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Capítulo 2 Recuperação de Áreas Degradadas Wagner Nunes Rodrigues Lima Deleon Martins Daniel Pena Pereira Marcelo Antonio Tomaz

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Ecologia - sobre áreas degradadas

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  • Desenvolvimento Sustentvel

    Atualidades em

    21 Faculdade de Cincias Gerenciais de Manhuau, Minas Gerais: Exigente, como a vida!

    Recuperao de reas Degradadas

    Captulo 2

    Recuperao de reas Degradadas

    Wagner Nunes Rodrigues

    Lima Deleon Martins

    Daniel Pena Pereira

    Marcelo Antonio Tomaz

  • Desenvolvimento Sustentvel

    Atualidades em

    22 Faculdade de Cincias Gerenciais de Manhuau, Minas Gerais: Exigente, como a vida!

    1. INTRODUO

    A crescente presso devido demanda por reas aptas para atividades agrcolas, buscando

    suprir a expanso da populao mundial,vemcausando a reduo das formaes vegetais naturais,

    com consequente esgotamento de recursos naturais.

    Um processo de degradao que chega a uma taxa de 0,1% ao ano tem sido relatado nos solos

    agrcolas do mundo, com uma perda na ordem de cinco milhes de hectares por ano. Essa

    degradao est relacionada principalmente a prticas agrcolas inadequadas, a presso

    populacional e a explorao inadequada dos recursos naturais. Levantamentos mundiais registraram

    que 15% dos solos de regies habitadas do planeta foram classificados como degradados devido s

    atividades humanas (OLDEMAN, 1994). A distribuio desse total de reas degradadas no mundo

    apresentada na Figura 1.

    Figura 1 - Distribuio do total de reas degradadas no mundo (Adaptado de OLDEMAN, 1994).

    O processo de degradao ambiental devido s atividades antrpicas ocorre desde pocas

    antigas. O desmatamento e a pecuria causaram grandes problemas de eroso durante os perodos

    clssicos grego e romano. As prticas conservacionistas adotados pela civilizao inca se perderam

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    devido destruio do imprio e a introduo de culturas e tecnologias espanholas. A irrigao

    adotada pelos sumrios causou salinizao dos solos (TOY & DANIELS, 1998; SOUZA, 2004).

    Na Amrica do Sul, os processos que so considerados mais responsveis pela degradao so

    o desmatamento, o superpastejo, as atividades agrcolas e a explorao intensa da vegetao. No

    Brasil, apesar da ausncia de avaliaes exatas, as estimativas indicam que o processo de

    desmatamento e as atividades agropecurias so os principais responsveis pela degradao dos

    solos brasileiros (TAVARES, 2008).

    Devido aos inmeros processos e fenmenos biolgicos, fsicos e qumicos envolvidos, a

    degradao e a recuperao de reas degradadas so atividades de grande complexidade. Nesse

    contexto, a recuperao de reas degradadas pode ser conceituada como sendo um conjunto de

    aes que visam restabelecer as condies de equilbrio e sustentabilidade em um sistema natural.

    Essas aes devem apresentar carter multidisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes reas

    de conhecimento para que uma abordagem holstica possa ser realizada (DIAS & GRIFFITH,

    1998).

    A crescente mobilizao mundialrequerendo novos modelos de desenvolvimento que sejam

    menos impactantes ao ambienteresultou em um expressivo aumento no apoio s pesquisas na rea

    de recuperao ambiental. Atualmente, vrios grupos tm contribudo em nvel internacional, como

    as seguradoras, que devido aos prejuzos financeiros causados pelas alteraes climticas, tm

    voltado interesses para os procedimentos de recuperao; os organismos internacionais, que tem

    fornecido auxlio econmico, burocrtico e de apoio apesquisa, como exemplos temos a

    Organizao das Naes Unidas (ONU), o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de

    Desenvolvimento (BID) (SOUZA, 2004).

    O presente captulo ir abordar conceitos sobre a degradao de ambientes, assim como os

    processos e atividades relacionados recuperao de reas degradadas.

    2. REAS DEGRADADAS

    O termo rea degradada est associado a ecossistemas alterados, onde ocorreu algum

    processo de degradao ambiental. Quando o nvel de degradao ainda permite que o ambiente se

    recupere, ou seja, quando o ambiente mantm sua capacidade de regenerao, considera-se que o

    ambiente est perturbado e a adoo de medidas intervencionistas pode acelerar o processo de

    recuperao ambiental. J quando a degradao no mais permite a recuperao natural do

    ambiente, diz-se que o mesmo est degradado, sendo necessrias intervenes para que o mesmo se

    recupere (CARPANEZZI et al., 1990; CORRA & MELO, 1998).

