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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática SEQUÊNCIA DIDÁTICA TRANSTORNOS ALIMENTARES NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA PROPOSTA DIRIGIDA AOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA Adriana Pereira Medina Stracieri Belo Horizonte Maio de 2009

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  • Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática

    SEQUÊNCIA DIDÁTICA “TRANSTORNOS ALIMENTARES NO AMBIENTE

    ESCOLAR”: UMA PROPOSTA DIRIGIDA AOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA

    PÚBLICA

    Adriana Pereira Medina Stracieri

    Belo Horizonte

    Maio de 2009

  • Adriana Pereira Medina Stracieri

    SEQUÊNCIA DIDÁTICA “TRANSTORNOS ALIMENTARES NO AMBIENTE

    ESCOLAR”: UMA PROPOSTA DIRIGIDA AOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA

    PÚBLICA

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

    da Pontifícia Universidade Católica de Minas

    Gerais, como requisito parcial para obtenção do

    título de Mestre em Ensino de Ciências e

    Matemática.

    Orientadora: Profa. Dra. Andréa Carla Leite

    Chaves

    Co-orientador: Prof. Dr. Francisco Ângelo

    Coutinho

    Belo Horizonte

    2009

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    Stracieri, Adriana Pereira Medina

    S894s Sequência didática “Transtornos Alimentares no ambiente

    escolar”: uma proposta dirigida aos professores de uma escola

    pública / Adriana Pereira Medina Stracieri. Belo Horizonte, 2009.

    100f.: Il.

    Orientadora: Andréa Carla Leite Chaves

    Co-orientador: Francisco Ângelo Coutinho

    Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de

    Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e

    Matemática.

    1. Transtornos da alimentação. 2. Nutrição – Estudo e ensino.

    3. Política alimentar – Formação de professores. I. Chaves, Andréa

    Carla Leite. II. Coutinho, Francisco Ângelo. III. Pontifícia

    Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-

    Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título.

    CDU: 616.89-008

  • Adriana Pereira Medina Stracieri

    Sequência Didática “Transtornos Alimentares no Ambiente Escolar”: Uma proposta

    dirigida aos professores de uma escola pública

    Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e

    Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial

    para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

    __________________________________________________________

    Andréa Carla Leite Chaves (Orientadora) – PUC Minas

    __________________________________________________________

    Francisco Ângelo Coutinho (Co-orientador) – PUC Minas

    __________________________________________________________

    Dirce Ribeiro de Oliveira - UFMG

    __________________________________________________________

    Amauri Carlos Ferreira – PUC Minas

    Belo Horizonte, 25 de maio de 2009

  • À Deus sempre, por tudo.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao meu esposo Fabiano pelo amor, compreensão, carinho, ajuda e força sempre

    presentes.

    Ao meu filho Pedro por ser fonte de vida e alegria em minha vida.

    Aos meus queridos pais Rubens e Lúcia pelo carinho, dedicação e apoio

    incondicionais.

    À querida professora Andréa Carla que acolheu esta proposta de trabalho e esteve

    presente em todos os momentos com uma orientação clara e valiosa, minha eterna gratidão

    pela sua dedicação, competência, sabedoria e amizade.

    Ao professor Chico que, de forma incondicional, se dedicou a este trabalho

    esclarecendo dúvidas e orientando as várias etapas da dissertação, meu carinho e imensa

    admiração.

    À amiga Caroline Fontes pelas várias e valiosas colaborações neste trabalho.

    À Valéria Medina por estar sempre próxima nos momentos de estudo.

    Ao Eduardo Medina e à Cristina Staliano pela grande colaboração no trabalho de

    tradução.

    À Renata Medina por ajudar com muita dedicação na aplicação da sequência didática.

    Ao Ering Júnior pela colaboração na metodologia da pesquisa.

    À Nossa Senhora de Guadalupe, mãe protetora e amiga, que tornou possível a

    realização deste trabalho.

    À todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e

    Matemática da PUC Minas que dedicaram tempo e compartilharam suas experiências à minha

    formação. Vocês estarão sempre presentes em meu coração.

    Aos colegas de classe que me ensinaram sobre a beleza da arte de ser biólogo,

    especialmente à Fernanda Diniz por tornar tão agradáveis meus momentos de estudo.

    À secretária Ângela Rocha que, com carinho e atenção, sempre me atendeu.

    Aos professores e diretora da Escola Estadual Maurílio Albanese Novaes por terem

    cedido seu precioso tempo e tornado possível a concretização deste trabalho.

  • “A sabedoria inspira vida aos seus filhos;

    ela toma sob a sua proteção aqueles que a procuram;

    ela os precede no caminho da justiça.

    Aqueles que a amam, amam a vida.”

    Eclesiástico 4, 12-13

  • RESUMO

    Este trabalho foi desenvolvido em uma Escola pública de Ipatinga-MG e teve como objetivos

    analisar as representações de professores desta escola sobre os Transtornos Alimentares,

    elaborar e aplicar uma sequência didática sobre o tema para os professores e avaliar o impacto

    da aplicação da sequência sobre as representações dos mesmos. A sequência didática

    “Transtornos Alimentares no Ambiente Escolar” foi elaborada a partir de um modelo

    proposto por Zabala (1998) e se configurou em um produto desta dissertação. Para a avaliação

    das representações acerca do tema foi utilizada a técnica da aplicação de questionário semi-

    estruturado. Este questionário foi aplicado antes (pré-teste) e após (pós-teste) a aplicação da

    sequência didática. As respostas dos questionários foram analisadas por meio da técnica

    análise de conteúdo e de uma metodologia proposta por Mortimer (2001) em que associam-se

    modos de falar com formas de pensar, identificando unidades linguísticas básicas. Foi

    aplicado também um questionário socioeconômico com o intuito de caracterizar a amostra. A

    análise dos questionários pré-teste direcionou a elaboração de uma sequência didática

    adequada aos conhecimentos que os professores possuíam sobre o tema. O estudo dos

    questionários pós-teste evidenciou que a aplicação da sequência didática possibilitou a

    ampliação dos conhecimentos prévios dos professores aproximando-os dos conhecimentos

    científicos sobre o tema. É importante que seja destinado tempo para que os professores

    possam colocar em prática os conhecimentos adquiridos. Deve-se considerar ainda ser crucial

    a condução de estudos que avaliem o impacto das estratégias propostas pelos professores para

    a prevenção dos Transtornos Alimentares no ambiente escolar.

    Palavras-chave: Transtornos Alimentares. Sequência didática. Formação de professores.

  • ABSTRACT

    The present research was developed in a public school located at Ipatinga city, Minas Gerais,

    Brazil. This study had the following purposes: evaluating the school teachers’ representation

    regarding to the eating disorders, preparing and applying a didactic sequence about the subject

    to the teachers and assessing the impact of this sequence appliance. The “Scholastic Eating

    Disorders” didactic sequence was based on a model proposed by Zabala (1998) and has

    characterized as a product of this dissertation. The technique of semi-structured questionnaire

    was applied for assessment of the representations around the subject matter. The questionnaire

    was utilized before (pre-test) and after (post-test) the didactic sequence appliance. The

    questionnaire responses were appraised by using the content analysis technique and based on

    a methodology proposed by Mortimer (2001) which associates ways of speaking and thinking

    to identify basic linguistic unities. Moreover, a socioeconomic questionnaire was applied in

    order to characterize the sample. The analysis of the pre-test questionnaire has intended the

    establishment of didactic sequence adjusted to the teachers’ subject knowledge. The study of

    the post-test questionnaires has shown that the employment of the didactic sequence enabled

    the enlargement of teachers’ previous knowledge, approximating them to the scientific

    understanding about the theme. It is important that teachers dedicated time to practice the

    acquired knowledge. It should be considered a conduction of research to evaluate the impact

    of strategies proposed by the teachers related to the eating disorders prevention in a school

    environment.

    Keywords: Eating disorders. Didactic sequence. Teachers’ knowledge.

  • LISTA DE SIGLAS

    TA – Transtornos Alimentares

    AN – Anorexia Nervosa

    BN – Bulimia Nervosa

    DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

    CID-10 – Classificação Internacional de Doenças

    CNS – Conselho Nacional de Saúde

    ADA – American Dietetic Association

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 10

    1.1 Justificativa ............................................................................................................................................... 13

    1.2 Objetivos .................................................................................................................................................... 14

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................... 15

    2.1 Transtornos alimentares (TA) ................................................................................................................. 15

    2.1.1 Etiologia .................................................................................................................................................. 15

    2.1.2 Definição e quadro clínico...................................................................................................................... 16

    2.1.3 Critérios diagnósticos ............................................................................................................................. 17

    2.1.4 Transtornos alimentares no ambiente escolar ....................................................................................... 20

    2.2 Mudança conceitual .................................................................................................................................. 21

    2.3 Mudança representacional ....................................................................................................................... 22

    3 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 23

    3.1. Cenário da pesquisa ................................................................................................................................. 23

    3.2. Preceitos éticos ......................................................................................................................................... 24

    3.3. Avaliação das representações dos professores sobre transtornos alimentares ................................... 24

    3.4. Elaboração e aplicação da sequência didática sobre transtornos alimentares ................................... 25

    4 SEQUÊNCIA DIDÁTICA: “TRANSTORNOS ALIMENTARES NO AMBIENTE ESCOLAR” .......... 27

    4.1 Apresentação ............................................................................................................................................. 27

    4.2 Experimentação e análise das atividades da sequência ......................................................................... 31

    4.2.1 Atividade 1: Levantamento dos conhecimentos prévios sobre o tema ................................................... 31

    4.2.1.1 Análise dos dados do pré-teste ............................................................................................................. 32

    4.2.2 Atividade 2: Apresentação do tema por meio de uma situação problema ............................................. 40

    4.2.3 Atividade 3: Proposição de problemas ou questões sobre o tema. ......................................................... 41

    4.2.4 Atividade 4: Discussão dos problemas levantados sobre o tema com a explicitação de respostas

    intuitivas ou suposições. .................................................................................................................................. 42

    4.2.5 Atividade 5: Buscando fontes de informação para resolver problemas relacionados ao tema ............ 43

    4.2.6 Atividade 6: Elaboração e generalização das conclusões e síntese. ...................................................... 44

    4.2.7 Atividade 7: Memorização do tema ........................................................................................................ 45

    4.2.7.1 Análise dos dados do pós-teste ............................................................................................................. 46

    4.2.8 Atividade 8: Encerramento ..................................................................................................................... 49

    5 CONSIDERAÇÔES FINAIS ........................................................................................................................... 50

    REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 53

    APÊNDICES ........................................................................................................................................................ 59

    RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................................................... 79

    CONCLUSÃO ..................................................................................................................................................... 85

  • 10

    1 INTRODUÇÃO

    Os Transtornos Alimentares (TA) são doenças psiquiátricas caracterizadas por graves

    perturbações no comportamento alimentar e distorção na percepção da forma e do peso

    corporal. Os dois principais TA são a Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN)

    (DSM-IV, 2002).

