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Revista Brasileira de Geocincias

Flavio de Paula e Silva et al.

35(1):77-88, maro de 2005

ESTRATIGRAFIA DE SUBSUPERFCIE DO GRUPO BAURU (K) NO ESTADO DE SO PAULOFLAVIO DE PAULA E SILVA , CHANG HUNG KIANG & MARIA RITA CAETANO.CHANGAbstract SUBSURFACE STRATIGRAPHY OF BAURU GROUP (K) IN SO PAULO STATE, BTAZIL Subsurface studies using geophysical logs and well data obtained from water wells were very important in defining stratigraphic and hydrostratigraphic frameworks of the Mesozoic Bauru Group sedimentary units of Paran Basin, in the State of So Paulo. In the present study two important regional unconformity surfaces were identified S1 and S2 constituting excellent markers which can be correlated to formal lithostratigraphic units. S1 separates underlying Caiu and Pirapozinho formations from overlying Santo Anastcio Formation. S2 surface is coincident with the contact between underlying Santo Anastcio Formation and overlying Araatuba and Adamantina formations. New lithostratigraphic relationships for the Bauru Group were obtained applying correlation and interpretation criteria based upon regional unconformity surfaces. Caiu, Santo Anastcio, Araatuba, Adamantina and Marlia formations were recognized in subsurface in addition to two new formations named Pirapozinho and Birigi. Sedimentary evolution of Bauru Group is marked by three main depositional phases separated by erosive and non-depositional events of regional extension. Keywords: Bauru Group, stratigraphy, well logs Resumo Estudos baseados em perfis geofsicos e dados de poos profundos perfurados para captao de gua subterrnea permitiram estabelecer o arcabouo estratigrfico de subsuperfcie do Grupo Bauru, Cretceo da Bacia do Paran, no Estado de So Paulo. Duas superfcies de discordncia regionais, designadas S1 e S2, foram identificadas, constituindo-se em excelentes horizontesguia para distino e delimitao de unidades geofsicas, correspondentes s unidades litoestratigrficas formais. A primeira delimita os estratos atribudos s formaes Caiu e Pirapozinho, abaixo, e Santo Anastcio, acima; a segunda marca o contato entre a Formao Santo Anastcio, abaixo, e os sedimentos das formaes Birigi, Araatuba, e Adamantina, acima. Os critrios de correlao utilizados permitiram estabelecer novas relaes estratigrficas para o Grupo Bauru. Foram identificadas as formaes Caiu, Santo Anastcio, Araatuba, Adamantina e Marlia, e reconhecidas duas novas unidades litoestratigrficas, denominadas Formao Pirapozinho e Formao Birigi. A evoluo da sedimentao do Grupo Bauru, amparada pelos dados aqui apresentados, processou-se em trs fases principais de acumulao, separadas por eventos erosivos e no-deposicionais, de carter regional. Palavras-chave: Grupo Bauru, estratigrafia, perfis geofsicos

INTRODUO O Grupo Bauru compreende um pacote sedimentar cretceo, pertencente Bacia do Paran, que aflora em rea de cerca de 117.000 km no Estado de So Paulo (DAEE 1990), tendo como substrato as rochas baslticas da Formao Serra Geral e, localmente, os sedimentos das formaes Botucatu e Pirambia, como na regio de Bauru (SP) e Agudos (SP) (Suguio et al.1977, Paula e Silva & Cavaguti 1994). Desde a primeira referncia feita por Gonzaga de Campos (1905 apud Mezzalira 1974), os vrios pesquisadores se dedicaram ao reconhecimento e caracterizao das diversas litofcies do Grupo Bauru, sob critrios predominantemente litolgicos e sedimentolgicos, tendo como objetivo a subdiviso desta sucesso, tarefa dificultada pela ausncia de horizontes litoestratigrficos regionais. Integrando trabalhos de mapeamento regional, Soares et al. (1980) propuseram a clssica subdiviso estratigrfica do Grupo Bauru em formaes Caiu, Santo Anastcio, Adamantina e Marlia, no mbito do Estado de So Paulo. Posteriormente, Barcelos & Suguio (1987) reconheceram, correlacionaram e estenderam essas unidades litoestratigrficas para os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Gois e Paran, propondo oportunamente a subdiviso da Formao Adamantina em membros Araatuba e So Jos do Rio Preto, e da Formao Marlia, em membros Ponte Alta, Echapor e Serra da Galga. No incio da dcada de 90, Fernandes (1992) esboou novas concepes sobre gnese e relaes estratigrficas das unidades

