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OBSERVA OBSERVA MAGAZINE 01 /AGOSTO EDIÇÃO 20 MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT

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OBSERVA

O B S E R V A M A G A Z I N E

0 1 / A G O S T O

E D I Ç Ã O

20

M A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

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OBSERVA

PUB

Uma plataforma para unir todos os lusodescendentes

AILD.PT

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 3

OBRAS DE CAPA POR ISMAËL SEQUEIRA 01O danço congo, património cultural SantomenseLogoso, Guia de Frente, Guia de Trás, Anzu Cantá

AILD - ASS. INTER. DOS LUSODESCENDENTES 06A nova plataforma de Comunicação da AILDUm Centro de Negócios Mundial. Já é associado?

DE REGRESSO A PORTUGAL 08Luís Manuel Pinto de SousaO gosto pelas Ciências Sociais e Políticas

GRANDE ENTREVISTA 13Carlos Guimarães Pinto, um homem do NortePor quem ainda suspiram os liberais

CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS 26A alegria e o futuro das associações luso-brasileirasPor José Duarte de Almeida Alves

PORTUGAL PELO MUNDO 28Otília Torres - ArgentinaNão existe crise no movimento associativo

CRÓNICAS DE AUTOR, POR JOÃO ALVES 38A mina maldita! Montalegre, Trás-os-MontesA Europa com minas que nada acrescentam?!

ESPAÇO LUSO-CRIANÇA 49Por Madalena Pires de Lima. Parte II. Direita, Esquerda e Centro

À ESPREITA COM LUPA: CÁ DENTRO 50Casal de palácios – Turismo de HabitaçãoUm lugar por onde passaram ilustres transmontanos

À ESPREITA COM LUPA: LÁ FORA 54Locais que não pode visitar - pelo mundoÁrea 51. Os extraterrestres

PORTUGUÊS. OBSERVA 62Como criar palavras novas?Por Marco Neves

DIREITO FISCAL 65O novo « adicional de solidariedade sobre o sector bancário. Por Rogério M. Fernandes Ferreira

OBSERVAM A G A Z I N E

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PAG 4 | OBSERVA - MAGAZINE

OBRAS DE CAPA

O DANÇO CONGO

Património cultural santomense introduzi-do pelos trabalhadores africanos no perío-do colonial. É uma manifestação folclórica que recorre à representação teatral, à dan-ça sincronizada e à música orquestrada por tocadores de tambores, chocalhos, reco-re-co ou canzá, ferro, apito, para contar uma história dramática de herança, justiça e po-der, dirigido pelo “Capitão Congo”, adminis-trador da riqueza do Proprietário falecido. Os “Bobos”, palhaços que animam todos os que assistem o espetáculo, são na história os filhos órfãos, incapazes de administrar a riqueza. Após a morte do pai convidam o Capitão para o fazer. A orquestra de percussão é composta por cerca sete tocadores e o coro é feito pelos figurantes enquanto os Anzu Catá introdu-zem a cantiga, numa festa organizada pelo capitão em que estão presentes outras personagens (Logoso, Guia de Frente, Guia de Trás, Demónio, Anzu Cantá, Anzu Molê, e Pé-Pau…). O feiticeiro e o seu ajudante zuguzugo tudo fazem para se apoderarem da riqueza que não lhes pertencia. Matam o filho do Capitão e tomam a fazenda. O Capitão com a ajuda dos Bobos fazem o acordo para recuperarem a roça, contesta a perda do filho e pede justiça. Os Bobos continuam com o poder de proprietário e sentindo medo do Feiticeiro.

Ismaël [email protected]

R E V I S Ã OJG Consulting

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

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D I R E T O R

Jorge Vilela

D I R E T O R A C O M E R C I A L

Gilda Pereira

D E S I G N G R Á F I C OColors Design - https://colorsdesign.eu

E D I T O R E S

António Manuel Monteiro, Cristina Passas, Flávio Alves Martins, Fernando Cerqueira Barros, José Duarte Alves, Gilda Pereira, Hérica Melo, Hugo Gonçalves Silva, Inês Bernardes, Ismaël Sequeira, José Governo, José Martinho, Marco Neves, Ma-ria do Carmo Mendes, Paula Cristina Veiga, Paulo Martins, Pedro Guerreiro, Philippe Fernandes, Ricardo Henriques, Rogério M. Fernandes Ferrei-ra, Sonia Coelho, Tiago Sabarigo, Vasco Pinto de Abreu, Vitor Afonso, Vanda de Mello

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PERIODICIDADE

MENSAL

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Em virtude do disposto no artigo 68º nº2, i) e j), artigo 75º nº2, m) do Código do Di-reito de Autor e dos Direitos Conexos ar-tigos 10º e 10º Bis da Conv. de Berna, são expressamente proibidas a reprodução, a distribuição, a comunicação pública ou colocação à disposição, da totalidade ou parte dos conteúdos desta publicação, com fins comerciais directos ou indirec-tos, em qualquer suporte e por quaisquer meio técnico, sem a autorização da Won-derpotential Lda.

EDIÇÃO

Agosto 2020, Edição 20 - GRATUITAVersão digital

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 5

EDITORIAL

Hoje é um dia 1 de Agosto estranho. Vibrei sempre com a chegada, nas fé-

rias grandes, dos meus amigos emigrantes e lusodescendentes. Uma festa,

sinónimo de sol, praia, novidades, novas músicas, novos livros... Traziam

vida e um pulsar diferente às Cidades, Vilas e Aldeias.

Especialmente traziam histórias, emoções e a vontade imensa que o tempo

parasse e não chegasse o dia do regresso aos países de acolhimento.

Sempre compreendi com dificuldade o preconceito relativamente a quem

teve a coragem - dos conquistadores - em largar a sua zona de conforto,

as suas mulheres e os seus filhos; quem declinou o empreguinho arranjado

na função pública parcamente pago com migalhas e se lançou no escuro, na

senda de encontrar a dignidade e a luz, movido a ambição.

Sejam de primeira, de segunda, de terceira ou de quarta gerações, hoje di-

rijo-me a tantos e tantos portugueses que, disseminados pelo mundo, en-

tenderam não regressar, para já, a Portugal ou não o podem fazer; a todos

os amores separados; a todos os pais destroçados; a todas mães da saudade.

Que possamos todos, sem medos, abraçarmo-nos a 1 de Agosto de 2021,

porque Agosto é convosco.

Sentimos a vossa falta!

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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PAG 6 | OBSERVA - MAGAZINE

AILDAssociação Internacional de Lusodescendentes

Seis meses após a criação da

AILD – Associação Internacio-

nal dos Lusodescendentes, e

depois de uma intensa atividade

recheada de projetos e inicia-

tivas, acaba de ser lançada a

plataforma digital - https://aild.

pt/. Esta concretização é sem

dúvida um grande passo na sua

ação, relação e aproximação aos

lusodescendentes e Comuni-

dades Portuguesas espalhadas

pelo mundo. Face à dinâmica,

crescimento e ambição da AILD,

ter um espaço nas redes sociais

já não era suficiente e funcional,

afigurando-se indispensável ter

uma plataforma institucional,

que permita não só dar-nos a

conhecer, mas sobretudo, para

mantermos um contacto mais

consistente com os nossos asso-

ciados. Esta ferramenta digital

pretende assim, ser uma porta

aberta para o mundo e do mun-

do para Portugal, privilegiando o

apoio e o reforço da nossa rede

de influência, convidando todos

a entrar e partilhar connosco os

nossos propósitos, iniciativas e

projetos, mas também, as ideias,

desafios, dúvidas e informações,

de cada um, tornando assim

a presença de quem vem ao

nosso encontro, mais dinâmica e

efetiva. Este é um novo desafio

e incentivo para definir novas es-

tratégias, promover novas ações

e iniciativas, potenciadoras da

proximidade às nossas comuni-

dades portuguesas, permitindo

e estimulando a construção de

pontes e cadeias de valor.

Além de um conjunto de menus

que estão já disponíveis, quer

de âmbito informativo, quer de

canais de comunicação setoriais,

partilhamos também, a infor-

mação de um espaço “Centro

de Negócios”, que está em

construção e que será lançado

brevemente, nesta plataforma

da AILD. Este “Centro de Negó-

cios” será composto por 4 áreas

diferenciadas: AILD Investidores;

AILD Negócios; AILD Classifica-

dos e AILD Amigo. Um espaço

que promete revolucionar e ser

uma inovação naquilo que é o

conceito tradicional do movi-

mento associativo, pois, viemos

para inovar, para ser diferentes e

para trazer novas soluções.

A AILD, desde a sua fundação,

assumiu o Capital Humano e Cul-

tura de Parcerias, mas também,

o Profissionalismo e Inovação,

como suas bandeiras e pilares,

plasmado na missão, visão e

valores, e esta plataforma vem

precisamente de encontro àque-

la que é a nossa matriz, mas so-

bretudo, naquilo que é o nosso

grande desafio, unir, cooperar,

agir em rede e em parceria,

pois, só assim seremos mais

fortes, mais eficientes e seremos

capazes de encontrar melhores

respostas e soluções.

Acrescentar que desde o lan-

çamento da plataforma, todos

os dias temos tido a inscrição

de novos associados, supe-

rando todas as expetativas e

muito satisfeitos por estarmos

a conseguir alcançar, de forma

extraordinária, um dos objetivos

desta ferramenta – unir e aproxi-

mar. Fica aqui de novo o desafio

para se tornarem associados da

AILD, de forma simples, rápida e

online, através do nosso espaço

criado para o efeito em https://

aild.pt/inscricao/ . Citando Leo-

nardo da Vinci, “Para estar junto

não é preciso estar perto, e

sim do lado de dentro”, ficando

assim o desafio e o convite para

que fiquem do lado de dentro da

AILD, tornando-se associado.

Aconteceu

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 7

IncertezaAté há bem pouco tempo, muitos de nós não tínhamos consciência de que a incer-teza faz parte do nosso quotidiano, ficá-mos talvez mais conscientes disso com a Covid19. Como vulgarmente se diz, uma das poucas coisas certas na vida é a mor-te, e por isso, devemos aproveitar muito bem a vida, não perdendo a oportunida-de de estar presente junto de quem ama-mos. É por esta razão, que os nossos emigran-tes e lusodescendentes espalhados pelo mundo devem regressar a Portugal du-rante o verão para rever e conviver com os seus familiares e amigos.A Covid19 não deve limitar e inviabilizar a vinda a Portugal, não só porque o risco não é maior do que na maioria dos países onde possamos viver, como as medidas de prevenção deverão ser postas em prá-tica onde quer que estejamos:- Lavar frequentemente as mãos;- Usar máscara;- Manter uma distância segura de qual-quer pessoa que espirre ou tussa;- Não tocar nos olhos, no nariz ou na boca;- Se se sentir doente, ficar em casa;- Se tiver febre, tosse e dificuldade respi-ratória, deve procurar assistência médica ligando antes de sair de casa;- Seguir as indicações da sua autoridade de saúde local;Onde quer que estejamos, a presença da Covid19 é uma constante com a qual somos obrigados a aprender a conviver, e por isso, que esta não seja um impedi-mento de ver quem não vemos ao longo de um ano inteiro. Outra razão que desmobiliza muitos dos nossos compatriotas a viajar até nós, é a possibilidade de terem de respeitar um período de quarentena ao regressar das férias em Portugal. É por isso importan-

te manter contacto com os consulados e com as autoridades de saúde locais, para terem acesso a informação credível e não serem induzidos em erro, pela má infor-mação que circula por quase todo o lado. O mais importante é o civismo e a pru-dência no convívio social. É nosso dever fazermos tudo o que está ao nosso al-cance, para que ninguém seja colocado em risco, quebrando as possibilidades de transmissão do vírus, contribuindo assim para o desejável fim da Covid19. Portugal, classificado pelo terceiro ano consecutivo como o melhor destino turís-tico do mundo, vive hoje momentos bem diferentes, de incertezas e dificuldades no setor. Por exemplo, atualmente, os mu-seus e monumentos nacionais estão pra-ticamente desertos, assim como inúme-ras praias fluviais e marítimas ou mesmo os restaurantes, alguns que até há bem pouco tempo, só mediante marcação é que era possível frequentar.Mas a verdade é que o atual momento que estamos todos a viver, será segu-ramente a altura ideal para conhecer melhor Portugal, conhecer, todo o seu potencial paisagístico, o seu património cultural e arquitectónico, a sua riqueza gastronómica e ao mesmo tempo contri-buir para ajudar o setor e o país.Assim convido-vos a vir e a aproveitar um Verão, certamente único.

Philippe FernandesPresidente da Associação Internacional

de [email protected]

MANUEL VIEGAS, mais conhecido por Manny Viegas, nasceu em Parada de Gon-ta - Tondela, em 26 de Julho de 1944. Em 1960, emigrou para os EUA. O seu intenso envolvimento comunitário, ocupando vá-rios cargos em diversos clubes e associa-ções, valeu-lhe inúmeras condecorações: galardão “Homem do Ano das Comuni-dades” - “The Heritage Festival Ball Inc.”; Community Awards (Diploma Comuni-tários) por dedicados e extraordinários serviços prestados à comunidade, pela Portuguese Heritage Foundation, Real As-sociação da Pennsylvania e Real Associa-ção de NJ; Medalha de Ouro das Comu-nidades Portuguesas - Governo Português; Oficial da Ordem de Mérito - Presidência da República, entre outras. Eleito Conse-lheiro do CCP.

Residente no Reino Unido desde 2001, obteve doutoramento na Universidade de Birmingham. Com vasta obra e livros traduzidos para inglês, francês e chinês, a autora aborda as temáticas da emigra-ção e ruralidade. Lecionou nas Univer-sidades de Birmingham e Liverpool e foi intérprete do City Council of Stoke--on-Trent.Editou a “Coleção Portuguese Insights” (2012) para divulgar a cultura rural lá fora. Em 2018, cria o espaço cul-tural Palheiro da Ti Grabulha em Torre de Moncorvo. Tem 3 livros no Plano Nacio-nal de Leitura e acaba de lançar a “Cole-ção dos Bichos”.

M A N U E L V I E G A S

I s a b e l M at e u s

A S S O C I A D O S a i l d

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Luís Manuel Pinto de Sousa

DE REGRESSO A PORTUGAL

47 anos. Natural de Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique. Doutorado em Ciências Sociais e Políticas pelo Instituto Universitário Europeu de Florença

Observa Magazine: quais as motiva-ções desse regresso a Portugal?

Luís Pinto de Sousa: Ao longo da mi-nha vida, foram múltiplos os “regres-sos” a Portugal. O primeiro, foi mais uma vinda do que um “regresso” e mais por necessidade, do que por es-colha. Como a maioria dos Portugue-ses oriundos das ex-colónias, fizemos um reset das nossas vidas. Depois de uma breve passagem pela Mêda e San-ta Maria da Feira, fomos viver para o nordeste transmontano. Cresci em Mirandela, num bairro social, o “Fo-mento” como lhe chamávamos, ou o “Vietname” como nos designavam. Havia um grande espírito de entrea-

juda no bairro resultante de um míni-mo denominador comum: retornados, deslocalizados e remediados, estáva-mos todos no mesmo barco, à procura de uma vida melhor. E, de um modo geral, a vida melhorou para todos.

OM: quando surgiu o interesse pela política?

LPS: Desde muito cedo, interessei-me por política e pelo estudo da política. Então, a ciência política e as relações internacionais em particular, encon-travam-se pouco desenvolvidas em Portugal. Em 1991, decidi sair de Por-tugal rumo à Escócia para prosseguir os meus estudos nessa área. Graças

ao esforço dos meus pais e ao apoio financeiro que obtive do departamen-to de educação escocês, conclui uma licenciatura em estudos políticos na Universidade de Aberdeen. A forma-ção universitária na Escócia, casa do liberalismo social, foi marcante para a minha identidade cívica e política. No campo das relações internacio-nais, fui influenciado pelos trabalhos de E. H. Carr, Martin Wight, Hedley Bull, Karl Deutsch, Kalevi (Kal) Hols-ti; no pensamento político, por John Locke, John Stuart Mill, John Rawls; no campo da política comparada por David Easton, Giovanni Sartori, Vin-cent Wright, Hans Daalder, Peter Mair entre outros. Depois de uma breve

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 9

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L L U Í S M A N U E L M A C E D O P I N TO D E S O U S A

passagem pela Universidade de Cam-bridge, decidi candidatar-me a um doutoramento em ciência política no Instituto Universitário Europeu (IUE) de Florença. Foi uma experiência úni-ca e enriquecedora a todos os níveis. O carácter cosmopolita e progressista desta instituição e a convivência com uma academia de pensamento livre e crítico, primeiro desenraizou-me e libertou-me de todas as certezas, de-pois despertou em mim um sentido de missão e uma perspectiva crítica da ciência política. A ciência política não podia ser meramente descritiva ou contemplativa, mas deveria procurar compreender os problemas e desafios societários, através da combinação de diferentes saberes disciplinares e metodologias científicas e da análise de dados, para que possamos infor-

mar boas decisões. Concluí o doutora-mento em 2002, com uma tese sobre políticas de controlo da corrupção na esfera política. Seria difícil identifi-car um autor em particular que tenha sido mais influente neste percurso de formação, mas posso citar alguns, sob pena de excluir tantos outros: Charles Merriem, Seymour M. Lipset, Harold Lasswell, Pitirim Sorokin, Arnold J. Heidenheimer, Donatella della Porta, Yves Mény (o meu orientador e antigo presidente do IUE).O regresso a Portugal em 2002 não foi programado. Surgiu uma oportuni-dade de trabalho numa universidade portuguesa logo após ter concluído o doutoramento. Porém, ao fim de 11 anos no estrangeiro, estava ansioso por regressar e poder contribuir para o desenvolvimento da ciência política e

para a formação de novas gerações de investigadores em Portugal.

