Quando enfim a porta cedeu, Samuel e João Marcello

viram Elis caída no chão, entre a cama e a estante. Do lado, fora do

gancho o telefone.” (ECHEVERRIA, 1985, p. 262 e 263)

O pedido de socorro, o médico, ambulância já não adiantava mais. A mulher, a

mãe, e a cantora haviam morrido. Agora, a estrela estava realmente no céu. Lugar onde

seu brilho seria intenso e eterno. Três viúvos, três órfãos de mãe, um país órfão da sua

maior cantora.

“A música popular perdeu sua maior porta-bandeira.” (ECHEVERRIA, 1985, p.

267)

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2. Parcerias

2.1 – Os compositores de Elis

Sua primeira grande aparição como cantora, foi no palco do I Festival da Música

Popular Brasileira, em 1965. A canção que defendia era “Arrastão” de Vinícius de

Moraes e Edu Lobo, esse foi o pontapé inicial que a levou ao estrelato e mostrou ao

Brasil o gosto refinado e a qualidade que Elis iria imprimir em seus trabalhos.

Elis Regina não podia ficar parada, estava sempre gravando ou lançando um

disco, estreando um show ou fazendo algum programa de televisão. A média era de um

disco por ano, eram músicas inéditas ou já conhecidas. Ela se importava com a

mensagem que passaria ao cantar, por isso acabou lançando compositores e fortalecendo

outros tantos, dos quais foram escolhidos cinco.

Começando por Chico Buarque, que assim com Elis, “nasceu” para a música

brasileira em 1965, no I Festival da Música Popular Brasileira. Foi para ela que Chico

ofereceu o sucesso “A Banda”, mas a Pimentinha, devido ao seu gênio forte, se recusou

a lançar Chico Buarque, segundo ela porque ele não falava. Tempos depois, Chico

compôs uma das músicas mais bem interpretadas por Elis, a famosa “Atrás da Porta”.

Com Tom Jobim, as coisas aconteceram um pouco mais tarde. Elis não gostava

de bossa nova, nunca gostou de “Garota de Ipanema”, mas foi “Águas de Março” uma

de suas músicas de maior sucesso. Foi com Tom Jobim, em 1974, que Elis comemorou

sues 10 anos de carreira. O disco Elis e Tom, lançado pela Polygram foi um presente da

gravadora para Elis. Reeditado e relançado em CD e DVD, no ano de 2004 pela

gravadora Trama, o álbum, que foi um marco na carreira dos dois artistas, continuou

sendo bem aceito pelo público.

Vinícius de Moraes e Edu Lobo foram os responsáveis por fazer de Elis Regina

uma cantora famosa e vencedora do I Festival da MPB, é deles a música “Arrastão”,

que fez decolar o “Eliscóptero” ou a “Hélice Regina”. Essa dupla de compositores

abasteceu Elis com muitas músicas, às vezes eram só de Vinícius, às vezes só de Edu, às

vezes dos dois.

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Porém, o grande caso de amor mal resolvido dessa cantora foi um compositor

mineiro, de apelido Bituca. Milton Nascimento foi lançado por Elis como tantos outros

compositores. “Canção do Sal”, que não era do gosto de Milton, conquistou a cantora

gaúcha, que gravou a canção. Milton e Elis sempre foram amigos, acima de tudo.

“Maria, Maria”, “Travessia” e “Canção da América” são algumas das tantas músicas do

Milton, gravadas por Elis.

Esses cinco homens da Música Popular Brasileira estiveram presentes na

carreira, na vida e na trajetória de Elis Regina. Algumas músicas foram escritas para ela,

outras ela tomou como suas e eternizou. Assim foram sendo construídas as parcerias, as

amizades e os sucessos de Elis.

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2.2 – Os compositores de Elis: Chico Buarque

Compositor de “A Banda”, lançada por Nara Leão e vencedora do II Festival da

Música Popular Brasileira, Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro em 1944. Filho do

historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e de Maria Amélia Cesário Alvim,

uma pianista amadora, aos dois anos se mudou para São Paulo.

Em 1950, foi com a família para a Europa. Três anos depois, Chico estava

morando na Itália e estudando em uma escola americana, assim se tornou trilingue e

compôs suas primeiras marchinhas de carnaval. Sua casa era freqüentada por muitos

artistas, entre eles Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Em 1954 a família Buarque de

Hollanda volta para o Brasil.

Em 1965, aos 21 anos, é lançado seu primeiro compacto com Pedro pedreiro e

Sonho de um carnaval, sua primeira música inscrita em um festival, o da TV Excelsior.

A canção defendida e depois gravada por Geraldo Vandré não se classifica. Ainda nesse

ano, em um famoso bar de São Paulo ele conhece dois outros artistas que seriam

gravados por Elis, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Com 22 anos, compositor da música vencedora do II Festival da Música Popular

Brasileira e uma das mais gravadas no mundo, Chico Buarque muda-se para o Rio de

Janeiro e lança seu primeiro LP pela RGE, intitulado Chico Buarque de Hollanda.

Torna-se o mais novo artista a gravar um depoimento para o Museu da Imagem e do

Som, privilégio até então reservado a personalidades de gerações anteriores.

Chico se consagra, no dizer de Millôr Fernandes (com quem viria a ter sério

desentendimento anos mais tarde), "a única unanimidade nacional”.

Mesmo morando no Rio, Chico começou a gravar, ao lado de Nara Leão, o programa

musical Pra ver a banda passar, da TV Record.

Em 1967, duas músicas de Chico se classificam para dois grandes festivais.

‘Roda Viva’ fica com o terceiro lugar no III Festival da MPB e ‘Carolina’ se classifica

também em terceiro lugar no II Festival Internacional da Canção. Nesse mesmo ano ele

lança seu segundo LP.

No ano seguinte, 1968, participou de uma passeata que reuniu estudantes,

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artistas e intelectuais num ato contra a Ditadura Militar, a "Passeata dos cem mil".

Depois de 13 de dezembro, quando foi decretado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), Chico

Buarque, acabou detido e levado ao Ministério do Exército para prestar depoimento

sobre a sua participação na passeata e sobre as cenas exibidas na peça Roda viva, escrita

por ele no ano anterior e com cenas consideradas subversivas pela censura.

