osteopatia

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____________________________________ 1 Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual Técnicas de terapia manual: definições, conceitos e princípios básicos. Uma revisão bibliográfica Francilene Guedes Araújo 1 [email protected] Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual Faculdade Ávila Resumo As técnicas de terapia manual são manipulações, mobilizações e exercícios específicos com objetivo de estimular a propriocepção, produzir elasticidade a fibras aderidas, estimular o líquido sinovial e promover a redução da dor. O objetivo dessa pesquisa é realizar uma revisão bibliográfica sobre as principais técnicas da terapia manual: osteopatia, mobilização articular, mobilização neural, em suas definições, conceitos e princípios básicos. A pesquisa bibliográfica foi realizada no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, utilizando o portal do Pubmed, Lilacs e Scielo com as palavras-chave: “terapia manual”, “osteopatia”, “mobilização articular” e “mobilização neural”. Foi realizada também, revisão bibliográfica no acervo da biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Campus XII. O resultado e discussão foram realizados por aspectos relevantes da literatura selecionada. Concluímos que a terapia manual tem grande comprovação científica e vem sendo cada vez mais utilizadas nas mais diversas patologias. Palavras-chave; Terapia manual; Mobilização articular e neural; Osteopatia. Abstract The manual therapy techniques are manipulation, mobilization and specific exercises in order to stimulate proprioception, produce elastic fibers adhered to stimulate synovial fluid and promote the reduction of pain. The objective of this research is to realize a bibliographic review of the main techniques of manual therapy, osteopathy, joint mobilization, neural mobilization, in their definitions, basic concepts and principles. The literature search was conducted from November 2011 to February 2012 using the Pubmed, Scielo and Lilacs portal with the keywords: "manual therapy", "osteopathy," "joint mobilization" and "neural mobilization". Was also performed, literature review in the library collection at the University of Pará, Campus XII. The results and discussion were carried out by relevant

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Page 1: osteopatia

____________________________________ 1Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual

Técnicas de terapia manual: definições, conceitos e princípios básicos.

Uma revisão bibliográfica

Francilene Guedes Araújo1

[email protected]

Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila

Resumo

As técnicas de terapia manual são manipulações, mobilizações e exercícios específicos com

objetivo de estimular a propriocepção, produzir elasticidade a fibras aderidas, estimular o

líquido sinovial e promover a redução da dor. O objetivo dessa pesquisa é realizar uma

revisão bibliográfica sobre as principais técnicas da terapia manual: osteopatia,

mobilização articular, mobilização neural, em suas definições, conceitos e princípios básicos.

A pesquisa bibliográfica foi realizada no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012,

utilizando o portal do Pubmed, Lilacs e Scielo com as palavras-chave: “terapia manual”,

“osteopatia”, “mobilização articular” e “mobilização neural”. Foi realizada também,

revisão bibliográfica no acervo da biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Campus

XII. O resultado e discussão foram realizados por aspectos relevantes da literatura

selecionada. Concluímos que a terapia manual tem grande comprovação científica e vem

sendo cada vez mais utilizadas nas mais diversas patologias.

Palavras-chave; Terapia manual; Mobilização articular e neural; Osteopatia.

Abstract

The manual therapy techniques are manipulation, mobilization and specific exercises in order

to stimulate proprioception, produce elastic fibers adhered to stimulate synovial fluid and

promote the reduction of pain. The objective of this research is to realize a bibliographic

review of the main techniques of manual therapy, osteopathy, joint mobilization, neural

mobilization, in their definitions, basic concepts and principles. The literature search was

conducted from November 2011 to February 2012 using the Pubmed, Scielo and Lilacs portal

with the keywords: "manual therapy", "osteopathy," "joint mobilization" and "neural

mobilization". Was also performed, literature review in the library collection at the

University of Pará, Campus XII. The results and discussion were carried out by relevant

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aspects of selected literature. We conclude that manual therapy has great scientific evidence

and is being increasingly used in various pathologies.

Key words: Manual Therapy, Joint mobilization and neural; Osteopathy.

1. Introdução

A terapia manual se tornou um importante componente na intervenção de doenças

ortopédicas e neurológicas sendo hoje considerada uma área de especialização da fisioterapia.

