potencial de seqÜestro de carbono em sistemas...
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Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 101S
JACIMAR LUIS DE SOUZA
Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo em 1982. Mestrado pela UniversidadeFederal de Lavras, em 1985. Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa, em 2006.
Experiência profissional de 20 anos como pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica eExtensão Rural (INCAPER), executando e coordenando projetos de pesquisa do programa de Agricultura Orgânicado INCAPER de 1990 até a presente data.
Publicação de 183 trabalhos técnico-científicos em anais, documentos seriados e periódicos nacionais, sendo155 trabalhos exclusivos na área de agricultura orgânica.
Ministrou 54 palestras e conferências e foi instrutor de 56 cursos e mini-cursos para várias instituições e organizações de técnicose agricultores no Brasil e Exterior.
Autor dos Livros:
Agricultura Orgânica - tecnologias para a produção de alimentos saudáveis, vol. 1 (editado em abril de 1998).
Agricultura Orgânica - tecnologias para a produção de alimentos saudáveis, vol. 2 (editado em julho de 2005).
Manual de Horticultura Orgânica, pela Aprenda Fácil Editora, 1ª edição em 2003 e 2ª edição. em 2006.
Coordenador Técnico de diversos Vídeo-cursos sobre Cultivo Orgânico de Hortaliças
Ganhador dos prêmios:
Prêmio Tião Sá 1996 de incentivo à pesquisa ecológica, com o trabalho “Desenvolvimento integrado de tecnologias para a produçãode alimentos orgânicos”
Prêmio SOB-2001, com o trabalho: “Desenvolvimento de tecnologias para a olericultura orgânica brasileira”.
Prêmio Ecologia 2006, com o trabalho “Agricultura Orgânica como alternativa à crise energética mundial”
Prêmio Ecologia 2007, com o trabalho “Potencial de seqüestro de carbono pela agricultura orgânica”
Prêmio Tião Sá 2008 de incentivo à pesquisa ambiental, com o trabalho “Potencial da agricultura orgânica para o seqüestro decarbono e redução o efeito estufa”.
Prêmio ABH 2009, promovido pela Associação Brasileira de Horticultura, com o artigo científico “Balanço e sustentabilidade energéticana produção orgânica de hortaliças”.
POTENCIAL DE SEQÜESTRO DE CARBONO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DEHORTALIÇAS
Dr. Jacimar Luis de Souza1
Pesquisador INCAPER, área de Agroecologia - Centro Serrano, BR-262, Km 94, 29.375-000 Venda Novado Imigrante, ES, Brasil. E-mail: [email protected]
Dentre os Gases de Efeito Estufa - GEE emitidos pelas atividades humanas, o gáscarbônico (CO
2) é responsável por cerca de 70% do potencial de elevação da temperatura
terrestre. Nos últimos 250 anos, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou 31%,
alcançando os atuais 366 ppm - mais alto nível observado nos últimos 420 mil anos. Noúltimo século, a temperatura do planeta já subiu 0,7º C e, nos próximos cem anos, o aumentopode chegar entre 1,4º C e 5,8º C, segundo projeções do IPCC – Intergovernamental Panelon Climate Change (Marengo, 2006).
O solo é considerado o principal reservatório temporário de carbono em umecossistema. Entretanto, o carbono é um componente dinâmico e sensível ao manejorealizado no solo. Seu conteúdo encontra-se estável sob condições de vegetação natural,porém com a quebra do equilíbrio pelo cultivo do solo em preparo convencional, geralmenteocorre redução no seu teor, resultado das novas taxas de adição e de perda (Dalal & Mayer,
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1986, citados por Dellamea et al., 2002). Segundo Cerri & Cerri (2007) o solo se constituinum compartimento chave no processo de emissão e seqüestro de carbono, pois em termosglobais, há duas a três vezes mais carbono nos solos em relação ao estocado na vegetaçãoe duas vezes mais em comparação à atmosfera. Assim, manejos inadequados do solo podemassumir um papel desastroso, pois podem mineralizar a matéria orgânica e emitir grandesquantidades de GEE para a atmosfera. Isto demonstra o grau de importância que manejosecológicos de solos representam para o planeta atualmente.
