enraizamento de estacas semilenhosas

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UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA UNIVERSIDADE DO PORTO

Enraizamento de estacas semilenhosas de variedades de videira (Vitis vinifera L.)

Joo do Sacramento Andrade Brazo

Orientadora: Doutora Sara Barros Queiroz Amncio Co-orientador: Doutor Jos Eduardo Jorge Eiras Dias

JRI: Presidente: Doutor Jorge Manuel Rodrigues Ricardo da Silva, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa. Vogais: Doutor Antero Lopes Martins, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa; Doutora Sara Barros Queiroz Amncio, Professora Associada do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa; Doutor Augusto Antnio Vieira Peixe, Professor Auxiliar da Universidade de vora.

Mestrado em Viticultura e Enologia

LISBOA 2009

UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA UNIVERSIDADE DO PORTO

Enraizamento de estacas semilenhosas de variedades de videira (Vitis vinifera L.)Dissertao apresentada no Instituto Superior de Agronomia para obteno do grau de Mestre

Joo do Sacramento Andrade Brazo

Orientadora: Doutora Sara Barros Queiroz Amncio Co-orientador: Doutor Jos Eduardo Jorge Eiras Dias

JRI: Presidente: Doutor Jorge Manuel Rodrigues Ricardo da Silva, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa. Vogais: Doutor Antero Lopes Martins, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa; Doutora Sara Barros Queiroz Amncio, Professora Associada do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa; Doutor Augusto Antnio Vieira Peixe, Professor Auxiliar da Universidade de vora.

Mestrado em Viticultura e EnologiaLISBOA 2009

AGRADECIMENTOSAo concluir este trabalho cabe-me expressar o meu sincero agradecimento a todas as pessoas que, graas ao seu apoio e incentivo, tornaram possvel a sua realizao: Senhora Professora Sara Amncio pela disponibilidade para orientar este trabalho, pelos ensinamentos, apoio e interesse demonstrado na resoluo das dificuldades que foram surgindo e pela reviso critica do texto; ao Doutor Eiras Dias pela amizade, pela confiana demonstrada no meu trabalho e por todo o apoio e facilidades concedidas execuo do mesmo; Doutora Elsa Gonalves pelos conhecimentos transmitidos e pela preciosa ajuda no tratamento estatstico dos resultados; Rede Nacional de Seleco da Videira, nas pessoas do Professor Antero Martins e do Doutor Lus Carneiro, e Viti-Oeste de Horto-Poense, nas pessoas dos Srs. Norberto Cardoso e Armnio Cardoso, por terem disponibilizado os materiais vegetais necessrios realizao deste trabalho; a todos os colegas do INIA-Dois Portos (ex-Estao Vitivincola Nacional) pela fora anmica e apoio prestado, em especial ao Eng Curvelo Garcia pelo incentivo e facilidades concedidas; ao Professor Rogrio de Castro pelas palavras de incentivo para a concluso do trabalho; a toda a minha famlia e amigos pela compreenso da minha ausncia nesta fase do meu percurso profissional.

NDICEPg. NDICE DE FIGURAS NDICE DE QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS RESUMO ABSTRACT I. INTRODUO E OBJECTIVOS i ii iii iv v 1 3 3 3 5 8 9 12 13 13 14 15 15 17 17 17 18 19 20 20 22 23 24 25 26 27 27 31 31 31 32 33

II. REVISO BIBLIOGRFICA 2. ENRAIZAMENTO DE ESTACAS HERBCEAS E SEMILENHOSAS 2.1 2.2 2.3 Aspectos gerais do enraizamento de estacas Aspectos biolgicos da rizognese adventcia Influncia dos reguladores de crescimento na rizognese adventcia 2.3.1 Auxinas 2.3.1.1 Auxinas no enraizamento da videira 2.3.2 Citocininas 2.3.3 Giberelinas 2.3.4 cido abscsico 2.3.5 Etileno 2.3.6 Compostos auxiliares e cofactores de enraizamento Factores internos e externos que afectam o enraizamento de estacas 2.4.1 Factores internos 2.4.1.1 Tipo de estaca 2.4.1.2 Estado de desenvolvimento 2.4.1.3 Estado nutricional

2.4

2.4.2

2.5

Factores externos 2.4.2.1 Condies ambientais 2.4.2.2 Substrato Aspectos principais do enraizamento de estacas herbceas e semilenhosas 2.5.1 Auxinas 2.5.2 Presena de folha 2.5.3 Tipo de estaca 2.5.4 Estado de desenvolvimento 2.5.5 Condies ambientais e substrato de enraizamento

III. MATERIAL E MTODOS 3.1 3.2 3.3 3.4 Locais do trabalho Material vegetal Preparao e tratamento das estacas Substrato e condies ambientais

3.5 3.6 3.7

Modalidades ensaiadas Parmetros analisados Anlise dos resultados

34 36 36 38 38 44

IV. RESULTADOS 4.1 4.2 4.3 Influncia do tipo de estaca e da concentrao de cido naftalenoactico no enraizamento de estacas semilenhosas de videira Influncia do cido naftalenoactico no enraizamento semilenhosas de diferentes variedades de videira de estacas

Comparao da estimativa da produo de material de propagao de videira pelos processos de multiplicao clssico e por estacas semilenhosas

51 54 54 56 59 61 61 64 65

V. DISCUSSO 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 Influncia do tipo de estaca Influncia da concentrao de ANA Influncia da casta Correlao entre variveis relativas s razes Comparao da estimativa da produo de material de propagao vegetativa atravs das duas tcnicas de multiplicao

VI. CONSIDERAES FINAIS VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

NDICE DE FIGURASPg. Figura 3.1 Figura 3.2 Figura 3.3 Figura 3.4 Figura 4.1 Figura 4.2 Figura 4.3 Figura 4.4 Figura 4.5 Figura 4.6 Figura 4.7 Figura 4.8 Figura 4.9 Figura 4.10 Figura 4.11 Figura 4.12 Figura 4.13 Aspecto geral da estufa e das plantas iniciais das castas estudadas. Aspecto de uma estaca antes da plantao. Aspecto de uma mini-estufa com estacas a enraizar. Fases dos processos de produo de gomos por multiplicao clssica e por estacas semilenhosas. Percentagens mdias de enraizamento obtidas em estacas das castas Aragonez e Malvasia Fina. Percentagens mdias de abrolhamento obtidas em estacas das castas Aragonez e Malvasia Fina. Percentagens mdias de enraizamento obtidas em estacas tratadas com diferentes concentraes de ANA. Percentagens mdias de abrolhamento obtidas em estacas tratadas com diferentes concentraes de ANA. Percentagens mdias de enraizamento obtidas em diferentes tipos de estacas. Percentagens mdias de abrolhamento obtidas em diferentes tipos de estacas. Nmero mdio de razes por estaca enraizada, em funo do tipo de estaca e da concentrao de ANA, na casta Malvasia Fina. Nmero mdio de razes por estaca enraizada, em funo do tipo de estaca e da concentrao de ANA, na casta Aragonez. Influncia da concentrao de ANA no nmero mdio de razes por estaca enraizada. Influncia do tipo de estaca no nmero mdio de razes por estaca enraizada. Percentagens mdias de enraizamento obtidas em estacas de diferentes castas. Percentagens mdias de abrolhamennto obtidas em estacas de diferentes castas. Mdias do comprimento total das razes e do comprimento da maior raiz observadas em estacas semilenhosas de vrias castas, tratadas e no tratadas com ANA. Mdias do peso seco das razes observadas em estacas semilenhosas de vrias castas, tratadas e no tratadas com ANA. Correlao entre o comprimento total e o nmero de razes obtida no conjunto das castas propagadas por estacas semilenhosas. Correlao entre o comprimento total e o peso seco das razes obtida no conjunto das castas propagadas por estacas semilenhosas. 31 33 34 35 40 40 41 41 41 41 42 42 43 43 45 45

47 48 50 50

Figura 4.14 Figura 4.15 Figura 4.16

i

NDICE DE QUADROSPg. Quadro 3.1 Quadro 4.1 Castas estudadas nos diferentes ensaios. Valores mdios das percentagens de enraizamento e de abrolhamento de diferentes tipos de estacas semilenhosas das castas Malvasia Fina e Aragonez, tratadas com diferentes concentraes de ANA. Resultados referentes ao ajustamento do modelo linear generalizado (modelo Probit) aos dados do enraizamento e do abrolhamento de estacas semilenhosas das castas Malvasia Fina e Aragonez. Estimativas das diferenas entre os efeitos da casta, da concentrao de ANA e do tipo de estaca no enraizamento e no abrolhamento de estacas semilenhosas das castas Malvasia Fina e Aragonez resultantes do ajustamento do modelo linear generalizado (modelo Probit). Valores mdios das percentagens de enraizamento e de abrolhamento de estacas semilenhosas de vrias castas, tratadas e no tratadas com ANA. Resultados referentes ao ajustamento do modelo linear generalizado (modelo Logit) aos dados do enraizamento e do abrolhamento de estacas semilenhosas de variedades de vrias castas. Estimativas das diferenas entre os efeitos da casta no enraizamento e no abrolhamento de estacas semilenhosas de vrias castas resultantes do ajustamento do modelo linear generalizado (modelo Logit). Valores mdios do nmero de razes e do nmero de razes pequenas por estaca enraizada, observados em estacas semilenhosas de vrias castas, tratadas e no tratadas com ANA. Resultados referentes ao ajustamento do modelo linear generalizado (modelo log-linear) aos dados do nmero de razes e do nmero de razes pequenas em estacas semilenhosas de vrias castas. Resultados referentes anlise de varincia relativa aos dados do comprimento total, do comprimento da maior raiz e do peso seco das razes de estacas semilenhosas de vrias castas, tratadas e no tratadas com ANA. Efeitos da casta e da hormona sobre o comprimento total, o comprimento da maior raiz e o peso seco das razes de estacas semilenhosas de vrias castas. Valores mdios estimados e intervalos de confiana para a mdia do nmero mdio de gomos/planta obtidos pelos processos de multiplicao clssica e por estacas semilenhosas nas castas Malvasia Fina e Aragonez. Comparao do nmero mdio de gomos produzidos pelos processos de multiplicao clssico e por estacas semilenhosas de videira nas castas Malvasia Fina e Aragonez. Valores mdios estimados e intervalos de confiana para a mdia do dimetro das varas produzidas pelos processos de multiplicao clssico e por estacas semilenhosas na casta Malvasia Fina. Valores mdios estimados e intervalos de confiana para a mdia do dimetros da varas produzidas pelos processos de multiplicao clssico e por estacas semilenhosas na casta Aragonez. 32

