herpetologia brasileira 1

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BrasileiraVolume 1 - Nmero 1 - Maro de 2012

Herpetologia

SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA

Uma publicao da Sociedade Brasileira de Herpetologia

BrasileiraINfORMAES GERAIS editores gerais:

Herpetologia

A revista eletrnica Herpetologia Brasileira quadrimestral (com nmeros em maro, julho e novembro) e publica textos sobre assuntos de interesse para a comunidade herpetolgica brasileira. Ela disponibilizada apenas online, na pgina da Sociedade Brasileira de Herpetologia; ou seja, no h verso impressa em grfica. Entretanto, qualquer associado pode imprimir este arquivo. SEES Notcias da sociedade Brasileira de Herpetologia: Esta seo apresenta informaes diversas sobre a SBH e de responsabilidade da diretoria da Sociedade. Notcias Herpetolgicas gerais: Esta seo apresenta informaes e avisos sobre os eventos, cursos, concursos, fontes de financiamento, bolsas, projetos etc. de interesse para nossa comunidade. Notcias de Conservao: Esta seo apresenta informaes e avisos sobre a conservao da herpetofauna brasileira ou de fatos de interesse para nossa comunidade. obiturios: Esta seo apresenta artigos avisando sobre o falecimento recente de um membro da comunidade herpetolgica brasileira ou internacional, contendo uma descrio de sua contribuio para a herpetologia. resenhas: Esta seo apresenta textos que resumem e avaliam o contedo de livros de interesse para nossa comunidade. trabalhos recentes: Esta seo apresenta resumos breves em portugus de trabalhos publicados recentemente sobre espcies brasileiras, ou sobre outros assuntos de interesse para a nossa comunidade, preferencialmente em revistas de outras reas. Mudanas taxonmicas: Esta seo apresenta uma lista descritiva das mudanas na taxonomia da herpetofauna brasileira, incluindo novas espcies e txons maiores, novos sinnimos, novas combinaes e rearranjos maiores. Mtodos em Herpetologia: Esta seo apresenta descries e estudos empricos relacionados aos diversos mtodos de coleta e anlise de dados, representando a multidisciplinaridade da herpetologia moderna. ensaios & opinies: Esta seo apresenta ensaios histricos e biogrficos, opinies sobre assuntos de interesse em herpetologia, descries de instituies, grupos de pesquisa, programas de ps-graduao etc. Notas de Histria Natural: Esta seo apresenta artigos curtos que, preferencialmente, resultam de observaes de campo, de natureza fortuita, realizadas no Brasil ou sobre espcies que ocorrem no pas. Os artigos no devem versar sobre (1)novos registros ou extenses de rea de distribuio, (2)observaes realizadas em cativeiro ou (3)aberraes morfolgicas. Taran Grant Marcio Martins Notcias da sBH: Fausto Barbo Giovanna Montingeli Notcias Herpetolgicas gerais: Clarissa Canedo Paulo Bernarde Notcias de Conservao: Ariadne Angulo Dbora Silvano obiturios: Francisco L. Franco Marinus Hoogmoed resenhas: Jos P. Pombal Jr. (anfbios) Renato Brnils (rpteis) trabalhos recentes: Carlos Jared Ermelinda Oliveira Fernando Gomes Joo Alexandrino Reuber Brando Paulo Garcia (anfbios) Mudanas taxonmicas: Paulo Passos (rpteis) Camila Both Mtodos em Herpetologia: Denis Andrade Felipe Grazziotin Felipe Toledo informaes e opinies: Julio C. Moura-Leite Luciana Nascimento Teresa Cristina vila-Pires Notas de Histria Natural: Cynthia Prado Marcelo Menin Marcio Borges-Martins Mirco Sol Paula Valdujo Ricardo Sawaya Contato para publicidade: Magno SegallaSociedade Brasileira de Herpetologia www.sbherpetologia.org.br presidente: 1 secretrio: 2 secretrio: 1 tesoureiro: 2 tesoureiro: Conselho: Marcio Martins Giovanna Gondim Montingelli Fausto Erritto Barbo Vivian Carlos Trevine Roberta Graboski Mendes Hussam Zaher, Jos Peres Pombal Jnior, Magno Vicente Segalla, Ulisses Caramaschi, Taran Grant Sociedade Brasileira de Herpetologia Diagramao: Airton de Almeida Cruz Foto da Capa: Bothrops insularis (Amaral, 1922). Ilha da Queimada Grande, Itanham, SP. Fotografia: Marcio Martins.

