rock com dendÊ

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PLANETA ARANTES Veja as bandas baianas do projeto Setembro MESTRES Earth Wind and Fire, Herbie Hancock SITE bandasetembro.com.br Radiola MESTRES Tropicália e Beatles SITE bandaradiola.com.br O Círculo MESTRES Beatles e Incubus SITE myspace.com/ocirculo Pirigulino Babilake MESTRES Caetano Veloso e Novos Baianos SITE pirigulinobabilake. com.br Hajoe MESTRES Pearl Jam, Pink Floyd e Led Zeppelin SITE hajoe.com.br Maglore MESTRES Beatles e Mutantes SITE maglore.com.br Neologia MESTRES Lenine, Caetano Veloso e Alceu Valença SITE banda neologia.com.br Quarteto de Cinco MESTRES Barão Vermelho e No- vos Baianos SITE quarteto decinco.com.br Enio e a Maloca MESTRES Gilber- to Gil e Stevie Wonder SITE enioea maloca.com.br Fotos Divulgação ilustrada EF QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2011 E1 Edon Ruiz/Folhapress ANÁLISE Nós existimos e pleiteamos nosso quadrado nesse latifúndio PITTY ESPECIAL PARA A FOLHA Desde que me entendo por banda da cena soteropolita- na, uma incongruência se faz notar: como uma cidade com tantos grupos legais, com tantos discos de rock sendo feitos e com público não con- solida esses fatos dentro e fo- ra das suas fronteiras? Nessa equação, faltam dois elementos vitais: divul- gação em meios de massa e casas de show de médio por- te para as bandas que já não tocam só para os amigos mas ainda não enchem uma Con- cha Acústica. O resto, temos. Mesmo com essas incerte- zas rondando seu trabalho, o roqueiro baiano não deixa de fazê-lo. A internet ajuda na divulgação independente e livre de conchavos, mas ain- da não é suficiente para sair do gueto. Faz-se necessário o apoio da mídia de massa, do rádio e da TV, que, na Bahia, ainda é quase totalmente dedicada aos ritmos populares e à cul- tura local tipo exportação. Muitas vezes ouvi o argu- mento de que “não existe pú- blico de rock na Bahia” e quase me deixei levar por ele. Até o dia em que a minha banda tocou no Festival de Verão de Salvador. Concluí que o público que estava ali, vibrante, não sabia que exis- tíamos até finalmente apare- cermos na TV aberta. Hoje há projetos incríveis realizados com o apoio do poder público, algo antes era impensável. Já é um passo. A cultura baiana, encanta- dora e de inegável valor, en- volve o candomblé e seus rit- mos, os blocos afro, a Roma Negra, a guitarra de Arman- dinho, Dodô e Osmar, Caym- mi e sua brejeirice. Mas a industrialização do axé calcou outra Bahia no imaginário popular. “Roqueiro baiano” vira um epíteto digno de menção pela suposta excentricidade: uns o enunciam em tom he- roico, outros, de descrença. Essas manifestações musi- cais podem coexistir. Se essa ideia ainda soa estranha por aqui, é porque o é por lá. Plei- teamos nosso quadrado nes- se latifúndio. Não adianta nos escondermos debaixo do tapete: nós existimos. Roqueiro na Bahia não monta banda porque pensa em ficar rico e famoso. É um chamado interno ao qual simplesmente não se pode fugir. Se, no final, ficar rico e famoso, melhor ainda. PITTY é cantora e compositora e vive em São Paulo há oito anos rock Arantes (à frente, de preto) e membros das nove bandas dendê com Projeto gravado no estúdio de Guilherme Arantes reúne parte da cena cena cena roqueira roqueira roqueira de Salvador, que, segundo o cantor, é ofuscada pelo axé axé axé MARCUS PRETO ENVIADO ESPECIAL A CAMAÇARI (BA) No final dos anos 1970, já bebendo da fama de “hitma- ker”, Guilherme Arantes lan- çou dois álbuns de nenhuma repercussão. “A Cara e a Coragem” (1978) e “Coração Paulista” (1980) eram discos de rock. E suas canções espelhavam um jovem artista em crise: com o próprio ofício, com a cena musical e com os rumos que tomava a sua geração. O público do cantor, que consagrara baladas como “Meu Mundo e Nada Mais” (1976), “Amanhã” (1977) e “Êxtase” (1979), não se iden- tificou com esses temas. E desprezou os dois discos. Pois é justamente a reu- nião das 20 canções dos dois discos que, agora, compõem “A Cara e o Coração”. Produzido por Pedro Aran- tes e Gabriel Martini, o álbum traz recriações desses não su- cessos do compositor paulis- ta feitas por nove bandas da nova cena roqueira baiana (veja ao lado e abaixo). O disco deve chegar às lo- jas em julho. As gravações aconteceram no estúdio Coa- xo do Sapo, construído por Guilherme em Camaçari, na Bahia, onde vive há dez anos. “A cena roqueira de Salva- dor é altamente criativa e precisa explodir para o públi- co”, diz o cantor. “Isso só não aconteceu ainda porque es- ses músicos foram eclipsa- dos pela ‘indústria da ale- gria’ que a Bahia se tornou.” A intenção, segundo o compositor, é servir de veícu- lo para que essas bandas possam tentar cruzar frontei- ras regionais e, quem sabe, atingir o público do Sudeste. “Fazer música autoral na Bahia é uma provação diá- ria”, diz Roy, da banda O Cír- culo. “Desde o empresário até a sua mãe, todo o mundo quer te levar ao mau cami- nho. ‘Cante axé, meu filho, cante axé que é melhor’.” Não há exatamente uma unidade roqueira nas bandas que integram o disco. Algu- mas pendem para o soul, ou- tras para o blues, outras para a psicodelia à brasileira, en- tre o tropicalismo de Caetano e Gilberto Gil e o pós-tropica- lismo dos Novos Baianos. “E nós aqui somos só uma parte do que acontece na ce- na baiana fora do Carnaval”, diz o paulistano Enio, do pro- jeto Enio e a Maloca, radica- do em Salvador há 20 anos. Ele cita o Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz, o Baia- na System e outros artistas, não necessariamente ligados ao rock, como parte funda- mental da nova fase da músi- ca da cidade. “Seria impossível alcançar toda a grande cena de musi- ca independente de Salvador em único disco”, diz Pedro Arantes, filho de Guilherme e idealizador do projeto. “Esse trabalho tenta sinte- tizar o que está acontecendo agora na capital baiana e va- lorizar o que acaba ficando de fora dos grandes eventos até da própria da cidade.” É a eterna busca do jovem músico por seu lugar no es- paço e no tempo. Talvez por isso o tema dos dois álbuns “malditos” de Guilherme Arantes soe tão atual. O jornalista MARCUS PRETO viajou a convite do estúdio Coaxo do Sapo ARQUITETURA Projetista de Masdar, Norman Foster, encontra Niemeyer no Rio Pág. E7 h MÚSICA Em entrevista, Lady Gaga diz que cultura pop é sua religião Pág. E8 h

