revitalização dos pólos de varejo de rua: experiências de ... · semana com suporte de dois...
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Revitalização dos Pólos de Varejo de Rua:
Experiências de Sucesso em Outros Países
Luís Fernando Varotto
EAESP-FGV/ UNINOVE
AGENDA
• Cenário atual: Brasil x Mercados Desenvolvidos
• Papel dos polos de rua
• Questões Chave
• Processos Bem sucedidos de revitalização
A importância dos Pólos Varejistas de Rua
• Pólos comerciais de rua têm um significado maior do
que simplesmente um local de compras
• Eles são também importantes locais de interação social
para uma comunidade
• São espaços em que as pessoas se encontram com
amigos, desenvolvem atividades e trocam experiências
• São as veias e artérias que mantem o coração de uma
comunidade batendo.
Pólos Comerciais de Rua na Europa
A grande maioria dos pólos comerciais de rua está hoje competindo por menos compradores, que fazem menos visitas e também gastam menos em cada visita;
Em 1971, 50% da população
comprava em mais de 200
localidades varejistas. Em 2009
esse número caiu para 90
localidades
Pólos Comerciais de Rua na Europa - quais fatores
determinam essa situação?
• Comércio eletrônico
• Mobile retailing
• Grandes redes
varejistas
• Shopping centers
• Recessão econômica
• Mudança de hábitos
de consumo
Brasil - Pólos de rua ainda têm a maior fatia das
vendas de varejo
• Concorrência ainda pequena
de compras via internet
• Crise Econômica mundial com
efeitos mais suaves na
economia brasileira (será ??)
• Aumento do poder
de compra das
classes C, D e E
• Maior acesso ao
crédito
Nós seremos eles amanhã?
Crescimento dos Shopping
Centers
Estagnação econômica
Problemas de acessibilidade,
violência, degradação
urbana... Importante e robusto
crescimento das
vendas on-line
Mudança de hábitos
de consumo
Mercados desenvolvidos – o que vem sendo feito?
• Preocupação genuína com o futuro e com o momento
presente dos pólos varejistas de rua
• Consciência de que o dinamismo dos polos de rua
garante a vitalidade das cidades, e a sua decadência
traz a deterioração do entorno.
• Grande esforço e mobilização dos agentes envolvidos –
varejistas, comunidade, governo em AÇÕES
PLANEJADAS E COORDENADAS
• E NO BRASIL?
Mas qual deve ser o papel dos polos comerciais de
rua?
• POLOS DE RUA SÃO MAIS DO QUE UM SIMPLES
LOCAL DE COMPRA. Eles desempenham um papel
central para as comunidades:
• Devem oferecer flexibilidade, conveniência e experiência
de compra
– Servir às necessidades da comunidade local
– Oferecer lazer, entretenimento e equipamentos culturais
– Oferecer serviços públicos e privados
– Ser um setor de emprego e de negócios
– Ser percebido pela comunidade local como a sua região central
Mas polos de rua são todos iguais?
• Polos de rua devem ser classificados de acordo com O
SEU PORTE, a sua localização e a sua vocação
comercial:
• Centro de destino nacional/regional
– Ex. 25 de Março
• Centro local de uma cidade
– Ex. Largo 13 de maio
• Vizinhança
– Ex. Vila Nova Cachoeirinha
• Destino histórico/cultural
– Ex. Rua Galvão Bueno - Liberdade
British Retail Consortium
• 21st Century High Streets - Questões chave para a
manutenção e desenvolvimento dos pólos de rua
• The British Retail Consortium é a principal entidade do
comércio varejista no Reino Unido. Ela congrega todos
os setores varejistas (grandes varejistas, independentes,
polos de rua, físicos e on-line de todos os setores).
• Trabalham em parceria com o Governo para criar as
condições adequadas para o crescimento e a inovação,
promovendo com responsabilidade o papel vital do
varejo dentro da comunidade.
Dimensões Chave
1. Sensação única de lugar
2. Espaço público atraente
3. Planejamento
4. Acessibilidade
5. Segurança e Limpeza
6. Regime fiscal e regulatório favorável
1. Sensação única de lugar
• Polos de rua devem suscitar um sentimento de
pertencimento e de confiança para a comunidade.
