especial fronteiras do desconhecido

39
Especial Fronteiras do Desconhecido (Eurípedes Alcântara) Quando as baterias da sonda Pathfinder se esgotarem, dentro de um mês, e as emissões de rádio vindas de Marte silenciarem para sempre, os cientistas terão em mãos uma montanha de dados para analisar. Para alegria deles, as informações recolhidas pelos sensores da sonda vão servir para responder a algumas indagações, mas, principalmente, vão ajudá-los a formular uma batelada de novas perguntas. "Marte continuará sendo um mistério que manterá nossa curiosidade acesa pelo próximo século", disse Mattew Glombek, chefe do projeto científico que colocou a formidável geringonça na superfície do planeta vermelho. "Ainda não sabemos se existe ou existiu vida por lá." É assim que a boa ciência caminha, assentando um pouco de poeira ao mesmo tempo que semeia um vendaval de dúvidas. Ao contrário do que sugere o despudor de alguns pesquisadores e do crescente sensacionalismo das publicações especializadas, a ciência continua produzindo mais dúvidas do que certezas absolutas. O que é muito bom. A verdadeira medida do progresso científico não está na quantidade de respostas que os pesquisadores podem produzir, mas na qualidade das indagações que eles aprendem a formular. Como se verá nas seis páginas desta reportagem, a atual geração de cientistas legará a seus pares do próximo milênio uma pauta variada de questões sem resposta. "Não acredite quando lhe disserem que desvendamos os grandes segredos da natureza e que não há mais nada de importante para ser descoberto", alerta Robert Hazen, geofísico da Carnegie Institution, de Washington, e autor do livro Porque os Buracos Negros Não São Negros?. Triunfalismo - Hazen foi a primeira voz a se levantar contra o triunfalismo da ciência americana vocalizado por autores como John Horgan, cujo livro O Fim da Ciência resumiu o pensamento reinante: a humanidade está chegando ao fim de sua capacidade de aprendizado, uma época gloriosa em que todas as leis da natureza foram descobertas e tudo que se materializar de agora em diante nas pesquisas é acessório. Basta um pouco de humildade e conhecimento da História para perceber que essa atitude é uma besteira. No final

Upload: outubrovermelho

Post on 03-Jul-2015

353 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Especial Fronteiras do Desconhecido

(Eurípedes Alcântara)

Quando as baterias da sonda Pathfinder se esgotarem, dentro de um mês, e as emissões de rádio vindas de Marte silenciarem para sempre, os cientistas terão em mãos uma montanha de dados para analisar. Para alegria deles, as informações recolhidas pelos sensores da sonda vão servir para responder a algumas indagações, mas, principalmente, vão ajudá-los a formular uma batelada de novas perguntas. "Marte continuará sendo um mistério que manterá nossa curiosidade acesa pelo próximo século", disse Mattew Glombek, chefe do projeto científico que colocou a formidável geringonça na superfície do planeta vermelho. "Ainda não sabemos se existe ou existiu vida por lá." É assim que a boa ciência caminha, assentando um pouco de poeira ao mesmo tempo que semeia um vendaval de dúvidas.

Ao contrário do que sugere o despudor de alguns pesquisadores e do crescente sensacionalismo das publicações especializadas, a ciência continua produzindo mais dúvidas do que certezas absolutas. O que é muito bom. A verdadeira medida do progresso científico não está na quantidade de respostas que os pesquisadores podem produzir, mas na qualidade das indagações que eles aprendem a formular. Como se verá nas seis páginas desta reportagem, a atual geração de cientistas legará a seus pares do próximo milênio uma pauta variada de questões sem resposta. "Não acredite quando lhe disserem que desvendamos os grandes segredos da natureza e que não há mais nada de importante para ser descoberto", alerta Robert Hazen, geofísico da Carnegie Institution, de Washington, e autor do livro Porque os Buracos Negros Não São Negros?.

Triunfalismo - Hazen foi a primeira voz a se levantar contra o triunfalismo da

ciência americana vocalizado por autores como John Horgan, cujo livro O Fim da Ciência resumiu o pensamento reinante: a humanidade está chegando ao fim de sua capacidade de aprendizado, uma época gloriosa em que todas as leis da natureza foram descobertas e tudo que se materializar de agora em diante nas pesquisas é acessório. Basta um pouco de humildade e conhecimento da História para perceber que essa atitude é uma besteira. No final do século XIX, muitos cientistas de elite, inclusive um que posava de guru de sua época, o inglês William Thomson. o lorde Kelvin, decretaram que a física já havia descoberto tudo de mais importante (veja logo abaixo em Previsões erradas). Kelvin, por ironia, morreu em 1907, dois anos depois que Albert Einstein revolucionou a ciência com sua teoria da relatividade. Os mistérios estão soltos no campo da ciência. Mesmo questões simples como "o que é eletricidade?" ou "por que a noite é escura?" não tem respostas de todo incontroversas.

Inteiramente domada e colocada a serviço do homem, a eletricidade é originada por uma partícula subatômica, o elétron, sobre cuja natureza restam mais dúvidas do que sobre a sanidade mental de Mike Tyson. Quem acha que a noite é escura porque não tem sol está

Page 2: Especial Fronteiras Do Desconhecido

de posse de apenas metade da resposta. A verdadeira questão científica que desafia os pesquisadores há séculos é outra: "Se o universo é uniformemente preenchido por bilhões e bilhões de estrelas, algumas centenas de vezes mais brilhantes do que o Sol, por que a luz delas não ilumina a noite?". Esse problema, conhecido como paradoxo de Olbers, foi proposto em 1823 pelo astrônomo alemão Heinrich Wilhelm Olbers. Atualmente, os físicos acreditam ter resolvido o paradoxo com a explicação de que o universo é muito jovem e, portanto, a luz da maioria das estrelas não teve tempo suficiente para chegar a Terra. Simples? Nada disso. A questão da idade do universo é uma embrulhada sem tamanho. Recentemente, um grupo de astrofísicos da Agência Espacial Européia mediu a idade de algumas estrelas e chegou à conclusão de que elas são mais velhas do que o universo. Pode um filho ser mais velho do que o pai? Certamente não. Mas a medição é uma mostra do grau de incertezas dos pesquisadores nesse campo da investigação astronômica e cosmológica.

 Por que o universo existe?

 De que é feita a "matéria escura" do universo?

 Por que as estrelas se agrupam em galáxias?

 Qual é a idade do universo?

 Por que os buracos negros do universo nunca foram vistos?

 Nosso universo é único ou apenas um entre milhões?

 Pode uma única teoria explicar todos os fenômenos físicos?

 Como e quando o universo vai acabar?

 Plutão é mesmo um planeta?

A origem do universo - Das perguntas sem respostas nessa área, duas são consideradas fundamentais pelos investigadores. A primeira, simples e assustadora, é: "Por que o universo existe?". Ou, de outra forma: "Por que existe alguma coisa no lugar do nada?". A melhor resposta, altamente insatisfatória, vem de um grupo de pesquisadores liderados pelo cosmologista americano Alan Guth. Segundo ele, o universo nasceu por acaso de um mau funcionamento do vácuo que o precedeu. O nada que existia antes do universo, sustenta Guth, era um ambiente em que partículas energéticas de cargas opostas passavam os dias anulando-se mutuamente, como um jogo de futebol que sempre termine em zero a zero porque todos os jogadores possuem exatamente as mesmas qualidades. Um dia, não se sabe bem por quê, um tipo de partícula desempatou o jogo e predominou sobre as demais, criando a massa original que resultou na grande explosão primordial conhecida como Big Bang. Mais fácil acreditar no Gênesis bíblico? Talvez. "Melhor pensar no fenômeno da criação do universo como um evento atípico, uma perturbação dessas que ocorrem mesmo nos sistemas mais equilibrados e ninguém sabe bem por quê", resume o físico Edward Tyron.

A segunda pergunta cosmológica que tira os cientistas do sério é sobre a origem e natureza de uma grande confusão científica chamada "matéria escura". as modernas teorias sobre nascimento, vida e morte do universo só ficam de pé apoiadas na idéia da existência dessa misteriosa substância. "Não bastassem os mistérios do mundo visível e tangível, ainda temos de conviver com o fato de que 99% do universo é feito de matéria escura, uma substância absolutamente misteriosa sobre a qual nada sabemos", afirma Robert Hazen. Bota mistério nisso. Apesar de onipresente, a "matéria escura" é invisível mesmo aos mais poderosos telescópios da Terra. As certezas dos cientistas, por

Page 3: Especial Fronteiras Do Desconhecido

enquanto, se limitam ao que não é a "matéria escura". Em resumo, nada do que é observável por meios óticos ou detectável pelos instrumentos terrestres pode fazer parte desta matéria. Atualmente, a maioria dos cientistas acredita que o candidato favorito para ser o recheio da massa escura do universo é o neutrino, uma partícula subatômica sem carga elétrica que é a mais abundante no cosmo. O problema é que nenhuma equipe de astrofísicos conseguiu determinar se o neutrino tem massa. Dificilmente isso será feito nas próximas duas décadas. "Enquanto não se puder medir a massa do neutrino, a macarronada da cosmologia moderna ficará esfriando sobre a mesa, cada vez mais insossa e difícil de engolir", diz James Trefil, físico da Universidade George Mason e autor do livro Fronteiras do Desconhecido, que inspirou esta reportagem.

 Existe temperatura mais fria que o zero absoluto? Por que centenas de milhões de toneladas de carbono somem na atmosfera todos os

anos? Como os genes são controlados? Como uma célula dá origem a um organismo complexo? Como o DNA consegue se auto-consertar? Por que o DNA humano tem largas porções inúteis? A mente pode existir separada do cérebro? Quantas espécies de vida existem na Terra? É possível entender a consciência?