OM: quais os principais marcos nessa carreira pela política?

LPS: Na sequencia do acima exposto, em 2004, face à instabilidade política e à incerteza em torno dos programas de financiamento da investigação e da renovação do meu contrato, procurei alternativas de emprego fora do país. Ganhei uma bolsa de investigação na Australian National University e parti para Canberra. Entretanto, vencera o meu primeiro projecto de investigação com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e decidi “regressar” (novamente) a Portugal.Coordenei o primeiro grande estudo às percepções sobre ética e corrupção

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PAG 10 | OBSERVA - MAGAZINE

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L L U Í S M A N U E L M A C E D O P I N TO D E S O U S A

em democracia dos portugueses e ajudei a fundar a Trans-parência e Integridade, representação portuguesa da ONG Transparency International dedicada ao combate à corrup-ção. No seguimento de várias publicações neste domínio, tornei-me consultor internacional ao serviço da OCDE, da Comissão Europeia e do Conselho da Europa.

OM: quais os atuais projetos em Portugal?

LPS: Fui docente na Universidade de Aveiro e sou actual-mente investigador no Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa. De momento coordeno dois projectos de investigação: um sobre as atitudes dos portugueses face à corrupção em contextos de austeridade e o seu impacto na legitimação democrática, com financiamento da FCT; e ou-tro sobre auto-regulação ética na política, financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.Dedico-me a estes temas há mais de 24 anos, o tempo de uma geração. Penso que serão os últimos projectos que irei desenvolver neste domínio. Ajudei a colocar o tema da corrupção no mapa da investigação em Portugal, a for-

mar uma nova geração de investigadores neste domínio e a consciencializar a opinião pública para o problema. Procu-rei contribuir para um debate informado sobre os riscos e as formas de os mitigar por referência às melhores práticas internacionais, mesmo que esse tenha tido mais repercus-são no estrangeiro do que no meu próprio país.

OM: que expetativas tem relativas a Portugal?

LPS: O actual contexto de pandemia recordou-nos a fragi-lidade e a efemeridade da vida e a necessidade de actuarmos colectivamente. Independentemente das nossas expecta-tivas e da forma organizada como conduzimos as nossas vidas, o poder imprevisível da natureza reduz à insignifi-cância qualquer noção de agência. Só somos donos do nosso destino se tivermos lideranças que inspirem e que pensem e actuem em função do colectivo. Gostaria de ver um com-promisso político mais sério e duradouro em relação ao ambiente e no que diz respeito à qualidade dos processos e ao funcionamento das instituições democráticas e do Esta-do de Direito.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 11

OM: quais as Dificuldades sentidas no regresso?

LPS: Os múltiplos regressos a Portugal tiveram sempre algumas surpresas. Umas boas, outras menos boas. Como já referi, regressei em 2002 e fui muito bem acolhido pe-los colegas. De um modo geral, a academia portuguesa e as ciências sociais em particular, são bastante internacionali-zadas. A integração na minha área profissional não foi difí-cil, pese embora a falta de estabilidade no financiamento à investigação e a excessiva burocratização.Talvez o que custou mais, foi o facto de ter encontrado mui-tos dos problemas que no passado foram a razão de querer “ir-me embora, sem ter que me ir embora”, parafrasean-do José Mário Branco: a frequente relativização de condu-tas impróprias, tanto no sector público como no privado; o recrudescimento de paroquialismos e preconceitos; e uma modernidade de fachada, que se pavoneia à janela acenan-do o lenço aos certames internacionais de tecnologia e aos spin doctors da nova economia, mas que convive em casa com uma sociedade com níveis de pobreza e exclusão social dos mais altos da Europa.

OM: deseja deixar algumas sugestões para que voltem mais lusodescendentes a Portugal?

LPS: Sugiro que voltem desenraizados, para que o regresso às raízes não se decline em conformidade às velhas práticas sociais e institucionais lesivas do mérito e da responsabi-lidade e com um forte sentido de missão, para lá das suas ambições pessoais e da vontade de vencer na vida. Hoje, mais do que nunca, precisamos de espíritos críticos que se empenhem pela colectividade.

OM: o que mais o encanta em Portugal?

LPS: O sentido prático, mas sofrido da vida. Não é fado, é mesmo resiliência.

OM: o que menos o encanta em Portugal?

LPS: Um fraco apreço e respeito pelo domínio público, quer ao nível do urbanismo e da organização do território, quer em termos da preservação dos equipamentos e da higiene nos espaços comuns.

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L L U Í S M A N U E L M A C E D O P I N TO D E S O U S A

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GRANDEENTREVISTA

C A R L O S G U I M A R Ã E S P I N TO

PA R T I D O I N I C I AT I V A L I B E R A L

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PAG 14 | OBSERVA - MAGAZINE

Economista, autor, consultor, professor universitario e politico portugues.

Nasceu a 21 de agosto de 1983 (36 anos), em Paramos, Espinho, no Norte de Portugal.

Partido: Iniciativa Liberal

A 13 de outubro de 2018 tornou-se o presidente do partido Iniciativa Liberal.

Deixou amigavelmente esse cargo a 8 de Dezembro de 2019, uma vez que nao foi eleito pelo

circulo do Porto, passando-o a Joao Cotrim de Figueiredo, (atual presidente da INICIATIVA

LIBERAL e deputado na Assembleia da Republica pelo ciclo de Lisboa).

Formacao: Faculdade de Economia da Universidade do Porto (2007)

Coautor do livro «O Economista Insurgente 101 Perguntas Incomodas sobre Portugal»,

tambem assinado por Miguel Botelho Moniz e Ricardo Goncalves Francisco.

GRANDE ENTREVISTAC A R L O S G U I M A R Ã E S P I N TO

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 15

Observa Magazine: Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista.

Carlos Guimarães Pinto: Eu é que agradeço. Obrigado pelo interesse.

OM: Quem é o Carlos? Onde nasceu? Por onde andou até chegar à Faculdade de Economia? Que livros leu?

CP: Eu nasci em Espinho e por ali fiquei até terminar o curso de economia na Faculdade de Economia do Porto. Depois da faculdade tive a sorte de ter um trabalho que me obriga-va a viajar, algo que se tornou num estilo de vida. Não há nenhum livro que me tenha marcado por si só. Todos dão contributos parciais para o nosso entendimento do mun-do, mas há uns que nos abrem novas perspectivas. O Selfish Gene do Dawkins foi um deles, o Cisne Negro do Taleb ou-tro, o “Economics in one lesson” do Hazlitt também. O li-vro Cultura do Dietrich Schwanitz também me marcou pe-las portas que abriu para outras áreas do conhecimento. Na ficção sempre gostei dos autores russos, adorei o “Guerra e Paz” e o “Crime e Castigo” e li quase toda a obra do Sara-mago (inesperado, não?).

OM: Em que medida ser pai, mudou a sua visão sobre for-mas de estar na vida, opções e escolhas?

CP: A parentalidade alarga-nos o horizonte temporal. Co-meçamos a pensar ainda mais no longo prazo porque sa-bemos que o que acontecer nessa altura afetará uma parte de nós, os nossos filhos. Também me tornei um pouco me-nos irreverente e provocador. De um momento para o outro tudo aquilo que dizemos ou fazemos deixa de ter impacto apenas em nós e isso torna-nos um pouco mais conserva-dores na forma como agimos, expressamos e tomamos as nossas decisões.

OM: Em que países viveu e estudou?

CP: Dizer os países onde estudei é mais fácil: apenas Por-tugal e a Turquia. Estive na Turquia em Erasmus no ano em que a Turquia entrou no programa pela primeira vez. Onde vivi é mais complicado porque depende da definição de viver. Eu definitivamente vivi em Portugal (onde cresci) e no Dubai (onde passei boa parte da minha vida adulta). Também vivi quase um ano na Hungria e 6 meses na Ín-dia. Estive dois meses na Roménia a estagiar, mas não sei

GRANDE ENTREVISTAC A R L O S G U I M A R Ã E S P I N TO

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se 2 meses qualifica como viver. Passei mais de um ano na Arábia Saudita e quase 9 meses no Sudão, mas ficava em hotéis e regressava ao Dubai quase todos os fins de sema-na, pelo que não sei se qualifica como “viver”. Se qualifi-car, também posso dizer que vivi na Nigéria, nas Filipinas e muitos outros países onde passei mais de um mês da minha vida, mesmo regressando a casa aos fins-de-semana. Vi-ver pode ter significados diferentes. Eu passei muito mais tempo na Arábia Saudita do que na Índia, mas vivi mais a Índia porque não tinha dinheiro para luxos e por isso vivia numa realidade mais próxima do indiano de classe média. Na Arábia Saudita vivia entre o hotel e o escritório. Ao con-trário da Índia, na Arábia Saudita nunca comi em casa de um saudita, nunca fui ao casamento de um, nem conheci o país para além da capital. Mal posso dizer que efetivamente tenha vivido lá, apesar de ter passado muito tempo.

OM: Alguma história interessante desses tempos?

CP: Quem vive e trabalha em países em vias de desenvolvi-mento, especialmente no Médio Oriente, tem sempre his-

tórias para contar. Um dia acordei em Tripoli com o barulho do que eu pensava ser fogo de artifício e veio-se a revelar ser um ataque de rockets contra o hotel em que eu estava. No Sudão fui ameaçado de prisão por tirar fotografias numa ponte. Estava no Cairo no primeiro aniversário da revolução num quarto com vista para a praça de Tahrir e vi os tanques estacionados a impedir os manifestantes de se aproxima-rem. Quando atravessei a Zâmbia de carro fiquei a micros-segundos de bater por trás num elefante devido ao nevoeiro cerrado. Na Nigéria vi o meu motorista com uma espin-garda apontada à cabeça por não querer pagar o suborno ao polícia para atravessar um posto de controlo. Lembro-me também do incómodo que senti quando a empregada da minha primeira senhoria na Índia comia a um canto no chão da cozinha enquanto nós partilhávamos a mesa com ela. Só da Índia teria dezenas de histórias para contar. É um país completamente à parte. Mas acima de tudo tenho his-tórias boas, de pessoas simpáticas que conheciam Portugal pelo Figo ou Cristiano Ronaldo, que tinham curiosidade de falar comigo. Desse tempo, ficou acima de tudo uma enor-me lista de amigos e uma longa lista de promessas de os

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voltar a visitar (promessas que, como já tinha tiques de po-lítico, dificilmente irei cumprir). Eu não teria crescido tanto se não tivesse conhecido estas realidades e vivido aquelas experiências.

OM: Tendo em conta que a infância é um período da vida importante na formação/ instrução/ educação dos seres humanos, qual o sistema de educação lhe inspirou mais in-teresse e que pudesse adaptar-se a Portugal?

CP: Pelos resultados que apresentam, tenho respeito pelos sistemas de educação asiáticos, especialmente pela ênfase que colocam no desenvolvimento do raciocínio lógico-ma-temático. Os sistemas japonês e sul-coreano não sendo perfeitos, apresentam bons resultados. Eu tenho a sorte de dar aulas numa universidade asiática, num país que até nem está entre os melhores na região, e consigo perceber as diferenças de preparação que existem. No entanto, te-nho que respeitar que outros países prefiram outro tipo de métodos e sistemas menos exigentes. O importante é que cumpridos certos requisitos mínimos que protejam as

crianças, o estilo de educação seja uma escolha dos pais. Daí defender a liberdade de escolha dos pais e a autonomia pe-dagógica das escolas.

OM: Alguns dos países nórdicos, durante algum tempo e no sentido de incrementar a natalidade, consentiram aos pais que, nomeadamente, até aos 3 anos, as crianças pudessem permanecer em casa com um dos progenitores. Em alguns países, como na Alemanha as crianças voltaram à creche. Como pai e como político qual seria a sua opção?

CP: Eu tive a sorte de a minha filha nascer numa altura em que tanto eu como a mãe trabalhávamos a partir de casa e com horários flexíveis. Pudemos acompanhá-la de per-to nos primeiros anos de vida, mas ainda assim achamos por bem colocá-la no infantário. A interação e socialização com outras crianças é uma parte importante do desenvol-vimento e a possibilidade de os pais terem uma vida para além da parentalidade também. É importante que as licen-ças de parentalidade possam ser usadas por ambos os pais da forma que entenderem. Considero um erro serem dema-

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siado longas porque mesmo que a ausência seja justificada, ficar 3 anos (ou 6, no caso de dois filhos) fora do mercado de trabalho pode ter consequências duradouras na carreira dos pais. Mas, como no caso do sistema de ensino, deve ser uma opção individual.

OM: Que papel teve a sua família nuclear para se tornar num Liberal? O que é ser liberal? Em que se sente um con-servador?

CP: Eu desde pequeno sempre tive muita liberdade e auto-nomia. Os meus pais trabalhavam muitas horas e chega-vam tarde a casa. Sempre tive a possibilidade de gerir o meu tempo, com autonomia e era responsabilizado por essas escolhas. Se ficasse a jogar a bola na rua até tarde, depois tinha que acordar mais cedo para fazer os trabalhos de casa. Os meus pais sempre me disseram que eu teria a liberdade que quisesse desde que as notas fossem boas. E foram sem-pre boas, desde a primeira classe até ao doutoramento (mas

quando fui tirar o doutoramento já não vivia com eles). Li-berdade com responsabilidade.

OM: Com que idade teve a sua primeira «iniciativa liberal»? Como surgiu a sua ligação ao partido INICIATIVA LIBERAL?

CP: Quando tinha 10 anos fundei um jornal lá na minha freguesia natal. No mesmo terreno da casa dos meus pais havia um pequeno anexo antigo, onde tinha vivido até aos 4 anos, que serviu de sede para a “redação”. Depois ven-demos o jornal porta a porta aos vizinhos. Foi engraçado porque depois o grupo dividiu-se e criaram-se mais dois jornais concorrentes, também escritos por crianças da mesma idade. Foi bonito ver o mercado livre a funcionar. E os artigos até tinham alguma qualidade. Lembro-me como se fosse hoje. Os meus primeiros dois artigos em jornais foram a falar da morte do Airton Senna e sobre o aumen-to das portagens na ponte 25 de Abril.A ligação ao partido surgiu um pouco por acaso. O anterior presidente do parti-

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do, que só lá esteve alguns meses, demitiu-se devido a um micro-caso com a página do Facebook e eu, apesar de nem sequer ser membro do partido, fui desafiado por um grupo de membros fundadores a candidatar-me. Na altura acha-va que as probabilidades de sucesso eram muito pequenas, mas tenho um gosto especial por causas aparentemente perdidas e por começar projetos do zero. Aliás, boa parte da minha vida profissional foi ajudar a começar coisas do zero.

OM: Quais os skills que mais valoriza hoje numa pessoa, se tivesse de o escolher para sócio num negócio?

CP: Para além de todas as aptidões técnicas, que depen-dem do tipo de negócio, há duas caraterísticas essenciais. A primeira é ser alguém que goste do trabalho, de percorrer o caminho, do processo para atingir o objetivo, indepen-dentemente do objetivo a atingir. As pessoas que gostam do processo enervam-se menos com a possiblidade de não atingir o objetivo, tornando o trabalho mais fácil e agradá-vel. Para além disso, nunca há objetivos finais na vida. Há objetivos intermédios uns a seguir aos outros. O Cristiano Ronaldo chegou à equipa principal do Sporting, o grande objetivo de quem faz a formação em Alcochete, depois à do Manchester United, depois ganhou uma liga dos cam-peões, depois uma bola de ouro e depois outra e outra, e aos 35 anos continua com objetivos apesar de tudo o que atin-giu. Nunca há objetivos finais, nem para quem parece ter alcançado tudo. Grande parte do tempo das nossas vidas é passado no processo de atingir o próximo objetivo e só uma pequeníssima parte a celebrar tê-lo atingido ou carpir não o ter conseguido. Se não gostarmos do processo para atin-gir o objetivo, viveremos uma vida miserável, mesmo se o conseguirmos eventualmente atingir. A segunda carate-rística é ter uma personalidade complementar à minha. Eu sou incapaz de aturar pessoas com a minha personalidade. Tem que ser alguém muito diferente, mais paciente, mais relaxado e menos explosivo. Como não consigo desenhar um fronteira clara entre o trabalho e a vida, prefiro traba-lhar em coisas que gosto com as pessoas que gosto, que me complementem, daí as caraterísticas pessoais das pessoas com quem trabalho serem tão importantes.

OM: Há décadas que temos em Portugal e noutros países uma Instrução/ Educação e uma Cultura maioritariamente dominada por correntes de pensamento de esquerda e es-tatizantes, professores e historiadores também de esquer-da, que indubitavelmente, influenciam as camadas mais jovens. Durante a sua vida de estudante, quando se aper-cebeu disso?

