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RELATO INTEGRADO: ADERÊNCIA DAS INFORMAÇÕES QUALITATIVAS E FINANCEIRAS DA FIBRIA CELULOSE S.A TANAKA, Alessandra Yukari Shimamura 1 OLIVEIRA, Letícia Prechlak de 2 BORÇATO, Edileusa Cristina 3 RESUMO: Analisar a aderência das informações qualitativas e financeiras no Relato Integrado da Fibria Celulose S.A é o objetivo geral deste estudo. A coleta de dados documental delimitou-se à análise dos conteúdos dos Relatos Integrados-RI dos exercícios 2015, 2016 e 2017. O RI reúne informações com aspectos financeiro, natural, humano, intelectual, manufaturado e de relacionamento, com os propósitos de facilitar a compreensão de como a organização empresarial cria valor ao longo do tempo e quais os efeitos de seu desenvolvimento no meio em que está inserida. Este mecanismo de divulgação voluntária, foi criado pela International Integrated Reporting Council (IIRC), e incentivado sua implementação nas empresas a partir de 2013, logo, encontra-se ainda em fase de amadurecimento, desta forma, acredita-se que este estudo poderá contribuir nas reflexões sobre a participação do contador no processo de implantação, elaboração e divulgação do RI, bem como, provocar ou alicerçar futuros estudos nesta temática. Os resultados demonstram que a empresa Fibria Celulose S.A cumpriu a maioria dos quesitos presentes nas orientações do IIRC quanto à estrutura do RI, entretanto constatou-se: não existir aderência das informações financeiras e qualitativas; as informações financeiras mais evidenciadas foram: investimentos, lucro líquido, EBITDA e Receita líquida; houve tímida evidenciação dos custos, despesas e dívidas. Palavras-chaves: Divulgação voluntária. Contabilidade. Análise de conteúdo. INTEGRATED REPORTING: ADHERENCE OF QUALITATIVE AND FINANCIAL INFORMATION FROM THE COMPANY FIBRIA CELULOSE S.A ABSTRACT: The objective of this study is to analize the adherence of qualitative and financial information in the Integrated Reporting from the company Fibria Celulose S.A. The data collection was based on the analysis of the contents of the Integrated Reporting from 2015 to 2017. The IR compiles information with financial, natural, human, intellectual, manufactured and relationship aspects, for the purpose of facilitating the comprehension of how business organization creates value over time and what are the effects of its development in the embedded environment. This voluntary disclosure mechanism was created by the International Integrated Reporting Council (IIRC) and its implementation in companies since 2013, but nevertheless it still needs a maturing process, so it is believed that this work may contribute to the reflections about the accountant contribution in the process of implementation, elaboration and disclosure of the IR, as well as to incite future studies on this issue. The results show that the company Fibria Celulose S.A. fulfilled most of the requirements mentioned in the IIRC guidelines related to the IR structure, but it was verified a non-existing adherence of qualitative and financial information. The most emphasized financial information were: investiments, net profit, EBITDA margin and net income; there was a low emphasize of the costs, expenses and debts. Keywords: Voluntary disclosure. Accounting.Content analysis 1 Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense UNIPAR. 2 Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense UNIPAR. 3 Professora Orientadora Docente do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense UNIPAR.

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Page 1: RELATO INTEGRADO: ADERÊNCIA DAS INFORMAÇÕES …€¦ · Integrado da Fibria Celulose S.A é o objetivo geral deste estudo. A coleta de dados documental delimitou-se à análise

RELATO INTEGRADO: ADERÊNCIA DAS INFORMAÇÕES QUALITATIVAS E

FINANCEIRAS DA FIBRIA CELULOSE S.A

TANAKA, Alessandra Yukari Shimamura1

OLIVEIRA, Letícia Prechlak de2

BORÇATO, Edileusa Cristina3

RESUMO: Analisar a aderência das informações qualitativas e financeiras no Relato

Integrado da Fibria Celulose S.A é o objetivo geral deste estudo. A coleta de dados

documental delimitou-se à análise dos conteúdos dos Relatos Integrados-RI dos exercícios

