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Estratégias Regulatórias e Legais da Indústria Petrolífera Por: Patrício Wanderley Paulo Quingongo Eng.º de Produção de Petróleos e Gás Natural e Tecnologia Aplicada a Indústria Petrolífera MSc. Gestão Internacional de Petróleo e Gás Especialista em Petróleo & Gás Pesquisador e Analista do Mercado Petrolífero. Agência Nacional de Petróleos Outubro 2018 O Modelo Ideal para Angola

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Page 1: Estratégias Regulatórias e Legais da Indústria Petrolífera · em Luanda, faz uma análise a gestão da industria petrolífera nacional e conclui que existe uma fraca capacidade

Estratégias Regulatórias

e Legais da

Indústria Petrolífera

Por:

Patrício Wanderley Paulo Quingongo Eng.º de Produção de Petróleos e Gás Natural e Tecnologia

Aplicada a Indústria Petrolífera

MSc. Gestão Internacional de Petróleo e Gás

Especialista em Petróleo & Gás

Pesquisador e Analista do Mercado Petrolífero.

Agência Nacional de Petróleos

Outubro 2018

O Modelo Ideal para Angola

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Patrício Wanderley Paulo Quingongo Email: [email protected]

ABSTRACTO

Estratégias Regulatórias e Legais da Indústria Petrolífera

Agência Nacional de Petróleo Gás

Apesar da sua riqueza petrolífera e sucesso no desenvolvimento de alguns campos petrolíferos, é factual que o

atual modelo de gestão do sector petrolífero angolano não vingou, ficando abaixo da performance esperada. A

produção nacional encontra-se em declínio na ordem dos 15%, sendo que a produção atual ronda os 1.490

MBPD, muito a quem dos 1.902 MBPD produzidos em 2008. Na última década houve uma diminuição contínua

nas atividades de pesquisa e no tamanho das descobertas, uma vez que por exemplo em 2017 não foi perfurado

nenhum poço de pesquisa no offshore angolano. Dentre os vários fatores responsáveis pela queda da produção

petrolífera nacional salientam-se a falta de políticas e incentivos para o desenvolvimento dos campos marginais,

inexistência de licitações de novos blocos por um período considerável, excesso de burocracia e a maturação dos

atuais campos petrolíferos.

Tanto a gestão como a estratégia regulatória e legal da indústria petrolífera angolana foram sempre contestadas,

muito pelo facto da falta de boa governança, transparência, corrupção, conflitos de interesses, atividades quasi-

fiscais e pela falta de políticas para o desenvolvimento e sustentabilidade do sector. Foi nessa senda e

entendendo a urgente necessidade de mudar o modelo de gestão do sector petrolífero e reajustá-lo à nível

organizacional que o novo executivo angolano anunciou a criação da Agência Nacional de Petróleo e Gás, que

deverá assumir o papel de Concessionária Nacional. Não obstante a criação da Agência de petróleo e gás e pelo

facto da sua criação não se traduzir significativamente na melhoria da gestão da indústria petrolífera nacional,

vários fatores e premissas devem ser acauteladas de formas a garantir a efetiva implementação da agência e

melhorar a performance do sector como um todo. Esses fatores resumem-se:

Melhoria da capacidade institucional.

Aprofundar o desenvolvimento da indústria petrolífera e a criação de um plano diretor do sector.

O desenvolvimento de um modelo operacional da Sonangol.

As agências reguladoras são as autoridades mais competentes na regulação da indústria de petróleo e gás, em

especial no upstream. Elas são criadas com uma abordagem eficaz sobre a regulação, quando o poder

legislativo/executivo delega poderes públicos a instituições públicas para regular uma certa área económica ou

social. Este artigo indica o modelo ideal de agência reguladora de petróleo e gás a ser implementada em Angola,

tendo em conta as melhores práticas de gestão da indústria petrolífera a nível internacional, garantindo o

conhecimento e perícia técnica e livre da interferência política.

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1. INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, são levantadas várias implicações à nível global na perspetiva da gestão das fontes de energia.