Os primeiros documentos sobre terapia com as mãos foram encontrados na China Antiga e

também em escritos que constam em paredes do Egito que tem cerca de 15 mil anos e

serviram de base para o desenvolvimento da grande maioria das técnicas atuais. Varias

abordagens ou técnicas de terapia manual evoluíram com o passar dos anos e são comumente

aplicadas, a técnicas de Cyriax, de Mennell e as osteopáticas foram criadas por médicos,

enquanto as abordagens de Maitland, de Kaltenborn e de Mckenzie foram desenvolvidas por

fisioterapeutas. Entre essas filosofias básicas, surgiu uma grande quantidade de subconjuntos

como a liberação miofascial, a técnica de liberação posicional, técnica de mobilização

neurodinâmica, mobilização e manipulação articular, exercícios de resistência manual,

facilitação neuromuscular proprioceptiva (DUTTON, 2010).

Atualmente, a terapia manual é utilizada no tratamento de várias patologias, incluindo

disfunção da extremidade articular, disfunção vertebral, distúrbios da articulação temporo-

mandibular, dores de cabeça, fibrose cística, compressões nervosas, imobilização, entre outras

(SMITH JR, 2007). Um diagnóstico definitivo não é possível em 80% de dor lombar, a

terapia manual é considerada elemento-chave nas recentes diretrizes internacionais para o

tratamento da dor lombar (KENT, 2010). Dor no pescoço é uma das queixas mais comuns do

sistema músculo-esquelético, aproximadamente, dois terços da população, em algum

momento de sua vida vão sentir essa dor, a terapia manual tem o mesmo resultado na maioria

dessas dores se comparados com outras terapias, por exemplo, a medicamentosa, porém por

um menor custo (GROENEWEG, 2010). Em um programa que envolveu técnicas de

mobilização aplicada com cuidado para a coluna torácica em pacientes com osteoporose, a

aplicação do centro de força póstero-anterior para processos espinhosos torácicos causa

extensão dos segmentos torácicos movidos, levando a melhor amplitude de movimento em

extensão localmente e em segmentos adjacentes de movimento o que pode melhorar a

amplitude de extensão ativa e reduzir a dor relacionada com a rigidez intervertebral

(BENNELL et al, 2010).

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As técnicas de terapia manual são manipulações, mobilizações e exercícios específicos

com objetivo de estimular a propriocepção, produzir elasticidade a fibras aderidas, estimular o

líquido sinovial e promover a redução da dor (ANDRADE, 2008).

Este estudo tem por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre as principais

técnicas da terapia manual: mobilização articular, manipulação articular, mobilização neural e

osteopatia em suas definições, conceitos, princípios básicos com o intuito de esclarecer e

fornecer mais uma fonte de pesquisa para os profissionais da área da fisioterapia.

2. Método

No período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, foi realizada uma revisão

bibliográfica de artigos, livros, monografias, dissertações e teses sobre o tema terapia manual.

Para esta pesquisa, foi utilizado o bando de dados disponível no portal do Pubmed para

obtenção de literatura em língua Inglesa e espanhola com as seguintes palavras-chave:

“manual therapy”, “osteopathy”, “joint mobilization” e “mobilizatin neural”, a seleção buscou

citações no índice título, e em todas as fontes. Foram escolhidas as literaturas contendo texto

completo livre, em língua inglesa e espanhola dos últimos seis anos. Para a obtenção da

literatura em língua portuguesa, foi utilizado o portal do lilacs e scielo, utilizando a palavras-

chave “terapia manual”, “osteopatia”, “mobilização articular” e “mobilização neural”. A

seleção buscou citações no índice título, e em todas as fontes como lilacs, ibecs, medline,

scielo, entre outras, para se obter maior número de artigos. Foram escolhidas as literaturas

contendo texto completo, em língua portuguesa dos últimos seis anos. Foi realizada também,

revisão bibliográfica no acervo da biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Campus XII.

Com isso, foi construído o artigo e discutidos os resultados das citações bibliográficas

e os aspectos relevantes da literatura selecionada nesta pesquisa sobre o tema.