2015, 2016 e 2017. O RI reúne informações com aspectos financeiro, natural, humano,

intelectual, manufaturado e de relacionamento, com os propósitos de facilitar a compreensão

de como a organização empresarial cria valor ao longo do tempo e quais os efeitos de seu

desenvolvimento no meio em que está inserida. Este mecanismo de divulgação voluntária, foi

criado pela International Integrated Reporting Council (IIRC), e incentivado sua

implementação nas empresas a partir de 2013, logo, encontra-se ainda em fase de

amadurecimento, desta forma, acredita-se que este estudo poderá contribuir nas reflexões

sobre a participação do contador no processo de implantação, elaboração e divulgação do RI,

bem como, provocar ou alicerçar futuros estudos nesta temática. Os resultados demonstram

que a empresa Fibria Celulose S.A cumpriu a maioria dos quesitos presentes nas orientações

do IIRC quanto à estrutura do RI, entretanto constatou-se: não existir aderência das

informações financeiras e qualitativas; as informações financeiras mais evidenciadas foram:

investimentos, lucro líquido, EBITDA e Receita líquida; houve tímida evidenciação dos

custos, despesas e dívidas.

Palavras-chaves: Divulgação voluntária. Contabilidade. Análise de conteúdo.

INTEGRATED REPORTING: ADHERENCE OF QUALITATIVE AND FINANCIAL

INFORMATION FROM THE COMPANY FIBRIA CELULOSE S.A

ABSTRACT: The objective of this study is to analize the adherence of qualitative and

financial information in the Integrated Reporting from the company Fibria Celulose S.A. The

data collection was based on the analysis of the contents of the Integrated Reporting from

2015 to 2017. The IR compiles information with financial, natural, human, intellectual,

manufactured and relationship aspects, for the purpose of facilitating the comprehension of

how business organization creates value over time and what are the effects of its development

in the embedded environment. This voluntary disclosure mechanism was created by the

International Integrated Reporting Council (IIRC) and its implementation in companies since

2013, but nevertheless it still needs a maturing process, so it is believed that this work may

contribute to the reflections about the accountant contribution in the process of

implementation, elaboration and disclosure of the IR, as well as to incite future studies on this

issue. The results show that the company Fibria Celulose S.A. fulfilled most of the

requirements mentioned in the IIRC guidelines related to the IR structure, but it was verified a

non-existing adherence of qualitative and financial information. The most emphasized

financial information were: investiments, net profit, EBITDA margin and net income; there

was a low emphasize of the costs, expenses and debts.

Keywords: Voluntary disclosure. Accounting.Content analysis

1Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense – UNIPAR. 2Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense – UNIPAR. 3Professora Orientadora Docente do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense – UNIPAR.

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1. INTRODUÇÃO

Os acontecimentos das últimas décadas foram relevantes para que os relatórios

ambientais expandissem no mundo dos negócios. Pode-se citar como exemplos desses

acontecimentos o desastre na Usina Nuclear de Chernobyl em 1986, e a tragédia em Goiânia

(GO), muito conhecida por “Césio 137” em 1987. Em decorrência de eventos como estes,

surgiram iniciativas internacionais para a normatização e divulgação de relatórios de

responsabilidades sociais e ambientais empresariais. Têm-se como exemplos de organizações

incentivadoras a Global Reporting Initiative (GRI), AA1000 divulgado pela Institute of Social

and Ethical Accountability (ISEA) e o Social Accountability (AS) (FAUR et al, 2012).

Países como a França, Alemanha e Inglaterra, podem ser considerados percussores no

incentivo à responsabilidade social das empresas, e consolidaram a necessidade da divulgação

de relatórios de responsabilidade social e ambiental. Em 1972, na França, a empresa Singer,

elaborou e divulgou o primeiro balanço social (IBASE, 2008). Atualmente existem diversos

modelos de relatórios, dentre eles os que seguem as diretrizes do Global Reporting Initiative

(GRI), Instituto Ethos, Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômico (IBASE) (VAZ;

LEZANA; MALDONADO, 2017).

A Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas no Brasil (ACDE), na década 60

iniciaram uma discussão com algumas empresas para agirem com responsabilidade social

(MARTINS; BERNARDO; MADEIRA, 2002). Foi utilizada a “Carta de Princípios do

Dirigente Cristão de Empresas” para esse fim, mas somente algumas empresas começaram a

adotar esse comportamento no início da década de 90, passando a divulgar e a sistematizar os

balanços e relatórios sociais e ambientais (TREVISAN, 2002).

Com o propósito de facilitar a compreensão de como a organização cria valor ao longo

do tempo, surgiu a ideia de integrar as informações: financeiras, naturais, humanas,

intelectuais, manufaturados e de relacionamentos em um mesmo documento. Diante disso, em

2010 surgiu o Relato Integrado (RI), criado pelos membros do International Integrated

Reporting Council (IIRC). Segundo o IIRC (2013), Relato Integrado é um documento que

expõe as estratégias, o desempenho, a visão de uma organização, a governança e a criação de

valor em curto, médio e longo prazo, de forma sucinta.