    A AN caracteriza-se por uma recusa em manter o peso corporal normal ou acima do

    mínimo normal para idade e altura e a BN é caracterizada por episódios repetidos de

    compulsões alimentares seguidas de comportamentos compensatórios inadequados, tais como

    vômitos, uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios

    excessivos (DSM-IV, 2002).

    Cerca de 90% dos portadores de TA são do sexo feminino. A BN é mais freqüente que

    a AN, sendo que sua prevalência está entre 1 a 4%. A AN possui prevalência de 0,5 a 1%. No

    entanto, estas taxas podem estar aumentadas se quadros parciais, em que não estão presentes

    todas as características da doença, fossem considerados. Observa-se que existe uma maior

    prevalência em grupos como modelos, bailarinas, atletas e profissionais da área da saúde

    (CORDÁS et al., 2004).

    Os TA geralmente iniciam-se na adolescência, entretanto, nos pacientes bulímicos este

    início pode ocorrer no final da adolescência ou início da vida adulta (CORDÁS et al., 2004).

    A etiologia dos TA é multifatorial e, dentre os fatores de risco para o seu

    desenvolvimento, estão história de transtornos psiquiátricos na família, abuso sexual ou físico,

    traços de personalidade (perfeccionismo, obsessividade, instabilidade afetiva e impulsividade)

    e realização de dietas calóricas restritivas (MORGAN et al., 2002; PHILIPPI e

    ALVARENGA, 2004).

    Observa-se na sociedade atual uma tendência em se assumir o corpo magro como

    modelo de poder, beleza e estabilidade social. O ideal de imagem corporal é divulgado

    principalmente por meio da mídia, gerando nos adolescentes uma insatisfação com o corpo,

    que passam a buscar tentativas que possam alcançar o modelo cultural em vigor (ANDRADE

    e BOSI, 2003; RODRIGUES et al., 2005).

    As alterações relacionadas com o peso e forma do corpo são de fundamental

    importância para os adolescentes, portanto sua percepção corporal tende a se modificar ao

    adquirir uma nova forma física, podendo ser semelhante ao proposto como modelo padrão

  • 11

    (BRANCO et al., 2006; CONTI et al., 2005). Porém, tem-se evidenciado que o

    comportamento alimentar e a imagem corporal são construídas ainda na pré-adolescência.

    Feldman et al. (1988) apud Triches e Giugliani (2007) observaram que as preocupações com

    o peso e a presença de percepções culturais de atratividade física semelhante às dos adultos

    ocorrem ao redor dos sete anos.

    No Brasil, diversos autores têm estudado a prevalência de insatisfação corporal e a

    presença de fatores de risco para os TA entre estudantes (TRICHES e GIULIANI, 2007;

    PINHEIRO e GIUGLIANI, 2006; VILELA et al., 2004; DUNKER e PHILIPPI, 2003). Vilela

    et al. (2004) ao estudarem 1807 crianças e adolescentes de seis cidades do interior de Minas

    Gerais observaram uma alta prevalência (13,3%) de possíveis TA, além de comportamentos

    alimentares inadequados. Dunker e Philippi (2003) ao estudar 279 adolescentes do sexo

    feminino encontraram uma alta prevalência (21,1%) de fatores de risco para AN. Triches e

    Giugliani (2007) identificaram que 63,9% de 573 escolares de 8 a 10 anos possuíam

    insatisfação corporal e destes, apenas 16,9% tinham sobrepeso. Estes autores concluem que os

    resultados são suficientes para alertar pais, educadores e profissionais de saúde para a

    necessidade de desenvolver estratégias que visem a maior satisfação das crianças com o seu

    corpo. Pinheiro e Giugliani (2006) observaram 82% de insatisfação corporal ao estudar 901

    escolares com idade entre 8 e 11 anos em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A insatisfação

    corporal foi maior naqueles com auto-estima baixa e que pensavam que seus pais e amigos

    esperavam que eles fossem mais magros.

    Conforme Alves et al. (2008) a exposição de adolescentes aos fatores de risco

    associados aos TA alertam para a necessidade de investimentos nos programas de educação

    nutricional inseridos no ambiente escolar. Estes devem ter como objetivos promover

    mudanças nos conceitos de imagem corporal, conscientizar sobre os prejuízos que os

    comportamentos assumidos para a redução de peso podem desencadear a saúde, além de

    orientar escolhas alimentares mais saudáveis. Segundo os autores, outra questão a ser

    considerada é a necessidade de o programa ser dinâmico e envolver toda a comunidade

    escolar, incluindo adolescentes, crianças, pais, professores e profissionais que têm alguma

    atividade na escola.

    Programas de educação em saúde desenvolvidos nas escolas, quando devidamente

    planejados e avaliados, podem ter um impacto positivo e duradouro sobre a imagem corporal

    e comportamento alimentar de adolescentes. Deve-se ainda levar em consideração que

    professores e funcionários da escola não devem transferir crenças e atitudes negativas

  • 12

    incluindo insatisfação com a imagem corporal e preconceitos acerca do peso corporal

    (O’DEA e MALONEY, 2000).

    Após vários anos de experiência profissional em escolas públicas e particulares temos

    percebido que o aparecimento de sintomas associados aos TA tem se elevado. Observamos

    que o padrão de beleza imposto pela mídia e cultuado, especialmente pelos adolescentes, pode

    gerar uma situação em que o estudante se sente insatisfeito com a sua imagem corporal. Desta

    forma, o escolar pode utilizar de práticas inadequadas para alcançar o padrão de beleza

    almejado, que geralmente se traduz como um desejo de obtenção de um peso corporal inferior

    ao mínimo recomendado para altura e idade. No contexto escolar e entre os estudantes, as

    práticas impróprias encontram um ambiente favorável à disseminação de comportamentos

    alimentares inadequados como, por exemplo, a prática de dietas publicadas em revistas não

    científicas dirigidas ao público feminino e/ou a restrição de determinados alimentos ou grupos

    alimentares. Além disso, os mecanismos compensatórios para evitar o ganho de peso são

    facilmente difundidos entre os estudantes. Entre estes, observamos a prática de jejuns, o uso

    indevido de diuréticos e laxantes, vômito auto-induzido, além de exercícios físicos realizados

    de forma excessiva, sem acompanhamento e com o objetivo de perder peso.

    Estas atitudes, além de serem um risco à saúde, podem gerar no adolescente um

    sentimento de frustração e baixa auto-estima. Sabemos que atividades profiláticas voltadas

    para a conscientização da percepção corporal, bem como ações de educação alimentar e

    nutricional devem ser incentivadas no ambiente escolar. Isto pode diminuir o risco de os

    escolares desenvolverem os TA, além de melhorarem a saúde e, consequentemente, a auto-

    estima e o rendimento escolar.

    Diante do exposto optamos por desenvolver nesta dissertação a sequência didática:

    “Transtornos alimentares no ambiente escolar”. A sequência foi elaborada a partir de um

    modelo proposto por Zabala (1998), e, é destinada a professores do ensino fundamental e

    médio de escolas públicas ou privadas. Pretendemos que este produto favoreça a formação de

    professores, possibilitando que estes possam contribuir no sentido de prevenir os TA entre os

    escolares. As atividades presentes na sequência facilitam ainda o correto encaminhamento

    pelos professores de casos suspeitos. O produto final de nossa pesquisa é composto por oito

    atividades elaboradas a partir da identificação das representações dos professores sobre o

    tema.

  • 13

    1.1 Justificativa

    Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na

    infância e na adolescência (APPOLINÁRIO e CLAUDINO, 2000). Os adolescentes com

    anorexia e bulimia nervosas experimentam um acentuado estresse no ambiente escolar com

    alterações cognitivas como dificuldade de concentração devido à preocupação com alimentos,

    calorias, peso e formato corporal, além de dificuldades na aprendizagem. O tratamento destes

    transtornos envolve uma equipe multiprofissional, sendo que os professores podem adotar

    estratégias no sentido de colaborar com o tratamento ou a prevenção destes transtornos nos

    escolares (MANLEY et al., 2000).

    Cabe ao professor buscar, cada vez mais e com maior intensidade, o conhecimento e o

    aprimoramento técnico. Esta busca favorece uma visão moldada a reconhecer os elementos

    pertinentes a uma determinada cultura e relacioná-la com os elementos que nela vivem

    (AUGUSTO et al., 2007). A ampliação de conceitos acerca de temas atuais, como os TA,

    pode ser importante no sentido de aproximar o educador da realidade do educando, situação

    que além de favorecer o processo de ensino-aprendizagem, contribui para uma melhor

    formação e atuação profissional.

