saltério litúrgico

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 SALTÉRIO  LITÚRGICO SALMOS E CÂNTICOS DA LITURGIA DAS HORAS

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Liturgia

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  • SALTRIO LITRGICO

    SALMOS E CNTICOSDA LITURGIA DAS HORAS

  • SALTRIO LITRGICOSALMOS E CNTICOS

    DA LITURGIA DAS HORASCOM INTRODUES,

    COMENTRIO PATRSTICOE ORAES CONCLUSIVAS

    SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

  • IMPRIMATUR

    Porto, 25 de Maro de 1999Solenidade da Anunciao do Senhor

    ? JLIO TAVARES REBIMBASArcebispo-Bispo Emrito do PortoComisso Episcopal de Liturgia

    Reservados todos os direitosde acordo com a legislao em vigor.

    Secretariado Nacional de Liturgia

    Depsito Legal n ??????????????

    ISBN 972-603-??-??

    INTRODUES,TRADUO DOS COMENTRIOS PATRSTICOS

    E ORAES PARA OS CNTICOSDO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO:

    Jos de Leo Cordeiro

    ORAES SLMICAS:Pedro Loureno Ferreira

  • APRESENTAOOs salmos e os cnticos do Antigo e do Novo Testa-

    mento so hinos que, sob a inspirao do Esprito Santo,foram compostos pelos autores sagrados. Por sua prpriaorigem so capazes de elevar para Deus o esprito doshomens, de fazer nascer nos seus coraes santos e pie-dosos afectos, de os ajudar admiravelmente a dar graasna prosperidade, ou de os consolar e robustecer na ad-versidade (cf. IGLH 100).

    Com o objectivo de levar os cristos a utiliz-los na suaorao quotidiana e a entend-los sempre melhor, dadoque tais poemas nasceram numa cultura e num tempo lon-gnquos dos nossos, o Secretariado Nacional de Liturgiapreparou esta segunda edio do Saltrio Litrgico, comimportantes alteraes relativamente primeira, como seindica a seguir.

    1 Introduo aos salmos. Dado que os salmos ecnticos tm um sentido literal que, mesmo em nossosdias, no podemos menosprezar (IGLH 107), cada umdeles vai precedido de uma breve introduo, a que demoso nome de sentido inicial, e que pretende facilitar a com-preenso histrica e literal do poema. A se indicam, entreparntesis e em nmeros rabes, os respectivos versculos.As citaes aparecem em itlico.

    Segue-se uma outra introduo, que procura ajudar osque rezam os salmos e os cnticos a captar-lhes o sentidopleno, particularmente o sentido messinico, pois foieste o que levou a Igreja a adoptar o Saltrio (IGLH 109).Leva o nome de sentido actual.

    2 Texto do Saltrio. O texto propriamente dito dosSalmos e dos Cnticos do Antigo e do Novo Testamentoaparece distribudo em quatro semanas, tal como naLiturgia das Horas, e dividido em versculos, estrofes epartes. Os versculos vo numerados, semelhana do

  • 6que sucede na Bblia, mesmo os que foram omitidos noSaltrio da Liturgia das Horas.1 Estes ltimos vm entreparntesis [...], para facilitar o uso litrgico do salmo. Anumerao romana divide, por vezes, alguns salmos empartes, segundo as circunstncias.

    3 Comentrio patrstico. A seguir ao texto do sal-mo ou do cntico vem o comentrio de Santo Agostinho,que explicou todo o saltrio como profecia referente aCristo e Igreja, tal como o fizeram os outros SantosPadres, interpretao que, no geral, legtima, pois nossalmos eles ouviram Cristo a clamar ao Pai ou o Pai adirigir-Se ao Filho, ou reconheceram neles at a voz daIgreja, dos Apstolos e dos Mrtires (IGLH 109). Espe-ramos que o comentrio do grande bispo e catequista deHipona ajude os utilizadores do Saltrio Litrgico a sabo-rear ainda mais a beleza dos poemas inspirados por Deus.

    4 Oraes conclusivas. Este Saltrio foi ainda en-riquecido com oraes slmicas, tambm chamadas colec-tas salmdicas, que ajudam a quem recita os salmos aentend-los num sentido predominantemente cristo(IGLH 112), e com oraes para os cnticos do Antigo edo Novo Testamento. Estas oraes podem-se utilizar li-vremente, de acordo com a antiga tradio, da seguintemaneira: terminado o salmo ou o cntico, aps uns mo-mentos de silncio, reza-se a colecta, como que a resumiros afectos de quem salmodia e a concluir a orao(IGLH 112). Algumas destas oraes provm da tradio

    1 Alm dos salmos 57, 82 e 108, foram omitidos da orao da Liturgiadas Horas os versculos e Aleluia cujos nmeros vo impressos emitlico, pertencentes aos salmos que vo impressos a negro; 20, 9-13;27, 4-5; 30, 18-19; 34, 3ab.4-8.20-21. 24-26; 39, 15-16; 53, 7; 54, 16;55, 8; 58, 6-8.12-16; 62, 10-12; 68, 23-29; 78, 6-7.12; 109, 6; 134, 1;110, 1a; 111, 1a; 112, 1a; 113A, 1a; 114, 1a; 116, 1a.2c; 117, 1a;134, 1a.21c; 135, 1a; 136, 7-9; 138, 19-22; 139, 10-12; 140, 10; 142,12; 145, 1a.10c; 146, 1a; 147, 20c; 148, 1a.14d; 149, 1a.9a; 150,1a.5d.

    APRESENTAO

  • 7litrgica romana, africana e hispnica, outras so decomposio moderna, traduzidas e adaptadas do LePsautier de la Bible de Jrusalm, mas a maior parteforam compostas para esta edio.

    5 Uso litrgico dos salmos. No fim de cada oraoconclusiva vem indicado o uso litrgico do salmo ou do cn-tico, segundo os livros litrgicos, seguido do nmero doversculo que justifica o uso desse salmo ou cntico.

    6 Apndices. No apndice I apresentam-se vriossalmos e cnticos, que no fazem parte do Saltrio distri-budo em quatro semanas. Em primeiro lugar o salmo 94,Invitatrio a todo o Ofcio Divino; a seguir, os salmos 57,82 e 108, omitidos na Liturgia das Horas devido ao seucarcter imprecatrio (cf. IGLH 131); depois, vrioscnticos do Antigo Testamento e um do Novo Testamento,utilizados nas viglias litrgicas (cf. IGLH 73) e nalgumassolenidades especiais; por fim, os trs cnticos evanglicos:Benedictus, Magnificat e Nunc dimittis. Todos estes sal-mos e cnticos, com excepo dos que so utilizados nasviglias, vo acompanhados de suas introdues e comen-trio patrstico. O apndice II a lista dos salmos e doscnticos, com a indicao da origem do comentrio deSanto Agostinho e da Hora e dia em que so rezados. Oapndice III a lista das obras de Santo Agostinho, dasquais foram tirados os comentrios dos salmos e cnticosda Liturgia das Horas. O apndice IV a distribuio dosSalmos na Liturgia das Horas. O apndice V um ndicetemtico-litrgico dos salmos. O apndice VI um ndicede temas dos comentrios de Santo Agostinho.

    Advertncia muito importantePara elaborar estas introdues aos salmos e cnticos

    da Liturgia das Horas, servimo-nos do trabalho de in-vestigao intelectual de muitos autores que consultmos

    APRESENTAO

  • 8e resumimos. No fcil organizar saberes diversos e porvezes opostos, num discurso coerente. Apesar disso,atrevemo-nos a faz-lo. O resultado da nossa respon-sabilidade exclusiva. A elaborao do texto nossa; asideias, essas pertencem-nos a ns e a vrios autores, queno citmos a cada momento para no dificultar a leiturada prpria introduo

    O sentido inicial e o sentido actual de cada salmo ecntico resumem, em poucas linhas, aquilo que os autoresde duas obras, cujo valor cientfico sobejamente conhe-cido, explicam em mais de duas mil pginas: SALMOS (2volumes), de Lus Alonso Schkel e Ceclia Carniti, edito-rial Verbo Divino (1992), e LES LOUANGES DU SEIGNEUR, deMaurice Gilbert, editorial Descle (1991). Consultmosainda outras obras, entre as quais salientamos trs, que seindicam pela ordem decrescente das datas de publicao:SAINT AUGUSTIN PRIE LES PSAUMES, de A. G. Hamman, edi-torial Descle (1980); PSAUTIER CHRTIEN (4 volumes), edi-torial Tqui (1975); LES PSAUMES (4 volumes), de M.Manatti e E. de Solms, editorial Descle (1966).

    As tradues dos comentrios de Santo Agostinhoforam feitas a partir do respectivo texto latino dasEnarrationes in psalmos.

    Caber queles que vierem a servir-se destes subsdios,faz-lo da maneira que julgarem mais conveniente. Cadaum tem valor por si mesmo. Consoante as situaes,pode algum servir-se deles, no todo ou em parte, paracompreender melhor o sentido da sua orao pessoal oupara ajudar uma comunidade a orar. Dar-nos-emos porsatisfeitos se este trabalho vier a ser til, nem que seja aum s dos seus utilizadores.

    Jos de Leo Cordeiro

    APRESENTAO

  • SEMANA I

    DOMINGO I

    Vsperas I

    Salmo 140 (141)

    SENTIDO INICIALEste salmo uma splica, difcil de interpretar.O salmista, certamente um fiel que vive em ambiente

    hostil fidelidade a Deus, talvez no exlio, pede ao Senhorque escute a sua voz (1). Ele deseja que a sua orao subaat Deus como incenso e que as suas mos se elevem comooblao da tarde, o que leva a pensar em algum ligado aoculto (2). Guardai da maledicncia a minha boca e osmeus lbios, para no negar a minha f, suplica ele cominsistncia (3), no me deixeis inclinar para o mal, nemtomar parte nos banquetes sagrados dos pagos, nemseduzir pela vida ftil dos mpios (4-5), cujos chefes rece-beram o castigo das iniquidades cometidas (6-7). ParaVs se voltam os meus olhos, defendei-me do lao e dasciladas dos malfeitores (8-9).

  • 10

    SENTIDO ACTUALToda a tradio crist considerou este salmo como o

    cntico vespertino por excelncia, por causa do versculosuba at Vs, Senhor, a minha orao como incenso, ele-vem-se as minhas mos como oblao da tarde, que olivro do Apocalipse comenta assim: Das mos do Anjosubiu presena de Deus o fumo do incenso, juntamentecom as oraes dos santos (Ap 8, 4). A Liturgia dasHoras comea, por ele, o ciclo do Saltrio distribudo emquatro semanas.

    O gesto do orante que eleva as mos durante a oraovespertina, recorda o de Jesus Cristo, de mos estendidasna cruz, oferecendo o seu sacrifcio pascal pela salvaode todos os homens.

    O salmo, a comear pelo seu ttulo orao na adver-sidade e nas fraquezas da vida um convite a tomarconscincia das contnuas tentaes que, todos os dias,pem em perigo a nossa fidelidade, a recorrer ao Senhorpara que nos socorra sem demora, a pedir-Lhe que defendaa porta dos nossos lbios e no deixe o nosso corao in-clinar-se para o mal, nem praticar a iniquidade com osmalfeitores, e a implorar-Lhe que o leo dos mpios nuncanos perfume a cabea.

    No Evangelho, Jesus recomendou a todos os seusdiscpulos: Vigiai e orai para no cairdes em tentao(Mt 26, 41) e no Pai nosso ensinou-nos a pedir: No nosdeixeis cair em tentao (Mt 6, 13). Com palavrasidnticas orava j o autor deste salmo.

    DOMINGO I

  • 11

    Salmo 140 (141), Orao na adversidadeDas mos do Anjo

    subiu presena de Deus o fumo do incenso,juntamente com as oraes dos santos (Ap 8, 4).

    1 Senhor, a Vs clamo; socorrei-me sem demora, *escutai a minha voz quando Vos invoco.

    2 Suba at Vs a minha orao como incenso, *elevem-se minhas mos como oblao da tarde.

    3 Guardai, Senhor, a minha boca, *defendei a porta dos meus lbios.

    4 No deixeis meu corao inclinar-se para o mal, *nem praticar a iniquidade com os malfeitores, nem tomar parte em seus lautos banquetes.

    5 Castigue-me o justo *e repreenda-me com misericrdia,

    mas o leo dos mpios nunca me perfume a cabea; *enquanto fazem o mal, no deixarei de rezar.