Em 1969 Chico parte para um auto-exílio na Itália, ele permanece no país até

março de 1970, quando volta ao Brasil. O compositor é recebido por muita gente, que o

esperava no aeroporto, manifestações de amigos, entrevistas à imprensa e um show

marcado na boate Sucata para lançar seu quarto LP.

Suas letras voltam-se para o protesto político, como a música Apesar de você,

que traz em um de seus versos a frase: “Apesar de você amanhã há de ser outro dia”,

deixando claro que apesar da Ditadura, as coisas poderiam mudar.

Como uma maneira de driblar a censura e conseguir certa liberdade, Chico cria o

personagem Julinho da Adelaide. O “jeitinho brasileiro” deu resultado. Músicas como

Acordam amor, Jorge maravilha e Milagre brasileiro, passaram sem grandes

problemas pela censura.

Em 1982, com a parceria de Edu Lobo, Chico compõe as canções para o balé O

grande circo místico, que seria lançado em disco no ano seguinte. Nesse mesmo ano,

morre seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda, aos 79 anos de idade.

Em 1983 compõe o samba Vai passar, mais uma em parceria com o maestro

Francis Hime, que passou a ser um uma referência para a campanha das Diretas Já,

embora Chico negasse qualquer relação da música com esse movimento.

Ao lado de Caetano Veloso, comandava o programa global intitulado Chico e

Caetano, que permaneceu no ar por sete meses.

Em meados da década de 90, Chico sobe aos palcos, para fazer o show do disco

Paratodos, lançado no final de 93 e que é recebido com grande expectativa depois de

um jejum de quatro anos sem gravar. Participa da "Campanha Nacional Contra a Fome

e Pela Cidadania" do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Para a surpresa de Chico, ele é escolhido como o homenageado da escola de

samba carioca Estação Primeira de Mangueira. O enredo, intitulado Chico Buarque da

Mangueira, ficou com o primeiro lugar no carnaval de 1998.

Em 2002, o livro Benjamin, de sua autoria, virou filme. Depois disso, lançou

outro livro, Budapeste, que já foi traduzido para várias línguas.

As músicas de Chico retratam o feminismo e falam da mulher com maestria. A

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realidade da vida, dos cidadãos e da política eram postas em belas palavras e

acompanhadas por suaves melodias. Numa época em que poucos ousavam falar, Chico

era um dos principais heróis do povo brasileiro. Ele tinha a coragem e a vontade

necessárias para enfrentar o regime e a genialidade para driblar a censura.

Até hoje suas músicas são gravadas, regravadas e ainda dizem o que o povo quer

ouvir, o que o país precisa ouvir e o que ele sempre quis dizer, a verdade.

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2.3 – Os compositores de Elis: Tom Jobim

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, nascidos aos 25 dias do mês de

janeiro de 1927 no bairro carioca da Tijuca, foi o primeiro filho de Jorge de Oliveira

Jobim, professor, diplomata, poeta parnasiano, escritor, crítico e jornalista e de Nilza

Brasileiro de Almeida.

Aos quatro anos mudou-se para a zona sul do Rio de Janeiro, primeiro Ipanema

e depois Copacabana, nesse mesmo ano, ganhou uma irmã. Dois anos após a morte de

seu pai, sua mãe se casou novamente. A família Jobim foi morar em Ipanema, de frente

para o mar e no quintal, vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas.

“Foi naquele ambiente, musical dentro de casa e ecologicamente

exuberante do lado de fora, que Tom, assim apelidado pela irmã,

desenvolveria seu pendor para a música e sua paixão pela natureza”.

(http://www2.uol.com.br/tomjobim/biografia.htm)

Aos 14 anos, com um piano na garagem de casa, Tom Jobim não se conteve,

mesmo achando que piano era para meninas se aproximou do teclado, e quando se deu

conta estava fisgado pelo instrumento, e às vezes tinha até 10 horas de aula com um

professor alemão, que lhe ensinou as coisas básicas, como escalas e as primeiras noções

de composição e harmonia. Mas foi sua outra professora, Lúcia Branco, que o

incentivou a compor. Ele queria ser concertista, mas ela o fez mudar de idéia. Além de

piano, Jobim tocava flauta, harmônica de boca e violão.

Foi em 1946, um ano após o nascimento de Elis, que tom conseguiu seu

primeiro emprego. Aos 19 anos, já casado, ele se tornou pianista da Rádio Clube do

Brasil, e a noite tocava no Bar Michel. Mas o estresse o fez optar pela noite, e ele

passou a tocar em vários bares do Rio de Janeiro, mas não era o suficiente para Tom

embalar os bêbados cariocas.

Passou a se dedicar aos estudos da música e logo conseguiu um emprego de

arranjador na gravadora Continental, que lhe rendia um bom salário. Em 1953, com um

filho de três anos, Tom estreou como compositor, com o samba-canção “Incerteza”.

Depois teve mais duas músicas gravadas, e a partir daí, sua carreira apenas subiu.

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Aos 28 anos, foi convidado a participar de um programa da Rádio Nacional

chamado “Quando os Maestros se Encontram”, ele apresentou-se regendo uma música

de sua autoria, “Lenda”, dedicada à memória do pai e que nunca foi gravada.

Em 1956, tornou-se amigo daquele que seria seu maior parceiro, Vinícius de

Moraes. O Poetinha, como ficou conhecido, precisava de alguém que fizesse músicas

para a sua ópera negra carioca, intitulada “Orfeu da Conceição”, transposição do mito

de Orfeu para uma favela. A primeira obra prima dos dois, conhecida até hoje, foi “Se

Todos Fossem Iguais a Você”, música feita para a ópera.

Até esse momento, a Bossa nova não existia e Tom não fazia ainda tanto

sucesso. Foi em 1957, com a chegada de um baiano ao Rio de Janeiro que a Bossa Nova

pensou em nascer. João Gilberto mostrou duas músicas ao Tom, mas ele nem se

importou em ouvir, tamanho o encantamento com as novas batidas criadas por João.

Mas apenas em 1958 foi lançada oficialmente a Bossa Nova. O disco “Chega de

Saudade”, de João Gilberto, deu o pontapé inicial para o novo estilo.