    Desta forma a realização deste trabalho justifica-se no sentido de favorecer uma

    ampliação dos conhecimentos que os professores possuem acerca do tema TA em escolares,

    configurando-se em uma possibilidade de geração de novas capacidades e representações.

    Neste sentido, a educação científica torna-se uma ferramenta social geradora de uma mudança

    representacional e, consequentemente, produz novas formas de conhecimento sobre o tema,

    afastando os professores das concepções alternativas ou dos conhecimentos intuitivos (POZO,

    2002).

  • 14

    1.2 Objetivos

    - Analisar as representações de professores do Ensino Fundamental e Médio sobre o

    tema Transtornos Alimentares (TA).

    - Elaborar e aplicar uma sequência didática sobre TA destinada aos professores do

    Ensino Fundamental e Médio.

    - Avaliar o impacto da aplicação da sequência didática.

  • 15

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    2.1 Transtornos alimentares (TA)

    2.1.1 Etiologia

    Vilela et al. (2004), descrevem que a etiologia dos transtornos alimentares (TA) traz

    em sua gênese um modelo multifatorial, incluindo uma associação de fatores sociais,

    psicológicos e biológicos.

    Os fatores sociais impõem um ideal de beleza, juntamente com o culto às dietas

    restritivas e ao corpo extremamente magro. De maneira geral, o sexo feminino, sobretudo no

    período da adolescência, é mais vulnerável a essas pressões sociais e culturais associadas à

    imagem corporal (ANDRADE e BOSI, 2003).

    Existe na sociedade um preconceito que reprova as pessoas obesas. Com isso, as

    pessoas insatisfeitas com o seu corpo e com medo de ganhar peso, passam a fazer dietas,

    controlar neuroticamente o peso corporal, praticar exaustivamente atividade física e fazer uso

    de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas (FIATES e SALLES, 2001).

    O impacto deste padrão no comportamento humano pode revelar a diferença entre o

    peso real e o idealizado, que levam a uma constante insatisfação com o próprio corpo,

    surgindo assim um campo fértil para o desenvolvimento dos TA (MORGAM e AZEVEDO,

    1998).

    Existem também várias hipóteses psicológicas que tentam explicar as razões que

    levam um indivíduo a desenvolver um TA. Os sintomas podem ser consequências de

    problemas psicológicos e psiquiátricos interligados, ou simplesmente preocupações comuns

    sobre imagem corporal na adolescência. Geralmente o quadro tem início como resposta a um

    profundo sentimento de medo. Eventos como perda, separações e modificações corporais da

    puberdade, podem atuar como fator desencadeante do distúrbio (ABUCHAIM et al., 1998).

    O transtorno funciona como uma contenção psicológica, onde o medo de engordar e a

    busca incessante pela magreza são expressos diretamente. Ocorre então uma mudança radical

    no padrão alimentar, que se desenvolve a fim de preservar o estado psicológico do indivíduo,

  • 16

    já que se encontra em tormento e se vê incapaz de resolvê-lo de outra forma (ABUCHAIM et

    al., 1998).

    Quanto aos aspectos biológicos, Bighetti (2003) sugere que o metabolismo de certos

    hormônios, neuromoduladores e neurotransmissores se encontra alterado. Existem

    anormalidades em estruturas do sistema nervoso central (SNC) descritas como se fosse base

    do comportamento alimentar, porém, não se sabe distinguir se são alterações primárias ou

    secundárias, decorrentes da evolução do próprio transtorno (APPOLINÁRIO, 1998).

    2.1.2 Definição e quadro clínico

    Anorexia Nervosa (AN) é um termo derivado do grego orexis (apetite) acrescido do

    prefixo an (privação, ausência), que significa perda do apetite de origem nervosa

    (ABUCHAIM, 1998). Cordás e Castilho (1994) sugerem que AN não é o termo mais

    adequado para a classificação do quadro, uma vez que a perda de apetite só existe nos estágios

    mais avançados da doença, percebendo-se uma luta obstinada contra a fome nos estágios

    iniciais.

    A AN é caracterizada pela perda intensa de peso causada por uma restrição alimentar

    auto-imposta, padrão dietético “bizarro” associado a um quadro de amenorréia. Está associada

    à distorção da imagem corporal onde há preocupação excessiva com o peso, forma corporal e

    alimentação, onde mesmo estando gravemente emagrecida, a pessoa se considera acima do

    peso (THIEL e MELLO, 2005).

    A doença normalmente inicia-se com uma restrição alimentar, ocorrendo uma aversão

    principalmente em relação aos alimentos com alto teor de carboidratos e lipídios. Os

    anoréxicos apresentam o hábito de jejuar e restrições específicas para alimentos ou grupos de

    alimentos (DUNKER e PHILIPPI, 2003).

    O termo bulimia origina-se do grego bous (boi) e limos (fome), designando “fome

    raivosa” ou “fome de comer um boi” (ALVARENGA, 2001). Sapoznik et al. (2005) relatam

    que o distúrbio manifesta-se por meio de episódios de alta ingestão alimentar (binge eating),

    onde o consumo é consideravelmente maior que a maioria das pessoas comeria em

    circunstâncias semelhantes. Os autores sugerem que são ingeridas em média 2.000 a 5.000

    kcal por episódio bulímico, acompanhado de uma intensa sensação de perda de controle,

  • 17

    culpa e vergonha. Estes episódios são considerados “orgias alimentares” rápidas e secretas,

    com alimentos altamente calóricos, onde o paciente só encerra a alimentação por mal-estar

    físico, interrupção externa (chegada de outra pessoa) ou por esgotarem-se os alimentos

    (AZEVEDO e ABUCHAIM, 1998; BERNARDI et al., 2006).

    Para minimizar os efeitos do excesso de ingestão, os bulímicos dotam de

    comportamentos inadequados e métodos compensatórios para evitar o ganho de peso como

    uso de laxantes, diuréticos, vômito auto-induzido, jejuns prolongados e exercícios extenuantes

    (ALVARENGA e PHILIPPI, 2004).

    A extrema perda de peso vista na AN não é freqüente na BN. Geralmente os bulímicos

    apresentam peso dentro da faixa de normalidade ou até mesmo um leve sobrepeso, por isso a

    distorção de imagem corporal é consideravelmente menor. O comportamento alimentar do

    bulímico encontra-se perturbado. Ocorre dificuldade de selecionar o que comer, padrões de

    fome e saciedade anormais, expressiva repugnância aos alimentos, um “comer social”

    prejudicado, medos e preconceitos em relação aos alimentos e ao controle de peso

    (ALVARENGA e PHILIPPI, 2004; VILELA et al., 2004).

    2.1.3 Critérios diagnósticos

    A anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN) são síndromes específicas com

    características clínicas distintas, que podem se manifestar de maneira semelhante. Os critérios

    utilizados para a classificação e diagnósticos desses transtornos são descritos pelo Diagnostic

    and Statistical Manual, IV edition (DSM-IV) e pela Classificação Internacional de Doenças,

    10ª edição (CID-10), apresentados nos quadros 1 e 2 respectivamente (CLAUDINO e

    BORGES, 2002)

  • 18

    DSM - IV CID - 10

    1 – Recusa em manter o peso dentro ou

    acima do mínimo normal adequado a idade e à

    altura; por exemplo, perda de peso, levando a

    manutenção do peso corporal abaixo de 85% do

    esperado.

    2 – Medo intenso do ganho de peso ou de

    se tornar gordo, mesmo com peso inferior.

    3 – Perturbação no modo de vivenciar o

    peso, tamanho ou forma corporal; excessiva

    influência destes na maneira de se auto-avaliar;

    negação da gravidade do baixo peso.

    4 – No que diz respeito especificamente

    às mulheres, a ausência de pelo menos três ciclos

    menstruais consecutivos, quando é esperado

    ocorrer o contrário (amenorréia primária ou

    secundária). Considera-se que uma mulher tenha

    amenorréia se os seus períodos menstruais

    ocorrem somente após o uso de hormônios; por

    exemplo, estrógeno administrado.

    Tipo:

    -Restritivo: não há episódio de comer

    compulsivamente ou prática purgativa (vômito

    auto-induzido, uso de laxantes, diuréticos enemas).

    -Purgativo: existe episódio de comer

    compulsivamente e/ou purgação.

    (a) O peso corporal é mantido em pelo

    menos 15% abaixo do esperado (tanto perdido

    quanto nunca alcançado) ou índice de massa

    corporal de 17,5 kg/m2 ou menos.

    (b) A perda de peso é auto-induzida;

    evitam os “alimentos que engordam”.

    (c) Há uma distorção na imagem corporal,

    na forma de uma psicopatologia específica de um

    pavor de engordar.

    (d) Um transtorno endócrino generalizado

    envolvendo o eixo hipotalâmico-hipofisário-

    gonadal é manifestado em mulheres como

    amenorréia e em homens como perda de interesse

    e potência sexuais (uma exceção aparente é a

    persistência de sangramentos vaginais em

    mulheres anoréxicas que recebem terapia de

    reposição hormonal, mais comumente tomada

    como uma pílula anticoncepcional).

    Comentários: elementos que confirmam o

    diagnóstico, mas não são elementos essenciais:

    vômito auto-induzido, purgação auto-induzida,

    exercícios excessivos e uso de anorexígenos e/ou

    diuréticos.