Uma publicao da Sociedade Brasileira de Herpetologia

BrasileiraNDICE

Herpetologia

Notcias da sociedade Brasileira de Herpetologia ............................... 1 Notcias Herpetolgicas gerais ......................................................... 3 Notcias de Conservao ................................................................... 4 trabalhos recentes .......................................................................... 6 Mudanas taxonmicas .................................................................... 8 Mtodos em Herpetologia ............................................................... 15 ensaios & opinies ......................................................................... 20 Notas de Histria Natural ............................................................... 35

Desova de Cycloramphus boraceiensis, Picinguaba, Ubatuba, SP. (Foto: M. Martins).

Notcias da Sociedade Brasileira de Herpetologia

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Nova Diretoria Da SBH Em 21 de julho de 2011 foi eleita a nova diretoria da Sociedade Brasileira de Herpetologia, durante o IX Congresso Latino-americano de Herpetologia e V Congresso Brasileiro de Herpetologia, realizado em Curitiba. Desde ento, esforos vm sendo empregados na continuidade do excelente trabalho desempenhado pela diretoria anterior. Um dos objetivos principais da nova diretoria incrementar o papel da SBH como fonte de informaes para herpetlogos brasileiros. Um dos compromissos da SBH consiste no contnuo fortalecimento da South American Journal of Herpetology (SAJH), uma revista internacional j relativamente consolidada. Desde seu incio em 2006, foram publicados seis volumes, cada um contendo trs nmeros, totalizando 176 artigos. Destes, 105 foram submetidos por pesquisadores brasileiros como autores principais, 51 por autores de outros pases latino-americanos e 19 por autores de outras regies geogrficas. O resultado do esforo dos editores da SAJH tambm refletido na publicao de um nmero estvel de artigos por nmero (8-12) e em sua periodicidade, pontualidade e qualidade. Atualmente, a SAJH encontra-se no ltimo ano de avaliao do Thomson Reuters (ISI) Web of Knowledge para obteno de ndice de impacto, o que certamente promover ainda mais seu fortalecimento. Outro grande avano consiste na futura implantao da submisso online de artigos atravs da Allen Press, atualmente em fase final de teste. Desde 2006 a SAJH faz parte da biblioteca de peridicos da BioOne que hospeda 171 publicaes, das quais 120 apresentam ndice de impacto. A incluso da SAJH nesta base de dados, gentilmente facilitada por Al Savitzky, gera o acesso internacional da revista, promovendo seu maior alcance e divulgao. A ttulo de informao, em seu site, a BioOne divulga os 20 artigos mais citados da SAJH em outros peridicos (atravs do cruzamento de informaes) e tambm os mais lidos atravs dos acessos nos ltimos trs anos. Os resultados desta pesquisa so atualizados no incio de cada ms. Recentemente, a diretora executiva da BioOne, Dra. Susan Skomal esteve no Brasil para celebrar juntamente com o Diretor

do Programa Portal de Peridicos CAPES, Dr. Emdio C. de Oliveira Filho a incluso da base de dados BioOne.2, da qual a SAJH faz parte. Ainda durante sua visita, Susan se reuniu com a diretoria da SBH e com o Editor-Chefe da SAJH com o intuito de conhecer de perto nosso trabalho, discutir parcerias e aprimorar algumas questes, alm de demonstrar o reconhecimento da BioOne pelo trabalho da SAJH desde sua incluso na BioOne.2, que foi uma das primeiras revistas internacionais a fazer parte desta coleo. A satisfao de sua visita pode ser vista na pgina da BioOne. Ressaltamos que o sucesso, fortalecimento e atuao da SBH se deve, no entanto, a associao, ao interesse e a credibilidade da comunidade herpetolgica. nesse sentido que a SBH tem a inteno de aumentar consideravelmente o nmero de associados, estimulando herpetlogos profissionais a tornarem-se scios efetivos, bem como a adeso cada vez maior de estudantes de graduao e ps-graduao. Alm disso, estamos trabalhando para um maior envolvimento da comunidade cientfica atravs de parcerias com outras sociedades zoolgicas nacionais e internacionais, e divulgao de eventos brasileiros. XXiX CoNgreSSo BraSileiro De Zoologia A SBH participou como sociedade parceira do XXIX Congresso Brasileiro de Zoologia realizado neste ms de maro em Salvador. Sua participao contou com um estande exposto durante o evento, no qual a sociedade e seus produtos cientficos foram divulgados. Foi tambm acordado para scios efetivos da SBH (mediante apresentao do comprovante) um desconto de 50% na associao da Sociedade Brasileira de Zoologia. Esta associao permite o acesso online das publicaes da SBZ e iseno de pagamento para publicao na Brazilian Journal of Zoology. A SBH esteve representada no Frum das Sociedades Brasileiras de Zoologia, juntamente com as demais sociedades zoolgicas parceiras. Nesta reunio foi proposta a realizao anual do frum para discusso de temas relevantes s sociedades e discutiu-se a poltica sobre as colees cientficas. A SBZ informou sobre