A gestão energética está a tornar-se mais desafiadora do que nunca; diferentes fatores são responsáveis pelos

riscos no fornecimento de energia e na sua conservação. Com a globalização, é mais patente o desenvolvimento

de muitas economias devido a interdependência entre as regiões; Este desenvolvimento representa um alto

consumo de fontes de energia (petróleo), seguido por um aumento significativo na demanda de energia. No

entanto, esta correlação entre a demanda e o consumo de energia depende da disponibilidade de fontes de

energia, produção e reservas.

Em Angola, o petróleo é a maior fonte de energia e a maior fonte de receita do país. Angola é o 2º maior

produtor de petróleo de África depois da Nigéria, 12º maior produtor de petróleo do mundo, 7º maior

exportador de petróleo do mundo e continua a ter um forte potencial de petróleo e gás.

O atual modelo de gestão da indústria petrolífera nacional, no qual a Sonangol (concessionária nacional e detém

os direitos mineiros), MIREMPET (Regulação e supervisão das atividades petrolíferas), MINFIN (gestão do regime

fiscal e receitas petrolíferas), não teve a performance desejada, muito pelo facto da Sonangol ter monopolizado o

sector, agindo como arbitro e jogador, assim como pelo facto da mesma ter usurpado os papéis do MIREMPET e

MINFIN.

As várias funções exercidas pela Sonangol resultam no mau desempenho da própria empresa, sendo necessário

que a mesma se concentre no seu core business de maneira a tornar-se mais eficiente e garantir que o Estado

angolano usufrua dos reais benefícios da sua riqueza petrolífera.

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2. Afinal, o que é uma Agência Reguladora?

Uma Agência Reguladora (autoridade reguladora) é uma entidade pública ou agência governamental

responsável por exercer autoridade autónoma sobre uma determinada área da atividade humana com

capacidade regulatória ou de supervisão. Quando independentes, as agências reguladoras não fazem parte do

governo/executivo. Tipicamente, as Agências reguladores são parte do executivo e possuem estatuto e

autoridade para exercer as suas funções com a supervisão do poder legislativo, pois estas estão geralmente

abertas a uma revisão legal.

O facto de existirem algumas atividades empresariais que não estão sujeitas a um olhar atento dos governos ou

reguladores governamentais, contribuiu para a aparição/implementação das agências reguladoras independentes

como uma das principais características de um Estado regulador em ascensão. Este fenómeno é também

conhecido por “agensificação”. O que significa que os governos estão cada vez mais dispostos a abandonar suas

competências reguladoras e atribui-las a instituições especializadas que estão pelo menos parcialmente fora de

seu controle.

3. Qual o modelo ideal para Angola?

Antes de indicar o melhor modelo de agência a ser implementado em Angola, é essencial entender a razão pela

qual o atual modelo e estrutura de gestão da indústria petrolífera angolana não apresentou os resultados

desejados, visto que outros países com modelos similares têm uma melhor performance, como é o caso da

Malásia, em que a sua indústria é dominada pela Petronas que é a concessionária e companhia petrolífera

nacional (NOC).

O meu livro “Gestão da Indústria Petrolífera – Estudo Sobre o Caso Angolano”, lançado a 29 de Junho de 2018

em Luanda, faz uma análise a gestão da industria petrolífera nacional e conclui que existe uma fraca capacidade

institucional, interferência politica, baixa promoção do conteúdo local, corrupção, falta de transparência, e os

vários papeis desempenhados pela Sonangol (concessionária nacional), criam claros conflitos de interesse, razão

pela qual é recomendada a separação das funções da Sonangol e transferir a função de concessionária e

reguladora para uma entidade independente (Agência Nacional de Petróleos).

A vantagem da implementação de uma agência independente no sector petrolífero centra-se na capacidade de

ela providenciar uma regulação apropriada, experiência técnica independente e sem interferência política.

A criação da Agência Nacional de Petróleos deve ser vista num contexto de necessidade de conhecimentos

técnicos, liberdade da interferência política e compromissos a longo prazo em políticas públicas. No entanto é

essencial perceber que a implementação da Agência deve ser feita com base na capacidade institucional do país

anfitrião e não por intermédio da imitação das instituições adotadas em países desenvolvidos. Por último mas

não menos importante, é necessário frisar que a transição de um modelo dominado pela NOC para um modelo

com Agência reguladora não está isenta de custos, sendo que estes custos precisam de ser considerados.