    Quadro 1 – Critérios diagnósticos para anorexia nervosa segundo o DSM–IV e CID–10

    Fonte: DSM-IV (2002), p. 560; CID-10 apud NUNES e RAMOS (1998), p.25.

    Um dos critérios necessários para o diagnóstico da AN é a perda de peso auto-

    induzida. Os critérios utilizados pela CID-10 e pelo DSM-IV têm sido utilizados com a

    finalidade de perceber o transtorno precocemente. Deve-se considerar a situação de pacientes

    em crescimento que podem apresentar falhas em alcançar o ganho de peso esperado para o

    período (CLAUDINO e BORGES, 2002).

    Os distúrbios endócrinos são alterações biológicas, caracterizadas por amenorréia em

    mulheres e diminuição de libido e de impotência sexual em homens, relacionados à perda de

    peso corporal e gordura. Contudo, é um critério bastante questionado por não estar

    completamente compreendido na AN, além de ocorrer em uma minoria de pacientes antes

    mesmo de uma significativa perda de peso (ABUCHAIM, 1998).

    Para os indivíduos em que uma ou mais das características chaves da AN estão

    ausentes (amenorréia ou perda significativa de peso), o CID-10 utiliza o termo AN atípica

    para classificá-los, uma vez que apresentam um quadro razoavelmente típico, entretanto sem

    preencher todos os critérios diagnósticos para o trantorno (NUNES e RAMOS, 1998).

    Claudino e Borges (2002) descrevem que pacientes anoréxicos podem apresentar

    comportamento bulímico/purgativo ou apenas restrição alimentar. Por isso, o DSM-IV criou

  • 19

    subtipos de AN (restritivo e tipo compulsão periódico-purgativa), critério não adotado pela

    CID-10, onde pacientes que apresentam episódios bulímicos e têm baixo peso recebem

    diagnóstico de BN, representando grande controvérsia entre as classificações.

    DSM-IV CID-10

    A. Episódios recorrentes de compulsão periódica.

    Um episódio de compulsão periódica é

    caracterizado por ambos os aspectos:

    1- Ingestão, em um período limitado de tempo

    (por ex., dentro de um período de duas horas) de

    uma quantidade de alimentos definitivamente

    maior do que a maioria das pessoas consumiria

    durante um período de tempo similar e sob

    circunstâncias similares;

    2- Um sentimento de falta de controle sobre o

    comportamento alimentar durante o episódio; por

    ex., um sentimento de incapacidade de parar de

    comer ou de controlar o que ou o quanto está

    comendo.

    B. Comportamento compensatório inadequado e

    recorrente, com o fim de prevenir o aumento de

    peso, como auto-indução de vômitos, uso indevido

    de laxantes, diuréticos, enemas, ou outros

    medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos.

    C. A compulsão periódica e os comportamentos

    compensatórios inadequados ocorrem, em média,

    pelo menos duas vezes por semana, por três meses.

    D. A auto-avaliação é indevidamente influenciada

    pela forma e o peso do corpo.

    E. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante

    episódios de anorexia nervosa.

    Tipo purgativo: durante o episódio atual de

    bulimia nervosa, o indivíduo envolve-se

    regularmente na auto-indução de vômitos ou no

    uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas.

    Sem purgação: durante o episódio atual de bulimia

    nervosa, o indivíduo usou outros comportamentos

    compensatórios inadequados, tais como jejuns

    prolongados ou exercícios excessivos, mas não se

    envolveu regularmente na auto-indução de vômitos

    ou no uso indevido de laxantes, diuréticos ou

    enemas.

    Para um diagnóstico definitivo, todos os seguintes critérios

    são requeridos:

    (a) Há uma preocupação persistente com o comer e um

    desejo irresistível por comida; o paciente sucumbe ao

    desejo de hiperfagia, nos quais grandes quantidades de

    alimento são consumidas em curtos períodos de tempo.

    (b) O paciente tenta neutralizar os efeitos “de engordar”

    dos alimentos através de um ou mais do que se segue:

    vômitos auto-induzidos, abuso de purgantes, períodos

    alternados de inanição, uso de drogas, tais como

    anorexígenos, preparados tireoideanos ou diuréticos.

    Quando a bulimia ocorre em pacientes diabéticos, podem

    escolher negligenciar seu tratamento insulínico.

    (c) A psicopatologia consiste de um pavor mórbido de

    engordar e os pacientes colocam para si mesmo um limiar

    de peso nitidamente definido, bem abaixo de seu peso pré-

    mórbido que constitui o peso ótimo ou saudável na opinião

    do médico. Há, freqüentemente, mas não sempre, uma

    história de um episódio prévio de anorexia nervosa, o

    intervalo entre os dois transtornos variando de poucos

    meses a vários anos. Esse episódio prévio pode ter sido

    completamente expressado ou pode ter assumido uma

    forma “disfarçada” menor, com uma perda de peso

    moderada e/ou uma fase transitória de amenorréia.

    Quadro 2 – Critérios diagnósticos para bulimia nervosa segundo o DSM–IV e CID–10

    Fonte: DSM-IV (2002), p. 565; CID-10 apud AZEVEDO e ABUCHAIM (1998), p.33.

    Basicamente as classificações apresentam os mesmos critérios diagnósticos, porém o

    CID-10 não classifica os subtipos do transtorno, mas há um alerta para a possível negligência

    de tratamento insulínico em pacientes que apresentam diabetes concomitante ao quadro de

    BN (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2006).

  • 20

    2.1.4 Transtornos alimentares no ambiente escolar

    Várias alterações do apetite e perturbações da imagem corporal podem ocorrer nas

    crianças em idade escolar. No entanto apenas uma pequena porção delas irá desenvolver um

    quadro típico de transtorno alimentar. Apesar disso, vale ressaltar que alguns traços presentes

    na idade escolar são considerados fatores de risco para o surgimento dos TA na adolescência.

    Esta situação alerta para a necessidade em reconhecer e investigar esses traços ainda

    incipientes (APPOLINÁRIO e CLAUDINO, 2000).

    Com o objetivo de descrever a satisfação da imagem corporal em estudantes de

    escolas públicas e particulares de Belo Horizonte, MG, Fernandes (2007) avaliou 1.183

    alunos de seis a 18 anos, matriculados no Ensino Fundamental e Médio. Os resultados

    demonstraram que apesar de 80,1% estarem eutróficos (avaliados pelo índice de massa

    corporal) a maioria dos alunos estava insatisfeita com seu corpo (62,6%). Do total, 33,7%

    gostariam de ser mais magros, 28,9% gostariam de ser mais gordos e apenas 37,4% sentiam-

    se bem com o corpo. O estudo conclui que a prevenção do desenvolvimento de uma imagem

    corporal desfavorável torna-se muito importante pela associação com TA, baixa auto-estima,

    limitações no desempenho psicossocial, depressão e também com a manutenção da obesidade.

    Em trabalho realizado por Vilela et al. (2004) foram estudados 1807 estudantes de

    escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio com idade entre 7 e 19 anos de seis cidades

    do interior do estado de Minas Gerais. Os resultados apontaram que 241 alunos (13,3%)

    apresentavam possíveis TA, com predominância significativa no sexo feminino. A

    insatisfação com a imagem corporal esteve presente em 1059 alunos (59%).

    Algumas abordagens preventivas e educacionais têm sido sugeridas no sentido de

    prevenir os TA no ambiente escolar. Dentre elas está a utilização de estratégias que melhorem

    a auto-estima e causem envolvimento dos colegas e pais de estudantes com os transtornos.

    Outras ações como um maior foco em atividades desportistas e abordagens de questões como

    discussão do estereótipo feminino também podem ser utilizadas (O’DEA e MALONEY,

    2000).

    Em um estudo realizado por O’Dea e Abrahan (2001) apud Yager e O’Dea (2005),

    com o objetivo de avaliar conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos relacionados

    com o controle peso, TA e imagem corporal em estagiários de economia doméstica e

    professores de educação física que atuavam em escolas na Austrália foi observado que 87%

    da amostra davam aconselhamento dietético rigoroso e impróprio aos estudantes adolescentes,

  • 21

    como, por exemplo, a recomendação de uma dieta de 1200 kcal/dia. Os professores também

    tinham um conhecimento insuficiente e muitas concepções equivocadas sobre a etiologia e as

    complicações dos TA.

    Observa-se a necessidade de uma reflexão sobre os TA no contexto escolar. No

    entanto, uma questão a ser considerada é que pode ser muito difícil demonstrar que

    explicações científicas sejam “superiores” às idéias alternativas dos aprendizes (no presente

    trabalho, dos próprios professores), já que as concepções alternativas possuem grande força e

    alcance. Esta situação aponta para a dificuldade em se obter uma mudança conceitual onde

    conceitos científicos substituam as idéias prévias dos professores acerca do tema TA (EL

    NANI e BIZO, 2002).

    2.2 Mudança conceitual

    O modelo de mudança conceitual foi proposto inicialmente para explicar as dimensões

    substantivas do processo pelos quais conceitos centrais e organizadores das pessoas mudam

    de um conjunto de conceitos a outro, incompatível com o primeiro (Posner et al., 1982, apud

    Mortimer, 1996).

    Segundo Posner (1982) apud Pozo (2007) para ocorrer mudança conceitual são

    necessárias quatro fases: (a) que haja insatisfação do aluno com a sua concepção alternativa;

    (b) que o aluno tenha disponível uma nova concepção inteligível; (c) que esta nova concepção

    lhe pareça mais plausível; (d) que a nova concepção se mostre mais frutífera ou produtiva que

    a concepção alternativa original.