38

Quadro 4.2

39

Quadro 4.3

40 44

Quadro 4.4 Quadro 4.5

44

Quadro 4.6

45

Quadro 4.7

46

Quadro 4.8

47

Quadro 4.9

49

Quadro 4.10

49

Quadro 4.11

51

Quadro 4.12

52

Quadro 4.13

53

Quadro 4.14

53

ii

LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS nvel de significncia % percentagem 16L/8N 16h Luz/8h Noite ABA cido abscsico AG cido giberlico AIA cido indolactico AIA-O cido indolactico oxidase AIB cido indolbutrico ANA cido naftalenoactico BAP benzilaminopurina CCC cloromequato clordrico C/N carbono/azoto CO2 dixido de carbono cv. cultivar C graus Celsius EAN Estao Agronmica Nacional HR humidade relativa HSD Honestly Significant Differences INIA Instituto Nacional de Investigao Agrria ISA Instituto Superior de Agronomia K3Fe(CN)6 ferricianeto de potssio KMnO4 permanganato de potssio M molar MnSO4 sulfato de mangans N nmero p valor-p PAC paclobutrazol R2 coeficiente de determinao Ru Ruggeri vs versus v/v volume/volume

iii

RESUMOOs trabalhos de seleco massal e clonal da videira desenvolvidos em Portugal, nos ltimos 30 anos, conduziram obteno de clones de vrias castas com elevado potencial gentico, actualmente em multiplicao para a produo de materiais base e certificado. Tendo em vista a multiplicao acelerada desses clones, o presente trabalho teve como principal objectivo estudar a influncia do tipo de estaca (basal, mdia e terminal), da concentrao de cido naftalenoactico (ANA, 0, 10 e 100 mg/L) e da casta (Arinto, Malvasia Fina, Aragonez e Trincadeira), no enraizamento de estacas semilenhosas. Paralelamente, procurou-se estimar o ganho da produo de material de propagao vegetativa de videira mediante a utilizao de estacaria semilenhosa quando comparado com o processo de multiplicao clssico. Os factores tipo de estaca, concentrao de auxina e casta influenciaram a percentagem de enraizamento, tendo-se verificado resultados significativamente inferiores nas estacas terminais, nas estacas tratadas com 100 mg/L de ANA e na casta Malvasia Fina, respectivamente. Os resultados mostraram que a estacaria semilenhosa permite a obteno de uma quantidade de gomos/garfos de videira significativamente superior produzida pelo processo clssico. Palavras-chave: auxina, enraizamento, estacas semilenhosas, gomos/garfos, Vitis vinifera.

iv

ROOTING OF GRAPEVINE (Vitis vinifera L.) VARIETIES SOFTWOOD CUTTINGS

ABSTRACTFrom the massal and clonal selection of grapevine developed in Portugal for the last 30 years, clones of several varieties with high genetic potential were obtained, which are currently used for multiplication to produce basic and certificate materials. In order to allow the rapid multiplication of selected clones of grapevine, this work evaluate the influence of the cutting types (basal, middle and terminal), naphthaleneacetic acid (NAA) concentrations (0, 10 and 100 mg/L) and varieties (Arinto, Malvasia Fina, and Aragonez Trincadeira) on the rooting of softwood cuttings. At the same time, this work also tried to estimate the gain in material production for the vegetative propagation of grapevine through the use of softwood cutting when compared to the classical process of multiplication. Cutting type, NAA concentration and variety have affected the percentage of rooting, and only for terminal cuttings, cuttings treated with the concentration of 100 mg/L and the variety Malvasia Fina the results were significantly lower. Finally, results have indicated that the use of softwood cuttings allowed to obtain a significantly higher number of buds/vine scions than produced by conventional process. Key words: auxin, buds/vine scions, rooting, softwood cuttings, Vitis vinifera.

v

Introduo e Objectivos

I. INTRODUO E OBJECTIVOSEm Portugal, a cultura da vinha expande-se por todo o territrio continental e algumas ilhas das Regies Autnomas da Madeira e dos Aores, desempenhando um papel econmico e social de grande relevo. A importncia do sector vitivincola reflecte-se tambm a nvel internacional, uma vez que coloca Portugal como 5 produtor europeu e 10 produtor mundial de vinho (OIV, 2004). de realar ainda o enorme patrimnio de castas cultivadas em Portugal, na sua maioria exclusivas e de grande qualidade, nas quais foi experimentalmente comprovada a existncia de variabilidade gentica intravarietal atravs dos trabalhos de seleco massal e clonal (Martins et al., 2005). Em Portugal, a seleco massal e clonal da videira iniciou-se em 1978, atravs da denominada Rede Nacional de Seleco da Videira, a qual constituda por Universidades, Organismos do Ministrio da Agricultura, Associaes e Empresas privadas (Martins et al., 2001). Fruto do intenso trabalho desta Rede, actualmente o sector vitivincola nacional tem sua disposio um conjunto de clones seleccionados de elevado potencial gentico, o qual tem contribudo para a melhoria da qualidade dos vinhos e, por conseguinte, do rendimento dos viticultores. No entanto a obteno de clones certificados de variedades de videira, a partir de metodologias de seleco apropriadas, pressupe, por parte do obtentor, a manuteno em cultura de um pequeno nmero de plantas plantas iniciais ou de partida representativas de cada clone, em condies de elevada defesa sanitria. Todavia estas plantas iniciais no produzem material enxertvel em quantidade suficiente para entregar aos viveiristas para a instalao de vinhas-me de garfos e posterior multiplicao, de forma a responderem procura do mercado. Por isso, segundo Martins et al. (2007), torna-se necessrio proceder sua multiplicao, em vrios ciclos vegetativos, dependendo do nmero de plantas pretendidas, processo este que conduz a que o material vegetativo passe duas vezes por viveiro e duas vezes por plantao no terreno antes de chegar s mos dos viticultores, com riscos de infeco em cada um destes ciclos. Atendendo a que o processo clssico de multiplicao dos clones de videira lento e no se coaduna com as necessidades do mercado, torna-se necessrio recorrer a tcnicas de multiplicao rpida desses novos materiais. A prmultiplicao acelerada uma necessidade sempre que se seleccionarem novos clones. S com a capacidade de prmultiplicar um qualquer novo clone com grande rapidez conseguir-se- responder, em cada momento, aos novos objectivos que forem sendo definidos pelos viticultores (Martins et al., 2001).

1

Introduo e Objectivos

Neste sentido, Martins et al. (2007) ensaiaram um processo de multiplicao que consiste em ampliar o nmero de plantas iniciais e produzir material vegetativo em grandes quantidades, com recurso macropropagao em estufa, por enraizamento directo em vaso com substrato inerte e fertirrigao. Estes autores obtiveram assim varas em quantidade e com calibres adequados para a produo de plantas em vaso (depois de enxertadas), para fornecimento directo aos viveiristas, para efeito de instalao de parcelas produtoras de material certificado. No entanto, em determinados clones com maior procura, a quantidade de plantas produzidas atravs do processo atrs referido no foi suficiente para satisfazer as necessidades dos viveiristas. Assim, considera-se necessrio estudar outras tcnicas que permitam aumentar ainda mais a quantidade de material vegetativo a partir das plantas produzidas por aquele processo. No s pela necessidade de multiplicar um material vegetal muito limitado em quantidade (variedades e/ou clones novos), mas tambm por razes de ordem sanitria, nomeadamente viroses transmissveis pelo solo, desde meados da dcada de 80 do sculo passado, o ENTAV (tablissement National Technique pour lAmlioration de la Viticulture), em Frana, tem recorrido com sucesso a mtodos de produo intensivos sem solo, utilizando estacas herbceas, ou seja, material no lenhoso. Esta tcnica de produo de material lenhoso enxertvel, em estufa, constitui um progresso considervel em comparao com os mtodos de produo clssicos (Boidron e Auran, 1994). Atendendo a que diversos estudos com a aplicao desta tcnica apontam para a existncia do efeito da variedade no sucesso da mesma e desconhecendo-se experincias de propagao de castas portuguesas atravs de material vegetativo no lenhoso, considerou-se importante estudar a multiplicao de algumas castas por este processo. Neste contexto, o principal objectivo deste trabalho foi o de estudar o comportamento de algumas castas portuguesas com clones homologados quando propagados por estacas semilenhosas, mais concretamente o efeito do tipo de estaca e da concentrao de uma auxina sinttica o cido naftalenoactico (ANA) no enraizamento dessas estacas. Paralelamente, pretendeu-se estimar o ganho da quantidade de material de propagao vegetativa obtido por esta tcnica quando comparada com o material produzido pelo processo clssico de multiplicao de variedades de videira.

2

Reviso bibliogrfica

II. REVISO BIBLIOGRFICA 2. ENRAIZAMENTO DE ESTACAS HERBCEAS E SEMILENHOSAS 2.1 Aspectos gerais do enraizamento de estacasA propagao vegetativa ou assexuada uma tcnica de propagao descoberta desde as civilizaes antigas e que o Homem tem utilizado para a regenerao das plantas, consistindo na multiplicao de plantas e na preservao das suas caractersticas (Hartmann et al., 2002). Esta tcnica tem subjacente a totipotncia das clulas vegetais, que se baseia no facto de que tais clulas vivas de uma planta possuem a informao gentica necessria e/ou suficiente para originar uma planta inteira e independente (Hartmann et al., 1990). Sob o ponto de vista do melhoramento gentico, a propagao vegetativa oferece uma srie de vantagens, como, por exemplo, as plantas que apresentam caractersticas desejveis poderem ser seleccionadas e mantidas clonadas, ou seja, serem reproduzidas em qualquer fase do programa de melhoramento gentico, seja qual for o mtodo de melhoramento utilizado, com expressivo ganho de tempo principalmente nas espcies de ciclo longo (Atroch et al., 2007). A estacaria considerada a principal tcnica de propagao vegetativa de muitas culturas hortcolas, frutcolas e ornamentais. A razo principal para o seu emprego a capacidade de reproduzir, de uma forma exacta, as caractersticas genticas de qualquer planta individual (Hartmann et al., 2002), a qual, vista escala de um reduzido nmero de geraes de multiplicao, garante uma homogeneidade gentica dos descendentes (Martins, 1993). , portanto, uma tcnica importante do ponto de vista agronmico, uma vez que permite a multiplicao em larga escala de uma nica planta em tantas quantas a planta-me o permitir (Mindllo Neto et al., 2004; Atroch et al., 2007; Carvalho et al., 2007) e, como tal, bastante utilizada em viticultura. Em viticultura, a preferncia do consumidor por variedades tradicionais de caractersticas conhecidas refora a importncia da sua manuteno. Assim, a propagao vegetativa o mtodo mais apropriado para a disseminao de cultivares de videira, quer a nvel regional, quer a nvel internacional (Smart et al., 2003). Para alm disso, Roberto et al. (2006) referem que a propagao de plantas por estaca possibilita a reduo da fase juvenil e, por consequncia, do perodo improdutivo. No entanto, do ponto de vista gentico, a propagao vegetativa apresenta como principal desvantagem a tendncia para a reduo da variabilidade gentica, uma vez que, em programas de seleco clonal, o melhorador procura sempre o mximo de expresso dos 3

