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Gerência de riscos em orçamentos dezembro/2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
Gerência de riscos em orçamentos
Cristiane Borges Moreschi – [email protected]
Gestão de Projetos em Engenharia e Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Goiânia,GO, 15 de Janeiro de 2014
Resumo
O objetivo neste artigo é averiguar acerca da gerência de riscos em orçamentos. Para tanto,
foi realizada uma análise dos conceitos de gerenciamento de riscos do PMI (GUIA PMBOK)
obtido através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com aplicação de questionário
tendo como objetivo de estudo a identificação, priorizaçao, estratégias e ações preventivas de
respostas aos riscos de um orçamento de obras. As pesquisas demonstraram que o
orçamento é um dos sinais vitais dos projetos sendo necessário monitorá-lo de forma a
identificar os problemas e fornecer meios de mitigá-los.Sendo assim, a pesquisa foi orientada
pela seguinte problematização: quais os tipos de riscos está sujeito o orçamento das obras no
processo de execução?
Palavras-chave: Gerenciamento de riscos.Risco.Orçamento de obras.Projeto.
1. Introdução
O gerenciamento dos riscos nos projetos tem sido hoje em dia um item importante no
gerenciamento dos projetos. A importância recai sobre o fato de “os objetivos do
gerenciamento de riscos aumentar a probabilidade e o impacto dos eventos positivos e reduzir
a probabilidade e o impacto dos eventos negativos do projeto” (PMI, 2008:273).
Mozart Bezerra Silva (2008:34) em sua monografia sobre uma Proposta de roteiro para o
gerenciamento de riscos em obras empreitadas de construção civil afirma que “a obra é o foco
de atenção na fase de seleção de negócios da organização, é o fato gerador dos serviços da
fase de planejamento e orçamentação e é o local físico onde os serviços se desenvolvem
durante a fase de execução da obra” (SILVA, 2008:34).
Dentro do contexto dessa monografia de Mozart Bezerra Silva e procurando aprofundar um
pouco mais na gestão de riscos dos orçamentos das obras, realizou-se uma pesquisa de campo
em Dezembro de 2013 com 04 (quatro) especialistas na área de orçamento a fim de se
identificar, priorizar e programar ações preventivas de respostas aos riscos expostos e
apresentados pelos entrevistados. Além da pesquisa de campo com aplicação de questionário
também foi realizado pesquisas bibliográficas a respeito das questões.
A indústria da Construção tem trabalhado cada dia mais com projetos diversificados e únicos,
buscando atender as necessidades e exigências do cliente, tornando o processo de orçamento
mais difícil e com maior possibilidade de erros. Entende-se então que quanto mais preciso for
o projeto menor será o efeito dos riscos sobre ele. Segundo Vargas (2002b) citado na
monografia de SILVA(2008:57), “as empresas de construção civil e as empreiteiras são
exemplos típicos de empresas baseadas em projetos. O trabalho é totalmente caracterizado por
projetos e, portanto, cada um destes projetos possui um controle próprio”. Sendo assim, torna-
se relevante o objetivo de analisar a gerência de riscos no orçamento.
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Na perspectiva do autor Thiago Caserta (2008:1) “superficialmente, há três grandes sinais
vitais de um projeto a serem monitorados pelos gerentes: prazo, orçamento e escopo”. Isso é
importante, pois um projeto bem estruturado dentro das noções de prazo, orçamento e escopo
expressará maior credibilidade. Caserta (2008:1) também afirma que “na maioria das vezes o
que sufoca os projetos são prazos curtos para execução e/ou orçamentos apertados”. Mais
uma vez, cita-se a necessidade de monitorar o orçamento para que os riscos não afetem o
projeto.
Depois de “tomada a decisão de autorizar a elaboração do orçamento, inicia-se a fase do
planejamento e orçamentação da obra, cujo objetivo principal é a definição do preço a ser
proposto para a execução” (HAN et al, 2006) citado por SILVA(2008:63). Fritz Gehbauer
(2002) citado por SILVA(2008:63) aponta que “o planejamento é iniciado com o estudo
detalhado do escopo, a partir do qual as atividades construtivas são definidas e programadas
de modo a garantir o cumprimento do prazo da obra”.