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Projeto de Guilherme Arantes reúne cena roqueira de Salvador (por Marcus Preto) __ Folha de São Paulo Caderno Ilustrada 25 de Maio de 2011

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Page 1: ROCK COM DENDÊ

PLANETA ARANTESVeja as bandasbaianas do projeto

SetembroMESTRES EarthWind andFire, Herbie HancockSITEbandasetembro.com.br

RadiolaMESTRES Tropicália eBeatlesSITEbandaradiola.com.br

O CírculoMESTRES Beatles e IncubusSITEmyspace.com/ocirculo

PirigulinoBabilakeMESTRES Caetano Veloso eNovos BaianosSITEpirigulinobabilake.com.br

HajoeMESTRES Pearl Jam, PinkFloyd e Led ZeppelinSITEhajoe.com.br

MagloreMESTRES Beatles e MutantesSITEmaglore.com.br

NeologiaMESTRES Lenine,Caetano Velosoe Alceu ValençaSITEbandaneologia.com.br

Quartetode CincoMESTRES BarãoVermelho e No-vos BaianosSITEquartetodecinco.com.br

Enio e aMalocaMESTRES Gilber-to Gil e StevieWonderSITEenioeamaloca.com.br

FotosDivulgação

ilustradaEFQUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2011 E1

Edon

Ruiz/Folhapress

ANÁLISE

Nós existimose pleiteamosnosso quadradonesse latifúndio

PITTYESPECIAL PARA A FOLHA

Desde quemeentendoporbanda da cena soteropolita-na,uma incongruência se faznotar: comouma cidade comtantos grupos legais, comtantos discos de rock sendofeitos e compúbliconão con-solida esses fatos dentro e fo-radassuasfronteiras?Nessa equação, faltam

dois elementos vitais: divul-gação em meios de massa ecasas de show demédio por-te para as bandas que já nãotocamsópara os amigosmasainda não enchem uma Con-chaAcústica.Oresto, temos.Mesmo com essas incerte-

zas rondando seu trabalho, oroqueirobaianonãodeixadefazê-lo. A internet ajuda nadivulgação independente elivre de conchavos, mas ain-da não é suficiente para sairdogueto.Faz-se necessário o apoio

damídiademassa,dorádioedaTV, que, naBahia, aindaéquase totalmente dedicadaaos ritmos populares e à cul-tura local tipoexportação.Muitas vezes ouvi o argu-

mentodeque “nãoexistepú-blico de rock na Bahia” equasemedeixei levarporele.Até o dia em que a minha

banda tocou no Festival deVerão de Salvador. Concluíque o público que estava ali,vibrante, não sabia que exis-tíamos até finalmente apare-cermosnaTVaberta.Hoje há projetos incríveis