Reviso bibliogrfica

caracteres numa nica planta, anulando, assim, a utilizao de nveis intermdios de variabilidade gentica (Atroch et al., 2007). Neste processo de propagao, as estacas utilizadas podem ser obtidas a partir de diferentes pores vegetativas das plantas, tais como caules, folhas e razes, sendo as primeiras usadas com maior frequncia, devido sua simplicidade e baixo custo operacional (Hartmann et al., 2002). No presente trabalho, abordaremos os aspectos relacionados com as estacas originadas dos caules. As estacas caulinares usadas na propagao vegetativa de espcies lenhosas podem ser classificadas de acordo com a natureza do tecido do caule, sendo esta dependente da poca de colheita das mesmas. Estas estacas podem ser agrupadas, basicamente, em trs grupos: lenhosas, semilenhosas e herbceas. As estacas lenhosas, colhidas no Inverno, so maduras e dormentes, enquanto as semilenhosas so parcialmente atempadas e colhidas durante o perodo de crescimento. As chamadas estacas herbceas so provenientes de rebentos novos, possuem uma consistncia macia e suculenta e devem ser propagadas na Primavera ou no incio do Vero (Hartmann et al., 2002). A necessidade de propagao de plantas com valor comercial levou ao interesse pela formao de razes adventcias (Smart et al., 2003), sendo o incio do desenvolvimento de um sistema radicular funcional apresentado como o ponto crtico da propagao vegetativa por intermdio de estacas (Hartmann et al., 2002; Mayer et al., 2006). Segundo Pio et al. (2005), a capacidade de formao de razes, a qualidade do sistema radicular formado e o desenvolvimento posterior da planta propagada so factores que influenciam a viabilidade deste mtodo de propagao vegetativa. Por outro lado, a capacidade de uma estaca emitir raiz depende das caractersticas da planta que lhe deu origem, do tratamento recebido e da interaco de determinados factores que se encontram presentes nas clulas dessa estaca, assim como de substncias produzidas nas suas folhas e gomos (Bortolini, 2006). Segundo Smart et al. (2003), as cultivares de Vitis vinifera so extremamente prolferas na formao de razes adventcias, sendo este aspecto constatado pelos resultados de vrios trabalhos em diversas variedades de Vitis vinifera (Warmund et al., 1986; Thomas e Schiefelbein, 2001, 2004). Por outro lado, os porta-enxertos de videira, de um modo geral, no apresentam grandes dificuldades de enraizamento quando propagados por meio de estacaria lenhosa, sendo esta caracterstica herdada dos seus progenitores, principalmente dos oriundos das espcies Vitis riparia e Vitis rupestris (Biasi et al., 1997; Monteguti et al., 2008). No entanto, existem relatos de que os hbridos obtidos de Vitis berlandieri, Vitis cinerea e videiras muscadneas (Vitis rotundifolia) enrazam com mais dificuldade quando

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Reviso bibliogrfica

propagados atravs de estacas lenhosas (Goode Jr. et al., 1982; Williams e Antcliff, 1984; Biasi e Boszczwski, 2005; Bordin et al., 2005; Mayer et al., 2006; Monteguti et al., 2008). Com o aparecimento de sistemas de propagao que proporcionam uma elevada humidade controlada por uma neblina de vapor de gua, os investigadores comearam a desenvolver tcnicas para a propagao da videira atravs de estacas herbceas com folhas, nomeadamente das espcies atrs referidas que apresentam maior dificuldade de enraizamento por estacaria lenhosa (Goode Jr. e Lane, 1983), uma vez que aquele ambiente permite que as estacas se mantenham vivas at que ocorra o enraizamento (Howard, 2004). Deste modo, vrios investigadores usaram estufas ou cmaras com sistemas de nebulizao para o enraizamento de estacas herbceas e semilenhosas de diversas variedades de videira (Egger et al., 1985; Moretti e Borgo, 1985; Warmund et al., 1986; Anaclerio et al., 1992; Leonel e Rodrigues, 1993; Biasi et al., 1997; Rezende e Pereira, 2001; Villa et al., 2003; Keeley et al., 2004; Roberto et al., 2004a, c, d; Bordin et al., 2005; Biasi e Boszczowski, 2005; Machado et al., 2005; Roberto et al., 2006; Faria et al., 2007). Por se tratar dum assunto directamente relacionado com o nosso estudo, os principais aspectos relacionados com a formao de razes adventcias em estacas herbceas so mais adiante abordados (ponto 2.5).

2.2 Aspectos biolgicos da rizognese adventciaO sucesso da propagao vegetativa por estaca requer apenas que se forme um novo sistema de razes adventcias, uma vez que um potencial sistema de rebentos (o gomo) j se encontra presente na estaca (Hartmann et al., 2002). Este processo de propagao bastante importante na produo de plantas viveis de numerosas espcies, nomeadamente de videira, pelo que se considera pertinente conhecer, o melhor possvel, as fases e aspectos relacionados com a formao de razes adventcias. De uma maneira geral, so denominadas razes adventcias as que so formadas a partir de caules ou folhas, ou em explantes de tecidos de caule ou folha. A palavra adventcia deriva do latim adventicius, que significa estrangeiro ou estranho, sendo os rgos originados em locais da planta diferentes dos locais ditos normais, ou seja no embrio ou na raiz primria, designados por adventcios (Barlow e Palma, 1997). O termo raiz adventcia frequentemente utilizado em vrios contextos, sendo, para alguns, a formao de uma raiz adventcia induzida por meios de algum modo artificiais, nomeadamente com o auxilio de reguladores de crescimento, surgindo em locais da planta

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Reviso bibliogrfica

onde, caso contrrio, nunca se formariam. Para outros autores, as razes adventcias no so necessariamente induzidas artificialmente, surgindo normalmente no decurso do processo de desenvolvimento (Barlow e Palma, 1997). Por isso, Hartmann et al. (2002) preconizam a existncia de dois tipos de razes adventcias: razes pr-formadas e razes induzidas. As razes iniciais pr-formadas ou latentes geralmente mantm-se dormentes at que os caules sejam seccionados em estacas e estas colocadas sob condies ambientais favorveis ao desenvolvimento e emergncia de primrdios radiculares, podendo, tambm, surgir antes da realizao das estacas. Por outro lado, as razes induzidas desenvolvem-se apenas depois das estacas serem cortadas, em resposta ao corte, sendo consideradas como formadas de novo. A formao de razes adventcias em estacas ocorre a partir de modificaes morfolgicas e fisiolgicas (Carvalho et al., 2007), estando dependente da desdiferenciao das clulas vegetais e posterior desenvolvimento de um sistema de razes (Hartmann et al., 2002). O processo de desdiferenciao a capacidade de as clulas anteriormente desenvolvidas e diferenciadas iniciarem divises celulares e formarem um novo ponto de crescimento meristemtico (Hartmann et al., 2002). Apesar de todas as plantas possurem a capacidade para regenerar rgos a partir de clulas indiferenciadas (Howard, 2004), verifica-se que esta caracterstica mais acentuada nalgumas clulas e partes das plantas do que noutras (Hartmann et al., 2002), e que nem sempre este processo simples e rpido, pois a desdiferenciao e a diferenciao celulares podem ser influenciadas por diversos factores endgenos (Carvalho et al., 2007). Uma srie de mudanas morfolgicas est associada formao de razes em estacas, tais como a formao ou no de calo, o desenvolvimento do primrdio radicular e a emergncia da raiz (Thomas e Schiefelbein, 2002). No entanto a definio, a natureza e a designao das diferentes etapas do processo de formao de razes adventcias parecem no ser consensuais, assim como a sequncia exacta dos eventos que ocorrem nessas etapas so inequivocamente difceis de definir no tempo e no espao (Blakesley et al., 1991). Apesar disso, o enraizamento de estacas, de uma forma simplista, pode ser dividido em duas fases: a iniciao do meristema radicular e o seu subsequente crescimento. Porm Hartmann et al. (2002), de um modo geral, dividem o processo de formao de razes adventcias em quatro fases que, no essencial, incluem o seguinte: Desdiferenciao de clulas especficas diferenciadas; Formao de razes iniciais a partir de clulas localizadas prximo dos feixes ou tecidos vasculares, que se tornaram meristemticas por desdiferenciao; Desenvolvimento das razes iniciais em primrdios radiculares organizados; Crescimento e emergncia das razes adventcias.

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Uma vez iniciada a formao de razes adventcias nas estacas, ocorre uma considervel actividade metablica, como o desenvolvimento de novos tecidos radiculares e o crescimento das razes atravs e para fora do tecido do caule (Hartmann et al., 2002). Em condies favorveis ao enraizamento, forma-se um calo nas extremidades basal das estacas (Thomas e Schiefelbein, 2002; Thomas et al., 2003). O calo uma massa irregular de clulas parnquimatosas em diversos estados de lenhificao que geralmente se desenvolvem na base das estacas quando colocadas em condies ambientais favorveis ao enraizamento, havendo relatos que as primeiras razes aparecem com frequncia atravs do calo, conduzindo suposio de que a formao do calo essencial para o enraizamento (Hartmann et al., 2002). No entanto Hartmann et al. (2002) referem que, em espcies de fcil enraizamento, a formao do calo e a das razes so processos independentes, sendo a sua ocorrncia simultnea devida dependncia de semelhantes condies internas e ambientais. Estes autores referem, ainda, que nalgumas espcies a formao de calo um precursor da formao de razes adventcias, enquanto noutras o excesso de calo pode impedir o enraizamento. de referir, ainda, que o efeito do ferimento na base das estacas, causado pela segmentao das mesmas, parece mostrar-se benfico para o enraizamento de diversas espcies lenhosas, por estimular a diviso celular e a formao de calos. A actividade celular na rea ferida estimulada pelo aumento da taxa respiratria e dos teores de auxinas, carbo-hidratos e etileno, resultando na formao de razes nas margens da leso (Hartmann et al., 2002). Por outro lado, Carvalho et al. (2007) referem que o enraizamento de estacas semilenhosas de pessegueiro foi favorecido pelo corte lateral da casca das estacas e admitem que as leses na base das estacas permitem que haja rompimento de uma possvel barreira fsica formada por anis de esclernquima, que podem impedir a emergncia das razes. A iniciao da rizognese adventcia devida interaco entre determinados factores existentes nos tecidos e a translocao de substncias localizadas nas folhas e nos gomos (Mindllo Neto, 2006), sendo regulada por uma srie de compostos internos, incluindo reguladores de crescimento, tais como auxinas e citocininas, compostos azotados, como a espermina e espermidina, hidratos de carbono e factores genticos (Smart et al., 2003). No entanto cada estdio do processo de desenvolvimento na formao de razes adventcias, marcado por uma sequncia de eventos histolgicos, apresenta diferentes exigncias em termos de reguladores de crescimento, tais como auxinas, citocininas e cido giberlico (Hartmann et al., 2002).

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Relativamente aos factores genticos, alguns autores relatam que a potencialidade de uma estaca formar razes varivel com a espcie e cultivar, podendo classific-las entre espcies ou cultivares de fcil, mdio ou difcil capacidade de enraizamento (Bastos et al., 2005). Esta classificao tambm preconizada por Hartmann et al. (2002), de acordo com o seguinte: plantas de fcil enraizamento, que possuem nos seus tecidos substncias endgenas necessrias iniciao radicular, no sendo necessria a aplicao de qualquer substncia exgena para que nas estacas se formem razes; plantas relativamente fceis de enraizar, que tm nos seus tecidos os cofactores necessrios, mas no possuem auxinas suficientes. Neste caso, o sucesso no enraizamento das estacas obtm-se com a aplicao de auxinas exgenas; plantas de difcil enraizamento, que no apresentam um ou mais cofactores, independentemente da quantidade de auxinas endgenas. Nestas plantas, a aplicao de auxinas exgenas, s por si, no suficiente para o enraizamento das estacas.