Algumas das práticas agrícolas que causam emissões de GEE são as queimas, afertilização mineral, as intervenções freqüentes e o preparo intensivo do solo. Porém existemoutras formas de utilizar a terra que podem causar efeito inverso, incrementando o conteúdode carbono no solo e na vegetação ao aumentar as quantidades de dióxido de carbonocapturado, sem produzir um efeito aditivo às emissões oriundas de combustíveis fósseis(Dixon et al., 1994b, citados por Dixon, 1995).
O impacto e a contribuição das formas de uso da terra, especialmente da agricultura,para o aquecimento global têm sido recentemente discutidos pela comunidade científicanacional e internacional. Scarpellini & Bolonhezi (2007) relatam que as atividades agrícolassão responsáveis por 20% das emissões dos gases de efeito estufa, em nível global, deacordo com dados do IPCC do ano de 2001. Kevin et al. (2005), citados por Forum ... (2006)indicam 31,7% para a mudança de uso da terra e agricultura. No caso específico do Brasil,o Inventário Nacional de 2004 indicou que 75% das emissões de CO
2 – no período de 1990
a 1994 – foram de responsabilidade da mudança do uso da terra e, principalmente, dodesmatamento na Amazônia (Forum ..., 2006).
O aumento da temperatura e as mudanças no regime hídrico, causados peloaquecimento global, terão um grande impacto na produção agrícola do Brasil (Assad et al.,2004). O estudo sugere, a partir de simulações feitas com base no aumento de temperaturade 1º C, 3º C e 5,8º C e no acréscimo de 5%, 10% e 15% na precipitação pluviométrica, que,mantidos esses cenários, um forte rearranjo espacial poderá acontecer na geografia daprodução agrícola brasileira. Culturas perenes, como o café, tendem a procurar regiões comtemperaturas máximas mais amenas, e o eixo de produção poderá se deslocar para o sul dopaís. As elevadas temperaturas de verão vão condicionar o deslocamento de culturas comoarroz, feijão, milho e soja para a região Centro-Oeste, podendo mudar de modo significativoo zoneamento agrícola brasileiro.
Dixon (1995) relata que as práticas de cultivo mínimo do solo, a incorporação derestos culturais e resíduos orgânicos, a adubação verde e as rotações utilizando cultivosde cobertura com gramíneas ou leguminosas, retém o carbono nos solos por décadas,inclusive séculos. Baseado nesses relatos e como as práticas da agricultura orgânicapressupõem o emprego de todas essas estratégias, estas se apresentam comoexcelentes alternativas para fixação do carbono e a redução do principal gás de efeitoestufa, o CO
2.
Diante do problema do aquecimento global, a quantificação dos fluxos de CO2 deve
ser inserida como parte da abordagem energética e de sustentabilidade de sistemas deprodução agrícola (Souza, 2006). Portanto, monitorar o estoque de carbono dos solossubmetidos a práticas ecológicas de manejo e a práticas de manejo em agricultura orgânica,tornam-se cada vez mais necessários.
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Müller-Lindenlauf (2009), em documento da FAO, analisa as possibilidades daagricultura orgânica ser considerada atividade significativa para o seqüestro de carbono.Referencia muitos trabalhos que demonstram alto nível de captura de carbono em sistemasorgânicos de produção, contribuindo para o aumento do estoque de carbono no solo e nabiomassa.
Em sistemas orgânicos de produção de hortaliças pressupõe-se a reciclagem deresíduos orgânicos, como estercos de animais para inoculação de compostos, fato quecontribui para elevar o estoque de carbono do solo, visto que estes retornariam para aatmosfera na forma de CO
2, se não fossem reciclados. As adubações dos solos com composto
orgânico também contribui significativamente para o aumento do estoque de carbono dosolo, pela sua rica composição em matéria orgânica, onde se destaca um teor médio de52%, o que corresponde a 30,2% de Carbono (Tabela 1).
Sistemas de produção de hortaliças que se baseiem em princípios ecológicos e utilizempráticas agroecológicas, podem contribuir significativamente para o seqüestro de carbonoatmosférico. Dentre estes, destacam-se:
Tabela 1. Composição média de compostos orgânicos no período de 1990 a 2009. INCAPER,Domingos Martins, 2010.