Em seguida, inicia-se o processo de estimativas de custo e orçamentação. “São desenvolvidos
os serviços de cotação de insumos, o cálculo dos encargos sociais sobre a mão de obra e das
despesas empresariais ou indiretas, com a finalidade de calcular as estimativas de todos os
tipos de custos gerados pela execução da obra” (FILHO;ROCHA;SILVA, 2004 citado por
SILVA 2008:63). Percebe-se que “o processo de orçamentação integra todas as estimativas de
custo com a verba para contingências e a margem de lucro do orçamento, definindo os preços
unitários da planilha orçamentária e o preço a ser proposto para a execução da obra” (SILVA,
2006 citado por SILVA, 2008:63). “Após a aceitação do preço e a contratação da obra surgem
os desafios da execução. A organização deve definir o sistema de controle que irá implantar
durante o andamento da obra para garantir que as metas de custo, prazo e qualidade do
planejamento e orçamentação serão atingidas” (GEHBAUER, 2002) citado por
SILVA(2008:64). Diante das afirmações citadas por SILVA e CASERTA é possível
estabelecer a seguinte pergunta: quais os riscos estão sujeitos os orçamentos de obras?
A discussão levantada nessa pesquisa teve como principal hipótese verificar se são utilizados
meios de integrar a Gerências de Riscos nos Orçamentos de forma que minimizem prejuízos
na execução de uma obra. Portanto, a pesquisa se justifica pela relevância do assunto baseado
nos prejuízos gerados pela falta de identificação e medidas de controle de riscos na fase de
orçamento das obras o que pode afetar o custo e o prazo final da obra.
2. Gerenciamento de Riscos
O Gerenciamento de Riscos do Projeto é uma área de conhecimento que faz parte do Grupo
de Processos de Planejamento e do Grupo de Monitoramento e Controle do Gerenciamento de
Projetos. De acordo com o IPMA (2006, citado por SILVA 2008), “o gerenciamento dos
riscos é um processo contínuo presente em todas as fases do ciclo de vida do projeto, da idéia
inicial ao fechamento. No final do empreendimento, as lições aprendidas no gerenciamento
dos riscos durante o projeto são uma contribuição importante para o sucesso de futuros
projetos”.
2.1 Conceitos Gerais De Riscos
Para que se possa priorizar o entendimento sobre projetos é preciso aprender e entender o que
é risco e como gerenciá-lo.
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A nova Norma NBR ISO 31.000(2009:2) diz em poucas palavras que: “Risco é o efeito da
incerteza nos objetivos”. Enquanto que, o PMI (2008:275) diz que o “risco é um evento ou
uma condição incerta que, se ocorrer, tem um efeito em pelo menos um objetivo do projeto”.
As duas citam o risco como um efeito no objetivo do projeto.
Conceitualmente Risco pode ser expresso em uma função, tal como:
Risco = Probabilidade (% positiva ou negativa) x Impacto (positivo ou negativo)
Hillson (2005) citado por SILVA(288:73) dia que “os riscos não devem ser confundidos com
suas causas ou efeitos”. Entende-se que cada um tem a sua parcela de função no processo.
Causa dos riscos Riscos Efeito dos riscos
Figura 1 – Causas, Riscos e Efeitos do Risco
Fonte: HILLSON (2005) citado por SILVA 2008:73
Considerando que Risco é diferente de Fato, pode-se dizer que Risco é quando um evento tem
de 1% a 79% de probabilidade de ocorrer e Fato quando tem-se de 80% a 100% de
probabilidade de acontecer (Notas de Sala de Aula). Tem-se que Fato é um acontecimento;
evento. O que é real; o que tem sua veracidade conhecida (Minidicionário Lufth, 99:180).
Torna-se importante essa diferenciação, pois apenas os riscos serão avaliados enquanto que os
fatos se tornarão parte do orçamento, pois já estão definidos.
Na perspectiva de Kerzner (2002) citado por SILVA (2008:79) “o gerenciamento de riscos é
uma forma organizada de identificar, medir e desenvolver opções para controle dos riscos”.
O gerenciamento de riscos do projeto é divido em 6 (seis) etapas de acordo com o PMI
(2008:273). São elas:
a) Planejar o gerenciamento de riscos;
b) Identificar os riscos;
c) Realizar a análise qualitativa dos riscos;
d) Realizar a análise quantitativa dos riscos;
e) Planejar as respostas aos riscos;
f) Monitorar e controlar os riscos
Estes processos não acontecem isolados, eles interagem entre si e com processos de outras
áreas também.