Bauru, contrapondo-se verso operacional clssica de Soares et al. (1980), ao conceber um modelo de fcies cronocorrelatas, geneticamente associadas, constituindo um trato de sistemas deposicionais. O referido autor props a subdiviso desta unidade em grupos Caiu (formaes Goio Er, Rio Paran e Santo Anastcio) e Bauru (formaes Adamantina, Marlia e Uberaba e analcimitos Taiva). Posteriormente, Fernandes (1998) subdividiu o Grupo Bauru em formaes Vale do Rio do Peixe, Araatuba, So Jos do Rio Preto, Presidente Prudente, Marlia e Uberaba, extinguindo a Formao Adamantina. Apesar do grande nmero de trabalhos publicados tratando da ordenao estratigrfica dos sedimentos cretceos suprabaslticos da Bacia do Paran, ainda modesta a parcela de artigos que aborda este tema utilizando-se predominantemente de dados de subsuperfcie. Destacam-se aqui os trabalhos de Mezzalira (1974) e Barcha (1980), com testemunhos de sondagem, e de Saad et al. (1988), Paula e Silva et al. (1994, 1999, 2002, 2003), Castro et al. (1999) e Paula e Silva (2003), com perfis geofsicos de poos para extrao de gua subterrnea. Na grande maioria das pesquisas, os diversos autores no se preocuparam em compatibilizar as caractersticas litoestratigrficas observadas em afloramentos com aquelas extradas de dados de subsuperfcie provenientes, principalmente, de perfis geofsicos de poos profundos. Os relacionamentos litoestratigrficos, assim propostos, revelaram-se inconsistentes, no traduzindo adequadamente o comportamento espacial das unidades do Grupo

Laboratrio de Estudos de Bacia LEBAC, Departamento de Geologia Aplicada, Instituto de Geocincias e Cincias Exatas da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, UNESP, Campus de Rio Claro, av. 24.A n 1515, Rio Claro SP, Cep 13506-900, fone/fax (19) 3532.5119, email [email protected], [email protected], [email protected]

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Bauru. O presente trabalho apresenta o arcabouo litoestratigrfico de subsuperfcie das rochas cretceas suprabaslticas da Bacia do Paran, em territrio paulista, estabelecido com base em interpretao de perfis geofsicos (radioativos, eltricos e acsticos), e em descries de amostras de calha e de testemunhos de sondagem de poos profundos, extrados de arquivos do Departamento de guas e Energia Eltrica do Estado de So Paulo (DAEE), da Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo (SABESP) e de pesquisas publicadas. Este estudo compreendeu a identificao de unidades geofsicas e sua correlao com as unidades litoestratigrficas formais, em escala de bacia. Para tanto, foram analisados 180 perfis representativos de 175 localidades diferentes do Estado de So Paulo, entre municpios, distritos e vilas. A figura 1 mostra a localizao da rea e dos perfis estudados, e a distribuio das unidades litoestratigrficas do Grupo Bauru, em superfcie. UNIDADES LITOESTRATIGRFICAS RECONHECIDAS EM SUBSUPERFCIE Atualmente, as unidades suprabaslticas cretceas do Estado de So Paulo esto arranjadas basicamente em duas verses de diviso estratigrfica, de acordo com as propostas de Soares et al. (1980) e Fernandes & Coimbra (2000). A concepo clssica proposta por Soares et al. (1980), reunindo as formaes Caiu, Santo Anastcio, Adamantina e Marlia e incluindo a formao Araatuba, introduzida por Barcelos & Suguio (1987) e redefinida de acordo com Batezelli et al. (1999), a que melhor se ajusta s caractersticas litolgicas observadas em subsuperfcie e aos padres geofsicos registrados pelos perfis. Foram ainda reconhecidas duas unidades geofsicas, caracterizveis atravs das curvas de raios gama e de resistividade das diagrafias, bem como pela descrio de amostras de calha, de ocorrncia exclusiva em subsuperfcie, aqui denominadas de formaes Pirapozinho e Birigui.

Figura 1 - Mapa de localizao da rea e dos perfis estudados, mostrando a distribuio das unidades litoestratigrficas atribudas ao Grupo Bauru. Modificado de IPT (1981).

CRITRIOS DE CORRELAO ESTRATIGRFICA Os processos dominantemente fluviais e elicos, atuantes em bacias exclusivamente continentais, conduzem a uma ampla variedade de depsitos sedimentares que recorrem tanto no espao quanto no tempo. Depsitos fluviais so fortemente cclicos e controlados por mecanismos gerados no prprio sistema deposicional (autocclicos), como migrao de canais ou enchentes sazonais, e mecanismos externos (alocclicos) derivados de eventos tectnicos ou mudanas climticas, cujos efeitos de sobreposio podem produzir sucesses verticais complexas (Miall 1982). Alm disso, essas bacias so controladas por nveis de base locais e desenvolvem sedimentao em ambientes de guas rasas ou subareos, onde as chances de preservao dos depsitos so muito pequenas, ou seja, os eventos erosivos sobrepujam os eventos de acomodao e preservao (Reading 1986). Estas caractersticas so sobresselentes na sedimentao do Grupo Bauru e tm induzido diversos pesquisadores a interpretar variaes faciolgicas como unidades litoestratigrficas, fato j alertado por Flfaro & Barcelos (1992). A escassez de bons afloramentos na rea de exposio das rochas do Grupo Bauru e o desconhecimento do comportamento de seu arcabouo em subsuperfcie so responsveis por correlaes que transcendem os limites naturais das unidades estratigrficas. Mesmo os testemunhos de sondagem, como aqueles utilizados por Arid (1966), Mezzalira (1974), Barcha (1980) e outros pesquisadores, ainda que sejam excelentes fontes de informaes geolgicas em escala de detalhe, no conseguem traduzir as propriedades petrofsicas fundamentais percebidas pelos perfis geofsicos de alta resoluo. A anlise de perfis geofsicos dos poos estudados revelou recorrncia de sucesses de fcies similares, normalmente compondo padres granulomtricos de fining upward, coarsening upward e cilndrico, em todas unidades do Grupo Bauru, em menor ou maior escala. Esta caracterstica constituiu fator complicador para o reconhecimento e a diferenciao das unidades litoestratigrficas em subsuperfcie. Assim, considerando que nenhum destes padres, por si s, exclusivo de determinada unidade, a soluo para superar o problema foi a identificao de superfcies de descontinuidade fsica ou correlativas que limitassem, regionalmente, as associaes de fcies representativas das unidades litoestratigrficas formais. Vrias so as superfcies de descontinuidade fsica, separando fcies ou sucesses de fcies, correspondentes a interrupes ou mudanas no processo de sedimentao ou, ainda, a feies geradas por processos erosivos, neste caso podendo ter implicaes temporais que podem ser indicadas pelos perfis geofsicos. Duas importantes superfcies de descontinuidade, denominadas respectivamente S1 e S2, de carter regional, foram reconhecidas no presente estudo (Fig. 2). A superfcie S1 define o contato entre os estratos atribudos s formaes Caiu / Pirapozinho, abaixo, e Santo Anastcio, acima, constituindo o limite superior da sucesso sedimentar depositada no intervalo de tempo compreendido entre o final do vulcanismo Serra Geral e o incio da deposio da Formao Santo Anastcio. A superfcie S2 marca o contato entre os depsitos atribudos s unidades Santo Anastcio, abaixo, e Birigi/Araatuba/Adamantina, acima, compreendendo o limite superior da sucesso depositada no tempo Santo Anastcio. Vrias outras descontinuidades podem ser reconhecidas nos perfis, todavia representam provavelmente diastemas locais.Revista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

