fisiologia do estresse

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FISIOLOGIA DO ESTRESSE: A DOENÇA DO SÉCULO XX PHYSIOLOGY OF STRESS: A DISEASE OF THE TWENTIETH CENTURY Bruno Pandelo Brugger Fabiana Ribeiro dos Santos Fernanda Pyramides do Couto Rafaella Gevegy Negrão Resumo: O estresse é uma reação do organismo causado por alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação difícil. O estresse pode ser causado por agentes externos e internos, podendo ser positivo: o eustresse e, negativo: o diestresse, que é o estresse propriamente dito, causador de doenças. O estresse pode ser sensorial ou físico, psicológico ou infeccioso, compreendendo as fases de alerta, defesa ou resistência e exaustão, onde ocorre a ação de vários hormônios, podendo ocasionar várias doenças, tais como a depressão e o câncer. As exigências impostas às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade de ajustar- se a tais mudanças, acabaram por expor as pessoas a uma

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Page 1: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

FISIOLOGIA DO ESTRESSE: A DOENÇA DO SÉCULO XX

PHYSIOLOGY OF STRESS: A DISEASE OF THE TWENTIETH CENTURY

Bruno Pandelo Brugger

Fabiana Ribeiro dos Santos

Fernanda Pyramides do Couto

Rafaella Gevegy Negrão

Resumo: O estresse é uma reação do organismo causado por alterações

psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação difícil. O

estresse pode ser causado por agentes externos e internos, podendo ser positivo: o

eustresse e, negativo: o diestresse, que é o estresse propriamente dito, causador de

doenças. O estresse pode ser sensorial ou físico, psicológico ou infeccioso,

compreendendo as fases de alerta, defesa ou resistência e exaustão, onde ocorre a ação

de vários hormônios, podendo ocasionar várias doenças, tais como a depressão e o

câncer. As exigências impostas às pessoas pelas mudanças da vida moderna e,

conseqüentemente, a necessidade de ajustar-se a tais mudanças, acabaram por expor as

pessoas a uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização

emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços

adaptativos da pessoa à sua situação existencial e nem sempre é um fator de desgaste

emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo.

Palavras – chave: Estresse; Diestresse; Eustresse; Fisiologia.

Page 2: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Abstract:Stress is a reaction of the organism caused by psychophysiological changes

that occur when a person is faced with a difficult situation. Stress can be caused by

external agents and internal, can be positive: eustress and negative: the estrus, which is

the stress itself, causing disease. Stress can be sensory or physical, psychological or

infection, comprising the stages of alert, defense or resistance, and exhaustion, where

the industrial action of various hormones and can cause various diseases such as

depression and cancer. The requirements imposed on people by the changes of modern

life and, consequently, the need to adjust to such changes, eventually exposing people to

a common situation of conflict, anxiety and emotional instability. The stress arises as a

direct consequence of the persistent efforts of the individual adaptive to their existential

situation and is not always a factor of emotional distress and physical, but it is a natural

defense mechanism of the organism.

Keywords: Stress; Eustress; Distress; Physiology.

1 INTRODUÇÃO

As exigências impostas à população pelas mudanças da vida moderna e,

conseqüentemente, a necessidade de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as

pessoas à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização

emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços

adaptativos do indivíduo à sua situação existencial. O estresse nem sempre é um fator

de desgaste emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo.

Recebem-se os estímulos internos e externos através do sistema nervoso e dependendo

da forma com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar alterações

Page 3: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

psicológicas e biológicas negativas, podendo levar ao estresse crônico (FAVASSA;

ARMILIATO; KALININE, 2005).

Em 1992, a Organização Mundial de Saúde, a OMS, chamou o Estresse de "a doença do

século 20" (SOUZA et al., 2002). Atualmente, o estresse afeta mais de 90% da

população mundial e é considerado uma epidemia global que não mostra sua verdadeira

fisionomia. Na verdade, sequer é uma doença em si: é uma forma de adaptação e

proteção do corpo contra agentes externos ou internos (BAUER, 2002).