a criao da Comisso Nacional das Colees Zoolgicas, e solicitou que todas as Sociedades informem seus scios com o intuito de que todos opinem. Maiores informaes estaro disponveis no site da SBZ no prximo ms. Discutiu-se tambm as Resolues do CFBio Grupo de trabalho de Estudo de Fauna, especificamente sobre a exigncia do CFBio da presena de um mdico veterinrio em procedimentos de eutansia realizado por bilogos e a exigncia deste mesmo rgo sobre o pagamento de ART para estudantes de ps-graduao para realizao de coletas cientficas (que no sejam consultorias), considerando tais alunos como profissionais. A partir desta discusso chegou-se a seguinte concluso: 1. Todas as sociedades se manifestaram contra estes dois pontos; dessa forma ficou acordado que ser feita uma consulta CAPES sobre a posio de considerar estudantes de ps-graduao como profissionais; 2. Foi solicitado que todas as sociedades da rea de Zoologia divulguem a seus scios um guideline sobre metodologias e procedimentos de coleta, por meio de boletins, folders ou outros veculos de comunicao, de modo a normatizar as linhas de conduta para procedimentos de coleta; 3. Propor a retirada destas clusulas do CFBio, e organizar um Workshop entre as sociedades para a criao de normas e regulamentos sobre procedimentos de consultorias; 4. A SBZ ficou responsvel por enviar uma carta de manifestao contrria a estas resolues do CFBio e CRBio para todas as sociedades zoolgicas, para que seja aprovada e assinada pelos seus respectivos presidentes. Em breve, ser divulgada por meios eletrnicos a ata do Frum das Sociedades Zoolgicas realizada durante o XXIX Congresso Brasileiro de Zoologia. SBH partiCipa Do vii CoNgreSSo MuNDial De Herpetologia A SBH participa tambm como sociedade parceira do VII World Congress of Herpetology a ser realizado em Vancouver,

Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Nmero 1 - Maro de 2012

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Notcias da Sociedade Brasileira de Herpetologia

em Agosto de 2012, onde ser divulgada perante a comunidade internacional de herpetlogos. preparativoS para o vi CoNgreSSo BraSileiro De Herpetologia Em 2013 ser realizada a sexta edio do Congresso Brasileiro de Herpetologia em Salvador. A Comisso Organizadora formada por Marcelo Napoli (UFBA), Flora Junc (UEFS), Mirco Sol (UESC), Rejane Lira (UFBA), Maria Lcia Del Grande (UESB) e Luiz Norberto Weber (UFBA). Em breve seu website estar disponvel contendo informaes sobre local e datas, prazo para realizao de inscries com descontos para scios efetivos, palestrantes e submisses de trabalhos. A SBH mantm desconto em sua associao para membros da SBZ e de outras sociedades herpetolgicas latino-americanas. a pgiNa Da SBH Na iNterNet A SBH pretende utilizar seu website de forma mais dinmica, atravs da postagem frequente de informaes de interesse geral e mais imediato. Dentro deste contexto, ressaltamos que a lista de rpteis foi atualizada e a lista de anfbios est em fase final de reviso para ser ser atualizada nas prximas semanas. Destacamos ainda que estas listas se tornaram referncias obrigatrias no apenas para os pesquisadores, mas tambm para rgos governamentais. Como exemplo, o ICMBio utiliza estas listas no processo de avaliao do estado de conservao dos anfbios e rpteis brasileiros.

Oxyrhopus clathratus, Picinguaba, Ubatuba, SP. (Foto: M. Martins).

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Notcias Herpetolgicas Gerais

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vii CoNgreSSo MuNDial De Herpetologia eM vaNCouver O VII Congresso Mundial de Herpetologia, ou WCH.7, ser realizado em Vancouver, Canad, entre 8 e 14 de agosto de 2012. a primeira vez que o Congresso Mundial acontecer na Amrica do Norte e vrias das sociedades herpetolgicas norte-americanas participaro do mesmo evento, incluindo a American Society of Ichthyologists and Herpetologists, a Canadian Association of Herpetologists/ Association Canadienne des Herptologistes e a Canadian Amphibian and Reptile Conservation Network/Rseau Canadien de Conservation des Amphibiens et des Reptiles, a Herpetologists League e a Society for the Study of Amphibians and Reptiles. Com uma programao cientfica de 25 simpsios e sesses e palestras sobre as mais diversas reas da herpetologia moderna, o WCH o nico congresso que conta com a participao de herpetlogos de todo o mundo, sendo uma tima oportunidade para acompanhar os ltimos avanos na herpetologia mundial,

