ensino e memoria_historias_da_imigracao

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Ensino & Memória Imigrantes e Migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI Histórias da (I)migração Odair da Cruz Paiva Imigrantes e Migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI Arquivo Público do Estado de São Paulo Histórias da (I)migração

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Ensino & Memória

Imigrantes e Migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI

Histórias da (I)migração

Odair da Cruz Paiva

Imigrantes e Migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI

Arquivo Público do Estado de São Paulo

Histórias da (I)migração

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Governador Geraldo Alckmin

Secretário da Casa CivilEdson Aparecido

Coordenador do Arquivo Público do Estado de São PauloIzaias José de Santana

Diretora do Departamento de Preservação e Difusão de AcervoYara Prado Fernandes Pascotto

Diretora do Departamento de Gestão do Sistema de Arquivos do Estado de São PauloIeda Pimenta Bernardes

Conselho EditorialAna Célia Rodrigues (UNESP/Marília)Barbara Weinstein (University of Maryland)Célia dos Reis Camargo (CEDEM/UNESP)Denise Aparecedia Soares de Moura (UNESP/Franca)Fernando Teixeira da Silva (Unicamp)Jaime Rodrigues (UNIFESP)James Naylor Green (Brown University)Jeffrey Lesser (Amory University)João Paulo Garrido Pimenta (USP)João Roberto Martins Filho (UFSCAr)Yara Aun Khoury (PUC/SP)

Arquivo Público doEstado de São Paulo

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Odair da Cruz Paiva

Ensino & Memória

Histórias da (I)migração

Arquivo Público doEstado de São Paulo

Imigrantes e Migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI

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FichaCatalográficaelaboradaporRenataGonçalves CRB – 8 n. 8248

P169h Paiva, Odair da Cruz

Históriasda(I)migração:imigrantesemigrantesemSãoPauloentreofinaldoséculoXIXeoiníciodoséculoXXI/OdairdaCruzPaiva.-SãoPaulo:ArquivoPúblicodoEstado, 2013.PDF(ColeçãoEnsino&Memória,2) ISBN:978-85-63443-07-6

1.Imigrantes.2.Migrantes.3.ImigraçãoemSãoPaulo.I.AutorII.Título.III.Série:Ensino&Memória

CDD 304.8161

Foi feito o depósito legal na Biblioteca NacionalLei nº 10.994, de 14/12/2004

Direitos reservados e protegidos

ArquivoPúblicodoEstadodeSãoPauloR.VoluntáriosdaPátria,596–Santana02010-000 São Paulo SP BrasilTel:(11)20898100www.arquivoestado.sp.gov.breditoria@arquivoestado.sp.gov.br

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Sumário

Apresentação 7

Introdução 9

1 - Migrações contemporâneas 13Algunsnúmerosemotivaçõessobreasmigrações 14Migrantes:nemsempredesejáveis 20Migrantes e a Escola 24

2 - Imigração no século XIX em São Paulo 31AfixaçãodeestrangeirosnoBrasil:brevenota 32

“Imigração” 33ImigraçãoeColonizaçãoduranteoséculoXIX 35Escravidão, cafeicultura, ferrovias e transformaçõesnapaisagem 37

Política Imigrantista 50Núcleos Coloniais 52A Hospedaria de Imigrantes do Brás 58Alguns números da imigração 61

Imigração:positividadeenegatividade 67

3 - Imigrantes em São Paulo: territórios, disputas e solidariedades 71

Oterritóriourbano:construçãoetransformações 71OcupaçãoterritorialnacidadedeSãoPauloesuasescalas:dacidadeaobairro 75

A Cidade 75ObairrodaLiberdade 85Avidaurbananaperspectivadosimigrantes:algumasconsiderações 92Escolas95

4 - Imigração e migração nos anos 1930/1940: transição, representações e repressão 107

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TransiçãoeRepresentações.Acrisedacafeiculturae a política migratória 108

Crise da cafeicultura 108Política migratória e refluxo da imigração 109Nordestinos para a cafeicultura Nordeste, imagem do atraso 114

Osimigrantesnumnovocontexto:repressão117Os alemães e o Partido Nazista 120Os italianos e o Partido Fascista 122Os japoneses e a Shindô-Renmei 123Espanhóis e a Guerra Civil 125

Ooutrolado:aidentidadehifenizada 127Brevenotasobreaimigraçãopós Segunda Guerra Mundial 129

5 - Territórios da migração na cidade de São Paulo 131Territóriosdamigração132São Miguel Paulista 136

A Praça Kantuta 141TerritóriosdamigraçãonacidadedeSãoPaulo:entreaafirmaçãoenegaçãodacondiçãomigrante 145

Considerações Finais 149

Referências Bibliográficas 153

Referências das Imagens 161

O trabalho com os documentos 171Atividades Didáticas 173

Referências dos Documentos 241

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OArquivoPúblicodoEstadodeSãoPaulo,dandocontinuidadeàsuapolíticaeditorial,apresentaosegundovolumedacoleçãoEn-sino&MemóriaintituladoHistórias da (I)migração: imigrantes e migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e início do século XXI.Estacoleçãotemoobjetivodeauxiliarosprofessoresnousodefonteshistóricasem suas aulas e também divulgar as potencialidades do acervo do ArquivoPúblicocomorecursodidático-pedagógico.

Oprimeirovolumedacoleção,intituladoHistórias do Futebol, de autoriadeLíviaGonçalvesMagalhães,foilançadoem2010,trazendoapropostadeofereceraopúblicoleitor,especialmenteaprofessorese alunos das escolas de ensino fundamental e médio, a abordagem de temáticasquedialogassemcomoseixosestabelecidospelosParâme-tros Curriculares Nacionais. Propunha também apresentar uma rica seleçãodefontesdoacervodainstituição,afimdeampliareapro-fundar os conhecimentos sobre o assunto escolhido e contribuir no processo de aprendizagem desenvolvido em sala de aula.

Este novo volume traz texto de Odair Paiva, professor da Uni-versidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista no estudo da imigraçãonoestado.ÉacompanhadodareproduçãodedocumentosdoacervodoArquivoPúblicoquesereportamaotemaedeumcon-

Apresentação

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juntode14atividadespedagógicasproduzidaspelaequipedoNúcleodeAçãoEducativa.

Histórias da (I)migraçãoretomaalgumasdasreflexõesqueOdairPaivadesenvolveuepublicoudurantesuatrajetóriaprofissional,aca-dêmicaedepesquisa,quandoatuounoLaboratóriodeEstudosso-breaIntolerância(LEI),daUniversidadedeSãoPaulo,noMemorialdoImigrante(atualMuseudaImigração)enoNúcleodeEstudosdePopulação (NEPO)daUniversidadeEstadualdeCampinas (UNI-CAMP).

Oautoranalisaamigração,aimigração,osdiferentesmigran-teseimigrantesnaformaçãodasociedadepaulistaentreofinaldoséculoXIXeoiníciodoséculoXXI.Buscaapontarumequilíbrioentrefatorespolítico-econômicoseossonhoseutopiasqueincitamossujeitosegrupossociaisasedeslocarem.Traztambémastrans-formaçõesocorridasnoterritóriourbanodacidadedeSãoPaulo,asformas de sobrevivência encontradas pelos migrantes e imigrantes, bemcomoasmigraçõescontemporâneas,referenciando-asaocon-textoescolareaoespaçourbanoatual.

Esperamosatingirumpúblicoamplodeprofessores,escolas,bibliotecas e estudiosos da História, contribuindo, assim, com a es-sencialtarefadeumArquivo:preservaredifundiramemóriapública.

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Ensino&Memória

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Analisaramigração,aimigração,migranteseimigrantesnafor-maçãodasociedadepaulistaentreofinaldoséculoXIXeoiníciodoséculoXXIéoobjetivocentraldestelivro.Emborahajamuitaconcordânciasobreaimportânciadosdeslocamentospopulacionaiscomo explicativos de nossa história, incidem sobre eles uma varie-dadedeabordagenseenfoques.Asexpressõesmigração, imigração, mi-grantes e imigrantes, por si sós, denotam diferentes perspectivas sobre osdeslocamentoseapontamparaavariedadedeinterpretaçõespos-síveis sobre o tema.

Por um lado, os deslocamentos populacionais podem ser com-preendidos a partir de perspectivas macroestruturais. O deslocamen-todehomens,mulheresecriançaséresultadodedeterminaçõeseco-nômicasepolíticas;eleéapreendidocomoumprocessonoqualsuasrazõesexplicativasnãofazempartedasexperiênciasdevidadaquelesquesedeslocam.Nestesentido,nanoçãodemigraçãoouimigração,avariávelexplicativaestá,namaioriadasvezes,paraalémdossujeitosquesedeslocam.

Por outro lado, a mobilidade humana no tempo não se resume apenasàsdeterminaçõesestruturaismaisamplas.Porvezes(emuitasvezes)elaérespostaaquestõeseproblemasqueestãonocotidiano,nasubjetividade,nossonhoseutopiasdosindivíduosedosgrupos

Introdução

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sociais que optam pelo deslocamento. A partir dessa perspectiva,mudamos o foco explicativo dos deslocamentos de maneira a captar seus elementos mais sutis, menos visíveis; nesse momento, surgem os migrantes e os imigrantes.

Odeslocamento, enquantoprocesso, e amobilidade–e suascausas menos aparentes – não são formas excludentes para a com-preensão dos deslocamentos populacionais; no entanto, constituem opçõesdeanálisequetendemaproduzirelementosexplicativospar-ticulares sobre o fenômeno. Encontrar um caminho de equilíbrioentre essas duas perspectivas nem sempre é simples, mas algo muito importante.

Do ponto de vista do cotidiano escolar, uma alegoria pode ex-plicitaressaquestão.Separtirmosdanoçãodequeparatodapresença há uma ausênciaqueaexplica1,apresençadeestudantesbolivianos,chineses ou nordestinos na sala de aula deve ser analisada também apartirdaperspectivadas ausênciasque informamessapresença.Assim, os estudantes possuem uma identidade, uma singularidade ou particularidadequedevemser consideradas aopassoque suapre-sençaé,igualmente,resultadodefenômenosmaisamplosemenosperceptíveis no contexto escolar.

Nestelivro,discutiremoselementosquetrazemambasaspers-pectivasanteriormenteapontadasàmedidaquebuscamosoperarummétodo2quenosparecefundamental.Eleébastantesimples,poissupõequeasquestõesdopresentedevemnos servirdeguiaparaa análise do passado. Assim, no primeiro momento do método, ou como diria Henri Lefebvre, no momento progressivo, estamos sempre diantededilemasequestões–oupresenças–quetestamnossacapa-cidade de compreensão.

Osegundomomentodométodoemergequandoprocuramos,no passado – por isso é denominado regressivo –, as ausências explica-tivasdaquelefenômenodotempopresente.Nessemomento,nosde-paramoscomprocessossociais,temporalidadesevivênciasquepau-latinamentevãotecendoasconexõesexplicativascomaatualidade,

1 LEFEBVRE, Henri. La presencia y la ausencia:contribuiciónalateoriadelasrepresentaciones.Mexico(D.F.):FondodeCulturaEconómica,1983.2 Idem. Problemas de sociologia rural. In: MARTINS, José de Souza(Org.). Introdução Crítica à Sociologia Rural.SãoPaulo:Hucitec,1986.p.144-162.

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Ensino&Memória

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aomesmotempoemquenosapresentamsuasprópriasdinâmicas,identidades e sentidos. O terceiro momento do método – progressivo –seconstituiquandosomostransformadospelahistória,quandore-tornamos ao nosso presente com uma perspectiva muito mais abran-gente sobre o fenômeno.

Assim, no primeiro capítulo, são analisadas algumas questõesrelacionadas às migrações contemporâneas e como elas revelampresençasqueinterferememnossocotidiano.Essaspresençasnosinstigam a uma compreensãomais aprofundada sobre as relaçõeshistóricas da sociedade paulista com os migrantes e sobre os proces-sosmigratórios.Noscapítulosseguintes(segundo,terceiroequarto),analisamosessasrelaçõesdemaneiracronológica,e,noquintocapí-tulo, retornamos ao presente, observando a cidade de São Paulo na perspectivadasmigrações,dosmigranteseespecialmenteaimpor-tânciadelesnaconfiguraçãodenovasdinâmicasnoespaçourbano.

Este livro é um ponto de partida para a análise dos desloca-mentospopulacionaisesuarelaçãocomnossopresente.Aomesmotempo,elenosservecomofonteparaadecodificaçãodealgumasdasmúltiplascamadasdehistóriaqueestãoausentesnapresençacotidia-na dos migrantes e imigrantes no contexto da cidade.

Históriasda(I)migração

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1Migraçõescontemporâneas

Asmigraçõessãoumfenômenoimportanteparaacompreen-sãodonossotempo.Comfrequência,temosnotíciasdealgunsdosdilemasvividospelosquesedeslocamembuscadeumlugarmelhorparaviver.Migrantesapinhadosempequenosbarcostentandoapor-taremalgumlugardaEuropa;clandestinosviajandoemcontêineresdegrandesnavios;homens,mulheresecriançasbarradospelapolíciade fronteira, tentando cruzar do México para os Estados Unidos; pessoas deportadas para seus países de origem por serem conside-radas ilegais.Perseguições,preconceitosexenofobiarecaemsobreosestrangeiros em várias partes do mundo. Esses são apenas alguns exem-plosdecomoaquestãodasmigraçõesénoticiada.Quase sempreficamosdiantedeummosaicode informaçõesque aguçamnossacuriosidade,aopassoqueexigemumentendimentomaisordenadoedetalhadosobreamultiplicidadedeelementosqueinformamedãodinâmicaàsmigraçõescontemporâneas.

Afinal,quemsãoesseshomens,mulheresecriançasquesedes-locamdeumcontinenteaoutro,viajandodemaneiraprecáriaecor-rendotodasortederiscos?Quaissãoassuasmotivaçõeseporqueenfrentamtantadificuldadeemseinserirnumnovolugar,numnovopaís?Essassãoapenasduasdentreumconjuntoimensodequestões

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queestãopordetrásdasnotíciasquenoschegampelaimprensa.Evi-dentemente, não há como respondê-los de forma completa e abso-luta, mas devemos buscar alguns elementos para compreender por queasmigraçõescontemporâneasestãomarcadascomosrótulosdailegalidade,dacriminalização,darepressãoedaxenofobia.

Alguns números e motivações sobre as migrações

Osnúmerossobreasmigraçõesinternacionaisvariamdeacor-docomasfontesconsultadas;entretanto,todasrevelamquesetratadeumfenômenodegrandesproporções.SegundoAitorZabal-gogeazkoa,diretorgeraldaassociaçãoMédicosSemFronteirasdaEspanhaeprêmioNobeldaPazem1999,“em2007havia26mi-lhõesdepessoasdeslocadasemrazãodesituaçõesdeviolaçãodosdireitoshumanos,15milhõesdevidoaefeitosdegrandesprojetosdedesenvolvimentoe143milhõesdepessoasdeslocadaspordiferentesfenômenos ambientais.”1

NaItália,em2009,viviam3,9milhõesdeestrangeiros,osquaisconstituíam6,9%dapopulação.Ocontingentedeestrangeirosempaíses industrializados na Europa e nos Estados Unidos é de apro-ximadamente9%dapopulação,enquantonospaísesemdesenvolvi-mentoelerepresenta1,5%.Em2010viviamnaEuropa19,6milhõesde migrantes oriundos de fora do continente, e nos Estados Unidos, 34milhões.

Asmigraçõescontemporâneas,alémde intensas,ocorrememmúltiplasdireções.IssoasdistinguedaquelasqueseconstituíramnoséculoXIXenoiníciodoséculoXX.Asmigraçõespassadastinhamcomo epicentro de origem principal a Europa, e em menor mag-nitude o Oriente Médio e o Japão. O continente americano, como sabemos,foiomaiorcentroderecepçãodessesmigrantes.Issocon-formava umpanoramamais definido entre países (ou regiões) deemigraçãoepaíses(ouregiões)deimigração.

1 ZABALGOGEAZKOA,Aitor.No sepuedeponerportas al campo.Poblacionesenmovimiento:desafiohumanitario.In:CHIARELO,LenoirMario;GUTIÉRREZ,MariaIzabelSanza;MARCHETTO,Ezio(Ed.).Fronteras.Muroso Puentes? Actas del Primer Fórum sobre Migración y Paz. Antigua, Guatemala, 2009. NewYork:ScalabriniInternationalMigrationNetwork,2009.p.59.

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Ensino&Memória

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Atualmente,osdeslocamentosapresentamumquadromaisdi-fusonoqueserefereaosseusfluxos.EmboraaEuropaeosEstadosUnidossejamosgrandesreceptoresdemigrantes–enquantováriosestudos apontam a África como o continente de maior êxodo –, per-cebemosquealgunspaísesdaAméricaLatinasão,simultaneamente,regiõesdeproduçãoedeatraçãodemigrantes.Dentreestespaíses,oBrasilapresentaessaduplacaracterística:adeserumpaísdeemi-graçãoedeimigraçãoaomesmotempo.Emnossocaso,háfluxossignificativosdebrasileirosparaaEuropa,EstadosUnidoseJapão,damesmaformaquerecebemosmigrantesbolivianos,africanos,chi-neses, coreanos, etc.

Neste panorama, vários países europeus – de tradiçãoimigrantista – emergem como lugares de fixação de migrantesoriundos da África e da América Latina. Reforçam-se fluxos demigração latino-americana para os Estados Unidos e migrantesoriundos da Ásia – notadamente chineses – estão presentes em todos oscontinentes.Migraçõesintrarregionaiscomoasdeperuanosparaa Argentina, assim como amigração de bolivianos para o Brasil,ocorrem paralelamente aos deslocamentos mais amplos, tornando os fluxosmigratórioscontemporâneosbastantecomplexos.

Asrazõesquelevamhomens,mulheresecriançasaodesloca-mento são as mais variadas, sendo as econômicas as mais comuns entreasquedeterminamoprocessomigratório.FoipormotivaçõesdessaordemqueoBrasiladentrouoroldepaísesexportadores de tra-balhadoresquandodacriseeconômicadosanos1980.Naqueladéca-dahouveoiníciodeumfluxointensodebrasileirosparaoJapão(osdekasseguis) e também para a Europa e Estados Unidos.

Criseeconômica,inflação,fracassodosplanosgovernamentaisdeestabilizaçãodamoedaoudesempregoinfluenciaramasdecisõesde milhares de brasileiros a migrar nos anos 1980 e 1990. Estima-sequeaproximadamente200milbrasileirosdeixaramopaísnesseperíodo rumo ao Japão. Por outro lado, é preciso considerar queexistem muitas realidades socioeconômicas e uma variedade nos perfis dos migrantes. Estes podem ser trabalhadores urbanos,camponeses, jovens que não tiveram acesso à escolarização oumesmo jovens universitários que não conseguiram colocação nascarreiras escolhidas.

Históriasda(I)migração

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Por vezes, os deslocamentos ocorrem dentro das fronteiras na-cionais.NoBrasil,asmigraçõesinternassãoumfenômenobastantecomum e a maioria de nós tem exemplos em nossas próprias famí-lias. Migrar do campo para a cidade, deslocar-se do Nordeste ou de outrasregiõesparaSãoPaulo,sãoouforamalternativasencontradaspornossospais,avós,familiareseamigosparasuperaraslimitaçõeseconômicasqueolugardeorigempossuía.

Hátambémoutrasformasmaissutisdemigraçõeseconômicas,comomudardeprofissãoouderamodaeconomia–dosetorindus-trialparaodeserviços,porexemplo.Viverodesempregodeformamaisduradourapodealterarascondiçõesdevidaedeconsumodeumafamília.Nessesentido,podehaverdeslocamentosemigraçõesentre as classes sociais. Em outros termos, existem formas de migra-çõessemquehajanecessariamenteumdeslocamentoespacial.

Por vezes, a chegada do migrante num outro país ou região é precedidaporváriasdasformasdemigraçãoapontadasanteriormen-te. No caso dos migrantes bolivianos em São Paulo, encontramos umatrajetóriademigraçãoque,paramuitos,começounoêxododocampo para cidades como Santa Cruz de La Sierra ou La Paz. Cam-ponesesdeorigemindígena,oriundosdepequenascomunidadesru-rais,migramparacidadesededicam-seaatividadesquenãofazempartedesuatradiçãocultural.Transformam-seemtrabalhadoresur-banos(vendedores,ambulantes,trabalhadoresempequenasoficinas,etc.), realizando umamigração que é aomesmo tempo espacial eprofissional.MuitosirãocruzarafronteiracomoBrasil,migrandodacondiçãodenacionaisparaadeestrangeiros.

Assim,as razõeseconômicasderivamdeumasériedeoutrosníveisdemigrações–espaciais,culturais, identitárias,profissionais.Aomesmotempo,elassemesclamcomoutrasmotivaçõesque,porvezes, são de ordem política. Segundo o Alto Comissariado das Na-çõesUnidasparaRefugiados(ACNUR),

Apopulaçãodepessoasforçadasadeslocardevidoaconflitose perseguições no mundo totalizava, ao final de 2009, 43,3milhões–omaiornúmerodesdeametadedosanos90.Entreelasestão15,2milhõesderefugiados(47%mulheresemeninas),27,1 milhões de deslocados internos e cerca de 1 milhão de

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Ensino&Memória

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solicitantesderefúgio.Aofinalde2009,cercade36,5milhõesdepessoasestavamsoboscuidadosdoACNUR,majoritariamenterefugiados(10,4milhões)edeslocadosinternos(15,6milhões).Outros grupos importantes são: apátridas (6,6 milhões),deslocadosretornados(2,2milhões),solicitantesderefúgio(983mil)erepatriados(251mil).EntreosgrupossoboscuidadosdoACNUR,omaioraumentofoientreosdeslocadosinternos:maisde1,2milhãodepessoasentre2008e2009,devidoaconflitosnaRDC,PaquistãoeSomália.Estapopulaçãoatingiuumnívelrecordeem2009.Onúmeroderefugiadossemanteveestável–quedainferiora1%.80%dos15,2milhõesderefugiadosdomundovivemempaísesemdesenvolvimento,sendoquemaisdametadedestapopulaçãoresideemáreasurbanas.Apersistênciade conflitos armados impede o retorno de refugiados a seuspaíses de origem e aumenta sua permanência nos países de asilo.2

Refugiados sãomigrantes que foram obrigados a se deslocarporteremsofridoalgumaformadeperseguiçãoemsuasregiõesdeorigem. Fazer parte de um grupo minoritário em seu país, como os curdosno Iraque sobo regimedeSaddamHussein,pode serumgrande problema em contextos de instabilidade política. Em 1994, os conflitos entre tutsis ehutus emRuandadeixarammilharesdemortos.Estima-seque2milhõesdepessoassaíramdessepaístendoemvistaainstabilidadegeradaportalconflito.

Muitosmigrantesforamperseguidosporrazõesreligiosas,po-lítico-ideológicasoumesmodevido à suaorientação sexual.Essasrazõespodemnãosersuficientesparaimpediracontinuidadedavidade muitos homens e mulheres em seus lugares de origem, mas po-demserelementosquelimitamsuainserçãoeconômica.Emoutrostermos, ser umamilitante feminista pode não ser razão suficienteparaadecisãodemigrar,mas,seessacondiçãomilitanteimpediroexercício do trabalho, isso pode inviabilizar a vida dessa mulher; a migraçãopassaaser,então,umadecisãomotivadaporumconjuntovariado de fatores, neste caso, político-ideológico e econômico.

2 ONU-ACNUR. Relatório Tendências Globais 2009.Disponívelem:<http://www.acnur.org/t3/portugues/recusos/estatisticas/perfil-do-refugio-no--mundo-2010/>.Acessoem:11out.2010.

Históriasda(I)migração

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Háoutracategoriademigrantescontemporâneos:osrefugiadosambientais. Numa reportagem publicada em 2009 na Revista Planeta, temos:

Aelevaçãodoníveldosoceanos,asenchenteseadesertificaçãorelacionadas ao aquecimento global podem tirar milhões depessoasdeseuslaresnaspróximasdécadas,afirmamdiversosespecialistas.[...]Bastariaumaelevaçãodeummetrononíveldomarparacentenasdemilharesdepessoasficarememsituaçãode

Figura1:Gráficoselaboradosapartirdedadosdisponí-veisnositedaACNUR:AgênciadaONUparaRefugia-dos. [S.l.], 2010.

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Ensino&Memória

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risco.SegundoocientistaambientalbritânicoNormanMyers,essasubidadaságuasfariacercade10milhõesdeegípcios,30milhõesdebengalise22milhõesdevietnamitasperderemseuslares. [...] no ano passado, já havia 25milhões de refugiadosambientais, número que subirá para 200 milhões em 2050.ApenasoavançododesertonaÁfricaSubsaarianajálevaria60milhõesdehabitantesdaquelaregiãoamigrarparaonortedocontinente e sul daEuropa até 2020, segundoSergioZelaya,coordenadordePolíticasdaConvençãosobreDesertificação.3

Apresençadosrefugiadosambientaisnoconjuntodosmigran-tescontemporâneosapontaparaanecessidadedepreservarmososrecursosnaturaisdoplanetaequestionarmosoatualmodelodeso-ciedade que construímos.O consumo exacerbado demercadoriascujavida útil é cada vez menor (aparelhos celulares, computadores), ouquecaemrapidamentenaobsolescência,dadaanecessidadedepossuirmosonovomodelodotênisouaúltimaversãodo“game”,criamumapressão sobreos recursosnaturaisque,diferentementedas mercadorias, não são reproduzíveis.

Estamosdiantedeumcontextonoqualafaltadeágua,adeserti-ficaçãodeváriasregiõesanteshabitadasecomintensaproduçãoagrí-cola e o aumento do nível dos oceanos podem inviabilizar a vida de milhõesdepessoas.Issoirádesdobrar-secomoumproblemadeto-dosnósnamedidaemquepodemossofrercomaquedanaproduçãodealimentos,comosurgimentodenovasdoençasecomaescassezde recursos naturais fundamentais para a vida, como a água potável.

Os migrantes ambientais estiveram presentes em outros mo-mentosdahistóriadasmigrações.Nocasodasmigrações internasno Brasil, o êxodo de nordestinos para São Paulo teve, em muitos ca-sos,motivaçõesquenumolharcontemporâneopodemosclassificarcomoambientais.OslongosperíodosdesecaemváriasregiõesdoNordesteobrigarammilhõesdepessoasabuscarnovoshorizontesde sobrevivência.

3 REVISTAPLANETA.SãoPaulo:EditoraTrês,ano37,ed.443,ago.2009. p. 40.

Históriasda(I)migração

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Razões econômicas, religiosas, ideológicas, de gênero, étnicas,sexuais ou ambientais são, como vimos, determinantes para o deslo-camento e o êxodo de indivíduos, famílias, grupos e por vezes con-tingentessignificativosdepessoas.Noentanto,éprecisoconsiderarqueessasrazõestambémimpõemmarcasnossujeitosquemigram.Asrazõeseconômicaspodemrotularomigrantecomoumdesocupado ou um vagabundo;asrazõesideológicasemesmoreligiosaspodemfa-zercomqueelesejavistocomoumterrorista;asrazõessexuaispodemtransformá-lo no michê ou na prostituta.

Asmarcasourótulossãorepresentaçõesquedeterminammuitodavivênciadosmigrantesnasregiõesoupaísesdedestino,asformascomoelessãorecebidosemesmoosproblemasqueelesencontrarãoquandode suafixaçãononovo lugar.Comopercebemos até estemomento,seporumladoasmigraçõescontemporâneassãoumfe-nômenodegrandemagnitudeeasmotivaçõesparamigrarsãovaria-das e muitas vezes inter-relacionadas, é preciso também considerar queháváriosfatoresquedificultamouimpedemosdeslocamentospopulacionais no tempo presente.

Migrantes: nem sempre desejáveis

Afiguraabaixorepresentapeçadepropagandadegrupopolíti-cocontrárioàmigraçãoparaaEuropa.

Figura2:Propagandada“UnionDemocratique Du Centre”(UDC), agremiação política deorientação nacionalista, para aseleições parlamentares suíças em2007.Na tradução livredo fran-cêsparaoportuguês,ocartazdiz:“Pormaissegurança”.

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Asmigrações contemporâneas ocorrem numpanorama pou-coounadapropícioparaainserçãodaquelescujodeslocamentoéaúnicaformadesobrevivência.Essepanoramatememsuaestruturatijolosdepreconceitosunidosporumaargamassadexenofobiaseintolerânciasdeváriosmatizes.Sobreosmurosque se constroemhojenafronteiradosEstadosUnidoscomoMéxico,noscentrosdedetençãodemigrantesportodaaEuropaousobreapropagandademuitosgovernoscontraapresençadosestrangeirosemseuterritório,temosmuitasperguntasafazer.PorquenumcontinentecomoaEu-ropa,queproduziutantosemigrantes,hátantopreconceitocomasmigraçõesatuais?Porqueempaísesquedevemboapartedoquesãohojeaosimigrantes–comoosEstadosUnidoseoBrasil–encontra-mos tantas vozes contrárias à entrada de estrangeiros?

Nãohárespostassimplesparaessasetantasoutrasquestões.Oselementosque foramabordadosnos itensanteriores (amagnitudedasmigraçõeseasmotivaçõesparaomigrar)possibilitamaconstru-çãodeumcaminhoparaelucidarmosasrazõesobjetivasesubjetivasqueinformamaspráticaseaconsciênciademuitossujeitosqueacre-ditamqueomundoseriamelhorsemapresençadosmigrantes.

Comovimos,opercentualdepopulaçãoestrangeiranaEuropaenosEstadosUnidosésignificativo,easmigraçõesinternacionaistendem a crescer nas próximas décadas. Assim, não só no tempo pre-sente como também num futuro breve, cada vez mais os estrangei-rosirãopartilharomesmoterritóriocomaquelesquesãohabitantesnativos.Essapresençaestrangeiraportatantopositividadesquantonegatividades,dependendodaperspectivaquesetemsobreela.

Osmigrantessãocadavezmaisimportantesempaísesqueten-dem a ter baixas taxas de fertilidade populacional, como é o caso daItália,França,InglaterraeAlemanha.Váriosestudosdemonstramqueas taxasdefertilidadeentreosmigrantessãomaiselevadassecomparadascomasdaspopulaçõesnacionais.Oenvelhecimentodapopulaçãoeasbaixastaxasdenatalidadecriaminúmerosproblemasparaosmaisidososquenecessitamdecuidadosdosmaisjovens.

Oaumentodapopulaçãoidosatraz,porexemplo,dificuldadesaoequilíbriofinanceirodosistemadeseguridadesocialnamedidaemqueesteéalimentadopelotrabalhodapopulaçãojovemeinseridanomer-cado de trabalho. Nesse sentido – ao menos nos países centrais –, os

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migrantescontribuempararestabeleceroequilíbrioentreumaparceladapopulação(idosos,aposentadosepensionistas)eassuasdemandasde seguridade social.

Osmigrantesseinserememocupaçõesprofissionaisdepoucoprestígiooudebaixaremuneração.Suapresençaésignificativaemsetorescomoaconstruçãocivil,ocupaçõessubalternasnossetoresdeserviços(limpeza,entregademercadorias,manutenção),serviçosdomésticos (empregadas, faxineiras) e no setor industrial (ocupa-çõesdebaixaremuneração,comonocasodaindústriadetecelagemno Brasil).

Suapresençatambéménotadapormeiodesuascontribuiçõesculturais.Aincorporaçãodenovoshábitosalimentares,porexemplo,tendeaenriqueceroscheiros,gostosesaboresdaculinárianacional. Novosconhecimentose formasdepercepçãodomundo tambémtendem a oxigenar os valores tradicionais da sociedade hospedeira, aopassoqueadiversidadedesuasdiferentesorigenspotencialmentecria uma sociedade mais tolerante e plural.

Entretanto, esses mesmos elementos podem ser avaliados numa perspectivanegativa.Oaumentodapopulaçãodescendentedemi-grantes é visto por alguns como um risco, especialmente em socie-dadesqueprezamporsuapureza étnica.Apresençaeconômicadosmigrantes,porvezes,équestionadaemsuapositividadepelostraba-lhadores nacionais, especialmente em momentos de crise na econo-mia. Em tais contextos, cria-se um embate baseado no argumento de queosmigrantessubtraemosempregosdosnacionaisouqueelesaceitam os mesmos trabalhos por salários mais baixos.

Noquetangeàscontribuiçõesculturais,estastambémpodemseravaliadascomonegativasporperspectivasqueascompreendemcomo uma invasão cultural. Desqualificam-se essas contribuiçõescombasenumahierarquizaçãodevaloresepadrõesdecondutacujopadrãoadvémdasreferênciasdasociedadederecepção.Demaneirageral, os migrantes podem ser compreendidos como bárbaros, sem cultura,desqualificadosemseussaberes,hábitosecostumes.

Asrazõesdamigraçãoproduzem–comovimos–rótulosquepassam a fazer parte da identidade dos migrantes à revelia destes. Antesmesmodaentradadomigrantenasociedadederecepção,es-sesrótulosoumarcasjáestãoestabelecidos:osmigrantesárabessão

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terroristas, as mulheres brasileiras são prostitutas, os homossexuais bra-sileiros são travestis.Osrótuloscriamrepresentaçõesquequasesem-presãofalsasedesqualificamomigranteemsuahumanidade.Estasrepresentaçõessemesclamcomasnegatividadesquevimosacima,criando um ambiente hostil aos migrantes.

Grandepartedaspolíticasderestriçãoàentradademigrantesna Europa, nos Estados Unidos e mesmo na Austrália ou no Japão alimentam-sedeumaouváriasdessasrepresentaçõesenegatividades.Elassãoproduzidaspelapressãodegruposqueseopõemàpresençados estrangeiros e muitas vezes são uma boa moeda de troca em contextos eleitorais. O caso da Lega Nord na Itália é emblemático. Trata-sedeumaagremiaçãodedireitaquetemcrescidoeleitoralmenteeaumentadoasuainfluêncianoparlamentoitalianopormeiodeumaplataformabaseadanaxenofobiaenadefesadoqueelaconsideracomo valores tradicionais da Itália.

Háqueseconsiderarqueomigrantenecessitacriarseuspró-priosterritóriosparasefixarnoqueeleconsideracomoterra estrangei-ra.Osterritóriosmaterializamnecessidadesmúltiplasquevãodesdeatentativaderecriaçãodepaisagensassemelhadasàsdassociedadesde origem até amanutenção de vínculos e elos de pertencimentoentreosmigrantes,fundamentaisparasobreviverenquantoseconsi-dera estar no território de outrem.

Há várias formas de territórios construídos pelos migrantes, comoescolas,bairros,festas,lugaresdereuniãocomoasIgrejas,osclubes,lojas,restaurantesouquaisqueroutroselementosdapaisagemquedenotemparaosmigrantesouparaosnacionaisumespaçodehomogeneidade de determinada etnia ou nacionalidade estrangeira. Elessãoenclavesnasociedadederecepçãoenemsempresãoaceitosde forma harmoniosa pelos nacionais.

Osterritóriosdamigraçãoseconstituemenquantoação-reaçãonaconstantedisputaporinserção,pertencimentoevisibilidadenoscontextosurbanosoururais.Sãototalidadescomplexasquesecons-troemsobrepondo-se eocultandooutros sujeitos,outras sociabili-dades, outros territórios. Por vezes são compreendidos como intru-sospelasociedadederecepção,dadoqueadensamematerializamapresençadooutro,doestrangeiro,doinvasor,daquelesqueportamcostumes, hábitos e culturas singulares, incômodas ou perigosas.

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NacidadedeSãoPaulo,apresençadebolivianosoudemigran-tes africanos ainda causa estranheza a muitos de seus habitantes. Ou-virconversasnumalínguanãocompreensível,partilharavizinhançacom pessoas de hábitos estranhos ou ter como colega de sala de aula umalunocomfeiçãodiferentedaqueestamosacostumadosnoslevaapensarsobrenossacapacidadedetolerânciacomrelaçãoaooutro,ao diferente ou estranho.

Seassociedadesderecepçãoguardamrelaçõesambíguasecon-traditóriascomapresençadosmigrantes,estes,porsuavez,tambémpossuemsuasprópriasambiguidadesecontradições.Deumlado,omigrante é um ser partido. Ao deslocar-se espacialmente, ele vivencia também muitos outros deslocamentos – culturais, afetivos e emocio-nais,profissionais,etc.–queocolocamnumasituaçãodesuspensãoentredoismundos,duasrealidades:alembrançaeasmarcasdeseulugardeorigemeocontextodeseu (novo) lugardefixação.Parasobreviveraessasituaçãodesuspensão,omigrantenecessitareafir-maroselementosdeidentidadequelhesãomaisdensosepresentes;normalmente,essassãoassuascaracterísticasoriginárias,oque,paraasociedadederecepção,sãoascaracterísticasdoestrangeiro.

A criação dos territórios pelos migrantes também se revelacomoalgoambíguoe,porvezes,contraditórionamedidaemqueelaéamaterializaçãodenecessidadesereforçosdepertencimentocomoscontextosdesuasorigens;é,aomesmotempo,anegaçãodestesmesmos contextos, erigidos e centrados no território estrangeiro. Por maisestranhoquepossaparecer,osterritóriosmigrantessãomenosaafirmaçãodapresençadomigrantenaterra estrangeira e mais a ne-gaçãodacondiçãodomigranteeodesejode transformar-senumnacional.

Migrantes e a Escola

Em2004,naFrança,foinoticiadoumcasodeexpulsãodeduasalunasmuçulmanasqueserecusaramaretirarovéu,desobedecendo

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umaleiqueproibiaousodequaisquersímbolosreligiososemescolaspúblicasnaquelepaís4.

Àquelaépoca,odebatequeseseguiuapontouparaochoqueentreduasculturas:aocidental,iluministaedemocrática,eaorientale seu apego aos valores considerados tradicionais, incompatíveis com omundomoderno.Poroutrolado,tratava-sedeumconfrontoquecolocava a defesa do ensino laico em contraponto aos valores religio-sos. O caso acabou ganhando contornos de um debate nacional na Françae,em2010,oSenadoaprovouumaleiproibindoasmulheresdeusaremaburca–vestimentaislâmicaquecobretotalmenteocor-po e o rosto da mulher – e o véu integral (niqab)emlocaispúblicos.

Em 2010, na cidade de São Paulo, vários órgãos da imprensa noticiaramoseguintecaso:

ASecretariaEstadualdaEducaçãodeSãoPaulodisse,emnotaenviadaàimprensa[...],quevaiinvestigardenúnciadebullyingcontra alunos imigrantes da Bolívia em escola da Região Central deSãoPaulo.[...]Estudanteseumprofessordisseram[...]quealunos imigrantes têm de pagar para não apanhar de outros alunos[...].Osentrevistadospediramparanãoseridentificados.AescolaestálocalizadanobairrodeSãoPauloemquevivemmilhares de imigrantes bolivianos. Muitos deles trabalham em confecções da região. Segundo um professor da escola,estudantesexigemqueosalunosbolivianospaguemlancheparaeles.“Eleslevamtapasnacabeça”,disseoprofessor.Deacordocom o educador, os alunos sofrem preconceito e o clima é tenso nasaladeaula.“Osgruposnãosemisturam.Éumproblemaquandopeçoparafazeremtrabalhosjuntos”,afirmou.5

4 FRANÇAcomeçaaexpulsardaescolameninasqueusamvéu.Estadão [online],SãoPaulo,20out.2004.Disponívelem:<http://www.estadao.com.br/arquivo/mundo/2004/not20041020p30625.htm>.Acessoem:3dez.2012.5 SECRETARIAdaEducaçãodeSãoPaulodizque investigará…G1,[S.l.],28nov.2010.SeçãoVestibulareEducação.Disponívelem:<http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/09/secretaria-da-educacao-de-sp-diz-que-investigara-bullying-contra-bolivianos.html>.Acessoem10out.2010.

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Trata-se de mais um caso da prática de bullying,queé, infeliz-mente, desde muito tempo, parte da cultura de muitos alunos em escolas de todo o mundo. Este caso interessa particularmente por tersidoumdosprimeirosquerelataramalgoquejávemocorrendoháváriosanosemescolaspúblicasdeSãoPaulo:atosdeviolênciacontraalunosmigrantesoufilhosdemigrantes.Oepisódiodovéunaescola francesa ou a prática do bullying numa escola na cidade de São Paulopodemsugerirdoisfatosquenãopossuemidentidadeentresi.Entretanto,numolharmais atento, ambosguardamconexõesquenos obrigam a uma análise mais detalhada sobre como, no ambiente escolar,aquestãodasmigraçõescontemporâneasépercebidaetrata-datantoporprofessoresquantoporalunos.

RetomemosocasoocorridonaFrança.Oqueestavaempautaeraapresença,noambienteescolarfrancês,deumaparceladapo-pulaçãooriundadasmigrações recentes e da inserçãodestes numterritório(escola)ocupadotradicionalmenteporjovensfranceses.Aescolarizaçãoparaosalunosmigrantesouseusdescendentesrepre-sentaodesejoeanecessidadeemseapropriardoconhecimentoedominar linguagens,padrõesdecomportamentoecódigossociais,alémdapossibilidadedeintegraçãonoconjuntodasociedademaisampla.Entretanto,oprocessodeintegraçãonãoocorresemqueoaluno também expresse sua individualidade e cultura. Neste caso, a utilizaçãodovéupodenãotersignificado,necessariamente,umare-cusadaalunaàsuaintegraçãoàqueleambiente.