As doenças que atingem o ser humano agora são aquelas caracterizadas pelo acúmulo

lento e progressivo de danos. Recentemente, uma série de trabalhos médicos

confirmaram a importância do estresse nas doenças do coração, de pele,

gastrointestinais, neurológicas e de desordem emocional, e também relacionado a uma

série de desordens ligadas ao sistema imunológico, de defesa do organismo, que vão

desde o resfriado comum até o câncer (BAUER, 2002)

O objetivo do presente artigo é fazer uma revisão de literatura a cerca da fisiologia do

estresse e seus impactos negativos no organismo.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1O QUE É ESTRESSE

O estresse sempre existiu, desde a antiguidade. As primeiras referências à palavra stress,

com significado de "aflição" e "adversidade", são do século XIV e, no século XVII, o

vocábulo de origem latina passou a ser utilizado em inglês para designar opressão,

desconforto e adversidade (ALMEIDA; BASTOS, 2007)

Page 4: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Durante séculos, a maior parte da humanidade dedicou-se apenas a trabalhos braçais,

que terminavam ao pôr-do-sol e depois vinha o descanso.A partir da Revolução

Industrial, a carga horária de trabalho aumentou e a maioria da população abandonou o

campo para viver no estresse da cidade (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Nas ultimas décadas, a grande exigência imposta as pessoas pelas mudanças da vida

moderna, passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física,

mental e social, fazendo com que as pessoas ficassem expostas a uma freqüente situação

de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O estresse surge como

uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos Do indivíduo à sua

situação existencial (BALLONE, 2002).

De acordo com Favassa, Armiliato e Kalinine (2005), o termo estresse vem da física,

tendo como sentido o grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida

a um esforço. Esta deformidade pode ser de menor ou maior grau, conforme a dureza

deste, e o esforço a que está submetido.

Em 1936 o fisiologista canadense Hans Selye introduziu o termo "stress" no campo da

saúde para designar a resposta geral e inespecífica do organismo a um estressor ou a

uma situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado tanto para

designar esta resposta do organismo como a situação que desencadeia os efeitos desta

(FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Segundo Margis et al. (2003), o termo estresse denota o estado gerado pela percepção

de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia,

disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento

Page 5: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios

fisiológicos e psicológicos.

Para Souza et al. (2002), o estresse é um mecanismo bioquímico antigo de

sobrevivência do homem, aperfeiçoado ao longo de sua própria evolução biofisiológica,

que envolve o hipotálamo, glândulas (hipófise, tireóide e supra-renal), órgãos (coração,

fígado e estômago), músculos, entre outros.

2.2TIPOS DE ESTRESSE

O ser humano, por natureza, procura manter um equilíbrio de suas forças internas com

todos os órgãos, de maneira que seu organismo possa trabalhar em harmonia.

Entretanto, quando este equilíbrio passa a ser alterado por algum agente estressor, ou

seja, por qualquer situação que desperte uma emoção, boa ou má, isto constituirá numa

fonte de estresse(RONSEIN et al., 2004). Segundo Favassa e colaboradores (2005), o

estímulo estressor pode desencadear diferentes respostas e, dependendo da forma com

que o indivíduo responde a esse estimulo, ele pode se transformar em um estresse

positivo ou negativo.

Quando o indivíduo apresenta uma resposta positiva, o estresse é denominado de

eustresse, onde, o esforço de adaptação gera sensação de realização pessoal, bem-estar e

satisfação das necessidades, mesmo que decorrente de esforços inesperados, é um

esforço na garantia da sobrevivência. No eustresse, predomina a emoção da alegria, há

um aumento da capacidade de concentração, da agilidade mental, as emoções

musculares são harmoniosas e bem coordenadas, há sentimento de vitalização de prazer

e confiança (ALMEIDA; BASTOS, 2007).

Page 6: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Se ocorrer o contrário onde o esforço de adaptação não traz realização pessoal, bem-

estar e nem satisfação ocasionando uma resposta negativa, gera-se um distresse, onde

predominam as emoções de ansiedade destrutiva, do medo, da tristeza, da raiva, a

capacidade de concentração é diminuída e o funcionamento mental se torna confuso,

ações musculares são descoordenadas e desarmônicas, predomina o desprazer e a

insegurança e aumenta a probabilidade de acidentes. O termo distresse caiu quase em

desuso, sendo substituído pelo próprio termo estresse, que passou a ter o sentido (atual)

negativo de desgaste físico e emocional (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE,

2005).