1
Adubo orgânicoM.O.
C/N pHMACRO (%) MICRO (ppm)
(%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
Composto 52 16/1 7,3 2,0 1,2 1,2 4,8 0,5 54 188 12.424 793 25
1 Média de 50 medas.
- Sistema diversificado com preservação parcial da vegetação nativa local (Figura1A);
- Fixação de carbono por área em capineiras utilizadas para produção de biomassapara a compostagem orgânica (Figura 1B);
- Reciclagem de resíduos orgânicos pela compostagem orgânica, para produção deadubo orgânico para as culturas (Figura 1C);
- Plantio Direto de hortaliças sobre palhadas de adubos verdes (Figura 1D);
- Cultivo solteiro de adubos verdes em rotação, visando proteção do solo e fixação decarbono e nitrogênio (Figura 1E);
- Manutenção de corredor de refúgio com espécies espontâneas, visando manter aestabilidade ecológica e controlar a erosão (Figura 1F);
- Manejo da vegetação espontânea entre as linhas de cultivo de hortaliças, pela técnicada capina em faixa, proporcionando proteção do solo, maior diversidade, equilíbrio ecológico,controle de erosão e ciclagem de nutrientes no perfil do solo (Figura 1G);
- Manutenção da vegetação espontânea entre os canteiros pela roçada, para proteçãodo solo, para refúgio de predadores, proteção do solo e ciclagem de nutrientes (Figura 1H);
- Emprego da adubação em cobertura para melhoria nutricional das culturas,empregando-se composto orgânico e biofertilizantes líquidos (Figura 1I e 1J,respectivamente).
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Estudos realizados numa área experimental de agricultura orgânica do INCAPER,monitorando anualmente diversas unidades de solo desde 1990, com amostragens múltiplasna camada de 0 a 20 cm de profundidade, registraram um significativo aumento no teor dematéria orgânica (e consequentemente de carbono), durante os últimos 20 anos de cultivoorgânico de hortaliças (Figura 2). Neste estudo, o manejo de matéria orgânica e a fixaçãode carbono no sistema se deram pela fixação de biomassa em capineiras e adubos verdes(gramíneas e leguminosas), pela ciclagem de resíduos através da importação de esterco degalinha para a compostagem e pelo manejo da vegetação espontânea local.
Figura 1. Práticas relacionadas ao manejo e à reciclagem de matéria orgânica, adotadas no projeto. INCAPER,Domingos Martins, 2010.
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Neste processo, ocorre uma dinâmica intensa de carbono, envolvendo ganhos (naforma de Carbono e CO
2, pelas práticas mencionadas) e perdas (por emissões naturais de
CO2 no sistema de compostagem e no preparo mecânico dos solos para plantio). Neste
estudou avaliou-se o acúmulo temporal, analisando o saldo de Carbono no processo, estandoinserido todo processo de ganhos e perdas. Com base na Figura 2, a média dos teores dematéria orgânica (MO) dos solos, na camada de 0 a 20 cm, mostrou elevações significativas.Os dados estimados pela curva de regressão apresentaram ajuste quadrático, com a matériaorgânica elevando-se de 2,1% até 3,6% em 20 anos (elevação de 71%).
Figura 2. Evolução da Matéria Orgânica dos solos submetidos a manejo orgânico durante 20 anos. INCAPER,Domingos Martins, 2010.
y = -0,0016x2 + 6,3755x - 6452,4777
R2 = 0,8732
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
M.O
(%)
Visando ampliar a estimativa de estoque de Carbono até 40 cm de profundidade, osvalores observados na camada de 0 a 20 foram multiplicados pelo índice médio de 1,65.Este índice foi obtido em análises comparativas do teor de matéria orgânica nas duasprofundidades, que indicaram que os teores na camada de 20 a 40 cm representam, emmédia, 65% dos teores contidos na camada de 0 a 20 cm de profundidade nestes solos.
Na Tabela 2 estão os dados observados na camada de 0 a 20 cm e as estimativaspara a camada de 0 a 40 cm de profundidade, indicando que até esta profundidade o conteúdode carbono elevou-se em 33,898 t (de 33,229 t em 1990, para 67,127 t em 2009). Porconseqüência, o estoque de CO
2 equivalente elevou-se em 112,133 t, de 121,840 t para
246,131 t no mesmo período. Isto representa médias anuais de fixação de 1,69 t C e de 5,61t CO
2, comprovando a eficiência do manejo orgânico dos solos no seqüestro e na fixação de
carbono.