    Um modelo influente nas estratégias para mudança conceitual é aquele que descreve o

    desenvolvimento científico como alternância de períodos de ciência normal e revolução

    científica (Kuhn, 1962 apud Mortimer, 1996). No entanto percebe-se que a diferença entre os

    objetos de estudo em cada campo revela a impossibilidade de se aplicar um modelo geral,

    independente do contexto, às mudanças conceituais. Outra questão a ser considerada no

    modelo de mudança conceitual é a inadequação em descrever o processo de ensino como uma

    substituição das idéias prévias dos alunos por idéias científicas (MORTIMER, 1996).

  • 22

    Segundo Pozo (2007) há três diferentes tipos de mudança conceitual: a natureza da

    mudança (epistemológica, evolutiva, instrucional), os processos da mudança (forte ou fraco,

    descontínuo ou contínuo) e o domínio em que se estuda a mudança.

    Entretanto, o que se percebe é a dificuldade em relação a uma real mudança

    conceitual. De acordo com Mortimer (1996) uma das características que um grande número

    de estratégias de ensino-aprendizagem parece ter em relação às idéias prévias dos estudantes é

    a expectativa de que essas idéias deverão ser abandonadas e/ou subsumidas no processo de

    ensino.

    Ainda de acordo com Duit (1999) apud Pozo (2007) a maioria das investigações

    demonstra que as concepções dos alunos não são totalmente extinguidas e substituídas por

    uma nova idéia. Ocorre um êxito limitado em relação à aceitação das idéias novas e as velhas

    idéias seguem basicamente “vivas” em contextos particulares.

    2.3 Mudança representacional

    O fracasso na obtenção do sucesso na mudança conceitual talvez esteja na própria

    idéia de haver a necessidade de um abandono do conhecimento cotidiano, que além de muito

    difícil, pode ser ainda inconveniente. A mudança conceitual não necessariamente implica

    substituir um conhecimento mais simples (do cotidiano) por outro mais complexo (científico),

    mas sim, em adquirir diferentes tipos de conhecimentos ou representações para trabalhos ou

    situações distintas, multiplicando e diversificando assim as possíveis formas de representar

    um objeto (Monereo e Pozo, 2003 apud Pozo, 2007).

    Desta forma, aprender não é somente adquirir novas representações, mas também

    conseguir, dentre as disponíveis, ativar a mais adequada à demanda que o trabalho exige

    (POZO, 2007).

    Ao se pensar na aprendizagem da ciência como um processo de mudança

    representacional e não somente conceitual, torna-se necessário assumir que adquirir

    conhecimentos científicos requerem não somente ter acesso a novos conceitos, mas ter acesso

    a novas formas e sistemas de representação diferentes daqueles que estruturam as teorias

    intuitivas e que constituem representações implícitas (POZO, 2007).

  • 23

    Os conhecimentos científicos, como elaboração cultural, são representações explícitas

    e que, portanto, requerem uma linguagem ou código a ser compartilhado ou comunicado.

    Estes novos códigos ou sistemas de representação possuem maior potência representacional

    que as teorias implícitas que apóiam a ciência intuitiva. Os novos sistemas de representações

    explícitas representados pela ciência permitem reconstruir essas representações implícitas e

    reescrevê-las como um novo sistema representacional, sem a necessidade de abandoná-las.

    Mediante estratégias didáticas adequadas, a redescrição representacional favorece uma melhor

    aprendizagem dos modelos científicos (POZO, 2007).

    3 METODOLOGIA

    3.1. Cenário da pesquisa

    Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa realizada em uma Escola pública do

    município de Ipatinga-MG com professores do Ensino Fundamental e Médio.

    Foram convidados a participar do estudo 20 professores de ambos os sexos membros

    do “Grupo de Desenvolvimento do Professor” que promove ações de formação do professor.

    Destes, 3 recusaram-se a participar do estudo e 17 responderam ao questionário do pré-teste.

    Dos 17 professores, 9 não compareceram no dia da aplicação da sequência didática, sendo

    excluídos das análises realizadas após a experimentação da sequência. Sendo assim, 8

    professores responderam o questionário do pós-teste.

    A coleta de dados ocorreu no período de novembro a dezembro de 2008 na própria

    escola em que os professores lecionavam.

  • 24

    3.2. Preceitos éticos

    Cabe esclarecer que foi solicitada a permissão da direção da Escola para o

    desenvolvimento da pesquisa (APÊNDICE A). Antes da aplicação dos questionários os

    objetivos da pesquisa foram explicitados e foi solicitada a colaboração para a participação. Os

    professores participantes foram informados a respeito do direito a privacidade e a preservação

    do anonimato e foi reafirmado o direito a liberdade de não participar da pesquisa. Na ocasião

    foi obtida a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido dos concordantes em

    participar da pesquisa (APÊNDICE B), em cumprimento a Resolução nº. 196/96 do Conselho

    Nacional de Saúde (CNS) que trata sobre a pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL,

    1996). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da

    Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - CAAE - 3005.0.000.213-08 (APÊNDICE

    C).

    3.3. Avaliação das representações dos professores sobre transtornos alimentares

    Para a avaliação das representações acerca do tema entre os professores foi utilizada a

    técnica da aplicação de questionário semi-estruturado. O questionário semi-estruturado

    (APÊNDICE D) foi aplicado pela própria pesquisadora antes (pré-teste) e após (pós-teste) a

    aplicação da sequência didática: “Transtornos Alimentares no ambiente escolar”. As respostas

    dos questionários foram analisadas por meio da técnica análise de conteúdo e de uma

    metodologia proposta por Mortimer (2001) em que associam-se modos de falar com formas

    de pensar, identificando unidades linguísticas básicas. Foi aplicado também um questionário

    socioeconômico com o intuito de caracterizar a amostra (APÊNDICE E).

    A análise dos resultados obtidos a partir dos 17 questionários do pré-teste possibilitou

    a construção e a condução da sequência didática.

    Os 8 questionários do pós-teste permitiram observar as mudanças representacionais

    que os professores apresentaram após terem tido contato com o tema por meio da aplicação da

    sequência didática.

  • 25

    De acordo com Bardin a análise de conteúdo:

    É um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por

    procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

    mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

    conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

    inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1977, p. 42).

    Na análise de conteúdo existem algumas etapas a serem cumpridas para que se

    obtenha os resultados desejados. Dentre estas pode se citar a fase de descrição ou preparação

    do material, a inferência ou dedução e a interpretação. Desta forma este trabalho foi realizado

    de forma a contemplar as fases propostas por Bardin (1977): pré-análise, exploração do

    material e tratamento dos resultados e interpretação.

    Os aspectos mais relevantes da pré-análise são a leitura flutuante (primeiras leituras de

    contato com o texto), a escolha dos documentos (relatos transcritos e questionários), a

    formulação das hipóteses e os objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a

    interpretação (GOLDENBERG e OTUTUMI, 2008). A exploração do material foi realizada

    no sentido de codificar os dados a partir das unidades de registros. A etapa de tratamento e

    interpretação consistiu na classificação dos elementos segundo suas semelhanças e por

    diferenciação, com posterior reagrupamento, em função de características comuns

    (CAREGNATO e MUTTI, 2006).

    A análise de conteúdo permitiu observar as possíveis mudanças representacionais dos

    professores após a aplicação da sequência didática sobre os TA e, ainda, perceber se a

    sequência proposta foi útil no sentido de contribuir para a ampliação dos conhecimentos

    científicos, favorecendo uma melhor formação destes professores em relação ao tema

    trabalhado.

    3.4. Elaboração e aplicação da sequência didática sobre transtornos alimentares

    Uma sequência didática pode ser conceituada como um conjunto de atividades

    ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que

    têm um princípio e um fim conhecidos tantos pelos professores como pelos alunos

    (ZABALA, 1998).

    A elaboração da sequência foi feita mediante análise das respostas obtidas nos pré-

    testes e foi baseada no modelo de sequência didática proposto por Zabala (1998). Os aspectos

  • 26

    do tema que foram trabalhados contemplaram aqueles em que se constatou a necessidade de

    ampliação de conceitos, favorecendo assim uma maior aproximação do conceito científico. A

    sequência didática foi elaborada objetivando a apresentação de conceitos importantes acerca

    do tema TA, bem como discutindo as possíveis estratégias para que professores e conselheiros

    escolares contribuam para a prevenção dos TA entre os estudantes e saibam como lidar com

    casos suspeitos.

    A sequência didática foi aplicada durante o período letivo na Escola onde a pesquisa

    foi desenvolvida. Os professores, com autorização da direção da escola, foram dispensados de

    suas atividades para participar do trabalho. O preenchimento do questionário durou em média

    15 minutos.

  • 27

    4 SEQUÊNCIA DIDÁTICA: “TRANSTORNOS ALIMENTARES NO AMBIENTE

    ESCOLAR”

    4.1 Apresentação

    A sequência didática intitulada “Transtornos Alimentares no ambiente escolar” é o

    produto principal desta dissertação e poderá contribuir efetivamente para a

    capacitação/formação de professores de Escolas da rede pública e privada. Ela é apresentada

    na íntegra na versão impressa e digital no APÊNDICE F deste trabalho.

    Com o objetivo de capacitar os professores do Ensino Fundamental e Médio

    interessados e preocupados em trabalhar a questão dos TA na escola, esta sequência contém

    estratégias que orientam e subsidiam o professor, independentemente da disciplina que

    leciona. Ela permite, por meio das atividades propostas, que os professores adquiram mais

    segurança em abordar os temas ligados aos TA na sala de aula, possibilitando assim, uma

    maior reflexão e discussão no meio estudantil.

    Considerando ser o aprendizado sobre os TA de natureza conceitual e, ainda, a

    necessidade de se trabalhar nesta sequência didática com conteúdos procedimentais e

    atitudinais foram elaboradas atividades que contemplassem estes três aspectos.