Em 1962, foi lançado o maior sucesso de Tom Jobim, “Garota de Ipanema”.

Nesse mesmo ano, em novembro, a Bossa Nova foi oficialmente apresentada aos norte-

americanos, em um concerto no Carnegie Hall em Nova York. A partir desse momento

Tom Jobim e seu ritmo ficaram conhecidos em todo o mundo.

Foram muitos anos de sucesso, reconhecimento e admiração de músicos,

cantores e do público. Muitas parcerias de sucesso. Tom e Elis, Tom e Chico, Tom e

Vinícius, Tom e Tom... Letras e músicas fazem parte de novelas, filmes e são

regravadas constantemente por cantores nacionais e internacionais.

Em 1994, em decorrência de uma parada cardíaca, o compositor, músico,

arranjador e poeta Antônio Brasileiro de Almeida Jobim, foi mostrar aos anjos dos céus

as belezas da terra que ele criou, escreveu e cantou.

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2.4 Os compositores de Elis: Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes, filho de D. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da

Silva Moraes, nasceu no dia 19 de outubro de 1913, no bairro da Gávea, zona sul do Rio

de Janeiro.

Suas atividades culturais se iniciaram em 1924. Matriculado no Colégio Santo

Inácio, um dos mais tradicionais colégios católicos do Rio de Janeiro, no bairro de

Botafogo, passa a cantar com o coral do colégio nas missas de domingo. Junto com dois

colegas escreve um épico de inspiração camoniana (Luis de Camões, escritor

português), e passa a participar de todas as festas estudantis, seja cantando ou atuando

em peças infantis.

Aos 14 anos, Vinícius formou um pequeno grupo musical com amigos do Santo

Inácio. Viraram cantores de festins (festas particulares). Com 15 anos, “compõe, com os

irmãos Tapajoz, "Loura ou morena" e "Canção da noite", que têm grande sucesso

popular”. (www.viniciusdemoraes.com.br).

Formado em Letras no Colégio, Vinícius defende sua tese sobre a vinda de D.

João VI para o Brasil e ingressa no "Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais"

(CAJU).

Formado em Direito e tendo concluído o Curso de Oficiais da Reserva, em 1933,

publica seu primeiro livro, chamado “O Caminho para a Distância”. Dois anos mais

tarde, publica “Forma e Exegese”, com o qual ganha o prêmio Felipe d’Oliveira.

Aos 23 anos, com mais uma obra publicada, Vinícius de Moraes torna-se

representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. No mundo

literário, ele conhece renomados poetas brasileiros: Carlos Drummond de Andrade,

Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Cecília Meireles entre

outros.

“Em 1938 publica novos poemas e é agraciado com a primeira bolsa

do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na

Universidade de Oxford (Magdalen College), para onde parte em

agosto do mesmo ano. Funciona como assistente do programa

brasileiro da BBC”. (www.viniciusdemoraes.com.br).

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Sob a coordenação do poeta Cassino Ricardo, ele inicia seu trabalho no jornal A

Manhã, como critico de cinema e como auxiliar no suplemento de literatura do

periódico. Em 1944 vira dirigente do Suplemente Literário de O Jornal.

Diplomata concursado, foi enviado a Los Angeles, nos Estados Unidos, onde

permaneceu por seis anos. Lá, publicou em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão,

seu livro, “Poemas, sonetos e baladas”.

Em 1958, após ter vivido em Paris e Montevidéu, o seu primeiro LP em parceria

com Tom Jobim, é lançado. “Canção do Amor Demais”, cantado por Elizete Cardoso,

apresentou ao público as primeiras batidas da Bossa Nova.

Em 1964, ano que Elis Regina chegava ao Rio de Janeiro, Vinícius fez um show

de grande sucesso com Dorival caymmi, nele lançou o grupo Quarteto em Cy. No ano

seguinte, ganha junto com Edu Lobo o I Festival da MPB, com Arrastão.

Durante os anos seguintes, Vinícius publicou um grande número de obras

literárias, entre elas a sua Antologia Poética, mas a música não ficou para trás. Formou

duplas com Pixinguinha, Carlos Lira, Toquinho, Francis Hime etc.

Após morar na Europa e nos Estados Unidos, escrever poemas, sonetos e

músicas, casar-se 7 vezes, e trabalhar como diplomata, Vinícius de Moraes parte para a

sua última viagem.

Na manhã de 9 de julho de 1980, o Poetinha morre de edema pulmonar, em sua

casa, na Gávea, Rio de Janeiro, em companhia de Toquinho e de sua última mulher,

Gilda de Queirós Mattoso. Extraviam-se os originais de seu livro O dever e o haver.

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2.5 Os compositores de Elis: Edu Lobo

Eduardo de Góes Lobo, filho do compositor Fernando Lobo, nasceu no Rio de

Janeiro, no dia 29 de agosto de 1943. No período de férias, ia para a casa dos tios, em

Recife, Pernambuco. Desde pequeno já mostrava inclinação para a música. Ganhou seu

primeiro instrumento aos oito anos, era um acordeon. Fez os cursos ginasial e colegial

no Colégio Santo Inácio, e por essa época já tentava algumas composições.

Aos 16 anos começou a tomar gosto pelo violão. Suas primeiras aulas foram

com o amigo e também compositor, Theo de Barros.

“Por volta de 1961, passou a freqüentar shows,

principalmente no Beco das Garrafas, em Copacabana, onde assistia

a espetáculos dos representantes da nova geração musical, entre os

quais João Gilberto, Sergio Mendes, e Luis Eça (do Tamba Trio). No

mesmo ano, conheceu o poeta Vinicius de Moraes que fez a letra para

Só me fez bem, gravada em 1967 no LP Edu-Betânia, da Elenco.

Nessa época, com Dori Caymmi e Marcos Valle formou um conjunto

que chegou a atuar em programas de TV e em shows.” (MELLO,

Enciclopédia da Música Brasileira, 1998 Publifolha)

Passou a trabalhar com motivos e temas da cultura popular brasileira. As

canções compostas por Edu Lobo e seus parceiros, entre eles Carlos Lyra e Rui Guerra,

representavam uma nova forma de criação, marcada por seu conteúdo social, por isso

passou a compor para o teatro.