Como funciona o cérebro - Saber o que não se sabe é ótimo ponto

de partida. Nesse particular, os estudiosos do universo estão em posição privilegiada se comparados aos neurofisiologistas, cientistas devotados a entender o mecanismo de funcionamento do cérebro humano. "Os neurofisiologistas são talvez os pesquisadores mais brilhantes de nosso tempo. Paradoxalmente, são os que menos respostas têm para dar e menos perguntas significativas conseguem formular", diz Trefil. Tentar entender os mecanismos físicos da consciência humana será, sem dúvida, uma das mais espetaculares empreitadas científicas do próximo século. Essa área de pesquisa está ainda engatinhando. Uma das razões do atraso é que , para muitos teóricos, o cérebro não tem capacidade de entender a si mesmo. "É um ardil. quando o cérebro humano se aperfeiçoar a ponto de entender a si próprio ele se terá modificado de tal forma que será preciso iniciar o estudo de novo do ponto de partida", comenta o matemático inglês Robert Penrose. Segundo ele, o mistério do cérebro humano poderá um dia ser revelado, mas isso ocorrerá por meio de estudos indiretos. "Não decifraremos a complexidade da atividade cerebral enquanto não descobrirmos exatamente como funciona a matéria no nível atômico", diz Penrose. Em outras palavras, no fundo ninguém sabe onde termina o cérebro e começa a mente - ou exatamente como os pensamentos imaterias podem ser estocados fisicamente no cérebro por meio de interações biológicas e químicas num processo que chamamos de memória. Num ambiente de tanta incerteza, imagine o que aconteceria se alguém perguntasse "onde fica a alma?" ou "o que é o espírito?" Responde Trefil, com humildade: "Nem todas as indagações humanas pertencem ao universo da ciência".

Page 4: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Num mundo mergulhado em computadores e badulaques eletrônicos, tem-se a impressão de que esse é o campo das atividades científicas que mais evolução experimentou - e um futuro mais brilhante tem pela frente. Sem duvida, a miniaturização dos componentes eletrônicos e a expansão da capacidade de processamento dos chips foram um processo estrondoso. Um computador doméstico custa hoje um milésimo do que um modelo científico de alguns anos atrás - e é 100 vezes mais poderoso. Toda essa revolução, no entanto, pode estar já beliscando seus limites. "O computador como o conhecemos é uma máquina do passado", diz o americano Michael Dertouzos, diretor do laboratório de ciência da computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT. "O computador do futuro terá de ser reinventado, Ele será uma coisa bem diferente do que conhecemos hoje e, muito provavelmente, não será derivado da estrutura das máquinas atuais." Dertouzos, em duas décadas como professor e diretor do MIT, ajudou a criar muitas das tecnologias que agora critíca. No livro What Will Be (O que Será), que acaba de ser publicado nos Estados Unidos, Dertouzos prevê que os computadores terão de ser simplificados se quiserem sobreviver. "É inaceitável que em alguns anos de uso o dono de um PC acumule tantos manuais quantos são os volumes da Enciclopédia Britânica". diz Dertouzos. "O computador precisa evoluir, e rápido. Só que quem os fabrica não sabe em que direção."

A cura das doenças - Se não são os computadores os carros-chefes do

progresso científico atual, que campo da investigação humana tem mais substância a oferecer num curto prazo? "Sem dúvida a biologia", aposta o brasileiro José Alexandre Scheinkman, diretor do departamento de economia da Universidade de Chicago. "Os melhores resultados, as respostas mais fecundas estarão brotando nos próximos anos dos laboratórios biológicos", diz Scheinkman. O americano Trefil concorda: "A biologia, especialmente a molecular, é o que a física foi no começo do século, uma fábrica de novidades práticas de impacto imediato sobre a vida da maioria das pessoas". Como? Em grande parte a medicina moderna consiste em tratar os sintomas até que o organismo tenha tempo para curar a si mesmo. De fato, em apenas três áreas os avanços médicos conseguiram efetivamente eliminar doenças. A primeira é a da saúde pública, com suas vacinas e medidas sanitárias. A segunda, a da vitória contra os micróbios. A terceira área, a mais badalada de todas, é a das grandes intervenções cirúrgicas. A quarta dimensão que se abre nesse quadro é a da terapia genética. A ciência médica do século XX entrega esse campo a seus sucessores do próximo século ainda como uma formidável promessa. Que chances tem a terapia genética de se transformar numa salvadora de vidas humanas? "As chances são boas, e isso deve começar a ocorrer de modo mais intensivo muito em breve, nos próximo anos", comenta Fernando Reinach, biólogo molecular brasileiro da Universidade de São Paulo e da Cornell University, recentemente agraciado pela Hughes Foundation com a maior bolsa de pesquisa já concedida a um laboratório na América do Sul.

A grande dúvida dos biólogos moleculares é descobrir uma maneira mais eficiente de injetar genes benfeitores nas células do organismo de pessoas doentes. Inocular um gene capaz de consertar um problema hereditário ou destruir um processo cancerígeno é bem mais complicado do que uma transfusão de sangue ou abrir um buraco no crânio de um paciente. O maior aliado dos biólogos nessa luta, ironicamente, são os menores e mais poderosos inimigos da saúde humana, os vírus. "Brevemente estaremos assistindo a terapias muito eficientes em que vírus modificados no laboratório vão ser injetados no corpo humano para destruir doenças antes intratáveis por outros métodos", prevê Trefil. A

Page 5: Especial Fronteiras Do Desconhecido

idéia é utilizar o potencial invasivo que os vírus já provaram possuir e transformá-los em mensageiros de genes, que , uma vez dentro das células doentes, possam consertá-las. Um painel do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o reputado NIH, realizado há dois anos, recomendou que os laboratórios invistam pesado na "virusterapia" em detrimento de outras abordagens genéticas.

Questões desafiadoras - A terapia genética vai estar logo nos

consultórios médicos, mas muito de seu fundamento teórico ainda permanecera no campo da especulação. O século se encerrará sem que muitas das questões mais desafiadoras do mundo biológico tenham obtido respostas satisfatórias. Um exemplo: os cientistas ainda não sabem como de uma única célula fecundada pode surgir um indivíduo complexo. O mistério é que não existem informações suficientes nos genes para, a partir de algumas proteínas e outras substâncias nutritivas, produzir um ser humano. Só o cérebro é dezenas de vezes mais complexo do que o DNA, a molécula que transmite os caracteres hereditários. Como pode o DNA produzir o cérebro? Os cientistas simplesmente não sabem. A embriologia é ainda um mistério insondável. Depois de décadas estudando em vão como as células nascem, se reproduzem e se diferenciam no embrião, os cientistas chegaram à conclusão de que a resposta deve estar em outro lugar. Hoje, o campo mais promissor da embriologia é o estudo de como e por que as células embrionárias morrem. "Todas as cavidades, protuberâncias e complexidades do embrião, como os dedos, o globo ocular e as conexões cerebrais, são produzidas por células que sabem exatamente a hora de morrer", diz o pesquisador americano Herbert Shirer.  "Porque e como essas células decidem o instante exato em que precisam se suicidar é um dos maiores mistérios da embriologia."

Esse e outros mistérios serão decifrados? Algum dia a ciência meteorológica saberá afirmar com certeza se vai chover na semana que vem? Será possível prever as erupções dos vulcões ou os terremotos? Previsões só podem ser feitas quando se conhecem todas as variáveis envolvidas num fenômeno e exatamente como elas interagem. é um trabalho incrivelmente complexo que os cientistas chamam de "modelagem". O mais certo é que o ser humano desembarcará em Marte antes de poder saber com certeza se vai dar praia no fim de semana - ou se Los Angeles ou a Cidade do México serão destruídas por um terremoto em determinado dia. Mas é reconfortante saber que os mistérios fazem parte da boa ciência. Antes de serem obstáculos, as grandes interrogações são a luz no caminho dos pesquisadores. Mais poderoso do que a dúvida no campo da ciência talvez só o otimismo, como o que transborda da chamada primeira lei de Clarke, promulgada pelo fabuloso escritor de ficção científica Arthur Clarke: "Quando um velho e reputado cientista disser que alguma coisa é possível, ele quase sempre estará certo. Quando ele disser que é impossível, muito provavelmente ele estará errado".

Previsões erradas 

A arrogância tecnológica é uma doença de fim de século. Já famoso pela invenção da lâmpada elétrica e do fonógrafo, o americano Thomas Edison ao anunciar, em 1891, a patenteação do projetor de imagens, precursor do cinema, previu: "Muito pouco ainda falta para ser inventado". Pouco antes da virada do século, um historiador chegou a propor o fechamento do escritório de registro de patentes dos Estados Unidos. Na sua opinião, o

Page 6: Especial Fronteiras Do Desconhecido

serviço se tornara obsoleto porque simplesmente não haveria mais o que inventar. O mais interessante é o que os cidadãos do século passado tinham razões mais sólidas de orgulho do que as que movem alguns estudiosos apressados de hoje a decretar o fim da História, da economia e até da ciência. Perto das brutais transformações do final do século XIX, vive-se atualmente uma calmaria. O mundo experimenta hoje um período de evolução muito rápida de tecnologias já dominadas anteriormente. Em contraste, na mesma época do século passado, a humanidade estava sendo posta ideologicamente de cabeça para baixo por Sigmund Freud, Karl Marx e Charles Darwin, ao mesmo tempo que experimentava revoluções tecnológicas e sem precedentes na História.

Em poucas décadas surgiram a locomotiva (1825), a fotografia (1839), o transatlântico (1843), a eletricidade de uso comercial (1886) e o motor de combustão interna (1876). Nas comunicações, o salto foi enorme. Apareceram o telégrafo (1844) e o telefone (1876), cujo impacto sobre o cotidiano das pessoas foi incomparavelmente maior que o da Internet nos dias de hoje. Na medicina, o salto de qualidade foi dramaticamente superior ao proporcionado por qualquer droga ou terapia moderna. Em 1846 foi inventada a anestesia e, menos de vinte anos depois, a assepsia (1865) - o simples procedimento de esterilizar as mãos e os instrumentos cirúrgicos evitou mais mortes do que os antibióticos ou a tomografia computadorizada. Diante do alívio real proporcionado pela anestesia, a promessa miraculosa das terapias genéticas de nossos dias parece pálida e distante. Vale lembrar também que muitas das mais vitais tecnologias e idéias científicas de nossos dias estão assentadas em conceitos formulados por pensadores do século passado, entre elas o computador, o foguete e a teoria geral da relatividade.