    6 Os seus chefes foram precipitados contra o rochedo *e compreenderam como eram suaves as minhas palavras.

    7 Tal como terra cavada e lavrada, *foram seus ossos dispersos boca do abismo.

    8 Para Vs, Senhor Deus, se voltam os meus olhos; *em Vs me refugio, no me desampareis.

    9 Defendei-me do lao que me prepararam, *defendei-me das ciladas dos malfeitores.

    [10 Caiam os mpios em suas prprias armadilhas,e eu prossiga livremente o meu caminho.]

    Glria ao Pai e ao Filho *e ao Esprito Santo,

    como era no princpio *agora e sempre. Amen.

    VSPERAS I

  • 12

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOSenhor, a Vs clamo; socorrei-me sem demora. Isto

    podemos diz-lo todos ns. No o digo eu; o Cristo totalque o diz. De facto, estas palavras foram ditas especial-mente em nome do corpo, porque, enquanto o Senhor estavaneste mundo, orou como homem, e orou ao Pai em nomedo corpo; e enquanto orava, caam de todo o seu corpogotas de sangue.

    Suba at Vs a minha orao como incenso, elevem-seminhas mos como oblao da tarde. Todo o cristo sabeque esta expresso costuma atribuir-se prpria cabea daIgreja. Na verdade, foi ao cair da tarde daquele dia que oSenhor voluntariamente entregou na cruz a vida que viria aretomar. Tambm ali estvamos ns representados. Comefeito, o que esteve suspenso na cruz foi o que Ele tomouda nossa natureza. Como seria possvel que o Paiabandonasse algum momento o seu Filho unignito, sendoambos um s Deus? Todavia, ao cravar a nossa frgilnatureza na cruz, clamou com a voz da nossa humanidade.

    Eis, portanto, o verdadeiro sacrifcio vespertino: apaixo do Senhor, a cruz do Senhor, a oblao da vtimasalutar, o holocausto agradvel a Deus. E na ressurreio,aquele sacrifcio vespertino converteu-se em oferendamatinal. Assim, a orao que se eleva, com toda a pureza,de um corao fiel, como incenso que sobe do altarsanto. Nenhum outro perfume mais agradvel a Deus;este incenso todos o devem oferecer ao Senhor.

    ORAO SLMICASenhor, o vosso nome digno de ser louvado desde o

    nascer ao pr do sol. Suba at Vs a nossa orao comoincenso na vossa presena e elevem-se para Vs as nossasmos, como sacrifcio da tarde. Por Nosso Senhor.

    Vsperas I Domingo I.

    DOMINGO I

  • 13

    Salmo 141 (142)SENTIDO INICIAL

    O salmista um homem perseguido que em alta vozclama ao Senhor (2), pondo diante dEle a sua aflio epedindo o seu auxlio (3). Ao descrever a perseguio queos inimigos lhe movem, pois esconderam um lao nasenda que ele vai trilhando (4), e o abandono em que sev, a ponto de no encontrar refgio em ningum (5),clama por Deus, sua herana na terra dos vivos (6), onico que o pode livrar dos seus perseguidores (7), e faz apromessa de dar graas ao seu nome se o Senhor o tirar dapriso em que se encontra (8).

    SENTIDO ACTUALOs Padres da Igreja meditaram este lamento do salmista

    luz do mistrio pascal de Cristo. Tudo o que descreve osalmo se realizou no Senhor durante a sua paixo, escreveS. Hilrio, Bispo de Poitiers.

    A aluso aos laos que os perseguidores armaram aeste homem na senda que ia trilhando, a referncia sepultura a que o salmista chama priso e exaltao naterra dos vivos, smbolo da ressurreio e ascenso ao cu,fazem deste poema uma profecia do mistrio pascal, muitoprprio para iniciar a celebrao do dia do Senhor, comosalmo pascal e dominical.

    Cristo, perseguido e crucificado, ora ao Pai, pondodiante dEle a sua aflio e descobrindo-Lhe a sua an-gstia, e Deus tira-O da priso do tmulo e d-Lhe emherana a terra dos vivos. Ele ora em ns e connosco, osjustos que O aclamam pelo bem que nos fez, e que serenem, sua volta, cada domingo. Por outro lado, nscantamos-Lhe este salmo, dando graas ao seu nome e di-rigindo-Lhe a nossa splica, a Ele que o nosso refgio eo nosso abrigo.

    VSPERAS I

  • 14

    Salmo 141 (142) Vs sois o meu refgioTudo o que descreve o salmo se realizou no Senhor

    durante a sua paixo (S. Hilrio).

    2 Em alta voz clamo ao Senhor, *em alta voz imploro o Senhor.

    3 Ponho diante dEle a minha aflio, *diante dEle descubro a minha angstia.

    4 Quando me desfalece o nimo, *Vs conheceis o meu caminho.

    Na senda que vou trilhando, *esconderam um lao.

    5 Olhai direita e vede: *no h quem se interesse por mim.

    No encontro refgio, *no h quem olhe pela minha vida.

    6 Clamei por Vs, Senhor; *disse: Sois o meu abrigo, a minha herana na terra dos vivos.

    7 Atendei o meu clamor: *estou reduzido misria.

    Livrai-me dos meus perseguidores: *eles so mais fortes do que eu.

    8 Tirai-me desta priso *e darei graas ao vosso nome.

    Os justos ho-de rodear-me, *pelo bem que me fizestes.

    DOMINGO I

  • 15

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHO

    Muitos clamam ao Senhor, no com a voz do seuesprito, mas com a voz do seu corpo. O homem interior,no qual Cristo comeou a habitar pela f, clama ao Senhorem alta voz, isto , no pelo rudo dos seus lbios, maspelo afecto do seu corao. No onde o homem ouve queDeus ouve; se no clamas com a voz dos pulmes, do peitoe dos lbios, o homem no te ouve, mas o teu pensamento clamor para o Senhor. O teu clamor a tua orao.

    Ningum v o teu pensamento, mas Deus v-o. Coloca,pois, a tua orao diante do Senhor, l onde apenas vAquele que recompensa. Nosso Senhor Jesus Cristo man-dou-te orar no quarto mais secreto. Se conheces o teuquarto mais secreto e o limpas, ali poders orar ao Senhor.

    Est em nosso poder fechar a porta, a porta do coraoentende-se, no a da parede, para no dar espao algumao tentador. Portanto, se acreditaste e abriste a porta aCristo, fecha-a ao demnio. Cristo est dentro, estabe-leceu a a sua morada. Pe diante dEle a tua orao.

    ORAO SLMICASenhor, nosso refgio na tribulao, atendei a voz da

    nossa splica e completai em ns o que falta paixo deCristo, a fim de alcanarmos a herana celeste na terra dosvivos e darmos graas ao vosso nome. Por Nosso Senhor.

    Vsperas I Domingo I.

    VSPERAS I

  • 16

    Cntico Filip 2, 6-11SENTIDO INICIAL

    So Paulo utiliza este hino primitivo para dizer aosFilipenses que Jesus Cristo, de condio divina (6), Se fezsemelhante aos homens (7) e experimentou em Si todo osofrimento humano, at morte de cruz (8). Foi esse ocaminho seguido pelo Servo sofredor (Is 53), que Se tor-nou o Homem Salvador. Por isso Deus O exaltou, ressus-citando-O de entre os mortos e dando-Lhe o nome que estacima de todos os nomes (9-10), a fim de que os anjos, oshomens e os demnios O proclamem Senhor, e desse modoDeus Pai seja glorificado por toda a criao (11).SENTIDO ACTUAL

    Este cntico de Vsperas um dos mais belos hinos dacomunidade crist do tempo dos Apstolos, em honra deCristo e do seu mistrio pascal, pelo qual Jesus resta-beleceu a comunho da humanidade com Deus, rompidapelo pecado do primeiro homem.

    No comeo dos tempos, Ado, que era simples homem,desejando ser como Deus e no morrer, comeu do frutoproibido, desobedecendo a Deus; na plenitude dos tempos,Cristo, que Deus, tornou-Se semelhante aos homens,obedecendo at morte e morte de cruz.

    O despojamento de Cristo levou o Pai a manifestar oseu novo amor pela humanidade, exaltando Jesus que apa-recera como homem, dando-Lhe o nome que est acima detodos os nomes, e fazendo com que todas as criaturas seajoelhem diante dEle, adorando-O, pois o Senhor.

    Pela sua obedincia, Cristo realizou o novo amor doshomens para com Deus e restabeleceu a comunho inter-rompida pelo primeiro homem. Por Cristo, com Cristo eem Cristo, toda a humanidade passou da terra ao cu, dainimizade amizade com Deus. este o mistrio pascal,que celebramos cada domingo, como o estamos a fazernesta celebrao de Vsperas no dia do Senhor.

    DOMINGO I

  • 17

    Cntico Filip 2, 6-11 Cristo, o Servo de Deus

    6 Cristo Jesus, que era de condio divina, *no Se valeu da sua igualdade com Deus,

    7 mas aniquilou-Se a Si prprio.Assumindo a condio de servo, *

    tornou-Se semelhante aos homens.

    8 Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, *obedecendo at morte e morte de cruz.

    9 Por isso Deus O exaltou *e Lhe deu o nome que est acima de todos os nomes,

    10 para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, *no cu, na terra e nos abismos,

    11 e toda a lngua proclame que Jesus Cristo o Senhor, *para glria de Deus Pai.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOCristo Jesus, que era de condio divina, aniqui-

    lou-Se a Si prprio, assumindo a condio de servo, massem deixar de ser Deus.

    Graas a esta condio de servo, o invisvel fez-Sevisvel ao nascer do Esprito Santo e da Virgem Maria.

    Nesta condio de servo, o Todo-poderoso tornou-Sedbil ao padecer sob Pncio Pilatos.

    Nesta condio de servo, o imortal morreu, porque foicrucificado e sepultado.

    Nesta condio de servo, o rei dos sculos ressuscitouao terceiro dia.

    Nesta condio de servo, o criador das coisas visveis einvisveis subiu ao cu que nunca deixou.

    Nesta condio de servo, Ele, que o brao do Pai, estsentado direita do Pai.

    Nesta condio de servo h-de vir julgar os vivos e osmortos, porque nela quis participar da sorte dos quemorrem, no obstante ser a vida dos vivos.

    VSPERAS I

  • 18

    No nos envergonhemos do nome de Cristo. Sofreu amorte de cruz, mas se no tivesse derramado o seu sangue,ainda continuaria por pagar o documento da nossa dvida.

    Sim, verdade, acredito num homem humilhado at morte, mas quem esse homem? Quem veio e que recebeu?

    Naquilo que recebeu de ns, mostrou-te o que tu s e oque sers quando chegar a hora do prmio. O nascer e omorrer conhecia-lo bem, mas ignoravas o ressuscitar e osubir ao cu. Ele tomou o que sabias e mostrou-te o queignoravas. A ressurreio do Senhor a nossa esperana ea sua exaltao a nossa glria.

    ORAOSenhor, que na vossa infinita sabedoria exaltastes o

    vosso Filho e Lhe destes um nome que est acima de todosos nomes, fazei-nos proclamar na terra o seu louvor e con-templar no cu a glria do seu triunfo pascal. Por NossoSenhor.

    Vsperas I Domingo I, II, III, IV.

    DOMINGO I

  • 19

    Ofcio de Leitura

    Salmo 1

    SENTIDO INICIALO poema de abertura do saltrio, que mais um convite

    do que uma orao, comea, tal como o sermo damontanha, por uma bem-aventurana: Feliz o homem. SoJernimo chamava-lhe prtico de entrada do grandepalcio do livro dos salmos. Nele se afirma que existemdois caminhos que todo o homem e toda a mulher podempercorrer: o caminho dos justos, palmilhado por aqueleque se compraz na lei do Senhor e nela medita dia e noite,e que leva a Deus (1-3), e o caminho dos pecadores, aosquais o salmista chama mpios, que afasta de Deus e leva perdio (4-6). O caminho a conduta de cada um, o seumodo de viver.

    SENTIDO ACTUALSer feliz o ideal de toda a vida humana, e o primeiro

    poema do saltrio comea por uma proposta de felicidade:Feliz o homem.

    Mais do que nenhum outro, Jesus Cristo foi o Homemque ps em prtica este salmo. Ele no seguiu o conselhodos mpios: O meu alimento fazer a vontade dAqueleque Me enviou (Jo 4, 34).

    Toda a tradio crist viu, na rvore plantada beiradas guas, um smbolo da cruz de Cristo, rvore da vida,da qual recebemos os frutos. Maria, me de Jesus, foi aprimeira a receb-los, antes mesmo da sua Conceio epor isso a Imaculada, a bendita entre as mulheres(Lc 1, 42), porque realizou, como ningum, a palavra doseu Filho: Felizes os que escutam a Palavra de Deus e apem em prtica (Lc 11, 28).