2.3 Influncia dos reguladores de crescimento na rizognese adventciaA formao de razes em estacas directa ou indirectamente influenciada por todas as classes de reguladores de crescimento: auxinas, citocininas, giberelinas, cido abscsico e etileno, bem como compostos auxiliares e cofactores de enraizamento, tais como inibidores/retardadores do crescimento, poliaminas e compostos fenlicos (Hartmann et al., 2002). Os reguladores de crescimento podem definir-se como promotores ou inibidores do enraizamento. Em termos gerais, o conceito de promotores e inibidores do enraizamento adventcio pode ser usado para definir compostos, conhecidos e desconhecidos, que foram encontrados para promover ou inibir o enraizamento, quando aplicados em estacas caulinares. O modo de aco da maioria dos promotores e inibidores do enraizamento obscuro, sabendo-se, no entanto, que muitas destas substncias actuam por intermdio de um efeito qumico e que, independentemente da sua identidade qumica, concentraes sub-letais promovem o enraizamento, enquanto elevadas concentraes se tornam inibitrias (Wilson e van Staden, 1990). Segundo relatado por Gontijo et al. (2003), to importante quanto a concentrao dos reguladores de crescimento na induo da rizognese adventcia a existncia de um adequado balano hormonal endgeno, especialmente entre auxinas, giberelinas e citocininas, ou seja, um equilbrio entre promotores e inibidores do processo de iniciao radicular. Estes autores referem ainda que a maneira mais comum de promover esse

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equilbrio pela aplicao exgena de reguladores de crescimento sintticos, como o cido indolbutrico (AIB), que podem elevar o teor de auxina nos tecidos. No entanto existem relatos de que estacas de videiras, muitas vezes, induzem razes sem tratamentos exgenos de auxina (Kawai, 1997), nomeadamente durante o perodo de crescimento activo (Julliard, 1967). Para alm de aumentar a percentagem de estacas enraizadas, Bastos et al. (2005) referem que o uso de reguladores de crescimento tem por finalidade acelerar a iniciao radicular, aumentar o nmero e a qualidade das razes formadas e uniformizar o enraizamento. 2.3.1 Auxinas

O termo auxina deriva da palavra grega auxein que significa crescer, tendo sido usado pela primeira vez por Frits Went, em 1926, quando descobriu que um composto no identificado provocava a curvatura em direco luz do coleptilo de aveia, fenmeno este designado por fototropismo. Mais tarde, este mesmo investigador desenvolveu uma tcnica que permitiu isolar a substncia responsvel por aquele fenmeno e quantificar o seu efeito. Graas a esta tcnica, em meados da dcada de 30, Went isolou a primeira hormona vegetal, designada por auxina, sendo quimicamente identificada por cido indol-3-actico (AIA) (Taiz e Zeiger, 2002). O AIA considerado a principal auxina de ocorrncia natural nas plantas (Hartmann et al., 2002). No entanto o AIB, embora em menor abundncia que o AIA, tambm referido como uma substncia de ocorrncia natural nas plantas (Ludwig-Mller e Epstein, 1994). As auxinas compem o grupo de reguladores de crescimento que apresenta o maior efeito na formao de razes em estacas (Kracke et al., 1981), sendo referido que o AIA necessrio para iniciar a diviso celular no periciclo das razes, para promover a diviso celular e para a manuteno da viabilidade das clulas durante o desenvolvimento das razes laterais (Taiz e Zeiger, 2002). Alm do papel na formao de razes, estas substncias intervm em diversas actividades das plantas, tais como o crescimento do caule, a inibio de gemas laterais, a absciso de folhas e frutos e a activao das clulas do cmbio, entre outras (Blakesley et al., 1991), assim como estimulam a diviso celular, sendo o seu efeito na sntese de cidos nuclicos e protenas importante para o mecanismo de desenvolvimento da parede celular (Figueiredo et al., 1995). ainda referido que as auxinas podero provocar a activao do cmbio e a desdiferenciao das clulas parnquimatosas (Julliard, 1973). As substncias auxnicas formam-se naturalmente nas partes das plantas em crescimento activo, tais como gomos e folhas jovens, sendo posteriormente transportadas, atravs do

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floema, para a base das estacas, onde se concentram e, deste modo, juntamente com outras substncias nutritivas, estimulam a formao das razes (Hartmann et al., 2002; Monteguti et al., 2008). O AIA pode ser encontrado naturalmente nas plantas nas formas livre ou conjugada. Embora o AIA na sua forma livre seja biologicamente mais activo, a grande maioria encontrada na forma conjugada (Taiz e Zeiger, 2002). No entanto a conjugao do AIA permite que este fique inactivo em termos funcionais mas potencialmente conversvel em AIA livre, servindo de fonte de auxina durante a maior parte do processo de enraizamento (Riov, 1993). Segundo Riov (1993), em vrias espcies, a aplicao exgena de conjugados pode ser mais eficiente no enraizamento do que a aplicao da correspondente auxina livre, referindo, ainda, que a eficincia das vrias auxinas na induo de razes adventcias parece depender da estabilidade dos seus conjugados. No que diz respeito aos nveis de AIA endgeno durante o processo de enraizamento adventcio, existem relatos que as altas concentraes de auxina necessrias nos primeiros eventos do enraizamento so posteriormente inibitrias para a organizao dos primrdios radiculares e subsequente crescimento, da a importncia do papel do complexo enzimtico AIA-oxidase/peroxidase na regulao endgena da concentrao da auxina, uma vez que, por efeito da AIA-oxidase, a auxina sofre degradao oxidativa atingindo nveis que so ptimos para as posteriores fases do desenvolvimento das razes (Jarvis, 1986). Por outro lado, durante o processo de enraizamento in vitro de estacas de castanheiro, Ballester et al. (1999) detectaram maior quantidade de AIA endgeno nos rebentos maduros do que nos juvenis, sugerindo que o nvel de AIA pode no ser o factor limitante na ausncia de capacidade de enraizamento dos rebentos maduros. De acordo com o referido por Botelho et al. (2005a), a auxina, dependendo da concentrao e do tempo de exposio, inibe ou estimula o crescimento e a diferenciao dos tecidos, existindo um nvel ptimo para estas respostas fisiolgicas que, por sua vez, depende directamente dos nveis endgenos dessas substncias. No entanto as concentraes exactas no so claras, sabendo-se que doses abaixo dos nveis crticos so insuficientes e que doses acima desse nvel impedem a formao de razes e gomos (Pacheco, 2007). Segundo Kawai et al. (2004), durante o processo de enraizamento, o nvel de auxina deve ser elevado para a formao do primrdio radicular e baixo para a emergncia da raiz. Com o objectivo de promover e acelerar o enraizamento de estacas, habitualmente, so usados reguladores de crescimento sintticos do grupo das auxinas, os quais conduzem a uma maior percentagem de formao de razes, assim como a uma melhor qualidade e uniformidade das mesmas (Carvalho et al., 2005). Actualmente, o AIB e o ANA so as

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auxinas mais amplamente usadas para o enraizamento de estacas, por serem os compostos mais eficazes no estmulo da iniciao de razes adventcias em estacas de muitas espcies (Jarvis, 1986; Hartmann et al., 2002). Vrios estudos tm confirmado que a auxina requerida para a iniciao das razes adventcias em estacas, e, na verdade, foi demonstrado que as divises celulares iniciais da primeira raiz dependem, quer da auxina aplicada, quer da auxina endgena (Hartmann et al., 2002). O AIB provavelmente a principal auxina sinttica de uso geral porque no txica para a maioria das plantas, mesmo em altas concentraes. Segundo relatado por Botelho et al. (2005a), o AIB tambm bastante efectivo para um grande nmero de espcies, sendo relativamente estvel e, por isso, pouco susceptvel aco dos sistemas enzimticos de degradao das auxinas. A estabilidade do AIB, o seu lento transporte do local da aplicao para a base da estaca e a sua converso em AIA na estaca so, provavelmente, os factores que fazem deste composto um bom promotor do enraizamento (Epstein e Lavee, 1984). Contudo, nas estacas tratadas com este composto, possvel encontrar resultados variveis, consoante a espcie ou cultivar utilizada, o tipo de estaca, a poca do ano, a concentrao, entre outras (Machado et al., 2005). No que diz respeito ao ANA, sabe-se que tambm um regulador de crescimento totalmente estvel luz e no degradado pelo sistema AIA-oxidase. No entanto, um composto mais txico que o AIB e, por isso, tem de ser usado em concentraes mais baixas (Hartmann et al., 2002). Tal foi demonstrado por Al-Salem e Karam (2001), em estacas lenhosas de Arbutus andrachne L., onde a percentagem de enraizamento, o nmero, o comprimento e o peso seco das razes das estacas basais, quando tratadas com AIB, foram superiores aos que se obtiveram quando tratadas com a mesma concentrao de ANA. Por outro lado, Ono et al. (1992), num estudo sobre o enraizamento de estacas caulinares de Coffea arabica, verificaram que aparentemente o ANA foi mais eficaz que o AIB no estmulo da formao de razes. No entanto estes autores referem que a eficcia do ANA ou do AIB no processo de enraizamento muito variada, respondendo algumas espcies melhor ao ANA e outras ao AIB. Conforme j referido, nota-se uma considervel evidncia que a auxina exgena no necessria durante todas as fases da produo de razes adventcias, havendo mesmo dados que sugerem uma aco inibitria numa fase tardia (Blakesley et al., 1991). Apesar disso, um estmulo hormonal indispensvel rizognese (Julliard, 1967). Quanto ao timing do tratamento com auxina, S (1996) refere que esta deve ser aplicada imediatamente aps o corte dos rebentos, relatando ainda que foi observado em Vigna radiata que a absoro e translocao da auxina bem como o enraizamento diminuram

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progressivamente medida que aumentou o intervalo de tempo entre o corte e a aplicao da hormona. 2.3.1.1. Auxinas no enraizamento da videira No que diz respeito influncia das auxinas na formao de razes adventcias em estacas de videira, num estudo com dois porta-enxertos, Kracke et al. (1981) constataram a existncia de uma correlao positiva entre os nveis de auxinas endgenas e a percentagem de enraizamento. Estes autores verificaram que o porta-enxerto Kober 5BB apresentou um nvel mais elevado de auxina endgena do que o 140 Ru, o que provavelmente justifica a sua maior capacidade de enraizamento, o qual tambm considerado como de fcil enraizamento. Como j referido anteriormente, as auxinas endgenas so produzidas em rgos jovens das plantas, nomeadamente nos gomos, tendo-se verificado que em estacas lenhosas de videira estes exerceram uma influncia determinante sobre o nmero e a repartio das razes, verificando-se mesmo que a supresso do gomo, antes de colocar as estacas no meio de enraizamento, suprimiu completamente a rizognese (Julliard, 1973). No entanto esta noo no totalmente apoiada pelos resultados de Smart et al. (2003), que demonstraram que, apesar dos gomos dormentes terem exercido algum controlo sobre a formao de razes adventcias em Vitis vinifera, este aspecto no foi evidente em dois porta-enxertos hbridos americanos. Estes autores defendem que estes resultados no consensuais podem estar relacionados com diferentes estados fisiolgicos dos gomos (idade ou dormncia) do material vegetal utilizado. O enraizamento de estacas de videira tambm influenciado pela concentrao da auxina, ocorrendo o seu efeito benfico s at uma concentrao mxima. Este facto demonstrado atravs dos resultados de estudos com estacas semilenhosas de porta-enxertos, onde se verificou um aumento da mortalidade das estacas com o aumento da concentrao de AIB (Biasi et al., 1997; Machado et al., 2005). Biasi et al. (1997) atribuiram a esta situao o efeito txico ou inibitrio das concentraes mais elevadas de AIB. Por outro lado, estes resultados so tambm explicados pelo facto de que a eficincia do tratamento com AIB pode variar com o tipo e o estado nutricional da estaca, assim como pelas estacas j poderem apresentar um teor de auxina endgena suficiente para que ocorra o enraizamento, sendo ineficiente a aplicao de auxina exgena (Faria et al., 2007). Quanto influncia do tipo de auxina no enraizamento de estacas de videira, contrariamente ao relatado por Al-Salem e Karam (2001) e por Hartmann et al. (2002) para outras espcies, num ensaio de propagao in vitro de micro-estacas de Vitis vinifera L. cv. Pinot Noir, Heloir et al. (1997) observaram que, para a mesma concentrao de auxina, os explantes tratados 12