Em 1992, o estresse (distresse) foi catalogado como mal do século, sendo enquadrado

pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como doença associada a resultados

desastrosos, com várias alterações orgânicas, debilitando o binômio mente-corpo, sendo

um dos principais motivos de consulta médica e queda de produtividade no trabalho

(SOUZA et al., 2002).

2.3 TIPOS DE ESTRESSORES

De acordo com Ballone (2002), os agentes estressores podem ser classificados como

sensoriais ou físicos, psicológicos e infecciosos.

Estressores sensoriais ou físicos envolvem um contato direto com o organismo. Os

estímulos físicos vêm do ambiente e incluem: luz calor, frio, odor, fumaças, drogas em

geral, lesões corporais e esforços físicos (RONSEIN et al., 2004). Estariam incluídos

nesse caso subir escadas, correr uma maratona, sofrer mudanças de temperatura (calor

ou frio em excesso), fazer vôo livre ou bungee jumping (BAUER, 2002).

Page 7: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Já o estresse psicológico acontece quando o sistema nervoso central é ativado através de

mecanismos puramente cognitivos (que envolvem a mente), sem qualquer contato com

o organismo (BAUER, 2002). Incluem todos eventos que podem alterar o curso de

nossas vidas, como a morte de um parente próximo, a separação, o encarceramento, a

aposentadoria, o casamento, os problemas no trabalho, as provas escolares ou mesmo as

mudanças de hábitos em geral (RONSEIN et al., 2004). A importância de agentes

estressores psicossomáticos hoje é amplamente reconhecida, sendo tão potentes quanto

os microorganismos ou a insalubridade, no desencadeamento das doenças. Estima-se

que esses agentes chegariam a 50% nas regiões mais desenvolvidas, afetando

indiferentemente as mais variadas classes sociais (FAVASSA; ARMILIATO;

KALININE, 2005).

Um terceiro tipo de estressor pode ainda ser considerado: as infecções. Vírus, bactérias,

fungos ou parasitas que infectam o ser humano induzem a liberação de citocininas

(proteínas com ação regulatória) pelos macrófagos, os glóbulos brancos (células

sangüíneas) especializados na destruição, por fagocitose, de qualquer invasor do

organismo. As citocinas, por sua vez, ativam um importante mecanismo endócrino

(hormonal) de controle do sistema imunológico (BAUER, 2002). O sistema

imunológico, responsável pelas reações de defesa do organismo contra infecções, é o

mais afetado nas situações de estresse, principalmente quando estas forem prolongadas,

pois levam como conseqüência a diminuição das células linfáticas do timo, dos gânglios

linfáticos e mesmo do sangue em circulação, de maneira que o organismo fica sujeito a

várias infecções (RONSEIN et al., 2004)

2.4O ESTRESSE E O CORPO

Page 8: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

O estresse pode causar dois tipos de alterações, biológicas e psicológicas. Nas alterações

biológicas ligadas ao estresse, a reação do organismo aos agentes estressores tem um

propósito evolutivo. É uma resposta ao perigo, que Selye (1965) dividiu em três

estágios:

No primeiro estágio, o corpo reconhece o agente estressor e ativa o sistema

neuroendócrino. As glândulas adrenais, ou supra-renais, passam, então a produzir e

liberar os hormônios do estresse (adrenalina, noradrenalina e cortisol), que aceleram o

batimento cardíaco, dilatam as pupilas (aumentando a eficiência visual), aumentam a

sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão (e ainda o crescimento e o

interesse pelo sexo), contraem o baço (que expulsa mais hemácias, ou glóbulos

vermelhos, para a circulação sangüínea, o que amplia o fornecimento de oxigênio aos

tecidos) e causa imunossupressão (ou seja, redução das defesas do organismo)

(BAUER, 2002).