compartilhar informaes com colegas na sua rea e conhecer em pessoa os grandes nomes da nossa cincia antes conhecidas apenas pelos seus artigos. Alm disso, a cidade de Vancouver considerada uma das mais lindas do mundo, localizada na beira-mar e aos ps das montanhas, oferecendo diversas atividades de vero e uma impressionante vida noturna. O prazo para enviar resumos j passou, mas as inscries estaro abertas at maio, com inscries tardias at julho. Para informaes sobre o evento, Vancouver, vistos e outros assuntos, visite a pgina do WCH.7. CNpq aBre eDital para profeSSor eStraNgeiro Est aberto um edital para a vinda de pesquisador estrangeiro ao Brasil, pelo programa Cincia sem Fronteiras, uma iniciativa conjunta entre o Ministrio da Educao, o Ministrio da Cincia e Tecnologia e Inovao, a CAPES, o CNPq e as fundaes estaduais de ampara a pesquisa. O objetivo apoiar financeiramente

projetos de pesquisa que visem, por meio do intercmbio e da cooperao cientfica e tecnolgica, promover a consolidao, expanso e internacionalizao da cincia e tecnologia, da inovao e da competitividade do Pas com enfoque nas reas prioritrias do Programa Cincia sem Fronteiras, entre elas a Biodiversidade. O programa fornecer bolsa de durao de dois a trs anos, com permanncia mnima no pas de um ms e mxima de trs meses a cada ano, em estadias contnuas ou no. O pesquisador indicado para a bolsa deve ter reconhecida liderana cientfica internacional nas reas do programa. Os benefcios incluem uma bolsa no valor de R$ 14.000,00 e auxlio pesquisa no valor de R$ 50.000,00 por ano, alm de passagens e bolsas para pesquisadores brasileiros ligados ao projeto. Esto abertas neste momento duas chamadas, sendo que uma delas se estender at 04/06/2012 (2 chamada) e outra at 21/12/2011 (3 chamada). Maiores detalhes podem ser encontrados na pgina do CNPq.

Girino de Thoropa saxatilis, Cachoeira das Pedras Brancas, Trs Forquilhas, RS. (Foto: T. Grant).

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Notcias de Conservao

reviSo Do eStaDo De CoNServao DoS aNfBioS BraSileiroS Est em andamento a reviso do estado de conservao dos anfbios brasileiros (mais de 900 espcies!), numa iniciativa conjunta entre o Centro Nacional de Pesquisa e Conservao de Anfbios e Rpteis (RAN-ICMBio) e a sociedade cientfica. A reviso coordenada por Clio F. B. Haddad, professor da Universidade Estadual Paulista em Rio Claro. Ao contrrio das iniciativas realizadas no passado, que se baseavam em listas de candidatas (espcies que supostamente estavam ameaadas), desta vez todas as espcies brasileiras sero avaliadas, o que representa um enorme esforo. Trs oficinas de avaliao j foram realizadas e a ltima est planejada para junho de 2012, aps a qual ser divulgada a lista de anfbios ameaados do Brasil. Na primeira oficina, realizada em outubro de 2010, com a participao de 21 pesquisadores de 15 instituies acadmicas, foram avaliadas as 91 espcies que atualmente encontram-se em listas de espcies ameaadas, incluindo algumas na categoria de dados insuficientes (DD). Na segunda oficina, realizada em junho de 2011, 25 especialistas de 18 instituies avaliaram 254 espcies, vrias delas atualmente como DD nas listas da IUCN e do Brasil. Na terceira oficina, ocorrida em dezembro de 2011, 22 pesquisadores de 14 instituies avaliaram 285 espcies, a maioria delas listadas como preocupao menor (LC) na lista da IUCN. Ao todo, j foram avaliadas 630 espcies, sendo uma considerada extinta, 14 criticamente em perigo, oito em perigo, 17 vulnerveis, 27 quase-ameaadas e 146 DD. reviSo Do eStaDo De CoNServao DaS SerpeNteS BraSileiraS Est em andamento a reviso do estado de conservao das serpentes brasileiras (quase 400 espcies), numa iniciativa conjunta entre o Centro Nacional de Pesquisa e Conservao de Anfbios e Rpteis (RAN-ICMBio) e a sociedade cientfica. A reviso coordenada por Marcio Martins, da Universidade de So Paulo, e Cristiano C. Nogueira, da Universidade