A atitude das autoridades escolares francesas revelou a rigidez dospadrões escolaresno trato comas singularidades.Emsentidoamplo, o processo de escolarização ainda concebe o aluno comoum depósitodoconhecimento,tantomelhorsesuarelaçãocomesteforpassiva,acrítica.Aescolasepretendeenquantolugarprimordialda construção das sociabilidades e recebemal as atitudes que de-monstramqueos lugaresdovividosãomúltiplosequehámuitosespaços sociais de aprendizado e de conhecimento para alémdosmuros escolares.

Emsentidomaisrestrito,aexpulsãorevelaadificuldadeemtra-balharnoambienteescolarcomatitudesquecolocavamemquestãoafunçãodaescolaesuarelaçãocomosvaloresdaculturaocidental.O

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queestavaempautaéochoqueentreduasformasdecultura,choqueestequesematerializounoepisódiodovéu.

Alunaseprofissionaisdosistemaescolarforamsujeitosdeumasituaçãoreveladoradosimpassesedificuldadesquetemosparareco-nhecerahumanidadedooutroeanecessidadedaconstruçãodeumaculturada tolerância.Aquestãose tornamaiscomplexaàmedidaquepercebemosquenasrelaçõessociaisexistemmuitashierarquias.Elassãoeconômicas,políticas,declasse,degênero,etc.Ossujeitosnão se relacionam a partir de um mesmo patamar; os representantes dosistemaeducacional,nessecaso,possuíamumaautoridadequefezcomquesuaperspectivasobreofatosesobrepusesseàdasalunas.

Oocorridonaquela escolapode ser entendidocomoummi-crocosmoexplicativodoqueassociedadeseuropeiaeestadunidensevivenciam em seus contatos com migrantes. Se expandirmos o sen-tidodaexpulsãodasalunas,encontraremosaspercepçõesdaquelesquesesentemconfortáveiscomseusvaloreseasatitudesdegruposxenófobos e intolerantes de todos os matizes. Por seu lado, a atitude das alunas também pode ser alargada e nela também encontramos umconjuntoamplodemigrantesquelutamporsuainserçãonaso-ciedadededestino,masquenãoqueremanularseupassadoeseusvalores culturais.

Comona relação escola-alunas, o contato entre os nacionais e estrangeiros também é permeado por hierarquias. Muitas vezes osmigrantes não possuem os documentos exigidos para sua permanência nopaís,oque,naperspectivadoEstado,ostornailegais. Assim, há um lugardaautoridade-legalidade(Estado)eumlugardacontravenção-ilegalidade(migrantes).Comonaescola,aintegraçãodosmigrantesaoconjuntodasociedadedeveseguirregrasecódigos.Devemaceitartambém os valores culturais, leis e condutas da sociedade de destino. Aomenoséoqueseesperadeles.

Retomemos agora o caso de bullying ocorrido na escola de São Paulo.Nãosetrataaquidefazerumaanálisesociológicaoupsicoló-gicadestaprática,noentantoumabrevedescriçãodealgunsdeseuselementos constitutivos pode auxiliar no debate sobre essa atitude e sua recorrência. O bullying faz parte da cultura escolar e muitos de nósjáfomosvítimasdele;talvez,emalgummomento,otenhamospraticado.Demaneirageral,eleestárelacionadoapráticascujafina-

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lidadeéoconstrangimento,ahumilhaçãoouasegregaçãodooutro.Elepodeseefetivarpormeiodeaçõesagressivas(físicasouverbais)cujoobjetivoétiraralgumavantagemmaterial–comoopagamentodo pedágio no caso da escola de São Paulo – ou apenas o prazer em colocarooutroemsituaçãoquedemonstresuainferioridade.

Quasesempreobullyingsedánumasituaçãoemqueumgrupotiranizaumindivíduoemparticular.Temosentãoumapráticaqueéaceitaporumconjuntodepessoas.Istofazdobullyingumaaçãoratificadaporumapequenacoletividadequeseautorreferencianessaprática e passa a constituí-la como parte de sua própria identidade frenteaumcoletivomaior.Nessesentido,aexecuçãodobullying tor-na-se instrumentodereafirmação,constantementeuma identidadedevalentões,destemidos,transgressores,etc.

Osquepraticamo bullying podem tantofixar-senumavítimaem particular, desinteressar-se dela depois de um tempo e encontrar outrosujeitopara tiranizar.Essaprática se realizanaproduçãodeestereótiposquepassamarotularasvítimas:o“gordinho”,a“dentu-ça”,o“magrelo”,o“esquisito”,a“nerd”,etc.Trata-sedeumaaçãoperversadeproduçãodeidentidadesqueimpõeaotiranizadoumacaracterísticaquesetornaabsolutanadefiniçãodesuapersonalidadeounavisibilidadequeacoletividadeterásobreele.

O“gordinho”é apenaso“gordinho”.Não interessa aosquepraticam o bullying se ele também é um aluno estudioso, solidário com oscolegasouquetemdificuldadesdeaprendizado.Naimposiçãodoapelido “gordinho”, reduz-se a humanidade do outro, sua comple-xidade e potencialidades. Fecham-se as possibilidades para a com-preensãodaquelesujeitoedosdiálogospossíveis;obullying limita as interações,trocasealteridades.

Paradoxalmente, a redução da identidade do tiranizado é, naverdade,reflexodapequenezdavisãodemundodosprópriosprati-cantes do bullying,queserevelamcomosujeitosincapazesdecompre-endersuasprópriaspotencialidades.Fecham-seempequenosguetos,reduzindo as oportunidades de abrir seus horizontes sociais. A práti-ca do bullyingdesnudaainsegurançadeseuspromotorescomrelaçãoàsuaadaptaçãoepermanêncianoambienteescolar.

Emsuasações,osalunosdemonstramqueoptarampelavio-lência porque também são objeto de outras formas de violência.

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Possivelmente eles mesmos se sentem diferentes, esquisitos, deslocados e inadaptados e procuram solucionar isso da forma mais cruel, violenta, segregadoraehumilhante:tiranizandoooutro.Evidentementeessaaçãoapenaspostergaadordeseusprópriosdramas.Realizada,aprá-tica do bullyingcausaumaefêmerasensaçãodepotência,desatisfação,quelogodásinaisdefinitude,abrindoespaçoparaumanovaação.

Mas como os estudantes bolivianos ou descendentes destes se inserem nesse contexto? Mais uma vez, a resposta a essa pergunta nãoéalgosimples,mas,sepensarmosaescolaenquantoummicro-cosmo da sociedade, perceberemos como muitos dos sentimentos epráticas intolerantes que incidem sobreosmigrantespodem serrelacionados com a prática do bullying na escola de São Paulo. Em primeirolugar,éprecisoconsiderarqueemdeterminadasregiõesdacidadeosmigrantesbolivianostêmpresençamassiva;bairroscomooBráseBomRetirocongregamboapartedemigrantes,quenacidadedeSãoPauloestápróximade250milpessoas.

Essapresençaconstituiinevitavelmenteseusterritórios,comoaFeiradaPraçaCantutanoPari,aosdomingos,mastambémdeman-daaentradadessesmigrantesnosequipamentospúblicos,comoospostosdesaúdeeasescolas.Numaperspectivaconservadoraeinto-lerante, esses migrantes são invasoresdosespaçosreservadosaosnacio-nais; eles ocupam um lugar (exíguo e muitas vezes precário) destinado aos cidadãos, aos brasileiros. Na escola, esses migrantes carregam um sentimento de constrangimento e talvez até mesmo de inferioridade, jáquemuitospodemincorporarque,defato,sãointrusos.

Cria-se um quadro propício para um choque entre grupos.Cadaum,aoseumodo,avaliapossuirrazõesparanãointeragircomooutro. Isso tende a reforçar práticas comoo bullying. Os alunos migrantes sãoalvo ideal,dadoquematerializammuitoselementosdaquiloqueétidocomodiferente.Mesmosemsaber,suasaçõesseassemelham a de grupos como os skin headsoutantosoutrosquenoBrasil e em vários outros países perseguem e violam os direitos dos migrantes; estes são percebidos como invasores de um território, como aquelesquetiramassuasvagasemescolaspúblicase,numsentidomais amplo, potencialmente ocuparão um lugar (disputado e exíguo) no mercado de trabalho ou nas universidades.

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No caso da prática de bullying noticiada, é emblemático o fato dos alunos cobrarem um pedágio aos migrantes. Isto revela queconscienteouinconscientementeelesconcebemqueapresençadosestrangeirosnoambienteescolarlhestrazumprejuízo.Aimpossibi-lidadedeinteraçãodestesgruposemsaladeaula,comorelatadopeloprofessor, é reveladora do confronto; tanto os estudantes brasileiros quantoosbolivianostendemacristalizarsuasidentidadesdeformaaimpedirtrocasdeexperiênciasquealargariamacompreensãodesiprópriosepotencialmentedasociedadeemquevivem.

Aos praticantes do bullying, e para muitos outros fora da escola, a presençadosmigrantesrevelasuaincapacidadedetolerarapluralida-de em seu ambiente social. Aos alunos migrantes, como aos migran-tesdeformageral,viveremambienteshostisàsuapresençasignificaumdesafioamais,numalongatrajetóriademigraçãoquetambémécultural,psicológicaeidentitária.Asmigraçõescontemporâneasnoscolocamfrenteamuitosdesafios.Elasrevelamacomplexidadedoquefoivivenciadoenoslevamaenfrentartemaspluraisecomple-xos.Pormeiodasmigrações,nosdefrontamoscomquestõescomoa problemática da cidadania, a discussão sobre direitos humanos, as questõesambientaiseeducacionais,demercadodetrabalho,culturaeahistoricidadedasmigraçõesnasociedadebrasileira– temadospróximos capítulos.

Emespaçosmaisrestritoscomoaescolaouemambientesmaisamplos,asmigraçõessãoumdesafioeumaoportunidadeparaco-nhecermosumpoucomaissobreanossahistóriaesobreosdesafiosde nosso próprio tempo. Por meio delas, nos defrontamos com nossa capacidadedetolerarasdiferençasetambémcomnossasintolerân-cias. Com elas, temos a oportunidade de aprender mais sobre como construirummundocujasfronteiras(culturais,econômicasepolíti-cas)possamserharmonizadasequiçásuperadas.

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2ImigraçãonoséculoXIX

em São Paulo

Atéofinaldo séculoXIX, as representações sobre a imigra-çãoestiverambastanteassociadasaoambienterural,istoporquenãoapenasemSãoPaulomasnoBrasil,demaneirageral,ainserçãodeimigrantestevecomoobjetivoscentraisacolonizaçãodeterraseofomentoàmãodeobra.Comoveremosadiante,a imigraçãocompropósitosdecolonizaçãode terrasprecedeuàqueladirecionadaàsubstituiçãodamãodeobraescravizada.

Noplanonacional,arelaçãodaimigraçãocomtaispropósitosfoimais intensana regiãoSuldopaís, enquantoemSãoPauloosinteressesdoscafeicultoreseramosdereorientaraimigraçãocomoformadesubstituiçãodotrabalhoescravonasgrandespropriedadese,apósaabolição,comosuprimentodebraços exigido pela crescente demandadacafeicultura.Apresençadosimigrantesnocampopro-duziuumconjuntodetransformaçõesmuitovariado,quepodeserapreendido ao menos em três planos.

As considerações do parágrafo anterior estão relacionadas aoprimeiro plano. Do ponto de vista econômico e a partir da realida-dedeSãoPaulo,aimigraçãonoséculoXIX–emesmoduranteasprimeirasdécadasdoséculoXX–esteverelacionadaaoavançodaeconomiacafeeiraeàmanutençãodeumpadrãodeacumulaçãoca-pitalista baseado ainda nos moldes da economia colonial. Isto impli-

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couamanutençãodeestruturasarcaicas como a grande propriedade agroexportadora,aopassoquemodificavaestruturalmenteoperfilda mão de obra.

Osegundoplano refere-se aumconjuntode transformaçõesocorridasnapaisagem,que,evidentemente,foireflexodasmudançasoperadas no plano anterior e deu suporte a ele. Estamos nos referindo à criação de novas cidades, vilarejos, fazendas, núcleos coloniais,escolas, implantação de linhas férreas, etc. No terceiro plano,encontramos questões que estiveram – e ainda estão – no debatesobreacontribuiçãodosimigrantesnaconstruçãodenossasociedade.Trata-se de um conjunto de elementos que envolvem questõesculturais, políticas e mesmo ideológicas acerca da positividade ou da negatividade da presença dos imigrantes na comunidade nacional.Esses três planos em conjunto nos remetem à importância daimigraçãoenquantoelementodetransformaçãodapaisagemsocial,política, cultural e econômica do Estado de São Paulo.

Não há, evidentemente, uma abordagem única sobre a imi-gração.Qualqueranáliseimplicaescolhasqueporsuavezproduzemocultamentos. Em outras palavras, ao abordarmos neste capítulo – e tambémnospróximos– elementos que tratamda imigraçãoparaSãoPauloduranteoséculoXIXeiníciodoséculoXX,nãoestamosconstruindo uma história completa e definitiva sobre a imigração.Nessesentido,ostrêsplanosacimadelimitamumcampodequestõesepossibilidadesinterpretativasquedevemsercompreendidascomouma dentre muitas outras possibilidades para a compreensão do pro-cesso imigratório para São Paulo.

A fixação de estrangeiros no Brasil: breve nota

Durante todo o período colonial, a entrada de estrangeiros sem-prefoimotivodepreocupaçãoporpartedasautoridadesdametró-pole;oprocessodeocupaçãodasterraspeloscolonizadoresportu-guesesfoi,desdeoinício,pautadopordisputascomoutrasnaçõeseuropeias.Da proteção das terras sujeitas a constantes invasões –comoadosholandesesefrancesesduranteosséculosXVIeXVII–àocupaçãodeterraspertencentesàEspanha,acolôniafoiconquis-tadanumalutasecularquecoibiaouvigiavaapresençaestrangeira.

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Apresençaeo trânsitodesúditosestrangeiros foimotivodepreocupação,aopontodeseremexigidosdocumentosqueautorizas-semseutrânsitopelasterrascoloniais.Emregiõesconsideradases-tratégicasoudegrandepotencialderiqueza–comoasMinasGeraisdoséculoXVIII–,apresençadeestrangeiroseraregulada,vigiadaeem alguns casos até proibida.

EssequadrofoialteradoentremeadosdoséculoXVIIIeiní-cio do séculoXIX.A consolidação das fronteiras coloniais exigiuopovoamentodealgumasregiõespormeiodafixaçãodepessoasnãonascidasnacolônia.A“Provisãode9deAgostode1747”dava“providênciasparaaconduçãoeestabelecimentodecasaisdeaço-rianos no Brasil.”1 Esse é possivelmente o primeiro documento no qualaCoroaPortuguesaautorizaafixaçãodepessoasnãonascidasnoterritóriocolonial,exceçãofeita,evidentemente,aosportugueses.

Comachegadadafamíliarealem1808eaconsequenteeleva-çãodoBrasilàcategoriadereinounidoaPortugaleAlgarves,umasériededecretos, cartas régias eportarias comvistas àfixaçãodeestrangeiros(notadamenteaçorianos,suíçosegermânicos)noBrasilforameditadas.Emsentidoamplo,essasautorizaçõesobjetivavamafixaçãodeestrangeiros,tendocomofimacolonizaçãodeterraseadinamizaçãoeconômica.

Assim, ainda no período pré-independência, a fixação de es-trangeirosnoBrasil cumpriaumobjetivobásico:odecriarnúcle-oscoloniaiscomvistasàocupaçãodeterras,consolidaroterritórioe dinamizar a economia com o desenvolvimento de novas culturas agrícolas.Esseobjetivoestevepresentenapolíticaimigratóriabrasi-leiraduranteoséculoXIXatéaprimeirametadedoséculoXX.UmsegundoobjetivodapolíticaimigratóriasurgiuduranteoséculoXIXetemrelaçãocomasubstituiçãodamãodeobraescrava.

“Imigração”

O termo imigraçãofoiincorporadoaotítulodosdocumentosqueautorizavamafixaçãodeestrangeirosnoBrasilem1829.Na“Falado

1 BASSANEZI,MariaSilviaC.Beozzo;SCOTT,AnaSilvia;BACEL-LAR,CarlosAlmeidaPrado;TRUZZI,OswaldoMárioSerra;GOUVÊA,Marina.Repertório de Legislação Brasileira e Paulista Referente à Imigração.SãoPaulo:EditoradaUnesp, 2008.

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Imperador de 03 deMaio”, queabriu os trabalhos da Assembleia Geraldaqueleano,encontramos:“salientando a necessidade de auxiliar no desenvolvimento da agricultura do país, através do incentivoàimigração,dacriaçãodeumaleidenaturalizaçãoedeum regulamento para a distribui-çãodasterrasincultas”2. Até esse momento, pessoas não nascidas na colônia ou em Portugal eram comumente nominadas a par-tir de suas regiões de origem –“açorianos”,“suíços”–oucomo“estrangeiros” ou “colonos”.

A palavra imigrante, a par-tir de então, agrega a condiçãode nascimento dos sujeitos (econsequentemente a noção deestrangeiro) e a razão de sua in-corporação na comunidade na-cional como colonos (ocupan-

tes de terras) ou trabalhadores. Como vimos no capítulo anterior, até

hojeotermoimigrantedefine,emboradeformanãomuitoprecisa,umarelaçãocomplexadoestrangeirocomacomunidadenacional,namedidaemqueanoçãode imigrante levaemconsideraçãoprio-ritariamente a dimensão indivíduo-trabalhador e coloca num plano se-cundárioadimensãosujeito-cidadão,portadordedireitos(políticoseeconômicos) e necessidades (sociais e culturais).

2 BASSANEZI,MariaSilviaC.Beozzo;SCOTT,AnaSilvia;BACEL-LAR,CarlosAlmeidaPrado;TRUZZI,OswaldoMárioSerra;GOUVÊA,Marina.Repertório de Legislação Brasileira e Paulista Referente à Imigração.SãoPaulo:EditoradaUnesp, 2008. p. 13.

As palavras imigrante,

emigrante ou migrante revelam

percepções diversas sobre

um mesmo fenômeno: os

deslocamentos populacionais.

Os homens e mulheres que se

deslocam de um lugar para o

outro expressam ao mesmo tempo

essas três condições. Ao chegarem

ao destino são considerados

imigrantes. Quando saíram de suas

regiões de origem eram emigrantes.

Contemporaneamente, o termo

migrante tem sido mais utilizado.

Ele expressa com mais proximi-

dade a percepção que o indivíduo

que se desloca (e não a percepção

daqueles que o observam) tem

de sua própria condição: a de

migrante, que se desloca de

um lugar para outro, possuidor

de múltiplas identidades.

34

Ensino&Memória

Page 35: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Imigração e Colonização durante o século XIX

O processo de independên-cia, a partir de 1822, dinamizou asiniciativasparaafixaçãodees-trangeiros no Brasil. Entre 1823 e 1830 foram editadas mais de duas dezenas de documentos, entre Decisões, Portarias, Decretos e Leis3queregulavamoudavaminstruçõessobreaentradaefixa-çãodenão-nacionaisemsolopá-trio. Durante a primeira metade do século XIX, Bahia, EspíritoSanto, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sulforamasregiõesquemaisre-ceberam atenção doEstado notocante à fixação de estrangei-ros.SurgiraminúmerosNúcleosColoniaisque,no transcursodealgumas décadas, deram origem ou dinamizaram o crescimento de cidades como Petrópolis (RJ), Blumenau e Florianópolis (SC), São Francisco do Sul (RJ), entre outras.4

Como teremos oportuni-dade de analisar mais adiante, a

3 FRATTINI, Jurandyr de Andrade; MONTAGNINI, Mario Ithamar (Org.). Index Legis.SãoPaulo:SecretariadaAgriculturaeAbastecimento,1991.4 ZENHA,Edmundo.AcolôniaAlemãdeSantoAmaro.Revista do Ar-quivo Municipal,SãoPaulo,ano16,n.132,mar.1950;DIFRANCESCO,Nelson.A Hospedagem dos imigrantes na Imperial Cidade de São Paulo (um resgate documental e cronológicodosprimeirostempos–1827-1888).SãoPaulo,1999.Mimeografado;PAIVA, Odair da Cruz; MOURA, Soraya. Hospedaria de Imigrantes de São Paulo. São Paulo:PazeTerra,2008.

Na cidade de São Paulo,

em 1829, foi fundado o Núcleo

Colonial de Santo Amaro, com

imigrantes oriundos da Baviera –

região que compõe atualmente a

Alemanha. O grupo era formado

por 226 pessoas que chegaram

à Capital em dezembro de 1827

destinadas à colonização de terras.

Elas foram hospedadas no Hospital

Militar, localizado na região

central da cidade, próximo ao

Rio Anhangabaú, no local em que

atualmente se encontra a Praça do

Correio (Praça Pedro Lessa). Com

a expansão da cidade, esse Núcleo

foi incorporado ao seu território

e hoje é um conhecido bairro

da cidade de São Paulo. Vários

Núcleos Coloniais deram origem

a bairros ou cidades próximas a

Capital. Em 1877 foram fundados

os Núcleos Coloniais de Santana,

São Caetano e São Bernardo. O

Núcleo Colonial de Ribeirão Pires

data de 1887.

Históriasda(I)migração

35

Page 36: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

política de colonização no estadode SãoPauloproduziu ao todo37NúcleoseÁreasdeColonizaçãoentre1829e1933.ApartirdoséculoXX,alémdainiciativaoficial,muitasColôniasforamfundadaspor iniciativa de empresas privadas ou pelos próprios imigrantes. Ao mesmotempo,duranteoséculoXIX,tantonaesferaprivadaquantopública,váriasforamasiniciativasparaainserçãodeimigrantescomoobjetivodesubstituiçãodamãodeobraescrava.Dentreasinicia-tivas privadas, o caso do Senador Vergueiro (Fazenda Ibicaba – inte-rior paulista), na década de 1840, é o mais conhecido.

Oselementosacimanosremetemaofatodeque,apartirdoséculoXIX,aimigraçãoadensouumconjuntodeinteresseseneces-sidades bastante variado. Como vimos, a entrada de estrangeiros no iníciodoséculoXIXrespondeuaosinteressesdeocupaçãodeterrasporrazõeseconômicasemesmoestratégicasdedefesadoterritório.Astransformaçõesocorridasnadinâmicadaeconomiabrasileira–particularmente a partir da expansão da cafeicultura na região Su-deste–ressignificaramosinteressespela imigração;a inserçãodosestrangeiros passou a ser também um instrumento importante para acriaçãodeumapolíticademãodeobra,fossepelanecessidadedoaumentodebraçosparaalavouracafeeira,fossepelasubstituiçãodamão de obra escravizada.

Esseconjuntodeinteressesequestõesqueenvolveramaimigra-çãopossuíacomopanodefundooprocessodeinternacionalizaçãodaeconomiabrasileiraeaconsequenteentradadopaísnocircuitodeêxodoeabsorçãodemãodeobra,cujosvérticesestiveramcentradosinicialmente na Europa (região de expulsão) e América (região de atração).ApartirdofinaldoséculoXIX,adentramestecircuitoaÁsiaeoOrienteMédio,amboscomoregiõesdeêxodopopulacional.Esseconjuntodequestõesimplicaanecessidadedeumabrevedeco-dificaçãodasrelaçõesentreaimigraçãoeacolonização,cafeicultura,escravidãoetransformaçõesnapaisagem.

36

Ensino&Memória

Page 37: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Escravidão, cafeicultura, ferrovias e transformações na paisagem

A experiência na Fazenda Ibi-caba inseriu-se em um contexto no qual a escravidão tinhahegemoniano mundo do trabalho rural das grandes propriedades; reside neste ponto sua importância e tambémseus limites. Na perspectiva do tempo presente, a iniciativa de Ni-colau Vergueiro apontava uma nova função para a imigração na medi-daemqueprocuravadeslocá-ladesuarelaçãocomacolonização.Defato,ainserçãodetrabalhadoresnaFazenda tinha como finalidade asubstituiçãodamãodeobranegraescravizada.

A inserção da mão de obraimigrante em Ibicaba visou a for-maçãodetrabalhadoresqueseriamintroduzidos na lógica moderna do desenvolvimentodas relações capi-talistas no campo. Na perspectiva dos imigrantesqueadentraramomundodotrabalhoruralnoBrasil,ain-danocontextodevigênciadaescravidão,ascondiçõesdetrabalho,moradiaeremuneraçãoforambastanteprecárias.Fugas,denúnciasde maus tratos e revoltas em fazendas ocorreram em muitas localida-des no interior do estado.

A imigração para o

estado de São Paulo foi

consequência direta do

processo, iniciado em meados

do século XIX, de substituição

dos escravos por mão de obra

livre nas grandes plantações

de café e acelerado por volta

de 1850 devido ao aumento

das restrições ao comércio

de escravos. A diminuição

paulatina do trabalho

escravo e o crescimento da

importância do café para a

economia brasileira criaram

as condições adequadas

para iniciativas privadas,

e posteriormente públicas,

de introdução do trabalho

imigrante.

Históriasda(I)migração

37

Page 38: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura3:QUADRO

demonstrativodopessoalexistentenasdiversasColôniasdaProvínciadeS.Paulo,segundoasinform

açõesexistentesnaSecretaria do G

overno. Relatório da Província de São Paulo,1855.

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Ensino&Memória

Page 39: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

A experiência de Ibicaba foi realizada num contexto social, econômico e político cujossupostos para seu sucesso efetivo só viriam no decorrer das décadas seguintes. So-mente na segunda metade do séculoXIX, as leis de aboli-ção paulatina da escravidão(Lei de Extinção do TráficoNegreiro,1850;LeidoVentreLivre, 1871; Lei dos Sexage-nários,1885,e,porfim,aLeiÁurea, 18886), o aumento da produção cafeeira, a agrega-çãodenovasterras,adinami-zação do transporte ferrovi-ário e o interesse do Estado na criação de uma políticaimigratória constituíram um conjunto de elementos quefizeram com que a iniciativade Nicolau Vergueiro fosse ressignificada, emergindo daía compreensão que temoshoje sobre seu pioneirismo eimportância.5

Assim,apartirda segundametadedoséculoXIX,acrisedaescravidãoeodesenvolvimentodacafeiculturafizeramcomque,emSãoPaulo,houvesseumamudançanaperspectivasobreaimigração.Dacolonizaçãoàsubstituiçãodemãodeobra,apolíticaimigratóriafoireorientada.ApartirdaProclamaçãodaRepública(1889),ogo-verno paulista promoveu em vários períodos uma política de subsí-dios à entrada de imigrantes com passagens gratuitas até São Paulo (a

5 FREITAS,SôniaReginade.Presença Portuguesa em São Paulo.SãoPaulo:ImprensaOficialdoEstadodeSãoPaulo,2006.p.25-26.

“A Fazenda Ibicaba (Colônia

Vergueiro), antes Engenho de

Ibicaba, localizada no atual município

de Cordeirópolis, a cinco quilômetros

de Limeira, adotou a cafeicultura

por volta de 1828. Até 1840, quando

foram introduzidas 80 famílias

de portugueses, nela trabalhavam

escravos. Considerada pioneira na

introdução de trabalhadores livres pelo

sistema da parceria (a partir de 1847)

nela ocorreu uma revolta em 1857

provocada pelas infindáveis dívidas do

sistema de parceria. [...] Participaram

da revolta de Ibicaba colonos alemães

e suíços, liderados pelo suíço Thomas

Davatz, que veio a ser professor da

fazenda. [...] A situação dos colonos

de Ibicaba foi denunciada na Europa

e as memórias de Davatz tornaram-

se livro. Publicado em 1850, gerou

problemas diplomáticos, levando

alguns países como a Prússia a proibir

a imigração para o Brasil.”5

Históriasda(I)migração

39

Page 40: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

partir de portos europeus), bem como hospedagem e transporte até as fazendas de café.

O desenvolvimento da cafeicultura e as necessidades dela de-correntes transformaramo panorama geográfico, paisagístico, cul-turaledemográficodoestadodeSãoPaulo.Asferroviaspassaramaintegrarregiõesqueanteseramisoladas;grandesáreasdoestadoforamdevastadasparadarespaçoàsplantaçõesdecafé;váriosgru-pos tradicionais, como tribos indígenas e comunidades negras, foram expulsos de seus habitats; comunidades de imigrantes ocuparam a paisagem e impuseram seus hábitos e costumes. Em pouco mais de 70anos,oestadodeSãoPaulo–suacapitaleinterior–passouportransformaçõesquealteraramradicalmentesuapaisagemsocial,eco-nômica, cultural e política.

Figura4:TrabalhadoresnaEstradadeFerro.SãoPaulo,[19--].

40

Ensino&Memória

Page 41: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

A expansão das ferrovias representa uma possibilidade para compreendermos o impacto social produzido pelo crescimento da atividade cafeicultora. Deixaremos para o capítulo seguinte as consi-deraçõessobreaimportânciadaferroviaparaocrescimentourbanoda cidade de São Paulo. Por ora, cabe ressaltar ao menos dois ele-mentos. O primeiro deles, mais concreto e aparente, reside no fato de a malha ferroviária para o interior do estado ter auxiliado na di-namizaçãodaproduçãocafeeiranosentidológicodoaumentodaspossibilidadesdeáreascultivadaseconsequentementeoaumentodaprodução,barateamentodoscustosdotransporte,etc.

Figura5:Colheitadecafé.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

Figura6:Limpezadecafezal.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

Históriasda(I)migração

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Page 42: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura7:“MappadaProvinciadeSãoPaulo”,1886.

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Page 44: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura8:“SchemadaViaçãoFérreaem31-12-1936”.SãoPaulo.

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Page 46: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Há, no entanto, um elemento menos visível, mas igualmente importante:oprocessodedegradaçãodapaisagemnaturalpaulista,causado pelo aumento das áreas cultivadas pelos cafeicultores, pelo surgimentodenovascidadesepovoadosepelaintegraçãoferroviá-ria.Acoberturavegetalentãoexistentefoiemgrandeparteaniqui-ladaesubstituídapelasplantaçõesdecafé.Anaturezacedeuespaçopara os interesses econômicos dominantes à época.

Figura9:Trabalhadoresconstruindoestradadeferro,[S.l.],[19--?].

46

Ensino&Memória

Page 47: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Evidentemente,asgeraçõesatuais têmdificuldadesemavaliaroimpactodacafeiculturaedacolonizaçãonomeioambiente.Du-rantemuitasdécadasfomosinformadosdaideiadeprogressoqueacafeicultura legou ao Estado de São Paulo; entretanto, mais recente-mente,aspreocupaçõescomomeioambientetêmpropiciadooutrosolhares sobre o passado, buscando respostas para as seguintes per-guntas:adegradaçãoambientaléobraapenasdaaçãodoshomensnopresente?ou:emtempospassados,aaçãodoshomenstambémdegradouapaisagem?dequemaneira?

Atualmente,asáreaslitorâneasdoestadodeSãoPaulo–espe-cialmente a parte sul, composta pelo vale do rio Ribeira de Iguape –sãoasquemantêmporçõesmaisextensasdevegetaçãoquenãosofreramaintervençãodocafé.Nessaporçãodoestado,ascondi-çõesparticularesdorelevo(montanhoso)nãoforampropíciasparaasuaplantação.Comoresultado,apesardaentradadeoutrasculturas,comoadoarrozeadabanana,temosamanutençãodeporçõessig-nificativasdeMataAtlânticapreservada.

Figura10:ConstruçãodaSãoPauloRailway.SerradeParanapiacaba,[186-?].

Históriasda(I)migração

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Page 48: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura11:“MappaAgricola”.SãoPaulo,1908.

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Page 50: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Política Imigrantista

A política imigrantista em São Paulovisoubasicamenteainserçãoem massa de imigrantes para o tra-balho na cafeicultura e foi, funda-mentalmente, uma obra do regime republicano. O governo estadual arcava com os custos do transpor-te dos imigrantes desde o Porto de Santosatéseudestinofinal,aspro-priedades dos cafeicultores no in-terior. Cabia também ao governo a realizaçãodapropagandadopaísnaEuropaearesponsabilidadeemfir-maracordosdeemigração/imigra-çãocompaíses comoItália,Espa-nha, Portugal, Alemanha, Japão, etc.

Em certos períodos, em queafaltadebraçosparaalavourafoimais aguda, o governo paulista sub-sidiou, inclusive, as passagens dos imigrantes desde os portos na Euro-

pa até o Porto de Santos. Essa prática não foi permanente durante o período da grande imigração (1880-1920), masrevelavaa influênciadoscafeicultoresnocontextopolíticodaépoca,aqualficouconhecidacomoRepública do Café com Leite.

Passagens subsidiadas, cons-truçãodaHospedariade Imigran-tes,propagandaoficialnoexterior,alémdaspolíticasdepreçomínimopara o café compuseram um con-junto complexode elementosqueformaram a política imigratória no período.Evidentemente,aaçãodogoverno no fomento à imigração

Nos decênios finais

do século XIX, dado o

crescimento da economia

cafeeira, alternativas

pontuais, como a de

Nicolau Vergueiro, para a

substituição da mão de obra

escrava, demonstravam cada

vez menor eficácia. A criação

de uma política imigrantista

foi a alternativa para que a

cafeicultura se desenvolvesse

enquanto carro-chefe da

economia paulista no final

do século XIX e durante as

primeiras décadas do século

XX. Entretanto, uma política

de imigração só se constituiu

na década de 1880.

Entende-se como grande

imigração o período que

compreende o final do século

XIX e o início do século XX,

mais precisamente os anos

1880 aos anos 1910. Nessa

fase, o estado de São Paulo

recebeu aproximadamente 2,8

milhões de imigrantes.

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Ensino&Memória

Page 51: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

produziunovosevariadosfluxosimigratóriosquesedirigiramaSãoPaulo,masque,necessariamente,nãosedestinavamàcafeicultura.Nesteparticular,aimigraçãodesírioselibaneseséexemplar.Porou-trolado,muitaslevasdeimigrantesfixadosnointeriordoestadomi-gravam para a Capital em busca de novas oportunidades de vida e de trabalho.Partesignificativadelesfoiinseridanasatividadesurbanaseindustriaisquesedesenvolviamnacidade.Arelaçãodaimigraçãocomoespaçourbanoserámaisbemtrabalhadanopróximocapítulo.

Figura 12: Reprodução de cartaz empregado pela “KaigaiKogyo Kabushiki Kaisha” para propaganda do Brasil no Ja-pão. [S.l.], [19--?]. .

Históriasda(I)migração

51

Page 52: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Núcleos Coloniais

A política imigratória incluía tam-bémafundaçãodeNúcleosColoniais.Entre os anos 1890 e 1940, a Secreta-ria da Agricultura do Estado de São PauloesteveempenhadanacriaçãodeNúcleos em diversas áreas do estado.Essa colonização apresentava-se comoum instrumento importante na viabili-zaçãodosinteressesdocapitalcafeicul-tor,umavezqueapequenapropriedadeinstalada nos núcleos de colonização– localizados em sua maior parte em regiões próximas a grandes áreas pro-dutoras de café – serviria como reser-va de mão de obra para o trabalho nas

fazendas cafeeiras.AcriaçãodosNúcleosColoniaisnocontextodagrande imigração

precisa ser mais bem explicada. No Estado de São Paulo, a política deimigraçãoseestruturouapartirdanecessidadedeabastecimen-to de trabalhadores para a cafeicultura. Não estava no horizonte de intençõesdeseuspromotoresacriaçãodeumamassadepequenosproprietáriosdeterra,mas,sim,aproduçãodetrabalhadores para o café. Poroutrolado,acriaçãodealgunsNúcleosColoniaisemdetermina-dasregiõese,portanto,oincentivoàpequenapropriedade,nãoeradetodoexcludentenarelaçãocomosinteressesdoscafeicultores.

AlémdosNúcleosColoniais,houveváriasiniciativasdeempre-sasquetambémderamorigemaColônias.Elasloteavamáreasemvárias regiõesdoestadoevendiampequenos lotesaos imigrantes.Destas iniciativassurgiram,noséculoXX,aColôniaholandesadeHolambra(nosanos1940),próximaaCampinas,eaColôniajapo-nesa de Registro (nos anos 1910), no vale do rio Ribeira de Iguape, entremuitasoutras.DiferentementedosNúcleosColoniais,asCo-lônias–oriundasdainiciativaprivada–nãotiveramcomoobjetivocriar um reservatório de mão de obra para a cafeicultura; a grande oferta de terras a preços baixos fazia comquemuitos grupos in-

O termo “Núcleo

Colonial” designa as

iniciativas oficiais de

colonização. O termo

“Colônia” é mais ambíguo

na medida em que pode

identificar tanto as

áreas de colonização da

iniciativa privada quanto

o conjunto de moradias

e áreas anexas nas quais

residiam os trabalhadores

(colonos) no interior das

grandes propriedades.

52

Ensino&Memória

Page 53: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

vestissemnaespeculaçãofundiária,residindoaíseumoteprioritário.Elesadquiriamporçõesdeterrasqueeram,posteriormente,loteadase vendidas.

Emambososcasos,tantoosNúcleosColoniaiscomoasColô-niaseramumaalternativaparaqueosimigrantespudessemadquirirumapropriedadeereproduzirummododevidacamponêsquenãofosse completamente atrelado aos interesses dos cafeicultores. Havia aindaoutraformadeColônia,queerarepresentadaporaglomeradosdepequenascasasdentrodasfazendas.Elasfaziampartedocomple-xodeproduçãodocafé,eseusresidenteseramtrabalhadorescujasatividades eram direcionadas para as necessidades da cafeicultura. Emalgunscasos,haviaespaçosparaqueostrabalhadorespudessemtambém plantar gêneros alimentícios para o consumo familiar.

Figura13:ColônianointeriordoEstadodeSãoPaulo,1923.

Históriasda(I)migração

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Page 54: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura14:LocalizaçãodacolonizaçãooficialemSãoPaulo,16ago.1958.

Page 55: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Colonias do ImperioColonias do Governo Federal

Colonias do Governo Estadoal

Estradas de Ferro

LEGENDA

Page 56: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura15:“Procuradeterrasemnucleoscoloniaes”.SãoPaulo,27dez.1906.

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Ensino&Memória

Page 57: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

7 PAIVA,OdairdaCruz.Colonização e (Des)Povoamento.SãoPaulo:Pulsar,2002.

Figura16:TítulodePropriedade.SãoPaulo,2abr.1906.

Os Núcleos Coloniais cumpriam uma função importante no contexto

de hegemonia da cafeicultura não só porque respondiam ao horizonte de

interesses de muitos imigrantes em se tornarem donos de suas próprias terras,

mas também pelo fato da produção ali desenvolvida (gêneros alimentícios) ser

necessária para os trabalhadores da cafeicultura. Alguns Núcleos Coloniais

fundados nas proximidades da Capital contribuíam para o abastecimento

da cidade, embora, neste caso, também houvesse inúmeras chácaras que

tradicionalmente produziam alimentos para a população urbana.7

Históriasda(I)migração

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Page 58: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

A Hospedaria de Imigrantes do Brás

Osnúmeros que registram a entrada de estrangeiros em SãoPaulono iníciodoséculoXIXforambastantediminutos secom-paradosaosdofinaldomesmoséculoeprimeirasdécadasdosé-culoXX.Entre 1827 e 1886, entraram somente 53.517 estrangei-ros em São Paulo, uma média de menos de mil imigrantes por ano. Comoconsequência, os serviços dehospedagemdedicados a elesforam marcados pela precariedade, inclusive pela falta de interes-sespolíticoseeconômicosqueviabilizassemamontagemdeumaestruturaadequada.

Emjunhode1886,nogovernodeAntoniodeQueirozTelles,naépocaBarãodeParnaíba,iniciaram-seasobrasdeconstruçãodaHospedariadeImigrantesdoBrás.Em1887,antesmesmodees-tar concluída, a Hospedaria recebeu o primeiro grupo de imigrantes devidoaumaepidemiadevaríolanoalojamentodoBomRetiro.OserviçodeimigraçãofoiapressadamentetransferidoparaoedifíciodoBrás em5de junhode 1887, comapenas uma terçaparte doedifício concluída. As obras só terminaram em 1888, e o edifício foi inauguradonaquelemesmoano.

Figura17:“HospedariadeImmigrantes”.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

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Ensino&Memória

Page 59: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura18:“HospedariadeImmigrantes”.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

Figura19:“HospedariadeImmigrantes”.SãoPaulo,[19--?].

Históriasda(I)migração

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Page 60: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura20:DormitóriosdaHospedariadeImigrantes.SãoPaulo,[19--?].

Figura21:Granderefeitório.SãoPaulo,[19--?].

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Page 61: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Aconstruçãodeumanovahospedariatornava-seindispensável.Com a abertura da concorrência, em 1886, a comissão incumbida de escolheroterrenoparaaconstruçãodaobratinhaduasopções:umterreno ao lado da estrada de ferro São Paulo Railway e o terreno do ConventodaLuz,nobairrodemesmonome,queforadesapropria-dopeloGovernoProvincial.VenceuoargumentodequeobairrodaLuznãoseprestavaaserumalojamentodeimigrantes,masqueeledeveriaser“aformoseado”,umavezqueparaláacorriaapopulaçãomais abastada da cidade. No seu entor-no já seconstruíamospalacetesdobairro dos Campos Elíseos.