De acordo com França e Rodrigues (1997), o segundo estágio é a fase de resistência ou

adaptação, que ocorre caso o agente estressor mantenha sua ação. Nesta fase

o organismo repara os danos causados pela reação de alarme, reduzindo os níveis

hormonais. É caracterizada pela reação de hiperatividade do córtex da supra-renal sob

imediação diencéfalo-hipofisiária. A hipófise tem ligação direta com os sinais desta

fase, pois em experimentos realizados com animais, onde a hipófise foi retirada, esta

fase não ocorreu. Neste estágio o sangue encontra-se em rarefação (diluição-

sedimentação) e ocorre o anabolismo. A fase de resistência é caracterizada pelo

aumento do córtex da supra-renal; pela atrofia do timo, baço e todas as estruturas

linfáticas, hemodiluição, aumento do número de glóbulos brancos, diminuição do

número de eosinófilos; ulcerações no aparelho digestivo; aumento da secreção de cloro

Page 9: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

na corrente sangüínea; irritabilidade; insônia; mudanças de humor (como depressão);

diminuição do desejo sexual (FRANÇA; RODRIGUES, 1997).

No entanto, se o estresse continua, o terceiro estágio (exaustão) começa e pode provocar

o surgimento de uma doença associada à condição estressante. O estresse agudo

repetido inúmeras vezes pode, por essa razão, trazer conseqüências desagradáveis,

incluindo disfunção das defesas imunológicas. De modo geral, pode-se afirmar que o

organismo humano está muito bem adaptado para lidar com o estresse agudo, se ele não

ocorre com muita freqüência. Mas quando essa condição se torna repetitiva ou crônica,

seus efeitos se multiplicam em cascata, desgastando seriamente o organismo

(SAMULSKI, 1996).

Segundo Fontana (1994), os efeitos psicológicos podem ser divididos em efeitos

cognitivos, ligados ao pensamento e ao conhecimento; efeitos emocionais, ligados aos

sentimentos, emoções e personalidade; efeitos comportamentais gerais, relacionados

igualmente a fatores cognitivos e afetivos.

Os efeitos cognitivos do excesso de estresse são o decréscimo da concentração e da

extensão da atenção: a mente encontra dificuldades para permanecer concentrada,

diminuem os poderes de observação; aumenta a desatenção: a linha do que está sendo

ensinado ou dito é perdida com freqüência, mesmo no meio de frases; deteriora-se a

memória de curto e longo prazo: reduz-se a amplitude da memória; a lembrança e o

reconhecimento diminuem, mesmo a respeito de materiais familiares; a velocidade de

resposta torna-se imprevisível: a velocidade real de resposta reduz-se, as tentativas de

compensação podem levar a decisões apressadas; aumenta o índice de erros: como

conseqüência de todos os itens anteriores, os erros aumentam em tarefas manipulativas

e cognitivas, as decisões tornam-se suspeitas; deterioram-se os poderes de organização e

Page 10: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

planejamento a longo prazo: a mente não pode avaliar com exatidão as condições

existentes nem prever as conseqüências futuras; aumentam as ilusões e os distúrbios de

pensamento: o teste da realidade torna-se menos eficiente, a objetividade e os poderes

de crítica são reduzidos, os padrões de pensamento tornam-se confusos e irracionais

(FONTANA, 1994).

Os efeitos emocionais do excesso do estresse citados por Fontana (1994) são o aumento

das tensões físicas e psicológicas: reduz-se a capacidade de relaxamento do tônus

muscular, de se sentir bem e de se desligar das preocupações e ansiedades; aumenta a

hipocondria: queixas imaginárias acrescentam-se aos males reais do estresse,

desaparecem as sensações de saúde e de bem-estar; ocorrem mudanças nos traços de

personalidade: pessoas asseadas e cuidadosas podem se tornar desleixadas e relaxadas,

pessoas carinhosas podem ficar indiferentes, as democráticas transformam-se em

autoritárias; crescem os problemas de personalidade existentes: pioram a ansiedade, a

super sensibilidade, a defensiva e a hospitalidade já existentes; enfraquecem-se as

restrições de ordem moral e emocional: os códigos de comportamento e de impulso

sexual enfraquecem, aumentam as explosões emocionais; aparecem a depressão e a

sensação de desamparo: o entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento de

impotência para influenciar os fatos ou os próprios sentimentos a respeito deles; a auto

estima diminui de forma aguda: desenvolvem-se sentimentos de incompetência e de

inutilidade.