    OFCIO DE LEITURA

  • 20

    Como mais tarde o viria a fazer o Evangelho, tambmos salmos prometem a felicidade a quem escolhe o caminhodos justos. Para ns, depois da encarnao do Verbo, essecaminho Cristo: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida(Jo 14, 6). Perseverar nEle graa que se pede e se recebe,e no simples fruto do querer humano.

    Os antigos monges rezavam os salmos do Ofcio Divinouns a seguir aos outros, pela ordem em que se encontramno saltrio. A presena do salmo 1, seguido imediatamentedos salmos 2 e 3 no Ofcio de Leitura deste Domingo, ocaso mais flagrante onde esse princpio se verifica aindahoje na Liturgia das Horas.

    Salmo 1 Os dois caminhos

    Felizes daqueles que,pondo toda a sua esperana na cruz,

    desceram gua do Baptismo (Um autor do sc. II).

    1 Feliz o homem que no segue o conselho dos mpios, *no se detm no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunio dos maldizentes:

    2 mas antes se compraz na lei do Senhor *e nela medita dia e noite.

    3 como rvore plantada beira das guas: d fruto a seu tempo e sua folhagem no murcha. *

    Tudo quanto fizer ser bem sucedido.

    4 No assim, no, os mpios: *so como palha que o vento leva.

    5 Os mpios no se aguentaro em julgamento, *nem os pecadores na assembleia dos justos.

    6 O Senhor vela pelo caminho dos justos, *mas o caminho dos pecadores leva perdio.

    DOMINGO I

  • 21

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOEste salmo refere-se pessoa de nosso Senhor Jesus

    Cristo, cabea e membros. Ele foi o nico que nasceu deMaria, sofreu, foi sepultado, ressuscitou, subiu ao cu, eagora est sentado direita do Pai e intercede por ns. SeCristo nossa cabea, ns somos seus membros.

    A Igreja inteira, espalhada por toda a terra, o seucorpo, mas a cabea do corpo Ele. Todos os fiis, noapenas os que vivem hoje, mas tambm aqueles que vi-veram antes de ns e os que vivero depois de ns, at aofim dos tempos, fazem parte deste corpo cuja cabea subiuao cu. Ns conhecemos, portanto, a cabea e o corpo: acabea Ele, ns somos o corpo.

    Quando ouvimos a sua voz, devemos reconhecer nela ada cabea e a do corpo, porque tudo o que Ele sofreu,sofremo-lo ns nEle, e o que ns sofremos, sofre-o Eleem ns. Se a cabea sofre, pode a mo dizer que no sofre?Se a mo sofre, pode dizer a cabea que no sofre?Quando um dos nossos membros sente qualquer dor, todosos outros acorrem em sua ajuda.

    Se, quando Ele sofreu, tambm ns sofremos nEle,agora, que est sentado direita de Deus, tudo o que Igrejasofre tribulaes deste mundo, tentaes e angstias, quenos purificam como o ouro no fogo o sofre Ele tambm.

    Cristo, une, portanto, a cabea e o corpo, pelo que, nasua voz, ns reconhecemos a nossa, e na nossa Ele reco-nhece a sua. Escutemos, portanto, o salmo, e nele ou-viremos falar Cristo.

    ORAO SLMICASenhor, que no vosso Filho nos indicastes o caminho, a

    verdade e a vida, fazei que, meditando dia e noite na vossalei, encontremos a luz da vossa verdade, e a fora da guada vida nos faa produzir frutos de vida eterna. Por NossoSenhor.OL Domingo I; Advento; Quaresma; Pscoa 3;Catecumenado; Comum dos Santos.

    OFCIO DE LEITURA

  • 22

    Salmo 2

    SENTIDO INICIALEste salmo, que uma pergunta seguida de vrias res-

    postas, descreve, em primeiro lugar, o tumulto e a revoltados povos contra o Senhor e contra o seu ungido (1-3) edepois a rplica que lhes dada por Deus: Fui Eu quemungiu o meu Rei (4-6).

    ento a vez do ungido do Senhor proclamar que foifeito herdeiro e rei do universo: Ele disse-me: Tu s meufilho, Eu hoje te gerei (7-9), antes do prprio salmista sedirigir aos chefes e aos juizes deste mundo e de lhes dizer:Servi o Senhor, aclamai-O; felizes todos os que nEleconfiam (10-12).

    Trata-se de um salmo claramente messinico, por detrsdo qual se adivinha o orculo de Nat a David: Eu sereipara ele um pai e ele ser para mim um filho (2 Sam 7, 14).Sobre cada novo rei de Israel repousava a esperana mes-sinica suscitada pela profecia que veio a realizar-se, emplenitude, em Jesus de Nazar.

    SENTIDO ACTUALA Igreja apostlica interpretou a revolta dos chefes ju-

    daicos e das autoridades romanas contra Jesus e contra osprimeiros responsveis da comunidade crist de Jerusa-lm, como realizao da profecia deste salmo: Realmente,Herodes e Pncio Pilatos coligaram-se nesta cidade comas naes e os povos de Israel contra Jesus, o Santo Servode Deus (Act 4, 27). Agora, este Filho que Deus res-suscitou dos mortos para no mais voltar corrupo(Act 13, 34) e que o resplendor da glria de Deus, co-locado acima dos anjos (Heb 1, 4-5), reinar sobre todasas naes (Ap 12, 5), mas a sua realeza nada tem a vercom a dos homens que dominam os povos, porque no deste mundo (Jo 18, 36). As antfonas do Tempo comum

    DOMINGO I

  • 23

    e do Tempo pascal orientam a nossa orao para Cristoressuscitado e glorificado.

    O combate contra o Senhor e o seu ungido prossegueat ao fim dos tempos na pessoa dos mais pobres. Quandoalgum maltratado, onde quer que seja, o drama doMessias rejeitado e morto que se repete. Mas a mensagemdeste poema muito importante, por afirmar que o resultadofinal da luta entre as foras do bem e do mal, terminarpela vitria de Deus e do seu Cristo.

    Salmo 2 O Messias, rei e vencedor

    Coligaram-se contra Jesus, vosso Servo, a quem ungistes(Actos 4, 27).

    1 Porque se agitam em tumulto as naes *e os povos intentam vos projectos?

    2 Revoltam-se os reis da terra *e os prncipes conspiram juntos contra o Senhor e contra o seu Ungido:

    3 Quebremos as suas algemas *e atiremos para longe o seu jugo.

    4 Aquele que mora nos cus sorri, *o Senhor escarnece deles.

    5 Ento lhes fala com ira *e com sua clera os atemoriza:

    6 Fui Eu quem ungiu o meu Rei, *sobre Sio, minha montanha sagrada.

    7 Vou proclamar o decreto do Senhor. *Ele disse-me: Tu s meu filho, Eu hoje te gerei.

    8 Pede-me e te darei as naes por herana *e os confins da terra para teu domnio.

    9 Hs-de govern-los com ceptro de ferro, *quebr-los como vasos de barro.

    OFCIO DE LEITURA

  • 24

    10 E agora, reis, tomai sentido, *atendei, vs que julgais a terra.

    11 Servi ao Senhor com temor, aclamai-O com respeito. *12 Reverenciai-O para que no Se irrite e fiqueis perdidos;

    porque num repente se inflama a sua ira. *Felizes todos os que confiam no Senhor.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOO letreiro colocado sobre a cruz de Cristo, designava-O

    como Rei dos judeus. Deste modo, o Salvador mostrouque nem sequer causando-Lhe a morte, os judeus podiamimpedir que fosse rei Aquele que h-de vir com poder eglria, para dar a cada um segundo as suas obras. Estescrito no salmo: Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobreSio, minha montanha sagrada.

    A inscrio foi escrita em trs lnguas, em hebraico, emgrego e em latim, para indicar que Ele reinaria no ssobre os judeus mas sobre os pagos. Depois de ter dito,dirigindo-se aos judeus, fui Eu quem ungiu o meu Rei so-bre Sio, minha montanha sagrada, o salmo acrescenta,visando os gregos e os latinos: Tu s meu filho, Eu hoje tegerei. Pede-me e te darei as naes por herana e osconfins da terra para teu domnio.

    Os povos pagos no falam apenas o grego e o latim,mas essas duas lnguas so as que mais se distinguem: alngua grega, pela sua literatura, a lngua latina, pelahabilidade poltica dos romanos. Essas trs lnguas signi-ficavam que o conjunto dos povos viria a reconhecer asoberania de Cristo.

    Contudo, a inscrio no dizia rei das naes, mas reidos judeus, para lembrar desse modo a origem dos cristos.Est escrito: A lei vir de Sio, e de Jerusalm a palavrado Senhor.

    Embora os filhos do reino, que no quiseram que oFilho de Deus fosse seu rei, se tenham lanado por um

    DOMINGO I

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    tempo nas trevas, muitos de entre eles viro do Oriente edo Ocidente para tomar parte no banquete, no com Platoe com Ccero, mas com Abrao, Isaac e Jacob, no reinodos cus.

    ORAO SLMICASenhor Deus, que gerastes o vosso Filho Jesus Cristo e

    O consagrastes Rei de Sio, a vossa Igreja, e lhe destes avitria sobre os seus inimigos, concedei que O reco-nheamos e O sirvamos para podermos escapar da sua irae tomar parte no seu reino. Ele que Deus convosco, naunidade do Esprito Santo.

    OL Domingo I; Natal 7; Epifania 10; Paixo 2; Pscoa 7.12;Cristo Rei 6.7; Cristos perseguidos 13.

    Salmo 3

    SENTIDO INICIALEste salmo a expresso da confiana em Deus, para o

    presente, alicerada na experincia do passado.Certo dia, um homem, ao ver-se rodeado de inimigos

    que diziam a seu respeito: Deus no o vai salvar, pedeao Senhor que venha em seu auxlio e Deus responde-lheda sua montanha sagrada (2-5). Da por diante, ao deitar-see ao levantar-se, ele acredita na presena do Senhor a seulado (6-7) pelo que Lhe implora, continuamente, a salva-o para si prprio e a bno para o povo a que pertence(8-9).

    OFCIO DE LEITURA

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    SENTIDO ACTUALOs Padres da Igreja referiram este salmo, de contedo

    pascal, morte e ressurreio de Cristo, por causa do ver-sculo que diz: deito-me e adormeo, e me levanto, esempre o Senhor me ampara, comentado deste modo porSanto Ireneu: Jesus adormeceu e ergueu-Se do sono damorte, porque Deus era o seu protector.

    Ao longo da histria, muitas foram as ocasies em queos cristos utilizaram este salmo, particularmente emtempos de perseguio. Na boca dos discpulos de Cristodos nossos dias, ele continua a ter pleno sentido comoprofisso de f e como orao de confiana, pois foi assimque Jesus o rezou.

    As antfonas do Tempo comum e do Tempo pascalrecordam que o Senhor ressuscitado na manh do primeiroDomingo a alegria e a glria dos que nEle se refugiam eesperam.

    Salmo 3 O Senhor o meu protector

    Jesus adormeceu e ergueu-Se do sono da morte,porque Deus era o seu protector (S. Ireneu).

    2 Senhor, so tantos os meus inimigos, *to numerosos os que se levantam contra mim!

    3 Muitos so os que dizem a meu respeito: *Deus no o vai salvar.

    4 Vs, porm, Senhor, sois o meu protector, *a minha glria e Aquele que me sustenta.

    5 Em altos brados clamei ao Senhor, *Ele respondeu-me da sua montanha sagrada.

    6 Deito-me e adormeo e me levanto: *sempre o Senhor me ampara.

    7 No temo a multido, *que de todos os lados me cerca.

    DOMINGO I

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    8 Levantai-Vos, Senhor, *salvai-me, meu Deus.

    Vs batestes no rosto de todos os meus inimigos, *quebrastes os dentes dos mpios.

    9 A salvao vem do Senhor. *Desa sobre o povo a vossa bno.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOEm altos brados clamei ao Senhor, no com a voz da

    boca, mas com a voz do corao que o homem no ouve,mas que, para Deus, se eleva como um clamor. Foi comesta voz que Susana se fez ouvir, e com a mesma voz oSenhor nos mandou rezar sem rudo, com as portas fe-chadas, no segredo do corao.