A escolha do bairro do Brás paraaconstruçãodaHospedariafoiestratégica. Ali se dava o cruzamen-todostrilhosdasduasferroviasqueserviamacidadedeSãoPaulo:aan-tiga Central do Brasil, vinda do Rio deJaneiro,eaSãoPauloRailway,quevinha de Santos, cidades em cujosportos desembarcavam as levas de imigrantes. Ao mesmo tempo, a con-duçãodosimigrantesparaointeriorfoi facilitada, pois a cidade de São Paulo era o ponto de partida de todas asferroviasqueconduziamparalá.1

Alguns números da imigração

Como vimos, a política imigratória e o desenvolvimento da ca-feiculturaestavamrelacionadosaoprocessode internacionalizaçãodaeconomiabrasileira.Oesforçoempreendidopelogovernoparaafixaçãodeimigrantescolocavaopaísnumcircuitomaisamplo,queenvolveuavindademilhõesdepessoasparaocontinenteamericano.ApartirdoséculoXIX,aimigração(europeia,notadamente)parao

8 PAIVA, Odair da Cruz; MOURA, Soraya. Hospedaria de Imigrantes de São Paulo.SãoPaulo:PazeTerra,2008.p.22.

Num terreno de 34 mil

metros quadrados, o prédio

(com cerca de 10 mil

metros quadrados de área)

foi erguido em forma de E,

de acordo com projeto do

engenheiro alemão Antonio

Martins Haussler, exibindo

uma mistura de estilos.

Estava dimensionado para

receber 3 mil imigrantes,

mas houve períodos em que

abrigou mais de 8 mil.8

Históriasda(I)migração

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Page 62: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

continenteamericanoconstituiu-seenquantoumfenômenodegran-desproporções:quase50milhõesdepessoascruzaramoAtlânticoentre 1820 e 1914.

Tratava-sedeumaimigraçãoconstituídamajoritariamenteporpopulaçõesprovenientesdaEuropa.Neste“fazeraAmérica”,umcompasso entre formas de desenvolvimento econômico desiguais e combinadas produziu uma Europa expulsora e também o seu con-traponto:umaAméricaatrativa.Destecontingente,osEstadosUni-dosreceberamamaiorparte(35milhões),seguidodoCanadá(5,6milhões),daArgentina(4,6milhões)edoBrasil(3,3milhões).

As razões para o êxodo de milhões de europeus duranteo séculoXIXeprimeiras décadas do séculoXX são tão variadasquanto a diversidade de realidades (sociais, políticas, econômicas,étnicaseculturais)quecompunhamaEuropa.Criseseconômicas,modernização da agricultura, aumento da população, industriali-zação ou transformações políticas são elementos que explicam asnecessidades de emigrar.

Emtermosmuitoamplos,ascausasdaemigraçãodeportugue-seseespanhóispodemserbastantediferentesdasqueformaramoêxododeitalianos,alemãesesuíços.Emcadaumadessasrealidades,umconjuntoparticulardefatorescontribuiuparaquemuitaspessoastomassemadecisãodeabandonarseuslugaresdeorigem.Épreci-sonotartambémquehá–nosdeslocamentospopulacionais–uma

Imigraçãoparaocontinenteamericano(1820-1914)Principais países receptores

Figura22:TabelaelaboradaapartirdedadosdisponíveisnoBoletim do Departamento de Imigração e Colonização(p.139-140),daSecretariadeAgricultura,IndústriaeComér-cio.SãoPaulo,dez.1950.

62

Ensino&Memória

Page 63: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

pluralidadede fatores, inclusive asmotivações,que são,porvezes,subjetivaseparticulares.Elaspodemterounãoconexõescomoscontextos sociais mais amplos.

NocasodoestadodeSãoPaulo,apresençadeimigrantesoriun-dosdaEuropalatinafoimajoritária.Pelaordemdevolume,osmi-grantesquemaisentraramforam:italianos,portugueseseespanhóis.Aquartacorrentemigratóriademaiorexpressãofoiadosjaponeses.Os registros sobre as entradas de imigrantes no estado de São Paulo nãodetalham–comrarasexceções–aschegadasdasdiversasnacio-nalidades por períodos mais limitados (décadas, por exemplo).

Figura23:“ImmigrantesentradosnoestadodeSãoPaulose-gundoasnacionalidades–1827-1936”,out.1937.

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Osdadosgerais,queabrangemporvezestrês,quatrooumaisdécadas, mascaramadinâmicadosfluxosmigratóriosdeumamaneirageral e, também, a intensidade da entrada de determinada corrente imigratória.Entre1886e1915,poucomaisde2,8milhõesdeestran-geiros10 adentraram o estado.2

Comoexemplo,apesardaimigraçãoalemã ter sido pioneira no estadodeSãoPaulo,omaiorfluxodeentradadeimigrantesdessanacionalidade ocorreu entre os anos 1920 e 1930, período de maior intensidadedacrisequeseabateunaquelepaísapósaderrotanaPri-meira Guerra Mundial. Nesse período, o ano de 1924 registrou um picode22.500imigrantesentrados.Nasimagensaseguirépossívelumacomparaçãocomaentradadeimigrantespoloneseseitalianos.

10 SECRETARIADAAGRICULTURA,INDÚSTRIAECOMÉRCIO.Boletim do Departamento Estadual do Trabalho,SãoPaulo,ano17,n.69,4ºtrim.1929.

Figura24a:Imigrantesalemãesentradosentre1885e1935.SãoPaulo,out.1937.

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Figura24b:Imigrantespolonesesentradosentre1885e1935.SãoPaulo,out.1937.

Figura24c:Imigrantesitalianosentradosentre1885e1935.SãoPaulo,out.1937.

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Outroproblemaaseconsideraréograndenúmerodeimigran-tesquenãosefixaramnopaís.Comoexemplo,algunsdadossobreaquantidadedeimigrantesqueentrarampeloPortodeSantosentre1908e1926.Deumtotalde829.788,foramregistradas464.856sa-ídaseumsaldode364.932imigrantesfixados,ou44%dototal.Osvalores absolutos das entradas não só pelo Porto de Santos como também por outros portos – como o do Rio de Janeiro, do Rio Gran-de (RS), de Paranaguá (PR), entre outros – devem ser relativizados e sempre considerados como indicativos de entradas, mas nunca como númerosdefixaçãoefetiva.

Índices relativamente altos de saídas também estão presentes em paísescomoaArgentinaeosEstadosUnidos.Assaídasnãosignifi-cavam, necessariamente, um retorno dos imigrantes a seus países de origem.MuitosdosimigrantesqueaportaramnoBrasilemigravampara a Argentina ou Uruguai, e vice-versa. Essa mobilidade demons-traqueosprocessosdedeslocamentonopassado–etambémnopresente–não se resumemao êxodo e àfixação.Atualmente, há

Figura 25: “Movimentomigratorio pelo Porto de Santos, no periodo de 1908 a1936”.SãoPaulo,out.1937.

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cada vez mais lugares de “saída” ou de “êxodo”. A chegada do imi-granteaoBrasilpodetersidoprecedidademomentosdefixaçãoemoutros lugares.

Imigração: positividade e negatividade

SegundoLuizaHornIotti,em1890,doisanosapósaaboliçãodaescravidãoejásoboregimerepublicano,ogovernobrasileiroedi-touumdecretoqueregularizavaaentradaefixaçãodeimigrantesnopaís.Tratava-sedoDecreto528,de28dejunhode1890.

Oart.1º.doreferidodecretoexplicitavaqueeralivreaentrada,nosportosdaRepública,“dosindivíduosválidoseaptosparaotrabalhoquenãoseacharemsujeitosàaçãocriminaldoseupaís, excludentes os indígenas da Ásia, ou da África que somente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admitidos de acordo com as condições que forem então estipuladas. (grifos nossos).1113

ImportantesalientarqueesseDecretopraticamenteimpediaaentradadenegrosafricanosoudosindivíduosde“raçaamarela”pro-venientes da Ásia. O “espírito da lei” ia ao encontro de um debate so-breapositividadeda“raçabranca”paraaformaçãosocialbrasileira.Como vimos no início deste capítulo e também no capítulo anterior, apresençadoestrangeiroemsolopátriofoitemacontroverso.NofinaldoséculoXIX,ainserçãodoimigrantenocontextonacional–particularmentenasregiõesSuleSudeste–revelouumdebatequetranscendeuasrazõeseconômicasparasuavindaefixação,colocan-doaquestãodaimigraçãonumpatamar,digamos,cultural.

O povo brasileiro visto por suas elites, aproximava-se do atraso edabarbárie,enquantooquesetinhaemvistaeraalcançaroprogressoeacivilização.Talquestionamentoacaboulevandoaumaidentificaçãodobrasileiropelaausênciadoqueseesperavaqueelepudesseser,ouseja,poraquiloquelhefaltava.

11 IOTTI, Luiza Horn. Imigração e Poder.Apalavraoficialsobreos imi-grantesitalianosnoRioGrandedoSul(1875-1914).CaxiasdoSul:Educs,2010.p.227-8.

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A desqualificação do brasileiro pobre serviu, portanto,para a valorização do imigrante e para a justificação de umadeterminadapolíticadeimigraçãoimpregnadadepreconceitos,definidaou resultantedeuma tensãopermanente, provocadanãosópeloprocessoquelevouàescolhadobrancoeuropeu,mastambémpelapreocupaçãodecomocontrolaresubmeterà um trabalho árduo, contínuo e disciplinado, amplas parcelas dapopulação,fosseelaimigrante,nacional,branca,mestiçaounegra.1214

As passagens acima foram extraídas do trabalho de Márcia Regina Capelari Naxara e revelam outras intencionalidades quecompuseram a política imigratória.Naquelemomento, pensado-rescomoSilvioRomero(1851-1914),RaimundoNinaRodrigues(1862-1906),OliveiraVianna(1883-1951),entreoutros,avaliavamcomopositivaaimigraçãodebrancos.Elateriaafunçãodeimporumaatualizaçãohistóricanasociedadebrasileira, igualando-aaospadrõesétnicosesociaiseuropeus,considerados,então,comopa-radigmadecivilização.5

As teorias eugênicas, muito em voga na época, consideravam a socie-dade como um imenso laboratório. Para os eugenistas, poderiam ser aplica-das várias estratégias para a “melhoria daraça”;dentreelas,aintroduçãoemmassa de elementos brancos faria com que,numcerto tempo,houvesseumbranqueamento dapopulaçãobrasileira.Para tal, seria necessário impedir a in-troduçãode indivíduosnegros e amare-

12 NAXARA, Márcia Regina Capelari. Estrangeiro em sua própria terra. Representações do brasileiro. 1870-1920. São Paulo: Annablume; Fapesp,1998. p. 18; 49.13 Excerto extraído do livro Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues apud LEITE, Dante Moreira. O Caráter Nacional Brasileiro.SãoPaulo:Pioneira,1983.p. 238.

“A Raça Negra no Brasil,

por maiores que tenham

sido os seus incontestáveis

serviços à nossa civilização,

por mais justificadas que

sejam as simpatias de

que a cercou o revoltante

abuso da escravidão [...]

há de se constituir sempre

um dos fatores de nossa

inferioridade como povo.”13

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los,consideradospertencentesa“raças inferiores”.Otermoeugenia foicriadoporFrancisGalton(1822-1911),queodefiniucomo“aciênciaquetratadaquelasagênciassociaisqueinfluenciam,mentaloufisicamente,asqualidadesraciaisdasfuturasgerações”14.

Asrazões culturais e econômicas foram aproximadas, criando um campodepositividadequesecontrapunhaaumcampoconsideradonegativo, composto pelo trabalhador nacional. Segundo Carlos José Ferreira dos Santos,

[...] cabe ressaltar que os grupos paulistanos dominantespreferiramostrabalhadoresestrangeiros,entreoutrasexplicaçõese apesar de o “desconhecido assustar” [...] visando não só uma qualificaçãono sentidodeumamotivaçãoqueconduzisse aotrabalho intenso, mas produzindo um comportamento regrado, moralizado, disciplinado e civilizado, para a manutenção dasdiferenças sociais e a criação de uma metrópole com umapopulaçãobranca,seguindoomodeloeuropeu.1516

Sabemosqueosimigrantesnãoforamrecebidosdemaneiratãoacolhedora.Quandodeslocamosaanálisedaimigraçãoparaoqueeravividocotidianamentepelosestrangeiros,percebemosasinúme-rasdificuldadesqueestestiveramparasuafixaçãoemnossopaís.OcasodarevoltaemIbicabaéapenasumdentreinúmerosexemplosdos problemas enfrentados pelos imigrantes. Houve, portanto, um descompasso entre o discurso de políticos, empresários e mesmo cientistasquepregavamapositividadedaimigraçãoeascondições(defixação,econômicasedetrabalho)encontradaspelosimigrantesno Brasil.

Em grande medida, imigrantes e trabalhadores pobres nacionais (fossem eles brancos, negros ou mulatos) partilharam as mesmas di-

14 GALTON, Francis. Restriction in marriage. Sociological Papers, n. 2, 1906,p.3apudDELCONT,Valdeir.FrancisGalton:eugeniaehereditariedade.Scientiae Studia,SãoPaulo,v.6,n.2,abr./jun.2008.Disponívelem:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-31662008000200004&script=sci_arttext>. Aces-soem:3dez.2012.15 SANTOS,CarlosJoséFerreirados.Nem Tudo era Italiano. São Paulo e Pobreza(1890-1915).SãoPaulo:Annablume;Fapesp,1998.p.62-3.

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ficuldadesdetrabalhonocampoetambémnascidades,comovere-mos no próximo capítulo.

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O território urbano: construção e transformações

DesdeofinaldoséculoXIX,aimigraçãoeacidadedeSãoPau-losãoelementosque,numprimeiroolhar,sugeremhomogeneida-deecomplementaridade.Urbanização, industrialização,pluralidadecultural e étnica, dinamismo econômico, movimentos sociais, novos sentidosparaaarteearquiteturaconfiguramumquadroderepre-sentaçõesdacidadeassociadasàpresençaeàscontribuiçõesdosimi-grantesnaconstruçãodoespaçourbano.

Territóriopluralepaisagemdiversa,espaçomarcadopelapre-sençadas“idadesdahistória”,encontramosemsuasruas,bairros,edifícios e em seus habitantes uma cidade em constante movimento. Produzidaporondasmigratóriasquese somameseadensamemcamadas heterogêneas, São Paulo é o produto de deslocamentos hu-manosquefazemcomqueelaestejaemcontínuatransformação.

Ainteraçãoentreosimigranteseoespaçourbanonãofoihar-moniosa.Se,porumlado,aproduçãodacidadeestevecompassa-dacomadinâmicadosdeslocamentos, induzindosimbioses,com-plementaridades e sociabilidades, por outro, criou estranhamentos, crisesecontradições.Operários,camponesesegressosdasfazendasde café, comerciantes, mascates, artesãos, cozinheiras, donas de casa,

ImigrantesemSãoPaulo:territórios, disputas e

solidariedades

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trabalhadorasdatecelagem,europeus,japoneses,sírio-libaneses,nor-destinos–geraçãoapósgeraçãoessessujeitosconstruíramumacida-de admirada e temida, singular e plural; uma cidade como outras, mas diferente de todas elas.

RefletirsobrearelaçãoentreaimigraçãoeocontextourbanodacidadedeSãoPauloentreofinaldoséculoXIXeasprimeirasdécadasdoséculoXXésedepararcommúltiplosdesafios.Paraenfrentá-los,devemosconcebernoplanomentalumatotalidadesocialqueestavaemconstantemovimento,portadorademúltiplastemporalidadeseeivada por disputas nos mais diversos planos de sua vida social. A imigraçãoimplicouafixação–poraomenostrêsdécadasseguidas–desucessivasevolumosaslevasdehomens,mulheresecriançasnapaisagemurbana,osquaisencontraramumcontextourbanomarca-dopelocrescimentoterritorial,pelamodernizaçãodainfraestruturadacidadeepeladiversificaçãodasatividadeseconômicas.

OprimeirodesafioresidenofatodequeessasimbioseentreaimigraçãoeocrescimentourbanoemSãoPauloresultouemumarepresentaçãonaqualosurgimentodaSãoPaulomodernaestariadiretamente ligado à presença e ação dos imigrantes no contextourbano.Nessaperspectiva,aproduçãodoespaçourbanoteriaumagenteprivilegiado–oimigrante–,eacidadeseriaoobjetodessaação.Comovimosnocapítuloanterior,arepresentaçãodacidadedeSão Paulo como um “território vazio” ocultou a existência de outros sujeitossociais,assimcomosuaintegração.

Osegundodesafioconsisteemcompreenderasinúmerasdifi-culdadeseproblemasencontradospelosimigrantesquandodesuafixaçãonacidade.Comosabemos,amoradiaprecária,acarestiadealimentos,osbaixossalárioseascondiçõesdetrabalhoporvezesde-sumanasfizerampartedocotidianodamaioriadosquenelasefixa-ram.Essasdificuldadeseproblemasrevelamqueastransformaçõesoperadasnoespaçourbanorespondiamàsnecessidadeseinteressesdeoutrossujeitosquenãoapenasosimigrantes.

Ambososdesafiosrevelamque,paracompreendermosarela-çãodaimigraçãocomacidadenasprimeirasdécadasdoséculoXX,devemosteremcontaaproduçãodeumespaçourbanomarcadoporconflitosecontradições;algonãomuitodistante–emboracomca-racterísticasparticulares–dosconflitosqueenvolveramimigrantese

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cafeicultoresequeforamapontadosnocapítuloanterior.Guardadasasdevidasproporções–especialmenteodistanciamentotemporal,ascondiçõeseconômicasemesmoastransformaçõessociaisepo-líticas–,arepresentaçãoquetemosnopresentesobreacidadedeSãoPaulocomoumterritóriopermeadopor inúmerosproblemas(ambientais,demoradia,transportepúblico,etc.)porvezesinduzaumapercepçãoequivocada,naqualessesproblemassãoexclusivosdo tempo presente e a “São Paulo antiga” se torna um reduto pacato e até mesmo bucólico.

Aproduçãodeumespaçourbanomarcadoporconflitosecon-tradições pode ser compreendidaem sentido amplo pela noção de“modernizaçãoconservadora”.NoBrasildapassagemdoséculoXIXparaoséculoXX,aaboliçãodaes-cravidão, aproclamaçãodaRepú-blica e o incremento da cafeicultura foram processos (sociais, políticos e econômicos) que, a princípio,apontavam para a superação denossopassadocolonial,monárqui-co e arcaico. Esses mesmos pro-cessos, no entanto, não abalaram as bases do poder político, resultando emmudançaspouco significativasnas relações entre o Estado e asociedade.O que percebemos foiumintensoconjuntodemudanças–dentre as quais amodernizaçãodascidadeseaimigração–que,aotransformarem radicalmente a pai-sagem, conferiam um sentido ape-nasaparentedequearupturacomopassado de fato estava sendo realizada.

A“modernização”nãoimplicouaradicalizaçãodedireitosso-ciais,políticoseeconômicosparaamplossetoresdapopulação,fatoquegerouumanovarealidadesocialque,entretanto,perpetuavasob

As primeiras décadas da

República foram permeadas

por intensos e inúmeros conflitos

sociais. Da Revolta da Vacina

(1904) ao Levante do Forte

de Copacabana (1922), da

Coluna Prestes (1926) à Greve

Geral em São Paulo (1917), da

Revolta da Chibata (1910) ao

Movimento de Canudos (1896-

97), esses conflitos podem

ser analisados dentro de um

panorama de descompasso

de expectativas criadas, por

um lado, pela aceleração do

tempo histórico e as suas

potencialidades de ruptura com

o passado, e, por outro, pelo

controle e impedimento dessas

mesmas potencialidades.

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outros signos velhas formas de dominação social1. Nesse sentido, operou-senapassagemdoséculoXIXparaoséculoXX,especial-mente no contexto urbano das grandes cidades brasileiras, como São PauloeRiodeJaneiro,umprocessode“modernizaçãoconservado-ra”,queacarretouadisputadeconcepçõesdiferenciadasoumesmoopostasnoqueserefereàconstruçãodoespaçourbano.

Énesse quadro amplo que devemos inserir a relação entre aimigraçãoeastransformaçõesnacidadedeSãoPaulo.Issonoslevaaumterceirodesafio:odeescolherquaisaspectosdessarelaçãode-vem ser analisados. Num contexto de movimento em movimento, como explicitado nos parágrafos anteriores, a escolha de momentos darelaçãoentreosimigranteseacidadeimplica,evidentemente,oocultamentodeoutrasdimensõespossíveis.

Faremosumaescolhaqueincidirásobredoismomentosoudi-mensõesdessarelação,buscando,apartirdelas,revelaraspectosdeumaproduçãodoespaçourbanopermeadoporcontradiçõesedis-putas, e também por acordos e solidariedades. No primeiro deles re-alizaremos uma breve análise sobre o crescimento espacial da cidade ecomoeleacarretouaproduçãodeterritóriosemobilidades,dadasafixação,oêxodoeasucessãodeocupaçõespordiferentesgruposdeimigrantes.Paraisso,utilizaremostrêsescalas:acidadeemsentidoamplo, o bairro da Liberdade e o cotidiano urbano na perspectiva dos imigrantes. No segundo momento, analisaremos o surgimento das escolas comunitárias criadas por grupos de imigrantes e as esco-lasanarquistas.Essasformasdeescolarizaçãoemergiramdocampoprecáriodaeducaçãopúblicanoperíodocomovertentesdoensinoeespaçosdesolidariedades,resistênciasculturaisepolíticas.

Ambososmomentostêmporobjetivoexplicitarcomoainser-çãodosimigrantesemdeterminadosespaçossociaisfoireveladoradecontradições,disputasesolidariedadesnumcontextourbanomar-cadoporrápidastransformações.

1 Sobreestaquestão,verCARVALHO,JoséMurilo.Cidadania no Brasil:olongocaminho.RiodeJaneiro:Ed.CivilizaçãoBrasileira,2005.

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Ocupação territorial na cidade de São Paulo e suas escalas: da cidade ao bairro

A Cidade

OpadrãodeocupaçãoterritorialdacidadedeSãoPaulocon-solidou-sepormeiodeumconjuntodetransformaçõesocorridasapartir dos anos 1880 até os anos 1930/40. Em linhas gerais, é possí-velafirmarmosqueoscontornosterritoriaisaindarestritosdacidadeemfinsdoséculoXIXmodificaram-sedeformasignificativaapartirdeentão,acirrandoetornandomaiscomplexasascontradiçõesurba-nas até os dias atuais.

ParaRaquelRolnik2,aquiloque,numprimeiroolhar,avaliamosno presente como desordem urbana ao presenciarmos o processo intensodefavelização,carênciasnainfraestruturadesaneamentobá-sicodemuitosbairrosdaperiferiadacidade,ineficiênciadaestruturadetransporteedosequipamentospúblicos(comoescolasouhospi-tais),loteamentosclandestinos,degradaçãoambiental(comoaterrossanitários em áreas de mananciais), etc., tem origem, na realidade, numaordemurbanísticacujocerneresidenumpactoterritorialqueordena o desenvolvimento da cidade.

Naquelemomentohouveumprocessodeproduçãopolíticanacidade.AhistóriadaapropriaçãodoespaçourbanoemSãoPaulosempre guardou contradições;muitas delas giraram em torno dosinteressesdeummercadoimobiliáriodual.DesdearedefiniçãodoCódigodePosturasem1886,aproibiçãodaconstruçãodecortiçosna região central da cidade apontava para a tendência em alocar a po-pulaçãopobrenaperiferiaeemutilizarazonacentralcomoespaçodeapropriaçãodosgruposmaisabastados.

Segundo essa lógica, bairros como Campos Elíseos e Higienó-polis, ou áreas como a região da Avenida Paulista, surgiram a partir dosanos1870/1890seguindoumpadrãodeocupaçãourbanavol-tado para as elites – com ruas arborizadas, lotes grandes e de ocupa-çãoexclusivamenteresidencial.Poroutrolado,bairroscomooBrás,Bom Retiro, Mooca, Lapa ou Ipiranga, relativamente próximos do centro da cidade, contrastavam com os primeiros. Frutos de um pro-

2 ROLNIK,Raquel.A Cidade e a Lei.Legislação,políticaurbanae ter-ritóriosnacidadedeSãoPaulo.SãoPaulo:StudioNobel;Fapesp,1997.

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Figura26:PlantadacidadedeSãoPaulomostrandotodososarrabaldeseterrenosarruados.Áreaurbana.SãoPaulo,jul.1924.

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cessodeocupaçãopoucoordenado,criaramumpadrãonoqualca-sas,casebresecortiçosconviviamladoaladocomgrandesindústriasoupequenasfábricas.Essesbairros,

[...] foram loteados e cresceram rapidamente, marcados por uma paisagem de fabriquetas, casebres, vilas e cortiços; porvoltade1901encontram-senessesnúcleos,asindústriasmaisexpressivas, convivendo lado a lado [com] um incalculável número de tendas de sapatarias, mercearias, fábricas demacarrão, graxas, óleos, tintas, fundições, tinturarias, fábricasde calçados, roupas, chapéus, alémde ateliês domésticos queproduziam alimentos, bebidas e produtos químicos comosabõesevelas.3

Criou-seumalegislaçãourbanaquereconheceudiferentespa-drõesdeocupaçãodosoloe,consequentemente,produziuformasvariadas de relações dos habitantes com a cidade, propondo umaalternativa conservadora para administrar os interesses divergentes dosgrupossociaisqueconviviamnoespaçourbano.Operários,imi-grantes,gruposdefixaçãoantiga(comoacomunidadenegra),indus-triais e a elite tradicional inseriram-se num contexto social complexo e permeado por contrastes.

A grande transformação que ocorreu na cidade do café foi,semdúvida, a configuração de uma segregação espacialmaisclara: territórios específicos e separados para cada atividadeecadagruposocial. Isso sedeupormeiodaconstituiçãodebairrosproletáriosedosloteamentosburgueses,daapropriaçãoe reforma do centro urbano pelas novas elites dominantes e daaçãodiscriminatóriadosinvestimentospúblicoseregulaçãourbanística.4

NaliteraturasobreaocupaçãodacidadedeSãoPauloentrefinsdoséculoXIXeiníciodoséculoXX,encontramosregistrosdedi-

3 ROLNIK,Raquel.A Cidade e a Lei.Legislação,políticaurbanae ter-ritóriosnacidadedeSãoPaulo.SãoPaulo:StudioNobel;Fapesp,1997.p.78.4 Idem.. São Paulo.SãoPaulo:Publifolha,2009.p.18.

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versos surtos de epidemias, como cólera, tifo ou ainda febre-amarela, e,igualmente,arecorrênciadeumdiscursohigienistaquepensavanaassepsiaurbanacomoalternativaparaaresoluçãodosproblemasdacidade5.Em1893,o“RelatóriodaComissãodeExameeInspeçãodasHabitaçõesOperáriaseCortiçosdeSantaIfigênia”alertavaparaaspéssimascondiçõesdemoradianodistritoesuapropensãoàpro-pagaçãodedoenças6.

Éimportanteressaltarqueaalternativadeumaconcepçãodualdaocupaçãodoespaçourbanoemesmodacidadaniacomportousoluçãoeficazdopontodevistadaengenhariaurbananaperspecti-vadaselites.Estudosmaisrecentesapontamparaofatodequenamaioriadosbairrospaulistanos,narealidade,houveumaocupaçãomista,enãoaproduçãodeespaçosinteiramentehomogêneos,ocu-padosporumaúnicaclassesocial.

5 NoprocessodeurbanizaçãoemSãoPaulo,entreofinaldoséculoXIXeiníciodoséculoXX,émuitocomumencontrarmosnaliteraturamençõessobreaaçãodossanitaristasnaassepsiadossurtosdedoençasquegrassavampelacidadedetemposemtempos.Ver,particularmente,ROLNIK,Raquel.A Cidade e a Lei. Legislação,políticaurbanaeterritóriosnacidadedeSãoPaulo.SãoPaulo:StudioNobel;Fapesp,1997eBONDUKI,Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Ar-quiteturamoderna,leidoinquilinatoedifusãodacasaprópria.SãoPaulo:EstaçãoLiberdade; Fapesp, 1998.6 A obra de Maria Auxiliadora Guzzo De Decca representa um bom exemplodecomoa“vidaforadasfábricas”engendravasituaçõescotidianasquecolocavam,deformaexplícita,asrelaçõesentreosgruposnessesestreitoslimitesda cidade. Cf. DE DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A Vida Fora das Fábricas. CotidianoOperárioemSãoPaulo,1920-1934.RiodeJaneiro:PazeTerra,1987.

Figura27:A“influenzahes-panhola”. São Paulo, 1º nov. 1918.

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Figura28:“FestaemAcçãodeGraçaspelaextincçãodaepidemiaemCampoLim-po”.10deMaiode1896.CampoLimpo,jun.1896.

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Um caso pitoresco, narrado por muitos dos antigos morado-res do bairro do Brás e elucidativo dessa questão, ocorria no footing realizadoaté1950pelasoperáriasemoçasdaclassemédianaAveni-da Celso Garcia, no mesmo bair-ro. Nas tardes de domingo elas faziamseuspasseiosporcalçadasopostas da mesma avenida; havia umcódigopeloqualosdoisgru-pos não se misturavam. Apenas os rapazestinhamlivretrânsitopelosdois lados da avenida.

O crescimento da cidade no período apresentava disputas re-ferentesàocupaçãoespacial.ASãoPaulomodernaemergiaenquantoterritóriomarcadoporhierarquias,segregaçõeseprivilégiosnaaplicaçãodaspolíticaspúblicas.Nessecontexto, os imigrantes representavam parcela importante das classes populares na cidade e, evidentemente, enfrentavam as precárias con-diçõesecontradiçõesdavidaurbana.

Habitaçõescoletivascomooscortiçoseramextremamenteco-muns na São Paulo de então e representavam uma possibilidade de moradiabarataparaparcelasignificativadosoperáriosdasindústrias.Aexistênciadeespaçosdeusocomum,comobanheirosoulocaisparalavagemesecagemderoupas,aliadaacubículosqueserviamdedormitório, cozinha e sala ao mesmo tempo, transformava os corti-çosnumespaçoagregadordeumgrandenúmerodepessoaseerafundamental para os interesses capitalistas do setor rentista. O corti-çorepresentavaaotimizaçãodarendadaterra,dadaaaltadensidadepopulacionalnumaárearelativamentepequena.

Mesmocondenadoseameaçadosdedemoliçãopelopoderpú-blico, desde o Código de Posturas de 1886, especialmente nos perío-dosdeepidemias,oscortiçosexpressavamumadualidadedeinteres-ses.Dopontodevistadascondiçõesdehabitação,édesnecessárionosalongarmossobreasuapéssimaqualidade;todososdiscursos

Aos estreitos limites da

cidade, do ponto de vista social,

associavam-se os limites também

exíguos de sua territorialidade.

Em certa medida, a segregação

social não se efetivava

plenamente do ponto de vista

espacial. Havia ainda muitos

pontos de entrecruzamento

entre a elite e o povo, de forma

que, em alguns bairros, a

convivência social entre esses

diferentes grupos era inevitável

e, obviamente, pouco harmônica.

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contráriosaessetipodehabitação,tantonaperspectivadossanitaris-tasquantonadaelitepaulistana,produziramintervençõesdepoucamagnitudeparaahabitaçãopopular.DeacordocomNabilBonduki,operiódicoanarquistaFanfullaestimavaqueumterçodashabitaçõesnacidadedeSãoPauloeracompostoporcortiços7.

A existência de vilas operárias em bairros como Brás, Mooca, Lapa, Ipiranga e outros não comportava, por seus próprios limites e custo dos aluguéis, uma alternativa para a maior parte dos traba-lhadores urbanos. Mesmo sendo reconhecidas como modelo mais adequadodehabitação,elaseramerigidassegundoosinteressespon-tuaisdesteoudaquelecapitalistadefábricaoudaconstruçãocivil,de-monstrandoqueocapitalindustrialnãotinhainteresseemexpandirsuaatuaçãoparaumaáreadominadapelocapitalrentista.

Aomesmotempo,a resoluçãodesseproblemanãoestavanohorizontedopoderpúblicoatéosanos1920.

7 BONDUKI,Nabil.Origens da Habitação Social no Brasil.Arquiteturaur-bana,leidoinquilinatoedifusãodacasaprópria.SãoPaulo:EstaçãoLiberdade;Fapesp,1998.p.54.

Figura29:“Tipodecasaoperaria(CondiçõesMínimas)”.SãoPaulo,5maio1942.

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Construir casas, “assumindo o papel de capitalista” era incompatível com a concepção liberal doEstado vigente até1930.Assim,duranteaPrimeiraRepública,privilegiou-seapenaso incentivo aosparticulares.As conclusõesdeuma comissãoformada pelo prefeito Pires do Rio, em 1927, é exemplardestapostura:desaconselhouoenvolvimentodaprefeituranaconstruçãodecasas,quedesestimulariaoinvestimentoprivado,sugerindoincentivosfiscaisparaosparticulares.8

Cortiços,vilasoperárias,bairroscomocupaçãomista(residên-cias,fábricas,comércio)ouáreasocupadaspelaelite:apaisagemur-bana da cidade esteve permeada por uma pluralidade de usos e ocu-pações,revelandoascontradiçõesdeumcontextosocialemplenovigor, mas também marcado pelas incoerências da sociedade de clas-ses numcontexto demodernização conservadora.Aos imigrantesqueaquisefixaram,ocotidianofoiárduoepermeadopormúltiplosdesafios.ÉinteressantenotarquemuitasimagenssobreacidadedeSão Paulo nesse período representam uma “cidade monumental” e induzem a uma perspectiva de ordem, beleza e harmonia do contexto urbano.

8 BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil.Arquiteturaur-bana,leidoinquilinatoedifusãodacasaprópria.SãoPaulo:EstaçãoLiberdade;Fapesp, 1998. p. 40.

Figura30:TheatroMunicipal.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

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Figura31:MonumentodoYpiranga.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

Figura32:EstaçãodaLuz.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

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Faremosaseguirumareduçãodeescalaemnossaanáliseso-breacidadedemaneiraapercebermoscomoalgumasdastensõesedisputasqueocorriamnelaestiverampresentesnumterritóriomaiscircunscrito.ElegemosobairrodaLiberdadeque,atéomomento,éconsiderado um dos bairros imigrantes mais típicos da cidade.

O bairro da Liberdade

O bairro da Liberdade está localizado na região central da ci-dadeeseestendesentidosul-sudesteapartirdaPraçadaSé.SeuslimitesestãomaisoumenosdefinidosnumsemicírculoapartirdoqualencontramososbairrosdoCambuci,BelaVista(Bixiga)epartesdaConsolação.AtéfinsdoséculoXIXessaáreanãofaziapartedoperímetrocentraldacidade,algoqueocorreucomrapideznoiníciodoséculoXX,dadaaexpansãodarededebondes,esgoto,águaen-canadaeiluminaçãopública.EntreosséculosXVIIIeXIXaáreaabrigouodepósitodepólvoradacidade–localizadonasimediaçõesdoquehojeéconhecidocomoLargodaPólvora–,ocemitérioeaforca–ambosnaáreaatualmenteocupadapelaCapeladosAflitos,CapelaSantaCruzdasAlmasdosEnforcadosePraçadaLiberdade.

EntreasdécadasfinaisdoséculoXIXeasiniciaisdoséculoXX,aaboliçãodaescravidão,ainstauraçãodaRepúblicaeachegadadetrabalhadoresestrangeirospromoveramalteraçõessignificativasnes-saporçãodacidade.SegundoRaquelRolnik,

Comaredefiniçãodoespaçourbanoqueocorreucomaaboliçãodaescravidão,aimigraçãomaciçadeeuropeuseadinâmicadaeconomiadocafé,novosterritóriosnegrosforamestabelecidos:nosporõesenoscortiçosdocentrovelho,sobretudonosuldaSé,naáreaquenãofoiobjetodemuitasremodelações,naregiãodo Lavapés (contígua ao sul da Sé) e nos campos do Bexiga.9

Ocorrequearedefiniçãodeporçõesdaqueleespaçourbano–promovidapeloêxododapopulaçãonegraexpulsadasáreasmais

9 ROLNIK,Raquel.A Cidade e a Lei.Legislação,políticaurbanae ter-ritóriosnacidadedeSãoPaulo.SãoPaulo:StudioNobel;Fapesp,1997.p.75.

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centraisnoprocessodehigienizaçãoemodernizaçãodocentrodacidade–foiseguidadasuaapropriaçãopelosimigrantesitalianoseseusdescendentes,alémdeacolheraimigraçãojaponesa.Numespa-çodequatrodécadasentreofinaldoséculoXIXeoiníciodoXX,esseadensamentodepopulaçõesdeorigensvariadasfezdaLiberda-

de um lugar singular no contexto da cidade.

Em nossa redução de es-cala, o bairro da Liberdade emerge como um microcosmo representativo das transforma-ções que ocorriam na cidadeem sentido amplo. O bairro transforma-se num território no qual a fixação sucessiva deimigrantes de diferentes nacio-nalidadesrevelaoutradinâmicada ocupação do espaço e dasrelações dos estrangeiros coma cidade. Atualmente, encontra-mos na Liberdade uma das asso-ciaçõesitalianasmaisantigasdeSão Paulo, a Lega Italica(1897),e também a Casa de Portugal e uma das mais tradicionais casas de artigos religiosos voltados paracultosafricanos,aqualestálocalizadanaPraçadaLiberda-de, ícone e epicentro da presen-çajaponesanacidade.AfixaçãodejaponesesnaLi-

berdaderemontaaoiníciodoséculoXX10.Em1912,umpequenogrupofixa-senaRuaCondedeSarzedas,atraídoporaluguéisbaratos

10 InformaçõesextraídasdositeCultura Japonesa,disponívelem:<http://www.culturajaponesa.com.br/htm/historiadaliberdade.html>.Acessoem:10ago.2004.

Atualmente, além da existência

das associações mencionadas e

também da loja de artigos religiosos,

podem ser observados poucos

indícios da inserção de italianos,

portugueses e negros na Liberdade.

No caso da presença negra, ela,

apesar disso, se mostra bastante

indiciária, especialmente nas

histórias que cercam a Capela dos

Aflitos e a Igreja da Santa Cruz das

Almas dos Enforcados. A ausência

de outros remanescentes, sua

dispersão ou mesmo ocultamento

revelam que a disputa pelo espaço/

território ocorreu numa dinâmica

que, com o tempo, fez com que os

sinais de outras ocupações fossem

substituídos por novos. O espaço

urbano na Liberdade foi, portanto,

disputado e ocupado de maneira

mais hegemônica pelos imigrantes

japoneses.

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e pela proximidade com o centro da cidade. Em pouco tempo, emer-gemnapaisagemdobairroempórios,umahospedariaepequenosestabelecimentos deprodução e comércio de gêneros alimentíciosdirecionadosàquelacomunidade.Aescolaprimáriadatade1915(Es-colaPrimáriaTaisho);umanoantes,foifundadooHotelUeji.

Figura33:ListadeBordodoKasato-Maru.Kobe,Japão,28abr.1908.

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Para além da Rua Conde de Sarzedas, a comunidade passa a ocuparruaspróximas:CondedoPinhal,ConselheiroFurtado,IrmãSimplicianaeTomásdeLima.Nosanos1960aLiberdadejáconta-vacomquatrocinemas(CineNiterói,Nippon,JóiaeTóquio),fre-quentadospelacomunidadeávidapelosfilmesproduzidosnoJapão.Uma associação cultural (o Bunkyô, que abriga hoje oMuseu daImigraçãoJaponesa)eassociaçõesdeclassecompunhamapaisagemdesse território.

Se por um lado a Liberdade tornou-se, na primeira metade do séculoXX,umterritóriojaponês,ocultandooutrossujeitoseterritó-rios(negros,portugueseseitalianos),apartirdosanos1970obairrorecebeaimigraçãocoreana,enosanos1980/1990chegamoschine-ses.AmobilidadedossujeitosnesseterritórioétemaimportanteparacompreendermosadinâmicadasmigraçõesemSãoPaulo;entretan-to,dadaacomplexidadedaquestão,valemalgumasobservações.

Em primeiro lugar, os territórios “envelhecem”. A sucessão das geraçõeseosprocessosdeinserçãodosdescendentesdeimigrantes

Figura34:Grupode japonesesqueembarcounoKasato-Marunavésperadaviagem ao Brasil. Japão, 1908.

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nacomunidadenacionalsupõemoutrasmobilidades.Amortedospais,aascensãoeconômicaecultural,amudançadeexpectativascomrelaçãoàmanutençãoounãodosnegóciosfamiliaressãofatoresquefazemcomque todoo conjuntode construções (materiais e sim-bólicas) realizadopelasprimeirasgerações seja ressignificadopelasgeraçõesseguintes.

Figura35:ACapeladosAflitos,construídanadécadade1770, temasuaorigemligadaaoprimeirocemitériopúblicodeSãoPaulo:oCemitériodosAflitos.

Fachada do prédio da Lega Italica, fundada em 1897 com o nomede Lega Lombarda. Durante várias décadas foi o centro de apoio a imigrantes italianos quechegavam a São Paulo.

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Figura37:RuanobairrodaLiberdadecomelementosquetraduzemainfluênciadaculturajaponesanaregião.

Figura38:PraçadaLiberdade.Ao fundo, a IgrejadaSantaCruzdasAlmasdosEnforcados.

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Em segundo lugar, os territórios possuem “mobilidade”. Enten-demosissoquandopercebemosque,porexemplo,partedacomuni-dadejudaicamigra–apartirdosanos1970/1980–doBomRetiroparaHigienópolis,abrindoespaçoparaqueseusnegóciossejamgeri-dos pelos coreanos. Estes, a partir dos anos 1990/2000, migram para bairroscomoaAclimaçãoeabremespaçoparaosimigrantesbolivia-nos. Nesse processo, o bairro paulatinamente perde sua singularidade nocontextourbanoenquantoterritóriojudeueagregamarcasdosnovos imigrantes. Só com um olhar bastante atento podemos encon-trarhojeindíciosdapresençadacomunidadejudaicanaprofusãoenoburburinhodasruasdecomérciodeconfecçãodoBomRetiro.