A peça teatral Opinião, um musical de protesto contra o golpe militar de 1964,

teve músicas de autoria de Edu Lobo. Nesse mesmo ano ele escreveu canções para o

espetáculo O Berço do Herói, do falecido autor Dias Gomes, e junto com Gianfrancesco

Guarnieri participou da parte musical do espetáculo Zambi, e compuseram juntos uma

música conhecida na voz de Elis Regina, Upa Neguinho.

Campeão no I Festival da MPB com Arrastão, interpretada por Elis, Edu Lobo

repetiu o prêmio no III Festival. Junto com a atriz Marília Medalha, ele interpretou a

canção Ponteio, uma critica à Ditadura, pedindo por liberdade: Quem me dera agora eu

tivesse uma viola para cantar.

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Viveu por dois anos em Los Angeles, Estados Unidos, excursionou pelo Japão

fazendo shows, e de volta Los Angeles, gravou discos antes de voltar para o Brasil em

1971.

Nesse ano começou a trabalhar como orquestrador e compositor de trilhas

sonoras para musicais. Compôs para filmes, peças teatrais e para um musical de autoria

de Chico Buarque e Rui Guerra. Em 1974 foi contratado com orquestrador da TV Globo

para compor as trilas de 12 programas da série Caso Especial. No ano seguinte

trabalhou com Vinícius de Moraes no musical Deus lhe Pague.

“Em 1981, em parceria com Tom Jobim lançou o LP Edu&Tom,

Tom&Edu produzido por Aloysio de Oliveira. Em 1983, em parceria

com Chico Buarque, compôs trilha sonora para o balé O Grande

Circo Místico, adaptação de Naum Alves de Souza do poema

homônimo de Jorge de Lima e que daria origem a um LP lançado

pela Som Livre com a participação de Gal Costa, Tom Jobim,

Gilberto Gil, Milton Nascimento, Tim Maia e Zizi Possi, entre

outros.” (MELLO, Enciclopédia da Música Brasileira, 1998

Publifolha)

Em 1994 recebeu o Prêmio Sheel de melhor compositor de música brasileira,

pelo conjunto da obra. O disco lançado em 95, chamado Perambulando, com chorinhos

em homenagem a Tom Jobim recebeu o Prêmio Sharp de melhor disco de MPB.

Em 2002, recebeu o “Oscar” da Música. O disco Cambaio, homônimo do

musical de João e Adriana Falcão, musicado em parceria com Chico Buarque, que teve

a participação de Gal Costa e Zizi Possi, levou o Grammy latino de melhor CD de

música brasileira.

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2.6 Os compositores de Elis: Milton Nascimento

O mineiro Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de

1942. Filho de uma empregada doméstica chamada Maria do Carmo Nascimento,

Milton foi adotado em seus primeiros meses de vida. Com os pais Josino Brito Campos,

um bancário e professor de matemática, e Lília Silva Campos, professora de música,

Milton morou nas Laranjeiras e na Tijuca.

Com um ano e meio de vida foi para Três Pontas, em Minas Gerais. Aos quatro

ganhou de presente uma sanfona de dois baixos. Nove anos depois, já cantava como

“crooner” em um conjunto de baile junto com o seu vizinho Wagner Tiso, hoje maestro

e pianista.

Aos 15 anos, munido de seu primeiro violão, criou um conjunto musical

chamado Luar de Prata, com o amigo Wagner. Eles se apresentavam em bailes e shows

em Três Pontas.

“Em 1963 transferiu-se para a capital mineira para prestar vestibular

em economia. Foi então que conheceu alguns de seus futuros

parceiros, entre os quais Fernando Brant, Márcio Hilton Borges e seu

irmão Lô Borges. Em Belo Horizonte, além de trabalhar de dia em um

escritório de contabilidade e de cantar e tocar contrabaixo em boates

à noite, começou a compor com mais regularidade”.

(http://www.cifrantiga.hpg.ig.com.br/Crono3/milton.htm)

Suas primeiras músicas foram compostas em 1964, todas elas escritas em

parceria com Mário Borges. Teve um conjunto de jazz, tocou em bares e programas de

TV, fez parte do grupo Evolussamba, mas sua carreira começou a se solidificar quando

passou a fazer parte do grupo Quarteto Sambacana. Com esse quarteto, em 1965 se

mudou para o Rio de Janeiro e gravou seu primeiro Lp.

No ano seguinte ele participou do Festival Nacional de Música Popular, da TV

Excelsior, em São Paulo, e conquistou o quarto lugar geral cantando Cidade Vazia, de

Baden Powell e Lula Freire. Nesse mesmo ano, Milton conhece uma cantora que se

tornaria uma grande amiga. Em setembro de 1966, Elis Regina gravou Canção do Sal, e

lançou o compositor Milton Nascimento.

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Entre os anos de 1968 e 1970 lançou Lp’s nos Estados Unidos e no Brasil.

Compôs músicas para filmes e estreou seu show no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro.

Em 1971 foi para Venezuela participar de um festival de música e lançou seu segundo

Lp nos Estados Unidos. No Brasil lançou o Lp duplo de O Milagre dos Peixes, que

tinha uma música em homenagem a sua mãe adotiva.

No final dos anos 70 lançou seu terceiro LP nos Estados Unidos, mas foi no

início da década de oitenta que Milton lançou uma de suas músicas de maior sucesso.

Canção da América gravada em 1980 fazia parte do Lp intitulado Sentinela. No ano

seguinte foi a vez de lançar Caçador de Mim e Bailes da Vida.

“Por suas atividades em prol da ecologia, foi premiado em maio de

1996 pela Rain Forest. No mesmo ano, apresentou em New York o

show Amigo, acompanhado por um coro de 30 meninos e pela

Orquestra Filarmônica de New York; em seguida, com esse show,

participou do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e do Festival de

Tübingen, na Alemanha. No final de 1996, apresentou com enorme

sucesso o mesmo show em Londres, no The Royal Albert Hall,

acompanhado pela Royal Philharmonic Concert Orchestra. “

(http://www.cifrantiga.hpg.ig.com.br/Crono3/milton.htm)

Após sofrer problemas de saúde decorrentes de uma anorexia nervosa, ele

lançou, em 1997 o disco Nascimento, pela WEA, que tinha composições próprias como

Rouxinol e Levantados do Chão, em parceria com Chico Buarque.