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3.1 O Modelo Ideal

A Agência Nacional de Petróleos é a concessionária nacional e o órgão regulador das atividades que integram a

indústria petrolífera (petróleo & gás) em Angola. A Agência deverá ser um órgão colegial independente e esta

independência deve ser garantida por legislação ou constituição. A mesma é responsável pela implementação da

política nacional do sector petrolífero, garantindo o abastecimento de combustível e protegendo os interesses

dos consumidores. A agência deve reportar para a Presidência da República e Assembleia Nacional.

3.1.1 O papel da Agência

A agência deverá ter os seguintes propósitos:

Regulação: Estabelecer regras, resoluções e instruções, sobre as operações petrolíferas.

Contratação: Fazer licitações e celebrar contractos relacionados com as atividades de exploração,

desenvolvimento e produção de petróleo e gás, e garantir licenças para as atividades afins.

Supervisão: Garantir o cumprimento das regras e regulamentações do sector diretamente ou através de

acordos com outras entidades pública.

3.1.2 Estrutura

A Agência deve ser administrada por um Conselho Colegial, formado por um Director Geral e quatro outros

directores num mandato de cinco anos não-coincidentes. O Director Geral e os restantes Directores devem ser

pessoas íntegras, deverão possuir experiência comprovada e relevante em Petróleo, Geociências, Gestão de

Recursos Naturais, Geoengenharias, Tributação e Finanças. Em sessões deliberativas, o Conselho emite resoluções

e instruções regulamentares. Todas as decisões devem ser publicadas no Website da Agência.

A Agência deve realizar sessões de auscultação pública antes de tomar qualquer decisão que possa afetar

interesses e direitos públicos.

3.1.3 Recursos Humanos

O processo de transferência dos funcionários da Sonangol Concessionária para a Agência Nacional de Petróleos

deve ser feito de forma cautelosa. Todos os ex funcionários devem ser submetidos à uma sessão de escrutínio e

avaliação, e só devem passar para a Agência aqueles com formação académica-profissional comprovada e

desejável. Outro sim, é necessário garantir que a Sonangol P&P tenha pessoal qualificado para desenvolver as

atividades E&P.

A Agência deverá recrutar para o seu quadro, pessoal especializado nas áreas de Geologia, Geofísica, Petróleo,

Economia, Direito e Engenharia; sendo que um dos principias objetivos da implementação da Agência é a criação

de conhecimento técnico e especializado para melhor gerir o sector petrolífero nacional. A não observância

destes fatores poderá transferir os mesmos problemas da atual concessionária para a Agência.

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3.1.4 Competências/Funções

Conduzir avaliações técnicas das áreas a serem disponibilizadas para as atividades de exploração,

desenvolvimento e produção de petróleo gás.

Administrar os direitos petrolíferos e assegurar o cumprimento pelos titulares de tais direitos de acordo os

regulamentos e termos contractuais ou licenças petrolíferas relevantes.

Criar, desenvolver e implementar a política petrolífera nacional.

Rever e aprovar os programas de trabalho de exploração e avaliação, orçamentos, planos de

desenvolvimentos e produção e os seus respetivos orçamentos, planos de abandono e orçamentos,

submetidos pelos titulares dos direitos incluindo qualquer revisão relacionada.

Representar o Estado nos comités de operações estabelecidos nos acordos petrolíferos para revisar as

atuais e futuras operações petrolíferas.

Monitorar as operações petrolíferas, efetuar inspeções, investigações e auditorias.

Garantir que as receitas que fluem para o Estado através da Agência são depositadas diretamente ao

tesouro nacional, para um controle efetivo de acordo as boas práticas de gestão e transparência.

3.1.5 Aprofundar o Desenvolvimento de Angola

É função da Agência desenvolver o sector que ela regula, colaborar para atrair investimentos, desenvolver

tecnologias, criar e melhorar a capacidade dos recursos humanos do sector de formas a gerar crescimento

económico, emprego e receitas.

