revista racine (edição 124) - saúde do idoso

84
Ano XXII Janeiro/Fevereiro/ Março de 2012 ISSN 1807-166X Revista Racine 124 Saúde do Idoso Janeiro/Fevereiro/Março 2012 Saúde do Idoso 124 Mesa Redonda Saúde do Idoso: Envelhecimento Saudável Começa pela Prevenção Epidemiologia da Saúde do Idoso no Brasil Papel do Farmacêutico no Cuidado ao Paciente Idoso Farmácia Clínica/ Atenção Farmacêutica Critérios de Beers como Ferramenta Farmacêutica na Avaliação da Farmacoterapia em Idosos Farmácia Hospitalar Hipodermóclise: Alternativa para a Administração de Medicamentos e Fluidos Legislação O que Estabelece a Portaria nº 2.029, que Institui a Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)? Como Será Implantada e Qual É o Prazo para que os Hospitais e as Equipes Multiprofissionais se Adaptem? Leia Também Especial - Seminário Internacional de Farmácia

Upload: instituto-racine

Post on 26-Mar-2016

249 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Ano XXIIJaneiro/Fevereiro/Março de 2012

ISSN 1807-166X

Revista R

acine 124

Saúde do Idoso

Janeiro/Fevereiro/Março 2012

Saúde do Idoso

124

Mesa RedondaSaúde do Idoso: Envelhecimento Saudável Começa pela Prevenção

Epidemiologia da Saúde do Idoso no Brasil

Papel do Farmacêutico no Cuidado ao Paciente Idoso

Farmácia Clínica/ Atenção FarmacêuticaCritérios de Beers como Ferramenta Farmacêutica na Avaliação da Farmacoterapia em Idosos

Farmácia HospitalarHipodermóclise: Alternativa para a Administração de Medicamentos e Fluidos

LegislaçãoO que Estabelece a Portaria nº 2.029, que Institui a Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)? Como Será Implantada e Qual É o Prazo para que os Hospitais e as Equipes Multiprofissionais se Adaptem?

Leia Também

Especial - Seminário Internacional de Farmácia

Page 2: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Abbott Center - Central de Relacionamento com o Cliente 0800 703 1050 www.abbottbrasil.com.br

Material destinado exclusivamente à profissionais de saúde prescritores. Reprodução proibida. Material produzido em 05/2012.

INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: AMIODARONA, GLICOCORTICOIDES, ANTIÁCIDOS (HIDRÓXIDOS DE ALUMÍNIO E MAGNÉSIO), CONTRACEPTIVOS ORAIS COMBINADOS, ANTIDIABÉTICOS ORAIS. CONTRAINDICAÇÃO: PACIENTES COM QUADRO SUBCLÍNICO NÃO TRATADO OU EVIDENTE DE TIREOTOXICOSE DE QUALQUER ETIOLOGIA.* Referente à diminuição da embalagem 1 - Stagnaro-Green A, Abalovich M, Alexander E, Azizi F, Mestman J, Negro R, Nixon A, Pearce EN, Soldin OP, Sullivan S, Wiersinga W. Guidelines of the American Thyroid Association for the Diagnosis and Management of Thyroid Disease During Pregnancy and Postpartum. Thyroid 2011;21:1081-125. 2 - Baskin HJ, Cobin RH, Duick DS, Gharib H, Guttler RB, Kaplan MM, Segal RL; American Association of Clinical Endocrinologists. American Association of Clinical Endocrinologists medical guidelines for clinical practice for the evaluation and treatment of hyperthyroidism and hypothyroidism. Endocr Pract 2002;8:457-69. 3 - Pitoia F, Ward L, Wohllk N, Friguglietti C, Tomimori E, Gauna A, Camargo R, Vaisman M, Harach R, Munizaga F, Corigliano S, Pretell S, Niepomniszcze H. Recommendations of the Latin American Thyroid Society on diagnosis and management of differentiated thyroid cancer. Arq Bras Endocrinol Metab 2009;53:884-97. 4 - Hipotireoidismo congênito. Projeto Diretrizes AMB. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/18-Hipotiroid.pdf. Acesso em 27/10/2011. 5 - Iervasi G, Molinaro S, Landi P, Taddei MC, Galli E, Mariani F, L’Abbate A, Pingitore A. Association between increased mortality and mild thyroid dysfunction in cardiac patients. Arch Intern Med 2007;167:1526-32. 6 - Arinzon Z, Zuta A, Peisakh A, Feldman J, Berner Y. Evaluation response and effectiveness of thyroid hormone replacement treatment on lipid profile and function in elderly patients with subclinical hypothyroidism. Arch Gerontol Geriatr 2007;44:13-9. 7 - Somwaru LL, Arnold AM, Joshi N, Fried LP, Cappola AR. High frequency of and factors associated with thyroid hormone over-replacement and under-replacement in men and women aged 65 and over. J Clin Endocrinol Metab 2009;94:1342-5. 8 - SYNTHROID® (levotiroxina sódica) comprimido [bula do medicamento]. São Paulo, SP. Abbott Laboratório do Brasil; 2011

SYNTHROID® (levotiroxina sódica). MS nº 1.0553.0289 (apresentações com 25 mcg, 50 mcg, 75 mcg, 88 mcg, 100 mcg, 112 mcg, 125 mcg, 150 mcg, 175 mcg e 200 mcg) e MS nº 1.0553.0329 (apresentação com 137 mcg). Indicações: Hipotireoidismo: na terapia de reposição ou suplementação em pacientes com hipotireoidismo congênito ou adquirido de qualquer etiologia (exceto no hipotireoidismo transitório, durante a fase de recuperação de tireoidite subaguda). Nesta categoria incluem-se: cretinismo, mixedema e hipotireoidismo comum em pacientes de qualquer idade (crianças, adultos e idosos) ou fase (inclusive gravidez), hipotireoidismo primário resultante de déficit funcional; atrofia primária; ablação total ou parcial da glândula tireoide, com ou sem bócio; hipotireoidismo secundário (hipofisário) ou terciário (hipotalâmico). Supressão de TSH hipofisário: tratamento de tireoidite linfocítica subaguda ou crônica (tireoidite de Hashimoto) e como adjuvante nas cirurgias e radioiodoterapia para controle de câncer tireoideano bem-diferenciado tireotropina dependente. Contraindicações: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) é contraindicado a pacientes com quadro subclínico não tratado (nível sérico de TSH suprimido com níveis normais de T3 e T4) ou evidente de tireotoxicose de qualquer etiologia e a pacientes com infarto agudo do miocárdio. Também é contraindicado a pacientes com insuficiência adrenal não corrigida e a pacientes com hipersensibilidade a levotiroxina sódica ou aos demais componentes do produto. Cuidados e Advertências: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) não deve ser utilizado para o tratamento da obesidade ou perda de peso e no tratamento da infertilidade masculina ou feminina, a menos que esta condição esteja associada ao hipotireoidismo. Em pacientes com bócio difuso atóxico ou doença tireoidiana nodular, particularmente idosos ou com doença cardiovascular subjacente, o medicamento é contraindicado caso os níveis séricos de TSH já estejam suprimidos, devido ao risco de precipitação de tireotoxicose evidente. Uma titulação cuidadosa da dose do medicamento é necessária para evitar consequências de tratamento com doses excessivas ou insuficientes. Em mulheres, o tratamento por longo prazo com levotiroxina foi associado a um aumento da reabsorção óssea, resultando em diminuição da densidade mineral óssea. Recomenda-se cautela na administração de levotiroxina em pacientes com distúrbios cardiovasculares e idosos nos quais há risco aumentado de doença cardíaca oculta. O tratamento com dose excessiva de levotiroxina sódica pode resultar em efeitos adversos cardiovasculares, tais como aumento da frequencia cardíaca, hipertrofia da parede miocárdica, aumento da contratilidade miocárdica e quadro de angina ou de arritmias. Pacientes com doença arterial coronariana tratados com levotiroxina devem ser monitorados rigorosamente durante procedimentos cirúrgicos. A administração concomitante de levotiroxina e agentes simpatomiméticos em pacientes com doença arterial coronariana pode precipitar insuficiência coronariana. Recomenda-se cautela na administração de levotiroxina em pacientes com bócio difuso atóxico ou doença tireoidiana nodular a fim de impedir o desencadeamento de tireotoxicose. Ocasionalmente, pode ocorrer tireoidite autoimune crônica em associação a outros distúrbios autoimunes, tais como insuficiência adrenal, anemia perniciosa e diabetes Tipo I. Pacientes pediátricos com hipotireoidismo congênito parecem apresentar risco aumentado para outras anomalias congênitas, sendo as mais comuns as anomalias cardiovasculares. Gravidez e lactação: os estudos em mulheres que receberam levotiroxina sódica durante a gestação não mostraram risco aumentado para anomalias congênitas. O hipotireoidismo diagnosticado durante a gestação deve ser tratado imediatamente. Durante a gestação, os níveis séricos de T4 podem diminuir e os níveis séricos de TSH aumentar a valores fora dos limites de normalidade. Considerando que podem ocorrer elevações dos níveis séricos de TSH em períodos tão precoces quanto 4 semanas de gestação, o TSH deve ser avaliado a cada trimestre nas gestantes tratadas com SYNTHROID® (levotiroxina sódica). Recomenda-se cautela ao administrar SYNTHROID® (levotiroxina sódica) em mulheres durante a lactação. Uso pediátrico: em crianças nas quais o diagnóstico de hipotireoidismo permanente ainda não foi estabelecido, recomenda-se que a administração de levotiroxina seja descontinuada por período teste de 30 dias, mas apenas depois que a criança tiver pelo menos 3 anos de idade. Os níveis séricos de T4 e de TSH devem então, ser reavaliados. Se T4 for baixo, o TSH elevado e o diagnóstico de hipotireoidismo permanente estabelecido, o tratamento com levotiroxina deve ser reinstituído. Se os níveis de T4 e TSH forem normais, pode-se assumir o eutiroidismo e, portanto, o hipotireoidismo pode ser considerado como transitório. No caso de hipotireoidismo congênito e hipotireoidismo adquirido, o tratamento com SYNTHROID® (levotiroxina sódica) deve ser iniciado imediatamente no momento do diagnóstico e deve ser mantido por toda a vida. O paciente deve ser monitorado rigorosamente para evitar tratamento insuficiente ou excessivo. Uso em idosos: em virtude da prevalência aumentada de doenças cardiovasculares em indivíduos idosos, o tratamento com levotiroxina não deve ser iniciado com a dose de reposição completa. Reações adversas: fadiga, aumento do apetite, perda de peso, intolerância ao calor, febre, sudorese excessiva, cefaleia, hiperatividade, nervosismo, ansiedade, irritabilidade, instabilidade emocional, insônia, tremores, fraqueza muscular, palpitações, taquicardia, arritmias, aumento de pulso, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, angina, infarto do miocárdio, parada cardíaca, dispneia, diarreia, vômitos, dores abdominais, aumento da atividade hepática, queda de cabelos, rubor facial, redução da densidade mineral óssea, irregularidade menstrual e alterações da fertilidade. Pseudotumor cerebral e luxação da epífise femural foram relatados em crianças sob tratamento com levotiroxina. Convulsões foram raramente relatadas com a instituição de tratamento com levotiroxina. Reações de hipersensibilidade aos ingredientes inativos ocorreram em pacientes tratados com produtos do hormônio da tireoide. Interações medicamentosas: dopamina/agonistas da dopamine, glicocorticoides, octreotida, aminoglutetimida, amiodarona, iodeto (inclusive agentes de contraste radiográfico contendo iodo), lítio, tioamidas (metimazol, propiltiouracil (PTU) e carbimazol), sulfonamidas, tolbutamida, amiodarona, iodetos (incluindo agentes de contraste radiográfico contendo iodo), antiácidos (hidróxidos de alumínio e magnésio, simeticona), sequestrantes de ácidos biliares (colestiramina e colestipol), carbonato de cálcio, resinas trocadoras de cátions (poliestireno sulfonado de sódio), sulfato ferroso sucralfato, clofibrato, contraceptivos orais contendo estrogênio, estrogênios (orais), heroína / metadona, 5- fluorouracil, mitotano, tamoxifeno, furosemida (> 80 mg IV) heparina, hidantoínas, antiinflamatórios não esteroides, fenamatos, fenilbutazona, salicilatos (> 2 g/dia), carbamazepina, hidantoína, fenobarbital, rifampicina, amiodarona, antagonistas beta-adrenérgicos (ex. propranolol > 160 mg/dia), glicocorticoides (ex. dexametasona ≥ 4 mg/dia), propiltiouracil (PTU), anticoagulantes orais, derivados cumarínicos, derivados da indandiona, antidepressivos, tricíclicos (ex. amitriptilina), tetracíclicos (ex. maprotilina), inibidores seletivos da recaptação de serotonina - ISRS (ex. sertralina), agentes antidiabeticos, biguanidas, meglitinidas, sulfoniluréias, tiazolidinedionas, insulina, glicosídeos cardíacos, citocinas (interferon-α e interleucina – 2), hormônios do crescimento (somatrem e somatropina), cetamina, broncodilatadores metilxantínicos (ex. teofilina), agentes radiográficos, simpaticomiméticos, hidrato de cloral, diazepam, etionamida, lovastatina, metoclopramida, 6-mercaptopurina, nitroprussiato, para-aminossalicilato sódico, perfenazina, resorcinol (uso tópico excessivo), diuréticos tiazídicos, anticoagulantes orais e glicosídeos digitálicos. Interações com alimentos: farinha de soja (preparação pediátrica), farinha de caroço de algodão, nozes, cálcio e suco fortificado com cálcio e fibras dietéticas. Interações com exames laboratoriais: devem-se considerar alterações na concentração de TBG ao se interpretar os valores de T4 e T3, que necessitam de medida e avaliação do hormônio não ligado e/ou determinação do índice de T4 livre (FT4I). Posologia: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) deve ser administrado em dose diária, de preferência 30 minutos a 1 hora antes do café da manhã, com um intervalo mínimo de 4 horas da administração de outros medicamentos que alteram a sua absorção. Para recém-nascidos, a dose inicial recomendada é de 10 a 15 mcg/kg/dia. Para crianças acima de 3 meses, pode-se iniciar o tratamento com 25 mcg ao dia, com aumentos a cada 2 a 4 semanas até que o efeito desejado seja atingido. Para mais informações, inclusive sugestão de administração, vide bula. Para adultos, a dose de reposição média é de aproximadamente 1,7 mcg/kg/dia (100 a 125 mcg/dia para um adulto de 70 kg). Recomenda-se uma dose inicial de 25 a 50 mcg/dia, com aumentos graduais na posologia a cada 6 a 8 semanas, conforme a necessidade, em pacientes com mais de 50 anos, ou pacientes com idade inferior a 50 anos mas com doença cardíaca subjacente. A dose inicial recomendada de SYNTHROID® (levotiroxina sódica) em pacientes idosos com doença cardíaca é de 12,5 a 25 mcg/dia, com aumentos graduais em intervalos de 4 a 6 semanas de 12,5 a 25 mcg, até que os pacientes sejam clinica e laboratorialmente considerados eutireoideanos. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Registrado por: Abbott Laboratórios do Brasil Ltda. Rua Michigan, 735, São Paulo – SP. CNPJ 56.998.701/0001-16. ABBOTT CENTER 0800 703 1050. Dez/11

A precisão que todos os seus pacientes precisam1,8

• Disponível em 11 apresentações 8 • Embalagem com 30 comprimidos em cores diferentes 8 • Blister alumínio-alumínio 8 • Fábrica exclusiva

• Cuidado com o meio ambiente*

Page 3: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 3

124Ano XXIIJaneiro/Fevereiro/Março de 2012Saúde do Idoso

Assim como em todo o mundo, a expec-tativa de vida aumenta no Brasil. Até 2025, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será o sexto País do mundo com o maior número de indivíduos idosos - serão 32 milhões de indivíduos com mais de 60 anos, representando cerca de 13% da população. Neste contexto, todos nós, profissionais da saúde, setor público, setor privado e terceiro setor temos que estar pre-parados para desenvolver políticas e atender as demandas desta população.

Nos últimos 20 anos o envelhecimento humano tem sido estudado profundamente. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, aborda a questão do idoso e assim estimulou a criação da Política Nacional do Idoso, definindo os direitos dos mesmos e as linhas de ações setoriais.

Após a criação dessa Política, por meio da Lei n° 8.842, em 4 de janeiro de 1994, as instituições de ensino superior passaram a se adaptar, com a finalidade de atender à determinação da Lei, que prevê a existência de cursos de Geriatria e Gerontologia Social nas faculdades de medicina no Brasil.

Devido à importância evidente deste tema e à necessidade dos profissionais se prepa-rarem para este contexto, a 124ª edição da Revista Racine aborda a Saúde do Idoso. A mesa-redonda desta edição, com a partici-pação da equipe multiprofissional experiente no atendimento aos idosos, foi realizada no Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”, localizado em São Miguel Paulista (SP).

O IPGG está inserido na estrutura da Se-cretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) e foi criado para oferecer suporte ao processo de envelhecimento, bem como ser-viços de promoção à saúde e de recuperação de doenças, com enfoque nas três diretrizes que compõem a atenção integral ao idoso: promoção do envelhecimento ativo e saudá-vel, manutenção e reabilitação da capacidade funcional e apoio ao desenvolvimento de cuidados informais.

Envelhecer ativamente e de forma saudável significa a adoção de hábitos saudáveis por meio da alimentação adequada, da prática regular de exercícios físicos, da convivência social estimulante, da busca de atividades pra-zerosas, da redução dos danos causados pelo consumo de álcool e tabaco e da diminuição significativa da automedicação.

Cabe destacar que os farmacêuticos devem assumir neste panorama um papel represen-tativo e protagonista, uma vez que em geral os indivíduos idosos possuem restrições e muitas vezes são polimedicados, o que torna esta população altamente vulnerável e árduo o requisito de garantir a segurança e a efeti-vidade dos tratamentos medicamentosos.

Acreditamos que este panorama nos obriga a buscar soluções e movimentos sob uma perspectiva mais ampla. Políticas e ações intersetoriais e transdisciplinares serão, certamente, o tecido sobre o qual se assen-tarão no futuro as ações resolutivas para a população idosa.

Boa leitura!

Editorial

Foco no Envelhecimento Saudável e Ações Voltadas ao Futuro

Nilce BarbosaPresidente do Grupo Racine e Coordenadora Técnico-Editorial da Revista Racine

Page 4: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

ÍndiceEu Leio a Revista Racine

Dirce Cruz Marques é graduada em farmácia e bioquímica pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), especialista em saúde baseada em evidências pelo Centro Cochrane do Brasil e mestre em economia da saúde pelo Centro Paulista de Economia da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente coordena a área técnica de assistência farmacêutica da Coordenação de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) e representa o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) na Comissão Técnica e Multidisciplinar para atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) do Ministério da Saúde.

“A assistência farmacêutica no Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu muito nos últimos anos, tanto nos aspectos técnicos quanto no acesso da população aos medicamentos. O incremento desse trabalho exige cada vez mais que o farmacêutico tenha ânimo e oportunidades para o aprimoramento profissional no suporte à equipe de saúde e usuários sobre o uso adequado dos fármacos.

A Revista Racine alimenta esse propósito. Destaco a 120ª edição (Janeiro/Fevereiro 2011) que traz entrevistas e análises sobre Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica, mostrando as possibilidades de desenvolvimento desse trabalho, o que se encaixa perfeitamente nas necessidades atuais da saúde pública do País.”

06 Correspondências

08 Mesa RedondaSaúde do Idoso: Envelhecimento Saudável Começa pela Prevenção

26 Panorama GeralEpidemiologia da Saúde do Idoso no Brasil

Especial de Capa32 Farmácia - Papel do Farmacêutico no Cuidado ao Paciente Idoso

38 Nutrição - Alimentação do Indivíduo Idoso

42 Fisioterapia - Fisioterapia na Saúde do Idoso

50 Fonoaudiologia - Atuação do Fonoaudiólogo Perante a Saúde do Idoso

54 Psicologia - Atuação da Psicologia na Saúde do Idoso

59 Odontologia - Cáries Radiculares no Idoso: Contribuição ao Estudo

66 Farmácia Clínica / Atenção FarmacêuticaCritérios de Beers como Ferramenta Farmacêutica na Avaliação da Farmacoterapia em Idosos

72 Farmácia HospitalarHipodermóclise: Alternativa para a Administração de Medicamentos e Fluidos

78 Especial - Seminário Internacional de Farmácia

81 Legislação

82 Acontece

Mesa Redonda

8 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Saúde do Idoso: Envelhecimento Saudável Começa pela Prevenção

Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”

Anderson Della Torre, médico geriatra, Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta, Francisco Souza do Carmo, médico geriatra, Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira, Graziela Luppi, farmacêutica clínica, Karla Shimura Barea, fonoaudióloga, Luciana Cassimiro, psicóloga, Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica, Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista, Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

Especial de Capa - Farmácia

Papel do Farmacêutico no Cuidado ao Paciente IdosoGraziela Luppi e Maristela Ferreira Catão Carvalho

Os estudos analisados reforçam a idéia de que a intervenção do farmacêutico aumenta a adesão dos pacientes idosos a seus regimes terapêuticos, e pode promover redução de custos hospitalares, ao reduzir o número de prescrições, de internações e de medicamentos associados a RAMs.

Fonte: Caderno de Saúde Pública vol.18 nº. 6 Rio de Janeiro Nov./Dez. 2002

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201232 -

54 – Revista Racine

Atuação da Psicologia na Saúde do IdosoLuciana Cassimiro

54 – Revista Racine

Especial de Capa - Psicologia

66 – Revista Racine

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Critérios de Beers como Ferramenta Farmacêutica na Avaliação da Farmacoterapia em IdososTalita Barbosa Augusto e Marisa Aparecida Crozara

66 – Revista Racine

SIF 2011 - 8º Seminário Internacional de Farmácia Promove Intercâmbio de Brasileiros em Portugal e na Espanha

m sua 8ª edição, o SIF - Seminário Inter-nacional de Farmácia, idealizado e reali-zado pelo Instituto Racine, é uma opor-tunidade única para os farmacêuticos

que desejam se aprimorar profissionalmente e, ao mesmo tempo, enriquecer-se culturalmente.

Desenvolvido em cooperação com Faculda-des de Farmácia de Universidades européias - Universidade de Granada e Universidade de Sevilha, na Espanha, e Universidade de Coim-bra, Universidade do Porto, Universidade de Lisboa e Universidade Lusófona de Humanida-des e Tecnologias, em Portugal -, o SIF é uma oportunidade anual de intercâmbio com viés científico e também cultural para estudantes de

farmácia e profissionais farmacêuticos atuantes nos âmbitos de farmácias e drogarias em geral, de farmácia hospitalar, de atenção farmacêutica e de farmácia clínica, de indústria farmacêutica e indústria de produtos médicos e correlatos, de distribuidoras de medicamentos e operadores logísticos e profissionais de vigilância sanitária, além de docentes e coordenadores de cursos de pós-graduação e graduação em farmácia.

Em 2011 o SIF ocorreu de 10 a 19 de outubro e teve a participação de 31 brasileiros, que desfrutaram desta vivência internacional que vai além de uma atividade a ser inserida no currículo, proporcionando uma verdadeira oportunidade de crescimento e consolidação

E

Especial - Seminário Internacional de Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201278 -

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 20124 -

Page 5: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 6: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 20126 - Revista Racine –

124Ano XXIIJaneiro/Fevereiro/Março de 2012Saúde do Idoso

Correspondências

Agradecemos as manifestações enviadas de:

Expediente

Filiada

A Revista Racine (ISSN 1807-166X) é uma publicação trimestral da RCN Comercial e Editora Ltda., dirigida a empresas e profissionais das áreas farmacêutica, química, cosmética e da saúde.

PresidenteNilce Barbosa

Diretores ExecutivosArnivaldo DiasMarco QuintãoSérgio Slan

Coordenação Técnico-EditorialNilce Barbosa - CRF-SP 9.609

Editor e Jornalista ResponsávelAndré Policastro - MTb 42.774

JornalistaKelly Monteiro - MTb 06.447

Colaboraram Nesta EdiçãoAmanda Maia Machado de Oliveira, Anderson Della Torre, Andréa Rodrigues Baldin de Moraes, Anna Carolina Gonçalves de Medeiros, Carla Gion de Almeida, Fernando Augusto Machado, Fernando Luiz Brunetti Montenegro, Francisco Souza do Carmo, Graziela Luppi, Hêider Aurélio Pinto, Juliana Patrícia Zappulla Martins, Karla Shimura Barea, Luciana Cassimiro, Marisa Aparecida Crozara, Maristela Ferreira Catão Carvalho, Mirian Regina Batista Barbosa, Paulo Sérgio Pelegrino, Silvia Regina Borgheresi Calil, Stefano Frugoli Peixoto e Talita Barbosa Augusto

Diretora de Arte e DiagramaçãoCinthia Suenaga

Anúncios, Assinaturas e CorrespondênciasRua Padre Chico, 93, Pompéia - CEP 05008-010São Paulo - SP - Brasil Tel/Fax: 55 11 3670-3499E-mail: [email protected]

Artigos e matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da RCN Comercial e Editora Ltda.

ImagensArquivo Racine, divulgação e Guilherme Bessa

• Associação Prudentina de Educação e Cultura, Presidente Prudente (SP)

• Associação São Bento de Ensino, Araraquara (SP)

• Farmácia Londrina, Londrina (PR)

• Fundação Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Frederico Westphalen (RS)

• Faculdade de Medicina de Campos, Campos dos Goytacazes (RJ)

• Missão Salesiana de Mato Grosso (Unisalesiano), Lins (SP)

• Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande (MS)

• Universidade Positivo, Curitiba (PR)

Page 7: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 8: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

8 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Saúde do Idoso: Envelhecimento Saudável Começa pela Prevenção

Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”

Anderson Della Torre, médico geriatra, Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta, Francisco Souza do Carmo, médico geriatra, Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira, Graziela Luppi, farmacêutica clínica, Karla Shimura Barea, fonoaudióloga, Luciana Cassimiro, psicóloga, Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica, Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista, Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

Page 9: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 9

ntroduçãoEnvelhecer é a arte da aceita-ção, da tolerância e da paci-ência. Envelhecer é primar por

mais tempo de qualidade, aproveitar o que a vida pode oferecer. Na teoria, envelhecer deveria ser um momento de contemplação, um tempo em que os indivíduos pudessem estar consigo mesmos e com os outros, simples-mente vivendo, sem preocupações. Para tanto, além de todos os outros fatores que favorecem um envelhe-cimento com qualidade, a saúde é imprescindível nesta etapa da vida.

Segundo estimativas do Ministério da Saúde, há no Brasil cerca de 19 milhões de idosos, ou seja, indivídu-os com mais de 60 anos de idade. O envelhecimento da população, não somente no Brasil, mas no mundo,

é crescente, e a questão é: até que ponto governos, sistemas de saúde, instituições e profissionais da área da saúde estão se preparando para isto? Informações do DATASUS demons-tram que as doenças do aparelho cir-culatório são as principais causas de morte em idosos: 37,7%. Em seguida, estão as neoplasias, 16%, e as doen-ças do aparelho respiratório, 13%.

Atuar visando a prevenção de do-enças é um dos principais desafios dos profissionais da área da saúde que lidam com idosos, entre eles o farmacêutico. Na área hospitalar, as equipes multiprofissionais devem desenvolver cada vez mais um tra-balho em conjunto, para que o idoso sinta-se cuidado e encontre, em cada profissional, um apoio nos cuidados com a saúde.

Estimular a reflexão sobre temas em saúde é missão da Revista Raci-ne, que em sua 124ª edição aborda a Saúde do Idoso. A mesa redonda desta edição foi realizada no Ins-tituto Paulista de Geriatria e Ge-rontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”, localizado em São Miguel Paulista, região metropolitana de São Paulo (SP). Referência no aten-dimento e tratamento de idosos, o IPGG é mantido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), cuja missão é assistir indivíduos idosos de maneira hu-manizada, promovendo o envelheci-mento ativo e saudável, produzindo conhecimentos e proporcionando atividades educativas de qualidade em geriatria e gerontologia. Confira a seguir os principais trechos deste encontro.