 "Quando um velho e reputado cientista disser que alguma coisa é possível, ele quase sempre estará certo. Quando ele disser que é impossível, muito provavelmente ele estará errado."(Artur Clarke)

 "Restringir nossa atenção aos assuntos terrestres seria limitar o espírito humano."(Stephen Hawking)

 "Deus não joga dados com o universo."(Albert Einstein)

 "Deus não só joga dados com universo, mas os joga onde não possamos ver."(Steven Hawking)

 "A mente crédula [...] experimenta um grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quando mais estranhas forem, mais facilmente serão aceitas; mas nunca leva em consideração as coisas simples e plausíveis, pois todo mundo pode acreditar nelas."(Samuel Butler, Characters)

 "Tempo virá em que uma pesquisa diligente e contínua esclarecerá aspectos que agora permanecem escondidos. O espaço de tempo de uma vida, mesmo se inteiramente devotada ao estudo do céu, não seria suficiente para investigar um objetivo tão vasto... Este conhecimento será conseguido somente através de gerações sucessivas. Tempo virá em que os nossos descendentes ficarão admirados de que não soubéssemos particularidades tão evidentes a eles... Muitas descobertas estão reservadas para os que virão, quando a lembrança de nós estará apagada. O nosso universo será um assunto sem importância, a menos que haja alguma coisa nele a ser investigada a cada geração... A natureza não revela seus mistérios de uma só vez."(Sêneca, século I)

Page 7: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Rápida Utopia"Ação à distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do progresso.

Primeira regra: não se pode julgar um século, sobretudo alguns anos antes de seu fim, sem recolocá-lo na devida perspectiva histórica. Pensem no que teria respondido um geógrafo do século XV se lhe tivessem pedido uma síntese de seu século em 1º de janeiro de 1490. Ou no que teríamos respondido se nos tivessem pedido um balanço de 1989 um mês antes da queda do Muro de Berlim e da revolução na Romênia.

Segunda regra: quem julga? O julgamento de um cidadão do mundo ocidental é diferente do de um biafrense que morre de fome. Mas, se essa regra é válida para cada século, ela o é um pouco menos para o nosso. Para o bem ou para o mal, o modelo ocidental se impõe gradativamente sobre uma grande parte do planeta. Um camponês chinês está hoje, para o bem ou para o mal, mais próximo de um camponês francês do que estava há dois séculos.

Terceira regra: não se pode avaliar emocionalmente um século estando dentro dele e sem proceder a comparações estatísticas. O número de pessoas que hoje morrem de fome no mundo nos causa horror. Mas o número de pessoas que morriam de fome no século passado também nos deve causar horror, sobretudo se o comparamos à população mundial da época. Segundo relatos de vários legados pontifícios, o príncipe Vlad Tepes de Valáquia (cognominado Drácula), que empalava mulheres e crianças enquanto se divertia com seus cortesãos, havia ordenado, só no ano de 1475, o massacre de 100.000 pessoas. Considerando que seu principado contava 500.000 habitantes, é como se hoje o governo italiano ordenasse o massacre de 10 milhões de cidadãos. O século que chega ao fim é o que presenciou o Holocausto, Hiroshima, os regimes dos Grandes irmãos e dos Pequenos Pais, os massacres do Camboja e assim por diante. Não é um balanço tranqüilizador. Mas, como veremos, o horror desses acontecimentos não reside apenas na quantidade, que, certamente, é assustadora.

Numa Europa com apenas algumas dezenas de milhões de habitantes, os pogroms das Cruzadas, as cidades saqueadas durante a Guerra dos Trinta Anos representam um número de vítimas que deveria deixar-nos sem voz. Ainda mais que os responsáveis eram honrados como heróis tanto nos livros de História quanto nos retratos suntuosos que fazem a grandeza da história da arte.

Pode-se julgar um século pela distância existente entre seu sistema de valores e sua prática cotidiana. Como se sabe, a hipocrisia permite dispor compromissos entre o reconhecimento teórico dos valores e sua violação. Ora, nosso século talvez tenha sido menos hipócrita que os outros. Ele enunciou regras de convivência; certamente as violou, mas moveu e move processos públicos contra essas violações. Isso não impede que elas se repitam, mas teve alguma influência sobre nossos comportamentos cotidianos e sobre as probabilidades de um grande número de cidadãos, sobretudo no mundo ocidental, viver por mais tempo, evitando abusos de poder de toda ordem.

Hoje posso andar pela rua sem me fazer matar por alguém que queira manter sua trajetória na mesma calçada que a minha, e sei que meus filhos não receberão cacetadas do filho de um duque como meio de aprendizagem do poder. Indivíduos prepotentes tentam ainda hoje expulsar uma mulher negra do ônibus, mas a opinião pública os condena: há apenas dois séculos, teríamos pensado agir como honestos cidadãos se

Page 8: Especial Fronteiras Do Desconhecido

tivéssemos investido uma parte de nosso pecúlio numa empresa que teria vendido essa mulher como escrava aos Estados Unidos. Parece que foi o que aconteceu com Voltaire.

Vejamos agora os aspectos ambíguos deste século. Ele terá sido o século das massas. Para o bem ou para o mal. Os direitos das massas foram reconhecidos: é muito importante o direito à palavra, à contestação, ao voto, exercer um cargo político, e não avaliamos o que isso representa porque não vivemos em séculos em que era normal um artesão morar num casebre imundo e um senhor que não tinha dinheiro para pagar-lhe mandar seus servidores baterem nele. Experimente tratar a murros seu encanador que exige pagamento e compreenderá que alguma coisa mudou. As conquistas morais e políticas deste século, graças às quais não se pode mais engravidar impunemente uma camponesa só porque se é dono de terras, se pagam hoje pelo sistema de estrelato: aquela, que, em outros tempos, teria sido uma camponesa indefesa é hoje assediada com a promessa de aparecer nua na capa de uma revista famosa.

Nosso século é o da aceleração tecnológica e científica, que se operou e continua a se operar em ritmos antes inconcebíveis. Foram necessários milhares de anos para passar do barco a remo à caravela ou da energia eólica ao motor de explosão; e em algumas décadas se passou do dirigível ao avião, da hélice ao turborreator e daí ao foguete interplanetário. Em algumas dezenas de anos, assistiu-se ao triunfo das teorias revolucionárias de Einstein e a seu questionamento.

O custo dessa aceleração da descoberta é a hiperespecialização. Estamos em via de viver a tragédia dos saberes separados: quanto mais os separamos, tanto mais fácil submeter a ciência aos cálculos do poder. Esse fenômeno está intimamente ligado ao fato de ter sido neste século que os homens colocaram mais diretamente em questão a sobrevivência do planeta. Um excelente químico pode imaginar um excelente desodorante, mas não possui mais o saber que lhe permitiria dar-se conta de que seu produto irá provocar um buraco na camada de ozônio.

O equivalente tecnológico da separação dos saberes foi a linha de montagem. Nesta, cada um conhece apenas uma fase do trabalho. Privado da satisfação de ver o produto acabado, cada um é também liberado de qualquer responsabilidade. Poderia produzir, e isso ocorre com freqüência, venenos sem que o soubesse. Mas a linha de montagem permite também fabricar aspirina em quantidade para o mundo todo. E rápido. Tudo se passa num ritmo acelerado, desconhecido dos séculos anteriores. Sem essa aceleração, o Muro de Berlim poderia ter durado milênios, como a Grande Muralha da China. É bom que tudo se tenha resolvido no espaço de trinta anos, mas pagamos o preço dessa rapidez. Poderíamos destruir o planeta num dia.

Nosso século foi o da comunicação instantânea. Hernán Cortés pôde destruir uma civilização e, antes que a notícia se espalhasse, teve tempo para encontrar justificativas a seus empreendimentos. Hoje, massacres da Praça da Paz Celestial, em Pequim, tornam-se atualidade no momento mesmo em que se desenrolam e provocam a reação de todo o mundo civilizado. Mas informações simultâneas em excesso, provenientes de todos os pontos do globo, produzem um hábito. O século da comunicação transformou a informação em espetáculo. Arriscamo-nos a confundir a todo instante a atualidade e o divertimento.

Nosso século presenciou o triunfo da ação à distância. Hoje, aperta-se um botão e entra-se em comunicação com Pequim. aperta-se um botão e um país inteiro explode. Aperta-se um botão e um foguete é lançado a Marte. A ação à distância salva numerosas vidas, mas irresponsabiliza o crime.

Ciência, tecnologia, comunicação, ação à distância, princípio da linha de montagem: tudo isso tornou possível o Holocausto. A perseguição racial e o genocídio não foram uma invenção de nosso século e herdamos do passado o hábito de brandir a ameaça de um

Page 9: Especial Fronteiras Do Desconhecido

complô judeu para desviar o descontentamento dos explorados. Mas o que torna tão terrível o genocídio nazista é que foi rápido, tecnologicamente eficaz e buscou o consenso servindo-se das comunicações de massa e do prestígio da ciência.

Foi fácil fazer passar por ciência uma teoria pseudocientífica, porque, num regime de separação dos saberes, o químico que aplicava os gases asfixiantes não julgava necessário ter opiniões sobre a antropologia física. O Holocausto foi possível porque se podia aceitá-lo e justificá-lo sem ver seus resultados. Além de um número, afinal restrito, de pessoas responsáveis e de executantes diretos (sádicos e loucos), milhões de outros puderam colaborar à distância, realizando cada qual um gesto que nada tinha de aterrador.

Assim, este século soube fazer o melhor de si o pior de si. Tudo o que aconteceu de terrível a seguir não foi senão repetição, sem grande inovação.

O século do triunfo tecnológico foi também o da descoberta da fragilidade. Um moinho de vento podia ser reparado, mas o sistema do computador não tem defesa diante da má intenção de um garoto precoce. O século está estressado porque não sabe de quem se deve defender nem como: somos demasiado poderosos para poder evitar nossos inimigos. Encontramos o meio de eliminar a sujeira, mas não o de eliminar os resíduos. Porque a sujeira nascia da indigência, que podia ser reduzida, ao passo que os resíduos (inclusive os radioativos) nascem do bem-estar que ninguém quer mais perder. Eis porque nosso século foi o da angústia e da utopia de curá-la. Com um superego mais forte, a humanidade se embaraça num mal que conhece perfeitamente, confessa-o em público, tenta purificações expiatórias às quais se juntam as igrejas e os governos e repete o mal porque ação à distância e linha de montagem impedem identificá-lo no início do processo. Espaço, tempo, informação, crime, castigo, arrependimento, absolvição, indignação, esquecimento, descoberta, crítica, nascimento, longa vida, morte... tudo em altíssima velocidade. A um ritmo de stress. Nosso século é o do enfarte."