    Em relação à aprendizagem de conteúdos conceituais, esta sequência não pretende

    esgotar o tema, ou ainda, esgotar os conceitos que nele existem. Trabalhamos com o

    pressuposto de que a aprendizagem quase nunca pode ser considerada acabada uma vez que

    existe a possibilidade de ampliar ou aprofundar seu conhecimento e de fazê-la mais

    significativa, através da elaboração e construção pessoal do conceito. (ZABALA, 1998).

    Pretende-se que as atividades propostas favoreçam a compreensão dos conceitos a fim de que

    os professores possam utilizá-los para a interpretação de situações que envolvam os alunos,

    favorecendo a identificação de possíveis fatores de risco para os TA no ambiente escolar.

    Buscamos uma atuação do professor centrada na prevenção destas doenças e no

    encaminhamento de alunos em situação de risco.

    Outro conteúdo trabalhado na sequência é o procedimental. Este inclui ações

    ordenadas e dirigidas para a realização de um objetivo. O conteúdo procedimental inclui

    regras, técnicas, métodos, habilidades e procedimentos. São exemplos de conteúdos

    procedimentais ler, escrever e inferir. A exercitação reflexiva é elemento imprescindível para

  • 28

    o domínio deste conteúdo e também condição para aplicar os conteúdos apreendidos em

    contextos diferenciados (ZABALA, 1998). Trabalhar estes conteúdos possibilita que os

    professores lidem com diversos tipos de situações que envolvam os TA no ambiente escolar.

    Vale ressaltar que a aprendizagem e aplicação dos conceitos referentes aos TA

    envolve ainda o desenvolvimento de conteúdo atitudinal. Este engloba valores, atitudes e

    normas.

    Os processos vinculados à compreensão e elaboração dos conceitos

    associados ao valor, somados à reflexão e tomada de posição que comporta,

    envolvem um processo marcado pela necessidade de elaborações

    complexas de caráter pessoal. Em termos gerais, a aprendizagem dos

    conteúdos atitudinais supõe um conhecimento e uma reflexão sobre os

    possíveis modelos, uma análise e uma avaliação das normas, uma

    apropriação e elaboração de conteúdo, que implica a análise dos fatores

    positivos e negativos, uma tomada de posição, um envolvimento afetivo e

    uma revisão e avaliação da própria atuação (ZABALA, 1998, p.47).

    O fato de os professores aprenderem os conceitos associados com os TA não significa

    que poderão atuar de forma participativa no sentido de reduzir a incidência destes transtornos

    nos estudantes. Para que isto ocorra é necessária uma atitude positiva frente a situações

    problemas. Os professores que se envolverem nesse processo mais reflexivo, provavelmente,

    estarão mais comprometidos e atuantes, o que poderá favorecer uma ação de caráter

    preventivo com relação a estas doenças.

    Segundo O’Dea e Maloney (2000) os TA podem ser prevenidos utilizando programas

    de promoção à saúde nas escolas. Estratégias como a melhora da auto-estima dos alunos é

    recomendada. Ainda podem ser utilizadas estratégias como o envolvimento dos colegas e pais

    e a abordagem de questões como o padrão cultural de beleza atual.

    A sequência didática aqui proposta é composta pelas atividades descritas em sequência

    temporal. Em cada atividade descreveremos os tipos de conteúdos que estão sendo

    trabalhados (conceitual, procedimental e/ou atitudinal), seus objetivos, seu desenvolvimento,

    os materiais utilizados e o tempo previsto para a sua realização. Considerando que, no caso

    deste trabalho, o pesquisador assumirá a função de professor e os professores assumirão a

    posição de alunos, os termos utilizados serão coordenador (correspondendo ao sujeito que irá

    conduzir as atividades) e professores (correspondendo aos aprendizes que farão as atividades

    propostas).

    No quadro 3 apresentamos, de forma resumida, as atividades propostas na sequência

    didática apresentada na íntegra no APÊNDICE F. A separação da sequência didática do corpo

    da dissertação foi realizada no sentido de facilitar a disponibilização, utilização e divulgação

  • 29

    da mesma. Desta forma, os profissionais interessados podem utilizá-la independentemente da

    leitura da dissertação, fazendo as adaptações necessárias a sua realidade.

  • 30

    Etapa Atividade Objetivos Conteúdo Material

    necessário

    Tempo

    previsto

    1 Levantamento dos

    conhecimentos prévios sobre o

    tema

    - Conhecer e analisar os conhecimentos prévios dos professores

    sobre o tema (o que eles pensam acerca do tema) e investigar os

    conteúdos acerca dos quais eles gostariam de obter mais

    informações.

    - Estabelecer um vínculo afetivo e de trabalho entre a

    coordenadora e os professores.

    Conceitual e

    procedimental

    Questionário

    semi-estruturado

    (pré-teste)

    30

    minutos

    2 Apresentação do tema por meio

    de uma situação problema

    - Informar os professores sobre a existência de fatores de risco

    para os Transtornos Alimentares entre os escolares.

    - Motivar os professores a participar da sequência didática.

    Conceitual

    Apresentação em

    data show e texto

    de apoio.

    30

    minutos

    3 Proposição de problemas ou

    questões sobre o tema

    - Propor problemas e/ou questões referentes ao tema. Conceitual,

    procedimental e

    atitudinal

    Quadro para

    anotação dos

    problemas e/ou

    questões.

    15

    minutos

    4 Discussão dos problemas

    levantados sobre o tema com a

    explicitação de respostas

    intuitivas ou suposições

    - Compreender as concepções alternativas dos professores acerca

    do tema.

    Conceitual,

    procedimental e

    atitudinal

    Quadro com as

    questões e/ou

    problemas

    levantados na

    atividade 3

    15

    minutos

    5 Buscando fontes de informação

    para resolver problemas

    relacionados ao tema

    - Esclarecer dúvidas dos professores e informar sobre o tema

    proposto.

    Conceitual,

    procedimental e

    atitudinal

    Apresentação em

    data show

    30

    minutos

    6 Elaboração e generalização das

    conclusões e síntese

    - Realizar a síntese das contribuições buscando alcançar os

    objetivos inicialmente propostos.

    Procedimental,

    conceitual, e

    atitudinal

    Apresentação em

    data-show

    15

    minutos

    7 Memorização do tema - Realizar exercícios de memorização que permitam lembrar dos

    resultados das conclusões, da generalização e da síntese do que

    foi discutido durante a sequência.

    Procedimental,

    conceitual

    Questionário semi

    estruturado (pós-

    teste)

    30

    minutos

    8 Encerramento - Encerrar as atividades realizadas. Atitudinal Lanche e vídeo

    sobre o tema

    20

    minutos

    Quadro 3 – Resumo das atividades propostas na sequência didática “Transtornos Alimentares no ambiente escolar”.

  • 31

    A seguir descreveremos a experiência e a análise dos dados referentes à aplicação da

    sequência didática realizada em uma Escola pública de Ipatinga-MG.

    4.2 Experimentação e análise das atividades da sequência

    4.2.1 Atividade 1: Levantamento dos conhecimentos prévios sobre o tema

    Objetivos:

    - Conhecer e analisar os conhecimentos prévios dos professores sobre o tema (o que eles

    pensam sobre o tema) e investigar os conteúdos acerca dos quais eles gostariam de obter mais

    informações.

    - Estabelecer um vínculo afetivo e de trabalho entre a coordenadora e os professores.

    Conteúdos: Conceitual e procedimental

    Material: Questionário semi-estruturado – pré-teste (APÊNDICE D)

    Tempo previsto: 30 minutos

    Relato da experiência:

    O contato inicial ocorreu com uma apresentação pessoal, descrição dos objetivos a

    serem alcançados com a sequência didática, esclarecimentos e soluções de dúvidas e obtenção

    da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE B).

    É o momento onde se explica a metodologia a ser utilizada, pesquisa-se as

    expectativas dos participantes,

    A coordenadora esclareceu sobre os procedimentos do trabalho e sua participação na

    aplicação da sequência didática. Após esta explicação foi entregue um questionário semi-

    estruturado com questões que avaliam o conhecimento em relação ao tema (APÊNDICE D).

    A realização desta atividade permitiu conhecer o que os professores pensam acerca do

    tema e, a partir disto, elaborar uma sequência que amplie estes conhecimentos e

  • 32

    representações, além de ter possibilitado saber sobre quais conteúdos os professores

    desejavam obter mais informações.

    A aplicação do pré-teste ocorreu duas semanas que antecederam a atividade 2.

    Observamos que a presença da coordenadora na escola durante a aplicação dos questionários

    possibilitou um contato informal que se mostrou crucial para uma melhor condução do

    trabalho a ser realizado posteriormente. De fato, Hames (2003) ao estudar as ações planejadas

    e executadas nos últimos vinte anos nos cursos de formação de professores na área das

    Ciências da Natureza e suas Tecnologias mostrou que só há mudanças nas práticas

    pedagógicas, em qualquer nível de escolarização, “desde que o professor tenha boas

    condições de sair do seu isolamento e participe de grupos de formação continuada e

    permanente” e ainda, que “é através das interações sociais que os sujeitos se constituem e

    formam consciência de seu saber profissional”. Neste trabalho os professores incluídos no

    estudo eram os participantes do “Grupo de Desenvolvimento do Professor” existente na

    Escola onde a pesquisa foi realizada.

    4.2.1.1 Análise dos dados do pré-teste

    Foram avaliados 17 professores do Ensino Fundamental e Médio com idade média de

    359,44 anos, variando de 22 a 54 anos. Dos 17 professores, 14 eram do sexo feminino e 3 do

    sexo masculino. O tempo médio de magistério e o tempo de participação no “Grupo de

    Desenvolvimento do Professores” foram 10,946,56 e 2,611,44 anos, respectivamente.