Diante do exposto, apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: existe aderência das

informações financeiras e qualitativas nos Relatos Integrados divulgados pela Fibria

Celulose S.A referente aos períodos de 2015 a 2017? Para responder essa questão tem-se o

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objetivo geral analisar a aderência das informações qualitativas e financeiras no RI da Fibria

Celulose S.A, divulgados em 2015, 2016 e 2017. E, como objetos específicos almejam-se:

A). Identificar quais informações financeiras foram mais evidenciadas nos RIs;

B). Constatar quais informações quantitativas não foram evidenciadas nos RIs;

Este estudo está organizado em cinco partes, sendo que a primeira está a introdução

que apresenta de forma sucinta a origem e a evolução dos relatórios socioambientais. A

segunda parte denominada de fundamentação teórica e contemplam os antecedentes do RI, a

origem, conceitos e princípios do RI, e alguns estudos anteriores sobre a temática estudada.

Em seguida apresenta-se a metodologia que aborda como foram coletados, analisados e

apresentados os dados, e por fim a conclusão e as referências.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esse capítulo irá contemplar alguns fatores que deram origem ao RI, bem como sua

finalidade e suas características.

2.1 ANTECEDENTES DO RELATO INTEGRADO

Para melhor entendimento de como surgiu o RI, é preciso conhecer seu princípio: o

Meio Ambiente. Desde o início da humanidade tem-se a noção de que o ser humano pertence

a um lugar, em consequência disso, ele poderá ou não o modificar. O homem sem medir as

consequências que causaria no meio em que está inserido fez uso da natureza por muitos anos,

como se fosse algo infinito e inesgotável (CURI, 2012).

Mas como tudo na vida tem consequências, o meio ambiente começou a cobrar sua

conta. Diversos desastres naturais como o de Chernobil em 1986, e a tragédia da Baia de

Minamata no Japão em 1965, vieram ceifar diversas vidas. Eventos fizeram com que algumas

pessoas parassem para pensar, em como certas atitudes impactam negativamente no planeta

(ALLEDI FILHO et al., 2012).

Em decorrência às preocupações com o meio ambiente, surgiram diversos atos, pactos

e protocolos de proteção à natureza. Contudo logo surgiu o conceito de desenvolvimento

sustentável, o qual vem sendo discutido e implantado por diversas lideranças internacionais,

com o objetivo de amenizar os problemas ambientais e sociais globais (SANDLER; LOYD,

2009).

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Isto quer dizer que, antes mesmo da Declaração do Milênio em 2000 já existiam

diversas iniciativas pelo mundo para a implementação de um sistema de gestão

socioambiental, e de melhoria contínua. Pode-se destacar nesse caso o Balanço Social, que é

um instrumento de utilização nas empresas que tem como propósito apresentar de forma mais

clara e perceptível as informações financeiras e ambientais aos usuários internos e externos

(BNDES, 2000).

Segundo Carvalho e Siqueira (2012a) o Balanço Social tem como objetivo apresentar

as influências da empresa no ambiente em que está inserida. Tal demonstração não tem

obrigatoriedade de apresentação e elaboração no Brasil, mas tem sua importância

reconhecida.

No Brasil, discussões a respeito de informações sociais e humanas começaram a tomar

forma a partir da década de 1960, através da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas

– ADCE. Segundo Sucupira (2001) uma das maiores convicções é de que uma empresa não

produz apenas bens e prestação de serviços, mas também possui função social de interferir

diretamente em seus trabalhadores, e no meio em que está inserida.

Os primeiros países a implementar o Balanço Social foram: França, Portugal e

Bélgica. Nesse caso o destaque maior foi para a França, que em 12 de julho de 1977

estabeleceu a Lei nº 77.769, que obrigou todas as organizações francesas, que possuíam mais

que 299 empregados a elaborar o Balanço Social, com 7 partes, sendo elas: emprego,

remuneração e encargos sociais, condições de higiene e segurança, outras condições de

trabalho, formação profissional, relações profissionais e outras condições de vida dependentes

da empresa (SIQUEIRA, 2012).