I

Page 10: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

10 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“Em relação à saúde do idoso e ao envelhecimento, é importante a abordagem em nível nacional e internacional. A expectativa de vida da humanidade está aumentando. No Brasil, na década de 1940, a expectativa de vida era de 45 anos, aproximadamente. Atualmente, a expectativa de vida é de cerca de 72 anos. A projeção para 2050 é que a população brasileira possua expec-tativa de vida em torno de 83 anos, que é a média do Japão. O fenômeno do envelhecimento populacional ocorre não somente no Brasil, mas também no mundo, e é considerado pela Organização Mundial da Saú-de (OMS) como uma pandemia. A projeção para 2050 é que haja dois bilhões de idosos no mundo e a maior parte desta população estará nos países em desenvolvimento. Os países desenvolvidos se prepararam para o envelhecimento populacional no decorrer das décadas, devido ao processo de industrialização e ao acúmulo de riquezas. Os países em desenvolvimento estão aprendendo a formar novas estratégias, conside-rando o envelhecimento como um fenômeno mundial, bem como o aprimoramento científico, técnico, de saneamento, de alimentação, entre outros. O Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) ‘José Ermírio de Moraes’, por exemplo, é um centro de excelência criado pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP), estudado e adaptado para outras populações, tanto no Estado quanto no País. As doenças infectocontagiosas eram mais pre-valentes em outras décadas. Com o envelhecimento, há o aumento da incidência e da prevalência das doen-ças crônico-degenerativas, como Hi-pertensão Arterial Sistêmica (HAS) e suas complicações, Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto, insuficiên-cia renal crônica, diabetes mellitus, dislipidemias, obesidade, artrose,

osteoporose, entre outras. Todas estas doenças tornaram-se mais prevalentes com o envelhecimento. Além disso, o indivíduo é exposto a quadros agudos e há intercorrências nas doenças crônico-degenerativas. A atuação multiprofissional da equipe de saúde é necessária, desde que o paciente chega ao pronto-atendi-mento. Por meio da interdisciplinari-dade, resolve-se mais rapidamente os problemas de saúde do idoso.”

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

“Deve-se destacar que faz dife-rença a maneira como o profissional recebe o idoso na unidade de saúde, seja enfermeiro, nutricionista, far-macêutico ou médico, identificando quais são as necessidades deste ido-

so. Discute-se sobre como formar o profissional, como aprimorar o olhar para que ele identifique as necessi-dades do idoso, que são diferentes das necessidades de um indivíduo adulto mais jovem. Sob o aspecto da enfermagem, é importante aprimorar o cuidado. Envelhecer é um processo que se inicia no nascimento. Mas a forma como cada um se percebe idoso é importante. O indivíduo chega à unidade de saúde, é idoso, apresenta dificuldade muscular que ainda não foi notada, possui difi-culdade de entender determinadas recomendações, confunde o uso dos medicamentos, esquece os horários em que deve tomá-los. Na região de São Miguel Paulista (SP), onde está localizado o IPGG, o idoso apresenta perfil de baixa escolaridade, pouco acesso aos meios de comunicação, e isso faz diferença. Portanto, é ne-cessário que haja profissionais prepa-rados para lidar com esta situação.”

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

“Faz diferença a atuação profissional e a forma com que estes profissionais são preparados para trabalhar com o idoso. A prevenção ainda não faz parte da cultura do brasileiro. Fala-se muito pouco em prevenção. Prevenção na fisioterapia é falar em capacidade funcional, ou seja, manter o idoso funcional, independente. Isso também é envelhecer. Os idosos acham que cair é comum, é normal, o que não é. Deve-se conscientizar o profissional, a população e os idosos sobre o que é envelhecer e como envelhecer.”

Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica

“Além do profissional e do próprio idoso, há que se considerar as políti-cas públicas. A população brasileira está envelhecendo e são necessárias ações para cuidar desta população, entre elas, recursos financeiros. O custo com medicamentos é alto e a tendência é aumentar. O farmacêu-tico lida com o cuidado do paciente

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

Page 11: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 12: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201212 -

e também tenta otimizar o recurso financeiro. Um dos problemas do idoso sobre o uso de medicamento é a polifarmácia e o uso de medica-mentos inapropriados.”

Graziela Luppi, farmacêutica clínica

“O diferencial do IPGG é que o farmacêutico não trabalha apenas com o aspecto administrativo do medicamento, com seleção, aquisição e licitações. O farmacêutico atua na área clínica, integrando a equipe geriátrica. Presta-se assistência ao paciente, intervindo com a equipe. Há pacientes que apresentam pro-blemas farmacoterapêuticos, mas podem apresentar queda, portanto, a fisioterapia também deve agir. Há pa-

cientes que apresentam quedas, mas será que isso não está sendo ocasio-nado por um ou mais medicamentos? Há a possibilidade de trabalhar os problemas farmacoterapêuticos que o paciente idoso pode apresentar. Há muitas doenças crônicas e para o tratamento das mesmas utilizam-se muitos medicamentos.”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“É necessário priorizar as medidas não farmacológicas. Trata-se dores articulares, déficit de equilíbrio e alte-rações de glicemia com medidas não farmacológicas. Caso não haja suces-so, pode-se introduzir algum fármaco, seja para dislipidemia, para dores articulares, para glicemia. Mas a idéia é sempre introduzir as medidas não farmacológicas primeiramente e elas não devem ser excluídas. A autome-dicação também deve ser detectada e este é um problema freqüente do idoso. A medida não farmacológica ainda evita a polifarmácia e as inte-rações medicamentosas.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“No IPGG atua-se diretamente com a equipe da farmácia no que se refe-re ao monitoramento das Reações Adversas a Medicamentos (RAM). É importante que estas RAM sejam no-tificadas. As RAM podem ser tipo A ou tipo B. As RAM tipo A geralmente são descritas na bula do medicamen-to e as tipo B são relacionadas entre o fármaco e o indivíduo.”

Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica

“As RAM podem gerar uma cascata iatrogênica. Além da automedicação, os idosos possuem o hábito de se consultarem com vários médicos diferentes e ao irem à consulta se esquecem qual é o medicamento que estão utilizando. Por isso, nem sempre se consegue analisar todos os medicamentos. Às vezes, a suspeita de uma possível doença, na realida-

de, é uma reação adversa de outro medicamento que origina a cascata iatrogênica. Por exemplo, atendeu--se a um paciente que utilizava vários medicamentos com efeito anticoli-nérgico e medicamentos que podem causar um possível Mal de Parkinson. Os medicamentos com efeito anti-colinérgico podem causar demência, problemas cognitivos e também desequilíbrio, levando a quedas. Um paciente apresentava reações como Mal de Parkinson, demência, quedas freqüentes, mais de dez no último ano. Apresentou-se relatório para o médico, que não conhecia os outros medicamentos que o paciente estava utilizando, devido à automedicação. Este é um exemplo clássico.”

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

“A equipe de fisioterapia recebe do médico ou da equipe multiprofissio-nal pacientes com histórico de quedas e verifica-se que há medicamentos que não foram prescritos. Pede-se uma avaliação da atenção farmacêu-tica, encaminha-se novamente para o médico com mais detalhes e com a intervenção de todos consegue-se evitar mais danos à saúde do idoso, promovendo sua saúde, fazendo com que ele esteja mais ativo e funcional. Esta é a prioridade.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“Entre os problemas referentes à saúde do idoso, no IPGG aborda-se também a saúde bucal do idoso. Considera-se idoso, no Brasil, todo indivíduo com 60 anos ou mais, e nos países desenvolvidos são os indivídu-os com mais de 65 anos. Nota-se que o indivíduo apresenta problemas de saúde bucal desde muito antes de se tornar idoso.”

Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

“Há um mito em relação à extração de dentes e ao trabalho do dentista. Os idosos costumam opinar sobre

Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica

Page 13: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 13

o que deve ser feito em sua boca e como devem ser suas próteses, suas dentaduras. O Brasil era campeão mundial, por volta de 1985, em cáries em crianças de zero a 12 anos. No governo Mário Covas foi iniciada a aplicação de flúor nas águas de abastecimento no Estado de São Paulo, o que melhorou essa situação. Hoje, o idoso não é mais desden-tado, enfrentam-se problemas que antes não havia. Anteriormente era necessário apenas fazer dentaduras e hoje há indivíduos com 60 anos com todos os dentes na boca. Com a idade, os dentes vão enrijecendo e podem quebrar com maior facili-dade. O amálgama de prata, ainda

muito utilizado para restaurar den-tes, expande, e, se for muito grande, começa a quebrar o dente, pois esse dente não está mais tão flexível. Além disso, é necessário entender o que é que o paciente deseja, para que saia do tratamento melhor, mais satisfeito do que estava.”

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

“Os profissionais da equipe não estão o tempo todo com o familiar, o acompanhante ou o cuidador do idoso. Ao se atender uma criança, espera-se que ela esteja com a mãe, o pai ou o responsável. O profissio-nal se direcionará àquele respon-sável. O idoso é um adulto, possui autonomia, e há um cuidador que se imagina tão responsável quanto o idoso. Lidar com esta interface, saber até que ponto agir com o idoso e com o cuidador, é um desafio. Ou ensiná-lo a realizar alguma atividade. Passa-se uma orientação, mas ao chegar em casa, o filho, por exemplo, não permitirá que se faça o que foi recomendado. Faz-se a orientação nutricional, mas quem domina a cozinha daquela casa é a filha ou o filho. No IPGG, a maior parte dos pacientes é acompanhada por um familiar, dificilmente por um cuida-dor especializado ou um profissional de enfermagem.”

Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista

“A questão da alimentação é sem-pre complicada. Dizer a um indiví-duo que ele não comerá mais o que comeu durante 60, 70 anos, é difícil. Com alguns pacientes que possuem cuidadores é bem difícil trabalhar a alimentação. O cuidador acha que o idoso deve tomar apenas sopas e papas e a orientação não serve. Em se tratando de promoção da saúde, certamente muitas doenças crôni-cas podem apresentar um quadro melhorado pela alimentação. Se o paciente possui colesterol elevado, se fizer dieta, certamente melhorará

e não precisará de medicamento. O mais difícil é modificar o hábito ali-mentar que o idoso possui desde jo-vem e transformar isso em um novo hábito. Trabalhar com idosos acima de 80 anos é um desafio. É comple-tamente diferente. Se ele chegar aos 90 anos será mais diferente ainda. Este idoso pode dizer: ‘Não vou co-mer porque estou com preguiça’. O nutricionista agirá de que maneira? Não é possível mais fazer com que ele coma bife e salada.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“Imagina-se que todo idoso é des-nutrido. Atualmente, com as modi-ficações na dieta padrão para outro tipo de dieta, rica em açúcares e em gordura, observa-se que parte dos idosos está desnutrida, porém outra está eutrófica. Aumentou o nível de obesidade em idosos. Há alteração do paladar com o envelhecimento, facilidade de sentir mais o sabor dos doces e dificuldade em sentir o sabor do salgado. Faz parte do processo de envelhecimento.”

Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista

“Há pesquisas que recomendam o uso de suplementos alimentares e outras que não recomendam. No IPGG utilizam-se suplementos quan-do necessário. Às vezes é necessário apenas modificar o que o idoso compra no supermercado. Há idoso que diz que possui apenas 150 reais para alimentação. Ao investigarmos, ele conta que compra um pacote de macarrão, pacotes de bolachas, um pacote de cigarro e acaba o dinheiro. É necessário direcionar o que ele comprará. Assim não é necessária suplementação. Apenas com a dieta equilibrada se resolve. Ao se orientar a utilização de temperos naturais, o idoso dificilmente aceita. A maior parte dos pacientes do IPGG é obesa ou possui sobrepeso. Por isso, a su-plementação não é indicada. Eles ne-cessitam de reeducação alimentar.”

Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista

Page 14: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

14 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

“Há uma paciente idosa que está com sobrepeso, sofreu dois derrames, está na cadeira de rodas e passa o dia inteiro assistindo a televisão. Como é que se tira a lasanha da alimenta-ção dela? Pode ser um dos poucos prazeres que ela possui. Como fica a questão psicológica? Não se aceita a morte, na cultura brasileira, como algo natural. O idoso, nesta condição, vê as modificações na alimentação como uma ofensa.”

Silvia Regina Borgheresi Calil, nutricionista

“Há pacientes que questionam se indico que ele coma cenoura. Se o pa-ciente estiver em cadeira de rodas, a família geralmente pensa que é como

se o idoso fosse um bebê. O familiar precisa entender que o paciente pode comer lasanha. A diferença está na quantidade que ele comerá. Ao ofe-recer lasanha para um paciente que está demenciado e/ou que teve um Acidente Vascular Encefálico (AVE), ele irá aceitar, porém a quantidade deve ser limitada.”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“Idosos que apresentam envelhe-cimento bem-sucedido podem mo-dificar os hábitos dietéticos devido à condição bucal. Assim, pode evoluir para desnutrição, apresentar deficiên-cia de algumas vitaminas e minerais ou evoluir para desnutrição calórica. Há situações em que o idoso está obeso, porém está desnutrido porque não consegue mastigar carne, não con-segue deglutir de forma adequada e tende a uma dieta mais pastosa. O mais adequado é avaliar o paciente corretamente, realizar exames la-boratoriais e repor as vitaminas e os minerais que estiverem deficientes.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“Para fazer diagnóstico de desnu-trição utilizam-se dados antropomé-tricos e dados laboratoriais. É difícil modificar um perfil dietético de um indivíduo com 60, 70 anos. Ainda mais se a dieta está adequada à renda financeira do indivíduo. Às vezes, até quer comprar outro tipo de alimento, mas não pode. Muitos fazem uso medicamentos que consomem esta renda que poderia ser utilizada para outra finalidade. A questão psicoló-gica é importante para tentar modi-ficar essa estrutura e no controle da depressão. A depressão é a principal doença que está sendo projetada, até mesmo em nível mundial, para 2030. O idoso sofre processo de perda. Dependendo da idade e da profissão é excluído do mercado de trabalho. Ao se aposentar, sofre perda salarial. Há a síndrome do ninho vazio, que é o afastamento dos filhos. Além disso,

o indivíduo pode não estar satisfeito com a morfologia do próprio corpo.”

Luciana Casimiro, psicóloga

“Fala-se em modificação do com-portamento do idoso, modificação do comportamento do familiar, do cuidador formal e não formal, mas é necessário pensar nas modificações pelas quais o profissional da saúde deve passar para atender o paciente idoso. O profissional às vezes se ima-gina como o detentor da informação e que o idoso irá apenas obedecer. Como se fosse simples. Porém, essa é a parte mais difícil, pois modificações de comportamento implicam em mo-dificação de tudo o que acreditamos e aprendemos ao longo da vida. Por exemplo, o idoso passa pela nutri-cionista que solicita modificações na alimentação, de hábitos que ele possui há mais de 50 anos, passa pela atenção farmacêutica e o farmacêutico diz que o idoso não irá mais utilizar os medica-mentos aos quais estava acostumado porque alguns destes medicamentos podem estar prejudicando a sua saú-de. Infelizmente, ainda hoje, muitos pacientes chegam a uma instituição de saúde exclusivamente em busca de medicamentos para aliviar seu sofrimento físico e, muitas vezes, psí-quico. Saber como abordá-lo adequa-damente e dizer a ele que ao invés do medicamento ele será encaminhado ao fisioterapeuta e que será realizada uma série de exercícios com os quais o idoso aprenderá a minimizar a sua dor, aprendendo a carregar objetos de maneira adequada, por exemplo, e fazê-lo entender que ter carregado os objetos de maneira inadequada contribuiu para um desvio da coluna, é o ponto crucial para atender a este idoso. Além disso, é necessário enten-der que idoso é este e o que pode ser realizado para melhorar a qualidade de vida, de acordo com a realidade na qual ele está inserido, pois não adianta o profissional tentar impor o que acha que é correto ou o que está na literatura.

Anderson Della Torre, médico geriatra

Page 15: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

15Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Deve-se agir paulatinamente, ten-tando resolver o que está mais pro-blemático na situação. Ao dizer ao paciente simplesmente que ele não irá mais tomar todos os medicamen-tos aos quais estava acostumado, que não poderá mais comer pão, en-tre outras coisas, a equipe multipro-fissional estará fadada ao insucesso. O paciente concorda com o médico, concorda com o nutricionista, e ao chegar ao consultório do psicólogo, devido às características do tipo de atendimento, percebe-se que o paciente não está fazendo o que foi recomendado. É necessário buscar formas adequadas de se trabalhar com o idoso. A depressão é uma das doenças mais difíceis de se avaliar e tratar no idoso. Pesquisas recentes referem que sintomas depressivos não são mais comuns no idoso do

que em qualquer outro estágio da vida. Alguns grupos específ icos podem apresentar uma incidência maior de sintomas depressivos, como idosos em instituições de lon-ga permanência, idosos que sofrem de doenças graves ou que estejam extremamente isolados.

A depressão se apresenta sob muitas formas, como a depressão maior, a depressão com sintomas psicóticos, a depressão com sinto-mas maníacos e a depressão com sintomas ansiosos. É importante avaliar adequadamente quais são as características da depressão no ido-so a ser tratado, pois há uma gama de antidepressivos e abordagens psicoterápicas adequadas às carac-terísticas de cada quadro. Outra questão é que os antidepressivos podem causar outros problemas, por exemplo, déficits de atenção e de memória, e podem ocorrer tam-bém quedas.

De maneira geral, as mulheres queixam-se mais e procuram por ajuda com muito mais freqüência que os homens. O abuso de álcool é mais comum nos homens. Na popu-lação atendida no IPGG percebe-se muitos homens com histórico de uso e abuso do álcool há muitos anos. Muitos questionam qual é o proble-ma em tomar duas doses de aguar-dente por dia. Argumentam que fazem isso desde que eram jovens. Não consideram como um problema porque não ficam bêbados ‘exagera-damente’ e acham que não causam transtornos para a família. São casos difíceis de serem tratados.”

Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra“A questão cultural é importante. Enquanto no Brasil e no mundo ocidental os indivíduos vão ficando deprimidos ao ficarem idosos, nos países orientais os idosos são admi-rados. Ao se começar a perder força física, o homem agarra-se ao que garanta sua masculinidade. Ele pode

estar fraco, doente, com seqüelas de AVE, estar com menos apetite sexual. Mas tomar o álcool ele ainda consegue. É necessário lidar com as características sociais e culturais.”

Karla Shimura Barea, fonoaudióloga

“A socialização diminui com o aumento da idade. Na juventude era jovem, era ativo, trabalhava, era chefe de família. De repente, o indi-víduo vai envelhecendo, pára de tra-balhar, diminui o círculo social. Sair fica mais difícil, o indivíduo fica mais restrito à casa, e fica muito sozinho. Por todo este contexto, é como se ele não fosse ativo, mas ele é ativo e precisa se relacionar. No IPGG há um centro de convivência que reúne os idosos, onde eles conversam, fazem atividades.”

Karla Shimura Barea, fonoaudióloga

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

Page 16: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

16 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

“Muitos idosos são poliqueixo-sos, sem querer fazer diagnóstico psicológico. Reclamam de dor, por mais que a seção seja de orientação - vale lembrar que muitos idosos são cuidadores de outros idosos -, e por ser cuidador possui dores próprias de um cuidador. Percebe-se que ele quer atenção. Ao receber alta da fisioterapia porque o idoso está apto a ser reinserido na sociedade pela atividade física, ele não quer. Retorna com outra queixa, ou recorre a outra queixa de intensidade muito maior e diz que necessita de fisioterapia novamente. Isso é relatado no tra-tamento em grupo, no tratamento individual. Uma idosa chegou para o tratamento bastante fechada. Ao ir para a fisioterapia, mudou comple-tamente. Ao receber alta, retornou com uma dor limitante, não andava.

Isso é interessante. Eles não possuem atenção e lidamos com isso porque o atendimento é corporal, sendo neces-sário que entendamos o ciclo deles.”

Luciana Cassimiro, psicóloga“Para os idosos, a doença acaba

sendo uma ‘forma torta’ de socializa-ção. O idoso imagina que conseguirá a atenção dos filhos, dos amigos, se estiver doente. É como se pensassem: não posso perder esta condição, pois se perder não terei mais atenção da fisioterapeuta, do médico, da enfer-meira e da farmacêutica. O trabalho da equipe multiprofissional é justa-mente dizer que após haver melhoria em determinada situação é hora de iniciar um novo ciclo, fazendo ativi-dade física, buscando novas formas de socialização, que não sejam pela doença e sim pela melhoria na quali-dade de vida. É importante mostrar--lhes que existem outros meios mais prazerosos e adequados para fazer amigos e ter a família por perto.”

Graziela Luppi, farmacêutica clínica

“O significado do medicamento na vida do idoso é um reflexo do que o medicamento representou durante toda a vida dele. O idoso chega ao serviço de saúde para se consultar com o médico e receber um medica-mento. Se o médico não prescrever o medicamento, o profissional não é um bom médico ou o serviço de saúde não é bom. O idoso, muitas vezes, pensa que necessita tomar medicamento, que o filho dê o me-dicamento a ele, para que tenha assunto para discutir com o amigo que possui pressão alta também. Há paciente que se automedica devido ao que o medicamento representa para ele. Em contrapartida, há pa-ciente que apresenta problemas de comportamento, pois não adere ao tratamento. O paciente retira os me-dicamentos na farmácia e ao se fazer o controle pressórico e glicêmico do indivíduo observa-se que os níveis estão descompensados. Atuamos na

não-adesão do paciente, ou seja, ou ele se automedica porque precisa ou não toma medicamento porque acha isso muito ruim.

Cabe aos farmacêuticos e à equipe fazer com que o paciente entenda porque ele deve tomar o medica-mento, muitas vezes pelo resto de sua vida. A atuação da farmácia e da equipe multiprofissional está em fazer o paciente entender por que deve tomar o medicamento, por que não deve tomar somente ao apresentar picos de pressão alta, e o significado do medicamento na vida do indivíduo. Como farmacêutica clínica, não devo obrigá-lo a tomar o medicamento. Se fizer isso não estou sendo uma boa farmacêutica, não estou sendo clínica.

Devo entender o paciente. Será que é isto que ele quer? Será que entendeu por que deve tomar o medicamento? Pode ser que tanto o farmacêutico como o médico estejam preocupa-dos com o paciente, que está com pressão muito alta, sem controle, e é introduzido um hipertensivo, porém este hipertensivo causa impotência sexual. Será que eu, como farmacêu-tica, não deveria também pensar em um medicamento que resolvesse este problema, discutir com o médico para que o medicamento seja trocado, para que haja adesão ao tratamento?”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“Os pacientes idosos ficam muito isolados socialmente e podem desen-volver transtorno depressivo. O pa-ciente se consulta com toda a equipe multiprofissional e freqüenta o centro de convivência. Percebe-se que ele não sai do IPGG. Promove-se a con-vivência do idoso e percebe-se que ele apresenta transtorno depressivo, ansiedade, insônia, perda de apetite, ou seja, é comum emagrecer. Depen-dendo da atenção do profissional que o atende, irá investigar se há alguma doença, e o paciente somatiza e trata uma doença que não existe. As esta-tísticas mostram que a principal causa

Graziela Luppi, farmacêutica clínica

Page 17: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 18: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

18 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

do emagrecimento é o transtorno depressivo, excetuando o câncer ou outra doença, ou seja, é uma doença que dificilmente será combatida se não houver terapia medicamentosa. É necessário, na primeira consulta, que se introduza um antidepressivo. Neste momento, ocorre ou não a aceitação: ‘O médico está achando que estou louco’, pensa o paciente. Também inicia-se a automedicação: o paciente quer tomar um medica-mento tarja preta porque acha que resolve a ansiedade dele, ele dorme bem. Depois reclamará de perda de memória, de quedas, e a depressão melhora com o ansiolítico. O paciente quer tomar chá, polivitamínicos, pois acha que irá engordar. Não concorda com a prescrição do médico. Neste ponto é importante o trabalho da farmácia, pois o paciente ainda não entendeu que possui transtorno depressivo. Acredita que possui uma doença que na verdade não tem.”

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

“O papel do idoso na família chama a atenção. Ao vir ao IPGG, os pro-fissionais observam o indivíduo que busca atendimento. Não se observa a história um pouco além. O indivíduo envelheceu, a renda financeira dimi-nuiu, ele se aposentou, a filha que se divorciou foi morar na casa dele, a avó cuida do neto adolescente, por exemplo. Esta idosa se consulta com vários profissionais, mas ao chegar em casa não irá se lembrar de tomar o medicamento, porque tem que cuidar do neto. Na população de São Miguel Paulista (SP) e entorno isto é muito comum. A idosa está na idade de ter atenção e está fazendo outro papel em casa, sendo arrimo de família. Há idosos que cuidam de idosos e idosos que cuidam de crianças.”

Graziela Luppi, farmacêutica clínica

“No atendimento de atenção far-macêutica percebe-se isso. O pacien-te questiona por que terá que tomar o

medicamento e como tomar. Muitos relatam sentir vergonha de falar com o médico. Dizem que na farmácia recebem explicações sobre como tomar o medicamento, os medica-mentos são identificados para que tomem em casa. Há idosos que se consultam com dois médicos e cada um fará uma prescrição diferente de medicamentos indicados para tratar a mesma doença. Ao invés do paciente tomar um hipertensivo, tomará dois por falta de orientação e de vínculo com o profissional. A farmácia auxilia bastante nesta questão.”

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

“Quedas é uma questão impor-tante ao se falar sobre a saúde dos idosos. Tenta-se promover uma cam-panha para que haja conscientização sobre as conseqüências das quedas e como preveni-las. No IPGG, realiza--se orientação de quedas fazendo com que os pacientes entendam que cair pode ser comum, mas não pode ser normal. Há os pacientes caidores que são identificados pelos médicos e que são encaminhados para a fisiote-rapia. O mesmo ocorre com a área de nutrição, que envia os pacientes para a fisioterapia. Costumo fazer uma comparação, a grosso modo, que se uma senhora diz que caiu dez vezes durante um semestre, é a mesma coisa que dizer que teve dez infartos. Comparo com algo grandioso para que eles entendam que se um idoso caiu, apresentou trauma de cabeça, foi para o pronto-socorro, ficou em observação, não é algo normal. Os hábitos errôneos e as questões de acessibilidade e de educação colabo-ram para que os idosos sofram mais quedas.”

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

“A questão da queda aparece em nossas falas com muita freqüência porque não é somente tratar uma queda pontual, mas o que aquela queda significa na vida do idoso. Ele

irá fraturar um fêmur e se tiver um quadro de demência ficará acamado, terá dificuldade em voltar a andar, terá dificuldade para se alimentar, não terá quem cuide dele, tampou-co condições de vir até o serviço de saúde, que, em contrapartida, pode não conseguir ir até ele para o aten-dimento domiciliar. O impacto social da queda do idoso é muito grande. O impacto das quedas na autonomia do idoso, na sua qualidade de vida, é preocupação constante. Procura--se sensibilizar os profissionais para que no atendimento identifiquem os casos das quedas.”

Carla Gion de Almeida, fisioterapeuta

“A osteoporose é uma doença do envelhecimento. Tratam-se pacientes com osteoporose não diretamente,

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

Page 19: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 19

mas com exercício resistido, com carga, que auxiliam na retenção do cálcio. O exercício mais barato é a caminhada. É necessário lembrar que o idoso que nunca fez exercí-cio, caminhada, geralmente vai se recusar a começar. Idosos que são magros também devem se exercitar para ter força. Geralmente o pa-ciente não é obeso, mas não possui força nos joelhos, é fraco, sem força muscular, e também pode cair. Além disso, o idoso não conta que caiu. Ao se falar em promoção da saúde e em envelhecimento ativo e saudável, é necessário informar e educar os ido-sos sobre quedas. Cair gera diversas conseqüências. A frase que mais se ouve é: ‘Caio e comigo nada aconte-ce’. Quedas é algo tão preocupante quanto a depressão.”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“É necessário considerar a queda como se fosse um sinal de alerta no idoso. É como a febre na criança. Se houve queda significa que algo está acontecendo. Pode ser um proble-ma do ambiente, da via pública ou do domicílio, ou pode ser algo mais intrínseco, como problema orgânico. Mais de um terço dos idosos caem e 5% dessas quedas podem gerar fratura, hospitalização ou um quadro mais grave. Se o idoso for osteoporó-tico, na queda ele pode desenvolver uma fratura grave, acarretando em morte. É necessário verificar a queda como um sinal de alerta e pesquisar o motivo da queda. Pode ter sido um motivo mecânico, acidente, ou pode ser que não esteja enxergando ou ouvindo bem, ou que haja algum pro-blema de marcha, ou artrose - o que justifica o tratamento fisioterápico -, ou uso errado do medicamento. É necessário realizar uma correta avaliação clínica.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“Osteoporose não dói. Dor é a complicação do quadro. A queda é um

problema de saúde pública, com im-pacto na vida da família e para o setor hospitalar. Para começar o tratamento de uma fratura de fêmur gasta-se em torno de 30 mil reais. Entre os idosos que caem e fraturam algum osso, 80% possuem osteoporose.”

Luciana Cassimiro, psicóloga“Não se pode esquecer que cair

signif ica fragilidade. Caímos ao aprendermos a andar e no pensa-mento coletivo isso é coisa de crian-ça, somente as crianças caem. O indivíduo envelhece, começa a cair e não conta, pois sente vergonha. É necessário obter esta informação de outra forma, porque perguntando diretamente, muitas vezes, não se descobre. O idoso começa a contar alguma história e ao se perceber há algum dado que mostre histórico de quedas. Às vezes não é uma queda ao chão, mas uma queda em que o indivíduo se apoiou em algum lugar. Houve uma instabilidade postural e caiu sentado na cama, por exemplo. A abordagem das quedas é comum entre todos os profissionais da saúde que lidam com idosos. Não se pode esquecer que ao lidar com um idoso é necessário utilizar uma linguagem muito próxima à deles, senão não se obtém a informação.”

Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

“É uma arte muito difícil, imagino que para todos os profissionais que lidam com idosos, fazer com que es-tes idosos entendam as conseqüên-cias da não adesão ao tratamento. Eles pensam: ‘Como esta moça, 30 anos mais nova do que eu, irá dizer o que tenho que fazer?’. Acredito que se entendermos o que eles esperam de nós podemos auxiliar muito na satisfação final do paciente.”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“Sobre a violência contra os ido-sos, as se identificar maus tratos,

busca-se conversar com a família. Geralmente percebe-se insuficiência de cuidados e tenta-se mostrar para a família o que deve ser feito. Há quem alegue que é falta de recursos, mas durante as visitas domiciliares percebe-se que não é este o pro-blema, pois há quem tenha mais recursos e tende a isolar o idoso em uma cama hospitalar, em um quarto no domicílio, fazendo desta cama banheiro, refeitório, enfim, e todas as orientações da equipe multipro-fissional ficam limitadas, porque o cuidador não quer remover o pa-ciente ou seguir as recomendações. Até certo ponto entende-se, mas há situações em que se percebe que há descaso. Se não se obtiver sucesso com a família, notificamos e enca-minhamos à promotoria do idoso. Algumas equipes dedicam parte do

Stefano Frugoli Peixoto, cirurgião-dentista odontogeriatra

Page 20: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

20 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

tempo para ir ao domicílio, realizando consulta ambulatorial no domicílio, mas não se faz suporte de internação domiciliar. Nestas ocasiões, percebe--se se há maus tratos. Há pacientes que vêm sozinhos ao IPGG, não há suporte domiciliar e não aderem ao tratamento por não terem a quem recorrer. Contata-se a família por intermédio do serviço social.”

L uciana Cassimiro, psicóloga

“São situações delicadas, pois às vezes aquele que negligencia é o úni-co familiar que aquele idoso possui. A abordagem deve ser cuidadosa, tenta-se trazer aquela família para perto da equipe, implicar a pessoa que está negligenciando no trata-mento. Abordar a violência contra o idoso em todas as suas esferas é mui-to delicado. Ao se fazer uma denúncia é necessário saber exatamente o resultado da mesma. Ao se falar em políticas públicas, coloca-se o idoso em que local se o retirarmos da sua família? Muitas vezes não existem instituições de longa permanência adequadas e o ideal é que a família ofereça suporte da maneira correta.”

Francisco Souza do Carmo, médico geriatra

“É necessário inclusive detectar se o cuidador não está doente devido ao cuidado que exerce. Existe o es-tresse do cuidador. Muitas vezes ele foi eleito pelos outros familiares e o padrão é a mulher, geralmente que não casou, aquela irmã divorciada ou viúva. É muito comum detectarmos que ela não está se cuidando, o que gera conflitos.”

Geany Aparecida da Silva Santos, enfermeira

“O grande desafio em geriatria e gerontologia é que se cuidará de um indivíduo que possui uma história a qual não se conhece. O cuidador geralmente é um indivíduo que dei-

xou de fazer alguma coisa para se tornar cuidador. Deixou de estudar, de trabalhar, de cuidar de um filho, o que acaba implicando em renda dificultada. Os profissionais devem possuir olhar apurado para lidar com a violência contra o idoso, além de saber lidar com este idoso e a famí-lia. Os recursos são poucos e não há preparação para envelhecer.”

Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica

“As famílias estão diminuindo e a preocupação é quem cuidará de cada indivíduo ao envelhecer. As famílias têm no máximo um ou dois filhos atu-almente. A formação de cuidadores abre caminho para cuidar de idosos.”

Anderson Della Torre, médico geriatra

“Vivencia-se o aumento da expec-tativa de vida com idosos com muitas incapacidades.

Caminhou-se para várias doenças crônicas - antes eram diabéticos e hi-pertensos, por exemplo, não tratados, não diagnosticados, e hoje possuem incapacidades.

Aumentou-se a expectativa de vida com muitas incapacidades. Ficará impossível criar equipamentos de saúde, tanto em nível secundário como terciário, criar instituições de longa permanência para cuidar adequadamente desses idosos que ficarão incapacitados.

Se gastará muito dinheiro e haverá pouco impacto. Os filhos deixarão de trabalhar para cuidar dos idosos e isso causará um grande problema social.

Acredito muito na questão da com-pressão da morbidade.

Começa-se a envelhecer desde que se nasce, realiza-se a prevenção e a promoção da saúde na puericul-tura, quando a mãe leva o filho ao pediatra.

Porém, na adolescência, esquece-se do hebiatra (médico especializado no tratamento de adolescentes) e do clínico. O indivíduo volta a procurar o médico na idade madura, com di-versas morbidades.

Ao se investir no nível primário, no posto de saúde, em institutos em que se possa capacitar ou realizar especia-lização dos profissionais, certamente as doenças crônicas serão diagnos-ticadas antes que se desenvolva a manifestação clínica.

Assim, haverá idosos com menos doenças crônicas, com expectativa de vida bem aumentada e incapacidades somente no final da vida.

Não acredito em políticas públicas em que sejam criados mais centros de referência de idosos e sim em se capacitar as equipes que existem para aprimorar o atendimento básico.”

Luciana Cassimiro, psicóloga

Page 21: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Acontece

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201282 -

Page 22: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

22 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

IPGG: Referência no Tratamento do Idoso

Instituto Racine Realiza Prática do Curso de Pós-Graduação em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica no IPGG

Instituto Paulista de Ge-riatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de

Moraes” foi criado em 2009 para atender a necessidade de imple-mentar políticas públicas capazes de oferecer suporte ao processo de envelhecimento, além de serviços de promoção e de recuperação da saúde e de prevenção de doenças.

Com enfoque no desempe-nho do cuidado e na atenção à manutenção da autonomia dos indivíduos idosos, tem como mis-são promover o envelhecimento

or meio de um Acordo de Cooperação Acadêmica, o Instituto Racine realiza,

no IPGG, atividades práticas do Curso de Pós-Graduação - Espe-cialização Profissionalizante em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica. Os Cursos de Pós-Graduação do Instituto Racine estão fundamentados em Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC) inovadores e bem respal-dados que possibilitam formação técnica, científica, humanista e em consonância com as demandas sociais e mercadológicas.

São objetivos das atividades práticas possibilitar ao especiali-zando a prática da modalidade de Atenção Farmacêutica em idosos atendidos ambulatorialmente, promover seguimento farmacote-rapêutico em pacientes idosos e desenvolver a interdisciplinaridade com os demais profissionais da

P

O saudável e a integração social do indivíduo idoso.

O Centro de Referência do Idoso “José Ermírio De Moraes” (CRI) foi o primeiro equipamento de saúde voltado à assistência à saúde do indi-víduo idoso mantido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Sua criação foi resultado de várias reivindicações da população idosa das imediações de São Miguel Paulista (SP) e foi criado por meio do decreto n° 42.206, de 23 de outubro de 2001, do governador Geraldo Alckmin, com o objetivo de buscar

saúde, envolvidos na assistência ao paciente.

Esta é uma prática monitorada, sendo supervisionados dois alunos por período, ou seja, quatro alunos por dia de atividade, e a avaliação é por meio de apresentação de caso clínico escrito e oral.

O serviço de Assistência Farmacêu-tica no Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Mo-raes” (IPGG) iniciou em outubro de 2001, concomitantemente à inaugu-ração do antigo Centro de Referência do Idoso (CRI-Leste).

Havia uma proposta inovadora de atuação do farmacêutico centrada no paciente, promovendo o uso racional de medicamentos, a adesão ao trata-mento medicamentoso, a prevenção, a detecção e a resolução de proble-mas relacionados a medicamentos, visando à melhoria na qualidade de

excelência no atendimento ao idoso, oferecendo atendimento geriátrico e gerontológico com diversas outras especialidades, bem como exames de média complexidade.

A assistência humanizada, pro-movendo o envelhecimento ativo e saudável, produzindo conhecimentos e atividades educativas é a missão do IPGG. A atuação interdisciplinar é um dos valores primordiais no Instituto, que valoriza ainda o compromisso com o cuidar, a ética nas relações, o respeito à autonomia e a valorização das pessoas.

vida do paciente.

A implantação do serviço de Aten-ção Farmacêutica ocorreu em 2001 e era executado por dois farmacêu-ticos. A média de atendimentos era de dez pacientes/farmacêutico/mês, pacientes portadores de diabetes e hipertensos. Em 2004, verificou-se que a Atenção Farmacêutica deveria ser realizada de globalmente e não dividida por doenças (grupo de ris-co), pois o paciente idoso necessita de atendimento integral. Em 2008, após diversas modificações e apri-moramentos no serviço, a média de atendimentos passou a ser de 30 pacientes/farmacêutico/mês.

Para conhecver mais sobre a propos-ta do Curso de Curso de Pós-Gradua-ção - Especialização Profissionalizante em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica acesse www.raci-ne.com.br/institutoracine ou entre em contato pelo telefone (11) 3670-3499.

Page 23: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

23Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Entrevista com Paulo Sérgio Pelegrino, Diretor Técnico de Departamento de Saúde do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG)

Revista Racine: Quantos idosos o IPGG atende atualmente e quais são os bene-fícios para a população ao dispor de um centro de referência em saúde do idoso?Paulo Sérgio Pelegrino: O Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG) é referência para atendimentos à po-pulação idosa das regiões de Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista e Itaim Paulista (SP), com aproximad amente 96 mil idosos. O IPGG possui cerca de 40 mil idosos cadastrados e realiza uma média de 15 mil atendimentos assistenciais por mês e 10 mil na área de convivência. O IPGG oferece aten-dimento especializado por meio de equipe multiprofissional, procura dar ênfase aos problemas e riscos mais relevantes do envelhecimento como as questões relacionadas à fragilidade, as grandes síndromes geriátricas, poli-farmácia, saúde bucal, rede de suporte social, atendimento domiciliar para idosos mais dependentes, assistência ao cuidador e outros. A assistência compreende ações preventivas, edu-cativas, recuperação da saúde, trata-mento reabilitador e reinserção social do idoso. O envelhecimento crescente é um fato marcante nas últimas décadas e a população tende a ficar ainda mais envelhecida nos próximos decênios. Conseqüentemente passa a ser bastante desafiador para o sistema de saúde oferecer assistência à saúde, com adequado controle das doenças crônicas, manutenção da dependência e da qualidade de vida destes indivídu-os que cada vez mais se aproximam do limite biológico da vida humana.

Cuidar da saúde dos idosos requer co-nhecimentos e habilidades específicos. Os Centros de Referências procuram assistir os indivíduos idosos, em toda a sua integralidade e complexidade, valendo-se dos saberes da geriatria e gerontologia. Além de ter esta dife-renciação no atendimento, procuram disseminar conhecimentos e treinar profissionais e equipes para melhorar a assistência aos idosos no Sistema Único de Saúde (SUS).

RR: Qual é a importância do serviço de Assistência e Atenção Farmacêutica, realizado no IPGG desde 2001?PSP: O envelhecimento produz modifi-cações na fisiologia de todo o organis-mo, conseqüentemente há alterações na absorção, metabolismo, biodisponi-bilidade e interação dos medicamentos. A presença de doenças crônicas e a concomitância da utilização de medica-mentos alteram ainda mais esta farma-cologia. Para maior segurança dos pa-cientes, há a necessidade de um perfil mais adequado de medicamento, além de um monitoramento mais amiúde. A população atendida no IPGG apresenta múltiplos problemas de saúde e várias doenças crônicas e geralmente são assistidas por diversos profissionais e a polifarmácia é freqüente. Os problemas cognitivos, déficits visuais, baixo nível de escolaridade, carente suporte social e familiar interferem negativamente no uso dos medicamentos pelos usuários. Os medicamentos de mais alto custo envolvem procedimentos administra-tivos, por vezes burocráticos, que difi-cultam a prescrição pelos profissionais e o acesso pelos idosos. Para oferecer tratamento adequado, minimizar os problemas e garantir a segurança ao paciente é necessário que haja gestão adequada e atuação farmacêutica que incluam, entre outros aspectos, a padronização, a aquisição, o geren-ciamento de estoques, a dispensação, a atenção farmacêutica, a notificação de efeitos adversos e o suporte aos profissionais, familiares e cuidadores. A atenção farmacêutica melhora o cumprimento terapêutico, minimiza

os riscos e os problemas relaciona-dos à utilização dos medicamentos. Além dos aspectos farmacológicos, propriamente ditos, os farmacêu-ticos, buscam compreender o con-junto paciente, família e cuidador, a condição funcional e cognitiva dos idosos atendidos, os determinantes de cultura, crença, gênero, a condi-ção socioeconômica, o ambiente e os comportamentos que interferem não somente no uso dos medicamentos mas de toda saúde e qualidade de vida dos indivíduos que envelhecem.

RR: Quais são as principais ações reali-zadas atualmente pelo IPGG e quais são as metas mais relevantes para o futuro?PSP: No IPGG busca-se oferecer ações que se integram e se complementam e, assim, todas possuem relevância. Não se consegue atender aos idosos com uma atuação profissional isola-da. Os trabalhos que compreendem participações interdisciplinares mais fortes são os mais prazerosos. As experiências com a gestão de cuida-dos que envolvem o gerenciamento de todo o processo assistencial abrangendo controle das doenças, prevenção de agravos, recuperação da função, adaptação a uma nova condição funcional, uso de medi-camentos, utilização racional dos recursos do sistema de saúde, mobi-lização da rede de suporte informal em um contínuo de ações organiza-dos e gerenciados são ações que, no momento, recebem especial atenção. Para o futuro, pretende-se ampliar a área física para aumentar os aten-dimentos e adequar alguns espaços às novas necessidades. Pretende-se atuar mais fortemente na produção/divulgação de conhecimentos em ge-riatria e gerontologia e na formação/treinamento para profissionais da saúde que atuam ou desejam atuar na assistência aos idosos. Concomitante às atividades assistenciais, de ensino e pesquisa, haverá um papel mais preponderante no acompanhamento das políticas públicas em saúde e en-velhecimento no Estado de São Paulo.

Page 24: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Mesa Redonda

24 - Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Entrevista com Silvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), e com Eliane Blessmann, presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG

Revista Racine: Qual é o histórico da criação da SBGG e quais são os pilares de sua atuação hoje?Silvia Pereira: Em 16 de maio de 1961, em uma sala do Hospital Miguel Couto no Rio de Janeiro (RJ), um grupo de idealistas, lide-rado por Roberto Segadas Vianna, fundou-se a Sociedade Brasileira de Geriatria (SBG). Em 1969, incluiu--se a Gerontologia, tornando-se Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). A SBGG é uma sociedade científica, conta com 2.500 associados e com 16 seções estaduais, além da Revista Geria-tria & Gerontologia, de publicação trimestral, e sede própria no Rio de Janeiro (RJ). Possui como objetivos fundamentais congregar médicos e outros profissionais de nível supe-rior devidamente inscritos nos seus respectivos Conselhos Regionais, que no Brasil se interessem pela geriatria e gerontologia, estimular e apoiar o desenvolvimento e a di-vulgação do conhecimento científico na área de geriatria e gerontologia, promovendo o aprimoramento e a capacitação permanente dos seus associados, estimular iniciativas e obras sociais de amparo à velhice e cooperar com outras organizações interessadas em atividades educa-cionais, assistenciais e de pesquisa relacionadas com geriatria e geron-tologia, manter o intercâmbio com associações congêneres nacionais e estrangeiras, assim como repre-sentar os profissionais brasileiros na área de geriatria e gerontologia junto à International Association of Gerontology and Geriatrics, colher informações técnicas e estatísticas de interesse dos associados, su-gerir e solicitar junto aos poderes competentes as medidas que lhe pareçam adequadas em benefício da saúde pública e do amparo aos idosos. Além disso, a SBGG realiza, de dois em dois anos, um congresso nacional com finalidade de difundir a geriatria e gerontologia nas diver-sas regiões do País, colabora com

o poder público e com as entidades vinculadas aos assuntos de saúde na investigação, no equacionamento e na solução dos problemas de saúde públi-ca relativo às doenças do idoso, zelar pelo nível ético, pela eficiência técnica e pelo sentido social no exercício pro-fissional da geriatria e gerontologia. A SBGG é membro da Associação Médica Brasileira (AMB), entidade credenciada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para realizar concursos e expe-dir Títulos de Especialista em Geriatria e Gerontologia. Assumiu no biênio 2011-2012 a Presidência do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI) e por meio de suas seccionais tem assento nos Conselhos Estaduais do Idoso.

RR: Qual é o papel das comissões da SBGG? Elas atuam junto aos idosos ou são direcionadas somente aos profis-sionais?SP: A SBGG conta atualmente com a Comissão de Defesa Profissional e Éti-ca, Comissão de Título de Especialista em Geriatria, Comissão para Título de Especialista em Gerontologia, Co-missão de Cuidados Paliativos, Co-missão dos Associados, Comissão de Formação Profissional e Cadastro em Geriatria, Comissão de Formação Pro-fissional e Cadastro em Gerontologia, Comissão de Publicações e Comissão de Informática. Estas comissões atu-am junto aos profissionais que cuidam das pessoas idosas, nas diferentes áre-as da saúde e em outras áreas como arquitetura e direito.

RR: Comente e avalie as políticas públi-cas no que se refere ao envelhecimento da população brasileira.Eliane Blessmann: O envelhecimento da população é uma realidade, pois cada vez o brasileiro está vivendo mais. Mas para desfrutar desta etapa da vida é ne-cessário dispor de políticas adequadas que possam garantir um mínimo de condições de qualidade de vida para os que chegam lá. Outro fato a ser destacado é o acentuado crescimento da população muito idosa (acima de 80

anos), sendo que é consenso que os muito idosos estão mais expostos a doenças que podem levar à depen-dência e conseqüente necessidade de cuidados. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Estado brasileiro avançou muito no que se refere à garantia de uma renda mínima para a po-pulação idosa e agora se impõe a necessidade de investir na provisão de cuidados, por meio de políticas públicas. Para tal, o envelhecimento não pode ser percebido como uma questão meramente social sujeita a benesse. O atendimento urgente requer medidas novas e imediatas, como o desenvolvimento de alterna-tivas de assistência com respostas às demandas dos idosos. Dentre as principais demandas está a saúde com críticas ao atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as longas filas nos postos de saúde, a falta de medicamentos e de leitos hospitalares. Aos problemas na ca-pacidade de resposta das políticas de saúde nos serviços públicos, é necessário somar as restrições na oferta de ações na cobertura as-sistencial dos planos de saúde para essa parcela da população. Imple-mentar ações de política pública capazes de responder às demandas dos próprios idosos, das suas famí-lias e das comunidades é um desafio para a Sociedade e para o Estado. É necessário que haja a perfeita dimensão da multifatorialidade do envelhecimento, para que se possa prever e propor a integração das po-líticas, assegurando em muitos mo-mentos a sua complementariedade. Perceber e compreender esse fato novo que se impõe, que é o enve-lhecimento da população, em que os mais anos vividos exigem cuida-dos curativos e preventivos para a manutenção e/ou prolongamento da autonomia e independência, implica em reconhecer a necessi-dade de profissionais qualificados para a formulação e execução das políticas públicas.

Page 25: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 26: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Panorama Geral

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201226 -

Epidemiologia da Saúde do Idoso no BrasilAnderson Della Torre e Francisco Souza do Carmo

Page 27: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Panorama Geral

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 27

ntroduçãoA sociedade brasileira e a so-ciedade mundial passam por grandes modificações, princi-

palmente à medida que os indiví-duos vivem mais. Isto exige uma capacidade de adaptação, o que o idoso nem sempre possui, fazendo com que esses indivíduos enfrentem diversos problemas sociais 1.

Envelhecer é um processo natural que caracteriza uma etapa da vida do indivíduo e ocorre por modifica-ções físicas, psicológicas e sociais que acometem de forma particular cada indivíduo com sobrevida pro-longada. É uma fase em que, ponde-rando sobre a própria existência, o indivíduo idoso conclui que alcançou muitos objetivos, mas também so-freu muitas perdas, entre as quais a saúde destaca-se como um dos aspectos mais afetados 2.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como idosos aqueles indivíduos que possuem 65 anos de idade ou mais, nos países desenvol-vidos, e 60 anos de idade ou mais para indivíduos de países em desen-volvimento. A qualidade de vida e o envelhecimento saudável requerem uma compreensão mais abrangente e adequada de um conjunto de fatores que compõem o dia-a-dia do idoso.

Aspectos demográficos e epidemiológicos

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial iniciado, a princípio, nos países desenvolvidos em decorrência da queda de mor-talidade, das grandes conquistas do conhecimento em saúde, da ur-banização das cidades, da melhoria nutricional, da elevação dos níveis de higiene pessoal e ambiental tanto em residências como no trabalho, assim como em decorrência dos avanços tecnológicos.

Todos esses fatores, no Brasil, começaram a ocorrer no final da década de 1940 e início da década de 1950. O aumento da expectativa de

vida tem sido proporcionado pelos avanços tecnológicos relacionados à área de saúde nos últimos 60 anos, como as vacinas e a utilização de antibióticos e de quimioterápicos, que tornaram possível a prevenção ou a cura de muitas doenças. Alia-da a estes fatores está a queda da fecundidade, iniciada na década de 1960, que culminou com uma rápida transição demográfica.

No Brasil estima-se que em 2025 a população de idosos poderá ultra-passar a cifra dos 32 milhões, fazendo com que esta se torne a sexta maior população geriátrica do mundo, o que representará aproximadamente 13% da população. Em 2000, segun-do dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de indivíduos com 60 anos ou mais era de 14.536.029, contra 10.722.705 em 1991 3.

Esse crescimento traz a consciên-cia da existência do envelhecimento como uma questão social. Questão esta que solicita atenção, pois está di-retamente relacionada a uma crise de identidade, à modificação de papéis, a aposentadorias, a perdas diversas e à diminuição dos contatos sociais, sendo importante destacar que a população de idosos está crescendo, proporcionalmente, mais rapidamen-te do que a de crianças. Em 1980, existiam aproximadamente 16 idosos para cada 100 crianças. Em 2000, essa relação aumentou para 30 idosos por 100 crianças, praticamente dobrando em 20 anos. Isso ocorre devido ao pla-nejamento familiar e à conseqüente queda da taxa de fecundidade, além da longevidade dos idosos 3.

Dados do IBGE também mostram que os indivíduos estão vivendo mais. O grupo com 75 anos ou mais apresenta o maior crescimento rela-tivo (49,3%) nos últimos dez anos em relação ao total da população idosa. Entretanto a sociedade não está preparada para essa modificação no perfil populacional e, embora os indivíduos estejam vivendo mais, a qualidade de vida não acompanha

I

O Brasil será um país velho em 2050, quando a população terá 63 milhões de idosos. Se em 1980 eram 10 idosos para cada 100 jovens, em 2050 serão 172 idosos para cada 100 jovens. Isto porque a esperança de vida ao nascer saiu de 43,3 anos, na década de 1950, para 72,5 anos em 2007 (sexo feminino).

Fonte: Ministério da Saúde

Page 28: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201228 -

essa evolução. Os idosos apresen-tam mais problemas de saúde do que a população em geral. Em 1999, dos 86,5 milhões de indivíduos que referiram ter consultado um médico nos últimos 12 meses, 73,2% possuí-am mais de 65 anos, sendo que esse grupo, no ano anterior, apresentou 14,8 internações por 100 pessoas, representando o maior coeficiente de internação hospitalar. Mais da metade dos idosos (53,3%) apresentou algum problema de saúde, e 23,1% possuíam alguma doença crônica 3.

Em pesquisa realizada nas cinco regiões do município de São Paulo no início dos anos 1990, verificou-se que 86% dos entrevistados apre-sentavam pelo menos uma doença crônica, dado confirmado em estudo de seguimento de dois anos desses indivíduos, mostrando que 94,4% dos idosos avaliados apresentavam mais de uma doença crônica e 32% dos idosos entrevistados eram dependen-tes para suas atividades rotineiras e instrumentais de vida diária 4.

Esses dados retratam uma realida-de preocupante na vida dos idosos: o envelhecimento sem qualidade e a carência no aspecto político e social que dêem suporte para um envelhe-cimento saudável.

Abordagem geriátricaA funcionalidade é o principal ele-

mento da avaliação clínica do idoso.

Está associada ao grau de autonomia e de independência nas Atividades de Vida Diária (AVD). Autonomia signifi-ca decisão e depende diretamente da cognição e do humor. Independência significa execução e depende direta-mente da mobilidade e da comunica-ção. Portanto, a manutenção da au-tonomia e da independência depende do funcionamento harmonioso da cognição, do humor, da mobilidade e da comunicação.

Tais grandes funções devem ser rotineiramente avaliadas no idoso. A cognição é o conjunto de funções corticais formadas pela memória (capacidade de armazenamento de informações), função executiva (capa-cidade de planejamento, antecipação, seqüenciamento e monitoramento de tarefas complexas), linguagem (capacidade de compreensão e de expressão da linguagem oral e escrita), praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de reco-nhecimento de estímulos visuais, au-ditivos e táteis) e função visuoespacial (capacidade de localização no espaço e percepção das relações dos objetos entre si). O humor é a motivação para decidir. A mobilidade é a resultante da postura, da marcha e da capacidade aeróbica do idoso. E, finalmente, a comunicação é a capacidade de inte-ração com o mundo e é constituída por visão, audição e fala.

A perda destas funções pode resul-

tar nas grandes síndromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade e incapacidade comunicativa. O desconhecimento das particularidades do processo de envelhecimento pode gerar interven-ções capazes de piorar o estado de saúde do indivíduo idoso - iatrogenia. A incontinência urinária também é reconhecida como uma das grandes síndromes geriátricas, que afeta a independência do indivíduo, com-prometendo, indiretamente, a mo-bilidade. O idoso com incontinência esfincteriana apresenta uma limitação de sua participação social, em virtude da insegurança gerada pela perda do controle miccional ou fecal. A família, por sua vez, é outro elemento funda-mental para o bem-estar biopsicosocial e sua ausência é capaz de desencadear ou perpetuar a perda de autonomia e independência do idoso - insuficiên-cia familiar 5.

O atendimento ao idoso de forma fragmentada, sem avaliação da sua fun-cionalidade e sem a compreensão das conseqüências do envelhecimento nos processos de saúde-doença repercute negativamente em sua homeostase. A avaliação multidisciplinar do idoso, com auxílio de instrumentos gerontológicos, é a sistematização de uma visão ampla e global do paciente geriátrico 5.

Idosos e suas principais comorbidades

Na atenção à saúde do idoso, sai-se de um paradigma de saúde pública no qual as doenças eram majorita-riamente infecciosas, com métodos diagnósticos simples e baratos, pas-síveis de prevenção por vacinas e de tratamentos eficazes e curtos, para um novo paradigma, no qual as doenças são crônicas e evolutivas, com méto-dos diagnósticos sofisticados e caros. A maioria dessas doenças não possui prevenção eficaz, os tratamentos não são curativos, e, em longo prazo, pode gerar incapacidades, dependências na vida diária e perda da autonomia. Entende-se ser primordial a adesão a

Panorama Geral

Page 29: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Panorama Geral

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 29

tratamentos prolongados, que se não forem otimizados podem resultar em hospitalizações e institucionalizações.

Dentre as principais afecções crô-nicas que acometem os idosos desta-cam-se as doenças cardiovasculares. Apesar do critério para se considerar o idoso como sedentário ter sido bastante complacente, este foi o mais prevalente dos fatores de risco cardiovascular (74%) em população de gerontes de estudo multicêntrico brasileiro em 1995, sendo esse um fator de risco para doença coronária comparável à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), diabetes mellitus, hipercolesterolemia e tabagismo 6.

A pressão arterial elevada, nesse mesmo estudo, ocorreu em 53% dos casos, confirmando que a preva-lência da principal doença cardio-vascular, a HAS, entre os pacientes em seguimento cardiogeriátrico, é preocupante: cerca de 67% 6. Sendo

a HAS a principal doença crônica na população idosa e o mais importante fator de risco cardiovascular modifi-cável, está associada a complicações muito freqüentes nos idosos, como doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, insuficiência cardía-ca, doença renal crônica, doença vas-cular periférica, hipertrofia ventricular esquerda e disfunção diastólica 7.

Não menos importante é cerca de 1/3 (30%) dos pacientes sustentar níveis elevados de colesterol total aumentado. O tabagismo, por outro aspecto, apresenta prevalência me-nor (6%), e a insuficiência coronaria-na é a segunda doença cardiovascu-lar mais freqüente entre os idosos 6.