O plano de Gerenciamento de Riscos descreve a estrutura e execução do projeto e nele pode-
se fazer um EAR (Estrutura Analítica dos Riscos), mostrada na figura 2, estrutura organizada
hierarquicamente, ordenada por categoria e subcategoria de risco durante o processo de
identificação.
As categorias de riscos, conforme Project Management Institute (2008:280), são:
Risco Organizacional: capacidade da organização em executar o projeto,
disponibilidade de recursos, capacidade da organização em absorver as mudanças,
necessidade crítica de mudança organizacional, redesenho de processos, problemas
culturais, falta de apoio, etc.
Risco de Gerenciamento do Projeto: erros em estimativas, planejamento, controle, etc;
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Risco Técnico: associado à dependência do uso de novas tecnologias, a requisitos
críticos de desempenho, à complexidade das tecnologias utilizadas, etc;
Risco Externo: mudanças no ambiente externo à organização que possam causar
impactos no projeto como: mudanças de legislação, normas e regulamentações do CNJ
ou outros órgãos de controladoria e auditoria, etc.
Figura 2 – Exemplo de uma estrutura analítica dos riscos (EAR)
Fonte: PMI 2008:280 (Guia PMBOK)
2.2 Planejar o gerenciamento de riscos
No PMI tem-se que “planejar o gerenciamento de riscos é o processo de definição de como
conduzir as atividades de gerenciamento dos riscos de um projeto” (PMI,2008:273). Pode-se
afirmar que o planejar o gerenciamento de riscos é explicar como será desenvolvido o
processo gerencial do risco, qual o custo estimado e o investido e quais serão as pessoas
responsáveis no processo.
As entradas, ferramentas e técnicas e saídas do planejamento do gerenciamento dos riscos é
apresentado no figura abaixo.
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Figura 3 – Planejar o Gerenciamento dos Riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008:277(Guia PMBOK)
“O processo de Planejar o gerenciamento dos riscos deve começar na concepção do projeto e
ser concluído nas fases iniciais do planejamento do projeto” (PMI, 2008:276). Com isso
torna-se melhor a resposta aos riscos identificados evitando problemas durante o processo de
execução do projeto.
2.3 Identificar os riscos
De acordo com o PMI os riscos podem ser identificados conforme a figura 4 . A tarefa de
“Identificar os riscos é o processo de determinação dos riscos que podem afetar o projeto e de
documentação de suas características” (PMI, 2008:282).
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Figura 4 – Identificar os Riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008:282 (Guia PMBOK)
A identificação dos riscos pode acontecer através de brainstorming, entrevistas com
especialistas no assunto, com a equipe de projetos, usuários finais, clientes, partes
interessadas. Como é um processo iterativo (repetitivo) pode sugir novos riscos durante o
ciclo do projeto e isso depende da interação entre a equipe.
2.4 Realizar a análise qualitativa dos riscos
Verifica-se por meio do PMI que: “Realizar a análise qualitativa dos riscos é o processo de priorização dos riscos para
análise ou ação adicional através da avaliação e combinação de sua probabilidade de
ocorrência ou impacto. [...] A realização da análise qualitativa de riscos
normalmente é um meio rápido e econômico de estabelecer as prioridades do
processo de Planejar as respostas aos riscos e define a base para a realização da
análise quantitativa dos riscos, se necessária (PMI, 2008289).
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Figura 5 – Realizar a análise qualitativa dos riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008:289 (Guia PMBOK)
2.5 Realizar a análise quantitativa dos riscos
No PMI é possível verificar que “realizar a análise quantitativa dos riscos é o processo de
analisar numericamente o efeito dos riscos identificados, nos objetivos gerais do projeto”
(PMI, 2008:294). Portanto, a análise quantitativa é feita para os riscos considerados mais
críticos pela análise qualitativa.
Figura 6 – Realizar a análise Quantitativa dos riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008:294 (Guia PMBOK)
2.6 Planejar as respostas aos riscos
Conforme o PMI, “planejar as respostas aos riscos é o processo de desenvolvimento de
opções e ações para aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto”
(PMI, 2008:301). Sendo assim, o planejamento as respostas aos riscos é feito para os riscos
que foram analisados qualitativamente e quantitativamente quando feito por ordem de
prioridade.