de Braslia. Como no caso dos anfbios, todas as espcies brasileiras sero avaliadas. A primeira oficina est prevista para abril e a segunda e ltima para outubro de 2012. Neste momento est aberta a consulta ampla, fase na qual qualquer herpetlogo pode contribuir com informaes sobre as espcies que sero avaliadas. v fruM eStratgiaS para CoNServao De rpteiS e aNfBioS BraSileiroS Nos dias 16 e 17 de julho de 2011, foi realizado o V Frum Estratgias para Conservao de Rpteis e Anfbios Brasileiros, coordenado pelo RAN/ICMBio, com o apoio da Sociedade Brasileira de Herpetologia. O evento ocorreu durante o V Congresso Brasileiro de Herpetologia e o IX Congresso Latino-Americano de Herpetologia, em Curitiba, PR. Durante este frum, ocorreram as seguintes atividades: (1)Reunio Preparatria para o Plano de Ao dos sapinhos de barriga-vermelha, Gnero Melanophryniscus; (2) Reunio Tcnica do Grupo de Serpentes Continentais da Mata Atlntica Ameaadas de Extino; (3) Redefinio de recortes de Planos de Ao para os rpteis e anfbios ameaados de extino; (4) Reunio Preparatria para o Plano de Ao da Herpetofauna Ameaada de Extino Endmica da Serra do Espinhao; (5)1 Reunio de Monitoria do Plano de Ao Nacional para Conservao da Herpetofauna Insular Ameaada; e (6)Studbook para serpentes insulares ameaadas de extino. grupo De eSpeCialiStaS eM aNfBioS Da iuCN Foi renovado o site do Grupo de Especialistas em Anfbios (ASG) da Comisso de Sobrevivncia das Espcies (SSC) da IUCN em outubro 2011. O site tm um visual chamativo, est repleto de informaes sobre anfbios e do trabalho que vem sendo realizado pelos diferentes membros do grupo. Oferece, ainda, uma srie de recursos teis para herpetlogos (FrogLog, manuais e guias, planos de ao global e nacionais publicados e fontes de financiamento para projetos sobre anfbios).

fruM virtual para avaliao DoS aNfBioS Foi lanado o frum virtual para avaliao dos anfbios em 11 de outubro de 2011. O frum virtual visa fornecer um meio para reavaliar as espcies de anfbios originalmente avaliadas em 2004 ou antes. As espcies novas de distribuio restrita ou que so conhecidas apenas de um ou poucos locais so avaliadas de forma mais eficiente com a participao dos autores da espcie. Por outro lado, as espcies novas resultantes de revises taxonmicas e aquelas de distribuio ampla so avaliadas no frum, pois geralmente vrios especialistas detm informao sobre o txon. laNaDo o froglog N 100 Foi publicado o ltimo nmero do FrogLog (nmero 100, de janeiro de 2012). Este nmero tem foco regional na Amrica do Sul. O nmero apresenta atualizaes dos dez diferentes grupos regionais e est repleto de novidades sobre pesquisa e conservao no continente sul-americano. Alm disso, apresenta uma seo global de novidades e oferece uma extensa lista de possveis fontes de financiamento. Vale a pena conferir. 1 reuNio Da aliaNa para a SoBrevivNCia DoS aNfBioS Foi realizada a primeira reunio da Aliana para a Sobrevivncia dos Anfbios (ASA), em Washington, DC, nos Estados Unidos, entre 7 e 12 dezembro de 2011. Participaram da reunio as diferentes iniciativas globais (ASG, Autoridade da Lista Vermelha para os Anfbios, Amphibian Ark) que at ento tinham trabalhado de maneira relativamente isolada, mas que agora esto consolidadas sob esta Aliana. A ASA visa funcionar como uma organizao guarda-chuva, na qual cabem todas as iniciativas de conservao, de internacionais a locais. uma resposta coordenada crise de extino dos anfbios, usando o Plano de Ao de Conservao dos Anfbios (ACAP, disponvel em www.amphibians.org) como um sistema para o avano da conservao do grupo. A reunio

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Notcias de Conservao

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foi fundamental para informar sobre os desenvolvimentos e estado de cada iniciativa global e para identificar e alinhavar prioridades nos prazos curto a mdio. NovoS grupoS De eSpeCialiStaS Da iuCN Foram criados em 2011 trs novos Grupos de Especialistas da IUCN de interesse direto para herpetlogos brasileiros: Lagartos Anolneos (Anoline Lizard Specialist Group), Jibias e Pites (Boa and Python Specialist Group) e Viperdeos (Viper Specialist Group). Mais informaes a respeito destes grupos podem ser encontrados na pgina da SSC/IUCN devotada aos grupos de especialistas em anfbios e rpteis.