    Ningum diga que se reza menos intensamente, quandonenhuma palavra nos sai da boca. Ns bem desejamosorar silenciosamente no nosso corao, mas h pensa-mentos estranhos que vm perturbar a nossa prece e nosimpedem de dizer: Com a minha voz clamei ao Senhor. Spodemos dizer isto com verdade, quando a nossa alma nomistura orao nenhum cuidado humano, e fala ao Senhor,onde s Ele ouve. A esta orao se chama clamor, pelafora da prpria inteno.

    ORAO SLMICASenhor, salvao dos que em Vs esperam, atendei a

    prece da vossa Igreja em orao e reconhecei nela a oraodo vosso Filho que em ns prolonga os sofrimentos da suapaixo, para que tambm ns possamos ressuscitar comEle, que Deus convosco na unidade do Esprito Santo.

    OL Domingo I; Pscoa 6; Bno 9; Splica 8.

    OFCIO DE LEITURA

  • 28

    Laudes

    Salmo 62 (63), 2-9

    SENTIDO INICIALEste salmo, que a tradio bblica diz ser de David,

    quando se encontrava no deserto de Jud, tanto pode ser ocntico de um sacerdote, como de um membro do coro oude um rei. Com efeito, ele ultrapassa a alegria de estarjunto de Deus, no seu santurio, dia e noite. Ele sobretudoo grito de alma de algum que desde a aurora procura oSenhor e tem sede de Deus como terra sequiosa, sem gua(2), que deseja contempl-lO no santurio e sentir a suagraa que vale mais que vida (3-4), que quer bendiz-lOe levantar as mos em seu louvor (5-6). Deus todo o seubem e, por isso, o salmista recorda-O dia e noite e a Ele seencontra sempre unido (7-9).

    SENTIDO ACTUALPelo tom de louvor de muitos dos seus versculos, a

    Igreja considera este cntico como o mais fundamentaldos salmos da manh: Desde a aurora Vos procuro, aminha alma tem sede de Vs..., assim Vos bendirei toda aminha vida e em vosso louvor levantarei as mos..., osmeus lbios ho-de cantar-Vos louvores..., com vozes dejbilo Vos louvarei.

    Jesus, que vivia sempre unido ao Pai e com quem o Paiestava sempre (Jo 8, 29), muitas vezes, ao romper damanh, procurou a solido para orar (Mc 1, 35) e outrasvezes passou mesmo toda a noite em orao (Lc 6, 12).

    A Igreja, Esposa de Cristo, continuamente impelidapelo Esprito que sopra onde quer (Jo 3, 8) e a exemplodos seus santos e santas, faz a mesma experincia de orao.Por isso, logo na primeira hora da manh, o cristo

    DOMINGO I

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    convidado a rejeitar as obras das trevas e a revestir as armasda luz, a procurar Deus para contemplar o seu poder e asua glria, e a dessedentar-se na gua da vida.

    Feliz daquele que anseia por Deus como a terra secadeseja receber a chuva. Um dia ser saciado no reino doscus, para o qual foi criado. Feliz daquele que tem sedeardente de Deus desde a hora em que, na manh do primeirodia da semana, Cristo ressuscitou dos mortos.

    Salmo 62 (63), Sede de DeusCriastes-nos para Vs, Senhor,

    e o nosso corao no descansaenquanto no repousar em Vs (S. Agostinho).

    2 Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro. *A minha alma tem sede de Vs.

    Por Vs suspiro, *como terra rida, sequiosa, sem gua.

    3 Quero contemplar-Vos no santurio, *para ver o vosso poder e a vossa glria.

    4 A vossa graa vale mais que a vida: *por isso os meus lbios ho-de cantar-Vos louvores.

    5 Assim Vos bendirei toda a minha vida *e em vosso louvor levantarei as mos.

    6 Serei saciado com saborosos manjares *e com vozes de jbilo Vos louvarei.

    7 Quando no leito Vos recordo, *passo a noite a pensar em Vs.

    8 Porque Vos tornastes o meu refgio, *exulto sombra das vossas asas.

    9 Unido a Vs estou, Senhor, *a vossa mo me serve de amparo.

    LAUDES

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    [10 Os que procuram tirar-me a vidabaixaro s profundezas da terra;

    11 Sero passados espada,feitos presa de chacais.

    12 E o rei h-de alegrar-se em Deus,ho-de congratular-se os que Lhe so fiis quando se fechar a boca aos mpios.]

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOOs salmos que cantamos foram ditados pelo Esprito

    Santo e escritos antes de nosso Senhor Jesus Cristo ternascido da Virgem Maria, mas profetizam-no a Ele, quehavia de vir muitos anos depois. Na voz de Cristo ns re-conhecemos a nossa, e na nossa voz Ele reconhece a sua.Escutemos, portanto, o salmo, e nele ouviremos falar Cristo.

    A minha alma tem sede Vs. Eis-nos no deserto. Vedea sede que tortura o salmista, mas observai como bomsentir sede de Deus. H alguns que tm sede, mas no deDeus. Aquele que procura possuir alguma coisa, arde dedesejo. O desejo a sede do corao. Vede quantos de-sejos atormentam o corao dos homens: o ouro, a prata,as terras, as honras. Todos esses desejos esto nos nossoscoraes de carne. Todos os homens ardem em desejos, equase no se encontra um que diga: A minha alma temsede de Vs.

    A sede devora os homens neste mundo, e eles no com-preendem que se encontram num deserto onde de Deusque a sua alma tem sede. Digamos ento ns: A minhaalma tem sede de Vs. Seja este o grito de ns todos,porque unidos a Cristo fazemos apenas uma alma. Sinta anossa alma sede de Deus.

    DOMINGO I

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    No somos cristos para pedir a felicidade terrena, maspara possuir outra felicidade, que receberemos quandotiver desaparecido toda esta vida do mundo. No vosparea inacreditvel nada disso. Se Deus nos fez quandono existamos, no Lhe ser difcil voltar a dar-nos o queramos.

    No h estabilidade nas idades da vida. Por toda aparte h fadiga, em todo o tempo, cansao, em todo olugar, corrupo. Com os olhos fixados na esperana daressurreio que Deus nos promete, em meio de todas ascarncias que sentimos, cresce em ns a sede da vida in-corruptvel. Assim, de muitas maneiras, a nossa alma temsede de Deus.

    Neste deserto, quanto mais sofremos mais sede temos,quanto mais nos fatigamos mais sede temos dumaincorruptibilidade, para alm de toda a fadiga.

    ORAO SLMICASenhor, que nos criastes para Vs, fazei que o nosso

    corao passe a noite desta vida a pensar em Vs, e desdea aurora Vos procure para Vos contemplar no vosso santurioe ser saciado com saborosos manjares entre cnticos delouvor da multido em festa. Por Nosso Senhor.

    Laudes Domingo I; Mrtires 4; Iniciao Crist 2; Profisso Religiosa2; Comunho 6; Defuntos 2.

    LAUDES

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    Cntico Dan 3, 57-88.56

    SENTIDO INICIALOs trs jovens Ananias, Azarias e Misael, por causa da

    sua fidelidade a Deus, so metidos num forno em chamas emiraculosamente guardados inclumes. Cheios de alegriae numa s voz louvam e glorificam a Deus (Dan 3, 51)com este cntico.

    Nele, todas as obras de Deus so convidadas a louvar oSenhor: as criaturas celestes (57-63), as foras do ar e asvariaes dos tempos (64-73), as criaturas terrestres seminteligncia (74-81), todos os homens, de modo particularo povo de Israel (82-87) e, por ltimo, os prprios trsjovens Ananias, Azarias e Misael (88).

    A parte final do cntico foi organizada pela Igreja, quelhe acrescentou o versculo: Bendigamos o Pai, o Filho e oEsprito Santo, e o fez terminar por um dos bendito doprincpio: Bendito sejais, Senhor... a Vs, o louvor e aglria para sempre (56).

    SENTIDO ACTUALA cena dos trs jovens no forno de Babilnia uma das

    pginas mais clebres do Antigo Testamento. A Igrejaprimitiva utilizou-a muito na catequese. Prova disso asua apario frequente nas pinturas das catacumbas.

    A razo h-de procurar-se na identidade de situaesvividas pelos trs jovens, que se recusaram a adorar aesttua do rei de Babilnia, e pelos cristos que, em tempode perseguio, no dobravam o joelho, no queimavamincenso nem faziam libaes esttua do imperador roma-no. Num e noutro caso, o desfecho tinha sido e continuavaa ser a condenao morte.

    A catequese que a Igreja queria e quer ensinar sim-ples: tal como os jovens israelitas tinham sido protegidospor Deus, no meio das chamas, assim o vo ser tambm os

    DOMINGO I

  • 33

    cristos, sejam quais forem os tormentos a que possam sersubmetidos. Os trs jovens, no meio das chamas, cantavamnuma s voz: Bendito seja Deus; a Igreja, perseguida esubmetida aos sofrimentos do martrio, sentir a brisa suaveda proteco do Senhor. A garantia disso a prpria vidade Jesus que, embora perseguido e levado morte, venceua morte, ressuscitou e subiu ao Cu.

    Continuamos a precisar da fora que nos vem da suges-tiva cena do livro de Daniel. A memria da ressurreio deJesus, que cada manh de domingo traz at ns, a melhorgarantia de que nada nem ningum nos far mal, poisestamos nas mos de Deus, e por isso Lhe cantamos umhino de louvor com a voz, com a vida e com as obras.

    Cntico Dan 3, 57-88.56 O louvor das criaturas

    Louvai o Senhor, todos os seus servos (Ap 19, 5).57 Obras do Senhor, bendizei o Senhor, *

    louvai-O e exaltai-O para sempre.58 Cus, bendizei o Senhor, *59 Anjos do Senhor, bendizei o Senhor.60 guas que estais sobre os cus, bendizei o Senhor, *61 poderes do Senhor, bendizei o Senhor.62 Sol e lua, bendizei o Senhor, *63 estrelas do cu, bendizei o Senhor.

    64 Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor, *65 todos os ventos, bendizei o Senhor.66 Fogo e calor, bendizei o Senhor, *67 frio e geada, bendizei o Senhor.68 Orvalhos e gelos, bendizei o Senhor, *69 frios e aragens, bendizei o Senhor.70 Gelos e neves, bendizei o Senhor, *71 noites e dias, bendizei o Senhor.72 Luz e trevas, bendizei o Senhor, *73 relmpagos e nuvens, bendizei o Senhor.

    LAUDES

  • 34

    74 Bendiga a terra o Senhor, *louve-O e exalte-O para sempre.

    75 Montes e colinas, bendizei o Senhor, *76 tudo o que germina na terra bendiga o Senhor.77 Fontes, bendizei o Senhor, *78 mares e rios, bendizei o Senhor.79 Monstros e animais marinhos, bendizei o Senhor, *80 aves do cu, bendizei o Senhor.81 Animais e rebanhos, bendizei o Senhor, *82 homens, bendizei o Senhor.

    83 Bendiga Israel o Senhor, *louve-O e exalte-O para sempre.

    84 Sacerdotes do Senhor, bendizei o Senhor, *85 servos do Senhor, bendizei o Senhor.86 Espritos e almas dos justos, bendizei o Senhor, *87 santos e humildes de corao, bendizei o Senhor.88 Ananias, Azarias. Misael, bendizei o Senhor, *

    louvai-O e exaltai-O para sempre.

    Bendigamos o Pai, o Filho e o Esprito Santo; *louvemo-lO e exaltemo-lO para sempre.

    56 Bendito sejais, Senhor, no firmamento dos cus, *a Vs o louvor e a glria para sempre.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOLouvem-Vos, Senhor, todas as vossas obras. Mas

    como ho-de louvar-Vos se no tm voz para o fazer? Ostrs jovens que caminhavam entre as chamas sem sequeimarem, e que tiveram tempo para louvar a Deus,enumeraram todos os seres da criao, desde os do cu ataos da terra, e a todos disseram: Bendizei o Senhor, lou-vai-O e exaltai-O para sempre. Vede como cantam hinosde louvor.

    Deus criou e organizou todas as coisas. Este ordena-mento formosssimo, subindo do mais pequeno ao maior ebaixando do mais elevado ao mais inferior, nunca inter-rompido, mas adaptado a seres to diversos, todo ele louva

    DOMINGO I

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    o Senhor. Porque louva o Senhor? Porque quando vs econtemplas a beleza das suas obras, por elas louvas ao teuDeus.

    A terra muda tem um certa voz, tem rosto. Tu olhas evs a sua face, a sua superfcie, vs a sua fecundidade e asua fora, vs como a semente a germina e como at,muitas vezes, faz brotar o que nela no foi semeado. Vsisto, e com a tua inteligncia interrogas a terra, uma vezque a tua forma de investigar uma interrogao.