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Figura 7 – Planejar as respostas aos riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008:302 (Guia PMBOK)
Nas Estratégias para riscos negativos ou ameaças pode-se: Eliminar; Transferir; Mitigar ou
aceitar, enquanto que nas Estratégias para riscos positivos ou oportunidades pode-se:
Explorar; Compartilhar; Melhorar ou aceitar. Por outro lado, as estratégias de respostas de
contingência devem ser usadas somente se certos eventos ocorrerem. Ex: Aumento da
prioridade de um fornecedor.
O planejamento das respostas aos riscos permite atribuir ao orçamento verbas que possam ser
usadas caso algum risco detalhado venha acontecer.
2.7 Monitorar e Controlar riscos
Através do PMI encontra-se que “monitorar e controlar os riscos é o processo de
implementação de planos de respostas aos riscos, acompanhamento dos riscos identificados,
monitoramento dos riscos residuais, identificação de novos riscos e avaliação da eficácia dos
processos de tratamento dos riscos durante todo o projeto” (PMI, 2008:308). A figura 8
mostra os processos de Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas deste processo.
Figura 8 – Monitorar e Controlar os riscos: Entradas, Ferramentas e Técnicas e Saídas
Fonte: PMI 2008 (Guia PMBOK)
Entende-se que “o monitoramento e o controle dos riscos podem envolver a escolha de
estratégias alternativas, a execução de um plano alternativo ou de contingência, a adoção de
ações corretivas e a modificação de plano de gerenciamento de projeto” (PMI, 2008:308).
3. Gerenciamento de Riscos em orçamentos de Obras
Em gerência de projeto o orçamento é desenvolvido com uma metodologia, que inclui a
gerência de riscos, para criar orçamentos mais confiáveis. Tudo começa com um documento
que contém informações como a descrição do projeto, sua justificativa, as premissas
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importantes, o prazo desejado, uma estimativa do orçamento, quem pode ter interesse no
projeto etc. Este documento, o Termo de Abertura do Projeto, é aprovado pelo patrocinador e
dá início ao projeto. O patrocinador é aquele que vai entrar com a parte financeira do projeto.
O eficaz Gerenciamento de Riscos no Orçamento de Obras permite analisar, em parâmetros,
as variações de custos e outros diversos problemas potenciais característicos da construção
civil, o que torna possível a elaboração de um orçamento mais compatível com a realidade da
obra.
Já desde os tempos antigos nota-se a preocupação em planejar os custos de uma obra para que
não seja surpreendido no final com as contas extras.
Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as
contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?Para que não aconteça que,
depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem
comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde
acabar (LUCAS, BÍBLIA SAGRADA, 14:28-31)
Segundo Lima Jr. (1993) citado por SILVA (2008:31), “a obra de construção civil é um
empreendimento mais arriscado do que os de outros setores industriais”. Torna-se, portanto, o
processo de orçamento uma parte delicada e importante no processo do gerenciamento dos
riscos do projeto. Neste contexto, o gerenciamento dos custos passa a ser item de relevância
no projeto e nele estão inclusos os seguintes processos conforme PMI (2008:165):
a) estimativa de custos – processo de desenvolvimento de uma estimativa de custos dos
recursos monetários necessário para terminar as atividades do projeto;
b) determinar o orçamento – agregação dos custos estimados de atividades individuais ou
pacotes de trabalho para estabelecer uma linha base autorizada dos custos;
c) controle de custos – monitoramento do andamento do projeto para atualização do seu
orçamento e gerenciamento das mudanças feitas na linha de base dos custos.
O processo de orçamentação agrupa custos estimados de atividades individuais ou pacotes de
trabalho estabelecendo uma linha de base dos custos autorizado, segundo o PMI(2008:165).
Essas estimativas quando bem gerenciadas evitam que os riscos causem problemas durante o
processo de construção conforme explicam os autores Akinci e Fischer (1998) citados por
SILVA (2008:87), eles afirmam que os fatores de riscos que afetam diretamente a estimativa
de custos podem ser classificados através de dois grupos:
a) fatores de riscos específicos do profissional que faz a estimativa de custos: são os riscos
controláveis relacionados com, por exemplo, índices de produtividade incorretos. Muitas
vezes estes riscos ocorrem devido à tendência que as pessoas têm em superestimar o
desempenho de certo trabalho.
b) fatores de risco específicos do projeto e dos desenhos: este grupo inclui a falta de clareza
do escopo do projeto, a complexibilidade do desenho (projeto) e o porte do projeto.