3. Resultado e Discussão

3.1 Mobilização e Manipulação Articulares

A mobilização articular refere-se às técnicas de terapia manual usadas para modular a

dor e tratar as disfunções articulares que limitam a amplitude de movimento, abordando

especificamente alterações na mecânica articular. A mecânica articular pode estar alterada em

razão de dor, mecanismo de defesa muscular, derrame articular, contraturas ou aderências nas

cápsulas articulares ou ligamentos de suporte, ou desalinhamento e subluxação das superfícies

Page 4: osteopatia

ósseas. Para que a mobilização articular seja usada efetivamente como tratamento, o

profissional precisa conhecer e ser capaz de examinar a anatomia, a artrocinemática, a

osteocinemática e os mecanismos neurofisiológicos musculoesqueléticos (KISNER, 2009).

Quando se observa a mobilidade articular, os termos artrocinemática e

osteocinemática devem ser diferenciados. A movimentação artrocinemática refere-se aos

movimentos das superfícies articulares de rolamento, rotação, giro e deslizamento. Este é um

componente necessário da movimentação osteocinemática, que se refere ao movimento do

osso descrito em planos como a flexão e extensão que ocorrem no plano sagital, abdução e

adução no plano coronal, entre outros. A mobilidade pode ser afetada por alterações na

movimentação artrocinemática, na movimentação osteocinemática, ou em ambas (HALL,

2007).

A mobilização articular trata os movimentos acessórios, com perda de mobilidade, de

forma passiva com objetivo de recuperar a artrocinemática, ou seja, os movimentos de giro,

rotação, rolamento e deslizamento entre as superfícies articulares e, por conseguinte, os

movimentos osteocinemáticos. O retorno dos movimentos promove melhora da congruência

articular, diminuindo o atrito mecânico na articulação, aliviando a dor, edema e,

conseqüentemente, a função do segmento corporal comprometido (REZENDE, 2006).

A disfunção de mobilidade articular parece ser um problema local muito específico,

mas ela é integrável à economia geral do corpo e pode se expressar em termos de mudança de

comportamento de uma ou varias relações da estrutura, responsável por um novo estado

funcional no seio de um sistema integrado com suas consequências locais ou à distância

(QUEF, 2003). A mobilidade comparativa nas articulações adjacentes reside no conceito de

flexibilidade relativa, onde o movimento no corpo humano segue o trajeto de menor

resistência, por exemplo, se um segmento da coluna vertebral apresenta-se hipomóvel em

virtude de uma lesão ou doença, o segmento é mais rígido e impõe mais resistência ao

movimento que as articulações adjacentes hipermoveis (HALL, 2007).

Com a realização da mobilização articular, o movimento estimula a atividade

biológica do líquido sinovial, trazendo nutrientes para a cartilagem articular avascular das

superfícies articulares e para a fibrocartilagem intra-articular dos meniscos. A extensibilidade

e a força tensiva dos tecidos articulares e periarticulares são mantidas com o movimento

articular. Impulsos nervosos aferentes dos receptores articulares transmitem informações para

o sistema nervoso central e, portanto, fornecem a percepção de posição e movimento. Os

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movimentos de oscilação e separação de pequena amplitude são usados para estimular os

mecanorreceptores que podem inibir a transmissão de estímulos nociceptivos no nível de

medula espinhal ou tronco encefálico (KISNER, 2009).

A técnica de mobilização articular proposta por Maitland (2001) baseia-se nos

movimentos passivos oscilatórios, rítmicos, classificados em quatro níveis de mobilização e

um quinto nível chamado de manipulação articular. As técnicas se diferenciam de acordo com

a amplitude dos movimentos acessórios, naturalmente, presentes nas articulações e também

na regra côncavo-convexa, abordando a combinação dos movimentos conforme a superfície

das articulações sinoviais. A superfície convexa móvel desliza no sentido oposto ao

movimento osteocinemático (REZENDE, 2006; BARBOSA, 2008; MAITLAND; 2001).

Os quatro graus da mobilização articular do método Maitland são classificados por

suas variações nas formas de aplicações e efeitos fisiológicos: grau I é caracterizado por

micromovimentos no começo do arco de movimento em ritmo lento, livre da resistência de

tecidos, tendo como efeito fisiológico a entrada de informações neurológicas através de

mecanorreceptores, ativando as comportas medulares; grau II, movimento grande no meio do

arco em ritmo lento sem resistência, que, além de ativar as comportas medulares, estimula o

retorno venoso e linfático, causando clearance articular; grau III, movimento por todo arco

com oscilação mais rápida que o grau I e II, com resistência dada pelos tecidos

periarticulares, causando os mesmos efeitos do grau II acrescido de estresses nos tecidos

encurtados por aderências; grau IV, micromovimentos no final do arco que promovem es-

tresses teciduais capazes de movimentar discretamente tecidos fibróticos. Maitland também

classificou a manipulação articular como grau V (REZENDE, 2006; BARBOSA, 2008;

MAITLAND; 2001).