    Pois bem: quando, admirado, tiveres investigado, apro-fundado e encontrado o vigor imenso, a grande beleza, oexcelso poder, que no pode provir das coisas criadas nemda sua fora, no mesmo instante lembrar-te-s que a terras pode mostr-lo por t-lo recebido do prprio Criador.O que nela encontraste a voz do seu louvor para quelouves tu ao Criador. Por ventura, ao veres toda a belezadesta terra, no te responde ela a uma s voz: No fui euque me fiz, mas Deus?

    Examinem os vossos santos a criatura que Vos louva,para que no louvor das vossas obras Vos bendigam. Ouvi asua voz que louva. Que dizem os vossos santos quandoVos louvam? Como poderoso o Senhor que fez a terra ea encheu de bens, que lhe entregou as sementes diversaspara que produzissem to grande variedade de frutos.Como Deus poderoso, como Deus grande. Pergunta e acriatura responder-te-. E pela sua resposta, que o seulouvor, tu, o santo de Deus, bendirs ao Senhor e pro-clamars o seu poder.

    ORAODeus eterno e omnipotente, aceitai o louvor das

    criaturas que pelos nossos lbios chega at Vs, e assimcomo livrastes os trs jovens dos tormentos das chamas,fazei que o vosso povo seja defendido de todos os perigose no cesse de cantar a vossa glria. Por Nosso Senhor.

    Laudes Domingo I e III.

    LAUDES

  • 36

    Salmo 149

    SENTIDO INICIALO motivo do louvor deste hino a vitria que o Senhor

    concede aos oprimidos.O salmo comea por um convite, dirigido pelo salmista

    a Israel, para que cante ao Senhor um cntico novo (1) e sealegre em Deus que o criou e o governa como seu rei (2), oama e lhe d a vitria (3-4). No se trata, porm, de osfiis se limitarem a cantar hinos jubilosos em suas casasmas tambm de se prepararem para a luta (5-6), na qual oprprio Senhor Se quer servir deles para castigar as na-es e os povos, os reis e os nobres que cometem in-justias contra os humildes (7-9).SENTIDO ACTUAL

    O povo da nova aliana canta ao Senhor um cnticonovo, com este poema que a Igreja antiga cantava diaria-mente e ao qual chamava laudes, ou seja louvores.

    Nele se exprime a alegria dos santos, dos filhos daIgreja, novo povo de Deus, que se alegram em seu Rei,Cristo Jesus (Hesquio). Eles sentem-se solidrios dosoprimidos, face aos povos e naes, aos reis e aos nobres,e reconhecem o Senhor como seu Criador e seu Rei.

    Entretanto, a sua espiritualidade combativa j ultra-passou aquela que este salmo lhes apresenta, porqueaprenderam de Cristo que Ele recusa tanto as legies deanjos como a espada de Pedro, no aceita uma violnciajusta contra uma injusta, nem quer responder espada coma espada. A sua vitria diferente.

    Ressuscitados com Cristo, revestidos da sua vitria,vencedores com Ele do mal e da morte pela espada de doisgumes que a Palavra de Deus, ns, os seus fiis,exultamos de alegria pela vitria pascal do domingo, e re-cebemos a sua glria de povo de reis, assembleia santa,povo sacerdotal.

    DOMINGO I

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    Salmo 149 A alegria dos santosOs filhos da Igreja, novo povo de Deus,

    alegrem-se em seu Rei, Cristo Jesus (Hesquio).

    1 [Aleluia]Cantai ao Senhor um cntico novo, *

    cantai ao Senhor na assembleia dos santos.

    2 Alegre-se Israel em seu Criador, *rejubilem os filhos de Sio em seu rei.

    3 Louvem o seu nome com danas, *cantem ao som do tmpano e da ctara,

    4 porque o Senhor ama o seu povo, *coroa os humildes com a vitria.

    5 Exultem de alegria os fiis, *cantem jubilosos em suas casas;

    6 em sua boca os louvores de Deus, *em sua mo a espada de dois gumes:

    7 para tirar vingana das naes *e aplicar o castigo aos povos,

    8 para ligar os seus reis com cadeias *e os nobres com algemas,

    9 para executar neles a sentena escrita. *Esta a glria de todos os seus fiis.

    [Aleluia]

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOLouvemos o Senhor com a palavra, com o pensamento

    e com as boas obras, e cantemos-Lhe, como nos exortaeste salmo, um cntico novo, pois assim comea: Cantaiao Senhor um cntico novo. O homem velho canta um cn-tico velho; o novo, um cntico novo. O Antigo Testamentocanta um cntico velho; o Novo Testamento, um cnticonovo. Todo o que ama as coisas terrenas canta o cntico

    LAUDES

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    velho. Quem quiser cantar o cntico novo, ame os benseternos. O prprio amor novo e eterno; sempre novo,porque no envelhece. Cristo a vida eterna. Ele eternocom o Pai. Ns, quando camos no pecado, tornamo-nosvelhos. O homem tornou-se velho pelo pecado, mas foirenovado pela graa. Todos os que se renovam em Cristopara comearem a pertencer vida eterna, cantam o cnticonovo.

    Este cntico tambm o cntico da paz, o cntico doamor. Todo o que se afasta da unio dos santos, no cantao cntico novo. Seguiu os velhos rancores, e no a caridadeque nova. Que contm esta caridade? A paz, o vnculoduma sociedade santa, a harmonia espiritual, o edifcio depedra vivas. E onde est tudo isto? No est num lugardeterminado, mas por toda a terra. Diz assim outro salmo:Cantai ao Senhor um cntico novo, cantai ao Senhor, terrainteira.

    Daqui se conclui que aquele que no canta com a terrainteira, canta o cntico velho, sejam quais forem as pala-vras que os seus lbios profiram. Porque hei-de prestarateno ao que ele canta, se vejo o que ele pensa? E tuperguntas-me: vs o que ele pensa? Os factos o indicam,pois os olhos no penetram na conscincia. Presto atenoao que ele faz, e assim percebo o que ele pensa. H certascoisas que ficam escondidas no interior; mas muitas so asque aparecem nas obras e se tornam manifestas mesmo aoshomens. Da a palavra: Pelos seus frutos os conhecereis.

    Quem no canta com a terra inteira o cntico novo,diga o que disser, ressoe embora em sua boca o Aleluia,todo o dia e toda a noite, no me preocuparei muito com oque canta o cantor, mas interrogarei os seus costumes e asua vida. Perguntar-lhe-ei: que cantas tu? Ele respon-der-me-: o Aleluia. O que o Aleluia? Louvai ao Senhor.Vem at aqui, louvemos juntos ao Senhor. Se tu louvas aoSenhor e eu tambm O louvo, porque estamos em dis-crdia? S a caridade louva o Senhor.

    DOMINGO I

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    ORAO SLMICABendito sejais, Senhor, pela alegria dos filhos da

    Igreja, que celebram com um cntico novo, na assembleiados santos, a obra da criao e a vitria da ressurreio.Por Nosso Senhor.

    Laudes Domingo I; Natal e Pscoa 4;Igreja 2.4; Santos 5.

    Hora Intermdia

    Salmo 117 (118)SENTIDO INICIAL

    O salmo 117, o ltimo do Hallel, a evocao de umavitria. Essa evocao tem lugar numa solene liturgia deaco de graas, na qual intervm trs figuras centrais: orei, a multido e os cantores.

    I O salmista, que o prprio rei, comea pordirigir um convite a Israel a dar graas ao Senhor porqueEle bom (1-4) e por dizer como, no meio da tribulao,ele invocou a Deus com toda a confiana e foi salvo, peloque mais vale refugiar-se no Senhor do que fiar-se noshomens (5-9).

    II A seguir descreve pormenorizadamente os ata-ques que os adversrios lhe dirigiram de todos os lados,cercando-o como vespas e empurrando-o para cair, ecomo o Senhor o amparou, por ser a sua fortaleza e o seuSalvador (10-14), e o livrou, no o deixando morrer (15-18).

    HORA INTERMDIA

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    III Por fim, pede aos sacerdotes que lhe abram asportas do templo para a dar graas ao Senhor (19-20),diz a Deus os motivos do seu cntico (21-24) e, j no inte-rior da casa de Deus, pede-Lhe que salve os seus servos elhes d a vitria (25-27), repetindo o versculo inicial(28-29).

    SENTIDO ACTUALPara os cristos, a luta que se descreve neste salmo

    evoca o mistrio pascal de Jesus, desde a paixo dolorosaat ao triunfo da ressurreio. Somos convidados a fazerdele, neste domingo, uma orao contemplativa do triunfopascal e a dar graas ao Senhor porque eterna a suamisericrdia, na Hora em que Cristo foi levantado na cruzpara realizar a sua obra redentora.

    Abandonado, sozinho, rodeado de inimigos no dia dasua paixo, Jesus teve a seu lado o Pai, cuja mo fez pro-dgios em favor do seu Filho, ressuscitando-O e fazendodEle a pedra angular da Igreja.

    Do mesmo modo que o salmista convida Israel a dargraas ao Senhor, porque Ele bom, assim a Igreja, res-suscitada com Cristo, O aclama como seu Senhor e Lhecanta a sua aco de graas no dia da ressurreio.

    Salmo 117 (118) Cntico de triunfoCristo a pedra rejeitada pelos construtores,

    que veio a tornar-se pedra angular (Actos 4, 11).

    I

    1 [Aleluia]Dai graas ao Senhor, porque Ele bom, *

    porque eterna a sua misericrdia.

    DOMINGO I

  • 41

    2 Diga a casa de Israel: * eterna a sua misericrdia.

    3 Diga a casa de Aaro: * eterna a sua misericrdia.

    4 Digam os que temem o Senhor: * eterna a sua misericrdia.

    5 Na tribulao invoquei o Senhor: *Ele ouviu-me e ps-me a salvo.

    6 O Senhor por mim, nada temo: *que podero fazer-me os homens?

    7 O Senhor est comigo e ajuda-me: *no olharei aos meus inimigos.

    8 Mais vale refugiar-se no Senhor *do que fiar-se nos homens,

    9 Mais vale refugiar-se no Senhor *do que fiar-se nos poderosos.

    II

    10 Cercaram-me todos os povos *e aniquilei-os em nome do Senhor.

    11 Rodearam-me e cercaram-me *e em nome do Senhor os aniquilei.

    12 Cercaram-me como vespas, crepitavam como fogo em silvas *

    e aniquilei-os em nome do Senhor.

    13 Empurraram-me para cair, *mas o Senhor me amparou.

    14 O Senhor a minha fortaleza e a minha glria, *foi Ele o meu Salvador.

    15 Gritos de jbilo e de vitria *nas tendas dos justos:

    16 A mo do Senhor fez prodgios, *a mo do Senhor foi magnfica, a mo do Senhor fez prodgios.

    HORA INTERMDIA

  • 42

    17 No morrerei, mas hei-de viver, *para anunciar as obras do Senhor.

    18 Com dureza me castigou o Senhor, *mas no me deixou morrer.

    III

    19 Abri-me as portas da justia: *entrarei para dar graas ao Senhor.

    20 Esta a porta do Senhor: *os justos entraro por ela.

    21 Eu Vos darei graas porque me ouvistes *e fostes o meu Salvador.

    22 A pedra que os construtores rejeitaram *tornou-se pedra angular.

    23 Tudo isto veio do Senhor: * admirvel aos nossos olhos.

    24 Este o dia que o Senhor fez: *exultemos e cantemos de alegria.

    25 Senhor, salvai os vossos servos, *Senhor, dai-nos a vitria.

    26 Bendito o que vem em nome do Senhor, *da casa do Senhor ns vos bendizemos.

    27 O Senhor Deus *e fez brilhar sobre ns a sua luz.

    Ordenai o cortejo solene com ramagens frondosas, *at ao ngulo do altar.

    28 Vs sois o meu Deus: eu Vos darei graas. *Vs sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.

    29 Dai graas ao Senhor, porque Ele bom, *porque eterna a sua misericrdia.

    DOMINGO I

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    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOOuvimos, irmos, como o Esprito Santo nos convida

    e exorta a oferecer a Deus um sacrifcio de louvor. No sepode exprimir com mais brevidade o louvor de Deus doque dizendo porque Ele bom. Nada h melhor do queesse louvor. Digamos que o Senhor bom, no apenascom o som das palavras, mas pelo amor que nos une a Ele.O nosso amor seja a nossa voz.