Entretanto,astransformaçõesocorridasnessebairro–aome-nosnoâmbitodesuapaisagemconcreta–nãoforamreeditadasnaLiberdade.Emquepeseofatodepartesignificativadesuaslojassergerida por migrantes chineses e coreanos, estes continuam se dedi-candotambémaocomérciodeprodutosjaponeses.Caminhandoporsuasruas,encontramosna iluminaçãopública,naprofusãoderes-taurantes de comida típica ou na publicidade com ideogramas, uma paisagemjaponesa,emboraseumododevidaeoconteúdoestejamjáalgolongedassuasorigens.

O caso dobairro daLiberdade demonstra que a relação dosimigrantes com a cidade também foi marcada por certa mobilidade. Afortepresençadedeterminadogruponumalocalidadedacidadepode, com o tempo, ser substituída por outro grupo. Podemos obser-varissonahabitaçãoetambémnoslugaresdeconcentraçãocomer-cial.TalvezocasomaisemblemáticosejaaRua25deMarço.Durantemuitas décadas ela foi um território do comércio de imigrantes oriun-dosdoOrienteMédio.Nosúltimosanos,a“presençaárabe”naRuatem se tornado cada vez mais rara. Possivelmente as atuais e futuras geraçõesperderãoessareferência,demodoaencontrá-laapenasnoslivros de história, e não mais na paisagem urbana.

Estamos diante de outro plano de disputas sobre o território, cujoelementomotornecessariamentenãoperpassapelascontradi-çõesurbanasquepermearamaproduçãodacidade.Amudançadenossoolharparaumaescalamenordoespaçourbanoéreveladoradapluralidadeemultiplicidadedemovimentose interaçõesqueosimigrantes produziram na cidade.

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A vida urbana na perspectiva dos imigrantes: algumas considerações

A perspectiva dos imigrantes sobre o território também se revela como uma escala importante para a compreensão da cidade, de sua dinâmicae, especialmente,decomoesses sujeitos se relacionavamnocontextourbano.Faremosumabreveincursãosobreessarelação,tendo como ponto de partida excertos de depoimentos de dois imi-grantes.OprimeirodeleséodaSra.Maria:

Eradifícil,sim,porqueeutinhaaminhafilhapequena,entãotinhaquedeixarcomalguém,naquelaépocanãotinhacrechescomotemagora.Eajudaromarido,precisava...porquesesóum trabalha não vai pra frente, não dá, não dá. Então, eu deixava aminhafilhacomadonadecasaqueéa“nona”italiana...naCasimirodeAbreu,elaquetomavaconta.Eeuiaentão,tododiaiatrabalhar.Àsvezesaconteciaquetrabalhavanomesmolugardomeumarido.Àsvezesnão,porquenaquelaépocaoserviçoquandoterminava,eraaquelacoisadevendermuitoedepoisparava... mandavam embora os operários, sem mais histórias, semmaisnada...Agoranão, agora édireitinho.Então,ficavaum pouquinho em casa, um pouquinho trabalhava. Depois,quandocompreiamáquinaparatrabalharemcasa,melhoraramascoisas,trabalhavamaisemcasa.Edepoisqueameninaestavacrescendo,tinhaquelevarnaescola...11

Na memória da Sra. Maria, percebemos elementos importan-tes para compreender algumas das dificuldades encontradas pelosimigrantesemSãoPaulo.Dentreelas,anecessidadedainserçãodasmulheres no mundo do trabalho industrial urbano e os problemas que issoocasionava,particularmenteàquelascomfilhospequenos.Aforçadetrabalhodasmulheresnasfábricasfoimuitosignificati-

11 Excertodedepoimentoda imigranteMaria(nomefictício)àhistoria-doraSôniaMariadeFreitas.NascidanaaldeiadePanemunelis,naLituânia,em1912, emigrou para o Brasil em 1939. Cf. FREITAS, Sônia Maria de. Falam os Imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em São Paulo. 2001. Tese (Doutorado em História)–FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo, São Paulo, 2001.

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va e importanteparaasatividadeseconômicasentreofinaldosé-culoXIXeprimeirasdécadasdoséculoXX.EmboraaSra.Mariatenha emigradonofinal dadécadade1930, suasdificuldadespo-demsergeneralizadasparaumconjuntobastanteamplodemulhe-restrabalhadorasquecompunhamooperariadodonascenteparqueindustrial paulista.

OCensode1920constatouqueapresençafemininaedeme-noresdeidaderepresentava43%doconjuntodostrabalhadores12. O trabalhofemininoforadoambientedomésticoresultounacriaçãoderedesdesolidariedadeentreasmulheres.Ocuidardosfilhosenquan-toamãeestavanafábricaficavaacargodeoutrasmulheres,comosugere o depoimento; neste caso, a “nona” italiana. No cotidiano do bairrooperário,acriaçãodeelosdesolidariedadeentreosimigrantescriounovassociabilidadesquetranscendiamasnacionalidadeseasdiferençasculturaiselinguísticas.

O depoimento também sugere a precariedade dos vínculos comotrabalho.SegundoaSra.Maria,“[...]naquelaépocaoserviço,quandoterminava,eraaquelacoisadevendermuitoedepoispara-va... mandavam embora os operários, sem mais histórias, sem mais nada[...]”. Como sabemos, a precariedade de instrumentos legais de apoioaos trabalhadores fezcomquehouvessemuitosabusosporparte dos empresários. Precariedade no emprego, baixos salários, jornadasextenuantesemaus-tratosproduziramrelaçõestensasentrepatrõeseempregados.

Asgrevesoperárias,dasquaisasde1917e1919sãoasmaisco-nhecidas,revelarammomentosdeápicedessastensõesaopassoquedemonstravamacapacidadedeorganizaçãodostrabalhadores.Sobreagrevede1917,valeaomenosumanota.

A greve se inicia no Cotonifício Crespi, onde os operários se revoltam contra o prolongamento do serviço noturnoe respondem com uma exigência de 15 a 20% de aumentosalarial.Umaseçãodafábricacomquatrocentostrabalhadoresentra em greve e as reivindicações se colocam: abolição das

12 PINHEIRO,PauloSérgio.Oproletariadoindustrialnaprimeirarepúbli-ca.In:FAUSTO,Bóris;HOLANDA,SérgioBuarquede(Coord.).História Geral da Civilização Brasileira.TomoIII,v.2,3.ed.SãoPaulo:Difel,1985.p.146.

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multas, regulamentação do trabalho dasmulheres emenores,modificação do regime interno da empresa, supressão dacontribuiçãopró-pátria.Aindústriaserecusa,paralisaafábricae torna obrigatória a volta ao trabalho, no dia 22. No dia 26 dejunhooutragrevesurgenumaempresatêxtil,aEstampariaIpiranga. Nas mobilizações se destacam as mulheres, queconstituem uma parcela considerável nas indústrias têxteis.Nodia 7 de julho a greve alcança uma fábrica de bebidas, aAntarctica, situada na Mooca, com cerca de 1000 operários.13

O depoimento a seguir nos dá outra perspectiva sobre a vidaurbana:

[...]quandochegamosaquinaMooca...depoisumfaloulá–euconheçoumsenhoraqui...eletemumaindústriadevassouras,é italianoeelegosta... elepegamuitoessagentequevemdaimigração, imigrante, ele pega para trabalhar comele... senãoelelevaearrumaserviço–,enósfomosparavereelealugouparanósumacasaqueeletinhanaruaDiasLeme,naMooca.Então,nósalugamosacasaelácomotinhaquatrocômodos,doiseraparaosquevieramconosco,porqueoutrosjáficaramcomoutrosparentes... tudo...Eaquelesqueficaramcomnóseramalgunsmoçoseumasmoças...entãoosmoçosmeupaifezumquartoparaeles,eparaasmoçasoutro...eumeraparanós.Eumquartoeleusouparaaalfaiataria...eleabriualfaiataria.Eletrouxe o ferro a carvão de lá e a tesoura, aí foram comprar a máquinadecosturaecomeçouatrabalhardealfaiate.Foiisso...isso foi um ano mais ou menos. Um ano depois, na Rua Padre Raposo,mesmonosfundos,quedavacomaRuaPedroRaposo,fizeram uma construção... tinha um armazém, e ele alugouaqueleparaalfaiataria.Então,nósficamosláaté1938.14

13 PINHEIRO,PauloSérgio.Oproletariadoindustrialnaprimeirarepúbli-ca.In:FAUSTO,Bóris;HOLANDA,SérgioBuarquede(Coord.).História Geral da Civilização Brasileira.TomoIII,v.2,3.ed.SãoPaulo:Difel,1985.p.160.14 ExcertodedepoimentodoimigranteAntônio(nomefictício)fornecidoàhistoriadoraSôniaMariadeFreitas.Filhodehúngaros,nasceusobodomíniodaRomênia e emigrou para o Brasil em 1924. Cf. FREITAS, Sônia Maria de. Falam os Imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em São Paulo. 2001. Tese (Doutorado em História)–FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo, São Paulo, 2001.

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Embora a maior parte dos imigrantes trabalhasse em fábricas degrandeporte–deacordocomoCensoIndustrialde1907–,ha-viaumsetordepequenasempresasmuitodiversificadoeigualmen-teimportanteparaoconjuntodaeconomia.OdepoimentodoSr.Antônio revela esse dado. O imigrante italiano, proprietário de uma indústriaprodutoradevassouras,foiumadesuasprimeirasreferên-ciasdetrabalho.Nessarelaçãopercebemosumatramadecontatos,sociabilidades e solidariedades.

Diferentemente do caso da Sra. Maria, mas análogo a ele, o de-poimento do Sr. Antônio nos apresenta um circuito de solidariedades queseestruturanasrelaçõesdetrabalho,transcendendoasrelaçõesdemoradia.Aomesmotempo,odepoimentoapontaparaainserçãodosimigrantesempequenosnegócios,muitosdelesfamiliares.

Osestudosqueseestruturamapartirdashistóriasdevidasãoimportantes para identificar escalas ouperspectivasmais individu-ais e subjetivas da vivência urbana. Nesses trabalhos o imigrantetorna-se sujeitode suahistória; isso émuito importante àmedidaquepodemos,numexercíciodepesquisa,contarcomfontes–nes-te caso, os depoimentos – que privilegiam olhares, sentimentos eperspectivasdehomensemulheresquevivenciaramdeterminadassituaçõesecontextos.

EssasbrevesconsideraçõessobreosdepoimentosdaSra.Ma-riaedoSr.Antôniotêmporfinalidadenosfazercompreenderdemaneiramaispontualeprecisaquenocotidianodasclassespopu-lares, envolto num contexto urbano complexo, as atitudes solidárias são absolutamente fundamentais. Sem elas, a vivência torna-se muito mais difícil e penosa.

Escolas

Aimigraçãoproduziuumpanoramaescolardiversoemuitodi-ferente se comparado com o contexto atual. A precariedade de um sistemaeducacionalpúblicoqueatendesseamplamenteàsdemandasdosjovensoriundosdascamadaspopulares15 foi um dos fatores ex-

15 Sobreestaquestão,verARANHA,MariaLúciadeArruda.História da Educação.SãoPaulo:Moderna,1989.

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plicativosparaqueosníveisdealfabetizaçãonopaísfossemextrema-mentebaixosnasdécadasfinaisdoséculoXIXeduranteasprimeirasdécadasdoséculoXX.Em1876apopulaçãoalfabetizadanaentãoProvíncia de São Paulo era de 21%. Nos anos 1890 a taxa de alfabe-tizaçãonoBrasilnãoultrapassava20%.

Essasituaçãocontrastavacomarealidadedeváriospaíseseuro-peus e também do Japão. Segundo Lucio Kreutz, estudos sobre os imigrantes chegados no Porto de Santos entre 1908 e 1932 apontam que“oíndicedealfabetizaçãoerade91,1%entreosalemães,89,9%entreosjaponeses,71,3%entreositalianos,51,7%entreosportu-gueses e 46,3% entre os espanhóis16.Assim,aspopulaçõesimigrantesencontraram no Brasil um panorama pouco propício para manter o níveldeescolarizaçãoencontradoemseuspaísesdeorigem.

Aalternativafoiacriaçãodeescolascomunitáriascomconota-çãoétnicatantonocampoquantonascidades.Nomesmoestudo,Kreutzapontaque,nadécadade1930,havianoBrasil1.579escolasalemãs,396italianas,349polonesase178japonesas.Grandepartedelaseraorganizadasobaliderançadeigrejaserespaldadasporumsentimentonoqualaeducaçãoerauminstrumentoimportanteparaamanutençãodevínculoscomunitários,identidadesétnico-culturaise especialmente como forma de ascensão social.

Umaapresentação–aindaquebreve–dealgumas informaçõessobre as escolas comunitárias criadas por grupos de imigrantes revela a pluralidadedeformasdeeducaçãoqueemergiramdaprecariedadedeumsistemapúblicodeensinonopaís,especialmenteemSãoPaulo.

Oselementosapontadosmaisadianteserãocotejadoscomaspropostasanarquistasparaaeducação.Aconfiguraçãodeumquadroeducacionalnoqualestiverampresentesiniciativascomváriasorien-taçõesculturais,políticaseideológicascolocaaeducaçãoenquantoterritórioque–damesmamaneiracomoacidade,obairroeomun-do do trabalho – foi disputado por vários agentes sociais, e também enquantoespaçodesociabilidadesesolidariedades.

16 KREUTZ,Lucio.EscolasComunitáriasdeImigrantesnoBrasil.Revista Brasileira de Educação,SãoPaulo,n.15,set./out./nov./dez.,2000,p.160.

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AprimeiraescolajaponesacriadaemSãoPaulofoiaEscolaPri-máriaTaisho,em1915.EmseulivroO Imigrante Japonês, Tomoo Han-da17apontaqueosimigrantesjaponesesdepositavamnaeducaçãode

17 HANDA, Tomoo. O Imigrante Japonês.SãoPaulo:Taq,1987.

Figura39:“GrupoEscolardeAlecrim–ConstruidopelaCol.Japoneza”.Alecrim,1936.

Figura40:“Preparodoterrenoparaconstrucçãodeumaescoladeiniciativadecolo-nosjaponezesenacionaes.PrimeirainiciativadecolonosparaauxiliaroGovernonacreaçãodeEscolasPrimárias.”NúcleoColonialBarãodeAntonina,1934.

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seusfilhosumaexpectativaderetornoàterranatal.Emprincípio,a educação serviria como esteio para que, num eventual contextoderetorno,elesnãofossemmarginalizadosnasociedadejaponesa.Dadasasdificuldadesdemuitasescolascomunitárias,especialmenteasdocontextorural,aeducaçãosebaseavaemgrandemedidanoensino da matemática e da linguagem.

Asdiferençasculturais,históricasereligiosasimpactaramapre-sençadosimigrantesjaponesesnoBrasil.Mesmocomodistancia-mento cada vez maior da expectativa de retorno, eles mantiveram ovalordaeducaçãonoseiodesuacomunidade.Issogerou–espe-cialmente nos anos 1930, como veremos no capítulo seguinte –, por parte do governo brasileiro, a necessidade de nacionalizar as escolas comunitáriasorganizadasporjaponeseseimigrantesdeoutrasetniase nacionalidades.

Porrazõesevidentes,aexpectativaderetornonãofoiumdoselementoscondicionantesnaformaçãodeescolasvoltadasparaaco-munidade judaica.EmSãoPaulo,oGymnasioHebraico-BrasileiroRenascença,fundadoem1922nobairrodoBomRetiroporimigran-tes oriundos da Europa Oriental, foi pioneiro entre as escolas vol-

Figura41:ProjetodeescolaparaoNúcleoColonialBarãodeAntonina.Itaporanga,12jun.1936.

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tadas para esse grupo de imigrantes. Para essa comunidade, a escola revelavaanecessidadedereforçarseusvínculosculturaisereligiosos,aopassoquebuscavaconstituireloscomasociedadebrasileira.Onomedaescolajásugeriaessaconexão.Em1949foifundadaoutraescola,oGinásioIsraelitaBrasileiroScholemAleichem,quesobrevi-veu até 1981 e se notabilizou por práticas pedagógicas consideradas, atéhoje,bastanteavançadas18.

Uma das primeiras escolas italianas foi o Circolo Italiani Uniti, na cidade de Campinas, inaugurada em 188619. Ao contrário de parte das escolas comunitárias formadas por grupos de imigrantes, o Cir-colo inseriu em seu currículo o ensino da língua portuguesa. Isso re-velaque,desdeseuinício,asescolasdacomunidadetambémtinhamcomoobjetivoaintegraçãocomacomunidadenacional.Aritmética,leituraemitalianoeportuguês,geografiaecontabilidadeeramalgu-mas das disciplinas ministradas para os estudantes.

A proximidade cultural, religiosa e linguística criou elementos de conexão entre várias escolas da comunidade italiana com o contexto nacional. A experiência do Circolo revela essa tendência. O ensino da língua portuguesa e italiana era ministrado para meninos e meninas, embora a língua italiana fosse privilegiada no processo de aprendiza-gemporrazõesevidentes.

O estudo de Maria Cristina dos Santos Bezerra20 sobre as escolas alemãsemSãoPauloapontaparaofatodequeasescolasorganiza-dasporessacomunidadeerambastantediversificadasdopontodevistadesuasentidadesmantenedoras–queeramlaicasoureligiosas–edaperspectivadospúblicosqueatendiamemrelaçãoaseusobje-tivos. Entre 1863 e 1900 foram criadas nove escolas alemãs no estado de São Paulo; em 1923 havia 28.

18 CHARNIS, Cristina Catalina et al. Vanguarda Pedagógica: o Legado do GinásioIsraelitaBrasileiroScholemAleichem.SãoPaulo:Lettera,2008.19 SOUZA,RosadeFátimade.O Direito à Educação:lutaspopularespelaescola em Campinas. São Paulo: Ed. Unicamp; Centro deMemória Unicamp,1998.20 BEZERA,MariaCristinadosSantos.NuancesdoensinoorganizadoporimigrantesalemãesemSãoPaulo.In:SEMINÁRIONACIONALDEESTU-DOSEPESQUISAS.História,SociedadeeEducaçãonoBrasil,7.,2006,Campi-nas. Anais...Campinas:Unicamp,2006.

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Dentreasespecificidadesdasescolasalemãs,valemencionarqueelasatendiampúblicosdistintosnacomunidade.SegundoBezerra,oColégioViscondedePortoSeguro,naCapital,erafrequentadoporjovensdecamadasmaisabastadasdacomunidade.AEscolaAlemãde Vila Mariana atendia uma clientela oriunda das camadas médias; escolas situadas nos bairros de Santana, Mooca e Brás atendiam, na maioriadasvezes,filhosdeoperários.

Asbreves considerações acimanão têmapretensãode apre-sentar características exclusivas sobre as escolas comunitárias criadas pelosimigrantes,portantonãosetratamdeelementosquedevemservistos como cristalizadores das identidades de cada um desses tipos de escola. Em outros termos, os elementos apontados para as escolas da comunidade italiana podem estar presentes também em escolas de outros grupos e vice-versa. Dessa experiência e de tantas outras não explicitadas aqui,o fundamental é identificar adiversidadedeum “sistema” escolar criado num período marcado por necessidades variáveisdecadagrupoe tambémpelasua inserçãoemrealidadesdistintas como as escolas rurais e urbanas.

Figura42:Professorealunosdeescolaalemã.RioClaro,[iníciode1900].

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Apluralidadedeexperiências,orientaçõesecaracterísticasdes-sasescolasdemonstraqueaeducaçãoeraumcampoabertodepossi-bilidades.UmcampoerigidodasdificuldadesdeumsistemapúblicoeficientedopontodevistadacapacidadedeagregaçãodascriançasejovensnumsistemaorganizadoedirigidopeloEstado.

AdiscussãosobreapresençadoEstadonocampoeducacionalneste período possui muitos interlocutores21. Em 1890, logo após a ProclamaçãodaRepública,houveumareforma(ReformaBenjaminConstant)noplanodasescolas secundárias e,noâmbitoestadual,a Reforma Caetano de Campos (1892) procurou instaurar nas es-colaspúblicasprincípiosdenaturezamaisliberal-democrática.Am-basasreformasnãoconcretizaraminstrumentosparaqueaquestãoeducacional fosse transformada numa questão nacional; entretan-to,noplanoregionalpaulistahouveumincrementononúmerodeescolaspúblicas.

Nos anos 1910 uma série de campanhas e discursos nacionalis-tascolocouaquestãodaeducaçãonumplanodemaiorvisibilidade.AconferênciadeOlavoBilaceaformaçãodaLigadeDefesaNa-cionalem1916expressavampreocupaçõescomosdesdobramentosdaPrimeiraGuerraMundialecomasmúltiplasformasdeorganiza-çõesoperárias–emsuamaioriacompostasporimigrantes.SegundoJorge Nagle,

Difundem-seaspregaçõescívico-patrióticaspelafundaçãodasLigas Nacionalistas. E para se enriquecer um pouco mais oquadronãosedeveesquecerdaatuaçãodogrupoagressivoqueseformouemtornodaRevistaBrazilea(1917)deondesurgiráa Propaganda Nativista (1919) e a Ação Social Nacionalista(1920), esforçando-se para “repensar o Brazil” e a “repensarem brazileiro”. Sistematiza-se desse modo, o “programa nacionalista”.AoladodocombateàestrangeirizaçãodoBrasil,procura-se debelar o analfabetismo e difundir a escola primária,

21 Háumavastaproduçãorecentesobreotema,masvaleanotasobreoestudo de Jorge Nagle como uma referência sempre retomada. NAGLE, Jorge. A Educação na Primeira República. In: FAUSTO, Bóris; HOLANDA, SérgioBuarquede(Coord.).História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III, v. 2. 3. ed. São Paulo:Difel,1985.p.259-291.

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transformada num dos grandes problemas nacionais. Há uma preocupaçãocadavezmaiorcomapromoçãodalínguapátria,comoavivamentoeadesmistificaçãodaHistóriaedaGeografiado Brasil.22

Para além dessas intencionalidades e iniciativas, a precariedade daeducaçãopúblicauniversalizadamanteve-seduranteasprimeirasdécadasdaRepública.Nasentrelinhasdapassagemacimaencontra-mosapreocupaçãodopoderpúblicocomaproliferaçãodasescolascomunitárias geridas por grupos de imigrantes (laicos ou religiosos). Evidentemente,temia-seacriaçãoouoreforçodeidentidadescultu-rais,étnicasemesmoreligiosasquecriassemcomunidadesapartadasda sociedade nacional.

A educação anarquista teve vários fundamentos23, dentre os quais se destacam a educação baseada em princípios científicos(contra os supostos dogmas e superstições da educação religiosa);o ensino libertário (contra a doutrinação doEstado); a necessida-dedacoeducaçãodeambosossexosedasclassessociais(contraaseparaçãooudiferenciaçãoentreaeducaçãodemeninosemeninaseadiscriminaçãoentreosgrupossociais)eaeducaçãocomovetorparaatransformaçãoradicaldohomemeacriaçãodeumnovotipode sociedade.

EmSãoPaulo,aprimeiraEscolaModernafoifundadaem1915no bairro do Belém, e no ano seguinte a segunda Escola surgia no mesmo bairro, a poucas quadras da primeira. Escolas Modernastambém foram fundadas nas cidades de Bauru (1914) e São Cae-tano (1918). Elas foram precedidas por outras experiências – mais

22 NAGLE,Jorge.AEducaçãonaPrimeiraRepública.In:FAUSTO,Bóris;HOLANDA, SérgioBuarque de (Coord.).História Geral da Civilização Brasileira. TomoIII,v.2.3.ed.SãoPaulo:Difel,1985.p.262.23 VáriosperiódicosanarquistascomooTerra Livre (1910) ou a Revista Vida (1915)fizeramadivulgaçãodosprincípiosnorteadoresdapedagogiaanarquista,a propaganda de seus currículos ou noticiavam matrículas nas Escolas Modernas. Dentreinúmerosebonsestudossobreasescolasanarquistas,ver:GALLO,Silvio.Pedagogia Libertária: anarquistas, anarquismose educação.SãoPaulo: Imaginário;Manaus:Ed.daUniversidadeFederaldoAmazonas,2007.

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efêmeras – como a da Escola Libertária Germinal, criada em1902,cujapropostanãoseefetivou. O mesmo ocorreu com a Universidade Popular de Ensino Livre, de 1904. En-tre1895e1920foramcriadasmaisde40escolasanarquistasno Brasil, a maioria concen-trada no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Na cidade de São Paulo, asescolasanarquistasconcen-traram-seembairroscujapre-sençaoperáriaeramaisinten-sa, como Brás e Mooca. Essas escolas compunham um con-junto mais amplo de cone-xõescomomovimentoope-ráriodeorientaçãoanarquista,e notícias sobre elas estiveram presentes em vários periódicos, como O Livre Pensador, Amigo do Povo, A Terra Livre, O Libertário, O Socialista, A Lanterna, O Trabalhador, A Voz do Trabalhador, A Vida, A Plebe, A Tribuna do Povo e A Liberdade24.

As orientações anarquistas adentraram o campo das disputasqueestavampresentesnoâmbitodaeducaçãonesseperíodo.Ostrêsgrandesconjuntos–asescolascomunitárias,asescolaslibertáriaseaaçãodopoderpúblico–apresentamconexõesecontradiçõesen-tresuasorientações,aopassoquecadaelementodesteconjuntoéigualmente um campo particular e permeado por intencionalidades e pluralidades diversas.

24 MARTINS,AngelaMariadeSouza.AEscolaAnarquistanaPrimeiraRepública.In:CONGRESSOBRASILEIRODEHISTÓRIADAEDUCAÇÃO,4.,Goiânia,2006.Anais...Goiânia:UniversidadeFederaldeGoiás,5-8nov.2006.

As necessidades de controle da

educação pelo Estado foram cada

vez mais prementes nas primeiras

décadas do século XX. Para além

das preocupações oriundas do ensino

organizado pelas comunidades de

imigrantes, o surgimento de escolas

ligadas ao movimento operário

demonstrava que a educação foi

compreendida no período como

um campo de disputas. As escolas

de orientação anarquista são uma

expressão importante no conjunto

das escolas surgidas entre o final do

século XIX e primeiras décadas do

século XX. Muitas delas seguiam as

orientações do educador espanhol

Francisco Ferrer y Guardia (1849-

1909), que fundou em Barcelona, em

1901, a primeira “Escola Moderna”.

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Revelam-senocampodaeducaçãoosmesmoselementosquevimoscomrelaçãoàcidade,aobairroeaocotidianourbanonapers-pectivados imigrantes.Comovimos,apresença imigranteemSãoPauloentreofinaldoséculoXIXeasprimeirasdécadasdoséculoXXconfunde-secomoprocessodeconstruçãodacidademoderna.

Figura43:“LaEscuelaModerna”.A Lanterna,SãoPaulo,annoXI,n.108,13out.1911, capa.

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Ambos os movimentos oferecem a possibilidade de compreender-mosquearelaçãodaimigraçãocomocontextourbanofoimarcadaporcontradições,ocultamentosefundamentalmentepeloconfrontoentre“projetos”decontroleedeliberdade.Aatualdinâmicasocial,cultural, econômica e política da cidade de São Paulo pode ser com-preendida se considerarmos esse período como um momento im-portanteparaaconstruçãodaSãoPaulomoderna,aopassoqueessaconstruçãofoieivadaporconflitosecontradições.

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4

A década de 1930 é comumente considerada um divisor de águas nahistóriapolíticaeeconômicadoBrasil.AascensãodeGetúlioVar-gas(1883-1954)aopoder,acrisedaeconomiacafeeira,ainstauraçãodoEstadoNovo(1937-1945)eosembatespolíticose ideológicosqueprecederamaSegundaGuerraMundialsãoalgunsdosfatoresquemudarampartedenossahistóriaapartirdessadécada.Épossívelconsiderarqueentreosanos1930e1940foicriadoumambiente(econômico,políticoecultural)distintodaquelequemarcouaspri-meirasdécadasdaRepública,alterando, inclusive,várioselementossobreosquaisaimigraçãofoierigida.

Oambientenacionaleinternacionalsofreumodificaçõessignifi-cativas; os mecanismos econômicos e os contextos sociais e políticos queestruturaramachamada“grandeimigração”apartirdoséculoXIXhaviamsidosuperados,dadasastransformaçõesqueestiveramem curso na Europa, no Japão e nos países do continente americano. Dessamaneira,compreenderosnovosrumosdaimigraçãonessepe-ríodonoslevaaumareflexãoquedeveconsiderartantoastransfor-maçõesocorridasnoâmbitodasociedadebrasileiraquantoasmodi-ficaçõesnocenáriointernacional.Portanto,faremosumaabordagemsobreastransformaçõesnaquestãoimigratórianasdécadasde1930e 1940 enfatizando o contexto brasileiro. Dada a complexidade do

Imigraçãoemigraçãonosanos1930/1940:transição,representaçõeserepressão

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ambiente internacional no período, as referências a ele partirão de problemasequestõesoriundasdocontextonacional.

Apropostadestecapítuloéanalisarastransformaçõesnaques-tãodaimigraçãoapartirdeduasabordagens.Aprimeiradelastratarádorefluxodaimigraçãoeuropeiaeapolíticadeincentivoàentradadetrabalhadores nacionais em São Paulo – nordestinos notadamente. A segunda discutirá a política de controle dos imigrantes sob o governo Vargaseasaçõesdedeterminadosgruposnumambienteque,tantonoplanonacionalquanto internacional, foimarcadoporpolariza-çõesdecunhopolíticoeideológico.

Transição e Representações. A crise da cafeicultura e a política migratória

Crise da cafeicultura

Parte significativada literatura sobre adinâmicada economiabrasileiranadécadade1930registraorefluxodaeconomiacafeicultoraa partir da crise de 1929. Para Octávio Ianni1, a grande depressão dofinaldosanos1920revelouaslimitaçõesdaeconomiaprimário-exportadora. Segundodados analisadospelo autor, as exportaçõesbrasileirasdocafé,quesomavam97milhõesde libras inglesasem1928,chegaram,em1933,aapenas33milhões,numrecuode66%nomontantedasexportaçõesnoperíodo.

Noiníciodosanos1930,explicitam-seascontradiçõesdosme-canismosqueestruturavamaexpansãodacafeiculturanopaís.Den-treeles,valenotarodescompassoentreaproduçãoeoconsumo,algoqueerarecorrentenastrêsprimeirasdécadasdoséculoXX.Em1905osestoquesdecafécontabilizaram11milhõesdesacasde60quilos,representando70%doconsumomundialdaqueleano.Entre1918e1924,asuperproduçãodocaféfoiconsequênciadoaumentodonúmerodecafeeirosplantadosnoestadodeSãoPaulo,quepas-soude828milhõespara949milhões2.

1 IANNI,Octávio.ACrisedoCaféeaRevoluçãode1930.In:______.Origens Agrárias do Estado Brasileiro.SãoPaulo:Brasiliense,1984.2 PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil.SãoPaulo:Brasiliense,1985.p.228e233.

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Atémeadosde1934,aproximadamente50milhõesdesacasjáhaviamsidodestruídas.Esseprocessocontinuouem1935,1936e1937,quandoforamqueimadasrespectivamente1,7milhão,3,7mi-lhõese17,2milhõesdesacas.Entrejunhode1931ejulhode1944forameliminadasnadamenosque78,2milhõesdesacasdecafé,queequivaliama três vezeso consumomundialdaquele ano.Durantetodaadécadade1930,observamospicosdeproduçãoaindamuitosuperiores aos do patamar da safra de 1928/1929. A safra recorde de 1929/1930eacrisedeexportaçãodecorrentedaquebradabolsadevaloresdeNovaIorqueexpuseramoslimitesdessemodelo.3 4 Política migratória e refluxo da imigração

A crise da cafeicultura apresentou a necessidade de alternativas paraasuasuperação.Talvezamaiordificuldadetenhasidoadeque,acurtoprazo,nãohaveriapossibilidadesparaasubstituiçãodamatrizdaeconomianacional(cafeicultura)poroutraque,comosabemos,

3 FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.SãoPaulo:Cia.EditoraNacional,1984.p.187-188.4 DELFIM NETTO, Antonio. O Problema do Café no Brasil. 1959.Tese(LivreDocência)–FaculdadedeCiênciasEconômicaseAdministração,Universi-dadedeSãoPaulo,SãoPaulo,1959.

Durante a década de 1920, a produção do café parecia não conhecer limites

para sua expansão. Entre 1925 e 1929, o crescimento foi praticamente de

100%, a ponto de as exportações do biênio 1927-1929 absorverem somente

2/3 do total produzido3. Mesmo assim, o número de cafeeiros plantados

chegou a 1,15 bilhões em 1930. A partir dessa década, a queima dos estoques

excedentes foi a alternativa encontrada para a regulação artificial entre a

demanda e o consumo. Antônio Delfim Netto, em O Problema do Café no

Brasil4, registrou o volume de sacas de café destruídas entre 1931 – ano em

que o recém-criado Conselho Nacional do Café decidiu pela primeira grande

queima – e 1944, ano do término dessa política. Em 1931 foram queimadas

12 milhões de sacas; em 1932, 4,3 milhões; em 1933, 13,9 milhões. Nesse

ano, o volume correspondia ao de um ano de exportações do produto.

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foi erigida gradativamente e se materializou com o incremento à in-dustrialização.Dentre aspossibilidadesde enfrentamentoda crise,encontramosareorientaçãodapolíticaimigratóriaparaumapolíticamigratória.Estasebaseouna inserçãode trabalhadoresbrasileirosoriundos de outros estados (notadamente do Nordeste) nas lides ca-feicultoras.Arecriaçãodeumapolíticademãodeobraqueseassen-tassenanecessidadedebraçosparaalavouracomprofundosproble-mas estruturais, como era o caso do café, adveio da necessidade de manutençãodaviabilidadedosetoragroexportador,queconcentravagrandepartedasinversõesdecapitalnoperíodo.

Dessaforma,apolíticademãodeobraobjetivoubaratearoscustosdaproduçãonumcontexto emque a reediçãodos antigosmecanismos de intervenção/regulação artificiais não poderiamser mantidos. Tratava-se, portanto, de um mecanismo compensa-tório transformando-se, do ponto de vista dos produtores, numa das possibilidades de superação dos problemas da cafeiculturanos anos 1930.

Figura44:TrabalhadoresNacionais.[S.l.],[19--?].

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Narealidade,épossívelidentificar–apartirdasegundametadedos anos 1920 – um aumento da entrada de trabalhadores nacionais noestadodeSãoPaulo,conformedemonstradonoquadroaseguir.

Ográficoabaixoforneceumaboapercepçãodoaumentodofluxodetrabalhadoresnacionaiseorefluxonasentradasdeimigran-tes. O divisor de águas se deu entre os anos 1928 e 1933.

Figura46:“TrabalhadoresnacionaiseestrangeirosentradosnoEst.deSãoPaulo–1900a1949”.SãoPaulo,1950.

Ano Quantidade Ano Quantidade Ano Quantidade

1910 992 1918 3.594 1926 19.366

1911 3.482 1919 5.607 1927 30.806

1912 3.307 1920 12.525 1928 55.431

1913 - 1921 6.923 1929 50.218

1914 1.789 1922 7.354 1930 8.720

1915 5.233 1923 14.578 1931 10.174

1916 3.346 1924 12.076 1932 18.345

1917 3.369 1925 15.906 1933 30.330

TrabalhadoresNacionaisEntradosnoEstadodeSãoPaulo:1910-1933

Figura45:TabelaelaboradaapartirdedadosdisponíveisnoProcessodaSecretariadaAgricultura.SãoPaulo,20mar.1952.

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Numasériehistóricademaiorduração,percebemosqueope-ríodo de entrada de trabalhadores nacionais concentrou-se entre as décadasde1940e1950,comoresultadodapolíticamigratóriaimple-mentada no período.

Da totalidade de estrangeiros e brasileiros que entraram noestadodeSãoPaulonadécadade1920–emnúmeros absolutos,868.063–,osbrasileirosrepresentavamapenas24,49%,enquantoosestrangeirossomavam75,51%.Notranscursodosanos1930temosumareversãodestequadro.Deumtotalde633.986queentraramnoestado,osnacionaisrepresentaram68,74%,jáosestrangeirosrefluí-ram para 31,26%.

Seosnúmerosapontadosnosquadrosenográficoacimareve-lamqueorefluxonaentradadeestrangeirosemSãoPaulofoiante-rioràcrisedacafeicultura,háqueseconsiderarainfluênciadefatoresexternos.Nocapítulo2foraminseridostrêsgráficosquedemonstra-vamosfluxosdeentradasdealemães,poloneseseitalianos.Pormeiodeles,percebemosumrefluxodaimigraçãodeitalianosnoperíodopósPrimeiraGuerraMundial,enquantonomesmoperíodohouveumaumentonaentradadepolonesesealemães.HáváriasrazõesqueexplicamessedescompassoentreaquedadaimigraçãooriundadaEuropa Latina (especialmente italianos, espanhóis e portugueses) e o aumento da entrada de imigrantes oriundos de países da Europa Central e do Leste Europeu.

AcriseeconômicaqueabalouaAlemanhanopós-guerra,aRe-voluçãoRussaeaascensãodegovernosdedireitana Itália (Mus-solini), em Portugal (Salazar), na Espanha (Franco) e na Alemanha (Hitler)induziramrefluxosnosdeslocamentosparaaAmérica.Essas

Movimento Migratório de Trabalhadores Nacionais para o EstadodeSãoPaulo:1927-1951

Figura47:TabelaelaboradaapartirdedadosdisponíveisnoProcessodaSecretariadaAgricultura.SãoPaulo,20mar.1952.

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ocorrênciasnoâmbitoeuropeupropicia-ramalteraçõesnosmovimentosmigra-tórios cujo resultado foi a diminuiçãoda entrada de trabalhadores da Europa Latina, enquanto etnias e nacionalida-des menos expressivas no computo dos fluxosmigratóriosparaoBrasilganha-ram maior expressão. Entretanto, ape-sar desse descompasso entre as entradas de imigrantes, o período pós Primeira Guerra Mundial foi marcado pela di-minuiçãodosfluxosdeimigrantesparaSão Paulo e para o Brasil.

Pelodiscursooficial,otrabalhadorbrasileiro passava a assumir todos os atributosdesejáveis,nãorepresentandoperigo à vida social do país. As medidas de proteção apontavampara a reservade mercado do trabalho nacional – tan-tonocampoquantonascidades.Existeumavasta literaturaquediscuteosob-jetivoseosresultadosdessaslimitaçõespara a entrada de estrangeiros no país após1930.Aoquenosparece, é unâ-nime o sentido desmobilizador do movi-mento operário5.

Odesempregoque foigeradonomeiodos trabalhadoreses-trangeiroscontribuiumuitoparaadesarticulaçãodeliderançasanar-quistasecomunistas.Asempresasforamobrigadasacolocaremseusquadrosdefuncionários2/3detrabalhadoresnacionais.Dessafor-ma,odiscursooficialjustificavaainstituiçãodoregimedecotasde2%,quelimitavaonúmerodeimigrantesquepoderiaentrarnopaísdeacordocomaquantidadedepessoasdarespectivanacionalidadechegadasnosúltimostrintaanos.Assim,porexemplo,senosúltimos

5 POPPE,Paulo.LeisImmigratórias.Boletim do Ministério do Trabalho, In-dústria e Comércio,SãoPaulo,SecretariadaAgricultura,IndústriaeComércio,n.3,nov. 1934.

“Logo após o triunfo

da revolução de 1930,

[preocupou-se] o Governo

provisório seriamente

do fenômeno dos

desempregados e, entre

outros, consideramos

o Decreto 19.842 que

limitou a entrada no

território durante um

ano, de passageiros

de 3ª classe, [...] a

entrada desordenada

de estrangeiros que

viriam aumentar a

desordem econômica

e a insegurança social.

Entrávamos, pois, no

regime claro da legislação

defensiva em prol dos

trabalhadores nacionais

[...]”.5

Históriasda(I)migração

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50anostivessemchegado100milalemães,sópoderiamentrarnopaís 2 mil por ano.

Nordestinos para a cafeicultura. Nordeste, imagem do atraso

Figura48:“Introduçãodevintemil imigrantesnacionaisparaalavouradoEstado. Ofício n. 160 enviado ao Dr. Luiz de Toledo Piza Sobrinho pelo Sr. JoséAmericoSampaio”.SãoPaulo,26ago.1935.

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AFederaçãoPaulistadasCooperativasdeCafé [...] vemcomeste [...] reiterar o oferecimento feito ao Governo do Estado [...] no sentido de colaborar no caso da solução de um dosmagnosproblemasdeinteresseimediatoparaalavoura–qualo de suprimento de braços. Numa obra de elevado alcanceeconômico-socialedemuitopatriotismo,aFederaçãoPaulistadasCooperativasdeCafésepropõeaintroduzircomdestinoalavoura de São Paulo vinte mil imigrantes nacionais, procedentes do interior dos Estados Nordestinos [...]. [Transcrição deparágrafo]

Nesseexcerto,encontramosduasquestõespresentesnapolíticamigratóriaoficialnoperíodo.Aprimeirarefere-seàconstruçãodeumarepresentaçãosobreafaltacrônicademãodeobraparaalavou-rapaulistadurantetodootranscursodosanos1930até1950.Essafaltadebraços justificava,paraa sociedade,oesforçodogovernopaulistanareestruturaçãodapolíticadesubsídios,orientada,apartirdesse momento, para a vinda de trabalhadores nacionais para o esta-do de São Paulo.

Construída segundo uma representação que não comportavaumdesvendamentodacomplexidadedesuasrelações,aimagemdo

Figura49:TrabalhadoresprocedentesdePernambuco.SãoPaulo,[19--?]