    Quanto ao grau de escolaridade, todos os professores possuíam curso superior completo e,

    destes, 16 professores (94,12%) haviam cursado Pós-Graduação lato sensu. As disciplinas

    ministradas pelos professores participantes podem ser visualizadas na Tabela 1.

    Tabela 1: Disciplinas ministradas pelos professores de uma Escola pública no município de Ipatinga-MG

    participantes da pesquisa.

    Disciplina n %

    Biologia 3 17,65

    Matemática 3 17,65

    Física 2 11,76

    Ciências 2 11,76

    Língua Inglesa 2 11,76

    Outras 5 29,41

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

  • 33

    Em relação ao conceito que os professores tinham sobre os TA observamos as

    categorias citadas na Tabela 2.

    Tabela 2: Conceitos prévios dos professores de uma Escola pública sobre Transtornos Alimentares, Ipatinga-

    MG.

    Categoria n %

    Alimentação inadequada, compulsão alimentar ou restrição alimentar auto-imposta. 15 88,23

    Transtornos ocasionados pela influência midiática gerando busca pelo corpo magro. 5 29,41

    Distorção da imagem corporal. 5 29,41

    Desequilíbrio emocional, transtorno psicológico. 4 23,53

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    Percebemos que a maioria dos professores associou os transtornos alimentares com a

    alimentação, seja pela compulsão ou restrição alimentar. Dentre as respostas para esta

    categoria pode-se observar ainda que alguns professores consideravam apenas que nos TA a

    alimentação era inadequada. Desta forma optamos por classificar as respostas quanto aos

    conceitos associados com a questão alimentar na categoria “alimentação inadequada,

    compulsão alimentar ou restrição alimentar auto-imposta” (Tabela 2).

    A influência da mídia e consequente busca por um corpo magro, a distorção da

    imagem corporal e ainda o fato de os transtornos possuírem origem psicológica foram menos

    citados quando comparadas com as respostas associadas à alimentação.

    Segundo Treasure e Murphy (2007) a conceitualização dos TA reside mais na saúde

    mental do que nutricional. De fato, conforme o DSM-IV os TA são classificados como sendo

    transtornos mentais. No entanto, os intensos distúrbios no comportamento alimentar dos

    pacientes demonstram a importância de se trabalhar a terapia nutricional como um elemento

    essencial para o tratamento (FERREIRA e VEIGA, 2008).

    Desta forma, percebeu-se que no grupo estudado era necessário ampliar os conceitos

    sobre o que são os TA, pois, apesar de as categorias identificadas no grupo serem pertinentes

    e citadas pela literatura, poucos professores identificaram todas as possíveis categorias

    associadas para conceituar estes transtornos.

    Ao analisar as respostas dos professores em relação aos possíveis fatores de risco ou

    causas para os TA encontramos as categorias listadas na Tabela 3.

    Quanto aos fatores de risco identificados pelos professores observamos que, apesar de

    poucos conceituarem os TA como sendo transtornos mentais, a maioria dos professores

    considerou fatores de risco ou causas de origem psicológica para os TA. Neste sentido,

    identificamos e agrupamos em uma mesma categoria (fatores psicológicos) sintomas ou

    situações relatadas pelos professores que se configuravam em questões de fundo emocional.

  • 34

    Tabela 3: Fatores de risco e/ou causas para os Transtornos Alimentares apontados pelos professores de uma

    Escola pública, Ipatinga-MG.

    Categoria n %

    Fatores psicológicos (Problema emocional, depressão, ansiedade, estresse,

    baixa auto-estima)

    11 64,70

    Fatores socioculturais (Padrão de beleza imposto pela sociedade, insatisfação

    com a imagem corporal).

    10 58,82

    Fatores alimentares (Alimentação inadequada com objetivo de manter o

    corpo magro)

    7 41,18

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    A etiologia dos TA envolve aspectos biológicos, genéticos, psicológicos e familiares

    (CORDÁS et al., 2004). No entanto esta etiologia não se restringe a identificar fatores de

    risco; trata-se de buscar a compreensão de como vários fatores precipitantes e perpetuadores

    interagem no desenvolvimento da anorexia e bulimia nervosas (ABUCHAIM et al., 1998).

    Fatores como a baixa auto-estima citada pelos professores são descritos como um dos fatores

    de predisposição aos TA (CORDÁS et al., 2004, ABUCHAIM et al., 1998). Entre os

    aspectos psicológicos descritos pelos professores identificamos ainda a depressão, a ansiedade

    e o estresse. Sintomas depressivos e de ansiedade são muito comuns em pacientes com TA e

    entre parentes de primeiro grau de pacientes com TA. Vale ressaltar ainda que a depressão

    pode preceder o surgimento do TA (NUNES e PINHEIRO, 1998).

    O estresse citado pelos professores como um fator de risco para os TA podem

    evidenciar a preocupação dos professores com as pressões culturais a que os escolares podem

    estar sendo submetidos. De fato, professores podem identificar, entre os escolares,

    dificuldades afetivas, cognitivas e sociais que estão comumente associadas aos TA (REES e

    CLARK-STONE, 2006).

    A identificação de fatores socioculturais e alimentares também ocorreu entre os

    professores (Tabela 3). No entanto observamos que houve uma certa limitação no grupo

    avaliado de perceber o modelo multifatorial que envolve a etiologia dos TA. Aspectos

    biológicos e familiares não foram citados. Em relação a este último observa-se, por exemplo,

    a influência dos pais em relação à imagem corporal dos filhos. Conforme Triches e Giugliani

    (2007), quando a mãe considera que o filho não está com o peso adequado, há índices maiores

    de insatisfação corporal. Neste sentido, a escola pode se configurar em um importante ponto

    de comunicação entre professores e pais para que os primeiros alertem os pais acerca desta

    influência (REES e CLARK-STONE, 2006).

    Os professores também responderam se havia alguma situação ou fator no ambiente

    escolar que pudesse contribuir para o aparecimento destas doenças entre os estudantes. Dos

  • 35

    17 professores 15 responderam que sim e apenas 2 disseram não haver nenhum fator. Aos

    professores que deram a resposta positiva foi solicitado que explicasse os motivos. Estes

    dados estão colocados na Tabela 4.

    Tabela 4: Fatores de risco e/ou causas para os Transtornos Alimentares presentes no ambiente escolar apontados

    pelos professores de uma Escola pública, Ipatinga-MG.

    Categoria n %

    Bullying, competição, influência dos colegas 8 47,06

    Fatores socioculturais (padrão de beleza imposto pela sociedade, insatisfação

    com a imagem corporal).

    6 35,29

    Fatores psicológicos (insegurança, ansiedade, estresse, baixa auto-estima) 3 17,65

    Fatores alimentares (alimentação inadequada na escola) 3 17,65

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    Ao se analisar as respostas dos professores, percebemos que os mesmos fatores

    identificados como sendo fatores de risco e/ou causas para os TA em um contexto geral estão

    presentes no ambiente escolar. No entanto, o bullying, a competição entre os estudantes e a

    própria influência dos colegas foi citado por 47,06% dos professores e identificados apenas no

    contexto escolar. A seguir apresentamos as falas do professor que reforçam estes dados:

    “A „competição‟ entre eles para saber quem está mais bonito(a), mais forte, melhor

    enquadrado aos padrões. O surgimento de apelidos e chacotas com a aparência

    física que intimida e constrange alguns alunos.”

    QFR3

    “O bullying, por exemplo, que é um tipo de violência sofrida pelos alunos, que

    discriminam o que consideram fora dos padrões.”

    QOR3

    “Quando determinado aluno é „atacado‟ por críticas em relação ao seu aspecto

    físico.”

    QER3

    O bullying, citado pelos professores, pode ser conceituado como um conjunto de

    comportamentos agressivos, físicos ou psicológicos como chutar, empurrar, apelidar,

    discriminar e excluir, que ocorre entre os colegas sem motivação evidente e repetidas vezes

    (ANTUNES e ZUIN, 2008).

    Entendemos que este tipo de violência que pode ser sofrida inclusive por escolares

    obesos ou acima do peso (ANTUNES e ZUIN, 2008) pode gerar um dos fatores de

    predisposição aos TA que é a baixa auto-estima (CORDÁS et al., 2004). Um evento

    estressante como o próprio aumento de peso associado com a prática inadequada de dietas

    pode inclusive contribuir para a precipitação da doença em indivíduos vulneráveis (NUNES e

    PINHEIRO, 2004).

  • 36

    No contexto escolar, adolescentes e mesmo crianças, ao sofrerem discriminação,

    exclusão ou serem apelidados por estarem com sobrepeso ou obesidade, podem ser

    encorajados pelos próprios pais a seguirem dietas restritivas ou a excluir determinados

    alimentos da dieta. Isto aumenta consideravelmente o risco do escolar desenvolver um TA

    (NUNES e PINHEIRO, 2004).

    Quando argüidos se os TA podem exercer influência sobre a aprendizagem, 16 dos 17

    professores avaliados afirmaram que há influência. Pensamos que este fato pode servir como

    motivação para os professores contribuírem com ações de prevenção que diminuam a

    incidência destes transtornos entre os escolares.

    Em relação à imagem corporal, os professores foram questionados se a preocupação

    excessiva com a imagem corporal poderia causar um menor desempenho escolar. Dos 17

    professores, 16 responderam positivamente sendo identificadas duas categorias de motivos

    associados com a preocupação com a imagem corporal que podem levar a uma diminuição do

    desempenho escolar (Tabela 5). O professor que respondeu não haver influência não

    explicitou o motivo, apesar de o questionário solicitar explicação para esta resposta

    Tabela 5: Motivos associados à influência da preocupação com a imagem corporal relacionados com a

    diminuição do desempenho escolar apontados pelos professores de uma Escola pública, Ipatinga-MG.