Esses fatores de riscos foram incluídos na proposta da pesquisa para se averiguar o grau de
riscos das incertezas.
3.1 Identificação dos riscos em orçamentos
Neste item serão averiguados os riscos em orçamento de obra. Para tanto, foi realizado uma
pesquisa com engenheiros responsáveis na área de orçamento de construtoras de Goiânia/GO
e Uberlândia/MG. A entrevista foi estruturada com um roteiro de preenchimento das planilhas
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e também foi pedido para que se completasse a lista caso existisse outro item não
mencionado. A planilha contém uma tabela com os riscos, a ordem de grandeza do risco que
deveria ser colocada pelo entrevistado e uma coluna com o título de medida de controle,
solicitando que o entrevistado desse a sua opinião a respeito dos itens sugeridos. Trata-se de
uma pesquisa estruturada com perguntas fechadas. A metodologia utilizada foi a pesquisa de
campo com aplicação de questionário. Dessa maneira a pesquisa serviu para um estudo de
caso. O período da pesquisa se deu no mês de Dezembro de 2013. A amostra da pesquisa foi
orientada por meio de 04 entrevistados. Segue abaixo um modelo do formulário a fim de
orientar a pesquisa de campo. Esta planilha visou orientar as percepções dos entrevistados.
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Figura 9 – Planilha de Pesquisa de Riscos em Orçamentos de Obras
Fonte: Dados produzidos pela Autora (2013)
Além dos itens apresentados acima foi sugerido por um dos entrevistados as seguintes
hipóteses de risco:
Execução de serviços que não foram orçados;
Projetos incompletos;
Falta de projetos executivos.
Ordem Riscos Medidas de Controle
Erro de quantitativos de
materiais
Erro de quantitativos de
serviços
Retrabalhos excessivos
Desperdício de material
Variação cambial de
Insumos cotados por
moeda estrangeira
Terceirização de Serviços
Mão Obra escassa
Locação de Equipamentos
acima do tempo previsto
Compra de Equipamentos
previstos para locação
Acertos Trabalhistas fora
do tempo previsto
Rotatividade de
funcionários
Dificuldade em executar
serviços externos em
épocas de chuvas
Na Planilha abaixo descreva os riscos que impactarão no orçamento caso
aconteçam durante o processo de execução da obra. Alguns itens foram
descritos, caso tenha outros favor acrescentar e ordenar conforme seu entender
de prioridade. Cite, caso seja possível, as medidas de controle que podem ser
tomadas para mitigar esses riscos.
PESQUISA
Data _____/_____/_______
Serviço à ser executado: ORÇAMENTO DE OBRAS
Área:
Empresa:
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Na pesquisa também foi perguntado se são adotados métodos de contingência de riscos para
os orçamentos e quais eram essas medidas.
3.2 Priorização dos riscos
A análise qualitativa dos riscos permite priorizar as intervenções aos riscos. De acordo com a
pesquisa de campo, com o método aplicado por meio de questionário fechado, foi estudado a
priorização dos riscos, e, portanto, chegou se a respostas variadas. Na pesquisa cada
entrevistado classificou os riscos de acordo com sua prioridade de impacto caso ocorresse
durante o processo, sendo o 1 o processo mais crítico.
Como não foi indicada uma ordem de numeração, ex de 1 a 10, cada especialista classificou à
sua maneira.
Risco Especialista
01
Especialista
02
Especialista
03
Especialista
04
Erro de quantitativos de materiais 02 01 02 07
Erro de quantitativos de serviços 01 01 01 08
Retrabalhos excessivos 03 07 03 01
Desperdício de material 04 08 07 02
Variação cambial de Insumos cotados por moeda
estrangeira
02 06 12
Terceirização de Serviços 06 04 09
Mão Obra escassa 03 05 03
Locação de Equipamentos acima do tempo
previsto 07 09 09 06
Compra de Equipamentos previstos para locação 09 10 08 11
Acertos Trabalhistas fora do tempo previsto 04 06 05
Rotatividade de funcionários 04 04
Dificuldade em executar serviços externos em
épocas de chuvas
08 05 10 10
Apresentado pelo entrevistado
Execução de serviços que não foram orçados 05
Projetos incompletos 06
Tabela 1 – Pesquisa de Prioridade dos Riscos
Fonte: Dados produzidos por pesquisa realizada pela Autora (2013)
3.2.1 Estratégias e ações preventivas de respostas aos riscos
Os especialistas apresentaram em suas respostas as seguintes estratégias e ações preventivas
para evitar que os riscos causem maior impacto na obra.