Ainda em 1997, fez turnê por todo o país com o show Tambores de Minas e teve

a sua vida documentada. Chico Buarque, Gilberto Gil, Wagner Tiso entre outros

participaram da gravação de um documentário sobre sua vida e obra, dirigido por Lula

Buarque de Hollanda e Carolina Jabor.

No ano seguinte, o CD Nascimento ganhou o Prêmio Grammy de melhor CD de

World Music, e foi também em 1998, que seu amigo e parceiro de composições, Márcio

Borges, lançou o livro Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina,

contando a história de amigos que passavam o tempo em uma esquina de Belo

Horizonte, cantando e compondo.

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3. Elis Regina e a Internet

3.1 – O surgimento da Internet

Nos anos 40, quando nasceu Elis Regina, o veículo de comunicação que fazia

sucesso na época era o rádio. A Rádio Nacional, com sede no Rio de Janeiro, a capital

federal, tocava de norte a sul e alegrava a vida dos brasileiros.

Foi nessa década que surgiram as radio novelas, os programas de auditório que

enchiam as platéias das rádios e os jornais falados, como o famoso Repórter Esso, da

Rádio Record. "O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira nesta época, foi muito

mais profundo do que aquele que a televisão viria a produzir 30 anos depois."

(MIRANDA, Orlando, A era do Rádio, p.72).

Dez anos depois, nos anos 50, Elis era ainda uma menina tímida, estrábica que

brincava sozinha no quintal de sua casa em Porto Alegre, mas cerca de 200 famílias, no

dia 18 de setembro de 1950 tiveram o privilégio de assistir à primeira transmissão ao

vivo, da primeiro emissora de televisão brasileira.

Graças ao engajamento e a vontade de Assis Chateaubriand, o Brasil ganhou um

novo veículo de comunicação, a TV Tupi de São Paulo. O empreendimento deu certo,

surgiu a TV Record, a TV Rio e a televisão foi se tornando popular.

Os anos 60 foram marcantes para Elis Regina e para o Brasil. A televisão já

tinha mais de dez anos, e Elis já tinha mais de 15, disco gravado, contrato com uma

rádio gaúcha e a vontade de crescer.

No mesmo ano em que se mudou para o Rio de Janeiro, a Ditadura se instalou

no Brasil. Junto com a nova situação política vieram novos artistas, Elis assinou

contrato com uma gravadora e passou a participar de um programa de TV. Chico

Buarque fez sucesso com a música “A Banda” lançada pela também novata Nara Leão.

Edu Lobo ganhou espaço ao vencer o I Festival da MPB com “Arrastão”, defendida por

Elis.

As músicas tocavam no rádio, e a TV transmitia os famosos festivais. As vozes

conhecidas podiam ser vistas. As novelas ouvidas, agora eram assistidas. Durante pouco

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mais de 40 anos o país viu a evolução da TV, a evolução do Rádio e dos jornais

impressos.

Mas a tecnologia não para de evoluir. Não satisfeito com televisão, rádio e

jornal, o homem criou uma nova forma de comunicação, a Internet. Quando esse

conceito surgiu, nos Estados Unidos, na década de 60, Elis estava no auge da carreira, e

nem imaginava um dia conhecer um computador.

No período entre as décadas de 60 e 70, tempos de Guerra Fria, os norte-

americanos temiam perder informações guardadas em servidores que ficavam em locais

estratégicos, denominados “quartéis-generais”. Pensando em proteção, o Departamento

de Defesa dos Estados Unidos criou uma rede interna que pudesse interligar os

computadores, para que as informações não ficassem centralizadas em um determinado

ponto.

Com isso, caso um ponto fosse bombardeado as informações importantes e

essenciais não seriam perdidas. Essa Rede era considerada à prova de bombardeio, pois

o “sistema não caía” caso um dos pontos desaparecesse. ‘Denominou-se tal Rede, que

surgiu em 1969, de ARPAnet (Advanced Research Projects Agency).”

Com a queda da União Soviética (URSS) no início dos anos 80, foi dada uma

nova utilidade para a rede criada há cerca de 20 anos. Ela passou a interligar

laboratórios e universidades americanas. Um tempo depois, essa rede passou a

interligar universidades de outros países às universidades norte-americanas. Foi nessa

época que surgiu o nome Internet.

Foi também no início dos anos 80 que Elis Regina estreou seu último show,

Trem Azul. Conforme a utilização da “net” tornava-se intensa nos meios academincos

norte-americanas e europeus, os dias de Elis diminuíam. Ela morreu em 1982 e não viu

a idéia de alguns cientistas se tornar um eficiente veículo de comunicação mundial. “O

conceito de Aldeia Global, de McLuhan também pode ser utilizado para este novo meio:

A Internet tornou o mundo menor.” (www.abranet.org.br/historiadainternet).

“Cronograma da história da Internet no Brasil:

•1989 - Ibase cria o Alternex (serviço de conferências eletrônicas);

•1991 - Criada a conexão entre Rio e São Paulo, através da FAPESP

(que passa a trafegar TCP/IP e fica responsável pelos domínios .br e

pelos IPs no Brasil.

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•1993 - Implantado o anel Rio - São Paulo - Brasília

•1995 - A Embratel lança o serviço definitivo de acesso comercial à

Internet.(www.abranet.org.com.br/historiadainternet)”

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3.2 – Elis Regina na Internet

Há 23 anos o Brasil deixava de conviver com o sorriso, a sinceridade, a braveza

e a bravura de Elis Regina. No dia 19 de janeiro de 1982 muitos fãs e admiradores

ficaram órfãos da Pimentinha.

As pessoas quem acompanhavam sua carreira quando viva, seguem fiéis, mas

durante todo esse tempo, mais fãs foram descobrindo a cantora que saiu do sul do país

em busca de seu sonho. Jovens entre 15 e 25 anos curtem Elis. Aprenderam a gostar em

casa, com os discos e histórias contadas pelos pais.

Um veículo que facilita a busca por informações é a Internet. É possível

encontrar sites que falam da vida e carreira da Elis. É fácil encontrar material como:

fotos; músicas e vídeos de clipes e apresentações.