    O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis define que a

    degradao de uma rea ocorre quando a vegetao nativa e a fauna forem destrudas, removidas ou

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    expulsas; a camada frtil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o regime de

    vazo do sistema hdrico forem alterados. A degradao ambiental ocorre quando h perda de

    adaptao s caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas e inviabilizado o desenvolvimento

    scio-econmico (IBAMA, 1990).

    O termo degradao tem sido associado a efeitos negativos ou adversos causados ao

    ambiente que decorrem principalmente devido interveno do homem, sendo raramente

    empregado para alteraes oriundas de processos naturais (TAVARES, 2008).

    Uma rea degradada, aps o distrbio, pode apresentar eliminao da vegetao nativa,

    juntamente com a eliminao da sua capacidade de regenerao bitica (perda do banco de

    sementes, perda da camada frtil do solo, entre outros); eliminao ou expulso da fauna do local;

    alterao na qualidade da gua;alterao no regime hdrico. Nessa situao de degradao, ocorre

    perda da capacidade de adaptao devido a alteraes das caractersticas fsicas, qumicas e

    biolgicas do ecossistema; e a sua recuperao pode no ocorrer ou ser extremamente lenta,

    requerendo a ao antrpica (SOUZA, 2004).

    3. EXEMPLOS DE DEGRADAO AMBIENTAL

    3.1. Desmatamento

    A retirada da cobertura vegetal, dependendo da intensidade, pode ser considerada uma

    degradao ou uma perturbao ambiental. Como exemplos mais marcantes desse tipo de

    degradao, temos o desmatamento de diversos biomas brasileiros como a Mata Atlntica, o

    Cerrado, a Floresta de Araucrias e a Amaznia, que juntos somam uma rea desmatada de mais de

    trs milhes de quilmetros quadrados (PIOLLI et al., 2004).

    3.2. Incndios e queimadas

    Incndios provocados, principalmente em reas de produo agrcola e reas protegidas,

    causam grandes prejuzos ao ambiente, provocando grande alterao na composio do mesmo e

    podendo resultar em degradao. Com a expanso agrcola do ltimo sculo, houve tambm o

    aumento do uso do fogo no processo de preparo da rea para o cultivo. J incndios naturais so

    raros, e pesquisas tm demonstrado que os incndios em florestas na maioria das vezes so

    provocados pelo homem (PIOLLI et al., 2004).

    Alm de alterar o microclima, as queimadas causam a rpida decomposio da matria

    orgnica do solo causada pela queimada provoca perda de nutrientes, visto que os mesmos so

    disponibilizados, mas se perdem antes que possam ser absorvidos pelas novas plantas que se

    estabelecem na rea. Alm disso, os nutrientes presentes nas cinzas acabam no sendo incorporados

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    ao solo da rea, j que o vento e a gua carreiam as cinzas com facilidade, resultando no

    empobrecimento do solo (PIOLLI et al., 2004).

    3.3. Degradao do solo e eroso

    A remoo de horizontes superficiais do solo tambm resulta em degradao. Essa remoo

    pode ser causada, por exemplo, por operaes de terraplenagem e apresenta potencial de

    regenerao natural lento, em alguns casos, mesmo com intervenes de 30 anos, a regenerao

    natural se mostra quase insignificante (RODRIGUES et al.,2007a).

    Regies que foram exploradas para a extrao mineral podem apresentar degradao do solo,

    sendo normal a ocorrncia de problemas como: compactao, aumento da densidade do solo,

    reduo da taxa de infiltrao, deficincia de oxignio, aumento da resistncia penetrao de

    razes, reduo da capacidade de armazenamento de gua e reduo do teor de matria orgnica

    (MOREIRA, 2004).

    A utilizao de prticas agrcolas inadequadas e o desmatamento so os principais

    responsveis pelos processos erosivos. A eroso, que na maioria das vezes j resultado de algum

    processo de degradao ambiental, pode resultar em outros tipos de degradao medida que se

    desenvolve, culminando em processos de assoreamento de rios e perda de reas agricultveis. Em

    cidades, a eroso pode provocar srios prejuzos e desastres causados por deslizamentos de

    encostas, assoreamento de rios e at mesmo a transmisso de doenas (PIOLLI et al., 2004).