• Esse senso de lugar pode influenciar a maneira pela
qual os clientes decidem quando, por que e com que
frequência visitar o polo de rua.
• Independente de suas características o que o torna
especial é o seu AMBIENTE
1. Sensação única de lugar
• Polos de rua precisam começar a pensar como marcas.
– O que os diferenciam?
– Por que as pessoas querem visita-los?
– Quais são as suas proposições únicas de lugar?
• Desenvolvimento de
uma identidade única
– MARCA - que deve
ser trabalhada para
produzir lealdade por
meio da diferenciação
Ipswich Waterfront –
Transformação de um local histórico
Ipswich Waterfront era
um porto industrial de
1842 e entrou em
declínio nas ultimas
décadas do século XX
com vários prédios
industriais dilapidados
pontuando a paisagem.
O local resolveu explorar
seu ambiente único para
trazer as pessoas de
volta para a região
Ipswich Waterfront –
Transformação de um local
histórico
Dramática transformação com importantes investimentos públicos e privados, capitaneado pelo BID local para promoção nacional e regional.
Conhecida como a maior doca da Europa, conseguiu aumentar a visitação, surgiram novos negócios e o festival marítimo anual atrai cerca de 60.000 visitantes.
Princesshay – Exeter - Uso do cartão postal da cidade
para criação do senso de lugar
• Construção sob as bases do que já É FORTE
• Mix de lojas adequado em termos de diversidade e de quantidade
• Alinhamento às expectativas dos consumidores
• Ações de comunicação e marketing
John Thompson, The Academy of Urbanism
2. Espaço público atraente
• VISIBILIDADE, SEGURANÇA E ESTÉTICA são
prioridades para atrair investimentos para um polo de
rua
• As pessoas se preocupam com o local aonde vão e os
lugares que visitam
– Importância de espaços verdes, abertos e atrativos
– A noite desejam espaços amigáveis, atraentes e bem iluminados
– Polos de rua sujos, feios e abandonados serão cada vez menos
tolerados
Cardinal Place
O telhado de um estabelecimento
comercial em Cardinal Place,
Londres tem sido usado
criativamente para proporcionar
espaço para um parque publico.
O espaço é
frequentado por
clientes e trabalhadores
das lojas, e abriga
eventos como a
exibição de filmes e de
eventos esportivos, e
performances teatrais
ao vivo.
Exhibition Road -
Kensington
Remodelação da Exhibition Road em
Kensington incluiu a remoção do mobiliário de
rua, a criação de um corredor de pedestres
demarcado por um dreno linear e por um
pavimento de granito.
Antes Depois
Exhibition Road - Kensington
Há espaço para dois corredores de tráfego e áreas de
transição com estacionamentos. A nova pavimentação
auxilia pessoas com deficiência visual a perceberem as
áreas de transição, e as guias das calçadas foram
removidas
Espaço publico atraente. Responsabilidade de quem?
• Tem sido normalmente tarefa exclusiva das autoridades
locais
• O setor privado também deve desenvolver parcerias e
assumir a responsabilidade pela manutenção desses
espaços
– Times locais, parcerias locais e fóruns de vizinhança
• Processo mais efetivo ao nível local
BIDs – Business Improvement Districts
• BID é um órgão gestor constituído para implementar
melhorias em uma determinada região commercial
• Um BID é estabelecido por meio de consulta e votação,
na qual os comerciantes da região votam por uma
proposta ou plano de negócios para a área.
• A proposta ou plano de negócios estabelece as
prioridades de melhorias e como o BID será gerenciado
Comércio de Rua - Lisboa
A recuperação dos antigos Armazéns do Chiado, trazendo para esta zona da cidade uma importante âncora – a Fnac:
•Gestão integrada do comércio
•Estratégia de marketing comum,
•Ações de animação de rua,
•Facilidade de estacionamento,
•Horários ampliados e
•Mix comercial
A Rua Garrett vem sendo restaurada nas ultimas duas décadas após um incêndio.
É uma região reconhecida pela sua ligação com a cultura e as artes,
A proximidade da Faculdade de Belas Artes, no Largo da Academia Nacional de Belas Artes, também contribui para o ambiente cultural e artístico desta região.