Outro conceito de mobilização articular foi proposto por Brain Mulligan, a técnica

realiza mobilização com movimento e é a continuidade natural da progressão no

desenvolvimento da fisioterapia manual: de movimentos ativos de auto-alongamento para o

movimento fisiológico passivo aplicado pelo fisioterapeuta até as técnicas passivas de

mobilização acessória (KISNER, 2009). A técnica combina força de deslizamento manual

sustentada com movimento fisiológico simultâneo da articulação. Pode ser executada

ativamente pelo paciente ou de forma passiva pelo fisioterapeuta, com a intenção de realinhar

problemas posicionais ósseos (DUTTON, 2010). A mobilização com movimento é a

aplicação concorrente de mobilização acessória sem dor com o movimento fisiológico. Uma

Page 6: osteopatia

pressão adicional ou alongamento passivo no final da amplitude é então aplicado sem que

haja a barreira da dor, em algumas exceções, a técnica é aplicada em paralelo ao plano de

movimento e sustentada por todo o movimento até que a articulação retorne a sua posição

inicial, sem causar dor quando aplicada (KISNER, 2009).

O sucesso da técnica de Milligan se baseia na teoria de que as deficiências posicionais

ósseas contribuem de forma substancial para as restrições articulares dolorosas o que é similar

à teoria do sucesso das manipulações articulares (KISNER, 2009).

Entretando, a Escola de Utrecht trás uma técnica com outra teoria, baseada na

avaliação preferencial da individualidade do paciente de acordo com o funcionamento para

documentar e interpretar suas assimetrias naturais na forma anatômica, postural e de

movimentos. Essa escola mostrou que os movimentos são realizados de forma assimétrica,

podendo ser relacionado com a função de movimento assimétrico. O diagnóstico geral é

caracterizado por diagnósticos específicos de acordo com as assimetrias naturais. Algumas

explicações sobre as medidas e os movimentos são: (preferencial) dobrável mão;

(preferencial) dobrar o braço, o que olho é o olho mestre; uso perna (preferencial) chutando

uma bola. O objetivo aqui é descrever a direção ideal e posição dos eixos de movimento para

todas as juntas de acordo com este modelo. O objetivo dessa técnica é aperfeiçoa o

posicionamento dos eixos de movimento nas articulações. Para conseguir isso,

tridimensionais movimentos das articulações são executados repetidamente. Para fins

totalmente posicionar os eixos de movimento, o terapeuta deve (repetidamente) realizam

movimentos articulares passivos com baixa velocidade e alta precisão. O tratamento baseia-se

em movimentos preferenciais encontrados no paciente bem como a interpretação de acordo

com o protocolo destes movimentos e não sobre a queixa do paciente. Ele é executado através

da aplicação de movimentos articulares passivos nas articulações da coluna vertebral e as

articulações das extremidades. Durante este processo fisiológico, as limitações articulares são

cuidadosamente observadas e os movimentos de tração ou de alta velocidade não serão

aplicados, como pode ser o caso em outras formas de terapia manual (GROENEWEG, et.al.,

2010).

Os médicos ingleses foram os primeiros a usar as técnicas de manipulações articulares

e vários livros a respeito foram publicados no início do século XX. Ao contrário das

mobilizações, que são aplicadas uma ou várias vezes dentro ou na amplitude fisiológica dos

movimentos articulares. As técnicas de manipulações articulares envolvem thrusts alta

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velocidade nas articulações, forçando-as além do limite restrito de movimento. Em

comparação com os quatro graus de mobilização articular (graus I a IV), as técnicas de thrust

de alta velocidade se denominam grau V. A mobilização articular utiliza vários graus de

amplitude, enquanto a manipulação articular emprega, geralmente, o thrust de alta velocidade

e de baixa amplitude (DUTTON, 2010).