Os efeitos comportamentais gerais do excesso de estresse, segundo Fontana (1994), são

o aumento dos problemas de articulação verbal: aumentam os problemas já existentes de

gagueira e hesitação, podendo surgir em pessoas até então não afetadas; diminuem os

interesses e o entusiasmo: os objetivos de vida podem ser abandonados, passatempos

Page 11: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

podem ser esquecidos, objetos de estimação vendidos; aumenta a absenteísmo: atrasos

ou falta no trabalho por doenças reais ou imaginárias ou por desculpas inventadas

tornam-se um problema; cresce o uso de drogas: torna-se mais evidente o abuso de

álcool, cafeína, nicotina e medicamentos ou drogas; abaixam os níveis de energia: os

níveis de energia caem ou podem variar de forma marcante de um dia para outro, sem

razão aparente; rompem-se os padrões de sono: ocorre dificuldade para dormir ou para

permanecer adormecido por mais de quatro horas; aumenta o cinismo a respeito dos

clientes e colegas: desenvolve-se a tendência de jogar a culpa sobre os outros; ignoram-

se novas informações: são rejeitadas até mesmo novas regulamentações ou novos

acontecimentos potencialmente úteis; responsabilidades transferidas para outros: são

adotadas soluções paliativas e de curto prazo, e abandonadas as tentativas de

aprofundamento e de acompanhamento, em algumas áreas, ocorrem "desistências";

surgem padrões bizarros de comportamento: surgem maneirismos estranhos,

imprevisibilidade e comportamentos não característicos, podem ocorrer tentativas de

suicídio: surgem frases como "acabar com tudo" e "é inútil continuar". Fontana (1994)

destaca que e a incidência desses efeitos negativos pode variar de um indivíduo para

outro. Poucas pessoas apresentam todos eles e que o grau de severidade também varia

de pessoa para pessoa.

2.5RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E DOENÇAS

O sistema gastrointestinal é especialmentesensível ao estresse geral. A perda de apetite

é umdos seus primeiros sintomas, devido a paralisaçãodo trato-gastrointestinal sob ação

simpática, epode ser seguido de vômitos, constipação ediarréia, no caso de bloqueios

emocionais.Estudos demonstraram que indivíduos sob estresse secretamuma quantidade

considerável de hormôniosdigestivos pépticos na sua urina, isso indica queos hormônios

Page 12: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

do estresse aumentam a produçãode enzimas pépticas, ou seja, a úlcera parece

serproduzida com o aumento do fluxo dos sucosácidos causado pelas tensões

emocionais, noestômago, que se encontra desprotegido do mucoprotetor secretado em

estado de homeostase, sobação do sistema autônomo parassimpático (FAVASSA;

ARMILIATO; KALININE, 2005).

A depressão é classificada por Braga et al. (1999) como uma doença funcional, sem

causas físicas palpáveis, podendo ser de origem psicológica. Isto tem sido questionado

porque dentro dos limites normais reduziram-na a experiências subjetivas de

desconforto, de sofrimento e de vulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de

defesa se relaciona principalmente com a elevação da produção de cortisol. A depressão

causada pelo estresse prolongado se dá devido à ativação constante da supra-renal,

levando-a a atingir seu nível máximo de produção de noradrenalina, a partir da qual se

torna incapaz de satisfazer a demanda. Ocorre a liberação de adrenalina, que lhe é

precursora na síntese, e desenvolve sintomas de fuga mais do que de enfrentamento. No

entanto, o indivíduo pode entrar em depressão aguda devido ao estresse de exaustão que

libera logo cortisol. (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

No câncer ocorre um colapso da imunidade e resistência do organismo. O fato dos

tumores crescerem ou não está relacionado com a eficiência dos processos de

imunidade. Então, se o sistema imunológico encontra-se "desequilibrado", a

probabilidade do desenvolvimento da doença aumenta. Como o sistema imunológico é

também controlado pelo sistema límbico, pode-se acreditar que o indivíduo com câncer

apresenta todo um conjunto de elementos psicossomáticos. Pesquisas realizadas

constataram que o lado psicológico da doença é tão importante quanto o físico e o

biológico. (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005). Segundo Cabral et al.