Diferente dos países da Europa, o Brasil não possui uma legislação que obriga a

elaboração e publicação do Balanço Social, entretanto alguns estados e municípios já

regulamentam o mesmo. Ressalta-se que o órgão regulador da profissão contábil, o Conselho

Federal de Contabilidade incentiva a elaboração de tal demonstração, lançando até diretrizes

para orientar a realização (CARVALHO; SIQUEIRA, 2012b). A norma a que os autores se

referem é a NBC T 15 que “[...], estabelece procedimentos para evidenciação de informações

de natureza social e ambiental” [...] (CFC, 2004, p. 2).

Outra organização que estimula a elaboração de relatórios socioambientais é a Global

Reporting Initiative – GRI, iniciado em 1997. A GRI é uma organização que tem como

principal finalidade desenvolver e disseminar a ideia das diretrizes de elaboração e

desenvolvimento dos relatórios de sustentabilidade. Sua sede fica em Amsterdam na Holanda,

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e possui escritórios regionais nos continentes Africanos, Asiático, Norte Americano, Oceania

e Latino Americano. A GRI possui aderência de 8.451 empresa, e cerca de 21.121 relatórios

são publicados nos moldes das diretrizes (GRI, 2014).

Para as organizações a GRI é vista como um órgão que busca incessantemente o

desenvolvimento sustentável e transparente das empresas. Os princípios que melhor definem a

utilização das diretrizes da GRI são de acordo com Kassai, Ha e Carvalho (2011, p. 4):

Um padrão de referências e avaliações do desempenho de sustentabilidade, a

demonstração de como a empresa influencia e é influenciada pelas expectativas de

desenvolvimento sustentável e a comparação de desempenho dentro das

organizações ao longo do tempo, gerando credibilidade, consistência e

comparabilidade, buscando estabelecer um padrão internacional de relatório

econômico, social e ambiental.

Com base nas diretrizes do GRI G3 os relatórios deverão conter indicadores de

expressa necessidade para a performance e complementares. Os indicadores de necessidade

permitem a comparabilidade, enquanto os complementares mostraram as fases mais

relevantes ao longo do processo (GRI, 2014).

Em conformidade com o GRI (2015) as diretrizes são expostas de duas maneiras: os

princípios para relatório e conteúdo padrão, e o manual de implementação. Essas diretrizes

apresentam os princípios, conteúdos e critérios, aos quais as organizações optantes por esse

tipo de elaboração deveriam seguir para que pudessem apresentar um Relatório de

Sustentabilidade de maneira que todas as exigências fossem atendidas (GRI, 2015). O Manual

de Implementação é um passo a passo de como a empresa deve aplicar os princípios do

relatório, e desta forma abranger todos os conceitos abordados ao longo das diretrizes (GRI,

2015).

Segundo o CEBDS (2017), os principais motivos que levam as empresas a aderirem ao

GRI são: mostrar como as empresas se preocupa, quais são os impactos causados por ela na

sociedade; mostrar transparência em seus relacionamentos; apresentar-se preparados para

competir com mercados concorrentes; planejar suas atividades acerca de mostrar-se cada vez

mais sustentável, e ganhar melhor posicionamento no mercado, tanto interno quanto externo;

e também como segue a legislação vigente no país em que ela estiver instalada.

Outro instrumento de divulgação de informações financeiras, e não financeiras é o

Relatório Único. Este relatório foi criado para divulgar informações e dados encontrados nas

demonstrações contábeis, com informações não financeiras das empresas. Pode-se dizer

também que ele seria de grande importância no melhor entendimento e interpretação, já que

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mostra o impacto dos dados financeiros nas informações não financeiras (ECCLES, KRZUS,

2011).

A principal finalidade dessa obra é estimular e incentivar a criação de um relatório

administrativo com informações necessárias aos stakeholders, para oportunizar a melhor

compreensão. Portanto, o Relatório Único pode ser definido como um compilado das

informações contidas nas demonstrações financeiras, juntamente com informações de

relatórios sociais e de sustentabilidade (ECCLES, KRZUS, 2011).

Outro instrumento que pode ser considerado mecanismo de divulgação, sobre a

criação de valor da empresa através da riqueza gerada e distribuída é a Demonstração do

Valor Adicionado (DVA).

Segundo Martins et al. (2013), a Demonstração do Valor Adicionado – DVA tem

como um de seus princípios, demonstrar a riqueza gerada pela empresa, e o modo como ela

contribuiu para o meio em que está inserida. Até o ano de 2007 não havia a obrigatoriedade

de ser apresentada pelas empresas, mas com a promulgação da Lei nº 11.638/2007, que

alterou a Lei nº 6.404/1976 fez com que a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) se

tornasse obrigatório.