O movimento brusco (thrust) é um movimento de alta velocidade e curta amplitude

que não pode ser impedido pelo paciente. O movimento é realizado no final do limite

patológico, ou seja, no final da amplitude de movimento da articulação e visa alterar as

relações de posicionamento, soltar aderências ou estimular receptores articulares. Quando

uma força específica é aplicada às articulações corporais para permitir sua distração, ouvem-

se alguns estalidos conhecidos por cavitação. Contudo, o objetivo das técnicas de thrust não é

produzir cavitação, mas produzir hipermobilidade temporária que restaure o jogo articular

normal (DUTTON, 2010; KISNER, 2009).

3.2 Mobilização Neural

Embora a técnica de mobilização neural não seja amplamente conhecida, a ideia de

utilizar um tratamento mecânico para o tecido neural não é recente. Os princípios e métodos

do alongamento neural já existem desde 1800, tendo sido progressivamente aperfeiçoados

tanto na teoria, quanto em sua aplicação clínica (MONNERAT, 2010). A interligação da

função mecânica e fisiológica do sistema nervoso foi denominada Neurodinâmica. A principal

função do sistema nervoso é a condução de impulsos; porém, esta é extremamente dependente

da parte mecânica desse sistema e vice-versa. Não cabe ao sistema nervoso somente conduzir

impulsos por meio de grandes amplitudes e complexidades de movimento, mas também

adaptar-se mecanicamente a esses movimentos, retraindo-se e alongando-se, podendo até

mesmo limitar essas amplitudes em certas combinações de movimentos. Quando a

neurodinâmica está alterada, ocorre o que se denomina de Tensão Neural Adversa, que

consiste numa resposta mecânica e fisiológica anormal quando a amplitude normal do sistema

nervoso e sua capacidade de alongamento são testadas. A atividade adequada do sistema

nervoso depende de sua integridade, o comprometimento de sua mecânica e da sua fisiologia

pode resultar em outras disfunções próprias, bem como das estruturas musculoesqueléticas

que recebem sua inervação (VASCONCELOS, 2011).

Uma lesão nervosa gera alterações nas suas propriedades mecânicas (movimento e

elasticidade) e fisiológicas (condução de impulso nervoso e fluxo axoplasmático) do nervo,

Page 8: osteopatia

alterando sua neurodinâmica, que, por sua vez, sustentam ou agravam a lesão. A lesão

implicará alteração nas funções do nervo, por conseguinte a alteração da condução elétrica

acarreta distúrbios sensoriais (dor e parestesias), distúrbios motores (distonias) e fraqueza

autonômica (vasomotores e pilomotores), ou seja, as lesões podem derivar para disfunções

nas estruturas que recebem sua inervação. Como consequência, estruturas músculo-

esqueléticas podem estar comprometidas em uma disfunção de origem neural (MACHADO,

2010).

A mobilização neural tem como princípio que comprometimentos do funcionamento e

da mecânica do sistema nervoso (elasticidade, movimento, condução, fluxo axoplasmático)

podem gerar disfunções próprias do sistema nervoso ou nas estruturas musculoesqueléticas

por ele inervadas, e que a recuperação da biomecânica e fisiologia adequada, permite restaurar

a extensibilidade e a função normal desse sistema, bem como melhora a condutibilidade do

impulso nervoso. A técnica consiste em impor ao sistema nervoso maior tensão e ou

movimento, mediante determinadas posturas para que, em seguida, sejam aplicados

movimentos lentos e rítmicos direcionados aos nervos periféricos e à medula espinhal

(VASCONCELOS, 2011; MACHADO, 2010; VÉRAS, 2011).

A mobilização do sistema tem sido abordada nos últimos vinte anos com objetivo

terapêutico, especialmente para manutenção, aumento da amplitude de movimento e alivio da

dor. Recentemente, a técnica vem sendo utilizada também com o objetivo de diagnóstico,

avaliando as mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas. A técnica de

mobilização neural promove facilidade na realização do movimento e a elasticidade do

sistema nervoso, gerando e aperfeiçoando suas funções normais, com consequente aumento

da amplitude. Essa modalidade de intervenção parte do pressuposto de que se houver uma

alteração da mecânica ou fisiologia do sistema neural, pode ocorrer disfunção no próprio

sistema nervoso ou em estruturas (LOPES, 2010).