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Nordeste foi erigida com base em interesses que forjaram elemen-tos para seu entendimento a par-tirdeuma lógicaexógenaàquelarealidade. Desenvolveu-se uma representaçãodoNordestecomorealidade portadora de caracterís-ticas culturais, sociais e econômi-cas negativas.

Evidentemente, pensar essa regiãodevepartirdaideiadequesetratadeumanoção–tantodopontodevistaespacialquantonoqueserefereàsimagenssociais–construída historicamente. Pensá-la nessa perspectiva é inseri-la, e também a sua construção, nadinâmica dos embates entrediferentes propostas sociais, na lutadosinteressesdeclasse,enfim,

na própria História.Frederico de Castro Neves6 associa a criação da imagem do

Nordeste a interesses de intérpretes privilegiados. Representaçõescomo a do atraso, da pobreza, da miséria e da necessidade de auxílio financeiroteriamsidoconstruídasapartirdaregiãonoqueelechamade comunhão entre uma visão da natureza e a ótica de determina-dosinteressessociais. Essas representações elegeram – já nasprimeirasdécadasdoséculoXX–anaturezacomooalgozregional,justificandoumadinâmicaeconômicaplenadepotencialidades,masimpedida no seu desenvolvimento pelo abalo da seca. Criaram-se com issováriasnecessidades, que iamdaurgênciada captaçãoderecursos do Estado7aumdiscursoqueafirmavaopredomíniodo

6 NEVES, Frederico de Castro. Imagens do Nordeste. A Construção daMemóriaRegional.Fortaleza:SECULT,1994.ColeçãoTesesCearenses.7 EssaideiaestápresentenotrabalhodeCASTRO,InáEliasde.O Mito da Necessidade: discursoepráticadoregionalismonordestino.RiodeJaneiro:BertrandBrasil, 1992.

O alvo para a recomposição

da mão de obra no campo eram

os trabalhadores nordestinos

e mineiros tornados migrantes

por essa política. A opção pela

recepção de trabalhadores

nacionais implicou a emergência

de um novo discurso que

exaltasse as qualidades desses

trabalhadores, ao mesmo tempo

em que se construía em São

Paulo um polo atrativo para

eles. Um componente importante

para a estruturação da política

migratória nos anos 1930 foi a

construção de uma representação

negativa sobre o Nordeste e a

positivação de São Paulo.

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Ensino&Memória

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sabertécnico,científico,neutroeplanejadorcomoexplicativoe também promotor de reso-luções efetivas sobre aquelaproblemática regional.

Essa ideia também está presente na obra de Odilar-do de Avelar Jr.8 O discurso a respeito da seca e da misé-ria possibilitou às oligarquiasnão apenas uma estratégia de atuaçãosobreogovernofede-ral,mas tambémacriaçãodeespaçosdentrodessaesferadegoverno,oquedeuaelasaces-so a recursos fundamentais paraamanutençãodesuado-minaçãoregional,assimcomoreconhecimento no cenário político nacional.

Os imigrantes num novo contexto: repressão

O que esteve subjacente à política de nacionalização da mão de obra a partir da década de 1930 foi, fundamentalmente, a necessidade de um maior controle social sobre as classes trabalha-doras.Naediçãode12denovembrode1930,dojornalO Estado de S. Paulo,encontramos:

A fim de minorar a situação das pessoas que se encontramdesocupadas, a comissão de sindicância desta cidade vai

8 AVELAR JR., Odilardo de. Política de Combate à Seca no Nordeste: umaideologia para o planejamento regional. 1994.Tese (Doutorado emHistória)–FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo,São Paulo, 1994.

Se a representação negativa sobre

o Nordeste assentava-se em seu

contraponto, ou seja, a positivação de

São Paulo, é necessário considerar

que o sentido positivo atribuído ao

trabalhador nacional igualmente

assentou-se na reversão da imagem

do imigrante que, diferentemente

do que vimos na passagem do século

XIX para o século XX, é, agora,

compreendido enquanto um agente

portador de negatividades. Em

sentido amplo, a reversão do sentido

positivo da imigração materializou-se

em práticas de xenofobia, repressão

política, ideológica e numa variedade

de formas de controle a determinados

grupos e suas instituições — culturais,

educacionais e políticas.

Históriasda(I)migração

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proceder ao levantamento estatístico e, em seguida tomar as providênciasnecessárias.Paraessefim,foramhojeafixadosemdiversospontosdacidadeconvitesaossemtrabalho,quedevemcompareceràruaXavierdaSilveiranr.110afimdeforneceremesclarecimentos.

EmartigodojornalDiárioPopular,ediçãode15dedezembrode 1930, temos a seguinte matéria intitulada “O Problema dos Sem Trabalho”,naqualoarticulistaafirmavaque:

Todos os desempregados, nacionais ou estrangeiros, deverão apresentar-se nas delegacias de recenseamento do Ministério doTrabalho[...]fazendodeclaraçõesacercadesuaidentidade,profissão e residência, a fim de serem tomadas as medidasconvenientessobresuaocupação,principalmenteemserviçosagrícolas.Osdesempregados,nacionaisouestrangeiros,quenoprazode90diasnãotenhamfeitoasdeclaraçõesacimareferidas,obtendo o documento comprobatório de sua apresentaçãonaquelas delegacias, ficam sujeitos a processo por vadiagem,nos termos das leis penais em vigor.

Durante os anos 1930 houve um movimento crescente nas estratégiasdecontrolesobreostrabalhadores,cujosdesdobramentosincidiramespecialmentenaspopulaçõesimigrantes.Ocontextopré-SegundaGuerraMundialeaentradadoBrasilnoconflitoapartirde1942 acirraram as formas de controle e de repressão aos imigrantes, particularmentesobreosalemães,ositalianoseosjaponeses.Desdeoiníciodadécada,umcrescenteexpansionismoterritorialdasqueseriam posteriormente consideradas como potências do “eixo” trouxepreocupaçõesaogovernobrasileiro.

OexpansionismojaponêsnaÁsiaeatomadadaregiãodaMan-chúrianoiníciodosanos1930foiocongêneredaexpansãoalemãem regiõesdaEuropaCentral edoLesteEuropeu, e tambémdoexpansionismo italiano no norte da África. No Brasil, esses proces-soscriaramumreceiodequeos imigrantesedescendentesdessasnacionalidades fossem transformados em agentes de seus governos.

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Dessa maneira, órgãos de repressão passaram a vigiar, controlar e em muitoscasoscriminalizaros“súditosdoeixo”.

Como vimos no segundo capítulo deste livro, a política migra-tóriabrasileirahaviaincentivadoaentradademilhõesdeimigrantesque,passadasalgumasdécadas,haviamconstituídoumaimensaca-pilaridadedeinserçõeserelaçõessociaiseeconômicasnocampoeeminúmerascidadesnopaís.PasqualePetrone,aoanalisaracolôniaagrícolaalemãdeSantaMaria,mencionaque“em1942,quandooBrasildecidiuparticipardaconflagraçãocontraoEixo,amaioriades-sasfamílias,consideradassúditasdepaísinimigo,tevequeseretirar[...]. Ficaram apenas aquelas que, embora de língua alemã, tinhamoutra nacionalidade.”9

Aevasão compulsória dos “súditosdo eixo”das áreas litorâ-neas está também expressa na consulta encaminhada ao diretor da Hospedaria dos Imigrantes pelo Sr. Eurico Alves Resende, prefeito de Jardinópolis.

AspreocupaçõesdoprefeitodeJardinópolis,bemcomoaeva-são compulsória dos alemães da Colônia de Santa Maria, são des-

9 PETRONE,Pasquale.A Baixada do Ribeira.EstudodeGeografiaHu-mana. 1961. Tese (Doutorado emGeografia)–Faculdade de Filosofia, Letras eCiências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1961. p. 102.

Figura50:SobrecolonossúditosdoEixo.Jardinópolis,17jul.1943.

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dobramentos do rompimento, por parte do governo brasileiro, das relaçõesdiplomáticascomaAlemanha,oJapãoeaItáliaem28dejaneirode1942e,aomesmotempo,uma“cristaalta”deprocessosdecontroleerepressãoaosimigrantes.Em8dejulhode1943tinhainíciooplanodeevacuaçãodossúditosdepaísesinimigosqueseen-contravamnaszonaslitorâneas,consideradasapartirdeentãocomoáreasdesegurançanacional.

A Delegacia de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS)10, criada em 1924 e extinta em 1983, exerceu um papel fundamental nocontroleenarepressãoaosimigrantes.EssepapelfoireforçadocomaLeideSegurançaNacionalpromulgadaporGetúlioVargasem1935.DeacordocomAnaMariaDietrich,o“DOPSfuncionavaemproldaprevençãoerepressãoàcriminalidadecomum,àdissidênciapolítica,àmendicância,àvadiagemeaosestrangeirosnocivos,apon-tadoscomoperigososà‘saúde’dopovobrasileiro.”11

Essa ação teve comomotemais do que um receio abstratosobreapresençadessaspopulaçõesemsolonacional;ofatoéque,emboraminoritáriosnoconjuntomaisamplodessapopulação,váriosimigrantes, de fato, mobilizaram-se como “agentes” defensores das orientações políticas de seus respectivos governos. Seguem abaixoalgunsbrevesapontamentosacercadosreflexosdaascensãodonazi-fascismo sobre grupos de imigrantes.

Os alemães e o Partido Nazista

AdocumentaçãodoDOPSapontaparaosurgimentodeumPartidoNazista emSãoPaulo já em1931, dois anos antes da as-censãodeHitleraopodernaAlemanha.Organizadoemcélulasquepoderiamsertantociviscomomilitares,essaagremiaçãopolíticaera

10 Em 1938, pelo decreto 9893-B, de 31 de dezembro, a Delegacia Espe-cial de Ordem Política e Social (DEOPS) passou a ser denominada Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS).11 DIETRICH,AnaMaria;ALVES,ElianeBissan;PERAZZO,PriscilaFerreira. Alemanha.SãoPaulo:ArquivodoEstado;ImprensaOficial,1997.p.22.ColeçãoInventárioDEOPSapudSOMBRA,L.H.DepartamentoFederaldeSe-gurançaPública–RupturaouPermanência?In:Dops, a Lógica da Desconfiança. Rio deJaneiro:SecretariadeEstadodaJustiça;ArquivoPúblicodoEstadodoRiodeJaneiro, 1993.

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similar ao Partido Nazista alemão. Evidentemente, os níveis de inser-çãodessePartidonacomunidadealemãpossivelmenteforamrestri-tos,masasuapresençanacidadedeSãoPauloetambémnoRiodeJaneiro–querecebeuasededoPartidoNazistanoBrasilem1934–criouumclimadedesconfiançaemrelaçãoàcomunidadecomoum todo12.

Segundo Ana Maria Dietrich, a pesquisa aos prontuários doDOPSpermitiu“[...]nãosódetectaraorganizaçãodoPartidoNazis-ta em São Paulo, como os seus instrumentos de propaganda ideoló-gica,ospontosdeencontro,alémdeidentificarentidadesinfiltradasporagentesnazi,aexemplodeescolas,clubesejornais”13.

12 Sobreestaquestão,ver:DIETRICH,AnaMaria;ALVES,ElianeBis-san;PERAZZO,PriscilaFerreira.Alemanha.SãoPaulo:ArquivodoEstado;Im-prensaOficial,1997.ColeçãoInventárioDEOPS.13 Ibidem,p.27.

Figura51:PossívelsededoComitêAlemão;ocidadãodafotografiaéaustríacoefoipresoemCerqueiraCésaraoladodomaterialdepropagandanazista.FotografiacontidanoProntuário“Nazismo”.SãoPaulo,20jul.1946.

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Os italianos e o Partido Fascista

Segundo Viviane Santos14, em 1923 foi fundado o Fascio de São Paulo Filippo Corridoni. A estratégia deste e de outros fasci era, a partir daorganizaçãodeatividadesculturais,assistenciais,educativasemes-mo recreativas, propagar a doutrina fascista no Brasil. Muitos fasci foram criados, especialmente em cidades do interior paulista, como foi o caso de Itápolis (1933).

14 SANTOS, Viviane Teresinha dos. Os Seguidores do Duce:Ositalianosfas-cistasnoEstadodeSãoPaulo.MóduloV–Italianos.SãoPaulo:ArquivodoEs-tado;ImprensaOficial,2001.

Figura 52:Documento produzidopeloDOPS/SP. SãoPaulo, 18nov. 1940.

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Alémdosfasci,outrasinstituiçõesculturaiscomoaOperaNa-zionale Dopolavoro (OND) igualmente desempenhavam funçõesimportantesparaadivulgaçãodofascismoemSãoPaulo.NocasoespecíficodaOND,suainserçãoprioritáriasedeunasclassespopu-lares. Segundo Santos, “a OND possuía bibliotecas e salas de leitura em sua sede, oferecia atividades esportivas e colônias de férias para adultosecrianças.Apesardamaioriadessascolôniasdefériasloca-lizarem-se no Brasil, alguns italianos natos ou ítalo-brasileiros eram escolhidos para participar das colônias de férias na Itália fascista.”15

Os japoneses e a Shindô-Renmei

AShindô-Renmei(LigadoCaminhodosSúditos)surgiunoiní-ciodadécadade1940.SegundoSediHirano,essaorganizaçãoprega-va “uma extrema lealdade, o cultivo da cultura e do saber tradicional visandoconstruir‘agrandecomunidadenacional’”16.Seuobjetivofoiodemantervivasastradiçõesjaponesasforadosolopátrio.Comovimos anteriormente, o contexto internacional – marcado pelo ex-pansionismo das potências do eixo – revelava um Japão beligeran-te que, na perspectiva demuitos emigrados para outras partes domundo,eravistocomomotivodeorgulhoereforçavaseuselosdepertencimento com a antiga pátria.

AhistóriadaShindô-Renmei tem relação coma ascensãodoexpansionismojaponêsesuaderrocadaemagostode1945.FoiumaorganizaçãoquesobreviveualgunsanosapósotérminodaSegundaGuerra Mundial (ela foi desbaratada pelos órgãos de repressão em 1953)e,por issomesmo,foimuito informadasobreaascensãoe,especialmente,sobreaquedadoImpérioJaponês.Elanãofoiaúni-casociedadejaponesaqueseformounaclandestinidade,mas,comcerteza, foiaquedeixoumaismarcasnamemóriadacomunidadejaponesaenacional.

15 SANTOS, Viviane Teresinha dos. Os Seguidores do Duce:Ositalianosfas-cistasnoEstadodeSãoPaulo.MóduloV–Italianos.SãoPaulo:ArquivodoEs-tado/ImprensaOficial,2001.p.27.16 HIRANO, Sedi. Prefácio. In: DEZEM, Rogério. Shindô-Renmei: Ter-rorismo e repressão.Módulo III – Japoneses. São Paulo: Arquivo doEstado;ImprensaOficial,2000.p.19.

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De acordo com Rogério Dezem, a Shindô-Renmei, “[...] além de propagar a vitória do Japão e a volta à pátria, combatia os ‘derro-tistas’,avaliadoscomotraidores”.Estaorganizaçãopromoveuações(destruiçãodeplantações,celeiroseconstrangimentofísicoemoral)contraaprópriacomunidadejaponesaemváriasregiõesdoestadodeSão Paulo, e até mesmo na capital.

Nodia21demaiode1950,operiódicoFolhadaNoitepublicouemsuaediçãodecapanotíciadequesupostosintegrantesdaextintaShindô-Renmei,agorasobadenominaçãodeZenpakuSeinen-Renmei(LigadosMoçosdoBrasil),haviamprocuradoMasanori Yusa, interrogando-o sobre a situação do Japãonaquelemomento.Não satisfeitos comas respostas,ogrupode“fanáticos” começou apropagandear a absurdanotíciadequeaquelesnadadoreseram,narealidade,coreanosaserviçodapropaganda norte-americana.17

17 DEZEM,Rogério.Shindô-Renmei:Terrorismoerepressão.MóduloIII–Japoneses.SãoPaulo:ArquivodoEstado;ImprensaOficial,2000.p.83.

Figura53:MaterialapreendidocomsuspeitosdeparticipaçãodaShindô-Hen-mei;fotografiacontidanoProntuário“ShindôRenmei”.SãoPaulo,10mar.1961.

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Espanhóis e a Guerra Civil

A princípio, mesmo sem vínculos de identidade política ou cul-turalcomos“súditosdoeixo”,órgãosderepressãoecontrole,comoo DOPS, vigiaram e criminalizaram muitos elementos da comunida-de espanhola em São Paulo. Na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), ideologiasàépocaemconflitoestiverampresentes.ConsideradapormuitoshistoriadorescomoumeventoqueantecipariaosconflitosdaSegundaGuerraMundial,esteepisódiocontoucomapresençadepaíses como Itália, Alemanha e União Soviética.

ARepúblicaEspanhola foicompreendidacomoumaantítesedaorganizaçãopolíticabrasileira,especialmenteapósa instauraçãodoEstadoNovo(1937-1945).ParacompreendermososreflexosdaGuerraCivilEspanholanoBrasil,éprecisoconsiderartambémqueoLevanteComunista,ocorridoem1935,revelouaexistênciadeforçascontrárias – em sua maior parte catalisadas no entorno do Partido ComunistaBrasileiro(PCB)–aoprojetoautoritáriodoregimevar-guista. Nesse sentido, um sentimento de solidariedade para com os revolucionários espanhóis emergia no plano político brasileiro.

Aoentenderemoconflitoespanhol comoumembatecontrao avançodas “forças fascistas”, váriosmilitantes políticos deesquerda,emgrandepartemilitaresquehaviamparticipadodoLevanteComunistade1935,seapresentaramcomovoluntáriospara lutar emdefesadaRepúblicaEspanhola.Para amaioriadessescidadãos,ajudaraRepúblicaEspanholaeraumaformade resistir à expansão do fascismo.18

Parte da comunidade espanhola de São Paulo engajou-se emambos os lados da contenda em sua terra natal, criando um clima de rivalidadeinternaquecausoupreocupaçãoporpartedosórgãosdecontroledogovernopaulista.Importantenotarque,segundoSouza,osespanhóisrepresentaram45,78%dototaldeestrangeirosexpulsosnoperíodoentrenovembrode1935eoutubrode1937.

18 SOUZA,IsmaraIzepe.República Espanhola:umexemploaserevitado–MóduloIV–Espanhóis.SãoPaulo:ArquivodoEstado;ImprensaOficial,2001.p. 19.

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Figura54:“Autodeverificaçãoeapprehensão”dedocumentosemateriaisdoCentro Republicano Hespanhol pela Delegacia de Ordem Social de São Paulo. SãoPaulo,27nov.1937.

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O Centro Republicano Espanhol de São Paulo chegou a contar commaisdedoismilfiliados.Acriaçãodessaentidade,inclusive,antecede ao início da Guerra Civil Espanhola, demonstrando queumaparceladacomunidadeespanholasepreocupavaemdefender os ideais republicanos,mesmo antes da deflagraçãodoconflito.19

O outro lado: a identidade hifenizada

Osbrevesapontamentosacima,sobreoengajamentodepartedascomunidadesalemã,italiana,japonesaeespanholanosembatesideológicosquenortearamoconflitomundial,nãopodemsercom-preendidoscomoúnicasexpressõesdasrelaçõesqueosimigrantestiveram com a comunidade nacional. Em outros termos, durante os anos1930e1940,alutapelaconstruçãodeumaidentidadehifeniza-da e seu reconhecimento pela comunidade brasileira e especialmente pelo governo, constituem, igualmente, um momento importante das relaçõesentreimigranteseacomunidadenacionalnoperíodo.

Segundo Jeffrey Lesser,

Aconstituiçãode1934fezmaisdoquecriarcotaseformalizaras posturas xenófobas no corpo da Lei. A nova carta magna tambémteveumprofundoimpactosobreosfilhosbrasileirosdosimigrantesjaponeses.Muitosdeleshaviamcrescidocomobilíngues em áreas urbanas, convivendo com brasileiros de todasasextraçõeseacreditavamnaretóricadequeoBrasileraum país sem racismo e a caminho de se tornar uma potência mundial. [...] Foi das salas da Faculdade de Direito do Largo São FranciscoemSãoPaulo,comsuatradiçãoprogressistaeanti-getulista, que veio a respostamais sofisticada à Constituiçãode1934.Em1935,oestudantededireitoeex-soldadoCássioKenro Shimonoto, juntamente com alguns colegas, fundou aLigaEstudantinaNipo-Brasileira,comoobjetivodepatrocinar

19 SOUZA,IsmaraIzepe.República Espanhola:umexemploaserevitado–MóduloIV–Espanhóis.SãoPaulo:ArquivodoEstado;ImprensaOficial,2001.p. 40.

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eventos culturais, educativos e esportivos. [...]O fato de queaqueles que haviam vivido toda ou quase toda sua vida noBrasil eram ou haviam se tornado brasileiros era insistente e cuidadosamenteexplicadonosjornaisdaLiga.20

A passagem acima, embora centrada no caso de um descendente dejaponeses,explicitaoutraperspectivaparaarelaçãodosimigrantescomacomunidadenacional.Anoçãodeumaidentidadenipo-brasilei-ra ou ítalo-brasileira traduzia no período uma luta pelo reconhecimento de vínculos culturais e étnicos pretéritos sem, no entanto, negar seu pertencimento à comunidade nacional. A identidade hifenizada inse-ria-se numa paisagem polarizada do ponto de vista ideológico e num contexto de crescente controle e repressão aos imigrantes.

Para Lesser, a identidade hifenizada era algo situacional e mu-távelnamedidaemqueela traduzia anecessidadeeodireitodosimigranteseseusdescendentesde“abraçar”suaitalianidadeenipo-nicidadetantoquantosuabrasilidade.Esseposicionamentorevelavasentimento e postura social bastante radicais e humanizadores, espe-cialmentenumcontextomarcadoporrepresentaçõesabsolutizadasecriminalizadas dos imigrantes por parte dos órgãos de repressão, bem comoporaçõesigualmenteconservadoraseideologizadasporpartede alguns grupos de imigrantes.

Em sentido amplo, as décadas de 1930 e 1940 alteraram subs-tancialmenteasrepresentaçõessobreosimigrantes,particularmentenoquesereferiaàpositividadedesuacontribuiçãonoprocessodeconstruçãodeumasociedadebaseadanapluralidadeétnicaecultu-ral.Comovimos,osfatoresexplicativosparaessamudançaforambastantevariados:remontamaquestõeseconômicascomoacafei-cultura, perpassam pela política migratória, pelo contexto político e ideológico do período pré Segunda Guerra Mundial, pela ascensão de GetúlioVargaseorecrudescimentodoregimepolíticoepelaaçãodosórgãosderepressão.Nessecontextoheterogêneo,asaçõesdosimigrantesresultaramemduasfrentes:porumlado,oreforçodoslaçosculturaisorigináriose,poroutro,astentativasdeconstituiçãode uma identidade hifenizada.

20 LESSER, Jeffrey. A Negociação da Identidade Nacional. Imigrantes, mino-riasealutapelaetnicidadenoBrasil.SãoPaulo:EditoraUNESP,2001.p.221.

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Breve nota sobre a imigração pós Segunda Guerra Mundial

As décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial mantiveram –dopontodevistadosfluxosmigratórios–umatendênciaàdimi-nuiçãodasentradasdeestrangeirosnopaís.Oquadroaseguirapontaovolumedeentradasdeestrangeirosentre1945e1972.Essevolumerepresentaapenas16,18%do totalde imigrantesqueentraramnoBrasil desde 1820.

Migrantes entrados no Brasil e em São Paulo

Nãofazpartedosobjetivosdestecapítuloumadecodificaçãomaisprecisasobreoprocessomigratórionesseperíodo.Dequalquerforma,valearessalvadequeaimigração,nessaépoca,caracterizou-sepelainserçãodetrabalhadorescomperfilmajoritariamentevoltadopara as atividades urbanas e industriais. A maior parte dos imigrantes quesefixouemSãoPaulocontribuiuparaaampliaçãoemoderniza-

Período

Brasil São Paulo% do total para S.P.

1945-1949 80.372 41.228 51,3

1950-1954 335.124 198.042 59,1

1955-1959 247.944 166.961 67,34

1960-1964 149.088 53.214 35,69

1965-1969 48.499 789 1,63

1970-1972 15.588 418 2,68

1945-1972 876.615 460.652 52,54

1820-1972 5.414.976

Total

Figura 55: Migrantes entrados no Brasil e em São Paulo. SãoPaulo,1974.OtotalBrasil(1820-1972)foicompiladopormima partir dos dados apresentados por Maria Levy em seu estudo “OPapeldaMigraçãoInternacionalnaEvoluçãodaPopulaçãoBrasileira(1872-1972)”.

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çãodoparqueindustrial.Emoutrostermos,adinamizaçãodenovosramosdaprodução,comoaindústriaautomobilística,aeletroeletrô-nicaeaquímico-farmacêutica,produziunovospostosde trabalhoenovasocupações,criando,assim,ummercadodetrabalholigadodiretaeindiretamenteaossetoresmaisdinâmicosdaeconomia.

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A paisagem urbana possui indícios de outros tempos, de outras vivências.Asmigraçõesdopassado,comotantosoutrosprocessossociais, deixaram suas marcas na cidade; muitas delas continuam bas-tanteaparentesevisíveis,enquantooutrassemantêmdeformamaistímidaesutil.Essaspresençasdopassadoconformamumacidadediversificada e plural.Edificações “novas” e “antigas” estão “ladoa lado”, assim como os templos religiosos – católicos, evangélicos, muçulmanos,judaicos,ortodoxos,terreirosdeumbanda,etc.Háumcomércioétnicobastanteativoediversificado,especialmenteaqueledirecionado à venda de produtos alimentícios; ao lado destes, restau-rantesdeculinárianordestina, italiana, japonesa,árabe,portuguesa,espanhola,judaica,boliviana,grega...enfim,umsemnúmerodeluga-resquenosconvidam a experimentar novos cheiros e sabores.

Todosesses lugaressãoexpressõesde territórioscuja relação,funçãooumesmoorigemestãoligadasàpresençadegruposestran-geiros e nacionais na cidade. Apresentaremos adiante alguns elemen-tosdarelaçãoentreosprocessosmigratórioseaconstituiçãodeter-ritóriosdamigraçãonacidadedeSãoPaulo.Apropostaéanalisaraconstituiçãodeterritóriospelosimigrantesemigrantesenquantoumaexpressãoambíguadaafirmaçãoedanegaçãodasuacondiçãodesujeito“vindodefora”,de“forasteiro”.

Territóriosdamigraçãonacidade de São Paulo

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Este capítulo está estruturado em três partes. Na primeira, há umaapreensãomaisgeralsobreaconstituiçãodosterritóriosdami-gração;nasegunda,algunsexemplosdessesterritóriosnacidadedeSãoPaulo, suas singularidades e semelhanças; na terceira, os terri-tórios enquanto expressão ambíguada afirmaçãoedanegaçãodacondiçãomigrante.Nestecapítulo,comonoprimeiro,utilizamosotermo“migrante”parareferenciartantoestrangeirosquantonacio-naisfixadosemSãoPaulo.

Territórios da migração

Aalteraçãodeespaçosurbanosporgruposdemigranteséumadascaracterísticasmaiscomunsdadinâmicadosdeslocamentospo-pulacionais. A análise das transformações no espaço promovidaspelos processos migratórios coloca em discussão as implicaçõeseconômicas,culturais,históricaseascontradiçõesdapresençadosterritóriosdamigração,especialmenteemcidadescomoSãoPaulo.Dentreos vários trabalhos que analisaramprocessos deocupaçãoterritorial, o estudo de Renato Cymbalista e Iara Rolnik1 apresenta umesforçoemcaracterizarquatropadrõesdeocupação territorial(territórios étnicos): os guetos norte-americanos, os banlieues das grandes cidades francesas, os enclaves étnicos e os loteamentos ile-gaisformadosporcomunidadesperseguidaspormotivaçõesreligio-sas ou políticas. Esses territórios revelam a capacidade de determina-dascomunidadesemproduzirambientesqueexpressamasmarcasdesuapresença.

Apercepçãodequedeterminadasporçõesdacidadeguardamcaracterísticasarquitetônicas,culturais,humanaseeconômicassingu-lares é aberta para um olhar mais atento aos seus elementos históri-cosestruturantesesuatransformaçãonotempo.ObairrodaLiber-dade, em São Paulo, é um bom exemplo. Como vimos no terceiro capítulo, no contexto paulistano, ele é rememorado como um bairro japonês,embora,atualmente,apresençadechinesesecoreanossejacadavezmaisintensa.Esseadensamentodefluxosmigratóriosalte-

1 CYMBALISTA,Renato;XAVIER,IaraRolnik.Acomunidadebolivi-anaemSãoPaulo:definindopadrõesde territorialidade.Cadernos Metrópole, São Paulo,n.17,p.119-133,1ºsem.1997.

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rouadinâmicadovividonaqueleespaçoe tornoumaiscomplexasua dinâmica social, econômicae cultural.

As metamorfoses de muitos bairros de São Paulo durante o séculoXXeiníciodoXXIéumtema importante nos estudos so-breaurbanizaçãoeamigração2; elas abrem caminho para inserir na pauta desses estudos a consti-tuiçãodessesterritóriosenquan-to uma expressão ambígua da afirmaçãoedanegaçãodacon-diçãomigrante.

Arelaçãoentreosdesloca-mentos populacionais e a cons-tituiçãodeterritóriosnos levaauma breve digressão sobre dois elementos; o primeiro trata da noçãodeterritório.

Segundo Abdelmalek Sayad,

[...] o espaço dos deslocamentos não é apenas um espaçofísico,eleétambémumespaçoqualificadoemmuitossentidos,socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente (sobretudo através das duas realizações culturais que são alíngua e a religião), etc.3

2 Dentre muitos trabalhos, cf. MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no Pedaço:culturapopularelazernacidadedeSãoPaulo.SãoPaulo:Hucitec,1998;SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão.SãoPaulo:Nobel,1998;SINGER,Paul. Economia Política da urbanização.SãoPaulo:Contexto,1998;VERAS,Maura.Ter-ritorialidadeeCidadaniaemTemposGlobais:imigrantesemSãoPaulo.Cadernos Metrópole,SãoPaulo,v.2,p.73-119,1999;destamesmaautora:Diver (cidade):ter-ritóriosestrangeiroscomotopografiadaalteridadeemSãoPaulo.SãoPaulo:Educ,2003.3 SAYAD, Abdelmalek. A Imigração ou os Paradoxos da Alteridade.SãoPaulo:Edusp,1998.p.15.

Bairros como o Bom Retiro,

Brás, Mooca ou Pari são também

exemplos de territórios migrantes

que sofreram transformações

significativas na sua paisagem

no transcurso do século XX.

A sobreposição de correntes

migratórias num mesmo espaço

transformou o Bom Retiro: de

bairro judeu a partir da primeira

metade do século XX à presença

predominante de coreanos e

bolivianos nos dias de hoje.

Processo semelhante ocorreu com

o Brás e a Mooca: redutos de

italianos, espanhóis e portugueses,

esses bairros foram paulatinamente

transformados pela presença de

migrantes nordestinos.

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O segundo elemento trata do fato das migrações serem,de um lado, um fenômeno social complexo e, de outro, constituírem-se enquanto umprocesso sempre coletivo, eivado por redes sociais quelhe dão suporte. Como vimos nos capítulos anteriores, as migraçõessãoportadorasdeumamultiplicidade de sentidos quetranscendem as expectativas da sociedadereceptora.Aopassoquehá uma tendência da sociedade de destino em aceitar os migrantes apenascomoforça-de-trabalho,asmigraçõessubvertemessesentidoredutor de suas potencialidades imposto pela sociedade de recepção. As migrações criamum descompasso de expectativas que se explicitam cada vez queos migrantes demonstram sua capacidade de modificar – por

vezes em grande magnitude – a sociedadedeacolhida.Dessaforma,aproduçãodosterritóriospelasmigraçõesguardamúltiplossentidosecontradições.

Nos núcleos coloniais, e em pequenas vilas e cidades comoHolambra(SP),Blumenau(SC)ouSãoLeopoldo(RS),aarquitetu-radasedificaçõesexplicitademaneiracontundenteapresençadosmigrantes. Por outro lado, os territórios também se constituem de festas,culinária,religiosidade,tradiçõesecostumesvariados–culturaimaterialquesehibridaesefundecomasmanifestaçõesmateriais.Ambos os sentidos (materiais e imateriais) constituem uma paisagem culturalquesedistinguedeoutrasedãosingularidadeaoterritório,transformando-onumpatrimôniodosgruposqueoerigiram,mastambém da sociedade mais ampla.

O território representa um

complexo de relações econômicas,

sociais, históricas, culturais,

ambientais e políticas erigidas

num dado espaço (geográfico),

cuja constituição guarda conexões

amplas e variadas com outros

territórios e tempos sociais.

Ele adensa camadas de tempo;

supõe características que lhe

são singulares à medida que se

constitui enquanto totalidade

aberta a transformações no

transcurso da história. Resulta

de necessidades e motivações

múltiplas de seus sujeitos, as quais

podem ser de ordem material e

concreta (relações econômicas)

ou de natureza por vezes

intangível como as necessidades

da cultura, das relações sociais,

dos elos de pertencimento, etc.

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No contexto urbano, um bairro como São Miguel Paulista – território nordestino na cidade de São Paulo – possui uma maior constância(fixidez)secomparadoaterritóriosqueseconstituemdemaneira mais efêmera e podem ser erigidos em diferentes lugares na cidade.Exemplosdessasmanifestaçõesmaisfluídasoumóveissãoasfestasqueserealizamemdeterminadasépocasdoanooumesmoem certos dias da semana, como a feira organizada por migrantes bolivianosnaPraçaKantuta,nobairrodoPari.Fixidez e fluidez são termospoucoapropriadosparaaqualificaçãodessesterritórios,masrespondemàmultiplicidadedeelementosquepermeiamosterritó-rios migrantes.

Construídos paulatinamente, os territórios materializam neces-sidadesmúltiplas que vãodesde a tentativa de recriação de paisa-gens assemelhadas àsdas sociedadesdeorigematé amanutençãode vínculos e elos de pertencimento entre os migrantes – elementos desuportefundamentalparasobreviverenquantoseconsideraestarno território de outrem. Dessas necessidades (materiais e afetivas, concretas e identitárias),aproduçãodoespaço-territórioobedeceàssingularidadesetemposdeinserçãodosmigrantes.

Os territórios da migraçãonão são espaços idílicos ou folclóri-cos – embora também possam assim parecer.Elesseconstituemenquantoação-reaçãonaconstantedisputaporinserção,pertencimentoevisibilidadenos contextos urbanos ou rurais. São totalidadescomplexasqueseconstro-em sobrepondo-se e ocultando outros sujeitos, outras sociabilidades, outrosterritórios. Revelam, como vimos no terceiro capítulo, a disputa presente na construçãodacidade.

Como observaremos adiante, os territórios transformam-se a ponto de negar parte de suas origens, em alguns casos. Por vezes são compreendidos como intrusos pela sociedadederecepção,dadoqueadensamematerializamapresença

Não há que se buscar

uma homogeneidade nos

territórios da migração. O

território tipicamente ou

exclusivamente nordestino,

coreano, italiano, chinês ou

árabe, a rigor, não existe.

Os territórios da migração

são híbridos, apesar de

singularidades que lhes

conferem certa identidade.

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do outro, do estrangeiro, do invasor,daquelesqueportamcostumes,hábitos e culturas singulares, incômodas ou perigosas4.

Por este caminho, não ouso propor uma tipologia de territórios damigração,mas,sim,umadescriçãopreliminardesuascomposi-çõesapartirdedoiscasos:odeSãoMiguelPaulista,territóriocujapaisagemémarcadaporelementosmateriaiseimateriaisquedeno-tamapresençaepersistênciadenordestinos,eodafeiradaPraçaKantuta, território boliviano móvel, visível e invisível.

São Miguel Paulista

Comovimosnoquartocapítulo,apolíticamigratóriainseriumi-lhares de trabalhadores nordestinos em São Paulo. Em decorrência dessamigração,obairrodeSãoMiguelPaulistafoipaulatinamentetransformado em território nordestino a partir dos anos 1930. Até as primeirasdécadasdoséculoXX,obairroabasteciaaregiãocentraldacapitalcomhortaliças,legumesefrutas.Suapopulaçãoconstituía-sedepequenosprodutoresrurais,inicialmenteimigrantesportugueseseposteriormentejaponeses;asplantaçõesnaquelaárea,comoemmui-tas outras da cidade, formavam uma espécie de cinturão-verde. Além disso,SãoMigueltambémconcentravaalgumasolariasqueprodu-ziamparaaconstruçãocivil.

Segundo Sylvio Bomtempi,

Após1935opadrãodeocupaçãodobairrosealtera.Aschácaraspaulatinamente dão lugar aos arruamentos e loteamentos, dando lugar aos trabalhadores da indústria (Nitro Química) ou detrabalhadores dos estabelecimentos de outras partes da cidade.

4 EstetemaérecorrenteeimportantenosestudosdemigraçãonoBrasileestápresenteemváriostrabalhos;dentreeles,destacodoisjámencionadosan-teriormente:oestudodeJeffreyLessersobreaimigraçãodejaponesesechinesesea reflexãodeMárciaReginaNaxara sobrea inserçãodemigrantesbrasileirosem São Paulo. Cf. LESSER, Jeffrey. A Negociação da Identidade Nacional. Imigran-tes,minoriasealutapelaetnicidadenoBrasil.SãoPaulo:EditoraUNESP,2001;NAXARA,MárciaReginaCapelari.Estrangeiro em sua Própria Terra.RepresentaçõesdoBrasileiro.1870-1920.SãoPaulo:Annablume;FAPESP,1998.

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Estes loteamentos têm sua fase áurea no período da II Guerra Mundialquandochegamaobairrolevasdetrabalhadoresruraise de outras partes do Brasil.5

AinstalaçãodaCompanhiaNitroQuímicaBrasileira6 no bair-ro,em1935,foifatordecisivoparaoafluxoefixaçãodemigrantesnordestinos.A inserçãodestesnovos sujeitos transformouantigosterritórioseconvivênciasaopassoqueimplantounovoselementosnapaisagem.Comotodamigração,achegadadenordestinosemSãoPauloconstituiu-seporredessociaisquearetroalimentaram.

Emváriasentrevistascommigrantesquesefixaramnobairrodurante os anos 1930 e 1940, encontram-se elementos como os ex-pressosabaixo:

EuvimdeSenhordoBonfim,estadodaBahia.Ali,em1938,1940iaalgumaspessoadaquipráláechegavaláediziaqueaquieraumabeleza[...]queaquierabonito,tinhamuitodinheiro[...]eaquiloacaboumeatraindo.[...]SãoPauloagentechegavaaqui,todomundoconheciaaestaçãoRoosevelt,naquelaépocaeraaestaçãodoNorte,quetodomundoqueeradoNortevinhaali[...]edaliparaaestaçãodeSãoMiguel.Quemtinhafamiliaresaqui,procuravaaNitroQuímica.Àsvezes[...]elachegavanaportaria e dizia para o chefe da guarda: “eu sou parente defulanodetal”[...],seeletavatrabalhandoquandoelesaía,elepegavaapessoa,senãoquandosaísseumconhecidodaquela

5 BOMTEMPI, Sylvio.O bairro de São Miguel Paulista:AAldeia de SãoMigueldeUruraínaHistóriadeSãoPaulo.SãoPaulo:DivisãodoArquivoHistóri-co;DepartamentodeCulturadaSecretariadeEducaçãoeCulturadoMunicípiodeSãoPaulo,1970.p.159-160.6 SobreaconstituiçãodobairrodeSãoMiguelPaulistaedaCompanhiaNitroQuímica, cf. PAIVA,Odair da Cruz.Caminhos Cruzados. Bauru: Edusc,2004; ROCHA, Antonia Sarah Aziz. O bairro à sombra da chaminé:umestudoso-bre a formação da classe trabalhadora da CompanhiaNitroQuímica de SãoMiguelPaulista(1935-1960).1992.Dissertação(MestradoemEducação)–Pon-tifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992; FONTES, Paulo. Trabalhadores e cidadãos:NitroQuímica–afábricaeaslutasoperáriasnosanos50.SãoPaulo:Annablume,1997.

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pessoa a gente pegava e levava até a casa dele. [...] Cheguei numa quinta-feira,[...]nasegunda-feirajácomeceiatrabalhar.7

São Miguel Paulista foi reincorporado à cidade num processo quepossuía,deumlado,osreflexosdaperiferização crescente da malha urbanaapartirdosanos1930,e,deoutro,ainserçãodeatividadesin-dustriais–comofoiocasodaNitroQuímica.Lugardeterrenosmaisbaratos,SãoMiguel(queincluíatambémItaqueraeGuaianazes)re-

cebeuentreasdécadasde1940e1970milhares de migrantes, nominados de forma redutora como “baianos”8. O bairro, com características rurais e povoado por migrantes portugueses ejaponeses,foitransformadoemter-ritório nordestino.

Nas palavras de um migrante, “Tudo isso dava ao bairro um clima de festa [...] de retorno [...] a gente se sentia no próprio sertão.”9

“Tudo isso” é uma referência a umconjuntodeelementosconcretose simbólicos erigidos na paisagem do bairro.