    O salmo comea e termina com as palavras dai graasao Senhor, porque Ele bom, porque eterna a suamisericrdia, por no haver nada mais agradvel do que olouvor de Deus e o Aleluia eterno.

    Cantmos a Deus: Este o dia que o Senhor fez. Di-gamos acerca dele o que o Senhor nos der a conhecer. AEscritura proftica quis ensinar-nos aqui alguma coisa.No se trata de um dia vulgar, perceptvel aos olhos docorpo, nem do dia que tem nascimento e ocaso, masdaquele dia que pode ter conhecido o seu princpio, masdesconhece o seu fim.

    O salmista j dissera antes: A pedra que os constru-tores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veiodo Senhor: admirvel aos nossos olhos. E continua:Este o dia que o Senhor fez. Associemos o comeo destedia pedra angular.

    Quem a pedra angular que os construtores rejeitaramseno Cristo o Senhor, que os doutores dos judeus rejei-taram? Como se tornou pedra angular? Porque se chama aCristo pedra angular? Porque todo o ngulo une em siduas paredes de direco contrria. Os apstolos vieramdo povo judeu, e desse mesmo povo veio tambm aquelamultido que ia adiante e atrs do jumento, acompanhandoJesus, e dizendo as palavras que aparecem neste salmo:Bendito o que vem em nome do Senhor.

    Desse povo vieram muitas igrejas das quais diz o Aps-tolo: Eu no era pessoalmente conhecido das igrejas deCristo que esto na Judeia. Apenas tinha ouvido dizer:Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora o

    HORA INTERMDIA

  • 44

    Evangelho, a f que ento devastava. E por causa demim, glorificavam a Deus. Eram judeus, mas tinhamaderido a Cristo como os apstolos. Tendo-se aproximadoe acreditado em Cristo, formavam uma parede.

    Faltava outra parede: a Igreja procedente dos gentios.J se encontraram: paz em Cristo, unidade em Cristo, quefez das duas uma s realidade. Este o dia que o Senhorfez. Considera o dia na sua totalidade: cabea e corpo. Acabea Cristo, o corpo a Igreja. Este o dia que oSenhor fez.

    ORAO SLMICADeus eterno e misericordioso, que atendestes a splica

    do vosso Filho e fostes o seu Salvador, fazei brilhar sobrens a luz da sua ressurreio, para exultarmos e cantarmosde alegria neste dia que o Senhor fez. Por Nosso Senhor.

    Laudes Domingo II, IV; HI Domingos I, III;Advento; Epifania; Ramos 26; Viglia Pascal;Pscoa 1. 17. 21. 22. 24; Santa Cruz 1; Eucaristia 26.

    DOMINGO I

  • 45

    Vsperas II

    Salmo 109 (110), 1-5.7

    SENTIDO INICIALSem nunca o nomear, este salmo dirige-se provavel-

    mente ao rei David, quando, por volta do ano mil, ele seapoderou da cidade de Jerusalm e dela fez a capital doseu reino. As tradies judaica e crist viram, no heri quenele aparece, a figura do Messias, rei e sacerdote.

    O salmista prediz a dignidade do ungido do Senhor e asua origem divina: Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te minha direita, porque antes da aurora, como orvalho,Eu te gerei (1-3); a seguir descreve o seu sacerdcio eterno- Tu s sacerdote para sempre (4) - e a vitria que Elealcanou sobre todos os inimigos (5-7).

    SENTIDO ACTUALJesus disse que este salmo falava de Si prprio, e rea-

    lizou tudo o que nele se anuncia. Ele o descendente deDavid, gerado por Deus como orvalho antes da aurora.Rei desde o dia em que nasceu, o Pai deu-Lhe um sacer-dcio eterno e revestiu-O de todo o poder at vitriatotal sobre o prncipe deste mundo. Tornado Senhor pelaressurreio, ouviu o Pai dizer-Lhe: Senta-te minhadireita. Ele bebeu da torrente do sofrimento, mas ergueua sua fronte, levantou-Se do tmulo e, pelo abaixamento aque Se submeteu, foi elevado ao mais alto dos cus, naascenso, e tornou-Se, para todos os que nEle acreditam,fonte de gua viva a jorrar para a eternidade.

    No dia de Pentecostes, Pedro proclama que, ao ressus-citar Jesus, Deus O fez Senhor, realizando, assim, o pri-meiro versculo deste salmo: Disse o Senhor ao meu Senhor:Senta-te minha direita (Act 2, 34-36), e o mesmo diz

    VSPERAS II

  • 46

    Paulo na Carta aos Efsios: Deus ressuscitou Cristo dosmortos e sentou-O sua direita nos altos Cus (Ef 1, 20),para depois tirar a concluso relativamente a todos os bap-tizados: Portanto, j que fostes ressuscitados com Cristo,procurai as coisas do alto, onde est Cristo, sentado direita de Deus (Col 3, 1).

    Na nossa boca, este salmo um hino de vitria e deaco de graas a Jesus Cristo, na tarde de cada domingo.Ao fazer-nos contemplar o triunfo do Ressuscitado, eletorna mais firme a esperana que temos de participar nessamesma glria. Como Cristo, tambm a Igreja tem inimigospoderosos. Mas ela escuta a voz do Senhor que lhe diz:farei de teus inimigos escabelo de teus ps. Esses inimigosso o pecado e a morte, dos quais Deus nos fez triunfarpela ressurreio de Jesus Cristo de entre os mortos, parauma esperana viva (1 Pe 1, 3).

    Salmo 109 (110) O Messias, rei e sacerdote necessrio que Ele reine,

    at que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus ps(1 Cor 15, 25).

    1 Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te minha direita, *at que Eu faa de teus inimigos escabelo de teus ps.

    2 O Senhor estender de Sio o ceptro do teu poder *e tu dominars no meio dos teus inimigos.

    3 A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste nos esplendores da santidade: *

    antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei.

    4 O Senhor jurou e no Se arrepender: *Tu s sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

    5 O Senhor, tua direita, *esmagar os reis no dia da sua ira,

    DOMINGO I

  • 47

    [6 Julgar as naes, amontoar cadveres,esmagar cabeas pela vastido da terra.]

    7 A caminho beber da torrente; *por isso, erguer a sua fronte.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHO

    O Senhor, que nos fez ministros da sua palavra e dosacramento, nos ajude na exposio deste salmo queacabamos de cantar, que breve quanto ao nmero de pa-lavras, mas grande pela profundidade das afirmaes.Nele se anuncia a Cristo, porque, quando nosso Senhor eSalvador perguntou aos judeus de quem era Filho oMessias, tendo-lhes eles respondido: De David, logo lhesreplicou: Ento como que David lhe chama Senhor, aodizer: Disse o Senhor ao meu Senhor?

    No nos envergonhemos do Filho de David, para que oSenhor de David no se envergonhe de ns. Com estenome o chamaram os cegos e mereceram recuperar a vista.Reconheamos e confessemos ns tambm o Filho deDavid, para merecermos ser iluminados. Lembra-te, cristo, que Jesus Cristo, descendente de David, res-suscitou de entre os mortos e est direita do Pai.

    Vamos ver quem bebe da torrente no caminho. E emprimeiro lugar, que significa esta torrente? a imagem davida humana que corre. Assim como a torrente se formadas guas e da chuva abundante, e inunda, faz barulho,corre e correndo desliza at completar o seu curso, assimacontece com esta torrente de tudo o que mortal.

    O homem nasce, vive e morre. Quando uns morrem,nascem outros, e ao desaparecerem estes surgem outrosainda: seguem-nos, aparecem, vo-se embora, ningumpermanece. O que que resiste? O que que no correcomo as guas da chuva, em direco ao abismo?

    VSPERAS II

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    Como um rio, formado por uma chuva inesperada e pelasgotas do orvalho, se lana no mar e no aparece mais eno existia antes da tempestade o homem forma-se nosegredo de Deus, depois esgota-se e entra no mistrio damorte. Entre dois silncios, um murmrio, e ele passa.

    Cristo veio beber nesta torrente, no recusou beberdesta gua. Beber nesta torrente era, para Ele, nascer emorrer. Nascimento e morte, eis a torrente. Cristo su-portou-a: nasceu, morreu. No caminho bebeu da torrente.

    E porque Ele bebeu da gua da torrente, ergueu a suafronte. Por outras palavras, na sua humildade obedeceuat morte e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou eLhe deu o nome que est acima de todos os nomes, paraque ao nome de Jesus todos se ajoelhem no cu, na terra enos abismos, e toda a lngua proclame que Jesus Cristo o Senhor para glria de Deus Pai.

    ORAO SLMICADeus eterno e omnipotente, que fizestes sentar o vosso

    Filho vossa direita e Lhe submetestes todas as coisaspara glria do vosso Reino, concedei-nos a graa de Vosoferecer o sacrifcio imaculado do vosso Filho e nossoSumo Sacerdote para sempre. Ele que Deus convosco, naunidade do Esprito Santo.

    Vsperas II Domingo I, II, III, IV; Natal 3;Ressurreio 2; Corpo de Cristo 4;Comum dos Pastores 4; Ministrio Aclitos;Sagradas Ordens; Sacerdcio de Cristo 4.

    DOMINGO I

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    Salmo 113 A (114)

    SENTIDO INICIALEm poucos versculos, mas de maneira viva, este hino

    pascal descreve, num estilo festivo, como Israel se tornouo povo de Deus ao sair do Egipto (1-2), como o mar e oJordo se abriram para o deixar passar, e os montes e ascolinas exultaram de alegria (3-4), o que leva o salmista,admirado, a interrogar a natureza, isto , o Mar Vermelho,o rio Jordo, os montes e as colinas, perguntando-lhes arazo do seu proceder (5-6), e a recordar outros prodgiosdo Senhor no deserto ao transformar, em Merib, orochedo em lago e a pedra em fonte de gua (7-8).

    Na liturgia judaica, este salmo cantado na oitava daPscoa, justamente por causa do tema da gua e da pas-sagem do cativeiro para a liberdade.

    SENTIDO ACTUALSalmo da passagem de Deus pela histria dos homens,

    foi cantado por Jesus durante a ltima Ceia, na qual fez doseu corpo ressuscitado o novo santurio do Senhor e dens um povo que tem sede da gua viva do Esprito.

    A sada de Israel do Egipto, que este salmo canta, foisempre interpretada, pela tradio crist, como profeciada nossa passagem do paganismo para a f, a terra da liber-dade, atravs da gua do novo nascimento. O novo Israelque saiu do Egipto e se afastou do povo estrangeiro aIgreja, que vai atravessando o deserto deste mundo, sus-tentada pela fora do mistrio pascal de Cristo que, poucoa pouco, a vai tornando santurio do Senhor e seu domnio.

    Ao rez-lo neste dia e nesta hora, a liturgia convida-nosa cantar o dom inestimvel de Deus que o baptismo. Aomesmo tempo, leva-nos a tomar conscincia da nossa pe-regrinao para a liberdade definitiva, e a reconhecer que muito maior prodgio fazer jorrar o rio de gua viva que

    VSPERAS II

  • 50

    corre para a vida eterna, do que abrir em dois o MarVermelho ou fazer o Jordo voltar atrs.

    Cantar este salmo ao cair da tarde de Domingo evocara libertao do cativeiro do pecado e a peregrinao, noseguimento de Cristo, a caminho da ptria celeste.

    Salmo 113 A (114) Israel liberta-se do Egipto:as maravilhas do xodo

    Sabei que tambm vs, que renunciastes a este mundo,sastes do Egipto (S. Agostinho).

    1 [Aleluia]Quando Israel saiu do Egipto, *

    quando a casa de Jacob se afastou do povo estrangeiro,

    2 Jud tornou-se o santurio do Senhor *e Israel o seu domnio.

    3 O mar viu e recuou, *o Jordo voltou atrs,

    4 os montes saltaram como carneiros, *como cordeiros as colinas.

    5 Que tens, mar, para assim fugires, *e tu, Jordo, para voltares atrs?

    6 Montes, porque saltais como carneiros, *e vs, colinas, como cordeiros?

    7 Treme, terra, diante do Senhor, *diante do Deus de Jacob,

    8 que transformou o rochedo em lago *e a pedra em fonte de gua.

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHONs lemos e sabemos muito bem, carssimos irmos,

    o que conta o livro do xodo: o povo de Israel foi libertadopor Deus da inqua dominao egpcia, atravessou o mar a

    DOMINGO I

  • 51

    p enxuto, e as guas do Jordo, por sua vez, retiraram-se,para deixar passar os sacerdotes, que levavam a arca doSenhor.