Cidade do Porto - Portugal
Rua de Santa Catarina, Porto
Café Majestic, Porto
Mercado do Bolhão, Porto
Projeto de Remodelação – Calle Serrano - Madri
3. Planejamento,
• Como qualquer negócio, os pólos de rua precisam de uma estratégia cuidadosamente elaborada para terem sucesso.
• É necessário criar destinos que atraiam movimento de pessoas, investimentos e assegurem a viabilidade a longo prazo.
• No Reino Unido, o planejamento para a preservação e desenvolvimento dos pólos de rua e centros de cidades faz parte do The National Planning Policy Framework (politicas nacionais de desenvolvimento editado pelo Ministério do Planejamento do Reino Unido) desde a década de 1990
E mais planejamento...
• O planejamento estratégico deve prever o modelo
adequado para os diferentes tipos de destinação de
compra (POR RAMO VAREJISTAS OU POR TIPO DE
EXPERIÊNCIA DE COMPRA: CONVENIÊNCIA,
COMPRA COMPARADA, COMPRA UTILITÁRIA,
COMPRA HEDÔNICA), considerando os vários
contextos dos polos
• Parceiros estratégicos: autoridades locais, fóruns de
vizinhança, empresas, grupos comunitários, governo,
investidores
Regeneração de polos de rua
• Polos de rua são “ativos” que precisam ser gerenciados.
• O foco deve estar naqueles que já estão ou estão se
aproximando do ponto de inflexão
• Programa de monitoramento da “saúde” do polo.
4. Acessibilidade
• Acesso adequado e de boa qualidade por meio de
transporte público
• Estacionamentos – como fator de atração de público, e
não arrecadador de receita
• Facilidade de entregas – restrições de horários e locais
• Congestionamentos
– aumento de custo para
os varejistas
Gerenciamento do
congestionamento em
Bristol Broadmead
Objetivo – reduzir o tráfego intenso de veículos de entregas e a emissão de gases poluentes
Iniciativa – construção de um centro de distribuição a 6 milhas de distância para consolidação das entregas para o varejo da região
Resultados – um crescente número de varejistas se juntaram ao projeto, e houve uma redução de 66% no número de veículos circulando de, e para Broadmead, além de melhora no tempo de entrega, menos rupturas, redução dos custos de entrega e melhora da acessibilidade ao centro.
5. Segurança e Limpeza
• Crimes e sensação de insegurança tem um impacto
significativo nos investimentos e na viabilidade dos
locais de varejo e de lazer
• É fundamental dissuadir e tratar todas as formas de
crimes de varejo e comportamentos antissociais (roubos,
furtos, vandalismo, pichações), restaurando as
propriedades danificadas o mais rápido possível
Kingston- upon-Thames
• Preocupação com a limpeza e segurança do polo de rua
• Primeira iniciativa após a criação do BID local
• Time de “rangers” que patrulham as ruas 7 dias por
semana com suporte de dois veículos para limpeza das
ruas
• Mais de 50.000 m2 de calçadas foram limpos, além de
tratamento anti-pichações nos mobiliários e remoção de
chicletes dos calçamentos
• Mais de 20 toneladas de lixo jogado nas ruas foram
removidos
Um polo comercial protegido e seguro deve ter
• Cenários urbanos bem desenhados;
• Lojas bem desenhadas, com leiaute adequado, equipe
de apoio treinada e equipamentos de segurança
• Resposta organizada para lidar com o crime
• Compartilhamento de inteligência e informação
• Policiamento visível, guardas locais e medidas de
segurança proporcionais aos riscos do local
• Gerenciamento da economia noturna
• Restauração rápida de qualquer dano a lojas, mobiliário
urbano ou equipamentos
Ações para o combate à criminalidade
• Parcerias locais
• Policiamento de vizinhança em consonância com as
necessidades locais
– Mapeamento dos tipos de crime para adequação do tipo de
policiamento
• Consumo de drogas e desordem associada ao
alcoolismo são muito prejudiciais ao varejo
– Ação coordenada entre policia, varejistas, bares e boates para
redução dos problemas associados à economia noturna
6. Regime fiscal e regulatório
• Muitos dos custos que afetam a rentabilidade do varejo
estão associados a taxas e impostos locais e nacionais
• Alugueis e taxas negociais fazem com que o varejo
pague 3 vezes mais do que a sua participação na
geração de riqueza. Os pequenos varejistas são os mais
penalizados
• Outros questões agravam esse quadro:
– Taxas suplementares
– Cobrança por infraestrutura comunitária
– Taxas de estacionamento
Lojas vagas em Holyhead
• A cidade de Holyhead estava com uma taxa de desocupação
de lojas de 39%
• Negociação entre proprietários de imóveis vazios, autoridades
locais, comerciantes e associação comunitária local
• Cessão gratuita dos imóveis por prazo determinado em troca
de pequenas reformas por varejistas independentes
• Tipo de iniciativa permitiu enquadramento em faixas menores
de impostos para os varejistas, viabilizando os negócios.