CP: Na Faculdade não o senti tanto porque as faculdades de economia tendem a ser mais equilibradas. Na minha fa-culdade ensinavam o Augusto Santos Silva e o Teixeira dos Santos, mas também, pessoas de outras áreas políticas, à esquerda e à direita. No básico e secundário senti mais isso. Há umas semanas encontrei num restaurante um professor da minha antiga escola de Espinho que me disse que o meu antigo professor de filosofia não pára de perguntar na sala dos professores onde é que eles falharam para terem ajuda-do a formar um liberal (ele é comunista). Fiquei com muita sensação que a inclinação ideológica entre os professores é bastante acentuada e ao que sei apenas tem piorado nos últimos anos. Em parte por sentirem que só uma ala política defende os seus interesses. Ironicamente, e sem se aperce-berem, o sistema que defendem tem levado a uma situação em que a sua profissão é constantemente desvalorizada e mal paga. Andam de pequena vitória em pequena vitória até à grande derrota final.

OM: Como se posiciona relativamente a declarações como as de Catarina Martins, do partido português Bloco de Es-querda, que diz que não fuma droga leve, apenas porque lhe causa dor de cabeça?

CP: Cada um é livre de fazer as opções de vida que bem en-tender, desde que não prejudique os outros. Eu hoje não sinto vontade de fumar drogas leves (nem sequer tabaco fumo), mas no ambiente social apropriado fumaria sem grandes problemas. Assuntos de liberdade individual para mim são claros. Não me causam grandes dores de cabeça.

OM: Como vê o papel das mulheres na política? CP: Eu acho que fazem falta mais mulheres na política. En-tristece-me ver reuniões abertas de partidos em que 80% das pessoas que aparecem são homens. Isso acontece em todos os partidos, possivelmente com exceção do PAN. Até o Livre que concorreu com uma plataforma feminista ra-dical, com uma mulher como cabeça de cartaz, teve pro-blemas para encontrar mulheres para as suas listas. É um problema cultural, da visão que existe sobre o papel das mulheres e que acaba por afetar as suas escolhas e o seu en-volvimento na política. É uma questão que começa logo em casa com uma partilha desequilibrada das tarefas domés-ticas, especialmente nas famílias sem recursos para pagar a empregadas domésticas, e que também contribui para as diferenças salariais entre homens e mulheres. Também não se resolve com quotas que é uma solução coerciva e ad-ministrativa para uma questão cultural e entranhada, que

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até pode ajudar as mulheres que já estão na política, mas que faz pouco pelas que não estão porque nunca tiveram a oportunidade de estar. É uma questão que começa a mon-tante, no envolvimento na política de base e que depois se vai reflectindo em todas os patamares da vida partidária. Ser homem ou mulher não faz de ninguém melhor na po-lítica. Não é com os genitais, mas com a cabeça, que se faz política. No entanto, uma mulher tem, necessariamente, um conjunto de vivências diferentes dos homens, e é bom que na política haja essa complementaridade de visões até porque as decisões políticas afetam todos. Duas das maio-res líderes políticas europeias dos últimos 40 anos, Marga-ret Thatcher e Angela Merkel foram mulheres. Seria bom que estes dois exemplos servissem de inspiração para que mais mulheres se envolvessem na política. Fazem falta.

OM: Acha que o Governo respondeu de forma adequada à pandemia? Que medidas faltaram (se faltaram) e como an-tevê o futuro da economia portuguesa?

CP: Tivemos a resposta típica de um governo a gerir para o focus-group. Quando a população estava assustada le-vou-se o confinamento a extremos ridículos. Quando a po-pulação estava cansada do confinamento, desconfinou-se sem ninguém perceber a lógica das escolhas feitas. Houve uma inconsistência tremenda, típica de quem anda ao sa-bor do vento. As pessoas podiam ir em aviões sem distân-cia entre lugares, mas não podiam ir aos teatros. Quando se aperceberam desse problema, reabriram os teatros, mas mantiveram as escolas fechadas. Os jardins de infân-cia (maioritariamente privados) abriram, mas as escolas

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(maioritariamente públicas) não. Numa semana estava a polícia marítima atrás de banhistas sozinhos em praias desertas e na semana seguinte estavam os nossos líderes políticos a serem fotografados em praias cheias. Não há qualquer pensamento estruturado. No final tivemos o pior dos dois mundos: nem travamos a pandemia nem o desas-tre económico.

OM: Qual a sua posição relativamente a esta «aquisição» do governo de um Engo de minas a recolocar Portugal em crescimento?

CP: Eu referi-me a ele num artigo como o palerministro, num jogo de palavras com paraministro. Não há salvado-res da pátria e ele já demonstrou pelas entrevistas que deu que continua sem perceber os problemas do país. Eu queria alguém que não aspirasse a inventar a roda, que trouxes-se exemplos de fora de países numa situação semelhante à de Portugal que deram saltos de crescimento, e propu-sesse fazer o mesmo. Pessoas que acham que inventam a roda temos nós de 2 em 2 anos. É como se de cada vez que um paciente se apresentasse no gabinete do médico ele lhe recomendasse um novo tratamento experimental em vez de lhe dar o que já tinha funcionado antes. O cemitério está cheio de programas de crescimento do PS e este será mais um a ir para lá.

OM: Qual a sua leitura do pouco uso que damos ao instru-mento de Democracia, «referendo»?

CP: Era interessante termos condições para o usar mais e ultrapassar questões de legitimidade na democracia repre-sentativa. Não sei se temos instituições suficientemente fortes para o fazer.

OM: Descentralização ou regionalização?

CP: O centralismo é um dos principais problemas do país. A concentração de poder numa área geográfica tão peque-na leva à excessiva concentração de poder em poucas pes-soas, facilitando redes de corrupção e nepotismo. Também está na origem de desigualdades regionais e de mobilidade social. Os países europeus mais bem geridos e com menos desigualdades regionais têm quase todos um nível de poder regional (mesmo países mais pequenos que o nosso) sem que isso resulte em duplicação de custos. Agora confesso que me sinto como aquele paciente que está cheio de dores, que tem a certeza que precisa de uma operação, mas entra no consultório e apercebe-se que o cirurgião é maneta, za-rolho e alcoólico. Se calhar, ao ver a qualidade do cirurgião, pensa duas vezes antes de avançar para a operação. Gos-taria de ter uma boa regionalização, mas não sei se temos classe política com qualidade suficiente, e desinteressada,

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para fazer uma regionalização que sirva os interesses da descentralização e não os interesses da própria classe polí-tica. Mesmo assim, se houvesse um referendo, hoje votaria a favor.

OM: Que tipo de dor de cabeça lhe causa André Ventura, lí-der do partido português Chega?

CP: André Ventura anda há mais de um ano na política e eu ainda não lhe vi um pensamento estruturado sobre qual-quer assunto. Vejo frases soltas, pequenas polémicas com personalidades públicas, mas nada com profundidade. Tem funcionado para as sondagens, mas não tem grande sus-tentação nem é uma alternativa a nada. É uma espécie de bobo da corte que serve para distrair as pessoas dos proble-mas reais. Mas como o próprio nome indica, o bobo conti-nua a ser da corte. O que o país precisa não é de um bobo da corte, é de alguém com capacidade para substituir a corte. O importante nesta altura é não haver precipitações. Dois anos antes das últi-mas legislativas, dizia-se que o CDS poderia ultrapassar o PSD. Seis meses antes, havia sondagens a darem um grupo parlamentar ao Aliança e a IL atrás do PURP. Depois, foi o que foi. Estamos a mais de 3 anos das próximas legislativas. Isto é uma maratona.

OM: Sente pena de não ser o deputado único da Iniciativa Liberal?

CP: Eu e o João Cotrim Figueiredo teríamos feito uma gran-de equipa no Parlamento, mas como deputado único acho que ele é melhor do que eu teria sido. Ser deputado único tem exigências muito específicas e ele tem caraterísticas, especialmente a maturidade e a eloquência, que lhe permi-tem ser um melhor deputado único do que eu teria sido. Isto não é falsa modéstia porque da mesma forma que assumo isto também digo que haveria poucas pessoas no país capa-zes de fazerem aquilo que eu fiz até às eleições. O João não teria feito esse papel tão bem como eu da mesma forma que eu não faria o papel que ele está a fazer agora tão bem como ele. Tanto para o meu sucesso como o dele contribui muito ter lá uma pequena equipa constante a dar apoio. Foi isso que permitiu uma transição tão indolor.

OM: E os partidos, tradicionalmente ligado à direita por-tuguesa? Que lhe apraz dizer sobre a oposição de Rui Rio?

CP: Rui Rio vem de uma linha dentro do PSD, da qual Mar-celo Rebelo de Sousa também faz parte, que olha com reve-

rência para o PS e o vê como o centro de poder em Portugal. Rio não considera o PSD como uma alternativa de poder, mas sim um complemento ao PS. O PSD sempre teve esta linha, desde os tempos da ASDI, e sempre foi uma linha derrotada e inútil ao país. Espero que os militantes do PSD ganhem juízo, eventualmente, porque faz falta ao país, um partido como o PSD. Eu hoje, olhando para o tipo de coope-ração entre Rio e Costa, muito para além do que seria uma cooperação normal em prol do país, lembro-me sempre de todas as pessoas que me recusaram apoio porque achavam que era preciso reforçar o poder de Rio como oposição.

OM: Como se justifica que, por exemplo, a Holanda, que é igualmente um país pequeno e sem grandes recursos natu-rais, (que têm conferido riqueza a alguns outros), se venha a posicionar economicamente confortável?

CP: A Holanda beneficiou de alguns recursos naturais, em-bora cada vez menos, mas acima de tudo seguiu as políticas certas no passado e consegue hoje retirar os frutos disso. Quem diz a Holanda, diz muitos outros países da Europa. O segredo é sempre o mesmo: respeitar o valor do trabalho e do investimento. Quando se faz isso, os países enriquecem. Quando se castiga o trabalho e o investimento, os países empobrecem. Sempre foi assim e sempre será.

OM: Que nome daria a uma nova disciplina curricular que ajudasse os estudantes de tenra idade a se interessarem por administração pública e atividade cívica?

CP: “Introdução ao Leviatã”.

OM: Imagine que era o Primeiro-ministro de Portugal e nós uns jovens interessados a voltar a Portugal para residir e investir. De que forma nos aliciava? Ou não aliciava?

CP: Eu passei muito tempo fora do país, convivi com muitas pessoas talentosas, quadros superiores de grandes multi-nacionais, que não pensam em voltar ao país para traba-lhar. Normalmente apontam dois motivos para isso: baixos salários e acesso vedado a cargos de topo. A diminuição do IRS seria essencial para combater os baixos salários relati-vos dos jovens mais qualificados e talentosos. Uma cultu-ra geral de transparência nas contratações seria essencial para os jovens sentirem que não têm as portas fechadas. Mas quando os conselhos de administração estão reple-tos de pessoas que não fizeram nada na vida para além da política, os jovens percebem que o país nunca lhes dará as oportunidades que têm lá fora. Quando estamos prestes a

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escolher um governador do Banco de Portugal, não pelo seu currículo e qualidades técnicas, mas por ter prestado serviços ao poder, estamos a enviar o sinal errado. Temos que enviar um claro sinal de que pessoas talentosas e tra-balhadoras podem singrar em Portugal sem precisarem de cunhas ou envolvimento partidário.

OM: Quer deixar, aqui, a 12ª pergunta incómoda sobre Por-tugal?

CP: Pode haver jornalismo livre se estiver dependente do financiamento do governo?

OM: Sempre vai sair do país ou vai continuar por cá a fazer intervenção política?

CP: Eu não preciso de estar cá para fazer intervenção polí-tica. Faço-a há 15 anos e grande parte desse tempo não es-

tava cá. Continuarei a fazê-lo porque tenho gosto nisso. A pandemia trocou um pouco as voltas aos planos que tinha. Há 3 meses diria com toda a certeza que em Setembro es-taria a trabalhar fora do país. Agora tenho menos certezas quanto à data de saída, mas a mesma certeza em relação à saída do país.

OM: Alguma saudação que queira deixar aos nossos leitores que se espalham pelo mundo?

CP: Neste momento o melhor conselho que posso dar a quem está fora do país com uma boa situação profissional é que não cometa o erro, que eu cometi, de voltar cedo de-mais. Portugal é um país fantástico para tudo, menos tra-balhar e investir. Quando já não precisarem de fazer estas duas coisas, regressem, desfrutem as imensas coisas boas que o país tem para dar e ajudem a mudar alguma coisa. E, claro, envio um forte abraço para todos. Vemo-nos por aí.

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Tem havido muitas conversas em torno da segurança de

fazer turismo em Portugal face à situação pandémica do

novo Corona vírus, que continua a preocupar as popu-

lações de todo o mundo. O receio é um efeito natural do

comportamento desta doença nas pessoas que são por

ela afetadas, no entanto, a bem da verdade, o nosso país

continua com o selo de “Clean and Safe” pelo exemplo que

somos nas medidas de prevenção e contenção do alastra-

mento da Covid-19.

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal

(CTP) considera que 2020 será o grande ano para o tu-

rismo nacional, mas fala também em esperança para os

turistas internacionais considerando a reabertura dos

aeroportos e do regresso a uma relativa normalidade das

companhias aéreas.

“Temos que viver um dia de cada vez”, afirma Francisco

Calheiros numa entrevista à agência Lusa. Consideran-

do a imprevisibilidade da pandemia, mas sobretudo, os

atrativos de Portugal – desde a beleza da nossa costa e do

interior do país, passando pelos preços acessíveis a todas

as carteiras na hotelaria e na restauração, até às inúmeras

atividades lúdicas e culturais.

Mesmo considerando as limitações na circulação de pes-

soas de países de outros continentes, o Turismo de Por-

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tugal estima que os países da União Europeia continuem

a procurar Portugal como destino para fazerem as suas

férias de verão. O nosso país está preparado e aberto para

receber turistas pois, neste momento, a situação no país

está a evoluir positivamente e a maioria do território na-

cional, desde o dia 1 de julho, tem um mínimo de restri-

ções impostas à população.

Graças ao controlo e às medidas de preparação que foram

tomadas em todas as áreas em geral, e no turismo, em

particular, é possível usufruir do património cultural, na-

tural e imaterial, ficar nos hotéis e outros alojamentos ou

frequentar restaurantes. Não existe qualquer limitação à

circulação de residentes ou turistas e todos os transportes

estão em pleno funcionamento não existindo qualquer si-

tuação de encerramento ou quarentena. Os equipamentos

turísticos e culturais estão abertos e a funcionar em pleno

assegurando, àqueles que desejam visitar todo o país, a

segurança necessária.

Portugal continua autêntico, diversificado, atrativo, in-

clusivo e seguro. Mantém o propósito e o compromisso de

receber bem, respeitar as diferenças e hoje, mais do que

nunca, garantir a todos que podem viajar pelo país, segu-

rança e com confiança. As evidências disto estão expostas

num conjunto de estudos feitos pelo Turismo de Portu-

gal, em pareceria com o Instituto Nacional de Estatísticas

(INE), até 22 de junho, onde se demonstra que a compa-

ração da curva exponencial do crescimento efetivo, o risco

de transmissibilidade, a evolução diária de novos casos e

o número de testes efetuados VS. casos positivos, são dos

mais baixos em toda a Europa.

E mais do que nunca é preciso saber aproveitar os mo-

mentos de lazer e descontração que possam estar ao nos-

so alcance. Depois de tantas semanas em confinamento,

afastados das ruas, das praias, do contacto com a natureza

e com o património histórico e cultural que Portugal tem,

com as devidas cautelas e precauções, temos de voltar a ir

ao encontro do que nos anima o espírito e nos traz à mente

alegrias que existem além da rotina do dia-a-dia. Portu-

gal, para dentro e para fora, continua a ser o melhor ter-

ritório para fazer turismo e disfrutar de todos os prazeres

que há em aqui fazer férias. Continue a confiar em nós,

como nós confiamos em si.