(ECO, Umberto. O segundo diário mínimo. 2. ed. Rio de Janeiro : Record, 1994)

 Uma Breve História do TempoEm nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo. Pouco pensamos no mecanismo que gera a luz do Sol e possibilita a vida; na gravidade, que nos cola a uma Terra que, de outra forma, nos lançaria em rotação pelo espaço; ou nos átomos de que somos feitos e de cuja estabilidade dependemos fundamentalmente. Com exceção das crianças (que não sabem o suficiente para não fazer senão perguntas importantes), poucos de nós gastamos muito tempo considerando por que a natureza é do jeito que é; de onde surgiu o cosmo, ou se ele sempre existiu; se o tempo algum dia voltará atrás, fazendo os efeitos antecederem as causas; ou ainda se existem limites máximos para o conhecimento humano. Há até mesmo crianças - conheci algumas delas - que querem saber com o que se parece um buraco negro; qual é a menor porção da matéria; porque nos lembramos do passado e não do futuro; como se explica, se houve um caos primordial, que haja ordem agora, pelo menos aparentemente; e por que existe um universo.

Em nossa sociedade não é incomum que pais e professores respondam à maioria destas perguntas com um dar de ombros, ou apelando para conceitos religiosos vagamente relembrados. Alguns não se satisfazem com este tipo de atitudes, porque elas expõem

Page 10: Especial Fronteiras Do Desconhecido

visceralmente as limitações da compreensão humana.

Grande parte da filosofia e da ciência foi impelida por estes questionamentos. Um número crescente de adultos começa a ousar formular perguntas deste gênero e ocasionalmente recebe respostas surpreendentes. Eqüidistantes dos átomos e das estrelas, expandimos nosso horizonte exploratório para alcançar o conhecimento tanto dos fenômenos menores quanto dos maiores.

Carl SaganCornell UniversityIthaca, Nova York

Para falar sobre a natureza do universo e discutir questões tais como se ele tem um começo ou um fim, é preciso ter clareza do que é uma teoria científica. Numa visão mais simplista, a teoria é apenas um modelo do universo, ou uma parte restrita de seu todo; um conjunto de regras que referem quantidades do modelo a observações que possamos fazer. Ela existe apenas em nosso raciocínio e não apresenta qualquer outra realidade (seja lá o que isso signifique). Uma teoria é considerada boa quando satisfaz dois requisitos: descrever com precisão uma grande categoria de observações, com base num modelo que contenha apenas previsões definidas quanto aos resultados de futuras observações. Por exemplo, a teoria de Aristóteles de que tudo foi originado a partir dos quatro elementos, terra, ar, fogo e água, era suficientemente simples para qualificar, porém não fazia qualquer previsão definida. Por outro lado, a teoria da gravidade de Newton se baseou num modelo ainda mais simples, segundo o qual os corpos se atraem com força proporcional a uma quantidade chamada massa, e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas. Previa, porém, os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas, com um elevado grau de precisão.

O objetivo eventual da ciência é promover uma teoria única que descreva todo o universo. Entretanto, a abordagem que a maioria dos cientistas segue atualmente é separar o problema em duas partes. Primeiro existem as leis que explicam as mudanças do universo ao longo do tempo. (Se soubermos como o universo se comporta em qualquer instante dado, estas leis físicas nos dirão como ele será em qualquer instante posterior.) Em segundo lugar está a questão do estado inicial do universo. Algumas pessoas acreditam que a ciência deveria se concentrar apenas na primeira parte: encaram a questão da situação inicial como assunto para a metafísica ou para a religião. Diriam que Deus, sendo onipotente, poderia ter começado o universo conforme quisesse. Talvez seja assim, mas neste caso ele também poderia tê-lo feito desenvolver-se de maneira completamente arbitrária. Ainda mais: parece que escolheu fazê-lo evoluir de maneira bastante regular, de acordo com certas leis. É, então, igualmente razoável supor que também existam leis governando o estado inicial. (*)

O princípio da incertezaO sucesso das teorias científicas, particularmente a da gravidade de Newton, levou um cientista francês, o marquês de Laplace, no início do século XIX, a argumentar que o universo era absolutamente determinístico. Laplace sugeriu que devia haver um conjunto de leis que científicas que permitiriam prever tudo que acontecesse no universo, bastando para tanto que se soubesse o estado completo do universo num determinado momento. Por exemplo, se conhecêssemos as posições e velocidades do Sol e dos planetas num tempo x, poder-se-ia, então, usar as leis de

Page 11: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Newton para calcular o estado do Sistema Solar em qualquer outro momento. O determinismo parece bastante óbvio neste caso, mas Laplace foi além, ao assumir que existem leis similares governando tudo mais, inclusive o comportamento humano.

A doutrina do determinismo científico foi fortemente rejeitada por quem julgava que ela infringia a liberdade divina de interferência no mundo; permaneceu entretanto a hipótese padrão da ciência até os primeiros anos deste século. Uma das primeiras indicações de que esta crença deveria ser abandonada apareceu quando os cálculos dos cientistas ingleses Lord Rayleigh e Sir James Jeans sugeriram que um objeto aquecido, ou um corpo como uma estrela, deve irradiar energia numa razão infinita. De acordo com as leis em que se acreditava na época, um corpo aquecido deve emitir ondas eletromagnéticas (como as ondas de rádio, luz visível ou raios X) igualmente em todas as freqüências. Deve, por exemplo, irradiar a mesma quantidade de energia em ondas com freqüências entre um e dois trilhões de ondas por segundo, como em ondas com freqüências entre dois e três trilhões de ondas por segundo. Mas, desde que o número de ondas por segundo seja ilimitado, a energia total irradiada será infinita.

A fim de evitar esse resultado obviamente ridículo, o cientista alemão Max Planck sugeriu, em 1900, que a luz, os raios X e outras ondas não pudessem ser emitidos a uma razão arbitrária, mas apenas em determinadas quantidades que chamou de quanta. Cada quantum teria uma certa cota de energia, tanto maior quanto mais alta a freqüência das ondas; assim, a uma freqüência suficientemente alta, a emissão de um único quantum exigiria mais energia do que a disponível. Portanto, a radiação em altas freqüências seria reduzida e, então, a razão de perda de energia de um corpo seria finita.

(*)

Provou-se que é muito difícil descobrir uma teoria que descreva todo o universo. Por isso divide-se o problema em diversas partes e inventam-se inúmeras teorias parciais. Cada uma delas descreve e prevê um número limitado de categorias de observação, relegando os efeitos de outras quantidades, ou os representando por conjuntos simples de números. Pode ser que esta abordagem seja completamente errada. Se tudo no universo, de maneira fundamental, depende de todo o resto, talvez seja impossível atingir uma solução plena através da investigação das partes isoladas do problema. Ainda assim, foi esta certamente a forma com que se fez progressos no passado. O exemplo clássico é novamente a teoria da gravidade de Newton, que afirma que a força gravitacional entre dois corpos depende apenas de um número associado a cada corpo, sua massa, mas é, por outro lado, independente da matéria de que eles sejam feitos. Não é preciso, portanto, haver uma teoria da estrutura e constituição do Sol e dos planetas para se calcular suas órbitas.

Entretanto, se descobrirmos de fato uma teoria completa, ela deverá, ao longo do tempo, ser compreendida, grosso modo, por todos e não apenas por alguns poucos cientistas. Então devemos todos, filósofos, cientistas, e mesmo leigos, ser capazes de fazer parte das discussões sobre a questão de por que nós e o universo existimos. Se encontrarmos a resposta para isto teremos o triunfo definitivo da razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus.

(Uma Breve História do Tempo - Stephen W. Hawking, Editora Rocco)Título do original: A Brief History of the Time: From the Big Bang to Black Holes, 1988.

Page 12: Especial Fronteiras Do Desconhecido

O universo é uma grande equação onde somos o resultado. Temos apenas algumas incógnitas dessa equação.

Justiça UniversalA bússola está quebrada

Sempre há uma grande manipulação do conhecimento entre as pessoas e o resultado disso é uma sociedade desajustada e sem rumo certo. Há uma onda coletiva de loucura e desabilitação mental da população, acompanhado de um materialismo exagerado que tenta substituir o vazio existencial daqueles nossos porquês que sempre ficam sem respostas.

Muitos dos problemas começaram a existir quando, por meio da ciência, o homem começou a analisar a natureza de forma isolada, passando a picotar um enorme sistema em pedacinhos, deixando de observar a harmonia do todo, fracionando-o em várias partes. Pseudo-cientístas começaram a tratar a natureza como se o homem não fizesse parte dela, ou pouca importância tivesse no seu desenvolvimento. Em 1854 um indígena norte-americano escreveu uma carta que ilustrava bem essa situação.

O vazio existencial começa a partir da rejeição e do isolamento, quando perdemos a nossa identidade social, não fazendo parte de nenhuma comunidade. A partir daí, inicia-se uma tentativa pessoal frenética de romper os laços do preconceito e da rejeição, após o isolamento começamos a procurar respostas e porquês. Tentamos aprender o máximo para realizar uma possível fuga da prisão do isolamento. Neste desenrolar, acabamos por desenvolver um grande e eclético conhecimento do mundo em que vivemos. Porém, entrar em contato com a realidade, revela toda a manipulação do conhecimento entre as pessoas: Percebemos as desilusões e começamos a nos decepcionar, pois descobrimos que praticamente tudo caminha de forma desordenada, muito diferente do mundo perfeito e linear que imaginamos como ideal, postulado pelas pessoas a nossa volta.

A lógica precisa ser necessariamente óbvia? A vida segue um rumo onde não temos todos os fatos para entendê-la, esse é o princípio de toda a confusão e conflitos. Na "Carta ao Grande Chefe branco" temos um exemplo de interação com a natureza de forma saudável, mas longe dos nossos padrões de consumo e exigências materiais.

Os valores de solidariedade, amor e justiça foram inibidos e o capital trouxe a doença da competição, onde uns querem ser melhores que os outros, se exibindo e impondo suas vontades pela força ou pela maioria, não importando a justiça dos atos.