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Figura 2 Perfis de raios gama de poo perfurado na cidade de lvares Machado (SP), sudoeste paulista, indicando as superfcies de discordncia S1 e S2 e as variaes relativas do teor de umidade na sedimentao do Grupo Bauru. Ambas superfcies apresentam evidncias, em perfis, de limites erosivos, podendo envolver hiato temporal. Dias-Brito et al. (2001) aventaram a existncia de um hiato sugerido pelo exame de perfis geofsicos da regio sudoeste paulista, no contato Caiu / Santo Anastcio, salientando que Soares (1981) j havia sugerido uma descontinuidade erosiva na sedimentao entre as referidas unidades. Por outro lado, Paula e Silva et al. (2002) demonstraram que a natureza brusca do contato e os distintos padres geofsicos das formaes Adamantina e Santo Anastcio, na regio de So Jos do Rio Preto (SP), indicam existncia de hiato temporal entre elas. Estas superfcies de descontinuidade, como definidas aqui, limitam sucesses sedimentares depositadas em intervalos de tempo especficos, ou seja, manifestam carter cronoestratigrfico. Em outras palavras, envolvem sucesses de fcies remanescentes dos principais eventos deposicionais ocorridos na sedimentao Bauru, governados por fenmenos tectnicos e climticos que, por sua vez, controlaram os nveis de base locais. Graas ao carter regional, as superfcies S1 e S2 constituem excelentes horizontes-guia para distino e delimitao das unidades geofsicas e sua associao com as unidades litoestratigrficas formais. CARACTERIZAO DAS UNIDADES LITOESTRATIGRFICAS EM SUBSUPERFCIE Para representao dos interrelacionamentos entre as unidades litoestratigrficas do Grupo Bauru reconhecidas em subsuperfcie, foram elaboradas sees representativas de compartimentos geolgicos peculiares, localizados nas pores sudoeste (Figs. 4 e 5), nordeste (Fig. 6), centrooriental (Fig. 7) e noroeste (Fig. 8) da bacia. A Figura 3 mostra a localizao desses compartimentos na rea estudada, conforme delimitao apresentada por Paula e Silva (2003).Revista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

Formao Caiu A unidade geofsica equivalente Formao Caiu engloba uma sucesso sedimentar delimitada, na parte inferior, pela discordncia erosiva da superfcie basltica e, na poro superior, pela superfcie de discordncia S1. Aparece muito bem preservada no compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5), ao passo que tem expressividade reduzida no compartimento noroeste (Fig. 8), onde pode ter sido parcialmente removida por eroso. No ocorre nos demais compartimentos estudados. A Formao Caiu, em subsuperfcie, caracteriza-se pela presena de um pacote predominantemente psamtico, constitudo de arenitos vermelho-vinho a marrom acastanhados, de granulometria variando de muito fina a mdia, gros com boa esfericidade e cobertos por pelcula ferruginosa, subarredondados, em geral pouco argilosos, localmente calcferos, podendo apresentar em sua poro basal, prximo ao contato com os basaltos Serra Geral, arenitos slticos, marrom avermelhados, mdios, calcferos, como no poo de Planalto do Sul, Municpio de Teodoro Sampaio (Paula e Silva et al. 1994). A anlise dos perfis geofsicos que atravessam a Formao Caiu, no compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5), evidencia uma sucesso de fcies em padro de fining upward, com deficincia de material peltico, ou seja, sem destacar as fcies caractersticas de depsitos de plancie de inundao, mas apenas delgadas e freqentes intercalaes de camadas silto-argilosas. As seqncias de fining upward devem-se a variaes granulomtricas e/ou de teor de matriz lamtica dos arenitos. Tambm fica evidente a tendncia de enriquecimento progressivo no teor de argila em direo base da sucesso (Paula e Silva et al. 1994). Localmente, as sucesses de fcies em padro de fining upward constituem uma sucesso maior, em padro de coarsening upward, como observado no poo de Presidente Venceslau. Nesta cidade, a existncia dos arenitos roxo-avermelhados, tpicos da Formao Caiu, foi confirmada em testemunho de sondagem descrito por Mezzalira (1974). Caractersticas semelhantes tambm foram observadas em perfurao de poo em Presidente Epitcio, s mar-