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

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M I G R AÇ Õ E S

Fontes: Turismo de Portugal, INE, Confederação do Turismo de Portugal, Sapo Viagens

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H O R A D E R E P E N S A R O A S S O C I AT I V I S M O

É nas dificuldades que ficamos mais fortes e aprendemos a transpor os obstáculos.O mundo todo foi surpreendido por algo tão pequeno e in-visível a olho nu, mas que está a causar incontáveis proble-mas à humanidade, problemas que nós nunca imagináva-mos vivenciar. Problemas, desde o mais grave, que é perda de milhares de vidas humanas, passando pelo desemprego, que causa miséria e fome, até às coisas aparentemente mais simples, mas que na verdade, têm assumindo graves conse-quências, como a depressão (que por vezes termina em sui-cídio), doenças não curadas, em face da própria situação de calamidade no sistema de saúde, e até a falta de perspetiva do término desta pandemia, provocada pela Covid-19, gerando incertezas a todos os segmentos da sociedade e nos próprios governos.Nós, que estamos ligados a entidades sociais e culturais, como é o caso do Centro Cultural Português, fundado há mais de 124 anos, e objeto da fusão de duas entidades ligadas à Comunidade Portuguesa – o Centro Português de Santos e a Sociedade União Portuguesa – devemos preocupar-nos não somente com nossas atividades profissionais e pessoais, mas também, com a entidade que representamos. Pois, o isola-mento social que vivemos no momento, com as restrições a reuniões, festas e demais eventos que impliquem aglomera-ções, determinadas pelos autoridades competentes (Muni-

cipais, Estaduais e Federal), causa dificuldades financeiras sem precedentes nessas entidades, que suportam despesas enormes com a manutenção de prédios, salários, encargos sociais, e que dependem quase exclusivamente desses mes-mos eventos, agora interditados, uma vez que o valor arre-cadado com as mensalidades dos sócios é insuficiente para cobrir tais despesas.Antes da mencionada fusão entre o Centro Português de Santos, e a Sociedade União Portuguesa, víamos o primeiro (Centro Português) numa difícil situação financeira, levando em conta que o prédio histórico de estilo neomanuelino, cuja construção foi iniciada no fim do século XIX, exigia (como até hoje exige) uma manutenção que implica elevadíssimos custos com restauração, que não era feita, pois, corria-se o risco daquele lindo prédio acabar por se deteriorar, de forma irreversível.Diante desse quadro, as Diretorias de ambas as entidades uniram-se, por um acordo de aproximadamente 20 anos, com o propósito de unir as forças, chamando a maioria das demais entidades de Santos com o propósito de unir todas elas numa só entidade, baseado no princípio de que “a união faz a força”.Não foi possível unir todas as associações, pois, não é um processo fácil, mas as Diretorias do Centro Português de Santos e a da Sociedade União Portuguesa reuniram-se em

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assembleia e deliberaram, por fusão, unir as duas entidades, formando o atual Centro Cultural Português.A partir de então, o prédio do Centro Histórico de Santos re-cebeu a manutenção que precisava, com várias intervenções, e atualmente, estamos a desenvolver obras de restauro no salão anexo ao prédio histórico, de modo que possamos nele promover as nossas festas e demais eventos.É bom salientar que, após essa fusão, restauramos por com-pleto o espaço do nosso teatro, o qual recebeu o nome do principal benfeitor contemporâneo da nossa entidade, Ar-mênio Mendes, que infelizmente, não pôde participar da sua reinauguração, pois nos deixou antes, de modo que só nos restou prestar-lhe uma homenagem póstuma, na presença da família. A crise social que se instalou em grande parte do mundo, inclusive, no Brasil, ainda antes da atual pandemia da Covid-19, permitiu que a Diretoria do Centro Cultural Por-tuguês pudesse antever sérios problemas de caixa em nossa entidade, de modo que decidimos aceitar a proposta que a Santa Casa de Santos nos fez, de locar nosso prédio da Av. Ana Costa, onde realizávamos todos os nossos eventos sociais, inclusive, aluguer do salão, geradora de uma renda para fazer face às despesas, a qual, obviamente, deverá ser complemen-tada pelas festas e eventos que passaremos a realizar no salão anexo, que está sendo preparado para esse efeito.Mas o que assistimos, infelizmente, é que outras entidades não estão em boa situação financeira e económica, por conta da pandemia.Claro que estamos a falar de entidades luso-brasileiras, que levam aos seus associados as lembranças de Portugal através da comida, da música e das danças, além de trazer à memó-ria as datas comemorativas e festas de Portugal, como a festa das vindimas, Fado, Santoínho, Dia de Portugal, Revolução dos Cravos, etc.Quando se trata de entidades de cidades diferentes e distan-

tes, fica evidente que a união entre elas se torna inviável. Mas, quando as entidades estão relativamente próximas umas das outras, essa diversidade acaba por dividir as forças, ao invés de somar ou multiplicar, sendo muito comum a realização de festas diversas nos mesmos dias, ou dias muito próximos, o que prejudica as duas entidades.Daí que, levando em conta que teremos que aprender a con-viver com um “novo normal”, seria interessante – como necessário – que as entidades se fortalecessem, unindo-se, procurando encontrar pontos de convergência, colocando a cultura luso-brasileira, como bandeira para as negociações dessa mesma união. Fruto de uma abnegada dedicação e empenho de todos os que deram o seu importante contributo, temos hoje, um clube que se orgulha do seu passado (Centro Cultural Português e Sociedade União Portuguesa), e que tem os olhos postos no futuro, dispondo hoje de um património de referência, atra-vés do enorme esforço e colaboração dos vários presidentes, diretores, associados e amigos, que em boa hora decidiram realizar esta fusão.Ainda há muita coisa a ser feita, nesta entidade que tanto exalta a cultura portuguesa, confraterniza entre brasileiros e lusitanos, e portanto, não iremos parar por aqui, muito es-pecialmente na conquista de novos associados e diretores jo-vens, que num futuro próximo possam dar continuidade ao trabalho iniciado ao longo de décadas, pelos nossos abnega-dos antepassados. É o nosso próximo grande desafio!Finalizando, na nossa modéstia opinião, fazemos aqui um apelo para que todas as entidades que passam atualmente por dificuldades em preservar o seu património material e ima-terial, é agora, mais do que nunca, o momento de começarem a pensar, seriamente, em dar esse passo, reconquistanto a alegria e o futuro das nossas associações luso-brasileiras.Bem Haja!

José Duarte de Almeida Alves Conselheiro das Comunidades Portuguesas

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Observa Magazine: Vive na Argentina há muitos anos, mas com o coração português. Quais são como as suas raízes de Portugal?

Otília Torres: Isso mesmo, apesar de ter nascido e criada na Argentina, o meu coração pertence a Portugal e o desejo de lá viver está intacto desde pequena. É um amor eterno por Por-tugal e anseio um dia poder viver na terra dos meus antepas-sados. Sou filha e neta de portugueses e cidadã portuguesa há muitos anos. Os meus pais emigraram para a Argentina por volta dos anos 60, num contexto global difícil. Juntos cons-truíram aqui as suas vidas, constituíram família e criaram os negócios que ainda temos. Na minha opinião, estes são os motivos de se sentirem amarrados a por cá ficar, apesar da esperança de um dia regressarem a Portugal nunca ter desa-parecido.

OM: Quais são as suas qualificações académicas/profissio-nais? Qual tem sido o seu percurso profissional na Argentina?

OT: Desenvolvi os meus estudos primários e secundários na Argentina. Ao concluir estes estudos, dediquei-me inteira-

mente às empresas familiares e continuo, atualmente, com esse mesmo desafio.No que diz respeito à abordagem empresarial, realizei estu-dos como Secretária de Comércio e Comércio Internacional de Logística para a importação e exportação de produtos.Tenho ainda um Diploma de Técnico Ontológico. Esta área baseia-se numa forma diferente de interpretar os seres hu-manos; a sua forma de relacionar, de agir e de atingir os obje-tivos que estabelecem para si, para as suas empresas e para a sociedade. Ajuda-me a desempenhar a minha liderança exe-cutiva dia após dia, no que diz respeito ao meu trabalho. Sou ainda diplomada no Programa Neurolinguístico, que é uma abordagem pseudo-científica de comunicação, desenvolvi-mento pessoal e psicoterapia. Finalmente, durante a minha adolescência, trabalhei em alta costura como designer de moda. Sou também, maquilhadora profissional e consultora de imagem, embora não exerça ativamente. OM: Apesar de viver na Argentina, mantém uma ligação afe-tiva com Portugal? Que espaço tem Portugal na sua vida? Que ligação mantém com a língua e nossa cultura?

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OT: Claro que o vínculo afetivo que tenho por Portugal é muito forte desde pequena. As memórias mais distantes que tenho da minha infância são do meu pai a ouvir música portuguesa no seu rádio, e a minha mãe a cozinhar as deli-ciosas receitas portuguesas. Com o passar dos anos, desde a adolescência que participo ativamente com a Comunidade Portuguesa na Argentina. O meu pai foi fundador do Clube Português de Esteban Echeverría, no qual fui vice-presidente durante quatro anos e desde 2012, que ocupo a presidência. Além disso, aos 88 anos, o meu pai continua a participar ati-vamente no Conselho de Administração e em todas as ativi-dades. O Clube tem também, um Rancho Folclórico chamado “Estrelas do Minho” e uma rádio.

OM: O movimento associativo faz parte da sua vida há muitos anos. Quer falar-nos um pouco desse percurso?

OT: Como já referi, trabalho sempre para a cultura e lín-gua portuguesa direta e indiretamente. Há alguns anos fui Coordenadora Geral da Língua Portuguesa na Argentina, cujo trabalho baseou-se na promoção da língua em cinco instituições.

Na última década, no nosso Clube abundavam intercâm-bios culturais com ranchos folclóricos de vários países, tanto latino-americanos como europeus, como o Brasil e a França.Em 2016 tivemos o prazer e a honra de dar as boas-vindas ao Roberto Leal, que nos brindou com um espetáculo de excelência, fazendo-nos dançar e cantar. No ano passa-do recebemos o Presidente da Câmara de Viana do Caste-lo, José Maria Costa, o Presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, Fernando Nogueira e o Presidente da Junta de Freguesia de Castelo do Neiva, Jorge Paulo Dias Torres.A nossa comunidade é muito ativa e participativa, contribui e colabora ativamente e em conjunto em todos os eventos políticos, culturais e sociais do nosso distrito. Gosto ainda de cooperar e participar ativamente nas atividades da Em-baixada de Portugal na Argentina. OM: Que diferenças estabelece entre o trabalho que desen-volve no movimento associativo, nomeadamente no CLUBE PORTUGUÊS DO ESTEBAN ECHEVERRÍA e as suas responsa-bilidades como membro do CCP da Argentina?

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OT: No que diz respeito às responsabilidades, elas são dife-rentes, mas ao mesmo tempo complementam-se mutua-mente, e muitas vezes, atuam em conjunto para o bem co-mum das instituições.O Conselho das Comunidades Portuguesas é composto por vários membros que representam instituições de todo o país. Ou seja, não é uma condição necessária ser presidente de qualquer entidade.

OM: Que ligações mantém atualmente com Portugal?

OT: Atualmente, as ligações que tenho com Portugal corres-pondem em grande parte à minha responsabilidade como membro da FAD – Federação das Associações da Diáspora, e também, como Confrade da Confraria de Saberes e Sabores da Beira - “Grão Vasco”. Aliás, tenho neste um grande desa-fio e objetivo, que é criar uma Confraria na Argentina, a partir da Confraria mãe, de modo a aumentar os laços, a comuni-cação e a ligação a Portugal, promovendo Portugal no mun-do, em especial aqui na Argentina. Aproveito para destacar o Prof. José Ernesto, de Viseu – Portugal, que é Almoxarife da Confraria mãe e também, presidente da Assembleia-geral da FAD. Tem sido uma pessoa e um amigo extraordinário e tem prestado um apoio e ajuda enorme, nomeadamente, no apoio à criação de uma Confraria aqui na Argentina. Não pos-so ainda deixar de referir e agradecer a enorme hospitalidade e amizade com que nos recebe em Viseu, onde se localiza a sede da FAD.

OM: Que expetativas tem em relação à Argentina para sua vida? O que mais e menos a encanta nesse país de acolhimen-to?

OT: Apesar de sonhar com um dia ir viver para Portugal, devo admitir que gosto muito da Argentina, pois, tenho grandes expetativas profissionais na continuidade dos negócios fa-miliares. Viver em Buenos Aires, permite aproveitar para assistir a vários espetáculos de teatro, concertos, visitar mu-seus e feiras. Por outro lado, também, adoro viajar, dentro deste país imenso, com um clima tão variado, que confere

uma enorme variedade de fauna e flora. A Argentina mostra-nos ainda ser um país com muitos costumes e culturas dife-renciadas, sem precisar dele sair. O que me preocupa e menos me encanta neste país, é a sua instabilidade económica.

OM: Enquanto dirigente da FAD – Federação das Associações da Diáspora, com sede em Viseu – Portugal. É uma forma de ter uma maior ligação e proximidade a Portugal e às demais associações das Comunidades Portuguesas? Como aconteceu essa ligação à FAD?

OT: Sem dúvida, a FAD é uma forma de manter uma maior relação e proximidade com Portugal, nomeadamente, pela responsabilidade que esta função e compromisso implica e exige. A FAD foi fundada no âmbito de um encontro com líde-res associativos de vários países do mundo, que ocorreu em Lisboa, cujo objetivo era a criação de uma estrutura de apoio, partilha e comunicação dentro do Movimento Associativo da Diáspora e também, do estreitamento de relações com Por-tugal. Um dos primeiros desafios foi precisamente a criação de uma plataforma digital, que permitisse e facilitasse esta ligação entre os membros de diferentes clubes e associações de todo o mundo.

OM: Enquanto participante numa das edições dos Cursos Mundiais De Formação de Dirigentes Associativos da Diás-pora, considera que foi uma boa iniciativa do Governo da al-tura, no apoio ao movimento associativo das comunidades portuguesas? Que recordações tem dessa participação?

OT: Totalmente de acordo, considero que foi um dos cursos mais enriquecedores e produtivos a nível pessoal e profissio-nal, em que tive a oportunidade e honra de participar. Esta iniciativa não só me deu instrumentos úteis para desenvolver na Comunidade, como também, a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e de enorme valor, seja no campo po-lítico, profissional ou como dirigentes associativos. À medida que me fui relacionando com estes atores sociais, a minha visão global, nos mais diferentes aspetos e áreas de inter-venção, alargou-se imenso, deixando assim marcas muito

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P O RT U G A L P E L O M U N D OOT Í L I A TO R R E S - A R G E N T I N A

positivas. Não posso, deixar de referir o Deputado José Ce-sário, um amigo de vários anos e que muito tem feito pelas Comunidades Portuguesas, pois, era o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas na altura da realização destes cursos e portanto, a ele se deve esta iniciativa. Finalmente, citar o Dr. José Governo, assessor do Dr. José Cesário, en-quanto Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que foi o coordenador das 4 edições dos Cursos de Formação, uma pessoa extraordinária, de um enorme profissionalismo, empenhamento, dedicação e a ele se deve o enorme sucesso, reconhecido por todos os participantes das 4 edições. Tem sido, também, uma pessoa e um amigo extraordinário no apoio que tem dado à FAD de forma competente, dedicada e altruísta.

OM: Considera que o Movimento Associativo das Comunida-des Portuguesas está a passar por uma crise, sobretudo, no que toca à sua continuidade por parte das gerações mais no-vas? Encontra diferenças entre o movimento associativo da Europa e Fora da Europa?

OT: Na minha opinião, o Movimento Associativo das Co-munidades Portuguesas, a todos os níveis, não está em crise. No passado, os nossos pais e avós criaram as dife-rentes Instituições, como local de encontro, integração e união, onde todos podiam participar e distrair-se do seu dia-a-dia, tendo Portugal como bandeira. Passavam lá a maior parte do tempo livre. Hoje, os jovens têm outras motivações em que estão envolvidos: os estudos, trabalho ou passatempos diversos para além do Movimento Asso-ciativo. No entanto, não significa que não estejam envol-vidos, mas investem o seu tempo de forma mais otimizada e olham para o Movimento Associativo, não só como um entretenimento, mas também, como a continuidade das suas raízes portuguesas.De qualquer forma, acho que, apesar de muitas vezes ter-mos dificuldade em o assumir, as gerações mais novas devem ter o seu espaço e é muito importante ouvir a sua voz, as suas ideias e as suas opiniões, trazendo mudanças a uma nova realidade. E essa nova realidade “grita-nos” para prestarmos atenção à tecnologia e às novas socie-

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dades que sofrem constantemente mutações e que se vão renovando, pelo que devemos acompanhar esta mudança de forma intergeracional.

OM: Com que regularidade visita Portugal? Como vê hoje o nosso país?

OT: Durante a minha juventude tive a sorte de visitar Portu-gal uma vez por ano, depois casei-me e tive as minhas filhas, com quem continuei a visitar a minha família em Portugal, embora não tanto quanto gostaria. Atualmente, devido à si-

tuação económica do país, bem como à minha atual situação de emprego, visito Portugal sempre que tenho oportunidade.Hoje vejo Portugal em pleno boom, a crescer imenso e nas bocas do mundo, tanto a nível social, como económico. O turismo é um bom exemplo disso mesmo, que tem crescido imenso e tem sido um excelente contributo para a economia do país.

OM: Como é que a comunidade portuguesa na Argentina tem vivido este período da pandemia que o mundo tem estado a viver? Tinha férias programadas este ano para Portugal?

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P O RT U G A L P E L O M U N D OOT Í L I A TO R R E S - A R G E N T I N A

OT: O primeiro caso confirmado de COVID-19 na Argenti-na foi divulgado a 3 de março. Posteriormente, devido ao crescimento do número de novos casos positivos, a 20 de março, o governo, do Dr. Alberto Fernández, decretou o isolamento social, preventivo e obrigatório até 31 de março e, estendendo-se 6 vezes até 28 de junho.Vivo em Buenos Aires, a capital do país, e é aqui que há mais casos, porque é onde há mais concentração de habitantes relativamente ao resto do país. Há apenas uma província das 23 que não registou nenhum caso, chamada Catamarca. Semana após semana todos os representantes da Comuni-dade Portuguesa na Argentina estão em contacto. Os últi-mos números públicos a que tive acesso, começam já a ser preocupantes, apontando para 45000 casos confirmados e já mais de 1000 mortes, com maior incidência em Buenos Aires.

Por sua vez, normalmente, temos uma reunião por mês para discutir pessoalmente as questões de cada instituição. Por causa da pandemia, o SPC decidiu realizaras reuniões utilizando a plataforma virtual “Zoom”. Feliz-mente, este meio permitiu- nos manter o contacto, incluin-do pessoas que habitualmente não estavam presentes devi-do às longas distâncias. Da mesma forma, utilizamos este método para a instituição a que presido, reunindo uma vez por mês, com todos os membros do Conselho de Adminis-tração para nos organizarmos em torno dos problemas que o Clube nos exige hoje.

OM: A OBSERVA agradece-lhe a honra desta entrevista.