Quando ocorre um alongamento neural, os vasos sanguíneos são estrangulados

comprometendo assim o fluxo intraneural e deteriorando a função nervosa. Se este

alongamento for discreto, além dos limites de proteção por breve período, a função nervosa

tende a voltar rapidamente ao normal. Entretanto, se a tensão sobre o nervo for severa ou

sustentada por longo período de tempo, as alterações na função nervosa serão permanentes. O

termo “alongamento neural” não deve ser utilizado, pois o alongamento do nervo poderá

irritar e ocasionar dor. Em uma disfunção do tecido neural, é comum que a microcirculação

Page 9: osteopatia

no nervo esteja anormal e, portanto, um alongamento mínimo poderá comprometer o fluxo

circulatório e reduzir a função nervosa. Por estas razões é imprudente tratar o tronco nervoso

danificado ou comprimido com técnicas de alongamento (MONNERAT, 2010).

Segundo Veloso (2009), o tratamento através da mobilização neural é baseado em dois

tipos de manobras, as tensionantes e as deslizantes. As manobras tensionantes são utilizadas

de forma passiva para restaurar a mobilidade fisiológica e melhorar a propriedade

viscoelastica do tecido neural. A tensão aplicada não ultrapassa o limite elástico da estrutura

neural, por isso não é lesiva. O deslizamento neural é obtido na técnica tensionante por meio

do movimento de uma ou duas articulações de maneira que o leito e o tecido conjuntivo do

nervo sejam alongados (tracionados). As manobras deslizantes são manobras utilizadas de

forma passiva para restaurar a mobilidade fisiológica do tecido neural, sem que com isso seja

utilizada tensão exagerada no nervo. A tensão gerada só é necessária para permitir o

deslizamento do nervo em relação às estruturas adjacentes. Tal manobra propicia diminuição

do quadro álgico devido à melhora do suporte nutricional e retorno venoso intraneural.

3.3 Osteopatia

Nos Estados Unidos, no final do século IXX, encontra-se os primórdios da osteopatia.

Quando AndrewTaylor Still, infeliz com a prática médica ortodoxa, fundava a osteopatia em

1874, com ênfase no cuidado holístico de saúde, incluindo a medicina preventiva e o papel

vital do sistema músculo-esquelético na saúde. Ainda propôs a inter-relação entre a estrutura

do corpo com a sua função, capacidade inata de se curar. Contudo, esta inter-relação pode ser

melhorada através da técnica manual, especificamente, tratamento osteopático manipulativo

(SMITH JR, 2007)

O conceito básico da osteopatia é de que “O homem é um ser indivisível” e como

princípio a auto-regulação, onde o corpo tem a capacidade de autocura, ou seja, o “Princípio

da Imunidade”. Outro principio é que a estrutura comanda a função, sendo assim, pode-se

diagnosticar e tratar as disfunções. A osteopatia analisa o corpo como uma unidade, onde tudo

se interliga e tem a função de adquirir a homeostásia. Deste modo, o corpo tem a capacidade

de reencontrar o equilíbrio (RAUBER, 2007; REZENDE, 2008).

A lesão osteopática é geralmente uma tensão na fascia que em uma articulação puxa

um segmento ósseo móvel para si e o impede de mover-se no sentido oposto, tudo isso

ocorrendo dentro das possibilidades fisiológicas desta articulação. Esta definição tem como

Page 10: osteopatia

primeiro corolário a máxima osteopática de “vai no sentido da lesão, não vai no sentido

inverso”. A lesão osteopática é uma lesão fisiológica não ultrapassando a amplitude articular

normal da articulação, ou seja, não é uma luxação nem uma subluxação. Isso nos traz a

máxima, “a normalização articular nunca é uma manobra forçada” (BIENFAIT, 1997).

A osteopatia faz o diagnóstico palpatório de bloqueios tissulares, em geral, e

articulares, em particular, igualmente chamados lesões ou disfunções, necessitando utilizar a

manipulação. A lesão osteopática vai se instalar entre as barreiras anatômicas, impedindo o

movimento ou tornando-o diferente em razão de fatores articulares, musculares.

Ligamentares, fasciais, neurológicos ou endócrinos (QUEF, 2003).