Figura 3 Localizao dos compartimentos estudados para reconhecimento e caracterizao das unidades geofsicas correspondentes s unidades litoestratigrficas do Grupo Bauru. Modificado de Paula e Silva (2003).

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Figura 4 . Seo geolgica NW-SE, entre as cidades de Presidente Venceslau e Regente Feij, mostrando as relaes entre as unidades geofsicas atribudas s formaes Caiu, Pirapozinho, Santo Anastcio, Araatuba e Adamantina, no compartimento sudoeste da bacia. Observar as superfcies S1 e S2 limitando sucesses de fcies cronologicamente correlatas

Figura 5 Seo geolgica SW-NE entre as cidades de Estrela do Norte e Caiabu, mostrando as relaes entre as unidades geofsicas atribudas s formaes Caiu, Pirapozinho, Santo Anastcio, Araatuba e Adamantina, no compartimento sudoeste da bacia. Observar as superfcies S1 e S2 limitando sucesses de fcies cronologicamente correlatas.

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Figura 6 . Seo geolgica SW-NE entre as localidades de Mendona e Ings (Distrito de Nova Granada), mostrando as relaes entre as unidades geofsicas atribudas s formaes Santo Anastcio, Araatuba e Adamantina, no compartimento nordeste da bacia. Observar que a superfcie S1 coincide com o topo do embasamento basltico.

Figura 7 - Seo geolgica NW-SE entre as cidades de Bilac e lvaro de Carvalho, mostrando as relaes entre as unidades geofsicas atribudas s formaes Birigi, Araatuba, Adamantina e Marlia, no compartimento centro-oriental da bacia. Observar que as superfcies S1 e S2 ajustam-se ao topo do embasamento basltico.

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Figura 8 . Seo geolgica NW-SE entre as localidades de Bandeirantes DOeste (Distrito de Sud Menucci) e Poloni, mostrando as relaes entre as unidades geofsicas atribudas s formaes Caiu, Pirapozinho, Santo Anastcio, Araatuba e Adamantina, no compartimento noroeste da bacia. Observar as superfcies S1 e S2 limitando sucesses de fcies cronologicamente correlatas. gens do Rio Paran (Flavio de Paula e Silva, 1991 arquivo particular). No compartimento noroeste (Fig. 8), a unidade geofsica correspondente Formao Caiu, representada por camadas arenosas em padro de fining upward de pequena amplitude, interdigitase com maior freqncia a depsitos predominantemente lamticos atribudos Formao Pirapozinho. O contato basal da Formao Caiu discordante com a Formao Serra Geral, atestado pela presena de brecha basal e de irregularidades no topo basltico (Riccomini et al. 1981). Lateralmente, no rumo leste, passa por interdigitao para a Formao Pirapozinho (Paula e Silva et al. 1999). Seu contato superior discordante com a Formao Santo Anastcio (Paula e Silva 2003). Considerando isoladamente as caractersticas litolgicas e as sucesses de fcies geofsicas, organizadas em padres de fining upward pode-se inferir deposio subaquosa para a Formao Caiu, em sistemas fluviais, com distribuio granulomtrica governada pelas variaes de velocidade do fluxo aquoso. Esta deduo coloca em debate a questo do ambiente deposicional, uma vez que associaes de fcies elicas tm sido freqentemente atribudas a esta unidade, interpretada por diversos autores como depositada em ambiente desrtico (p. ex., Fernandes & Coimbra 1994, 2000). Cabe ressaltar que as perfilagens utilizadas neste trabalho no cobrem as reas onde a Formao Caiu foi formalmente reconhecida e caracterizada, em superfcie. Assim, a ocorrncia de fcies elicas sub-sidiariamente intercaladas ao sistema fluvial, ou localmente dominantes, no deve ser descartada. As maiores espessuras da Formao Caiu, em subsuperfcie, encontram-se em Estrela do Norte (97 m), Narandiba (92 m), Presidente Venceslau (91 m) e Tarabai (84 m). A figura 9 apresenta o perfil de referncia da Formao Caiu. Formao Pirapozinho Formao Pirapozinho a designao proposta para a unidade litoestratigrfica predominantemente peltica, de ocorrncia exclusiva em subsuperfcie, delimitada na base pelo assoalho basltico e no topo pela superfcie de discordncia S1. Esta unidade geofsica foi identificada primeiramente por Paula e Silva et al. (1994), em perfis de poos perfurados para captao de gua na regio de Presidente Prudente (SP), e informalmente designada Litofcies C; posteriormente, Paula e Silva (2003) atribuiu-lhe hierarquia de formao. Seu posicionamento estratigrfico, acima da Formao Serra Geral e abaixo da Formao Santo Anastcio, e contato