No novo espaço de relacionamento da rede mundial de computadores, o tão

falado “orkut”, existem cerca de 50 comunidades destinadas a falar e homenagear Elis

Regina. Uma das mais visitadas tem pouco mais de 100 mil integrantes cadastrados.

Os temas nas diversas comunidades são recorrentes. Há sempre perguntas sobre:

a música preferida; o show favorito; o que determinada música representa pra você. As

respostas nunca são iguais. Não existe uma única música que seja unanimidade, nem um

momento de vida ou carreira que seja lembrado por todos como o melhor ou mais

importante.

As emoções despertadas nos fãs pelas interpretações, palavras ou lembranças de

Elis Regina, são sempre distintas, mas se encontram nos pontos chamados admiração e

saudades.

As trocas de experiências nas comunidades, sites, flogs e blogs5 aproximam os

fãs e faz com que Elis não caia no esquecimento. Os mais velhos compartilham

memórias dos shows aos quais assistiram, dos programas de TV que puderam ver, e dão

aos mais jovens a sensação de que eles também participaram desses momentos.

O jornal impresso, o rádio, a televisão, as novas tecnologias que remasterizam

antigos LPs, programas antigos sendo lançados em DVD e a internet deixam claro uma

única certeza: a de que a cantora Elis Regina morreu, mas o Mito sobrevive.

5555 Páginas virtuais que funcionam como diários. Os donos utilizam esse espaço para compartilhar com o mundo virtual fotos, histórias e momentos do seu dia.

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4. Modalidade: Grande Reportagem

4.1 – Reportagem: o que é?

Segundo Nilson Lage (2002, p. 6), o texto escrito deriva da linguagem falada,

apresentando regras sintáticas mais rígidas, que têm a pretensão de suprir sensações e

fatores existentes em uma conversação face a face.

“Situação (relações entre falante e ouvinte, empatia,

repertório comum), o envolvimento (paisagem ou arquitetura,

grau de ruído, luz e sombra), o feedback instantâneo (reações

imediatamente percebidas dos ouvintes e que orientam o

prosseguimento da fala), a entonação e a variedade

significativa das pausas.” (LAGE, 2002, p. 6)

Existem vários tipos de jornalismo como, por exemplo, o jornalismo

comunitário e o que é feito em cidades pequenas de interior; o jornalismo sindical; os

jornais de empresa (house organs); o jornalismo doutrinário, político ou religioso. A

notícia, que no jornalismo aparece como um relato de fatos a partir do mais importante

segundo LAGE (2002, p. 16), em todas as vertentes citadas acima, competirá com

outros tipos de texto. A notícia, em geral, se contenta em anunciar e cobrir os fatos.

“Dentre os textos essencialmente jornalísticos, o que mais pode ter

aproveitamento, aí, é a reportagem, que aborda assuntos com maior durabilidade e

permite tratamento específico.” (LAGE, 2002, p. 40).

De acordo com Nilson Lage (2002), a notícia, com o crescimento e aumento das

mídias eletrônicas, tende a desaparecer do jornalismo diário, mas sobreviverá em

veículos especializados. Para ele, o futuro do jornal parece ser a reportagem. Palavra de

dois sentidos, pode ser o local onde ficam os repórteres, o setor das redações, ou então

um gênero jornalístico diferente da notícia em vários aspectos.

“O primeiro deles é que a reportagem não cuida da cobertura

de um fato ou de uma série de fatos, mas de o levantamento de um

assunto conforme ângulo preestabelecido. Noticia-se que um governo

foi deposto; fazem-se reportagens sobre a crise político-institucional,

econômica, social, (...) sobre um ou vários personagens envolvidos no

epsódio etc.” (LAGE, 2002, p. 47)

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Na prática, a disntância entre a reportagem e a notícia se mostra já na pauta, pelo

projeto de texto. Indicações de fatos programados, continuação (suíte) de eventos, ou o

contato permanente com setores que têm conhecimento do primeiro registro do fato, são

a cama para a produção de uma notícia.

O processo de produção de uma reportagem requer um cuidado e uma maneira

específica. Os assuntos a serem reportados encontram-se sempre disponíveis, a

informação é matéria-prima abundante, podendo ou não ser atualizados por um

acontecimento.

Na reportagem a pauta deve indicar de que maneira o assunto deve ser abordado,

quanto tempo disponível para a realização, para a apuração, como e para onde a equipe

deve se deslocar, e para isso é preciso dispor de dados.

A reportagem é um estilo menos rígido que a notícia, por exemplo, ela varia de

acordo com o público, o assunto e o veículo. As informações podem aparecer em ordem

decrescente ou até mesmo serem narradas como um conto ou fragmento de um

romance. Pode-se tomar como ponto de partida para um texto, um fato ou ilustração.

“A linguagem também é mais livre: os novos jornalistas americanos (Breslin,

Mailler, Capote) chegam a adotar técnicas literárias para abordagem mais humana e

reveladora da realidade.” (LAGE, 2002, p. 48)6.

Existe sempre nas reportagens alguma interpretação. Mas é preciso que os fatos

sejam sempre respeitados, eles não podem ser ignorados, não se pode discordar deles. É

preciso dar aos leitores a oportunidade de avaliar os acontecimentos de acordo com seus

valores e repertório.

6 A Grande Reportagem nasceu com as matérias de jornalismo, literário dos novos jornalistas americanos. Foi escolhida como modalidade por permitir certa liberdade na estruturação do texto e na linguagem utilizada para contar a história de uma cantora sem deixar de lado a linguagem jornalística exigida pelo veículo impresso (revista)

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5. – Diagramação

5.1 – Diagramação: tipologia, espaçamento, cores e metodologia

Segundo Robin Williams, os tipos em estilo antigo são ideais para textos

corridos de grande extensão, como uma revista. A partir dessa dica, fonte escolhida para

o encarte pertence ao grupo do estilo antigo, o tipo eleito foi Times New Roman, corpo

11 para os textos, nos boxes e títulos foi utilizada a fonte Arial Norrow, corpo 35 para

os títulos e 25 para os subtítulos, 12 para os boxes com espaçamento entrelinhas de 11,5

pontos.