Page 13: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

(1997), acredita-se que pessoas que reagem a esses estresses com sentimentos de falta

de esperança e/ou desepero levariam estas reações emocionais a um desequilíbrio

profundo mental, hormonal, orgânico e psicológico, disparando um conjunto de reações

fisiológicas que deprimem o sistema imunológico, tornando-o suscetível à produção de

células anormais, e abalando as defesas contra câncer e outras enfermidades.

Braga et al. (1999) diz que em condições normais, o sistema nervoso autônomo

parassimpático, participa da regulação das atividades sexuais em ambos os sexos, no

homem provoca ereção e na mulher entumescimento da genitália. Mas, em situação de

conflito e estresse, o sistema nervoso autônomo simpático sobrepõe-se ao sistema

nervoso parassimpatico e o resultado é, dentre outros, a vasoconstrição sangüínea, o que

impossibilita a atividade sexual em ambos os sexos devido à diminuição da irrigação

dos órgãos genitais. Estudos com animais demonstram que as glândulas sexuais

ingurgitam-se e tornam-se menos ativas em relação à dilatação e aumento das supra-

renais. A pituitária produz grande quantidade do hormônio adrenocorticotrófico

(ACTH) para manter a vida, ativando as suprarenais e, ao mesmo tempo, reduzindo a

produção de outros hormônios que são menos urgentes em condições de emergência,

como os gonadotróficos. Outros estudos confirmam nos seres humanos que estas

reações produzem a impotência sexual (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

O estresse está associado à liberação de hormônios que, além de alterar vários aspectos

da fisiologia, têm ainda um efeito modulador das defesas do organismo. Em humanos, o

principal hormônio com essas funções é o cortisol (glicocorticóide). Os níveis de

cortisol no sangue aumentam drasticamente após a ativação do eixo hipotálamo-

hipófise-adrenal, que ocorre durante o estresse e a depressão clínica (BAUER, 2002).

Page 14: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Esse hormônio então liga-se a receptores presentes no interior dos leucócitos (glóbulos

brancos), ocasionando, na maioria dos casos, uma imunossupressão. Um dos efeitos

bem conhecidos do cortisol, tanto durante o estresse quanto no caso do uso terapêutico

dos glicocorticóides sintéticos, é a regulação da migração dos leucócitos pelos tecidos

do corpo (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Após o estresse, por exemplo, ocorre um aumento expressivo do número sangüíneo de

neutrófilos (leucócitos envolvidos na resposta inflamatória) e uma redução importante

na contagem de linfócitos (leucócitos envolvidos na fase reguladora e disparadora da

resposta imune). Entre os linfócitos, porém, verifica-se um aumento importante na

contagem de células natural killer, que vigiam contra o surgimento de tumores e

combatem infecções virais. Estudos demonstraram que, durante a terapia com

glicocorticóides (ou no estresse crônico), os linfócitos migram para a medula óssea,

talvez como uma proteção contra os efeitos nocivos dos níveis elevados de

glicocorticóides circulantes (BAUER, 2002). Os hormônios do estresse também alteram

várias funções dos linfócitos. Quando uma infecção se instala, essas células de defesa

têm, por exemplo, a capacidade de se multiplicar, o que aumenta as chances de remover

o agente infeccioso. Diversos estudos têm demonstrado que o estresse crônico diminui a

proliferação linfocitária, o que também acontece na depressão clínica. A diminuição na

capacidade de multiplicação, pode estar associada a uma redução na produção de

interleucina-2, uma citocinina liberada por um tipo determinado de glóbulo branco (as

células T) e capaz de ativar e induzir a proliferação celular (BAUER, 2002).

O estresse também altera a resposta humoral do sistema imunológico. Essa resposta é a

produção de anticorpos e proteínas do complemento (grupo de proteínas da circulação

Page 15: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

que, ativadas por fatores imunológicos ou certas substâncias invasoras, tornam-se

enzimas e induzem reações de defesa) (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Além disso, o estresse psicológico e a depressão clínica reduzem a destruição de células

tumorais realizada por células natural killer. Pesquisas do psiquiatra gaúcho Gabriel

Gauer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, demonstraram que

pacientes com maiores níveis de depressão apresentam déficit da atividade natural

killer. A redução da resposta celular pode explicar a maior incidência de câncer e de

doenças virais nesses pacientes. (RONSEIN et al., 2004).