OT: Muito obrigado, eu é que agradeço a honra desta partilha e desta oportunidade. Um grande beijinho para Portugal.

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S A Q U E M N U N C A E S T U D O U H I S TÓ R I A D E P O RT U G A L

P O R V E R Í S S I M O S E R R Ã O ?

Foi Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Univer-sidade de Lisboa; Reitor da Universidade de Lisboa, nos anos de 1973 e 1974, e presidente da Academia Portuguesa da História, entre 1975 e 2006.A partir de 1977, publicou uma História de Portugal em XIX volumes, de sua exclusiva autoria, contemplando as épocas desde as origens longínquas de Portugal e da constituição do Condado Portucalense até ao período do Estado Novo. Esta obra tinha como objetivo chegar até ao período da Primeira República e ficaria concluída em 1990, com doze volumes. Porém, a energia frenética deste nosso historiador não permitiu que se ficasse por aí. A partir de 1997, a obra foi continuada pelo

período do Estado Novo, ficando completa nesses dezanove volumes. Autor de uma vasta bibliografia, nela destacam-se também, trabalhos dedicados à História do Brasil dos séculos XVI e XVII, que vale a pena ler.

Apesar da amizade que manteve com Marcelo Caetano, certa vez, explicou que

«A história não é política», adiantando que ao longo da sua vida, nunca teve qualquer envolvimento partidário, em nome da verdade histórica.Veríssimo Serrão merece, então a nossa homenagem, ainda que não tenha sido um escritor, na aceção comum do termo. Foi o historiador português com mais obra publicada e o mais galardoado de todos os tempos, em Portugal.

Joaquim Veríssimo Serrão nasceu a 1925, em Santarém e faleceu neste dia 8 de Agosto de 2020. No presente, vivia num lar residencial, onde ultimou o seu trabalho, nomeadamente, o décimo nono volume da História de Portugal.

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P O R V E R Í S S I M O S E R R Ã O ?

Recebeu, nomeadamente, a Grande Cruz da Ordem de San-tiago da Espada e no estrangeiro, por exemplo em espanha, o prémio Príncipe das Astúrias. Falar de Veríssimo Serrão é mergulhar em quase 70 anos de publicação corrida de traba-lhos historiográficos. Ser humano imensamente curioso, inteligente e com muitos interesses, entregava toda a sua energia a escrever hiperati-vamente. Foi um intenso defensor do Mundo Português e dos seus va-lores, o que podemos constatar numa obra que reúne vários dos seus discursos:

“A Essência e o Destino de Portugal”. Foi, portanto, um apaixonado pela Portugalidade.Deixou a sua biblioteca a um Centro de Investigação que ele próprio fundou. Aí irão ficar à disposição de investigadores, curiosos e interessados pela história, milhares de ficheiros que constituíram as «alfaias» da investigação desenvolvida ao longo da sua longa vida, 30 mil livros, 90 caixas de ma-

nuscritos, entre os quais a correspondência que trocou com Marcelo Caetano, condecorações e telas, um vasto legado que entregou, em 2009, à Câmara Municipal de Santarém.

«Não gosto de uma estátua. Quero ser recordado pela minha biblioteca».

Mas, a estátua também perdoará.Passamos a citar um texto de José Miguel Noras editado na edição do jornal O MIRANTE, a 2 de Setembro de 2004, onde se anuncia a estátua - entretanto inaugurada - de ho-menagem ao Historiador «Honrando os filhos, cumprem-se as cidades».Homem fora de série, leal e simples Joaquim Veríssimo Ser-rão é, segundo Antero Ferreira, o vulto da intelectualidade portuguesa que mais obras compôs desde que há memória em Portugal.Classificamos os monumentos de bom quilate com variados

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títulos: do “valor concelhio” ao “imóvel de interesse público” e ao “monumento nacional”.

Segundo a grelha definida através de lei específica, o antigo matadouro municipal de Santarém, por exemplo, é um bem de “valor concelhio” enquanto que as muralhas da cidade são imóveis de interesse público. A Fonte das Figueiras é um dos 15 monumentos nacionais da urbe escalabitana. Além destes, o Pelourinho de Alcanede e o Mosteiro de Almoster consti-tuem os únicos bens que, fora da nossa cidade, mereceram, até hoje, tamanha honraria.Contudo, todo este legado cultural resultou da criação huma-na e da capacidade de plasmarmos nos monumentos a “nossa fome de imortalidade”, repetidamente “cantada” por Unamu-no no seu livro Do Sentimento Trágico da Vida.

Habituados à dimensão material e física do património esquecemos, amiúde, o verdadeiro sentido cultural e hu-mano que envolve este conceito. Não admira que, no Oci-

dente, o título de “monumento nacional”

exclua, entre outras, as obras dos poetas e dos professores, dos médicos e dos juristas, dos historiadores e dos drama-turgos.

Curiosamente, aquilo que, entre nós, não é usual ocorre nos países orientais onde co-existem os “monumentos nacio-nais em pedra” e os “monumentos nacionais vivos” — cida-dãos e suas obras que, de tanto se superarem, transcenderam o próprio tempo. São referências nacionais e exemplos para o porvir. Em três palavras: fora de série!

Dentro de 100 ou 200 anos poucos portugueses estarão inte-ressados em conhecer os nomes dos melhores empresários, governantes e deputados da “nossa atualidade” (mesmo que estes tenham existido). Continuar-se-á, porém, a saber que Fernando Pessoa escreveu “Mensagem”; Almeida Garrett es-creveu “Viagens na minha terra” e Veríssimo Serrão produziu

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a sua (nossa) preciosa História de Portugal.Homem fora de série, leal e simples, Joaquim Veríssimo Serrão é, segundo Antero Ferreira, o vulto da inteletualida-de portuguesa que mais obras compôs desde que há memó-ria em Portugal: “25.285 páginas recenseadas [até 7 de No-vembro de 2000] distribuídas por 424 títulos, a que acrescem 264 artigos em dicionários e enciclopédias, uma vastíssima epistolografia e colaboração dispersa na imprensa diária e re-gional!...” (in 5 Discursos Académicos, Lisboa, 2002, p. 30).Esclarecido, rigoroso e exacto, Veríssimo Serrão é o Mestre dos Mestres da “Oficina da História de Portugal”. Grande e humilde, sem vaidades nem vestígios de arrogância, tor-nou-se um “monumento vivo”, património da Humanidade.Bendito o berço que viu gerar a personalidade mais com-pleta no domínio da Academia da História (após a sua ne-cessária autorização) à nova e ampla avenida que começa

junto à rotunda do “Modelo” e prossegue no sentido do Hospital de Santarém. É aí que ficarão os bombeiros volun-tários. Melhor sítio não há. Os Bombeiros dão vida por vida. Veríssimo Serrão deu a sua alma a Portugal e o seu amor a Santarém.

Honrando os Filhos, cumprem-se as Cidades!

Póvoa da Isenta

(Moinho de Vento),

21 de Agosto de 2004.»Desejamos que a sua obra seja compilada e lida pelos jovens que queiram saber a História de Portugal, pela mão deste vulto português.

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C R Ó N I C A S D E A U TO R“A M I N A M A L D I TA ! ”

Com base em recomendações efetuadas pela União Eu-ropeia, definiu-se em Maio de 2020, o “Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030)”. Neste docu-mento - aprovado pelo Governo - constam algumas me-tas ambiciosas com vista à descarbonização. No ano de 2030, será espectável atingir uma redução em 50% das emissões de gases efeito estufa (GEE), acompanhada de um portfolio geração de eletricidade na ordem dos 80%, proveniente de fontes renováveis. Este roteiro energético visa a muito otimista meta na obtenção da Neutralidade Carbónica no ano de 2050. No PNEC 2030, é abordado de forma minuciosa um conjunto de medidas a aplicar aos diferentes sectores de atividade, com principal destaque para o sector energético, indústria e mobilidade/trans-portes. A maioria das empresas que opera nestes sectores, pre-tende, num futuro próximo, alterar o seu portfolio, in-vestindo em energias renováveis, aumentando os níveis de eficiência energética recorrendo a uma eletrificação

estratégica da rede elétrica e redes de processo indus-trial. Atualmente, Portugal é líder mundial na integração de geração elétrica proveniente de fontes renováveis, so-bretudo obtidas através do vento e mais recentemente a solar fotovoltaica. Este tipo de geração renovável é carac-terizado essencialmente pela sua intermitência, o que se traduz em instabilidade natural para rede elétrica, desta forma torna-se imperativo a utilização de sistemas de armazenamento de energia, de modo a garantir a esta-bilidade do sistema elétrico e consequentemente permi-tir maior integração de fontes renováveis em Portugal. Em 2020, o governo através dos denominados leilões de energia, permitiu a introdução de tecnologias combina-das, nomeadamente o uso combinado de solar e sistemas de armazenamento (baterias, concentrado solar e hidro-génio). Recentemente, com recurso a investigação cientí-fica surgiram projetos piloto de geração eólica offshore e sistemas fotovoltaicos flutuantes com resultados prome-tedores.

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Aliado a este forte contexto de descarbonização do sector elétrico surgiu naturalmente a necessidade de eficiência energética ao nível doméstico e a muito indispensável tran-sição de uma frota automóvel com recurso a combustíveis fosseis rumo a uma frota híbrida/elétrica. Este crescente contexto de investimento na descarbonização da socieda-de e consequente necessidade de redução da dependência energética, desencadeou um conjunto de desafios/oportu-nidades. Em suma, é imperativo descarbonizar. A transição energé-tica está aí e veio para ficar. O risco de um hipotético não cumprimento das metas estabelecidas pela UE poderá ser catastrófico, condenando a economia e as empresas portu-guesas à falência. Neste capítulo da transição energética, o atual governo pretende colocar Portugal na linha da frente antecipando investimento às empresas e procurando que a sociedade participe ativamente neste processo. No entan-to, caso a ideia governativa se resuma à captação de fundos europeus à semelhança dos já preconizado anteriormente

para os sectores da pecuária e pescas, então, não se enga-nem, meus senhores: se essa for a intenção, o caminho será muito sombrio, conduzindo a danos hipoteticamente irre-paráveis.Antevendo uma necessidade mundial, a Comissão Euro-peia, através do programa “Horizon 2020 - Raw Materials” visou propor aos países membros uma estratégia conjun-ta por forma a melhorar e garantir o acesso privilegiado a matérias primas para o sector industrial. As linhas orienta-doras do programa Europeu procuravam assegurar/identi-ficar recursos minerais, promovendo concorrência direta a países como China, Austrália e Chile, garantindo inde-pendência e diferenciação no que concerne à certificação ambiental na obtenção de recursos. A transição energética eminente de uma frota automóvel dependente de combus-tíveis fósseis para veículos elétricos - dependentes de ba-terias - desencadeou uma corrida mundial desenfreada aos metais raros como níquel, cobre, cobalto e lítio. O destaque, como expectável, iria recair sobre um dos metais mais ra-

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ros: o lítio, recurso este indispensável no fabrico de equi-pamentos tecnológicos incluindo as familiares baterias de ião lítio que já marcam presença no nosso quotidiano. Este súbito interesse no lítio é exponenciado pelas empresas do sector automóvel do centro europeu, sendo que estas pre-tendem ganhar a dianteira na corrida à mobilidade elétrica, num sector altamente competitivo onde imperam grandes fabricantes americanos e asiáticos. A Comissão Europeia tenta a todo o custo incentivar a mi-neração deste recurso. As maiores reservas Europeias loca-lizam-se na Sérvia, Portugal, Finlândia, França e Áustria. Todavia, quando comparado com as estimativas de outros países como Chile, Austrália, Argentina e China, é possível afirmar que estamos a falar de quantidades completamente irrisórias. Para se ter uma noção mais correta das grande-zas, um país como Chile apresenta 150 vezes mais reservas de Lítio do que Portugal. Apesar desta desproporcionali-dade de grandezas, a UE insiste neste tipo de mineração,

com base no falso conceito de Lítio Verde, querendo, de certa forma, fazer transparecer a falácia que o Lítio obti-do através de minas capazes de cumprir certificação am-biental, são minas “Green”, como se nós Portugueses fos-semos iletrados e não tivéssemos conhecimento sobre o modus operandi dos denominados “Vampiros do Minério”. Se tivermos por base puramente a vertente económica e ignorarmos outras, não será necessário ser especial econo-mista/cientista para percecionar que muito dificilmente a extração de lítio em qualquer país Europeu será rentável. O intuito da UE em combater importações de lítio não se faz extrapolando o valor em solo Europeu e deixando os sobre-custos para “alguém”. As questões que se impõem - tendo em consideração as reservas de lítio existentes - são estas: quem vai pagar tudo isto? Quem ficará com o sobrecusto desta atividade? A ideia passa por embargar a Europa de importações? Iremos pulverizar a Europa com minas que nada acrescentam, e criticar os nossos pares Americanos

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e Chineses por serem poluidores? É este o sonho Europeu?Projecto Mina de Sepeda - MontalegreO interesse pelo lítio português iniciou-se massivamen-te no ano de 2016, quando deu entrada na Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), um conjunto de 30 pedidos de prospeção e pesquisa para todo o território. Todavia, já em 2012, o então Governo liderado por Passos Coelho, ru-bricara um acordo de prospeção e pesquisa para o projecto Sepeda - Montalegre com a LusoRecursos LDA, que previa a possibilidade de requisição de concessão de exploração, caso a empresa assim o entendesse. Apesar do assunto ain-da se resumir a prospeção, depressa tocaram os sinos de “alarme”: alguns previram uma oportunidade única alicia-dos com hipotéticos milhões de euros e criação de empre-go. Todavia, a maioria da população ficou preocupada com a implementação de uma mina junto das suas habitações sem consulta prévia. Entretanto, em 2017, as máquinas da empresa Dakota Minerals avançaram para o terreno por

forma a realizar trabalhos de prospeção e depressa apa-receram os primeiros problemas: algumas fontes de água nas aldeias nas imediações “secaram”, e a escoria e amos-tras resultantes da prospeção foram deixadas em sacos ao abandono, no local. Em março de 2019, é publicado o decreto lei Decreto-Lei n.º 88/90, que abala a população de Montalegre. É, então, celebrado o contrato entre o Estado e a Luso Recursos Por-tugal Lithium, S. A., que prevê a exploração de depósitos minerais de lítio e minerais associados. Os contornos dessa concessão são subejamente conhecidos. O País acordou em alerta e as gentes de Barroso em “choque”. Como é possível aceitar uma mina a céu aberto junto das habitações, em plena zona “tampão” do Parque Nacional Peneda Gerês e em pleno consagrado património mundial Agrícola? Os locais apressadamente promoveram reuniões com o Pre-sidente da Cãmara de Montalegre, que numa fase inicial, alegou nada saber sobre o assunto, reiterando estar do lado

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povo. Em Julho de 2019, é constituída a Associação Mon-talegre com Vida, que depressa se inteirou dos intuitos da aprovação por parte do Governo em atribuir a exploração de uma mina a céu aberto em Montalegre. A população, reconheceu representatividade na Associação Montalegre com Vida, tendo sido convocada para audição na Comissão parlamentar de Ambiente, Energia e Ordenamento do Ter-ritório, a requerimento do partido Livre. Imediatamente, a comunicação social debruçou-se sobre o assunto. Estamos perante um negócio de viabilidade económica questionável, causando estranheza e com um impacto “gi-gantesco” sobre as vidas da população local. Montalegre é um concelho economicamente “pobre”, isolado geogra-ficamente no norte Geresiano fustigado pela emigração e despovoamento. Todavia, os Barrosões são resilientes e têm neles uma capacidade enorme de luta contra a adversi-dade. A principal atividade é a pastorícia, onde a agricultura praticada, sendo de subsistência, mantém preservados os traços do tempo. Esta agricultura permite obter produtos de qualidade ímpar: a famosa de Vitela Barrosa, a Batata de Semente e o Cabrito da Serra e Fumeiro, entre outros. Uma mina no concelho de Montalegre será catastrófica para a saúde desta população, já fustigada pelo envelhecimento

e isolamento. É inconcebível - em plena Reserva Agrícola Mundial - a existência de escombreiras, poeiras, lavarias, lixivias, lamas e consequentemente águas residuais que se infiltram no subsolo, nas margens da Albufeira do Alto Ra-bagão, (a maior reserva de água doce a norte de Portugal).

Não aceito, nem acredito em Minas “Green”! Todos antecipamos os resultados: contaminação de solos, perda de biodiversidade, contaminação dos lençóis freáti-cos. Falar em rigor ambiental é uma falácia, basta obser-var as amostras retiradas pela prospeção e o seu abando-no e reter que nesse preciso local não cresce uma planta. O concelho de Montalegre integra o Parque Nacional Peneda Gerês onde podemos observar uma das maiores reservas de fauna e flora. Uma mina a céu aberto colocará não só em perigo o património de todos os Montalegrenses mas o património de todos Portugueses. Estaremos a hipotecar o futuro de milhares de espécies em troca de “tão pouco”.

Comungo da necessidade de descarbonizar, mas a ques-tão é: a que custo? O preço a pagar por uma mina de lítio em Montalegre - e possivelmente em todo território nacional - é inaceitável.