A utilização do espaçamento 20 (diagramação do pagemaker 6.5) teve como

objetivo dar mais leveza na estrutura do texto, deixando a mostra um pouco mais do

fundo branco, dando a impressão de que o texto é menor do que parece.

As cores, tons de magenta, foram escolhidas a partir do vestido da cantora na

capa da revista. Cores suaves e arejadas aparecem na capa e nas linhas existentes entre o

título e o subtítulo. Os títulos ficaram em preto para contrastar com as linhas em tons de

magenta.

O tamanho escolhido para a revista foi o de uma folha tamanho A4 (21 x 29,7

cm), por aparecer como um padrão nas publicações de revistas em geral. A impressão

digital foi feita papel Couchet, gramatura 120 gramas.

A disposição do texto é suave e combinada com fotos. Foram utilizadas três

colunas de texto e uma média de duas fotos por matéria.

As fotos colocadas nas páginas denominadas Galeria não apresentam recortes

nem visuais modernos, seus tamanhos variam de acordo com os espaços a serem

preenchidos.

No canto superior de cada página há um selo Elis Especial, com o número que

corresponde às matérias.

Para a realização do relatório e da revista, foi preciso utilizar métodos de

pesquisa que pudessem dar base para o que se pretendia fazer.

A Pesquisa Bibliográfica é uma das principais para a captação de informações.

“... é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de

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importância por serem capazes de fornecer dados atuais em relevantes relacionados com

o tema.” ( MARCONI, LAKATOS, 2002, p. 25)

A biografia da cantora, e um panorama sobre sua vida e carreira encontrados nos

livros utilizados para a produção do trabalho, permitem que a veracidade e o

aprofundamento estejam presentes em todos os capítulos. Essa pesquisa é a que dá

início ao trabalho, é a primeira busca por informações sobre o assunto, foca-se no objeto

e recolhem-se informações básicas sobre o tema. Revistas, jornais e sites dedicados à

ela, aparecem como fonte de informação.

Outra metodologia de pesquisa para a realização do trabalho é a Pesquisa

Documental, que de acordo com Marconi e Lakatos em Técnicas de Pesquisa, publicado

em sua 5ª edição no ano 2002, se caracteriza pela coleta de dados não publicados ou não

reescritos por terceiros. São informações recolhidas no momento em que o fato

aconteceu, ou posteriormente, apresentando autoria desconhecida.

A Entrevista, de acordo com o conteúdo do livro Técnicas de Pesquisa,

publicado em 2002, é um encontro entre duas pessoas, que objetiva uma troca de

informações, obtendo o entrevistador mais informações a cerca de determinado assunto.

A Entrevista Estruturada, que se desenvolve a partir de uma relação de perguntas

previamente determinadas, cuja ordem e redação é invariável para os entrevistados,

também será uma metodologia utilizada na realização do trabalho.

As entrevistas pretendidas com as cantoras Sandy Lima e Rita Lee e Maria Rita,

embora tenha sido feito o contato inicial, não foram realizadas. Os cantores Jair

Rodrigues e Milton Nascimento também não colaboraram com a realização deste

trabalho. Foram realizadas por e-mail, entrevistas com os filhos Pedro Mariano e João

Marcello Bôscoli. As entrevistas estão contidas na íntegra nos anexos deste relatório.

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Considerações Finais

. Durante esses dez meses de pesquisa e aprofundamento na vida da cantora as

descobertas foram satisfatórias.

A possibilidade de aprimorar a escrita e de conhecer a cada dia e a cada

pesquisa, um pouco mais da história e da música brasileiras, deixou claro que o

jornalismo está em todos os assuntos e que a partir dele se pode ir longe. Viajar,

conhecer lugares e até mesmo voltar no tempo.

Pesquisar um assunto, uma pessoa, um fato ou uma época é essencial para que se

entenda o que acontece na atualidade.

Falar e escrever sobre Elis Regina foi uma experiência enriquecedora. Saber de

seus problemas e suas vitórias, seus sofrimentos e alegrias e poder dividi-los com outras

pessoas foi um estímulo a mais para a realização deste trabalho.

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Referências Bibliográficas

ARASHIRO, Osny (Comp.). Elis Regina por ela mesma. São Paulo: Martin Claret,

2004.

CONDÉ, Cláudia de Moraes Sarmento. Antonio Olinto: operário da palavra: uma

viagem da realidade à ficção. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, 2004

ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. São Paulo, Rio de Janeiro: Círculo do Livro/

Editora Nórdica, 1985.

JORNAL NACIONAL: A notícia faz a história / Memória Globo. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Editora, 2004.

LAGE, Nilson. Estrutura da Notícia. ed. 5. São Paulo: Editora Ática, 2002.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5. ed.

São Paulo: Atlas, 2002.

MOTTA, Nelson. Noites Tropicais: solos, improvisos e memórias musicais. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2001.

REVISTA CONTIGO!Contigo! Biografias – Elis Eterna. ed. 03. 2004. Edição de

Colecionador.

VILAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine – o texto em revista. São Paulo: Editora

Summus, 1996.

WLLIAMS, Robin. Design para quem não é designer – Noções básicas fr

planejamento visual São Paulo: Callis, 1995

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Sites

• Disponível em: http://wmail.faac.unesp.br/~pcampos/Jornalismo%20Interpretativo.htm.

Acessado em: 15 de maio de 2005

• Disponível em: http://elisreginavive.cjb.net Acessado em: 29 de março de 2005

• Disponível em: http://estadao.com.br/rss/divirtase/2005/mar/17/139.htm

Acessado em: 29 de março de 2005

• Disponível em: http://rabisco.com.br/56/elis.htm Acessado em: 29 de março de

2005

• Disponível em: http://www2.uol.com.br/JC/elis/carreira.htm Acessado em: 29

de março de 2005

• Disponível em:

http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/musica/mus8.htm Acessado

em: 29 de março de 2005

• Disponível em: http://soarespd.uol.com.br Acessado em: 19 de junho de 2005

• Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br Acessado em: 10 de outubro

de 2005

• Disponível em: http://www.tomjobim.com.br Acessado em: 15 de outubro de

2005

• Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br Acessado em: 25 de

outubro de 2005

• Disponível em: http://www.edulobo.com.br Acessado em: 05 de novembro de

2005

• Disponível em: http://www.cifrantiga.hpg.ig.com.br/Cromo3/milton.htm

Acessado em: 06 de novembro de 2005

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Anexos

Entrevista com Pedro Mariano

(entrevista realizada via e-mail, enviada para o endereço de e-mail:

[email protected] no dia 10 de junho de 2005 – Sexta-feira)

1. Hoje ainda Elis continua sendo um mito? E como é convidar jovens cantoras

para participar de homenagens a ela, como a Sandy, em seu show?