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Risco Especialista
01
Especialista
02
Erro de quantitativos de materiais Sempre verificar suas
composições de serviços e os
insumos gastos em obras
anteriores – Feedback de
Compras
Levantamento criterioso de
quantitativos com análise
crítica das quantidades finais.
Erro de quantitativos de serviços Sempre verificar suas
composições de serviços e os
insumos gastos em obras
anteriores – Feedback de
Compras
Levantamento criterioso de
quantitativos com análise
crítica das quantidades finais.
Retrabalhos excessivos Capacitação da mão de obra
antes de iniciar qualquer
serviço
Acompanhamento intenso da
execução dos serviços
Desperdício de material Verificação constante e
treinamento da mão de obra
Acompanhamento intenso da
execução dos serviços
Variação cambial de Insumos cotados por
moeda estrangeira
Tentar ao máximo utilizar
insumos fabricados
nacionalmente
Terceirização de Serviços Fazer concorrência e
verificar a coerência dos
preços
Mão Obra escassa Dar incentivo financeiro para
manter equipe própria
(produção)
Locação de Equipamentos acima do tempo
previsto
Elaborar planilha de custos
indiretos se possível
baseando em obras do
mesmo tipo, já executadas
Compra de Equipamentos previstos para
locação
A empresa deve avaliar a
viabilidade, inclusive de
utilização do equipamento
em outras obras
Acertos Trabalhistas fora do tempo previsto Dar incentivo financeiro
(produção)
Rotatividade de funcionários Dar incentivo financeiro
(produção)
Dificuldade em executar serviços externos
em épocas de chuvas
Geralmente você consegue
prever quando faz o
cronograma no Project, e dá
tempo de alterar a época da
Elaborar cronograma de
forma que os serviços
externos sejam executados
fora deste período
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execução de serviços externos.
Apresentado pelo entrevistado
Execução de serviços que não foram
orçados
Dependendo do tempo de
elaboração do orçamento, obra
diferenciada, você corre o risco
de esquecer de incluir alguns
itens.
Projetos incompletos Corre o risco de não incluir no
orçamento alguns serviços que
não estavam inclusos ou mal
especificados nos projetos.
Tabela 2 – Pesquisa de Medida de Controle dos Riscos
Fonte: Dados produzidos por pesquisa realizada pela Autora (2013)
Risco Especialista
03
Especialista
04
Erro de quantitativos de materiais Utilização de composições de
serviços "apuradas", estando o
mais próximo possível da
realidade da obra, com índices
de consumo compatíveis com o
que é executado em campo.
Conferir os quantitativos de
acordo com os projetos e quando
possível fazer medição in loco
Erro de quantitativos de serviços Utilização de Planilhas de
Levantamentos com alguns
campos bloqueados para que se
evite alterações em fórmulas,
planilhas que contenham
mecanismos de checagem
"automáticos" e ainda
conferência através de
amostragem por outro
profissional que não tenha
realizado os levantamentos. É
de extrema importância que se
tenha tempo hábil para realizar
os levantamentos, cotações de
preços e montagem do
Orçamento propriamente dito.
Conferir os quantitativos de
acordo com os projetos e quando
possível fazer medição in loco
Retrabalhos excessivos Iniciar o Orçamento com
Projetos Executivos finalizados
e aprovados.
Fazer treinamento de cada serviço
com os funcionários antes do
início da frente de serviço e
acompanhar diariamente o
desenvolvimento do mesmo
Desperdício de material Considerar perdas de material
nos índices de consumo das
Controlar a produção e
abastecimento dos materiais de
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composições. forma a garantir a quantidade
prevista e gasto no orçamento e
acompanhar a utilização dos
materiais para assegurar a forma
correta de aplicação
Variação cambial de Insumos cotados
por moeda estrangeira
Considerar atualizações ao
longo da obra. Geralmente, em
incorporação, o que se considera
são atualizações pelo INCC.