Figura 9 - Perfil de referncia da Formao Caiu (Paula e Silva et al. 2003).Revista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

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interdigitado com a Formao Caiu, mostram equivalncia temporal com esta ltima. Justifica-se a proposio desta nova unidade estratigrfica em razo da incompatibilidade de suas caractersticas litolgicas com a definio estratigrfica formal, estabelecida para a unidade Caiu por Soares et al. (1980), e pela ampla rea de ocorrncia e facilidade de reconhecimento atravs de perfis geofsicos. Manifesta-se com maior expressividade no compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5), enquanto apresenta expresso reduzida no compartimento noroeste (Fig. 8); no ocorre nos demais compartimentos. Sob a designao de Formao Pirapozinho abriga-se uma sucesso clstica com predomnio de fcies pelticas. Esta unidade caracterizada por espessos pacotes de siltitos, lamitos arenosos e argilitos, vermelhos e castanhos e de tons acinzentados a esverdeados, em geral carbonticos; subsidiariamente, intercalam-se camadas lenticulares de arenitos finos, raramente mdios a grossos, em parte slticos, marrom acastanhados a vermelhos, argilosos. Em perfis, a unidade Pirapozinho tem elevada radioatividade e baixa resistividade, caractersticas de camadas predominantemente silto-argilosas, sugestivas de depsitos lacustres, onde variaes granulomtricas verticais entre termos mais finos ou mais grossos podem ser interpretadas como flutuaes do nvel de base do lago; localmente, destacam-se padres granulomtricos do tipo fining upward, indicativos de depsitos de transbordamento, de pequenos canais ou de rompimento de diques marginais, associados a depsitos psamticos fluviais (Paula e Silva et al. 1994). As maiores espessuras de sedimentos correspondentes esta unidade foram registradas nas cidades de lvares Machado (65 metros), Presidente Bernardes (52 m), Caiabu (50 m) e Presidente Prudente (48 m). A figura 10 apresenta o perfil de referncia da Formao Pirapozinho. Formao Santo Anastcio Estratigraficamente, a unidade geofsica correspondente Formao Santo Anastcio encerra uma sucesso sedimentar balizada pelas superfcies de discordncia S1, na base, e S2, no topo. Esta formao ocorre nos compartimentos sudoeste, nordeste e noroeste da bacia, aflorando apenas parcialmente no primeiro (Fig. 4, 5, 6 e 8); no ocorre no compartimento centro-oriental (Fig. 7). O contato inferior da Formao Santo Anastcio discordante com a sucesso Caiu / Pirapozinho ou, na ausncia desta, com os basaltos da Formao Serra Geral; seu contato superior tambm discordante com as formaes mais jovens (Birigi, Araatuba ou Adamantina). A Formao Santo Anastcio caracteriza-se, em subsuperfcie, pelo predomnio de termos arenosos em detrimento de constituintes pelticos. A litologia predominante composta por arenitos de cor marrom avermelhada, de granulao muito fina a mdia, recobertos por pelcula limontica, com freqentes ndulos e cimentao calcferos. Intercalam-se aos arenitos lentes descontnuas de lamito, siltito e argilito marrom avermelhados. No compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5), a freqncia das intercalaes pelticas se torna mais pronunciada nas pores basais da unidade (Paula e Silva et al. 1994), enquanto no compartimento nordeste (Fig. 6) ocorrem poucas intercalaes pelticas e os arenitos so pouco argilosos (Paula e Silva et al. 2002); no compartimento noroeste (Fig. 8), caracteriza-se pelo maior contedo argiloso dos arenitos, embora as condies de sedimentao no tenham sido propcias para a acumulao de corpos pelticos expressivos (Paula e Silva 2003).Revista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

Figura 10 Perfil de referncia da Formao Pirapozinho (Paula e Silva et al. 2003).

Figura 11 Perfil de referncia da Formao Santo Anastcio (Paula e Silva et al. 2003). A anlise dos perfis que atravessam a Formao Santo Anastcio revela padres granulomtricos predominantes do tipo cilindro, com formato serrilhado, indicativo de sedimentao relativamente homognea, com deficincia de material peltico. No compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5), sees espessas de arenitos, configurando padro granulomtrico em cilindro, passam lateralmente e em direo base da sucesso para sees com teor de argila e freqncia de intercalaes pelticas maiores, chegando a constituir intervalos caractersticos de depsitos em padro de fining upward, com terminao em siltitos e argilitos, como nas cidades de Tarabai, Pirapozinho e Narandiba. No compartimento noroeste (Fig. 8), a observao mais detalhada das curvas de resistividade dos perfis tambm permite o reconhecimento de padres granulomtricos sutis em fining upward. A anlise dos padres de variao granulomtrica, registrados pelos perfis geofsicos, sugere que a unidade Santo Anastcio tenha sido depositada em ambiente fluvial, inicialmente do tipo meandrante, com fcies de canal e de transbordamento bem delineadas, evoluindo para modelo entrelaado com carga