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com ANA apresentaram um maior nmero de razes, mas de menor comprimento do que os tratados com AIB. 2.3.2 Citocininas

As citocininas constituem um dos mais importantes grupos de hormonas, essenciais ao desenvolvimento das plantas pela regulao da diviso celular (Hartmann et al., 2002), para alm de participarem nos processos de crescimento e desenvolvimento vegetal (Roberto et al., 2006). As regies da planta onde se observa maior sntese de citocininas livres so os meristemas radiculares. Aps a sua formao nas razes, as citocininas parecem mover-se pelo xilema at parte area, onde se podem acumular em nveis altos nas folhas (Roberto et al., 2006). Durante o perodo de enraizamento, a citocinina gradualmente metabolizada a favor da emergncia e do crescimento das razes latentes ou simplesmente inactivada pelos tecidos da planta, sendo este declnio interrompido e invertido aps a formao das razes (Okoro e Grace, 1978). A formao de razes adventcias geralmente favorecida por uma relao auxina/citocinina elevada, enquanto uma relao baixa favorece a formao de gomos adventcios. Verifica-se, assim, que as estacas de espcies que apresentam naturalmente um nvel elevado de citocininas tm maior dificuldade em enraizar do que aquelas com nveis baixos de citocininas. A influncia das citocininas na iniciao da rizognese pode depender da fase particular da iniciao e da concentrao da hormona. Alguns autores sugerirem que os poucos casos de sucesso com a aplicao exgena de citocininas indicam que estas podem ter um papel indirecto que pode manifestar-se atravs dos efeitos no rejuvenescimento e na acumulao de carbo-hidratos na base das estacas (Hartmann et al., 2002). Kawai (1997), estudando o efeito da aplicao de benzilaminopurina (BAP) em estacas lenhosas de videira, constatou que esta citocinina suprimiu completamente o enraizamento dessas estacas apesar de ter verificado, nas mesmas, um grande aumento do AIA extravel. Outros trabalhos mostram tambm que as citocininas inibiram o enraizamento de estacas de videira da variedade Delaware (Fujii e Nakano, 1974), sendo raras as experincias que mostraram que as citocininas promoveram a formao de razes adventcias em estacas (Kawai, 1997). 2.3.3 Giberelinas

As giberelinas so, como as auxinas, reguladores de crescimento, mas os seus efeitos, ao contrrio do AIA, revelam-se melhor em plantas intactas do que em estacas. So principalmente conhecidas pelos seus efeitos na promoo do alongamento dos caules,

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podendo suprimir a iniciao radicular, interferindo com processos ao nvel molecular, particularmente a transcrio (Hartmann et al., 2002). A giberelina mais abundante nos vegetais o cido giberlico (AG), sendo este largamente referido como inibidor da formao de razes adventcias em estacas de vrias espcies vegetais (Jarvis, 1986). Esta ideia , de certo modo, apoiada por Kawai (1997), ao constatar que a aplicao de AG inibiu temporariamente o enraizamento de estacas lenhosas de videira, no tendo verificado uma reduo significativa dos nveis de auxina endgena, comparados com os nveis do controlo. Keeley et al. (2003) referem ainda a existncia de uma relao inversa entre o teor de giberelinas nas estacas e a sua capacidade para formar razes adventcias. A inibio da formao de razes por aco das giberelinas parece depender do estado de desenvolvimento do enraizamento e das condies ambientais a que so submetidas as estacas (Jarvis, 1986), levando a que muitas vezes a aco do AG na formao de razes seja confusa. Alguns autores referem mesmo que os mecanismos bioqumicos e fisiolgicos, atravs dos quais as giberelinas aplicadas inibem a rizgenese adventcia, mantm-se desconhecidos (Hartmann et al., 2002). 2.3.4 cido abscsico

O cido abscsico (ABA) um dos reguladores de crescimento que apresenta um papel importante no enraizamento de plantas, atendendo aos seus efeitos antagnicos na aco das giberelinas e das citocininas, as quais podem inibir o enraizamento, bem como sua influncia na capacidade das estacas resistirem ao stress hdrico, durante a propagao (Hartmann et al., 2002). Em situaes de stress hdrico, o ABA sintetizado nos tecidos das plantas, sendo posteriormente transportado para outros tecidos ou rgos, onde a sua acumulao vai aumentar as relaes hdricas da planta, provocando o fecho dos estomas (Hartung e Turner, 1997) e, deste modo, protegendo a dessecao das folhas. Porm vrios trabalhos realizados com o objectivo de estudar o efeito do ABA na formao de razes adventcias mostraram resultados contraditrios. Aparentemente estes resultados dependeram da concentrao da hormona e das condies ambientais e nutricionais das plantas-me de onde as estacas foram colhidas (Hartmann et al., 2002). No que diz respeito ao efeito do ABA no enraizamento de estacas lenhosas de videira, em certas situaes verificou-se a inibio temporria da formao de razes (Kawai, 1997), enquanto noutras este regulador de crescimento promoveu o enraizamento (Fujii e Nakano, 1974). Segundo Kawai (1997), a inibio do enraizamento por efeito do ABA justificada pela supresso da actividade do gomo. Por outro lado, num estudo sobre os nveis

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endgenos de AIA e de ABA durante o enraizamento de estacas lenhosas de alguns porta-enxertos de videira, Kelen e Ozkan (2003) registaram um aumento generalizado do nvel de AIA e uma diminuio do ABA, tendo os mesmos autores verificado, ainda, uma correlao positiva entre o nvel de AIA e a taxa de enraizamento, mas uma correlao negativa entre o nvel de ABA e a percentagem de enraizamento. 2.3.5 Etileno

Relativamente aos efeitos do etileno no enraizamento de estacas, a bibliografia consultada aponta para opinies contraditrias. Segundo Hartmann et al. (2002), o etileno pode promover, reduzir ou no ter qualquer efeito na formao de razes adventcias, referindo Moucousin et al. (1989) que o efeito do etileno exgeno na formao de razes adventcias altamente varivel, dependendo da espcie de planta e das condies ambientais e fisiolgicas. Vrios investigadores mostraram que as aplicaes de auxina podem induzir a produo de etileno e sugeriram que o etileno induzido pela auxina pode explicar a capacidade desta originar a iniciao de razes (Norberto et al., 2001; Hartmann et al., 2002), referindo Nordstrm e Eliasson (1984) a existncia de uma interaco sinrgica entre estes dois compostos na regulao das divises celulares durante a formao das razes. Refira-se, ainda, que a promoo do enraizamento pelo etileno ocorre mais frequentemente em plantas inteiras do que em estacas, preferencialmente em plantas herbceas do que lenhosas, e em plantas que tm razes iniciais pr-formadas (Hartmann et al., 2002). Alm disso, os efeitos do etileno no enraizamento no so to previsveis ou consistentes como os causados pela auxina. Vrios resultados sugerem que o etileno endgeno no est directamente envolvido no enraizamento de estacas induzidas pela auxina (Moncousin et al., 1989; Hartmann et al., 2002). No entanto Jarvis (1986) refere um trabalho com cultura de tecidos de tabaco que sugere a possibilidade de o etileno endgeno ser inibitrio nas fases iniciais da formao das razes, mas estimulador ou essencial num estado de desenvolvimento posterior. 2.3.6 Compostos auxiliares e cofactores de enraizamento Os principais efeitos das hormonas vegetais usadas na induo do enraizamento de estacas podem ser influenciados por determinados compostos, tais como retardadores/inibidores do crescimento, poliaminas e cofactores de enraizamento. Os retardadores do crescimento, geralmente aplicados para reduzir o crescimento, tm sido usados para aumentar o enraizamento, baseado no princpio de que inibem a biossntese ou a actividade do AG, que normalmente inibidor do enraizamento, ou que

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reduzem

o

crescimento

dos

rebentos,

resultando

uma

menor

competio

e,

consequentemente, maior disponibilidade de assimilados para o enraizamento, na base das estacas. No entanto o modo de aco com que estes compostos melhoram o enraizamento no se encontra bem conhecido (Hartmann et al., 2002). Quanto ao efeito das poliaminas no enraizamento adventcio, Neves et al. (2002) referem vrios trabalhos, entre os quais um trabalho desenvolvido pelos prprios, onde se verificaram resultados muito variveis em diversas espcies de plantas lenhosas. Enquanto nalguns casos registaram-se correlaes positivas entre a acumulao de poliaminas e a fase inicial da formao de razes adventcias, noutros casos a diminuio do nvel de poliaminas, particularmente de putrescina, est associada a um aumento da taxa de enraizamento. Outras substncias so referidas como possivelmente envolvidas na promoo do enraizamento adventcio, as quais ocorrem naturalmente e parecem actuar sinergicamente com o AIA (Fujii e Nakano, 1974; Wilson e van Staden, 1990; Kawai, 1996; Hartmann et al., 2002). Segundo Wilson e van Staden (1990), estas substncias so designadas cofactores do enraizamento. Vrios autores referem que uma substncia produzida nos gomos, folhas ou caules, que se acumula na base das estacas, necessria para a formao de razes, sendo essa hipottica hormona do enraizamento denominada por rizocalina, tendo Bouillenne e Went referido como um cofactor de enraizamento (Fujii e Nakano, 1974; Wilson e van Staden, 1990; Kawai, 1996; Hartmann et al., 2002). A rizocalina considerada um produto resultante da conjugao entre a auxina e compostos fenlicos (Wilson e van Staden, 1990), sendo tambm referida por Jarvis (1986) como um complexo de trs factores, dos quais depende a iniciao das razes. No entanto Hassig e Davis (1994) desvalorizam a referncia de Bouillenne e Went sobre o papel da rizocalina no enraizamento de plantas, uma vez que anterior descoberta da auxina e da sua identificao com o AIA. Porm a rizocalina parece fazer parte da histria da descoberta das auxinas. Outros estudos referem os compostos fenlicos como promotores do enraizamento, quando aplicados em estacas, levando alguns autores a apoiar a hiptese de que estes so constituintes da rizocalina. Todavia foram propostos outros possveis modos de aco destes compostos, tais como: 1) proteco da auxina contra oxidaes; 2) participao na sntese da auxina; 3) aco no primeiro dos dois hipotticos estdios da formao de razes; ou 4) aco directa na iniciao radicular em associao com as auxinas (Wilson e van Staden, 1990).