Outro importante fator de risco cardiovascular, o diabetes mellitus, é freqüentemente subdiagnosticado e subtratado. A prevalência pode chegar a 30% na população idosa, quase sempre assintomático em

gerontes, cujo diagnóstico é definido por exames laboratoriais 7.

Destacam-se ainda as doenças neurodegenerativas e progressivas, como a Doença de Parkinson, que acomete um em cada mil indivíduos da população em geral. A prevalência aumenta com a idade e geralmente acomete indivíduos acima dos 50 anos 8. Esta pode cursar com com-prometimento cognitivo, sendo denominada como demência asso-ciada à Doença de Parkinson, com prevalência encontrada nos artigos nacionais de 10,9% dos pacientes parkinsonianos 9.

As demências são doenças neu-rológicas responsáveis por muitas das admissões em instituições de longa permanência, por causar in-capacidades, devido a um quadro de diminuição progressiva da função cognitiva, isto é, perda de memória, perda da capacidade de abstração

Page 30: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Panorama Geral

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201230 -

e juízo, geralmente, com alteração da personalidade. Exemplos são a Doença de Alzheimer e a demência por múltiplos infartos, além de defi-ciência de vitaminas, hipotireoidismo, infecções, entre outras.

Dentre as demências irreversíveis, a Doença de Alzheimer, a demência vascular, a demência com corpos de Lewy e a demência frontotemporal são as quatro causas mais comuns de demência na prática clínica. O diagnóstico diferencial dessas con-dições se baseia na busca de perfis clínicos característicos por meio de anamnese adequada, de exame físico, de exame neurológico, de avaliação neuropsicológica, além de investiga-ção complementar pertinente, que consiste em exames laboratoriais e de neuroimagem.

Pacientes com suspeita diagnóstica de demência são atendidos com fre-quência crescente em ambulatórios ou em consultórios de profissionais

médicos que lidam com a população geriátrica, o que se relaciona ao ex-pressivo aumento da expectativa de vida da população mundial.

A prevalência de demência duplica a cada cinco anos após os 60 anos, resultando em aumento exponencial com a idade. Em estudo populacional brasileiro recente, realizado com idosos vivendo na comunidade, a pre-valência de demência variou de 1,6%, entre os indivíduos com idade de 65 a 69 anos, a 38,9%, entre aqueles com idade superior a 84 anos 10.

Outras afecções prevalentes que acometem os idosos são as doenças osteoarticulares, entre elas a oste-oporose, a artrite reumatóide e a osteoartrite. A osteoporose é muito comum e está associada ao grande risco de fraturas, sendo as de quadril as maiores causadoras de imobiliza-ção e dependência física. A artrite reumatóide é um processo inflama-tório crônico, sistêmico, afetando

as membranas sinoviais e causando, além de dor, deformidades articu-lares. A osteoartrite é uma doença articular degenerativa que leva a dor articular e incapacidade, com rigidez matinal no início e deformidade na fase tardia, podendo evoluir com instabilidade articular.

Uma condição clínica freqüente no idoso é a depressão. Estudos epide-miológicos indicam taxas de preva-lência que variam de 1 a 16% entre os idosos vivendo na comunidade. Em indivíduos portadores de doenças clínicas essas taxas são ainda mais elevadas. Por exemplo, até 45% dos pacientes com doença coronariana apresentam sintomas depressivos graves. Taxas semelhantes são des-critas em associação com uma série de doenças clínicas típicas do idoso, como a Doença de Parkinson, a do-ença cerebrovascular e a Doença de Alzheimer. Apesar disso, a presença de sintomas depressivos é apenas

Page 31: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Panorama Geral

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 31

ocasionalmente reconhecida pelos pacientes e profissionais da saúde, o que leva a sofrimento desnecessário àqueles que não recebem tratamen-to e a um elevado custo econômico à sociedade 11.

Considerações finaisA Lei Federal nº 8.842/1994 criou o

Conselho Nacional do Idoso, respon-sável pela viabilização do convívio, da integração e da ocupação do idoso na sociedade, por meio de sua participa-ção na formulação das políticas públi-cas e nos projetos e planos destinados à sua faixa etária. Entre suas diretrizes, prioriza o estímulo à capacitação dos médicos na área da gerontologia e a di-vulgação de estudos e pesquisas sobre aspectos relacionados aos idosos e ao envelhecimento.

As políticas públicas governamen-tais procuram implementar moda-lidades de atendimento aos idosos tais como centros de convivência destinados à prática de atividade física, cultural, educativa, social e de lazer como forma de estimular sua participação no contexto social.

A família, como a comunidade, possui lugar de destaque na criação de uma estrutura que estimula novos caminhos para o idoso, bem como proporciona efetivas opções àqueles que decidem ou são compelidos a deixar o serviço ativo.

Mesmo quando possui boas con-dições financeiras, o idoso deve estar envolvido em atividades ou ocupações que lhe proporcionem prazer e felicidade. A atividade em grupo é uma forma de manter o indivíduo engajado socialmente, na qual a relação com outros indivíduos contribui de forma significativa para sua qualidade de vida.

É fato a maior incidência e preva-lência de doenças e condições crô-nicas que culminam, muitas vezes, com internações e reinternações hospitalares por parte da população idosa. Conseqüentemente podem gerar incapacidades e dificuldades de freqüentar unidades de saúde

para controles e acompanhamento, além de não propiciar o uso correto de medicamentos prescritos e de alimentação adequada. No entanto, a situação social do indivíduo idoso no Brasil revela a necessidade de

discussões mais aprofundadas sobre as relações do idoso na família e na sociedade. Este aspecto deve ser enfatizado nas salas de aulas, sobre-tudo na formação de profissionais da saúde e da educação.

Anderson Della Torre é graduado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, especialista em clínica médica e geriatria da Irmandade pelo programa de residência médica da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Atualmente é médico assistente do Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e coordenador médico do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Francisco Souza do Carmo é graduado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, especialista em clínica médica e geriatria pelo programa de residência médica da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, mestre em ciências da saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Irmandade da Santa Casa de Misericóridia de São Paulo. Atualmente é médico assistente do Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e médico do IPGG.

ReFeRênCiAS BiBliogRáFiCAS

1. Zimerman GI. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2000.

2. Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro ACM, Leite RCBO. A situação social do idoso no Brasil:uma breve consideração. Acta Paul Enferm 2005;18(4):422-6.

3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil: 2000. Rio de Janeiro; 2002.

4. Ramos LR, Rosa TEC, Oliveira ZM, Medina MCG, Santos FRG. Perfil do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 1993;27(1):87-94.

5. Moraes EM. Avaliação multidimensional do idoso: instrumentos de rastreio. Belo Horizonte: Folium, 2008:1-3.

6. Taddei CFG, Ramos LR, Moraes JC, Wajngarten M, Libberman A, Santos SC et al. Estudo multicêntrico de idosos em ambulatórios de cardiologia e geriatria de instituiçöes brasileiras. Arq. bras. Cardiol 1997;69(5):327-33.

7. Ramos LR, Toniolo J. Guia de geriatria e gerontologia. Barueri: Manole, 2005.

8. Cardoso F, Camargos ST, Silva GAJ. Etiology of Parkinsonism in a Brazilian Movement Disorders. Clinic Arq Neuropsiquiatr 1998;56(2):171-175.

9. Silberman C, MarinhoV, Laks J, Engelhardt E. Demência e doença de Parkinson: Revisão de publicações brasileiras de 1980 a 2000. Rev. bras. Neurol 2002;38(4):22-30.

10. Caramelli P, Barbosa MT. Como diagnosticar as quatro causas mais frequentes de demência? Rev. Bras. Psiquiatr 2002:24 suppl.1.

11. Almeida OP, Almeida AS. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de depressão em geriatria (GDS) versão reduzida. Arq Neuropsiquiatr 1999;57(2-B):421-426.

Page 32: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Farmácia

Papel do Farmacêutico no Cuidado ao Paciente IdosoGraziela Luppi e Maristela Ferreira Catão Carvalho

Os estudos analisados reforçam a idéia de que a intervenção do farmacêutico aumenta a adesão dos pacientes idosos a seus regimes terapêuticos, e pode promover redução de custos hospitalares, ao reduzir o número de prescrições, de internações e de medicamentos associados a RAMs.

Fonte: Caderno de Saúde Pública vol.18 nº. 6 Rio de Janeiro Nov./Dez. 2002

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201232 -

Page 33: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 33

so de medicamentos em idosos Na atualidade, o número

de medicamentos disponíveis à po-pulação é muito elevado, fazendo com que haja cada vez mais a pre-ocupação de que os mesmos sejam seguros, eficazes e de qualidade, o que os tornam as estratégias terapêuticas mais utilizadas para manter a saúde dos pacientes. To-davia, nem sempre a utilização de um medicamento produz resultado positivo esperado, seja porque apa-recem efeitos tóxicos ou porque não se consegue atingir os objetivos terapêuticos buscados 1. A terapêu-tica farmacológica envolve riscos e benefícios, pois os medicamen-

tos são considerados substâncias potencialmente perigosas, mas é principalmente devido ao modo de uso dos medicamentos e não sim-plesmente à composição química destes que oferecem perigos e riscos ao paciente 2.

As doenças crônicas degenerati-vas decorrentes do envelhecimento levam a uma maior demanda por medicamentos 3. Nos Estados Uni-dos da América (EUA), Kaufman et al (2002) 4 verificou que 81% da popula-ção idosa tomavam pelo menos um medicamento. Carvalho (2007) 5, em São Paulo (SP) verificou dados seme-lhantes, sendo a freqüência de 81,1% em uso de medicamentos.

O uso de medicamentos em ido-sos pode desencadear problemas

U com a terapêutica farmacológica, seja pelo próprio processo fisiológico de envelhecimento (senescência) ou pelas doenças relacionadas ao enve-lhecimento (senilidade).

Os problemas de senescência se referem às alterações farmacociné-ticas (Quadro 1) e farmacodinâmicas no idoso, que podem aumentar as probabilidades de reações adversas, interações medicamentosas, cascata iatrogênica e a necessidade do ajuste de dose do medicamento.

Por outro aspecto, esses problemas encontrados com os medicamentos também podem estar relacionados à senilidade, esta última, também, pode provocar o aumento do uso do medicamento (polifarmácia) e a não adesão ao tratamento.

Propriedade farmacocinéticas

Alteração fisiológica Possível influência sobre o efeito dos fármacos

Absorção

↑ pH gástrico

↓ Superfície de absorção↓ Fluxo sanguíneo↓ Motilidade gastrintestinal

Aumento da absorção de fármacos inativados pelo ácido gástricoEfeito insignificanteEfeito insignificanteEfeito insignificante

Distribuição

↓ Débito cardíaco

↓ Água corporal total

↓ Massa corporal magra

↓ Albumina plasmática

↓ Glicoproteína α1 ácida↓ Gordura corporal

Redução da liberação dos fármacos para os órgãos de eliminação, mais efeitos agudos sobre o sistema nervoso centralAumento da concentração e efeito dos fármacos distribuídas na água corporalAumento da concentração e efeito dos fármacos distribuídas na massa corporal magraAumento do efeito dos fármacos com ligação à albumina e interação entre as mesmasEfeito insignificanteAumento do seqüestro dos fármacos lipofílicos na gordura

Metabolismo↓ Massa hepática

↓ Fluxo sanguíneo hepático

Diminuição do metabolismo da fase 1 de alguns fármacosDiminuição do metabolismo dos fármacos que normalmente sofrem rápida depuração pelo fígado

Excreção

↓ Fluxo sanguíneo hepático↓ Taxa de filtração glomerular

↓ Secreção tubular

Diminuição da eliminação renal dos fármacos e metabólitos hidrossolúveisDiminuição da excreção renal dos fármacos e metabólitos hidrossolúveisDiminuição da eliminação renal dos fármacos e metabólitos ativamente secretados na urina

Quadro 1 - Relação entre as alterações fisiológicas e sua possível influência sobre o efeito farmacocinético dos fármacos

Fonte: Carvalho, 2007 6

Page 34: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201234 -

Da assistência à atenção farmacêutica

A colaboração do farmacêutico na prática da assistência ao paciente deve focar nas ações de assistência farmacêutica e de atenção farmacêu-tica, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos.

A ação de assistência farmacêutica apresenta uma forma mais abrangen-te de gestão administrativa do far-macêutico. Por outro lado, a atenção farmacêutica, que está inserida na assistência farmacêutica, apresenta como foco a atuação clínica do far-macêutico, sendo assim as ações se complementam e possibilitam a ação integral ao paciente.

Gestão administrativaA atuação do farmacêutico na

gestão administrativa visa garantir o acesso do paciente ao medicamento, considerando-se as ações que incluem a padronização, a aquisição, o armaze-namento e a distribuição. Além disso, ele deve atuar na gestão dos recursos humanos de sua equipe, para que es-sas ações ocorram de forma integrada.

As ações relacionadas à gestão ad-ministrativa são comumente realiza-das pelos profissionais farmacêuticos no âmbito do atendimento à saúde, porém no atendimento ao idoso é necessário um olhar diferenciado, considerando-se as peculiaridades desta população.

Entre as ações administrativas de-senvolvidas pelo farmacêutico, duas apresentam principal destaque no atendimento ao idoso, sendo elas a padronização de medicamentos e a gestão de recursos humanos.

Padronização de medicamentos

Na atuação com o idoso é extrema-mente importante o envolvimento da equipe multiprofissional junto ao farmacêutico, por meio da Comissão de Farmácia e Terapêutica 7 que irá elencar os medicamentos que estarão disponí-veis ao paciente na unidade de saúde.

A comissão deve discutir os medi-camentos visando atender as especi-ficidades da população idosa. Desta forma, devem ser considerados três aspectos importantes.

O primeiro se refere à padroniza-ção de medicamentos mais indicados ao idoso, seguindo recomendações de evidências científicas, sendo a mais utilizada a lista de medicamen-tos potencialmente inapropriados aos idosos - Critérios de Beers, a qual relaciona medicamentos que, por falta de eficácia terapêutica ou por risco aumentado de efeitos adversos que supera seus benefícios, sendo assim se comparadas com outras categorias de medicamentos, devem ter seu uso evitado.

O segundo aspecto se refere à apresentação do medicamento, entre eles a forma farmacêutica e a embalagem, pois a escolha adequada da apresentação permitirá melhor identificação, manuseio e administra-ção do medicamento em idoso com déficit visual e motor, assim como os que apresentam problemas de deglutição (disfagia).

O terceiro aspecto se refere aos medicamentos novos, pois os ensaios clínicos não englobam a população idosa, portanto é de fundamental importância promover a farmacovi-gilância nesta população.

Gestão de recursos humanos

O farmacêutico na gestão de re-cursos humanos deve considerar as competências técnicas (formação e conhecimento técnico) e comporta-mentais (características de caráter) de sua equipe. Essa avaliação é ne-cessária para a compreensão e a atu-ação da equipe para o atendimento específico ao idoso e na elaboração de capacitações e treinamentos.

Atuação clínicaA necessidade da atuação clínica do

farmacêutico aplicada aos pacientes idosos é evidente por várias razões 8:

• Os idosos representam, na atualidade, os principais usuários dos serviços assistenciais farmacêuticos;

• São pacientes polimedicados (risco elevado de sofrer problemas relacionados com os medicamentos), devido à pluripatologia presente, com tendência a cronicidade e aparecimento de incapacidades;

• A freqüência de interação medicamentosa e de reações adversas aos medicamentos nos idosos são maiores que nos adultos jovens;

Page 35: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 35

• São indivíduos que apresentam dificuldades de compreensão em relação às doenças e ao manejo dos medicamentos devido à autonomia limitada (dificuldades audiovisuais, de movimento, de percepção, entre outras);

• Apresentam peculiaridades fisiológicas e farmacológicas (farmacodinâmicas e farmacocinéticas) relacionadas ao processo de envelhecimento que podem interferir na resposta aos fármacos;

• Grande parte desses pacientes necessita de uma terceira pessoa (familiares, cuidadores) que deve também estar informada e envolvida no processo de utilização dos medicamentos, especialmente na administração dos mesmos, para evitar risco de não cumprimento do tratamento medicamentoso;

• A automedicação, freqüente nessa população, deve ser vigiada, orientada e assistida pelo farmacêutico;

• Em relação ao farmacêutico é necessária a integração na equipe interdisciplinar de atendimento ao idoso e a necessidade de se envolver em projetos de investigação, especialmente aos relacionados com o consumo de medicamentos.

Desta forma, a atuação clínica do farmacêutico pode ocorrer por meio

da prática da atenção farmacêutica, cujo objetivo principal é a prevenção, detecção e resolução dos problemas farmacoterapêuticos, avaliando os problemas de saúde dos pacientes a partir da perspectiva da necessi-dade, efetividade e segurança dos medicamentos.

A atenção farmacêutica é uma nova filosofia de prática profissio-nal, na qual o profissional possui papel fundamental a desempenhar, no que tange ao atendimento das necessidades farmacoterapêuticas dos pacientes. Por esse motivo, essa prática possui especial importância no atendimento aos idosos.

A prática da atenção farmacêutica é caracterizada como uma consulta do paciente, neste caso o idoso, com o farmacêutico, que irá desenvolver o seguimento farmacoterapêutico. Esse seguimento se refere à ana-mnese farmacêutica, ao diagnós-tico farmacêutico, às intervenções (conduta) e ao retorno conforme a necessidade do paciente.

Entretanto, para o atendimento ao idoso, o farmacêutico necessita desenvolver um olhar gerontoló-gico, ou seja, deve avaliar o grau de autonomia e de independência, grau de capacidade funcional, além das questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis.

Esses fatores são exemplos que podem influenciar no uso do medi-camento pelo idoso, portanto, não são raros os casos em que, para o farmacêutico intervir no problema

farmacoterapêutico, necessita atuar junto à equipe multiprofissional, com os profissionais médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assis-tentes sociais, entre outros.

Desta forma, os farmacêuticos podem colaborar com os demais pro-fissionais da saúde e com o paciente, no planejamento, na orientação e no acompanhamento da farmacotera-pia, contribuindo com a obtenção de melhores resultados com o uso de medicamentos.

Experiência da atenção farmacêutica no IPGG

O serviço de assistência farmacêuti-ca no Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes” iniciou em outubro de 2001, concomitantemente à inauguração da unidade. Esse serviço propunha uma ação inovadora de atuação do farmacêutico centrada no paciente - conhecido como atenção farmacêuti-ca. A idéia da atenção farmacêutica no IPGG nasceu na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), em 2001, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos, a ade-são ao tratamento medicamentoso, a prevenção, a detecção e a resolução de problemas relacionados a medicamen-tos, visando a melhoria na qualidade de vida do paciente.

A atenção farmacêutica é execu-tada por três farmacêuticas, sendo que a forma de entrada do paciente nesse serviço deve ser por encami-nhamento do profissional do IPGG ou por procura espontânea do pa-ciente/cuidador.

O atendimento segue os concei-tos de Minessota (EUA) e Granada (Espanha), considerando também as questões gerontológicas. Possui como objetivo:

• Coletar informações sociais como nível de escolaridade e necessidade de cuidador;

• Verificar o motivo da consulta, seja ela por encaminhamento ou por procura espontânea;

Page 36: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201236 -

• Identificar a queixa do paciente;

• Avaliar a prescrição, identificando possível prescrição de medicamentos inapropriados a idosos e analisando seu efeito, sub ou sobredose, medicamentos prescritos não padronizados no Sistema Único de Saúde (SUS), duplicidade de medicamentos, entre outros;

• Avaliar a utilização dos medicamentos pelo paciente, verificando possível problema com o medicamento, tais como Reação Adversa ao Medicamento (RAM), queixa técnica, automedicação, erro de identificação do medicamento, medicamentos vencidos, desorientação e confusão quanto ao uso do medicamento, não adesão ao medicamento (identificando, também, a causa da não adesão), entre outros;

• Avaliar exames laboratoriais que o paciente apresenta em mãos ou que consta em prontuário. Caso seja necessário para a avaliação clínica do medicamento, o farmacêutico discute o caso com o enfermeiro ou o médico que solicita os exames laboratoriais necessários;

• Aplicar testes conforme a necessidade do caso, ou seja, em casos de queixa ou de detecção de perda de memória aplicar o Mine Exame do Estado Mental (MEEM), em casos de suspeita de RAM aplica o Algoritmo de Naranjo e em casos de suspeita de violência aplicar a notificação compulsória de violência em idosos;

• Realizar o diagnóstico farmacêutico classificando os RNM e os Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM);

• Elaborar o plano terapêutico, ou seja, a intervenção farmacêutica. Em casos de substituir, retirar, adicionar ou modificar a dose, o

farmacêutico realiza interconsulta com o médico que analisa o caso, na qual ele aceita ou não a intervenção do farmacêutico, ou solicita consulta médica para adequada avaliação do caso. A interconsulta se refere à discussão de caso entre dois ou mais profissionais. São para casos que não necessita agendar uma reunião para a discussão e assim se permite agilizar o atendimento;

• Avaliar o tempo para o retorno do paciente. O tempo de retorno

dependerá do tipo de problema que o idoso apresenta, se há ou não necessidade de monitorização de pressão arterial ou da glicemia capilar, realização de novos exames ou até mesmo esperar que se inicie o efeito do medicamento.

Atualmente o serviço de atenção farmacêutica atende em média 80 pacientes/mês, sendo que se encon-tra em constante aprimoramento com a finalidade de proporcionar o atendimento mais adequado ao paciente idoso.

Graziela Luppi é graduada em farmácia pelo Centro Universitário São Camilo, cursou aprimoramento profissional em farmácia hospitalar pelo Hospital do Servidor Público Estadual, especialista em farmacologia clínica pelo Instituto de Pesquisas Hospitalares (IPH) e especialista em Atenção Farmacêutica – Formação em Farmácia Clínica pelo Instituto Racine. Atualmente é farmacêutica do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermíniuo de Morais” e docente do Instituto Racine.

Maristela Ferreira Catão Carvalho é graduada em farmácia pela Universidade Camilo Castelo Branco, especialista em Farmácia Hospitalar pelo IPH, especialista em saúde pública e envelhecimento e mestre em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Atualmente é farmacêutica e diretora da Assistência Farmacêutica do IPGG e docente do Instituto Racine.

REFERênCiAs BiBLioGRáFiCAs

1. Dader MJF, Munoz PA, Martinez FM. Atenção Farmacêutica: conceitos, processos e casos práticos. São Paulo: Editora RCN, 2008.

2. Cipolle RJ, Strand LM, Morley PC. O exercício do profissional farmacêutico. Brasília: Conselho Federal de Farmácia; 2006. A morbidade e mortalidade em relação aos fármacos: o desafio para o cuidado farmacêutico; p. 41-82.

3. Romano-Lieber NS, Teixeira JVT, Farchat FCLG, Ribeiro E, Crozatti MTL, Oliveira GSAA. Revisão dos estudos de intervenção do farmacêutico no uso de medicamentos por pacientes idosos. Cad Saúde Pública. 2002; 18(6):1499-507.

4. Kaufman DW, Kelly JP, Rosenberg L, Anderson TE, Michell AA. Recent Patterns of Medication Use in the Ambulatory Adult Population of the United States. JAMA. 2002; 287(3):337-44.

5. Carvalho MFC. A polifarmácia em idosos no município de São Paulo - Estudo SABE - Saúde, Bem-estar e Envelhecimento. [tese de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2007.

6. Carvalho MFC, Luppi G, Reis MP. Atenção farmacêutica. In: Netto Papaléo M. Tratado de Gerontologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2007. p 719-727

7. Cavallini ME, Bisson MP. Farmácia hospitalar: um enfoque em sistemas de saúde. 1.ed. São Paulo: Manole, 2002. p.103-16.

8. Carranza JH. Conceptos en atención farmacêutica geriátrica. In: Carranza, JH.; Torrejon C.M. Atención farmacêutica em geriatria. Madrid: Elsevier. cap. 1, p. 1-16.

Page 37: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 38: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Alimentação do Indivíduo IdosoSilvia Regina Borgheresi Calil

Especial de Capa - Nutrição

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201238 -

Page 39: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Nutrição

39Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012

Silvia Regina Borgheresi Calil

té 2025, segundo a Orga-nização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será o sexto país do mundo em

número de idosos. Ainda é grande a desinformação sobre a saúde do idoso e as particularidades e desafios do envelhecimento populacional para a saúde pública no contexto social brasileiro 1. Em 2050, os idosos cor-responderão a 14,2% da população brasileira, o que sinaliza a necessidade de se conhecer mais sobre o envelhe-cimento, suas repercussões e impacto sobre o sistema de saúde brasileiro 2.

O envelhecimento humano, apesar de ser um processo natural, dinâmico e progressivo, é caracterizado por al-terações físicas, morfológicas, funcio-nais, psicológicas e sociais 3. À medida que o indivíduo envelhece, declina sua capacidade de adaptação, tornando-o extremamente vulnerável a proble-mas nutricionais e enfermidades.

É de fundamental importância conhecer as modificações corpó-reas normais que ocorrem durante o processo de envelhecimento, principalmente nos países em de-senvolvimento, onde a população idosa apresenta um envelhecimento funcional precoce. As alterações biológicas próprias deste processo incluem a progressiva diminuição da massa corporal magra e de líquidos corpóreos, o aumento da quantidade de tecido gorduroso, a diminuição de vários órgãos (como rins, fígado e pulmões) e, sobretudo, grande perda de músculos esqueléticos 4, 5.

O olfato, o paladar e a visão dimi-nuem, podendo reduzir o consumo alimentar, assim como a capacidade de mastigação. O idoso passa a ter escolhas alimentares alteradas, que podem diminuir o valor nutritivo da alimentação e, com isso, aumentar o risco de desnutrição 6.

Nos idosos, o processo da doença pode contribuir com a piora do estado nutricional e submeter o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas con-dições de saúde e nutrição do idoso 7.

A no indivíduo idoso são, portanto, processos fundamentais, mas com-plexos. Isso se deve à ocorrência de diversas alterações, tanto fisiológicas quanto patológicas, além de modi-ficações de aspectos econômicos e de estilo de vida, entre outros, com o avançar da idade 10.

As dificuldades encontradas pelos idosos em geral e com demência em torno da alimentação e da nutrição são bem documentados 11. A inges-tão de alimentos reduzida e a perda de peso são normais com o avanço da idade 12, 13, 14.

Nesse contexto, a avaliação nutri-cional do paciente idoso é essencial, de modo que a desnutrição seja pre-cocemente diagnosticada e que se-jam adotadas medidas eficazes para reversão desse quadro. Duas formas de avaliação nutricional utilizadas na prática clínica são a Avaliação Subjetiva Global (ASG) 15, 16 e a Mini Avaliação Nutricional (MAN), desen-volvida especialmente para avaliação do idoso 17.

As alterações orgânicas, funcionais e psicológicas decorrentes do enve-lhecimento normal 18 são variadas e dependem de como cada um se pre-parou para esta etapa da vida, de sua capacidade física, da manutenção das atividades que proporcionam prazer e desenvolvimento intelectual e pessoal e da rede social que contribuem para a manutenção de sua autonomia 19.

O consumo alimentar em idosos pode ser patologicamente limitado por fatores como próteses inadequa-das, incapacidade funcional, depres-são, isolamento e pobreza 20.

Necessidades energéticas dimi-nuem com o envelhecimento como resultado das alterações do meta-bolismo basal e da atividade física. A necessidade basal não está sob comando do indivíduo, mas o gasto energético no exercício físico varia de acordo com os padrões de ativida-de. Atividade física pode apresentar mais influência na manutenção do balanço energético 21.

Em casos de pacientes com diag-

A alimentação adequada contribui para o bom funcionamento do organismo, previne e auxilia no tratamento de diversas doenças. É importante respeitar os horários das refeições, comer moderadamente, prestando atenção na qualidade e quantidade dos alimentos consumidos.

Fonte: Guia da Pessoa Idoso - Guia para o Envelhecimento Ativo, Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” - Coordenadoria de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES)

Um dos fatores relacionados ao envelhecimento sadio é a nutrição adequada durante toda a vida. O es-tado nutricional adequado aumenta o número de pessoas que se aproxi-mam do seu ciclo máximo de vida 8 e é de extrema importância para que o idoso resista às doenças crônicas e debilitantes, favorecendo a manu-tenção da saúde e a independência 9.

A determinação do diagnóstico nu-tricional e a identificação dos fatores que contribuem para tal diagnóstico

Page 40: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Nutrição

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201240 -

nóstico de demência, com a progressão da doença, proble-mas relacionados com o com-portamento alimentar podem surgir, causando impacto nega-tivo sobre o estado nutricional, levando posteriormente à des-nutrição e à desidratação 22, 23. Dificuldade de mastigação e/ou deglutição, geralmente oca-sionada pelo declínio cognitivo, pode também afetar a ingestão de alimentos pelo paciente 24.

Suplementos hipercalóricos e outras opções de alimentação por via oral podem auxiliar os pacientes com demência no ga-nho de peso adequado, poden-do ser utilizados isoladamente ou em combinação com o uso de nutrição enteral 25.