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psamtica dominante e escassez de fcies pelticas, menos organizado (Paula e Silva 2003). As maiores espessuras preservadas da Formao Santo Anastcio foram constatadas nos poos de Valparaso (127 m), Aparecida DOeste (123 m), Quat (116 m), Maripolis (113 m), Presidente Prudente (107 m) e Pirapozinho (103 m). Na regio de So Jos do Rio Preto pode alcanar mais de 70 m, como na cidade de Potirendaba (76 m). A figura 11 apresenta o perfil de referncia desta formao. Formao Birigui Formao Birigi a designao proposta para a unidade geofsica dominantemente areno-conglomertica, posicionada estratigraficamente acima da superfcie de discordncia S2, de ocorrncia exclusiva no compartimento centro-oriental da bacia e em subsuperfcie (Fig. 7), identificada por Paula e Silva (2003). Jaz discordantemente sobre o substrato basltico na maior parte de sua rea de ocorrncia, onde esta superfcie se confunde com a discordncia S2 (Fig. 7), e localmente sobre a Formao Santo Anastcio. Acima, mantm relaes de contato aparentemente concordantes com os pelitos da Formao Araatuba (Paula e Silva 2003). Em descrio de amostras de calha, esta unidade caracterizase pelo predomnio de corpos arenosos, com cores variando de cinza esverdeado a esbranquiado, bege amarelado e marrom acastanhado, granulometria comumente fina a mdia, mas podendo exibir localmente arenitos grossos a conglomerticos, como no Distrito de Taquari (Municpio de Birigi) e na prpria cidade de Birigi. Nas citadas localidades, arenitos marrom acastanhados, finos a grossos, feldspticos e carbonticos, passam para conglomerados com fragmentos de basalto, arenito e calcednia, em matriz areno-argilosa, com espessura em torno de 20 m. Intercalaes de pelitos so pouco freqentes. Em testemunhos de sondagem, Barcha (1980) descreveu um pacote de arenito fino a mdio, macio, apresentando nveis e concrees carbonticas, em propriedade rural prxima a Avanhandava. Em Penpolis, o mesmo autor descreveu um pacote com cerca de 35 m de arenito cinza escuro a amarelado, compacto, fino, podendo apresentar granulao mais grossa em certos intervalos, e ndulos de calcita com forma estrelada de at 5 cm. A anlise dos perfis geofsicos desta sucesso mostra corpos arenosos com padro granulomtrico predominante do tipo cilndrico, com poucas intercalaes de corpos pelticos e baixa argilosidade. Localmente, podem ser observados sutis padres de fining upward e incremento do teor de argila dos corpos arenosos. As caractersticas granulomtricas e de perfis da Formao Birigi sugerem deposio por correntes de alta energia, em sistemas fluviais predominantemente entrelaados. As maiores espessuras da unidade, constatadas em perfuraes de poos, so de 51 m no Distrito de Taquari (Municpio de Birigi), 48 m em Guaiara, 43 m em Luizinia e 42 m em Santa Maria do Gurup (Municpio de Promisso). A figura 12 apresenta o perfil de referncia desta formao. Formao Araatuba A Formao Araatuba, conforme redefinio de Batezelli et al. (1999), representa uma unidade estratigrfica composta predominantemente por siltitos e argilitos e, secundariamente, por arenitos finos, cinza-esverdeados. Esta unidade situa-se em posio estratigrfica bem definida, acima da superfcie de discordncia S2, a qual se confunde localmente com o topo do embasamento basltico. Ocorre em todos os comparti-

Figura 12 Perfil de referncia da Formao Birigi (Paula e Silva et al. 2003).

Figura 13 Perfil de referncia da Formao Araatuba (Paula e Silva et al. 2003). mentos estudados, mas tem maior expresso nos compartimentos centro-oriental (Fig. 7) e sudoeste (Figs. 4 e 5). O contato inferior da Formao Araatuba discordante com o embasamento basltico e com a Formao Santo Anastcio, e concordante com a Formao Birigi; seu contato superior com a Formao Adamantina concordante interdigitado e localmente abrupto, graas a diastemas originados pela eroso fluvial. Os perfis geofsicos representativos desta unidade litoestratigrfica caracterizam-se pela elevada radioatividade e baixa resistividade, diagnsticas de sedimentao predominantemente peltica; localmente, apresentam padres granulomtricos em fining upward, indicativos de depsitos de transbordamento ou de rompimento de diques marginais, associados a fcies arenosas fluviais. A anlise dos perfis e das caractersticas litolgicas da Formao Araatuba evidencia uma sucesso com amplo predomnio de fcies pelticas sobre fcies psamticas, indicativa de um ambiente deposicional lacustre, como sugerido por vrios autores (Suguio et al. 1977, Fernandes 1998, Batezelli et al.1999). Este lago estaria sujeito a expanses e retraes cclicas decorrentes de flutuaesRevista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