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No entanto Mayer et al. (2006) referem que os compostos fenlicos podem estimular ou inibir o enraizamento de estacas, podendo este processo ser estimulado pela presena de monofenis e inibido por polifenis. Porm, Bortolini (2006) relata que os polifenis favorecem o enraizamento das estacas porque impedem a destruio da auxina endgena, por inactivar o sistema AIA-oxidase (AIA-O), enquanto os monofenis, responsveis pela inactivao do AIA, ao potencializam o sistema AIA-O, vo originar uma resposta fisiolgica no sentido da inibio do enraizamento em estacas. Outras substncias de ocorrncia natural, que actuam sinergicamente com as auxinas, so tambm necessrias para que se d o enraizamento das estacas, tais como carbo-hidratos, compostos azotados e vitaminas. Estes cofactores de enraizamento so sintetizados nos gomos e em folhas jovens, maioritariamente, em estacas provenientes de plantas jovens (Roberto et al., 2006).

2.4 Factores internos e externos que afectam o enraizamento das estacasA propagao por estaca de videira e de outras espcies frutcolas tem sido estudada por diversos autores, verificando-se que os resultados variaram de acordo com um vasto nmero de factores internos e externos, factores estes que podem actuar isoladamente ou em conjunto. Entre os factores internos, para alm das substncias hormonais j abordadas no ponto anterior, destacam-se: a variabilidade gentica, as condies fisiolgicas, a idade da planta-me, o tipo de estaca e o estado de desenvolvimento em que so colhidas. Entre os factores externos, podemos realar as condies ambientais a que so submetidas as estacas e o substrato utilizado (Monteguti et al., 2008). 2.4.1 2.4.1.1 Factores Internos Tipo de estaca

Neste ponto abordamos o tipo de estaca de videira sobre dois aspectos: grau de lenhificao e zona da vara ou lanamento de onde foi segmentada a estaca. Alm da classificao em relao ao grau de lenhificao (lenhosas, semilenhosas e herbceas), as estacas podem ser classificadas em basais, mdias e apicais, de acordo com a zona da vara ou lanamento de onde provm. Do ponto de vista da primeira classificao, vrios autores referem que, para a grande maioria das espcies de plantas, as estacas herbceas e semilenhosas enrazam com mais facilidade do que as estacas lenhosas (Hartmann et al., 2002; Aguiar et al., 2005). De acordo com Tofanelli et al. (2001), este comportamento justifica-se pelas estacas herbceas e semilenhosas apresentarem um tecido mais sensvel aco dos reguladores de

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crescimento e tambm por estas serem menos lenhificadas do que as lenhosas e, deste modo, no apresentarem casca nem anel de esclernquima entre o floema e o crtex altamente lenhificados, que poderiam constituir uma barreira emergncia das razes. Relativamente ao tipo de estaca, classificado de acordo com a zona do lanamento de onde a estaca segmentada, vrios autores referem a existncia de diferentes comportamentos na resposta ao enraizamento (Goode Jr. e Lane, 1983; Castro et al., 1994; Keeley et al., 2004). Na generalidade, as seces basal e mdia dos lanamentos semilenhosos, com a sua maior maturidade das folhas, estariam com maior capacidade para disponibilizar os carbo-hidratos necessrios ao crescimento das razes e dos rebentos (Goode Jr. e Lane, 1983), uma vez que, segundo referido por Pacheco (2007), a disponibilidade de carbo-hidratos representa a principal fonte de energia assimilvel manuteno das actividades metablicas na planta. No entanto Botelho et al. (2005b) observaram que as estacas apicais provenientes de lanamentos semilenhosos do porta-enxerto de videira 43-43 (Vitis vinifera x Vitis rotundifolia) apresentaram maior comprimento e peso das razes quando comparadas com as estacas basais, referindo os mesmos autores que tal facto pode ser atribudo ao maior grau de lenhificao das estacas da base que, por sua vez, parece estar directamente correlacionado com a presena de enzimas, tais como as peroxidases, que esto envolvidas tanto na sntese de lenhina como na degradao do AIA. 2.4.1.1 Estado de desenvolvimento

O estado de desenvolvimento em que os caules so segmentados em estacas, que em muitas culturas est associado poca do ano, pode exercer uma influncia extraordinria no enraizamento das mesmas e proporcionar a chave para o sucesso da rizognese. Enquanto algumas espcies enrazam bem em qualquer poca do ano, outras, como a oliveira, podem originar diferentes nveis de enraizamento consoante so enraizadas quando as folhas esto com o mximo da sua expanso (excelente enraizamento) ou no perodo de repouso vegetativo (baixo enraizamento) (Oliveira et al., 2003a). Para cada espcie, diversos factores esto relacionados com a poca ideal de colheita, tais como o grau de lenhificao, o estado fenolgico, o balano hormonal e o estado nutricional das plantas-me (Tofanelli et al., 2001). Deste modo, em videira, a capacidade da rizognese diminui com a idade da vara e torna-se muito ligeira no final do perodo de crescimento (Munoz e Valenzuela, 1978). Este aspecto pode ser explicado pelos resultados referidos por Botelho et al. (2005a), que indicam que as estacas herbceas retiradas durante o Vero apresentaram maiores concentraes de auxinas do que as semilenhosas e lenhosas que foram colhidas no Outono e Inverno, 18

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respectivamente, pelo facto das plantas-me das primeiras se encontrarem em pleno crescimento. 2.4.1.3 Estado nutricional

Uma nutrio adequada das estacas necessria para promover os melhores ndices de enraizamento adventcio e para assegurar o desenvolvimento radicular. Apesar da importncia em manter as plantas-me sob condies nutritivas ptimas antes da colheita das estacas, difcil quantificar o efeito da nutrio na iniciao e no alongamento dos primrdios radiculares (Hartmann et al., 2002). No entanto Pacheco (2007) refere alguns estudos que indicam que o estado nutricional da planta-me pode actuar em sinergismo com diversos factores que induzem a formao das razes, sabendo-se tambm que o armazenamento de reservas, tais como carbo-hidratos, lpidos e protenas, foram envolvidos, quer directamente, quer por inferncia, no processo de propagao vegetativa de plantas (Treeby e Considine, 1982). Segundo relatado por Mayer et al. (2006), a presena de carbo-hidratos importante para o enraizamento, por ser uma fonte de carbono para a sntese de substncias essenciais formao das razes, nomeadamente cidos nucleicos e protenas (Nogueira et al., 2007). Em estacas de Rosa multiflora cv. Brooks 56, Hambrick III et al. (1991) verificaram que as estacas mais ricas em carbo-hidratos induziram uma maior taxa de enraizamento. No entanto a relao entre os carbo-hidratos e a formao de razes adventcias permanece controversa. Embora o teor de carbo-hidratos da planta-me possa, muitas vezes, estar positivamente correlacionado com o enraizamento, Hartmann et al. (2002) referem que os carbo-hidratos no tm um papel regulador neste processo. Segundo estes autores, uma alta relao carbono/azoto (C/N) nos tecidos das estacas promove o enraizamento mas no vaticina com preciso o grau de resposta ao enraizamento, referindo tambm que diferentes relaes C/N so, essencialmente, devidas ao azoto, mais do que aos carbo-hidratos e que o teor em azoto est negativamente correlacionado com o enraizamento, o que sugere que a elevada correlao entre a relao C/N e o enraizamento deve-se ao baixo nvel de azoto. No que diz respeito aos nutrientes minerais, constatou-se que o azoto, o magnsio, o zinco e o boro so os que influenciam significativamente a formao de razes adventcias (Smart et al., 2003), sendo referido por Pacheco (2007) que estes compostos, para alm do fsforo, esto relacionados com os processos de diferenciao e formao de meristemas radiculares. Segundo Hartmann et al. (2002), o zinco pode promover a formao do precursor da auxina, o triptofano, que, por sua vez, ir produzir AIA, enquanto o mangans actua como um activador da enzima AIA-oxidase e o boro pode aumentar a actividade da AIA-oxidase, 19

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regulando, deste modo, os nveis endgenos de auxina. Ainda quanto influncia do boro no enraizamento de estacas, Jarvis (1986) relata que as estacas colhidas de plantas-me que cresceram na presena de luz esto mais dependentes da aplicao de boro para o desenvolvimento do primrdio radicular do que as estacas que cresceram no escuro, sendo nesta situao talvez necessria a aplicao de borato para a regulao dos nveis de auxina. Relativamente ao efeito da concentrao de minerais em plantas de videira, Anderson (1986) refere um trabalho em que as estacas provenientes de plantas que cresceram com elevadas concentraes de minerais apresentaram pior taxa de enraizamento, assim como menos e menores razes, do que as estacas produzidas por plantas s quais foram reduzidos os nveis de minerais fornecidos. de referir, ainda, que vrios investigadores verificaram que diversos compostos inorgnicos, nomeadamente solues com baixas concentraes de KMnO4, juntamente com MnSO4 e K3Fe(CN)6, estimularam bastante a rizognese adventcia de vrios gentipos de videira (Smart et al., 2003). 2.4.2 2.4.2.1 Factores Externos Condies ambientais

O sucesso da propagao vegetativa por estacas depende do controlo das condies ambientais a que so submetidas as estacas, sendo os principais factores ambientais que afectam o enraizamento a temperatura, a luz, a humidade atmosfrica e o dixido de carbono (Hartmann et al., 2002). Estes dois ltimos factores apresentam maior importncia quando se pretende enraizar estacas herbceas, pelo que sero abordados no ponto 2.5 deste trabalho. i) Temperatura A temperatura um dos aspectos mais importantes para o sucesso da propagao vegetativa. A iniciao do enraizamento em estacas comandada pela temperatura, mas o subsequente crescimento das razes fortemente dependente da disponibilidade de carbo-hidratos, sendo, portanto, importante criar as condies que promovam a produo fotossinttica de carbo-hidratos. Este princpio tambm vlido para estacas herbceas e semilenhosas, onde o crescimento dos rebentos pode desviar os carbo-hidratos do desenvolvimento inicial das razes e, deste modo, abrandar o crescimento das mesmas (Hartmann et al., 2002).