Deve-se dar atenção para a ingestão de fibras, em particular nos idosos, considerando que to-das as diretrizes nacionais sobre alimentação saudável e guias, como a pirâmide alimentar, re-forçam esta necessidade 26.

A compreensão de todos os fatores que limitam a manuten-ção do estado nutricional ade-quado nessa população amplia o entendimento das condições peculiares que o determinam e facilitam as estratégias neste segmento da vida, com resulta-dos positivos não somente das condições de vida e saúde do idoso, mas também dos indiví-duos de seu convívio social.

RefeRênCiaS BiBliogRáfiCaS

1.Organização Pan-Americana da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde; 2005. 60p.2. Chaimowicz F. A Saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saúde Pública. 1997;31(2):184-200.3. Carvalho Filho ET, Alencar YMG. Teorias do envelhecimento. In: Carvalho Filho TE, et al. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. São Paulo: Atheneu, 2000:229-40.4. Najas MS, Nebuloni C C Avaliação Nutricional In: Ramos LR, Toniolo Neto J . Geriatria e Gerontologia. Barueri: Manole; 2005. 1ª ed. p 299. 5.Chumlea WC. Anthropometric assessment of nutritional status in the elderly. In: Himes JH ed. Anthropometric assessment of nutritional status. New York, Wiley – Liss, 1991; 399-418.6. Ferreira MT., et al. Necessidades nutricionais no idoso ativo. Rev. Nutrição Saúde e Performance, São Paulo, p.35-40, jan./fev./mar. 2004.7. Gariballa S, Forster S. Associations between underlying disease and nutritional status following disease and nutritional status following acute illness in older people. Clinical Nutrition 2007;26(4):466-73.8. Who Expert Committee on Physical Status. The use and interpretation of antropometry physical status: report of a WHO Expert Commitee. Switzerland; 1995.9. Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. São Paulo: Manole, 2005.10. Sampaio LR. Avaliação nutricional e envelhecimento. Revista de Nutrição 2004;17(4):507-14.11. Chen CC-H, Tang ST, Wang C, Huang G-H. Trajectory and determinants of nutritional health in older patients during and six-month post-hospitalisation. Journal of Clinical Nursing 2009; 18: 3299– 307.12.Burns A, Marsh A, Bender DA. Dietary intake and clinical, anthropometrical and biochemical indexes of malnutrition in the elderly demented patients and nondemented subjects. Psychol Med 1989;19:383-91.13.Gabriel R, García E. Estado nutricional de los ancianos españoles. Estúdios epidemiológicos. In: Ribera Casado JM, Gil Gregorio P, eds. Alimentación, nutrición y salud en el anciano. Madrid: Editores Médicos; 1999. p. 25-33.14.Herrero R. Estado nutritivo de un grupo de personas de edad avanzada. Estúdio dietético, estudio clínico y antropométrico. Nutr Clin 1986; 6:3-14.15. Detsky AS. Nutritional status assessment: does it improve diagnostic or prognostic information? Nutrition 1991; 7: 37-38.16. Baker JP, Detsky AS, Wesson DE, Wolman SL, Stewart S, Whitewell J, Langer B, Jeejeebhoy KN. Nutritional assessment: a comparison of clinical judgment and objective measurements. N Engl J Med 1982;306: 967-72.17. Papaléo Netto M. O estudo da velhice no século XX: histórico, definição de campo e termos básicos. In: Freitas EV, Py L, Néri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 2-12.18. Coppard L. La autoatención de la salud y los ancianos. In: Organización Panamericana de la Salud. Hacia el bienestar de los ancianos. Washington (DC); 1985. p.45-58. (OPS Publicación Científica, 492).19. Guigoz Y, Vellas B, Garry PJ. Mini Nutritional Assessment: a pratical assessment tool for granding nutritional state of elderly patients. Facts and Research in Gerontology. 1994; 4(2): 15-59.20.Wilson MM, Morley JE. Invited review: aging and energy balance. J Appl Physiol 2003; 95:1728-36.21. Seale JL, Klein G, Friedmann J. Energy expenditure measured by doubly labeled water, activity recall, and diet records in the rural elderly. Nutrition 2002; 18(7-8):568-573.22. Amella EJ. Mealtime difficulties. In: Capezuti E, Zwicker D, Mezey M, Fulmer T, Gray-Miceli D, Kluger M, eds. Evidence-Based Geriatric Nursing Protocols for Best Practice, 3rd edn. New York: Springer Publishing Company, p. 337–51.23. Riviere S, Gillette-Guyonnet S, Andrieu S, Nourhashemi F, Lauque S, Cantet C, Salva A, Frisoni G & Vellas B (2002) Cognitive function and caregiver burden: predictive factors for eating behavior disorders in Alzhiemer’s disease. International Journal of Geriatric Psychiatry 17, 950–955.24. Chang, C.-C. and Roberts, B. L. (2008), Feeding difficulty in older adults with dementia. Journal of Clinical Nursing, 17: 2266–2274.25.Hanson LC, Ersek M, Gilliam R, Carey TS. Oral Feeding Options for People with Dementia: A Systematic Review. Journal of the American Geriatrics Society 2011; 59: 463–72. 26. Donini LM, Savina C, Canella C. Nutrition in the elderly: role of fiber. Arch Gerontol Geriatr 2009;49 (Suppl 1):61-9.

Silvia Regina Borgheresi Calil é graduada em nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, especialista em nutrição e mestre em nutrição e saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Atualmente é docente do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e nutricionista do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”.

Page 41: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 42: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Fisioterapia na Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Carla Gion de Almeida e Anna Carolina Gonçalves de Medeiros

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201242 -

Page 43: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 43

população mundial está envelhecendo - e rapida-mente. Segundo dados do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil segue nesse processo de envelhecimento, sendo as regiões Sudeste e Sul as duas mais envelhe-cidas do País 1, 2.

Paralelamente às transformações demográficas há as mudanças no perfil de morbimortalidade da po-pulação que, ao envelhecer, assiste ao aumento da prevalência das Do-enças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT) - estados permanentes ou de longa permanência - que reque-rem acompanhamento constante, pois, em razão da sua natureza, não possuem cura. Atualmente são as principais causas de mortalidade em todas as regiões do País 3.

Delineia-se, portanto, um novo paradigma na saúde: a população envelhece e o indicador de saúde importante não é mais a presença ou não de doença, mas o grau de capacidade funcional do indivíduo. É o grau de capacidade funcional que permitirá identificar a população de risco para hospitalização, institucio-nalização e morte 3.

De acordo com a Política Nacio-nal de Saúde do Idoso, o principal problema que pode afetar o idoso, como conseqüência da evolução de suas enfermidades e de seu estilo de vida, é a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habili-dades físicas e mentais necessárias para a realização de suas atividades básicas e instrumentais da vida diária. Envelhecimento saudável, dentro dessa nova ótica, tem sido resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental, indepen-dência na vida diária, integração so-cial, suporte familiar e independência econômica. O bem-estar na velhice ou saúde em um estado mais amplo seria o resultado do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade fun-cional do idoso, sem necessariamente significar ausência de problemas

A multissistêmico apenas, mas em fun-ção das dificuldades e necessidades dos idosos, de seus familiares e da comunidade 6.

A reabilitação gerontológica é definida como um conjunto de inter-venções diagnósticas e terapêuticas cujo objetivo é manter/restaurar a capacidade funcional dos idosos, otimizando seu potencial individual. Inclui várias ações especializadas que devem ser desenvolvidas por uma equipe multiprofissional apta a rea-lizar intervenções multidimensionais e complexas de forma integrada e orientada a objetivos claramente definidos 7, 8.

Assim, com o envelhecimento populacional, é necessário haver um olhar diferenciado por parte da fisioterapia, profissão integrante da reabilitação gerontológica, que pas-sou a apresentar papel mais amplo, para contribuir para a permanência e participação ativa, pelo maior tempo possível, dos idosos em seu meio social, e para isso o profissional necessita estudar e compreender previamente as necessidades espe-cíficas desta população de pacientes com 60 anos ou mais 9, 10.

A fisioterapia na área de geron-tologia tradicionalmente desenvol-veu suas atividades voltadas para a reabilitação, sendo seu principal enfoque as DCNT e suas seqüelas, muitas vezes incapacitantes, as quais levam à limitação funcional, dimi-nuindo a autonomia e a qualidade de vida dos idosos. As limitações funcionais causam dependência para o desempenho de tarefas, ou seja, Atividades de Vida Diária (AVD) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) 9, 11. Ainda nesse campo de atuação da fisioterapia, destaca-se a área preventiva, não apenas evitando ou minimizando a ocorrência de per-das fisiológicas nos sistemas ósseo e neuromuscular, associadas ao en-velhecimento, como retardando as incapacidades resultantes de doen-ças crônicas e degenerativas comuns no envelhecimento. Os conceitos

Geralmente, quando um idoso cai, há uma somatória de riscos que produzem dificuldades para manter o equilíbrio e para se adaptar ao entorno. Lesões, fraturas e perda da qualidade de vida são as principais conseqüências deste problema em que a prevenção é a melhor fórmula.

Fonte: Guia prático de orientações para prevenção de quedas - Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” - Coordenadoria de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES)

em todas as dimensões 4. Busca-se, desta maneira, prevenir deficiências que possam interferir na funciona-lidade do indivíduo, ou ao menos, minimizá-las 5.

Em gerontologia clínica, especial-mente na atuação com idosos com baixos níveis de funcionalidade e em situação de fragilidade e de múltiplas doenças crônicas, a atuação é reali-zada por meio da ação integrada de diversos profissionais. Isso ocorre não em função do acometimento

Page 44: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201244 -

enfocados pela fisioterapia na área de gerontologia são de autonomia e independência funcional, que, apesar de muitas vezes serem confundidos, não devem ser utilizadas como sinô-nimos. A intervenção do fisioterapeu-ta é baseada no preceito de que mes-mo doenças crônico-degenerativas incuráveis apresentam potenciais de investimento em reabilitação 5.

As metas da fisioterapia são: pre-venir incapacidades, minimizar ou retardar a dependência funcional, potencializar as capacidades rema-nescentes, valorizar a auto-imagem e estimular a criatividade e a socializa-ção 9. Sendo assim, os fisioterapeutas gerontólogos possuem como foco de trabalho não somente o indivíduo idoso, mas também o envelhecimen-to enquanto processo vivenciado pelos indivíduos, a velhice enquanto etapa da vida fortemente influencia-da por fatores sociais e culturais 6.

O entendimento das várias di-mensões do envelhecimento e dos modelos de funcionalidade permite ao fisioterapeuta atuar para além da técnica e dos procedimentos tera-pêuticos, sem que com isso perca a especificidade da sua atuação profis-sional 6. A fisioterapia insere-se em uma nova perspectiva de atuação, focada nas práticas de prevenção de doenças e na promoção de saúde e não restrita aos procedimentos de reabilitação, ao contrário do que predomina nas ações deste segmento profissional 4.

Pode-se dizer que a abordagem do fisioterapeuta constitui-se na avaliação e na detecção precoce de disfunções e suas repercussões na capacidade de realizar atividades do cotidiano, identificando barreiras e facilitadores que permitam uma melhora ou compensação do desem-penho. Isso pressupõe a compreen-são das alterações morfológicas e fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento normal e do en-velhecimento patológico, modulado pelas alterações desencadeadas por doenças e condições geriátricas

ou síndromes geriátricas. Logo, o manejo adequado das condições geriátricas implica uma expertise própria do profissional capacitado em geriatria e gerontologia. O papel do fisioterapeuta é realizar o diagnóstico e o tratamento da funcionalidade 6.

Para o entendimento do idoso inserido no seu contexto é neces-sária a avaliação multidimensional do idoso, também denominada Avaliação Geriátrico-Gerontológica Abrangente (AGGA). O objetivo desse instrumento é proporcionar um perfil de saúde multidimensional, identificando quais são as dimensões que mais diretamente comprometem a capacidade funcional da população e, com isso, indicando soluções que transcendem uma linha programática baseada no aumento da cobertura diagnóstica e terapêutica das DCNT que acometem o idoso 12, 1.

Um instrumento específico para a identificação de risco permite ao sis-tema de saúde priorizar o atendimen-to geriátrico para os idosos que de fato se beneficiariam de uma aborda-gem interdisciplinar, promovendo re-abilitação e evitando hospitalizações. Um dos estrangulamentos do sistema de saúde é a captação ineficiente dos que mais necessitam de cuidado no momento certo, ou seja, antes que a deterioração da saúde se torne tão intensa que demande do sistema cuidados intensivos e de alto custo por longos períodos de tempo 12.

Profissionais que se utilizam da AGGA coletam, organizam e utilizam vasta gama de informações clínicas relevantes, objetivando diagnóstico funcional, guiar a seleção das inter-venções, sejam elas restauradoras ou reabilitadores, recomendar am-bientes de intervenção mais efetivos para o cuidado ao idoso, identificar idosos em risco de agravo à saúde: institucionalização, hospitalização, fragilização, declínio da capacidade funcional e morte, prever desfechos ou resultados de intervenção, mo-nitorar mudanças clínico-funcionais ao longo do tempo e aumentar a

satisfação dos idosos com o cuidado oferecido 12.

Assim, a avaliação multidimen-sional é um processo sistemático e multidisciplinar de identificação de vários problemas que acometem os idosos, por meio de instrumentos universalmente padronizados, válidos e confiáveis 12.

Uma das atuações mais importan-tes da fisioterapia na saúde do idoso é o trabalho interdisciplinar de pre-venção de quedas no indivíduo idoso, com atendimentos individuais e em grupo, pois as quedas são um pro-blema de saúde pública, considerada um evento sentinela na vida de um indivíduo idoso, marcador potencial do início de um importante declínio da função ou um sintoma de uma patologia nova. Seu número aumenta progressivamente com a idade em ambos os sexos, em todos os grupos étnicos e raciais e comum entre os idosos, principalmente à medida que

Page 45: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 46: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201246 -

envelhecem 13. As ferramentas de ava-liação de risco de quedas se dividem em dois grandes grupos:

1. Avaliação da mobilidade funcional, que englobam os testes físico-funcionais, especialmente de equilíbrio e marcha;

2. Avaliação multidimensional, que abrange escalas ou check-lists utilizados para a identificação de fatores de riscos individuais e incluem: estado psicocognitivo, disfunção de mobilidade, problemas com eliminações, déficits visuais, vestibulares e auditivos, presença de comorbidades, presença de polifarmácia, história prévia de quedas, dentre outros 14.

Não há um teste físico-funcional que, isoladamente, seja capaz de prever o risco de queda com ade-quada sensibilidade, especificidade e valor preditivo. Para os idosos da comunidade são utilizados com mais

freqüência o Timed Up and Go Test (Podsiadlo, Richard, 1991; Thrane, Joakimsen, Thornquist, 2007), o Step test (Murphy, Olson, Protas, Overby, 2003), o teste de sentar e levantar da cadeira e o Short Physical Performan-ce Battery (Nakano, 2007). Para ido-sos institucionalizados recomenda-se a Berg Balance Scale (Myiamoto etal, 2004) e o POMA Brasil (Gomes, 2003), embora o ponto de corte da BBS seja discutível. Para avaliação da percepção de auto-eficácia e medo de cair é utilizado o Falls Eficacy Scale, FESI Brasil (Camargos, 2007) 14.

As intervenções para prevenção de quedas são mais eficazes se forem direcionadas a idosos com alto risco de cair e que vivem na comunidade. O exercício está entre as estratégias mais promissoras na redução do risco de quedas. Exercício aqui entendido como treino funcional. Pode envolver o treino das estratégias sensoriais e motoras do equilíbrio corporal, treino de marcha, fortalecimento

muscular, melhora da flexibilidade e estimulação cognitiva em situações de atenção dividida 14.

Concomitantemente com o cres-cimento da população idosa, ocorre o aumento das doenças freqüente-mente associadas ao envelhecimento dentre as mais impactantes as de-mências, caracterizadas por déficits progressivos de diversas funções cognitivas, com conseqüente perda de independência funcional, mos-trando a importância do diagnóstico e do tratamento precoce. A literatura mostra que a fisioterapia atua propor-cionando a manutenção da capacida-de física pelo maior tempo possível, possibilitando que a dificuldade em realizar as atividades funcionais não ocorra antecipadamente em decor-rência dos aspectos físicos 15.

O processo de envelhecimento discutido até aqui ainda é acompa-nhado por alterações nos sistemas musculoesquelético e osteoarticular, acarretando declínios e compro-

Page 47: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 47

metimento da função articular e muscular, diminuição do equilíbrio, alterações da marcha e limitação funcional. Estes declínios causam impacto direto na capacidade de realizar as atividades de vida diária com reflexos na independência e autonomia do indivíduo idoso 16.

As condutas em fisioterapia são inúmeras, principalmente ao se considerar os vários objetivos fisio-terapêuticos e a criatividade de cada fisioterapeuta 5.

Com embasamento específico, os exercícios terapêuticos são efi-cientes para os objetivos propostos e seguros mesmo para indivíduos debilitadas e com limitações funcio-nais. O ideal é que consigam reverter os efeitos do sedentarismo e do envelhecimento. Esses exercícios proporcionam adequada condição anatômica e funcional dos ossos, músculos e articulações, além de aumentar a força muscular, a resis-tência e a coordenação 17.

Para os atendimentos dos pacien-tes ainda são disponibilizados os recursos de eletrotermofototerapia, também conhecidos como agentes físicos ou agentes eletrofísicos, inte-grando o arsenal terapêutico utiliza-do no cotidiano dos fisioterapeutas, que atende a necessidades de idosos com fraturas, lesões traumáticas menos graves, entorses, quadros álgicos por sobrecarga ou por dege-nerações teciduais e na prevenção e auxílio no processo de cicatrização de ulcerações 18.

Como tem sido proposto nas atuais políticas de saúde no Brasil, não somente o fisioterapeuta, mas também todos os profissionais da saúde devem valer-se de uma prática voltada para a prevenção de agravos, a promoção da saúde e a recuperação da saúde (tratamento ou reabilita-ção). No que se refere à prevenção de agravos e à promoção da saúde, de um modo geral, o fisioterapeuta pode contribuir na identificação de grupos vulneráveis da área de atuação e de fatores de risco para doenças crôni-

cas, na investigação de evidências da efetividade de ações de práticas de cinesioterapia/atividade física e recursos analgésicos no controle e prevenção de doenças crônicas, em campanhas de estímulo a modos de viver saudáveis com objetivo de reduzir fatores de risco, na oferta de suporte e nas orientações a familiares e cuidadores na prevenção de que-das, incapacidades e deformidades, na articulação com gestores para a mobilização de recursos e de forta-

lecimento de ações para um estilo de vida saudável, construção de espaços para práticas de atividade física/ci-nesioterapia e educação em saúde e na mobilização da comunidade para transformação do ambiente para condições favoráveis à saúde e aces-sibilidade a edificações, mobiliários e espaços urbanos etc. 4.

No que concerne às grandes áreas de atuação, formadas a partir dos principais problemas de saúde dos idosos, podem surgir novas possi-

Page 48: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fisioterapia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201248 -

bilidades de contribuições, específi-cas do fisioterapeuta, tanto para a prevenção de agravos e a promoção da saúde, quanto para reabilitação. Decorrente do exposto, nota-se am-plas possibilidades de participação qualificada, para o fisioterapeuta, na atenção à saúde do idoso, seja na prevenção de doenças e na promoção da saúde, seja na clássica reabilita-ção, utilizando-se de ferramentas de atuação específicas de sua formação profissional, como cinesioterapia e recursos eletrotermoterápicos 4.

Viu-se que atender o indivíduo ido-so requer conhecimento específico na área de geriatria e gerontologia e expertise no manejo de suas alte-rações provenientes do processo de senescência, com objetivo de com-preender o processo de senilidade de forma precoce com a finalidade de intervenções multidisciplinares, sempre que necessário, para diminuir o impacto que tais alterações patoló-gicas apresentam em sua capacidade funcional e qualidade de vida.

Carla Gion de Almeida é graduada em fisioterapia e especialista em fisioterapia gerontológica pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Atualmente é coordenadora do setor de fisioterapia do Residencial para Terceira Idade Lar Santana e fisioterapeuta do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes” da Coordenadoria de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP).

Anna Carolina Gonçalves de Medeiros é graduada e especialista em fisioterapia gerontológica em fisioterapia pela UNICID, especialista em fisioterapia em clínica médica pela Universidade Federal de São Paulo\Escola Paulista de Medicina (UNIFESP\EPM). Atualmente é fisioterapeuta do IPGG “José Ermírio de Moraes” da Coordenadoria de Serviços de Saúde da SES-SP.

RefeRênCiAs BiBlioGRáfiCAs

1. Kalache A. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Posfácio. Cad. Saúde Pública 2007; 23 (10): 2503-2505.

2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse do censo demográfico 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse.pdf. Acesso em 17 de setembro de 2011.

3. Ramos LR. Saúde Pública e envelhecimento: o paradigma da capacidade funcional. In: Bol. Inst. de Saúde, Envelhecimento & Saúde. São Paulo, 2009: 40-41.

4. Aveiro MC, Aciole GG, Driusso P, Oishi J. Perspectivas da participação do fisioterapeuta no Programa Saúde da Família na atenção à saúde do idoso. Ciência e Saúde Coletiva 2011; 16 (Supl. 1): 1467-1478.

5. Kato EM, Radanovic M. Fisioterapia nas Demências. São Paulo: Atheneu, 2007.

6. Perracini MR, Fló CM, Guerra RO. Funcionalidade e Envelhecimento. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 3-24.

7. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso. Cad. de Saúde Pública 2003; 19(3): 793-798.

8. Perracini MP, Najas M, Bilton T. Conceitos e Princípios em Reabilitação Gerontológica. In: Freitas EV, Xavier FA. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2ª edição, 2002: 814-819.

9. Izzo H. A reinserção social do idoso como meta do programa de fisioterapia em um hospital-escola do município de São Paulo. O Mundo da Saúde São Paulo 2006; 30 (1): 166-170.

10. Ferreira EAG, Marques AP. Postura e Envelhecimento. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 153-165.

11. Knorst MR, Fischer MATS, Bós AJG. Necessidades fisioterapêuticas em atendimento ambulatorial. RBCEH 2010; 7 (1): 11-21.

12. Perracini MR, Gazzola JM. Avaliação Multidimensional do Idoso. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 25-53.

13. Pereira SRM, Buksman S, Perracini M, Py L, Barreto, KML, Leite VMM. Quedas em Idosos. In Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 2001: 1-10.

14. Perracini, MR. Estratégias para prevenção de quedas em pessoas idosas. In: Vigilância e Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas. Secretaria de Estado da Saúde. São Paulo 2010.

15. Kato EM. Tratamento das Demências no Idoso. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 289-302

16. Dias JMD. Tratamento dos Distúrbios Osteoarticulares no Idoso. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 351-370.

17. Mastrandea L, Santarém JMS. Exercícios Terapêuticos: Fortalecimento Muscular no Tratamento de Idosos. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 485-496

18. Liebano RE, Gomes AC. A utilização da eletrotermofototerapia no Tratamento dos Idosos. In: Perracini MR, Fló CM. Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009: 441-479

Page 49: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 50: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201250 -

Atuação do Fonoaudiólogo Perante a Saúde do IdosoKarla Shimura Barea

Especial de Capa - Fonoaudiologia

Page 51: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fonoaudiologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 51

nvelhecer é um processo natural, universal e dife-renciado que transcorre de acordo com as caracte-

rísticas pessoais e o modo de vida de cada indivíduo 1. Representa um conjunto de conseqüências da passagem do tempo 2. É sabido que, durante o processo de envelheci-mento normal, acontecem várias alterações que são observadas em nível biológico, psicológico e social. Resumidamente, ocorrem modifica-ções nas funções cardiológicas, neu-rológicas, sensoriais, respiratória, cardiovascular, musculoesquelético, cognição, entre outros.

A comunicação é uma das funções que, indiretamente, sofre com os efeitos do envelhecimento. Comu-nicar é partilhar com alguém um conteúdo de informações, pensa-mentos, idéias, desejos e aspirações, com quem passamos a ter algo em comum 3. É por meio dela que há a interação do homem com o meio em que vive e, sendo assim, um ato fundamental na vida do indivíduo. A audição é um dos aspectos fun-damentais para que a comunicação aconteça de forma efetiva 4. A perda auditiva tem sido considerada uma alteração sensorial severamente incapacitante, comprometendo seriamente a qualidade de vida de seus portadores, pois interfere na comunicação, sobretudo em am-bientes ruidosos, impactando nas relações sociais. Além disso, afeta os idosos em atividades como ouvir rádio e assistir à televisão, falar ao telefone, ir às compras, tocar ins-trumentos musicais, ouvir música e cantar, fazer aulas de ginástica, ioga e hidroginástica e participar de cursos, seminários e palestras. Estima-se que 33% dos indivíduos entre 65 e 74 anos apresentam algum tipo de deficiência auditiva, 45% dos idosos entre 75 e 85 anos e acima de 62% dos indivíduos acima de 85 anos de idade 5.

A perda auditiva decorrente do processo de envelhecimento é

E denominada presbiacusia. É carac-terizada como uma perda auditiva bilateral, sensorial e em tons de alta freqüência - conseqüência de alte-rações degenerativas e fisiológicas no sistema auditivo 5. Idosos porta-dores de presbiacusia apresentam redução da sensibilidade auditiva e da inteligibilidade da fala, com-prometendo, assim, a comunicação verbal. É comum encontrar, também, a queixa de intolerância a sons em alta intensidade nestes indivíduos. Este pode ser um sinal de recruta-mento, definido como um aumento desproporcional da sensação de intensidade em relação ao aumento da intensidade física. A reabilitação auditiva consiste em programas de avaliação e seleção de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) além de acompanhamento terapêutico para adaptação dos AASI, treinamento auditivo e a ins-trução para a compreensão da fala. Esse trabalho é fundamental para reduzir as barreiras de comunicação dos indivíduos com perda auditiva, ajudando-as a enfrentar melhor os impactos psicossociais, ocupacionais e educacionais da perda.

Durante o processo do envelhe-cimento, observam-se também inúmeras alterações estruturais que podem comprometer os órgãos fono-articulatórios que, por conseqüência, modificam as funções orofaciais. A deglutição é uma função biológica complexa do sistema estomatogná-tico, com um controle neuromotor fino, realizando movimentos coor-denados e precisos, cujo objetivo é o transporte do alimento da porção anterior da boca ao estômago, não permitindo, assim, a entrada de ma-terial nas vias aéreas. Para finalidades de estudo, a deglutição pode ser dividida em quatro fases: oral pre-paratória, oral, faríngea e esofágica. Mostra-se diferenciada entre a crian-ça, da primeira infância, e o adulto, devido às diferenças anatômicas das estruturas orofaciais, mas mantém a especialização destas estruturas

É essencial conhecer a linguagem das pessoas idosas, as mudanças que ocorrem ao longo do tempo, seus mecanismos e deficiências. Deste modo será possível desenhar programas de intervenção e prevenção a serem postos em prática no âmbito familiar, nos clubes de terceira idade, nas instituições, nos lares para idosos, e desse modo contribuir para conservação da comunicação destes indivíduos nas melhores condições possíveis.

Fonte: Envelhecimento, Linguagem e Qualidade de Vida, de Lilian Juana L. de Gamburgo - Publicado no site www.fonoaudiologia.com, em 03 de dezembro de 2002

Page 52: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Fonoaudiologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201252 -

para com as funções orgânicas, ou seja, a função posicional, a função de respiração e a função de alimentação.

A presbifagia é o termo designado às alterações que ocorrem pela dege-neração fisiológica do mecanismo da deglutição devido ao envelhecimento das fibras nervosas e musculares 7. Os idosos sadios mantêm a sua funcio-nalidade compensando tais perdas e ajustando-se gradativamente a elas. Alguns sintomas da presbifagia são hesitação para deglutir, sensação de “bolo” ou dor em região hipofaringe, tosse após deglutição, regurgitação nasal do alimento, pigarro durante as refeições, perda de peso, pneumonias de repetição, intolerância a sólidos e/ou líquidos, alteração vocal após alimentação e necessidade de ingerir líquido após alimentos sólidos 6.

Observa-se, na fase oral da degluti-ção, aumento do tecido conjuntivo e adiposo e redução da massa muscular da língua. Tais modificações afetam na propulsão do bolo alimentar e podem comprometer a resposta mais automática da deglutição 6. A perda dos elementos dentários combinada com a redução da força mastigatória e da diminuição da saliva afeta o processo de mastigação (prolonga-mento da fase preparatória) e, por conseguinte, da formação do bolo alimentar que pode levar à fadiga prematura durante a alimentação. Ainda nesta fase, há a diminuição do paladar e do olfato, o que acarreta no uso excessivo de condimentos no ali-mento quando preparado por idosos. Na fase faríngea, há redução do grau de elevação anterior da laringe, atra-so no início da excursão hiolaríngea, discreto aumento do trânsito farín-geo (no sexo feminino) e aumento da duração da onda de pressão faríngea (no sexo masculino). A fase esofágica apresenta maior duração, devido ao maior tempo de relaxação do Esfínc-ter Esofágico Superior (EES) 8.