Verifica-se que o conteúdo (Figura 3) e o acúmulo (Figura 4) de CO2 equivalente,
apresentaram elevações durante 20 anos. Devido aos aumentos tenderem ser menorescom o passar dos anos, o modelo quadrático foi o que melhor se ajustou aos dados.
Os incrementos anuais de CO2 (elevações de um ano para outro) no sistema foramdecrescentes, iniciando em 6,81 t ha-1 no 1º ano, chegando a 4,26 t ha-1 no 20º ano (Figura5). Isto indica que o potencial de seqüestro de carbono tende a diminuir com o tempo,conferindo incrementos menores a cada ano.
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2 (
1991
)1,
990
2,14
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152
4,22
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139,
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809
Ano
3 (
1992
)2,
375
2,22
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374
5,04
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,356
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32,3
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4 (
1993
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580
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Ano
5 (
1994
)2,
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2,37
71,
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384
Ano
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243
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7 (
1996
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2,53
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148
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15,5
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1997
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É importante destacar que práticas agrícolas seqüestradoras de carbono devem sercontínuas para que o CO2 fixado não seja perdido. Assim, por exemplo, o sistema plantiodireto pode aumentar o carbono armazenado no solo se for realizado continuamente, porémse for interrompido por um ano pelo preparo intensivo de solo, pode-se perder grande partedo carbono do solo acumulado por vários anos (Grupo..., 2000). Esta consideração tambémé válida para a agricultura orgânica, na qual as práticas conservacionistas devem serpermanentes, tanto para conservar quanto para compensar os ganhos e perdas de carbonono tempo. Exemplo disso é a produção de biomassa em capineiras perenes para acompostagem, que são fontes de alta eficiência na captação de CO2. Este volume éconstantemente produzido e cortado para a confecção de composto, e quando o compostoestá sendo feito (e perdendo CO2 pela fermentação em sistema aberto), a capineira retomaseu crescimento e captura mais carbono da atmosfera. Nesse caso temos uma imobilizaçãodo carbono pela constância do ciclo. No sistema orgânico de produção de hortaliças doINCAPER, são produzidas anualmente 360 m3 de biomassa triturada (72 toneladas de resíduoúmido), em 3.000 m2 de capineiras que auxiliam na sustentação do sistema com 3,0 ha deárea total. Portanto, o período de ganhos com seqüestro e fixação de carbono em sistemasorgânicos dependerá fortemente de 2 fatores: da intensidade de aplicação das práticasseqüestradoras e da constância de uso das mesmas.
Figura 3. Conteúdo de CO2 equivalente, na camada de 0 – 40 cm, em solos agrícolas sob manejo orgâni-
co. INCAPER, Domingos Martins, 1990 a 2009.
Figura 4. Acúmulo de CO2 equivalente, na camada de 0 – 40 cm, em solos agrícolas sob manejo orgânico.
INCAPER, Domingos Martins, 1990 a 2009.
y = -0,1102x2 + 446,43x - 451823
R2 = 0,8732
100,0
150,0
200,0
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1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
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1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
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Segundo Cerri & Cerri (2007), o padrão de emissão de gases pelas atividades humanasno Brasil é completamente diferente da situação global. A mudança no uso da terra e florestas,envolvendo o desmatamento e as práticas agrícolas, são as principais fontes de emissão deGEE, representando 75% das emissões brasileiras. Apenas 25% são derivadas da queimade combustíveis fósseis. Por este motivo, a contribuição relativa das práticas de agriculturaspreservacionistas pode ser considerada expressiva para reduzir emissões no Brasil.