Como resgatar algumas das culturas que já esquecemos? Como evitar "A Fábula da Cidade"? Os corruptos e ignorantes não se importam com nenhum argumento. Continuam poluindo e tornando nossa vida perigosa e cheia de sofrimentos. A aquisição da consciência não basta para vencer os obstáculos do preconceito, da arrogância e do orgulho. Como atingir a justiça universal para os infratores e inocentes?

Vincent é a maneira fictícia para retificar o abuso da força através da força. Sendo dotado da maior autoridade militar soviética e do mais perfeito genótipo do planeta, Liopard. reúne todas as características necessárias para fazer a justiça pacífica ou para cortar o nó górdio.

Page 13: Especial Fronteiras Do Desconhecido

A justiça precisa ganhar asas

"A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um. Duas coisas a determinam: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que puderam variar com o progresso dos conhecimentos. Vede se vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos da Idade Média. Esses direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito estabelecido pelos homens, portanto, não está sempre conforme a justiça. Aliás, ele não regula senão certas relações sociais, enquanto que, na vida particular, há uma imensidade de atos que são unicamente da alçada do tribunal da consciência.

A necessidade, para o homem, de viver em sociedade, ocasiona-lhe obrigações particulares, e a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e é isso que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõem deveres recíprocos."

(Psicografado - O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)Título do original: LE LIVRE DES ESPRITSEdição U.S.K.B. (1954)

 A Audácia de Enxergar à Frente

A capacidade de estar à frente de seu tempo quase nunca confere ao seu possuidor alguma vantagem. A dureza das sociedades humanas em aceitar certas noções desmente, não raro, o ditado popular que diz que "Em terra de cego, quem tem um olho é rei".

Page 14: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Exemplos, a História é pródiga em nos apresentar. Sócrates foi obrigado, pela sociedade ateniense, a tomar cicuta, em razão de suas idéias. Giordanno Bruno, que concebeu a Terra como um simples planeta, tal como sabemos hoje, foi chamado herege e queimado. Darwin debateu-se contra a incompreensão e condenação de suas idéias, mais tarde aceitas.

Ainda hoje, temos exemplos de procedimentos similares. Oscar Arias, presidente da Costa Rica e prêmio Nobel da Paz, ainda há pouco tempo se debatia contra a sociedade de seu país, que teimava em colocar obstáculos à sua atuação. Em tempo: o mérito de Oscar Arias nem era o de estar à frente de seu tempo, mas simplesmente o de analisar os problemas do presente.

Esse mal não será curado tão cedo. Isso porque as pessoas que conseguem enxergar à frente apresentam ao homem o que ele odeia desde os tempos imemoriais: a necessidade de rever as próprias convicções. Enquanto esse ódio - ou será medo? - não for superado, a humanidade continuará mandando outros "Giordanno Bruno" para a fogueira da incompreensão e do isolamento. E, ignorando as pessoas de visão, continuará cega para o futuro e para si mesma.

(Texto nota 10 - FUVEST) "Autor não divulgado"

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."(Professor Fernando Teixeira de Andrade)

Sonhos - O Demônio ChorãoEu era humano. É uma história estúpida!

Antigamente este era um bonito campo florido. Então, as bombas nucleares, os mísseis transformaram-no neste deserto. Então daquelas cinzas da morte, estranhas flores desabrocharam. Dentes-de-leão monstruosos. Isto é uma rosa. O caule sai da flor e há um botão esquisito em cima. Está carregada de radiação. Causa essa mutação. As flores estão mutiladas. Não apenas as flores, os seres humanos, também. Olhe para mim, humanidade estúpida fez isso. Fez de nosso planeta um depósito para resíduos venenosos. A natureza desapareceu da Terra, a natureza que amávamos. Perdemos os pássaros, os animais, os peixes. Há algum tempo, ví uma lebre com duas caras, um pássaro com um olho só e um peixe com pelos.

Não há alimento! Comemos uns aos outros. Os mais fracos primeiro. Está chegando a minha vez. Mesmo entre os demônios há hierarquia. Demônios de um chifre, como eu, são sempre comidos pelos que têm dois ou três chifres. Quando humanos, eram poderosos e presunçosos. Como demônios continuam os mesmos. Que seja como eles querem. Que tenham um monte de chifres. Que vivam atormentados com a aparência que têm. É um inferno. Pior que a morte. Não podem morrer. Mesmo querendo. A imortalidade é o castigo deles. Atormentados pelos próprios pecados, vão sofrer eternamente.

Logo vão me comer. Ficarei livre. Mas não quero ser comido. Por isso, estou fugindo. Mas sinto tanta fome que tenho nojo de mim mesmo. Eu era fazendeiro quando era humano.

Page 15: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Jogava leite no rio para manter os preços. Enterrei batatas e repolhos com escavadeira. Que estupidez!

Quando chega a noite os demônios urram de dor. Os chifres doem. É pior que o câncer. Clamam pela morte, mas vão viver eternamente.

(Extraído do filme "Dreams" de Akira Kurosawa)

"- O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."(Marco Polo)

Ilhas de Energias CegasO protagonista do filme Energia Pura ("Powder"), chamado Jeremy, tem um poder especial, pois minutos antes de seu nascimento, um relâmpago atingira sua mãe.

O garoto nasceu sem coloração cutânea, mas o acidente lhe proporcionou uma qualidade ímpar, podendo este controlar energia eletromagnética.

Todos os seres vivos utilizam-se de pulsos elétricos no funcionamento do cérebro e de outros sistemas, tais como o comando elétrico para a contração muscular.

Sendo assim, dotado da qualidade de eletrodo humano, Jeremy passa a compreender, sentir e pensar o que os outros pensam.

Nossa época está amadurecendo teorias filosóficas em cujo a sociedade caminhará para este estágio evolutivo do nosso protagonista do filme Energia Pura. Nosso corpo oferecerá menos limites a transposição da matéria.

Neste debate filosófico, dúvidas nos assolam quanto ao fato de sermos vida inteligente em desenvolvimento, e não estarmos sozinhos. Sendo cuidados por formas de vida superiores. Seres de energia metafísica, invisíveis aos olhos e aos instrumentos. Estes podem estar ao nosso redor e por toda parte, vigiando e influenciando os acontecimentos naturais.

Estes governantes compõem uma sociedade invisível, onde os infratores são separados em categorias de valores morais, evolução mental e científica e são enviados para cumprir pena, exilados junto aos seus companheiros de categoria. A eles lhe serão fornecidos territórios demarcados para o trabalho de recuperação e modelação de uma micro sociedade justa e reabilitadora.

Os desajustados tem livre arbítrio para construir ou depredar. Se trabalharem, terão um sossegado e aprazível local para esperar o fim de suas penas, onde o único

Page 16: Especial Fronteiras Do Desconhecido

entretenimento será o estudo para manter justa a cultura que eles construíram. Mas poderão procurar uma alternativa mais fácil, depredando os recursos naturais e findando as condições de vida naquele território. Neste caso, os responsáveis pelo fracasso serão removidos para outro território e recomeçarão suas tarefas.

A medida em que um criminoso desiste de cumprir a pena e se deixa adoecer ou tenta suicídio, ele será removido do território e receberá o devido tratamento médico, até que possa retornar ao território para recomeçar sua tarefa desde o início. Mas se um criminoso de alto grau consegue melhorar e cumprir um dos estágios de sua pena, ele será transferido para um território onde os habitantes possuam a mesma categoria evolutiva que a dele. Por fim, ao se reabilitar completamente, retornará a aprazível vida de pesquisas de sua matriarca sociedade.

Mas para que isso funcionasse, algumas regras deveriam ser estipuladas. A primeira delas é a de não existir o bem e o mal, mas sim forças antagônicas de construção e destruição. Se a criatura é ignorante, efetuará atos que trarão conseqüências de destruição ou seus atos construirão se usar a sabedoria.

Nada se perde nem se cria, apenas se transforma. Os prisioneiros não morrem, apenas são transferidos para outros territórios após a transformação gradativa de primitivo para moderno com o trabalho efetuado.

Em nossas circunstâncias, por sermos teimosos, orgulhosos, arrogantes ou egoístas, insistiríamos em vingança e no ódio rancoroso dos ressentimentos sobre nossos condenadores. Este motivo levou esses gerenciadores a desenvolver uma tecnologia que apagasse nossas memórias. As vezes perguntamos sobre nossas origens e o porque de tantos males em nossas vidas. Esses males são o resultado de nossa própria imprudência. São as expiações que sofremos diante de nosso orgulho, avareza e de grandes ou pequenas infrações que cometemos no passado.

Os exilados seriam auxiliados por voluntários que se ofereceriam para residir junto a eles, com idéias e projetos. Mas seria uma opção dos condenados ouvir ou ignorar.

Esses territórios são ilhas no oceano ou muros no deserto? Oceano de mar ou de estrelas? Podem ser também os bairros, Estados ou Países do nosso planeta. Um líder que traz melhoras é um voluntário que vem trazer boas idéias. Isso não impede o voluntário de estar cumprindo pena, ou de errar também.

Estamos em busca da perfeição e da conquista do universo. Para isso teremos que nos unir e esquecer o materialismo. Acreditar em algo mais nobre e além de nossos cinco sentidos. Em nosso mundo podemos constatar a existência das mais primitivas populações e de povos em tenro desenvolvimento, que estão se despindo da ignorância e partindo em busca de soluções para nossos antigos problemas.

Nossos governos e principalmente nossas populações precisam tomar consciência de que nosso planeta é um território de penas e que estamos depredando os recursos ao invés de utilizá-los com sabedoria. Ao fim, se o mundo não for um exemplo e a cultura não for mudada, vamos cair novamente em outro lugar, talvez para sofrermos por nossas próprias atitudes.

"O fisiologista narra tudo aquilo que vê. Orgulho dos homens que crêem tudo saber e não admitem que alguma coisa possa ultrapassar seus conhecimentos. Sua própria Ciência os

Page 17: Especial Fronteiras Do Desconhecido

torna presunçosos; pensam que a natureza não pode ocultar-lhes nada."(Psicografado)

Reforma EducacionalAprendemos coisas inúteis!