As conseqüências dos problemas agudos e/ou crônicos da degluti-ção podem incluir desidratação, desnutrição, pneumonia aspirativa,

depressão, problemas psicossociais e ansiedade. A abordagem terapêu-tica dos transtornos da deglutição é realizada de forma multidisciplinar.

A presbifonia, ou envelhecimento vocal, consiste na deterioração da voz decorrente de alterações anatômicas e fisiológicas associadas ao envelhe-cimento 11. Caracteriza-se pela redu-ção significativa do tempo máximo de fonação e da extensão fonatória máxima em ambos os sexos. Mulhe-res idosas apresentam uma voz mais grave enquanto homens adquirem uma qualidade vocal mais aguda 9, 10. A reabilitação, nestes casos, é mais restrita, pois as modificações vocais são de natureza fisiológica. Cabe ao

fonoaudiólogo optar pela melhor conduta em cada caso: aconselha-mento vocal, reabilitação, terapia medicamentosa ou fonocirurgia.

O aumento da expectativa de vida da população brasileira não é sinônimo de envelhecimento bem-sucedido. Há um crescente aumento do número de doenças crônico-degenerativas entre os idosos e que podem acome-ter funções como deglutição, fala e linguagem. A intervenção fonoaudio-lógica em doenças como AVE, TCE, demências, Doença de Parkinson, entre outros, deve iniciar-se o mais breve, evitando, assim, complicações à saúde do idoso, além da diminuição da qualidade de vida.

RefeRênciaS BiBliogRáficaS

1. Pinto RCN, Beilke HMB. Avaliação de linguagem na Doença de Alzheimer. Estudos da Língua(gem). 2008;6(2):97-126.

2. Moraes EN, Moraes FL, Lima SPP. Características biológicas e psicológicas do envelhecimento. Rev Med Minas Gerais. 2010;20(1):67-73.

3. Russo ICP. Distúrbios da audição: a presbiacusia. In: Russo ICP. Intervenção fonoaudiológica na terceira idade. Rio de Janeiro. Ed Revinter. 2004:51-82.

4. Magalhães ATM, Gómez MVSG. Índice de reconhecimento de fala na presbifonia. Arq Int otorrinolaringol. 2007;11(2):169-174.

5. Weinstein BE. Presbiacusia. In: Katz J. Tratado de audiologia clínica. 4ª Edição. São Paulo. Manole. 1999:562-576.

6. Feijó AV, Rieder CRM. Distúrbios da deglutição em idosos. In: Jacobi JS, Levy DS, Silva LMC. Disfagia - avaliação e tratamento. Rio de Janeiro. 1ª Ed. Revinter. 2003:225-232.

7. Leite ICG et al. Fonoaudiologia hospitalar. Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia. 2003;4(17):

8. Marcolino J et al. Achados fonoaudiológicos na deglutição de idosos do município de Iratí – Paraná. Ver Bras Geriatr Gerontol. 2009;12(2):193-200.

9. Behlau MS, Pontes P. Avaliação e tratamento das disfonias. São Paulo. Lovise. 1993.

10. Cerceau JSB, Alves CFT, Gama ACC. Análise acústica da voz da mulher idosa. Revista CEFAC. 2009;11(2):142-149.

11. Silva MAB, Ferreira. Uma contribuição para a caracterização do sinal da voz envelhecida. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado “Stricto-Senso” em Gerontologia na Universidade Católica de Brasília como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Gerontologia, Brasília, 2010.

Karla Shimura Barea é graduada em fonoaudiologia, especialista em fonoaudiología clínica e hospitalar pelo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, especialista em gerontología pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Atualmente é fonoaudióloga do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”.

Page 53: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 54: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201254 -

Atuação da Psicologia na Saúde do IdosoLuciana Cassimiro

Especial de Capa - Psicologia

Page 55: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Psicologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 55

expectativa de vida da população mundial gra-dualmente vem aumen-tando e o Brasil também

acompanha esta tendência mundial. A melhora nas condições de saúde e os avanços tecnológicos e científicos no combate às doenças contribuíram para esta alteração no panorama populacional mundial 1.

Com esta alteração no panorama mundial, a gerontologia se transfor-mou em um dos principais eventos científicos do século XX. Porém des-de a antiguidade existiam tratados e obras literárias sobre a velhice e o envelhecimento, por exemplo, a obra De Senectude, de Cícero 2, publicada há mais de 2.000 anos. Foi, contudo, a partir do século passado, que se assis-tiu à explosão do trabalho cientifico sobre o envelhecimento 3.

A psicologia figura entre as primeiras disciplinas a estudar esse processo. A psicologia do envelhecimento é, hoje, a área que se dedica à investigação das alterações psíquicas e comportamen-tais que acompanham o gradual declí-nio na funcionalidade nos anos mais avançados da vida adulta. A psicologia atua no âmbito do envelhecimento saudável, atuando no estudo de temas pertinentes, tais como: alterações cognitivas e comportamentais, emo-ções, relações sociais, personalidade, sabedoria, criatividade, dependência, morte e finitude, qualidade de vida, violência, trabalho e aposentadoria, saúde mental, dentre outros 3.

O envelhecimento é uma época de importantes modificações psicos-sociais. É uma experiência subjetiva e social intensa, pois as limitações naturais físicas somam-se àquelas que a sociedade impõe, fruto de estereótipos e preconceitos 4.

Na essência, o processo de envelhe-cimento envolve as transformações significativas que ocorrem após a maturação sexual, sendo as princi-pais: as modificações na aparência, no comportamento, na experiência e nos papéis sociais. Segundo Zimerman 5, o envelhecimento traz modificações

A o homem adaptar-se às demandas do mundo externo e enfrentar a perda progressiva da capacidade física e de todas as outras limitações impostas pelo processo de envelhecimento 3, 6.

Chaimowicz7 adverte que o ritmo e a intensidade das alterações que acompanham o processo de envelhe-cimento dependem de características individuais, como a herança genética, e de fatores ambientais, ocupacionais, sociais e culturais aos quais o indivíduo esteve exposto ao longo da vida.

Com o aumento da idade há a elevação dos riscos para as doenças mentais. Alguns estudos mostram que a expectativa para doenças mentais, incluindo quadros demen-ciais e transtornos funcionais, tenha se elevado de 43%, aos 61 anos, para 67%, aos 81 anos 8. Porém, nem sempre se torna fácil determinar o padrão de normalidade para o idoso. Muitas vezes, o continuum entre normalidade e doença mental, par-ticularmente no idoso, não permite um pronto diagnóstico. Por outro aspecto, por razões socioculturais, os idosos muitas vezes relutam ou mesmo omitem sintomas mentais que, com freqüência, permeiam suas queixas de natureza somática 9.

Transtornos do humor no envelhecimento

Dentre os diversos transtornos que afetam os idosos, a depressão e a an-siedade merecem especial atenção, pois apresentam prevalência elevada e conseqüências negativas para a qualidade de vida dos indivíduos acometidos 10.

Estes estados afetivos são avaliados como parte de um transtorno mental, dependendo da intensidade e do com-prometimento no funcionamento do indivíduo. Partindo dessa premissa, a tristeza presente em situações de per-da geralmente integra uma resposta adaptativa do indivíduo à situação e é considerada parte do humor normal. Se esta tristeza se estender por um período de tempo prolongado e di-

Viver é envelhecer. A cada instante, insensível e irreversivelmente, a ação do tempo vai se fazendo sentir sobre o organismo humano. Construtivo na época da concepção e do desenvolvimento, o tempo passa a ter ação deletéria a partir de certa idade, afetando, muitas vezes, o psicológico do indivíduo.

Fonte: Artigo: Psicologia aplicada ao paciente idoso - Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 6 (3): 223-227, jul/set., 2007, www.cro-pe.org.br

no status do indivíduo e no relaciona-mento dele com os outros em função de: (1) crise de identidade, (2) modifica-ções de papéis na família, no trabalho e na sociedade, (3) aposentadoria, (4) perdas diversas (condição econômica, poder de decisão, perda de parentes e amigos etc., (5) diminuição dos contatos sociais. Além destes fatores, podem ocorrer dificuldades em se adaptar a novos papéis, desmotivação e dificuldade de planejamento do futuro, dificuldade em adaptar-se às mudanças rápidas, entre outras.

A preservação da identidade psico-lógica do indivíduo é de fundamental importância, pois esta contribui para

Page 56: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Psicologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201256 -

ficultar o desempenho das atividades da vida diária, poderá ser considerada como parte de um quadro depressivo 10.

Apesar de sua relevância, a depres-são é uma morbidade de difícil men-suração, especialmente em estudos epidemiológicos. As estimativas são influenciadas por diversos aspectos de cada estudo, instrumentos utiliza-dos, características demográficas cul-turais e da saúde geral da população. Isso se deve ao fato de que o quadro depressivo é composto de sintomas que traduzem estados de sentimen-tos que diferem acentuadamente em grau e, algumas vezes, em espécie.

A depressão em indivíduos idosos é considerada a segunda causa de do-ença mental, superada somente pelos

quadros demenciais. Encontra-se en-tre as doenças crônicas mais frequen-tes que elevam a probabilidade de desenvolver incapacidade funcional, desencadeando um importante pro-blema de saúde pública, na medida em que inclui tanto a incapacidade individual como problemas familiares em decorrência da doença. Estudos recentes 11 identificam entre as prin-cipais características associadas à depressão variáveis demográficas, tais como idade avançada e ser do sexo feminino, condições de saúde, como o declínio do estado funcional, doenças crônicas e prejuízo cognitivo, além das condições sociais precárias.

Em pacientes idosos, além dos sin-tomas comuns, a depressão costuma

Sintomas doestado de humor

Sintomasneurovegetativos

Sintomascognitivos

Sintomaspsicóticos

Deprimido/disfórico;Irritabilidade;Tristeza;Desânimo;Sentimento de abandono;Sentimento de inutilidade;Diminuição da autoestima;Retraimento social/solidão;Anedonia e desinteresse;Idéias autodepreciativas;Idéias de morte;Tentativas de suicídio

Inapetência;Emagrecimento;Distúrbio do sono;Perda da energia;Lentificação psicomotora;Inquietação psicomotora;Hipocondria;Dores inespecíficas

Dificuldades nas seguintes esferas:- Concentração;- Memória;- Raciocínio (lentificação)

Ideias paranóides;Delírios de ruína;Delírios de morte;Alucinações

ser acompanhada por queixas somá-ticas, hipocondria, baixa autoestima, sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, idea-ção paranóide e pensamento recor-rente de suicídio 12. Características do envelhecimento como a diminuição da necessidade de sono, da energia e do apetite podem levar os profissionais da saúde ou familiares muitas vezes a não valorizarem esses sinais como sintomas depressivos. Cabe lembrar que nos pacientes idosos deprimidos o risco de suicídio é duas vezes maior do que nos não deprimidos. Os sintomas (Tabela 1), em geral, estão associados à presença de doenças físicas ou ao uso de medicamentos.

AlucinaçõesAs causas de depressão no ido-

so conf iguram-se dentro de um conjunto amplo de componentes nos quais atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto e abando-no, e doenças incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depres-são freqüentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de outras condições médicas, como doenças do sistema endócrino, cardiovascular, doenças cérebro-degenerativas e pelo uso de múltiplos medicamentos, o que é comum em idosos. Os fatores de risco para depressão nos idosos in-

cluem antecedentes de depressão pessoal ou familiar, uso abusivo de bebida alcoólica e perdas que ocor-rem naturalmente com o envelheci-mento, como morte do cônjuge ou parentes próximos, diminuição do círculo social, modificações no status econômico, privação social e solidão. Contudo, fator isolado algum ou teoria explicam satisfatoriamente a gênese da depressão no idoso 10.

A avaliação da presença de sinto-mas depressivos, o seu diagnóstico e tratamento devem fazer parte da rotina da atenção à saúde do idoso. Além da atenção nas manifestações somáticas, a avaliação da depressão deve incluir a investigação dos aspec-

tos relacionados às interações sociais e possíveis modificações no ambiente de trabalho ou familiar do idoso. A complexidade da intervenção deverá ser proporcional à gravidade e persis-tência dos sintomas 10.

Transtornos de ansiedadeNo atendimento aos idosos, os

sintomas de ansiedade representam uma das demandas mais freqüentes dos serviços de saúde. Ao falar dos sin-tomas de ansiedade, os idosos geral-mente utilizam vivências do cotidiano e termos próprios, como “doença dos nervos”, “nervosismo” ou preocupa-ção. De fato, as queixas relacionadas aos sintomas de ansiedade muitas

Tabela 1

Page 57: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 58: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Psicologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201258 -

vezes são apresentadas mescladas à rotina do dia-a-dia, como problemas familiares, econômicos e problemas relacionados à saúde do idoso 13.

De maneira geral, os sintomas de ansiedade podem ser divididos em dois grupos: os sintomas físicos que incluem taquicardia, taquipnéia, sudorese, boca seca, palpitação, tonturas, tremores e desconfortos abdominais e os sintomas cogniti-vos, como nervosismo, apreensão e irritabilidade. Estes sintomas podem, facilmente, serem confundidos com sintomas de outras doenças. Tam-bém podem ser interpretados como parte da personalidade do idoso 13.

Os sintomas ansiosos causam importante sofrimento emocional, que sem avaliação e tratamento adequados podem se tornar crônicos, levando muitas vezes a incapacidade funcional. Devem ser identificados e tratados com abordagem adequa-da, que podem incluir abordagem psicossocial isolada ou associada ao tratamento farmacológico 14.

Atualmente, prefere-se o uso de antidepressivos em lugar dos ben-zodiazepínicos no tratamento dos transtornos ansiosos, sobretudo em idosos. O uso de benzodiazepínicos está associado ao risco de depen-dência, déficit cognitivo e quedas. As abordagens psicossociais incluem ati-vidades que colaborem para o idoso ampliar sua rede de convívio social e de apoio e suporte emocional como terapias de apoio e psicoterapias es-pecializadas dependendo do caso 13.

Abordagem psicoterápicaA psicoterapia para idosos é seme-

lhante à realizada em qualquer outra faixa etária, mas necessita de algumas adaptações técnicas e conceituais. Todas as linhas de psicoterapia podem ser utilizadas em idosos. Pacientes ido-sos apresentam resultados satisfató-rios com terapias breves e psicoterapia psicanalítica e psicanálise. Atendimen-to e suporte familiar também são úteis na abordagem destes pacientes, pois em muitos casos a doença apresenta

Luciana Cassimiro é graduada em psicologia pela Universidade de Guarulhos (UNIG), especialista em psicologia hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), especialista em neuropsicologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Irmandade da Santa Casa de Misericóridia de São Paulo e cursou aperfeiçoamento em gerontologia pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. Atualmente é psicóloga do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes” da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP).

RefeRênCiaS BiBLiogRáfiCaS

1. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzo li JK, Nas RM., Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade física e saúde no idoso. Rev. Bras Med Esporte, 1999, 5(6), 207-11.

2. Cícero MT. Saber envelhecer e amizade. Porto Alegre: L&PM, 2002.

3. Neri, A.L. (org). Psicologia do envelhecimento:temas selecionados na perspectiva de curso de vida. Campinas: Papirus: 1995.

4. Busse E,Blazer DG. Psiquiatria geriátrica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

5. Zimerman GI. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

6. Stuart-Hamilton I. a psicologia do envelhecimento: um introdução. Porto Alegre: Artmed, 2002.

7. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros as vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev. Saúde Pública, 1997, 31(2), 184-200.

8. Cooper-Patrick L, Powe, NR, Jenckes, MW. Idetificacion of patients attitudes and preferences regarding treatment of depression. J Gen Intern Med , 2007, 12(7):431-8.

9. Broadhead WE, Blazer DG, George LK, Tse CK. Depression, disability days, and days lost from work in a prospective epidemiologic survey. JAMA 2005, 264:2524-28.

10. Lafer B, Almeida OP, Fráguas Jr. R, Miguel EC. Depressão no ciclo de vida. Porto Alegre: 2005.

11. King MK, Schmaling KB, Cowley DS, Dunner DL. Suicide attempt history in depressed patients with and without a history of panic attacks. Comprehensive Psychiatry, 2004, 36 (1), 25-30.

12. Malone KM, Hass GL, Sweeney JA, Mann JJ. Major depression and the risk of attempted suicide. Journal of Affective Disorders 2005, 34, 173-185.

13. Litvoc J, Brito FC, Envelhecimento: prevenção e promoção de saúde. São Paulo: Editora Atheneu, 2004.

14. Correa ACO. Envelhecimento, Depressão e Doença de Alzheimer. Belo Horizonte: Health, 2006.

evolução crônica e a intervenção pode auxiliar os familiares a se organizarem e desenvolverem respostas mais ade-quadas e eficientes às demandas do paciente idoso 3.

A reabilitação do idoso com transtor-nos de humor engloba várias técnicas psicoterápicas, físicas, médicas, ocu-pacionais etc., que tornam o processo

complexo e necessariamente interdis-ciplinar. O principal desafio da equipe de saúde, por meio da preservação das identidades profissionais, é a busca por uma linguagem comum, com a consci-ência das limitações de cada disciplina, no encontro de uma conduta única, visando à melhoria na qualidade de vida do indivíduo idoso.

Page 59: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 59

Cáries Radiculares no Idoso: Contribuição ao EstudoStefano Frugoli Peixoto e Fernando Luiz Brunetti Montenegro

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 59

Page 60: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201260 -

longevidade do ser huma-no em todo o planeta vem aumentando no decorrer dos séculos e existe a pre-

visão que se torne ainda maior nas próximas décadas. Isto se deve, entre outros fatores, ao avanço tecnológico da medicina, à ênfase cada vez maior aos tratamentos preventivos na área da saúde e às modificações culturais, principalmente urbanas, levando a esta transição demográfica: a huma-nidade que anteriormente era carac-terizada, em essência, por um grande número de nascimentos e por um grande número de óbitos, passa a ser percebida com uma menor taxa de fe-cundidade e também de mortalidade.

Embora aconteça também nos pa-íses desenvolvidos, o ritmo de cresci-mento da população idosa será mais acelerado nos países em desenvolvi-mento, causando importante impacto social, pois, historicamente, os países industrializados estruturam-se socioe-conomicamente antes de terem a sua população envelhecida, enquanto que nos países em desenvolvimento ocorre exatamente o contrário.

A referida transição demográfica trouxe como conseqüência uma tran-sição epidemiológica de modo geral na saúde e, como não poderia deixar de ser, na saúde bucal.

A odontologia, conseqüentemente, possui papel de extrema relevância no bem-estar dos idosos, considerando--se que a saúde oral e a geral estão estreitamente inter-relacionadas. Entretanto, não se deve esquecer que o profissional que quer dedicar-se ao tratamento deste grupo deve possuir conhecimentos aplicados de geronto-logia, particularmente os concernentes à geriatria e à psicogeriatria. A interdis-ciplinaridade com outros profissionais, como cuidadores, médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricio-nistas e assistentes sociais, os quais apresentam importante papel nas orientações e ações em saúde geral e oral, também é fundamental.

As lesões de cárie de raiz e as dele-térias conseqüências de sua evolução

A são muito freqüentes em idosos e os profissionais da saúde podem tentar intervir no sentido de minimizar ou mesmo prevenir esta afecção que diminui a qualidade de vida de uma população que atualmente é, em sua maioria, significativamente ne-gligenciada pelos serviços públicos e privados de odontologia no País.

Com a idade, ocorre uma série de modificações no organismo, às vezes fisiológicas (conhecidas como advindas da senescência), às vezes patológicas (decorrentes da senili-dade). Tais alterações deveriam ser atentadas por aqueles profissionais que de algum modo possuem contato com o paciente idoso: saber das con-dições da saúde geral e do aspecto fisiológico normal de um paciente geriátrico é importante, pois podem interferir no planejamento e na tera-pia odontológica dos idosos.

Idosos institucionalizados ou hos-pitalizados apresentam, de maneira geral, um estado de saúde bucal mais pobre do que idosos ativos, favore-cendo o surgimento da cárie de raiz. Dificuldades motoras e falta de mo-tivação e/ou conhecimento dos cui-dadores e outros profissionais no que tange aos cuidados de higiene oral parecem ser problemas comumente ligados a pacientes em tais situações. Outros fatores de risco que mere-cem ser citados: diminuição do fluxo salivar ou xerostomia, superfícies radiculares expostas, radioterapia em cabeça e pescoço, deficiência física ou cognitiva, síndrome de Sjögren, diabetes mellitus, pobre higiene oral, múltiplo uso de medicamentos, dieta rica em carboidratos,

A cárie radicular pode desenvolver--se velozmente. A desmineralização é cerca de duas vezes mais rápida nas superfícies radiculares do que no es-malte, pois as superfícies radiculares possuem metade do conteúdo mine-ral a mais do que o esmalte e também porque ocorre em um pH mais alto: o pH crítico para a ocorrência da cárie em cemento e/ou dentina é de aproximadamente seis, contudo,

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 1998, revelou que a procura por atendimento médico era bem mais freqüente do que por atendimento odontológico entre os idosos. Ficou registrado que nos últimos doze meses, em média, os idosos tinham ido ao médico três vezes, enquanto que já havia mais de três anos que não procuravam atendimento odontológico.

Fonte: ARAÚJO, Silvânia Suely Caribé de; FREIRE, Danielle Bianca de Lima; PADILHA,Dalva Maria Pereira et al. Suporte social, promoção de saúde e saúde bucal na população idosa no Brasil. Interface (Botucatu). [online]. 2006, vol. 10, no. 19 [citado 2007-06-29], pp. 203-216.

Page 61: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 61

nos casos de lesões em esmalte é ao redor de 5,5. As lesões podem, ainda, solapar o esmalte adjacente.

NutriçãoComo ocorre, com o passar dos

anos, uma diminuição na capacidade olfativa e gustativa, tornando menor a percepção dos quatro sabores primários (salgado, doce, amargo e ácido), o idoso passa a consumir uma maior quantidade de sal e de açúcar. Além disso, começa a haver perda da eficiência mastigatória, levando-o a modificar seu padrão alimentar, muitas vezes para uma dieta com menor poder nutricional. O idoso apresenta ainda diminuição do trân-sito gástrico, pois ocorre atrofia da mucosa que absorve os nutrientes e diminuição das enzimas que atuam no processo digestório. A dificulda-de digestiva gerará desconforto ao

idoso, sendo um estímulo a mais para que este consuma alimentos de menor consistência, principalmente carboidratos, normalmente pouco nutritivos e bastante cariogênicos.

Lesões Cervicais Não-Cariosas (LCNCs)

As Lesões Cervicais Não-Cariosas (LCNCs) são doenças que ocorrem na área do colo dentário, de etiologia não-bacteriana, que causam perda irreversível da estrutura dentária e que podem ser diferenciadas em: abrasão (geralmente associada à escovação traumática), erosão (pro-vocada por consumo exagerado de alimentos ácidos e/ou por regurgita-ções recorrentes) e abfração (flexão do dente que ocorre notadamente no limite amelo-dentinário, ocasio-nada por sobrecarga oclusal, devido à concentração de esforços na área

cervical. Provoca trincas e, como conseqüência, desestruturação lo-cal com perda gradual de esmalte, dentina e cemento).

As LCNCs, apesar de não indu-zirem diretamente a uma lesão de cárie radicular, aumentam sobrema-neira a proximidade da polpa com o meio bucal. Conseqüentemente, uma futura eventual seqüela de Aci-dente Vascular Encefálico (AVE) ou Doença de Parkinson, dentre tantos comprometimentos sistêmicos co-muns no envelhecimento que pre-judiquem a realização de escovação adequada ou mesmo autolimpeza, seriam intercorrências altamente predisponentes para a instalação de lesões de cárie radicular, cuja evo-lução pode ser ainda mais deletéria do que nos casos convencionais (em que não há concomitantemente a presença de LCNC).

Page 62: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201262 -

A abfração, muitas vezes inobser-vada, é uma alteração comum, pois grande parcela dos idosos perdeu ao menos um elemento dental no decor-rer da vida, compromentendo assim a harmonia oclusal e ortognática. Se o dente em questão também for atingido por abfração, a não elimina-ção do fator causal, id est, o ajuste da oclusão, proporciona grandes chances de insucesso do tratamento restaurador, independentemente da retenção conferida ao preparo cavitário. A utilização de placas de mordida e o ajuste oclusal, por meio do preenchimento dos espaços protéticos, desgastes e tratamento periodontal ou mesmo avulsão de elementos com mobilidade irrever-sível, parecem ser de grande valia, portanto, na conservação da zona cervical dos dentes. Vale lembrar que a sensibilidade dentária é diminuída nos idosos, podendo proporcionar ao paciente menos importância às lesões cervicais.

Conseqüências da hiposalivação

As propriedades diluente, lubrifi-cante, remineralizadora, antibacte-riana e tampão da saliva muito con-tribuem para a resistência às cáries. Todavia, doenças como a síndrome de Sjögren e outras alterações cau-sadas nas glândulas salivares, como as advindas da radioterapia em pa-cientes com neoplasias, diminuem ou mesmo impedem a produção de saliva, levando a uma desmineraliza-ção dos tecidos duros do dente, e, conseqüentemente, ao rápido pro-gresso das lesões de cárie radicular. Não se deve esquecer, porém, que a diminuição do fluxo salivar ocorre f isiologicamente na senescência, devido à substituição das células aci-nosas, que são produtoras de saliva, por tecido gorduroso ou conjuntivo.

Além disso, muitos dos medica-mentos ingeridos pelos idosos tam-bém causam diminuição do fluxo salivar, sendo os mais comuns os an-tidepressivos, os anti-histamínicos, os

diuréticos, os anti-hipertensivos, os anticolinérgicos e os antineoplásicos.

Influência das próteses dentárias

Os profissionais de saúde bucal e os próprios pacientes idosos tentam diminuir os reveses causados pela perda de dentes, comum nas idades mais avançadas, por meio das próteses dentárias. Tanto as Próteses Parciais Removíveis (PPR) como as Próteses Parciais Fixas (PPF) reintegram o ancião socialmente e na família e melhoram a capacidade mastigatória, entre outros benefícios. Porém, a falta de higienização apropriada pode levar ao aparecimento da cárie radicular.

TratamentoDiversas são as opções apresenta-

das no que se refere ao tratamento: na terapêutica preventiva, desde o abastecimento das comunidades com água fluoretada, ao dentifrício com flúor e à disseminação de orienta-ções relacionadas à higiene oral. Na curativa, muitos preferem o uso de cimentos de ionômero de vidro resi-no-modificados, compômeros, resina composta fotopolimerizável. Mesmo o tradicional amálgama de prata é o material de eleição de alguns autores.

A idéia de controle da dieta cariogê-nica é propagada por alguns autores, mas a alteração do padrão dietético do idoso pode não ser tarefa fácil, pois tende a ser o mesmo da sua juven-tude. Partindo desta premissa, é im-portante que se releve a utilização de substitutos do açúcar ou a utilização de goma de mascar ou de similares que liberem flúor como tratamento alternativo de grupos de risco. Parece ser alternativa de valia, pois o idoso possui o hábito de chupar balas, na tentativa de aliviar o desconforto produzido pela hiposalivação.

Foi observado também o bom comportamento do cimento de io-nômero de vidro de alta resistência ativado quimicamente associado à técnica operatória Atraumatic Res-torative Treatment (ART), sugerindo como alternativa no tratamento das lesões de cárie radicular em idosos institucionalizados ou outros grupos de risco, notadamente nos quais há dificuldade de acesso a serviços odontológicos convencionais.

Brazzelli et al. 1 (2006) foram alguns dos autores que estudaram sobre o tratamento de cáries com gás ozônio, que tem sido sugerido como meio de reversão, imobilização ou diminuição de progresso das lesões, seguido de aplicação de soluções fluoretadas.

Page 63: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 63

Quadro 1 - Orientações de Burgess e Gallo 3(2002) sobre tratamento da cárie radicular

Cárie é um problema de menor monta para os idosos. A idade ou a quantidade de dentes remanes-centes na boca são fatores determi-nantes para a evolução das cáries. Tais conclusões foram similares nas diferentes regiões geográficas estu-dadas, todas na Noruega. Seria de certo modo imperioso mencionar que os países escandinavos ou, mais precisamente, os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) estão entre os melhores do planeta no sentido so-cioeconômico e, como não poderia deixar de ser, também no âmbito de saúde geral e bucal. Parcela dos trabalhos escandinavos, a despeito de sua conhecida qualidade, se re-alizada com indivíduos habitantes daquela região, podem não servir de parâmetro para o que se desenrola no restante do globo.