    3.4. Descarte de resduos industriais

    As atividades das indstrias geralmente resultam em resduos que so descartados em reas

    de deposio ou lanados em cursos hdricos. Muitas vezes esses resduos no podem ser

    decompostos atravs de processos naturais, e em alguns casos podem conter metais pesados na sua

    composio, sendo acumulados nos organismos vivos. Quando descartados no solo, esses resduos

    formam reas imprprias tanto para outras atividades humanas quanto para o desenvolvimento da

    maioria das espcies que naturalmente eram encontradas na regio (PIOLLI et al., 2004).

    3.5. Modelos de agricultura no sustentveis

    A Revoluo Verde resultou em diversos impactos ambientais negativos. No modelo agrcola

    gerado pela citada revoluo, era empregado o uso intensivo de insumos industriais, herbicidas e

    inseticidas que causam poluio e contaminao ambiental com substncias txicas, alm de alterar

    a composio natural das reas. Alm disso, a prtica da monocultura, tambm adotada nesse

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    modelo, causa a reduo da biodiversidade e perda de variabilidade gentica das espcies na regio,

    podendo ainda facilitar a ocorrncia de processos erosivos (PIOLLI et al., 2004).

    Modelos alternativos, menos impactantes para o ambiente, vm sendo desenvolvidos.

    Tecnologias diversas como a permacultura, os sistemas agroflorestais, a agricultura biodinmica e o

    controle biolgico de pragas j esto disponveis, assim como os modelos de agricultura orgnica

    ou agroecolgica, que permitem cultivos sustentveis e rentveis, com menor impacto ambiental.

    Souza (2004) afirma que a partir da introduo do modelo agroqumico e da incorporao

    denovas tecnologias de manejo do solo e melhoramento gentico, foram acompanhadas pelo abuso

    na utilizao de equipamentos pesados, resultando em diversos problemas ambientais como a

    eroso, a poluio, a proliferao de pragas e doenas por falta de seus inimigos naturais, entre

    outras srias alteraes no agroecossistema, resultando na maioria dos casos emum processo de

    degradao ambiental.

    4. RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS

    Os termos recuperao, reabilitao e restaurao vm sendo utilizados e, de maneira geral,

    referem-se ao processo inverso degradao. A recuperao o processo de reparao dos recursos

    em uma rea, suficiente para o restabelecimento das espcies naturais da regio, em composio e

    frequncia (GRIFFITH, 1986). A reabilitao o retorno de uma rea degradada a um estado

    biolgico apropriado, mesmo que no resulte na utilizao da rea para a produo a longo prazo,

    visando a recreao ou a valorizao esttica e ecolgica, por exemplo (MAJER, 1989). A

    restaurao um processo de retorno ao estado original da rea, antes da degradao, em termos de

    fauna, vegetao, topografia, solo, hidrologia, entre outros, o que representa um objetivo

    praticamente inatingvel (TAVARES, 2008).

    A restaurao de ecossistemas degradados depende de conhecimento em diversas reas,

    especialmente na reconstituio de sua estrutura e da dinmica das comunidades que esto presentes

    no mesmo (ALMEIDA, 2000).

    4.1. Caracterizao de uma rea degradada

    Devido a sua inquestionvel importncia para a produo agrcola, o solo um dos

    componentes do agrossistema que tem sido mais estudado. A caracterizao do solo durante os

    estdios iniciais de degradao, no entanto, uma tarefa de difcil visualizao. possvel que um

    solo cultivado esteja sofrendo eroso laminar, por exemplo, sem que o seu efeito venha a ser notado

    na produtividade da cultura agrcola implantada sobre o mesmo, visto que a perda de finas camadas

    dos horizontes superficiais do solo seria um processo progressivo e, muitas vezes, quase

    visualmente imperceptvel (SOUZA, 2004). Em regies montanhosas, o declive do relevo pode

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    acentuar a eroso, levando a reduo da cobertura do solo e, se esse processo no for interrompido,

    pode resultar na evoluo para uma eroso em sulcos, e at mesmo voorocas.

    Os pesquisadores tm lanados esforos para entender o processo e tambm tm buscado

    identificar caractersticas do solo associadas a essas alteraes, desse modo seria possvel

    caracterizar o processo de degradao a partir do surgimento dessas alteraes.No entanto, existe

    grande dificuldade para se estabelecer quais caractersticas so mais adequadas para quantificar e

    caracterizar o processo, assim como quais so os padres de referncia que devem ser utilizados

    (DIAS & GRIFFITH, 1998).