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A Câmara municipal de Montalegre escusa-se a comentar o processo pouco transparente em que decorreu esta “ne-gociata”, sempre alegando desconhecimento. Todavia, de acordo com representantes da LusoRecursos, as reuniões com o executivo já ocorriam regularmente, pelo que se con-clui que o presidente oculta a verdade e terá motivos pouco nobres para o fazer. É vergonhosa esta postura de omissão por parte do município para com o povo. Atualmente, alega aguardar o parecer da EIA-Estudo de Impacto Ambiental, estudo que nada me acrescentará quanto aos efeitos noci-vos, tanto mais que o mesmo é assinado pela empresa mi-neradora. Que “Reino Maravilhoso” é esse onde tentam fomentar atividades turísticas baseadas em ecoturismo a par de uma mina de lítio? Como se podem seduzir os emigrantes e lusodescendentes a investir num território literalmente minado? O interesse municipal de uma mina de lítio em Montalegre resume-se a emprego? A nossa vida e das gerações futuras não tem preço e pode ficar comprometida.

O Governo, que alegou estar refém de uma licença de 2012, tem agora a oportunidade única de não ceder aos interesses de privados ou da Comissão Europeia.É imperativo que todos despertem para a iminência de es-tarmos a aceitar o maior atentado Ambiental perpetuado em solo Português. Ao Sr. Secretário de Estado da Energia deixo um apelo: visite Montalegre, oiça o povo e verifique com os seus próprios olhos o dano que está a causar à vida das pessoas.A Saúde das Populações não está à Venda.Não à Mina maldita em Montalegre! As pessoas e a Natureza agradecem.

João CostaDoutorando em Sistemas Sustentáveis de Energia

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

O mês de Agosto será um mês extremamente intenso, marcado pelo peso de obstáculos e faíscas de agressivida-de. Marte, que entrou em Carneiro no final de Junho, irá per-correr este mês, em movimento directo, o arco zodiacal compreendido entre os graus 18 e 27 de Carneiro, fazendo quadraturas crescentes com Júpiter, Plutão e Saturno que estão em Capricórnio. Estas quadraturas de Agosto marcam um pico de uma fase particularmente tensa, desafiadora e conflituosa que se estenderá até ao final do ano com mais dois picos de in-tensidade no princípio de Outubro e no final de Dezembro.Este período parece ser caracterizado por um braço de ferro entre forças de restrição e controlo e forças impul-sivas e febris.

É interessante verificar que as quadraturas referidas re-presentam também uma reactivação das situações que tiveram o seu início em Março, quando Marte transitou em Capricórnio em conjunção com esses mesmos plane-tas. Nessa altura (em Março passado), o que se destacou ao nível colectivo foi explosão de casos de COVID-19 e a declaração da pandemia pela OMS, com todas a conse-quências que conhecemos desde a propagação do medo de contágio, passando pela imposição de novas regras para o funcionamento das organizações e para o controlo da sociedade, até à profunda crise em múltiplos sectores da economia. A grande diferença é que em Março, Marte, o planeta da acção, estava no obediente e disciplinado signo de Capricórnio, o que de alguma forma possibilitou o ali-nhamento dos esforços e acções individuais com as deter-

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Marte em Carneiro e o desafio das quadraturas

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Inês BernardesAstróloga

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minações das autoridades; mas agora, em Agosto (e até Janeiro de 2021), Marte está no impetuoso signo de Carneiro testando a sua capacidade de indepen-dência e auto-afirmação face às forças opressoras e limitativas de Capricórnio.Deste modo, não será de estranhar o despoletar de uma nova onda de casos de infecção, assim como o acentuar de violentos conflitos musculados entre o movimento impulsivo de civis e o abuso de poder das autoridades, mas também a irritação generalizada daqueles que vêm as suas iniciativas individuais e de empreendedorismo bloqueadas pela dureza dos condicionalismos sobre os quais não têm controlo.A tensão estará, portanto, ao rubro, mas qual será o propósito destas quadraturas? E o que podemos fazer ao nível individual para usar o momento da melhor forma?Um dos propósitos parece ser o de testar a nossa ca-pacidade de manter viva a chama da determinação em avançar com as nossas actividades e ambições sem deixar que as forças de bloqueio (crise econó-mica, medos, regras apertadas, etc.) desmotivem ou impeçam. Estas forças que puxam para trás, mais do que um “não”, simbolizam antes, a meu ver, um convite a quebrar hábitos e correntes do passado, inovando a forma como conduzimos a vida, como usamos a nossa energia e como procuramos atingir objectivos. É então imperativo garantires que o que se estás a fazer agora (Marte em Carneiro)…• … parte de uma visão não pessimista, mas realista e que contribui para abrires o caminho para a manifestação de uma visão do que poderá ser um melhor sistema de funcionamento para ti no longo prazo (quadratura com Júpiter em Capricórnio);• … traduz não o impulso de um qualquer desejo momentâneo ou reacção enraivecida, mas o foco e a coragem profunda de um guerreiro que, na linha da frente da sua batalha, abre mão do seu ego e nessa aparente rendição se deixa tomar pelo po-der furioso que lhe vem do espírito, dando o peito às balas e o coração ao mundo com a convicção de que

o seu gesto acelerará a transformação das estrutu-ras em que se insere e que precisam ser renovadas (quadratura com Plutão em Capricórnio);• … corresponde a um esforço sério de li-bertação para venceres os teus próprios medos e inibições, esforço esse moderado pela sabedoria do auto-controlo, em respeito pelo teu senso de res-ponsabilidade para contigo, para com os que te ro-deiam e para com a sociedade (quadratura com Sa-turno em Capricórnio).

O mês de Agosto certamente não será como nave-gar num mar de rosas, esperemos que também não seja como sobreviver num mar de sangue. Manejar ao mais alto nível estas três quadraturas de Marte que requerem visão estratégica, força espiritual e auto-controlo é um desafio complexo. Complexo e importante. Tão importante que em Setembro Mar-te ficará retrógrado prolongando a sua passagem por Carneiro e a duração das quadraturas e assim ensinando-nos (se a isso estivermos abertos) a au-to-superação face às previsíveis frustrações.

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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C O L U N A S D E A U TO RA B U S C A P E L O E Q U I L Í B R I O

Na sociedade em que vivemos, deparamo-nos com uma vida agitada, de stress e pensamos que essa é a nossa for-ma natural de ser. Executamos tarefas e rotinas mecani-camente, sem termos essa consciência - atenção plena.No entanto, tudo isso é um engano. Essa agitação vai pro-vocando mal-estar, sinais de depressão, baixa imunidade levando-nos a contrair doenças e ficarmos vulneráveis fí-sica, mental e emocionalmente.Felizmente, já se vai notando uma busca considerável de formas alternativas em obter cada vez mais equilíbrio, harmonia e felicidade plena!As práticas terapêuticas com as quais nos identificamos e queremos partilhar consigo, são: - Meditação- Mindfulness- Yoga - Alimentação saudável baseada na Medicina Ayurvédica

A prática diária de Mindfulness (Plena Atenção) e Medi-tação favorece o estado de calma e tranquilidade, de aten-ção a nós mesmos, reduz o stress e ansiedade, melhora a capacidade de concentração, incentiva a criatividade, o equilíbrio emocional, contribuindo, assim, para o aumen-to da imunidade geral.Como podemos verificar, apenas temos a ganhar. Aqui dei-xamos registadas algumas dicas de como podemos real-mente, alcançar essa tão desejada Paz Interior: Dica de Meditação • sente-se numa almofada com a coluna reta;• comece a concentrar-se na inspiração e expiração de for-ma consciente;• deixe as mãos livres e relaxadas;• incline o queixo um pouco para baixo e o focalize a sua mente na respiração.• deixe-se estar assim entre 3 a 5 minutos.

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C O L U N A S D E A U TO RA B U S C A P E L O E Q U I L Í B R I O

Também a Yoga aliada a uma alimentação saudável, ajuda bastante a ter um corpo são e uma mente sã.Por vezes, esquecemo-nos que não é suficiente praticar exercício físico. Se não tivermos uma mente equilibrada, calma e focada, os resultados desse esforço não solidificam. Hoje, vemos cada vez mais atletas de alta competição (e não só), a alterarem o seu regime alimentar, incluindo ali-mentos mais saudáveis (ex. vegetariano).Portanto, se trabalharmos a nossa mente através da me-ditação e o nosso corpo através da Yoga de uma forma consciente, conseguimos melhores resultados sem esfor-ço e com mais alegria.Finalmente, e como não podia deixar de ser, no sentido de ajudar a evitar doenças, (sejam elas causadas por vírus ou bactérias), deixamos também uma sugestão, no sentido de fortalecer a imunidade através de alimentação saudável.Um resfriado ou uma gripe são sinal de desequilíbrio, em-bora no ocidente assim não sejam interpretadas, pelo que não lhes damos a devida atenção. Assim, aqui fica mais uma forma de nos equilibrarmos e sermos cada vez mais felizes.

Açafrão (na Índia Cúrcuma) com MelIngredientes:1 colher de chá de Cúrcuma moída¼ de uma chávena de chá de Mel puro2 gotas de óleo essencial de limão (opcional)Modo de preparar:Misture todos os ingredientes, mexa bem e cubra. Guarde a mistura à temperatura ambiente e mexa antes de cada utilização. Para combater a gripe ou resfriado, tome meia colher de chá da mistura várias vezes ao dia. Há mais de dez anos vimos seguindo esta filosofia de vida e temo-la implementada no nosso Espaço de Terapias Na-turais. Também temos vindo a apresentar todos estes conceitos em variadas escolas, ajudando a criar hábitos saudáveis logo desde cedo, junto dos mais jovens, incentivando os professores a colocá-los em prática, tendo em vista uma vida mais plena de todos. “ Uma sociedade mentalmente saudável, proporciona um me-lhor nível de vida para todos os intervenientes, sejam eles fa-miliares ou corporativos”.

Carlos Reis Al Bashi Kahara

[email protected]

Rute MaiaAl Bashi Kahara

[email protected]

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D EAT É À Ú LT I M A G OTA ! – A C R I S E D A Á G U A E M P O R T U G A L

Vitor AfonsoMestre em TIC

[email protected]

A crise da água em Portugal é já um cenário real. É notório o desequilíbrio entre as necessidades e os recursos de água potável disponíveis.Apesar dos valores de precipitação anual serem considerados normais, a sua distribuição é irregular, quer em relação aos meses do ano, quer às várias regiões do país, com claro dé-fice na região Sul (Alentejo e Algar-ve). Portugal é um país vulnerável às alterações climáticas, situação que partilha com outros países do Sul da Europa, em grande parte pela influên-cia dos desertos do Norte de África. Temos assistido a verões mais quen-tes e secos e a períodos de chuva mais curtos que, consequentemente, pro-vocam maiores dificuldades no abas-tecimento de água às populações de-vido ao esgotamento das reservas. As consequências da escassez de água vão desde a desertificação, que abre caminho à destruição acentuada dos ecossistemas, ao aumento de doenças infecciosas e a uma menor produção de alimentos, até eventuais conflitos sociais e políticos, que poderão ser de maior ou menor gravidade. Essa es-cassez tem sido provocada, em grande parte, pela sobreexploração dos recur-sos hídricos, sobretudo pelos elevados consumos das plantações intensivas (olival e outras) e da agricultura e pe-cuária em regime intensivo. Também as alterações climáticas têm contri-buído fortemente para o aumento das temperaturas e da seca.

Importa referir que Portugal está a utilizar mais de 40% da quo-ta de água disponível. Não seria preocupante se este valor não es-tivesse acima da margem de se-gurança para a gestão de secas e dos acréscimos de procura. Mas está! O país poderá entrar em ris-co elevado de severa escassez de água, sobretudo na região sul. É possível reduzir o desperdício de água por ineficiência dos sis-temas e optar por uma utilização mais sustentável, quer ao ní-vel do consumo doméstico, quer agrícola e industrial.

Simples mudanças de hábitos pode-rão resultar numa enorme poupança de recursos! Urge uma mudança de comportamentos assente na redução do consumo de água e na diversifica-ção do seu reaproveitamento, através da instalação de sistemas mais efi-cientes. A reciclagem de águas resi-duais, o aproveitamento das águas das chuvas, a reparação de fugas nas condutas (responsáveis por enormes perdas) e o desenvolvimento de siste-mas de dessalinização, são apenas al-gumas formas de aproveitar e reciclar a água. Portugal ainda está a tempo de reverter ou, pelo menos, minimizar a situação e evitar um cenário idêntico a outros países, onde a escassez de água faz parte do quotidiano de milhões de pessoas. É preciso agir com firmeza e na direcção certa, quer individual, quer colectivamente. Nas nossas casas podemos promover a poupança (ar-mazenar a água das chuvas para regar o jardim, fechar a torneira enquanto escovamos os dentes, não efectuar a pré-lavagem da loiça, entre outras). A nível governamental, o caminho a seguir poderá passar pela redução das áreas destinadas aos eucaliptos e ou-tras culturas intensivas, assim como pelo não investimento em indústrias poluentes e com elevadas necessida-des de consumo de água, como é o caso da exploração mineira a céu aberto de lítio e outros minerais. Caso isso não aconteça, prevê-se que o país possa sofrer de stress hídrico até 2040.

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç AC O N T I N U A N D O O T E X TO A N T E R I O R E M Q U E E X P U S O S C O N C E I TO S D E D I R E I TA E E S Q U E R D A , PA S S O A D E S C R E V E R O C E N T R O . PA R T E I I

Os políticos de centro, encontram políticas/propostas

boas nos dois lados, conciliando as duas ideologias. O que

distingue os do centro-direita e do centro-esquerda é que

- de modo geral e não particularizando Portugal e ainda

que tenham ideais comuns - são as suas prioridades, que

são diferentes, no pressuposto de que há ideias, da direita

e da esquerda que já estão ultrapassadas ideologicamente.

Cada vez mais partidos evitam a catalogação dentro deste

eixo esquerda-direita, pelo que se afirmam como parti-

dos de centro, baseando a sua ação política em propostas

e análises de cada tema de forma individual, sem “esse

chapéu” ideológico.

Assim, os partidos foram subdividindo a esquerda e a di-

reita noutros conceitos mais alargados e os partidos de

centro-direita dizem que defendem a justiça social, para

atingir o bem-estar social, a regulação económica e a dis-

tribuição de renda mais igualitária, numa perspetiva de

desenvolvimento.

Os partidos de centro-esquerda dizem que preconizam o

ideal do “socialismo em liberdade”

Fora deste eixo identitário e ideológico, após a revolução

americana, verificou-se o surgimento de uma corrente

denominada de “Liberalismo” que se traduz numa nova

filosofia política que, denuncia os totalitarismos, defen-

dendo um regime de democracia representativa e plura-

lista. Cada homem tem um direito natural à vida, liber-

dade e propriedade, acrescentando que os governos não

devem violar esses direitos com base no contrato social.

Este caminho liberal assentou em três eixos: o liberalismo

económico, o liberalismo político e o liberalismo social.

A maior diversidade de funcionamento da democracia fez

emergir, igualmente, partidos conotados à extrema-di-

reita e extrema-esquerda, com uma orientação mais to-

talitarista e intervencionista, sendo que a oposição destes

polos radicais vão-se “alimentando e anulando” de forma

sistemática. Estes movimentos defendem um Estado mais

centralizado e interventivo em todas as áreas económicas

e socias, preterindo a iniciativa privada e a liberdade in-

dividual. O crescimento de um destes polos de apoio gera,

geralmente, a emergência de um polo igualmente for-

te no lado oposto, como sinal de repulsa e agregador de

uma parte do eleitorado insatisfeito com os partidos mais

moderados e de centro, incapazes de encontrar respostas

para os seus os seus problemas diários. Então, tudo co-

meça a fervilhar na sociedade, na qual todos os assuntos

são motivo para separar as pessoas, como se os políticos

fossem os nossos salvadores.

O que devia unir quase todos os partidos políticos? A de-

mocracia, que é a base de quase todas as ideologias políti-

cas, e os preceitos da liberdade (de expressão, de opinião,

de mobilidade, entre todas as outras) e da Igualdade pe-

rante a Lei, igualdade de oportunidades, entre outras.

Concluo dizendo que me parece ser de extrema importân-

cia a literacia política de todos os cidadãos, começando

nas mais tenras idades, sendo este caminho ainda longe

de estar atingido. Deixo um desafio: coloca os partidos

portugueses no que aqui foi descrito.

Parece-te um exercício difícil?

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OC A S A L D E PA L Á C I O S – T U R I S M O D E H A B I TA Ç Ã O

A Casa Grande de Palácios, como é conhecida, foi edificada

entre 1875 e 1882 por iniciativa de Manuel António Ferrei-

ra e sua mulher Ana Maria Barreira, bisavôs do atual pro-

motor Rui Ferreira Rodrigues.