Scinax trapicheiroi, Picinguaba, Ubatuba, SP. (Foto: M. Martins).

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Trabalhos Recentes

llewellyn, D., g.p. Brown, M.B. thompson, r. Shine. 2011. Behavioral responses to imune-system activation in an anuran (the cane toad, Bufo marinus): field and laboratory studies. Physiological and Biochemical Zoology, 84(1):77-86. Este artigo questiona as bases funcionais da febre comportamental, um fenmeno bastante difundido na literatura entre animais ectotrmicos, incluindo anfbios. Este fenmeno consiste na escolha de temperaturas mais altas por animais ectotrmicos infectados quando expostos a um gradiente trmico, se comparados a animais no infectados, e tm sido interpretado como um comportamento vantajoso no combate infeco. Neste artigo, os autores quantificaram os efeitos de uma infeco simulada atravs da injeo de lipopolissacardeo bacteriano (LPS) na atividade locomotora, de forrageamento e termorregulao comportamental em sapos. Os resultados deste estudo mostram que sapos injetados com LPS apresentaram reduzido desempenho em testes de competio por obteno de alimento com sapos controle (no injetados com LPS), uma reduo na taxa de locomoo espontnea diria em indivduos mantidos em regime de semi-cativeiro, alm de aumento mdio das temperaturas corpreas quando expostos a um gradiente trmico. Entretanto, os autores fizeram uma inovao metodolgica simples nos testes de termorregulao comportamental: os sapos foram colocados inicialmente prximos dos extremos quente e frio do gradiente trmico. Os resultados do teste de termorregulao comportamental foram afetados pelo local do gradiente trmico em que os indivduos foram inicialmente colocados, sendo que os indivduos tratados com LPS e colocados incialmente no lado mais frio do gradiente, no diferiram dos indivduos controle em temperatura selecionada. Os autores sugerem que as modificaes comportamentais primrias causadas pela resposta imunitria a uma infeco nos sapos seriam uma reduo da atividade locomotora e do forrageamento, e que alteraes termorregulatrias seriam consequncias secundrias desta inatividade. prado, C.p.a., C.f.B. Haddad e K. Zamudio. 2012. Cryptic lineages and pleistocene population expansion in a Brazilian Cerrado frog. Molecular Ecology, 21:921-941. Neste estudo os autores inferiram a estrutura das populaes de Hypsiboas albopunctatus, uma das espcies mais conspcuas dos biomas brasileiros. Foram detectadas trs linhagens geograficamente distintas: uma da Chapada dos Guimares (CG), provavelmente representando um espcie crptica; uma segunda do sudeste (SE), com distribuio coincidente com aquela da Mata Atlntica; e uma da poro central do Cerrado (CC). A divergncia do clado CG ocorreu no Mioceno tardio, o que concorda com o soerguimento do planalto central brasileiro, ao passo que a divergncia do clado SE em relao ao clado CC ocorreu no Pleistoceno mdio. Portanto, as divergncias entre as linhagens se devem tanto a eventos geolgicos do Tercirio quanto a flutuaes climticas do Pleistoceno.

Esses resultados indicam que a diversidade do Cerrado ainda subestimada. alves, r.r.N., K.S. vieira, g.g. Santana, W.l.S. vieira, W.o. almeida, W.M.S. Souto, p.f.g.p. Montenegro e J.C.B. pezzuti. 2011. a review on human attitudes towards reptiles in Brazil. Environmental Monitoring and Assessment. online first. Doi: 10.1007/ s10661-011-2465-0. Os autores estimam que pelo menos 11% das espcies de rpteis que ocorrem no Brasil j foram exploradas pelos seres humanos, especialmente como fonte alimento e couro, para usos ornamentais e mgico/religiosos, bem como na medicina tradicional. Uma reviso da literatura mostrou que 81 espcies de rpteis so culturalmente importantes no pas, com 47 espcies sendo usadas de mltiplas formas, 54 usadas na medicina tradicional, 38 como alimento, 28 com fins ornamentais ou decorativos, 20 em prticas de magia ou religiosas, 18 como animais de estimao e 40 que so geralmente mortas quando entram em contato com seres humanos. Entre estas, 30 encontram-se em listas de espcies ameaadas (estaduais, brasileira e mundial). Os autores sugerem que um melhor conhecimento do papel cultural, social e tradicional dos rpteis fundamental para o delineamento de planos de manejo para o uso sustentvel desses organismos. vieira, l.M., v.S. Nunes, M.C.a. amaral, a.C. oliveira, r.a. Hauser-Davis e r.C. Campos. 2011. Mercury and methyl mercury ratios in caimans (Caiman crocodilus yacare) from the pantanal area, Brazil. Journal of Environmental Monitoring, 13:280-287. Os autores sugerem que, sendo predadores de topo de cadeia alimentar, os jacars do Pantanal potencialmente acumulariam mercrio oriundo da minerao de ouro na regio. Eles analisaram 79 indivduos de jacars de quatro localidades para a deteco de mercrio total e metil-mercrio (MeHg). As concentraes de mercrio total variaram de 0,02 a 0,36g/g e a maioria dos exemplares apresentavam razo de MeHg acima de 70%. Uma das reas, impactada por atividades antropognicas, apresentou mercrio total significativamente maior do que as trs outras reas menos impactadas, o que corrobora a hiptese de que os jacars podem ser considerados bioindicadores de qualidade ambiental.