Indicadores apresentados por Cerri & Cerri (2007), baseados em Bernoux et al. (2001),revelam que as taxas anuais líquidas de emissão de CO
2 no Brasil, considerando-se apenas
as atividades agrícolas, foram de 0,01265 Gt C (0,0464 Gt CO2) na média de 20 anos (1975-
1995). Segundo os autores, a adoção de práticas de manejo menos agressivas, como aadoção do sistema plantio direto em substituição ao sistema convencional e a colheita dacana-de-açúcar mecanicamente, em substituição à colheita com queima da palha, poderiamevitar a emissão de 0,009
e 0,00155 Gt C ano
-1, respectivamente. Ambas somariam 0,0106
Gt C ano-1, que seriam quase suficientes para compensar toda emissão líquida de 0,01265
Gt C ano-1 de todo território brasileiro no período analisado.
Figura 5. Incrementos anuais estimados de CO2 equivalente, na camada de 0 – 40 cm, em solos agrícolas
sob manejo orgânico. INCAPER, Domingos Martins, 1990 a 2009.
y = -0,1415x + 288,33
R2 = 1
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Increm
en
tod
eC
O2
(t/h
a)
Tabela 3. Estimativa de fixação de CO2, em Giga Toneladas (Gt) , na camada de 0 a 40 cm
de profundidade, em solos agrícolas sob manejo orgânico. INCAPER, Domingos Martins,2010.
Áreas
Indicador Período Horticultura Orgânica1932.120 ha Agrícola total
2
1,0 ha ( t ) ( Gt = t 109 ) 70.000.000 ha ( Gt = t 10
9 )
CO2
20 anos 112,13 0,1040 7,8540
anual 5,61 0,0052 0,3927
1 Área ocupada com agricultura orgânica certificada no Brasil (IFOAM, 2009).
2 Soma das áreas da safra 2008/09, ocupadas com grãos, cafe, fruticultura, cacau, horticultura e cultivos
florestais comerciais (WWF-Brasil, 2009).
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 109S
Utilizando como referência a emissão anual de 0,0464 Gt CO2 pelas atividades agrícolas
e fazendo-se uma análise dos dados obtidos no cultivo orgânico de hortaliças nestes últimos20 anos relatados anteriormente, a fixação anual de 5,61 t CO
2, se projetada para a área
ocupada com agricultura orgânica no Brasil em 2007 (IFOAM, 2009), somaria 0,0052 GtCO
2, ou seja, representaria 11,20% de toda emissão do setor, mesmo representando apenas
1,33% da área (Tabela 3). Da mesma forma, a projeção de fixação de CO2 para toda a área
agrícola brasileira (WWF-Brasil, 2009), baseado nos índices deste trabalho totalizaria 0,3927Gt, CO
2 por ano, o que representaria 8,46 vezes mais toda emissão anual do setor agrícola,
relatada por Cerri & Cerri (2007).
A ratificação do Protocolo de Quioto, no qual os países desenvolvidos assumirammetas de redução das emissões de gases causadores de efeito estufa, cria a expectativa deque, em um futuro próximo, produtores rurais que adotem práticas agroecológicas naagricultura possam obter compensações pela prestação de serviços ambientais.
Portanto, uma análise do potencial de sistemas de produção de hortaliças, que sejameficientes recicladores de carbono e CO
2, para acessar o mercado internacional de crédito
de carbono torna-se cada vez mais uma necessidade. No presente caso, a fixação anual de5,61 t CO
2 por ha/ano (tomando por base o preço de 16,20 euros por tonelada de CO
2 -
aproximadamente R$ 35,00), negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros em setembrode 2007 (Bolsa ..., 2008), corresponderiam a R$ 196,35. Propriedades rurais com áreasmédias cultivadas em torno de 10 ha têm potencialmente a possibilidade de crédito de carbonona base R$ 1.963,50 por ano, que em 20 anos somariam R$ 39.270,00/ha pela fixação totalacumulada de 112,13 t de CO
2.
CONCLUSÕES
O manejo agroecológico em sistemas de produção de hortaliças permite elevar o teorde matéria orgânica dos solos, pela reciclagem e seqüestro de carbono atmosférico;
Os ganhos com seqüestro e fixação de carbono em sistemas orgânicos de produçãode hortaliças dependerão fortemente da intensidade de aplicação das práticas seqüestradorase da constância de uso das mesmas; Sistemas orgânicos de produção de hortaliçasapresentam elevado potencial para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa, podendocontribuir para a redução do Aquecimento Global.
LITERATURA CITADA
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