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Alm disso, a investigao tem mostrado que o nvel das auxinas endgenas e de outras hormonas influenciado por uma complexa interaco entre a temperatura e o fotoperodo do material vegetal (Hartmann et al., 2002). Para o enraizamento de estacas da maioria das espcies temperadas, temperaturas diurnas entre os 21 e 27 C com temperaturas nocturnas de cerca de 15 C so satisfatrias embora algumas espcies enrazem melhor a temperaturas mais baixas. Apesar de as temperaturas do ar mais elevadas estimularem o desenvolvimento das razes, tambm tendem a promover o crescimento do gomo antes do incio do enraizamento e a aumentar a perda de gua pelas folhas, o que poder levar dessecao das estacas. Nesta situao, importante que seja mantido um adequado estado de humidade pelo sistema de propagao, de modo a que as estacas ganhem o potencial benefcio da maior temperatura. O ideal seria induzir o enraizamento num meio artificial em que a temperatura do substrato seja superior do ar (Hartmann et al., 2002). Por outro lado, Hartmann et al. (2002) referem que a baixas temperaturas, a respirao reduzida, o que permite uma melhor acumulao fotossinttica para o desenvolvimento das razes. ii) Luz A formao de razes adventcias em estacas tambm influenciada pela luz, a qual representa uma importante fonte de energia para a fotossntese, mas precisa de ser controlada para evitar a dessecao das estacas (Hartmann et al., 2002). Segundo estes mesmos autores, a luz pode ser manipulada controlando a radincia (intensidade), o fotoperodo (durao) e a qualidade (comprimento de onda) da mesma. A radiao referida por desempenhar um papel importante na resposta ao enraizamento, no desenvolvimento de razes adventcias e na capacidade de sobrevivncia das estacas, atendendo a que a luz influencia o nvel e a translocao das hormonas de crescimento e a produo de assimilados (Mpati, 2006). Em estacas com folhas, Pacheco (2007) refere que a radiao luminosa tambm pode influenciar a transpirao, ao regular a abertura e o fecho dos estomas. Segundo alguns autores, em condies de luminosidade semelhantes, as estacas herbceas podem responder de modo distinto das lenhosas. As estacas herbceas ou menos lenhificadas de certas espcies parecem enraizar melhor com nveis elevados de radincia enquanto as estacas lenhosas enrazam melhor em situaes de relativa baixa radincia, ou mesmo na ausncia de luz (Hartmann et al., 2002). Estes resultados parecem ser justificados pelo facto de a luz poder favorecer o processo fitossinttico das estacas com folhas (Mpati, 2006) e, por outro lado, nas estacas lenhosas, poder provocar alguma instabilidade nas substncias de reserva, nomeadamente auxinas (Bortolini, 2006).

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Relativamente durao diria do perodo de luz, Hartmann et al. (2002) referem que o fotoperodo a que so submetidas as estacas pode afectar o enraizamento de algumas espcies, considerando que existe uma complexa relao entre o fotoperodo e a organognese das razes. Neste contexto, existem relatos que apontam que os dias longos ou iluminao contnua foram geralmente mais efectivos no enraizamento de crisntemos, gernios e poinstias do que os dias curtos (Carpenter et al., 1973), embora noutras espcies este aspecto no tenha qualquer influncia (Smally et al., 1991). Quanto qualidade espectral da luz visvel, alguns autores admitem que a iniciao radicular de certas plantas regulada pela luz da zona do vermelho atravs do sistema de fitocromos. De facto, a radiao na zona do laranja-vermelho do espectro parece favorecer o enraizamento de estacas mais do que na zona do azul, existindo, no entanto, opinies contraditrias (Hartmann et al., 2002). 2.4.2.2 Substrato

O substrato ou meio de enraizamento tem por finalidade manter as estacas na vertical durante o perodo de enraizamento (fase slida), proporcionar humidade e nutrientes s estacas (fase lquida), permitir o arejamento na base das estacas (fase gasosa), alm de criar um ambiente escuro ou opaco reduzindo a penetrao da luz para a base das estacas (Lemaire, 1995; Hartmann et al., 2002; Souza et al., 2006). Apesar de no existir um substrato universal ou ideal para o enraizamento de estacas (Hartmann et al., 2002; Souza et al., 2006), a sua escolha parece ser determinante para o sucesso da propagao vegetativa. Atendendo a que um adequado substrato de propagao depende da espcie, do tipo de estaca, da poca e do sistema de propagao (Hartmann et al., 2002), tal leva-nos a admitir que, para cada situao, h a necessidade de escolher o substrato que proporcione um melhor enraizamento e, por conseguinte, que possibilite que as plantas atinjam o seu melhor desempenho e vigor. Um dos aspectos a ter em considerao na escolha dum substrato a qualidade dos materiais empregados na sua composio, podendo estes serem avaliados atravs das suas propriedades fsicas e qumicas (Souza et al., 2006). As propriedades qumicas mais utilizadas para caracterizar um substrato so o pH, a capacidade de troca de caties, a salinidade e a percentagem de matria orgnica (Schmitz et al., 2002). Relativamente s propriedades fsicas, destacam-se a densidade, a porosidade, assim como a fcil disponibilidade de gua e a capacidade de reteno da mesma (Gabrils et al., 1986; Schmitz et al., 2002). O substrato deve, ainda, ser isento de agentes patognicos, possuir um bom equilbrio entre macro e microporos que permita um bom desenvolvimento radicular, boa capacidade de 22

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drenagem da gua, boa consistncia visando a obteno de torres intactos quando retirados do recipiente, baixo custo e de fcil obteno (Jabur e Martins, 2002). Os substratos de enraizamento podem ser orgnicos, minerais grosseiros ou uma mistura destes (Hartmann et al., 2002; Souza et al., 2006). A componente orgnica inclui turfa, musgo ou cascas de espcies herbceas e lenhosas, enquanto os substratos minerais, usados para proporcionarem uma maior porosidade e drenagem, podem conter perlite, vermiculite, areia grossa, l de rocha ou mistura destes (Hartmann et al., 2002). A turfa um composto orgnico bastante utilizado na produo de plantas florestais, hortcolas e frutcolas. Quando usada em mistura, permite melhorar as caractersticas fsicas (porosidade, reteno de gua) e qumicas (capacidade de troca catinica, salinidade) dos substratos associados (Pacheco, 2007). A vermiculite uma argila pertencente ao grupo dos filossilicatos que composta, principalmente, de ferro, magnsio e silicato de alumnio. Este substrato mineral caracterizado por apresentar uma alta capacidade de reteno da gua e bom arejamento e possuir uma baixa estabilidade de estrutura, desagregando-se facilmente ao longo do tempo (Pacheco, 2007). Outro substrato bastante utilizado na propagao vegetativa por estaca a perlite. Este meio de enraizamento um mineral de origem vulcnica, de cor branca acinzentada, originando as elevadas temperaturas do seu processamento um produto estril. A sua capacidade para reteno de gua de trs a quatro vezes o seu peso. Ao contrrio da vermiculite, a perlite no possui capacidade de troca catinica e no contm nutrientes minerais. No entanto a perlite, em combinao com turfa, um substrato muito utilizado para o enraizamento de estacas (Hartmann et al., 2002).

2.5 Principais semilenhosas

aspectos

do

enraizamento

de

estacas

herbceas

e

O sucesso do enraizamento de estacas herbceas e semilenhosas deve-se tendncia para estas enraizarem com maior facilidade, pois apresentam tecidos mais tenros, no havendo, consequentemente, a presena de um anel de esclernquima altamente lenhificado, que dificultaria a emisso dos primrdios radiculares (Bordin et al., 2005). A tcnica de propagao de videiras por estacas herbceas e semilenhosas , tambm, referida como apropriada para a obteno de grande quantidade de plantas isentas de vrus, em diferentes pocas do ano, de uma forma rpida e quando o material vegetativo a multiplicar limitado (Egger et al., 1985; Boidron e Auran, 1994; Biasi et al., 1997; Hartmann

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et al., 2002; Bordin et al., 2005) ou quando o sistema de produo de plantas envolve a enxertia em verde, que consiste na unio do garfo com um porta-enxerto da mesma consistncia (Anaclerio et al., 1992; Rezende e Pereira, 2001; Roberto et al., 2004a, c). , ainda, referida como uma tcnica que reduz a probabilidade de propagao do tumor bacteriano causado pela Agrobacterium tumefaciens (Warmund et al., 1986; Szegedi e Lzr, 2005). No entanto alguns inconvenientes esto associados propagao destes tipos de estacas, tais como: a necessidade de manter elevadas humidades durante o enraizamento, o que implica um custo adicional com um sistema de nebulizao na estrutura da estufa; o trabalho de propagao ser mais intensivo; e a imposio de tratar rapidamente as estacas para prevenir eventuais dfices internos de humidade, durante a propagao (Warmund et al., 1986). Alm disso, estas condies de humidade relativa elevada parecem-nos susceptveis de favorecer infeces fngicas, facto este no considerado muito importante na bibliografia consultada, referindo alguns autores apenas a desinfeco preventiva das estacas ou mesmo pulverizaes espordicas durante o enraizamento com um fungicida (Warmund et al., 1986; Keeley et al., 2003; Bordin et al., 2005). A propagao de estacas herbceas e semilenhosas em cmara de nebulizao foi tambm aplicada, com maior ou menor sucesso, em diversas espcies frutcolas, nomeadamente: pessegueiro (Tofanelli et al., 2001; Oliveira et al., 2003b; Tofanelli et al., 2003; Mindllo Neto et al., 2004; Aguiar et al., 2005; Mindllo Neto et al., 2006), ameixeira (Tofanelli et al., 2002), oliveira (Oliveira et al., 2003a; Pio et al., 2005), figueira (Pio et al., 2004; Nogueira et al., 2007), nespereira (Silva e Pereira, 2004), maracujazeiro amarelo (Carvalho et al., 2007) e mirtilo (Fischer et al., 2008). A seguir faz-se uma breve abordagem aos principais factores que influenciam a propagao da videira mediante estacaria herbcea e semilenhosa. 2.5.1 Auxinas A influncia dos reguladores de crescimento, principalmente das auxinas, na formao de razes adventcias em estacas herbceas de espcies de videira tem sido relatada por vrios autores (Goode Jr. e Lane, 1983; Moretti e Borgo, 1985; Thomas e Schiefelbein, 2001; Keeley et al., 2003; Villa et al., 2003; Keeley et al., 2004; Thomas e Schiefelbein, 2004; Botelho et al., 2005a, b), tendo-se verificado uma tendncia para o enraizamento deste tipo de estaca no ser influenciado pela aplicao exgena de auxinas. De facto, Villa et al. (2003), estudando o efeito do AIB e do ANA em estacas herbceas do porta-enxerto de videira Riparia de Travi, constataram que estas auxinas no influenciaram significativamente o ndice de enraizamento das estacas, tendo observado que os melhores 24