As disciplinas escolares são necessárias para uma formação intelectual adequada de um cidadão. O Idioma e Literatura do país onde se reside, Redação, Sociologia, História Geral e Regional, Política, Geografia, Geopolítica, Filosofia, Psicologia, Biologia, Matemática, Física, Química e Idiomas Estrangeiros são fundamentais nas relações culturais dos indivíduos. É importante que os homens tenham um ponto de vista global e saibam discutir sobre os mais diversos assuntos, pois esta é uma exigência que está se tornando imprescindível no mundo atual.

O problema essencial é o de que as escolas não nos ensinam a pensar, mas a ter pensamentos prontos. Papagueamos os fatos mas não sabemos tirar real proveito deles. Uma pessoa de Q.I. elevado armazena muita informação mas não sabe aplicar nenhuma delas com sabedoria. Não importa a quantidade mas a qualidade do saber. Inteligentes acumulam informação, Sábios utilizam a informação com prudência por menor que seja sua cultura.

Veja abaixo o ponto de vista de Leo Buscaglia:

Um coelho, pássaro, peixe, esquilo, pato e etc. resolveram fundar uma escola. Todos se sentaram para escrever o currículo. O coelho insistiu para que a corrida figurasse no currículo. O pássaro insistiu para que o vôo constasse do currículo. O peixe insistiu pela natação no currículo. O esquilo insistiu para que a escalada perpendicular das árvores figurasse no currículo. Todos os outros animais queriam que suas especialidades também figurassem no currículo, de modo que incluíram tudo e depois cometeram o erro glorioso de insistirem para que todos os animais fizessem todos os cursos. O coelho foi magnífico na corrida; ninguém sabia correr como o coelho. Mas insistiram em dizer que era uma boa disciplina intelectual e emocional ensinar o coelho a voar. Assim, insistiram para que o coelho aprendesse a voar e o puseram num galho e disseram: "Voa, coelho!" E o pobre coitado saltou, quebrou a perna e fraturou o crânio. Teve uma lesão no cérebro e depois não conseguia mais correr muito bem. Assim, em vez de ter um A na corrida, teve C. E teve D em vôo, porque estava tentando. E a comissão do currículo ficou satisfeita. O mesmo se deu com o pássaro - voava como um louco por toda parte, dando voltas e reviravoltas, e ia ganhar um A. Mas insistiram para que esse pássaro fizesse buracos no chão como uma toupeira. Claro que ele quebrou o bico e as asas e tudo o mais e aí não sabia mais voar. Mas ficaram muito satisfeitos ao lhe darem um C no vôo, e assim por diante. E sabem quem foi o melhor aluno daquela turma, quando se formou? Uma enguia retardada, que sabia fazer quase tudo razoavelmente. A coruja abandonou os estudos e agora vota contra todos os impostos que tenham a ver com escolas.

Sabemos que isso está errado, mas ninguém faz nada a respeito. Você pode ser um gênio. Pode ser um dos maiores escritores do mundo, mas só pode ingressar na universidade se for aprovado em trigonometria. Para quê! Não pode sair do ginásio sem ser aprovado nisso e naquilo e naquiloutro! Não pode sair do primário sem fazer isso e isso e mais isso! Não se trata de quem você seja. Veja a lista dos que abandonaram os estudos: William Faulkner, John F. Kennedy, Thomas Edison. Não suportaram a escola. "Não quero aprender a subir nas árvores perpendicularmente. Nunca vou fazer isso. Sou um pássaro. Posso voar até o topo da árvore sem ter de fazer isso". "Não importa, é uma boa disciplina mental".

Page 18: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Como indivíduos, não nos devemos contentar em sermos como todo mundo. Temos que lutar contra o sistema. Por exemplo, os professores de Desenho. (Não tenho nada contra os professores de Artes ou Desenho. Tenho pena deles, coitados.) Lembro-me de quando iam à minha sala de aula na escola primária, e tenho a certeza de que vocês também se lembram. Davam-lhes papel e a professora punha o desenho na sua frente e você ficava muito empolgado. Estava na hora da aula de Desenho. Você estava com todos os lápis de cor à sua frente e ficava esperando de braços cruzados. E aí chegava correndo aquela pobre mulher abatida, que já tinha ensinado Desenho em mais de 14 outras salas de aula, naquele dia. Ela entrava correndo, o chapéu torto, ofegante e dizia: "Bom dia, meninos e meninas. Hoje vamos desenhar uma árvore". E toda garotada dizia: "Oba, vamos desenhar uma árvore!" E ela aí se levantava com um giz de cor verde e desenhava aquela coisa verde grande. E depois punha uma base e uns capins, e dizia: "Aí está a árvore". E a garotada olhava e dizia: "Isso não é árvore, é um pirulito". Mas ela dizia que era uma árvore e depois distribuía os papéis e dizia: "Agora desenhem uma árvore". Na verdade, não estava dizendo "desenhem uma árvore", e sim "desenhem a minha árvore". E quanto mais cedo você descobrisse que era isso que ela queria e pudesse reproduzir esse pirulito e entregá-lo a ela, mais cedo ganharia a nota A.

Mas lá estava o pequenino Júnior, que sabia que aquilo não era uma árvore, pois ele tinha visto uma árvore como aquela professora de desenho nunca vira! Tinha caído da árvore, mastigado a árvore, cheirado a árvore, sentado nos galhos de uma árvore, escutara o vento soprando nas folhas de uma árvore, e sabia que a árvore dela era um pirulito. Assim ele pegou o lápis de cor de magenta, laranja, azul, roxo e verde e rabiscou a folha toda e a entregou à professora, todo feliz. Ela olhou para o papel e disse: "Ah, meu Deus - lesão cerebral - Turma Especial".

Quanto tempo as pessoas levam para perceber que o que estão dizendo de fato é "para passar, quero que reproduzam a minha árvore". E assim vai indo pela primeira série, segunda, terceira, quarta, quinta, e pelos seminários e universidade. Eu dirijo seminários na universidade. É assombroso como as pessoas aprenderam a papaguear, a essa altura. Pensar? Ridículo. Sabem lhe dar os fatos, letra por letra, como você os deu a eles. E não se pode culpar esses alunos, pois é isso que lhes ensinaram. Você lhes diz: "Sejam criativos", e eles ficam com medo. "Ele não está falando sério, está?" E então, o que acontece com a nossa singularidade, o que acontece com a nossa árvore? Toda essa bela singularidade entrou pelo cano. Todo mundo é igual a todo mundo e todos estão felizes. R. D. Laing diz: "Ficamos satisfeitos quando conseguimos tornar os nossos filhos iguais a nós: frustrados, doentes, cegos, surdos mas com um Q.I. elevado".

(Vivendo, Amando & Aprendendo - Leo Buscaglia, Editora Record)Título do original: Living, Loving & Learning, 1892.

Porque é que as coisas têm contornos?

Page 19: Especial Fronteiras Do Desconhecido

(Gregory Bateson - Metadiálogos)

Filha: Pai, porque é que as coisas têm contornos?

Pai: Têm? Não sei. A que tipo de coisas te referes?

Filha: Quero dizer, quando desenho coisas, porque é que elas têm linhas que as delimitam?

Pai: Bem, e se fossem outras coisas - um rebanho ou uma conversa... Essas coisas também têm contornos?

Filha: Não seja assim, pai. Não posso desenhar uma conversa. Quero dizer coisas.

Pai: Está bem. Eu estava só a tentar saber o que é que tu querias dizer. Isto é, se <<damos contornos às coisas quando as desenhamos>>, ou se <<as coisas têm contornos quer as desenhemos quer não>>.

Filha: Não sei, pai. Diga lá o pai. Qual delas é a que eu quero dizer?

Pai: Não sei, minha querida. Houve um artista inconformado que desenhou toda a espécie de coisas e depois de ter morrido folhearam os seus livros e viram que em determinado sítio ele escrevera: <<Homens sensatos vêem contornos e portanto desenham-nos.>> Mas noutro sítio ele escreveu: <<Homens loucos vêem contornos e portanto desenham-nos.>>

Filha: Mas qual das coisas queria ele dizer? Não percebo.

Pai: Bem, William Blake - é esse o nome dele - foi um grande artista e um homem zangado. E às vezes enrolava as suas ideias em bolinhas de papel para as poder atirar às pessoas.

Filha: Mas porque é que ele estava maluco, pai?

Pai: Porque é que ele estava maluco? Oh, já percebo, queres dizer <<zangado>>. Temos de manter estes dois significados muito claros se vamos falar de Blake. Porque muitas pessoas pensaram que ele era doido, doido de facto, maluco. E essa era uma das coisas por que ele se zangava. E também se zangava por causa de alguns artistas que pintavam como se as coisas não tivessem contornos. Ele chamava-lhes a <<escola da pieguice>>.

Filha: Ele não era muito tolerante, pois não, pai?

Pai: Tolerante? Oh, Deus Nosso Senhor. Já sei. É a lavagem ao cérebro que te fazem na

Page 20: Especial Fronteiras Do Desconhecido

escola. Não, Blake não era muito tolerante. Nem sequer pensava que a tolerância fosse uma boa coisa. Era só mais pieguice. Ele pensava que desfazia os contornos e misturava tudo, que tornava todos os gatos cinzentos. De tal maneira que ninguém seria capaz de ver nada de forma clara e nítida.

Filha: Sim, pai.

Pai: Não, não é essa a resposta. Quero dizer, <<Sim, pai>> não é resposta. Tudo o que <<Sim, pai>> quer dizer é que não sabes qual é a tua opinião e não ligas nenhuma ao que estou a dizer ou ao que Blake dizia e que na escola te confundiram tanto a cabeça com o que dizem a respeito da tolerância que já não sabes dizer qual a diferença entre qualquer coisa e outra coisa qualquer.

Filha: (Chora.)

Pai: Oh, meu Deus. Desculpa, mas fiquei zangado. Mas, de facto, não me zanguei contigo. Só zangado acerca da maneira pouco limpa como as pessoas actuam e pensam e de como pregam a confusão e chamam a isso tolerância.

Filha: mas, pai...

Pai: Sim?

Filha: Não sei. Não me parece que consiga pensar muito bem. Está tudo confuso.

Pai Desculpa. Suponho que te confundi por me ter zangado.

Filha: Pai!

Pai: Sim!

Filha: Porque é que há coisas que nos fazem zangar?