Foi durante muito tempo a referência da região, recebendo

visitas de amigos e desconhecidos que a admiraram, fre-

quentaram e deram a conhecer. Para tal muito contribuiu

o caráter dos diferentes membros da família e o reconhe-

cimento de toda uma comunidade pelo trabalho dedicado

das professoras que durante anos fizeram da sua casa a

escola até à data da construção da escola primária de S. Ju-

lião, já nos anos quarenta, e incutiram com sucesso nestas

aldeias a importância de todas as crianças frequentarem a

escola, quando nessa data apenas algumas meninas o fa-

ziam, pois os rapazes desde cedo auxiliavam os pais na la-

voura. Também, o elevado grau de erudição da tia poetisa

Maria Ermelinda Ferreira com significativos contributos

nas publicações regionais da época e várias obras edita-

das foi cultivando afinidades intelectuais com diferentes

ilustres figuras da cultura transmontana e uma cumpli-

cidade amiga com o Abade de Baçal que se tornaria visita

frequente da casa. Mais tarde, essa dinâmica teve conti-

nuidade por ação do seu sobrinho Manuel Ferreira, que

foi proporcionando, graças ao seu entusiasmo pela caça,

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OC A S A L D E PA L Á C I O S – T U R I S M O D E H A B I TA Ç Ã O

pesca e principalmente pela arte, que a casa fosse cenário

de encontros e estadias de figuras tão importantes como

Miguel Torga, Viana de Lima, Lúcio Costa ou António

Quadros. No final dos anos setenta e meados de oitenta, os

realizadores António Reis e Margarida Martins Cordeiro,

selecionariam a casa grande de Palácios para ali rodarem

duas longas-metragens “Trás-os-Montes” e “Ana”. Tam-

bém foi protagonista em vários programas televisivos e a

sua imagem e referência tem sido frequente em diferentes

publicações.

A imagem da envolvente da aldeia de Palácios é carateri-

zada pela mescla de áreas de cultivo e matas de carvalhos,

freixos, negrilhos e castanheiros. É pautada pela presença

dos cerca de vinte pombais e outras estruturas e edifícios

de relevante valor histórico e arquitetónico, com um peso

muito representativo na cultura da região. Haveria em Pa-

lácios, segundo o dizer dos idosos, grandes construções

em madeira, das quais infelizmente já nada resta. Além

dos referidos pombais, as capelas votivas, as fontes de

mergulho, os lagares, os cabanais, os palheiros, os currais

e o conjunto unitário das formas irregulares que estrutu-

ram as habitações que caraterizam as aldeias. Este enqua-

dramento abrange todo o vale e encostas desdobrando-se

em outeiros marcados pelos ribeiros da bacia do Sabor,

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desde Caravela até à Réfega, com alguns castros celtas a en-

cimar os montes, como o de Castragosa, Carrascal, Outeiro e

Castrelicos.

Contudo, o maior fator de distinção está na memória da co-

munidade e de toda a região, por ter sido cenário de um dos

mais representativos episódios da história do país. Em 26 de

Março de 1387, foi neste lugar assinado o tratado de Babe, en-

tre D. João I de Portugal e João de Gaunt, Duque de Lencastre,

filho de Eduardo rei de Inglaterra, que defendia para si o tí-

tulo de rei de Castela, em que este desiste a favor de D. João I

de todo e qualquer direito que tivesse ou pudesse vir a ter, à

coroa portuguesa. Este tratado de enorme importância dado

o suceder de conturbados episódios que caraterizaram o iní-

cio da dinastia de Aviz, envolveu o casamento do rei de Por-

tugal com D. Filipa de Lencastre e o ajuste do casamento da

outra filha do Duque inglês com o filho do rei de Castela. Este

importante episódio significou a ocupação temporária das

terras da Lombada, pelos respetivos e numerosos exércitos,

assim como pelas mais importantes figuras e acompanhan-

tes dos reinos envolvidos. Foi neste lugar e nesta data que D.

Filipa de Lencastre se despediu de seu pai e se ultimaram os

preparativos de uma invasão conjunta a Castela que termi-

naria sem glória umas semanas depois em Cidade Rodrigo.

No local onde se instalou D. João I e os cinco mil Lanceiros

comandados por Nuno Álvares, surgiria uma aldeia que ficou

a denominar-se Palácios.

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Após as obras de requalificação e adaptação na Casa

Grande de Palácios, surge o Casal de Palácios – Tu-

rismo de Habitação, um projeto inovador e dinami-

zado pelo atual proprietário, Rui Ferreira Rodrigues,

natural de Bragança.

O Casal de Palácios é um Turismo de Habitação que

disponibiliza cinco quartos duplos Deluxe com va-

randa, um quarto Triplo com varanda e quatro quar-

tos Familiares (mezzanine) com varanda. Como

espaços comuns disponibiliza sala de jogos, sala de

televisão, bar, sala de refeições, cozinha com lareira

e ainda amplos espaços exteriores. Está localizado

em pleno Parque Natural de Montesinho, na aldeia

de Palácios. É favorecido pela proximidade à Pue-

bla de Sanabria, aldeia comunitária de Rio de Onor e

da aldeia de Montesinho. Dista de 15 km à cidade de

Bragança e 10 km do Aeródromo. Neste local podem

desfrutar de um acolhimento personalizado, com

disponibilidade de vários tipos de programas, entre

os quais destacamos, Provas de Azeites e de Vinhos,

Encontros Micológicos e Percursos Pedestres.

O Casal de Palácios promove os Caminhos de Santia-

go difundidos na cultura europeia. A Via da Prata en-

tra no concelho de Bragança por Quintanilha, a porta

Xacobea mais antiga de Portugal, passando por di-

versas aldeias do concelho, entre as quais a aldeia de

Palácios e pelo interior da cidadela de Bragança.

Este espaço permite usufruir de um ambiente aco-

lhedor, confortável e tranquilo e da envolvência da

Natureza.

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A instalação da Força Aérea dos Estados Unidos conhecida

geralmente, como a Área 51, é um destacamento remoto da

Base Aérea de Edwards, dentro da Área de Teste e Treino de

Nevada. Aqui, localizam-se duas cidades — Rachel e Hiko,

nas quais vivem pouco mais de 170 habitantes.

Situa-se a 1360 metros de altitude e pertence ao Departa-

mento de Defesa dos Estados Unidos.

Esta base militar remota não aceita visitas de curiosos. Se

os turistas tentarem entrar, serão intersetados pelas auto-

ridades. São várias as teorias da conspiração que afirmam

que esta instalação da Força Aérea dos Estados Unidos ser-

ve para examinar e armazenar naves espaciais alienígenas.

Existem também alguns filmes sobre esta famosa Área.

No ano de 2019, em setembro, numa sexta-feira, foi pro-

movido no Facebook um evento, no sentido de se invadir

a Área 51, a Base ultra-secreta. O evento online teve a ade-

são de meio milhão de pessoas, crentes de que os extra-

terrestres existem e ávidos por salvar esses seres que, su-

postamente são retidos nesta Área. Cerca de 100 pessoas,

munidas de cartazes chegaram a rodear a Área 51, que gos-

tariam de visitar, no sentido de desvendar o suposto cati-

veiro de seres de outros mundos, que visitaram a cidade

de Roswell em 1947, exporem os supostos cenários falsos

de simulação da chegada à lua, encontrarem o cantor Elvis

Presley e os supostos testes que fazem a máquina de tele-

transporte.

Na sequência do sucedido, A Força Aérea americana apelou

à população de que seria mais prudente manter-se longe

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Á R E A 5 1

daquela base norte-americana e de acordo com a Associa-

ted Press o encontro foi pacífico, tendo sido detidas apenas

duas pessoas. Laura McAndrews, porta-voz da Força Aé-

rea, emitiu um comunicado: “É um campo de treino aberto

para a Força Aérea dos EUA e desencorajamos qualquer um a

tentar entrar na área onde treinamos as forças armadas ame-

ricanas. A Força Aérea dos EUA está sempre pronta para pro-

teger a América e os seus ativos”.

«Salvem os extraterrestres do Governo», lê-se num dos

cartazes levados pelos invasores, fazendo lembrar a pro-

teção ao ET, no filme com o mesmo nome, de Spliberg.

Durante o evento, algumas pessoas já começaram a par-

tilharam fotografias nas redes sociais. O xerife Kerry Lee

comunicou à Associated Press que mais de 150 pessoas fi-

zeram uma viagem de vários quilómetros por caminhos de

terra para chegar aos portões da Área 51. Kerry, chegou a

dar uma conferência de imprensa nessa sexta-feira.

Afirmou que, mesmo não esperando muita gente, basta-

riam 500 ou 1000 visitantes para criar problemas de trá-

fego e estacionamento, numa jurisdição de apenas 5200

residentes permanentes.

“Penso que isso começou como uma piada, mas pode haver

pessoas suficientes a levar isso a sério e pode ser um proble-

ma”, explicou. “Alguém se vai magoar e as pessoas podem ir

para a cadeia. Não é brincadeira.”

Já houve uma intrusão mortal.

Em janeiro de 2019, um homem, sem identificação, foi

assassinado ao dirigir-se ao local, tentando penetrar pela

Área de Testes de Nevada (NSSS), que faz fronteira com a

Área 51. O intruso foi perseguido durante vários quiló-

metros. Depois de passar o portão de segurança antes de

parar, sair do carro e se aproximar dos oficiais com um

“objeto cilíndrico” na mão, de acordo com comunicado de

imprensa da NNSS, foi abatido. Não tendo respondido aos

comandos para parar, foi morto a tiro no local.

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A procura por formas de vida alienígenas é defendida por

muitos cientistas. Existe, também, um crescente interesse

sobre a existência de extraterrestres no nosso planeta, não

apenas da parte de cientistas ou de pessoas comuns, mas

também de políticos como Donald Trump, que supostamen-

te, conta com os extraterrestres para o planeta ser limpo

da criminalidade que o governou nos últimos séculos e que

promoveu todas as guerras, a destruição, a fome, a miséria, a

corrupção e a imoralidade no mundo e assim, transformar o

mundo, tornando-o mais limpo de corrupção e maldade.

Existe ainda quem creia que os alienígenas presos na terra,

sofreram um desvio de rota e não chegaram ao seu destino e

acreditem que a Área 51 é apenas mais uma dessas áreas.

Por outro lado, há também, quem afirme que o Presidente

Harry S. Truman teria realizado, em 1950, um Protocolo com

alienígenas de Zeta Reticulli que teriam fornecido tecnologia

aos EUA em troca da utilização do ADN humano para a reali-

zação de engenharia genética na sua espécie.

A «Aliança da Terra», uma suposta bendita união de exérci-

tos dos EUA, Israel, Grã-Bretranha, Rússia, Índia e mais 20

países, com extraterrestres da Confederação Galáctica esta-

rá - dizem os defensores da Aliança - a apoiar o Presidente

Trump, na tarefa de eliminar a elite criminosa sequestradora

do planeta, que tem governado o Mundo durante os últimos

séculos, de destruir centenas de bunckers, túneis e bases

subterrâneas (onde se desenvolviam atividades criminosas),

a libertar milhares de crianças vitimas de tráfico humano, de

escravatura e de abusos sexuais, e a realizar milhares de pri-

sões de satanistas, de pedófilos e de traidores dos EUA.

Estranho é que, sem qualquer justificação plausível, durante

a pandemia, devido a um suposto vírus, todos os Observató-

rios Astronómicos foram encerrados.

Garantem os defensores da Aliança que os Observatórios fo-

ram encerrados para que as atividades e as manobras das na-

ves da Confederação não fossem registadas.

Defendem que essa ajuda foi colocada ao serviço de Trump no

sentido de acabar com os abusos da grande finança mundial e

das suas filantrópicas fundações - através das quais trafica-

vam drogas, armas, divisas, seres humanos para prostituição

e crianças para rituais satânicos.

Ellen Degeneres será uma das muitas centenas de pessoas

envolvidas em crimes com menores, que se viu insultada na

sua rede social Twitter e que supostamente, estará presa em

casa. No sentido de dar coerência a essas teorias, apontam-

se factos como o de Trump ter assumido o controlo da Reserva

Federal, ter cortado o financiamento da Organização Mundial

da Saúde (OMS) e exigir uma investigação sobre as suas ope-

rações; ter tornado as vacinas do coronavírus, voluntárias

e não compulsivas; ter decretado que fossem os militares a

verificar a pureza e a distribuição das vacinas; ter cancelado

o Projecto de Lei Democrata HR 6666, conhecido como Co-

vid-19 TRACE Act, que foi a base do projeto de diagnóstico e

rastreamento de Bill Gates, que também foi cancelado; ter

cancelado o projeto de Bill Gates conhecido como ID2020; ter

executado a ordem para que a Casa Branca assuma todas as

redes elétricas que incluem Servidores de Internet, sistemas

de transmissão e sistemas eletrónicos, entre outras medidas

que os defensores pensam estar na base de apoio da «Alian-

ça», em contraponto aos Ilumnati.

Por outro lado, sabe-se que Trump investiu mais de 500

milhões de dólares em obras de ampliação de Guantânamo

e, fontes ligadas à Aliança, têm divulgado várias listas com

A outra face da moeda

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Á R E A 5 1

nomes de políticos, jornalistas e artistas que já foram ale-

gadamente presos ou executados.

Consta também que, devido à sobrelotação de Guantâna-

mo, já estariam a ser colocados presos no Alaska.

Há ainda informação acerca da existência de bases e labo-

ratórios alienígenas onde eram realizados clones de várias

personalidades tais como reis, rainhas, chefes de estado

e artistas, que permitiriam não só chantageá-los, como

substituí-los em caso de doença, morte, ou de execução.

Consta que alguns políticos dos EUA, apesar de já terem

sido executados, estariam também nessa situação, e os

seus clones continuariam a aparecer publicamente inclu-

sivamente, candidatando-se à Casa Branca.

Ainda segundo os defensores da Aliança, a pandemia teria

sido deliberadamente provocada pela elite financeira para

arruinar a Economia Mundial e facilmente impor uma

Nova Ordem Mundial, já há muito arquitetada; no entanto

esta Força militar conjunta terá realizado um contra-gol-

pe no qual se incluiu a Operação Defender Europe 2020 du-

rante a qual o Vaticano terá sido invadido, o Papa e todos

os cardeais terão sido presos, e as mais de 60 toneladas de

ouro que estavam na posse do Vaticano terão sido transfe-

ridas para o Fort Knox nos EUA.

Quem o afirma apresenta como prova desta ação militar

de resgate do ouro do Vaticano, os 650 voos que entre as

11h00 e as 13h00 de dia 29 de Março saíram dos aeroportos

de Roma em direção aos EUA.

O tema é vasto e invade muitas discussões nas redes so-

ciais e na imprensa não tradicional. Se despertou em si

curiosidade, investigue!

Fontes: GeneDecode; Grupos Q-Anon; ConnectQ; B2T; Liu Suria.

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

A sociedade bipolarizou-se e muitos entendem que voltamos a uma época de causas. Eu discordo: opiniões e esti-los de vida não são causas. As posições de cada um são extremadas e os níveis de intransigência com os outros são crescentes. Não aprendemos nada com a História e voltamos a uma época em que somos incapazes de fazer como os ingleses nos ensinaram: to put your-self in someone else’s shoes. Os Antigos já não são lidos (afinal de contas, não

têm páginas nas redes sociais) e a fi-losofia parece uma disciplina distante, própria para velhos. Talvez por isso as causas se confundam com doutrina. E a dicotomia entre Esquerda e Direita, também. A Esquerda tomou conta de umas causas. A Direita tomou conta de outras. E bandos de pessoas espalhados um pouco por todo o mundo, seguindo a “Esquerda” ou a “Direita”, trans-formaram-se em oviários de carnei-ros com rótulos, embalados (às vezes a

vácuo) e, claro, com prazos de validade (felizmente) curtos. A democracia ateniense excluía escra-vos, mulheres e estrangeiros. A demo-cracia de hoje é controlada por partidos e por famílias que excluem a maioria. Pouco mudou. O método de fiscaliza-ção da informação veiculada foi subs-tituído pelo método da disseminação descontrolada e manipulada. Ainda pior do que vedar informação que deve ser pública é promover contrainfor-

O combate de ideias e o monopensamento vínico

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

mação em doses impossíveis de pro-cessar. Numa democracia aparente, as pessoas sabem, no fundo, tão pouco como antigamente sobre o que se pas-sa nos corredores de decisão. Em 1992, Fukuyama escreveu “O Fim da História e o Último Homem”. Nele defendeu que a generalização das democracias liberais – garante da liberdade dos homens e da prosperidade dos povos – representa-va o derradeiro regime e, com isso, uma paz duradoura passível de se revelar o final da História. Quase 30 anos depois, podemos perceber que a democracia não está garantida em nenhuma parte do mundo e que os princípios de Direi-to Natural foram rapidamente substi-tuídos pelas causas minoritárias, por posições extremistas, defendidas de forma intransigente e quase bélica. O sonho de Fukuyama, que era o sonho de quase todos os que tiveram o privilégio de viver décadas de paz social, pare-ce ter chegado ao fim. Como no mun-do das pessoas, o planeta dos vinhos é dominado por uma dicotomia entre carneiros (todos iguais) e extremados (demasiado diferentes). A metáfora pode ser interessante. Até porque cada produtor entende quase

sempre que o seu pensamento vitiviní-cola – e a sua produção – são incom-paravelmente melhores do que a dos outros.Os grandes clássicos, como Aristóteles e Platão, não seriam gregos. Quando falamos de vinhos, os franceses são referenciais um pouco por todo o mun-do. Não puderam exportar o seu terroir, mas souberam beneficiar das imitações de que foram vítimas, quer pela ado-ção das suas castas quer pelos méto-dos enológicos. Solidificaram-se como grande referencial, independentemen-te das evoluções (algumas notáveis) que por todo o mundo se foi fazendo a partir do seu pensamento na viticultura e na enologia.A democracia cristã de Alcide De Gas-peri e de Adenauer ou a terceira via de Anthony Giddens (célebre em manda-tos como os de Tony Blair, Bill Clinton ou, em terras lusas, António Guterres) sugerem uma síntese entre a doutrina económica liberal e as posições sociais socialistas. Poderiam ser representa-das pelos vinhos californianos – que adoptaram técnicas clássicas num ter-roir diferente das características pecu-liares que enformaram a origem dessas

mesmas técnicas. Marx seria seguramente um defensor do vinho de baixo preço, em embala-gens tetra pack. Na sua filosofia, o mé-rito nunca foi muito valorizado e o fac-to de ser acessível a todos eleva-o como um representante notável de alguns dos preceitos que preconizava.O liberalismo de Locke e de Adam Smith pressupõe uma intervenção mínima do ponto de vista enológico, com a natu-reza a comandar os destinos. Os vinhos naturais, pouco intervencionados pelo homem, podem ser uma imagem fan-tástica para os liberais.Os extremistas, de Esquerda e de Di-reita, patronos de causas minoritárias que pretendem impor a todos, seriam os vinhos orgânicos ou vegan. Mui-tos dos aficionados destes tipos de vi-nho são intransigentes na sua defesa, opondo-se à existência de quaisquer outros – como se a vida monocromá-tica pudesse salvar o planeta ou fosse, de alguma forma, mais decente do que a vida a cores.Assim, já sabe: cuidado com o vinho que pede. Pode ser sintomático do seu pensamento, despindo-o bem no meio de qualquer bar ou restaurante.