Por outro lado, São Miguel, en-quantoterritóriodamigração,nãoéum espaço exclusivo de festa. Ten-sõesepreconceitos tambémmarca-ramsuaconstituição.Talvezumdos

7 Excertodeentrevista realizadapormimcomoSr.Carlos (nomefic-tício),em30deabrilde1999,nasub-sededoSindicatodosQuímicosemSãoMiguel Paulista.8 Henri Arraes Gervaiseau dirigiu em 1994 um documentário intitulado Tem Que ser Baiano. Nele, temos com clareza – nos depoimentos de vários migran-tesnordestinos–osentidoredutordaidentidade,subjacenteàaplicaçãodotermobaiano.9 ExcertodeentrevistarealizadapormimcomoSr.Antonio(nomefictí-cio)em30deabrilde1999nasub-sededoSindicatodosQuímicosemSãoMiguelPaulista.

Das Casas do Norte e

dos forrós aos encontros

nas praças; das conversas

sobre as viagens mais ou

menos constantes nas quais

se trocavam informações

sobre os parentes de lá aos

presentes e lembranças que

vão e vêm; da liberdade da

fala com sotaque sem temer

o olhar alheio a um sentido

de pertencimento à cidade,

operou-se em São Miguel

o adensamento de uma

nova dinâmica do cotidiano

que ocultou, desagregou e

transformou relações sociais

pretéritas.

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Ensino&Memória

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casosmaisemblemáticostenhasidoaquerelaquecircundouamu-dançadonomedobairroem1944.AtéentãoseunomeeraSãoMi-gueldeUruraí,lembrançadoantigoaldeamentodeíndiosguaianazesorganizadoporpadresjesuítasem159010.Naqueleano,poriniciativadopoderpúblico,obairroperdeuseuantigonomeepassoua sechamarBaquirivú.Amudançadesagradouosmoradores,queorgani-zaramumprocessodecoletadeassinaturasparaumanovamudançano nome do bairro.

De acordo com Sylvio Bomtempi, a escolha foi feita a partir de trêsopções:SãoMiguelBaquirivú,SãoMiguelPaulistaeSãoMiguelBahia.Omaiornúmerodeassinaturasdeuvitóriaaonomeatual.Se-gundo o depoimento de um antigo morador de São Miguel Paulista –queparticipoudacoletadeassinaturasparaamudançadonomedobairro –, registrado por Antonia Rocha,

Naquelaépocahaviagranderejeiçãoemrelaçãoaosprimeirosmoradores do bairro, ou seja, os índios.Os índios [...] eramvistoscomopovobematrasado,pobreesemtradição.Muitosmoradoresqueparacávieramtinhamvergonhademencionarque SãoMiguel tinha sido aldeia indígena.Quanto ao nomeSão Miguel Bahia nem gosto de falar! Na época houve muito desprezo por este nome. Era um certo preconceito, uma rejeição...seilá!Opreconceitosempreexistiuaqui.Osbaianoseram chamados de “cabeça chata”, “pau-de-arara” e outros.Saiumuitabrigapor istoeatémorte.Acreditoque tudo istoajudouparaqueaescolhadonomefosseSãoMiguelPaulista.Nome de santo o povo sempre aceita... e santo paulista ... tanto melhor.11

10 SãoMigueldeUruraíeraajunçãodonomedosantopadroeirodaca-pelaconstruídaem1580,SãoMiguelArcanjo, comonomedaaldeia indígena,Ururaí11 ROCHA,AntoniaSarahAziz.Obairroàsombradachaminé:umestu-dosobreaformaçãodaclassetrabalhadoradaCompanhiaNitroQuímicadeSãoMiguelPaulista(1935-1960).1992.Dissertação(MestradoemEducação)–Pontifí-cia Universidade Católica de São Paulo, 1992. p. 24.

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A escolha do novo nome para o bairro é emblemática. A par-tir domomento emqueos nordestinos sefixavamna cidade, re-construíamsuasvidaseinteragiamcomonovolugar,amudançadonomedobairromascarava transformaçõesqueestavamemcurso.SãoPaulo silenciava suaporçãonordestina; os territórios são, porvezes, incômodos.

OsterritóriosdamigraçãonordestinaemSãoPaulo–presentestambémembairrosdazonasul,comoSantoAmaro–talvezsejamosqueabsorveram levas sucessivasdemigrantespormais tempo.Aocontráriodamigraçãoitaliana,espanhola,portuguesaejaponesa,cujaintensidadesecircunscrevenumperíodomaisrestrito,aentradadenordestinosemSãoPaulofoiintensadurantemaisdequatrodé-cadas. Isso conferiu a esses territórios certa perenidade no ambiente urbano,umavezqueforamretroalimentadosporsujeitosoriundosda mesma região. Esse dado é importante, pois nos permite pensar aconstituiçãodeoutroterritóriodamigração:aPraçaKantuta.Valelembrarqueasconsideraçõesquefizemosnoterceirocapítulosobreo bairro da Liberdade podem ser transpostas para este momento de nossareflexão.

Figura56:PraçaPadreAleixoMonteiroMafra,tambémconhecidacomoPra-çadoForró.LocalizadaemSãoMiguelPaulista,esseespaço,atéasuarevitali-zaçãoem2007,erapalcodeváriasmanifestaçõesligadasàculturanordestina.

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A Praça Kantuta

APraçaKantuta,nobairrodoPari(zonanortedacidade),entranoroldeterritóriosdamigraçãoporsuassingularidades–secom-parada com São Miguel Paulista – e por ser expressão da continui-dadedasmigraçõesque,décadaapósdécada,continuammoldandooespaçourbano.Apresençaboliviananacidaderemontaaosanos1950;entretanto,foinasdécadasde1980e1990–comainserçãodebolivianoscomotrabalhadoresnasoficinasdecosturadoBomRetiro–quetalmigraçãoganhouvisibilidade.

Avisibilidade,aliás,foiumdostemasquecircundaramosestu-dosproduzidossobreessamigraçãoaindanosanos198012. A partir dofinaldos anos1970, a ausênciadeumapolítica imigratórianopaís–cujaexpressãomaisemblemáticafoiofechamentodaHospe-daria de Imigrantes no bairro do Brás13–criouumambientenoqual

12 Umdosestudospioneirossobreaimigraçãoboliviana,suainserçãonomundo do trabalho e a problemática da invisibilidade foi realizado por Sidney Silva. Cf. SILVA, Sidney A. Costurando Sonhos.TrajetóriadeumgrupodeimigrantesbolivianosemSãoPaulo.v.1.SãoPaulo:Paulinas,1997.13 Sobre a história da Hospedaria de Imigrantes e alguns dos desdobra-mentosdeseufechamentoparaadinâmicadasmigraçõesemSãoPaulo,cf.PAI-VA, Odair da Cruz; MOURA, Soraya. Hospedaria de Imigrantes de São Paulo. São Paulo:PazeTerra,2008.

Figura57:Av.Nordestina,nobairrodeSãoMiguelPaulista.

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as novas levas de migrantes queaquichegaram(coreanos,chineses, latino-americanos e africanos) foram permeadas por um misto de ilegalidade e invisibilidade.14

Indocumentados em sua maioria, os bolivianos inseri-ram-se num circuito da pro-dução que se beneficiou dafragilidade de seu status ilegal.

Entretanto, esse quadrofoialteradoapartirdofinaldadécadade1990,quandoessesmigrantes superam sua mera condição de força-trabalhoeemergemcomosujeitosdedireitos, como vimos no pri-meiro capítulo. Atualmente, matriculamseusfilhosnases-colaspúblicas,demandamsuainserção nos serviços públi-cosdesaúde,organizamseustimes de futebol e usufruem dos espaços de lazer, espe-cialmenteosparques.Énessenovo contexto de visibilidade quetemosaproduçãodeumterritóriomigrantebolivianonacidade:aPraçaKantuta,nobairrodoPari.

Porvoltadoano2000,erapossívelobservarumaconcentraçãodemigrantesbolivianosnaPraçaPadreBento(tambémnoPari)nosfinaisdesemana,particularmenteaosdomingos.Naépoca,acomu-

14 Umexcelentelevantamentodeproduçãobibliográficasobreasmigra-çõesparaopaísetambémsobreamigraçãobrasileiraestáem:ASSIS,GlauciadeOliveira;SASAKI,ElisaMassae.NovosMigrantesdoeparaoBrasil:umbalançodaproduçãobibliográfica.In:CASTRO,MaryGarcia(Org.).Migrações Internacio-nais:contribuiçõesparapolíticas.1.ed.Brasília:CNPD,2001.p.615-669.

Durante as décadas de 1980 e

1990, a mão de obra (barata e cativa)

boliviana foi fundamental para a

expansão de determinados ramos da

produção têxtil, que abasteciam e

ainda abastecem o comércio popular

das ruas do Bom Retiro e as grandes

redes de lojas de vestuário. Na época,

pesquisadores procuravam mapear

as condições de vida e trabalho

dessa população como forma de

compreender a sua invisibilidade

no contexto urbano. Grande parte

desses migrantes residia no local de

trabalho, tinha mobilidade limitada

e era assolada pelo medo (muitas

vezes imposto pelos próprios donos

das oficinas) da polícia, da prisão e da

deportação14. A migração boliviana em

São Paulo, em seus primeiros tempos,

foi exemplo da impossibilidade de

constituição de um território migrante.

Sua característica foi a de não

deixar marcas na paisagem, daí sua

invisibilidade.

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nidadedoentorno reagiuaoquechamaramde“feiraclandestina”e aos transtornos causados pelo mau comportamento (alcoolismo, produçãodelixo,etc.)deseusfrequentadores.Emcertamedida,esseambiente inicial de visibilidade dos bolivianos na cidade expressava o panorama de ilegalidade da comunidade no contexto urbano. A transferênciadafeiraparaumespaçopróximoocorreentre2001e2002,eem2004sedáaoficializaçãodapraçacomonomeKantuta15.

AfeiradaPraçaKantutarepresentaumnovomomentodarela-çãodacomunidadebolivianacomacidade:dailegalidade à legalidade; da invisibilidade à visibilidade; do ocultamento à transparência. Esse território migrante possui identidades e singularidades importantes comseuscongêneresqueresumireiemtrêsbrevesnotas.Aprimeira

15 Kantutadesignaumaflordoaltiplanoandino.Comcoresverde,amare-loevermelho(asmesmasdabandeiradaBolívia),estaflor–segundoosprópriosbolivianos – representa a união de povos e culturas e simboliza sua conexão com opaís.Em2008, comdireçãodeRodrigoLeite, aCTR-ECA-USPproduziuodocumentário Kantuta. Trata-se de um excelente registro das várias perspectivas sobreaqueleterritório.

Figura58:FeiradaKantutarealizadaaosdomingosnobairrodoPari. São Paulo, 2012.

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tem relação comoevento, a feira e suas característicasbásicasdeocupação do espaçopúblico, de lugar de trocas e relações sociaisdiversas,deafirmaçãodeidentidadeseintegração.

Nessa perspectiva, a feira da Pra-çaKantuta evoluiu enquanto íconedapresençabolivianaemSãoPauloe enquanto território em seu senti-do mais amplo, comparável a outros congêneres, como as festas da comu-nidade italiana (San Genaro, Achiro-pita, Casaluce). Mais recentemente, a Rua Coimbra, no bairro do Brás, tem se constituído como um territó-rio mais perene para a comunidade boliviana,oquedenotaanecessida-de deste grupo por um enraizamen-tonoespaçodacidade,decorrêncianatural dos processos migratórios.

Asegundanotaéadissociaçãopermanente entre a feira e apraça,entre a densidade das atividades humanaseoespaçofísico.APraçaKantuta não é um território bolivia-no durante todo o tempo. A feira ocorreapenasaosdomingos,oqueimplica uma sazonalidade constante do território, ou, se preferirmos, a permanência, em certa medida, da dualidade entre visibilidade e invisi-

bilidade. Esta nota nos remete à terceira. Aos

migrantes contemporâneos está dificultada a possibilidade de (re)produzirnoespaçodacidadeterritórioscomoaquelescriadospormigrações anteriores. Evidentemente há uma escassez de espaçosquefazcomqueacidadeatinjaumgraudeadensamentofísicoquebeiraasaturação.Mastambémháqueseconsiderarumanovadinâ-mica para os deslocamentos populacionais no plano mundial, mar-

Realiza-se neste momento

uma radical mudança

no sentido da condição

migrante. Como uma caixa

de Pandora aberta, eclodem

outras potencialidades para

o vivido migrante, inclusive

o princípio de uma possível

negação desta condição. Os

territórios migrantes portam

essa ambiguidade. Se, por

um lado, eles expressam a

reafirmação de necessidades

e singularidades, do outro,

do não nacional, eles

expressam a necessidade de

enraizamento na sociedade de

destino. Essa ambiguidade se

realiza de maneira particular,

na medida em que só pode ser

erigida numa materialização

de referências que, ao mesmo

tempo em que estão sendo

recordadas, precisam ser

perdidas.

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cadopelamultiplicidadedosfluxos e pelas possibilidades intensasde conexão e trocas (via internet, telefone, televisão) entreosquemigrameosquepermanecemnasregiõesdeorigem.

Querosalientarcomissoqueestamosnummomentoderevi-sãodoentendimentoquetemosdosterritóriosdamigração.Ocasodamigraçãodebolivianos–mastambémdachinesaouafricana–apresentanovosdesafiosparacompreendermossuasrelaçõescomacidade e também suas estratégias de sociabilidade. Em outros termos, osterritóriosdamigraçãopodemganharcontornosmaisvirtuaisaopassoqueasociabilidadedestessujeitosadentraumtempoondeassingularidades(culturais),asexpectativasdeintegração(econômicase políticas), os sonhos (e as utopias) sofrem interferências da homo-geneizaçãodasformasdocotidianonasociedadedeconsumo16.

Nesse novo contexto, as singularidades são folclorizadas, as possi-bilidadesdeintegraçãosãoformalizadaspelasregrasjáestabelecidaspela economia e política, os sonhos e utopias são comprados nos shoppings centers.Essasdeterminaçõesdotempopresentenãosãoper-ceptíveis apenas no território Kantuta. Ocorre nos territórios migran-tesomesmofenômenoquetende–noplanomundial–aproduziríconescomunsatodosospovosesuprimiraimportânciadolugarnaconstituiçãodasidentidades.

Territórios da migração na cidade de São Paulo: entre a afirmação e negação da condição migrante

Abdelmalek Sayad, quando de sua análise sobre a imigraçãode argelinos na França, apontou, entre outras questões, as váriasambiguidades que cercam a condição do migrante. Uma delasvisa refletir, particularmente, sobre os territórios que os recebem.Esses indivíduossãodesejadoseaceitospelasociedadededestinoapenas como força-de-trabalhodespossuídadeoutros interesses eexpectativas.Énessacondiçãoqueamigraçãofazsentido,inclusiveparaosprópriosmigrantes,noinstanteemquedecidemtrocarsuaidentidade de nacional para estrangeiro.Ocorreque,realizadaamigração,opera-se uma transformação – ou superação – da condição de

16 Sobre esta questão, cf. BAUMAN, Zygmunt.Vida para Consumo. A transformaçãodaspessoasemmercadoria.RiodeJaneiro:Zahar,2008.

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estrangeiroapartirdomomentoemqueomigrantepassaaperceber-seenquantosujeitoportadordedireitoselutapeloreconhecimentode suas singularidades.

Asreferênciasqueomigranteerigenos territóriosemquesefixasão,emmuitoscasos,representaçõesdesuasociedadedeorigem,quetendem,comotempo,aentraremdescompassoeanacronismocomadinâmicadocotidianoedastransformaçõesoperadasnestasociedade durante sua ausência. Os territórios migrantes possuem a funçãodemanterunidoselementosdeligaçãodomigrantecomsuasorigensaopassoquesedistanciamesetransformamnoâmbitodasociedadederecepção.

Osterritóriossãoamaterializaçãodeummomentoseminaldatransformaçãodomigranteemsujeitoportadordedireitos.Aambi-guidade(ouparadoxo)dessaquestãoestánofatodeosterritóriosex-primiremummomentofinaldacondiçãomigrante,justamentepelaafirmaçãodessamesmacondição.Os territórios revelam, assim,oiníciodeumlongoprocessodenegaçãodacondiçãomigrante;digolongoprocessoporqueelegeralmentetranscendeaprimeirageração.Sãoasgeraçõesseguintesquecompreendemmelhorestemomentoseminalnamedidaemque se sentemmais livrespara transitarporoutros territórios.

Entretanto,essaliberdadedetrânsitonãonosdámuitaspistasparacompreenderqualotemponecessárioousobqualambienteacondiçãomigrantedeixadeterumainfluênciasignificativanacons-tituiçãodas identidadesdossujeitos.Aindahojeencontramosdes-cendentesdeterceiraoumesmoquartageraçãoquerecorremcomfrequência aopassadomigrantede suas famílias.Possivelmenteosterritórios migrantes não podem superar seu momento seminal de constituiçãopormaisparadoxos,ambiguidadesecontradiçõesqueesse momento possua, dada a sua capacidade de ressignificação cons-tante.Issoimplicaque,noplanodasidentidades,sejamelasindivi-duaisoucoletivas,elepermaneçacomolugar(intangível)noqualháumrepertórioinesgotávelderepresentaçõesquepodemserusadasparaaconstituiçãodasalteridades...masissojáéumaoutrahistória.

Na paisagem urbana, particularmente em cidades como São Paulo,apermanênciadefluxosmigratórioseaconsequenteinserçãodenovossujeitosmantémvivaerenovadaapresençadosterritórios

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migrantes.Essesterritóriosnosimpõemodesafio(salutar)daconvi-vênciacomaquelesqueconsideramos–muitasvezeserroneamente–como“diferentesdenós”.Suapresençanospossibilitaaconstitui-çãodeumasociedademaisplural,diversa,democráticaetolerante...enfim,maishumanizada.

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A História é sempre construída a partir do tempo presente. O olhar sobre o passado revela, na maioria das vezes, muito mais a di-nâmicadenossomomentoatualdoqueum“passadoemsi”.AHis-tóriaéconstantemente reescrita apartirdosdilemasedesafiosdecadapresente;sóassimpodemosentenderporquehátantoslivrossobreaIndependênciadoBrasil,sobreaInconfidênciaMineiraousobre a Escravidão. Cada novo presente possui dilemas, problemas, contradições,desafiosepotencialidadesvariadasqueprocuramsuasconexõescomopassado.Comoresultado,cadapresentereescreveopassado ou, então, cada presente constrói seu passado.

Nessesentido,podemosformularduasquestões.Porquefazerestelivro?Porquemaisumlivrosobreaimigração,especificamenteemSãoPaulo?Arespostaaessasquestõesprecisaequilibrar-setantonopassadoquantonopresente.Noquetangeaopassado,érespon-sabilidadedasgeraçõesatuaispropiciaràsnovasgeraçõesqueaden-tramaescolaumconhecimentosobreele.Paramilhõesdealunosquetodososdiasfrequentamasnossasescolas,nãoháumconheci-mentosistematizadosobreadinâmicadetemposquetranscendemem muito seu cotidiano pessoal, familiar e cultural.

Os alunos estão constantemente “descobrindo” coisas queahumanidade– enquanto coletividade–por vezes já conhecehá

ConsideraçõesFinais

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milênios. Da Lei da Gravidade à vinda de Dom João VI ao Brasil, em1808,muitojáseescreveu,esejáconhecemosessesfatosquemarcaramopassado,éporqueemalgummomentonosfoidadaapossibilidadede“descobrir”,de“conhecer”aquiloqueparamuitosjáerasabidamentecompreendidoedominado.

Evidentemente, homens,mulheres e criançasdopassadonãoconstituíram suas vidas pensando exclusivamente no futuro. Ao con-trário,vivemosnossasvidassempreapartirdosdilemasedesafiosdopresente;vivemosbuscandoconstantementeasatisfaçãoerealizaçãodenossosdesejos,vontadeseutopias.Assim,opassadonãoéapenasuma “massa moldável” ao gosto de cada novo presente. Ele possui identidadeprópria;porvezesvaloresmoraisquesãomuitodiferentesdosnossos;porvezesdinâmicas sociais, culturais,quepodemnosparecer estranhas.

Noquetangeaopresente,nós,professores,somoschamadosàresponsabilidadedepropiciarcondiçõesparaqueoconhecimentoreferenteaopassadofaçasentidonadinâmicadevidadenossosalu-nos;casocontrário,qualquerconhecimentoéinócuo,transforma-seemobjetodedesqualificação,desinteresse.Aposturanegativafrenteao conhecimento, além de extremamente grave, é um imenso desper-dício da experiência humana acumulada na História. Precisamos estar atentosaosdilemas,àscontradiçõeseàspotencialidadesnegativasepositivasdotempopresente,porque,arigor,sãoelesque incidemsobre o vivido imediato de nossos alunos e, evidentemente, fazem sentido a eles.

No caso particular do tema deste livro, procuramos realizar um exercícioque,antesdemaisnada,colocasseasquestõesmigratóriascomoumtemadopresente,comoumaquestãoqueestá“viva”nanossa paisagem urbana, nas nossas escolas e na vida de nossos alunos. Tentamos, com isso, propor a conexão necessária entre o presente e o passado, de forma a incentivar os alunos à experiência do “des-cobrimento”.Nessecaso,um“descobrimento”quepotencialmenteencontraosnexosqueligamostempospassadosaotempopresente.

Como apontado logo no primeiro capítulo deste livro, procu-ramos apresentar asmigrações comoumdos grandesdesafiosdenosso tempo. O migrante está próximo e distante, assim como o pre-sente e o passado. Eles são representados como o “outro”, como o

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diferente – assim como os processos históricos do passado –, mas tambémcompreendemosesteshomens,mulheresecriançascomosujeitosmuito próximos a nós, pessoas que partilham domesmotempo social e dos mesmos dramas e sonhos.

Retornandoàsduasquestõesformuladasanteriormente,aim-portânciadapublicaçãodestelivrojustifica-sepelofatodenecessi-tarmosdemaisuminstrumentoquenosrelacionecomopassado,deformacomquehajamaiselementosparadialogarcomopresente.E,fundamentalmente,porquebuscamosaconstruçãodeumasocieda-depautadanatolerânciaenorespeitoparacomaquelesque,apesarde suas particularidades culturais, étnicas, religiosas e linguísticas, são, se bem observarmos, muito semelhantes a nós, aos nossos pais ou avós,que,nummomentoqualquerdopassado,tambémmigraram,enfrentaramosdesafiosdonovolugar,viverampreconceitoseajuda-ramaconstruiroquesomoseasociedadeemquevivemos.

Alémdisso,amigraçãonãoéapenasodeslocamentonoespa-ço.Vivemosconstantementeoutrosdeslocamentos.Somostambém“estrangeiros” em determinados ambientes; por vezes, sofremos com o preconceito por sermos considerados diferentes; em muitos casos, lutamos para termos o reconhecimento de nossas singularida-des étnicas, religiosas e sexuais. Se observarmos bem, todos somos migrantes. Se pensarmos bem, todos seríamos mais felizes se a socie-dadefossepautadapelatolerânciaepelorespeitoaooutroque,porvezes, reside dentro de nós.

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Figura 30: THEATROMunicipal. São Paulo, [fins do séculoXIX e início do XX]. 1 fotografia, p&b. APESP, Acervo Icono-gráfico,Álbum“Vistas de SãoPaulo”, VSP_015.Disponível em:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/galerias_acervodigitalizado/vistas_saopaulo/frameset1.html>.Acessoem:25out.2011.

Figura31:MONUMENTOdoYpiranga.SãoPaulo, [finsdoséculoXIXeiníciodoXX].APESP,AcervoIconográfico,Álbum“VistasdeSãoPaulo”,VSP_012.Disponívelem:<http://www.ar-quivoestado.sp.gov.br/galerias_acervodigitalizado/vistas_saopaulo/frameset1.html>.Acessoem:25out.2011.

Figura32:ESTAÇÃOdaLuz.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXe início doXX].APESP,Acervo Iconográfico,Álbum“Vistas deSãoPaulo”,VSP_013.Disponívelem:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/galerias_acervodigitalizado/vistas_saopaulo/frameset1.html>.Acessoem:25out.2011.

Figura33:SECRETARIADEAGRICULTURA,COMÉRCIOEOBRASPÚBLICAS.DiretoriadeTerras,ColonizaçãoeImigra-ção.Lista de Bordo do Kasato-Maru. Kobe, Japão, 28 de abril de 1908. APESP,AcervoPermanente,SACOP,O7258.

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Ensino&Memória

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Figura 34: GRUPO de japoneses que embarcou no Kasato-Maru na véspera da viagem ao Brasil. Japão, 1908. 1 fotografia,p&b. APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imigrante,MI_ICO_AMP_019_001_166_001. Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_166_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Figura35:JULIANO,JéssicaFerraz.Capela dos Aflitos. Bairro da Liberdade.SãoPaulo,2012.1fotografia,color.

Figura36:BATISTA,YuriRibeiro.Fachada do prédio da Lega Itáli-ca, no bairro da Liberdade.SãoPaulo,2012.1fotografia,color.

Figura37:BATISTA,YuriRibeiro.Rua no bairro da Liberdade. São Paulo,2012.1fotografia,color.

Figura38:BATISTA,YuriRibeiro.Praça da Liberdade. São Paulo, 2012.1fotografia,color.

Figura39:OLIVEIRA,O.C.Grupo Escolar de Alecrim – Cons-truido pela Col. Japoneza. Alecrim, 1936. 1 fotografia, p&b, 9cm x 15 cm. APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imi-grante, MI_ICO_AMP_009_001_302_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_009_001_302_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Figura 40: PREPARO do terreno para construcção de umaescola... Núcleo Colonial Barão de Antonina, 1934. 1 fotogra-fia,p&b,8cmx13cm.APESP, Acervo Iconográfico,Memorialdo Imigrante, MI_ICO_ALB_018_011_037_001. Dispinível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_

Históriasda(I)migração

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Page 168: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

chave=&topografico=MI_ICO_ALB_018_011_037_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Figura 41: SECRETARIA DA AGRICULTURA, INDUS-TRIA&COMMERCIO.Diretoria deTerras,Colonização& Im-migração.Projeto de escola para o Núcleo Colonial Barão de Antonina. Ita-poranga,12jun.1936.1planta,color.Escala1:100.APESP,AcervoCartográfico,MemorialdoImigrante,MI_CAR_06_12_278_01_01.Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acer-vodigital/upload/mapas/TemplateWebPage.php?imagem=MI_CAR_06_12_278_01_01>.Acessoem:24jan.2012.

Figura42:PROFESSORealunosdeescolaalemã.RioClaro,[iníciode1900].1fotografia,p&b,18cmx24cm.AcervoIcono-gráfico,MemorialdoImigrante,MI_ICO_AMP_008_001_039_001.Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acer-vodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_008_001_039_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Figura 43: LA ESCUELAModerna.A Lanterna, São Paulo, annoXI, n. 108, 13out. 1911, capa.APESP,AcervoBioblioteca,Hemeroteca.

Figura44:TRABALHADORESNacionais.[S.l.],[19--?].1foto-grafia,p&b,12cmx17cm.APESP,AcervoIconográfico,Memorialdo Imigrante, MI_ICO_AMP_046_003_007_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_046_003_007_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem24jan.2012.

Figura 45: SECRETARIA DA AGRICULTURA. Trabalhado-res Nacionais Entrados no Estado de São Paulo:1910-1933.ProcessodaSecretariadaAgricultura.SãoPaulo,20mar.1952.APESP,AcervoPermanente,MuseudaImigração,SérieB,n.34.942.

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Ensino&Memória

Page 169: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura46:SECRETARIADAAGRICULTURA.Trabalhado-res Nacionais e Estrangeiros Entrados no Est. de São Paulo – 1900 a 1949. Boletim de Terras, Colonização e Imigração,SãoPaulo,n.5,p.58,dez.1950.APESP,AcervoBiblioteca,Hemeroteca.

Figura 47: SECRETARIA DA AGRICULTURA. Movimento Migratório de Trabalhadores Nacionais para o Estado de São Paulo: 1827-1951.ProcessodaSecretariadaAgricultura.SãoPaulo,20mar.1952.APESP,AcervoPermanente,MuseudaImigração,SérieB,n.34.942.

Figura 48: FEDERAÇÃO PAULISTA DAS COOPERATI-VASDECAFÉ.Introdução de vinte mil imigrantes nacionais para a lavoura do Estado. Ofício n. 160 enviado ao Dr. Luiz de Toledo Piza Sobrinho pelo Sr. José Americo Sampaio, Director Presidente. São Paulo, 26 ago.1935.APESP,AcervoPermanente,MemorialdoImigrante/Se-cretariadaAgricultura,DepartamentodeImigraçãoeColonização.CaixaT275.Processo/auto02696(3428).

Figura 49: TRABALHADORES procedentes de Per-nambuco. São Paulo, [19--?]. 1 fotografia, p&b, 7 cm x 12 cm.APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imigrante, MI_ICO_AMP_046_003_033_001. Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_046_003_033_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Figura 50: PREFEITURAMUNICIPALDE JARDINÓPO-LIS. Sobre colonos súditos do Eixo. Jardinópolis,17 jul.1943.APESP,Acervo Permanente, Memorial do Imigrante/Secretaria da Agricul-tura,ServiçodeImigraçãoeColonização,processo/auto21853,Mu-seudaImigração,SérieB,n.21853.CaixaT275.

Figura 51: POSSÍVEL sede do Comitê Alemão... FotografiacontidanoProntuário“Nazismo”.SãoPaulo,20jul.1946.APESP,AcervoDeops/SP,Prontuário5405,Documento94.

Históriasda(I)migração

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Page 170: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Figura52:SERVIÇODECENSURAEFISCALIZAÇÃODETEATROS E DIVERTIMENTOS PÚBLICOS. Documento pro-duzido pelo Dops/SP a respeito de festival italiano realizado pela OrganizaçãoNacionalDesportiva,fraudandoodecreto-leinúmero383. São Paulo, 18 nov. 1940. APESP, Acervo Deops/SP, Prontuário 29293, Documento 01.

Figura 53:MATERIALapreendido com suspeitosdepartici-paçãodaShindô-Henmei;fotografiacontidanoProntuário“ShindôRenmei”. São Paulo, 10 mar. 1961. APESP, Acervo Deops/SP, Pron-tuário 108981, Documento 36.

Figura54:AUTOdeverificaçãoeapprehensão.SãoPaulo,27nov.1937.APESP,AcervoDeops/SP,Prontuário3184,Documento250.

Figura55:LEVY,MariaStellaFerreira.OPapeldaMigraçãoIn-ternacionalnaEvoluçãodaPopulaçãoBrasileira(1872-1972).Revista de Saúde Pública,SãoPaulo,8(supl.):49-90,p.83,1974.

Figura56:SAVIOLI,Elisabete.Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra. BairrodeSãoMiguelPaulista.SãoPaulo,2012.1fotografia,color.

Figura57:SAVIOLI,Elisabete.Av. Nordestina. Bairro de São Mi-guelPaulista.SãoPaulo,2012.1fotografia,color.

Figura58:JULIANO,JéssicaFerraz.Feira da Kantuta. Bairro do Pari.SãoPaulo,2012.1fotografia,color.

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Ensino&Memória

Page 171: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Trabalharcomdiversaslinguagensparaaconstruçãodoconhe-cimentohistóricoéumapráticaquevemsendodifundidanoscursosdelicenciaturaemHistóriaenaeducaçãobásica.EssametodologiadeensinodialogacomapropostadosParâmetrosCurricularesNa-cionais (PCNs) para o ensino fundamental e médio, publicados pelo MinistériodaEducaçãonofinaldadécadade1990einíciode2000.OsPCNs,baseadosnasLeisdeDiretrizeseBasesdaEducaçãoNa-cionalde1996,visamcontribuirparaaformaçãodealunosparticipa-tivos,autônomosereflexivos.

Maisdoqueproduzirdados,dominarclassificaçõesouidentificarsímbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições,significa saber se informar, se comunicar, argumentar,compreendereagir,enfrentarproblemasdequalquernatureza,participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz deelaborarcríticasoupropostase,especialmente,adquirirumaatitude de permanente aprendizado.1

1 BRASIL.MinistériodaEducaçãoedoDesporto.SecretariadeEduca-çãoFundamental.Trabalhocomdocumentos.In:______.Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio:OrientaçõesEducacionaisComplementaresaosParâ-metrosCurricularesNacionais.Brasília:MEC,[200-].p.9.

O trabalho com os documentos

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Page 172: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Dessaforma,apropostapedagógicadestaColeçãoEnsino&Memóriaéofereceraoprofessorsugestõespontuaisdeatividadesapartirdautilizaçãodediferenteslinguagenspresentesemnossocoti-diano,paratantovalendo-sedejornais,fotografias,revistas,textosdi-versos,osquaispotencializamarelaçãoentreensinoeaprendizagem.Não se trata de um plano de aula, mas da busca por trazer possibili-dadesdiferenciadas,objetivandoousodefonteshistóricasnaescola.

A partir das diferentes linguagens, procuramos auxiliar a cons-trução do conhecimento histórico, desenvolvendo conceitos queestimulem os alunos a ler e analisar o mundo e o seu tempo. As di-ferentesfontesutilizadasexigemqueosalunosmobilizemsuacapa-cidadedeobservação,identificação,comparaçãoecompreensãoparaodesenvolvimentodasatividades.O intuitoéqueosdocumentosapresentados sejam interrogados eproblematizados,possibilitandoo levantamento de informações quemuitas vezesficam implícitasnumaprimeira leitura,bemcomooreconhecimentodas intençõesde seus autores.

Em nosso segundo volume trabalharemos a temática da (i)mi-gração, especificamente em São Paulo. Problematizaremos algumasrelaçõesquepodemserobservadaspormeiodacidadeesuastrans-formações,davidacotidiana,dotrabalho,dasrelaçõessociaisestabe-lecidas, entre outros.

Sugerimos este material para alunos do ensino fundamental, es-pecialmenteparaosatuais6ºe7ºanos.Apropostadesselivrodia-logacomoeixotemático“Históriadasrelaçõessociais,daculturaedotrabalho”,propostonosParâmetrosCurricularesparaoensinofundamental. Porém, cabe ao professor utilizá-lo conforme seus ob-jetivos,atemáticaestudadaeoperfildosalunos.

Nãopretendemosaquiesgotarotemaestudadopormeiodasatividadespropostas,tampoucolimitarasinúmeraspossibilidadesdedesdobramentosquea temáticaoferece.Pelocontrário,propomosalgumassugestõesparaanáliseapartirdousodediferentesfonteselinguagens,buscandoenriquecerotrabalhoemsaladeaula.

Bom trabalho!

Andresa Cristina Oliver BarbosaDiretoradoNúcleodeAçãoEducativa

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Ensino&Memória

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Esquemadaorganizaçãodeassistênciaaosimigrantesetrabalhadores nacionais. [S.l.], [19--?].

Atividades Didáticas

Atividade 1 - Hospedaria dos Imigrantes - Assistência e Organização

Observe o Esquema abaixo.

Documento 1

1. Responda:a) Paraondeeramencaminhadososimigrantesquandochega-

vam ao estado de São Paulo?b) Aquaisserviçoselestinhamacesso?c) Qualeraodestinofinaldeles?

Históriasda(I)migração

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Documento 2

Documento 3

Vista frontal da Hospedaria de Imigrantes. São Paulo, 1934.

FamíliadejaponesesnodormitóriodaHospedariadeImigrantes.SãoPaulo,[19--?].

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Ensino&Memória

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2. A construção daHospedaria de Imigrantes em 1888, nobairro do Brás, fez parte da política governamental de incentivo à entrada de imigrantes em São Paulo. Os Documentos 2 e 3 são fo-tografiasdaHospedaria.Observeasimagenseresponda:

a) Quaissãoascaracterísticasexternasdoprédio?b) QualéoambientefotografadonoDocumento 3? Descreva

osaspectosdesteambientequemaischamaramsuaatenção.

Leia atentamente o Documento 4

Documento 4

“Nas entradas comprehendem-se todos os immigrantes espon-taneos ou subsidiados desembarcados em Santos ou vindos pela Es-trada de Ferro Central do Brazil e recolhidos á Hospedaria da Capital. Nas sahidas estão comprehendidos todos os passageiros de 3° classe embarcados em Santos para outros Estados ou para o extrangeiro.”

SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA, COM-MERCIOEOBRASPUBLICASDOESTADODESÃOPAULO.[Movimentomigratório na década de 1910]. Trecho do Relatório 1910/1911, São Paulo. p. 121.

Históriasda(I)migração

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Page 176: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

3. Após a análise do Documento 4,responda:a) Emquaisanosocorrerammaissaídasdoqueentradasde

imigrantes?b) Emqueanohouvemaiornúmerodeentradas?c) Oquepodemosdizersobreomovimentomigratórioapre-

sentado na tabela?

4. Relacioneassuasrespostasdaquestãoanteriorcomasca-racterísticas apontadas por você nos Documentos 2 e 3. Escreva sobreafunçãodaHospedaria.

5. Considerandoosdocumentosanalisadosatéagoraeosseusconhecimentossobreotema,qualoprincipalobjetivodapolíticadeincentivo à entrada de imigrantes?

6. Leiaotrechoabaixo:

Documento 5

“[…]OBrasilsetornouaescolhadosimigranteshaitianosatra-ídospelograndecrescimentodaáreadeconstruçãoepelainfraes-trutura de massa ligados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de2016.OshaitianossabemqueSãoPauloéacapitaleconômicadoBrasileacreditamquepodemencontrarempregosfacilmenteaqui,disse Doucette.

Para os recém-chegados, a primeira parada em São Paulo é, com frequência,aCasadoMigrante,umabrigodirigidopormissionáriosnobairrodeGlicério.Aparóquialocalassistiuosimigrantesitalianosna década de 40, depois os migrantes brasileiros e, agora, exilados de todo o mundo.”

“[...]umaassistentesocialqueadministraacasa,dissequeoabri-gotematualmente43haitianosentre112estrangeirosde20naçõesequeofereceacomodação,comida,ajudapsicológica,aulasdeportu-guêseajudacomquestõesdeempregoesaúde.

Os moradores não têm dinheiro e, toda manhã, depois do café, precisam deixar o local para procurar emprego, podendo voltar ape-nasàs16h30.Nãohálimitedequantotempoelespodemficar.‘É

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Ensino&Memória

Page 177: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

casoacaso.Algunsficamduassemanas;outrosmuitosmeses’,disseSilvaAguilar.’”

[...]“‘Faltam trabalhadores em São Paulo, particularmente na cons-

truçãoenostrabalhosdomésticos’,explicou.Estessãotrabalhosqueosbrasileirosevitamcomfrequência’.”

a)Ondeosrecém-chegadosaSãoPauloficamhospedados?b)Emqueatividadeosimigranteshaitianosvêmconseguindo

trabalho em São Paulo?c)Podemosfazerumacomparaçãoentreasituaçãodosnovos

imigrantes e a imigraçãono iníciodo séculoXX? Justifique a suaresposta.

Históriasda(I)migração

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Page 178: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 2 - Política de Subsídio para Imigração

Atente para os documentos abaixo.

Documento 1

SÃOPAULO.Congresso.Senado.Projeto de Lei e Ofício [s/n]. Autoriza oatodogovernoqueabriucréditosuplementaràverbapara“Intro-duçãodeImigrante”.SãoPaulo,14ago.1904.

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O Congresso Legislativo do Estado de São Paulo envia ao//PresidentedoEstado,oinclusoprojectodeLeiapprovando//oactodoGoverno,queabriuumcreditode500:000$000//supplementaràverbapara“IntroducçãodeImi-//grantes”,doorçamentovigen-te.//paraquesedignepromulgal-o.//

Sala das sessões do Senado em S. Paulo, 14 de//Agosto de1940.//

O Presidente Fran[cis]co A. Peixoto Gomide//O1°.Secretario[ilegível]deSiqueiraCampos//O 2°. Secretario Gustavo de Oliveira Godoy//

[Transcrição]

Documento 2

ImigraçãoEspontâneaxImigraçãoSubsidiada.DadoselaboradosapartirdeRe-latóriodaSecretariadeAgricultura,ComércioeObrasPúblicas,1892,1894-1895;1898-1908; 1910-1914; 1916-1930. São Paulo, [2009?].

Históriasda(I)migração

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Page 180: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 3

[RequerimentoàDirectoriadeTerras,ColonisaçãoeImmigraçãodaSecre-taria da Agricultura, Commercio e Obras Publicas]. São Paulo, 9 abr. 1924.

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1. Leia atentamente o Documento 1.a) QueleiestáparaserpromulgadapeloGovernodoEstado?b) AoobservarmosalinhadeimigraçãosubsidiadanoDocu-

mento 2,vocêconsideraqueapromulgaçãodaLeitenhainterferidonesse processo?

c) Analisando todo o gráfico (Documento 2), que relaçõespodemosfazerentreanovaLeieasimigrações,tantoasubsidiadaquantoaespontânea?

2. Analise os Documentos 2 e 3.a) Façaumamarcaçãonográfico(Documento 2) indicando o

períodoaqueserefereorequerimento.b) O requerente está associado à imigração espontâneaou à

imigraçãosubsidiada?c) De acordo com o Documento 1,vocêacreditaqueoreque-

rente (Documento 3) será atendido?

3. Observe o Documento 2eresponda:a) Relembrando o início da História do Brasil Republicano, o

quepodeterocorrido,apartirdadécadade1880,paraquehouvesseumadistinçãoentreimigraçãosubsidiadaeimigraçãoespontânea?

b) Lendoo gráfico, oquepodemosdizer sobre a imigraçãoespontâneade1881a1930?

c) Eoquepodemosdizersobreaimigraçãosubsidiadanessemesmo período?

4. Apartirdaanálisedasfontesedoquevocêjáestudousobreotema,qualeraointeressedogovernoaosubsidiaraimigração?

Históriasda(I)migração

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Page 182: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 3 - Propaganda e Política de Imigração

Observe e leia atentamente os Documentos 1 e 2.