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Trabalhos Recentes

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Silva, a.C.C.D., e.a.p. Santos, f.l.C. oliveira, M.i. Weber, J.a.f. Batista, t.Z. Serafini e J.C. Castilhos. 2011. Satellite-tracking reveals multiple foraging strategies and threats for olive ridley turtles in Brazil. Marine Ecology Progress Series, 443:237-247. Pouco se conhece do ciclo de vida de Lepidochelys olivcea, especialmente os deslocamentos ps-nidificao de fmeas e as reas de alimentao. Para explorar esses aspectos, eles instalaram transmissores via satlite em dez fmeas que desovaram na costa de Sergipe e as monitoraram por 14 a 297 dias. Os deslocamentos variaram de 407 a 4.265km. Das dez tartarugas monitoradas, seis se deslocaram ao longo da plataforma continental brasileira para reas de alimentao nerticas. Cinco delas usaram reas de forrageio no norte e nordeste e uma no sudeste do Brasil. Alm disso, duas fmeas deslocaram-se para reas ocenicas equatorias. As reas usadas pelas tartarugas coincidiram em grande parte com reas de pesca, tanto na plataforma quanto em guas ocenicas. Os autores concluem que esses resultados so muito importantes para a conservao desta espcie na poro ocidental do Atlntico. Brandt, r. e C. Navas. 2011. life-history evolution on tropidurinae lizards: influence of lineage, body size and climate. PLoS ONE 6, Doi:10.1371/journal. pone.0020040. O estudo dos efeitos do clima sobre a fecundidade de lagartos urgente no cenrio atual de aquecimento da atmosfera, pois sabe-se que o tamanho da ninhada pode ser influenciado pelo clima, alm do efeito evidente do tamanho corporal sobre essa varivel. Os autores exploraram como o tamanho do corpo e o tamanho da ninhada respondem ao clima em tropidurneos

e como estas duas variveis se relacionam. Eles constataram que tanto o tamanho do corpo como o da ninhada so influenciados pela filogenia. Espcies que adquiriram tamanho corporal grande produzem mais ovos e nenhuma dessas duas caractersticas influenciada pela temperatura. A pluviosidade, por sua vez, est relacionada com um tamanho corporal maior em fmeas e, portanto, deve possuir uma relao indireta com o tamanho da ninhada. Esse efeito da pluviosidade sobre o tamanho do corpo das fmeas provavelmente uma consequncia da produtividade primria. Os autores concluem que esperada uma diminuio na fecundidade dos tropidurneos nos continentes, onde est previsto um decrscimo nas chuvas de vero em consequncia do aquecimento global. Dangiolella, a., t. gamble, t.C. vila-pires, g.r. Colli, B.p. Noonan e l.J. vitt. 2011. Anolis chrysolepis Dumril and Bibron, 1837 (Squamata: iguanidae) revisited: Molecular phylogeny and taxonomy of the Anolis chrysolepis species group. Bulletin of the Museum of Comparative Zoology, 160:35-63. A anlise de um gene mitocondrial e a congruncia entre dados moleculares e morfolgicos realizada para todas as espcies e subespcies do grupo de Anolis christiceps, alm de diversos txons relacionados, indicou a existncia de linhagens evolutivas independentes, justificando o reconhecimento das diferentes subespcies do grupo como espcies plenas. Anolis meridiona lis, identificado como grupo irmo de A.tandai + A.chrysolepis, passou tambm a compor o grupo. Com isso, o grupo de Anolis chrysolepis composto por Anolis bombiceps Cope 1876, A.bra siliensis Vanzolini e Willians 1970, A.chrysolepis Dumril e Bibron 1837, A.meridionalis Boettger 1885, A.planiceps Troschel 1848, A.scypheus Cope 1864 e A.tandai vila-Pires 1995.

Tropidurus montanus, Serra do Cip, MG. (Foto: M. Martins).