Pedro GuerreiroGestor

[email protected]

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Para alcançarmos esse objetivo, a formação é importan-

te, mas muito mais é a educação e a atitude que trazemos

de berço. Qualquer escola profissional em Portugal, forma

bons alunos.Temos várias dessiminadas por todo o país.

A partir das escolas é mais fácil entrar no mercado de tra-

balho, mas tudo depende também dos estágios e dos espa-

ços que escolhemos, sejam hotéis ou restaurantes.

É sempre importante estagiar, se possivel com chefs de re-

nome, mas depende muita da nossa disponibilidade e do

espírito de sacrifício. O estágio é importante se for no mí-

nimo de 5 a 6 semanas. No entanto, apenas o estágio não

ajuda a nível de currículo, pelo que convém trabalharmos

no mínimo 1 ano em cada local diferenciado, demonstran-

do alguma consistência e lealdade a quem nos acolhe, per-

mitindo a estabilidade que uma atividade destas merece

e necessita. Para nos conseguirmos diferenciar, é sempre

bom ser pela atitude e pelo empenho. Se a nossa motiva-

ção for notória já é um grande passo. Podemos sempre

Como chegar a Chef premiado

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 61

mantermo-nos com o mesmo Chef, mas para crescermos

é aconselhável colaborar com Chefs diferentes, aprovei-

tando o melhor de cada um.

Também não nos podemos esquecer que cozinhar é um

ato de amor, de servir os outros e, por isso, é também uma

arte. E a técnica vai ser beber à Arte. No ínício de qualquer

técnica existiu sempre um artista, que , com amor criou

uma obra.

O meu objetivo nunca foi, não é, ou será a fama.

Quando comecei no mundo da gastronomia e hotelaria,

mal sabia o que se podia alcancar e até onde se poderia

chegar.

Mas, nesta área profissional nem tudo é um conto de fa-

das. Para chegar e especialmente, nos mantermos no topo

é necessário muito trabalho, espírito de sacrifício, dedi-

cação e humildade.

É imperativo aprender com os erros, assim como saber

ouvir e essencialmente, acreditar em nós mesmos, ter

confiança e paciência. Se juntarmos a ambição a tudo

isto, temos uma receita quase perfeita para chegarmos ao

topo, como Chef premiado.

Digo, quase perfeita, porque um elemento essencial é ter-

mos connosco uma equipa super motivada e com ambi-

ções semelhantes.

Também, é importante, pelo nosso percurso, trabalhar ou

seguir os melhores Chefs e profissionais do ramo.

Resumindo, é preciso ser-se presistente, ter os pés as-

sentes no chão e seguir sempre em frente. Desistir, nunca!

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Tiago SabarigoChef

[email protected]

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P O RT U G U Ê S . O B S E RVAC O M O C R I A R PA L A V R A S N O V A S ?

Que mecanismos da língua permitem aos falantes criar palavras? Para começar, a imaginação, claro está – embo-ra seja necessário dizer que a nossa imaginação não che-ga. Uma palavra pode fazer muito sentido a quem a usou pela primeira vez e perder-se para sempre, sem que mais falantes a adoptem como sua. A língua está continuamente a enriquecer-se com novos vocábulos – mas para que fi-quem é preciso que os falantes os usem. Há materiais la-tinos e gregos que se mantêm ao dispor para a criação de neologismos. Depois, temos os estrangeirismos, ou seja, a importação de palavras de outras línguas – um mecanismo que existe em todos os idiomas e que é constante, varian-do as línguas habituais de importação. Temos palavras com origens muito díspares, embora três línguas se destaquem, por terem sido, sucessivamente, as línguas estrangeiras com mais prestígio em Portugal: o castelhano, o francês e o inglês.Seja como for, com base nos materiais já existentes, a lín-gua tem processos de formação de palavras. Temos, logo à partida, a flexão: permite transformar, por exemplo, «co-mer» em «comerei». Depois, temos a derivação afixal, ou seja, a criação de novas palavras pela junção de afixos. Começamos pela derivação afixal por prefixação, que nos deixa transformar «francês» em «antifrancês» – só para dar um exemplo. A derivação afixal por sufixação acontece, por exemplo, quando passamos de «teatro» para «teatral» ou de «tea-tral» para «teatralmente». Esta transformação pode levar a palavra de uma classe para outra («página» > «paginar») ou criar uma nova palavra dentro da mesma classe («dor-mir» > «dormitar»).Já a derivação afixal parassintética dá-se quando juntamos um prefixo e um sufixo e passamos de «doido» para «en-doidecer». Temos derivação afixal se não usarmos nenhum prefixo ou sufixo – se, na verdade, retiramos sons à pala-vra. Assim, de «estudar» passamos para «estudo». A derivação não-afixal transforma verbos em nomes através da remoção dos elementos típicos dos verbos. As-sim, passamos de «debater» para «debate» ou de «ata-

car» para «ataque». A derivação por conversão acontece quando passamos uma palavra de uma categoria para outra sem lhe mudar a for-ma: do verbo «saber» passamos para o substantivo «sa-ber» em «o saber não ocupa lugar».A passagem de palavras de uma classe para outra é mui-to comum em certos casos. Os adjectivos, por exemplo, frequentemente passam a ocupar o lugar do nome. Aliás, há uma imensidão de palavras que servem tanto de nome como de adjectivo: «o vermelho», «o português», «o tími-do», entre tantas, tantas outras.Note-se que uma palavra pode percorrer vários caminhos, criando outras de significado semelhante, mas com subtis diferenças de conotação e uso. A partir de «belo», um ad-jectivo, criámos dois nomes: «beleza» (por derivação afi-xal) e «belo» (por conversão).Já a composição permite criar palavras através da junção de mais palavras. Por exemplo, «saia-casaco», «fim-de-se-mana», «guarda-redes».Temos, depois, outros processos um pouco menos sis-temáticos de alargamento do léxico da língua. Há vários exemplos: palavras que se tornam outras por extensão se-mântica («rato» – do computador); amálgamas de partes de outras palavras («informática»); siglas («EUA»); acró-nimos («ONU»); onomatopeias («tchim-tchim»); trunca-ção («mota»). A extensão semântica é particularmente interessante. Te-mos casos em que a língua assume uma metáfora ou uma metonímia para dar um novo significado a uma palavra. Assim, como o mercúrio subia no termómetro, a tempera-tura também passou a subir, apesar de não haver qualquer deslocação em altura… Por outro lado, como os antigos autoclismos implicavam puxar a corrente, ainda hoje dizemos «puxar o autoclis-mo», mesmo que, na verdade, estejamos a carregar num botão. Esta construção é, no fundo, um fóssil linguístico…Com alguma imaginação, os sons da língua permitem criar palavras infinitas – e as regras sintáticas permitem criar frases infinitas.

Marco Neves Universidade Nova de Lisboa

in Almanaque da Língua Portuguesa

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L E G A LC A S A M E N TO S E N T R E J U R I S D I Ç Õ E S , A O S O L H O S D A L E I P O R T U G U E S A

Ao casamento celebrado em Portugal entre ou com cida-dãos estrangeiros aplicam-se as mesmas regras que se aplicam a um casamento celebrado entre dois portugueses. A única particularidade reside no facto do nubente estran-geiro dever fazer prova de que tem capacidade para con-trair casamento através da apresentação de um certifica-do de capacidade matrimonial, emitido pelas autoridades competentes do seu país de origem. Para além deste cer-tificado deverá ser apresentada, também, uma certidão de nascimento. Ambos os documentos deverão ser emitidos há menos de 6 meses, contados da data da submissão do processo de casamento junto da Conservatória do Registo Civil, e estar devidamente legalizados pela entidade com-petente do país onde são emitidos os documentos, através de Apostila, caso se trate de país signatário da Convenção de Haia a este respeito, ou pelo Consulado de Portugal.Como documento de identificação deve ser apresentado, pelo nubente estrangeiro, o título ou autorização de resi-dência e o passaporte ou documento equivalente.Note-se que os documentos mencionados, quando escritos em língua estrangeira devem ser acompanhados de tra-dução certificada, salvo se estiverem redigidos em língua inglesa, francesa ou espanhola e o funcionário competente dominar essa língua, o que nem sempre se verifica e poderá atrasar o processo se essa mesma tradução vier a ser exigi-da posteriormente à submissão do processo.A propósito do processo de casamento, o mesmo inicia-se através da declaração da vontade de casar, expressa pelos nubentes, ou procurador que os represente, numa Conser-vatória do Registo Civil. Nessa declaração, deverá ser indi-cada a modalidade do casamento, o local onde se pretende casar, o regime de bens, e o dia e hora do casamento, devida

e previamente acordados com o conservador.No que ao regime de bens diz respeito, se ambos os nuben-tes (ou apenas um deles) forem de nacionalidade portu-guesa a lei prevê os seguintes regimes tipo de bens:Comunhão de adquiridos: este é o regime supletivo de bens em Portugal, isto é, aplica-se este regime caso os nubentes não celebrem convenção antenupcial. No mesmo distin-gue-se entre os bens próprios e comuns do casal. Simpli-ficando, são bens comuns os adquiridos após o casamento, sendo que os anteriores são bens próprios. Excecionam-se da comunhão, contudo, os adquiridos a título gratuito, o auferido com a venda de bens próprios, e o produto do tra-balho; Comunhão geral: este regime, vedado no caso de qualquer dos nubentes ter filhos de outras relações, todos os bens, anteriores ao casamento ou adquiridos depois deste, mes-mo que a título gratuito, são considerados comuns; Separação: neste regime, obrigatório nos casos em que um dos nubentes tem idade igual ou superior a 60 anos, cada um dos cônjuges tem poder absoluto sobre os seus bens, independentemente do casamento; Ou ainda outro que os nubentes convencionem, dentro dos limites da lei.O conteúdo e os efeitos das convenções antenupciais e do regime de bens, seja ele legal ou convencional, são defi-nidos pela lei da nacionalidade dos nubentes ao tempo da celebração do casamento. Caso os nubentes tenham nacio-nalidades diferentes, os nubentes podem determinar qual a lei aplicável em matéria do seu regime de bens:• País de residência de ambos os nubentes;• País de nacionalidade de um dos nubentes;• País onde foi celebrado o casamento.

Raquel BritoAbreu Advogados

[email protected]

Maria Alexandra JardimAbreu Advogados

[email protected]

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 65

D I R E I TO F I S C A LO N O V O “A D I C I O N A L D E S O L I D A R I E D A D E ”

S O B R E O S E TO R B A N C Á R I O

No passado dia 17 de Junho foi apro-vada, na generalidade, pela Assem-bleia da República, a Proposta de Lei 33/XIV (dito Orçamento “Suple-mentar”), no âmbito da qual se pre-vê a criação de um novo “adicional de solidariedade” sobre o setor ban-cário, cuja receita o Governo estimou em 33 milhões de euros.A criação deste “adicional de solida-riedade” tem por objetivo confesso o de reforçar os mecanismos de finan-ciamento do sistema de segurança social, prevendo-se uma integral consignação da receita respetiva ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. O tributo irá, alegadamente, servir de forma de compensação pela isenção de IVA aplicável à generalidade dos servi-ços e operações financeiras, aproxi-mando a carga fiscal suportada pelo sector financeiro à que onera os de-mais sectores.Em rigor, os adicionais configuram tributos acessórios de outros, desig-

nados de principais, sendo o mon-tante do tributo determinado pela aplicação de uma nova taxa sobre a coleta do principal, previamente de-terminada. Ora, o novo “adicional de solidariedade” é, antes de mais, um novo imposto, acessório da já existente Contribuição sobre o Sec-tor Bancário e, na verdade, mais um adicionamento do que mero adicio-nal, porque incide, com novas taxas sobre a respetiva matéria coletável.Por outro lado, o pretexto do “adi-cional de solidariedade” ser criado para suportar os custos (gerais) da resposta pública à atual crise pan-démica parece insuficiente para ul-trapassar a discriminação resultante

de o novo imposto incidir, exclusi-vamente, sobre o sector bancário, tal como é inaceitável a justificação de o novo adicional consubstanciar uma qualquer forma de compensa-ção pela isenção de IVA acima refe-rida, quando esta é objetiva (e não subjetiva), obrigatória (não facul-tativa), decorre de diretiva comuni-tária e abrange muitas outras enti-dades e operações que não ficarão sujeitas ao novo imposto. Por outro lado, a base de incidência do impos-to devido, ainda, em 2020 e sobre os passivos do primeiro semestre do ano terá base retroativa, algo que a Constituição não permite.Em face do exposto, melhor teria sido, ao Governo insistir nas razões excecionais e transitórias que justi-ficarão a criação deste novo impos-to, atribuindo carácter extraordiná-rio e temporário ao novo “adicional de solidariedade” e que certamente gerará controvérsia e contencioso tributário internacional.

Rogério M. Fernandes FerreiraRogério Fernandes Ferreira & Associados

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O R A , O N O V O “ A D I C I O N A L D E S O L I D A R I E D A D E ” É , A N T E S D E M A I S ,

U M N O V O I M P O S T O , A C E S S Ó R I O D A J Á E X I S T E N T E C O N T R I B U I Ç Ã O

S O B R E O S E C T O R B A N C Á R I O

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I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I SE R R O

Ao longo da nossa vida, devemos sempre estar preparados para reagir prontamente, quando num determi-nado momento, a vida nos propícia a oportunidade de fazer ou aproveitar algo de uma determinada situação. Isto também se aplica aos negócios. Muitas vezes, estas oportunidades que se apresentam podem determinar significativamente o sucesso ou insu-cesso do mesmo.A identificação de um erro numa or-ganização pode ser um tesouro para a mesma.Recentemente, a revista Nature Com-munications concluiu que errar é nor-mal e faz parte da aprendizagem. O artigo contou com a participação de cientistas do Centro Champalimaud (Portugal), da Faculdade de Medi-cina de Harvard (Estados Unidos) e na Universidade de Genebra (Suíça), sendo a conclusão principal do es-tudo que “errar é a oportunidade para aprender algo novo”.O erro é portando, uma oportunida-de, uma oportunidade de crescimento para a pessoa envolvida e para a orga-nização repensar os seus processos.Se a organização aproveitar o erro para o tornar como fonte de apren-dizagem, valorizando-o positiva-mente, poderá incentivar o gosto do colaborador em aprender e em fazer melhor o seu trabalho.

O erro pode ser um fator de mudança numa organização, se usado para in-centivar o conhecimento e o desenvol-vimento de novas práticas e processos.Quando o colaborador analisa porque errou, e se a organização se envolve nesse processo, todos os envolvidos acabarão este processo com um maior conhecimento.Se a organização assentar a sua for-mação interna nos erros que ocorre-ram, poderá desenvolver uma forma-ção de grande proveito para os seus colaboradores. Talvez não seja por acaso, que a Har-vard Businees School usa o método do caso desde há muito tempo.O grande desafio tanto para os cola-boradores como para a organização, é descobrir como lidar positivamente com o erro, para evitar que este provo-que frustrações, desmotivação e apa-tia, pois, o que se procura é o prazer do conhecimento, o crescimento da pessoa e da organização, o gosto em se

superar. Penso que todos nós já passamos pela experiência de, na tentativa de acer-tar, errar várias vezes primeiro para depois então acertar, e se calhar, não acertaríamos se não tivéssemos erra-do antes…A organização deve evitar que a reação ao erro se resuma à sua correção. Deve procurar que este desencadeie uma oportunidade informativa e formati-va, depois de identificadas as razões da sua ocorrência.A reflexão assume uma grande impor-tância na gestão do erro, fomentando a consciência crítica e dando a oportu-nidade para que surja a aprendizagem com o mesmo. O erro permite um me-lhor conhecimento de si e da organi-zação.A organização tem tudo a ganhar se conseguir despertar em cada colabo-rador a curiosidade, espírito de inves-tigação e motivação e desenvolver a sua capacidade em resolver problemas que se apresentam no seu dia-a-dia.O erro é, portanto, um ponto de parti-da para o sucesso de uma organização.Citando Winston Churchill: “O sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.Na sua organização, caso tenha dú-vidas se está perante um erro ou não, não hesite em recorrer a um contabi-lista certificado.

Philippe FernandesBusiness Adviser

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