    Atualmente, admitem-se diversas abordagens sobre a caracterizao de um ambiente

    degradado. Como exemplos, temos a abordagem restritiva ou segmentada, que preconiza a anlise

    de cada componente, facilitando sua visualizao e quantificao; e a abordagem ampla ou no-

    segmentada, que busca a avaliao do ambiente como um conjunto de componentes em equilbrio

    (COELHO, 2001).

    A atividade do homempode causar degradao fsica, alterando, por exemplo, a textura,

    estrutura, profundidade, densidade, taxa de infiltrao e capacidade de reteno de gua do solo;

    qumica, alterando os teores de carbono e nitrognio contidos na biomassa microbiana; e biolgica,

    alterando o carbono orgnico total e o teor de matria orgnica no solo. Quando essas caractersticas

    podem ser identificadas e quantificadas, possvel utilizar as mesmas como indicadores da

    qualidade do solo (REINERT, 1998).

    Aadequada utilizao desses indicadores depende de uma viso holstica do sistema e da

    definio criteriosa de valores de referncia para a avaliao dos estdios de degradao. Para tal,

    ainda necessria a realizao de pesquisas focadas na degradao para que seja possvel

    estabelecer rotinas confiveis e funcionais para o monitoramento e avaliao da degradao (DIAS

    & GRIFFITH, 1998; SOUZA, 2004).

    Rodrigues et al. (2007a) afirmam que ainda so raras as pesquisas sobre qualidade do solo

    sob o aspecto da degradao ambiental. E os mesmos autores ressaltam que as pesquisas nessa rea

    precisam evoluir para que sistemas de monitoramento e diagnstico mais fceis e prticos sejam

    implementados, visto que a recuperao de reas degradadas no consiste de aes isoladas, mas de

    um conjunto de atividades com o objetivo de recompor a paisagem que foi negativamente alterada

    (DIAS FILHO, 1998; DIAS & GRIFFITH, 1998).

    O banco de sementes composto pelas sementes viveis presentes no solo de uma

    determinada rea (HARPER, 1977), e est relacionado com a capacidade de estabelecimento de

    populaes vegetais e de manuteno da diversidade de espcies na rea aps os distrbios que

    causaram a sua degradao. Devido ao exposto, o banco de sementes tem sido utilizado como um

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    indicador ecolgico para monitorar e avaliar a regenerao de ecossistemas em recuperao

    (BRAGA et al., 2008; MARTINS, 2009).

    4.2. Cenrios de degradao

    O monitoramento uma atividade fundamental no acompanhamento das alteraes que

    ocorrem no sistema e uma das formas para avaliar o estdio de degradao ou de recuperao de

    reas a comparao dessas reas com paisagens naturais prximas, que sero consideradas reas

    de referncia, atravs de caractersticas locais como o clima, a hidrologia, a topografia, a geologia, a

    cobertura vegetal, o manejo do solo (CURTIA et al., 1994).

    No entanto, os procedimentos de comparao no so de fcil realizao, pois a identificao

    das reas de referncia requer experincia e, muitas vezes, depende da comparao entre

    comunidades vegetais que esto em diferentes fases fenolgicas.

    O procedimento mais adequado para o sucesso da recuperao a elaborao de cenrios pr

    e ps-degradao, onde so estabelecidas as condies da rea e os objetivos da recuperao,

    delimitando as metas sobre qual o uso que se pretende realizar na rea aps o processo de

    recuperao (TOY & DANIELS, 1998).

    4.3. Algumas estratgias de recuperao

    Os mtodos de recuperao de reas degradadas sofreram mudanas ao longo dos anos,

    devido evoluo das pesquisas e do surgimento de novas tecnologias.Nos ltimos anos, tem

    ocorrido um crescimento no interesse e na busca por novas alternativas ecolgicas de recuperao

    de reas degradadas, com nfase na recomposio da diversidade de espcies no sistema e na

    sustentabilidade dos ecossistemas recuperados (CHOI, 2004; MARTINS, 2007; 2009;

    RODRIGUES et al.,2007a; RODRIGUES et al., 2007b).

    4.3.1. REVEGETAO

    A recuperao e o desenvolvimento de uma cobertura vegetal que seja capaz de se auto-

    sustentar meta fundamental em grande parte dos projetos de recuperao de reas degradadas. A

    estratgia para promover a revegetao de uma rea degradada varia de acordo com o tipo de

    ecossistema.