A indicação de próteses é rele-vante no processo da doença. As

PPRs favorecem, de algum modo, o aparecimento das cáries radiculares. Porém, uma indicação adequada pode fazer das PPRs as próteses de eleição do idoso, especialmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, nos quais o custo das próteses fixas e implantes os-seointegrados é proibitivo. Dentre as vantagens, se comparada às PPFs, há mais rapidez na confecção, custo expressivamente menor e a facilida-de de higienização (não somente da prótese, mas inclusive dos dentes pilares), notadamente quando a idade do paciente é bem avançada e/ou há pouca expectativa de vida.

Conclusões• Pacientes idosos possuem alto risco de desenvolver lesões de cárie radicular, principalmente os institucionalizados;

• O grande consumo de

Categoria de risco

Condições Opções preventivas Materiais restauradores

Baixo Sem histórico de cárie nos últimos três anos;Boa higiene oral;Não comprometido por medicamentos;Não usuário de PPR ou de aparelho ortodôntico fixo

Reforçar programa preventivo;Retorno anual

Selantes;Resina composta;Amálgama

Médio Uma lesão de cárie nos últimos três anos;Raízes expostas;Higiene oral razoável;Manchas brancas ou Desmineralização;Visitas irregulares ao dentista;Usuário de PPR ou de aparelho ortodôntico fixo;Comprometido por medicamentos ou fisicamente

Aconselhamento nutricional;Bochechos diários com fluoreto de sódio neutro;Aplicação tópica de flúor profissional;Dentifrício fluoretado;Retorno semestral

Resina composta;Ionômero de vidro resino-modificado;Compômeros

Alto Mais de duas lesões de cárie nos últimos três anos;Grande número de raízes expostas;Alta contagem de Streptococcus mutans;Pobre higiene oral;Fóssulas e fissuras profundas;Consumo freqüente de açúcar;Uso inadequado de flúor tópico;Visitas irregulares ao dentista;Inadequado fluxo salivar;Fisicamente comprometido

Mensuração e monitoramento da contagem de Streptococcus mutans;Aplicação de clorexidina duas vezes ao dia;Modificação da dieta com aconselhamento nutricional;Recomendação do uso de balas ou gomas com xilitol;Bochechos diários com fluoreto de sódio neutro e 1,1% de gel de fluoreto de sódio;Retorno trimestral

Ionômero de vidro resino-modificado;Agentes adesivos e ionômero de vidro;Núcleos etc.

Page 64: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial de Capa - Odontologia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201264 -

Stefano Frugoli Peixoto é graduado em odontologia pela Universidade de Santo Amaro (UNISA), especialista em odontogeriatria pela Associação Brasileira de Odontologia (ABO-SP), mestre em saúde coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Atualmente, é cirurgião-dentista do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) “José Ermírio de Moraes”.

Fernando Luiz Brunetti Montenegro é graduado em odontologia pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em periodontia pela UNISA, especialista, mestre e doutor em prótese Dentária pela USP. Atualmente, é pesquisador, mentor do Portal do Envelhecimento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenador do curso de odontogeriatria na Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO).

ReFeRênCiaS BiBLiOgRáFiCaS

Brazzelli M, McKenzie L, Fielding S, Fraser C, Clarkson J, Kilonzo M et al. Systematic review of the effectiveness and cost-efectiveness of HealOzone for the treatment of occlusal pit/fissure caries and root caries. Health Technol Assess 2006;10(16):iii-iv,ix-80.

Brunetti RF, Montenegro FLB. Odontogeriatria: noções de interesse clínico. São Paulo: Artes Médicas; 2002.

Burgess JO, Gallo JR. Treating root surface caries. Dent Clin North Am 2002; 46 (2): 385-404.

Carvalho Filho ET, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte: Editora Atheneu; 2005.

De Los Santos R, Lin YT, Corpron RE, Beltran ED, Strachan DS, Landry PA. In situ remineralization of root surface lesions using a fluoride chewing gum or fluoride-releasing device. Caries Res 1994;28(6):441-6.

Fedele DJ, Sheets CG. Issues in the treatment of root caries in older adults. J Esthet Dent 1998;10(5):243-52.

Fonzi L, Garberoglio R, Pizzirani M. La carie della radice. Dent Cadmos 1984;52(7):13-48.

Henriksen BM, Ambjornsen E, Axéll T. Dental caries among the elderly in Norway. Acta Odontol Scand 2004;62(2):75-81, Abstract.

Johnson G, Almqvist H. Non-invasive management of superficial root caries in disabled and infirm patients. Gerodontology 2003;20(1):9-14.

Lo ECM, Luo Y, Tan HP, Dyson JE, Corbet EF. ART and conventional root restorations in elders after 12 months. J Dent Res 2006;85(10):929-32.

Nevalainen MJ, Närhi TO, Ainamo A. A 5-year follow-up study on the prosthetic rehabilitation of the elderly in Helsinki, Finland. J Oral Rehabil 2004;31(7):647-52, Abstract.

Santos ACB. O ano novo para o velho brasileiro. Gaz Mercant 2008; 87(23749):A-3.

Steele JG, Sheiham A, Marcenes W, Fay N, Walls AWG. Clinical and behavioural risk indicators for root caries in older people. Gerodontology 2001;18(2): 95-101.

Ueberschär M, Günay H. Wurzelkaries-Inzidenz unter AmF/SnF2 – Mundspülung. Dtsch Zahnärztl Z 1991;46(8):566-8.

carboidratos por esta faixa etária é um importante fator que predispõe ao surgimento e evolução das lesões de cárie de raiz, somado a outros como a diminuição do fluxo salivar e a desinformação preventiva;

• A terapêutica preventiva, por meio de orientações sobre nutrição e higienização bucal ao idoso e aos cuidadores/familiares é o melhor meio de se manter os resultados dos tratamentos curativos;

• Mesmo depois de instaladas, as lesões podem ser tratadas de modo conservador, principalmente com a utilização de fluorterapia de diversas formas: bochechos, géis, dentifrícios, balas ou pastilhas que liberem flúor;

• A análise oclusal dos dentes envolvidos deve integrar o estudo dos casos previamente aos procedimentos restauradores, para evitar o deslocamento prematuro dos mesmos;

• Havendo necessidade de dentística restauradora, o amálgama, as resinas compostas e os cimentos de ionômero de vidro podem ser utilizados, de acordo com as necessidades prioritárias do caso: durabilidade, estética e grau de risco para a doença cárie;

• A observada alta incidência de cárie de raiz nos idosos pode ser bastante minimizada com controle constante do acúmulo de placa bacteriana, o que também aumentará a vida útil das restaurações previamente instaladas.

Page 65: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 66: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Critérios de Beers como Ferramenta Farmacêutica na Avaliação da Farmacoterapia em IdososTalita Barbosa Augusto e Marisa Aparecida Crozara

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201266 -

Page 67: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 67

ntroduçãoSegundo a Organização das Na-ções Unidas (ONU), os idosos representavam, em 2005, 10,4%

da população mundial 1. Estima-se que o aumento da representatividade dessa população, que ocorre tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, fará do Brasil, em 2025, o sexto País com a maior popu-lação idosa do mundo 2, 3.

Atualmente, o uso de medicamen-tos pelos idosos tem gerado preo-cupação sobre os gastos excessivos e aos possíveis efeitos, benéficos ou indesejáveis 4. Isto porque as alterações fisiológicas naturais do envelhecimento, que afetam a far-macocinética e a farmacodinâmica da maioria dos fármacos, soma-se à presença de múltiplas doenças, à polifarmácia e ao atendimento por diversos especialistas, fazendo com que os idosos representem o principal grupo de risco para o desenvolvimen-to de reações adversas, interações medicamentosas e falta de adesão ao tratamento 5, 6, 7.

As Reações Adversas aos Me-dicamentos (RAM) representam 24% das admissões hospitalares e a quinta causa de óbito na população idosa 8. Um dos fatores de risco mais importantes para a sua ocorrência é o uso de medicamentos poten-cialmente inapropriados, definidos como aqueles em que o risco supera o benefício e para os quais existe uma boa alternativa disponível 9, 10, 11.

Neste contexto, na década de 1990, a preocupação com os efeitos prejudiciais do uso de medicamentos por idosos fez com que prescrito-res, farmacêuticos e pesquisadores desenvolvessem diversos métodos e instrumentos para identificar pa-drões inadequados de prescrição e problemas na farmacoterapia desses pacientes 12. Tratam-se de instrumen-tos baratos e práticos que auxiliam a tomada de decisão clínica quanto ao melhor medicamento, reduzindo, assim, a possibilidade da elaboração de uma prescrição inapropriada 10.

I

não adequados para 20 condições patológicas específicas 13, 7.

Considerando-se a alta prevalência de eventos adversos e o potencial de complicações com o uso de medica-mentos no paciente idoso, o presente trabalho tem como objetivo determi-nar a prevalência de prescrição dos medicamentos potencialmente ina-propriados para idosos em uma uni-dade hospitalar, segundo os critérios de Beers, e discutir esta, prevalência à luz dos estudos que vêm sendo realizados sobre o tema.

MétodosEstudo descritivo, prospectivo, de

corte transversal, realizado em no-vembro e dezembro de 2010 em um hospital público de porte extra, com capacidade para 954 leitos ativos, após a aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição. Por se tratar de um estudo epidemioló-gico, não foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A amostra estudada foi composta por prescrições médicas dos pacientes internados nas enfermarias de clínica médica e geriatria, escolhidas devido ao grande volume de atendimento de pacientes idosos. As prescrições incluídas no estudo foram as dos pa-cientes de ambos os sexos, com idade acima de 65 anos. Aquelas cuja idade era inferior a esse número ou que não eram descritas foram excluídas.

Estes métodos baseiam-se, de uma maneira geral, em critérios implícitos, explícitos ou na com-binação de ambos 12. Os critérios implícitos caracterizam-se por uma revisão clínica dos medicamentos em uso e por práticas consideradas adequadas pela literatura médica para o tratamento das doenças apresentadas pelos pacientes. Os critérios explícitos, geralmente, são baseados em consensos e utilizam listas de medicamentos a serem evitados por idosos, considerando a revisão da literatura e a opinião de vários especialistas 10.

Dentre os critérios explícitos mais estudados e que se destacam na literatura internacional estão os critérios de Beers que foram primeiramente desenvolvidos em 1991, com base no estudo de idosos institucionalizados nos Estados Unidos da América (EUA) e envol-veu um grupo de especialistas em diversas áreas como clínica médica, farmacoepidemiologia, farmacologia geriátrica, entre outras, os quais uti-lizaram a técnica Delphi para obter um consenso a respeito do tema investigado 7, 10, 12, 13.

Em 1997 estes critérios foram ampliados para os idosos não institu-cionalizados e sua última atualização ocorreu em 2002. Esta nova versão apresenta 48 medicamentos, ou classes terapêuticas, que devem ser evitados em idosos e medicamentos

Page 68: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201268 -

A coleta de dados foi realizada nas farmácias satélite após a triagem pelo farmacêutico responsável. Os dados de interesse foram coletados direta-mente das prescrições e tabulados em planilha, utilizada como instru-mento de registro de dados.

As variáveis coletadas foram sexo, idade dos pacientes agrupadas em três intervalos (35-74; 75-84; ≥85), quantidade total de medicamentos prescritos e quantidade e nome dos medicamentos considerados poten-cialmente inapropriados para idosos. Para realizar o levantamento destes medicamentos, utilizou-se uma tabela com a descrição dos medicamentos potencialmente inapropriados para idosos independente de diagnóstico ou condição clínica, retirada da versão mais atual dos critérios de Beers 13.

Após a tabulação dos dados, cal-culou-se o percentual de cada vari-ável coletada e comparou-se com os resultados de outros estudos com objetivos semelhantes.

Resultados e discussãoA primeira lista dos critérios de Be-

ers desenvolvida em 1991 continha 19 medicamentos inadequados e 11 cuja dose, freqüência de uso e duração de tratamento eram inadequadas para indivíduos com 65 anos ou mais 7. Com a finalidade de incluir novos fár-macos e novas evidências da terapia farmacológica, os critérios de Beers foram atualizados em 1997 e amplia-dos para a aplicação em idosos não institucionalizados 10, 12. Nesta revisão, os medicamentos potencialmente inapropriados foram classificados em três categorias: os que devem ser evitados em idosos em geral; os com doses máximas diárias reajusta-das pela idade do paciente e os que devem ser evitados em determinadas doenças 5, 11.

Em 2002, Fick e colaboradores atualizaram estes critérios. Nesta atualização, utilizaram uma revisão sistemática para selecionar os me-dicamentos a serem incluídos na

avaliação dos especialistas. Por meio de um consenso, esta nova versão apresenta uma categoria de medica-mentos ou classe deles que devem ser evitados em idosos, independente do diagnóstico ou da condição clínica, e outra de medicamentos que não de-

vem ser utilizados em determinadas circunstâncias clínicas 13, 5.

A amostra de estudo consistiu de 1.184 prescrições, sendo 547 da Ge-riatria e 637 da Clínica Médica, cujas características gerais estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características gerais da amostra estudada

Gráfico 1 - Porcentagem de prescrições inapropriadas nas clínicas geriátrica e médica

Do total de prescrições analisadas, 328 (27,7%) continham pelo menos um medicamento considerado po-tencialmente inapropriado para ido-

sos, segundo os critérios de Beers. Conforme mostra o Gráfico 1, 64,6% destas prescrições pertenciam a clí-nica médica.

 

 Gráfico 2 - Prevalência dos medicamentos potencialmente inapropriados para idosos

Variável Valor absoluto Valor relativo (%)

Sexo

Feminino 642 54,2

Masculino 542 45,8

Idade

65 - 74 393 33,2

75 - 84 495 41,8

≥ 85 296 25

Geriatria

Clínica médica

120

100

80

60

40

20

0

Diaze

pam

Napro

xeno

Fluoxe

tina

Lora

zepam

Digoxi

na

Oxibutin

ina

Met

ildopa

Clonid

ina

Amitr

iptil

ina

Hidro

xizin

a

Doxazo

sina

Óleo m

iner

al

Bisaco

dil

Amio

darona

Sulfa

to fe

rroso

Page 69: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 69

Embora, no Brasil, estudos sobre a qualidade do uso de medicamen-tos por idosos sejam escassos 12, verifica-se, em sua maioria, que o consumo de medicamentos inapro-priados para idosos é alto.

As prescrições inapropriadas foram mais prevalentes em idosos de 75-84 anos (51,2%), seguido dos de 65-74 anos (33,8%) e ≥ 85 anos (15%). Esta prevalência de 15% nos idosos com 85 anos ou mais deve ser destacada, pois quanto maior a idade, maior é o risco de complicações.

Grupo farmacológico Medicamento Riscos Grau

Antiarrítmicos Amiodarona Uso é associado a alterações de intervalo QT e risco de induzir torsades de points. A eficácia não foi determinada em idosos Alto

Laxantes estimulantes utilizados por tempo prolongado

Bisacodil (exceto se uso de opióide) Podem exacerbar disfunção intestinal Alto

Anti-hipertensivos Clonidina Hipotensão ortostática potencial e efeitos adversos no SNC Baixo

Benzodiazepínicos de meia-vida longa Diazepam

Esses fármacos apresentam meia-vida longa, principalmente em pacientes idosos produzindo sedação prolongada e aumento do risco de quedas e fraturas. Se for necessário o uso de um benzodiazepínico, preferir os de meia-vida curta e intermediária

Alto

Glicosídeos cardiotônicos

Digoxina > 0,125mg/dia (exceto no tratamento de arritmias)

A redução da depuração pode conduzir à acumulação da digoxina e aparecimento de toxicidade Baixo

Anti-hipertensivos Doxazosina Apresenta potencial para hipotensão, boca seca e problemas urinários Baixo

Inibidores da recaptação de serotonina

Fluoxetina diáriaFármaco de meia-vida longa com risco de estimulação excessiva do SNC, perturbações do sono e aumento de agitação. Há alternativas mais seguras

Alto

Anti-histamínicos HidroxizinaMuitos anti-histamínicos possuem efeitos anticolinérgicos intensos. Anti-histamínicos sem efeitos anticolinérgicos são preferíveis em pacientes idosos para tratar reações alérgicas

Alto

Benzodiazepínicos de meia-vida curta Lorazepam >3mg

Devido ao aumento da sensibilidade aos benzodiazepínicos, doses menores podem ser mais eficazes e seguras. A dose diária deve raramente ultrapassar o valor máximo sugerido

Alto

Ant-hipertensivos Metildopa Pode induzir bradicardia e exacerbar a depressão do idoso Alto

Antiinflmatórios não hormonais de meia-vida longa

Naproxeno Podem ocasionar hemorragia gastrintestinal, insuficiência renal, hipertensão e insuficiência cardíaca Alto

Laxativos Óleo mineral Potencial para aspiração e RAM. Há alternativas mais seguras Alto

Relaxantes musculares e antiespasmódicos Oxibutinina

A maioria dos relaxantes musculares e antiespasmódicos são mal tolerados por idosos por induzirem efeitos anticolinérgicos, sedação e fraqueza. Sua efetividade nas doses toleradas pelos idosos é questionável

Alto

Antianêmicos Sulfato ferroso > 325mg/dia

Doses superiores a 325mg/dia não aumentam significativamente o teor absorvido, mas aumentam grandamente a obstipação Baixo

Em ambas as clínicas estudadas, a prevalência dos medicamentos inapropriados para idosos foi alta. Um dos motivos para essa realidade é a existência de grande semelhança entre as prescrições, independente do foco de atendimento, do sexo e da idade do paciente. Além disso, este resultado mostra o desconhe-cimento por parte dos médicos, que muitas vezes não são geriatras, sobre a existência de critérios que auxiliam a prescrição correta de fármacos para idosos 14.

Os medicamentos prescritos to-talizaram 11.390, com uma média de 9,62 por prescrição. Deste valor total, foram identificados 15 medi-camentos descritos nos critérios de Beers, totalizando um valor de 400 medicamentos (3,5%). O Gráfico 2 apresenta a prevalência de cada me-dicamento inapropriado nas duas clínicas estudadas. Os seus riscos e grau de severidade estão descritos na Tabela 2.

Tabela 2

Page 70: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Atenção Farmacêutica / Farmácia Clínica

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201270 -

Estudo recente realizado em Vitória (ES) avaliou o uso de medicamentos por idosos antes da internação, apre-sentou uma prevalência de 29,2% de medicamentos inapropriados, segun-do os critérios de Beers, de um total de 96 pacientes. Neste estudo, os medicamentos prescritos mais preva-lentes foram metildopa, amitriptilina e digoxina 15.

Em Santo André (SP), outro estudo mostrou que a utilização de medica-mentos inapropriados para idosos constitui um dos fatores de risco significativos para a ocorrência de re-ações adversas. Em uma amostra de 186 pacientes, 25,8% utilizaram dia-zepam, 23,1% de digoxina >0,125mg/dia, 19,3% de aminofilina e 17,2% de amiodarona, totalizando 24 pacientes com reações adversas relacionadas a esses fármacos 8.

Em uma instituição geriátrica no Paraná foram encontradas 31 ocor-rências de inadequação medicamen-tosa para pacientes idosos, entre 230 medicamentos prescritos (13,5%). Os medicamentos inadequados mais utilizados foram o nifedipino (25,8%), a amitriptilina (22,5%), a metildopa (12,9%) e o diazepam (12,9%). Cerca de 90% dos problemas relacionados a medicamentos relacionaram-se à segurança do tratamento 2.

Possuindo como referência os es-tudos citados, o presente trabalho reforça as afirmações da ampla utili-zação de medicamentos inapropria-dos para idosos. Como mostrado no Gráfico 2, os mais prevalentes foram o diazepam (26,75%), o sulfato ferro-so (17,75%) e a amiodarona (15,25%). Estes resultados se mostram con-cordantes com os estudos citados, principalmente quanto à utilização de benzodiazepínicos de longa ação (diazepam). Farfel e colaboradores 14 concluíram que esta classe tera-pêutica foi uma das causas de visitas ao departamento de emergência por ocorrência de quedas em uma popu-lação de 60 anos ou mais. No Rio de Janeiro (RJ), estudo apontou a asso-

Talita Barbosa Augusto é graduada em farmácia pela Universidade Católica de Santos (UNISANTOS) e especialista em atenção farmacêutica pelo Instituto Racine com aprimoramento em farmácia hospitalar e farmácia clínica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE). Atualmente é farmacêutica clínica no Hospital Paulistano.

Marisa Aparecida Crozara é graduada em farmácia e bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), especialista em administração hospitalar pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), possui mestrado no Curso de Pós-Graduação em Fármaco Medicamentos pela FCF-USP e é doutoranda no Curso de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP). Possui atuação profissional em farmácia hospitalar, é docente do Centro Universitário São Camilo e presta serviços de consultoria.

ciação do uso de benzodiazepínicos com o aumento do risco de fratura conseqüente a queda 16.

O risco da utilização de benzodiaze-pínicos está relacionado a alterações de parâmetros farmacológicos no organismo do idoso, principalmente ao processo de distribuição e me-tabolização. Os idosos apresentam proporção maior de tecido adiposo e diminuição do fluxo sanguíneo hepático, fazendo com que fárma-cos lipossolúveis, como o diazepam, apresentem aumento da meia-via biológica 17.

Outro ponto a ser destacado é a presença de polifarmácia nas prescri-ções estudadas (9,62 medicamentos por prescrição). É muito discutida na literatura a associação desta prática com o aumento do risco de RAM, que podem imitar síndromes geriátricas ou precipitar quadros de confusão, incontinências e quedas, aumentan-do os custos assistenciais 18.

Apesar de muitas vezes os medica-mentos serem os responsáveis pelo prolongamento da vida nos pacientes idosos, a avaliação do seu risco e be-nefício é essencial para garantir uma terapia segura e com qualidade.

Os critérios de Beers são os mais difundidos e divulgados na literatura e podem constituir um instrumento útil para os profissionais da saúde na

redução da morbidade relacionada com os medicamentos em idosos 14. Entretanto, para que continuem sendo úteis, a atualização das listas deve ser freqüente devido à inclusão e retirada constante de medicamentos no mer-cado farmacêutico 13.

ConclusãoA prevalência da prescrição de

medicamentos potencialmente ina-propriados para idosos, segundo os critérios de Beers, ainda é alta em unidades hospitalares. Apesar de se tratar de um método fácil e prático de avaliação da farmacoterapia em idosos, o mesmo deve ser avaliado quanto à sua aplicabilidade em cada instituição. Além disso, é fundamen-tal que as fontes de consultas sobre o uso de medicamentos sejam de qualidade para garantir resultados fidedignos, estimulando a elaboração de estratégias de intervenção.

Os prof issionais da saúde, em especial aqueles envolvidos direta-mente com a prescrição, seleção, avaliação e utilização de medica-mentos em idosos, como médicos, farmacêuticos e enfermeiros, devem estar familiarizados com os critérios de Beers, para que possam nortear suas atividades profissionais para tornar mais segura a farmacoterapia nesta faixa etária.

A lista contendo as Referências Bibliográficas deste artigo encontra-se à disposição dos leitores da Revista Racine e pode ser solicitada pelo e-mail [email protected].

Page 71: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso
Page 72: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Hipodermóclise: Alternativa para a Administração de Medicamentos e FluidosJuliana Patrícia Zappulla Martins, Andréa Rodrigues Baldin de Moraes, Fernando Augusto Machado, Amanda Maia Machado de Oliveira, Mirian Regina Batista Barbosa

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201272 -

Page 73: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 73

ntroduçãoEmbora o uso da hipodermó-clise pareça ser algo recente, esta via de administração é

conhecida desde 1865, sendo ini-cialmente proposta pelo médico italiano Cantani. Desde esta época, tem sido utilizada como uma opção na administração de medicamen-tos e soros para alívio de sintomas tais como náusea e dor, bem como desidratação (leve a moderada) de pacientes em cuidados paliativos e crônicos com a impossibilidade de ingestão de medicamentos por via oral ou sem acesso venoso, sendo freqüentemente implementada com a finalidade de aumento do arsenal terapêutico possível e adequação do preparo e administração de fármacos para prevenção de reações adversas.

O que é hipodermócliseHipodermóclise é uma técnica que

consiste na administração de soros e medicamentos no tecido subcutâneo, camada mais profunda da pele, a qual é extensamente irrigada por capilares.

O comportamento farmacociné-tico dos medicamentos e fluidos, administrados por esta via, depende de sua densidade e tem sido mencio-nado como similar em relação à via intramuscular, na sua composição, pH, entre outros.

Embora a concentração sérica atingida pelos fármacos adminis-trados por esta via seja menor se comparada à via intramuscular, esta apresenta um efeito terapêutico mais prolongado 12. O que ocorre inicialmente é a perfusão tecidual da solução e, posteriormente, a absor-ção por difusão capilar. Em situação normal, o débito de perfusão teci-dual pode variar de 1-8 ml/minuto.

O princípio físico envolvido na absorção de fármacos por hipoder-móclise baseia-se no equilíbrio das forças hidrostática e osmótica (For-ça de Starling). Na ausência deste equilíbrio e na presença de falha nos mecanismos de reabsorção venosa e

I linfática, pode ocorrer edema, sendo esta última responsável pelo retorno de 2-4 litros de linfa para a circulação a cada 24 horas.

O quadro clínico do paciente (ede-ma generalizado ou doentes com he-morragia aguda profusa) e condições do acesso (vascularização, superfície

Tabela 1 - Vantagens e desvantagens da administração de medicamentos e soros por hipodermóclise

Vantagens Desvantagens

Indicações:• Manutenção da hidratação e tratamento da desidratação leve a moderada dos pacientes com intolerância, dificuldade ou inadequação para ingestão de líquidos via oral;• Administração de medicamentos e soros compatíveis com a via subcutânea em pacientes com difícil acesso venoso;• Baixo custo;• Possibilidade de alta hospitalar precoce;• Risco mínimo de complicações locais e sistêmicas;• Mínimo desconforto

Contra-indicações:• Contra-indicada na presença de distúrbios de coagulação, edema e anasarca; situações de emergência, desequilíbrio hidroeletrolítico severo e desidratação severa, infecções da pele ou lesões dérmicas próximas ao local;• Limitação de volume máximo a ser administrado nas 24 horas (3.000 ml);• Limitação dos fármacos para via subcutânea;• Limitação quanto ao seu uso em emergência;• Escassez de profissionais médicos com experiência em prescrição da via e de profissionais de enfermagem treinados na técnica;• Escassez de benchmarking para troca de experiências

de absorção e permeabilidade capi-lar), determinam o uso desta via e a velocidade de absorção do soro ou do fármaco a ser administrado.

A Tabela 1 apresenta as vantagens e desvantagens da administração de medicamentos e soros por hi-podermóclise.

Características dos medicamentos e soros administrados por hipodermóclise

Fatores relacionados ao medica-mento e aos soros, tais como tonici-dade, pH, osmolaridade, viscosidade e compatibilidade físico-química, determinarão a tolerabilidade para sua administração por hipodermó-clise, bem como a efetividade do tratamento.

Os medicamentos administrados por esta via devem ser bem tolerados, de eficácia comprovada e sem risco para o paciente. Medicamentos de pH extremos devem ser evitados, devido à possibilidade de apresentarem reação no local da aplicação, e, se imprescin-díveis, deverão ser administrados em acessos distintos.

Os soros utilizados para adminis-tração por hipodermóclise devem ser isotônicos e de osmolaridade

inferior a 280 miliOsmol por litro (mOsmol/l). Desta forma, os soros normalmente utilizados são fisioló-gico (SF 0,9%), glicosado a 5% (SG 5%), glicofisiológico 0,45% (preferí-vel). Alguns autores recomendam acrescentar 20 mililitros (ml) de so-lução de cloreto de sódio 20% (NaCl 20%) ao SG 5% para evitar risco de tumefação local por transporte de fluído para o interstício, prevenindo a formação de um terceiro comparti-mento. Outros estudos mencionam adição de cloreto de potássio (KCl) na concentração máxima de 40 mi-liequivalentes por litro (mEq/l).

A dose administrada por esta via é a normalmente prescrita para uso en-dovenoso (EV) e intra-muscular (IM).

A Tabela 2 relaciona os medica-mentos normalmente administrados e os contra-indicados para admi-nistração por hipodermóclise, bem como os fluidos contra indicados.