Pai: Que coisas?

Filha: Quero dizer, acerca de se as coisas têm contornos. Disseste que William Blake se zangava por causa disso. E, depois, tu também te zangas por causa disso. Porquê, pai?

Pai: Sim, de certa maneira acho que é isso. Acho que é importante. E outras coisas só são importantes porque estão incluídas nesta.

Filha: O que é que queres dizer, pai?

Pai: Quero dizer, bem, deixa-me falar de tolerância. Quando os Gentios se querem meter com os Judeus porque eles mataram Cristo, fico intolerante. Penso que os Gentios estão confusos e que estão a desfazer os contornos. Porque os Judeus não mataram Cristo, quem o fez foram os Italianos.

Filha: Foram, pai?

Pai: Sim, foram. Só que os que o mataram se chamavam Romanos e temos outra palavra para os seus descendentes: chamamos-lhes Italianos. Vês, há duas confusões e eu fiz a segunda de propósito, de tal maneira que pudéssemos identificá-las. Primeiro há a confusão de ter a história errada e dizer que foram os Judeus e depois há a confusão de dizer que os descendentes devem ser responsáveis por aquilo que os seus antepassados

Page 21: Especial Fronteiras Do Desconhecido

não fizeram. É tudo muito pouco limpo.

Filha: Sim, pai.

Pai: Bom, vou tentar não ficar zangado outra vez. Tudo o que estou a tentar dizer é que a confusão é qualquer coisa com a qual nos devemos zangar.

Filha: Pai!

Pai: Sim!

Filha: No outro dia falamos de confusões. E agora estamos de facto a falar da mesma coisa?

Pai: Sim, evidentemente que estamos. É por isso que é importante o que dissemos no outro dia.

Filha: E o pai disse que a ciência é ter idéias claras, não foi?

Pai: Foi, é outra vez e sempre a mesma coisa.

Filha: Penso que não percebo tudo muito bem. Parece-me ser tudo sobre outra coisa qualquer e eu perco-me.

Pai: Sim, sei que é difícil. O ponto é que, de qualquer modo, a nossa conversa tem de facto um contorno - se ao menos o pudéssemos ver claramente!

Pai: Vamos mudar de assunto e pensar numa confusão concreta, a ver se isso ajuda. Lembras-te do jogo de croquet na Alice no País das Maravilhas?

Filha: Sim, com os flamingos?

Pai: Exactamente.

Filha: E porcos-espinhos como bolas?

Pai: Não, ouriços-caixeiros. Eram ouriços-caixeiros. Em Inglaterra não há porcos-espinhos.

Filha: Oh, era em Inglaterra, pai, não sabia.

Pai: Claro que era em Inglaterra. Também não há duquesas na América.

Filha: Mas há a duquesa de Windsor, pai.

Pai: Há, mas ela não tem picos, pelo menos como um porco-espinho de verdade.

Filha: Vá lá, pai, diga lá da Alice, e não seja assim.

Pai: Está bem, estávamos a falar de flamingos. O ponto é que o homem que escreveu Alice estava a pensar nas mesmas coisas em que nós estamos. E divertiu-se a si próprio com a pequenina Alice, imaginando um jogo de croquet que seria todo uma confusão. Imaginou que se deviam usar flamingos como tacos porque, quando os flamingos curvassem a cabeça, o jogador não poderia saber se o seu <<taco>> batia na bola e como é que batia.

Page 22: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Filha: E, além disso, a bola podia ir-se embora por vontade própria, porque era um ouriço-caixeiro.

Pai: Exactamente. Era tão confuso que ninguém poderia dizer o que ia acontecer a cada momento.

Filha: E os arcos também andavam por ali às voltas porque eram soldados.

Pai: É verdade. Tudo se podia mover e ninguém podia dizer como é que se movia.

Filha: Teve tudo de ser <<vivo>> para se fazer uma confusão completa.

Pai: Não, ele podia ter gerado uma confusão fazendo... não, suponho que tens razão. É interessante. Sim, tinha de ser assim. Espera um pouco. É curioso, mas tens toda a razão. Porque, se ele tem misturado as coisas de outra maneira qualquer, os jogadores poderiam aprender como lidar com os pormenores que fossem confusos. Isto é, supõe que a relva era aos altos e baixos, ou que as bolas eram de forma estranha, ou que as cabeças dos <<tacos>> eram só moles, em vez de serem <<vivas>>, então as pessoas ainda poderiam aprender e o jogo seria só mais difícil, mas não seria impossível. Mas, uma vez que introduzes coisas vivas no jogo, torna-se impossível. Não estava à espera disto.

Filha: Não estava, pai? Eu estava. A mim parece-me natural.

Pai: Natural? Claro, bastante natural. Mas eu não estava à esperar que fosse assim.

Filha: Porque não? Eu, era do que estava à espera.

Pai: Sim, já sei. Mas eu é que não estava à espera disto, que os animais conseguem prever coisas e actuar de acordo com o que pensam que vai acontecer: um gato pode apanhar um rato saltando para cair exactamente onde está o rato no fim do salto... Mas é exactamente o facto de os animais serem capazes de prever e de aprender que os torna as únicas coisas, de facto, imprevisíveis no mundo. E pensar que tentamos fazer leis como se as pessoas fossem muito regulares e previsíveis!

Filha: Ou fazem-se as leis exactamente porque as pessoas não são previsíveis e os que as fazem gostariam que os outros fossem previsíveis?

Pai: Sim, suponho que é mais ou menos isso.

Filha: De que estávamos a falar?

Pai: não sei exactamente, ainda não. Tu começaste um caminho novo ao perguntar se o jogo de croquet só podia ser transformado numa real confusão se todas as coisas que entram nele fossem <<vivas>>. E eu fui atrás dessas perguntas e penso que ainda não a apanhei completamente. Há qualquer coisa engraçada a respeito desse ponto.

Filha: O quê?

Pai: Não sei. Ainda não sei. Qualquer coisa a respeito de coisas vivas e da diferença entre elas e as coisas não vivas: máquinas, pedras, etc. Os cavalos não condizem com um mundo de automóveis. E isto é parte do mesmo ponto. São imprevisíveis, como os flamingos no jogo de croquet.

Filha: E a respeito das pessoas, pai?

Page 23: Especial Fronteiras Do Desconhecido

Pai: O que é que há a respeito delas?

Filha: Bem, estão vivas! Condizem? Quero dizer, com as ruas da cidade?

Pai: Não, suponho que realmente não condizem - somente por despenderem muito esforço a proteger-se e a fazer-se condizer. Sim, têm de se tornar previsíveis, porque senão as máquinas ficam zangadas e matam-nas.

Filha: Não seja parvo, pai. Se as máquinas podem ficar zangadas, então não são previsíveis. São como o pai. Não pode prever quando é que vai ficar zangado, ou pode?

Pai: Não, suponho que não.

Filha: Mas, pai, às vezes prefiro que o pai seja imprevisível.

Filha: O que é que o pai queria dizer com uma conversa ter um contorno? Esta conversa teve um contorno?

Pai: Oh, sim, de certeza. Mas ainda não o podemos ver, porque ainda não acabamos de conversar. Nunca se pode ver o contorno enquanto se está no meio da conversa. Porque, se pudéssemos vê-lo, seria previsível - e não só cada um de nós, mas ambos juntos, seríamos previsíveis.

Filha: Mas... não compreendo. O pai diz que é importante ser claro a respeito das coisas. E fica zangado com as pessoas que confundem os contornos. Pensamos também que é melhor ser imprevisível, e não ser como uma máquina. E o pai diz que não podemos ver os contornos da nossa conversa até que ela acabe. Então tanto faz que seja claro como não. Porque então já não podemos fazer nada a esse respeito.

Pai: Sim, eu sei. Talvez. Mas, de qualquer maneira, quem é que quer fazer alguma coisa a esse respeito?

Ciência da ComputaçãoUma Visão Abrangente

(J. Glenn Brookshear - Bookman)Página 25

Questões de Ética

As seguintes questões procuram auxiliar o leitor no entendimento de alguns assuntos éticos, sociais e legais no campo da computação, bem como no questionamento de suas convicções e das bases sobre as quais elas se fundamentam. O objetivo não é meramente que sejam dadas respostas a tais questões. O leitor deverá também justificá-las, e verificar se as justificativas apresentadas preservam sua consistência de uma questão para outra.

1. É em geral aceita a premissa de que a nossa sociedade é diferente do que teria sido se

Page 24: Especial Fronteiras Do Desconhecido

a revolução da computação não tivesse ocorrido. Nossa sociedade é melhor do que teria sido sem essa revolução? É pior? Sua resposta seria diferente se sua posição fosse outra nessa sociedade?

2. O leitor acha aceitável participar da atual sociedade tecnológica sem fazer um esforço para conhecer os fundamentos desta tecnologia? Por exemplo, os membros de uma democracia cujo votos determinam, em geral, como a tecnologia será conduzida e utilizada têm a obrigação de conhecer esta tecnologia? A sua resposta depende de qual tecnologia esta sendo considerada? Por exemplo, sua resposta será a mesma para a tecnologia nuclear e para a tecnologia da computação?

3. Usando dinheiro vivo, os indivíduos sempre tiveram a opção de administrar sem taxa de serviço os seus negócios financeiros. Porém, como a nossa economia está cada vez mais automatizada, as instituições financeiras cobram taxas pelo acesso aos seus sistemas automáticos. Há momentos em que esta cobrança restringe, injustamente, o acesso de um indivíduo à economia? Por exemplo, suponha que um empregador remunera seus empregados exclusivamente com cheques, e que todas as instituições financeiras cobram uma taxa de serviço para cada cheque compensado ou depositado. Estarão os empregados sendo indevidamente tratados? O que acontece se o empregador insistir em pagar somente por meio de depósito direto?

4. Quando a televisão interativa ou um fenômeno equivalente se tornar uma realidade doméstica, até que ponto uma concessionária terá direito de extrair de crianças (talvez utilizando jogos interativos) informações sobre sua família? Por exemplo, deve ser permitido à companhia obter de uma criança informação sobre o perfil de consumo de seus pais? E quanto à informação relativa à própria criança?

5. Até que ponto um governo pode interferir na tecnologia da computação e em suas aplicações? Por exemplo, consideremos os assuntos mencionados nas Questões 3 e 4. O que justificaria uma intervenção governamental?