Documento 1

OIMMIGRANTE.Santos,anoI,n.1,capa,jan.1908.

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Ensino&Memória

Page 183: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2

1. Analise o Documento 1 eresponda:a) DequalcontinentevinhamosimigrantesparaoBrasil?b) Identifiqueoestadoeacidade,destacadosnomapadoBra-

sil,queeramdestinodosimigrantes.c) QuaiseramosinteressesqueosmotivavamavirparaoBra-

sil?(Pararesponderaessaquestão,relembreaconjunturaeconômicaesocialeuropeianaqueleperíodo).

2. Analise agora o Documento 2eresponda:a) Otextoéapresentadoem3línguas.Quaissãoelas?b) Qualomotivodostextosseremredigidosemlínguasdife-

rentes?c) Qualaideiaprincipaldotexto“OImmigrante”?d) QuaiseramasintençõesdoEstadoaopromoveraçõesimi-

grantistas?

O IMMIGRANTE. O Immigrante.Santos,anoI,n.1,p.1,jan.1908.

Históriasda(I)migração

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Page 184: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

e) Releiaoseguintetrecho:

“‘OImmigrante’,destina-se,pois,aorientar,deummodosin-ceroeimparcial,tudoquedizrespeitoaonossomeioagrícola,finan-ceiro e econômico; e será o melhor informante e propagandista de tudoquantodesejasaberotrabalhadorqueexpatria-se,embuscadeuma melhora de sorte.”

Vocêacreditaqueessejornal,representandoosideaisestatais,estaria de fato sendo “sincero e imparcial” para com os imigrantes? Justifiquesuaresposta.

Leia o Documento 3.

Documento 3

Decretonº528,de28deJunhode1890

Art.1ºE’inteiramentelivreaentrada,nosportosdaRepublica,dosindividuosválidoseaptosparaotrabalho,quenãoseacharemsujeitosáacçãocriminaldoseupaiz,exceptuadosos indigenasdaAsia,oudaAfricaquesómentemedianteautorizaçãodoCongressoNacionalpoderãoseradmittidosdeaccordocomascondiçõesqueforem então estipuladas.

Art.42.Sobreonumerototaldasfamiliasdeimmigrantesqueforemlocalisados,poderãoseradmittidos25%denacionaes,comtan-toquesejammorigerados,laboriososeaptosparaoserviçoagricola,osquaesterãodireitoaosmesmosfavoresconcedidosáquellas.

BRASIL.Decretonº528,de28dejunhode1890.Coleção de Leis do Brasil, [S.l.], v. 1, fasc.VI,1890,p.1.424,PoderExecutivo(PublicaçãoOriginal).

3. Leiaatentamenteodocumento3:a) Busquenodicionárioosignificadodaspalavrasdesconheci-

das.b) Qualéadataeotipodedocumento?Quemoproduziu?c) QualéaideiaprincipalapresentadanoArt.1º?Eno42?

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Ensino&Memória

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d) Como podemos relacionar intenções propagandistas doEstado explanadas anteriormente (Documento 2)comalegislaçãovigentedesdeofinaldoséculoXIX(Documento 3)?

4. Leiaoexcertoabaixo:

“Citando a obra Les nègres de l’Afrique sous-équatoriale, de Abel Ho-velacque(1889),Ninatomavacomodoutrinaassenteavigênciadeetapasnaevoluçãointelectualdaespécie,estimandocomopadrãodeexcelênciaodesempenhodachamadaraçaariana.Osafricanosesta-riam situados em um degrau mais baixo. A inferioridade, considerada comofilogenética,explicariacertascaracterísticaspatológicasdaspo-pulaçõesafro-brasileiras,objetodeescrupulosadescriçãodoantro-pólogo.” (BOSI, Alfredo. Poesia versus racismo. Estudos Avançados, SãoPaulo,v.16,n.44,p.235-253, jan./abr.2002.Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ea/v16n44/v16n44a15.pdf>. Acessoem:30nov.2011.).

a) Relacionando-o com o Documento 3, podemos afirmarque,alémderazõeseconômicas,oEstadotambémtinharazõespo-líticasparaincentivaraimigração?Justifiquesuaresposta.

b) Comoficouconhecidaessapolítica?c) IdentifiquenoexcertosobreopensamentodeNinaRodri-

gues(1862-1906,médicolegista,psiquiatra,professoreantropólogobrasileiro)osargumentosquepoderiamserutilizadosparajustificaroDecretonº528.

Históriasda(I)migração

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Chargealemã.[S.l.],semdata.Reproduçãodooriginal,publicada no periódico Kladderadatsch,em23dejunho1861, Berlim.

Agora atente para os Documentos 4 e 5.

Documento 4

Schulze e MüllerAos seus irmãos alemães

Conviteàemigraçãoparaaterradapromissão,ondejorramleitee mel e promete-se mundos e fundos.

(Vejaosanúnciosdoexportadordeescravosbrancos,Hambur-go)

Desenho de Kladderadatsch, 1861 – uma dura advertência ao sistema brasi-leiro de parceria.

[Traduçãolivre]

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APÁTRIA.OrgamdaColoniaPortugueza.SãoPaulo,anoIII,n.228,3jan.1904.Capa e p.1.

Documento 5

O EMIGRANTE

Decididamenteoshomensqueempunhamasredeasdagover-nança,nonossopaiz,poucosepreocupamcomavidadosfilhosdePortugal.

Embebidos em tricas politicas, ou no louco afan de collocarem osafilhados,nãoolhamcomdevidaattençãoparaasestatisticasdosemigrantesquemensalmentelhessãoenviadaspelosgovernadorescivis dos districtos, accusando o exódo de grande numero de por-tuquezes,quefazemsensivelfaltaaostrabalhadoscampestres,e,seaventuram em demandar o desconhecido, sonhando thesouros fa-bulosos.

[...]O governo portuguez nada disto vê e não toma sérias providen-

ciaspararefrearaemigraçãoquesefazemlargaescalla,paraoBrasil,quenãopóde,comooutr’ora,proporcionaraosseushospedesasre-galiasantigas,emconsequenciadesualavouraestarcompletamenteparalysada.

Históriasda(I)migração

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[...]Equandoessesbandosdeambiciososencontrem,nasfazendas,

otrabalhoqueanciosamenteprocuram,oquelhesacontecenamaiorparte dos casos?

Trabalham incessantemente, vendo poucas vezes, o producto dos seus exforços, porque os fazendeiros, embora conscenciososnãopódempagar-lhes,vistoluctaremcomingentessacrificiosparaacollocaçãodesuacolheitas.

Quevidaadessapobregente,semrecursosparasemanter,semtectoondeseacoite,semmãosquelheestendamumaesmola!...

[...]Eporqueéqueogovernoportugueznãopõeempraticaoal-

vitrequetantasvezeslhetemsidoapresentado,difficultandoomaispossívelaemigração?

[...]Quantoétristeedesgraçadaaexistenciadesses infelizes,que,

semcalcularemoshorroresqueosesperamabandonamsuapatria,eveemtentarfortunanestegrandiosopaizdosthesourosquesecha-ma Brasil!

[Transcriçãodotextoemdestaque]

5. SobreoDocumento 4:

a) Procurenodicionárioosignificadodapalavra“Charge”.b) Descreva a imagem apresentada no documento. Como as

“personagens” são retratadas? c) Oboxlocalizadoabaixodaimagemcontématraduçãodo

textoqueacompanhaacharge.Leia-oeapontequalaideiatransmi-tida.

d) Apartirdaobservaçãodotextoedaimagem,responda: 1.Quaissãoasnacionalidadesdospersonagensdacharge? 2. A imagem descrita por você no item “b” desta atividade

correspondeaoconteúdodotexto?Justifiquesuaresposta.e) Emsuaopinião,qualmensagemoautordestachargequis

divulgar?

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Ensino&Memória

Page 189: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

6. Sobre o Documento 5:a) Qualonome,anoe localdojornaldeondefoiretiradaa

reportagem?b) Tendoemvistaasinformaçõeslevantadasnaquestãoante-

rior,emsuaopiniãoparaquemessejornaleraproduzido?c) Leiao trechotranscritoe levanteaspalavraseexpressões

não compreendidas para serem discutidas em aula.d) Aponteasquestõescolocadaspelo jornal,sobreascondi-

çõesdotrabalhodosimigrantes.e) Qualaposiçãodojornalperanteaimigraçãodeportugueses

para o Brasil?

7. IdentifiqueassemelhançasentreosDocumentos 4 e 5.

8. Após a leitura de todos os documentos desta atividade, res-pondanovamenteoitem“e”dasegundaquestão.Vocêmantevesuaresposta?Justifique.

Históriasda(I)migração

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Page 190: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 4 - Política de Migrações Nacionais

1. Analiseográficoabaixo:

Documento 1

a) Identifiquenotítuloenalegendaadatadodocumento,otema,operíodoabrangidopelográficoeoórgãoresponsávelporsuaprodução.

b) Emqualperíodopodeseridentificadaachegadamaisinten-sa de imigrantes estrangeiros a São Paulo?

c) Emqualdécadaonúmerodemigrantesnacionaissetornamaiorqueodeestrangeiros?

d) Emquaisanosaentradadeimigrantesestrangeirosnopaísestá apontada como inexistente? Esse fato está relacionado com a questãoda2ªGuerraMundial?Justifiqueasuaresposta.

SECRETARIADAAGRICULTURADOESTADODESÃOPAULO.Trabalha-dores nacionais e estrangeiros entrados no estado de São Paulo, 1900 a 1949. Boletim doDepartamentodeImigraçãoeColonização,SãoPaulo,n.5,p.58,dez.1950.

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Ensino&Memória

Page 191: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

2. Abordandoas transformaçõesda imigraçãonoBrasil du-ranteosanos1930e1940,OdairPaivaescreve:

Documento 2

A crise da cafeicultura apresentou a necessidade de alternativas paraasuasuperação.[...]Dentreaspossibilidadesdeenfrentamentodacrise,encontramosareorientaçãodapolíticaimigratóriaparaumapolíticamigratória.Estasebaseounainserçãodetrabalhadoresbra-sileiros oriundos de outros estados (notadamente do Nordeste) nas lides cafeicultoras. (capítulo 2, página 109).

a) Citeumdosfatoresque,segundooautordotexto,provo-couareorientaçãodapolíticadeimigraçãonoBrasil.

b) Descrevaquaisforamasmudançaspromovidasporessare-orientaçãodapolíticadeimigração.

c) DequalregiãodopaíspartiramamaioriadostrabalhadorescomdestinoàsplantaçõesdecafédeSãoPaulo?

3. FaçaaleituradosDocumentos 3 e 4 e responda às pergun-tas.

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Page 192: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 3

Imigrantes e emigrantes no Brasil em 2009

Documento 4

Retorno às origens

“DeacordocomosdadosmaisrecentesdoIBGE,aregiãoquepossui o segundo maior saldo migratório do país é o Sul, com 98 mil. Nesta região vem acontecendo um processo também percebido comintensidadenoNordeste:oretornodaquelesqueemigraramnopassado. [...]

De acordo com a análise dos IBGE, este movimento de retorno

Fonte:IBGE.PesquisaNacionalporAmostradeDomicílios2009.In:MILAZZO,Daniel.Centro-Oeste é a regiãoquemais retém imigrantes, aponta IBGE.UOLNotícias(Cotidiano),SãoPaulo,15set.2011.Disponívelem:<http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/07/15/centro-oeste-e-a-regiao-que-mais--retem-imigrantes-aponta-ibge.htm>.Acessoem:3abr.2012.

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Ensino&Memória

Page 193: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

podeestaratreladoàsaturaçãodosespaçosindustriaisnoCentro-Suldopaís,reduzindoacapacidadedageraçãodeempregoseoportuni-dades ocupacionais. [...]”

MILAZZO,Daniel. Centro-Oeste é a região quemais retém imigrantes, apontaIBGE. UOL Notícias(Cotidiano),SãoPaulo,15set.2011.

a) Qualéotítulo,adataeoórgãoprodutordoDocumento 3? Quandoelefoipublicadoeemqualveículodecomunicação?

b) Façaumatabelacomquatrocolunas.Naprimeiracoluna,escrevaosnomesdasregiõesdoBrasilapontadasnomapaacima.Nasseguintes,insiraonúmerodeimigrantesedepoisdeemigrantesdecadaumadelas.Porenquanto,deixeaquartacolunaembranco.

c) Leia novamente o Documento 4erespondacomaajudadeseuprofessor:oqueésaldomigratório?

d) PreenchaaquartacolunadesuatabelacalculandoosaldomigratóriodecadaumadasregiõesdoBrasil.

e) Qual éo saldomigratóriodoSudeste?DeacordocomoDocumento 4,quaissãoosfatoresquepodemexplicaromovimen-todeemigraçãodestaregião?

4. Apartirdas informaçõescontidasnoquadroabaixoenaindicaçãodemúsica“Pé-de-calçada”,respondaasatividades:

OforróéumgênerodemúsicaededançaquetemorigemnoNordeste brasileiro. O forró pé de serra, também conhecido como forró tradicional, foi popularizado por Luiz Gonzaga na década de 40.Seusinstrumentossãozabumba,triânguloesanfonaeascompo-siçõesabordamprincipalmentetemasrurais.Nadécadade90surgi-ram novos trios e artistas, inclusive em São Paulo e em outros estados dosudeste,queintroduziramnovosinstrumentosmusicaisepassosdedançaaoforrópédeserra,dandoorigemaestilosdiferentesdeforróedifundindoogênerocomgrandesucessoentreosjovens.

Confiranainternetaletraeovídeodamúsica“Pé-de-calçada”,do grupoMestreAmbrósio. Sugestão de site:<http://letras.terra.com.br/mestre-ambrosio/183714/>.

Históriasda(I)migração

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Page 194: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

a) Qualéotítuloeotemadamúsicasugerida?b) Em sua opinião, porque o compositor intitulou esse

forrócomo“Pé-de-calçada”?c) Identifiqueumtrechodamúsicaqueapresenteelemen-

tostradicionaisdoforróeoutroqueapresenteelementoscon-temporâneos.

5. Alémdoforró,háváriasoutrasinfluênciasnordestinaspresentes na cultura de São Paulo, assim como de outros esta-dos e até mesmo de outras nacionalidades, devido ao intenso fluxomigratório.Pesquiseeescrevaumpequenotextosobreumadestasinfluênciasculturaispresenteemseucotidiano.

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Ensino&Memória

Page 195: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 5 - Expansão das Ferrovias e o Café

AimigraçãoemSãoPauloesteveintimamenteligadaàexpansãodaeconomiacafeeira.Elafoi,duranteoséculoXIXeiníciodoséculoXX,aprincipalfontedeabastecimentodemãodeobraparaocafé.

Odesenvolvimentodaeconomiacafeeiraexigiaamodernizaçãodo sistema de transportes de mercadorias, impulsionando o desen-volvimento das estradas de ferro.

ObservecomatençãoosDocumentos 1 e 2.

Documento 1

AtalibaLeonel.Estaçãosituadanoquilômetro438daEstradadeFerroSorocabana.Inauguradaem1906,afoto ilustraachegadadotreminauguralàestação.Piraju,1906.

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Page 196: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2

1. Observe o Documento 1.a) Alémdaestação,oquemaispodemosvernafotografia?b) Qualéaclassesocialreproduzidanoprimeiroplanodaima-

gem? c) Como são suas vestimentas?d) A classe social representada no primeiro plano está, segundo

aimagem,associadaaqualatividadeeconômica?Porqueasferroviaseram importantes para esse grupo?

2. Analisando agora o Documento 2,responda:a) Quemsãoaspessoasretratadasnessafotografia?b) Como elas se caracterizam? Lembre-se de considerar tam-

bém o vestuário.c) Porqueessaspessoasestãorepresentadasaoladodamáqui-

na ferroviária?

DesembarquedeimigrantesnaestaçãoferroviáriadaHospedariadeImigrantes.SãoPaulo, 1908.

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Page 197: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

3. Considerando os Documentos 1 e 2, redija umpequenotexto relacionando as camadas sociais em evidência em cada docu-mento.Lembre-sederelacionaraelastambémamodernizaçãodostransportes e a expansão cafeeira.

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Page 198: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 6 - Braços para o Trabalho na Cafeicultura

Observecomatençãoasimagensabaixo.

Documento 1

EmbarquedecafénoPortodeSantos.Santos,[192-].

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Page 199: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2 e Documento 3

Trabalhofemininoeinfantil.Mulherecriançajaponesasnalimpezadocafezal.In-terior do Estado de São Paulo, [19--?].

Fazenda Guatapará (Colheita). Ribeirão Preto, 1934.

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Page 200: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 4

“Na virada do século, os trabalhadores imigrantes constituíam umamassahomogênea,submetidaacondiçõesmaisoumenosuni-formes de miséria [...] rendimentos insatisfatórios [...] rígida disciplina de trabalho”.

STOLCKE,Verena.Cafeicultura:homens,mulheresecapital(1850-1980).SãoPau-lo:Brasiliense, 1986.p. 47ApudKossoy,Boris.Fotografia eHistória. 2. ed. SãoPaulo:AtêlieEditorial,2001.p.120

“Em 1902 o governo italiano, através do decreto Prinetti, proi-bia a imigração subsidiada para SãoPaulo, baseado emdenúnciascontidasnosrelatóriosdeobservadoresqueparaaquivieram.Cons-tataramelesaspéssimascondiçõesdevidaetrabalhoaqueestavamsubmetidos seus compatriotas nas fazendas de café”.

KOSSOY,Boris.FotografiaeHistória.2.ed.SãoPaulo:AtêlieEditorial,2001.p.120.

Agoraresponda:

1. Observe atentamente os Documentos 1, 2 e 3. Com o auxí-liodasinformaçõescontidasnaslegendas,descrevaolocal,aativida-dequeestásendorealizadaeaspessoasretratadasemcadaumadasimagens.

2. Analise detalhadamente o Documento 1eresponda:a)Qualéoritmodetrabalhoqueeleexpressa?Justifiquesua

resposta.b)Emsuaopinião,aofotografaracena,qual(is)a(s)ideia(s)que

ofotógrafoquisexpressar?

3. Atente agora para os Documentos 2 e 3.a) Escrevasuasimpressõesaoanalisaraimagem.Oqueelas

queremexpressar?b) Apartirdeseusconhecimentos,vocêconsideraqueessas

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Page 201: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

fotografiascorrespondemàscondiçõesdetrabalhonasfazendasdecaféemfinsdoséculoXIXe iníciodoséculoXX? Justifique suaresposta.

c) Levanteumahipótesesobreafinalidadedessasfotografias.Argumente procurando demonstrar a validade de sua hipótese.

4. LeiaosdoistrechosquecompõemoDocumento 4:a) Como podemos caracterizar as condições de trabalho dos

imigrantes na virada do século? b)Em1902,porqueaimigraçãosubsidiadafoiproibida?c)Qualeraomotivodasdenúncias?

5. Leiaotrechoabaixo:

NoséculoXIXeiníciodoXX,oscafeicultoresemSãoPauloutilizaramaimigraçãoparaosuprimentodacrescentedemandademão de obra gerada pela expansão da economia cafeeira.

Apartirdaafirmaçãoacimaedosdocumentosanalisadosporvocênasquestõesanteriores,escrevaumpequenotextorelacionandoàexpansãodaatividadecafeeira,ofluxodeentradadeimigrantesemSãoPaulonoperíodomencionadoeascondiçõesdetrabalhoaqueestavam submetidos.

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Page 202: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 7 - Braços para o Comércio e Indústria

Observe as imagens abaixo e suas respectivas legendas.

Documento 1

Padaria de imigrante italiano no bairro do Brás. São Paulo, 1926.

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Ensino&Memória

Page 203: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2

1. Após analisar os Documentos 1 e 2,identifique:a) Adataeobairroemquecadaumdelesfoiproduzido.b) Aatividadeeconômicaqueestásendoempreendidaemam-

bos.c) Quemsãoaspessoasresponsáveisportaisatividades.

Documento 3

“[...]em1911,umimigrantecomeçouaplantarbatatasemTai-pas, ondehoje é oMorrodo Jaraguá.Por ser uma cultura fácil erápida,logochamouaatençãodeoutrosjaponeses.CasodeTeijiroSuzuki,umdosprimeirosachegaraoPaís,quecomeçouaplantarotubérculoemCotia.AproduçãoeravendidaemumlargodePinhei-ros,naZonaOeste,quelogoficouconhecidocomoLargodaBatata.

Os intermediários, no entanto, regateavam e os imigrantes aca-bavamvendendoapreçosmuitobaixos.‘Daísurgiuaidéiadauniãodeprodutores, embriãodocooperativismo’, explicaYamanaka. ‘Oobjetivoeraaumentaropoderdenegociaçãodosjaponeses,masaca-boubarateandotambémacompradeinsumos.’”

Carroçadevendedordefrutasitaliano,nobairrodaMooca.SãoPaulo,1920.

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Page 204: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

[...]“Assim,em1919,osjaponesesconstituíram,emUberaba(MG),

oSindicatoAgrícolaNipo-Brasileiro, juridicamenteumasociedadedecapitalaberto,masjáfundamentadaemprincípioscooperativistas,apesar de a lei brasileira sobre o tema só ter sido promulgada em 1932.Damesmaforma,surgiuem1927aCooperativaAgrícoladeCotia (CAC), com a união de cerca de 80 agricultores.” YONE

YONEYA, Fernanda. A vitória no campo. Estadão [online], São Paulo, 10 maio 2008. 2. Leiaostrechosacimaeresponda:a) Pormeiododocumento acima, podemosdeduzir queos

imigrantesjaponesesseadaptaramounãoàatividadecafeeira?Porquê?

b) Busquenodicionárioosignificadode“Cooperativa”.c) Paraque serveumsistemadecooperativa?Vocêconhece

algum? Escreva sobre ele.

3. OsfluxosmigratóriosquesedirigiramaSãoPaulonoiní-ciodoséculoXXnãosedestinaramexclusivamenteàcafeicultura,inserindováriosimigrantesnasatividadesurbanas.Pesquisesobreasinfluênciasexercidaspelosimigrantesnosbairroscitadosacima.

Atente agora para os Documentos 4, 5 e 6.

Documento 4

Operários imigrantes na saída de tecelagem. Salto, 1920.

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Page 205: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 5

MOVIMENTO OPERARIO“[...]Agoraahitêmasituação,cadavezmaisaggravadaeamea-

çadora.E’umamassaoperariadecercade7.000pessoasqueexpõeassuasreivindicaçõeselançamãodagreve,paraaconquistadeumdireito.Travaram-sehontemconflictossérios.Algunsoperarios,con-vencidosdequeoshomensdogovernosemantêmdivorciadosdetudooquelhesdizrespeito,semamediaçãoreguladoradearbitrosjustos,enveredarampelocaminhotortuosodaarruaça.

A’indifferençaculposadeuns,juntou-sealamentavelorientaçãodos outros. [...]”.

[Transcriçãodotrechoemdestaque]

Movimento Operário. Diário Popular, São Paulo, capa,10jul.1917.

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Page 206: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 6

4. A partir da leitura do Documento 4,responda:a) Emquecidadeeemqualdatafoiproduzidaafotografia?b) Deacordocomalegendaecomassuasobservações,des-

crevaoespaçoeaspessoasquecompõemacena.

5. SobreoDocumento 6,responda:a) Aponte as principais características da obra.b) Asdiferentesfisionomiasevidenciamapresençadeimigran-

tes.NaobradeTarsila,oqueosidentifica?c) Oquepodemosobservarapartirdasexpressõesdosrostos

aídispostos?Qualarelaçãoentreasexpressõeseaindustrialização?d) Levando emconsideraçãoosquestionamentos levantados

apartirdositensa,bec,quaissãoospontoscomunsedivergentesentreafotografia(Documento 4) e a obra de Tarsila do Amaral?

6. AsgrevesoperáriasnoiníciodoséculoXXresultaramdaprecariedadenasrelaçõesdetrabalhoedemonstraramacapacidade

AMARAL, Tarsila do. Operários. São Paulo, 1933.

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Page 207: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

deorganizaçãodostrabalhadores.ApartirdaanálisedosDocumen-tos 4 e 5,responda:

a) Emqualjornaleemquedatafoipublicadaanotícia“Movi-mento Operário”?

b) Qualéofatocentralqueanotíciapretendedivulgar?

7. Devidoàinfluênciadetrabalhadoreseuropeus,parteconsi-derável do movimento operário, no período abordado pelos Docu-mentos4e6,estavavinculadaasindicatoscomtendênciasanarquis-tas.

a) Transcrevadodicionárioosignificadodapalavra“Anarquis-mo”.

b) Façaumapesquisasobremovimentosanarquistasnaatuali-dade e dê sua opinião sobre eles.

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Page 208: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 8 - Transformações na Paisagem e a Questão Indígena

Comaleituradolivro,vimosqueodesenvolvimentodacafei-culturaacabouportransformar“opanoramageográfico,paisagístico,cultural edemográficodoestadodeSãoPaulo” (p.40).Oestado“passouportranformaçõesquealteraramradicalmentesuapaisagemsocial, econômica, cultural e política.” (p. 40).

Analise os documentos abaixo.

Documento 1

Construçãode ferrovia ligandoSantos aMairinque, nofinal dadécadade 1920.[S.l.], [192-].

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Page 209: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2

Secretaria do Director Geral // dos Índios em S. Paulo, 2 de maio de // 1891. //

Ao Cidadão Brigadeiro Director Geral dos In- // dios, para in-formar sobre a ultima parte // do parecer da Delegacia da Inspecto-riaGeral//deTerraseColoni-//sação.Secretaria//doGovernodoEs-//tadodeS.Paulo,5demaiode1891.

Illmo e Exmo Sñr // C. VilalvaInformandosobreareprezentação//docidadãoFranciscodas

ChagasPinto//Salles,emquepedeaoGovernooau-//xiliodaforçapublicaparapoderfa-//zeramediçãodaFazendadenomina-//da–dosIndios-,quelhefoiconcedi-//daparacolonizarcom3000 familias // na forma do respectivo contrato cele- // brado com oGoverno,tenhoahonra//defazerasseguintesallegações://

SECRETARIADOGOVERNODOESTADODESÃOPAU-LO. Parecer da Delegacia de Inspectoria Geral de Terras e Coloni-sação.SãoPaulo,5mai.1891.

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Page 210: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

As terras concedidas pelo Governo // não são devolutas. //Oreprezentantereferidoconfessa//queosterrenosestãooc-

cupados por 36 // familias de índios; cabendo-me infor- // mar com relaçãoaisto,quenoulti-//moalistamentofeitoem1883,existião//nessealdeamentodeSãoJoãoBaptis-//tadoRioVerde77fógose302indige-//nas,sendo165dosexomasculinoe//[fls.2]e137dosexofeminino,semcontar//commuitos,queporauzentes,nãoforão//alistados.Écrivelqueessenumero//setenhaaumentadode então para // ca, não me sendo possível, pela falta // absoluta de tempo,precizarnestain-//formaçãoatotalidadedasalmasque//habitãonoalludidoaldeamento.//Umavezquea–FazendadosIn-dios - // faz parte do aldeamento de - São Jo- // ao Baptista do Rio Verde–parece-me//quenãodeviaserdadaaterceirospa-//raasuacolonização;entretanto,ten-//dooGovernofeitoaconcessãosu-//prareferida,achodetodaajus-//ticaquemanderezervarumaporção//de terreno sufficientepara a conserva-//çãodoaldeamentoenoprópriolugar//emqueesteseachasituado,afim//deevitarqueessesinfelizesindigenas//[fls.3]fiquemvagandopelasestradasou//tenhãoquesoffrerprivaçãosatéque//possãoconstruiroutrashabitaçõesem//terrasquedenovolhesejãocon-cedi- // das.//

DeusGuardeaV.Exª//Illmo e Exmo Sñr Dr, Americo Brasiliense de // Almeida e

Mello. //D D Governador do Estado de S. Paulo. //

O Director Geral dos Indios // LuizJoaqmdeCastro[Carneiro]Leão

*[carimbo] Secretaria Governo *São Paulo* - 5 MAI 911 3ª SecçãoTranscrição

Vocabulário Fógos: unidade de residência familiar.Crivel: creer, acreditar.Alludido: referênciaaalgumapessoa,fatooucoisaquejáfoi

n mencionadanoconteúdodotexto.

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Page 211: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 3

ASSUMPTO Paulista. O Malho, Rio de Janeiro, ano V, n. 210, p. 16, 22 set. 1906.

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Page 212: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

1. Observe o Documento 1eresponda:a) Apartirdaleituradalegendaedaimagem,façaadescrição

do documento.b) Oquepodemosdizerdasintençõesdofotógrafoaoregis-

trar a cena?

2. Analise o Documento 2.a) Emqueanofoiproduzidoodocumento?b) Qualoseuremetenteedestinatário?c) Qualomotivopeloqualocolonopedeauxílioparaaforça

pública?d) Segundo o texto, descreva como era o aldeamento de São

João Batista do Rio Verde.e) De acordo com o documento, existe um impasse entre as

decisõesdoGovernosobrequestõesimigrantistaseindígenas.Quala alternativa sugerida pela Delegacia da Inspectoria Geral de Terras e Colo-nisaçãopararesolveroproblema?Quempareceserfavorecido?

3. De acordo com o Documento 3,publicado15anosdepoisdo Documento 2,vemosasmesmasquestõessendo,ainda,aborda-das.

a) Nessedocumento,oíndioganhavoz.Quaissãosuasreivin-dicações?

b) Mesmocomreivindicaçõesreais,dequediscursooindígenase utiliza para melhor argumentar?

c) ComoessaargumentaçãoserelacionacomaspolíticasdeimigraçãodoGoverno?

d) Oqueo“Zé”quisdizercom:“Oqueébomécomooqueémáo:Devetocaratodos”?

4. Apartirdaleituradosdocumentos,percebemosquenãosóomeiosofreualteraçõesporcausadessaexpansãocafeeira.

a) Oquemaissofreutransformaçõescomaexpansãocafeeirae com a chegada dos imigrantes?

b) Comoessastransformaçõesalteraramomododevidaindí-gena? Considere aspectos paisagísticos, sociais e políticos.

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Page 213: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

5. Leiaotrechoabaixo,extraídododocumentoproduzidopelaComissão Pró-Índio de São Paulo.

Documento 4

“Os Kaingang são um povo pertencente à família Jê e estão lo-calizados em terras ao longo dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Na regiãooestedoEstadodeSãoPaulovivemcercade150Kaingang,distribuídosemtrêsterrasindígenas:Vanuíre,IcatueAra-ribá,sendoqueamaioria(79Kaingang)vivenaT.I.Vanuíre.

Ascondiçõesdesobrevivêncianessaterraindígenaestãocadavez mais difíceis, principalmente pela falta de recursos naturais (ma-téria-primaparaaconfecçãodeartesanato,caçaepesca)epelafaltadeapoioaprojetosagrícolas.Talrealidadelevamuitosíndiosami-graremparaascidadesembuscadeempregoemelhorescondiçõesde vida.

Aindanãoháestimativa sobreonúmerode índiosKaingangquevivememáreasurbanas.

Irene Kaingang veio com sua família de Araribá para a capital há maisde30anos.Elacontacomochegou:

‘Euvimem1972,paratrabalhar.Tinhaumacunhadaaqui,quecasoucommeuirmão,depoisseseparoudeleeelaficouaqui.’

Irene trabalha como empregada doméstica e mora com os três filhoseumasobrinhanaZonaLestedeSãoPaulo.Elaseinteressamuitopelaquestãodosíndiosquevivem nacidadedeSãoPauloeparticipadetodasasreuniõesparaasquaiséchamada:

‘Euachoquenãoéporqueeuconseguialgumasmelhoriasdevida,comocasaprópriaeestudo,queeuvoudesistirdelutarpelame-lhoriadevidadosíndiosqueestãovivendonagrandecidade.Entãoeuvou.AgoraémeufilhocaçulaqueestáseinteressandomaisemresgataraculturaKaingang.’”

COMISSÃOPRÓ-ÍNDIODESÃOPAULO.Índios na Cidade de São Paulo. São Pau-lo, [2004?].

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Page 214: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

a) QuemsãoosKaingang?OndeelesvivememSãoPaulo?b) Quaissãoassuascondiçõesdevida?Qualaconsequência

dessasituação?

6. Redijaumtextoapontandoaspectosnegativosepositivosdessastransformaçõesqueaindahojeinfluenciamnossocotidiano.

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Page 215: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 9 - Moradia nos Núcleos Coloniais

Observe o Documento 1.

Documento 1

1. Responda:a) Deacordocomalegendaecomaimagem,qualéolugar

retratado?b) Descrevacomosãoascasaspresentesnafotografia.c) Queoutroelementodafotochamousuaatenção?Porquê?

2. QuaiseramosprincipaisobjetivosdogovernopaulistaaocriarosNúcleosColoniais?Pararesponderaessaquestão,sugerimosa leitura do Capítulo 2.

Casasdecolonos.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiníciodoXX].

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Page 216: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Leia agora o Documento 2.

Documento 2

GIOSEFFATTI, Ruggieri. [Requerimento à Directoria de Terras e Immigração da Secre-taria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas].NúcleoCamposSalles,14out.1899.

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Illmo. Sr.Dr. Secretario d’AgriculturaCom- //ercio eObrasPublicas_//

A’2ªSecção[para]informar//31.10.99[sinalpúblico]

Diz Ruggieri Gioseffatto [sic], italiano, agri- // cultor, resi-dindoemcompanhiadeseogenrono//NucleoCamposSalles,quetendonumerosafamília//compostade6filhos,sendotrezhomens,edesejando//estabelecer-senomesmoNucleo,vemrespeitosa-//menteanteVªExªrequererafimdequesedigne//conceder-lheopedaçodeterrenodoreservadolettra//Bemfrenteaoseogenro,afimficarvisinhoeem//commumaproveitaremaquédadáguaquese acha // no corrego das Trez Barras e montarem um moinho // parafubáeoutraspequenasindustrias,pois,aagua,//sendapouca,não servirá para dois estabelecimentos se- // parados. Nestes termos - //

Pede deferimento//

E. [Receberá] [Mercê]//

Nucleo Campos Salles, 14 de Outubro de 1899//

Ruggieri Gioseffatti

[Transcrição]

3. A partir da leitura do Documento 2,responda:a) Qualéolocaleadatadodocumento?b) Identifiqueoautoreapontealgumascaracterísticasdele,in-

clusive sua nacionalidade.c) Aquemodocumentoédestinado?d) Qualéoassuntoprincipaldodocumento?

4. QuaisatividadesorequerentepretendeimplantarnoterrenodoNúcleoColonialCamposSalles?

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Analiseatentamenteafotografiaabaixo.

Documento 3

5. ApartirdaanálisedoDocumento 3 e da leitura da legenda, responda:

a) Qualéolocaldafotografia?b) Qualéanacionalidadedaspessoasretratadas?c) Qualéaatividadeagrícolaempreendidaporeles?

6. As atividades econômicasdesenvolvidasnosNúcleosCo-loniais,comooNúcleoColonialCamposSalleseoNúcleoColonialNovaVeneza,eramcompatíveisounãocomosobjetivosdoGover-nopaulistaidentificadosporvocênasegundaquestãodestaativida-de?Justifiquesuaresposta.

7. VáriosNúcleosColoniais(políticaoficialdecolonização)eColônias(áreasdecolonizaçãodeiniciativaprivada)transformaram--se em bairros paulistanos e até mesmo em cidades. Escolha um bair-roepesquisesobreoperíodoemqueelefoiColônia,qualaprincipalnacionalidadequeaocupavaesehojeaindaháinfluênciasestrangei-ras na região.

NúcleoColonialNovaVeneza–EstaçãoRebouças–EstradadeFerro.Pau-lista–Lote1,secçãoQuilombo.Proprietário:AlfredoCordeiro,português,com sua família. Grande cultura de bananas. São Paulo, [19--?].

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Atividade 10 - Moradia na Cidade

Leia os documentos abaixo.

Documento 1

“Eramcincohorasdamanhãeocortiçoacordava,abrindo,nãoosolhos,masasuainfinidadedeportasejanelasalinhadas.

Umacordaralegreefartodequemdormiudeumaassentadasete horas de chumbo. [...]

Entretanto,dasportassurgiamcabeçascongestionadasdesono;ouviam-seamplosbocejos, fortescomoomarulhardasondas;pi-garreava-segrossoportodaaparte;começavamasxícarasatilintar;ocheiroquentedocaféaquecia,suplantandotodososoutros;troca-vam-sedejanelaparajanelaasprimeiraspalavras,osbons-dias;reata-vam-seconversasinterrompidasànoite;apequenadacáforatraqui-navajá,eládentrodascasasvinhamchorosabafadosdecriançasqueaindanãoandam.Noconfusorumorqueseformava,destacavam-serisos,sonsdevozesquealtercavam,semsesaberonde,grasnardemarrecos,cantardegalos,cacarejardegalinhas.Dealgunsquartossaíammulheresquevinhampendurarcáfora,naparede,agaioladopapagaio,eoslouros,àsemelhançadosdonos,cumprimentavam-seruidosamente,espanejando-seàluznovadodia.

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeraçãotumultuosademachosefêmeas.Uns,apósoutros,lava-vamacara,incomodamente,debaixodofiodeáguaqueescorriadaaltura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisa-vamjáprenderassaiasentreascoxasparanãoasmolhar;via-se-lhesatostadanudezdosbraçosedopescoço,queelasdespiam,suspen-dendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavamemnãomolharopêlo,aocontráriometiamacabeçabemdebaixodaáguaeesfregavamcomforçaasventaseasbarbas,fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amar-randoascalçasouassaias;ascriançasnãosedavamaotrabalhodeláir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

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O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se;jásenãodestacavamvozesdispersas,masumsóruídocompactoqueenchiatodoocortiço.[...]”

AZEVEDO,Aluísiode.O Cortiço.RiodeJaneiro:MinistériodaCultura;FundaçãoBiblioteca Nacional; Departamento Nacional do Livro, 1890. p. 13-14.

Documento 2

SÃOPAULO(Estado).SecretariadosNegóciosdoInteriordoEstadodeSãoPaulo.Relatorio da Commissão de Exame e Inspecção das Habitações Operarias e Cortiços no districto de Sta. Ephigenia. São Paulo, 1893.

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Cap. IIIDotypodasestalagens,cortiçosouhabitaçõesoperariasentre

nós.[...]

Naárealivre,quepoucomaisédoque//umsimplescorredor,ha assentado um ralo // para esgoto, uma torneira para agua, um //tanquepara lavagemeuma latrina,de//ordinario,muitomalinstallada. Só ulti- // mamente, por instancias dos delegados de hy- //gieneéqueessaáreastemsidocalçadasou//cimentadas;aindaassimhacercade50%//dellasqueestãocarecendodetalbenefício.//

Emalgumasassargetasparaadrenagem//superficialnemse-querexistem,ficandoa//aguadelavagemoudachuvaempoçada//domodomaisprejudicial.//

O numero de torneiras para agua nem // sempre está em pro-porção comapopulação//docortiço e comosgastosque essagente // faz diariamente, e por isso ainda se vê // em bom numero decasosaaguadepoço//utilisadaparavariosserviçosdomesticose // até para beber.//

As latrinas tambemnãoguardamproporção//comnumerodoshabitantes.Jamaissãoestas//latrinaservidasd’agua,easbaciasde barro // vidrado, cobertas por um immundo caixão // de pinho, apoiado em solo enxarcado de uri- // na fetida, completam o typo dessadependen-//ciabemcaracterísticadocortiço.//

O aceio é uma necessidade das mais // comesinhas nas habita-çõesdeoperárioentrenós,//masocortiço,abandonadoàincuriados seus//habitantes e à sordidaexploraçãodeproprietarios//semescrupulos,excedetudoquantosepode//imaginarnessegene-ro,nãoobstanteserhoje//muitíssimomelhoresteestadodecousaspela//acçãodosdelegadosdehygiene.//

Entrenósoscortiçossecaracterisam://

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-1ºpelamáqualidadeeimpropriedadedas//construcções;//-2ºpelafaltadecapacidadeemádistribuição//dosaposentos,

quasisempresemluze//semanecessariaventilação;//- 3º pela carencia de previo saneamento do // terreno onde se

acham construídos; //-4ºfinalmentepelodespresodasmaisco-//mesinhasregras

de hygiene domestica. //

[...]

[Transcrição].

Apesar de se tratarem de dois locais diferentes, sendo o primeiro referente ao Rio de Janeiro e o segundo a São Paulo, ambos os textos se referem ao mesmo tipo de moradia, o cortiço.NofinaldoséculoXIXenoiníciodoXX,esseeraolocalondeasclassesdesfavoreci-das viviam. No Rio, predominavam os ex-escravos; em São Paulo, a maioria desses lugares era habitada por imigrantes.

1. Leia atentamente os Documentos 1 e 2eresponda:a) Quemsãoosprodutoresdosdocumentosequalvisãoque-

rem representar?b) Qual a diferença entreos documentos em relação ao seu

tipo?c) ComoocortiçoécaracterizadopeloDocumento 1? d) ComoocortiçoécaracterizadopeloDocumento 2?e) Quaissãoospontosemcomumnosdocumentos?f) Levandoemconsideraçãoasdiferençasentreostiposdocu-

mentais,oquepodemosdizeracercadasdiferentesdescriçõessobreocortiçoedasintençõesdecadadocumento?

2. Ainda levandoemconsideraçãoosDocumentos 1 e 2, o quepodemosdizersobreessesdoistrechos?

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.” (Documento 1)

“Entre nós os cortiços se caracterisam [...]”. (leia o parágrafo até o final). (Documento 2)

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Atente agora para o Documento 3.