Até se tornar obrigatória, a DVA, tinha o incentivo e amparo da Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), para que houvesse elaboração e divulgação dessa demonstração, através

do Parecer de Orientação CVM nº 24/92. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC),

também viu a importância dessa demonstração, e emitiu procedimentos a serem seguidos para

que pudessem ser evidenciadas informações econômicas e financeiras em relação ao valor

adicionado pela empresa e sua distribuição com base na NBC TG 09, Demonstração do Valor

Adicionado (MARTINS et. al., 2013).

2.2 RELATO INTEGRADO: CONCEITO, ORIGEM E PRINCÍPIO

Por sua vez, o Relato Integrado-RI surge como um meio de distribuição de

informações precisas em relação à estratégia, desempenho, governança e perspectivas de

determinada empresa em relação ao ambiente externamente inserida, mostrando como ela

adquiriu valor em curto, médio e longo prazo (IIRC, 2013).

Para que pudesse ter uma base de estrutura conceitual, pela qual as organizações

utilizassem para a elaboração, houve a criação de uma organização não governamental, à qual

se reuniram reguladores, investidores, empresas, organismos de normatização, contabilistas e

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outras organizações. Esta organização denominada de International Integrated Reporting

Councill (IIRC), e tinha como objetivo criar uma nova ferramenta de comunicação com

informações financeiras e não financeiras integradas e mais completas (IIRC, 2013).

O principal intuito de RI é demonstrar como uma organização gera valores ao longo

do tempo. Essa informação não irá beneficiar somente a empresa, mas também seus

colaboradores, clientes, fornecedores, representantes comerciais, políticos, reguladores e as

comunidades locais (IIRC, 2014).

Para demonstrar que esse tipo de relatório pudesse realmente ser utilizado, foi criado

um projeto nos quais companhias e investidores compartilhavam ideias, e experiências. Nesse

projeto fizeram parte mais de 100 empresas de vários países e setores e 75 investidores de 23

países, que perceberam como esse relatório poderia fazer a diferença em suas empresas e no

meio em que elas estavam inseridas (MACIEL; CINTRA, 2015).

Ainda segundo o IIRC (2013) o RI não veio para substituir nenhum relatório ou

demonstração, mas sim complementá-los, ou seja, veio para apoiar os processos decisórios,

pois há neles informações que não havia em nenhum outro meio de divulgação.

Os responsáveis pela realização do RI precisaram levar em consideração o bom senso,

e determinar quais conteúdos há maior materialidade, e como serão divulgados, e quais

métodos serão utilizados em relação à mensuração e divulgação. Essa análise se faz

indispensável para que possam ser mais simplesmente compreendidos e comparados a outros

tipos de relatórios ou informações (IIRC, 2013).

Na declaração sugerida pelo IIRC (2013 p. 5), há alguns princípios básicos e

elementos que devem ser seguidos. Os principais princípios são: “foco estratégico e

orientação para o futuro, conectividade de informação, relação com as partes interessadas,

materialidade, concisão, confiabilidade e completude, coerência e comparabilidade”. Em

relação aos elementos apresentados, pode-se destacar a “visão geral organizacional, ambiente

externo, governança, modelo de negócios, riscos, oportunidades, estratégia e alocação de

recursos, perspectiva e base de apresentação (Idem)”.

O RI, também pode ser utilizado como um instrumento de legitimação. Conforme

Borçato (2017) os gestores buscam através do RI construir e manter a reputação da entidade

perante os stakeholders, ou seja, visam divulgar que a entidade cumpriu seu papel de maneira

correta com a sociedade e com o meio ambiente.

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2.3 ESTUDOS ANTERIORES

Na literatura científica podem ser encontradas várias pesquisas sobre o RI, em sua

maioria comparando-o com outros relatórios, apresentando suas vantagens e desvantagens, e

sua relação com a governança corporativa nas empresas.

Em relação à aderência das informações financeiras e não financeiras, pode-se

destacar os estudos de Castro, Miranda e Rodrigues (2014), Evangelista, Rodrigues e Silva

(2014), e Maciel (2015).

Castro, Miranda e Rodrigues (2014) apresentaram um estudo sobre o nível de

aderência das empresas brasileiras no contexto ambiental, e como estas afetam o meio

ambiente e seu envolvimento com os relatórios financeiros e não financeiros. Determinaram

que existindo bom nível de utilização do RI, pelas empresas do ramo de celulose, ainda são

poucas as divulgações de informações não financeiras nos meios, principalmente dos meios

eletrônicos.