2.6COMO EVITAR O ESTRESSE

Deve-se evitar sobrecarregar o corpo ou a mente com ações exaustivas repetitivas

quando já se está exausto; dormir bem: sendo necessário resguardar-se do estresse à

noite, reduzindo o excesso de luz, barulho, frio ou calor e até o consumo exagerado de

refeições pesadas e ou bebidas; e reservar momentos para diversão e distração, onde se

possa desvencilhar dos problemas estressantes (CABRAL, et al, 1997).

O estresse pode esgotar as reservas de vitamina C e complexo B, portanto, uma boa

nutrição pode ajudar seu controle, devendo ter maior atenção alimentos frescos,

saudáveis e de fontes variadas (carboidratos, proteínas, vegetais, frutas, cereais). E

evitando gordura, ingestão de bebidas alcoólicas e diminuição no consumo de café

(pseudo-estressor). No estresse crônico, a suplementação vitamínico-mineral geralmente

é necessária (CRESPO, 2009).

É importante que se busque desvencilhar dos problemas e questões estressantes em

atividades prazerosas, com diversão e distração (CABRAL, et al, 1997). Segundo

Martins e Jesus (1999) atitudes e pensamentos positivos, conhecimento do estresse,

Page 16: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

planejamento e organização do tempo, relaxamento e senso de humor são formas de se

lidar com o estresse. Segundo eles, a atividade física é extremamente importante por

desencadear a liberação de serotonina, que tem efeito calmante, podendo diminuir

alguns efeitos de ansiedade e depressão, além de provocar sensação de bem estar e

euforia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nas reflexões apresentadas foi verificado que o estresse nem sempre é um fator

de desgaste emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo.

Recebem-se os estímulos internos e externos através do sistema nervoso e dependendo

da forma com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar alterações

psicológicas e biológicas negativas, podendo levar ao estresse crônico. Nesse caso,

ocorrem alterações fisiológicas que poderão desencadear vários tipos de doenças

psicossomáticas.O estresse psicológico é, de modo geral, um fator de risco importante

para o desenvolvimento de inúmeras doenças. Nesse aspecto, um mistério a ser

explicado é por que alguns indivíduos convivem melhor com o estresse do que outros.

Talvez isso esteja relacionado com fatores genéticos ou sociais.

De qualquer forma, essas pessoas são uma dica viva para aprendermos a conviver

melhor com o estresse e a sofrer menos as suas conseqüências. Identificar e conhecer as

causas que levaram ao estresse é fundamental para que o indivíduo possa desenvolver

estratégias de enfrentamento do problema. A ciência já reconhece que os sistemas

nervoso, endócrino e imunológico estão interligados, sendo este um passo importante

para os estudos na área de tratamento do estresse. No entanto, ainda estamos vendo

apenas a ponta do iceberg, e precisaremos ainda de muitas pesquisas para compreender

uma questão intrigante: por que adoecemos?Há que se considerar que as discussões e

Page 17: FISIOLOGIA DO ESTRESSE

análises levantadas pelo presente estudo não se esgotaram, mas ao contrário,

representam apenas uma abertura para que novas pesquisas tragam mais conhecimento e

soluções para melhorias no processo de controle do estresse.

REFERENCIAS

ALMEIDA, A. P. G; BASTOS, A. C. M. P. fisiologia do estresse. Saúde & Ambiente

em revista, duque de Caxias, v. 2,n.1, p. 127-134, 2007.

Ballone, G. J. Stress. In: Psiq Web Psiquiatria Geral, 2002. Disponível em:

<http://www.psiqweb.med.br/cursos/stress>. Acesso em: 05 de Novembro de 2009.

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FISIOLOGIA DO ESTRESSE: A DOENÇA DO SÉCULO XX publicado 17/03/2010

por Rafaella Gevegy Negrão em http://www.webartigos.com

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DOENCA-DO-SECULO-XX/pagina1.html#ixzz1EAOqMupj