Documento 3

3. Responda:a) Oquevemosnessafotografia?b) Quemequalclassesocialresidianessasmoradias?c) Quaiselementosdafotografiarevelamcaracterísticasdessa

classe social?

4. LevandoemconsideraçãoosDocumentos 2 e 3, leia o tre-choabaixo,retiradodolivro,Capítulo3,página82:

“De acordo com Nabil Bonduki, o periódico anarquista Fanfulla estimava que um terço das habitações na cidade de São Paulo era composto por cortiços”.

Responda:a) OquepodemosdizersobreasintençõesdeGaenslyemsua

fotografia,umavezqueamoradiaali representadanãoserefereàmaioria?

GAENSLY, Guilherme. Avenida Paulista. São Paulo, 1911.

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b) ApartirdoscontrastesdosespaçosdacidadedeSãoPaulo,porqueháessaseparaçãoespacialdasclassessociais?

c) Retomandotambémaleituradolivro,qualvantagemaclas-seeconomicamentedominantetinhasobreamanutençãodecorti-ços,precários,comomoradiadeimigrantes?

Leia o Documento 4.

Documento 4

“OJTvisitouumcortiçonaBaixadadoGlicério,regiãocentral,ondesetefamíliasdividemoqueumdiafoiumacasadecincocô-modoseumquintal.AdonadecasaIreneFerreira,49anos,moraháumadécadacomostrêsfilhosemumquarto.PagaalugueldeR$220pelo local onde estão duas camas, guarda-roupa, armário de cozinha, mesa,fogão,geladeiraeTV.Ailuminaçãoéruim.“Qualquerquitine-tealugadacustatrêsvezesessevalor.Nãotenhocondições.

Obanheiroeotanquedelavarroupa,comonopassado,sãoco-letivos.ÉoquemaisincomodaaauxiliardelimpezaGiovanaMon-tezano,27anos,quedivideoespaço(umavelhacozinha)comdoisprimos.Ostrêsfilhosdelatambémpassamosfinaisdesemanaali.“Ninguém respeita o rodízio de limpeza.A sujeira e o cheiro sãoinsuportáveis”.

AdomésticaMariaAlexandre,52anos,moraemoutrocortiço,na Bela Vista. No terreno compartilhado por 11 famílias, cada um tem a sua casa. “O terreno era bom e as pessoas foram construindo seusimóveis”.OorgulhodeMariaéopequenobanheirosódelaedosdoisfilhos.”

FRUTUOSO,SuzaneG.Cortiçoétãoprecáriohojequantonoséculo19.Jornal da Tarde,SãoPaulo,21jan.2011.SeçãoCidade.

5. Responda:a) Mesmodepoisdeumséculo,quaissãoassemelhanças/per-

manências entre os três relatos desses moradores com os Documen-tos 1 e 2?

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b) Quaissãoasdiferençasentreeles?c) QuerelaçãopodemosfazerentreoterceirorelatoeoDo-

cumento 3?

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Atividade 11 - Educação - Identidade e Diversidade

Observe o Documento 1.

Documento 11. ApartirdaobservaçãodoDocumento 1:

a) Identifiqueadataeolocaldeproduçãododocumento.b) Descrevaogruporetratadonestaimagem.Qualinstituição

ele está representando?

Grupo de alunos da antiga Escola Alemã e seu fundador Pastor Theodoro Koelle. Rio Claro, 1902.

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Leia agora o Documento 2.

Documento 2

Tem presentemente o Estado em funcionamento regular, um numero considerável de escolas estrangeiras.

Só na capital funccionam presentemente cerca de cem estabele-cimentosdessanatureza,commatriculasuperioraseismilcrianças.

Restasabersi taesestabelecimentos,emqueoportugueznãoé línguaoficial,podemofferecer aoEstado reaesvantagenscomoauxiliaresdoGovernonaministraçãodoensinopreliminar.

Não só a difficuldade de conseguir logar em nossas escolaspublicas,emvistadadesproporçãoentreonumerodecandidatos,comotambémodesejodequeseusfilhosaprendamalínguapatria,fazcomqueosestrangeirosdomiciliadosemnossopais,principal-mente os italianos, procurem escolas particulares.

Oras,énaturaltambémqueacolôniaitalianaprocuredeprefe-rênciaessasescolasondeascrianças,aprendendoalíngua,ageografiae a historia da Italia, aprendem, por isso mesmo, a amar a Italia. [...]

Nestas condições, taes escolas serão verdadeiramente perni-ciosasemseuseffeitos,porquepreparam,debrazileirosnatos,umageraçãofuturadeitalianosqueserão,emfacedasnossasleis,cida-dãos brazileiros, terão de partilhar comnosco a vida nacional, serão chamadosumdiaadesempenharumpapelemnossaorganizaçãoeconômica e política.

SÃOPAULO(Estado).[Trecho do relatório apresentado ao Exmo. Snr. Secretário dos Ne-gócios do Interior pelo professor João Lourenço Rodrigues, Inspetor Geral de ensino]. São Paulo, AnexoI,1907/1908.

2. Sobre o Documento 2:a) Procurenodicionárioosignificadodaspalavrasdesconheci-

das.b) Quemfoioresponsávelpelaproduçãodotexto?c) Aquemelefoiapresentado?d) Qualoperíodoaoqualeleserefere?

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e) Qualeraavisãoqueasautoridadestinhamsobreasescolasestrangeiras?

3. De acordo com o Documento 2, havia muitas escolas com conotaçãoétnicaemSãoPaulonoiníciodoséculoXX.Quaissãoosdoismotivosapresentadospeloautorparajustificarestedado?

Atente agora para o Documento 3.

Documento 3

EscolanaEspanhaexpulsajovemporusarvéuislâmico

UmcolégiodosubúrbiodeMadri,naEspanha,expulsouumajovemmuçulmanaespanholadeorigemmarroquinaporusarovéuislâmico.Adecisãodesencadeouumdebatepolêmicosobreovéuno país.

O instituto de Pozuelo de Alarcón, nos arredores de Madri, possuiumregulamentointernoproíbequealunosassistamàsaulascomacabeçacoberta,sejacomvéus,gorrosouchapéus.Aexpulsãoprovocoua iradas associaçõesmuçulmanaseumadivergêncianogoverno socialista.

Adireçãodoestabelecimentodecidiunestaterça-feira(20)nãomodificaroregulamento.Segundoumaemissoradetelevisão,algu-masamigasdaestudanteexpulsa,NajwaMalha,assistiramàsaulasusandoo“hijab”(véuislâmico)comoprovadesolidariedade.[...]

ESCOLAnaEspanhaexpulsajovemporusarvéuislâmico[Trecho].R7 [online], [S.l.], 21 abr. 2010.

4. De acordo com o Documento 3:a) Ofatonarradoocorreuemqueanoeemqualpaís?b) Quaissãoossujeitosequaléacausadoconflitoapresenta-

dos no texto?c) Qualaprincipaldiferençaentreasescolasétnicasrepresen-

tadas nos Documentos 1 e 2eaescolaaqualserefereoDocumen-to 3?

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5. Escrevaumpequenotextosobreastensõesentreamanu-tençãodasidentidadesétnicasculturaisdosimigranteseaintegraçãocomasociedadereceptoraidentificadasnasfontesdaatividade.

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Atividade 12 - Restrições e Desemprego

Leia os Documentos 1 e 2.

Documento 1

Art121-Aleipromoveráoamparodaproduçãoeestabeleceráascondiçõesdotrabalho,nacidadeenoscampos,tendoemvistaaproteçãosocialdotrabalhadoreosinteresseseconômicosdoPaís.

§ 6º - A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as restriçõesnecessáriasàgarantiadaintegraçãoétnicaecapacidadefí-sica e civil do imigrante, não podendo, porém, a corrente imigratória de cada país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o númerototaldosrespectivosnacionaisfixadosnoBrasilduranteosúltimoscinqüentaanos.

§7º-ÉvedadaaconcentraçãodeimigrantesemqualquerpontodoterritóriodaUnião,devendoaleiregularaseleção,localizaçãoeassimilaçãodoalienígena.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de Julho de 1934.

Documento 2

1. Procurenodicionárioossignificadosdapalavra“Alieníge-na” (Documento 1).Nessecaso,qualosignificadoqueseencaixanotexto?

SECRETARIA DA AGRICULTU-RA, INDÚSTRIAECOMÉRCIO.Demonstraçãodadiminuiçãodacor-rente imigratória européia [Trecho]. Boletim da Diretoria de Terras, Coloniza-ção e Imigração. São Paulo, ano I, n. 1, p.16,out.1937.

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Page 231: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

2. De acordo com o Documento 1,segundoaConstituiçãode1934,temosumalimitaçãonaentradadeestrangeiros.Levandoemconsideraçãoocontextonacionaleinternacional,quaisasrazõesdoGovernoparaeditartaisrestrições?Senecessário,releiaocapítulo4do livro.

3. Sobre o Documento 2,responda:a) QuaisasimplicaçõespossíveisparaapublicaçãodoDocu-

mento 1?b) Quequestõesteóricasestãoaindaenvolvidasnessecontex-

to?

Agora, leia os Documentos 3 e 4.

Documento 3

O PROBLEMA do[s] [s]em trabalho. Diário Popular,SãoPaulo,capa,15dez.1930.

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Page 232: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

4. A partir da leitura do Documento 3,responda:a) Qualoassuntoprincipaldodocumento?b) Quala relação“d’OProblemadosSemTrabalho”coma

restriçãodeentradadeimigrantesnoBrasil(Documento 1)?

Porfim,atenteparaoDocumento 4.

“Eradifícil,sim,porqueeutinhaaminhafilhapequena,entãotinhaquedeixarcomalguém,naquelaépocanãotinhacrechescomotemagora.Eajudaromarido,precisava...porquesesóumtrabalhanãovaiprafrente,nãodá,nãodá.Então,eudeixavaaminhafilhacomadonadecasaqueéa“nona”italiana...naCasimirodeAbreu,elaquetomavaconta.Eeuiaentão,tododiaiatrabalhar.Àsvezesaconteciaquetrabalhavanomesmolugardomeumarido.Àsvezesnão,porquenaquela épocao serviçoquando terminava, era aque-la coisa de vender muito e depois parava... mandavam embora os operários, sem mais histórias, sem mais nada... Agora não, agora é direitinho.Então,ficavaumpouquinhoemcasa,umpouquinhotra-balhava.Depoisquandocompreiamáquinaparatrabalharemcasa,melhoraramascoisas,trabalhavamaisemcasa.Edepoisqueameni-naestavacrescendo,tinhaquelevarnaescola...”

ExcertodedepoimentodaimigranteMaria(nomefictício)àhistoriadoraSôniaMa-riadeFreitas.NascidanaaldeiadePanemunelis,naLituânia,em1912,emigrouparao Brasil em 1939. Cf. FREITAS, Sônia Maria de. Falam os Imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em São Paulo. 2001. Tese (Doutorado em História)–Faculdade deFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2001.

5. ApartirdaleituradoDocumento 5,responda:a) Emsuaopinião,vocêacreditaqueoartigo121daCons-

tituição de 1934 (Documento 1) está sendo respeitado?Expliquecitando trechos do Documento 4.

b) Se o Documento 3 nos apresenta os “Problemas dos [s]em trabalho”,quaisosproblemasdos trabalhadoresdeacordocomoDocumento 4?

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Page 233: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 13 - Contribuições Culturais

Observeosdocumentosabaixo:

Documento 1

Documento 2

A bailarina Gracia de Espanha, o cantor Mario Vargas, o guitarrista Pedrinho e Joaquim Callado. SãoPaulo,1959.

Jogo entre Flamengo e Palmeiras no Maracanã. Rio de Janeiro, 1959.

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OmangásurgiunoJapãonasprimeirasdécadasdoséculoXIXeéumaarteelaboradaemformatodehistóriaemquadrinhosede-senhos animados. As personagens retratadas no manga são incon-fundíveis,caracterizadas,namaioriadasvezes,peloseutraçosimples,olhosgrandeseexpressivos,bocaenarizpequenos.

Documento 3

Documento 4

MEURER, Sérgio. Ilustração em estilo mangá. São Paulo, 2012.

PraçadaLiberdade,SãoPaulo.2012.

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Page 235: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

AspectodaPraçadaLiberdade.NaregiãocentraldeSãoPauloé realizada a “Feira de Arte, Artesanato e Cultura”, conhecida popu-larmentecomo“FeirinhadaLiberdade”.AFeiraofereceaopúblicoculinária e itens tipicamente orientais, e também produtos ocidentais. Olocalépalcodefestastradicionaisjaponesas,incorporadasaoca-lendário cultural da cidade.

1. Apartirdaanálisedasimagensedasinformaçõescontidasem suas legendas, descreva a cena retratada em cada documento. Identifiqueadata,ossujeitoseolocaldeproduçãodecadaumdeles.

2. Apesar da tendência dos migrantes serem aceitos como for-çadetrabalho,asmigraçõesdeixaramváriasmarcasculturaisemSãoPaulo. Identifique, nos documentos, as contribuições que influen-ciam o cotidiano paulistano.

3. Pesquise outras contribuições culturais que os imigrantestrouxeramparaacidadedeSãoPaulo.Elejanomínimotrêseescrevasobre elas.

*Paraessaatividade,propomosqueoprofessorreúnaosalunosemgruposeosresultadosdapesquisasejamapresentadosatodosem sala de aula.

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Page 236: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Atividade 14 - Brasileiros no Mundo

1.Analiseatabelaabaixoeresponda:

Documento 1

País de Destino Brasileiros ResidentesEstados Unidos 1.240.000Paraguai 487.517Japão 310.000Reino Unido 150.000Portugal 147.500Itália 132.000Espanha 110.000Suíça 55.000Alemanha 46.209Bélgica 43.638Argentina 38.500França 30.000Canadá 20.650Guiana Francesa 20.000Uruguai 18.848México 18.000Irlanda 17.000Holanda 16.399Bolívia 15.091Israel 15.000Austrália 12.000Venezuela 11.288Angola 10.000 Estimativasdos23MaioresEstoquesdeResidentesBrasileirosnoMundo,2008–apartirdedadosoficiaisdoMinistériodasRelaçõesExterioresdoBrasil. Fonte:Ministério doTrabalho eEmprego–PerfilMigratório doBrasil 2009.

Fonte:MRE,Brasil,2008.

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Page 237: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Documento 2

“A entrada de brasileiros em território guianense se dá, na maio-riadasvezes,atravésdeembarcaçõesdemadeira,quesedeslocampelacostaoceânicadesdeBelém(PA)eMacapá(AP)atéCaiena.Ou-trotrajetoérealizadopartindo-sedoOiapoque,emumaviagemdemenorduração.Na tentativade se fugirdo controlemigratório, achegada a Caiena é realizada durante o período noturno.

(…)amaiorpartedos imigrantesbrasileirosnaGuianaera,esão, imigrantes clandestinos, reforçando os mecanismos interme-diáriosilegaiseobscuros.Devidoaograndenúmerodeimigrantesirregulares, não há dados precisos sobre seu montante. O Ministério dasRelaçõesExteriores–MRE(2009)declaraqueem2008havia19.000brasileirosvivendonaGuianaFrancesa.Em2007,amesmainstituição-combaseeminformaçõesdisponíveis localmente,taiscomo levantamentos oficiais, estimativas feitas por organizaçõesnão-governamentaisepesquisasconduzidaspelamídia–mencionacomomenoremaiorestimativae20.000e70.000imigrantes,conse-cutivamente.Taisnúmerosmostramafragilidadedestasestimativase,também,a“flutuação”destapopulaçãoconsiderandoasuaprinci-pal atividade laboral, o garimpo clandestino.

A política migratória francesa vem ampliando o monitoramento sobrearegião,buscandocontrolara imigração irregular.Asforçaspoliciais fazem um controle permanente nas ruas da cidade e nas áre-asflorestaisdopaís,sobretudofronteiriças.(…)Inúmerosbrasileirosquejápassarampelasituaçãodeexpulsão/deportaçãorelatamquenomomentodasdetençõesmuitosabusossãocometidospelospoli-ciais,taiscomoespancamento,humilhações,apreensãodeobjetosdevaloredestruiçãodomeiodetransporte”.

FERNANDES, Durval Magalhães; DINIZ, Alexandre Magno. Migración en laFronteraNortedeBrasil:flujosenuevasredes.In:ENCUENTRONACIONALDEDEMÓGRAFOSYESTUDIOSOSDELAPOBLACIÓN,5.,2011,Caracas.Anais...Caracas:UniversidadCentraldeVenezuela;FACES-FAU,2011.

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Page 238: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

a) Segundo os dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho (Documento1),quantospaísessãoconsideradososmaiores“esto-ques”deresidentesbrasileiros?

b)Baseando-senosdadosdatabela,vocêconsideraqueaquan-tidadedebrasileirosquesaemdoBrasilégrande?Oqueessesnúme-ros podem nos indicar?

c)AnalisandooDocumento2,qualodestinodos imigrantesbrasileiros?Qualomotivoqueoslevouamigrar?

d)Comoéfeitaessaimigração?Élegalouilegal?e)QualaalternativaencontradapeloGovernoFrancêsparacoi-

biraimigraçãoirregular?

Documento 3

“[...]OnúmeroelevadodebrasileirosnãoadmitidosnaEspa-nha,mesmoquandosetratavadeprofissionaiseestudantesacami-nho de encontros e atividades acadêmicas, provocou uma crise entre osdoispaísesem2007e2008.Muitosqueixaram-sedeteremsidoretidos no aeroporto, sem possibilidade de comunicar-se com funcio-nários consulares brasileiros, e deportados sumariamente. O impasse foicontornadoapósreuniõesdealtonívelqueresultaramnaadoçãodemedidascomoaimplantaçãodeumaespéciede’telefoneverme-lho’comoconsuladobrasileiroemMadri.Alémdisso,foiacertadaadifusãoconjuntadeinformaçõespelasautoridadesdosdoispaíseseainstalaçãodecaixasautomáticosparaqueosviajantespudessemfazersaquescomcartõesbancários”.

2.LeiaoDocumento3eresponda:a)QualomotivodacriseentreBrasileEspanha?b)Qualaqueixadosbrasileirosdeportados?c)Queestratégiafoiadotadapararesolveracrise?Emsuaopi-

nião, isso resolveu o problema?d) Segundo os Documentos 2 e 3, como são tratados os brasilei-

rosquemigramparaoutrospaíses?

MINISTRO DENUNCIA Espanha por continuar barrando brasileiros. Correio Brasiliense[online],Brasília,16jun.2011.

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Documento 4

[...]Séculosdepoisdaconquista,precisamenteapartirdasegun-dametadedoséculoXIX,milhõesdeeuropeusdeixavamassuaster-rasembuscadeumaoutra,ondeosonhodaabundânciaedariquezapudesse tornar-se realidade. Tal sonho foi traduzido na conhecida expressão:Farel’América,ouemoutrostermos,oElDoradoame-ricano.Hojeahistóriaserepetedeformainversa,poisdescenden-tesdeitalianos,japoneses,espanhóis,alemães,entreoutros,fazemacaminho de volta para a terra de onde vieram seus antepassados. Se paramuitosbrasileirosoBrasiljánãoémaisopaísdasoportunida-des, para os bolivianos(as), ele continua sendo. Essa é a razão pela qualmilharesdelesdeixamaBolíviaanualmente,parafugirdapobre-za e de uma economia de subsistência e, assim, vislumbrar, alguma possibilidadedemobilidadesocial.ÉoqueafirmaBenigno,28anos,casado,comdoisfilhos,naturaldaprovínciadeCamacho,LaPaz,ondetrabalhavacomocamponês[...].AmotivaçãodeBenignoparaemigrarésemelhanteàdetantosoutrosbolivianos(as)quepartiramembuscadeumemprego,deumapossibilidadequeviabilizasseseusprojetosdevida.

As promessas de boas oportunidades se transformam, entretan-to,porvezes,emfrustraçãoehumilhação.FoioqueaconteceucomDavi, 26 anos, grau de escolaridade média, natural da Ciudad Del Alto, La Paz, onde trabalhava numa fábrica de bebidas. Ele veio ao Brasilem2005,commaistrêsbolivianos, trazidoporumagencia-dordemão-de-obraresidentenasuacidade,oqualcobrouUS$400decadaumdelespelaviagem.Daviafirmaqueveioiludidocomapromessadeque,emSãoPaulo,erapossívelganharmuitodinheiro,dequeoempregadorlhesdariacasa,comida,diversãonosfinsdesemana.

Quando,porém,chegouaSãoPaulo,arealidadeeraoutra.Tra-balhavam das seis da manhã até meia-noite, alimentando-se mal. O patrão, um boliviano, não os deixava sair, intimidando-os, dizendo queaFederal(polícia)estariarondandoporaliepoderiadetê-los.”

SILVA,SidneyAntonioda.BolivianosemSãoPaulo:entreosonhoearealidade.EstudosAvançados,SãoPaulo,v.20,n.57,maio/ago.2006.

Históriasda(I)migração

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3. Agora analise o Documento 4:a)QuemsãoosestrangeirosquevêmparaoBrasil?b)Porqueelestomamadecisãodemigrar?c)HádiferençasentreasituaçãodosimigrantesbrasileirosedosestrangeirosquevêmaoBrasil?Esimilaridades?Comenteasua

resposta.d)Depoisdeanalisarerefletirsobreosdocumentosacima,pu-

demosperceberumpoucodasquestõesquecercamosprocessosdemigração,tantodaquelesquesaemdoBrasilcomodosquechegam.Nessaatividade,propomosquevocêbusquejuntoaosseusfamilia-res,vizinhosouamigos,históriasdepessoasquetambémsaíramdeseus locais de origem em busca de novas perspectivas. Traga para sala de aula e compartilhe com os colegas essas experiências.

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Atividade 1

Doc. 1: ESQUEMA da organização de assistência aos imi-grantes e trabalhadores nacionais. [S.l.], [19--?]. 1 fotografia, p&b,13 cm x 28 cm.APESP,Acervo Iconográfico,Memorial do Imi-grante, MI_ICO_AMP_041_001_002_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_041_001_002_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:26jan.2012.

Doc.2:VISTAfrontaldaHospedariadeImigrantes.SãoPaulo,1934.APESP,Acervo Iconográfico,Memorial do Imigrante,MI_ICO_ALB_022_006_016_001.

Doc. 3: Doc. 3: FAMÍLIA de japoneses no dormitório daHospedaria de Imigrantes. São Paulo, [19--?]. 1 fotografia, p&b,9 cm x 11 cm. APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imi-grante, MI_ICO_AMP_038_001_063_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.

Referências dos Documentos

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php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_038_001_063_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:26jan.2012.

Doc.4:SECRETARIADEESTADODOSNEGOCIOSDAAGRICULTURA, COMMERCIO E OBRAS PUBLICAS DO ES-TADODESÃOPAULO. [Movimento migratório na década de 1910]. Trecho do Relatório 1910/1911, apresentado ao Dr. M. J. de Albu-querqueLins,presidentedoEstado,peloDr.AntoniodePaduaSal-les,secretáriodaAgricultura.SãoPaulo:TypographiaBrasildeRo-thschild&Cia.,1912.p.121.APESP,AcervoPermanente,Secretariade Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publi-cas.Disponível em:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/upload/pdfs/RSA19100000.pdf>.Acessoem:8dez.2011.

Doc. 5: AZIAKOU, Gerard. Haitianos agradecidos veemSão Paulo como ‘terra prometida’. Terra [online], São Paulo, 21 fev. 2012. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5624887-EI306,00-Haitianos+agradecidos+veem+Sao+Paulo+como+terra+prometida.html>Acessoem:15mar.2012.(© 1994-2012 Agence France-Presse).

Atividade 2

Doc.1:SÃOPAULO.Congresso.Senado.Projeto de Lei e Ofício [s/n].Autorizaoatodogovernoqueabriucréditosuplementaràver-bapara“IntroduçãodeImigrante”.SãoPaulo,14ago.1904.APESP,AcervoPermanente,ColeçãoDAESP,C10282,DAESP93_001.Dis-ponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_ma-nuscrito/pdf/DAESP93.pdf>.Acessoem:7dez.2011.

Doc.2:[REQUERIMENTOàDirectoriadeTerras,Colonisa-çãoeImmigraçãodaSecretariadaAgricultura,CommercioeObrasPublicas]. São Paulo, 9 abr. 1924. APESP, Acervo Permanente, Fun-do Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, C757,SAGR126_002.

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Doc. 3: SÃOPAULO.RelatóriodaSecretaria deAgricultura,ComércioeObrasPúblicas.1892,1894-1895;1898-1908;1910-1914;1916-1930. In: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃOPAULO.ImigraçãoemSãoPaulo.ImigraçãoEspontâneaxImigra-ção subsidiada. São Paulo, [2009?].Disponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/estatisticas.php>. Acesso em: 5dez. 2011.

Atividade 3

Doc. 1: ATALIBA Leonel. Estação situada no quilome-tro 438 da E.F. Sorocabana. Piraju, SP, 1906. 1 fotografia, p&b,18 cm x 24 cm.APESP,Acervo Iconográfico,Memorial do Imi-grante, MI_ICO_AMP_019_001_051_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_051_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:27jan.2012.

Doc.2:OIMMIGRANTE.O Immigrante, Santos, ano I, n. 1, p. 1,jan.1908.APESP,AcervoBiblioteca,Hemeroteca.Disponívelem:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/upload/pdfs/IM19080101.pdf>.Acessoem:30nov.2011.

Doc.3:BRASIL.Decretonº528,de28dejunhode1890.Co-leção de Leis do Brasil, Poder Executivo, [S.l.], v. 1, fasc. VI, 1890, p. 1.424.(PublicaçãoOriginal).Disponívelem:<http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-528-28-junho-1890--506935-publicacaooriginal-1-pe.html>.Acessoem:30nov.2011.

Doc. 4: [CHARGEalemã]. [S.l.], [S.d.].Reprodução doorigi-nal,publicadonoperiódicoKladderadatsch,em23dejunho1861,Berlim.APESP,AcervoIconográfico,MemorialdoImigrante,MI_ICO_AMP_043_001_006_001.Disponívelem:<http://digi.ub.uni--heidelberg.de/diglit/kla1861/0112>.Acessoem:27fev.2012.

Doc.5:OEMIGRANTE.A Pátria:OrgamdaColoniaPortu-gueza,SãoPaulo,anoIII,n.228,Capaep.1,3jan.1904.APESP,

Históriasda(I)migração

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AcervoBiblioteca,Hemeroteca.Disponívelem:<http://www.arqui-voestado.sp.gov.br/upload/pdfs/jornais/PA19040103.pdf>.Acessoem:27set.2011.

Atividade 4

Doc.1:SECRETARIADAAGRICULTURADOESTADODESÃOPAULO.Trabalhadoresnacionaiseestrangeirosentradosno Est. de São Paulo, 1900 a 1949. Boletim do Departamento de migração e Colonização,SãoPaulo,n.5,p.58,dez.1950.APESP,AcervoBiblio-teca,MemorialdoImigrante,RSAGR19501200_N5_058.

Doc.2:P.109-110destaobra.

Doc.3:IBGE.PesquisaNacionalporAmostradeDomicílios2009.In:MILAZZO,Daniel.Centro-Oesteéaregiãoquemaisretémimigrantes, aponta IBGE. UOL Notícias (Cotidiano), São Paulo,15set. 2011. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/07/15/centro-oeste-e-a-regiao-que-mais-re-tem-imigrantes-aponta-ibge.htm>.Acessoem:3abr.2012.

Doc.4:MILAZZO,Daniel.Centro-Oesteéaregiãoquemaisretém imigrantes, aponta IBGE. UOL Notícias (Cotidiano), São Pau-lo,15set.2011.Disponívelem:<http://noticias.uol.com.br/cotidia-no/ultimas-noticias/2011/07/15/centro-oeste-e-a-regiao-que-mais--retem-imigrantes-aponta-ibge.htm>.Acessoem:3abr.2012.

Atividade 5

Doc. 1: ATALIBA Leonel. Estação situada no quilôme-tro 438 da E.F. Sorocabana. Piraju, 1906. 1 fotografia, p&b, 18cm x 24 cm. APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imi-grante, MI_ICO_AMP_019_001_051_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_051_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:27jan.2012.

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Doc. 2: DESEMBARQUE de imigrantes na estação ferro-viária daHospedaria de Imigrantes. SãoPaulo, 1908. 1 fotografia,p&b,20cmx25cm.APESP,Acervo Iconográfico,MemorialdoImigrante, MI_ICO_AMP_019_001_002_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_002_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:27jan.2012.

Atividade 6

Doc.1:EMBARQUEdecafénoPortodeSantos.Santos,[192-].1fotografia,p&b,16cmx21cm.APESP,AcervoIconográfico,Me-morialdoImigrante,MI_ICO_AMP_019_001_021_001.Disponívelem: <http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotogra-fias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_021_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Doc.2:FAZENDAGuatapará(Colheita).RibeirãoPreto,1934.1fotografia,p&b,9cmx12cm.APESP,AcervoIconográfico,Me-morialdoImigrante,MI_ICO_AMP_008_001_018_001.Disponívelem: <http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotogra-fias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_008_001_018_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Doc.3:TRABALHOfemininoeinfantil.Mulherecriançajapo-nesas na limpeza do cafezal. Interior do Estado de São Paulo, [19--?]. 1fotografia,p&b,18cmx24cm.APESP,AcervoIconográfico,Me-morial do Imigrante,MI_ICO_AMP_008_001_049_001. (Crédito:MuseudeImigração/MuseuHist.daImigraçãoJaponesa).Disponívelem: <http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotogra-fias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_008_001_049_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Históriasda(I)migração

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Page 246: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Doc.4:KOSSOY,Boris.Fotografia e História.2.ed.SãoPaulo:Atêlie Editorial, 2001.

Atividade 7

Doc. 1: PADARIA de imigrante italiano no bairro do Brás.São Paulo, 1926. 1 fotografia, p&b, 18 cm x 24 cm. APESP,Acervo Iconográfico, Memorial do Imigrante MI_ICO_AMP_052_001_032_01. Coleção Roberto Barra. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_052_001_032_01&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:26jan.2012.

Doc. 2: CARROÇA de vendedor de frutas italiano, no bair-rodaMooca.SãoPaulo,1920.1fotografia,p&b,18cmx24cm.APESP, Acervo Iconográfico, Memorial do Imigrante, MI_ICO_AMP_019_001_066_001, Divisão de Iconografia e Museus /DPH/PMSP.Disponívelem:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_066_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:26jan.2012.

Doc.3:YONEYA,Fernanda.Avitórianocampo.Estadão [onli-ne],SãoPaulo,10maio2008.Disponívelem:<http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-vitoria-no-campo,170667,0.htm>.Acessoem:23mar.2012.

Doc.4:OPERÁRIOSimigrantesnasaídadetecelagem.Salto,1920.1fotografia,p&b,13cmx19cm.APESP,AcervoIconográ-fico, Memorial do Imigrante, MI_ICO_AMP_019_001_106_001.Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acer-vodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_019_001_106_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:25jan.2012.

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Ensino&Memória

Page 247: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Doc.5:MOVIMENTOOperário.Diário Popular, São Paulo, 10 jul.1917.Capa.APESP.AcervoBiblioteca,Hemeroteca.

Doc.6:AMARAL,Tarsilado.Operários.SãoPaulo,1933.Óleosobretela,150cmx205cm.©2012TarsiladoAmaralEmpreendimentos.

Atividade 8

Doc.1:CONSTRUÇÃOdeferrovialigandoSantosaMairinque.[S.l.],[192-].1fotografia,p&b,18cmx24cm.APESP,AcervoIcono-gráfico,MemorialdoImigrante,MI_ICO_AMP_055_001_022_001.Disponível em: <http://www.museudaimigracao.org.br/acer-vodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_055_001_022_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:24jan.2012.

Doc.2:SECRETARIADOGOVERNODOESTADODESÃOPAULO.Parecer da Delegacia de Inspectoria Geral de Terras e Colo-nisação.SãoPaulo,5mai.1891.APESP,AcervoPermanente,FundoSecretariadaAgricultura,ComércioeObrasPúblicas,C7217.

Doc.3:ASSUMPTOPaulista.O Malho, Rio de Janeiro, ano V, n. 210, p. 16, 22 set. 1906. APESP, Acervo Hemeroteca.

Doc.4:COMISSÃOPRÓ-ÍNDIODESÃOPAULO.Índios na Cidade de São Paulo.SãoPaulo,[2004?].Disponívelem:<http://www.cpisp.org.br/pdf/indios1.pdf>.Acessoem:22mar.2012.

Atividade 9

Doc.1:CASASdecolonos.SãoPaulo,[finsdoséculoXIXeiní-ciodoXX].1fotografia,p&b.APESP,AcervoIconográfico,Álbum“VistasdeSãoPaulo”,VSP_055.Disponívelem:<http://www.ar-quivoestado.sp.gov.br/galerias_acervodigitalizado/vistas_saopaulo/frameset1.html>.Acessoem:5dez.2011.

Históriasda(I)migração

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Page 248: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Doc.2:GIOSEFFATTI,Ruggieri.[Requerimento à Directoria de Terras e Immigração da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas]. NúcleoCamposSalles,14out.1899.APESP,AcervoPermanente,FundoSecretariadaAgricultura,ComércioeObrasPúblicas,C7217,SAGR128_002.

Doc. 3:NÚCLEOColonialNovaVeneza –EstaçãoRebou-ças–E.F.Paulista–Lote1,secçãoQuilombo.Proprietário:AlfredoCordeiro, português, com sua família. Grande cultura de bananas. SãoPaulo,[19--?].1fotografia,p&b.APESP,AcervoIconográfico,MemorialdoImigrante,MI_ICO_AMP_011_002_003_001.

Atividade 10

Doc.1:AZEVEDO,Aluísiode.O Cortiço.RiodeJaneiro:Minis-tériodaCultura;FundaçãoBibliotecaNacional;DepartamentoNa-cionaldoLivro,1890.Disponívelem:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000003.pdf>.Acessoem:24nov.2011.

Doc.2:SÃOPAULO(Estado).SecretariadosNegóciosdoIn-terior do Estado de São Paulo. Relatorio da Commissão de Exame e Ins-pecção das Habitações Operarias e Cortiços no districto de Sta. Ephigenia. São Paulo, 1893. APESP, Acervo Permanente.

Doc. 3: GAENSLY, Guilherme.Avenida Paulista. São Paulo, 1911.1fotografia,p&b.APESP,AcervoIconográfico,ColeçãodeFotosGuilhermeGaensly,GGY_24.Disponívelem:<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/galerias_acervodigitalizado/guilherme_ga-ensly/frameset1.htm>.Acessoem:26jan.2012.

Doc. 4: FRUTUOSO, SuzaneG.Cortiço é tão precário hojequantonoséculo19.Jornal da Tarde[online],SãoPaulo,21jan.2011.Seção Cidade. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/jt-ci-dades/cortico-e-tao-precario-hoje-quanto-no-seculo-19/>. Acessoem:24nov.2011.

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Ensino&Memória

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Atividade 11

Doc. 1: GRUPO de alunos da antiga Escola Alemã e seufundador Pastor Theodoro Koelle. Rio Claro, 1902. 1 fotografia,p&b, 9 cm x 14 cm. APESP, Acervo Iconográfico,Memorial doImigrante, MI_ICO_AMP_008_001_015_001. Disponível em:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_008_001_015_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:26jan.2012.

Doc.2:SÃOPAULO(Estado).[Trecho do relatório apresentado ao Exmo. Snr. Secretário dos Negócios do Interior pelo professor João Lourenço Rodrigues, Inspetor Geral de ensino]. São Paulo, 1907/1908. Anexo I.APESP, Acervo Permanente.

Doc.3:ESCOLAnaEspanhaexpulsajovemporusarvéuis-lâmico.R7 [online], [S.l.], 21 abr. 2010. Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/noticias/escola-na-espanha-expulsa--jovem-por-usar-veu-islamico-20100421.html>. Acesso em: 26 set.2011.

Atividade 12

Doc.1:BRASIL.Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934.Disponívelem:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao34.htm>. Aces-soem:5dez.2011.

Doc.2:SECRETARIADAAGRICULTURA,INDÚSTRIAECOMÉRCIO.Demonstraçãodadiminuiçãodacorrenteimigratóriaeuropéa. Boletim da Diretoria de Terras, Colonização e Imigração. São Pau-lo,anoI,n.1,p.16,out.1937.APESP,AcervoBiblioteca,MemorialdoImigrante,BoletimdaDiretoriadeTerras_1937_016.

Doc.3:OPROBLEMAdo[s][s]emtrabalho.Diário Popular, São Paulo,capa,15dez.1930.APESPAcervoHemeroteca.

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Doc.4:FREITAS,SôniaMaria.Falam os imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em São Paulo. 2001. Tese (Doutorado em Histó-ria)–FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,Universida-de de São Paulo, São Paulo, 2001.

Atividade 13

Doc.1:ABAILARINAGraciadeEspanha,ocantorMarioVar-gas,oguitarristaPedrinhoeJoaquimCallado.SãoPaulo,1959.1foto-grafia,p&b,10cmx15cm.APESP,AcervoIconográfico,Memorialdo Imigrante, MI_ICO_AMP_059_005_026_001. Coleção MarioArandaVargas.Disponívelem:<http://www.museudaimigracao.org.br/acervodigital/fotografias.php?pesq=1&tema=&local=&Ano_ini=&descricao=&palavra_chave=&topografico=MI_ICO_AMP_059_005_026_001&Reset2=Pesquisar>.Acessoem:27jan.2012.

Doc.2:EQUIPE.Jogo entre Flamengo e Palmeiras no Maracanã. Rio deJaneiro,1959.1fotografia,p&b,35mm.APESP,AcervoIcono-gráfico,ICO_001_014189_037.jpg.

Doc.3:MEURER,Sérgio.Ilustração em estilo Mangá. São Paulo, 2012.

Doc.4:JULIANO,JéssicaF.Praça da Liberdade.1fotografia,co-lor.

Atividade 14

Doc. 1: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA ASMIGRAÇÕES(OIM).Estimativasdos23MaioresEstoquesdeRe-sidentesBrasileirosnoMundo,2008–apartirdedadosoficiaisdoMinistériodasRelaçõesExterioresdoBrasil.In:______.Perfil Migra-tório do Brasil 2009.Geneva,set.2010.p.39.Disponívelem:<http://www.mte.gov.br/trab_estrang/perfil_migratorio_2009.pdf>.Acessoem:15mar.2012.

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Ensino&Memória

Page 251: Ensino e memoria_historias_da_imigracao

Doc.2:FERNANDES,DurvalMagalhães;DINIZ,AlexandreMagno.Migración en laFronteraNorte deBrasil: flujos e nuevasredes. In: ENCUENTRONACIONALDEDEMÓGRAFOSYESTUDIOSOSDELAPOBLACIÓN, 5., 2011,Caracas.Anais... Caracas:UniversidadCentraldeVenezuela;FACES-FAU,2011.Dis-ponível em: <http://www.somosavepo.org.ve/download/cdt_570.pdf>.Acessoem:27abr.2012.

Doc.3:MINISTROdenunciaEspanhaporcontinuarbarran-do brasileiros. Correio Brasiliense[online],Brasília,16jun.2011.Dis-ponível em: <http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2011/06/16/interna_mundo,257139/ministro-denuncia--espanha-por-continuar-barrando-brasileiros.shtml>.Acessoem:25mar. 2012.

Doc.4:SILVA,SidneyAntonioda.BolivianosemSãoPaulo:entre o sonho e a realidade. Estudos Avançados, São Paulo, v. 20, n. 57,maio/ago. 2006.Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142006000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.Acessoem:21mar.2012.

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Coordenação EditorialHaike Roselane Kleber da Silva

Preparação de Originais e Revisão de ProvasKarinaGonçalvesdeSouzadeOliveiraJéssica Ferraz Juliano

Elaboração das Atividades Didáticas, Pesquisa Iconográfica e DocumentalAndresa Cristina Oliver BarbosaCarla Janaína de Freitas PereiraLeticia ScrivanoMariana Ferreira AmbrósioStanley Plácido da Rosa SilvaVâniaNeliseVentura

Tratamento de Imagens, Projeto Gráfico e EditoraçãoThiago Augusto Golizia

CapaSérgio Meurer

ColaboraçãoCentrodeAcervoIconográficoeCartográficoCentrodePreservação

Impressão e acabamento:ImprensaOficialdoEstadodeSãoPaulo

A autoria da maioria das imagens reproduzidas nessa obra é desconhecida.Porém,oautor,sederaconhecer,serácitadonaspróximasedições,conforme lei vigente 9.610/98.

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Históriasda(I)migração

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Histórias da (I)migração nos propõe o exercício do olhar para as questões migratórias do presente, aquelas refletidas em nossa paisa-gem urbana e em nosso cotidiano, como um processo histórico que vem se desenrolando há séculos, especialmente na cidade de São Paulo. Para tanto, temos como proposta levar os leitores a uma viagem que parte das migrações contemporâneas e perpassa por questões sobre a imigração desde o século XIX em São Paulo e suas relações com a cidade. Consequentemente, esses apontamentos propiciam a reflexão dos conceitos que cercam o fenômeno dos des-locamentos populacionais ao longo dos tempos, bem como a per-cepção das rupturas e permanências históricas.

O livro traz ainda diversas sugestões de atividades pedagógicas sobre a temática, as quais foram construídas a partir de diferentes fontes documentais do acervo sob a guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo, como jornais, manuscritos, fotografias, revistas, bo-letins, entre outras. Dessa forma, os textos, aliados às sugestões de atividades, podem servir de rico material para suscitar a reflexão em sala de aula e colaborar com a construção do conhecimento.

ISBN 978-85-63443-06-9