• Geração de maior movimentação para o polo, ocupação dos
imóveis, geração de empregos e renovação dos contratos,
agora com o pagamento de aluguel para os proprietários de
imóveis
O que há em comum em processos bem
sucedidos de revitalização?
• Apesar das diversidades, muitas questões básicas e
ações necessárias são similares
• Devem ser endereçadas por todos os atores que atuam
no polo (lojas, restaurantes, bares, negócios locais e
poder publico)
1. Identificação dos desafios a curto e longo prazo
2. Identificação das soluções efetivas para esses desafios
3. Desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento
desses desafios
Exemplo de projeto de revitalização no Brasil
Largo da Batata – São Paulo
As obras de revitalização do Largo da
Batata correspondem a:
Pavimentação da Av. Faria Lima e
ruas próximas, como R. Theodoro
Sampaio, R. Paes Leme, R. Cardeal
Arco Verde e R. dos Pinheiros
Manutenção de calçadas
Remanejamento de pontos de ônibus
para novo terminal ou ruas com
menor movimento.
Mudanças nos traçados de ruas
Paisagismo e implementação de
calçadões
Expansão do metrô
Diferentes visões sobre o projeto Qual foi o impacto do projeto nas diferentes visões?
Pequenos Varejistas Falta de diálogo Redução de fluxo de
consumidores Queda de vendas e do
movimento Ausência de pontos de
ônibus Ausência de Zona azul; Mudança do perfil da
região Dificuldade de ajuste ao
novo perfil
Grandes Varejistas Falta de diálogo Redução de fluxo de
consumidores Queda de vendas e do
movimento Ausência de pontos de
ônibus Ausência de Zona azul; Mudança do perfil da
região Dificuldade de ajuste ao
novo perfil Ameaça dos shoppings
centers
Agentes Públicos Obra viária para
permitir uma maior mobilidade urbana: metrô, ônibus, zona azul
Valorização imobiliária da região: com lucro inclusive para comerciantes proprietários;
Implementação de área com paisagismos e mais agradáveis a população.
Principais Consequências: O que aconteceu após a revitalização?
Fonte: Gazeta de Pinheiros (publicado em 10/2013)
Lições do Largo da Batata: O que aprendemos com a revitalização do Largo da Batata?
• Falta de sincronia entre os departamentos responsáveis
pela elaboração e execução do projeto
• O varejo não foi contemplado no projeto de revitalização
da área
• Foco na valorização imobiliária e total alienação do
pequeno varejo no processo.
Conclusões
• Não há uma receita única para o sucesso, mas o
objetivo deve ser o de criar áreas de compras
multifuncionais, amigáveis e acolhedoras.
• A transformação dos pólos de rua só acontece quando
os setores público e privado compartilham da mesma
visão e combinam recursos para torna-la real
• Parceria e trabalho colaborativo são a essência de todo
projeto de regeneração varejista bem sucedido
Referências
• 21st Century High Streets: A new vision for our town centres – 2009 - British Retail Consortium
• 21st Century High Streets: What next for Britain´s town centres? – 2012 – British Retail Consortium
• The 21st century agora: a new and better vision for town centres
• The Portas review – an independent review into the future of our high streets – 2011 – Mary Portas
• Business Briefing – High street retail in Lisbon and Porto – 2013 – Cushman & Wakefield
• Re-imaging urban spaces to help revitalize our high streets – 2012 – Department for Communities and Local Government – UK
• Polos varejistas de baixa renda em São Paulo. Complexidade do setor e ineficiência da gestão pública: o Largo da Batata – 2013 – Daniel Manzano