Procurar antecipar ou adiar a
compra de acordo com o fluxo de
caixa caso justifique a diferença
financeira
Terceirização de Serviços Otimizar a execução do serviço
para que seja alcançado um
resultado positivo na qualidade e
no prazo para que justifique o
possível aumento no custo do
serviço
Mão Obra escassa Treinar equipe própria e investir
na formação dos ajudantes para
profissionais
Locação de Equipamentos acima do
tempo previsto
Planejar a utilização otimizada
dos equipamentos para diminuir
tempo ocioso na obra
Compra de Equipamentos previstos para
locação
Avaliar economicamente as
vantagens da aquisição para poder
diluir ao longo do tempo o custo
de aquisição
Acertos Trabalhistas fora do tempo
previsto
Prever cálculo de encargos
sociais para toda mão de obra
própria.
Investir no programa de
treinamento e avaliação constante
da equipe para evitar demissões
fora de hora
Rotatividade de funcionários Investir no programa de
treinamento e avaliação constante
da equipe para evitar demissões
fora de hora e acompanhar os
benefícios oferecidos pelas
empresas concorrentes
Dificuldade em executar serviços
externos em épocas de chuvas
Quando possível planejar os
serviços de acordo com as
condições climáticas necessárias
Apresentado pelo entrevistado
Execução de serviços que não foram
orçados
Projetos incompletos
Tabela 2 – Pesquisa de Medida de Controle dos Riscos
Fonte: Dados produzidos por pesquisa realizada pela Autora (2013)
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
As respostas apresentadas pelos entrevistados apresentaram referências à questão do constante
treinamento da mão de obra existente e monitoramento dos serviços executados. O item que
apresentou maior relevância de acordo com a tabela de identificação dos riscos foi o erro de
quantitativos de serviços, sendo que os entrevistados sugeriram um controle maior no
levantamento dos quantitativos e atualização dos índices periodicamente.
3.3 Contingenciamento de Custos
Como as verbas de contingência são utilizadas somente se um evento ocorrer de acordo com o
PMI (2008:305), os entrevistados informaram que geralmente não trabalham com verbas de
contingência pois a maioria das obras que executam são obras de Incorporação que são
corrigidas pelo Índice da Construção Civil (INCC) o que praticamente mitiga a necessidade
de verba de contingência e quando se trata de obra de empreitada são utilizado verbas de
contingência em porcentagem.
4. Conclusão
Nota-se que a pesquisa aqui realizada foi fundamental para entender no cotidiano do
gerenciamento de riscos os principais itens que se deve observar. A analise da Tabela 1 onde
os riscos foram numerados pela ordem de prioridade mostrou que a maioria dos entrevistados
ressaltou os erros de quantitativos de serviços como o principal risco a ser analisado caso
venha a ocorrer.
Pela análise dos especialistas os 3 maiores riscos, ou seja, os que causariam maior impacto no
orçamento do projeto durante o processo de execução são: erros de quantitativos de serviços
(1º), erros de quantitativos de materiais(2º), mão de obra escassa e retrabalhos excessivos
ficaram em 3º respectivamente. Para se ter uma ideia do impacto será interessante
futuramente realizar uma análise de Causa X Efeito no item considerado de maior risco pelos
especialistas, erros de quantitativos de serviços.
Diante dos resultados encontrados pode-se afirmar a relevância científica dessa pesquisa, pois
de acordo com Akinci e Fischer (1998) citados por SILVA (2008:87) um dos fatores de riscos
que afetam diretamente a estimativa de custos dos projetos é o fator de riscos específicos do
profissional que faz a estimativa de custos.
Os erros de quantitativos de serviços muitas vezes são oriundos de índices de produtividade
incorretos. Uma forma de mitigar esse risco é sempre atualizar as composições com dados
obtidos em controles de produção em obras e quando não possível por dados históricos
apresentado de outras obras. Dessa maneira, a hipótese levantada neste artigo foi devidamente
respondida, pois de fato as Gerências de Riscos em Orçamentos são formas preventivas de
minimizar prejuízos na execução de uma obra.
5. Referências
http://webinsider.com.br/2008/03/31/prazo-orcamento-e-escopo-em-projetos-problematicos/,
Acesso em 26 de Dezembro de 2013.
http://pt.scribd.com/doc/151315247/Planejamento-e-Gesto-de-Obras-Fritz-Gehbauer, Acesso
em 26 de Dezembro de 2013
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ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653-4: avaliação
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ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 31.000:
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