    O Esprito Santo lembra-nos o passado, a fim de nostransportar ao futuro. E assim, ao ouvirmos cantar quandoIsrael saiu do Egipto, no tanto o passado mas o futuroque o salmista canta. Os milagres que se realizavam nopresente tinham uma significao proftica para o futuro.

    Vejamos, pois, qual a lio a tirar destes acontecimentos.Estes factos so figuras profticas, estas palavras ensi-nam-nos a reconhecermo-nos nelas. Se soubermos guardarfirmemente a graa que nos foi dada, somos o verdadeiroIsrael, a posteridade de Abrao. a ns que o Apstolodiz: Sois descendncia de Abrao. Ns estamos unidos, napedra angular, queles filhos de Israel que abraaram a fem primeiro lugar, os apstolos.

    Pois bem, carssimos, vs sabeis que sois os verda-deiros filhos de Abrao, a casa de Jacob, os herdeiros dapromessa. Vs sabeis que deixastes o Egipto ao renunciara este mundo, e que no na vossa lngua brbara, que nosabe louvar a Deus, que cantais Aleluia.

    Interrogai, pois, o vosso corao, e vede se a f o cir-cuncidou, se a confisso o purificou. Em vs, o povo judeufoi consagrado a Deus, em vs reside o seu poder sobreIsrael, porque Ele vos deu o poder de vos tornardes filhosde Deus.

    ORAO SLMICASenhor, que nos libertastes do pecado mediante as

    guas do Baptismo, e em Cristo nos tornastes o vossosanturio, fazei que renunciemos a este mundo, para al-canarmos a ptria celeste no mundo novo que h-de vir.Por Nosso Senhor.

    Vsperas II Domingo I;Pscoa e Baptismo 7.

    VSPERAS II

  • 52

    Nos domingos da Quaresma:

    Cntico 1 Pedro 2, 21-24

    SENTIDO INICIALAo inserir este hino na sua Carta, So Pedro, que aca-

    bava de exortar os cristos a viver como peregrinos nestemundo e a ter entre os gentios um comportamento digno(1 Pe 2, 11-12), tinha em vista levantar a coragem dos es-cravos cristos, algumas vezes tratados com justia porsenhores bons e compreensivos, outras, porm, vtimas degrandes injustias de senhores muito severos e at cruis.

    nesse contexto que o apstolo lembra o exemplo deCristo, para que sigamos os seus passos (21), pois notendo Ele cometido pecado algum, no insultava quandoO acusavam de ser pecador, nem respondia com ameaasquando era maltratado, mas entregava-Se nas mos doPai, o nico que julga com justia (22-23), indo at aoponto de suportar os nossos pecados no seu corpo, e cu-rando-nos pelas suas chagas (24).

    SENTIDO ACTUALSe algum quer vir aps Mim, negue-se a si mesmo,

    tome a sua cruz, dia aps dia, e siga-Me (Lc 9, 23).O cristo diz, com realismo, que a cruz no um bem.

    Por isso no a procura. Ao contrrio, unido a Cristo, atpede ao Pai que, se possvel, a afaste dele. Mas tambmno foge dela quando se lhe apresenta. Abraa-a com de-ciso e serenidade, leva-a com coragem, e confia na miste-riosa fecundidade da sua atitude, sabendo que a cruz no um fracasso. Se assim fosse, Jesus no a teria aceite nemnos diria para O seguirmos por esse caminho. Para quempe a sua confiana em Deus e espera os bens celestes, a

    DOMINGO I

  • 53

    cruz no a ltima palavra da vida. Essa palavra a doamor com que a levamos.

    O homem de f aceita-se como pessoa pobre e limitada.Confia-se totalmente a Deus. Imita Jesus Cristo e sente-Operto de si. Ao abraar a cruz, sabe que abraa o Cru-cificado. Unido a Ele, torna-se sinal da sua presena e ins-trumento de salvao para os outros: Alegro-me nossofrimentos que suporto por vs e completo na minhacarne o que falta s tribulaes de Cristo, pelo seu corpo,que a Igreja (Col 1, 24).

    Ningum aprende estas coisas apenas por si mesmo.Temos de ser ensinados pelo Esprito Santo. Ele diz-nosque a resposta ao escndalo da cruz, a pacincia cheia deesperana. Quando o Esprito leva algum a descobrir omistrio da cruz, esse homem ou essa mulher aprendem aestar sempre alegres mesmo no sofrimento que ela trazconsigo (2 Cor 6, 10).

    Cntico 1 Pedro 2, 21-24 Paixo voluntria de Cristo,Servo de Deus

    21 Cristo sofreu por ns, *deixando-nos o exemplo para que sigamos os seus passos.

    22 Ele no cometeu pecado algum *e na sua boca no se encontrou mentira.

    23 Insultado, no pagava com injrias, maltratado, no respondia com ameaas. *

    Mas entregava-Se quele que julga com justia.24 Suportou os nossos pecados no seu Corpo *

    sobre o madeiro da Cruz,a fim de que mortos para o pecado, vivamos para a justia. *

    Pelas suas chagas fomos curados.

    VSPERAS II

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    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOIrmos, se amamos a verdade imitemos a Cristo. A

    melhor prova que podemos dar do nosso amor imitar oseu exemplo. Na verdade, Cristo sofreu por ns, dei-xando-nos o exemplo para que sigamos os seus passos.

    Estas palavras do apstolo So Pedro parecem dar aentender que Cristo s sofreu por aqueles que seguem osseus passos, e que a paixo de Cristo de nada aproveitaseno queles que O seguem. Seguiram-nO os santosmrtires at ao derramamento do sangue, semelhana dasua paixo. Seguiram-nO os mrtires, mas no s eles.No foi cortada a ponte depois de eles terem passado; nosecou a fonte depois de eles terem bebido.

    Qual a esperana daqueles que seguiram a Cristo,como ns, mas no derramaram por Ele o sangue? H-deperder a Igreja, nossa Me, os filhos que gerou quando go-zava de mais perfeita paz? Ningum, irmos carssimos,deve menosprezar a sua vocao. Cristo sofreu por todos.Com toda a verdade est escrito a este propsito: Deusquer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhe-cimento da verdade.

    ORAOSenhor nosso Deus, fazei-nos seguir os passos do vosso

    Filho e imitar os exemplos da sua paixo, a fim de que,fugindo agora de todo o mal e de toda a mentira e amandoos nossos inimigos como Ele amou, possamos um dia en-tregar o nosso esprito em vossas mos como Ele entregou.Por Nosso Senhor.

    Vsperas II Domingos da Quaresma.

    DOMINGO I

  • 55

    Cntico cf. Ap 19, 1-2. 5-7

    SENTIDO INICIALO cntico com que terminamos a Hora de Vsperas,

    uma aclamao a Deus, Senhor vitorioso e justo nos seusjulgamentos (1), a quem todos os seus servos, pequenos egrandes devem louvar (5), e a Cristo, Cordeiro de Deus,para quem chegou o tempo das npcias com a Igreja,Esposa que j est preparada (7).

    Estas aclamaes, tiradas do Apocalipse, fazem parteda contemplao proftica da destruio de Roma, a novaBabilnia, perseguidora dos mrtires e figura do mal,vencido por Cristo.

    SENTIDO ACTUALOs membros do novo povo de Deus, a caminho do

    reino, cantam na terra, ao Senhor que os libertou, o hino delouvor e exaltao que ho-de cantar eternamente na ptriaceleste. Eles antecipam o seu cntico futuro porque noesto s espera desse dia. J vivem nele, porque a suavitria e a de toda a comunidade foi inaugurada pela res-surreio de Jesus Cristo.

    O nosso cntico desta tarde, no s por causa das coi-sas que ho-de vir, mas tambm por aquilo que j se reali-zou. Com ele, cantamos a salvao que nos foi trazidapelo Cordeiro, e que a sua Esposa, a Igreja, torna presenteno mundo de cada tempo. Com ele participamos tambmda adorao em esprito e verdade que ser a nossaocupao eterna, quando cantarmos, na ptria definitiva:O Senhor Deus omnipotente reina em toda a terra.Exultemos de alegria e dmos glria ao seu nome.

    VSPERAS II

  • 56

    Cntico Cf. Ap 19, 1-2.5-7 As npcias do Cordeiro

    1 Aleluia.A salvao, a glria e o poder ao nosso Deus, *(R.Aleluia.)

    2 porque so verdadeiros e justos os seus julgamentos.R. Aleluia (Aleluia).Aleluia.

    5 Louvai o Senhor nosso Deus, todos os seus servos, *(R.Aleluia.)e vs todos os que O temeis, pequenos e grandes.R. Aleluia (Aleluia).Aleluia.

    6 O Senhor Deus omnipotente reina em toda a terra: *(R.Aleluia.)

    7 Exultemos de alegria e dmos glria ao seu nome.R. Aleluia (Aleluia).Aleluia.Chegaram as npcias do Cordeiro *(R.Aleluia.)e a sua Esposa est preparada.R. Aleluia (Aleluia).Aleluia.Glria ao Pai e ao Filho e ao Esprito Santo, *(R.Aleluia.)como era no princpio, agora e sempre. Amen.R. Aleluia (Aleluia).

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOO tempo da alegria, do descanso, da felicidade, da

    vida eterna e do reino sem fim que ainda no chegou,simbolizamo-lo pelo Aleluia. Mas ainda no possumosesses louvores, ainda suspiramos pelo Aleluia.

    Que significa Aleluia? Louvai ao Senhor. Nos dias aseguir ressurreio, repetem-se na Igreja os louvores deDeus, porque depois da nossa ressurreio tambm serperptuo o nosso louvor.

    DOMINGO I

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    Louvemos, carssimos irmos, louvemos o Senhor queest nos cus. Louvemos a Deus. Digamos Aleluia. Faamosdestes dias um smbolo do dia sem fim. Faamos do lugarda mortalidade um smbolo do tempo da imortalidade. Ca-minhemos depressa para a morada eterna: Felizes os quemoram em vossa casa: podem louvar-Vos continuamente.Assim o diz a lei, o diz a Escritura, o diz a Verdade. Umdia chegaremos casa de Deus, que est nos cus. Alouvaremos o Senhor, no cinquenta dias, mas, como estescrito, pelos sculos dos sculos. Havemos de O ver, deO amar, de O louvar.

    No acabar o que havemos de ver, no morrer o quehavemos de amar, no se calar o que havemos de louvar.Tudo ser eterno, tudo ser sem fim.

    Louvemos, louvemos, no apenas com a voz; louvemostambm com o modo de viver. Louvem os lbios, louve avida. No andem zangadas a lngua e a vida, mas animadaspor uma caridade infinita.

    Voltemo-nos para o Senhor Deus, Pai todo-poderoso,com um corao to puro quanto o permita a nossa fra-queza, e dmos-Lhe grandes e sinceras aces de graas.Com toda a nossa alma, supliquemos bondade infinitaque se digne escutar favoravelmente as nossas preces eafastar, pelo seu poder, o nosso inimigo, tanto das nossasaces como dos nossos pensamentos.

    O Senhor aumente a nossa f, dirija o nosso esprito,nos d a graa de pensar espiritualmente, e nos conduzaat felicidade que Ele mesmo, por Jesus Cristo, nossoSenhor, que vive e reina como Deus, na unidade do EspritoSanto, por todos os sculos dos sculos. Amen.

    ORAOSenhor Jesus Cristo, Cordeiro imolado e ressuscitado,

    que enchestes de beleza a Igreja, vossa Esposa, fazei-nosencontrar uma santa alegria no vosso triunfo pascal ecantar eternamente a vossa glria. Vs que sois Deus.

    Vsperas II Domingo I, II, III, IV.

    VSPERAS II

  • SEGUNDA-FEIRA I

    Ofcio de Leitura

    Salmo 6

    SENTIDO INICIALEste salmo a splica de um enfermo grave, que fala

    do seu sofrimento, do perigo em que se encontra e da con-fiana que tem em Deus.

    Muito doente e com a alma perturbada pelo silncio doSenhor, o salmista pede-Lhe que tenha compaixo e ocure, em vez de o castigar na sua indignao, como se adoena fosse castigo (2-4), que salve a sua vida da morterestituindo-lhe a sade (5-6).

    Descreve, em seguida, o estado de abatimento e de tris-teza a que chegou: estou exausto de tanto gemer, envelhecino meio de tantos inimigos (7-8); por fim, ao pressentirque Deus j acolheu a sua splica, diz aos seus adversriosque se afastem dele, cheios de confuso e cobertos devergonha pelo mal que lhe fizeram (9-11).