3.1.5.1. Incentivar a Indústria Nacional

A Agência deve encorajar o crescimento e a consolidação da indústria petrolífera nacional, incluindo os materiais,

equipamentos, sistemas e serviços a ela relacionada, de modos que se crie um impacto positivo na economia do

país. A promoção do conteúdo local requer um sério compromisso por parte das companhias nacionais, a

Agência deve garantir que esses compromissos sejam atingidos, assim como incentivar a participação destas

companhias nos atos de licitação.

3.1.5.2. Participação de Pequenas e Médias Empresas

A atual política petrolífera de Angola foi apenas desenhada para grandes empresas petrolíferas, deixando de

parte as pequenas e médias empresas. Será também função da Agência, a inclusão e encorajamento das

pequenas e médias empresas no sector petrolífero. Estas pequenas empresas serão o motor alavancador da

exploração dos campos marginais, pois esses não são prioridades das grandes empresas devido ao reduzido

volume de recursos petrolíferos nestes campos. Mas, no entanto, os campos marginais são muito atrativos para

as pequenas e médias empresas, uma vez que requerem pouco investimento e o desenvolvimento desses

campos resultará num impacto positivo na economia, tendo em conta que serão recursos adicionais para o

Estado.

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3.1.5.3. Formação Profissional, Pesquisa & Desenvolvimento

A Agência deverá ter um plano de formação e especialização de recursos humanos nas mais diversas áreas afins.

Por outro lado, a Agência deverá também investir em pesquisa tecnológica e desenvolvimento de projetos e

programas (R&D).

3.1.5.4. Incentivo das Melhores Práticas da Indústria

A Agência deverá seguir as melhores práticas internacionais e assegurar que a indústria e as companhias que

nela operam e ponham em prática os procedimentos e técnicas comprovadamente eficientes para que garantam

operações seguras, eficiência energética, proteção ambiental e a saúde humana.

Deverá a Agência cooperar com o Ministério do ambiente, Universidades e outras entidades, de formas a garantir

a proteção ambiental e assegurar que todas as questões ambientais são consideradas no desenvolvimento de

todas as atividades de exploração petrolífera.

A Agência deverá aprovar e supervisionar todas as plataformas de exploração e produção de petróleo e gás,

equipamentos, procedimentos para processamento e armazenagem de petróleo e produtos petrolíferos.

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4 CONCLUSÃO

Este é um artigo descritivo, exploratório e de abordagem qualitativa, com o fim de indicar a melhor estrutura

regulatória do sector petrolífero angolano. Especificamente, o artigo descreve o ideal modelo de Agência

Nacional de Petróleo a ser adotado em Angola. Entende-se que a estrutura regulatória em que a NOC é a

entidade dominante pode funcionar de forma razoável quando os papéis por elas desenvolvidos estejam bem

definidos e haja um plano diretório do sector a ser atingido. Assim, é primordial que os órgãos competentes

avaliem as razões que levaram com que o atual modelo predominante da Sonangol não vingou.

Ao anunciar a criação da Agência, entendo que o Estado angolano está disposto a transferir a função de

regulação e concessionária a uma entidade independente livre de interferência política, pois a não observância

destes pressupostos poderá transferir os mesmos problemas da atual concessionária nacional à Agência de

petróleos, tendo em atenção que a criação da mesma não significa melhor desempenho do sector petrolífero

nacional.

Por último mas não menos importante, penso que deve se aproveitar o anúncio da criação da Agência Nacional

de Petróleos para refundar o sector petrolífero nacional, e assim, criar um órgão colegial forte e de excelência,

com capacidade técnica e de gestão para melhor gerir os recursos petrolíferos do país, atrair investimentos, criar

e desenvolver tecnologias, capacitar os recursos humanos, gerar crescimento económico, empregabilidade e

receitas.

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Patrício Wanderley Paulo Quingongo Eng.º de Produção de Petróleos e Gás Natural e Tecnologia Aplicada a

Indústria Petrolífera

MSc. Gestão Internacional de Petróleo e Gás

Especialista em Petróleo & Gás

Pesquisador e Analista do Mercado Petrolífero.