    Categoria n %

    Vida em função da aparência física 13 76,47

    Insegurança, timidez, agressividade ou passividade e baixa auto-estima 3 17,65

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    Dentre as falas dos professores destacamos as seguintes:

    “(…) Um exemplo de um aluno meu que se preocupava tanto com sua aparência

    que resolveu não querer estudar. Um dia perguntei à ele o que ele pensava da vida,

    o que ele gostava de fazer e porque saía tão cedo da aula. A resposta dele foi a

    seguinte: Penso em ser modelo, gosto de ir à academia e saio mais cedo pra chegar

    mais cedo lá.”

    QFR5

    “A preocupação com a beleza é tão exacerbada que deixam o essencial de lado.

    (…)”

    QGR4

    Observamos que a maioria dos professores percebia que a exagerada preocupação com

    a imagem corporal categorizada neste trabalho como “vida em função da aparência física”

    poderia gerar uma inversão de valores em detrimento do rendimento escolar. A exagerada

    preocupação com a imagem corporal pode ser um sinal de que o adolescente possui

    insatisfação com a imagem corporal. De fato, conforme Adami et al. (2008) as mudanças

    corporais decorrentes da puberdade e as influências de pessoas próximas (pais, amigos) e da

  • 37

    mídia fazem da adolescência um período crítico para o desenvolvimento da insatisfação

    corporal.

    Ao serem questionados se a promoção de bons hábitos alimentares no ambiente

    escolar pode diminuir a incidência dos TA entre os escolares, 16 dos 17 professores

    responderam que sim. Isto evidencia a percepção por parte dos professores da importância da

    alimentação na prevenção destes transtornos. O único professor que respondeu não haver

    influência não explicou os motivos da sua resposta.

    Neste sentido os professores foram incentivados a responderem de que forma a

    promoção de bons hábitos poderia ocorrer. As categorias identificadas estão colocadas na

    Tabela 6.

    Tabela 6: Estratégias de promoção de bons hábitos alimentares com objetivo de prevenir Transtornos

    Alimentares apontadas pelos professores de uma Escola pública, Ipatinga-MG.

    Categoria n %

    Orientações gerais sobre alimentação e manutenção de peso saudável 12 70,59

    Fornecimento de merenda escolar com adequado valor nutricional 7 41,18

    Presença do profissional nutricionista na escola 2 11,76

    Exploração do livro didático como instrumento de educação alimentar 1 5,88

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    A American Dietetic Association (ADA) ressalta a importância de a escola

    desenvolver estratégias de intervenção que envolvam toda a comunidade escolar na formação

    de hábitos de vida saudáveis, propiciando aos escolares um ambiente com opções de lanches

    nutricionalmente equilibrados, exercícios físicos regulares e programas de educação

    nutricional (GABRIEL et al., 2008). Isto pode evitar que os escolares se submetam, por

    exemplo, a práticas inadequadas para a perda de peso como as restrições alimentares, jejuns

    prolongados e a prática de dietas. Estes fatores constituem-se situações de risco para o

    desenvolvimento dos TA. Alvarenga e Dunker (2004) citam que a prática de dietas precedem

    as compulsões alimentares, que são características das pacientes com BN, em pelo menos

    83% dos casos.

    Bizzo e Leder (2005) descrevem que o professor possui importante papel como

    modelo de estímulo à aceitação de alimentos no ambiente escolar, porém há ainda que se

    considerar a importante influência de colegas com faixa etária similar.

    A presença de um profissional nutricionista na comunidade escolar também pode se

    configurar como um importante meio de promoção de bons hábitos e de prevenção de TA.

    Vale ressaltar que o profissional nutricionista deve estar capacitado a atuar de forma eficaz no

    processo educativo promovendo mudanças de comportamento alimentar de crianças e

  • 38

    adolescentes. Para isto deve haver um planejamento que leve em conta o contexto no qual os

    escolares estão inseridos.

    Observamos que o livro didático foi apontado como um mecanismo de promoção de

    bons hábitos na escola. Bizzo e Leder (2005) ressaltam que os recursos didáticos que se

    destinem a realizar educação nutricional tenham expressiva ênfase em imagens e esquemas

    didáticos que levem o estudante a pensar. Acreditamos que este importante instrumento é um

    ótimo recurso que, quando utilizado de maneira adequada, pode se configurar como um

    promotor de bons hábitos alimentares.

    Ao serem argüidos sobre a maneira pela qual os professores poderiam atuar no sentido

    de diminuir o aparecimento dos TA nos estudantes observamos as respostas categorizadas na

    Tabela 7.

    Tabela 7: Possibilidades de atuação do professor no sentido de favorecer a prevenção dos Transtornos

    Alimentares entre os estudantes, apontadas pelos professores de uma Escola pública, Ipatinga-MG.

    Categoria n %

    Fornecendo informações sobre o tema através de projetos, pesquisas, debates e

    dinâmicas.

    15 88,23

    Realizando educação alimentar com orientações sobre peso saudável e prática

    de atividades físicas.

    6 35,29

    Promovendo a realização de palestras para os escolares com profissionais de

    saúde.

    5 29,41

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    Observamos que os professores sugeriram algumas formas de atuação que podem ser

    úteis no sentido de prevenir os TA entre os escolares. A prática de atividades que podem ser

    desenvolvidas no próprio ambiente de sala de aula ou na comunidade escolar, como a

    realização de projetos, pesquisas, debates e dinâmicas fornecendo informações sobre o tema

    foi a mais citada. Foi colocado para os professores a seguinte situação problema: “Suponha

    que você tenha observado que um estudante possui Anorexia ou Bulimia Nervosas. O que

    você faria?”. Para esta pergunta obtivemos as respostas apresentadas na Tabela 8.

    Tabela 8: Respostas de professores de uma Escola pública em Ipatinga, MG à seguinte situação hipotética:

    “Suponha que você tenha observado que um estudante possui Anorexia ou Bulimia Nervosas. O que você faria?”

    Categoria n %

    Informaria a direção e/ou supervisão da escola 10 58,82

    Comunicaria os pais ou responsáveis 7 41,18

    Conversaria com o estudante 4 23,53

    Encaminharia a um profissional de saúde 4 23,53

    Trabalharia o tema em sala de aula 2 11,76

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

  • 39

    Ao se analisar as respostas dos professores em relação ao encaminhamento de um

    estudante com suposto TA, observamos que é necessário esclarecer tanto os professores como

    a direção da escola para quais profissionais o estudante deve ser encaminhado. Entendemos

    que organizar um fluxo de encaminhamentos nesta escola é essencial para que os estudantes

    sejam submetidos a tratamento adequado.

    Segundo Sapoznik et al. (2005), a estrutura básica de uma equipe multidisciplinar para

    o tratamento dos TA é composta por psiquiatra, psicólogo, nutricionista, terapeuta familiar e

    clínico geral. No entanto, outros profissionais, como endocrinologista, terapeuta ocupacional,

    enfermeiro e outros também podem fazer parte da equipe e contribuir de maneira importante.

    A escola pode contribuir no sentido de identificar adolescentes em situação de risco,

    alertando e instruindo pais e responsáveis sobre o comportamento do estudante e orientando

    para quais profissionais o aluno em situação de risco deve ser encaminhado.

    Com relação aos assuntos relacionados ao tema sobre os quais os professores

    desejavam obter mais informações percebemos que a identificação de fatores de risco e/ou

    causas e as orientações sobre bons hábitos alimentares foram objetos de maior interesse por

    parte dos professores (Tabela 9). No entanto, uma porcentagem alta (41,18%) dos professores

    não responderam a esta questão o que pode indicar um desconhecimento da importância do

    tema no contexto escolar. Este alto percentual evidencia a importância de se utilizar

    estratégias que motivem os professores a se envolverem com o tema em questão. É necessário

    que qualquer intervenção no ambiente escolar e que envolva os professores ocorra de forma

    planejada e com o objetivo centrado na formação profissional. Entendemos que estas

    intervenções devam ser capazes de motivar o professor a ponto de ele atuar de maneira mais

    eficaz na prevenção dos TA no contexto escolar.

    Tabela 9: Conteúdos sobre Transtornos Alimentares que os professores de uma escola Pública de Ipatinga, MG

    desejariam obter informações.

    Categoria n %

    Fatores de risco e/ou causas para os Transtornos Alimentares, período de início. 3 17,65

    Orientações sobre bons hábitos alimentares. 3 17,65

    Orientações para quais profissionais encaminhar alunos em situação de risco. 2 11,76

    Informações gerais sobre o tema. 2 11,76

    Não responderam. 7 41,18

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

    A análise dos resultados do pré-teste, aqui apresentada, foi utilizada como base para a

    elaboração das outras atividades da sequência didática dirigida aos professores participantes

    da pesquisa.

  • 40

    4.2.2 Atividade 2: Apresentação do tema por meio de uma situação problema

    Apresentação por parte do coordenador de uma situação problema relacionada com o

    tema. O coordenador desenvolve um tema em torno de um fato ou acontecimento, destacando

    os aspectos problemáticos e os que são desconhecidos pelos professores.

    Objetivos:

    - Informar os professores sobre a existência de fatores de risco para os TA entre os escolares.

    - Motivar os professores a participar da sequência didática.

    Conteúdo: Conceitual

    Materiais: Aula em data show e texto de apoio (APÊNDICE F)

    Tempo previsto: 30 minutos

    Relato da experiência:

    Inicialmente cada profe