R. Cantar com s Sandy e com a Luciana Mello, fazendo uma homenagem a

minha mãe foi uma experiência muito boa, somos grandes amigos e temos

em comum esta admiração pela maior cantora que por estas terras já passou.

Foi também um grande desafio cantar músicas de um mito, uma força

presente em nossa arte até hoje. Um mito não some de um dia para o outro, e

acredito que o Brasil não quer isto. Desfazer-se de um ícone de sua cultura é

se livrar do seu patrimônio.

2. Você acha que a juventude valoriza a boa música brasileira, como a geração de

60 e 70, que ouvia Elis Regina e curtia os festivais valorizava?

R. A juventude é , acima de tudo, rebelde, e se você disser à ela que tem que

ouvir "X", ela vai ouvir "Y". Por isso que surgiu a Bossa Nova, a MPB, a

Tropicália, o ROCK Brasil e assim por diante. A juventude ouve o som do

futuro, e ouve aquilo que vai de encontro aos seu anseios. A juventude da

época da minha mãe queria um país melhor e livre, logo surgiram autores e

intérpretes dando este recado. Infelizmente a geração seguinte é menos

politizada e pegou um país menos repressor, mas ainda gosta de boa música.

3. Você já gravou alguma música cantada pela Elis? Como foi a aceitação do

publico?

R Em todos os meus disco tem pelo menos uma música dela, e até agora

ninguém reclamou!!

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4. Ser filho de dois ícones da MPB ajuda ou dificulta a tua vida profissional?

R. Tudo tem um lado bom e um lado ruim. Quando se nasce numa casa

rodeada de música, artistas e você tem a oportunidade de viajar o Brasil

acompanhando turnês, ao decidir pela carreira artística, nada daquilo é

novidade. Mas quando você tem 10 anos de carreira e as pessoas insistem em

te comparar com a sua mãe, fica um pouco chato.

5. Você acha que falta espaço nos meios de comunicação (TV e Rádio) para a

música que diga algo, que traga uma mensagem? Como as canções de cunho político da

Ditadura, ou mesmo as melodias e letras cheias de romantismo de Tom e Vinícius por

exemplo.

R. Na TV e no radio vai tocar aquilo que todo mundo quer ouvir. Se aparecer

um cara cantando uma ode aos Sem Terra, ou xingado o Plenário de Brasília,

ou até mesmo defendendo a cura da fome no mundo, vão mudar de canal.

Apesar de achar que tem espaço para todo o tipo de música, ela se

transformou em um meio de consumo. Uma expressão artística, sim, mas

para fins de entretenimento. Mas também acredito que com a internet tudo

ficou mais democrático e se você quiser ouvir determinado tipo de música é

só procurar que vai achar.

6. O que você diria para quem nunca ouviu, não quer ouvir, ou tem preconceito

sobre: Elis, Tom Jobim, Chico Buarque, Roberto Carlos, Pedro Mariano...

R. Com relação à música não se pode ter preconceitos. Eu mesmo já ouvi

KISS e AC/DC e não significa que eu seja roqueiro. Não podemos nos

apegar a preconceitos. Ouçam de tudo, porque no mínimo você pode ser uma

pessoa mais culta.

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Entrevista com João Marcello sobre Elis Regina

(entrevista realizada via e-mail, enviada para o endereço de e-mail:

[email protected] no dia 10 de outubro de 2005 – segunda-feira)

Quais as lembranças que você tem da Elis como mãe?

R. As melhores. Presente, amorosa, firme, apaixonada por mim.

Como Elis lidava com a divisão entre o profissional e o familiar, tão nítido nas

biografias?

R. Era tudo junto. Apenas o capítulo “lobby” ficava fora. Somos meritocíaticos.

Quando criança, você alguma vez participou de algum show ou cantou com a Elis,

mesmo que fosse em casa?

R Sempre foquei em ensaios, às vozes com os músicos. Com ela gravei em estúdio uma

vez.

Como seria a Elis Regina hoje? (Mãe e Cantora)

R. Honestamente, não sei. Ela mudava muito, o tempo todo.

Teve várias homenagens para a Elis, entre elas uma peça de teatro. Pra você, quem

melhor representaria a Elis na TV, Cinema ou mesmo no teatro?

R. Não consigo responder. Com certeza deve haver muitas pessoas, mas eu sou muito

envolvido para apontar alguém.

Ano passado, o cinema nacional recontou a trajetória de um grande poeta, o Cazuza. A

Elis também mereceria estar nos cinemas de todo o país?

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R. Certamente. A Elis merece. O desafio é fazer um filme à sua altura, embora ela

tivesse 1,53 de altura.

Qual a música mais emblemática da carreira da Elis?

R. Ela teve muitos “hits” ao longo da vida. Escolheria “Águas de Março” nesse

momento, mas há muitos outros sucessos emblemáticos.

Se a Elis estivesse viva, quem poderiam ser seus parceiros na música?

R. Acho que qualquer resposta é injusta. Nunca ninguém falou pela Elis. Não seria eu o

primeiro a tentar...

Existe ainda no mercado fonográfico o Mito Elis Regina? Ele ainda vende muito?

R. Muito, muito mesmo. Por exemplo: o único DVD dela que lançamos, vendeu mais

de 100.000 cópias, o que transforma em DVD de Diamante. Ouro é 25.000 e Platina

50.000. Ela vendeu como se ainda estivesse aqui.

Em que o Mito Elis Regina ajuda e em que atrapalha a tua carreira?

R. Elis Regina só ajuda minha carreira, nunca atrapalhou em nada, pelo contrário. Sinto-

me iluminado por seu amor e suas lembranças. É muito bom ser seu filho.