Evangelista, Rodrigues e Silva (2014) buscavam identificar as aderências das

divulgações pelas empresas, listas na B3 durante os anos de 2012 a 2014, através de

indicadores específicos dos RI’s. Concluíram que as informações mais divulgadas são: capital

social e de relacionamento; capital financeiro; e o capital natural.

Maciel (2015) analisou a estrutura conceitual e como ocorreu sua aplicação nos

relatórios das empresas no Brasil. Constatou que ao longo dos anos, houve uma melhora

significativa no desenvolvimento dos RI’s, mas ainda há muito que ser melhorado, pois ainda

não há clareza na forma como a entidade gera valor.

3. METODOLOGIA

O desenvolvimento deste estudo foi em etapas. A primeira etapa constituiu-se pela

busca de possíveis questões de interesse científico, através das leituras exploratórias de artigos

publicados no Google Acadêmico e Scientific Periodicals Electronic Library (Spell). A

segunda etapa deu-se pela escolha do tema e exploração aprofundada do assunto por meio de

leitura crítica em revistas, artigos e sites oficiais de órgãos competentes.

A terceira etapa compreendeu na compreensão das quatro fases de Análise de

Conteúdo de Bardin (2010), conforme exposto no Quadro 1.

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Quadro 1: Fases da análise de conteúdo de Bardin

FASES PROCESSOS DESCRIÇÃO

1ª Fase Pré-análise

Escolha do corpus para análise dos dados,

estruturação dos objetivos, hipóteses e indicadores

para interpretar o material coletado.

2ª Fase Codificação

Exploração do material onde ocorreu a estruturação

das codificações ao longo dos registros, definindo

as regras de contagem e a classificação e agregação

dos dados em categorias simbólicas ou temáticas.

3ª Fase Categorização Criação de sistema de categorias.

4ª Fase Análise

Tratamento dos resultados, onde ocorre a análise e

seus resultados significativos e válidos para usuário

desta informação, onde mostrará os dados

descobertos pela investigação.

Fonte: Com base em Bardin (2010)

A pré-análise é o momento em que há a compreensão inicial do conteúdo e no qual se

busca maiores informações a respeito dele. Há também nessa fase a escolha dos documentos a

serem analisados, estabelecimento de objetivos, reprodução dos principais índices e

indicadores e por fim a preparação de todo esse material em conjunto. No caso deste estudo,

escolheu-se compreender a finalidade e a estrutura do RI.

A codificação é a fase em que há a transformação dos dados brutos em um conteúdo

consolidado, e que diz respeito a determinado assunto. Nessa fase há o recorte, em que

palavras que indiquem relevância são isoladas, a enumeração em que demonstra determinado

modo de contar, e a classificação e agregação, fase que irá servir com base para a

categorização. Neste trabalho, a codificação ocorreu pela identificação pelas informações

financeiras evidenciadas no RI.

A categorização é dividida em duas etapas: o inventário é isolamento dos elementos

encontrados nos documentos analisados. Na classificação separam-se os elementos e buscam

agrupá-los de acordo com características parecidas, para uma apresentação de forma

simplificada de conteúdo. Neste estudo optou-se por codificar e categorizar, em planilha de

excel, mediante a identificação das páginas em que as informações financeiras foram

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evidenciadas no RI da empresa objeto deste estudo, tendo como base o balanço patrimonial e

a DRE.

Na análise de conteúdo utilizam-se vários critérios de qualidade para que possa ser

feita uma boa escolha. São eles: a exclusão mútua, a pertinência, a objetividade, a fidelidade,

e a produtividade (BARDIN, 2010).

A exclusão mútua oportuniza encaixar o conteúdo em apenas uma categoria. A

pertinência significa como o material escolhido se encaixa com a categoria apresentada

(BARDIN, 2010).

A objetividade e a fidelidade demonstram de forma clara quais as variáveis que

definem o conteúdo, e quais os critérios que devem ser levados em consideração no momento

da escolha da entrada na categoria. E a produtividade leva em consideração o que deve ser

levado em consideração, o quão produtivo e qual a perspectiva de resultados que ele pode

apresentar (BARDIN, 2010).