    A compatibilidade entre as espcies nativas da regio e as espcies introduzidas para a

    recuperao, assim como a biodiversidade e o objetivo de uso da rea aps recuperao devem ser

    levadas em considerao (TOY & DANIELS, 1998).

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    Resende et al. (2002) afirmam que conhecer os atributos do solo e da vegetao que podem

    interferir no processo de degradao ambiental de fundamental importncia para entender o

    processo. Em relao vegetao, interessante conhecer o tipo e a intensidade de cobertura que

    ela promove. Em relao ao solo, os atributos de maior interesse so: o pH, o teor de nutrientes a

    espessura dos horizontes, a profundidade, a porosidade, a textura, a capacidade de reteno de gua,

    a estrutura, entre outros (DORAN & PARKIN, 1994; RESENDE et al., 2002).

    O processo de regenerao natural de um ambiente degradado tem incio com a chegada de

    sementes de espcies vegetais na rea, seu estabelecimento e sua reproduo. A determinao das

    espcies mais aptas a se estabelecerem no local influenciada pelas caractersticas do local, tal

    como a distncia entre o local e do banco de sementes, da instabilidade da superfcie do solo, da

    compactao, da acidez, entre outros (ALMEIDA, 2002).

    reas degradadas que foram sujeitas a remoo da vegetao e do solo, ou parte das camadas

    do solo, so propensas a recuperao por meio da revegetao. A recuperao da cobertura vegetal

    permite a regenerao atravs dos processos que a vegetao exerce sobre a morfologia, qumica e

    biologia do solo; alm de melhorar o aspecto visual da rea (RESENDE et al., 2002; GARAY et al.,

    2003; LYLE, 1987).

    A cobertura vegetal, como resultado da consequente influncia de seu sistema radicular,

    responsvel pela estruturao do solo. Alm disso, o sistema radicular de algumas espcies vegetais,

    em especial as espcies florestais, forma uma densa malha de razes na poro superficial do solo,

    criando uma defesa fsica eficiente contra a ao erosiva da gua (PRANDINI et al., 1982).

    A qualidade do solo definida por suas propriedades fsicas, qumicas e biolgicas. Um solo

    de melhor qualidade tem maior capacidade de promover o crescimento de plantas e regular o fluxo

    de gua no sistema. Alm disso, associa-se aos solos de melhor qualidade a capacidade de

    tamponar, atenuar e degradar compostos nocivos ao ambiente, em funo da maior atividade

    microbiolgica dos mesmos (DORAN & PARKIN, 1994; SPOSITO, 1998).

    4.3.2. TOPSOILING

    Atividades humanas que necessitam de revolvimento do solo (ao exemplo da minerao)

    devem preservar, armazenar e retornar o horizonte orgnico superficial do solo, que chamado de

    topsoil.Quandoesse procedimento no for possvel, um novo topsoil deve ser criadopara servir

    como substrato para odesenvolvimento da vegetao futura.

    Em alguns casos mais drsticos, o local degradado j no apresenta mais qualquer vestgio

    de topsoil. Nesses casos, ser necessrio o uso de um material substituto para a recuperao, e uma

    criteriosa seleo desse material e posterior trabalho sobre suas caractersticas qumicas, fsicas e

    biolgicas devero ser realizadas (TOY e DANIELS, 1998; TOY et al., 2002).

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    4.3.3. ACMULO DE MATRIA ORGNICA

    A manuteno de restos vegetais essencial para o equilbrio da matria orgnica no solo. Os

    microrganismos utilizam esses materiais como fonte de nutrientes e energia para o

    seudesenvolvimento, resultando na liberao de substncias orgnicas no solo. Essesprocessos

    biolgicos que ocorrem na matria orgnica so fundamentais para o equilbrio no ecossistema

    (NOVAIS et al., 1990).

    Os processos de acmulo de matria orgnica e de ciclagem de nutrientes em um ecossistema

    so essenciais para a sua recuperao e para que o mesmo atinja um equilbrio ecolgico. Estes

    processos podem ser restabelecidos atravs da seleo e da reposio do material orgnico,oriundo

    de resduos vegetais e animais, que aporta o solo, associado com as correes necessrias. Resduos

    de diversas naturezas produzidos pelo homem podem ser empregados, ao exemplo do lodo de

    esgoto, rejeitos alimentares e cinzas de carvo, que, de acordo com as suas caractersticas, podem

    atuar como corretivos e beneficiar a reciclagem de nutrientes no solo. Apesar disso, vlido

    ressaltar que esses materiais devem ser criteriosamente avaliados e cuidadosamente administrados

    antes de seu emprego no solo, para evitar a contaminao por metais pesados ou txicos e assegurar

    que os teores de nutrientes esto balanceados e passveis de liberao (SOUZA, 2004).