Page 74: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201274 -

Compatibilidade e incompatibilidade na diluição e entre fármacos para administração no mesmo acesso

A escolha desta via de administração deve incidir sobre fármacos cujo pH esteja entre 2 e 10, preferindo os que possuam pH mais próximos da neutra-lidade e que sejam hidrossolúveis, os quais são os mais estáveis em relação à compatibilidade com outros fárma-cos ou diluente e mais toleráveis pelo paciente na administração. Fármacos de pH extremos (exemplos: dexame-tasona e cetorolaco de trometamina) são mais propensos à precipitação. Portanto, não devem ser administrados

Tabela 2 - Medicamentos e fluidos indicados/contra-indicados para administração por hipodermóclise

Fonte: INCA, adaptado de: Cuidados Paliativos Oncológicos - Controle de Dor - Centro de Suporte Terapêutico Oncológico (CSTO) - Instituto Nacional de Câncer - RJ. 2001; Compatibility of Subcutaneously

Medicamentos normalmente administrados por hipodermóclise e sua indicação

Análogo de somotostatina Octreotida

Antibiótico Cefepima,ceftazidima, cefotaxima, ceftriaxona

Anticonvulsivante Fenobarbital

Antiemético Metoclopramida, ondansentrona e haloperidol (baixas doses)

Antihistamínico Prometazina

Antiinflamatório não esteroidal Cetorolaco de trometamina

Antipsicótico Clorpromazina, haloperidol (altas doses)

Ansiolítico Midazolan

Antagonista dos recepetores H2 Ranitidina

Corticóide Dexametasona

Diuréticos Furosemida

Hipnoanalgésico Morfina, fentanil, tramadol, metadona

Hipoglicemiante Insulina

Inibidor da reabsorção de cálcio Clodronato

Inibidor da hipersecreção bronquial Brometo da N-butilescopolamina

Medicamentos e fluidos contra-indicados para adminsitração por hipodermóclise

Medicamentos: Diazepan, Diclofenaco, eletrólitos não diluídos e Fenitoína 6 ,12

Fluidos: Nutrição parenteral total, colóides, soros sem eletrólitos, soluções com osmolaridade superior à 280 mOsmol/litro

no mesmo acesso, necessitando de acesso exclusivo. A Tabela 3 relaciona a compatibilidade entre medicamentos para administração por hipodermóclise no mesmo acesso.

Preparo e administração de medicamentos e soros

Para garantir a segurança no pro-cesso de preparo dos medicamentos e fluidos por hipodermóclise, bem como estabelecer a padronização da técnica para sua administração, é necessária a elaboração de um guia institucional no qual estarão todas as diretrizes técni-cas para preparo adequado (diluente e volume de diluição) e administração (tempo), compatibilidade entre os fármacos e acesso.

Page 75: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 75

Compatível: VerdeIncompatível: Vermelho

Não testado: Preto

Clo

rpro

maz

ina

Dex

amet

ason

a

Fen

obar

bita

l

Furo

sem

ida

Hal

oper

idol

Hio

scin

a

Keta

min

a

Met

adon

a

Met

oclo

pram

ida

Mid

azol

an

Mor

fin

a

Oct

reot

ida

On

dan

sen

tron

a

Ran

itid

ina

Tram

adol

Clorpromazina

Dexametasona

Fenobarbital

Furosemida

Haloperidol

Hioscina

Ketamina

Metadona

Metoclopramida

Midazolan

Morfina

Octreotida

Ondansentrona

Ranitidina

Tramadol

Tabela 3

Figura1quarta-feira, 24 de agosto de 2011 15:52:56

Page 76: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201276 -

MedicamentosDe forma geral, todos os medica-

mentos são compatíveis na diluição com água destilada e soro fisiológico. Exceções a esta regra são a octreoti-da e a ondasentrona, que devem ser diluídas apenas com SF 0,9%.

O volume recomendado para diluição é o equivalente á 100% do volume da ampola, isto é, conforme a apresentação do fármaco (volume total da ampola), sendo este diluído, por exemplo, em 2ml, sendo conside-rado ideal diluir em mais 2ml.

Embora alguns autores relatem a possibilidade de administração subcutânea em bolus para alguns medicamentos, como a metoclo-pramida e metadona, recomenda-se para estes fármacos a administração lenta e após diluição, para preven-ção de reações locais e sistêmicas, promovendo maior tolerância pelos pacientes. A fim de garantir que todo fármaco seja totalmente administra-do, a cada término de administração recomenda-se realizar a salinização do cateter com 2ml de NaCl 0,9%.

Deve-se evitar a administração de medicamentos alcalinos (cetorolaco e dexametasona) no mesmo acesso utilizado para administração de fár-macos ácidos, com a finalidade de prevenir precipitação dos fármacos no acesso. Assim, recomenda-se administrar medicamentos alcalinos e ácidos em acessos distintos 6, 12.

SorosO espaço subcutâneo permite a

administração de volumes de soros que podem atingir até 3.000ml em 24 horas, desde que, por sítio de aplica-ção, o volume máximo administrado não ultrapasse 1.500ml.

A administração pode ser realizada tanto por infusão contínua quanto intermitente, sendo esta última em bolus ou lenta. A administração em infusão intermitente por bolus pode ser realizada, administrando-se 500ml de soro em, no mínimo 60

minutos, podendo ser repetida até três vezes ao dia. A administração em infusão intermitente lenta pode ser realizada administrando até 1.500ml por sítio de aplicação (não devendo ultrapassar 3.000ml em 24 horas). A taxa de infusão recomendada é de 25 - 125ml/hora, controlada gota a gota.

Embora na via subcutânea a absor-ção do soro possa, por vezes, a ser ir-regular, para o cálculo do gotejamento poderá ser adotado que cada 1ml = 20 gotas. Para facilitar o gotejamento do soro, o mesmo deverá ser colocado a cerca de 1,5 metros de altura em rela-ção ao acesso do paciente.

Na dificuldade de administração de grandes volumes (superior a 1.000ml), seja por edema local ou condições clínicas do paciente, alguns autores recomendam a administração de hia-luronidase, na dose de 150 UI/litro, por ser uma enzima que degrada o ácido hialurônico, presente no tecido con-juntivo, promovendo uma aceleração na absorção dos fluidos e, com isso, reduzindo o edema.

Técnica, cuidados, monitoramento do paciente e recomendações

A estratégia de implantação da técnica na instituição deve envolver uma equipe multiprofissional cujo foco deverá ser a disponibilidade da rotina de técnica de punção, de um guia para consulta da forma de prepa-

ro e administração e da capacitação de toda a equipe de enfermagem.

Ao médico caberá a identificação de pacientes elegíveis, avaliando indicação e risco/benefício, para a prescrição desta via.

O consentimento prévio ao proce-dimento, pelo paciente ou familiar, é de grande importância, pois promove a orientação e a compreensão so-bre a técnica e sua segurança, bem como permite ao paciente conhecer reações adversas que possam ser esperadas, contribuindo, assim, para maior adesão ao tratamento.

As regiões indicadas para realiza-ção da punção podem ser: deltóide, anterior do tórax, abdominal, an-terior e lateral da coxa e escapular. A região escapular é a indicada para pacientes com vulnerabilidade emocional e as regiões torácica e abdominal possuem mais capacidade de absorção de fluidos.

A realização da técnica de hipo-dermóclise cabe ao enfermeiro e ao técnico de enfermagem, sendo estes profissionais capacitados para realizá-la, com base na Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem nos artigos 11 e 124.

A Tabela 4 apresenta os principais cuidados de enfermagem a serem prestados aos pacientes submetidos ao uso de medicamentos e fluidos por hipodermóclise.

Tabela 4 - Cuidados de enfermagem relacionados à utilização de hipodermóclise

Monitoramento do sítio de punção Monitoramento do paciente

Sinais de irritação local nas primeiras 4 horas

Sinais de infecção: febre, calafrio e dor

Sinais flogísticos: edema, calor, rubor e dor

Cefaléia

Endurecimento Ansiedade

Hematoma Sinais de sobrecarga cardíaca (taquicardia, turgência jugular, hipertensão arterial, tosse e dispnéia)Necrose tecidual (complicação

tardia e rara)

Page 77: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Farmácia Hospitalar

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 77

Juliana Patrícia Zappulla Martins é graduada em farmácia industrial pela Faculdades Osvaldo Cruz (FOC), especialista em farmacologia clínica pelo Instituto de Pesquisas Hospitalares (IPH). Atualmente é farmacêutica clínica do Hospital Nove de Julho.

Andréa Rodrigues Baldin de Moraes é graduada em enfermagem, especialista em clínica médico-cirúrgica e especialista em geriatria e gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM). Atualmente é enfermeira do Hospital e Maternidade São Camilo.

Fernando Augusto Machado é graduado em enfermagem pela Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia de Guarulhos, MBA em administração hospitalar e sistema de saúde pela FOC. Atualmente é membro do grupo de pesquisa Manejo a terapia farmacológica na prática clínica do enfermeiro da EEUSP e enfermeiro referência das unidades de internação do Hospital Nove de Julho.

Amanda Maia Machado de Oliveira é graduada em enfermagem e especialista em nefrologia pela UNIFESP/EPM. Atualmente é enfermeira do Hospital Nove de Julho.

O local de inserção do cateter pode permanecer por até sete dias, porém cada instituição deverá validar o tempo de permanência em comum acordo com o serviço de controle de infecção hospitalar.

O acompanhamento da hipoder-móclise, desde a indicação da técnica, finalidade de administração, local de punção, reações locais ou sistêmicas, deverá ser formalizado pela equipe de enfermagem em cada turno, em evolução de enfermagem ou impresso próprio de Acompanhamento de Hipo-dermóclise, para suporte a alteração de conduta, se necessário.

Miriam Regina Batista Barbosa é graduada em enfermagem pela Universidade de São Paulo e MBA em serviços de saúde pela Universidade Nove de Julho. Atualmente é vice-coordenadora da Comissão de Cuidados Paliativos da Dal Ben Home Care.

Referências Bibliográficas

O’Hanlon S, Sheahan P, McEneany R. Severe hemorrhage from a hipodermoclysis site. American Journal of hospice palliative care 2009; 26: 135-6.

Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: Diagrafic, 2009.

Lei número 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. DOU de 26.06.86. Seção I – fls 9.273-5.

Pedreira MLG. Hipodermóclise. Conselho Regional de Enfermagem São Paulo, gestão 2008-2011.

Bruera E, Legris MA, Kuehn N, et al. Hypodermoclysis for the administration of fluids and narcotics analgesics in patients with advanced câncer. Journal Pain Sympton Mnage 1990; 5 218-20.

Cuidado Paliativo - Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo -2009. 260-72.

Institute, Joanna Briggs, Aged Care Practice Manual. 2nd ed. 2003, Adelaide: JBI.

Citymission, Melbourne, Palliative Care Clinical Guidelines. Hypodermoclysis Procedure - Hydration using a continuous subcutaneous infusion. 2003, Melbourne: Melbourne Citymission.

Yap L, Tan S, Koo W, Hypodermoclysis or subcutaous infusion revisited. Singapore Medical Journal, 2001. 42(11): p. 526-529.

Utilização da via subcutânea na prática clínica - Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna - Artigos de revisão - Volume 15, Nº 4 - Outubro - Dezembro/2008.

Hipodermoclysis in the treatment oh dehydration, American Family Physician, Nov. 1,2001 by Sudeep Gill,Monidipa dasgupta, Paula Rochon.]

Terapia Subcutânea no Câncer Avançado - Série Cuidados Paliativos - Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro - 2009.

Leão Ferreira,K.A.;Santos, Ana Claudia, Hipodermóclise, Proctóclise e administração de medicamentos por via subcutânea, In: Franlin Santana Santos. Cuidados Paliativos - Diretrizes, humanização e alívio de sintomas. São Paulo: Atheneu, 2011:263-75.

Page 78: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

SIF 2011 - 8º Seminário Internacional de Farmácia Promove Intercâmbio de Brasileiros em Portugal e na Espanha

m sua 8ª edição, o SIF - Seminário Inter-nacional de Farmácia, idealizado e reali-zado pelo Instituto Racine, é uma opor-tunidade única para os farmacêuticos

que desejam se aprimorar profissionalmente e, ao mesmo tempo, enriquecer-se culturalmente.

Desenvolvido em cooperação com Faculda-des de Farmácia de Universidades européias - Universidade de Granada e Universidade de Sevilha, na Espanha, e Universidade de Coim-bra, Universidade do Porto, Universidade de Lisboa e Universidade Lusófona de Humanida-des e Tecnologias, em Portugal -, o SIF é uma oportunidade anual de intercâmbio com viés científico e também cultural para estudantes de

farmácia e profissionais farmacêuticos atuantes nos âmbitos de farmácias e drogarias em geral, de farmácia hospitalar, de atenção farmacêutica e de farmácia clínica, de indústria farmacêutica e indústria de produtos médicos e correlatos, de distribuidoras de medicamentos e operadores logísticos e profissionais de vigilância sanitária, além de docentes e coordenadores de cursos de pós-graduação e graduação em farmácia.

Em 2011 o SIF ocorreu de 10 a 19 de outubro e teve a participação de 31 brasileiros, que desfrutaram desta vivência internacional que vai além de uma atividade a ser inserida no currículo, proporcionando uma verdadeira oportunidade de crescimento e consolidação

E

Especial - Seminário Internacional de Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201278 -

Page 79: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Especial - Seminário Internacional de Farmácia

de competências, por meio de discussões e visualização de soluções para inovações da prática profissional e serviços de excelência em diversos ambientes, reflexões sobre conceitos e práticas acadêmicas no âmbito farmacêuti-co, o que se complementa com a ampliação da rede de contatos e é possibilita ainda a divulgação dos trabalhos e investigações realizadas no Brasil, com espaços na programação para a exposição de trabalhos selecionados dos participantes.

“O SIF foi uma atividade diferente no ano de 2011, pois tivemos a participação de um público diversificado, in-cluindo farmacêuticos de hospital, de farmácias com ma-nipulação, da área de logística e da área acadêmica, o que contribuiu para a riqueza das discussões inter e intra grupo. Os participantes tiveram a oportunidade não somente de intercambiar idéias e experiências com os docentes internacionais, mas também com os participantes brasi-leiros atuantes nas diversas áreas citadas”, observa Maria Denise Funchal Witzel, gerente acadêmica do Instituto Racine e uma das idealizadoras e coordenadoras do SIF. “O intercâmbio dos trabalhos foi produtivo e pode gerar, em futuro próximo, a realização de investigações conjuntas com metodologias adaptadas a cada país. Tanto brasileiros como portugueses saíram do evento com a certeza de que esta parceria é muito importante para fortalecer o conhe-cimento na área farmacêutica, em especial no segmento clínico”, avaliou Denise.

“Participar do SIF em 2011 foi muito interessante, pois, como realizei três meses de estágio no Hospital La Paz no ano 2000, pude perceber os avanços na área de farmácia hospitalar e seguimento farmacoterapêutico nos hospitais públicos da Espanha. Também tive a oportunidade de par-ticipar da avaliação dos trabalhos científicos apresentados pelos brasileiros e pelos portugueses. Foram selecionados três trabalhos brasileiros e três trabalhos portugueses para apresentação oral e seis trabalhos brasileiros e nove trabalhos portugueses para apresentação na forma de pôster. Todos esses 21 trabalhos constaram dos anais do evento e marcam mais uma iniciativa do Instituto Racine em prol do desenvolvimento técnico-científico da farmá-cia luso-brasileira. Quero destacar que o SIF também foi uma grande oportunidade de ampliar meu relacionamento acadêmico com professores espanhóis e portugueses, os quais conhecíamos apenas pelos artigos científicos que produzem, e com isso aprimorar meus conhecimentos para disseminá-los para meus alunos de graduação e pós--graduação. Outro aspecto que merece destaque foram as visitas aos hospitais, farmácias comunitárias e empresas de logística, em que pudemos perceber a intensa aplicação novas tecnologias que melhoram a qualidade e facilitam o trabalho do farmacêutico”, afirma Luiz Carlos da Silva, coordenador do SIF pelo Instituto Racine.

Confira, a seguir, os depoimentos de alguns dos parti-cipantes do SIF 2011.

“Agradeço ao Instituto Racine pela oportunidade que me proporcionou de participar do 8º Seminário Internacional de Farmácia. Ao me graduar como farmacêutica, procurei o Instituto Racine para cursar Pós-Graduação em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica e fui apresentada ao SIF, do qual sonhava em participar. Devido aos desafios da vida não pude participar da edição do SIF na qual minha turma de pós-graduação participou, e, em 2011, veio a realização desse sonho. O SIF foi mágico em minha vida. Foi impressionante ver o quanto os coordenadores trabalham para que tudo ocorresse da melhor forma. Foi impressionante ver a paciência que tiveram conosco, sempre firmes e decididos pelo propósito. Tenho consciência de que esse foi o melhor SIF já realizado até hoje. Senti-me estudante novamente, Granada me fez voltar no tempo e lembrar da Faculdade, mas, é claro, com muito mais amadurecimento e conhecimentos, e Coimbra foi um sonho, senti-me acolhida por pessoas que não conhecia. Os estudantes de farmácia fizeram questão de fazer uma apresentação musical para nós, o que foi emocionante e realmente tocou meu coração. O professor Manuel Machuca conseguiu entrar na minha alma, conseguiu chamar minha atenção e me dizer ‘escuta, você vai ficar parada vendo tudo o que pode fazer?’. Muitas mudanças de conceitos, preconceitos, cultura e outros estão acontecendo em mim. Após o SIF me tornei outra Ana Paula, alguém que cada vez mais busca por evolução, em todos os sentidos.”

“O Seminário Internacional de Farmácia foi uma oportunidade maravilhosa de aprimoramento pessoal e profissional. O conteúdo apresentado, as visitas técnicas, o intercambio de idéias entre os profissionais brasileiros participantes e os profissionais espanhóis e portugueses proporcionaram uma ampliação excepcional de nossa visão farmacêutica. A importância da atenção farmacêutica e a apresentação de experiências bem-sucedidas neste segmento foram o ponto alto do Seminário. O momento agora é de aplicação do aprendizado à nossa realidade, tendo como foco principal o usuário de medicamentos.”

Ana Paula Abu Jamra, coordenadora de farmácias ambulatoriais, atenção farmacêutica e farmácia clínica da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM)

Elisabeth Bomtempo Martins, farmacêutica-proprietária da Farmácia Vitacorpus, Varginha (MG)

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 79

Page 80: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

“Cumprimento o Instituto Racine pela organização e brilhantismo do SIF 2011. Foi uma oportunidade de troca de experiências, construção de novas amizades, novos contatos e crescimento profissional. Em alguns momentos tive vontade de ser 30 anos mais jovem para aproveitar ainda mais todos os conhecimentos recebidos. Confesso que nesta viagem houve uma mudança de paradigma em minha vida profissional. Apesar de estar mais para o fim da carreira, refleti muito sobre as oportunidades que perdi por insegurança, medo do desconhecido etc. Voltei do Seminário com minha energia física esgotada, mas minha energia profissional e vontade de seguir me aperfeiçoando veio 100% ativada. O reconhecimento do Instituto Racine foi demonstrado pelo carinho com que fomos recebidos em todas as Universidades Européias em que tivemos atividades”.

“O SIF 2011 foi excelente, conhecemos hospitais, distribuidoras e também farmácias comunitárias. O convívio com os participantes demonstrou a importância de trocarmos conhecimentos, seja com a geração mais nova, seja com a geração mais velha, pois isso torna as informações o nosso bem mais precioso. Na Espanha tivemos ótimos preletores, todos explicaram bem sobre a atenção farmacêutica, conhecemos a autora do método Dáder de atenção farmacêutica, o que, para mim, foi um privilégio inigualável. Em Portugal, o intercâmbio nos emocionou, com muita música, palestrantes do mais elevado nível e também trabalhos científicos. Os estudantes de farmácia de Portugal nos receberam com muita alegria e entusiasmo. Não poderia deixar de citar o conhecimento dos pontos turísticos, o que foi magnífico, conhecemos lugares excelentes. O Seminário culminou com a entrega dos certificados e este foi um momento de muita emoção e realização profissional.”

“Participei SIF 2011 e pudemos conhecer parte do sistema de saúde da Europa além do funcionamento e da atuação do farmacêutico na farmácia comunitária. Durante a visita ao Hospital Virgen de Las Nieves houve momentos de

aprendizado sobre conteúdos envolvendo o medicamento e a função do farmacêutico. Além do conhecimento que a nós foi oportunizado, constata-se que o Brasil possui condições de ter um sistema semelhante para a atuação do farmacêutico, na farmácia comunitária e também na farmácia hospitalar. Parabenizo o Instituto Racine pelo Seminário, que foi fantástico, e sugiro que continuem com este trabalho tão maravilhoso, pois com sua realização os farmacêuticos só têm a ganhar.”

“Não podemos conhecer todos os segredos do mundo ou desvendar todos os mistérios, mas o conhecimento é algo que vive conosco, assim como as lembranças dos momentos vividos. Por intermédio do Instituto Racine pude aprender e crescer como pessoa e como profissional. Participar do SIF 2011, das aulas, das visitas técnicas e das visitas turísticas foi uma oportunidade de realizar intercâmbio e poderia escrever um livro contando todos os bons momentos vividos. Agradeço à equipe do Instituto Racine que nos acompanhou e por tudo que nos foi ofertado”.

“No SIF 2011 tive a oportunidade de conhecer algumas das principais referências mundiais em minha área de atuação. Além disso, estabeleci contatos que podem trazer oportunidades futuras, como a realização de estágio internacional, por exemplo. A organização foi excelente, bem como o andamento do Seminário. A turma, bastante heterogênea, permitiu diversificar o conhecimento durante o Seminário. A parte cultural também foi excelente. Conheci muito sobre a Espanha e Portugal em pouco tempo e os organizadores também contribuíram muito com sua experiência neste sentido, nos fornecendo dicas valiosas. Parabéns ao Instituto Racine pela organização e pelo Seminário Internacional de Farmácia”.

“Destaco a qualidade da programação do SIF 2011, na qual a carga horária foi muito bem aproveitada, com dinamismo entre a prática e a teoria, além da simpatia daqueles que nos receberam em todas as Universidades e empresas visitadas”.

Cristina Zarif Severo, docente de graduação em farmácia, Alegrete (RS)

Kleber dos Santos Fernandes, gerente de contas AGV Logística, Vinhedo (SP)

Marc Strasser, docente de graduação em farmácia, Santo Amaro (SP)

Raquel Resende Dosea, farmacêutica clínica da SOS Vida: Soluções em Saúde, Salvador (BA)

Magali Demoner Bermond, ex-presidente da Comissão de Ensino do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e docente de graduação em farmácia, Vitória (ES)

Mayra Diniz, farmacêutica da Drogarias Tamoio, Niterói (RJ)

Especial - Seminário Internacional de Farmácia

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201280 -

Page 81: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Legislação

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 2012 81

O que Estabelece a Portaria nº 2.029, que Institui a Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)? Como Será Implantada e Qual É o Prazo para que os Hospitais e as Equipes Multiprofissionais se Adaptem?

Quem responde é Hêider Aurélio Pinto, coordenador do Departamento de Atenção Básica (DAB) da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde (MS)

Portaria nº 2.029 institui a atenção domi-ciliar no âmbito do SUS - chamado Melhor em Casa -, e estabelece:• As diretrizes da atenção domiciliar;

• A forma como deve se organizar a atenção domiciliar no SUS;

• A forma como as secretarias municipais de saúde, as secretarias estaduais de saúde e a secretaria de saúde do Distrito Federal serão habilitados;

• O custeio federal para os Serviços de Atenção Domiciliar (financiamento da atenção domiciliar).

Representa um avanço na medida em que estabelece três modalidades de atenção domiciliar (AD1, AD2 e AD3), nas quais o paciente pode ser incluído, de acordo com as características de sua situação clínica e da gra-vidade.

Os pacientes que se beneficiarão com a atenção domiciliar e forem classificados como pertencentes à modalidade AD1 deverão ser cuidados pelas equipes de atenção básica (Equipes de Saúde da Família), o que, na verdade, já é realizado. Caso o paciente seja classificado nas modalidades AD2 e AD3, será cuidado por uma Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD) e, caso indicado clinicamente, pela Equipe Multiprofissional de Apoio (EMAP). No entanto, a equipe de atenção básica deve sempre atuar em parceria com as equipes do Serviço de Atenção Domiciliar (EMAD e EMAP).

Outro avanço é que está se ampliando o escopo da atenção domiciliar, que inclui mas não se restringe à internação hospitalar. Muitos pacientes que se benefi-ciam de cuidados domiciliares não estarão em regime de ‘internação domiciliar’, dependendo do quadro clínico e,

conseqüentemente, da modalidade de atenção domiciliar na qual será classificado.

Como explicado anteriormente, esta portaria esta-belece o financiamento federal da atenção domiciliar. O Ministério da Saúde repassará R$ 34.560,00 por cada EMAD cadastrada por mês e R$ 6.000,00 por cada EMAP cadastrada por mês.

As secretarias de saúde (dos estados, municípios e do Distrito Federal) podem encaminhar os projetos para aprovação na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e, em seguida, enviá-los ao MS para análise técnica, de acordo com as características do Melhor em Casa. Ao serem aprovados os projetos, o MS publicará portaria habilitando os SAD dos projetos e os gestores locais deverão inserir as equipes (EMAD e EMAP) no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). A partir daí, o MS começará a repassar o recurso, não havendo prazo para adequação à portaria. As secretarias de saúde poderão enviar os projetos de forma contínua. É importante res-saltar que os projetos não deverão ser encaminhados por estabelecimentos de saúde, como os hospitais, e sim pelas secretarias de saúde.”

Envie para o e-mail [email protected] sua dúvida ou questão relacionada ao setor farmacêutico, com seu nome completo, cargo, instituição em que estuda e/ou empresa em que trabalha, cidade e estado.

A“

Page 82: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

Acontece

Revista Racine 124 - Jan/Fev/Mar 201282 -

Instituto Racine Realiza Cursos com Foco no MercadoInstituto Racine oferece diversas opções de cursos destinados aos profissionais da saúde que desejam especializar-se e assim ampliar seus horizontes visando a prática no mercado

de trabalho. Confira a seguir os Cursos de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizantes e os Cursos Intensivos na área farmacêutica realizados pelo Instituto Racine com início programado para os próximos meses de 2012. O

Cursos de Pós-Graduação - esPeCialização Profissionalizantefarmacologia e toxicologia Clínica (Ênfase em Evidência Científica e Uso Racional de Medicamentos)Jun - Turma 1 - Porto Alegre (RS)

atenção farmacêutica - formação em farmácia Clínica15/Jun - Turma 1 - Belém (PA)17/Ago - Turma 2 - Itajaí (SC)31/Ago - Turma 1 - Recife (PE)

administração farmacêutica - Gestão estratégica de farmácias22/Jun - Turma 1 - Belém (PA)1º/Jul - Turma 1 - Recife (PE)

radiofármacos e aplicações em diagnóstico, terapia e Pesquisa24/Ago - Turma 1 - São Paulo (SP)

Vigilância sanitária de Medicamentos, Cosméticos e saneantes domissanitários31/Ago - Turma 2 - São Paulo (SP)

Cursos intensiVosCosmetologia: desenvolvimento de Produtos Cosméticos16/Jun - Turma 1 - Florianópolis (SC)

Gestão de farmácias e drogarias23/Jun - Turma 1 - Porto Alegre (RS)

Gestão de resíduos na Área da saúde17/Jul - Turma 1 - São Paulo (SP)

farmacologia aplicada ao Processo de uso de Medicamentos (Ênfase em Dispensação, Administração e Orientação para o Uso de Medicamentos)04/Ago - Turma 1 - Vitória (ES)25/Ago - Turma 4 - São Paulo (SP)

Cursos Presenciais - datas de início e locais

Cursos Presenciais com transmissão online - datas de início e locais

Faça sua inscrição para os Cursos de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante e os Cursos Intensivos com início em 2012. Condições especiais para inscrições antecipadas. Mais informações no site www.racine.com.br/institutoracine ou pelo telefone (11) 3670-3499.

Você escolhe se assiste no local ou pela internet - aulas ao vivo e gravadas

Cursos intensiVosfarmacologia aplicada ao Processo de Uso de Medicamentos (Ênfase em Dispensação, Administração e Orientação para o Uso de Medicamentos)14/Jul - Turma 3 - São Paulo (SP)

Psicologia aplicada ao atendimento farmacêutico de Pacientes (Foco no Adoecimento nos Ciclos da Vida)28/Jul - Turma 1 - São Paulo (SP)

seleção racional e Boas Práticas de Prescrição, administração e dispensação de Medicamentos1º Ago - Turma 1 - São Paulo (SP)

Cosmetologia: Desenvolvimento de Produtos Cosméticos04/Ago - Turma 41 - São Paulo (SP)

Garantia e Controle da Qualidade aplicado04/Ago - Turma 6 - São Paulo (SP)

farmacologia e toxicologia Clínica (Ênfase em Evidência Científica e Uso Racional de Medicamentos)17/Ago - Turma 03 - São Paulo (SP)

Gestão de farmácias e drogarias18/Ago - Turma 3 - São Paulo (SP)

Gestão de Projetos de educação em saúde (Ênfase no Desenvolvimento de Programas de Prevenção e Promoção da Saúde)21/Ago - Turma 1 - São Paulo (SP)

Page 83: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso

0800 7070 090Ligue agora

www.elymartins.com.br (16) 2101.0190

Sua farmácia mais completa

Page 84: Revista Racine (Edição 124) - Saúde do Idoso