Neste estudo, a análise ocorreu a partir da contagem e da interpretação das

informações financeiras divulgadas, e não divulgadas pelos gestores como intuito de analisar

a aderência das informações qualitativas e financeiras no RI da Fibria Celulose S.A.

Em relação à classificação metodológica deste estudo pode-se concluir que, quanto ao

objetivo da pesquisa classifica-se como exploratória. Para Prodanov e Freitas (2013), a

pesquisa exploratória é realizada por meio de novas pesquisas, onde possibilita complementar

estudos e conhecimentos, isto é, preencher lacunas que costumam apresentar-se em um estudo

e informações que ainda não foram concluídas.

Quanto à abordagem do problema, pode-se classificar este estudo como uma pesquisa

qualitativa, pois o objetivo é destacar o caráter subjetivo dos objetivos da pesquisa. O uso

deste tipo pesquisa busca entender o fenômeno, os comportamentos, as reações e as mudanças

dentro de um contexto (OLIVEIRA, 2011).

A perspectiva temporal da pesquisa é longitudinal, visto que foram analisados os RI’s

dos anos de 2015, 2016 e 2017 da empresa Fibria Celulose S.A. Para Cabral e Gonçalves

(2011) dados longitudinais são de grande importância para as observações de variáveis

respostas apresentadas ao longo do tempo em um ou mais grupo de estudos.

Quanto aos procedimentos da pesquisa pode-se classificar este estudo como

documental, por se caracterizar pelo método da apuração, seleção e análise de dados a partir

de fontes apropriadas (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009). Serão analisados os RI’s

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com base nas demonstrações financeiras da empresa Fibria Celulose S.A., referente aos anos

de 2015, 2016 e 2017.

Quanto ao procedimento de coleta de dados, esta pesquisa se enquadra como estudo de

caso. Para Silva (2003) o estudo de caso oportuniza análise com profundidade, indicado para

pesquisas exploratórias, podendo utilizar análise documental e o objeto de estudo ser uma

empresa.

Escolheu-se como objeto de estudo a Fibria Celulose S. A., em razão de ter sido eleita

pela sexta vez consecutiva a melhor empresa do setor de papel e celulose, conforme o

Anuário Época Negócios 360°, e pelo contexto de respeito e comprometimento com o meio

ambiente, apresentado em sua missão, visão e valores (FIBRIA, 2018b).

A Fibria Celulose S.A., que tem como atividade principal, a fabricação de celulose e

outras pastas para a fabricação de papel. Esta empresa surgiu na fusão da Aracruz e a

Votorantim VCP em 1 de setembro de 2009, e desde seu início é considerada uma líder na

produção de celulose eucalipto (FIBRIA, 2018c).

A Fibria Celulose S. A. possui a sede da matriz em São Paulo, e também fábricas em

Três Lagoas, Aracruz, e Jacareí, nos estados de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e São

Paulo respectivamente. Possui participações na Veracel, Portocel em Aracruz (ES),

CelluForce no Canadá, Ensyn Corporation nos Estados Unidos e na Spinnova na Finlândia,

detém centros de distribuições na Europa, EUA e Ásia, e tem como missão, visão e valores,

conforme demonstrado na Figura 1 (FIBRIA, 2018a).

Figura 1: Missão, visão e valores da Fibria Celulose S. A.

Fonte: Fibria (2018)

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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Nos anos de 2015, 2016 e 2017 as informações expostas na DVA, não se apresentaram

de forma integrada às informações qualitativas. Nos RI’s foi destinada uma página exclusiva

para a divulgação da DVA.

As únicas informações financeiras evidenciadas nos RI’s dos respectivos períodos,

referente ao Balanço Patrimonial da empresa foram: dividendos, investimentos, ativo total,

patrimônio líquido, dívida líquida, custo de caixa, volume financeiro, fornecedores,

empréstimos, caixa e equivalente de caixa (FIGURA 2).

Em relação às demonstrações do resultado do exercício foram apresentadas nos RI’s,

as informações financeiras de: lucro líquido, impostos, receita líquida, energia, consumo de

água, multas e vendas de resíduos (FIGURA 2).

A única informação financeira integrada às informações qualitativas, relacionada ao

fluxo de caixa, foi de forma singela apresentada apenas uma única vez no ano de 2017

(FIGURA 2).

Também foram evidenciadas nos RI’s outras informações financeiras não

contempladas nas demonstrações contábeis, como: EBITDA, valor da ação, subsídios, valor

de mercado, incrementos e emissão de títulos (FIGURA 2).