    4.3.4. TRANSPOSIO DE SERAPILHEIRA

    A presena da serapilheira na superfcie do solo, alm de facilitar a incorporao de novas

    sementes, particularmente importante suprir o solo e as plantas com nutrientes durante a sua

    decomposio, esse processo considerado essencial na restaurao da fertilidade do solo nos

    ambientes que esto no incio do processo de sucesso ecolgica (EWEL, 1976).

    Segundo Martins (2007), transpor a serapilheira e o banco de sementes do solo pode ser uma

    alternativa vivel para acelerao do processo de sucesso em reas em que o solo foi degradado,

    visto que em uma camada superficial de solo ou de restos vegetais esto presentes sementes de

    diferentes espcies, nutrientes, matria orgnica e microrganismos, essenciais para a recuperao da

    fertilidade e da atividade biolgica destes solos. Mas vlido ressaltar a dificuldade em se definir

    qual o melhor componente a ser utilizado, devido grande variabilidade que pode ser encontrada na

    composio da serapilheira e do banco de sementes de diferentes locais.

    4.3.5. RECUPERAO DE VOOROCAS

    As voorocas so formadas, geralmente, em rupturas da encosta do terreno ou em reas onde

    a cobertura vegetal foi reduzida. Em casos extremos de eroso, pode ocorrer a formao de

    voorocas de grandes dimenses. Nessas situaes, planos de recuperao imediatos devem ser

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    executados. A recuperao de voorocas consiste no processo de desvio da gua, no preenchimento

    da rea onde o solo foi perdido e na sua revegetao (SELBY, 1993).

    Em determinados casos, a reduo do ngulo dos taludes laterais ou mesmo a reconstruo

    das paredes laterais do interior da vooroca ser necessria para a sua recuperao. Esses

    procedimentos devem ser executados fora do perodo chuvoso e as guas da cabeceira e laterais da

    vooroca devem ser desviadas (SOUZA, 2004). Em alguns casos, o preenchimento total da

    vooroca possvel de ser executado, ou mesmo a construo de bancadas no interior da mesma.

    Para evitar o avano da vooroca, o passo fundamental a revegetao dos taludes laterais da

    vooroca, normalmente essa revegetao feita com espcies gramneas, leguminosas herbceas,

    espcies arbustivas ou tambm pode ser adicionada serapilheira (IBAMA, 1990).

    Outra alternativa a construo de pequenas barragens dentro da vooroca, que podem ser

    construdas com pedras soltas ou muros encravados nas paredes laterais e no fundo, a fim de evitar

    que a gua cause eroso no fundo e nos lados das grotas (MARAL & GUERRA, 2001).

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Desde tempos antigos, a humanidade vem enfrentando problemas devido degradao

    ambiental resultante de atividades antrpicas executadas de maneira inadequada e com prticas

    insustentveis. As atividades do homem, que muitas vezes foram e ainda so baseadas em modelos

    de produo que objetivam apenas a maximizao do retorno econmico, sem preocupaes com a

    conservao ambiental acabaram, em muitos casos, exaurindo o ambiente e provocando a perda de

    sua capacidade de recuperao natural. Devido a esse cenrio, existe a necessidade de interveno

    para que os ambientes degradados possam se recuperar, no entanto, a soluo para os problemas

    ambientais no to simples ou fcil de ser executada.

    Atualmente, a preocupao com o aspecto de preservao ambientaltem crescido no mundo,

    ecasos de sucesso na recuperao de reas degradadas e novas tecnologias de produo,

    preconizando o desenvolvimento sustentvel, tm surgido a cada dia. Apesar disso, esse tema ainda

    est longe de ser concludo, pois a recuperao de reas degradadas uma cincia relativamente

    nova e a adoo dos novos modelos sustentveis de desenvolvimento ainda no uma prtica

    consolidada pela maioria.A conscientizao ambiental, aliada ao apoio ao desenvolvimento de

    metodologias e tecnologias a serem empregadas na recuperao so peas fundamentais para o

    avano da humanidade em direo a uma relao mais harmnica com a natureza.

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    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALMEIDA, D. S. Recuperao ambiental da mata atlntica. Ilhus: Editus, 2000. 130p.

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