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do nvel de base, responsveis pelos padres granulomtricos de empilhamento sedimentar. Para Etchebehere et al. (1991), a presena de moldes salinos nesta unidade indicaria condies evaporticas. Em subsuperfcie, a unidade geofsica atribuda Formao Araatuba registrou as maiores espessuras preservadas em poos nas cidades de Queiroz (105 m), Getulina (78 m), Lins (67 m) e Oriente (61 m). A figura 13 apresenta o perfil de referncia desta unidade. Formao Adamantina A Formao Adamantina ocupa posio estratigrfica acima da superfcie de discordncia S2 que, como j referido anteriormente, ajusta-se localmente ao topo do embasamento basltico. Aflora de modo generalizado em todos compartimentos estudados, estando recoberta apenas parcialmente pela Formao Marlia no compartimento centro-oriental da bacia (Fig. 7). A Formao Adamantina, em subsuperfcie, caracteriza-se pela presena de arenitos avermelhados a acastanhados, finos a muito finos, argilosos, algo carbonticos, quartzosos, intercalados por camadas de lamito marrom a avermelhado, arenoso, carbontico (Paula e Silva et al. 1994). O contato inferior da Formao Adamantina discordante com os basaltos da Formao Serra Geral e com a Formao Santo Anastcio, e concordante interdigitado, localmente erosivo, com a Formao Araatuba; o contato superior concordante interdigitado a abrupto com a Formao Marlia. Os perfis geofsicos da sucesso correspondente Formao Adamantina permitem a distino de fcies com padro de fining upward, com eventuais terminaes em sedimentos silto-argilosos, e padro geral de coarsening upward, compondo sucesses cclicas. Variaes faciolgicas so comumente observadas em perfis da Formao Adamantina e refletem a extrema variabilidade dos depsitos continentais de origem fluvial. Essas variaes tm sido responsveis pela profuso de diferentes designaes para uma mesma unidade estratigrfica, tomando-se como exemplo os poos de Getulina, Alto Alegre e Brana, os quais mostram-se bastante distintos (Fig. 7). No compartimento nordeste (Fig. 6), o padro de radioatividade natural, expresso pelas curvas de raios gama dos perfis geofsicos, notavelmente mais intenso do que aquele verificado na unidade Adamantina, no compartimento sudoeste (Figs. 4 e 5). Paula e Silva et al. (2002) chamaram a ateno para a existncia de arenitos com radioatividade natural anormal nessa regio, em razo da provvel contribuio de fontes cristalinas situadas nos limites setentrionais da bacia (Suguio 1981), reforando a correspondncia cronolgica desta unidade com a Formao Uberaba, de ocorrncia restrita ao Tringulo Mineiro. Intercaladas na sucesso Adamantina so descritas rochas alcalinas, de composio semelhante s rochas analcimticas intrusivas de Jaboticabal, referidas por Barcha et al. (1984), cuja origem efusiva ou intrusiva ainda no foi definitivamente estabelecida. Em termos paleoambientais, a unidade geofsica correspondente Formao Adamantina compreende depsitos arenosos acanalados, com padro granulomtrico em fining upward e eventuais terminaes em sedimentos pelticos, compondo unidades cclicas menores, sugestivos de sedimentao fluvial em canais meandrantes. A sucesso, como um todo, mostra padro de coarsening upward segmentado em ciclos maiores, indicativo deRevista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

Figura 14 Perfil de referncia da Formao Adamantina (Paula e Silva et al. 2003).

progradao do sistema fluvial sobre nvel de base lacustre, contribuindo com o processo de assoreamento da bacia. Este padro de empilhamento observado nos perfis geofsicos pode representar depsitos associados a pequenos deltas, onde processos de progradao e regresso so controlados, respectivamente, pela retrao e expanso de um sistema lacustre, em decorrncia de variaes climticas e/ou tectnicas. Em poos, a Formao Adamantina registrou maiores espessuras nas cidades de Mirassol (187 m), Catanduva (170 m) e Neves Paulista (150 m). A figura 14 apresenta o perfil de referncia da Formao Adamantina. Formao Marlia A Formao Marlia aflora somente na poro sudeste do compartimento centro-oriental (Fig. 7), tendo ocorrncia restrita relativamente s demais formaes do Grupo Bauru. A abundncia de cimento calcfero em suas litologias propiciou um arcabouo resistente eroso, responsvel pela sustentao das escarpas dos planaltos de Marlia, Gara e Echapor. Esta sucesso sobrepe-se Formao Adamantina por meio de contato interdigitado a abrupto; seu limite superior marcado pela superfcie topogrfica atual. composta dominantemente por arenitos grossos a conglomerticos, com teor de matriz varivel, macios ou com acamamento incipiente, subparalelo e descontnuo, raras estratificaes cruzadas de mdio porte e raras camadas descontnuas de lamitos vermelhos e calcrios, conforme definio de Soares et al. (1980). A unidade geofsica correspondente Formao Marlia, em subsuperfcie, apresenta caractersticos formatos lineares e serrilhados das curvas de raios gama e resistividade, indicando a ocorrncia de depsitos predominantemente arenosos, com delgadas intercalaes de material peltico e baixo contedo argiloso. Eventualmente pode revelar, em trechos localizados, padres sutis de fining upward e de coarsening upward, visualizados prin-