A partir de inúmeros estudos, a osteopatia conseguiu interligar o estudo músculo-

esquelético ao craniano, ao visceral e a todas as estruturas e sistemas. Por exemplo, a

osteopatia visceral é um conjunto de técnicas manuais destinadas a diagnosticar e normalizar,

tanto quanto possível, as disfunções mecânicas, vasculares e neurológicas das vísceras e

órgãos localizadas no pescoço, tórax, abdômen e bacia, com objetivo de melhorar seu

funcionamento e diminuir a causa determinante das dores projetadas no corpo em geral e das

disfunções articulares ao nível do músculo-esquelético (REZENDE, 2008).

A osteopatia utiliza as manipulações articulares para o tratamento da melhora do

alinhamento postural e outras expressões da dinâmica músculo-esqueléticas em pacientes.

Essas manipulações envolvem movimentos de cisalhamento, extensão longitudinal

estiramento, compressão de pressão profunda, e descontrair movimentos de torção. No

entanto, a carga mecânica excessiva e manobras de alta velocidade apresentam alguns riscos

para os pacientes e deve ser abordada com cautela por profissionais manuais. Atualmente, as

forças mecânicas são aplicadas de maneira intuitiva, que pode ser útil em alguns casos, mas

prejudicial em outros (CHAUDHRY, 2008).

O verdadeiro tratamento osteopático não está na correção da lesão dolorosa, mas na

procura e correção da lesão primaria inicial (BIENFAIT, 1997).

4. Conclusão

Segundo Dutton (2010), apesar da grande variedade de abordagens e lógicas, há

consenso sobre os critérios que são importantes para a aplicação correta das técnicas de

terapia manual. Esses critérios envolvem:

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Conhecimento das formas relativas das superfícies articulares (côncava ou convexa): se a

superfície da articulação for convexa em relação à outra superfície, o deslizamento

ocorrerá na direção oposta ao movimento do osso angular. No entanto, se a superfície

articular for côncava, o deslizamento articular ocorrerá na mesma direção do movimento

do osso.

Duração, tipo e irritabilidade dos sintomas: essas informações oferecem ao fisioterapeuta

algumas diretrizes para a determinação da intensidade da aplicação de uma técnica

selecionada.

O paciente e a posição do fisioterapeuta: o posicionamento correto do paciente é essencial

tanto pata ajudá-lo a relaxar como para garantir a utilidade da mecânica mais segura para

o corpo. Quando os pacientes estão relaxados, a atividade muscular diminui, reduzindo a

quantidade de resistência encontrada durante a aplicação da técnica.

Posição da articulação a ser tratada: a posição da articulação a ser tratada deve ser

apropriada para o estágio de cicatrização e para a habilidade do fisioterapeuta. Quando o

paciente apresentar uma condição aguda, recomenda-se trabalhar com a articulação na

posição de repouso, que se refere aquela adotada pela articulação lesionada, em vez de

posição clássica de repouso das articulações normais.

Colocação das mãos: sempre que possível, o contato com o paciente deve ser

maximizado. A mão deve amoldar-se à área em tratamento, de maneira que as forças

sejam distribuídas sobre a área maior.

Especificidades: a especificidade refere-se à precisão do procedimento em relação a seus

objetivos. Sempre que possível, as forças geradas por determinada técnica devem correr

no ponto em que são tratadas.

Segundo as literaturas encontradas, a maioria das técnicas de terapia manual tem como

exame diagnóstico na função da articulação, na estabilidade, nos padrões de movimento, na

quantidade de movimento e na gravidade das lesões. Para diagnosticar as queixas do paciente,

é feita a palpação das estruturas, realizado movimentos passivos e ativos das articulações e

teste de tensão neural. Os resultados dão informações quanto a dor, a parestesia, a articulações

com rigidez de movimento e músculos com espasmo. Essa sintomatologia vai direcionar o

tratamento e a melhor técnica de terapia manual.

Page 12: osteopatia

Atualmente, as técnicas de terapia manual tem grande comprovação científica e vem

sendo cada vez mais utilizadas nas mais diversas patologias, devido o grande número de

benefícios em um menor tempo e pelo baixo custo.

5. Referências Bibliográficas

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entre os efeitos de técnicas de terapia manual isoladas e associadas à laserterapia de

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