6. Até que ponto as nossas decisões, relativas à tecnologia em geral e à tecnologia da computação em particular, afetarão os nossos netos?

7. À medida que a tecnologia avança, nosso sistema educacional vai sendo constantemente desafiado a reconsiderar o nível de abstração em que são apresentados os diversos assuntos estudados. Questiona-se muitas vezes se uma certa habilidade do aluno continua sendo necessária, ou se deveria ser permitido aos estudantes apoiarem-se em uma ferramenta abstrata. Não se ensina mais os estudantes de trigonometria a encontrar os valores das funções trigonométricas com o uso de tabelas. Em vez disso, eles empregam calculadoras eletrônicas como ferramentas abstratas. Alguns argumentam que a divisão de números longos também deveria ceder lugar à abstração. Que outros assuntos apresentam controvérsias semelhantes? Algum dia, o uso de vídeos eliminará a necessidade de leitura? Verificadores automáticos de ortografia eliminarão a necessidade de habilidades ortográficas?

Page 25: Especial Fronteiras Do Desconhecido

BIUCS Project - CCCPProjeto BIUCS.(Bio-Implante para Unidade de Combate Superior)

O Centro Militar Soviético de Pesquisas Genéticas desenvolveu um embrião pela seleção de genes de animais predadores usando o método de bio-implante, criando e purificando os genes de diversos animais, e aglomerando as melhores e principais características. O projeto visou desenvolver um soldado com qualidades adequadas para o combate desarmado em diferentes situações e circunstâncias.

Os melhores, dominantes e mais puros genes homozigóticos de alguns animais mamíferos foram mapeados, comparados e agrupados, mudando as seqüências dos componentes dos ácidos desoxirribonucléicos de um humano normal. O resultado planejado foi o de obter um embrião, que ao se desenvolver com período de gestação de 12 meses resultasse em uma espécie nova de humanóide.

Antes de iniciar o projeto foram tomados todos os cuidados necessários para a prevenção de falhas na criação mental do novo indivíduo, que seguramente teria faculdades mentais da raça humana. Um laboratório foi construído em uma região estratégica da Sibéria. Dotado de toda tecnologia disponível e de inúmeras equipes de assistência psicológica, médica e educacional.

Após diversas tentativas fracassadas no dia oito de agosto de 1971 em um domingo as oito horas da manhã nasceu Vincent Liopard. Uma criança praticamente normal, mas diferente de uma criança comum: Vincent já era semi-independente. Na primeira semana de vida já andava e em alguns meses já se comunicava. Possuía um cérebro de faculdades superlativas, autodidata e ambidestro, era capaz de ler e escrever com seis meses. Sua idade mental crescia progressivamente, com sete anos já era adulto e poliglota. Dono de uma incrível capacidade de memorização, aprendeu e desenvolveu o conteúdo de diversas e qualificadas enciclopédias, gramáticas e dicionários.

Seu corpo possuía uma anatomia nova, um esqueleto semi-cartilaginoso, órgãos aprimorados e mais resistentes, musculatura especial, suas unhas eram garras afiadas e retrateis como a dos felinos e sua arcada dentária possuía presas caninas maiores, simetricamente proporcionais aos seus outros dentes como nos felinos. O tempo de cicatrização foi reduzido em 20% e os choques suportados pelo esqueleto aumentaram em 70% em relação a um humano. Sua musculatura era extremamente flexível assim como os ossos, além de possuir enorme força, agilidade e velocidade, eram necessários oito homens para empurrar o que Vincent empurrava.

Vincent foi privado da convivência com o mundo exterior para não assimilar nenhuma cultura ou preconceito que pudessem afetar seu treinamento e seu bem estar psicológico. Até assumir o cargo de coronel, Vincent conviveu somente com a equipe do laboratório siberiano. Profissionais voluntários e rigidamente treinados pelos mais altos padrões científicos e filosóficos racionais compunham a equipe, mostrando para Vincent como era

Page 26: Especial Fronteiras Do Desconhecido

a realidade do mundo exterior, para que ele não se perdesse de seu caminho ao deixar o laboratório.

(Esta é uma obra de ficção científica, quaisquer dúvidas ou sugestões, utilizem o endereço eletrônico [email protected].)

Depois da Filosofia

Somos humanos ou humanitários?

O passado denuncia o presente

Este website foi criado por uma seleção de pensamentos e filosofias de cunho histórico, religioso e fictício.

"Não é preciso ser filósofo para ter idéias. A diferença é que o filosofo procura construir, através do estudo e da reflexão, um sistema mais ou menos coerente de idéias para, a partir dele, interpretar e criticar a realidade. A maioria das pessoas, no entanto, vai formando seu conjunto de idéias sem muita reflexão. Esse conjunto de idéias recebe o nome de ideologia. Todos nós temos a nossa ideologia, mas de maneira geral não temos consciência disso. Julgamos que nossas idéias refletem sempre a realidade. Não nos damos conta de que muitas dessas idéias foram colocadas em nossa cabeça pela educação familiar, pela escola, televisão, jornais, moda, cinema, etc."(Fonte desconhecida)

Para uma melhor interpretação dos textos aqui apresentados, o leitor deve conhecer a história do Socialismo, do Comunismo e da União Soviética, ter lido "A Dinâmica da Mente na Visão Espírita" de José Marques Mesquita - Editora Luz no Lar e "O Livro dos Espíritos" - compilado e ordenado por Allan Kardec e psicografado por vários médiuns - ter assistido aos filmes:

 "O Planeta dos Macacos 1968" ("Planet Of The Apes 1968"); "Inimigo Meu" ("Enemy Mine"); "O Segredo do Abismo" ("The Abyss"); "Brazil, O Filme" ("Brazil"); "Energia Pura" ("Powder"); "Ponto de Mutação" ("Mindwalk"); "Fenômeno" ("Phenomenon"); "Ao Mestre, com Carinho" ("To Sir, With Love"); "Ao Mestre, com Carinho II" ("To Sir, With Love II"); "Sonhos" ("Dreams" de Akira Kurosawa); "THX 1138" ("THX-1138"); "Vanila Sky" ("Vanila Sky"); "O 13º Andar" ("The Thirteenth Floor"); "Matrix I" ("The Matrix"); "Matrix II" ("Matrix Reloaded"); "Gênio Indomável" ("Good Will Hunting"); "Feitiço do Tempo" ("Groundhog Day"); "Eles Vivem" ("They Live");

Page 27: Especial Fronteiras Do Desconhecido

 "Pequeno Milagre" ("Simon Birch"); "A Guerra de Canudos" ("Canudos War"); "Na Corda Bamba" ("Sling Blade"); "A Emboscada" ("Liberty Stands Still"); "Um Dia de Fúria" ("Falling Down").

E ter assistido aos seriados:

 "Jornada nas Estrelas, A Nova Geração" ("Star Trek, The Next Generation"); "Terra - Conflito Final" ("Earth - Final Conflict"); "Arquivo X" ("The X Files").

Pensamentos

 "Não concordo com uma palavra sequer do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las."(Voltaire)

 "Muitas vezes o que se cala faz maior impacto do que o que se diz."(Píndaro)

 "O segredo de aborrecer é dizer tudo."(Voltaire)

 "O favor gera amigos; a verdade, ódio."(Terêncio)

 "A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela."(Max Frisch, 1911-1991)

 "Época triste a nossa, em que é mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo."(Einstein, segundo Kaplan)

 "Há duas coisas infinitas... O universo, e a tolice dos homens..."(Albert Einstein)

 "A imaginação é mais importante que o conhecimento."(Albert Einstein)

 "O pensamento é a presença do infinito na mente humana."(Emílio Castelat)

 "Quem pensa pouco erra muito."(Leonardo da Vinci)

Page 28: Especial Fronteiras Do Desconhecido

 "O homem é o que ele acredita."(Anton Tchecóv)

 "Saber demasiado é envelhecer precocemente."(Provérbio Russo)

 "Muita luz é como muita sombra: não deixa ver."(Carlos Catañeda)

 "Se dás um peixe a um homem, ele poderá se alimentar uma vez. Se o ensinas a pescar, ele se alimentará toda a vida."(Kuan-Tzu)

 "Jamais se desespere em meio às mais sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda."(Provérbio chinês)

 "A vitalidade se revela não apenas na capacidade de persistir, mas também na de começar tudo de novo."(Francis Scott Fitzgerald, 1896-1940 - Escritor americano)

 "Cada um chama de claras as idéias que estão no mesmo grau de confusão que as suas próprias."(Proust)

 "Podemos dar a volta ao globo, podemos chegar à luz, mas esta sociedade ainda não descobriu um meio de duas pessoas viverem juntas em harmonia durante sete dias seguidos sem quererem se estrangular."(George Leonard)

 "Às vezes uma maioria significa apenas que todos os tolos estão do mesmo lado."(Provérbio)

 "Tenho de seguí-los, sou o líder deles."(Ledru-Rallin)

 "Em toda discussão há três pontos de vista: o meu, o seu e o correto."(Provérbio chinês)

 "Desejamos um mundo perfeito, e enquanto não se realiza, resta cantá-lo, dizê-lo, celebrá-lo, escrever-lhe poemas e transferí-lo para esfera dos símbolos, porque justamente no ponto onde houve fracasso é que brota o símbolo, testemunha das coisas ausentes, saudades de coisas que não nasceram."(Fernando Henrique Carneiro)

 "Aprenda o verdadeiro significado das palavras."

Nota

Logo acima foram introduzidos alguns pensamentos filosóficos necessários para uma maior tolerância do leitor sobre as opiniões exibidas nos textos a seguir.

Quaisquer sugestões, dúvidas ou reclamações podem ser enviadas para o endereço de

Page 29: Especial Fronteiras Do Desconhecido

correio eletrônico: "[email protected]". Caso deseje estabelecer outro tipo de contato, mais imediato, consulte minhas contas de ICQ (UIN - Universal Internet Number), MSN (MSN Messenger), AIM (AOL Instant Messenger) ouYIM (Yahoo! Instant Messenger).

As sugestões serão analisadas; as dúvidas respondidas e as divergências serão justificadas ou atendidas.

Obrigado e bom entretenimento!