A partir da Figura 2 pode-se constatar que as únicas informações divulgadas nos três

períodos foram: lucro líquido, EBITDA, investimentos, receita e dívida líquida e valor da

ação.

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Figura 2: Informações financeiras da empresa Fibria Celulose S. A.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Observa-se pela Figura 2 a ausência de padronização nas divulgações das informações

financeiras.

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Figura 3: Intensidade da divulgação das informações financeiras

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os gestores deram ênfase em informações financeiras, que demonstram aspectos

positivos em relação à organização, como: investimentos, receita líquida, lucro líquido,

EBITDA e dividendos (FIGURA 3).

5. CONCLUSÃO

Nesta pesquisa foram analisadas as informações divulgadas nos RI’s dos exercícios de

2015, 2016 e 2017 da empresa Fibria Celulose S. A., buscando constatar a aderência das

informações financeiras e qualitativas nos referidos relatórios.

Constatou-se que, ao longo dos três anos foi à ausência de padronização, tendo em

vista que informações que estiveram presentes em um ano, nos anos seguintes não foram

apresentadas, como por exemplo, o valor de mercado, valor adicionado líquido, custo de

investimentos, vendas de resíduos e consumo de água, entre outros.

Em relação aos dados divulgados percebe-se que por se tratar de uma empresa que é

extremamente ligada ao meio ambiente, em sua maioria, os RI’s apresentam dados muito

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ligados a esse respeito, mas sem demonstrá-los monetariamente, ou até mesmo, quais as

quantias necessárias para mantê-los, ou fazer novos investimentos.

Os investimentos, por sua vez, são apresentados diversas vezes nos RI’s, mas sem

exibir a forma como obteve o montante.

Descobriu-se que algumas relevantes informações financeiras não foram exploradas ao

longo dos RI’s como: estoque, imobilizado, capital social, reservas, contas a receber e

principalmente custos e despesas, inclusive em nenhum momento fez menção a quaisquer

tipos de autuações ou notificações sejam elas fiscais ou ambientais.

Também se percebe que não houve o máximo de aproveitamento possível das

informações financeiras que foram apresentadas ao longo dos anos. Na maioria das vezes, os

dados foram apenas demonstrados como figuras, mas sem apresentar sua evolução ou uma

explicação sobre a importância de cada elemento que compõe a demonstração e seu

significado, e em outros casos, o resultado foi apresentado de maneira bruta, apenas com os

saldos ou demonstrações sem a devida explicação do passo a passo para que pudesse chegar o

que foi demonstrado.

Verificou-se também a omissão nos RI’s referente as informações sobre a base para

apresentação, como é mencionado no IIRC, relativo aos elementos de conteúdo para seguir ao

longo da estrutura do RI elaborado. No caso da Fibria, em nenhum dos três anos pode-se

perceber qualquer tipo de informação à esse respeito, o que acaba dificultando uma análise em

certa linha de tempo, já que nunca se sabe qual temática irá ser abordada em cada relato, o

que também acabou sendo percebido no modo como cada relato foi elaborado, já que não há

certa padronização.

Umas das dificuldades encontradas ao longo do estudo foi obter material de apoio

relacionado ao RI. Sabe-se que esta temática é algo novo e ainda de pouca aceitação por

empresas brasileiras, principalmente por não se tratar de uma demonstração obrigatória e com

cunho mais voltado ao lado social.

Em geral, o que pode se dizer é que a empresa Fibria Celulose S.A. cumpriu a maioria

dos quesitos presentes nas orientações da estrutura do RI divulgado pelo IIRC. Pode-se

constatar que os gestores possuem preocupação, visão a função social da empresa, ou seja,

reagem diretamente sobre seus empregados e o meio onde está inserido. Tais constatações

vem ao encontro das afirmações de Sucupira (2001).

Entretanto, não houve convergência com a convicção de Eccles e Krzus (2011), de

que os relatórios com informações financeiras e não financeiras poderiam proporcionar

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melhor entendimento e interpretação dos impactos das atividades da empresa em seu meio.

Visto que são poucas as informações financeiras e sua aderência às informações qualitativas,

apresentadas nos RI’s pela Fibria Celulose S. A., dificultando assim, a compreensão dos

impactos de suas atividades.

Com base no resultado deste estudo, a de se concordar como Maciel (2015), de que

está ocorrendo uma melhora significativa na elaboração dos RI’s, entretanto, ainda há muito a

que ser melhorado, pois falta clareza na forma como a empresa gera valor ao longo do tempo.

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