    SENTIDO ACTUALJesus, que no cometeu pecado, orou na agonia com

    sentimentos semelhantes aos deste salmo ao dizer: Agoraa minha alma est perturbada... Pai, livra-me desta hora(Jo 12, 27). Mas quando chegou o momento da paixo,entregou-Se morte de cruz, num gesto de total abandononas mos do Pai, tornando-Se o grande modelo da nossaconfiana.

    O pecado uma doena e o maior dos nossos inimigos.Ele turva-nos os olhos e obscurece-nos a conscincia. Maso Senhor ouve a splica e acolhe a prece daqueles que Lherezam este salmo com os sentimentos que ele desperta, que

  • 59

    se reconhecem pecadores mas simultaneamente Lhe pedemque os livre das ocasies de pecar.

    Pelo seu carcter penitencial e meditativo, este salmotem o seu complemento litrgico de aco de graas, jaflorado nos versculos finais, no salmo 9 A, que iremosrezar depois dele.

    Salmo 6 Orao do homem aflito que pede clemnciaAgora a minha alma est perturbada...Pai, livrai-me desta hora (Jo 12, 27).

    2 Senhor, no me repreendais na vossa ira, *nem me castigueis na vossa indignao.

    3 Tende compaixo de mim, Senhor, porque estou doente,*curai-me, pois se desconjuntam os meus ossos.

    4 A minha alma est muito perturbada, *e Vs, Senhor, at quando...?

    5 Voltai, Senhor, salvai a minha vida, *curai-me pela vossa bondade.

    6 No seio da morte ningum se lembra de Vs. *Quem Vos poder louvar na manso dos mortos?

    7 Estou exausto de tanto gemer: *passo a noite a chorar, inundo de lgrimas o meu leito.

    8 Turbaram-se os meus olhos de tristeza, *envelheci no meio de tantos inimigos.

    9 Afastai-vos de mim, vs que fazeis o mal, *porque o Senhor atendeu s minhas lgrimas.

    10 O Senhor ouviu a minha splica, *o Senhor acolheu a minha prece.

    11 Encham-se de confuso e pavor os meus inimigos *e desapaream cobertos de vergonha.

    OFCIO DE LEITURA

  • 60

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHOQuando o Senhor veio, como vinha para sofrer, veio

    escondido. Ele era forte e apareceu na fraqueza da carne.Era preciso que aparecesse para ser visto, que fosse des-prezado para ser crucificado. O esplendor da sua glriaresidia na sua divindade, mas escondia-se sob o vu dacarne, porque se os judeus O tivessem conhecido, no teriamcrucificado o Senhor da glria.

    No meio dos judeus, no meio dos inimigos, Ele viveuescondido, realizando maravilhas, sofrendo perseguio,at ao dia em que foi suspenso do madeiro. E os judeus, aov-lO suspenso, ainda mais O desprezaram e, abanando acabea diante da cruz, diziam: Se s o Filho de Deus, desceda cruz.

    Estava, portanto, escondido o Deus dos deuses, e assuas palavras exprimiam mais a compaixo do que a ma-jestade. No a nossa voz que diz: Meu Deus, meu Deus,porque me abandonaste? No o grito do pecador na mi-sria da sua carne? Porque no havia Ele, que tomou umcorpo semelhante ao do pecado, de tomar uma voz seme-lhante do pecador?

    Portanto, o Deus dos deuses escondia-Se quando viviano meio dos homens, quando tinha fome e sede, quando afadiga o fazia sentar-Se ou refazer pelo sono o seu corpocansado, quando foi preso, flagelado, conduzido diante dojuiz, e quando respondeu ao orgulho deste juiz: No teriaspoder nenhum sobre Mim, se no te tivesse sido dado ldo alto.

    Quando, conduzido ao suplcio, Ele no abriu a boca,como ovelha diante daquele que a tosquia, e mesmo nacrucifixo e na sepultura, o Deus dos deuses esteve sempreescondido.

    Felizes aqueles que acreditaram sem terem visto. So-mos ns que aqui estamos designados. A terra, convocadado Nascente ao Poente, no O viu, mas acreditou. Que di-remos ento, irmos? O Deus dos deuses, escondido ou-trora, escondido hoje, estar sempre escondido? De modonenhum. Escutai: O nosso Deus vem e no Se calar.

    SEGUNDA-FEIRA I

  • 61

    ORAO SLMICADeus de misericrdia e piedade, Senhor da vida e da

    morte, atendei a splica da vossa Igreja aflita com tantosmales, e, em ateno ressurreio do vosso Filho, conce-dei-lhe novo vigor para que Vos possa glorificar com umcntico novo por toda a eternidade. Por Nosso Senhor.

    OL Segunda-feira I; Paixo 5; Uno dos Enfermos 3;Penitncia 2; Defuntos 5.

    Salmo 9 A (9)

    SENTIDO INICIALEste salmo uma aco de graas pela vitria sobre os

    inimigos do povo de Israel.

    I Depois da introduo, na qual manifesta o seudesejo de louvar e cantar o nome do Altssimo (2-3), osalmista recorda a fuga precipitada dos seus inimigos (4-5),logo a seguir identificados com os pagos e os mpios aquem o Senhor fez perecer em runa eterna (6-7), antes deafirmar que Deus rei para sempre, juiz justo e refgiodos oprimidos que nunca abandona os que O procuram(8-11).

    II Dirige ento um convite a outros para que cantemao Senhor e anunciem os seus feitos gloriosos (12-13),volta a pedir ajuda contra os que o afligem (14-15),descreve como os pagos foram apanhados na armadilhaque prepararam (16-17), distingue a sorte diferente dosmpios e dos pobres (18-19) e de novo roga a Deus quejulgue os gentios e os faa reconhecer, que afinal nopassam de homens (20-21).

    OFCIO DE LEITURA

  • 62

    SENTIDO ACTUALEste salmo uma aco de graas por uma vitria alcan-

    ada, o que nos leva a pensar na vitria de Jesus Cristosobre o demnio e sobre a morte, Ele que de novo h-devir em sua glria para julgar os vivos e os mortos (Credo).

    Quem cr em Deus sabe que Ele far justia aos pobrese humildes deste mundo. Entretanto, o prprio salmista seope ao poder do mal com todas as suas foras e proclamaos louvores de Deus, que no Se esquece dos que Oprocuram nem os abandona.

    Salmo 9 A (9) Aco de graas pela vitriaDe novo h-de vir em sua glriapara julgar os vivos e os mortos.

    I

    2 De todo o corao, Senhor, Vos quero louvar *e contar todas as vossas maravilhas.

    3 Quero alegrar-me e exultar em Vs, *quero cantar o vosso nome, Altssimo.

    4 Quando batiam em retirada os meus inimigos, *vacilavam e pereciam diante de Vs.

    5 Vs fizestes justia minha causa, *sentastes-Vos no trono como justo juiz.

    6 Ameaastes os pagos, destrustes os mpios, *apagastes o seu nome para sempre.

    7 Os inimigos sucumbiram em runa eterna, *arrasastes as suas cidades e perdeu-se-lhes a lembrana.

    SEGUNDA-FEIRA I

  • 63

    8 O Senhor, porm, rei para sempre, *firmou o seu trono para julgar.

    9 Ele julga a terra com justia, *governa os povos com rectido.

    10 O Senhor refgio dos oprimidos, *refgio nos momentos de tribulao.

    11 Em Vs confiam os que conhecem o vosso nome, *porque no abandonais, Senhor, os que Vos procuram.

    II

    12 Cantai ao Senhor, que tem em Sio a sua morada, *anunciai entre os povos os seus feitos gloriosos;

    13 porque pede contas do sangue e lembra-Se deles, *no esqueceu o clamor dos infelizes.

    14 Compadecei-Vos de mim, Senhor, vede a aflio que me causam os inimigos, *

    arrancai-me das portas da morte,15 para proclamar os vossos louvores s portas de Sio *

    e exultar com o vosso auxlio.

    16 Afundaram-se os pagos no fosso que abriram, *ficaram seus ps estacados na armadilha que prepararam.

    17 O Senhor deu-Se a conhecer, fez justia: *o mpio ficou apanhado na obra das suas mos.

    18 Para a manso dos mortos se retirem os mpios, *todos os pagos que se esquecem de Deus.

    19 O pobre jamais ser esquecido, *a esperana dos infelizes nunca ser iludida.

    20 Levantai-Vos, Senhor, e o homem no prevalecer. *Os povos vo ser julgados na vossa presena.

    21 Senhor, lanai sobre eles o pnico, *reconheam os gentios que no passam de homens.

    OFCIO DE LEITURA

  • 64

    COMENTRIO DE SANTO AGOSTINHONo louva a Deus de todo o corao quem duvida em

    alguma coisa da sua providncia. S O louva quem jpressente as coisas ocultas da Sabedoria de Deus e quemse d conta da grandeza do prmio invisvel que o espera,e diz: Alegro-me nas tribulaes.

    Conta todas as maravilhas de Deus, aquele que desco-bre as que se realizam no s vista nos corpos, mas invi-sivelmente nas almas, ainda que de modo muito mais su-blime e excelente. Porque os homens terrenos admiram-semais da ressurreio do corpo morto de Lzaro, do que daressurreio da alma de Paulo perseguidor. Conta todasas maravilhas de Deus aquele que, acreditando nas coisasvisveis, delas passa ao entendimento das invisveis.

    ORAO SLMICASenhor nosso Deus, que escutais o grito dos oprimidos

    e confundis a loucura dos mpios, compadecei-Vos de nse arrancai-nos das portas da morte, para podermos proclamaros vossos louvores na assembleia dos santos. Por NossoSenhor.

    OL Segunda-feira I;Aco de graas 2-3;Confiana 11.13.

    SEGUNDA-FEIRA I

  • 65

    Laudes

    Salmo 5

    SENTIDO INICIALUm inocente, injustamente acusado ou perseguido,

    apela para o tribunal de Deus no templo, expe a sua causa,aguarda a sentena. Este salmo , por isso, uma bela ora-o da manh para pedir ajuda.

    Logo pela manh o salmista invoca o Senhor e esperaconfiado, porque sabe que ser atendido (2-4). Ele noquer imitar os mpios, que s pensam em dizer mentiras eem fazer o mal, coisas que no agradam a Deus (5-7).

    Como ele acredita que a bondade de Deus no tem me-dida, apressa-se a buscar a sua presena e a prostrar-sediante dEle, e pede-Lhe que o guie na justia e lhe aplaneo caminho (8-9), o livre daqueles em cujo corao s hmalcia (10) e proteja, abenoe e faa viver na alegria osque amam o seu nome (12-13).

    SENTIDO ACTUALEste primeiro salmo, com a sua referncia clara

    orao matutina, um convite, dirigido queles que orezam, a consagrarem a Deus os primeiros movimentos doesprito e a oferecerem-Lhe os trabalhos, as alegrias e ossofrimentos, e um pedido ao Senhor para que os guie nasua justia, pois Ele ama os que procuram a santidade.

    A manh o smbolo da vitria da luz sobre as trevas,da ressurreio sobre a morte. Por isso o salmista convi-da-nos a buscar em Deus, desde a primeira hora, a ajuda deque precisamos para vencer as contradies que existemdentro de ns e nossa volta.

    Adorar o Senhor logo de manh, manifestar-Lhe a von-tade de rejeitar as obras das trevas, deixar as coisas que

    LAUDES

  • 66

    dEle nos afastam e acolher os mistrios que Ele tem pre-parados para os que O amam... uma bela resposta men-sagem do Evangelho: Aqueles que interiormente acolhema palavra de Cristo, nEle exultaro eternamente.

    Salmo 5 Orao da manh para pedir ajudaAqueles que interiormente acolhem a Palavra de Cristo

    nEle exultaro eternamente

    2 Senhor, ouvi as minhas palavras, reparai no meu lamento.*

    3 Atendei a voz do meu clamor, meu Rei e meu Deus.

    4 Eu Vos invoco, Senhor, pela manh, e ouvis a minha voz; *de manh vou vossa presena e espero confiado.

    5 Vs no sois um Deus que se agrade do mal, *o perverso no tem aceitao junto de Vs,

    6 nem os mpios suportam o vosso olhar.Vs detestais todos os malfeitores *

    7 e exterminais os que dizem mentiras. O Senhor abomina os sanguinrios e fraudulentos.

    8 Mas, por vossa bondade, eu entrarei na vossa casa, *com reverncia me prostrarei no vosso templo santo.

    9 Senhor, guiai-me na vossa justia,por causa dos meus inimigos, *

    aplanai diante de mim o vosso caminho.