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resultados de estacas enraizadas e do comprimento mdio das razes foram adquiridos na ausncia destas auxinas. Ao contrrio do que ocorreu com as estacas semilenhosas e lenhosas, semelhantes resultados foram registados por Botelho et al. (2005a), em estacas herbceas, num estudo da influncia do AIB na propagao vegetativa do porta-enxerto de videira 43-43. Num ensaio com estacas de Vitis vinifera cv. Arka Neelamani provenientes de micropropagao in vitro, Thomas e Schiefelbein (2001) verificaram tambm semelhantes percentagens de enraizamento nas estacas tratadas e no tratadas com auxina, sugerindo a dispensa de aplicao de auxina exgena no enraizamento de estacas herbceas. No entanto, apesar da auxina exgena no ter influenciado o enraizamento das estacas, nalguns estudos verificaram-se que as estacas tratadas apresentaram um sistema radicular mais fibroso e mais denso do que as estacas controlo (Goode Jr. e Lane, 1983) e um maior vigor dos jovens rebentos (Thomas e Schiefelbein, 2001). 2.5.2 Presena de folha O efeito das folhas no enraizamento de estacas herbceas e semilenhosas de espcies de Vitis atribudo ao seu contributo na produo de auxinas e cofactores de enraizamento que so transportados para a base das estacas (Altman e Wareing, 1975; Kawai, 1996; Hartmann et al., 2002; Bordin et al., 2005; Botelho et al., 2005a; Roberto et al., 2006), assim como no processo fotossinttico que responsvel pela sntese de carbo-hidratos necessrios formao e crescimento das razes (Haissig, 1984; Hartmann et al., 2002; Botelho et al., 2005a; Faria et al., 2007). De acordo com Faria et al. (2007), a formao de razes adventcias deve-se interaco de factores existentes nos tecidos e translocao de substncias localizadas nas folhas e nos gomos. Deste modo, Roberto et al. (2006) consideraram que a manuteno das folhas durante a propagao de estacas herbceas de dois porta-enxertos foi fundamental para a formao das razes, uma vez que as estacas sem folha induziram um menor desempenho no enraizamento. Estes autores referem ainda que a ausncia de folhas reduz drasticamente o potencial de formao e de desenvolvimento das razes. O papel da folha na regulao do crescimento das razes e dos rebentos de estacas herbceas de videira (Vitis vinifera) foi tambm caracterizado por Thomas e Schiefelbein (2004), tendo estes autores verificado que as estacas com folhas mostraram um enraizamento mais precoce, um vigoroso crescimento das razes e um subsequente desenvolvimento dos lanamentos. Por outro lado, apesar de a desfolha das estacas plantao ter induzido um abrolhamento mais precoce, estes autores verificaram um menor enraizamento e uma diminuio da sobrevivncia das estacas, independentemente do tratamento com AIA antes da plantao.

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No entanto Julliard (1973) concluiu que o estmulo ao enraizamento produzido essencialmente pelos gomos, depois de entrarem em actividade, e no pelas folhas, o que, de certa forma, vem ao encontro dos resultados registados por Villa et al. (2003), que, num ensaio com estacas herbceas do porta-enxerto Riparia de Travi desprovidas de folhas, obtiveram uma boa percentagem de enraizamento, mesmo sem a utilizao de qualquer regulador de crescimento. Entretanto espcies com folhas grandes, como o caso da videira, podem apresentar dificuldade no enraizamento pela desidratao excessiva dessas folhas (Bordin et al., 2005). Nestas situaes, vrios autores recomendam a reduo da rea foliar, bem como o uso de um sistema de nebulizao intermitente, de forma a manter as folhas com uma pelcula de gua (Biasi et al., 1997; Walker e Golino, 1999; Hartmann et al., 2002; Howard, 2004; Bordin et al., 2005; Roberto et al., 2006, Faria et al., 2007; Magalhes, 2008). Por outro lado, a reduo da rea foliar vai permitir a plantao de um nmero maior de estacas por unidade de rea, rentabilizando assim o equipamento disponvel. No entanto, num trabalho de propagao de estacas semilenhosas de porta-enxertos de videira, Biasi et al. (1997) verificaram um efeito positivo do aumento da rea foliar at cerca de 90 cm2 sobre a emisso e crescimento das razes avaliado pelo nmero, massa e volume de razes por estaca, o que revela a importncia da folha e do limite da reduo da sua rea no enraizamento adventcio. A importncia das folhas para o enraizamento de estacas herbceas e semilenhosas foi tambm demonstrada noutras espcies fruteiras, nomeadamente em pessegueiro (Mindllo Neto, 2006) e em maracujazeiro amarelo (Carvalho et al., 2007). 2.5.3 Tipo de estaca De acordo com a zona do pmpano de onde foram cortadas, as estacas herbceas tambm podem apresentar diferentes comportamentos na resposta ao enraizamento. Neste contexto, Keeley et al. (2004) observaram que as estacas herbceas das zonas basal e mdia de lanamentos de Vitis aestivalis Michx. cv. Norton enraizaram melhor do que as estacas retiradas da posio terminal. Idnticos resultados foram obtidos por Goode Jr. e Lane (1983) quando trabalhando com estacas de Vitis rotundifolia Michx., segmentadas e colocadas a enraizar na primeira quinzena de Junho. Estes autores justificam estes resultados, possivelmente, devido ao definhamento ou emurchimento dos tecidos suculentos da parte terminal ou, ainda, baixa disponibilidade de carbo-hidratos para a formao das razes, devido elevada exigncia da folha durante o crescimento. de referir, tambm, que as estacas apicais so mais tenras e vulnerveis ao stress hdrico.

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No entanto, atendendo a que as estacas herbceas apicais apresentam um nvel mais elevado de auxina endgena (Hartmann et al., 1990; Botelho et al., 2005b), de certa maneira, este aspecto pode justificar os melhores resultados de comprimento e peso das razes observados por Botelho et al. (2005b) em estacas apicais de pmpanos do porta-enxerto de videira 43-43 quando comparados com os verificados nas estacas basais. 2.5.4 Estado de desenvolvimento Na propagao da videira por estacas colhidas durante o perodo de crescimento vegetativo existem tambm referncias a diferentes resultados consoante a poca de enraizamento e consequente estado de desenvolvimento da planta-me das estacas. Trabalhando com estacas herbceas de Vitis rotundifolia Michx., Goode Jr. e Lane (1983) observaram que a data de colheita das estacas e consequente estado de desenvolvimento influenciou significativamente a percentagem de enraizamento, a qualidade das razes e o crescimento dos novos rebentos. Neste estudo, a maior percentagem de enraizamento ocorreu com estacas colhidas na primeira quinzena de Julho, verificando-se a menor taxa de enraizamento nas estacas colhidas entre meados de Julho e a primeira semana de Agosto. Estes autores atribuem os piores resultados observados no enraizamento das estacas colhidas neste ltimo perodo, possivelmente, maturidade avanada das plantas-me dessas estacas. Referem, ainda, que a qualidade do sistema radicular e a mdia do crescimento dos rebentos diminuram medida que as estacas foram colhidas progressivamente mais tarde, podendo este comportamento, segundo Hartmann et al. (2002), ser devido ao curto perodo disponvel para crescimento ou a uma acumulao de inibidores de crescimento endgenos. Goode Jr. e Lane (1983) constataram ainda que estacas de videira colhidas na primeira quinzena de Junho proporcionaram menores taxas de enraizamento do que as enraizadas na primeira quinzena de Julho, talvez devido imaturidade das primeiras. No entanto os resultados registados por Keeley et al. (2003), com estacas herbceas de Vitis aestivalis Michx. cv. Norton, indicam que as estacas que foram colhidas no incio do Vero, quando as videiras se encontram em crescimento activo, proporcionaram uma alta percentagem de enraizamento. 2.5.5 Condies ambientais e substrato de enraizamento De um modo geral, as estacas herbceas enrazam melhor e mais rapidamente do que as estacas lenhosas e semilenhosas, mas, para isso, requerem maior ateno e um equipamento mais sofisticado. Atendendo ao facto de que as estacas herbceas, bem como as semilenhosas, so sempre enraizadas com folhas, ento estas devem ser manuseadas

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de modo a evitar a excessiva perda de gua pelas folhas e prevenir a dessecao (Hartmann et al., 2002). As condies ptimas para o enraizamento de estacas herbceas tambm dependem da temperatura, da luz, da humidade, do nvel de CO2 e do substrato de enraizamento. i) Temperatura Segundo referido por Hartmann et al. (2002), durante o processo de enraizamento de estacas herbceas, a temperatura na base das estacas deve ser mantida entre os 23 e 27 C, podendo a temperatura da atmosfera ambiente do sistema de nebulizao elevar-se at aos 30 a 32 C, sem prejuzo do enraizamento. Por sua vez, Walker e Golino (1999) consideram que temperaturas ideias situam-se entre os 28 e 30 C, enquanto Szegedi e Lzr (2005), em estacas herbceas de Vitis vinifera cv. Sauvignon Blanc, registaram percentagens de enraizamento da ordem dos 96% num ambiente com temperaturas entre os 23 e 28 C. ii) Luz Relativamente ao enraizamento de estacas de videira com folhas, Fournioux (1997) constatou uma influncia positiva da luz devido ao possvel efeito na produo de assimilados fotossintticos. No entanto, segundo Hartmann et al. (2002), elevados nveis de radincia em estacas com folhas podem provocar foto-oxidao das folhas, reduzindo o enraizamento e, por conseguinte, o crescimento das razes. Por sua vez, Mpati (2006) menciona que esses nveis de radincia podero levar acumulao excessiva de carbo-hidratos, a qual impedir o desenvolvimento do sistema radicular. De qualquer forma, a durao e a intensidade da luz devem ser suficientes para que a acumulao de carbo-hidratos seja superior quantidade consumida pela respirao (Hartmann et al., 1990). Por outro lado, existem tambm relatos de que baixos nveis de intensidade luminosa podem limitar a transpirao das folhas, pela reduo da energia acumulada nas mesmas (Harrison-Murray et al., 1992) e, assim, diminuir as perdas de gua. iii) Humidade Atendendo a que a disponibilidade de gua um dos pontos crticos para a sobrevivncia das estacas no processo de propagao vegetativa, torna-se evidente que o controlo da humidade relativa ambiental extremamente importante para a manuteno do adequado estado higromtrico das estacas durante o perodo de enraizamento. Este aspecto ganha maior importncia quando se pretende propagar estacas herbceas e semilenhosas. Considerando que o estado hdrico das estacas o balano entre as perdas por transpirao e a absoro de gua, torna-se necessrio evitar a perda de gua pelas folhas

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para um nvel tal que as estacas no consigam sobreviver (Hartmann et al., 2002) e tambm porque a gua perdida no pode ser facilmente reposta pela absoro atravs da base das estacas (Loach, 1992). Por outro lado, importante manter o meio de enraizamento com um teor de gua que mantenha a turgescncia das estacas, uma vez que, no incio, estas ainda no possuem um sistema radicular (Loach, 1992). Segundo Hartmann et al. (2002), o dfice de gua causa o fecho dos estomas, restringindo a difuso do dixido de carbono na folha, limitando, deste modo, a fotossntese e algum subsequente ganho de carbo-hidratos nas estacas. No entanto um sistema de nebulizao intermitente, pode ajudar a controlar o micro-ambiente da estufa ou cmara de propagao, permitindo a manuteno da humidade da superfcie foliar, reduzindo, deste modo, a taxa de transpirao e, consequentemente, a morte das estacas por stress. Segundo Walker e Golino (1999), este sistema de propagao requer um finssimo nevoeiro ou neblina com gua de elevada qualidade. Pacheco (2007) refere, ainda, que a humidade relativa ambiente deve ser mantida entre os 80 e 100%, evitando-se, assim, a perda das folhas Porm, Hartmann et al. (2002) reportam que o excesso de gua reduz o arejamento do substrato, o que pode levar a condies de anaerbiose e, consequentemente, morte das estacas. Refira-se, ainda, que uma constante humidade nas folhas e no substrato de enraizamento pode favorecer o aparecimento de doenas, pelo que pode requerer um vasto controlo qumico (Howard, 2004). iv) Dixido de carbono (CO2) Vrios estudos relatam que a injeco de CO2 no ambien