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trs fases principais de deposio, separadas por superfcies de discordncia regionais, aqui denominadas S1 e S2. Sobre o pavimento basltico, desnivelado por processos tectnicos e erosivos, depositam-se os sedimentos clsticos da sucesso mais antiga, representada pelas formaes Caiu e Pirapozinho, em um sistema fluvial endorreico, com rios meandrantes alcanando corpos lacustres rasos que atuavam como nvel de base. Aps esta primeira fase deposicional, a bacia entra em processo de by-pass, no permitindo a fixao de novos depsitos. Gera-se, ento, a discordncia regional S1 que representa um hiato temporal e provavelmente erosivo, encerrando a primeira fase de sedimentao. Na segunda fase de sedimentao, as condies endorreicas persistem e o stio deposicional se expande para receber os sedimentos preponderantemente arenosos da Formao Santo Anastcio, transportados por rios entrelaados com variaes locais para meandrante. Ao final, novo ciclo erosivo se instala e a bacia entra novamente em processo de by-pass. Na terceira fase, o stio deposicional se expande ao mximo, formando um complexo flvio-lacustre representado pelas formaes Birigi, Araatuba e Adamantina, que progressivamente conduz ao assoreamento de toda bacia. Toda essa evoluo culmina com a intensificao da aridez climtica, alamento das bordas e deposio dos leques aluviais da Formao Marlia, quando ento, no incio do Tercirio, a bacia perde definitivamente seu carter subsidente. CONCLUSES Os estudos realizados, com base nos perfis de poos, permitiram distinguir unidades geofsicas caractersticas e Figura 15 Perfil de referncia da Formao Marlia (Paula e Silva et al. 2003).

cipalmente pela curva do perfil de resistividade. Calcrios ou arenitos carbonticos podem ser identificados pela intensidade dos valores de resistividade do perfil induo; contudo, no so muito freqentes. Outra caracterstica marcante desta unidade geofsica, a exemplo do que ocorre na Formao Adamantina, a tendncia de diminuio da argilosidade ou, em outras palavras, da prevalncia de depsitos progressivamente mais arenosos em direo ao topo da sucesso, indicativos de assoreamento do stio deposicional. Em termos paleoambientais, as caractersticas dos perfis geofsicos se harmonizam com as inferncias de um ambiente deposicional em leque aluvial, sugeridas pela maioria dos autores que estudaram esta formao (por exemplo, Suguio et al. 1977, Soares et al. 1980, Barcelos & Suguio 1987, Fernandes 1998). Em subsuperfcie, a unidade atribuda Formao Marlia possui espessuras mximas constatadas em perfuraes de poos de 233 m na cidade de Luprcio, 201 m em Marlia, 192 m em lvaro de Carvalho e 185 m em Quintana. A figura 15 apresenta o perfil de referncia desta unidade. RELAES ESTRATIGRFICAS DO GRUPO BAURU As relaes entre as unidades litoestratigrficas cretceas suprabaslticas nos diferentes compartimentos geolgicos da Bacia do Paran, no Estado de So Paulo, engendradas atravs da correlao de perfis geofsicos, esto representadas na figura 16. Nesta concepo, a acumulao do Grupo Bauru se deu em

Figura 16 Relaes estratigrficas entre as formaes cretceas suprabaslticas nos diferentes compartimentos do Estado de So Paulo. Modificado de Paula e Silva (2003).Revista Brasileira de Geocincias, Volume 35, 2005

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correlacion-las s unidades litoestratigrficas formais atribudas ao Grupo Bauru (formaes Caiu, Santo Anastcio, Araatuba, Adamantina e Marlia), alm de identificar e de caracterizar duas novas unidades de ocorrncia exclusiva em subsuperfcie (formaes Pirapozinho e Birigi). Conforme ficou demonstrado pela anlise das inter-relaes observadas nos diferentes compartimentos moldados no embasamento basltico, as unidades litoestratigrficas cretceas da Bacia do Paran, no Estado de So Paulo, esto enfeixadas por superfcies correlativas representando discordncias regionais. Neste estudo, foram reconhecidas duas destas superfcies, aqui designadas S1 e S2. A superfcie S1 marca o limite superior de ocorrncia das formaes Caiu e Pirapozinho e delimita a sucesso sedimentar depositada no intervalo de tempo entre o final do vulcanismo Serra Geral e o evento erosivo regional, anterior deposio da sucesso Santo Anastcio. A superfcie S2 marca o limite superior de ocorrncia da Formao Santo Anastcio e delimita a sucesso sedimentar depositada no intervalo de tempo entre o final do ciclo

erosivo, que atingiu as formaes Caiu e Pirapozinho, e o final do ciclo erosivo seguinte, englobando toda sucesso Santo Anastcio. As demais formaes do Grupo Bauru (Birigi, Araatuba, Adamantina e Marlia) so delimitadas, na base, pela superfcie S2 ou pelos derrames Serra Geral e, no topo, pela superfcie de eroso atual. A aplicao de critrios de correlao e interpretao, baseados em superfcies de discordncia regionais, permitiu estabelecer as relaes litoestratigrficas de subsuperfcie entre as unidades litoestratigrficas do Grupo Bauru, no Estado de So Paulo. Agradecimentos Os autores agradecem ao Laboratrio de Estudo de Bacias LEBAC, do Instituto de Geocincias e Cincias Exatas da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro, e Fundunesp, pelo suporte tcnico e financeiro para elaborao deste artigo. Tambm agradecem aos revisores da RBG pelas sugestes oportunamente apresentadas no manuscrito.

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Manuscrito A 1488 Recebido em 2 de maro de 2004 Reviso dos autores em 15 de dezembro de 2004 Reviso aceita em 20 de dezembro de 2004

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