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Mudanas Taxonmicas

rpteiS Como este o primeiro nmero da Herpetologia Brasileira, necessrio que definamos alguns parmetros e premissas que vo nortear esta seo de agora em diante. Em primeiro lugar, o corte temporal aqui adotado ser a partir de 2010. Muito embora a arbitrariedade no estabelecimento desta linha temporal possa estar sujeita a crticas dos interessados nas primeiras mudanas nos esquemas tradicionais de classificao motivadas, sobretudo, pelo advento da sistemtica molecular, na minha modesta opinio uma das melhores formas de se avaliar novas propostas de classificao observar sua longevidade. Neste sentido, os ltimos 15 anos de efervescentes mudanas taxonmicas, no que tange os rpteis do Novo Mundo, geram uma boa medida para calibrar o foco desta seo. Contudo, como esta coluna no tem a pretenso de expressar opinies pessoais sobre qualquer alterao e/ou sugesto taxonmica (para isso veja a seo Ensaios e Opinies) e pretende to somente apresentar uma sntese das novas propostas e adies nossa fauna, via de regra a taxonomia adotada aqui seguir as ltimas propostas devidamente publicadas em peridicos e revistas cientficas. Portanto, para as categorias taxonmicas ao nvel de famlia e txons menos inclusivos a disponibilidade de novos nomes se dar de acordo com as normas expressas no Cdigo Internacional de Nomenclatura Zoolgica (ICZN, 1999). Alm do corte temporal, deve-se estabelecer aqui o escopo geogrfico que ser compreendido por esta seo e, de acordo com o prprio nome da revista, no poderia ser outro que no o territrio poltico do Brasil. Ainda que a restrio escala brasileira gere problemas bvios com respeito a txons de afinidades meridionais que ocorrem marginalmente em regies adjacentes ao Brasil, estas espcies podem ser includas nos comentrios de modo complementar sem prejuzos a sua unidade/integridade natural. Por coerncia, os txons de afinidades centro-americanas ou mesmo norte-americanas que ocorrem marginalmente na Amrica do Sul podero ser igualmente includos e devidamente destacados. Quando do advento de propostas concorrentes para determinado(s) clado(s) publicadas em curtos intervalos de tempo (antes de cada atualizao peridica), adotaremos uma das propostas e cotaremos com um asterisco (*) a(s) taxonomia(s) alternativa(s) expressa(s) abaixo e, eventualmente, comentada(s). Entendo que esta seo, bem como a Lista de Rpteis da SBH, pode influenciar decisivamente herpetlogos de outras especialidades ou reas do conhecimento, que no a sistemtica, no emprego de determinada argumentao classificatria em detrimento de outra. No entanto, no acho que seja este o caso de pesquisadores com formao slida em taxonomia que tem uma viso crtica sobre o processo e, como comentado acima, est claro o modus operandi adotado nesta seo. Assim sendo, no tenho o objetivo aqui de validar ou invalidar qualquer nova proposta formalmente apresentada. Por outro lado, no caso dos leitores observarem a ausncia de alguma(s) determinada(s) proposta(s) de classificao para dado grupo, este lapso se dever exclusivamente incapacidade de compilao do editor desta coluna e no a aceitao de determinada argumentao devidamente publicada e com os

nomes disponveis de acordo com o ICZN (1999). Com o intuito de termos um universo comparvel ao da Lista Rpteis da SBH, as mudanas taxonmicas aqui consideradas se aplicaro aos txons na categoria de espcie e txons supra-especficos e, em razo disso, as subespcies atualmente vlidas no sero consideradas. Por fim, peo a gentileza dos autores que em algum momento fizerem uso desta seo de me encaminharem os arquivos digitais (se possvel em formato PDF) de suas publicaes recentes ou mesmo de outros autores contendo ajustes e/ou novas propostas taxonmicas para os rpteis da Regio Neotropical. testudines linnaeus, 1758 emydidae rafinesque, 1815 (ca.50 espcies, 1 no Brasil) Trachemys agassiz, 1857: mudana de status Comentrios: Fritz etal. (2011) realizaram anlises filogenticas e filogeogrficas de quatro genes mitocondriais e cinco genes nucleares para a maior parte das espcies atualmente reconhecidas do gnero Trachemys. Com base na topologia obtida neste estudo onde Trachemys adiutrix Vanzolini, 1995 recuperado dentro de um clado como grupo irmo de Trachemys dorbigni os autores reconhecem T.audiutrix como subespcie de T.dorbigny. Em grande medida, a deciso dos autores fundamentada no baixo nvel de divergncia gentica (valorlog(x=valor, base=10) >[1] 2 onde valor um objeto (neste caso um vetor) que inclui o valor 100; o smbolo