realizados com o apoio dopoder público, algo antes eraimpensável. Jáéumpasso.A cultura baiana, encanta-

dora e de inegável valor, en-volve o candomblé e seus rit-mos, os blocos afro, a RomaNegra, a guitarra de Arman-dinho, Dodô e Osmar, Caym-miesuabrejeirice.Mas a industrialização do

axé calcou outra Bahia noimagináriopopular.“Roqueiro baiano” vira

um epíteto digno de mençãopela suposta excentricidade:uns o enunciam em tom he-roico,outros,dedescrença.Essasmanifestaçõesmusi-

cais podem coexistir. Se essaideia ainda soa estranha poraqui, éporqueoépor lá.Plei-teamos nosso quadrado nes-se latifúndio. Não adiantanos escondermosdebaixo dotapete:nósexistimos.Roqueiro na Bahia não

monta banda porque pensaem ficar rico e famoso. É umchamado interno ao qualsimplesmente não se podefugir. Se, no final, ficar rico efamoso,melhorainda.PITTY é cantora e compositora e vive emSãoPaulo há oito anos

rock Arantes (à frente, de preto)emembros dasnovebandas

dendêcomProjetogravadonoestúdiodeGuilhermeArantes reúnepartedacenacenacenaroqueiraroqueiraroqueira de Salvador, que, segundo o cantor, é ofuscada peloaxéaxéaxé

MARCUS PRETOENVIADO ESPECIAL A CAMAÇARI (BA)

No final dos anos 1970, jábebendo da fama de “hitma-ker”, Guilherme Arantes lan-çou dois álbuns de nenhumarepercussão.“A Cara e a Coragem”

(1978) e “Coração Paulista”(1980) eramdiscos de rock. Esuas canções espelhavamum jovem artista em crise:com o próprio ofício, com acenamusical e comos rumosquetomavaasuageração.O público do cantor, que

consagrara baladas como“Meu Mundo e Nada Mais”(1976), “Amanhã” (1977) e“Êxtase” (1979), não se iden-tificou com esses temas. Edesprezouosdoisdiscos.Pois é justamente a reu-

nião das 20 canções dos doisdiscos que, agora, compõem

“ACaraeoCoração”.ProduzidoporPedroAran-

teseGabrielMartini,oálbumtraz recriaçõesdessesnãosu-cessos do compositor paulis-ta feitas por nove bandas danova cena roqueira baiana(vejaaoladoeabaixo).O disco deve chegar às lo-

jas em julho. As gravaçõesaconteceramno estúdio Coa-xo do Sapo, construído porGuilherme em Camaçari, naBahia,ondevivehádezanos.“A cena roqueira de Salva-

dor é altamente criativa eprecisaexplodirparaopúbli-co”, diz o cantor. “Isso sónãoaconteceu ainda porque es-ses músicos foram eclipsa-dos pela ‘indústria da ale-gria’queaBahiase tornou.”A intenção, segundo o

compositor,é servir deveícu-lo para que essas bandaspossam tentar cruzar frontei-

ras regionais e, quem sabe,atingiropúblicodoSudeste.“Fazer música autoral na

Bahia é uma provação diá-ria”, diz Roy, da bandaOCír-culo. “Desde o empresárioaté a suamãe, todo omundoquer te levar ao mau cami-nho. ‘Cante axé, meu filho,canteaxéqueémelhor’.”Não há exatamente uma

unidaderoqueiranasbandasque integram o disco. Algu-mas pendempara o soul, ou-tras para o blues, outras paraa psicodelia à brasileira, en-tre o tropicalismodeCaetanoe Gilberto Gil e o pós-tropica-lismodosNovosBaianos.“E nós aqui somos só uma

parte do que acontece na ce-na baiana fora do Carnaval”,diz opaulistanoEnio,dopro-jeto Enio e a Maloca, radica-doemSalvadorhá20anos.Ele cita o Letieres Leite, da

Orkestra Rumpilezz, o Baia-na System e outros artistas,nãonecessariamente ligadosao rock, como parte funda-mental danova fasedamúsi-cadacidade.“Seria impossível alcançar

toda a grande cena de musi-ca independente deSalvadorem único disco”, diz PedroArantes, filhodeGuilhermeeidealizadordoprojeto.“Esse trabalho tenta sinte-

tizar o que está acontecendoagora na capital baiana e va-lorizar o que acaba ficandode fora dos grandes eventosatédaprópriadacidade.”É a eterna busca do jovem

músico por seu lugar no es-paço e no tempo. Talvez porisso o tema dos dois álbuns“malditos” de GuilhermeArantessoetãoatual.O jornalistaMARCUSPRETO viajouaconvite do estúdio Coaxo do Sapo

ARQUITETURAProjetista deMasdar, NormanFoster, encontraNiemeyer no RioPág. E7 h

MÚSICAEm entrevista,Lady Gaga dizque cultura popé sua religiãoPág. E8 h